Challenge #05

Nota: 9,5

Colocação:




Acordei com o vento gelado batendo em minhas costas descobertas. Não lembrava exatamente como tinha ido parar em meu quarto, e minha cabeça estava à ponto de explodir. Cambaleei para fora da cama, vendo o mundo rodar devagar e tropeçando em inúmeras garrafas e latas de cerveja. A primeira coisa que lembrei ao fechar a janela - e quase cortar o pé com os cacos verdes de Heineken ali perto - era que meu técnico cortaria meu pau fora. Não o culparia se fizesse isso. Que porra de artilheiro do campeonato enche a cara na véspera da final da UEFA?
Ah, sim. Um belo merda faria isso.
Prazer, . Artilheiro do Chelsea.
Garoto propaganda da Calvin Klein e objeto de desejo de dez a cada onze mulheres da Inglaterra, segundo o The Sun.
O merda que bebe demais pra esquecer os problemas.
Bebe demais porque simplesmente não pode resolver algo que fugiu de seu alcance. Bebe demais para esquecer o rosto dela, por meio minuto, e tentar lembrar da final do campeonato.
Não que isso seja possível. Ela está em todo lugar.
Desde o primeiro dia que a vi.

Londres, 24 Janeiro de 2010.

- Diana, eu não tenho tempo pra isso, por favor! - disse, áspero, depois da quarta vez em que ouvi minha irmã dizer a mesma coisa ao telefone.
- , é seu sobrinho! Eu estou do outro lado da cidade, dá pra você levantar sua bunda malhada do sofá, largar sua cerveja e buscá-lo no colégio pra mim? São dez minutos! Eu estou numa fila imensa do supermercado, e ainda tenho que apanhar a Alicia no futebol, fazer o jantar e...
- TÁ! - gritei, fazendo a curva com o carro. - Chega, tá bom, eu pego o moleque na escola!
- MOLEQUE? - ela rosnou. - !
- Ah, Diana, dá um tempo! - ri, sarcástico. - Tô indo pra lá. É bom que você cozinhe algo muito bom para esse jantar, porque você está atrapalhando meus planos!
Ela riu.
- Qual a vaca da vez?
- DIANA! - dessa vez eu que berrei. - Para de chamar minhas garotas de vacas, pelo amor de Deus!
- Você acabou de usar o plural, - ela riu alto com meu silêncio. - Ok, preciso de um frango inteiro!
- O quê? - franzi a testa, e Diana riu novamente.
- Estou falando com o açougueiro, palerma! - palerma? Que porra de palavra era aquela? - Não deixe meu filhote esperando! Falo com você depois, beijos!
Ela não esperou resposta.
Bela merda eu tinha me metido. Já estava quarenta minutos atrasado para encontrar com Saphira (nome exótico para uma modelo exótica da Indonésia), e ela cortaria meu pescoço fora. Antes meu pescoço do que meu zinho.

Estacionei meu carro em uma vaga próxima ao colégio de Ricky, meu sobrinho. Por mais que não pareça, adoro aquele moleque. Ele tem só quatro anos, mas é genial! Foi muito difícil para minha irmã e Steve no começo. Ricky é um garoto especial, posso assim dizer. Ele nasceu com síndrome de down, e Diana e Steve tiveram que virar suas vidas ao avesso para poder cuidar dele. O colégio em que ele estuda atende apenas crianças especiais, e eu sempre me senti meio estranho nas vezes que tive que buscá-lo. É inevitável, não consigo não ter dó daquelas crianças, mesmo estando todas felizes e bem cuidadas. Sempre fico pensando que teriam oportunidades muito mais fodas se... Bom, se fossem... Normais, sabe?
Pode gritar “Preconceituoso de merda!” pra mim agora.
Juro que não se trata disso. Apenas queria que meu moleque pudesse ter todas as chances, entende?
Quando me aproximei, a calçada estava estranhamente vazia, denunciando que eu devia estar bem atrasado. O que não é culpa minha, e sim do caos que é o trânsito de Londres - e de Saphira, que gritou três horas na minha orelha.
Andei até o portão.
- Ei, você é o... - o porteiro abriu um sorriso imenso, e eu assenti.
- - o cumprimentei. - Torcedor do Blues?
- Fanático! - ele riu. - Está perdido?
- Não. Na verdade, vim buscar meu sobrinho - sorri amarelo quando ele encarou o relógio de parede. - Acho que estou um pouquinho atrasado.
- Um pouquinho? - ouvi uma voz feminina atrás de mim - Quarenta minutos.
Virei para encarar a criatura que ousava utilizar aquele tom sarcástico perto de mim, mas fiquei momentaneamente sem fala.
A garota me encarava com seus grandes olhos e um sorriso irônico nos lábios. Seus longos cabelos emolduravam aquela carinha de anjo, mas seu olhar era desafiador. Ela vestia um jaleco branco por cima de uma calça jeans, e calçava botas sem salto pretas que iam até os joelhos. Nunca pensei em dizer isso, mas... Puta merda, o Ricky está muito bem de professora!
É o tipo de professora que faz os alunos babarem durante a aula e pensarem nela dentro do banheiro. Porra, que nojo! Não pensem que eu já fiz isso na minha vida, porque... Não.
- Desculpe, o trânsito essa hora é um caos! - disse da maneira mais educada que consegui. Ela ainda me encarava com um olhar que já era familiar. Ela estava me reconhecendo. Bingo.
- Tanto fa... - ela parou no meio da frase, encarando o porteiro, que parecia recriminá-la. - Digo... Tudo bem. - prosseguiu, contrariada, me fazendo rir baixo. - Vou buscar o Ricky.
Não pude deixar de encarar sua bunda quando ela partiu pelo corredor.
Ah, nem vem, sou homem!
E que bunda.
Não demorou para a professorinha voltar segurando Ricky pela mão. Quando me viu, ele correu gritando “Tiiiiiio”, e eu comecei a rir.
- Fala, moleque! - o abracei, levantando-o. - Sua mãe pediu pra eu te buscar hoje!
Ele apenas sorriu. Não era de muitas palavras.
Percebi que a garota também sorria.
- Vamos pra casa, bonitão? - perguntei e ele riu.
- Vamos!
Encarei-a novamente, depois olhei Ricky.
- Dá tchau pra sua professora, moleque! - a olhei, com a sobrancelha erguida. - Qual o nome dela?
Eu não olhava para a criança.
Ela riu, puxando Ricky para seu colo e dando um beijo em sua bochecha.
Opa, quase invejei essa.
- Tchau, amorzinho! - falou com uma voz tão doce que tive vontade de levá-la pra casa também. - Ahn, você pode avisar para a Diana que fiz algumas observações na agenda do Ricky?
Sorri de lado. Sabia que aquele sorriso tinha o poder.
- Posso, claro - respondi prontamente, e ela ia abrir a boca para agradecer, quando a interrompi. - Se você me disser seu nome.
A garota gargalhou. E eu gostei da risada dela.
Não parecia aquela risada anasalada de bruxa de Saphira. Nem a risada da loirinha que comi na outra semana, que lembrava a de um orangotango. Era aquele tipo de risada que dava vontade de rir junto.
Mas que porra de romantismo é esse agora, ? Seja homem!
- Tchau, - ela disse, sorrindo quase sarcástica, e beijou a mãozinha de Ricky.
A vi caminhar lentamente pelo longo corredor que dava ao playground, e gritei.
- Não é justo você saber meu nome, e eu não saber o seu!
Ela sorriu.
- A vida não é justa, artilheiro! Nem sempre dá pra ganhar a partida.
E lá foi ela. Rebolando aquela bunda que faz os caras virarem o pescoço, ignorando totalmente a minha presença. E tornando-se minha nova obsessão.

Londres, 25 de Janeiro de 2010.

Lá estava eu novamente, na porta do colégio de Ricky, dessa vez no horário certo. Não precisava dar mais motivos para a professorinha sarcástica sair rebolando pra minha cara. Isso soou estranho! Não foi uma ideia brilhante, na verdade, porque aquelas mães safadas ficaram me cercando por quinze minutos ao invés de pegarem seus filhos.
Outra mulher trouxe Ricky até mim. Xinguei-a mentalmente, e arrumei qualquer desculpa para entrar lá e ir atrás do que me interessava.
Fiquei puto ao constatar que ainda não sabia seu nome - tive vergonha de perguntar para Diana, já que ela me xingaria de cafetão ou coisa pior. - E então tive que procurá-la sozinho, sem pedir informações.
Ela estava no final do corredor, conversando com duas mães. Seus cabelos estavam amarrados em um coque e respirei fundo, pensando debilmente em qual perfume ela usaria. Eu não sabia que minhas capacidades bichísticas podiam ser tão vergonhosas.
Novamente, ela me olhou, sorriu para mim - na verdade para Ricky, mas vamos fingir que foi pra mim só pra soar menos loser, coisa que eu não sei ser -, e entrou em uma sala.
Não a vi sair.
Mas agora era questão de honra. Ou eu falaria com ela, OU FALARIA COM ELA. Simples assim. Ninguém trata dessa maneira. Ninguém.

Quatro dias depois...

- Chega! - murmurei para mim mesmo - Chega dessa palhaçada!
Olhei o visor do iPHONE, vendo que as crianças seriam liberadas. Já tinha buscado ou levado Ricky ao colégio incontáveis vezes, Diana estava desconfiada que eu estava de olho em alguma mãe.
Antes fosse, claro.
Tudo seria melhor do que ser fatalmente ignorado pela professorinha gostosa.
O nome dela era , e eu sabia disso porque Ricky me contou. Bom garoto. Já tinha decidido que se não falasse com ela hoje, deixaria essa obsessão besta de lado. Porra, não é como se ela fosse a Megan Fox ou nada do tipo. Ela é uma professora de alunos especiais. Grande merda. E além do mais, os playoffs estavam chegando, e eu precisava me concentrar mais no futebol e menos naquela garota, pra fazer valer a fortuna que andavam me pagando.
Ou pra fazer valer minha fama. Não que eu ligue pro dinheiro que eles gastam.
Eles precisam mais de mim que o contrário. Tá, agora estou soando como um puta mal agradecido. Eu amo meu time e amo minha comissão. Dou minha vida pelo Blues. Amo aquela torcida, amo nosso Estádio, enfim, não sou apenas movido por dinheiro ali.
Sempre torci pro Chelsea, e defender esse time é meu maior motivo de orgulho, pode ter certeza. E é exatamente por isso que eu preciso tirar a professorinha da cabeça.
O sinal tocou e as crianças correram pra fora, como monstrinhos saindo da jaula. Ricky era sempre o mais lerdo. Ou talvez eu sempre esqueça de procurá-lo e ele fique mais perdido que filho de puta em dia dos pais no meio daquelas mães malucas. Qual é, eu tinha mais que uma finalidade ali, é difícil raciocinar com a cabeça de cima quando tem mulher no meio!

Aquela garota era estranha. Os métodos de abordagem tradicionais não funcionavam com ela. Talvez eu precisasse pular e cantar ou pagar qualquer mico, mas honestamente, isso não aconteceria. Esqueci de Ricky um pouco, indo até o final do corredor, onde tinha a visto algumas vezes. Avistei pelo vidro da porta de uma sala que ela estava sentada lá dentro, com uma pilha de papéis em sua frente. Bati na porta devagar, e então entrei.
- ? - chamei-a pelo nome, e quando ela me viu parado perto da porta, pareceu se assustar. - O que foi? Não é só você que tem fontes.
Ela riu, soltando o cabelo do coque.
É muito babaca dizer que parecia aquelas gostosas de propaganda de shampoo? Não? Obrigado.
- Você há de concordar que tenho muito mais fontes que você. - ela sorriu, aproximando-se. - Jornais, revistas, tablóides...
- Ah, então você sabe quem eu sou - disse, com as mãos nos bolsos, e ela me olhou como se eu fosse doente mental. Merda, isso não é um termo bom de usar por aqui.
- Quem não sabe? - deu de ombros, me olhando um pouco desconfiada. - A única coisa que eu não sei é o que tanto você quer comigo.
"O que tanto você quer comigo?" Mas não é óbvio?
Não, acho que não, tendo em vista que nem eu sei o que quero com ela.
- Não posso me interessar pelos métodos educacionais aplicados ao meu sobrinho? - disse a primeira merda que me veio à cabeça, e ela gargalhou. Mas gargalhou de verdade.
E como ficou linda. Puta merda.
- Ah, conta outra, ! - ainda ria. - Olha, eu não sei o que você viu em mim, mas definitivamente não faço o estilinho "Vou pegar por essa semana e chutar semana que vem" - ela fez aspas com os dedos, irônica. - Então por favor, pare de perder seu precioso tempinho.
Achei que meu queixo ia abrir uma cratera no chão. Juro que achei!
Nenhuma garota nunca... Bem, acho que preciso tirá-la da lista de "garotas normais" e acrescentá-la em minha mais nova lista "garotas com distúrbios de raciocínio". No momento, ela encabeça a lista.
Senti uma onda de raiva, misturada com uma vontade crescente de arrancar aquele jaleco fora e fazê-la gostar de mim tanto quanto as outras. Respirei fundo, e a encarei.
- Você não me conhece.
- Eu acho que o conheço o suficiente.
- Não acha que o simples fato de eu estar aqui argumentando com você, mostra o quanto eu posso surpreender? - lancei meu melhor olhar para ela, que pareceu confusa, mas logo se recuperou.
- Acontece que... Sem ofensas, . Você não faz meu tipo.
Interrompemos essa narração para um surto de .
COMO ASSIM NÃO FAÇO O TIPO DELA?
Bonito, rico, jogador de futebol, cobiçado por todas as mulheres... A não ser que ela fosse...
- Você é lésbica? - ouvi minha própria voz dizer, e em seguida o rosto queimar.
Que porra de pergunta é essa, ?
teve outro ataque de riso.
- Só porque eu não morro com suas pernas torneadas e com sua bundinha no lugar, não significa que...
- ... Significa que você repara! - sorri, malicioso, e pela primeira vez, corou. Gol.
- Significa que você está tomando meu tempo. Por gentileza, vá procurar seu sobrinho e cantar algumas mães enlouquecidas.
Sorri, e num movimento brusco, a puxei pela mão, colando seu corpo no meu. Seus olhos perderam o foco, e ela parecia assustada.
- Um almoço. Pra valer a pena todos os dias que eu perdi aqui - sussurrei contra sua boca, e ela espalmou meu peito.
- Não - disse, a voz firme, porém baixa demais.
- Um almoço... - arqueei a sobrancelha, malicioso. - E eu deixo você em paz, se você quiser.
respirou fundo e rolou os olhos, como se estar com o corpo ali colado no meio fosse o maior tédio. Quase a agarrei.
- Um almoço - ela se soltou, caminhando até a bolsa que estava jogada na mesa.
Sorri largamente, sabendo que tinha vencido. Ela me encarou, tirando o jaleco.
Porra, Deus, nesse dia ela tinha que estar de vestido?
E porra, como ela ficava sexy num vestidinho meio Taylor Swift? Nem era curto!
jogou um casaco rosa claro por cima do vestidinho vermelho, e então me olhou dos pés a cabeça.
- Pode tirar esse sorrisinho idiota da cara, - ela sorriu, passando em minha frente. - É um almoço pra você me deixar em paz.
Por que quando ela disse isso, minha vontade foi de importuná-la pro resto da vida?
Mas que caralho, estou virando uma bicha, mesmo.

- Conheço uma churrascaria que você vai adorar - disse, ao entrar no carro novamente, após largar o pirralho na casa da minha irmã. , que ficou em silêncio durante todo o caminho até ali, cerca de cinco minutos, me encarou com nojo.
- Começou mal, .
Franzi a testa, sem entender muito.
- Algo contra churrascarias?
- Algo contra carne - ela respondeu rapidamente, e eu ri baixo.
- Ah, vai dizer que você consegue viver só na saladinha?
Dessa vez ela quem riu.
- E você consegue comer animais mortos? - ela fez a maior cara de vômito, e por um instante lembrou perfeitamente metade das garotas que eu comi nas últimas semanas. Mas elas faziam essa cara por dieta, não por princípios.
esticou o braço e ligou o rádio, e Barry White começou a tocar, fazendo-a gargalhar.
- BARRY WHITE? - ela gritou, ainda rindo. - Você é muito, muito gay, .
Ri junto com ela. Era impossível não fazê-lo.
- Me chame de - disse, ainda rindo, depois tirei os olhos da rua, e olhei para seus olhos que pareciam se divertir. - E me chame de gay mais uma vez, pra você ver o que acontece.
Pisquei, malicioso, e ela sorriu.
- Você se acha demais, artilheiro. - Ok, acho que ela não entendeu que era para me chamar de . - Cão que ladra, não morde.
Freei o carro bruscamente, e ela me encarou, confusa.
- Vamos ver quem não morde! - disse, e ela me encarou, assustada, mas seu olhar se transformou em algo desafiador quase no mesmo instante. - Sabe correr?
- Ah, pelo amor de Deus, eu não vou correr no meio da... - ela parou quando viu minha cara de perverso. Pra não dizer pervertido.
- Um... - tirei o cinto, e apontei para um toldo vermelho do outro lado da rua. - Aquele é o restaurante.
- É? - ela soltou o cinto, rindo maliciosa.
- Dois...
Ok... O que diabos eu estava fazendo?
Quando dei por mim, tinha gritado três, e vi uma garota ensandecida correr por entre os carros, rindo feito uma louca, enquanto eu corria atrás, sem sequer lembrar de fechar o carro direito. Eu só podia ter me drogado. Tinha alguma coisa no meu Gatorade.
Eu ria descontroladamente atrás dela, e a alcancei em três segundos, afinal, correr para mim é trabalho.
Ela estava de costas e eu a segurei pela cintura, gargalhando, enquanto ela se debatia, um pouco suspensa no ar.
- Me larga! - gritava, ainda rindo, e eu a levantei mais.
- Cão que ladra o que? - sussurrei em seu ouvido, ainda rindo, e podia estar louco, mas tive certeza que vi a pele de seu pescoço arrepiar.
- Não morde! - ela completou, ainda rindo. - , por favor, para! - Ela parecia sem fôlego.
Ainda rindo, mordi seu pescoço descoberto, e foi ridículo a forma como meu corpo reagiu a isso.
Senti os pêlos da minha nuca eriçarem só em sentir seu cheiro. Eu juro por Deus que não era assim tão patético!
gargalhou, ainda se debatendo.
- Para com isso, tá todo mundo olhando!
A mordi novamente, e ela desatou a rir, parecendo acordar cada músculo do meu corpo, como se tivessem... Aquecido? Que porra de poder era aquele? Preciso me benzer dessa menina!
- ! - gritou de novo. - Não morde que machuca!
- Foi você que pediu! - gargalhei como um vilão de desenho animado, a soltando, e ela respirou fundo, sem fôlego depois de rir tanto.
- Você é doente! - disse, ainda rindo, e caminhou até a porta do restaurante.
Esperava sinceramente que aquela taquicardia fosse algum problema respiratório que eu pudesse resolver com o preparador físico. Do contrário, eu estaria muito encrencado.

- Boa tarde! - a garçonete sorriu um pouco mais do que pode ser considerado educação. - O que vão pedir?
surgiu de trás do menu. Por dez minutos tudo que eu via era o topo de sua cabeça.
- Uma salada Ceasar e uma massa vegetariana, por favor. - Ela sorriu, e eu fiz uma careta.
- Tanta coisa boa... - murmurei e ela riu. - Não consigo decidir entre o frango ao molho de alcaparras e ao filé mignon ao molho de mostarda... - comecei a falar comigo mesmo, olhando para o menu. - Ei, esse filé argentino parece interessante...
- Mu. - disse do nada, e eu abaixei o menu, encarando-a.
- O que disse? - perguntei, quase rindo. Ela encarou as unhas.
- Nada. - sorriu como uma criancinha, e quando eu voltei a olhar o cardápio, ela repetiu o sussurro. - Muuu.
Comecei a gargalhar, assim como ela, e a garçonete nos encarou como se fôssemos provenientes de uma galáxia muito distante, onde pessoas falavam línguas estranhas.
- O que você está fazendo? - perguntei, rindo.
sorriu. Maravilhosa.
- Eu não estou fazendo nada. Acho que fui possuída pelo espírito de uma vaquinha triste. - Ela fez bico, e só não pulei por cima da mesa atrás dela, porque seria meio ridículo.
Ok, a menina estava mugindo no restaurante e isso sedutor?
Tava faltando alguma coisa no meu cérebro, só pode.
- Você é maluca! - gargalhei. - O filé ao molho de mostarda, por favor!
- Mu? - fez cara de triste, e eu rolei os olhos, fazendo cara de bravo, mas na verdade querendo rir.
- Tá! - reclamei. - Vou querer o filé de avestruz.
- O QUÊ? - Ela gritou, rindo.
- Imita um avestruz agora, professorinha.
gargalhou, depois estendeu o dedo do meio pra mim.
- NOSSA! É assim que você ensina meu sobrinho? - disse, fingindo indignação, e ela chacoalhou a cabeça, rindo. - !
- Esse tipo de coisa eu deixo pro tio dele ensinar! - ela deu uma piscadinha, que quase me fez voltar à taquicardia. Depois sorriu, olhando para os talheres, meio... Tímida? Wow. - E pode me chamar de .

Ela era maluca. Definitivamente era.
Mas como era linda.
Acho que nunca me diverti tanto com uma garota em apenas um almoço. Parecíamos dois adolescentes idiotas rindo de tudo, e fazendo graça com as pessoas. Aquilo era matematicamente impossível. Garotas bonitas são chatas, ou burras. Garotas legais, são feias. Como ela podia ser maravilhosa e engraçada ao mesmo tempo?
Das duas, uma: Ou era um robô, ou ela tinha chulé.

- Eu quero um sorvete! - disse fora do restaurante, avistando uma sorveteria do outro lado.
- Acho que estou meio enjoado por aquele filé de avestruz... - fiz careta, e ela deu um tapa no meu braço, rindo.
- Eu nem sabia que avestruz era comestível! - ela torceu o nariz e eu ri. - E quem mandou comer o bichinho? - sorriu largamente, depois me puxou pela mão, passando entre os carros.
Foi muito rápido, mas alguma parte meio demente do meu cérebro considerou aquilo algo grande o suficiente pra arrepiar os pêlos do meu braço.
- Sorvete cura tudo, artilheiro! - soltou minha mão, saltitando até a sorveteria. - Esse eu pago.
- Não precisa, , eu...
- Shhhh! - ela fez sinal de silêncio na própria boca. Nota para as garotas: Isso é muito sexy, utilizem. - Eu já fiz você comer avestruz, o mínimo que posso fazer é pagar seu sorvete.
- Justo. - sorri debilmente. - Quero uma casquinha de chocolate.
- Certo! Moça, uma casquinha de chocolate e uma de flocos, por favor!
Saímos tomando os sorvetes. Era estranho, mas eu não sentia tanta necessidade de preencher o silêncio que nos rodeava de vez em quando. E olha que eu falo pra cacete.
- Sabe... - suspirou, lambendo sua casquinha. - O Ricky é uma criança incrível. Acho esplêndido o amor que vocês tem por ele. Cada dia conheço um novo !
Sorri, meu braço roçando no dela enquanto andávamos.
- Pode falar que eu sou o que você mais amou!
Ela riu, me empurrando de lado.
- De novo, você se acha demais. E na verdade, achei a avó de vocês um doce. Não cheguei nem a perguntar o nome dela, mas nossa, como ela é um amor!
Ri um pouco. Eu gostava que ela gostasse dos meus familiares, mas ainda assim preferia ser o favorito.
- A vovó é uma comédia! - a puxei para o banquinho de uma praça, e ela sentou ao meu lado. - Ela tem 83 anos, mas é mais moderninha que minha irmã!
riu.
- Qual o nome dela?
- Nalla.
lambeu o sorvete, fazendo uma careta estranha, que me fez rir. Ela estava prendendo o riso, tinha certeza.
- O que foi agora? - rolei os olhos, fingindo impaciência. Ela sorriu, quase rindo.
- Promete que não vai ficar bravo?
- Prometo.
Tinha como ficar bravo com ela?
- Por algum acaso seu avô chama Simba?
Ela tinha algum parafuso faltando, só podia. Começou a rir descontroladamente da própria piadinha besta, e eu acabei acompanhando-a.
- É, Simba, sim. E eu cresci na floresta. Na verdade, meu nome é Mogli, e... - enquanto ela ria das minhas babaquices, acertei o sorvete em sua bochecha, fazendo-a parar de rir e gemer. Depois voltou a rir.
- Você perdeu a noção do perigo! - ela me olhou, maliciosa.
- Nem pense nisso! - gargalhei.
Segurei-a pelo pulso com a mão livre, enquanto ela tentava se desvencilhar para se vingar.
- Isso não é justo! Você é forte! - reclamou e eu ri.
- Gostoso, você quis dizer.
- Seu ego está me sufocando, artilheiro! - riu.
Como não larguei sua mão, ela sentou mais perto de mim, e num impulso, esfregou seu rosto melecado no meu, me fazendo arrepiar de frio.
- Caralho! - gemi, ainda rindo, e a soltei.
parecia bem satisfeita. Acho que quem nos olhasse, tinha certeza que parecíamos um casal daqueles bem bregas e idiotas.
O estranho era que, ali, naquele banquinho, com o rosto todo melecado e rindo feito um retardado, a ideia de fazer parte de um casal bem brega e idiota me agradava, e também me assustava. Mas no fim do dia, quando a deixei em casa - e ela não me convidou para entrar, como todas fariam, mas me deu um beijo no rosto, o que já foi uma puta vitória -, eu tive certeza, ao vê-la sorrir e acenar da varanda, que ela seria minha de verdade.

Flashback Off - Reality On.

Eu tentei meu máximo, juro que fiz o possível para me manter focado. No entanto, não tinha nem ideia de como tinha ido parar em nosso apartamento, que se resumia a lixo por todos os lados, depois que ela foi embora.
Embora.
Aquela palavra tinha o mesmo efeito que um soco direto no estômago. Eu devia estar concentrado no hotel, como meus outros companheiros de time, dormindo calmamente para estar inteiro para uma final no Wembley Stadium lotado. A final da UEFA, em que todos esperam que eu dê meu melhor. Esperam que eu confirme minha posição de artilheiro do campeonato. Aquilo tudo sempre foi meu sonho! No entanto, ele parecia minúsculo agora que não a tinha mais comigo.
- IDIOTA! SEU BURRO DO CARALHO! - gritei para mim mesmo, em plena madrugada, sem me importar se algum dos vizinhos iria chamar a polícia.
entrou em minha vida inesperadamente. Nunca esperei que ela fosse sair, porque ela foi... Na verdade, ela é a mulher da minha vida.
Já não me importa mais soar ridículo. Eu perdi o senso do ridículo quando conheci aquela maluca.
E simplesmente nunca mais serei eu mesmo sem ela.

Londres, 4 de Fevereiro de 2010

Buzinei em frente à casa de . Depois do dia do nosso almoço, não tinha conseguido mais vê-la, por causa dos treinos que tinham sido retomados. Mas nos falamos por telefone, todos os dias. Em uma das conversas, brinquei com ela dizendo que para quem iria só almoçar comigo para que eu sumisse, nossas ligações de três horas em plena madrugada pareciam uma piada.
Fiquei quieto, depois que ela ameaçou manter nosso "relacionamento" apenas por telefone.
me dava medo às vezes.
Ela abriu a porta, vestindo uma camisa xadrez vermelha, tão comprida que ela precisou se mexer para que eu notasse a presença dos shorts jeans. Fiquei encarando e/ou babando em suas pernas descobertas, quando finalmente consegui terminar de olhá-la, vendo suas botas de cowboy.
- Você está parecendo um cachorrinho babando nos frangos da padaria, . - ela surgiu na janela de passageiro, me fazendo pular e acionar a buzina.
Perfeito, . Continue assim tão patético.
gargalhou do meu susto e colocou seus óculos escuros, entrando no carro logo em seguida. Sorri para ela.
- Oi. - disse idiotamente, fazendo-a sorrir. - Pensei que fôssemos ao cinema, não à uma festa na roça.
Isso, na minha língua bizarra, era pra ter soado como "Você está linda".
Eu diria que ela estava linda com todas as letras, caso não fosse... .
Ela me olhou com desdém.
- Pensei que fôssemos ao cinema, e não correr no parque.
Merda. Tinha esquecido de carregar uma roupa decente para o treino, e saí de lá com cara de "Patrocinado pela Adidas". Ela sorriu.
- Estamos quites. - sorri amarelo, fazendo a rir, enquanto eu dava partida no carro.

O cinema.
Veja bem, aquela sessão correu totalmente LONGE do que eu esperava.
Ela entrou na sala e guardou meu lugar, eu saí para comprar pipoca e refrigerante. Até aí, tudo ok. Sentei ao seu lado, ficamos conversando e rindo, e então os trailers começaram. Tudo dentro do cronograma.
Os trailers estavam passando, e eu apoiei meu braço atrás de sua cadeira. Ela não se afastou, mas também não demonstrou nenhum apreço por aquilo. Tá, aceitável.
Quando as luzes apagaram... Ela simplesmente olhou para a frente e... ASSISTIU O FUCKING FILME!
Como assim? Nenhuma garota assiste filme comigo!
Tentei falar algumas vezes, mas ela fez sinal de silêncio, e se concentrou na telona.
E ainda por cima eu perdi duas horas preciosas do meu dia vendo a porra do Eric Bana sumir ao vento e aparecer pelado em lugares distantes, largando a gostosa da Rachel McAdams sem marido... Ah, tenha santa paciência!
Só sei que saí de lá extremamente puto.
- Você parece bravo. - disse do lado de fora, e eu neguei.
Pelo menos ela reparou nisso.
- Nada, só estou... Cansado. - disse, esticando as costas.
- Treinos? - ela arqueou a sobrancelha e eu assenti. - Ah, mas você é muito bem pago por isso.
sorriu, e começou a caminhar ao meu lado, pelas ruas agora escuras de Londres.
- Você adora zoar as pessoas, não? - perguntei, quase sarcástico, ainda inconformado com o "não ocorrido" no cinema. Ela sorriu, angelical.
- Não. Eu gosto de zoar você.
Ah, ótimo! Devia me sentir lisonjeado? Louca!
Fiz cara feia.
- Qual a graça de me zoar? - perguntei, e ela deu de ombros.
- Você parece mais normal.
Franzi a testa, parando de andar, enquanto ela ria de forma tímida.
- No resto do tempo eu pareço anormal? - cutuquei, mas sabia o que ela diria. estapeou meu braço. Acho que ela curtia fazer isso.
- Não, parece um jogador de futebol super famoso. E convenhamos, fica bem sem graça.
- SEM GRAÇA? - disse alto, depois senti o rosto corar. - Quem em sã consciência acha sem graça andar por aí com o artilheiro do campeonato inglês?
Ela riu, fazendo careta.
- Vice artilheiro, . - seu olhar era desafiador. - Você ainda precisa de um gol para empatar com o Gerrard, e outro pra passar dele... - ela riu da minha cara embasbacada. - Se meu querido Ferdinand não fizer isso primeiro. O que ele fará, claro.
Parei de andar. Eu estava escutando direito?
Ela entendia de futebol e ainda por cima tinha a coragem de dizer que o gay do Ferdinand iria me passar no saldo de gols?
Há, aquela garota estava em maus lençóis - preferia dizer meus lençóis... Ok, parei de perversões. Por enquanto. Comecei a rir descontroladamente.
- Por favor, o Ferdinand me passando? Agora conta a do português!
- Sem ofensas, vice-artilheiro - sorriu, maliciosa, frisando bem o "vice". - Vocês têm o mesmo saldo de gols. E convenhamos, o momento é do Rio, não seu.
- Você é maluca! - gargalhei, sem reparar que nesse ponto, já estávamos parados no meio da calçada. - Eu tenho uma média de noventa e dois por cento de aproveitamento por jogo... NOVENTA E DOIS! - disse alto, mas apenas cruzou os braços. - E o Ferdinand? Tem quantos? Ah, sim... Oitenta e oito.
chacoalhou a cabeça.
- De qualquer forma, o Manchester United está três pontos à frente do seu amado Blues, com ou sem seus noventa e poucos por cento de corridinhas sensuais e jogadinhas de cabelo pelo campo.
Ela queria morrer. Ela estava pedindo para morrer com algo bem torturante para que calasse aquela boca vermelha e carnuda que quanto mais se movia, mais me deixava hipnotizado. Caralho, o que eu tô falando?
- Corridinhas sensuais e jogadinhas de cabelo? - ri, aproximando meu corpo do dela, o suficiente para que precisasse virar o pescoço para me olhar nos olhos. - Obrigado pela parte que me toca, , mas eu faço muito mais que isso. Gols, sabe? Quase dois por partida.
manteve os braços cruzados, e ficou na ponta dos pés. Estávamos tão próximos que seu nariz roçou no meu. Um arrepio percorreu minha espinha, e eu levei minha mão a sua cintura, automaticamente. mordeu o lábio inferior, e eu tive certeza que meus hormônios tinham voltado à adolescência.
- Não está tão bem assim, queridinho... - ela sussurrou contra minha boca. - Afinal... Você ainda não é o número um do campeonato. E seu time não é o líder. Então engula seu ego desproporcional e venha falar de estatísticas quando elas realmente lhe favorecerem.
Ela voltou para o chão, deixando um sopro de ar quente para trás, que arrepiou meu corpo inteiro, e me fez puxá-la pra cima novamente. me olhou nos olhos, na mesma posição.
- Não vá me dizer que você torce para o... - Não terminei a frase.
- Manchester? - ela sorriu, ainda com o nariz encostado no meu. - É óbvio que sim.
Ri baixo, movendo meu rosto de uma forma que parecia que estávamos dando um "beijo de esquimó". Ok, foi gay demais eu saber o nome disso?
- Achei seu defeito, então. Mal gosto pra futebol.
riu, desvencilhando-se de mim, coisa que me deixou meio atordoado.
- Devo ter, mesmo... Estou aqui conversando com o vice-artilheiro! - ela gargalhou da cara que eu fiz.
- Pois bem, espertinha... Vai ao jogo sábado? Seus amados vermelhinhos contra o poder do Blues?
riu, meio desanimada.
- Não vai dar. É o aniversário da minha mãe, estarei em Brighton.
- Mas você vai assistir, certo? - arqueei uma sobrancelha, malicioso.
- Claro que vou.
- Ótimo! - sorri largamente. - Vou fazer um gol pra você.
- Eu torço pro outro time! - disse com um tom de obviedade, mas com vontade de rir.
- Mas eu farei um gol pra você. E na hora, você saberá que foi pra você.
- Saberei? - ela me olhou por entre os cílios, desconfiada.
- Vai sacar na hora.

Naquele final de semana...

“Jogo quente no Stamford Bridge. Tudo igual, Chelsea zero, Manchester United, zero. Aos vinte e quatro minutos do segundo tempo!”

Aquilo era uma catástrofe. Estávamos invictos até então no campeonato, e empatar com aqueles tomates estava fora de cogitação. Ainda mais com uma aposta muito bem feita com .
Ela teria o gol dela. E não seria feito pelo Rio Ferdinand.

“Rooney domina a bola, é a chance do United de acabar com a invencibilidade do Blues! na marcação. Ele parte pra cima, e opa! QUE ROUBADA DE BOLA ESPETACULAR, MEUS CAROS TELESPECTADORES! com a bola, ele usa sua melhor opção, que é uma tabela com , pela esquerda. Mas que passe de para Lampard, meus caros! Lampard encara a zaga, ele tem , ele tem , Ashley Cole se apresenta! Lampard passa para , que está frente a frente com Rio Ferdinand! Mas o que ele está fazendo? Que jogada SENSACIONAL! Ferdinand está desconcertado com a bola que passou ENTRE SUAS PERNAS! parte, ele tem Cole, mas vai sozinho, ele chuta... E É GOL! GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL! Do Chelsea! !”

Corri freneticamente pelo campo, vendo e Cole correrem atrás de mim, mas procurei, rindo loucamente, por uma câmera.

comemora em frente à nossa câmera com em suas costas!”

Abri o maior sorriso do mundo, de orelha a orelha, vendo meus companheiros se aproximarem. Em seguida, levantei as duas mãos, juntas, como quem faria o coração gay Pato-Ama-Stefany.

“Mas o que ele está fazendo?”


Gargalhei com vontade, ao mostrar meu singelo dedo do meio para a lente.

“Ele está mostrando o dedo para nosso câmera! Seria isso uma afronta aos torcedores do Manchester? Que feio, !”

O mundo podia estar com cara de interrogação, mas tudo bem.
Ela entenderia.

"Você é MALUCO! hahahaha Acho que perdeu a noção do perigo! xx"

Essa foi a mensagem que estava em meu celular quando voltei para o vestiário. Gargalhei, ainda olhando para o visor, torcendo para que não me matassem na coletiva. Meu técnico não tinha ficado muito contente com minha pequena declaração perante às câmeras. Podia imaginar a ira dos torcedores do Manchester e tudo mais. Eu estava ferrado e nem estava ligando.

"Eu disse que faria seu gol! HAHA :P"

Encontrei no domingo à noite.
Não foi planejado. Não chegamos a conversar depois da minha catastrófica coletiva, e perdi uma ligação que ela fizera. Quando retornei, seu celular estava desligado. E de novo. E mais uma vez.
Finalmente desisti, e tomei um susto quando o porteiro do meu prédio interfonou dizendo que ela estava lá embaixo, mas disse que não ia subir. Coloquei uma camiseta branca simples e calcei meus tênis, passei um perfume e corri para o elevador, arrumando o cabelo freneticamente.
Dezenas de garotas interfonam todos os dias. E eu nunca tinha agido daquela maneira por isso.
estava com o cabelo amarrado em um rabo de cavalo alto. Vestia uma regata preta, uma calça jeans e sapatilhas amarelas, com um lenço preto e branco no pescoço. Não tive tempo de babar, e ela abriu um imenso sorriso, que me fez vacilar. Juro, ela tem o poder.
- Meu carro quebrou... - ela fez bico, como se só sua presença já não fosse tortura suficiente. - Na esquina da sua casa. Alguma habilidade mecânica, artilheiro?
Sorri de volta.
- Por você, eu posso tentar.

estava sentada no banco de passageiro, com os pés no painel, deixando à mostra suas unhas pintadas de vermelho. Todo homem adora pés. Impossível que ela não soubesse disso e não quisesse me torturar. Ela me olhou, sorrindo.
- Sabe... Tirando a parte do quase ataque dos torcedores do Manchester, devo dizer que você foi muito corajoso com aquela "comemoração". - fez aspas com os dedos, e nós dois rimos. - Acho que nunca recebi uma homenagem tão bonita em toda minha vida.
Ri alto, tomando um gole do meu Mochiatto.
- Ah, cala a boca! Aposto que todos os caras de Londres já ajoelharam por você, cantaram, jogaram pétalas de rosas por um helicóptero e todas essas coisas bichas... - disse, fazendo-a rir.
- Jogar pétalas de um helicóptero? Eu castraria o filho da mãe que me aprontasse essa! Que mico! - nós dois rimos de seu pequeno ataque. Ela olhou pela janela. - A noite está linda. Muito legal ver tudo aqui de cima.
O carro do guincho parou no farol, e nós tivemos um ataque de riso.
Ah, nada como um passeio patrocinado pela Allianz Seguros!
A encarei, sério pela primeira vez.
- Qual seu tipo de cara?
pareceu confusa quando tirou os olhos da rua e seu olhar cruzou com o meu.
- Como assim?
- Você disse que eu não sou seu tipo de cara... - continuei, antes que ela me chamasse de metido ou coisa do tipo. Mas precisava perguntar. Mesmo que não gostasse da resposta. - Você não curte bichas que jogam pétalas de helicópteros... Então?
tomou um gole de seu Frapuccino de Morango.
- Alto, olhos azuis, irlandês... - ela riu. - Com uma voz perfeita, com uma banda perfeita, mais velho, e bom... Engajado com causas sociais, eu acho.
- Ei! - arqueei uma sobrancelha. - Você descreveu o Bono Vox!
Ela riu.
- Eu sei.
Segurei o volante, meio atordoado, e então tive um súbito ataque.
- Vem comigo!
Abri a porta do carro em cima do gincho. Ouvi o motorista xingar alguma coisa, e gritar algo como "Você pirou?". Dei a volta no guincho, abrindo a porta do lado dela.
- O que está fazendo?
- Vem!
A puxei pela mão entre os carros, enquanto ela me enchia de perguntas que ficaram sem resposta. Chegamos até meu prédio, e o elevador estava lá.
- , o que diabos você pensa que...
- Shhhh. - imitei o sinal de silêncio que ela sempre fazia. - Você pergunta demais.
Ao entrarmos no meu apartamento, não mencionou nada sobre decoração ou coisa do tipo. Fui até meu quarto e ela não me seguiu, me obrigando a descer até a sala novamente, com meu violão nas mãos.
- Deixa eu te mostrar uma coisa...
Sentei na mesinha de centro, e sentou em minha frente, no sofá, sorrindo. Ela não disse nada quando comecei a dedilhar os primeiros acordes de "Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me". É, eu sei, foi uma escolha sugestiva. Enquanto eu cantava, ela sussurrava a música, quase tímida, e eu tive que me concentrar muito pra não errar toda a performance.
- Wow - me encarou, admirada. Acho que foi a primeira vez que me olhou assim. - Posso adivinhar? Colegial, banda, você como guitarrista e vocalista, muitas menininhas?
Ri, deixando o violão de lado, e depois neguei.
- Nunca tive, nem nunca pensei em ter uma banda. Meu negócio sempre foi o futebol, o violão é só um hobby.
- Você é bom nisso - ela sorriu.
- Você me elogiando? - comecei a rir. - Minha nossa, devo ser bom mesmo!
me deu um tapa, rindo.
- Idiota.
A segurei pelo pulso.
- Repete.
- I-di-o-ta! - ela sorriu, maliciosa. - Idiota e maluco!
A puxei pra perto, colando nossos narizes.
- Talvez eu seja idiota... - sussurrei, e respirou fundo. - E talvez você que me deixe maluco.
Mordi seu lábio inferior levemente, sentindo uma corrente arrepiar meu corpo inteiro. Acho que nunca desejei tanto uma garota, quanto desejava aquela. embrenhou seus dedos em meus cabelos, e eu lhe dei um selinho, ainda de olhos abertos, sem perder o contato visual por nem um segundo. Passei minha língua em seus lábios, e ela sorriu, finalmente fechando os olhos.
E então Bono Vox tomou conta do lugar.
Beautiful Day começou a tocar absurdamente alto.
Não consegui segurá-la, deu um pulo, buscando sua bolsa freneticamente e saindo de perto para atender. Eu não conseguia respirar direito. Meu corpo inteiro estava reagindo a aquela distância repentina. Eu precisava dela para mim, já não havia mais como negar. Dois minutos depois, ela voltou, inexpressiva.
- Desculpe, eu preciso ir.
- Você o quê? - minha voz saiu mais afetada do que o planejado.
- Eu pego um táxi... Eu... Tinha esquecido um compromisso.
Há, mas não ia embora mesmo!
A segurei pelo braço, e ela virou de frente, sua respiração quente próxima ao meu rosto.
- Eu ainda não terminei... - sussurrei, a puxando com força. Ela me empurrou.
- Desculpe, . Eu... Não sei onde eu estava com a cabeça.
caminhou até a porta, e eu apenas gritei.
- Então é assim? Você simplesmente vai fugir?
Ela demorou para me olhar por cima do ombro.
- Você não precisa mais me ligar, se não quiser.
Ouvi o baque da porta.
Queria ter corrido e a segurado, gritado e dito tudo o que estava engasgado desde a porra do dia em que a conheci. Ao invés disso, deixei-a ir, porque por mais que aquilo acabasse comigo, sou mais um coração despedaçado - gay, eu sei -, do que meu orgulho ferido.
Um merda. Eu também sei.

Eu estava um trapo.
É claro que não liguei, nem apareci no colégio. Entretanto, criei o péssimo hábito de interrogar uma criança de quatro anos sobre como anda sua professora. Eu era patético, e muito. Por mais que eu tentasse, eu simplesmente não conseguia entender porquê ela tinha simplesmente desistido. Ela queria algo, claro que queria, estava se derretendo em meus braços quando aquela porra de celular tocou! Não é possível que tudo aquilo tenha sido minha imaginação. Bom, o resultado disso é que eu andava meio desfocado nos treinos. Ótimo, como se já não bastasse ter me largado justo quando achei que tinha a conquistado, ela ainda acampava na minha mente, com aquela merda de sorriso debochado, dizendo: "Ei, , você nunca vai me ter! Ei, , tente me tirar da cabeça"!
Filha de uma...
- Ei, , acorda! - estapeou minha cabeça, e eu xinguei baixo. - Aquecimento, caralho!
Muito educado.
O estádio do Liverpool já estava lotado quando entramos. Avistei meu companheiro de pontuação do outro lado, numa posição meio incômoda de se olhar. Gerrard e eu estávamos empatados em número de gols, e honestamente, eu ando cansado demais mentalmente para conseguir me gabar. Só esperava fazer um gol e ficar na frente. Talvez imaginar a bola como a cabeça de ajudasse.
Tinha me encontrado com Saphira e com uma outra garota durante essa semana e meia tentando esquecer a professorinha que tem pacto com o demo. No entanto, horas de sexo não foram tão eficientes quanto eu esperava. Acabei foi pensando em como seria com ela, mesmo sem nunca tê-la beijado.
Puta obsessão do caralho.
Preciso mesmo me benzer dessa menina.

Quando voltamos ao vestiário, ouvi o técnico dar suas orientações finais. Ele me chamou umas quatro vezes, o que não devia ser boa coisa. Eu jurava que minha cabeça ia explodir. Fui até o corredor, tentando tomar um ar, e algumas crianças sorridentes esperavam para entrarem conosco.
Foi quando eu a vi.
A primeira impressão que tive era que estava alucinando. estava parada no final do corredor, com uma camiseta do Liverpool, claro. Acho que torceria pra qualquer coisa, menos pelo meu Blues. Seus olhos acharam os meus rapidamente, e eu não consegui entender o que uma das crianças tentava me dizer. Caminhei, com os olhos vidrados, tentando me certificar de que não estava mesmo maluco.
Eu não estava pirando.
O barulho atrás de mim começou a aumentar, muito provavelmente os caras estavam se preparando pra sair.
- O que? O que você...?
- Shhhh - ela sorriu. - Você pergunta demais, .
- Como você conseguiu entrar aqui?
- Tenho contatos. - ela apontou pra camiseta do Liverpool, fazendo uma careta, e depois a tirou, deixando que a mesma caísse no chão, revelando uma regata branca.
ficou nas pontas dos pés e passou os braços por meu pescoço, me abraçando. A apertei com força, como se minha vida dependesse daquilo, e depois me envergonhei disso. Seus cabelos estavam perfumados, seu pescoço estava quente e tentador. Ela manteve os braços ali, mas me encarou nos olhos, sorrindo largamente, depois roçou o nariz no meu. Minha nuca arrepiou, e eu a prensei contra a parede quando ela mordeu meu lábio inferior.
Não precisei pedir passagem. Nossas línguas se tocaram e um choque percorreu meu corpo, arrepiando cada pedaço de pele. Ela agarrou meus cabelos, arranhando levemente minha nuca, e uma mistura entorpecente de sentimentos gritou em mim. Era daquilo que eu precisava, o tempo inteiro. Descobrir seu gosto, sentir seu cheiro, ter seu corpo quente perto do meu. Quando aumentei a velocidade do beijo, ela mordeu meu lábio, sorrindo, e me fez lembrar de onde estávamos.
Com uma porrada de crianças olhando e meia dúzia dos caras se cutucando e falando putaria.
Rimos em conjunto, como sempre.
- Como você veio parar aqui? Você não estava aqui quando...
me interrompeu.
- Milhagem aérea. Sempre soube que devia me aproveitar do fato de ter uma irmã aeromoça. Boa ideia, não? Consegui chegar bem na hora - ela sorriu, e eu mordi seu ombro.
- E por que você foi embora aquele dia?
me olhou nos olhos, depois acariciou meu rosto.
- Eu não queria me envolver com você - respondeu, sem cerimônias, e eu senti meu estômago rodar. Antes que eu continuasse perguntando, ela mesma prosseguiu. - Mas era tarde demais.
sorriu, depois apanhou a camisa do Liverpool, acertando-a no lixo.
Os caras apareceram no corredor, e ela me deu um selinho.
- Hoje eu sou "Team "... - sussurrou em meu ouvido, e eu sorri. - Vai lá e mostra como se faz.

Naquele dia fiz dois gols, assumindo a artilharia do campeonato inglês na casa do concorrente.

Londres, um mês depois.

Prensei contra a porta do elevador. O ritmo daquele beijo estava me deixando louco, não conseguia ter certeza se chegaríamos vivos no vigésimo oitavo andar.
Ou se pelo menos chegaríamos vestidos.
Puxei-a para cima, e ela entrelaçou as pernas em minha cintura, deixando que eu tivesse livre acesso para apertar suas coxas por baixo do vestido preto Versace que usava (eu que tinha lhe dado, já que não liga para marcas).
Nota importante: Estávamos juntos há um mês.
Nota mais importante ainda: Nunca tínhamos transado, o que era estranho, porque eu sempre dava um jeito de não ficar na espera por mais de uma semana.
Nota de suma importância: Eu não tinha dormido com nenhuma garota aquele mês. Já disse que tem o poder? Melhor dizer de novo.
puxou meus cabelos com força, beijando e mordendo meu pescoço, fazendo meu corpo inteiro arrepiar. Apertei sua bunda, enquanto cambaleava para fora do elevador, que já dava em minha sala.
Graças a Deus. Imagine a cena vista por algum vizinho.
arranhou minha barriga, e eu a beijei vorazmente, tentando a operação impossível de subir uma escada com a garota que tinha vindo à Terra para me deixar maluco pendurada em meu pescoço. Ela desceu, caminhando de costas, e minha camiseta foi parar em algum lugar não identificado. Assim que atingimos terra firme, a peguei novamente, e ela gemeu quando a apertei, sorrindo maliciosa e me puxando para um beijo daqueles.
Segurei um de seus seios, e ela riu do meu desespero com seu zíper.
E então um barulho de vidro a fez arfar, assustada.
Abri os olhos, e vi que o objeto de vidro no chão era uma taça espatifada. Uma pequena poça de champagne se formava ao seu redor.
Meu quarto mais parecia um motel. A cama estava cheia de pétalas de rosas, um cooler tinha mais champagne, e ao seu lado, um enorme pote com morangos tão vermelhos que me fizeram salivar. E em seguida, vi tudo o que eu não queria ver: Saphira, num conjunto de lingerie de oncinha bem ousado - para não dizer de puta -, estava com os olhos negros imensamente arregalados.
- EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ JÁ ARRUMOU OUTRA BISCATE! - ela gritou e saiu do meu colo, visivelmente desconfortável.
- Saphira... - disse, penalizando-a com o tom de voz, entretanto, ela não pareceu se importar.
- VOCÊ É UM IDIOTA! E quem... quem é essa... - ela olhou para com nojo. sorriu, sarcástica, e caminhou até a porta, me lançando um olhar no melhor estilo "Você vai ficar sem sexo por outro mês, ".
A segurei pelo braço, o pânico tomando conta de mim.
- Você fica - disse, firme. - Ela quem vai embora.
Saphira me olhou com mais ódio do que qualquer coisa.
- QUEM É ESSA VADIA?
- A única vadia que eu estou vendo aqui, é você - disse, seco, e me aproximei. - Quando eu parei de ligar, era pra não te ver nunca mais, não para você invadir minha casa.
A garota tinha lágrimas nos olhos, enquanto pegava suas roupas na poltrona. Ela caminhou até a porta, em silêncio.
- Saphira! - a chamei, e ela me olhou. - E essa aqui é minha garota. Se ousar ofendê-la novamente, eu a processo por invasão de domicílio - sorri, cínico. - Agora vá embora.
Ouvi o baque da porta da entrada do apartamento zunir em minha mente. me olhou pela primeira vez, e confesso que eu estava meio receoso com sua reação. Ainda por cima, tinha feito aquela declaração de "sou um bicha" bem na frente dela. Merda.
- Desculpe... Eu não sabia que ela ainda tinha a chave. - Era verdade.
caminhou até minha cama, pegando um morango do pote e mordendo-o de forma tão sexy que meu amiguinho, que estava animado no elevador e ficou confuso com a cena anterior, reempolgou dentro das calças.
- Eu deveria saber... - ela murmurou. - Na verdade, eu sempre soube que nunca estaria livre de biscates vestidas de oncinha quando estivesse perto de você.
sorriu de forma irônica, mas seus olhos estavam tristes. Me aproximei, puxando-a pela mão com um sorriso de desculpas no rosto.
- Nesse mês que estivemos juntos, eu nunca...
- Eu sei. - ela sorriu. - Não precisa se justificar. Aliás, aquele negócio de "minha garota" foi bem bonitinho - riu finalmente, e eu a acompanhei, com o rosto queimando.
- Bem gay, você quer dizer.
Ela fez que sim com a cabeça, depois me deu um selinho, rindo.
- Ela acabou com o clima... - rolou os olhos, andando em direção à janela, e eu corri até ela, abraçando-a pelas costas.
- Claro que não... - sussurrei, mordendo o lóbulo de sua orelha, e vendo seu pescoço arrepiar. A virei de frente para a cama, mas continuei atrás dela. - Temos flores, champagne e morangos... Teremos música... - liguei o rádio com a mão livre, e riu. - E temos a vontade louca que eu tenho de fazer isso.
Abri o zíper de seu vestido, que despencou no chão, revelando um conjunto preto e rendado de lingerie. olhou por cima do ombro, sorrindo de forma maliciosa.
- Não é só a sua vontade.
Disse, antes que eu a agarrasse pela cintura e derrubasse na cama.
Essa foi a primeira... daquela noite.
A primeira de várias vezes em que tive certeza que tinha encontrado o encaixe perfeito. Ok, vou tentar ser menos bicha.

Flashback OFF - Reality ON

Cambaleei para fora do quarto, atordoado em meio às lembranças. Eu precisava tomar um banho gelado, chamar um táxi e partir para o hotel, pois se meu técnico sonhasse que eu dormi fora, eu estava fodido. No entanto, minha vontade de sair dali era mínima. Faltei em alguns treinos nas duas semanas que... Vocês sabem. Quatorze dias que para mim, pareceram uma eternidade. Como uma punição por tudo que eu fiz de errado. Tropecei em meus próprios pés, e acendi a luz do corredor. A iluminação doeu em meus olhos, e eu xinguei baixinho, encostando o corpo na parede gelada. Encarei a porta que esteve lacrada nos últimos dias. Eu simplesmente não tinha coragem de entrar ali, não depois do que eu fiz. Respirei fundo, sentindo os olhos arderem, e alcancei a maçaneta. Eu realmente queria me torturar. Ao acender a luz, um quarto amarelo claro se revelou. Alguns rolos de papéis de parede de ursinhos estavam sobre a mesa, coberta de poeira pela ausência de pessoas ali por tantos dias. Não havia mobília, exceto por aquilo que fez meu coração parar de bater por longos segundos.
Aproximei-me do berço branco, que estava abarrotado de coisas dentro, e apoiei as duas mãos no cercado, sentindo os joelhos fraquejarem. Não era a bebida.
Lembrei de todos os sorrisos, dos planos e das noites comendo comida chinesa no chão, sujos de tinta amarela e imaginando com ele/ela seria.
Sempre achei que seria uma menininha. E que ela teria os olhos que eu tanto admirava na mulher que eu amava. Ela sempre achou que seria um garotão, e que ele jogaria futebol e paqueraria ainda no jardim de infância.
Se chamaria Nalla, em homenagem a vovó, ou Simba. (Eu nunca soube se a história do Simba era mesmo brincadeira).
Apostamos um pote de sorvete de dois litros, mas, na verdade, não importava.
Contanto que estivéssemos juntos e com nosso bebê, jamais importaria.
Agora já não fazia mais sentido ter ganhado aquela aposta.

Londres, 17 de abril de 2010

- Não é culpa minha, caralho! - gritei, estressado, encarando .
Não era normal brigarmos assim. Ultimamente, era quase todo dia a mesma merda. Estávamos convivendo demais, ela quase não saía do meu apartamento, e quando saía, era porque eu estava no dela. Ela sempre fez pose de “tô nem aí pra essas suas Marias Chuteiras”, no entanto, era o segundo piti que dava por causa de uma delas em uma semana.
Ridículo.
- Claro que não, não é, ? NUNCA é culpa sua! - ela rolou os olhos, irritada - EU NÃO AGUENTO MAIS ISSO! Cada dia é uma puta nessa porta! Eu não sou obrigada a aturá-las todo dia!
- Eu não pedi pra você “aturar” porra nenhuma! - explodi, e me olhou, assustada pelo aumento súbito no meu tom de voz.
- Você está certo! Eu não sou MESMO obrigada a isso, ! - ela caminhou até a porta, comigo em seus calcanhares. - Vá embora.
- O QUÊ? - Berrei, e ela travou as sobrancelhas, séria.
- Vá embora. Não é isso que você quer? Uma puta por dia? - disse isso tão naturalmente que parecia estar pedindo pãezinhos na padaria.
Ri, sarcástico.
- Você endoidou de vez.
- Endoidei no dia em que deixei que você entrasse na minha vida! - ela disse, pesarosa, e eu senti um nó na garganta. - Eu não agüento mais essas meninas te ligando, aparecendo de sutiã e calcinha, eu não agüento mais o JEITO que você olha pra elas! - estava com os olhos vermelhos, mas não deixou que nenhuma lágrima escapasse. - Eu não sou boa o suficiente pra competir com elas, já percebi...
- ... - tentei falar, em vão.
- Tchau, .
Uma mistura de ódio, dor e vontade de gritar correu em minhas veias. Eu arqueei uma sobrancelha, rindo de forma irônica.
- Você tá terminando comigo? - ela só fez que sim com a cabeça. Ri mais alto. - Você não pode terminar algo que não existe.
- Como é que é? - franziu a testa.
- Eu já te pedi pra namorar comigo? Acho que não, professorinha. - ri da cara que ela fez, por mais que me cortasse o coração. - Se é isso que você quer, tudo bem. Não é como se eu não tivesse opções.
engoliu seco e abaixou o rosto.
- Aproveite bem suas opções. E não me ligue nunca mais.

Um trovão cruzou o céu quando pisei fora de sua casa. Não olhei para trás, mas tinha certeza que ela não estava me olhando da janela. Saí, puto, e ainda por cima a pé, em busca de um táxi. Aquilo era o cúmulo do ridículo. Minha cabeça estava à ponto de ebulição ou algo assim, eu estava com vontade de matar alguém. Não conseguia achar um táxi, não tinha porra nenhuma naquele lugar, e a garoa já começava a cair, fininha e irritante. Joguei o capuz na cabeça, xingando alto, mas ninguém me ouviria. Não morávamos longe, mas caminhar na chuva é fim de carreira. Apertei o passo, todas as imagens da briga na minha cabeça, e o que eu disse pra ela se repetia como a porra de um papagaio colado no meu ombro.
É CLARO QUE TIVEMOS ALGUMA COISA!
Coisa essa, não identificada e/ou rotulada, que estava revirando meu estômago, gelando minhas mãos, ardendo em meus olhos e me desesperando minuto a minuto com medo de perder.
Ai, caralho. É isso que dizem que é amor?
Mais dois trovões, e eu comecei a correr, completamente molhado. Pra completar meu dia “Mãos dadas com o coleguinha Murphy”, um carro passou e me ensopou ainda mais. Não consegui nem abrir a boca pra proferir alguma macumba que o deixaria sem sexo pro resto da vida.
Eu não podia deixar as coisas daquele jeito. Eu precisava de .
Corri no sentido contrário, arfando por causa do frio e da água gelada, tremendo na base porque tinha certeza que ela me mandaria tomar naquele lugar com todas as letras. Aquela era . Sem medidor de palavras. E por que me meti com ela, mesmo?
Entrei em seu condomínio, correndo em frente à algumas casas, um pouco assustado com o céu iluminado por inúmeros raios. O mundo ia desabar na minha cabeça, só podia. Quando alcancei sua porta, dei alguns murros sucessivos, ignorando a campainha. abriu a porta, com uma expressão de espanto no rosto. Sua casa estava com as luzes apagadas, pelo menos até onde eu via. Mesmo na escuridão quase completa, vi seus olhos extremamente vermelhos. Pelo menos eu não era o único.
- Eu disse que acabou. - sussurrou.
Eu subi um degrau, apoiando no batente da porta.
- Acontece que eu não quero acabar nada com você.
A segurei pela cintura, e um choque térmico de seu corpo quente no meu ensopado e gelado fez com que eu arrepiasse da cabeça aos pés. Em um segundo, colei minha boca na sua, vorazmente, quase não educadamente, e esmurrou meu peito diversas vezes, mas logo em seguida, senti seus pulsos amolecerem e ela levou uma mão ao meu cabelo, e com a outra apertou minha cintura. Cambaleamos para dentro, e eu tremia de frio, mas gradativamente aquilo estava passando com o calor dela. Fechei a porta com o pé, mas o barulho da chuva não permitiu que ouvisse nenhum baque. Não havia espaço nem para um sopro de ar entre mim e , eu reagia a seu beijo de uma forma tão intensa, que não sei como tive fôlego para tanto. Meu casaco estava pesado, e ela o tirou, ainda não sei como, porque eu estava a pressionando contra a parede. tremeu quando a segurei com força pela cintura, com minhas mãos geladas, por baixo de sua camiseta. Ela entendeu o recado, entrelaçando suas pernas em minha cintura, enquanto beijava e mordia meu pescoço. Eu já não estava mais com frio, a cada mordida e respiração ofegante em meu pescoço, o calor em meu corpo só aumentava. Caminhamos até a sala, enquanto eu tirava sua camiseta e beijava seu colo. Abri os olhos, e dei de cara com dezenas de velas. A luz tinha acabado. Joguei-a no sofá, e então apoiei uma perna de cada lado do seu corpo, tirando minha camiseta branca que estava colada. mordeu o lábio, sorrindo maliciosa, e eu ri baixo, antes de a segurar e unir nossas bocas novamente. Ela arranhava minhas costas nuas devagar, arrepiando até o último fio de cabelo. Achou o botão da minha calça jeans, e abriu rapidamente, empurrando-a para baixo. Trilhei alguns beijos em seu pescoço e colo, até abrir seu sutiã branco sem esforço algum. Modéstia parte, sempre fui muito bom nisso. Envolvi um de seus seios com uma mão, enquanto beijava o outro, fazendo arquear as costas e gemer baixo.
- ... - ela sussurrou, e isso só me deixou mais louco.
Não tem coisa mais sexy que ouvir seu nome sussurrado numa situação como aquela. A beijei, enquanto abria sua calça jeans. Trocamos de posição, e se viu livre da minha calça, beijando minha barriga, próximo à virilha, e brincando com a barra da minha Calvin Klein. Arfei, já sentindo que estávamos demorando demais, e num movimento rápido, fiz com que ela deitasse no sofá, tirando a única peça de roupa que lhe restava, sua calcinha rosa, enquanto ela já empurrava minha boxer para baixo.
- Desculpe... - sussurrei, tímido, olhando em seus olhos. Ela parecia ainda mais bonita com a pouca luz. sorriu.
- Desculpe também, artilheiro.
Sorri, como sempre fazia ao ouvir aquele apelido. E logo éramos um só, e tudo que eu conseguia sentir era vontade de nunca mais parar com aquilo. Enquanto me movimentava e ouvia pequenos gemidos e sussurros, mal lembrei que tínhamos esquecido de um... Pequeno detalhe.
Mas foda-se, porque bem, aquela foi a melhor noite de todas.
Abracei-a pelas costas, no pequeno sofá, cobertos pela manta que ficava no encosto. estava de olhos fechados, respirando tranquilamente, e eu sorri abobado, acariciando seu cabelo.
- Eu amo você. - sussurrei, involuntariamente, mas para meu susto, ela acariciou minha mão, que estava em sua cintura.
- Eu também te amo. - respondeu, sorrindo da minha cara de "Ei, você estava dormindo".
Mas foda-se, de novo. Ela me amava. E como eu disse, aquela foi a noite mais foda de todas.

Um mês depois...

- Estou grávida.
Foi assim, sem mais nem menos, enquanto eu engolia meu sushi, que me deu a notícia. Seus olhos estavam desesperados tentando estudar minha reação. A primeira coisa que ela viu foi meu súbito engasgamento com a alga. Ela não perguntou se eu estava bem, porque convenhamos, estava meio óbvio. Empurrou um copo com água para mim, e eu tomei tudo de vez.
- Você o quê? - falei, depois de uns bons minutos estupefato.
pegou a bolsa Gucci que eu tinha lhe dado de aniversário dois dias antes. Achei que era uma brincadeira, estávamos festejando seus 23 anos e ela queria zoar com a minha cara. adora zoar com a minha cara, isso é um fato. Ela tirou um papel branco meio amarrotado de dentro, e me entregou.
- Eu fiz, tipo uns QUINZE testes de gravidez! Eu nem sei como produzi tanto xixi pra isso! Todos, TODOS deram positivo! Então eu fui em um laboratório fazer o teste, talvez tudo estivesse muito errado, mas não estava, o médico disse que...
Eu não estava entendendo absolutamente nada do que dizia. Parecia que ela estava falando em outra língua. Meus olhos estavam focados na minúscula palavra “Positivo”, escrito ali.
- , fala alguma coisa, por favor! - ela disse, com a voz chorosa. - Eu não queria, mas nós nos descuidamos, não quero que você pense que...
- Isso não é uma brincadeira? - disse baixo, e ela negou.
MEU DEUS! MEU DEUS! MEU DEUS!
- Eu preciso dar uma volta.
Deixei para trás, com uma cara de partir o coração. Eu precisava digerir aquela informação, e com ali era impossível. Porra, estávamos juntos há seis meses! Como fomos deixar isso...? Cara, UM FILHO! Eu nunca pensei em ter filhos, bom, pelo menos, não agora. E do nada, entre um sushi e um sashimi, minha vida vira de pernas para o ar dessa forma?
Valeu aí, hein, Deus?
Dei uma volta pelo quarteirão, o vento gelado cortava meu rosto. A primeira coisa que um cara, na minha posição (jogador de futebol, rico e gostoso) faria, era pedir um teste de paternidade ou coisa assim. Mas eu não precisava daquilo. Porque no fundo, eu tinha certeza que aquele bebê era meu. não faria uma coisa dessas. Ela não era uma Maria Chuteira, era minha... Minha , entendem? Sentei em um banco, escondendo o rosto com as mãos, e quando levantei o olhar, vi uma loja de roupas para bebês. Meu estômago revirou, minhas mãos tremeram, e eu atravessei a rua correndo, encarando um pequeno par de chuteiras Nike que estava na vitrine.
Meu coração começou a bater descompassado. Estava na Covent, e sabia para onde queria ir. Corri, com um sorriso idiota no rosto.
EU IRIA SER PAI!

Abri a porta e estava encarando um copo vazio como se aquilo fosse muito interessante. Ela teve um sobressalto quando me aproximei, seus olhos estavam vermelhos, e eu não olhei pra eles. A puxei e beijei, ajoelhando para meus olhos ficarem da altura dos seus, já que ela estava sentada.
- Eu vou ser pai! - disse, com um sorriso retardado no rosto. sorriu, sem humor.
- Você não está feliz com isso.
- Claro que estou! - protestei, segurando seu rosto com as mãos. - Porque eu te amo, e tenho certeza que nosso bebê vai ser a coisa mais linda do mundo, e nós vamos ser pais babões e idiotas!
sorriu pela primeira vez, deixando uma lágrima escorrer.
- Você está bêbado? - ela riu quando eu neguei. - Ah, ! - me abraçou com força, derrubando algumas lágrimas em meu pescoço. - Eu sei que nós não tínhamos isso em mente, mas eu fico tão feliz que você...
- Casa comigo? - abri uma caixinha preta da Tiffanys e arregalou os olhos, quase pulando pra trás.
- O QUÊ?
- Eu amo você. Você me ama...
- Somos uma família feliz? - ela gargalhou, finalizando a musiquinha do Barney. - , você não precisa casar comigo só porque eu estou grávida!
- Eu quero casar com você porque você é a mulher da minha vida, não porque vamos ser pais!
Ela riu, fechando a caixinha e me beijando.
- Até ontem isso não estava nos seus planos... - sussurrou, e eu ia protestar, mas ela me beijou novamente. - Muito menos nos meus. Quando estivermos prontos pra casar, você me dá isso de novo.
Respirei fundo, meio convencido de que ela tinha razão. Então a beijei.
- Mas você vem morar comigo.
- Isso eu posso fazer. - ela riu, acariciando meus cabelos. - Obrigada, artilheiro. Eu realmente amo você.

Quatro meses depois...

- É isso aí time! Falta uma semana, quero todo mundo super focado, é a final da UEFA! - nosso técnico disse, empolgado, e todos soltaram gritinhos meio afeminados demais.
Eu não podia estar mais feliz. tinha se mudado para minha casa, estávamos super idiotas com a gravidez, meu time estava na final da UEFA, estava tudo tão... Perfeito! - ok, eu tinha prometido parar de bichisse, me perdoem. Sabe quando não dá pra ficar melhor?
Ah, claro que dá.
- Alô! - atendi o celular, saindo do vestiário com Terry e .
- AMOR! - gritou tão alto que Terry tirou um dos fones de seu iPOD e riu. - É UMA MENINA! É A NOSSA NALLA!
- COMO É? - gritei de volta, com um sorriso maior que a cara.
- Acabei de sair da consulta! Nós vamos ter nossa menininha, ah, vou chorar! - ela disse eu sorri abobalhado.
- Eu disse que ia ser Nalla! - graças a Deus, muito melhor que Simba. - Você me deve um sorvete!
riu.
- Estou indo para o mercado comprar e espero você em casa!
- Vou voar até aí! Beijos, linda. Amo você.
Quando desliguei o telefone, gargalhava.
- Beijos, linda... - ele me imitou e eu lhe dei um soco no ombro, de brincadeira, e abracei Terry pela cintura.
- É UMA MENINA, CARA!

Quando cheguei em casa, abracei com tanta força que eu não sei como a barriga não foi parar do outro lado. Ela já era maravilhosa, mas grávida parecia algo de outro mundo de tão bonita. E porra, era nossa menininha! Com olhos grandes e , de preferência! Comemos sorvete no chão do quarto da neném, e ficamos lá, bobos e felizes, nos beijando e sonhando o resto da tarde.
- , vou usar seu notebook, tudo bem? - gritei para a porta do banheiro, onde ela tomava banho. - A bateria do meu morreu!
Ela riu.
- Acho que está ligado, amor! Só não fecha meu download de Glee!
Ri baixo. e seu vício por seriados.
Várias páginas estavam abertas, além do download. Uma delas era seu email. Estava pronto para clicar no “X” vermelho e fechá-lo, quando um título me chamou atenção.

From: Matt Hersey To:
“Sinto sua falta...”

O que você faria no meu lugar? Bom, é claro que você abriria. Eu já tinha ouvido aquele nome antes, e isso me deu um arrepio na espinha.

... Eu sei que eu não devia enviar esse email. Você deixou as coisas bem claras quando nos encontramos há algum tempo. Eu sei que eu fui estúpido, sei que disse coisas que não devia, e queria muito que você me perdoasse. Talvez pudéssemos nos encontrar novamente? Espero que me responda. Não agüento passar mais cinco meses sem notícias. Beijos, Matt.”

Estava com as mãos geladas. MATT HERSEY! Agora eu lembrava perfeitamente. Matt Hersey era o Ex-Namorado de . Eles namoraram por TRÊS ANOS! Eles andavam se vendo? não me disse nada! E eles se viram há... CINCO MESES.
A única coisa que me veio na cabeça foi a palavra Nalla.
Uma onda de pânico e de raiva se misturou, e eu invadi o banheiro, fazendo pular e derrubar a escova de cabelo.
- VOCÊ ANDA SE ENCONTRANDO COM SEU EX NAMORADO!
Berrei, e seus olhos se arregalaram.
- Você anda fuçando meu email? - estava calma. Se não tivesse uma mega barriga entre nós dois, eu não sei o que teria feito.
- Porra, ! Não muda de assunto! Você anda tendo encontros com seu ex namoradinho e não me fala nada? QUE TIPO DE IDIOTA VOCÊ PENSA QUE EU SOU?
- Cacete, , para de gritar! - ela disse, ainda num tom de voz consideravelmente normal. - Qual o problema de eu encontrar o Matt?
Ri, sarcástico.
- O problema? O problema é que você encontra com ele pelas minhas costas! Fala sério, , se não fosse nada, você teria me dito!
- ! - ela pareceu ofendida pela primeria vez. - Você está insinuando que eu...
- EU NÃO TÔ INSINUANDO PORRA NENHUMA! - acho que o morador do primeiro andar conseguiu ouvir essa. - Eu li, caralho! Além de tudo, você encontrou com ele há cinco meses? - ri, sentindo minhas mãos tremerem de raiva. - Eu confiei em você! Eu pedi pra você se casar comigo! Foi por isso que você não quis, né? Você não sabia se ainda amava aquele merda!
me olhou, com fúria no olhar.
- O que você quer dizer com isso?
- Eu quero dizer, ... - respirei fundo. - Eu quero dizer que eu confiei em você, mas depois dessa, acho que precisaremos de um teste de DNA para...
Parei no meio da frase. Meus olhos ardiam, minhas mãos tremiam, e acertou um tapa em meu rosto, que só aumentou meu ódio.
- Eu não acredito que você está falando isso! - ela finalmente deixou uma lágrima cair, enquanto andava para o quarto. - Você realmente acha que nosso bebê não é seu, ? VOCÊ ACHA?
- Eu não sei mais o que achar. - respirei fundo, fechando os olhos. riu, sem humor.
- Você quer que eu faça um teste de paternidade, certo? - ela perguntou, com a voz seca. Apenas assenti com a cabeça.
caminhou até o closet, pegando uma mala e tacando suas coisas dentro. De repente, o ódio deu lugar ao desespero.
- O que diabos você está fazendo?
Ela não me olhou.
- Eu encontrei com o Matt sim, ! Sabe por que? - Ela não esperou resposta. - Porque ele e A ESPOSA tiveram um bebê especial, sabe? Porque EU ESTUDEI sobre isso e ele precisava de aconselhamentos!
- E o que isso tem a ver com a saudade e... - novamente, fui interrompido.
- O Matt me falou para eu não me envolver com você! Porque você é famoso, jogador e tudo mais! E sabe o que eu fiz? - ela gargalhou, meio histérica. - Eu falei que você era diferente! Falei que você era tudo o que eu buscava e ele ficou bravo, nós discutimos e paramos de nos falar! É por isso que aquele email está lá, , não porque eu transei com meu ex enquanto estava com você, não porque esse bebê é dele! Porque a Nalla tem seu sangue! - ela me encarou de perto, chorando. - Mas só isso.
saiu em disparada com uma pequena mala em mãos. A segurei pelo braço, ainda na escada.
- Isso é sério? - minha voz era nula. Ela não respondeu.
Puta merda, eu estava fodido.
- , me desculpa, eu...
- Cala a boca, ! - ela gritou. - Esquece que eu existo, está bem? Aliás... Esqueça que NÓS DUAS existimos!
acariciou a barriga maternalmente, ainda chorando, e não consegui pará-la de forma alguma.

Flashback OFF - Reality ON

Nunca tinha me sentido tão mal quanto naquele dia. Parecia que o mundo tinha, literalmente, desabado na minha cabeça. não atendeu minhas ligações, não estava em sua antiga casa, e não consegui encontrá-la no colégio dia algum. Ela simplesmente tinha evaporado. Eu era um merda, me sentia a pior pessoa do mundo, e com razão. Eu teria ido embora se fosse ao contrário. Eu não a merecia. Mas porra, como eu precisava dela de volta! Como eu precisava daquele cheiro, daquela risada, daquele barrigão... De nosso bebê. Um sonho tão nosso que eu destruí com meia dúzia de palavras. QUE CARALHO! Anteontem Diana me disse que viajaria no dia da final da UEFA. Ela iria para algum lugar que não tinha dito. Não suportava mais viver em Londres. E eu faria o que? MERDA NENHUMA! Não podia simplesmente deixar o time de lado, por mais que quisesse isso com todas as minhas forças. Uma semana tinha se passado, e a dor parecia crescente, não dava mais espaço para nada.

Wembley Stadium - Final da UEFA Chelsea x Real Madrid
Tudo começou aos oito minutos do primeiro tempo, quando tomamos nosso primeiro gol. A culpa não foi minha, mas confesso que nem vi esse gol saindo. Não estava com cabeça para aquilo. Quase gritei na cara do treinador quando ele disse a seguinte frase:
- , não misture a merda da sua vida pessoal com futebol!
Ok, a merda da minha vida pessoal sempre afetou meu futebol. Sei que não devia ser assim, mas nunca soube separar as coisas. Talvez eu devesse esquecer a carreira de vez.
A torcida gritava meu nome, como sempre, mas jogada a jogada, eu podia sentir a ira dos milhares de olhares que me fitavam. Eu perdi quase todas as bolas que me passaram. O ápice foi quando, na cara do gol, recebi um passe de Terry e chutei no colo do goleiro do Real, Casillas. Ele pegou a bola com tanta facilidade que chegou a ser ridículo.
Eu não merecia aquela braçadeira de capitão. Honestamente, eu ainda estava de ressaca, e não conseguia fazer porra nenhuma que prestasse.
O Real marcou outro gol, mas eu estava longe o suficiente para reclamar sozinho.
Dois a zero com aproveitamento menos cem da minha parte.
me xingara. Ele nunca fez isso, em todos esses anos que jogamos juntos.
A torcida agora vaiava meu nome.

“Péssimo jogo para o Chelsea! Onde está o nessa partida? Sua cabeça deve estar em outro lugar!”

O apito do juiz foi de certa forma, um puta alívio. Levar esporro era muito melhor do que correr que nem barata tonta sem saber o que fazer.
Eu estava fodido.
Quando cruzei o corredor, ainda olhei para os cantos, numa esperança idiota de repetir seu feito como na primeira vez em que nos beijamos. Mas ela não estava lá. Claro que não estava.

Os gritos foram para todos os lados. Aparentemente eu não era o único que estava com a batata assando ali. Bom, a minha estava pior, porque além de agüentar o treinador, ainda tive meia dúzia dos mais chegados me xingando. Que beleza. Perdi minha garota e provavelmente perderia a UEFA dali a alguns minutos. Amo minha vida.
Sentei em um banco, tomando água e encarando os pés. Alguns dos caras estavam em volta de mim. Ouvi um barulho vindo da porta, os seguranças diziam algo que eu não conseguia entender, e vi um furacão entrar no vestiário. Primeiro, entrou uma barriga, depois... ?
Levantei, tentando caminhar até ela, mas foi mais rápida, chegando perto de mim com meia dúzia de seguranças estressados e vinte e três jogadores, mais uma comissão técnica inteira de curiosos.
- ? Meu Deus, eu pensei que você estivesse a caminho de...
- Portugal? Sim, eu estava. - ela disse com uma sobrancelha erguida, enquanto eu a encarava, crente de que ainda estava bêbado e sonhando. - Estava no aeroporto, mas a Nalla ficou com fome, então fomos até uma Starbucks e eu comecei a assistir essa porcaria de jogo!
Não pude deixar de sorrir idiotamente do plural que ela usava. Não consegui abrir a boca, de novo.
- - chacoalhou a cabeça de um lado para o outro. - Você é uma porcaria sem mim.
Deixei meu queixo cair, e ouvi algumas risadas e algumas vozes concordando ao nosso redor.
- Como é? - foi só o que consegui dizer. Ela riu.
- Por favor, , você costumava ser bom nisso! Costumava ser meu artilheiro... E nesse primeiro tempo parecia uma... Uma bailarina! Eu jogaria melhor que você, mesmo grávida de cinco meses! - riu, assim como todos os presentes.
Fiz cara feia para que se afastassem. Não adiantou muita coisa, mas pelo menos andaram uns cinco passos. Me aproximei de , um pouco inseguro por tudo o que tinha acontecido, e também porque eu estava meio nojento e suado.
- , me desculpe, por favor! Eu sei que eu fui um idiota! Eu mereci tudo isso, mas eu não consigo... - ela sorriu, fazendo sinal de silêncio. Dessa vez, na minha boca.
- Shhhh. Você realmente fala demais. Com quem aprendeu isso? - ela riu. - Você foi um idiota. E eu sou uma idiota, porque simplesmente não consigo não amar esse idiota.
passou os braços em meu pescoço, e eu a abracei com força, sentindo sua boca tocar na minha e tornar tudo aquilo real. Era ela. Era minha garota, ela estava ali, ela não tinha me esquecido. Alguns gritinhos afeminados e palmas tomaram conta do vestiário, e nós paramos de nos beijar, rindo.
- Muito bem, time, isso foi muito bom! - a voz era do treinador. - Vamos pro corredor. , cinco minutos. Agora você não tem mais desculpas.
Ouvi alguns “Aeee ” e mais algumas putarias, enquanto eles saiam. sorriu, me dando um selinho.
- Você me perdoa? - perguntei, acariciando sua barriga.
- Só vou te perdoar se você voltar a jogar como antigamente. Sabe, , é vergonhoso ser a garota de um perna de pau... - gargalhou, e eu a beijei novamente.
- Eu não mereço você. - disse, abobalhado e bicha. - Eu... Quero tanto que você seja minha pra sempre.
As palavras simplesmente saíram. sorriu de canto.
- Casa comigo? - perguntei. Porra, coração, tem uma escola de samba aí dentro?
- Se eu disser que sim, nós teremos o casamento dos meus sonhos? - riu, marota, e eu a acompanhei.
- Com toda certeza.
- Então tudo bem, artilheiro. Eu quero ser sua esposa. - sorriu largamente, e eu a abracei, rodando no ar, enquanto ela dava alguns gritinhos agudos que me fizeram rir.
A segurei pela cintura, beijei sua barriga, depois seu pescoço, até chegar em sua boca. Eu era o cara mais feliz do mundo.
- Eu amo você.
- Eu também te amo, artilheiro. - ela sorriu, depois piscou. - Agora vai lá, e mostra como se faz.

Naquele dia o Chelsea bateu o Real Madrid com uma virada espetacular de 3x2...
...Dois gols, é claro, ficaram por conta do artilheiro do campeonato, .

Um mês depois, e viajaram para Las Vegas. estava muito nervoso na pequena capela branca, mas ficou radiante ao ver sua garota - que vestia uma camisa do Manchester e jeans - adentrar com seu barrigão e um bouquet de lírios. Ele vestia a camisa do Chelsea. A cerimônia dos sonhos de foi simples, mas, de acordo com o pastor Elvis Presley, uma das mais bonitas que já celebrara.

Três meses depois a pequena Nalla nasceu, em Londres.
Ela é uma garota adorável e de grandes olhos . Seu desenho preferido é O Rei Leão, e ela tem uma queda por vegetais, mas odeia filé de avestruz.
Com apenas dois anos, cansada do interrogatório dos pais sobre sua preferência de time, Manchester ou Chelsea, a pequena gritou com toda a força de seus pulmões a palavra “LIVERPOOL!”
e consideraram uma possível troca na maternidade, mas depois concluíram que, uma criança tão perturbada daquelas só podia mesmo ser filha deles.

“Quando não se está apaixonado, não se está vivo”.
(Elvis Presley - O verdadeiro)




FIM



Nota da autora: Hello, amores, como estão? Bom, eu espero que tenham gostado da fic, porque oi, COMO ME DEU TRABALHO! haha Não nasci pra shortfic, mas achei essa fofa... Espero que tenha tido uma boa pontuação aqui no challenge! Dêem suas opiniões, ok? Comentem muito muito pra Cah ficar feliz, e sei lá, assistam os campeonatos gringos e babem muito nas pernas dos jogadores! HAHA Ah, e um beijo pra @dugrey e pra @_LiRocha que leram a fic com o meu nome e por email, coitadas. Essas merecem. HAHAHAHA Vejo vocês nas outras fictions, beijos docinhos - OOOOPS, errei de fic. Beijos, amorzinhos! Cah <3

Outras fics da Autora:
~ Summertime [McFly - Andamento]
~ Beautiful, Dirty, Rich! [Restritas - Andamento]
~ Never gonna be Alone [Conto de Natal - Finalizado ] :)




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