entrou no restaurante elegante de especialidade tailandesa, tirando o gorro, as luvas e o cachecol. Chegou perto da mesa, onde já o esperava, deu um beijo rápido na namorada e, então, se livrou do pesado sobretudo. Usava ainda algumas camadas de roupa por baixo dele, não só porque estava realmente frio nos últimos dias em Nova York, mas também porque uma gripe o havia atacado no começo daquela semana, quase prejudicando suas atividades do dia-a-dia e, principalmente, seu encontro com .
“Eu devia ter insistido pra você ficar em casa e a gente comemorar depois, amor.” Ela comentou, vendo o rapaz espirrar algumas vezes, logo após ocupar seu lugar à mesa.
“É claro que não! Eu não deixaria de estar com você no dia do nosso aniversário de namoro, mesmo sendo um pouco corrido, no meio da semana.” Disse, dando mais um espirro. “Três anos não são três meses!”
“Ah, é?” Riu. “Essa frase é minha, do ano passado, quando o senhor sequer se lembrou que era nosso aniversário de namoro, .”
“Eu já pedi desculpas, babe. E prometi que esse ano seria diferente, então eu não podia deixar um resfriado me impedir, né?” Ele fungou, pegando o cardápio. “Já escolheu?”
“Eu vou de Nam Katee Pla, como sempre.” Sorriu.
“Vou te acompanhar.” Declarou, fechando o pequeno livro de capa preta. “Não que eu ache que vou sentir o gosto de alguma coisa.” Completou, um pouco contrariado.
“Você não quer ir embora? Eu juro que não me incomodo!” Garantiu. “Eu te coloco na cama, te dou um comprimido, com um chazinho de camomila, converso com você, até você pegar no sono. Você já fez isso por mim tantas vezes!”
“Eu aguento mais um tempo aqui, . Eu quero conversar de verdade e, se eu tomar um chá com remédio pra gripe, em menos de cinco minutos eu vou apagar!”
“Ok, então.” Ela respondeu, chamando pelo garçom e fazendo os pedidos. Começaram, assim, uma conversa agradável sobre seus dias, suas aulas, professores, estágios, colegas.
“Eu preciso ficar bem até o final da semana, pra terminar aqueles exercícios de termometria. São os mais importantes do semestre.” Foi um dos comentários que ele fez, enquanto experimentava seu peixe, minutos depois, e confirmava que seu paladar tinha sido afetado pelo vírus.
“Você não fez um, na semana passada, que você disse que era questão de vida ou morte?”
“Aqueles eram de termodinâmica e eram importantes porque eu to tentando ser pesquisador do grupo do Professor Schuester. Já esses de termometria são os que valem mais pontos com a Professora Silvester.”
“Qual é mesmo a diferença entre termodinâmica e termometria?” Perguntou e ele riu, antes de responder.
Ele sempre explicava a ela, tentando simplificar, os termos utilizados, e as equações e contas complexas usadas para representar cada fenômeno, cada uma das coisas que ele considerava os verdadeiros alicerces da vida humana, porque a ciência já tinha conseguido explicar. Ela, no entanto, achava que a existência na Terra ia muito além dos números, da matéria, e por isso se interessava por religiões, filosofia, e, principalmente, pelas emoções humanas, que, em sua opinião, tinham a maior manifestação na arte.
“Eu também vou ter muito trabalho esse final de semana. O Professor Campion me deixou apresentar pra classe a minha pesquisa sobre Matisse!” Ela falou, empolgada, enquanto comia a sobremesa.
“Matisse é aquele que você me fez ficar horas vendo, em Amsterdã?”
“Não! Esse é Van Gogh, .” Achou graça. “Ele influenciou Matisse... os dois usavam cores fortes. Mas Matisse é Francês...”
“É aquele do jardim que todo mundo visita na França?”
“Esse é Monet, amor. Também é uma das minhas grandes paixões! Eu teria problemas para escolher um dos três, se pudesse ter obras de um deles em casa. Mulheres no jardim é lindo, mas O Grito me passa tantas sensações incríveis!”
Ela sempre dizia a ele que a arte explicava o mundo por meio de metáforas e que tocava as pessoas pela beleza, mas ele via mais beleza nas explicações racionais que a ciência oferecia. Gostava de fórmulas e teorias que tinham demorado bastante a se desenvolver, mas então se tornado sólidas, firmes, mantendo-se inalteradas e oferecendo soluções precisas, pelo menos desde uma época, para nós já estranha, em que professores as ensinavam usando quadros negros e bastões de giz.
Apesar de serem muito diferentes, com projetos profissionais que não tinham pontos em comum, eles admiravam um ao outro, torciam um pelo outro e tinham aprendido a ouvir, com prazer genuíno, tudo o que o outro tinha a relatar, ainda que não compreendessem ou apreendessem realmente quase nada. Entendiam-se bem na maior parte do tempo, como nenhum outro estudante de Física poderia se entender com uma aluna do curso de História da Arte, e suas brigas eram por coisas que uma vocação parecida não evitaria, como os ciúmes dele e a mania de arrumação dela.
Foi apenas no momento em que o garçom serviu o café que eles pediram após a refeição, que o tom da conversa mudou. não queria estragar o momento, mas também não aguentaria ficar guardando segredo, até o dia seguinte, sobre um assunto importante, que certamente afetaria o relacionamento dos dois. Infelizmente, tinha ficado sabendo, exatamente no dia que deveria pertencer apenas a eles, daquilo que, para ela, eram boas novas, mas, para o namorado, motivo de grande temor.
“?”
“Hum?” Ele questionou distraído, tirando um cartão de crédito da carteira, para pagar a conta, que já lhes havia sido entregue.
“Eu estive com a Srta. July, do centro de estudos do Louvre, hoje. Eu consegui aquela bolsa, pra qual eu tava concorrendo, pra ficar estudando um tempo em Paris.” Informou, hesitante.
“Um tempo?” Ele riu, nervoso. “Um ano, ! Um ano inteiro namorando à distância!”
“A gente já tinha conversado sobre isso, quando eu decidi concorrer à bolsa, . É uma oportunidade de ouro, que tão cedo não vai se repetir!”
“A gente conversou, sim. Eu disse que ia respeitar... e eu vou! Eu sei que, se eu te pedisse pra não ir, não ia adiantar e eu ainda estaria sendo egoísta, porque sei que é importante pra você.” Ele fez um sinal, levantando uma das mãos, para demonstrar que não queria ser interrompido, quando percebeu que ela iria falar. “Mas, ... você não pode querer que eu fique inteiramente feliz com isso! São doze meses! Trezentos e sessenta e cinco dias, falando com você só pelo telefone e por mensagens escritas... te vendo no máximo pelo skype.”
“Eu também vou sentir sua falta, .” Lamentou, sinceramente.
Ele tentou dar um sorriso, mas a boca ligeiramente torta não transmitiu nada, principalmente se considerarmos a falta do brilho nos olhos que acompanhava os verdadeiros sorrisos que ele costumava dar a ela. Ele queria estar feliz por , mas era difícil saber que eles ficariam sem se tocar por tanto tempo, sem sentir o cheiro um do outro, sem o conforto dos abraços, o calor dos beijos. Era inevitável pensar na mulher que ele amava conhecendo pessoas novas, indo para lugares interessantes com elas, passeando por aquela cidade considerada tão romântica, e na consequente possibilidade de ela acabar se envolvendo com alguém que tivesse mais a ver com ela do que ele.
O garoto pagou a conta e, conforme planejado, o casal foi dormir no apartamento dele, apesar de não haver clima para uma noite romântica, tanto em razão da aproximação de uma separação geográfica de longa duração, quanto por causa do estado de saúde dele. Conversaram muito pouco a caminho do prédio de arquitetura antiga e enquanto o elevador subia até o décimo quarto andar do mesmo, e , mesmo depois de receber um beijo de boa noite, foi dormir com dúvidas sobre se a sua busca por aperfeiçoamento profissional iria lhe custar ou não o relacionamento.
Somente após o café da manhã ele desistiu de enrolar, falando sobre a neve que tinha começado a cair há poucas horas, sobre a nova marca de cereais que ela tinha comprado dias antes e a respeito de uma música qualquer que estava tocando no rádio, e tocou no assunto que realmente interessava. Ele precisava se esforçar para aceitar a situação, pois, se fosse ele quem tivesse ganho uma bolsa para estudar em um grande instituto de tecnologia na Europa, agarraria a chance, assim como a namorada estava fazendo com a dela.
“, me desculpa por ontem. Foi mal por estragar a nossa noite.” Pediu, sem jeito.
“Tá tudo bem, . Você tá super gripado. Eu não achei mesmo que seria uma noite romântica.” Falou, não sabendo se deveria tocar de novo no assunto do intercâmbio.
“Não é disso que eu to falando, e você sabe.” Acabou com as dúvidas dela, escolhendo enfrentar o tema. “Eu sempre estrago tudo com as minhas crises de ciúme!”
“Você sabe que eu realmente detesto seus ataques de ciúme. Eu não vou mentir!” Declarou, sincera, visto que o rapaz lhe dera abertura. “Mas, quanto a Paris, eu entendo. É muito longe, é muito tempo... Vai ser difícil pra nós dois, porque eu também vou sentir saudades, também vou sentir ciúmes. Todo mundo que ama sente.”
“Só que, se fosse comigo, você não deixaria de ficar feliz por mim, pra ficar pensando em quanto você gostaria que eu não fosse.”
“Isso é você quem tá falando.” Riu. “Mas uma coisa eu posso te dizer, : eu nunca vou trair você.” Assegurou, séria, olhando nos olhos dele.
“! Eu não acho que você me trairia! Você é correta, honesta demais pra isso. Eu tenho medo é de PERDER você... pra alguém melhor.”
“Melhor?” Ela teve que rir de novo. “Eu amo você, ! E, quando a gente ama, não existe ninguém melhor.” Ele sorriu, segurou a mão dela e fez um carinho, enquanto os dois trocavam olhares, até que ele teve um ataque de tosse. “Vou pegar um xarope pra você.” Ela se ofereceu, solidária.
“Não.” Ele disse, controlando a tosse, e ficou de pé. “Eu mesmo pego. Eu quero pegar uma outra coisa no quarto também.”
Ele voltou, minutos depois, com a caixa do remédio na mão direita, e outra caixa, embrulhada para presente, na esquerda, ainda tossindo sem parar. Colocou o presente na frente dela, fazendo um sinal para que abrisse, e, novamente sentado à mesa, serviu-se do xarope e tomou-o, enquanto observava a garota tirar da caixinha uma outra, forrada em camurça, e dela uma pulseira de ouro, de correntinha bem fininha e delicada, com um pingente em forma de foguete.
A miniatura fazia referência ao Hall de Ciência de Nova York, onde tinham se conhecido, quando ele fazia uma visita ao local, com sua turma da faculdade, logo no primeiro semestre, e ela, recém admitida como guia júnior dos vários museus da cidade, teve que passar uma semana inteira naquele ambiente, apesar de sua falta de relação com a arte. Tinham chamado a atenção um do outro rapidamente e, na primeira oportunidade, ele se aproximara e perguntara se podia esperar que ela saísse, para fazerem um lanche juntos.
A pulseira não tinha sido a sua primeira opção de presente, no entanto. Na verdade, ele estava visitando joalherias em busca de um anel de noivado, quando soube que ela ia concorrer à bolsa de estudos que a enviaria para longe. Apesar de não ser uma pessoa muito romântica, julgara perfeito, para um pedido de casamento, o dia do ano em que ele e haviam se conhecido, e que tinha sido escolhido como aniversário dos dois, por não terem desgrudado um do outro desde então, e não ter havido qualquer pedido formal de namoro.
continuara entrando em joalherias por dias, mesmo depois de saber que sua garota queria ir para Paris, olhando as alianças e pensando no quanto desejava poder fazer dela a Sra. , o mais rápido possível. Porém, como, no fundo, não duvidou por um só minuto que a capacidade de lhe daria tudo o que ela quisesse, ele sabia que o sonho teria que ser adiado e decidiu apenas presenteá-la com uma joia que pudesse fazê-la lembrar-se dos dois, onde quer que estivesse.
“É linda, !” Afirmou, sorridente, colocando a pulseira em volta do pulso e esticando o braço, para que ele ajudasse com o fecho do acessório. Sacudiu a mão, admirando o mimo, e depois o envolveu em um abraço apertado, agradecendo.
“Eu queria ter te dado ontem, mas deixei pra dar aqui e...”
“Eu também acabei não entregando os seus.” Ela informou, com olhar compreensivo, levantando-se e buscando na bolsa o estojo com o relógio de pulso e o livro de Stephen Hawkin que tinha comprado para ele, os quais ele simplesmente amou.
Sob os protestos de , resolveu não ir à aula ou ao estágio, naquele dia, e ficar cuidando dele, que ela tinha percebido estar com a temperatura do corpo mais alta do que o normal, no momento do abraço. Buscou um termômetro, confirmando a febre, e passou todo o tempo controlando horários de remédio, preparando refeições leves e lendo, deitada ao lado dele, que dormiu por quase vinte e quatro horas, com pequenas interrupções.
No dia seguinte, ele estava quase bom e ambos cumpriram com seus compromissos, mas ela voltou para o apartamento dele à noite, para fazer companhia e não deixar que se descuidasse. Fez isso também nos dias que sucederam a este, para que pudessem passar o maior tempo possível juntos, antes de sua mudança, que ocorreu apenas duas semanas e meia depois. Foi um tempo de calmaria, que antecedeu uma tempestade que, mesmo anunciada, os dois pensaram ser capazes de evitar.
Manter uma relação à distância é sempre muito desgastante e fica ainda mais difícil quando uma das pessoas é insegura e deixa o ciúme comandar suas ações. ainda arrumava o próprio quarto, em uma república de estudantes, quando telefonou pela primeira vez, e, por mais que ele tivesse prometido tentar se controlar, não tinham conversado nem por cinco minutos, quando ele começou a perguntar se ela tinha falado com alguém no avião, se já tinha conhecido algum colega do curso, se havia rapazes morando na residência estudantil.
Ela respondeu negativamente a todas as perguntas, revirando os olhos, ao mesmo tempo em que jogava fora uma revista de palavras-cruzadas velha e um vasinho com um cactus amarelado e murcho, deixados sobre a mesa de cabeceira pela ocupante anterior do quarto. Logo puxou outro assunto, não querendo dar ênfase ao fato de que ele já estava começando a ter suas famosas crises, e acabar começando uma longa discussão.
Foi assim nas próximas duas ou três ligações, depois das quais, surpreendentemente, ele acabou dando uma relaxada e não fazendo mais tantas perguntas. Por quase dois meses, eles não discutiram sequer uma vez, mesmo falando bastante um com o outro, por whatsapp e skype, principalmente. Ela dividiu com ele todas as novidades do intercâmbio, sempre parando também para perguntar sobre as atividades dele, a família e os amigos. Tiveram até alguns momentos de intimidade, do jeito que era possível ter à distância.
Então, um dia, começou uma grande série de acontecimentos inconvenientes, que parecia até fruto de inferno astral ou algum tipo de macumba muito bem feita.
O primeiro desencontro aconteceu quando ela só viu as treze mensagens que ele tinha mandado pelo whats meia hora depois da última, porque tinha sido convidada pelas colegas da república para ver um filme, enquanto lavava a louça, e esquecera o celular sobre a bancada da cozinha. O segundo, quando ele ligou para o celular dela, duas vezes, e ela não atendeu, por ter esquecido de recolocar o som no aparelho, depois de deixá-lo no mudo, durante uma visita guiada pelo Museu D’Orsay.
As perguntas já tinham recomeçado, e pioraram com o terceiro contratempo, quando ela se atrasou bastante para um “encontro” dos dois por spyke, ao pegar fila no caixa de uma farmácia, à qual fora para comprar itens pessoais, como absorventes, xampu, sabonete e desodorante, dos quais ela e a companheira de quarto estavam precisando muito. Depois do quarto dia sem conseguir falar com na primeira tentativa, e sem acreditar que ela só tinha acessado sua caixa de emails do celular, pela primeira vez, às duas da tarde, passara cinco dias sem dar qualquer sinal de vida.
“Qual deles?” Perguntou um dos colegas de turma com quem ela tinha ido almoçar e acabado em uma grande loja de discos e CDs, mostrando-lhe duas preciosidades em vinil. “?” Chamou, percebendo que ela não ouvira.
“Oi!” Indagou, levantando os olhos da tela do celular. “Falou comigo, Kurt?”
“Algumas vezes.” Riu. “Mas não era tão importante assim! Eu vou levar Yellow Submarine.” Decidiu, recolocando Rubber Soul na prateleira.
“Beatles é sempre uma boa escolha.” Comentou, sincera, ainda que sem muita animação, ignorando que a opção descartada também pertencia à discografia da banda inglesa.
“Desculpa se estou me metendo onde não fui chamado, mas ficar olhando toda hora para o celular não vai fazer o ligar, . Manda uma mensagem... um email.” Sugeriu o rapaz, depois de pagar a conta.
“O Kurt tem razão.” Concordou uma colega asiática dos dois, chamada Amy, examinando a sacola plástica com os CDs que comprara.
“Eu já mandei vários, gente! E eu não fiz nada realmente errado, pra ter que ficar pedindo desculpas, insistindo.” falou, sentindo-se emocionalmente exausta.
“E daí? Tá toda triste aí! Será que é mesmo hora pra ser orgulhosa?” Questionou a outra menina. “Manda mais um.” Deu de ombros.
“Vai ser o último, então.” Disse, porque achava que tinha que ter um mínimo de orgulho, mesmo estando muito triste.
não estava melhor do que ela. Recebeu a mensagem, sentado no pátio da faculdade com os amigos, e não conseguiu esconder a tristeza. Eles não perguntaram nada, porque já o tinham visto ler outros recados, com o mesmo semblante carregado, e estavam a par do fato de que ele estava ignorando a garota há dias. Sam deu dois tapinhas nas costas dele, mostrando solidariedade, afinal também tinha namorada e entendia o que ele estava passando. No entanto, teve que se despedir e ir para uma aula, deixando-o com companheiros menos compreensivos.
“Ó, céus. Ó, vida. Ó, azar.” Paul implicou com ele, imitando a voz da hiena de um desenho animado dos estúdios Hanna-Barbera, produzido nos anos sessenta, que seu pai adorava assistir. Além de usar o famoso jargão de Hardy, exagerou no colírio que costumava usar, para fingir estar às lágrimas, mas o amigo, que já estava acostumado com ele levando sempre tudo na brincadeira, não se incomodou e até riu.
“Deixa de ser mulherzinha, cara. Aquela garota não merece!” Brody, por sua vez, falou, irritado, mostrando que três anos de convívio intenso não tinham feito com que ele gostasse nem um pouco da namorada do colega de faculdade.
“Eu não pedi sua opinião, cara.” respondeu, voltando a ficar sério. “Eu posso estar sem falar com a , mas ela ainda é minha namorada, eu gosto dela, e você vai acabar perdendo a minha amizade, se insistir em ficar tentando me jogar contra ela, ok?”
“Se você quer ficar aí, choramingando, enquanto ela aproveita BASTANTE a viagem, não tá mais aqui quem falou.” Levantou as mãos, como quem se rende, mas usou um tom malicioso, que ele sabia que faria o melhor amigo continuar cheio de paranoias.
Dois dias depois, ele relia pela enésima vez a mensagem em que ela dissera que o amava, mas que não insistiria mais, e que esperava que ele ouvisse a voz da razão e a procurasse, pois ela não tinha feito nada para merecer o tratamento que estava recebendo. Estava em um bar com Sam e a namorada dele, Donna, que acabou dando conselhos parecidos com os de Kurt e Amy, fazendo com que ele, finalmente, decidisse que, mesmo ainda com ciúmes, preferia não deixar sua relação acabar daquela maneira.
“?” Ela atendeu assustada, depois de ter sido acordada pelo celular por volta das três da manhã.
“, eu te amo! Eu te amo demais e tenho medo de perder você! Quando eu penso em você aí, cercada de gente interessante, que gosta das coisas que você gosta, que entende dessas coisas todas que eu não entendo, que tem muito mais a ver com você do que um estudante de física, que não sabe a diferença entre dois azuis ou entre mármore e granito, eu fico doido! Eu não consigo pensar direito, mesmo confiando em você, e fico imaginando que você pode desistir de voltar... desistir da gente.” Falou, apressadamente, para não ser interrompido. “Eu sei. Eu sou um idiota!” Bufou.
“Eu to chateada com você, .” Falou, se acomodando melhor na cama e acendendo um abajur. “Eu não vou colocar panos quentes e dizer que, não, você não é idiota e eu te entendo. Porque, de verdade, você é um idiota de achar que eu vou desistir da gente, por causa das pessoas que eu to conhecendo aqui! É você mesmo quem acaba me afastando com esse seu jeito... não ligando ou mandando uma mensagem por dias!” Afirmou, séria e com a voz firme. “Eu até pensei que tinha acabado.” Acrescentou, baixinho, deixando o próprio medo transparecer.
“Você me perdoa?” Questionou, com medo. “Você ainda quer ser minha namorada, mesmo eu sendo um idiota?”
“Perdoo, . Eu não vou terminar com você por isso.” Suspirou. “Eu não posso, porque também amo você demais!”
“Eu to morrendo de saudades!” Ele falou, aliviado, e ela sorriu do outro lado da linha, com a mesma sensação de um peso saindo de seus ombros.
Tudo ficou bem nos próximos dias, enquanto os dois matavam as saudades, com longos encontros via skype à noite. Porém, infelizmente, os meses seguintes passaram com conversas melosas e quentes, cheias de declarações de amor e provocações sexuais, alternando-se com muitos questionamentos repetitivos, cobranças e discussões, que aconteciam principalmente quando ela resolvia contar a ele que saíra com as meninas da república ou com companheiros da faculdade francesa.
Estava tão difícil lidar com o namorado, que começou a pensar na possibilidade de mentir sobre as saídas, visto que na maior parte do tempo a comunicação dos dois era escrita ou feita com hora marcada. Entretanto, não foi necessário sequer chegar a mentir, pois uma simples omissão deu causa a uma nova briga séria, ainda mais difícil de contornar que a última, colocando realmente em risco a relação dos dois.
“To vendo que vocês se entenderam de novo. Que ótimo!” Brody disse, com ironia, sentando-se ao lado de , no refeitório da faculdade. No dia anterior, estava trocando mensagens com ela, mas tinha o semblante carregado, e agora sorria feito bobo, conversando pelo whatsapp.
“Dá um tempo, Brody.” Pediu, sem paciência. “Eu amo a e, como meu melhor amigo, você deveria querer a minha felicidade.”
“Tanta garota por aí e você diz que ama uma maluca, que acha que visitar museu é o programa mais divertido do mundo, cara?” Falou, fazendo careta.
“Cara...” Respirou fundo, não querendo desistir de alguém que era seu amigo desde a infância. Recebeu uma mensagem dela, se despedindo porque era hora de uma aula, e escreveu apenas “bjão!”, porque já tinham combinado de se falar mais tarde, pela Internet. “Quando a voltar, a gente vai se casar. Você não precisa gostar dela, mas precisa respeitar isso.” Voltou a conversar com Brody.
“Ainda bem que você tem o Sam e o Paul pra convidar pra padrinhos. Ou será que ela vai sugerir o Kurt?” Não perdeu tempo em jogar a sementinha do mal no terreno mais fértil.
“Quem é Kurt?” franziu a testa.
“O melhor amigo da sua namorada, ué.” Disse, fingindo inocência.
“Do que você tá falando, cara?” O tom do outro mudou para preocupado e irritado com o joguinho psicológico do próprio amigo.
“Pergunta pra sua namorada quem é o cara com quem ela aparece em várias fotos no face. Pra quem é tão ciumento, você se preocupa muito pouco em olhar as fotos das amigas com quem ela tá saindo na França.”
recolheu suas coisas e saiu do refeitório rapidamente, deixando Brody com um sorriso de satisfação no rosto. Passou o resto do dia navegando pelo face e olhando inúmeras vezes as fotos salvas nos perfis de Amy e da inglesa Brittany, em que aparecia sempre ao lado de um rapaz bonito, de olhos claros. Ao posar para cada retrato, a menina tinha pedido que ninguém os colocasse nas redes sociais, mas as colegas acharam que ela estava exagerando, pois somente o amigo sabia detalhes dos problemas que tinha namorado ciumento, e postaram, apenas não marcando as fotos com seu nome.
Quando enfim entrou no skype, no final do dia, encontrou o rapaz já aguardando pela chegada dela, e muito irritado, a ponto de não lhe dar sequer boa noite antes de perguntar por que ela nunca tinha falado em um “tal de Kurt” em nenhuma das inúmeras conversas que tinham tido. Seu tom era de acusação e ele falava mais alto que o normal, o que fez a menina indagar a si mesma se seria capaz de manter a calma e dialogar.
“Eu não te falei do Kurt, ou de qualquer um dos meninos que saem comigo e com as garotas, porque sabia que você ia pensar um monte de coisas erradas.”
“Coisas erradas como o que? Posso saber?” Indagou, mas não a deixou responder. “Por acaso você vai defender que eles querem só ser amigos de vocês?” Riu.
“Eu vou, sim, ! Porque é a verdade! O Alfred tem uma namorada na Austrália, o Rory nunca demonstrou interesse em nenhuma de nós e...”
“Não me interessam esses caras que eu nem vi nas fotos! Meu problema é esse tal Kurt, grudado em você. Tinha foto até só de vocês dois!”
“...” Tentou interromper, em vão.
“Você vai se afastar desse cara, ! Você é linda, sexy, gostosa... inteligente, toda simpática. Esse cara tá querendo alguma coisa e você tá dando esperança!”
“Isso é machismo, ok? Eu posso ter um amigo e nenhum de nós dois estar interessado no outro. Você não tem a Santana?” Ela tentou argumentar.
“Ela cresceu comigo. Não conta.” Ele refutou, acreditando que fazia sentido o seu ponto.
“Olha aqui, .” Aproximou-se mais, encarando-o tanto quanto podia por uma tela de computador. “Eu não gosto de gente machista. Sabia que você sentia ciúmes... já nos aborrecemos antes por isso, mas eu acho que estou deixando a coisa passar do limite.”
“. Você tem que entender.”
“Não, ! Você tem que entender! Ele é meu a-mi-go. Eu não vou me afastar.”
“Eu não acredito que você não pode abrir mão de falar com um cara que você conheceu outro dia, por mim!” Reclamou, passando a mão nervosamente pelos cabelos. “Que você não tenha desistido da viagem, tudo bem! Mas você não pode colocar a gente em primeiro lugar, uma vez na vida?”
“Não se for pra alimentar os seus ciúmes.” Declarou, decidida. “Se eu parar de falar com um amigo, por sua causa, vai ser como se eu estivesse te dando razão! Como se eu não pudesse ter um amigo, sem isso colocar em risco o nosso namoro.”
“Eu não vou conseguir lidar com esse cara tão perto de você, .” Sua afirmação era também uma súplica.
“Então, eu não sei o que vai acontecer com a gente, amor.” Afirmou, com tristeza. “E também não sei como você pode achar que está colocando a gente em primeiro lugar, agindo assim. Você quer exigir que eu faça sacrifícios, mas não parece querer fazer nenhum!”
Os dois ficaram em silêncio por um tempo, sem olhar para as telas de seus laptops. Depois, não falaram mais sobre o assunto, e ele apenas concordou com um gesto e disse um “tchau” quase inaudível, quando ela falou que estava tarde e era melhor eles desconectarem o aplicativo. Não tinham colocado um ponto final na relação, mas também não prometeram se falar de novo, e realmente não o fizeram, por muitos dias. achava que já tinha dito tudo o que poderia dizer, e , após reconhecer que ela estava com a razão, acabou ficando sem saber o que fazer.
“Cuba libre, ?” Kurt perguntou, depois que o garçom anotou o pedido deles e saiu. Finalmente, ele tinha conseguido arrastar a amiga para fora de casa, depois de dez dias, mas agora já estava considerando que talvez não tivesse sido uma boa ideia levá-la a um bar.
“É a bebida mais forte entre as que tem um gosto que eu tolero.” Ela explicou. “Antes de sair de casa, eu te avisei que não seria boa companhia! Agora, você vai ter que cuidar de uma bêbada chorona, sem reclamar.”
“Cuidar de você não é um problema, amiga. Só que eu acho que beber não vai resolver.”
“E o que vai, Kurt?” Revirou os olhos, irritada. “Eu amo o e sinto falta de ser namorada dele, mesmo que, antes de brigar, a gente já estivesse a quilômetros de distância um do outro!”
“Por que você não falou simplesmente que seu mais novo amigo é gay? Vocês teriam rido da situação e estariam fazendo sexo virtual nessa noite fria de sexta.” Brincou.
“Porque eu ia resolver só parte do problema e alimentar a parte mais séria, que são esses ciúmes irracionais que ele tem. Não dá pra levar uma relação assim! Eu tentei, mas não dá.” Ele entortou a boca em um sorriso triste solidário e fez carinho no braço dela, enquanto o garçom colocava suas bebidas e petiscos sobre a mesa. “Me conta o que a Amy e a Brit tão aprontando.” Pediu, querendo apenas mudar de assunto e tentar esquecer.
É claro que não foi assim tão fácil, mas ela ao menos estava decidida a distrair a cabeça com outras coisas e inclusive aceitou um convite do grupo de amigos, para passar o final de semana em Versalhes, apesar de ter acordado com um pouco de ressaca. Tinha saído com uma mochila nas costas e os óculos escuros no rosto, meia hora antes do toque de campainha que acordou a canadense Serena, que vivia em um dos outros dois quartos da república.
Quando voltou do refúgio da Rainha Antonieta, no final do domingo, encontrou a mesma pintando as unhas do pé de vermelho, sentada no sofá do espaço comum da república, acompanhada da escocesa Sugar, que assistia a um filme na TV. Cumprimentou as duas, falou sobre o passeio, elogiou o esmalte de uma e o programa escolhido pela outra, e já estava indo para o quarto, descansar, quando a menina, distraída, resolver lembrar-se da visita recebida no dia anterior.
“Veio um tal de aqui ontem, procurando você, .” Falou, sem deixar de olhar para os próprios pés.
“?” Ela arregalou os olhos e sua voz subiu vários decibéis.
“É... acho que foi esse o nome que ele disse, sim.” Deu de ombros, não percebendo que a companheira de morada ficara pálida.
“Como é que você fala isso assim, como se não fosse nada, Serenay?” Sugar repreendeu e só então a loira levantou os olhos, encarando-a, confusa. “ é o namorado... ou ex-namorado dela!”
“Ooooops!” Serena respondeu, mordendo o lábio. “Eu pensei que era . Desculpa.”
“Tá tudo bem?” Sugar, que tinha se levantado e ido até , passou a mão pelo braço dela, tentando ajudar. Era nítido que ela estava à beira do choro.
“Tudo bem.” Assegurou, tentando convencer mais a si mesma. Estava, na verdade, uma pilha de nervos! “O que ele disse? Ele deixou algum recado?”
“Não deixou, não, . Quando eu disse que você tinha ido a Versalhes com o pessoal do seu curso, ele só me agradeceu e disse que falaria com você depois.” Serena respondeu e a deixou ainda mais tensa. Era bom que tivesse ido procurá-la, é claro, mas provavelmente ele agora estava com ciúmes ainda maiores de Kurt, imaginando os dois em uma viagem romântica, e talvez já tivesse até atravessado o Oceano Atlântico de novo, no sentido oposto, desistindo dela de uma vez por todas.
Rezou muito para que não fosse o caso e ele ao menos ainda estivesse por perto, para eles poderem ter uma conversa de adultos, olhando um nos olhos do outro. Talvez houvesse esperança, afinal sempre fora ela quem acreditara no poder dos sentimentos, e eles tinham amor suficiente um pelo outro para lutar, e não deixar inseguranças e teimosia acabarem com um relacionamento que, se não fosse por elas, seria perfeito. E foi dizendo tudo isso a si mesma que ela decidiu telefonar.
Àquela altura, já tinha feito vários passeios turísticos, como navegar pelo rio Sena, visitar a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo, e até ir ao Museu do Louvre, onde viu múmias, objetos de valor histórico, esculturas como a Vênus de Milo e pinturas como a superestimada Monalisa. Pela primeira vez compreendeu que a arte é realmente capaz de se conectar com os sentimentos individuais, pois, enquanto os especialistas diziam que a mulher retratada tinha um sorriso enigmático, em seu momento de infelicidade ele simplesmente identificou-o como a tentativa frustrada de uma pessoa triste de sorrir, ao posar para que um artista a retratasse.
Caminhava pela cidade, observando as cores de que o céu se coloria no final da tarde, e imaginava como compararia aquela imagem com a de alguma de suas obras favoritas, quando o telefone tocou em seu bolso. Pegou-o, tentando não se encher de esperanças, afinal nas últimas quarenta e oito horas telefonemas foram aquilo que ele mais recebera. Todavia seus olhos e seu rosto inteiro participaram do sorriso que desenhou em seus lábios, quando viu o nome dela no display, tão largo quanto o dela ao descobrir que ele ainda estava em Paris.
Em mais ou menos meia hora, se reencontravam na Praça da Concórdia, próximo ao Obelisco. Depois de uma aproximação tímida, eles se abraçaram forte, optando pelo silêncio, por um tempo. Havia muito a dizer, mas também havia tanta saudade e sentimentos que palavras jamais dariam conta de expressar com fidelidade, que ter um contato físico antes pareceu-lhes a escolha certa. Eles se afastaram devagar e se encararam com menos medo, depois de sentirem o conforto do corpo um do outro.
“Eu te amo, .” Foi ele quem acabou com o silêncio. “Eu queria te mostrar que eu estou, sim, disposto a fazer o que for preciso por você... por nós dois.”
“Eu também te amo, .” Assegurou. “Mas eu não posso simplesmente...”
“Espera... e me deixa falar.” Ele pediu, pousando o polegar sobre os lábios dela, que assentiu. “A Donna me perguntou, quando eu decidi viajar, se eu viria pra marcar território, pra tomar conta de você, pra conhecer os seus amigos. Ela me disse que esses seriam motivos errados e eu concordei que seriam mesmo. Eu não preciso conhecer o Kurt e vou respeitar a sua amizade com ele. Eu não vou ficar atrás de você, tomando conta do que você faz, de com quem você sai.”
“Você tá me dizendo que não vai ter mais ciúmes?” Demonstrou certa falta de confiança.
“Eu vou sentir ciúmes, sim. É claro que eu vou! E talvez ainda te faça algumas perguntas, ainda fique com a cara triste. Eu não acho que vou conseguir controlar isso, de uma hora pra outra!” Confessou. “Mas agora eu sei que quem tem que mudar sou eu, . Não é você quem vai ter que ficar se policiando, agindo de um jeito diferente, só pra me agradar. EU vou ter que me controlar e isso pode não ser a coisa mais fácil do mundo, mas com certeza não é mais difícil do que a simples possibilidade de ficar sem você, meu amor. Eu preciso de você!”
Ela passou alguns segundos registrando as palavras dele, considerando a proposta de uma relação com novos moldes. Eles nunca tinham sido infelizes por causa das crises de ciúme, mas era verdade que quem tinha se adaptado para evitá-las tinha sido ela, e que ele nunca tinha prometido realmente mudar, como finalmente estava fazendo. Não era preciso conversar mais nada, por enquanto, então ela apenas fez aquilo que mais queria, e segurou o rosto dele entre as mãos, beijando seus lábios, de um jeito apaixonado.
“A propósito, o Kurt é gay.” Informou, quando se afastaram.
“O que?” Ele levantou uma das sobrancelhas.
“Eu não te contei porque não queria compactuar com o seu machismo, nem continuar alimentando a sua vontade de que as coisas fossem do seu jeito. Eu acho que deu certo, né?” Piscou para ele, que riu, relaxado.
Continuaram a reconciliação no hotel onde ele estava hospedado e, depois de saber que, para viajar, ele precisara trancar o curso e deixar o estágio, ela propôs, um pouco hesitante, que ele ficasse com ela até o final do intercâmbio. Poucos dias depois, ele já estava matriculado em um curso de língua francesa e os dois estavam dividindo um pequeno apartamento. O ciúme ainda era um sentimento ruim que precisava enfrentar quase diariamente, mas ele conseguiu cumprir com sua palavra e passou a guardar o problema, lutando para enfraquecê-lo.
Os meses passaram rápido. O período de um ano de bolsa de já estava chegando ao fim quando o casal recebeu a visita dos amigos Sam e Donna, depois de já terem passado pela casa deles os pais de ambos, Santana e Paul, e alguns outros amigos que não perderam tempo em aproveitar a hospedagem gratuita em uma das cidades mais visitadas do mundo. tinha preparado uma massa e os quatro estavam à mesa, quando resolveu fazer uma pergunta, não escondendo seu descontentamento.
“O Brody não quis vir mesmo, né? A gente vai voltar pra Nova York e ele não vai ter aparecido nem uma vez!” Lamentou e viu a namorada baixar a cabeça, como sempre fazia quando o melhor amigo dele era o assunto. Porém o que chamou sua atenção foram os olhares trocados por Donna e Sam. “Aconteceu alguma coisa que eu não to sabendo?”
“, cara...” Sam considerou se deveria falar ou não, por alguns segundos. “Eu sei que você considera o Brody muito seu amigo, mas, na verdade, ele é...”
“Um fura-olho!” Donna interrompeu, categórica, mesmo com o olhar suplicante de sobre si. “Qual é, ! Você é muito boazinha!”
“Eu não to entendendo nada!” franziu o cenho. “O Brody cresceu comigo, a gente sempre fez tudo juntos... estudou na mesma escola, escolheu a mesma faculdade...”
“Pegaram as mesmas garotas também?” A amiga ironizou, deixando-o ainda mais ressabiado.
“A não quer te chatear, brother... mas esse cara, mesmo te conhecendo há anos e estando sempre com você, não é seu amigo.” Sam disse, sério. “Ele tenta colocar você contra a porque tentou ficar com ela, pouco depois que vocês se conheceram, e ela nunca deu moral alguma pra ele.”
“O QUE?” levantou em um pulo e gritou, batendo na mesa. “Eu MATO aquele filho da puta!” Falou, fazendo a namorada agradecer por estarem bem longe. Achou que teria tempo de se acalmar e não haveria uma briga muito séria, mas a verdade é que não conseguiu evitar que, ao encontrar o agora somente colega de faculdade e não mais melhor amigo, ele deixasse o rosto do outro roxo e inchado por alguns dias.
A volta para casa, quando o intercâmbio dela acabou, só não foi totalmente tranquila por causa deste episódio isolado. O resto correu às mil maravilhas, com indo morar no apartamento de , e ele enfim comprando a aliança cuja aquisição adiara, e fazendo o pedido sem muito planejamento, durante uma noite de quarta-feira, depois de comerem macarrão instantâneo, por não terem tido tempo para preparar uma refeição mais elaborada.
A falta de apelo ao romantismo, entretanto, foi totalmente compensada quando eles começaram os planejamentos e surpreendeu a noiva, sugerindo que se casassem na presença apenas de parentes e alguns amigos mais íntimos, nos Jardins de Monet. Foi uma cerimônia linda, com uma benção ecumênica, seguida de um jantar em um bistrô que era a cara da recém-casada, cheio de arte em todos os cantos.
“, meu amor.” falou, depois de pedir a atenção de todos. “Tem uma coisa que eu quero te dizer e acho que este é o melhor momento.”
“Que você me ama? Mas eu já sei.” Ela brincou e os convidados riram.
“Isso eu digo sempre e vou continuar dizendo.” Sorriu. “Na verdade, o que eu quero dizer é que eu, que sempre acreditei só naquilo que a ciência já conseguiu explicar, agora acredito numa coisa que vai contra os ensinamentos da ciência.” Espantou os presentes. “Einstein disse que o tempo é circular e que a diferença entre passado, presente e futuro é ilusória, e tudo que a gente pensa que ainda vai acontecer na verdade já aconteceu. O problema é que ele disse também que, mesmo assim, é impossível saber o que vai acontecer e eu não posso concordar com ele nisso. Eu SEI que nós vamos ficar juntos pra sempre, SEI que você vai sempre me fazer o cara mais feliz do mundo. SEI que a gente vai ter uma família linda e que eu vou te amar, até o final dos meus dias. De todos esses dias que já aconteceram!”
Nem tudo na vida é relativo, afinal. O amor entre eles não era relativo. Ele era sempre amor e não há explicação maior para nada no Universo!
FIM
N/A: Muito obrigada por ler!! Se tiver gostado, comente, ok? Ter retorno dos leitores significa muito pra mim!! De coração!!
Fics da autora:
7.Night changes
A bruxa tá solta e Insane Mardi Gras (continuação)
A chave para o coração
Corações em pedaços
Dos tons pastel ao vermelho
Fly me to the moon e Moonlight serenade (continuação)
Herança de Grego
Nem tudo é relativo
Provocadora gratidão
Quando nossos corpos falam
Season of love
Segura, peão
Um (nada) santo remédio e O que não tem remédio (continuação)