Choose Me






Setembro

estava encostada em seu Renault Megane velho, mascando uma bola de chicletes.
A droga do vôo já tinha atrasado uma hora, e ela já não estava tão certa se ficaria ali esperando por mais tempo. Qual é! Era só mandar o sujeitinho pegar um táxi. Não mataria ninguém!
Mas nãããão, seus companheiros de república insistiram em ficar ali. “É meu amigo”, Caleb Ferguson – o nerd do grupo - tinha dito. “E a gente nunca abandona um amigo. Lembre-se do lema da fraternidade Oozma Kappa*: ‘um por todos e todos por um!’”.
Quando é que resolveu entrar nessa fraternidade, mesmo? Ah, é. Quando ela não tinha dinheiro algum para se manter em Nova York sozinha, e seis esquisitões da NYU (New York University) se ofereceram para dividir o apartamento. E quem tinha escolhido o nome Oozma Kappa, mesmo? Ah, é. Caleb Ferguson, o cabeção da turma – é claro.
- Tem certeza que ele está vindo do Texas, não da Tailândia? – perguntou irritada.
Dos sete moradores da república e fraternidade Oozma Kappa, ela era a única com um carro - o que a encarregava, automaticamente, de ser a motorista da galera. A menina nem reclamava disso, maioria das vezes. Gostava de ser útil e de retribuir um pouco do carinho que recebia.
Seus seis colegas de casa eram muito bacanas e sempre respeitavam o seu espaço: reclamavam pouco dos cabelos no ralo, compravam chocolate quando ela estava “nos dias” e nunca tinham tentado nenhum tipo de safadeza. Ela os admirava por isso, e sempre os recompensava levando e buscando em festas. Quase nunca achava ruim; quase nunca dava um pio de desagrado... Mas naquele dia, PUTA MERDA!
O avião tinha feito uma parada na casa de São Pedro ou O QUÊ?
- Três e quinze. – falou, olhando o relógio de pulso. – Eu vou embora.
- Não! – Caleb gritou, segurando-a pelo braço antes que ela se virasse.
Naquela tarde de sábado, somente ela, o nerd e River – outro dos meninos da fraternidade – estavam no aeroporto. Eles esperavam pacientemente – ou nem tanto – o novo integrante da Oozma Kappa. O novato tinha passado em Música na Juilliard e era conhecido antigo de Caleb.
Parecia que eles eram amigos de infância ou sei lá. não dava a mínima.
- Você falou: “por favor, só mais quinze minutos”. Pronto, quinze minutos. O cara não apareceu. Eu vou embora.
- , não seja tão coração de pedra. – ele pediu, aflito, tentando segurá-la pelo braço enquanto ela seguia para o banco do motorista. A menina se desviava de Caleb como um polvo escorregadio. – Eu fiz o seu trabalho final do terceiro semestre! Você me deve um favor!
Ela respirou fundo e se encostou na porta do automóvel. Aquela era a mais pura verdade. Ele tinha mesmo feito seu trabalho final.
Cocô. Talvez ela pudesse esperar mais um pouquinho... Mas só mais um pouquinho!
- Okay. – falou esgotada. – Mais dez minutos.
Caleb deu um pulinho de vitória, enquanto River – que até então estava desinteressado - deu uma risada.
- Você não vai se arrepender, . O cara é demais, vocês vão perceber no primeiro instante!
- Okay, okay. Só cala a boca antes que eu mude de ideia.
River Bashful, que estava com as costas apoiadas no carro e os braços cruzados, tirou os olhos dos amigos para encarar o portão de desembarque. Assim que o fez, seu queixo quase caiu.
Saiu de lá um rapaz alto, de óculos escuros e com uma enorme capa de saxofone presa nas costas. River poderia até ter reparado em como suas roupas eram descoladas, ou em como ele parecia boa pinta, mas sua atenção recaiu imediatamente no que ele levava em mãos.
- Hum... Ferguson? – chamou.
- Pois não?
- Qual é a chance de isso dar certo, mesmo?
- Noventa e nove por cento! – o nerd respondeu, com um sorriso que ia de orelha a orelha. River segurou os ombros de Caleb e o virou para o garoto que seguia na direção do estacionamento. O sangue saiu do rosto de Ferguson na mesma hora em que se virou para olhar.
A visão da menina ficou vermelha em milésimos de segundo.
- Espera aí! – ela falou, meio esganiçada e meio sarcástica. – É esse o cara? – Virou-se para o nerd e ele consentiu, temeroso. – É o cara que está com UMA SACOLA DO BURGER KING NA MÃO? – Ela gritou, depois começou a dar gargalhadas altas de desgosto. – Nós estamos aqui esperando HÁ MAIS DE UMA HORA e ele estava lá dentro fazendo um lanchinho? Eu vou quebrar a cara desse infeliz!
- Hum... Quantos por cento, mesmo, Caleb? – River chamou baixo, assustado com a aura assassina de .
Ferguson arrumou os óculos de grau no rosto, tremendo de medo.
- Setenta e cinco...
O novato deu um sorriso torto quando enxergou o amigo de infância. Aproximou-se com o passo leve, malandro, e retirou os óculos assim que estava de frente para o Renault. Seus olhos calorosos e marcantes deixaram com ainda mais raiva.
- E aí, Cale? – ele cumprimentou, sorridente. – Não esperava te ver por aqui. Pensei que só a motorista fosse me buscar. – Piscou para a menina, que, instantaneamente, arrepiou-se de ódio.
tentou segurar a língua... Tentou mesmo. Mas antes que pudesse se conter, já tinha chiado:
- Eu não estou a sua disposição, babaca.
O rapaz levantou as sobrancelhas, surpreso.
- Sessenta por cento...
- Calma, linda. – ele ergueu as mãos, em sinal de paz. - Você morde, é?
- Mordo e arranco pedaço. – retrucou, esperando intimidá-lo. O novato, no entanto, apenas riu e deu outra piscadela marota.
- Que delícia.
A mocinha relinchou e entrou no Renault, sem se esquecer de bater a porta. Ferguson e River, mais uma vez, entreolharam-se com receio.
- Zero por cento. Isso tem zero por cento de chance de dar certo!

XX

Uma massa de ar quente passa pelo sul, trazendo leves pancadas de chuva...

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Então é só acrescentar manjericão no recheio do peru...

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Consuela, não é o que você está pensando!

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parou de zapear os canais assim que viu uma long neck de Stella Artois estendida a sua frente. Subiu os olhos da garrafinha de cerveja para o rosto de quem a oferecia, e bufou ao perceber que era .
. Esse era o nome do maldito.
- Peguei para você. – ele falou com a voz amena. – Não vai querer?
Ela cruzou os braços e olhou para o outro lado. Estava sentada no confortável sofá da república Oozma Kappa, e suas pernas estavam cruzadas em cima da mesinha de centro.
Algumas horas já tinham se passado desde que voltaram do aeroporto, mas ela ainda não tinha conseguido olhar nos olhos do novato. Carinha folgado do caramba!
- A resposta é não? – perguntou mais uma vez, elevando uma sobrancelha. – Okay, eu fico com ela.
E quando já estava quase encostando a garrafa nos lábios, para dar uma golada, gritou:
- Não! – projetou o tronco um pouquinho para frente, esticando a mão na direção da long neck. – Eu quero.
O rapaz deu uma risada rica e gostosa, entregando a garrafa para a menina.
- Sabia que você não ia resistir. Seus amigos me disseram que você adora uma cervejinha.
- Meus amigos falam demais. – respondeu emburrada, lançando um olhar matador para os seis que espiavam curiosos da cozinha.
- E você fala de menos. – ele deu de ombros, sentando-se na pequena mesa, de frente para ela. – Já estou aqui há quatro horas e não sei nada sobre você.
- Que pena. – respondeu sarcástica. – Porque eu já te saquei inteiro.
- Ah, é mesmo? – sorriu entretido. – Então me diga, oh, oráculo. Quem sou eu?
deu um gole na cerveja. Estava definitivamente indisposta com o sujeito, então talvez, se desembuchasse logo, ele fosse embora depressa.
Analisou-o de cima a baixo. usava um colete preto por cima da blusa branca, que parecia um pouco apertada. Seus músculos gostosos podiam ser percebidos por baixo do tecido, e deixou que o olhar escorregasse para a calça que ele usava. Surrada, com correntes. Os jeans apertavam os lugares ideais, e havia certo volume em sua virilha que... Oh. Minha Nossa!
Ela chacoalhou a cabeça, tentando se concentrar em outra coisa. Focou-se no rosto de : o sorriso espertinho; os olhos sólidos e intensos. A porcaria do cara era tão atraente que dava raiva.
E tão folgado, atrevido e petulante que o sangue de já tinha voltado a ferver.
- Você é como um livro aberto, . – ela deu de ombros. – Filho único; queridinho da mamãe. Você provavelmente era o boêmio que pegava todas na escola; seu pai queria que você fizesse Medicina e você resolveu fazer Música, contra todas as chances. – Continuou a falar, enquanto ele mantinha a feição indecifrável. – Você é riquinho e acha que todos estão a sua disposição. Novidade para você: ninguém está. Muito menos eu.
Ele ficou alguns instantes em silêncio, um completo enigma, quando explodiu em risadas.
- Você é boa, . – falou, já chamando pelo apelido. – Realmente descobriu a minha vida toda. – Abriu os braços, risonho. – Mas meu pai queria que eu fizesse Direito, não Medicina. Cheguei na metade do curso e resolvi largar para seguir minha verdadeira vocação. E aqui estou eu.
- Sim. Está aqui, enchendo meu saco.
parou de rir aos poucos, olhando para a feição contrariada da mocinha. Coçou a nuca, sem jeito e, pigarreando, introduziu outro assunto:
- Sobre hoje mais cedo... O Burger King. Eu não comprei no aeroporto de Nova York... – sua voz estava baixa e os olhos fixos nos de . – Comprei na escala que fizemos em Atlanta. Foi realmente o vôo que atrasou. Caleb conversou comigo e eu percebi que passei a impressão errada.
Ela analisou aquelas palavras com cautela, depois deu de ombros:
- Tudo bem. O que passou, passou.
abriu um sorriso sincero:
- Agora que já estamos de bem de novo, você pode começar me contando o que leva uma moça como você a morar com sete marmanjos.
Ela abriu um sorriso pequeno, dando mais um gole na cerveja. Até que o novato não era tão ruim assim... Talvez ele fosse até agradável. E talvez um pouquinho, um tiquinho de nada, bonitão.
- Falta de dinheiro, de oportunidade. – ela balançou os ombros. – Eu precisava continuar na faculdade e não tinha mais recursos para morar sozinha. Acabei topando o primeiro anúncio de república que vi no mural do campus. E adivinha?
- Era justamente o anúncio que trazia seis caras no pacote? – perguntou, divertido.
- Temos um vencedor! – ela colou as duas mãos e as sacudiu de um lado para o outro, em um gesto vitorioso. gargalhou. – Moramos juntos há um ano.
- E como é para você... Digo, como é para uma mulher tão gostosa viver com seis caras por um ano? Eles devem ter te dado muito trabalho... – arriscou. Em seus olhos havia um lampejo de curiosidade genuína.
franziu o cenho, surpresa com a pergunta abusada. Ou aquele tinha sido um xaveco disfarçado? Fosse como fosse, suas bochechas coraram devagar, enquanto ela respondia:
- Não deram trabalho algum. Eles são muito respeitosos.
O queixo de caiu.
- Eles não tentaram nada?
- Nope.
- NENHUM DELES? – seu semblante estava atônito. negou com a cabeça. – Ah, porra. O Caleb eu até entendo, ele é um completo brocha, mas e os outros CINCO? Será possível que nenhum deles... Cacete. Não existe mesmo mais homem nesse mundo. Será que eles nunca olharam para você?
As bochechas da menina estavam completamente ruborizadas. Era difícil ouvir elogios de um homem tão lindo sem sentir o coração acelerar.
- E-e-eles já olharam para mim várias vezes. – respondeu, com a voz vacilante. – Mas eles têm respeito.
- Eles não têm é bolas, isso sim! – tomou a garrafa da mão de e a levou à boca, dando dois goles. Assim que devolveu a long neck para a mocinha, fez uma careta de indignação.
- ... Está dizendo que, se fosse você, tentaria alguma coisa? – perguntou quase em um sussurro, sentindo-se boba.
- No primeiro dia. – ele respondeu, dessa vez assumindo um tom mais sério. – Eu tentaria na primeira oportunidade.
Nas íris belíssimas do rapaz, faiscavam sensações que não sabia identificar. Sua expressão sóbria e lasciva emanava calor e, antes que a menina percebesse, ele já estava mais próximo do que ela gostaria.
- N-na primeira oportunidade? – perguntou e ele assentiu. – E-eu não vejo como essa oportunidade poderia chegar...
- Não? – ele fingiu confusão, colocando a mão sobre a dela. Deixou seu jeito tipicamente pegador e cafajeste tomar conta das suas ações. – Tem certeza que não sabe como uma oportunidade é feita, minha linda? – Perguntou indecifrável e a garota negou. – Deixa que eu te mostro.
segurou por trás da nuca e a puxou. A garota acompanhou o rosto másculo e sedutor do novato se aproximar do seu e, antes que seus lábios pudessem se tocar, ela desviou o rosto.
- Para! Eu tenho noivo! – falou engasgada.
soltou-a imeadiatamente para olhá-la nos olhos. Sua expressão permaneceu uma página em branco por vários segundos, como se ele não tivesse atribuído significado ao que ela acabara de dizer. Depois, ele piscou mais rápido e o entendimento pareceu atingí-lo como a bala de um revólver.
- Noivo? – uniu as sobrancelhas. – Tipo para casar? – Perguntou mais uma vez e ela consentiu. – Mas você tem tipo o quê? Vinte e um anos? – , novamente, fez que “sim”. – Mas que história é essa!?... Não, espera! Já entendi. Entendi tudo! Você deve ser filha única de um casal da roça, não é mesmo? Daqueles bem tradicionais que querem que você tenha doze filhos e um bezerro. Acertei?
estreitou os olhos e cruzou os braços, ofendida com a descrição.
- Já te disseram que você é um idiota?
- Algumas vezes. – ele deu de ombros, falsamente despreocupado. – Mas vai, me fala mais sobre esse empata-foda.
- Não gosto quando você se refere ao meu noivo dessa forma. – a raiva que tinha ido embora estava voltando aos poucos... Com toda intensidade.
- Que seja, tanto faz. – ele abanou a mão, em descaso. – Qual é o nome dele?
- Gaston. – ela respondeu baixinho. – Gaston Everett.
coçou o queixo e enrugou a tez, reconhecendo aquele nome de algum lugar.
Embora tivesse acabado de tentar beijá-la, o rapaz não demonstrava sinais de vergonha. Estava acostumado a receber vários “sins” e “nãos” nos bares que frequentava. Uma peguete a mais ou uma a menos não faria diferença.
- Que engraçado. – sorriu com a lembrança. - É o mesmo nome do herdeiro da empresa de telecomunicação. Sabe, a Everett Enterprise?
esfregou o braço e se enfiou ainda mais nas almofadas do sofá. Resolveu olhar para tudo que não fossem os olhos do novato: o tapete da sala, a xícara que estava na mesinha, a vilã da novela de TV.
- É. – ela riu, sem graça. – Que coincidência louca.
foi perdendo o humor aos poucos, analisando o semblante da garota. Ela estava corada, envergonhada e... Oh, não. Oh, não, não, não!
- Espera! – ele falou, os olhos se arregalando com o entendimento. – Você é noiva DO Gaston Everett? O mesmo Gaston Everett das colunas sociais?
Ela engoliu em seco e miou um “sim”, deixando o rapaz sem reação. encarou o nada por alguns segundos, depois disparou a rir. Jogou o tronco para trás e soltou gargalhadas altas como as de uma hiena.
- Você é realmente uma peça, ! Engraçadona. Bem que o Caleb me disse que eu ia te adorar. – falou entre risadas. Seus olhos estavam espremidos de divertimento e ela se encolheu ainda mais, mal-humorada.
- Não sei onde está a graça.
- Não sabe? Fala sério! – ainda se contorcia de rir. – Gaston Everett vive aparecendo nas revistas como um dos solteiros mais cobiçados do país. O cara é milionário, boa pinta e podia sair por aí pegando... Sei lá, aquelas Angels da Victoria’s Secret. Ou aquelas gostosas que saem peladas na Playboy. – Ele exemplificou, limpando as lágrimas de diversão que tinham saído dos seus olhos. – Não me leve a mal. Você é bonita, gostosinha. Eu mesmo tentei te pegar aqui no sofá, mas GASTON EVERETT? Você não pode estar falando sério.
A raiva começou a subir aos poucos pelo corpo de . O calor estremecedor fez caminho dos seus pés à cabeça, onde pareceu estourar como uma garrafa de champagne.
- Pois estou, seu idiota! – praticamente gritou. – Eu estou falando sério. Gaston Everett é meu noivo e, para a sua informação, ele é muito apaixonado por mim!
- E a Scarlett Johanson vive me chupando. – ele respondeu em escárnio. – Pelo menos uma vez por semana, ela vai lá em casa.
pegou uma das almofadas e mandou em , acertando seu rosto. O zíper se enfiou no olho direito do rapaz e vários pelinhos do tecido entraram em sua boca. Ele começou a cuspir os pelos quando ela se levantou e disse:
- A sua ogritude extrapola os limites do normal.
E então se retirou batendo os pés.

, ainda limpando a língua com a mão, entrou na cozinha. Os outros seis companheiros da Oozma Kappa – que ele jurava que estavam acompanhando sua conversa o tempo todo - fingiram fazer coisas diferentes quando ele passou pela porta. Sleepy fingiu estar dormindo em cima da mesa; Happy começou a brincar com a maçã que estava na cesta de frutas e Sneezy espirrou no livro que lia.
Os outros três – Caleb, Dopey e River -, apenas olharam para os lados.
- Essa menina é impossível. – reclamou, chegando de frente para a pia e gargarejando com água. Cuspiu o líquido no ralo e prosseguiu. – Vocês não vão acreditar, ela me contou a história mais louca. Disse que estava noiva do Gaston Everett, imagina! - E quando olhou para a feição séria dos seis companheiros, ele engoliu em seco. – Vocês não podem... – Ele deu uma risadinha sem graça. – Não podem estar falando sério. Ela não é... – E quando nenhum fez sinal de desmentir, o sangue pareceu sair do rosto de . – ELA É?????

Novembro

Já fazia dois meses que estavam morando na mesma casa. gostaria de dizer que tinha sido uma convivência pacífica, que tinha se dado bem com todos e que estava vivendo na mais perfeita harmonia... Mas isso seria uma mentira.
Bom, talvez fosse meia verdade. Ele tinha dado perfeitamente certo com os seis homens da casa. Já conhecia Caleb de sua infância no Texas, e o nerd o ajudou a entrosar com os demais. Eles já estavam fazendo campeonatos de videogame, apostando quem comia fatias de pizza mais depressa e arrotando o hino nacional, como se fossem todos amigos de anos.
também já tinha ido a uma festa com Happy e Dopey, e voltaram trocando as pernas e cantando uma seleção de raps sujos e obscenos... Não que esse fosse o tipo de música favorito de . Ele preferia a tranquilidade e a sonoridade do jazz de New Orleans, mas no calor do momento, qualquer batida que envolvesse “peitos”, “bundas”, “prostitutas” e “dinheiro” estava valendo.
Sua estadia em Nova York estaria sendo maravilhosa, se não fosse pela pequena pedra no sapato chamada . O gênio dos dois não batia de jeito nenhum, e a menina parecia se esforçar ao máximo para tirá-lo do sério. Demorava séculos no banheiro, sempre fazia quitutes para os outros – e nunca para ele – e a gota d’água foi quando, em uma manhã de domingo, voltou do banheiro e encontrou a cozinha vazia.

- Cadê a Shelby? – ele perguntou, arqueando uma sobrancelha. Estava sem camisa e com a calça indecentemente pendurada na cintura.
Seu corpo era tão atlético e gostoso que , sentada na bancada, obrigou-se a desviar o olhar.
- Você quer dizer a vagabunda que estava aqui? – ela sugeriu despreocupada, colocando uma colherada de pudim na boca. – Foi embora. Eu dei o dinheiro do táxi e a mandei chispar.
- O quê? – ele passou as mãos nos cabelos, exasperado. – Por quê?
- Porque hoje é meu dia de estudos e o cheiro dela estava me dando náuseas. – balançou os ombros.
deu uma risada sem humor, sentindo o ódio entalado na garganta.
- Mas que merda! Eu nem tinha pegado o telefone dela! – ralhou, furioso.
- Não se preocupe. – respondeu, inalterada. Colocou mais uma colher de pudim na boca e cruzou as pernas. – Ela sabe onde você mora. Se ela gostou... O que parece que gostou, considerando a altura que gritava ontem à noite, ela vai te procurar.
- , você é uma bruaca impossível!
- E você é um ogro babaca. – falou implacável e saltou da bancada. Andou até estar bem de frente para ele e encarou nos olhos. – Parece que você não entendeu como as coisas funcionam por aqui, senhor , e eu terei prazer em informá-lo. – Suas palavras estavam afiadas como a ponta de uma espada. – Nós não trazemos ‘peguetes de uma noite’ para casa. Nós temos respeito com os outros moradores da Oozma Kappa. Então, da próxima vez que quiser se enfiar nas calças de uma biscate, coloque a mão no bolso e pague um motel. – Estendeu o dedo em riste. - Se eu ouvir mais um gemido, um gemidinho que for, saindo do seu quarto, eu juro que que abro a porta e arranco o seu peru fora. Estamos combinados?


Aquela megera! Tudo o que ele mais queria fazer era esganá-la. Era descobrir seu ponto fraco e utilizá-lo contra ela até pedir misericórdia.
Tinha até começado a sondar seus colegas de república - para ver se eles sabiam de alguma coisa que a balançava -, mas não foi bem sucedido. Nenhum dos companheiros tinha ideia do que tirava do sério, exceto...

estava sentado em um sofá velho e rasgado, que a Oozma Kappa tinha colocado estrategicamente no terraço da casa. Tomava uma cerveja long neck e estava com os olhos prostrados, enquanto observava Caleb olhar pela lente do telescópio.
- Você já não fez um mapa detalhado de todos os astros, planetas e constelações que estão nessa direção, não? – perguntou no maior tédio.
- Hum... Ainda não. Faltam alguns detalhes. – Ferguson respondeu, fazendo anotações em um bloquinho que estava ao lado. – E você está ‘a cara da derrota’. Sempre fica lá embaixo tocando saxofone e nunca se interessou pelo terraço. O que está havendo?
deu um relincho de angústia e colocou o rosto entre as mãos.
- . Eu sinto vontade de colocar o corpo dela em uma mala e despachar para El Paso, no México. – resmungou.
- Ela não pode ser tão ruim.
- Ela é terrível! Ela ameaçou arrancar meu peru fora! Você sabe o quão doentio é isso? – perguntou, meio manhoso e meio exasperado. – Já fui atrás de todo mundo para descobrir o ponto fraco da maldita. Ela não tem medo de aranhas, do escuro, não se assusta com sangue...
- Sangue? – Caleb ergueu uma sobrancelha e se virou para o amigo. – Ah. Então é por isso que você cortou o dedo com a faca e passou na cara dela? – Questionou e, derrotado, fez que “sim”. – , você chegou mesmo ao fundo do poço...
- Nem me fala. – lamentou. - Sleepy disse que ela podia ter medo de agulhas, então, quando ela voltou da faculdade, lá estava eu fazendo tricô. Apontei a agulha para ela e sabe o que ela fez?
- Riu?
- Pior! Ela rolou os olhos e me ignorou totalmente. – o tom de voz do rapaz beirava o desespero. – Por isso resolvi recorrer a você. Minha última cartada. Você construiu um patinete elétrico na sétima série, Cale, tenho certeza que sabe me dizer o ponto fraco da . – Quis se levantar e segurar a gola da camisa do amigo, mas se conteve. – Por favor, não me decepcione.
O nerd consertou os óculos no rosto. Franziu a tez e pensou por alguns segundos, analisando todos os momentos que passou com naquela casa.
- Bom... – ele começou e os olhos de se encheram de esperança. – De todo esse tempo que passamos juntos, tem sim uma coisa que parece incomodá-la...
- E o que é?
- Você.
- Eu? – ergueu as sobrancelhas. – Caleb, não consigo ver sentido nisso.
- fica muito desconcertada... Principalmente quando você aparece sem camisa. – falou devagar, como se explicasse algo a uma criança. – Tenho certeza que você saberá o que fazer com essa informação.


E ele sabia mesmo. A partir daquele dia, começou a usar seu corpo como arma. Sabia que, de uma forma ou de outra, seu jeito boêmio afetava a mocinha, e não hesitou em tentar levá-la ao limite.
Começou sempre a andar sem camisa – para isso, ela respondeu com desdém: “Quem você pensa que é? Jacob Black?” -, aproveitava todas as oportunidades para encostar a pele na dela e, no horário de estudos de , já tinha até aparecido de toalha para perguntar alguma informação pouco relevante:

- Você viu minhas meias?
Ela se virou para olhá-lo e, assim que avistou o peitoral desnudo e as gotinhas de banho rolando até a toalha, focou-se imediatamente nos cadernos. pôde vê-la estremecer e suas bochechas corarem.
Ah, merda. Ele amava aquela reação!
- Estou com cara de gaveta? – respondeu ríspida, embora seu timbre tenha fraquejado.
- Não. – ele sorriu safado, colocando-se, mais uma vez, de frente para ela. – Está com cara de quem não vê um desses há muito tempo. – Deu dois tapinhas na virilha e ela rosnou, irritada.
- Não é da sua conta.
- Tem razão. – balançou os ombros. – Eu só estou curioso. – Sentou-se em cima da mesa, empurrando os livros de para o lado. A menina teve que contar até três para não cravar a lapiseira no primeiro pedaço de que encontrasse. – Que noivinho é esse que nunca aparece? Digo, ele liga uma vez por dia, mas nunca dá as caras.
- A Everett Enterprise está em um momento delicado. – ela respondeu inflexível. – Eles precisam que ele viaje para fechar acordos e melhorar a relação com os sócios.
- Hum... – o rapaz fingiu ficar pensativo. – Certo. E o que ele diz sobre você morar com sete homens?
- Eu realmente... – ela acariciou as têmporas, tentando se agarrar ao último resquício de paciência. – Eu realmente não quero falar sobre o Gaston.
balançou os ombros.
- Okay. Não vamos falar sobre o Gaston. Vamos falar sobre você. – os olhos dele flamejaram no rosto da mocinha. Sua expressão estava audaciosa e demonstrava certa cobiça. – Parece que faz muito tempo que você não tem um homem. Aliás, parece que faz muito tempo que um homem não te pega de jeito. – Malícia escorria dos seus lábios, e o rosto de ficou vermelho como se ela fosse entrar em ebulição. Ho, ho, ho! Ele amava aquela reação. Amava tanto! Queria que ela saísse correndo dali cheia de fúria e timidez. – Eu posso te ajudar com isso. O que me diz? – Observou, interessado, enquanto ela se levantava da cadeira e ficava de frente para ele. colocou as mãos nos seus bíceps, aproximando-se. Uh-oh. UH-OH! Ela estava falando sério? Ela queria mesmo? perdeu pouco tempo com aquelas indagações. Sem que percebesse, já tinha puxado a menina pela cintura e colado seus narizes. – Se você quiser mesmo, , eu posso te dar. Se você me beijar eu posso te esfolar todinha, minha linda. Seu noivo não precisa ficar sabendo.
Sua intenção inicial era assustá-la. queria que se enfurecesse, que ela ficasse vermelha e saísse da sala como um furacão. Ele pensava ter, finalmente, encontrado seu ponto fraco... Mas se era isso o que ele queria, por que se espantava com a verdade em cada uma das suas palavras?
Ah, droga. Ao perceber que suas propostas eram reais, o coração de se acelerou. Suas bochechas coraram e ele puxou ainda mais para perto.
Por que ela estava tão rendida? Ela já tinha dito que ele era um ogro, que tinha nojo dele e blablabla... Então por que ela parecia toda derretida em seus braços?
Ele engoliu em seco.
- Meu noivo não vai ficar sabendo, é? – ela murmurou, acariciando o nariz dele com o seu.
- Não, . – sussurrou, ainda espantado com aquele momento. – Só você e eu. Só me diz uma palavra. É só me dizer ‘sim’ que eu tiro essa toalha e te mostro como se faz.
- Ah, é? – perguntou, abraçando-o pelos ombros e deixando o rosto cair no pescoço de . Inalou a fragrância deliciosa e oriental que ele exalava, e então colocou os lábios em sua pele.
O rapaz arfou. Sentiu tremores de ansiedade percorrerem seu corpo e fechou os olhos, extasiado com o prazer que sentia.
Capacete de aço! Nunca suspeitou que pudesse se sentir assim por . Ela era uma bruxa desalmada, uma megera... Mas oh. Que megera! Que mulher gostosa. Que mulher quente! Ela não estava fazendo nada demais e o garoto já se sentia completamente perdido.
Os dentes de se encostaram na pele do seu pescoço e ele sorriu. Sentiu-a dar uma mordida sexy e comedida... Que cada vez ficava mais forte. Mais forte e mais forte, como se ela fosse arrancar um pedaço.
Empurrou-a para trás gritando mil e um palavrões.
- AI, PORRA! VOCÊ ESTÁ LOUCA? – acusou.
- Louca? Eu? – apontou para o próprio peito, com ironia. – Você é que está, se achou que eu fosse cair na sua conversinha. Meu noivo é Gaston Everett, por que eu ia querer alguém como você? – Era para a fala ter soado maldosa, mas ela saiu mais como uma provocação.
Ele cruzou os braços e deu gargalhadas de escárnio.
- Bom, olhe só para você. – estreitou os olhos. Seu tom era sarcástico e impaciente. – Você é pobre e mora com sete caras fedorentos; seu programa mais divertido é visitar a sua avó no lar dos idosos. – Ergueu os braços, como se estivesse tentando fazê-la ver o óbvio. – E você não me parece tão interessada no seu noivo assim. Na verdade, você parece que não dá a mínima para ele. Do que adianta ser noiva de Gaston Everett se a sua pepeca é mais seca que o Saara?
deu um rugido como se fosse uma fera ensandecida. Pegou as almofadas do sofá e começou a tacá-las todas na direção de , sem errar nenhuma. Ele tomou uma almofadada na cabeça, no peito e só depois da terceira é que começou a se defender.
- Vai morar na lama com o Shrek, seu ogro!


Naquela madrugada de quinta, quando se lembrava de tudo isso, ele revirava as gavetas do próprio quarto, procurando pelo carregador do celular.
Merda, lixo, bosta, cocô! O carregador, mais uma vez, tinha sumido. Era um mistério crônico daquela casa. Sempre que o carregador do seu iPhone sumia, o aparelho de aparecia magicamente com a bateria cheia.
Ladrazinha do caramba!
O jeito era, então, esgueirar-se para o quarto dela e fuçar as suas coisas até achar o carregador.
Como um ninja, se equilibrou na ponta dos pés para andar no corredor escuro. Nunca tinha entrado no quarto de , mas acreditava que a disposição dos móveis deveria ser bem igual a do seu. Cama à direita, criado-mudo logo ao lado...
Chegou na porta do quarto da menina e, com cuidado, girou a maçaneta. A porta se abriu com um pequeno e longo rechinar, o que fez a espinha de se arrepiar por uns instantes.
Se descobrisse que ele estava no seu quarto, fuçando as suas coisas, o peru dele ia voar mais rápido que capim cortado. Tinha que ser muito cuidadoso.
Com pé ante pé, ele caminhou até estar ao lado da cama. O quarto parecia perfeitamente normal e organizado; também, não podia ser diferente. era o esteriótipo de certinha e metódica. Provavelmente, nunca tinha avançado um sinal vermelho ou roubado um chocolate na vida.
Ele revirou os olhos, com aqueles pensamentos, e observou a garota. estava calma e serena enrolada nos edredons. Respirava devagar, e suas feições estavam tão tranquilas que quis demorar ali por mais um tempo.
Hm... Então era assim que ela ficava quando não estava brava? Era esse o rosto da menina quando não estava brigando com ele? estava tão acostumado a ver sua expressão de ódio que, ao vislumbrar aquela – pura e inocente -, o rapaz sentiu o coração aquecer.
Ajoelhou ao lado da cama de , para alcançar o criado mudo, e não pôde deixar de admirar a pequena mais uma vez. Ela era uma bruxa que adorava infernizar sua vida, mas tinha que confessar que, às vezes, bem às vezes, sentia inveja de Gaston Everett.
Abriu a primeira gaveta com o máximo cuidado. Encontrou um pente, canetas e vários recortes de jornal e agendas. Nem sinal do seu carregador.
Quando foi abrir a segunda, ouviu ronronar manhosa. Seus pelos se arrepiaram e ele se virou brevemente para a menina, quando pescou uma imagem de relance. Um tremor desagradável percorreu o corpo de , enquanto ele se virava para o outro canto do quarto para olhar.
O sangue saiu inteiro do seu rosto, seu coração explodiu em batidas descontroladas e então ele fez exatamente o que não queria. Fez exatamente o que era proibido em todos os manuais de espionagem.
- AAAAAAAAH! - deu um berro alto e apavorado, jurando que estava em um filme de terror hollywoodiano. PUTA MERDA, O QUE ERAM AQUELAS COISAS?
- AAAAAAAH! – gritou de volta, sendo sugada para a realidade de supetão. A garota se sentou na cama tão depressa e esbaforida que acabou escorregando para fora, caindo em cima de . Seus olhos assustados se encontraram com os do rapaz, e então ela sussurrou, aflita: - O que foi? O que...?
- Shhhhhhhh! – pediu, tampando a boca de . – , fala baixo. Alguém invadiu seu quarto. – Ele murmurou, aterrorizado. – Eles trouxeram alguns monstrinhos. Meus Deus! Acho que estão fazendo algum ritual. SÓ PODE SER DAQUELES DO CAPIROTO, PUTZGRILA! – falou desesperado, abraçando-a pelos ombros e tentando empurrá-la para debaixo da cama. - Eles ainda podem estar aqui, ! Esconda-se!
Assim que o novato estava praticamente por cima dela, alguém acendeu a luz do quarto.
Os dois, assustados, voltaram-se para a porta, encontrando o olhar intrigado de Dopey. O rapaz usava um pijama longo e listrado, e teve que piscar várias vezes para assimilar o que via.
- Bom... – ele começou, com as bochechas vermelhas. – Pensei que tivesse acontecido alguma coisa, mas vejo que... Vejo que vocês estão se dando muito bem. – Segurou a maçaneta da porta, no intuito de fechá-la. – Não vou mais atrapalhá-los. Só tentem... Tentem fazer menos barulho, okay?
Dopey foi embora e os fechou no aposento.
olhou para o nada por alguns segundos, tomando aquele tempo para prestar atenção no que acontecia ao seu redor. O corpo quente de estava por baixo dele. As mãos da menina estavam nos seus braços e, céus, ela estava... Ela estava...
- Por que, DIABOS, você está seminua!? – ele perguntou esganiçado, encarando a lingerie lilás e tirando suas mãos da mocinha.
- O que, DIABOS, você está fazendo no meu quarto? - ela devolveu irritada, puxando o cobertor para se tampar. Antes que tivesse êxito, percebeu os olhos de a observarem com gula, e então corou.
- É assim que você dorme? – ele quis saber. O olhar ainda estava fixo no decote da garota.
- Pare de olhar meus seios!
- São eles que estão olhando para mim! – respondeu miseravelmente, e ela o empurrou.
- Idiota. – o rosto de estava furioso. – O que está fazendo aqui?
pensou em aproveitar aquela deixa para sair correndo. Talvez a fuga fosse a sua única chance de manter o bilau intacto. Queria contar até três, levantar e dar no pé, mas como isso seria pura covardia, decidiu que uma mentirinha não faria mal:
- Hm... Eu sou sonâmbulo. Desculpa, . Vim parar aqui sem querer. – falou um pouco trêmulo e torceu para que a desculpa colasse.
torceu o nariz, pouco convencida.
- Sônambulo, é? Sei.
deu uma risada sem graça.
- Por que outro motivo eu estaria aqui?
- Ah, bom... – ela cruzou os braços. – Talvez porque você está secretamente louco por mim e queria tentar alguma safadeza. – Sua sugestão foi acusatória.
- Louco por VOCÊ? – perguntou em deboche. – Você só pode estar fora de si! Como eu poderia me interessar por uma mulher que não tem peitos e usa calcinha bege?
- Vá se ferrar! – ela rosnou, jogando seu urso de pelúcia no rapaz.
podia ter mil defeitos, mas mira, com certeza, não era um deles. Não importava onde ele estivesse, em que posição estivesse, ela sempre acertava seu olho direito.
- Merda, sua jararaca. – ele disse, tirando os pelos do ursinho do olho atingido. – Eu nunca tentaria uma safadeza. Você não me dá tesão algum. Ainda mais nesse quarto decorado pelo satã... Afinal, o que são aquelas coisas!? – Apontou para a estante da menina.
ergueu o rosto para encontrar seus bonecos de porcelana. Ao seu ver, todos pareciam pequenos anjinhos sentados no suporte de madeira.
- Você está se referindo à minha coleção de bonecos? – perguntou comedida, quase entendiada. Ele consentiu. – Foi por isso que você gritou? – Ele, mais uma vez, fez que “sim”. rolou os olhos e se levantou do chão. Deixou o cobertor escorregar do corpo e ficou de pé, sem se preocupar com a sua seminudez. – Você não é um homem, . É um saco de batatas.
- E você é doida. Quem, em sã consciência, tem uma coleção dessas?
caminhou até a estante, para perto dos brinquedos, e virou os olhos para o novato.
- São os meus xodós. Tenho uma porção de coisas lindas nessa coleção. Posso dizer que eu sou alguém que tem quase tudo. – respondeu com o tom nostálgico. - Minha avó trazia para mim, toda vez que fazia uma viagem. Cada boneco é de um país diferente.
Ele piscou algumas vezes, atônito.
- Uau. Agora é fácil entender porque o noivinho nunca vem visitar. Essa é a verdadeira “Volta ao Mundo em Oitenta Capirotos”!
nem soube o que o atingiu primeiro. Se foi o boneco mexicano ou o holandês. A questão era que, em poucos segundos, a casa tinha ido a baixo com o grito fino de :
- !!!!

Abril

- Secador no banheiro? – perguntou.
- Confere!
- Vaso de flores? Aromatizantes? Sabonetinhos de animais?
- Confere! – gritou Caleb, com uma prancheta na mão.
A fraternidade Oozma Kappa estava um caos. Todos os meninos corriam para lá e para cá, fazendo a faxina da melhor forma que podiam.
Sleepy tirava a poeira das cortinas, Dopey colocava uma rosa no vaso da sala e corria desorientado com o aspirador de pó. Os demais estavam ocupados com tarefas como encher a geladeira de iogurtes e esconder qualquer vestígio masculino.
- Por que estamos fazendo isso, mesmo? – perguntou mal-humorado, alongando as costas.
- Porque o noivo da avisou uma visita de última hora. – respondeu Sneezy, colocando um pacote de absorventes na sala.
- Okay. Isso eu entendi. Mas por que estamos enchendo a casa com coisas femininas?
- Ora, por que você acha, ? – foi a vez de River, correndo para esconder as cuecas sujas em um canto. – Ele não sabe que a mora com sete homens.
- O quê?
- , pare de conversar e termine de aspirar a sala! – repreendeu a menina. Ele rolou os olhos e voltou ao trabalho.
A garota observava seus companheiros de república limparem o ambiente. A forma que Sleepy limpava as janelas, com certeza, arranharia os vidros; Dopey esfregava o chão com o pano de prato e River tinha acabado de derrubar uma porção de livros no chão.
Ela bateu as mãos na testa.
- Céus. – resmungou, depois tentou encarar a realidade. – Tudo bem. Vocês não são o que eu pedi, são frouxos e sem jeito algum. Mas vou mudar, melhorar, um por um!
DIIIIIIIIIIIIIIIIING-DOOOOOOOOOONG
- Mas não agora. – ela se interrompeu, sentindo o sangue sair do rosto. Todos os rapazes da fraternidade congelaram no lugar. Merda! Ele tinha chegado mais cedo do que o combinado. Gaston falou que chegaria, pelo menos, uma hora mais tarde. O que ela ia fazer? O que ia fazer? – Ele chegou! – Falou o óbvio. – Escondam-se! Rápido!

Todos os meninos entraram no banheiro do corredor, para se esconder, e deixaram apenas uma fresta aberta. Diante dela, debruçaram-se um sobre o outro como um totem humano, para observar o que acontecia na sala.
- Gaston! – exclamou, trêmula. – Você chegou cedo.
- Cedo? – uma voz máscula e tediosa respondeu. – Eu diria que cheguei tarde. Cada segundo longe de você é muito, meu amor.
revirou os olhos. O casal ficou em um breve silêncio, fazendo com que o novato se perguntasse se eles estavam se beijando. se inclinou ainda mais para frente, para ver se enxergava alguma coisa, quando eles caminharam até o meio da sala, na direção da porta.
Cacete! Era mesmo o tal do Gaston Everett. já tinha aceitado que ela era noiva do cara mais desejado da cidade, mas ver a confirmação era... Irritante? Surreal? Enlouquecedor? Ele não saberia dizer.
O homem estava lá, com toda a sua estatura musculosa envolvendo pela cintura. Ele lembrava até um pouco aquele ator... O tal do Colin Farrell, e quando Gaston se inclinou para depositar mais um beijo em , o estômago de embrulhou.
O herdeiro da Everett Enterprise era bonito, gostoso, rico... Como podia competir com isso?
Espera! Quem falou em competir?
- E aí, ? Onde estão as meninas? – Gaston perguntou.
, dentro do banheiro, uniu as sobrancelhas e disse baixinho, para os colegas:
- Meninas?
- Ah. Esquecemos de te contar. – respondeu River, que estava duas cabeças abaixo da sua no totem que formaram. – disse para o noivo que mora com sete mulheres.
- Sete mulheres? Por isso enfeitamos a casa com artigos femininos?
- Exato. – dessa vez, Caleb tomou a fala. – Ela nos deu o nome das princesas da Disney. Disse para Gaston que morava com a Mulan, a Ariel, a Aurora...
- E o idiota não percebeu?
Antes que alguém respondesse, o herdeiro da Everett já estava acariciando os cabelos da noiva e começando outro assunto.
Ele era excessivamente meloso, enquanto parecia contar os segundos para vê-lo longe dali. Ao passo que o homem parecia apaixonado e derramar mel, a pequena dava sorrisos amarelos e respostinhas desinteressadas.
- Bom, - Gaston falou. – eu só vim mesmo dar uma passada rápida. É uma pena que, mais uma vez, meu horário não tenha coincidido com o das meninas.
- Uma pena mesmo. – concordou, rindo sem jeito.
- Quem sabe em uma outra oportunidade? ... Em falar nisso, . – ele retirou um envelope do bolso do casaco. – Vou passar mais alguns dias aqui. Tem um sócio importante em Nova York que a Everett Enterprise precisa reconquistar. Eu e ele vamos sair daqui a duas semanas, para um programa mais casual e divertido. Tentar fortalecer os laços, sabe como é.
- Hm... Sei. Onde vocês vão?
- Na inauguração do novo parque aquático. Já ouviu falar do Splish Splash?
- Claro. A propaganda passa na tevê o tempo todo. – ela disse, lembrando-se dos anúncios. Lá parecia um lugar enorme, mágico e, sobretudo, caro.
- Então acho que você vai gostar do que eu tenho para você. – ele sorriu, radiante. – Quero que você vá comigo, lógico. Mas também... Prepare-se para a surpresa! ... Arrumei sete convites para as suas amigas de fraternidade! – Estendeu o envelope que tinha em mãos. Ela segurou, incerta. – E aí? O que achou?
encarou os convites, atônita. Sentiu o noivo abraçá-la pela cintura e se obrigou a responder, ainda longe da realidade:
- Eu achei... Hm... Uma ideia brilhante?

Maio

- Mais um dry Martini, por favor. – pediu ao garçom.
Já tinha virado duas taças da bebida, mas ainda não tinha se dado por satisfeita. O álcool em seu sangue ainda não era o bastante para aguentar aquela tarde insuportável.
Estava sentada no entorno de uma das várias piscinas do parque aquático. A sombrinha da mesa a protegia do sol causticante, e esperava que os óculos escuros tivessem disfarçado a quantidade de vezes que ela dormiu durante aquela conversa chata.
Ela e Gaston estavam de frente para Jonathan Mills – o sócio da Everett Enteprise – e sua esposa. Os dois homens já tinham conversado sobre contabilidade, sobre economia, as ações da empresa... pensou que Ashley Mills, mulher de Jonathan, pudesse salvá-la daquele tédio, mas assim que a senhora começou a falar do seu estojo de maquiagens da Channel, a mocinha mudou de ideia.
Estava completamente entediada. Não entendia nada sobre os números ou a situação da empresa, e as únicas vezes que era solicitada, era quando Gaston perguntava:
- Não é, meu bem?
Para isso, ela respondia um desinteressado “sim”.
Outra coisa que a estava incomodando além da conta, era o fato de que o noivo estava desnecessariamente pegajoso. Acariciava suas coxas descobertas – afinal, ela usava apenas um maiô listrado -, segurava e beijava sua mão o tempo todo e já tinha reivindicado pelo menos meia dúzia de selinhos.
detestava quando Gaston fazia isso. Afinal, não era como se ela estivesse com ele por amor...
Assim que o garçom depositou o dry Martini na mesa, comeu a azeitona que vinha dentro e virou tudo de uma vez. Antes o funcionário tivesse tempo de virar as costas para ir embora, ela disse:
- Um Cosmopolitan, por favor.
Ele consentiu, assustado com a determinação da garota, e se afastou.
Everett olhou para ela de soslaio, deixando transparecer sua preocupação. Aproximou a boca do ouvido da noiva, para falar:
- Pega leve, . Você não vai querer ficar tonta na frente do sócio.
- Relaxa, Gaston. Você sabe que eu sou super resistente. – falou convicta, embora sua cabeça já tivesse começado a girar.
- Sei... – o homem falou, estudando a menina. – É uma pena que suas amigas da fraternidade não puderam vir.
- É. – ela concordou como um soluço. – É realmente uma pena.
Então, virou o rosto para o grupo de rapazes que gargalhava a alguns metros de distância.
Seus sete colegas de república tinham aproveitado os convites e estavam lá, no Splish Splash, tendo um dia incrível. os observava correr até os toboáguas, relaxar em boias gigantes e curtirem com a cara do outro em várias brincadeiras aquáticas.
E era isso o que ela gostaria de estar fazendo. Gostaria de estar com eles e se divertindo.
O garçom chegou, colocando o Cosmopolitan rosado a sua frente. respirou fundo e disse:
- Acho que vou na barraquinha. Quero comprar alguma coisa.

- Mas foi ruim assim? – Caleb perguntou, enquanto os outros companheiros se matavam de rir.
- Quanto você vai xavecar uma mulher, Cale, você não deve, jamais, falar quantas bactérias estão se reproduzindo ao redor da boca dela. – River respondeu, gargalhando.
- Sem falar nesse seu calção apertado. – foi a vez de Dopey. – Dá para ver a tua bilunga balançando a quilômetros de distância!
Os rapazes deram mais gargalhadas divertidas, enquanto Ferguson fingia estar emburrado. estava sentado na borda da piscina, com os tornozelos enfiados na água.
Seu dia com os amigos estava sendo excelente, então não entendia por que, toda vez que olhava para , seu coração batia pequeno. Deixou que seus olhos caíssem na menina mais uma vez.
Ela, delicada e fofa dentro do maiô de babados, tinha se levantado da mesa. Gaston também se levantou, e usou seus braços fortes e peludos para puxá-la para si. O estômago de deu um salto e, no segundo seguinte, o homem já beijava do outro lado da piscina.
O herdeiro da Everett Enterprise abria muito a boca e tentava transformar aquele em um momento quente. , por outro lado, estava seca, murcha, como se não retribuísse nem um pingo da empolgação.
Ela se afastou do noivo e começou a se dirigir para uma das barracas de comida.
- ? Hum... ? – Sleepy chamou.
- Oi?
- A gente está indo no Insana, aquele toboágua do outro lado do parque. Vamos?
- Não, eu... – então olhou para mais uma vez. – Eu tenho que fazer uma coisa.

entrou na fila da barraquinha. Usava seus óculos de sol, um chapéu de praia e podia jurar que o chão estava gelatinoso. Pelo jeito, os efeitos do álcool estavam começando a atingí-la.
Ótimo. Se atingissem, ela podia se focar nos seus delírios e esquecer o dia aborrecedor que estava tendo. Podia viajar nas suas ilusões alcoólicas e pensar em outra coisa que não fosse aquela tarde.
- Que beijo mais frouxo, hein? – alguém sussurrou no seu ouvido e ela se arrepiou inteira.
Nem precisou se virar para saber quem era. Conhecia aquele calor, conhecia aquele cheiro.
- Não é da sua conta, . – ralhou.
- Tem razão. – o rapaz deu de ombros. Estava atrás da menina, na fila, e sussurrava para que as pessoas em volta não escutassem aquela conversa. – Eu só estou intrigado. É esse o cara com quem você vai se casar? É esse o cara que te leva para a cama?
expirou de forma densa. Seus músculos reverberavam de raiva e talvez... Talvez outra coisa. Um sentimento quente e poderoso que ela não sabia identificar.
- E mais uma vez, : não é da sua conta.
- Você não me parece o tipo de mulher que gosta de um relacionamento morno. – ele insistiu e ela rolou os olhos. – Sempre imaginei que gostasse de fogo, de faíscas... Não foi isso o que eu vi naquele beijo. Me diz. Seja sincera: ele te faz sentir prazer? – Assim que a viu se encolher, totalmente envergonhada, aproximou ainda mais a boca do seu ouvido, para prosseguir: - Ele já te fez ter algum orgasmo?
Nesse momento, a pessoa que estava na frente de saiu da fila, para que ela fosse atendida. A funcionária sorriu para ela e começou:
- Boa tarde, senhora. O que vai querer?
A menina, com as mãos cerradas em punhos, conseguiu rugir:
- Qualquer coisa que doa se bater em carne humana.
A atendente ficou sem reação por alguns segundos, enquanto o rapaz gargalhava.
- Deixa de ser doida, .
- Er... Hum... Acho que não temos nada parecido. Mas talvez você goste de um espetinho de frango?
- Ótimo. – ela concordou, emburrada. A funcionária logo providenciou.
- E para o senhor? – perguntou para .
- O mesmo.
Os dois caminharam para longe da barraquinha, com os pedidos na mão. respirou fundo algumas vezes, tentando retomar sua calma, e se virou para o novato:
- Você é totalmente desagradável.
- E você é um túmulo. – ele devolveu, com um sorriso torto nos lábios. – Eu só quero entender, , o que te levou a querer trocar alianças com esse cara.
Tomada por uma coragem repentina, a garota empurrou o rapaz até que ele estivesse encurralado contra uma das paredes do parque. Quando assim foi, apertou seu queixo e o virou para ela, para que seus olhos estivessem colados.
- , não importa o quanto você zombe da minha vida amorosa e sexual, você nunca vai entrar nas minhas calças. – rosnou, sem um pingo de paciência. O garoto levantou as sobrancelhas, estático. – Meu relacionamento já é uma droga sem você colocando pilha, então, por favor, só se afaste de mim e do meu noivo. É o melhor que você faz.
Ela saiu, marchando decidida até sua mesa.
ficou olhando para frente, abismado, por vários segundos. Seu coração batia acelerado e seu queixo ainda estava quente, logo no local em que estava a mão de .
“Só se afaste de mim e do meu noivo. É o melhor que você faz”.
Ouch. Por que aquelas palavras doíam tanto?

Depois da conversa que teve com , acabou virando o Cosmopolitan mais depressa do que deveria.
Seus batimentos cardíacos estavam acelerados, suas bochechas estavam coradas e ela não sabia explicar aquelas sensações.
Ficou inquieta do lado do noivo por vários minutos, até que não aguentasse. Precisava tirar o novato da cabeça. Precisava parar de pensar no que ele havia dito porque era... Errado.
Seu relacionamento não era morno, era? Droga! O garoto estava certo. Se era uma mulher que gostava de calor e fogos de artifício, por que estava aceitando aquele noivado frio? Por que aceitava um homem que não a fazia se sentir bem?
Irritada com as circunstâncias, se levantou.
O mundo parecia um redemoinho de cores. As coisas que estavam a sua frente já não faziam sentido, e a única coisa que escutava eram seus pensamentos.
Confusa e magoada, ela começou a se afastar da mesa.
- Para onde você vai? – Everett perguntou.
- Para a piscina de ondas.
- Espera! Eu vou com você.
- Não! – falou, praticamente em desespero. – Não, Gaston, fique aqui. Eu preciso de um tempo sozinha.
Saiu depressa da frente do noivo, indo para a piscina. Tentava manter seu andar firme, mas, com aquela quantidade de bebida no sangue, estava difícil não titubear.
Ela não se importava. Só queria entrar na piscina, ir lá para o fundo e limpar todas as suas lágrimas...

XX

Josh Carlton estava tendo um dia difícil como novo salva-vidas do Splish Splash. Estava no seu posto havia quatro horas e tudo estava em sua perfeita ordem... Exceto seu intestino. Putzgrila! Sua barriga roncava, tremia e ele sentia calafrios pelo corpo.
Uma diarreia brava, quente, estava querendo sair como a lava de um vulcão e, por mais que ele tenha segurado o dia inteiro, naquela hora estava praticamente impossível.
Olhou mais uma vez a piscina de ondas. Todos os banhistas estavam tranquilos, relaxados. Quase nunca presenciava um afogamento, então não seria em dez minutos que iria presenciar, não é mesmo?
Incomodado e aflito, Josh Carlton saltou da sua cadeira e correu em direção ao banheiro masculino.

XX

Uma música começou a tocar nos altos falantes do parque aquático e se ouriçou. Ela amava Cindy Lauper do fundo do coração, e “Girls Just Wanna Have Fun” era tudo o que ela precisava ouvir naquele momento.
- I COME HOME IN THE MORNING LIGHT! – gritou, chacoalhando o quadril e entrando na água.
Muitos dos banhistas que estavam no raso olharam para ela de relance. pôde escutar alguns sussuros de quem estava em volta:
- Essa aí já está para lá de Bagdá...
- Pinguça.
não se importava. Só queria aproveitar sua própria companhia. Só queria aproveitar a si mesma e a música de Cindy Lauper.
- OH MOTHER DEAR WE’RE NOT THE FORTUNATE ONES, AND GIRLS THEY WANNA HAVE FUN! – continuou a gritar, caminhando mais para o fundo.
As ondinhas, que batiam na sua canela, começaram a subir para os joelhos, as coxas e, por fim, já estavam na cintura. não se deu por satisfeita. Queria ir mais fundo.
As ondas já batiam no seus ombros quando percebeu que estava chorando.
Droga de vida. Droga, droga, droga. Se ao menos sua mãe estivesse com ela... Se ao menos sua mãe não tivesse morrido quando ela era pequena, ela poderia estar lá para aconselhá-la...
Por sorte, tinha a avó.
A senhora Petunia, mesmo que vez ou outra se esquecesse das coisas, sempre estava lá para ela. Era a figura materna que sempre quis e nunca teve. A menina poderia ter cursado a LSU (Louisiana State University) e continuado na casa do pai, mas queria tanto uma presença feminina em sua vida que foi para Nova York ficar perto da avó.
Chegava até a ser irônico. Queria estar entre mulheres e acabou indo morar com sete caras...
Suas amigas do Ensino Médio iriam vibrar com a notícia. Ficariam suspirosas só de imaginar sete homens sob o mesmo teto. Seria uma linda história de romance se o amor da sua vida estivesse entre eles...
Mas não estava. não podia amar. Não podia se apaixonar porque já estava prometida para Gaston.
Tomada de angústia, a garota acabou escorregando em um ladrilho da piscina e caindo toda embaixo d’água. Deixou que as ondas levassem embora suas lágrimas. Sentia as marolas a puxarem e empurrarem e o mundo girar a sua volta. Estava tonta. Estava mareada. Estava... Estava incapaz de se levantar.
Assim que percebeu que não tinha forças para se colocar de pé, o desespero tomou conta das suas ações. Começou a se debater, mexer os braços e as pernas para tentar emergir. Sem sucesso.
Remexia-se tanto que acabou engolindo uma porção de água. E depois dessa porção, aspirou mais outra e mais outra...

XX

- Oh girls just wanna have fun. – cantarolou, sentado em uma das mesas isoladas do parque aquático.
Depois do sermão de , estava custando a encontrar humor para alguma coisa. Sabia que os amigos estavam no toboágua, então estava tirando um tempo para colocar as ideias no lugar antes de ir encontrá-los.

Só se afaste de mim e do meu noivo.

O tanto que aquelas palavras o atingiam não podia ser normal. Aquela dor no peito, o estômago embrulhado... Por que se sentia assim?
Teria divagado mais a respeito, se não tivesse visto ao longe. A menina, com o seu maiô listrado de babados, parecia ter saído diretamente de outra época. Suas canelas eram finas e ela se remexia desengonçadamente ao som da música.
abriu um pequeno sorriso ao vê-la dançar, e se recostou ainda mais na cadeira ao perceber que seu corpo estava esquisito. Seus batimentos cardíacos estavam mais acelerados e as mãos tremiam de forma discreta.
Viu a menina entrar espalhafatosa na água, assustando os banhistas que estavam em volta, e tentou desviar sua atenção.
Queria pensar em qualquer outra coisa que não fosse . Aquela menina era uma megera doida. Ela vivia tirando do sério, então por que... Por que ele se sentia tão atraído? Por que se sentia tão “de quatro” por uma certinha CDF?
Ergueu o rosto para admirar a piscina novamente. Queria dar mais uma olhada em antes de ir para o toboágua. Quando o fez, no entanto, seu coração gelou.
A menina estava sozinha no fundo e batia os braços, esbaforida. Pareceria até uma atitude normal... Se ela não estivesse tão desesperada. Se ela estivesse conseguindo se colocar de pé!
Em um segundo, se levantou da cadeira para observar melhor a cena e, assim que o fez, parou de se debater e se deixou afundar na piscina.

- PUTA MERDA! SAI DA FRENTE, PORRA. SAI DA FRENTE! – berrou, correndo em disparada para a piscina de ondas.
As solas dos seus pés queimavam no chão escaldante; ele já havia trombado em duas crianças e uma espreguiçadeira quando chegou ao local desejado.
Escaneou a piscina com os olhos e encontrou a silhueta de lá embaixo. Jogada, imóvel. Com o sangue saindo do rosto e o coração a todo vapor, tomou impulso e pulou na água.
Deslizou até a menina, passou o braço por seu ombro direito – como se fosse um cinto de segurança -, e nadou até a superfície, levando-a junto. Virou o rosto de para cima e começou em um nado de crawl violento e incisivo. Moveu-se até estar mais no raso e, quando assim foi, tomou a pequena nos braços.
As pessoas que estavam em volta admiravam assustadas. Um alto burburinho já tinha começado a se formar nos entornos, enquanto ele saia com a garota desacordada no colo e a deitava na beirada da piscina.
- Ela afogou?
- O que aconteceu?
- Como ninguém viu? Onde estava o salva-vidas? – as pessoas cochichavam, ao passo que tirava os cabelos do rosto de .
O sangue fervia ao correr por suas veias, e a ideia de perdê-la era tão insuportável que seus olhos já tinham se enchido d’água. Aproximou a mão do nariz da mocinha e, quando constatou que ela não respirava, a adrenalina atingiu outro patamar.
Como nenhum dos idiotas que estavam em volta percebeu que ela estava afogando? Por que ninguém pulou para salvá-la?
- CHAMEM UM MÉDICO! – ele esgoelou, em completo pânico. – CHAMEM UM MÉDICO URGENTE!
Alguns espectadores saíram correndo para atender o comando.
se virou para mais uma vez, indeciso. Já tinha visto os procedimentos de salvamento aquático em diversos filmes, mas nunca tinha executado um. Suas mãos tremiam de insegurança, mas ele não tinha tempo a perder.
Sabia que, a cada segundo que passava, ele estava mais próximo de perder sua pequena . Aquela bruaca que tirava seu sono.
Colocou uma mão por cima da outra e as espalmou no peito de . Começou a empurrar e massagear sua caixa torácica, rezando para que aquilo fizesse algum efeito em seus pulmões. Como permaneceu imóvel, ele decidiu que teria que recorrer ao extremo.
Tampou seu nariz, puxou seu queixou para baixo e se inclinou para frente, colando os lábios nos da menina. Começou a fazer, desesperado, uma respiração boca a boca desajeitada e que ele duvidava que surtiria o menor efeito.
Puxou o ar para soltá-lo na boca de mais uma vez e, de repente, tudo aconteceu rápido demais. ficou tão desorientado que não soube o que aconteceu primeiro: a golfada de água que a menina colocou para fora ou o murro que ela lhe deu no rosto.
- Ai, porra! – ele resmungou, segurando o maxilar atingido.
ainda estava curvada para frente, tossindo e expelindo o resquício de água dos seus pulmões. Os cabelos estavam jogados no rosto e, assim que as tosses ficaram menos frequentes, ela se voltou para o rapaz.
- Você estava com a língua na minha garganta! – acusou, embora custando a encontrar a voz.
- Eu estava fazendo respiração boca a boca! – devolveu, querendo rolar os olhos. Nem mesmo em uma situação de vida ou morte ela ficava gentil. Era de se esperar...
- Isso não era respiração boca a boca. – disse, ofegante. – Era um beijo de língua! Quem você pensa que é para me acordar assim? Meu príncipe encantado?
- Eu pensei que estava salvando a droga da sua vida miserável, isso sim! – ele gritou, erguendo os braços e tentando fazê-la ver a razão. – Eu salvei a sua vida, ! Você podia ser um pouquinho mais agradecida.
Então foi aí que a ficha caiu. olhou para os lados, para a multidão que a encarava com curiosidade, e depois para a piscina de ondas. Lembrava-se de ter escorregado nos ladrilhos e, em seguida, não ter mais conseguido ficar de pé.
Seu nariz e sua garganta ardiam, como se ela tivesse aspirado areia, e seu peito estava dolorido. A menina levantou a alça do maiô – que tinha caído – e parou de tentar lutar contra o óbvio.
Ela estava se afogando e tinha acabado de salvar a sua vida.
Aos poucos, sentiu o rubor alcançar suas bochechas. Seu coração bateu aquecido e, com a cabeça baixa, voltou a olhar para o rapaz.
- , eu...
- Santa mãe do guarda! Aí está você! – eles ouviram uma voz masculina e familiar. Em milésimos de segundo, Gaston já estava empurrando as pessoas que estavam em volta para fazer seu caminho até a noiva. – Droga, . Droga, meu amor. – Ele se agachou entre e a garota, não dando a mínima para . – Assim que ouvi que alguém tinha se afogado na piscina de ondas, eu vim direto para cá. Como você foi descuidada, !
O grandalhão a envolveu em um abraço apertado. Por cima dos ombros de Everett, pode ver a expressão decepcionada de . Quis dizer alguma coisa. Quis amenizar aquela situação de alguma forma, mas não soube como.
- E você, rapaz. – Gaston se virou para ele. – Muito obrigado por salvar a minha noiva. – Estendeu a mão para que o outro a apertasse, e assim ele fez. – Ela é o amor da minha vida e eu não sei o que faria sem ela.
- Não há de quê. – então lançou um olhar significativo para . – Vocês formam um belo casal.

Junho

Desde o incidente no parque aquático, a vida na fraternidade Oozma Kappa tinha mudado drasticamente. Os moradores estavam até estranhando a falta de gritos e o sumiço da troca de farpas. O cessar fogo entre e tinha começado de uma hora para a outra e ninguém, nem mesmo Caleb, sabia explicar o porquê.
parecia não querer falar a respeito; também não estava mais inclinada a contar qualquer coisa. A questão era que a menina estava gentil, amigável e solícita com o novato. Passava o saleiro para ele, no café da manhã, sem discutir; gritava menos quando deixava as meias na sala e até já tinha rido um pouquinho das suas piadas.

Em uma noite de sexta, quando todos tinham ido para uma festa no campus da NYU, tentava se concentrar nos cadernos de estudo. Matemática Discreta e Antropologia Social não eram, nem de longe, suas melhores matérias.
Ela não tinha tempo para diversão, no entanto. Não tinha tempo para festas. Precisava estudar se quisesse ter alguma chance de burlar o acordo. Já tinha conversado com a avó a respeito, naquela tarde, e a dona Petunia só a incentivou.
“- Batalhe por sua liberdade, minha querida”. Foi o que ela disse, e era isso o que iria fazer.
Quanto mais o tempo passava, mais ela se sentia sufocada dentro daquele noivado. Embora Gaston Everett fosse um dos solteiros mais cobiçados do país, não era ele quem ela queria.
Aliás, nem queria alguém, ao certo. Só queria ter a possibilidade de ser livre. De encontrar que realmente a fizesse soltar faíscas... Ao pensar nisso, involuntariamente, suas memórias recaíram em .

- Ai, droga! Que susto! – ele disse, colocando a mão sobre o peito.
Estavam no meio de uma madrugada de terça-feira. O rapaz tinha se levantado para pegar água e se deparado com sentada no sofá da sala, abraçada com os joelhos.
- Quem você pensou que fosse? – ela perguntou irônica, embora sua voz tenha saído completamente fraca. – O lobo mau?
- , você está... – começou, aproximando-se da mocinha. – Você está chorando? - O garoto se ajoelhou a sua frente, preocupado, e segurou suas mãos com carinho. - O que aconteceu, minha linda?
Quando ele a chamava assim, todos os seus pelos se arrepiavam e ela era incapaz de contar uma mentira. Antes que pudesse se conter, ela já estava murmurando:
- Hoje é o aniversário da minha mãe. – apertou ainda mais o abraço em torno dos joelhos. – Ela morreu quando eu era pequena.
soltou um suspiro denso, então se sentou no sofá para abraçar a menina de lado. Beijou seus cabelos e a manteve junto a ele, em um casulo de carinho e proteção.
- Tudo vai ficar bem, meu amor.
- Para você, é fácil falar. – ela debochou, embora estivesse derretida. – Você tem a família perfeita: pai advogado. Mãe dona de casa. O que já aconteceu de errado para você, ?
Ele deixou o olhar se fixar no vazio e se perdeu em pensamentos.
- Você tem razão.


Já estava sentindo o coração aquecido, ao mergulhar naquelas lembranças, quando viu atravessar a porta da sala. saltou da cadeira, com o susto.
- O que você está fazendo aqui? – perguntou, confusa.
Ele estreitou os olhos, como se não entendesse a pergunta.
- Eu, ãhn... Moro aqui?
- Não, digo... Por que você não está com os outros meninos?
- Na festa da NYU? – questionou e ela assentiu. – Eu tenho outra festa para ir hoje. Com meus amigos da Juilliard, sabe como é.
- Sei. – a menina respondeu e encolheu os ombros. Chegava a ser meio incômodo estar a sós com aquele pedaço de mau caminho.
- E você? O que vai fazer hoje? – quis saber, interessado.
- Eu? Ãhn... Vou estudar. Gaston está em uma das cidades vizinhas e só volta mais tarde. Ele pediu para eu aparecer no apartamento dele por volta de meia-noite. – deu de ombros. consentiu com a cabeça, colocou as mãos nos bolsos e olhou para o chão.
Um breve silêncio se instalou na sala, fazendo com que ambos ficassem sem graça. estudou o ambiente, depois pensou nos últimos dias que passou com o novato e tomou coragem para falar:
- ... – chamou baixinho e ele se virou para ela. – Sobre o parque aquático... Acho que nunca te agradeci devidamente.
sorriu.
- Tem uma forma de você me agradecer. – ele disse e, quando ela instigou com os olhos, o menino respondeu. – Vá à festa comigo hoje à noite.
sentiu as bochechas corarem e deu risadas.
- Não posso. Eu preciso estudar. Além do mais, eu disse para Gaston que estaria...
- Que estaria na casa dele à meia-noite. – completou. – É só daqui a várias horas, . Eu não aceito um “não” como resposta.

XX

- ... Ai, meu Deus, . Eu não posso fazer isso! – falou, assim que chegaram de frente para o salão onde seria a festa .
Não acreditava que tinha concordado com aquela sandice. Não acreditava que tinha concordado em acompanhá-lo.
- , calma. – ele pediu, postando-se de frente para ela e segurando seu rosto. O cheiro delicioso e oriental que ele exalava quase a embriagou. – Você está surtando desde que entramos no táxi. Relaxa. Não é só porque você não vai passar a noite estudando que tudo será um desastre.
- Vai ser um desastre! – ela devolveu, em desespero.
Assim que ela começou a se afastar, para ir embora, ele a segurou pelo braço.
- Será que dá para esquecer que você é por um instante? As coisas não precisam ser sempre certas. As coisas não precisam ser sempre na linha.
- . – ela falou, virando-se para ele. Em seu vestido rosado e de saia plissada, estava uma graça. – Eu só... Eu só nunca aprendi a ser de outra forma.
- Então vamos fazer o seguinte. – ele começou, com os olhos reluzindo em brasas. – Hoje você será outra pessoa. Hoje você será minha amiga Emma Swan. Pode ser?
Ela respirou fundo e piscou algumas vezes.
- Como a protagonista de Once Upon a Time?
- Exatamente como ela. – colocou o cabelo de para trás da orelha. – Então pare de se preocupar com os afazeres de , Emma Swan. Só temos poucas horas para aproveitar a noite antes de você voltar para o seu noivo brocha.
A menina tomou ar para responder, mas antes que tivesse a chance, ele já tinha entrado no salão. Emburrada e insegura, a pequena acabou fazendo o mesmo caminho.

já estava na festa há algumas horas e tinha que confessar que estava se divertindo a beça.
O salão era iluminado por uma luz avermelhada, várias mesas estavam espalhadas pelo ambiente e a fumaça de cigarros passeava pela sala como uma névoa discreta. Um palco improvisado tinha sido fixado na frente, e era lá onde os alunos da Juilliard faziam apresentações.
Alguns com flautas, violinos, tambores... Cada hora era um ritmo diferente, que os universitários se esforçavam em seguir na hora da dança.
O jazz estava tocando havia já alguns minutos, e estava sentada na mesa com Lenon e Sky, dois dos amigos que tinha feito na faculdade. O rapaz estava no palco, tocando o saxofone e vez ou outra lhe dirigindo um olhar.
- Você é muito mais legal que a menina que levou na última festa. – Lenon falou, entretido.
- É. – concordou Sky, colocando uma mecha longa de cabelos atrás da orelha. – A tal da Shelby era um nojo. Você é demais, Emma.
Emma Swan. não sabia o que a impressionava mais: eles terem acreditado na mentira ou ela ter gostado disso. Estava amando ser outra pessoa pela primeira vez.
Assim que a música terminou, largou o saxofone e foi em direção a mocinha. Estendeu a mão, para que ela se levantasse, e no segundo seguinte estavam rindo, olhando um para o outro.
- E aí? O que achou?
- Confesso que, dessas músicas, eu só conhecia as do Frank Sinatra. – ela disse, com a voz engraçada. – Mas essa que você tocou é boa também.
- Emma Swan, precisamos apurar seu gosto musical. – falou, brincalhão, colocando as mãos de em seu pescoço.
A garota corou e tentou recuar, mas ele não permitiu. Segurou a cintura de e a puxou para perto, para encostar a bochecha na sua.
- , eu não sei dançar. – argumentou, ruborizada.
- Não. não sabe dançar. Emma Swan adora dançar colado. – falou em um sussurro e ela riu.
- Eu não sei o que fazer!
- É só balançar para lá e para cá. No ritmo da música. – demonstrou, guiando-a pelo salão. I Wanna Be Around, na versão de Tony Bennett, era primorosamente tocada e cantada pelos estudantes.
se deu por vencida e acabou deitando o rosto no ombro de . Gostava do cheiro do rapaz. Gostava do seu calor e, nas últimas semanas, percebeu que ele despertava reações estranhas em seu corpo.
Seu coração disparava quando ele aparecia sem camisa; sua saliva sumia sempre que ele a tocava e, frequentemente, a menina se perdia em devaneios sobre ele.
Mal sabia ela que se sentia da mesma forma. Havia tempos que estava lutando contra os próprios sentimentos.
Metade das vezes, o rapaz sentia vontade de esgoelar . Na outra metade, pensava em como Gaston era sortudo por tê-la e amaldiçoava o destino por nunca ter tido qualquer chance.
Fala sério! Com um homem daqueles como noivo, quem olharia para ele? Ele era só o pobre , um músico pé rapado. não era mais do que um sapo perto do príncipe Gaston.
Ali, na festa da Juilliard, enquanto ele a tinha nos braços, mal podia acreditar.
- Você pode sentir o amor esta noite? – cantarolou Lenon para . Ele dançava logo ao lado, examinando o amigo com atenção. – Você não precisa olhar muito longe.
- Cala essa boca. – sussurrou de volta e Lenon e Sky caíram na risada.

Mais algumas horas tinham se passado e grande parte dos convidados tinha ido embora. Só restava um pequeno grupo sentado no chão: todos bêbados e girando uma garrafa no “verdade ou desafio”.
estava com vários botões da camisa abertos. Tinha um sutiã pendurado na cabeça – de onde tinha surgido aquilo, mesmo? -, e a sua embriaguez já era evidente.
O mesmo podia se dizer de . A menina ria de tudo, ria à toa, e nem se preocupava se, da posição em que estava, os companheiros podiam ver sua calcinha.
- Uhul! Eu pergunto para a Emma. – Sky falou, empolgada. – Okay. Verdade ou desafio?
- Verdade.
- Certo... – pensou por alguns segundos. – Qual foi seu momento mais embaraçoso?
- Pensei que as respostas fossem só “sim” ou “não”...
- Aff... Eu que tive a ideia do jogo. – Sky argumentou. – Eu crio as regras. Não precisa ser só “sim” ou “não”.
- Okay. – mordeu a unha do dedão, sapeca. Deu uma breve olhada em , que observava tudo como uma ave de rapina, e respirou fundo. – Foi há três anos. Eu fiquei muito tonta em uma festa e acabei beijando três caras na mesma noite.
- O quê? – ele perguntou, erguendo as sobrancelhas. No canto dos lábios, estava um sorriso reprimido. – Não acredito. Você é careta demais para fazer uma coisa dessas!
- Pois acredite se quiser. – ela deu de ombros, marota. balançou a cabeça, totalmente fascinado. – O último foi o barman. Vomitei nos sapatos dele depois do beijo.
- Nãããão! – ele falou, depois começou a rir. Conhecer aquele lado de , brincalhão e descontraído, estava sendo uma bela de uma surpresa.
Mais algumas rodadas se passaram. Sky foi desafiada a beijar uma morena que estava na roda; uma loira foi desafiada a beijar – nessa hora, olhou para o lado, irritada -; e Lenon já tinha simulado um strip-tease.
Tudo estava muito engraçado e divertido, quando o bico da garrafa se voltou para mais uma vez. Ela pediu “verdade”.
- Okay, Emma... – um dos meninos da roda começou. se empertigou no próprio lugar, curioso. – Qual foi a posição sexual mais esquisita que você já experimentou?
O silêncio tomou conta do lugar. Aquelas perguntas, as apimentadas, eram sempre as que faziam mais sucesso. Todos estavam loucos para arrancar dos companheiros detalhes sobre as suas intimidades.
- Eu... – ela começou, com as bochechas ficando vermelhas. – Para ser bem sincera, eu... – colocou os cabelos para trás da orelha. Olhou brevemente para , depois para o chão. A pequena estava vermelha e constrangida, e coçou o braço algumas vezes antes de dizer: - Eu nunca... Eu não... Eu sou...
- VIRGEM? – gritou, absurdado. Seus olhos se arregalaram e o queixo caiu, de total estarrecimento.
- Isso, . – ela repreendeu, irônica. – Fala mais alto. Acho que minha avó não escutou do lar dos idosos.
- Mas isso não pode ser. – ele continuou, trêmulo. – Você está noiva. Você... O Gaston... Você...?
- Não. Nunca fizemos nada. – falou, tímida. – Eu sou virgem. SOU VIRGEM. Feliz?
Ele continuou a olhar para ela, como se não tivesse assimilado aquelas palavras, e a brincadeira continuou.

Quando foi a vez de Lenon desafiar , ele pediu que Emma – e ficassem sete minutos no armário de vassouras. “Sete minutos no paraíso”, foi o que ele disse, e a menina logo retrucou:
- Ei! O desafio é dele. Não meu.
- Você está na brincadeira também, Emma. Deixa de ser chata. – Lenon brincou e, um pouco relutante, ela se arrastou até que estivessem fechados do lado de dentro.
O armário era pequeno, escuro, e precisou de alguns segundos para que enxergasse a silhueta de . O menino estava parado, estático, e pareceu desconfortável durante o tempo em que ficaram em silêncio.
Para tentar quebrar o clima estranho do local, tomou a fala:
- Virgem, ãhn? Quem diria...
- Pois é.
- Há quanto tempo você e o Gaston são noivos, mesmo?
- Três anos.
- E ele nunca... – engoliu em seco e colocou as mãos nos bolsos. Seu coração estava disparado e ele se sentia desajustado no próprio corpo. – Ele nunca tentou nada?
- Algumas vezes, mas eu nunca cedi.
- Por que não?... É alguma crença dos seus pais da roça? Tipo... Nada de sexo antes do casamento?
revirou os olhos.
- Meus pais não são da roça. E não, . Não tem nada a ver com isso. Eu só queria... Só queria perder a virgindade com alguém que fosse especial para mim.
ofegou. Podia ver as feições de iluminadas pela fresta da porta. A adrenalina corria quente por suas veias e ele não sabia mais o que pensar.
- E o Gaston não é essa pessoa especial? – murmurou.
- Não.
- Mas você não acha que já é tarde demais para esse tipo de coisa? – ele insistiu. A voz ainda saía fraca e baixa. – Vocês vão se casar. Ele vai ser o único homem na sua vida... Para sempre. Não é melhor ceder de uma vez?
Ela encolheu os ombros, sentindo-se pequena.
- N-não sei. – sussurrou. – Eu s-só... Não sinto que é a hora certa.
mudou seu humor da água para o vinho. Saiu do acanhado para o sabichão e abriu um sorriso torto encantador. Aproximou-se de até espalmar as duas mãos ao lado da sua cabeça.
- Sabe qual eu acho que é o problema? – perguntou, sensual. A menina negou. – Acho que você está procurando uma válvula de escape. Uma alternativa. Um homem que tire seus pés do chão e te faça mudar de ideia sobre esse casamento.
- Você não me conhece, ... – falou com a respiração entrecortada.
- Tem razão. – deu de ombros, depois levantou o queixo de em direção ao seu. – Mas gostaria de conhecer... Eu quero ser esse homem. O homem que tira a sua razão e que vai te roubar do altar. – Aproximou os lábios dos dela e , imediatamente, fechou os olhos.
O coração da garota estava acelerado, seus pelos arrepiados e a pele ansiosa para encostar na de . Mil borboletas voavam no seu estômago e ela estava louca para que ele anulasse a pouca distância e a tomasse em um beijo guloso e violento.
Não foi o que ele fez, no entanto. deu uma risada baixa e se afastou.
- Mas eu tenho respeito. – olhou para os sapatos. – Pode deixar comigo, . Você ainda é noiva do Everett e eu não vou encostar em você.
- Pensei que hoje eu seria outra pessoa. – falou, antes que pudesse se conter. levantou o rosto, surpreso, e seus batimentos cardíacos dispararam, descontrolados. A mocinha o puxou para perto, pela jaqueta, e ele permaneceu sem reação. – Pensei que hoje eu seria Emma Swan. E Emma Swan quer muito um beijo seu.
expirou, tomado de confusão e cobiça. Seus pensamentos ricocheteavam como vespas e, antes que sua honra pudesse se manifestar de novo, ele sibilou:
- Dane-se.
Agarrou pela cintura e os cabelos, para grudar seus lábios. Assim que o fez, sentiu uma corrente elétrica poderosa atravessar seu corpo. Suas mãos tremiam de desejo e, quando sua língua se encontrou com a de , ele sentiu uma explosão de sensações no peito.
As línguas se acariciavam, entendiam-se, e fez o desenho das curvas de com as mãos, venerando cada pedaço. A menina deu um gemido embevecido e trilhou um caminho erótico e desejoso por baixo da camisa de . Contornou seu peitoral com os dedos e acariciou seus músculos até chegar ao cós da calça.
Insano de prazer e maravilhado com aquele momento, o rapaz a levantou até que ela estivesse com as pernas cruzadas em volta de sua cintura. Quando assim foi, ele continuou o beijo, desesperado.
Juntos, eles soltavam fogos. Soltavam faíscas.

não tinha mais nenhum sopro de ar nos pulmões quando resolveu pegar fôlego. Afastou-se de e encostou a testa na dele, ofegante. Seus lábios pinicavam e ela jurava que nunca tinha sentido tanta cobiça. O tesão estava aceso em seu umbigo como se fosse uma vela.
- ... – falou, a voz saindo fraca e exausta. – Acho que já acabaram nossos sete minutos...
- Não acabaram, não. – ele retrucou, manhoso, dando mais um selinho na menina. – Só se passaram dois minutos, . Nós ainda temos muito tempo. – Tentou continuar a beijá-la, mas ela riu, afastando-se.
- Não, sério. – falou, bem-humorada. – Acho que nos esqueceram aqui.
A mocinha levantou o relógio na frente dos olhos e o apertou, para que o visor ficasse iluminado.
Meia-noite e quinze...
Puta merda. GASTON!!!
Empurrou para longe, sentindo a realidade atingí-la como uma avalanche. Seus olhos se encheram d’água quando percebeu o que acabara de fazer. Quando percebeu o que acabara de sentir.
- São... – começou, com a voz embargada. – São meia-noite e quinze. Eles nos deixaram aqui por meia hora! Eu... Eu preciso ir!
- O quê? – os olhos de se encheram de confusão. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ela já tinha escancarado o armário e corria para o lado de fora.
Todos os amigos da Juilliard, que ainda estavam sentados no chão, voltaram os olhos para os dois. se despediu rapidamente, pegou a bolsa e começou a fazer seu caminho até a porta.
ficou em choque por alguns segundos, depois foi sugado de volta para aquele momento. Sem pensar duas vezes, apressou-se para ir atrás da menina.
- Levanta a calça, ! – Sky gritou, fazendo com que ele se lembrasse daquele detalhe. Durante seu instante quente com , ele tinha ficado tão excitado que abriu os jeans, para não ser incomodado pelo tecido. Agora que a calça escorria pelas coxas, ele estava começando a acreditar que aquela tinha sido uma péssima ideia.
Chegou do lado de fora do salão ainda a tempo de ver na beirada da calçada, com a mão estendida.
- Táxi! Táxi! – ela chamava. Um dos carros amarelos dirigiu até se estacionar na frente dela.
Antes que a garota pudesse entrar no veículo, no entanto, já tinha segurado a sua mão.
- Fica. – pediu, ofegante pelos beijos e a corrida.
Os olhos de estavam cheios d’água.
- Eu não posso. Prometi para o Gaston que estaria na casa dele à meia-noite e...
- Para a puta que pariu com esse Gaston! – ele gritou, irritado. Sua calça jeans estava quase no meio das coxas, deixando a boxer preta a mostra. – Quer dizer então que você diz que quer me beijar, deixa que eu te agarre e depois sai correndo para os braços de outro homem?
- , você não entende...
- Tem razão! – gritou, exasperado. – Você tem razão. Eu não entendo. Foi você mesma que disse que Gaston não era especial. Eu posso ser esse homem especial, . – Bateu a mão no peito, aproximando-se dela e segurando-a por trás da nuca. – Eu sei o que eu te faço sentir. Eu sei que você solta faíscas quando está comigo... – Tentou puxá-la para um beijo, mas rejeitou.
- , para. – pediu, quase em desespero. – Eu realmente não posso.
- Eu só quero entender o porquê! – ele gritou mais uma vez, com o rosto vermelho de raiva e decepção. – Você, por acaso, ama esse cara? Está apaixonada por ele? – Sua mão ainda segurava a dela e seu peito estava arfante. As lágrimas já enchiam os olhos de e pequenos tremores tomavam o corpo da mocinha. – Só me diz isso. É só me dizer que você ama o seu noivo que eu desapareço.
- E-e-eu não posso. Eu realmente tenho que ir.
Dizendo isso, deixou que algumas lágrimas rolassem por suas bochechas. Desvencilhou-se de , entrou no táxi e bateu a porta. Olhou o retrovisor e fingiu não ver o garoto magoado que tinha deixado para trás.

Julho

- Vó. – choramingou. Estava debruçada sobre a cama da avó no lar dos idosos. A senhora Petunia olhava para ela com o olhar maternal e pesaroso. – As coisas estão impossíveis. não fala mais comigo e eu não aguento mais olhar para o Gaston. O que eu faço?
- Seja sincera com os seus sentimentos, minha querida. Anule este noivado. – respondeu Petunia, acariciando os cabelos da neta.
- Quem dera eu pudesse! Não posso romper o acordo assim, sem oferecer nada em troca. Foi o trato que eu fiz com os Everett, mas é tão difícil aceitar... Mês que vem será a festa de aniversário da empresa. Acho que Gaston planeja oficializar o noivado, e vó... Eu simplesmente não estou pronta! Eu não consigo parar de pensar em ! E sabe qual é o pior? É que eu nem sei se ele sente o mesmo!
- Você já tentou perguntar?
- Não! O que eu diria? “Ei, , por algum acaso você gosta de mim”? Vovó, eu estou é frita.

XX

tentava estudar enquanto treinava uma nova música no saxofone. Era sábado e, mais uma vez, seus outros amigos da Oozma Kappa tinham ido para uma festa da NYU.
Seria mais um dia ordinário em casa, se ela não se sentisse tão desconfortável. Seu coração batia acelerado ao ver o novato, e a frieza que ele adotava quando estava perto dela quase a fazia chorar.
Quantas vezes já não tinha se pegado pensando naquele armário? Naqueles beijos tão cheios de paixão e fogos de artifício?
Incomodada com o silêncio que havia entre eles, resolveu deixar o orgulho de lado e se aproximar. Sentou-se no sofá, próximo da poltrona em que estava sentado, e observou o jornal em cima da mesinha de centro. Havia um enorme círculo vermelho em um dos classificados.
- Uau. Um concurso de composição de jazz? – ergueu as sobrancelhas. – E o prêmio é... Caramba! Quinhentos mil dólares e o contrato com uma gravadora? Que loucura! Você vai tentar?
Ele olhou emburrado para o lado, ponderando se deveria continuar com aquela conversa. Depois respirou fundo e, com frieza, respondeu:
- Não. Não sou bom em compor. Só em reproduzir.
- Deixa de ser besta! Aposto que podemos compor um jazz agora. Não deve ser tão difícil. – ela pegou um bloquinho e um lápis que estavam em cima da mesa, quando , massageando as têmporas, murmurou:
- , para. Eu não estou no clima para compor. Ou para brincar. Não estou no clima para nada que envolva você, para se bem sincero. – seu tom era frio e distante.
A menina deixou os olhos caírem de decepção. Seus ombros estavam encolhidos e ela olhou para os próprios pés, pensando no que dizer.
Sua avó tinha sugerido que ela fosse sincera, não é mesmo? Talvez ela devesse tentar...
- ... – sussurrou, alto o bastante para que ele voltasse sua atenção para ela. – Sobre Gaston e eu... Eu vou te contar.
- Ah. – ele disse, rindo em escárnio. – Vai me contar o porquê de você estar noiva de um homem que não ama? Um homem que não tira seus pés do chão ou te faz sentir prazer? Aquele homem que, mesmo apesar de tudo isso, você escolheu ao invés de mim? – Seu tom era amargo e sarcástico. – Pode começar a historinha, . Eu estou louco para saber.
largou o saxofone de lado e cruzou os braços. revirou os olhos, incomodada com a ogritude do rapaz.
- Para sua informação, , é um casamento arranjado. – falou irritada e ele a instigou a continuar. – Meu pai e o pai de Gaston eram amigos de infância.
- E combinaram de casar os filhinhos? – disse com a voz afetada. - Que lindo. Estou emocionado.
- Cala a boca. Eu ainda não terminei. – ralhou, tentando reunir paciência. – Minha mãe teve um tumor muito grave no cérebro, quando eu era pequena, e acabou falecendo. Em uma época, ela chegou a se livrar do tumor e os médicos aconselharam que ela fizesse a radioterapia a base de prótons, para impedir o câncer de voltar. O problema era que o tratamento era muito caro, muito além do dinheiro que podíamos bancar. – Ela respirou fundo e cruzou as mãos no colo. O olhar de , agora, já não era tão hostil. – Meus pais decidiram contar com a sorte, apostar que o câncer não voltaria e, no ano seguinte, os sintomas reapareceram com força total. Minha mãe morreu logo depois.
- Sinto muito. – ele disse, até um pouco gentil.
- E então, quando eu tinha oito anos... – ela começou, abaixando ainda mais o rosto e se permitindo voltar ao passado. – Eu comecei a sentir fortes dores de cabeça. Meu nariz sangrava e eu cheguei a desmaiar na escola, certa vez. Embora tenhamos ido a vários médicos, meu pai não precisava de ninguém para entender o que estava acontecendo: eu também tinha o tumor.
se remexeu desconfortável na cadeira, incomodado com os rumos que a história estava tomando.
- E aí?
- E aí que ele resolveu tentar o tratamento a base de prótons. Não tínhamos o dinheiro, então meu pai pediu emprestado para...
- Os Everett? – o rapaz questionou e ela assentiu.
- E cá estou eu. Sem nenhuma sombra do câncer.
- Espera. – franziu o cenho. – E seu pai prometeu sua mão em troca?
- Não. – abriu um sorriso. – Ele estava trabalhando duro para ressarcir o amigo. Mas trezentos mil dólares, ... É muita coisa. Ainda mais para um pequeno comerciante como o meu pai. Sempre soube do interesse de Gaston por mim e, quando já tinha idade o bastante, procurei os Everett para renegociar a dívida. O herdeiro pediu a minha mão em troca e eu, bom... Eu aceitei.
- Então você se sacrificou pelo seu pai? – indagou, com as sobrancelhas erguidas.
- Porque ele já se sacrificou muito por mim também. – respondeu, acanhada. – Quando eu estava doente, tive que passar muito tempo presa em casa. Eu gostava de fingir que era uma princesa em uma torre. E meu pai... Meu pai sempre cuidou de mim. Sempre me deu tudo o que eu precisava.
- E ele sabe o que você fez? – as feições de estavam mais amenas, quase compreensivas. – Sabe que você renegociou?
- Não. – ela balançou a cabeça. – Ele acha que o senhor Everett encerrou a dívida como uma gentileza.
- Mas ele não estranhou o fato de você ter ficado noiva do filho do cara?
- O noivado ainda não é oficial. – ela abraçou o próprio corpo. – Só está nos papeis do acordo, por enquanto.
se debruçou sobre os joelhos e massageou a testa. Aquela história toda era uma loucura. Não acreditava que tinha se apaixonado pela única menina que não podia ter.
- Trezentos mil, hum? – perguntou baixo e ela assentiu. – É isso o que você vale para ele?
- ... – ela disse, em meio a um suspiro reprovador.
- Tanto faz. – ele falou, esgotado, e se levantou da poltrona. – Estou esquentando o macarrão de ontem no forno. Vou jantar agora. Você quer me acompanhar?
Ela fez que sim e, estendendo a mão para ela, a guiou até a cozinha.

e estavam escorados na bancada, com duas tigelas de macarrão na mão. Devoravam a massa avermelhada de molho como se não comessem há séculos.
- Eu também não tenho sido muito sincero com você. – ele confessou baixinho, entre uma garfada e outra.
deixou a tigela um pouco de lado para analisá-lo. Os olhos do menino brilhavam de vergonha e suas bochechas estavam coradas.
- O que foi, ?
Ele sorriu.
- Já reparou que, cada vez mais, você me chama pelo meu primeiro nome? – sua voz estava maravilhada. – Eu gosto disso.
Ela rolou os olhos, também sorrindo.
- Sobre o que você não tem sido sincero?
O novato colocou a tigela na bancada, para olhá-la de frente. Seu coração batia disparado e o estômago estava embrulhado de ansiedade. Aquele era um assunto delicado que ele não compartilhava com quase ninguém.
- Eu não tenho a família perfeita. – falou de uma vez, antes que pudesse se impedir. – Meu pai não é um advogado. É um alcoólatra que vive tendo problemas com a polícia. Ele e minha mãe sempre tiveram uma relação violenta e complicada...
A garota piscou os olhos, surpresa.
- Seu pai... Agredia a sua mãe?
Cabisbaixo e constrangido, fez que “sim”.
- Eu tentei impedí-lo diversas vezes. Já entrei na frente e só o que consegui foram várias cicatrizes dos nossos desentendimentos. – ele levantou a manga da camisa, mostrando uma no cotovelo e, depois, uma no ombro. – Cheguei a implorar para que minha mãe o deixasse. Para que nós dois fôssemos embora juntos...
- E então?
- Ela nunca quis. Sempre disse que ele precisava dela. – seus olhos se encheram d’água e se aproximou, segurando suas mãos. – Um dia, quando era pequeno, eu disse que ia fugir de casa. Pedi para que ela escolhesse entre mim ou ele.
- E o que houve?
- Eu fui embora. – respondeu, ainda tristonho. – Fui morar com os meus avós. Ela escolheu meu pai ao invés de mim. Preferiu ficar com ele a me ter por perto. Talvez por isso, na festa da Juilliard, tenha sido tão difícil ver a mulher que eu amo escolhendo outro cara.
- . – arfou, aproximando-se dele ainda mais. Seus olhos estavam colados quando ele deu um breve sorriso.
- Sua boca está suja de molho.
- Limpa para mim. – ela pediu, derretida. Assim que o rapaz se virou para pegar o guardanapo, o puxou de volta para ela. – Com a língua.
deu um suspiro entrecortado, antes de tomá-la pela cintura. Sentiu abraçá-lo pelos ombros e se inclinou, encostando a língua na trave da sua boca e limpando o molho de macarrão. A mocinha ronronou, eriçando os pelos de , e ele se deu por vencido.
Precisava tê-la. Precisava amá-la.
Encostou os lábios nos seus e a sentiu corresponder com paixão e urgência. prensou contra a bancada da cozinha e ouviu várias panelas de alumínio despencarem no chão, tamanha força que ele utilizou. A garota puxava seus cabelos com força, mordia seus lábios e respondia com gemidos toda vez que ele intensificava o toque.
Merda. Quando foi que ele se apaixonou tanto por aquela bruxa? Quando ele parou de tentar matá-la para... Desejá-la? Para amá-la?
Uma frase que seu avô costumava dizer veio a sua mente: “Sentimentos são fáceis de mudar, mesmo entre quem não crê que alguém pode ser seu par”.
Fazia perfeito sentido naquele instante. Naquele instante em que ele explorava o tronco da menina com a mão e, louco de cobiça, começava a levá-la em direção ao quarto. , parecendo tão desejosa quanto ele, logo se desfez da blusa do rapaz e começou a puxá-lo em direção à própria cama.
se deitou sobre ela, tirando cada peça de roupa com o máximo de carinho e cuidado. Quando não havia mais tecido algum entre eles, o rapaz se afastou para olhá-la nos olhos.
- Você tem certeza, ?
- Nunca tive mais certeza na vida. – ela abriu um sorriso largo e ele acompanhou.
- Okay, minha linda. – ele apoiou os braços na cama, pairando sobre ela. – Se estiver doendo, é só me avisar que eu paro.
- Eu não vou querer que você pare. – falou convicta e ele, com o peito explodindo de alegria, mergulhou para beijá-la mais uma vez.
E assim, e se amaram a noite inteira.

acordou com a sensação de lábios contra os seus. Abriu os olhos e deu de cara com , que sorria bobo para ela.
- Bom dia, dorminhoca. – ele disse, risonho.
- Bom dia. – ela respondeu, espreguiçando-se. – Que horas são?
- Hora do café da manhã. Estou preparando um lanche especial para nós dois.
- Hmmm, que chique! – ela falou, com as bochechas coradas. – Hoje será meu dia de princesa, então?
- Aproveite enquanto pode. – ele brincou e ela deu risada, dando um tapa leve no seu braço. se inclinou para beijar a testa da menina. Beijou sua bochecha, seu queixo e, novamente, os lábios. – E aí? – Perguntou. Os olhinhos brilhando de curiosidade. – Foi como você imaginava?
- Não. – ela disse e, quando ele fez cara de confusão, ela prosseguiu. – Foi melhor.
- Isso é para você ver que eu sou um homem com “H” maiúsculo. – ele falou, brincalhão e convencido. – Nenhum outro cara conseguiria se manter firme na frente dos duzentos capirotos. – Apontou para os bonecos e lhe deu vários tapinhas. gargalhou. – Vou lá tirar as panquecas da assadeira antes que elas queimem. Te espero na cozinha.
- Okay. – respondeu, antes de ele beijá-la nos lábios mais uma vez e se retirar do quarto.
Suspirosa e com o coração em festa, a menina seguiu para o banheiro para fazer sua higiene matinal.

Colocou uma roupa folgada, arrumou os cabelos da melhor forma que podia e começou a se dirigir para a cozinha. Sentia-se livre, leve, renovada.
Seu coração estava repleto de um sentimento quente, um sentimento bom, e ela mal podia esperar para repetir a noite anterior. Para tocar novamente. O rapaz era tudo o que ela sonhou e um pouco mais.
Quando estava na metade do caminho, alguém tocou a campainha. andou até a porta para olhar no olho-mágico e, assim que o fez, seu corpo gelou.
Ai, merda. Era Gaston. Gaston Everett estava do outro lado! O que ele estava fazendo ali? O que ela ia fazer?
Abriu metade da porta e se colocou entre o noivo e a sala, para que ele não pudesse ver o que se passava lá dentro.
- Ei. – falou, com um sorriso nervoso.
- Oi. – ele respondeu, desconfiado. – Hum... Eu posso entrar?
- Não acho uma boa ideia. O, hum... O diarista está fazendo uma bagunça enorme aqui dentro.
- Eu não ligo para isso, . O assunto é importante. - Gaston não deu tempo para ela retrucar. Sem que pudesse contestar de qualquer forma, ele já estava abrindo a porta e se colocando para dentro. – Hummm... Que cheiro gostoso é esse?
Everett começou a seguir para a cozinha, enquanto a garota tentava agarrar seus braços para impedí-lo.
- Gaston. Gaston, para. Nós podemos conversar aqui na sala!
Mas foi em vão. No instante seguinte, ele já tinha adentrado a cozinha e encontrado de avental, mexendo as panquecas na assadeira. Everett franziu a tez e olhou do noivo para , estático.
- Espera. – Gaston começou. – Eu te conheço de algum lugar?
- Você o conhece daqui mesmo. – interrompeu, desesperada. – Você já deve tê-lo visto por aqui fazendo a faxina. é nosso diarista desde sempre. – Mentiu e, quando viu a expressão decepcionada e furiosa de , arrependeu-se imediatamente.
- Ah, sim. – Everett coçou o queixo. – Deve ser isso mesmo. Então, er... ? Será que você poderia colocar uma dessas panquecas para mim?
O rapaz lançou um olhar assassino para , antes de responder.
- Claro, senhor.
A menina cruzou as mãos na frente do corpo. Estava transpirando de nervosismo, seu peito estava arfante e ela não sabia o que fazer. Era apaixonada por , mas ainda existia o acordo. O acordo que ela fez para poupar o pai.
colocou uma panqueca no prato para Gaston e, enquanto dava uma mordida, o homem puxou pela cintura.
- Amor, mês que vem é o aniversário de trinta anos da Everett Enterprise. Sei que já te falei da festa, mas eu gostaria de reforçar o convite. – levantou uma das mãos da garota, para beijá-la. observava tudo com amargura. – Muitos sócios importantes estarão lá e eu gostaria de oficializar nosso noivado nessa noite. Meu pai disse que pode ser bom para a imagem da empresa. O que você acha?
- Eu acho... Bacana? – falou incerta.
- Sabia que você ia gostar. – Gaston sorriu e puxou a noiva para um beijo. Antes de se deixar levar, os olhos de capturaram a expressão de .
O novato parecia mais decepcionado que furioso. Seus olhos estavam vermelhos e, podia jurar, até um pouco molhados. Enquanto os lábios do noivo se esmagavam contra os seus, a menina sentia o coração apertar.
Queria evitar aquela cena, mas não sabia o que fazer. Não sabia como rejeitar Gaston sem prejudicar o pai.
- Vou indo, meu bem. – Everett disse, lançando-lhe uma piscadela. – As panquecas estavam ótimas, . Obrigado. – Então virou-se para a mocinha mais uma vez. – Mal posso esperar para contar para o mundo que você é minha noiva.
E, com essa deixa, ele saiu da cozinha. esperou até ouvir o barulho da porta, antes de se virar para .
O rapaz estava tão colérico que algumas veias pareciam querer saltar para fora.
- Você deve estar me achando com cara de palhaço! – o novato explodiu, por fim. – Que porra foi essa?
- , eu e os Everett ainda temos um acordo. – falou aflita, tentando acalmá-lo. – Prometo que vou procurar qualquer alternativa para anular esse noivado, mas até lá...
- Até lá O QUÊ? – ele gritou, colocando as mãos na cintura. – Até lá você quer que eu seja seu AMANTE? É isso? – Ela mordeu o lábio inferior e olhou para baixo. Nem sabia ao certo como prosseguir naquele assunto. – Eu sinto muito, , mas não nasci para ser o “outro”. Eu pensei que... Eu pensei que depois de ontem as coisas tivessem mudado.
- E mudaram! – tentou se aproximar, mas ele se afastou. – , ontem à noite foi...
- Você disse que me amava. – ele soltou em um murmúrio. Seus olhos estavam vermelhos e empoçados de chateação. – Você me disse... Sussurrou no meu ouvido que me amava. Era verdade ou foi só uma coisa de momento? Porque eu acreditei, . Eu acreditei! – Gritou, jogando a espátula que tinha em mãos no chão.
- , você está fora de si. – os olhos da menina também estavam cheios d’água. – Eu não posso romper o contrato. Eu não tenho o dinheiro para pagar por ele! Mas quando eu tiver...
- Quando você tiver, , aí sim você me procura. – falou definitivo, com o olhar fervendo de ira.
A mocinha ficou sem reação por alguns instantes, admirando o rapaz.
- Mas e se eu não... – sua voz falhou. Uma lágrima rolou solitária por sua bochecha. – E se eu nunca conseguir o dinheiro?
Os ombros de caíram. Seus olhos voltaram a ficar lacrimosos e ele se virou para outra direção, para que a garota não o visse chorar.
- Só não me mande o convite do casamento.
Ele saiu da cozinha em um rompante, subindo as escadas para o andar de cima. deixou seu corpo cair em uma das cadeiras e, debruçando-se sobre a mesa, começou a soluçar.
Já estava debulhada em lágrimas quando ouviu um barulho vindo da porta:
- Ta-dã! – disse Caleb, entrando no aposento. – Acabamos de voltar do supermercado. disse para a gente comprar essas flores... – E quando viu o rosto da mocinha, seu coração gelou. – O que aconteceu?

Agosto

Duas buzinas reverberaram do lado de fora da Oozma Kappa e aumento o volume do iPod. Queria se concentrar no teclado, no saxofone e na voz do cantor de jazz, sem se preocupar com aquela noite. Assim que o carro buzinou mais duas vezes, ele percebeu que seria impossível.
- Alguém avisa para a que o noivo brocha chegou! – falou em um berro, mas ninguém respondeu.
Tentou voltar para a voz de John Pizzarelli, mas as buzinas insistiram.
- Alguém avisa... – e quando viu que ninguém iria atendê-lo, rolou os olhos. – Deixa para lá.
Caminhou a contragosto até o quarto da menina. Encostou-se no batente e deu soquinhos na porta, mal-humorado.
- , o exu do seu noivo está sarrafando a buzina do lado de fora. Será que dá para você...
E antes que terminasse, ela abriu a porta do quarto. O coração de saltou no peito e ele perdeu a voz instantaneamente.
Droga. Ela estava maravilhosa! Usava um vestido vermelho que ia até pouco acima dos joelhos. O lado direito era aberto na perna e... Uau! A maquiagem e os cabelos frisados contribuíam ainda mais para tirá-lo do sério.
Só de olhá-la por alguns segundos, já se lembrava daquela noite. A noite em que tinha se entregado a ele de todas as formas possíveis. Só de se lembrar da sua voz e dos seus gemidos, ele já se arrepiava.
Amava tanto aquela megera que pensava estar ficando louco.
- Pois não? – ela perguntou, olhando-o nos olhos.
- S-seu noivo está lá embaixo.
- Certo. – ela consentiu, magoada. – Eu já estou descendo.
observou a mocinha pegar a bolsa e se voltar, mais uma vez, para a porta. No momento em que ela estava passando por ele, o rapaz a segurou pelo braço. deu um pulo de susto e sentiu todos os pelos se eriçarem.
- É hoje que eu te perco de vez, não é? – ele perguntou no seu ouvido e ela fechou os olhos. Aquelas palavras doíam mais do que ela sabia explicar. – É hoje que ele oficializa essa palhaçada... Você vai voltar com uma aliança no dedo, . Em breve será Everett e eu... Vou continuar sendo .
Ela se desvencilhou dele, cabisbaixa, e se equilibrou até a porta. Antes de se colocar para fora, olhou fundo nos olhos do rapaz.
- É você quem eu amo, . Eu juro que tentei.

XX

- Que horas você acha que vai ser o pedido? – perguntou, jogando uma almofada para cima.
Apenas ele e Caleb estavam na fraternidade. Os outros integrantes da Oozma Kappa, a pedido de , tinham conseguido convites e estavam comendo às custas dos Everett.
- Sei lá. Meia-noite? Se você está tão incomodado, por que não vai lá tentar impedir? – perguntou o geninho do grupo, mexendo no computador. – Não garanto que vai ser bem sucedido, mas pelo menos vai nos dar um bom motivo para rir mais tarde.
- Engraçadinho.
Caleb já ia falar outra coisa, quando o sinal do correio pipocou na tela.
- , novo e-mail para você. É de um tal de Clarinet Contest...
O garoto arregalou os olhos e se colocou de pé em um segundo.

- Meu Deus! MEU DEUS! Caleb, já são onze e meia. Eu preciso chegar nessa festa AGORA! – falou, passando as mãos pelos cabelos. Depois de ler o e-mail, ficou totalmente agitado.
- Você quer chegar antes do pedido? – Cale questionou. – , acho que isso não será possível. Está chovendo e o trânsito está todo parado.
- Merda, merda, merda. – ele bateu a mão na testa e se jogou sentado na cama. – Eu preciso ir até lá. Eu preciso impedir que faça uma besteira. – Colocou o rosto entre as mãos. – Pensa, pensa, pensa.
- Hum... ? – Caleb chamou.
- O que foi?
- Você lembra do patinete elétrico que eu construí na sétima série?
- Lembro. O que tem?
- Ele ainda está na garagem...
Uma luz pareceu surgir no fim do túnel e, sem nem mesmo trocar de roupa, correu para fora de casa.

XX

Assim que chegou do lado de fora da casa de festas, foi interceptado pelo segurança.
- Nome?
- Moço, minha namorada está aí dentro e ela...
- Nome.
- Eu estou de samba-canção e crocks no meio da chuva. Pelo amor de Deus, tenha piedade!
- Nome. – o segurança disse, inabalável.
Talvez tivesse se lembrado de colocar o nome dele na lista. Suspirando, o menino respondeu:
- .
- Temos Jasmine . – o brutamontes disse, ao olhar a prancheta.
Ela nos deu o nome das princesas da Disney. Disse para Gaston que morava com a Mulan, a Ariel, a Aurora...”
Merda.

- É. Essa aí mesmo. Jasmine . – respondeu, tremendo de frio. – Eu mudei de sexo, mas não gosto de comentar a respeito.
O segurança o observou de cima a baixo e, carrancudo, deixou que entrasse no salão.

Observou o local luxosamente decorado. Havia vários lustres de cristal, candelabros de prata e uma música clássica tocava levemente ao fundo. Garçons caminhavam para lá e para cá com quitutes refinados, e vários dos presentes lançaram olhares reprovadores para as vestes de .
Ele não se importava. Só precisava achar a menina que amava e impedí-la de fazer a maior besteira da sua vida.
Escaneou o lugar a procura de , mas só o que encontrou foram Happy e Dopey atacando a mesa de guloseimas. O mais discretamente possível, seguiu até eles.
- Onde está ? – perguntou e os dois pularam de susto.
- ! – Happy falou, surpreso. – Espera. Que roupa é essa?
- Explico mais tarde. Onde ela está? Gaston... Gaston não pediu a mão dela ainda, não é?
- Não. – respondeu Dopey, com a boca cheia de docinhos de coco. – Ele começou a fazer o discurso, mas passou mal. Ela foi para a varanda pegar ar.
- Ótimo. Obrigado! – ele falou, correndo para o lado de fora do salão.

Quando chegou até a varanda, encontrou-a vazia. Os olhos de se encheram de decepção e ele se sentiu ridículo. Enquanto ele estava lá, com uma blusa de frio de malha e meias do Ben 10 por baixo dos crocks, seu rival tinha uma estátua de gelo esculpida no meio da pista de dança.
Já estava voltando para o salão, derrotado, quando encontrou algo no chão. Era um sapato de salto alto. Um sapato fino e delicado que ele conhecia bem. Tinha sido atingido na orelha com aquele malditinho mais vezes do que gostaria de lembrar.
Segurou o sapato, intrigado, e olhou para o telhado. Assim que o fez, seu coração gelou.
Lá estava ela. Lá estava a sua !
Apoiou-se no balaústre para escalar e, em poucos minutos, já estava se juntando à menina no telhado. No instante em que pôs os olhos nele, soltou uma exclamação de surpresa.
- ? – perguntou, atônita. – O que você está fazendo aqui?
Ajudou-o a se sentar nas telhas, ao seu lado, quando ele retribuiu o olhar.
- Eu precisava... – ele começou, ofegante. – Eu precisava chegar até você. Eu tenho que te mostrar uma coisa.
piscou. Suas bochechas estavam vermelhas e ela custava a acreditar que ele, realmente, estava ali. Desejou tanto para as estrelas que estivesse ao seu lado... Quase parecia um conto de fadas.
- E era tão urgente assim que você não pôde nem... Hum... Trocar de roupa? – analisou-o de cima a baixo.
- Era. – ele abriu em uma página do celular, depois se jogou de costas no telhado. – Leia.

Choose Me

You say I’m an ogre
But I can be your charming prince
All you have to do is choose me

He’s got money
He’s got style
But I got a thing, baby, that can get you wild
All you have to do is choose me…


- Isso é... Uma música? – ela perguntou intrigada, divertindo-se com a letra.
- Um jazz. – ele respondeu, ainda ofegante. – É meu. Eu compus.
- E você dizendo que não levava jeito para... – antes que ela pudesse completar, ele a puxou para que juntasse seus lábios. Uniu sua língua à de e envolveu-a em um beijo quente e apaixonado. Beijou-a até que estivessem sem fôlego, depois se afastou para murmurar:
- Recebi a resposta do concurso hoje. – ele disse e ela prendeu a respiração, surpresa. – Eu ganhei. Os quinhentos mil são meus, .
- ! – ela deu um gritinho animado e bateu pequenas palmas. – Isso é ótimo! Ai meu Deus, você agora é um homem rico! – falou bem humorada e ele riu um pouquinho.
- Acho que você não entendeu o que eu quis dizer...
Ela parou de rir enquanto ele se sentava ao seu lado. O rapaz estava sério e o coração da garota começou a bater a todo vapor. Suas mãos tremeram, antecipando o que estava por vir.
- Você foi a inspiração para a letra. – ele disse sério, com os olhos cravados nos dela. – Eu escrevi por sua causa. Porque se eu ganhasse... Aí, sim, nós teríamos dinheiro para pagar os Everett.
- ... – ela começou, emocionada e trêmula. – É muita gentileza, mas eu não posso aceitar. Eu ficaria te devendo muito e...
- Não estaria me devendo. – falou, taxativo. – Eu estou dando para você esse dinheiro. Foi para isso que eu escrevi a música.
- ...
- Não quero que você se sinta em dívida comigo de qualquer forma.- falou com severidade na voz. - Agora você está livre para amar quem quiser. Mas eu confesso que... – As bochechas do rapaz coraram. – Confesso que quero que você me escolha.
- . – ela murmurou, deixando várias gotas de lágrimas rolarem. No segundo seguinte, já tinha puxando o rosto do novato para mais um beijo de língua. Sentiu-o puxá-la pela cintura e corresponder com fervor. – Eu já escolhi você. – Sussurrou contra seus lábios. – Eu te amo, .
- Eu também amo você, minha .

*Oozma Kappa foi retirada do filme “Universidade de Monstros”.



FIM



Nota da autora: 10/04/2015 Obrigada pela leitura. Me apaixonei pela ideia do challenge e espero que tenham gostado da história.

Um beijo!

LCosette.



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