Duas semanas para a páscoa.
O que mais eu poderia pedir?
Eu já sei: um daqueles ovos gigantes da Nestlé. Ou então aquele enorme da Ferrero Rocher.
Qualquer coisa que não seja meio-amarga. Alias, como alguém consegue comer aquilo? É amargo demais, e a graça do chocolate é ser doce. Pode falar o que quiser. Trauma de criança.
Estava tentando explicar para a verdadeira graça de um chocolate ao leite quando recebo uma mensagem de Kevin, meu ex namorado.
Quantas vezes vou ter que pedir para ele me esquecer. Que inferno. Voltei a explicar minha teoria para enquanto não saia do banheiro, até que a princesa dos espelhos aparece do nada sentada ao meu lado no banco. Dei um grito que a fez gargalhar. Odeio isso, quando estão rindo de mim e não comigo. Consegue me deixar mais irritada do que ver algum filme daquele ator egocêntrico que minhas melhores amigas (vulgo: e insistem em pagar para assistir.
-Chega gente. Já deu! – insistia enquanto andávamos em direção de alguma loja de roupas
-Ah, pára . Você sabe muito bem que dar sustos em você é divertido. – falava em meio de gargalhadas
-Há há há. Estou morrendo de rir. – fiz careta e elas danaram a rir mais ainda – Serio. Vão achar que vocês são duas retardadas. Ah não esperem. – elas pararam para prestar atenção – Vocês já são. – desta vez quem riu fui eu sendo esmagadas pelas duas numa espécie de Sanduíche de . Não sei porque isso. Que mania insuportável de me irritar.
De repente paramos em frente a uma vitrine de uma loja ao estilo das Lojas Americanas onde dizia "Não passe a páscoa sozinha. Peça mais que chocolate ao coelhinho da páscoa, peça uma companhia. Encontro nesta sexta-feira." Ganhar chocolate de um estranho pode ser uma experiência divertida. Quem sabe. Ameacei entrar na loja e logo fui puxada para fora por .
-Aonde a senhorita pensa que vai, Dona ? – indagou
-Me inscrever nisso. – apontei para o aviso – Eu não vou passar a páscoa sozinha de novo. – recebi um olhar 43 de e
-A gente vai ficar no apê, juntas esse ano. Não há motivo para... – cortei - Nem vem. Vocês duas não vão ficar presas no nosso apartamento por minha causa. Vocês têm seus namorados. A páscoa é como o dia dos namorados em abril. Ela foi feita para ser comemorada com um namorado. Ganhar bastante chocolate dele e ser feliz. Agora me deixem! – me desvencilhei das duas e entrei na loja. Lá eu me informei melhor sobre o tal comunicado. Seria uma espécie de programa para juntar casais que fossem compatíveis. Você teria que responder um pequeno questionário, deixar dados pessoais, etc, essas coisas todas. Fiz tudo isso, e quando estava no final, escutei dois gritos femininos vindos da sessão de dvd’s. sim, eram minhas duas amigas esperneando por causa do novo filme de . Um filme que elas já viram trilhões de vezes, e eu sei disso por que uma dessas vezes eu estava junto.
-, você não vai acreditar! Amor em Cifras chegou em dvd. Eu tenho que comprar! – gritou – , pega o cartão. Vamos levar nosso Bombom para casa!
-Eu não acredito. Devo estar sonhando! – dizia enquanto revirava a bolsa a fim de encontrar o cartão de crédito. Revirei os olhos e voltei minha atenção a moça do balcão. O que eu menos queria saber era sobre agora. Aproveitei para perguntar se meu livro já havia chegado na loja.
Como eu disse antes, essa era uma loja onde vendia de tudo. Uma espécie de loja de conveniência bem maior, e estilosa, pois estava no shopping. E sim, eu era escritora. Tinha apenas dois livros publicados, todos graças aos meus surtos de bipolaridade.
Segundo a minha analista, eu deveria extravasar esses surtos em alguma coisa. E eu escolhi a escrita por sempre ter uma afinidade com essa área.
Voltando para a atendente ela me disse que não havia chegado, mas que estava por vir. Comemorei externamente apenas com um sorriso, mas por dentro estava pulando, girando, dando cambalhotas...enfim, todas as estripulias possíveis.
Catei as duas viciadas no ator egocêntrico e voltamos para nossa casa. , e eu dividíamos um apartamento médio. Nada de muito luxuoso, mas não era nada precário. Éramos três, tínhamos uma condição favorável, dava para sobreviver muito bem aqui. Então, cada uma tinha seu quarto, cada uma tinha sua bagunça.
Corri para meu quarto trocar de roupa, já não agüentava mais aquele salto rosa de . Aproveitei para ligar o computador. Estava na hora de checar meu email. Lá me deparei com um email de um estranho. Porem fui impedida de abri-lo pois gritava na sala parecendo uma maluca. Sai correndo do meu quarto e me deparei com conversando com minha mãe.
-Sim senhora . Eu vou falar com ela. Bem ela chegou aqui agora. Quer conversar com ela? – me olhou e pude notar que seus olhos estavam cheios de lágrimas – Um momento – ela tirou o fone e colocou a mão no fone tentando abafar seu comentário – é sobre seu pai. – ela me entregou o telefone.
-Oi mãe. Fala.
-. Seu pai sumiu de novo. – minha respiração falhou. – Dylan está procurando seu pai com o Lucas. Se você puder vir para cá, eu estou sozinha. Sua irmã está viajando...
-Mãe, eu estou a caminho. Liga pro Dylan e avisa que estou indo ajudar. – desliguei o telefone correndo pro quarto e vestindo algo decente. Com certeza e iriam comigo.
Meu pai tinha Mal de Alzheimer, e vira e mexe, ele decidia sair sozinho, mas nunca se lembrava o caminho de casa, acabando por ficar na casa de um desconhecido. Por causa disso eu acabei conhecendo a e o Kevin (meu ex namorado, urg). Desta vez, não seria diferente. Dylan era o filho caçula do primeiro casamento do meu pai. E Lucas, era meu sobrinho, que tinha quase a mesma idade que eu.
Sim, Dylan é bem mais velho. Ele deve ter uns trinta e nove, enquanto eu estou no meus míseros vinte aninhos recém completados.
Vamos voltar a questão meu pai.
Peguei um táxi o mais rápido que pude. e , como eu previ, estavam comigo. O taxista parecia um mexicano, se embolou todinho tentando falar com a gente. O que me fazia querer gargalhar.
Cheguei a casa de minha mãe em pouco tempo. Ela estava na varanda me esperando. Paguei a corrida e fui ao se encontro.
-Mãe. O que houve exatamente? – disse terminando um abraço.
-Eu não sei, minha filha. Estava dormindo com seu pai, a tarde, e quando acordei a pouco tempo, ele não estava na cama ou em alguma outra parte da casa. Liguei para Dylan o mais rápido que pude.
-Eu vou ligar para eles e depois vou atrás de papai. Ele não pode ter ido muito longe.
-Faça isso. – ela continuou a cumprimentar e .
Liguei para o meu irmão correndo, e acabou caindo na caixa postal todas as vezes. O celular do filho dele, a mesma coisa. Não sei para que um telefone celular se vive desligado ou fora de área. Arg, que raiva. Isso tudo me deixa bastante irritada.
-Conseguiu? – perguntou
-Não. Dylan tem celular para gastar com não sei o que. Nunca dá para falar com ele. Quando ele aparecer vai ouvir um monte. – disse sentando na mureta no meio de minhas amigas
-Ih, alguém ta irritadinha de mais!
-Fica quieta . Quer saber? – levantei – Não estou nem ai. Vou achar o meu pai sem Dylan! Vocês duas vem comigo? – elas se entre olharam e assentiram
Uma das coisas pela qual adorava a casa de meus pais, era que se situava num gigante condomínio onde astros famosos moravam. Um dia cheguei a ver a Katy Perry andando de bicicleta pela minha (antiga, pois não moro mais lá) rua. Sentiu a emoção? Katy andado de bicicleta pela sua rua?
Mas tudo isso tem a parte ruim, por ser um condomínio badalado, era enorme. Então teríamos que nos separar. Porém, eu conheço as duas dondocas com que ando, e estava de noite, elas nunca iriam se separar e procurar pistas. Resumindo: uma por todas e todas por uma.
Procuramos feito loucas, até que chegamos em frente a uma enorme casa. Provavelmente algum famoso morava ali. sentou na calçada, parecendo uma bêbada. , estava bêbada, com o que, eu não sei, mas que ela estava, estava. A menina cambaleou até a lixeira e a derrubou fazendo um estardalhaço. O dono da casa apareceu na varanda, e pela expressão que dava para enxergar em seu rosto iluminado parcialmente pela luz, não gostou muito. Ele caminhou até o portão, e eu levei um susto quando vi quem era. se inclinou para ver e berrou. se recompôs e berrou juntou com a outra. Eu só consegui rolar os olhos.
-Boa noite. O que três damas estão fazendo em frente a minha casa a essa hora da noite e hm...derrubando meu lixo? – ele perguntou
-Ai meu Deus! – pos a mão na boca em sinal de surpresa – Você é o..é...o..eu to sonhando?
- ! – berrou – Eu não acredito! – começou a dar pulinhos e eu – mais uma vez – rolei os olhos.
-É. Acho que vocês sabem quem eu sou. – ele estendeu a mão – Prazer.
-. – estendeu a mão e antes de apertá-la, beijou-a . Ridículo!
-. – a coisa se repetiu. Eu já estava cansada daquilo tudo, e precisava encontrar meu pai. Já estava ficando bem tarde.
-Só falta você. Seu nome é...
-. .
-Prazer. – ele estendeu a mão, mas eu continuei na mesma posição, deixando-o no vácuo. – Acho que conheço seu irmão. É o Dylan, né? – O que? Ele conhecia o Dylan?
-É. Desculpa se estou sendo grossa. Meu pai sumiu e eu estou procurando-o.
-Ah, sim. Entendo. Então prazer meninas. Mas antes, seu pai é baixo, magrinho e tem um sinal atrás da orelha? – gelei. Meu pai não poderia estar ali. – Porque eu o encontrei perdido aqui em frente. – ele deu um sorriso de canto de boca – Ele tem Alzheimer?
-Sim. É ele é o meu pai. – abaixei minha cabeça
-Ufa. Achamos. – suspirou
-, é melhor avisar a sua mãe e o Dylan. – assenti e pedi licença para ligar para minha mãe, já que tentar ligar para Dylan seria perda de tempo.
Depois disso, nos convidou para entrar, afinal ainda tinha que pegar meu pai.
A casa dele era tipo, cinco vezes maior que a dos meus pais. E olha que a deles já era enorme. Entrando na sala de estar, encontrei um senhor enrolado numa manta assistindo desenhos animados. Pelo físico idoso, notei que era meu pai. Corri para abraçá-lo.
-Pai?
-! – ele me abraçou – Por que demorou?
-Pai, o senhor sabe onde está?
-Não. Mas esse rapaz fez a gentileza de me abrigar. – ele sorriu para . Até meu pai gostava dele. Como?
-Não foi nada. Sabe , eu até tentei ligar para sua casa, mas seu pai não se lembrava do número.
-De qualquer jeito, obrigada. – tentei sorrir sem parecer forçada, o que definitivamente não aconteceu, pois e , antes hipnotizadas com o astro, estavam segurando o riso. – Vamos pai. – Senti meu celular vibrar na calça
-, porque sua calça está vibrando? – papai perguntou
-Dylan. – disse olhando no visor – Alô. Dylan eu estou na Rua C. eu achei o papai. Você está de carro? Então ta. – desliguei – Dylan está vindo. Daqui a pouco ele chega. – disse
-Então vocês podem provar os muffins maravilhosos de Marta. – comemorou e fez sinal para que todos se sentassem – Marta! – ele berrou e uma senhora de idade apareceu de avental – Prepare um pouco daqueles de seus muffins, por favor.
-Pode deixar. – a senhora respondeu e voltou para onde estava
-Bem, se vocês não se importam, eu prefiro esperar lá fora. – disse saindo da sala. Sei que pode ter parecido falta de educação, mas eu não suporto esse cara. E ficar no mesmo ambiente que ele não é muito divertido.
Na varanda batia um ventinho aconchegante. Dali dava para ver toda e rua, então ver se Dylan estava chegando seria uma desculpa válida.
Passando meus olhos pela extensão do jardim de vi um pequeno espaço tomados por tulipas. Logo me lembrei de quando era pequena, e meu pai ainda não tinha descoberto a doença, ele era jardineiro. Senti algumas lágrimas querendo escorregar, mas me contive. A porta abriu revelando com um sorriso e uma bandeja com alguns muffins.
-Olá. Eu pensei em trazer esses muffins. Você poderia estar com fome.
-Obrigada. Mas eu não quero. – disse deixando o sem graça. Voltei minha atenção a rua quando vi um mustang parar em frente a casa. Aquele mustang tinha história. – Meu irmão chegou. Obrigada por tudo. – entrei e chamei minhas amigas e meu pai. Saí sem me despedir muito e entrei no carro de Dylan. Passei o caminho apenas lembrando do sorriso de iluminado pela lua. Como seus olhos verdes reluziam. O que está acontecendo comigo? Balancei a cabeça para espantar isso tudo. Eu teria um encontro na sexta com Deus sabe quem e teria que estar preparada.
Dylan deixou papai em casa e disse que voltaria depois. Ele me deixou em casa com as duas malucas que insisto chamar de amigas. Agradeci e disse que amanhã o encontraria na casa de mamãe. Minha mãe até poderia ser madrasta dele, mas eles eram muito unidos. E quando a mãe dos meus irmãos mais velhos, filhos do primeiro casamento, faleceu, minha mãe que cuidou deles, fortalecendo a família. Por isso mesmo sendo apenas meu meio-irmão ele era muito colado a mim e minha irmã.
Subimos de elevador, porque ninguém tinha perna para subir de escada. Entrando no apartamento, capotei no sofá, de roupa e tudo mais.
Acordei sentindo um cheiro bom de café. Aposto que era a , não sabe fazer essas coisas. Fui sendo carregada pelo cheiro hipnotizante do café até a cozinha, onde minha especulação estava certa. estava sentada na bancada comendo torrada e bebendo café. estava...onde estava?
-Cadê a ? – perguntei bêbada de sono
-Bom dia também serve. – ela disse com a boca cheia de torrada – Está no quarto com dor de cabeça.
-Hm...vou para a casa de minha mãe. – disse sentando ao seu lado e pegando uma de suas torradas fazendo-a soltar um "Ei".
Depois de tomar um café, fui até o banheiro, onde tomei um banho demorado. Coloquei uma calça jeans uma blusinha preta e um bolero. Calcei minhas sapatilhas vinho e me despedi das meninas. Deixei um prédio com preguiça, pois o tempo estava nublado, perfeito para se passar debaixo das cobertas. Porém eu sou uma ótima filha e meu pai precisa de mim.
Era imprensão minha ou os taxistas resolveram ficar em casa? Não passava um táxi, e quando passavam estavam em uso. Que sorte a minha. Senti meu celular vibrar. Mais uma mensagem de Kevin.
"Vamos passar a páscoa juntos ou sua bipolaridade vai nos atrapalhar? Você sabe que fomos feitos uma para o outro.
Kevin"
Não me agüentei. Quem ele pensa que é para falar assim comigo? E além do mais o bipolar da relação era ele. Até parece que eu não faria nada. simplesmente respondi.
"Querido, sinto muito. Minha bipolaridade está mais forte do que nunca.
Já tenho planos e companhia.
Xoxo "
Fechei o celular batendo com força. Logo depois recebo uma buzinada vindo de um conversível prata. Que ridículo. Eu tenho cara de prostituta?
Quando eu olhei de novo, não acreditei quem era. estava me seguindo? Só podia.
-Hey . Esperando um táxi? – ele disse abaixando os óculos. Para que óculos de sol se estava nublado.
-Sim, mas parece que todos os taxistas sumiram.
-Está indo para onde?
-Casa dos meus pais.
-Lá no condomínio? – assenti – Entra ai. Eu te dou uma carona.
-Não precisa...tem um vindo ali e ...
-Eu não aceito um não como resposta. – me dei como vencida e entrei no carro dele. Notei que no banco de trás estava cheio de sacolas da Cacau Show. Ele deve ter percebi pois riu sem graça e comentou – Sou chocólatra. – ele deu de ombros
Eu fingi que me importava. Podem até achar que eu sou ridícula, afinal estou ganhando uma carona de um dos atores mais famosos do mundo, mas eu não gosto dele. Ele é igual aos outros: egocêntricos. Tudo tem que girar em torno do próprio umbigo deles senão não está bom.
No carro um silencio se instalou. Para mim foi bom. Não gosto dele mesmo, então whatever.
Já para ele, parecia um incomodo. ligou o rádio e olhou para mim sorrindo.
Será que ele só sabia sorrir? Isso estava me deixando enjoada. Soava tão falso.
Chegamos no condomínio e dei graças a Deus de meus pais morarem logo na primeira rua.
Antes de sair ouvi me chamar.
-Hm...quando você vai aparecer aqui de novo?
-Isso foi uma cantada? –arqueei a sobrancelha
-Se eu disser que foi posso te levar para almoçar? – soltei um risinho. Ele estava me cantando mesmo.
-Um dia a gente se esbarra . – disse abrindo o portão.
Fiquei pensando sobre o que eu havia acabado de escutar. "Se eu disser que foi posso te levar para jantar?". A frase ecoava na minha cabeça, me fazendo lembrar de seus olhos verdes me fitando, e de seu sorriso me encantando.
Chacoalhei minha cabeça a fim de esquecer tudo isso, afinal eu estava ali por causa de meu pai.
A semana se arrastou até a sexta feira. Nem Kevin nem me perturbaram. Voltando para sexta: aquele sim seria o melhor dia da minha vida! Encontraria um ser desconhecido, e provavelmente ganharia um docinho dele. Ah...poderia ser mais perfeito?
-Claro, e se ele for um nerd feioso? Arg – disse fazendo careta. As vezes achava que ela lia meus pensamentos
-O que você tem contra os nerd’s? – indagou lembrando que Antony, seu namorado era um daqueles nerd’s bonitões.
-Nada , porque o Antony é exceção. Mas se o escolhido da for um feioso eu quero ver a reação dela. – disse
-Ela não vai ser, até porque eu não sou tão feia assim. E a moça do balcão disse que eram os casais compatíveis. – peguei de minha bolsa o número 20 que veio agarrado ao meu piercing – Olha achei o meu piercing! – rolou os olhos, se eu tinha um, a culpa era dela.
-Por que não coloca ele? Vai aparecer com um rombo no nariz? – perguntou e eu fiz uma careta
-Porque não quero que achem que eu sou uma roqueira. Se eu o meu par for um granfino? Ele não vai querer sair com uma roqueira. E eu não estou com um rombo no meu nariz.
-Aff. Deixa para lá. Vai logo, você vai se atrasar. – advertiu.
Depois de ouvir mais uma penca de avisos sobre sair com estranhos, dei uma checada no espelho da sala. Estava vestindo uma jeans preta, meu inseparável all star preto, uma blusa de manga cinza e um colete jeans com tachinhas que mais o meu piercing e o cabelo ondulado rebelde, me fazia parecer uma roqueira. Me despedi das duas malucas e parti rumo ao shopping.
Cheguei a loja e tive que mostrar identidade e o número qual encontraria o meu par. Enquanto não anunciaram "casal 20", foi até a sessão dos livros atrás do meu livro. Lá esbarrei com uma figura bem familiar com o um livro em mãos.
-? Que surpresa.
-Eu digo o mesmo. – ele me puxou para um abraço, foi quando notei que tinha algo preso em seu peito. – Outch.
-Você se machucou? – ele perguntou mexendo no número que estava preso em sua blusa social. – Estou esperando o meu par. – Fiquei estática quando ele tirou a mão do broche, revelando o nº 20. –Você está bem?
-Estou só que...-mexi na bolsa e peguei o meu broche – Acho que agora podemos almoçar. – mostrei o meu número 20. abriu um sorriso de orelha a orelha e pude jurar que vi seus lindos olhos verdes brilharem.
Antes que nos chamassem para as apresentações, fomos dizer que iríamos sair. Recebemos um sorriso da balconista ao estilo se deu bem, pegou o ator famoso, enquanto ela nos entregava a ficha um do outro. Mal ela sabe que aquilo seria tortura para mim.
me levou em um restaurante perto da loja, e começou a fazer perguntas para mim. Me senti uma presidiária com aquele interrogatório, e confesso, em muitos momentos, ele me fez rir.
-É serio. A gente passa maus bocados gravando as cenas.
-Não acredito. Não existem os dublês?
-Existem, mas existem os frescos também. Um dia eu te levo para conhecer o set. – ele pegou a minha ficha e começou a ler – Flor favorita: Tulipas...Por quê?
-Meu pai era jardineiro, antes de descobrir a doença. Eu sempre gostei de flores. A tulipa me conquistou de primeira.
-Eu gosto da flor de lótus.
-É a flor favorita dele. – abaixei a cabeça – Ele dizia ser uma flor capaz de se envolver com nosso espírito. Meu pai e suas idéias. – levantei a cabeça – Deixa para lá.
-Banda favorita: Paramore – ele me olhou – É. Percebe-se.
-O que? – fingi indignação – Eu pareço uma roqueira?
-É, parece sim. Eu não tinha percebido, você usa piercing.
-Eu tinha tirado.
-Você fica mais bonita com ele. – abaixei a cabeça com vergonha – E com vergonha fica mais ainda.
-Pára .
-‘Ta bom. Parei. Vamos continuar, cor favorita:azul. A minha também. Comida favorita...- o garçom apareceu com dois pratos de macarronada. olhou em meus olhos que brilhavam ao ver a comida – Acho que acertei.
-Na mosca!
O jantar se passou entre risadas e palhaçadas de . Ele se mostrou um cara bem diferente do que eu pensei que fosse, brincalhão, gentil...
As aparências me enganam, tenho que anotar isso num caderno.
Depois do restaurante, ele me levou em uma sorveteria. Realmente ele estava acumulando pontos comigo.
-Vai querer de que? – ele me perguntou olhando para o painel com inúmeros sabores
-Ai ...aqui tem inúmeros sabores...isso é tortura! – fiz uma cara de coitada
-Também acho. Então me vê dois sabores especiais. – ele pediu para a atendente que logo após nos entregou dois potinhos com duas bolas de um sorvete roxo
-Que estranho. – disse ao receber o meu, dei a primeira colherada – É um estranho bom.
-É verdade. Venho aqui quando tenho tempo. Sempre peço um diferente...gosto das coisas que me surpreendam.
-Por isso o encontro de casais para a páscoa? – indaguei
-Sim. Eu até poderia arranjar uma atriz famosa para passar a páscoa, mas desta vez eu quis fazer algo diferente. Queria chamar uma pessoa especial. – ele olhou para mim e pela primeira vez me senti atraída por ele – E você? O que te levou ao encontro de casais para páscoa?
-Eu...eu cansei de ficar sozinha.
-Mas porque com um desconhecido?
-O meu último namoro foi um fracasso total. Ele era um dos meus melhores amigos. E eu o conheci do mesmo jeito que eu te conheci.
-Por causa do seu pai?
-Sim. Na verdade ele e a . – ele fez uma cara de pensativo – a morena maluca que estava comigo na terça.
-Ah sim. Você conheceu esses dois por causa do sumiço de seu pai?
-É. Mas no caso deles, eu ainda estava no ensino médio. Ai a gente ficou amigo e começou a namorar. Terminamos tem uns dois meses. – terminei com o meu sorvete – E sua vida amorosa? Você não fala nada sobre você.
-Eu sou famoso. Os tablóides falam por mim. A menos que você não...- eu balancei a cabeça negativamente fazendo-o rir – Não é uma daquelas fãs?
-Não. Diferente das minhas amigas. Acho que você percebeu.
-É, eu percebi. – gargalhamos juntos ao lembrar da euforia de e Lu no dia que conhecemos – Bem, neste caso, eu estou solteiro a um tempinho. Terminei com a há três meses.
-Você terminou com a
-Ela é meio metidinha, não faz o meu estilo...eu gosto das inteligentes e que não ligue muito para a fama. Tipo a Avril Lavigne. Mas essa já é compromissada então... – eu comecei a rir da cara de indignado que ele fez – Mentira, agora eu tenho em mente namorar uma anônima. Dá menos trabalho.
-E quem você acha que será a sortuda? – ele se assustou um pouco com a pergunta – Assim posso colocar ou na fila.
-Sinto muito, mas eu quero alguém que não seja tão...eufórico. – gargalhamos mais uma vez – Então aonde quer ir agora? – Ele perguntou se levantando e me estendendo sua mão – Antes que fãs loucas apareçam aqui me perguntando se você é minha namorada.
-Não se preocupe. – ele me puxou com força que eu acabei ficando próxima de mais dele , podendo sentir sua respiração. Então fitei seus olhos verdes, sugestivos, e corri meu olhar até seus lábios, delicadamente desenhados. Parecia ter sido desenhado por anjos. – Eu...eu...acho melhor a gente se separar. Tem gente olhando. – abaixei minha cabeça roxa de vergonha.
-Hm...desculpe. Vem vou te levar para o meu lugar favorito nesse shopping.
-Uma loja de doces?- chutei
-Não uma loja de doces. Mas uma de chocolates. – meus olhos brilharam e involuntariamente me senti íntima ao ponto de dar minha mão a , que por impulso entrelaçou nossos dedos e me olhou sorridente. Retribui.
Aquela loja é o paraíso. Tem de todos os tipos de chocolate:ao leite, amargo, meio-amargo (arg), com castanhas, com amendoim, com chocolate branco...se eu continuar vão ser páginas.
já era conhecido por comprar ali sempre. Por que? Ele era um chocólatra como eu, só que tira a parte do meio-amargo...
Estava conversando com uma das atendentes, que se eu não me engano se chamava Eliza, quando fui surpreendida por alguém me abraçando pela cintura. Me inclinei para ver e enfiou um chocolate em minha boca, me deixando sem reação. Pelo menos era bom. Bom é pouco. Era o melhor que eu já havia provado.
-O que você achou? – ele perguntou lambendo os dedos
-Hm... - estalei a língua – Maravilhoso.
-Ótimo! Eu vou ter que fazer um comercial desse bombom para páscoa e você vai estar nele. – Oi? Como assim um comercial? Arqueei a sobrancelha e ele disse que depois me explicaria.
Saímos da loja com inúmeras sacolas e fomos parar na praça de alimentação, de novo. Porem desta vez um grupo de adolescentes reconheceu e ele foi obrigado a dar atenção a elas. Algumas me deram um olhar mortal, outras foram gentis e pediram para eu tirar as fotos. Quando terminamos, parecia indiferente com aquilo.
-Vamos fazer um jogo? – ele propôs pegando um pote com chocolates sortidos
-Com chocolate? Você não vai me lambuzar né? Eu ainda tenho que voltar para casa e...
-Calma ! É assim. Eu vou colocar um pedaço de chocolate na sua boca e você tem adivinhar de que sabor é. Tudo bem?
-Não vai parecer que somos namorados?
-Deixa parecer. Vamos. Eu começo. – ele colocou um pedaço de chocolate na minha boca
-Hm – degustei o chocolate – Chocolate ao leite!
-Acertou. Sua vez. – ele fez sinal para que repetisse a ação e eu fiz. No papel estava escrito chocolate ao run. Deveria ser bem gostoso pela cara que ele fez – Chocolate ao run. Meu favorito.
-Preciso dizer que acertou? – ele fez que não com a cabeça e colocou um pedaço de chocolate na minha boca. Era um gosto familiar, mas depois de tanto tempo sem colocar na boca, pensei que não fosse descobrir. Senti um gosto amargo e engoli rapidamente. – chocolate meio amargo. Urg, pelo amor de Deus, nunca mais coloque isso na minha boca.
-Desculpe. Você está bem? – fiz uma careta
-Estou sim. Mas eu detesto chocolate meio-amargo.
-Por que?
-A graça do chocolate é ser doce, e não amargo... – ele riu com a careta que fazia por causa do gosto
-Toma este aqui. – ele me deu outro pedaço de chocolate, recheado com morango. Uma delícia. – Gostoso, né? – assenti – Também acho.
O jogo foi se passando até chegar ao último chocolate do pote. Era a minha vez, sorri maliciosamente quando vi o que estava escrito no papel de embrulho: chocolate com pimenta. Agora sim que eu descontaria o chocolate meio amargo. ‘Tá ele não sabia, mas eu posso me vingar né?
Então coloquei o chocolate na boca de e fiquei esperando sua reação. Quando ele deu a primeira dentada, seus olhos se arregalaram, sua pele clara começou a se avermelhar. E eu, bem, eu comecei a rir.
-Chocolate com pimenta! Meu Deus! Preciso de água. – ele relaxou na cadeira colocando o antebraço em cima dos olhos. Eu ria muito, a cara dele foi impagável – , você é louca?
-Um pouco. Mas você acertou.
-Você me paga. Isso arde muito.
-Owt, coitadinho. – levantei e agachei ao seu lado – Merece um beijo. – disse tentando beijar uma de suas bochechas, mas essas estavam cobertas pelo antebraço – Dá para tirar isso daqui. – tentei tirar o ante braço dele, mas fazia força
-E quem disse que eu quero que você me beije na bochecha? – ele deu um sorriso maroto em seguida me puxou fazendo eu cair em seu colo – Eu não quero um beijinho na bochecha. Isso é coisa de amigos.
-E quem disse que eu quero ser mais do que sua amiga? – disse fazendo carinho em seus cachos dourados
-Você está procurando seu namorado...isso já basta.
-E tem que ser você?
-Se você não me beijar nunca vai saber. – ele selou nossos lábios de uma vez só. Pediu passagem para sua língua e eu não exitei em deixar. Minhas mãos brincavam em seus cachos, enquanto as deles estavam em minha cintura. Seu gosto era de chocolate, é claro, com pimenta, misturado aos outros. Terminamos o beijo dando selinhos.
Ainda de olhos fechados, encostei minha testa na dele, e sorri bobamente.
-O que deu em você? Você beija as pessoas e depois fica rindo? – continuei de olhos fechados e pude sentir, além de sua respiração ofegante, que sorria também
-Olha quem fala. – abri os olhos e me deparei com um par de olhos cor hipnotizante me encarando
-Você é linda. Como eu não te achei antes?
-Você não acha que estamos indo rápido de mais?
-Rápido? Eu te conheci na terça. Se fosse rápido, a gente teria ficado no mesmo dia. Para mim aconteceu no tempo certo. – ele me deu mais um selinho – Eu acredito nas decisões daquele lá de cima.
-Eu também. – dá para acreditar que um dia eu odiei esse cara? Ele é tão...fofo.
-Aonde você quer ir agora? – ele perguntou olhando em volta – Daqui a pouco vão aparecer mais fãs, vai ser melhor se a gente sair daqui.
-Eu acho melhor eu ir para casa. Eu tenho coisas a fazer.
-Hm...então tá. Mas antes, vamos tirar fotos naquela cabine ali. – ele apontou para uma cabine de fotos.
-Tudo bem. Vamos. – ele me arrastou até a cabine. Me senti uma adolescente de novo, passeando no shopping com o seu namorado, correndo para conseguir tirar fotos com ele. Mas espera. Ele não é meu namorado.
-A propósito, onde você trabalha? – ele perguntou enquanto andávamos
-Eu sou escritora, e trabalho na revista Magazine. Faço algumas crônicas.
-E já publicou algum livro?
-Sim, dois.
-E a faculdade? Você parece ser tão nova.
-Eu vou entrar em jornalismo semestre que vem. Chega de perguntas. Vamos as fotos. – colocamos as sacolas no chão e fomos as fotos.
Primeira pose era de nós dois fazendo caretas, segunda era dele me beijando na bochecha, a terceira, um beijo rápido nosso, a quarta eu dando um beijo na bochecha dele e a ultima nós dois nos olhando...
me deixou em casa e eu pude perceber que muita gente nos observava. Eu tinha que arrumar novos vizinhos, esses eram muito fofoqueiros. Nos despedimos com um beijo e ele insistiu para que eu ficasse com uma cópia das fotos, mais uma sacola com chocolate ao leite. Em troca eu dava o meu número, para ele nunca mais me perder de vista.
Entrei em casa com um sorriso de orelha a orelha. estava na sala assistindo algum filme com Eric, o namorado dela. Eu me sentia feliz, como se milhões de fogos de artifícios estivessem estourando dentro de mim. Nunca tinha sentido isso, nem com o meu primeiro beijo. Falei com os dois e fui em direção ao meu quarto. Nem quis saber de .
Abri a porta do meu quarto e joguei minhas coisas na cama. Peguei as fotos e coloquei no meu quadro de avisos.
Sorri ao ver aquilo e corri para tomar um banho. Amarrei meu cabelo de qualquer jeito, coloquei uma bata branca e um short jeans e fui para a sala ver o filme, e é claro, segurar vela. Porem o filme foi esquecido assim que pisei naquele cômodo.
-Então, como foi? Ele era gato? Conta tudo ! – começou interrogatório
-Primeiramente, se eu te disser quem foi, você vai ter um treco. E o Eric vai me matar e depois, cadê a dona ?
-Saiu com o Antony. Agora conta tudo, se o Eric se levantar daqui ele morre, né amor? – ela disse dando um beijo na ponta do nariz do namorado
-Tanto faz. Conta logo . Ela não calou a boca desde que eu cheguei, só para saber desse seu encontro.
-Valeu Eric! Cagueta legal! Conta amiga, conta! – fez uma cara de fofoqueira doida para saber do novo babado
-Okay...meu par foi o . – abriu a boca e fez uma cara de incrédula. Eric riu descontroladamente, afinal como meus amigos, eles sabiam que eu não curtia o astro.
-Não acredito! Você saiu com o ? O nosso Bombom? – assenti – Meu Deus! E como foi?
Eu contei o meu encontro todinho para , sem tirar nem por, e quando cheguei na parte do beijo, ela ficou estática, enquanto Eric gargalhava de chorar.
Eu não sabia o que fazer...uma hora detestava , e no minuto seguinte estava totalmente...apaixonada? Não, é cedo de mais. Só por um beijo. Eu não poderia estar apaixonada por causa de um beijo. Poderia?
Acho que a palavra certa seria enfeitiçada. Isso, estava sob um feitiço lançado por , um astro famoso. Porém quando a imagem do beijo vinha a minha cabeça sorria sozinha, como uma boba, me lembrando quando dizia estar apaixonada por Kevin...
Meus pensamentos foram interrompidos por uma mensagem de um número desconhecido.
"Olá ...
Sei que acabei de te deixar em casa, mas já sinto saudades. Amanhã tem como a gente sair? Eu tenho que fazer o comercial da páscoa e queria te levar...quem sabe você não ganha o papel da protagonista? Eu iria amar te beijar na frente das câmeras...
Um beijo "
Sorri ao ver aquilo, e recebi muitas pipocas de na cabeça dizendo que eu estava começando a ser concorrência dela. Tratei de responder rapidamente, mas era quase impossível quando sua melhor amiga está te tacando pipoca.
"Você tem que fazer gracinha até na mensagem?
Tem sim...eu trabalho só na segunda...
Eu protagonizando um comercial ao seu lado? Quer que as garotinhas me matem?
Xoxo "
Gravei o nome dele na minha agenda, para ser mais rápido.
Eu sei que estávamos sendo precoces, mas o que custa dar uma chance...poderia dar certo. Afinal eu nunca havia me sentido daquele jeito: estava ansiosa.
No final da tarde, e Antony chegaram. Ele não entrou, apenas acenou de fora. Sempre o achei muito estranho, mas se a minha amiga gostava dele, quem era eu para falar alguma coisa? foi correndo contar para a amiga tudo o que tinha rolado comigo. Eric ficou jogado no sofá zapeando alguma coisa que prestasse na tv. E eu? Estava ocupada de mais lembrando do beijo mais ‘beijástico’ da minha vida.
Logo fui despertada de meus pensamentos, porque aquelas duas me tacaram a bolsa da na minha cabeça. Eu não sei como os namorados delas agüentavam aquilo tudo.
apontou para a campainha que não parava de tocar. Porque ela não atendeu? Estava muito ocupada sabendo dos últimos babados.
Atendi um menino que parecia ter uns 16 anos, segurando um buquê lindo de tulipas. Sorri. Dei uma gorjeta para o adolescente e fechei a porta.
As duas ao virem aquilo fizeram um ‘ownt’ em coro que me deu vontade de vomitar. Odeio coisas melosas de mais. Por que elas não conseguem ser normais um dia na vida?
Havia um cartão, e nele estava escrito: "As pessoas entram em nossas vidas por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem..."
Era de . Então eu não me sentia daquele jeito sozinha. Ele estava na mesma situação.
Pelo menos ele acertou com as flores...tulipas...
No dia seguinte, acordei mega disposta. Já havia uma mensagem de avisando que iria me buscar depois do almoço, ou seja, lá para uma da tarde.
Fiz minha higiene matinal e corri para forrar o estômago. Olhei para o relógio e tomei um susto ao ver que faltava pouco para ele aparecer. Corri para vestir alguma coisa: um vestido amarelo e uma sapatilha branca. Peguei uma bolsa qualquer e sai tacando tudo que era essencial (vulgo: celular, batom, espelho e cartão de crédito). Sentei na sala e percebi que estava inquieta. Tudo isso por causa de um encontro? Aquela era realmente eu?
Nunca fui desse jeito...meu celular começou a tocar e sem demora eu atendi. já estava me esperando. Me despedi rápido das meninas e antes que pudesse se soletrar banana eu j´estava na portaria.
Ele estava simplesmente incrível. De pólo verde escura, e calça jeans preta, com um par de all star preto...aquilo era para me enlouquecer? Só pode.
Ele me cumprimentou com um selinho. E eu não fiquei nervosa nem nada. Para mim aquilo era mais que normal. E olha que só tinha rolado alguma coisa ontem.
Chegamos ao estúdio e o dono da loja de chocolates estava a nossa espera. Ele cumprimentou e em seguida me cumprimentou.
Uma mulher com uma boina vermelha estava super estressada andava pelo set decorado com vermelho e marrom. Um logo enorme estava no centro de um painel: Chocolate com pimenta. Era esse o nome da loja. Chocolate com pimenta. Era esse o nome do bombom que dei a e que nos levou ao beijo. Era esse nome que nos deduzia...ele um doce, preferido por muitos, como o chocolate, e eu perigosa, considerada vilã, mas amada por alguns, como a pimenta.
me abraçou pela cintura, me fazendo sair dos meus devaneios.
-Gostou daqui? – apenas assenti – quem bom, pois se depender de mim, vai passar boa parte de seu tempo em um desses. Vem, vou te mostrar o resto da equipe.
Ele me arrastou e me apresentou a equipe técnica interira, além do cabeleireiro e a maquiadora. Todos foram gentis comigo e me disseram que eu era mais simpática que a . Considerei um elogio.
Colocaram uma barbie para contracenar com , que não gostou muito. Por ele, eu ficava ali, provando o chocolate da mão dele. Coisa que eu fiz muito ontem.
Chegou uma hora que ele não agüentou e disse que não queria mais fazer o comercial do lado dela. Então ela começou a discutir com a produção e bateu o pé saindo do estúdio. Que garota maluca, ela era uma ninguém e estava discutindo com meio mundo? Ela estava merecendo uns bons tapas isso sim, ah se as meninas estivessem aqui...
A diretora entrou em parafusos porque a garota tinha batido as asas e não tinha mais protagonista. Olhei para que tinha um sorriso malicioso nos lábios e um brilho no olhar : o desejo dele estava se concretizando.
Ele me arrastou a diretora, que aceitou por falta de opção. Maquiaram-me e fizeram umas ondas em meu cabelo. Ah sim , o cabeleireiro me deu para vestir um vestido justo vermelho com um decote em V, e uma sandália preta com um salto enorme.
Sai do camarim parecendo uma modelo, olhava para mim e babava, quando pensei estar tudo pronto, fui obrigada a tirar o piercing. Rolei os olhos e pedi para guarda-lo no bolso.
Fizemos o comercial sendo aplaudidos pela equipe. A gente, colocar chocolate na boca do outro é fácil, e foi o que mais fizemos ontem no shopping.
Troquei de roupa e pedi para me levar para casa. Ele queria ir passear comigo, mas eu disse que tinha que terminar umas coisas para o trabalho, na segunda feira. Ele entendeu e me deixou em casa.
-Hey, não vai me convidar para entrar? – ele disse enquanto eu saia do carro
-Você está a fim de ser assediado por duas loucas? – coloquei a mão na cintura
-Não é justo, você conhece minha casa.
-Tudo bem. você aceita conhecer minha humilde residência?
-Claro. Onde estaciono? – fiz sinal para indicar o estacionamento e logo voltou me carregando no colo. Coisa de namorado, não de uma pessoa que te conheceu a cinco dias.
Chegamos ao apartamento e fomos recebidos com os gritos de e .
-Meu Deus! Ele está aqui! – pulava
-Eu sei! Me belisca. – ela ofereceu o braço para beliscar e foi o que ela fez. –Outch. Era de palhaçada! – rolei os olhos, tinha um sorriso bobo nos lábios, como de quem estivesse ganho um prêmio.
-Não falei. – eu disse – agora aguenta.
-, a gente pode tirar uma foto com ele? – me perguntou
-Ué, se ele quiser... – dei de ombros
-Claro! Cadê a câmera?
As meninas passaram a tarde inteira fazendo perguntas para . Incrivelmente engraçado, porque parecia um jogo de verdade ou conseqüência, só que sem a parte da conseqüência. foi um fofo com as duas...momento no qual eu me pergunto, como eu o odiei em alguma parte da vida? Ele é perfeito, com aqueles cachos loiros, seus olhos verdes e seu sorriso encantador. Sim, ele me enlouquece.
Meus devaneios foram interrompidos por uma ligação de um número restrito. Pedi licença e atendi.
-Alô?
- ?
-Sim, é ela.
-Você tem três dias para terminar com , ou haverá conseqüências.
-Alô quem está falan...- desligou. Voltei para sala e as meninas perguntaram quem era, apenas inventei dizendo que era engano.
Estava ficando tarde, e no dia seguinte eu teria que arrumar as coisas do trabalho. disse que ia embora, mas prometeu me seqüestrar na segunda após meu expediente.
No dia seguinte, acordei cambaleante, e fiz tudo que tinha que fazer. Comecei colocando os arquivos no pen drive, e organizando mais três rascunhos de crônicas que eu tinha.
Terminando o trabalho, pareceu estar conectado a mim de alguma forma, pois ligou para mim.
-Oi pimenta! – me saudou
-Pimenta?
-Danada, mas eu gosto.
-Danada, eu? – fiz uma voz de incrédula – Você é louco.
-É eu sei. Você me deixa assim. Mas o "pimenta" é por causa da loja, e do bombom. Por causa dele a gente se beijou. Lembra?
-É. qual foi o real motivo para você me ligar?
-Quer ir lá em casa hoje? Tens uns filmes que eu aluguei...e eu quero te mostrar uma coisa.
-Tudo bem. Eu já estou saindo mesmo.
-Okay. Então sai logo, porque odeio ficar aqui em baixo.
-O quê? Você está aqui? Ai meu deus. Já estou descendo.
Me despedi de e corri para o estacionamento. Odeio deixar as pessoas esperando. Senti meu celular vibrar, seria ele de novo reclamando?
Não. Número restrito, de novo.
-Alô?
-Já fez o que eu mandei? – uma voz feminina abafada perguntou
-Quem está falando?
-Tem certeza que não reconhece ?
-Não, se eu reconhecesse eu não teria perguntado. Dá para dizer quem está falando?
-Com o tempo você descobre. Agora faça o que eu mandei. Ou seu relacionamento com vai acabar com seu valiosos emprego na Magazine. – e a voz desligou. Eu não sabia quem era, e aquela seria a segunda ligação que recebia na qual um estranho me mandava terminar com .
Entrei no carro de com uma expressão de preocupação, logo esqueci o motivo da preocupação, pois respirei um aroma muito familiar. Me fazia lembrar a infância, no jardim de casa. O cheiro da flor favorita de meu pai emanava no carro, me fazendo viajar. Fechei os olhos e encostei minha cabeça no vidro da janela.
#Flashback on (Narração em terceira pessoa)
-Papai por que o senhor não planta mais dessa florzinha, ela é linda! – uma garotinha de seis anos de idade pergunta segurando uma flor de lótus, enquanto se ajoelha ao lado do pai.
-Minha pequena , é uma ótima idéia. Você sabia que essa planta traz serenidade, ela nos deixa calmo. – o pai explicava enquanto mexia na terra.
-Calmo?
-Sim, a flor de lótus é minha flor favorita. Ela é vem da Índia. Os indianos são muito espirituais. – o pai dizia enquanto a filha olhava atentamente - Mas você é muito pequena para entender.
-Eu não sou pequena! – ela cruzou os braços.
-Eu sei que não. Mas eu sei que a sua flor favorita é essa aqui. – o pai apontou para uma tulipa que crescia ao lado das rosas.
-Ela é linda. Como o senhor sabe disso? Eu nunca disse.
-Ela é tão bela quanto você. E as rosas são as favoritas de sua irmã, e você não gosta de imitá-la que eu sei muito bem. – ele disse dando um peteleco no nariz da menina.
-Papai, estou suja de terra!! Mamãe vai brigar comigo. – ela fechou a cara enquanto o pai sorria.
#Flashback off
Abri meus olhos e senti uma lágrima solitária correr pela minha bochecha. Lembrar de meu pai antes da doença não era uma coisa muito fácil. Em pensar que um dia desse ele poderia esquecer de tudo, até desses momentos...era de cortar meu coração. percebeu que eu chorava e parou o carro. A sorte era que já estávamos na rua do condomínio.
-O que foi? – ele perguntou passando o polegar pela minha bochecha.
-O perfume...é de Lótus. A flor favorita de...
-Seu pai. Te fez ter alguma lembrança ruim?
-Lembrança ruim não. Uma lembrança boa. Eu só não queria pensar em que um dia ele pode esquecer de tudo. O medico disse que é apenas uma questão de tempo.
-Hey, calma. Tudo vai ficar bem. – ele tirou o seu cinto e me abraçou. – Agora espanta tudo isso da sua cabeça e trata de colocar um sorriso em seus lábios.
Fiz o que ele pediu e seguimos pela rua. Passei pela casa de meus pais para matar a saudade. Disse ao meu pai sobre a lembrança que tive e ele sorriu. Um sorriso doce, o meu favorito vindo dele, que sempre meu deu forças. Me despedi alegando ser uma visita de médico, mas voltaria ali mais vezes.
Seguimos o caminho até a casa de . Não me cansava de olhar para aquelas flores no jardim. Me lembravam os bons tempos.
Marta nos cumprimentou alegre e disse que iria preparar um bolo de chocolate. Ela sabia me alegrar, fato.
Seguimos ao segundo andar, onde ele me mostrou seu quarto, e um cômodo decorado com vinis. Na porta havia um pôster enorme dos Beatles. No canto do quarto, tinha um violão preto. Andei até o objeto e o peguei.
-Ah você achou o Billy. – ele disse me abraçando pela cintura e apoiando a cabeça em meu ombro
-O nome dele é Billy? – ele assentiu – Eu nunca suspeitaria que você sabe tocar violão.
-É uma coisa que nem as minhas fãs mais fanáticas sabem. Eu guardo esse violão de tudo e de todos.
-Está dizendo que ninguém sabe sobre Billy? – me virei para ele e fiz uma cara de surpresa
-Só a Martinha e...agora, você. – ele coçou a nuca
-Devo ser bem especial.- sorri e ele retribuiu
-É sim. Muito especial. – ele me abraçou
-Então, toque alguma coisa para mim. – fiz cara de desafiadora ele apenas assentiu e roubou Billy de minhas mãos
-O que você quer ouvir?
-Me surpreenda.
sentou no chão em cima de um tapete estampado de recortes de jornal. Ali sentado, ele começou os acordes de uma música que eu identifiquei com The Only Exception, do Paramore.
Sentei me de frente para ele, observando seus traços, seus lábios quando se mexiam para cantar, seus olhos que iam das cordas do violão para mim, e seus cachos que se moviam conforme seu rosto se virava. Ele parecia um anjo tocando ali para mim, dizendo que eu era a única exceção para ele. O que eu mais poderia querer?
Ao finalizar a música, ele se moveu para perto de mim para me beijar, colocando o violão ao nosso lado. Quando estávamos perto o suficiente para eu sentir sua respiração, Marta abre a porta com uma bandeja com o bolo e suco.
-Desculpe, estou atrapalhando? Eu posso voltar mais tarde. – ela tentou se desculpar
-Que nada Martinha. Você nunca atrapalha. – disse se levantando para pegar a bandeja de Marta – Passa isso para cá. Eu to morrendo de vontade de comer esse bolo. – ele pegou a bandeja e deu um beijo na bochecha da senhora
-Isso tudo porque é de chocolate? – ela indagou – Espero que a moça também goste.
-Que nada Mata, ela é minha concorrente nº 1. Uma chocólatra de marca maior!
-Então tá. Eu vou deixar vocês à vontade. – a moça saiu do quarto e fechou a porta.
deixou a bandeja entre nós dois e começou a devorar os pedaços do bolo.
Eu servi o suco em meu copo e vi algo se mexer perto de um das poltronas. Peguei o outro copo e a ‘coisa’ se moveu de novo.
- tem um bicho ali.
-Onde? – falou com a boca cheia se virou a fim de tentar enxergar
-Não se fala de boca cheia. Estava ali. – apontei e não tinha nada – ué?
-Deixa pra lá. Deve ser sua imaginação.
-É. – peguei um pedaço do bolo e senti alguma coisa na minha perna. –Aaaaaah! – gritei e levantei num instante só. Aquilo era um...furão? E bebendo meu suco? Que abusado! Tirei minha sapatilha e fiz menção de tacar no bicho.
Quando viu o que eu iria fazer, pegou o meu pulso e me impediu. Ele ficou serio, depois me largou indo em direção do furão.
-Dinkers! – ele disse pegando o bicho no colo – Onde você estava? – ele foi chegando perto de mim – Sabe era isso que eu queria te mostrar.
-Não era a sala?
-Não. Isso aqui não é nada. Eu queria que você conhecesse o Dinkers. – então a parada era essa. Um furão. Que pessoa em sã consciência tem um furão de estimação? Se fosse uma galinha, um pato, até um dragão de comodo, tudo bem...mas um furão? É bizarro! – Agora você já conhece meu protegido. – ele estava fazendo carinho num furão. Ele estava babando por um furão?
-Tá. Cada louco com a sua mania. – sentei novamente no chão. – Mas deixa ele longe do meu suco.
Ele ficou com o furão no colo, e dando para o bichano bolo. Vem cá, ter um furão em casa não é ilegal?
Muita insanidade para um dia só.
Depois de um tempinho, disse que iria para casa. Ainda tinha coisas para resolver.
Dois dias já se passaram desde que fui até a casa de . Quando eu contei sobre o furão para as meninas, elas riram feitos duas retardadas. O que elas são. Bem nada mudou muito. Eu estou nesse rolo com ...não somos namorados, mas não estamos solteiros.
Já é quarta, falta uma semana e um pouquinho para a páscoa. Se bem que eu tenho comido mais chocolate do que o recomendado por causa dele.
E a melhor parte de tudo isso, é que a balança colabora, me fazendo perguntar, para onde vai todo o chocolate que eu tenho comido?
Minha tagarelice interior foi interrompida por uma ligação daquele número restrito. Isso está me irritando, quando eu descobrir quem está fazendo essas coisas...
-Alô?
-, já fez o que eu mandei?
-Eu não faço nada para pessoas que eu não conheço.
-Você pode não estar me reconhecendo, mas eu juro, você sabe quem é. Quer tirar a prova real de quem eu sou? – ela perguntou
-Quero. Me diga quando e aonde.
-Me encontre em frente ao Subway do shopping, no...- ela pareceu pensar – no sábado, às 17:00hs.
-Estarei lá. – desliguei o telefone. Quem seria essa biscate que está me atazanando? Por que ela quer tanto o ?
A semana passou rápida até o sábado. Confesso que fiquei nervosa para conhecer a tal dona da voz. Mas eu iria armada. Não, eu não tenho uma bazuca ou uma R15. Eu tenho duas coisas muito mais eficientes: e .
Arrastei as duas até o shopping e as deixei de tocaia, caso a mulher fizesse alguma coisa comigo.
17:15hs. Nada da mulher. De repente vejo um alvoroço por causa de .
Eu não acredito! , a ex namorada de era a voz que me ameaçava. Só pode, afinal ela caminhava para o Subway, com uma legião de fãs atrás dela.
Depois que ela se livrou dos fãs, se dirigiu até onde eu estava.
-Suponho que você seja . – assenti – Você sabe quem eu sou, aposto.
-Sim eu sei. O que eu você quer?
-Ótimo você é direta. Então eu também vou ser. Eu quero que você acabe com seu caso com o meu . – Tive que rir. "meu document.write(Johnny)?
-Desde quando você sabe que eu estou saindo com ele?
-Você trabalha numa revista e não sabe? – ela tirou uma revista na qual eu estava na capa dando chocolate na boca do . Levei minha mão a boca, incrédula no que via – Eu tenho minhas fontes estão saindo apenas para promovê-lo. – eu só conseguia olhar incrédula para ela que mantinha um olhar superior para mim – Eu sugiro que você vá até a casa dele e termine seu affair! – ela jogou a revista na mesa, se virou e começou a andar. Eu escorreguei e cai sentada na cadeira.
e apareceram, mas eu não entendia nada do que elas me falavam. Eu não poderia arriscar meu emprego. iria entender. Um dia.
-Preciso...casa......ir.
-Quer que a gente ligue para o ? – disse segurando uma das minhas mãos
-Não! Eu vou para a casa dele agora!
-O que ela disse? – indagou
-Se eu não terminar com ele, já era Magazine.
-, você não acreditou, né?
-, ela conhece a Denise. Eu sei que ela vai ferrar com a minha vida. Se não for desse jeito, vai ser de outro pior.
-Ai não . O que você vai fazer? – perguntou, elas sabiam o quanto eu prezava aquele emprego. Com a faculdade eu iria me dar bem no mundo jornalístico. Eu não posso colocar nada a perder.
-Eu já estou fazendo. – disse me levantando e indo em direção a saída.
Saquei meu celular da bolsa e liguei para .
-Oi pimentinha!
-Oi, , tem problema se eu for ai hoje?
-Não. Pimentinha sua voz está estranha, o que houve?
-Nada. a gente tem que conversar. Estou chegando. Beijos
-Beijos. – desligamos.
Peguei o primeiro táxi e pedi para me levar até o condomínio que tanto conhecia.
Desta vez, diferente das outras, eu não parei na casa de meus pais.
Cheguei em frente a casa de e paguei minha corrida. A noite caía vagarosamente, fazendo com que o laranja brigasse com o azul no céu.
Passei pelo jardim, e uma memória de todos os momentos felizes que tive ao lado dele veio a minha cabeça. Eu estaria destruindo tudo em poucos minutos.
Mas ele precisaria entender...era minha vida amorosa, ou minha carreira.
Toquei a campainha e Marta me atendeu com um sorriso enorme no rosto.
Tentei retribuir, mas em vez disso a abracei. Aquela poderia ser a ultima vez que a veria. Algumas lágrimas começaram a escorrer.
-Você está bem, minha pequena? – Marta indagou enquanto eu afundava meu rosto em seus ombros
-Vou ficar, Martinha. Vou ficar. – me separei do abraço e enxuguei minhas lágrimas
Subi correndo e encontrei no meio do corredor Dinkers, que veio fazer carinho em minha perna como um gato manhoso. Parecia que ele sentia o que estava preste a acontecer.
Bati na porta do quarto dele, e sem esperar uma resposta abri-a.
-Pimentinha! – ele exclamou pulando da cama vindo em minha direção.
Me deu um beijo demorado, e mais lágrimas voltaram a escorrer. Eu o beijei com toda a paixão que sentia por ele, já que este seria o último. Ele era de ...e isso eu não poderia mudar.
-O que houve? – perguntou me abraçando – Você está chorando.
-Precisamos conversar. - me desfiz do abraço e olhei em seus olhos.
-O que aconteceu? – lágrimas começaram a escorrer, e eu parecia uma cachoeira
-Eu não posso mais te ver. – disse, agora, chorando
-Por que? Entra. Você está me deixando assustado.
-Eu...eu... – entreguei-o a revista com a seguinte manchete: ‘Ator famoso document.write(Steven) de namorada nova, será eu já sabe?’ e uma foto nossa no dia do shopping, eu pondo um chocolate na boca dele.
-E daí...deixem que fale.
-Você não entende. Eu não quero me magoar. Não de novo. Eu ainda não estou pronta. – virei as costas e sai correndo pelo corredor da casa sendo seguida por ele. Eu gritava algo como "me deixa", mas não funcionava.ele só notou que era real, quando me viu sair pela porta da frente correndo.
ficou me olhando da porta. Eu apenas corria, chorando freneticamente. Ao fechar o portão, me virei em direção da varanda e joguei-lhe um beijo e sussurrei um adeus.
Eu sei que parece bobeira, mas eu não queria apostar em alguma coisa que poderia ser jogada ao vento em instantes. de algum jeito tinha descoberto meu telefone, ela não iria parar até voltar para ela.
Eu não estou pronta para viver num inferno, pelo menos por enquanto.
Aquilo estava me matando...faltava uma semana para a páscoa. Essa hora, na semana passada estava falando com no telefone sobre coisas inúteis. Uma lágrima solitária escorreu.
Porque tudo sempre tinha que me levar até ele? A gente estava junto há tão pouco tempo. E ele já causava esse efeito em mim.
entrou em meu quarto com dois copos de capuccinos. Ela sabia me alegrar. Ou pelo menos tentava.
-Hey...como você está?
-Não muito bem.
-Ela ainda te liga?
-Parou, desde de o encontro no shopping.
-Pelo menos isso. A gente vai ao shopping, quer ir? – fiz que não coma cabeça – Vamos ! Vai ser bom para você.
-Bom para mim, é ficar aqui. Amanhã eu tenho trabalho o dia todo, e infelizmente eu vou cobrir uma entrevista porque a jornalista responsável está de licença.
-Entrevista? De quem?
- . – falei um pouco triste dando uma última golada no capuccino
-Boa sorte. – ela se levantou,pegou minha caneca e me deu um beijo na testa – Se cuida pimentinha.
Ela saiu do quarto e eu me levantei para ver o céu. O tempo parecia refletir minhas emoções: estava nublado, negro, a qualquer momento iria desabar, assim como eu.
Me virei até o quadro de avisos, onde uma coletânea de fotos minha com estava pendurada. Fotos tiradas no dia que nos beijamos. O dia mais feliz de minha vida, arruinado por causa de um ex dele. É, eu teria que me conformar.
Deitei na cama segurando uma das fotos junto ao meu peito, aquela em que estávamos nos beijando, a fim de me lembrar da sensação. Soltei um suspiro e adormeci.
Acordei com os gritos de , avisando que estava atrasada. Olhei o relógio que marcava oito da manhã. Meu Deus, estava mais que atrasada! Corri para o chuveiro, tomei uma ducha rápida e sai de casa voando.
Cheguei no trabalho e notei um ar estranho. As meninas do meu andar, olhavam para mim e cochichavam. Entrei na sala da minha chefe, que provavelmente me daria uma bronca daquelas. Hoje eu iria escutar!
-Bom dia Denise. Desculpa pelo atraso.
-Tudo bem, . Mas não se de o luxo de se atrasar sempre. A equipe está desfalcada. Bem, vamos, a entrevista vai começar em poucos minutos.
Pegamos o elevador e fomos parar numa espécie de auditório onde aconteciam muitas entrevistas. Esse era o bom da Magazine, ela tinha um lugar disponível para entrevistas coletivas, e ela abria para suas concorrentes.
estava lá em cima. Lindo e loiro, vestido uma camisa de manga branca com uma jaqueta jeans por cima.
Uma mulher de uma revista qualquer, fez uma pergunta para começar. Eu não prestei atenção em nada. só conseguia ver seus olhos tristes, por causa de um rompimento. Eu só queria que ele entendesse as ameaças que eu sofria. Eu nunca poderia deixar que um relacionamento arruinasse minha carreira, ali é um local precioso, e assim que eu terminar minha faculdade, vou alcançar um posto muito bom.
Meu devaneio foi interrompido quando uma mulher perguntou sobre o novo filme dele, no qual ele faria par com a – vadia de beira de estrada e ex dele – .
-Como você reagiu quando soube que iria contracenar com a sua ex? – indagou a moça
- e eu tínhamos um relacionamento profissional e outro pessoal. Ela resolveu misturar tudo, e foi isso que estragou nossa vida. – ele olhou para mim – Ela preferiu tornar a nossa vida pessoal publica, e eu gosto de privacidade. Por causa dessas atitudes e mais uma que descobri há pouco tempo, eu pedi demissão do filme.
-Que atitude foi essa? – perguntou uma outra moça. riu
-Eu estava saindo com uma moça bem interessante. – ele olhou para mim e sorriu, eu apenas retribui – Ela é a minha alma gêmea. a ameaçou dizendo que se ela não terminasse comigo iria destruir a carreira dela, que ainda não estável. Achei baixo da parte de
Eu não acredito, contou para ele. Pelo menos ele sabe, ele entende.
-Então você está ou não está solteiro? – perguntou outra jornalista
-Eu não sei. Depende daquela garota ali. – ele apontou para mim e todos se viraram para mim. Senti-me corando por ser o centro das atenções – Ela é a minha alma gêmea. – ele levantou – , eu te amo! Fica comigo?
Um coro de jornalistas gritou ‘ownt’, eu já disse o quanto essas pessoas gritando ownt é ridículo? Eu odeio isso, no entanto a atitude dele foi linda, e corajosa...por se expor tanto. Levei uma cotovelada de Denise que fez sinal para eu levantar e responder.
-Eu te amo . E sim eu fico com você. Eu corri até o palco onde ele estava e o abracei, recebendo aplausos e assobios. Beijei-o com todo o fôlego que pude. Um beijo apaixonado, servindo como pedido de desculpas.
Tudo parecia dar certo, já era quarta feira, e como sempre eu trabalho hoje também. Denise entendeu minha situação e disse que ficaria tudo bem. Por mais que fosse no meio da semana, eu tenho que comprar o presente de páscoa de . Eu ainda estava indecisa. Acho que a melhor coisa seria a cesta de bombas sortidas que vi na Chocolate com Pimenta. Seria essa mesma.
Terminei de escrever a crônica sobre formaturas e corri para o shopping. Com um pouco de sorte daria tempo de comprar as coisas para o meu...meu...o que era meu? Peguete? Ficante? Meu afair? Enfim, tinha que comprar o presente para ele.
Cheguei ao shopping e consegui comprar uma cesta enorme. Ela inda ficaria pronta, mas já estava encomendada.
Cheguei em casa quebrada, capotei no sofá. Só fui me ligar que horas eram quando começou a fazer o café.
Despertei apenas com o cheiro.
Tomei café e voei para o banho, que indiferente do café, foi rápido. Hoje seria o ultimo dia de trabalho o resto teria de folga, para curtir e preparar tudo para meu feriado chocólatra favorito.
O dia se arrastou, e no final do meu expediente, recebi uma visita um tanto quanto inusitada, apareceu com , , Eric e Antony para me buscar. Fomos para um rodízio jogar conversa fora e falar mal dos outros: passatempo favorito de .
Comi tanta pizza que me sentia inchada. e Eric foram para casa juntos a mim e . disse que dormiria na casa do namorado e só voltaria no sábado a noite. Droga, teria que fazer o café durante dois dias.
O restante da semana se resumiu a filmes, pipoca e pegação no sofá da sala. No sábado a tarde, foi para casa e me deixou no shopping. Eu tinha que pegar o presente dele, o que seria uma surpresa. Véspera de páscoa para mim é como véspera de Natal. Só que mais gostosa. Por incrível que pareça achei que fosse cair o maior temporal, mas por enquanto, nada.
Busquei o presente e no caminho de casa, e Antony me encontraram na calçada do shopping. Pedi para ela levar o presente para casa, pois eu queria fazer uma surpresa para . Antony me deixou na portaria do condomínio.
As ruas daquele lugar a noite podiam me assustar. Dei uma passadinha na casa de meus pais e segui meu caminho, rumo a casa de . Começava a garoar, e pelo jeito que o céu se encontrava, só iria piorar.
Em frente ao casarão, encontrei o portão aberto, e um carro vermelho estacionado. Não era o carro de , era uma Ferrari. Cheguei na varanda, e tudo estava escancarado.
Procurei por Marta, mas a casa estava vazia. Comecei a me assustar e subi as escadas correndo, buscando .
Cheguei no final do primeiro corredor e ouvi gritos femininos. A porta estava entreaberta e pude observar discutindo com , discutindo muito perto. Um calor subiu pelo meu corpo ao ver aquela cena. Quando dei mais um passo, agarrou pela camisa e o beijou. Eu senti meu coração parar, tudo ficando preto e voltando ao normal. Aquela biscate estava beijando o meu homem...tentei sai dali correndo, mas esbarrei num vaso fazendo-o cair no chão, trazendo a atenção para mim.
-Desculpa, não quis atrapalhar. – disse e corri pelo corredor, vendo apenas um borrão por onde passava
-! – ele gritava trás de mim. – Espera!
Saí correndo de sua casa. Eu não acreditei quando vi ele se beijando com aquela biscate. Eu simplesmente a odeio e ele me traia com ela? Depois de tudo que ela tentou para nos separar?
Não me importei de estar caindo a pior tempestade de toda história, eu tinha que ir embora dali. Corri pelo jardim, com minhas lagrimas se misturando a chuva. Estando preste a chegar ao portão, sinto alguém me puxando.
-, por favor me escuta.
-Escutar? Para que? Você estava beijando aquela biscate! , eu te amo. E o que eu recebo em troca? Te ver beijando outra. Justo a ?
-Ela se jogou para cima de mim assim que te viu na porta. Só pode.
-Você acha que eu vou acreditar? – ri irônica – Me larga. Me deixa. Me esquece.
-Não dá. Você não sai da minha cabeça desde quando te vi pela primeira vez procurando seu pai.
-Até parece.
-E tem mais, quando eu te vi naquele encontro na loja procurando o par, eu sabia que o destino iria aprontar, e que era para ficarmos juntos.
-Eu não... – desisti de tentar me soltar deixando meu pulso mole – Eu não consigo. – Olhei em seu rosto. – Eu te amo tanto, não consigo.
-Eu também te amo . Não me deixa. – ele me abraçou forte. Logo em seguida se desfez do abraço e abaixou pegando uma das tulipas que estava no canto de seu jardim. Então ele se lembrava – Flor favorita: tulipa. , você me perdoa?
-Sim. – beijei-o com todas as minhas forças. Eu sou uma burra, uma tonta. Mesmo isso acontecendo, eu ainda o perdôo. Mas também com aqueles olhos, aquele sorriso...a carne é fraca. Bem fraca!
Voltamos para dentro da mansão e eu expulsei a biscate a vassouradas, literalmente. Passamos a noite juntinhos, porque além do frio que sentíamos pela chuva, era bom estar assim.
No dia seguinte seria Páscoa, e o presente de estava lá em casa. Um problema que depois eu resolveria.
Acordamos com o sol invadindo o quarto. Uma dor súbita em meu corpo tomava conta. Meu nariz estava congestionado. Droga, estava com gripe, justo na páscoa. Olhei para o outro lado da cama, estava vazio. Onde estaria ?
Minha resposta foi respondida quando o amor da minha vida entrou quarto a dentro segurando uma bandeja com um ovo enorme da Nestlé. Ele estava com o mesmo aspecto que o meu: gripado. Santa chuva.
-Bom dia amor. – ele disse me dando um beijo e colocando a bandeja em cima da cama – Feliz Páscoa!
-Feliz páscoa! Que lindo.
-É todo seu!
-Sério? – meus olhos brilharam. – Vou abrir.
Levei um susto quando abrir o ovo ao meio e dentro tinha uma caixinha de veludo num saquinho plástico. Tenho certeza absoluta de que não era brinde, até porque ovo da Nestlé tinha bombons dentro. viu o meu estado e pegou a caixinha do meio do ovo.
- , você aceita se namorar comigo? – ele perguntou me mostrando o par de alianças, uma escrito Pimenta e a outra Chocolate.
-Aceito! – o abracei. Logo depois correndo para comer o ovo de páscoa. Afinal meu namorado era um chocólatra assumido e eu também, desde que não fosse meio amargo, o que não era o caso.
Em pensar que tudo isso aconteceu em duas semanas...e que eu o odiava. Poderia culpar o destino? Náa...
De repente senti um bicho pulando na cama, Dinkers, o furão de estava nos fazendo uma visitinha.
Então passamos nossa páscoa assim: juntos, gripados e comendo bastante chocolate. Eu e o meu namorado...e é claro seu furão de estimação...