Surviving Boss


Challenge #01

Nota: 7,9

Colocação:





Para Lola, o Natal era uma das melhores datas do ano, se não a melhor. Para o seu chefe, a pior. Não havia natal em seu escritório desde que ela se conhecia por gente — ou desde que ela começara a trabalhar lá. E segundo seus colegas de trabalho, nunca ouve qualquer menção àquela data no ambiente de trabalho. Mas naquele ano, Lola estava destinada a mudar tudo e descobrir o motivo da amargura de seu chefe com a data festiva.
Sua animação começara um mês antes do natal, ela decorara praticamente todo o escritório assim que teve oportunidade — leia: seu chefe estar longe do local de trabalho — e acordara animada e mais carregada de decoração do que uma lojista poderia estar.
Mas seu dia de trabalho amanheceu com um choque. A decoração sumira e o ambiente perdera a cor verde e vermelha para a cor azul e prateada dos dias normais de escritório. Lola engasgou ante seu trabalho desfeito e encarou a secretária de seu chefe com uma cara de indagação. Ela deu ombros e Lola se controlou para não gritar.
— O que aconteceu? — ela perguntou colocando com força as palavras para fora.
— Você ainda pergunta? — perguntou David gesticulando suas mãos, como sempre. — Ele mandou tirar. E adivinha, ele está furioso com você.
— Falaram que fui eu?
David não respondeu, apenas apontou para a secretária.
— LOUISE!
— Eu não podia fazer nada — ela deu ombros novamente — Ele já estava começando a me culpar. Não ia segurar o fardo nas costas, não é querida?
— Mas, mas... Você poderia ter dito que não sabia de nada?
— E deixar ele me culpar por eu não saber de nada? Ele ia dizer que eu tenho a obrigação de saber o que acontece aqui.
— Mas... Mas...
Então uma figura de terno saiu de uma porta com a cara mais carrancuda do mundo.
— Lola Brum. Já para minha sala.
Lola se encolheu enquanto passava por ele, entrando em sua sala. Ele fechou a porta às suas costas. Lola sentiu-se a beira da morte. “Ele ia me matar, ele ia me matar! E me fazer sofrer de dor antes”, pensou ela desesperada.
— Sente-se. — ele disse ríspido antes de ocupar a sua cadeira
Lola sentou-se a sua frente, evitando olhar os olhos azuis do chefe — que combinavam perfeitamente com a decoração do escritório.
— Soube o que você fez. — ele disse
— O que? — ela perguntou se fazendo de inocente
— Não se faça de inocente.
“Esse truque nunca funciona”, ela pensou. “Mas é melhor continuar fingindo que não sabe de nada”.
— Eu não sei do que o senhor está falando.
— Estou falando sobre a decoração.
— Que decoração?
— A decoração natalina.
— Ah é, está tudo tão vazio aqui, quem sabe se a gente...
— Não se faça de besta! — ele disse se levantando e dando um soco na mesa fazendo o café respingar na camisa branca de Lola.
— Ai! — ela exclamou saltando da cadeira. — O senhor manchou a minha camisa... — ela fez beicinho
— Lola... — ele disse em um tom repreensivo.
— Sim, senhor Jones? — ela falou em um tom provocativo, estava começando a se irritar com ele.
E compraria briga se ele fosse grosso com ela novamente, não importava se ele era seu chefe e se ele tinha um belo par de olhos azuis e um corpo atlético que marcava na camisa branca e... “Para de pensar em coisas pervertidas, Lola. Foco, Lola, foco!”.
— Você decorou toda a empresa ontem quando eu saí.
— Ah... Isso...
— Sim... Isso.
— Eu pensei que o senhor ia gostar...
— Senhorita Brum... A senhorita sabe muito bem que eu não gosto de nada natalino decorando o meu escritório.
— Mas por quê?
— Porque... Porque... Ora, porque não sou chegado nessas frescuras, ponto.
— Mas senhor Jones... Natal é uma época linda... Não é frescura de mulher nem nada. David também gosta do Natal.
— Francamente, senhorita. Sabe das preferências do senhor David.
— O que a preferência sexual de David tem a ver com isso?
— Eu estou dizendo que ele é um pouco... Digamos que sensível demais.
— Algum problema com isso? Homens são sensíveis.
Jones fitou Lola com uma cara que dizia: “não vamos colocar David na categoria “homens”, não é?”.
— OK. — Lola decidiu encerrar o assunto — Posso ir?
— Pode. — ele disse voltando a se sentar.
Lola deu as costas ao chefe e saiu de sua sala.
— Bem, bem, bem... O que vocês andaram fazendo lá que até te manchou de café, luz do dia? — perguntou David animado.
— Transando é que não foi. — ela bufou e David fez beicinho.
— Why not?
— Porque ele é um grosso estúpido sem espírito natalino.
— Ninguém sabe por que ele não gosta do Natal... — disse Louise enquanto lixava as unhas.
— E qual será a sua atitude? — perguntou David
— Lutar pelo espírito natalino nesta empresa. — ela disse obstinada.
— Iuhul! — exclamou David abrindo os braços e se levantando de sua cadeira
A porta da sala de Jones se abriu de repente e ele espiou para fora. David sentou-se novamente em sua cadeira, disfarçando.
— O que vocês estão planejando?
— Planejando? Nós? Nada! — disse Lola inocentemente e o chefe voltou a se fechar em sua sala.
— Vocês estão comigo? — ela perguntou para os colegas.
— Não. — disse Louise
— Sim! — exclamou David

Era de se esperar que Louise não participasse da armação de Lola. Ela não queria arrumar confusão para ela e, segundo Lola, ela era tão péssima profissional que morria de medo de perder o emprego. Agora Lola, se garantia.
Haviam se passado quase uma semana desde o incidente com o chefe, e ela continuava em insistir em por a decoração de natal. Seu chefe continuava a insistir a tirar tudo e lhe dar uma chamada e a noite ela colocava tudo novamente e ainda mais. Até que seu chefe chegou ao pico de sua paciência.
— O que eu faço com você, Lola?
— Me da um abraço e agradece pela decoração de graça? — ela sorriu
— Despeço você?
— Não, porque sou boa demais.
Ele não respondeu, era verdade.
— Você venceu?
— Venci? E o que o senhor quer dizer com isso?
— Sua decoração pode ficar... Mas nada mais que isso. Já está bom assim, é o suficiente... Suficiente para me dar dor de cabeça — ele sussurrou a última frase
Mas tudo, ainda não era o suficiente para Lola. Ainda faltava o principal item do natal, o mais complicado de colocar dentro da empresa: A árvore.

O elevador tocou o sinal quando ela chegou ao andar desejado. Ela gritou por David, que não atendeu ao seu chamado. Gritou novamente e nada. Teria de arrastar a caixa com a árvore mais a caixa com os enfeites sozinha. E onde estaria aquele retardado? Ela empurrou a caixa da árvore primeiro, a mais pesada. — e quase foi prensada pela porta do elevador, pelo jeito, alguém insistia em apertar o botão no térreo. Depois, passou a segunda caixa, seguida por ela. Mas algo ficara dentro do elevador: o cachecol de estimação de Lola. Ela apertou o botão de subir repetidas vezes e nada adiantou. Tinha alguém no térreo que realmente queria irritá-la. Torcia para que não fosse David se não ele amanheceria morto. Ela desistiu do cachecol, depois o pegava. Cuidaria da árvore no momento. Abriu a caixa e preparou-se para tirá-la de dentro quando o elevador tocou o sinal novamente. Ela se virou para ver quem era. Para ela, as portas se abriam mais vagarosamente do que na realidade. Então ela viu o indivíduo dentro do elevador, segurando seu cachecol.
— Acho que perdeu algo, Brum. — seu chefe disse antes de sair do elevador.
— Ah, obrigada. — ela disse pegando o cachecol e colocando-o novamente no pescoço.
— O que é isso? — ele perguntou se dirigindo às caixas.
— Err... Nada!
Ela tentou ficar na frente, mas não houve resultados, ele desviou dela, abrindo a caixa com a árvore.
— Ah, não, Brum. Árvore de Natal? Isso é demais para mim. Passou dos meus limites.
— Err... Eu pensei que...
— Pensou errado, Brum.
— Mas afinal, o que há de errado com o Natal?
— O que há de errado com o natal, senhorita Brum... — ele disse encurtando a distância entre os dois até que ela tivesse de levantar o rosto para poder encará-lo. — Não há nada de errado com o Natal... — ele suspirou
— Então há algo de errado com o senhor?
— O que? Quem lhe disse isso?
— Se não há nada de errado com o Natal, há algo de errado com o senhor... Para odiar tanto essa data.
— O que acontece, Lola, é que... É que...
Lola podia sentir uma confissão vindo quando... Quando ouviu o resmungo de alguém vindo do banheiro.
— David! — ela exclamou correndo para o banheiro feminino.
Sim, banheiro feminino. As garotas haviam até se acostumado a vê-lo por lá, ele não frequentava o banheiro masculino.
— David? — ela entrou no banheiro e deu de cara com um David chorando sentado em uma privada, a porta do box aberta. — O que aconteceu?
— Giovani. — ele disse — Ele me deixou...
“De novo isso?”, pensou Lola.
— Disse que não me amava mais... Mas também, quem ama uma bicha feia e chata como eu... — ele fungou — Nem meus pais me amam... Você sabe que meu pai me expulsou de casa aos quatorze anos, quatorze anos! Só porque eu era gay!
Lola resistiu em dizer que ele já havia contado isso todas as vezes que algum cara terminava com ele, mas apenas lhe deu palmadinhas nas costas, tentando consolá-lo. Então alguém bateu na porta de leve e espiou para dentro.
— Com licença? Tudo bem aí?
— Sim, sim... — Lola disse
— Não! — choramingou David
“Eu cuido disso”, Lola articulou para que apenas seu chefe entendesse.
— OK... Eu vim avisar que vou embora... E sobre a sua árvore, Lola...
Ela tremeu, esperando sua frase.
— Pode montá-la.
“Yes!”, ela exclamou por dentro.
— Obrigada, chefe. — ela disse dando-lhe apenas um sorriso sincero antes que ele saísse
A porta fechou-se fazendo um barulho fraco e Lola voltou-se ao amigo depressivo. Segundo as cenas praticamente iguais que ela já presenciara do amigo, ele ficaria assim durante uma semana ou duas. Que amigos ela conseguia! Um gay depressivo e com baixa estima.

O elevador avisou que ela havia chegado ao andar que ela desejava. A porta se abriu e ela saiu para o escritório. Louise levantou os olhos do computador e bateu palmas levemente. Lola poderia jurar que havia sarcasmo em seu ato.
— Parabéns, conseguiu o que ninguém jamais havia conseguido.
— O que? — perguntou já sabendo a resposta
— Convence-lo de deixar a decoração natalina. Até a árvore ele deixou ficar! Fantástico — sua voz tinha um que entediado — Como você conseguiu esta façanha?
Ela não tinha para parado para pensar nisso. Como ela conseguira isso? Ela não sabia. Ganhara na insistência talvez, mas tinha certeza que outras pessoas já tinham tentado isso. Ou não, já que a maioria das pessoas no escritório tinha medo do chefe linha dura. Mas sobre a árvore, não fora preciso muito, no mesmo dia ele concordara com ela e deixara montar a árvore. O que acontecera com seu chefe? Ele estava amolecendo? Esse ódio pelo Natal era causado apenas pela falta de sentimentos de seu chefe? Ou eram sentimentos demais, machucados com algum trauma que lhe deixara como marca, o ódio pelo Natal.
— Lola, eu estou querendo organizar uma vaquinha para comprar um presente de aniversário pro senhor Jones e... — falou Jenny, uma estagiaria loira e com feições meigas
— Peraí? Aniversário do senhor Jones?
— Sim, é dia 26.
— Mesmo?
— Eu pensei que você sabia... Já que é a subsecretária dele.
— Eu não lembrava...
— Isso não é uma boa idéia... — Louise de sua mesa — Ele odeia receber presentes no dia do seu aniversário. Ele odeia até que mencionem que é seu aniversário. Quer ser despedida? O felicite dia 26.
— Ah... Eu não sabia... — falou a estagiária murchando e voltando para a sua mesa
— Lola? Lola? — a voz de Louise a chamou para a realidade — Você parece que está em transe. Acorde.
— Hã? Eu estava pensando... — Lola coçou o queixo — Só um minuto.
Ela atravessou o lugar em direção à sala de seu chefe.
— Não, ele está eu reunião!
Louise gritou, mas não adiantou, ela escancara a porta da sala.
— Senhor Jones!
— Lola... — ele falou entre dentes enquanto ganhava um tom avermelhado. — Eu estou em reunião, não está vendo? — ele apontou o homem sentado a sua frente com a cabeça
Ela ignorou o chefe e bateu as mãos na mesa dele.
— O fato de o senhor odiar o Natal tem a ver com o fato de odiar o seu aniversário.
— Lola... Get out.
— Eu não vou sair. Responda-me! Tem uma ligação uma coisa com a outra? Você sofreu algum tipo de trauma para ser assim?
— SHUT UP! — ele gritou se levantando da cadeira com uma raiva que Lola nunca o tinha visto, e isso que ela o vira com raiva muitas vezes. — SHUT UP, LOLA! ISSO NÃO TEM NADA A VER COM VOCÊ, DEIXE-ME EM PAZ!
— Essa sua reação só me prova ainda mais que tem sim uma coisa a ver com a outra! — ela insistiu
— Lola, o que você quer para calar a boca?
Lola pensou um pouco. Ela não conseguiria arrancar a verdade dele ali. Então se aproveitaria da proposta do chefe para conseguir algo que ela queria.
— Uma festa de Natal na empresa.
— O que?
— Com direito a amigo secreto e tudo. — nada que uns martinis não os fizessem falar
— OK. Pode ter a sua festa.
— E você tem que estar nela.
— O que?
— E participar até o fim.
— Você está louca!
— E participar do amigo secreto também.
Ele soltou um suspiro.
— OK, Lola, OK. Que dia?
— Dia 24.
— 24? Mas...
— 24, senhor Jones. Tem que ser esse dia.
— OK... — ele disse entre suspiros — Dia 24.
Lola deu meia volta e saiu da sala de seu chefe, sorridente. Ao botar os pés para fora da sala, foi abordada por uma Louise curiosa.
— Ele não te matou?
— Não. — ela sorriu
— E o que é esse sorriso? O que aconteceu?
— Teremos uma festa de Natal. Com amigo secreto e tudo...
— Mesmo? — Louise boquiabriu-se, assim como os outros funcionários.


A música natalina enchia o escritório com uma quase falsa alegria. As pessoas não estavam muito confiantes quanto à aceitação de seu chefe à festa e desconfiavam que ele fosse dar um escândalo e desfazer tudo. O humor de Jones, não estava melhor. Apoiado em uma mesa, com os braços cruzados e a postura tensa, ele fitava Lola com certa irritação — ela empurrara um gorro de Santa Claus na cabeça de Jones e o obrigara a usar “A noite inteira”, ela disse “Ou boa parte dela”.
Ele tirou o gorro por um segundo, passando a mão pelos cabelos. Estava um pouco quente dentro do escritório, e o gorro não contribuía muito para diminuir o calor. Falando em temperatura, Lola passara por ele, mas parara ao vê-lo sem o gorro. Ela deu uma tossida.
— O gorro... — ela disse apontando para o gorro na mão de Jones
— OK, o gorro — ele enfiou o gorro com raiva na cabeça e encarou Lola de braços cruzados — Satisfeita, agora?
— Sim... — um sorriso se formou no rosto embaixo do gorro verde de duende — Martini? — ela disse oferecendo uma das taças que ela segurava
— Não obrigada.
— Não faça essa desfeita — ela disse empurrando a taça para a mão do chefe — Eu pedi seco, como o senhor gosta. — ela disse apontando para as azeitonas no fundo da taça
— O meu não é seco, como pode ver... Droga, quem liga para isso. Vamos ao amigo secreto! — ela anunciou para todos, dando as costas para o chefe.
O amigo secreto seguiu normalmente e sem problema algum quanto ao chefe — ele pegara Louise, que aparentemente gostara do presente. Chegara então a vez de Lola.
— Bem... O meu amigo secreto é meio rabugento às vezes.
— Jones! — a maioria das pessoas disse
— Vocês são uns sem graça — ela disse — Qual é a graça agora? Bem, chefe... Você é o meu amigo secreto...
Os dois andaram até se encontrarem no centro da roda. Lola entregou-lhe seu presente e os dois se abraçaram. O perfume inebriante de seu chefe entrou pelas narinas de Lola e ela sentia um pouco de dificuldade em separar-se ele. Ele cheirava bem e tinha um abraço firme ao mesmo tempo em que era tão macio. Não macio mole, apenas macio, confortável. Então ele cortou o abraço antes que ela pudesse pedir por mais tempo.
— Abra... — ela disse quando se recuperou
Ele abriu a embalagem muito bem armada por Lola com delicadeza.
— Uma flauta? — ele indagou
— Não é apenas uma flauta — ela disse com um ar de quem sabe de tudo — É um artefato histórico... Bem, não é um artefaaato... Mas é algo um pouco antigo...
Lola podia dizer que os olhos de seu chefe se encheram de lágrimas, mas ele saíra de sua visão. Ele havia a abraçado de novo. Não faça isso comigo, pelo amor de Santa..., pensou Lola. Então ele a soltou novamente e ela se viu sorrindo para ele mais uma vez.

Era óbvio que Lola teria de ficar depois da festa para limpar a bagunça. Afinal, ela fora quem organizara tudo. Estavam apenas Lola e Jones no escritório; Jones em sua sala e Lola fora dela, limpando. Ela demorou consideravelmente para limpar toda a bagunça. Já havia passado da meia-noite quando isto aconteceu. Então seu chefe saiu de sua sala e seguiu em direção ao elevador.
— Espere, eu vou junto! — Lola disse e ele segurou o elevador para que ela entrasse nele
Os dois não se falavam enquanto o elevador descia. Então, dois andares antes do estacionamento, o elevador parou ao mesmo tempo em que as luzes dele se desligavam.
— Ah! — gritou Lola — o que foi isso? — Perguntou resistindo ao impulso de pular nos braços de Jones
— O elevador parou — ele disse calmo
— EU PERCEBI ISSO! — ela gritou desesperada — MAS EU QUERO IR EMBORA, CADÊ O BOTÃO DE EMERGÊNCIA? — falou apertando um botão
— Lola, Lola, para! — ele disse segurando seus pulsos
— Por quê? Você é louco? Quer ficar trancado aqui a noite inteira?
— Não é isso é que... Você está apertando o botão do meu terno.
Se houvesse luz, Jones veria a maior cara de besta do mundo.
— Desculpe... Eu vou pegar meu celular para fazer uma luz, então eu acho o botão de emergência.
Ela tateou a bolsa e pegou um telefone, mas ele escorregou por entre seus dedos, caindo no chão.
— NÃO! MEU CELULAR! — ela se pôs de quatro, tateando o chão a procura de seu celular — Oops, peguei seu sapato, sorry. — ela continuou tateando até achar o telefone. Ela o abriu e ele iluminou-se.
Com a pouca luz que tinha do celular, procurou pelo botão de emergência no painel do elevador e o clicou. Nada aconteceu e ela ficou parada encarando o botão até ele sumir na escuridão quando a luz de seu celular apagou.
— Nada... A gente sabe que eles viram que eu apertei o botão de emergência?
— Não sei... Olha, por que não usa o telefone para ligar para alguém?
— ÓTIMA IDÉIA!
Ela pegou celular e digitou o primeiro número que lhe veio à cabeça. O telefone não tocou e ela então encarou a tela com uma expressão apavorada.
— Sem sinal! Sem sinal! Tenta o seu, tenta o seu!
— Eu esqueci o telefone no escritório — ele disse
— Não! — Lola caiu sentada no chão do elevador — Eu não quero ficar aqui para sempre... — ela murmurou choramingando — E está ficando frio... Nós vamos morrer de frio aqui...
Lola sentiu uma movimentação vinda da parte de Jones e quando percebeu, podia sentir seu casaco cobrindo-a e seu hálito batendo em seu rosto, indicando que ele estava agachado com o rosto a alguns centímetros dela.
— Nós não vamos morrer Lola.
— Não?
— Não... Olha... Para você se sentir melhor, vamos fazer o seguinte... — ele sentou-se ao seu lado e passou sua mão sobre seus ombros, apertando-a — Se nós sobrevivermos a essa noite... E eu sei que vamos sobreviver... Eu lhe prometo que pode fazer um pedido para mim, qualquer pedido. Um aumento, sei lá...
— Qualquer pedido?
— Qualquer pedido...
Beije-me, pensou Lola.
— Quero que passe o Natal comigo.
— O que? — ele piscou, apesar de Lola não poder ver
— Quero que passe o Natal comigo, em minha casa.
— Lola... o Natal é amanhã...
— Na verdade, é hoje.
— OK... — ele suspirou, cedendo — Passo o dia com você amanhã.
— E a noite.
— E a noite.
— Vamos no meu carro.
— O que? Naquele seu fusca sem ar quente?
— Olha o respeito com o meu carro. E ele já tem ar quente, eu não iria sobreviver ao inverso se não o tivesse. E eu não tenho esse carro por escolha.
— Então vamos no meu.
— Eu não, odeio o seu Astin Martin prata.
— O que?
— Eu to brincando... Mas o que eu quero é que você aprenda humildade. Você não vai morrer se andar em um fusca.
— Acha que eu não sou humilde.
— Com perdão, chefe, mas absolutamente tudo o que o senhor faz é grandioso.
Ele não respondeu, era tudo verdade.
— Lola...
— Que?
— Posso te pedir para parar de me chamar de “chefe” e de “senhor”?
— Quer que eu o chame como? De Jones? Eu o chamo assim às vezes... acho...
— Me chame de Danny.
Danny? Jones nunca havia permitido a ninguém do escritório chamá-lo assim. Por que haveria de deixar que Lola o chamasse assim?
— OK... Danny, não é?
— Sim, Danny... Agora durma, Lola. Amanhã é um longo dia.
Lola encostou a cabeça em seu ombro e fechou os olhos. Achava que seria meio difícil dormir em meio aquele perfume inebriante, mas acabou por se revelar mais fácil do que ela pensava.
Lola acordou com alguém a sacudindo de leve e falando o seu nome; não muito alto para não assustá-la. Ela abriu os olhos e viu que alguém a encarava com atenção. Alguém com olhos muito azuis. God! A jovem se sentou rapidamente, batendo a cabeça em Danny.
— Ouch, cuidado, huh?
— Sorry...
— Já amanheceu... e alguém chamou o elevador para o térreo.
Lola levantou os olhos para o resto do elevador. Louise a encarava com um olhar que ela não saberia decifrar.
— Ah, err... Bom dia, Louise.
Ela não respondeu durante alguns instantes.
— Péssimo dia.
— Ah, você vai ter que trabalhar, né? — Lola perguntou como se pedisse desculpas
— Começo a me perguntar, senhor Jones. Por que a secretária deve trabalhar no dia de Natal e a subsecretária não.
— Talvez seja porque você é essencial... — Danny disse
— O QUE? — Lola perguntou encarando-o — EU NÃO SOU ESSENCIAL?
— Eu pensei que você fosse ficar feliz de ter folga no dia de Natal.
— MAS VOCÊ DISSE QUE EU NÃO SOU ESSENCIAL!
— Você não se contenta com nada, não?
— Você podia ser mais delicado.
— E você podia ser menos chata.
Lola estreitou os olhos antes de se levantar, jogando o casaco de Jones em cima do mesmo — que permanecia no chão.
— Acho que o senhor me deve uma promessa. Vamos.

Tudo bem que o fusca era verde limão, mas também não era pra rir, não é?
Porque Danny não parava de rir desde que avistou o carro de Lola no estacionamento. E o estofamento também era verde. Mas um verde escuro não verde-limão.
— Não tem graça — ela disse entrando no banco do motorista e ligando o ar quente.
— Tem muita... — ele disse do banco ao lado — Seu carro é verde-limão, Lola. Verde-limão!
— Qual é a graça? Eu gosto de verde-limão.
— Tudo bem gostar, mas mandar pintar um carro de verde-limão? Não dá, né, Lola.
— Existem carros em Dubai que são verde-limão.
— Carros em Dubai são Ferraris e derivados, não um fusca.
— Cala a boca. — ela disse por fim dirigindo para fora do subsolo que abrigava os carros
Então, ela percebeu a paisagem branca.
— NEVE! — ela exclamou, fazendo com que o carro quase subisse à calçada.
— Calma, Lola, calma. Não é motivo para matar a gente, é?
— É que eu adoro neve!
— Eu percebi.
— Mas nem da para notar que está frio do lado de fora do carro, aqui faz tanto calor...
— Faz calor demais aqui, diminui o ar quente...
— Claro, claro... — Lola tentou girar o botão, mas este quebrou na sua tentativa — Não. Botão quebrado no ar quente. Vamos morrer de hipertermia aqui!
— Não vamos, não. Logo chegamos a sua casa, certo?
— Err... não...
— Por quê?
Lola apontou para a imensa fila de carros à sua frente.
— Neve = congestionamento.
— Por favor, me diz que estamos perto da sua casa.
— Não estamos não. — ela disse — Mas sempre dá para ir a pé.
— Tudo bem... vamos esperar um pouco aqui, OK?
— Sabia decisão. Mas eu sugeriria que quando conseguirmos andar um pouco, irmos o resto a pé, se não vamos ficar o dia inteiro aqui e eu ainda tenho uma ceia para preparar.
Passaram-se mais de uma hora e o máximo que conseguimos foi avançar meio quilômetro.
— Ah, cansei! — disse Lola abrindo encostando o carro antes de abrir a porta — Eu vou pra casa a pé, se quiser me acompanhar... — ela disse saindo do carro.
— OK, me convenceu, eu vou junto. Não vou deixar você morrer congelada sozinha.
— Se eu continuasse naquele carro eu ia morrer derretida, isso sim.
— Você é uma exagerada — ele a alcançou, passando a mão por seus ombros.
— É, talvez...
— Então, para onde é a sua casa?
— A gente segue reto e quando eu achar que for a hora, a gente dobra.
— Então eu não tenho nada mais que a sua palavra?
— Exatamente.
— Eu posso estar sendo seqüestrado, então?
— Você tem que confiar na minha palavra. Mas... desde quando o senhor virou engraçadinho?
— Hmm... Você apenas não me conheceu completamente, Lola.
— Peraí, desde quando eu estou falando com você de novo? — ela pegou o braço dele e o tirou de cima de seu ombro — Você me chamou de não essencial — ela acusou
— Para tudo, eu estava tentando fazer com que a Louise calasse a boca!
— Mas disse que eu não era essencial! Isso não é desculpa, eu sei que você pensa assim.
— Eu não penso assim. Lola, pelo amor de Deus, deixe de ser infantil! — ele falava enquanto ela andava determinada.
Ele então começou a segui-la.
— Acha que eu sou infantil? — ela perguntou o encarando por cima do ombro enquanto continuava a caminhar
— Você não é infantil. Você está sendo infantil.
— Então por que não me demite de uma vez, você está louco pra fazer isso.
— Eu não sou estou louco para te demitir, Lola.
— É senhorita Brum pra você.
— Lola... — ele insistiu — Lola, peraí... — ele disse a alcançando e segurando seu braço, impedindo-a de seguir adiante — Eu não quero demitir você. Eu quero que você permaneça na empresa.
— OK, acredito em você. — ela se desvencilhou do aperto e continuou seguindo, com Danny ao seu encalço.
— Então acredite que eu não a considero infantil!
— Vou pensar no seu caso.
Então se fez silêncio entre os dois, e o silêncio permaneceu até que muito tempo depois, ela o quebrasse.
— Estamos perto. — ela comentou — A minha casa é nessa quadra. — ela disse
Alguns segundos depois, eles chegaram à casa de Lola.
— Se acomode no sofá — ela disse — Eu vou fazer uma gemada enquanto meus dedos não apodrecem e caem.
Danny riu do comentário antes de sentar em um sofá, perto da árvore de natal. Lola voltou um tempo depois, carregando duas xícaras pela alça. Entregou uma das xícaras à Danny e sentou-se ao seu lado.
— O frio é muito, então eu carreguei na bebida.
— Você não quer me esquentar, Lola, você quer me embebedar.
— Claro, para eu poder abusar de você depois — ela disse sarcástica antes de sumir com a boca na xícara.
— Hmm... — ele disse antes de bebericar a gemada — Nossa, você botou álcool mesmo aqui.
— Eu avisei você. Não me venha reclamar.
— Não estou reclamando...
— Parece uma reclamação.
— Estou comentando.
— Ainda acho que parece uma discussão...
As xícaras, antes cheias de gemada e agora vazias, jaziam em cima da mesa de centro e Lola e Danny conversavam sobre assuntos aleatórios e sem senso. Lola talvez tivesse carregado na bebida com a intenção de que ele falasse alguma coisa. Mas ela havia carregado na sua também. E isso a deixara um pouco tonta.
— Acho que não vamos ter ceia. — ela disse do nada
— Por quê?
— Porque eu estou bêbada e sem condição de entrar em uma cozinha.
— Eu posso... — ele começou a se levantar
— Cale a boca! — ela disse empurrando-o novamente para o sofá — Você está tão bêbado quanto eu.
— Não estou não. Minha massa é maior, estou menos embriagado que você.
— Mas eu botei bebida na sua gemada do que na minha. — ela teimou — Então você está sim tão bêbado quanto eu.
— Eu sabia desde o início que a sua intenção era embebedar-me...
— E porque eu faria isso se estou tão bêbada quanto você? — Lola perguntou se inclinando para perto dele
— Eu não sei, por que você acha que você poderia me embebedar — ele se inclinou para frente também, encurtando ainda mais a distância entre os dois.
— Como eu já disse. Eu vou abusar de você. — ela deu um sorriso irritante, provocando-o.
— Isso não é justo, eu estou indefeso.
— É essa a intenção. — ela sustentou o sorriso
Então ele segurou o rosto de Lola com as duas mãos e beijou-lhe. Por isso, ela com certeza não esperava. Ela retribui o beijo com a mesma voracidade com que ele o beijara. Até que se ouviu um barulho de algo quebrando no andar de cima.
— Easter! — ela gritou saindo em disparada escada acima
— Easter?
Depois de um tempo, ela desceu, carregando um gato cinza — a explicação de tudo.
— Easter é o meu gato. — ela disse antes de levá-lo para a cozinha e voltar sem ele
Ela então voltou a sentar-se ao lado de Danny.
— Acho que pode ter sido um erro...
Ele não respondeu, apenas continuou em silêncio antes de abraçá-la pelos ombros.
— Você sempre quis saber por que eu não gostava do Natal, não é?
— Errr... Admito que sempre fui curiosa quanto a isso.
— Eu vou lhe dizer...
— Não... Não precisa dizer se não quiser.
— Eu vou lhe dizer Lola... Eu... Meus pais foram mortos na véspera de Natal. E meu irmão mais velho, em vez de me apoiar, fugiu com os amigos, no dia de Natal. Eu perdi meus pais e meu irmão em dois dias, Lola.
Ela podia ver lágrimas se formando nos olhos de Danny e ela nunca se odiou tanto por ter o forçado a conviver com algo que era doloroso para ele.
— Oh, sorry! — ela disse envolvendo seu pescoço com os braços — Desculpe por tudo, desculpe por te forçar a conviver com isso.
— Eu já convivo com isso há muitos anos. Tudo o que eu fiz, foi uma tentativa frustrada de amenizar a dor. — ele deu um sorriso triste — E a única coisa que eu consegui foi uma jovem cabeça dura tentando me impor o Natal.
— Desculpe-me...
— Não estou zangado... O próprio Natal se impõe a mim todos os anos. E conhecer melhor você não foi uma coisa tão ruim assim.
— Não foi tão ruim assim? Devo aceitar isso como uma ofensa? Ou não.
— Não é uma ofensa, com certeza. — ele passou a mão pelos cabelos de Lola — E espero que possamos compartilhar mais alguns natais, OK?
— Olha, eu acho que...
— Lola... Cala a boca. — ele disse antes de beijá-la mais uma vez.

FIM





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