Here Comes The Sun
por Cell


Challenge: #012
Nota: 8,8
Colocação:




Little darling, it's been a long cold lonely winter. Little darling, it seems like years since it's been here... But here comes the sun and I say it's alright..."


Capítulo Único.

'S POV

Fazia um sol desumano na Califórnia naquele dia. E eu mal podia acreditar que tinha realmente chegado ali. A casa dele. .
Aquilo para não fazia o mínimo sentido. Logo eu, , a mocinha sonhadora, cheia de planos para o futuro e certezas sobre a vida. Sim, eu. Em um casamento arranjado.
Alguns meses atrás, quando terminei a faculdade de Administração, resolvi que deveria seguir meu grande sonho de estudar música e trabalhar com isso na indústria. Ficar parada esperando a fama vir por um milagre era para os fracos e inúteis! A vida se tentava sozinha. Acabei me decidindo por arrumar qualquer emprego que me ajudasse a entrar no mundinho fechado dos ricos e famosos. Esse nunca fora o plano original, mas como eu tinha saído da casa dos meus pais e estava desempregada, precisava chegar ao topo o mais rápido possível. A história começou quando eu me candidatei a um emprego de secretária em uma empresa que treinava caça talentos para trabalharem nas grandes gravadoras, agências de modelo e produtoras cinematográficas. Algumas garotas que eu tinha conhecido quando fizera bicos em peças na Hollywood Bowl me indicaram essa tática, pois era uma forma mais rápida de descobrir o que ao figurões do Showbusiness queriam de nós e ainda estabelecer contatos.
A Talent Scout era a maior empresa do ramo e com uma graduação completa, consegui ter currículo suficiente para me tornar secretária de um dos diretores, Gerard Miller, que por sorte(ou pelo menos eu achei que fosse), era o responsável por treinar olheiros da Sony Music.
Infelizmente, o Sr. Miller era um babaca, safado e nojento que me julgava como algum tipo de prostituta. Então quando eu o pedia para me conseguir testes na gravadora ele costumava querer que eu lhe desse em troca favores sexuais. Porém, sempre fui pomposa demais para sequer cogitar essa possibilidade, então continuei trabalhando lá descompromissadamente por um tempo. Afinal, a única coisa que eu fazia além de atender telefonemas era dobrar os papéis da impressora em espiral e esconder os remédios de cefaléia do Miller deixando só a embalagem vazia para que ele chorasse de dor com frustração.
No alegre mês de novembro, minha sorte começou a mudar. Eu estava trabalhando, e um homem chamado Sam Winters viera conversar com meu chefe. Porém, como ele não estava presente, fui obrigada a fazer as honras da casa. O Sr. Winters em certo momento, virou e disse em tom de brincadeira:
- O que uma moça bonita como você faz trabalhando como secretária de um porco feito o Miller?
- Eu sempre quis ser cantora, Sr. Winters. Vim para tentar conseguir um contato.
Ele analisou de cima a baixo e sorriu.
- Srta. , nunca a ouvi cantar e infelizmente não tenho nenhuma conexão com essa área, apenas seu chefe. Mas sei de uma outra coisa que você poderia fazer e perfeitamente bem.

Sam Winters era o “olheiro chefe” de uma agência de modelos fotográficas especializada em Surfwear. Por causa da minha cara de garota da Califórnia, ele me convidou para fazer as fotos de uma campanha nova da Billabong que seria chamada de “aquecimento para o verão”, algo que eles costumavam lançar as vésperas do inverno. Ninguém entendeu exatamente porque eu tinha sido convidada assim de supetão, afinal não era possuídora do tipo físico esquelético das modelos em geral, e sequer já tinha feito isso algum dia. Porém, Sam pareceu estar encantado comigo e os investidores resolveram aceitar a idéia.
Assim, eu logo estava estampada nas revistas, no outdoor de Venice Beach e até mesmo em pôsteres colados por toda ChinaTown, com um sorriso na cara, meu bronzeado esforçadamente adquirido, um biquíni Tom Veiga, remando no mar com uma prancha de Surf da Billabong (que eu mal sabia manusear sem ajuda).
Depois de fazer esse anúncio, Sam me garantira que eu seria a nova garota propaganda da marca, e que eu já podia largar meu emprego na Talent Scout. Com o ódio que eu estava do Miller, não me contentei em fazer só isso: marquei uma hora na presidência para fazer uma reclamação formal. E agora que eu era uma modelo fotográfica estampada por toda Los Angeles em roupas de banho, de um estranho modo, as pessoas tinham tendência a me respeitar mais.

No dia marcado fui até o escritório do Sr. , o presidente cuja cara nunca era vista por ninguém, e quando a secretária me deu o aval que eu precisava para entrar, o fiz. Só para levar o maior susto da minha vida.
Ele não era velho, nem enrugado. Era um tremendo gostoso e dificilmente tinha mais que 27,28 anos. Fiquei tão pasma que quase soltei um palavrão. A sala dele tinha um requinte forte por ser toda em vidro, um ar absurdamente organizado pelo cheiro de limpeza e alcoolgel. Nem um papel, pasta, caneta estava fora do lugar em sua mesa gigante e a única coisa de cor forte era um placa azul com o escrito " , presidência".
-Srta. ?- disse ele cordialmente de sua mesa no centro. – Pode entrar. Sente-se.
Tentando não desmaiar, segui para dentro do local e me sentei a sua frente. “Calma .” repeti para mim mesma. “Você não veio olhar o cara, e sim reclamar. Sustente-se.
De perto ele parecia ainda mais bonito, com seus cabelos arrumados e seus olhos brilhantes. O mantra da calma precisava começar a funcionar logo.
-Hã, olá Sr. . Eu vim entregar minha carta de demissão.- falei com a voz rouca de nervoso parecendo uma idiota. Que merda de sanidade abalada por homens bonitos!
-Eu sei, Srta. . Mas se fosse só isso, a senhorita não precisaria ter marcado hora, bastava mandar a carta. Você tem alguma reclamação formal a fazer?- perguntou ele enrugando a testa. Aquilo foi tão bonito que eu continuei sem me mexer.
Pigarreei.
-Bom, na verdade sim senhor. É sobre o meu chefe, o Sr. Miller. Ele não foi exatamente correto comigo.
parecia confuso.
- Não foi correto de que forma?
Eu suspirei.
- Bom, o senhor sabe. Eu sou formada em administração e tudo mais, porém como quase todas as outras garotas eu vim aqui para fazer contato. E quando eu pedi ajuda com isso ao Sr. Miller e ele pareceu querer que eu retribuísse de uma forma... Bom, meio imoral. Sexual para ser mais clara.
O homem começou a rir descontroladamente com o que eu disse. Meu sentimento de encanto por ele foi substituído por uma súbita raiva.
- Olha ,- começou ele sem segurar o riso.- posso te chamar assim? Bom,eu nunca esperei que algum dia receberia uma reclamação sobre isso. É a coisa mais antiga do mundo, mais normal. O que um mulher precisa fazer para entrar no mundo das estrelas. Todas sabem disso e aceitam numa boa essa situação. Você não tem noção do quanto é hilário você estar aqui formalmente para fazer esse tipo de queixa.
Eu não poderia ter ficado mais irritada naquele momento. Mordi meu lábio para não xingar aquele homem maldito.
-Não, você não pode me chamar de . Eu não dou initimidade a porcos machistas que acham que o sonho das pessoas é engraçado. E o senhor tem sorte de ser bonito, porque não faz a mínima idéia do que "uma mulher precisa fazer".- falei fazendo aspas com a mão. Ele já não ria mais.- Aliás eu duvido muito que você tenha uma mulher, a não ser que ela esteja com você por dinheiro ou oportunidade. Afinal como você mesmo disse, é a coisa mais antiga do mundo.- Me levantei enquanto recebia do homem um olhar atônito.- Passar bem, Sr. .
Segui até a porta e puxei com ódio a maçaneta, que acabou caindo em meu pé pela força que usei. Ouvi um abafar de riso no fundo da sala e percebi que minha saída triunfal tinha sido completamente arruinada por aquele puxador de porta maldito. Então, chutei aquela porcaria longe, murmurando um "vai se foder" no tom mais alto que pude e saindo batendo meus sapatos de salto de maneira imponente.

Algumas semanas depois eu estava na agência fotografando, dessa vez para a Roxy, na sua linha de bíquinis para o verão do hemisfério sul. Sam me assistia de uma cadeira e parecia extremamente satisfeito com a forma que eu estava progredindo nessa coisa de moda. Eu também estava feliz, já que tinha conseguido comprar até um carro com o dinheiro da primeira campanha e tinha ganhado um local para viver próximo a agência além de uma matricula na Gold's Gym, a academia na qual todo mundo que era rico, maravilhoso e famoso em Los Angeles malhava (quase passei mal da primeira vez que vi o Justin Timberlake correndo na esteira).
No intervalo da sessão de fotos, segui para o meu "camarim" para trocar de roupa para o almoço. Isso para novamente tomar um susto gigante.
estava sentado no sofá com uma expressão desconfortável, olhando tudo em volta como se estivesse em um lixão. E estava lindo como sempre.
- Oi.- disse ele ao me ver sorrindo cordialmente.
- Hã... O que o senhor faz aqui?- perguntei chocada.
- Bom, eu vim vê-la. Queria conversar sobre nosso último encontro. Posso levá-la para almoçar?
- Olha ,- falei me aproximando dele com o semblante sério.- você me irritou demais no nosso "último encontro". Então esse negócio de almoço não vai rolar.
- Eu quero me desculpar, Srta. . Por favor?- perguntou ele de uma forma um tanto quanto cativante.
Suspirei derrotada. Ele era bonito demais para ouvir "não".
- Tudo bem, Sr. . Eu aceito seu convite para almoçar.
Ele se levantou rápido parecendo aliviado.
- Que ótimo. Vou deixar você se trocar em paz.- disse ele olhando ainda ao redor do meu camarim como se estivesse extremamente incomodado e se demorando em sua saída.
- Você ta legal?- perguntei impaciente.
- Eu só... Bom você não acha que esse lugar está meio desorganizado não?
De fato estava. Na verdade parecia um chiqueiro. Mas eu nem ligava. Gostava das minhas coisas dessa maneira e me recusava a perder tempo arrumando uma sala rídicula. Aliás, detestava arrumar qualquer coisa.
- Ué, está. Mas o que há com isso? Você tem TOC ou algo assim?
- Bom, é o que dizem.- respondeu ele sem graça colocando a mão na nuca.- Não tenho certeza, não costumo ir ao médico.
Aquilo foi bem fofo. Mas ele tinha sido um babaca e eu não ia me deixar convencer por essa nova atitude.
- Se você realmente tem, mais um motivo para sair logo daqui e deixar eu me vestir em paz.- retruquei irônica.
Ele me encarou sério e se retirou.
Vesti uma calça jeans e uma blusa de botões branca. Peguei minha bolsa e meus óculos escuros e fui encontrá-lo na outra sala.O rapaz conversava brevemente com Sam, mas pela sua expressão parecia preocupado.
- , você vai levar minha nova modelo para sair?- disse o Sr. Winters em um tom amigável.- Fico muito satisfeito em ver que você está superando seus problemas. Aposto que sua mãe vai adorar saber que você está procurando outras moças, especialmente a .
- Hã, Sam...- ele começou a responder parecendo demasiadamente desconfortável, especialmente por notar minha presença ali.
- Vamos só almoçar Sam.- retruquei.- Não tem nada demais.
O homem sorriu pontualmente.
- é uma ótima garota. Pague um bom almoço para ela.- com isso o Sr. Winters se virou e voltou para dentro de seu escritório na agência.
me levou a um restaurante japonês na Larchmont Boulevard que eu em minha vida comum jamais sequer sonhara em ir. Não conversamos muito no caminho já que ele aparentava estar meio atordoado. Eu não sabia ao certo porque tinha aceitado aquele convite, mas algo parecia tão adequado em estar ali ao lado dele naquele carro vendo seu vísivel desconforto com qualquer coisa que fosse. Ele era um cara bonito, enigmático, cheio de manias esquisitas e eu só tinha falado com ele por dez minutos em toda a minha vida mas já tinha vontade de tê-lo por perto de alguma maneira.
Ao chegarmos, nos sentamos a mesa e fez nossos pedidos sem nem sequer me consultar. Eu não protestei já que gostava de tudo que ele havia falado ao garçom, mas estava achando aquela situação meio incômoda.
- Então, srta. ...
-.- falei cortando-o.- Estamos almoçando e você não é mais o presidente da empresa que eu trabalho. Pode me chamar pelo nome.
- Da outra vez você disse que não podia.- retrucou ele.
- Da outra vez você estava sendo um babaca.
- Me desculpe por isso. Você está totalmente certa no que disse... Eu conversei com o Miller depois que refleti sobre a nossa conversa. Realmente sinto muito.
Eu dei um sorriso tranquilo enquanto abria o meu hashi.
- Ta tudo bem, . E você não precisava ter me trazido para almoçar só para isso...
Ele se ajeitou na cadeira. Então esticou a mão para retirar o papel dos palitinhos que eu largara ali enquanto abria.
Acompanhei o movimento com uma cara meio espantada.
- Qual o seu problema com um papel em cima da mesa?- perguntei meio chocada.
-Eu já disse, não gosto de desorganização.- respondeu ele.
- Era só um papel! Você tem mesmo esse negócio de TOC né?
Ele deu de ombros.
- Não foi sobre isso que viemos conversar, .
- Eu adoraria conversar com você sobre o que você "quer" se a conversa não fosse arruinada toda vez que a toalha da mesa dobra.- retruquei com desdém.
- , você já teve alguém que fez a sua vida parecer uma completa bagunça? Você já viveu situações de total incerteza? Se não, não me julgue por querer uma vida na qual haja organização e rotina.- rebateu ele incisivamente.
Me assustei com aquela resposta, então resolvi não prolongar o assunto. Tentei dar um sorriso e dizer:
- Mas então, o que você quer conversar comigo de fato?
- Bom eu... Há algum tempo atrás eu era casado. Conheci uma garota quando ainda era bem novo, tinha só 18 anos. E a gente se juntou logo. Mas como você pode ter percebido ela... Bom ela não está mais aqui.
- Você é jovem para ser viúvo, meus pêsames.- falei afagando o braço dele com carinho.
- Ela não morreu.- rebateu impaciente.- Ela me deixou.
Corei.
- Poxa, eu sinto muito! De verdade. Prossiga.
O rapaz suspirou.
- Bom, a Sadie era uma mulher maravilhosa. Eu a amava muito e foi bem duro para mim vê-la partir por minha causa.
- Chifrou ela?
- Não, . Eu estava trabalhando demais e... A Sadie é escritora, ela gostava que eu ficasse em casa. Desde que meu pai morreu e eu assumi as rédeas da empresa, passei a ter quatro vezes mais responsabilidades. Ela se sentia sozinha e resolveu que iria para a Inglaterra escrever seu novo romance.
- Peraí um instante.- falei tendo um estalo.- A sua ex mulher é Sadie Gunther? Os livros dela são sensacionais. Eu sempre amei, chorava que nem uma condenada e...
- , você nunca vai me deixar terminar a história? Você me desorganiza!- bufou ele.- Sim, é a Sadie Gunther. na verdade. Ou não, não sei, acho que a essa altura ela ja mudou de sobrenome. O fato é que a escritora escrota no nosso "tempo" arranjou outro homem. E eu estou sozinho...
- E depressivo. E com TOC. Entendo.- completei afagando novamente seu braço.
- Minha mãe acha que eu só tenho 26 anos e já estou há muito tempo sozinho, preciso de uma namorada e bom... o Sam é irmão dela e vive falando de você agora. Mamãe já te ama sem te conhecer. Então eu pensei em...
- Você quer namorar comigo já?- perguntei assustada.- Mas você nem me beijou.
- Não é namorar!- retrucou ele exaltado.- Eu só queria... Bom que você fingisse. Eu disse ao Sam que estávamos saindo, mas você veio com aquele papo de "é só um almoço, Sam" e ele acreditou.
Suspirei.
- eu não entendo. Por quê? Se você está triste tente fazer coisas que te deixem bem! Arrumar uma namorada falsa para a sua mãe não faz sentido.
- Ela quer que eu procure ajuda. Acha que as coisas saíram do controle... E eu não quero entende? Eu ainda acho que a Sadie vai voltar. Ela me amava muito.
Eu deveria ter dito que não. Afinal, a mãe dele estava certa, ele era louco. Precisava de ajuda. Mas ver aqueles lindos olhos piscando para mim não me deixava escolha. Mesmo que eu estivesse um pouco chateada pelo fato de outra existir, tinha que ajudá-lo.
- Ta certo. Eu te ajudo. Mas você precisa me jurar que vai se esforçar para se sentir melhor e arrumar uma garota de verdade! Mesmo que seja a escritora maluca.
- ,- disse ele abrindo pela primeira vez um belo sorriso.- você é a melhor pessoa que eu já conheci.

Semanas depois desse episódio, após um fingimento de "estávamos saindo e progredimos para namorando", fui levada ao apartamento de para um jantar com Sam, sua mãe e a esposa de Sam. Apenas para os íntimos conhecerem a "nova namorada". Fiquei chocada ao entrar no lugar e me ver num antrode organização e limpeza em níveis mais extensos que a sala do escritório dele.
Nada na casa tinha cor. Tudo era branco ou vidro, e estava organizado. Apenas algumas fotografias espalhadas pela mesa de vidro central da sala chamavam atenção por destoar do resto.
Numa delas, estava sujo de lama abraçando uma garota de cabelos castanho-avermelhados que eu conhecia bem pela contra capa dos meus livros, num balanço de uma praça dessas de rua. A foto parecia antiga. Provavelmente, Sadie.
Naquele momento eu a invejei. Parecia um sonho ver um cara como ele feliz daquela forma só por me ter por perto. Aquela Gunther era mesmo uma escrota de deixá-lo. Peguei a fotografia e tirei dali.
- , aonde você está levando isso?- perguntou ele nervoso.- Eu não gosto que tirem minhas coisas do lugar.
- Estou escondendo a foto da sua ex. Quem você vai enganar com a namorada nova se ainda tem tudo da outra na casa? Sorte a sua que eu cheguei antes de todo mundo.
Ele me olhou cuidadosamente e assentiu.
-Você é bem esperta as vezes.
Sorri e comecei a andar pela sala observando tudo.
- Nossa , você não tem nenhum livro nessas estantes? Pra que essas merdas servem?
Ele me olhou tenso.
- Eu costumava ter bastante mas... Bom eles não eram meus.
- Você os doou?
- Não. Eu os queimei.- respondeu ele me fazendo arregalar os olhos com o susto.- Não gosto de livros, . Não mais. Eles me lembram... Bom você sabe, eu... Esse assunto é terrível.
Me aproximei cuidadosamente do rapaz e coloquei as mãos em seus ombros. Ele me olhou confuso pelo gesto.
- Você vai ficar bem.- falei calmamente.- Nós dois vamos resolver isso juntos. Sua mãe vai ficar feliz e eu vou te ajudar a encontrar alguém. Certo?- coloquei meu melhor sorriso na cara.
Suas mãos então encontraram minha cintura e eu fiquei surpresa mas feliz. Aquele toque era tão íntimo para dois semi desconhecidos, mas eu já me sentia amiga dele. E de um estranho modo, aquela posição parecia perfeitamente certa.
- Eu gosto de você. Me sinto animado ao seu lado. Obrigada por estar me ajudando de todas as formas possíveis.- disse ele.
Nesse momento a campainha tocou e nos separamos. foi antender e eu fiquei ali parada extremamente atordoada pelo efeito daquele toque.


O jantar não poderia ter sido melhor. A mãe dele era uma mulher incrível e receptiva, Sam e a esposa pareciam radiantes e não estava tão desconfortável como nas outras vezes que nos encontramos. Eu me sentia parte daquilo de alguma forma e isso fazia tudo parecer mais legal.
Na hora de servir a sobremesa, a mãe dele me chamou na cozinha para ajudá-la e conversar comigo.
Ela desembrulhava um pavê de chocolate e eu olhava desejosa, sabendo que não podia comer devido ao meu triste problema de intolerância a lactose desenvolvido estranhamente na adolescência, ou seja, depois de ter sido apresentada a tudo que há de bom na vida.
- Querida, leve essa sobremesa para , é a dele.- disse ela me entregando o pavê.
- come um pavê inteiro sozinho?- perguntei curiosa.
- Não... Ele não pode tomar leite, então mando que façam um especial para ele com leite de soja.
Abri um sorriso deslumbrante.
-Eu também não posso! Que ótimo, Sra. , achei que teria que dispensar sobremesa!
Ela parou por algum tempo e me encarou com um sorriso feliz.
- Você é tão bonita, alegre e inteligente. Algo me diz que fará meu filho muito feliz. E eu quase nunca erro pressentimentos.
Aquele comentário me fez sentir uma pontada de culpa por estar mentindo sobre o nosso namoro mas ao mesmo tempo me deixou radiante. Eu não sabia porquê mas queria agradar a todos, já que aquele clima de estar em uma família era algo que eu amava e sentia falta desde que saíra da casa dos meus pais em Santa Barbara.
Mais tarde todos partiram e disse-lhes que eu dormiria por lá mesmo. Dei um sorriso como quem conscentia mas não entendendo o porquê daquela afirmação.
No momento em que ele fechou a porta e seus familiares sumiram, eu estava sentada no sofá branco da sala olhando tudo atentamente. Senti ele se tacar ao meu lado e falar:
- Foi bem melhor do que eu achei que fosse ser. Muito obrigada.
Sorri para ele.
- Não tem de que, . Sua família é divertida.
- Eles são legais. Antes, quando meu pai era vivo, todos ficavam mais nervosos. Eu inclusive. Mas agora que ele foi para a horizontal até que eu sinto a falta dele.
- Que coisa mais grosseira para se dizer.- repreendi.
- É sério. Ele era bem desagradável, . Você jamais gostaria dele. Porém, faz falta na hora de controlar a empresa. É muito difícil cuidar de tudo sozinho.
- Não fale como se não fizesse isso bem. As coisas funcionam direito por lá.-comentei.
- É, eu acho que sim.- respondeu olhando o teto pensativo.
Meu coração estava acelerado e eu nem sabia porque. Ele era tão bonito, tão emocionalmente destruído e sobrecarregado! Tudo o que eu queria era poder cuidar dele naquele momento. Quando vi nós dois estavamos em silêncio pensando por tempo demais. Então falei:
-, eu preciso ir. Está tarde.
Ele virou seu rosto perfeito e disse:
- , será que você pode ficar aqui essa noite? Ela está sendo a melhor que eu tive desde que a Sadie se foi.
Bem que eu tentei mas não deu. Não tinha como resistir ouvindo aquelas palavras. Me peguei dizendo sim.
Recebi um sorriso em resposta.
- Ei, por que você não me conta da sua vida? Não sei nada sobre você, além do fato de que você queria ser cantora mas tem lindas fotos de bíquini por toda a cidade.
- Não tem nada demais.- falei rindo.- Sou só uma garota de Santa Bárbara que sempre quis ser cantora mas nunca teve a idéia apoiada pelos pais. Meu sonho era fazer faculdade de música ou então uma escola dessas de artes, mas eles nunca concordaram. Acabei me formando na Universidade da Califórnia em administração e fui parar na sua empresa por sorte. Por mais sorte ainda, Sam me descobriu. Mas ainda sonho com a graduação musical. E fim.
- Mas e os romances? Nenhum na sua vida?
- Na verdade, não. Só uns namoradinhos de semanas e sexo casual com caras bonitos.
- Você nunca gostou de ninguém?
- Não. E ainda bem que eu nunca levei a sério aquela coisa de "só transar apaixonada", ou então seria virgem até hoje.- acrescentei.
- Eu costumava transar com muita gente. Ai, conheci a Sadie e me tornei um homem responsável. Agora eu transo com algumas garotas pré selecionadas uma vez por semana.
- Você paga prostitutas toda a semana?- perguntei chocada.- Mas por quê? Você é bonito, vá a um bar a noite e transe de graça.
- Eu não vou transar com uma garota qualquer! Ela pode ser suja.- disse ele com cara de nojo.
- Ué, mais sujas que uma prostituta? Isso é ilógico.
- Não pago serviço de garotas de programa comuns... Elas são especiais para pessoas higiênicas.- respondeu ele meio sem graça.
- COMO É? EXISTE PROSTITUTA PARA GENTE COM TOC?- berrei absolutamente incrédula.- Isso é surreal!
corou violentamente.
- Primeiramente você tem que entender que sou um homem e tenho necessidades. E eu gosto de gente higiênica. Então sim, eu uso esse tipo de serviço. E é óbvio que existe. Aonde você pensa que caras como eu acham mulheres para se divertir casualmente?
- Olha, para mim caras doidos assim nem achavam mulheres. Fico feliz que exista um serviço para atender sua insanidade.- retruquei rindo.
- Não tem graça.- respondeu ele se levantando.- Não quero mais falar de sexo. Vamos a varanda para eu te mostrar uma coisa.- disse puxando-me para fora.
A noite estava límpida em LA e o céu estrelado indicava que mesmo com o frio de dezembro, faria sol no dia seguinte. A enorme varanda do apartamento de era decorada da mesma forma que a parte de dentro, móveis brancos e de vidro. Mas um telescópio prateado reluzia no meio daquele festival de falta de tons, o que fez com que meus olhos se direcionassem diretamente a ele.
- Quer ver as estrelas?- perguntou ele percebendo minha atenção direcionada ao objeto.- Eu faço isso toda noite. Aqui em Los Angeles não é tão legal quanto na minha casa de campo em Seal Beach. Mas mesmo assim eu gosto de fazer isso... Desde os treze anos quando dizia que faria faculdade de astrofísica.
- Você é louco mesmo, . De pedra. Faculdade de astrofísica! Mas essa pelo menos é uma mania legal.
- , pare de dizer que eu sou louco. Até parece que você não tem uma maniazinha também.
- A única coisa que eu tenho de esquisita é uma obsessão pelos Beatles. Tenho um altar no meu quarto para eles e o sonho da minha vida é me casar e entrar com "here comes the sun". Obviamente, a música perfeita para representar a entrada de uma noiva em um casamento, especialmente se ela for . Eu sou o sol.- Me peguei viajando nesse momento então dei um pigarro, me recompus e continuei:- Acontece que muita gente gosta disso, o que me classifica uma pessoa normal.
fez uma cara estranha.
- Eu costumava escutar os Beatles mas... Eles são da Inglaterra.
- Sim eles são. E o que há com isso?
- Tive que queimar os discos que eu tinha deles. Nada na minha casa pode lembrar aquele lugar maldito.
- Ah.- falei sem graça.- Sadie foi para lá, não?
concordou com a cabeça. Resolvi então encerrar aquele assunto.
Voltei meu olhar ao microscópio, andei até o objeto e puxei para olhar o céu. Estava estranhamente bonito, apesar de ser inverno em uma cidade grande.
- Isso é muito legal!- exclamei.- É lindo!
Ouvi sua risada pelas minhas costas.
- Que bom que você gostou. A Sadie sempre me achou um idiota por ficar olhando isso todo dia. Ela sempre dizia que LA não tem estrelas.
Me levantei para olhá-lo, ficando de frente para ele.
- Sua ex era meio cega. E pouco imaginativa para uma escritora.
Quando dei por mim estávamos perigosamente próximos. Ele colocou a mão no meu pescoço e aproximou nossos rostos de forma a quase encostar nossos lábios. Meu coração disparou de repente e eu não sabia como agir. fechou os olhos.
- Eu queria fazer isso com você , mas... Você é tão...
- Se você quer pode fazer, .- respondi por instinto ainda contra os lábios dele.
E ele o fez. Me beijou lentamente segurando meu pescoço com delicadeza e minha cintura com força. Era provavelmente o melhor beijo que eu ja tinha experimentado e o primeiro a me fazer sentir como se estivesse prestes a desmoronar.
Em momento algum pensei que faria aquilo, então além de todos os sentimentos eu sentia surpresa. Mais ainda quando sua mão na cintura levantou levemente a minha blusa aprofundando o beijo.
- Vamos para dentro.- sussurrou ele me puxando. Forças obscuras me ajudaram a segui-lo para onde quer que estivessemos indo.
me beijava ávidamente, como se não fizesse aquilo há tempos e eu me sentia incapaz de corresponder. Enquanto divagava sobre minha performance naquela situação, me senti arremessada contra uma cama sentindo meu corpo bater em algo fofo. Já estavamos no quarto?
Olhei para baixo de mim e me deparei com o edredom branco do quarto (adivinhem) da mesma cor. Mas algo na cama chamava atenção: Um boneco de pelúcia em forma de esqueleto que parecia um inconveniente as minhas costas enquanto beijava meu pescoço.
- Você tem um esqueleto fofinho para dormir!- eu ri.
Ele me encarou de repente, e seus olhos pareciam mais escurecidos. Não havia humor nenhum em suas expressões quando ele tacou o boneco longe e voltou a me beijar deslizando sua mão para dentro de minha blusa. Quando encostou no meu seio e o apertou com força, segurei sua nuca sentindo o quão tenso ele estava. Afastei nossos lábios e segurei seu rosto para fazê-lo me olhar novamente.
- Por que é que você está tão tenso?- murmurei.
baixou novamente o rosto encostando seu nariz em minha bochecha.
- Eu não sei... Eu... eu não transo com uma garota comum desde que a Sadie se foi. Eu não consigo chegar perto de gente que eu não tenho certeza de que esta devidamente limpa. E aí vem você e... , eu sinto tanta vontade de te tocar.- ele sussurrou desesperado.
- Isso é bom não é?- perguntei sentindo um aperto no peito. Ele era tão errado. Tão emocionalmente doentio. Tudo o que eu queria era poder cuidar dele.
O rapaz não me respondeu. Não fazia diferença. Simplesmente baixou suas mãos e puxou minha blusa para retirá-la, continuando o trabalho inciado antes.
Quando eu e ele já não possuíamos mais nenhuma peça de roupa entre nós, senti que nos tornávamos um. E eu amei cada segundo, até demais para o meu próprio bem.

No dia seguinte acordei com uma forte luz e uma sensação de espaço. Abrindo os olhos lentamente, me encontrei em um mar de claridade e lençóis brancos desarrumados. As lembranças da noite anterior me fizeram abrir um leve sorriso apesar da solidão. Levantei-me a procura de cobrindo o corpo com a primeira coisa que puxei da cama.
Encontrei-o rápido, sentado no sofá da sala, vestindo uma calça jeans e uma blusa que apertava seus bíceps musculosos. O rosto perfeito mostrava um semblante sério enquanto encarava algo que tinha as mãos. Algo como uma foto.
- Bom dia.- murmurei sorrindo.
- , nós temos que conversar.- disse ele olhando para baixo ainda sem me encarar.
Caminhei até ele para me sentar ao seu lado. Ao fazer isso vi que a fotografia em suas mãos era dele com Sadie.
- Nós não temos não.- falei segurando a mão dele- Está tudo bem sobre ontem. Eu sei que você não me ama nem nada assim...
- Essa não é a questão.- disse ele me olhando finalmente. Seus olhos evidenciavam um possível choro.- Você é uma pessoa bonita, positiva... Quando você disse ontem que queria entrar em seu casamento com aquela música do Sol eu entendi perfeitamente, pois é exatamente isso que você é. Mas eu não posso, eu... Eu amo a Sadie. Estou esperando por ela e não posso ter alguém como você por perto. Você simplesmente coloca a minha vida de cabeça para baixo.
- presta atenção em mim.- falei calmamente.- A Sadie se foi. Ela está em outra. Não da para parar a vida por uma coisa que acabou entende? Você já viu essa casa? Tudo nela é branco e de vidro. Você só dorme com prostitutas, e especiais para gente com TOC. Nesse momento tem uma linha soltando do sofá e você está ai arrancando ela só porque atrapalha a simetria da coisa! E isso não é normal, . Não mesmo. Agora, pela primeira vez em tempos alguém te faz esquecer todas esses seus surtos. E o que você diz? Que eu te coloco de cabeça para baixo. Você precisa disso. Ser desorganizado é o que te falta no momento. Ou então, teremos um destino bem infeliz daqui para frente.
Agora ele realmente chorava e eu me sentia cruel por ter dito aquelas coisas. Mas o mais cruel foi ele comigo, ao dizer:
- Vai embora daqui, . Eu preciso esperar pela minha esposa e nenhuma palavra sua vai me convencer do contrário.
Naquele dia eu jurei para mim mesma que nunca mais ia procurá-lo.

Três semanas depois eu estava trabalhando tanto que mal tive tempo de pensar nos acontecidos. Sam viera triste, comentar comigo que soubera de nosso repentino término, mas eu me dignei apenas a dizer:
- É, foi mesmo uma pena não ter dado certo.
Eu não ligava. Nada disso poderia abater, já que eu jamais deixava que a minha vida fosse tomada por qualquer tipo de negatividade. Eu tentava me convencer de que nem sequer sentia falta de , apenas um certo pesar, já que de alguma forma eu sabia que ele estava mal e precisava de ajuda. E estava funcionando de algum modo.
No entanto outros fatos começaram a me deixar preocupada. Um atraso de duas semanas na minha menstruação, que estava sendo devidamente ignorado por mim.
não usara camisinha comigo nas duas primeiras vezes que transamos naquela noite. E eu tinha parado de tomar pílula aquela semana pois tinha esquecido uns dias antes e achei melhor só voltar a tomar no mês seguinte. Mas eu obviamente não me lembrei de tomar a do dia seguinte quando deveria ter feito isso.
Mas eu não podia. Ele era maluco, e eu não queria estar grávida de um insano daquele. Na verdade eu não poderia estar.
O problema era que duas semanas era demais. Precisava fazer o teste do xixi o quanto antes.
Aproveitei minha visita a Santa Bárbara em um fim de semana e pedi a ajuda da minha mãe para realizar os procedimentos. Foi ela que segurou minha mão e disse que tudo ficaria bem quando deu positivo.

Voltei a Los Angeles no dia seguinte e fui procurar em seu apartamento. Ele abriu a porta surpreso.
- ? O que faz aqui?
- Vim conversar uma coisa séria com você, sobre o nosso último encontro.
- O que exatamente?- perguntou confuso.
- É o seguinte, . Eu to grávida. E não, você não precisa assumir se não quiser. Mas eu achei que deveria te informar porque todo mundo tem o direito de saber que tem um filho.- disparei.
Ele parecia a beira de um colapso.
- Você não toma pílula?- perguntou chocado.
- Sim, mas eu tinha me esquecido e... Bom não interessa, simplesmente aconteceu.
- Você... É meu?
- Não, babaca. Eu vim te contar que estou grávida e pedi para você assumir o filho de outro. Sabia que você teria essa reação de idiota!- falei bufando. Me levantei para ir embora.
- espera!- gritou ele, mas eu ja tinha batido a porta e corrido para a escadaria.
Quando entrei no meu carro, meu celular vibrou e vi uma nova mensagem. Era de . E nela tinha o conteúdo menos esperado e mais importante de toda a minha vida. Estava escrito: O que é que você acha da gente se casar?
Voltei para o prédio na mesma hora para ir novamente até a casa daquele homem insano. Fiquei surpresa ao subir e ver que a porta do apartamento já estava aberta. Entrei por ela e parei no corredor entre o hall e a sala.
- Você perdeu completamente o senso?- perguntei com ironia na voz.
- Não.- disse ele dando de ombros.
- Isso é algum tipo de palhaçada então? Porque há três semanas atrás eu tive que ir embora as pressas só porque você tinha que esperar sua mulher.
- Ela não vai voltar.- disse ele sério.- E além do mais mesmo que fosse. Vamos ter um filho. Não é certo que ele não tenha os pais casados. Você e eu não precisamos nos gostar. Seria arranjado.
- É brincadeira com a minha cara mesmo.- resmunguei.
- , não é. Você é uma pessoa legal e eu fico feliz que vai ser a mãe do meu filho. Não quero que você faça isso sozinha. E além do mais eu... Bom, isso me salvaria de muita coisa.
Ergui a sobrancelha desconfiada.
- Do que?
- Minha mãe marcou uma estadia para mim num centro de reabilitação. Mas eu tenho certeza que ela mudará de idéia ao saber das notícias. Por favor, . Seja minha esposa de mentira. Você pode fazer faculdade de música e cuidar da criança enquanto eu trabalho, pode namorar quem você quiser. Só fique perto de mim e me deixe ficar perto do filho que eu vou ter.
- Eu preciso pensar.- falei.
- Não precisa. Não precisa pensar! Nós podemos tentar então. Antes do neném nascer. Fazer como se fosse um test drive!- disse ele parecendo empolgado.
- Por que é que você está tão desesperado para me colocar para dentro da sua casa, hein? Você não estava assim há três semanas.
Ele pareceu irritado.
- Você quer que eu ajoelhe?- perguntou irônico.
- É o que as pessoas normalmente fazem pedindo outras em casamento. Mas esse é arranjado, então acho que não.- retruquei.
Ele se levantou e caminhou até mim. Segurou meus ombros.
- Eu lhe imploro. É sério! Me dê uma chance de poder ver meu filho crescer bem e de tentar melhorar sem ter que tratar.
- Você sabe que isso não vai acontecer, né? Ninguém se recupera sem tratamento, .
Ele suspirou.
- Você já me fez ser um pouco normal uma vez. Eu sei que pode fazer de novo. é sério. Eu sinto a sua falta. Quero que a gente seja amigo e cuide do nosso filho junto. Sabe se você arrumar um cara e quiser terminar tudo eu jamais farei objeção.
- E se a Sadie voltar?- perguntei.- Porque você até então considerava isso uma hipótese. Não seria pior para o nosso filho se a gente se separasse do que se a gente nunca se juntasse?
- Eu não acho que ela vai voltar mas... Se ela voltar a gente vê.
Ele parecia encantadoramente desesperado. Aquele encanto de rapaz doido da mente que ele tinha sobre mim era fora de sério.
- Sim, . Eu me caso com você.- foi o que eu disse.

Nos casamos um mês depois, em uma cerimônia discreta no cartório de Beverly Hills. Só meus pais, a mãe dele, Sam e a esposa estavam presentes.
Não tocou Here comes the sun e eu nem sequer estava de branco. Mas a sua maneira foi feliz. Eu queria cuidar de , mesmo sabendo que era um casamento arranjado e que ele não me amava de fato.
No fim daquele dia, todas as minhas coisas foram levadas para o nosso novo apartamento de três quartos, há apenas dois quarteirões da empresa. O terceiro quarto ainda não estava decorado já que esperavamos saber o sexo do bebê.
Aquilo era empolgante e doloroso. Quanto mais o tempo passava, mais eu queria que aquela situação fosse mentira, porém não via pretensão de não deixar acontecer. Eu estava apaixonada por . E agora, a dor de todas as coisas fora dos planos (especialmente estar casada de fachada com um cara que amava a ex mulher e era completamente doido) me atacava com muita força.
Essa agora era a minha realidade. E eu nem sequer sabia o que pensar dela.

'S POV

Ser casado com poderia ser tudo, menos monótono. E eu estava há dois meses testando essa teoria.
Ela era uma garota desorganizada, escandalosa, com um excesso de felicidade e cantoria, mas nunca me deixava cair na melancolia, o que me fazia concluir que esperar Sadie ao lado dela era uma boa escolha.
Sim, eu ainda esperava minha ex. Talvez sempre esperasse. era capaz de me alegrar mas não de me curar totalmente, pelo menos não por hora.
Agora que ela não podia mais trabalhar como modelo de bíquinis, eu resolvi dar-lhe de presente uma matrícula na LAMA (Los Angeles Music Academy), que aceitou-a de bom grado, já que pelo visto ela era talentosa.
Meus ataques de arrumação faziam aquela convivência um pouco conturbada, mas algumas coisas sobre mim ela estava conseguindo adaptar. Por exemplo, eu permitia agora a presença de livros e discos de bandas britânicas na minha casa (coisas que há meses atrás eram impensáveis), só tinha como condição que ficassem no quarto dela.
No dia de seu aniversário, ela se apresentou na faculdade pela primeira vez, e eu fui assistir. era realmente uma ótima cantora e eu me sentia orgulhoso dela. Ao fim da apresentação fomos jantar em casa. Pedi comida japonesa, já que era a nossa preferida (e ignorara solenemente as ordens do médico de não comer comida cru por poder ser perigoso para o bebê).
Ligamos a TV mas não estávamos prestando muita atenção, era só o David Letterman show, afinal. Eu comia meu sushi e a menina a minha frente lia atentamente o rótulo do molho shoyu.
- Por que é você está olhando isso?- perguntei.
- Taxas de sódio.- respondeu a garota prontamente.- Não posso me entupir disso por causa do bebê.
- Como se você realmente ligasse para isso. Come japonês do mesmo jeito.
- Idiota, a comida japonesa fazer mal é uma hipótese. O sódio é uma certeza.- retrucou ela rolando os olhos.
Terminamos de comer em silêncio e levantou levando as coisas para a cozinha. Pensei então em cantar parabéns ou algo assim, já que era o que as pessoas normalmente faziam em aniverários. Quando eu ia sugerir que o fizessemos, olhei a TV e não pude acreditar no que ouvi.
-Hoje, temos o prazer de receber uma ilustre convidada, a incrível escritora, Sadie Gunther!
Palmas tomaram conta do auditório e o belo rosto de minha ex estava na TV. Seus cabelos mais escuros mas seus olhos ainda eram do mesmo tom de verde.
-Obrigada, David. É um prazer imenso estar aqui essa noite.- ela disse.
sussurrou:
- Acho melhor a gente mudar de canal, e...
Fiz um sinal de silêncio e ela prontamente obedeceu.
-A srta. Gunther está aqui para falar de seu mais novo lançamento, o livro "Amor a longo prazo". Dizem que é baseado em uma história real, não?
- Sim, David. Eu escrevi para o meu ex-marido, Edward. Nós nos apaixonamos ainda crianças, na Inglaterra, mas acabei indo para Los Angeles. Vivi bem por lá, mas sempre amei o Ed. Recentemente voltei ao meu país de origem e vivemos nossa maravilhosa história de amor.- Respondeu Sadie.
- Estão separados agora?- perguntou o Sr. Letterman.
- Infelizmente, eu senti uma grande necessidade de espaço. Estou então indo passar uma temporada na França para o meu próximo romance. Mas o Ed sempre foi e sempre será o amor da minha vida. Ele sabe disso.
- O livro da Srta. Gunther estará em todas as livrarias da américa na próxima semana. Não deixem de conferir. Muito obrigada pela presença...
Antes que eu pudesse ver o que Sadie diria, puxou o cabo da tomada desligando a TV.
- Já chega. Chega dessa mulher.- bufou.- Não quero ela no dia do meu aniversário.
Eu não sabia o que dizer. Encarava a TV estático. Eu queria matá-la. Queria matar Edward. Queria matar o David Letterman.
Uma vontade incontrolável de chorar tomou o meu corpo, mas eu não queria fazer aquilo na frente de .
- , me escuta.- disse com calma.- Ela está tentando vender livros. Não quer dizer que ela tenha falado sério. Isso faz com que as pessoas comprem mais e...
Quaisquer que fossem as palavras da garota a minha frente, não adiantaram. Eu estava em prantos agora e me sentia um gay, sentimental e maluco.
As mãos leves de afastaram as minhas do rosto, enquanto ela se sentava em minhas pernas para que ficassemos frente a frente.
- Ela não merece. Não merece que você desenvolva distúrbios por causa dela, que você não escute bandas que gostava, que não leia livros e que chore. Essa mulher não merece que você sequer lembre o nome dela.
Foi entre soluços que eu disse:
- Ninguém jamais vai gostar de mim como ela gostou.
me abraçou com força, de modo a me fazer deitar a cabeça no seu colo.
- Shhhhh...- disse ela. Então começou a cantar lentamente:-When the rain is blowing in your face, and the whole world is on your case, I could offer you a warm embrace to make you feel my love...
Levantei o rosto para observá-la. Ela me olhava de volta, acariciando meus cabelos enquanto cantava.
-When the evening shadows and the stars appear, and there is no one there to dry your tears,I could hold you for a million years to make you feel my love...
Minhas lágrimas paravam lentamente ouvindo sua voz doce. Eu queria saber porquê ela teria escolhido logo aquela música. Aquela letra. Talvez ela estivesse me dizendo algo. Perdido na minha dor, nos braços dela e em sua voz, adormeci.

Acordei para trabalhar no dia seguinte e notei que eu e tinhamos dormido no sofá. Ela continuava ali estática. Parei para olhá-la e notar o quanto ela era bonita. Sua pele dourada, seus cabelos mais claros do que deveriam ser pelo sol, os cílios gigantes e o rosto meigo. Tudo nela parecia certo. Naquele momento, olhando-a de perto, eu nem sequer me lembrava do porquê tinha chorado por Sadie se tinha uma garota como aquela como esposa. Mesmo que fosse só de fachada.
Levantei-me e fui procurar o presente que tinha comprado para seu aniversário mas não chegara a dar por causa do meu ataque gay na noite anterior. Uma corrente com um pingente de sol. Coloquei ao seu lado junto de um bilhete que dizia: Obrigado por ter sido a luz dos meus meses. Você é a melhor esposa falsa que alguém poderia ter.. Assim, fui trabalhar.
Mais tarde recebi uma visita de ao meu escritório. Ela entrou sorrindo como sempre em minha sala e fechou a porta que há meses atrás batera para sair com raiva de mim. Lembrei do dia que nos conhecemos e ri de leve.
- Sabe com quem eu cruzei no corredor?- perguntou.- Com o porco do Miller. Não acredito que você mantêm essa ralé por aqui.
- Ele é um bom funcionário.- falei dando de ombros.- Por que veio?
- Ah, eu só vim porque não tinha aula hoje e estava me sentindo sozinha depois do médico. Vou encontrar sua mãe no Cafe Dulce daqui há uns quarenta minutos. E eu queria saber como você estava e agradecer pelo pingente. Estou usando.- respondeu mostrando o pescoço no qual brilhava um pequeno pontinho em forma de sol.
- Foi sincero. E eu estou bem... Só, bom sei lá. Acho que fiquei chateado pelo fato de ter me sentido um consolo para a Sadie. Eu sempre achei que ela tivesse parado de gostar de mim e não nunca gostado.
- No final das contas isso é bom, sabe?- disse ela segurando a minha mão.- Pelo menos agora você pode superar tudo.
Eu suspirei.
- Talvez você esteja mesmo certa. , posso te perguntar uma coisa?
A garota me encarou curiosa.
- Pode! O que?
- Por que aquela música? Ontem, sabe? Por quê?
Ela abriu um sorriso tão bonito que eu quase me tentei a não ouvir a resposta e só observá-la.
- Porque eu amo você.- falou simplesmente.- E eu faria qualquer coisa para que você sentisse esse amor que vem de mim. Qualquer coisa para te ver sorrir e nunca deixar que você sofra como ontem.
A resposta me surpreendeu.
- Me ama? A mim?
- É. E eu estou pronta para fazer com que esse casamento seja de verdade. Basta você conseguir me amar também. E sinceramente , eu me vejo a cada dia mais próxima disso. Sei que mesmo que você goste dela, eu sou a única que pode fazer seu coração unir os pedaços e se acalmar.
Eu nem sabia o que dizer. Quando ela se levantou, algo em mim quis que ela ficasse. Que ela permanecesse ali para sempre.
- Vou encontrar a sua mãe.- disse naturalmente andando até a porta.- E ah, esqueci de te avisar. Semana que vem vamos descobrir o sexo do bebê, na segunda. E mês que vem você tem consulta no psicólogo. Vamos acabar com essa história de TOC. Tenha um bom dia.
E assim, saiu me deixando sozinho e confuso.

Mais tarde naquele dia, enquanto pensava sobre as palavras de , um acontecimento me deixou mais abalado ainda. Um telefonema de Sadie.
- ?-disse ela ao telefone.
- Sim. Sou eu, Sadie.- falei nervoso.
- É tão bom ouvir sua voz! Faz quase um ano que não tenho notícias de você.
- Acho que não foi do seu interesse tê-las.- retruquei.
- Talvez não. Mas agora é! Será que poderíamos sair para conversar na próxima segunda na hora do almoço? Eu pretendo passar uns dias em Los Angeles.
Não foi nenhuma surpresa para mim me ouvir concordando e marcando o encontro com ela.

O resto da semana parecia não passar. Domingo a noite, em casa com , ela me perguntou:
- Ei, a que horas nos encontramos amanhã?
A olhei surpreso.
- Nos encontrarmos para que?
me fuzilou com o olhar.
- Você se esqueceu? Amanhã descobriremos o sexo do bebê!
Merda. Eu estava fodido.
- Que droga... Eu vou ter uma reunião de negócios amanhã, na hora do almoço!- menti, sem poder explicar exatamente porque estava o fazendo. deveria poder saber que eu ia encontrar Sadie, não?
- , eu falei com você na quarta-feira da semana passada!- ralhou ela.
- Eu sei, me desculpe... É que não da para remarcar.
Ela parecia chateada. Levantou e se trancou no quarto. E meu coração ficou apertado com isso. Eu não queria deixá-la na mão, mas essa era provavelmente a última chance que eu tinha de me resolver com minha ex.
Na hora do almoço do dia seguinte, me senti extremamente tenso. E por incrível que pareça não pelo fato de estar esperando por Sadie, mas sim porque dentro de pouquissimo tempo eu saberia se tinha um filho ou filha. E eu nem sequer estava lá para ver. Tão absorto em pensamentos, nem notei a chegada da mulher de cabelos castanhos avermelhados que atormentara minha vida por um ano de falta.
- !- exclamou ela sorrindo.- É tão bom te ver.
- Oi, Sadie.- falei friamente.
Ela se sentou e me olhou tranquila. Seu rosto bonito não me parecia tão perfeito como antes. Algo estava errado ali.
- Eu senti tanto a sua falta. Soube que você se casou.
- É. Vou ter um filho.- falei sorrindo sem querer.
- , eu estou aqui para impedir isso. Não deixe essa palhaçada continuar.- falou Sadie segurando meu braço.
- O que?- perguntei chocado.
- Você. Tá na cara que ainda me ama! Por que está casado? Eu vim te convidar para vir comigo. Estou indo para a França escrever. Podemos ficar lá e ter nossa segunda lua-de-mel.
- Você disse semana passada em um programa de auditório que seu único amor foi o Edward.- retruquei.
- Foi só para vender livros! Eu te amo, . Você me ama também. Cometi um erro em te deixar. Volte para mim.
Meu coração acelerou. Sadie... Eu amava Sadie? Sim, eu gostava dela. Mas eu largaria minha empresa, meu apartamento, minha mãe, Sam, meu filho que estava para nascer... Eu largaria ? Tudo isso por ela?
Não dava. Era absurdo constatar que não poderia acontecer. Eu tinha passado um ano da minha vida me lamentando por aquela mulher, e agora que ela me queria novamente eu não queria mais ficar com ela.
E o maior motivo disso era minha garota sol. Seu cheiro, sua pele e seu sorriso brilhante que faziam qualquer pessoa parar de sofrer. Sua voz melodiosa e o meu filho que ela carregava. Todas essas coisas faziam com que eu amasse ela.
Eu amava e não Sadie. E eu só tinha chegado a essa conclusão agora.
Me levantei de supetão e a olhei.
- Desculpa, Sadie. Não vai rolar.
- Aonde você vai, ?- perguntou ela revoltada.- Eu cheguei não faz nem cinco minutos!
- Ver a ultrassonografia do meu filho.- respondi correndo em direção a porta do restaurante.

Cheguei a clínica o mais rápido que pude. E quando entrei me virei para a recepcionista e disse:
- Oi, eu sou o Sr. . Estou procurando a minha esposa, e...
- Ela está na sala cinco, senhor. Pode entrar.
Me dirigi até a sala e encontrei uma cena adorável.
estava deitada numa maca com os olhos voltados a uma pequena TV parecendo a beira de lágrimas. Sua barriga ainda tímida era tocada por um aparelho que mostrava uma imagem não muito bem definida.
- Você é o pai?- perguntou o médico.
- Sim, sou eu.- respondi. voltou rapidamente os olhos para mim e abriu um sorriso. Aquele sorriso luminoso.
- Você veio!- disse ela.
Cheguei perto até que pudesse segurar sua mão.
- É, eu vim. Já sabem o que é?
- Um menino.- disse o médico.- Meus parabéns.
Não me recordo de ter tido um momento mais feliz do que aquele. Tão feliz quanto, talvez, mas mais, de maneira nenhuma. Segurar a mão da mulher que eu amava e ver meu filho por uma tela de TV parecia simplesmente o tipo de felicidade que eu queria ter a vida inteira. E que só poderia me dar.
Quando o médico acabou, ele disse que nos daria um tempo a sós enquanto colocava a ultra em dvd. Ao ver que estavamos sozinhos, eu disse:
- Preciso te contar uma coisa.
- Espero que seja a verdade sobre o seu falso almoço de negócios.- retrucou ela irritada.
- É, sim. Eu menti mesmo. Encontrei com Sadie.
Ela pareceu chocada.
- Como assim, eu...
- É, e ela me pediu para voltar.
pareceu decepcionada. Mas fez força para sorrir mesmo assim.
- , isso é ótimo! Você vai ser muito feliz e...
- Eu não aceitei.
Agora ela estava absolutamente pasma. Seus olhos se semisserraram em sinal de confusão.
- Por que não? - Porque eu te amo. Eu te amo, . Você é o sol que surgiu depois de muito tempo em um inverno rigoroso.- falei afastando os cabelos dela do rosto.- Você é a pessoa mais desorganizadora de vidas que eu ja conheci. Mas é simplesmente impossível não se apaixonar por alguém alegre e brilhante como você. Eu não pude voltar para Sadie, porque seria incapaz de viver sem ver seu sorriso todos os dias.
Ela parecia a beira de lágrimas.
- É sério isso?
- Sim.- respondi.- Acho que isso não é mais um casamento de fachada.
- Não!- exclamou ela.- Para mim nunca foi.
Então eu a beijei e me senti amado e aquecido como nunca antes. E simplesmente fiquei encantado com o fato de que agora ela era minha. Para sempre a garota sol ia iluminar minha vida e nunca mais me deixar passar frio.
É. Parecia bom para mim.

FIM



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