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Capítulo 1


estava se sentindo fantástica naquele dia, isso porque seu pai a tinha reconhecido e aquele era um avanço e tanto, ela pensava sobre isso consigo mesma, enquanto voltava de ônibus para a república na qual trabalhava e estava se hospedando.
Ela morava na pequena e pacata cidade de Simplício do Sul, no interior de Minas Gerais e trabalhava como empregada em uma república onde viviam sete rapazes, todos estudantes da Universidade Federal de Símplicio do Sul, a famosa UFSS recebia estudantes do Brasil inteiro e cada um dos rapazes da república “Reis de copos” — na qual estava se hospedando até conseguir outro lugar para morar — eram de outras cidades.
adoraria ser um dos estudantes privilegiados da universidade, mas ela teve que sacrificar seu sonho de cursar artes plásticas para cuidar de seu pai, que logo após a morte de sua mãe caiu em depressão profunda, levando-o a adquirir uma doença neurológica. Ele vivia falando sobre Catarina e de como ela estava linda no dia do casamento, fora isso não falava mais nada, nem mesmo lembrava que tinha uma filha.
A mãe de tinha morrido quando a mesma tinha 16 anos, e se você pensa que a vida dela era mais fácil antes disso, se engana profundamente. Marcela descobriu que tinha um câncer raro nos ossos, e quase ninguém conhecia a cura para ele na época, a única saída era continuar a quimioterapia para aliviar a gravidade da doença que foi avançando aos poucos e tomando cada gota de vida daquela que costumava ser uma mulher alegre e animada.
tinha 12 anos quando o câncer foi descoberto e cuidava de sua mãe com a ajuda de sua avó materna enquanto seu pai passava o dia trabalhando no restaurante da família, que foi fechado alguns meses depois da morte de Marcela devido à gravidade da situação de Guilherme, pai de . A garota vivia presa em casa durante toda sua adolescência, enquanto suas amigas estavam brincando de bonecas, ou se preocupando em passar o batom para verem a paixão adolescente delas, lidava com remédios e cuidados para com sua mãe, comida e limpeza da casa.
Sua avó materna foi seu braço direito durante todo o processo, e por isso tinha na avó a sua proteção nos momentos difíceis de sua vida, era pra sua avó que ela corria sempre que precisava e moraria com ela se a casa da avó não fosse tão pequena. Mas ela supria isso com visitas todos os finais de semana, recheados dos melhores quitutes, pois sua avó era uma cozinheira de mão cheia.
desceu do ônibus, e agradeceu pelo fato do ponto ser bem em frente à república, ela entrou na casa animada, cantarolando uma música qualquer e foi recepcionada por João Pedro, o garoto mais nerd da república e também o morador mais implicante de todos.
, você limpou meu quarto ontem? — o garoto perguntou com ar de desespero.
— Claro. Eu o limpo sempre. — ela respondeu e então segui até a cozinha, mas João foi em seu encalço.
— Por acaso viu minha folha de exercícios? Eu preciso entregá-la hoje para meu professor e não encontro em lugar algum.
— Talvez você a tenha perdido. — David entrou na cozinha falando e riu. David era o mais bonito da república, aliás, o homem mais bonito da cidade. Ele vivia sendo chamado para campanhas de modelo, mas sua vocação estava mais perto, seu sonho era se tornar um grande fazendeiro assim como seu pai e por isso estudava engenharia agrônoma.
Ele era um pedaço de mal caminho, aliás, um pedação! Era alto, forte e possuía incríveis olhos verdes. fechou a geladeira que tinha acabado de ser aberta por ela e olhou para João.
— João, achar as coisas no seu quarto é bem complicado. Se você tivesse vindo até a mim ontem antes de arrumá-lo, eu até entenderia não ter achado nada, porque achar essa folha seria o mesmo que procurar por uma agulha no palheiro, mas hoje aquilo lá está simplesmente espantoso de tão limpo.
— Nisso ela está certíssima, tenho que concordar. — David disse e pegou uma maçã na cesta de frutas, levou-a até a boca, mordendo e arrancando um pedaço enorme da mesma, então foi para perto de , que se encolheu enquanto ele encostava na pia ao lado dela.
— Eu fiz uma escala de arrumação semanal, porque vocês são muitos e cada um possui seu próprio quarto, então estarei sempre seguindo o mesmo itinerário, a não ser que vocês me demitam. — disse ergueu as mãos, como se entregasse os pontos.
— Não é essa a questão, . — João Pedro começou a falar, mas foi interrompido por David.
— Não fala mais nenhuma merda, João! Custamos a conseguir alguém como a e agora você vem estragando tudo? Se quiser comece a arrumar sua própria bagunça. — David disse com uma energia exagerada e isso porque ele era apaixonado por desde o momento em que ela pisou na república pedindo pela chance de trabalhar ali.
As meninas da cidade não entendiam como aquilo era possível, pois David podia ter quem quisesse por ali, ele sempre andava com roupas de marca, carros caros e não era segredo que ele era rico e desejado por todas, mas ele não queria ninguém como ele queria ter . Mas a garota não ligava mínima para ele, mas ele não desistia e continuava em busca de ter uma chance com ela.
—Posso saber que reunião é essa na cozinha? — entrou na cozinha e todos se viraram para ele. — Deixa eu adivinhar, João perdeu alguma coisa e está culpando novamente?
— Cara, você tem bola de cristal? — David disse e então riu.
— Essas coisas não precisam nem mesmo de uma bola de cristal, acontecem com frequência. — , ou simplesmente , era o mais responsável da casa, em contradição total à sua reputação de ser um dos mais farreiros e boêmios. Mas ele havia sido escolhido como presidente, e era ele quem tomava conta das questões burocráticas e todos os tinham como o irmão mais velho da casa. Ele era quase um ogro em alguns momentos, mas muitos o chamavam de “Ogrodoce”, pois ele era meio ogro, mas doce ao mesmo tempo.
No fim das contas, todos consideravam uns aos outros ali dentro como irmãos. E , apesar de ser a empregada da casa, era como a irmã mais nova. Aliás, inicialmente havia sido apenas contratada para limpar durante o dia, mas diante do fato de que a casa da vó de não era grande o suficiente, deu a ideia de que abrissem uma exceção sobre o fato de ser uma república só para homens, e já que havia um quarto sobrando, poderiam deixar se hospedar ali por tempo indeterminado até conseguir um lugar para ficar. estava em busca de um cantinho só seu, apesar de estar com grande dificuldade de conseguir isso.
Quando deu essa ideia de se hospedar ali, foi uma confusão das grandes até que eles decidissem e por fim aceitassem a presença da garota ali com eles. tinha uma queda por ela, mas ele quis com toda força em seu ser que ela passasse um tempo com eles, pois se sentiu profundamente tocado descobrir sobre a história de vida de .
— Olha, se puderem sair da cozinha vai ser ótimo, pois preciso preparar o almoço. — falou com o tom autoritário e todos se dispersaram, João saiu da cozinha resmungando alguma coisa e David o seguiu dando chutes em sua bunda. Apenas permaneceu e se aproximou de .
— Eu sinceramente ando cogitando a possibilidade de convocar uma reunião e expulsar o João Pedro daqui. — bebeu um gole do café que tinha colocado para ele em uma xícara. — Ele anda atrasando com os pagamentos, e ainda por cima te culpa por tudo. Eu sei que não tem culpa dos sumiços das coisas dele, e aliás, já reparou que nada mais some? São só as coisas dele que desaparecem como efeito de mágica.
— Se for problema, eu vou embora, . Estou apenas me hospedando aqui, já o João é um membro da república faz um bom tempo. Eu só quero poder continuar trabalhando aqui, . Eu preciso desse trabalho, você sabe disso. — disse com um suspiro pesaroso pensando em seu pai.
— Claro. Falando nisso, tudo bem com seu pai? — perguntou.
— Sim, hoje ele me reconheceu, acredita? — falou animada dando pulinhos típicos dela e sorriu de lado.
— Caramba! Isso é ótimo! — a garota assentiu. — Sabe que admiro demais isso em você? Você se sacrifica tanto pelos outros, às vezes acho até injusto desistir do seu dom, desistir dos seus sonhos assim da maneira como faz.
— Mas se não o fizesse não conseguiria ser feliz também, . Imagine só, eu ignorar a existência do meu pai e largá-lo em uma clínica qualquer onde sei que não teria o mesmo tratamento que ele tem na que eu pago para ele? Não dormiria em paz.
— Às vezes acho que eu e os meninos não te pagamos o suficiente. — falou e era sincero em suas palavras.
— Eu dou conta com o salário que recebo. — A garota disse com calma.
— Você recebe para limpar e ajeitar nossas comidas, não para aguentar as chatices do João, por exemplo. — ele terminou de tomar seu café e colocou dentro da pia onde a garota estava encostada. parou diante da garota. — Sabe que se precisar de qualquer coisa, é só me falar.
Ela assentiu e ambos ficaram em silêncio, olhando um dentro do olho do outro, canalizando e trocando uma energia que parecia fora do ar até então, mas que de repente achou a sintonia perfeita.
era o único com quem conversava sobre sua vida particular, aliás, ele era o único em que ela confiava plenamente e também o único pelo qual ela senta alguma atração, já o rapaz já havia desistido dela fazia tempos, e isso porque a competição era grande e ao mesmo tempo nem existia.
Complicado? Deixe-me explicar melhor. era uma colecionadora de corações, ela conquistava a todos os homens que conhecia, mas não sentia-se atraída por nenhum deles, e ela não os conquistava porque queria fazê-lo, isso simplesmente acontecia como se ela tivesse um dom secreto para tal.
sabia disso, mas ele sabia também que a garota era difícil e não se renderia a qualquer cara e por isso mesmo, desistiu de qualquer coisa a mais do que amizade entre os dois. Melhor garantir aquilo do que nada, não é mesmo? Além do mais, apesar da proximidade entre os dois, ele era um cara que adorava festas e não perdia uma sequer, sua fama de mulherengo não o ajudaria caso ele decidisse conquistá-la.
— O que vamos ter de rango hoje, ? — David entrou na cozinha interrompendo o pequeno momento íntimo entre e . Ambos se afastaram como ímãs de polos iguais, foi até o fogão e colocou a panela que havia enchido de água para ferver.
— Macarrão à carbonara, e o chef de cozinha vai me ajudar. — ela sorriu e apontou o dedo para si mesmo, surpreso com a nomeação, David fez uma expressão de desgosto diante da cena, ciúmes extravasando pelos poros.
— Não quer que eu ajude também? — David perguntou enciumado.
— Por enquanto não, mas se eu precisar, te aviso. — ela disse e sorriu para o rapaz que se derreteu diante daquele simples gesto. Viu? Era simples com ela, um sorriso e pronto, o grandalhão já foi nocauteado. Assim que David saiu da cozinha, se reaproximou da garota, e ficou por perto, assistindo-a enquanto ela cortava as cebolas com maestria.
— Você sabe que David é completamente apaixonado por você, não é? — falou e ela sacudiu a cabeça em negação.
— Coisa da sua cabeça.
— Aliás, todos os caras daqui da república tirando o João e o Gustavo, já tiveram uma queda por você. — ele fez questão de não se incluir no grupo.
— Gustavo está noivo, se tivesse alguma queda por mim, seria um grande filho da puta! Você teria coragem de dar em cima de alguém se estivesse noivo? — perguntou, e hesitou um pouco antes de responder.
— Claro que não. — Aquilo havia sido uma mentira deslavada. Ele já tinha feito isso, estava namorando, e deu em cima da melhor amiga da namorada. vivia soltando mentirinhas, tentava se livrar da mania, mas quando percebia a mentirinha já tinha saído.
— Que ótimo!
— Escute bem, todo mundo na cidade te chama de colecionadora de corações, . E esse apelido não foi dado sem motivos.
— Mas eu nem mesmo saio de casa direito! Como posso ter tantos admiradores assim? — falou enquanto começava a picar o pimentão.
—E já imaginou se saísse mais vezes? Meu Deus! Não sobraria corações para as outras meninas de Simplício, . — ele disse com uma cara de desespero e a fez rir.
— Acho que você está falando de si mesmo, meu caro. — ela rebateu. — Não sou eu quem tem uma mulher para cada dia da semana, e devo alertá-lo que daqui a pouco as mulheres irão acabar na cidade, você já pegou quase todas.
— Estou em busca da garota certa, e enquanto isso me divirto com as erradas.
— E fica tocando saxofone para elas, e depois coloca Jazz para seduzi-las. Assim fica difícil não se apaixonar, sabia? — queria que ela se apaixonasse, era isso que passava por sua cabeça enquanto a ouvia falar. — Tenho penas das coitadinhas.
Na verdade ela tinha inveja das garotas, mas depois se lembrava que todas eram usadas e descartadas no dia seguinte, e então a inveja passava bem rápido. Ela tinha em sua mente que nunca poderia dar uma chance para ele, exatamente por isso, porque sabia que sofreria e ela já estava farta de sofrer. Seu maior desejo era que pudesse realizar seus sonhos, e sentir um pouco do que era felicidade.
— Eu amo jazz, você sabe bem disso. — disse e a garota assentiu.
— Sei sim, mas não me lembro exatamente de onde surgiu esse amor pelo gênero musical.
— Eu aprendi a tocar saxofone quando ainda era um morador de rua, tinha acabado de fugir de casa e encontrei o Tião nas ruas de Belo Horizonte, ele tocava saxofone para ganhar uns trocados, ele me viu na praça sete e percebeu que fiquei ouvindo sua apresentação até na hora que ele ia embora, e então ele me chamou, me perguntou meu nome, idade e porque estava ali sozinho.
— Você tinha quantos anos na época? — perguntou curiosa e atenta a história de .
— Eu tinha 8 anos e foi exatamente pela minha idade que Tião me levou para a casa dele, e me tratou como se fosse um filho. E ele me ensinou tudo que sei de música, ele me fez sentir e perceber que a música faz parte de mim e de quem eu sou.
— E aí, galera? — Gustavo entrou na cozinha esfregando as mãos e interrompendo a conversa de e . — O que vai ter de bom no almoço hoje, hein? Tô louco de fome e não estou nem um pouco afim de comer no RU hoje. — O RU, era o “Restaurante Universitário”, que colecionava reclamações dos homens da república.
— Me diz quem fica afim de comer aquela gororoba? — Leandro falou pegando a conversa pelo caminho ao entrar na cozinha.
Leandro era mais um morador da república, era o melhor amigo de , ele estudava artes plásticas e era conhecido como “O gênio precoce das artes”. Suas obras ficaram famosas após tê-las exposto em uma feira em Belo Horizonte e ter chamado a atenção de vários pintores conhecidos no Brasil, depois disso ele foi convidado para viajar e expor suas obras em vários museus e então recentemente tinha recebido uma oferta de fazer várias exposições pela Europa.
adorava conversar com ele, pois sonhava que um dia tivesse seu trabalho reconhecido assim como o de Leandro estava sendo.
— Se todos provassem das comidas maravilhosas da , nunca mais comeriam no RU. — David disse entrando na cozinha e então percebeu que seria mais difícil cozinhar do que ela imaginava. Mas ela admitiu para si mesma que adorava aquela bagunça que se dava naquela casa, eles faziam com que ele risse por diversas vezes e esquecesse das dificuldades e medos que se abatiam sobre seu coração machucado.
Ali na república “Reis de copo” viviam , David, José Pedro, Gustavo, Leandro, Lucas e Fernando. Talvez fosse impossível lembrar o nome de todos de primeira, ou de ligar o nome ao rosto, mas conhecia cada um e talvez o fato de estar ali há quase 2 anos ajudava no processo.
Ela sabia exatamente como era a preferência de arrumação dos quartos, e todos a tinham como um membro da república que um dia foi completamente masculina, mas se tornou mista por conta dela.

Capítulo 2


tinha terminado de ajeitar toda a casa e foi para o quarto, empurrou o tapete para debaixo de sua cama e estendeu um lençol sujo sobre o chão de cerâmica acinzentada.
Ela guardou a caixa que colocava os selos de sua coleção que estava em cima da cama, aliás, os selos eram de seu pai e certa vez quando ele fora jogar os selos fora, ela pediu e então começou a colecionar selos, continuando a coleção iniciada pelo pai.
Foi até seu armário, o abriu e pegou uma tela em branco, colocou em seu cavalete e depois abriu seu estojo com todas as tintas que possuía, eram todos presentes de sua avó. Que utilizou do dinheiro de sua própria aposentadoria para agraciar a neta com ferramentas para que ela jamais desistisse de seus sonhos.
Ela pensou um pouco antes de começar a pintar, e foi então que se lembrou do sonho que tivera na noite anterior, ela estava em um jardim lindo e florido, sua avó e seu pai estavam sentados em um banco desse jardim e ela caminhava sorridente enquanto o sol batia em sua pele. Ela se sentia feliz só de lembrar do sonho, e teve certeza de que aquele jardim era uma ótima pintura a ser feita, algo que a faria se lembrar daquele momento.
As pinturas de fugiam do convencional, era exóticas e as poucas pessoas que a as viram ficaram atraídas e encantadas pela visão que tiveram. Mas na cabeça de , suas pinturas eram estranhas e não mereciam muita atenção. Da república, apenas havia visto as pinturas e ela acreditava que ele só a tinha elogiado por pena.
Ela estava concentrada deslizando o pincel sobre a tela quando escutou algumas batidas na porta, ela olhou em direção da porta e já imaginou que não conseguiria pintar, pois era provavelmente algum dos rapazes pedindo por ajuda em alguma coisa. Esse era o problema em ser a única mulher do local.
— Entre. — ela falou e esperou pelo pedido, mas quem entrou foi que fechou a porta e logo depois se sentou ao seu lado.
— Desculpe, não queria te incomodar. — ele falou sem jeito.
— Não incomodou. — ela respondeu atenta à tela e dando algumas pinceladas, trançando milimetricamente os detalhes daquela pintura.
— Tá ficando incrível. — ele falou, e era sincero. Ele sabia reconhecer uma bela pintura quando via uma, mas ele tinha a impressão de que ela não acreditava nele quando a elogiava. Será que seria assim se ele contasse que estava apaixonado por ela?
— Obrigada. — ela colocou o pincel em cima da mesinha toda suja de tinta que ela usava exatamente para essa finalidade. Ela olhou para sua blusa e percebeu que tinha esquecido de colocar o avental, e haviam vários respingos de tinta por ali. — Vou continuar depois. Me conte, o que te trouxe até meu quarto?
— Eu vim para te convidar para ir na festa da república “Batom Vermelho”.
— Jura? Logo eu?
— É, eu sei que você não curte muito ir em festas, mas essa vai ser legal. — falou tentando animá-la a ir. Ele sabia que se ela fosse, talvez se sentisse mais feliz, mais animada e não tão triste como andava ultimamente.
Desde o dia em que seu pai a havia reconhecido não aconteceu mais nada de novo, ele continuava olhando para o teto durante os dias, e durante a noite dormia a base de sedativos pesados. Ou era isso, ou então os gritos eram ensurdecedores na clínica.
— Eu não sei...
— Mas eu sei. — o rapaz tomou uma das mãos sujas de tinta de nas suas mãos cálidas, a garota olhou para as mãos enlaçadas antes de voltar a encarar seus olhos. — Eu vejo você sempre tão triste e sei que uma festa vai ser exatamente o que você mais precisa para se animar. Eu não vou aceitar um não como resposta, certo? — ele se levantou e não deu nem chance da garota falar. — A festa começa as nove da noite, e eu espero que você esteja pronta quando eu bater na porta desse quarto.
— Mas...
— Não tem dessa de “Mas”, .
— Eu só queria saber se mais algum dos meninos vai. — ela falou levantando as sobrancelhas.
— O Lucas, Fernando e David.
Já era de se esperar a ida de Lucas, ele estudava engenharia química e conseguia ser mais boêmio do que . Já a ida de Fernando era uma grande novidade, pois ele era sempre muito calado, estudava letras e sonhava em ser um escritor algum dia, não gostava muito de festas e preferia ficar em seu quarto assistindo mil séries, e filmes do que sair para a balada. Já David, selecionava as festas na qual iria, e ele nunca pagava para ir em nenhuma, sempre era convidado. Na verdade, só nas festas em repúblicas femininas.
— O Lê não quis ir? — perguntou em busca do melhor amigo de .
— Não, ele tem uma apresentação de um trabalho nos próximos dias, e só vai ter tempo para revisar e finalizar o trabalho durante a noite.
— Certo. — suspirou antes de sorrir para ele. — Você conseguiu, eu vou.
— Ótimo! Não se atrase. — ele piscou antes de sair do quarto dela.
Ela sorriu para si mesma, empolgada com a ideia de ir em uma festa depois de tanto tempo sem realmente se divertir, aliás, ela mal lembrava quando tinha sido a última vez. Foi até as gavetas de seu armário e retirou de lá uma saia preta e uma blusa verde esmeralda com detalhes de tule bordado.
Ela não conseguiu nem mesmo voltar a pintar, apenas ficou preocupada com a festa e começou a se arrumar logo que viu o relógio marcar sete e meia da noite, e enquanto ajeitava seus cabelos, ouviu seu celular chamar insistentemente, largou a chapinha e correu para atendê-lo.
— Oi?! — ela atendeu sem nem mesmo ver quem era.
— Olá, ?
— Sim, é ela.
— Somos da clínica e estamos ligando para pedir sua ajuda. — se sentou na cama, assustada e com o coração aflito diante da ligação.
— Meu pai está bem?
— Sim, quero dizer...ele não está dormindo, nem mesmo com os medicamentos pesados. Agora ele está fazendo uma terapia, fazendo alguns desenhos, como sempre. Mas gostaríamos que estivesse aqui às onze da noite, ele está repetindo seu nome com frequência e isso significa que ele...
— ...está se lembrando de mim. — a garota finalizou a frase para a mulher, e não pôde deixar de sorrir. — Certo, eu estaria aí assim que possível. Vou só ajeitar algumas coisas e passarei a noite aí.
— Ótimo! Acho que será o suficiente para que ele durma.
Elas se despediram cordialmente, e então se virou olhando para o espelho e ao ver seu reflexo toda arrumada e produzida, se deu conta de que não poderia ir à festa, infelizmente não dava para ser duas ao mesmo tempo e sentiu-se triste por ter que dispensar seu amigo, mas ela sabia que ele a entenderia.
Ela abriu a porta de seu quarto, e foi até a sala, onde esperava por ela com os outros rapazes, todos eles olharam para da cabeça aos pés. estava uma pilha de nervos, pois a havia convidado com a intenção de mostrar que ele era mais do que um fortão meio ogro, com reputação de safado.
— Acho que não vai dar mais para ir. — ela mordeu o lábio inferior, sem saber o que aquela atitude causava nos rapazes ali na sala, principalmente em e David.
— Ei, te avisei que não aceito não como resposta. — rebateu logo depois que ela se calou.
— É complicado, . — a garota percebeu que os outros voltaram sua atenção para a televisão e o jogo de videogame e chamou com os olhos, indicando a cozinha e então foi para lá, em menos de 30 segundos ele chegou até lá.
— O que houve? — perguntou e passou a mão no braço da garota, fazendo com que ela se arrepiasse. “É só o frio”, ele pensou ao perceber a reação do corpo da garota ao seu toque.
— Meu pai não parece conseguir dormir e me pediram para ajuda-lo. Ele deve ir dormir só lá pelas onze da noite, mas ele está perguntando por mim, . Eu preciso ir até lá, vê-lo.
— Mas , você precisa parar de se sacrificar tanto. Ainda acho que devia ir na festa e ficar lá um pouco. — disse e se deu conta de como estava perto dela. Ela estava encostada na geladeira e ele diante dela, com uma mão em seu ombro e a outra apoiada na geladeira ao lado da cabeça dela.
— Não vou conseguir me divertir enquanto estiver pensando no meu pai. — ela confessou e ele assentiu, mas não se deu por vencido.
— Mas tenta? Juro que se quiser ir embora depois de cinco minutos da festa, eu te levo para a Clínica Reviver.
— Meu Deus, como você é insistente! Você venceu! Mas vou embora da festa às dez e meia.
— Já está pronta? Vamos então. — ele perguntou e ela negou com a cabeça.
— Só falta ajeitar essa parte do cabelo. — ela apontou para uma parte do cabelo que aos olhos de parecia perfeita.
— Demora muito? — ele indagou.
— Só cinco minutos, e a gente vai.
— Vou contar no relógio. — ele disse e piscou, ambos ficaram calados. Era para que ela saísse e fosse para seu quarto, mas algo a fez querer ficar ali, talvez os olhos de , e ele sentiu o mesmo, talvez fosse o perfume de . — , vai logo.
— Já vou. — ela se virou e já ia saindo quando ouviu um arroto vindo do garoto e o olhou assustada e com cara de espanto. — Que merda foi essa? Já te falei para parar com isso.
— Mas nem tem ninguém para que eu te envergonhe.
— A vergonha é sua, . Não minha. — ela revirou os olhos diante da atitude comum do garoto, ele era meio ogro as vezes, ou quase sempre. Ele era desajeitado e quase sempre agia meio que como um macho alfa, daqueles que palitam os dentes depois do almoço e depois soltam aquele arroto que faz a comida querer voltar do estômago.
A garota se perguntava como tinha se interessado por ele, e o que teria visto nele, para os padrões normais ele deveria ser um repelente de mulher, mas ele era o contrário, atraía várias para si e ele nem mesmo parecia com o príncipe encantado que a maioria das mulheres procuram nos homens. acreditava que era insanidade desejar que ele a visse como única que importasse de verdade na vida dele, mas ela não imaginava que ele desejava o mesmo secretamente.
— Não farei isso na festa, pelo menos não enquanto estiver sóbrio. — ele lançou um sorriso maroto para ela que sacudiu a cabeça em negação antes de ir para seu quarto terminar de arrumar.
E como ela havia prometido, não demorou mais do que cinco minutos para finalizar o que tinha começado nos cabelos, e então seguiu com Lucas e , pois Fernando iria mais tarde e David já tinha ido.
Assim que chegou na festa, algumas meninas a olhavam torto por ter chegado com , e a situação dela piorou assim que David se aproximou dela e a abraçou fortemente.
— Caramba, como você tá linda! — David falou.
— Obrigada, David. — ela agradeceu meio sem jeito e David a soltou.
— Quer beber alguma coisa? — perguntou e ela assentiu, se sentindo um pouco deslocada ali. — David, arruma um lugar bacana para ela se sentir em casa e eu vou arrumar umas bebidas para a gente.
— Com o maior prazer. — David disse colocando uma de suas mãos nas costas de .
seguiu até a presidente da república e a cumprimentou de maneira quase formal, e em sua mente pedia aos céus que ela não comentasse perto de sobre o breve relacionamento que tiveram.
— A garota que você trouxe é linda. — Bruna falou e ele se afastou um pouco.
— É, eu tenho bom gosto. — ele disse e se arrependeu no mesmo instante, pois Bruna poderia pensar que estava se referindo a ela também.
— Desse jeito vou achar que está interessado em mim novamente. — a garota se inclinou para falar no ouvido de . — Não vou resistir desse jeito.
Ele pensou em como ela era fácil e simplesmente falou o que ele sempre quis dizer, mas nunca teve a oportunidade e acreditava ser bem difícil que ela surgisse algum dia. Seria uma mentirinha, mas para ele seria só mais uma para a coleção de mentiras dele. Ele aproveitaria do fato de que Bruna não a conhecia e nem sabia que ele era o patrão de .
— Eu estou quase namorando com aquela garota, então é melhor se nós não ficássemos tão perto. — viu a garota se afastar com um olhar espantado diante da novidade. namorando era a notícia do ano, só seria pior se David dissesse que estava namorando.
— Mas pelo olhar e o jeito do David quando a abraçou, acho que você vai ficar para trás em um piscar de olhos. — Bruna falou venenosa.
— David a conhece há bastante tempo, eles são amigos.
— Acho bom, porque eu e praticamente todas as garotas da festa a mataríamos, caso conseguisse fisga-lo. Sabe como seu amigo é disputado.
Sim, sabia muito bem que a caça ao David podia muito bem acabar em carnificina, aliás, ele mesmo já havia separado diversas brigas entre garotas disputando a atenção de David. Algo que ele achava ridículo, ele sempre se perguntava: Que tipo de mulher se rebaixava a esse ponto? Uma desesperada, é claro. E ele não sentia a menor atração por aquele tipo de garota.
Dentro da casa, havia se sentado em um sofá com David, ele estava perguntando para ela o motivo de ter quase desistido de ir à festa, e tentando arrancar dela alguma coisa a mais, algo que desse para ele algum tipo de liberdade para tocá-la de alguma maneira. Mas fugia de todas as perguntas feitas pelo rapaz, que simplesmente cansou de ficar calado e resolveu contar o que sentia.
— Você tem alguma noção do que sinto por você, ? — ele questionou e a garota o olhou ressabiada.
— Amizade? — ela sabia que era algo mais do que aquilo, mas fingiu não saber e usou o fator “amizade” para freá-lo, mas não adiantou nada.
— Não, eu sou louco por você e eu sei que você não abre seu coração para ninguém, mas com quem mais você poderia querer se abrir? Sei que há muitos admiradores atrás de vocês, e que talvez seja muita pretensão minha, mas adoraria que você me desse a chance de mostrar que posso ser mais do que um amigo para você. — ele terminou de falar e ficou estática, se sentindo completamente atônita diante daquela declaração. Ela sabia que David tinha algum interesse a mais nela, mas não imaginava que ele sentisse aquilo tudo.
— Porque eu? Você tem as garotas que quiser nessa festa. — ela falou.
— Você ouviu tudo que acabei de te dizer? , eu não quero nenhuma delas, elas não importam para mim de verdade, são só passatempo.
— Olha, me desculpa. — ela mordeu uma unha nervosamente. — Mas não vai rolar nada entre a gente, David. Eu te adoro, mas você é um irmão para mim e não me imagino ficando com você de maneira alguma.
— Caramba, eu imaginava que você pudesse me dar um não, mas não imaginava que seria tão direto.
— Eu gosto de ser sincera com as pessoas, David. Não curto essa coisa de ficar dando esperanças de algo que sei que não há a menor cogitação de acontecer. — sabia que as vezes falava de forma até sincera demais, mas ela sempre lidou melhor com as verdades.
— Achei vocês. — chegou na sala e encontrou David e conversando, nem mesmo se deu conta da tensão entre eles, entregou a bebida para que virou metade do copo sem pestanejar, e ela logo se arrependeu quando sentiu a bebida amargar por sua garganta.
— Eu quero ir agora, . — disse ao se levantar e assentiu.
— Certo, te levo na clínica. Não bebi nada, fica tranquila. — falou antes que ela perguntasse se ele havia ingerido álcool.
poderia ficar mais, mas se sentia mal pelo que havia acabado de acontecer. Se sentia culpada por ter deixado a expressão de desapontamento na cara de David, ela o adorava, mas não poderia mentir para o garoto ou alimentar as esperanças de algo que ela não tinha a menor pretensão ou desejo que acontecesse.

~*~

Já passava da meia-noite quando percebeu que havia adormecido na enorme poltrona creme ao seu lado. Ele tinha resolvido ficar por ali e dar algum apoio para a garota que fazia seu pai, que estava mais agitado do que o habitual, pegar no sono.
Ele reparou na pele sedosa da garota, nas maçãs do rosto proeminentes e em como ela era incrivelmente linda enquanto dormia. Aliás, ele tentava achar um momento em que ela não fosse minimamente maravilhosa.
Seu coração pulava em seu peito quando resolveu colocar a cadeira em que estava, mais perto da garota, ele estendeu sua mão e acariciou levemente os cabelos da garota e ela se movimentou um pouco, fazendo-o puxar sua mão de volta.
Quando percebeu que estava tudo bem, olhou para a cama onde o pai dela dormia e colocou sua mão sobre a cabeça dela novamente, os dedos emaranhando-se nos fios. deu um suspiro pesado, e sorriu da cena que acontecia em sua frente.
Na verdade, se perguntava se realmente estava sentindo seu peito se abrasando com aquele simples momento entre os dois. Foi quando se deu conta do quanto estava envolvido por .
— Meu Deus, garota! O que fez para que eu ficasse assim tão viciado em você? Em seu cheiro, em tudo que você faz?
sabia que tinha uma queda por ela, mas não tinha noção do quão profunda era essa queda. Se sentiu um cara fodidamente fracassado, pois sabia que ela nunca o olharia da mesma maneira. Afastou a mão dos cabelos de , e se levantou em um pulo, já foi pegando suas coisas e saindo do quarto o mais rápido que pôde.
A ficha caiu e com isso veio o desespero do sentimento não correspondido. Ele saiu da clínica às pressas, como se quanto mais se afastasse da garota, melhor seria.
Era isso, ele decidiu, se afastar dela por um tempo e evitar encontrá-la, evitar ficar em casa no mesmo horário que ela estivesse. Talvez isso funcionasse. Mas a verdade era que ele não fazia ideia de que já era tarde demais e aquela medida de afastamento não adiantaria de mais nada.

Capítulo 3


“Eu estava sonhando”, foi o primeiro pensamento de ao acordar. Teria sido real sentir os dedos macios e quentes de entranhando em seus cabelos?
Ela ficou com esse pensamento fixo até mesmo depois de se despedir de seu pai, e ir embora para a república. Quando chegou na porta da casa amarela, deparou-se com a irmã de David e o mesmo em uma discussão acalorada.
— Não vou poder te tirar de mais encrencas como essa, David! Você precisa crescer! — ela praticamente gritava.
— Até parece que nunca fez nada errado na vida. A santinha Vanessa só é santa mesmo na frente dos pais, porque pelas costas...
— Se continuar falando, eu nunca mais te ajudo. — ela bufou e pareceu se acalmar. Aquilo era algo recorrente, várias vezes foi acordada por Vanessa, irmã de David, brigando com o irmão por algum motivo. — Eu estou falando para o seu próprio bem. Imagine se nosso pai viesse para Simplício só para te tirar da cadeia.
não tinha noção, mas David tinha se metido em uma briga com um cara que a havia elogiado de forma quase grotesca e por isso acabou preso. Na verdade, ela nunca saberia daquilo.
retesou o corpo ao ouvir a palavra "cadeia" e então os dois irmãos perceberam a presença da garota perto da pequena piscina. O que aconteceu em seguida foi como um flash aos olhos da garota, mas para que saía de casa para uma aula, foi como um pesadelo passando diante de seus olhos.
deu um passo para trás, se sentindo culpada por interromper a briga entre Vanessa e David, sem se dar conta de que estava próxima demais da piscina.
Há uma coisa que não foi contada sobre : Ela tinha pavor de piscina.
Traumatizara quando tinha 10 anos de idade, ao ir até uma lagoa com a avó, em uma das raras vezes que saíra de casa, e quando caiu na água sem saber nadar foi como se estivesse se despedindo da vida, pois sua avó era a única pessoa por perto, e estava engolindo água demais. A sorte dela foi ter aparecido o dono de uma fazendo próxima, que a resgatou e salvou sua vida.
Ali na república, ela passava sempre longe da piscina, mas naquele dia estava tentando passar despercebida por David e Vanessa, mas o plano não deu certo, e acabou repetindo a sensação que teve na cachoeira com a avó.
Ela caiu na água após pisar em falso, engolindo grande quantidade de água assim que mergulhou com toda força, assustou-se, aliás, desesperou-se e se jogou na piscina logo atrás. Vanessa deu um gritinho apavorado levando as mãos até a boca, enquanto David olhava a cena assustado com a possibilidade de algo acontecer com .
passou o braço pela cintura de , que se debatia com violência na água.
— Ei, ei! Relaxa, pequena! Já te peguei. — falou utilizando seu tom mais alto. ainda se debatia, mas aos poucos foi cedendo e se acalmou quando percebeu a presença do rapaz.
Ele a deitou na borda da piscina e saiu da mesma com extrema rapidez, ajoelhou-se e encaixou a garota entre suas pernas, sua expressão beirava além do desespero. Ele acariciou o rosto da garota que tossia e cuspia a água para fora de si.
, tá tudo bem? — Vanessa se aproximou de e , ajeitou os cabelos loiros platinados atrás da orelha e se ajoelhou também.
— Acho que sim. — falou com a voz fraca. De longe, David olhava toda a cena perplexo, estava sem reação.
— Agora vai ficar tudo bem. — falou com alívio visível na voz, Vanessa olhou para o rosto dele, e achou estranha toda aquela preocupação transparecendo no olhar dele. — Você consegue se levantar sozinha?
— Não sei. Acho que sim. — respondeu ainda meio assustada.
— Só tem “Acho que sim” no vocabulário, garota? — perguntou rindo e arrancou um sorriso do rosto de .
— Vou te levar lá pra dentro. Precisa tomar um banho e relaxar para se recuperar do susto.
— Mas hoje é dia de lavar as roupas de vocês, o dia mais pesado de todos. — falou com a voz meio vacilante.
— Shhh. Esquece isso. — falou com a voz firme. — Eu estou te dizendo que como presidente, te darei o dia de folga. — a garota percebeu que não daria para retrucou e apenas assentiu com a cabeça.
David parecendo acordar para a vida, se prontificou a levá-la para dentro da casa, mas disse que faria isso, mesmo que sentisse as pernas vacilantes após o susto e o esforço do quase afogamento.
a levou para dentro da casa, e a sentou sobre a privada tampada antes de retirar a blusa da garota, que protestou. Ele se afastou, coçou a cabeça e chamou por Vanessa, pois sabia que nunca o deixaria fazer aquilo, além do fato de que ele não conseguiria segurar seus instintos ou impulsos diante dela, ainda mais depois de ter se tocado dos seus sentimento por ela.
— Pode ajudá-la? — ele perguntou quando Vanessa apareceu no banheiro.
— Acho que dou conta sozinha, gente. — disse isso, porém ela tremia por completo, e não era pelo frio que fazia e sim por conta do trauma.
— Não acho que seja seguro te deixar sozinha. — falou rapidamente e se virou para Vanessa. — Pode fazer isso por mim?
— Claro. — Vanessa respondeu prontamente. — Mas seria bom se tomasse um banho quente também, . Tá muito frio hoje e você provavelmente vai se resfriar.
— Não se preocupe comigo. Vou fazer um chocolate quente para ela. — ele disse antes de sair do banheiro e deixar as garotas sozinhas no banheiro.
foi para a cozinha e pegou o leite na geladeira, despejou o líquido dentro de um copo antes de colocar no micro-ondas e liga-lo. Depois foi até seu quarto e retirou a roupa encharcada, colocou uma cueca e enrolando-se em uma toalha logo em seguida.
— Já ajudei, ela preferiu continuar sozinha. Mas já acabou o banho de água quente e foi para o quarto dela.
— Certo! Muito obrigado, Vanessa. E cadê seu irmão? — perguntou.
— Foi para a aula, tinha um prova importante e nem ficou depois do salvamento.
— Eu tinha uma prova hoje, mas não me importo de perdê-la para garantir que não fique fazendo besteiras.
Depois de misturar o chocolate em pó no leite, levou para que já estava em seu quarto. Bateu levemente na porta e ouviu a voz da garota de dentro do mesmo.
— Espera um pouco. — ela respondeu e ele foi pra sala, colocou a caneca em cima da mesinha de centro e ficou esperando pela garota.
Nesse momento, Leandro entrou na casa carregando várias telas em branco, e uma maleta onde ele guardava as tintas e pincéis. Ele parou e olhou para a feição engraçada na feição de .
— Que cara é essa, irmão? — Leandro perguntou.
— A minha normal. — passou a mão no rosto. — Tem algo de errado? — ele se preocupou.
— Não, você só parece apreensivo.
— Ah. Talvez seja por que acabei de salvar de um afogamento. — ele falou passando a mão pelos fios de cabelo molhados.
— O quê?! Como assim? — Leandro largou tudo no chão. — Eu sabia que essa piscina ia causar isso algum dia. Lembra que quando você arrumou a casa, avisei sobre esse perigo? E sem contar a despesa que temos para limpá-la, sendo que nem a usamos com frequência.
— Ô gênio das artes, deixa a parte de cuidar da casa comigo? O gênio da organização daqui sou eu e já tivemos essa discussão sobre a piscina. — falou começando a perder a paciência, porque no fundo sabia que o amigo tinha razão.
— Eu só estou dando minha opinião. — Leandro falou colocando as mãos com as palmas viradas para frente em sinal de redenção. — Mas é impressão minha ou em algo a mais nesse salvamento?
— Você é um filho da puta que sabe de tudo, não é? — riu e sacudiu a cabeça enquanto Leandro dava de ombros.
— Não sou chamado de gênio por nada, meu caro. Fala logo, o que tá pegando?
— É a .
— Porra, não me venha com esse olhar de lobo uivando pra lua. Você não tem limites na pegação? A não é o tipo de garota que você fica, ela não é aquelas que você fica e esquece quem é depois de 10 minutos longe.
— Eu sei.
— Mas então porque essa cara de quem tá interessado nela? Conheço esse olhar.
— Se eu te disser que gosto dela, você acreditaria? — disse e estava sendo sincero.
— Você quer dizer que se apaixonou por ela?
— É. — hesitou, mas não por dúvida do que sentia e sim por ainda ter dificuldade de aceitar a enrascada na qual havia se metido.
— O azar é seu, porque ela não vai te dar moral. Ela não tem tempo para esse tipo de situação, e não dá moral para caras safados e você tem uma reputação mais manchada do que os meus aventais de pintura.
— Eu estou fodido.
— Não queria te dizer isso, mas sim, você está fodido. E que fique claro, que abro mão da nossa amizade caso eu descubra que a fez sofrer, ouviu? — o tom de voz de Leandro era ameaçador e o verde dos seus olhos reluziam a seriedade de suas palavras.
— Fique tranquilo. Até porque duvido que algo aconteça entre nós.
— E aí, rapaziada. — Gustavo entrou na sala interrompendo a conversa de e Leandro, ele jogou a mochila no chão e depois se jogou no sofá. — Resolvi matar aulas, já que minhas notas estão incrivelmente boas e falta apenas um mês para que eu me forme, preciso terminar meu TCC e qualquer tempo vago do dia é precioso.
— Você vai embora quando, Gustavo? — perguntou.
— Precisamos fazer uma despedida aqui na república, uma festa daquelas, tipo a do aniversário do Lucas. — Leandro falou animado.
— Você tá querendo colocar fogo na casa de novo? — perguntou.
— Sem os fogos de artifício, né? Óbvio. Até porque dessa vez o João Pedro acaba mijando nas calças de verdade. — Caíram os três na gargalhada ao se lembrarem da cena de João correndo em desespero, com medo dos fogos de artifício que falharam e acabaram não dando muito certo.
Claro que no dia eles estavam desesperados, com medo de dar uma merda das grandes, mas depois de um ano da festa, o que sobrou foram as gargalhadas e zoações com o morador nerd da república.
— A festa vai ser pra mim e ninguém me pergunta se eu vou querer. — Gustavo reclamou.
— Você é só uma desculpa pra gente fazer festa. — falou rindo.
— Eu ouvi a palavra “festa”? — apareceu vestindo um short jeans justinho e uma blusa soltinha branca, deixando as curvas de seu corpo escondidas, mas ao mesmo tempo em evidência. — Vai sobrar pra mim. Já vejo a bagunça que essa casa vai virar.
— Ei, . Tá se sentindo melhor? — ajeitou-se no sofá e deu espaço para a garota que se sentou ao seu lado.
— Sim, o susto passou. — respondeu timidamente e colocou parte do cabelo atrás da orelha.
— O que aconteceu? — Gustavo perguntou curioso e então disparou a contar sobre o afogamento de , enquanto isso ela ouvia atenta, se sentindo completamente sem jeito e louca para poder agradecer o rapaz pelo salvamento.
Todos ficaram comentando sobre o afogamento até que cada um começou a seguir seu caminho, uns para as aulas que teriam logo mais, alguns para seus respectivos quartos da república. Cada um se isolando no seu mundinho e por fim restou apenas e na sala.
— Não vai para a aula? — perguntou se ajeitando no sofá que o pai de David havia doado para a república. Antes os garotos usavam um colchão no lugar de sofá.
— Te falei que ficaria aqui com você hoje e é isso que vou fazer. — respondeu pegando o controle e mudando o canal da televisão. Acabou parando em um canal em que passava documentários de animais.
— Obrigada por ter me livrado do afogamento. Salvou minha vida.
— Como não salvaria? Quando vi você se debatendo na piscina só conseguia pensar "Quem vai fazer meu almoço perfeito?" — deu um tapa no braço do rapaz que ria da expressão indignada dela diante da brincadeira, ela acabou cedendo e caindo na gargalhada também.
— Sério que vamos ficar assistindo isso? — bufou e revirou os olhos olhando para a televisão passando documentário sobre animais.
— Fiz esse chocolate quente pra você, mas demorou tanto que esfriou. — falou com os olhos vidrados na televisão.
— Vou esquentar novamente. — fez a menção de se levantar, mas segurou o antebraço da garota com delicadeza e a impediu.
— Deixa que eu faço isso. — ele se levantou e correu para a cozinha com o copo.
mordeu o lábio inferior e sentia seu estômago revirando de ansiedade só por ficar sozinha com ele, e aquilo acontecia com frequência, mas ela sentia como se algo tivesse mudado entre os dois. Ela não sabia bem o motivo, só sabia que quando os dois ficavam perto era como se faíscas voassem, pelo menos da parte dela, já pela parte dele...ela só sonhava que algum dia ele pudesse sentir o mesmo. E isso sem imaginar o quanto ele desejava que ela desse uma chance para ele.
— Prontinho! — falou e pegou a caneca, assoprando para que esfriasse um pouco. sentou-se ao lado da garota novamente. — Olha só, estão falando sobre hiena.
— Uau! Super interessante, hein? — disse com falsa empolgação e sorriu.
— Sabia que elas fazem a copografia? — perguntou e a garota negou com a cabeça.
— O que seria isso?
— O costume de comer fezes. — disse e a garota praticamente cuspiu todo o líquido que tinha na boca, arrancando gargalhadas de .
— Seu nojento! — ela disse e deu vários tapas no braço do rapaz.
— Sabia que faria essa cara. — falava em meio as gargalhadas.
— Me pergunto como você conquista alguma mulher sendo assim, falando essas coisas nojentas.
— Sou meio ogro, aceite isso. — disse dando de ombros. — Eu já aceitei faz tempo.
— Me dá esse controle aqui. — pegou o controle da mão do garoto e parou em um canal de clipe musicais, naquele momento passava um sertanejo nacional, algo que ambos escutavam com certa frequência na maioria das festas em república.
A música que tocava era “Logo eu” da dupla Jorge e Mateus, e a garota deixou passando. nem reclamou, ele gostava de sertanejo, apesar de não ser seu gênero musical preferido.
A letra da música passava junto, mesmo ela sendo em português, parecia quase uma sentença sobre o que se passava no coração do rapaz.
“Eu te vi, e já te quis.
Me vi tão feliz
Um amor que pra mim era sonho"
passou a mão por trás dos ombros da garota que não falou nada e se concentrava no chocolate quente.
— Se quiser, mudo de canal. Sei que não gosta tanto assim de sertanejo.
— Acho que gosto dessa música. — disse diante da letra que fazia algum sentido para ele.
"Surpreendente provar do que eu só ouvi falar;
E você resolveu me mostrar"
Ele aproximou a cabeça da cabeça de , e ela ainda com os olhos vidrados na televisão, fingindo não perceber, mas sentindo seu coração aos pulos dentro do peito. sabia que não deveria fazer aquilo, era um passo grande demais para ser dado e por isso mesmo se refreou.
O que ele não esperava era que ela virasse o rosto para o lado e o olhasse dentro dos olhos, o encontro dos olhos amendoados da garota bateram com os do rapaz, ambos se olhavam com curiosidade do que fariam a seguir.
começou a diminuir a distância entre eles, prendeu a respiração, se achando maluca por estar se deixando levar por aquilo que seu corpo pedia e ele queria desesperadamente os lábios carnudos e avermelhados de sobre os seus.
Talvez o destino não quisesse a mesma coisa, pois o barulho da porta sendo aberta fez com que os dois se virasse de uma vez, meio assustados e talvez meio amedrontados, mas com toda certeza estavam confusos pelo que estavam prestes a fazer.
Aquilo era tão errado na mente de ambos. De um lado, temia por estragar tudo caso a beijasse e ela também temia por isso, e temia mais ainda que fosse sofrer da mesma maneira que via várias garotas sofrendo por ele.
— E aí, galera! — David chegou animado e foi direto até , ajoelhou-se na frente da garota e largou os cadernos no chão antes de segurar a mão dela carinhosamente e lhe entregar uma rosa. fingiu que não reparou, pegou o controle que tinha largado e mudou de canal. — Eu vim embora correndo para saber se você está realmente bem.
— Fica tranquilo que eu estou ótima e pronta para outra! — disse rindo.
— Nem brinca! — retrucou e se levantou, sentindo seus ciúmes crescendo pela cena que se seguia ao seu lado. Ele sabia que David tinha uma paixonite pela garota, mas nunca sentia tão possessivo sobre ela como naquele momento.
Ele seguiu até a cozinha e ficou lá pensativo, tentando achar alguma saída para o trauma de infância de . Ele pegou um copo de água e bebeu lentamente enquanto ouvia as gargalhadas de que conversava com David.
Sentiu vontade de jogar o copo na parede, ou melhor, na cabeça de David.

Capítulo 4


chegou à casa da avó bem cedinho no sábado ensolarado, Catarina a aguardava na varanda da pequena casa de braços abertos e isso fez com que abrisse um sorriso espontâneo.
— Vovó! — disse aninhando-se no braços de Catarina.
— Minha querida. — sua avó respondeu e acariciou os cabelos na neta. — Parece cansada.
— Você nem imagina o quanto, vó.
As visitas de para sua avó eram rotineiras, todos os sábados e domingos tinha folga e passava o fim de semana todo na casa dela, só aproveitando os momentos ao lado daquela que era a única família de sangue que podia contar, já que seu pai precisava mais dela do que ela precisava dele.
— Então, como está seu pai?
— Há dias em que tenho esperança de que ele possa melhorar e tudo volte ao normal, mas há outros em que temo muito em perdê-lo. — disse com a voz vacilante e sentou à mesa da cozinha com a avó.
— Minha querida, não fique assim. Se eu pudesse te ajudar como fiz com sua mãe, mas agora eu estou muito debilitada, sabe que minhas pernas doem com poucos passos que eu dê.
— Eu sei que faria de tudo por mim. Aliás, você mesmo após a perda de uma filha, se manteve forte para que eu aguentasse a dor.
— Queria ter sido mais forte para ter mantido seu pai saudável, mas as coisas acontecem porque simplesmente seguem o curso natural das coisas. Era pra ser assim, temos apenas que aceitar. — Catarina disse e então cortou um pedaço de bolo de chocolate que estava sobre a mesa. — Mas vamos falar de coisas boas? Me conte sobre suas pinturas. alguma novidade?
— Sim, alguns quadros novos. Não trouxe porque vim de ônibus.
— E aquele rapaz que normalmente te dá carona? Aliás, são dois garotos diferentes. — Catarina se referia a David e .
— Eles estavam dormindo, não dei conta de esperar, precisava vir logo para cá.
— Algum motivo em especial para toda essa ansiedade?
— Acho que estou me apaixonando, vovó.
— Oh, meu Deus! Nem acredito que estou ouvindo isso. — Catarina sorriu placidamente. — Fico tão feliz em saber disso, é algo maravilhoso.
— Não diria que seja tão maravilhoso assim.
— E qual o motivo de não ser tão maravilhoso?
— Ele não gosta de mim, e ele é um daqueles caras que adoram festas e mulheres.
— Você tem certeza disso? Aliás, eu conheço o rapaz? — Catarina disse e ajeitou uns fios de seu cabelo branco que caíram sobre seu rosto.
— Conhece sim. — ela suspirou pesadamente antes de prosseguir. — É o .
— Mas não entendo isso.
— O que não entende?
— Sempre achei que ele fosse apaixonado por você.
— Vovó, a senhora não está passando muito bem para achar algo assim. Tem tomado todos os seus remédios? — perguntou e arrancou boas risadas de Catarina.
— Minha linda, se tem uma coisa que aprendi a perceber de longe, é um olhar apaixonado. E é isso que vejo nos olhos de e também do outro que te traz, o David. Ambos são loucos por você, apesar de não ter muita certeza de que ambos saibam do sentimento que nutrem por você.
— David se declarou para mim, então nisso você está certa, mas quanto a ...tenho certeza de que está enganada.
— Não diria isso. Se fosse você tentava descobrir de alguma forma se estou certa.
— E como faria isso?
— Dando espaço para que ele se aproxime. — Catarina colocou um pouco de chá em sua xícara. — Já parou para pensar que é intimidante? Esses rapazes a veem de forma diferente, . Você é o oposto das meninas que eles estão acostumados a ver pela cidade.
— Mas e se eu me machucar muito? Sabe que sempre tive medo de me envolver com qualquer rapaz por isso, só tive alguns namoricos bobos e nada mais. Nunca deixei que eles entrassem no meu coração.
— Mas agora resolveu deixar entrar. Esse deve ser um rapaz especial, alguma coisa de bom ele deve ter feito.
— A história de vida dele é tão forte, ele teve que superar muitos traumas.
— Então, acho que seja identificação com ele.
— Talvez.
— Eu não sei porque, mas tenho a impressão de que isso pode dar certo.
— Não sei, mas não acho que as coisas tendem a dar muito certo na minha vida.
— Pare com isso. Você não pode achar que só pelas adversidades da vida, ela será sempre assim. Acredite que talvez essa seja sua chance de ser feliz de verdade. — Catarina segurou a mão da neta carinhosamente. — E acredite que aqueles sonhos que você enterrou bem aí dentro do seu peito irão se realizar.
— Você é uma avó ou uma fada madrinha?
— Posso ser tudo em um pacote só? — assentiu com a cabeça e abraçou a avó. Ela nunca saía triste daquela pequena e pacata casa, afastada da cidade e às margens do rio que banhava a cidade. Sua avó sabia exatamente o que falar para levantar o astral dela.
resolveu dormir ali na casa da avó e ir embora no dia seguinte. De noite, estava deitada em um colchão no único quarto da casa, sua avó dormia na cama de solteiro do quarto.
A garota pensava nas coisas que a avó havia lhe falado, aliás, ela não parava de pensar no assunto desde a hora que conversou com a avó. Passou o dia curtindo o colo da avó, e enquanto isso sua cabeça viajava em .
O celular de vibrou e trouxe o dono de seus pensamentos para a realidade.
"Tenho uma proposta para você."
Era . se retesou no colchão e acabou esbarrando com a cabeça na cama da avó com força, aquele era um motivo por não morar com a avó, não havia espaço suficiente para as duas naquela casinha.
"Qual proposta seria essa?"
respondeu com o coração disparado, colocou o celular contra o peito e fechou os olhos tentando não empolgar muito com aquilo, mas já era tarde.
"Que horas vem embora?"
perguntou e respondeu rapidamente.
"Devo voltar mais cedo, acho que meio-dia estarei na república."
Ela não entendia o motivo de tantas perguntas, ela estava morrendo de curiosidade em saber qual era a tal proposta do rapaz.
"Passo aí para te buscar. Pode ser? Quero te levar até um lugar."
Ela hesitou um pouco antes de responder, mas lembrou-se do conselho que sua avó lhe dera mais cedo, e então respondeu com um segurança que nem mesmo ela sabia de onde havia tirado.
"Estarei te esperando ansiosa e curiosa."
Do outro lado, sorria com empolgação diante da possibilidade de passar um tempo com . Havia preparado uma surpresa para a garota, e esperava que ela não o odiasse depois que soubesse o que era.
— Cara, preciso conversar com você. — Gustavo se sentou no sofá ao lado de .
— Sobre?
— A hospedagem da aqui na república. — Gu respondeu e já imaginava que aquilo não fosse acabar bem.
— Eita, sinto que vem coisa tensa por aí.
— Eu andei pensando e não tenho achado muito sensato essa ideia dela continuar aqui.
— E em que você está se baseando para chegar a essa conclusão?
— Pô, . A gente sabe que a é o tipo da garota que não fica com os caras, mas as pessoas da cidade estão comentando dela estar se hospedando por tempo demais aqui na república.
— Só porque tem 6 meses que ela está aqui? Ela trabalha para nós e ela não conseguiu achar um lugar onde ela consiga pagar ainda. A gente já teve discussões como essa antes, cara.
— Eu sei, mas dessa vez estou preocupado com a . Sei que você é muito amigo dela, de todos da casa é o que ela visivelmente tem mais confiança, e por isso mesmo que estou te falando. Acho que ela deveria encurtar o tempo de hospedagem aqui para o bem dela.
— Vou tentar conversar e explicar isso para ela. — disse sem muito ânimo na voz. Aquele papo estragaria as ideias de passeio romântico com ela.
— Falou então, cara. — Gu disse e então foi para a cozinha.
ficou sentado no sofá pensando em como explicaria aquilo para . Ela ficaria arrasada e sairia da república assim que soubesse o que as pessoas andavam comentando. quis socar a cara de cada um que teve algum pensamento leviano com , ela era um anjo doce e não merecia aquele tipo de fofoca.

Capítulo 5


preparou todas as coisas de comer e colocou em uma cesta, se sentiu menos ogro ao colocar uma rosa dentro da cesta para entregar para . Pegou toalhas para forrar a grama, e também toalhas para se enxugarem, caso seu plano desse certo.
Ele tinha combinado com um amigo que possuía um chalé perto de uma linda cachoeira chamada "Pedacinho do céu", pediu para usar ao chalé caso precisassem. Mas o usaria para finalidade diferente das outras vezes que esteve lá, ele não queria levar para a cama, ele queria conquistá-la de todas as maneiras possíveis.
Pegou seu saxofone e colocou dentro do carro junto com todas as coisas que já havia colocado e então saiu da casa, deixou seus companheiros da república curiosos sobre seu paradeiro e os planos para aquele domingo que tinha tudo para ser inesquecível.
esperava na varanda da casa da avó com um sorriso enorme quando apareceu com seus óculos escuros no rosto. Ele desceu do carro e foi até a garota, tendo a delicadeza de cumprimentar Catarina, com uma educação tão grande que espantou . Por onde andava aquele ogro com o qual ela estava acostumada?
— Vamos? — perguntou quando Catarina se despediu de ambos e entrou para dentro de sua humilde casa.
— E posso saber pra onde vai me levar?
— Será uma surpresa arriscada, mas acho que precisa fazer isso.
— Vou confiar em você. — disse com medo de suas palavras. Estava mesmo preparada para confiar no rapaz?
— Pode confiar. Nunca te faria mal, .
Eles entraram no carro, e pegou a estrada indo para o local. O chalé e cachoeira ficavam um pouco depois da saída da cidade, torcia para que ele fosse o único com a ideia de ir para a cachoeira.


— Quero que entre na água comigo, . Vamos trabalhar com esse trauma seu, até que possa superá-lo.
— Não sei se estou preparada para isso, . — disse com o nervosismo à flor da pele.
— Você está comigo. — estendeu a mão para a garota. — Eu vou te proteger.
hesitou um pouco antes de segurar na mão do garoto, mas quando tomou coragem provou que estava confiando nele ao segurar sua mão com firmeza. Ela parou um pouco na beira, e soltou a mão de por alguns segundos, apenas para retirar o vestido soltinho que estava usando, ficando apenas de calcinha e sutiã.
surpreendeu-se com o gesto dela, que nunca agia daquele jeito com tanta espontaneidade. Ele se segurou para não agarrá-la ali mesmo. Lembrou-se do propósito de estar ali e segurou sua mão novamente.
sentiu a água gelada sobre os pés e o rubor em sua face por ter tirado o vestido na frente de sumiu, ela não faria isso com outro homem, mas com ela se sentia tão segura que não pensou duas vezes em fazer aquilo, mas se arrependeu quando o ouviu silvar e olhá-la como se fosse engolir a garota. Será que sua avó estava certa sobre ele ter algum interesse nela?
A água batia na cintura de e alcançava quase o sutiã de , que se encolheu um pouco com o frio da água, ela fechou os olhos, com certo medo de acabar se afogando, mas aquele medo foi se dissipando conforme os segundos e minutos se passavam.
estava posicionado atrás dela, e segurava suas mãos inicialmente, mas foi deslizando pelos braços dela, causando arrepios na garota. Tomou a liberdade de segurá-la de maneira forte e firme pela cintura, fazendo com que sentisse seu corpo queimar, mas desta vez não era por timidez, algo mais forte que aquilo tomava posse e acalorava o corpo dela.
afastou os cabelos espalhados de , com uma de suas mãos, e então passou o nariz na curva da clavícula, depositou um beijo ali e fechou os olhos tombando a cabeça para o lado. O coração de ambos estavam disparados quando depositou um beijo ali, rápido porém alastrou fogo pela imaginação dos dois.
se virou de frente para ele, entrelaçou suas mãos nas mãos de e o olhou no fundo dos olhos, aproximando-se do rosto do rapaz que não acreditava no que estava prestes a acontecer.
— Não sei o que está dando em mim. — disse timidamente. — Deveria ficar longe de você, mas parece que meu coração só busca mais dor e sofrimento.
— Eu diria o mesmo. Imagine só, eu me apaixonando pela garota de coração mais duro dessa cidade. — disse e levantou as sobrancelhas surpresa.
— Apaixonando?
— Sim. Completamente apaixonado desde o primeiro momento em que pisou naquela casa pedindo por emprego.
— Mas nunca imaginei isso. — ela parecia completamente espantada diante daquela novidade, em sua mente o velho instinto de fugir gritava para que ela se afastasse, mas algo fazia com que ela continuasse ali perto de , fazia com que ela quisesse colar mais ainda seu corpo no dele.
— Porque sou um idiota e não abandono as festas? — assentiu assim que ele terminou de falar.
— Eu acho que nunca acreditei que pudesse rolar algo entre nós. Olhe para você, completamente diferente das garotas com qual me envolvi até hoje. Você é especial, outro nível, merece um tratamento diferenciado.
— Eu tenho medo de que isso seja passageiro e que depois acabe com tudo que construímos. Temos uma amizade muito grande. — A mão de deslizou pela cintura da garota que estremeceu um pouco.
— Eu sei que estou mais para o sapo do que para o príncipe, . Mas o sapo ogro aqui, só quer uma chance de te mostrar que com você, posso ser o que você quiser. Basta pedir. — Binca mordeu o lábio inferior levemente, um desejo crescente de beijá-lo cresceu em seu interior. — Aliás, há boatos de que se você beijar um sapo, ele vira um príncipe. Eu quero ser o seu príncipe encantado, .
olhou para os lábios rosados de , que suspirou antes de fechar os olhos, enroscar seus braços em volta do pescoço de e sentir os lábios dele sobre os seus de forma convidativa. Entregaram-se ao momento, deixando que o tempo parasse enquanto curtiu o beijo que tanto imaginaram, e só separaram os lábios quando estavam ofegantes.
— Se eu soubesse que escondia um beijo tão maravilhoso, teria roubado um beijo seu nas várias vezes em que desejei fazê-lo. Agora sinto como se tivéssemos perdido muito tempo. — disse sorrindo.
— Mas podemos recuperá-lo. — disse sorridente antes de puxá-lo para mais um beijo. abaixou-se nas águas calmas da cachoeira e fez o mesmo sem mesmo notar. Parece que havia se tornado um antídoto para o trauma da garota.

~*~

Algumas horas mais tarde, e se sentaram em uma toalha que havia levado e comiam alguns lanches preparados pelo garoto.
— Pega minha bolsa? — pediu, e estendeu para ela, que retirou um pente de dentro da mesma e começou a passar em seus cabelos. — Até que horas ficaremos aqui?
— Porque? Tem algum compromisso? Te levo na hora que precisar ir. — disse acariciando o rosto dela, arrancando um sorriso dela.
— Não, é só porque penso em você e seus compromissos. Amanhã é segunda e você tem aula, não é?
— Esquece isso. — Ele beijou o ombro da garota e o mesmo tempo uma gota de água caiu no olho dela.
— Ai! Acho que pingou no meu olho. — ela disse olhando para cima e então as gotas se intensificaram. O que era um dia ameno, se transformou em chuvoso em questão de segundos. — Corre, ! Junta tudo e corre pro carro. — falou com certo desespero na voz.
— Vai pro carro, e deixa comigo que eu levo tudo. — ele disse e ela assentiu antes de correr pro carro. pegou tudo que estava pelo chão, e correu para o carro debaixo da chuva torrencial que caía sobre sua cabeça.
Assim que entrou no carro e olhou para , percebeu que ela estava completamente encharcada, olhou mais a frente e enxergava apenas borrões, pois a água caía com toda força.
— O que faremos? — perguntou.
— Acho que teremos que ir para o Chalé do Augusto. — disse com medo da reação da garota, que poderia achar que ele estava querendo se aproveitar dela. — Juro que não farei nada com você, é só porque...
. — Ela segurou a mão dele e sorriu. — Eu sei, fica tranquilo.
— Ótimo. Então vamos? — ele perguntou e ela assentiu.
guiou o carro com calma até chegar no chalé, estacionou o carro e pediu para que esperasse um pouco. Ele desceu do carro, correu até a entrada do local e abriu a porta antes de voltar.
abriu a porta do carro, e a pegou no colo, carregando-a até o chalé, voltou até o carro em seguida e pegou a bolsa de . Quando voltou, sorria se maneira tão doce que ele foi obrigado a beijar a garota novamente. Ele sentia que poderia fazer isso para todo o sempre se o deixassem.
— O que vou fazer quando não tiver mais os seus beijos? — a garota disse timidamente.
— E quem disse que não terá? Mas fácil eu ficar sem os seus. — Ele olhou para o chão rapidamente. — Quando vai começar a acreditar que o que estou sentindo é verdadeiro? Vem comigo. — a puxou pela mão, entrando para o quarto.
Ele retirou uma toalha do armário e entregou para .
— Agora senta aí. — disse apontando para a cama e a garota se sentou meio assustada pela feição no rosto do rapaz. — Eu sei que não sou um dos caras mais confiáveis quando o assunto é relacionamento, mas eu sempre imaginei encontrar alguém que me fizesse querer não ser mais um cara boêmio, e quando você apareceu... caramba, quando você apareceu foi como se tudo fizesse sentido. Eu sempre ouvi da boca do homem que me deu um teto e me amou como se fosse meu pai de verdade, que quando a gente se apaixona, quando ama alguém de verdade, a gente muda completamente.
— Mas você não mudou, . Não estou cobrando nada de você, a gente nem tá junto oficialmente, mas essa é a sua natureza.
— Não. Faz algum tempo que não fico com ninguém, . — Ele sorriu e ela o olhou assustada com a revelação. — Parece impossível, mas todas perderam a graça pra mim e de repente me pegava pensando em como elas não pareciam com aquela garota tímida que me contou sua história de vida e me mostrou que força de vontade é algo que precisamos ter a todo custo. Elas não tinham os olhos calmos, e angelicais que escondiam uma garota forte e determinada. Você é assim e fez com que aos poucos, sem que eu me desse conta, fosse tudo que eu quisesse e eu só me dei conta disso há poucos dias, me dei conta do quanto eu já estava perdidamente apaixonado por você. Eu sonhava em encontrar uma mulher que me fizesse sentir como meu pai dizia que me sentiria, . E aqui está você, somente você. A mesma visão, aquela do sonho que eu sonhei.
se levantou da cama, se aproximou de e o beijou carinhosamente, ele retribuiu o beijo e logo suas línguas se encontraram em um beijo apaixonado.
Ela evitava entregar-se tão facilmente, não era virgem, mas não gostava de entregar seu corpo em uma bandeja para qualquer um, era bem seletiva. Mas ali com , ela quase perdia seu controle por completo.
Ele a levantou um pouco do chão e colocou-a sobre a cama, sem interromper os beijos eles se ajeitaram na mesma, jogaram os sapatos para fora dos pés e enroscaram-se entregando aos beijos escaldantes. As mãos de brincavam com cada minúscula parte do corpo dela, enquanto as dela timidamente investigavam caminhos que ela percebeu que faziam-no delirar.
Quando se deram conta, estava apenas de calcinha e apenas com sua cueca boxer preta. seu um suspiro ao perceber o que estava prestes a fazer, um arrependimento, um medo estranho apossou da garota. Mas logo foi esquecido quando os lábios de encontram um de seus seios, sentiu a língua quente deslizando ali e perdeu-se um pouco, soltando alguns gemidos baixos.
— É melhor nós pararmos aqui, . — Ele beijou o pescoço da garota e olhou em seus olhos. — Não vou resistir se continuarmos desse jeito e eu quero ser diferente com você.
— Eu quero que façamos o que desejarmos.
— Não fale assim, minha pequena. Se continuar, não respondo por mim — ele disse e sorriu antes de prosseguir. — Te tranco nesse quarto comigo e só te solto amanhã.
— Você acha que sou a Rapunzel? E que esse quarto é a minha torre? — disse e ele riu, assentindo com a cabeça.
— Exatamente. — Ele depositou um beijo rápido nos lábios da garota. — Vamos fazer o seguinte? A gente come alguma coisa, avisa pra todo mundo que estamos bem e depois a gente volta a conversar sobre esse assunto. Não quero que faça nada comigo sem ter certeza, . Nada que te faça arrepender amanhã quando acordar.
assentiu, e ambos se levantaram da cama. pegou um roupão, estendendo para que ela se cobrisse e ela enroscou-se dentro do pano felpudo, enquanto ele passava uma toalha sobre sua cintura e retirava a cueca. sentiu-se envergonhada, sentindo-se uma ridícula já que seus peitos estavam à mostra para ele alguns segundos antes, além do mais, a toalha branca enrolada na cintura dele, cobria qualquer coisa.
Ele aproximou-se e passou os braços pela cintura dela, depositou um beijo no topo da cabeça dela e ambos seguiram juntos até a cozinha. Decidiram comer um macarrão que encontraram dentro do armário, já que o macarrão preparado pelos dois juntos era espetacular.
— Espera aí que já volto. — disse e foi até a sala, voltou alguns segundos depois, parou no batente da porta da cozinha e ficou admirando e sua desenvoltura enquanto cozinhava. Ele se perguntava se ela tinha alguma noção de como ficava sexy cozinhando, ou fazendo coisas banais. — Eu acho que essa noite merece uma boa música.
— Oba! — disse assim que viu o saxofone na mão do rapaz. — Qual música que você vai tocar?
Ele nem mesmo respondeu e começou a tocar algumas músicas que aprendera durante toda a vida, passando pelas mais românticas, indo para algumas clássicas do jazz e então por fim, quando quase terminava de preparar o macarrão, ele tocou uma versão de "Thousand Years" da Christina Perri.
— O que você fez comigo, hein? — disse assim que terminou de tocar, ela se aproximou dele, e acariciou os cabelos da garota.
— Acho que preciso fazer a mesma pergunta. — Ela disse mordendo o lábios inferior. — Vamos comer, antes de que esfrie.
assentiu e se sentaram na mesa para comer, pegou um fio do macarrão espaguete e colocou em seu garfo, estendeu para e ela pegou uma das pontas, ele a pegou de surpresa ao pegar a outra ponta e sugar o macarrão ao mesmo tempo que ela. Ambos pararam a milímetros um do rosto do outro. Terminaram de puxar o macarrão quando os lábios se encontraram e o macarrão se partiu.
Eles riram depois daquele momento que acabou se tornando romântico e continuaram comendo. Depois de estarem satisfeitos, se sentaram na pequena varanda iluminados ali apenas com luz de uma única vela grande, a chuva ainda caía, com mais força do que antes e então começou a tocar um violão que encontrou dentro da casa. Ele começou a tocar algumas músicas conhecidas, e depois acabou indo pelas mais tocadas na cidade, o típico sertanejo universitário, que ele sabia ser um dos ritmos favoritos de .
— Vamos de quê, agora? — perguntou para a garota e ela que olhava para a chuva, se virou sorridente.
— "Logo eu" do Jorge e Mateus?
— Sabe que eu me identifico com a letra dessa música? — disse antes de tocar os primeiros acordes da música e então começou a cantar assim que ele fez sinal com a cabeça.
— "Eu te vi e já te quis, me vi tão feliz, um amor que pra mim era sonho. Surpreendente provar do que eu só ouvi falar, e você resolveu me mostrar." — cantou sentindo a força da letra e perguntava se ele sentia daquele jeito em relação a ela.
— "Logo eu, que nem pensava, eu não imaginava, te merecer...e agora sou o dono desse amor." — tomou conta do refrão e olhava nos olhos de , que tinha o coração acelerado. — "Eu nem quero saber porquê, eu só preciso viver... o resto dessa vida com você."
não deixou nem mesmo que ele prosseguisse, foi até ele e o beijou de forma carinhosa e ao mesmo tempo sedenta. abandonou o violão e se levantou, levantando e colocando-a em seu colo, ela envolveu a cintura do rapaz com as pernas, e sem partir o beijo ele a levou para dentro do chalé.
— Me fale para parar de te querer, . Do contrário eu vou te levar para aquele quarto, pois necessito te sentir, necessito tocar seu corpo, necessito que sinta em sua alma através dos meus toques e carícias o quanto te quero. — Ele encostou a garota contra a parede, ela mordeu o lábio inferior. — Em outra ocasião nem me importaria porque era um idiota, mas é de você que estamos falando e não quero você se arrependendo amanhã.
— Me arrepender? Só se for por não ter feito o que meu coração pede.
a beijou e levou para o quarto, ali dentro foram trocados mais do que beijos e carícias, duas almas se conheceram, um sentimento que era só uma pequena faísca transformou-se em chamas e dois seres se conectaram para sempre mesmo que eles nem se dessem conta disso.
Sentimentos são fáceis de mudar, mesmo entre quem não vê que alguém pode ser seu par.
Ambos não viam que alguém podia ser seu par, porque no fundo não acreditavam que fossem encontrar alguém que realmente conseguisse aguentar as cargas de suas vidas. Os dois eram tão parecidos e ao mesmo tempo tão diferentes.
dormiu naquela noite aninhada nos braços de que cobria seu corpo nu com frequência, preocupando-se que ela pegasse um resfriado. Ele não conseguiu dormir, ficava olhando para a doce garota em seus braços, ele adorava assisti-la dormir e ali naquele ângulo em que ela estava, gostava mais ainda, estava enroscada em seus braços, suas pequenas e delicadas mãos sobre seu peitoral, e uma de suas pernas emboladas nas suas.
No seu peito, o coração batia acelerado, felicidade e medo se misturavam. Felicidade por tê-la ali com ele, e medo de perdê-la na manhã seguinte, quando eles voltassem para a vida normal.

Capítulo 6


acordou sentindo um beijo nos lábios, abriu os olhos lentamente e um sorridente a recepcionou. Não havia nada mais lindo do que acordar com um beijo de quem se gosta, foi isso que pensou.
— Bom dia! — falou e ela piscou algumas vezes antes de se sentar na cama e responder.
— Bom dia.
— A chuva parece ter parado. Vem tomar um café, e a gente volta para a república. — disse e acariciou os cabelos de .
— Para a república? — lembrou-se dos rapazes e de como eles reagiriam se soubessem do que aconteceu naquele quarto.
— Claro, para onde mais iríamos?
, não acho que seja correto eu continuar me hospedando lá.
desarmou sua expressão, indo de "relaxado" para "completamente tenso".
— Como assim? Que bobeira é essa?
— A gente ficou, . Não vai ser legal eu ficar debaixo do mesmo teto que você e outros 6 rapazes, as pessoas já falam de mim por me hospedar lá, imagina só se sonharem que fizemos isso tudo? A não ser que nós façamos de conta que ontem nunca aconteceu ou existiu. — disse com certo pesar na voz.
— Não! Isso eu não quero. — se levantou e coçou a cabeça, lembrando-se da conversa que teve com Gustavo sobre a permanência dela na república. — Eu quero continuar com você, poder mostrar pra todo mundo o quanto gosto de nós dois juntos.
— Eu também quero. Mas se já estava achando minha hospedagem na república insustentável antes, imagina só agora?
— Para onde você vai?
— Não sei. — mordeu o lábio pensativa. — Fico na minha avó mesmo.
— Mas lá mal cabe sua avó, . — falou quase revoltado com a ideia da garota. — Vamos fazer o seguinte, a gente volta para a república e pensamos no que faremos. Pode ser?
assentiu antes de se levantar da cama e seguir para o banheiro, precisava de um banho rápido. Enquanto isso seu celular começou a chamar insistentemente sobre a cama, estava na cozinha, esperando pela garota.
Alguns minutos depois, apareceu chorando na cozinha com grande desespero. correu até ela que desabou em lágrimas, escondendo o rosto em seu largo peitoral.
— O que foi, minha linda? — perguntou com desespero crescente no peito ao vê-la sofrendo.
— Me leve para a clínica do meu pai? Ele piorou, . — Ela disse enquanto as lágrimas caíam em seu rosto.
Em seguida, foi tudo muito rápido. Eles juntaram tudo e saíram dali com pressa, seguiram para a clínica o mais rápido que podiam. Quando chegaram lá, Catarina já esperava pela garota.
— Como ele está, vó? — perguntou e segurava sua mão.
— Ele está chamando por você a todo momento, minha querida. Mas ele não está nada bem. — tentou, mas as lágrimas caíram, segurava firme sua mão. Algo que Catarina não deixou de notar.
— Posso vê-lo? — Catarina assentiu e explicou que a levaria para falar com o médico antes. — Me espera rapidinho? — ela se dirigiu a que assentiu e então ela depositou um beijo nos lábios dele antes de deixá-lo sozinho na sala de recepção.
sentou-se em uma das cadeiras após ver entrar para dentro da clínica com a vó. Ele pegou o celular e ligou para o melhor amigo, que atendeu logo nas primeiras chamadas.
— Fala, ogro. — Leandro falou ao atender.
— E aí? Tá em casa?
— Eita, que voz é essa? Tá passando mal?
— Eu não, mas o pai da piorou, estou no hospital com ela. — passou a mão livre pelos cabelos. — Acho que dessa vez a coisa tá feia pro lado dele.
— Caramba! Ela tá bem? Precisa de ajuda? — Leandro falava com certo desespero. — Se quiser falo com os caras aqui e vamos todos aí pra levantar o ânimo dela.
— Cara, pela cara da vó dela, não acho que vamos ficar aqui muito tempo.
— O que você quer dizer com isso? Porra, é serio? Você acha mesmo que ele tá à beira da morte?
— Eu conheço aquele olhar que a vó dela deu.
— Escuta só, acho que fiz uma merda das grandes ontem. — Leandro falou com tom de culpa.
— Qual é a merda que fez dessa vez?
— Sabe aqueles quadros que ela tinha deixado secando? Pois então, eu tirei foto de alguns e mandei para uns contatos meus. Dando os créditos a ela e contando sobre a história de vida dela.
— Cara, ela odeia esse tipo de coisa. Morre de vergonha das pinturas dela, e você faz uma coisa dessas? Ela vai querer te matar.
— Eu sei, e eu te imploro que não conte pra ela. Com alguma sorte, ela nunca vai saber disso. — Leandro disse. — Ei, como soube do pai dela? Ela te pediu para buscá-la na casa da avó?
— Longa história, meu amigo. Depois te explico.
Ali perto, dentro do quarto 203, conversava com a avó sobre o estado de saúde do pai quando o mesmo abriu os olhos e fez com que desse um salto assustado indo até a cama. Ela segurou a mão do pai que fez grande esforço para falar.
— Minha filha, tão linda. — chorou ao ouvir o pai lembrando-se que ela era filha dele. — Sua mãe veio me visitar, eu acho que vou embora com ela.
— Não, pai. — enxugou uma lágrima que caiu, mas outra caiu logo depois.
— Eu te fiz desistir de tudo, né? Me perdoa?
— Não tem porque pedir perdão, fiz porque te amo.
— Se sacrificou tanto pela sua mãe e agora por mim. — Ele começou a tossir e parecia ter grande dificuldade de respirar.
— Melhor você ficar quieto, pai. Depois conversamos. — pediu, mesmo sabendo que seria muito difícil conversar com ele daquela maneira de novo. Ele parecia tão lúcido, falava como se a doença que afetou seu cérebro nunca tivesse existido.
— "Que importa o mal que te atormenta, se o sonho te contenta e pode se realizar?. Lembra-se de quando lia o livro "Cinderela" para você? Não desista dos seus sonhos, filha. Jamais. Mesmo que as coisas ruins te atormentem, me ouviu bem? — assentiu e então seu pai virou-se para o outro lado, a mão que segurava escorregou da sua e a vida de seu pai escapou-se do corpo.

~*~

Um mês depois.
andava pelas ruas de Simplício do Sul, depois de tanto tempo se reclusando na casa de sua avó, resolveu que era hora de colocar a cara na rua. Ela havia decidido sair da república no dia seguinte do enterro de seu pai.
Desde então tinha se afastado de tudo e todos, apesar de ter sido sempre forte, entregou-se a dor que nunca permitiu-se sentir desde que a mãe partira anos antes. Ela conseguiu arrumar uma nova casa para a sua avó e estava indo visitar o local, ver como estava a casa para poder enfim começar a mudança.
Ela passou em frente a república e segurou o instinto de chamar os garotos, morria de saudades deles, mas sua insegurança a fazia não querer se aproximar. Isso porque desde que tinha ido para a casa da avó, não falava com e ela nem mesmo sabia o motivo de ter feito aquilo.
Ela sentia que precisava daquele tempo de reclusão, e assim fez.
imaginava que àquela altura, já tinha arrumado outra garota e a havia esquecido por completo. E ela não o julgaria caso isso tivesse realmente acontecido, até porque dois dias antes tinha recebido um e-mail curioso
Uma grande galeria de Zurique tinha lhe enviado um convite formal para que ela se apresentasse dali duas semanas na "Universidade de Artes de Zurique", pois segundo eles, a arte dela era algo tão forte e profundo que merecia ser tratado com a importância que tinha. Ela não sabia quem havia enviado suas obras, mas em anexo no e-mail estavam fotos de seus últimos quadros pintados antes da morte de seu pai.
Ela ficou revoltada, irritada inicialmente, mas depois de uma conversa com a avó, percebeu que não faria mal sair da cidade por alguns anos, e depois em conversa com os representantes da universidade, soube que poderia levar a avó, pois ela ficaria em um apartamento localizado próximo à universidade. Aliás, a universidade fez questão de apressar as papeladas referentes a visto do país, passagens e todo o resto. Era o sonho da garota se realizando e ela nem mesmo imaginava que o autor daquela situação era Leandro.
Seu celular vibrou no bolso e ela caminhou rapidamente até a casa em que sua avó moraria por pelo menos 2 ou 3 meses, até que ela ajeitasse tudo na Suiça e pudesse levá-la. Ela abriu a porta da casa e levou um susto quando alguém a abraçou por trás, fazendo com que ela entrasse na casa.
Ela se virou para ver quem era, mas grudou os lábios nos dela antes que ela pudesse lhe dizer alguma coisa, ela amoleceu o corpo ao perceber que era o rapaz e entregou-se ao beijo. Percebeu como sentira falta do calor do corpo dele, daquele perfume que a fazia sentir o típico frio na barriga.
— Eu senti tanto a sua falta. — disse salpicando beijos pelo ombro, pescoço e rosto da garota, e ela fechou os olhos. — Quando vi você virando a esquina lá da rua, vim correndo atrás de você. Eu precisava te ver de perto.
— Eu...
— Porque se isolou? — Ele acariciou o rosto de . — Nunca mais faça isso.
— Me desculpe, eu precisava de um tempo pra mim.
— Eu sei, não estou cobrando. é só que...achei que não fosse dar conta, tentei tanto te ver. Mas você ignorava todas as mensagens, ligações e visitas.
— Fui uma idiota, eu acho. Mas depois da primeira semana você não falou mais nada, assumi que tivesse desistido.
— Nunca. Me ouviu bem? Nunca desistiria de você. — depositou um beijo rápido nos lábios dela. — Só estava te dando o espaço que tanto queria, pequena.
— Acho melhor conversarmos depois. — disse meio sem-jeito, com o coração apertado. Quando contasse para ele sobrea viagem, sentia que seria mais doloroso ainda, mas ela não desistiria, já tinha colocado seus sonhos de lado por tempo demais.
— Claro. — disse, sentindo-se um pouco rejeitado. — A festa de despedida do Gustavo é hoje, ele acaba o semestre semana que vem e depois vai pra Belo Horizonte, vai morar junto com a noiva. Sei que não deve nem querer ir em festas, mas podia aparecer lá pelo menos para despedir dele.
— Eu vou sim. Quero muito ver os meninos também, sinto saudades de todos. — disse.
— Certo, vou para casa. A festa começa às nove da noite, te espero. — disse e deu uma piscada para a garota que sentiu o coração se derreter. Assim que ele saiu dali, ela sentiu-se completamente triste.
Ela sempre se sacrificava por alguém, pela mãe, pelo pai...mas daquela vez ela não se sacrificaria. E qualquer um concordaria com ela.
Depois de uma rápida olhada na casa, ela ligou para a empresa que faria a mudança e combinou para que fizesse a mudança no dia seguinte mesmo. Logo depois, saiu da casa com o pensamento de ir para a casa da avó e se preparar para a festa que acontecera logo mais na república "Reis de Copos".

~*~

Passadas algumas horas, ela estava pronta e só não sentia-se preparada para contar a novidade para . Mas sabia que era necessário resolver aquilo logo. Resolveu ir caminhando, mas assim que saiu da pequena casa da avó, avistou o carro de David ao longe e o rapaz acenou para ela.
! Caramba, que saudades! — David disse e a abraçou fortemente. — Como você emagreceu!
— Grandão! — disse animada. — Nem emagreci tanto assim.
— Vim te buscar. não parou de falar que você vinha e que ele tinha que ir buscar algumas bebidas no "Bar do Carlão".
— Não precisava, eu ia andando mesmo.
— Tá louca? Eu sempre te buscava aqui, ou então era o . — David disse e ambos foram caminhando até o carro. — E vocês? Continuam na mesma?
— Que mesma? — perguntou.
— Ah, para. Todo mundo da república sabe que vocês tiveram um lance, e eu confesso que a ideia ainda não me bateu bem e as vezes me pergunto porque preferiu ele, mas respeito sua decisão de querer o . De todo e qualquer homem nessa cidade, ele é o único que entendo. — David disse enquanto dava partida e dirigia pelas ruas da pacata cidade. — Mas e aí o que deu?
— Eu não sei, David. Vamos conversar hoje e tentar chegar em um consenso.
— Eu sei que você não costuma dar chance aos caras e acaba fazendo todos eles sofrerem, mas você podia pensar com carinho nele. Meu amigo não merece sofrer.
— Nunca pensei que fosse ver você pedindo isso pra ele. Há pouco tempo estava pedindo uma chance para você mesmo.
— Para você ver como sou altruísta. — Ele piscou e parou o carro na frente da república.
— Viu como foi rápido? Podia ter vindo a pé.
— Não reclama, sempre fiz isso. Não vou mudar agora só porque não está se hospedando lá em casa.
Os dois amigos entraram na casa e todos os rapazes moradores a receberam com grande alegria, entre abraços e beijos molhados na bochecha, ela viu encostado na parede. A decoração da festa estava linda, tinham utilizado o espaço do quintal e até a piscina estava decorada. se perguntou quem teria feito aquilo, porque sabia que os meninos não conseguiriam fazer aquilo tudo sozinhos.
— Oi. — cumprimentou a garota depois que todos os outros fizeram e se afastaram dando privacidade aos dois. — Você veio mesmo.
— Claro, não perderia essa despedida por nada. — falou meio alto por conta da música que preenchia o ambiente. Já tinha muita gente aglomerada ali.
— Fica aqui que eu já volto. Vou lá dentro só buscar meu violão. — disse e assentiu.
— Vai cantar?
— Sim, mas essa é especial. — ele piscou para que sorriu. — E pra alguém especial.
Ele entrou na casa, e voltou depois de um minuto com o violão na mão, conectou o violão na caixa de som e então todos pararam pra prestar atenção, pois sabiam que ele cantava muito bem.
Ele se sentou em uma cadeira e olhava fixamente para que sentiu o típico calor no coração ao receber aquele olhar. Ele começou a dedilhar no violão, testando para ver se estava afinado.
— Esta canção que eu canto é só para você. O amor compôs o tema e o poema vem de você. — disse olhando para , antes de começar a cantar uma música que tinha composto para a garota. Todos olhavam com espanto para e as vezes se perguntavam se aquele dali era o mesmo cara que adorava festas e farra, o mesmo que tinha fama de pegador. Ele tinha sido nocauteado pelo sentimento que o invadiu por completo.
Ao final da música, tinha lágrimas nos olhos e o rapaz desceu do palco indo até ela, dando um beijo estalado nos lábios da mesma.
— A gente não vai poder ficar junto, . — ela disse com a voz embolada.
— O quê? Porque não? — ele perguntou confuso. — Vem, vamos conversar lá dentro.
Ele a puxou delicadamente pela mão, e ambos entraram na casa, foram até onde era o quarto que dormia. Ela se sentou na cama e sentou-se do seu lado.
— Me explique o que houve.
— Vou embora para a Suíça. Ganhei uma bolsa integral e ajuda de custos para estudar artes lá.
— Mas você tinha se inscrito?
— Não, mas nem me importo. Só quis aceitar porque já enterrei demais os meus sonhos, quero vivê-los fora da minha imaginação desta vez.
— Eu também. — disse e o olhou sem entender.
— O que?
— Eu mandei uma tese minha para uma universidade na Alemanha, e antes da gente ficar junto descobri que fui selecionado. Eu estava pensando se aceitaria ou não.
— Mas você nunca demonstrou interesse em estudar fora do país. Quero que vá porque deseja fazer isto.
— Esta cidade, na verdade, faz a gente se acomodar. Eu sei muito bem pra onde estou indo e sinto que qualquer dia vou chegar. Meu sonho é disseminar minha música pelo mundo, do mesmo jeito que meu pai fez. — disse sorrindo. — Se você disser que quer, eu vou. Eu quero de verdade tentar ficar junto de você, . Pode parecer bobeira, pelo fato da gente ter ficado uma vez, mas o que eu sinto vem sendo construído de muito antes. Não sei se consigo mais ficar longe de você.
— Eu tenho medo de que dê errado.
— O que poderia dar errado? — beijou os lábios da garota. — Porque não para de insegurança e acredite que você é maravilhosa. Não deixa o passado atrapalhar o que tem pra viver no futuro, sei que você sofreu muito, mas agora é a hora de deixar o sol entrar aqui dentro. — ele apontou para o peito da garota, indicando seu coração. — E ser feliz. Pensa com carinho e me diz se quer que eu te faça feliz, . Se você disser que sim, eu só espero 6 meses para minha graduação, vou para a França e fico mais perto de você.
— Eu quero você, . Quero que a gente dê certo, mas agora precisamos pensar com calma. — Ela acariciou o rosto do rapaz. — Você vai aguentar ficar seis meses sem ninguém? Fica bem, vive sua vida e daqui seis meses voltamos a falar sobre isso. Quero que tenha a certeza do que quer. Eu acho que vou embora pra casa. — disse antes de se levantar e segurou seu braço e puxou para ele, ela entendeu o recado e o beijou.
Ele a sentou em seu colo, e segurou sua cintura, enquanto ela acariciava a nuca e o pescoço do rapaz, causando arrepios salpicados pelo corpo dele.
— Quando você vai? — perguntou assim que pararam o beijo.
— Daqui uma semana e meia eu viajo, pois preciso estar lá daqui duas semanas para confirmar a matrícula.
— Me dê a felicidade de ter você como minha por pelo menos essa uma semana e meia? Me deixa ser seu até o dia que você for? — disse baixinho no ouvido da garota.
— Eu esperava ansiosa que você me pedisse isso. — Gabia disse antes de voltar a beijá-lo.
Eles se deitaram na cama, sentindo o desejo consumirem ambos, o calor tomou conta do corpo de quando sentiu a mão do rapaz subindo por dentro de seu vestido e logo tratou de puxá-lo para fora de seu corpo.
não ficou para trás, retirou suas roupas, passou a chave na porta e voltou para os braços de sua amada, que o recebeu com um beijo quente. Em pouco tempo, as peças intimas de ambos estavam jogadas no chão do quarto e eles uniram seus corpos, entregando-se ao desejo que os dominavam.
Os dois sentiram falta um do outro durante todo o tempo que se manteve afastada, e sabiam que deveriam aproveitar cada minuto daquela uma semana e meia que ainda tinham juntos.
A festa ficou lá fora, no esquecimento enquanto eles se curtiam em um mundo particular, apenas deles.

Capítulo 7


8 meses depois

O frio cortante de Zurique atingiu assim que ela pisou fora da universidade. Ela tinha assistido as duas primeiras aulas e tinha um horário livre antes do próximo. Resolveu ir até uma cafeteria próxima à universidade.
Ela mandou uma mensagem para a avó perguntando se estava tudo bem e contando que iria até a cafeteria, e a mesma respondeu que estava bem além de mandar um emoticon. Sua avó tinha se tornado uma internauta de mão cheia e vivia pedindo ajuda para entender como funcionava uma coisa ou outra. adorava e se divertia com esses momentos da avó.
Ela estava feliz, tão feliz que mal cabia em si. Seus sorrisos eram frequentes e ela tinha certeza de que seus colegas de classe a achavam insuportável por parecer sempre tão alegre. Ela havia passado por maus bocados nos primeiros meses ali, não sabia alemão e seu inglês era intermediário, mas conseguiu pegar o jeito da coisa rapidamente e em poucos meses estava falando o suficiente para se virar.
Abriu sua bolsa e encontrou o chaveiro com um boneco de pano, um presente de que ele lhe dera no dia em que ela se mudou. Lembrou-se com carinho dos dias que passou com ele, oficialmente como namorada dele. Durou exatamente uma semana e meia, como haviam planejado. queria continuar com ele para sempre, principalmente depois daqueles dias em que dera conta do quanto o amava, mas sabia que tinha que agir conforme o planejado, pois ambos tinham sonhos e precisavam ser racionais apesar estarem completamente apaixonados.
Eles mantiveram contato durante os dois primeiros meses, porém dai em diante foram diminuindo a intensidade de ligações por Skype, e as conversas se tornaram escassas principalmente porque estava se concentrando muito nos estudos.
Sentia muita falta do rapaz, e não tinha notícias dele fazia quase uma semana. Ele havia sumido completamente da internet e não dera para ela a sua posição sobre mudar ou não para a Alemanha. A cidade em que ele ficaria era apenas 3 horas de distância de Zurique e poderiam se ver com frequência caso ele decidisse ir.
Ela pediu um café que veio rapidamente, e começou a ler um capítulo do livro em inglês sobre arte moderna. Quando terminou de ler o capítulo e abaixou o livro, desbloqueando sua visão, ela levou um susto.
estava sentado ali, na cadeira bem na sua frente.
! — Ela deu um gritinho e levou as mãos até a boca em visível espanto.
— Espero que essa expressão seja de surpresa e não de susto. Acho que não estou tão feio aiism, nem mudei muito.
— Eu... — não falou mais nada, se levantou e correu até o rapaz abraçando-o. Ele se levantou e a abraçou de volta, levantando-a do chão. — Esperei tanto com esse momento, em que te sentiria pertinho de mim.
— Agora a espera acabou. — Ele colocou ela no chão e depositou um beijo nos lábios da garota. — Você veio pra ficar? Vai morar mesmo na Alemanha?
— Sim, eu vim para ficar. Se você me quiser, é claro.
— Ai, que bobo! Claro que quero! — disse segurando sua mão.
— Era isso que eu queria. — disse sorridente. — Um mundo ideal, um mundo que eu nunca vi. E agora eu posso ver e lhe dizer que estou num mundo novo com você.
— Comigo? Mas nem vamos ficar realmente juntos, teremos três horas de distância nos separando.
— Na verdade, não vai ser bem assim. — o olhava sem entender. — Consegui me transferir para fazer o mestrado aqui na cidade.
— Você só pode estar brincando! — estava completamente surpreendida pela novidade. Então agora você vai ficar realmente perto de mim!
— Sim, e agora eu quero retomar de onde paramos quando você veio pra cá. — disse abraçando-a. — Aceita ser minha namorada?
— Seria louca se dissesse o contrário. — respondeu antes de beijá-lo e perceber que estava enfim em casa. Nos braços do homem que ela amava, vivendo seu próprio conto de fadas.

FIM



Nota da autora: (11/04/2015)
Quero dedicar essa fofura para minha mãe, porque a coitada teve que acompanhar o desenvolvimento do enredo e inclusive ajudou em vários momentos que quis largar tudo e desistir! Obrigada, mãe! <3
Agradeço a todas as minhas leitoras que já estão sabendo que escrevi pro challenge e me apoiaram no processo de escrita com muita ansiedade para poder ler, agradeço principalmente a Rayllen, Rady, Babi e Bella!
Caso queira ler minhas outras fanfics é só entrar lá no grupo das minhas fanfics "A confused heart", "Our life together" e "03.Don't hold the wall".
Meu grupo: https://www.facebook.com/groups/666032813425499/
Beijão e até a próxima! ;)




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