11 Formas de Dizer Eu Te Amo


Challenge #18

Nota: 8,5

Colocação:




“O que é o amor?
Algo impalpável, porém de intensidade tremenda. Mas como não posso tocar algo que dizem ser tão grande? Como posso sentir algo que não vejo?”

- Merda. – murmurei apagando pela décima ou talvez vigésima vez o conteúdo que tentava escrever na tela do notebook.
- O que foi Sunshine? – escutei a voz calma da minha avó logo atrás de mim. Virei-me com um sorriso amarelo no rosto. Eu sabia o quanto ela odiava que eu fosse, palavras dela, uma boca suja.
- Estou tentando escrever uma matéria à semana toda, mas assim que paro para escrever não sai nada. Já está frustrante. – murmurei a ultima parte só pra mim, mas pela forma como seus lábios tinham se curvado num sorriso doce, eu sabia que ela tinha escutado.
- E sobre o que você está tentando escrever? – senti o sofá ao meu lado afundar, tirei o notebook do meu colo e logo depois minha cabeça estava recostada nos ombros da mulher mais velha que passara a acariciar meus cabelos num cafuné gostoso me fazendo quase fechar os olhos.
- Amor.
- Amor?
- Ahan.
- Achei que gostasse mais das entrevistas.
- E gosto. É isso que eu faço na revista. Mas Louise teve que tirar licença maternidade antes do esperado devido ao parto prematuro e é ela que escreve sobre esse tipo de assunto. Diogo ia contratar alguém novo pra cobri-la nesse período, mas por ter sido antecipado ele não tem ninguém em mente. Ele escalou algumas pessoas, da equipe mesmo, pra fazerem os textos. Eu disse que faria um deles, mas parece que ele não levou muita fé. - sem que eu percebesse um suspiro irritado deixou meus lábios ao terminar a sentença.
- E porque ele não levaria fé? Seus textos são incríveis, Sunshine. E não estou dizendo isso como sua avó e sim como uma leitora assídua da “Entretanto”.
- Você não consegue ser imparcial quando o assunto são seus netos, Dona Elizabeth. – a vi fazer uma feição de falsa ofensa e logo depois começar a rir junto comigo.
- Mas isso não quer dizer que eu só te acho boa por ser minha neta. Você realmente é, ().
- Mesmo assim. Ele insiste em dizer que apesar de ser uma das suas melhores escritoras, eu tenho um bloqueio pra escrever sobre esse tema.
- E o que está te deixando mais irritada e que você não está me contando? – resmunguei derrotada.
- Talvez seja o fato de eu estar começando a achar que ele está certo.
- Não diga isso, (). – arrumei o corpo ficando de frente pra ela, pois sabia que quando ela me chamava pelo nome significava que a coisa era realmente séria.
- Não é porque você está tendo dificuldade em uma coisa que você não será capaz de realiza-la. Eu realmente não sei por que é tão difícil pra você dizer eu te amo, ou até mesmo escrever sobre isso, mas isso é algo seu. Algo que você terá que descobrir sozinha.
- Se eu não consigo dizer eu te amo pra alguém, quer dizer que eu não amo? – questionei assustada.
- Claro que não, doçura. Falar não é necessariamente sentir. Além do mais, não se resume apenas nas em três palavras.
- Como assim não se resume nas três palavras? Elas não significam tudo?
- Não exatamente. Como eu disse, não se resume apenas nessas três palavras. Não se esqueça disso.
- Eu.. eu não.. – eu estava realmente perdida agora - Ora, vovó! A senhora está me confundindo.
- Eu não estou confundindo você, (). Você é que está confusa por conta própria. Mas não se preocupe criança, você ainda tem muito que viver e que aprender.
...
- Bom dia. - foi a primeira coisa que ouvi ao ocupar a minha mesa aquela manhã. Virei-me sorrindo e retribuindo o cumprimento de Jasmine – Alguma evolução na matéria que Diogo te passou? – perguntou enquanto folheava os recados que estavam dispostos sobre sua mesa, que ficava ao lado da minha.
- Nada ainda. É como se um branco cobrisse minha mente todas as vezes que começo a escrever. – suspirei me jogando sobre a minha cadeira de modo desengonçado.
- Talvez algum relacionamento anterior seu esteja te bloqueando ou algo do tipo, sabe. Alguma decepção amorosa de algum casinho de colegial.
- Minha total inércia em relação ao amor não me associa necessariamente a grandes fracassos amorosos. Eu só.. só não consigo expressa-lo.
- Se você diz. – levantou os braços em sinal de rendição.
- ()? – a secretária de Diogo apareceu na nossa frente e após ver que tinha minha atenção continuou – Diogo pediu pra que você fosse a sala dele assim que chegasse. – a agradeci por ter passado o recado e segui até a sala como havia sido orientada.
...
- Jasmine, cancele o quer que você tenha pra hoje à noite. – voltei a minha mesa chamando a atenção da minha amiga que me olhou arqueando a sobrancelha – Hoje você vai me ajudar a arrumar as malas.
- Malas? – questionou ainda confusa.
- É, malas. Vou viajar amanhã.
- Como você vai viajar amanhã e só me avisa agora, criatura? – girou a cadeira na minha direção ficando de frente pra mim.
- Porque eu também não sabia até o Diogo me chamar na sala dele.
- Mas pra onde você vai?
- Ainda preciso me decidir. Só sei que tenho um mês no exterior pra conseguir fazer aquela matéria.
- Me explica isso direito que não estou entendendo nada.
- Nosso querido editor chefe me deu passe livre pra quatro países da minha escolha, só pediu pra que fosse de continentes diferentes uns dos outros, incluindo um país na América que não seja o nosso. – comecei já buscando por possíveis destinos na internet – Ele disse que eu preciso quebrar esse bloqueio para colocar mais sentimento no que eu escrevo e já que eu ainda não tirei férias esse ano ele me incumbiu de passar pelos quatro cantos do mundo pra produzir uma matéria que desperte o meu lado escritora sensível.
- Ual, tá podendo hein. – disse rindo e me fazendo fazer um toque de mãos típico de adolescentes aumentando ainda mais nossos risos.
- E como você vai decidir pra onde está indo? Pelo que disse você já sai de viagem amanhã.
- Vou sortear algum pela internet mesmo.
- Você simplesmente vai sortear um país aleatório? Não é mais fácil escolher cada um de acordo com as suas afinidades?
- Talvez, mas essa viagem já vai ser uma experiência não planejada, então que seja assim como um todo.
- Pensando por esse lado. Mas como você vai conseguir passagens e hospedagem assim tão em cima da hora?
- Diogo tem alguns amigos nos Estados Unidos, mas precisamente em Nova York e já que lá sempre foi um lugar que eu sonhei conhecer, decidimos que minha viagem começaria lá. Ele ficou de fazer algumas ligações e me conseguir um lugar pra ficar e alguém que possa me servir de guia pelo menos no começo.
- Tudo bem, já temos a América então. Agora você precisa escolher mais três. – disse arrastando sua cadeira até ao lado da minha para que tivesse acesso ao meu computador e as pesquisas que eu fazia. Sorri ao perceber que ela havia largado o que estava fazendo pra me ajudar, eu tinha sorte de tê-la como amiga. - Achei uma página aqui que lista os países por número em cada continente. Eu te falo um continente e você me diz um número, aí vemos pra qual país você vai.
- Ok.
- Começando pela Ásia, fala um número.
- 35 – respondi rápido sem para pra pensar.
- Índia. Agora na Europa?
- 22 – respondi mais devagar dessa vez a vendo sorrir assim que pareceu ter encontrado o número, sorrindo maliciosa depois.
- Você vai pra terra das touradas.
- Espanha? – perguntei e ela concordou ainda mais animada.
- Se você encontrar com um Antonio Banderas da vida por lá, não se esqueça da sua querida amiga aqui hein?
- Agora entendi a do olhar malicioso. – respondi rindo vendo-a dar de ombros – Tudo bem, agora 47 pra África.
- 47, 47. – Jasmine murmurava pra si mesmo enquanto descia a barra de rolagem da página – Aqui! Egito.
- Ok, primeira parada Estados Unidos, depois Índia, terceira Espanha e por último Egito. – respondi anotando a ordem na minha agenda. – Agora só preciso conseguir as passagens, com a hospedagem eu me preocupo quando chegar lá.
- Quantos dias vai ficar em cada destino?
- Eu tenho um mês, então acho mais fácil dividir de forma igual entre eles.
- Tudo bem, você compra as passagens para os dois primeiros destinos enquanto eu compro pros que sobrarem. – Jasmine voltou pra sua mesa e pouco depois pude ouvi-la no telefone com alguma agência de viagens. Segui seus passos começando a pesquisar horários de voo pra amanhã.
...
- Onde você arrumou esse casaco desse tamanho? – Jasmine perguntou ao erguer o grosso pedaço de tecido que eu havia acabado de separar sobre a minha cama.
- Pra falar a verdade eu nem sei. Estava no quartinho de coisas que vovó costuma guardar. Só sei que ele foi minha salvação, já que chegarei à Nova York em pleno inverno.
- Oh! – ouvi-a soltar uma espécie de som de satisfação – Você vai ver neve de verdade! – exclamou me fazendo sorrir pra sua expressão que me lembrava muito a de uma criança quando ganha um chocolate.
- Provavelmente.
- Você precisa fazer um boneco de neve e fotografá-lo pra mim.
- Como assim?
- Tipo aqueles que aparecem em filmes com nariz de cenoura, cachecóis e tudo mais.
- Eu posso tentar, mas pelos meus talentos manuais já posso te garantir que não vai se parecer nada como um boneco de neve. – comentei já visualizando o quão catastrófico seria meu boneco. – Deus! Minha mala é uma completa confusão. – murmurei ao visualizar todos os tipos possíveis de roupas ali, desde moletons a regatas.
- Não é pra menos, você vai pra quatro pontos diferentes do globo. Vai passar por sensações térmicas totalmente opostas, sem contar nas estações diferentes.
- Ao mesmo tempo em que estou animada, estou assustada com isso tudo.
- Não se preocupe, vai dar tudo certo. – Jasmine deixou de lado o que fazia para me encarar – Você vai viajar e vai escrever a melhor matéria que aquela revista já viu e de quebra ainda vai descolar um namorado em cada um os continente. – tive de rir com seu último comentário, logo depois me jogando em sua direção e lhe dando um abraço apertado.
- Vou sentir saudades, Jas.
- Eu sei que vai. – respondeu dando de ombros rindo em seguida assim que atingi seu ombro com uma espécie de tapa. – Eu também vou sentir sua falta.
- Duvido, Jorge vai me substituir esses dias. Aposto que não vai nem se lembrar de mim quando estiver secando o estagiário gato na mesa ao lado.
- Você tem razão. – fiz uma cara ofendida a fazendo rir mais – Estou brincando, (). Nenhum gostosão pode suprir as nossas horas diárias de fofoca.
- Acho bom mesmo. Agora vamos agilizar aqui que eu ainda tenho que fazer o jantar. Papai deve estar chegando com Thomas.
- Falando nisso, quem vai ajuda-los enquanto você estiver fora? Se precisar posso passar por aqui todos os dias depois que sair da revista. Pelo menos pra dar uma mão com o jantar e algo que estiverem precisando.
- Não se preocupe, já falei com a vovó e ela ficou de passar esses dias aqui até eu estar de volta. Mas não dispenso sua disponibilidade, principalmente pra me mandar notícias daqueles dois. Por mais que sei que ficaram bem ainda me preocupo, principalmente por ficar tanto tempo longe de Thomas.
- Virei aqui pelo menos umas duas vezes por semana e te manterei informada.
- Obrigada, fico mais tranquila assim. Principalmente porque sei que vovó evitará me contar se qualquer coisa acontecer. Ela quer que eu aproveite ao máximo essa oportunidade e hesitaria em me dizer se acontecesse algo que ela julgasse que me desconcentraria e me faria querer voltar e cancelar o restante da viajem.
- Estou à disposição. Falando nisso, você quer carona para o aeroporto amanhã?
- Não precisa. Vou de ônibus mesmo, assim não atraso ninguém.
- O como você vai entrar com esse tamanho de mala em um ônibus? – perguntou me fazendo bater na própria testa devido ao esquecimento.
- Pego um táxi então. Tinha me esquecido totalmente do fator mala. – comentei e ela riu de mim.
- Ok. Vamos conferir se você pegou tudo. Eu vou falando e você confere. – afirmei com a cabeça e ela começou – Roupa íntima?
- Ok.
- Roupas de frio, calor, meia estação? – perguntou e eu olhei a mala de modo geral achando tudo ali.
- Ok.
- Absorventes?
- Ok
- Remédios de emergência?
- Ok
- Documentos, passaportes?
- Ok para os dois.
- Celular, carregador, adaptador?
- Faltam os dois últimos, espera ai. – abri a gaveta pegando o adaptador e achando meu carregador sobre a cama colocando ambos dentro da mala. – Pronto.
- Sua agenda?
- Tá aqui.
- Saco de dormir?
- Não sei por que estou levando, mas está aqui. – apontei para o objeto que pra mim era apenas peso morto na mala, mas Jasmine falou tanto na minha cabeça que resolvi levar.
- Nunca se sabe o que pode acontecer numa viajem, (). É preciso se precaver. – dei de ombros não querendo discutir. – Bom, acho que isso é tudo. Então eu já vou indo, antes que fique muito tarde.
- Espera o jantar. Vou fazer torta de frango.
- Oferta tentadora, mas tenho mesmo que ir. Tenho que revisar uma matéria pra amanhã.
- Tudo bem. Acho que te vejo daqui um mês então.
- Boa viajem, amiga. – disse me abraçando – Não se esqueça de me ligar e mandar mensagem todos os dias.
- Pode deixar. – fiz uma espécie de continência que a fez revirar os olhos rindo.
- Espero que se divirta. Beije muito e não esqueça, quero um cartão-postal de cada lugar que você for. E se encontrar algum Don Juan na Espanha, não se esqueça de ver se ele tem um amigo pra me apresentar. – piscou maliciosa já em direção à porta. Jasmine definitivamente tinha algum tipo de tara por espanhóis.
...
- Não se esqueça de colocar o lixo pra rua e não lave roupas brancas com coloridas. Eu deixei algumas comidas no congelador, deve dar pra primeira semana, depois vocês vão precisar fazer comprar e não deix...
- Hei, respira. Até parece que você é o pai aqui. – papai chamou minha atenção, risonho. – Nós vamos ficar bem. Sabemos nos virar
- Eu sei. Só estou um pouco nervosa. É a primeira vez que vou sair do país e ainda de quebra vou ter que deixar vocês pra trás.
- Você não está nos deixando pra trás. Só está indo trabalhar. E não se preocupe, ficaremos bem, não é Thomas. – perguntou ao menino que acabava de tomar seu café da manhã. Meu irmão confirmou largando o copo com leite e vindo em minha direção.
- Vou sentir sua falta príncipe. – falei me abaixando a sua altura e o envolvendo em um abraço forte.
- Eu vou sentir sua falta também. – Thomas respondeu dando um beijo demorado na minha bochecha.
- Cuida do papai pra mim, tá bom? – o vi acenar positivamente. O apertei novamente em um abraço enchendo seu rosto de beijos e sorrindo ao ouvir sua gargalhada. Virei-me novamente pro mais velho - Não deixa ele comer doce antes de almoçar senão ele não come direito. E não se esquece de manda-lo escovar os dentes na hora de dormir, porque esse lerdinho aqui sempre quer me passar à perna nessa hora. – falei vendo Thomas soltar uma risada gostosa me fazendo sorrir automaticamente. – Acho que é isso. A vovó deve chegar mais tarde pra ficar com Thomas depois da aula pra você trabalhar. Qualquer coisa me liga. – terminei de falar enquanto era abraçada pelos dois numa espécie de abraço de urso. Suspirei indo em direção ao táxi que me esperava estacionado em frente à porta de casa. Próxima parada, Estado Unidos da América.
...
Paralisei a me ver perdida naquele monte de gente assim que desembarque em solo nova-iorquino. Peguei minha mala na esteira e apesar da grande quantidade de placas indicativas, eu ainda não conseguia me localizar e muito menos saber pra onde teria que ir. Tentei algumas vezes chamar por alguém que se esbarrava em mim pra pedir qualquer tipo de ajuda que me tirasse daquele formigueiro de gente, mas todos parecia ocupados de mais pra ajudar qualquer um. Continuei a olhar perdida para todos os lados até visualizar ao longe uma silhueta segurando uma folha que continha meu nome. Encaminhei-me rapidamente ao local chamando a atenção do que agora podia distinguir ser um rapaz.
- ()?- perguntou ao me encarar parada a sua frente.
- Sim, sou eu.
- Sou Patrick Coll, amigo de Diogo. É um prazer conhece-la.
- O prazer é todo meu. – suspirei aliviada por ter encontrado alguém que me tiraria daquele mutuado de gente, mas eu estava enganada por me sentir aliviada. Assim que saímos do aeroporto e seguimos em direção ao carro de Patrick me assustei por ver que do lado de fora era ainda mais lotado e as pessoas pareciam ter ainda mais pressa. – Parece que estão todos em uma maratona. – comente chamando a atenção do rapaz que colocava minhas malas no porta mala o mesmo riu antes de me responder.
- Isso é porque você ainda não viu o metrô. – comentou divertido - Viver aqui é praticamente uma maratona. Nós parecemos estar ligados e agitados vinte quatro horas por dia. Acostumamo-nos a viver assim, é o nosso ritmo.
- Não sei se me acostumaria a algo assim.
- Estamos sujeitos a nos adaptar a diferentes situações. Acredito que não seria diferente nesse caso.
- Talvez você esteja certo. Mas ainda é estranho. É como se cada um que passa por você está em sua bolha particular, envolvido demais pra qualquer outra coisa.
- Você vai ver como vai se acostumar nos dias que ficar aqui. Mas você já tem algum lugar em mente que quer conhecer, algum ponto turístico? – perguntou assim que entramos no carro.
- Ainda não, eu soube que viajaria só ontem então não tive muito tempo pra pensar nos detalhes.
- Certo. O que acha de irmos pro meu apartamento, eu deixei um quarto arrumado lá pra você assim que Diogo falou comigo. Podemos jantar e você aproveita pra descansar e amanhã começamos o nosso tur pela cidade?
- Parece uma ótima ideia pra mim. Só não quero incomodá-lo, já estou muito agradecida pela hospedagem, mas não quero que deixe sua rotina por minha conta.
- Não se preocupe, estou de folga essa semana e será um prazer te acompanhar. É como dizem, amigos dos meus amigos são meus amigos também.
...
- Vou deixar suas malas no quarto e te mostrar onde é cada cômodo da casa. Fique a vontade pra descansar e tomar um banho. Pode usar a banheira se quiser. – segui Patrick casa adentro. O lugar não era muito grande, mas era incrivelmente bem decorado e charmoso. Tinha um toque vintage encantador que pelo pouco que conheci do rapaz que me acolheria, era sua cara. Assim que cheguei ao quarto destinado a mim me encantei com um quadro enorme que ele tinha em uma das paredes. O quadro era uma paisagem que fazia referência à famosa capa do álbum Abbey Road dos Beatles.
Segui a sugestão de Patrick e resolvi tomar um banho. Confesso que fiquei tentada ao ver a enorme banheira que tinha na suíte, mas optei por um banho mais rápido. Aproveitei para ligar pra casa e avisar que tinha chegado bem e que já estava instalada. Mandei mensagem para Jasmine e decidi ir procurar o dono da casa, talvez ele precisasse de ajuda em alguma coisa. Aproximei-me do que pareceu ser a cozinha o que confirme ir instantes depois ao entrar no cômodo. Patrick estava ali concentrado enquanto picava alguma coisa que devido sua posição não pude identificar. Aproveitei para reparar melhor no rapaz de cabelos claros. Ele tinha um porte atlético, era consideravelmente mais alto que eu e quando ele se virou ao notar minha presença pude notar que seus olhos tinham um leve tom azulado.
- Você está aí. – sorriu pra mim e eu retribuí. – Estou providenciando nosso jantar.
- Quer ajuda?
- Não precisa.
- Eu insisto. – me aproximei dele esperando por alguma sugestão do que pudesse ajudar.
- Se é assim, você pode ir cortando esses legumes enquanto eu vou adiantando a massa do cheesecake.
- Você sabe fazer cheesecake? – perguntei curiosa com um leve espanto na voz.
- Eu sei que acabamos de nos conhecer, mas isso não é motivo pra duvidar dos meus dotes culinários. – fez uma cara de ofendido me fazendo rir.
- Não foi minha intenção. É que é uma das minhas sobremesas favoritas, só que não é muito comum no Brasil.
- Então vou te ensinar a fazer o famoso cheesecake estilo Nova York, assim quando estiver com vontade de comer você mesma pode fazer.
- Sério?
- Ahan. Vem aqui que vamos começar pela massa. – ele me deu um avental o qual coloquei e logo depois começou a citar os ingredientes enquanto eu os colocava no recipiente e fazia o procedimento do modo que ele ensinava. Terminamos a massa e a levamos pra geladeira enquanto começávamos a próxima etapa da receita.
- O que te trouxe aqui, ()? – Patrick perguntou de modo aleatório enquanto nos movimentávamos pela cozinha.
- Amor.
- Amor? Veio atrás de algum namorado? – perguntou deixando os ingredientes de lado para me olhar.
- Oh não. – me aprecei em negar assim que percebi o quão relativo foi minha resposta. – Estou aqui pra entender sobre o amor. Esse é o tema da minha próxima matéria.
- Hum. – respondeu simplesmente acrescentando o restante dos ingredientes do creme de queijo na batedeira – Love, amor, liebe, amour – continuou murmurando me chamando atenção.
- De todos os seus amores falados, não consegui identificar o terceiro. – comecei chamando sua atenção pra mim.
- Liebe? – perguntou me fazendo acenar positivamente – É em alemão. Meu bisavô era alemão, por isso meu interesse na língua.
- Você é fluente? – questionei misturando os ingredientes do modo que ele me instruía.
- Nas línguas que acabei de citar sim. – respondeu simples me fazendo para o que fazia para encará-lo espantada.
- Todas elas? – ele riu da minha expressão.
- Sim. O inglês já é minha língua oficial, o alemão por causa do meu bisavô, como eu tinha dito. O espanhol veio devido a interesse profissional e por fim o francês, que foi mais por eu sempre ter achado a pronuncia muito envolvedora.
- Fala três línguas além da sua língua oficial e ainda sabe cozinhar? Você é o genro dos sonhos de qualquer mãe. – brinquei o fazendo sorrir.
- Seria da sua? – perguntou com uma piscadela fazendo meu sorriso sumir aos poucos.
- Talvez, se ela anda estivesse aqui. – murmurei fazendo-o me olhar com uma sobrancelha arqueada - Ela morreu horas depois de dar a luz ao meu irmão. Teve complicações no parto, que se agravaram e apesar do esforço dos médicos não foi possível salvá-la. - murmurei sorrindo fraco para o sinto muito que se seguiu de Patrick.
- Vamos colocar nosso cheesecake no forno. – Patrick comentou depois de alguns minutos de silencio e agradeci mentalmente por isso.
- É só despejar na forma onde já colocamos a massa?
- Isso. Agora ele deve ficar no forno por uns quinze minutos em temperatura alta. Depois abaixamos o fogo e deixamos por mais uma hora ou uma hora e meia, até que as laterais estejam firmes, mas o centro ainda esteja levemente mole.
-Depois está pronto?
- Ainda não. Temos que fazer o creme da cobertura e colocamos nele ainda quente e voltamos ao formo por mais uns quinze minutos.
- É bem demorado. – comentei assim que colocamos o cheesecake no forno já preaquecido.
- Um pouco. Mas estamos falando de um clássico nova-iorquino, então vale a pena.
- Isso eu só vou falar assim que provar. – comentei pegando as vasilhas que havíamos sujado e começando a lavá-las.
- Mas você não disse que adora cheesecake?
- Disse, mas nunca provei o típico nova-iorquino.
- Tenho certeza que você vai adorar. Sabia que o cheesecake na verdade surgiu na Grécia?
- Na Grécia?
- Exatamente. Acredita-se que foi servido aos atletas da primeira Olimpíada, em 776 a.C., como uma espécie de bolo de queijo cru.
- Mas como chegaram à receita que temos hoje? – perguntei curiosa.
- O mais aceito é que ao conquistarem a Grécia, os romanos adaptaram a receita, passando a adicionar ovos na mistura e a levando ao forno. Só no final do século XIX que o famoso cream cheese que conhecemos foi incorporado ao doce.
- Interessante, agora eu aprendi não só a produzir um cheesecake como sei a história dele. - comentei convencida fazendo-o rir. Comecei a caminhar pelo cômodo enquanto esperava o jantar ficar pronto até que algo me chamou atenção – Meu Deus! É uma escultura do D’Lucca? – perguntei me aproximando para olhar o objeto de perto.
- Sim. Você o conhece? – perguntou se aproximando de mim.
- Infelizmente não pessoalmente, mas sou uma grande fã dos seus trabalhos. Acho fantástica a forma como ele retrata a vida em suas obras.
- Acho que nunca conheci ninguém que gostasse tanto dele assim. É bonito ver o que a arte pode despertar nas pessoas. – ele comentou pegando a escultura, que devia ter aproximadamente uns trinta centímetros, e a entregou em minhas mãos. – É sua.
- Como assim é minha?
- É um presente. Estou te dando ela.
- Eu não posso aceitar, ela deve custar uma fortuna. – recusei a entregando de volta a ele.
- Não importa. Eu tenho outros trabalhos dele e como eu disse é bonito ver pessoas que admiram trabalhos como esse. – insistiu tentando me devolve-la, mas eu apenas recusei.
- Eu fico lisonjeada, mas realmente não posso aceitar um presente tão caro assim. – assim que acabei de falar ouvimos o timer da cozinha tocar e eu agradeci mentalmente por ele ter me tirado dessa situação embaraçosa.
...
- Conseguiu alguma coisa pra sua matéria? – Patrick perguntou. Havíamos acabado de chegar ao aeroporto onde eu me despediria da América e seguiria rumo a Ásia. – De qualquer modo espero que tenha gostado do país. – ele demorou algum tempo para tirar minha mala do carro e tive a ligeira impressão de tê-lo visto abri-la e logo depois fechá-la antes de me entregar.
- Não consegui nada ainda. – respondi desanimada. Apesar de ter adorado todos os passeios e lugares que conheci, a primeira página da agenda que eu havia levado para começar a matéria estava totalmente intacta. - Pra ser sincera fiquei um pouco frustrada com o país de um modo geral. Talvez pelo fato de eu ter criado muitas expectativas. Não sei ao certo, mas as pessoas aqui parecem impessoais demais. Ligadas demais em seus mundos e desligadas demais dos outros, não parecem muito receptivas. Pra falar a verdade você parece ser a exceção à regra. Não sei nem como te agradecer pela disposição de ter me aturado esses dias todos. – rimos juntos assim que acabei de falar.
- Sinto muito não ter sido de grande ajuda com a matéria, mas como eu comentei com você, não acredito que tenha muito a lhe acrescentar sobre isso.
- Você foi formidável, Patrick. Estou mais do que agradecida pela sua disponibilidade em ter dado uma de guia turístico. Apesar da minha impressão sobre o país não acho que não ter conseguido escrever nada seja só por isso, acredito que ainda não consegui quebrar essa “barreira” como Diogo gosta de dizer.
- Bom, eu espero que até o fim da sua jornada pelo mundo você consiga.
- Eu também espero. – ouvi o anuncio do meu voo e me preparei para partir. Despedi-me de Patrick o agradecendo novamente e prometendo manter contato e quem sabe vir visita-lo futuramente.
- ()? – Patrick me chamou me fazendo parar alguns passos antes de chegar à fila de embarque – Quer saber realmente a minha opinião sobre o amor? – perguntou com a voz um tom mais alto devido a distância que estávamos. Acenei com a cabeça e o mesmo sorriu antes de continuar - O amor é como o Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa. – O encarei esperando que ele continuasse me dizendo que aquilo era um tipo de piada. Assim que abri a boca para questioná-lo ouvi o último anúncio para o embarque do meu voo me distraindo por um segundo e quando procurei novamente por Patrick o mesmo já estava perdido no meio do fluxo de pessoas.
...
- Namastê. – foi à primeira coisa que ouvi ao pisar em solo indiano. O caos de pessoas indo e vindo parecia quase que o mesmo de Nova York, porém a diversidade de cores nas vestes da maioria das pessoas que passavam por mim fazia um contraste enorme realçar sobre meus olhos. Procurei algum tipo de transporte para que pudesse chegar até o local onde havia reservado um quarto para passar esses dias. Procurei por um táxi, mas os únicos veículos que pareciam exercer essa função aqui eram uma espécie de triciclos que tinham suas laterais praticamente abertas. Aproximei-me de um desses veículos que estavam vagos e estendi o papel no qual tinha anotado o endereço. O motorista era um rapaz aparentemente novo, cabelos e olhos escuros, e mantinha uma barba aparentemente bem cuidada. Ele leu o papel que eu lhe estendi e afirmou que me levaria até lá. Suspirei aliviada ao notar que o mesmo falava inglês, o que faria nossa comunicação muito mais fácil.
- A senhora não é da Índia, Narrin? – o rapaz que conduzia o veículo perguntou.
- Não. Eu sou brasileira, vim aqui a trabalho.
- Veio procurar negócios auspiciosos na Índia?
- Não exatamente, eu sou escritora. Estou viajando pra escrever algo para o lugar onde trabalho.
- Vai ficar muitos dias? – perguntou assim que paramos para esperar que uma vaca passasse e pude ouvi-lo murmurar uma espécie de reverencia ao animal.
- Não muitos, apenas pra conhecer um pouco o país e tentar escrever algo.
- E sobre o que você escreve? – soltei um riso ao notar o quão curioso ele era, me preparando para responder, pois naquela bagunça que era o trânsito ali possivelmente demoraria algum tempo até que eu conseguisse chegar onde precisava e não seria ruim que eu já buscasse por algumas informações sobre a cultura local.
- Não é sobre o que eu escrevo, é sobre o que tenho que escrever. – notei sua expressão confusa continuando logo em seguida – Amor, preciso escrever sobre o amor.
- Mas porque teve que vir pra Índia pra saber sobre o amor?
- Eu não consigo escrever sobre ele. Acredito que se pudesse entender como é o amor em diferentes lugares do mundo, talvez eu consiga escrever sobre ele.
- Aqui na Índia, nos acreditamos no amor que construímos. – o rapaz começou tirando minha atenção das ruas movimentadas pra ele.
- Como assim vocês constroem o amor,...? – finalizei a sentença indicando que eu ainda não sabia seu nome.
- Naveen, pode me chamar de Naveen.
- É um prazer Naveen. Eu sou (). Mas como eu estava dizendo, como vocês constroem o amor de vocês?
- Quando chegamos à idade certa, nossas famílias escolhem com quem iremos casar. Um sacerdote vê se o casamento é auspicioso, ele acompanha as negociações do dote da noiva junto às duas famílias.
- Mas quando os noivos se conhecem?
- No dia do casamento. – respondeu simples me fazendo olhá-lo com espanto.
- Só se conhecem no dia do casamento?
- Tik He. Nos conhecemos no dia que casamos. Por isso aqui na Índia temos o costume de construir nosso amor. Cada dia, cada ação é como um tijolo que vamos colocando para construir uma casa.
- Interessante. – murmurei mais pra mim mesma – Naveen? – chamei novamente sua atenção o fazendo me olhar momentaneamente e acenar antes de voltar o olhar para as ruas - Assim que cheguei à primeira coisa que ouvi parece ser a saudação de vocês, como é mesmo, na...nam..namas. – eu falava tentando recordar a pronuncia correta da palavra.
- Namastê. – Naveen respondeu sorrindo.
- Isso, Namastê. – falei, mas minha pronuncia parecia totalmente diferente da dele.
- Namastê. – ele repetiu mais devagar dessa vez e depois de mais algumas tentativas, o som que saiu da minha boca pareceu bem parecido ao dele.
- O que quer dizer esse cumprimento? É algo como um olá ou um oi?
- Basicamente, é a expressão que usamos quando encontramos alguém e quando vamos nos despedir. Para nos indianos as palavras tem um poder muito grande. Naveen sabe como as palavras tem força, por isso sempre pensa muito bem antes de deixar que elas saiam de sua boca.
- Então o que quer dizer Namastê? – perguntei novamente, eu tinha gostado de pronunciar a expressão depois de aprendê-la da forma correta.
- Quer dizer “O Deus em mim saúda o Deus em você”.
- Que bonito isso.
- É muito bonito mesmo. Por isso não podemos deixar de saudar alguém quando nos encontramos.
- Você conhece muito bem tudo por aqui. – elogio. Logo uma ideia surgiu na minha cabeça – O que acha de ser meu guia? Eu posso te pagar o que você costuma ganhar nos dias que estiver a minha disposição e você pode me mostrar mais da cultura e do país.
- Seria uma honra para Naveen falar sobre sua cultura e seus costumes para a senhora.
- Temos um acordo então.
...
- Cruzes, isso tem muita pimenta. – murmurei ao engolir com custo uma pequena quantidade de uma das bebidas que parecia ser uma das mais comuns aqui. Naveen riu ao meu lado ao me ver formar uma careta.
- Está acostumada com pouca pimenta no seu chai?
- Sinceramente não estou acostumada com pimenta nenhuma.
-Are Baba! Vocês não colocam pimenta no chai de vocês? – foi sua vez de fazer uma careta.
- Não colocamos. Pra falar a verdade vocês usam muito mais pimenta que nós.
- Mas é claro, pimenta dá sabor, dá força aos alimentos. Nahin, se não há pimenta, não há gosto, não há sabor. Nahin, nahin. – Tive que rir do quão indignado ele ficou. Aquele era meu terceiro dia na Índia e ainda não tinha me acostumado com a maneira como eles usavam a pimenta e alguns temperos. Olhei para a agenda que tinha em mãos e fiquei feliz por ter algumas coisas anotadas ali. Nada que estivesse pronto para ser publicado, longe disso, mas já era alguma coisa ter algumas frases e dados anotados, visto que a única anotação que tinha da viajem anterior era a frase encabulada que Patrick me disse antes que eu partisse. Frase a qual eu anotara sem nenhum motivo concreto, já que ainda não a entendia de maneira nenhuma. Terminamos de comer e eu tirei a quantidade certa de rupias, moeda oficial do país, para pagar pelo lanche. Saímos andando pela confusão que era aquelas ruas.
- O que a Senhora achou do templo de Ganesha?
- É simplesmente lindo. – respondi a Naveen. Eu tinha ficado encantada com a riqueza de detalhes e com o quão adorado aquele deus era pros indianos.
- Ganesha é o primeiro filho de Shiva e Parvati. Ele é o mestre do intelecto e da sabedoria. É o Deus da Boa Fortuna e também o Destruidor de Obstáculos de ordem material ou espiritual. – me explicou com gosto.
- Você parece ser muito ligado a ele. – comentei.
- Naveen é muito ligado aos costumes, (). Principalmente ao hinduísmo. Naveen sabe que não deve chatear ou afrontar os deuses. É preciso que o homem se agarre aquilo que acredita. Que siga aquilo que sai de sua boca. Por isso Naveen segue os costumes, porque ele acredita na sua religião e enquanto Naveen acreditar, Naveen será feliz e terá prosperidade. – explicou. Concordei com a cabeça escrevendo partes de seu relato, não deixando de dar ênfase no costume deles de usarem da terceira pessoa ao relatarem algo sobre eles mesmos.
- Onde é isso? – o ouvi perguntar apontando para meu marcador de páginas.
- Rio de Janeiro. É um estado brasileiro. Trouxe como lembrança em uma da vez que passei as férias lá. Essa é à vista da praia de Copacabana. – lhe entreguei o objeto para que ele pudesse ver melhor.
- É muito bonito. – afirmou admirado.
- Se você gostar pode ficar com ele.
- Nahin é de (). Naveen não pode pegar algo que é de ().
- Não se preocupe, veja como um presente meu em agradecimento por ter me apresentado seu país.
- Atchá. Se for assim, Naveen é grato e guardará com muita estima o presente. Chukriá. – acenei positivamente.
...
- Om Shanti, (). – sorri ao recordar o significado daquelas palavras de alguma das nossas conversas durante esses dias. Eu estava embarcando hoje, rumo a mais um dos meus destinos.
- Om Shanti, Naveen. Eu desejo-lhe paz. – respondi a ele murmurando a ultima frase pra mim mesma, traduzindo suas palavras anteriores. Segui em direção ao embarque. Como Naveen diria: que a visita à Espanha seja auspiciosa.
...
Eu estava estranhamente tranquila ao desembarcar na capital da Espanha. Talvez pelo fato de já ter, de certa forma, me acostumado com aquela situação ou talvez pelo fato de ter visto tantas coisas diferentes nos meus últimos passeios que já estivesse de certa forma anestesia. Vaguei em busca de algum café onde pudesse fazer um lanche, visto que por esquecimento eu ainda não tinha feito qualquer tipo de reserva para hospedagem ali. Dessa forma não sabia quanto tempo demoraria até achar um lugar, então achei melhor me alimentar primeiro. Segui despreocupada com o copo com a bebida quente e alguns pãezinhos em um saquinho puxando minha mala com a outra mão. Esteva atenta a qualquer tipo de anuncio de hotel ou hospedagem que nem percebi quando algo, mas precisamente alguém se esbarrou com tudo em mim. Gemi na mesma hora ao sentir a bebida quente derramar sobre minha blusa, fechei os olhos com força como se assim pudesse aliviar um pouco da ardência. Senti uma mão segurar em meus braços e só assim abri os olhos, dando de cara com um rapaz de pele morena e cabelos escuros que tentava me levantar murmurando desculpas consecutivamente.
- Me desculpe, eu estava totalmente distraído. Eu te sujei toda. – começou e parou ao olhar para meu copo - Dios Mio! Só não me diga que era café quente? – gemi em concordância o fazendo arregalar os olhos. – Venha eu vou te levar na emergência do aeroporto, ele vão fazer um curativo e passar algo para melhorar isso. – avisou já pegando minha mala e segurando com cuidado minha mão me encaminhando para uma das laterais do lugar. Não protestei ou emiti qualquer tipo de som a não ser os pequenos suspiros de dor que deixavam minha boca todas as vezes que o pano da minha roupa passava pela região da queimadura.
...
- Ficará tudo bem. Eu vou te receitar uma pomada que você pode passar pra aliviar a dor e pra ajudar na cicatrização. – o medico de plantão na emergência me entregou um papel assim que prescreveu nele o nome do medicamento – Não se esqueça de lavar a região pra não deixar infeccionar por ser uma ferida exposta e eu recomendo que use roupas mais soltas para evitar o contato com o curativo. – acenei em concordância e agradeci pelo atendimento me levantando e apertando sua mão. Virei pra procurar por minha mala e notei que a mesma anda estava em posse do rapaz que havia se esbarrado comigo.
- Vamos procurar por uma farmácia aqui mesmo, se não me engano eu vi uma na entrada. – o rapaz comentou seguindo a direção que indicava.
- Não precisa se preocupar, eu sigo daqui. Agradeço por ter me acompanhado até a emergência.
- Você não precisa agradecer. Se não fosse por mim você não teria que ir para lá. – comentou contrariado e eu podia ver por sua expressão que ele estava realmente chateado consigo mesmo.
- Foi um acidente. Não chega a ser só culpa sua, eu estava distraída também. Se estivesse prestando atenção poderia ter evitado esse transtorno todo.
- Que seja, mas eu insisto em acompanhar a senhorita, é o mínimo que posso fazer.
- Se é assim.
- Eu ainda não sei seu nome. – comentou sugestivamente.
- ().
- Sou Ramon.
- É um prazer, Ramon.
- O prazer é todo meu. Apesar da maneira desastrosa, é sempre com conhecer mulheres bonitas. – sorriu me fazendo corar com o comentário e só então pude notar o quanto suas feições eram agradáveis. Parece que eu tinha acabado de encontrar o Don Juan que Jasmine comentou.
...
- Então vocês vão se encontrar de novo? – ouvi a voz de Jasmine do outro lado da linha e mesmo sem vê-la, podia jurar que a mesma sorria maliciosamente.
- Você fala como se fosse um encontro. – murmurei em resposta.
- E não é? – ela me cortou antes que eu negasse – Vocês vão sair só os dois, pra jantar e pra dançar tango.
- Nós não vamos dançar. Eu mal sei como dançar dois pra lá dois pra cá, quem dirá um tango.
- Mas ele disse que te ensinará a dançar. – retrucou divertida.
- Às vezes eu me arrependo de te contar as coisas em detalhes, sabia?
- Posso imaginar. – respondeu divertida.
- E como está tudo ai? Papai, vovó e Thomas estão bem?
- Estão sim. Estive lá ontem e mostrei a eles as fotos que você me mandou. Thomas disse que quer conhecer o cara com a cabeça de elefante e sua vô perguntou quem era o loiro bonito da foto? – tive que rir desses comentários, podendo imaginar cada um deles falando aquilo.
- Vou ligar pra lá assim que terminar de falar com você. E obrigado mais uma vez por estar olhando eles pra mim.
- Eu já disse que não tem problema nenhum, faço com muito gosto. Agora pare de falar que você precisa ficar bem bonita pra seu encontro com o Don Juan. – gemi me negando a contesta-la sabendo que se o fizesse seria totalmente inútil.
...
- Não acredito que vai levar esse caderninho? – Ramon questionou ao me esperar do lado de fora do carro.
- Por mais que eu esteja me divertindo eu estou aqui a trabalho. – comentei beijando sua bochecha como cumprimento.
- Se você diz. – comentou abrindo a porta pra que eu pudesse entrar. Agradeci a gentileza e logo já estávamos a caminho do restaurante que ele havia comentado.
...
- Eu estou falando sério, (). Eu disse que te ensinaria a dançar tango e nós não sairemos daqui até que isso aconteça.
- Você diz isso, mas não tem ideia do quão horrível eu sou dançando. Você ficaria com os pés doendo por ser alvo dos meus. – tentei argumentar, mas ele negou pegando minha mão e nos encaminhando para uma parte mais afastada da pista de dança.
- Eu realmente não me importo. Agora relaxe e aproveite sua aula grátis. – piscou me fazendo rir, mas logo voltei ao semblante concentrado enquanto tentava pegar todas as instruções que ele dava. Passamos algumas horas nisso, e no final eu podia dizer que estava feliz com o resultado. Por mais inacreditável que fosse eu havia aprendido a dançar um tango. Nós voltamos pra nossa mesa e fizemos nossos pedidos.
- Você tem certeza que já tem que ir embora amanhã?
- Infelizmente. – respondi a pergunta de Ramon que parecia realmente contrariado por meus dias aqui estarem se esgotando. – Mas vamos falar de coisas boas, como anda seu projeto de educação? Conseguiu algum avanço? – questionei vendo seus olhos ganharem um brilho especial me fazendo sorrir com a empolgação com a qual ele tratava o fato. Nos dias que fiquei em Madrid ele tinha sido meu guia aqui, me levado para conhecer os principais pontos turísticos e tinha se mostrado uma companhia muito agradável enquanto eu tentava escrever algo. Durante nossos passeios Ramon me contou que era assessor do Ministro da Educação espanhol e que estava empenhado em conseguir o cargo do Ministro na próxima eleição. Ele estava acima de tudo empenhado em conseguir aprovação para uma das leis que aumentaria a renda destinada aos estabelecimentos de ensino público.
- Consegui alguns contatos nesses últimos dias. Pessoas de peso que se comprometeram a me apoiar e que acreditam que se pode fazer muito mais pela educação no nosso país. É ótimo conseguir aliados, pessoas que acreditam no mesmo que você. Quanto mais gente acreditar, mas parece se tornar real, se tornar mais próximo. – comentou feliz
- É bonito ver sua empolgação ao falar isso.
- Precisamos lutar por aquilo que acreditamos, e por mais que existam pessoas que tentem fazê-lo questionar é preciso manter o foco no que se acredita. – concordei com ele.
- Tenho boas intuições de que conseguirá o cargo e de que fará coisas muito boas lá. – ele sorriu pra mim.
- Quem sabe você não possa voltar aqui pra ver meu projeto em execução?
- Seria uma honra pra mim. Tanto voltar, como ver aquilo que você acredita ganhando vida. – ele não comentou nada, apenas abriu mais o sorriso e pegou um dos guardanapos da mesa dobrando-o diversas vezes. Tentei acompanhar o que ele fazia, mas seus movimentos eram rápidos. Ele tirou uma das fitas que enfeitava o arranjo da mesa e a enlaçou sobre o que fazia. Depois de alguns minutos pude ver o resultado final quanto ele me estendeu a flor delicada. Abri a boca em espanto pela forma que ele tinha conseguido fazer algo tão bonito e delicado com apenas um guardanapo e uma fita. Pegue o objeto com cuidado, agradecendo logo em seguida.
- Pra você não se esquecer da Espanha e nem de mim é claro.
- Pode ter certeza que eu não vou. Aliás, vou guardar seu presente com muito carinho. – sinalizei para a flor que ainda tinha em mãos e ele sorriu largo pra mim.
...
- Como assim meu voo para o Egito não existe? Eu fiz as reservas, tenho todos os comprovantes. – argumentei ao ser chamada em um dos guichês de informação.
- Eu sinto muito senhora, mas deve ter havido algum erro no nosso sistema. Apesar de o pedido ter sido feito para o Egito o agendamento no nome da senhora foi feito para Moçambique.
- Mas como? – perguntei começando a me desesperar.
- Nos realmente sentimos muito. A empresa se responsabiliza pelo erro e lhe oferece tudo que for preciso pra que fique confortável para que possa ser agendado um novo voo.
- E pra quando seria esse novo voo?
- Apesar de termos prioridade em corrigir nosso equivoco, o próximo voo que temos para o destino que foi solicitado é em três dias. – arregalei os olhos, eu não podia esperar três dias – Não se preocupe. Como eu disse todas as despesas de sua hospedagem durante esse tempo de espera serão todas de responsabilidade da empresa. Sua perda será somente em tempo.
- Mas é justamente isso que eu não posso perder. – argumentei já totalmente estressada. Eu tinha menos de uma semana pra cumprir minha ultima parte da viagem e se perdesse três dias ali, teria muitos menos pra cumprir meu prazo. – Você tem certeza que o próximo voo é só daqui a três dias?
- Sim Senhora, às treze horas da próxima sexta feira.
- Eu vou embarcar hoje então. - suspirei derrotada. Pelo menos ainda estaria cumprindo a exigência de Diogo sobre os continentes.
- Mas o destino de embarque hoje não é o mesmo solicitado. – tentou me informar novamente.
- Mesmo? – perguntei irônica – Eu estou bem ciente disso, mas não posso prejudicar meu emprego por uma incompetência da sua empresa. Então por gentileza faça o que é necessário pra que eu embarque hoje mesmo, e se não tem outra forma que seja pra Moçambique. – a atendente não me questionou mais e rapidamente eu tinha minha passagem em mãos. Que seja Moçambique então
...
Pra minha sorte assim que desembarquei não demorou muito para conseguir uma condução e logo estava em frente a uma casa não muito grande, que parecia ser uma espécie de pensão, a qual o motorista que me levara tinha indicado. Entrei encontrando uma pequena recepção no primeiro cômodo.
- Olá. – cumprimentei chamando a atenção de uma senhora negra que sorriu largo pra mim.
- Entre, querida. – fiz o que ela pediu tendo alguma dificuldade para subir minhas malas pelos poucos degraus da escada.
- Vamos, Kito. Não vê que a menina bonita precisa de ajuda? – a mulher falou e então percebi a presença de um rapaz, muito parecido com a senhora, que se aproximou me ajudando a levar a mala até perco do balcão. – No que posso ajuda-la?
- Eu preciso de um lugar pra passar uns dias e o rapaz que me trouxe do aeroporto me sugeriu aqui. Vocês tem algum quarto disponível? – perguntei a ela.
- Claro que sim. Aqui sempre cabe mais um. – respondeu sorrindo e eu a acompanhei. Combinamos os dias que eu ficaria além do valor e das refeições que eram servidas por ela mesma. – Estamos à disposição para o que precisar. Kito mostre a moça o quarto dela. – apontou para o rapaz que sorriu pra nós concordando.
- É por aqui. Qual seu nome mesmo? – o rapaz perguntou.
- (). O seu é Kito, não é?
- Isso. Você é da onde mesmo? – perguntou assim que chegamos à porta do quarto.
- Brasil. – respondi e instantaneamente seus olhos ganharam um brilho a mais.
- Eu sempre sonhei em ir pra lá. – comentou.
- Sério? Mas pra visitar ou morar?
- Morar. Tenho alguns conhecidos que conseguiram construir uma boa vida lá. Meu sonho é deixar Moçambique e ir pra lá.
- Da África para a América, um oceano de distância, hein? – comentei e ele acenou confirmando.
- Pois é. Eu ainda vou morar lá. – comentou sonhador - Quem sabe não vou ser seu vizinho um dia. – sugeriu rindo - Bom, vou te deixar descansar. E como minha mãe disse: se precisar de algo é só chamar. – avisou ainda sorrindo. As pessoas aqui pareciam extremamente simpáticas e receptivas.
- Já que comentou, sabe de algum guia por perto? Quero conhecer a região e não vim muito preparada sobre os pontos turísticos daqui e tudo mais.
- Eu posso ser seu guia se não se importar. Costumo levar alguns hóspedes da pousada pra conhecer a região. Eu posso te falar o que temos de melhor aqui e você escolhe o que quer conhecer. – ele respondeu.
- Isso seria ótimo. – sorri pra ele concordando.
- Então vou fazer uma lista dos lugares como te falei. O almoço sai daqui à meia hora e depois podemos decidir aonde vamos nos dias que ficar aqui.
- Fechado. – fechei a porta do quarto após combinarmos. Acomodei minha mala em um canto do mesmo que era bem simples, porém parecia extremamente confortável. Abri a mala para pegar uma roupa mais fresca e ao tentar tirar uma blusa no fundo da mala notei um volume diferente ali. Movi o que estava por cima e ao abrir um dos bolsos internos que ficavam escondidos no fundo da mala soltei uma exclamação de surpresa. Dentro do mesmo estava a escultura de D’Lucca de Patrick. Neguei não acreditando que o mesmo a tinha escondido na minha mala pra que eu ficasse com ela. A tirei dali a admirando novamente só podendo rir do quão louco aquele nova-iorquino era.
...
- Meu Deus! Isso está delicioso, Iana. – elogiei a senhora, que agora sabia chamar Iana. Ela agradeceu ao elogio e teve que voltar rápido para atender outros clientes. – Sua mãe cozinha incrivelmente bem. – murmurei pra Kito que resolvera almoçar na minha mesa pra podermos adiantar as coisas. - Mas apesar de ter adorado, ainda não faço ideia do que seja. – comente e ambos rimos.
- Os bolinhos são as badjias. São feitos com feijão cafreal e isso – apontou para a mistura clara que eu tinha no prato – é a mucapata, que é feita com arroz, coco e feijão oloco. – acenei pra ele sinalizando que havia entendido. – Agora vamos escolher os lugares que vamos visitar?
- Claro. Quais são suas sugestões? – ele começou a falar um pouco de cada lugar que ele acreditava ser interessante para uma visita. Escolhemos o máximo que meu tempo por aqui permitiria e decidimos que começaríamos o tur naquele dia mesmo. Estávamos nos preparando pra sair quando uma música me chamou atenção. Aproximei-me do grupo que tocava em alguns instrumentos diferentes um ritmo gostoso e descontraído. Eles finalizaram a música e eu e mais algumas pessoas que estavam por pertos os aplaudimos. Eles agradeceram e antes de começarem a tocar novamente um deles se aproximou de mim.
- Quer se juntar a nós? – ofereceu me estendendo seu instrumento.
- Eu não sei tocar nada. – respondi negando, mas ele insistiu.
- Vamos lá, é fácil. Isso é um mutoriro. – me estendeu o objeto que se assemelhava um pouco a uma flauta.
- Como eu toco? – perguntei ao pegá-lo em minha mão. Ele parecia ser feito de bambu. Tinha as pontas fechadas e quatro orifícios na lateral.
- Você só precisa soprar por aqui. Depois controla o som tampando ou não os outros buracos. – explicou e depois de algumas tentativas consegui produzir algum tipo de som vindo do mesmo. Não era muito parecido com o som que o dono do instrumento fazia, mas já era alguma coisa. E pelo visto os outros concordavam comigo, pois baterem palmas assim que ouviram o som sair depois de todo meu esforço. Senti minhas bochechas arderem pela atenção repentina, mas apenas sorri continuando a variar os sons que saiam do mutoriro.
...
- Bem que eles falam que nunca se esquece como andar de bicicleta. Fazia anos que eu não subia em uma. – comentei com Kito assim que chegamos e estacionamos as bicicletas no local indicado. – Ual! – foi a única coisa que saiu da minha boca assim que parei para admirar o lugar no qual tínhamos ido.
- É lindo não é? – perguntou se aproximando e ficando ao meu lado.
- Muito. – a paisagem que eu tinha a minha frente era simplesmente maravilhosa. Estava no meu último dia de viagem e ao contar isso a Kito ele disse que tinha um lugar especial para me levar. Um lugar que encerraria a minha passagem pela África de modo magnifico e ele estava totalmente certo.
- Esse é o Lago Niassa. Ele é o nono maior do mundo e o terceiro do continente africano. Ele passa aqui por Moçambique, pela Tanzânia e pelo Malawi. Ele tem cerca de quinhentos e sessenta quilômetros de comprimento e cerca de oitenta de largura. – explicou.
- É maravilhoso. – comentei ainda admirada.
- Sabe, eu estive pensando sobre o que você me disse que veio fazer aqui. – começou chamando minha atenção enquanto nos sentávamos lado a lado na areia – Eu sei que não é fácil acreditar em amor nos dias atuais. Quando levantamos de manhã e nos deparamos com a conturbação que o mundo está. Com o número enorme de pessoas sofrendo e o quando muitas outras não se preocupam com elas. É difícil enxergar coisas boas quando as más parecem estar as sufocando, mas nós precisamos tentar. Mais que isso, nós precisamos conseguir, pois se pararmos de acreditar de vez, aí sim não existiria amor. - passamos um bom tempo em silencio enquanto minha cabeça fervilhava com vários pensamentos.
- Minha vó me disse antes que eu começasse essa viagem que amar não se resume nas três palavras. Talvez depois de tudo que presenciei tenha entendido de fato o que ela quis dizer. E sabe de outra coisa? – perguntei chamando sua atenção - Eu me surpreendi com aqui.
- Em que sentido?
- No mais positivo de todos. Vir pra cá não estava nos meus planos, mas posso dizer estou adorando.
- Isso é bom. Muito bom. – ficamos mais um tempo em silêncio até que ele levantasse de supetão me fazendo acompanha-lo. – Feche os olhos. – pediu.
- Por quê?
- Não seja curiosa. Apenas feche os olhos e permaneça com eles fechados. – o olhei desconfiada e o mesmo apenas riu – Vamos, eu não vou te colocar perto de animal nenhum.
- Tudo bem. – murmurei mais pra mim mesma fechando os olhos logo em seguida. Esperei alguns minutos até que senti algo tocando em meu rosto, mas precisamente nos meus lábios e levei mais alguns instantes pra perceber que eram os lábios de Kito sobre os meus, selando um beijo delicado.
- Pode abrir os olhos agora. – falou e eu fiz o que ele pediu – Espero que isso te faça gostar mais ainda daqui.
...
- Embarco de volta pra casa amanhã, vovó. – comentei por telefone.
- Que bom Sunshine. Todos estão morrendo de saudades. - comentou me fazendo sorrir.
- Eu também vovó, estou morrendo de saudades. Eu comprei muitos presentes, pra todos. Um chapéu pra senhora, brinquedo pro Thomas, um chaveiro de touro pro papai, um guarda-chuva de Nova York pra Jasmine e mais algumas coisa que mostro quando chegar. Tem bastante coisa, tenho até medo de ser barrada na alfândega. – comentei rindo.
- Não se preocupe com isso. Agora vou desligar que você precisa estar descansada pra voltar amanhã.
- Tudo bem. Até mais vovó.
- Só uma coisa, querida.
- Sim?
- Conseguiu escrever a matéria?
- Acredito que sim. – sorri orgulhosa e mesmo que ela não estivesse me vendo sabia que ela saberia isso só pelo tom da minha voz. Desliguei o celular enquanto apertava no ícone salvar na minha caixa de textos.

“11 maneiras de dizer eu te amo

No começo do mês recebi a tentadora proposta de viajar pelos quatro cantos do mundo em busca de respostas que pudessem suprir fatos que questiono desde pequena.
Amor.
Quem nunca ouviu um “eu te amo” ou já o pronunciou?
Meu grande problema era que sempre achei imensamente difícil pronunciar essas três palavrinhas. Eu rodei o mundo pra encontrar as respostas que buscava e quando as encontrei notei que não precisa ter saído do lugar para descobrir. Mas isso não torna minha viajem menos interessante, muito pelo contrário, só a torna mais especial, pois foram os pequenos detalhes que juntos me ajudaram a solucionar o quebra que eu tinha. Entendi que pra existir amor eu preciso acreditar. Como um amigo meu me disse uma vez: “O amor é como o Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa”. Confesso que não tinha entendido muito no começo, pra falar a verdade não tinha entendido nada, mas agora posso entender. Enquanto você acreditar nele ele nunca deixa de existir e de estar presente na sua vida. Acreditar alimenta o amor.
Aprendi também que amar é uma escolha. Eu escolho amar. Escolho enfrentar o que for preciso pra amar. Escolho sentir e fazer sentir. Escolho viver assim. Escolho ser feliz.
No final das contas o amor está em qualquer lugar e pode ser sentido por qualquer um. Não importa se eu viaje os quatro cantos do mundo ou se apenas dê uma volta no meu quarteirão. Eu vou encontrar amor nos pequenos atos e ações. No modo como o meu vizinho, o velho Bill, sempre reclama da bagunça do neto, mas como sempre lhe dá um beijo carinhoso antes do mesmo sair pra escola. No fato de Lizzie sempre sair pra passear com Brutus mesmo que esteja caindo a maior chuva lá fora. O modo como minha vó me chama de Sunshine ou o modo como meu pai sempre me pergunta sobre meu dia quando chego em casa. Até quando minha amiga pega no meu pé pra levar um saco de dormir na mala de viajem por precaução.
Alguém muito sábio me disse uma vez que “eu te amo” não é a única maneira de proclamar o amor, tampouco de mostra-lo. Resumindo, eu entendi que por mais difícil que eu ache dizer um eu te amo e já os digo sempre, muitas vezes ao dia. Amar não está associado a falar, mas a sentir. E existem várias formas de amar e também existem várias formas de dizer eu te amo.
1. Eu acredito em você.
2. Sonhei com você hoje.
3. Eu posso te dar o meu.
4. Não chore. Vai dar tudo certo.
5. Eu estarei sempre aqui pra você.
6. Tome cuidado.
7. Você está bonita.
8. Pra sempre.
9. Leve um casaco, parece que vai esfriar.
10. Eu vou voltar.
e ...
11. Eu te amo.
Eu podia apenas alterar o título da matéria e continuar listando mais frase, 12, 13, 14, 100 e muitas mais. Mas vou deixar que vocês descubram outras formas de dizer eu te amo. Tanto pra pronunciá-las como pra perceberem quando elas forem destinadas a vocês.


Com amor, () Burcker”




Fim.





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