Challenge: #011
Nota: 9,0
Colocação:




Acordei com o brilho do sol batendo em meu rosto, só então percebi que ainda vestia as mesmas roupas de ontem. Meu quarto ainda estava arrumado, como se ninguém tivesse dormido ali, a lâmpada ainda estava acesa, as cortinas abertas, meu lençol e travesseiro ainda estavam organizados no topo da cama e eu estava deitada de mau jeito com a cabeça do lado onde meus pés deveriam estar. Eu podia achar que estava ficando louca, mas isso já tinha virado rotina desde que comecei a trabalhar todas as tardes em uma loja no centro. Não era qualquer loja, afinal tive que lutar muito pra conseguir trabalhar na MJ & co., uma das melhores lojas de roupa de todo o estado da Califórnia, e arrisco até a dizer que ela também estava na lista das melhores dos Estados Unidos. O único problema nisso é que mesmo trabalhando há uns quatro meses, e me dedicando ao máximo pra ser uma ótima vendedora, eu ainda fico cansada só de imaginar tudo o que eu tenho que fazer lá. E as coisas só tendem a piorar, pois agora chegou o verão, e além de ter que atender os vários turistas que chegam a Malibu nessa época, eu ainda tenho que arrumar tempo pra o que eu mais gosto de fazer: Me divertir.

Malibu, Califórnia, 10 de Julho, quarta-feira.

Após ficar refletindo sobre minha vida e me cansar só de imaginar o que eu iria fazer nesse verão, me levantei, tirei meu uniforme de trabalho de dentro do guarda-roupa e fui direto para o banheiro. Assim que estava completamente pronta liguei meu computador e fui direto ao meu site de horóscopos preferidos, sim, eu acreditava que tudo isso era verdade e não, eu definitivamente não era louca.

“Hoje seu dia reserva muitas surpresas, e saturno irá te ajudar nisso! No amor, se aproxime de pessoas que tenham os mesmos interesses que os seus. Nas amizades, fique perto de quem te faz rir. Nesse verão, curta como se fosse o último verão da sua vida!”.

Tudo bem que às vezes meu horóscopo não acerta, mas e daí? Tem dias que ele acerta em cheio, e espero que hoje seja um desses dias. Desliguei o computador, almocei e logo em seguida fui para o meu trabalho. Por que a gente não pode ganhar dinheiro por ficar deitada o dia todo? Seria bem melhor pra mim, e aposto que pra o resto do mundo também.

, acho que seu dia não vai ter tantas surpresas assim... – minha fiel companheira de trabalho começou a falar. – olhe só pra você, parada e esperando o próximo cliente chegar, você devia parar de ler essas coisas, só assim não ficaria ansiosa.
– Tiffany, já disse que você é um doce de pessoa? Se não, ainda bem, porque você não é. – falei enquanto olhava o relógio. Faltava apenas meia hora para finalmente as cinco da tarde chegar, e ainda nenhuma surpresa havia acontecido.
– Olha, vou ao banheiro, o próximo cliente que chegar é seu. – ela disse.
– Tudo bem, mas não garanto atendê-lo! – falei brincando.

Assim que a Tiffany saiu, um homem apareceu na porta da loja, ele definitivamente era turista – um turista bem bonito por sinal – pois sua cor era muito branca pra alguém que morava em Malibu, seu cabelo era bagunçado pelo vento, mas isso não o deixava menos bonito, o rosto era sério, porém extremamente sexy, seus olhos eram profundos e eu gostaria muito de me perder neles, tinha um corpo que encantaria qualquer mulher que ousasse olhá-lo, e foi quando olhei pra sua camisa que percebi o que o levara até ali, ela estava manchada de algo vermelho e era uma mancha bem grande por sinal.

– Bom dia, posso ajudá-lo? – perguntei antes que qualquer outra vendedora fizesse.
– Acho que sim. – Ele falou com uma voz grossa, e eu me arrepiei só de imaginar aquela voz falando em meu ouvido. – como podemos ver, eu tenho um problema com manchas. – ele apontou para a mancha na camisa e soltou um risinho nervoso.
– E o senhor tem preferência de cor ou eu posso pegar uma blusa aleatória? – perguntei sorrindo.
– Senhor não, por favor! – Ele disse um pouco desesperado. – pode me chamar de , e bom, acho que vermelho seria uma boa já que eu não tenho sorte com bebidas e cerejas mesmo.
– Tudo bem , eu vou procurar camisas vermelhas e já trago pra você. – falei me virando. Assim que voltei estava com as duas mãos entupidas de camisas, as quais eu achei que ele iria gostar. foi ao provador e enquanto ele provava eu comecei a puxar assunto do lado de fora, afinal, minha chefe sempre dizia: deixe o cliente confortável e seja simpática. Mas ser simpática com não seria nenhum problema, o único problema seria tentar não agarrá-lo ali mesmo.
– Então ... – falei receosa. – você pelo menos conseguiu beber alguma coisa do drink que caiu na sua camisa?
– O pior que não! Não cheguei nem a botar o copo na boca! – ele falou rindo e logo em seguida saiu do provador. – o que acha? Ficou boa?
– Ficou ótima! Mas acho que aquela lá vai ficar melhor. – falei apontando pra outra camisa, é lógico que eu queria prolongar meu tempo com ele.
– Tem razão! – ele voltou ao provador e continuar a falar. – eu sou meio desastrado com bebidas, principalmente se eu estou comendo uma comida que eu gosto. Eu sempre termino derrubando.
– Isso só acontece comigo quando eu to comendo frutos do mar, eu fico tão concentrada na comida que acabo esquecendo meu copo e uma hora ou outra acabo derrubando tudo. – falei rindo e o vendo sair com a camisa que eu apontei.
– Foi justamente isso que aconteceu comigo hoje! Eu adoro frutos do mar! – ele falou impressionado. – Não curti muito essa camisa.
– É, ela não combinou com sua bermuda. E eu também adoro frutos do mar, se eu pudesse, eu comeria todo dia.
– Somos dois então! Você mora aqui mesmo em Malibu? – ele me perguntou assim que entrou no provador.
– Sim, eu moro aqui desde sempre. Mas eu acho legal. E você? Mora onde?
– Em San Diego, vim passar o verão aqui. – ele respondeu ainda lá dentro.
– Mas em San Diego tem praias maravilhosas! Não seria necessário vir a Malibu! – falei impressionada, afinal, já tinha ido muito a San Diego e as praias de lá são incríveis.
– Mas me entenda... Como é seu nome mesmo? – Ele perguntou saindo e mostrando a terceira blusa que ele estava provando.
, mas me chama de . – eu disse envergonhada.
, San Diego é uma cidade incrível e eu adoro morar lá, mas passar as férias no local onde você trabalha e ver seus alunos quando você vai à praia não é uma coisa muito legal. – ele falou e entrou no provador quando eu balancei a cabeça negativamente indicando que aquela camisa não havia ficado legal. A verdade é que qualquer camisa ficaria ótima nele, mas ele estava com uma bermuda verde musgo e os desenhos das estampas não estavam ajudando muito na combinação.
– Me desculpa, mas você falou alunos? Você é professor? – falei espantada.
– Sim, eu sou professor de química na universidade de San Diego.
– Mas você é muito novo e bonito pra ser professor! – deixei escapar antes de controlar minha maldita boca.
– A parte do bonito é nova, – ele saiu rindo. – mas todo mundo fala que sou novo demais. Não se deixe enganar pelas aparências, não sou tão novo quanto você pensa. – ele disse e apontou pra camisa.
– Lógico que você é! Deve ter uns... 23? – perguntei e balancei negativamente a cabeça, fazendo com que ele entrasse no provador novamente.
– Errou feio! Tenho quase 28.
– Nossa! Então quer dizer que você é quase um idoso! – falei rindo. – não é muito normal ser professor com essa idade.
– Então eu não sou normal! – ele riu e saiu do provador, assim que eu olhei para a camisa e balancei a cabeça positivamente, seu sorriso se alargou. – e você?
– Eu o que? – perguntei rindo.
– Quantos anos você tem?
– Ah, tenho 19, mas não se espante! Minha maturidade é bem mais velha que isso! – eu ri.
– Veremos. – ele riu – preciso colocar minha blusa antiga e esperar sair daqui pra colocar a nova? Ou eu posso continuar vestido nela?
– Pode continuar vestido. – respondi rindo – é só passar no caixa, boa sorte com essa nova camisa, espero que ela não sofra como a outra.
– Obrigado, e acho que ela vai precisar. – ele me disse sorrindo e indo em direção ao caixa, aquele homem era incrível! Além de ter uma beleza surreal, ele também era super inteligente, porque convenhamos, ser professor tudo bem, mas ensinar e gostar de química não é pra qualquer um.
– Pelo visto a surpresa boa aconteceu. – Tiffany falou chegando ao meu lado. – que homem era aquele meu Deus?
– Ele realmente foi uma surpresa e tanto. – disse ainda olhando pra o homem no caixa.
– O papo parecia estar bom, e ele com certeza tava te dando mole. – ela olhou maliciosamente pra mim.
– Não enlouquece! Nunca que um cara desses iria olhar pra mim, isso é impossível! – falei e dei tchau pra que acabava de sair da loja acenando pra mim.
– Não enlouquece você! – ela riu e fez uma cara pensativa. – acho que vou começar a ver meu horóscopo todos os dias como você, quem sabe eu tenha a metade da sorte que você tem.
– Me parece uma boa ideia. – olhei pra ela rindo e ela saiu para atender outro cliente. Com certeza Saturno me ajudou, e posso dizer que esse tipo de ajuda eu quero sempre.

Malibu, Califórnia, 11 de Julho, quinta-feira.

Ao contrário de ontem, acordei atrasada pra o trabalho – o que não era muito frequente, culparia meu despertador, mas a culpa foi de certo cidadão que fugiu com meu sono – e fiz de tudo pra chegar na hora certa, felizmente consegui, mas não pude conferir meu horóscopo, o que me deixava tensa e sem saber o que esperar do meu dia. Assim que cheguei à loja, aproveitei que praticamente não havia clientes e usei – escondido – o computador do caixa para finalmente me atualizar com os astros.

“Confie mais na sua intuição sobre as pessoas. Muitas vezes você está certa, mas duvida da sua percepção. No amor, não existem certezas, só sentimentos. Nas amizades, certamente uma amiga pode te ajudar a esclarecer algumas situações ou dúvidas. Nas férias, encare a vida com leveza e alto astral.”

Quando terminei de ler observei a loja e percebi que ninguém estava me notando e como não havia nenhum cliente para atender, continuei sentada na cadeira, peguei um alicate na minha bolsa e comecei a mexer nas minhas cutículas, o que já tinha virado uma mania quando eu não tinha nada pra fazer. A cada 5 segundos eu volta a observar a loja para ver se algum cliente tinha entrado, mas tudo continuava a mesma coisa, até que eu escuto uma voz conhecida do outro lado do caixa.

– Trabalho super legal o seu – falou com um sorriso de tirar o fôlego e se apoiou no balcão – fica sentada, não olha quem chega e ainda tem tempo pra ajeitar a unha.
– É que o movimento hoje ta fraco... – eu sorri.
– Dá pra perceber! – ele riu mais abertamente e olhou para a tela do computador fazendo uma careta. – você acredita em astrologia?
– Conferir o horóscopo todos os dias é acreditar? – eu perguntei receosa, afinal, aquilo parecia ser algo ruim pra ele.
– É. – ele falou balançando afirmativamente a cabeça.
– Então sim, eu acredito. – dei de ombros. – você veio aqui hoje só pra falar mal do meu trabalho? – perguntei rindo.
– Que bom que você perguntou! Hoje eu to procurando uma bermuda. – ele deu outro daqueles sorrisos magníficos. – e antes que você pergunte, eu não sujei a que eu to usando.
– Seria muito desastrado da sua parte aparecer com ela suja de bebida. – falei rindo e o fazendo rir. – tem preferência de cor?
– Não, a que você achar bonita está ótimo. – ele disse e eu fui em direção a uma estante onde as bermudas de todos os tamanhos eram guardadas, assim que puxei a quinta bermuda, o monte que estava em cima da mesma desabou em cima de mim, e uma caiu bem no meu olho direito.
– Você ta bem? – perguntou quando me ouviu gritar e colocar a mão por cima do olho.
– Meu olho ta doendo muito! – falei ainda com a cabeça baixa.
– Relaxa, não foi nada de mais... – ele disse receoso.
– Você ta louco? Vou ficar parecendo uma pirata! – Olhei indignada pra ele com a minha mão ainda sobre meu olho.
– Lógico que não vai! Só deve ta um pouco vermelho, tenta abrir. – tirei a mão do olho e fui abrindo aos poucos. – ta vendo? Nem ficou vermelho.
– Obrigada, acho que me desesperei. – falei sem graça.
– Sem problemas. – Ele riu e logo em seguida foi na direção dos provadores já com algumas bermudas que eu tinha separado.
– Como é morar aqui? – ele me perguntou enquanto provava a bermuda.
– É legal, não tenho como comparar porque nunca morei em outro canto. – respondi. – você ta gostando daqui?
– To adorando! Essa cidade é pequena, mas é incrível! – ele falou ainda dentro do provador.
– O hotel ta servindo bem você?
– Que hotel? – ele saiu e olhou pra mim com uma cara confusa.
– O que você ta hospedado... – falei rindo.
– Não to em nenhum hotel, e não gostei dessa bermuda. – ele falou ignorando totalmente a minha futura opinião de que a bermuda estava ótima e entrando novamente no provador.
– Então você tem uma casa no litoral? – falei receosa, ele era muito legal, mas eu estava praticamente pedindo o endereço dele, ou não.
– A casa não é minha, é de um amigo meu, ele chamou os amigos pra passar o verão aqui e eu estava no meio, agora eu vou vir sempre que puder. – ele falou.
– Pelo visto gostou mesmo daqui. – eu disse rindo assim que ele saiu do provador e balancei a cabeça positivamente.
– Você não imagina o quanto. – ele olhou sorrindo pra mim e eu tive a impressão de que o ar me faltaria a qualquer segundo. – Também não gostei dessa.

Após provar todas as bermudas, terminou levando a segunda bermuda que havia provado e quando foi se despedir de mim, ao invés de um aceno de longe, ele me abraçou, o que só fez com que minhas pernas tremessem e meu coração acelerasse. A beleza dele era tão grande que chegava a ser impossível caber em um homem só. Assim que ele deixou a loja, Tiffany veio falar comigo, o que eu já imaginava que iria acontecer.

– Já ta toda amiguinha dele não é? – ela disse maliciosamente. – eu disse que ele tava a fim de você.
– Ele só é um homem gentil que está passando as férias em Malibu e quer gastar seu dinheiro com roupas. – falei sentindo que aquilo não era totalmente verdade, afinal, se fosse só isso ele teria levado mais de uma bermuda, ou mais coisa do que apenas uma bermuda.
, pensa bem – ela falou seriamente. – o cara apareceu aqui ontem e comprou uma camisa, até ai tudo bem, mas ele veio hoje de novo, te procurou, e provou todas as bermudas possíveis com a numeração dele, que a propósito ficaram perfeitas, e levou a segunda que ele tinha provado, sendo que enquanto isso ele conversava com você.
– E daí? – perguntei me fazendo de idiota.
– E daí que ele só queria passar um tempo com você! – ela disse indignada. – o cara é lindo, gentil, legal e você fica rindo feito uma boba quando ta conversando com ele, se ele vier aqui amanhã de novo, casa com esse cara , porque ele realmente vai estar a fim.
– Você é louca! O só me viu ontem! – me defendi rindo.
– Isso não impede nada... – ela cantarolou. – não é como se ele fosse um assassino ou um estuprador, ele parece ser bom.
– Ele disse que é professor de química na universidade de San Diego. – mordi o lábio.
– Ih amiga, então vai fundo porque esse é um bom partido. – Tiffany riu.
– Não sei, ele parece ser... Um ótimo partido. – falei rindo.
– Então confia na tua intuição! Se você sente que ele é um “ótimo partido” – ela fez aspas no ar com as duas mãos – vai em frente! Não duvido nada ele aparecer aqui amanhã pra comprar outra roupa!
– Você tem razão, mas ainda acho que ele nunca olharia pra mim! – fiz uma cara sofrida.
– Vira essa boca pra lá menina! Vou atender aquele cliente, sabe como é, eu não tenho nenhum pretendente que é professor de química, preciso me sustentar. – ela falou fazendo graça e recebendo uma careta de mim. Meu horóscopo nunca esteve tão certo quanto esteve nesses dois dias, Saturno realmente é ótimo em fazer surpresas.

Malibu, Califórnia, 12 de Julho, sexta-feira.

Especialmente hoje a loja estava mais lotada que nunca! Em todo esse tempo trabalhando aqui, eu nunca atendi tantos clientes. Não que eu esteja reclamando, mas é que justo hoje o cliente que eu mais estava aguardando ainda não tinha aparecido, e isso estava me irritando profundamente. Lembro de ter lido no meu horóscopo algo como “As surpresas ainda não terminaram, saturno anda bem generoso com você, mas tudo tem seu tempo, não se precipite! No amor, não tenha medo de se jogar em uma nova paixão. Nas amizades, procure seguir os conselhos lhe dados, afinal, não tem nada melhor do que conselho de uma amiga preocupada. Nesse verão arrisque-se, não tenha medo de viver.” Eu queria me arriscar, eu queria não ter medo de viver, o único problema é que a oportunidade não chegava, e nem o , o que me fazia chegar a conclusão de que ele não queria nada comigo, só comprar uma blusa e uma bermuda.
Foi então que quando menos esperei já estava falando animadamente comigo e a única coisa que eu fazia era pensar “ele realmente veio hoje”. Preciso parar de pensar nas coisas que a Tiffany fala.

– Então, hoje eu vim comprar uma roupa especial e preciso da sua opinião. – comentou sorrindo, aumentando minha cara de idiota.
– Qual a ocasião? – perguntei.
– Um encontro. – ele falou e meu sorriso sumiu gradativamente. – mas não sei se é um almoço ou um jantar, só sei que vou levá-la a um restaurante de frutos do mar.
– Uma camisa preta cairia bem – disse me recompondo. – já que você me falou que era desastrado com frutos do mar.
– Ótima idéia! – ele continuou sorrindo. – trás calças também, acho que essa combinação é infalível.
– Pode deixar, eu vou pegar.
– Cuidado com o olho ta? – ele riu e eu me amaldiçoei por ter me iludido com as besteiras que minha amiga fala.
Após provar algumas combinações de roupas, tentar começar várias vezes uma conversa comigo, e escolher a roupa ideal para o encontro, enquanto estava esperando sua vez no caixa, me chamou.
– Você está tão quieta hoje, o que aconteceu? – ele perguntou preocupado e lindo.
– Nada, eu não estou me sentindo muito bem. – respondi cabisbaixa e envergonhada.
– Achei que tivesse ficado animada com o encontro. – ele falou confuso.
– E eu fiquei! Essa mulher realmente tem muita sorte. – disse e ele começou a rir me deixando completamente confusa.
, você não entendeu não é? – balancei a cabeça negativamente. – qual é o seu restaurante de frutos do mar preferido aqui em Malibu? – ele olhou significativamente pra mim, me fazendo entender que a tal mulher do encontro era eu.
– Ah! Você quer... – falei confusa e surpresa. – sair comigo?
– Será que você me daria à honra de te levar até o seu restaurante predileto? – ele sorriu.
– Cla-claro – gaguejei.
– Que tal amanhã? – ele ainda sorria, e com certeza estava achando graça da minha reação.
– Eu venho trabalhar de manhã, então na hora do almoço eu vou estar livre... – falei ainda em choque.
– Ótimo! Amanhã passo aqui na hora do almoço e você nos guia até o restaurante. – ele disse enquanto pagava a roupa.
– Tudo bem. – Olhei pra Tiffany que retribuía meu olhar ansiosamente e depois me virei na direção de novamente.
– Tchau . – ele me abraçou e eu pude sentir seu perfume invadir minhas narinas, me embriagando e fazendo com que um sorriso involuntário surgisse.
– Tchau . Até amanhã. – falei enquanto ele se afastava e saía da loja.
Assim que Tiffany terminou de atender seu cliente, deu um jeito de se aproximar de mim e começar a me encher de perguntas.
– Ele me convidou pra sair. – falei e ela se calou na hora me olhando espantada.
– Eu disse! Eu sabia que ele tava a fim de você! Ai meu Deus! Você disse sim não é?
– lógico que eu disse sim! Ele vai passar aqui amanhã depois que eu for liberada pra irmos almoçar no meu restaurante favorito! – Eu disse com um sorriso maior que meu rosto.
– Ai como você é sortuda! Não deixa esse homem lindo escapar ! Se eu fosse você, eu o obrigaria a se casar comigo! – Ela falou fazendo com que caíssemos na risada.
– Só espero que dê tudo certo amanhã. – mordi meu lábio inferior.
– Lógico que vai dar tudo certo! Você é tão sortuda que ganharia até na loteria se jogasse. – ela revirou os olhos.
– Isso não é sorte – falei me lembrando do meu horóscopo. – isso é saturno que está generoso comigo e me enchendo de surpresas boas.
– Pois fale com saturno pra fazer isso comigo também, porque eu estou precisando urgentemente! – ela riu e foi atender um cliente que acabara de chegar à loja. Só o que posso fazer agora é torcer pra que eu não estrague tudo amanhã, e pra que saturno continue me reservando surpresas maravilhosas.

Malibu, Califórnia, 13 de Julho, sábado.

“Pare de sonhar e comece a viver! Saturno ainda está te ajudando, então aproveite! No amor, podem rolar paixões surpreendentes e avassaladoras, se jogue! Nas amizades, o clima é de bom humor e alto astral. Nas férias, faça questão de se divertir.”

Foi com essa previsão que eu me deparei hoje, e sinceramente, eu adorei! Meu horário na loja já havia acabado, e eu já havia trocado de roupa para ir almoçar com , afinal, eu não iria sair com ele de uniforme. apareceu na loja todo sorridente e com a roupa que tinha comprado no dia anterior. Eram aproximadamente duas da tarde quando entramos no meu restaurante preferido, aquele lugar era um pedaço de céu na terra, além de ter uma ótima comida, ainda possuía uma das vistas mais lindas que eu já tinha visto. Assim que fizemos os pedidos surgiu um silencio constrangedor e eu logo tratei de puxar assunto.

– Então... – olhei pra ele rindo e disse divertida. . – não sabia que professores tinham amigos e ainda se divertiam.
– Ah não! Eu sou uma exceção. – ele disse rindo e entrando na brincadeira. – afinal, todos os professores gastam tempo demais estudando e ensinando.
– É que eu nunca parei pra imaginar algum professor meu se divertindo. – fiz uma careta. – deve ser estranho...
– É normal pensar assim – ele riu. – mas acredite, ser professor é bem legal.
– Pelo visto você gosta mesmo de ensinar...
– Eu amo! Acho que se pudesse escolher novamente minha profissão, eu escolheria a mesma. – ele falou dando um sorriso de tirar meu fôlego logo em seguida. – você estuda?
– Eu queria realmente dizer que sim, mas não. – disse envergonhada. – eu queria fazer faculdade de francês, mas meu pai quer que eu dê continuidade aos negócios da família, então eu resolvi não fazer nada. – dei de ombros.
– Não se pode deixar os outros escolherem por você, você tem que fazer aquilo que gosta. – ele me olhou ternamente.
– Foi por isso que eu decidi não fazer nada. – sorri.
– Você fala francês? – me lançou um olhar desafiador.
Logique qu'oui! Encore a quelque doute, monsieur? – falei.
– Nossa! Seu sotaque francês é perfeito! – ele disse surpreso.
– Você ainda não viu nada. Sei falar muitas outras línguas. – falei dando de ombros.
– Sério? – perguntou impressionado. – Quais?
– Além de inglês, eu falo francês, português e alemão. – sorri quando vi que ele havia ficado mais impressionado.
– Fluentemente? – ele disse pausadamente.
– Sim.
– Por quê? – ele perguntou confuso.
– Tenho família em vários países. – revirei os olhos. – então eu acabo tendo que aprender a língua quando vou visitar.
– Isso é impressionante!
– Mais impressionante é ser um professor de química em uma universidade! Nem se eu tentasse iria conseguir. – falei rindo.
– Isso não é nada impressionante! – ele riu.

Logo após falar isso, a comida chegou e assim que ele pagou a conta e entramos novamente em seu carro, ele disse que me levaria a um canto especial, seu canto preferido em toda Malibu e depois de alguns minutos percebi que ele havia me levado ao píer. O céu estava limpo e claro, o mar estava com sua cor azul ainda mais forte, as gaivotas faziam a festa pela areia e havia muitas crianças e adultos por ali, me puxou até o ultimo banco do píer e me fez sentar, sentando-se ao meu lado.

– Aqui é um bom lugar pra pensar. – ele falou olhando o horizonte.
– É – concordei. – eu nunca dei muita importância pra esse píer, mas olhando assim, esse lugar é perfeito.
– Posso te contar um segredo? – ele olhou pra mim sorrindo e eu balancei a cabeça positivamente. – na segunda vez que eu fui ao seu trabalho eu não queria comprar nada, só fui pra te ver e conversar com você.
– Já desconfiava disso. – falei rindo. – na verdade, minha amiga desconfiou e me fez desconfiar também.
– Droga! Fui descoberto... – ele abaixou a cabeça fazendo um biquinho nos lábios.
– Não fica assim, você supera. – fingi que estava o consolando, fazendo com que ele começasse a rir.
– Sabe... – ele falou depois que paramos de rir e começamos a encarar o horizonte novamente. – eu tive uma infância muito difícil, se me dissessem que eu estaria aqui hoje, eu não acreditaria.
– Como assim? – olhei pra ele interessada.
– Eu tive otite quando era criança, fiquei péssimo, a dor era quase insuportável, tive até que tomar morfina. – ele olhou pra mim e logo em seguida voltou a encarar o horizonte. – até hoje eu me lembro de tudo, por mais impossível que possa parecer.
– Deve ter sido terrível. – comentei baixo e encolhi meus ombros.
– Eu perdi metade da audição do meu ouvido esquerdo – ele falou no mesmo tom que eu. – hoje já to adaptado, mas eu sofri muito por isso antes.
– Nossa, sua infância deve ter sido muito complicada.
– Foi mesmo, por isso que se alguém me dissesse que eu estaria feliz hoje, e estaria olhando pra esse horizonte ao lado de uma mulher incrivelmente bonita, eu não acreditaria. – ele olhou pra mim me fazendo ficar corada e abaixar a cabeça.
– Sei que pode não ser a mesma coisa. – levantei o rosto e o encarei. – mas quando eu era pequena eu também tive problemas.
– Sério? – ele fez uma cara confusa.
– Sim! Eu tava no Brasil brincando com minha prima e fui picada por uma aranha – ele começou a rir. – é sério! Foi terrível! Depois eu fiquei com muita tontura, nunca queira ser picado por uma aranha!
– Espero nunca ser picado mesmo. – ele falou rindo e assim que nossas risadas cessaram olhamos para o horizonte e o silêncio se instalou.
– Você tava certa. – ele comentou me fazendo ficar confusa e olhar em sua direção. – eu não gosto de me divertir, eu só vim porque meu amigo insistiu muito, na verdade, o único canto que eu sonho em ir, é a Austrália.
– Você se arrepende de ter vindo? – voltei a encarar o horizonte e ignorei totalmente o fato de que o sonho dele era o mesmo que o meu, se eu falasse sobre isso, assuntos que eu não gosto iriam vir à tona.
– Não mesmo, esse está sendo o melhor verão da minha vida. – ele falou baixinho.
– Verões são legais. – disse rindo.
– Pra você que ainda é nova! Talvez eu esteja ficando velho demais pra essas coisas.
– Você ta louco? – ri e olhei pra ele. – conheço gente bem mais velha que você que curte bem mais que eu. – rimos e o silêncio voltou.
– Nunca tive um “amor de verão” – ele fez aspas com os dedos no ar e me olhou.
– Nunca é tarde pra tentar. – dei de ombros.
– Você tem razão. Vamos? – afirmei com a cabeça e fomos em direção ao carro de .

Durante todo o caminho fui indicando por onde ele deveria ir até chegar a minha casa, sabia que ele iria se impressionar, mas diferentemente dos outros com quem já tive encontros, não sabia sobre ela antes de pedir pra sair comigo. Ao entrar na rua da minha casa, pude ver de longe um muro branco e por trás do muro a mansão onde eu morava, quando pedi pra ele parar, sua cara chegava a ser cômica de tão impressionada que estava.

– Você mora aqui? – ele perguntou surpreso.
– Moro. – falei sem graça. – depois eu te explico tudo direitinho. Amanhã você vai à praia?
– Acho que sim. – ele disse atordoado.
– Então a gente se vê amanhã, obrigada por hoje. – dei um beijo na bochecha dele e sai do carro, entrando em casa com um sorriso enorme. Obrigada saturno por ainda estar me ajudando, vou aproveitar ao máximo essa oportunidade, e seja o que for que eu esteja sentindo pelo , eu vou meu jogar, pode ser um pouco cedo, mas minha intuição me diz que ele é perfeito pra mim e que eu devo me arriscar.

Malibu, Califórnia, 14 de Julho, domingo.

“Saturno não irá largar do seu pé tão cedo, então deixe fluir a intuição e faça tudo o que seu coração mandar! No amor, não adianta tentar controlar o fluxo dos acontecimentos, renda-se a ele. Nas amizades, aquelas amigas mais empolgadas irão te incentivar. Nas férias, relacionamentos e diversão será um tema muito importante.”

Lá estava eu, deitada na minha toalha de praia, tomando um sol na famosa praia de Malibu, que estava praticamente lotada. As crianças se divertiam no mar enquanto os pais tomavam sol ou conversavam com os amigos, a paisagem era composta por várias gaivotas se misturando entre as pessoas, no mar existiam algumas lanchas paradas amarradas por cabos e vez ou outra era possível ver alguns golfinhos darem seus saltos encantadores. Era normal eu vir à praia sozinha, já que minha casa tinha acesso livre para a beira do mar, então já era lei todo domingo eu vir à praia ou ficar na piscina.

– Te achei! – disse sentando-se ao meu lado e tirando um pouco meus óculos de sol.
– Fui pega. – falei dando de ombros e rindo.
– Então... – ele olhou para o lado e só então percebi que ele estava usando somente sua bermuda de banho e estava todo molhado. – a água ta uma delicia, não quer ir?
– Agora não, obrigada. – eu ri. – quando você chegou aqui? Eu to aqui há bastante tempo e não te vi.
– Eu tava caminhando com os meus amigos, quando te vi eu avisei a eles que ia ficar um pouco por aqui, então eu mergulhei e vim pra cá. – ele deu outro daqueles sorrisos que me deixam sem saber como respirar.
– Você já almoçou? – perguntei me sentando e olhando pra ele.
– Ainda não. – respondeu.
– O que acha de almoçar na minha casa? Eu peço pra cozinheira caprichar no almoço... – olhei ansiosa para ele.
– Sobre a sua casa... – ele comentou desconfortável. – quando...?
– Se você for almoçar comigo eu prometo te explicar tudo! – falei o interrompendo. – e então?
– Tudo bem. – ele disse e em seguida direcionou seu olhar para o mar.
– Então vamos? Só prometa que não vai se cansar, porque minha casa é muito longe! – falei rindo.
– A gente vai de carro então, a casa que eu to é um pouco perto. – ele deu de ombros.
– Eu to brincando! A minha casa é bem ali – me virei de costas e apontei para a minha casa.
– Ah sim, então vamos! – ele se levantou, esperou eu arrumar minhas coisas e logo em seguida pegou minha bolsa de praia, colocou em seu ombro e pegou minha mão.

Se eu dissesse que não tive um quase infarto na hora em que ele fez isso eu estaria mentindo. Segurar a mão do foi uma das coisas mais certas que eu já havia feito na minha vida. Assim que chegamos à minha casa, deixei na sala e fui até a cozinha pedir para botar mais um prato na mesa e pra caprichar bastante no almoço, pois eu teria um convidado especial, depois de muitos minutos terminamos de comer e fomos para a varanda, sentando em umas cadeiras que ficavam próximas da piscina.

– Pode começar. – ele falou sorrindo e me deixando nervosa.
– Ta legal... – revirei os olhos. – meus pais são ricos, muito ricos e querem que eu seja igual a eles. – sorri.
– Só isso? Então por que você trabalha naquela loja? – ele perguntou confuso.
– Porque eu tenho um sonho e como eu não quero assumir nada dos negócios da família, meu pai nunca me deixou realizar ele. Então eu trabalho lá pra juntar dinheiro e ir por conta própria.
– Que sonho é esse? – ele riu.
– Eu sonho em viajar pra Austrália desde que eu era pequena. – dei de ombros.
– Não brinca! – ele exclamou surpreso. – eu tenho esse sonho desde que eu era adolescente! Isso é muita coincidência!
– Pois é, muita coincidência. – disse rindo.
– Você fala da riqueza da família como se fosse uma coisa ruim... – ele falou pensativo.
– Porque é uma coisa ruim. – falei cabisbaixa. – do que adianta você ter todo esse dinheiro e não poder usufruir? Eles nunca me deixam usar o dinheiro pra uma coisa que eu quero, e nem eles usam pra nada divertido, sem falar que eles nunca estão em casa, então eu fico muito solitária.
– Você tem razão... – ele comentou. – mas você não gosta de nada disso? Muita gente iria querer estar no seu lugar.
– Eu sei disso, e eu adoro a vida que eu tenho, mas meus pais são exagerados demais, e eu não sou materialista. – dei de ombros novamente.
– Você é incrível. – ele comentou olhando pra mim e se aproximando quase imperceptivelmente, como se estivesse considerando a possibilidade de me beijar.
– Se lembra daquele convite pra ir mergulhar? – falei corada e mordendo meu lábio inferior.
– Lembro sim. – ele fez uma cara confusa.
– O que acha de ir agora? – perguntei já me levantando.
– Mas... – ele continuou confuso.
– Vem! – falei enquanto ia correndo e me afastando.
– Espera! – ele falou quando se recuperou e saiu correndo na minha direção. Corremos até chegar à beira do mar, e se espantou quando me viu soltar os cabos e subir em uma das muitas lanchas estacionadas ali. Assim que entrei fui direto para o assento do motorista e tirei a chave que estava pendurada no meu pescoço, quando olhei pra trás vi que ainda estava parado do lado de fora e olhando pra mim como se eu fosse uma louca.
– O que você ta esperando? – perguntei rindo.
– Você é louca? Achei que íamos tomar banho no mar, não invadir uma lancha. – ele falou espantado.
– Nós vamos mergulhar, mas não aqui, entra logo! – continuei rindo da cara dele.
– Eu não vou entrar nisso, vai que o dono chega... – ele tentou argumentar.
– O dono está parado no banco do motorista esperando você entrar! – o interrompi.
– Essa lancha é sua? – ele ficou mais espantado ainda.
– Lógico que sim, eu não iria entrar nas lanchas alheias, agora vem! – ri ainda mais, e então ele subiu na lancha e veio para o assento ao meu lado.
– Você por acaso tem habilitação pra dirigir essa coisa? Dirigir isso sem licença é crime sabia? – ele perguntou com medo.
, relaxa. – olhei pra ele e liguei a lancha.

Após alguns minutos chegamos ao destino onde eu tanto queria levar . Estávamos perto de uma ilha muito pequena aonde eu sempre ia quando precisava refletir e quando tinha tempo, ali se encontrava meu refúgio e bem ao meu lado se encontrava um tenso sentado e se segurando muito forte no banco.

– Chegamos! – falei animada e parando a lancha.
– Nossa! Aqui é incrível! – ele disse maravilhado e finalmente se levantando. – por que me trouxe até aqui?
– Bom... Ontem você me mostrou o seu lugar prefiro em Malibu, hoje eu to te mostrando o meu. – sorri e me virei em sua direção. – e o melhor de tudo, a água aqui é quentinha.
– Então para de enrolar e pula logo! Antes que eu te obrigue. – ele riu e chegou perto de mim, me fazendo subir no banco e pular no mar.
– Ta com medo de se afogar? – perguntei quando voltei à superfície. – aqui é raso, não tem perigo.
– Nem tubarão? – ele falou receoso.
– Isso eu já não posso garantir, mas sempre vem gente aqui e nunca teve relato de nenhum tubarão, pula logo medroso! – gritei rindo.
– Se eu morrer, a culpa é sua. – ele falou e logo em seguida pulou.
– Você está sempre preocupado com alguma coisa não é? – perguntei.
– É minha essência, afinal, eu sou professor. – ele disse sorrindo divertido e ajeitando o cabelo molhado logo em seguida.
– Você devia parar de se preocupar mais e curtir um pouco, aposto que não vai se arrepender. – sorri e mergulhei.
– Acontece que eu não sou mais um adolescente, eu tenho que ter preocupações. – ele falou assim que pode me ver novamente e se aproximou de mim.
– Eu acho que a única preocupação que nós deveríamos ter agora – disse olhando em seus olhos e passando meus braços pelo seu pescoço, deixando nossos corpos praticamente colados. – é se o que eu quero fazer, também é o que você quer.
– Não sei o que você quer, mas eu vou fazer o que eu quero. – ele falou olhando meus lábios.
– Aposto que queremos a mesma coisa. – após eu dizer isso, ele acabou com a distancia existente entre nossos lábios, e colocou as mãos em minha cintura, depois de alguns segundos, pediu permissão para aprofundar o beijo e assim que sua língua tocou a minha senti choques percorrem meu estômago, instantaneamente fiquei com calor e quase lamentei por aquela água ser quente, mas enquanto pensava nisso, me puxou pra mais perto e tirou qualquer tipo de pensamento que não envolvia ele e aquele beijo da minha cabeça. Não sei quanto tempo havia passado desde que começamos a nos beijar, mas assim que ele se afastou de mim com um sorriso estonteante, quis voltar a beijá-lo imediatamente.
– Você faz com que eu me sinta um adolescente. – ele comentou ainda abraçado comigo e me olhando.
– Isso é bom ou ruim? – perguntei sorrindo e o olhando.
– Não tenho certeza, mas até agora isso só me fez sentir coisas boas. – ele sorriu e voltou a me beijar, fazendo com que eu sentisse todas aquelas coisas novamente, e eu me rendi completamente aquele momento, me rendi ao dia, e me rendi a . Não adiantava querer controlar o fluxo dos acontecimentos quando tudo já tinha acontecido rápido demais, então deixei fluir a intuição de que era perfeito pra mim e fiz tudo o que meu coração mandou, de quebra, ganhei um homem que tem o beijo mais maravilhoso desse mundo. Mais uma vez, obrigada saturno.

Malibu, Califórnia, 4 de agosto, domingo.

“Agora Saturno está te ajudando a amadurecer os pensamentos e as atitudes. Espere o melhor das pessoas, e confie que elas farão coisas boas por você. No amor, tudo acontecerá no tempo certo. Nas amizades, sempre é bom conhecer novas pessoas. Nas férias, faça tudo o que você quiser!”

Fazia três semanas e meia que eu conhecia , e eu estava adorando as sensações que ele me fazia sentir. Todos os dias fazíamos o possível para nos encontrar, fosse depois, ou antes, do meu horário de trabalho, e nosso local preferido para esses encontros era a maravilhosa praia. Lógico que nós já tínhamos dado nossos números de telefone um para o outro, e vivíamos trocando SMS. Depois do dia do nosso primeiro beijo, já havíamos ido varias vezes até a ilha de novo, passava bastante tempo na minha casa, principalmente na piscina e quando eu fazia “festas escondidas dos meus pais”. Hoje ele disse que iria me apresentar aos amigos dele, o que me deixou extremamente nervosa, mesmo sabendo que o jantar iria ser legal.

– Ei, relaxa ok? Eles são legais, prometo. – ele sussurrou assim que entramos na casa e avistamos seus amigos sentados no sofá assistindo televisão.
– Olha só quem resolveu aparecer. – um moreno magro e alto se levantou. – o Quimicrazy!
– Ben, por favor, hoje não. – revirou os olhos e logo em seguida riu segurando minha mão e me puxando pra mais perto dele. – Essa é a .
– Essa é a tão falada e imaginada ? – o loirinho e forte apareceu ao lado do que eu julgava ser o Ben. – tava começando a achar que você só existia na imaginação dele.
– Bom... Acho que eu existo mesmo. – falei tímida e me escondendo um pouco atrás do braço de .
– Cara, ela é mais bonita do que você falou. – o outro moreno falou se levantando do sofá e sorrindo na minha direção. – será que tenho chance? – ele riu assim que fez uma cara feia pra ele.
, esses patetas na sua frente são o Ben, o Charles e o August. – ele falou apontando para moreno, o loiro e para o outro moreno. – Gente, essa é a .
– Como você conseguiu aguentar o Quimicrazy por esse tempo? – August perguntou rindo. – nós que somos amigos quase não aguentamos!
– Pois é, – Ben falou. – quase fizemos uma festa quando ele encontrou você!
– Fiquei sem ter o que falar, mas meu pensamento é igual. – Charles disse rindo e coçando a nuca.
– Ta legal, vão pedir o jantar que eu vou pra varanda. – falou antes de mim e já saiu andando em direção à saída da casa, me puxando junto. Assim que chegamos, ele se apoiou no parapeito que dividia a varanda da área externa da casa, e depois ele puxou minha mão e me colocou entre suas pernas.
– Quimicrazy? – perguntei rindo e olhando seu rosto.
– Sabia que você iria perguntar. – ele riu junto. – eles são meus amigos desde o colegial, então, quando eu passei em química na universidade eles me deram esse apelido, falaram que eu era louco demais por escolher esse curso.
– Não vou nem dar minha opinião sobre isso. – eu ri fazendo com que ele risse junto.
– Não precisa. – ele continuou rindo. – sério mesmo.
– Sabe... – comecei a falar depois de ter surgido um silencio entre nós. – isso não é normal.
– O que? – ele me olhou confuso e passando as mãos pela minha cintura.
– Eu não devia pensar tanto assim em você. – disse olhando pra baixo. – isso logo vai acabar. Não quero me machucar tanto.
– Já disse a você que eu sou velho demais pra ter amor de verão. – ele tirou uma mão da minha cintura e colocou no meu queixo, levantando meu rosto e me fazendo olhá-lo.
– Nunca é tarde... – sorri fraco.
– Pra tudo se dá um jeito, afinal, San Diego só fica a 200 km daqui. – ele falou ignorando o que eu tinha dito antes e se aproximando mais de mim.
– Você tem razão, pra tudo se dá um jeito. – me aproximei dele e selei nossos lábios, e o que era pra ser apenas um selinho se transformou em um beijo lento que aos poucos foi ganhando velocidade. Aquilo já tinha virado algo comum, porém nunca passava disso. me surpreendeu quando sua mão que estava em minha cintura foi descendo aos poucos e seus dedos seguraram o passador de cinto da minha calça, deixando meu corpo mais colado ainda ao dele, enquanto minhas mãos brincavam incansavelmente com seus cabelos, a mão de que estava em meu queixo desceu até a barra da minha blusa e foi subindo discretamente por dentro da mesma até que chegasse à minha cintura e me apertasse forte, tirei uma de minhas mãos de seu cabelo e a espalmei em seu peito o afastando rapidamente assim que ouvi um barulho vindo da porta.
– Desculpa ter atrapalhado, mas... – Charles dizia desconcertado. – o jantar chegou e... – ele colocou a mão na nuca. – eu tenho que passar por aqui pra poder ir até a porta pegar.
– Tudo bem Charlie. – sorri apesar de estar muito ofegante para disfarçar.
– Desculpa mesmo. – ele falou e saiu praticamente correndo enquanto eu e nos ajeitamos e entramos na sala. Os amigos de eram as coisas mais fofas e atrapalhadas do mundo, principalmente Charlie, que era o dono da casa de Malibu. Esperei o melhor deles e de , posso dizer com toda a certeza que não me arrependi. Depois que voltei pra casa, tudo o que eu conseguia pensar era no que tinha acontecido na varanda, aquilo era algo que eu não esperava, apesar de já estar com quase um mês, mas não adianta se precipitar e nem se atrasar, segundo saturno tudo acontecerá no tempo certo.

Malibu, Califórnia, 15 de agosto, quinta-feira.

“Saturno nem sempre traz coisas boas, então esteja pronta para ter momentos bons e ruins. No amor, dê liberdade e não faça manipulações, com calma e jeitinho será mais fácil resolver as coisas. Nas amizades, nunca esqueça todos aqueles que sempre estiveram ao seu lado. Nessas férias, aproveite ao máximo tudo.”

Eu sabia sobre o que meu horóscopo se referia. Já estávamos no meio de agosto, as férias logo iriam acabar, e o verão também. iria embora amanhã, já era noite, e nós dois estávamos assistindo um filme na minha casa, lógico que eu não estava conseguindo prestar atenção no que passava na televisão, a única coisa que eu conseguia pensar era que aquele verão tinha sido maravilhoso demais pra ser esquecido, e que era incrível demais pra ter que ir embora.

– Você não ta assistindo o filme. – ele disse abraçado a mim e ainda olhando a tela. – dou um beijo pelos seus pensamentos.
– Você vai embora amanhã. – disse depois de um tempo e o olhei. – a gente não vai mais se ver.
– Eu já falei a você que não precisa ser assim. – ele me olhou ternamente.
– Eu não quero atrapalhar você em nada. – falei baixo.
– Você não vai atrapalhar, a gente pode se falar todos os dias e...
– Eu acho melhor não, você vai estar ocupado e Malibu não é tão perto assim de San Diego, eu não quero que você se sinta na obrigação de vir pra cá só por minha causa. – o interrompi.
– Você ta dizendo que não quer continuar mais comigo? – ele se virou para mim e me olhou sério.
– Continuar com você é tudo o que eu mais quero. – falei colocando minhas duas mãos em seu rosto. – só que relacionamentos a distancia não são legais.
– Então você não quer continuar comigo pelo fato de eu morar a 200 km daqui? – ele continuou me olhando seriamente.
– Eu quero continuar com você. – olhei no fundo dos seus olhos. – e esse verão que eu passei com você foi o melhor de toda a minha vida, mas eu acho que se continuarmos com isso não vai ser tão legal da próxima vez.
– Acho que entendi... – ele disse pensativo. – mas a gente pode se falar enquanto eu tiver em San Diego não é?
– Claro que sim! – sorri e tirei as mãos de seu rosto colocando-as em sua nuca. – não vou negar sua amizade! Até porque seria torturante demais ficar sem falar com você.
– Sabe o que é mais torturante? – ele riu maroto e logo em seguida fez uma cara de cachorrinho abandonado.
– Posso imaginar... – falei me aproximando dele e começando um beijo. Aos poucos foi se aproximando de mim e fazendo com que eu ficasse deitada no sofá, se deitando sobre mim logo depois. O beijo foi ficando cada vez mais rápido e nossas respirações cada vez mais ofegantes, minhas mãos que antes estavam em sua nuca, agora passeavam pelos seus ombros e costas dando leves arranhões e tentando puxar sua blusa para cima, interrompeu o beijo para poder tirar a blusa – jogando-a em algum lugar desconhecido e que eu não fazia a mínima questão de saber qual era – e logo em seguida seus lábios já estavam encostados aos meus novamente. Eu não precisava pensar pra saber se eu queria aquilo, porque eu tinha certeza de que estava no caminho certo, tinha seus defeitos – os quais muitos eu ainda não conhecia – mas ele era perfeito pra mim, e mesmo sabendo que amanhã ele iria estar em outra cidade, eu não me preocupei com nada, as coisas entre nós iriam se resolver de um jeito ou de outro, e nós seriamos felizes, talvez até mais do que estávamos agora.

Malibu, Califórnia, 10 de Janeiro, sexta-feira.

“Ano passado um de seus maiores ajudantes foi saturno, apesar dele ter deixado seu signo por alguns meses, especialmente hoje ele voltará a te ajudar, aproveite a chance. No amor, ótimas oportunidades irão surgir. Nas amizades, aquele amigo pode vir a ser algo mais. Nesse inverno, aproveite para viajar e não passar frio!”

Apesar de ser meu caso de verão, não deixou de falar comigo, ano passado nós conversávamos praticamente todos os dias, mas nessas últimas semanas nosso contato diminuiu um pouco, pois ele estava resolvendo alguns problemas que eu não ousei perguntar quais eram.
Depois de alguns meses e muitas conversas com Tiffany, decidi enfrentar meus pais e conversar com eles sobre minha faculdade de francês, no começo eles ficaram um pouco relutantes, mas depois viram que não adiantaria me forçar a fazer algo que eu não queria fazer e aceitaram que eu fizesse o curso. Por esse motivo eu tomei a decisão de só trabalhar na loja até dezembro, afinal, eu passaria metade do ano resolvendo os detalhes da faculdade e só iria precisar arrumar um emprego na cidade que eu escolhi.
Como estávamos no inverno, eu passava a maioria do tempo em casa, já que eu não era louca de ir à praia no frio, e meus pais estavam passando a maioria do tempo em casa também, o que de fato era muito estranho. Estava deitada apenas de moletom tentando assistir algum programa na televisão, assim que deu intervalo, minha mãe apareceu na porta do meu quarto.

, tem um homem todo molhado na porta dizendo que precisa falar com você. – ela falou confusa.
– Um homem molhado? – perguntei assustada. – ele disse o nome ou o que queria?
– Não, mas... – ela olhou significativamente pra mim. – ele é muito bonito. Bonito até demais. Tem algo que você precisa me contar?
– Eu não sei do que você ta falando mãe... – falei me levantando e colocando minhas pantufas de coelho.
– Se você diz... – ela deu de ombros. – mas até eu me perderia naqueles olhos .
? – perguntei atônita, não seria possível, ele não poderia estar ali.
– Foi o que eu disse, não foi? – ela falou e logo em seguida eu corri em direção à porta, sem nem me preocupar se estava apresentável, ao chegar lá, me deparei com um totalmente molhado devido à chuva que caía e com uma única rosa vermelha na mão.
! – disse surpresa e sorrindo.
– Pra você. – ele disse estendendo a rosa em minha direção e eu fui abraçá-lo.
– O que você ta fazendo aqui? – perguntei assim que me soltei dele.
– Desculpa por estar molhado. – ele falou sem graça por ter molhado minha roupa e eu balancei a cabeça em um sinal pra que ele não se preocupasse. – eu vim porque eu tinha um assunto importante pra tratar com você.
– Aconteceu alguma coisa?
– Aconteceu, mas não se preocupe, é uma coisa boa. – ele disse sorrindo.
– E o que foi? – perguntei curiosa.
– Antes de vir aqui eu fui à loja. – ele começou parecendo querer mudar de assunto. – a Tiffany me disse que você não trabalha mais lá, o que aconteceu com o seu sonho de ir à Austrália?
– Digamos que eu vou realizar outro sonho primeiro... – falei contendo um sorriso.
– Qual? – ele se aproximou de mim e colocou suas mãos em minha cintura.
– Vou fazer faculdade de francês.
– Isso é ótimo ! Você finalmente conseguiu convencer seus pais? – ele disse sorrindo e me fazendo suspirar por ter um sorriso tão bonito.
– Consegui, e você não sabe do melhor. – comentei sorrindo e hipnotizada pelos olhos felizes dele. – eu vou pra faculdade de San Diego.
– Isso é... Perfeito! – falou e me deu um selinho, começando depois um beijo rápido. – mas eu acho que você não vai realizar esse sonho primeiro.
– Como assim? – perguntei confusa.
– Eu sou muito velho pra ter amor de verão . – ele olhou nos meus olhos enquanto eu retribuía um olhar confuso. – depois que eu voltei pra San Diego, tudo o que eu conseguia fazer era pensar em você e em como eu amei esse verão. Eu sei que você diz que nunca é tarde, mas o que acontece é que eu não quero que isso aconteça só no verão, eu quero você comigo, todo momento. – ele colocou uma mão na minha bochecha e a acariciou, enquanto colocava meus braços ao redor do seu pescoço e sorria. – Pode até ser tarde pra um amor de verão, mas nunca é tarde demais pra ser feliz, e eu acho que minha felicidade está bem na minha frente.
, você é incrível! – falei com o meu maior sorriso e o beijei.
– Quase ia me esquecendo! – ele disse quando partimos o beijo e então a mão que estava na minha cintura foi para o bolso de trás da sua calça, retirando de lá um envelope branco. – Se você quiser realizar esse sonho primeiro, acho bom começar a arrumar as malas.
– O que é isso? – perguntei quando ele me entregou o envelope e o abri, ali dentro continha duas passagens de ida e volta para Austrália.
– Partimos amanhã de manhã. – Ele falou sorrindo e beijou a ponta do meu nariz.
– Eu amo saturno sabia? – olhei sorrindo pra que me devolveu um olhar confuso. – porque foi ele que botou você na minha vida, e eu não quero que você saia dela nunca. – sorriu e me beijou, me fazendo a mulher mais feliz de todo esse mundo.

Toda essa história pode ter começado sendo apenas um caso de verão, mas acontece que às vezes a vida te surpreende e coloca aquele que pode ser o homem da sua vida, entrando com uma blusa suja no local onde você trabalha, e às vezes saturno resolve te ajudar e te faz a mulher mais sortuda do momento. Às vezes pode ser tarde demais pra se fazer algumas coisas, ou talvez cedo demais. Mas a única coisa que não tem tempo determinado pra acontecer é a felicidade, e como mesmo disse, nunca é tarde pra ser feliz.


FIM



comments powered by Disqus



TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.