Paris conseguia ficar ainda mais bonita nessa época do ano. Até mesmo assumia isso, apesar de não gostar do clima que o inverno trazia consigo. Ela acendeu o abajur e sentou-se na beirada de sua cama, ainda admirando a vista da janela. A neve mal começara a cair e já ia descolorindo a cidade.
Um suspiro pesaroso escapou dos lábios vermelhos dela. Mulher, garota, ela ainda não estava certa quanto a isso. Morava sozinha e se sustentava com apenas um blog na internet e ainda tinha uma vista como aquela de sua janela. Tudo aos 22 anos, sem a ajuda de ninguém, muito menos familiar. E ainda assim, em momentos como esse, sentia-se apenas uma garotinha, frágil e solitária. Era o efeito que a neve tinha nela, era tudo culpa da neve. Seus pais...
ergueu-se abruptamente e fechou sua janela com violência. Não ia fazer aquilo consigo mesma outra vez, não permitiria afogar-se em arrependimento novamente. Correu para seu notebook e, prendendo a franja com um grampo, focou toda a sua atenção no último trabalho que aceitara.
Aquela era a sua essência, não havia nada que ela amasse mais do que revisar aqueles trabalhos. Desde pesquisadores renomados até novatos — mas nunca menos talentosos —, muitos passavam por suas mãos para revisão desde que se formara. Especializada em Francês e Inglês, não faltava trabalho. Por isso viera para a França. Porém, seu blog conseguia dar mais retorno em um mês do que algumas revisões juntas. E isso era realmente um feito, já que recebia muito bem para o trabalho. Fazia algo que poucos profissionais faziam, seus estudos em latim e grego ajudavam muito. E em seu blog ela abordava tantos assuntos quanto os autores nas pesquisas, a diferença era que nas publicações dessas teses e livros, o nome aparecia, enquanto no blog... Ninguém tinha ideia de quem ela era.
Há cinco anos no ar, um sucesso quase instantâneo, e ela ainda era anônima. No fim acabou apegando-se ao seu anonimato, era mais seguro, mas perdia muitas oportunidades para mantê-lo. Propagandas, entrevistas, até haviam oferecido um PROGRAMA DE TV para ela na semana passada. Sem falar nas festas e shows na faixa que ela perdia. Mas disso ela não se arrependia. Não ainda, pelo menos.
Ela ligou a cafeteira — sim, ela tinha uma cafeteira no seu quarto —, decidindo que terminaria aquela revisão antes da meia-noite.
*
Um rapaz de cabelos e olhos saiu de dentro de uma casa, em um bairro residencial de Paris. Ele sentiu a neve no seu rosto e gargalhou, voltando correndo para dentro da casa em seguida.
— Jon, Jon! Vem cá! — Ele chamou.
— Por que, ? — Um garotinho com os mesmos cabelos dele apareceu, porém, seus olhos eram mais escuros.
— Vem ver! — o pegou no colo e correu para fora da casa novamente.
O garotinho Jon começou a rir assim que viu a neve, e o acompanhou. E os dois ficaram rindo juntos até que uma voz feminina chamou da porta da casa.
— O que é tão engraçado, o resfriado que vocês dois vão pegar? Vamos, entrem logo.
— Ah, mas... Mãe! — Jon reclamou.
— Sem mas, Jon. Você não tá com as roupas apropriadas. Sem o seu gorro de lã, sem suas luvas, sem a blusa de frio! Os dois! Pra dentro, agora! Vou fazer chocolate quente com marshmallow.
A mulher não precisou falar mais nada, correu para dentro enquanto Jon dizia para ele andar mais rápido.
A mulher riu baixo e fechou a porta depois que eles passaram. colocou Jon no chão e o garotinho foi correndo para a sala.
— Mãe, a senhora trás o chocolate pra mim? — Jon gritou da sala.
— Sim, querido. Já levo. — Ela já separava as coisas.
se apoiou de costas na mesa, ainda sorrindo.
— Ele está cada vez mais lindo, Amélie.
— Você diz isso porque ele se parece cada vez mais com você. — Amélie falou, rindo em seguida.
— Melhor do que se parecer com o pai dele. — fez um careta e Amélie o repreendeu com o olhar. — Ele ligou, pelo menos? Nos últimos meses, ele ligou uma única vez? Para saber como Jon está?
Amélie suspirou.
— No começo ele ligava todo dia, depois passou a ligar uma vez por semana, aí foi uma vez por mês... Sabe como é. E não reclame, se ele ligasse você também não ia gostar.
— Viaja à trabalho sem previsão de voltar e deixar você sozinha com o Jon, acho que eu tenho os meus motivos para não gostar dele. Mas não importa o que eu gosto, Amélie, importa o que o Jon gosta. — respondeu, sério.
— E eu sou a mãe dele, eu sei disso. E mais respeito com a sua irmã mais velha, . — Amélie sorriu, apesar da dura que dera. — E ele gosta de você, e você acabou de pegar uns dias de férias, não?
se aproximou e sussurrou:
— Estou fazendo uma surpresa. Depois do aniversário dele vamos viajar!
Amélie ergueu os braços e sussurrou um “Yaay!”, quase derrubando o liquidificador. Ambos riram.
— Mas e antes disso? Já pensou em como vai aproveitar essa merecida folga? Um tempo pra você seria muito bom, . — Amélie era extremamente habilidosa em dar sermões discretamente.
— Vou pensar em algo. Um passeio, não sei. Nada cansativo, pra guardar energia para a viagem. — Ele sorriu.
O chocolate quente ficou pronto e a ajudou com os cubos de marshmallow. Na sala Jon assistia um de seus desenhos favoritos, e que, secretamente, ambos os irmãos gostavam.
sorriu vendo a neve pela janela. Era sempre a neve, só ela para dá-lo tamanha tranquilidade e felicidade.
*
— Acabei! — comemorou assim que terminou de enviar o trabalho. Mas a comemoração não durou muito, pois logo em seguida ela percebeu que havia deveras acabado.
E que ela não tinha mais nada em sua casa que a entretece como aquilo, a fazendo manter longe de seus pensamentos a tragédia de sua...
bateu a cabeça em sua bancada um pouco forte demais. Mas serviu para se distrair momentaneamente. Eram onze horas da noite e ela estava sem sono algum. Tomou banho ouvindo música em um volume consideravelmente alto, e nada. Pegou o livro que estudava para falar do escritor em seu blog, mas além de não encontrar o sono ainda ficou inquieta. Não conseguir se concentrar em um livro era um problema novo para ela.
Então, repentinamente, ela decidiu. levantou-se, puxou uma de suas mochilas e começou a separar roupas, acessórios, kit de sobrevivência... Sua mochila não era pequena, mas também não era uma mochila de acampamento. E não era exagera, levava somente o básico, poderia voltar para casa quando quisesse. Mesmo sem ter certeza de para onde ia. Assim que a neve desse uma trégua iria a pé para a estação de trem. Ou era metrô? Bom, é tudo a mesma coisa.
Por sorte, essa trégua veio rápido, e assim que ela guardou sua câmera fotográfica e tirou algumas coisas da tomada, saiu. Tudo trancado, tudo certo. Como havia nevado pouco, a neve parecia mais um enfeite pelas ruas. Bonito, mas ainda faltava coragem nela. Ela foi a passos largos, chegando à estação em tempo recorde.
Quase vazia, pouco iluminada. Um ou dois seguranças. Do jeito que ela gostava de ir para escrever, ler, tirar foto ou desenhar. Ou apenas ficar. Mas não dessa vez.
Era coincidência ela morar tão perto de uma estação de metrô, o real motivo de sua escolha havia sido a proximidade com a biblioteca nacional francesa. Que, por sorte, tinha uma plataforma de metrô. Bibliothèque François Mitterrand, sua paixão parisiense.
caminhou, dessa vez mais calma, até a bilheteria. Agora: Para onde?
*
— Vê se descansa, ok? — Amélie estava encostada no batente da porta.
já estava na calçada, lançou um sorriso para a irmã e continuou andando. Seu carro estava em um estacionamento 24h ali perto. Podia tê-lo deixado em casa após o trabalho, e ter ido para a casa da irmã com sua bicicleta. Mas estava louco demais para ver seu sobrinho após semanas cuidando de vários eventos ao mesmo tempo. Estava morto de cansaço, apesar de adorar o que fazia. E, diga-se de passagem, também era muito bom naquilo.
Mas também estava com algo diferente dentro de si. Uma euforia estranha, repentina, uma vontade de... Passear por Paris! E chegando no estacionamento, deparou-se com a estação, uma das mais belas — e maiores — de Paris.
Correu para seu carro, pegou sua mochila e algumas roupas que tinha guardadas ali e foi falar com o funcionário do estacionamento. Saiu correndo para a estação, nem passaria em casa, não precisava. E provavelmente perderia a coragem se o fizesse. A estação fechava meia-noite e meia, ainda tinha quarenta minutos para pegar um trem, apesar de querer fazê-lo o mais rápido possível. Comprou sua passagem e foi para a plataforma.
Fazia tempo que não usava o meio de transporte público sem ter um compromisso urgente o esperando, o que significava que fazia tempo que não notava as belezas dos lugares como aquela estação. Chegava a ser estarrecedor.
Ele demorou um pouco para notar que não estava sozinho, mas a mulher que também estava ali tampouco o havia notado. “Deve ser turista.”, concluiu após analisá-la. Ela estava com uma mochila nas costas e uma câmera fotográfica nas mãos, concentrava demais nas fotos que batia para vê-lo. Ou era turista ou era uma daquelas pessoas excêntricas que estudavam fotografia em prelo século 21, para fazer algo que a tecnologia fazia sozinha. Lidar com fotógrafos nos eventos era a parte que ele menos gostava.
Mas a mulher parecia realmente uma turista, ou, pelo menos, era nova em Paris. Suas feições delicadas, a pele levemente bronzeada e a ausência de um cigarro deixavam isso explícito. se pegou analisando a fita vermelha que prendia os cabelos dela como uma tiara, e, em seguida, seus lábios quase tão vermelhos quanto a fita, mas, ainda assim, ela aparentava não usar maquiagem alguma.
O trem chegou e balançou a cabeça, afastando os pensamentos sobre a mulher antes que alguém o visse olhá-la tão descaradamente. Além de tudo, ela parecia ser mais nova que ele, que tinha 25 anos. embarcou e deparou-se com uma difícil escolha: Onde sentar? Não havia mais ninguém no vagão. Escolheu o lado esquerdo, próximo a porta. E obviamente sentou-se na poltrona da janela.
Ouviu uma risada e alguns passos pesados, em seguida as portas fecharam-se.
*
respirou fundo após tropeçar para entrar no vagão e sentou-se na poltrona mais próxima, do lado direito. Escorregou para perto da janela e deixou sua mochila no banco do corredor. Decidiu que aproveitaria a coragem repentina e não guardaria a câmera. Assim que saísse do metrô tiraria fotos da neve. Também decidira em qual estação desceria. Estava um tanto quente demais para o seu gosto. Ela não gostava de muito calor, o que era estranho para alguém que não gostava de neve, já que era de se esperar que ela amasse o calor. Mas ela não o odiava como odiava a neve, gostava do sol, quanto mais sol mais fácil era tirar fotos maravilhosas.
Desceria na Gare de Lyen, embarcaria na Linha 1 e iria até a Louvre Rivoli. Ver o Louvre à noite, iluminado por milhares de luzes artificiais. Queria fotos, fotos a distraiam. E nunca havia fotografado o Louvre à noite. Só a expectativa a fazia esquecer o motivo para sua inquietação. Havia um rapaz na mesmo vagão que ela, mas ela não se importou em notá-lo.
Até que, num solavanco, o trem parou. E lembrou-se do motivo para estar fugindo, o motivo que a deixava tão inquieta. Mas ela estava bem, muito bem. Pelo menos era isso que ela estava repetindo para si compulsivamente. Mas quando a voz soou nos alto-falantes do vagão, ela já estava com um sintoma: o ouvido tampado. O som abafado perdeu o sentido no seu cérebro, e passou a mãe em sua testa, constatando outro sintoma: o suor. “Estou perdida”, foi o que ela passou a repetir para si compulsivamente.
O homem que estava no vagão parecia falar com ela, mas ela não ouvia mais nada. O único som que ouvia com clareza era o de uma batida de carro. E depois uma explosão. Fechou os olhos com força, e já devia estar no 3º sintoma: a respiração pesada e descompassada. Sentiu algo a segurar pelos ombros quando começou a tombar. Ia desmaiar.
Seu último sentimento foi tristeza.
*
Não importava o quanto ele gritasse, ninguém ia ouvir. Nem a moça em seus braços. poderia apertar algum botão vermelho, ou achar um telefone. Todo vagão tinha um. Mas para isso teria que largá-la sozinha, o que pareceu uma ideia ainda pior quando ela começou a tremer. Desacordada e tremendo.
O trem havia parado por causa de algum problema nos trilhos, e voltaria a andar em cinco minutos, no máximo. Isso não era comum, mas depois de funcionar um dia todo sem manutenção, também não era uma surpresa. tinha um amigo que trabalhava no metrô de Paris, caso contrário não entenderia nada daquilo.
Lembrou-se de um desastre que acontecera uns meses atrás, em um evento de lançamento de um CD. A namorado do vocalista da banda ficara presa em um dos banheiros, e ela era claustrofóbica. Os sintomas eram parecidos, mas na ocasião a namorada do vocalista lá havia feito um escarcéu antes de desmaiar. A mulher — que agora parecia mais uma garotinha — não havia emitido som algum, apenas sua respiração alta delatara o que acontecia. Devia ser outro tipo de fobia, ou ela tinha outra reação, ele não entendia dessas coisas.
Ajeitou-a em seu colo, secou seu rosto e pescoço com um lenço que carregava à toa e pegou sua mão direita. Torcendo para que funcionasse, deitou-a no banco e ficou em pé, levantando as pernas dela. Agradeceu por ela estar de calça, já seria complicado explicar porque estava segurando as pernas dela no ar. Ela começou a reagir, e logo abria os olhos preguiçosamente. O encarou confusa.
— Não se mova, você deve estar fraca demais, acabou de desmaiar. — Ele avisou, mantendo as pernas dela no ar. Ela voltou a fechar os olhos. — Não, não feche os olhos! Você precisa ficar acordada.
— Muito... Quen-te... — Ela tombou a cabeça, parecendo exausta.
apoiou as pernas dela no banco e rapidamente tirou a blusa de frio que ela usava, e passou a abaná-la. Aos poucos a cor pareceu voltar aos seus lábios.
— Tem uma garrafa de água do lado de fora da minha mochila. — Ela parecia melhor do que estava quando acordou.
O trem voltou a andar.
— Tá se sentindo melhor? — Ele perguntou enquanto pegava a garrafa d'água que estava num bolso do lado de fora da mochila dela.
— Bem melhor, só um pouco tonta. Obrigada. — Ela agradeceu, pegando a garrafa.
Ela ajudou-a a levantar e ela sorriu fraco. Suas maçãs do rosto estavam coradas, e desviou o olhar antes que voltasse a reparar demais nela. Antes que ela percebesse.
— Meu nome é , . Mas pode chamar só de . — Ele a olhou e ela sorriu discretamente. Talvez por culpa da fraqueza.
— Muito prazer, . E o meu é , mas, por favor, me chame de .
Ele sorriu.
— Ok, . Muito prazer. — Eles se cumprimentaram com um aperto de mão. A mão dela era muito macia. — Mas acho um nome muito bonito, também. — resolveu fazer o elogio, o máximo que podia acontecer era achá-lo clichê demais.
Ela sorriu como se pedisse com o olhar para ele não chamá-la assim.
— Eu não acho feio, apenas... Prefiro , por costume.
*
Ela mentiu, mas aquela era uma mentira inocente. Todos a chamavam de , era verdade. Mas não se sentia confortável com por outro motivo. Só uma pessoa a chamava assim, e não era para dar bronca. Seu pai.
Afastou esses pensamentos antes que tivesse outra recaída.
— Ainda bem que você me acordou, mesmo, ia acabar perdendo a estação.
— Ou a vida. — fez um careta trágica. Ela riu. — O quê? Você podia ter caído, batido a cabeça, ou...
fez uma careta e ele sorriu satisfeito.
— Eu vou descer agora, na Gare de Lyen. Queria te agradecer, mas não sei como. Você não precisava ter feito nada, e mesmo assim me ajudou.
franziu a testa.
— Não foi nada, era o mínimo que eu devia fazer. Você tá voltando pra casa?
— Hm, na verdade, não. Estou indo para o Louvre, nunca o visitei à noite. — Ela notou que ele desviara o olhar para a mochila dela, e, adivinhando a pegunta que ele faria, adiantou: — Não sei o que me deu, quis sair de casa. Passear por Paris, ou pela França, e dormir em algum hotel no caminho. Depois continuar...
— Sério? — Ele pareceu não acreditar nela.
— Sim! Por que, parece assim tão absurdo? — A pergunta foi um tanto para si mesma.
— Não! É que... Eu estou fazendo a mesma coisa. Só não sabia onde estava indo, e nem passei em casa para fazer uma mala. Você disse Louvre? Hm... — Ele pareceu considerar o assunto.
— Sério??
— Sim, e eu sei que parece absurdo. Ainda deixei o carro em um estacionamento, nem deixá-lo em casa eu o deixei.
Ambos riram.
— Bom, se você quer passear, não me importo se vier comigo. Eu sou uma guia turística e tanto, modéstia à parte. — Não estava nos planos dela estar acompanhada, mas a ajudaria a manter a cabeça ocupada, talvez funcionasse.
E, caso ela pifasse novamente, não estaria sozinha.
— Essa eu quero ver. Guia turística, é mesmo?
— Não! Não... Apenas uma curiosa, sabe como é. Mas nunca fiz nem curso de turismo. — Ela apressou-se a esclarecer.
O trem começou a desacelerar, e levantou-se.
— Muito bem, veremos! — Ele riu.
levantou-se também, pegando sua mochila. De repente pareceu sentir falta de algo, e ficou encarando o banco.
— Minha câmera...?
— Ah, na sua mochila. Guardei com medo de que ela caísse. Mas seria bom dar uma olhada na mochila, só joguei ela aí dentro e...
Ela o fez segurar sua mochila, tirou a máquina de dentro e colocou a mochila nas costas ao mesmo tempo que as portar do vagão abriam-se.
*
Eles saíram do trem, ligeiramente na frente. Agora que ela havia se recuperado, sua postura era completamente independente, ela parecia totalmente segura de si.
— Então você é fotógrafa? — Ele questionou, com um sorriso ladino.
— Não, não! — Ela virou o rosto para ele antes de responder. Gostava disso, gostava de como ela sempre respondia olhando para ele. Era como se ela respondesse com todo o corpo, demonstrando o que falava. — Já li bastante sobre, pesquisei, mas nunca fiz uma faculdade.
decidiu ser chato, só para ver a reação dela.
— Então você faz parte daquele grupo de excêntricos que não usa o modo automático que toda câmera tem e faz exatamente tudo que você estuda sozinha e muito bem?
riu.
— A minha câmera não tem um modo automático. — Ela mostrou a câmera para ele.
— Mais excêntrica ainda, então. — Ele sorriu.
— Eu não sou excêntrica! — fez uma careta de ofensa e puxou sua câmera de volta. — Sou apenas curiosa. Talvez um pouco demais.
Realmente, ela não era excêntrica, muito menos metida. Conhecia muitos fotógrafos que não haviam feito faculdade mas que agiam como se tivessem inventado a fotografia.
— E por que esse monstro de câmera, por que não uma mais simples? É a mesma...
— Não diga que é a mesma coisa. Acredite, não é. Dá pra explorar muito mais as fotos, tem muitas outras possibilidades, é realmente muito mais fácil conseguir fotos maravilhosas sabendo usar uma belezura dessas.
Ela foi sincera. Sincera e humilde. Definitivamente não era fotógrafa.
— Eu gostaria de ver algumas dessas fotos maravilhosas. — Ele respondeu, sincero, já imaginando como chefe de fotografia da sua empresa, assim ele nunca mais teria que lidar com aqueles seres.
— Podemos fazer uma troca. Eu te uso como modelo para as fotos de hoje e depois deixo você ver as que eu tenho aqui na memória da câmera.
riu.
— Acho que você sai no lucro nisso aí. Eu sou um modelo e tanto, com roupa ou sem.
revirou os olhos.
— Tenho mais de vinte mil fotos aqui, em altíssima qualidade. E você pode continuar com as suas roupas, por favor. Você não é modelo de verdade, é?
Ele riu.
— Não. Por quê?
— Não gosto de modelos. Digo, de fotografá-los. As fotos saem tão... Vazias. Falsas. Estou constantemente fotografando pessoas sem elas saberem, e depois dou um cartão com o site no qual hospedo as fotos caso elas queiram pegá-las ou removê-las de lá. Nunca fui processada. Também, não as uso para fins lucrativos, e não cobro nada por elas. Apesar de já terem tentado me pagar algumas vezes.
Do jeito que aparentava ser humilde, entendeu “algumas” como “muitas”. Ele sorriu.
— E como você se sustenta pra ter tempo de tirar tanta foto e não lucrar nada com isso?
— O que você acha que eu faço pra me sustentar? — Ela sorriu, parecendo se divertir com o jogo de adivinhação.
Ele deu de ombros.
— Acho que sua família é rica e você se sustenta com o dinheirinho do papai. — Ele mentiu. Tinha suspeitas melhores, mas esse era o palpite mais óbvio e ele não queria revelar que estava a estudando.
— Você realmente acha isso? — O canto da boca dela deu uma leve inclinada para baixo. — Não, eu não ganho nada da minha família. Nem presente quanto mais ajuda financeira.
O que fazia todo o sentido, a humildade dela era a humildade de quem trilhava seus próprios passos e vencia suas próprias batalhas para alcançar seus objetivos. sabia bem o que era isso.
— Então... Você é uma pesquisadora.
— Quase. Chegou perto, mas, hm, pesquisar é apenas um extra. Algo que me destaca nessa área.
Eles entraram em um novo vagão e as portas se fecharam às costas deles. deu mais alguns palpites, até que ele pediu um tempo para pensar. Já tinha dicas muito boas, logo diria algo que seria a peça final para o quebra-cabeça.
— E você, , qual é o seu sustento? — Ela perguntou carregando seu sotaque, afinando as bochechas enquanto quase fazia um biquinho de peixe. Além da postura e alguns gestos delicados que fez com a mão.
— Você não é daqui, é? — Ele riu. fizera uma ótima imitação das mulheres parisienses mais tradicionais. Só faltava o cigarro.
— Eu fiz a pergunta primeiro. — Sua resposta foi ríspida, ela ainda estava no personagem. Mas então ela riu, desfazendo a postura e soltando o ar. Ela era mais bonita assim, apesar de ser bonita até branca, suada e morrendo, como ele havia constatado alguns minutos atrás. — Não, não sou francesa. Mas isso é tudo que eu vou dizer, é sua vez de responder as perguntas!
— Bom, pra começo de conversa, meu sustento é muito melhor que o seu, pois o máximo que eu tenho que pesquisar são lugares, músicas, pessoas... E nem sou eu quem pesquisa, só escolho de um relatório que alguém pesquisou muito pra fazer. Enquanto você tem pesquisas pesadas como um extra!
— Você é um produtor de eventos! — Ela não estava perguntando. Aquilo foi um pouco impressionante. — Acertei? Pela sua expressão, diria que sim. Não me pergunte como eu adivinhei ou eu vou tentar dar uma de Sherlock Holmes e falhar horrivelmente.
Por alguns instantes ele considerou que talvez ela fosse uma detetive. Mas logo lembrou que ela gostava de pesquisar, e, provavelmente, entender o que pesquisava... Aquela não devia ser sua profissão, apesar de parecer plausível e até parecer encaixar no quebra-cabeça.
*
“Será que eu o assustei? Ele ficou silencioso demais... Merde!”
Os ares parisienses já estavam lhe fazendo mal, começara a xingar como eles — mesmo que mentalmente —. Mas, afinal, não era aquilo que ela era? Um pouco de cada lugar que passava, um pouco de tudo? Não, não. Mas quase isso.
— Você não é detetive, é? — riu, por fim.
— Não! — Ela riu também, aliviada. — Acertei de primeira! — Ela ergueu o punho fechado, comemorando seu feito.
— Mas faz parte da sua profissão ter um raciocínio tão rápido e preciso?
Ela pensou por um tempo.
— Não, quer dizer, um pouco. Preciso de muito raciocínio lógico, sim. Mas não tenho que adivinhar a profissão de ninguém. E olha você fazendo as perguntas de novo! Deve fazer isso direto como produtor de eventos, né? — sorriu e ele a acompanhou.
— Sim, o tempo todo. — Ela o havia pego, e tão facilmente que aquilo o dava vontade de rir.
— Ah sim! — Ela lembrou de algo, repentinamente. — Eu já tirei uma foto sua, quando você entrava no vagão antes de eu, bem, desmaiar. — Ele pareceu surpreso, e riu. Talvez tivesse corado um pouco, também. — Não me processe. — Ela pediu, rindo, e entregou um cartão para ele.
Ele riu, balançando a cabeça negativamente. Seu cabelo um pouco maior que o padrão para “cabelo curto” ficou um tanto desarrumado. E foi aí que ela notou como ele era bonito.
— E você, é francês? — questionou.
— Não. Meus pais se mudaram pra cá antes de eu me formar na faculdade. Minha irmã, que é mais velha que eu, ficou comigo em Boston até eu pegar meu diploma, aí nos juntamos à eles. Sempre fomos muito próximos.
sorriu, mas havia um pouco de dor no seu sorriso.
— Não tenho irmãos.
“Nem pais.”, ela pensou.
— Você não está perdendo muito, acredite. Passamos por maus bocados. Mas, bem, é verdade que hoje ela é minha melhor amiga. E você, quem é seu melhor amigo?
— Meu cachorro. — Ela riu. — Mas ele morreu tem quase um ano.
— Uh... — fez uma careta de dor. — Meus pêsames. Essa é a única parte ruim de ter um cachorro de estimação, né.
— É. Eles tem essa mania chata de morrer um dia. — Ela falou séria, e estava sério também. Mas, por algum motivo, ao se entreolharem ambos riram. — Ainda não consegui criar coragem para adotar outro. Só de pensar, eu...
engoliu seco e deixou a frase morrer ali. assentiu e começou a falar de adoção animal, parecendo animado. Os dois conversaram um bom tempo sobre suas paixões caninas, mas o acordo unânime era que vira-latas eram fantásticos.
Logo estavam na Louvre Rivoli. Saíram da estação e a conversa acabou ali, porque não havia como falar algo depois que o Louvre roubava todas as suas palavras. E a sua voz, de brinde. sentou-se em um banco, sentido que talvez o Louvre tivesse roubado a sua força, também.
Eles observaram em silêncio por alguns minutos.
E então, do nada, começou a fazer poses, de costas para ela. E começou a tirar fotos, rindo. Quando ele tirou a blusa de frio ela tomou um susto.
— Não tira a roupa!
Ele riu, rodando a blusa de frio no ar. Mas logo vestiu-a de volta, o tempo estava esfriando, parecia que a neve podia voltar a qualquer minuto. Depois de um tempo, voltou. E ela ainda não havia largado a câmera. Sentou-se ao lado dela no banco.
— Vamos fazer um outro jogo. Você diz uma banda e eu falo o que eu acho, e vice versa. — Ele ofereceu.
— Avaliar bandas? Qual é o seu grau de conhecimento sobre música? Não vamos discutir, vamos? Odeio quando discutem música com base no gosto pessoal, gosto é gosto, e é pessoal por um motivo. Você não o usa pra justificar se uma banda é boa ou ruim!
*
Ele teve que rir. Só faltou espumar de raiva.
— Mas eu quero saber o seu gosto!
E isso não soou exatamente como ele esperava. Ela sequer pareceu notar.
— Para poder me julgar! — Ela o encarou indignada, mas acabou rindo. — Você vai ter que colocar álcool na minha corrente sanguínea primeiro.
— Isso não é um problema. — sorriu e estreitou seus olhos, encarando-o.
— Não o conheço, não sei se posso confiar em você. — Ela declarou.
— Você pode falar com a minha irmã, por celular. Ela vai te dizer que eu sou um chato, porém, confiável. E, às vezes, legal. Mas só às vezes. — Ele imitou a irmã na última frase. sorriu.
— Vamos andar, está esfriando.
— Ok, vamos achar um bar!
Ela fez pose de indignação, escancarando a boca. Ele só riu mais.
— Ok, ok!
Não andaram muito e logo encontraram um bar ótimo. Tranquilo, com poucas pessoas, não muito iluminado mas tampouco escuro. Bar fuleiro, mas digno.
o apontou, convidando-a com o ato. Ela respondeu dando de ombros, e balançou a cabeça positivamente em seguida.
— Parece confortável, mas não pense que vai me embebedar.
Ele sorriu ladino, deixando-a entrar primeiro. Quis ver qual mesa ela escolheria. Perto do bar, atendimento rápido. Mas teria gente demais passando por eles toda hora. Perto ja nela, fora do caminho do bar, era um lugar bom. Mas era onde a maioria dos clientes estava. Se ela confiasse nele, escolheria o canto oposto do bar, também ao lado de uma janela, mas bem mais tranquilo e menos iluminado. Talvez tivesses uma dificuldade maior em serem atendidos, mas valia a paz.
— Ali. Tudo bem? — foi direto para o canto oposto do bar, e sorriu.
Parou perto de um funcionário e pediu algumas bebidas e aperitivos. Quando virou-se para a mesa encontrou tirando fotos, com a câmera-fodona-muito-louca apontada para ele. Isso o fez rir.
— Tem certeza que não quer que eu tire a roupa?
revirou os olhos deixando um suspiro escapar.
— Quer ver as fotos?
— Tem alguma sua? Da sua família?
— Algumas. — Ela apontou para um lado. — E nenhuma. — Ela apontou para o lado oposto. E se distraiu com a vista da janela.
estranhou. Não via seus pais há um mês porque eles estavam viajando e já não aguentava de saudade. E ela gostava de tirar fotos, como não tinha fotos da família ali?
Ele considerou algumas possibilidades, desde simples e bobas até elaboradas e trágicas, mas logo as fotos que apareciam no visor da câmera ocuparam toda a sua atenção.
era realmente boa naquilo. As fotos eram fantásticas e pareciam sempre te levar ao ponto principal da imagem sem muito esforço. Ele até parecia atraente nelas.
ouviu um riso baixo, mas não se importou. As fotos eram realmente o que ela havia falado — e mais, na verdade. Ele não mentiria sobre isso. Depois de alguns minutos a bebida chegou e achou que fosse ver entediada com o silêncio dele, mas ela parecia fascinada com alguma coisa. Não conseguiu ver o que poderia ser.
*
“Ele não é o que demonstra ser!”, gritava mentalmente. As chatices dele não a incomodavam, mas já tinha suspeitado que era tudo fachada. E quando o observou analisar suas fotos, ficou mais do que claro.
Ele tinha seu jeito despojado, sem frescura. A pose perfeita para um produtor de eventos.
Mas era mais do que isso. percebeu que havia sido testada o tempo todo, e havia sido honesta o tempo todo, enquanto ele fingia!
Agora ela sentia vontade de rir. Ele a encarava com um olhar questionador.
— Não confio em você o suficiente para beber uma garrafa disso. — Ela declarou, apontando para a garrafa de uísque que havia sido deixada na mesa.
— Mas eu sou um cavalheiro! — Ele colocou a mão no peito, fingindo-se ofendido.
— Até depois de beber uísque? — Ela duvidou.
Ambos riram, e puxou seu celular do bolso da blusa de frio.
— Fale com a minha irmã, então!
— Não! — Ela deu um grito um pouco desesperado, mas já era tarde.
— Sim! Alô? Acorda, Amélie. É rápido. Shh, escuta! Eu estou acompanhado, mas a nobre moça está com medo de beber na minha companhia porque não me conhece direito. Ok. Vê se não fala besteira. — Ele disse, sério, e passou o celular para .
Ela pegou o celular e fechou os olhos.
— Alô?
“Não acredito! Que voz bonita! Isso explica algumas coisas, odeia sair só com uma mulher, ou mais, por causa da voz aguda que a maioria tem. Prazer, sou Amélie, a irmã mais velha dele. é um ótimo rapaz, ele não vai fazer nada que você não queira, nem bêbado. Mas volta o celular pra ele pra eu dar uma puxada de orelha, só pra garantir que ele vai ser um bom garoto. Legal falar com você, . Sinta-se convidada para aparecer na minha humilde residência quando quiser. Beijinhos!”
— Ok, beijinhos. — estava quase rindo, e ainda atordoada com a velocidade das palavras de Amélie passou o celular para .
— Ok, ok, ok... Amélie, respira. Ah, toma um calmante. Também te amo, tchau. — Ele guardou o celular e voltou-se para . — Minha irmã disse que você é muito quieta, mas tem uma voz linda. Ela também disse que isso explica porque eu estou saindo com você. — sorriu.
— Nós não estamos saindo!
— Acho que estamos, sim. Agora, um jogo! — Ele se inclinou para a garrafa de uísque.
— Eu não disse que ia aceitar isso. Por que eu deveria acreditar na sua irmã? Também não a conheço. — sorriu.
*
Mas ela confiava. Estava explícito em seu olhar para . E Amélie estava certa, era demais o “tipo” dele. Era mais do que isso. Talvez, com sorte, ele também fosse o “tipo” dela. E era disso que ela estava com receio.
Ele deu de ombros e sorriu.
— Mas você acredita. E ela é minha irmã, irmãs sempre falam mal dos seus irmãos, se eu não prestasse ela teria te falado, você sabe disso. Vamos lá, eu ainda tenho que adivinhar o seu trabalho. — serviu o uísque nos dois copos que estavam com gelo.
cedeu e ele começou a bombardeá-la com perguntas. Aos poucos sua lista de especialidades aumentava; Inglês, francês, latim, grego, autônima, frequentadora assídua de bibliotecas, acadêmica...
— Você é uma revisora. — Ele a observou assentir com um leve aceno de cabeça, como se pedisse para ele continuar. — A pesquisa é o seu diferencial porque você revisa teses e livros científicos, e o seu conhecimento em latim e grego te permite entender esses materiais e encontrar palavras melhores para o próprio texto integral e para sua tradução. E você ama o que faz, porque só amando pra aguentar um trabalho desse!
riu e isso o fez sorrir, satisfeito.
— Precisamente perfeito, monsieur. E todo trabalho não é assim? — Ela ergueu seu copo de uísque, brindando o ar, e bebeu o líquido do copo em um único gole.
lembrou-se de sua ideia inicial e pegou os copos de dose. Colocou um dedo de uísque em dois e colocou um na frente de , e o outro na sua. Ela ergueu uma sobrancelha como se questionasse seu ato.
— O jogo. Eu digo algo e você vira se for verdade, aí você diz algo e eu viro se for verdade. E por aí vai.
pareceu ponderar a oferta.
— Ok. — Ela disse, por fim. — Mas cuidado com as perguntas, se eu me ofender vou te bater.
— Ok! — Ele respondeu, rindo. — Mas talvez eu goste de apanhar de você.
Ela escondeu o rosto nas mãos, fingindo vergonha.
— Ok, eu começo. Você já dançou Backstreet Boys. — falou já empurrando a bebida para mais perto dele. — Desculpa, você tem cara de quem dançava Backstreet Boys direto.
E virou o copo, dando de ombros. Ela colocou mais uísque no copo dele, rindo.
— Mas eu era muito melhor que eles, só pra constar.
— Eu posso querer ver isso mais tarde. — Ela ria mais.
— Será um prazer, mademoiselle. E você já teve uma quedinha pelo Nick Carter.
negou com a cabeça, acalmando seu riso.
*
Ela soube na hora que ele continuava tentando-a. podia ter dito “uma quedinha por um Backstreet Boy” em vez de ser tão específico, mas seu interesse não era fazê-la beber. Ele ainda queria saber mais dela, e, por algum motivo, aquilo a fez sentir-se bem.
— Você tinha uma queda por alguma Spice Girl.
Ele virou o copo, 2x0 pra ela.
— Tinha? Passado? — riu e ela riu junto.
Talvez fosse o efeito do uísque. As perguntas continuaram e começou a ser mais específica. Surpreendeu-se quando percebeu que também queria saber mais sobre ele.
— Você é um cara de um encontro só.
virou outro copo.
— Queria deixar claro que isso só é verdade porque nenhuma delas valia um segundo encontro. A maioria delas não valia nem o primeiro!
— Outch! — Ela fingiu que sentia dor com o comentário, mas entendia muito bem o que ele queria dizer.
— E você é uma garota de três meses.
Ela o encarou, confusa.
— Como assim “garota de três meses”? — Ela fez as aspas no ar.
— Você acha a pessoa interessante, vai o conhecendo, aceita que ele se apegue... Mas isso nunca dura mais que três meses. — Ele sorriu ladino.
não precisou fazer contar, sabia que era verdade. Virou seu copo, o encheu de novo e o virou novamente. Isso fez gargalhar.
— Sou honesta. — Ela deu de ombros. — E esse título não é algo de que eu me orgulhe.
ia dizer algo, mas um celular começou a tocar. O celular dela. apressou-se a pegá-lo em sua mochila, mas quando atendeu já era tarde. estava vermelho de tanto rir.
Era a autora da tese que ela havia enviado ao terminar de revisar, antes de fugir, quer dizer, sair, de casa. Fuso horário, e além disso a mulher ainda tinha hábitos estranhos como acordar muito cedo para caminhar.
De tudo que podia perguntar quando ela desligou o celular, ele falou:
— Você é fã de The Script. — Ele sorriu.
Ela revirou os olhos e virou seu copo. Mas, para a sua surpresa, ele fez o mesmo.
— “The End Is Where I Begin” é uma ótima música. — disse. Então ele pediu para ela ligar para ele e depois que “Rusty Halo” tocou os dois não pararam de rir.
E ficaram conversando sobre suas bandas favoritas e rindo por um bom tempo.
*
Deve ter passado uma hora, talvez duas. Eles haviam parado de beber, mas já estavam falando alto e fazendo idiotices. Como dançar Backstreet Boys. Numa hora ele estava dançando sozinho para , e na outra o bar tocava as músicas mais conhecidas da boyband, e outros homens haviam se juntado para dançar também. Mas ainda dançavam para .
Ela ficou de pé, batendo palmas e gritando como uma fã histérica. Logo dançava entre eles, e isso continuou por um tempo. Dançou com até que o cansaço chegou, e cada um voltou para sua mesa, sorrindo.
foi apoiada no ombro dele.
— Nós devíamos comprar um bar. — Ela falou, com um tom cômico na voz.
riu, lembrando-se de um episódio muito engraçado de um seriado igualmente engraçado, de onde ela provavelmente tirara a frase — apesar de momentos brilhantes como esse sempre surgirem depois de um porre, exatamente como o seriado afirmava. Ele respondeu como o personagem havia respondido.
— Nós realmente devíamos comprar um bar!
— Sim! — Ela continuou, parando de apoiar a cabeça no ombro dele para olhá-lo, e aí ele teve certeza que ela também já assistira o episódio que ele havia lembrado. — E o nome dele seria “Enigma”!
— Siim, “Enigma” é um ótimo nome!
— E quando nos perguntassem “Por que esse nome?”, responderíamos “Esse é o enigma”!!
Os dois riram por mais um tempo. sentou-se e, dessa vez, sentou ao seu lado ao invés de sentar na sua frente.
— Agora, falando sério... — Ele fez uma carinha de decepção, e ela riu fraco. — Nós devíamos tomar um energético. — Ela voltou a apoiar-se no seu ombro, parecendo cansada.
— Por quê?
— Eu gostaria de evitar a depressão. Só um pouco, nada para nos ligar no 220 de novo. Só pra... Acordar um pouco. Por favooor... — Ela pediu um tanto mole e sentiu a pele do seu pescoço arrepiar-se.
— Ok, vou pegar uma latinha para nós dois.
Ela o soltou e ficou sorrindo para ele.
foi ao banheiro primeiro, lavou seu rosto e encarou-se no espelho por alguns segundos.
Ele lembrou-se do toque do celular dela. “Sometimes your first scars wont ever fade away.”
Às vezes suas primeiras cicatrizes nunca irão sumir.
Aquela música podia dizer tanto sobre ela. Mais uma coisa que ele não sabia. Suas dúvidas não tinham fim, estava com ela a tempo mais que suficiente para já ter enjoada. Mas ali estava ele, precisando saber mais. Muito mais. Precisaria ele de um segundo encontro?
saiu do banheiro e pegou um energético direto do bar. Quando olhou em direção à mesa notou que voltara a nevar. E cobria o rosto com as mãos. Devia estar cochilando. Dirigiu-se à mesa hipnotizado pela neve. Sentou-se à mesa e ouviu soluçar.
— Hey, trouxe o energético. — Ela não se moveu. Ele se sentou e cutucou-a com a latinha. Nada. — ? , olha pra mim.
— Não. — A voz dela veio abafada, com um soluço em seguida. — Não!
Ele tentou afastar as mãos dela do rosto, e quando quase conseguiu viu que seu rosto estava vermelho, seus olhos marejados. Ficou preocupado.
— , sou eu! Olha pra mim, por favor! — Ele insistiu até que ela tirou as mãos do rosto e encostou a cabeça no ombro dele, continuando a chorar. Ótimo, uma bêbada chorona. Ela tinha que ter um ponto negativo em algum lugar. — O que foi?
— Neve! Estou com medo...
— Começou agora, está tudo bem.
— Você não tá vendo, né? — Ela foi um pouco agressiva, e levantou a cabeça para olhá-lo. — Eu tenho fobia! De neve! Quionofóbica, prazer! — Ela voltou a chorar. — Desculpa. Deve ser o álcool. Eu já estava superando isso... Fraca, fraca, fraca. — A neve começou a cair mais forte e pareceu perder o controle de novo. — Eu quero minha casa, quero...
Ele se apressou a pedir a conta e pegá-la. tentou dizer algo, mas sua fobia controlava sua razão. Talvez ela quisesse pagar metade. Tolinha.
— Vem, nós vamos encontrar um hotel o pessoal disse que tem um logo na esquina.
— Não! Eu não vou sair. — Ela pareceu meio enlouquecida. — Não vou!
tentou permanecer calmo. Xingou por ter decidido sair sem seu carro justo naquele dia, mas aí lembrou que se estivesse de carro não teria a conhecido. Segurou as mãos dela e a olhou direto nos olhos. tremia.
— A neve ainda está fraca, . O hotel é que perto. Nada de ruim vai acontecer. Eu prometo.
— Promete? — Ela pareceu uma criança. abraçou-a e notou que ela tremia inteira e não apenas nas mãos.
— Sim, eu te prometo. Feche os olhos e não os abra até eu mandar. Eu te levo até lá.
— Ok. — Ela sorriu, já fechando os olhos. — Eu confio em você. Por favor, tenha cuidado.
Ele a conduziu até a porta e, antes que ela saísse do bar, a pegou no colo. deixou um gritinho escapar, mas passou os braços em volta do seu pescoço para segurar-se, sem reclamar. Toda aquela tensão havia o acordado. andou o mais rápido que podia, mas logo as unhas de estavam cravadas em suas costas, ela chorava em silêncio e respirava descompassadamente. Seus olhos forçosamente fechados nem se moviam. O hotel pareceu estar mais longe do que haviam dito, mas logo ele o avistou e correu para dentro.
Os funcionários do local o olharam assustados.
— Ela tem fobia de neve!
não precisou dizer mais nada. Dois homens e uma mulher correram para ajudá-lo. Levaram-na para um quarto ali mesmo no térreo, deitaram-na numa cama de solteiro e colocaram muitos cobertores acima dela. parecia delirar. O lugar onde ela havia fincado as unhas nas costas de ardia, e a funcionária fez um curativo rápido neles, “Para não inflamar”.
— Ela não está inconsciente, bom. — Um dos homens disse. — Talvez seja bom você falar com ela, é o melhor jeito de tirá-la desse delírio, uma voz conhecida a chamando.
Ele quis gritar que ela não o conhecia, com medo de não ser o suficiente, mas então ela o chamou. Fraco, quase inaudível, mas ainda assim um “”.
Se apressou para atendê-la. Ficou dizendo coisas desconexa sobre as horas que haviam passado juntos. Ela começou a reagir com um sorriso. segurou seus mãos e continuou falando.
— Chame-a. — O mesmo homem que havia dito para ele conversar com ela falou, e ele obedeceu sem pensar.
— ? ? — Ele teve uma ideia. — !
Ela reagiu com uma careta, e deixou um “Papai” escapar, quase mais baixo do que o “” que havia dito primeiro. Uma lágrima rolou de seu olho e ela apertou as mãos dele.
— Senhor, vocês vão ficar a noite aqui? Temos quartos disponíveis. — A mulher ofereceu.
— Sim, sim, por favor.
— Quer ver os preços?
— Não precisa, um médio está bom. — voltou a falar com , que parecia reagir mais e delirar menos.
*
“Não posso abrir os olhos, não posso ver...”
“...”
“!”
“ ...”
“Papai... Pa... Me desculpa.”
Ela voltou a chorar, por que estava sozinha? Onde estava , onde estavam seus pais? Era culpa dela, ela sabia. Todos sabiam, por isso ninguém gostava dela.
“Mamãe! Papai!”, ela gritou ao ver o carro deles capotado. Sua mãe sorriu, um filete de sangue escorrendo por seu rosto.
“Vá, . Vai ficar tudo bem. Rápido!”
correu, correu como se voasse, mas não parecia sair do lugar. Nevava tão forte que ela confundia montes de neve com casas. Ninguém para ajudar.
Então ela ouviu o barulho de uma explosão. Virou-se para ver se seus pais estavam bem. Encontrou apenas fogo onde antes eles haviam estado. Ela ficou parada, esperando seus pais aparecerem. Minutos, horas, não saberia dizer.
Ela ficou parada até que um bombeiro apareceu e tirou-a dali.
“, por favor...”
*
Os olhos de se arregalaram, e ela ameaçou levantar. segurou-a no lugar.
— Não levanta, ou você vai ficar tonta e desmaiar. — Ele avisou.
Ela o encarou confusa, com dificuldade de entendê-lo.
— Beba essa água. — Ele levou um copo até a boca dela, e bebeu.
Ela pareceu lembrar do que havia acontecido porque sua expressão relaxou.
— Segunda vez em menos de doze horas, hein? — falou, fraca. — Meu herói.
Eles riram e a funcionária apareceu na porta do quarto.
— Ah, que bom! Você está bem, querida?
assentiu com um aceno positivo de cabeça.
— Melhor do que quando estava delirando. — Ela brincou.
Riram de novo. “Então ela fica engraçadinha depois de quase morrer?”
— Que bom, querida. O quarto de vocês está pronto, suas mochilas já estão lá. E a chave, aqui. — Ela entregou a chave para . — Podem ficar nesse quarto o quanto for preciso para você se sentir melhor, querida. Vamos? — A mulher chamou os funcionários e saiu.
— Um quarto? — questionou.
— Ainda está... Branco, lá fora. — Ele sentiu medo de dizer a palavra “neve”. — Não vou te deixar sair daqui assim.
fez um careta de “Ok, mandão”, mas acabou agradecendo.
— Apesar de saber que essa sua bondade toda é só porque você quer dormir comigo, obrigada.
Ele riu.
— Convencida.
— Não sou! Sou uma ótima observadora, você sabe. Muito inteligente, também. — Ela fez graça, tentando ser arrogante.
— Eu estou pensando em um segundo encontro, na verdade. — Ele assumiu. Era verdade.
ficou séria, e então um sorriso alargou seus lábios.
— Você realmente quer dormir comigo!
Ela gargalhou e ele acabou rindo junto.
— Acho que você está melhor.
— Sim, e precisando urgentemente de um banho. Me ajuda? — Ela tentou afastar os cobertores.
— No banho? — Ele resolveu brincar, também.
jogou a cabeça para trás, rindo. Ele imaginou como seria bom beijar aquele pescoço. Tirou os cobertores de cima dela e ficou em pé, erguendo sua mãe para ajudá-la a levantar. estava bem, mal precisou de sua ajuda. Foram para o elevador na recepção, acenaram para as pessoas que haviam ajudado. Quando acharam o quarto, abriu a porta. Deixou entrar primeiro.
*
— Você realmente quer dormir comigo, mesmo. — ela riu. — Olha esse quarto! E uma cama de casal. — Ela virou-se para encará-lo, acusadora.
— Ops, não foi intencional. Pelo menos é um hotel e não um motel.
Ela apontou para ele e concordou.
— E me ajudar no vagão, também não foi intencional?
sorriu e foi direto para o banheiro, estava pegajosa e sentia-se extremamente suja. Devia estar horrível, também. Mas não costumava se preocupar com isso.
— Deixa a porta destrancada? É sério. — pediu. — Caso você passe mal. Por favor.
— Só se você prometer não entrar a menos que eu chame. — Ela impôs.
— Só se você prometer que vai me chamar caso sinta-se mal.
— Ok. — Ela concordou, sorrindo.
— Ok. — Ele sorriu de volta.
fechou a porta sem trancá-la. Mas tudo correu bem. Logo ela saia enrolada num roupão, os cabelos ainda molhados. Ela ia dizer que se sentia ótima, mas viu de costas, sem camisa. Com curativos perto do pescoço.
— Oh meus deuses! — Ela exclamou, e ele virou-se assustado. — Eu fiz isso?! Nas suas costas? Vai ficar uma cicatriz!!!
Ele entendeu, e acabou por rir.
— Não foi nada, relaxa. Então você é politeísta?
deu um riso nervoso, mordeu o próprio lábio e ele entendeu errado. olhou para seu tórax nu e sorriu, voltando a olhar para ela. riu, incrédula, e revirou os olhos.
— Por favor.
Ele riu mais.
— Vou tomar banho também.
Ela tampou o nariz e falou:
— Demorou, né.
— Você não quis me deixar ir junto, oras.
A porta do banheiro fechou-se num estrondo, e ela riu. Pegou sua mochila e separou uma blusa e seu shorts de dormir. Trocou-se e pegou o livro que lia para o seu blog. “The Notebook”, Nicholas Sparks. Era um bom livro, apesar de não ser nada fantástico, e um pouco clichê. Mas, afinal, o que não era clichê depois de alguns mil anos de existência humana? estava gostando do livro, não via a hora de ver como haviam adaptado para o cinema. Já tinha alugado o DVD. Guardou-o antes que saísse do banheiro, com medo de que ele fosse um leitor do seu blog. Ela riu com o pensamento, mas preferiu prevenir do que remediar.
saiu de bermuda e chinelo.
— Não me olhe assim, me recuso a dormir com camisa. Já estou fazendo demais de usar bermuda. — Ele avisou.
— E onde você pensa que vai dormir?
— Na cama. Sinto muito, estou morto. — Ele se jogou na cama, deixando um suspiro de alívio escapar.
— Você está dizendo que quer literalmente dormir comigo?
Ele virou a cabeça para ela.
— Sim, muito. Dormir.
riu e fez um cafuné nele.
— Você merece. Obrigada mesmo, . — Ela deu um beijos na bochecha dele, abaixando-se para alcançá-lo.
— Hm, não foi nada... Você tá sem sutiã?! — Ele a observou gargalhar e sorriu. — Continua o carinho que estamos quites, vai.
Ela continuou, mas por pouco tempo. Sentiu seus olhos pesarem e procurou por um relógio. 5:19. Esticou-se para apagar as luzes e deitou, pensando em sair para ver a lua, talvez esperar o sol nascer... abriu os olhos para vê-la e sussurrou um “Boa noite”, ela sorriu e adormeceu.
*
acordou primeiro. Ele observou dormir por alguns minutos. Sua expressão serena, cada detalhe de sua face, o contorno de seu corpo... Até o cabelo dela, nem comprido nem curto, parecia perfeito. Ele decidiu levantar antes que ela acordasse e o visse naquele momento extremamente embaraçoso. Tomou banho, vestiu uma calça nova — agradecendo que andava com a sua casa no seu carro e lembrara de pegar algumas roupas antes de correr para a estação, porque a calça do dia anterior não estava com o melhor dos cheiros — e uma camisa pólo branca. Pediu um almoço pelo telefone e ficou sem ter o que fazer.
Tudo isso e ainda dormia. Ele estava começando a ficar impaciente quando lembrou da câmera dela. Abriu a mochila dela e encontrou a câmera ao lado de um iPod classic. Pegou os dois, sentindo-se um pouco intrometido. Mas só um pouco. Ambos estava num lugar fácil, se ela ficasse brava diria que fora a primeira coisa que vira e que não havia fuçado sua mochila. O que era apenas a verdade.
Sentou-se com as costas apoiadas na cama e ligou o iPod. tinha de tudo ali. Inclusive música clássica, e muitas. deixou a discografia do Muse tocar e ligou a câmera. Diminuiu a foto até aparecerem várias miniaturas uma do lado da outra e saiu passeando pelas fotos, aproximando as que achava interessantes para ver melhor. Algumas músicas tocaram antes que ele sentisse um peso sobre seu ombro direito. A cabeça de .
— Muse! Bom dia! Eu amo Muse. — Ela ainda estava um pouco sonolenta, e ficava extremamente fofa assim.
— Bom dia. Eles são legais.
— Eles são ótimos! Vendo mais fotos? — Ela apontou para a câmera.
— Procurando fotos suas, só que de você nua. — Ele brincou, sorrindo.
— Ah, nua não tem. Mas... — Ela esticou a mão até a câmera e procurou uma data no calendário. Era muito prático ver as fotos separadas em dias, meses e anos. Logo ela encontrou o que procurava. — Tem essas.
ficou confuso entre olhar a beleza da foto, a beleza de nelas ou a cara que ela devia estar fazendo agora. Ela estava em um quarto de paredes pretas e chão preto brilhante, deitada numa cama branca, o edredom igualmente branco bagunçado abaixo de si. E numa lingerie vermelha. Era demais para ele.
Mas era a expressão dela que capturava toda a sua atenção. E a foto seguinte era um close no rosto dela. Depois, ela sentada na beira da cama, de frente para uma janela. Sua beleza era aterradora.
— Para de me secar! — Ela riu.
Ele virou-se para olhá-la e notou que ela havia se trocado, devia ter saído da cama sem ele sequer perceber.
— Você que colocou nessas fotos. E ela são lindas, caramba... Como você as tirou?
— Foi um amigo. Antes que você pense besteira, ele é gay. Ele ama minhas expressões profundas, a maioria das fotos minhas que tem aí são dele. É assim que eu fico quando vejo a neve.
— Preciso ver isso pessoalmente. A expressão, digo.
— Você viu o que acontece depois, não é uma expressão muito saudável. Se eu ficar muito tempo pensando nas coisas que a neve me faz pensar, acontece o que você viu ontem. Não queremos isso de novo, queremos?
— Definitivamente não. Mas, ... Você sussurrou quando delirava, coisas como “papai”. Você lembra o que estava pensando? — Ele arriscou perguntar, era algo que não saia da sua cabeça.
— Eu... , eu vou te contar isso. Mas só porque você me ajudou tremendamente ontem, acho que te devo pelo menos isso. Meus pais morreram em um acidente de carro durante uma nevasca. E eu estava junto, mas consegui sair do carro. Eles ficaram presos, me mandaram buscar ajuda, mas não tinha nada por perto. Nada! Eu já estava longe quando ouvi a explosão, fiquei esperando eles aparecem, mas... — não conseguiu controlar o choro, e apressou-se para abraçá-la. — Eles só estavam ali por minha culpa. Eu queria viajar logo. Eu não liguei pra nevasca que acontecia, eu queria ir para Courchevel logo, queria esquiar com meus pais e me divertir. Eles cansaram de me explicar e acabaram cedendo. Se eu tivesse ouvido, se eu tivesse parado de insistir... O carro não teria capotado, nós não teríamos saído de casa e, talvez, eles ainda estivessem aqui. Eu os matei, !
Ele pedia silêncio com um “Shhh” baixo no ouvido dela, a abraçando forte. Por que se importava tanto? Mal a conhecia, e mesmo assim cada palavra de dor dela parecia fatiar o seu peito.
— , para com isso. A culpa não foi sua, você tem que parar de se culpar. Não adianta nada e só te faz mal... Seus pais não gostariam disso, nem um pouco.
— Eu sei, eu sei! Eu não consigo controlar. Eu tento, mas quando essa coisa me vence... É impossível parar. Eu começo a me culpar e me afogo em arrependimento e... Você viu o que acontece. Os médicos disseram que, por eu ter ficado muito tempo parada na neve, passei o trauma do acidente e da perda para ela, desenvolvendo assim uma fobia. É controlável na maior parte do tempo, e eu me esforço muito pra superar isso. Mas em momentos de fraqueza, como o álcool me deixou ontem, eu não consigo me controlar. Pronto, é isso. — Ela expirou pesadamente. — Nossa, que alívio é dizer isso pra alguém.
riu, soltou o abraçou e a encarou.
— Eu tenho uma ideia. Vou levar meu sobrinho Jon e minha irmã para uma viajem pra Courchevel depois do aniversário dele na sexta. E sabe quem eu vou levar também?
— Q-quem? — Ela pareceu receosa em perguntar.
— Você!
ficou surtando por alguns minutos, falando coisas como “Eu nem te conheço”, “Você é louco”, “Eu não vou pra lugar nenhum com você”, “Quem você pensa que é” e etc enquanto andava pelo quarto. não saiu do lugar, apesar a seguia com o olhar, tentando não rir. Aos poucos ela foi se acalmando. Acabou parando na frente dele.
Ela mordeu o lábio inferior — e ele notou que isso devia ser uma mania dela — e abaixou a cabeça.
— Desculpa. Eu meio que surtei.
— Meio que? — Ele riu. — Tudo bem, eu suspeitei que isso fosse acontecer. Você nunca mais esteve lá?
— Não. E só de pensar nisso eu fico nervosa. Estávamos de férias em Paris, começou a nevar e decidimos visitar uma estação de esqui. Foi um episódio bem... Traumático.
— Imagino. E mesmo assim você mora aqui. Por que? Por que não um lugar que não neva, nunca? Você deve conhecer alguns, de tanto que pesquisa.
sorriu.
— Sim. Digamos que, hm, foi um desafio que eu me fiz. Pra tentar superar esse trauma. Estou caminhando, aos poucos.
— Então aceite o meu desafio. Eu vou estar com você o tempo todo, você não precisa esquiar ou rolar na neve e beijá-la. Apenas ir. Acho que isso pode te ajudar.
Ela deu um sorriso nervoso.
— Também acho. Mas é... Difícil. E não quero estragar sua viagem. E eu também tenho um problema com crianças, sabe como é.
gargalhou.
— Crianças? Esse seu trauma não tem fim? É por que você se culpa, não é? Culpa a criança que você foi! Não se preocupe, Jon é um amor. Você vai gostar dele. Amélie mandou eu levá-la na festa de aniversário que vai ter na sexta, se você achá-lo insuportável eu vou te obrigar a ir do mesmo jeito. Que absurdo, crianças são o máximo!
— Falou o senhor que ama crianças. Perdão, eu as odeio!
Ele fechou a expressão para ela, parecendo bravo.
— Você nem o conhece!
— Não importa, são todos uns malas.
— , isso não vai me fazer mudar de ideia. Você vai com a gente e fim.
*
“Merde, que seja, então!”
começou a se arrepender de ter contado para ele. Mal o conhecia! E contara algo que não havia dito pra ninguém. E agora ia ser obrigada a enfrentar seus piores menos numa mesma viagem. Inferno, se existe um, seria aquele.
— Ok. Ok. Eu posso suportar isso.
Antes que ele respondesse alguém bateu na porta do quarto. foi atender e uma funcionária entrou com um carrinho de comida. Ela deixou algumas coisas na mesa que havia no quarto e saiu.
— Com fome? — Ela apontou para um salmão que estava no centro de um prato prateado, cercado de conchas.
— Conchas?
Ele deu de ombros. Ela estava faminta.
— Vai vir ou não? Ou você tem algum trauma com conchas, também? — Ele foi um pouco maldoso.
fez uma careta e foi até ele.
— Pode ir parando com isso ou, apesar de todos os favores que você me fez, eu sumo pra sempre. Isso é maldade.
Ele sorriu ladino.
— Foi só pra te provocar, meu anjo. — Ele depositou um beijo no rosto dela e se sentou.
soltou o ar, contrariada, e o imitou.
Ela falava sozinha, até que o puxou.
— Eu moro aqui do lado, .
— Não importa, eu te levo. Tá nevando, não quero você desmaiando na rua.
Eles saíram da biblioteca, havia pedido para passar ali antes.
— Não vai adiantar se eu insistir eternamente?
— Não. E você parece uma criança mimada quando faz isso, senhorinha odiadora de criancinhas inocentes.
Ela fez bico e ficou assim até chegarem no estacionamento. pagou ao manobrista e foi até o seu carro, com o seguindo. Abriu a porta para ela, mas quando ela chegou mas perto ele a prensou no carro com um sorriso.
— O que você tá fazendo? — Ela pareceu brava. Se esforçou para parecer, pelo menos.
— Algo que eu vou me arrepender muito se eu não fizer agora, e estou com medo de pegar uma fobia por causa disso.
Ela deu um tapa no ombro dele.
— Me solta, !
— Desculpa, mas é que te ver assim só me deixa com mais vontade de fazer isso. Prometo que paro de te provocar. — Ele passou a mão pelo cabelo dela, encaixando-a na nuca de . A pele dela era tão macia que ele sentiu vontade de morder, mas se controlou.
Ela, por sua vez, ficou o encarando. Sentiu seu corpo arrepiar sob o toque dele, e respirou fundo. Uma hora ele ia fazer isso. Mas ela não estava triste, ou brava. Sentia algo por ele que não conseguia explicar, seria melhor explicar do que viver na dúvida. aproximava seu rosto aos poucos, analisando cada traço do seu rosto. Ela fez o mesmo com ele, se entregando na instância do momento, e aquilo pareceu durar pra sempre.
Até que os lábios dele roçaram nos dela, e fechou os olhos, se entregando ao beijo sem sequer pensar em resistir. Ele a provocava em tudo, seria difícil parar.
Quando rompeu o beijo, sua expressão era de êxtase. Ele apoiou sua testa na dela e suspirou.
— Estou me arrependendo de não ter feito isso antes.
Ela sorriu.
— Não se arrependa. E me beija de novo!
— Você é quem manda. — Ele a beijou novamente, dessa vez com um ar mais urgente.
a deixou em casa. Ele pareceu hesitar, mas nem cogitou convidá-lo para entrar. Do jeito que estavam, não daria muito certo. E, por algum motivo, ela queria fazer aquilo certo. Ela deu uma arrumada na casa e foi terminar de escrever seu post para o blog. Queria colocar um foto do Louvre, falar sobre o que fizera no dia anterior, mas estava em todas elas. Sorriu e terminou de ler “The Notebook”, agora só faltava ver o filme.
Seu celular começou a tocar, e a foto na tela era um bêbado fazendo pose de Backstreet Boys. Ela riu.
— Alô?
— Eu tentei, de verdade. Mas voltei, não aguentei.
— Do que você tá falando, ?
— Tô aqui na sua porta, vem abrir?
Ela ficou alguns segundos em silêncio.
Olhou a sua volta e não achou nada que a impedisse de aceitar. A última frase no texto que escrevia para o blog era “Filme: The Notebook”. Ela abaixou a tela, fechando seu notebook.
— Pelo amor dos deuses, fala algo! — Ele pareceu meio desesperado, mas isso a fez rir, ele dissera “deuses” como ela fazia.
— Se acalma que eu já estou indo. Mas se acalma!
— Ok, pode deixar!
Ela desligou o celular rindo. E aí desceu correndo.
Abriu a porta e foi prensada na parede por um treslouco. Ele empurrou a porta para fechá-la e encostou a testa dele na dela, de novo. Respirou fundo algumas vezes, tentando se acalmar como ela pedira. riu e o beijou.
— Você demorou pra voltar.
— Eu sou muito persistente.
— Vou te mostrar a casa, vem. — Ela segurou a mão dele e o puxou pela casa.
Cozinha, sala, banheiro, escada para cima, sala de TV, quarto-biblioteca e o quarto dela.
Ele o reconheceu das fotos dela. Era o quarto preto, apesar que agora ele sabia que só uma parede era preta, as outras três eram vermelho sangue. E o chão realmente brilhava.
— É uma belíssima casa. — Ele elogiou.
— Obrigada. Eu ia assistir um filme, agora. Até fiz pipoca. Com bacon.
Ele deu um beijo estalado dela.
— Perfeito!
— É um filme meio romântico, sabe. Hm, meio meloso.
— Tudo bem. Sério. Que filme que é?
— The Notebook.
— Minha irmã ama esse filme. Ela já fez o Jon e eu assistirmos algumas vezes.
— Ok, posso pegar outro é...
Ele negou.
— Ele não é ruim, por mim tudo bem.
ficou sem o que falar por alguns segundos.
— Ok, é aqui do lado, no quartinho da TV!
*
Eles saíram do quarto dela e agradeceu mentalmente. Não aguentaria deitar no edredom dela e imaginá-la como a vira nas fotos. E seria impossível não imaginar. A sala de TV era melhor. O cômodo era pequeno, mas extremamente aconchegante. A TV ficava ao lado da porta, e do lado oposto haviam alguns puffs coloridos. As paredes eram de um tom roxo quase preto. Sentou-se num puff verde e notou algumas coisas que haviam embaixo da televisão.
— Ok, além de um xBox e um Wii você tem um Super Nintendo e um 64? — Ele perguntou um pouco alterado e virou sorrindo e fez um joinha. — Casa comigo, sério.
sentou-se no vermelho ao lado, rindo.
Vermelho, vermelho como a lingerie das fotos.
sacudiu a cabeça e tentou se concentrar no filme. Ou na pipoca. Mas ficava desviando o olhar para o tempo todo. Logo ela o pegou no ato. abriu seu sorriso mais bonito e mudou de puff. Ele a abraçou e conseguiu prestar mais atenção no filme depois disso. Até começarem as cenas de pegação. Voltou a olhá-la o tempo todo. A curva de seu pescoço, sua maçã do rosto, as pitinhas espalhadas e quase invisíveis que ela tinha, os cílios que pareciam postiços de tão bonitos. Fez um careta para si mesmo, mas antes que se censurasse virou já encaixando as mãos em sua nuca. Ela o beijou com vontade, subindo no seu colo com uma perna de cada lado do seu corpo. O puff deu uma entortada, mas nada que os atrapalhasse. Ela só parou de beijá-lo alguns minutos depois, e se afastou para olhá-lo. Se encararam por algum tempo sem dizer nada.
— Acho que estou apaixonado por você. — Ele confessou, sentindo-se um pouco estranho.
Ela apoiou a testa dela na dele como ele fazia com ela.
— Acho que eu acho você legal, também.
Ele riu, beijando-a rapidamente.
— Você não tem medo de gostar de um homem que nunca fica mais do que um dia com a mesma pessoa?
— Você não tem medo de se apaixonar por uma mulher que nunca ficou mais que três meses com a mesma pessoa, apesar do que sentiam por ela?
— Vou correr esse risco.
— É, eu também. Aposto que essas pessoas não eram grande coisa, também.
— Não, definitivamente não eram como a gente.
Dessa vez ela o beijou com ainda mais vontade. E correspondeu. Quando pararam já tinham bagunçado a sala toda e o filme estava no final, quando os filhos do casal vão visitá-los. se ajeitou rindo e fez igual, apesar de cada pedaço de si estar pedindo por mais contato e menos roupa.
*
mordeu a língua para não chorar com o final do filme. E também para não dizer que preferia morrer junto com ao invés de perdê-lo. Aquilo soaria psicopata demais, por mais que não fosse esse o sentido.
Então lembrou que seus pais haviam morrido juntos. Apesar de não ser de uma das formas mais agradáveis, eles ainda estavam juntos. Sorriu naquele momento.
O filme acabou e foi embora, relutante, mas foi. Ela sabia o que estava acontecendo, e estava tão ansiosa quanto ele, mas era tanta ansiedade que aquilo podia estragar o momento. Quis rir como a idiota que estava sendo, a felicidade quase implodindo seu coração. Terminou o post do blog e deixou pronto para ser publicado. Faria isso no dia seguinte. Jogou-se na sua casa e dormiu com um sorriso nos lábios.
No dia seguinte foi comprar o pacote de viagem com , recusando-se a deixá-lo pagar tudo de novo. Teve algumas recaídas mas conseguiu mantê-las para si. Ela faria aquilo. Depois passaram em algumas lojas para comprar o presente do sobrinho Jon.
— Você não precisa dar nada, digo que o presente é nosso.
— Por favor, tudo bem que eu não conheço o menino, mas que tipo de garoto não amaria isso??? — Ela estava com uma caixa de Lego, com um Death Star dentro e um Darth Vader fora e Stormtroopers, além de outras coisinhas.
riu e deu de ombros.
— Eu só disse que você não precisa, mas se quiser, fique à vontade!
Logo era sexta e ela o vira todos os dias desde que o conhecera. E ele não parecia ter enjoado dela, muito pelo contrário. E ela se interessava por ele como jamais havia se interessado por outro. Talvez aquilo desse certo.
Ele passou na sua casa às 17h. Sua mala estava pronta, a levou para o carro sozinho. conferiu tudo e fechou a porta da sala. Quase sorriu para neve, mas aí sentiu um calafrio. De medo. Apressou-se a controlá-lo. Não precisava ter um piripaque na frente da irmã de , era tudo que ela não queria.
A irmã dele parecia ter bom senso e provavelmente mandaria ele se afastar da louca com quem ele estava saindo.
No carro dele tocava um CD com todas as músicas do The Script, foram cantado juntos o caminho todo. De carro a casa de Amélie era um pouco fora de mão da casa de , mas a pé não devia dar quinze minutos, de acordo com . “The Man Who Can't Be Moved” tocava no último volume, e atuava como se a música fosse dele.
Going back to the corner where I first saw you
Gonna camp in my sleeping bag I'm not gonna move
Got some words on cardboard, got your picture in my hand
saying, "if you see this girl can you tell her where I am"
Voltando para a esquina onde eu te vi pela primeira vez
Irei acampar no meu saco de dormir, não vou me mover
Pego algumas palavras no catão, pego sua foto em minhas mãos
Dizendo, "se você ver esta garota, pode dizer onde estarei"
Some try to hand me money, they don't understand
I'm not broke I'm just a broken hearted man
I know it makes no sense but what else can I do?
How can I move on when I'm still in love with you?
Alguns tentam me dar dinheiro, eles não entendem,
Eu não estou quebrado, eu sou apenas um homem de coração partido
Eu sei que isto não faz sentido, mas o que mais eu posso fazer?
Como eu posso me mover quando eu ainda estou apaixonado por você?
Cause If one day you wake up and find your missing me
and your heart starts to wonder where on this earth I could be
Thinkin maybe you'll come back here to the place that we'd meet
And you'll see me waiting for you on the corner of the street
So I'm not moving, I'm not moving
Porque se um dia você acordar e achar que sente minha falta
E seu coração começará a imaginar onde nessa Terra eu poderia estar,
Pensando que talvez você voltará aqui, para aquele lugar em que nos encontramos,
E você me veria esperando por você na nossa esquina.
Então eu não estou me movendo. Eu não estou me movendo
Policeman says, "son you can't stay here"
I said, "there's someone I'm waiting for if it's a day, a month, a year"
Gotta stand my ground even if it rains or snows
If she changes her mind this is the first place she will go
O policial diz: "filho, você não pode ficar aqui"
Eu disse: "há alguém que estou esperando, seja por um dia, um mês ou um ano"
Tenho que ficar aqui mesmo se chover ou nevar,
Se ela mudar de ideia esse é o primeiro lugar que ela irá
— Você faria isso por mim? — Ela perguntou, achava a música um pouco exagerada mas era lindo demais um cara esperar numa esquina eternamente pela pessoa amada.
— O que, virar um mendigo? — Os dois riram. — Provavelmente. Mas antes iria na sua casa e te perseguiria em todos os lugares e... Brincadeira!
Quando estacionou o carro em frente à casa da irmã se perguntou o que diria para Jon. “Prazer, Jon, eu sou a e odeio crianças. Por favor, mantenha sua voz aguda e suas chatices longe de mim. Ah, sim, feliz aniversário!”
Ele a amaria. Enquanto ela se punia mentalmente, saiu e deu a volta no carro para abrir a porta dela. Um cavalheiro. Sentindo-se saindo de uma carruagem ela deixou seus medos de lado.
No batente da porta de entrada estava a irmã de . Só podia ser ela. A mesma postura despojada e autoritária ao mesmo tempo devia ser genético. Amélie sorria, e notou como ela era bonita. Os cabelos dela tinham a mesma tonalidade dos do irmão, só que caíam em ondas e terminavam em lindos cachinhos.
Um garotinho passou correndo pela porta.
—!
Devia ser Jon. O cabelo dele era uma cópia exata do cabelo de . Até sua voz era um pouco parecida, e algumas feições...
— Jon, cuidado! — Amélie tentou dar uma bronca, mas já ria.
o pegou e o jogou para cima.
— Feliz aniversário, pirralho! — o abraçou.
sentiu-se no filme “De Volta Para O Futuro”, parecia abraçar sua versão infantil. Ela tirou esses pensamentos da cabeça antes que começasse a perguntar onde estava o DeLorean.
— Eu não sou mais um pirralho!
— É sim, e fique feliz por isso. — o voltou no chão e ambos se viraram para .
“Eles parecem irmãos, demais.”
— Oi. — Jon a cumprimentou, acanhado.
— Oi!
A animação na voz dela pareceu suficiente, pois sorriu e a apresentou.
— Jon, essa é a , uma amiga minha.
Jon pediu para se abaixar e tentou sussurrar no ouvido dele:
— Ela é sua namorada? Ela é muito bonita. Posso namorá-la?
segurou o riso, ouvira tudo mas fingiu que não havia ouvido nada.
respondeu sussurrando tão mal quanto seu sobrinho fizera.
— Não, ela é minha, Jon. Sinto muito.
— Ah... — Jon fez uma careta de tristeza e voltou-se para .
Nessa altura ela já segurava o presente dele.
— Feliz aniversário, Jon! Espero que você goste. — Ela se abaixou e entregou o presente. Jon pareceu esquecer automaticamente que estava triste.
— Oba! Obrigada, ! — ele a abraçou e isso a deixou um pouco sem graça, mas acabou sorrindo. — Vem, vou te mostrar a nossa casa.
Jon segurou sua mão e a puxou. — , essa é a minha mãe. Mãe, essa é a namorada do .
riu sentindo que devia estar corada, e aquilo era ridículo. Amélie parecia olhá-la com aprovação, e deve a sensação que a irmã fez um joinha para nas suas costas enquanto a abraçava.
— Muito prazer, . Estou feliz por meu irmão não ter feito nenhuma besteira aquele dia.
riu enquanto mostrava a língua para Amélie.
— O prazer é todo meu, Amélie. E obrigado por ter acordado pra me dizer que seu irmão não era nenhum psicopata.
— Imagina. — Amélie fez um aceno com a mão. — Não foi nada.
Eles riram e Jon puxou a mão de fraquinho.
— Quer ver a casa agora?
sentiu vontade de apertar suas bochechas, e estranhou. Normalmente sentia vontade de apertar o pescoço, isso sim. Concordou com um aceno de cabeça e seguiu um Jon sorridente.
Ele era parecido demais com , devia ser isso. Enquanto via a casa com Jon, foi buscar as malas com Amélie. Descobriu que aquela era a casa que havia morado com a família quando se mudou para a França. Seu quarto era incrível, e Jon disse que estava tudo intocado daquela época, só com umas roupas a menos e CDs e essas coisas que ele levara para o seu apartamento.
Depois de apresentada a casa toda eles foram para a sala de estar, onde Jon abriu seus presentes.
— Nós fizemos uma festinha na escola dele, então agora seremos só nós. Ah, e nossos pais, ! Eles ligaram hoje cedo pra avisar que estavam voltando da Itália. Vão trazer o bolo. — Amélie sussurrou o final.
— Yaay! — sussurrou em resposta.
quis rir, estava adorando aquele ambiente.
dera três jogos novos de tabuleiro para Jon, e ele amara tanto que já entregara um para eles arrumarem para jogar. Mas quando ele abriu o de ficou encarando a caixa por um tempo, sem abri-la. Ele andou até e sussurrou no ouvido dele.
— Não deixa ela escapar, ou eu pego pra mim.
e Amélie gargalharam enquanto sentia-se aliviada e era abraçada por Jon, que agradeceu o presente infinitas vezes.
foi o primeiro a perder no jogo, talvez porque estivesse distraído demais. Logo Amélie também saiu, e os dois foram para a cozinha, deixando e Jon jogando. Ele era muito bom, seu raciocínio era aguçado demais para uma criança de nove anos. Estavam se divertindo.
E Jon perdeu, mas ficou feliz enquanto ela se sentia mal por ter vencido o garoto, era covardia jogar sério com alguém tão novo.
— Vem, vamos contar pra eles que você venceu!
Jon a puxou enquanto ela tentava fazê-lo mudar de ideia com mais uma partida.
Em vão. Ele já a puxava para a cozinha quando ouviu Amélie dizer “Eu já tinha gostado dela, mas o Jon gostar tão fácil assim de alguém... Acertou em cheio dessa vez, heim, maninho.”
Jon pareceu nem ouvir a conversa, entrou na cozinha gritando que ela o havia vencido. Estava morrendo de vergonha e achou que Amélie fosse mudar sua opinião sobre ela naquele exato instante, mas foi congratulada. apertou sua mão e Amélie fez uma reverência.
— Finalmente alguém pra vencer esse pirralho!
— Querida, prepare-se para ele nunca mais te deixar em paz. Agora você vai ter que jogar todos os nossos jogos de tabuleiro. — Amélie bagunçou o cabelo do filho.
Uma buzina soou e todos correram para a porta, menos ).
*
Amélie? Ok. Jon? Super ok. Isso porque ela não gostava de crianças. Só faltavam seus pais.
Olhou para ) e deu um sorriso, esperando que ela não surtasse por conhecer seus pais. Não a havia preparado para isso, mas já sabia quem também se apaixonaria por ela: Seu pai.
Depois de abraçarem os três, o Sr. virou-se para ela com um olhar estudioso. Sua mulher fez o mesmo em seguida.
— E quem seria a finíssima moça perto da mesa, Jon?
— Essa é a namorada do , vô! Mas ele ainda não a pediu em namoro. — Jon falhou em sussurrar de novo, e observou corar mais uma vez.
Ela estava linda de calça legging preta comprida de couro e blusa listrada vermelha e branca. O casaquinho preto também de couro a fazia rebelde. Seu cabelo estava preso num rabo de cavalo alto, e a franja parava perfeitamente na sua sobrancelha. Usava um tênis de cano médio que também era preto e lembrava couro. Usava um pouco de delineador preto nos olhos e um batom vermelho que combinava perfeitamente com seu rosto, não parecendo forçado. Ela provavelmente teria se vestido completamente diferente se soubesse que ia conhecer seus pais, mas preferia assim.
— Ah... — o Sr. deu um passo em direção a para cumprimentá-la. — Muito prazer, senhorita. — Ele pegou sua mão e beijou-a.
sorriu.
— Ben, querido, sem flertar com a moça, ela vai ficar sem jeito. — Sua mãe deu um tapinha carinhoso no ombro do marido e aproximou-se para abraçar . Deu três beijinhos no rosto dela e disse perto de seu ouvido: — Adorei as roupas, !
— Obrigado. — agradeceu com um sorriso. — Muito prazer, Senhor e Senhora .
— Ah, por favor, Ben e Maggie, querida. Ben e Maggie. Uma garota que consegue prender nosso não deve ter problemas com a gente. A pior parte é ele mesmo.
— Valeu, mãe! — a abraçou de lado e sua mãe sorriu para ele. Ele deu um beijo no rosto dela. — E então, quem está com fome?
Como havia previsto, seu pai estava encantado por . Ele era um historiador, e depois que descobriu a profissão de não deu mais espaço para ninguém falar com ela.
— Nós precisávamos de mais mentes como a sua, .
negou com a cabeça, envergonhada.
A hora do bolo chegou, e viu o brilho no olhar dela quando ela percebeu que o desenho no bolo era “Toy Story”. Jon estava pirando com o bolo, e pediu por uma foto. correu pegar sua câmera e foi junto para mostrar onde havia deixado as malas. Ele até tentaria beijá-la, queria isso há horas, mas parecia tão afobada quando Jon. Ela tirou foto do bolo, de Jon com o bolo, de Amélie e Jon com o bolo, de com Jon e o bolo, dos avós com Jon e o bolo, e, finalmente, de todos com o bolo. Todos menos ela.
— Querida, você faz parte da festa, não é uma fotógrafa contratada. Vai lá com o Jon que eu tiro uma foto. Ou o Ben. Amor, você sabe usar isso? — Maggie tirou a câmera de , dispensando-a.
Jon fingiu que avançava no bolo e apontou para o bolo com uma mão enquanto a outra fazia um joinha. Sorrindo. E Ben tirou a foto. Depois ela programou a câmera para bater a foto sozinha, e, dessa vez, estariam todos na foto. a abraçou e sorriu.
*
— Bom, hora de ir, crianças! — Ben anunciou, levantando-se. Maggie o seguiu.
Todos já haviam cansado de perder para Jon e nos jogos de tabuleiro, menos Jon e , que pareciam se divertir como nunca.
Todos se despediram e Amélie já aproveitou para mandar Jon se arrumar para dormir. Já devia ter passado da meia-noite.
foi sozinho com os pais para a entrada, Amélie subiu atrás de Jon e ficou na sala. Não gostava de xeretar, mas ouviu uma conversa na cozinha e resolveu apurar os ouvidos.
— Ela é raríssima, meu filho. Eu achei que você estava querendo curtir, mas o tempo todo você estava procurando um tesouro desse. Não a deixa escapar, mocinho. Você não vai achar outra. — Ouviu Ben dizer e lá estavam suas bochechas corando novamente.
Havia adorado os pais de , mas Ben era incrível. Ela começou a questionar o que acontecia entre ela e os membros masculinos daquela família. Estava apaixonada por todos.
Claro que com era diferente. Ela envergonhou-se ao notar que uma das diferenças era o desejo que ela tinha por ele. Não assumiria isso tão fácil.
— Pode deixar, mestre.
— Bom mesmo, jovem padawan. Eu vi o presente que ela deu para o Jon, foi dica sua? — Ben perguntou e deve ter negado com um aceno. — Suspeitei que não tivesse, mesmo. Nesse caso ela é mais do que raríssima, meu filho.
Ouviu risadas e um som característico de tapas nas costas.
Dessa vez Ben pareceu abaixar seu tom de voz.
— Vocês já...
— Pai. — o repreendeu.
— Só estou sendo chato, calma. Deixa eu ir que sua mãe já está me olhando feio.
voltou para o sofá e distraiu-se guardando os jogos.
Quando acabou a observava da porta. Ela juntou as caixas e foi até ele. Ele tirou as caixas das suas mãos e colocou-as num cadeira. Antes que conseguisse raciocinar ele estava a beijando como se estivesse esperando a noite toda para fazê-lo.
Ele a puxou para cima e ela laçou as pernas envolta da cintura dele.
— O Jon... Amélie... — Ela tentou dizer.
— Dormindo.
Foi tudo que ele respondeu. Foram assim até o antigo quarto dele. Quando ele a jogou em sua cama uma música começou a tocar. Ela puxou o celular soltando um “Ooops”. Ele tirou o celular dela e o deixou tocar na cabeceira da sua cama.
My head is saying no (Minha cabeça diz que não) But my heart keeps giving in (Mas meu coração cede) So hard to let it go (Tão dificil esquecer) When it's there under my skin (Quando está ali debaixo de minha pele)
Voltou a beijá-la e sentia que seu coração ia explodir, estava calor demais. Seria a calefação da casa? desceu beijos pelo seu pescoço, parecendo aproveitar cada milímetro de pele que havia ali.
Well if this is the face of a sinner (Bom, se esse é o rosto de um pecador)
And if heaven is only for winners (E se o céu é somente para vencedores)
Well, I don't care (Bem, eu não ligo) Cause I won't know (Porque não vou conhecer) Anybody there (Alguém lá)
Por que aquilo era tão bom? Ela não sabia como se controlar. parecia saber exatamente o que fazia, e ela também. Seu casaquinho de couro foi para o chão, e seu tênis de cano médio também. A jaqueta de foi o passo seguinte. Eles se beijavam com tanta vontade que devia estar doendo, mas não doía.
Thought that I'd (Pensei que eu ia) Let it slide (Deixar isso pra lá) But it's me that's slipping in (Mas sou eu quem estou escorregando nisso) Thought that I'd go for a ride (Pensei que eu ia dar um passeio) Before this crash I'm dying in (Antes desse acidente que está me matando)
Logo a camisa dele estava no chão também. Ela passou os dedos pelo lugar que havia cravado suas unhas, já estava praticamente curado. Continuaram assim por um tempo, apenas se beijando.
Well if this is the face of a sinner (Bom, se esse é o rosto de um pecador) And if heaven is only for winners (E se o céu é somente para vencedores) Well, I don't care (Bem, eu não ligo) Cause I won't know (Porque não vou conhecer) Anybody there (Alguém lá)
I don't care (Bem, eu não ligo) Cause I won't know (Porque não vou conhecer) Anybody there (Alguém lá)
My head is saying no (Minha cabeça diz que não) But my heart keeps giving in (Mas meu coração cede) So hard to let it go (Tão dificil esquecer) When it's there under my skin (Quando está ali debaixo de minha pele)
o arranhou sem querer, e o jeito que correspondeu a beijando deixou claro que qualquer resistência seria em vão.
Ele escorregou as mãos para a barra da blusa dela e olhou em seus olhos, pedindo permissão.
A música mudou de “Anyone There” do The Script para “Filip” do Muse. soltou todo a ar que havia e concordou com urgência. Ela podia ouvir ele sussurrar algumas partes da música, e aquilo acabou de vez com a sua razão.
It's happening soon
It's happening soon
It's scent has been blowing in my direction
Vai acontecer em breve
Vai acontecer em breve
Este perfume está soprando na minha direção
To me it is new
To me it is new
And it's not gonna change for anybody
Para mim isso é novidade
Para mim isso é novidade
E não vai mudar por ninguém
And it's gonna be
Our last memory
And it's led me on
And on to you
E isso será
Nossa última lembrança
E vai me arrastar
Me arrastar até você
It's got to be here
It's got to be there
It's got to be now
Or I'll lose forever
Tem que ser aqui
Tem que ser lá
Tem que ser agora
Ou eu perderei para sempre
To me it is strange
This feeling is strange
But it's not gonna change for anybody
Para mim é estranho,
Esse sentimento é estranho
Mas isso não vai mudar por ninguém
And it's gonna be
Our last memory
And it's led me on
And on to you
E isso será
Nossa última lembrança
E vai me arrastar
Me arrastar até você
Accuse me
Trust me
I never knew
That you were the one
You were the one
Me acuse
Confie em mim
Eu nunca soube
Que você era a única
Você era a única
Oh, and it's gonna be
Our last memory
And it's led me on
And on to you
Oh, e essa será
Nossa última lembrança
E vai me arrastar
Me arrastar até você
And it's gonna be
Our last memory
And it's led me on
And on to you
E essa será
Nossa última lembrança
E vai me arrastar
Me arrastar até você
*
A manhã foi agitada demais para ele conversar com ela, mas sentia seu rosto doer de tanto sorrir. E Amélie já havia estranhado. Talvez seu amor por neve o cobrisse por um tempo, mas o que não saia mesmo da sua cabeça era a noite maravilhosa que havia tido com . Desde a parte em que a pegara na sua casa até adormecer com ela em seu peito, apenas de lingerie vermelha.
Sim, A lingerie vermelha.
Ele tentou sorrir menos, Jon também já estava estranhando. Ele até perguntou se havia pedido em namoro, o que fez lembrar que havia esquecido essa parte. Já começou a imaginar como compensaria aquilo. No rádio do carro tocava seu pendrive com a discografia do Muse, não conseguia parar de ouvi-los.
Amélie finalmente entrou no carro, puxando Jon para o banco de trás e deixando o banco da frente para . Sua irmã fez uma careta.
— Você não disse pra ela que é parente do cara dessa banda, né?
sentou-se rindo.
— Claro que não, Amélie. — respondeu.
— Ah bom. Ele sempre fazia isso quando queria dar em cima de alguma garota. — Amélie explicou.
— Mentira!
Amélie falou “Verdade” sem emitir som algum e aumentou o volume da música. sorria ao seu lado. Ela colocou as mãos na sua perna e ficou fazendo um carinho ali. Logo ele já estava relaxado. percebeu que era ele que devia estar cuidando dela, pois havia bastante neve em todos os lugares. Mas não demonstrava sinal algum de pânico, na verdade ela parecia bem tranquila.
Não demoraram muito para chegar no aeroporto. Fizeram o check-in, foram para a sala de embarque, e quando anunciaram que eles seriam levados ao avião...
— Não quero ir. Tenho medo. E se cair? Tá nevando! — Jon se escondeu atrás de Amélie.
Ótimo, mais um com medo de neve. olhou para , preocupado que agora ela fosse pirar, mas encontrou algo diferente no olhar dela dela. E ela olhava diretamente para Jon. Amélie tentava acamá-lo, sem sucesso algum.
abaixou-se, ficando na mesma altura que ele.
— Hey, Jon. Eu trouxe um tabuleiro portátil de Damas. O que me diz de ser meu companheiro de viagem? — ofereceu, e Jon olhou para .
Ele assentiu com um aceno positivo de cabeça.
— Ok. Mas... — Jon se aproximou para que só ouvisse. E ele era realmente ruim nisso. — E se o avião cair?
sorriu.
— Jon, você gosta de Super Heróis? — Ela perguntou. Jon balançou A cabeça positivamente com empolgação demais. — Então, você acha que o Super-Homem espera uma tempestade passar para ir salvar as pessoas? Ou que o Homem-Aranha se pergunta se suas teias vão funcionar, ou se ele não vai errar uma mira e cair? Todos temos nossas batalhas pra vencer, Jon. Você também é um Super Herói, e a sua missão é ser forte e corajoso com todo herói.
Jon a olhava maravilhado. Logo ele puxava a mãe para a fila com pressa. Amélie olhou para rindo.
E ele olhou para .
— O quê?
— Estou mudando de ideia, crianças são muito melhores que adultos. Ou pelo menos o Jon é. — Ela deu de ombros. — Não me olhe com essa cara, eu não falei nenhuma mentira pra ele. Só usei figuras diferentes...
— Você é um gênio. — Ele a interrompeu, roubando um beijo seu em seguida.
— O-kay...
riu e puxou-a para a fila atrás de Jon e Amélie.
— Não pense que eu não vi que você não comeu do bolo do Jon. Não teve coragem de comer o Woody? — Ele brincou.
Ela ficou na ponta do pé para alcançar o ouvido dele.
— Eu sou alérgica a morango. Não conta pra ninguém! — Ela riu.
— Sério?
— Sério!
— Então eu nunca vou poder passar um morango em você e limpar com a minha boca depois?
fez uma careta.
— Não sei... Nunca esfreguei morango na minha pele, sabe. — Ela riu, dando tapinhas no ombro dele. — Mas, provavelmente, não.
fez um bico, desapontado.
A viagem foi um pouco demorada, mas tudo correu bem. e Jon foram jogando Damas o caminho inteiro enquanto Amélie deixava claro que era a maior fã de , sussurrando elogios o tempo todo.
— Você já a pediu em namoro?
— Não, Amélie. Mas estou planejando fazer isso. Fala mais baixo?
— Então vocês ainda não...
— Por que todo mundo resolveu perguntar isso? Primeiro o papai, agora você.
— Oras, é que ela é bem bonita. E parece exótica. E eu ouvi uns barulhos no corredor, ontem.
encarou a irmã com a expressão fechada.
— Pode parar com isso.
— São só elogios!
— Ok, mas pode parar.
Amélie mostrou a língua e deixou em paz por um tempo. Ele estava ficando nervoso muito fácil, mas isso não era culpa da irmã dele. Ele sabia o que era, e precisava resolver de uma vez o que faria para pedir em namoro.
*
pegou sua câmera e tirou fotos de Jon. Ensinou algumas coisas para ele e logo Jon tirava fotos dela. Ele se virou para trás e tirou foto de sua mãe e de . Era estranho, mas ela realmente sentia seu coração amolecer só de ensinar essas coisas para ele.
Uma ideia absurda passou pela sua cabeça por um único segundo: dar aula para crianças da idade dele. Tirou o pensamento dali rapidamente, mas continuou rindo de ver ele tirar foto de tudo, e continuou ensinando o que fazer quando a foto ficava muito clara ou muito escura, e coisas do gênero.
Quase no fim do voo o avião deu um pequeno solavanco, e Jon a abraçou. Ela sentiu uma mão segurar seu braço, forte demais para ser Jon. O garoto se afastou, ajustou a roupa e fez cara de mau. Como se fosse brigar com o solavanco do avião.
Ela olhou para a mão de e sorriu. Virou-se para ele e piscou. Estava tudo bem.
Ela nunca achou que fosse se sentir tão segura e pacífica quando finalmente fosse para Courchevel. Até admirou a neve pela janela.
*
(coloquem play aqui e pausem, quando aparecer “Unintended” — Muse destacado na história, deixem tocar!)
alugou um carro no aeroporto. estava quieta demais e ele estava pronto para ter que segurar um surto dela a qualquer instante.
Passaram pelas primeiras acomodações e o olhar dela se perdeu. continuou subindo. Os Alpes Franceses eram absurdamente lindos, ele tinha que se esforçar muito para não se distrair.
Ele havia alugado um chalé dos mais caros, no ponto mais alto de Courchevel. Courchevel 1850,e como elas eram nomeadas com a altura que tinham, 1850 significava que eles estariam 1.850 metros mais altos. Quase dois quilômetros para cima!
Quando parou o carro em frente ao chalé, Jon pulou para fora e começou a correr em círculos. Uma funcionária se aproximou para confirmar seus dados, dar alguns avisos e entregar a chave. Tudo certo.
olhava tudo ao redor, ainda muda. Um funcionário veio ajudar com as bagagens e abriu a porta para todos entrarem.
— As atividades estão todas abertas, aqui nessa mesa vocês tem tudo que nosso resort oferece, inclusive os cardápios das refeições. Tem também um questionário para cada um de vocês, caso queiram dizer o que acharam do passeio e tenham algumas dicas e reclamações. Bom, é só isso! Sejam bem vindos e divirtam-se!
A funcionária foi embora e Amélie pulou em .
— SEU BASTARDO! — Ela gargalhava. — O lugar mais caro do resort, é isso mesmo? Estamos a 1.850 metros do quê? Do chão? Das pessoas normais? MEU DEUS!
Amélie parecia mais criança que seu filho, o pegou no colo e ficou girando pela sala. riu e foi até , entrelaçando sua mão na dela.
— Vamos dar uma olhada? — Ele perguntou.
Ela assentiu.
A porta de entrada dava direto para uma sala grande, a parte esquerda tinha alguns sofás, uma TV e um rádio. A parte esquerda tinha uma mesa grande, para as refeições, um cabideiro, um espelho e uma mesinha armário. Seguiram reto e encontraram um banheiro, uma porta para uma varanda e uma escada para o andar de cima.
Eles subiram as malas, haviam dois quartos no andar de cima, ambos com seu próprio banheiro e uma janela enorme. Um tinha duas camas de solteiro e outro tinha uma cama de casal. sentou na beirada da cama de frente para a janela.
— Tá tudo bem? — perguntou, receoso.
— Tá. É só... Engraçado, estar aqui. Sabe? Acho que eu vou precisar de um tempo, sozinha.
Ela sorriu fraco, e ele ajoelhou na sua frente.
— Não vou te deixar sozinha. Você pode passar mal.
— Eu não vou, acredite. Eu estou bem. Mas eu preciso encarar tudo isso sozinha. Prometo que vou tentar ser rápida, não quero perder o passeio. — piscou.
Ele beijou sua testa, apoiando-se nela em seguida, como sempre fazia.
— Você pode tomar o tempo que quiser, linda. Se precisar de mim, me chame.
— Pode deixar. — Ela sorriu mais abertamente, dessa vez.
— Vou levar o Jon na parte infantil, ele vai precisar de algumas aulas.
— Só ele, né. — Ela riu. — Ok, talvez eu vá atrás de vocês, depois.
— Vai sim. Me liga. — Ele beijou sua boca e ela o puxou para deitarem na cama.
Um beijo sereno. afastou o rosto e a olhou, ainda de olhos fechados.
— Pode falar. — Ela disse, sem abrir os olhos.
Ele suspirou.
— Quero te chamar de namorada. Quero te apresentar para todos como minha namorada, quero acordar do seu lado e pensar “Minha garota!”, quero... Namorar você.
Ela havia aberto os olhos. Passou a mão pelo rosto dele, acariciando-o.
— Você vai. Mas eu preciso lidar com isso, primeiro. Se eu conseguir, , será graças à você. Mas eu preciso desse tempo. — Ela relou seu nariz no dele. — Eu já não acho mais, eu gosto mesmo de você. Não precisa ter medo de ser um caso de três meses. Não vai ser.
Ele sorriu e a beijou.
*
pegou seu iPod e ficou esperando escorada na janela. Sabia a música que queria ouvir. “Unintended” — Muse. Fechou os olhos ao som do violão acústico. Abriu-os em seguida, e viu andar ao lado de Jon e Amélie no meio da neve.
Ela não estava com medo. Alguns médicos haviam indicado que ela fosse visitar Courchevel, mas a maioria dizia que não era uma boa ideia. E lá estava ela. E a neve era tão fantástica ali que não havia como odiá-la. Saiu do quarto e desceu a escada.
You could be my unintended
Choice to live my life extended
You could be the one I'll always love
Você poderia ser a minha escolha não intencional
Para viver o resto da minha vida
Você poderia ser aquela que eu sempre vou amar
Ela saiu do chalé e sentiu o frio com cada célula sua. Abaixou-se para pegar um pouco de neve nas mãos. Automaticamente lembrou-se da neve que a cercara no dia do acidente.
You could be the one who listens to my deepest inquisitions
You could be the one I'll always love
Você poderia ser a única que ouve as minhas mais profundas inquisições
Você poderia ser aquela que eu sempre vou amar
Ela manteve os olhos abertos com força. Não estava no acidente. Isso havia sido há muito tempo atrás. Ela estava em Courchevel, e não na estrada. Ela tinha o dobro da altura que a garotinha que atormentava sua cabeça, no mínimo. Não havia tragédia nenhuma ali, ela estava ótima. Ou, pelo menos, tentava. Trocou esses pensamentos por , e eles sumiram sem insistência alguma.
I'll be there as soon as I can
But I'm busy mending broken pieces of the life I had before
Eu estarei lá assim que eu puder
Mas estou ocupado consertando os pedaços quebrados da vida que eu tinha antes
Lembrou de todos que haviam menosprezado seus medos, a tratado mal, a feito sofrer. Chamavam sua fobia de frescura quando a descobriam, a única vez que achara que gostava de uma pessoa... Não conseguia dizer a verdade. Não conseguia falar de seus problemas.
First there was the one who challenged
All my dreams and all my balance
She could never be as good as you
Primeiro houve a que desafiou
Todos os meus sonhos e todo o meu equilíbrio
Ela nunca poderia ser tão boa quanto você
Ela foi descendo, iria até Courchevel 1300, onde teria passado um final de semana com seus pais, anos atrás. Com fora completamente diferente. Ela dissera com tanta facilidade, e ele não a julgara. Ele era bom demais pra ser verdade. E o jeito como ele a olhava... Ele estava a ajudando. E muito.
You could be my unintended
Choice to live my life extended
You should be the one I'll always love
Você poderia ser a minha escolha não intencional
Para viver o resto da minha vida
Você deveria ser aquela que eu sempre vou amar
Ela continuou descendo, e descendo...
I'll be there as soon as I can
But I'm busy mending broken pieces of the life I had before
Eu estarei lá assim que eu puder
Mas estou ocupado consertando os pedaços quebrados da vida que eu tinha antes
I'll be there as soon as I can
But I'm busy mending broken pieces of the life I had before
Eu estarei lá assim que eu puder
Mas estou ocupado consertando os pedaços quebrados da vida que eu tinha antes
Before you
Antes de você
*
não ligou, nem apareceu. Ele estava começando a se preocupar.
Amélie o cutucou.
Eles assistiam Jon esquiar, ele parecia pegar cada vez mais o jeito da coisa.
— Pode ir, .
— Onde? — Ele fingiu-se desentendido.
Amélie bufou.
— De volta pra , é claro! Ela não parecia bem, e você pode não querer me contar o motivo, mas ela deve estar precisando de você.
— Não, ela está precisando de um tempo para ela.
Amélie riu.
— E quem te disse isso, ela?
ficou em silêncio por um tempo. Decidiu voltar.
Encontrou o chalé vazio e entrou em pânico. Perguntou para um funcionário que estava ali perto se ele havia visto alguém sair dali, e o rapaz disse que uma moça havia descido sozinha.
Teria ela fugido? correu, parando para perguntar sobre sempre que via alguém sentado ou conversando perto da rua. Já estava em Courchevel 1300 quando um senhor o ouviu descrever para outros e o chamou.
— Ela estava perguntando sobre o teleférico, rapaz. — O senhor carregava lenha, e parecia cansado. — A entrada é ali na frente, à direita.
o ajudou com a lenha, agradecido, e depois voltou a correr.
Encontrou-a parada embaixo do teleférico. Ela olhava para cima, e não parecia surtada. Ele se aproximou com mais calma.
— Meu pai dizia que primeiro subiríamos no teleférico para ver tudo de cima. Sem descer para esquiar. Ele dizia que a vista seria maravilhosa. — Uma lágrima rolou do olho dela, e a abraçou. — Eu quero subir, . Mas não vou conseguir ir sozinha. Preciso de você. Sabe... Eu não gosto de ser chamada pelo meu nome porque só meu pai me chamava assim.
Ele se afastou e fez uma reverência, ela riu fraco.
— É um prazer acompanhá-la, mademoiselle. — Ele tentou disfarças, mas, cada vez que ela se abria assim para ele, ele tinha vontade de sair pulando. Sabia como devia ser o único para quem ela contava esse tipo de fato.
A vista era realmente incrível, mas a melhor parte era ter enroscada nele, abraçando sua cintura.
— Eu gostaria de ter uma foto sua assim.
— Você vai ter outras oportunidades para isso. Mas, da próxima vez, me leve para a Nova Zelândia, ok?
— Por quê?
— Ué, porque lá você pode ir esquiar na sua amada neve enquanto eu fico numa casa de praia, bem segura no meio de areia e mar e calor...
riu e acabou o acompanhando.
— Te levo para qualquer lugar que você queira desde que você prometa que sempre terá uma próxima vez.
Ela sorriu, mas não respondeu nada.
O celular dele tocou, e ele pediu desculpas.
— Eu estou de férias... Ah, sim... É, ok. Tá bom, tá bom. Pode ser mais tarde? Ok. Tchau. — Ele desligou o celular, meio chateado e meio empolgado. — Tem um evento que vai acontecer em um mês, o assunto vai ser internet e tá todo mundo querendo convidar essa mulher incrível... — explicou o que acontecia e pareceu pensativa. — Ela faz matérias incríveis e coloca no seu blog, é super famosa, mas insiste em permanecer anônima...
— Acho que você tem uma paixão platônica por essa aí. — Ela comentou.
— Você não vai sentir ciúmes, vai? Realmente a acho incrível.
Ela riu.
— Acho que posso lidar com isso. — Ela pegou seu celular e fez algo, guardando-o em seguida. — Acho que o passeio está acabando.
Ele sorriu e segurou o rosto dela virado para ele. A beijou com intensidade.
— Estou muito grato por você ter vindo.
— Estou muito grata por você ter me convidado.
Eles riram e se beijaram novamente antes de descer do teleférico e irem atrás de Amélie e Jon.
*
O dia foi maravilhoso, mas estava num impasse. Suspeitava que a mulher de que falava era ela própria. Não haviam muitas blogueiras famosas que eram anônimas. Não sabia se contava para ele ou se mantinha seu disfarce. Era o melhor, continuar anônima. Mas mentir para ele seria horrível. Não era o certo. E ela não conseguia decidir como fazer aquilo.
“Hey, , esqueci de te dizer que sou uma blogueira anônima famosíssima, mas, sabe como é, anonimato!”
Horrível.
O restaurante perto do chalé serviria fondue, e foi uma decisão unânime. Todos queriam jantar fora, mesmo sabendo que o fondue podia ser servido no chalé. Fazia parte do ritual do fondue. Passar frio, comer fondues de vários sabores, quentinho e maravilhoso, e passar frio de novo.
Depois de se empanturrar de queijos e pães e frutas e chocolates — ela tivera que revelar sua alergia à morango porque Jon insistia em oferecer tudo que passava para ela — eles voltaram para o chalé.
Jon estava tão cansado que encostou no sofá e dormiu. Amélie pediu ajuda para levá-lo para o quarto e todos subiram.
jogou-se na cama de casal, exausta. Não percebera como estava cansada até ver a cama aconchegante e quente. Havia sido um longo dia.
entrou e apagou a luz, mas logo que ele sorriu maliciosamente o seu celular tocou. riu e levantou. Pegou sua camisola e foi para o banheiro, levando o seu celular. Podia atendê-lo quando eles ligassem, seria uma forma melhor de contar para .
Mas quando ele tocou, ela não conseguiu.
Aproximou o ouvido do batente para tentar ouvir o que dizia.
— Manda o número dela para mim por mensagem e eu resolvo isso depois, ok? Tchau.
fechou os olhos, fazendo uma careta. Era isso. Quando ele visse o número saberia que era ela. Como haviam conseguido seu celular?
Ela saiu do banheiro com a camisola branca de cetim. ficou momentaneamente hipnotizado.
Mas então seu celular vibrou, e foi para a janela enquanto ele olhava a mensagem que recebera.
O silêncio durou um pouco antes que ele apoiasse uma mão de cada lado do corpo dela e apoiasse a cabeça na sua curva do pescoço.
— É você, não é?
Ela se virou para vê-lo.
— Você está bravo? Eu não podia contar. E eu não consegui... Eu gosto do meu anonimato. É mais seguro.
— Como eu não percebi? Ambas falam sobre muitas coisas, ambas inteligentíssimas. Ambas me tiveram nos primeiros segundos. Vocês são a mesma pessoa. — Ele começou a rir e ficou sem palavras. — Isso é bom demais pra ser verdade!
Ele a segurou pela cintura e a levantou no ar. deixou um gritinho escapar, assustada. Ele a jogo na cama e caiu por cima dela, beijando todo o seu rosto.
— ? , o quê...?
— Eu te amo. Você é fantástica. Duas vezes fantástica. Absurdamente fantástica!
Ela sorriu, sem graça.
— Você realmente acha o blog tudo isso? Quer dizer, é só um blog.
— Você tá brincando, né? É a melhor coisa que tem na internet, e faz tempo! Não acredito que conhecia a dona dele do jeito que conheci.
— Não, , não me endeuse. Sou só eu, a garota com traumas bestas e... Não esqueça disso.
Ele notou que ela ficara triste.
— Não, ! Você não entende. Você é fantástica, com ou sem o blog. As coisas que você sabe, o jeito como você as explica, a sua humildade... Saber o quão bem você escreve e como pensa é só uma coisa a mais. Você não devia se esconder por isso. Mas eu não vou te obrigar a deixar de ser anônima, isso é uma escolha sua. Mas pense nas oportunidades que isso te abriria, dos livros que você publicaria quando e como quisesse. Você merece isso, .
Ela mordeu o lábio inferior, em silêncio.
— Vou precisar pensar.
— Tudo bem! Sem pressão. — Ele riu.
— O que foi?
— Sua maior concorrente na minha lista de pessoas fantásticas era você mesma. Hilário!
— Você tem uma lista de pessoas fantásticas? — Ela riu.
— Sim. Tinham duas pessoas nessa lista, e agora tem só uma. Elas eram a mesma pessoa. — Ele riu mais e ela corou.
— Então você realmente gosta de mim.
— É o que tudo indica. Como eu jamais vou gostar de outro alguém.
— Já ouviu falar de Machado de Assis? Estou fazendo um post enorme sobre ele, por ser brasileiro poucas pessoas o conhecem, mas todo mundo que o estuda acaba fascinado...
a interrompeu com um beijo, e ela não hesitou. Se entregou no momento que o vira sorrindo ao entrar no vagão do trem, dias atrás.
Estar com ele era a melhor coisa que vivia há anos. E eles viveram mais algumas noites assim em Courchevel.
Epílogo.
mandou a mensagem e esperou. Não via há uma semana e aquilo o estava matando. Depois de voltar de Courchevel ela recebera um trabalho muito importante e tivera que viajar para o oeste da França. Ela devia ter voltada há algumas horas, mas ainda não havia ligado.
Mandou outra mensagem.
Esperou meia hora.
Saiu do seu carro e caminhou do estacionamento até a estação da biblioteca.
*
Seu celular vibrou sobre a escrivaninha. Ela estava morta, mas não era cansaço. Estava morta de saudade. Não falava com há uma semana, tirando algumas mensagens que havia trocado, e não sabia como seria falar com ele depois desse tempo. Não estavam namorando, apesar de ele ter dito que queria. Talvez ele tivesse mudado de ideia, ou desistido. “Me encontre na nossa esquina. Se você estiver morrendo de saudade e quiser me ver, é claro.”
Ela correu para se arrumar. Colocou as roupas que usara na ocasião, rindo. Quando pegou o celular havia outra mensagem. “Pelo amor de todos os deuses, venha.”
riu mais e saiu correndo da casa.
*
Quase meia-noite, não havia mais ninguém na plataforma além de uma mulher e um homem. Lado a lado eles entraram no vagão. Sem dizer uma única palavra até então, ele olhou para ela e ela o olhava de volta. Sorriram.
— Eu sabia que você viria. — Ele falou. — Senti sua falta.
— Senti sua falta terrivelmente. E rolei na neve, ontem. Sem querer, mas não tive crise nenhuma. Ah, mas talbém não a beijei-a. Mesmo assim, acho que você já pode me perguntar o que tanto quer. — A mulher respondeu, séria, e mostrou a língua.
riu.
— Vai publicar seu livro no envento?
Ela gargalhou.
— Não era nessa pergunta que eu estava pensando.
— Eu acho que você devia. E devia namorar comigo, também.
respondeu com um sorriso.
FIM
Nota da autora: (14.07.2012)
Quero dedicar essa história inteiramente ao meu super namorado, que me deixou escrevê-la e não terminou comigo por eu passar o tempo digitando enquanto devia abraçá-lo e amá-lo! HAUHAUHAUHA Amorzão, essa é toda sua!
Não acredito que consegui! Meu nome do meio devia ser "não-sei-escrever-histórias-pequenas", apenas. HAHA. Demorei uns 5 dias pra começar a escrever e ainda tenho uma mania imbecil de escrever no papel primeiro. É legal pra revisar o texto depois, na hora de digitar, mas um inferno quando se tem um prazo desses pra terminar e enviar! Sufoco!
Mas, enfim, olá, eu consegui! E nunca mais escrevo no papel primeiro (aham).
Espero que gostem! :) Me digam o que acharam, e, bem, se querem uma continuação. Tenho algumas coisas em mente, mas só faço se pedirem, mesmo. Por mim, o final fica assim!
Ah é, por algum motivo eu me apaixonei por esse casal principal. Estou sozinha nessa? ._.
Outras Fanfics:
• (/fanfics/w/wesaysummer.html) We Say Summer • mcfly/andamento (Apesar de estar em mcfly, pode ser lida com qualquer personagem; seja humano, alien, e etc! Haha).