Eu nunca fui a favor de me casar. Arrumei um escândalo quando me forçaram a fazê-lo. Estava bem com a vida de supermodelo que fazia o que queria e quando queria, apesar do rótulo de ser uma vagabunda, que vinha com essa vida. O problema é que ninguém mais estava bem com isso. E, quando decidiram que eu já tinha vivido demais, eles jogaram-me num contrato que me deixava atada.
Clichê, eu sei, mas juro que nunca me senti tão amarrada a alguém como me senti amarrada a . Tudo começou numa noite quente e abafada num casamento qualquer. Eu estava linda em um vestido Channel maravilhoso, e todos sabiam disso. Ele também estava impecável, devo dizer. Era apenas a primeira semana que assumia o cargo de CEO na empresa que seu pai havia deixado para ele, e estava indo muito bem.
Aparentemente, pelo menos, ele estava perfeito no smoking Armani mais bem ajustado e bonito que eu já vira. Quando o vi pela primeira vez, senti aquela atração que arrebata até mesmo os batimentos cardíacos. Ficamos juntos naquela mesma noite, logo após ele confessar que aquele casamento, pelo qual ele havia sido responsável, era apenas uma tentativa de voltar a ser o que era antes.
Eu o fiz enxergar o lado bom de viver no topo do bolo, aquela noite. E nunca me senti tão bem, como ao acordar ao lado dele no dia seguinte. Mas mesmo assim fui embora, deixando apenas o número de meu telefone. E ele nem ao menos me ligou.
Meses depois, minha mãe me contou que achara o cara perfeito para mim. Gabe era tão igual a mim que me deixara com cefaleia. Nunca havia conhecido alguém tão igual a mim como ele. E isso era absurdamente irritante. Tanto que procurei por no dia em que conheci Gabe.
E talvez tenha sido aí que a minha dependência por tenha começado. O via quase todas as semanas, e os dias em que ficava sem vê-lo eram dias inúteis. Sempre que lia enquanto me maquiavam para alguma sessão de fotos, meus pensamentos voltavam para ele. E só bastaram alguns meses para que eu confessasse a ele tudo que eu escondia no âmago de meu ser.
Falei sobre minha mãe e a pressão que sentia desde pequena para ser perfeita. Falei da faculdade de música que queria prestar, e que minha mãe me fez cursar fotografia, apenas para ter contato com modelos, e me tornar uma. Falei sobre a literatura e meu lado nerd, que minha mãe nunca permitia que viesse a tona. E, por fim, falei que esse lado ainda corre em minhas veias; ainda faz parte de mim. E ele apenas me entendeu.
~*~
Estávamos deitados juntos. O braço de me envolvia e eu respirava em seu pescoço, enquanto ele observava as estrelas, como fazia todas as noites, e eu o observava. Não estávamos conversando, apenas nos aproveitando, passando tempo juntos.
- O que você acha que estará fazendo daqui a cinco anos? - perguntou-me , em algum momento da noite.
Pensei por uns instantes, e então sorri para ele, apoiando meu queixo em seu peito.
- Bem, eu me vejo formada em música. Sabe, você me ajuda a pensar mais nisso. Que eu não posso fazer as coisas apenas porque minha mãe quer que eu faça.
- E quanto a mim? - sussurrou. - Eu me encaixaria em seu futuro?
- Claro. Estaríamos aqui, nós dois, na minha formatura - respondi. - E talvez daqui a dez anos, estaríamos nos casando.
- Dez anos, ? - perguntou, se sentando. - Não acha muito tempo?
- Para quê apressar as coisas? - retruquei com uma careta.
- Daqui a dez anos, você terá 31 anos, eu, 33 - disse ele, parecendo sério, como sempre parece antes de uma discussão. - Até pensarmos em filhos, você teria uns 35. Para quê esperar?
- Filhos? - exclamei, estremecendo. - Não acha que está pensando longe demais? Não sabemos o dia de amanhã, . Podemos nem ao menos estar juntos em cinco anos!
- Como? - exclamou . Então ele suspirou e segurou meu rosto em suas mãos. - , eu sei que quero passar todos os meus dias ao seu lado. Poderíamos nos casar agora mesmo. Partir para Vegas e...
- Do que você está falando, ? - gritei, saindo de seus braços e me levantando, o pânico tomando conta de mim e do meu corpo.
Como eu poderia sustentar um casamento quando nem minha mãe eu conseguia enfrentar?
- Não posso fazer isso...- murmurei, negando com a cabeça - fugir para Vegas...
- Você sequer pensou em se casar comigo, ?
- Não! É claro que não! Só tenho 21 anos, ! - gritei, passando as mãos pela cabeça antes de entrar na casa e recolher minha bolsa. - Acho melhor eu ir embora.
não disse nada, apenas continuou parado, de costas para mim. E, quando eu coloquei minha mão sobre seu ombro, ele apenas se esquivou e murmurou:
- Vá, mas só volte quando realmente me quiser. Eu não sou um brinquedinho, .
E, com lágrimas nos olhos, eu encarei os seus, verdes como a grama mais bem cuidada do mundo. E a determinação que encontrei me desarmou. Então eu sai dali. Corri até meu carro e dirigi para casa. E não voltei mais, apesar de olhar para trás todos os minutos de todas as horas, de todos os dias; e das lágrimas que inundam meus olhos, toda vez que não o vejo atrás de mim.
~*~
Olhei-me pela centésima vez no espelho. O vestido branco impecável em meu corpo, apertado e alargado nos lugares certos, que eu nunca escolheria para usar. Meu cabelo loiro preso em um lindo e complicado penteado que combinava com meu rosto, mas não com minha essência. A maquiagem bem feita que escondia todas as minhas sardas.
Eu era como um produto enganoso: a embalagem dizia uma coisa, mas continha outra. Na minha frente estava uma garota de, no máximo, 22 anos, tão linda, frágil e perfeita que se parecia com uma boneca. Nada ali era eu. E era exatamente isso que minha mãe pretendia com esse casamento, era isso que ela queria que eu fosse; que todos sempre esperaram que eu me tornasse.
Eu não sabia quando havia mudado tanto, a ponto de não reconhecer minha própria imagem. "Você sequer pensou em se casar comigo, ?", as palavras de ecoaram em meus ouvidos. Fechando os olhos, eu podia imaginar ele bem em frente a mim, suas mãos queimando minhas bochechas quando eu sussurrei um "sim".
Eu via claramente seus olhos verdes penetrados nos meus através de minhas pálpebras. Era como se eu fosse vê-los ao abrir meus olhos. "Volte, ", ele sussurrou, a voz suave e macia. Seus dedos acariciaram minhas bochechas e aqueceram meu coração inteiro com apenas esse toque. "Volte para mim". Seus olhos me encararam com tanta intensidade, que nada poderia ser mais íntimo.
- Como está minha bonequinha? - a voz de Harmony penetrou meus ouvidos e me tirou de .
Abri os olhos e vi a princesa de porcelana no espelho. Meu coração afundou, como todo meu corpo. Ele parecera tão real, parecera estar tão perto. Forcei-me a sorrir, ignorando a dor que sentia por dentro, e virei para minha irmã, que sorria ao lado da porta.
- Não sei como ela está - disse, desabando na cama de casal do quarto em que me aprontei.
- Isso é apenas nervosismo, Lyres - Harmony respondeu, sentando-se ao meu lado - Também me senti assim quando me casei com Paul.
Olhei para Harmony e vi ali tudo que eu deveria ter sido: ela sim era a filha perfeita que minha mãe pedira quando engravidara. Sempre fora inteligente, nunca cometera sequer um deslize, e, o mais importante, sempre fora exatamente igual minha mãe. Mas, apesar disso, era a pessoa que tinha o maior coração do mundo. Éramos tão diferentes, mas tão iguais ao mesmo tempo.
- Você deve estar se torturando - ela disse, sorrindo para mim. - Gabe é o cara perfeito para você. Vocês são tão parecidos! Completam-se tanto que poderiam ser irmãos.
E mais uma vez, senti meu coração afundar no peito. Nunca quisera algo perfeito, e era exatamente isso que tinha com Gabe. Era estranho e bom, mas também era irritante ter alguém que tinha as mesmas opiniões que você.
- Acho que você nunca percebeu o quanto Gabe te ama - Harmony continuou, sem perceber minha falta de interesse.
Então minha mãe entrou no quarto, parecendo o mais nova possível. Era uma quarentona com corpo e rosto de uma mulher de vinte e cinco. Tão esticada quanto possível, ela sorriu para mim e Harmony e logo seguiu para nós, aplaudindo-me.
- Você está fabulosa, ! - minha mãe exclamou, levantando-me da cama. - Pronta para se casar?
Hesitei para responder, mas elas nem pareceram notar, já que Harmony se levantou com um sorriso enorme no rosto e pegou minha outra mão, enlaçando nossos braços.
- Sim, aposto que ela está pronta - disse.
E, sem chance de fuga, fui arrastada para fora do quarto. Quando passei pela casa, no caminho do grandioso jardim, onde o casamento ocorreria, captei meu rosto em um espelho. E a expressão falsa de alegria que vi fez meu estômago revirar como se eu estivesse pendurada em um cabo, de cabeça para baixo.
Minha respiração se acelerou e eu senti o sangue ir para minha cabeça. Comecei a enlouquecer quando percebi que ninguém sequer notou.
~*~
Os dias pareciam passar lentamente sem . E mesmo assim eu era orgulhoso o bastante para não ligar para ela. Fazia de tudo para me manter ocupado, para não pensar nela. E, mesmo assim, ela continuava vindo-me a mente todo dia. Assim que acordava. Quando tomava café da manhã e evitava o leite que ambos éramos intolerantes. Enquanto pintava o novo quarto com a cor favorita dela. Quando ia fechar a janela e via o mar.
Até as estrelas pareciam diferentes agora. Observá-las não era o mesmo sem ter ao meu lado, nos meus braços. Minha vida inteira parecia sem sentido quando eu estava sem ela.
Até que eu decidi que aquilo era demais. Estava montando a cama do novo quarto quando ela veio até mim novamente. E a saudade que tomou conta de meu coração era tão grande que eu tive que fazer algo a respeito. Tinha uma obsessão por , e não podia mais fugir disso. Ela havia contorcido meu coração e moldado-o novamente. Agora, sem ela, era como se, no lugar dele, houvesse pedaços de um objeto quebrado.
Então parei o que estava fazendo e fui até a entrada de casa. Mas quando parei na porta, não consegui abri-la. Meus dedos fecharam-se ao redor da maçaneta, mas não fui capaz de girá-la. Queria gritar de frustração, mas nada acontecia. Estava preso dentro de uma prisão que eu mesmo havia construído.
decidira me deixar. Ela quem deveria voltar.
~*~
Foi ai que tudo começou a ruir. entrou na minha vida aos poucos, e foi tão fácil para ele me conquistar, que eu mal acreditava nisso. Ele surgiu a partir de um esbarrão no casamento de sua mãe com seu padrasto, que ele mesmo havia organizado com o dinheiro do falecido pai que ele odiava. Odiava ao ponto de destruir a biblioteca da casa que herdara, apenas porque era o lugar favorito do pai.
Mas tinha um coração e um TOC tão grande que reconstruiu a biblioteca horas depois, ele mesmo. Transformou o cômodo em seu quarto, pois não suportava a ideia de dormir no mesmo lugar que o pai dormira. E foi nesse quarto que dormimos juntos pela primeira vez, e que ele me fez sentir tão especial com suas palavras tão sinceras. E foi o mesmo lugar em que ele confessou que me amava e fez lágrimas escorrerem pelo meu rosto ao meu dar um pingente de pássaro com uma asa quebrada, o mesmo que eu usava no dia que nos conhecemos e que quebrou quando ele o tirou apressadamente de meu pescoço, em sua pressa de me deixar nua.
E os meses que passamos juntos foram os melhores. Era como se eu morasse em sua casa, vivíamos juntos como se fôssemos noivos. Então ele tocou no assunto tão temido de casamento, e eu fugi. E eu me deixei levar pelos sonhos de minha mãe, me deixei seguir seu ritmo, sem me importar com o que eu queria, mais uma vez.
Foi então que a história do casamento surgiu. E eu estava tão atolada em minha mãe, Gabe e minha irmã, Harmony, que não consegui enxergar o que fazia. Todos diziam o quão perfeitos eu e Gabe éramos, e o quão bonitos somos juntos. E realmente somos. Mas eu não quero mais isso. Não quero algo perfeito, não quero ser uma cópia de minha mãe. Eu quero e seu temperamento forte, seus defeitos e seus beijos. Quero que ele me contradiga e que reclame da bagunça que eu deixo seu quarto.
Quero voltar a viver. Quero voltar para ele.
Mas é tarde demais para isso. Porque agora eu estou olhando nos olhos azuis de Gabe, e a cefaleia explode em mim apenas pelo fato de ele não ter os olhos verdes de . E a alegria e certeza que eu posso ver contida nesse azul celeste e límpido me faz sentir mal. Porque eu não sinto nem um terço da certeza ou da alegria que ele está sentindo. Então eu não posso encará-lo por nem mais um segundo.
O padre diz alguma coisa que eu não ouço, pois minha cabeça dói tanto que me faz perder os sentidos. Meu coração bate forte e eu estou a mil. Eu não posso me casar com Gabe. Não o amo. Sinto que vou explodir se esperar mais. Então eu grito.
- Eu não posso!
E a cefaleia para. E eu posso ver de novo, e a surpresa estampada no azul infinito dos olhos de Gabe me faz ficar mal por ele. Todos me encaram e queixos caem.
- Eu não posso fazer isso, Gabe - murmuro apenas para ele, balançando a cabeça e recuando - Eu não te amo. Não posso mais fingir que sou essa pessoa... Sinto muito.
Entrego meu buquê para ele e corro para fora do jardim. Corro para a saída da mansão, ignorando as chamadas por mim. Passo pelo outdoor da entrada, que anuncia meu casamento com Gabe. Vejo aquela foto nossa, com meu sorriso falso, e apenas corro mais, para ficar o mais longe possível daquela imagem de mim mesma.
Corro para a rua, para longe. Sem direção, sem pensar. Apenas corro. É novembro e o clima está esfriando ainda mais, e meu vestido não cobre meus braços. Mas eu continuo correndo, não ligando para o frio que sinto, nem para a dor nos meus pés. Corro até que meus pulmões não aguentam e meus pés se embaralhem. Então eu me deixo parar.
E o grito que escapa de mim libera todo o sentimento que venho reprimindo desde que fugi de . Quando paro, me sinto tão leve que é como se nada desse ano tivesse acontecido.
Encaro o lugar a minha volta e percebo que me encontro na periferia da cidade. Sorrio ao ver o que parece ser um esqueleto de casa no final da rua, a quase um quilometro de distancia.
Dessa vez não corro. Tiro meus sapatos e solto meu cabelo, para me sentir eu mesma novamente. Então eu caminho até minha alegria.
Sua casa parece vazia, mas o jardim está bem cuidado e o celeiro está quase pronto. O cheiro de maresia que chega ao meu nariz é inebriante e me acalma.
Ando até a porta, e meu corpo inteiro se acende quando a governanta a abre.
- Srta. ? – exclama ela, parecendo surpresa, mas sorrindo para mim. – Fico feliz que tenha voltado.
Sorrio para ela e entro na casa.
- Eu também estou feliz – digo.
Então corro para o andar de cima. A volumosa saia do vestido me atrapalha e eu fico tentada a tirá-la, mas não posso parar. A porta de seu quarto está aberta, e agora a cama é de casal. Mas não está aqui.
Vou para a varanda e o cheiro forte de água salgada enche meus pulmões. Olho para o mar e sinto uma imensa vontade de mergulhar. Mas antes de pensar nisso, vejo . Há uma manta no chão. E um telescópio montado na areia. E deitado, parecendo muito mais magro do que da última vez que o vi, mas os cabelos escuros curtos são inconfundíveis.
O sorriso estampa meu rosto sem que eu perceba, e eu saio correndo pela escada da cozinha. Ela é em espiral, e demoro o que parece ser uma eternidade para descer. Mas quando meus pés pisam na areia da praia, tudo parece estar no tempo certo. Corro até , que está a apenas metros de distancia.
Há tempos perdi meus sapatos, meu cabelo deve estar parecendo um ninho, e meu vestido deve ter a barra marrom, mas quando me vê e levanta-se na hora, nada disso importa. E eu me sinto como a mais linda mulher no mundo.
Ele me segura quando eu atiro-me em seus braços e ele me aperta fortemente. E seus olhos são tão verdes e puros que meu mundo parece de volta aos trilhos.
- Eu sinto muito, – digo, sem fôlego, abraçando-o com toda a minha força. Então começo a despejar as palavras, com medo de nunca mais poder dizê-las. – Desde que era uma garotinha, sou o que minha mãe quer que eu seja. Antes de te conhecer, eu estava vivendo numa fase rebelde, como uma adolescente atrasada. Eu estava sendo tudo que minha mãe não queria que eu fosse. E pensava que estava bem com isso. Mas quando te conheci, , soube que isso não passava de uma mentira. Eu odiava aquele rótulo que tinha com todas as forças, e só percebi isso quando você me mostrou. Então passei a ser eu mesma. E essa foi a melhor época da minha vida.
“Mas quando eu fugi de você, eu passei a ser aquela garotinha assustada, que sofreria bullying se fosse ela mesma. E passei a ser o que minha mãe queria mais uma vez. Mas eu cansei, . Cansei de ser algo que não sou. Quero ser eu mesma. Com você.
solta-me e segura meu rosto em suas mãos. Ele está tão perto que eu mal posso acreditar. E seus olhos verdes são tudo que eu quero no momento.
- Eu te amo, – ele diz, simples e verdadeiramente. – Nada nunca vai fazer isso mudar. Não me importa quem você esteja sendo, se estiver comigo, estará tudo certo.
Lágrimas se formam em meus olhos e meu coração bate rápido. Mas essa é a melhor sensação que eu já tive. Seguro os ombros de e o puxo para mim, sentindo seus lábios nos meus. E a sensação de beijá-lo parece tão diferente, mas tão igual ao mesmo tempo, que eu me sinto extasiada. não é perfeito, e não tenta ser, e é por isso que eu o amo.
Epílogo
Corin é uma garotinha linda. Com apenas cinco anos, encanta todos com seus cabelos loiros e olhos verdes. Também é inteligente, e vive roubando os biscoitos do pote antes do jantar. E adora balançar no quintal de casa.
- Mais alto, mamãe, mais alto! – diz ela, sorrindo ao sentir o vento no rosto.
Sua mãe, , sorri também, porque o sorriso de sua filha é o mais lindo do mundo, e empurra-a só um pouco mais alto, com medo de ela cair. Não demora muito, e a euforia de ser balançada acaba, então Corin desce do balanço com a ajuda da mãe. E as duas vão até a praia, Corin andando, pois a barriga inchada da mãe não permite que ela seja carregada no colo.
- Quando meu irmãozinho vai nascer, mamãe? – pergunta Corin, saltando pela areia com os bracinhos gorduchos abertos.
- Daqui a dois meses, pequena – responde , ajeitando o vestido estampado de linhas verticais, com uma única linha horizontal que a filha usa e fazendo-a se sentar na areia. – Por que a curiosidade?
- Quero escolher o nome dele!
- Ah, e qual nome seria? – pergunta , sorrindo.
- Crispin! – exclama a pequena, pulando em pé, e saltitando novamente.
- E porque Crispin? – pergunta uma voz masculina, vinda detrás das garotas.
As duas olham para trás e enxergam o pai de Corin sorrindo para elas.
- Papai! – grita Corin, correndo até ele e se atirando em seus pés.
A mãe vai atrás e sorri para enquanto ele pega Corin no colo.
- Então você acha que seu irmão deve ser chamado de Crispin? – pergunta para a filha, sorrindo. – E por que seria Crispin?
- Porque Crispin é um nome bonito! – responde Corin. – Não é, mamãe?
- Claro que é, querida – disse , alcançando o marido e a filha. – Vamos entrar, está na hora de lanchar.
abraçou-a de lado, e assim, eles andaram para casa. Corin logo se soltou do colo do pai e correu para a cozinha, deixando os pais para trás.
- Como foi seu dia? – perguntou .
apoiou a cabeça no ombro do marido, sorrindo para ele. Eles pararam e abraçou-a, enquanto ela colocou a cabeça em seu pescoço, respirando o cheiro de seu perfume.
- Corin é tão agitada! – choramingou , embora estivesse sorrindo.
riu e se afastou dela o suficiente para olhá-la nos olhos.
- Nem imagino quem ela puxou – disse ele. – Vi que ela está usando o vestido listrado.
O sorriso de se abriu ainda mais. Aquele vestido fora o primeiro que Corin havia ganhado, quando ainda era um feto na barriga da mãe. e haviam brigado e ela havia descoberto a gravidez dois dias depois da briga. Quando contou ao então namorado, ele ficou fora de casa por quase uma semana. sempre quisera filhos, mas quando ficou sabendo que os teria, ficou aterrorizado. E quando voltou para casa, com a cabeça no lugar, trouxe consigo o vestido da linha horizontal que descobriu ser grande demais para Corin usar quando nascesse.
Mas ela estava usando hoje, e o fato de se lembrar disso fez se sentir a mulher mais especial do mundo.
- Sim, ela adorou o vestido assim que pregou os olhos nele hoje de manhã – disse ela, encostando novamente a cabeça no marido. – Não ficaria surpresa se ela quiser coloca-lo amanhã novamente.
abraçou a esposa, aproveitando a sensação de tê-la em seus braços. Olhou para a casa deles, e enxergou parte da coleção que tinham na sala através de uma janela. Aquela coleção era composta de vários anúncios do casamento dos dois. A maioria deles era para acalmar a mãe de , que era contra o casamento, mas um anúncio era especial. o fizera para pedir em casamento, exatamente cinco anos depois da primeira grande briga que tiveram.
Ele lembrava-se muito bem daquele dia. tinha chegado em casa cansada e mal humorada, pois seu fotógrafo tinha atrasado duas horas, e seu professor da faculdade não havia gostado de sua melodia, e lá estavam milhares de revistas pelo chão da sala. Ela ficara extremamente nervosa e gritara com por uma hora até ele conseguir acalmá-la o bastante para convencê-la a ler uma das revistas.
ficou estática quando viu que a revista inteira era feita de um mesmo anúncio, que a pedia em casamento. E, ao contrário do que pensara, ela não ficou brava. Começou a chorar e então pulou em seus braços, beijando seu rosto inteiro e dizendo milhares de vezes que aceitava o pedido.
Nesse momento, não conseguia parar de pensar em como aquele fora um dos melhores dias de sua vida. Tão emocionante como vê-la caminhar até ele em um vestido branco levemente rosado e ver sua própria filha nascendo. Mas, com certeza, não mais emocionante do que ter as duas ao seu lado todos os dias, sorrindo para ele e abraçando-o.
- Eu te amo, – disse , de repente.
Abaixando os olhos para ver os da esposa, azuis como os de uma boneca, sorriu.
- Eu também te amo, .