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Capítulo 1 - As Ondas da Austrália


A luz forte do sol inundava o pequeno quarto de hotel milimetricamente organizado pelo homem que observava a vasta paisagem pela janela.
Patrick O'Neil não aparentava ter quarenta e dois anos, seus cabelos escuros eram levemente salpicados de fios brancos e ninguém, em sã consciência, diria que ele tinha dois filhos formados. Filhos muito preguiçosos por ainda estarem dormindo, mesmo sendo nove e meia da manhã.
O fato de sua filha caçula querer dormir até mais tarde: aquelas eram suas primeiras férias como adulta, sem ter que esperar a volta às aulas no início de setembro. Já Charles não tinha essa desculpa. Ele deveria estar trabalhando e bancando a família.
- A que horas vocês pretendem acordar? - perguntou Patrick, se afastando da janela ao ver seus filhos revirarem em suas camas.
- Três horas depois do senhor perguntar isso - resmungou Charles, o filho mais velho, puxando seu lençol até que cobrisse sua cabeça.
Não tinha jeito. Ele teria que apelar para algo que eles não recusassem.
- Certo. Então vou velejar sozinho...
O efeito fora imediato. pulou de sua cama para de seu irmão, pulando sobre o colchão macio na tentativa de fazê-lo levantar.
- Charles, acorde! Vamos para o mar! Vamos, levante! - exclamara a garota rindo até que Charles sentou-se na cama.
Assim que percebeu que seu irmão não voltaria a dormir (mesmo morrendo de sono ele queria ir para o mar tanto quanto ela), correu para o único banheiro do quarto, saindo de lá perfeitamente vestida e com seus longos cabelos escuros presos com um fino palito.
- Você deveria ter nascido no mar... - disse Patrick à filha, observando Charles entrar no banheiro.
- É. De lá você não pode me acordar desse jeito! - grunhiu o garoto. se quer deu atenção e se virou para o pai.
- Vamos passar o dia inteiro no barco? - perguntou ela, com seus grandes olhos brilhando de felicidade. Patrick puxou a filha para um abraço e depositando um beijo em sua testa.
- Vamos, minha princesa. Vamos passar o dia inteiro.

XX

Nuvens escuras tomavam o céu que alguns instantes atrás estava claro, fazendo com que parecesse que a noite havia chegado mais cedo. O mar começava a se agitar, como se não quisesse mais ninguém em seus domínios, fazendo com que uma quantidade considerável de água entrasse no barco.
- Pai! - gritou Charles se segurando em uma corda - Dê meia volta!
Tão distraídos com a comida que eles haviam levado a bordo, nenhum dos três viu as grandes manchas no céu se aproximarem.
Agora era rezar para conseguirem voltar ao píer a tempo de não pegarem a maior parte da tempestade que viria e nem estragarem o barco alugado.
- Charles, fique a bombordo! - gritou Patrick de volta, girando o timão o máximo que conseguia - , desça. Lá embaixo é mais seguro!
, que, assim como seu irmão, já estava encharcada até os ossos, sequer se moveu, fazendo com que o homem tornasse a gritar.
- Eu não vou sair daqui! - rebateu ela - Charles não vai conseguir segurar as coisas aqui sozinho!
- Desça, ! - rosnou ele. Aquela não era a hora mais apropriada para a garota tentar se impor - É uma ordem!
- Uma ordem que eu não vou acatar!
- , segure-se! - gritou Charles ao ver uma grande onda quase em cima do barco, mas era tarde. A onda engoliu o barco por completo. sentiu a água salgada do mar descer rasgando por sua garganta e afastar seus pés da madeira clara do barco.
Ela conseguira subir à superfície algumas vezes, mas não vezes o suficiente para respirar direito. Não se ouvia nada a não ser o barulho das águas violentas que a envolviam. Nenhum grito de socorro. Nenhum chamado de sua família. Só o sussurro do mar a sua volta.

XX

Depois de um tempo que pareceu uma eternidade para a garota, ela sentiu o chão embaixo de si. Nunca ficara tão feliz ao sentir a areia molhada em contato com sua pele.
jogou os cabelos encharcados para trás enquanto se levantava. Não chovia, mas o forte vento a fazia tremer e o fato de estar completamente encharcada não ajudava muito. Seus pés, agora descalços, se incomodavam com a quantidade de areia e pedras entre seus dedos.
Perdida, ela começou a olhar em volta. Nenhum sinal do barco e muito menos de sua família. Um raio iluminou os céus, alertando-a que era necessário procurar abrigo. A pequena ilha em que ela parara não parecia ser civilizada. Só conseguia ver algumas sombras a sua frente, que pareciam árvores. Havia apenas uma pequena caverna. O trovão a seguir a apressou e ela correu para a caverna.
O desespero foi tanto que ela não tomara cuidado com as pedras no caminho. Acabou tropeçando em uma, bateu a cabeça na parede da caverna e caiu desacordada.

Capítulo 2 - As Ruínas de Cair Paravel


Areia.
Muita areia.
Tudo a volta de , quando ela acordou, era areia. E vento.
Já demoraria para conseguir enxergar, com a areia nos olhos a situação piorava. E muito.
Cambaleando, saiu da caverna sentindo o sol forte em contato com sua pele arranhada, indicando que já se passara do meio-dia.
- Quem é você? - perguntou uma voz desconhecida e, aparentemente, sem corpo - Como chegou às terras de Nárnia?
olhou para todas as direções que ela julgava possíveis para encontrar a pessoa, mas não a encontrou. Talvez tivesse entrado água demais em seus ouvidos e agora estava ficando louca.
- Não se faça de idiota, filha de Eva! Estou aqui embaixo, como já deveria ter percebido! - exclamou a voz e, mesmo sem entender o porquê de estar obedecendo a uma voz não corpórea, direcionou seus olhos para baixo, encontrando o maior rato que ela já vira em sua vida, com uma pluma na cabeça e uma bainha amarrada na cintura. soltou um grito agudo, que doeu seus próprios ouvidos. Mal conseguiu dar um passo para trás e caiu, sentindo pequenas pedras machucarem ainda mais suas costas. O rato - aquilo era mesmo um rato?! - subiu em seu pescoço, desembainhando sua espada e apontando-a para seu rosto. Ela tentara, mas não conseguiu segurar sua risada. Ela estava enlouquecendo: além de estar tendo uma alucinação estava rindo na cara dela também. O rato irritado forçou sua espada contra o claro queixo da garota, fazendo com que ela parasse de rir.
- Você é um rato! - exclamou , afastando a minúscula espada com a mão. Em um movimento rápido, o rato fez um corte considerável em sua mão. Mais assustada ainda, a garota começou a gritar - Ai! Você é um rato! Ratos não fazem isso! Nem na Austrália e nem em outro lugar do mundo!
- Vou lhe perguntar mais uma vez... - sussurrou o rato - Quem é você, como chegou a Cair Paravel e de onde você é?
- Mas... - começou ela, depois vendo o rato aproximar a espada de seus olhos - Certo, certo! Sou O'Neil, eu dormi em uma caverna em uma ilha pequena e não sei como vim parar aqui e eu sou da Inglaterra! Agora saia de cima de mim!
O rato pulou para o chão, permitindo que a garota se levantasse, gritando um nome que ela não conseguiu identificar. Em segundos, um homem de elmo montado em um cavalo apareceu na entrada da caverna.
- Escutei alguns gritos e já estava vindo para cá antes que me chamasse, Ripchip, e... - começou o homem descendo do cavalo, antes de ver - Quem é essa garota? Lembraria-me de tê-la visto antes se já tivéssemos nos cruzado.
- Chame mais um cavalo - pediu o rato calmamente, guardando sua espada na bainha - Vamos levar essa garota ao rei Caspian.
- O que essa garota tem de especial para ser levada ao rei? - perguntou o homem confuso. À primeira vista e à segunda também, a garota parecia um mendigo: suas roupas, além de não serem nada comuns, estavam cheias de areia e toda sua pele à mostra tinha machucados e arranhões, sem contar no corte na mão direita. Mas mesmo assim, ele tinha que admitir, ela tinha certa beleza e com certeza essa não era a razão para o rei querer vê-la.
- É o que vamos descobrir! - respondeu Ripchip, fazendo um sinal para que o homem se apressasse, depois se virando para a garota, com a voz calma e doce, como se tivesse se esquecido do acontecimento de instantes atrás - Vamos levá-la ao rei, filha de Eva.
- Eu não sou filha de Eva - disse , forçando sua voz para não gaguejar. Agora sentia medo: o que ela fizera para ser levada ao rei? Só podia estar sendo confundida com outra garota, afinal: - O nome da minha mãe é Helena.
Ripchip começou a rir e pensou que o rato tivesse lido seus pensamentos, descoberto que ela não tinha nada de importante e tivesse decidido jogá-la de volta ao mar.
- Filhas de Eva não são necessariamente filhas de uma mulher chamada Eva - explicou o rato - Filhas de Eva são garotas como você. São humanas.
Antes que pudesse perguntar mais alguma coisa, como a razão por ter que ser levada ao rei, o cavaleiro voltou com mais um cavalo marrom. O rato agilmente subiu no pescoço do animal.
- Espero que saiba andar a cavalo - disse ele. bufou aproximando-se.
- É claro que eu sei! - resmungou ela.
- É só deixar o controle comigo - informou o cavalo, se virando para a garota que gritou andando para trás, tropeçando e caindo novamente. O cavaleiro desceu para ajudar a garota que parecia gostar do chão.
- Eu ia descer para ajudá-la a subir - disse ele puxando-a pela mão - Não esperava ter que ajudá-la a levantar também.
- Tudo aqui fala?! - exclamou depois de já ter montado no cavalo.
- Estamos em Nárnia! - disse Ripchip rindo e assim eles começaram a viagem até o tal rei Caspian.

Capítulo 3 - Rei Caspian


Na velocidade em que eles corriam, a floresta pela qual eles passaram não passava de um borrão. O caminho parecia longo, cheio de árvores e pedras, mas não durou mais de uma hora. Os cavalos não diminuíram a velocidade em nenhum momento. Pareciam estar se divertindo com sua pequena corrida.
- Filha de Eva, você não parece estar muito bem - comentou Ripchip.
- Estou bem! - exclamou , mesmo sabendo que não o convencera. Seus olhos pesavam pela falta de descanso, seu estômago doía por sua refeição ter sido a quase vinte e quatro horas atrás. Era quase por magia que ela não havia caído do cavalo até aquele momento.
- Logo estaremos na presença do rei e você comerá e beberá algo. E descansará, é claro - lembrou o cavaleiro, fazendo mais uma curva e entrando em um povoado.
Minutos depois eles pararam na frente de um grande castelo. O cavaleiro se dispôs a ajudar a garota a descer e como ela recusou, cambaleou ao chegar ao chão, tendo que ser segurada.
se sentiu realmente um ser insignificante perto da imensidade do interior castelo. Tudo era limpo e reluzente e ela, ali, toda suja e machucada. Sua vontade era de sair correndo e voltar para junto de sua família nem que fosse nadando.
- Chame o rei Caspian - disse Ripchip a uma mulher que passava por um dos vários corredores - Temos uma pessoa que ele precisa ver.
- Já estou aqui, Ripchip - disse uma voz rouca atrás deles. Os três se viraram ao mesmo tempo em direção a voz.
Um homem alto os encara e teria deixado seu queixo ir ao chão se não tivesse morrendo de medo. Se aquele era o rei, ele não se parecia nem um pouco com o que ela imaginara. imaginara um rei com idade um pouco mais avançada, com cabelos brancos tomando sua cabeça. Não um rei que deveria ser somente um pouco mais velho que ela, com cabelos escuros e, bem, ela tinha que admitir, bonito.
- Majestade - sussurraram Ripchip e o cavaleiro juntos, se curvando. continuou estática, não conseguia mover um músculo. Caspian fitava a garota com curiosidade. Ela não era narniana, nunca vira roupas como a que ela usava antes e parecia não saber como agir.
- Filha de Eva, cumprimente o rei - sussurrou o rato discretamente. Desesperada ao perceber que estar parada poderia ser considerado falta de respeito e educação, a garota fez a primeira coisa que veio em sua mente: esticou a mão ao homem - Ora essa! Se curve! Nunca viu um rei na vida?
- Se eu tivesse, saberia como me portar, não acha? - resmungou ela ao rato, enquanto se curvava ao rei.
- O que aconteceu com sua mão? - perguntou Caspian, apontando para a mão que ela havia esticado.
- Isso é obra minha, meu Real Senhor - disse o rato humildemente - E eu não me orgulho disso.
- Você não deveria ter dito isso a mim? - rosnou a garota - Foi a minha mão que você cortou, não a dele!
- Mais respeito na presença do rei, filha de Eva - retrucou o rato.
- Os senhores podem se retirar - informou Caspian, sem tirar os olhos da garota - Eu cuido dela agora.
Os dois fizeram reverências, murmurando simples "majestade" e se retiraram.
nunca pensou que seu coração pudesse bater tanto contra suas costelas. Provavelmente o rei a mataria. Ela era uma intrusa naquele reino, mesmo que não soubesse como havia parado lá.
Caspian olhou a garota de cima a baixo mais uma vez. Não parecia ser perigosa, mas espiões nunca parecem ser perigosos e algo lhe dizia que não havia nada a temer em seu respeito.
- De onde você é? - perguntou ele finalmente. engoliu em seco antes de responder.
- Inglaterra, senhor.
- "Majestade" - corrigiu Caspian, buscando em sua mente por aquele nome que lhe era tão familiar. A resposta veio no mesmo instante - Você veio do mesmo país que o Grande Rei Pedro...
- O Grande o quê? - perguntou ela no meio de um bocejo.
- Você está cansada. Vou levá-la a um quarto para que possa descansar. Acompanhe-me.
Caspian guiou pelos vários corredores do castelo, até parar em frente a uma grande porta de carvalho.
- Pode descansar nesse quarto. Logo alguém virá lhe trazer comida e lhe preparar um banho - disse Caspian com uma mão na maçaneta da porta - Quando estiver descansada, nós conversaremos.
assentiu, quase agradecendo por não ter que responder mais perguntas. Quando fora entrar no quarto, Caspian a impediu, segurando-a pelo braço. A garota sentiu que seria capaz de chorar para poder dormir um pouco.
- Desculpe-me, não perguntei seu nome.
- O'Neil. O'Neil, majestade - respondeu ela, frisando a última palavra. Com um pequeno sorriso, Caspian se afastou da porta.
- Prazer em conhecê-la, O'Neil. Sou o Rei Caspian X.

Capítulo 4 - As Terras de Nárnia


acordou com alguém batendo na porta do quarto. Nunca dormira tão bem em sua vida. Nem a família real inglesa deveria ter camas tão macias e confortáveis como aquela.
- Já está acordada? - perguntou Ahava, a criada que levara comida a ela no dia anterior - O rei Caspian pediu para que eu lhe trouxesse um vestido da rainha Susana. Deve servir.
A Mulher colocou sobre a cama um longo vestido verde-musgo, com tanta delicadeza que parecia que a tal rainha estava dentro dele.
- Desculpe, mas não posso usar as vestes de alguém da realeza - ofegou humildemente, sentando-se na cama para observar melhor o vestido.
- Ora, criança! Tenho que certeza que a rainha Susana não se importaria que você o usasse. Gentileza era um dos traços mais marcantes da rainha. Por isso seu título era de a Gentil.
- Por que "era"? Ela era a rainha de Caspian?
- "Rei" Caspian, criança - corrigiu a mulher abrindo as grossas cortinas do quarto - Não se refere a alguém da realeza pelo primeiro nome sem que o próprio tenha permitido. A rainha Susana reinou em Nárnia com seus irmãos, rei Edmundo, rainha Lúcia e Grande Rei Pedro há muito tempo, na Era de Ouro. Há alguns meses, quase um ano atrás, rei Caspian os invocou do passado e depois eles retornaram para o mundo deles. E não, rei Caspian não tem rainha. Mesmo ficando feliz em responder, guarde suas perguntas para o rei. Ele tirou o todo o dia para passá-lo com você.
ficou em silêncio enquanto a mulher andava de um lado para outro, organizando o quarto. Aos olhos da garota o quarto estava perfeitamente arrumado, mas Ahava conseguia ver defeitos até mesmo em seu próprio trabalho.
- Troque-se logo, minha querida. O rei Caspian lhe espera para começar o café-da-manhã.
colocou o vestido, receosa. Não era digna de usar o vestido de uma rainha e o fato dela poder voltar no tempo não ajudava muito. Mas tinha que admitir, o vestido era divino e havia servido perfeitamente.
Ela saiu do quarto e encarou a parede do corredor. Junto com o vestido Caspian podia ter mandado um mapa. Fora necessários cerca de cinco minutos até encontrar alguém que a levasse até ele.
Caspian estava sentando na ponta de uma longa mesa, com diversas comidas e bebidas à sua frente, mas seu prato e sua taça estavam vazios. Ele realmente estava a esperando para começarem juntos a refeição. Quando viu a jovem descendo as escadas, puxando desajeitadamente a barra do vestido para não cair. O rei se levantou, esperando-a se aproximar.
- Bom dia, majestade - cumprimentou-o, sentando-se na cadeira à direita do homem, que ele indicara.
- Bom dia - disse ele voltando a se sentar - Dormiu bem?
assentiu enquanto servia-se de suco. Se a comida que lhe deram na tarde anterior ela achou fantástica, aquela superava. Nenhum dos dois trocou mais palavras durante a refeição, em um momento ou outro sentiam o olhar do outro o observar, mas não passavam disso. Deixaram a tensão crescer enquanto esvaziavam suas taças.
- O vestido da rainha Susana ficou lindo em você - comentou Caspian, assim que terminara de comer, chamando a atenção da garota. Oh, um dia ela teria que aprender a não corar diante de elogios - Cara , poderia me dizer como chegou ao meu reino?
, que também havia terminado a refeição, pigarreou, tomando uma postura mais séria.
- Rei Caspian, desculpe-me, mas - começou ela olhando para baixo até ser interrompida.
- Olhe para mim enquanto fala - pediu gentilmente, gentileza que não escondia a ordem da frase. levantou os olhos até encontrar os olhos castanhos do rei. Respirou fundo e recomeçou:
- Eu confiei em vocês. Deixei que me trouxessem para um lugar que eu desconheço. Comi e bebi de comidas e bebidas que poderiam me fazer mal. Creio que tenho direito de saber onde eu estou antes de dizer de onde eu vim.
Caspian se levantou. Tinha que admitir, coragem a jovem tinha. Poderia estar cometendo o maior erro de sua vida em confiar na garota, já que não pudera descartar a possibilidade de ser uma espiã carlomana. Ao se por do lado da cadeira da garota, ele esticou mão em sua direção.
- Você vai me levar para um lugar sem testemunha e me matar por eu não saber controlar minha língua? - perguntou ela inocentemente. O rei teve que ter uma enorme força de vontade para segurar a risada que queria lhe escapar. Se limitou a dar um sorriso educado.
- Não, não vou matá-la. Um pouco de ousadia não faz mal a ninguém - disse Caspian, ainda com a mão estendida - Pode confiar em mim mais uma vez?
respirou fundo e aceitou a mão do homem, que a conduziu pelo corredor que dava na entrada do castelo. A garota não queria saber o que seu pai pensaria ao saber que ela estava confiando em um perfeito estranho e a própria não sabia o porquê fazia. Algo dentro de si dizia que aquilo era o certo a se fazer, que estava em companhia de boas pessoas, que podia confiar. Estava sendo algo tão natural como respirar.
- Se quer saber a história de Nárnia, nada melhor que estar nela, não? - murmurou ele, quando chegaram ao lado de fora. Mesmo já sendo um pouco tarde, os raios do sol timidamente passavam pelas nuvens, amenizando o calor das pessoas que passava de lá para cá na frente do castelo. sequer se assustou ao ver tanta gente. Era um dia comum e em dias comuns, pessoas trabalham - Sabe montar, certo?
- Eles vão perguntar isso sempre - disse uma voz conhecia aos ouvidos da garota. A alguns passos dos dois, estava o cavalo que a trouxera no dia anterior, fazendo uma profunda reverência - Majestade.
- Cuide dela para mim - brincou Caspian, se afastando - Vou chamar meu cavalo.
- Então, filha de Eva, me proibiram de falar com você ontem e não pude me apresentar. Sou Thomas e é um prazer conhecê-la - disse o cavalo, tornando a fazer uma reverência.
- Prazer, Thomas. Sou .
- Encantado, . Espero que hoje não tema minha companhia.
- Ei, você! - gritou um cavaleiro, correndo até eles - Você é a garota que encontraram em Cair Paravel, não é? Você não deve sair do castelo desacompanhada e sem permissão. Onde está o rei?
- Estou aqui, cavaleiro - disse Caspian, que voltara com seu cavalo em seu encalço.
- Ah, majestade! - suspirou o cavaleiro - Estão de saída? Quantos homens quer que vos acompanhe?
- Nenhum, vamos sozinhos - explicou Caspian, montando em seu cavalo.
- Mas, majestade, é seguro? Só vocês? - perguntou ele confuso - Não que vossa majestade não seja capaz de se defender, mas a garota...
- Sabe atirar? - perguntou Caspian a ela, cortando a frase do homem - Sabe manusear arco e flecha?
- Se quiser que eu acerte um alvo invisível... - ironizou ela rindo, só depois percebeu que eles estavam a levando a sério - Tenho uma péssima pontaria.
- Eu me encarrego da proteção da jovem - disse Thomas, voltando a fazer uma reverência.
- Por favor, não faça mais reverências - pediu ela - Me deixa desconfortável.
- Então, vamos! - exclamou Caspian, indo com o cavalo para uma direção que a garota desconhecia.
- Uh, Caspian? - chamou-o ela - Digo, meu rei?
- Sim? - perguntou ele, se virando para ela. estava parada ao lado de Thomas com uma cara pidona. O que acontecera?
- Acho que vossa adorável companhia não é alta suficiente para me montar sozinha, majestade - disse Thomas, apontando com a cabeça para a garota que começara a corar.
- Não precisa ficar envergonhada - pediu Caspian, segurando-a pela cintura e ajudando-a a montar - Você é mais alta que a maioria das mulheres que eu conheço.
- Se for menos constrangedor, pode chamar um cavalo mais baixo... - sugeriu Thomas.
- Não, não! Provavelmente, um cavalo com altura adequada para a minha pessoa é um pônei nanico! - resmungou , jogando os cabelos para trás - Vamos, Caspian! Desculpe, meu rei! Um dia eu aprendo.
Os dois saíram em direção à floresta, em um ritmo um pouco mais devagar que do dia anterior. Dessa vez a velocidade a permitia observar tudo, desde as árvores aos narnianos que andavam de um lado para o outro. Caspian pediu para que os cavalos diminuíssem a velocidade.
- Acho que já estamos longe o suficiente para conversar, minha cara - informou o rei - Caso eu erre ou esqueça alguma coisa vocês me corrigirão, caros narnianos?
- É claro, majestade - respondeu Thomas - Mas sobre o que conversarão?
- Vamos contar tudo sobre Nárnia a nossa adorável visitante - explicou Caspian, olhando para a garota antes de começar a sua narrativa.

XX

- Uau! - ofegou , assim que Caspian terminou de contar a história - Então, há alguns meses eles estavam aqui? Eles realmente estavam aqui?!
Caspian riu da agitação da garota. Parecia uma criancinha que havia acabado de ganhar um brinquedo novo.
- Reis e rainhas do meu país! Os quatro são da Inglaterra! - continuou ela olhando para Thomas, que parecia contagiado pela energia de - Eu posso ter cruzado com eles não rua e nem sabia! Eu posso até ter estudado com um deles!
Caspian desceu de seu cavalo e ajudou a garota a descer. Desacostumada a descer com ajuda, quase perdeu o equilíbrio, tendo que se apoiar no homem, que a segurava firmemente.
- Agora ficou tudo tão mágico! - comentou rindo, antes de notar que ainda apoiava suas mãos nos ombros do rei e ele ainda a segurava. Os dois se afastaram constrangidos e Caspian pigarreou.
- Acho que agora é sua vez de contar - lembrou ele vendo-a concordar timidamente - Caros narnianos, estão dispensados pelas próximas horas enquanto converso com nossa visitante.
- Não vamos poder ouvir a história? - perguntou Thomas cabisbaixo.
- Creio será melhor se só eu estiver presente - explicou Caspian. se aproximou novamente de Thomas. Não gostara nem um pouco de ver a felicidade e animação do cavalo se esvair.
- Nem resumidamente? - insistiu ele. sorriu.
- Mais tarde, depois que eu conversar com Caspian.
- "Rei", criança - corrigiu Thomas. Antes que a garota pudesse dizer algo mais, Caspian a chamou.
Despedindo-se dos cavalos, Caspian e entraram mais a dentro da floresta.
- Foi por isso que escolheu vir sem escolta? - perguntou a jovem depois de alguns minutos que andaram em silêncio - Pelo mesmo motivo que deixou os cavalos para trás?
- É muito mais confortável contar algo a uma pessoa do que a muitas, poderia ser desconfortável para você - disse Caspian, a guiando por uma pequena trilha - Pode começar.
parou por alguns instantes antes de dizer:
- Não sei por onde começar. Você quer que eu conte minha vida inteira. É complicado!
- Vamos tornar isso um pouco mais fácil. Como é sua família? - perguntou Caspian, fazendo-a se sentir em uma entrevista de trabalho.
- Bem, eu tenho uma irmão, Charles, que é dois anos mais velho que eu - contou ela, pulando de uma pedra - E tem meu pai, Patrick.
- E sua mãe?
- Minha mãe se chamava Helena... Ela morreu quando eu tinha sete anos.
- Como? - perguntou o rei que, embora sua voz tivesse saído fria e insensível, sua expressão era muito familiar a da garota. Ele conhecia aquele sentimento muito bem.
- O barco que ela estava afundou em alto mar. Não teve sobreviventes - respondeu , vendo Caspian parar e empalidecer - O que aconteceu?
- Acho que a trouxe em um lugar inapropriado - disse ele apontando para frente. deu mais alguns passos adiante e quando as árvores diminuíram, ela entendeu o que ele queria dizer. Aquilo era uma espécie de um pequeno penhasco, que dava de frente para o mar narniano. À frente não havia mais nada, somente a água clara e o céu azul.
- Caspian... - ofegou ela virando-se para ele que estava a alguns passos atrás - Caspian, esse é o lugar mais lindo que eu já vi na minha vida inteira!
- Pensei... - começou ele confuso, se colocando ao seu lado - Pensei que não gostasse do mar. Afinal, ele levou sua mãe...
- Eu não posso odiá-lo... - disse ela, fechando os olhos - O mar é tão humano quanto nós, tem sua personalidade: alguns dias pode ser calmo e manso; em outros pode ser agressivo e voraz, mas não é culpa dele, não é ele que escolhe, diferente de nós. Algumas coisas acontecem por razões que nós desconhecemos, mas algum dia a entendemos, já que elas nunca são incompreensíveis. Nada acontece por acaso. Se aconteceu, é porque aquilo te levaria a aprender algo. Seja esse algo grande ou pequeno, era necessário e algum dia fará diferença. É por isso que eu não guardo ressentimentos em relação a ele. Junto ao mar eu sinto a presença dela, como se em alto mar ela pudesse me proteger mais, de alguma forma. Me sinto perto dela.
Caspian ficou parado ouvindo, com um sorrio discreto. Estava completamente encantado com a garota, se quer pensava mais nas possibilidades dela ser perigosa. abriu os olhos dando uma leve risada:
- É um pensamento infantil, eu sei. Mas é o que eu sinto, é o que eu acredito desde então.
- Pelo contrário - discordou Caspian, fazendo com que ela o olhasse - É o pensamento mais maduro e honesto que eu já ouvi. A maioria das pessoas arrumaria alguém para culpar por essa tragédia e o mais óbvio e provável seria o próprio mar, ou até mesmo o capitão do barco, que você sequer citou. E embora você tenha culpado o destino mesmo sem ter percebido, não foi com rancor, sem nem algum tipo de vingança. A maioria das pessoas, mesmo que se sentisse do mesmo jeito que você, não assumiria isso em voz alta, não teria coragem o suficiente.
O som da alta risada de , depois de alguns segundos em silêncio chegou a assustar o homem. O que ele havia dito de errado?
- Desculpe, mas... Acho que nos afastamos do assunto principal da nossa conversa, não? - comentou ela, fazendo com que ele soltasse uma leve risada. Claro que ele não iria rir abertamente mesmo querendo. O que ela queria? Ele era o rei e tinha que manter a postura - Mais além estão as Ilhas Solitárias, certo?
- Sim e mais além o País de Aslam - lembrou ele - E como você chegou a Nárnia?
- Meu pai decidiu que passaríamos o verão na Austrália. É um país do sul no meu mundo, tem paisagens lindas e praias incríveis - continuou , perdida vendo todo aquele mar - Estávamos em um barco, meu pai, meu irmão e eu, quando começou uma tempestade. Meu pai ordenou que eu descesse, mas eu não obedeci, fiquei para ajudar meu irmão. Uma onda cobriu o barco e eu caí. As ondas me levaram até uma caverna, que pelo que você me contou, creio que seja a passagem do meu mundo para o seu.
- E a sua família?
- Talvez eles tenham caído no mar e encontrado a caverna e estar aqui - sussurrou ela, sentindo os olhos marejarem - Ou não. Eu preciso voltar, Caspian...
- Eles podem estar aqui. A caverna que Aslam contou levava a Telmar, não Nárnia - lembrou ele, que não se deu o trabalho de corrigi-la por o chamar pelo nome. Sentia que não era necessário - Espere alguns dias, se eles não aparecerem, você retornará.
- E como eu vou saber? - indagou ela choramingando - Caspian, esse mundo é enorme!
- Essa é vantagem de ser o rei. Posso ordenar que todos fiquem atentos e se verem dois homem perdidos, que os levem até o castelo. Não será difícil de reconhecê-los, tenho certeza que a roupa os acusará - disse Caspian. se virou para ele inesperadamente, com uma expressão assustada, fazendo com que ele pensasse que tinha dado uma ideia horrível.
- Eu o chamei pelo primeiro nome novamente! - exclamou ela - Por que não me corrigiu?!
- Você me chamou outras vezes pelo nome? - perguntou ele, fazendo-se de inocente. instantaneamente começou a gaguejar.
- Não estou acostumada falar com pessoas de nobreza - resmungou ela corada - Me dê tempo para me acostumar.
- Você terá todo o tempo que precisar... - sussurrou Caspian, que teve certeza que ela não ouvira, ou fingiu muito bem.
Um pássaro cortou os céus que começavam a se tingir de cores quentes, anunciando que a tarde estava no seu fim. Os dois ficaram ali, admirando a paisagem que escurecia a cada minuto.
- Melhor voltarmos ao castelo - pronunciou-se Caspian, oferecendo sua mão à jovem, que não hesitou em aceitar - Deve estar com fome.
- Um pouco - concordou ela, enquanto Caspian a guiava - Será que eles estão muito longe?
Acharam os cavalos logo depois e Caspian quase se esquecera de ajudar a garota a montar, encontrando uma com as mãos na cintura e batendo um pé no chão quando virou para trás. Voltaram para o castelo com uma conversa bem animada e poderiam ter passado o dia inteiro na floresta, se seus estômagos já não reclamassem pela falta de comida.

Capítulo 5 - Os Corredores


O caminho de volta pareceu curto, não houve sequer um segundo de silêncio. Quando não eram os narnianos contando algo, era a garota contando como funcionavam as coisas em seu mundo.
- , volte para seus aposentos - pediu Caspian, descendo de seu cavalo - Vou comunicar a todos sobre sua família. Alguém levará o jantar no seu quarto.
- Agora é vossa majestade que a chama só pelo nome? - brincou Thomas, enquanto a garota voltava para o chão. Caspian ficou sem jeito.
- Não me importo que me chame só pelo nome e até prefiro assim - disse rindo. Se despediu rapidamente de Thomas, que precisou ser lembrado que ela não gostava de reverências e depois se virou para Caspian.
- Obrigada, majestade - disse ela, se curvando levemente - Por tudo.
- Vou fazer tudo que estiver ao meu alcance, pode ter certeza - murmurou Caspian - Agora vá descansar. Nos vemos amanhã.
Caspian foi para a direção oposta a de dentro do castelo, enquanto ela se esforçava para lembrar aonde ficava seu quarto. Um mapa realmente seria útil. Depois de passar pelo no mesmo corredor pela décima vez, ela avistou Ahava e sorriu. Havia simpatizado com a mulher.
- Eu diria que um dia a senhorita conseguiria andar por esses corredores de olhos fechados - disse ela, abrindo a porta do quarto da garota - Mas como logo as coisas vão voltar para Cair Paravel... Admito que até eu ficarei perdida nos primeiros dias!
- Caspian me disse que em alguns dias a reconstrução do castelo de Cair Paravel terá terminado - comentou , que havia se sentado em sua cama. A mulher abriu a boca e ela a interrompeu, sabia muito bem o que ela diria - Rei Caspian, desculpe.
- Sim, estará! - concordou ela - Mas ainda tem que mobiliar todo o castelo e ele é muito grande! Demorará pelo menos umas duas semanas.
concordou mesmo sem saber. Já estivera em Cair Paravel, mas Ripchip a tirara de lá tão rápido que mal conseguira ver o mar.
- Vou trazer outros vestidos da rainha Susana e os de quando a rainha Lúcia era adulta. Logo terá suas próprias roupas - disse Ahava, saindo do quarto - Daqui a pouco volto com seu jantar.
A garota se jogou na cama. Há pouco mais de vinte e quatro horas, ela estava em um barco na companhia de seu pai e seu irmão. Agora ela estava descansando em um castelo, depois de ter passado o dia inteiro na companhia de um rei, um rei de um reino mágico, que ficava em um mundo diferente do dela. Oh, era muita informação para o cérebro da garota. Ela adormeceu mais rápido do que esperava.

XX

A escuridão dominava e não havia nenhum indício de que o sol logo voltaria quando acordou. Não sabia que horas eram, só sabia que seu estômago doía de fome. Não fora uma boa ideia dormir antes do jantar.
Ela empurrou as cobertas ainda sonolenta. Alguém havia estado no quarto enquanto ela dormia: as cortinas agora estavam fechadas e aquelas cobertas estavam guardadas quando ela voltara do passeio com Caspian. Provavelmente Ahava viera trazer seu jantar e a cobrira.
Jantar.
Só de pensar a garota sentiu mais fome.
Forçando as pernas, saiu de seu quarto à procura da cozinha. Só se lembrou que não sabia onde ficava o local quando já estava longe demais para voltar ao aconchego de sua cama. Realmente fora muito inteligente pensar que conseguiria achar alguma coisa naquele imenso castelo. Mal conseguia achar seu quarto quando estava completamente consciente, imagine logo após ter acordado.
- ? - perguntou uma voz risonha às costas da garota. Caspian parecia bem menos formal naquela noite. Sem sua espada e nenhum tipo de proteção ele parecia até ser um simples jovem - O que está fazendo desse lado do castelo?
- Dormi antes de me levarem o jantar e não consigo achar a cozinha - choramingou ela, esfregando um dos olhos. Como a noite fazia bem a Caspian! Ele não tentara segurar o riso, como fizera nos últimos dias, simplesmente riu, dando um dos sorrisos mais lindos que a jovem já vira.
- A cozinha fica do outro lado do castelo - informou ele, vendo-a bater na própria testa. Céus, como ela era adorável - Venha, vou te levar até lá. Realmente estava pensando em comer mais alguma coisa...
Os dois seguiram por um caminho que sabia que nunca lembraria. Eram corredores seguidos de corredores e para uma pessoa que não era muito boa em memorizar caminhos, aquilo era quase uma missão impossível.
Ahava limpava algumas panelas quando os dois entram na cozinha. Estava tão distraída com seu trabalho que se assustou ao vê-los parados na porta.
- Encontrei essa jovem perdida nos corredores, quase morrendo de fome. Pensei que havia lhe pedido para alimentá-la bem - brincou Caspian, puxando uma cadeira para . Ahava riu com gosto.
- Vi o garoto nascer, crescer e se tornar rei e ele me trata desse jeito! - resmungou ela, guardando a panela em um dos vários armários do local - Minha querida, desculpe não tê-la acordado. Você aparentava estar tão cansada quando chegou e dormia tão profundamente que fiquei com pena de acordá-la. Vou preparar seu jantar!
- Não! - apressou-se em dizer. A última coisa que queria era dar mais trabalho a mulher - Pode ser algo mais simples, não quer lhe dar trabalho.
- Ora essa! Não é trabalho nenhum - disse a mulher sorrindo docemente. Ahava não deveria ter mais de cinquenta anos e sendo baixinha e um pouco gorducha, transmitia uma ótima figura materna.
- Seja lá o que você for fazer para , poderia fazer para mim também? - perguntou Caspian, que havia se sentado de frente para a garota - Estou com um pouco de fome...
- Agora vou ter que corrigir os dois? - exclamou Ahava, colocando as mãos na cintura - Meu rei, o senhor jantou não faz nem duas horas.
- Mas eu estou com fome - insistiu ele, que foi interrompido por uma garotinha que acabara de entrar na cozinha. A garota tinha lisos cabelos escuros, mais escuros do que os de , grandes olhos cinzas e deveria ter uns cincos anos. Ao ver duas pessoas a mais na cozinha do que esperava, a garota congelara.
- Ora, Cora! - reclamou Ahava, que mexia algo no fogão - Faça como eu ensinei, cumprimente-os.
Cora, com sua pele branca levemente corada, puxou a barra de seu vestido, fazendo uma pequena reverência.
- Majestades - disse ela, fazendo corar.
- "Majestade", no singular - explicou a jovem à menina, que se aproximou - Sem "s".
- Você não é uma princesa? - perguntou Cora, esticando os braços para que ela a pegasse. a sentou em seu colo, vendo Caspian tampar a boca com uma mão, como se quisesse esconder seu sorriso - Você é tão bonita quanto uma!
- Não é só a beleza dela que se compara à de uma princesa, minha filha - lembrou Ahava, enquanto colocava um prato de sopa em frente a um risonho Caspian e uma corada .
- Ninguém te fez princesa? - perguntou a criança inocentemente, aceitando um pedaço de pão que o rei dera.
- Meu pai me chama de princesa - comentou depois de experimentar a sopa, fugindo da pergunta original. Havia algo no olhar de Ahava que a deixava constrangida.
- Ele é o rei do reino de onde você veio? - tornou ela a perguntar.
- Não - respondeu rindo - Mas pode se dizer que ele é o "rei" do meu minúsculo castelo.
- Isso faz de você uma princesa! - exclamou Cora, sentindo que havia provado que ela estava certa desde o início - Mamãe, eu sou princesa em casa?
Ahava riu, pegando a garota do colo de .
- Claro que você é, minha princesa - concordou a mulher, bagunçando meigamente os cabelos da garota - Uma princesa que já deveria estar dormindo! Dê boa noite ao rei e a , querida.
Cora desceu do colo da mãe e correu para frente de Caspian, tornando a se curvar. Depois fez a mesma coisa na frente da garota.
- Boa noite, majestades - e depois correu para longe da cozinha.
Caspian, que já havia terminado sua sopa, ficou observando terminar a sua, com um leve sorriso nos lábios.
- Pelo visto você se entende com crianças - comentou ele, assim que ela terminara sua refeição.
- Eu sou uma eterna criança! - explicou rindo - E crianças se entendem!
- A eterna criança e o rei já não deveriam estar dormindo? - perguntou Ahava, enquanto pegava os pratos usados.
- Vou levar de volta ao seu quarto - anunciou Caspian, se levantando - Creio que ela não acharia o caminho de volta sozinha.
- Além de rei também é vidente? - brincou ela, também se levantando.
- Você teria dormido naquele corredor se eu não tivesse te visto! - riu Caspian.
- Verdade - concordou ela, aceitando a mão que Caspian a oferecera - Boa noite, Ahava!
- Boa noite... - murmurou ela, quando os dois já haviam passado pelas portas da cozinha - Majestades...

XX

- Posso te fazer uma pergunta? - pediu Caspian, depois de alguns segundos em silêncio. assentiu receosa: nunca esperava coisas boas quando lhe diziam isso - Você já memorizou algum caminho na vida?
A garota se esforçou ao máximo para não gargalhar, afinal, pessoas dormiam atrás daquelas portas.
- Não posso dizer nada sobre o caminho para a escola porque sempre morei ao lado. Meu pai é professor - explicou ela ainda rindo - E meu irmão que faz as comprar no mercado mais longe. Então a resposta à sua pergunta é não.
Caspian parou a frente da porta do quarto da garota e ela se sentiu envergonhada: realmente o quarto não ficava longe.
- Eu informei a algumas pessoas sobre seu irmão e seu pai e elas repassarão a informação. Logo toda Nárnia saberá - informou ele.
- Obrigada, Casp... Meu rei - disse , envergonhada por quase chamá-lo novamente pelo nome. Caspian sorriu sem graça: gostava de ouvir seu nome na voz da garota.
- Não precisa agradecer - lembrou ele - É um prazer ter sua companhia e pode ajudá-la.
- Boa noite, majestade - sussurrou ela, ouvindo um simples "boa noite" vindo do rei.
Caspian via a jovem entrar no quarto e fechar a porta e só depois lembrou-se que também deveria se deitar.
O caminho até seu quarto era um pouco maior do que da cozinha até o quarto de , mas ele podia fazê-lo de olhos fechados. Ele crescera naquele castelo e o conhecia por completo. A única que ele não conhecia era a jovem que ele deixara a alguns minutos. Caspian não podia negar, assustara-se ao ver vê-la tão longe do quarto dela e tão perto do seu. Mas já havia se certificado de que ela não era perigosa. era só uma garota perdida, garota que ele tinha obrigação de ajudar, mesmo não sentindo que era de fato uma obrigação.
Ao deitar em sua cama, Caspian pensou em todos os grandes acontecimentos daquele último ano: a descoberta dos narnianos, a queda de seu tio, a invocação dos reis e rainhas do passado, ser coroado rei de Nárnia, a chegada de ... Eram tantas coisas que o jovem rei adormeceu confuso em meio a tantos sentimentos.

Capítulo 6 - O duelo e a queda


Ahava entrou no quarto de como se fosse uma malabarista. Se alguém lhe perguntasse, nunca saberia responder como havia conseguido equilibrar aquela enorme bandeja em uma só mão.
- Meu anjo, acorde! - pediu a mulher, depositando a bandeja na mesa do quarto, depois abrindo as cortinas.
se mexer incomodada com o excesso de luz. Demorara séculos para pegar no sono, de tanto pensamentos que se passavam por sua confusa mente.
- Já é quase hora do almoço, querida - isso foi o suficiente para fazer a garota pular da cama - Não dormiu bem?
- Demorei para conseguir - explicou a garota tentando abaixar os cabelos - Onde está o rei Caspian?
- Aprendeu? - riu Ahava - O rei teve que resolver algumas coisas fora do castelo. Foi ver como andam as coisas em Cair Paravel. Pediu para que você se sentisse livre para andar pelo castelo e, se quiser, fora dele também. Só peça para que alguém a acompanhe.
A mulher saiu do quarto, deixando sozinha com a comida e pensamentos. Aquilo tudo era demais para ela. Nunca pensara que admitiria aquilo um dia, mas sentia falta de seu irmão. Onde ele e seu pai estavam? Estariam bem? Só Deus sabia como ela desejava que os dois estivessem em Nárnia. Assim ela não teria que ir embora.
E era essa estranho desejo que a perturbava.

XX

saiu do quarto depois de comer, vestindo outro vestido que pertencia a tal rainha Susana, só que em tom de vinho. Os corredores já não lhe eram mais estranhos, mas decorá-los era algo além de sua capacidade. Demoraria a eternidade para decorar todos os caminhos do grande castelo. Tempo que ela sentia que não teria ali.
Por um milagre ela conseguiu encontrar o caminho até a entrada do castelo.
- Jovem ! - exclamou uma voz conhecida, fazendo-a sorrir antes de avistar Thomas a alguns passos de distância, conversando com alguma coisa no muro. Ao se aproximar a garota conseguiu identificar Ripchip. Ela realmente não simpatizara com o rato - O que faz aqui fora?
- Caspian saiu. Vim procurar algo para fazer - explicou ela, depois corrigindo: - Rei Caspian.
- E o que você pretende fazer? - perguntou Thomas, mais alto que o necessário para abafar o infeliz comentário de Ripchip, algo como "pequena insolente que não respeita o rei".
- Eu não sei - rosnou ela em direção ao rato. Depois amoleceu a voz e se virou para o cavalo, sorrindo - Pensei que talvez você pudesse me sugerir algo...
Thomas parou para pensar. Fora pego de surpresa. Não conhecia muito bem, então não sabia do que ela gostava de fazer. Seria difícil lhe sugerir algo. Sua sorte foi que Ripchip fora mais rápido, soltando uma pequena arrogante risada antes de se dirigir à garota novamente.
- Já que está usando as vestes da rainha Susana... - começou o rato, comum tom de voz que deixava claro que não a achava digna de usar aquela roupa. Interessante. Em algo ao menos eles concordavam - Por que não pratica sua pontaria?
- Sou péssima com arco e flecha - contou ela, vendo Ripchip descer do muro.
- Ótima oportunidade de melhorar, não?
Ripchip a levou até o lugar onde o armamento do castelo estava guardado e apontou para o que ela precisava. saiu de lá com um arco na mão e uma pequena cesta com flechas nas costas. Aquilo seria engraçado de se ver.
O cavalo, o rato e a garota caminharam até a área do castelo destinada a treinamento, onde tinha um grande alvo. Não há palavra melhor para descrever as horas restantes do que um completo desastre!
Demorou muito até que ela conseguisse acomodar a flecha no arco e quando conseguiu lançá-la, ela caiu a dois passos a sua frente.
Em alguns momentos chegava a parecer que ela não queria atirar direito, mas a possibilidade fora descartada, pois a garota parecia estar prestes de jogar as flechas com as mãos, de tão irritada consigo mesma.
- Afaste seus pés e deixe seu braço mais para trás - aconselhou um jovem soldado que se aproximava com outros soldados. Os arqueiros do castelo que chegavam, paravam no pequeno amontoado de pessoas (que com o passar das horas deixou de ser pequeno), aconselhando a garota de todas as formas que podiam. se quer ligou para a grande atenção que recebia, muito menos para as pontas de seus dedos doendo. Só sairia de lá quando acertasse aquele maldito alvo. E pelo visto, os soldados tinha aderido o mesmo desafio.

XX

Caspian retornou antes do anoitecer e estranhou ver aquele amontoado de soldados. Risos e palavras eram misturados e mesmo com aquele considerável confusão, ele podia jurar que todos estavam tentando ajudar alguém. E esse alguém não parecia estar de bom humor, pois um agudo grito foi dado e todos se calaram. O silêncio reinou por alguns segundos e Caspian pode jurar que ouvira uma flecha cortar o ar antes que risos e palavras se misturassem outra vez.
- O que está acontecendo aqui? - perguntou o rei, descendo de seu cavalo. Alguns soldados se afastaram para lhe permitir ver o que acontecia. No meio de todos estava , segurando em uma mão um arco, na outra a barra de seu vestido e fazendo profundas reverências rindo, murmurando vários "obrigada, obrigada" enquanto os arqueiros batiam palmas e riam. Quando a garota avistou Caspian, seu sorriso se alargou e fez mais uma profunda reverência em sua direção.
- Certo, por hoje chega! - exclamou ela e os risos e palmas se transformaram em resmungos - Eu não sinto mais meus dedos!
A última flecha atirada, presa na borda do alvo, foi retirada por um arqueiro que juntava as dezenas de flechas espalhadas no chão. Depois de juntar todas, ele gentilmente pegou o arco com a garota, que agradeceu com um sorriso.
Aos poucos os soldados foram voltando às suas obrigações, deixando Caspian, , Thomas e Ripchip sozinhos.
- Há quantas horas vocês estão aqui? - perguntou Caspian, observando as pontas vermelhas dos dedos da garota.
- Desde a hora do almoço - riu ela - Foi de Ripchip a ideia.
- Ela não mentiu, majestade - disse Thomas - Ela realmente tem uma péssima pontaria.
- Talvez ela seja melhor com uma espada - disse Ripchip pensativo - Sabe manusear uma espada?
- Sei - respondeu ela - Meu irmão me ensinou.
Caspian, com um sorriso que deixava óbvio que não acreditava, foi buscar uma espada. manuseando uma espada ele tinha que ver pessoalmente.
Logo ele voltou com um espada na bainha, esticando-a para a garota, que a puxou. Nem um segundo se passou depois de ter a espada inteiramente em mãos e ela foi ao chão.
- Céus, como pesa! - ofegou ela, tornando a erguer a espada desengonçadamente. Caspian puxou sua espada e ela gritou - Não se atreva, Caspian! Espere eu me acostumar com o peso dessa coisa. Seja bonzinho!
Caspian riu de seu desespero, vendo-a passar a espada de uma mão para a outra e girá-la algumas vezes. No final das contas ela realmente aparentava ter agilidade com a arma.
- Certo, acho que me acostumei - suspirou e ele não hesitou em começar o duelo. Mesmo não esperando e assustada com a força que ele parecia ter, ela conseguiu bloqueá-lo - Caspian!
Rindo os dois continuaram o duelo.
O som dos metais se chocando podia ser ouvido de longe, assim como os gritos agudos de a cada vez que Caspian usava força mais que o necessário.
Uma... Duas... Três vezes a espada da garota fora ao chão. Caspian era muito mais forte que Charles, seu irmão, e ela já perdia para ele. Caspian tinha que admitir, ela tinha jeito para manusear a espada, era rápida e conseguia prever o que ele faria a seguir. Só não tinha tanta força.
- Afaste mais os pés - disse Caspian, quando ela o bloqueou novamente - Vai te dar mais equilíbrio.
- Eu não preciso de equilíbrio! Eu preciso de ar! - ofegou . Ela tentou se afastar para ter mais tempo, mas se esqueceu que usava um vestido, não calças. Tropeçou na barra do tecido e caiu de costas no chão - Ai!
- Você está bem? - perguntou Caspian, largando sua espada e correndo para socorrê-la.
- Estou... - resmungou ela, sentando-se - Nem senti nad... Ai! Mentira, está doendo.
Caspian ajudou-a a levantar-se e passou a mão por suas costas, tirando a poeira do chão de seu vestido. Por ela ter reclamado, no meio de suas costas deveria ter algum machucado.
- Aqui? - perguntou ele, apertando levemente o local. comprimia os lábios desde o momento que ele a ajudara a levantar e só concordou com a cabeça - Chega por hoje. Vamos entrar.
Ele abaixou-se para pegar sua espada e colocá-la de volta na bainha, pediu para Ripchip guardar a que usara e entrou no castelo, sem afastar seus braços de sequer por um instante.

XX

- Cora! - Ahava chamava a filha. Ótima hora para a garota resolver brincar de esconde-esconde, perto da hora do jantar.
- Se você treinar mais, poderia ser uma grande espadachim... - a mulher ouviu alguém dizer. Oh, aquela voz ela conhecia. Ahava presenciara ela ficar rouca daquele jeito. Rei Caspian apareceu no começo do corredor, abraçando . Tinha a leve impressão que algo ruim acontecera. A garota não mostrava seu já comum sorriso meigo. Era um sorriso torto, forçado.
- Majestade? - murmurou ela, quando eles se aproximaram
- Cuide dela - pediu Caspian - Ela caiu.
Ela o conhecia, podia sentir o remorso em sua voz. Ahava continuou fitando o homem, que sabia o que ela estava perguntando, mesmo sem usar palavras. Vencido, Caspian suspirou.
- Estávamos duelando e ela caiu - explicou ele - Pode deixar a bronca para depois. Cuide dela primeiro.
- Claro, majestade - concordou a mulher - Venha, querida.
saiu dos braços do rei para seguir a mulher. Mal dera dois passos e Caspian a segurou.
- Me desculpe - pediu ele. soltou uma pequena risada.
- Eu caio sozinha, meu rei - sussurrou ela - Não peça desculpas. Se tem algo culpado aqui, é minha falta de equilíbrio.
Ainda com o sorriso forçado, seguiu Ahava até seu quarto e Caspian fora resolver o que havia adiado para visitar a reconstrução do castelo.

Capítulo 7 - A biblioteca


Caspian acertou em sua previsão. Assim que Ahava terminara de cuidar de , ela foi atrás do homem para iniciar seu sermão. Demorara quase meia para fazer a mulher entender que a garota havia caído sozinha.
- Do mesmo jeito! - resmungou ela exaltada - é uma garota, não deve ficar por aí manuseando espadas!
Depois de mais algumas exclamações nervosas, Ahava voltou para seus afazeres, informando-o que ele já podia vê-la. Era aquilo que ele queria ouvir.
Correu pelos corredores e logo estava frente à porta da garota. Assim que bateu na porta, Caspian ouviu uma grande movimentação no quarto, um barulho de algo caindo e um "ai" abafado. Assustado, o homem entrou no quarto, encontrando desajeitadamente deitada em sua cama, com uma mão nas costas.
- Santo Deus, Caspian! - exclamou ela, assim que o viu fechar a porta - Podia ter avisado que era você! Pensei que fosse Ahava. Quase perdi meu pé!
- Você poderia me explicar o que diabos você estava fazendo? - perguntou Caspian, ainda confuso. se virou para ele.
- Ahava me mandou ficar deitada, mas eu estava cansada de ficar nessa cama, então sentei na janela - começou ela, alisando uma mecha de seu cabelo com as mãos - Ouvi você batendo na porta, pensei que ela tinha voltado, caí depois de tropeçar no tapete e o resto você viu com seus próprios olhos.
Caspian riu, sentando-se ao seu lado. Sentia-se sentando perto do desastre em pessoa.
- Acho que devíamos obedecê-la por alguns dias - sussurrou ele, encarando o teto alto do quarto - Suas costas ainda doem?
negou com a cabeça, passando a fitar o chão. Tinha que tocar naquele assunto, mas tinha medo do que ouviria. Queria saber o paradeiro de sua família, mas algo dentro de si temia ter que partir daquele lugar que ela se sentia tão bem.
- Alguma notícia da minha família?
O ar ficou pesado no cômodo, como já era esperado pela garota.
Caspian engolira em seco, enquanto tentava achar as melhores palavras para aquele momento. Não gostava do que sentia. Sentia-se inútil por não poder ajudá-la, por não poder tirar aquele medo e desespero tão expostos em seus olhos. Queria confortá-la, assegurar que nenhum mal poderia a atingir.
- Me desculpe, não - disse ele por fim. Podia jurar que vira o brilho dos olhos da garota se esvair, algo no fundo de seus olhos se quebrar - Nárnia é grande, pode demorar um pouco...
- Talvez... - começou , evitando olhá-lo nos olhos - Talvez eles não estejam em Nárnia, Caspian.
O rei se pôs de pé em um salto, assustando , que chegou a pensar que Ahava voltara. Ao ver a porta fechada, se virou para Caspian, parado a alguns passos a sua frente.
- Não quero que pense nisso - disse Caspian firme, se esforçando para não parecer uma ordem, embora fosse - Vamos esperar alguns dias. Apenas como última opção você retornará ao seu mundo.
Onde ele estava com a cabeça? Não poderia obrigá-la a ficar. Sequer a Nárnia ela pertencia, ele sequer era seu rei. Ela não o pertencia. Ele não era dela. Sentindo que seu sangue estava se concentrando em seu rosto, Caspian se encaminhou para a porta, deixando a garota confusa para trás.
- Boa noite, minha cara - disse ele, colocando mais força que o necessário na maçaneta, pronto para abandonar o cômodo. Mesmo confusa, suspirou antes de se pronunciar. Não entendera o que acontecera, mas não havia nada que pudesse fazer:
- Boa noite, meu rei.
- Não é apropriado você utilizar esse termo se referindo a mim - comentou ele a contra gosto, sem olhá-la - Não sou seu rei, você não é narniana.
- Eu sei, eu só... - ela parou antes de continuar. Se mal sabia por que o chamava assim, como lhe explicaria isso? - Boa noite, majestade.
Sem mais palavras, ele deixou o quarto e a jovem voltou a se deitar, mesmo sabendo que não dormiria tão facilmente. Não era a dor nas costas que a incomodava. Na verdade, provavelmente ela já se quer se lembrava do acontecido daquela tarde. Era a inundação de pensamentos e perguntas que a deixara inquieta e um sentimento sobreposto a todos os outros que a dominavam: saudades.
Caspian caminhou pelos corredores como um perfeito fantasma. Sequer ficou surpreso ao tropeçar algumas vezes durante o percurso. Se suas pernas não soubessem o caminho, teria se perdido naquele quase labirinto.
- Majestade?
Ou Ahava o ajudaria a encontrar.
- Sua expressão não é das melhores, meu rei. Não se sente bem? - perguntou a mulher aproximando-se - está bem?
- Todos estamos bem - respondeu Caspian rudemente. Invés de se sentir ofendida, Ahava sorriu.
- Com todo o respeito, majestade. O senhor parece gostar da moça - murmurou ela docemente, irritando-o.
- Não importa - rosnou ele, voltando a marchar pelo corredor. De todas as prováveis respostas, aquele Ahava não considerara.
- "Não importa", meu rei? - repetiu ela - O que isso quer dizer?
- Quer dizer... - começo ele, impaciente, virando-se para a mulher - Que não importa o que eu sinto. não vai ficar conosco por muito tempo. Se encontrarmos seus parentes, ela vai embora. Se não encontrarmos, ela também se vai. Isso é o que eu quero dizer com "não importa".
Antes que Ahava pudesse formar uma frase decente, algo que o acalmasse, Caspian seguiu em direção até seu quarto. Já tivera demais para um único dia.

XX

De tudo o que poderia ter se esquecido de fazer, não ter fechado as cortinas foi o que deixou Caspian mais irritado. Não pretendia levantar tão cedo. E por pura pirraça, decidiu passar o resto de sua vida deitado. Bem mais proveitoso.
Ele realmente teria, se a estranha movimentação nos corredores não tivesse o deixado curioso. O sol mal acabara de nascer, por que aquela correria?
- Meu rei? - perguntou alguém após bater na porta. Um garoto alto abriu-a colocando sua cabeça loura no quarto. Por que diabos o sobrinho mais velho de Ahava estava o chamando? - O senhor, por acaso, viu a garota ?
Qualquer resíduo de sono ou preguiça tinha simplesmente sumido e Caspian não hesitou em pular da cama.
- Rayden, você... - disse uma outra voz, distante - O que você está fazendo em frente a porta do quarto do rei?
Naquele momento, Rayden sentiu que não deveria ter obedecido sua tia. O garoto não sabia com quem ficar mais assustado: com seu pai que congelara ou com rei Caspian que corria em sua direção.
- O que aconteceu com ela? - perguntou Caspian, colocando a mão no ombro do garoto. Ele não iria considerar aquela possibilidade. não tinha saído do castelo, não tinha saído de Nárnia.
- Nada, meu rei - começou o homem, gaguejando. Caspian tomou uma postura séria e o homem engoliu em seco - Ahava foi levar o café da manhã dela e encontrou o quarto vazio. Ninguém a viu sair do castelo e ainda não a encontramos, majestade.
Os dois voltaram a procurá-la com a ajuda de Caspian, que começara um verdadeiro duelo em sua mente: tinha que pensar nos possíveis lugares em que a garota poderia estar, mas tinha que ignorar, para seu próprio bem, o lugar mais provável. O mundo dela.
Não eram somente os três que a procuravam, a maior parte das pessoas acordadas no castelo também andavam de um lado para o outro, abrindo portas e chamando por .
Um remorso começara a se instalar em Caspian. E se ela realmente tivesse ido embora? Se só voltasse como os antigos Reis e Rainhas, depois de séculos?
- Majestade - disse uma garota que fechava um das portas daquele corredor. Seu fino dedo apontava para uma grande porta - A porta da biblioteca não estava aberta ontem a noite.
Era verdade, a porta sempre ficava bem fechada, para evitar que crianças pequenas entrassem no cômodo, não entreaberta como estava. tinha que estar ali.
E ela estava.
Caspian nunca pensou que se sentiria tão aliviado em ver alguém dormindo.
dormia sentada, debruçada sobre um livro que ela pegara em uma das muitas prateleiras. Era óbvio que ela passara muito tempo ali: a mesa que ela estava tinhas porções de livros empilhados, dos mais diversos; e as cortinas exageradamente abertas, para permitir a maior entrada de luz lunar.
Caspian se aproximou dela, devagar, enquanto a garota ia avisar a todos que fora encontrada. Ela dormia tão profundamente que ele sentia pena de acordá-la, agora sabia o que Ahava passava. Dormindo ela não parecia sentir mais preocupação, não tinha mais desejo de ir embora. Dormindo ela parecia se sentir em casa.
- - sussurrou ele, afastando uma mecha que insistia em cair sobre seus olhos ainda fechados - Acorde...
A garota se mexeu ao sentir uma mão quente em seu rosto. Abriu os olhos devagar, se acostumando com o excesso de claridade.
- Caspian? - murmurou ela com a voz rouca. sentou-se direito, olhou em volto e ofegou: - Acho que adormeci.
- Você acha? - riu ele - Como você veio parar aqui?
A garota jogou os cabelos para trás e ergueu seus braços, deixando um longo bocejo escapar por entre seus lábios.
- Eu estava sem sono - contou ela - Queria chegar à cozinha, só que eu não sei o caminho! Abri a porta da biblioteca por pura sorte. Como você me achou?
- Hm... - Caspian congelara, fora invadido mais uma vez por sensações ruins ao lembrar dos últimos instantes. Um vazio já lhe roubara um espaço de si com uma mera possibilidade, tinha medo de quando isso acontecesse. - Ahava sentiu sua falta quando foi levar seu café. Todos estávamos te procurando.
- "Todos"? - repetiu ela assustada. Tinha mobilizado todo o castelo porque tinha tido uma insônia e decidido sair do quarto? - Eu não queria preocupar ninguém...
Caspian suspirou, levantando-se.
- Está tudo bem agora - disse ele, oferecendo a sua mão - Vamos, Ahava deve estar preparando nosso café-da-manhã.

Capítulo 8 - Os Gigantes do Norte


Assim que os dois chegaram à cozinha, Ahava fez questão de parar tudo que estava fazendo para brigar com a garota, explicando o que todos passaram, pensando que ela tivesse indo embora.
- Mas como eu teria ido embora? - perguntou várias vezes - Se eu saísse do castelo, os guardas me veriam. Eu sequer consigo achar a saída e não conheço nada fora do castelo.
- Não vamos mais pensar mais nisso, certo? - pediu Caspian, bebendo seu suco. Não queria lembrar o que sentira naquela amanhã, sequer conseguia nomear aquela sensação - Assim que terminarmos de comer, vou levá-la à biblioteca. Gosta de ler?
Os dois começaram um conversa animada enquanto esvaziavam seus pratos. contava a Caspian sobre suas histórias preferidas de seu mundo e ele ria.
- Mas isso não faz sentido! - exclamou ele pela milésima vez. Já estavam na biblioteca há um bom tempo e a garota narrava para ele alguns contos de fadas - Se o lobo comeu a avó dessa Chapeuzinho, como a tiraram viva da barriga do animal?
- É um conto de fadas, Caspian! - insistia ela, que chegava a rir mais que o próprio rei - É para crianças, não precisa fazer sentido!
- E as crianças acreditam?! - disse ele indignado - Essa é pior que a tal Branca de Gelo!
- Branca de Neve! - corrigiu - E você não pode dizer nada, seu mundo é um conto de fadas!
- Mas nós temos provas para acreditar! E você, que provas têm para acreditar nesses feijões mágicos? - provocou ele. A garota bateu o livro que segurava com força na mesa.
- Certo! Certo! Você venceu! - resmungou ela, levantando os braços. Era raro, mas seus argumentos um dia também acabavam.
Enquanto os dois riam mais, as portas da biblioteca foram abertas de supetão por dois homens, fazendo com que Caspian e se assustassem. O ar que os dois trouxeram ao entrar no cômodo era pesado, sombrio. Não fora necessário falar ou ver suas expressões sérias e preocupadas para que os largos sorrisos desaparecessem.
- Majestade! - ofegou um dos homens. Parecia que eles tinham corrido muito até encontrar o rei - Gigantes do norte.
- O que tem os gigantes do norte? - perguntou Caspian sério, marchando até os homens. , sem conseguir controlar sua curiosidade, o acompanhou, mas tendo o bom senso de ficar alguns passos atrás.
- Eles estão se preparando para atacar Nárnia, majestade - informou o segundo homem, que reconheceu com o irmão mais velho de Ahava.
- Como? - sussurrou sem querer. Ao ver que Caspian mal se mexera, tornou a perguntar, agora com a voz mais alta - Onde?
- Não muito longe daqui, minha jovem - explicou o homem - Mas eles não estão sozinhos, há um grupo considerável de humanos com eles.
- Carlomanos? - continuou a garota, esperando alguma reação do homem ao seu lado.
- Não sabemos, o importante é que estão se preparando para nos atacar.
No mesmo instante, Caspian pareceu despertar, marchando até a porta.
- Juntem quantos soldados conseguirem e junte-os na entrada do castelo - ordenou o rei, depois se virou para , sem se dar o trabalho de alterar o tom de sua voz - Fique aqui se quiser ou volte para seu quarto. Somente hoje peço que fique no castelo.
Os três homens saíram apressados pela porta, deixando sozinha, que tentava assimilar todas as novas informações. Ela não saberia dizer quanto tempo ficara parada até entender: ocorreria uma batalha.
- Caspian! - gritou ela, correndo pelos corredores. Agora era essencial lembrar o caminho até a saída. Por um milagre - ou seria Aslan? - ela achou o caminho no exato momento em que Caspian cruzava a porta, vestindo sua reluzente armadura - Caspian!
- ? - perguntou ele confuso - Não pedi que ficasse no seu quarto?
- Deixe-me ir junto - ofegou ela. Não estava acostumada a correr tanto.
- O quê? - ele demorara para se pronunciar. De todos os modos que ele encarava o pedido, nenhum fazia sentido.
- Deixe-me ir junto! - repetiu ela - Posso ser útil! Não vou aguentar ficar aqui enquanto pode acontecer alguma coisa com você!
Caspian teve que ignorar o sentimento bom que o envolveu ao ouvir aquilo.
- Você vai voltar para seu quarto! - insistiu ele, com a voz firme - É perigoso.
- O perigo não está o impedindo de ir!
- Eu sou o rei!
- Então permita que eu vá!
- Já chega, ! - gritou Caspian, assustando a garota e chamando a atenção de alguns criados - Vá para seu quarto. É uma ordem.
É uma ordem.
Três palavras que não chegava a juntar ter dez letras que ecoaram incontáveis vezes na mente da garota.
Ele não fizera isso. Ele realmente tinha sido baixo o suficiente para ousar repetir as últimas palavras do pai da garota a ela antes de sumir?
Sem perceber, começou a andar para trás, negando com a cabeça enquanto comprimia seus lábios, sentindo seus olhos marejarem. Quando ela sumiu de vista, Caspian teve que ignorar aquela sensação ruim que o envolvia. Sabia muito bem o que tinha feito, mas era necessário, não poderia arriscar levá-la ao campo de batalha.
- Majestade? - perguntou Rayden, que também vestia sua armadura - Está pronto?
- Estou - respondeu ele rudemente. Não poderia deixar sua mente se ocupar com aqueles pensamentos, com aquelas preocupações fúteis. Quando saísse daquele castelo ele não seria mais o jovem Caspian, apaixonado por uma simples garota. Ele seria o rei Caspian X indo para uma batalha, proteger seu povo.

XX

Ela estava perto. Tinha que estar. Caspian dissera que o quarto ficava perto há dias. Não podia estar longe. Não era aquela porta, não estava naquele corredor. Tinha que ir mais rápido, não tinha tempo. Uma, duas, três portas. Tinha que ser aquela. E era.

XX

O sol já se posicionava acima das dezenas de soldados que caminhavam juntos. A tensão no ar não permitia que longas conversas fossem estabelecidas. Ninguém tinha vontade de dizer mais de cinco palavras em uma frase. Principalmente o rei.
- Vossa majestade se sente bem? – perguntou um dos cavaleiros. Será que sua preocupação estava tão óbvia assim?
- Estou ótimo. – grunhiu Caspian. Aquilo já era demais. O que importava era a batalha que aconteceria logo. estava em segurança no castelo. Agora ele tinha um exército para organizar.

XX

Mesmo com a partida da maior parte do exército narniano, a movimentação nos arredores do castelo era grande. Por preocupação, vários soldados haviam ficado para proteger o castelo. Incluindo Thomas.
Thomas procurava movimentos suspeitos nos arredores e o mais estranho foi um soldado ligeiramente desengonçado se aproximar. Parecia que o soldado e a armadura não se entendiam, brigavam entre si.
- Thomas. – disse o soldado, com a voz rouca.
- Me desculpe, cavaleiro, mas temos que vigiar os arredores, não conversar. – resmungou o cavalo que mal se deu trabalho de olhá-lo.
- Droga, Thomas! Olhe para mim! – pediu uma voz extremamente conhecida. Thomas teve que se segurar para não começar um escândalo – Não chame mais atenção! Sim, sou eu.
Se o elmo não permitisse ver os olhos e se ela não tivesse voltado a voz normal. O cavalo sequer teria desconfiado que aquela fosse a meiga : a armadura a deixara vários centímetros mais alta e as únicas coisas que a denunciavam eram suas mãos expostas e seu andar.
- O que isso significa?
- Thomas, eu não tenho tempo. Preciso que me leve até o local da batalha. – disse ela sem rodeios. O cavalo estava ficando maluco ou ela estava lhe dando uma ordem?
- Ora essa! – ofegou Thomas – Volte para o castelo, onde é seguro.
- Eu não quero saber de segurança! – insistiu – Eu não posso ficar trancada em um quarto enquanto todos aqueles homens estão em perigo! Deixe-me ajudar!
- Não posso desobedecer ao rei, minha querida. O rei Caspian lhe deu ordens claras para ficasse no castelo.
- Então é isso? Não tem coragem de desobedecer ao rei?
Agora ela realmente ofendera o cavalo.
- Sou um cavalo falante narniano! – rosnou ele – Coragem está no meu sangue!
- Então me leve!
E ele queria levá-la, assim como muito, sabia que talvez ela pudesse ajudar. Ou talvez fosse apenas o poder de persuasão da garota.
- Você não consegue me montar. – aquele era o último argumento.
- Claro que consigo. Não há saias para me atrapalhar agora. Só vai demorar um pouco mais... Vamos!

Capítulo 9 - A Batalha


Todos estavam em suas posições, inclusive o sol, que ardia por cima das cabeças dos soldados. O inimigo se aproximava e o ar parecia se afastar mais e mais.
- Majestade, estamos prontos. - informou um cavaleiro.
Caspian passou os olhos por todos os seus soldados. O calor pelo menos podia ter dado uma trégua. Ele já sentia seus cabelos grudarem na testa por baixo de seu elmo e alguns soldados mais atrás também parecia sentir os efeitos da temperatura, uma pequena bagunça que logo se cessou. Aquele era...? Não.
Caspian desceu de seu cavalo e marchou até o pequeno grupo, fazendo com que os poucos que conversavam se calassem para observar melhor o que o rei faria. Ele parou de frente para um cavaleiro de cabeça baixa. Oh, aquela armadura ele conhecia.
- Levante a cabeça, soldado - ordenou Caspian e o homem o fez, mas deixando os olhos fechados - Olhe para mim.
O cavaleiro sequer se mexera. Aquilo não terminaria em boa coisa.
- Olhe para mim - repetiu ele e, com um movimento rápido, fez com que o elmo do cavaleiro caísse, permitindo que seus longos cabelos escuros se libertassem - Tenho certeza que ordenei que ficasse em seu quarto, .
- Sim, majestade - respondeu ela.
- O que faz aqui? - questionou o rei, começando a andar de um lado para o outro.
- Me preparando para a batalha, majestade - disse . O tom calmo da garota fora o que fizera Caspian perder a paciência.
- Como ousa me desobedecer?! Dei-lhe ordens claras de permanecer no castelo! – rosnou ele.
- Ordens que eu não acatei – murmurou ela de volta.
tinha que admitir, nunca em toda sua vida tivera tanta certeza que levaria uma tapa como naquele momento e chegou até a se assustar ao ver a mão de Caspian se abaixar.
- Volte. Para. O. Castelo - disse ele pausadamente, depois se virando.
- Eu vim para lutar e é isso que eu vou fazer - insistiu ela. Oh, ela estava o testando?
- Alguém a leve de volta ao castelo - ordenou Caspian, sem se dar o trabalho de olhá-la novamente.
- Se quer tanto que eu volte para o castelo, por que você mesmo não me leva?
E fora aí que Caspian perdera a cabeça.
Os soldados se assustaram. Pensaram que o rei voltaria a gritar, não que ele puxaria sua espada e começaria a duelar com a garota.
estava em desvantagem, sua sorte foi estar de armadura. Demorou duas ou três investidas de Caspian para se recompor e puxar sua espada dignamente. Uma coisa era duelar com Caspian por brincadeira, outra bem diferente era duelar com um Caspian muito irritado, que parecia ser cem vezes mais forte. E mais rápido.
Caspian também tinha que admitir, sem vestido tinha muito mais agilidade. E até um pouco mais de força.
Mas não força o suficiente para desarmá-lo e muito menos pará-lo. Não fora necessário esperar muito para ver a espada de Caspian ficar a centímetros do pescoço da garota.
- Como ousa? – ralhou Caspian.
- Pensei que tinha dito que um pouco de ousadia não faz mal a ninguém. – lembrou ela, fazendo com que ele aproximasse mais sua espada a sua pele exposta.
- Você é a reencarnação da própria ousadia - grunhiu Caspian, vendo-a guardar a espada. Pelo menos ela sabia admitir ter perdido.
- Deixe-me lutar - pediu ela mais uma vez.
- Você não é um cavaleiro - disse ele, sem afastar sua espada em nenhum momento - Volte ao castelo, eu ordeno. Eu sou o rei.
- Você não é meu rei, majestade.
Alguém teria que lembrar a Caspian quais eram os motivos para ele não matá-la.
- Majestade - chamou uma voz conhecida a garota. Voz que pertencia a Ripchit - Meu rei, talvez não seja tão mal assim deixá-la lutar. Não podemos recusar uma boa espadachim.
agora acreditava que estava morrendo e aquilo era uma ilusão de sua mente. Ripchit? Ripchit a ajudando? Talvez ele simplesmente acreditasse que ela morreria durante a batalha e ele finalmente se veria livre dela... Mas não importa. Ele estava de seu lado e era estranho.
- Ajoelhe-se - era um pedido, mas Caspian manteve a voz de ordem por pura pirraça.
- Agora você vai me matar? - perguntou receosa, embora tenha obedecido.
- Deveria - resmungou ele de mau humor, batendo de leve sua espada no ombro a garota - Levante-se, amazona de Nárnia.
Nunca em toda a sua vida fora tão difícil levantar. O ar parecia estar a empurrando para baixo e olhar para os olhos de Caspian não facilitou nada a situação. nunca fora boa em decifrar as pessoas pelos olhos, mas Caspian transmitia tanta raiva - não só com os olhos, com o corpo inteiro - que era praticamente impossível não ver. Caspian se virou para voltar para frente do exército. Não pretendia falar mais com a garota. Só uma vez em toda a sua vida havia sentido seu sangue ferver daquele jeito. Não, ele não aguentava. Ele se virou novamente para a garota e a puxou pela malha de proteção, tirando seus pés do chão. O grito da garota informou que ela não esperava aquilo, o que era desnecessário. O susto parecia ter se formado atrás dos olhos de .
- Para seu próprio bem... - começou Caspian, aproximando o rosto assustado de do seu - É melhor você sobreviver a essa batalha, porque quando ela acabar nós vamos ter uma pequena conversinha. Entendido?
Mais assustada do que nunca, assentiu. Nem em outra vida teria coragem de responder a ele depois daquilo.
Caspian, um pouco mais calmo, marchou para frente do exército, tentando ao máximo não olhar para trás.
- Amazona - disse Ripchip, chamando atenção de que ainda não havia tirado os olhos das costas do rei - Coloque seu elmo.
pegou o elmo com o rato e o colocou.
- Obrigada - murmurou ela, dando graças pelo elmo tampar suas bochechas coradas.
- Não há de que - murmurou o rato antes de sumir entre os soldados.

XX

Já devia ter se passado mais de meia hora desde o momento que Caspian havia gritado "Por Nárnia! E por Aslan!" e a batalha seguia. Corpos de inimigos como de amigos jaziam no chão.
duelava com um humano a cerca de dez metros de Caspian, que sem conseguir se controlar. Várias vezes se pegava vigiando-a, caso ela precisasse de ajuda. Ele quase correra até ela quando um cavaleiro inimigo lhe acertou um soco no rosto fazendo com que seu elmo voasse longe.
- Não, majestade! - exclamou um soldado narniano - Olhe. Ela sabe se cuidar.
E ela realmente sabia. O cavaleiro que a atacara agora agonizava no chão.

XX

sentia tanto cansaço que se deitasse naquele chão, provavelmente dormiria. Com ou sem batalha. Seus olhos já não aguentavam mais ficar abertos, o suor em contato com a malha machucava e suas mãos já não aguentavam mais girar a espada. Ela morreria naquele local como os inimigos.
O soldado que ela duelava parecia sentir a mesma coisa que ela. A diferença é que ele estava assustado.
Olhava para os lados e seus olhos se arregalavam mais e descobriu por quê: ela estava cercada de inimigos, ele era o único que ainda duelava. Mesmo matando-o, havia dezenas de outros que vingariam o companheiro.
Mas ele morreria junto.
Os dois gritaram juntos e o som de metais que chocando foi ouvido mais três vezes antes do homem sem vida cair no chão. deixou a ponta de sua espada encostando no chão. Precisava de um pouco mais de ar antes de continuar. Ela morreria, mas morreria lutando.
Ela ergueu a espada novamente e gritou. Só depois percebeu a burrada que estava fazendo.
Não eram inimigos.
Eram narnianos.
Narnianos que agora pensavam que ela estava louca.
- Narnianos! - ofegou ela, deixando seus braços caírem ao lado de seu corpo - Céus, pensei que eram inimigos e...
- Você continuou a lutar por Nárnia mesmo pensando que estava cercada de inimigos? - perguntou um cavaleiro próximo. mal abrira a boca para responder, se lembrara por quem ela estava lá.
- Onde está Caspian? - perguntou ela, sentindo seus olhos começarem a arder. Os soldados se entreolharam. - Onde está Caspian?!
- Estou aqui. - disse ele próprio, a alguns metros atrás da garota. Caspian estava em uma situação parecida à dela: cortes e arranhões em toda a pele exposta. Mas ela não se importou com isso. Caspian estava em pé a alguns metros dela. Vivo.
soltou sua espada e correu como se sua vida dependesse disso. Caspian mal teve tempo de soltar sua espada e a garota pulou nele, lhe dando o abraço mais desconfortável e acolhedor que o homem já havia recebido. Abraçar alguém usando uma armadura enquanto você usa uma armadura não é muito confortável. Mas o que importava naquele abraço não era o conforto. Aquele abraço era palavras não ditas, sentimentos considerados inúteis.
- Você está machucada? - sussurrou Caspian, passando uma de suas mãos pelos cabelos da garota. fez que não com a cabeça, iniciando um choro sentido e soluçando baixo. Se não fosse pela armadura, sua roupa estaria encharcada pelas lágrimas da garota - Vou pedir que algum soldado te acompanhe até o castelo. Tenho algumas coisas a fazer aqui.
- Majestade, se me permite... - começou um homem que logo lembrou ser o general, atraindo a atenção dos dois - Acho que o que a garota precisa agora não é de um simples soldado.
levantou a cabeça e secou algumas lágrimas. O que ele estava insinuando? Rayden veio mancando até eles, segurando um elmo.
- Seu elmo, nobre guerreira. - ofegou ele esticando a mão e se ajoelhando diante da garota. Caspian ao ver que não entendia, pegou o elmo, sem afastar a garota de si.
- Obrigado, Rayden - disse ele, depois sussurrou para : - Te explico mais tarde.
- Volte com os soldados mais machucados, majestade - sugeriu o general - Nós cuidamos do resto.
Caspian concordou, saindo ainda abraçado com , que conseguira finalmente controlar os soluços. No caminho de volta Caspian nem por um momento ameaçou se afastar da garota. Não era pelo fato dela estar mancando. Não queria arriscar deixá-la longe, fora do alcance de seus braços, longe de sua proteção. Sequer se lembrava da raiva que sentira da garota ao vê-la vestindo uma armadura. Só lembrava-se do sentimento ruim que o perseguiu durante a batalha.

XX

Durante o caminho de volta poucas palavras foram trocadas, já que a maior parte dos soldados estavam feridos.
- Posso te fazer uma pergunta? - pediu Caspian. secou mais algumas lágrimas assentindo - Por que você ainda está chorando?
- Eu não consigo controlar meus olhos! - reclamou ela, escondendo o rosto na armadura do homem. - E pare de rir!
Quando eles começaram a se aproximar dos arredores do castelo, algumas pessoas saíram a rua festejando. A batalha estava ganha. Muitos apontavam para curiosos, se perguntando o que uma mulher vestida como soldado fazia com o rei. Assim que entraram no castelo, os dois puderam ouvir vários gritos, entre eles um "Ahava, o rei voltou! está com ele!".
- Temos problemas - sussurravam os dois juntos antes de a mulher aparecer no final do corredor.
Ahava teve que se apoiar em uma parede ao ver os dois. Ela mesma não sabia se estava mais assustada ao ver os dois machucados ou ao ver usando uma armadura.

XX

O dia já estava no final quando Ahava avisou Caspian que queria vê-lo. Ele saiu de seu quarto surpreso. Aquela era a primeira vez em quase uma semana que Caspian era o chamado. Ao chegar ao quarto da garota, ele encontrou a porta entreaberta e na janela. Era estranho, mas agora parecia mais bonita.
Mesmo cheia de machucados nos braços e rosto.
usava um vestido que ele nunca havia visto, em tom de lilás claro. A luz já fraca do sol fazia parecer que seus cabelos tinham um claro tom de ruivo.
- Antes de começar, quero agradecer pelos vestidos - disse ela, se afastando da janela - São lindos.
- Não há de que - murmurou Caspian, encostando a porta.
- Primeiramente, quero me desculpar pelo meu comportamento hoje mais cedo - começou , com um tom tão formal que chegou a assustá-lo - Você é o rei, eu sendo de Nárnia ou não. E mesmo que não tivesse me acolhido, eu lhe deveria meu respeito. Então, peço desculpas, majestade.
Caspian riu forçado, sentando na beirada da cama arrumada.
- Isso quer dizer que você está arrependida?
- Não. Eu disse que estava errada, não arrependida - explicou ela, sentando-se ao seu lado.
- Então você faria de novo? - perguntou Caspian, voltando a sentir a raiva de mais cedo.
- Tente entender meu lado... - pediu se levantando. Seu rosto havia adquirido um tom forte de vermelho.
- E o meu lado? - lembrou ele, se pondo de frente para ela - Acha que foi fácil deixar o castelo e pensar que nunca mais a veria? Acha que foi fácil te ver no meio de uma batalha e ver os inimigos te machucarem?
ficou sem fala, não esperava aquilo tudo, não naquele momento.
- Não foi fácil te ver partir e perceber que talvez você não fosse voltar - sussurrou , fazendo com que ele a olhasse assustado. Ele havia levado uma pancada na cabeça e estava tendo uma alucinação ou ela realmente tinha ficado preocupada com ele?
Sem pensar, Caspian esticou suas mãos até seu rosto, olhando-a tão fundo em seus olhos, como ela fazia com ele. Quando se deu conta, ele já estava a centímetros do rosto de . Aquilo estava errado. Muito errado.
Assim que Caspian afastou suas mãos de seu rosto, se virou para a janela, tentando recuperar o ar que o rei lhe tomara.
- P-por quê... Por que algumas pessoas estão se curvando quando me veem? - perguntou ela, ainda de costas para ele. Ela sentiu Caspian parar ao seu lado e ela ficou tensa. "Pense antes de agir. Pense antes de agir. Controle-se".
- Você não faz ideia do que fez hoje, não é? - riu ele.
- Desobedeci ao rei? - disse , fazendo-o rir mais.
- Pelo que me contaram, você estava duelando com o último inimigo vivo, mas pensou que era a única do nosso lado viva. Certo? - disse Caspian, vendo-a concordar - Você continuou lutando por Nárnia que não é sua terra natal, mesmo sabendo que seria morta. A maior parte dos cavaleiros tentaria fugir. Mas você não.
- Então é só por isso? - Perguntou confusa - Por que fui burra o bastante para "lutar até a morte" em vez de tentar me salvar?
- Hoje você demonstrou honra, coragem e ousadia que não se encontra em qualquer um - sussurrou Caspian, virando-a de frente para si - E isso é especial.
O olhar de Caspian a deixava sem jeito. Parecia que ele nunca piscava. Parecia que ele não queria piscar, que queria observar cada detalhe seu. E toda essa atenção a deixava constrangida.
- Estou cansada - lembrou ela, abaixando os olhos - Preciso dormir. Nós precisamos dormir.
Caspian sorriu, ela estava certa. Só podia ser alguma força mágica que o mantinha de pé. Puxou-a para mais perto e encostou seus lábios em sua testa, vendo-a corar novamente. Ele poderia ver aquilo todo dia sem se cansar.
- Boa noite, - disse Caspian, caminhando em direção à porta. Ele passou pelos corredores com um sorriso no rosto, lembrando-se das últimas palavras de antes dele sair do quarto:
- Boa noite, meu rei.

Capítulo 10 - O Pedido


O calor dos últimos dias havia dado uma trégua, mas um vento forte passava pelo reino de Nárnia, fazendo com que a maioria das janelas do castelo estivessem fechadas.
- Boa tarde, - disse uma garota ao vê-la cruzar o corredor.
- Boa tarde - disse ela meigamente - O rei já chegou?
- Ah, sim - respondeu a garota, vendo-a abrir a boca em sinal de indignação - Acho que ele ainda deve estar almoçando.
Agradecendo a garota, mudou seu caminho. Iria esperar Caspian na biblioteca, mas ele não teve a decência de mandar avisá-la que ele havia retornado.
- Muito bonito, meu rei - resmungou ela, antes de se sentar ao seu lado - Sequer me esperou para começar almoçar!
Caspian bebeu um pouco de vinho rindo.
- Eu estava morrendo de fome - explicou ele calmamente, pegando a mão que ela apoiava na mesa - Me perdoe.
riu com gosto enquanto pegava sua taça.
- Vou pensar no seu caso - disse ela, fazendo-o rir - Eu podia ter comido há muito tempo, mas como nós combinamos depois do jantar, eu te esperei.
- Certo, pare. - pediu Caspian sério - Já estou com peso na consciência.
- Então meu dever está cumprido!
Os dois comeram e conversaram animados por muito tempo. Dias e dias se passaram e quase todo o reino já conhecia e a própria já sabia andar no castelo sem se perder.
- Meu rei?
- Sim, minha cara? - perguntou Caspian rindo. Gostava do fato de preferir chamá-lo de "meu rei" em vez de "majestade". Mas tinha que admitir que sentia falta de ouvir seu nome em sua voz.
- Eu estava pensando... - começou , colocando a mão no queixo - Eu lutei muito bem naquela batalha. Eu não mereço algum prêmio ou alguma coisa assim?
- Se quer alguma coisa, me peça - sussurrou Caspian - O que você quer, ?
Ela parou para pensar sobre o assunto.
- Eu posso pedir qualquer coisa? - não resistiu ela - Acho que agora vou fazer uma lista.
- Foco.
- Quero ir a Cair Paravel – disse ela sem mais rodeios.
Caspian parou confuso. O que ela queria em Cair Paravel? A pergunta estava tão clara em seus olhos que não foi necessário colocá-la em palavras ditas.
- Em algumas semanas tudo vai mudar para lá e eu nunca vi o castelo! - explicou ela, fazendo uma cara de pidona - Por favor, Caspian!
- Suba e coloque uma roupa de viagem - pediu Caspian se levantando. Não tinha compromisso naquela tarde. Não faria mal sair um pouco do castelo - Vou chamar os cavalos.

XX

Ninguém havia mentido, o castelo de Cair Paravel era realmente gigantesco. Eles haviam feito questão de refazer o castelo exatamente como diziam os livros, incluindo os quatro tronos. Era estranho ver o castelo sem muitos móveis, dava a impressão que ele era maior do que realmente era.
- Venha por aqui! - pediu Caspian, arrastando-a por mais uma porção de corredores. Já haviam passado por diversos cômodos: cozinha, salas, biblioteca...
Foram parar em um corredor com três portas, que Caspian fez questão de não dizer o que eram.
- Bom, esse aqui eu não sei o que vai ser - contou ele apontando para a primeira porta - A segunda... É o meu quarto.
Sem conter a curiosidade, abriu a porta. Aquele era o maior quarto que ela já vira na vida.
- Seu quarto no outro castelo é desse tamanho? - perguntou admirada.
- Não, é bem menor - confessou ele, puxando-a pela mão - O que eu queria lhe mostrar não era isso... Acompanha-me?
Caspian a levou até a última porta do corredor com sorriso de canto e olhar brincalhão. conhecia aquele olhar o suficiente para saber que deveria ficar atenta.
A última porta dava em um quarto grande, talvez fosse a metade do de Caspian. De lado para a cama, uma grande janela dava vista para o extenso mar narniano, assim como no quarto do rei.
- Este vai ser seu quarto - sussurrou Caspian atrás dela, depois de colocar suas mãos nos ombros da garota. Ela se virou surpresa, mal se deu conta que estavam perto demais - Não pensou que eu a deixaria naquele castelo, pensou?
- Eu pensei... - gaguejou ela, nervosa. Olhos. Tinha que olhar para os seus olhos - Caspian, isso é...
não conseguia encontrar palavras enquanto o olhava nos olhos. Ela simplesmente se perdia na sua profundidade. Suspirando ela se virou para a janela.
- É lindo - disse a garota por fim. Caspian sorriu.
- Que bom que gostou.
- Caspian... - começou com a voz arrastada.
- O que quer agora, minha cara?
- Podemos ir à praia?

XX

O vento ainda soprava com força e, várias vezes, Caspian e tiveram que parar para retirar areia dos olhos. O silêncio durava poucos instantes, os dois conversavam coisas aleatórias durante a caminhada.
Enquanto ria de uma brincadeira sua, ele a avistou. Pequena e discreta. Já havia visto aquela caverna antes, mas não depois da chegada da garota.
- Foi aqui que você foi encontrada - comentou ele, vendo se virar e suspirar.
Ela fechou os olhos por alguns segundos, respirando fundo. Algo na postura da garota mudara completamente.
- Se eu tivesse dito desde o início que queria vir, você não teria vindo - disse , por fim, abrindo os olhos.
Caspian deu um passo para trás enquanto raciocinava. Não, ela não estava fazendo aquilo. Ela não podia...
- Eu tentei não tocar no assunto, mas, Caspian, já faz quase três semanas que eu estou aqui - choramingou ela se afastando - Eu tenho que voltar. Voltar para o meu mundo.
Caspian nunca pensou que uma frase ecoaria tanto em sua mente como aquela. Como ele não havia percebido? O pretexto dela de visitar o castelo era perfeito. Como ele sequer pensou naquela possibilidade? Tinha sido ingênuo o suficiente para acreditar que ela havia escolhido ficar? Desistido de seu mundo e família por ele?
Ele deu mais um passo para trás e viu a garota se afastar também. O que diabos ele tinha na cabeça?
- Por favor, não vá - pediu ele, segurando-a pela mão - Fique, .
Caspian reparou que seus olhos voltaram a ficar vermelhos. Mas agora não parecia pretender correr para seus braços. Ela pretendia ir para longe, para um lugar onde ele não poderia segui-la.
- Eu não posso, Caspian. Eles são minha família. Eu não pertenço a esse mundo.
- Fique aqui e passe a pertencer - Caspian sentia que não haveria outro momento para falar. Mas como colocar em palavras algo tão forte como ele sentia? - Fique aqui comigo, .
sentia que lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto. Toda sua vida pensava que era forte, mas ela não era. Não tivera coragem de dizer no almoço que precisava voltar, então ela montara um segundo plano.
- Caspian, meu pai e meu irmão já perderam minha mãe - disse ela, se esforçando ao máximo para não soluçar - Não posso fazer eles me perderem também.
- Mas você pode fazer com que eu te perca? - disse ele, tomando suas mãos nas dele.
- Eu não posso trocar minha família por algo que talvez não dure, que seja passageiro.
- Você acha que o que sinto por você é passageiro? - perguntou Caspian, começando a se desesperar. Ele temia vê-la partir, nunca mais vê-la. Os argumentos de eram melhores que os seus. E mesmo que não fossem, ela não parecia que ia mudar de ideia.
- Você vai encontrar outra garota - disse ela, fugindo da pergunta. no momento não teria certeza de afirmar qual era o seu nome, quem era ela para classificar os sentimentos de Caspian?
- Eu não quero outra garota, quero você! - insistiu Caspian sentindo as mãos da garota escorregarem das suas. Não podia terminar daquele jeito. - Fique, . Fique e seja minha rainha.
Oh, quão egoísta ele era? Quão baixo ele podia ir? Caspian via nos olhos vermelhos dela que ela queria ficar, então pra que estava tornando tudo mais difícil?
- Eu não posso, Caspian - soluçou ela, andando para trás. sentia que a imagem de Caspian quase chorando a atormentaria por muito tempo - Você vai achar uma perfeita rainha, Caspian.
- Eu não quero uma perfeita rainha. Quero uma mulher que aprenda ser uma boa rainha ao meu lado - suspirou ele - Você!
abaixou a cabeça enquanto tirava a bainha com a espada de sua cintura. Não ia aguentar continuar com aquilo por muito tempo. Tinha que deixar Nárnia o mais rápido possível, antes que não conseguisse mais negar que queria ficar.
- Guarde-a - pediu ela, lhe entregando a espada - Não vou mais precisar dela.
Caspian pegou a espada, segurando com mais força do que o necessário. Ele viu se aproximar e ficar na ponta dos pés para igualar suas alturas. Por pura pirraça, Caspian virou o rosto ao sentir o nariz da garota roçar o seu.
beijou-lhe no rosto, sentindo-o a segurar com força sua cintura com a mão livre. Sentindo o desespero crescer, ela entrelaçou seus braços no pescoço do homem. Uma parte de seu cérebro se recusava a acreditar que aquela era a última vez que veria Caspian. A última vez a abraçá-lo. A mesma coisa se passava na cabeça do rei. Como poderia ele ter sido tão inútil a ponto de ter desperdiçado todos os dias que ela passara no castelo, tão próxima. Agora ela estava ali, a ponto de partir e nem mesmo com o puro desespero apossando-se de Caspian ele conseguia pronunciar as palavras que tanto queria que ela soubesse.
- Eu tenho que ir agora, Caspian - sussurrou ela, olhando uma última vez em seus olhos.
Ela não olharia para trás agora. Sabia que se olhasse mais uma vez em seus olhos não teria mais forças para continuar. Assim que sentiu sua mão afrouxar em sua cintura, se virou em direção à entrada da caverna. Não sabia o quanto teria de andar até voltar ao seu mundo e isso a assustava. Por quanto teria que fingir uma força que não tinha?
A caverna estava mais escura do que lembrava. Ou talvez fosse apenas sua mente querendo dizer que o dia estava mais triste do que quando ela chegou. vira e aprendera tanta coisa naquele mundo. Chegava a ser injustiça ela ter que partir. Mas ela sabia que injustiça maior seria permanecer em Nárnia enquanto não sabia o paradeiro de sua família. Viver feliz enquanto seu pai e seu irmão pensariam que ela estava morta. Isso se eles tivessem sobrevivido ao acidente.
Aquilo não era relevante. A garota sabia que era o certo a se fazer. Não podia simplesmente escolher a opção mais fácil.
Assim que chegara ao ponto onde havia acordado ela fechou os olhos com força. Não fazia ideia que como seria essa viagem de volta.
Nada aconteceu.
Talvez tivesse que ir até o final da caverna.
Adentrando mais afundo algo como calma começou a acompanhar, mas ainda sentindo o olhar de Caspian em suas costas. sentiu-se mais leve. Mais confiante. Talvez a aproximação com seu mundo estivesse a acalmando, a acolhendo. Parecia estar sentindo-se em casa, como em um domingo a tarde, conversando animadamente com sua família.
Ela passou as mãos pelas paredes do fundo da caverna, mas nada acontecera.
Algo devia estar extremamente errado.
- - chamou uma voz rouca, que lembrava mais um rugido. Ela se virou esperando não ter mais coragem para continuar. Mas Caspian não estava sozinho. Um grande leão estava ao seu lado. Ela sentiu seus olhos se arregalarem, talvez de surpresa, já que não sentia medo - Não temas, criança.
caminhou até eles, sentindo suas pernas tremerem. Ela o reconhecera. Não tinha medo do leão, tinha medo do que ele vieram fazer.
- Aslan - sussurrou ela, se ajoelhando.
- Levante-se, querida - pediu ele e ela obedeceu.
arriscou um rápido olhar a Caspian e se assustou: sua expressão havia ficado absurdamente depressiva. Talvez ele tivesse pensado a mesma coisa que ela: Aslan estava ali para levá-la embora - Estava tentando ir embora? Pensava que estava feliz em Nárnia.
- Eu estava... Estou - corrigiu ela. Sentia que praticamente esquecera como se pronunciava palavras - Mas eu preciso voltar. Preciso encontrar minha família.
- Essa era a razão de tentar partir? - perguntou o leão - Não acha que pode construir uma família aqui? Se retornar ao seu mundo, não poderá voltar a Nárnia.
Caspian e sentiram o chão se afastar de seus pés. Os dois ainda guardavam esperanças que talvez ela pudesse voltar outras vezes, assim como os Reis e Rainhas da Era do Ouro.
- Se eles me perderem também, não sei o que acontecerá - disse , sentindo seus olhos transbordarem em lágrimas com mais força do que antes. Não aguentava ter que dizer aquilo tudo novamente. Beirava a tortura Aslan pedir que ela se explicasse - Do mesmo jeito tenho que voltar.
Aslan deu uma risada que mais lembrava um ronronado. Parecia estar satisfeito consigo.
- Seus valores, Filha de Eva, mostram quem você é - disse o Leão - Você não tem apenas a coragem e a ousadia, as qualidades que os narnianos hoje conhecem, embora em alguns momentos essas qualidades possam parecer defeitos - Aslan lançou um olhar sugestivo para Caspian, que não conseguiu esconder um sorriso. O leão parecia conhecer a garota também bem quanto ela mesma, o que deixou consideravelmente sem jeito. Não estava tão familiarizada com elogios tão profundos - Você teria sido uma rainha maravilhosa se tivesse escolhido permanecer não só em Nárnia, como ao lado do rei Caspian.
Claro que Aslan iria fazer chantagem com ela também. Era difícil demais simplesmente levá-la embora. teria sido um pouquinho mal educada com o leão se uma movimentação estranha perto deles não tivesse chamado sua atenção.

A alguns passos dos três, dois homens se aproximavam, com a maior parte das roupas não-narnianas sujas e amassadas. Assim que os reconheceu, correu tão rápido que tropeçou em suas próprias pernas. Podia reconhecer seu pai e seu irmão até pelo modo de caminhar.
- Minha princesa! - ofegou Patrick, antes de receber o abraço da filha. Charles sequer esperou que sua irmã se virasse. Abraçou-a ao mesmo tempo em que seu pai.
- Vocês estão bem? – perguntou entre soluços. Patrick apenas concordou com a cabeça, beijando a testa de filha. O homem não tinha como descrever o desespero que sentira naqueles dias sem sua princesa por perto. Sentia-se inútil por ter sido tão descuidado no dia do acidente. Patrick não podia imaginar o que aconteceria com ele se Charles e não tivessem sobrevivido.
- Aslan - disse Charles, fazendo uma leve reverência - Obrigado por nos trazer até .
- Agora já podemos ir, Aslan - informou Patrick, sem se soltar da filha. Somente e Aslan viram Caspian abaixar a cabeça.
Mas agora a situação era diferente. Completamente diferente.
se soltou dos braços do pai, que ficou confuso. Ela se colocou entre Aslan e Caspian e discretamente entrelaçou seus dedos aos dedos do homem.
- Eu vou ficar, pai - informou ela, vendo seus familiares assumirem expressões confusas.
- Como assim "eu vou ficar"? - repetiu o pai da garota. Alguns dias longe da família e ela virara piadista? - Não pertencemos a este mundo, minha filha.
- Eu pertenço agora – disse firmemente. Momentaneamente ela tivera a impressão de ver Caspian mostrar um tímido sorriso de lado.
Patrick a olhava inconformado. sempre fora mais ousada e respondona do que as garotas de sua idade, mas o que havia dado nela agora?
- Pensei que quisesse se unir a sua família - lembrou Aslan. Caspian tivera que se controlar para não soltar um sonoro e sentido “ei!”. Afinal, de que lado o leão estava? A nova decisão da garota o agradava.
- Eu disse que o motivo de ter que voltar era minha família – lembrou – Me assegurar de que eles estavam bem. Eles estão e também sabem que eu estou. Não há mais algo que me prenda àquele mundo. Se me for concedida a escolha de permanecer, eu ficarei.
- O que você ganha ficando aqui? - rosnou Patrick, que já perdera a paciência. Encontrara a filha há dez minutos e ela estava dizendo que ia deixá-los? - O que você é aqui que não é na Inglaterra?
- Não sou nada lá como também não sou nada aqui – suspirou ela – Posso viver nesses dois mundos perfeitamente, mas como só foi me dada a opção de viver em um, é Nárnia que eu escolho.
desviou seus olhos para Charles. Ele estava quieto, o que não era normal vindo de seu irmão. Sentia que ele estava incomodado, dava para ver em sua expressão. Uma sensação ruim invadiu a garota. Parecia que uma parte de si estava sendo arrancada a força. Isso era o que ela sentia imaginado ele voltando ao para a casa.
- Não estou pedindo para que fiquem – sussurrou com uma nova onda de lágrimas escapando por seus olhos - Só quero que aceitem minha escolha.
O som das ondas quebrando trazia calma. Sentimento diferente do que Patrick sentia. Era o completo desespero que o controlava. Ele realmente estava perto de perder sua filha mais uma vez?
- A escolha não poderá ser mudada depois - lembrou Aslan, olhando demoradamente para cada um, deixando a garota por último - , tem certeza de que quer ficar?
- Vou ficar, majestade - confirmou ela com determinação, sentindo Caspian apertar sua mão, como se aprovasse a decisão.
Aslan olhou para Charles, que estava um pouco atrás. Ao perceber que era sua vez agora, ele passou a mão por seus cabelos escuros bagunçados. Ele era um completo estranho naquele mundo, mas tinha razão. O que eles tinham deixado para trás? Sequer um trabalho o jovem tinha.
- Se a pentelha da pode recomeçar sua vida em um mundo diferente, por que eu não posso? - suspirou ele, tendo que abrir os braços rápido para receber o forte abraço de sua irmã caçula. Ele teve que parar para tirar os fios de cabelo escuro da garota que entraram em sua boca para dizer sua escolha rindo: - Eu vou ficar, Aslan.
- Patrick? - perguntou Aslan e todos se viraram para o homem, que abaixou a cabeça.
- Pai, o senhor não precisa ficar por nós - disse , com um sorriso triste - Se acha que não pertence a esse lugar não precisa ficar.
Patrick sorriu antes de abraçar seus filhos.
- Eu pertenço ao lugar onde vocês estiverem - disse ele, vendo sua filha começar a chorar novamente - Eu vou ficar, senhor.
Parecendo incrivelmente mais satisfeito, Aslan assoprou em direção aos quatro, os fazendo sentir confortáveis ao fecharem os olhos.
- Está feito. Vocês pertencem a Nárnia agora - informou Aslan, depois se dirigindo a garota mais uma vez - Vejo que suas qualidades, na verdade, são um reflexo de relacionamento com sua família e um futuro para pessoas como vocês só pode ser grandioso.
rindo saiu do abraço em família, fez uma reverência em frente ao leão e correu em direção a Caspian, grudando seus braços em seu pescoço pela segunda vez naquele dia. Mas a última fora diferente: as lágrimas que escapavam dos olhos da garota eram de longe de tristeza e os batimentos acelerados não eram de desespero. Era alegria.
Caspian soltou a espada da garota para poder segurá-la.
- Eu vou ficar - sussurrou , segurando a imensa vontade de gritar. Não era necessário. A única pessoa que ela queria que ouvisse estava perto o suficiente para ouvir seus pensamentos.
- Você vai ficar - sussurrou ele, com um sorriso imenso. Caspian tirou suas mãos da cintura da garota para segurar seu rosto. Quando suas testas se encostaram que Charles resolveu se pronunciar.
- Tinha que ter homem no meio!
Agora com ótimo humor, Caspian riu.
- Eu poderia deixar para fazer isso depois, mas não fará diferença. E talvez alguém queira ver pessoalmente - disse o rei, curvando-se lentamente em direção a Aslan. O leão voltou a rir quando viu Caspian se virar para Parick.
- Senhor, - disse Caspian cordialmente - gostaria de pedir a mão de sua filha em casamento.
De todas as exclamações de surpresa, a de se sobrepôs.
- Caspian X, como você ousa me pedir em casamento para meu pai antes de pedir para mim?! - reclamou , fazendo-o rir.
- Eu pedi, não lembra? - disse ele - E você disse não.
- Eu disse que não podia! - corrigiu ela, colocando as mãos na cintura - Você tem que pedir de novo para eu responder sim!
- Posso saber por que estás me apressando?
- Ficou com bom humor de repente, não é?
- Qual é seu nome? - perguntou Charles, fazendo com que eles parassem.
- Caspian – respondeu o próprio.
- Caro Caspian, quer fazer logo o pedido antes que eu mate a minha irmã?
- Já matei minhas saudades, Charles, pode ir embora! – informou rindo, esticando os braços.
- Nem uma hora juntos e já estão assim? - reclamou Patrick. Até das pequenas discussões de seus filhos ele sentira falta.
Caspian voltou a se colocar a frente de , segurando suas mãos nas dele, deixando a seriedade se espalhar pelo seu rosto.
- , quer ser minha rainha?
E mais uma vez exclamações surpresas foram ouvidas, abafando a resposta de .
- Rainha?! Ela vai ser rainha antes que eu seja rei?! Cadê a justiça?! - exclamou Charles, fazendo com que seu pai começasse a rir. que já estava abraçada ao seu noivo também riu.
- Ah, claro. Casa-se com Caspian. – sugeriu . Seu irmão parou, apoiando seu queixo em sua mão.
- Acho que posso me contentar em ser só o irmão da rainha. - confessou Charles.
Estranhando o silêncio do leão, quatro se viraram para ele, encontrando o lugar onde Aslan estava vazio. Charles e Patrick ficaram confusos.
- Ele não é um leão domesticado - disseram Caspian e juntos, rindo depois. A noite estava prestes a cair e os estômagos já reclamavam de fome.
Caspian pegou a espada de e a prendeu novamente em sua cintura. O irmão da garota começou a rir
- Arrumou uma espada para usar de enfeite? – desdenhou Charles – Você mal sabe manusear uma espada.
Antes que Caspian pudesse dizer algo, fez um sinal pedindo silêncio. Não era uma boa ideia começar a história pelo final. Seu pai a mataria se soubesse que ela se envolvera em uma batalha.
- Acho que deveríamos voltar para o castelo, meu rei - disse ela com uma mão em sua espada e uma postura séria. A diferença era o meigo sorriso que brincava em seus lábios - Não sei vossa majestade, mas nós três estamos famintos.
Charles começou a reclamar, dizendo que não estava com fome.
- Todos ouviram seu estômago roncar, Charles - suspirou ela.
- Vamos encontrar os cavalos e voltar, minha cara - disse Caspian, oferecendo sua mão, que ela não hesitava mais em aceitar - Tenho mais um compromisso.
Durante o pequeno trajeto Patrick e Charles ficaram sabendo mais sobre Nárnia, o reino ao qual eles pertenciam agora. E posso dizer que eles não acreditaram muito quando souberam que existiam animais falantes e demoraram até se acostumarem com Thomas tagarelando durante o caminho de volta ao castelo.
Depois do jantar, Caspian pediu que avisassem a todos que ele faria um pronunciamento e, para a surpresa de , ele a chamou depois de dizer que na próxima semana as coisas voltariam para Cair Paravel, para anunciar seu noivado ao lado da futura rainha.
Festa maior foi somente no dia da mudança e na coroação da nova rainha, que com o passar dos anos ficou conhecida como Rainha , a Ousada, assim como seu marido ficou conhecido como Rei Caspian, o Navegador.
Juntos os dois governaram por longos anos e a paz não reinava só em Nárnia, como também reinava em seu casamento. Brigas e discussões eram raras e a concordância entre os dois chegava a assustar.
Com os primeiros anos de convivência, ambos cultivaram o costume de se tratarem por "meu rei" e "minha rainha", que era tão normal como quando se tratavam pelo nome.
Bem, há inúmeras outras coisas que posso contar sobre o Rei Caspian e a Rainha , mas isso é assunto para a próxima história.

Fim.



Nota da autora: Não sei. É meio estranho pensar que esse vai ser o último e-mail que eu vou mandar para a Gi com o já comum assunto "Att - A Caverna". Claro, vocês já perceberam que tem uma continuação. Mas ainda assim é outra fic. A Caverna acabou. E eu simplesmente não consigo acreditar. Depois de quase três anos passando horas com papel e lápis, eu realmente finalizei uma fic. Amei ter sido essa a primeira. Vocês sabem que ela é um xodózinho.
Vocês fizeram valer a pena ter escrito essa história. Não foram horas desperdiçadas as que eu passei pesquisando sobre alguma batalha durante o reinado do Caspian (ler o livro nem se comenta, já que sempre disse que meu Caspian é o Barnes. Tipo Caspian=Barnes). Cada comentário na caixinha, cada ask no tumblr, comentário no grupo da fic no facebook, até e-mail que recebi. Tudo o que vocês me mandaram me incentivou. Se hoje essa fic que passa a ser finalizada é realmente boa, é por vocês.
Chega até ser estranho fazer uma N/A tão séria KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Agora o capítulo! (Não é só porque essa é a última N/A da fic que eu vou deixar de falar do capítulo) O que acharam? Esse final foi difícil, sabiam? Eu não sabia se a deixava em Nárnia, se a mandava de volta para o nosso mundo (sintam meu poder, eu controlo até o Aslan KKKKKKKKKKKK), com ou sem família. Então achei que assim ficava melhor. A história estava cute demais para separar esse dois (sim, eu tenho um coração, no final das contas). E o Charles, hein? Eu não posso com esse menino! Patrick, Caspian...
Pronto! Comecei a digitar tão bem e já tô chorando. Eu tô ficando é mole mesmo. Pra quem tem a mania de falar de mais, agora as palavras simplesmente fugiram. Não quero que vocês parem de falar comigo, viu? Twitter, Facebook (o grupo vai continuar aberto, até por causa da continuação), Tumblr, E-mail ou qualquer outra coisa que tiver. Se vocês me esquecerem, o Caspian vai ficar muito chateado. Alguém quer ver o Caspian cute cute chateado?
Sobre a continuação... Todos sabem que A Caverna se passa entre Príncipe Caspian e A Viagem do Peregrino da Alvorada. Então a continuação terá o mesmo nome do livro original, na ordem cronológica. Se virem uma fic nova com meu nome seguido e d'As Crônicas de Nárnia, podem ter certeza que a rainha Ousada está de volta.

Acho que agora eu volto a agradecer, certo? Mais uma vez, vocês são demais. É clichê, mas vocês deram vida para essa história. Nas sábias palavras de J. K. Rowling, "nunhuma história vive se não tiver alguém para lê-la" (ou alguma coisa assim, não tenho certeza. Sou péssima com citações). Gi, você me aturou bastante, hein? Digitando eu ou cada escorregão que só falta sentar e chorar. Obrigada por tudo, fofa. Larissa, Vic e Aline, vocês não vão se livrar das minhas folhas soltas escritas tão fácil, tá? A continuação logo chega, viu, sweethearts? E é claro, Thainá, Bruna e Emanuelle, as três que me aturam no grupo. Já disse que vocês são maravilhosas? Se não, vocês são. Se sim, repetir não faz mal. Vocês ainda vão me aturar muito também, se preparem.

Então, acho que é isso. Amei cada momento desde quando comecei a escrever o primeiro capítulo no meio de alguma aula ano passado (aula que eu não lembro qual era, dá pra perceber que eu não estava prestando atenção, né?) até agora, digitando a Nota da Autora permanente.

Mesmo achando que isso aqui ficou muito pequeno para o tanto que eu falo, eu fico por aqui. Nos vemos abordo do Peregrino da Alvorada.

@gamei_no_Jensen - Tumblr - Blog - Facebook - Grupo de A Caverna
6 de julho de 2012


Nota da beta: Juro que nem sei o que escrever aqui. Nunca redigi uma n/b de despedida, mas obrigada, Jess, por partilhar mais uma história sua conosco. Você é uma autora incrível e eu espero, de verdade, poder fazer parte de mais histórias suas. Jess, você esteve comigo desde o princípio da minha caminhada como beta do FFOBS e eu só tenho a lhe agradecer por ser essa autora tão fofa e compreensiva. Sinto-me gratificada ao saber que, de alguma forma, pude fazer parte dessa fanfic incrível. Flor, enquanto ainda não puder comprar seus livros, espero poder ler mais fanfics suas!

Qualquer erro nessa fanfic é meu, não use a caixinha de comentários, avise-me por email, por favor.

Xx, Giovana.


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