por Cami


Challenge: Interno #001
Nota: 9,3
Colocação:




Não aguentava mais ver aquela loira enjoada dançar e cantar alegremente. Já era a terceira vez que minha sobrinha, de apenas 4 anos, assistia o DVD da Xuxa que eu mesmo havia dado a ela de presente. Por que raios eu tive essa brilhante ideia, por que, Deus? Nada conseguia desconcentrar Clarinha de frente da TV. A cada música, ela batia palmas alegremente, apontando suas partes preferidas – praticamente todas – para que eu prestasse atenção. Depois de muito insistir, a pequena se tocou de que eu não estava nem aí para o que quer que fosse a coisa que ela estava me mostrando, então partiu para . estava sentada confortavelmente na poltrona de balanço da sala de minha casa. Passava suavemente a mão sobre a barriga – que já estava enorme – e cochichava coisas fofinhas, como se alguém pudesse ouvir. Talvez as bactérias do ar.

FLASHBACK
- George, já pedi para você parar com a droga da bateria! Estou tentando falar ao telefone! – Assim que ele me ouviu, depois de gritar pela quarta vez, atendi o celular. Era , e parecia tensa.
- Precisamos conversar. – Curta e direta, como sempre é quando está escondendo algo.
- Ah, qual é, , estou ensaiando com a banda e você sabe disso...
- , é sério. Venha logo antes que eu tenha um ataque de nervos! – E desligou. Resolvi atender ao desespero, o ensaio já estava por terminar mesmo.
- Falou, caras, a deve ter tido algum problema com o computador de novo. Até amanhã! – E saí. Fui para o carro – mesmo não tendo idade para dirigir, de vez em quando eu usava o do meu pai – e me dirigi até a casa da minha namorada.
e eu estávamos juntos havia apenas 3 meses, e nos conhecíamos havia apenas 5. É, parece loucura para um cara como eu, com tantas fãs atrás e tendo que recusar todas elas. Pelo menos é assim que eu imagino que será no futuro, quando minha banda fizer sucesso.
Bati na porta e, impaciente, adentrei a casa. Que estava vazia, por sinal. Subi até o quarto de e me deparei com a cena: minha namorada estava sentada no canto de sua cama com a cabeça entre as pernas. Parecia mais estar dormindo. Ao seu lado, um pequeno aparelho branco com uma listra azul no meio. Um teste de gravidez de farmácia indicando positivo.
Sentei-me ao seu lado, jogando o pequeno aparelho ao chão. Acariciei-lhe os cabelos. Eu sabia que ela não estava preparada para isso. Muito menos eu. Temos só 17 anos, caramba! Estávamos no auge da curtição da vida e agora a vida me aparece com essa bomba... Putz!
- Você, hum, já contou para alguém? – Dei-lhe um beijo no rosto assim que este se mostrou. Seu rosto estava pálido e inexpressivo.
- Não... tive... coragem, – ela falava entre soluços.
- Caramba, o seu pai vai me matar!
- Ah, não fala isso, ele te trata como um filho, poderíamos ser irmãos – ela riu, dando-me um leve soco no braço.
- Filho? Acho que a gravidez já está te afetando... Realmente, se eu gostar do meu filho como ele gosta de mim, coitado. Como primeiro ato de amor, eu deixaria ele na chuva sem carro, como da outra vez que seu pai fez quando eu te trouxe na manhã do dia seguinte logo no nosso primeiro encontro. Claro, ele me ama como um filho, um filho do capeta! – Agora pude perceber um sorriso abrir em seu rosto, dando lugar a uma risada.
- Isso não vai acontecer, porque a nossa FILHA não vai ser irresponsável assim.
- Filha? Está de brincadeira, hein, ? Nada mais justo que seja um menino, eu que o gerei, de certa forma. Será o meu substituto aqui na Terra, espero que ele nasça logo para eu começar a treiná-lo!
- ! Você fala como se estivesse criando um exército!
- Não seria prejuízo nenhum para o mundo um exército de ’s – comecei a fazer cócegas em sua barriga, não queria mas vê-la chorar.

- E NÃO VOLTE MAIS AQUI, SEU IRRESPONSÁVEL! – Esse era o pai de me expulsando de sua casa. Até parece que eu engravidei a garota sozinho! Lembro-me bem que todas as noites de sexo foram de total consentimento da , não a forcei a nada, humpf!
Agora teria que ir para casa e contar para os MEUS pais. E sem a comigo, valeu, !
- Mãe, pai... O que acham de terem um netinho? – Sorri fraco, tentando aparecer natural.
- Neto? Sua irmã engravidou? Eu sabia que aquele seu namorado não prestava e... – o interrompi.
- Pai, é a . – Não consegui encará-los. Minha mãe estava inexpressiva, sem reação. Então meu pai começou com o discurso:
- Peter, o que falamos sobre aquele objeto que serve para prevenção?
- É, eu sei, a camisinha, pai...
- É, esse mesmo. Achei que você estivesse grandinho o bastante para saber como usá-lo.
- Mas, pai! Ninguém em sã consciência pensa em parar, hum... a noite para procurar camisinha e... - dessa vez, minha mãe me interrompeu.
- Filho... você sabe que isso vai te trazer responsabilidades muito grandes, não sabe?
- Sei, mãe... - baixei a cabeça e me sentei no sofá. Senti minha mãe sentar ao meu lado e então ela me abraçou maternalmente.
FIM DO FLASHBACK

De certa forma, era relaxante ver com um semblante tão calmo. Impressionou-me a maturidade repentina que ela assumiu para se ‘conformar’ em estar grávida e seguir com isso. Com certeza, isso me deu uma grande confiança para apoiá-la nisso tudo. Afinal, o bebê deve ter conseguido todos os meus genes fortes e saudáveis, mas precisava do papai aqui para guiá-lo.
Nunca me imaginei, hum, empolgado em ter um filho. Até que a me veio com essa: teríamos que fazer um tal curso, algo como ‘Dez aulas de como ter um bebê’, o que incluía a mim, o pai da criança. Nunca vi tamanha chatice. Se cuidar de um bebê era assim, preferia assistir novela com minha mãe, pelo menos eu poderia fingir estar dormindo.
Nas primeiras aulas, para minha sorte, eu não tive que participar muito. Era tudo com : como segurar o bebê, amamentá-lo, colocá-lo para dormir. Coisas que deveriam ser feitas pela mãe, pois o bebê só teria poucos meses de vida. Mas uma hora o bebê teria que crescer e eu deveria fazer minha parte, pelo que diziam. A partir daí, eu teria que ser uma segunda mãe sempre que não pudesse estar junto, ou seria seu ‘assistente’, porque não poderia deixá-la fazer tudo sozinha.
Nosso filho nem estava na metade da gestação e nós já tínhamos tantas coisas em mente! Tanta preocupação. Era realmente difícil pensar por três pessoas: eu, e – sim, o garotão teria o mesmo nome do papai aqui, para pegarem como referência, sabe...
Além da coisa toda de aulas de como ter um bebê, ainda teve bastante preparação até agora, tudo preocupação dos meus pais, e dos dela também. A exemplo disso, surgiu a ideia de que ela deveria fazer ioga. Ioga, Deus! Para quê tudo isso? Ela precisaria virar budista também e encontrar sua força espiritual interior? É claro que eu tive que acompanhá-la nisso também, era importante que eu estivesse ao lado dela "em momentos que seriam lembrados depois como uma grande vitória que o casal conseguiu, sempre juntos", como diria a orientadora das aulas de como criar um bebê.

Voltando para onde eu estava... e eu estávamos nessa situação de DVD da Xuxa e tudo mais porque meus pais e os pais de Clarinha haviam saído e ninguém poderia cuidar dela. Além disso, minha mãe foi quem teve a brilhante ideia de ‘ah, por que você não chama a para ficar com vocês, assim vocês podem ir se acostumando com a ideia de cuidar de uma criança. E ela é sua sobrinha, !’. Imagine o quão irônica ela pôde ser somente nessa fala.
Minha mãe era a mãe estranha quanto a tudo isso. Nunca pude diferenciar se ela tinha se conformado ou não com a ideia de que eu iria ser pai tão jovem... É claro que, depois de saber disso, tivemos várias conversas, nas quais ela pôde me contar muita coisa de como foi me criar, conciliando o trabalho, o casamento e blá, blá, blá. Mas, em outros momentos, sempre que tinha oportunidade ela jogava o fato de eu ter engravidado minha namorada em um relacionamento tão curto para reclamar de qualquer coisa errada que eu fazia, fosse relacionada à gravidez ou não. Até parece que eu criei um novo tipo de vírus, mãe!
Começou a anoitecer e meus pais e os de Clarinha finalmente haviam chegado. Sorte a minha, pois justo hoje eu teria uma bela noite de pôquer com os garotos da banda e mais alguns amigos. Foi um pouco difícil convencer de que eu, bem, merecia uma folga disso tudo – inclusive dela -, precisava de uma noite de garotos, sem nada que fizesse referência a bebês, responsabilidade, mamadeira e fraldas!
Meus pais deixaram em casa e me permitiram usar o carro deles para ir à casa de George, afinal, nem Deus saberia que horas eu estaria de volta, então era melhor que eu estivesse de carro.
Chegando lá, a casa já estava meio lotada e só faltava eu chegar para completar a noite.
- Apareceu a margarida! – Chris ria de si mesmo, achando que dissera algo engraçado. O pior que todos os outros riram junto com ele e eu fiquei lá, esperando que a alegria acabasse.
- Já acabaram com o estoque inteiro de cerveja? Pelo visto, não sobrou nenhuma para mim – disse, puxando uma cadeira que estava na mesa em que os garotos iriam começar a jogar pôquer logo logo. Assim que falei isso, Chris jogou uma garrafa de cerveja para mim. Aparei-a com as duas mãos, quase deixando-a cair.
- Não esqueça que eu ainda estou sóbrio!
Depois de várias garrafas secas de cerveja jogadas ao chão, começou a melhor parte da noite, algo que chamamos entre nós de "Se beber, cante, se cantar, beba". É, nem um pouco original, mas traduzia tudo o que era a coisa: um monte de caras bêbados, já animados pelo pôquer – e pela bebida, claro – fazendo ‘performances’ bizarras e hilárias num karaokê. Ainda bem que George tinha um em casa e não precisávamos nem sair dali...
Ouvi de tudo aquela noite: Roberto Carlos, Calypso, vários sertanejos e muito forró – coisa que nenhum dos caras, muito menos eu, fazia questão de ouvir quando estão sóbrios.
Todo mundo conhece aquela música do John Lennon, não é? Aquela bem famosinha, "imagine all the people living life in peace, uh, uh, uh". Pois é… Escolheram justamente essa música para o aqui cantar, e começou o "momento nostalgia" da noite. Bêbado lamentando a vida é de dar dó!
"You may say
I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope some day
You'll join us
And the world will be as one"

"Talvez você diga que
eu sou um sonhador
Mas não sou o único
Desejo que um dia
você se junte a nós
E o mundo, então, será como um só"

Qualquer um que me ouvisse naquela noite concordaria comigo: John Lennon deveria estar cavando um túmulo mais fundo para se refugiar lá até que eu acabasse aquela cantoria. E ainda seria bom e levaria os companheiros de túmulo mais próximos.
Eu realmente estava precisando daquela noite. Não lembrei de nada que fosse relacionado a paternidade. Nem naquela noite, nem na ressaca do dia seguinte.

A minha família e a de haviam se aproximado muito com essa coisa de gravidez. Cada vez mais frequentávamos a casa um do outro, reuníamo-nos na sala e conversávamos sobre coisas além de e nosso bebê. Afinal, mesmo que não quiséssemos – o que não iria acontecer -, o ser que agora carregava no ventre era um laço que unia fortemente nossas famílias, principalmente nós dois.
Nunca me imaginei tão próximo e intímo de quanto estávamos depois de engravidá-la. Claro que eu a amava quando começamos a namorar, mas passou a ser bem mais que isso. era minha motivação diária, meu objetivo principal para cada decisão que eu tinha a tomar. ELA havia se tornado o meu bebê.
Por volta dos seis, quase sete, meses de gestação, tivemos... hum, um almoço meio marcante. Minha mãe havia convidado e seus pais para almoçarem em nossa casa em um domingo qualquer, não era nada especial, somente uma reunião em família. Depois de almoçarmos a especialidade de minha mãe – filé ao molho madeira -, todos satisfeitos, fomos para a sala descansar. estava perto de completar 18 anos – ela era poucos meses mais velha que eu – e discutia com seus pais como comemoraria seu aniversário, pois ainda estaria grávida de sete para oito meses, caso o bebê não resolvesse nascer prematuro!
- Poderíamos fazer uma festa de aniversário juntamente com um chá de bebê, o que acha, ? – Perguntou a mãe dela, animada com a ideia do chá de bebê, claro.
- Mãe! Não quero aniversário, nem chá de bebê! Só queria algum presente, mais... significativo. Hum... vou fazer 18 anos, né, já posso tirar minha carteira e...
- Vai ensinar seu filho a dirigir também – interrompi – ou vai só amamentá-lo nas aulas de direção? – Eu ria.
- Mas eu já sei dirigir, não vou precisar da carteira por enquanto.
- Ah, resolveu amamentar o bebê na cadeia, então... – continuei a brincadeira que tinha começado.
- ! – me olhou com um olhar de reprovação.
- Desculpa, meu bebê – controlei-me para parar de rir.
- Eu estava pensando... Eu e não podemos depender de vocês a vida toda... Não poderei dirigir, por enquanto, claro, mas pode! E um carrinho não faria mal, mesmo que fosse antigo, uh? – continou, meiga.
- Acho que não seria uma má ideia - Foi a vez de meu pai se pronunciar. – Os dois farão 18 anos com a diferença de poucos meses, não vejo problema em dar o carro para os dois! E eu tenho o perfeito para isso... – Pude sentir que ele riu meio sapeca, assim digamos.
preferiu não discutir mais sobre isso ou perderia a chance que acabara de ter para ganhar um carro, como tanto queria.
Conversa vai, conversa vem, o pai de me chamou para conversar em particular. Tensão. Não fazia ideia do porquê de ele querer uma conversa a sós. Fomos para o escritório de minha mãe. Ao entrarmos, ele fechou a porta e indicou com o dedo a cadeira para que eu me sentasse. Mais tensão. Isso já estava ficando estranho.
- Por favor, não fique assustado – ele começou. – Só quero ter uma conversa de sogro para genro. – Dei um meio sorriso e assenti com a cabeça para que ele prosseguisse. – É só que a é minha filha única e eu nunca imaginei que ela fosse me trazer um neto tão cedo... Eu venho de uma famíia conservadora, como pode notar, e sou da epóca que gravidez era sinônimo de casamento. – O quê? Ele queria que casássemos? Antes que pude abrir a boca, ele continuou. – Não, não é nada disso, não quero obrigá-los a casar! Sei que são muito novos para terem pensado nisso a qualquer momento, mas não deixo de ver isso como uma possibilidade.
- É, nunca tocamos nesse assunto mesmo.
- Bom, foi algo que passou pela minha cabeça... Ainda não sou tão acostumado com a nova geração de vocês – ele riu fraco.
- É cedo para falar sobre isso. E logo quando está para ter o filho! Só podemos pensar nele agora.
- Você tem razão. Nosso foco agora é o bebê que está por vir e ele merece toda a nossa atenção, verdade... Mas ainda vamos voltar a falar sobre isso, garoto! – E saiu do escritório.
Fiquei ali sentando um tempo a mais pensando sobre o que ele havia dito. Não consegui imaginar eu e , hum, casando. É certo que nossa relação estava mais forte do que nunca, mas eu nunca achei necessário toda essa formalidade de casamento. É só um monte de papéis, certo? E não é necessário um monte de papéis assinados como um contrato para provar a relação que existe entre nós. Não foi um papel que me fez gostar de , e sim a própria.
Sei que eu não parecia ser o cara mais apaixonado por ela, mas sempre foi um anjo para mim. Cada gesto seu me fazia querê-la mais e mais. Cada atitude sua me fazia admirá-la por ser quem ela era. Era com ela que eu me sentia confortável para viver o que fosse com ela. E cada fibra do meu ser sabia disso, sentia isso, e não era nenhum papel que poderia confirmar ou provar o amor que eu tinha por ela.

Passadas duas semanas, o aniversário de havia chegado. Estávamos na sala de sua casa, quando ouvimos uma buzina de carro sendo tocada do lado de fora e o pai de gritando:
- Filha! Venha aqui fora! Trouxemos o que você queria.
Saímos para a calçada e nos deparamos com tal cena: o pai de acenando todo animado para nós de dentro de um automóvel utilitário, vulgo Kombi. Isso mesmo, meus amigos, acabara de ganhar uma Kombi velha e branca.
- Pa-pai... – parecia não compreender.
- Foi o que conseguimos a curto prazo, , agradeça ao pai de por ter conseguido esse carrinho para vocês. – Disse a mãe dela.
- Ah, vamos lá, crianças, esse carro é ótimo para vocês! E é bastante espaçoso para o bebê quando nascer... Pensem no tanto de coisas que terão que levar quando saírem com o bebê: fraldas, mamadeira, brinquedos, o carrinho de bebê...
- Vamos ter só um filho, não uma creche – eu disse, fazendo rir.
- Ah, nunca se sabe, você viu aquela mulher que teve oito gêmeos e depois apareceu uma com nove? – Veio meio pai, continuando a brincadeira.
- Pai, isso foi no episódio de Simpsons que vimos ontem – eu disse, e todos riram. – Pelo menos vamos ter espaço o bastante para levar a nossa família em caravana para o hospital quando o bebê estiver pronto para nascer. – Abracei por trás, dando-lhe um beijo no rosto e acariciando-lhe de leve a barriga, que já estava com quase oito meses.

Era madrugada de dia dos pais e, aproximadamente, às 2h da manhã a mãe de me ligava desesperada.
- ! Precisamos levar imediatamente ao hospital, você está prestes a ser papai! – Pude sentir a emoção escondida em sua voz histérica. – Nós estamos sem carro, venha logo para cá com a Kombi de vocês para que possamos ir todos juntos. – E desligou.
Eu tinha ouvido direito? A gestação de não havia completado os nove meses, mas já havia passado dos sete, caso viesse a ter um filho prematuro. Vesti uma camiseta qualquer e nem notei que saí de samba canção. Acordei meus pais, que me acompanharam, peguei as chaves do ‘carro’, entrei nele e me dirigi o mais rápido que pude à casa de . Não conseguia pensar em nada lógico. Ainda bem que a mãe de havia me dito o que fazer, ou sei lá para onde eu estaria indo agora.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Nunca ouvi uma garota gritar tanto assim, muito menos . As contrações pareciam cada vez mais fortes e violentas e dava dó vê-la com tanta dor e não poder fazer nada.
Por outro lado, os gritos me acordavam para a realidade que estava à minha frente: em poucas horas, nosso pequeno herdeiro viria ao mundo e ficaria a cargo de nossos cuidados.
estava esperniando em uma cadeira de rodas; o chão melado de sangue por conta da sua bolsa que estourou.
Levei na cadeira de rodas até a Kombi, tirei-a e coloquei-a em meus braços, colocando-a dentro do carro.
- ... Toda essa dor vai valer a pena, eu te garanto – ela falou entre gemidos de dor. Segurei forte suas mãos, desejando que ela lesse meus pensamentos e sentisse a euforia que se passava em minha cabeça naquele momento.
Esperei os pais de entrarem no carro; sua mãe encarregou-se de levar o que fosse preciso para o hospital. Pelo menos alguém sabia o que fazer.
Dirigi com velocidade até a maternidade. Como eu agradecia por ser madrugada e não ter nenhum trânsito pelas ruas! Mesmo assim, nessa hora, tudo parecia mais devagar, que ansiedade!
Chegamos na maternidade. Estava cada vez mais próximo. Inclinei-me até alcançar o ouvido de e sussurrei:
- Obrigado por trazer um segundo bebê em minha vida. Porque o primeiro sempre foi você. – Beijei-lhe a testa suavemente e afaguei forte seus cabelos. – Eu te amo, ok? – Vi um sorriso surgir no rosto de . Ela sabia como era raro me ouvir dizer esse tipo de coisa, e então pareceu se sentir confiante depois disso, tenho certeza de que ela realmente sentira o que eu quis dizer.
Deixei que a mãe de entrasse com ela na maternidade e a levasse a uma sala de parto. Não conseguia me mover de onde estava vendo ir. Parecia que eu sabia o que iria acontecer, inconscientemente.
Fiquei de fora da sala de parto com meus pais esperando notícias, até que o pai de apareceu:
- Terá que ser um parto humanizado. O hospital está sem médicos de plantão para isso, mas conseguiram uma parteira. UMA PARTEIRA! QUE TIPO DE HOSPITAL É ESSE, DEUS? – Nunca o vi se exaltar assim, o que me fez ficar mais nervoso.
Que coisa do destino. No dia dos pais, eu me tornaria um.
No momento em que me chamaram para entrar no quarto de , eu estremeci. Já tinha visto alguns partos em filmes e coisas do tipo, mas não me imaginaria vendo um deles "ao vivo e a cores". Ao entrar no quarto, deparei com o que todos esperavam: o nascimento do meu filho.
gritava e, quando menos percebi, nosso filho estava... vindo. A parteira a incentivava, dizendo ‘força, menina, força que a criança vem aí!’ e puxando-a quando sua cabeça começou a aparecer. E aí eu tive um desmaio. Isso mesmo, o aqui desmaiou, caiu, estatelou-se no chão de tão abismado que estava. Depois disso, lembro-me de ter acordado deitado em uma espécie de banco que havia no corredor, minha mãe estava ao meu lado.
- Ah, , feliz dia dos pais para você, querido... Eles estão logo ali, ande, venha vê-los – disse minha mãe, apontando para uma salinha que tinha em nossa frente. Espere. Ela havia dito ‘eles’? Aproximei-me do vidro da sala e vi dois pequenos seres dentro de uma incubadora. Um menino e uma menina. É, havia ‘atentido’ ao meu desejo de conceber um filho, e ainda me trouxe uma menina de brinde.
- Ei, pequenos, nasceram antes do tempo só para me dar esse presente, uh? – Sussurrei para o vidro, desejando que o casal pudesse me ouvir de verdade. Eles dormiam ali; tinham o semblante sereno. Eram tão pequenos, aquelas criaturinhas...
- Como a está? – Perguntei.
- Hum, acho melhor você entrar no quarto, ela está te esperando...
Vagarosamente, dirigi-me até onde estava. Entrei lá e deixaram que ficássemos a sós. Ela parecia fraca, mas ao mesmo tempo tinha um sorriso no rosto que até parecia que o nascimento dos nossos filhos havia lhe causado cócegas.
- ... ah, meu amor, não sei nem dizer o que estou sentido... Você viu? Temos um casal. Lindos, não? Tão pequenos e tão frágeis que parecem que nem saíram de mim – ela sorriu fraco.
- É sim, , e eu tenho certeza que vieram de você, ou melhor, de nós – sorri e apertei sua mão.
- , promete que vai cuidar deles para mim? E promete que vai colocar o nome do garoto de ?
- NÓS vamos cuidar deles juntos, ... – falei sem entender. – E é claro que o garoto se chamará , vai ser como o pai.
- , essa gravidez exigiu muito de mim. Eu acho que não estava preparada... - houve uma pausa. - Agradeço muito por ter tido você ao meu lado todo esse tempo, não poderia ter escolhido melhor – ela falava em um tom baixo. – Ah, feliz dia dos pais, . Esse é o presente que eu deixo para você, cuide dos nossos bebês como cuidasse das memórias que tem de mim. – Uma lágrima caiu de seu olho e eu não pude me conter em deixar de chorar também.
- , por que está dizendo essas coisas? Espere só! Temos um milhão de coisas para viver com nossos pequenos... Você tem um milhão de coisas para ensinar-lhes e para me ensinar também. Não vou conseguir sem você – falei quase aos prantos.
- , por favor, promete...
- Ok, eu prometo, mas prometa que vai estar sempre do meu lado!
- E-eu não sei se vou conseguir... – seus olhos se fecharam antes que ela terminasse. Fiquei estático vendo essa cena. Tentei acordar , mas ela não respondia aos meus estímulos. Foi aí que notei um contínuo 'bip' soando dentro do quarto e percebi um aparelho que ligava-se com vários fios a contendo uma linha reta, indicando um coração que já não batia mais.
Depois disso, caí bruscamente no chão, sem reação. tinha ido e eu não sabia se poderia suportar isso. Ela sentiu que estava morrendo, mas não quis me dizer. E por quê? O que eu faria agora?
Lembrei-me das promessas que ela me fez prometer havia pouco tempo. E era o que eu tinha que fazer: cumpri-las.
Cuidaria de e sua irmã – que depois decidi colocar o nome de , não deixaria seu nome ser esquecido - como se estivesse cuidando de , ou seja, acho que seria um bom pai, não é mesmo?

"And God, I don’t want you to know
What I have been through
Cause you just wouldn’t understand
You’re just a girl with some issues
As bad as it may sound
But you’re the girl who’s been driving me mad
But just so you know
I’ve been thinking a lot about who we could’ve been"


"E, Deus, eu não quero que você saiba
Pelo que eu passei
Porque você simplesmente não entenderia
Você é somente uma garota com alguns problemas
Tão ruins quanto parecem
Mas você é a garota que está me deixando louco
Mas só para você saber,
Eu estive pensando muito sobre quem nós poderíamos ter sido"


FIM



Nota da autora: Ah, sou tão acostumada a fazer n/b que nem sei o que dizer aqui USAHUSAH
Bom, como disse, minha primeira fiction... Falem o que quiser na caixinha de comentários, mas falem :D
Adoro saber opiniões, ok? (:
Bom, acho que alguns itens eu não consegui desenvolver muito bem, mas fiz o que minha cabeça permitiu! :D
Eu quase nunca sei como terminar um texto, mas espero que tenha conseguido dessa vez, hum. E imagino ler algo sobre minha fic do tipo 'você fugiu do tema', como costumo encontrar em minhas redações UHSAUHSAU n
Ah, e quanto essa coisa linda da capa, peguei do meu we heart it mesmo HAHA Só escrevi as coisas... rs Cami, xx



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