Pedido de Natal
por Beatriz Fletchá


Challenge #01

Nota: 7,6

Colocação: 10°




- Mamãe, levante! É Natal, vamos abrir logo os presentes! – um garoto entrou sorrindo e arrastando sua manta pelo quarto.

- , desce. – os pequenos olhos pararam no lado vazio da cama, provocando-lhe uma careta.

- Onde o papai foi? – voltou-se para a mulher, que permanecia de costas para a porta.

- , desce! – assustou-se com o tom grosso, dando um passo para trás.

- Mamãe...

- AGORA!

---

- Ele foi embora, . Não sei o que fazer, não sei como vai ser... – as lágrimas escorriam livremente por sua face enquanto era abraçada pela irmã. – E o ?

- Vamos dar um jeito, querida. Às vezes, pode ter sido o melhor, não poderia crescer com um pai bêbado. – o garoto olhou pelo vão da porta que levava a sala, sumindo com o sorriso de antes.

- Mas não tenho como cuidar dele, . – as palavras soaram para ele como um baque, sentando no chão e encarando fixamente a porta de entrada.

- Se você quiser, posso tomar conta dele, . – seus olhos encheram de lágrimas, aproximando-se da mãe.

- Por que o papai nos abandonou, mamãe? – a voz chorosa tomou-lhes a atenção, abraçando a manta fortemente.

---

- ! – a garota arfava, dando leves soluços. – O está no hospital!

- Como assim? Ele disse que iria pra uma festa e...

- Ele bateu o carro, ! – gritou com certo desespero, puxando um pouco de ar.

- O QUÊ? Como, ele ta, ?

- O médico disse que está com ferimentos graves em uma parte da cabeça e... , não sei o que fazer! Ele não está dizendo coisas lógicas e...

- Qual o hospital?

- Aquele no centro de Londres... – suspirou pesadamente, levantando em um impulso e colocando o casaco.

- Estou indo para aí.


---

Sentou-se bruscamente na cama, sentindo o suor espalhado pelo corpo. Virou-se para a cômoda ao seu lado com um copo de frapuccino, suspirando. Ainda tinha tempo para dormir mais um pouco antes de ter que cuidar da gravadora e... Um copo de frapuccino?

- , ACORDA, ! – sentiu um peso ser jogado em cima de si, soltando um riso alto. – Tem panquecas prontas. – olhou de soslaio para o sorridente.

- Tem?

- Mas queimaram. – riu escandaloso, levantando-se e saindo rapidamente do quarto.

Sorriu fraco, segurando o copo firmemente e arrastando seus pés para a sacada, recebendo uma brisa gélida em seu rosto ao abrir a porta com extrema força. Sentou em uma das cadeiras, dando um gole em sua bebida e olhando para a casa ao lado, logo batendo os olhos na jovem que parecia atenta em abraçar o pequeno filhote de Old English Sheepdog.

- Não acha que está atrasada? – mexeu o indicador nervosamente pelo copo ao sentir o olhar dela sobre si.

- Não acho que meu vizinho tenha que saber da minha vida. – riu vendo-o abaixar a cabeça. – Mas acho que meu melhor amigo poderia... Pedi demissão da Starbucks.

- Como assim? Você endoidou? – ele encarou-a novamente, abismado.

- Não, apenas acho que preciso de algo melhor.

- , o que pensa que está fazendo? Sua família não pode te recolher sempre. - percebeu o sorriso dela sumir, levantando bruscamente e deixando-o, sem entender o que houve.

---

- Então ela saiu irritada e não me explicou porquê ficou assim. – abriu o porta-malas, tirando alguns instrumentos de lá.

- Nós poderíamos adotar ela. – abriu um sorriso enorme, carregando algumas guitarras.

- Você tomou o remédio que o médico mandou, ? Se não, vou ligar pra sua enfermeira e contar como você tem sido um garoto mal.

- Talvez. – ergueu uma sobrancelha, correndo para dentro do estúdio. – Ainda pretendo adotá-la.

- , não quero ligar para a pra dizer que tenho que te internar novamente. – resmungou alcançando o amigo.

- Mas por que não, ? Ela merecia ter pais. – o barulho de alguns instrumentos se fez presente, fazendo com que virasse para o loiro.

- Ela não tem pais? – encarou-o sério, tentando recolher o material no chão.

- Não, como você pode ser tão idiota? Ela mora ao seu lado há anos e você não sabe nada sobre a vida dela? – negou com a cabeça, coçando a nuca. – Ela foi abandonada na porta de um orfanato com um pouco menos de um ano. Agora podemos adotá-la?

---

Os passos se apressavam tentando segurar o filhote, arrancando risos ao lado de fora pelos berros que podiam ser ouvidos. Bufou, fechando a pequena cerca da cozinha ao vê-lo entrar ali e correu em direção a porta de entrada.

- ! – sorriu, pulando no garoto e abraçando-o forte, empurrando-o para dentro. – Ah... . – resmungou, dando-lhe passagem.

- Desculpa, eu... Não sa. – deu de ombros, fechando a porta. – Se quiser, preciso de uma ajuda na gravadora, e você seria a pessoa ideal pra trabalhar lá.

- Tanto faz. – virou-se, escondendo o sorriso do garoto. – , se meu sofá rasgar, juro que te faço pagar outro!

- Não sou gordo, ! – reclamou ainda pulando. – , ela está dizendo que preciso parar de comer!

- , vai caçar pulga onde não tem. – riu, sentando na poltrona e puxando a garota para sentar ao seu lado.

- ! Ele não falou sério. – gargalharam ao verem o rapaz começar a abaixar as calças. – Estava pensando... Você poderia montar minha árvore enquanto eu e vamos as compras de Natal amanhã?

- Er... – olhou para o lado. – Acho que não.

- Ah, , por favor?

- Não. – levantou-se apressado, indo até a cozinha.

- Mas assim vou ficar sem árvore esse ano e... E... – gaguejou com os olhos lacrimejados falsamente.

- Não deixe o sozinho na loja.

---

- ... O quê o tocava na banda? – a garota perguntou, entrando na primeira loja que viram.

- Guitarra. – ele disse, afastando-se um pouco dela.

- , volte aqui! – imitou seus passos, mas parando ao vê-lo se aproximando com algo nas costas. – O que é? – perguntou temerosa, imaginando o que viesse das mãos do garoto.

- Poderíamos dar essa flauta. – sorriu de ponta a ponta em seu rosto, mostrando o instrumento.

- , mas o q...

- Tem quase o mesmo som que uma guitarra. – ela riu alto da afirmação, deixando-o assustado.

- Ah, sim, desculpe... Mas não acha melhor comprar uma guitarra para ele?

- Não, tenho certeza que o sempre sonhou em ter uma flauta, ele vai gostar tanto dela que vai tocar toda noite e...

- Ok, , nós podemos dar... Er... Uma flauta para ele, mas acho melhor levarmos outro presente também. – sorriu de um jeito materno. – Andou choramingando que seus cachecóis estão velhos. – virou-se, arrastando seus passos pelos corredores.

- O que estamos procurando mesmo? – apareceu ao seu lado com um cachecol vermelho e verde em seu pescoço.

- AH! Esse é ideal, obrigada, ! – sorriu, puxando o cachecol para si.

- Mas... – ele olhou-a confuso, dando de ombros.

---

aumentou o som do carro ao máximo que pode, vendo o garoto fingir tocar algum instrumento enquanto se agitava no banco de passageiro.

- Você poderia se tornar um astro do rock. – secou uma lágrima que escorria pela bochecha vermelha e resmungou vendo que nenhum carro se mexia.

- Oh não, fama não é para mim, não mais. – sorriu fraco, fazendo-a perceber que pisou em falso sem querer, colocando uma das mãos em seu ombro.

- Não foi sua culpa, . – ele confirmou com a cabeça, arrancando um leve sorriso dela. Olharam para frente, percebendo que iria demorar para conseguirem sair daquela rua com o congestionamento.

- , o carro fuma? – perguntou inocente ao ver a fumaça saindo do Fusca.

- Ah, não... Não, não, não! – saiu desesperada do carro, levantando seu capô e recebendo várias buzinadas por não andar os míseros metros que poderia. – Droga!

- Leva a lata velha para o museu! – alguém berrou, fazendo-a corar.

- Vamos ter que arrastá-lo para a próxima rua. – suspirou, ouvindo um grito de felicidade de , fuzilando-o.

Olhou a sua volta, percebendo que, algo em seu favor, a rua estava a poucos metros.

- O que vai fazer? Abandonar o pobre Fusquinha? – o garoto perguntou enquanto empurravam o carro com certo esforço.

- Ah, claro . Vou deixar ele largado aqui e fingir que nunca tive esse carro. – riu irônica, terminando de colocar o Fusca no começo da rua não congestionada. – Vou deixar aqui por um tempo e vender... Isso se alguém quiser um Fusca tão acabado. – reprimiu a careta, apanhando as sacolas dentro do carro.

---

Andavam calmamente pela neve, apertando os casacos contra seus próprios corpos enquanto estava mais atrás, como se quisesse vigiar o garoto.

- ! - correu para alcançá-lo ao vê-lo tirar o casaco. - O quê está fazendo? Pode colocar de volta!

- Mas está calor! – ele resmungou, arrastando-o pela neve.

- O QUÊ? Está sabe-se lá quantos graus negativos!

- Mas ainda está calor. – vestiu o casaco a contra gosto, voltando a andar.

- Quer ter uma conversinha séria com a ? – cruzou os braços, acompanhado-o e tirando os flocos brancos de seus ombros.

- A quer conversar comigo? O que ela quer? Quer que eu volte para aquele lugar estranho cheio de loucos?

- Hospício?

- Isso!

- Não e... , você está me confundindo!

- Isso não muda que está calor... – reclamou o mais baixo que pode, soltando um riso abafado.

---

- Feliz Natal... – bocejou, abrindo a porta e sorrindo para os dois garotos.

- Feliz Natal! – berrou, vestido de rena, abraçando-a fortemente.

- Deixei seus presentes embaixo da árvore. – riu baixinho vendo-o correr para a sala. – Feliz Natal, ! – voltou-se para o garoto.

- Er... Obrigado. – deu-lhe um fraco sorriso, mostrando algumas taças em uma das mãos e na outra uma garrafa de vermute e outra de gim. – Pensei que poderia animar a festa.

- O que está esperando? Dois Martinis, por favor, e olha o peru da ceia no forno, ok? – rindo, fechou a porta, logo tirando o sorriso do rosto ao ouvir um barulho estridente vir do cômodo ao lado. – ? – olhou pelo vão da porta, gargalhando ao ver o garoto caído no chão abraçado a árvore.

- A estrela disse que estava desconfortável... – sorriu inocente, sendo levantado pela garota. – Acho que amassei algo. – olharam para o embrulho rasgado e espalhado pelo chão.

- Ah, droga... – pegou o cachecol vermelho e verde e, virando-se bruscamente, chocou-se com o , derrubando as taças de Martini em cima do presente. – Outch!

- Er, desculpa , não era pra... – calou-se ao perceber a proximidade de seus rostos, arrancando um sorriso de e roçando seus lábios. – Feliz Natal.

- Podemos comer? A ceia vai esfriar... – reclamou emburrado. – E esse cheiro de queimado está me irritando.

- O PERU!


FIM



Nota da autora: Não foi uma das melhores histórias que escrevi, mas foi a que eu mais me esforcei em ficar ótima e em pouco tempo, então acho que dá pra ler. O que acharam? Comentários fazem bem e é uma ótima forma de recompensa por tudo (: e quero agradecer a todos que me aturaram reclamando que não conseguiria acabar e... Acho que é isso .__. Odeio finais, então vamos pensar que eu possa reescrever isso um dia e deixar mais completa. Xx




comments powered by Disqus


TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.