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Autora do Mês - Junho

Lica Maia

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Fanfic Obsession: Como você se sentiu quando descobriu ser a Autora do Mês do FFOBS?
AUTORA: Nossa, uma loucura, queria dizer! Eu acho que tive um momento de choque quando a Laah me mandou uma mensagem com o print do Instagram. Não fazia ideia do que tava acontecendo. Até agora não tenho, na verdade. Eu nunca me vi muito como uma autora real como tantas outras nesse site porque essa é a primeira vez que eu me disponho a continuar postando uma história – me vejo mais como um projeto de autora (mas acho que vocês não tem esse título ainda, hehehe). Mas depois vem uma sensação de orgulho, sabe? De dever cumprido, das coisas da vida que fazem valer a pena. De saber que existem pessoas que se identificam com o que você tá fazendo. Tem uma pessoinha por trás de cada história e essa pessoinha tem uma história também. Escrever Real Stuff me salvou esse ano em tantas maneiras e saber que tem outras pessoas por aí que se aventuram a compartilhar desse mundo doido comigo é realmente um privilégio. Não sei nem como agradecer!

FFOBS: Quando você começou a escrever? Lembra como foi sua primeira história?
A: Nossa, faz tempo, viu? Acho que quando eu tinha uns 10 ou 11 anos, eu escrevia no caderno durante as aulas que eu não queria assistir (não façam isso em casa, eu não tô incentivando NINGUÉM A FAZER ISSO pelo amor de Deus). Eu lembro que era uma menina nova que chegava no colégio e o nome dela era Sol. Tinha também umas conversas no MSN com um boyzinho bem romântico que tinha uma banda, é óbvio. Não foi muito pra frente por motivos óbvios de preguiça de escrever no caderno. Pouquíssimo tempo depois eu ganhei um computador e descobri através dos meus stalks o mundo das fanfics de McFLY, lá pra 2008, e aí eu realmente comecei a escrever uma história nunca postada sobre uma menina brasileira que tinha se mudado pra Inglaterra e se apaixonado pelo melhor amigo de infância. Desde então eu nunca parei. (Inclusive, autora de All American Girl, se você existe e está aí, eu te perdôo por ter abandonado minha primeira fanfic favorita).

FFOBS: O que você procura passar para os seus leitores?
A: Acho que uma das coisas mais importantes pra mim sobre qualquer história, seja série, filme ou livro, é a construção dos personagens. Diante disso, minha filosofia é essa: pessoas são reais. Personagens tem que ser reais também. Ninguém é perfeito. Precisamos de personagens que construam uma trajetória acessível. Que erram, que fazem escolhas que parecem absurdas, que dizem coisas difíceis de engolir, que tem sentimentos que talvez não pareçam ser tão justos, que podem encontrar redenção ou não, e tudo bem. Coisas dão errado. Ninguém está bem o tempo todo. Nem tudo dá certo. As pessoas tem problemas. A vida é assim. Isso não quer dizer que a vida é ruim. Ela só é real.

FFOBS: Como você lida com críticas negativas e cobranças?
A: Acho que nunca recebi de fora nada tão cortante quanto as próprias vozes da minha cabecinha me dizendo que eu deveria ter parado algum tempo atrás e que às vezes tentam tomar espaço de novo. É difícil, mas a gente tem que aprender a calar essas vozes e escutar as que são encorajadoras e nos põe pra frente. Elas existem também, são elas que a gente tem que escutar. Só a gente sabe o sangue que coloca em cada palavrinha que a gente escreve. E acho que isso serve pra qualquer pessoa que tá lendo e tá se sentindo desmotivada: dois meses atrás, quando eu queria jogar tudo pro alto, eu jamais – tipo nunca MESMO – imaginaria que algum dia alguém fosse gostar da minha fic tanto assim. E agora eu tô dando uma entrevista (socorro). Se você tá lendo isso e quer parar, saiba que você pode estar perdendo a oportunidade de ser a Lica do futuro e ser a próxima autora do mês do FFOBS, cara! Não para! Continua!

FFOBS: Se você pudesse trazer a vida um personagem de qualquer de suas histórias, qual seria e por quê?
A: Eu me RECUSO a responder essa questão. Caraca, eu amo muito todos eles. Mas tudo bem, acho que a Oli, a melhor amiga da pp, porque ela é a amiga que todo mundo merecia ter por perto – mesmo com todos os seus defeitos. A primeira coisa que penso sobre ela é que ela sabe como fazer pessoas se sentirem amadas, apesar de isso se mostrar muito sorrateiramente durante a história, e o mundo precisa de mais pessoas assim. Ou o Carlito (PERFEITO TE AMO). Meu Deus, desculpa, eu tô burlando muitas regras.

FFOBS: Quando você inicia uma nova fanfic, já sabe como ela terminará ou é um processo contínuo?
A: Real Stuff, como todas as minhas outras histórias, veio de um lugar totalmente espontâneo. Parece que eu coloquei no mundo e ela tomou vida própria. Escrevi os quatro primeiros capítulos só com a ideia dos personagens na cabeça (eu sei, parece loucura) – eu sabia exatamente quem eles eram e suas histórias, detalhadamente, mas não tinha nenhuma noção do que aconteceria no futuro. Só que eles precisavam se encontrar de algum jeito. Era um processo natural e contínuo, um lugar seguro em que eu podia só escrever (que é o que eu mais amo fazer na vida), desenvolver personagens e crescer com eles. Quando eu vi que realmente estava tomando um rumo que eu gostava, eu parei pra pensar no que eu queria pro final, reescrevi algumas partes iniciais da história pra moldar o que eu faria a seguir. Tudo era muito claro na minha cabeça, mas eu não tinha passado pro papel ainda. Hoje enxergo que, se eu quiser amarrar todos os pontos, preciso de um roteiro. Comecei a roteirizar lá pelo sétimo capítulo e foi a melhor coisa que eu fiz! Tá tudo descrito em tópico. O fim chega e é real. Já tô tremendo de agora (socorro).

FFOBS: Se você fosse convidada a escrever uma série de TV, um filme e um livro, mas só pudesse escolher um, qual seria? Por quê?
A: Nos últimos anos, eu diria Frances Ha. Tudo sobre esse filme absurdamente genial pra mim e eu me identifico com cada aspecto dele. Seria uma honra ter feito parte desse processo de criação. Desde a própria construção fantástica da Frances, a relação dela com a Sophie, sua melhor amiga, as controvérsias sobre o que se espera de uma mulher romanticamente falando ao chegar nos 30, a fotografia toda em preto e branco, o fato de ser um filme que foge do padrão hollywoodiano de trajetória oscilante e óbvia, foi escrito e protagonizado pela Greta, enfim. Acho que esse é o filme da minha vida (no momento, pelo menos. Eu posso ser meio volátil).

FFOBS: Você tem algum autor ou história que considera uma inspiração pra você? Pode citar?
A: Bom, se vamos falar de livros, eu vou aproveitar meu momento e falar de dois: Meg Cabot, quem fez eu me interessar por leitura pela primeira vez na vida com a série de O Diário da Princesa, e Fernando Pessoa – que é o autor que tocou em partes de mim que eu nem sabia que existiam com tamanha profundidade. Mas se vamos falar de fanfics, eu queria exaltar a Tatá Ribeiro por Não Conte aos Papparazzi e a Júlia de Shades Of Cool. Duas histórias fantásticas e geniais que me fizeram sentir vontade de acreditar em mim mesma de novo e tentar algo novo. Inclusive até hoje tô esperando meu spin-off com o Elijah... Só quem viveu sabe.

FFOBS: Se você tivesse oportunidade, hoje mesmo, de transformar uma história sua em livro, qual seria? Por quê?
A: Real Stuff, gente! Foi a segunda história que eu postei (a outra, Don’t Panic, eu infelizmente abandonei muitíssimo tempo atrás), mas ela conquistou um espaço no meu coração por tudo que ela representa, apesar de eu ter outros plots escritos não postados. Tanto pela troca que, através dela, eu pude ter com tanta gente incrível (MUITO INCRÍVEIS MESMO SÉRIO), quanto pelo tanto de mim mesma que eu coloquei nessa história – nas referências, nos diálogos, nas discussões, no trabalho árduo que é escrever, em algumas vivências. Começou como um grito de socorro meio revestido de fanfic, deu o primeiro passinho ao se transformar numa fuga totalmente espontânea e cresceu até tomar a consistência de uma história que eu finalmente tive coragem de persistir em continuar e compartilhar com o mundo. E ainda bem que eu fiz isso!

FFOBS: E se não fosse uma fanfic já existente? Se fosse uma história totalmente original, que sinopse ela teria?
A: Gente, eu tento fugir dos clichês, queria DEMAIS ser a pessoa com ideias de plots misteriosos e surpreendentes, mas eu só sei falar de pessoas e de relacionamentos. É tipo minha missão no mundo e eu preciso aceita-la. Gosto de histórias sem uma trajetória do herói específica. Portanto, provavelmente seria algo sobre gente normal com problemas reais vivendo a vida que é louca e perigosa por si só.

FFOBS: Alguma cena ou história é baseada em algum fato da vida real, algo que você ou alguém que conhece vivenciou?
A: Nossa. Tem um personagem, o Nate, que é um dos meus amigos sem tirar nem por. O jeito é todinho inspirado nele, acho que tenho até um apego especial por isso. Essa vibe meio desprendida, piadista, cara de pau, apaixonado pela vida e os diálogos que eu poderia escutá-lo falando com o sotaque recifense, do mesmo jeitinho (****, obrigada por ser meu muso inspirador). A relação da pp com o melhor amigo também carrega uma característica da minha relação com próprio meu melhor amigo – eles se xingam bastante e fazem piadas de humor duvidoso um com o outro o tempo todo. Nada mais saudável, hahahahahah.

FFOBS: De onde você tira inspiração para as características, manias e personalidade de suas personagens?
A: AI! Essa é minha parte preferida, socorro! Então, eu sou apaixonada por pessoas. O curso de Psicologia me ajudou bastante nisso, eu conheci muita gente, muitos casos, eu amo ouvir as pessoas falando sobre a vida e as relações e contando histórias. Do nada eu me pego observando trejeitos e tendo ideias no meio de uma conversa com os amigos no bar ou da aula da faculdade. Minha inspiração são as próprias pessoas que eu conheci e vi e ouvi. Além disso, acredito que o background do personagem diz muito sobre a personalidade dele. De onde veio, por onde passou, quem conheceu, todas essas coisas são importantes e precisam estar encaixadas, sabe? A descrição é uma parte importante desse processo.

FFOBS: Qual foi o lugar mais estranho que você já teve um vislumbre de cena/momento para a sua história?
A: Uma vez um carro passou por cima da ponta do dedão da minha amiga na garagem do colégio e ela ficou MUITO pistola. Enquanto eu ouvia a dita cuja reclamar e gritar com o motorista, fiquei pensando que podia ser divertido ler uma história não tão trágica assim de alguém que foi atropelado. Uns seis anos depois, cá estamos. Te amo rafa, juro que na hora fiquei preocupada também!

FFOBS: Quais são os seus próximos projetos?
A: Eu pretendo terminar Real Stuff antes de começar outra coisa porque acho que vai ser realmente um marco pra mim de algo que eu sempre quis fazer – ir até o fim com uma história e superar essas pequenas vozes sabotadoras que tentam estragar tudo. Mas pretendo reescrever e repostar Don’t Panic do começo porque até hoje sou apegada a história e aos personagens e tenho umas ideias novas também. Hoje penso que a falta de comentários e de incentivo, por mais triste e desgastante que seja, não deveria nos parar de jogar nosso coração no mundo. Sempre vai ter alguém que vai se identificar e se inclinar pra fazer essa troca com a gente.

FFOBS: Por fim, que tal citar um trecho de uma fic que você escreveu e sente orgulho?
A: “Isabella pareceu ponderar por um momento.
- O que você acha que é belo, Styles? – ela perguntou, e estava mesmo profundamente curiosa.
Ele não pareceu constrangido em pensar um pouco enquanto olhava pra estrada. Molhou os lábios, parecendo realmente querer expressar algo que estava em sua cabeça com as palavras certas.
- Pra mim, belo é tudo aquilo que é real – ele sintetizou, por fim. – o que é de verdade, o que não mascara, o que comunica e traduz. Acho que o possuir beleza não tem muito a ver com palavras bonitas ou limpeza visual ou estética por si só. Pode ser trágico, ou alegre, ou assustador. Pode ser feio.
- Tem mais a ver com a profundidade – ela continuou por ele, que sorriu sem mostrar os dentes ao assentir.
- Tem muito a ver com a profundidade – pareceu satisfeito em concordar. – Mas aí sou eu que acho. As definições literárias podem ser meio diferentes da minha opinião.
- Você traz beleza nas suas músicas, Styles.
- Você traz beleza por si só, Isa.
E eles se encararam por um momento em que Isabella, ainda com a cabeça virada pra ele e com a perna cruzada, pela primeira vez desde que se conheceram, não soube o que responder. Um friozinho na boca do estômago e o coração que escapava uma batida no sorriso que ela não pode conter.
Mas foi só por um momento.
- As pessoas sentem uma necessidade de romantização. Você não acha? – Ela questionou. – Tem que ter romance. Tem que ter palavras bonitas e pessoas que só se apaixonam por uma pessoa a vida toda porque foram feitas pra ser e um clipe com um casal que briga por ciúme e depois dá certo. Ou fazer de um dos personagens uma pessoa ruim só pra que pareça justo terminar com ele. Nem tudo dá certo, às vezes porque não dá mesmo, não porque alguém é ruim. No primeiro clipe de Panic! que eu vi, todo mundo tava de rosto hiperbolicamente pintado num casamento em que a própria noiva é pega beijando outro cara e é isso. Eu ficava com raiva disso quando era mais nova. Eu queria que desse certo no final.
- I Write Sins, Not Tragedies. Clássico – ele assentiu. – E hoje não?
- Hoje eu acho que eu seria a própria noiva – ela disse, colocando a mão na testa e suspirando, e Harry deu uma risadinha e olhou pra ela de lado. – Eles são metafóricos demais. Sabe? Eu não sei, talvez classificaria como belo. Mas acho também que eles só estão querendo se divertir e causar e se expressam de maneiras estranhas.
- Por outro lado, às vezes as pessoas só querem fugir da realidade um pouco e a arte também pode ser isso – Harry encolheu os ombros. – A arte tem que ser um meio de fuga pra todo mundo. Pra quem quer expor sentimentos reais e pra quem quer fingir que eles não existem. Pra quem quer se apropriar de outros sentimentos, também, o que não deixa de ser real naquele momento.
- Fico pensando que alterna, sabe? Às vezes é fuga. Às vezes é encontro.
- A fuga do que se sente e o encontro do que não se sabia que podia sentir.
- A fuga do que se pensa e o encontro do que não sabia se sentia ou não – Isabella completou, por fim.”

FFOBS: A entrevista vai terminando por aqui, caso queira deixar algum recado final, fique à vontade!
A: Eu queria agradecer primeiro ao FFOBS e ao staff, porque antes mesmo de eu pensar na possibilidade de postar uma história, vocês marcaram a vida da Camilla de dez ou onze anos que só queria se sentir mais próxima do Danny Jones e acabou entrando num mundo inteiro de variáveis e escolhas e amadurecimento e continua por aqui, agora com 23. Foi por causa de vocês, também, que eu me dispus a escrever, a continuar mantendo o hábito de leitura e essa é uma das coisas mais importantes que se pode fazer por alguém. Queria agradecer a cada pessoa que já leu Real Stuff e deixou um comentário (Jesus, vocês PRECISAM SABER o quanto um comentário com as palavras certas pode mudar uma vida inteira de uma pessoa), saber que existem pessoas comigo nessa empreitada louca é reconfortante e inspirador e eu me sinto honrada demais. Queria agradecer também as meninas do grupo da Kels porque eu acho que já teria realmente largado mão de continuar se não fosse por elas (eu amo vocês). Um alô especial cheio de amor pra Milena, que sempre me dá aquele help caloroso nos momentos de surto (que são muitos, ela que o diga). Mas agora eu também tenho um grupo no facebook, então obrigada por todo mundo que tá lá também, hahahaha. Tudo isso é surreal demais, então, saibam apenas que eu só estou muitíssimo grata por tudo isso <3