— Ah, gente! Dá para parar? — resmunguei — Você lembra de quando descobri meus poderes?
— Claro que lembro — Gab disse — Foi na época do ensino médio.
— Pois então! — gritei — Eu quase queimei você viva, não lembra? Quase fiz você explodir! Ainda acabei machucando mais pessoas e tive que fugir do local — esbravejei — Eu não posso ter um relacionamento sério com alguém, eu posso explodí-lo aos pedaços!
— Isso é bom, não é? — minha irmã continuava a argumentar — Caso ele traia você...
— Não, você não está entendendo — ri com aquilo — Não posso estar com alguém para quem eu tenha que mentir toda vez que acontece algo de ruim na cidade e eu tenha que sair, vestir meu traje e combater o mal.
— Você está só procurando desculpas — ela disse.
— e suas fobias de relacionamentos — Rapha revirou os olhos — Não cansa de correr dessas coisas?
— Por que você não cala essa sua linda boca e dá um jeito nos meus ferimentos, doutora? — sugeri à ela.
— Se você não fosse uma super heroína de fogo que sai por aí ajudando as pessoas — Rapha abriu um sorriso falso — Juro que daria um soco super sônico bem no meio da sua cara.
— Preciso te lembrar que você não é Barry Allen? — sorri, sarcástica — Vale ressaltar que já levei alguns socos hoje. É por isso que estou nessa droga de laboratório.
— Você reclama demais — Rapha revirou os olhos outra vez.
— Não fala mal desse laboratório! — Gab resmungou — Kim e eu trabalhamos aqui também e ele é maravilhoso.
— Só para esclarecer — pronunciei-me — Está falando do seu marido ou do laboratório?
— Dos dois, talvez — ela parecia incerta, o que fez Rapha e eu rirmos.
Enquanto Rapha cuidava de meus ferimentos, eu já estava pensando no meu emprego. Outra vez teria que vestir uma camiseta de mangas compridas por baixo do meu colete da televisão. Por que os vilões tinham que sempre acertarem meus braços? Isso era uma droga. Não podia aparecer no noticiário com machucados no braço. Já tinha que exagerar na maquiagem em alguns casos, quando meu rosto ficava com manchas ou pequenos cortes. Em meio a pensamentos, meu celular apitou — o que me assustou por um mísero segundo.
“Vê se não me deixa esperando, CB! Não cansa de salvar o mundo, não? Está viva, pelo menos? Se estiver, vem para cá de uma vez. #Mah”
Tentei levantar, mas fui impedida por minhas duas amigas — que nesse momento eram mais minhas médicas do que amigas. As duas eram cientistas, mas Rapha cuidava mais da parte médica. Porém, quando eu estava com ferimentos, minha irmã não saía de perto e sempre ficava ajudando a doutora em tudo. Que saco!
— Podem, por favor, me deixar levantar? — bufei.
— Não — Gab disse — De jeito nenhum.
— Você não está bem — Dra. Rapha falou — Precisa ficar em repouso.
— Gente, eu sou uma droga de uma repórter — resmunguei, como sempre — Não posso ficar deitada nessa cama para sempre — levantei, ignorando-as — Tenho que entrevistar o Sr. Babaca daqui a alguns minutos.
— Quem é o Sr. Babaca? — minha irmã perguntou, sem entender.
— , obviamente — revirei os olhos.
— Faça o favor de parar de chamar meu noivo de babaca? — Rapha pediu.
— Eu acho que ela estava se referindo ao outro irmão, não ao Taylor — Gab comentou.
Deixei as duas conversando entre elas e fui vestir uma camiseta de mangas compridas. Passei uma maquiagem básica no rosto — apenas a que eu precisava para aparecer no trabalho, já que dessa vez meu rosto não estava machucado. Na verdade, estava doendo, mas não tinha ferimentos aparentes e isso era bom. Saí do Laboratórios Strap — Scientific and Technological Research and Advanced Projects Laboratories — e segui meu caminho até a saída do evento que a Corp tinha durante o dia de hoje.
Se eu chegasse quando já estivéssemos no ar com as entrevistas importantes, Mah me mataria — e acho que ela não seria a única. Eu sempre estava atrasada, não importa onde eu fosse. Mah já estava cansada de ter que inventar desculpas mirabolantes para justificar meus atrasos aos nossos chefes. Ainda que ela soubesse da verdade, não podia simplesmente dizer que a melhor amiga dela era a mulher nuclear, a Cherry Bomb, de quem eles tanto falavam. Era para ser segredo, mas já havia gente demais que sabia que eu era ela, a mascarada da roupa vermelha e preta. Minha irmã — que me ajudou muito quando se tornou uma cientista genética e tentou me estudar; O marido dela, Kim Sang — que era engenheiro mecânico no Strap Labs e foi quem acabou criando meu uniforme; Rapha — que é minha médica particular quando não está fazendo suas experiências malucas; Mah — minha melhor amiga que trabalha comigo e me ajuda com as desculpas; E o namorado dela, Chris — que é designer e, por acaso, foi quem criou o logo da Cherry Bomb. Sem eles, seria complicado demais ser uma super-heroína, mais do que já é.
— , mas que merda — fui recebida por Mah ao chegar no local do evento, levando um soco de leve no braço, o que doeu bastante — Que droga. Você tem que controlar essa merda desse seu horário, cara.
— Vai parar de me xingar? — abri um sorriso descaradamente falso — Também amo você. Estava ocupada.
— O pessoal da redação vai te matar se você continuar chegando atrasada, e eu também — ela dizia — Era para você estar aqui há quinze minutos.
— Pelo menos cheguei a tempo de realizar a entrevista, não? — dei de ombros — E você acha mesmo que eu me importo com o que eles pensam? Tudo o que importa são os chefes, que é o que me faz continuar empregada.
— Os chefes também fazem parte da redação, otária — ela revirou os olhos, rindo.
— Ah, verdade — comentei — Não tinha pensado desse jeito. Droga!
— Seu super poder deveria ser de velocidade — comentou repentinamente, baixando a voz — Assim você não me deixaria irritada, pois você chegaria na hora.
— Ah, por favor — revirei os olhos — Se não funcionou com o Flash, por que diabos funcionaria comigo?
— É, tem razão — ela riu e apontou o cara que estava saindo do evento — Agora vai entrevistar o Senhor Bonitão que eu tenho o outro irmão, noivo da sua amiga, para entrevistar.
— Prefiro chamá-lo de Senhor Babaca — abri um sorriso enorme ao perceber que ele tinha escutado aquilo.
— Nunca esconde o ódio que tem de mim, não é, ? — ele abriu aquele sorriso cafajeste que ele sabia muito bem como fazer.
— Sabe que tenho que entrevistar você e que não escolhi por isso, certo? — fui direta.
— Você nunca me escolheria — riu seco e parou ao meu lado, observando-me — Esqueceu seus óculos.
— Pois é. Percebi que não estou enxergando muito bem sua cara de playboy conquistador — sorri, sarcástica.
— Você fica sexy com eles — ignorou-me, ainda referindo-se aos óculos.
— Engraçado... — baixei a voz — Você não parecia se importar com eles na cama.
— Isso é jogo sujo — estreitou os olhos.
— Entramos no ar em cinco segundos — o câmera nos alertou.
— Eu não preciso jogar sujo, baby, você consegue se sujar sozinho — abri um sorriso mínimo e respirei fundo, antes de entramos no ar, ao vivo — Estamos aqui, com imagens ao vivo, na saída do evento corporativo da Corp. Ao meu lado está , um dos donos da corporação. Sr. , poderia nos dizer qual o novo projeto inovador que estão preparando para nós?
— É segredo. Ainda estamos em uma parte do projeto que é confidencial, vocês sabem — riu brevemente — Só podemos dizer concretamente que vai ser algo grande e importante... Ah, e vocês vão gostar.
— E o que me diz? — questionei — A corporação se sente intimidada com os frequentes protestos contra seus novos projetos?
— Intimidados não — ele fez careta — Eu, particularmente, fico um pouco chateado por ver tanta gente indo contra sem nem mesmo saber o que temos em mente para um futuro próximo.
— Talvez ainda estejam bravos por vocês terem ligado aquele acelerador de partículas — sugeri — Ou apenas por não saberem com o que você estão mexendo dessa vez.
— Eu entendo isso, realmente — ele disse — Mas nada deu errado. Ligar aquele acelerador foi um grande avanço.
— Certo. Fugindo um pouco do assunto — falei — O que me diz sobre as brigas frequentes entre você e seu irmão?
— Isso é pessoal — arqueou a sobrancelha, dizendo aquelas palavras com um tom de interrogação.
— Verdade, desculpe. Deixe-me reformular — pedi — O que tem a dizer sobre como essas brigas públicas frequentes entre os irmãos podem afetar os negócios da corporação?
— Está preocupada comigo, ? — sorriu abertamente, abraçando-me de lado e então olhando para a câmera — Não precisam se preocupar conosco. Nenhum tipo de desentendimento pessoal entre meu irmão e eu irá afetar a empresa. Posso garantir isso a vocês.
— Obrigado, Sr. . Aqui é e esse foi , co-presidente da Corp — forcei-me a abrir um sorriso — De volta à redação com Kara Sanders.
— Saímos do ar — nos avisaram.
— Graças a Deus! — desvencilhei-me de — Eu vou matar você.
— Por que eu te abracei? — perguntou, com um sorriso debochado estampado em seu rosto.
— Não, por que você é um playboy babaca conquistador — dei de ombros — Por que mais seria?
— Pode querer me matar por eu ser um bilionário... — sugeriu — E um gênio, é claro.
— E filantropo, não esqueça — Mah chegou falando.
— E um convencido dos infernos — sorri de lado.
— Okay, tudo bem — ele ergueu as mãos em sinal de rendição — Estou indo. Não precisa me odiar ainda mais.
— Tchau, — Mah acenou enquanto ria da careta que eu fazia.
— Temos como ter certeza de que não é, na verdade, Tony Stark? — questionei minha melhor amiga.
— Claro que temos, sua idiota — Mah revirou os olhos — Tony Stark não existe. Ou será que você viu o Homem de Ferro voando por aí?
— Você era a última pessoa que deveria duvidar disso — falei — Afinal, eu sou sua melhor amiga, e cara, você namora o Thor.
— Eu não namoro o Thor — ela revirou os olhos.
— Seu namorado é igual ao Thor, admita — falei — Tem certeza que ele não é um alienígena filho de Odin?
— Vai se ferrar, — ela mostrou o dedo para mim, me fazendo rir.
— Você sabe que eu te amo, cara — dei um soquinho no braço dela, que empurrou meu punho para longe.
— Impossível não me amar — ela riu consigo mesma.
— Srta. Convencida — revirei os olhos, tirando sarro.
Chequei meu celular brevemente e tinha quatro mensagens.
“Não esquece de ligar o comunicador. #Rapha”
“Recebeu a mensagem da Rapha? #Gab”
“Não ligo se você está trabalhando ou não, entendeu? Sei que eu sou a doutora dessa droga, mas faça o favor de ligar essa merda ou vou fazer algumas experiências com você. #Rapha”
“Heroínas não podem ficar desconectadas do mundo. #Kim Sang”
“Puta merda, ! Está pedindo para eu te dissecar, certo? Meio tempo nerd repórter, todo o tempo heroína. TODO O TEMPO, DROGA! #Rapha”
Mostrei as mensagens para Mah e ela riu, porém, concordou com eles. Mandei ela se ferrar também e liguei a porra do comunicador.
— Que foi, doutora? — fui sarcástica — Alguém morreu ou precisou de socorro na minha ausência?
— Não — disse simplesmente — Eu só queria saber como foi sua conversa com o 2.
— Também queria saber — Gab se intrometeu.
— Vão se ferrar — revirei os olhos — Vou desligar.
— Não desliga, sério — Kim Sang falou — Vai que aconteça alguma coisa e não consigamos nos comunicar a tempo...
— Okay, mas só porque você está dizendo — fiz birra — Controle essas mulheres aí, por favor. E qualquer coisa diretamente para a CB, me avise.
— Copiado.
Entrei no carro e o meu motorista deu partida. Ele perguntou para onde iríamos e pedi para ele dirigir para casa. Finalmente estava longe daquele evento. Finalmente longe daquela empresa. Ah, é claro, e longe do passado, digamos assim. Era difícil evitar a pessoa quando ela era uma repórter que, quase sempre, te entrevista. Porém, esse era o menor dos meus problemas agora. Todos estavam sabendo das brigas entre Taylor e eu. Negávamos sempre que questionavam se isso afetaria a empresa, mas a coisa estava ficando feia.
Senti uma pontada no peito. Eu estava com um mau pressentimento. Algo ruim iria acontecer, eu tinha certeza. Uma pena que eu não soubesse onde e com quem aconteceria. Era quase como uma maldição ia que eu tinha. Eu era só um humano com nenhum tipo de poder — mesmo morando em uma cidade como essa —, mas eu não podia evitar esse sentimento bizarro. Não gostava de me sentir assim, porém, isso era como ter uma espécie de sexto sentido... E o pior era que eu geralmente estava certo e, além disso, não conseguia fazer nada para impedir o que vinha a seguir. O motorista pisou fundo no freio e eu agradeci por estar usando o cinto de segurança — se estivesse sem, teria voado pelo para-brisa. Olhei para a frente, prestando atenção desta vez. Tinha um guindaste, impedindo que continuássemos por aquela estrada.
— Senhor, fique aqui dentro — o motorista pediu — Vou ver o que aconteceu.
— Freddy — chamei, mas ele já havia deixado o carro — Droga, não era para ter saído.
Pensei em chamá-lo de volta e dizer para irmos por um caminho alternativo. Quando virei-me para abrir a porta, fui impedido por um cara muito grande. Ele estava parado com uma mão apoiada na abertura da janela.
— Olá, — o cara disse com sua voz grave e um leve tom de deboche.
— Quem é você? — estreitei os olhos — O que você quer de mim?
— Sr. , sempre tão superior e intocável... Será que você sangra? — ele arrancou a porta do carro usando apenas uma de suas mãos — Vai sangrar!
Então ele me tirou de dentro do carro e me jogou longe. Bati com as costas na parede e caí no chão. Tudo em mim doía. Não sentia como se eu tivesse quebrado nenhum osso, mas a dor era bem forte. Fazia tanto tempo que eu nem sequer dava um soco em alguém. Eu não teria a menor chance contra um cara que conseguia arrancar uma porta de carro com uma mão como se estivesse arrancando uma folha de papel de um caderno. Esforcei-me para levantar enquanto ele andava até mim. Tentei dar socos nele, mas era quase como se ele não sentisse meus golpes. Ele me olhou e a única coisa que eu via em seu olhar era raiva. Aquele cara me odiava com todas as forças e eu nem sabia o por quê.
— Por que você me odeia? — gritei.
Tudo o que ele fez foi me socar com tanta força que eu acabei indo de encontro ao chão outra vez. Quando ele ia me acertar de novo, alguém o acertou em cheio, o fazendo se afastar. A primeira coisa que vi da pessoa foi uma capa vermelha, e então a parte de trás da peruca, também na cor vermelha. Cherry Bomb estava ali, lutando com o cara que havia me atacado. Graças a deus. Pensei que eu iria morrer. Não havia sensação melhor do que ser salvo quando você está à beira da morte... Mesmo que eu ainda não estivesse completamente a salvo. Porém, confio na Cherry Bomb — e não, eu nunca diria isso em voz alta para ninguém. Não tenho ideia de quem ela seja fora do traje, mas sempre ouvi falar dela e os noticiários não me deixavam esquecer. Não é a primeira vez que isso acontece. A outra única vez que fiquei no mesmo ambiente que a CB, ela salvou meu irmão e eu e, por um milésimo de segundo, não a encontrei sem a máscara.
— Você está bem? — ela parou em minha frente, perguntando — Está bem ou não está?
— Sim, sim — falei, ainda sem levantar do chão — Eu vi os olhos dele. Aquele cara me odeia, queria me matar e eu nem sei o motivo.
— Sério que não sabe? — soou sarcástica e logo em seguida fez uma careta, apertando alguma coisa em seu traje — Sim, eu sei. Dá para deixar eu agir aqui e calar a boca? — revirou os olhos por trás da máscara preta, provavelmente estava usando um comunicador; então voltou-se a mim — Você é bilionário, Sr. . Todo mundo odeia você.
— Você me odeia? — indaguei.
— Quando visto esse traje — ela mostrou o logo em seu peito — Sou uma super-heroína. Não tenho tempo para esse tipo de coisa de odiar alguém qualquer.
— Isso não responde a pergunta — falei e ela só ficou me encarando.
— Dá para vocês pararem de ouvir minhas conversas? — ela usou o comunicador e então voltou a me olhar — Não sou a pessoa em quem você deveria estar focado. Até seu irmão odeia você, todo mundo sabe.
— O que quer dizer? — arregalei os olhos — Está insinuando...?
— Não estou insinuando nada — ela disse — Quão certo você está de que não foi ele quem mandou esse cara atrás de você?
Fiquei pensando naquilo. Talvez ela tivesse um pouco de razão. Era um bom ponto de vista. Todos odiavam meu irmão e eu, mas nós também nos odiávamos... E muito. Antes que eu pudesse responder qualquer coisa para Cherry Bomb, o cara estava de volta. Ela foi pega de surpresa com um soco que a jogou a alguns metros longe de mim.
— Cherry! — gritei por impulso e a ouvi esbravejar, seja lá com o quê.
Achei estranho o fato do cara não ter vindo me bater até a morte e nem ter ido atrás da Cherry Bomb. Quando percebi o que estava acontecendo, já era tarde demais. O cara tinha levantado um carro! Ele era incrivelmente forte, cada vez eu me surpreendia mais. Porém, ele ia jogá-lo contra mim. Aliás, não ia, ele jogou. Era como se eu visse aquilo em câmera lenta. Os últimos segundos da minha vida. E nada além daquele pânico passava pela minha cabeça. No último segundo, Cherry parou em minha frente e segurou o carro em suas costas para que não caísse em cima de mim. Eu estava tão pasmo que demorei para conseguir me mexer. A máscara preta dela bateu contra o chão. Ela baixou mais a cabeça, fazendo com que a peruca ajudasse a tapar seu rosto. CB não queria que eu descobrisse quem ela era. Isso era triste, mas o que eu podia fazer?
— Sai daqui — ela esforçou-se para dizer.
Foi aí que eu destravei. Peguei a máscara dela do chão e levantei. Saindo o mais rápido possível de baixo daquele carro. O outro cara tinha sumido. Talvez pensou que eu morreria ali e foi embora sem nem mesmo conferir se o trabalho estava feito. Assisti aquele carro espatifar-se no chão. Eu estava surpreso do quão forte aquela mulher era, mas, quando fui a procura dela, ela já havia ido embora. Droga, por pouco não acabei descobrindo quem ela era de verdade.
Eu não estava nem aí se tinha sido mesmo Taylor que havia pagado para fazerem aquilo, como Cherry havia sugerido. Eu não ligava se Tay era meu maior inimigo desde que nosso pai morrera — já que ele me culpava por isso. Não estava dando a mínima atenção para mais nada. Eu só precisava contar minha experiência para alguém, e ele era o único aqui além de mim.
— Eu conheci a Cherry Bomb, não estou brincando! — contei, empolgado — Ela segurou um carro que foi arremessado contra mim, segurou usando suas costas e braços. Aquela mulher salvou minha vida, Taylor, e ela é tão poderosa, tão forte, tão...
— Talvez ela seja filha de um deus — tentou ser sarcástico, mas eu ignorei.
— Ela não é a Mulher Maravilha, seu idiota, mas bem que poderia ser... Filha de um deus, no caso, não a Mulher Maravilha. Cherry é tão... Tão magnífica e bonita.
— Você é tão estúpido, sério — Tay riu — Você está apaixonado pela Mulher Nuclear.
— Não, não estou.
— Assim como você nunca gostou nem um pouco da amiga da minha noiva — abriu um sorriso de deboche.
— É por isso que eu te odeio — esbravejei — Eu não gosto dela. Detesto, por sinal. Inclusive, ela me entrevistou hoje e eu queria matar ela.
— Mas antes queria ir para a cama com ela mais uma vez — Taylor falou.
— Por que você não some? — indaguei — Vai encontrar a sua doutora.
— Vou mesmo — deu de ombros — Não quer ir junto? Porque aí talvez você encontre a e pare de esbravejar sem motivos.
— Deixe-me em paz! — gritei.
— Okay, estou indo! — gritou de volta — Ficar perto de você é um saco.
— Com certeza, é... Taylor? — chamei, antes que ele saísse — Se não fosse a Cherry Bomb, aquele meta-humano tinha me matado. Você mandou ele atrás de mim?
— Não, . Ainda não me preparei para bater de frente com você — falou — E quando finalmente fizer isso, eu não vou matar você, eu só vou te machucar bastante.
Então ele fechou a porta e saiu. Aquele otário do Taylor me fez lembrar da e isso fez-me sentir ainda mais sozinho do que já costumava me sentir. Tenho certeza que meu irmão sabia como eu iria acabar me sentindo, e só por isso mencionou. Tay sempre fazia esse tipo de coisa. foi a última mulher que me fez sentir alguma coisa — e isso já fazia algum tempo. Servi um pouco do meu uísque favorito e bebi. Eu sempre acabava recorrendo à bebida, no fim da contas.
Sou bilionário, co-presidente de uma das empresas líderes mundiais em avanços tecnológicos, uma das pessoas mais importantes do mundo; Posso comprar o que eu quiser, ter qualquer mulher — é só sair por aí e escolher. Tenho tudo o que deveria ser suficiente para ser feliz, mas eu não era. Olhei para aquela cidade que eu chamava de minha. Tudo era tão grande, enquanto eu parecia tão pequeno; Era como uma formiga trilhando seu caminho entre arranha-céus. Eu me sentia desse modo por dentro. Qual era o sentido de ter praticamente tudo ao alcance de suas mãos se, a todo momento, parece que falta alguma coisa? Sentir-se vazio não é uma sensação legal. Estava totalmente sem rumo. Eu era como um garoto perdido e eu só queria que alguém me encontrasse e eu finalmente tivesse algo para qual voltar no final do dia... Só queria criar algo real.
Meu celular apitou, tirando-me daquele delírio no qual eu estava. Peguei e chequei a mensagem que havia chegado. Era de um ID bloqueado. Estranho.
“Quero minha máscara de volta. Está com a minha favorita.
Beco nos fundos da Corp. Onze da noite. Venha sozinho.”
Já eram onze e quinze da noite e eu estava naquele beco escuro atrás da minha empresa. Não havia nem sequer um sinal de Cherry Bomb. Considerei ir embora várias vezes, mas queria vê-la outra vez, falar com ela. Logo ela apareceu.
— Por que não está usando capa? — questionei, a observando.
— Porque não estou aqui a trabalho — falou simplesmente — Pode, por favor, devolver minha máscara preta? Não gosto muito dessa vermelha.
— É claro — entreguei o objeto à ela — Gostaria de saber quem você é.
— Sou a Cherry Bomb.
— Engraçadinha — revirei os olhos — Você entendeu o que eu quis dizer.
— Por que acha que estou usando o traje mesmo sem estar a trabalho? — indagou — Ninguém mais pode descobrir quem eu sou ou isso causaria um estrago enorme. Quem sabe minha identidade, possivelmente, acaba se machucando.
— Vou tentar descobrir que tipo de pessoa você é — brinquei.
— Pode falar — ela deu de ombros — Não vou concordar e nem discordar de nada.
— Eu acho que... — parei, pensando em algo para dizer — Acho que na sua “vida real”, vida humana, você é tipo as Kardashians.
— Quem? — ela gritou.
— As Kardashians. Socialites — ela continuou parecendo não entender — Reality show na televisão. Keeping Up With the Kardashians.
— Poderia, por favor, falar a minha língua?
— Está brincando comigo? — indaguei, sem acreditar — Realmente não sabe do que eu estou falando? — ela negou com a cabeça — De que século você é?
— Século XV.
— Wow, sério?
— Claro que não, idiota — ela revirou os olhos — Sou do século XX, o mesmo que você.
— Mas parece mais velha mesmo — comentei — Não saber quem são as Kardashians...
— Não tenho tempo para me adaptar.
— Você está realmente me deixando irritado agora — fiz careta.
— Percebi — ela riu, de canto — Você está verde. Está com raiva.
— Não estou verde — bufei — Não tenho superpoderes, você que tem.
— Tudo bem. Vou parar de tirar sarro antes que você fique gigante e saia batendo em todo mundo — ela tirou sarro — Mas sério, você fica meio verde quando fica assim. E por que diabos eu estava te irritando se eu nem fiz nada?
— É que você pareceu uma mulher que eu conhecia — suspirei — Ela nunca entendia as referências.
— Você disse que a conhecia, no passado. O que aconteceu?
— Agora eu mal falo com ela — contei — Não é ruim lembrar dela, é até bom. Só que eu me sinto um idiota quando penso nela. Eu perdi a oportunidade e a perdi.
— Como pode ter tanta certeza?
— Porque eu estou apaixonado e só consigo agir como um babaca, principalmente quando falo com ela — suspirei — E a me odeia.
— Quem? — ela pareceu surpresa.
— Ninguém — falei rápido demais — Nem sei porque estou falando disso. Você tem uma cidade para salvar e eu estou aqui tomando o seu tempo.
— Tem razão — ela disse antes de virar as costas e então parar, brevemente — Sobre não saber do que você estava falando: era sério. Eu nem mesmo consegui me adaptar com esses smartphones. Uma amiga teve que me ajudar a mandar aquela mensagem bloqueada para você.
Ri daquilo enquanto a observava partir. Pude ter certeza que vi algo brilhar em seu pescoço antes que ela virasse a esquina. Já tinha visto aquilo antes — tinha certeza disso.
Estava jogada no sofá da sala, assistindo a alguma série na Netflix, apenas relaxando e aproveitando o descanso. Desde ontem, quando o carro do fora atacado, nada de ruim havia acontecido. Em um dia de folga do trabalho, quando não tem nada para Cherry Bomb resolver, essa é minha rotina. Sofá, Netflix, bebida, cama, etc. Por um milagre, Gab estava aqui em casa hoje, mas quem disse que estava me fazendo companhia? Ela estava lá em cima, provavelmente trabalhando em alguma coisa doida. Fiquei surpresa quando alguém bateu na porta da minha casa. Kim deveria estar com a chave da minha irmã, então nem se incomodaria em chamar antes de entrar — eu já estava acostumada com isso. Levantei relutantemente e caminhei até a porta.
— ? — meu queixo caiu — O que diabos você está fazendo aqui? Não quero falar com você, a não ser que precise te entrevistar outra vez. Aliás, vê se você pode ser menos engraçadinho da próxima vez.
— Hey, calma — ele falou — Não vim aqui te atacar. Vim em paz.
— Duvido — soltei uma risada.
— Pode parar de debochar, por favor? — pediu — Não quero mais brigar, estou tentando reconciliar-me com você.
— Está brincando, não é? — continuei debochando. Eu queria muito que aquilo acontecesse, mas não podia deixa isso transparecer.
— — suspirou — É importante.
— Não quero falar com você, . Que saco! — empurrei a porta, mas ele a segurou antes que eu a batesse.
— Eu sei quem você é, Cherry Bomb — parei, repentinamente; Respirei fundo e abri a porta, o deixando entrar — Eu trouxe uísque.
— Ótimo, porque eu vou precisar e... — peguei dois copos e servi a bebida — Ual, você trouxe um dos caros.
— Porque é um momento importante, como eu disse — falou ao sentar ao meu lado — E eu realmente estava precisando falar com você sobre... Nós.
— Como você soube sobre a minha identidade secreta, que era eu? — perguntei após tomar uma dose de uísque; Gostaria de evitar o assunto “nós” no momento, mesmo que eu soubesse que não iria conseguir — Sei que você quase descobriu quando perdi a máscara, duas vezes, mas tenho certeza que não viu meu rosto.
— Ontem, com a CB, eu vi algo brilhando, balançando, quando ela se foi. Não dei muita atenção naquele instante, mas passei parte da noite de ontem e o dia de hoje inteiro pensando naquilo — contou-me — Foi quando me dei conta. O colar que sua mãe te deu! Você dificilmente o tira. É um objeto importante, você me contou quando... Bem, você sabe.
— Ai, meu deus! Tenho que tomar mais cuidado — resmunguei — Você realmente passou esse tempo todo pensando nisso? — ele concordou com a cabeça — Ah, baby, você está obcecado.
— Sempre estive, não é? — sugeriu — Acho que é por isso que estou aqui com você.
— Está mesmo admitindo isso para mim, cara a cara? — agora eu estava surpresa — Que quer estar aqui comigo?
— Ah, sobre o que falei ontem... — ele começou, mas já fiz sinal para que ele parasse.
— Não precisa retirar o que disse. Sei como você se sente sobre mim, você disse em voz alta — o lembrei — Só queria que tivesse se aberto comigo como conseguiu se abrir com a Cherry.
— Teria mudado alguma coisa? — perguntou, fazendo-me hesitar — Parecia mais fácil conversar sobre isso com ela. Mesmo que ela lembrasse você, eu não sabia qual era a identidade dela.
— Entendi, mais fácil.
— Como se sente sobre isso? — indagou, arqueei a sobrancelha.
— Essa garrafa de uísque caro que você trouxe está me ajudando a decidir isso — comentei, rindo.
— Essas garrafas sempre ajudam — concordou — Apesar de que, no outro dia, parece que você levou um golpe de um meta-humano com super força.
— Ah, acredite, isso já aconteceu comigo e você está completamente certo.
— Exceto que o golpe dói um pouco mais, não é? — falou e eu concordei, lembrando que ele também levou alguns golpes ontem.
— Kim ligou e disse que o carregamento chegou — ouvimos minha irmã gritar — Cadê você?
— No sofá — gritei de volta.
— Sério, ainda acho muito estranho termos que comprar um carregamento de coisas tecnológicas em nome do laboratório toda vez que precisamos fazer ajustes ou réplicas da sua roupa de... Puta merda! — ela gritou outra vez. Olhei para ela, que estava parada, surpresa, e sem reação.
— Gab, já sabe — falei — E antes que comece a perguntar, só termine de falar o que começou.
— Acho bizarro termos que comprar carregamentos para o laboratório quando precisamos arrumar sua roupa de Cherry Bomb ou fazer réplicas dela.
— Kim disse que se fizermos assim, fica mais difícil de descobrirem sobre mim — dei de ombros — E pelo menos o Strap Labs fica cada vez melhor. Pare de reclamar.
— Okay, já entendi. Vou deixar vocês dois sozinhos de novo — ela ergueu as mãos em sinal de rendição e eu estreitei os olhos — Desce lá embaixo que eu deixei algo para você — arqueei a sobrancelha — Rapha desenvolveu uma espécie de soro que vai te fazer recuperar as energias mais rápido quando estiver mal em uma batalha. Acho que você não vai curtir muito por causa de uma coisa... É injetável.
— Ai, que saco — resmunguei antes mesmo dela sair.
— Então, Rapha sabe — comentou — Tay também sabe?
— Não tem nem ideia. Detesto ele tanto quanto você — abri um sorriso — Vem comigo, vou te mostrar uma coisa.
Ele me seguiu. Teria que descer até o meu escritório pessoal, podemos assim dizer, e eu ia mostrá-lo a , já que ele estava ali. Esse era o único lugar fora do laboratório em que podíamos trabalhar — como CB e equipe — e também era onde eu guardava as réplicas do meu traje vermelho e preto. Mostrei o caminho até uma sala bem menor — que ficava trancada — e tirei o grosso tapete do chão.
— Sério que você tem um alçapão em uma sala escondida dentro da sua casa? — riu ao me ver abrir o caminho.
— Digamos que tenho minha própria batcaverna em casa — pisquei para ele.
observava tudo o que tinha aqui embaixo. Ele estava surpreso e, mais do que isso, estava impressionado. Era tão legal ver aquele olhar nos olhos dele. Fui atrás do que minha irmã disse que Rapha tinha mandado. Encontrei uma seringa com três vidrinhos que continham um líquido vermelho dentro. É, com certeza não gosto de coisas injetáveis.
— Então — aproximou-se bastante — Como é ser a Cherry Bomb?
— Em uma palavra: Complicado — virei-me de frente para ele — É uma sensação boa, na verdade, mas às vezes fica chato. É como um trabalho, mesmo que eu não seja paga para exercê-lo — respirei fundo — De qualquer modo, você não deveria estar aqui, tão perto de mim. Você deveria ir embora. Eu já disse que pessoas que eu gosto e sabem da minha identidade, acabam se machucando. Eu não quero que você acabe morto.
— Então você gosta de mim — constatou e eu concordei com a cabeça.
Ele me beijou. Era tão bom sentir seus lábios outra vez. O sentimento que eu tentava esconder estava ali outra vez, fora trazido à tona. Apesar de todas as merdas que aconteceram nas vezes em que tentamos ficar juntos, eu queria aquilo; Eu queria ele. Não importava quantas vezes tentávamos nos afastar, agindo como babacas quando ficávamos perto um do outro, sempre acabávamos voltando para isso.
— Não deveríamos fazer isso — mordi meu lábio — Você tem aquele sexto sentido bizarro, sabe que não vai dar certo. Quando a gente fica junto, coisas ruins acontecem.
— É, mas cada segundo vale a pena — afirmou, selando nossos lábios outra vez — Nós somos uma mistura química que cria o caos. Nós somos...
— Uma bomba relógio — completei, segurando firme em suas mãos — Estamos sempre prestes a explodir e causar um grande estrago. É por isso que me afastei; Você nunca deveria ter descoberto que CB e eu somos a mesma pessoa. Eu incendeio e explodo coisas e tenho inimigos. Não quero te prejudicar.
— — ele ia dizer mais alguma coisa, mas foi interrompido pelo meu celular. Atendi.
— Isso chegou para mim hoje, fui obrigada a colocar no ar — ouvi Mah com a voz aflita do outro lado da linha — Ela me ameaçou. Liga a televisão agora. Estou indo aí — e então ela desligou o telefone.
— Falando em inimigos...
Suspirei e liguei a TV que tinha ali embaixo. Era um vídeo gravado que o jornal estava rodando. Assim que eu vi aquela mulher, eu já sabia quem era, mesmo que seu rosto não fosse familiar. Ela me desafiou — a Cherry Bomb, no caso — para uma luta.
— Você vai? — perguntou, assim que desliguei a televisão.
— De jeito nenhum — falei, já preocupada — Vai ser a mesma droga de sempre. Lutamos e lutamos e lutamos e só nos machucamos. Ela não me mata, seja lá o por quê; E eu não mato ela, porque é contra os meus princípios.
— O que eu acho que é uma idiotice — Mah apareceu nas escadas, com Rapha logo atrás dela.
— Não se ganha a guerra com gentileza. Se ganha a guerra com coragem — Rapha disse.
— Tenho certeza que quando citaram isso no filme do Capitão América, não estavam falando de coragem para matar — intrometeu-se.
— E eu nem estou em uma guerra — fiz careta.
— Vocês entenderam o que eu quis dizer — Rapha revirou os olhos — O que ele está fazendo aqui embaixo, a propósito?
— Trouxe ele aqui, não importa — disse.
— Era ela, não era? — Mah perguntou-me e eu concordei.
— Quem é aquela mulher, afinal? — decidiu fazer a pergunta.
— A Sereia Laranja — Rapha disse.
— Eu nem sequer sei quem ela realmente é, muito menos porque ela me odeia — suspirei — Ela dificilmente aparece com o mesmo rosto, nunca me mostrou o seu verdadeiro. A única coisa que ela nunca muda é o cabelo laranja.
— Se você não lutar com essa Sereia Laranja — ele disse — Ela vai simplesmente ir embora?
— Provavelmente — dei de ombros — Mas ela sempre volta.
E ela voltou. Já fazia uns quatro meses desde que eu não fui até ela para lutar. Agora ela estava de volta... E eu estava mais ferrada do que nunca.
— O que aconteceu, afinal? — Mah questionou — Por que está tão nervosa?
— Lembra quando a Sereia Laranja me desafiou para uma luta e eu não quis ir? — ela concordou, atenta — Ela pegou Gab como refém e me mandou esse vídeo. Minha arqui-inimiga sabe da minha verdadeira identidade... E ela pegou minha irmã.
Passei o aparelho para que ela assistisse o vídeo. Rapha, Kim e Chris juntaram-se a ela para assistir. Estávamos no Strap Labs, Gab voltaria de viagem hoje e disse que chegaria logo. Agora eu estava pasma e em pânico, sem saber exatamente o que fazer. Meu estado só piorou quando ouvi novamente aquelas palavras ecoando pelo laboratório.
— Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades, . Venha me encontrar ou sua irmã morre, simples assim — ela pronunciava aquelas palavras com frieza e ódio — Mostre-me seu poder, Cherry Bomb.
— Ai meu deus! — Rapha resmungou — O que podemos fazer?
— Arrumar um jeito para que eu possa derrotá-la — falei, roendo as unhas — Não me olhem com essas expressões, não vou matar ninguém hoje.
— Gab não atende o celular — Kim Sang andava de um lado para o outro, nervoso, como todos nós.
— , problema — ouvi Rapha dizer e a encarei — Tay está vindo para cá, e agora?
— Foda-se o Taylor! Não importa mais se ele descobrir ou não a minha identidade...
— Se ele abrir a boca, é só matar ele — Chris tirou sarro e eu ri, por um breve momento.
— Onde diabos está o ? — gritei — Mas que merda! Ele não está respondendo minhas chamadas.
— Estou aqui — Taylor apareceu.
— Não estou falando de você, babaca — revirei os olhos — Não tenho tempo para lidar com cunhado chato, tenho que ir.
Saí da sala e fui trocar de roupa e colocar meu traje. Taylor ficou resmungando que eu tinha dado um coice nele e mais um monte de coisa, mas a expressão dele foi impagável. Logo voltei, já com o traje, porém, sem a máscara escondendo meu rosto.
— Você é a Cherry Bomb — Tay parecia perplexo — Eu sabia!
— Não, você não sabia — Rapha fez careta.
— Claro que sim — ele rebateu — estava obcecado pela Cherry, ela só podia ser a .
— Ele nem sabia que eu era a CB aquele dia, então pare — revirei os olhos — Tenho que ir ou a Sereia Laranja mata a minha irmã. E quanto ao ...
— Vamos dar um jeito de encontrá-lo — Kim disse — Só vai.
Vesti minha máscara preta e fui. Quando cheguei no porto da cidade — o local combinado —, o lugar já estava vazio, fora evacuado. Pelo menos isso a Sereia Laranja fez de bom — afastar as pessoas do local de batalha era sempre ótimo. Avistei Gab, amarrada a um pilar. Ela tinha a boca amordaçada e estava em pânico, como se fosse gritar a qualquer momento — mas ela não tinha como.
— Então você veio, Cherry Bomb — ela abriu um sorriso muito bonito.
— Você me obrigou a isso, não é? — cerrei os olhos.
— Tenho meus métodos, — ela piscou para mim, colocando uma mecha de seus cabelos laranjas para trás da orelha.
— Então, você sabe quem eu sou — comentei — Quero saber como. Mostre-me seu verdadeiro rosto, Sereia Laranja.
— Como queira.
Ela levantou uma argola grande em frente ao seu rosto e a rodopiou algumas vezes. Fala sério! O que aquela louca estava fazendo? Bem, seja lá o que tinha sido aquilo, pareceu funcionar. O ar ao seu redor mudou por alguns segundos e logo voltou ao normal. Então eu percebi que ela havia mudado. Seu rosto agora era outro, e ele parecia familiar para mim. Ela ainda era incrivelmente bonita, mesmo com aquela grande cicatriz que atravessava seu rosto. Quando consegui assimilar aquele rosto com alguém, meu queixo caiu. Eu a conhecia de muito tempo atrás.
— Ariel? — perguntei — Ai, meu deus. Eu pensei que você tivesse morrido!
— Era o que eu queria que todos pensassem — disse simplesmente.
— Mas por quê?
— Não importa — ela deu de ombros — A única coisa importante aqui é que você é a culpada por isso!
— Como assim? — indaguei, olhando bem para a cicatriz, a qual ela apontou ao me acusar.
— Você causou isso! — acusou-me — Seus poderes afloraram antes de todos nós e você fez aquele estrago gigantesco na escola. Pensa que não sei que foi você? — ela estreitou os olhos — Eu prezava tanto a minha beleza, você sempre soube disso.
— Sim, isso é verdade — concordei — E você nunca foi fútil, eu lembro.
— Não me interrompa — grunhiu — Você quase destruiu aquela parte da escola. Machucou-me muito, me causando essa cicatriz ridícula. Você deixou meu namorado a beira da morte! Sabia que ele morreu algumas semanas depois por causa daquele seu acidente? — neguei com a cabeça e Ariel esbravejou — É claro que não sabia! Você nem se importa. Só se importa com os seus — ela olhou de canto para onde Gab estava amarrada — Agora eu vou tirar de você aqueles com quem realmente se importa. Vai demorar tempo, mas vou levá-los... Um por um.
— Você ainda está linda — falei, e eu não estava mentindo — E foi mesmo um acidente, não pode me culpar por isso. Por favor, deixe minha irmã fora disso.
— Ah, querida, sua irmã nem mesmo está aqui — a olhei sem entender; ela pegou aquela argola e fez alguma coisa estranha que acabou a transformando em duas, e então Gab simplesmente desapareceu — Peguei ela apenas para gravar o vídeo, meu objetivo nunca foi a sua irmã.
Logo que ela acabou de pronunciar aquelas palavras, ouvi a voz de Rapha no meu comunicador, dizendo que Ariel estava falando a verdade. Gab havia chegado no laboratório e estava bem, porém, preocupada comigo.
— , você está bem? — ouvi Gab dizer.
— É bom ouvir sua voz, mana — suspirei, aliviada — Deixe-me falar com .
— Ele não está aqui — dessa vez foi Taylor quem falou — Não está atendendo nenhuma das ligações.
— Continuem tentando — falei pausadamente — Quero falar com o meu namorado!
— Não precisa nem se incomodar em fazer isso — a Sereia Laranja abriu um sorriso enorme.
— O que você realmente quer, Ari? — a questionei.
— Não ouse me chamar assim nunca mais, ouviu? — ameaçou, mas a ignorei.
— Eu não vou lutar com você.
— Claro que não vai lutar comigo, — ela gargalhou — Mas vai ter que lutar, de qualquer modo.
— Do que você está falando? — fiz careta — Eu não tenho por quê lutar.
— Ah, você tem, sim — ela apontou para trás de mim — Não por quê, mas por quem.
Virei para trás e estava ali. Eu sabia que não era uma ilusão, pois ela sempre usava aquelas argolas estranhas para isso. Corri até ele e o abracei. Pensei que ela estivesse o pegado. Ele não reagiu ao meu abraço, o que me fez gelar por dentro.
— , amor — chamei, segurando seu rosto, que estava com uma expressão vazia — O que ela fez para você? Volte para mim, baby.
— Pode parar, Cherry — Ariel riu — Ele só faz o que eu mandar. Conhece as lendas sobre o canto das sereias? Tenho o poder de controlar os homens.
— Deixe-o ir, por favor — pedi — Eu luto com você, faço o que quiser. Só o deixe ir.
— Mate a , sua namorada — a voz dela ecoava até nós — Mate a Cherry Bomb! Faça isso, . Mate a mulher que você ama.
Ele me pegou pelo pescoço e apertou o local. Demorou um pouco até que consegui me defender, tirando suas mãos dali. Saí correndo e tossindo, tentando voltar a respirar normalmente. Ouvi um estrondo e senti uma dor excruciante em meu ombro. O que? Agora ele tinha uma arma? Merda! Corri e me escondi atrás de algumas caixas.
— Gente! — gritei, ligando o comunicador.
— A gente sabe — algum deles disse — Estamos trabalhando nisso.
— Apressem-se — pressionei-os — Ou eu vou acabar morrendo aqui.
— Não pode morrer — Mah falou — Você tem poderes o suficiente para se manter viva.
— Eu não vou matar o cara que eu amo — gritei — Dêem um jeito.
Esperei até que chegasse mais perto e o ataquei, fazendo aquela arma voar longe. Bingo! Eu não podia lutar com ele. Meu poder o mataria. Precisava apenas me defender, sem o machucar muito. Mas... E se eu não conseguisse segurar a minha força? Afinal, eu tinha super-força! Isso era algo muito complicado. Levei alguns socos na barriga e um em cheio, bem na cara. Cuspi o sangue que senti em minha boca para longe. Fiquei um bom tempo assim, apenas defendendo-me de um ou outro golpe. Ele acertou muitos em mim. Eu estava bem mal já. Estava cada vez mais difícil de controlar a força.
— Aguenta só mais um pouquinho — ouvi Chris falar pelo comunicador — Eles estão indo.
— , aguenta — Mah reforçou, enquanto eu grunhia de dor pelos golpes que estava levando.
Soube que a espera e a dor valeram a pena quando vi meus amigos aparecerem. O problema foi que Ariel percebeu que sua ideia não daria certo para sempre. Então, ela me atacou, sem que eu me desse conta. Só percebi quando senti o baque e fui jogada para longe. Fiquei estirada no chão, sem muita força.
— Fica com a gente — ouvi Gab dizer, via comunicador — Os caras estão usando nosso mais novo aparelho. Ele bloqueia o encanto da voz da Sereia Laranja. E está funcionando, já que Taylor e Kim não estão me atacando — riu brevemente — Taylor tem um extra, ele vai usá-lo no .
— Você enrola demais — ouvi Tay reclamar e quis rir da situação — Preciso que você distraia meu irmão, Cherry Bomb.
— Sempre pensei que você ia deixá-lo para a morte — debochei.
— Cale a boca e o distraia! — ele rebateu.
— O que está esperando, baby? — levantei a cabeça, já gritando — Venha para mim, . Venha me matar.
E ele veio em minha direção, mais rápido do que antes. Ele realmente acreditava que queria me matar. Isso era um saco! É bom que Taylor consiga fazer essa merda funcionar. E conseguiu. Pude ver Tay colocando o aparelho em . Nunca pensei que veria isso, um salvando o outro. parecia estar voltando ao normal, tentando-se situar conforme os segundos passavam. Tay já havia saído de perto dele. Percebi então, que Ariel estava olhando diretamente para o meu namorado, preparando um provável ataque. Ah, mas ela não iria matar , não hoje! Respirei fundo e resgatei o resto das forças que eu tinha para que pudesse atacá-la antes que ela o atacasse. Pude sentir meus olhos mudarem — o que acontecia quando me esforçava demais para usar meus superpoderes — e soltei aquele poder de fogo pelas mãos, com força e vontade. Não ia matá-la, mas a machucaria bastante — o que já era mais do que o suficiente. Foi aí que ela fez uma coisa incrível, talvez fosse um tipo de truque, mas eu não conseguia entendê-lo. Meu ataque fora rebatido na direção de . Meu coração acelerou, pulsando rapidamente, e eu vi aquilo — o meu ataque — atingí-lo com força. Não!
Tive certeza que um grito saiu através de minha garganta, mas não estava atenta aos barulhos e ruídos. Assisti o corpo dele chocar-se contra o chão da rua e senti uma dor no coração. Quando voltei meu olhar para Ariel, pude vê-la retirando-se do local. Ela estava indo embora. Ela abriu um sorriso de lado; Era como se quisesse me dizer que aquela fora sua intenção desde o princípio. E provavelmente era mesmo. Ela só desejava que eu sofresse tanto quanto ela sofrera. As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Isso não podia estar acontecendo! Reuni o pouco de força que ainda havia me restado e arrastei-me, na base do possível, até onde estava. Chequei sua pulsação e pude sentí-la. Sorri brevemente. Ele ainda estava respirando. Senti um imenso alívio ao constatar que ele estava só desacordado. Joguei-me no chão, ao seu lado, e suspirei. Eu estava acabada, mas feliz por ainda estar vivo, assim como todos nós. Eu aproveitaria essa sensação o máximo que eu conseguisse, pois seria boa enquanto durasse; Mas eu estava ciente de que a Sereia Laranja sempre volta... E agora, pelo menos, eu sabia o motivo.
FIM
Nota da autora: Olá, como estão? Espero que tenham gostado dessa história doidinha que escrevi (só mais uma delas haha). Queria dizer também que a Sereia Laranja existe de verdade e que ela não é má na vida real... Bem, tirando as partes que ela mata os personagens e tal, mas quem sou eu para julgar isso, né? HAHAH Acho que é um milagre não ter matado nenhum dos pp nessa fic kkkkkkkk
Mas enfim, como disse: espero que tenham gostado <3
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Flavor of the Weak — (Outros/Finalizadas)
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(01/10/2015)