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sempre teve ciência de que o número treze carregava más energias. Portanto, em plena terça-feira 13, ele não se surpreende quando tudo começa a desandar.
É fim de tarde quando nota a fumaça provinda do capô. Para o carro no acostamento, torcendo para não ser nada demais. Desce do automóvel para conferir o que está acontecendo, apesar de não ser nenhum especialista no assunto. Ao levantar o capô, é atingido por uma lufada de ar quente, embrenhando-se na fumaça. Imediatamente abaixa-o, desconcertado por não ter nenhuma habilidade mecânica útil para escapar desta enrascada. Entra novamente no veículo e bate as mãos no volante, exaltado. Encara o GPS e sua preocupação redobra quando verifica sua localização. Uma risada descrente escapa de seus lábios ao perceber a mórbida ironia.
Gillette, Wyoming.
Sim, ele definitivamente mal podia esperar para cortar os pulsos.

Capítulo 1


Enquanto caminha pelo acostamento com a mochila nas costas e sua dignidade sendo arrastada, pondera se acertou ao escolher uma rota que passa pelo estado menos populoso do país, desconsiderando os imprevistos automobilísticos que poderiam lhe ocorrer durante esta jornada solitária até a Califórnia.
A aventura de veraneio parecia muito mais interessante na teoria.
Por estar escurecendo seus passos se aceleram e sua audição se aguça para tentar distinguir sons que não sejam de carros ocasionais que avançam pelas ruas desertas.
Pela primeira vez, ele concorda que o caminho mais rápido nem sempre é o mais seguro.
Então, ele começa a identificar o burburinho característico de uma festa. Não muito distante, percebe a claridade e pode distinguir corpos se movendo em meio à música pop horrível.
É o quintal espantosamente espaçoso de uma casa a poucos metros. Esticando o pescoço, percebe que, mais a frente, as artérias da urbe começam a inchar com a parca população e construções. Finalmente, está no ponto em que a rodovia 90 permeia a cidade localizada no condado de Campbell.
Um sorriso aliviado toma conta de seu rosto.

XXX

Inserir-se no grupo de adolescentes que curtiam o momento em uma reunião animada à beira da piscina foi a parte mais fácil. Primeiramente, porque o portão estava aberto, então, não precisou entrar do modo típico dos ladrões. Segundo, o lugar estava repleto de jovens ocupados demais se divertindo para darem atenção a qualquer estranho que invadisse o local e que claramente não fosse da mesma faixa etária que eles.
A parte difícil está sendo encontrar alguém que esteja disposto a lhe passar as informações das quais necessita. Suas pernas doem por conta da longa caminhada, portanto, andar mais e em qualquer direção em busca de ajuda não é nada tentador e ele prefere se jogar no sofá daquela casa desconhecida e bebericar um refrigerante que agilmente surrupia da geladeira.
Então, observando desinteressado a balbúrdia que se desenrola detrás da imensa porta de vidro da sala de estar, percebe que aquele garoto franzino, se agitando de forma cômica nas águas da piscina e que fora maldosamente empurrado na mesma pelos rapazes mais fortes, está se afogando.
Rapidamente se levanta do sofá, derrubando a lata de refrigerante sobre o tapete florido pavoroso. Dirige-se até a porta de vidro e a abre, correndo em direção ao garoto que se debate na água enquanto seus amigos, secos e resguardados, riem de seu infortúnio. pula na piscina e o retira de lá, colocando-o seguramente na borda da mesma. O menino cospe água para todos os lados e as pessoas presentes finalmente começam a perceber a gravidade da ocorrência. Alguns se aproximam do garoto, oferecendo ajuda, enquanto torce suas roupas completamente encharcadas.
Com apreensão nota o volume no bolso traseiro de sua calça. Seu celular já não tinha funcionalidade por estar descarregado. Agora, sem ser à prova d’água, o aparelho está aniquilado.
Assim como ele.

XXX

-Obrigado.
O agradecimento direcionado a o faz remover a atenção da dissecação que está realizando no celular e redirecioná-la ao indivíduo em pé ao seu lado. Ele está se cobrindo com uma toalha, enquanto ajeita os óculos grandes demais para seu rosto. Seu porte nada atlético está trêmulo e, com o cabelo colado na testa, ele parece ainda mais com um desses alunos medonhamente estudiosos.
-De nada. – murmura, rezando para que o menino compreenda a deixa e vá embora.
-Você não deveria desmontar o celular a menos que tenha qualificação técnica para fazer isso por conta própria. – o garoto franzino afirma e senta-se ao seu lado no banco, retirando o aparelho, aos pedaços, das mãos de , que o olha embravecido. Após um exame meticuloso, porém rápido, ele decreta. – É tarde demais. Você precisaria ter utilizado uma substância com alta capacidade de absorção para ajudar a extrair a umidade e não ficar assoprando e abanando o aparelho.
-Ótimo. Acho que estou preso aqui pelo visto. – comunica amargurado.
-Você não parece estar no colegial. – o garoto notifica depois de avaliar o físico de seu salva-vidas.
-Suponho que isso seja um elogio. Pois triste seria se eu estivesse no ensino médio aos 24 anos. – ele balança a cabeça, transtornado por estar conversando com um pivete intrometido enquanto sua vida está de cabeça para baixo.
-Está de penetra em uma festa de adolescentes? Em Gillette? – o garoto pergunta descrente. - Que tipo de adulto é você?
-Do tipo que bate papo com crianças enquanto seu carro está estacionado a cinco quilômetros devido a uma maldita falha mecânica. – ele leva as mãos à cabeça, chacoalhando-a em negação – Droga. Falei uma palavra feia. Acho que te devo 25 centavos.
-Hilário. – o rapaz ironiza - Tenho dezesseis anos, não cinco.
-Perdoe-me, não fui capaz de perceber a diferença. – ele revida e o menino se levanta, zangado.
-Quer saber? Eu poderia te ajudar a encontrar alguém para consertar seu carro, mas você é imbecil demais para merecer auxílio.
-Salvei sua vida.
-E destruiu minha masculinidade. – ele completa - Sua boa ação foi anulada.
Ele prepara-se para ir embora, mas o impede, pois, ao analisar os outros adolescentes curtindo a noite despreocupadamente, percebe que este rapaz franzino e desajeitado é a sua melhor chance de sair deste lugar deprimente e continuar com sua viagem até a Califórnia.
-Não, espera! – ele grita, antes que o garoto se afaste. – Desculpe-me por descontar minha raiva em você, eu estou apenas estressado por tudo estar dando errado. Entende? - faz uma expressão sofrida, o que não é difícil baseado nas condições atuais – Mas, então... Você conhece algum mecânico? Um guincho, talvez? – ele tenta se mostrar abnegativo.
-É, talvez. – o garoto cruza os braços e arqueia a sobrancelha – O que você me dará em troca dos meus serviços informacionais?
-Eu te dei a vida!– aponta, injuriado.
-“Eu salvei o pirralho! Eu salvei o pirralho!” – o menino faz uma imitação fajuta de - Vou te dar um crachá para você poupar saliva.
-Se não fosse por mim, você estaria morto.
-Toma! – o menino retira do bolso da camisa jeans um crachá imaginário e o estende a , que revira os olhos.
-Tudo bem. – faz um gesto de desistência com as mãos - Acho que já entendi que minha oportunidade de adquirir serviços gratuitos escoou pelo ralo quando abri a boca e te chamei de criança. – o garoto confirma com um resoluto meneio de cabeça. – Vocês, crianças de hoje em dia, guardam muito ressentimento. O que você quer? Dinheiro? Já vou te avisando que não tenho muito.
-Com um carro enguiçado no acostamento e um celular desses – ele levanta o aparelho não muito moderno com desdém – Não me passou pela cabeça que fosse um milionário. – ele conclui.
-O que você quer além de esgotar minha paciência? – pergunta irrequieto.
-Bem, você parece ser o tipo de cara por quem todas as garotas ilogicamente se apaixonam. – ele olha ao redor para se certificar que os olhares femininos ainda estão sobre - Vi a forma como essas garotas olham para você. Como se você fosse um doce no qual elas querem dar uma mordida indecente. – franze a testa e o garoto se apruma para fazer o pedido – Quero que me ensine a ser um desses.
Então começa a rir freneticamente, batendo a mão no joelho e dando assustadores solavancos. As pessoas mais afastadas começam a ficar curiosas a respeito do motivo de tanta graça. Com dificuldade para respirar e já ficando vermelho de tanto gargalhar, ele para. Limpando com a ponta dos dedos as lágrimas que lhe brotam no canto dos olhos devido às risadas numerosas.
-Que tal você escolher algo menos... Como é que se diz mesmo? – ele coça o queixo pensativo e levanta o indicador animado ao recordar-se – Impossível!
O garoto ao seu lado o olha impassível em completo silêncio e, após perceber que ele não irá mudar de ideia nem se manifestar, se dá por vencido e aceita a proposta.
-Ok. Vou te ajudar a conquistar as garotas.
-A garota. – ele ressalva - Sou um cavalheiro. A propósito, me chamo Oliver. – ele sorri cordial e estende a mão na direção de .
-. – ele diz e aperta a mão que Oliver lhe oferece, mais por medo de ferir os sentimentos do rapaz do que por educação.
-Foi bom fazer negócios com você, . – ele diz e se move em direção a casa.
suspira penosamente, avaliando os danos em seu verão. Conclui que perderá aproximadamente duas semanas em Gillette até que tudo se resolva. Arqueia o corpo e se empertiga para se levantar, apanhando a mochila e abandonando o celular destroçado no banco de madeira. Caminha em direção à saída da festa, mas o que realmente deseja é se inclinar sobre os arbustos e vomitar toda a tragédia do seu dia.

Capítulo 2


Depois de ter uma péssima noite de sono em um hotel em estado de decomposição devido à ação das traças e cupins que o habitam, resolve sair para tomar café em uma cafeteria na esquina. Apesar da indicação de Oliver ser um antro de pernilongos que importunaram o sono de , era convenientemente barato para que ele não pudesse se dar ao luxo de reclamar em voz alta.
Com um casaco de moletom folgado e calça jeans, ele atravessa a rua e se dirige a passos largos até a pequena cafeteria. Ao entrar, uma sineta toca e a garçonete atrás do balcão se empertiga para atender o belo rapaz que adentrou.
-Posso ajudar? – a pergunta típica é acompanhada de um sorriso sedutor e se controla para não revirar os olhos. Está desanimado demais para paquerar alguém.
-Um café expresso, por favor. Grande. – sua voz está rouca por conta do cansaço e isso instiga ainda mais a garçonete – Para a viagem. – ele acrescenta para evitar ser perturbado por ofertas constantes de ajuda da loira peituda com uma injusta voz esganiçada.
Senta-se em um dos banquinhos juntos ao balcão e tenta prestar atenção no noticiário local que passa na TV, mas não está verdadeiramente interessado. Pouco depois a garçonete chega com seu café em um copo branco grande e com proteção para as mãos para que não as queime. Em uma rápida olhada, ele percebe que o número da moça está escrito lá. Sorri e imagina se receberia uma xícara com marca de batom caso ele tivesse resolvido ficar. Ele agradece e paga, recebendo um sorriso cabisbaixo da loira por não ter permanecido no local.
Está ventando mais do que gostaria do lado de fora e ao olhar para o céu cinza, ele percebe que até o verão parece querer fugir de Gillette. Apesar de o clima ser semiárido e continental, hoje não é um dia ensolarado como aquele que seguramente é na Califórnia. Suspira e retira a tampa do café, para que possa ir bebericando no caminho de volta ao hotel xexelento em que está hospedado.
De repente, sente seu bolso traseiro vibrar e entende que é Oliver que está ligando para marcar de se encontrarem. Na noite anterior, o rapaz havia deixado o celular com para que pudessem se comunicar. Mesmo desconfiando do caráter de e conjecturando que ele poderia vender seu aparelho para ajudar a pagar o conserto do carro, resolveu confiar nele. Secretamente, Oliver queria que seus pais não fossem caretas para que permitissem que um desconhecido dormisse no sofá da sala de estar. Sendo assim, ele não precisaria arriscar perder o celular.
se contorce enquanto caminha e tenta com uma mão capturar o celular no bolso da calça. De súbito, ele sente o choque com o corpo de outra pessoa. E a julgar pelo breve contato que teve com o indivíduo, sabe que é uma mulher antes mesmo de virar o rosto para confirmar.
Quando o faz, prefere não ter feito.
A mulher o encara, colérica, o café fumegante encharcando sua camiseta. Antes que tenha a oportunidade de se desculpar repetidas vezes, ela começa a retirar a camiseta, ficando apenas de sutiã no meio da calçada. Ele arregala os olhos, surpreso pela atitude inesperada e contente pela garota ser bonita. Então, ele acorda do transe ao perceber que a mesma está gritando com ele, impaciente e extremamente zangada. Por sorte, ele não escutou a maior parte dos xingamentos que a garota lhe destinou, pois estava ocupado demais observando aquela silhueta impertinentemente atraente.
-O que você está esperando para me dar o casaco, idiota? – ela grita mais uma vez.
Então finalmente percebe que sua mão direita foi dolorosamente queimada pela bebida. Ele a sacode rapidamente e a assopra, tentando aliviar a dor. Retira o casaco com dificuldade e o entrega para a mulher a sua frente. Ela o arranca de suas mãos impiedosamente e o veste apressada, começando a dar indícios de estar constrangida pelo gesto impensado realizado em público.
-Desculpa. Juro, não era minha intenção. – ele diz sincero.
-Essa desculpa é por ter derrubado café em mim ou por ter avaliado meus seios? – ela inquere com o cenho franzido e termina de fechar o zíper do moletom. – Quer saber? Vá se danar. Babaca.
E assim ela desaparece na esquina mais próxima, tão rapidamente quanto havia surgido.

XXX

-Então, tem essa garota. E ela é sensacional. A única que me escuta e fala comigo, verdade, mas ela é uma tremenda gata também.
está ouvindo Oliver falar sobre seu delírio amoroso enquanto os dois caminham até uma velha oficina que Oliver conhece. Por conhecer os donos, ele diz ser capaz de descolar um desconto no orçamento. Embora esteja preocupado com seu carro e com a mísera quantia de dinheiro que lhe resta e se esvai cada vez mais, não consegue pensar em outra coisa que não seja no tempestuoso encontro que teve com a garota na hora do café.
-Você não vai dizer nada? Não vai me dar nenhuma dica ou conselho? – ele está incomodado por ignorar seu monólogo apaixonado – Ela nunca vai me amar, não é?
suspira, virando-se para ele e segurando seus ombros frágeis.
-Entenda: sentimentos são fáceis de mudar, mesmo entre quem não vê que alguém pode ser seu par.
E então deixa Oliver matutando sobre isso enquanto retorna a caminhada e se embrenha mais uma vez nas lembranças. “Nem precisei mentir para fazer com que ela tirasse a roupa.” E pensando nisso ele sorri com o mais novo recorde, apesar de saber que tudo é mérito do café extremamente quente. Observa a mão direita porcamente enfaixada e coberta por uma pomada malcheirosa contra queimaduras, torcendo para que a garota esteja em melhor condição do que ele.
-Chegamos. – Oliver anuncia e levanta os olhos para observar o lugar.
Naquele instante, ele percebe que talvez seu carro esteja mais seguro na beira da estrada.
O ambiente é aterrorizante. O letreiro onde antes estava escrito “Oficina mecânica do Joe” está desfalcado, tendo apenas dois terços das letras que previamente alardeavam o nome do local. Há peças de carros por toda parte, sujas e enferrujadas, expostas como uma espécie de troféu ao lado do galpão onde funciona a oficina. E não há qualquer outro comércio por perto, ficando em um espaço isolado e arborizado. A estrada até a oficina é de terra batida e há um carro-guincho ao lado da construção antiga para fazer a remoção de veículos que quebraram na pista. O cheiro de graxa, óleo e lubrificantes de automóveis é forte e incômodo. nem precisa adentrar o lugar para saber que é de baixa qualidade.
Encara Oliver, irritado. Ele só pode estar lhe pregando uma peça.
-Já devolvi o seu celular e prometi te ajudar com a garota. Quer parar de me sacanear? – esbraveja e Oliver começa a rir.
-, estamos no lugar certo. E a mecânica daqui é de primeira. – ele afirma enquanto dá leves tapinhas nos ombros de tentando relaxá-lo, um sorriso astuto aparecendo nos lábios finos. – Agora, vamos entrar.
E então eles se encaminham para a entrada do local curiosamente silencioso. observa tudo, apreensivo, enquanto anda em meio àquela desordem. De repente, ouve o barulho de algo e percebe a silhueta de um indivíduo com o rosto escondido atrás do capô de um dos carros. Pelo que pode visualizar, o mecânico veste um macacão jeans sujo de graxa, com uma flanela encardida despontando de um dos bolsos. Compreende, então, que foi criado como uma garotinha. Sujeira, carros e suor definitivamente não são sua praia.
Sente saudade do jazz. Da vida boêmia que levava em St. Louis. Isto o que está vivendo é um terrível pesadelo.
Ele esbarra em uma prateleira e um pote contendo porcas e parafusos cai no chão fazendo barulho e chamando a atenção do mecânico que bufa, claramente zangado pela impertinência. se abaixa, se apressando em recolher as pequenas peças no chão imundo.
-Como vai, ? – é a voz de Oliver e levanta o olhar para ele, que sorri animado demais.
Então, ouve o barulho do capô ao ser abaixado. E curioso se vira para observar a imagem que surge atrás dele. Ele arregala os olhos e escancara a boca.
-Bem, Oliver. Bem. – ele se impressiona com a suavidade da voz que mais cedo gritara furiosa com ele.
Mas, quando o olhar de cruza com o de enquanto ela limpa as mãos na flanela, ele ainda é capaz de ouvir sua voz carregada de ódio o chamando de babaca.

XXX

Não demorou muito para perceber que “mecânica de primeira” qualificava não só o trabalho como também a profissional. certamente era a garota por quem Oliver estava apaixonado e ele nem precisou dizer nada. O fato de o rapaz franzino querer se amostrar para a mulher e tentar chamar sua atenção a todo custo, o delatavam culpado a milhas de distância. Seus olhos faiscavam de animação quando ela lhe sorria e estava aflito com a possibilidade de Oliver confundir os sinais e achar que a mulher estava lhe correspondendo.
-Então, o que faz aqui na minha oficina, Oliver? – pergunta após guiar os rapazes até uma mesa de madeira na parte externa, posicionada embaixo de uma árvore alta. - Lembre-se de que eu só conserto carros. – ela se incube de acrescentar e olha para , sarcástica.
-Eu sei, gata. – suprime um riso, incapaz de engolir a postura que Oliver toma perante a . – É que meu amigo teve um problema com o carro, por isso achei que pudesse dar conta do recado. A propósito, como está Pam?
-Problema com o carro? Sério que deram uma carteira de motorista a este cara? – ela inquire incrédula enquanto aponta para . – Pam está ótima. A jardinagem está fazendo muito bem a ela e as rosas estão lindas. Enfim ela encontrou algo em que é verdadeiramente boa e não causa danos a outrem. – ela se lembra de dizer e os dois riem de alguma piada interna.
-Eu já pedi desculpa. – ressalta ofendido.
-Espera aí, vocês se conhecem? – Oliver levanta as mãos, descrente, e senta ainda mais desleixada na cadeira.
-Infelizmente. – respondem em uníssono e se encaram.
Neste instante o celular de Oliver toca e pelo visor ele nota que é a mãe. Levanta-se da cadeira e se afasta ao murmurar um educado “com licença”.
-Não pareceu infeliz enquanto me via tirar a camiseta. – assinala assim que se certifica de que Oliver não pode mais ouvi-los.
-Sou bom em mascarar emoções. E, aliás, roxo nem é minha cor favorita de lingerie. – revida letárgico enquanto avalia a mão enfaixada.
-Você é mesmo um babaca. – ela confirma perplexa.
Ele lhe lança um sorriso dissimulado.
-Você se machucou? – ele se lembra de averiguar.
-Não como você. – ela observa a mão do rapaz. – Foi só como um banho quente indesejado. E eu removi a camiseta antes que a situação se agravasse de qualquer forma.
-Bom. – e ele está honestamente aliviado.
abre a boca para fazer algum comentário irônico, mas Oliver retorna a impedindo de falar.
-Minha mãe estava verificando se eu alimentei o Lobo antes de sair. – ele diz e balança o celular na mão justificando a ausência.
-Lobo? – inquere espantado com a bizarrice da gente desta cidade.
-Não um lobo de verdade. É o nome do meu cachorro. É um Husky Siberiano.
-Muito criativo. – rola os olhos, irônico. – Olha, eu só quero deixar esta cidade medíocre o quanto antes e para isso preciso que meu carro fique bom. – ele olha para em expectativa – Pode consertá-lo ou não?

Capítulo 3


-Você é dono de um Impala 67? – a voz de é uma mistura de excitação e descrença enquanto ela alisa a superfície do carro preto que foi trazido para a oficina depois de guinchado.
-Sou. – cruza os braços, gabando-se, e se apoia casualmente no automóvel. arqueia a sobrancelha. – E talvez eu seja um admirador exaltado da série criada por Eric Kripke também. – ele se rende, embaraçado.
-Inacreditável. Você é tiete de Supernatural. – ela balança a cabeça, incrédula.
-Vai ficar escarnecendo dos meus gostos televisivos ou vai consertar a droga do carro?
-Tudo bem. – levanta as mãos, cedendo. – Me deixa descobrir o problema.
Ela enfia a cabeça debaixo do capô e avalia por alguns instantes antes de se voltar para com as mãos na cintura e sacudindo a cabeça em negação.
-Sobreaquecimento do motor. – ela responde e sua expressão revela que não é algo muito agradável. – A reparação vai ser cara.
-, eu mal tenho dinheiro para pagar a diária do quarto do hotel em que estou hospedado. Como vou dar conta disso? – ele pergunta exasperado.
-Vai ter que ligar para alguém e pedir dinheiro emprestado – ela dá de ombros e volta a checar o carro em busca de respostas. – Ou você pode arranjar um emprego.
entorta a boca, pois nenhuma das alternativas o atrai. O único número de celular que lembra é o do pai e a relação deles não é amistosa o suficiente para que ele possa fazer um pedido desses sem que ele realize um interrogatório maçante. E trabalhar, bem, nunca fora uma opção a ser cogitada. Até agora.
Neste momento Oliver retorna com sacolas de compras contendo lanches. O menino havia sido escolhido através do justo “pedra, papel, tesoura” para ir comprar o alimento no fim da tarde. Apoia as sacolas sobre a mesa mais próxima e senta-se em um caixote, improvisando um banco.
-Sério, , você não pode manter este negócio longe de tudo. É perigoso. E a caminhada até a lanchonete mais próxima é perversamente extenuante. – o menino fala com a respiração entrecortada.
-Você sabe que não tem como eu abandonar a oficina do Joe. – ela diz e abre uma das sacolas retirando um sanduíche de lá e dando uma grande mordida.
-Falando nesse Joe, cadê ele? – pergunta e vai em direção à sacola também, está faminto – Quem sabe ele não me contrata?
-, não acho que isso seja possível. – Oliver comenta e o tom de sua voz está baixo, comedido.
-Por quê? Eu posso não saber nada sobre carros, fora como dirigi-los, mas aprendo rápido. Posso ajudar se ele me der uma chance. – o homem expõe. – Deixe-me falar com ele. Sou bastante persuasivo.
-Não sei se ele poderá ouvi-lo. Ele está no Mt. Pisgah Cemetery. Debaixo de sete palmos. – a voz de soa mórbida enquanto ela larga o sanduíche comido pela metade sobre a mesa e sai da oficina.

XXX

-Eu sinto muito.
confessa ao se aproximar lentamente de , que está encarando a copa das árvores enquanto abraça o próprio corpo. O coque do seu cabelo está tão frouxo que as mechas quase dançam com a brisa morna do crepúsculo. O farfalhar das folhas é o único som audível enquanto os dois permanecem lado a lado, em silêncio.
Antes de tomar coragem e vir falar com a garota, Oliver lhe contou que Joe era o avô de e que deixara a oficina para a neta como herança. Ele faleceu há cinco anos.
-Ainda está interessado em arrumar um emprego? – ela questiona, ainda sem encará-lo, absorvendo suas palavras de compaixão, mas decidindo evitar o assunto.
-Sim, claro. – se sobressalta, impressionado com a pergunta.
-Pode parar de procurar. Está contratado. – ela finalmente se vira para ele - Se você necessita tão urgentemente sair desta cidade medíocre, vai precisar me ajudar a reparar os danos do seu carro. E se quiser, pode ficar alojado no quarto nos fundos da oficina para poupar dinheiro.
E então ela começa a retornar para a oficina, mas no meio do percurso acrescenta:
-Pode trazer o Oliver também, ele sempre quis estagiar aqui durante o verão mesmo.

XXX

-Chegou cedo. – notifica – Nem Oliver chegou ainda e olha que ele se esforça para passar o máximo de tempo possível perto de mim.
-É que eu resolvi aceitar o quarto nos fundos. Serão apenas duas semanas mesmo. – ele dá de ombros e indica a mochila nas costas com um meneio de cabeça. – E a parte boa é que eu nunca vou me atrasar para o trabalho. – ele sorri vitorioso.
-Tudo bem. Mas eu preciso remover algumas coisas de lá antes. É que eu estava ocupando o quarto com o mesmo objetivo. – ela sorri cúmplice e se direciona até uma porta no fundo da oficina.
-E você vai ficar aonde?
arqueia a sobrancelha enquanto observa trajando um desleixado macacão roxo. Revira os olhos diante da implicância sutil. A mulher abre a porta e vira a cabeça, um sorriso sacana despontando dos lábios.
-Aqui. – e antes que possa se surpreender e se divertir com a ideia a mulher completa – Obviamente que não.
Então ela entra no quarto e acende a luz. Não há muitos móveis. Apenas uma cama e uma cômoda. Não tem televisão, só um velho rádio pairando em cima da superfície de madeira da mobília. Apesar de não ser claustrofóbico, ficar em um quarto sem janelas o desconforta. Principalmente com tantas caixas de papelão empilhadas junto às paredes. Rapidamente ele deduz que deve haver no mínimo umas 15 por ali, de diversos tamanhos e conteúdo.
-Vou ficar na casa da minha avó enquanto você estiver aqui. Morei com ela por muitos anos e agora a visito com tanta frequência que nem será difícil para ela se adaptar.
senta-se na cama forrada com um lençol quadriculado maltrapilho e começa a acariciar o pano enquanto encara em expectativa.
-Não é grande coisa, mas...
-Você está de mudança? – ele a interrompe com a questão.
-Em uma do tipo perpétuo. – ela responde, rindo do próprio infortúnio.
O garoto observa as caixas empilhadas e com uma densa camada de poeira. Sua curiosidade fala mais alto do que o pudor. Sendo assim, ele se atreve a perguntar.
-Para onde?
Ela olha para o chão, sorrindo nostálgica. Fica em transe recordando-se do que poderia ter sido, pensando no “e se”.
-Que diferença faz agora? A viagem foi cancelada há cinco anos. – sua expressão é frustrada.
se aproxima condescendente e senta-se ao lado dela, fazendo com que a mulher o encare.
-, quando um voo é cancelado, nós sempre podemos pegar o próximo. – ele a conforta e ela lhe sorri agradecida – E a assistência é oferecida gradualmente pela empresa aérea de acordo com o tempo de espera. Logo, você que aguardou cinco anos, vai viajar com muito estilo.
-Nunca pensei que o termo “babaca” poderia adquirir um sentido positivo. – ela se levanta e se dirige até a porta, pois ouviu Oliver alertando que chegou – Obrigada por ser um babaca.
E então percebe que Gillette talvez não seja um lugar para instigar a automutilação.

XXX

Aquilo não estava dando certo.
não sabia diferenciar uma chave de fenda de uma chave Phillips e não parava de falar mal do ambiente, dizendo que o mesmo precisava urgentemente de uma faxina. Oliver estava se superando no quesito “cantada” e esgotando a paciência e educação de todas as vezes que a chamava de “minha garota”. Desde que sua avó Pam resolveu aceitar sair com o avô viúvo de Oliver, o garoto tinha posto na cabeça que para as garotas amar os integrantes do sexo masculino da família Hamilton era algo inevitável e cruelmente hereditário. Oliver tinha um bom coração e era um garoto genial, sempre sonhando com a bolsa de estudos para Harvard. Mas ter esse mesmo rapaz, 6 anos mais novo, te vislumbrando como namorada, quando tudo que você almeja é permanecer descompromissada, não é algo tão conveniente.
-Chega! – ela desiste e espalma as mãos na mesa. Os rapazes a olham, espantados pelo grito. – Para lá. – ela aponta para a entrada da oficina.
Eles estatizam, alarmados com comportamento da mulher. Ela os analisa criticamente de cima a baixo e conclui pesarosa.
-Vocês não são o que eu pedi, são frouxos e sem jeito algum. – Olha para aqueles rostos desentendidos e levemente ofendidos - Vou mudar, melhorar um por um.
-Então vamos arregaçar as mangas e trabalhar duro. – assim literalmente faz e Oliver o imita.
Era uma dupla fadada ao fracasso.
Por sorte, nunca acreditou em destino.
Pois não gostava da ideia de algo controlando sua vida.

Capítulo 4


-Você está ficando bom nisso.
O elogio de surpreende que para o que está fazendo para sorrir agradecido.
-Eu achei alguns livros sobre o assunto debaixo da cama. – ele inclina a cabeça na direção do quarto que está ocupando. – E você foi uma boa professora. Assustadora e pirada, mas boa. – e então eles riem coniventes.
Não muito depois, Oliver chega à oficina, revoltado.
-Eu vou matar aquela garota! – ele exclama e se impressiona, pois nunca havia visto o menino tão descontrolado.
-Que garota? – questiona curioso.
-A filha da nova vizinha. – Ele esmurra o capô de um carro e ralha com ele – Minha mãe me fez prender o Lobo por conta do animal de estimação da guria. E ele simplesmente odeia ficar acorrentado.
-Por que ela não deixa o gato dentro de casa? - sugere.
-Gato? Aquela esquisita tem um sapo! E ela o deixa solto, pulando por aí. Ontem o infeliz pulou a cerca e o Lobo quase o devorou. Agora o coitado está pagando o preço por ter achado que o anfíbio era um brinquedo de borracha.
-Eca! – exclama, fazendo uma careta.
-Falou a “engraxadinha”. – brinca e rosna para ele. – Um pouco mais de mordida, um pouco menos de latido. – ele sugere maroto, cantarolando um trecho de uma das músicas do eterno rei do Rock.
-Por favor, se concentrem no meu caso. – Oliver pede e os mais velhos param de se alfinetar. Ele esfrega as mãos, um sorriso cruel aparecendo em seus lábios – Agora, me ajudem a arranjar um jeito de matar o maldito.

XXX

-Dá para desligar o rádio? Não consigo me concentrar com esta música tocando. – disfarça a ordem, tentando não soar mandona.
-Na verdade, não. – diz com um sorriso torto no rosto – Não se pode parar o jazz.
Então vai até o rádio e o desliga, fazendo a música parar abruptamente. Sorri cínica para , que escancara a boca, chocado.
-Jazz é horrível.
-Blasfêmia! – ele aponta o dedo para ela, indignado. – Está ofendendo fortemente uma divindade. – põe a mão no peito, afetado.
-Besteira, isso sim. – ela revira os olhos e volta ao trabalho. – Descobri a razão que conduziu o sobreaquecimento do motor do seu carro.
-E qual foi? – pergunta se aproximando do automóvel.
-Mau funcionamento do termóstato. Quer explicação técnica? – ela questiona e dá de ombros. – Tudo bem, em uma explicação breve, o que aconteceu foi que com o mau funcionamento do termóstato, o fluxo líquido de arrefecimento foi bloqueado e não conseguiu circular no próprio motor. – ela se mune de gestos para tentar elucidar o problema e assente, parecendo captar a ideia – O que conduziu ao sobreaquecimento e isso fez com que o motor aquecesse em demasia e levasse ao queimar do óleo e mesmo da junta da colaça. Conseguiu entender? – ela pergunta, preparando-se para explicar mais uma vez caso necessário.
-Entendi que o funcionamento do motor está seriamente comprometido. – ele suspira diante da tragédia.
-É uma boa síntese.
Então a música começa a tocar novamente e os adultos observam Oliver se remexendo em uma dança bizarra, próximo ao rádio.
-O que foi? – o menino inquere enquanto dança – Ouvir música libera dopamina, um neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar. E, sejamos francos, vocês estão precisando relaxar.
Então afugenta os problemas e se junta a Oliver enquanto permite que aquela incrível sensação de felicidade domine seu corpo.

XXX

-Por que você não chamou o Oliver para vir com você mesmo? – pergunta enquanto ele e entram em uma loja de autopeças no centro da cidade.
observa a lista em sua mão, recordando-se do que precisa comprar. A fitinha roxa em seu pulso atraindo a atenção de . Há uma semana ela fazia questão de usar algum item roxo para irritar o homem. Durante este tempo, ela já havia desfilado com uma bandana, um macacão, um lenço, uma flanela, um sutiã, uma presilha e agora a discreta fita em seu pulso. Ela era uma tremenda filha da mãe. Mas também estava fazendo um excelente trabalho ao estampar em sua face a expressão “não dou a mínima importância”. Mas ele dava.
-Com aqueles bracinhos? – ela arqueia as sobrancelhas e seu tom não está debochando do menino, mas ressaltando a verdade – Quero ajuda para carregar as sacolas, não para arrastá-las.
-Oliver está interessado em você. – revela – Você sabe disso, não é?
-Ciúmes? – questiona acusadoramente.
-De quem? Do Oliver? Não, pode tê-lo para você. – ele pausa, observando-a revirar os olhos teatralmente – Se bem que eu acho que não quer. Ou quer?
-E por que estaria interessado em saber?
-Curiosidade. – ele responde dando de ombros. – E preciso saber se o garoto tem chances. – ele prossegue sorrindo cínico.
-Não esperava isso de você, . – ela põe a mão no queixo, analisando a questão mais cuidadosamente – Conferir a probabilidade estatística do Oliver arranjar uma namorada não parece muito do seu feitio.
-Sou um bom amigo. – ele comenta e ambos param no meio da loja.
-Admiro isso. – ela aponta – Porém não estou interessada. - responde breve, esquivando-se de seu olhar. – Ele tem 16 anos.
-A diferença de idade será agradável quando você tiver sessenta – ele ressalva.
-É tentador, mas só me será útil em longo prazo e eu tenho certa pressa. – reflete e ri.
-Já deveria esperar isso de você. – ele comenta rindo e se aproximando. –Quer que eu acabe com a ilusão do pobre garoto? – ele pergunta parado a sua frente.
-Garotos apaixonados podem ser úteis. – ela responde e se direciona até a bancada da loja.
-Está pensando em usar Oliver como marionete? Não permitirei isso. – se manifesta.
-Não estou falando do Oliver – diz e o encara. Uma sobrancelha levemente arqueada para dar o ar de sugestão.
Contudo, antes que possa se tocar do que se trata, um sexagenário surge e se apruma para atender . E então ele se contenta em observá-la, tentando desvendar os mistérios da garota que, a julgar pelo penteado desleixado, nunca viu um pente na vida. No entanto, de uma forma completamente petulante, ela continua linda.
-O que você deseja hoje, mocinha? – o homem com a barba grisalha pergunta amável e divertido.
-Aqui está. – ela lhe entrega a lista.
O velho arqueia a sobrancelha após averiguar a lista e lança a um sorriso frouxo.
-Na conta? – ele inquere, mas já sabe a resposta.
-Juro que vou pagar tudo até o fim do mês.
Ele assente e vai buscar o que a garota requisitou. Então, após um suspiro penoso, se vira para a entrada da loja, mas torna a se virar novamente devido à pessoa que viu adentrando.
-Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo? – a voz é sedutora e masculina. – Quanto tempo, .
arqueia a sobrancelha e observa o rapaz que se dirigiu a . Aparentando ter a mesma idade que , porte atlético, sorriso travesso e olhos enigmáticos, Alex Stewart tem o perfil de cara mais cobiçado da cidade.
-Olá, Alex. – cumprimenta indiferente. – Achei que tivesse ido para a UW. – complementa triste pelo garoto ter retornado da universidade.
-É verão. Voltei para ver os amigos. – e então o sorriso dele se alarga e se sente incomodado por estar sobrando na conversa – E te vi entrando na loja, então, resolvi dar um oi.
-Obrigada pela consideração.
-Disponha. – ele diz galanteador. – Sabe, ouvi dizer que na próxima semana o prefeito vai dar uma grande festa no Dalbey Park em comemoração a suas bodas de prata. Todo mundo foi convidado. Você não gostaria, quem sabe, de ir comigo? – ele pergunta enquanto morde o lábio inferior, inseguro.
-Na verdade, Alex, eu já tenho companhia. – ela fala casual, mas percebe o esforço que ela está fazendo para se livrar das investidas indesejadas do rapaz bonitão.
-É mesmo? – Alex arqueia a sobrancelha, cético. – Olha, , é só uma festa, não estou pedindo para você dormir comigo. – ele se exalta, com raiva pela recusa - Nós dois sabemos que você não tem par. Só quer arranjar uma desculpa para me afastar. – ele alega e então lança o xeque-mate - Já basta ter ficado presa em casa por tanto tempo, não acha?
fechar as mãos em punho e, com alguma dificuldade, pode ouvi-la cerrando os dentes.
-Este é . – e de repente o garoto se sobressalta por estar sendo apresentado. – Vai me acompanhar até a festa. – a garota soca levemente o braço do rapaz – E, olha, não é imaginário.
E então Alex parece finalmente ter notado o homem ao lado da garota. Faz uma careta ao tentar sorrir gentil.
-Tudo bem. Acho que entendi. – ele assente repetidas vezes – Boa sorte, . – então abandona a loja ao mesmo tempo em que o dono da mesma chega com as peças requisitadas por .

XXX

-Mas que droga, ! O que você quer?
grita após ouvir coçar a garganta pela milésima vez. Ela se afasta da caminhonete vermelha que está consertando e se direciona até que está trocando o óleo de outro veículo após se certificar de que Oliver ainda está organizando as novas peças no estoque.
-O que eu quero? – ele pergunta irônico. – Quero parar de ficar no escuro. Quero que você me esclareça as coisas. É pedir muito?
-É! – ela exclama.
-Pois bem, vá dançar sozinha.
Ela bufa enquanto conta até dez para não agredi-lo impiedosamente.
-O que você quer saber?
-Quem era ele?
-Um cara que estudou comigo e que vivia me convidando para sair. Mas eu nunca dei moral para ele. – ela dá de ombros – Satisfeito?
-Ainda não. – Se aproxima da garota – O que ele quis dizer com aquele lance de ter ficado presa em casa por muito tempo?
-Você é muito intrometido. – ela revira os olhos e suspira antes de continuar – Depois que meu avô faleceu, eu enlouqueci. Tinha acabado o ensino médio, ganhado uma bolsa de estudos na universidade de Boston e tinha planos. Mas tive que abrir mão de tudo porque não podia deixar minha avó sozinha, não podia fechar a oficina do Joe.
-As caixas... São para Boston? – questiona, apontando para a porta nos fundos da oficina. assente cabisbaixa.
-Então eu era uma garota de dezessete anos completamente perdida, sem nenhuma orientação. Recusei-me a sair de casa por um bom tempo, até que eu percebi que minha avó precisava de mim. Ela tinha perdido o marido, mas continuava forte. Ela que estava secando minhas lágrimas enquanto eu não parava para pensar em como ela estaria se sentindo. Então, eu me levantei daquela cama e encarei as possibilidades. Apenas com uma oficina de herança e a bagagem pronta. Resolvi me livrar do que era mais fácil. Desfiz as malas e estou fazendo o que meu avô queria que eu fizesse.

Capítulo 5


-Implicância pode ser sinal de atração? – Oliver pergunta depois de mover sua torre no tabuleiro de xadrez. – A propósito, xeque-mate.
o encara descrente de sua habilidade e tenta raciocinar um jeito de contornar a derrota iminente. para de mastigar a maçã que tem em mãos para responder a pergunta do menino.
-Único sinal que consigo perceber é o de infantilidade e insegurança.
-Mas dizem que a implicância é uma declaração de amor. – Oliver ressalva, abandonando de vez o jogo.
-Bom, segundo o dicionário, implicância é um estado depressivo crônico, normalmente atípico e dissimulado através do mau humor, chatice, birra, desânimo, irritabilidade, de mal com a vida, e blá blá blá. – insiste, enumerando os itens com os dedos.
-Mas não é assim que funciona a lei da atração? , fala sério, você nunca implicou com alguém só para chamar a atenção?
-Mal tenho tempo para me coçar, vou lá ficar de implicância com alguém? – a mulher responde sagaz.
-Mas... – ele tenta argumentar.
-Oliver, não perca seu tempo com isso. Muito provavelmente ela não vai com a sua cara e por isso te importuna.
-Ok, mas ainda há uma chance...
-Sem “mas”. Onde você vive? Em uma bolha hermeticamente fechada de ilusão? Acorde para a vida, querido. Pare de imaginar probabilidades loucas. Isso não é um filme adolescente de Hollywood onde o ódio dos protagonistas é fachada para esconder a paixão avassaladora que habita em seus corações. – a garota corta as esperanças do rapaz pela raiz.
-Sinceramente, desconsidere tudo o que a falou. – finalmente se manifesta e o encara perplexa e furiosa por ele incentivar Oliver a investir na garota do sapo - Sou mais experiente e muito mais bem sucedido do que ela no quesito relacionamentos e por isso eu acho que atrai, sim. – contempla e ela está descrente ao sustentar seu olhar. - É tipo yin-yang. – ele sintetiza e olha para Oliver novamente - Equilíbrio, sabe?
-Mas o que? – tenta se intrometer, achando que só está falando porcarias para o garoto.
-Shii – o homem ralha com ela e põe o indicador em frente à boca, indicando silêncio.
-Isso é um sinal verde? – o menino pergunta desconfiado.
-É, pode-se dizer que sim.
-E o que eu exatamente devo fazer?
-Torne a vida dela um inferno. Se ela gostar mesmo de você, vai suportar o calor. – e então o homem encara novamente , as sobrancelhas arqueadas, insinuantes.
-Pode deixar! Muito obrigado pelos conselhos, . – o rapaz agradece e se levanta, sacando o celular em seguida e se afastando para digitar uma mensagem.
-O que foi isso, ? – pergunta aborrecida.
E então ele se vira para ela e sorri sincero.
-Eu aprendi que quando duas pessoas compartilham sua antipatia em relação à outra, isso as aproxima.

Capítulo 6


-, já está tarde. Deixei Oliver em casa há duas horas e você continua aqui. Trabalhando feito louco nessa caminhonete. Você tem que descansar, caso contrário, amanhã estará um trapo.
afirma e se direciona até o homem concentrado em solucionar o problema do veículo. Coça os olhos, está destruída pelo cansaço.
-Estou determinado, você não vai conseguir me arrancar daqui. – ele diz sem sequer parar para olhá-la.
-Tudo bem. Vou fazer o seu jogo. – e então ela entra no Impala 67.
Abre todas as janelas do veículo e deita-se sobre o banco. Fecha os olhos e finge dormir, esperando que o garoto brigue com ela por sujar o estofado de seu carro com o macacão imundo. Mas a única coisa que faz é reduzir o barulho para não prejudicar o sono que não consegue mais repelir.

XXX

A luminosidade incomoda , mas ela se recusa a abrir os olhos, desfrutando do finalzinho de seu sono. Apesar de estar com o corpo quebrado, devido à posição desconfortável em que ficou durante a noite, um efeito bom a invade. De repente, ela sente alguém estalando um beijo em sua testa e, mesmo sem abrir os olhos, sabe que é que enfiou a cabeça pela janela aberta e está tentando acordá-la.
-Acorde, dorminhoca, Oliver está a caminho. – ele avisa e abre a porta do carro para ela, cortês.
E ao remexer o corpo para se levantar percebe que foi cuidadosamente coberta. Encara o rapaz que é um verdadeiro enigma para ela de tão polarizado. Pergunta-se como alguém pode se comportar de formas tão contraditórias em um intervalo tão curto de tempo. Sorri solenemente quando a resposta paira em sua cabeça. Mas uma constatação do que uma descoberta surpreendente.
É simplesmente ele.

Capítulo 7


-Eu vou matar você! – grita e começa a socar que está sentado no banco do motorista.
-Eu achei que tinha consertado! – ele tenta se justificar enquanto encara Oliver buscando ajuda. O menino prefere se abstrair da discussão.
-Mas não foi o que aconteceu! E agora estamos no meio do nada em plena madrugada porque você achou que tinha consertado a droga do carro! A mãe do Oliver vai me matar quando descobrir que o filho fugiu de casa para dar uma voltinha com um cara que nem sabe por onde está andando!
Ela tenta respirar normalmente depois do discurso exaltado. abre a porta do veículo e sai.
-O que pensa que está fazendo? – inquere.
-Não podemos ficar dentro de uma caminhonete no meio do nada. Temos que arranjar um lugar para passar a noite. – ele explica - Trouxe uma maleta de ferramentas, ao amanhecer eu conserto definitivamente este troço e pode deixar que vou arrumar uma desculpa boa o suficiente para a mãe do Oliver.
Então, quando percebe que Oliver também saiu do carro, se dá por vencida e faz o mesmo.

XXX

-Podem ser maníacos! – argumenta, mas já tocou a campainha da casa.
Instantes depois, as luzes se acendem e a porta é aberta parcialmente. Um rosto sonolento aparece.
-Não queremos comprar nada, obrigado. – e prepara-se para fechar a porta novamente, mas enfia o pé entre o vão, impedindo-o.
-Nosso carro quebrou. – ele se apressa em explicar antes que o homem pense que está sendo vítima de uma invasão domiciliar. – Será que poderíamos passar a noite aqui? – ele tenta soar o mais convincente possível, empurrando Oliver e para sua frente, demonstrando que o trio não é uma ameaça.
-Eu tenho que ver com os caras. – ele avisa, mas abre espaço para os três entrarem. – Esperem aqui. – então ele sobe as escadas correndo enquanto os outros ficam parados encarando a sala de estar.
-Eu te odeio. – sussurra para e ele revira os olhos, cansado do comportamento da mulher.
Minutos depois, eles ouvem o barulho de passos sobre a escada e se perguntam quantas pessoas moram na casa. Cinco é o número. E masculino é o sexo de todos os indivíduos.
Os homens observam criteriosamente os indivíduos parados na entrada da casa. E depois de conversarem aos sussurros, entram em um consenso.
-Está certo. Podem ficar. – o homem que abriu a porta alerta – Agora vocês precisam decidir quem vai ocupar o quarto de casal e quem vai ficar com o sofá.
E então ele aponta para o pequeno sofá no meio da sala de estar.

XXX

Depois dos rapazes terem deixado os hóspedes sozinhos, os mesmos passaram a definir quem dormiria aonde.
- fica com o sofá. Ele que nos meteu nesta roubada. – aponta astuta.
-Você quer me punir cruelmente, não é? Neste sofá não cabe metade do meu corpo. – ele observa – E você, garota, não pode dormir sozinha em uma casa com sete caras, sendo que cinco são completos desconhecidos.
-Vou dormir com Oliver.
-Com todo respeito, mas acho que ele não daria conta de defendê-la caso fosse atacada no meio da noite. – racionaliza.
-Tudo bem, . Eu durmo no sofá. está certo ao dizer que é melhor tê-lo por perto para protegê-la. - Oliver se vê obrigado a concordar.
-Você não compreende, Oliver? – ela questiona, exacerbada – É dele de quem tenho mais medo.
E então sorri discretamente, pois sabe que venceu.

XXX

-Aqui está o quarto. Mais uma vez sinto muito por não ter camas de solteiro ou um sofá maior. Sabe como é, os caras se acostumaram com o chão. – ele dá de ombros e abre a porta do quarto.
É branco, espaçoso e organizado. E é uma suíte.
-Mas vocês deram sorte. O Scott e a Stacey viajaram na última sexta e vagaram o quarto. E eles são legais demais para se incomodarem com vocês. A propósito, eu sou o Damon.
-Obrigada, Damon. Você está sendo incrível.
-Não há de quê. – ele dá de ombros com um sorriso gentil no rosto – Já cuidei do menino também. Podem tomar um banho se quiserem e dormir tranquilos.
E então ele se vai, deixando os dois no meio do quarto se observando desconfortáveis.

XXX

-Não toma banho direito, mas se perfuma todo. – acusa.
Ela havia acabado de retornar do andar inferior depois de inspecionar Oliver e garantir que ele estava ok. Ao abrir a porta deu de cara com com o torso molhado e exposto, desfilando com uma toalha branca na cintura e usando o perfume de outrem.
-Não sou um ogro. – ele afirma ofendido. – Pelo menos, não desse tipo.
Ele se aproxima de vagarosamente.
-E existem outros tipos? – ela questiona sarcástica.
De repente, ela se vê encostada à parede. Os pulsos levantados acima da cabeça e segurados por , que a encara sedutoramente.
-Certamente sim. – sua voz rouca responde e um sorriso sacana escapa de seus lábios convidativos.
-Você. É. Um. Cafajeste. – ela diz pausadamente, tentando acreditar nas próprias palavras para não se render a ele.
-É por causa do meu jeito cafajeste que você me adora. – ele diz e abruptamente se afasta, indo em direção ao banheiro e carregando uma muda de roupas consigo.
E fica lá, estupefata por estar imaginando qual seria a sensação dos lábios dele sobre os seus.

XXX

As horas passam vagarosamente enquanto e encaram o teto, deitados na cama, cada qual com as mãos entrelaçadas na altura do próprio diafragma. Dois estranhos dividindo um colchão.
-Quando eu era criança fugi de casa. – confessa e vira a cabeça sucintamente para visualizar seu rosto – Meus pais tiveram uma briga feia e minha mãe ameaçou pedir o divórcio. Achei que se eu fizesse os dois se concentrarem em mim, eles se esqueceriam da relação conjugal que estava definhando. – ele pausa, tentando relembrar dos detalhes na íntegra – É claro que eu não fui muito longe. Só tinha 10 anos e uns trocados no bolso. Mas achei que tivesse sido o suficiente para juntá-los. Eles logo me encontraram e me levaram para casa e eu achei que estivesse tudo bem de novo. – ele suspira penosamente – Dois meses depois meus pais estavam oficialmente separados. Acho que pensei que fosse uma agulha e que poderia remenda-los um ao outro. Demorei muito até perceber não se pode fazer isso sem a linha.
-, eu...
-Sua vez.
tenta se lembrar de alguma coisa para contar. Uma lembrança feliz de preferência. Sorri brevemente quando encontra uma que gostaria de compartilhar.
-Você reparou no balanço que tem no terreno da oficina do Joe?
-Sim. Aquele perto das árvores e da mesa de madeira. – ele se localiza - Acho que está grande demais para isso. – ele constata e ambos riem.
-Eu costumava brincar por ali quando era pequena. Minha avó trabalhava como costureira na cidade vizinha, então, a maior parte do tempo eu ficava com meu avô. Ele forrava uma toalha grande na sombra das árvores e me deixava lá brincando com os bonecos enquanto trabalhava na oficina com os outros mecânicos. Às vezes, ao final do dia, ele se juntava a mim e nos deliciávamos com os sanduiches da cesta de piquenique que ele mesmo havia preparado. – sorri com a lembrança e prossegue – Mais tarde ele descobriu que eu tinha talento para o negócio da família e me inseriu como membro da equipe de mecânicos. No início eu não fazia muita coisa, mas depois ele me deixou colocar a mão na massa. E eu simplesmente adorava aquilo.
-É uma boa memória. Obrigado por dividi-la comigo, “engraxadinha”. – e então ele estende a mão em direção a dela, afagando-a. – Por que nunca falou nada sobre seus pais?
-Falo dos meus pais o tempo todo.
-Fala dos seus avós o tempo todo. – ele corrige.
-Meus avós são meus pais. – e então entende.
-Eles morreram? Os seus pais biológicos?
-O cara abandonou minha mãe quando descobriu que ela estava grávida. No dia do meu nascimento, ela faleceu devido a complicações no parto. Meus avós me criaram como uma filha. É isso o que conta.
-É, acho que consigo compreender.
E então eles se encaram por um longo momento, até que percebe que o clima está muito constrangedor e resolve mudar a tática.
-Espero que seja uma boa dançarina. Porque eu adoro festas.
-Não duvido disso. – ela lhe sorri capciosa.
-Nem todos os boêmios dedicam-se integralmente a noitadas alegres regadas a álcool. – ele se defende e sorri feliz ao dizer – Alguns se contentam em ouvir histórias e compartilhar memórias.
Então, também sorri. Sem saber sequer o motivo.
A única coisa que sabe é que seu sorriso é dele.

Capítulo 8


Já é noite quando deixa em casa.
Apesar das oportunidades que tiveram para sair da casa dos homens desconhecidos, após consertar definitivamente a caminhonete, eles preferiram se arriscar e passaram o dia com os caras que eram ufologistas cheios de aparatos legais. Eles amostraram relatos, registros visuais e evidências físicas relacionadas aos objetos voadores não identificados. Oliver havia descrito o momento singular como: “uma tarde de aprendizagem e descobertas”. Então, após se despedirem dos barbudos receptivos, inventou uma desculpa satisfatória para a mãe de Oliver e se direcionou até a casa da avó de .
-Boa noite, Ros...
-Eu não sei como você consegue. – interrompe a despedida de com uma teoria - De algum jeito, mesmo quando coisas não saem conforme o planejado, elas acabam dando certo para você. É inacreditável. – ela balança a cabeça enquanto procura a chave certa no chaveiro.
-Uns acreditam em sorte. – ele dá de ombros, apático.
E antes que tenha oportunidade de responder, a luz da varanda se acende e ela prevê que Pam notou a movimentação externa. Não muito depois, a porta se abre parcialmente e a idosa põe a cabeça para fora, desconfiada. Ao perceber que é a neta, ela escancara a porta, liberando a passagem.
-, eu estive preocupada com seu paradeiro. – então Pam nota – Mas pelo visto não devia. Você está muito bem acompanhada. – e ela lança à neta uma piscadela sugestiva.
Com a bochecha corada, faz as devidas apresentações.
-Bom, , para a sua sorte eu acabei de preparar o jantar. Quer se unir a nós? – Pam pergunta amavelmente. Os olhinhos piscando de um jeito adorável.
Então o rapaz observa se sobressaltar e fazer gestos rigorosamente discretos com as mãos indicando que não deve aceitar o convite. Então ele sorri cretino antes de dizer a Pam:
-Eu adoraria.

XXX

A garagem está sendo iluminada com a parca luz provinda de algumas velas dispostas estrategicamente pelo ambiente. O espaço está cheio de bugigangas empilhadas umas sobre as outras, montinhos de serragem e a carcaça de um automóvel clássico ocupando o centro. Dois caixotes de madeira estão posicionados próximos a uma mesa improvisada feita com uma tábua larga e uns pedaços grossos de madeira. O cheiro predominante é uma mistura incomum de mofo, pó de serra e algo que parece ser macarrão com almôndegas.
encara em expectativa enquanto ela se senta a sua frente após encher dois copos de plástico com alguma bebida barata. O estômago de ronca e ele avalia se seria considerado um selvagem se atacasse o pote onde está a comida.
-Eu falei para não aceitar o convite para jantar. – recorda quando percebe que está faminto.
-Você me confundiu com tantos gestos de negação. – ele argumenta e ela sorri cínica – E eu também não imaginava que a comida da sua avó fosse terrível! Qual foi, achei que comida gostosa fosse algo inerente às vovós de todo mundo. – ele enfatiza, apontando o garfo para ela.
-Minha vó não faz o tipo tradicional.
-Até parece. Tragicamente, ela cozinha mal. Mas aposto que o resto é muito similar às outras histórias de velhinhas que ouvimos por aí.
-Ah, é? E o que você espera? – inquere interessada.
-Um conto de fadas. Possui algumas vertentes, que podem ser desde casamento por conveniência a amor impossível, mas o final é sempre o mesmo: felizes para sempre.
Então pisca os olhos algumas vezes e crê que é porque ele acertou em cheio. Até que a garota começa a rir descontrolada, como uma hiena.
-Você errou fodidamente a história de amor deles. Minha avó não era uma filha prendada preparada para casar. – ela pausa e enverga a sobrancelha, surpreso – Ela era uma dançarina de cabaré libertina que dormia com os mais cobiçados. Não, não havia dinheiro envolvido, apenas prazer. – esclarece antes que pense que a idosa tenha sido garota de programa – Então, em uma noite de show, ela viu meu avô na plateia. Ela sempre achou homens fardados motivos de delírio, e meu avô estava ali, jovem e viril. – ela ri travessa – Eles se deram bem aquela noite.
-Amor à primeira vista está deliberadamente incluso em conto de fadas.
-Não, eles não ficaram juntos depois daquela noite. Eles se despediram.
Ela revela e abre a boca minimamente, tentando não explicitar o choque por saber que a velhinha sentada em uma poltrona na sala, tricotando um suéter, pudesse ser capaz de fazer algo tão imprevisível.
-Até que anos mais tarde, eles se encontraram por acaso em um restaurante. Meu avô estava em uma reunião casual com uns amigos do exército. Minha avó era garçonete do restaurante em questão. Contratada por ser estonteante, não por seu desempenho com as bandejas. Porque, embora levasse o maior jeito para a dança, sua coordenação se limitava aos membros inferiores. Então, quando viu aquele homem novamente, algo nela se acendeu. E ela acabou derrubando todo o conteúdo que carregava encima do meu avô. Ele a olhou colérico, mas quando percebeu quem era a formosa garçonete algo nele se acendeu também. Então eles se casaram em uma cerimônia nada convencional em Vegas e minha avó engravidou tempos depois. É isso. – ela dá de ombros.
-Amor à segunda vista? Fala sério! – ri incrédulo.
-Mas você acertou em um ponto, sim.
-E onde foi que eu acertei?
-Eles viveram felizes para sempre. Pena o para sempre ter sido tão curto.

XXX

-Fico contente por você ter o apetite de um touro. – comenta assim que começam a comer o macarrão – Você mantém sempre uma marmita desta pronta?
-Sim, não tem como eu saber quando Pam vai decidir fazer o jantar.
-Era sobre isso que você e Oliver estavam falando quando comentaram sobre uma atividade de Pam que causa dano a outrem. – ele conclui e assente enquanto toma um gole do suco de uva – Tenho que concordar, intoxicação alimentar não é algo muito divertido.
Logo depois começa a observar mais atentamente os objetos dispostos sobre as prateleiras, ordenados e etiquetados.
-Que coisas são essas? Uma espécie de coleção de bugigangas? – ele aponta para as prateleiras.
-Peças e acessórios de automóveis clássicos. – então aponta o garfo para , repreendendo - Tenho uma porção de coisas lindas nesta coleção. Posso dizer que eu sou alguém que tem quase tudo.
-Você é estranha.
-Você quer dizer maluca? – ela ri irrequieta.
-Quero dizer impressionante.
E então coloca uma mecha do cabelo dela atrás da orelha, encarando-a, desvendando-a.
-Você pode sentir o amor esta noite? – ele pergunta e ela desvia o olhar, embaraçada, e ele logo emenda, incentivando-a – Não precisa olhar muito longe.
Então ergue novamente o olhar e declara:
-Seu carro está quase pronto.

Capítulo 9


-Não fique ansioso, Oliver. Pessoas ansiosas morrem mais rápido. – censura e Oliver tenta controlar a agitação.
–Ela aceitou ir comigo à festa do prefeito hoje à noite! – ele dá um chilique.
-E isso é maravilhoso. Mas se você der um desses ataques na frente da garota, ela vai embora e ainda leva sua dignidade. Você quer isso? – interroga.
-Não, claro que não. – Oliver responde enfaticamente – Acho que você é o melhor e mais breve amigo que já tive, . Nem acredito que vai partir amanhã. – ele admite cabisbaixo. –Você não pode mesmo ficar mais um pouco? Achei até que estava se adaptando bem à cidade.
E então abaixa a cabeça, ponderando mais uma vez sobre o assunto. Na noite anterior, ele havia matutado durante longas horas sobre a questão. Sobre ter que abandonar as pessoas que conheceu, todas as experiências que adquiriu e todas as lembranças que construiu em Gillette, que ele descobriu que nem é uma cidade tão miserável assim.
-Esta cidade, na verdade, faz a gente se acomodar. Eu sei muito bem pra onde estou indo e sinto que qualquer dia vou chegar.
-Eu entendo. Não tem como trocar a Califórnia por Gillette. Quem em sã consciência faria isso? – o menino brinca.
-Tem como me emprestar o celular? – pergunta de supetão – Preciso fazer uma ligação.
Oliver entrega o celular para e sai do seu quarto na oficina para lhe oferecer mais privacidade. O homem disca o único número conhecido, contra a própria vontade. Mas sabe que não pode deixar essa gente na mão. Não pode deixar se sacrificar por todos. Não quando ele pode impedir.
-Pai – uma pausa de reconhecimento – Preciso que me faça um favor.

XXX

está na entrada da casa de esperando ela terminar de se aprontar para a festa do prefeito. Está trajando sua roupa em melhor estado de conservação enquanto admira o céu estrelado daquela noite. Ele esfrega as mãos, impaciente pelo atraso e mais descontente ainda por sua entrada na casa não ter sido permitida. Parece que Pam ficou ofendida quando encontrou a maior parte de sua comida jogada na lixeira.
Então, a luz da entrada se acende e ele se afasta da porta para que possa sair sem impedimentos. Ele pode ouvir Pam gritar um horário para ir embora da festa e sorri com o fato do instinto protetor da avó de prevalecer mesmo quando esta já é uma mulher formada. O rangido da porta se abrindo faz com que se vire para observar sua acompanhante. E ele inconscientemente sorri, mais verdadeiramente do que nunca.
Os cabelos de , soltos pela primeira vez desde que se conheceram, dançam sobre seus ombros devido à brisa noturna. Ela usa um vestido roxo delicado com minúsculas flores, tornando-a feminina. Uma mudança repentina para alguém que você só viu usando um macacão jeans coberto de graxa e óleo de motor. Ele analisa seu rosto, lindo com ou sem manchas de sujeira, e é surpreendido por aqueles olhos enigmáticos e astutos lhe encarando. Então, com a cabeça inclinada e levemente recuada, ela olha para cima e lança um sorriso enviesado. Provavelmente considerando o motivo de ele estar lhe dando tanta atenção, demonstrando tanto interesse. Coagido, desvia o olhar para os pés da garota e sorri quando nota que ela está usando estilosas botas marrons ao invés dos característicos saltos de festa.
-Gostei dos sapatos. – revela espirituoso.
-São ótimos para pisar em homens.
Ela revida à altura do deboche de . De repente, as palavras simplesmente escapam dos lábios do garoto, como uma verdade universal que não pode mais ser escondida.
-Roxo nunca foi uma cor tão bonita.
E ali, embaixo das estrelas do estado menos populoso do país, começa a escutar uma multidão gritando. Felizmente, a balbúrdia vem do lado esquerdo de seu peito e só ele é capaz de ouvir.

XXX

Estão de volta ao mesmo lugar. E mais uma vez não permite que entre em sua casa. Ela acena discretamente e abre a porta, desaparecendo atrás da mesma quando a fecha. suspira e se senta nos degraus da entrada da casa da garota. Ele simplesmente não consegue ir embora.
Revira os olhos em desgosto, incapaz de compreender em como foi parar ali, impossibilitado de partir por alguma razão oculta que está lhe enlouquecendo.
Coloca as mãos sobre o rosto e bufa enquanto balança a cabeça, consternado. Está sendo um imbecil. Prepara-se para ir embora mais uma vez, mas é atingindo pela lembrança dos acontecimentos desta noite.
O evento transcorreu bem, apesar de ter mais caras com olhares do tipo seu-vestido-ficaria-muito-melhor-no-chão-do-meu-quarto sobre do que gostaria. Um deles, claro, era Alex Stewart. A comida, apesar de apetitosa, vinha em porções minúsculas. Mas todos os defeitos eram disfarçados e compensados pela boa música que embalava a festa. Uma banda de jazz fora contratada e apurava os ouvidos toda vez que se iniciava os solos de saxofone. Incrível.
Relembra também em como estava linda ao dançar com aquele sexagenário, muito mais corajoso do que ele, que ao escutar uma das músicas sendo tocada pela banda contratada para animar o evento, pediu que ela lhe concedesse a honra daquela dança. Com um sorriso gracioso e um olhar entusiasmado, ela aceitou o convite e pelos próximos cinco minutos os dois dançaram, até que os pés do senhor estavam doloridos demais para continuar. era absurdamente péssima.
Em meio a risos e querendo aliviar seu constrangimento perante todos os presentes que a encaravam, Alex a puxou para mais uma dança. Mesmo contrariada, ela não impediu que ele aproximasse seus corpos quando aquela música lenta começou a tocar. Não surpreendentemente, ela apoiou a cabeça no ombro dele e então o mesmo começou a sussurrar coisas em seu ouvido. Inicialmente, imaginara que o homem estivesse dando letra à música de uma forma bem humorada, até que lágrimas apareceram no rosto de . Ela se desconcentrou e acabou pisando no pé de Alex que suavizou um urro de dor. Parando de se movimentar, levou a mão ao rosto e limpou as lágrimas sobressalentes. Suspirou profundamente enquanto eu a observava sem entender absolutamente nada. Então, se despedindo rapidamente de Alex e batendo as mãos no ar tentando se livrar das emoções que a sufocavam, ela sumiu pelo portal de entrada do parque agradavelmente ornamentado.
nem precisou esperar a música terminar para saber que a decisão certa era segui-la.
Chegaram a sua casa, com conduzindo o veículo enquanto ela encarava em estado catatônico as imagens difusas da paisagem pela janela embaçada do lado do passageiro. Ela não chorou mais em sua frente, mas a maquiagem escorrendo pelo seu rosto dizia que ela certamente o havia feito longe do alcance dos olhos do garoto. Por alguma razão, vê-la chorar lhe perturbou imensamente e prometeu a si mesmo que aquilo não se repetiria, pois não deixaria que ninguém a machucasse. Sentiu vontade de quebrar a cara de Alex naquele momento, mas percebeu que isso apenas aumentaria o horror da situação.
E ali novamente está . Empertigado sobre os degraus, tentando raciocinar. foi clara ao impedi-lo de entrar com ela: “Não desejo te ver mais por hoje, .” E apesar de se sentir ofendido e ter achado cruel a escolha das palavras, entendeu que ela precisava de um tempo sozinha. No entanto, ele não quer ficar sozinho esta noite. Não quando ela está sempre em sua mente.
Ao olhar para o relógio analógico em seu pulso, ele se ergue rapidamente, abandonando a compostura enquanto se dirige até a porta, socando-a três vezes consecutivas.
O relógio está marcando meia-noite e treze.

XXX

-Saia da minha casa. – a ordem é ríspida e amargurada.
-Já passou de meia-noite. – tenta contornar a situação, mas está impassível.
-Já passou da hora de você parar de mentir, mas você continua o fazendo.
-Do que está falando?
-Não seja um dissimulado. – ela o censura – Disse que não tinha onde cair morto, mas seu rosto é famoso em St. Louis.
-Como é que...?
-Google. – ela dá de ombros, fingindo indiferença – Alex me alertou na festa e assim que cheguei aqui eu fui conferir mesmo descrente de que isso pudesse ser verdade. Mas é.
-, eu...
-Filho de Jack ! – ela exclama soberba - Seu pai tem uma grana. Até realiza uns eventos de caridade para contrabalançar.
-Isso não é...
-Eu só me pergunto o motivo de você não ter comentado nada. De ter preferido dormir em um cubículo fedorento e trabalhar por algumas horas com indivíduos insossos de uma cidadezinha miserável. Ou seu pai te ensinou muito bem como administrar seu dinheiro, ou sua ganância te habilitou a fazer de trouxa os bem-intencionados.
-Será que eu posso me explicar?
-Poderia, mas eu não estou interessada em ouvir mais mentiras. Como você não consegue se perder nelas? – ela pergunta, mas logo descobre a resposta – A prática leva à perfeição.
-, por favor...
-Pegue seu carro e vá embora. – ela aponta a direção da rua – E se assegure de não voltar nunca mais.

Capítulo 10


E quando chegou à oficina no dia seguinte, ele já havia partido.

Capítulo 11


-O que está acontecendo com você, mocinha?
escuta a voz macia da avó e sente seus dedos nodosos tocando levemente seus ombros. Durante a última semana, Pam tem demonstrado muita compaixão para com a neta, pois conhece os estragos causados por uma decepção amorosa. Afinal, 23 anos atrás, a sua própria filha foi vítima do mesmo doloroso mal.
-Estou finalmente desempacotando as caixas da universidade. – a garota responde, mesmo tendo ciência de que não é sobre isso que sua avó deseja ouvir.
-Sempre me perguntei o motivo de você ter desistido de Boston. Você parecia tão animada com a ideia da viagem. Seu avô teria ficado contente.
De repente, para o que está fazendo e se vira para a avó, confusa. Abandona a caixa de papelão e se concentra em avaliar as palavras da mais velha. Olha para as próprias mãos, pisca algumas vezes e tenta se localizar espacialmente para ter certeza de que isto está realmente acontecendo.
Está em seu quarto na casa de sua avó. Sentada sobre a cama e rodeada pelas caixas de papelão que antes ocupavam o quartinho da oficina do Joe. Sua avó está lá também. Dizendo que seu avô ficaria contente com sua ida para Boston. E é aí que percebe a incoerência, o erro, o engano.
-Teria ficado contente? – a garota inquere desacreditada – Ele me deu a oficina de herança e aquilo sempre foi tudo para ele. Ele queria que eu prosseguisse com seu sonho e cuidasse de você, vó.
-Bobinha... – a voz da avó é suave e condescendente – Você sempre foi tudo para ele. – ela corrige gentilmente – Seu avô jamais ficaria zangado com o fechamento da oficina. Pelo menos não quando a neta está abrindo mão do sonho dele para seguir o seu próprio.
-Eu nunca pensei desta maneira. – ela revela desnorteada e Pam a abraça, confortando-a. – De qualquer forma, eu nunca poderia ter deixado você sozinha.
-Eu sei, meu amor. Você ficou presa em casa por tanto tempo que eu achei que tivesse feito a sua escolha depois de ter avaliado todas as possibilidades. Mas você só se concentrou em mim, conjecturou apenas destinos que me incluíam e se sacrificou pelo negócio do seu avô. Tenho muito orgulho de quem você é, mas às vezes você é meio burra.
E então pisca três vezes, incapaz de acreditar que sua avó tenha sido tão perversamente honesta.
-Vó! – ela adverte.
-Perdoe-me, querida. Mas é a verdade. – ela lhe sorri apaziguadora – Você tem noção do quão animada eu estava com a sua mudança para Boston? E embora eu goste da vida pacata em Wyoming, fui criada em cidade grande e a oportunidade de ir à Massachusetts era tentadora. Estava me preparando para expor ao Joe a ideia de nos mudarmos com você. Mas então houve o acidente e as coisas ficaram um pouco turvas por um instante longo demais. Depois de me recuperar do choque, defini que iria te apoiar em qualquer decisão que tomasse. Você escolheu ficar. Então eu também fiquei.
Então, se ergue enérgica.
-Embora eu ache que você deveria ter me contado isso antes, fico feliz por tê-lo feito agora. – ela sorri aventureira – Arrume as malas, Pamela . O embarque para o nosso voo finalmente foi autorizado.

Capítulo 12


entra na loja de autopeças do senhor Hamilton, conferindo mais uma vez se o dinheiro é o suficiente para pagar as dívidas que possui com o sexagenário. O fato de sua avó ter tido o relacionamento romântico com o idoso, não lhe permite explorá-lo financeiramente e acarretar-lhe prejuízos. Ela se direciona até o balcão e espera o velho barbudo vir atendê-la.
-Olá, . Como tem passado? – ele pergunta gentilmente, mas seus olhos estão tristes porque já está ciente da mudança. – Espero que o povo de Boston seja receptivo.
-Eu também. – ela ri, sem jeito – Vim erradicar minhas dívidas com você. – a garota põe o maço de dinheiro na bancada e vê o homem arquear a sobrancelha, confuso.
-, eu não posso aceitar isso. – ele recusa o dinheiro veemente.
-É claro que pode! – ela insiste.
-Não posso. Sua dívida já foi paga. – ela abre a boca sem entender e o idoso acrescenta - E já faz quase duas semanas.
-Mas quem poderia ter feito isso?
-Oras, o seu amigo que veio com você da última vez. – e antes que possa compreender realmente o significado daquele gesto o senhor Hamilton exclama – Oliver, venha cá! está aqui.

XXX

-Ele não estava zombando de você, . – Oliver elucida enquanto encara as prateleiras da loja do senhor Hamilton. O olhar fixo em algum objeto inanimado. – Pelo que pude ouvir da conversa que ele teve com o pai, ele só queria o dinheiro para não prejudicar você. Disse que você já tinha se sacrificado o bastante.
-Mas eu vi a foto dele naquele evento de caridade. Trajando um smoking ao lado dos pais. E ele estava sorrindo. – ela relembra vagamente, tentando organizar as ideias – Achei que fôssemos algum tipo de experiência científica para ele. Um tipo de história divertida para ele contar aos amigos burgueses; um verão com os caipiras ou algo do gênero.
- é um pouco mentiroso, no entanto, uma das poucas verdades que ele disse foi que é muito bom em mascarar emoções. Eu só percebi que o assunto família o aborrecia depois de ouvi-lo conversando com o pai. O semblante dele não se altera, mas há algo no tom da voz dele que o entrega.
-Quer dizer que o julguei mal? – ela pergunta insegura.
-Péssimo, . E eu sei que ele tentou explicar porque ele me disse antes de partir. – de repente o menino ri baixo – Ele também me disse outra coisa.
-O quê?
-Que ele quase se apaixonou por você.
-Quase?
-Muito bem, garota, achou a palavra desarmônica.
Então eles sorriem cúmplices e a imagem positiva do babaca retorna até .

Capítulo 13


está andando apressada pelo aeroporto de Wyoming com a mala de rodinhas a seguindo regularmente. Olha mais uma vez o relógio de pulso e vê que está atrasada. Começa a correr, pois se recusa a perder mais um voo.
De súbito a mala trava e ela é obrigada a olhar para trás a fim de verificar o motivo. Com um solavanco, desemperra a rodinha e vira-se no momento exato em que um indivíduo tromba com seu corpo. Sente o líquido escorrer por sua camiseta.
Está gelado.
Olha para cima preparando-se para começar a discutir quando encontra aqueles olhos brincalhões brilhando em expectativa.
.
-Suco de uva. – ele chacoalha o copo em sua mão e ela observa satisfeita a camiseta manchada de roxo. – Eu sinto muito, .
-Por ter manchado minha camiseta mais uma vez ou por ter ido embora? – ela sorri com lágrimas ameaçando transbordar de seus olhos.
-Manchei sua camiseta de propósito. – ele sorri – Mas sinto muito por todo o resto.
E então eles se encaram e mesmo sem palavras ambos se compreendem.
-Sabe, eu precisei ir até a Califórnia para me dar conta de que eu já havia chegado ao meu destino. – ele levanta o indicador, ponderando - Percorri mais de 1300 milhas para constatar que até Gillette deixa de ser uma cidadezinha miserável quando você está com quem gosta.
Retira do bolso um pequeno carretel de linha. Não surpreendentemente, é roxa. arqueia a sobrancelha, tentando entender o que ele pretende fazer com aquilo.
-...
-Acho que não sei ao certo como ou quando aconteceu. – ele então começa a amarrar a linha em volta do pulso de e faz dois pequenos nós para se assegurar de que a linha não se soltará - Mas, magicamente, eu me apaixonei por você. – em seguida enrola a linha em volta do próprio pulso e novamente faz dois nós, encarando . -Você possivelmente está me odiando agora por todas as mentiras e omissões, por estar impedindo você de viajar, por conta do meu caráter duvidoso e do meu humor imprevisível, mas, , eu sinceramente posso ser o que você quiser. Cavaleiro de armadura, super-herói ou príncipe encantado. Porque há alguma coisa em você, , que me motiva a dar o melhor de mim. E você é a melhor parte que há em mim. – ele balança a fina linha que os une e sorri antes de dizer – Dessa vez eu trouxe a linha.
Então, calada, ela observa o relógio.
-Eu realmente estou te odiando agora. Você me fez perder meu voo. – seu olhar é impassível e abaixa a cabeça - Que droga, ! Agora vou ter que pegar o próximo voo para St. Louis.
-Você disse St. Louis? – o homem questiona, encarando-a desentendido. – Possui parentes por lá?
-Conheci um garoto durante o verão.
-Parece promissor. – ele avalia com um sorriso despontando dos lábios.
-E ainda não devolvi o casaco dele. – ela finge lamentar.
-Não posso mais suportar isso. Se quiser, pode me esbofetear depois.
Então, sem esperar consentimento, a enlaça e a beija. E de repente tudo parece certo. Seus lábios se movendo ritmicamente, segredos sendo compartilhados silenciosamente.
-Príncipes encantados não beijam assim. – diz assim que pausa o beijo e cola a sua testa a dela.
Ele vinca a testa, observa o olhar petulante da garota, instigando-o. Sorri enviesado quando sussurra, atrevido.
-O cacete que não beijam.
E no instante seguinte está comprovando isso.

Felizmente, para sempre.



FIM



Nota da autora: (11/04/2015)
Você tenta fugir do challenge, mas ele corre atrás de você e te puxa pelo pé. Haha. Espero que tenha gostado da história apesar de não ter envolvido diretamente fadas, bruxas ou príncipes encantados. Mas, caso leia nas entrelinhas, perceberá que neste, conto de fadas moderno, tudo esteve implícito. Beijos mágicos e aproveite as diversas fics do challenge!



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