Meu mundo parecia cair. Estava tudo indo tão bem e agora está de cabeça para baixo.
Eu, com meus 20 anos, encontrei a menina que correspondia as minhas expectativas. O único problema era que ela era mais nova que eu... Bem mais nova. tinha 16 anos. Mas não teve jeito e eu acabei tendo uma queda por ela.
Nos conhecemos na matinê de domingo que ela costumava frequentar. Não queria ir pelo fato de só ter menininhas adolescentes e sem graça, mas meus amigos da banda me convenceram a ir, principalmente quando disseram que pagariam pelas minhas bebidas. Não iria economizar na cerveja, vodka e shots de tequila.
O local não estava muito cheio e reparei que na TV passava um documentário sobre John Lennon. Privilege, a matinê, era dividida em dois ambientes através de uma parede de vidro. No lado de fora havia sempre uma banda e na pista, tocava música eletrônica.
Estava encostado na parede, com uma cerveja na mão, o que já era a minha quarta depois de dois shots de tequila, quando a vi lá dentro. Não sei como, talvez destino, talvez coincidência, ela reparou em mim. Estava sorrindo. Estupidamente, aproximei-me do vidro e quase bati a cara. Ela soltou uma risada. Fiz um sinal para que me esperasse lá dentro e fui ao seu encontro.
Primeiramente ficamos só dançando. Duas músicas depois, eu não aguentava mais.
- Posso saber o nome dessa menina sorridente?
- . - Ela me disse, ainda sorrindo.
- ... - Fiz graça, fazendo uma reverência e beijando sua mão. Não sei como consegui tal feito, já que a pista estava mais cheia que o lado de fora e a luz estava piscando loucamente. Tudo parecia estar em câmera lenta... Não sei se era só a luz ou o efeito da bebida.
Como a luz seguia a música, a batida ficou espaçada e tudo ficou escuro. O pessoal gritou e essa era minha deixa.
Aproximei-me e a beijei. Tudo acontecia rápido; sentia a luz passando mesmo estando de olhos fechados, a música voltou com a sua batida agitada e o beijo continuava cada vez mais quente. As mãos haviam criado vida e vontade própria.
Cinco músicas se passaram.
Cinco músicas que estávamos nos beijando.
Cinco músicas para alguém começar a se animar.
- Quer sair daqui? - Perguntei, arfando, em seu ouvido. Como ela não tinha escutado, por conta da música alta, repeti, gritando. Ela apenas balançou a cabeça positivamente.
Saí puxando pela mão entre as pessoas. Quando olhei para a TV, me surpreendi. Estava passando o DVD da Xuxa. Ou seria só um comercial? Não me importava. Já estava muito alterado pela bebida e pelos beijos, e só me importava ir com a para a Hilux, o automóvel utilitário esportivo do .
O espaço na parte de trás era grande e foi lá que terminamos nossa noite. A primeira de muitas que estavam por vir.
E então, quase quatro meses depois, dois antes de entrar em uma pequena turnê de divulgação das novas músicas de trabalho da banda por Las Vegas, descobri que ela estava grávida.
Depois de uma das nossas tardes alucinantes, com direito até a cinta-liga, fomos tomar banho. Ela ficou enrolando na banheira, alegando estar cansada. Beijei-a e fui para o quarto me trocar. Quando estava terminando de me trocar, o celular dela tocou. Achei que era uma ligação e apertei qualquer botão, porém percebi que a tela havia mudado; era uma mensagem. E aí, já contou para o ? Ele tá feliz em ser papai?, era o conteúdo da mensagem.
Ainda bem que eu estava perto da cama, porque desabei nela com o celular ainda nas mãos. A mensagem parecia não fazer sentido.
Li, reli e li de novo. Não era possível! Papai? Era isso mesmo que eu estava lendo? Então estava grávida?
O tempo passou e eu me encontrava na mesma posição. saiu do banho e começou a se trocar, cantarolando uma música.
Eu parecia estar perdendo o autocontrole. Achava que ia explodir.
- O que é isso? - Indaguei com raiva e violência.
- Defina isso, Dan... - Ela parecia não ter reparado na minha voz. Ela estava de costas, terminando de colocar a camiseta e secando seus cabelos com a toalha.
Subi meus olhos raivosos e encontrei os dela. Vi a transformação do olhar calmo para o medo; ela estava com medo de mim.
Ataquei o celular na cama e avancei nela. Acabei a prensando na parede, segurando com força em seus ombros.
- O que significa eu ser papai? - Praticamente cuspi essas palavras em seu rosto. Seu rosto perdeu a cor com a minha pergunta. - O que isso significa?
Perguntei praticamente gritando. Segurava seus ombros e a balançava com força.
- Você está me machucand...
- O que isso significa, ? Me fala! Você está escondendo algo de mim? Você está escondendo uma gravidez? Um filho de mim? Um filho que é meu?
Lágrimas já lavavam seu rosto e soluços saíam de sua garganta. Em um ato de proteção, ela abraçou si mesma, na altura da barriga.
estava muito assustada. Tirei minhas mãos de seus ombros e coloquei ao lado deles, que agora estavam vermelhos por causa da minha pressão que fora aplicada neles. Agora estava encostado na parede, deixando-a entre meus braços. De repente percebi que ela havia caído no chão. Pensei que fosse um desmaio, mas ela continuava chorando.
Lágrimas agora desciam pelo meu rosto.
- Por quê? - Suspirei, tentando me acalmar. - Por que você não me contou?
Ela não dizia nada e seguia chorando.
- Por quê? - Gritei e soquei a parede. Seu choro aumento com a minha reação. Agachei-me na sua frente e ela se encolheu.
Eu jamais seria capaz de machucá-la, jamais agrediria uma mulher. Ainda mais a , por quem eu tinha um afeto imenso e agora... grávida. Tirando os últimos minutos que apertei seus ombros.
Sentei no chão e tentei, novamente, me acalmar. Precisávamos ter uma conversa longa. Não sei quanto tempo passou, mas meu mundo continuava rodando.
- Eu ia te falar, ... - Ela começou dizendo entre seus soluços. - Eu só não sabia como. Nós nem estamos em um relacionamento fixo...
- Como você pode dizer isso, ?! Nós estamos juntos há seis meses.
- Mas você nunca disse nada, . Droga! É difícil você entender? - As lágrimas voltaram a molhar seu rosto. - Você nunca disse um 'eu te amo' ou me pediu em namoro. Nos vemos quando dá e pronto. Por que eu te contaria se não somos exclusivos? Somos apenas uma transa casual.
- Não é assim...
- Como isso poderia ir pra frente com a nossa diferença da nossa idade? Pelo jeito, esses quase quatro anos que nos separam parecem fazer uma grande diferença. Eu fiz aniversário e você só me mandou uma mensagem escrito 'Parabéns. Te vejo na sexta.', e lá fomos nós para cama, novamente. - Soluços, gritos e lágrimas. Era isso que acontecia no meio de cada fala.
- Eu... Eu não sei, . - Levantei e me sentei na cama, apoiando minha cabeça em meus braços. Minha cabeça parecia estar com uma sirene disparada em seu interior. Me arrependo agora de não ter prestado atenção nas aulas de ioga que minha mãe me obrigava a ir com ela. - Eu imaginei que você nunca quisesse algo sério por causa da nossa diferença de idade mesmo. Você continuava a me ver, vinha aqui em casa... Não sabia o que dizer. Achei que você estava só me usando.
- ! - Ela gritou meu nome e aumentou a intensidade do seu choro.
- Eu não sei, porra! Pensei em te pedir em namoro. Eu tenho sentimentos por você, . Eu te amo. Mas sempre que eu pensava, via você ao telefone com um Charles. Então eu desistia e fingia que nada acontecia dentro de mim.
- Charles? Não acredito, ... - A risada que ela dava era incrédula. - Você já parou para pensar que eu poderia, e de fato tenho, um irmão? Um irmão mais velho que se preocupa comigo e me dá cobertura quando eu dou minhas fugas para vir até aqui!
- Um irmão? - Até sorri depois dessa declaração. Joguei-me perto dela, no chão, e a abracei. - Desculpa, desculpa, desculpa... Eu fui um idiota, eu deveria ter te falado tudo antes, te perguntado. Não deveria ter te machucado. Desculpa, , desc...
Minha boca foi fechada por sua pequena mão e logo ela foi substituída por seus lábios. Reconciliação.
Depois, paramos o nosso beijo, junto com nossas lágrimas, e ela se aninhou no meio das minhas pernas.
Fiquei fazendo carinho em seus braços e beijando seus ombros, que ainda estavam vermelhos, e percebi que ela passava suas mãos pela própria barriga - um simples ato de proteção.
Desci minhas mãos e encontrei as suas; ela me guiou em sua pequena barriga. Nem parecia que ela estava grávida.
- Aliás, posso saber de quantos meses você está? Só percebi agora que você está mais... Mais...
- Mais gordinha. Pode falar. Apesar de que eu nem aparento, né? E, bom, tô de quatro meses. De fato, isso aqui - ela passava a mão na barriga -, aconteceu na noite da nossa comemoração do meu aniversário.
- Mas... Eu lembro de ter...
- Eu sei, . Só que pelo jeito a camisinha estava furada.
Não sabia como reagir depois disso tudo.
A noite começava a cair. Decidimos ir direto para a cama. deitou-se de frente pra mim e nossas mãos continuavam em sua barriga.
- Já sabe o que é? - Olhava para aquela superfície, me dando conta que ali dentro tinha uma pessoinha.
- O quê, ?
- Se é menino ou menina...
- Não, ainda não dá para ver. Talvez no próximo mês.
- Queria que fosse um menino... Iria ensiná-lo tudo de bom da vida.
- Posso dizer que não estou surpresa por você querer um menino?
- Menino é mais fácil... Ele não vai sofrer de TPM e essas loucuras que vocês, mulherem, sofrem.
- É fácil quando se é mulher... Você aprende a conviver. E, por favor, não vamos discutir a guerra dos sexos. - Ela sorriu. - E eu não tenho preferência. O que vier, vai ser muito bem recebido.
- Se for um menino, vai ser o único homem com quem eu vou dividir você. Se for menina, ela será só minha.
- Só sua, ?
- Falo no sentido de eu ser o único homem na vida dela.
Ela me beijou delicadamente e nos arrumamos para dormir. Quando eu estava quase dormindo, escutei me chamando:
- ?
- Hm? - Murmurei, em resposta.
- Eu também.
- Também o quê?
- Eu também te amo.
Quando acordei no outro dia, estava sozinho. Me perguntei se tudo aquilo de gravidez fora somente um sonho... Se fosse, podia contar para a minha irmã que adorava escrever fanfic, para ela escrever uma com esse assunto. Mas, então, escutei um barulho vindo do banheiro. Percebi que era vomitando.
Então tudo fora mesmo real. Eu iria ser mesmo pai.
Aproximei-me dela e segurava seus cabelos. Ela não me olhava, pude sentir que estava com vergonha, e apenas vomitava no vaso sanitário.
Depois de tudo terminado, saí do banheiro enquanto ela escovava seus dentes.
Pensei em fazer um chá, por causa de seus enjoos, mas não sabia se ela também queria comer algo, nem se apenas o cheiro a fizesse mal. Já tinha ouvido várias histórias que coisas normais como o cheiro do café se transformava em vômitos nas grávidas.
- Desculpa pela cena... - Ela disse, assim que chegou à cozinha. - Mas você nunca tinha acordado antes.
- Antes? Faz tempo que isso acontece? - Perguntei, preocupado.
- Não é com frequência, mas isso vem acontecendo desde o segundo mês... Acho que cerca de três semanas atrás, foi o mais forte. Foi aquele fim de semana que nós acabamos indo para o motel.
- Engraçado que eu nunca acordo nessa hora. - Falei, quando vi que era 02h37. - Tudo bem que fomos dormir perto das 19h, mas eu deveria acordar, no mínimo, às 04h!
- Talvez agora que você sabe, você esteja conectado com essa pessoinha... - Abracei-a, beijando sua testa.
- Talvez possa ser isso.
- Mas essa pessoinha tá exigindo muito de mim... - E lá foi ela de novo para o banheiro com a mão na boca.
Decidi esperá-la no quarto. Porém não vi seu retorno porque acabei dormindo.
No outro dia, ficamos enrolando na cama até não aguentarmos mais. Depois de almoçarmos, decidimos que algumas pessoas deveriam saber da novidade. A melhor amiga dela, Marine, que acabou ficando com o na noite em que a conheci, era a única que sabia. Aliás, fora ela quem havia mandado a mensagem. Precisávamos avisar nossos pais. Eu precisava avisar a banda.
Fomos aos mais interessados e importantes: os pais dela. Logo que chegamos à frente da porta da casa dela, minhas pernas travaram. Eu não conseguia entrar.
- Ei, calma... Vai dar... Tudo certo. - Se era confiança que ela queria me passar, com certeza não foi isso que ela transmitiu. Respirava fundo encarando a porta branca e decorada. - ... - Ela me chamava ao mesmo tempo em que puxava meu rosto para o lado, em sua direção. - Precisamos entrar. Não importa o que aconteça, teremos um ao outro, certo?
Apenas balancei a cabeça afirmando. se aproximou e me beijou delicadamente nos lábios. Ela parecia estar mais segura que eu, porém, não menos nervosa.
- Mãe? Pai? Char?
Não parecia ter ninguém em casa. Ela me deixou na sala e foi à busca deles. Tentei me entreter com as fotos, os móveis e os quadros que decoravam o local. Cheguei até a me assustar quando Charles apareceu. Logo em seguida chegou e seus pais. Ela veio ao meu lado e pediu para nos sentarmos, pois tinha uma longa conversa.
Não conseguia encarar as pessoas ao meu redor. Mantinha meu olhar fixo na foto de , um pouco menor, que se encontrava em cima da mesa de centro.
- Bom... - Começou , ao mesmo tempo em que encaixava sua mão na minha, segurando - e me passando - força. - Mãe, pai, Char, esse é o e nós estamos namorando. - Ela disparou. - Deveria ter te contado antes, mamãe, eu sei, mas não sabia como te dizer.
Apertei sua mão pedindo desculpa. Em resposta, ela mexeu seu dedão, como se estivesse dizendo que estava tudo bem.
- O caso é que estamos namorando. E, bom... - Essa era a hora. Ergui minha cabeça e encontrei três pessoas que nos encaravam. O pai dela estava com um olhar curioso, mas, ao mesmo tempo, raivoso; sua mãe, que era a imagem da daqui uns anos, estava ao seu lado. Já havia um indício de lágrimas em seus olhos. Ela parecia já saber do que estava acontecendo. Charles estava apenas curioso.
Senti respirando fundo e apertando minha mão com ainda mais força.
- Bom... Eu estou grávida.
O silêncio que veio a seguir era quase palpável. Com o canto do olho percebi que a Sra soltava suas lágrimas em silêncio. O unico a se pronunciar foi o Charles.
- Uau, eu vou ser tio. - Olhei pra ele que estava sorrindo, no meu lado direito e, quando ia virar, para saber dos pais de , fui atingido na bochecha esquerda pelo punho do Sr . Acabei caindo de quatro no chão por causa do soco não esperado.
rapidamente juntou-se a mim no chão e Charles atravessou a sala segurando o pai.
- Saiam da minha casa! Agora! - Ele gritava e tentava vir pra cima de nós, mas Charles o impedia.
Quando olhei em seus olhos, tive certeza que eles estavam vermelhos... Mas acho que isso foi o ódio que ele sentia por mim sendo demonstrado. Ou fosse apenas minha cabeça imaginando coisas por causa da batida.
- Saiam! Saiam! - Ele continuava gritando. - Sai daqui, sua qualquer... Vagabunda! E você, seu aproveitador! Espero que esse bastardo seja infeliz, como vocês vão ser. E nem pensem em colocar meu sobrenome nele. Já odeio vocês, principalmente você - ele disse me olhando -, por ter estragado a vida da minha filha. Nunca contem comigo. Nunca! - Depois desse monólogo, Sr subiu as escadas e bateu a porta - provavelmente a do quarto. Só depois disso que senti a dor latejante na minha bochecha agora inchada e ensanguentada. juntou-se a mim no chão e percebeu o quão grave estava minha situação.
- , tá doendo muito? Mãe, me ajuda! - Ela foi para a cozinha e a mãe dela a seguiu. Achei que agora iria apanhar de Charles, mas rapidamente me lembrei do seu comentário.
- Uau! Não esperava nada disso... , certo? - afirmei. - Então é você o tal cara por quem minha irmã se apaixonou...
Por mais que ele tivesse sorrido com a notícia, agora eu esperava outro soco.
- Sei que deve ter sido uma situação inesperada pra você com seus... 20, 21 anos?
- 20.
- Mesma idade. Aposto que foi um choque. Poderia te bater, afinal aquela é a minha irmã caçula, mas sei o quanto ela te ama e não quero machucá-la. E espero que você faça o mesmo. - Balancei a cabeça, mas tudo rodava e a bochecha doía. - Boa sorte, cara. - Charles me deu um tapinha cas costas e deixou a sala quando chegou com gelo, panos e uma bacia.
Seu rosto estava completamente molhado pelas suas lágrimas. Ela embrulhou gelo no pano e colocou no meu rosto. Empurrou a bacia para perto de mim e ali eu cuspi o sangue que parecia parar nunca. Depois que parei de cuspir, me fez ficar com gelo na boca. O choque foi grande, mas estava amenizando a dor. Eu tentava falar, mas não conseguia.
- Shh, ... Você precisa melhorar. - Cuidadosamente ela passava o gelo no meu rosto e ainda dava beijos ao redor. Eu só queria sair dali e pensava: o mais difícil já passou. E eu não sabia o quão certo e errado eu estava.
Minha família morava em uma cidade que ficava cerca de três horas de viagem. Para não ir até lá, e por ainda estar machucado, apenas mandei um email com a novidade. Fui breve e não quis dar muitos detalhes. Já imaginava minha mãe lendo, contando para o meu pai e logo em seguida ligando para minha tia Pan, contando que teria organizar o casamento do seu filho, ir atrás do melhor hospital e maternidade porque ela seria avó, sem contar com o enxoval que iria desde chupeta e mamadeira até fraldas e berço.
- E a turnê? O que vamos fazer? – já dizia, irritado. Não sei se isso era por conta do pôquer que eles estavam jogando ou, agora, pela notícia. Os meninos até que ficaram felizes com a notícia, mas quando perceberam que isso iria arruinar a turnê, eles pararam de assumir o lado da amizade e, então, assumiram como os colegas de trabalho. Amigos, amigos, negócios (e turnês) à parte.
- Eu não sei... Poderíamos adiá-la. – A sugestão não foi uma das mais felizes. – Ou podemos adiantá-la. O que fica mais fácil pra mim, já que, como é só um mês, eu não vou fazer tanta falta para a . Porque depois, quando já estivermos com o nosso bebê, pode ficar mais fácil para sairmos para os shows. Posso levá-los comigo, mas isso vai ter que esperar uns três ou quatro meses. – Eu serei pai, pensei. O sentimento e a corrente elétrica que passou por mim depois desse pensamento foram inexplicáveis. Eu já estava me sentindo um pai.
- Eu não sei... – andava de um lado para o outro, balançando a cabeça.
- Pessoal, a notícia veio do nada e ontem. Ainda temos um tempo para nos organizarmos. Vamos pensar e decidimos tudo na semana que vem. Também preciso ver cronograma com a se teremos um casamento para organizar, aquela coisa de “Aprenda a ser pai e mãe” ou “Dez aulas de como ter um bebê” ou sei lá como chama. Sei que veio em uma hora em que ninguém esperava, mas...
Os caras apenas balançaram a cabeça.
Dois meses haviam se passado.
e eu não nos casaríamos, mas ela estava se arrumando para vir morar comigo. Somente nós dois, ou melhor, três, como uma família.
A turnê da banda acabou sendo adiada; seria depois do nascimento do nosso bebê. Aliás, nosso garoto. havia pedido segredo ao médico; queria que fosse suspresa. Mas eu não aguentava esperar. Já fazia planos e mais planos para os anos seguintes.
Já estávamos entrando na 25ª semana de gravidez, e depois de muito insistir, deixou que o médico revelasse. E foi a melhor notícia que eu poderia ter! Era como eu tanto queria: um menino. Pensamos em vários nomes, mas, por fim, conseguimos chegar a um acordo: seria Fabrício. Logo começamos a decorar o quarto vago que havia em meu apartamento.
Descobri que aquelas coisas de “Aprenda a ser pai e mãe” ou “Dez aulas de como ter um bebê”, na verdade é o “Pré-natal”. já estava fazendo desde que confirmou sua gravidez, mas eu comecei a ir depois. Percebi que o meu papel era importante por causa dos hormônios dela que ficariam uma loucura, deixando-a bem bipolar. Eu precisava ser o resistente e mostrá-la a razão enquanto ela estava completamente pensando com a emoção.
- O que você tanto me olha, hein, ? – Deitados na cama, assistíamos um filme qualquer que passava. Já havia um tempo que eu tinha desistido de prestar atenção no filme e ficava a encarando, com a mão em sua barriga, um pouco maior. não parecia ter mudado tanto durante a gravidez; somente sua barriga parecia crescer. Mas mesmo com isso eu a olhava e pensava que a gravidez a deixava ainda mais bonita e meu afeto por ela só aumentava.
- Nada... – Eu dizia, sorrindo.
- Então pare de me olhar! - Soltou uma risada.
- Não consigo! - Agora eu também ria. Minha mão passava pela sua barriga e de vez em quando eu o sentia se mexendo. O sorriso que aparecia no meu rosto era involuntário.
- Pare de ser bobo, ... É um dos seus filmes preferidos e você nem está assis...
- Eu te amo tanto.
olhou em minha direção e sorriu. Não sei como funciona isso, mas ouvi dizer que as grávidas têm uma espécia de aura, que as deixa mais viva. Não sei se isso é possível, mas eu juro que vi algo brilhando nela. É um momento incrível a gravidez! Uma nova vida que estava se formando ali dentro.
- Na verdade, amo vocês dois. - Continuava com minha mão pela sua barriga, no nosso menino. - Sério... No começo eu fiquei tão assustado. Até cheguei a te machucar... Me desculpe por isso. Me arrependo tanto. - Lágrimas já estavam nos seus olhos. - Eu apenas não estava pensando e... - Um dedo dela me calou. Sua mão ficou fazendo carinho na minha bochecha. As lágrimas agora rolavam livremente por seu rosto, mas era um choro de alegria; o sorriso não deixava seus lábios. Aproximei meus lábios e beijei seu rosto todo, enquanto secava suas lágrimas.
As emoções pareciam estar mais afloradas e a noite não poderia ter terminado melhor.
Nós três. Uma cama. Um lençol. Roupas no chão.
Já havíamos passado da 30ª semana. Fabrício estava cada vez mais perto de nascer.
E eu ainda não entendia muito bem sobre os partos.
- Mas o que você não entende, ? Ou cesárea, com o médico, ou o normal, que é normal. Apesar de que tem o parto humanizado, que é meio que um normal, mas em pé... Esse eu não entendi muito bem. Mas você não precisa se preocupar, menino! - Ela ria, enquanto tirava da minha frente todos aqueles panfletos explicando sobre a gravidez, suas semanas e derivados. - Pelo que tudo indica, até o médico, vai ser a cesárea. Não vai ser tão ruim já que eu vou estar toda anestesiada.
- Mas...
- , isso não é seu trabalho. Só preciso que você esteja ao meu lado enquanto tudo estiver acontecendo. - Ela me abraçou.
- Eu vou estar lá. - E selei seus lábios nos meus, como uma promessa.
Oito semanas depois, exeprimentei, por vontade imprópria, os sentimentos mais contraditórios possíveis. e eu estávamos em casa. Como já estava muito tarde para jantarmos, então, optamos por somente tomar um leite e comer pão.
Quando foi mais tarde, me acordou.
- ... ... – Ela me chamava e me cutucava. – , acorde! Estou me sentindo muito e mal e com muita dor. E já faz horas...
- Por que não avisou antes?
- Achei que iria passar rápido como as outras vezes. Mas tá demais essa... Ai! – Ela gritava com a mão na barriga.
Rapidamente me preparei, pegando a bolsa e os nossos documentos, e fomos para o hospital. O parto, que seria cesárea, já estava marcado para essa semana. Sabíamos e não sabíamos quando o pequeno Fabrício iria chegar.
Um enfermeiro chegou com uma cadeira de rodas e começou a levar pelos corredores do local.
- ! ! Eu te espero lá dentro!
Não demorou muito com os documentos e logo um enfermeiro me perguntou se eu queria ver o parto. Agora, mais do que nunca e sem despedida, precisava assistir e ficar ao lado da mulher que eu tanto amava, para ter certeza que tudo sairía bem.
Depois que fui instruído e troquei de roupa, entrei na sala e me senti como em um filme. também já havia trocado de roupa e tinha vários fios ligados nela. Fui direto para o seu lado, preocupado.
- Tá tudo bem com você? Ainda tá sentindo dor?
- Não, , não sinto nada. Já me deram as anestesias.
Fiquei impaciente, mas fiquei ali, aguardando pelo momento. Pelo menos estava com ela. Não sei como estaria se tivesse que ficar esperando lá fora. E isso me fez lembrar que não tínhamos avisado ninguém.
Meu pensamento nem foi completamente finalizado quando uma movimentação me chamou a atenção. De repente vi que o médico já tinha iniciado o seu trabalho quando ela começou a cortar o final da barriga de . Imaginei que ela gritaria, sentiria dor, mas ela parecia estar apenas nervosa por não saber o que acontecia. Ela estava cansada, porém, ansiosa.
Apesar de sangue não ser o meu forte, continuei ali, firme e forte. Segurava a mão de e a outra ficava em seu rosto. Percebi que também estava ansioso. Queria conhecer logo o menino que poderia ser a minha cópia... Vê-lo, senti-lo, admirá-lo, tocá-lo. Precisava disso. Eu sabia que eu já era pai, mas ele era a prova que isso realmente estava acontecendo. Eu poderia sentir melhor como era essa sensação quando eu o visse... Visse que aquela pessoinha era minha responsabilidade e ele dependeria de mim para tudo.
Percebi uma agitação e curiosamente olhei. E eu o vi. Se eu falar que ele era lindo, estaria mentindo. Na hora ele estava todo sujo, tanto de sangue como do líquido amniótico. Mas mesmo ele estando todo sujo, a felicidade que eu senti ao olhá-lo era inexplicável.
Rapidamente o médico passou para outro, que começou a examiná-lo. Depois de um tempo, percebi que ele não havia chorado ainda. Quando ia perguntar, vi que o médico que o examinava começou a fazer movimentos em seu pequeno peito. Não podia ser... Ele não estava... Ou estava? Fabrício estava... morto?
- Parada respiratória. Batimentos cardíacos estão alterados.
Fiquei assustado. Como estava de madrugada, estava quase dormindo, por causa do horário e por estar tão cansada. Não sabia como reagir.
O tempo passava e eu só via Fabrício sendo apertado.
Mas tudo tinha dado certo; desde o pré-natal até a última consulta. Como que isso foi acontecer? Quando pensei que não haveria mais volta, o ar começou a me faltar. Era estranho pensar que eu nem conhecia Fabrício e já estava tão ligado a ele. Ser pai era realmente incrível.
Olhava apreensivo o trabalho dos médicos até que um som invadiu o cômodo. Junto com o choro dele, significando que ele realmente estava vivo, veio o meu. Não consegui ouvir o que o médico havia dito. Só sei que Fabrício estava sendo limpo e agora chorava muito alto. Ele tinha uma garganta e tanto.
Depois de um tempo, me deram aquele menino que tanto gritava e eu o coloquei ao lado da cabeça de .
- Diga oi para sua mamãe...
começou a chorar. Beijava aquele menino que era parte da nossa vida.
Ele ficou pouco tempo; o médico disse que ele precisava ficar em observação.
Pediu para eu me retirar que em breve estaria no quarto e eu poderia me juntar a ela. Dei um beijo em sua testa e me despedi.
- Até mais, mamãe. – Ela apenas sorriu com as lágrimas ainda descendo pelo seu rosto.
Quando saí do quarto e me troquei, fui logo avisar ao irmão de , a banda e os mais pais. Pelo telefone eles me davam parabéns e diziam que mais tarde passariam por lá, exceto meus pais. Ainda estava extasiado pela situação toda. Agora eu sou pai, eu tenho um filho. Filho... Era engraçado pensar nisso.
Agora eu tinha um dia pra mim: o dia dos pais.
Quando entrei no quarto, estava deitada, quase dormindo; uma enfermeira disse que iriam levar Fabrício para ficar um tempo com a gente, mas que depois ele voltaria para ficar em observação. Os familiares que chegassem podiam vê-lo no berçário.
- Ei...
- Oi, ... – Aproximei-me dela.
- Muito cansada, né? – Praticamente sussurrava enquanto passava a mão em seu rosto.
- Demais...
- Não se esforce... Sei que está tarde e que está cansada, mas me disseram que...
Minha fala foi interrompida por uma batida na porta; um enfermeiro deixou Fabrício, que estava no carrinho, no nosso quarto e disse que voltaria em 15 minutos para pegá-lo.
se ajeitou na cama e pediu para eu pegá-lo. Já havia pegado bebês em minha vida, mas nunca um recém-nascido, tão frágil e tão pequeno. Cuidadosamente o peguei e o entreguei para sua mamãe. Ficamos ali, encarando e sorrindo o nosso filho.
Eu precisava me acostumar com essa palavra.
Não precisávamos falar. Não precisávamos fazer nada. O silêncio não estava nos assustando, pelo contrário, parecia que o silêncio se encaixava perfeitamente no quarto.
Estarmos juntos em cima da cama com o nosso bebê entre nossos braços depois de tudo que aconteceu era o suficiente. Poderia ter sido 15 minutos ou 15 dias que estávamos daquele jeito, mas foi o momento mais emocionante para mim.
Meu celular tocou; era uma mensagem. “Deveria te esperar para amanhã. Porém, agora, amanhã também é o seu dia. Feliz dia dos pais, meu filho.”
FIM
Nota da autora: Aos 45 do 2º tempo, eu terminei. Adorei escrever essa fic para o challenge. E obrigada, Bolacha, por toda ajuda e apoio. Beeijos, Bê!