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Challenge #18

Nota: 9,3

Colocação:




1. Berlin, Deutschland.


“First thing you learn is that you gotta make it in this world alone.”
Time Bomb – Rancid

20 de Janeiro de 2016.

Quando o governo americano me encontrou, eles me deram um ultimato. Eu iria presa, mas tinha um modo de evitar isso... Se eu fizesse algo por eles, obviamente; Afinal, é do governo dos Estados Unidos que estamos falando. O que mais eu poderia esperar deles? Segundo o chefe de operações que falou comigo sobre essa “missão”, o que eu iria fazer era assunto de segurança nacional e bem, até mesmo um pouco da internacional também; Pelo menos é o que eu acho, já que três quartos da coisa acontecia fora da América. O fato realmente importante disso tudo era que, se eu completasse essa tal missão, minha ficha ficaria limpa e eu poderia fazer o que quiser da minha vida sem que eles ficassem no meu pé — como havia sido nos últimos anos. Se eu já pensei em fugir durante a viagem? Com certeza. Só que tinha um problema enorme. Bem, na verdade, era algo bem pequeno e estava implantado no meu pescoço. Sim, a Inteligência Americana podia me rastrear. Sendo assim, não valia a pena fugir. Era extremamente melhor para mim dar a eles o que queriam para que eu pudesse ser livre agora que já havia bandonado a minha maravilhosa vida de criminosa há algum tempo. Por qual motivo eu abandonei essa vida se ela era tão boa? Bem, quando você se apaixona por alguém nesse mesmo ramo, as coisas complicam. Vivo minha vida após aquilo tentando me convencer de que estava certa em deixá-lo. Eu sempre trabalhei melhor sozinha mesmo.
Esse é o motivo de eu estar aqui hoje, nesse jatinho com o Agente Ford. Ele não tirava os olhos de mim e aquilo já estava me irritando. É, eu tinha tido uma “coisa” com ele na última semana, mas foi só uma noite. De qualquer modo, estou aqui a trabalho! Bem, mais ou menos isso. Voltei a olhar para os arquivos que a Inteligência mandara Ford me entregar mais cedo. Ali constava algumas informações úteis. Parece que o governo realmente confiava no meu trabalho, ou eram apenas terrivelmente ruins em coletar informações. Eu tinha quatro pastas. Berlim, Alemanha — , 31 anos; Traficante de mulheres. Abuja, Nigéria — , 26 anos; Hacker. Moscou, Rússia — , 39 anos; Ex-militar. Boston, Estados Unidos da América — , 30 anos; Envolvido com um cartel mexicano de drogas. Pareciam pessoas legais ao meu ver. Estava louca para conhecer todos, menos o cara que traficava mulheres. E adivinha só... Sim, nós estávamos pousando na Alemanha nesse exato momento. Espero que pelo menos eu possa fazer algum proveito disso antes de mandar o Agente Ford chamar os seus “amigos” e pegarem o cara. Respirei e voltei a observar pasta por pasta. Constatei rapidamente o que já havia suspeitado: o governo não tinha informações o suficiente. Quer dizer, eu daria um jeito e eles sabiam disso. Eu era boa em achar pessoas, mesmo com poucas informações. Tudo o que continha naquelas pastas eram algumas curiosidades sobre aqueles caras, coisas que eles gostavam, etc. Dá para acreditar que não tinha nem sequer uma foto três por quatro dos caras? Fala sério!

Almoçamos no hotel e eu passei quase a tarde inteira por lá. Li as poucas informações que o governo tinha me dado sobre , o traficante de mulheres. Eu nunca tinha o visto na vida e já sentia nojo dele só por saber que esse era o tipo de coisa que ele fazia. Se eu não quisesse realmente limpar a minha ficha, não chegaria nem perto desse cara. Se bem que era bom eu estar fazendo isso... Pelo menos desse jeito o governo colocaria as mãos nele. A verdade era que eu não me importava com o que eles fizessem para ele, contanto que não o liberassem nunca mais. Já era quase final da tarde quando finalmente resolvi sair do hotel.
— Não vai nem comer nada antes de sair? — o Agente Ford resolveu perguntar-me.
— Vou comer bastante no lugar onde vou — pisquei para ele.
— Para onde você vai?
— Encontrar , descobrir quem é ele — falei simplesmente, mas ele me encarou com uma expressão séria — Oktoberfest, oras! Você já viu a ficha do cara? Ele provavelmente vai estar lá — revirei os olhos — Aliás, todos deveriam estar lá. Pelo menos, posso beber bastante bier e comer coisas com karttoffel.
— O que diabos você acabou de falar? — Ford questionou — Eu entendi a parte da cerveja, pois é bem parecido com a nossa língua. Aliás, quando você aprendeu alemão? A gente nem sequer saiu do hotel!
— Essas palavras eu já conhecia, mas pretendo aprender mais dessa língua durante nossa estadia — sorri de lado — Ah, karttoffel é batata. Alemães gostam de batata.
Saí do quarto do hotel, batendo a porta. Ford me irritava um pouco. Fala sério! Nós tínhamos quartos separados, porém, ainda assim, ele passava mais tempo no meu quarto do que no dele. O elevador chegou logo e eu desci. As pessoas ao meu redor falavam aquela língua que era estranha para mim e isso me fazia sentir deslocada. Eu sabia que a maioria dos mais jovens sabiam falar inglês e falariam assim comigo se eu falasse com eles. O problema era que eu não estava tentando conversar com nenhum deles e, é claro, não entender nada da conversa dos outros me deixava um pouco nervosa. Saí do hotel, finalmente sentindo-me mais livre. Andei um pouco e olhei ao redor. Optei por ir pedalando até lá, afinal, não era muito longe. Se o Agente Ford pensasse direito nos lugares em que era possível encontrar , teríamos nos hospedado no Mercure, o hotel do aeroporto de Tegel — que ficava bem em frente ao Zentraler Festplatz, o lugar onde acontecia a Oktoberfest em Berlim.
Andei até o local próximo ao hotel que tinhas as bicicletas que você pode pegar para pedalar por algum tempo. Eu achava essa coisa tão legal, mas eu não tinha ideia de como funcionava. Eu estava com pressa. Não tinha tempo para me informar como eu fazia para me inscrever ou simplesmente para pagar o aluguel de uma daquelas. Observei atenta ao cara alto que estava próximo a elas, de costas. Aproximei-me dele lentamente, sem demonstrar sinais da minha presença. Empurrei levemente, pedindo licença, e puxei a bicicleta para o meu lado. Subi nela e comecei a pedalar.
— Sempre ouvi dizer que americanos são mal educados — o cara falou e eu ri.
— Não sou americana — gritei de volta — Sou porto-riquenha.
— Você tem sorte por ser bonita — ele rebateu.
Pelo tom de voz do cara, ele certamente não parecia muito feliz. E quem ficaria, não é? Uma mulher acabou de chegar e roubar a bicicleta que ele ia usar para ir seja lá para onde. Bem, pelo menos ele não me arranjaria nenhum problema. Era só uma pessoa qualquer. Pedalei até o local onde acontecia o evento. Procurei ao redor por um daqueles lugares das bicicletas igual o de onde peguei. Essa era a parte que eu sabia como funcionava. Você podia pegá-la em um lugar e devolvê-la no outro. Devolvi a bicicleta e entrei. Eu sempre tinha ouvido falar dessas Oktoberfest alemãs, mas nunca tinha estado em uma — o que eu achava uma pena, já que eu amava cervejas. Fiquei surpresa com a festa que acontecia ali. Todo mundo parecia incrivelmente feliz. O clima era muito legal. Já tinha lido sobre e também ouvido falar que a Oktoberfest de Berlim não era tão boa e grande quanto a de Monique. Mas quem liga para isso? Fala sério, isso daqui é demais! Caminhei pelo local, comi algumas comidas típicas que adorei. Obviamente, tomei bastante cerveja. Decedi então, ficar assistindo uma bandinha alemã tocar no palco. Aquele som era contagiante. Ainda que eu não tivesse a mínima ideia de como dançar aquele tipo de música, me vi dançando com algumas pessoas.
Logo após isso, eu estava com as pessoas que seriam minhas guias no meio daquilo tudo — o que não me deixaria nem um pouco suspeita quando eu encontrasse o tal do . Eram dois garotos e uma garota. Eles me conheceram e simplesmente resolveram me acompanhar quando perceberam que, além de eu ser uma turista, estava sozinha. O nome da garota era Eileen, o garoto mais alto se chamava Hans e, o outro menino gostava de ser chamado pelo seu sobrenome, Becker. Eram mais novos que eu, bem menos vividos, mas eram pessoas legais. Perguntaram se eu sabia alguma coisa em alemão e eu disse as pouquíssimas palavras que eu sabia. Eles riram e falaram que iam me ensinar algumas das frases mais básicas da língua deles. Achei interessante a ideia, já que assim, pelo menos, poderia pedir café e comida nos lugares e, além disso, cumprimentar pessoas na rua e elas me entenderiam. Seria legal.
Depois de passar muito tempo com aqueles três, eles acabaram indo embora. Já era noite há um bom tempo e o lugar estava cada vez mais agitado. Avistei o cara alto de hoje mais cedo. Aproximei-me dele, mas ele ainda não tinha me visto. Hesitei. Talvez eu não devesse ir falar com ele porque isso tiraria a minha atenção do foco principal da minha missão.
! — ouvi alguém dizer empolgado e me assustei.
Você está louco? — ouvi outra voz masculina repreender — Ninguém pode ouvir você me chamando por esse nome.
Desculpa, cara — o outro se desculpou.
Só então eu finalmente percebi quem eram os caras que estavam conversando. O cara alto era o ! Ele estava bem ali na minha frente, antes mesmo de eu vir para cá. Pensei seriamente em me aproximar dele agora, mas hesitei. Talvez não fosse um momento muito bom, levando em conta o incidente da bicicleta que havia acontecido entre nós. Agora que eu sei que e o cara da bicicleta são o mesmo cara, posso ver que o tom ameaçador fazia todo o sentido. Ele não era um cara qualquer, não mesmo. Cogitei outras possibilidades de me aproximar dele, mas seria difícil fazer isso sem parecer muito óbvia. Então, resolvi ficar só na espreita até a hora que ele decidisse ir embora da Oktoberfest. Isso não demorou muito para acontecer, afinal, ele já estava bem bêbado. Eu não podia simplesmente o seguir. Ele era um cara esperto até demais; Perceberia facilmente. Eu precisava usar minha cabeça — e as informações da ficha dele — para tentar descobrir para onde ele iria agora. Do jeito que estava alto, com certeza não iria para casa. Comprei alguma coisa qualquer para comer — esse seria meu jantar. Lembrando do que tinha lido no arquivo de sobre o que ele gostava, tive uma ideia. Em seguida, fui a procura de um táxi, afinal, taxistas saberiam me informar melhor sobre os locais.
— Para onde? — o motorista do táxi perguntou assim que eu entrei no carro.
— Você sabe me dizer qual é o melhor bar com karaokê da cidade? — perguntei enquanto colocava o cinto de segurança — É que eu estou afim de um cara chamado , não sei se você já ouviu falar... Eu soube que ele ama karaokê.
— Eu sei onde quer ir — ele disse — Eu não vou levar você lá.
— Tudo bem — fiz careta — Vou pegar outro táxi então.
— Não, você não está me entendendo — seu tom de voz era sério, o que me fez prestar mais atenção nele — é um cara perigoso. Nenhuma mulher deveria sair com ele.
— Você odeia ele? — questionei.
— Não é só isso, é que...
— Então, você o odeia — o cortei — Você sabe o que ele é, o que ele faz.
Você sabe? — perguntou de volta, com uma expressão surpresa.
— Traficante de mulheres. É, eu sei. É por isso que quero ir atrás dele.
— Por qual razão, em sã consciência, uma mulher como você iria até ele sabendo o monstro que ele é? — ele não conseguia aceitar aquilo; E ele estava certo.
— Escute com atenção — pedi, firmemente — Me leva para onde está. Estou trabalhando para o governo. Eles querem pegar esse filho da puta.
— Você me convenceu — falou, pisando fundo no acelerador.
— Tenho esse poder sobre as pessoas — soltei uma risada.
Acho que não se passou nem cinco minutos quando o carro parou. Tirei o dinheiro da carteira, mas o taxista recusou. Eu não estava acreditando naquilo. Por que diabos ele recusaria o meu dinheiro? Foi uma corrida. Aquilo não fazia sentido.
— Não preciso do seu dinheiro — insistiu outra vez — Só quero que vocês peguem aquele filho da puta.
— Seu ódio é bem grande mesmo — observei, descendo do veículo.
— Eu tenho uma filha — falou simplesmente — Não quero que ela tenha a terrível chance de cair na mão desse cara.
— Faz sentido, mas vou te pagar a corrida de qualquer modo — joguei a cédula para dentro do carro e ele apenas deu de ombros.
— Esse cara é perigoso — decidiu lembrar-me.
— Eu sei me cuidar — sorri de lado — Obrigado mesmo assim.
Virei as costas e entrei no local, ouvindo o ronco do motor do táxi afastar-se dali. Entrei naquele bar à procura de . Não tive nenhuma dificuldade em encontrá-lo. Ele estava sentado sozinho e bebendo. Pensei em ir até aquela mesa e sentar-me junto dele, mas decidi que seria melhor beber um drink primeiro... Ou mais de um. Optei por Margarita, afinal, pelo menos tinha tequila no meio e isso me ajudaria com o que viria a seguir. Sim, era um cara incrivelmente bonito, mas eu tinha nojo dele pelo que ele fazia. Bem, trabalho é trabalho. Estava na minha quarta Margarita quando observei levantar. Ele estava sorridente e caminhou até o palco, pedindo para mandaram uma música qualquer para que ele cantasse. Resolvi aproximar-me mais. Ouvi a primeira batida e já sabia que se tratava de Ain't No Mountain High Enough. Eu tinha assistido Guardiões da Galáxia vezes o suficiente para reconhecer aquela canção logo no primeiro segundo.
— Ah, não! Não acredito nisso — resmungou, já com o microfone em mãos — Vocês colocaram um dueto para eu cantar sozinho!?
Ele pode até ter reclamado, mas a música continuou e ele cantou junto. Decidi que era hora de eu fazer alguma coisa. Ao ouvir ele cantar os primeiros versos, peguei o microfone extra que estava ali e comecei a cantar a parte de Tammi Terrell.
If you need me, call me. No matter where you are, no matter how far... — ele pareceu surpreso, mas não deixou de cantar seu backvocal — Just call my name. I'll be there in a hurry, you don't have to worry.* E então cantamos o refrão juntos, frente a frente. Eu realmente me diverti bastante cantando aquela música com , não posso negar. O pessoal do bar entrou em nosso ritmo e, quando acabamos, eles aplaudiram. Foi bem legal. Descemos do palco rindo.
— Posso te pagar um drink? — ofereceu.
— É claro — falei como se fosse óbvio — Só não sei como posso ficar mais bêbada do que já estou. Quero mais Margaritas!
Aquilo era mentira. Eu não estava bêbada. Quer dizer, eu estava começando a sentir o efeito da bebida em meu corpo, mas não estava no estado em que fiz ele acreditar que eu estava. Eu já havia ficado bêbada inúmeras vezes durante a minha vida, ou seja, eu sabia muito bem como fingir que estava realmente bêbada.
— Só não pense que esqueci que você roubou minha bicicleta hoje à tarde — ele disse, enquanto eu bebia o meu drink.
— Fui uma garota má — ri alto — Espero que a parte em que você disse que eu tinha sorte por ser bonita seja verdade.
— Com certeza, é — sorriu torto e tirou a taça da minha mão — Você já bebeu demais. Deveríamos ir para a minha casa.
— Eu não sei... — passei a mão por seu peitoral, flertando — É, acho que deveríamos ir para lá.
E nós fomos. Acabou sendo mais fácil do que eu havia pensado. A casa dele era enorme e incrivelmente bonita. Ele abriu uma garrafa de Jägermeister para bebermos. Eu achava aquela bebida forte, mas, ao mesmo tempo, doce demais. Não era muito o meu estilo, mas bebi um pouco. entrou na banheira de hidromassagem sem nenhuma roupa. Ah, os alemães... Eu sabia que ele estava esperando que eu entrasse lá com ele. Eu ia dar a ele o que ele queria — bem, mais ou menos.
— Não vai tirar toda roupa? — indagou assim que me viu entrar na banheira vestindo minha lingirie preta.
— E estragar o elemento surpresa? — arqueei a sobrancelha e ele apenas riu.
Ficamos na banheira por algum tempo. Foi bom. Nada aconteceu entre a gente. Só fiquei lá, curtindo a água. Quando saímos, ele me emprestou uma toalha. Sequei-me e vesti meu conjunto reserva de calcinha e sutiã que eu tinha dentro da minha bolsa.
— Então, você é de Porto Rico? — questionou, surpreendendo-me.
— Sou, mas nos últimos anos eu tenho vivido nos Estados Unidos.
— Sabe, eu sempre quis sair daqui desse país — contou-me — Estive pensando em viver lá do outro lado do oceano.
— Por que você iria querer isso? — indaguei — Alemanha é muito legal e Estados Unidos nem é tudo isso que falam por aí.
— Ah, eu gosto — comentou — E também seria melhor para os negócios.
Ah, ótimo! Então, esse era o motivo pelo qual o governo queria esse cara. Mais um traficante de mulheres livre pelas Américas? Não, obrigado. Para tirar foco do meu silêncio repentino, fui até a bolsa e tirei um objeto de lá. Resolvi presentear , fingindo me importar.
— Já que você quer tanto se mudar para lá, vou te dar um presente — entreguei o cartão-postal de Austin nas mãos dele — É uma cidade muito legal.
— Por que tem esse dois corações aqui atrás? — mostrou-me os corações azul e vermelho entrelaçados que tinha desenhado atrás do cartão.
— Anos atrás eu tinha um “parceiro de crime”, digamos assim — suspirei — Meu coração era para ser o vermelho e o dele o azul. De qualquer modo, parece que nossos corações não estão mais entrelaçados há muito tempo.
— É uma lembrança do seu cara — disse — Não posso aceitar.
— É claro que pode — falei — Eu tenho vários outros. Todos são de cidades do Texas e todos tem os nossos corações.
— Tudo bem, vou aceitar — disse, aproximando-se mais de mim — Mas vou ter que presentear você de algum jeito.
Ah, mas eu esperava mesmo que sim. Aquele cartão-postal tinha um grande significado emocional e tive que sacrificá-lo por ele. envolveu suas mãos em minha cintura e me puxou para um beijo, o qual correspondi, sem muita opção. Ele deitou-me em sua cama e veio por cima de mim. Levei aquilo em frente por tempo o suficiente.
— Hey, estou muito bêbada para fazer isso.
De algum modo assustador e surpreendente, não insistiu naquilo. Talvez ele tivesse com outros planos. Tinha certeza que hoje ele não conseguiria fazer nada contra mim, já que ele também estava bêbado. Decidi dormir por ali, já que a cama era boa. Tudo o que eu conseguia pensar antes de cair no sono era em como eu nunca faria sexo com um cara desses. Fala sério!

Acordei e fui surpreendida outra vez. não estava ao meu lado e tinha um cavalete de pintura perto da cama. Levantei, curiosa, e fui até o cavalete, mas não havia nenhuma tela pintada, o papel estava em branco. Peguei meu celular na bolsa e mandei uma mensagem para o Agente Ford, dizendo que já estava na hora de ele aparecer com seus caras para pegar .
— Acordou bem na hora — apareceu no quarto e largou um objeto retangular em minhas mãos — Esse quadro é o meu presente para você.
Observei com atenção. Ele mesmo havia feito aquilo e me dado de presente. Era uma pintura minha, semi-nua, deitada na cama. fizera aquilo enquanto eu estava dormindo. Aquele quadro era incrível! Por que diabos esse cara desperdiçava seu talento maravilhoso sendo um traficante de mulheres nojento? Vesti minha roupa de volta antes que Ford finalmente chegasse. Não demorou muito tempo até que isso acontecesse. Os caras fizeram tudo parecer como deveria. Eles me seguraram, como se fossem me levar também. Desse modo, nunca teria a certeza de que ele havia sido pego por minha culpa. Não que eu me importasse com isso, é claro.
— Por que demorou tanto, Gonzalez? — Ford perguntou e eu fiz careta ao ouvir o sobrenome que eu já não usava há um bom tempo.
— Porque eu precisava dormir para me recuperar das bebidas de ontem.
O Agente Ford me incomodou mais um pouquinho perguntando sobre tudo o que eu tinha feito, incluindo a parte da Oktoberfest. Contei a ele sobre como dois garotos e uma garota viraram meus guias e me ensinaram coisas da língua deles. Quando coloquei meus pés em Berlim, tudo o que eu sabia de alemão era que ein significava um, bier era cerveja, kartoffel era a palavra para batata e que o nome do país na língua local se chamava Deutschland; Agora, graças àquelas três pessoas da Oktoberfest, eu havia aprendido quase todas as frases mais usadas para se comunicar nesse país.

*Se você precisar de mim, me chame. Não importa onde você estiver, não importa o quão longe... Apenas chame o meu nome. Estarei aí rapidamente, você não tem que se preocupar.


2. Abuja, Nigeria.

“Every new beginning comes from some other beginning's end.”
Closing Time – Semi Sonic

22 de Janeiro de 2016.

Estava andando pelas ruas da Nigéria, absorta em pensamentos. Bufei e chutei uma pedrinha para longe. Eu só queria acabar com essa droga logo para poder ir embora, ir para casa... Não é como se eu realmente tivesse uma casa para voltar. Eu não tinha um lugar onde eu quisesse estar. E não tinha ninguém. Apesar disso tudo, eu só queria mesmo sair desse lugar.
Sinceramente, eu não tinha nada contra esse país ou essa cidade; Porém, Abuja era um lugar para onde eu nunca teria vindo por escolha própria. Eu só estava aqui por obrigação, porque eu queria limpar meu nome e poder voltar para os Estados Unidos ou, sei lá, por que não Porto Rico? Além disso, havia outro motivo para eu querer sair daqui logo; Moscou era a nossa próxima parada e, bem, Rússia é um país que sempre sonhei conhecer.
Entrei em uma loja de eletrônicos com computadores e consoles de vídeo games para todos os lados. Andei até o balcão e chamei o cara baixinho que estava do outro lado.
— Você sabe onde posso encontrar um tal de ? — perguntei — Indicaram esse cara para mim.
era o nome que o amigo do Agente Ford tinha conseguido para o governo, mas ninguém sabia se esse realmente era o hacker famoso que estávamos procurando; Afinal, se você é hacker e o governo dos Estados Unidos está interessado em você, você, com certeza, não é do tipo de cara que deixa seu nome estampado em uma tela para todo mundo ver. Ford dissera que esse amigo dele era muito bom, então, decidi confiar na sua palavra e ir atrás desse tal de antes mesmo de fazer minha pesquisa sobre isso.
— Ele costuma frequentar a Mesquita Nacional de Abuja às tardes e no início da noite — falou simplesmente.
— Muito obrigado — agradeci, sorridente.
— Indicaram esse cara para você por quê exatamente?
— Ah, você sabe... Coisas de computadores — virei as costas e saí; Quando eu estava na porta, o atendente me chamou de volta.
— Moça, eu não sei quem te passou essa informação, mas o não entende tanto assim de computadores. O cara que você quer se chama Suh — indicou — Se estiver perto da Millennium Tower, pergunte onde pode encontrar o Suh. Todo mundo conhece ele.
Agradeci novamente e saí. Suh não parecia o tipo de cara que faria tudo o que o nosso cara faz, ele só parecia ser alguém muito bom no que fazia e que, obviamente, gostava demais de visibilidade; Não era o nosso cara. Eu sabia exatamente quem era o cara que eu queria. Parece que o nosso querido levava bem a sério sua identidade secreta de hacker. Isso seria um pouco mais complicado do que eu havia pensado. Voltei rapidamente para o hotel, subindo diretamente para o quarto do Agente Ford.
— Preciso de você — ele arqueou a sobrancelha — Não desse jeito — revirei os olhos e entrei no quarto — Preciso que faça algo por mim.
— E só dizer, Gonzalez — tentei não fazer careta ao ouvir meu sobrenome.
— Não vou conseguir chegar facilmente até o e comprovar que ele é realmente o nosso cara — soltei — Preciso que você consiga um cartão SD com alguma coisa comprometedora de algum cara do governo daqui. Faça alguém corromper o cartão de memória ou criptografar; Algo que o desafie e desperte sua curiosidade.
— Isso é algo muito sério — observou — Não posso fazer isso. Se acabar publicando essa coisa, sou um homem morto.
— Você pode e você vai fazer isso. Não vou deixar que ele publique, mas esse é o único jeito de chegar até o cara. Tem que ser com algo real, para que ele acredite em mim quando conseguir recuperar os dados. É o único jeito de dar tempo de você chegar lá para pegá-lo. Ford, eu preciso disso rápido — falei e ele concordou relutantemente — Quando estiver com o cartão em mãos, vá até o meu quarto.
Almocei e me deitei. Dormi por um bom tempo até que o Agente Ford me acordou. O sol já estava se pondo. Que saco! Demorou demais, mas fazer o que, não é? Eu iria tentar, de qualquer modo. Ford me entregou o cartão e falou várias vezes que eu tinha que tomar muito cuidado e que aquilo não poderia ser publicado de maneira alguma. Garanti a ele, todas as vezes, que eu não deixaria isso acontecer.
— Boa sorte — o ouvi dizer antes que eu fechasse a porta atrás de mim.
Desci e parei na recepção do hotel e perguntei qual era o jeito mais fácil de chegar até essa tal de Mesquita Nacional. A mulher disse que era aqui perto, ou seja, o jeito mais fácil de praticar de chegar era a pé. Ela também me disse que era um lugar religioso. Isso me fez pensar em como eu nunca tinha nem sequer me interessado em pesquisar sobre o que era uma mesquita. Pelo que a recepcionista dissera, uma mesquita era um local de culto para os seguidores do islã — traduzindo: para muçulmanos.
— Eu queria realmente conhecer esse lugar, mas bem, eu não sou muçulmana e...
— Não precisa ser uma deles — ela disse rapidamente — A mesquita é aberta ao público não-muçulmano quando não estão fazendo as orações congregacionais — ela sorriu. Agradeci repetidas vezes e saí, tomando meu rumo até a Mesquita Nacional de Abuja. Quando estava me aproximando, reconheci o tipo de construção facilmente. Era lindo! Eu já tinha visto diversas fotos de locais como esse; Eu só não tinha ideia de que isso se chamava mesquita. Entrei na mesquita, observando cada canto do local. Era tudo incrivelmente bonito. Não havia muitas pessoas lá dentro. Das pessoas que estavam à minha vista, dava para perceber facilmente que quase todas não eram muçulmanas. Vi uma mulher vestindo burca entrar em uma das salas que, pelo que ouvi por ali, deveriam ser salas de oração. Observei atentamente um outro cara que se destacava no meio daquelas pessoas não-muçulmanas. Segui ele com o meu olhar até assistí-lo entrar em outra sala de oração. Aquele poderia ser o meu cara.
Eu esperei ali por um bom tempo. Algumas daquelas pessoas já haviam ido embora e outras tinham entrado para visitar o lugar. Quando já estava quase perdendo a minha paciência, aquele cara saiu da sala de oração e, por um breve segundo, seus olhos encontraram os meus. Por favor, que seja esse cara! Ele tinha uma esteira de oração de baixo do seu braço, o que só me confirmava outra coisa: ele era mesmo um muçulmano. Talvez fosse o mesmo. Na ficha dele dizia que ele dava muito importância à coisas religiosas, porém, não dizia qual era a religião que ele seguia. Agora as coisas faziam mais sentido. Troquei olhares com ele mais uma vez antes de levantar e sair de dentro da mesquita. Fui para a direita, onde tinha um lugar bonito onde eu podia me sentar e esperar que o cara saísse lá de dentro. Isso não demorou a acontecer. Assim que ele passou pela porta ornamentada, mantive meu olhar fixo nele. Quando ele correspondeu o olhar, abri um sorriso enorme, o incitando a vir falar comigo — o que acabou acontecendo.
— Você ficou bastante tempo lá dentro — observou.
— Eu estava curiosa — dei de ombros — E bem, a mesquita é realmente muito bonita.
— Eu sou — ele sorriu, estendendo a mão.
— Me chamo Gonzalez — sorri de volta, apertando sua mão; Senti-me um pouco estranha em ter misturado meu novo nome com meu antigo sobrenome.
— Você não é daqui, é? — resolveu perguntar.
— Sou turista e, para falar a verdade, estou meio perdida — ri — Queria dar uma volta, mesmo que já seja noite, mas não saio de perto do hotel.
— Eu poderia ser seu guia — se ofereceu.
— Não posso te pedir para fazer isso.
— Você não pediu — ele sorriu — De qualquer modo, tenho essa noite livre. — Tudo bem, eu me rendo — ergui as mãos e soltei uma risada — Para onde você vai me levar?
— Acho que qualquer turista precisa conhecer o Millennium Park.
— Então, como vamos para lá?
— Temos como ir caminhando — ele disse — São só dois quilômetros até lá, mas como vamos andar pelo parque, é preferível irmos de ônibus.
E assim nós fomos. Pegamos o ônibus que ia para aquele lado e, pouquinho tempo depois, já estávamos lá. Era um parque enorme. Confesso que estava um pouco apreensiva quanto a andar por um parque durante a noite, mas era realmente lindo. Apesar de ser início de uma noite de sexta-feira, tinha muita gente passeando por ali. Passamos por uma espécie de barraquinha com produtos artesanais e eu parei repentinamente.
— Esses chapéus são maravilhosos! — exclamei, totalmente encantada. Eu nem era uma fã de chapéus, mas aqueles eram realmente lindos.
— Você deveria usar esse chapéu — comprou um deles e colocou na minha cabeça — Mesmo que já seja noite e você não precise se esconder do sol. É que fica realmente bonito em você. Ah, você deveria ficar com isso daqui também — ele largou uma pequena lembrancinha em minhas mãos e eu a coloquei no bolso.
— Qual é a moeda da Nigéria? — perguntei.
Eu queria devolver a ele o valor dos itens que ele havia comprado para mim, mas eu nem sequer sabia qual era a moeda desse país e quanto ela valia. Pretendo ir embora daqui rapidamente e, como o hotel aceitava dólares, nem precisei trocar meu dinheiro.
— Naira Nigeriano — respondeu-me.
— Nunca ouvi falar — fiz careta — Quanto as coisas custaram, em dólares? Quero te devolver o dinheiro.
— Não precisa fazer isso, Gonzalez — ele disse — Foi baratinho.
Ficamos sentados conversando por alguns minutos. acabou encontrando uma brecha na conversa e me roubou um beijo, bem ali, no meio do Millenium Park e de todas aquelas pessoas. Ele ficou me encarando, esperando pela minha reação. Eu deveria reagir de um modo bom, não é? Então, o beijei. Foi um ótimo beijo. Graças a esses beijos, consegui enrolá-lo mais um pouco para que ele não decidisse ir para casa. Bem, isso, na verdade, não seria apenas para mantê-lo aqui, eu realmente estava curiosa.
— Então, você é muçulmano — comentei — Não sabia que tinham tantos muçulmanos nesse país.
— Está brincando! — ele parecia não acreditar — Islamismo é praticamente a nossa religião principal.
— A última vez que fiz uma breve pesquisa sobre a Nigéria, os dados indicavam que o cristianismo predominava o país — contei — Pensei que essa fosse a religião principal.
— Bem, nesse quesito, a Nigéria é um país bem dividido — ele riu — O último senso mostrou os muçulmanos como 51 ou 52 porcento dos nigerianos.
— Eu não sou uma pessoa adepta a nenhuma religião — falei — Mas bem, eu sempre tive curiosidade de saber no que vocês, muçulmanos, acreditavam e o que seguiam. Eu gostaria de saber... Caso você possa me ensinar algo sobre isso.
— Eu adoraria te contar um pouco sobre minha religião — ele sorriu abertamente.
— Quando quiser...
— Os muçulmanos seguem os ensinamentos do Alcorão e tentam, ao máximo, seguir os Cinco Pilares — ele começou, mas eu já o interrompi.
— Do Alcorão eu meio que sabia — comentei — O que, exatamente, são esses tais Cinco Pilares?
— São cinco princípios que compõem o que eu chamaria de quadro de obediência para nós — respondeu-me — O primeiro é o shahada, o testemunho de fé. La ilaha illa allah. Muhammad Rasul Allah.
— Tradução? — pedi, sorrindo.
Não há outra divindidade senão Alá. Maomé é o mensageiro de Alá — traduziu — Qualquer pessoa que afirmar isso, pode se converter ao Islamismo.
— Bem, isso é realmente legal — fui sincera — Vou parar de te interromper. Continue com os outros quatro pilares.
— O segundo é salat, as cinco orações que precisamos fazer todos os dias — contou-me — Os horários de oração são às cinco da manhã, meio dia e meia, quatro da tarde, seis e meia e às oito da noite. A das oito era a que eu estava fazendo quando você estava lá na mesquita — ele sorriu — O terceiro é zakat, pagar dádivas rituais. O quarto é saun, o jejum durante o Ramadã*, onde não devemos comer nem beber desde o amanhecer até o entardecer — essa coisa do Ramadã eu já tinha ouvido falar, mas decidi não interrompê-lo outra vez — E o quinto é o hajj, onde um muçulmano deve fazer a peregrinação a Meca, na Arábia Saudita, mas apenas se for física e financeiramente possível.
— Estou surpresa, sério — falei — Achei isso bem legal, de verdade. E como funciona aquela coisa de, você sabe, ir para o céu?
— Tudo depende da obediência da pessoa a esses Cinco Pilares. De qualquer modo, Alá pode rejeitá-los.
— Uau!
— Você falou isso muitas vezes — ele disse, rindo.
— É que eu achei muito interessante aprender sobre isso.
— Fico feliz que tenha gostado — ele sorriu — O que você acha de irmos jantar naquele restaurante ali?
— Eu adoraria — abri um sorriso enorme — Hey, eu gostei muito do seu país e da sua cidade.
— Sério? — perguntou — O que tem demais aqui?
— Bem, Nigéria não é um lugar que eu teria vindo por escolha própria — falei — Não tenho nada contra, é só que...
— Não, tudo bem, eu entendo — ele riu — Mas por que veio, então?
— Eu meio que ganhei essa viagem — dei de ombros — O importante é que esse lugar realmente me surpreendeu do modo mais positivo o possível. Realmente gostei daqui.

Quando estávamos quase acabando de comer, decidi que era a hora de colocar meu plano em ação. Deixei a comida de lado e peguei meu celular. Abri o screenshot que eu havia tirado mais cedo e mostrei para ele.
— Por que está me mostrando isso? — perguntou, sem entender.
— Ouvi dizer por aí que você sabe coisas de computador — falei — Eu sou péssima nisso.
— Não sou tão bom assim — foi modesto.
— Bem, esse cara da imagem é um hacker mundialmente conhecido, você deve ter ouvido falar dele — falei e ele só concordou com a cabeça — A única coisa que descobri é que ele é daqui da Nigéria. Você sabe onde nós podemos encontrá-lo?
— Por que diabos um cara desses iria querer se encontrar com a gente? — tirei o cartão SD de dentro da minha bolsa e mostrei a ele — O que tem nisso?
— Fotos comprometedoras do presidente do Senado — falei — Talvez alguns outros documentos importantes, nunca se sabe.
— E por que precisa de um hacker? — indagou — Nós podemos tornar isso público.
— Não, porque isso está corrompido ou criptografado — falei — Não sei bem. Não entendo desse tipo de coisa.
— Eu acho que sei quem pode nos ajudar — ele disse, levantando e estendendo a mão para mim — Vem comigo. Quero que conheça um lugar.
Peguei em sua mão e o acompanhei. Caminhamos por uns quinze minutos sem parar. Entramos em uma casa azul com janelas e portas brancas. Ao chegar na sala, puxou o tapete grosso para longe e abriu um alçapão que tinha no chão. Descemos um longo lance de escadas e ele ligou a luz. Bem, realmente era o nosso cara! O lugar aqui em baixo era incrível. Tinha um grande sofá e várias mesinhas e escrivaninhas com computadores e monitores e um notebook preto.
— Você é ele! — observei, empolgada.
— Esse é um segredo que você nunca pode contar a ninguém — ele disse — Nunca.
Ele sentou na cadeira e a moveu até a escrivaninha em que estava o notebook e o maior dos monitores.
— Não se preocupe, eu nunca vou contar — menti.
Entreguei o cartão de memória nas mãos dele e sentei-me no sofá para assistí-lo trabalhar. Percebi que ele foi de um lado para o outro mexendo em milhões de coisas. Aquilo só ficou mais estranho quando ele socou a mesa com força.
— Não vou poder fazer isso — resmungou — Não consigo achar a droga do adaptador de cartão de memória.
— Hey, se acalma — pedi, pegando o meu na bolsa — Eu tenho um. Toma.
Ele colocou o cartão no adaptador e o inseriu no notebook. Então, ele começou a fazer o seu trabalho. Eu sabia que Ford demoraria um pouquinho para chegar, mas esperei alguns poucos minutos antes de mandar mensagem para ele.
“Você deveria fazer aquela coisa estúpida de me rastrear agora mesmo. é o nosso cara e ele está quase conseguindo acessar o cartão SD. Xx Gonzalez
Guardei o celular dentro da bolsa e aguardei. Logo depois, já havia conseguido acessar o cartão de memória.
— Uau, você realmente conseguiu algo importante aqui — disse, empolgado — Eu gostei de você, garota.
— Já que você gostou de mim e eu gostei de você... — levantei, indo até ele e o fazendo levantar também — Deveríamos levar isso adiante.
Eu precisava mantê-lo longe daquele computador ou Ford me mataria antes que qualquer um do governo tentasse o matar por ter vazado uma informação daquelas.
— Eu deveria publicar aquilo ali agora mesmo — ele disse, indeciso.
— Você vai ter todo o tempo do mundo depois — sorri, puxando minha camiseta para cima e a tirando.
— É, eu acho que aquilo pode esperar.
me beijou, segurando firme em minha cintura e me puxando contra ele. Ri sozinha. Foi um ato involuntário. Ele pensou que fosse porque eu estava gostando, mas, na verdade, era porque eu estava conseguindo o impedir de publicar as informações na deep web. Não que eu não estivesse gostando, é claro. Estava muito bom. Eu só não tinha tempo para isso e bem, eu não queria fazer sexo com aquele cara. Se fosse em algum outro momento, eu aceitaria isso, totalmente. Agora, porém, minha cabeça estava em outro lugar, em outra pessoa. Eu precisava fazer a minha vida tomar um rumo. Eu não podia ficar pensando em alguém que já saiu da minha vida há anos, alguém que eu decidi deixar para trás. resgatou-me de meus pensamentos quando me deitou no sofá. Ele subiu em cima de mim e começou a beijar o meu pescoço. Isso era jogo baixo. Minha fraqueza era beijos no pescoço. Fechei meus olhos e deixei rolar.
— Aqui estão eles — arregalei os olhos ao ouvir a voz de Ford.
— Pensei que não chegaria nunca — revirei os olhos.
— O que diabos está acontecendo aqui? — perguntou ao sair de cima de mim.
— Você é realmente um cara legal — disse, com pesar — Sinto muito por ter que fazer isso, mas eu precisava do meu novo começo.
— Você fez isso mesmo? — ele gritou, enquanto Ford o algemava — Quem são esses caras?
— Governo dos Estados Unidos — respondi — Sei que você não acredita em mim, mas eu realmente sinto muito.
— Não sei por quê confiei em uma americana.
— Cara, eu não sou americana, sou porto-riquenha!
— Tanto faz.
O Agente Ford o empurrou escada a cima e outro agente o acompanhou para fora. Ford voltou lá em baixo enquanto eu ainda estava a procura da minha camiseta.
— O que diabos você estava fazendo? — Ford parecia inconformado com o que havia acabado de ver — Você está aqui a trabalho.
— Você também estava quando dormi com você — vesti minha camiseta, rindo da expressão que tomou seu rosto ao me ouvir dizer aquilo — De qualquer modo, eu só estava fazendo aquilo para o impedir que ele publicasse as informações dessa coisa — entreguei o cartão de memória para ele — Deveria me agradecer.
— Só isso? — ele riu, sarcástico — Eu vi seu rosto. Você estava gostando.
— O que posso dizer? — dei de ombros — O garoto sabe como se faz.
— Não preciso saber dos detalhes.
— Tanto faz — bufei — Só vamos logo para a Rússia. Eu durmo no avião.

*Ramadã é o nono mês do calendário islâmico.


3. Москва, Россия.

“Moscow, Moscow, drinking vodka all night long.
Keeps you happy, makes you strong.”

Moscow – Genghis Khan

23 de Janeiro de 2016.

Dormi a viagem inteira e mais um pouco quando cheguei aqui. Durante o almoço, fiz a primeira coisa plausível e óbvia: Pesquisei o nome de no Google. Foi aí que percebi uma coisa muito importante; não seria uma pessoa difícil de encontrar, já que, em Moscou, ele era uma pessoa pública. O maior problema seria conseguir me aproximar dele e o levar para longe de todos. Eu queria tentar arrancar alguma informação dele para descobrir por qual motivo o governo estava atrás dele. Considerando que ele era ex-militar, eu poderia apostar que ele havia sido um espião russo e que os Estados Unidos tinha se ferrado em alguma coisa por causa dele. agora era um candidato político. Ele havia anunciado sua candidatura há cerca de dois meses. Seria difícil chegar até ele.
Pensando em como eu teria que bolar um plano, talvez complexo, decidi procurar mais sobre no Google. Como ele era uma pessoa pública, era mais fácil de achar informações sobre ele na internet. Deparei-me com uma notícia, dizendo que havia acontecido um atentado no local onde ele estava há pouco mais de um mês. O repórter acreditava que as intenções desse atentado eram atingir , já que ele havia acabado de anunciar sua candidatura. Isso me deu uma ideia. Por sorte, tinha uma espécie de comício público durante a tarde de hoje. Disse ao Agente Ford que precisava que ele, ou algum outro atirador que trabalhasse para ele, atirasse no no final da tarde. Ford foi à loucura. Disse que não podíamos fazer isso, o que me deixou mais irritada com ele do que nunca. Então contei o resto do plano. não ia se ferir. Eu aparecia e o jogaria para longe, o salvando. Talvez isso fosse o necessário para que ele confiasse em mim ou, pelo menos, ficasse curioso. Depois de brigar com Ford outra vez, o esquema estava combinado.
E isso foi exatamente o que aconteceu. Eu estava lá, durante o comício, só observando. Quando consegui chegar perto, avisei a Ford que estava na hora. E então eu corri e gritei um “Cuidado!” e empurrei para longe. O tiro pegou em mim, no meu ombro, mas apenas de raspão.
— Você está bem? — abaixou-se do meu lado, parecendo preocupado.
— Sim, só pegou de raspão — falei, fazendo careta por causa da dor — O que importa é que você está bem. Você que é o importante aqui.
— É, mas foi você quem me salvou de tomar esse tiro — ele disse.
— De nada — falei, me levantando.
Saí de lá com a mão no ombro. Comprei um guarda-chuva assim que percebi que estava começando a nevar. Queria um guarda-chuva preto, mas não encontrei. Acabei pegando um amarelo. Revirei os olhos. Bem, era melhor um guarda-chuva amarelo do que neve caindo em minha cabeça e rosto. Andei por alguns minutos até o restaurante em que havia combinado de encontrar Ford. Percebi que alguém estava me seguindo, então, decidi mandar uma mensagem para o Agente Ford.
“Não apareça aqui no restaurante. Um dos seguranças de está aqui, de olho em mim, assim como esperávamos. Não podemos dar chances para ele pensar que foi uma armação. Xx Gonzalez
Entrei no restaurante e pedi uma coisa qualquer. Eu nem estava com muita fome, mas precisava comer. O segurança que estava me seguindo ficou mais longe do local. Ele era esperto, mas eu era mais. Observei ele o tempo todo, sem que ele percebesse. Foi assim que acabei vendo quando parou de nevar — que foi exatamente quando chegou e o mandou ir embora. Ótimo! Hora de sair. Talvez ele venha falar comigo. Paguei a conta e saí do restaurante. Segui o caminho que ia na direção do meu hotel, pois era o único que eu realmente conhecia. Eu tinha esperanças de que viesse falar comigo antes que eu chegasse lá. Entrei naquele beco em que eu havia passado durante a tarde, afinal, ele cortava o caminho quase pela metade; Era a escolha mais óbvia.
Estava escuro e eu comecei a me arrepender de ter ido por ali. Quando parecia que a situação não poderia piorar, quatro homens me cercaram. Eu estava muito ferrada. Pensei com todas as forças que a única coisa que eles queriam era me assaltar. O problema era que, lá no fundo, eu sabia o que ia acontecer, e isso era o meu maior medo. Eles vieram para cima de mim. Tentei lutar contra eles. Consegui usar meu guarda-chuva amarelo para bater na cabeça de um deles; Porém, isso não ajudou muito, já que eles estavam em quatro. Dois deles me seguraram com força. Eu me debati, tentando me desvencilhar, sem sucesso, dos braços daqueles nojentos. Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu deveria ter escutado quando Daniel James — o cara do meu passado, meu parceiro de crime — tinha dito que eu precisava aprender a lutar e que isso me ajudaria muito. Só que eu não o escutei. Eu não quis aprender. E agora eu estava entrando em desespero, sem tem o que fazer.
— Deixem a mulher ir — ouvi uma voz dizer — Soltem-na ou eu atiro em vocês.
Eles me soltaram na mesma hora. Desabei, chorando. Estava feliz por ter sido salva, mas o pânico demorou alguns minutos para passar. Corri e abracei , o agradecendo pelo o que ele fizera. Ele disse que não podia permitir aquilo e que, por outro lado, estava retribuindo o favor.
— Você me salvou — respirei fundo, tentando me acalmar — É sério, muito obrigado. Se você não tivesse com essa pistola...
— Tecnicamente, não é bem uma pistola — ele riu — É de brinquedo.
— O que? — comecei a rir — Por que você andaria com uma arma de brinquedo?
— Porque tenho um evento daqui a pouco, e lá eles não permitem armas, nem mesmo para ex-militares — contou-me — Como eu não gosto de andar sem nada para me defender, decidi usar essa arma para que pelo menos pudesse assustar alguém, se necessário.
— Parece que foi mesmo necessário — falei — Você estava me seguindo?
— Mais ou menos — admitiu — Bem, você salvou minha vida. Acabou me despertando certa curiosidade.
— Isso é ótimo — suspirei — Se isso não tivesse acontecido, você não estaria aqui para me salvar daqueles caras.
— Sei que não é um momento bom para isso, mas... — ele hesitou antes de continuar — Você quer ir a esse evento político comigo?
— Não acho que eu esteja vestindo uma roupa apropriada para esse tipo de evento, Sr. — falei, incerta.
— Podemos comprar um vestido para você.
— Mas as lojas já estão fechadas — observei.
— Eu tenho meus contatos — disse simplesmente.
Dei de ombros e aceitei. Acabei indo para a festa com ele vestindo um lindo vestido vermelho. Fui apresentada a várias pessoas, já que eu era a acompanhante dele. me fez dançar, o que eu me mantive recusando por diversas vezes, mas, no fim das contas, tive que aceitar. A última vez que eu havia dançado com outro cara, tinha sido com Daniel James. Era incrível como tudo me fazia lembrar ele. Isso me irritava profundamente. Não era como se eu tivesse sido abandonada por ele — tinha sido o contrário; Eu não devia me sentir assim.

Perto do final do evento, fomos embora. Acabei indo para a casa dele. era um cara legal e isso estava tornando as coisas mais fáceis. Já em sua casa, ele me ofereceu uma sobremesa com um nome estranho: Bolo de Leite de Pássaro. Fiquei um tanto quanto apreensiva em comer um bolo com esse nome; Porém, não fiz desfeita. O bolo era realmente gostoso.
— Ai, meu deus! — exclamei — Você precisa me ensinar a fazer isso?
— É sério que vocês, americanos, não conheciam esse bolo? — perguntou, surpreso.
— Não sou americana, sou porto-riquenha — o corrigi — Mas não, nunca tinha nem ouvido falar.
— Eu vou te ensinar — ele me jogou um avental vermelho e eu o vesti — Não é difícil.
E ele me ensinou como fazer aquela iguaria russa. Tinham três partes, a massa, o suflê e o glacê de chocolate. Sujei-me bastante, mas não sei se consegui fazer do jeito certo. O que importa é que foi bem divertido. No fim das contas, não consegui entender o por quê daquele nome estranho — o que foi bem decepcionante, porém, não quis perguntar sobre.
Tirei o meu saco de dormir de dentro da bolsa e o coloquei no chão.
— O que foi? — perguntei ao ver o modo como me encarava.
— De jeito nenhum que você vai dormir aí — ele disse — Você pode ficar com a cama e, se quiser, eu arrumo outro lugar para dormir.
— Não, está tudo bem — garanti.
— Está muito frio para dormir em um desses sacos de dormir — ele se manteve.
— Tudo bem, eu fico na cama — falei — Mas pode ficar também. Não vou fazer você dormir em outro lugar por culpa minha.
— Como está se sentindo com o que aconteceu hoje mais cedo? — ele perguntou ao sentar-se ao meu lado na cama.
— Estou muito triste — fiz careta — Eu sempre sonhei em conhecer a Rússia, principalmente Moscou, mas acabei me frustando totalmente com o país — suspirei pesadamente — Aqueles caras iam me violentar! Eu não consigo ter uma boa impressão sobre o país depois disso.
— Olha, sei que não vai mudar muita coisa, mas acho que tem algo que pode melhorar só um pouquinho a sua memória sobre nosso país — ele disse — E, além disso, ajuda contra o frio.
— E o que seria isso? — questionei quando ele levantou.
— Vodka russa — ele mostrou uma garrafa e eu sorri abertamente.
Passamos um bom tempo bebendo. Bebemos bastante. Eu me sentia tonta e um pouco alegre. Eu gostava da presença de , ele me fazia sentir bem. Em troca disso, resolvi dar um presente a ele. Fui até minha bolsa e procurei a lembrancinha de Abuja que havia me dado. Era um chaveiro no formato da Millennium Tower.
— Quero te dar um presente por ter me salvado e por estar me fazendo sentir-me bem nesse momento — falei, entregando o chaveiro a ele — É uma lembrancinha de Abuja, Nigéria. Eu estive lá há algum tempo e o lugar era muito, mas muito legal e bonito.
Fiquei com pena de entregá-lo ao governo dos Estados Unidos. havia sido tão legal comigo. Que droga! Isso não importa. A única coisa importante aqui é eu ficar com a minha ficha limpa. Mandei a mensagem dizendo a Ford que ele e os outros agentes já podiam vir. Aproveitei enquanto eles não chegavam para beber mais um pouco daquela vodka e me divertir. Os agentes chegaram mais rápido do que da última vez. tentou lutar com eles. Ford me segurou e eu esperneei, fazendo aquilo parecer mais real do que realmente era. Ford pressionou o cano de sua nove milímetros em minha cabeça.
— Não faça isso — disse, se rendendo — Podem me levar, mas não façam nada contra ela. Gonzalez não tem nada a ver com isso.
Ah, mas ele estava muito enganado. O plano todo era meu e bem, tinha dado muito certo. Ford me soltou enquanto os outros levavam para fora.
— Bom trabalho. Você fez o cara realmente gostar de você — o Agente Ford disse — Ele queria te proteger.
— Ele fez mais do que isso hoje à noite — contei, lembrando que ele havia me salvado daqueles caras — me salvou. Não quero falar sobre isso.
— Tem certeza?
— Podemos, por favor, voltar para os Estados Unidos?


4. Boston, United States of America.

“And it makes me feel so fine I can't control my brain.
We'll run away together. We'll spend some time forever. We'll never feel bad anymore.”

Island In The Sun – Weezer

26 de Janeiro de 2016.

Observei aqueles três rostos que me encaravam. . . . Todos ali, sentados, sem tirar os olhos de mim. Eu estava em uma instalação do governo americano — de localização desconhecida, pelo menos para mim.
— Eles pegaram você também? — esbravejou — Eu falei para te deixarem em paz.
— O que diabos está acontecendo aqui? — dessa vez foi quem se pronunciou — Você também conhece a Gonzalez?
— Sério que vocês não sabem? — revirou os olhos — Ela está trabalhando com eles, seus babacas. Foi ela quem nos entregou.
Eles começaram a discutir e me xingar. Bufei. Por que eu tinha que ficar aqui ouvindo toda essa droga?
— É, eu entreguei vocês. E daí? — dei de ombros, revirando os olhos — Eu sou uma criminosa. Eles me deram a oportunidade de limpar o meu nome. Estou fazendo o que posso — eles começaram a falar outra vez, todos ao mesmo tempo — O mundo é grande e ruim desse jeito. Superem!
— Srta. Gonzalez — o Agente Ford apareceu — Por favor, me acompanhe.
Eu estava com muita vontade de o xingar, mas tentei me manter calma. Ele me levou até a sala do seu chefe, o Agente Rice. Eu já estava de saco cheio de ficar ali. Não era para eu estar em Boston procurando pelo quarto cara da lista? Alguns segundos depois, descobri que essa “reunião” tratava-se exatamente disso. Rice colocou uma maleta em cima da mesa e a abriu. Era dinheiro. Eu não estava entendendo merda nenhuma daquilo. Não era para eu receber nada pelo que fiz.
— O cara de Boston vai ser um pouco complicado de encontrar e muito mais difícil de pegar — o Agente Rice falou — Nós realmente precisamos que você nos traga esse cara sob qualquer circunstância.
— Então, esse dinheiro é para mim? — perguntei e ele concordou com a cabeça — Para me incentivar a trazê-lo para vocês, independente do que acontecer e do quão difícil for?
— Exatamente.
Dei de ombros e concordei, pegando a maleta. Isso era melhor do que simplesmente limpar meu nome; Eu ainda estava recebendo dinheiro por isso, como se fosse um trabalho qualquer. Alguns minutos depois, vendaram meus olhos e me levaram para fora da instalação — assim eu nunca saberia exatamente onde se localizava. Ford me deixou na rua, perto de uma estação.
— Eu vou para Boston amanhã — Ford me disse — Se precisar de alguma ajuda amanhã ou depois, é só me ligar ou mandar mensagem.
Peguei o metrô para Boston. Foi uma viagem entediante e bem chata. Eu até mesmo vi um assalto acontecer bem em minha frente. A violência e os assaltos em todos os lugares só estava piorando. Isso me deixava um pouco irritada, mesmo que eu fosse uma ex-criminosa. Saí de lá e me dirigi para o hotel em que eu ficaria hospedada, o hotel que a Inteligência Americana pagaria para mim. Enquanto ainda estava no metrô, havia conseguido marcar um encontro com um amigo do meu passado. Por sorte, ele ainda mantinha o mesmo número de telefone. Talvez ele soubesse quem era esse tal de que eu precisava encontrar.
Tomei um banho rápido e vesti uma skinny preta e uma blusa qualquer da mesma cor. Passei lápis de olho e rímel a prova d'água, como de costume. Vesti minha jaqueta preta e saí do hotel. Faltavam poucos minutos para encontrar-me com Richie. Caminhei até o local combinado. Parei próximo da esquina do Templo Israel, uma sinagoga bem conhecida por ali. Richie chegou logo depois.
— Richie, quanto tempo — o cumprimentei — Eu preciso de um favor.
— Bem, talvez eu devesse te alertar que eu abandonei o mundo do crime — ele disse e eu sorri — Não posso demorar muito porque tenho que entrar.
Ele apontou para a sinagoga. Fiquei surpresa por Richie estar finalmente seguindo sua religião. Eu sempre souber que ele era judeu, mas ele nunca pareceu se importar com nada relacionado a isso.
— Tudo bem, vai ser rápido — garanti — Não preciso que se meta com nada dessa vida outra vez. Só preciso saber se você tem qualquer informação sobre aquele cara de quem te falei por mensagem.
— Bem, eu ainda te devia um favor, então falei com algumas pessoas — Richie disse — A única coisa que eu consegui descobrir é que você só vai conseguir informações sobre esse cara no lado leste de Boston.
— Ótimo! — comemorei — Não é muito longe daqui.
— Esse cara é tipo um fantasma — me alertou — Poucos conhecem o rosto dele.
— Isso é estranho e um pouco assustador — ri — Muito obrigado, Richie, de verdade.
— Gonzalez — me chamou — Tome cuidado.
Caminhei pelo lado leste da cidade por algum tempo. Avistei um lugar um tanto quanto suspeito e decidi entrar lá. Minha vida de criminosa durou muito tempo, então, eu saberia como contornar qualquer problema que eu poderia ter por ali. Avistei um cara sentado, sozinho, de costas para mim. Ele estava no telefone e falava em uma língua que eu não entendia — talvez fosse russo, não sei.
— Toc, toc! — falei assim que ele desligou o telefone.
O cara levantou e virou-se em minha direção. Quando seu olhar encontrou o meu, eu me senti desabando. Senti um aperto no coração e uma imensa dificuldade de respirar normalmente. Meu queixo caiu e não consegui pronunciar nem sequer uma palavra. Eu mal conseguia me mexer. Eu estava atônita, apenas sentindo todo aquele sentimento que tentei esconder por anos me preencher da cabeça aos pés. Eu não conseguia acreditar naquilo. Ele estava bem ali, na minha frente. Respirei fundo.
— É irônico como as coisas voltam para você quando você para de procurá-las — ele disse.
Coloquei a mão sobre a minha boca e senti meus olhos se inundarem. Pensei que eu fosse desabar literalmente quando ele deu mais um passo em minha direção. Finalmente, consegui sair do lugar. Fui em direção a ele e o abracei forte, selando nossos lábios logo em seguida. Escorei minha cabeça em seu peito, tentando controlar minha respiração. Era incrível como aquele sentimento ainda estava vivo e consumindo todas as minhas forças.
— Eu senti tanto a sua falta — soltei, suspirando.
Ty goryachiy — ele disse, me fazendo afastar-me um pouco dele e franzir o cenho.
— Pode esperar eu pegar meu celular e abrir o translate para ver se eles conseguem traduzir para mim a merda que você acabou de falar? — ri, pegando o aparelho na mão — Ou talvez você poderia traduzir e me dizer se isso é mesmo russo, como eu suponho que seja.
— É russo, sim — ele concordou, rindo — Significa que você está linda. Bem, não exatamente nessas palavras. Foi mais para, sei lá, gostosa.
— Você é exatamente como eu me lembrava — sorri.
— Falando nisso, temos muito para conversar — ele disse e eu concordei — Se você não se importar, podemos ir para a minha casa.
— Por mim, tudo bem — concordei — Agora pode me dizer desde quando você sabe falar russo?
— Aprendi cerca de dois anos atrás — ele disse — Além do inglês, sei falar mais três línguas; Espanhol, que aprendi com você; Português brasileiro, por ter alguns clientes de lá; E russo.
— Isso é ótimo — disse, enquanto caminhávamos até a casa dele — Enquanto você aprendeu coisas novas, eu me arrependi de não ter aprendido a lutar, como você dissera para eu fazer.
— Por quê? — ele pareceu preocupado — O que aconteceu?
— Quatro caras tentaram me violentar e eu não consegui me defender — contei — Mas um outro cara me salvou.
— Que droga. Isso é terrível. Ainda posso te ensinar a lutar, se você quiser.
— Na verdade, queria que você me ensinasse a atirar — ele me olhou, surpreso — Vi que tem uma nove milímetros na sua cintura. Isso significa que você sabe como funciona.
— Posso te ensinar — ele disse assim que entramos em sua casa — Você sempre foi uma boa observadora.
— Inclusive, estou percebendo o modo como você está me olhando — mordi o lábio.
— Quer aprender a atirar agora ou depois? — perguntou, sem delongas.
— Depois. Com certeza, depois — tirei a minha jaqueta de couro e a joguei no sofá — Seu quarto?

— Isso foi muito bom — disse, enquanto vestia minha lingirie outra vez.
— Eu senti sua falta também — ele foi sincero — Não queria admitir, mas senti.
— Eu acho que realmente precisamos conversar sobre isso — voltei para a cama, sentando de frente para ele — Eu sei que isso foi minha culpa.
— Eu estava apaixonado por você. De verdade — ele disse, segurando firme em minhas mãos — Mas você me abandonou. Eu acordei naquele dia em San Antonio e você simplesmente tinha ido embora, desaparecido, sumido do mapa.
— Eu sinto muito, muito mesmo. Eu não soube lidar com as coisas — fui sincera — Eu me apaixonei por você e percebi que ser sua parceira de crime e te amar ao mesmo tempo não funcionava bem. Não para mim. Eu precisava separar as coisas.
— E então você escolheu me deixar.
— Na verdade, eu meio que abandonei tudo — falei — Eu fui embora, me afastei de você e bem, depois daquilo, não fazia mais sentido cometer crimes. Então, eu meio que me aposentei.
— Mas agora você está aqui.
— E nos reencontramos — suspirei — Não teve um dia em que eu não refletisse sobre o erro que eu tinha cometido em fugir do único cara que já amei na minha vida.
— Eu fui atrás de você, sabe? — ele parecia tremendamente triste ao admitir aquilo — Procurei você por muito tempo, mas não consegui te encontrar em lugar nenhum Você sabe, não sou bom em encontrar pessoas; Era você quem fazia essa parte.
— Você sabe que eu te amo.
— Eu amo você, Gonzalez — ele disse, me olhando nos olhos — Eu nunca deixei de te amar.
Ele me beijou calmamente. Eu sorri.
— Talvez você devesse saber que não estou mais usando meu antigo sobrenome — falei — Agora, sou .

Já era madrugada, mas não nos importamos. Ele me levou para fora e deu a pistola nove milímetros em minha mão. Ele me mostrou como empunhá-la, equilibrá-la e, o mais importante, não esquecer da trava. Ensinou-me a mirar e a atirar. Fiquei muito feliz. A sensação era muito, mas muito boa. Assim que acabamos, o beijei com vontade. Era bom finalmente estar com ele de novo. Entramos e voltamos para o quarto. Sentamos na cama e logo surgiu um outro assunto sobre o tempo que passamos juntos por várias cidades do Texas. Essa era a primeira lembrança de todas; Era algo especial para nós dois.
— Lembra de quando a gente se conheceu? — ele pergunta, já rindo.
— Quando você escondeu aquela bendita escultura pequena e cara na minha mala? — ri, lembrando da confusão — Por que escolheu logo a mim?
— Eu nunca tinha te visto na vida e bem, você era gostosa — ri alto ao ouvir aquilo — Ah, qual é! Estávamos no aeroporto e eu nunca conseguiria passar com aquilo sem que a alfândega me pegasse.
— Você deu sorte que eu também era criminosa — pisquei para ele — A alfândega quase me pegou!
— Falando nisso, sempre fiquei curioso para saber como você saiu daquela com o objeto — comentou — Você nunca me contou como aconteceu.
— Eu tenho meus contatos — dei de ombros, rindo — Lembra do Richie? Eu tinha dormido com ele uma vez, há muito tempo, e ele estava me devendo um grande favor — contei — Sim, ele era criminoso, mas trabalhava lá. Você teve uma sorte enorme pelo fato de eu ser esperta o suficiente para me dar conta de que aquela escultura era valiosa de alguma forma. Aí foi fácil de passar.
— Simples assim? — perguntou e eu concordei com a cabeça — Lembro que você ficou completamente sem reação quando eu te beijei.
— E o que você esperava? — revirei os olhos — Eu nunca tinha te visto na minha vida e você já chegou me beijando.
— Mas você gostou.
— Como eu disse inúmeras vezes, você é um cara de sorte — afirmei — Se eu não tivesse te achado bonito e gostado do seu beijo, você não teria sua escultura até hoje.
— Você sabe que aquela escultura não era tão importante assim — ele fez careta.
— Sim. Eu lembro de quando a gente a quebrou e tirou aquela pedra preciosa de dentro.
Passamos mais algum tempo relembrando nossas aventuras pelo Texas, até que caímos no sono.

No outro dia, depois do almoço, decidi que precisava levar em frente meu plano de descobrir quem era esse tal de . Acho que eu precisaria de ajuda.
— Hey, estou procurando uma pessoa — falei — Um tal de . Por acaso, você saberia quem é esse cara?
— Se você esperar alguns minutos... — ele saiu da casa e, uns dez minutos depois, entrou com uma cara alto de cabelos escuros — , conheça . Esse é o cara que você está procurando.
Passamos um bom tempo conversando sobre negócios e, como sempre, nosso passado como criminosos. Então, foi embora. Daniel J. voltou até mim. Conversamos aleatoriamente entre um e outro beijo. Foi aí que eu resolvi que deveria confiar nele se eu quisesse realmente seguir em frente com isso.
— Olha, eu decidi que preciso confiar em você e só por isso vou te contar o que tenho que fazer — suspirei, parando na frente dele — Tenho que entregar esse cara, o , para o governo dos Estados Unidos. Eles prometeram limpar o meu nome se eu fizesse isso — ele afastou-se, sacando sua arma e a apontando para mim — Sério? — gritei — Vai me matar para defender aquele cara?
— Eu sou o seu cara.
— E o que diabos isso deveria significar?
— Eu sou o .
Fiquei imóvel. Entrei em estado de choque. Agora, eu finalmente conseguia entender o por quê do Agente Rice ter me dado aquela maleta de dinheiro. Eles queriam que eu entregasse o meu antigo parceiro de crime. Eles sabiam que Daniel James era . O meu cara era o cara que trabalhava para o cartel mexicano, o cara que o governo queria. Caí sentada no sofá e cobri meu rosto com as mãos. Isso não podia estar acontecendo.
— Eu não vou te perder mais uma vez — levantei a cabeça, olhando para ele. Meus olhos estavam cheios de lágrimas outra vez.
— Não é como se você tivesse muitas opções — ele fez careta, sem ousar baixar a pistola.
— Na verdade, eu tenho duas — levantei, mas sem me aproximar — Ou eu desisto outra vez do amor da minha vida, em quem eu não consigo parar de pensar, o entrego para o governo, limpo minha ficha e fico sozinha... Ou eu desisto disso e fico ao seu lado — expliquei — Só que o único jeito de fazer isso seria fugindo.
— E como sei que posso confiar em você?
— Você me conhece, — usei seu novo nome — Escuta, eu tenho um chip de rastreamento deles no meu pescoço — contei — Se formos fazer isso, você precisa tirá-lo de mim e o deixar aqui, para ser encontrado depois que fugirmos.
— Eu até tenho um pouco de dinheiro guardado — contou-me, guardando novamente sua arma — Eu estava meio que roubando do cartel mexicano.
— Esse é o meu garoto! — exclamei, empolgada — O governo me deu uma maleta de dinheiro. Eles sabiam que o último cara de quem eu tinha que ir atrás era meu parceiro de crime do passado, então, eles me deram esse “incentivo” — revirei os olhos — Eles não sabiam que não éramos apenas esse tipo de parceiros.
— Sorte nossa — ele sorriu — Mas as notas...?
— Não são sequenciais — garanti — Essa foi a primeira coisa que chequei.
— Essa é a minha garota! — ele sorriu abertamente — Para onde acha que deveríamos ir?
— Brasil — falei rapidamente — Lá é lindo e bem, você disse que fala português.
— Que lugar do Brasil, especificamente? — questionou — Rio?
— Não, Rio de Janeiro é conhecida demais — fiz careta — Rio seria o primeiro lugar em que nos procurariam se suspeitassem que fugimos para lá.
— O que sugere?
— Maceió — falei — Ouvi dizer que é muito bonito lá e que tem praia. Sei que você gosta de praias.
— Você me conhece bem — ele sorriu e me beijou apaixonadamente — Pronta para começar nossa nova vida?
— Estou mais do que pronta — sorri — Eu amo você, .
— Eu também amo você, .

FIM



Nota da autora: Oi, oi, oi. Escrevi com carinho e, no fim das contas, pensei que não iria conseguir terminar. Mas deu certo. Parte disso graças à Mah (Maria C.) que ficou me enchendo o saco pra escrever hahah <3 ENFIMMMM, espero que gostem.

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