Mantinha os olhos fixo no papel em minhas mãos. Não um papel qualquer, na verdade era uma carta, porem não deixava de ser um mísero papel. Eu deveria ter a reação totalmente contraria da que eu me encontrava no momento. Deveria estar pulando por ai, sorrindo atoa, correndo para casa contar para meus pais e principalmente para . Afinal, era meu sonho realizado que estava escrito naquele papel. Mas não. Ali estava eu: completamente em choque, com o papel que definiria meu futuro em mãos. Patética.
O sino na porta balançou avisando que acabara de entrar alguém. Acordei do possível choque, guardando a carta dentro da bolsa. Respirei fundo algumas vezes, preparando a cara simpática para atender o possível cliente. Levantei-me olhando a pessoa se aproximar. E não, não era um cliente.
-Heey! – falou juntando nossos lábios em um beijo rápido. –como anda as coisas por aqui?
Balancei a cabeça o empurrando de cima do balcão.
- quantas vezes tenho que dizer para não sentar no balcão? Você é terrível.
Ele entortou a boca formando uma careta engraçada, o que me fez gargalhar.
- Vão boas... Mary foi ver com algum fornecedor... Acho que chegarão livros novos. – comentei enquanto o garoto dava a volta no balcão. – me deixou aqui, tomando conta de tudo. Vou perder a primeira aula... - então ali estava o garoto: parado em minha frente, com as mãos em minha cintura. Logo interrompendo meu discurso diário ao colar nossos lábios. Abri um pouco a boca sentindo sua língua travessa pedir passagem. Suas mãos pareciam loucas para explorar toda extensão das minhas costas. puxou meus cabelos me fazendo girar e encosta-lo junto ao balcão, provocando a queda alguns livros.
- ... - surrei contra seus lábios. – não é certo... - logo minhas mãos, que até então estavam estáticas, agarraram firme seus cabelos o puxando para mais perto... - devemos parar... - desceu os beijos para minha bochecha. – ‘to trabalhando... -eu nem sabia o que era trabalho a aquela altura. Meu consciente deveria esta a todo vapor; processando ideias e mais ideias, possibilidades e possiblidades, se concentrando em fazer seu trabalho e pensar com sabedoria, como sempre. E agora, jogou as responsabilidades e o trabalho duro para os ares gritando um foda-se correndo para bem longe e me abandonando. Agora estávamos eu e meu desejo insano. Ah e esse... Já tinha trancando a porta e colocado uma plaquinha de não perturbe e se entregado perdidamente.
- você quer que eu pare? –senti sua respiração quente no meu pescoço, me fazendo perder os sentidos que nem estavam mais ali.
-sim... - não. Não pare, por favor... Passei a unha em sua nunca deixando uns aranhões por ali.
-Tem certeza? – perguntou mordendo meus lábios. –quer mesmo que eu pare?
-não... Quer dizer, sim... - meu consciente pareceu voltar de sua corrida com força total. Desci as mãos até seu peitoral o empurrando. –Mary pode chegar a qualquer momento... - falei tentado organizar os sentidos... Virei de lado encarando-me no espelho que tinha ali... Respiração falha, cabelos bagunçados, lábios vermelhos, e nada de batom... É eu estava com uma aparência incrível. Passei as mãos tentando por os fios em seu lugar. Mas era uma batalha perdida. Então apenas o enrolei em um coque.
– E eu já falei varias vezes que não quero você aqui... Você me distrai.
Abaixei-me pegando os livros derrubados e organizando no seu devido lugar: o balcão.
-esses livros não deveriam esta na estante?
- deveria... Estava arrumando de manhã quando... - quando a carta chegou me deixando sem vontade de fazer nada.
Completei mentalmente sentindo meu estomago embrulhar ao lembrar-se da carta.
-? O que foi? Meu deus você ficou branca... - eu não sabia o que responder. Não queria ter esse assunto agora. Eu... Não sabia o que dizer. Não tinha reação, tinha medo do que ele sentiria, do que ele faria. E antes que me perguntasse mais alguma coisa ou eu cedesse e falasse tudo de uma vez, o sino balançou novamente anunciando a entrada de algum cliente. Virei-me em direção a porta, e... Novamente não era um cliente, era Mary. Merda.
-olha... Esta tudo bem, depois quando eu sair daqui passo na sua casa ou te ligo... Por favor! – balançou a cabeça concordando. Segurou meu rosto com as mãos depositando um beijo na testa. E logo o sino balançou novamente anunciando sua saída.
Olhei para Mary que apenas balançou a cabeça negativamente logo me mandando organizar os livros. É... Menos um ponto , parabéns!
Mary não suportava . Odiava quando ele vinha, até quando ele, muito raramente, resolvia virar cliente comprando algum livro. Ela dizia que ele era distração. Que não me concentrava quando ele estava perto e o trabalho não rendia, e isso era totalmente verdade. Eu não tirava a razão dela de não gostar muito da presença do , alias, que tipo de patrão gosta que seus funcionários se distraíssem?
Mas eu tinha minhas duvidas que seu pavor pela presença do meu namorado seja só o fato “distração”. não era lá uma flor que se cheire. Ele aprontava... Eh como!
Como trabalho em uma livraria meu dever é ser uma pessoa simpática. Mesmo trabalhando em qualquer outro lugar, simpatia é tudo. E isso requer ser total disposição. E não gostava do jeito que eu atendia os clientes. (População masculina, com a feminina ele nunca deu problema.) Dizia que eu não preciso ficar dando muita atenção. “é só a pessoa ler a sinopse, para que você ficar relatando o livro todo!” ele dizia. E não era o que ele falava que incomodava, mas sim o que ele fazia. já bateu em um cara por que ele me pediu indicação de algum livro erótico. Um absurdo! Pelo ponto de vista dele o garoto estava jogando indiretas. E isso foi à gota d´agua para Mary. Tendo o surgimento da lei: “nada de nesse recinto”. E foi descontado do meu salario. Fiquei sem falar com ele até eu receber. O que me faturou flores e mais flores pela casa, faculdade, livraria, e até no mercado. Ele me atormentou... Até eu perder a paciência e aceitá-lo de volta, fazer o que? Eu o amo.
- Mary!- chamei me aproximando dela. – terminei com os livros... Posso ir agora, tenho uns assuntos...
-há, sim... Desculpe-me você perdeu a aula hoje... Mas vai cair como hora extra!- sorriu.
-tudo bem... Então já vou indo. – peguei minha mochila e parti rumo ao meu destino: casa do .
(...)
- Para de enrolar ... Diga de uma vez! - segurou minhas mãos tentando me acalmar. O caso era que eu estava uma pilha de nervos. Não sabia como dar a noticia. –fala... Acredite você esta me matando com esse suspense todo.
- fui aceita. – disse recebendo um par de sobrancelhas arqueadas.
Suspirei, fechei os olhos e comecei a falar, rápido demais, eu acho.
- lembra que algum tempo atrás eles estavam fazendo algumas inscrições... Para alguns alunos terminarem seu ultimo ano na França?- abri os olhos vendo concordar com a cabeça. –então... Eu me escrevi!... E. Hoje... - suspirei novamente olhando pra qualquer canto da casa menos para . – Hoje recebi uma carta dizendo que me aceitaram...
Olhei para que continuava com a mesma reação...
- você não parece surpreso...
- e não estou... também foi aceito, mas... Eu não intendo. Você conseguiu. Você vai realizar seu sonho... Deveria estar feliz ... Por que não parece feliz?
Sorri tristemente balançando a cabeça. É claro que ele não entendeu.
- você não intende... Eu vou para longe... Por um ano. Eu vou pra França...
Ele continuou me encarando. Suspirei... Já estou farta de suspiros por hoje.
-vou ficar sem você...
E como se um flash de luz tivesse o invadido pela cabeça ele começou a andar de um lado para o outro pela casa repetindo diversos “não”.
-eu sei... A gente ia fazer três anos essa semana... Nem imaginamos que seria o ultimo. Eu... Sinto tanto... - um soluço involuntário e as mãos de me interromperam. Senti seus braços me puxarem para um abraço.
-não, não, não... Você não... Você não senti... Por que diz essas coisas? Não é o fim... Vamos ficar pra sempre lembra? – ele se afastou e me olhou nos olhos, e eu pude ver meus olhos nos dele, porque ele parecia igual a mim naquele momento: cheios de lagrimas.
- podemos continuar quando eu voltar... -falei e me afastou do abraço segurando meu rosto entre as mãos.
-não... Não vamos terminar se é isso que ta querendo dizer... Eu... Eu não vou deixar que tirem você de mim... E a gente consegue claro que consegue. Nada disso importa... Distância... Tudo isso... nada importa... Em que tempo você vive? – ele riu meio desesperado apertando mais meu rosto entre as mãos, eu reclamaria se não estivesse tão desesperada quanto ele. – existem trens, aviões e carros e eu andaria até você se não houvesse outra maneira... E qual é ? A França é bem ali praticamente... Vamos ser vizinhos... E nada... Ouviu bem? Nada vai fazer eu me afastar de você.
E me beijou. Podia sentir a dor dele o desespero... Tudo em um beijo só... E eu não estava diferente. Ele separou o beijo colando nossas testas e levantando meu braço direito. Olhou para a pulseira de ouro cheia de pingentes com significados imagináveis.
- ainda é para sempre... Vamos encher essa coisa... - riu voltando a me beijar.
(...)
Já tinha rodado, praticamente, a faculdade toda atrás do . Tinha já toda a papelada assinada e estava na lanchonete aonde ele deveria esta. Foi o que eu disse: “vou resolver umas coisas e voltar aqui para eles assinarem uns papeis que eles precisam assinar, quando acabar sua aula me espere na LANCHONETE” por que ele não estava na lanchonete? E agora estou aqui: cheia de papeis, rodando essa faculdade atrás no meu namorado. Carinha de felicidade.
Sentei na escada pegando meu celular e discando o numero do infeliz do .
Tocou uma...
Duas...
Na terceira o infeliz atendeu.
- Oi namorada.
- por que você fica me chamando de namorada? – bufei encostando-me no degrau de cima.
- porque você é?
-eu sei, mas... É como um cargo... Eu tenho um nome me chame por ele... É como se meu nome fosse uma coisa em vão...
- o meu Deus ... Tudo bem... Você por acaso esta de TPM?
- não... Não estou... Mas bastante irritada eu diria.
-ah não me diga!
-ah cala a boca ! Aonde você se meteu? Procurei você por todo lugar...
- você me manda calar a boca e me pergunta algo... Eu fico confuso. – falou e pude ouvir sua gargalhada.
- idiota! – ri me desviando das pessoas que subiam a escada.
-onde você esta ? – perguntei me levando.
- ui me chamou de a coisa esta seria... To na biblioteca amor... - bufei andando em direção à biblioteca.
-idiota! O que esta fazendo ai?
- fazendo uma... Pesquisa. Acredita? Aqui tem vários filósofos... Odeio filósofos.
Ri lembrando-me do seu pavor á questionadores da vida.
- ... Você odeia algumas teorias não tecnicamente os filósofos eles só questionam...
- sim, mas... São todos iguais... detesto. Já viu a teoria da criação do escuro, noite sei lá...? Meu deus é ridícula.
Entrei na biblioteca rindo. Vi na mesa do computador e aproximei-me.
-O que esta pesquisando? – perguntei. Desliguei o celular e sentei no colo dele, tentado ver a tela do computador. Mas a criatura colocou aquele cabeção na frente.
-uma pesquisa, nada mais. – falou ainda impedindo minha visão. Já falei que namoro um ser muito idiota?
- sobre o que é a pesquisa?
- coisas.
- que coisas?
bufou se afastando da frente da tela e eu pude ver a “pesquisa”.
E comecei a ri. O caso era que tinha varias imagens de franceses variados na tela.
- eu não acredito que esta pesquisando isso !
-preciso saber com quem você vai conviver durante um ano. – respondeu seriamente. –mas olha só para eles... Detestáveis... você não me trocaria por aquilo não é? – apontou para um cara na tela. Eu só conseguia sorrir.
- aquele ali seria um colírio para meus olhos... - apontei para o loiro de olhos azuis. Até que era mesmo um colírio. -Meu deus se eu topar com um ser desse por lá? fechou a cara e me olhou furiosamente.
- meu deus... Eu sou loiro e tenho olho azul... E sou mais bonito que aquele cara. Você nunca disse que sou seu colírio.
- Eu estava só te implicando ta legal? Vamos parar com isso. –apertei as bochechas dele fazendo um biquinho e dando um selinho.
(...)
estava sentando na minha frente. Dormindo. Eu queria esta fazendo o mesmo. Porem, não conseguia relaxar. Estava em um trem indo para França... Ficar um ano. Estava deixando uma vida em Londres... Estava deixando . Eu tinha medo. Medo disso tudo de namoro a distancia não der certo. Encostei-me a janela pegando a caixinha com um pequeno pingente da torre Eiffel dentro.
Passei o dedo pelo pingente, lembrando-me de momentos antes de partir. - eu sei que o objetivo é ter cada pingente com coisas que fizemos juntos... -ele sorriu e tirou uma caixinha do bolso.
- não vai me pedir em casamento agora não é ? Eu te mataria... - o interrompi enxugando alguma lagrima que insistia em borrar minha maquiagem. Não que eu me importasse com isso, é... Você entendeu.
-você não aceitaria? - ele sorriu.
- aceitaria... É que em três anos você me pede agora quando estou preste há ficar um ano fora... Antes do "sim" você ouviria poucas e boas . - falei seria. Agora estava bastante preocupada com o que tinha naquela caixinha. sorriu tirando uma mecha de cabelo do meu rosto. Entregou-me a caixinha.
- eu... Sei que não vou esta lá... Mas quero que você aproveite cada momento... E quando for ver a torre leve a caixinha e coloque o pingente lá...é uma forma de você lembrar de mim e essa bugiganga ter mais coisas pra fazer barulho...-sorriu e eu fiz o mesmo logo pulando eu seus braços e chorando entre sorrisos. Se estava doendo ter que entrar naquele trem... Agora meu coração estava em um liquidificador sendo triturado. Bela comparação... Eu sei obrigada.
-! Acorda... Chegamos. – senti me cutucar. Abri os olhos piscando algumas vezes os acostumando com a claridade. Olhei para que pegava suas coisas. Fiz o mesmo. E logo estávamos descendo do trem. Era isso: nous sommes arrivés en France.
(...)
Fazia três meses que estava na França. E estava tudo perfeito. Conviver com o esta sendo a parte mais difícil, confesso. Não é fácil conviver com alguém que não goste de você. E você não saber o motivo... Enfim, a parte, eu estava amando tudo. Falava com diariamente... E em falar em precisava ligar para ele. Eu estava no lugar aonde tinha o único quadro que conhecia.
Sorri buscando o celular dentro da bolsa. O lugar estava lotado. O pessoal do curso estava todo aqui. Estávamos em algum passeio... Uma aula ao ar livre eu diria. Afastei-me do grupo a fim de conseguir usar o celular sem levar alguma advertência.
Olhei em volta vendo se sentiram minha falta e estavam atrás de mim. Disquei o numero do quando não vi ninguém atrás de mim.
- Bonjour ma chérie.
- Olá francesa... Espero que não esteja me difamando.
-idiota... Adivinhe onde eu estou neste exato momento?
- hm... França?- pude ouvir sua gargalhada... - e para provar meus poderes telepáticos... Você esta na França me importunando com essas ligações...
- às vezes eu penso em te trocar por um francês sabia... – disse e logo escutei parar de rir. –to brincando ... Estou brincando... Não te trocaria por um francês... Nenhum deles lava uma louça tão bem quanto você. – gargalhei já imaginando a cara emburrada de .
- diga onde você ta... Antes que eu te troque por uma... Não te trocaria, afinal... Não vivo sem você.
- já falei que odeio essas frases idiotas ... Quem é o cara que diz “eu só acredito no que a ciência prove e bla bla bla” você não vive sem um coração querido...desculpe desaponta-lo.
- acontece que você é meu coração baby...
- idiota... Sinto sua falta . – disse e fiz o que eu mais evitava durante esse tempo todo. Não pude controlar lagrimas maldita. Então logo pude senti-las descerem pelo meu rosto.
- também sinto sua falta ... Tanto... - disse e eu já imaginava aqueles olhos azuis cheios de lagrimas. Não era difícil imaginar chorando. De nós dois pode se dizer que ele é a manteiga derretida do casal.
- Musée du Louvre.
- que?
- Musée du Louvre. Onde eu to. – falei e automaticamente girei nos calcanhares olhando o lugar, admirada.
- você esta em alguma padaria francesa comendo mousse... As padarias são em algum prédio?
Revirei os olhos. Idiota , idiota.
- Musée du Louvre .. O Museu do Louvre... Achei que saberia o que era... Afinal o único quadro que você conhece esta aqui.
- CARAMBA VOCÊ VAI VER A MONALISA DO LEONARDO DICAPRIO?
- Você não presta . – gargalhei imaginando sua cara de duvida. - A Mona Lisa, é do Leonardo DA VINCI... O DiCaprio é o ator... você não intende nada.
- por isso eu estudo física... Obrigada de nada.
- você com essa besteira... Ai! – balancei a cabeça. Levando um susto. Uma senhora passou correndo fazendo com que eu trombasse na parede. Passei a mão no pulso sentindo arder.
- o que foi?
- uma doida passou correndo. AI MEU DEUS!- senti falta de algo no braço. Minha pulseira. Deve te enganchado na mulher. Aproximei-me da janela tentando ver algo.
- , tenho que desligar... Depois te ligo tchau... - desliguei antes que ele dissesse algo. Desci as escadas olhando para o chão. Precisava achar minha pulseira.
- me desculpa... – disse assim que trombei em alguém derrubando suas coisas no chão. Abaixei-me e comecei a juntar as coisas do desconhecido... Repetindo desculpas. Eu estava nervosa. Levantei e entreguei as coisas. – desculpa, eu... Estava procurando minha... Ai meu deus você achou. – gritei assim que vi minha pulseira nas mãos do homem. Puxei-a me jogando nos braços do homem. Logo me afastando ao perceber o que estava fazendo.
- ai me desculpe de novo...
-por favor... Não peça desculpas outra vez... - ele sorriu. E meu deus que sorriso.
- desculpa... Ai... Desculpa-me... Vou ficar calada. –sorri sem jeito.
-Sou Henry... Não é daqui certo? – estendeu a mão.
-Sou ... É tão obvio assim? – apertei sua mão.
- não eu... Desculpe...
-estou brincando... Estou aqui estudando... Sou de Londres.
- legal... Então veio concluir algum curso aqui? Fiquei sabendo disso... Estudo na mesma faculdade que provavelmente esta fazendo o seu curso... E qual é alias?
- historia da Arte... Imaginei. A maioria das pessoas aqui veio de lá certo? E eu tenho que achar minha turma. Legal conhecer alguém aqui...
-para... Ainda não conheceu ninguém? – balancei a cabeça. – então você esta intimada a me encontrar depois. Preciso te mostrar meu lar.
Arregalei os olhos quase que automaticamente. Eu não entro em casa de estranhos. Como dizer isso a ele?
-Mon Dieu... Desculpe... Meu lar, digo... A França... Paris.
- a gente devia parar de se desculpar.
-concordo plenamente.
- eu preciso ir Henry... Nos vemos por ai... Au revoir.
- au revoir .
(...)
-Vamos conquistar o mundo. – gritei e Henry segurou minha mão me girando. Estava andando pela rua. Tinhas passado o dia inteiro andando por ai. Era nosso ultimo dia juntos. Eu ia embora daqui dois dias e ele precisava ir ver os pais amanhã. Então quando voltasse eu não estaria mais aqui. Estávamos aproveitando. Então tomamos café da manhã, almoçamos e agora estávamos andando sem rumo pelas ruas francesas.
-Não acredito que se passou nove meses. – Disse me puxando pela mão me fazendo sentar-se no chão junto a ele.
-Nem eu... Vou sentir saudades Henry... Estou te esperando para ir me visitar em Londres. Você ira amar...
-Sim... E conhecer o sortudo que tem seu coração... O que ele fala de mim? Você diz que ele é ciumento... Ele tem ciúmes de mim?
-Teria... Se ele soubesse da sua existência.
-Não acredito que nunca falou de mim para ele.
- é imprevisível Hen... Não saberia o que ele seria capaz de fazer.
-Mas eu sou apenas seu amigo...
-Ele não ia ver dessa forma.
-meu deus precisamos curar ele. – disse colocando a mão do queixo estilo o pensador.
- o que faríamos? – perguntei entrando no clima arregalando os olhos logo não me segurando e rindo.
- uma macumba? Conheço uma senhora que tem o dom com as galinhas pretas.
-seria uma boa ideia talvez... – peguei um pedaço de giz que tinha pegado da caixa de matérias de Henry. E escrevi a lista de matérias para a “macumba”...
- NÃO SUJE MINHA FRANÇA... - ele gritou rindo alto jogando meu pedaço de giz no chão.
- VEM DOCE VEM CORRER SENTINDO O VENTO FRANCES EM SEU BELO ROSTO.
- ESTOU CORRENDO HEN... -gritei abrindo os braços. Ele segurou um de meus braços me rodando.
-você ama me girar não?
- claro... - ele riu alto. Vem... Puxou-me levando-me ao chão novamente.
- um ídolo?
-relacionado à que?
- arte.
-Van Gogh, Matisse e Monet.
- só um .
- amo os três.
-o Gogh foi um fracasso durante a vida.
- porem... Morreu e foi valorizado.
- tudo bem... Senhora de mau gosto. – ouvi ele termina a frase em um sussurro. O que me fez jogar a cabeça para trás rindo.
- um alguém?
- .
-outro alguém?
- minha família.
- qual numeração você me incluirá para eu falar logo?
- besta... Você vem logo depois... De todos. – ri sentindo seus braços me girar novamente. -Paraaaaa de me girar. Vou procurar algum remédio, um comprimido ante giros de Henry.
-uma planta?
-arvore.
- uma especifica ...
- eu não sei nome de plantas hm... Rosa?
- rosa não é uma arvore.
-mas é uma planta... AAAAAAH! – gritei sendo rodada novamente.
-um nome para uma criança?
- Cactus. Diferente e único. -Disse ouvindo a gargalhando de Hen.
- não seria único... Minha prima tem um cachorro que se chama cactus.
-temos alguém em comum... Amo ela.
-um objeto?
- carteira. Qual é... É um acessório importante.
- uma bebida?
- CUBA LIBRE! – gritei jogando as mãos para os ares. – é interessante a historia dessa bebida... Contam que, num bar do Bairro Velho de Havana, um oficial independentista pediu que misturassem para ele rum, Coca-Cola, gelo e um quarto de limão. Os soldados que o acompanhavam gostaram da ideia e encomendaram o mesmo. Todos juntos ergueram um brinde, gritando o brado da Independência: "Cuba Libre!". O nome pegou.
Henry soltou-me batendo palmas e gritando um “cuba libre!”.
-Algo que incomoda?
-espirro.
- se tivesse muito dinheiro agora o que faria?
- pagaria as contas de telefone.
- hã?
- com as ligações que eu e estamos fazendo acho que... Estamos devendo uma bolada. – ri me girando sozinha. – isso de girar é bom mesmo... Chega de perguntas.
Voltamos a andar. E logo estávamos em frente a meu lar.
-Promete que nunca vai me esquecer?
- vai ter uma foto nosso em um porta retrato do lado da minha cama.
- promete que além de varias pingentes... Mini disco vinil... Trevos... Flor. e esses todos que tem nessa sua pulseira barulhenta. Você vai colocar esse e me adicionar a sua vida?
Sorri sentindo a lagrima descer e peguei o pingente de trevo que Hen me entregou. Logo estirei o braço em sua direção e o vi colocar o pingente.
-Como eu e dissemos quando colocamos um pingente novo: vou te amar para sempre Hen... – e sentir meus braços em volta dele.
(...)
Entrei e vi sentando no sofá me olhando.
-O que foi? – perguntei estranhando a cara assustada dele.
-eu fiz uma besteira... - disse ainda me olhando de um jeito esquisito. Deixei-o na sala e fui para o meu quarto.
-você sempre faz besteira. -Comentei o vendo me seguir e entrar no meu quarto.
- você devia ligar para o . – ele disse e tentou sair do quarto. Mas eu voei em sua direção segurando seu braço.
- o que você quer dizer com isso?
- quero dizer que disse que você tem um amigo francês há meses. E não gostou muito da novidade. Ele ficou uma fera.
- Eu não acredito . Por que você disse pro do Henry? – passei a mão na mesinha pegando um desodorando e jogando em direção ao garoto a minha frente.
- TA DOIDA? - falou segurando meu pulso. – eu não sabia que você não tinha falado para ele... Tanto faz. – soltou-me jogando meu braço para trás me fazendo cambalear. Joguei-me na cama com as mãos no rosto.
- eu não intendo... Eu não te fiz nada pra você me odiar tanto assim. Eu só queria intender.
-eu não te odeio... Não gosto de você particularmente... Você é tão sonsa.
- O QUE? – gritei tirando as mãos do rosto e o encarando. – por que eu seria sonsa? Por querer conviver bem com o melhor amigo do meu namorado? Por querer entender o porquê de ele me odiar tanto? Desculpe se isso é ser sonsa.
- não... Ser sonsa é saber o motivo e ficar se fazendo de vitima. Você devia parar de fazer essas coisas com o ... Fazer ele de trouxa.
Agora eu estava para cometer um assassinato. O que esse idiota estava falando?
-VOCÊ TEM PROBLEMAS ? Do que você esta falando idiota?
- vai me dizer que... Caramba você não sabe.
- EU NÃO SEI DE QUE?
- nada.
Pulei da cama segurando seu braço e encarando-o.
-você vai me falar do que você ta falando.
- me disse para não ter nada com você. Achei que você sabia...
Soltei seu braço e foquei o olhar para o nada. Era isso que eu estava sentindo: nada.
Sabia que era ciumento. Das brigas que ele se metia por causa disso. Mas isso... Quantas vezes eu fiquei chorando por ser odiada por alguém que era importante para meu namorado? E o mesmo ficava me dizendo o quanto eu era especial e que tinha ele...
- por quê? – perguntei em um fio de voz.
- eu... Antes de você e o namorarem... Antes ate de terem alguma relação. A gente tinha comentando sobre as garotas bonitas, e que ate pegaríamos, na faculdade... E eu falei de você. Na época o não ligou muito... Ai vocês começaram a namorar e ele se lembrou disso e me disse para não me aproximar de você. Eu achava que você fazia o ser assim.
Eu não sabia o que dizer... Então apenas me vi nos braços do em um abraço que dizia muitas coisas que simples palavras não seriam capazes de dizer.
(...)
Terminei de arrumar minhas coisas e desci.
- Vou da um volta... Despedir-me da França... - comentei para que estava sentando assistindo. O mesmo me olhou.
-você devia ligar para ele...
-não vou ligar pra ninguém ... Não quero falar com agora... ainda dói muito.
-ele não da noticias desde ontem ... Estou preocupado.
Apenas suspirei e sai. Acontece que eu também estava... e muito.
(...)
Senti o celular vibrar. Continuei segurando-o na mão até parar de vibrar.
Suspirei sentindo algo doer lá dentro. Sentei na grama e me virei observando a torre a alguns metros de distancia. Eu imaginava isso diferente. Eu imaginei não ignorando a ligação dele. E sim com o celular grudado na cara descrevendo cada movimento meu. Eu imaginei colocar o pingente e ouvir cochichos de pessoas ao redor perguntando o motivo de uma garota esta correndo e gritando “eu te amo” para o celular. Eu imaginei tantas coisas... Só não imaginava que de todas essas coisas eu estaria com uma dor tão forte lá... Fechei os olhos evitando que as lagrimas caíssem. Puxei a pequena caixinha de dentro do bolso, tirando o pequeno pingente da torre de lá. E antes que colocasse o pingente na pulseira o celular vibrou novamente, porem, dessa vez, anunciando a chegada de uma nova mensagem.
Abri a mensagem de , obvio. Olá!
Era só o que dizia. Olá! Reli as três letras varias vezes. E o engraçado como apenas três letras podia mexer tanto com você. Fechei os olhos assim que quebrei o plano de ignora-lo respondendo seu “Olá!”.
“Tudo bem?”
Suspirei.
“o que você quer?”
“saber se você esta bem...”.
“apenas isso ?”
“não me chame de ... não. na verdade o tudo bem se refere a nós também.”
Fechei a mensagem discando seu numero. Que no primeiro toque pude ouvir sua respiração do outro lado da linha.
- é seu nome. – disse fechando os olhos com força. Não queria mais chorar.
-Dói quando me chama de .
-é seu nome. – repeti repetindo para mim mesma que não iria chorar. Não mais.
- me desculpe... Ou não. Não me perdoe, me odeie me xingue de novo e de novo, mas, por favor, ... por favor... Não termine comigo. Eu não saberia o que fazer...
Suspirei sentindo meus olhos arderem com a força que os fechava evitando as lagrimas que desciam.
-não me deixe... Eu faço tudo. Tudo que você quiser ... Eu vou mudar, eu prometo.
-faça parar de doer. – disse em um fio de voz. Abri os olhos e as lagrimas caiam livremente.
-me faça fechar os olhos e quando eu abrir tudo isso ter sido um sonho ruim... E você não fez nada disso e você é a pessoa que acredita em mim... Que sabe que eu amo você... E você não vê motivos para proibir seu melhor amigo de se aproximar de mim... Faça tudo isso ser mentira...
Senti um alivio ao dizer, sentir um alivio a deixar as lagrimas caírem... E por que esse alivio não fazia a dor passar?
-eu te amo.
-não ... Você não me ama... Você apenas acha isso.
- VOCÊ NÃO PODE DIZER UMA COIAS DESSAS... ESTA DOENDO EM MIM TAMBÉM... EU PRECISO DE VOCÊ... EU AMO VOCÊ... – gritou.
-eu... Preciso ir.
- eu te amo .
- quando eu chegar à gente conversa.
Levantei-me e me virei arregalando os olhos ao ver segurando o celular olhando para mim.
-Eu te amo... - ele disse ainda com o celular grudado ao rosto.
Desliguei andando até ele.
- o que faz aqui?
- eu... Não podia deixar que você me deixasse... Não sem antes tentar. Eu...
- e se eu te mandar pastar?
- eu iria.
- você sabe que eu não te mandaria...
- sei.
-você sabe que mesmo você sendo um idiota que só faz besteiras. Ciumento, possessivo... Não entende nada de artes. Além de ser um estudante de física, que diz só acreditar no que a ciência pode provar... Que você tendo inúmeros defeitos. Você sabe que eu te amo não sabe?
-sei...
-então você sabe que é um idiota por fazer a pessoa que mais te ama...
-não... - me interrompeu segurando meus braços. – não diga isso. Não diga que te faço sofrer... Só... Me de uma chance ...
- eu não poderia te dar uma chance... Eu não estaria pensando em mim ...
- por favor...
- acontece... Que eu costume pensar mais em você do que em mim.
- isso... Isso quer dizer?
- que dizer que... - suspirei peguei sua mão e o puxei para frente. Peguei o pingente dando para ele e esticando o braço para que ele colocasse.
-torre... Estamos em frente a ela e juntos... - colocou o pingente e segurou minhas duas mãos.
- para sempre?
- sempre. - Respondi sentindo seus braços em volta de mim e seus lábios juntos aos meus.
(...)
-não acredito que você me trouxe aqui... Tenho medo de altura. – comentei enfiando a cabeça entre seu ombro.
-vai valer a pena... E é muito romântico admita... Vem é nossa vez. – puxou minha mão quando chegou nossa vez. E logo estávamos dentro daquela roda gigante enorme. London Eye.
Assim que nossa cabine ficou no alto, parada. Eu pude ver a cidade toda iluminada. As luzes... Lindo. segurou minhas mãos me entregando um pequeno pingente de uma roda gigante.
-o ultimo espaço da pulseira. - comentou enquanto colocava. E o medo de altura que eu sentia não estava mais ali.
- para sempre. – disse quando ele terminou. E me joguei em seus braços. E antes que eu colocasse meus lábios nos dele. Ele me afastou e me entregou um pacotinho.
-outra pulseira... Para todos os lugares... Todas as coisas que fizemos... Vamos parar em alguma vendinha e comprar outro pingente e assim que essa fechar vamos fazer isso de novo e de novo...porque nosso amor vai ser parar sempre assim como a pulseira de ouro.
E dito isso e puxou parar seus braços e me beijou. E em como todas às vezes o sentimento de para sempre estava sempre ali.