por Mayara Marmo


Challenge: #012
Nota: 9,4
Colocação:




Prólogo

Sonhos possuem preços, e na maioria das vezes eles requerem muito esforço e perseverança para serem conquistados. Mas para null bastou apenas uma oferta. Oferta da qual ela não se orgulhou nem um pouco e que se sentiu pressionada a aceitar. Ela queria poder obter seu próprio sucesso, queria ver seus passos progredirem para o topo, mas apenas com a sua grande força de vontade e não com um contrato que impulsionaria seu progresso de realização à estaca dez. Sabia que por mais tentador que fosse aceitar o contrato que exigia dela perder parte de sua vida ao lado de um homem que sequer sentia o mínimo afeto, não concordaria e cuspiria ferozmente palavras baixas para quem quer que fosse oferecer a ela algo tão falso como aquilo. Porém a garota não tinha escolhas, era algo para o bem maior da própria família e isso a perturbou até que ela se rendesse e assinasse aquela pequena linha horizontal localizada ao fim da folha. A cabeça de null latejou, sabia que a cefaleia não a abandonaria em um momento tenso como o que presenciava naquele instante, as mãos suaram em sinal de nervosismo, mas era tarde demais, ela já havia afundado a caneta extremamente azul no papel formando a sua assinatura.

Capitulo 1

null observou-se pela última vez no espelho à sua frente. O vestido longo e franzido caia impecavelmente em seu corpo delicado, o bojo que sustentava suas mamas possuíam alguns pequenos brilhos que realçavam o branco inegavelmente perfeito daquele vestido caríssimo e de grife, a maquiagem bem feita praticamente definida em esfumado marrom e um batom nude bem escolhido nos lábios, bochechas levemente coradas em um blush queimado, cílios poderosos e um penteado que dava espaço para alguns de seus fios ficarem soltos e caídos por sobre seu rosto coberto de pó, em sua opinião, aquilo era apenas mais um modo de demonstrar aos convidados desinformados de que aquele era de fato, o melhor casamento da cidade. E o pior de tudo era saber que aquele realmente seria o melhor casamento da cidade e que a população fofoqueira da mesma faria questão de espalhar os mínimos e até mesmo, acrescentar detalhes. Ela se sentia mal, o ar parecia não querer adentrar seus pulmões e isso a sufocava, a barriga dava voltas completas, seguidas de um frio na espinha, não estava feliz por estar ali, não queria estar ali. Pensou e repensou infinitas vezes sobre sair correndo daquele salão cabeleireiro e voltar para casa, mas a cada instante que cogitava a ideia se lembrava do cargo que seu pai obteve assim que ela aceitou casar-se com o novo herdeiro da empresa. Culpava agora, o falecido pai de null – seu futuro marido – pois se ele não houvesse partido, com certeza numa hora dessa ela ainda estaria em um photoshoot qualquer, e não segurando um buquê de rosas extremamente vermelhas a ponto de se casar, sem amor algum.
A decisão que tomara não fora exclusivamente dela, assim como foi destinada a seguir a carreira de modelo fotográfica através de seu pai – pois seu verdadeiro sonho era cursar música –, assim ele o fez novamente arranjando um contrato não só a ele, como a garota também. O contrato era basicamente resumido em “Torne-se noiva do herdeiro da mais famosa gravadora de música e seu pai será o vice-presidente da mesma.” . null queria poder ter tido alguma opção com base a isso, mas ela não era dona de sua vida há tempos, seu pai não era o que ela desejava ter e por mais que o amasse, o amor que sentia não era basicamente suficiente a ponto disso. Lembrou-se por alguns minutos da extensa briga que tivera com seu pai há alguns meses antes de ter aceitado aquela palhaçada, o homem humilhou-a e disse de diversas maneiras o porquê de se envergonhar de tê-la como filha, era em momentos como esse que ela mais sentia falta de sua mãe – que hoje já não estava mais entre os vivos –, para lhe defender das paranoias obsessivas de seu pai.
null segurou com força o pingente de seu colar de pérolas, null havia dado a ela para usar no dia do casamento, havia valor sentimental naquilo e a garota nem sequer chiou, muito pelo contrário, pareceu entender e usá-lo como recomendado. Sentou-se no sofá de camurça preto da sala da noiva – particular – enquanto aguardava seu carro chegar para buscá-la e levá-la até a igreja onde aconteceria a união. As paredes roxinhas do cômodo parecia ser a única cor naquele espaço, seu vestido neutro destacava-se no assento escuro em que se aninhou ereta. Suas mãos já suavam enquanto segurava com ambas as mãos o buquê de rosas vermelhas, por mais que não havia motivo pelo qual se sentir ansiosa para o que aconteceria nas horas seguintes, ela se sentia, e por um momento desejou do fundo de seu coração que aquilo pudesse ser real, era um momento tão gostoso para estar vivenciando e ela estava simplesmente jogando-o fora por causa da ordem de um papel e de um pai egocêntrico. Por um momento parou para pensar em como se sentiria se o que estava acontecendo fosse de verdade, se ela realmente sentisse um sentimento forte por null e estivesse mesmo disposta a viver ao seu lado até que à morte os separassem, mas não conseguiu visualizar mais do que uma garota radiante em seu lugar, aquela que o espelho refletia não parecia ser a null null que ela estava acostumada a ver, era apenas uma nova pessoa entrando em uma nova vida, estava linda como noiva, não podia negar, mas não era a situação adequada para se sentir feliz com o acontecimento, era tudo tão vago.
Pensou nos convidados que não teria conhecimento da forja que tudo se resumia, pensou em null dividindo a mesma casa que ela e desejou forças extras para conseguir manter-se firme até o fim daquele dia – que seria estendido por uma grande festa – e não desistir de comparecer ao casamento. null era um belo homem com seus vinte e cinco anos, um charme inegável, dono de penetrantes olhos null em conjunto com uma boca delineada, completo com um corpo esculpido pelos deuses – um verdadeiro sonho de consumo – mas null sentia lá no fundo que aquilo não bastaria, que exibi-lo para o mundo ao seu lado não era mais importante do que um bom carinho ao fim do dia, um afeto verdadeiro. Ela não se importava de perder sua vida se casando tão cedo, desde que houvesse amor, desde que houvesse um toque especial no que a levava a tomar aquela decisão, mas novamente, era tudo vago, inexistente, e neutro.

Desceu a extensa escada espiral chegando então ao térreo do salão luxuoso no qual passara o dia todo se produzindo, sentia um leve cansaço por não ter feito nada durante horas, mas assim que se esticou se equilibrando em seus saltos brancos a preguiça pareceu se esvair. O local estava um pouco lotado, as várias mulheres que fofocavam enquanto esperavam para serem atendidas se silenciaram para focar na beleza que null emanava com seu perfeito vestido de noiva. As pessoas sorriram em aprovação e comentavam entre si o quanto a garota estava bonita para um passo importante em sua vida. null, no entanto não pareceu se importar com os vários comentários que eram dirigidos a ela, distribuindo apenas sorrisinhos limitados às mesmas e segurando em seguida o braço de seu pai que sorria como quem encontra o tesouro mais valioso da face da terra – o que em partes deveria ser verdade – e se dirigir até a saída do local, sendo coberta por alguns flashes do fotógrafo contratado para gravar cada pequeno momento do acontecimento. Não se incomodava com o brilho excessivo que emanava da câmera em seu rosto, para ser sincera já havia se acostumado.
Analisou o porsche extravagante à sua frente, o preto reluzia de tão brilhoso que se encontrava. Era quase sete da noite, o sol já havia sumido no céu escuro de Londres e apesar de novembro não ser oficialmente inverno, fazia muito frio. A pele macia e aquecida da garota se arrepiou com o toque rude da brisa noturna e acelerou-se em se esconder no banco traseiro do carro. Olhou através do vidro escuro do automóvel enquanto o mesmo entrava em movimento, a igreja não era muito longe e isso fez com que sua barriga sentisse um frio de ansiedade, já que não tinha solução, optou por tornar daquele o melhor dia possível, iria aproveitar como sonhou em fazer, mas estava tudo errado. As árvores que dominavam as calçadas se preparavam para a troca de estação e ela já podia prevê-las cobertas de neve dali a alguns dias. null adorava o clima frio da cidade, amava passar suas tardes deitada no sofá lendo um livro qualquer acompanhado de um chocolate quente, sinceramente, adorava ler em qualquer clima, fazia mais isso em seus dias de folga. E novamente pegou-se pesando no seu futuro ao lado de null, ela conhecia-o muito bem, todos o conheciam, mas não se agradava com o ego que o mesmo possuía, nascido em berço de ouro e mimado por natureza, era o tipo de homem que não suportaria dividir a mesma vida. Pensou também, em seu sonho de se tornar mãe, pode vê-lo se esvaindo ralo abaixo, null nunca concordaria em dar a ela a dádiva de ser mãe, ainda mais sob as circunstâncias em que se encontravam: um pai que decide a vida da filha, um casamento arranjado, um noivo bem sucedido e avarento. De fato, seu único sonho palpável não se encaixava ali. Despertou seu olhar parado no vidro do carro virando-o para o lado oposto. A igreja já podia ser avistada, era tão grande e bonita quanto por dentro, pela primeira vez ao dia, sorriu. Sorriu de nervosismo, sorriu por sentir uma chama dentro de seu coração gritando “Tente! Ainda pode dar certo!”, sorriu por estar se casando. Não era como ela havia sonhado durante sua adolescência, mas era um casório.

Apertou suas mãos no talo do buquê e prendeu a respiração por alguns segundos. Seu pai sorria galanteador enquanto estendia o braço para a mais nova segurar, mesmo insegura a garota enlaçou seu braço junto ao de seu pai e suspirou. As mãos suavam e o equilíbrio parecia querer vacilar, não poderia fraquejar ali, era tarde demais. Encarou obsessivamente a maçaneta dourada a sua frente e sem demoras ela se virou, revelando uma igreja parcialmente cheia e um lindo príncipe encantado com as mãos em frente ao corpo em pé frente ao altar. O tapete vermelho que se estendia de uma ponta a outra era uma das cores mais vivas do local. A marcha nupcial ressoava por toda a igreja e agora ela fora obrigada a acompanhar seu pai em passos lentos, mas não importava o quanto ela desejasse enrolar, por mínimos que fossem, parecia que ela estava correndo, estava tudo indo rápido demais e null só queria poder recuar e viver uma vida normal. Mais ao canto pode perceber que era dali que direcionavam os flashes em seu rosto, gostava disso, ficaria feliz em ver aquelas fotos depois. null sorriu reconfortante para a mulher glamourosa de branco a sua frente, quem os vissem em um momento daquele sem dúvidas pensariam no quanto eles se amavam, o que era mentira. null era lindo, o que resultou em charme melhor ainda em seu terno preto e a barba feita sorrindo socialmente para sua futura esposa. null sentiu um aconchego no coração e assim que null tomou-a dos braços de seu pai, ela pode perceber que não estava sozinha nessa, era um momento especial e se ela realmente quisesse faria valer a pena, poderia aprender a amá-lo.
O coração da garota batia aceleradamente enquanto a união acontecia, seus pensamentos pareciam estar longe, mas sua atenção estava totalmente voltada ao ritual que acontecia à sua frente. seria errado dizer que ela sentia-se feliz naquele momento? Não importa, porque foi isso o que aconteceu. Olhou para null de relance grande parte da cerimônia e isso era o motivo dela estar se sentindo bem daquele modo. null, que percebeu a troca de olhares de null ao seu lado sorria para a mesma de modo verdadeiro, ele podia sentir o que ela sentia, ou julgava saber, não era difícil de imaginar. Ambos se conheciam há anos, mas nenhum pareceu se interessar em manter algum tipo de amizade. O pai de null – um dos mais empenhados homens da empresa do falecido pai de null – foi quem os apresentou, mas nunca que eles pensariam que estariam se casando por um bem maior, um contrato. null que até os dias atuais seguia a carreira como modelo fotográfica, fora permitida a seguir música, já que era disso que a empresa se tratava, finalmente poderia começar a realizar um sonho palpável.
null sentia uma indiferença dentro de si, mas não negava a faísca que se acendia dentro de suas veias ao pensar em null como sua esposa dali a alguns minutos. Não a conhecia direito, mas gostava de observar null quando estava longe, disfarçadamente, mas observava. Sabia que ela raspava o resto de batom com os dentes e prendia a língua entre os mesmo quando estava tensa, era um admirador de fato. null nunca havia dirigido sequer um olhar para o homem, o que era a porcentagem de frustração que o abominava, nunca a teria do jeito que desejava. Agora tinha, porém não do jeito que queria, ele queria-a como algo puro, simples e verdadeiro.
- null e null,viestes aqui para celebrar o vosso matrimônio. É de vossa livre vontade e de todo o coração que pretendeis fazê-lo? – null pensou por mínimos segundos, não era por livre e espontânea vontade o que acontecia naquele momento, ou pelo menos não era, já que agora ela parecia querer aquilo de todo o coração.
- Sim. – disseram em uníssono, tão perfeito quanto se tivesse sido ensaiado aquele momento. null, por sua vez, parecia mais seguro no que dizia e demonstrava, era confiante. O padre proferiu mais algumas perguntas que eram apenas respondidas com no máximo duas palavras e monotonamente, até que havia chegado á parte em que null se emocionava até em filmes, juraria seu amor à null.
- Uma vez que é vosso propósito contrair o santo matrimônio, uni as mãos direitas e manifestai o vosso consentimento na presença de Deus e da sua igreja. – o padre ressoou e os noivos se despertaram de seus devidos devaneios, sabiam o que aconteceria agora. Uniram suas mãos direitas e choques térmicos corriam na pele do casal.
- Eu, null, recebo-te por minha esposa a ti, null, e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida. – os olhos de null inevitavelmente brilharam e um sorriso puro preencheu seus lábios delineados por um batom, ou ele de fato sentia aquilo ou era um ótimo ator.
- Eu, null, recebo-te por meu esposo a ti, null, e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida. – suspirou em seguida mantendo o contato visual com as íris extremamente castanhas que null possuía, elas brilhavam assim como a da mais nova, era impossível não sentir nada em uma ocasião como aquela. Ela era sentimental e agora aquilo estava acontecendo com ela. Se voltaram ao padre e observou-o levantar as alianças dedicando-as a Deus e após abençoando-as. null pegou a aliança dourada e extremamente perfeita de null e devagar depositou-a no dedo anelar da mão esquerda da garota, olhando no fundo dos olhos lacrimejantes da mesma.
- null, recebe esta aliança como sinal do meu amor por ti e da minha fidelidade. Em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém. – finalizou e beijou a mão da menor. null pegou em mãos a aliança de null e assim como ele manteve o contato visual.
- null , recebe esta aliança como sinal do meu amor por ti e da minha fidelidade. Em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém. – acariciou a mão de null e manteve-as unidas por segundos. Ajoelharam-se para receber a benção diante do padre, pareciam felizes naquele instante, o anel polido brilhava no dedo de ambos.
- Eu vos declaro casados, marido e mulher, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Não separe o homem aquilo que Deus uniu. Amém. – selaram o pacto com um beijo, a mão de null apertava delicadamente a cintura de null que sorriu durante o ato, os lábios pareciam ter vida própria e imploravam silenciosamente por mais. null separou e por fim beijou a testa da mesma que já se encontrava dopada pelo perfume estonteante que seu marido usava. Assinaram o papel e se prepararam para se retirarem da igreja. null agora enlaçou seu braço ao braço direito de null e seguiu até a saída da igreja acompanhados dos presentes e recebendo uma breve chuva de arroz. Riu divertida enquanto era puxada para o carro junto à null. A rua estava agitada e cheia de carros, o estacionamento estava impossível e a euforia era contagiante. O céu já mais escuro devido à hora era domado por estrelas brilhantes, o frio permanecia igual. null acomodou-se ao lado de null dentro do porsche trazendo o corpo friento dela para mais perto de si, onde se dirigiram em silêncio até a praia onde aconteceria a festa pós-casamento, era um lugar especial.

Desceram do carro e desde o estacionamento já podia ver as luzes iluminarem a areia límpida da praia, as mesas que cercavam o mar à frente estava parcialmente enfeitado por flores e a grande mesa de aperitivos completavam a visão do local. Tudo estava perfeitamente lindo, era sua festa de casamento e não podia ser melhor. Não tinha culpa de ser forçada a ter um casamento arranjado por um pai obcecado por seu emprego, mas agora ela deixou de se importar, null não parecia mais tão idiota quanto ela julgava. O fotografo permanecia na cola dos recém casados registrando o máximo possível dos melhores momentos daquele acontecimento. null cumprimentou os convidados e recebeu os parabéns, todos pareciam felizes naquela celebração. Distanciou-se dos demais e um pouco mais distante do local possuía uma grande árvore, o local parecia um mini parque para os pequenos brincarem na praia. Avistou um balanço improvisado naquele galho, afastou o vestido e sentou-se no mesmo para balançar-se e pensar enquanto observava o brilho das estrelas no céu escuro, sabia que a neve queria cair. Suspirou e assustou-se ao sentir alguém abraçar seu corpo por trás e beijar o topo da sua cabeça, o coração pareceu queimar e parar por segundos, virou-se e viu null sorrindo e afagando-a como um pedido de desculpas pelo susto. Encarou o mais velho por minutos a fio, o mesmo mantinha o rosto focado no céu observando as estrelas, assim como ela havia feito antes, porém era como um tipo de obsessão, chegava a ser paternal o carinho com que ele observava o brilho reluzente no céu. Abaixou o rosto e ouviu a voz de null ecoar em seu ouvido.
- Eu sei que isso é egoísta, sei que não é desse jeito que você sempre ilustrou seu casamento, mas a gente pode tentar fazer isso dar certo. – null sorriu minimamente enquanto apertava o braço de null que a envolvia, uma luz chocou-se nos olhos de ambos, o fotografo misteriosamente havia capturado aquele momento doce. Os problemas pareciam estar se dissolvendo devagar e a calmaria tendia a chegar em breve. Ouviram um estouro vindo do céu, havia começado! Era dia cinco de novembro, o que significava a tão aguardada bonfire night, que não era nada mais, nada menos que uma queima de fogos. Da praia a visão dos fogos se estourando ao longe tornava tudo mais mágico. null puxou a garota do balanço correndo de volta para onde acontecia a festa, se misturaram com os convidados e com o braço envolto em torno da menos o casal assistiu ao show de fogos maravilhados.

Voltaram da festa e foram direto para a casa de null, onde agora também seria o lar de null. A garota sentia os olhos pesando de sono e os pés doíam dentro do salto agulha. Jogou-se no sofá da sala atirando o véu longe e deixando o par de sapatos jogados de qualquer jeito no meio do cômodo. null que parecia neutro até segundos atrás, tomou uma expressão séria em desaprovação.
- null! Desse jeito não dá! Olha a bagunça que você já fez e não está aqui nem há um minuto. – null revirou os olhos e foi juntando as peças jogadas ao chão. null bufou e se virou no sofá.
- Qual é, null! São quatro horas da manhã, deixa para arrumar isso amanhã. – null franziu o cenho e subiu as escadas para guardar tudo em seu devido lugar, deixando uma null indignada no sofá. A garota subiu as escadas com menos pressa por estar completamente exausta, encontrando null no último quarto do corredor onde parecia ser um cômodo apenas para as roupas. - null, eu iria organizar isso depois, agora da pra gente ir dormir?
- Eu não estou querendo ser chato, mas se você não sabe, eu tenho TOC e ver esse tipo de coisa me angustia. – null fechou a porta do closet e deixou o quarto. null seguiu-o após, viu que o mesmo já direcionava até a varanda da casa. O piso reluzente refletia a imagem embaçada de null, as poucas plantas coloriam a varanda e null descansava na cadeira de balanço ao lado direito da garota. Encarou-o e viu os olhos de seu marido ilustrar o brilho excessivo das estrelas naquela noite. Era tarde, previa que sem demoras o sol já tomaria o lugar da escuridão clareando suas visões. Sentou-se ao lado do mais velho e curtiu o balanço da cadeira que null produzia com os pés, queria conversar com ele, mas não encontrava assuntos, queria se desculpar pela bagunça e por ter deixado-o tão aflito.
- Eu pergunto você responde e depois, vice e versa. – null cruzou as pernas e encarou a expressão divertida que o rosto de null havia obtido, o mesmo limitou um aceno de cabeça e em seguida null pensou no que perguntar primeiro, havia tantas coisas.
- O que você gosta de fazer? – optou pelo mais simples, não havia porque mentir e seria um bom para ambos se conhecerem melhor. null sorriu brevemente e encarou o rosto da garota iluminado pela lua, estava radiante. Os cabelos null reluziam com a tonalidade do céu.
- Eu gosto de música e das estrelas. – null retribuiu o sorriso singelo que null estampava nos lábios. Agora ela entendia que observar as estrelas era de fato, sua obsessão. – E você?
- Eu também gosto de música. – null apertou os lábios com os dentes, sabia que aquilo foi um dos principais motivos da garota ter aceito aquele maldito contrato, ela queria cursar música e só assim ela teria tudo pago para realizar esse sonho, era egoísta até. null levou o dedo à boca e pensou na próxima pergunta.
- E do que você não gosta?
- Eu não gosto de leite, intolerância total à lactose. – null riu alto e curvou-se para apoiar os cotovelos no joelho, cessando em seguida os movimentos do banco de madeira. null arregalou os olhos, seria uma coincidência ou um truque do destino? – E você? – null repetiu as palavras anteriores, repetindo assim, a pergunta. null abriu a boca indecisa sobre falar a verdade e fechou-a em seguida.
- Eu também não gosto de leite, não que eu odeie, mas os sintomas que ele me causa me fez adquirir certo desgosto. – null agora sentiu medo. Medo por perceber o quanto possuíam em comum e não se completa quebra cabeças com peças iguais, mas naquele momento ela queria poder fazer aquele casamento dar certo, precisava tentar. null encostou-se novamente e fechou os olhos com o rosto direcionado ao céu.
- Por que você aceitou aquele contrato que meu pai deixou para mim antes de morrer? – null foi esperto e perguntou antes que ela pudesse bolar outra questão à ele, mas o mundo de null parou. Então não foi null que constituiu o contrato? Havia sido seu pai?
- Eu não sei! Talvez seja um pouco de cada coisa. – entortou a cabeça, confusa.
- Tudo bem, eu acho que é melhor irmos dormir. – null fez menção de levantar, porém null impediu-o.
- Espere! Me deixe fazer a última pergunta. – deixou as mãos sobre seu colo, perdidas no meio do volume branco do vestido. – Por que você gosta das estrelas? – era uma pergunta tão boba, apesar de não saber de onde vinha essa curiosidade, se sentia excitada em obter a resposta.
- Olhe para elas, null. – null direcionou o rosto da mais nova para cima, onde a mesma encarou com um olhar puro os pequenos pontinhos brilhantes no céu. – As estrelas são a prova viva de que no meio de toda essa escuridão sempre haverá uma luz. – levantou-se e beijou o topo da cabeça de null, deixando-a para trás enquanto ele subia pra seu quarto. Era tão adorável a forma que ele pensava sobre aqueles seres no céu que passavam despercebidos por tantas pessoas, para null obtinha um significado, uma teoria.

null abriu os olhos e estranhou por segundos a cama em que seu corpo descansava. Virou-se devagar e observou null dormindo angelicalmente ao seu lado, o corpo do mais velho subia e descia conforme sua respiração fluía, os cabelos desgrenhados e a cara amassada, sorriu inevitavelmente. Levantou e fez suas higiene, indo sem seguida conhecer o resto da casa. Os outros dois quartos tão grandes quanto o do próprio eram customizados com cores neutras, a sala espaçosa que ela já havia conhecido era ainda mais lindo de dia. A cozinha era parcialmente maior que seu antigo apartamento, a casa em si era perfeita, mas havia algo pela qual ela se deu falta. A biblioteca. Prendeu sua visão em um ponto qualquer da estante à sua frente e só acordou de seu devaneio quando sentiu o peso de null afundar o lado do sofá onde o mesmo havia se jogado. Sorriu de lado e encostou a cabeça para encarar o teto. Tudo estava em ótima ordem, não havia nada para ser feito ali.
- null, cadê a biblioteca daqui? – apertou a coxa exposta do mesmo com seus dedos.
- Para não dizer que não tem, até tinha, mas eu destruí. Não suportava mais aquela perda de espaço, fiz dela meu estúdio. – null mordeu o lábio em desaprovação, pelo menos foi por uma boa causa. null levantou-se exasperado e puxou a garota contigo escada à cima. null que não entendia o que ele queria apenas obedeceu. Entraram no “estúdio” – antes trancado – e foi obrigada a sentar-se no divã ao lado, enquanto null conectava sua guitarra elétrica ao cabo. Após se sentou ao lado direito da mais nova e dedilhou alguns acordes.
- Canta essa comigo? – null entortou a boca, negando. – Ah, Maay, qual é! Eu sei que você gosta de música. – ponderou, mas assentiu sorrindo em seguida. O sorriso aberto de null iluminou o local e mais uma vez ele havia conseguido passar segurança a ela. A melodia de Everything Has Changed preencheu o ouvido de null e mesmo com medo tomou coragem e soltou a bela voz para cantar o dueto.

Tudo o que eu sabia esta manhã quando acordei
É que sei alguma coisa agora
Sei alguma coisa agora que eu não sabia antes
E tudo o que vi desde 18 horas atrás
São olhos verdes, sardas e o seu sorriso
Na minha mente fazendo com que me sinta bem

null sorriu maravilhado com a voz de null, era tão doce o modo que ela pronunciava as palavras que pode sentir um arrepio percorrer por toda a extensão de seu esqueleto. Sabia que ela queria desde sempre estar envolvida no mundo da música, e sabia também, por ser o chefe do pai dele, que ele era egoísta à ponto de obriga-la a seguir o seu sonho próprio e não o sonho que a mesma obtinha. Acompanhou-a no refrão, unindo as vozes como quem une dois corpos apaixonados.

Só quero conhecer você melhor, conhecer
Você melhor, conhecer você melhor agora
Só quero conhecer você melhor, conhecer
Você melhor, conhecer você melhor agora
Só quero conhecer você melhor, conhecer
Você melhor, conhecer você melhor agora
Só quero conhecer você, conhecer você, conhecer você

Porque tudo o que sei é que dissemos "olá"
E os seus olhos têm jeito de quererem voltar para casa
Tudo o que sei é um simples nome, tudo mudou
Tudo o que sei é que seguramos a porta
Você será meu e eu serei sua
Tudo o que sei desde ontem é que tudo mudou

null tomou fôlego e olhando no fundo dos olhos da garota pronunciou de todo o coração as pequenas frases que compunham sua estrofe solo, ambos rostos se iluminaram com um sorriso pelos olhos. null sentia seu coração bater gostosamente acelerado, null estava nervoso de um jeito bom, ambos sentiam algo que os uniram naquele momento. Melhor que noivos, quem os vissem denominariam como melhores amigos e uma relação só daria certo se houvesse uma convivência, uma amizade e isso eles construíram naquele momento intimo e descontraído, com null de cara amassada e uma null insegura em suas palavras.

E todas as minhas paredes seguiram de pé pintadas de azul
Mas eu vou derrubá-las
Derrubá-las e abrir a porta para você
E tudo o que sinto no meu estômago
São borboletas, da mais linda espécie
Compensando o tempo perdido, voando
Fazendo com que me sinta bem

Volte e diga-me por que
Me sinto como se tivesse sentido sua falta todo esse tempo
E encontre-me aqui esta noite
E diga-me que isso tudo não é coisa da minha cabeça
Só quero conhecer você melhor, conhecer
Você melhor, conhecer você melhor agora
Só quero conhecer você, conhecer você, conhecer você

Porque tudo o que sei é que dissemos "olá"
E os seus olhos têm jeito de quererem voltar para casa
Tudo o que sei é um simples nome, tudo mudou
Tudo o que sei é que seguramos a porta
Você será meu e eu serei sua
Tudo o que sei desde ontem é que tudo mudou

Finalizaram a canção com um brilho extra nos olhos, null havia percebido na garota que aquele era de fato seu maior dom. Podia prever o nome de null ser manchete de anúncio, seu álbum estampado em outdoors e uma linda carreira. Curvou seu corpo aproximando-se da frágil mulher a sua frente, deslizou sua mão suavemente pela face pálida da mesma e beijou-a devagar. Assim que recebeu permissão aprofundou o momento em um beijo intenso. As borboletas voavam por todos os lados, tanto internamente quanto externamente, o sol pareceu ofuscado diante do brilho que exalavam naquele instante. null apertou o pescoço de null, retirou a guitarra com cuidado do colo dele e retomou o beijo, naquele momento ambos sabiam que aquele casamento poderia dar certo. Eles sentiam isso. O mundo sentia isso. O coração sentia isso.

Epílogo.

5 anos depois ...
O pequeno null batucava suas mãozinhas na panela enquanto null ensaiava com null no estúdio onde tudo aquilo havia começado. Onde eles aprenderam a se amar, onde ela descobriu que a música valia mais do que agradar ao seu pai, onde sua vida começou a ter sentido desde a morte de sua mãe, sem rótulo, apenas sendo a null null que deveria ter sido desde o princípio, mas não se arrependia, pois foi isso que a trouxe até null. null agora com seus dois aninhos já possuía alma de músico assim como a mãe e um pouco do pai que estava envolto não diretamente na música, mas estava. null dedilhava a canção que null ensaiava para sua primeira tour. Ela havia conseguido alcançar seu sonho junto com o apoio de null. Apoio que ela precisou desde o começo e que sua família não fez a mínima questão de dar. Ela não poderia ser mais sortuda. Uma família, uma carreira, um marido de ouro e uma sensação de realização em seu peito.
null que dedilhava a canção em um violão qualquer parou abruptamente e levantou-se chamando a atenção do pequeno null que batucava a melodia junto a ele. null franziu o cenho pois ainda faltava algumas música para serem ensaiadas. Seguiu o marido com o olhar e o mesmo ajoelhou-se em sua frente, estendeu uma pequena embalagem para ela e meia incerta tomou da mão do mesmo e abriu-a com atenção. null se levantou e pediu colo para null, que cedeu as custas enquanto observava atentamente a reação de null. Retirou com cuidado a caixinha de veludo de dentro da bela embalagem dourada, caixinha que revelou um belo par de alianças de diamantes. Encarou-as absorta em surpresa.
- Não juramos nosso amor do jeito certo. Quer ser minha? Pra sempre? Aqui e agora? – O pequeno null que mordia os próprios dedos desvencilhou-se dos braços do pai e então o mais velho puxou null para seu colo. null não disse nada, mas o que fez em seguida respondia todas as perguntas possíveis, ela o beijou como nunca havia beijado antes, era puro. E aquele foi o começo de um final feliz.

FIM



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