Another Valentine's day
por Lê Panichi


Challenge #03

Nota: 9,1

Colocação:




Queria contar minha história, a história de uma vida que foi transformada, tudo por uma garota que veio do nada para ficar. Às vezes penso sobre todas as minhas tentativas frustradas de deixa-la; queria retornar àquela vida infeliz, sem razão e deplorável. Por quê? Simplesmente pelo fato de que eu estava vendo minha vida mudar completamente para melhor e isso me assustava muito.

Como disse Martin Luther King, para uma vida se transformar inteiramente só é necessário amor no coração e sorriso nos lábios. Se voltarmos há dois anos, exatamente setecentos e trinta dias, veremos que eu não tinha um mísero amor no coração e nenhum sorriso nos lábios - muito menos o amor por ela e o sorriso dela. Minha vida era regida pela falta de regras e de sentido; meus maiores companheiros eram os pubs e as bebidas. Amigos? Tinha poucos, apenas um verdadeiro.
sempre foi prepotente; imprevisível; peculiar; geniosa; perfeita; encantadora e a melhor pessoa, namorada, amiga e companheira que eu poderia ter pedido aos astros. Desde o primeiro dia que a vi ela era assim.

Flashback. (2 anos atrás)

- Boa noite, . - James, o caixa do mercadinho local que eu ia toda noite para comprar bebidas e cigarros, me cumprimentou.
- Noite. - Respondi ríspido. Não que eu não gostasse do James, eu já o conhecia por anos e ele acompanhava minha vida miserável de vícios e ele até poderia ser considerado meu melhor amigo, mas simpatia com certeza não fazia parte do meu cronograma.
Caminhei por todas os três corredores, que eu já conhecia de cabo a rabo, atrás de umas duas garrafas de cerveja. Minha noite seria banhada de muita bebida no meio da rua enquanto o resto da cidade vivia suas noites bem planejadas, felizes. A minha, como sempre, ia ser a diferente.
- Vai curtir essa noite com quem? - James perguntou com toda sua inocência.
- Com as mesmas loiras geladas de toda noite, as cervejas. Por que essa pergunta? - Disse com todo o meu desgosto. Ele, mais do que ninguém, sabia como eu era totalmente sozinho e totalmente infeliz.
- Hoje é dia dos namorados, . - Seu riso nasalado percorria todo o estabelecimento.
- Há anos que não sei o que é essa data. - Coloquei as duas garrafas em cima do balcão. - E você? Por acaso vai sair com alguém? - Retirei o maço do bolso e puxei um cigarro.
- , estou cansado de te falar que é proíbido furmar aqui dentro. - Acendi o mesmo e dei uma grande tragada ignorando-o. - Você é impossível. E, não, eu não irei sair com ninguém também. - Começou a esfregar o pano úmido no balcão.
- E aquela morena gata do outro dia? - Me encostei e dei outra tragada.
- Ela não era para mim. - Depois de tantos dias vindo a cá, eu tenho uma forte teoria que James é gay.
- As minhas revistas continuam no final do corredor? - Disse com o cigarro ainda na boca.
- Suas revistas e de todos os outros clientes nojentos. - Dei as costas a James e continuei andando.


Ao chegar no final do corredor comecei a buscar com os olhos a edição da semana; faz tempo que eu não lia. Precisava de uma distração no dia. Se é que me entende. Peguei-a e coloquei debaixo do braço, iniciei meus passos em direção ao balcão. Não sei se foi a tragada do cigarro que me distraiu, mas quando me dei por conta eu tinha esbarrado a alguém ou algo e minha revista estava no chão misturada com objetos que com toda a certeza não foram escolhidos por mim.
- Outch, você não olha para onde anda? - Um voz doce, porém alta, percorreu todo o meu caminho auditivo. Levantei minha cabeça e me deparei com dois pares de olhos verdes e cabelos mais pretos que ébano. Me perdi por uns cinco segundos no máximo e logo retornei a realidade.
- Normalmente não, mas eu costumo pedir desculpas quando me esbarro a outra pessoa. Acho que isso você também normalmente não faz.
- É, normalmente não. - Disse grossamente, sua doce voz e sua bela aparência não estavam coincidindo com sua forma de falar. Queria pegar minha revista e sair logo de lá. Tive muito contato social para uma noite só. Mas antes que eu pudesse me levantar, me deparei com algo totalmente inusitado.
- Que raios é isso? - Perguntei com o CD em minha mão. Nos levantamos ao mesmo tempo, e assim, pude realmente me deparar totalmente com a criatura de beleza extraordinária na minha frente.
- Chama-se Reginaldo Rossi, um cantor brasileiro dos anos 60. Agora, por favor, devolva o meu CD. - A impaciência transbordava por seus poros.
- Parece ser muito brega e muito ruim. - Disse com descaso.
- E é, mas o que você tem a ver com isso?! - Disse estressada retirando com força o CD de minha mão. - Tome sua Playboy. - Esticou-a a mim. - Você deveria se envergonhar de ler isso.
- E você de escutar essa merda. - Bufou e saiu andando até o caixa. Fui atrás.
- Não acredito que você me seguiu. - Disse brava.
- Não acredito que por coincidência esse é o único caixa daqui. - Imitei sua voz esganiçada provocando uma risada abafada de James.
- Mal te conheço e já te acho ridículo.
- Mal te conheço e já te acho grossa. E você fala alto demais. - Deu os ombros e entregou 20 libras a James.
- Pode ficar com o troco, James. - Sorriu. Nesse exato momento tive a impressão de raios solares invadirem meu campo de visão, me cegando de tudo e todos a minha volta.
- Obrigado. Tenha uma boa noite. - A mesma se retirou e me jogou um olhar fuzilador. Eu estava ocupado demais sendo cegado pelo seu sorriso e pelo descompasso do meu coração que nem reparei em seu olhar.
- Mais alguma coisa, ? - James me olhava esperando alguma resposta.
- O nome dela.

Fim do Flashback.


A minha pergunta inesperada soou firme e totalmente ingênua. Naquele momento, eu não sabia o grau que essa minha pergunta tomaria na minha vida, muito menos que sabendo o nome dela e a frequência que ela ia ao mercado, eu iria todo dia com a intenção de vê-la - algo totalmente ridículo vindo da minha parte. Há anos que eu não era simpático com ninguém, muito menos me atraia por alguém, só às vezes uma mulher ou outra que eu arranjava em qualquer pub, apenas aquela atração física, nunca emocional. Eu estava vendo minha miserável vida se transformar rapidamente para algo que tinha um sentido, que era . Primeiramente, eu só a via, depois de alguns meses eu trocava palavras. Essa última parte era a mais difícil, era totalmente impossível de se aproximar, talvez seja pela sua mania de falar alto e grosso com todos, mas eu gostava disso, gosto de desafios; gostava de ver como seus lábios vermelhos se contorciam em um sorriso e como seus olhos brilhavam ao ver minhas tentativas frustradas de aproximação.

Eu me sentia um alienígena perto dela. Ela tinha uma cultura invejável, eu era um ignóbil ao seu lado. Era extremamente relaxante aprender as histórias da literatura tanto inglesa, como mundial; ouvir CD’s, que muitos, como eu, nem sabiam que existiam, simplesmente porque “saber do mundo é o primeiro passo para entender o mundo”, palavras dela. Uma típica garota inteligente de 18 anos estudante de história da faculdade de Londres.


Realmente não achei que eu iria me aproximar tanto de uma pessoa depois de anos morando sozinho e sem amigos. Não me importava que era seis anos mais nova, sua companhia era a coisa que eu mais precisava. Se alguém me dissesse anteriormente que eu iria me apaixonar por uma garota mais nova, de cabelos pretos como o ébano, de olhos mais verdes que duas rodelas de limão, que gosta de passar suas tardes escutando CD’s inusitados, perde seu dia visitando museus tediosos e tem uma tattoo de um lírio no calcanhar direito, eu nunca iria acreditar e acho até que iria rir na cara da pessoa. não se apaixona; é mal educado e mal amado; nunca buscaria alguém na faculdade para levar em uma biblioteca da cidade com o intuito de pesquisar sobre povos antigos só para poder ter uma tarde com ela; nunca iria parar de fumar porque alguém acha que isso é um método de masoquismo; nunca ia imaginar que pela primeira vez na vida ia se sentir bem perto de alguém; realmente não achava que algum dia iria pedir alguém em namoro. Mas tudo isso aconteceu; eu fiz tudo isso; eu não conhecia mais o de antigamente, ele tinha desaparecido, ele tinha se transformado em um novo gentil, educado, apaixonado e feliz, que pediu alguém em namoro no dia dos namorados.

Flashback (1 ano atrás)

- , me passa agora essa vassoura. Olha a sujeira que você fez. - disse brava enquanto eu ria escandalosamente. Estávamos na cozinha do meu apartamento, ela queria cozinhar e bom, eu tentei cozinhar, mas não deu certo.
- Depois de um ano, você ainda tem o mesmo tom de voz grosso e alto daquela primeira vez que eu te vi naquele mercado. - Meu riso não cessava.
- Alguma coisas não mudam. - Sua expressão brava transformou-se em uma mais tranquila e divertida.
- Não mesmo, e eu gosto desse seu jeito impossível e difícil de lidar.
- Ah é?! Eu também gosto desse seu jeito pedreiro de cozinhar. - Apontou com a cabeça para a massa que eu esticava, ou melhor, que eu tentava esticar.
- Vai estar melhor que esse seu doce de melancia. E, afinal, por que vamos comer lasanha e doce? Por que não pedimos pizza como todo dia que você vem dormir aqui? - Observei suas expressões se contorcerem em algo estranho, confuso e triste.
- Hoje é dia dos namo... ah, por nada, , por nada. - Sua voz saiu morosa e ela continuou cortando os pedaços da melancia e de chocolate, logo depois colocando-os na panela. Eu sabia exatamente o que esse dia significava, mas não sabia exatamente o que fazer. Há um ano que eu enfrentava essa questão e não sabia reagir.
- Vou lá na sala. - Tirei o avental e estiquei em cima da mesa. Avistei resmungar algo. Eu já tinha ideia do que iria fazer e precisava fazer rápido.

- ? ? O jantar está pronto, muito obrigada por não ajudar em nada. - Um riso saiu no meio da fala. - Se você estiver dormindo ou sentado no sofá vendo jogo de futebol, basquete, golfe, handebol, ou que seja, eu como tudo isso sozinha e não vou deixar nada para você. - Ela caminhava até a sala.
- Pare de resmungar e vem até aqui. - Disse, enquanto colocava um CD para tocar. A ouvi bufar e seus passos se aproximarem. Quando a observei na minha frente andei um pouco para a esquerda e apaguei as luzes, coloquei a música para tocar.
- Mas o que... o que você está fazendo? - Perguntou surpresa ao me ver tirando algo do bolso.
- Fique quietinha, , já é difícil fazer isso com só eu falando. - Ri e me aproximei. - Há exatamente 365 dias atrás eu conheci a pessoa mais imprevisível, geniosa e perfeita. - Observei sua expressão de surpresa. Eu sorri ao ver que eu estava fazendo a coisa certa. - Nunca imaginei que a vida podia ser tão tosca, em um dia dos namorados eu ia conhecer uma pessoa que um ano depois, no mesmo dia, eu iria pedir em namoro.
- Co-como assim?
- Ainda não terminei, shiu. - Parei um instante e abri a pequena caixinha preta que estava na minha mão e peguei o pequeno anel prata. - Nunca imaginei que a vida me faria deixar todas as minhas dificuldades de relacionamento e minha falta de romantismo de lado para comprar um anel para alguém que estaria parado na minha frente com a roupa suja de chocolate e com uma expressão surpresa. - já sorria. - Nunca imaginei que eu, nos meus 25 anos, iria pedir uma garota de 19 em namoro. - Nós dois já riamos. Me aproximei mais e estiquei o anel. - E nunca achei que ia falar a famosa frase “quer namorar comigo?”. - esticou o dedo anelar direito, e coloquei o pequeno anel prata em seu dedo. Sua expressão transbordava felicidade.
- Também nunca imaginei que a vida seria tosca ao ponto de fazer eu me apaixonar pelo último homem que eu achei que algum dia eu estaria parada no meio do apartamento dele, exatamente um ano depois de termos nos conhecido, suja de chocolate o vendo colocar um anel no meu dedo. - Ela ria enquanto falava e eu a acompanhava. - E eu nunca imaginei que iria dizer, para alguém que é tudo menos romântico, a famosa resposta “sim”.

Fim do Flashback.


 Depois desse dia dos namorados que eu realmente fiz algo digno, eu e começamos a agir realmente como um casal: vivíamos juntos; brigávamos por coisas ridiculamente toscas, que no momento pareciam o fim do mundo; trocávamos presentes; não sabíamos mais o que era viver sem o outro depois de mais de um ano juntos. Bendito seja aquele dia dos namorados há - exatamente - dois anos atrás.


 Quem estiver lendo essa história deve estar pensando como eu devo ter amadurecido, deixado aquela vida miserável de lado e afundado nessa nova vida, nesse relacionamento junto a quem realmente merece todo o amor do mundo, mas não. Eu, infelizmente, ainda tinha raízes, bem fundas, mas tinha, aonde me impedia de realmente me entregar. Cada dia via minha estupidez acabar aos poucos com o meu relacionamento com a ; minha ignorância e minha falta de romantismo atacavam-a de uma maneira horrorosa. Eu não era para ela o que ela era para mim. Diversas vezes a escutei sibilar aquelas três palavras que fazem toda a diferença, e eu nunca consegui responder, mesmo sabendo que sinto o mesmo, ou até mais. Queria deixar de ser ridículo e mostrar tudo que eu sinto por ela. Queria contar da maneira que ela invadia meus pensamentos, coisa que tenho até medo da intensidade; como era bom tê-la do meu lado e como era bom me entregar aos seus beijos. Mas eu não conseguia, só conseguia ser ridículo e afasta-la tanto de mim, ao ponto de chegar bem próximo do fim: a perder.

Flashback (3 meses atrás)

- No que você está pensando? - Seus cabelos negros estavam esparramados em meu peito nu; ouvia sua respiração vacilar e o calor do seu corpo junto ao meu. Depois uns segundos, me olhou esperando a resposta.
- Em nada de especial... - Falei calmamente a observando. Já eram umas duas horas da tarde e estávamos acordados desde às dez.
- Como não? Está a quase 15 minutos quieto, sem falar uma palavra, apenas olhando para a janela. Me fale. - Soltou um leve sorriso, seu olhos verde-limão brilhavam.
- Já disse que não é nada demais. - Respondi ríspido. Mais ríspido do que deveria.
- Depois eu que sou grossa. - Sua cara se fechou e virou de costas nuas para mim, deixando que seus cabelos negros a minha vista.
- Eu não quis falar assim... É só quê...
- É só o quê, ? - Virou-se em minha direção com a testa enrugada.
- Nada, , nada. - Virei meu rosto e abri a gaveta do criado-mudo tirando um maço de cigarro e um isqueiro de lá.
- Me fale que você não vai fumar. - Sua voz estava totalmente alterada.
- E qual é o problema? - Disse com o cigarro na boca.
- Você tinha me falado que tinha parado.
- Eu nunca disso isso. - O acendi e dei uma longa tragada.
- Como não? Quem disse então? Seu irmão gêmeo malvado? Me poupe.
- Quando você quer, você consegue ser bem criança. - Tirei o cigarro da boca e a olhei se endireitar na cama, cobrindo seu corpo que estava a mostra com o lençol.
- Eu? Olha só para você, agindo feito uma criança, a mesma que eu conheci há quase dois anos. Vai me falar que tem uma Playboy na sua gaveta também? Porque só falta isso para você voltar a ser o mesmo babaca do primeiro dia que nos vimos.- levantou da cama e foi andando até o banheiro. Fiquei sem saber o que falar, eu realmente estava agindo como aquele babaca que eu tentava não ser, que eu tentei mudar desde que a conheci, mas minha estupidez não me deixava levantar da cama, pedir desculpas e a abraçar.
- , você não me entende...
- Por que eu não te entendo? Por eu ser muito nova?
- Não é isso. Droga, , pare de ser estúpida. - Eu estava vendo minha idiotice acabar com ela aos poucos e nem tinha um motivo certo para isso. A vi vestir a roupa em frações de segundos sem falar uma mísera palavra. Ao colocar o último sapato, virou-se para mim.
- Se você disser que me ama e que tudo não foi uma terrível besteira eu não saio por essa porta. - Suas expressões eram um misto de tristeza e raiva.
- Eu te... - Gelei ao perceber que não conseguia falar nada, declarar tudo que eu sentia, levantar dessa cama, ser homem. - Desculpa.
- Você nunca vai deixar de ser quem você não quer ser. - Abaixei a cabeça ao ouvir essas palavras tão verdadeiras, e vi a porta do meu quarto se fechar.

Fim do Flashback.

Foi assim que vi a minha felicidade saindo pela porta, literalmente. O certo era eu ter procurado-a, falado tudo que precisava falar, falar essas três palavras que nunca consegui falar. Mas não consegui, fiquei esses últimos 3 meses regredindo para aquela vida sozinha cheia de bebidas. Falei para mim mesmo diversas vezes que iria superar, mas se enganar é pior do que enganar os outros. Perdi as contas de quantas vezes fiquei parado na frente daquela faculdade no final da tarde só para vê-la nem que fosse de longe. Se eu dissesse que comecei a estudar sobre o mundo e ouvir CD’s inusitados por serem a minha melhor ponte com ela, iriam me achar besta. Mas besta eu já sou. Besta por quere-la mais do que tudo e não ter coragem de ir atrás. Talvez eu possa culpar meu passado, por ter me ensinado que amar é a coisa mais difícil do mundo. A memória de meu pai deixando eu e minha mãe, quando eu tinha apenas 7 anos, por outra família, fazendo com que a vida da minha mãe acabasse naquele instante e eu prometendo que não iria amar ninguém e nem dizer “eu te amo”, assombrava minha mente.

Precisei de três meses, muito bebida, algumas mulheres para tentar, inultilmente, me satisfazer e meu apartamento sem vida para saber que não precisamos insistir na dor, na amargura e no sentimento. Que não devemos sofrer e nos entregar ao tormento. Que devemos retornar com a esperança à estrada, para novos caminhos levar. Meu caminho me direcionava à ela. Não queria mais ficar parado olhando para trás, nem me entregando ao lamento; queria ela. Percebi tudo isso em uma noite que eu estava sentado na rua vendo minha vida passar junto com aqueles carros em alta velocidade.

Para tê-la de volta sabia que tinha que arriscar, tinha que mudar completamente, tinha que me declarar. Realmente coisas que nunca tinha feito na vida. Esperei essa data de hoje chegar, dia dos namorados. Para mim, ela é mais do que uma data especial e comemorativa na qual se celebra a união amorosa entre casais sendo comum a troca de presentes, ela é mais do que isso, é a data que a conheci. A data que antes eu achava tão ridícula, mas que representa tanto na minha vida agora.

Precisei também do James. Sim, dele. Ele finalmente tinha provado minha teoria. Hoje, dia dos namorados, James tinha assumido além de sua opção sexual seu grande afeto por mim. Que há tempos não me vê apenas como amigo e queria algo a mais. Depois de uma declaração de amor, que eu nunca imaginei que ia receber, que há meses ele estava planejando, eu fiquei sem saber o que falar. No fim, a compreensão de James sobre o que eu realmente queria com ele - sua amizade - foi mais fácil do que eu imaginei, no fundo ele já sabia minha resposta. Depois de longas horas conversando sobre esse assunto, eu tive que pela primeira vez na vida que agir de uma forma madura. Se antes, meu melhor amigo se assumisse homossexual e apaixonado por mim, em pleno dia dos namorados, eu realmente iria agir feito um babaca. Mas, finalmente, meu comportamento estava tomando um novo rumo. Vê-lo com essa coragem toda para se declarar - mesmo sabendo que eu nunca ia aceitar alguma coisa - me fez ter uma grande confiança em sua amizade. E eu pedi a ajuda dele. James seria a melhor pessoa para me ajudar a conseguir minha namorada de volta, já que nunca fui muito bom com recados de amor. James deixou de lado toda a nossa conversa de horas atrás afirmando ter entendido minha situação e programou todo um plano para ser executado, incluía até banheira enfeitada de pétalas de flores, precisei dizer que estava preparando uma declaração de amor, não uma declaração sexual. Enquanto ele pensava em tudo, eu me preocupei com o que dar de presente para ela. Queria algo que representasse mais do que um simples presente, algo que representasse realmente tudo que eu queria dizer. Sabia exatamente o que dar.

Faltavam 5 minutos para a aula dela acabar, e lá estava eu, na frente da faculdade dela, com flores nas mãos e com o coração na boca. Se demorasse mais para sair por aquela porta eu saia correndo deixando toda a minha coragem e aquele dia dos namorados para trás. Eu estava ansioso para vê-la de volta, para tê-la em meus braços. Mas o medo também me atacava, o medo dela não me querer mais; medo de tê-la perdida totalmente.

2 minutos. Tento fugir, mas o ponteiro do relógio se aproxima, nem me dou mais conta da proporção do ato que estaria fazendo em menos de 120 segundos.
A brisa vem de mansinho, de leve, tentando se adentrar e para as janelas do meu coração não se fecharem. Olho para frente e vejo seus cabelos cor de ébano esvoaçados e seu rosto assustado. O vento se acomoda nos meus pensamentos, se faz furacão, desconhece a razão, corpo, alma e coração, deixando a dor de lado. Quando me dei por conta estava em sua frente, com uma mão em seu rosto sentindo sua pele e outra esticando o humilde buquê de rosas que James falou que ela iria amar, e falando as poderosas palavras que eu ensaiei tanto na frente do espelho. Me chame de idiota, não me importo.

- Quando menos esperamos aparece na nossa vida uma pessoa que mudará tudo. Precisamos agir direito para que ela não escape. - Fiquei pensativo por uns segundos. - E por três meses eu me vi sem você. Então, aqui estou em outro dia dos namorados falando as palavras mais verdadeiras, me declarando na sua frente. Volta para mim?
Não sei quanto tempo fiquei encarando suas pequenas rodelas de limão que chamamos de olhos, mas me despertei ao ver seus lábios vermelhos responderem:
- Se disser que me ama, serei sua em todos os dias dos namorados a partir de agora. - Não pensei nem dois segundos para responder com toda minha convicção.
- Eu te amo. - Sorri e a beijei.

Um beijo de amor; um beijo de felicidade; um beijo de dia dos namorados; um beijo de eternidade. A eternidade que tínhamos começado a partir daquele momento. Logo depois de finalmente conseguir dizer a alguém as três palavras mágicas, entreguei meu presente à ela. Meu boneco de guerra, o último presente que ganhei do meu pai antes dele sair pela porta da minha casa e nunca mais voltar, o que representava a minha última lembrança do que era felicidade antes de conhece-la. O boneco no qual eu me pegava brincando toda noite, mesmo tendo 26 anos. Queria dar à ela minha maior lembrança, meu maior tesouro depois dela.
Selei nossa reconciliação mais uma vez com um beijo e fomos caminhando até o carro. Com as mãos dadas entramos no carro e de lá partimos para um restaurante, para comemorarmos o nosso dia dos namorados, ou melhor, nosso outro dia dos namorados. O terceiro de muitos que estão para vir.

Agora, estou aqui, sentado na minha cama a vendo dormir, resumindo a história de como entrou do nada na minha vida para ficar; como ela fez uma data tão normal parecer tão importante para mim; como ela fez eu mudar completamente de ideias e de vida. me ensinou nesses dois anos a não ter medo do amor, a não tentar fugir. Ele é tão rápido e nos pega de surpresa; consegue nos alcançar, nos cerca e está sempre a nos esperar no lugar aonde menos esperamos, na pessoa que nem imaginamos existir e na data que nem imaginamos a importância que terá nas nossas vidas. Nunca que eu ia imaginar que eu, , estaria sentado vendo uma garota de cabelos cor de ébano e olhos verde-limão dormir em um dia dos namorados, com eu me sentindo a pessoa mais feliz do mundo por tê-la não só na minha cama, mas também na minha vida. está acordando, essa pequena história se encerra por aqui. Espero realmente que algum dia alguém a leia. Por que eu a escrevi? Não sei, só quis eternizar com as palavras o que foi todos esses dias dos namorados do lado dela.


FIM



Nota da autora: Oii, bom, aqui estou eu participando de outro Challenge, do 2º na verdade.
Eu queria dar apenas um recado. Eu tinha escrito essa fic antes de alterarem uma das exigências do Challenge, então, eu tinha preparado-a para o principal fazer uma declaração de amor para ELA, e não o amigo gay para ELE, e "arrumei" de última hora, eu sei que ficou superficial e mal contado. A Gabe me autorizou a fazer dessa maneira :)
Mas voltando ao assunto, eu espero que você tenha gostado e tudo mais. Dia dos namorados é realmente uma data importante, se você tem um namorado, vá lá curtir, se não, vá também haha. xx Lê. Follow me: @lepanichi.



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