Faltavam dois dias para o natal e o câmpus da Universidade de Exeter estava praticamente vazio, mais parecendo uma antiga construção recentemente abandonada que uma Universidade em si. Ainda restavam alguns poucos alunos, parte deles ficariam por lá mesmo, em geral estudantes de outros países, outros, que ficaram para trás por motivos acadêmicos, arrumavam suas malas para voltar para casa passar o natal com familiares e era na segunda categoria que null se encaixava. No último mês a garota não dera conta dos trabalhos semestrais, porém, depois de tanto chorar e implorar, acabou tendo uma segunda chance, afinal, sempre fora boa aluna e problemas de saúde eram muito justificáveis.
Ao terminar de arrumar tudo na mala null se jogou na cama sorrindo, finalmente voltaria pra casa, encontraria sua família, trocariam presentes, aliás, precisara de uma mala só para os presentes que comprara para todos, inclusive Snoop, seu cachorro. Apesar de adorar dar e também receber presentes não era disso que ela mais gostava nessa época, mas sim do clima familiar e acolhedor, ah, e claro, as músicas natalinas.
- Jingle Bells
Jingle Bells
Jingle all the way
oh what fun...
O telefone do dormitório tocou a interrompendo.
- Alô - falou null
- null? Oi, é a Amanda
Amanda e null se conheceram na Universidade, eram colegas de quarto e com a convivência acabaram se tornando grandes amigas, os pais de Amanda haviam se mudado para o Canadá no início do ano e null a convidara para passar o Natal em sua casa junto com o namorado dela, null. Os dois tinham ido antes para passar na casa dos pais de null.
- Oie, já estão todos ai em casa?
- Falta sua tia Elizabeth, parece que ela chega só amanhã. Bom, eu e o null chegamos há umas duas horas, sua família nos recebeu muito bem. Agora eu sei de onde vem sua fascinação por essa época.
- Natal é a melhor data festiva do ano. É tudo tão lindo e harmonioso e vermelhinho e...
- Ok, já entendi null. Vocês já estão saindo?
- Hum, não. Acabei de arrumar tudo agora mesmo. Já vou descer pra encontrar com os caras.
- null, você acha uma boa idéia essa viagem? Quer dizer, a gente mal conhece esse tal de null e o seu primo null é meio maluquinho, e se der alguma encrenca?
- Ai, Amanda desencana menina, o que poderia dar errado? Além do mais, o null é amigo do seu namorado também, esqueceu?
- Isso não quer dizer nada, o null é amigo do maluco do null, sem contar o null que desde que eu cheguei não pára de me encher.
- Que saudade de vocês - null falou sorrindo tristemente - olha, vou desligar. Quanto antes a viagem começar melhor. Tchau, beijo.
- Beijo e até logo amiga.
null pegou suas malas com um pouco de dificuldade e desceu para o estacionamento.
Ao chegar constatou que não conseguiria colocar as coisas dentro do seu fusca sozinha, o jeito seria esperar null chegar.
- Isso é uma brincadeira, não é? - ao ouvir uma voz conhecida null se virou e viu seu primo ao lado de null null, um aluno de direito que ela conhecia com quem falara poucas vezes nas aulas de teoria política, e de quem não gostava muito - É nisso que a gente vai viajar? - ele perguntou embasbacado apontando para o fusca rosa
- Ei, não fala assim da Brit. - null defendeu o carro irritada
- Brittany?
- É, de Brittany
- É melhor não falar mais nada dude - sussurrou null para o amigo.
- Chega de conversa e vamos logo gente. Eu mal vejo a hora de chegar em casa e ver tudo enfeitado, a árvore, a casa, o pisca-pisca na casa toda - null falava com os olhos brilhando enquanto os outros dois a olhavam sem emoção alguma.
null abriu o porta-malas todo pink e personalizado que ao ver null precisou se segurar pra ficar de boca fechada. Apenas uma mala e as duas mochilas dos garotos couberam, a mala de presentes de null teve que ficar no banco de trás com null. null ocupou o banco da frente já que iria descer em Manchester, na casa de sua namorada.
Mal saíram da cidade e já se depararam com uma fila enorme de carros seguindo a mesma direção.
- Merda, isso é hora pra congestionamento? - reclamou null
- Tecnicamente, sim - respondeu null
- Como é? - perguntou null
- Hello, é natal. Falando nisso... - ela disse pegando um CD dentro do porta-luvas e o colocou no CD - player - Natal não é natal sem músicas natalinas
- Você tem um CD - player em um fusca? Desde quando? - perguntou null se escorando entre os bancos da frente.
- Desde o meu aniversário. Pedi pro papai deixar a Britt do meu jeitinho. Foi meu presente. Fico um arraso, vocês não acham?
Os dois olharam para os bancos todos num tom rosa claro com detalhes em pink, sem contar os detalhes com pedrinhas brilhantes no painel.
- Demais - responderam sarcásticos em uníssono.
null não deu importância e mais uma vez começou a cantar acompanhando a música.
-Jingle Bells
Jingle Bells
Jingle all the way
oh what fun it is to ride
in a one horse open sleigh
Jingle Bells
Jingle Bells
Jingle all the way
oh what fun it is to ride
in a one horse open sleigh
null olhou incrédulo para a garota ao seu lado que cantava quase que histericamente. A frente os carros pareciam que não andariam tão cedo. Se tinha algo que null odiava mais que o natal eram as músicas natalinas que o faziam lembrar esse dia. Irritado, ele desligou o rádio interrompendo null que o olhou sem entender nada.
- O que foi?
- Ao que parece não vamos sair daqui tão cedo. Já basta eu ter ficar por horas dentro de um fusca todo cor-de-rosa chamado Brittany, também não quero ouvir essas musiquinhas chatas e sem-noção de natal.
- Uhhhh - exclamou null enquanto null estava paralisada olhando para null.
- Ah, é bebê? Acontece que esse fusca todo cor-de-rosa é meu, esse CD - player é meu e esse CD com musiquinhas chatas e sem-noção de natal também é meu então se eu quiser ouvir essas musiquinhas durante toda a viajem eu vou. E, caso não se lembre, eu estou te fazendo um favor te levando até a casa da sua namoradinha, ou seja, você está de carona, então cale essa sua boquinha porque aqui você não canta de galo.
- Dude, essa dou em mim - comentou null
- Você me mandou calar a boca? Ninguém me manda cala a boca. - protestou null
- Pegou pesado mesmo null. - null se meteu mais uma vez
- CALA A BOCA null - os dois gritaram juntos e null se encostou no banco com cara de criança assustada
- Eu mando - null disse ligando o rádio de novo e voltando a "gritar" a música enquanto ignorava null - Dashing through the snow
in a one horse open sleigh
over the fields we go
laughing all the way
bells on bop tails ring
making spirits bright
what fun it is to ride
a sleighing song tonight
Passadas duas horas eles sequer estavam perto de Bristol, onde estariam há, pelo menos, uma hora atrás não fosse o congestionamento que, logo descobriram, não era apenas por causa da época, mas também por um acidente que acontecera na entrada de Taunton. Assim que passaram do trecho do acidente o trânsito estava mais tranquilo, os CD's de null chegaram ao fim, mas ainda assim null continuava com mal humorado.
- Esse tipo de coisa não devia acontecer no natal - null falou se referindo ao acidente
- O natal é um dia como qualquer outro - falou null - as pessoas continuam nascendo e morrendo independente disso.
- Natal não é como qualquer outro dia.
- Isso é só uma justificativa para as lojas ganharem mais, null. Tudo se trata de lucro.
- Você tem que ser sempre não cético? Quando eu falo do espírito natalino não quero falar só de presentes. Natal é um aniversário, afinal, é o nascimento do menino Jesus, e nascimentos devem ser comemorados.
- Nem todos são e essa data não é exata, você sabe muito bem. - justificou null
- Mas é simbólica - insistiu null - Já sei, você é judeu, não é?
- Não, mas não tem nada a ver com religião. No que acha que eu deveria acreditar?
- Sei lá, em milagre de natal talvez
- Ridículo
- Quer falar sobre isso?
- Pensei que fizesse jornalismo, virou psicóloga agora?
- Só quis ajudar. - null sussurrou sem jeito
- To com fome - falou null após algum tempo de silêncio que ficou no carro
- Espera até a gente chegar a Bristol.
- Não dá, eu to com muita fome. Eu quero comer agora.
- Eu quero comer agora - null o imitou com uma voz de criança - Você é tão infantil.
- Só ele? - disse null
- Fica quieto, null
- null, já é a segunda vez que você me manda calar a boca hoje.
- Eu não fiz isso - reclamou null
- Eu não falei com você, idiota, é a tua prima que mal me conhece...
- E não gostei da parte que conheci.
- Nem ligue, dude. A null é assim mesmo, adora mandar todo mundo calar a boca.
- E agora é você que tem que calar a boca nullzinho lindo.
- Você se acha, null, esse é seu problema.
null ignorou e continuou dirigindo.
Chegando em Bristol se dirigiram até um restaurante. null pediu quase tudo que tinha no cardápio, null e null se admiravam com a quantidade de comida que o outro punha para dentro, esperavam que esplodisse ou algo do tipo a qualquer momento.
- Meu Deus, não me envergonhe null.
- Que foi? - null perguntou com a boca cheia - Eu disse que tava com fome.
- Dude, você é nojento - falou null
- Parece que concordamos em alguma coisa, null. - disse null sorrindo
null a olhou e não resistiu em retribuir o sorriso.
Depois de um tempo conversando naquele restaurante o ânimo dos três pareceu melhorar bastante, inclusive o de null.
- Eu vou dar uma volta pela cidade, vocês vêm? - null perguntou após terminar seu prato
- Eu vou - respondeu null
- Eu vou comer mais um pouco - falou null
- É por isso que ta engordando. - brincou null fazendo o primo passar a mão na barriga com cara de interrogação
- Você acha?
- Talvez - ela respondeu se retirando da mesa
- null, você acha que eu to engordando?
- Talvez - respondeu null seguindo null
Os dois saíram rindo do restaurante, deixando um null pensativo para trás.
- Você é um pouquinho má às vezes, não acha?
- Nããã, ele também é assim comigo.
Eles caminharam um pouco até que passaram em frente a uma loja com vários presentes e lembrancinhas com temas natalinos, null estacionou em frente a vitrine estampando um grande sorriso no rosto.
- Eu - preciso - entrar - aqui.
- Nem pensar
- Ah, null, por favor. - ela pediu juntando as mãos e implorando.
- Escura, eu não vou entrar ai, mas se você quer tanto vai que eu vou procurar uma coisa, depois volto e te encontro aqui, ok?
- Hum, ok. Já vi que não vou conseguir te colocar no espírito de natal.
null balançou a cabeça negativamente. Ele ficou observando null entrar na loja de presentes depois seguiu a procura de uma joalheria. Apesar de odiar o natal, naquele ano null estava decidido a, pelo menos, tentar mudar aquilo. A verdade é que nunca tivera sorte nessa época do ano, parecia mais uma maldição, sempre que vinte e cinco de dezembro chegava junto vinha alguma má notícia, ou algo muito ruim acontecia com ele. Talvez aquele ano fosse diferente.
Não muito longe encontrou uma joalheria, lá encontrou a aliança perfeita para pedir Ashley, sua namorada há três anos, em casamento. Sabia que estava se arriscando em fazer isso na sua data de azar, mas estava cansado de ser perseguido por uma data, aquilo já estava ficando ridículo.
Perto dali null acabara de comer e estava saindo do restaurante a procura do amigo e da prima quando uma mulher morena e muito bonita passou por ele, sem pensar duas vezes null a seguiu e, como era de se esperar, a tal de Melissa lhe deu total atenção. Em questão de minutos os dois já estavam na casa dela. Do lado de fora a temperatura era de uns dois graus no máximo, mas mal tinham fechado a porta e metade das roupas já estavam bem longe de seus corpos, espalhadas pelo hall de entrada.
- Uau - exclamou null deitado na cama arfante - Eu amo essa cidade.
- Você foi incrível null. - falou Melissa
- Eu sei, Marina.
- É Melissa
- Ah, ok. Melissa
O local em que a casa ficava parecia bem calmo, desde que chegara null não ouvira nem o som de carros como no resto da cidade, pelo menos até aquele momento. Ao ouvir o motor de um carro se aproximando Melissa ergueu a cabeça do peito de null e o olhou assustada.
- Meu marido.
- SEU O QUE?
- Marido
- VOCÊ NÃO DISSE QUE TINHA MARIDO
- Bom, você não perguntou.
null pulou da cama e olhou pela janela. Se aliviou ao ver um carro de polícia se aproximando.
- Ah, é só um policial. Tem uma viatura virando aqui na rua. - falou olhando para a mulher na cama
- Hum, null, meu marido é delegado.
null arregalou os olhos e se virou de novo para a janela e de volta para Melissa
- MELINA, VOCÊ NÃO ME DISSE QUE SEU MARIDO É DELEGADO.
- Você não perguntou e é Me-lis-sa
- Eu não perguntei?! Esse é o tipo de coisa que você fala quando um cara de paquera, sabe? Oi, meu nome é Melissa, eu sou casada e meu marido é delegado. - Melissa arqueou as sobrancelhas começando a achar que acabara de transar com um fugitivo do hospício - Cara, eu to morto. O QUE EU FAÇO AGORA?
- Em primeiro lugar pára de gritar - Melissa falou se vestindo com qualquer coisa do guarda-roupa - você me deixa nervosa. Tem uma porta na cozinha, você vai ter que sair pelos fundos.
- Ok - null falou indo para a porta quando se deu conta de que estava nu - E A MINHA ROUPA? FICOU NA ENTRADA.
- Vamos ter que pegar o mais rápido possível.
Os dois correram em direção à sala, mas quando chegaram na escada ouviram o barulho da porta se abrindo.
- Merda, eu sou muito novo pra morrer.
- Melissa, meu amor. Acabei de... - ouviram a voz do homem se calar de repente - MELISSAAAAA
- Volta - ela sussurrou desesperada para null
Eles correram de volta pro quarto e Melissa abriu a janela, nesse momento um vento frio atingiu o quarto.
- Você ta louca? Olha a minha situação. Ta quase nevando lá fora.
A mulher pegou um sobre-tudo do marido e jogou para null.
- Coloca isso e vai logo.
null se cobriu e saiu pela janela, acabou escorregando no telhado na tentativa de chegar à árvore, aquilo realmente tinha doído, mas a dor seria muito maior se fosse pego.
- Cadê ele, Melissa?
- Ele quem? Não tem ninguém aqui.
- ACHA QUE EU SOU IDIOTA? EU VI....
null saiu correndo sem nem prestar atenção no caminho, quando deu por si já estava no centro da cidade trombando com alguém parado em frente a uma loja de presentes.
- Desculpe - falou olhando para a pessoa com quem acabara de trombar - null? Dude, você tem que me ajudar. Vão me matar se eu não sumir daqui. A gente tem que ir embora.
- Ei, ei, calma. null se acalma e me explica ok? - null olhou o amigo de cima abaixo - Aproveita e me explica o porquê de você estar descalço nesse frio.
null olhou para os próprios pés e só então se deu conta disso e também de que todos os seus documentos e seu dinheiro estavam dentro do bolso da jaqueta.
- Merda. Cadê a null. Eu preciso dos meus documentos.
- null, dá pra me explicar o que aconteceu?
- Me diz onde a null está, o resto eu explico no caminho.
- Dentro dessa loja. Cansei de esperar.
- Vamos atrás dela.
- De jeito nenhum, eu não vou entrar ai.
- É caso de vida ou morte.
null bufou e entrou na loja de má vontade.
O lugar parecia bem maior do que aparentava no lado de fora, estantes enormes se estendiam em vários corredores lotados de compradores atrasados de natal.
Foi null quem achou null entre duas estantes com diversos anjinhos que cantavam ou faziam qualquer coisa do tipo, a garota estava tão empolgada com os anjos que não se deu conta da presença dele.
- null
- Ai, null. Quer me matar do coração. - repreendeu null - Ei, o que você está fazendo aqui? Pensei que não gostasse dessas coisas.
- Teu primo se meteu em confusão.
- E...?
- Ele disse que é caso de vida ou morte ou sei lá o que.
Nesse momento null os encontrou.
- null você tem que me ajudar a pegar minhas coisas de volta.
- Que casaco é esse null - ela perguntou olhando apontando para a roupa - e cadê seu tênis?
null explicou os últimos acontecimentos a caminho do carro, isso depois de comprar uma pantufa de papai-noel o único calçado que havia na loja.
- Eu não acredito null null - null falou irritada - será que você não pode ficar sozinho por um minuto que já tem que arranjar confusão?
- Eu não sabia que ela era casada.
- Ah, não? Sabe null esse é o tipo de coisa que você pergunta antes de levar uma mulher pra cama. Oi, eu sou null e você? Tem namorado ou marido? UM MARIDO DELEGADO QUEM SABE? - null riu sem que ela percebesse ao lembrar de ter dito algo semelhante a poucos minutos - E agora? Como vamos recuperar suas coisas?
null lançou a ela um olhar de cachorro pidão.
- Ah, não, nem pense nisso.
- null
- Não
- Por favor.
- Porquê eu? Porquê não o null?
- Ficou maluca? - falou null - O cara não viu o null, e se ele achar que sou eu o amante?
null bufou olhando de um para o outro, por mais que tentasse ser insensível acabou sentindo pena de null.
- Ok, ok. Onde é essa casa?
null a instruiu e, com o fusca, eles pararam a uma quadra da casa.
null desceu com sua sacola de presentes. De acordo com null se o marido ainda estivesse em casa ela deveria dizer que era uma vendedora, null não gostou nada da idéia, e se eles resolvessem comprar um de seus presentes tão fofos? Ela mataria null de qualquer jeito, mas se isso acontecesse ele morreria com muita, mas com muita dor mesmo.
Nem dez minutos tinham se passado e ela voltou com as roupas.
- Ele estava lá? - Perguntou null
- Não. A tal de Melissa disse que ele foi te procurar pela cidade. - null respondeu jogando as roupas para null
- É melhor ir embora. Se aquele cara me achar eu estou morto.
- null, meu amor - disse null ligando o carro - você está morto de qualquer jeito, mas vamos embora sim porque eu quero te matar com as minhas próprias mãos.
E novamente os três voltaram para a estrada a caminho de Manchester, onde deixariam null, e, em seguida, para Preston. Talvez chegassem ao anoitecer, o plano inicial é estarem em seus destinos antes disso, porém acaram saindo muito tarde e o congestionamento também não ajudara.
null já estava no quinto sono quando null olhou pelo retrovisor e null parecia pensativo enquanto olhava pela janela.
- Então - ela começou tentando puxar assunto - não vai mesmo me dizer o porquê desse seu trauma do natal.
- Você não desiste mesmo, não é? - null falou, dessa vez sorrindo
- Não. Sou muito curiosa, deve ser meu signo.
null suspirou se dando por vencido.
- Tudo bem. As coisas simplesmente não dão certo pra mim nessa data, começando por quando eu tinha seis anos... Eu tinha um cachorro, ele era meu único amigo, nunca fui muito sociável...
- Já percebi
- Vai me deixar falar?
- Desculpa
- Bom, acontece que onde eu morava não podia ter animais então o snoop...
- Espera.
- O que foi dessa vez?
- Snoop? Era o nome do seu cachorro?
- Foi o que eu acabei de falar, não foi? - null disse confuso
- Meu cachorro se chama Snoop.
- Mesmo?
- Ahãn. Eu adorava esse desenho. Ai, desculpa, te atrapalhei de volta. Pode continuar. Prometo que vou ficar de boca fechada.
- Então... Eu tive que dar o Snoop pra um senhor que morava por perto porque ele sempre me deixava visitar, isso aconteceu no natal e, exatamente um ano depois, ele morreu.
Os dois ficaram em silêncio e null não sabia como agir ou o que falar, quer dizer: ele tinha trauma do natal porque o cachorro tinha morrido? Ficou com medo de parecer insensível caso falasse isso em voz alta.
- Eu sei que está achando isso ridículo - falou null - mas não é tudo. Nos anos seguintes isso sempre acontece.
- Um cachorro morre?
- Não. Alguém sempre me deixa, namoradas amigos que vão embora, pessoas que morrem... Sempre nessa época.
- Talvez as coisas sejam diferentes esse ano. - null tentou consolá-lo
- É talvez - null falou apertando a caixinha com a aliança dentro do bolso.
- Hum, se te ajuda, quando eu tinha dez anos o gato da minha prima comeu meu peixinho dourado - null riu da tentativa da garota - e, dois anos depois ele comeu meu passarinho... Que eu tinha acabado de ganhar de presente de natal da minha mãe. - E meu hamister fugiu da gaiola porque meu irmão mais novo deixou a gaiola aberta, depois a gente encontro ele morto no quintal.
null já ria abertamente dos fracassos de null com seus animais de estimação. Empolgada ela continuou a contar sobre todos os seus animais e "traumas" de infância também.
A idéia era parar só quando chegassem em Birmingham pra comer alguma coisa, se esticarem e continuar a viagem antes que null tivesse tempo de se meter em alguma confusão, infelizmente Brit não parecia disposta a colaborar. Estavam chegando em Worcester quando o fusca, de repente, resolve morrer.
- O que aconteceu? - perguntou null acordando com o barulho estranho que o carro fez
- Eu não sei - falou null tentando ligá-lo de novo - Não quer funcionar.
Eles desceram e os rapazes tentaram encontrar o problema, mas não tiveram sorte.
Chamaram um guincho que os levou até uma oficina na entrada da cidade.
- Talvez em alguns dias... - disse o mecânico analisando o motor
- Alguns dias? - perguntou null - nós precisamos chegar em casa até o natal
- Pra onde estão indo?
- Preston - respondeu null
- Eu posso dar um jeito dele agüentar mais uns quilômetros, mas quando chegarem na cidade terão que procurar um mecânico pra dar um bom trato nele.
- E vai demorar muito pro senhor fazer isso? - perguntou null
- Até amanhã, antes do meio-dia talvez.
Os três retiraram as malas do carro e foram para um Hotel indicado pelo mecânico.
- Como assim só tem um quarto? - null perguntou indignada para a recepcionista
- É quase véspera de natal, não vão encontrar vaga em hotel nenhum por aqui. - explicou a mulher
- Mas se é natal deveria ter mais vagas, as pessoas não deviam estar na casa para a ceia com a família? Cadê o espírito natalino? A união, o amor, a confraternização entre seus entes?
A recepcionista olhou de null para os rapazes como se perguntasse se tinha algo de errado com ela.
- Olha, eu não sei, o meu trabalho é só alugar os quartos. E também não gostaria de estar aqui em pleno natal, mas parece que ninguém liga a mínima pro que eu penso. - falou a recepcionista
null fez uma cara infantil
- Mas eu sou uma menina - falou manhosa - não posso dormir no mesmo quarto que eles.
- Eu não posso fazer nada. Só temos um quarto com duas camas.
- null, melhor isso do que nada - falou null pegando a chave
Pelo menos o quarto era bom, pensaram todos ao entrar, porém havia apenas duas camas. null se adiantou e sentou em uma delas.
- Essa é minha. Vocês que são homens que se entendam.
- Par ou ímpar? - perguntou null para null
- Par.
- Droga - falou null ao sair o quatro
- Rá, ganhei - disse null se jogando na cama
Estava escurecendo, mas, mesmo após a viagem, nenhum dos três estava com o mínimo sono, depois de jantarem e tomarem um bom banho resolveram conhecer a cidade.
Passaram por praças iluminadas onde casais e turistas caminhavam, o lugar era realmente bonito, mas null não estava prestando muita atenção a isso e sim as mulheres do lugar.
- É essa - falou ao ver uma loira passar ao seu lado
- Espera - null o puxou antes que ele pudesse segui-la - vê se pergunta se ela é solteira, entendeu?
- Entendi mãe, pode deixar - falou null levando um tapa dela no braço.
null e null caminharam um pouco em silêncio, dessa vez foi ele quem iniciou a conversa.
- Eu te falei sobre meus natais, você ainda não me contou sobre como são os seus.
- Bom, null nunca comentou sobre nada assim?
- Por que eu falaria sobre natal com ele? A maluca natalina aqui é você.
- Ei - ela exclamou lhe dando um tapa - Tudo bem, eu sei que sou um pouquinho exagerada com esse negócio de espírito natalino e tudo mais, mas é realmente especial pra mim essa época. É quando todo mundo se reúne na casa de alguém e é a única época do ano em minha família está toda unida, na maior parte do tempo é cada um pro seu lado. Então, quando chega vinte e cinco de dezembro, minha casa fica cheia, crianças correndo por todo o lado deixando os pais loucos, os jovens fazendo joguinhos bobos e conversando, os mais velhos discutindo sobre política ou futebol... - null sorriu olhando para o céu estrelado - É difícil explicar, mas eu me sinto bem, talvez por ter tantas pessoas que eu amo do meu lado.
- Até o null?
- É, mas não conta pra ele. - ela sussurrou
- Pode deixar - null a imitou - É o nosso segredo.
Ao passar por um homem que tocava flauta na ponte por onde esles passavam null lembrou mais uma coisa sobre seu natal.
- Eu sempre tocava.
- O que?
- Flauta, eu sempre tocava na noite de natal. Quando eu era criança assistia admirada minha mãe tocando, achava lindo, então quando eu tinha cinco anos ganhei uma flauta dela. Passava o ano todo ensaiando pro natal. Eu sei que pode parecer bobo, mas pra mim era especial.
- Era? Você não toca mais?
- Há dois anos, assim que entrei em Exeter, esqueci ela no meu quarto e o Snoop encontrou, ele a destruiu. Depois eu acabei me ocupando demais pra ficar ensaiando.
- Um dia quero te ouvir tocar.
- Quem sabe.
- Ei, olha só - ele falou a guiando pela ponte e apontando para um grande castelo no outro extremo do rio - a catedral de Worcester.
null se encostou à ponte admirando a catedral com tons amarelos que pareciam brilhar na noite por causa de sua iluminação.
null não estava tão atento a isso, ele conseguia ver tudo através dos olhos de null que brilhavam mais do que a luz da lua ou qualquer outra em meio a escuridão da noite. Ela parecia uma criança descobrindo o mundo pela primeira vez.
- É linda - sussurrou null
- É... É linda - falou null sem tirar os olhos dela
- Sabe o que falta pro natal perfeito? - null não respondeu ainda absorto nela - Neve
Como em um passe de mágica ao fim dessa palavra null viu algo pequeno e branco cair nos cabelos de null.
- Isso é... Neve?
null olhou em volta abrindo um grande sorriso para null.
- Ainda não acredita em milagre de natal, null?
- A temperatura deve estar abaixo de zero, coincidência, null.
Os dois estavam mais próximos que o planejado.
null pensou que não podia sentir cheiro algum por causa do frio ter quase congelado seu nariz, mas sua proximidade com null lhe fez sentir um aroma diferente, parecia menta, como nos romances que lia sem contar a ninguém. Se sentiu um pouco ridícula pensando algo assim, mas estava cada vez mais confusa para se preocupar com o hálito dele. A questão mais importante era: O que estava acontecendo entre eles? Porque estar tão próxima de null a incomodava e, ao mesmo tempo, a traquilizava?
- GENTE, TA NEVANDO - ouviram null gritar, no que null se afastou rapidamente
- Sério null? Se você não me contasse eu não teria percebido - null falou irritada passando pelo primo o empurrando
- O que deu nela - perguntou para null
- Eu que sei? - ele respondeu saindo do mesmo modo que null deixando um null perdido para trás.
null estava no banheiro se arrumando para ir dormir quando, ao puxar sua mala, derrubou a jaqueta de null no chão, ela devia estar aberta, pois, ao apanhá-la, uma caixinha preta caiu.
No fundo null sabia o que continha ali, mesmo assim não pode resistir e a abriu. Era uma aliança perfeita, o tipo que qualquer garota gostaria de ganhar ao ser pedida em casamento. Sem entender o porquê de ter ficado tão irritada null guardou a caixinha de volta e saiu do banheiro. Os outros dois já estavam dormindo e ela decidiu fazer o mesmo, mas só conseguiu pegar no sono quase uma hora depois.
Ainda era madrugada quando o celular de null tocou e ele o atendeu sonolento.
- July? - falou tentando lembrar do nome - ah, claro, do parque. É pra já.
null e null não acordaram com o barulho e null saiu do quarto sorrateiramente rumo ao quarto da loira.
Quando null acordou nem null ou null estavam no quarto, estranhou um pouco, era cedo demais. Não sabia dos horários de null, mas para seu primo ainda seria madrugada. Resolveu não se preocupar, os dois eram bem gradinhos pra isso, e foi tomar um banho. Ao sair encontrou null arrumando a mochila.
- Fui na oficina, o carro ta pronto. - ele falou sem olhá-la
- Cadê o null?
- Quando acordei ele já tinha saído.
- Vou ver se encontro ele. Já volto.
null saiu do quarto, mas não estava pensando em procurar null, apenas queria estar longe de null. Era estranho tudo o que estava acontecendo e o pior é que não estava acontecendo nada realmente. Nada tinha mudado, pelo menos não do lado de fora.
Decidida a para de pensar em null ou qualquer coisa que tivesse a ver com ele, null foi atrás de null. Não precisou procurar muito, pois, ao virar no primeiro corredor o viu cantando caído no chão com uma loira no chão, a porta do quarto de onde eles deviam ter saído estava aberta.
- null, você passou a noite aqui?
- Ah, oooi null. A noite foi muito, muito boa - null falou rindo como um idiota.
Precisou da ajuda de null pra fazer null soltar da mulher e eles irem embora. Na hora em que null e null estavam pagando a conta na recpção null sumiu mais uma vez. O encontraram no bar bebendo o martini de um desconhecido que estava prestes a bater em null.
- Espera, espera, espera - pediu null para o homem - por favor, não faz isso. Ele é meu primo e tem um probleminha com mulheres e bêbidas, mas eu juro, prometo pelo que o senhor quiser que quando ele se recuperar eu vou matar ele com minhas próprias mãos
Mesmo de má vontade o homem concordou em deixá-los ir sem ferir null.
- É por isso que eu te amo priminha linda - null falou beijando a bochecha de null
- Eca, você ta fedendo.
null foi para a oficina carregado por null.
Dessa vez null ficou no banco do passageiro enquanto null dirigia e null mais uma vez ficou dormindo no banco de trás.
- A quanto tempo vocês estão juntos? - perguntou null - Você e a...
- Ashley? Quase um ano.
- Não é muito tempo. Acha que ela vai aceitar? - null perguntou pouco depois que voltaram para a estrada sem conseguir se segurar
- Ta falando do que?
- Não entendi sua pergunta.
- Ontem, sem querer, eu vi a aliança. É muito bonita.
- Você mexeu nas minhas coisas?
- Não, eu...
- Não é porque nós começamos a nos dar bem que você tem direito de fazer isso.
- Eu já disse que foi sem querer - null respondeu um pouco exaltada
- Estava dentro da minha jaqueta...
- O bolso tava aberto. Qual o seu problema? Pensei que tinha ficado tudo bem entre nós.
- Estava até você se intrometer na minha vida.
- EU NÃO FIZ ISSO. E você sabe muito bem que o problema não é esse. Você ficou assim pelo que aconteceu ontem.
- Não aconteceu nada ontem...
- E o seu medo é que aconteça...
- Não vai...
- Seu mal humor também não tem a ver com o natal. Pensa que eu acreditei naquela história ridícula do seu cachorrinho?
- Agora vai querer dizer o que aconteceu ou não comigo?
- Era mentira. Sabe qual é o seu verdadeiro problema, null?
- Diga Dra. null.
- Você tem medo de se envolver.
- É mesmo? E como você tirou essa conclusão?
- Você afasta todo mundo com esse seu humor pra não criar vínculos.
- E essa aliança no meu bolso significa o que? Eu estou tentando afastar a Ashley com um pedido de casamento?
- Você acha que ela não vai aceitar.
- Uau, como você descobriu que eu vou pedir a mão da minha namorada em casamento na esperança de que ela não aceite. Me assustou agora.
- Anda null, você sabe que tudo o que eu disse é verdade, admita que é. APROVEITA E FALA O QUE REALMENTE ACONTECEU?
- NÃO É DA SUA CONTA.
- Coitadinho de mim, ninguém me ama, ninguém me quer. Todos me abandonam no natal...
- MINHA MÃE MORREU NA NOITE DE NATAL - null gritou freando bruscamente.
null ficou calada sem saber o que dizer, dessa vez tinha ido longe demais, tinha sido cruel. null desceu do carro batendo a porta com força, sentou no capô com o rosto entre as mãos e começou a chorar dentro do carro null não percebeu isso, ela virou para a janela ao seu lado, estavam parados em uma estrada sem movimento, quando deu por si as lágrimas invadiram seus olhos, nunca sentiu tanta raiva dela mesma.
Após dez minutos null finalmente voltou para o carro, null estava dormindo, ou só de olhos fechados, ele não deu atenção.
Até Manchester seria, no mínimo, mais duas horas, duas horas de completo silêncio considerando o estado de null e sua discussão com null.
- Chegamos - null falou acordando a garota
- Já?
Eles demoraram um pouco pra sair. null pegou sua mochila no porta-malas quieto e null o olhava da mesma maneira.
- É isso. - falou null - Foi... Interessante.
- Foi.
- Obrigado.
null acenou com a cabeça e fechou o porta-malas sem olhar para null que seguiu em direção aos edifícios do outro lado do parque em que estacionaram.
- null, acorda
- Ah, não
- null, anda. Chegamos a Manchester. Vamos procurar uma lanchonete, você precisa tomar um café bem forte.
- Já estamos em Manchester? Cadê o null?
- Já foi atrás da namoradinha, noivinha ou sei lá o que dele.
- Ih, já vi que rolou confusão enquanto eu dormia.
- Cala a boca. Vamos logo.
- null? - uma voz de homem falou atrás de null
null chegou ao apartamento de Ashley, segurou a caixinha com a aliança forte no bolso e apertou a campainha. Vozes foram ouvidas do lado de dentro, uma delas ele reconheceu como sendo da sua namorada, mas a outra não estava clara o suficiente.
Para a surpresa de null quem atendeu a porta não foi Ashley, mas um homem moreno com uma toalha amarrada na cintura, logo depois Ashley apareceu também com uma toalha em volta do corpo.
- Amor, quem... - a loira ficou estática ao ver quem chegara - null?
Sem falar nada null se virou em direção ao elevador enquanto ouvia Ashley lhe chamando, mas não deu bola. Por mais incrível que pudesse parecer era como se ele já soubesse que aquilo aconteceria, talvez por isso não doesse tanto, mas dessa parte null já não tinha certeza.
Saiu pelas ruas sem saber o que procurar exatamente, se tivesse sorte null e null ainda estariam na cidade. Ligou para um amigo que passaria o natal na casa da namorada e pediu o apartamento de Preston emprestado e saiu buscando por um fusca rosa escandaloso. O encontrou em frente a uma lanchonete perto do mesmo parque em que tinha estacionado. Antes de atravessar a rua viu na vitrine de uma loja de instrumentos musicais uma flauta enrolada em várias fitas natalinas, acabou lembrando da conversa da noite anterior.
null estava decidido a dar a flauta que acabara de comprar para null, mas quando entrou na lanchonete a viu conversando com James Miller, seu ex, ou era isso que null pensava. Não os via juntos há uns meses, mas agora pareciam bem íntimos.
null apareceu na mesa animado como sempre. null guardou a flauta na mochila e se aproximou.
- Licença? - todos na mesa olharam para ele - Será que vocês me dão uma carona pra Preston?
- Ela não aceitou. - null não tinha feito uma pergunta
Finalmente os três amigos, ou o que quer que tenham se tornado, estavam na estrada dessa vez tomando o mesmo rumo e com null no volante e null no banco de trás.
Apesar de null não ter aceitado bem a idéia de null passar o natal sozinho decidiu não protestar, a última briga dos dois era mais que suficiente. Além do que em menos de uma hora cada um iria pro seu lado e quando voltassem para Exeter não precisariam mais conviver, mas isso não a deixava tranquila, pelo contrário.
- O que aconteceu ai na frente? - perguntou null ao chegarem à entrada de Preston
- Acho que é só uma blitz ou algo assim. - respondeu null - sempre tem nessas épocas.
- Droga. - disse null
- O que foi null? - perguntou null, mas antes que ele pudesse responder chegaram aos policiais
- Posso dar uma olhada no carro? - perguntou o policial
- Eu não acredito null - null falou tentando se controlar enquanto entrava na cela - Maconha?
- Foi só um pouco - null se defendeu
- Um pouco? UM POUCO? EU TAMBÉM VOU TE MATAR SÓ UM POUCO null
null avançou para cima do primo segurando as pontas do cachecol cada um para um lado o enforcando. Pego de surpresa, null demorou alguns segundos para se dar conta da tentativa de homicídio e tentar impedir.
- null, calma. Se você fizer isso nunca mais vai sair daqui.
- EU NÃO ME IMPORTO - null gritava agarrado ao cachecol - ELE SÓ ME METE EM CONFUSÃO. EU VOU FAZER UM BEM PRA HUMANIDADE.
- Disso não há dúvidas, mas pensa na sujeira que você vai fazer. null deixa pro seu tio, ele vai gostar da oportunidade de matar o próprio filho.
- Tem razão - null falou se rendendo - tio Richard vai te fazer sentir mais dor. Isso não é justo, a gente não sabia que esse idiota tinha maconha, muito menos uma arma.
- A arma não era minha. Devia estar dentro do sobre-tudo do delegado corno. Deve ter caído quando eu tava me trocando.
- É melhor você calar a boca - null falou com o dedo na cara de null e sentando do outro lado da cela
- null, se acalma - null pediu sentando ao seu lado - você ouviu o policial, só temos que esperar o delegado chegar pra resolver isso.
- Não gosto muito de delegados - falou null
- CALA A BOCA - null e null falaram juntos fazendo null se encolher e ficar quieto
- Desculpa, null
- Pelo que?
- A gente acabou com mais um natal pra você.
- Ta falando sério? Acho que de todos os meus natais esse foi o menos pior.
- Sério?
- Foi legal ver o null se ferrar.
- É, ele estaria morto se aquele delegado tivesse o encontrado.
- Na verdade eu falei sobre a sua tentativa de assassinato.
null riu, mas, em seguida, sua expressão decaiu novamente.
- E desculpa por tudo que eu disse no carro. Eu juro que não queria ter sido cruel daquele jeito.
- De certa forma você tinha razão... Mas a história do Snoop não era mentira, ele era o cachorro da minha mãe... A única lembrança que eu tinha dela, mas ele não podia ficar no orfanato e o resto você já sabe.
- O delegado chegou. - informou o policial
Ao chegarem à frente do delegado todos começaram a falar ao mesmo tempo o deixando confuso.
- UM DE CADA VEZ, UM DE CADA VEZ
- EU VOU FALAR PRIMEIRO - disse null - É o seguinte senhor...?
- Senhor não - pediu o delegado que de fato era muito jovem - Apenas Davies.
- Ok, Davies. Acontece que esse cabeça oca do meu primo é um rebelde sem causa...
- Ei
- Cala a boca null. Continuando, esse idiota aqui é um babaca que se envolveu com a mulher do delegado...
- Ah, é? - perguntou Davies
- NÃO É A SUA - falou null - Foi a mulher de um delegado em Bristol, eu juro que não me envolvi com a tua mulher.
- Eu sei, não tenho mulher.
- Não? - perguntou null - Nossa, um homem tão bonito.
- Acha mesmo?
- Com certeza.
- null - null a repreendeu
- Voltando, ele pegou o sobre-tudo do delegado porque precisou pular a janela pelado então a arma devia estar dentro da jaqueta e não é nossa. Quanto a maconha nós dois não sabíamos e também é só um pacotinho, não é como se ele estivesse contrabandeando.
- Ainda assim isso é ilegal aqui senhorita.
- Por favorzinho. É natal. - ela pediu manhosa
- Vou lhes dar uma chance. Podem fazer uma ligação pra alguém vir pagar a fiança.
- Hum, null - null a chamou - Pode avisar meu pai?
- Ok.
null ligou para seu pai explicando tudo e aproveitou para pedir um "favorzinho" ao buscá-la.
O Sr. null chegou sozinho, disse que seu irmão precisaria se acalmar para que ele não parasse na cadeia aquela noite por assassinato, pois estava prestes a matar o filho.
- Estão todos liberados - disse o policial abrindo a cela
- Você disse todos? - perguntou null
- Foi.
- Anda null - falou null - Não achou que eu realmente deixaria você passar o natal sozinho? E meu pai pagou sua fiança, ta me devendo um favor.
Ao chegar null quase foi atropelado por uma bando de duendes, na verdade eram crianças vertidas todas de verde iguais a duendes e os mais velhos estavam de vermelho.
- Eba, chegamos a tempo da ceia - falou null
- - alguém gritou da sala e null correu para a cozinha
- Vou me trocar - null falou subindo as escadas, voltou minutos depois com um vestido todo vermelho.
No inicio null se sentiu como um peixe fora d'água, nunca tivera uma família ou algo parecido. Sempre dependera de si mesmo. Mas não demorou muito para se enturmar em uma e às vezes várias conversas ao mesmo tempo que rolavam durante a ceia. A certa altura se perdeu no sorriso de null sentada a sua frente, começara a entendê-la, todo aquele encanto pelo natal. Sentiu que talvez aquele sentimento começava a tocá-lo também, como alguém poderia não se sentir bem perto daquele sorriso?
Presentes foram entregues, papai-noel desceu pela chaminé a meia-noite depois que o velhinho foi embora a chaminé foi acesa. Crianças dormiam por todos os cantos da casa, por mais que duas ou três ainda resistissem. Na sala estavam null, null, null, null, Amanda e null esparramados pelo chão observando null fazendo suas palhaçadas com o saco do papai-noel que ficara para trás.
- Ta calor aqui - falou null - Vocês não acham?
Todos negaram com a cabeça até que Amanda se deu conta do porque do calor de null
- SEU SACO TA PEGANDO FOGO
null olhou para sua calça, mas não viu fogo algum
- NÃO ESSE SACO - falou null - O DO PAPAI-NOEL
Na pressa null pegou o aquário e jogou nas costas de null
- MEU PEIXINHO - gritou Evelyn uma priminha de null que acabara de chegar para pegar seu aquário.
null pegou o peixe e correu para a cozinha salvá-lo enquanto os outros riam.
- Sabe, ainda falta um coisa pra esse natal ser perfeito - falou null
- Uma flauta? - disse null entregando finalmente o presente
- Eu não acredito. É linda null... Mas não era nisso que eu estava pensando - ela falou aproximando seu rosto dele e o beijando de forma calma, mas, ao mesmo tempo ansiosa. - Ainda não acredita em milagres de natal, null?
- Como eu não poderia se eu tenho um aqui nos meus braços, null? - null respondeu voltando a beijá-la. Talvez o natal não fosse assim tão ruim e, afinal, milagres de natal existem é só acreditar.