Fica comigo está noite?
por Thayla


Challenge #01

Nota: 5,6

Colocação: 13°




Ele passeava pelo shopping com uma expressão um tanto carrancuda, perto da praça de alimentação estava montado um pequeno palco onde uma meia dúzia de crianças tocavam flautas. As mães devem se orgulhar, pensou ele tentando fazer com que aquela melodia não parecesse gritos de um gato sendo enforcado aos seus ouvidos.
Era natal e ele não queria que fosse. Era natal e ele queria estar em outro lugar.
Um lugar onde fosse mais quente e não estivesse nevando. Ele queria estar olhando para o laranja do sol, o amarelo da areia, o azul do mar e sentir calor. Em vez disso ele só via o cinza do céu nublado, o branco da neve no chão, o verde de todas aquelas árvores de natal, o vermelho de seus enfeites e só sentia frio.
Cinza, branco, verde e vermelho. Essas eram as cores que ele mais odiava a partir de agora.
-, finalmente! – Ele avistou vindo em sua direção. – Já estava achando que ia receber uma ligação sua inventando uma desculpa para não vir.
se chingou por dentro, ele devia ter pensado em dar uma desculpa. Se tivesse feito isso agora estaria em casa dormindo e rezando para que quando acordasse todas as árvores de natal e enfeites tivessem ido em bora. Era tudo muito verde e vermelho para ele.
-Vamos logo com isso. – Ele suspirou.
-Dude, você tem que se animar! Você sabe como essas festas são importantes para a e... – parou de ouvir o amigo depois de ele ter mencionado , mas era bom que continuasse falando porque assim o maldito som daquelas flautas não ocupavam totalmente sua cabeça.
Era véspera de natal e o shopping estava cheio. Assim como e , quase todos deixavam para comprar os presentes de última hora. Mães arrastavam os filhos para todo lugar, enquanto esses choravam pelos brinquedos que queria ganhar, casais de namorados andando abraçados e olhando as lojas de jóias para achar uma aliança de compromisso barata e bonita, velhinhas observando as crianças que continuavam tocando as flautas perto da praça de alimentação e até alguns homens com a expressão de tédio iguais a de .
Como ele queria já ter comprado os presentes, ele tinha certeza que já havia comprado e estava na maior tranquilidade agora. Ela devia ser a pessoa mais maníaca por natal no mundo, comprava os presentes um mês antes e a decoração dois meses antes, logo quando as lojas começavam a vender.
E agora ela estava em casa preparando uma ceia, como todo ano. Se pelo menos ele pudesse pular a ceia e ir direto a troca de presentes, depois é só agradecer e ir embora logo. Como ele queria estar em casa e ir logo para sua tão amada cama.
-Cara, não acredito que você não está nem me ouvindo? – disse de repente e finalmente prestou atenção.
-É claro que eu estou! – Ele respondeu.
-Tudo bem, eu sei que você não gosta muito dessa coisa toda de natal. – falou com uma expressão divertida, então se lembrou do por que ele era seu melhor amigo. era idiota, fazia piadas fora de hora e se metia em confusão sempre, mas ele sempre entendia e o apoiava.
Ele entendia principalmente que o motivo de odiar o natal é porque há dois anos, nessa mesma época ele soube que iria perder o amor de sua vida. . Irmã de . Que tinha ficado noiva a dois natais atrás e iria se casar em junho do ano seguinte.
E o pior era que ele nunca teve chance de dizer a que a amava, mas todos sabiam. Menos, quem realmente importava, .
-Quanto mais rápido começar essa tortura, mais rápido ela acaba. – balançou a cabeça tentando espantar aqueles pensamentos e puxou para dentro de uma loja qualquer.

Mais neve, mais verde e mais vermelho. Era tudo que ele não queria.
Tinha começado a nevar de novo, só que mais forte e um pouco de neve acumulada na estrada acabou sendo o motivo de um acidente.
Merda, pensou quando parou o carro atrás de um fusca. Tudo que ele menos precisava agora era um congestionamento, já estava atrasado para a ceia e agora iria se atrasar ainda mais, iria surtar.
Mais uma vez ele desejou estar em um lugar mais quente, em uma praia. Ele queria sentir calor ao invés de frio. Era um grande azar mesmo o aquecedor do carro ter quebrado logo naquela semana. Com tantas semanas no ano para quebrar, tinha que ser logo naquela época, quando o frio era cortante.
ligou o rádio para tentar se distrair de todas as buzinas dos outros carros também presos no congestionamento, mas desligou imediatamente quando uma música natalina encheu o carro. Mais flautas não! A partir daquele momento seu novo instrumento mais odiado era definitivamente flauta.
Sentiu seu celular vibrando no bolso de trás da calça e tirou o cinto para poder pega-lo. Olhou o visor e atendeu.
-O que foi, ? – Ele perguntou.
-Cadê você? – Ela perguntou de volta um pouco alto demais. – Todos já estão aqui.
-É que eu to preso em um congestionamento atrás de um fusca infeliz, mas já estou indo.
-Isso parece mais uma daquelas suas famosas desculpas.
-Não me importa o que parece, mas é verdade! Eu posso te dizer até a cor do fusca e a placa.
-Então me diz a cor da porcaria do fusca, .
-Ele é... – percebeu a cor do fusca pela primeira vez. – Verde.
não falou por alguns momentos e pode ouvi-la respirando.
-O peru está quase pronto, é melhor você chegar logo ou só vai comer sobras. – Ela disse usando um tom que devia assustar , mas ele sorriu um pouco. – É uma noite especial para mim, você precisa vir.
-Todo natal é especial para você! Todos já sabem que você já marcou a merda da data da sua merda de casamento! Eu não sei por que você insiste em fazer disso uma coisa importante assim!
-... – tentou falar, com o tom de voz mudado completamente, mas ele a cortou.
-Eu só queria que você percebesse que é por causa disso que todo ano você estraga a porcaria do meu natal!
Ele desligou o celular e o tacou no banco de trás do carro, prometendo a si mesmo que mesmo que se ela ligasse de novo não ia atender.
Mas quem afinal ele queria enganar? Conhecia e ela nunca, nunca iria ligar de volta pra alguém que desligou na sua cara.
Tinha sido um momento de raiva e ainda não tinha passado. Por que teria que ir para a casa dela só para ver como ela estava feliz com aquele cara que tinha aparecido do nada e pedido a mão dela em casamento?
Por que ele teria que ir lá só para sofrer mais um pouco?
E ela sequer devia ter entendido por que era ela que sempre o deixava daquele jeito no natal. Por que sempre estava feliz e amava aquele clima natalino e tudo mais.
respirou fundo e olhou o fusca na sua frente de novo, a fila de carros finalmente começava a andar. As luzes de trás do fusca estavam acesas e, como eram vermelhas, em contraste com o verde da lataria parecia uma grande árvore de natal ambulante.
Isso fez finalmente sua raiva toda desaparecer, ele se lembrava tão bem do dia que tinha finalmente dito para si mesmo "eu amo a ". Tinha sido há cinco anos, quando ele ia comprar um carro novo e levou para ajudá-lo a escolher. Assim que viu um dos carros, que era verde, insistiu para comprar aquele. Ele acabou comprando um prata, mas a frase de nunca tinha saído de sua cabeça. Ela tinha dito "compra o verde, parece até uma árvore de natal! Você sabe que eu amo árvores de natal!".
Naquele mesmo natal comprou a um cachecol Gucci vermelho e ela tinha dito que sempre o usaria para saber o quão importante ele era para a garota.
Mas desde que ela tinha arranjado aquele noivo, nunca mais viu usando o cachecol.
apertou mais forte as mãos no volante enquanto os carros na rua finalmente voltava a se movimentar normalmente.
Ele dirigiu rapidamente até a casa de , sabia que provavelmente ela não falaria com ele por toda a ceia, mas uma vontade muito grande de vê-la surgiu do nada de repente.
E estaria lá, assim ele não ficaria sozinho enquanto levava gelo de e não seria forçado a conversar com todas aquelas mesma pessoas chatas que ele era obrigado a encontrar todo natal.
Estacionou na frente da casa dela, era a mais iluminada da rua. Só no telhado ele podia contar uns cinco Papais Noéis cercados de luzezinhas coloridas e no gramado um monte de renas feitas de luzezinhas brancas e na porta tinha uma meia verde e vermelha (como essas cores pareciam persegui-lo!) onde estava escrito "Merry Christmas".
Ele tirou a grande sacola do porta-malas onde estavam todos os presentes que tinha comprado mais cedo com e tocou a campainha.
-! – foi quem atendeu, com um sorriso de quem já está meio bêbado. – Ainda bem que chegou a tempo, o peru acabou de sair do forno!
-Tinha que ver o congestionamento enorme que eu peguei! – Ele entrou na casa e foi cumprimentando todos os rostos já conhecidos, mas faltava e aquele noivo idiota dela.
Ele colocou os presentes debaixo da enorme e decorada árvore de natal e chegou perto de .
-Hey, onde está a ? – Ele sussurrou para o amigo.
-Ah, ela deve estar na cozinha. – falou um pouco alto fazendo dar um soco leve em seu ombro e depois abaixou a voz. – Mas ela ta meio mal porque...
-Pode deixar. – cortou-o e foi para a cozinha daquela já bem conhecida casa.
estava tirando alguma coisa da geladeira e não percebeu que alguém tinha entrado na cozinha.
-Quer ajuda, senhorita? – chegou perto dela e disse baixinho.
A garota levou um susto e quase deixou cair a bandeja que ela estava segurando.
-! – sorriu e se virou para colocar a bandeja na bancada da cozinha e fechar a geladeira.
a abraçou e passou os braços por sua cintura enquanto ela passou os braços por seu pescoço. Como ele adorava o calor que sentia sempre que chegava perto assim dela.
-Desculpe o que eu disse no telefone, você jamais poderia estragar nada para mim. – Ele falou a puxando um pouco mais para si na esperança de sentir mais aquele calor que amava tanto, esperando que não percebesse.
-Tudo bem, é que eu acho que gosto um pouco demais do natal e acabo ficando paranóica. – Ela respondeu.
-Essa é nova, você é paranóica em todas as épocas do ano. – Ele a soltou e sorriu.
-Idiota. – bateu de leve em seu braço e finalmente viu as roupas que ela usava. Uma calça jeans com um suéter preto e botas de salto alto vermelhas. Simples e linda, como sempre.
Mas o que realmente chamou a atenção de foi o cachecol que ela usava. Ele poderia reconhecer aquele cachecol até a cem quilômetros de distância. Era um cachecol Gucci vermelho. Era o cachecol que tinha dado a ela.
-Essa também é nova. – Ele disse apontando para o cachecol no pescoço dela.
-Eu sei. – sorriu. – Desculpe por passar tanto tempo sem usar.
também sorriu e ficaram os dois se encarando e sorrindo por alguns minutos até que ele pigarreou e desviou o olhar.
-Então, onde está aquele seu noivo...? – perguntou.
-Derek. – sempre soube que não gostava de Derek, mas não sabia o real motivo. – Bem, eu e ele terminamos.
Ela olhou para baixo e teve que abraçá-la de novo.
-Ah, que chato. – No fundo ele estava feliz, mas como ele iria poder demonstrar isso se estava triste? – Quando foi?
-Há duas semanas, mas só contei hoje para todos.
-Ah, que pena. – sentiu que tinha que abraçá-la de novo e foi isso que fez. – Mas, sabe que é melhor assim, porque acho que você ia me bater se soubesse o que eu comprei para ele.
-O que?
-Um par de meias. – riu. – Na verdade eu furei uma das meias, então ele ganharia uma meia furada de natal.
-Como consegue ser engraçado e infantil ao mesmo tempo? – riu também.
-Fala sério, se não fosse isso eu compraria um par de sapatos, mas colocaria chiclete na sola. – riu mais ainda. – Será que ele gostaria de ganhar um sapato com chiclete?
-Idiota. – deu um tapa nas costas de dessa vez, já que ainda estavam abraçados.
-Você já disse isso. – sorriu pra ela que sorriu de volta, mas aos poucos o sorriso de desapareceu e ela olhou triste para o chão.
-Olha, eu sei que você vai achar alguém melhor que ele.
-Foi por isso mesmo que eu terminei com ele. – levantou a cabeça e olhou fundo nos olhos do outro. – É que... eu acho que eu estou...
-Desculpem atrapalhar o momento ‘amiguinhos felizes’. – entrou na cozinha falando alto. – Mas o povo todo já está com fome, hora da comida!
-Ah, claro. – se soltou gentilmente de . – Vamos.

Era quase três horas da manhã quando todos tinham ido embora, só tinham sobrado , e . Os dois iam ajudá-la a limpar a casa depois da festa.
-, você esta espirrando água pra todo lado! – quase gritou vendo a bagunça que fazia na pia.
-Você sabe que eu nunca fui com em lavar pratos. – levantou as mãos como se falasse que era inocente.
-Você nunca foi bom em nada que incluísse limpeza, seu chato.
-É triste, mas é verdade. – Ele ri e ela o imita.
-Mas onde o se meteu? – perguntou.
-Bom, quando estávamos todos tomando martini, ele estava tomando uísque. – falou. – Então agora ele deve estar mais bêbado do que quando eu cheguei e já deve ter se jogado no sofá.
Os dois ficaram em silêncio por uns instantes e escutaram os roncos de vindo da sala.
-Que belo irmão eu fui arrumar. – resmungou. – Come, bebe, mas na hora da limpeza, vai dormir.
-Deixa ele dormir um pouco. – disse um pouco baixo. – Mas... antes da ceia, o que você tava falando mesmo?
-Ah... – corou de leve e olhou para os pés. Ela ficava tão linda daquele jeito que teve vontade de abraçá-la de novo só para sentir o calor do seu corpo. – Eu estava falando que o motivo para eu ter terminado com o Derek foi porque... bem, é que eu estou... sabe, eu estou tendo alguns sentimentos, alguns sentimentos muito fortes por outra pessoa.
-Sério? – perguntou mais baixo ainda, com a voz quase falhando.
-Sim.
-E... por quem está tendo esses sentimentos? – Ele fez a única pergunta que poderia ter sido feita naquele momento.
-Tem certeza que você nem desconfia? – ficou nas pontas dos pés e beijou de leve a boca de .
Ela olhou para ele e seu olhar foi retribuído pelo de , que passou a mão mais uma vez por sua cintura, só que dessa vez para beijá-la. Um beijo calmo e silencioso, mas que tinha "alguns sentimentos muito fortes".
-Espera, espera. – se distanciou.
-Por que tem que estragar um momento perfeito assim? – a olhou divertido fingindo um mau-humor repentino.
-Não estou estragando. – saiu da cozinha e voltou com uma maquina digital em mãos. – Eu quero gravar esse momento, exatamente porque ele é perfeito, como você disse.
Ela abraçou com um braço e no outro segurou a câmera, mas não disparou o flash na hora que era para disparar.
-Ah, merda. – Ela olhou a câmera. – Tenho que carregar as pilhas.
saiu da cozinha de novo e pegou o carregador de pilhas para recarregar as pilhar da maquina.
Deixou carregando e voltou para a cozinha, onde ainda a esperava.
-E o que vamos fazer agora? – Ele perguntou quando ela o abraçou de novo.
-Bom, temos duas horas até que a pilha carregue. – beijou-o de leve. – O que quer fazer?
-Sobrou alguma coisa da ceia?
-Bom, acho que sobrou um pouco de arroz e rapadura para comer e martini para beber.
-Perfeito, mas podemos só ficar por aqui mesmo e... – sorriu e a beijou de novo. –... fazer isso.
-Perfeito, e não precisamos necessariamente ficar nesse cômodo da casa. – o beijou mais uma vez.
-Está tudo perfeito para mim. – Ele a beija mais um pouco.


FIM





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