"Zero, esse nada que é tudo" - Charles-Ange Laisant, 1841–1920
2(7+7) = x+27
Depois de um longo dia de trabalho e uma pequena noite de sono, lá estava eu deitada em uma banheira cheia de espuma. Trabalho como modelo fotográfica, mas não de mão ou de rosto ou de cabelo ou de qualquer outra coisa mais conhecida. Eu sou modelo fotográfica de pé.
Faço isso já faz alguns anos e tenho arrecadado até que bastante dinheiro. A parte ruim é que a grande maioria desse dinheiro é usada para sustentar a mim e a minha família, deixando uma mínima quantia para as minhas economias. Meus pais são dois aposentados que um antes foi um operário de uma fábrica e a outra foi costureira, então, antes mesmo não tínhamos muito dinheiro. Na agência que eu trabalho parece que existem poucas modelos nessa área e eles estavam precisando de alguém que preenchesse uma das vagas. Bem, foi aí que eu resolvi entrar.
Na verdade eu não sou muito qualificada para fazer esse tipo de coisa, mas eu estou guardando dinheiro para realizar o meu grande sonho: fazer faculdade de música. Não que eu tenha uma grande habilidade para instrumentos ou que a minha voz é a mais linda de todas, mas eu sempre quis aprender a cantar. Sendo sincera, eu canto horrivelmente mal e até a minha mãe concorda com isso – o que é difícil, pois mães sempre acham que você é ótimo em tudo o que você faz. Mas uma vez, no Jardim de Infância, eu ouvi duas professoras conversando sobre o filho mais velho de uma que estava aprendendo a cantar e a outra disse que qualquer pessoa pode cantar. Como a esperança é a última que morre, desde então meu sonho foi aprender a cantar e com o tempo, esse sonho foi se transformando em fazer faculdade de música. E eu não era a única.
Quando eu e meus pais nos mudamos para o interior do Texas, eu fiz o ensino fundamental lá. Depois de alguns dias, consegui arranjar alguns amigos que caminharam comigo até o último ano do ensino fundamental. Todos eles, inclusive as meninas, estavam com ideias de montar uma banda. Era o assunto do ano: criar um grupo musical. Teria no final daquele ano um concurso entre as escolas que era um tipo de batalha de bandas. O ano todo se falou sobre aquilo e todos começaram a montar bandas por todos os lugares. Bem, eu e minha voz ficamos na mão, pois ninguém quis nos colocar em nenhuma banda, nem mesmo os meus próprios amigos se lembraram de mim. Mas um dia aquilo teria volta, e nunca se sabe quando esse dia irá chegar.
De qualquer maneira, eu nunca consegui aprender a cantar até hoje e depois do ensino médio eu não consegui entrar na faculdade de música. Minha família é muito pobre para pagar a faculdade e desde então eu tenho trabalhado como modelo de pé. Claro que eu tinha outras opções como modelo, mas dentre de todas elas eu precisava de uma que ninguém saberia que era eu e acho que muitas pessoas nunca viram meu pé com atenção.
Então aqui estou eu, deitada na banheira do banheiro, de olhos fechados e quase dormindo. Eram por volta de umas cinco da manhã quando eu levantei da cama para tomar banho de banheira. Eu tinha o hábito de acordar cedo para, e somente para, tomar um banho de banheira. Não sei realmente como eu desenvolvi isso, mas eu faço isso desde os doze anos de idade.
Estava prestes a dar uma cochilada quando lembrei que eu não poderia dormir. Era sábado de manhã, e aos sábados de manhã eu e o Dominic, meu vizinho, saíamos para andar de bicicleta no parque. Ele é um cara legal, o Dominic. Ele é francês e se mudou para cá faz alguns meses, então estou o ajudando a se adaptar desde que virou o meu vizinho aos Estados Unidos da América. Ou ao menos ao Texas.
Segurei na borda da banheira e dei o impulso para levantar. A água escorreu do meu corpo para o chão enquanto eu saia dali e pegava a toalha em cima da bancada. Puxei a tampa do ralo e a água começou a descer. Enxuguei o corpo e foi até ao meu quarto pegar uma roupa.
Deus, como eu estava exausta. Nem parecia que eu tinha dormido e lá estava eu acordada de novo. Parecia que eu só tinha piscados os olhos, sabe?
Mal olhei a roupa que peguei e a vesti. Penteei os cabelos que não tinham sido molhados, e que estavam um pouco brilhantes até demais da conta, e coloquei um tênis. Arranjei uma chuquinha na gaveta do criado mudo e sai do quarto.
Senti o cheiro de panquecas enquanto descia as escadas e o barulho de pratos e copos batendo lá na cozinha.
Minha mãe estava com um avental florido amarelo mexendo no fogão, enquanto meu pai estava tentando enxergar o que estava escrito na caixa de cereal. Aquela era a mesma cena que eu via todos os sábados de manhã, a única diferença era que o cereal sempre mudava.
– Não tem gordura trans, pai – abri a geladeira e olhei para dentro dela.
– Ah, que bom – ele despejou o cereal na tigela.
– Você já está indo para o parque com o Dominic? – mamãe perguntou ainda de costas e eu não achei o leite de soja que eu queria.
– Aham. Ah, mãe! Você se esqueceu de comprar o meu leite? – fechei a geladeira e abri as portas do armário.
– Não senhora, eu comprei na quinta-feira. Veja se não olhou direito.
– Bem, eu olhei e não achei.
– Olhou na última prateleira da geladeira?
– Sim.
– No armário?
– Sim.
– Na dispensa?
Caminhei até a dispensa e procurei.
– Sim! – respondi alto para ela ouvir. Saí dela e voltei para cozinha.
– Não estava lá?
– Não.
Minha mãe se virou para mim com a espátula na mão. Ela parecia fazer uma grande força para se lembrar de algo.
– Poxa vida, será que eu esqueci no mercado?
– Talvez sim, Molly. Não seria a primeira vez que você esquece algo lá – meu pai disse entre uma colherada e outra do seu cereal.
– É... Ah, droga! Eu só posso ter esquecido. Que cabeça a minha! – ela bateu na própria testa.
– Não tem problema, eu passo no mercado depois do parque. – Olhei para o relógio em cima da pia da cozinha. – Eu preciso ir, gente. Vejo vocês mais tarde.
– Não vai comer nada, ? – meu pai perguntou.
– É, talvez uma pera.
Peguei a fruta da tigela em cima da geladeira e dei uma mordida.
– Até mais, pais – dei um grande aceno para eles enquanto caminhava para fora da cozinha.
– Até mais, querida!
– Até, filha.
Passei pelo tapete da sala e peguei minha carteira em cima da mesa. Fui até ao hall e dei uma última olhada para mim no espelho. Odiei meu cabelo e pensei em prendê-lo enquanto eu caminhava com Dominic até ao parque. Girei a chave e empurrei maçaneta da porta. Comecei a morder a pera quando abri a porta e dei de cara com uma pessoa.
Ela levantou o olhar até a mim e eu paralisei. Os cabelos desgrenhados, os olhos um tanto puxados, a pele clara e aquele sorriso de lado. Eu conhecia aquele sorriso de lado.
– , há quanto tempo não nos vemos.
É, era ele sim.
– Quem é, querida? – meu pai perguntou e eu continuei a olhar para ele na minha frente. Continuava com a pera meio mordida na boca enquanto meus olhos olhavam espantados para o seu rosto.
Ouvi passos e uma respiração atrás de mim.
– Ah, ! Eu não acredito, há quanto tempo! – meu pai sorriu animado e ergueu a mão para ele. sorriu de volta e apertou a sua mão. – Poxa, eu não acredito que estamos nos vendo de novo.
– Quem é, amor? – minha mãe foi caminhando até a nossa pequena reunião na porta ainda com a espátula na mão e se espantou igual a mim. – Minha nossa, . Você?
– Eu mesmo, senhora .
– Que surpresa! – ela disse hesitante. – Vamos, entre, entre.
Ela deu espaço para ele entrar e meu pai fez o mesmo. Dei um passo para trás, ainda não entendo o que o estava fazendo na minha porta.
– Com licença. – ele limpou os pés no tapete da porta e foi com meus pais antes direcionando um olhar a mim até a cozinha.
Fechei a porta e terminei de morder a pera, ainda espantada com essa volta.
foi um garoto que morava no fim da minha rua quando eu frequentava a quinta série. não é o tipo de garoto que é o mais bonito ou popular da sala, muito pelo o contrário. é um tipo de menino prodígio que gostava de estudar nos intervalos e memorizar números e seus significados próprios. Ele conseguia achar um número que significasse algo para ele mesmo, somando ou subtraindo, e até multiplicando e dividindo, de todos os lugares. Além disso, acho que ele tinha a síndrome do Asperger, porque ele nunca foi muito de gostar de conversar com as outras pessoas.
Certo dia eu não tinha ninguém para lanchar no recreio, então me sentei em um dos bancos no pátio e ele estava sentado na outra ponta. Não faço ideia de como isso aconteceu, mas um assunto sobre números apareceu e uma conversa foi desencadeada. Conversamos e com o tempo foi virando uma amizade esquisita, na qual conversávamos sobre assuntos excessivamente intelectuais para a nossa faixa etária.
e eu fomos amigos até o penúltimo ano do ginásio, pois no ano depois ele se mudou do Texas e eu nunca soube ao certo para onde ele se foi. Bem, depois disso eu voltei com meus amigos antigos e chegamos ao último ano do ginásio. O resto você já deve saber.
Como vocês perceberam, não faz muito sentido ele estar aqui depois de muitos anos do último dia em que nos vimos – e que, por acaso, eu me lembro de algumas coisas. Como que foi em um dia ensolarado. e eu estávamos discutindo sobre o que as plantas e árvores poderiam significar. Se ele tinha conseguido criar significados para os números, eu disse que conseguiria criar para as plantas também. Depois disso, ele disse que tinha de voltar para casa. Lembro-me de vê-lo andando com a bicicleta ao lado do corpo na direção da casa do fim da rua. E essa foi a última imagem que eu tive dele.
Mas lá estava se servindo de torradas junto à meus pais na cozinha. E a curiosidade de saber o que ele estava fazendo nesta mesma casa que ele visitou tantas vezes quando menor me tomou por inteira.
Quando voltei para a cozinha, já estava sentado em uma das cadeiras e ficava arrumando os óculos o tempo inteiro. Meu pai estava sentado na ponta da mesa e minha mãe estava limpando as mãos em um pano e colocou um prato com duas torradas na frente de . Ela deixou o pano em cima da bancada e se apoiou na cadeira do meu pai. Este mesmo sorria.
– Está servido, querido? Gostaria de mais? Eu até te ofereceria leite de soja, mas estamos sem.
– Não, muito obrigado Senhora . O que vim fazer aqui se trata de um assunto que certamente seu marido deve conhecer.
– Que eu devo conhecer? – ele perguntou estranhando.
– Por favor, deixem-me explicar a minha situação. Mês passado meu pai faleceu...
– Faleceu? Não acredito! Sinto muito, . Ele era um grande homem.
– Meus pêsames, querido.
– Obrigado. Continuando, nesta semana encontraram o testamento dele. O advogado da família leu para nós e descobrimos que meu pai deixou para mim o monopólio da empresa dele.
– Isso é maravilhoso! Parabéns, !
– Você merecia, garoto.
O sorriu um pouco envergonhado para meus pais.
– Obrigado.
– Mas, o que disso, exatamente, eu devo conhecer? – meu pai se aproximou um pouco nele, interessado.
– Ah, sim. No testamento contava sobre um acordo que você e meu pai fizeram. – Ao ouvir isso, a mão de minha mãe apertou com um pouco mais de força a cadeira. – Nele dizia: “Meu filho, , deve se casar com aquela que se tornou sua primeira amiga. Ele deverá ir atrás dela e conversar com seu pai, o qual fiz um acordo há anos atrás sobre esse mesmo assunto.”
Desencostei-me da porta e dei três passos na direção da mesa.
– Bem, se você está pensando que essa garota sou eu, então pode esquecer. Meu nome não está aí e, além do mais, eu sei que eu não fui sua primeira amiga. Lembra-se da Lena? E meu pai não fez um acordo com o seu há anos atrás. Então, acho que está na casa errada.
ficou olhando fixamente para meu pai. Tudo se permaneceu em silêncio e olhei para ele também.
– Pai?
Minha mãe se virou para mim com o ar de culpa. Olhei dela para meu pai e dele para ela novamente.
– Na verdade...
Ele parou e suspirou. Olhei para que ainda olhava para meu pai.
– Pai... Pai, você prometeu minha mão ao pai do ?
– Bem, não ao pai dele... Mas ao próprio .
– Pai!
– Desculpe-me, querida. Eu sei que eu errei em não te contar isso, mas achei que nunca mais iríamos vê-los nesta vida novamente, então...
– Pai, como você pôde?!
– Desculpem-me, mas a não sabia disso? - perguntou.
– Mas é claro que eu não sabia!
– Acalme-se, filha. Preste atenção, sabemos que erramos em não te contar isso há tempos, mas iremos falar agora. Achamos que você e poderiam se dar bem, talvez até...
– Nós tínhamos apenas onze anos quando nos conhecemos!
– Mas viraram quase que inseparáveis depois. Escute, além disso, achávamos que você poderia ter algum futuro se casando com um rapaz ric...
– Rico? Então vocês realmente acharam que eu me casaria com um cara, porque ele é rico?
– Não, querida. Você não está compreendendo corretamente o que estamos querendo dizer.
– Só o fato de vocês terem me comprometido sem eu ter noção disso, já os denuncia. Quer saber, eu não vou mais conversar com vocês.
Virei-me e andei batendo pé até a porta da cozinha, mas antes de sair realmente dela, disse em alto e bom som:
– E a senhora que vá comprar o leite de soja, por favor!
– Você já pansou sue eles nau querriam só o dinherro deles? – o Dominic sugeriu. Nós estávamos sentados na varanda da entrada da casa, eu na rede, com a cabeça de ponta para baixo e caído para fora dela, e ele sentado em um dos degraus com as pernas no mesmo. Não cheguei a descrever muito bem o Dominic, pois não tem muito que falar. Ele é um homem alto, com os cabelos morenos e os olhos claros. Além disso, temos o fato de Dominic ser um ano mais velho que eu.
– Não, deveria ser exatamente isso o que eles queriam – respondi.
– Você pode estarr enganada, .
– Talvez eu não esteja.
– Porqu você nau pode aceitarr o fatu de qu terrá de se casarr?
– Porque eu não vou me casar, Dominic – disse sentindo o meu sangue chegar na minha cabeça e ela ficar pesada.
– Mas pelu amorr de Deus, ! Sue esta no testament, você...
O Dominic parou de falar quando a porta abriu e a imagem de de ponta-cabeça apareceu. Ele olhou para Dominic que acenou educadamente com a mão e depois para mim.
– Estava te procurando, . Apropósito, seu quarto é bem bagunçado. Eu me lembro de você ser bem bagunceira.
– Não te dei permissão para entrar no meu quarto.
– Desculpe-me. – Ele respondeu. O silêncio apareceu por um tempo. – Por que está aí?
– Porque me ajuda a pensar.
– De ponta-cabeça? Imagino que sua cabeça deve estar pesada, ou não?
– Quanto maior o fluxo de sangue, mais rápido eu penso, não?
– Na verdade, neste caso, isso não é válido, já que o sangue só está indo para a sua cabeça e não está voltand...
– O.k. .
O silêncio voltou.
– Penso que você deveria conversar com seus pais. Talvez...
– Como se o que você pensa vai me convencer a fazer algo – Dominic olhou para mim reprimindo um sorriso. continuou quieto mais algum tempo.
– Sabe, acho que você vai desmaiar se continuar assim.
Suspirei e me deitei corretamente na rede.
– Feliz?
– Por que você está me respondendo de maneira grossa, ?
– Porque estou irritada.
– E por quê?
– Porque você está me irritando.
– Mas eu só que...
– Ah, você é um saco, ! – revirei os olhos. O olhou de uma maneira decepcionada e magoada para os pés e, em seguida, se sentou no degrau em frente à porta, arrumou óculos no rosto e apoiou os braços nos joelhos. Olhei para ele um pouco arrependida e me sentei na rede. – Por que você quer tanto levar isso adiante?
– Isso...?
– De se casar comigo. Sabe... Eu posso não ser mais aquela garotinha de onze anos que você conheceu na quinta série.
– Não é uma questão de me casar com você, . É um último pedido de meu pai que eu tenho a obrigação de cumprir.
O ficou observando a rua.
– E você gostaria de cum...?
– Mas é claro que sim, ele é meu pai!
– Erra. – Dominic comentou e agora percebi que eu e o conversávamos como se a presença dele não fosse válida.
– Ele continua sendo meu pai e nada nem ninguém vai mudar isso, nem o fato dele estar morto.
– Calma, não tem necessidade de ser estúpido. Ele só quis...
– Não fui estúpido, só estou irritado.
– Ele não te deu motivos para se irritar.
– Mas você sim.
– Eu não fiz nada que te daria motivos para se irri...
– A irritação é algo contagiosa. Se uma pessoa se mostra irritada para a outra, há uma grande possibilidade desta outra também se irritar. – Dominic soltou uma risadinha. Olhei para que observava agora os próprios pés. Soltei um longo suspiro.
– Mas foi seu pai que fez um acordo com o meu há anos. Eu sei disso, porque meu pai me contou há dois anos, então só pode ser você, .
O me encarou com as sobrancelhas arqueadas. Olhei para Dominic que me olhava como se dissesse para eu concordar com . Revirei os olhos.
– Escute, . E se você também sair ganhando com isso? Eu sei que você sempre sonhou em fazer faculdade de música. Se você se casar comigo, terá direito ao meu dinheiro. Você poderia usar parte dele para pagar os estudos. Não é para isso que está juntando dinheiro? Para pagar a faculdade?
– Como sabe que eu estou juntando dinheiro para...?
– Penso que quando uma pessoa tem um sonho, ela procura realiza-lo. Claro – ele me interrompeu antes que eu argumentasse algo –, algumas pessoas não fazem isso. Mas você é diferente delas. O que acha?
Olhei para o céu, cansada.
– Mas aí não seria um casamento, e sim um negócio.
– Bem, quem sabe nos apaixonaremos no meio do contrato? – o sorriu de boca fechada e as maçãs de sua rosto levantaram um pouco seus óculos. Olhei para o Dominic como se tivesse pedindo ajuda, mas ele continuava a me olhar do tipo “aceite logo isso, ”. Bufei e me levantei. Comecei a caminhar de um lado para o outro.
– Eu quero que fique claro aqui que eu sou contra isso. Hoje em dia as pessoas não sabem o que significa casar, acham que isso é um tipo de brincadeira que se pode desistir de brincar o tempo inteiro e que...
– ! – Dominic exclamou.
– Está certo! – parei de andar. Virei-me na direção de , que me escutava com atenção. – Vou poder estudar na faculdade de música?
– Evidentemente.
– E vamos dormir em quartos separados?
– Certamente.
– Só terá amizade entre nós e nada mais? E estaremos abertos a nos apaixonar por outras pessoas?
– Nau acrredito, !
ergueu uma das sobrancelhas.
– Certamente que sim.
– Onde e quando seria o casamento?
– Los Angeles, daqui a exata uma semana.
– Uma…?! – o Dominic me interrompeu pigarreando. – Certo. E viajaríamos...?
– Hoje mesmo.
Olhei para dentro da minha casa pela janela e pude ver meus pais fingindo limpar o abajur e o móvel do hall. Depois olhei para Dominic que sorria animado.
– Só vou com mais uma condição.
– Pode pedir.
Sorri de lado.
– Se o Dominic vier para o casamento.
4y+8 = 3y+10
- Nau acrredito qu estu mesmo ém Los Angeles! – Dominic disse animado enquanto arrastava sua mala pelo chão do aeroporto.
Conversei com meus pais quando estava arrumando as malas e eles ficavam o tempo inteiro tentando se explicar em relação ao tal acordo. Bom, eu disse a eles que não estou fazendo isso porque eles fizeram esse acordo, mas sim porque finalmente irei aprender a cantar igual a um rouxinol lindo. Minha mãe e meu pai disseram que iriam para Los Angeles no dia 28 de novembro, o que significa que eles vão chegar dois dias antes do casamento, antes do ensaio do jantar de noivado que provavelmente ocorrerá na sexta. Eu sei que deveria ser no mesmo dia do casamento, mas, pelo o que eu entendi, vamos casar de manhã no sábado e prefere desta maneira. Então terei uns cinco dias para decidir a comida e outras coisas que não sejam comprar meu vestido – meu pai fez questão de pagar ele, por isso vou ter que esperar minha mãe para o provar.
– Nem eu, Dominic – disse observando as pessoas saírem na nossa frente.
– Muito bem. Por favor, prestem atenção. Procurem um cara alto, com os braços fortes, com a pele morena e com um brinco de argola dourada na orelha esquerda. Se ele estiver segurando uma placa com o meu nome, me avisem.
Olhei entre as pessoas procurando essa figura.
– Serria ele? – Dominic disse e apontou com a cabeça na direção do mesmo sujeito que descreveu.
– Esse mesmo. – começou a caminhar mais rápido na direção do homem alto com a plaquinha com o nome dele na mão e olhou para nós por cima do ombro. – Venham rápido.
Eu e Dominic fomos atrás de que acenou para o homem com a argola na orelha esquerda.
– Olá, Jeff. Obrigada por vir nos buscar. Esta é ...
– Aquela que está no testamento? – ele disse virando a boca, tentando falar só para o , mas acabou que ouvimos também.
– Essa mesma. E esse daqui é o Dominic. Ele é amigo dela e veio para assistir o nosso casamento. , Dominic. Este é o Jeff. Meu guarda-costas-chefe pessoal e motorista. Jeff, você já sabe quem é quem.
– É um prazer conhecer a minha futura patroa e seu amigo. – Jeff sorriu e ergueu as suas duas mãos para nós dois. Eu e o Dominic as apertamos.
– O prazer é nosso. – Respondi.
– Ótimo. Tire-nos daqui, Jeff. Por favor. - sorriu para ele e Jeff assentiu.
– Certamente, senhor. Por favor, deixe-me levar sua mala, senhora.
Dei minha mala para Jeff que a pegou. começou a andar e eu fui atrás, com Dominic e Jeff logo depois.
Quando chegamos ao estacionamento do aeroporto, o Jeff deu o alarme no carro - era uma bela de uma Mercedes Cla preta. Ele abriu o porta-malas e colocou toda a nossa bagagem ali dentro. abriu a porta para entrarmos e Dominic entrou, logo depois fui eu e por último ele. Segundos mais tarde Jeff estava ligando o carro e estávamos saindo do aeroporto.
– Quero que escutem o que vou dizer agora. Quando chegarmos à minha casa, vou mostrar seus quartos e alguns dos aposentos – os principais deles, obviamente. Às nove horas iremos ter um jantar com todos os meus familiares da parte de meu pai, eles querem conhecer a noiva. Portanto, quero que estejam prontos quinze para as nove, e, com prontos, quero dizer de banho tomado, arrumados, com uma roupa limpa, bonita e elegante. Não se preocupem – ele interrompeu o Dominic antes mesmo dele começar a falar – que eu já cuidei da roupa de vocês. Entenderam?
O lançou um rápido olhar por cima de nossas cabeças e começou a escrever no ar com a mão. Dominic olhou para mim e depois novamente para ele.
– Ele esta bém? – o Dominic perguntou baixo para mim e eu assenti.
– Ele está, muito provavelmente, fazendo contas.
– Desculpem. De qualquer maneira, imagino que entenderam.
– Sim, entendemos, .
– O.K. Bom, estamos quase chegando.
Ele se virou para o outro lado e começou a observar a paisagem pela janela, esquecendo-se que estávamos sentados ali durante o caminho inteiro. Eu e Dominic ficamos maravilhados com a cidade, a cada rua que passávamos, tínhamos alguma coisa para comentar, animados, ou apontar e dizer “ISSO NÃO TEM NA NOSSA CIDADE!”. Bem, aos poucos aquilo foi ficando cansativo e fomos quietando e nos calando.
Entramos em uma rua que ia até certo ponto, pois tinha um grande portão impedindo a nossa passagem e, até mesmo, ver o que estava sendo guardado por ele. Jeff parou o carro em frente ao portão e abaixou o vidro da janela. Ele colocou a cabeça para fora do carro e apertou um botão na parede.
– A encomenda já chegou – ele disse. Ouviu-se um barulho de alarme e o portão começou a se abrir. O Jeff voltou com sua cabeça para dentro do carro e subiu o vidro. Quando o portão já tinha se aberto inteiro, ele seguiu com o carro pela trilha que dava para um grande jardim cheio de tulipas vermelhas. Passando pelo jardim, Dominic abaixou o vidro e o vento daquela tarde passou pelo seu rosto e pelo o meu cabelo – que ainda estava nojento, mas eu tinha o prendido. O se virou corretamente para frente e observou o Jeff dar a volta em um tipo de rotatória que ao centro tinha uma grande fonte de água. Jeff estacionou o carro e saiu logo depois.
– Bem... Chegamos. - comentou e tiramos os cintos. O Jeff e um outro cara abriram as nossas portas e e Dominic saíram do carro. Logo foi a minha vez e Jeff estendeu sua mão para me ajudar a sair da Mercedes preta. Olhei para aquela grande mansão de baixo para cima, quase caindo de costas quando tentei olhar o seu topo. – Bem vindos à Mansão .
– Caramba... – deixei sair em um tom baixo.
– Carter e Raul irão levar as suas bagagens até seus quartos, por isso não precisam se preocupar. Venham comigo, irei apresenta-los a alguns de nossos auxiliares e logo depois aos cômodos importantes.
O caminhou até a porta e a abriu. Um grande tapete com estampas esquisitas se estendia pelo chão até chegar ao começo de uma grande escada de pedra que se dividia em duas no meio do caminho e cada uma das escadas se davam em caminhos apostos, uma ia para a direita e a outra para a esquerda, e então seguiam até chegar lá em cima.
Seis empregados estavam parados, esperando a nós. Três homens e três mulheres.
– Dominic e , estes são Gina, Tyson, Roger, Cleo, Laura e James. São meus mordomos e estarão aqui para ajudar vocês a não se perderem nessa casa. Pessoal, estes são , minha noiva, e Dominic, seu amigo.
nos apresentou a eles. Pelo o que eu entendi, a Gina era a menina alta de cabelos castanhos claros, Tyson era o que tinha os cabelos negros penteados para o lado com gel, Roger era o loiro de cabelos penteados para trás, Cleo era a japonesa, Laura era a loira e James era o que usava óculos de aro vermelho e oval e tinha os cabelos ruivos. Todos eles fizeram uma pequena referência para nós e deram um sorriso.
– Se precisarem deles, em todos os cômodos desta casa irão encontrar interfones. Ao lado deste interfone, terá uma lista com os nomes dos auxiliares e o número que deverão apertar. Eles servirão como um meio de comunicação mais rápida e assim não precisarão ficar perambulando pela casa, procurando por eles. Por favor, voltem aos seus trabalhos. Eu sigo por aqui.
Todos eles assentiram e se dissiparam pela casa. O seguiu pela direita. Caminhamos até uma grande porta que estava aberta. Dentro deste cômodo tinha uma enorme mesa de jantar de madeira e várias cadeiras confortáveis em volta dela. Tinha uma grande janela na parede atrás da ponta da mesa, que tinha duas cortinas longas de seda branca que estavam presas ao lado da vidraça. Dava para se ver uma parte do jardim pela janela.
Ao lado daquela sala tinha uma porta que deveria dar na cozinha. olhou para dentro daquele lugar e depois para nós.
– Esta é a sala de jantar. E, como vocês devem ter imaginado, atrás daquela porta está a cozinha. Almoçamos e jantamos aqui. Geralmente nos dias comuns. Quando se tem alguma festa ou comemoração, como acontecerá hoje à noite, ela acontecerá no salão principal que está no lado esquerdo da casa. Por favor, queiram me seguir.
Ele voltou a caminhar pelo grande corredor e paramos no fim dele. O nos mostrou um tipo de sala de cinema. Tinha uma grande tela de TV em um móvel que preenchia toda a parede, e neste móvel existiam prateleiras com vários CDs e DVDs. Existia também várias poltronas e sofás de uma cor bege claro. Tinha um carpete, que tinha a cor vermelho vivo, peludo que deveria ser muito agradável andar ali só de meias.
– Aqui é a sala de Televisão. Vocês podem vir assistir TV ou ouvir música a qualquer hora do dia, basta vir aqui. Geralmente vocês não precisarão vir aqui, pois em seus próprios quartos existem TVs, mas, se preferirem, aqui é o lugar certo. Venham comigo, vou mostrar seus quartos.
Ele deu a volta e voltamos apara aquele mesmo hall com aquela enorme escada de pedra. O começou a subir os degraus e fomos atrás, o acompanhando.
– Seus quartos se localizam no lado direito do corredor, lado esquerdo da escada. Apesar do corredor, em alguma hora e em algum lugar, se ligar, o lado esquerdo dele não deverá ser frequentado por vocês.
– Por qu? – Dominic questionou.
– Porque daquele lado fica o meu quarto, o escritório e outras salas que eu quero que vocês fiquem longe. Se um de vocês dois desrespeitar esta regra básica, eu irei saber. Não me perguntem como, mas eu iriei. E vocês não irão gostar do castigo que vão levar. Estou falando sério. – olhou para nós com uma expressão rigorosa. Dominic e eu nos entreolhamos e concordamos com ele.
Seguimos pela escada até finalmente chegar ao corredor. Já estava ofegante quando caminhávamos na direção de nossos quartos.
– E, finalmente, seus quartos. – sorriu e parou de andar. – Dominic seu quarto é o segundo. o seu quarto é o quinto. Tenham uma boa estadia, o almoço será servido em seus aposentos e se precisarem de mim, usem o interfone. Perguntem para algum funcionário, eu sei que vocês saberão qual. Não se esqueçam, quero os dois prontos quinze para as nove, me esperando no hall. Boa tarde a vocês dois.
Quando já tinha ido embora, Dominc olhou para mim com um sorriso.
– Você ouvi, . Boa tarrde.
Dominic entrou em seu quarto e fechou a porta logo depois. Olhei para o meu, lá no fim do corredor, e suspirei. Caminhei até ele e abri a porta devagar. Quando vi, o lugar era enorme.
Tinha uma grande janela que ia quase desde o teto até o chão. A cortina era de seda rosa e também estava presa ao lado da janela – dava para ver que tinha uma varanda também. Tinha uma escrivaninha encostada na parede e uma cadeira de couro que me parecia confortável. Um tapete também com estampas esquisitas, mas que combinavam com a decoração do quarto, estava no chão. Minha cama era daquelas que pareciam da Idade Média, estilo cama medieval. Ela tinha vários e vários travesseiros brancos e de vários tons de rosa, e a colcha era rosa salmão. O banheiro estava na parede da escrivaninha e tinha uma outra porta. Andei até esta e quando a abri, vi um enorme closet aparecer diante dos meus olhos.
– Minha nossa. – Olhei boquiaberta para aquele lugar. Era enorme, maior que o meu quarto até. Tinha vários armários e já estava completado com roupas chiques e bonitas e de todos os tipos. Além de roupas, tinham também acessórios e sapatos. – Minha mãe iria adorar isso aqui.
Sorri e segui para o banheiro. Ele tinha azulejos amarelos claros e uma grande jacuzzi mais ao fundo. Um box com vidro em tom de preto estava à direita e uma privada e um bidê estavam à esquerda. Aquele lugar era um sonho.
Saí do banheiro e voltei para o quarto, olhando em volta. Só aquele quarto deveria ser maior que todo o segundo andar que tinha na minha casa. Olhei para a minha cama, que tinha um pequeno sofá em frente dela, e sorri animada. Saí correndo e joguei a bolsa no sofá, logo estava voando na direção da cama e aterrissei rindo. Tinha desarrumando um pouco a cama, mas quem ligava? Aquele lugar era demais.
4y + 8 = 3y +10
Virei-me de barriga para cima e fui para a próxima página. Estava lendo Dom Quixote enquanto esperava dar sete horas da noite. Minha tarde foi preenchida por filmes e este mesmo livro que está em minhas mãos no momento. Eu não quis sair do quarto, porque pensei que iria ficar sozinha nesta enorme casa sem alguém que eu conheça e com toda a certeza iria me perder. Até pensei em descer para a sala de televisão, mas acabei desistindo quando lembrei que tinha trazido o livro Dom Quixote. Então vocês me perguntam, por que eu estou lendo esse livro? Eu tinha o achado há alguns dias atrás no sótão da minha casa e pensei em lê-lo. A verdade é que eu gosto desse livro. Lembro-me de ter o lido quando eu tinha uns onze anos, mas eu esqueci completamente do final. Não me lembro do que acontece com o Dom Quixano ou Sancho Pança, então eu resolvi o ler novamente. E como eu iria passar uma semana ou talvez até mais aqui em Los Angeles, eu o coloquei na mala. Não que eu tenha lido bastante, para falar a verdade eu ainda estou na primeira parte, na qual ele apresenta o Dom Quixote e como ele começou a não distinguir mais a realidade da ficção, mas eu pretendo terminar ainda nessa semana.
Eu estava esperando dar sete horas para começar a me arrumar para o jantar de hoje à noite, por isso eu estava aproveitando o tempo para ler o livro.
Quando já estava terminando de ler a página, ouvi duas batidas na minha porta. Olhei para a mesma e me sentei na cama. Coloquei o livro de lado, marcando a página com o marcador de livro que minha mãe tinha feito para mim de tecido, e pigarreei.
– Pode entrar.
Quando a porta se abriu, duas figuras apareceram. Gina carregava uma maleta nas mãos e James estava sorrindo.
– Boa noite, madame. Viemos te ajudar a se arrumar para o jantar – Gina disse e balançou a maleta no ar.
– Me ajudar?
– Sim. Ou a senhora pensou que iria se arrumar sozinha? – James riu e os dois caminharam na minha direção. Estava olhando para eles confusa, mas parecia que os dois não estavam ligando para isso. Gina pegou em minha mão e me levantou. Ela me fez dar uma volta e James ficou observando atentamente. – O que acha, Gina?
– Acho que ela precisa de um banho antes de tudo. – Gina olhou para mim. – Vamos, eu te ajudo.
Ela me levou até o banheiro e, antes de fechar a porta, disse:
– Você fique aí, James.
Gina me ajudou a tomar meu banho preparando a água na jacuzzi e escolhendo os xampus, sabonetes e outras coisas que eu não fazia ideia que tinha de usar em um banho. Ela mesma que lavou meu cabelo e o enxaguou. A parte de me lavar eu fiz sozinha – obviamente – e então eu me enxuguei e ela me entregou um roupão para vestir. Sentia meus cabelos pingarem, mas isso foi solucionado rapidamente quando ela enrolou meu cabelo com a toalha.
– Por que vocês estão fazendo isso? – perguntei quando ela me fez sentar na privada com a tampa abaixada.
– Seremos seus criados pessoais durantes essa semana e talvez para sempre. – Gina sorriu.
– E o que isso tem a ver?
– Bem, recebemos ordens de nosso patrão para ajudar a você a se arrumar corretamente sempre que tiver uma festa ou um jantar aqui em casa ou um acontecimento importante. Então, estamos aqui para cumprir ordens e te ajudar.
– Então, quando tiver alguma festa ou jantar que quer que eu fique, hum, com uma aparência bonita, vocês irão me ajudar a me arrumar?
– Certamente, madame. James venha aqui me ajudar com o cabelo dela!
Depois de um tempo, meu cabelo estava pronto, minha maquiagem feita e só faltava eu escolher meu vestido. James e Gina me levaram para o closet e ali começaram a avaliar as minhas opções. Enquanto eles conversavam entre si sobre qual vestido seria o mais bonito, eu estava pensando no porque de resolver que eles tinham que me ajudar a me vestir. Além do mais, em minha opinião, Gina parecia ser jovem demais para trabalhar como serviçal. Ela parecia ter menos que uns dezoito anos e James parecia ter exatamente essa idade. O que pessoas tão jovens estariam fazendo trabalhando como empregados em uma mansão tão grande como essa?
– Acho que este está bom... Não sei. Senhora, por favor. Venha aqui um instante. – James me chamou com a mão e me levantei do banquinho até eles dois. – Que tal este vestido?
Era um vestido preto cheio de babados e coisas esquisitas e que tinha uma calda fofinha. Eu iria parecer um bolo de chocolate com aquele vestido.
– Bem... Acho que este não.
– É, a senhora tem toda a razão. – Gina pegou o vestido, o colocou no lugar e começou a procurar outros.
– Não me chamem de senhora, nem de madame, nem de mais nada assim. Podem me chamar de . – Disse e comecei a ajuda-la a procurar os vestidos. Gina me olhou.
– Ah... Certo.
– Há quanto tempo vocês trabalham aqui? – perguntei.
– Eu e James começamos a trabalhar dois anos atrás.
– Como vocês vieram parar aqui?
– Nossa mãe trabalha na cozinha há muito tempo, e acabamos vivendo aqui. Então é por isso que estamos trabalhando hoje em dia.
– Por que a senhora quer saber? – James perguntou.
– – James corou. – Bem, é que vocês parecem ser muito jovens para trabalhar aqui.
– Que nada. Eu já tenho dezesseis anos e James, dezessete. – Gina sorriu e empurrou outros vestidos para o lado. Olhei para Gina que estava prestando atenção em procurar um vestido. Resolvi não dizer nada e continuei a ajudar a procurar.
– Eu não quero ofender a senhora ou qualquer outra coisa, mas por que a senhora vai se casar com o nosso patrão?
– Bem – ignorei que ela me chamou de senhora –, ele me pediu em casamento e eu aceitei.
– Ah... É, que burrice a minha. – Ela riu fraco. Acho que eu tinha entendido o que ela quis dizer.
– Não foi burrice sua, não. Eu entendi o que você quis dizer, Gina.
Gina me encarou.
– Entendeu?
– Acho que sim.
– Não conte para o nosso patrão, por favor. É que ele é muito sozinho, entende? Não achávamos que ele conseguiria uma namorada, ainda mais uma noiva. Pensávamos que ele iria morrer sozinho. Ah, por favor, não conte a ele. – James pediu e eu sorri.
– Não irei, podem ficar tranquilos. Não há motivos para eu dizer uma palavra do que conversamos aqui. E acho melhor corrermos, já são oito e meia – escolhi um vestido preto de alça, rodado em baixo, e que ia até três dedos para baixo do joelho. Gina e James se entreolharam com um sorriso e me seguiram até o espelho. Coloquei o vestido em frente do meu corpo e inclinei a cabeça para ver de outro ângulo. Gina e James continuavam a sorrir.
– A senh... – olhei para James pelo espelho. – Desculpe. Você ficará linda com esse vestido.
Sorri.
– Obrigada.
– Por favor, Laura. Peça para Leonard receber os convidados na porta e para Candace guardar os casacos. Dominic, ainda não pode comer os canapés. Espere os convidados chegarem, sim? Onde está a ?
Estava descendo as escadas quando ele estava de costas olhando para o relógio de pulso e Dominic estava conversando em francês com Cleo que segurava uma bandeja cheia do que parecia ser canapés.
– Estou aqui.
Desci o último degrau e se virou para mim. Ele usava um smoking azul marinho e uma gravata borboleta combinando. olhou para o meu vestido e depois para o meu rosto.
– Ah, certo. Bom, que bom que já desceu. Está atrasada. Os convidados já estão chegando. Jeff, por favor, ajude os parentes do meu pai... Quero dizer, meus parentes a descer do carro. – sumiu de vista, indo até a cozinha. Suspirei e olhei para Dominic que já tinha parado de conversar com a Cleo.
– Nau ligu parra ele, senhorra. O méu patrrão nau reparra muito. Você esta linda. – Cleo disse e eu sorri.
– Obrigada, Cleo. – Cleo retrebuíu o sorriso e foi para a cozinha também. Dominic me olhou com a sobrancelha erguida. – Ele nunca foi de reparar mesmo. – dei de ombros e Dominic riu.
– Muito bem! Eles já estão aí. Por favor, Dominic e . Fiquem aqui – ele apontou para ao lado dele e obedecemos. – E... Podem abrir a porta.
Quando dois serviçais abriram as portas, uma montanha de gente entrou, todas conversando animadas e sorrindo. Vieram na nossa direção de braços abertos. Olhei espantada para aquela multidão que estava pronta para me engolir.
– , querido! – uma senhora agarrou o rosto dele e o beijou nas duas bochechas. – Há quanto tempo, lindinho! Esta deve ser sua noiva.
– Muito bonita por sinal. – Um rapaz alto de cabelos cor-de-mel sorriu para mim.
– É claro que é! – disse a senhora. – Você é a , certo?
– Sim, eu sou.
– Meu nome é Gertrudes. Sou tia-avó do . Você escolheu bem a sua noiva, hein querido.
– Eu sou Charlie, primo do . Prazer em conhecê-la, – ele pegou minha mão e deu um beijo nela.
– O prazer é meu – soltei uma risada envergonhada e então outros parentes vieram nos cumprimentar.
– Olá , meu nome é Melissa, sou a prima mais velha de . Este é Ronald e Lari, meus filhos. E este é Chad, meu marido.
– Olá, é um prazer em conhecê-los.
– Essa é a moça que o tio vai se casar, mamãe? – Lari perguntou.
– Sim, querida.
– Oi, eu vou ser sua futura sobrinha. – Lari sorriu para mim e eu sorri de volta.
– Bom saber isso, Lari.
– E quem é este ao seu lado, ?
– Este é Dominic, meu...
– Ele é amigo dela, Melissa. Ele é francês – uma mulher disse e olhamos para ela.
– Como sabe disso, vovó? - perguntou.
– Estava conversando com ele agora a pouco, se não perceberam. – Ela sorriu. – Como já deve saber, eu sou a avó de , . Conhecemo-nos há alguns anos atrás.
– Ah, claro! – olhei para . – Você passou as férias de verão na casa dele, uma vez. Eu me lembro da senhora!
– Sim! – ela sorriu.
– Hey, ! – uma voz grossa disse e olhamos para um garoto de uns nove metros – estou exagerando – correr até a nós.
– Hey, Bill! Há quanto tempo. Você cresceu, garoto! – ele sorriu para o menino enorme que sorriu de volta.
– Um metro e oitenta e dois. Sete centímetros desde o verão. – Um senhor também alto chegou logo depois.
– Você corre demais, William. Boa noite, . Esta deve ser a sua noiva, a . E este é...?
– Dominic. Amigo deles. – O próprio Dominic respondeu e o senhor sorriu.
– Certo. Bom, vejo que muitos de nossos parentes chegaram.
– Sim, sim. A maioria já está no salão principal. – respondeu. – Apenas alguns vieram conhecer a noiva.
– Muito bem. Dimitri já está vindo, a enfermeira o está ajudando a subir as escadas. Venha Bill, vamos indo também para o salão principal.
– O acompanhamos, Berry. – Tia Gertrudes disse e empurrou a todos que estavam ali para o salão principal.
Dominic me encarou espantado e eu ri.
– A família de seu pai é grande, hein? – disse com um sorriso e arrumou os óculos no rosto.
– O que eu posso fazer? – ele deu de ombros e acenou para uma mulher com a roupa inteiramente branca e um senhor que usava um andador prateado. A mulher e o senhor chegaram até a nós depois de um longo tempo. – Como está, vô Dimitri?
– Bem, filho. Estou indo. Clarisse aqui tem me ajudado bastante – ele riu e olhou para mim e para Dominic. – Quem são?
– Esta é , minha noiva. E este é Dominic, seu amigo. Lembra-se que eu disse ao senhor sobre minha noiva, vovô?
– Ah, lembro. Não estou tão acabado assim, – ele riu e deu uma tossida. – Acho que preciso de um copo d’água.
– Eu pego para o senhor. Vamos. – A enfermeira ajudou o avô Dimitri chegar até ao salão principal. Um homem que girava as chaves do carro no dedo foi caminhando na nossa direção, distraído.
– Ah, oi tio Frank. , este é o meu tio Frank, ele é irmão do meu pai.
– Prazer, em conhecê-lo senhor. – Sorri e o homem olhou para mim, e Dominic.
– Ah, não me coloque mais alguns anos com esse “senhor”. Por favor, me chame de tio Frank mesmo. Você deve ser a . Deve, não. É. Encantado – ele fez uma referência a mim. – E este é o...?
– Dominic.
– Dominic, amigo de vocês?
– Bem, sim – ri e tio Frank sorriu.
– Certo. Por que já não estão no salão principal? Não me digam que estavam me esperando.
– Pois estávamos. Só faltava o senhor para chegar, tio.
– Muito bem, agora não falta mais. Vamos, já estão todos ali.
– A Tia Regina não vem?
– A tia Regina não é mais a sua tia, .
– O senhor se separou dela?
– Ela vivia reclamando de como eu não dava a mínima para ela e PUF!, se separou para mim. Os papéis do divórcio estão para chegar logo, logo.
– Poxa, sinto muito.
– Não sinta. Elas são todas iguais, só querem seu dinheiro. Tirando você, querida. Você deve gostar bastante de meu afilhado para querer se casar dele – tio Frank riu. Pigarreei e sorri para ele.
– É... Eu gosto. – E caminhamos até a porta do salão principal.
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Já deveriam ser umas onze horas da noite naquele momento. Onze e alguma coisa. As pessoas estavam conversando em grupinhos e uma música calma de fundo tocava. O jantar já tinha sido servido há um bom tempo atrás, assim como a sobremesa. Agora só estavam servindo alguns petiscos e vinho.
Eu estava sentada em uma das mesas observando todos conversarem e aproveitarem o fim da noite. Não tinha me enturmado muito, afinal, elas vieram conhecer a noiva, mas, em vez disso, esqueceram-se dela. Eu tinha conversado um pouco com a avó de , a Andy. Ela e seu marido, Dimitri, são muito simpáticos. Para falar a verdade, Dimitri estava dormindo quando eu conversei com ela, mas Andy me contou algumas histórias de quando pequeno, o que me fez rir um pouco. Depois ela se levantou para conversar um pouco com aquele homem alto e me deixou com Dimitri babando na mesa. Até a enfermeira tinha ido se divertir nesta festa.
E eu estava sozinha, pensando seriamente em ler Dom Quixote enquanto todos estão conversando. Mas eu não vou fazer isso, nem mesmo se eu pudesse. Tenho que seguir a educação que minha mãe me deu, e esperar calmamente todos irem embora, mesmo que ninguém fale comigo e eu fique mofando a noite inteira aqui... Será que alguém iria perceber se eu desse uma subidinha rápida para ler?
– Ei, ! – olhei para Melissa que acenava para mim. Ela estava sentada em uma das mesas junto a uma menina de cabelos longos e ruivos. Acenei com a cabeça, dando um sorriso, e Melissa me chamou com a mão. Olhei para todos que estavam conversando e dançando e depois para Dimitri dormindo. Levantei-me e caminhei até a mesa dela.
– Oi.
– Sente-se conosco. Ninguém merece estar na companhia de alguém que nem acordado está. Por favor – ela apontou para uma cadeira vazia e eu me sentei nela. – Esta é Lena. Ela é amiga da família.
Olhei para aquela garota de cabelos ruivos e ergui uma sobrancelha. Ela tinha sardas por todas as bochechas e em cima do nariz.
– Lena?
– Sim. Por que, você a conhece? – Melissa perguntou e eu pigarreei.
– Bem... Você é a amiga do que...?
– Sim, eu sou essa mesma. – Lena sorriu envergonhada e eu ri.
– Claro, a Lena! É um prazer conhecer você.
– O prazer é todo meu! Digo, a garota que ele irá se casar... – Lena sorriu.
– É... é um homem muito especial. – Melissa disse e olhou para ele.
Sorri com a boca fechada e olhei também para ele que estava conversando com o tio Frank na varanda que dava para o jardim.
– É muito bom saber que ele achou alguém que possa cuidar dele. E ajuda-lo com o tratamento... – Melissa suspirou. Olhei para ela.
– Tratamento?
– Você não sabe? – Melissa me encarou preocupada. Fiz que não. – Ah. Bem, então ele deverá te contar.
– Mas porque ele deverá me contar? Por que não pode ser você?
– Porque isso é muito pessoal e...
– Mas se eu vou me casar com ele, eu tenho de saber. – Disse e Melissa suspirou. Ela olhou mais uma vez para ele e mordeu o lábio.
– Está bem. tem… Ele tem TOC.
– Ele tem TOC?
– Transtorno Obsessivo-Compulsivo. – Lena disse.
– Eu sei o que é TOC. Mas quero saber que tipo de TOC ele tem.
– Isso eu não faço ideia. Mas o que eu fiquei sabendo foi que ele desenvolveu a doença quando a mãe dele morreu. E desde que o pai dele morreu, tem parado de frequentar o médico e não está mais fazendo o tratamento. – Melissa respirou fundo. – Por favor, não conte a ele que eu contei isso. Eu nem deveria ter contado, mas como você vai se casar com ele, realmente tem a obrigação de saber.
Olhei para que parecia preocupado enquanto conversava com seu tio e tomava vinho. Por que ele tinha parado de fazer o tratamento? E que tipo ele tinha? poderia ter compulsão de lavar e limpar tudo... Ou quem sabe alinhar e organizar... Ou... Coisas piores. Mas ele não fazia o tipo agressivo. Bem, eu não sei.
Quando todos tinham ido embora, subi até meu quarto e me troquei. Tomei banho e me joguei na cama. Não tinha cabeça para ler o meu livro agora e talvez nem dormir eu conseguiria. Não parava de pensar no que Melissa me disse, era difícil não pensar.
Talvez seja por isso que ele vivia dando significados para os números... Isso seria um tipo de TOC? Achar significados, que ele mesmo inventou, nos números? Não, acho que não.
Virei-me de lado. Por que ele não me disse isso? Por que ele nunca me disse isso? Que droga.
Suspirei e olhei para o teto. Acho que eu precisava de um copo d’água. Eu não tinha bebido muita coisa no jantar, estava morrendo de sede.
Levantei-me e peguei um roupão. O coloquei e saí do quarto com passos mudos – não queria acordar ninguém. Desci as escadas e segui para a sala de jantar e, em seguida, para a cozinha. Ela estava com as luzes apagadas e ninguém mais estava ali. Procurei pela geladeira naquele lugar grande e peguei a jarra de água e um copo.
Enchi o copo até a metade e comecei a beber. Olhei pela janela que dava também para o jardim e comecei a observar as tulipas se mexerem um pouco com o vento da noite. Era uma noite com poucas nuvens, dava até para enxergar algumas estrelas brilhando no céu. Na cidade que eu moro, no Texas, todas as noites ao menos dez estrelas aparecem para nós. É mais fácil de ver já que lá não tem muito poluição.
Voltei a observar as tulipas e parei de beber água. Por que só tinham tulipas ali? E todas vermelhas. É engraçado, tulipas vermelhas se parecem um pouco com rosas vermelhas quando estão fechadas. Se minha mãe não tivesse um jardim cheio de diversas flores e plantas, acho que iria confundir essas tulipas com rosas.
– Senhorita ? – olhei para Jeff que estava de pijamas. Jeff estava parado perto de algumas prateleiras e usava pantufas azuis.
– Ah, oi Jeff. Só vim... Beber água – mostrei o copo ainda com um pouco de água.
– É, eu vi. Vim pegar um pouco de leite. – Jeff caminhou até a geladeira e pegou um copo também. Ele encheu o copo até a boca e o virou até não sobrar nem mais uma gota. – Ahh. Eu gosto de tomar leite, entende? Principalmente quando é de madrugada. Não sei, mas eu acordo no meio da noite só para tomar leite.
– Sério? – sorri. – Eu também acordo de madrugada, só que para tomar banho. Não sei exatamente porque faço isso, mas eu quase sempre acordo no mesmo horário para fazê-lo.
– É... Algumas pessoas têm suas manias esquisitas mesmo. – Ele deu de ombros. – Eu acordo para tomar leite, você para tomar banho, meu patrão para ver as... – Jeff parou de falar. Ele olhou para mim e se virou rapidamente, depois guardou o leite e então pigarreou. – Acho que já vou voltar para cama. Tenha uma boa noite, Senhorita . Até amanhã.
– Até... – olhei Jeff caminhar até a porta e sair. Voltei a olhar as tulipas e depois para a jarra d’água. Guardei-a na geladeira e coloquei o copo na pia. Era esquisito ficar sozinha em uma cozinha tão grande e no escuro da noite, por isso saí dela e voltei para o hall. Jeff disse que gosta de ver o quê? É algo no feminino, isso eu já sei... Por que ninguém nunca pode me contar nada?
Cheguei à divisão das escadas e coloquei o pé no primeiro degrau. Parei. Uma ideia apareceu. Será que eu ia...? Olhei para trás de mim e depois para o topo da escada pela qual eu deveria seguir... Mas eu não vou.
Subi as escadas do lado direito e cheguei à parte esquerda do corredor. Verifiquei se tinha alguém e caminhei até uma porta que, na verdade, não era uma porta, e sim outra escada mais estreita. Comecei a subir, mas antes mesmo que eu conseguisse chegar à metade dela, ouvi passos de alguém descendo. Apavorei-me e saí correndo tentando manter os passos mudos e cheguei até a porta do meu quarto. A maçaneta tinha emperrado.
Olhei desesperada para os lados e tentei empurrar. Depois de muito esforço, eu consegui e entrei, fechei a porta e suspirei. Meu coração estava a mil por hora. Quem estava descendo as escadas e, ainda mais, aonde dava aquelas escadas? Com muitas perguntas que eu fiz a mim mesma e que talvez eu não descubra, andei cansada até minha cama e deitei nela, minutos depois estava dormindo e tendo um sonho esquisito.
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No dia seguinte eu estava disposta a subir aquelas escadas para saber o que tinha ali em cima. Agora não era mais só por curiosidade e sim por necessidade. Eu tive uma sucessão de pesadelos ontem à noite que começavam sempre comigo subindo aquelas escadas, e andei pensando demais nelas durante o dia todo. Não ira me dar motivos para ter mais pesadelos, não.
Tinha até dado uma pesquisa sobre o que teria ali em cima. À tarde eu perguntei para Laura, a serviçal pessoal de e mais antiga daquela casa, sobre o próprio.
– Ele sempre foi muito reservado... Não é de fazer amizades. Mas é uma pessoa extremamente educada, sabe. – Ela disse enquanto arrumava a mesa do almoço. – É até muito estranho como ele saiu assim... Da família que veio.
– Como assim?
– Acho que eu não deveria contar, mas... – ela olhou para os dois lados. – Os pais não se davam muito bem, entende? Lembro-me deles brigando muitas vezes. Mas só posso dizer isso.
Tentei arrancar mais alguma coisa dela, mas nada saiu. Então resolvi perguntar ao Jeff sobre o que ele quase me disse ontem à noite, mas ele se recusou e fingiu que tinha de buscar uma encomenda que tinha feito. Pois bem, segui e perguntei à Melandra. Melandra trabalhava como um tipo de governanta e secretária de e da casa. Eu só descobri que ela existia hoje de manhã, quando Tyson me contou. Melandra não quis me dizer nada também. Mas deixou escapar algo sobre uma biblioteca destruída.
Mais ninguém que eu perguntei sabia me dizer algo útil sobre o que tinha depois daquelas escadas estreitas. E eu não poderia perguntar diretamente para , se não ele descobriria que eu estive no lado esquerdo do corredor e ficaria muito bravo.
Tinha tentado, para falar a verdade, arrancar alguma coisa durante o jantar do próprio , mas ele não me disse nada de mais.
– Não existe uma biblioteca aqui e nunca existiu, . – Ele deu de ombros e voltou a comer. – Não sei por que está perguntando.
– Eu só queria saber se tinha mais livros aqui, nada de mais. – Respondi.
Então passei o resto da noite lendo alguma coisa de Dom Quixote. De novo, eu não li nada demais. Não cheguei nem na metade e pretendo chegar até terça-feira. Estava tentando ligar os pontos. Talvez a possível biblioteca destruída se localizasse para onde as escadas levavam, só que não faz a mínima ideia que tem uma biblioteca ali em cima e aqueles passos eram de um espírito. Ou foi que tinha destruído aquela biblioteca, mas, como eu já tinha dito antes, ele não faz do tipo agressivo. Então, só temos uma explicação: ali não é a biblioteca destruída e nunca soube sobre essa biblioteca, porque ela não existiu na época dele, e lá deve ficar o sótão ou qualquer coisa mais normal.
Quando já estava cansada de ficar parada, lendo Dom Quixote e com a cabeça a trezentos por hora, foi quando a minha salvação apareceu pela a minha porta.
– Toc-Toc – Gina sorriu para mim. – Posso entrar?
– Claro, por favor. – Me sentei na cama.
– Mandaram-me perguntar se a senh... Se você precisa de alguma coisa.
– Na verdade, Gina. Você chegou na hora certa. Por favor, sente-se aqui – mostrei o lugar vazio na minha frente da cama e ela se apressou a chegar. Gina se sentou e me encarou ainda sorrindo. – Você morou aqui a vida toda, certo?
– Certo.
– E você começou a trabalhar a dois anos, certo?
– Sim, está certo.
– Por acaso, assim... Você já chegou a arrumar ou a limpar ou até mesmo frequentar a parte esquerda do corredor?
– Ah, fazia isso direto. Comecei como faxineira. – Ela sorriu.
– Certo – sorri. – Bem, existe um último andar, não existe?
– Mas é claro que existe. Não é este, evidentemente.
– Muito bem. Mas como podem existir outros andares acessíveis, sem ter algo que nos leve até lá?
– Ah, mas não é esse caso. Existe uma escada que nos leva até os últimos dois andares. – Gina assentiu.
– Ah, claro. E você saberia me dizer o que tem nesses andares?
– Ah, isso é fá... – ela parou de falar e me encarou. – Porque a senhorita quer saber?
– Só... Para eu não ir lá em cima. Se eu quiser, por exemplo, usar o banheiro e não querer usar o meu por algum motivo, gostaria de saber o que tem nos próximos andares para eu não me perder.
– Se... Se for só isso...
– É sim.
– Bom, no segundo andar fica o quarto do Senhor . No último é uma grande varanda e uma churrasqueira. Só isso.
– Ah... – disse decepcionada.
– Ah, mas você nem poderia subir para aquelas escadas, nem se quisesse. O Senhor tranca tudo antes de dormir para que ninguém suba ali. Somente alguns empregados autorizados podem subir. E agora que eu virei sua mordoma, eu não tenho mais autorização para subir.
– Por que ele tranca?
– Isso já é com ele. Só sei que ele fica horas no último andar e lá para o começo da madrugada ele vai para o quarto. Não sei o que ele fica fazendo ali, não tem nada para fazer além de um churrasco. – Gina riu e deu de ombros. Sorri.
– É. Obrigada, Gina. Era só isso mesmo. Está dispensada.
– Ah, tudo bem. Boa noite patroa. – Ela se levantou e caminhou até a porta. Enfiei-me em baixo das cobertas e Gina se virou para mim. Ela apagou as luzes e deu um sorrisinho. Devolvi com outro e ela saiu do quarto, depois fechou a porta. Esperei não conseguir ouvir mais os passos dela e olhei para o teto da minha cama. Cinco minutos. Dez minutos. Quinze minutos.
Joguei as cobertas para o lado e coloquei o roupão. Prendi todo o cabelo com um rabo de cavalo e abri a porta do meu quarto com muito cuidado. Verifiquei se tinha mais alguém acordado e saí do quarto, deixando a porta encostada – caso eu precise voltar correndo. Enrolei mais o roupão contra o corpo e comecei a caminhar em direção àquela mesma escada estreita.
Verifiquei também se tinha alguém descendo e comecei a subir os degraus. Dava cada passo muito bem pensado, esperando a cada momento ser pega de surpresa e ter que sair correndo dali.
A escada ia começando a se curvar quando eu chegava mais perto do topo. Ela parou por um momento e nesse pedaço tinha uma porta. Aquele deveria ser o quarto de . Tentei abrir a porta, mas estava trancada. Será que a varanda também estaria trancada? Bem, não custa tentar.
Continuei subindo os degraus e aos poucos um vento gelado foi aparecendo. Quando já estava no antepenúltimo degrau, consegui ver uma porta de vidro. Cheguei até ela e olhei para dentro do lugar. Havia alguns sofás, uma churrasqueira ao fundo e uma mesa de vidro com seis cadeiras pretas. Coloquei minha mão na maçaneta e a apertei. Aberta.
Comemorei internamente e abri a porta com o maior cuidado. Entrei naquele lugar e procurei, por todos os lados, alguém. Caminhei até a varanda, mas antes mesmo de eu conseguir chegar perto dela, eu vi, ali mesmo, em carne e osso, olhando, através de um telescópio, o céu. Escondi-me atrás de um armário que tinha ali e observei ele fazer contas, antes de voltar a olhar através do telescópio. Então era isso sobre o que Jeff estava se referindo. observava as estrelas todas as noites. Bem original.
parou de olhar o telescópio e levantou a cabeça. Ele se virou e olhou exatamente para o lugar que eu estava. Apertei-me atrás do armário e virei de costas, esperando assim caber melhor. Suspirei e rezei para que ele não tivesse me olhado. Quando eu achei que a barra estava limpa, eu me virei... Pior erro que eu já fiz.
– O que pensa que está fazendo aí, ? - estava encostado ao armário, com os braços cruzados e com os óculos escorregando dos olhos. Ele os empurrou de volta e ergueu uma sobrancelha.
– Eu...
– Estava me observando. Por quê?
– Porque... Bem, porque eu quero saber o que você faz todas as noites – respondi e ele pareceu surpreso. Acho que o peguei de surpresa.
– Bem, e por que você quer saber isso?
– Eu vou me casar com você, . Eu tenho que saber tu...
– Algumas coisas não são necessárias. Por favor, se retire daqui. – Ele apontou para a porta e eu me recusei.
– Não.
– .
– Qual é o problema de eu ficar aqui?
– Porque aqui só eu posso ficar. – Ele me direcionou um olhar esquisito.
– Ah, qual é . Porque só você pode ficar aqui?
– Esta é a minha casa, eu dito as regras.
– Quer parar de ser infantil e me dizer o porq...
– Porque eu não quero! Dá licença, por favor?!
– Eu quero saber o porquê de você querer observar as estrelas todas as noites. – Disse firme e ele deu um passo à frente.
– Eu não quero te dizer! POR FAVOR, saí!
– É, você não quer dizer-me assim como não me contou que tem TOC?! – joguei essa para cima dele. relaxou os músculos, preocupado.
– Como sabe que eu tenho T...?
– Não interessa. Você tinha de ter me contado uma coisa dessa, sabia?
– …
– Não me venha com “”, . Quando você vai se casar com uma pessoa, você tem de contar para ela. Pior, quando você é amiga de uma pessoa, você deve contar a ela.
– Você não entende. Como eu iria te contar isso, se nem na época que eu estudei com você eu sabia que tinha essa doença?
– Mas quando você foi até a minha casa, no Texas?
Ele bufou.
– Está certo, eu errei. Agora sai daqui, por favor.
– . Você está sendo covarde o bastante de não querer conversar comigo sobre isso?
– Eu não sou um covarde, está bem?! – ele se aproximou de mim e eu dei um passo assustada, acabando encostando-me à parede. me olhava com os olhos cheios de raiva. De repente ele se acalmou e deu um passo para trás.
– Sim, você é. Você não deveria ter largado o tratamento, . – Olhei uma última vez para ele, antes de sair dali e descer as escadas, irritada, correndo e bater a porta do meu quarto.
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Nunca pensei que uma segunda de manhã pudesse fazer o sol que estava fazendo, mas pelo visto eu me enganei. Eram onze e meia do dia 25 de novembro e eu já tinha tomado café da manhã. Sem nada demais para fazer, tinha ido caminhar um pouco naquele jardim cheio tulipas vermelhas. O vento estava fraco naquela hora do dia e o tempo estava incrivelmente agradável.
Eu não tinha conversado até agora com , porque eu me sentia estranha. Com raiva. Eu acho que, depois de todo esse tempo, ainda me importava um tantinho com ele... E saber que ele tem uma doença que precisa ser tratada e nem isso ele faz mais, me deixa com medo. Não por mim, mas por ele, entende? Eu não sei, só sei que eu não estava muito a fim de conversar com ele hoje.
Enfiei-me no meio de uma trilha no jardim e comecei a passar entre as tulipas. Não sei como elas sobreviveram ao Outono... Afinal, isso não faz muito sentido. Mas mesmo assim, elas eram lindas. Era muito divertido passar entre aquelas flores com aquele vento leve soprando na minha direção.
Parei de andar e observei as tulipas na minha frente. Elas não eram verdadeiras, não é? Quero dizer... Elas não podiam ser verdadeiras tulipas.
– Elas não são verdadeiras.
Toquei as tulipas com a minha mão direita.
– Meu pai plantava as tulipas no começo de Outono e colocava tulipas falsas em cima. Estas tulipas não chegam realmente a estar plantadas, acho que só estão fazendo pouco contato com a terra, não sei... Não sou jardineiro.
– Hum.
– Meu pai disse que muitas plantas têm significados. Mas que a maioria das pessoas gostavam das tulipas. – Ele parou por um momento. – Cada cor de tulipa tem um significado. Claro que o principal significado é o amor perfeito, mas eles variam. A tulipa roxa significa tranquilidade, paz, realeza. A tulipa amarela significa amor impossível. A tulipa laranja significa vitalidade e vigor. A branca significa perdão, e a vermelha significa amor eterno. Quando meus pais se casaram, meu pai plantou com as próprias mãos a maioria destas tulipas. Ele dizia que as plantou com esta cor, porque o amor que ele sentia pela minha mãe era eterno. E todo Outono ele plantava novas e deixava falsas para fora, assim tornando as tulipas eternas. - suspirou. – Ele era um bom pai.
– Hum. – Disse novamente e me virei para começar a caminhar.
– Desculpe-me por ontem, . – Ele me acompanhou. – Eu perdi a cabeça.
– Sei.
me olhou.
– Hoje… Temos que ir agora degustar da comida do casamento.
– Hum.
– O que foi?
– Nada.
– Você está me respondendo de maneira grossa igual quando eu fui até a sua casa. O que foi que eu fiz para você agora?
– Nada, . – Olhei para ele. – Vamos degustar a comida, então.
Virei-me e continuei a caminhar, mas ele não tinha se mexido. Depois de um certo tempo, tinha voltado a caminhar.
– Vocês virram o saboant do banherro daqui? E muito bom!– Dominic cheirou as mãos. Eu e estávamos sentados em uma mesa esperando trazerem a comida do almoço da festa de casamento. Chamei o Dominic para ir conosco, porque (a) não queria ter que conversar com o tempo inteiro ou ficar em silêncio o tempo inteiro e (b) porque ele será o nosso padrinho de casamento. Isso mesmo. E eu dei este título a ele hoje de manhã.
– Ainda não, Dominic.
– Poi deverriam experrimentar!
(Coloquem essa música para tocar agora, por favor: Boogie Shoes)
Um garçom veio trazendo três pratos com comida para nós. Ele colocou os pratos na nossa frente e então deu dois passos para trás.
– Capelete, preparado com leite sem lactose, ao molho sugo e filé de frango ao ponto.
Olhei para o capelete e dei uma colherada. Comecei a mastigar e e Dominic fizeram o mesmo. Foi a vez do frango e então olhei para eles dois que estavam mastigando o filé.
– Acho que filé não é uma boa escolha para o jantar.
– É, eu também acho isso.
– Aham. – Dominic disse de boca cheia. O garçom assentiu e trouxe o próximo prato: salmão com um molho esquisito e aquelas plantinhas do lado. Eu não entendia nada de comida de rico.
– Não sou muito fã de salmão. – disse e empurrou o prato.
– É, este aqui está esquisito. Pode nos trazer a próxima opção, por favor?
– Perfeitamente, senhorita.
Antes de o garçom sair, disse alguma coisa para ele. Depois o garçom voltou com uma comida esquisita e a colocou na nossa frente.
– Berinjela à milanesa, com molho de beterraba e couve.
– Ah, qual é ?
– O quê? Tem bastante nutriente aí, irá nos fazer muito bem.
– Isso daqui não é comida de verdade. – Disse e estava pronta para devolver ao garçom, mas me impediu.
– Ei, achei que você comia isso no Texas.
– Han! Querido, vou te mostrar o que a gente come no Texas. Por favor – disse a comida que eu queria para o garçom e minutos depois ele trouxe três pratos com Chili com carne. Obviamente, o Chili não tinha queijo, se não eu passaria mal, mas mesmo assim, Chili é Chili. Sorri para o meu prato. – Agora sim, comida de verdade.
Comecei a comer e, cara, como aquilo estava gostoso! estava olhando disconfiado para o prato e eu olhei para ele, provavelmente com a boca toda suja.
– Anda logo. Come. Você já o comeu uma vez, lembra? Na minha casa.
– É claro que eu me lembro. Eu sou um prodígio. Lembro-me de tudo, minha memória não falha. – voltou a encarar o prato. – Só não sei se é muito...
– Ah, qual é . Come logo. – Enfiei mais um pouco de chili na minha boca e ele pegou uma colherada. colocou a colher dentro da boca, e logo depois estava mastigando. Ele sorriu e começou a comer como uma pessoa normal.
– Céus, como isso é bom! – ele disse e Dominic assentiu. – Esse será o nosso prato principal, O.K.? O.K.
Ri fraco e voltei a comer como uma doida.
Depois do prato principal, escolhemos a sobremesa. Decidimos que fosse um petit gateau de chocolate com sorvete de creme e calda de chocolate. Como eu e somos intolerantes a lactose, nada poderia ter leite ou ser algum derivado do leite, por isso eles preparariam o sorvete e o petit gateau de chocolate sem o leite. E por último, só faltava o bolo. Eu e resolvemos encomendá-lo ali mesmo, e então nos mostraram as opções.
– Que tal de creme com morangos? – perguntei apontando para um.
– Eu prefiro de chocolate e cerejas.
– Mas um de creme com morangos é um bolo tradicional do casamento.
– Mas chocolate é mais gostoso que creme.
– Claro que não! Creme é uma delícia.
– Chocolate é mais.
– Pelo amor de Deus, ! Deixa ser creme com morangos. Qual é o problema?!
– E qual é o problema de ser chocolate com cerejas, hein?!
– Muito bém! Muito bém! Qu tal um de chocoleite com coberrturra de crrem com cerrejas e morrangos? Vocês ném vao comerr o bolo, ele sô vai serrvir como anfeit. O qu me dizém? – Dominic nos interrompeu. Olhei para um emburrado que assentiu quieto. Depois, encarei Dominic.
– Tá. – Respondi e ele sorriu. – Queremos um bolo com massa de chocolate, cobertura de creme com morangos e cerejas. Ah, e nada pode ser derivado do ou o próprio leite. Pode ser?
– Mas é claro, madame.
– E queremos para sábado. – disse e deu o endereço do lugar, o telefone e seu nome. Deu outras informações também, mas eu não estava mais prestando atenção. Estava mais interessada em observar o bolo de creme com morangos, que eu acho que seria uma melhor escolha, mas é como a minha mãe dizia: Temos que aprender a dividir e ceder.
Já tinha se passado a tarde quando voltávamos para casa. estava dirigindo o carro, eu estava sentada na carona e Dominic estava dormindo no banco de trás. Acho que ele ficou com sono depois de comer. Normal.
era o nosso motorista de hoje. Eu não sei o porquê dele resolver fazer isso, afinal ele tem um motorista que se “voluntariou” para nos levar e buscar hoje, mas ele disse que quem iria dirigir hoje seria ele. Então lá estava dirigindo ao meu lado.
Eram quase sete horas da noite quando paramos em um farol. Tinha sido um dia cansativo. Se vocês acham que escolher a comida de seu casamento é fácil, podem ir esquecendo. Você tem que pensar que o seu “Grande Dia” vai ficar guardado na sua mente para o resto da sua vida, pois ele é um dia especial. E, bem, o meu não era bem um casamento. Mas mesmo assim, você tem de levar a sério como se fosse um casamento de verdade. Não que eu não esteja levando a sério ou que isso não seja um casamento de verdade... Se bem que temos alguns acordos, não é? De qualquer maneira, esse passo já foi dado. Estamos livres da comida e agora só falta o vestido e o ensaio do jantar de noivado, que só acontecerão no fim da semana.
Estava observando os outros carros pararem ao nosso lado e alguns pedestres passarem, quando resolveu ligar o rádio e deixar em um som baixo. Ele foi mudando de estação até deixar em uma que tocava uma música antiga.
– Ah, é. The Temptations. Eu poderia morrer agora.
– Quem são? – perguntei, mesmo não querendo perguntar já que eu teria de começar uma conversa com ele.
– Você não os conhece? Eles cantam aquela música “My Girl”. Ela tocou no filme “Meu primeiro amor”, no final e no começo dos créditos.
– Não consigo me lembrar. Não é essa, é?
– Não. Essa é “Just My Imagination”.
– Hum.
– É interessante, não é? Ter uma música de final. Acho que eu gostaria de ter uma música de final. Sabe... Quando tudo acaba.
Não queria perguntar, mas não pude me impedir:
– Como assim, “Quando tudo acaba”?
– Ah, isso eu não sei e não faço ideia. Mas é quando tudo acaba. Pode ser a minha vida, a minha vida aqui nessa cidade, a minha vida como eu a conheço. De qualquer maneira. Eu não sei quando. Mas eu gostaria de ter uma música de final.
– E qual seria a sua música de final?
Ele parou para pensar.
– Acho que “Strangers In The Night” do Frank Sinatra. Minha mãe gostava de cantar para mim quando eu era menor. Ela costumava a cantar essa música toda a vez que eu a ajudava a fazer o almoço. Ela tinha alguns discos de vinil guardados e os colocava para tocar. E cantava junto ao Frank Sinatra. – sorriu. – Acho que daria uma boa música de final.
Olhei para ele e estava sorrindo com a boca fechada. Por algum motivo, se referia aos seus pais com muito carinho. Do jeito que ele conta, não me parece que eles brigavam muito. Eu nunca cheguei a conversar de verdade com os pais dele. Apenas os cumprimentava quando moravam na minha rua. Pareciam boas pessoas.
– Que música você teria de final?
– O quê?
– É, de um final seu. Qual seria a música?
– Eu... Não tenho uma.
– Hum. Então pode ficar com a minha também, se quiser. Vamos nos casar mesmo, não é? Bem... Vamos nos casar, mas não é bem um casamento.
– Não posso pegar algo que é seu, .
– Mas é praticamente isso o que você vai fazer quando eu me casar, não é? Pegar o meu dinheiro para estudar na faculdade de música.
Desta vez eu não sabia o que responder. Ele estava certo. Eu ia pegar o dinheiro dele para estudar na faculdade de música e uma pontada de culpa me atingiu.
– Não precisa se sentir mal, . Não é uma coisa ruim. Você vai conseguir realizar o seu sonho de aprender a cantar. – Ele disse e o farol abriu. começou a dirigir e eu olhei para a rua enquanto ele dirigia o carro.
– É... – e por algum motivo, a raiva que eu estava sentindo dele diminuiu um pouco.
6y – 3y = 16 – y
Plena terça-feira e lá estávamos sentados na sala de televisão, eu e Diminic, sem ter o que fazer. Era fim de tarde e estava chovendo. tinha acordado animado aquele dia, e estava cantarolando o tempo inteiro. Até disse para nós que era para nos arrumarmos quando desse oito horas, porque iríamos sair com ele para uma lugar “festivo”, como disse. O problema era que eu não estava nem um pouco animada para sair em plena terça-feira. Dominic estava ansioso, já que o motivo que eu pedi para trazê-lo para cá também era para ele conhecer um pouco mais dos Estados Unidos, e estava deduzindo que iríamos a alguma festa de gente rica e poderosa. Mas ninguém sabia, por isso ficamos assistindo Vestida para casar a tarde inteira.
Eu não consegui chegar à metade do livro e, pensando bem, acho que não conseguiria lê-lo inteiro durante essa semana. Mas eu iria tentar.
James tinha me contado um pouco mais sobre essa história de “Biblioteca destruída” e, pelo o que eu entendi, sabia muito bem que existia uma biblioteca destruída nesta casa. James acabou me contando que, na semana que o pai dele tinha morrido, entrou naquela biblioteca e ficou trancado lá dentro horas e horas. Então, depois de um tempo, todos ouviram gritos de raiva e barulhos de coisas sendo jogadas no chão. Ninguém se atreveu a entrar ali dentro enquanto ele a destruía por inteiro. Mas o que todos sabiam é que, depois dele destruir tudo, ele guardou um único livro com ele e que fica guardado em um esconderijo que ninguém sabe onde é. Estou começando a achar seriamente que estou na história de “Bela e a Fera” depois dessa.
Bem, acho que me enganei. na verdade é muito agressivo e não sei se o TOC dele tem alguma coisa a ver com isso, mas penso que não.
De qualquer maneira, quando deu oito horas da noite e o filme já estava nos créditos, eu e Dominic desligamos a televisão e subimos para os nossos quartos. Dessa vez, Gina e James não vieram me ajudar a me arrumar, o que significava que não iríamos a nenhuma festa formal com gente rica. Então eu apenas peguei uma calça jeans escura, uma camiseta rosa de manga curta e uma jaqueta azul. Coloquei uma bota de cano baixo e por último penteei os cabelos e coloquei brincos de pérola falsos. Passei pó, blush claro, rímel, batom, lápis marrom e uma sombra marrom dourada. Prendi a minha franja para trás com uma presilha e estava pronta.
Desci as escadas e esperei, sentada no último degrau, eles descerem. Dominic chegou vestido com uma calça branca, uma camisa preta e com as mangas dobradas até os cotovelos, e os cabelos formando um pequeno topete. Ele estava bonito, eu devo admitir.
– Uh, lá lá, Dominic. – Sorri e ele riu.
– Vo considerrarr issu como um elogio, obrrigadu.
Continuei a sorrir para ele.
– Muito bem, vamos? – apareceu vestindo uma calça jeans clara, uma camisa azul de botão e uma jaqueta quase igual a minha, o que me deixou um pouco sem graça. Seus cabelos estavam desgrenhados como sempre, já que ele gosta de passar a mão neles o tempo inteiro, e usava um relógio prata em um dos pulsos.
– Claro – me levantei e caminhamos até a porta.
Jeff nos levou de carro até algum lugar ao sul de Los Angeles e parou ao lado de um lugar barulhento e com uma música alta.
– É aqui, Jeff. Pode parar. – O avisou e então saiu do carro. – Nos vemos em casa, amigão.
– Em casa...? – saí do carro e me deparei com uma boate entupida de gente. Havia seguranças na porta e uma pequena fila de gente. De dentro, saíaque fazíamos realmente um bom casal. luzes de cegar os olhos e o cheiro de bebida alcoólica era forte. – Onde estamos, ?
– Em uma boate, oras. Bem, ainda não. Venham, vamos entrar – ele nos chamou com as mãos e caminhamos até os seguranças. disse seu nome a eles e então deixaram-nos passar. Quando eu entrei naquele lugar barulhento e cheio de gente, comecei a ficar com um pouco de dor de cabeça. – E é assim que nos divertimos aqui em Los Angeles.
Pessoas se beijando e se agarrando, vomitando e dançando estavam por todos os lados. Eu mal conseguia enxergar alguma coisa naquela escuridão que piscava luzes fortes o tempo inteiro.
– Venham, vou pegar uma bebida para nós.
O nos levou até o balcão daquele lugar e sentei em uma das cadeiras.
– O que vão querer? – ele nos perguntou.
– Parra min, tonto faz. – Dominic respondeu.
– Não quero nada alcoólico, obrigada. – Disse e me olhou esquisito.
– Você não gosta de nenhuma bebida alcoólica?
– Vinho tinto é o máximo que eu tomo, e nem tanto assim – respondi. – Aliás, vinho tinto faz até que bem à saúde, sabia?
– Sabia. Bem, então eu vou querer dois Bloody Mary, por favor. – pediu e logo depois o garçom trouxe a bebida dele e de Dominic. Eles começaram a bebê-la, enquanto eu fiquei apenas os vendo fazer isso. – Bom, – disse depois de terminar o seu gole – eu vou dar uma circulada um pouco. Quer vir comigo, ?
– Não, obrigada. Vou ficar aqui.
– E você, Dominic?
– Vo ficarr um pouco aqu também, obrrigado. – Dominic disse e mostrou sua bebida. assentiu e acenou com sua mão para mim, logo depois estava no meio de toda aquela gente.
Eu e Dominic ficamos na maioria do tempo sentados ali. Eu fiquei sentada no banco e ele de pé, dando goles e goles ainda na sua interminável Bloody Mary. Aquilo parecia horrível, misturava tomate com limão. Mas Dominic parecia não ligar para a sua bebida. Ele ficava o tempo inteiro olhando para a pista de dança, e só depois de um tempo que eu me toquei para quem ele estava dando toda a sua atenção.
– Ela é bem bonita. – Disse olhando para a ruiva que dançava quase despercebida no meio daquela gente toda.
– O qu? Ah, é.
– Por que não vai ensiná-la a dançar? – disse sorrindo e Dominic me olhou esquisito.
– O qu? Nau, nau. Eu? Nau.
– Ah, qual é Dominic. Você está olhando para ela igual a um mosquito quando ele fica voando envolta da luz, achando que ela é o sol. – Dominic me encarou com vontade de rir. – Anda logo, você não precisa ficar preso a mim. Não é porque eu não quero sair daqui, que você também vai ficar aqui. Qual é, você já é bem grandinho para se cuidar sozinho. Além do mais, você não estará sozinho. – Apontei com a cabeça para a garota. – Vai lá. Todo mundo se amarra em um francês bonitão como você.
Dominic riu e olhou para a garota ruiva que ainda estava ali.
– O.K., vo lá. – ele deixou seu copo de bebida no balcão e caminhou até a garota. Vi Dominic cumprimenta-la e logo depois os dois estavam conversando com sorrisos nos rostos. Virei-me na direção do balcão e fiquei olhando distraída para uma bebida nas prateleiras. Por que será que nos levou até aqui? Vai ver ele só queria se divertir e nos chamou para se divertir junto.
Eu odeio boates. Eu não gosto nem um pouco delas, acho que quem vem para cá não tem o que fazer. O que você faz nas boates? Bebe, beija, dança e fica soada a noite inteira. Sem falar que você não conhece ninguém daqui. E depois tem que voltar para casa no meio da madrugada e já está tão cansada que nem toma banho e caí na cama, soada e com cheiro de bebida. Além disso, temos os perigos de alguma coisa acontecer, como algum incidente no meio da noite quando for embora de carro para casa. As pessoas ficam bêbadas e acordam com cefaleia no dia seguinte. E, às vezes, você acorda com uma pessoa que você não sabe quem é e nem se lembra do que aconteceu na noite passada. Como alguém pode gostar de ir para um lugar que não te traz benefícios inteligentes? Então, eu penso: o que um homem prodígio, como , vem fazer aqui, nesse lugar? Eu não faço ideia.
– Sozinha, moça? – a garçonete disse, enquanto limpava um copo.
– Não, meus amigos estão se “divertindo” enquanto eu os espero aqui – fiz aspas com os dedos na palavra “divertindo”.
– Pelo visto você não é muito fã desse tipo de lugar, não é?
– Talvez – respondi.
– Não quer beber alguma coisa?
– Tem água?
– Claro.
– Então eu quero uma água sem gás, por favor.
A garota com os cabelos morenos e um piercing na sobrancelha me trouxe uma garrafa d’água e um copo. Coloquei a água para mim mesma e dei um grande gole.
– Por que você não tenta conversar com alguém nessa boate? Vai ver, você vai encontrar alguém que seja parecida contigo.
– Ah, não. Obrigada, estou bem aqui.
– A senhorita quem sabe, tenho que atender mais pessoas. – E a garota se afastou, de onde eu estava, para a ponta do balcão. Fiquei batucando com os dedos e vi o tempo começar a passar.
Já estava entediada quando já tinha se passado da meia noite. Nunca mais tinha visto depois que ele disse que ia dar uma circulada e estava começando a ficar preocupada. Dominic estava sentado em um dos sofás, conversando com aquela mesma garota ruiva e eu continuava na mesma cadeira perto do balcão, com meu trazeiro que já estava quadrado.
Resolvi dar uma volta pela boate para ver se meu trazeiro voltava ao normal, e me levantei da cadeira. Era como se eu não tivesse bunda. Eu não sentia nada, aquela sensação era muito esquisita.
Comecei a andar no meio de toda aquela gente, tendo de me espremer para conseguir chegar ao outro lado. Tomei cuidado com as mãos bobas das pessoas e lá estava eu, em um dos cantos com sofás e algumas pessoas se beijando a beça. Ignorei aquela baba toda, e arrumei minha blusa, antes de dar o próximo passo.
Foi quando eu percebi que em um dos sofás, estava com um grupo de garotas e garotos que estava lhe oferecendo uma pílula colorida. sorriu e levou a mão a boca, mas antes mesmo que ele colocasse aquela pílula na sua língua, eu o impedi.
– ! – bati na sua mão e a pílula foi parar no chão.
– Pô, ! Eu ia tomar aquilo, sabia?! – ele se levantou.
– Você já tinha tomado qualquer coisa como aquilo ali nessa noite? – perguntei preocupada.
– Não, mas eu ia to...
– , aquilo é ecstasy, seu idiota! É uma droga!
– Eu sei o que é aquilo, !
– Então, por que você ia tomar? Você é burro, cara?
– Burro eu não sou, e você sabe muito bem disso! Eu sou um pro...
– Tá, tá, você é um prodígio burro então! Qual é, ! Como você pensou em tomar aquilo?! Vem comigo.
– Não, você não manda em mim.
– , vem comigo. Agora.
– Não, . Eu nã...
– AGORA! – puxei seu pulso e o levei a força entre aquela multidão. Cheguei até o balcão e pedi para aquela garota duas garrafas d’água. Não tive coragem de interromper o Dominic com a sua conversa com aquela garota, mas eu tive que fazer isso. – Dominic, precisamos ir. As coisas estão fugindo do controle.
Apontei para um com a cara irritada e Dominic entendeu.
– Ah, cerrtu. – Ele se virou para a garota ao lado. – Eu...
– Eu vou com vocês. Posso ajudar, estou no começo da faculdade de medicina, mas posso ser útil. – A garota ruiva se levantou com Dominic e saímos da boate. Paguei com o meu dinheiro toda a conta e levei comigo até ficarmos bem longe daquele lugar.
Caminhávamos para algum lugar que eu não fazia ideia, com a menina ruiva e Dominic atrás de nós, quando de repente parou de andar. Ele olhou fixamente para o chão e botou tudo para fora. Ele se ajoelhou no chão e vomitou até não poder mais.
– Meo Deus... – Dominic disse. – A coisas fugirram mesmo do contrrole.
– Dê água para ele. – A menina disse e eu dei uma das garrafas ao . Ele deu virou a garrafa até não sobrar mais nenhuma gota. Logo depois, ele voltou a vomitar e a vomitar. Estava sentindo pena de quem iria limpar aquela sujeira amanhã de manhã.
Estávamos próximos a Long Beach, fiquei sabendo. A garota ruiva, que se chamava Katy, estava junto a Dominic comprando algo para comer em um mercadinho aqui perto. Eu estava sentada em um banco com deitado no meu colo. Eram umas duas e alguma coisa da manhã naquele momento. tinha dado uma melhorada e agora estava dormindo. Eu tentei ligar algumas vezes para o celular do Jeff, mas só consegui na sétima vez, que foi agora há pouco. Estávamos esperando ele aparecer para nos levar para casa e, segundo a ordem dele, era para nós não sairmos dali. Jeff iria trazer reforço com ele, e eu não sei o que ele quis dizer com isso.
estava passando por uma crise pós-bebida naquele momento – o estômago dele não é muito bom para esse tipo de coisa. E eu estava observando as pombas na rua comerem qualquer coisa que tinha no chão.
– As pombas só são consideradas sujas por passarem em lugares nojentos e comerem restos de comidas contaminadas. Mas, na verdade, elas não seriam assim se vivêssemos em um mundo de florestas sem urbanização e industrialização. – o disse ainda de olhos fechados.
– É, sei disso.
Ficamos em silêncio.
– Sete, nove, quatro. Sete mais nove é igual a dezesseis, menos quatro é igual a doze. Aos doze anos eu dei meu primeiro beijo. Três e cinco. Três vezes cinco é igual a quinze. Dia quinze foi o dia que isso aconteceu. Dois e três. Dois mais três é igual a cinco, que foi o mês que eu dei o meu primeiro beijo. Dia quinze do mês cinco de dois mil e cinco é a data. – disse de olhos fechados.
– De onde que você tirou esses números?
– Do anúncio que está no outdoor ali na esquina.
Olhei para esse outdoor que era uma propaganda de acessórios para a cozinha. No canto, tinha o telefone: (562)794.3523.
– Foi com a Lorraine Campbell, ao lado do banheiro masculino do terceiro andar da escola. Foi o beijo mais esquisito que eu já dei em toda a minha vida. Ela ficava lambendo o meu dente o tempo inteiro e babou em toda a minha boca, aquilo foi nojento.
Sorri.
– Com quem foi seu primeiro beijo, ?
– Meu primeiro beijo?
– Sim. Seu primeiro beijo.
Parei para me lembrar. A imagem do armário escuro me apareceu na mente, e logo depois eu estava escorregando para fora do armário.
– Nicholas Chadwick. Brincadeira da garrafa. Ele girou e parou na minha direção e todo mundo ficou cochichando. Então tivemos que ir ao armário, essa era a brincadeira. E ele apagou a luz e perguntou se eu estava pronta. Antes de eu responder, ele me deu um beijo. Quando eu percebi que ele estava me beijando, eu acabei escorregando em alguma coisa ali dentro e cai na porta, e ela abriu. Nicholas ficou parado ali e todos nos encararam. Começaram a rir de mim.
abriu os olhos e me encarou. Eu estava observando as pombas novamente.
– Mas tudo bem, ele não sabia beijar mesmo.
– Como você sabia, se nunca tinha beijado antes?
– Porque... Ele não sabia beijar. Não sei, tinha algo de esquisito naquele beijo. Acho que era o primeiro dele também.
– Hum. Então ambos tivemos o primeiro beijo uma droga.
– Parece que sim.
Voltamos a ficar em silêncio.
– Eu nunca vi o mar, sabia? – disse. – Eu sei que eu moro bem perto dele, mas nunca cheguei a vê-lo.
– Eu só o vi uma vez na vida. Meus pais me levaram para a praia em um fim de semana que meus tios convidaram-nos para passar quatro dias na casa deles. Eu não me lembro muito bem como foi, eu tinha só sete anos. Mas eu me lembro de ir.
– Espero um dia ir vê-lo.
– Eu te levo qualquer dia desses para ver o mar, .
– Está bem.
Dominic e Katy estavam demorando muito para o meu gosto.
– .
– Sim?
– Por favor, não me ache um idiota depois de hoje. Eu achava que você gostava de lugares assim, agitados.
– Pelo visto você não sabe nada sobre mim.
– Mas eu me lembro de você me dizer que gostava de ver as pessoas, quando éramos pequenos. Você me disse que gostava de vê-las se divertindo.
– Eu não quis dizer nesse sentido de diversão. A minha diversão é muito diferente dessa. Quer saber? Amanhã faremos uma coisa que eu irei escolher. Vou te mostrar o que é diversão de verdade.
– O.K. – Ele parou por um instante. – Me desculpe por quase tomar aquela pílula. Eu não sei o que estava pensando.
– Nem eu.
– Hoje era para ser um dia legal. Eu tinha planejado para sairmos e nos divertimos, mas tudo saiu pela culatra.
– Sim, saiu.
– Eu queria dizer uma coisa para você.
Suspirei.
– Pode dizer.
– Eu estou cansado de ficar deitado na horizontal.
– E pode se deitar em outra posição?
– Vertical.
– Como?
– Assim.
O se sentou e fechou os olhos. Sorri.
– Mas isso não é deitar na vertical, é dormir na vertical. E nem em vertical você está direito.
– É. Você tem razão. – Ele abriu os olhos e respirou fundo. – Você sempre tem razão.
bocejou e fechou os olhos. Ele deitou a cabeça no meu ombro e pareceu pegar no sono. Voltei a olhar para as pombas e o cheiro de xampu do cabelo dele estava me rodeando. Ele não estava suado, só estava cheirando um pouco a bebida. Mas o seu cabelo continuava com o cheiro intacto de xampu. Vi ao longe Dominic e Katy voltarem com frutas em uma sacola e água gelada. Eles estavam rindo e conversando. Sorri ao ver a cena, e imaginei eu e sentados exatamente onde estamos, só que vistos de fora. Acho que fazíamos realmente um belo casal.
17x - 12x = 5(3 + 2)
Dia 27 de Novembro, três dias antes do casamento. Eu acordei mais motivada do que tudo. Coloquei uma calça-fuso preta, uma longa blusa branca com um coqueiro de óculos de sol de estampa, e tênis de corrida. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo e desci as escadas. estava ainda de pijamas, com a cara amassada e com os olhos semiabertos por trás dos óculos. Ele estava se servindo de uma torrada com geleia de laranja. Eu peguei uma maçã da fruteira e então caminhei até ele.
– Por que não está vestido?
– Como assim, vestido? Eu estou vestido.
– Para sair comigo.
– Onde vamos? Por favor, vamos com calma, eu estou com um pouco de cefaleia. – Ele massageou as têmporas.
– Ah, querido. Quis beber ontem à noite, vai ter que aguentar as consequências. Coloque uma roupa de esporte, vamos ao parque.
– Parque?
– Isso aí. Ande logo, garoto prodígio.
voltou vestido com uma calça de moletom e uma camiseta branca. Usava tênis de esporte também.
– Pronto? Vamos dar uma corrida lá. Ei, Dominic! – ele estava descendo as escadas com a cara de morto. – Quer ir com a gente?
– Han? Ah, nau. Façum um passeio mei casal. Vo ficarr aqu, assistando televisau.
– Não trouxemos você para Los Angeles para ficar assinto TV, Dominic. – Disse pegando duas garrafas d’água geladas.
– Até agorra vocês nau saírram uma vez sozinhos. Anda lôgo, .
– Tudo bem, então. Vemo-nos à tarde. Até mais, Laura! Tchau, Dominic.
– Ah, Melandra. Caso alguém ligue, diga que eu estou fora. E se for... Ah, você já sabe. Até mais, Dominic! Até, Laura! Não se esqueça, Melandra!
– Anda logo – puxei o braço de e saímos de casa.
17x - 12x = 5(3 + 2)
(Coloquem essa música para tocar agora, por favor: Fire)
– Vai logo, ! Você é muito lerdo.
– Eu não sou lerdo, eu estou com dores na cabeça e morto de sono, com licença!
Eu e estávamos andando de bicicleta no Griffith Park havia poucos minutos. Aquele parque era enorme. Parecia que tinha vários outros parques dentro dele... Acho que era isso. Até tinha um observatório ali! Mas não iriamos nele hoje, obviamente.
– Ah, qual é. Você pode mais que isso.
– Meus pés estão duros! – passamos ao lado de um homem musculoso que passeava com um cachorrinho, e que olhou para esquisito.
– Se isso daqui for uma corrida até o parquinho, tem que ser uma corrida digna. Anda logo, seu palerma.
– O.K.! Que saco! – ele começou a pedalar de verdade e estava conseguindo me alcançar. Olhei para ele e sorri.
– Muito bem, !
– Ah, vai se catar, ! – ele resmungou alto o bastante para eu ouvir e de propósito. Ri.
– Acho que você nunca vai me passar, não é?
– Ah, espere para ver. – O disse e eu continuei a pedalar. De repente, uma cabeleira foi aparecendo ao meu lado e apareceu com aquele sorriso de lado para mim. – Fácil.
– Não parecia tão fácil assim minutos atrás.
– Não melindra.
– Melindra?
– É, e enquanto você fica se perguntando o que exatamente significa isso, eu estou te passando. – piscou um dos olhos para mim e realmente ele estava me passando.
– Não acredito nisso. Você está trapaceando, !
– Eu?
– É!
– Não estou nada!
– Você disse uma palavra que quase ninguém usa para me confundir e, então, passar na minha frente!
– Ah, qual é . Você acha mesmo que eu faria isso?
– Não sei. Mas enquanto você se sente ofendido, eu estou te passando. – Pisquei para que começava a ficar atrás de mim.
– Eu não acredito nisso! Droga! – ele começou a pedalar e eu a rir. Nós dois estávamos pedalando a todo o vapor. Fomos chegando ao parquinho e eu comecei a pedalar mais rápido. Estava a poucos centímetros, quando passou igual a uma raposa ao meu lado e chegou antes de mim ao parquinho. – Quem está ofendido agora?
– Naah, isso não foi nada. Eu ainda sou melhor que você. – Disse, desmontando da bicicleta. fez o mesmo e ergueu as duas sobrancelhas. Deixamos as bicicletas no gramado e caminhamos na direção de um balanço.
– Humildade às vezes é bom.
– Eu estou brincando, seu bobão. – Empurrei-o pelo seu braço. me empurrou de volta. Eu olhei para ele e o empurrei, fazendo com que ele quase caia no chão. me olhou como se não acreditasse e começou a correr atrás de mim. Eu saí correndo até o balanço e me sentei nele. Ele não conseguiu frear a tempo, e acabou caindo no balanço ao meu lado. Comecei a rir dele. – Você é muito sonso, sabia?
– O.k., acho que paramos com os xingamentos por hoje. Ai! – o se sentou no gramado e começou a massagear a ponta de seu ilíaco. – Caramba, como isso dói!
– Bateu?
– Sim, eu bati a ponta do meu ilíaco nesse balanço maldito. Caramba, é uma dor infernal.
– Desculpe-me, então.
– Pelo o quê?
– Se eu não tivesse te empurrado, você não teria me empurrado, e então eu não teria te empurrado e começado a correr na direção do balanço e você, tropeçar e bater a ponta de seu ilíaco. Então, me desculpe.
arqueou uma das sobrancelhas e deu um pequeno sorriso com a boca fechada.
– Parece até a mim, falando desse jeito.
– Eu sei. Que horror! – riu.
– Para, vai. – Ele se deitou no gramado e deu um pequeno grito. – Como eu odeio bater a ponta do meu ilíaco!
– Tudo bem, vai passar. Eu aconselho você a deitar...
– Na vertical? – ele levantou a cabeça com um sorriso no rosto e eu ri fraco.
– De bruços.
– Sei, e então você vai ficar olhando o meu trazeiro.
– Eu hein, sou lá de ficar olhando trazeiros de garotos prodígios? Eca.
– Nós temos os melhores trazeiros, está bem?
– Ui, está. – Sorri e ele riu.
Depois do incidente do balanço e de o aproveitar um pouco, eu e ele andamos duas horas de bicicleta e, por fim, apenas caminhamos pelo parque com elas ao lado. Quando deu a hora do almoço, acabamos por comer dois salsichões com mostarda e nos sentamos em um banco. Iríamos embora para casa depois disso.
– Estes salsichões são ótimos! – eu disse de boca cheia.
– É, eles são. – deu uma mordida e mastigou. – Sabe, eu gostei de vir ao parque hoje. Foi diferente do que eu costumo a fazer.
– Que bom ouvir isso, .
– Se bem que podíamos ter ficado em casa. Lá tem um grande jardim, poderíamos ter aproveitado o tempo lá.
– Mas eu não faria isso. Você mesmo acabou de falar que gostou de ter vindo ao parque. Foi para trocar de ares, .
– Eu sei, eu sei. É que eu gosto de ver as tulipas falsas ali. Eu não cheguei a contar, mas meu pai tinha também tulipas negras. Elas são muito raras, sabia? A cor que elas têm não é natural, isso as ajuda a serem raras. Meu pai me contava a história da tulipa negra. Era uma lenda, para falar a verdade. Uma jovem de origem persa nutria um grande amor por um jovem da sua região. Mas o seu amor não era correspondido e, ao ser rejeitada, a jovem fugiu para o deserto e chorou muito. Em cada local onde uma lágrima sua tocava a areia do deserto, nascia uma tulipa negra.
terminou seu salsichão em uma única mordida. Ele estava mastigando enquanto olhava fixamente para o chão.
– Poxa. Que interessante essa lenda. Acho que lendas são sempre interessantes.
– Sim.
Esperei ficar um tempo em silêncio para voltar a falar.
– .
– Sim?
– Por que… Por que você destruiu a sua biblioteca?
Ele continuou quieto.
– Quem te disse que eu a destruí?
– Não importa. Se... Você não quiser me contar, tudo bem.
– Eu prefiro não contar.
– Ah... Tudo bem.
Terminei meu salsichão e então levantamos. Pegamos as bicicletas e começamos a caminhar para a saída do parque.
– Então... Seus pais chegam amanhã, é?
– Sim. Minha mãe vai me ajudar a escolher o vestido certo.
– Ah, entendo. Já pedi para preparem um quarto para eles.
– Hum. Certo.
– ?
– Sim, ?
– Acho que meu pai quis dizer “amizade verdadeira”, quando ele a mencionou no testamento.
Sorri.
– É. Acho que sim.
– 1(2 . 126) = – 88y + 46y
– Acho que este aqui está muito apertado, mãe. – Respondi à ela, enquanto me olhava no espelho da loja.
Eu, e Dominic tínhamos ido hoje de manhã buscar meus pais no aeroporto. Jeff e alguns outros guarda-costas tinham ido com a gente para busca-los. No momento em que minha mãe e meu pai me viram, a primeira coisa que eles disseram foi como eu estava magra.
– Está parecendo um esqueleto ambulante, meu Deus! Do que você tem se alimentado? , vocês tem dado a comida certa para a minha filha, não é?
– Mas é claro, senhora .
– Não acho que ela está magra a ponto de parecer um esqueleto ambulante, Molly.
– Você não sabe de nada, Howard. Quando chegarmos à casa de , eu vou preparar uma tora de abóbora que ficará uma delícia, vocês irão ver.
– Não duvido nada – disse baixo e Dominic sorriu.
– Dominic, você está muito bonito, rapaz! – minha mãe sorriu para ele e caminhamos de volta para o carro.
Amanhã seria o ensaio do jantar de noivado e meus pais iriam conhecer a família de . Eles resolveram chamar também o resto da minha família para todos se conhecerem de uma vez. Então, amanhã chegarão todos os meus primos, tios, avós e assim por diante. Eles ficarão hospedados em um hotel que já reservou os quartos. Estava tudo preparado para o casamento... Agora só faltava o vestido maldito que não queria sair.
– Acho que foi a sua torta de abóbora que fez isso comigo. – Disse e minha mãe revirou os olhos.
– Claro que não, você é que não sabe vestir um vestido direito. Agatha, querida. Traga-nos outro vestido, por favor. – Ela disse para a moça da loja que assentiu e se retirou para buscar outro vestido de noiva.
– Claro que sei vestir um vestido, mãe. Quem sabe é só... Encolher... A barriga... – tentei tirar aquele vestido de qualquer jeito, e minha mãe saiu correndo na minha direção.
– Não faça isso, se não você irá rasga-lo e teremos que compra-lo sem necessidade! – minha mãe começou a puxar o vestido para baixo e ele finalmente saiu. – Pronto.
– Graças a Deus – passei a mão na minha barriga sofrida e respirei fundo. Agatha veio trazendo dois outros vestidos e entregou um a minha mãe.
– Eu trouxe mais de um para garantir.
– Ótimo, ótimo. Que tal este? Experimente, por favor, querida. – Minha mãe me entregou um vestido cheio de renda na parte de baixo, que era tomara-que-caia. Tentei coloca-lo e consegui. Puxei o vestido até se encaixar aos meus seios e me olhei no espelho. Não sei o porquê, mas não gostei nem um pouco dele.
– Não. Eu não gostei.
– Ah, . Ele é tão bonito. Por que você não gostou deste? Olha como ele ficou bem em você.
– Eu... Eu não gostei. Por favor, me mostre o outro.
– Eu não acredito, um vestido tão bonito...
– Por favor, mãe.
– Está bem. Agatha, por favor.
– Claro, senhora.
Ela pegou o outro vestido que estava em um saco e entregou à minha mãe. O coloquei e arrumei-o em mim. Virei-me para o espelho e observei o vestido. Ele era até que simples, era um que se colocava certamente na minha cintura, e tinha a saia um pouco rodada. Era quase que um tomara que caia, só não era um porque tinha rendas como mangas e cobria meus ombros e parte de meu colo. O vestido tinha uma gola em “V” e uma pequena cauda. Passei a mão por meu tronco e suspirei.
– Você está linda neste, filha. – Minha mãe sorriu para mim pelo espelho. – Vai ficar lindo quando você entrar na igreja com este vestido.
– É... – e me imaginei entrando na igreja. Por um momento, eu tive vontade de vomitar de tão nervoso, mas logo passou. – Este é realmente muito bonito.
– Então será este, e ponto final. Quanto custa? Deixe-me achar a etiqueta, com licença... Meu Deus. – Ela afastou um pouco a cabeça para tentar enxergar melhor. – É um pouco carinho.
– Eu pago ele, mãe.
– Não, não. Pode ficar tranquila, filha. Nós iremos pagá-lo. Seu pai e eu faremos um “esforcinho”. – Ela sorriu para Agatha e voltou a olhar para mim. – Tudo para você ficar linda, mais do que já é.
Mais à tarde daquele dia, eu me sentei ao lado de para decidirmos os ajustes finais do casamento. Foi a primeira vez que eu entrei em algum cômodo do lado esquerdo do corredor com permissão – estávamos em seu escritório.
– Então o casamento será às duas da tarde na igreja e as três, durante a festa, será o civil. Correto, não é?
– Uhum. – Disse, um pouco distraída.
– E então, depois iremos voltar para cá, e você irá dormir no seu quarto, e eu, no meu, como o combinado.
– Sim. – Respondi e pigarreei.
– E então, você poderá finalmente fazer a faculdade de música e eu terei atendido o último pedido de meu pai. Todos saem ganhando, não é? - disse e olhou para mim.
– É... Sim. Todos. – Sorri de leve para ele.
– Você está bem, ? – ele perguntou abaixando a tela de seu notebook e finalmente me olhando cara a cara.
– Estou, . Acho que só estou um pouco cansada, só isso. Provar vestidos me deixam assim. – Sorri e sorriu de volta.
– Ah... Certo. – Ele pigarreou e se levantou. – Bom, então acabou. Só falta o ensaio do jantar de noivado e o casamento, e poderemos viver uma vida normal... Eu acho.
Saí do escritório dele e passei pelo corredor, indo na direção da escada. Deveria ser só isso, cansaço. Acho que era isso o que eu estava sentindo.
Desci as escadas e fui até a cozinha para beber um copo d’água. Minha mãe estava tentando ajudar a Laura e a Christine a lavar os pratos, mas elas estavam tentando deixar minha mãe longe dali. Dominic estava na sala de televisão e, muito provavelmente, ainda estava conversando com Katy pelo telefone. Estavam ali já fazia horas, mas o que podemos fazer? É ele que está pagando a sua conta telefônica, mesmo.
Peguei um copo e água gelada. Coloquei a água no copo e beberiquei um pouco. Observei as tulipas vermelhas falsas se mexerem um pouco com o vento e voltei a beber a água. Uma coisa esquisita estava dentro de mim. O que seria aquilo? Bebi mais água até acabar com ela e suspirei. A campainha tocou e Laura pediu para a minha mãe ir atender. Minha mãe se foi e ouvi uma gritaria vinda do hall. Minutos depois, minha mãe apareceu na porta da cozinha com um sorriso no rosto.
– Adivinha quem está aí? – ela disse e me levou até o hall. Gertrudes, a tia-avó de , Melissa, a prima mais velha dele, Lena, a amiga da família, Andy, a avó dele, uma garota morena de cabelos curtos, que deveria ser uma outra prima, e outras duas mulheres mais velhas, e outra meninas estavam ali, sorrindo para mim.
– Ah, oi.
– Viemos te buscar para a sua festa de despedida de solteira! – Gertrudes disse animada e minha mãe sorriu abertamente para mim.
– Despedida...?
– Ah, anda logo, . – A garota morena disse. – A propósito, meu nome é Sophie. Sou prima do .
– Prazer em conhecê-la.
– Estas são Larissa e Joan, tias dele. São gêmeas, antes que pergunte. – Sophie apontou para as duas outras tias que acenaram para mim.
– Ah, prazer em conhecê-las.
– Ingrid, Margareth, Anna, Tess, Victoria, Sarah e Jessica, esta é a . Noiva do . , estas são outras primas dele.
– O.K., agora está todo mundo apresentado. Não podemos perder tempo, ande. Vamos logo. – Andy disse e começou levar as meninas até a porta. – Você também, Molly.
– Ah, está bem. – Minha mãe sorriu.
– Vocês já se conhecem?
– Não, quer dizer, sim. Quando eu atendi a porta, nos apresentamos. – Minha mãe deu de ombros e começou a me empurrar na direção da porta. – Vamos logo querida, você ouviu a Andy.
Virei-me para trás para dizer à minha mãe que ela não precisava me empurrar, e vi parado no último degrau da escada, com as mãos no bolso da calça, e um sorriso, sem abrir a boca, no rosto.
– Me ajude! – disse sem emitir som e ele sorriu com os dentes.
– Eu não posso. – respondeu também sem usar o som de sua voz. – Também vou passar por isso... – ele olhou para o relógio de pulso. – Daqui a pouco.
acenou para mim e eu acenei de volta, antes de minha mãe conseguir, finalmente, me por para fora da casa.
– Posso abrir os olhos, já? – perguntei, e elas disseram que não. As meninas me sentaram em uma cadeira e, de repente, tudo ficou em silêncio. Estava quente ali dentro, e ninguém mais dava sinal de vida.
– Pode abrir, . – Tirei a venda dos meus olhos e olhei para o lugar onde estávamos o que era difícil, já que estava com as luzes apagadas. Mas eu pude perceber que era um tipo de bar, porque as garotas estavam sentadas em outras mesas e na minha, estavam Sophie, minha mãe, Andy e Melissa.
– Bem, hoje seria a última noite de solteira, ou quase isso – um homem disse em cima do palco e as garotas riram. – de . Olá, . Você não me conhece, mas me chamo David.
Sorri envergonhada. Já sabia o que iria acontecer.
– E como esta será a sua última noite, vamos festejar com estilo não é? – David saiu do palco andando de costas e dois outros homens apareceram.
As meninas começaram a gritar quando eles começaram a dançar. Os dois homens arrancaram seus casacos e jogaram na plateia. Margareth pegou o casaco e o sacudiu no ar. As meninas gritaram animadas.
Os dois homens começaram a tirar a suas blusas e eu queria morrer naquele instante.
– Eu não acredito nisso. – Disse, sorrindo envergonhada.
– Mas pode acreditar. – Melissa sorriu para mim. Os dois homens começaram a caminhar na minha direção e desceram do palco.
– Cara, eu não acredito nisso! – disse mais envergonhada o possível, e as meninas gritaram de novo. Os dois rodearam a minha mesa. Melissa, Sophie, Andy e até a minha mãe se animaram com a ideia e começaram a gritar. Os homens puxaram a minha cadeira para trás e eu comecei a rir de nervoso. Eles começaram a dançar quase no meu rosto. Um dos homens voltou para o palco e tirou a calça. Ele usava uma tanga preta por baixo da roupa e ainda continuava com a gravata borboleta. O mais engraçado era que os homens não eram Deuses Gregos ou musculosos. Eles eram gordos!
– Se solta, ! – Sophie gritou e eu me encolhi na cadeira. O homem que tinha ficado ali começou a balançar seu trazeiro ao lado do meu rosto e eu afundei a cabeça em uma das mãos, preferindo me enfiar em baixo da terra do que participar disso. As meninas riram quando o homem colocou um dos pés no braço da cadeira e começou a balançar no ar a sua calça. Ele a jogou para outra mesa e voltou a dançar feito um maluco. O homem voltou para o palco e Andy estava rindo.
– Isso é melhor do que qualquer reality show.
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Eram já umas onze da noite, quando todas estavam mais calmas depois daquela apresentação. Agora só estavam tocando umas músicas mais relaxantes e estavam servindo petiscos para nós. Eu ainda continuava cansada, e estava torcendo para aquilo tudo acabar, para eu poder ir para casa logo e conseguir dormir.
Aquele lugar era muito quente, estava morrendo ali dentro. Levantei-me da cadeira e tomei o resto da minha água.
– Aonde você vai, querida? – minha mãe perguntou enquanto enfiava na boca um dos petiscos.
– Vou tomar um pouco de ar, mãe. – Respondi e caminhei para fora do bar. Sophie, Tess e Sarah estavam conversando com um dos strippers quando eu passei por elas. Fui até a porta do bar e respirei fundo o ar fresco da noite. Era final de novembro, por isso ventava quase o tempo inteiro.
– Dia cheio, hoje, não? – Andy parou ao meu lado e cruzou os braços em baixo dos seios. Ela também respirou fundo.
– Ah, sim. Muito. – Assenti e olhei para o chão. Andy sorriu e observou a rua.
– Você deve estar bem nervosa, não é? O dia está chegando.
– Eu nem sei o que eu estou sentido. – Sorri para Andy que riu fraco.
– É. Lembro-me de quando eu fui me casar com Dimitri. Foi um dia muito louco. Eu não queria me casar de jeito algum, tinha tentado fugir pela janela do banheiro, mas minha mãe me encontrou e me ajudou a voltar para dentro. – Andy sorriu e eu ri. – No final eu me casei. E tudo ficou bem.
Encostei a cabeça na parede e continuei a sorrir. E aquela sensação esquisita dentro de mim voltou. Respirei fundo.
– Andy, a senhora sabe se... Qual... – parei de falar.
– Pode perguntar, querida.
Olhei para ela.
– Isso do ficar procurando significados próprios para os números tem algo a ver com o TOC dele?
– O quê? Ah, não. – Ela riu fraco. – Não, não. tem mesmo essa obsessão por números, mas não tem nenhuma ligação com seu TOC. Ele ainda não te contou sobre o TOC dele, não é?
Andy me olhou com a sobrancelha arqueada e eu assenti.
– É. Eu sabia. Bom, não podemos adiar mais isso. tem medo que algo de ruim possa acontecer para ele ou para nós – a sua família –, e, por isso, todas as noites, antes de dormir, ele organiza as coisas na escrivaninha de uma certa maneira, pois ele acha que, se ele não fizer isso, esse algo de ruim irá acontecer.
– Como assim... Ele organiza as coisas de uma certa maneira?
– Não faço ideia, mas foi isso o que o médico nos disse.
– Então... É isso? Ele tem medo de que algo ruim possa acontecer?
– Sim.
– Poxa... E ele não se trata mais.
Andy me olhou esquisito.
– Ele também não te contou isso?
– Isso o quê?
– vai voltar a com os tratamentos, por sua causa. Ele até marcou uma consulta com o médico dele. Achei que ele iria te contar isso.
– ... Voltou com os tratamentos por minha causa?
– Pois é. – Andy sorriu. – Ele deve estar realmente apaixonado por você, venho tentando obriga-lo a voltar desde que ele parou. – Ela riu e pigarreou. – Acho que eu preciso de um copo d’água. Quer voltar comigo, ?
– Ah, não. Eu vou ficar mais um... Um pouco aqui. Obrigada. – Sorri para Andy que voltou para dentro do bar. Olhei para a rua. Então, quer dizer que ele estava voltando a andar na linha e por minha causa. Sorri para o chão ao pensar nisso. iria voltar com o tratamento. Mas, também ao pensar nisso, a sensação esquisita piorou. Olhei para o céu e consegui ver uma única estrela ali brilhando. Dei um último sorriso e respirei fundo, antes de voltar para o bar com a temperatura do inferno.
x = 14 - 7
Sexta-feira, faltando poucos minutos para o ensaio do jantar de noivado, e eu estava comendo Doritos de tanta ansiedade. Meus familiares já estão aqui em Los Angeles e estavam para chegar, assim como os familiares de . Eu já estava vestida, maquiada e com o cabelo arrumado, mas eu não conseguia me controlar de tanta ansiedade. Por isso eu desci para a cozinha e peguei um pacote de Doritos na dispensa. Fiquei observando, enquanto eu comia, Gina ajudar na limpeza do salão principal.
– Anda logo com isso, Gina. Varre mais rápido, os convidados já estão chegando. – Donna, a cozinheira, disse enquanto colocava outros canapés em cima de uma mesa no fim do salão.
– Está bem, mãe. Calma, eu já estou acabando. – Gina respondeu e respirou fundo. Ela parou de varrer por um momento, quando chegou perto de mim, e apoiou um dos braços no cabo da vassoura. – Está vendo? Nem era para eu estar fazendo isso.
– Gina! Anda!
– Tudo bem, mãe! – ela olhou para a Donna que voltou para a cozinha. Gina olhou de novo para mim e revirou os olhos. – Mães.
Sorri e comi mais um salgadinho. Não querendo mais, eu joguei a embalagem no lixo e lavei as mãos. Subi até ao meu banheiro e escovei os dentes. Repassei o meu batom e voltei para o corredor, dando de cara com .
– Ah, oi . – Ele sorriu para mim. usava uma calça social azul marinho e o restante do terno combinando. Sua gravata era listrada de azul e cinza.
– , oi. – Sorri para ele que arrumou os óculos no rosto e passou a mão no cabelo.
– Os convidados já chegaram?
– Não, ainda não.
Dominic abriu a porta do quarto, arrumando o nó da gravata, e olhou para nós.
– Nau sei si tém prroblema, mas chamei a Katy parra virr aqui hoje. Tudu bém?
– Mas é claro que sim, Dominic. Quanto mais gente aqui em casa, mais alegria – sorriu.
Os primeiros convidados a chegar foram da parte da família . Charlie, Melissa, Chad, seu marido, e seus filhos, Ronald e Lari, Andy e Dimitri com a sua enfermeira, Bill – aquele garoto alto – e seu pai, Berry, assim como sua mulher, Sue, tia Gertrudes, as tias gêmeas Larissa e Joan, Sophie, Ingrid, a irmã de Sophie, Margareth, Anna, Tess, Victoria, Sarah, Jessica, tio Frank e outros tios chegaram antes. Passados alguns minutos, a minha família chegou. Meus avós, pais da minha mãe, Nancy e Jack, e meu avô Steve, minhas tias Amy, Grace e Lorelai, tio Nate, Jordan, Angel, Emily, a pequena Eileen e outros primos e primas chegaram depois. Eu sei, eu sei, a família de é muito maior se comparada a minha, é verdade. Mas todos juntos, damos mais de quarenta pessoas.
Jantamos e tudo pareceu correr bem. Minhas primas fizeram amizades com as primas de , meus avós se deram bem com os dele e tio Frank ficou conversando a noite inteira com minha tia Lorelai. Katy e Dominic ficaram juntos a festa inteira e até conversaram com Melissa e seu marido, Chad. As crianças da festa ficaram brincando no jardim de tulipas e a maioria do restante dos convidados ficaram na pequena pista de dança que criaram no salão. E eu? Bem, eu fiquei sentada em uma das mesas observando a todos. Era engraçado ver aquela cena, todos se dando bem, fazendo amizades e até trocando telefones – no caso do tio Frank e da tia Lorelai. Não sei, mas ver aquela cena me fez me sentir mal. A sensação de ontem tinha voltado com tudo para mim hoje e cada vez que eu ouvia as pessoas dizerem que amanhã será o grande dia, era como se meu coração bombardeasse mais sangue e mais rápido para eu conseguir fugir. Eu não sei por que eu estava tendo aquela sensação, afinal... Todo mundo iria sair ganhando, como disse.
– Psss. - olhei para que tinha sussurrado e que estava só com o tronco para dentro do salão, me esperando na porta.
– Oi.
me chamou com a mão. Olhei para todos na festa e me levantei da cadeira. Fui até ele que estava sorrindo. segurou minha mão e começou a me levar na direção das escadas. Não pude fazer nada, além de segui-lo.
Subimos as escadas e seguimos pelo lado direito delas. Chegamos ao lado esquerdo do corredor e ele deu uma tropeçada. Segurei a risada enquanto ele mesmo ria e fomos à direção daquela mesma escada em espiral que eu subi há dias atrás. começou a subi-las e eu fui atrás. Em vez de seguirmos até o fim delas, ele parou naquela porta que estava trancada no domingo passado. abriu a porta com uma chave e me deixou passar primeiro. Agradeci com a minha cabeça e entrei em seu quarto.
Aquilo era ainda maior do que o meu. O espaço entre o teto e o chão era enorme, havia um lustre em forma de lua, e as paredes eram brancas, apenas algumas eram azuis da cor do céu à noite. A cama de casal dele estava encostada em uma das paredes com os lençóis arrumados – ao contrário de como estava o meu quarto naquele momento – e havia um caderno em cima dela. Estantes de madeira escura estavam por todos os lados, encostadas em quase todas as paredes, se não fosse pela cama, pela escrivaninha, e algumas cômodas. Todas as estantes estavam preenchidas por livros e havia dois enormes quadros negros cheios de contas em um dos cantos, ao lado da escrivaninha. O lixo estava completo até a boca por papéis amassados e havia alguns deles no chão ao redor dele. Na parede do lado direito da porta, a que ficava bem à direita, era por inteira uma grande janela. E, ao lado desta parede-janela, tinha outra pequena escada em espiral que ia até o andar de cima. Havia também, ao lado da escada, um cano de escorregar ligado ao próximo andar. Aquele quarto era simplesmente demais.
Caminhei até aos quadros negros e tentei entender aquele monte contas. Em um dos quadros, tinha um grande zero circulado e uma flecha que dava seguimento às contas. Começavam com números separados. Sete, dez e três. Então contas e mais contas estavam em baixo. No outro quadro, que era um tipo de continuação, tinha outros números também: cinco, oito e seis. E, assim como o outro, contas e mais contas preenchiam o resto do quadro negro.
– O que seria isso? – perguntei com um pequeno sorriso. caminhou até o meu lado e quando viu que eu perguntava sobre as contas ele riu envergonhado.
– Você não consegue decifrar? – ele perguntou. Cada conta esquisita tinha um total que estava circulado também. Tentei pensar, mas nada me veio na cabeça no momento.
Fiz que não e suspirou.
– É, eu imaginei. Vem, vamos até o último andar. – Ele me puxou pelo braço e me levou até as escadas.
As subimos e voltei para aquele mesmo andar da varanda e o telescópio. me levou até a varanda e olhou para baixo, lá para o jardim onde as crianças brincavam. Ele sorriu e depois olhou para mim.
– O que você quer me mostrar? – perguntei e ele me mostrou o telescópio. Olhei hesitante de para o telescópio e me agachei para ver. Olhei por ele o céu e aquilo era assustador. Você conseguia ver muitas e muitas estrelas. – Uau.
– Muito legal, não é? Minha mãe me deu um telescópio quando eu era menino. Eu disse para ela que odiava ciências, mas que gostava da parte de astronomia. Então ela me deu um telescópio de natal. E na primeira vez que eu ia usá-lo, ela me disse que o que eu veria a seguir seria algo esquisito e intrigante. Minha mãe me contava uma estória que quando as pessoas morriam, uma estrela nova nascia no mundo. E nessa estrela iria morar a alma dessa pessoa. Só as pessoas que mereciam de verdade poderiam ganhar uma estrela quando morressem. Então eu disse a ela que eu queria ganhar uma estrela. E ela me respondeu que eu tinha de ser um garoto bom para merecer a estrela. Como se fosse o Papai Noel. – Ele sorriu fazendo as maçãs de seu rosto levantarem um pouco seus óculos. Sorri de volta. – Depois daquele dia, eu sempre fico observando as estrelas todas as noites.
olhou para o telescópio ainda com um sorriso no rosto.
– Ah, espere um instante. – Ele voltou para dentro daquela sala e fiquei esperando ele. Minutos depois, ele tinha voltado com um livro na mão e uma corrente. – Você me perguntou sobre a biblioteca destruída na quarta. Obviamente você sabe da parte que eu guardei um livro.
Ele me entregou o livro e eu olhei para a capa. O pequeno . Na capa tinha o planeta Terra desenhado e um garoto sentado nele. O garoto tinha um chapéu de cone escrito Nerd.
– Meu pai escreveu este livro para mim quando eu tinha sete anos. Na verdade, ele me contava histórias à noite antes de dormir, e um dia eu resolvi contar uma para ele. E ele a escreveu. Depois ele mandou encadernar e me entregou. E durante um ano eu lia essa história para ele antes de eu dormir. - suspirou. – Você quer saber o porquê de eu ter destruído aquela biblioteca? Porque eu fiquei com raiva dele. Meu pai e eu...
– Você não precisa...
– Mas é claro que eu preciso. Tínhamos brigado um dia antes de ele morrer. E eu fiquei com raiva dele por eu não poder ter dito tudo o que eu queria. Meus pais sabiam ser muito atenciosos comigo. Eles se amavam demais. Mas a minha mãe... Minha mãe fumava. E fumou a vida inteira. Quando ela estava pensando em parar, era tarde de mais. Ela tinha um câncer. E morreu um ano depois de ter descoberto isso. Depois disso, meu pai entrou em uma depressão grande e eu descobri que tinha TOC. Acho que um dos motivos dele ter ficado deprimido foi porque ele não soube demonstrar o amor dele para ela muitas vezes. E talvez esse fosse o motivo deles brigarem tanto. – olhava fixamente para o chão. Ficamos em silêncio durante um tempo, eu estava tentando absorver a história. A vida dele foi muito difícil, devo admitir. Digo, ele tinha tudo, e de repente, perdeu tudo. E foi quando eu comparei a vida dele com a minha. Pode ser que eu seja muito mais pobre que ele, mas meus pais estavam vivos. E mais, quase nunca brigavam. E eu não tinha nenhuma doença nem era uma garota prodígio que não conseguia achar amigos porque todos me zoavam por ser inteligente demais.
– Foi por isso que eu resolvi atender o último pedido do meu pai. Como uma forma de desculpas. E, por sorte, esse pedido era para me casar...
– Comigo, eu sei. – Disse e sorriu. Ele caminhou até a mim e me mostrou a corrente.
– Está na minha família a gerações. Eu não quero quebrar a tradição, não é? – ele sorriu e fez menção de colocar o colar em mim. Virei-me de costas e passou as mãos por meu pescoço, colocando a corrente e depois a prendendo. Olhei para o pingente de ouro com pedras de rubi e encarei o .
– É muito bonito, . – Disse. – Obrigada.
– Fico feliz que gostou.
Ele deu o mesmo sorriso de lado de sempre e foi como se a minha cabeça recebesse um clarão. Tudo começou a processar. Sete, dez e três. Dia sete de outubro de dois mil e três. O dia em que eu me sentei na ponta do banco e começou a falar sobre os números. Cinco, oito e seis. Dia cinco de agosto de dois mil e seis. A imagem de dizendo que precisava voltar para casa e começou a andar com a sua bicicleta na direção do fim da rua. O último dia que nos vimos. Sete mais dez é igual a dezessete, mais cinco é igual a vinte e dois, mais oito é igual a trinta. Oito mais três é igual a onze, cinco mais seis é igual a onze também. Dois mil e seis menos dois mil e três é igual a três. O próximo ano que teria que terminava com o número três era dois mil e treze, o qual nos encontrávamos. Dia trinta de novembro de dois mil e treze...
– A data do nosso casamento. – Disse e ergueu uma sobrancelha. – É isso, não é? As contas lá em baixo. Você combinou a data que nos conhecemos com a data da última vez que nos vimos para escolher a data do nosso casamento.
sorriu.
– Touché. – Comecei a rir e continuou a sorrir. Eu não sei porque, mas dei um abraço nele, enquanto ainda ria. Quando fui me separar, olhei para e ele para mim. Eu não sei se era aquela luz – ou a falta de luz –, mas ele estava com um brilho no olhar. Seu cabelo, mais bagunçado impossível, estava voando um pouco com o vento. E ele ainda continuava a sorrir apenas com a linha da boca. Então eu o beijei.
parecia ter sido pego de surpresa, mas isso não durou muito. Era o beijo mais esquisito de todos os que eu tinha dado na minha vida – e se quer saber, eu só dei três. Alguma coisa estava crescendo dentro de mim durante aquilo, alguma coisa muito boa. Parei de beijá-lo e nos encaramos.
– Muito melhor do que o da Lorraine. – Ri e ele sorriu, depois voltou a me beijar.
x = 14 - 7
Abri os olhos e vi um teto branco. Olhei para o meu lado, e lá estava dormindo. Estávamos deitados em um dos sofás do último andar. Lembrei-me da noite passada e sorri. É claro que nada de mais tinha acontecido entre nós, mas só de me lembrar de ontem uma sensação boa me atingia.
Deveria ser poucas horas antes do horário que eu deveria acordar para me arrumar para o casamento, aquele era o horário que eu sempre acordava para tomar banho. Mas eu não queria sair dali.
Então eu me toquei. O casamento. Ele seria realizado daqui a poucas horas, diante de toda a minha família e a família de . E a sensação horrível voltou. O que eu tinha? Por que só de pensar nesse casamento, esse sentimento aparecia?
Foi quando eu me lembrei das regras que eu coloquei há, exatamente, uma semana. E me lembrei do real motivo de eu estar querendo me casar com ele. E uma vida toda se passou diante dos meus olhos, todas as cenas me mostrando desde aquele dia do jardim de infância até aos dias atuais, nos quais eu estava trabalhando como modelo fotográfica de pé e no jantar que eu conheci a família . Lembrei-me de tio Frank dizendo que todas queriam o seu dinheiro, era sempre assim. E a sensação piorou e ao mesmo tempo, melhorou. Aquele sentimento era de culpa.
E eu já sabia o que devia fazer para esse sentimento sumir.
Y = 16 – 8
Ele se sentia radiante naquele dia. estava ansioso para daqui algumas horas. Está certo, em parte foi decepcionante acordar sem a ao seu lado, mas ao mesmo tempo foi um grande alívio. Não saberia lidar com essa situação, nunca dormiu ao lado de uma mulher antes. E a próxima vez que eles se veriam seria no altar, já que o combinado foi das mulheres da família dele e dela terem a buscado e a levado para um salão de beleza. E ele? Bem, ele estava colocando sua gravata e ajeitando o lenço no bolso do terno. Tinha penteado os cabelos pela primeira vez e passado seu melhor perfume.
Aquela sensação era ótima. sentia que poderia fazer qualquer coisa no mundo que tudo daria certo. Então ele saiu de seu quarto naquela manhã e seguiu até o hall, e os homens de sua família e da família estavam o esperando em vários outros carros. Seu guarda-costas chefe e motorista pessoal lhe desejou boa sorte.
– Obrigado, Jeff. - sorriu e entrou no carro junto ao senhor , tio Frank, Bill e Jordan, o primo de . Eles seguiram até a igreja e entraram ali, ansiosos para poucos minutos.
Ele sabia e era tradição a noiva se atrasar, mas estava preocupado. Não sabia o que iria acontecer depois do casamento, ainda mais agora com o acontecimento de ontem. Será que ele estava realmente apaixonado? Talvez. Mas ele só iria descobrir quando tivesse casado com ela.
Aos poucos os convidados foram entrando na igreja. Foram se sentando e as duas horas da tarde estavam se aproximando. Os convidados vinham e davam os parabéns para o noivo e depois se sentavam em seus lugares. Especialmente Lena veio parabeniza-lo. Ela disse que ele tinha feito uma ótima escolha, o que o fez sorrir.
– Eu sei, Lena. – disse se lembrando de ter achado por um instante que fosse ela a escolhida.
Então, lá se tinha chegado as duas horas da tarde. O padre já estava esperando, e todos ficavam olhando para a porta fechada da igreja o tempo inteiro. já estava em seu lugar esperando ansioso.
Cinco. Dez. Quinze. Vinte minutos tinham se passado. Ele estranhou a demora, mas todos continuaram esperando. Trinta. Quarenta. Quando já tinha atingido quarenta e cinco, todos começaram a cochichar. Ele começou a se desesperar por dentro. Então as portas se abriram. Mas não era ela. Era um entregador de flores. Este caminhou até , as entregou a ele e depois se retirou. olhou para as flores e percebeu o que estava acontecendo. Eram tulipas brancas. E no meio delas tinha um cartão. o abriu e leu o que estava escrito:
Eu sinto muito. xx
As mulheres da família entraram na igreja e foram até ele. Mas elas não precisaram dizer nada, ele tinha entendido. Ela não vinha para o casamento.
Y = 16 – 8
(Coloquem essa música para tocar agora, por favor: Alone Again)
estava dirigindo seu carro, completamente dilacerado. Ela realmente não tinha vindo. E muito provavelmente, ela não tinha sentido nada de especial naquele beijo. E mais ainda, ela não tinha devolvido a corrente. Mas isso era de menos.
Ele não estava se sentindo bem. Queria vomitar. Queria quebrar tudo o que veria pela frente. Não estava preparado para esse sentimento. Ele não estava preparado para ser deixado novamente.
Se ele soubesse que isso iria acontecer no fim, ele nem teria brigado com seu pai e poderia ter escolhido em se casar ou não. Se o amor fosse algo realmente bom, como comida, deveria ter escrito em um rótulo que você iria se sentir um lixo no final. Para falar a verdade, deveria ter escrito em todos os rótulos de comida gordurosa que você iria se sentir um lixo no final. Mas ao menos com comida você iria se sentir um lixo feliz.
Ele parou em um farol e se lembrou por um segundo do que tinha dito para ela em relação a sua música de final. visualizou em sua mente ele mesmo dizendo que poderiam dividir a música de final... Já que eles iriam se casar.
– Droga, ! – ele bateu em seu volante e, sem querer, tinha apertado a buzina. O farol tinha aberto e ele voltou a dirigir.
Ele estava tentando fugir, assim como ela fez. Pegou o primeiro carro que era seu e saiu andando com ele pelas ruas de Los Angeles. Ele não queria ouvir as lamentações daquelas pessoas, não. Ele queria poder ficar sozinho e pensar. Pensar e se remoer de raiva. Por que sempre terminava assim? O pobrezinho do fica sozinho como sempre, ele pensou. Coitadinho do .
Ele virou à direita e seguiu com o carro. Então percebeu para onde estava acidentalmente indo e parou o carro. Ele desceu, deu o alarme e entrou no Griffith Park. Caminhou com as mãos no bolso e seguiu até chegar ao observatório do lugar.
achou uma pequena pedra no chão e jogou para longe. Ouviu o barulho dela quicando e suspirou cansando. É, ele estava sozinho mais uma vez.
Continuou a caminhar olhando para seus pés o tempo inteiro. Quando olhou para frente, viu a ali, sentada nos degraus do observatório com o rosto apoiado em suas mãos e os cotovelos apoiados em seus joelhos. não acreditou no que estava vendo. Ele não sabia se gritava com ela ou se simplesmente ia embora. E optou por andar na direção de .
– Tulipas brancas? – perguntou e levantou os olhos para ele. Ela estava com os olhos marejados, e ainda estava usando moletom, enquanto ele estava com seu terno todo amassado e a gravata desamarrada e jogada em volta de seu pescoço. passou a mão pelas bochechas e voltou a olhar para o chão. suspirou e se sentou ao lado dela.
Os dois se mantiveram em silêncio por um longo tempo. Ele não parava de pensar, parecia que era a primeira vez que ele pensava tanto em toda a sua vida. apoiou os braços nos joelhos e observou uma joaninha andar pelo chão.
– Eu só... – começou e respirou fundo, meio trêmula saiu sua expiração.
– Sabe de uma coisa, ? No fim, quem foi covarde foi você. – Ele disse e ela fechou os olhos.
– , eu…
– ... Me deixou plantado na igreja por quase uma hora? É, eu sei.
– Não, eu...
–... Não quis se casar comigo por culpa, já sei, já sei.
olhou para .
– Como sabe disso?
suspirou.
– É sempre assim. As pessoas se sentem muito culpadas por tudo. Eu me sentia culpado por pensar que algo de ruim iria acontecer o tempo todo. Mas no meu caso é diferente, eu tenho uma doença. E as pessoas não. O seu caso foi diferente. Você se sentiu culpada por se casar comigo por não gostar de mim daquele jeito. Afinal, você mesma tinha dito no começo de que era contra os casamentos arranjados e que as pessoas não estavam levando a sério isso de se casarem. Acham que é só uma brincadeira que se pode parar de brincar a hora que quiserem. E sabe de uma coisa... Você tem razão, . Eles não percebem o que estão fazendo com seus filhos – claro, quando eles têm um. São eles que mais sofrem, mesmo não admitindo. E como eu disse antes, você sempre tem razão.
Ficaram em silêncio novamente.
– .
Ele suspirou.
– O que foi, ?
– Eu preciso te contar uma coisa.
– O quê?
– Sobre... O beijo de ontem.
– Eu também já sei. Você não sentiu nada de diferente.
– O quê? Não. Não, , é claro que não. Eu senti algo de diferente.
parou de observar a joaninha andar e olhou para ela. Ele ergueu as duas sobrancelhas por um breve momento e pigarreou. continuava a olhar para o chão e ainda estava com o rosto um pouco vermelho.
– Mas, se você... Então... Por que não foi ao casamento?
respirou fundo.
– Esse casamento estava sendo realizado em base de um contrato, e eu estava me aproveitando de você. Não percebe como isso é errado? – ela perguntou. – Eu percebi.
virou sua cabeça lentamente na direção do chão e olhou para a joaninha. Então soltou uma pequena risada.
– .
– O que foi?
– Acho que eu estou apaixonado por você.
– Sabe de uma coisa, ?
– Não. – Ele olhou para ela.
– Eu também acho que estou apaixonada por você. – disse e apertou os lábios um contra o outro. – O que fazemos agora?
Ela suspirou e então olhou para , finalmente.
– Pela primeira vez na vida, eu não sei a resposta. – Ele disse. sorriu.
– Quer saber? Por que não damos uma volta no parque e... Tomamos um sorvete?
riu pelo nariz.
– Acho que é a melhor ideia que você já teve hoje, depois de ter fugido.
riu. Os dois se levantaram e começaram a caminhar pela trilha sem gramado.
– , quer casar comigo?
Ela sorriu para o chão.
– Veremos. Primeiro, o sorvete, menino prodígio. Depois eu respondo. – Ela o empurrou pelo braço. sorriu.
– Eu odeio quando você faz isso. – Ele a empurrou de volta, fazendo com que ela quase caísse no chão. olhou para ele com a expressão demoníaca, mas ainda com o sorriso brincalhão no rosto. começou a correr e ela foi atrás.
Nota da autora: Bem, aí está. Challenge #12, escrito com muito suor e dedicação - mesmo eu achando que tenha ficado uma droga.
Não sei se ele será classificado, mas se for, quero agradecer a você que leu até o final.
Quem já tinha lido o meu outro conto, "A Culpa não é das Estrelas", deve ter percebido que eu não coloco finais ou algo que indique o final na minha história. E você, que leu, deve imaginar o porquê.
Bem, eu não tenho muito o que falar sobre esta estória. A verdade é que ela me deu um grande trabalho, mas que foi muito legal de escrever. E espero que eu tenha ganho uma boa nota - se eu for classificada, obviamente.
Como perceberam, eu deixei muitas mensagens com essa estória. Eu gosto de fazer isso, deixar mensagens.
Sobre os números, só posso dizer que eu sou apaixonada pela Matemática - é, eu sei. E que foi meio difícil tentar deixar real as contas que ele colocou aí, para poder combinar com todo o resto da história. Mas, no fim, deu tudo certo, não é?
Então, caso você tenha gostado, obrigada. E caso você não tenha gostado, me desculpe. Eu sei que eu poderia ter feito melhor.
É isso, pessoal! Obrigada por terem gastado o seu tempo lendo Aprendendo a falar a língua da Matemática e espero que eu tenha ajudado vocês a gostarem mais da matemática! :p
Obrigada, mais uma vez, e tenha uma vida legal!
Ass: Giulia M.
P.S.: Nos veremos novamente!
Outras histórias de minha autoria: "A Culpa não é das Estrelas" (Shortfic/ Especial Extraordinário) The Life Of Two Teenagers(Em Andamento/ Restritas)
P.P.S: Um dia eu irei reescrever The Life Of Two Teenagers, mas apenas um dia...