This Time
por Maria Carolina


Challenge #01

Nota: 8,7

Colocação:




caminhava sozinho numa estrada estreita que, nessa época do ano, encontrava-se coberta de neve. Mas aquela ainda era a estrada deles, onde ele aprendeu a amar o verdadeiro significado do natal. Fora ali que fizeram juras de amor e prometeram se amar pelo resto de suas vidas.
Observou uma única árvore que ainda não se encontrava coberta pela neve. Seu verde resplandecendo e brilhando sobre todo o branco que dominava o local. se lembrou o quanto ela gostava da neve e dessa época. Ao ver o verde da árvore, lembrou-se que esta era a cor favorita de . Ele sabia que devia cumprir a promessa que havia feito há cinco anos, mas era impossível voltar àquele local e não se lembrar dela. Tudo ali lhe levava a ela, desde a neve ao verde da árvore solitária. Ouviu o toque de seu celular e finalmente saiu do transe em que se encontrava.
- Dude, a Sra. já está preocupada com você! Onde você se meteu? – A voz era de , seu melhor amigo.
- Eu só fui comprar um vinho tinto. – Mentiu. Mentir era melhor do que ter de encarar a feição dominada por pena de . Qualquer um deles poderia superar a morte de , mas ele não. Nunca superaria. – Eu já estou indo – disse por fim e desligou sem ao menos esperar seu amigo se despedir.
Entrou no carro conversível que havia comprado há dois meses e um flashback invadiu sua mente.
Era véspera de natal e o frio estava cortante. não fazia a menor questão de comemorar uma data tão boba como o natal. A principal razão de tamanha aversão era porque seu pai os abandonou justo naquela data. tinha apenas cinco anos e a imagem de sua mãe discutindo com seu pai e levando um forte tapa no rosto nunca poderia ser apagada de sua mente.
- Vamos lá, , anime-se! – , sua garota, estava puxando sua mão de maneira divertida para fora do velho fusca azul. – É quase natal, meu amor! – falou, dando pulinhos animados em torno dele.
- Fala sério, . Não vejo como você pode gostar de uma data criada apenas para a felicidade dos comerciantes locais... – resmungou, revirando os olhos.
- Tudo bem, . Você não precisa gostar, mas nós ainda precisamos comprar o vinho tinto favorito da minha mãe! –pediu, fazendo biquinho e finalmente convencendo o namorado.
- O que eu não faço por você? – ele perguntou, envolvendo em seus braços. Ela sorriu docemente e apertou a bochecha dele.
- A verdade é que você não resiste ao meu charme natalino, senhor . – Brincou, mostrando seu cachecol de rena.
- E se eu te disser que é por isso mesmo? – perguntou , unindo seus lábios num beijo curto e gelado.
- Vamos logo! – falou puxando a mão dele para o interior quente e agradável da loja. – Finalmente algum lugar quente, não é? – comentou e sentiu os braços de seu namorado envolverem sua cintura.
- Eu posso te esquentar se você quiser. – sugeriu e beijou o lóbulo da orelha dela, seu ponto fraco.
- Não dessa maneira, seu bobo – reprovou ela, afastando-se dele. – Os vinhos estão ali. – Apontou para uma prateleira alta, que ela não alcançava. Deu um pulinho e mesmo assim não conseguiu pegar.
- Pronto, minha baixinha linda – murmurou, entregando o vinho nas mãos da namorada.
- O que essas pessoas pensam, hein? Que todo mundo tem dois metros de altura e que conseguem alcançar essa porcaria de prateleira? – reclamou, cruzando os braços.
- Nem era tão alto assim, sua birrenta – discordou e recebeu um tapa da menina no braço.
- Tudo bem, – disse, irritada com ele. Começou a caminhar mais rápido na direção oposta a dele. – Vou pegar algumas pilhas recarregáveis para nossa câmera digital.
- Espera, !
Ela o ignorou, pegou as pilhas numa prateleira e as levou, juntamente com o vinho, para o caixa. A atendente olhou para ela com desdém enquanto passava suas compras.
- São vinte libras, senhorita. Vai pagar em cartão ou à vista? – A voz enjoada da atendente a irritou ainda mais.
- À vista. – respondeu, entregando uma nota de vinte para a mulher, que sorriu, dando a perceber que estava a fim de .
- Vamos, amor. – falou dando ênfase para a última palavra e agarrando a mão do rapaz com força.
- Ficou com ciúmes? – indagou quando eles estavam no estacionamento, fazendo charme. bufou e apertou ainda mais sua mão.
- Então você percebeu aquela putinha dando em cima de você? – ela questionou, olhando feio pra ele.
- É claro que não. Estava mais ocupado olhando para outra pessoa – sorriu, fazendo com que olhasse ainda mais feio para ele.
- Quem seria essa pessoa? – perguntou, curiosa.
- A pessoa que mais ama o natal em Londres. – revelou e pulou em seus braços, sem se importar com o vinho.
respirou fundo para evitar uma lágrima solitária que insistia em cair. Como ele sentia falta de implicar com , sentia falta dela insistindo para que ele gostasse do natal, sentia falta de cada pedaço pertencente àquela garota.
- , porra! A mulher vai dar um ataque se você não chegar rápido! – Ouviu a voz de novamente assim que atendeu ao telefone.
- Eu já vou. Eu estou no meio de um... – Pensou numa desculpa que o fizesse demorar a chegar. – Congestionamento.
- Que merda, dude. Vê se acelera o passo quando conseguir sair dele, ok?
- Pode deixar. – Desligou na cara do amigo novamente. Não antes de ouvir um “NÃO DESLIGUE NA MINHA CARA, IMBECIL!", que berrou. Um sorrisinho discreto surgiu em seus lábios ao lembrar-se do que ele e fizeram com ele no passado.
Faltavam apenas alguns dias para o natal. , e já estavam de férias. Esse era um natal mais antigo, a ocasião em que e começaram a se olhar com outros olhos... E a que tomou sua primeira bebida alcoólica. A primeira de várias, diga-se de passagem.
- Hey, , ofereça rapadura aos seus amigos! – A Sra. chegou com o doce na mão. deu a mochila para , indicando o quarto com a cabeça.
- Hm, não acho que eles vão querer, mas passa pra cá! –sorriu, tomando o doce da mão da mãe e correu para o quarto, com ao seu encalço.
- Tem certeza de que não é perigoso, ? – a menina perguntou, um pouco receosa.
- Absoluta, gatinha. – afirmou, mandando um beijinho no ar. olhou feio para o amigo. era a SUA melhor amiga e não a de .
- Não acha que ‘gatinha’ é um apelido meio ridículo para se dar a uma garota de quinze anos, ? – implicou, emburrado.
- Não, seu ciumento – respondeu , abraçando em seguida. pensou que fosse explodir ali mesmo. Entrou no quarto do amigo e se sentou de mau jeito no carpete. A garota se sentou ao seu lado e acariciou a mão dele lentamente.
- Não precisa ficar com ciúmes, – sussurrou no ouvido do garoto, fazendo o mesmo suspirar.
- E a primeira dose do dia vai para... ! – brincou, entregando um copinho de Martini para ela. fez cara feia para o conteúdo do copo antes de bebê-lo de uma só vez.
- É ISSO AÍ! Você só me dá orgulho, garota – elogiou , antes de beber três copos do Martini de uma vez só. – WOW! – berrou e fechou os olhos enquanto esperava tudo descer pela garganta.
- Sua vez, boy – falou e ofereceu duas doses para ele, que sorriu maliciosamente antes de bebê-las.
- Hey, quem quer rapadura? – ofereceu, gargalhando enquanto tentava cortar um pedaço do doce.
- Que porra é essa? – perguntou, ligeiramente bêbado.
- É um doce estranho que minha tia trouxe do Brasil... – explicou e quando tentou cortar mais uma vez, o doce voou, caindo no chão.
- SEU IMBECIL! EU QUERIA COMER! – gritou, e começou a gargalhar. Ela era a menos bêbada do local, mas ainda assim gritava.
O trio conseguiu tomar tudo que pudesse ser chamado de ‘bebida alcoólica’ presente no quarto.
e acordaram primeiro, deparando-se com completamente dopado babando no carpete.
- Eu tenho uma ideia. – falou sorrindo maliciosamente enquanto olhava na direção de .
Ela pegou um batom vermelho que estava em sua bolsa e um pouco de pasta de dente do banheiro. Com a ajuda de , tirou a camisa suja de e escreveu com o batom: MERRY CHRISTMAS, DRUNK GUY!
poderia tomar isso como uma forma de vingança pelo dia que ele jogou ovos e farinha nela em seu aniversário de quinze anos.
tirou do quebra-sol a foto de bêbado e com o recadinho especial de . Apertou a foto como se pudesse voltar no tempo e dizer à que gostava dela. Mas adolescentes são bobos, certo?
Parece que o congestionamento que ele havia apenas inventado para estava mesmo para acontecer. Sorte a dele, não queria ter que passar o natal com a mãe de . O que ele mais queria era ir a algum lugar onde pudesse se sentir mais perto dela. Sabia exatamente onde encontrar o que tanto queria. O local não trazia lembranças tão boas, mas pelo menos era apenas deles. Como um esconderijo.
- Anda, , sobe aqui! – berrou para a menina que se recusava a subir. – Eu vou precisar descer aí e te carregar?
- E se essa coisa cair, ? O que eu tenho para te contar é importante... – pareceu meio vaga quando pronunciou a última frase.
- Você já subiu aqui tantas vezes, não vejo o porquê de não subir agora.
- Tá, você ganhou. Mas fique sabendo que essa é a última vez que eu subo aqui! – ela falou revirando os olhos e subiu em direção à casa de árvore recém pintada de verde e vermelho. sabia que não seria a última, ela sempre falava a mesma coisa desde que descobriram a árvore na metade do ano.
Encontrou sentado ao lado da árvore de natal que havia levado para lá.
- Você não trouxe nada para nossa árvore? – perguntou , enquanto colocava um arranjo em forma de flauta na pequena planta.
- Bom, eu trouxe uma coisa bem especial... – contou e mostrou uma meia velha para ela.
- Uma meia furada!? – reclamou a garota, fazendo com que ele gargalhasse.
- Já te disse que odeio essas besteiras. E pendure minha meia aí! – disse. Ela pendurou, revirando os olhos.
- Você ainda vai gostar dessas ‘besteiras’. Eu sei que vai... – disse e chegou mais perto do namorado. Ambos olharam para o céu de onde desciam alguns floquinhos de neve.
não poderia distinguir por quanto tempo eles ficaram ali parados, apenas olhando o céu.
- O que está te incomodando? – ele perguntou quando sentiu que as mãos da menina tremiam. De uns dias pra cá ela andava realmente estranha.
- Eu preciso te contar uma coisa ... – começou e se afastou um pouco do namorado, abraçando os joelhos. ficou em silêncio e ela tomou isso como um sim. – Eu sei que deveria ter te contado antes e você pode não querer falar comigo nunca mais depois disso. E eu não vou tirar sua razão.
- O que está acontecendo, ? – indagou o rapaz, chegando perto dela e pondo suas mãos no rosto da menina, obrigando-a a olhar em sua direção.
- Você não merecia ter perdido tanto tempo de sua vida comigo, sabia? – murmurou, e viu algumas lágrimas descendo de seus olhos.
- Ficar com você nunca vai ser perca de tempo pra mim. – Sussurrou enquanto limpava algumas lágrimas de suas bochechas com o polegar. – Eu te amo.
- Não torne as coisas mais difíceis do que já são, ! – explodiu e respirou fundo antes de contar. – Eu vou morrer, .
- Você vai o quê?! Que brincadeira de mau gosto é essa, ? – exigiu, visivelmente alterado. Como ela poderia brincar com algo assim?
- Eu gostaria de poder dizer: Sim, , é claro que eu estou brincando! Mas eu não posso. Eu tenho um tumor em fase terminal no cérebro. Eu gostaria de ter te contado tudo isso antes, .
sentiu toda a cor sair de seu rosto, em choque.
- Eu não tinha o direito de fazê-lo passar por isso. Eu deveria ter te contado desde que nós tínhamos quinze anos... – chorava desesperadamente ajoelhada ao lado de .
- Você tem essa doença há dois anos e nunca cogitou a ideia de me contar? – perguntou, e constatou que também estava chorando.
- Eu sei que sou uma egoísta e só pensei em mim quando decidi não contar nada para você.
- Você não está entendendo. Nós poderíamos ter tentado algum tratamento novo para te salvar! – falou e abraçou a namorada. – Você não vai morrer, ouviu bem? Eu não vou deixar.
- Eu te amo, . Por toda a eternidade, não importa onde eu esteja. Eu sempre vou te amar.
- Você vai estar aqui comigo, . Nós vamos morrer velhinhos e vamos ver nossos netos nascerem... – tentou acalmar a si próprio, acariciando os cabelos dela.
- Eu quero muito acreditar nisso, . – Apertou a mão dele com força. – Eu não quero ter de ficar longe de você. Afinal, se eu não estiver aqui, quem vai te ensinar a gostar do natal?!
- Haha, engraçadinha. – disse debochado e beijou a bochecha fria dela.
Ficaram novamente em silêncio. estava em pânico pela situação de . Não poderia perdê-la de maneira alguma!
- , prometa-me uma coisa?
- O que você quiser.
- Não morra junto comigo. – Murmurou as palavras que ele menos queria escutar.
- Não sei se sou capaz de não fazer isso. – resmungou.
- É claro que você é! – exclamou e ele suspirou. – Eu sei que não me resta muito tempo... Não quero que você pare de viver por minha causa.
- Não sei se essa é uma promessa que eu possa cumprir – disse, envolvendo a namorada. Ela se sentiu agradecida pelo calor que aquele abraço estava lhe proporcionando. O frio era quase insuportável naquela época do ano.
- Você precisa me prometer isso! – pediu desesperada. – Eu não quero que você fique sozinho, pensando no quão brilhante poderia ser a nossa vida. Eu quero que você se divirta. Saia com outras mulheres, cometa loucuras e todas as outras coisas que a gente costumava fazer...
- Nada vai ter a mesma graça se você não estiver lá. Porque nenhuma mulher poderá te substituir, você é única. – replicou, fazendo carinho nos cabelos dela.
- Prometa que vai ao menos tentar, . – Insistiu, e tirou a cabeça do ombro dele para olhar em seus olhos. – Prometa!
- Eu... Prometo. –Sabia que era uma promessa da boca pra fora. Era impossível viver longe dela.
sentiu várias lágrimas formando caminhos em seu rosto enquanto adentrava a floresta novamente. Abraçou-se para lutar contra o frio. Ouviu um pequeno grupo cantando War is Over e lembrou-se do seu último natal com .
- Essa música é linda, né? – perguntou, dando pulinhos animados e cantando a música.
- Não adianta, . Eu nunca vou gostar de nada natalino.
- Ah, faça-me o favor. Nem venha me dizer que você nunca gostou do Papai Noel. – Colocou as mãos na cintura enquanto perguntava. sorriu de leve com a posição da namorada.
- Talvez tenha gostado quando eu tinha quatro anos. Será que se eu mandasse uma cartinha para ele pedindo por sua cura, ele me dá de presente? – propôs ele e olhou derrotado para ela. O sorriso animado dela sumiu em questão de segundos.
- Pensei que nós tivéssemos combinado de não tocar nesse assunto enquanto é natal.
- Eu estou preocupado, . – Mexeu nos cabelos de forma estressada.
- Não precisa ficar. Eu estou aqui com você e o melhor de tudo é que eu me sinto bem. – Replicou ela e tentou arrumar a bagunça que ele havia feito nos cabelos.
- Sem nenhuma dor de cabeça?
- Já chega. Eu não quero estragar o melhor dia do ano falando bobagens, !
bufou e acabou pisando um chiclete. Bufou novamente, porque aquele era seu sapato favorito. Ah, como ele odiava o natal!
- Viu? É praga do Papai Noel – brincou , e começou a rir do namorado. Ele continuava de cara feia.
- Fica quieta, . – pediu e ouviu o último acorde de War is Over ser cantado pelas crianças.
tirou o velho cachecol de rena de do bolso de seu casaco e o levou até o nariz. O cheiro dela, praticamente inexistente na peça de roupa, ainda causava calafrios nele. Olhou para cima e viu a casinha vermelha e verde que ele e haviam decorado há seis anos. Embora a pintura estivesse gasta, ainda era capaz de imaginar os dois ali, rindo das palhaçadas de . Ouviu o celular tocar pela milionésima vez no mesmo dia. Atendeu com impaciência.
- O que foi agora, ?
- Eu sei que você não está num engarrafamento, . Eu sei onde você está e estou indo aí agora.
- Por favor, eu só quero ficar sozinho.
- Não adianta, eu já estou quase chegando aí.
Ignorando o amigo, subiu na velha casinha e respirou fundo quando foi invadido com todas as memórias que o local trazia.
Olhou para a velha árvore de natal e a pequena flauta que havia deixado ali há tantos anos atrás. Ajoelhou-se e notou algo diferente, uma coisa que não estava ali na última vez que ele estivera no local. Puxou o envelope de debaixo da árvore e viu a letra redonda e bagunçada de . O envelope continha seu nome. Abriu-o com a maior rapidez que pôde e começou a ler.
Londres, Dezenove de Novembro de 2004. Querido , Não faço à menor ideia de quando você vai achar essa carta. Só espero que não demore muito. Tenho de escrever esta pequena lembrança o mais rápido que puder, porque Meredith(minha enfermeira, lembra-se dela?) vai levá-la até aí. Bom, pelo menos eu acho que você deva estar lendo isso dentro de nossa ‘casa’.
Eu sei que vou morrer em breve, . Mas eu não quero que você morra junto comigo, não é justo. Você é a pessoa mais divertida e apaixonante que eu conheço! E eu estou tomando isso da verdadeira mulher da sua vida. Como eu gostaria de ter sido essa mulher... Mas não houve tempo. Não podemos lutar contra o destino, certo?
Acredito que eu esteja indo agora para um bem maior. Sei que isso não virá para o mal, meu amor. Quero que você enxergue dessa maneira, tornará as coisas mais fáceis.
Deixe fazê-lo rir. Sei o quanto é difícil, mas nada é impossível para ele.
E pare com essa mania de odiar a minha data favorita! O natal é mágico, porque reúne famílias que, na maioria das vezes, passam o ano todo sem se falar. Esse é um dos meus últimos pedidos: Não odeie o natal.
Por favor, , não acabe com a sua vida por minha causa. Cumpra a nossa promessa e divirta-se sem pensar que é errado. Sua vida não acabou ainda e não é nenhum crime sorrir quando eu não estiver mais aí... Não sei se já te falei, mas eu adoro quando você sorri! Mostre isso para o mundo e você terá o que quiser!
Gostaria de poder escrever mais, mas você deve vir me visitar em cinco minutos e eu quero que esta carta seja surpresa.
Com todo o amor do mundo,
A sua eterna namorada birrenta.

sabia que não havia seguido nenhuma das instruções presentes na carta. Aliás, qual fora última vez que ele sorriu mesmo? Era incapaz de se lembrar.
Qual fora a última vez em que estivera com alguma mulher? Lembrava-se de Abigail há dois anos. Mas ele foi tão grosso com ela que não houve chance alguma de um segundo encontro.
não queria ter ido, ele havia traído sua garota de alguma forma. Devia respeitar sua memória e não ficar saindo com garotinhas só porque mandava.
O verbo correto não seria ‘mandar’, mas sim ‘empurrar’ mulheres para .
Escondeu a cabeça entre os joelhos e pôs-se a chorar.
- ? – Ouviu a voz de chamá-lo e olhou para o amigo. – Dude, você precisa parar de vir pra cá.
- Ela me deixou uma carta.
- Falando para você parar de se maltratar? – perguntou , sentando-se ao lado do amigo. Ele apenas confirmou com a cabeça. - Viu, ? Enquanto você não tocar sua vida, ela não vai descansar em paz...
- Eu não posso! – exclamou e olhou enraivecido para o amigo.
- Você não pode ou você não quer?
- Um pouco dos dois.
- Acorde para a vida enquanto ainda há tempo! – aconselhou, dando um leve empurrão em .
- Talvez eu queira dormir enquanto ela passa...
- Olha o que você está dizendo, seu idiota! Você sabe que está fazendo exatamente o contrário do que ela lhe pediu.
- E eu penso nisso todos os dias da minha vida, mas é impossível cumprir essa porcaria de promessa.
- Se você começou a gostar do natal, eu digo que nada é impossível... – brincou ele, e suspirou.
- Cala a boca, ! –rosnou, e riu abertamente. – Vamos sair daqui, ok?
Saíram em silêncio da casa e olhou para ela uma última vez. Tinha a sensação de que não voltaria mais ali. Ele tentaria cumprir a promessa dela.
- Hora de irmos para o jantar da bruxa velha. – disse e riu novamente. sorriu verdadeiramente como não sorria há muito tempo.
- Nunca vou entender o porquê de você não gostar dela, seu idiota. – Retrucou e empurrou . – Oh, é mesmo. Ninguém nunca conseguiu entender você – brincou e fechou a cara.
- Hey, eu te dei intimidade pra falar comigo assim?! - fez biquinho antes de entrar no carro.
Chegaram à casa da mãe de , que estava lotada de itens natalinos. Tal mãe, tal filha...
- Que bom que chegou, querido. – A Sra. o recebeu com um abraço. – Nunca vi ninguém demorar tanto para comprar um vinho!
- Desculpe-me pela demora. Aqui está o vinho. – Entregou a garrafa para a mais velha.
- Sem problemas... – murmurou e começou a andar em direção à mesa, que estava coberta de comidas típicas como peru, chester e etc.
sorriu e se sentou no lugar onde costumava se sentar. Observou todos sorrindo e compartilhando de toda a magia natalina. Era maravilhoso gostar do natal. Agradeceu mentalmente à por mostrá-lo a importância da data.
- Eu gostaria de propor um brinde! – exclamou e elevou sua taça esperando que os outros o fizessem antes de dizer. – Um brinde à que, independente de onde estiver, deve estar festejando o natal. – Brindou e deu um sorriso leve. - E, por fim, eu gostaria de agradecer a Deus por ter me mandado uma garota tão especial como ela. E de pedir perdão por ter dito tantas blasfêmias sobre o natal antes de conhecer a – finalizou e viu algumas lágrimas nos olhos de sua eterna sogra.
- Foi muito bonito o que você disse, querido! – A Sra. falou e foi para seu lado, dando-lhe um abraço apertado. – Ela sempre soube que você iria gostar do natal um dia, sabia? – sussurrou, e ele sorriu.
- Sra. , eu simplesmente amei o seu peru defumado! – elogiou , com a boca completamente cheia.
- Você é um insensível, ! – A namorada do garoto deu um pedala nele.
- Ahn, desculpa – falou constrangido e apenas sorriu novamente.
Ele não sabia por que estava sorrindo tanto, apenas não via motivos para continuar se torturando numa data tão bonita e especial. Não era como se ele tivesse superado a morte dela, mas ele estava tentando. Devia isso a ela. Sabia que não seria fácil e muito menos rápido, mas ele tinha que tentar. Como uma última homenagem. Nunca mais poderia odiar o natal. Não quando essa era a sua data favorita...
Enquanto saboreava a comida, lembrou-se de uma cena que ele sempre tentou esquecer.
estava deitada numa cama de hospital e uma confusão de tubos a rodeava. Ele odiava vê-la daquela maneira.
Ela fez sinal para que ele chegasse mais perto e ele a obedeceu fielmente.
- Obrigada por ter sido tudo na minha vida. – Sussurrou sem forças.
- Você não precisa agradecer, meu amor. Eu não seria nada se não tivesse você ao meu lado.
Observou enquanto ela tentava pronunciar as palavras, sem êxito. Ouviu o barulho que menos queria escutar na vida. O barulho que indicou a morte da sua garota.
Viu um pequeno e amassado pedaço de papel cair de sua mão, agora sem vida.
Eu te amo e sempre te amarei, .
Era a única coisa escrita no papel, mas que significou muito para ele. não enxergava mais o mundo ao seu redor. Tudo que ele queria era morrer ali mesmo. Juntar-se a o mais rápido possível. Mas era impossível...
Ele tentaria por ela, ele iria sorrir mais e até sair com algumas mulheres. Mas, ainda assim, tudo que ele iria fazer, seria por ela. Afinal, tudo que ele já fez e fará na vida é por ela. Não importa se ela está ou não ao seu lado.
Because it’s all about and always will be.

The End





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