Xmas time


Challenge #01

Nota: 8,6

Colocação:




- Deck the halls with boughs of jolly, fa-la-la-la-la, la-la-la-la, this is the season to be jolly, fa-la-la-la-la, la-la-la-la… - vinha da cozinha cantarolando, com um saco de pipoca em mãos, saltitando na direção de Dougie.
- , você tá prestando atenção no que eu tô falando? - Dougie levantou a sobrancelha, fazendo uma expressão emburrada - eu apreciaria se a minha suposta boa amiga ouvisse o que eu tenho a falar - continuou ele, dando ênfase especial na palavra “suposta”.

se jogou do lado de Dougie no sofá e encostou a cabeça em seu ombro.

-É claro que eu to ouvindo, mas é que é Natal! - Ela jogou os braços espalhafatosamente para o alto - você não ama tudo nessa época? São luzes, árvores de Natal, presentes, musiquinhas... É demais! - Disse ela, batendo as mãos em sinal de excitação.
- Que seja, nunca vi alguém ficar tão entusiasmado nessa época que nem você - Dougie foi se pronunciando e roubando algumas pipocas - de qualquer jeito, vê se ouve agora. Vai ter uma festa...
- Hmmmm... - A menina emitiu um ruído de aprovação, pois estava mastigando uma boa quantidade de pipoca. Festa e Natal, tem coisa melhor? Não para .
- Então... Vai ser lá no salão da Igreja, no sábado de tarde. Eles pediram para eu convidar alguém e eu pensei em você, que tal? - Dougie coçava sua nuca enquanto falava de um modo um tanto embolado.
- Você fica engraçado quando fica nervoso - ela deu uma risadinha, para depois continuar - aliás, eu tô orgulhosa de você! Parece que esse encontro tá te fazendo bem.
- Ahan. Tem bastante gente legal lá.
- E você que reclamou no começo, quando a sua mãe te obrigou a ir às palestras. Só porque tinha a ver com a Igreja e ia ser o maior mico, blábláblá. Babaca - ela deu um leve tapa na cabeça de Dougie no fim do seu discursinho.
- É, é... Eu sei. Enfim, você vai?
- Cara, e eu ainda não acredito que você, com esses cabelos loiros de Brad Pitt - ela deu uma leve sacudida no cabelo do garoto - e esses olhos azuis de matar, pode ter problemas de auto-estima. Qual é?!
- Sabe, não é como se eu quisesse - o menino rolou os olhos. Já estava cansado de ouvir a opinião dela sobre o seu psicológico fraco, que teimava em deixá-lo nervoso em frente a qualquer menina e ter bloqueios quanto a relacionamentos e opiniões femininas. Ele continuou - Enfim, você não me respondeu. Vai?
- Sabe, Dougie, eu tava pensando que essas suas psicoses começaram desde que a Anne, te disse que você tinha pinto pequeno, quando mesmo? No oitavo ano?
- , eu apreciaria MUITO se você mudasse de assunto - Dougie ruborizou ao ouvir da amiga a tal historinha do passado - a Anne não me traz boas lembranças - ele finalizou em um murmúrio de insatisfação.
- Ah, fala sério. Aquela garota era uma vaca mesmo - ela deu um pequeno empurrãozinho de incentivo em Dougie. - Eu totalmente acho que o seu little Poynter não deve ter nada de little.
- ! -Dougie a repreendeu, porém não pode conter uma risada. Foi uma das piores falas da história, mas ele entendeu que era uma tentativa de para levantar sua moral.

Após alguns segundos de silêncio, Dougie o quebrou, com uma voz um tanto preocupada.
- O quanto é considerado little? - Ele precisava saber, afinal, e se Anne realmente tivesse razão? O que as garotas falariam dele? Que ele nem fazia cosquinhas? E isso ia se espalhar pela escola e todos iam cochichar por suas costas sobre o quão patético ele era e...
- Ah, não. Nem começa Poynter! - soou séria e lhe lançou um olhar repreensivo.
- Mas, é que... Vai que ela tá certa.
- Hunf, duvido muito - deu de ombros e se levantou rapidamente com uma cara maldosa - mas só pra gente conferir... Abaixa as calças Poynter!
- O que?! - Os olhos de Dougie quase saltaram, porém ele nem teve muito tempo para pensar, porque no instante seguinte ela estava o perseguindo pela casa.

Alguns minutos depois, cansado de dar voltas e voltas pela casa inteira, e já sem muita certeza de por que estava correndo da amiga, Dougie se jogou no sofá em que estava sentado antes e deixou-se relaxar, sentindo que sua respiração normalizava aos poucos. veio logo em seguida e pulou em cima do garoto.
- Ai, divertido! - Ela escorregou para o espaço vazio ao lado de Dougie e se concentrou em arrumar seu cabelo, que claro, estava uma bagunça.
- E você ainda não me respondeu, vai na droga da festa ou não?
- Nossa, nem achei que precisava responder, é claro que eu vou. - Ela rolou os olhos.
- Ah, que bom - ele finalizou o assunto.

Minutos de silêncio se seguiram, até serem interrompidos pela pergunta de Dougie.
- 15,9 centímetros é pequeno?
arregalou os olhos e não conteve uma gargalhada.





- Quanta gente! - se admirou ao entrar em um salão simples onde havia muitos outros jovens, acompanhada por Dougie.
- É, são muitos problemáticos em Londres - ele falou, dando de ombros e, pelo que parecia, procurando alguém pelo salão.
- E poxa, que legal da parte deles, fazer uma festa de Natal. Pena que eles não decoram como realmente deve ser uma festa de Natal. Ia ser mais bonitinho se tivessem guirlandas, luzes, quem sabe um pinheiro e papai Noel? - pôs a mão no queixo, avaliando as possibilidades da decoração, que era muito simples: algumas flores sobre mesinhas, forradas com toalhinhas brancas, uma pista de dança com um globo de luz logo acima e um pequeno palco onde, ela podia ver, estava sendo posto um microfone.
- Ah, mas isso não é uma festa de Natal, é só uma festa mesmo. Normal. Festa de festa.
- Ué, mas por que não é festa de Natal? Pelo amor de Deus! Estamos no salão de uma paróquia, é dia 22 de Dezembro, Jesus tá logo ali - ela apontou para trás, onde se localizava a igreja, e continuou - o que falta para ser uma festa de Natal?
- Bom, o programa atende a uma grande variedade de pessoas, como uma grande variedade de problemas, e um deles é rejeição ao Natal - Dougie disse mansamente. Ele sabia a opinião fervorosa da amiga quanto a essa data festiva e também o quão... Digamos assim... “não aberta a novas opiniãos” ela era.
, de boca aberta, literalmente, encarou seu amigo sem acreditar.
- Quem é o idiota que não gostaria de Natal? Tipo, fala sério... Criancinhas sorrindo, todos cantando e festejando, casas enfeitadas, o que há para não gostar? - Ela emburrou pensando em quem era o ser mal amado que tinha cisma com uma data tão legal.
- , esquece tá? Vamos aproveitar a festa - Dougie lançou um olhar furtivo pelo salão enquanto falava.
- Dougie, o que você tanto procura?
- Nada, só uma amiga.
- Amiga é? Que avanço hein, Poynter? - deu uma leve cotovelada em Dougie, que corou abruptamente.
- Nem começa, .
- Certo, você está em processo de melhora. No dia em que não corar mais com uma piadinha idiota minha, eu digo que você, com louvor, se recuperou.

Antes que Dougie achasse quem tanto procurava ou respondesse à , as atenções foram desviadas para o palco onde um senhor, de aproximadamente 70 anos começou a falar.

- Olá, queridos irmãos e irmãs. Para os convidados, que não me conhecem, sou padre Thomas e estou no comando do Guiding Anonymous Young Souls. O programa da paróquia, que ajuda jovens que por ventura tenham algum pequeno desvio de conduta ou bloqueio social, adversidades psicológicas, qualquer que seja o problema, nós sempre estamos de braços abertos. Acreditamos que com a aju...
- Claro o GAYS sempre ajuda a todos - sussurrou alguém em tom de gracinha, logo atrás de , desviando a sua atenção do padre, já que ela não tinha gostado nem um pouco do que ouviu. Poxa, o padre parecia ser tão bonzinho. Mesmo que ele não tivesse ouvido, era uma maldade chamá-lo de gay.
- Ei, escuta aqui - ela se virou decidida a dar uma bela bronca em quem quer que fosse que estava caçoando do pobre padre Thomas, mas quando encarou aqueles olhos de um azul tão profundo e aquela carinha tão linda, ela perdeu toda a vontade de repreendê-lo - é, bom, você sabe... Ele parece ser uma pessoa legal e... não se deve... bom, ofendê-lo. Não que gay seja uma ofensa, só que... ah... Entendeu, né? -Que desastre. Em vez de uma censura com cara de má, o que ela fez foi gaguejar com cara de “aluna-tímida-apresentando-trabalho-escolar”.

O menino de tais olhos azuis e cara lindinha levantou as sobrancelhas e se pronunciou.

- Sim, ele é legal. E relaxa, eu só fiz uma piadinha. Todos os caras do grupo fazem, aliás eu sou um deles. Sabe... Guiding Anonymous Young Souls, pra encurtar: GAYS. É só uma sigla. Nada de ofensas - ele levantou as mãos na altura de seu peito, se declarando inocente.
-Ah, sim. Desculpe então - parecia conseguir sair do seu estado de transe. “Que olhos!” era a única coisa que passava por sua cabeça. Algumas palmas que irromperam pelo salão, finalmente desviaram sua atenção. Pelo que parecia, o discurso tinha terminado.
Dougie se virou nesta hora e cumprimentou o tal menino, que a essa altura devia estar achando um caso incurável de retardamento, até para o bendito GAYS.
- , como tá? - Dougie o saudou com um aperto de mão - pelo visto já conheceu a , né?
- Claro, claro. Deixa só a Shelly ter ver com ela... - disse.
- Ah, a é só minha amiga - ele deu de ombros, despreocupado.
- EEEEI, e pelo visto a Shelly tá em um nível bem acima disso. O que tem escondido de mim hein, senhor Poynter?
- Nada de mais, . Se fosse, você saberia.
- Nada de mais? - repetiu a frase de Dougie, só de que uma forma alarmada - vou te contar, a Shelly é algo a mais sim. Sabia que o seu amigo tá saindo com a garota mais gostosa do grupo?

nem pensou duas vezes antes de dar um forte tapa no braço de Dougie.

- Como assim você tá saindo com uma garota e não me conta? Nada de mais, até parece! Tô achando que toda a sua timidez e bloqueios eram fachada - ela disparou a falar, em um tom bem indignado.
- Claro que eu não tava fingindo. Mas é que você não conhece a Shelly, ela é bem persuasiva e...
- Ela é ninfomaníaca - o cortou rapidamente.

não pode evitar fazer um escândalo diante daquela revelação. Quando conseguiu se recompor, viu que Dougie estava com as bochechas rosadas e a observava rindo.

- Certo, o travado tendo um caso com a tarada. Isso foi engraçado.
- Nossa, , estou morrendo de rir - Dougie e sua carinha de criança emburrada, como sempre.
- Ah, nem se faça de vítima, tá achando que eu me esqueci do detalhe que você não tinha me contado isso? - Ela cruzou os braços na altura do peito e fez cara feia para ele.
- Certo, uma pena, mas tenho que ir. A Shelly tá ali e, bom... Tchau.
Dougie se afastou rapidamente, deixando apenas e .
-Poxa, já viu pior amigo que esse? Ele que me convidou e agora me deixa sozinha.
- Ok, eu acabei de ser ignorado, já que você disse que está sozinha.
- Não foi isso...
-Ih, relaxa. Eu entendi, só tava brincando - ele cortou as explicações mais que óbvias da garota e com um sorriso, deu continuidade -vamos sentar e conversar. Melhor do que ficarmos sozinhos, certo?

Sem esperar uma resposta de , pois já previa que seria afirmativa, , foi puxando-a pela mão, por entre as pessoas, até chegar a uma mesa vazia, onde eles sentaram e engataram uma conversa qualquer, que logo depois foi puxando outra e outra e outra.
Quando o salão já estava esvaziando, já no fim da festa, um Dougie um tanto quanto desarrumado e com uma menina pendurada em seu ombro, veio em direção à mesa onde e ainda se encontravam, conversando para variar.

- , vamos? - Dougie arfante se pronunciou, sem muitos rodeios.

Finalmente desviando seus olhos de , respondeu calmamente.

- Oi pra você também Dougie, que bom que a sua tarde, após o abandono da minha pessoa, devo acrescentar, foi tão divertida quanto a minha. Ainda bem que o me fez companhia - ela lançou o seu mais simpático sorriso ao garoto, que estava sentado em sua frente, que o retribuiu mostrando todos os seus dentinhos lindos, segundo a mais sincera opinião de .
- Disponha, sempre que precisar.
- Não se faça de vítima, pela sua cara você não sentiu tanto a minha falta -Dougie rolou os olhos , e agora, pelo tom de sua voz, um pouco embolada, poderia jurar que o nível de álcool no sangue de seu querido amigo estava acima do normal.
- Dougie, você andou bebendo? - A menina levantou a sobrancelha em tom acusatório recebendo como resposta uma cara de criancinha de Dougie e seus dedos levantados na altura de sua face, com o polegar e o indicador juntos, algo que, pelo que parecia, queria demonstrar “só um pouquinho(zinho)”.

Se desfazendo da carinha fofa Dougie falou.

- Certo, o fato é vamos embora? A Shelly aqui - finalmente ele pareceu se lembrar que tinha uma menina apoiada em seu ombro durante esse tempo todo - vai lá pra casa e nós vamos...

, um tanto sem graça por ter que ouvir os planos do amigo e sem querer saber como iriam acabar, logo o cortou.

- Certo, vamos. Oi, Shelly, tudo bom? Sou a , amiga do Dougie, mas isso você já deve saber - ela disparou a falar enquanto se levantava, dando um tchauzinho simpático na direção de Shelly, que fez o mesmo.

Bom, Shelly.
Shelly, Shelly, Shelly. Estava ali, quietinha, parada durante toda a rápida interação entre e o meio bêbado Dougie. O que se podia falar de Shelly? Ela não parecia nem de longe uma ninfomaníaca, na verdade, o pensamento que se aproximou da mente de , a primeira vista, foi de um beata. Sim, acredite. Daquelas que usam saias compridas, coque e blusas de manga até nos altos dias de verão. Nada ninfomaníaco e foi por isso que o olhar de se demorou na menina, enquanto a analisava.

- Acho que vou com vocês - finalmente deu o ar de sua graça na conversa, tirando a atenção de das roupas de Shelly para o menino.
- Vamos, vamos então - Dougie com Shelly em seu encalço, seguidos por e se encaminharam para a saída do salão e foram caminhando até o carro, onde obviamente tomou o comando.
- Mas é óbvio que você não vai dirigir dude! - puxou as chaves da mão de Poynter - deixa que eu deixo você e a Shelly em casa, depois se a quiser, eu levo ela.
- Eu tô ótimo! Eu não tô bêbado, se é o que vocês estão achando, faço até o quatro, óh...
- Pelo amor de Deus, sai do chão, Dougie! - uma pouco paciente rolou os olhos para a cena de Dougie Poynter de quatro no estacionamento da igreja.
- Não é pra ficar de quatro, é para fazer o quatro, neném - Shelly riu de Dougie, enquanto o ajudava a levantar, perdendo de vista a careta de ao ouvir o apelido dado ao amigo.
- Entrem logo no bendito carro - foi empurrando um Dougie cambaleante, que do outro lado, era apoiado por Shelly. , por sua vez, foi no banco da frente, ao lado de .

Mais alguns minutos e o carro de Dougie estava estacionado logo em frente à casa do mesmo.

- Valeu dude, será que você pode me fazer mais um favor e levar a em casa - Dougie, que tinha os braços em volta de Shelly pediu sem muita cerimônia a .
- Dougie! Deixa de ser inoportuno. Eu posso muito bem ir sozinha - uma sem muita paciência respondeu rolando os olhos - minha casa nem é longo.
- Inoportuno? - Dougie levantou uma sobrancelha sugestivamente - Deixa de falar estranho só pra impressionar o , e vai logo com ele.
- Poynter! Eu estou mortificada pelo seu jei...
- Vai logo, - Dougie interrompeu a menina e deu as costas, dando a conversa por encerrada.

Em meio a resmungos, começou a caminhar, sendo seguida por .

- Relaxa , ele só é um bom amigo que zela por você, mesmo quando bêbado.
- É sei, aquele infeliz... Enfim, só esquece o que ele falou, certo?
- Sem problemas - deu de ombros. - Então, gostou da festa?
- Ah, claro que sim. Só uma coisa... Você tinha dito que a Shelly era ninfomaníaca e eu juro que eu diria que aquela ingênua menininha é uma aprendiz de freira.
- É a velha baboseira de as aparências enganam. Essa eu te garanto que ela NÃO é santa.
- Por que? Já foi vítima é?
- Bom, qualquer pessoa do sexo masculino no grupo já foi. Até o padre Thomas.
- Tensa essa menina, hein? - arregalou os olhos, fazendo careta e olhando para , que riu da expressão da garota.
- É, a Shelly entende de tensão. Principalmente a sexual.
- E você, ? - perguntou inocentemente.
- Se eu entendo de tensão sexual? - lançou seu melhor sorriso sacana para a garota.
- Nããããão - ela pronunciou de forma arrastada - claro que não, eu ia perguntar: “E você ? Por que está lá?"
- Bom, é que... Eu...
- Ih, desenrola. Não é como se você fosse algum babaca do grupo que nem o Dougie me contou, daqueles que não suportam Natal - soltou uma risadinha tentando deixar o garoto mais a vontade.
- Na verdade, detesto te desapontar, mas eu ODEIO Natal - pôs grande entonação na palavra “ODEIO”.
- Mas, hein? - parou de andar repentinamente - como assim? Só pode tá brincando, né?
-Ah, fala sério, . Que época mais irritante! São criancinhas felizes, luzinhas piscando e mais um bando de viadagem por um cara que morreu a séculos. As pessoas têm muita coisa a fazer, e isso envolve os vivos, pra que gastar tempo com os mortos? - havia parado agora para não deixar uma estática para trás.
- , , . Pára tudo. Eu vou deletar o que você falou, vou fingir que nunca ouvi tamanha babaquice na minha vida, porque não é só uma questão de lembrar de Jesus Cristo, que não é um cara qualquer. É compartilhar alegria, amor e uns bons presentinhos - ia fazendo seu discurso, enfatizado por amplos gestos que ela fazia com as mãos, sendo observada por um de aparência cansada.
- Blábláblá, nada do que eu já tenha ouvido milhões de vezes. Minha opinião ainda é a mesma. Os vivos merecem mais atenção.
- E os vivos ganham atenção! Em forma de amor - a menina, que agora estava parada de frente para , fez um coração no ar, arrancando uma risada do menino.
- Aí é que você se engana - ele bateu o dedo indicador na ponta do nariz de - é Natal, Natal, Natal. Muita coisa além do Natal acontece nessa época do ano, . O tempo não pára, mas para a população mundial parece parar. Justamente nos dias 24 e 25 de Dezembro nada mais importa. NADINHA. -Ele tentou ser razoável e não se deixar levar por seu discurso anti-natalino, muito bem conhecido por todos os seus parentes, afinal ele tinha gostado da menina, não queria repeli-la.
- Pelo amor de Deus, , tenha Jesus no coração! - , já claramente sem paciência, bateu o pé no chão - o que há de mais emocionante em Dezembro do que o Natal?
- Viu? Não adianta explicar, ninguém entende.
- É, pelo visto o GAYS não te ajudou em nada, hein? - Eles voltaram a andar, mas não estava disposta a deixar o assunto morrer facilmente.
- Eu disse a minha mãe que não ia adiantar - colocou as mãos no bolso e deu de ombros - e ela não me ouviu.
- Certo, então é isso? Você odeia mortalmente Natal e pronto?
- Basicamente.

Neste momento, parou em frente a uma casa com lâmpadas coloridas que pendiam do telhado, guirlanda pendurada na porta e, em seu jardim, um pinheiro todo enfeitado com bolas douradas e vermelhas, acompanhada de uma rena falsa, porém em tamanho real. também parou, só que ele levou alguns segundos analisando a decoração da casa.
Enfim, ele realizou o quão amante de Natal era. Lâmpadas em excesso e um árvore de Natal original? Tudo bem, razoável. Uma imitação gigante de Rudolph no meio do seu jardim? Exagero.

- Ah, mas isso não fica assim mesmo. O que você vai fazer amanhã? - perguntou de supetão, tirando de sua análise profunda.
- Posso saber o que o fato de você estar me chamando pra sair tem a ver com o meu desgosto por Natal? - levantou uma sobrancelha, não tendo certeza de onde pretendia chegar.
- Deixa de ser convencido - ela deu um leve empurrão no ombro do menino. - Eu não to te chamando pra sair...
-Mas quer, senão não perguntava o que eu ia fazer amanhã.
- Não, não quero. Aliás, eu sei o que você vai fazer amanhã -ela deu um sorriso triunfante - e será superar seu trauma.
- Que trauma?
- Sua aversão a Natal, dã.
- Isso não é um trauma, . É uma questão de gosto. E ela não precisa ser superada.
- Claro que precisa, por isso nós vamos fazer algumas coisinhas amanhã. Esteja aqui, às 10 horas, ok?
- Ué, então a gente vai sair? - levantou uma sobrancelha sugestiva - Achei que você não queria.
- Isso não é uma saída, é uma missão - ela deu um sorriso de criança e depois continuou - minha missão impossível de Natal é te fazer gostar de Natal. E eu te garanto, que eu vou cumpri-la.
- Obrigado, mas eu passo - já ia dando as costas para a menina, que logo o puxou pelo ombro, fazendo-o encará-la novamente.
- Ah, - fez biquinho ao falar - deixa de ser chato, não custa tentar. Natal é tão legal.

Como ainda não parecia convencido, rolou os olhos e respirou fundo, para depois recomeçar.

- Deus, como meninos são difíceis. Se isso faz você vir, que seja. , quer sair comigo?

deu um sorriso.

- , que coisa feia. Você tá tentando me comprar ou você tá realmente muito a fim de sair comigo?
- Tecnicamente não é uma compra, não tem nenhuma troca envolvida e... - ficou extremamente vermelha ao ouvir a insinuação de , porém não conseguiu se justificar muito bem.
- Tá, . Estarei aqui amanhã às 10 horas em ponto - poupou a menina de explicações - contanto que a gente não faça nada relacionado ao Natal, certo?

Enquanto falava, foi se encaminhando para a porta de sua casa, sem dar grande importância à última parte do que tinha falado.

- Esteja aqui às 10, . O resto deixa comigo.
- , você ouviu a parte do Natal, eu sei que ouviu.
- Te vejo amanhã, boa noite - mandou um beijinho para antes de fechar a porta de sua casa e o menino, sem muita opção, rumou para sua casa, pensando se deveria ter aceitado a proposta de .

Ele não gostava de Natal e isso não mudaria, mas de ele definitivamente tinha gostado. Em uma tarde, a menina o tinha conquistado e, se para sair com ela, ele tivesse que aturar algumas horas de baboseiras natalinas, tudo bem. Ele estava disposto a alguns sacrifícios.





Branco. Tudo branco.
Branco, branco, branco. Era tudo o que via quando acordou: neve a perder de vista, acumulada na rua e caindo levemente do céu.
Seu olhar foi diretamente para o despertador, que marcava 9 horas da manhã. Bom. Ela ainda teria tempo de tomar um banho rápido antes de chegar. Tudo bem que deveria ter pelo menos meio metro de neve na rua, porém isso não era um grande empecilho, quer dizer, por favor, eles viviam em Londres, já estavam acostumados com a neve. Não seria apenas um gelinho que faria desistir de sair, certo? Certo.
Ela deu um pulo da cama e foi se arrumar. Se fosse bem rápida, daria tempo de dar uma saidinha para brincar na neve, afinal quem não gosta de comemorar a véspera de Natal com um lindo boneco de neve, com gorro de Papai Noel, nariz de cenoura, cachecol e tudo o que tem direito?

Ah, claro. . Mas no que dependesse dela, isso mudaria.

- Mããããããe, o que tem pra comer? Tô com fome e daqui a pouco vou sair com um amigo - desceu as escadas em direção à cozinha, fazendo um barulho considerável ao bater os pés contra o chão de madeira.
-Hoje minha filha? Com tanta neve? É melhor ficar em casa...
- Ah, nem começa mãe - ela cortou o que a mãe ia dizer - a mais de 15 anos morando em Londres e ainda não se acostumou com a neve?
- É por essa e outras que eu prefiro o meu país. Sinceramente, nunca que tá nevando no Brasil, no máximo chovendo.
- Ah, nada contra a neve. Gosto bastante, dá tanta cara de Natal ao bom... Natal - a menina riu da besteira que falou.
- Neve é gelada e molhada. Não sei de onde vem tanto amor por ela, minha filha. Enfim... - a mãe de enxugava suas mãos em um pano de prato enquanto falava - Ainda tem panquecas aqui, mas vê se não come muito porque já são 10 e 30 e...
- 10 e 30? - arregalou os olhos - mãe, ninguém apareceu aí procurando por mim não?
- Não, senão eu tinha te chamado, ué - a mulher falou em tom de obviedade.
- Ah, se o não vier... - saiu da cozinha murmurando e esquecendo do seu café da manhã. Chegou à sala e agarrou o telefone, discando logo em seguida o número da casa de Dougie.
- Alô? - Uma voz não tão familiar e meio grogue atendeu do outro lado.
- Erm... Por favor o Dougie.
- Ah, tá. Espera um pouquinho.

Após alguns murmúrios e algo como “O que é Shelly?”, ela ouviu o amigo pegar o telefone.

- Hm? - Foi apenas o que Dougie falou. Ou melhor, resmungou.
- Dougie, toma vergonha na cara e sai da cama. É Natal, fa-la-la-la-la, la-la-la-la - cantarolou, tentando amenizar o clima antes de chegar à sua verdadeira intenção.
- Ah, me erra, . Tá nevando, tá frio, tô com sono. Vai fa-la-la-la-la com o , que ficou todo seu amiguinho ontem.
- Ai Dougie, deixa de ser mal comido. Ou mal comedor, nesse caso - começou a divagar, porém logo voltou ao que realmente a interessava- enfim, pra falar com o eu preciso do telefone dele, que por acaso você tem.
- Calma aí - um Dougie ainda sonolento respondeu. Barulho de algumas coisas caindo e uns... gemidos. Certo, preferiu se distrair olhando para a janela e bloquear qualquer som que viesse do telefone enquanto Dougie não voltava.
- Aqui, achei.

A menina anotou o telefone da casa de e rapidamente se despediu de Dougie, tentando ignorar qualquer murmúrio suspeito vindo do outro lado da linha. A próxima coisa que fez, obviamente, foi discar o número que havia acabado de conseguir para tirar satisfações com . Como assim ele tinha dado um bolo nela?
Não que ela estivesse considerando isso um encontro. Nãããão, nunca.

- Alô, por favor eu poderia falar com ?
- Ele não está, foi encontrar uma amiga. Quer deixar recado? -Uma voz suave perguntou.
- Hm, não obrigada. Mas, a senhora é a mãe do ?
- Sim, por que?
- Ah, é que meu nome é e na verdade...





Quando chegou à casa de , com (apenas) 1 hora de atraso, ele viu a menina brincando no jardim de sua casa. Sim, brincando. Como crianças fazem. Ele não pode conter um sorriso, o jeito da garota era encantador, dava vontade de ficar perto.

- Lindo boneco - Um com as mãos nos bolsos encara e sua criação, que estava logo ao lado da maldita rena.
- AAAAAAAAAAAH, você finalmente apareceu, né? - A menina pôs as mãos na cintura e fez cara de brava.
- Desculpa, mas a neve me atrasou.
- Está desculpado - ela falou enquanto tirava seu próprio cachecol para enfeitar o boneco de neve - Agora vamos, temos muito que ver.
Ela deu uma corridinha até a porta de casa e gritou algo para sua mãe, para depois ir ao encontro de . Quando ele já estava começando a se distanciar da casa, se pronunciou.
- Onde pensa que vai?
- Onde você quiser me levar - ele falou forçando voz e olhar sedutores.
- Nem te conto onde eu penso em te levar senhor - ela entrou na brincadeira - Mas por enquanto é só entrar no carro mesmo.
- Carro? , você sabe que com toda essa neve, o trânsito tá uma me...
- É, você quer andar 10 quilômetros? Então, não né? Eu sei que não. Então entra na Joanna e não reclama - foi atropelando as palavras e, ao mesmo tempo, puxando em direção ao fusca que estava estacionado do outro lado da rua.
- Joanna? - levantos ambas as sobrancelhas com incredulidade.
- É o nome do meu fusca azul, algum problema? - deu um olhar maligno na direção do garoto.
- JOANNA? Por que um carro, ainda mais um fusca azul, tem nome?
- Porque não é só um carro, é praticamente da família. Francamente, , você como homem deveria entender essa relação de amor entre ser humano e máquina.
- Que best...

nunca ousou terminar essa frase, o olhar de era muito intimidante.

- Entra logo - deu um pequeno empurrão no menino em direção ao carro - E se fizer piadinha sobre a relação entre mulheres e o volante, vai deixar de ser homem, ouviu?
- Relaxa gatinha, tá estressada? - Ele falou em tom debochado.

Ambos entraram em Joanna e seguiram para o destino incerto, pelo menos para .





- EU. NÃO. AGUENTO. MAIS.
- Eu avisei.
- Avisou nada, ! - Uma , bem insatisfeita e com um bico, reclamava ao encarar a fila de carros a sua frente a perder de vista. O rádio avisava: “Compras de Natal e neve em Londres, ótima combinação para gerar congestionamento nas principais avenidas da cidade, nossa dica é: não saia de casa se puder...” Pena que o locutor só dizia isso agora, quando Joanna fazia parte desse congestionamento. Ou, na opinião de , colapso geral do transporte automobilístico londrino.
- Eu tentei, mas você falou que não queria andar e blábláblá - revirou os olhos.
- Ah, mas... Não dava pra andar mesmo, era muito longe. Só que agora eu tô com fome e esse bando de gente lerda não se move -ela cruzou os braços.
- Calma, . Quer? - Ele tirou uma barrinha de chocolate de seu bolso e ofereceu a menina com cara chorosa a sua frente.
- Obrigada - ela começou a comer a barrinha.
- , tô com fome - ele olhou significantemente para o último pedaço de chocolate que estava na mão da garota.
- Ih, perdeu playboy - ela falou - agora é meu, tenta só pegar...

Falando isso a menina comeu o último pedaço.

- É pra tentar pegar mesmo? - Um com olhar pervertido mirou a boca de .
- Você não existe - achou graça da “cantada” de .
- Existo sim e posso provar.
-Deix...

Antes de terminar, já tinha esquecido o que queria falar. Nenhum pensamento fazia muito sentido. Só o que era entendível era a pressão da boca de na sua e o movimento de sua língua macia. Não tinha congestionamento, não tinha impaciência, não tinha Natal. Tinha , tinha os lábios de . Só. Isso já bastava.
ERA. BOM. DEMAIS.
E para melhorar, tinha gosto de chocolate.
De repente, a neve e os dois casacos de lã e cashmere, respectivamente, que a menina usava pareciam um absurdo. Calor, era o que ela sentia. Estava quente. Tudo MUITO quente.
se debruçou sobre ela e passou suas mãos por debaixo das camadas de roupa que escondiam a pele de , chegando à barriga da menina, que se contraiu ao sentir o toque de seus dedos gelados. Enquanto os lábios de rumavam para o pescoço de , as mãos da menina agarravam a nuca do garoto. Após algumas carícias e marcas no pescoço, eles voltaram a se beijar, sentindo, novamente, uma sensação boa se apoderar deles. E eles fariam isso mais uma vez e outra e continuariam até sufocarem, se não fosse por uma insistente buzina.

- Mas que porra! - Um arfante se separou de , que apenas soltou um risinho nervoso.
- O que foi isso, ? - Ela se endireitou no banco e, após respirar fundo para tentar normalizar o fluxo de oxigênio que entrava em seus pulmões, começou a andar com o carro.
- Você que mandou eu ir pegar o chocolate e disse que eu não existia, então... -o menino ia explicando, mas foi cortado por .
- Eu não tava falando sério, tava é achando graça das suas cantadas sem noção.
- Minhas cantadas não são sem noção, são eficientes - ele parecia um tanto ofendido com a o que falara - você é prova disso. Se não tivesse gostado, tinha me afastado. Mas você correspondeu e muito bem -ele lançou um sorriso sedutor para a garota ao seu lado.
- Eu não correspondi por causa das suas cantadas, foi pelo... - antes de dizer algo como ”olhar azul profundamente penetrante, que mais parece um oceano”, mas antes que algo completamente brega escapasse, ela parou.
- Pelo que?
- Nada, esquece, .

Ela deu o assunto por encerrado e tentou se concentrar apenas no caminho a sua frente, que começava a fluir, porém ainda sentindo boas e pequenas explosões dentro de si. Ela definitivamente queria repetir aquilo, mas tinha prioridades mais nobres agora como transformar aquele pequeno Grinch do seu lado em um amante de Natal.





- Finalmente chegamos - falou já saindo do carro.
-É aqui? - olhou desacreditado para a Trafalgar Square, apinhada de turistas e londrinos em pleno dia 23 de Dezembro, sem contar a neve e todos aqueles enfeites festivos, que ele considerava uma grande besteira.
- Sim. E não me faça essa cara de decepção, venha ver a orquestra - ela o puxou pela mão até o centro da praça, em frente a um palco, onde os músicos já se apresentavam.
- Ah, tá frio, . Vamos para o carro que eu sei coisas mais divertidas a se fazer - ele abraçou a menina por trás e deu leves beijinhos em seu pescoço.

fechou os olhos aproveitando o carinho, mas logo voltou à realidade: ela não podia ceder a tentações, tinha que mostrar a como o Natal era maravilhoso.

- Não , agora não - ela se virou de frente para ele, deu um beijo rápido em sua bochecha e o puxou mais para perto do palco. Naquele momento estava sendo tocado “Jingle-Bell Rock”
- Olha, vai dizer que não é bonito? Adoro o som da flauta, é linda.
- Flauta dá sono - o menino, com cara de entediado, respondeu.
- , eu era flautista, tá? - Ela deu uma cotovelada nada suave na barriga de , que se encolheu um pouco, e depois continuou - flauta é um instrumento muito difícil, precisa de técnica e...
- Blábláblá, é só soprar que toca.
- Acho que você tá confundindo os instrumentos, . Essa coisa de soprar e tocar só funciona com o seu instrumento - deu ênfase especial na palavra “seu”, arrancando um resmungo de .
- Jingle-bell, jingle-bell, jingle-bell rock,Jingle bells chime in jingle-bell time - cantava baixnho e começou a mexer seu corpo no ritmo da música, levando um tímido junto - Dancin' and prancin' in, Jingle Bell Square in the frosty air.

No fim da segunda estrofe ambos estavam rindo e dando piruetas juntos. E assim foi por mais duas músicas, até uma , de bochechas bem rosadas, parar nos braços de e lhe dar um selinho.

- Cansei, tô com fome, - ela reclamou como uma criança.
- Vamos, chega de musiquinhas natalinas felizes, quero comida - declarou.
- E eu já sei onde te levar - lançou um olhar maligno brincalhão para .





- Vamos sentar lá no balcão mesmo, a gente nem vai demorar. Temos que fazer algo mais hoje.
- Você e seus lugares misteriosos...
- Não reclame, até parece que a Trafalgar foi ruim. Bom, o que vai ser?
- Hmmm... - analisou o menu cuidadosamente por alguns instantes - , que lugar é esse? Só tem coisa estranha.
- É um pub brasileiro , é divertido. Tem comidas legais, acredite.
- Eu quero só um martini mesmo - ele deu um sorriso simpático para o bartender que estava na sua frente.
- Martini, ? Você vai beber na companhia de uma dama?
- , querida, se eu ainda vou ter que passar a tarde inteira ouvindo baboseiras natalinas, que seja bêbado. Além do mais, quem vai dirigir é você - ele deu de ombros.
- , deixa de ser chato - ela rolou os olhos, já cansada de ouvir se referindo ao Natal daquela forma - E martini é para fracos, ok?
- Falou a pinguça da esquina, né?
- Valeu versão masculina da Amy Winehouse - ela rebateu.
- Tá então o que você me sugere? - Ele levantou uma sobrancelha sugestivamente.
- Caipirinha - ela deu seu melhor sorriso ao falar aquela palavrinha mágica.
- Caipi... quê?
- É cachaça com limão, açúcar e gelo. É boooooom!
- Tá, tá. Pede isso então - falou , fazendo pouco caso.
- E tem que ter alguma coisa pra comer, né? Escolhe aí - ela apontou para o menu, ainda na mão de .
- Hm. - olhou mais uma vez para o papel em suas mãos e logo depois fechou os olhos, passando o indicador aleatoriamente pelo menu, até parar em uma palavra - Pronto, quero isso.
- Ótimo método de escolha. Deixa eu ver - falou e em seguida, se virou para o bartender, toda empolgada e pediu uma caipirinha e rapadura.

Sim, bela combinação.
Alguns minutos depois, o bartender trouxe o pedido e foi logo empurrando o copo para perto de .

- Vai, experimenta.

O menino olhou para aquilo com cara duvidosa e em um movimento rápido, pegou o copo e tomou um gole. observou a face de ficar um pouco avermelhada e seus olhos praticamente saltarem e não pode conter uma risada escandalosa.

- Ah, , você não é de nada.
- Você que é uma pinguça verdadeira, isso sim - ele disse, repousando o copo no balcão.
- Agora a rapadura - falou e um receoso olhou para o prato a sua frente.
- Ah, ... Isso é estranho. Tem gosto de que?
- Poxa, sei lá, . Rapadura tem gosto de rapadura, ué. Come logo.

, dessa vez mais cauteloso, colocou um pequeno pedaço do doce na boca e após algum tempo apurando seu paladar, fez uma cara satisfeita. Pegou mais um pedaço, só que bem generoso desta vez.

- Gostoso. Como se traduz?
- Se traduz o que? - perguntou .
- O nome do doce, ué.
- Ah, cada pergunta, . Rapadura é rapadura. Não tem tradução. Porque pensa só... Se tivesse tradução “dura” seria “hard” e “rapa”... Poxa, não sei traduzir, pode ser “dude”, porque me lembra "rapaz", sei lá - ela divagou, chegando a uma conclusão duvidosa.
- Quer dizer que eu tô comendo um “hard dude”?! - largou o doce, analisando o que tinha dito.
- Ah, falei idiotice, esquece - ela abanou as mãos e balançou a cabeça em sinal de negação - me deixa pedir algo pra comer também porque depois nós vamos às compras.
- Compras, ? - deixou escapar um gemido, que com certeza, não foi de prazer.





Ah, o shopping. O paraíso. Roupas, bolsas, sapatos, shorts, vestidos, comida, cinema.
Ah, o shopping no Natal. INFERNO.

- Certo, não foi a melhor idéia te trazer aqui hoje.
- Não foi a melhor idéia? Foi péssi... - reclamava com , até que a mesma sumiu. E não foi por vontade própria. A multidão estava algo perto de selvagem e por um minuto, foi engolida por ela.
- Buh! - Ela pulou nas costas de , fazendo o garoto cambalear e só não cair devido ao amontoado de pessoas a sua volta.
- Deixa de ser criança, - ele passou seus braços pela cintura de menina e a trouxe mais para perto de si.
- Poxa, mas esse é o meu charme - ela piscou seus olhos exageradamente, sendo surpreendida por um abraço de , logo depois.
- O que foi?
-Sei lá, deu vontade de te abraçar - ele deu de ombros, se afastando um pouco dela - acho que é esse insuportável clima de Natal que tá me afetando.
- Eba, estou fazendo progressos - dessa vez foi ela que o abraçou, passando os braços em volta de pescoço do menino, para acrescentar - ok, cansei de ser empurrada, vamos sair daqui.

Eles entraram em uma loja de departamentos que não estava tão cheia e , como boa mulher que era, foi dar uma olhadinha nas roupas, sendo seguida por um com cara de tédio.

- Ah, ! - os olhos dela brilharam e suas mãos voaram para um cachecol de cashmere, estampado com listrinhas vermelhas e verdes - me dá de presente?
-Que exploração é essa? Eu paguei o almoço já.
- Ai, ! Todo bom cavalheiro paga o almoço de uma dama. Este cachecol seria meu presente de Natal. E eu preciso de um mesmo, tendo em vista que o boneco de neve ficou com o meu. , por favor.
- Por que você tem essa mania de prolongar meu sobrenome? - ele inclinou a cabeça intrigado.
- Sei lá. É legal. Dá ênfase. Geralmente eu consigo o que eu quero. São tantos motivos, escolha o seu - ela deu de ombros e, passando o cachecol em volta de seu pescoço, retomou - Ele fica perfeito em mim.

Ela tinha razão, ele ia ceder no fim mesmo.
A única conclusão que um frustrado chegou foi: que capacho.

- Quanto vai meu custar isso, hein, ?
- Ah, só... - ela checou a etiqueta e deu um sorrisinho amarelo - 120 libras.
- O QUE? - arregalou os olhos - Isso é feito de que? Ouro? - Ele puxou o bendito (maldito, na opinião de ) cachecol e se encaminhou para o caixa.
- É bom você adorar isso e usar pela eternidade, porque put...
- Eu amei, obrigada, - ela falou em uma voz doce, tentando transparecer que tinha realmente gostado - ele é lindo e é meu.
- Tem tanta coisa bonita que podia ser sua e você quer um cachecol sem graça - murmurou .
- Eu ganhei você hoje, pequeno Grinch. E o cachecol. Já tá de bom tamanho - ela passou por ele, dando um rápido beijinho na ponta de seu nariz.
- Hein? Pequeno o que?





- Chegamos - disse quando Joanna estacionou em frente à sua casa, que já tinha as luzes decorativas ligadas, e estava mais iluminada e destacada que qualquer outra casa da rua.
- Eu gostei de passar o dia com você , realmente gostei.
-Maaaaas, eu não consegui te livrar do seu trauma - a menina soou frustrada ao constatar.
- Claro que não, nunca teve trauma. Porém, se isso te faz feliz, eu posso dizer que desgosto menos um pouquinho de Natal.
- Deixa só você passar mais uns 3 Natais comigo. Acabo com esse seu trauma, juro.
-Eu já disse que não tem tra...
-Cala a boca, - após esta ordem, se inclinou para alcançar os lábios de e assim voltaram todas as sensações daquela tarde. As mãos de se aventurando novamente por debaixo de sua roupa, e o calor se apoderando de seu corpo.

De repente continuar com aqueles casacos era impossível e, com auxílio de , ela tirou os dois, jogando no banco de trás do carro. Sentiu as mãos do garoto subirem e acariciarem suas costas até brincarem com o fecho de seu sutiã, lhe causando constantes arrepios. Não do tipo que se percebe, que é visível. Do tipo que só se sente. E como era bom sentir isso.
Se podia ir tão longe, ela também poderia. Passou uma de suas mãos pelas costas do menino, arranhando-o levemente, e sua outra mão viajou pelos cabelos do menino, dando leves puxões, que eram respondidos com gemidos.
Os lábios quase nunca se separavam, e quando isso acontecia, era por poucos segundos, só para um deles poder recuperar o ar, enquanto a boca do outro descia os beijos para o pescoço, que certamente teria evidências daquilo no dia seguinte.
Meu Deus. Não que eles fossem ingênuos adolescentes que estavam descobrindo os prazeres mundanos, porém ambos perceberam que aquilo era intenso. Muito mais intenso do que de outras vezes.
Chegaram a tal ponto em que , já sem camisa, ia tirar seus sapatos e a blusa de seria a próxima a ser descartada. Até que...

- Pára tudo, .
- O que é ? - perguntou de forma impaciente, descendo as mãos que estavam na altura do busto da garota até a sua cintura.
- Como assim o que é? Sua meia tá furada.
- Quê? - Confusão dominava a expressão do pobre .
- É, olha - ela apontou para os pés do menino, que agora reparava em um furo bem no lugar do dedão.
- E o que tem isso? - ele rolou os olhos, mais impaciente ainda. Em que uma estúpida meia furada ia interferir no processo de... Bom, no que eles estavam fazendo.
- Ah, não. Não dá. Não quero fazer isso com um cara de meia furada.
- É só tirar e pronto - ele já ia tirar a meia quando a menina soltou mais uma exclamação.
- EEEW! Isso é chiclete?
- Onde, ? - estava absolutamente irritado agora.
- Na sola do seu sapato, ué - ela apontou desta vez para o Vans de que estava com a sola virada para cima e tinha um chiclete grudado nela.
- Mas o que tem afinal?! É só a infeliz da sola de um sapato! Sujeira gruda nela.
- Ah não. Não quero - ela entregou a blusa ao menino - não assim, não agora. Eu quero isso em um lugar mais bonitinho, maior que um carro, sem meia furada e restos mortais de chiclete - ela foi enumerando e fazendo careta.
- Certo, certo - , um pouco mais calmo, passou as mãos pelo cabelo, bagunçando-o - você não quer, já entendi. Não precisa achar as desculpas mais idiotas pra me dispensar.
- Eu não tô te dispensando. É só que... É a velha história, né? Tá rapidinho demais.
- É... Talvez você tenha razão.
- É tenho sim, eu sei - ela afirmou - enfim, eu amei o dia, mesmo - ela deu um beijo carinhoso na bochecha de .
- Também - disse ele, já descendo do carro.
- Ah, se você quiser, eu te levo em casa - ela segurou no braço dele, parando-o antes de acabar de descer.
- Eu posso ir andando, nem tá mais nevando mesmo.
- Você que sabe - ela desceu do carro para depois se despedir dele com um beijo.

Assim que ele virou as costas, lembrou de algo.

- Hey, . Quer vir jantar amanhã aqui em casa?
- Jantar, amanhã? -Ele fez uma cara, na opinião de engraçada, de confusão.
- Sim, minha mãe vai fazer uma ceia de Natal.
- Mas isso não é supostamente pra ser feito no dia 25?
- É, só que minha mãe é brasileira. E lá no Brasil, se comemora de um dia para o outro - ela explicou - vem, vai ser bom, te garanto. Além do mais, o Dougie vem também.
- Hm, certo. Até amanhã então.
- Sim, às 20 horas em ponto, ok, pequeno Grinch?
- , para de me chamar assim, é estranho.

A garota nada respondeu, só lhe mandou um beijo na ar, que ele fingiu pegar, e fechou a porta.





- Dylan, tira a mão daí - chamava a atenção de um de seus primos, que tentava roubar uma rabanada antes da hora. O menino deu um sorriso travesso para ela e se afastou, não antes, é claro, de pegar um pedacinho do doce.
- Aiai, eu amo o Natal, e você Poynter?
- Natal é época de alegria, celebração, amor - Dougie forçava a voz, fazendo-a soar como a de um narrador de comercial - e caos na sua casa . Juro, nunca vi tanta gente e tantos embrulhos e tanta comida e tanta falação.
-Ah, mas é divertido! É um caos harmonioso.
-Que paradoxal. Enfim... - dessa vez foi Dougie que roubou uma rabanada da mesa apinhada de comida natalina, levando um tapa na mão em sinal de repreensão - Outch, . Ninguém viu. Enfim, como eu ia falando, você convidou o , cadê ele?
- Ainda não chegou, ué.
- E é por isso que você tá assim meio quietinha? Só porque seu novo amorzinho não tá aqui?
- Nããão, é porque... Ah, tô cansada. Sei lá.
- Ahan, sei sim - Dougie abalançou a cabeça em sinal de negação.
- Ah, Dougie. Me imagine como uma pilha recarregável - a menina falou simplesmente.
- Hein?
- É... Eu sou assim: quando me “carregam” - ela fez aspas quando mencionou a última palavra e deu uma pausa para continuar - eu fico feliz, só que tem vezes que eu fico “descarregada”, ou seja, meio triste.
- , sua mãe deixou você beber tão cedo?
- Ah, Dougie. Minha analogia é completamente certa, você que não entende como o ser humano funciona. A gente precisa de combustível pra nossa felicidade, só. Senão a gente murcha.
- Ah, e toda a sua família aqui e o fato de ser Natal, não é bom combustível suficiente?
- É legal, mas eu queria...
- Que o estivesse aqui? Ah, pelo amor de Deus, , vê se não vai virar uma menininha sentimental e nhénhénhé, é chato.
- Não tô falando nada - ela deu de ombros, ao mesmo tempo não podendo evitar o pensamento de o quanto queria que chegasse logo. Aquela festa seria muito mais divertida com ele, definitivamente. Ela foi acordada de suas divagações pelo amigo, que continuava no assunto “ ”. Depois ela é que enchia o saco, é sei.
- E ontem, você não me contou com detalhes como foi o passeio. Conseguiu fazer algum progresso com ele e a fobia natalina?
- Hmmm, não. Mas, eu acho que descobri o motivo, meu caro Dougie.
- Ah, é? Me conte então Sherlock .
- Ontem, quando eu liguei pra casa do , tive uma conversinha com a mãe dele, uma senhora muito legal até.
- Ih, já tá toda íntima da sogrinha, é? - Dougie perguntou, enquanto apertava a barriga da menina. Um gesto claro de implicância.
- Nada a ver, Poynter. Eu conheço o a uns dois dias, já quer me transformar em namorada dele?
- É porque eu tenho certeza que vocês vão se pegar.

corou violentamente, mas preferiu guardar os detalhes do dia anterior para si, pelo menos por agora.

- Ah, Poynter, não desvia da conversa. O fato é que a mãe do me contou que amanhã é aniversário dele.
- Ah, isso eu já sabia. E daí? - Dougie deu de ombros inocentemente.
- E daí? Poynter, você sabia e não me contou isso?! - ela olhou brava para o menino ao seu lado - E daí que é esse o problema do . Ele não gosta de Natal porque as pessoas esquecem o aniversário dele.
- Só isso? Essa palhaçada toda SÓ por isso? - Dougie parecia desacreditado.
- Sim, é por isso. Eu tenho certeza.
- E como você tem tanta ceteza?
- Ah, umas coisas aí que o me falou - ela lembrou do discurso do menino sobre como os vivos e datas importantes eram esquecidos no Natal - então eu encaixei tudo e fez sentido - finalizou dando um sorriso brilhante em direção a Dougie.
- Nossa, quanta frescura - Dougie ainda estava indignado com o motivo de .
- Se as pessoas esquecessem o SEU aniversário, Poynter - a menina falou, apontando um dedo acusatório para ele - você não ia achar frescura.

Nesse instante duas coisas aconteceram: a campainha tocou e uma das primas de chegou com cara indignada.

- , aquela sua amiguinha tá dando descaradamente em cima do meu pai, que vem a ser seu tio. Que desagradável.
-Ah, pra quê você tinha que trazer a Shelly, Poynter? - rolou os olhos -agora vai lá e aquieta o fogo da sua “namoradinha-psico-engana-trouxa-quase-freira”.
-Mas, , você tem que entender. É um problema psicológico, é mais forte que ela - ele tentou defender a outra menina.
-E você, eu tenho certeza, é mais forte que a Shelly, então tira ela de cima do meu tio - ela deu as costas, já indo atender a porta e deixando Dougie, murmurando qualquer coisa, para trás.
- , você finalmente veio! - Ela puxou o garoto pela mão pra dentro da casa, que estava aquecida.
- Eu disse que vinha, por que não viria? - Ele perguntou, ao mesmo tempo espanando a neve de seus cabelos, já que desde aquela tarde alguns floquinhos insistiam em cair do céu.
- Já entendi que o seu lance é chegar atrasado - ela lançou um olhar para o relógio da parede, que marcava 8 e 50.
- Elegantemente atrasado para ter uma entrada triunfante, apenas.
- Vem que eu vou te mostrar tudo por aqui - ela foi guiando pela confusão em que se encontrava sua casa.

Eram decorações de Natal, músicas, gente e comida que não acabava mais. estava claramente tonto no meio de tudo aquilo, mas estava gostando. Tudo tinha um clima muito acolhedor e a família de estava sendo bem agradável.
Após terem passado pelas crianças que brincavam em volta da mesa onde estava a Ceia, terem roubado algumas cerejas, passado por um Dougie atrapalhado com Shelly no canto da cozinha, pulado alguns presentes de Natal que eram para estar, supostamente, embaixo da árvore e desviado de um primo de , que estava meio bêbado, voltaram à sala para conversar. Ou pelo menos era a intenção inicial, já que, antes mesmo de sentarem, a mãe de disse que a Ceia estava sendo servida e foram, sem outra palavra melhor para expressar, atacar a mesa.

- Meu Deus, comi muiiiiito - um Dougie satisfeito falou, com um dos braços em volta dos ombros de Shelly, que devido a um decreto de , não poderia mais desgrudar do amigo durante o resto da festa.
- Educação mandou feliz Natal, Poynter - implicou com a fala pouco elegante do garoto.
- Gente, vamos lá fora, brincar na neve - uma das crianças sugeriu animada, recebendo sinais afirmativos das outras. Todas se levantaram correndo, ignorando recomendações de cuidado dos adultos e indo porta afora.
- Ah, eu gostei da idéia também, vamos? - Uma manhosa pediu aos amigos.
-Por mim... Adoro guerra de neve, que tal meninos contra meninas? - Poynter perguntou esfregando as mãos e já bolando seus planos de ataque.
-Gostei, vamos, neném - Shelly se pronunciou, se pondo de pé e oferecendo a mão a Dougie.
-Fechado, vamos - se levantou, sendo seguido pelos outros.





Depois de guerra de neve, crianças rolando no chão, fazendo anjinhos e muitas outras brincadeirinhas, brincava com alguns de seus primos, enquanto fazia um boneco de neve, ao lado do que já tinha sido criado por , no dia anterior. Dougie e Shelly tinham desaparecido a alguns minutos atrás e, sinceramente, ninguém ansiava por achá-los, tendo em vista que era bem óbvio o que deviam estar fazendo.

- Ai, que bonitinho, fazendo um bonequinho de neve - falando de um modo infantil e apertando as bochechas de , ao chegar perto dele.
- Ah, fiquei com pena do seu boneco.
- Por quê? - A menina o olhou curiosamente.

Ele coçou a nuca em sinal de vergonha para, depois de alguns segundos, se pronunciar.

- É Natal, . Ninguém merece ficar sozinho, nem o seu boneco. Mesmo ele sendo meio afetado e estranho, sabe? - soltou uma risadinha no final.
- Ora, ora. tendo algum espírito de Natal -ela sorriu abertamente - só por este fato eu vou deixar passar o que você falou sobre a minha obra de arte, tá?
- Obra de arte, tão ilud... - foi interrompido por uma das crianças que, do outro lado do jardim, gritou “Gente, é meia noite e três, FELIZ NATAAAAL!”. A partir deste instante foi uma festa geral. Só se ouviam desejos de um feliz Natal e risadinhas infantis.
- Feliz Natal, - o menino lhe roubou um beijo, lançando um lindo sorriso a ela.
- Feliz Aniversário, pequeno Grinch - ela soltou alegremente, vendo uma expressão surpresa, porém contente no rosto dele.


FIM





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