CAPÍTULOS: [Prólogo] [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] [9] [10] [11] [12] [13] [14] [15] [16] [17] [18] [19] [20] [21] [22] [23] [24] [25] [26] [27] [28] [29] [Epílogo]









PRÓLOGO


– Parabéns, . Você é a mais nova capitã da equipe de torcedoras da Ambler High – anunciou a professora no microfone.
Todos do auditório aplaudiram. Sorri agradecida. Então senti alguém pegar a minha mão. Olhei para o lado e vi ali parado, sorrindo.
– Acho que agora é a hora certa de anunciar para a escola o mais novo casal. O capitão de futebol e a capitã das torcedoras... Não é perfeito? – disse ele.
– Absolutamente – concordei com um sorriso plástico.
Então ele me beijou para todo mundo ver. Foi no mínimo decepcionante. Quase como beijar a minha própria mão. Não senti nada. Nada mesmo.
Droga, por que eu estava assim? Finalmente tinha chegado o momento em que eu conquistava tudo o que sempre sonhei. Eu era capitã das torcedoras, Claire estava fora da jogada, era finalmente meu... Então por que parecia que tinha alguma coisa fora do lugar?
Foi quando encontrei um par de olhos azuis me fitando e percebi que todo o meu esforço não valeu de nada. Tudo que sempre quis foi ele. Tudo que sempre tive foi ele e agora eu não tinha mais. Senti-me um lixo por isso.


UM


Tamborilei minhas unhas curtas no balcão da loja. O relógio marcava oito e meia. Em meia hora, eu estaria livre. Mas até lá, ainda tinha que trabalhar.
A porta de vidro se abriu e uma moça elegante de meia idade entrou, indo até a sessão de perfumes. me cutucou e disse:
– Sua vez. A cliente é sua.
Dei de ombros e saí de trás do balcão, puxando as pontas do meu cabelo para reforçar o rabo de cavalo. Caminhei até a moça e sorri, dizendo:
– A senhora precisa de alguma ajuda?
A mulher colocou a mão no queixo meio pensativa e respondeu:
– Na verdade, sim. Estou procurando um perfume para a minha filha, mas não sei o que moças da idade dela gostam.
– E que idade ela tem? – perguntei.
A mulher me analisou clinicamente.
– A sua, provavelmente.
Assenti e puxei um saco de amostras.
– Que tal com aroma de limão? Muitas meninas gostam...
A mulher cheirou e fez uma cara péssima.
– Esse aroma me dá uma terrível dor de cabeça.
O mais legal é que esse é o perfume que costumo usar. Fiz uma nota mental para trocar de perfume. Já falam muitas coisas ruins sobre mim. Eu não queria que fedida fosse acrescentando à lista.
– E uva verde? – perguntei. – Vende bastante.
Ela cheirou e o seu rosto assumiu uma expressão indecifrável.
– Não achei ruim, mas não acho que combine com a Claire.
Quando ela pronunciou o nome da filha, um arrepio me subiu à espinha e comecei a achar o rosto daquela mulher muito familiar. Familiar demais.
É claro que era ela. Afinal, essa droga de lugar tinha sete mil habitantes. Ela era a única merda de “Claire” da cidade inteira. Eu devia saber.
– Querida, você está bem? Parece pálida – perguntou a mulher, segurando calmamente o meu braço.
Sacudi o rosto como se quisesse afastar pensamentos ruins de minha cabeça.
– Estou ótima – respondi. – A senhora já pensou em morango com champanhe? É afrodisíaco – comentei, sorrindo.
A mulher me lançou um olhar repreensivo.
– Não acho adequado mocinhas de dezesseis anos usarem perfumes afrodisíacos.
– Ah, mamãe. Não estamos falando de qualquer mocinha de dezesseis anos. Estamos falando de V.V. – disse uma voz maldosamente conhecida atrás de mim e da moça. Claire Zizes, chefe da equipe principal de torcedoras da escola, loira, maligna e o meu pesadelo, entrando na loja.
Olhei para ela com vontade de voar em seu pescoço. Esta apenas sorriu.
– O que você faz aqui, V.V.? – disse Claire, postando-se ao lado da mãe.
– Eu trabalho aqui – respondi, sem conseguir evitar a raiva na voz. – A loja é da minha mãe.
– Bom saber – disse ela. – Vou comprar aqui sempre para ajudar a sua família a sair da pobreza.
Mordi o lábio, odiando aquela droga de política da loja que diz que o cliente tem sempre razão.
É. Sempre razão... Mesmo que ele seja a vaca maldita que a atormenta desde a sétima série com apelidos escrotos.
– Não somos pobres – rebati com raiva. – Só porque não tenho um carro esporte para cada dia da semana, não significa que a minha família é pobre.
Ela apenas sorriu maligna, de novo.
– Tanto faz, V.V. Vá logo buscar o meu perfume de morango e quem sabe não lhe dou uma boa gorjeta?
Controlando todo meu ódio, puxei a escada para subir e procurar o maldito perfume. Então ouvi a mãe de Claire perguntar inocentemente:
– O que é “V.V.”, Claire?
Ela gargalhou.
– Ora, mamãe. Vadia virgem. O que mais seria?
Ótimo. Realmente excelente. Até a mãe dessa desgraçada conhece o apelido que ela me deu.
– Claire! – exclamou a mãe dela surpresa. – Não fale assim das pessoas! Que falta de educação. Nunca vi você se referir a ninguém dessa maneira.
Talvez a senhora devesse passar um tempo na Ambler High só para ver quantas vezes por dia sua filha se refere às pessoas dessa maneira, senhora Zizes.
– Tudo bem, senhora Zizes – exclamei, fazendo força para sorrir. – Não tem problema.
– É, mamãe. A já se acostumou – disse Claire.
Sorri um sorriso do tipo “abra novamente a sua boca de vadia e vou matá-la”, mas isso não intimidou a menina. Ela continuou sorrindo maldosa.
– Vamos levar o de morango – disse a senhora Zizes.
– Vinte e sete e cinqüenta – anunciei, embalando o produto e o entregando a Claire.
Ela me entregou trinta dólares em dinheiro e sorriu.
– Pode ficar com o troco, V.V. Vejo você na escola.
A garota piscou maldosa e saiu com a mãe atrás lhe perguntando o porquê do meu apelido ser esse.
Adorei. Mais uma pessoa para saber daquela história imbecil. A verdade é que eu já estava mesmo acostumada àquele apelido, mas odiava tudo aquilo. Aquela coisa de ser loser, de só ter um amigo, de não ficar com nenhum garoto... Aquela vida não era para mim.
Na escola primária, eu era muito popular. Era uma excelente líder de torcida, tinha um monte de amigos e ficava com alguns meninos, mesmo tendo apenas treze anos. Foi quando entrei para a Ambler High que tudo mudou. Cheguei já escalada para a equipe principal de líderes e Claire também. Só que ela me odiava e ninguém sabia por quê. Foi aí que um menino do time de futebol principal me chamou para sair. Fiquei toda histérica. Eu tinha catorze anos e um sênior estava me cantando!
Saí com ele, porém, quando o mesmo tentou me levar para a cama, eu disse: “não dá. Eu sou virgem”. Não satisfeito, o imbecil contou isso para todo mundo. Foi num dia de treino das torcedoras que Claire inventou o apelido: “vadia virgem”, mais conhecida como V.V. V.V.
E quando Claire virou capitã, deu um jeito de me enxotar para fora da equipe com a desculpa de que eu usava o vestiário das torcedoras para me agarrar com os caras do time.
Essa sou eu. , dezesseis anos, ex-torcedora, loser e vadia virgem. A vida que você queria. Certo? Não.
– Ela é tão escrota – disse atrás de mim.
era minha irmã que trabalhava comigo na loja de perfumes de nossa mãe.
Eu, mamãe e revezávamos na loja e tirávamos uma grana legal para sobreviver. Depois que meu pai morreu, as coisas apertaram bastante para a gente, mas não éramos pobres. Só não éramos a família Zizes.
– Eu sei – concordei com . – Esse apelido maldito...
– Não estou falando do apelido, sua idiota. Estou falando de chamar a gente de pobre. Quem ela pensa que é? – perguntou irritada, arrumando os perfumes.
– Ela é uma retardada. Esqueça-se disso.
A porta abriu novamente, porém dessa vez não era um cliente. Era uma visita mais que agradável. Um menino com o rosto perfeitamente moldado, olhos azuis brilhantes, uma jaqueta de couro e um jeans meio rasgado, entrou na loja, sorrindo.
– Boa noite, lindas – disse ele com a sua voz sexy e rouca, mexendo nos cabelos.
A minha irmã soltou um suspiro e sorri.
era o meu melhor amigo desde os três anos de idade, que o meu pai morreu e a gente se mudou para a casa em frente à dele. Minha irmã era bebê na época, mas, mesmo com os três anos de diferença, isso nunca impediu de ter paixões platônicas por ele. A verdade é que o é muito gostoso. Muito mesmo e todo mundo acha. É por isso que, apesar de ser o maior loser da Terra, ele pega todas.
não tem nenhum motivo para ser loser. Ele é gato, divertido, joga futebol... O único motivo pelo qual ele é considerado perdedor é o fato de ele andar comigo. Ninguém entende o porquê. Ele está sempre pegando uma garota, nunca namorando, e, se eu chamasse a qualquer hora, o mesmo estava ali. era simplesmente o melhor amigo do mundo. Sempre fiel, sempre comigo. No almoço da escola, ele deixa de sentar com os colegas de time para ficar ao meu lado. Nos trabalhos escolares, a mesma coisa. Ele me protege nas festas de caras bêbados malucos, leva-me a todos os lugares de carro... Sei todos os segredos dele. Ele sabe os meus.
Eu amo o . Como um amigo, é claro. Seria como um irmão, se ele não fosse tão gostoso e não me atraísse às vezes. Não sou nenhuma maníaca, que fique claro. Mas experimente ter dezesseis anos, não pegar ninguém e dormir de conchinha com o seu amigo lindo e sarado! Não dá para não se sentir atraída.
Continuei sorrindo enquanto se aproximava da gente. a essa hora já exibia uma expressão de desespero, como se fosse morrer se ele desse mais um passo.
– Oi, – disse , puxando o pescoço dela e tascando um beijo em sua bochecha.
Vi a minha irmãzinha fechar os olhinhos como se fosse cair a qualquer momento. Achei a cena engraçada. Ele soltou e foi até mim.
– E o meu beijo, ? – perguntou com um sorriso fofo.
Saí de trás do balcão e fui até ele. Passei os braços por seu pescoço e beijei a sua bochecha. Ele fez o mesmo na minha e me soltou.
– Você sai que horas mesmo? – perguntou ele, encostando-se à bancada.
– Nove. Tenho que fechar a loja.
– Não precisa – disse . – Eu fecho. A mamãe e o tio John vão voltar aqui para me buscar. Está tudo bem.
Tio John era o pai de , que era namorado da minha mãe. Isso fazia com que as nossas famílias fossem ainda mais conectadas.
– Tem certeza, ? – perguntei.
– Tenho. Pode ir.
– Espere um pouco então, – falei, entrando na parte dos fundos da loja.
Tirei a minha blusa rosa do uniforme da perfumaria e coloquei uma camiseta verde. Soltei o rabo de cavalo, peguei o meu casaco, a minha mochila e saí.
– Pronta? – perguntou ele.
– Sim. Vamos?
Ele assentiu e joguei beijos no ar para a minha irmã, enquanto saía da loja.
abriu a porta da picape Ford para mim e foi para o banco do motorista.
– Aonde vamos?
– Cinema – disse ele, mostrando-me os ingressos.
– Qual é o filme? – perguntei.
– Eu me esqueci do nome. Só sei que é de ação – disse ele, dando a partida no carro.
– “Ação” significa tiros, sangue e muitos socos, né? – perguntei.
– Ah, ... É meu dever fazê-la ver as coisas como elas realmente são. Filmes de romance não acrescentam nada na sua experiência de vida – rebateu ele com um sorriso divertido.
– Você é ridículo. Olhe só quem está ali! – falei, apontando para a rua, quando ele parou no sinal.
Claire Zizes e o namorado discutiam freneticamente, gesticulando rápido. sorriu.
– Problemas no paraíso – comentou ele. – O me disse que ela está enchendo o saco dele nas férias. Ele deve ter problemas no cérebro para namorá-la. Aliás, quem namora tem problemas no cérebro. Coisa chata. Uma mulher no seu cangote, você tendo sempre que pegar aquela e nenhuma outra...
– Deixe de ser cafajeste, . Namorar deve ser legal. Uma pessoa que ame você, que seja sua companheira.
– Amigos servem para isso – rebateu ele. – Eu já disse para o chutá-la, mas ele é muito lerdo.
era do time de futebol e, portanto, amigo dos caras populares. Até do quarterback , o bonitão namorado da líder de torcida. Por isso fazia sentido que ele desse conselhos a .
– Tomara que eles terminem – comentei maldosa. – Ela é uma vaca e ele parece ser um cara legal. De qualquer jeito, uma magrela plástica como aquela não merece um namorado gostoso desses.
sacudiu a cabeça, rindo de leve.
– Você não tem jeito. Esqueça-se deles, .
– Eu adoraria me esquecer da existência da Claire Zizes, se ela não atormentasse a minha vida todos os dias com aquele apelido idiota. E, bom... Esquecer-me do é impossível. Ele é tão lindo! – exclamei.
podia ser considerado o meu primeiro amor. O meu e o da metade das garotas da Ambler High, porque a outra metade era louca pelo . era tão bonito quanto o meu amigo. Só que tinha um jeito diferente... Enquanto o era um cafajeste tarado e pervertido, que transava com todas, mas só dava a devida atenção a uma (eu, no caso), era um cara fofo. Ele era do tipo que estava sempre namorando, não traía e não fazia comentários desrespeitosos sobre como a sua bunda ficava no short de educação física. Outra coisa que me encantava no : mesmo que eu quase nunca falasse com ele, todas as vezes que falei ele me chamou de . Só . Nada de V.V. Provavelmente ele era a única pessoa daquela escola inteira, além do , que não me chamava de V.V. e isso só fazia com que eu o achasse mais maravilhoso.
Desviei o olhar de e Claire quando o sinal abriu. Então me virei para que digitava uma mensagem de texto.
– Você sabia que é perigoso digitar mensagens enquanto dirige?
– Eu não ligo de bater – disse ele, rindo.
– Mas eu ligo. Você está colocando a minha vida em risco – falei, tirando o celular da mão dele.
– Ah, , desculpe-me. Eu nunca faria nada para colocá-la em perigo – brincou ele, fazendo um bico falso e uma voz fina.
– Quer que eu digite para você? – perguntei.
– Acho melhor não – disse ele, rindo.
– Não seja bobo. Sei que é uma mensagem pervertida para uma garota. Não deve ser nada que eu nunca tenha visto – falei, abrindo o visor do celular dele.
Depois olhei e vi uma mensagem de alguém chamada “Ananka”.

Queria vê-lo hoje. Ontem você me deixou tão satisfeita! A gente pode se encontrar?
Xx


Ananka... Eu conhecia uma garota com esse nome. Ou melhor, eu conhecia uma líder de torcida demoníaca, capacho da Claire Zizes, que tinha esse nome. Ananka Miller.
– Você está saindo com a Ananka da escola?! Aquela vaca maldita? – perguntei ultrajada.
– Não estou “saindo” com ela – disse , percebendo a minha expressão irritada. – Eu estava na sorveteria com o Josh e ela veio cumprimentar a gente. Aí a menina começou a me dar mole. Então eu a trouxe para a picape e o resto você sabe – disse ele com um sorriso safado.
– Você não está falando sério! Sai com uma das minhas arquiinimigas mortais, dá um trato nela dentro da sua picape e ainda me traz para andar nessa lata velha?
– Opa, lata velha não. Pegue leve, ! – ele disse num tom de brincadeira. Quando percebeu que eu continuava olhando irritada para ele, completou. – Ah, qual é, ? Você vai ficar brava mesmo? O que é isso? Ciúmes?
Quase quis matá-lo. Tudo bem. Podia ser um pouco de ciúmes, mas eu nunca admitiria isso. Nem para mim mesma. Ele perceber me deu ódio.
– Por que eu teria ciúmes de você, seu idiota? Lógico que não é isso! É só que essa menina me atormenta e você, como meu melhor amigo, não devia se relacionar com essa gentalha. Está me traindo! Confraternizando com o inimigo.
– Você não acha que já faço muitas coisas por você? Sou o seu melhor amigo quando ninguém mais quer ser, trato você super bem, deixo de sair com outras pessoas para ficar com você, tento convencer todo mundo de que nada que dizem sobre você é verdade... Acha mesmo que tem o direito de reclamar só porque peguei uma menina que a trata mal?
– Nunca lhe pedi para ser meu amigo ou me tratar bem. Nunca pedi para você fazer nada disso. Então, se na segunda-feira você quiser fingir que não existo, ser popular, pegar as menininhas populares e ser feliz e cafajeste com elas, faça isso. Tire o peso de ter que cuidar da “loser vadia virgem” dos seus ombros – falei, cruzando os braços.
– Não seja ridícula. Você sabe que sou seu amigo simplesmente pelo fato de você ser a pessoa que mais amo na vida. É por isso que faço essas coisas por você. Só não acho que é certo a senhorita ficar dando escândalo só porque dormi com uma garota que a trata mal.
– Ótimo. Não me importo. Você pode se casar com ela, se quiser. Não faz diferença – retruquei irritada.
Ficamos em silêncio durante todo o caminho para o cinema. Quando chegamos, ainda em silêncio, ele foi comprar as pipocas. O mesmo voltou e me estendeu o saco.
– Sua pipoca, – disse ele com um sorriso meigo. Estava tentando fazer as pazes.
Peguei da mão dele e segui seca para a sala de cinema. O idiota tinha comprado uma cadeira de namorados para a gente porque, toda vez que eu ia ao cinema ver filme de ação com ele, eu pedia esse tipo de assento para apertar o braço dele quando alguma cena me incomodasse muito. Só que hoje eu não estava a fim de ficar numa cadeira de namorado com o garoto. Só se fosse para partir a cara dele ao meio.
O filme começou e, conseqüentemente, os tiros, as cabeças cortadas, o sangue... Bom, estava um saco e eu fechava o olho e gritava toda vez que o psicopata do assassino matava mais um personagem.
Teve uma hora que, instintivamente, não agüentei e agarrei o braço dele. Ele me olhou, sorrindo. Soltei-o rápido e cruzei os meus na frente do meu peito. Então o menino rapidamente passou um braço pela minha cintura, puxando-me para bem perto. Com a outra mão, segurou meu rosto.
– Você vai mesmo ficar sem falar comigo?
– Vou – respondi emburrada. – Você está me trocando por uma líder de torcida barata que me maltrata.
– Desde quando sexo casual significa alguma coisa? – disse ele.
– Mas você está certo. Não estou no direito de ficar chateada. Você não é meu namorado.
– Não. Sou algo muito melhor. Sou seu amigo e você é a única menina nesse mundo com a qual me importo. Se está chateada comigo, fico mal – disse ele, chegando com o rosto ainda mais perto.
estava com o nariz colado no meu e a boca perigosamente próxima. O nervoso que senti nesse momento não poderia ser explicado por nenhuma ciência.
– Eu o desculpo – falei.
– Não pedi desculpas – disse ele.
– Não quero discutir – falei.
– E o que você quer fazer? – perguntou ele.
Encarei os seus olhos azuis e senti o meu corpo tremer por inteiro.
– Não sei – falei sinceramente. – Só sei que esse filme é horrível e não quero ver.
– Você quer ficar assim? Abraçada comigo e me olhando?
– Não – respondi nervosa. – Não quero ver o filme. Posso ficar mais abraçada? – perguntei.
Ele sorriu, parecendo decepcionado.
– É claro que pode. Sempre.
Ele meio que me puxou, abrindo as pernas para que eu ficasse no colo dele. Depois o abracei pela cintura e enterrei o meu rosto em seu pescoço, fechando os olhos. Aquele perfume delicioso dele invadiu a minha mente, enquanto suas mãos levantavam levemente a minha blusa, acariciando a minha barriga.
Eu e estávamos sempre nesse estado de provocação constante até alguém ceder. O problema é que há dois anos ninguém cedia. A gente só ficava nessa de estar sempre muito perto, mas nunca o suficiente para ficar satisfeito. Acho que tinha medo de me magoar, porque ele não gostava de mim desse jeito. Não gostava de ninguém desse jeito. Quer dizer, tratava-me melhor do que qualquer outra, porém eu nunca tinha percebido nenhum tipo de demonstração amorosa da parte dele.
Nós demos o nosso primeiro beijo juntos aos dez anos. Depois, aos doze, estávamos assistindo a um filme e nos beijamos de novo. Aos catorze, logo depois de eu ganhar a minha fama de vadia virgem, estávamos no cinema e ele disse que a minha boca tinha um cheiro bom. É claro que não acabou bem. E essa foi a última vez. Depois, ele perdeu a virgindade e essa coisa de beijar passou a ser insignificante para ele. Contudo, como é basicamente o único homem com o qual me envolvi, nada disso é insignificante para mim.
Acho que em algum momento adormeci nos braços dele. Foi muito bom.
, hora de acordar. O filme acabou.
Abri os olhos confusa e me levantei.
Na volta para casa, a gente não conversou muito. Eu estava com sono, e ainda meio extasiada pela vontade insana que tive de agarrá-lo naquele cinema. Na hora de sair, ele me disse:
, eu estava pensando... Como amanhã é o último dia das férias, achei que a gente podia ir ao lago. Sei que o pessoal da escola que você detesta fica lá ás vezes... Mas acho podíamos ir os dois. Vai ser divertido.
Sorri.
– É claro que vou.
Ele sorriu de volta, parecendo feliz.
– Que bom.
Abri a porta para sair do carro. Ele saiu também porque nossas casas eram uma ao lado da outra. Virei a chave na porta e ele fez o mesmo. Só que, antes de abrir, chamei:
?
Ele me olhou e murmurou algo como “hum?”.
– Eu te amo – pronunciei estática, como se tivesse dito “boa noite” ou “durma bem”.
Por que eu tinha mesmo falado isso? Não consegui entender. Só sei que era algo que precisava sair e que me fez sentir leve.
Ele não sorriu. Na verdade, nem se moveu. Só me encarou como se eu tivesse dito o maior absurdo da história. Assenti com a cabeça e entrei em casa, porém antes de fechar a porta ouvi-lo gritar:
!
Coloquei a cabeça para fora, sentindo o meu coração na boca.
– Sim?
Ele piscou os olhos azuis e me olhou com ternura.
– Eu te amo também.
entrou em casa rápido antes que eu pudesse me pronunciar. Todavia, quando vi a porta dele fechada, não pude evitar sorrir.
O que estava acontecendo? Eu não sabia.


DOIS


Vesti-me cuidadosamente naquela manhã. Ir ao lago da cidade fazer piqueniques era um programa comum para os jovens de Ambler, Pensilvânia. Nesse fim de mundo com sete mil habitantes, não há muito a se fazer, o que explica o fato de todos aqui serem tão fofoqueiros e maldosos. As pessoas precisam ter criatividade para se divertir por aqui.
Coloquei um short jeans e uma baby look azul com o biquíni por baixo. Não que eu fosse entrar no lago, mas era seguro usar roupa de banho (principalmente quando se está saindo com o ). Calcei os chinelos, apliquei lápis de olho e passei uma camada de gloss nos lábios. Depois descí e sai de casa, indo tocar na porta do meu amigo.
Alguém então abriu a porta e, por Deus, não era o , nem o tio John. Era o , em carne e osso. E sem camisa, usando uma bermuda de banho. O que ele estava fazendo na casa dos às onze da manhã? E por que o cara era tão gostoso? E qual era o meu nome mesmo?
Achei que fosse morrer.
– Oi, – disse ele, sorrindo.
– O-o-oi – gaguejei. – E aí? – sorri, recuperando-me.
– O está esperando por você lá na cozinha. Ele disse que não sabe montar uma cesta de piquenique sem ajuda feminina.
– Ah, ‘ta – falei nervosa. Pulei para dentro da casa. Então me virei para com um ataque de curiosidade. – O que você faz aqui?
– Também vou ao piquenique – disse ele. – Você se incomoda? Porque sei que gosta de ficar sozinha com o ... – comentou, sorrindo.
– Não, é claro que não. Eu sozinha com o ? Ah, nada a ver – falei rápido. Eu estava sendo absolutamente retardada. – Vou ajudar o meu amigo.
Caminhei pela casa e entrei na cozinha. Tio John, o pai de , namorado da minha mãe, estava ali, conversando com . Este estava no canto de costas, também sem camisa, dizendo assim:
– Realmente não sei mais o que fazer para ela perceber o que na verdade sinto...
, OI! – gritou tio John, tentando parecer animado, fazendo se virar assustado. Na hora, percebi que esse grito tinha apenas uma função: fazer parar de falar sobre o assunto de antes. Certamente, era algo que eu não podia ouvir. Isso me deixou louca.
– Oi, tio. Nossa, quanta animação! – falei, tentando não parecer estar morta de curiosidade.
– Sabe como é! Na vida passada, fui uma líder de torcida – disse ele, sacudindo as mãos como se fossem pompons, fazendo-me gargalhar. – Vou embora daqui e me vestir para sair com a sua mãe. Vocês, crianças, cuidem-se.
E, dito isso, levantou-se e saiu do cômodo, deixando-me sozinha com .
– Sobre quem você estava falando? – perguntei curiosa.
Ele coçou a barriga nua com um olhar meio preocupado.
– Sobre ninguém – respondeu, virando-se rápido.
Caminhei até o garoto, ficando parada de frente para as suas costas.
– Quem é que você quer que perceba o que o senhor realmente sente? – perguntei, insistindo.
– Não é da sua conta, .
– Mas você é o meu melhor amigo – falei, colocando as mãos nos ombros nus dele. – E me conta tudo.
Ele pareceu se arrepiar com o meu toque. Meu Deus, que safado esse . Sabe o que me impressionou? Não me irritei com essa safadeza. Na verdade, achei pertinente provocar ainda mais.
Desci as minhas mãos pelas costas dele devagar e, ao chegar à cintura, colei o meu corpo ao dele, abraçando-o e encostando minha bochecha direita à sua coluna. Com as minhas unhas curtas e bem cuidadas, acariciei a barriga dele.
, o que é que você está fazendo? – perguntou ele com a voz meio embargada.
– Usando as minhas mãos talentosas para fazer você me contar quem é essa vadia que está atormentando a sua cabeça – respondi, rindo.
Então me toquei de que poderia estar gostando de outra garota. Aí a curiosidade só aumentou. E o ódio surgiu.
Ele tirou as minhas mãos de sua barriga e virou rápido de frente para mim, segurando os meus punhos e chocando o meu corpo contra o dele. Depois, a sua mão subiu pelas minhas costas, chegando à minha nuca e afastando os meus cabelos dali. Seu rosto foi de encontro ao meu pescoço e fiquei sem ar.
A merda de provocar era essa. Ele era dez vezes melhor nesse jogo do que eu. Antes que pudesse pensar em provocá–lo mais, eu já estava sob o domínio dele.
Senti sua a língua quente deslizando pela pele fina do meu pescoço. Ok... O surtou?
Deixei escapar um gemido baixo. Ok, eu surtei?
Todo mundo surtou.
– O que você está fazendo? – perguntei.
– Explicando-lhe que a única vadia que me atormenta na vida é você, .
Coloquei os dedos nos cabelos dele e afastei o seu rosto dali, de modo que eu pudesse encarar os seus olhos azuis com clareza. Segurei as suas bochechas e falei:
– O que você sente por mim? O que quer que eu perceba?
– Nada. Eu não disse que estava falando sobre você.
– Perguntei qual era a vadia que estava o atormentando e você disse que a única que o atazanava era eu. Vamos, . Responda-me. O que você realmente sente?
Ele ficou em silêncio.
... Responda... Qualquer coisa – falei.
– A sua boca está com o mesmo cheiro que no dia do cinema – comentou ele, fitando o meu lábio.
Senti as minhas bochechas corarem.
– Desde que você disse que ela cheirava bem, uso todo dia a mesma pasta de dente e o mesmo brilho labial – respondi.
– Desde que eu disse isso, tenho mais vontade de sentir o gosto dela de novo.
– Então por que você não faz isso? – perguntei.
Ele segurou a minha nuca com força e me puxou, roçando os nossos lábios.
Foi aí que ouvimos um pigarro às nossas costas.
– Oi? Estou interrompendo alguma coisa?
Era sorrindo debilmente. Deus, ele era lindo assim. Mas eu queria beijar o , né? Não me lembro. pareceu muito convidativo naquele momento. Senti-me uma completa vadia.
Ah, é. Eu sou uma vadia.
e eu nos soltamos.
– Não, não está – respondi.
– Claro que está – disse irritado.
riu.
– Eu só queria saber se o piquenique ainda vai rolar... Porque, se quiserem, vou embora e vocês ficam aí se comendo.
– Eu adoraria que você fizesse isso – retrucou .
– Não! – protestei. – Vamos ao piquenique, .
Ele deu de ombros e disse:
– Tanto faz. Vou vestir uma camisa.
Comecei então a arrumar a cesta, sentindo o olhar de sobre mim. Aquilo estava me deixando nervosa.
– O que foi? – perguntei para ele.
– Nada. Só estava pensando no quanto são engraçados você e o .
– O que é engraçado? – perguntei.
– Vocês dois... Fingindo que não tem nada. Ele pegando todo mundo, mas voltando igual a um cachorrinho toda vez que você chama.
– Não é assim que as coisas funcionam. A gente não tem nada. Somos apenas muito amigos – falei.
– Amigos com benefícios? – disse ele sarcástico.
– Só amigos – frisei.
– Tudo bem – disse ele, levantando os braços.
– E você? – perguntei, fechando os potes de sanduíche. – O que está fazendo aqui? Não me entenda mal, mas você não costuma sair com a gente.
– Saio com o – contestou ele.
– Mas não sai com a gente. Sabe... Eu e ele.
sorriu para mim, sentando-se na bancada da cozinha. A sua barriga sarada dobrou de um jeito muito bonitinho e fiquei com vontade de morder. Porém me controlei e novamente virei de costas.
– A Claire nunca me deixaria sair com você e com o . Ela a odeia. Sabe disso... – disse .
– Exatamente por isso que não entendo o porquê de você estar aqui – completei.
– Não estou mais namorando a Claire.
Virei para frente incrédula.
– Hã? Desde quando?
– Ontem à noite – respondeu ele. – Você e o estavam no cinema e mandei uma mensagem para ele.
– Sinto muito – falei, esticando a mão e afagando o braço dele com o olhar mais caridoso que consegui dar.
Ele sorriu e disse:
– Não sente nada. Sei que você adora ver a Claire se ferrando.
Dei uma risada nasalada.
– É, mas sinto muito mesmo assim. Sabe... Por você – comentei, dando de ombros.
Ele deu uma meia gargalhada muito sexy.
era tão... Sei lá... Perfeito. Desde aquele corpo sarado aos olhos brilhantes e o jeito com que ele jogava o cabelo. Tudo nele me deixava doida.
– Então, agora que terminou com a Claire, você sai com a gente? – perguntei.
– Na verdade, dormi aqui. Por isso resolvi sair com vocês.
– Você não dormiu aqui nada. Vi a hora que o entrou em casa. Ele estava sozinho – rebati.
, sempre achei que você conhecesse o bem. A noite nunca acaba na hora em que ele a deixa em casa. E ontem eu estava precisando de consolo. Ele conhece consolos excelentes.
Ergui a sobrancelha. Então uma raiva crescente me inundou. Eu ia matar o . Não. Eu ia castrá-lo primeiro para depois matar.
... Por um acaso o esteve com a Ananka Miller essa madrugada?
me fitou e depois sorriu maldoso:
– Ciúme?
Estreitei os olhos com raiva.
– Só responda.
– Sim, ele estava – respondeu .
Terminei de montar a cesta de má vontade. Disse a :
– Fale para o que passei mal e fui para casa.
– Mas você não está passando mal – respondeu ele. – Ah, , não seja boba. Você não é namorada dele. Não tem o direito de ficar chatea...
– Em primeiro lugar, isso não é da sua conta. Em segundo, não estou chateada – respondi, cortando-o.
– E aí, tudo pronto? – disse , surgindo na cozinha e passando o braço pela minha cintura.
Esquivei-me dele e falei:
– Não! Tem uma coisa faltando.
– O quê? – perguntou inocentemente.
– Você chamar a sua namoradinha Ananka vadia para ir com você – respondi grossamente.
Ele olhou para e ralhou:
– Eu pedi para você não comentar!
– Ela não é a sua namorada, cara. Não pode ficar chateada! – defendeu-se .
– Cara, isso não é problema seu. Você não entende – disse .
– Não estou chateada – protestei.
– Então por que você está toda arisca e se esquivando?
– Porque a sua namoradinha vai ficar chateada se me vir com você – retruquei. – Afinal, quem é que quer a famosa “ V.V.” ao lado do seu homem?
Virei-me e saí da cozinha, entrando na sala.
– Você está sendo idiota – disse ele.
– Sou idiota. Por isso a gente sempre se deu tão bem – respondi irônica.
Percebi que estava quase indo para fora da casa. Então ele prensou o seu corpo contra o meu na porta.
– Então é isso? – disse ele, praticamente cuspindo as palavras. – Você vai dar um ataque de ciúmes e ir embora que nem uma garotinha assustada, ignorando completamente o que aconteceu, o que acontece entre a gente?
Virei o rosto.
– Em primeiro lugar, não estou com ciúmes. Em segundo, não acontece nada entre a gente. E terceiro, você é muito ingênuo de pensar que vou embora. Eu nunca perderia a chance de passar a tarde com o gostoso do – respondi sarcástica.
Ele pareceu realmente chateado. Então me senti meio arrependida de ter falado aquilo, pois eu sabia que ele não sentia nada pela Ananka. Tinha plena convicção disso. Mas eu sentia algo pelo ... Algo forte. E ele também tinha convicção disso.
Estava começando a me perturbar essa história de eu e sermos algo além. A gente sempre teve um tipo de atração acumulada que às vezes simplesmente explodia. Ouvir aquilo dele, ouvi-lo dizer que algo acontece entre a gente me deixava nervosa. Veja bem, eu certamente o amava... Como um irmão. Porém com certeza me sentia muito atraída por ele. Era meu costume classificá-lo como um primo ou algo assim, alguém que eu pudesse ficar um dia, mas continuar amando como sempre. Só que eu nunca teria algo sério com ele como um namoro. Eu nunca seria a garota dele. Todavia, pelo visto, ele não pensava desse jeito.
me soltou e abriu a porta. Saí e fui em direção ao carro. logo estava nos seguindo com a cesta de piquenique na mão.
ficou entre e eu na picape porque eu não estava a fim nem de ficar ao lado dele e nem de andar na parte aberta de trás. dirigia concentrado e eu olhava para a janela. parecia meio encabulado no meio de nós dois.
– E então...– disse . – Vai ser divertido. Certo?
Eu e lançamos a ele os nossos melhores olhares de “cale a boca!”. Foi exatamente isso o que o menino fez.
O lago era um lugar um pouco afastado da cidade, onde um bando de jovens desocupados se juntava para ficar em volta as com suas cestas de piquenique - que ao invés de sanduíches eram lotadas de cerveja e baseados. Saímos do carro ainda os três em silêncio.
Por ser manhã, só algumas pessoas estavam lá. Umas calouras da Ambler High, a maior parte das líderes de torcida e alguns jogadores de futebol namorados delas. Ótimo. Eu ia ficar sozinha. estava puto comigo, então provavelmente ficaria se esfregando numa das líderes (Ananka) e não ia ficar me fazendo companhia, óbvio. Até porque ele não era meu amigo.
Esticamos a toalha na mesa que tinha na área de piqueniques. Coloquei os sanduíches em cima da mesa, pegou as cervejas e , as outras comidas. Quando terminamos de colocar, esbarrei de propósito em . Então sorri e disse:
– Desculpe-me.
Quis fazer parecer que foi pelo esbarrão, mas não era por isso. Era pelo que eu havia dito. E ele entendeu. Por isso, respondeu irritado:
– Não.
Então fechei a cara e ele fez o mesmo.
– chamou . – Sente-se aqui do meu lado.
Lancei um olhar para de “não preciso de você para nada” e fui andando para me sentar perto de . Este passou um braço por meus ombros e sorriu de lado.
– Olhe, não fique assim. Você conhece o . Ele só está irritado. Daqui a pouco passa.
– Acho que vou voltar para casa – falei com um biquinho. – Não quero ficar sozinha.
– Não me incomodo em lhe fazer companhia – disse .
Então sorri e ele me deu um beijo na bochecha. Hormônios, fiquem calmos.
Era óbvio que eu era louca por ele. Pelo , é claro. O era puramente atração.
então se aproximou da mesa e pegou uma cerveja. Estendi o meu braço e fiz o mesmo.
– Ah, não – disse ele, esquecendo-se da irritação. – Nada de beber, .
Você não manda em mim – falei, dando um grande gole na garrafa. sorriu mais abertamente.
Foi aí que uma figura falsa ruiva usando um biquíni e um short jeans apareceu na nossa frente, dando uma estrela.
Acho que me esqueci de comentar que as líderes da Ambler High gostam de aparecer nos lugares dando piruetas. É, elas são exibidas e doentes.
– Oláááá! – disse a menina. – Oi, .
– Ananka – disse ele, levantando a cerveja sem tirar o braço dos meus ombros. Depois de lançar um sorriso irresistível à imbecil, abaixou novamente a cerveja, dando um grande gole.
– Oi, V.V.! – disse ela, dando um sorriso falso para mim. – Nossa, você é rápida! O menino mal terminou o namoro e lá vai você para cima dele.
Dei uma piscadela.
– Aprendi assistindo às mestras.
Depois ela se virou para , colocando as mãos no pescoço dele.
– E você? Recuperou-se bem da noite de ontem? Pronto para outra?
– Estou sempre pronto para outra, Ananka – disse ele, mordendo o pescoço dela.
Uma coisa apenas a dizer: AAAAAAAAAAAAAAAH! Ódio mortal! Eu odiava aquela menina, odiava o mundo, odiava o .
percebeu, pois sussurrou:
– Calma, .
Foi aí que fiz uma coisa louca. Peguei a cerveja e virei, já sentindo as minhas bochechas corarem de calor.
... – falei. – Beija-me?
Ele levantou as sobrancelhas.
– Você vai se arrepender. Não.
– Ah, vá. Não sou tão feia assim – falei, fazendo bico.
– Claro que não é. Você é bonita. Bem bonita e gostosa. Só que o é meu amigo e...
– Foda-se o – bufei.
, ... Seja boazinha – disse ele com um sorriso sapeca.
Ananka estava sentada na mesa com as pernas abertas, encaixado no meio, segurando a sua cintura. Eles ficavam se mordendo. Ele, sussurrando coisas obscenas. Ela, rindo alto e respondendo. Eu estava com muita raiva daquilo e apenas bebia cerveja.
Foi então que Ananka falou:
– Aprendi um novo salto de torcedora. Sabia? Ele é muito sexy. Se você for bonzinho, posso mostrá-lo.
– Mostre-me agora – disse .
– Com todas essas roupas? Não tem nem metade da graça! – disse ela.
– Vá. Mostre.
Ananka então tomou distância e jogou o corpo para trás, na tentativa de fazer um backflip, que é um salto em que você faz um tipo de ponte para trás e depois pula. Acontece que na hora de apoiar os braços no chão para realizar o salto, a garota caiu de costas no chão. É claro que desatei a rir. ficou mordendo o lábio, tentando não rir junto, e , como o perfeito cavalheiro que era, foi ver se ela estava bem. Ananka se levantou, os olhos amarelos fervendo de ódio, e disse:
– Do que você está rindo, V.V.?
A garota tinha uma pose mortal, como se quisesse realmente me destruir, independente de eu ter feito ou não alguma coisa. Só que eu estava acostumada a me defender. Então me levantei e coloquei a mão na cintura. Disse:
– Estou rindo de você. E do quanto é patética.
Ela se aproximou.
– Sua vagabundinha... Você pensa que não sei que morre de inveja de mim? Que queria ser a líder de torcida gostosa e não uma loser com má fama? – disse ela.
– Não sei o que eu queria ser. Só sei que eu seria melhor que você em qualquer coisa – falei. – Você é uma imbecil, Ananka. E é você quem tem inveja de mim. Vocês todas. Sabe por quê? Porque é comigo que ele... – apontei . – Importa-se.
Ananka voou para cima de mim como se quisesse atacar a minha jugular. a segurou e recuei, rindo desdenhosamente. Depois, joguei o meu corpo todo para trás, realizando a manobra que ela tinha falhado em fazer, mandando um beijo para ela ao terminar. Saí dali rebolando. Eu precisava urgentemente de um cigarro.
Caminhei até a beira do lago e me sentei, olhando o sol que se escondia nas árvores. Ali, por hora, eu não seria incomodada por ninguém. Olhei no bolso do meu short jeans e encontrei um isqueiro e um pacote de cigarros de menta. Sorri sozinha ao acender e tragar.
O meu hábito de fumar era bem recente, mas eu gostava muito e andava meio viciada. ficaria puto se visse. Mas ele podia e eu não? Ótimo. Super engraçado.
Então aquilo aconteceu. Se eu pudesse classificar um momento como “o momento” dessa história, eu certamente escolheria esse. Estar naquele lago, sentada ali, naquele momento, foi crucial para todas as mudanças que viriam a seguir.
Três meninas caminhavam em minha direção. Aliás, seria um absurdo dizer que “caminhavam”. Elas desfilavam. Aquelas garotas tinham em si algum tipo de brilho que as fazia parecer magnificamente populares. Porém não populares maldosas como Claire. Eram pessoas que você via e simplesmente tinha vontade de estar ao lado, de ser amiga. A do meio parou na minha frente e me lançou um sorriso meigo.
– Olá, – disse ela. – Como vai?
Lancei a elas um olhar confuso. De onde aquelas meninas me conheciam? De onde vieram? Quem eram elas?
Traguei meu cigarro e disse:
– Bem. Quem são vocês?
A garota do meio me estendeu a mão e disse:
– Sou , e essas são Amber Tate e Courtney Morris.
AH, MEU DEUS! Eu conhecia aquelas meninas. Elas eram as três top cheers do país!
Mesmo fora da equipe, eu continuava acompanhando o mundo das líderes de torcida. No último nacional, as Blue Jeans da Califórnia venceram pela terceira vez consecutiva. era a capitã delas. Lembro-me perfeitamente de que, no ranking de melhores torcedoras do país, Amber Tate e Courtney Morris também apareciam no topo. Então o que cargas d’água essas garotas faziam em Ambler?
– Conheço vocês. São as três top cheers. O que estão fazendo nessa cidade de lixo? – perguntei confusa.
Courtney sorriu.
– Você é líder de torcida, ?
– Não mais. Fui banida – respondi a ela. – Injustamente, mas fui.
– E sem querer ofender, mas... Isso tem algo a ver com a sua péssima fama na cidade? – questionou Amber.
– Não ofendeu e a resposta é sim – falei.
– Conhecemos você também, – disse . – Vi vários vídeos seus de quando era da categoria de base. É muito boa e o seu backflip é incrível.
– Obrigada – respondi, sorrindo. – Mas nunca vou poder torcer de novo. Não enquanto eu viver aqui nessa cidade.
– Não se precipite. Talvez você esteja de volta à equipe da Ambler High antes que perceba – disse Courtney.
– Não estou entendendo nada, gente. Vocês são da Califórnia, líderes de torcida famosas no ramo e provavelmente já têm bolsas em faculdades ótimas. O que fazem aqui? – perguntei.
– A Ambler High tem a pior equipe de líderes de torcida do país – disse Amber. – Nunca vi um grupo tão fraco. Todas as meninas talentosas foram banidas, assim como você, porque a Claire Zizes é uma grande “paneleira” e apenas ela presta naquela equipe.
– Exatamente – concordei. – Então... Não há o que fazer. Nunca vou voltar. Não enquanto a Claire for capitã.
– Olhe, – disse . – A gente não devia lhe contar isso, mas o sindicato das líderes nos lançou um desafio. Mandaram-nos para cá para tentar levar vocês ao campeonato nacional. Se conseguirmos, teremos bolsa na faculdade que quisermos.
– E para isso precisamos que você faça o teste. Precisamos das líderes de torcida talentosas daquela escola – completou Courtney.
– Vocês nunca vão entrar para o time – falei contrariada. – É a Claire quem manda, gente. Ela escolhe tudo. Não tem chance.
– A gestão vai mudar porque trouxemos conosco uma técnica de torcedoras. Afinal, a escola de vocês tem interesse em melhorar nos esportes. Dá retorno, dinheiro para a escola, e só o futebol americano é quem faz isso – respondeu Amber.
– Não podemos lhe contar muito mais, . Só queremos pedir uma coisa. Tente o teste para a equipe amanhã. Tente mesmo. Estamos contando com você – falou , sorrindo.
Olhei para as três e, por algum motivo, senti que poderia confiar nelas. Foi aí que respondi:
– Tudo bem.
Elas se despediram e saíram desfilando.
Eu podia sentir as faíscas no meu estômago. Ser líder sempre foi o meu sonho. Eu amava aquilo. Os saltos, as piruetas, as coreografias, as festas pós-jogos... Era tudo tão feito para mim. Perceber que eu tinha uma chance mínima de voltar a vestir um uniforme de líder me deixava absolutamente feliz.
Porém, como dizem, felicidade é algo que dá e passa. Dá e passa muito rápido. Foi só me levantar para voltar à mesa para que eu visse a cena mais chocante de toda a minha vida. Claire Zizes tinha chegado. Ela estava lá. Estava lá na minha mesa, sentada no colo do . No colo do meu , do meu amigo. E essa piranha desgraçada estava se inclinando para morder o pescoço dele. O que tinha acontecido com a Ananka?
Antes que eu pudesse procurar, vi o escroto do a agarrando.
Ah, não. Agora é pessoal.
Andei com toda a fúria que consegui colocar em meus passos, como se quisesse fazer com que todos me notassem. notou. Ele me olhou de soslaio e um sorrisinho vitorioso escapuliu de seus lábios. Cafajeste. Ele queria me irritar, mas aquilo não me irritava. Aquele ato me feria, magoava. Claire foi responsável por noventa e cinco por cento dos momentos infelizes que já tive na minha vida. Os outros cinco por cento são atribuídos às outras líderes em geral. estava passando dos limites e eu não ia permitir isso.
Parei na frente dos dois. ergueu o olhar para mim e Claire afastou a boca de seu pescoço.
– V.V., você está...
– Cale a boca – cortei-a com raiva. Depois me virei para e disse: – Você tem dez segundos para tirá-la do seu colo.
– Ou...? – perguntou ele, erguendo a sobrancelha.
– Não falo mais com você.
– Você nunca conseguiria – disse o garoto.
– Está mesmo a fim de me desafiar? Vou começar a contar – falei, apontando.
Ele bufou e afastou Claire.
– É só um minuto. Tudo bem? – disse ele, beijando a bochecha dela.
Ela deslizou a mão pela coxa dele e respondeu:
– Vá. A sua V.V. está precisando de atenção.
se levantou e o puxei pelo braço até algum lugar.
– Qual é o seu problema? – perguntei alto.
– O meu problema? Qual é o seu?! – disse ele.
, ela é a Claire Zizes, ex-namorada do seu amigo e a encarnação do inferno na minha vida!
– Na sua vida, . Não na minha – disse ele.
Suspirei e peguei a mão dele.
– Sei que o magoei quando disse aquilo mais cedo. Não era a minha intenção, mas sei que doeu. Desculpe-me. Eu estava com ciúmes.
Ele me olhou com uma cara meio confusa.
– Não vou deixar de pegar a Claire por isso, contudo as suas desculpas estão aceitas – disse ele, virando-se.
, não acabei. Só porque em um momento de irritação eu disse algo que feriu os seus sentimentos não significa que você tem o direito de se vingar de mim ficando com ela.
– Deixe de ser egocêntrica. Não estou a pegando por sua causa. Estou pegando a Claire porque ela é a garota mais gostosa da cidade e está me dando mole.
– Que pena que não é ela quem você quer. Certo? – falei, aproximando-me dele. – , o aviso vai ser único. Se eu descobrir que você ficou com ela, vou considerar traição da sua parte. E você sabe que não perdôo traição. Não sabe?
Ele ficou em silêncio por um longo tempo. Depois balançou a cabeça e disse:
– Não vou deixar de ficar com ela por você.
– Ótimo. Troque-me por ela. Finja que não existo – falei, virando-me para sair. – Eu não sou mais nada sua.
– Você nunca foi – disse ele baixo, entretanto não baixo o suficiente.
Quis chorar. Por que aquilo estava acontecendo? O meu melhor e único amigo ia ficar com a CLAIRE, com ela, que sempre fez de tudo para me infernizar.
Antes que eu pudesse perceber, lágrimas brotaram e caíram. Virei-me novamente para dizer uma última coisa.
– Eu te amo – falei. – Você é a pessoa que mais amo nessa vida. Não posso acreditar que vai fazer isso comigo... Vai me deixar.
Naquele momento, pareceu amolecer. Toda a raiva em seus olhos sumiu e uma expressão meio balançada tomou o seu rosto.
... , eu...
Eu já estava soluçando como uma idiota.
– Não diga mais nada. Vou embora. Não me procure.
Virei-me e saí marchando com o coração completamente despedaçado. O único amigo que tive na vida tinha me abandonado por uma ficada... Com a Claire Zizes.
Funguei, caminhando em direção à estrada. Ótimo. Voltar a pé. Amaldiçoei-me por ter vindo de chinelos e sem o celular. A verdade é que nunca achei que fosse precisar. sempre me levava e buscava nos lugares, independente da hora. O que eu podia fazer era andar até achar um ponto de ônibus que fosse ao centro da cidade.
Foi aí que a saga se completou. Andando pela estrada, tropecei numa pedra e caí de mau jeito, sentindo o meu tornozelo virar. Gritei de dor ao tentar me levantar. Maravilha. Então chorei que nem um bebê. Eu estava fodida. Perdida numa estrada, sozinha, sem celular e com o tornozelo virado.
– Oi, – ouvi alguém dizer na minha frente.
Puta merda, eu devia estar alucinando. A dor tinha me deixado louca. estava realmente ali? Parado na minha frente?
– Você é um holograma? – perguntei, secando as lágrimas.
Ele sorriu.
– Nah. Só um plebeu que não gosta de ver s chorando.
– Vá embora – falei. – Não quero você aqui. Vá ficar a Claire – falei.
– Não vou, não. Sabe por quê? Porque eu te amo, , e, como você mesma disse mais cedo, é a única que importa.
Levantei o olhar para ele e fiz um bico. Ele sorriu todo fofo.
– Mesmo? – perguntei como uma criança birrenta.
Ele se abaixou e colou as nossas testas. Depois me deu um selinho. Nem ousei me afastar. Aquilo podia significar milhões de coisas, porém apenas um dos significados realmente importava. estava ali comigo e era isso apenas.
– Isso responde a sua pergunta?
– E a Claire? – perguntei.
– Ela ficou lá. Voltei e disse que não podíamos ficar.
– E o que ela disse?
– Xingou-me e disse que um dia eu ainda ia me arrepender. Respondi que não, porque, afinal, eu estava indo ficar com a minha .
Dei outro selinho nele.
– Você me leva no colo?
– Birrenta.
Ele me puxou e me carregou. Olhei para o pescoço dele que estava cheio de marcas.
– Essas líderes de torcida são meio animais – falei, desenhando as marcas com as unhas.
– Não as culpo. Olhe só para mim. Sou uma delícia – disse ele.
– Convencido. Aposto que de delícia você não tem nada.
– Já lhe disseram que não se dá opinião sobre coisas que não se conhece? – disse ele.
– Eu conheço você – falei.
– Mas nunca provou.
– Não preciso disso para tê-lo só para mim – retruquei.
– É verdade. Você só precisa existir. Isso basta.
Trocamos sorrisos cúmplices e aninhei o meu nariz em seu pescoço. Não resisti em dar uma mordidinha só para provar.
– Droga, é verdade. Você é mesmo delicioso – comentei, rindo.
– Bom, eu avisei. Mas suspeito que você seja também. Enfim, talvez eu prove mais tarde.
E assim estávamos novamente. Eu e ele, ele e eu. Senti como se aquele momento fosse infinito.


TRÊS


– Você não precisa fazer isso se não quiser – disse .
Estávamos os dois parados na porta da Ambler High e era o primeiro dia de aula. Dia do teste para entrar para a equipe das torcedoras. Dia em que eu poderia ou reacender das chamas ou ser completamente enterrada socialmente. Sentiu a tensão?
– Tenho que fazer isso. Se eu não fizer... – falei nervosa.
– Se você fizer esse teste, pode mudar tudo. Se não fizer, vai ficar do jeito que está – disse ele.
– Quero fazer – insisti. – Porém estou nervosa. Principalmente porque a Claire é quem fica fazendo as inscrições. Elas todas vão estar lá na hora de aplicar o teste.
– Mas aquelas meninas não disseram que a escola teria uma técnica? Com uma treinadora, a Claire não tem nenhum poder significativo – disse o menino.
– Mas eu estou com medo, – falei, fazendo bico.
– Você quer que eu vá com você na inscrição?
Dei um sorriso e perguntei:
– Você faria isso?
– É claro – disse o garoto, dando de ombros.
– Eu já disse que você é o melhor? – perguntei.
– Acho que já, mas nunca deixe de repetir – disse ele, passando o braço pela minha cintura e me guiando para dentro da escola.
Eu sempre sentia um frio na barriga toda vez que entrava lá. Aquele lugar me trazia más recordações, porém ali, segurando a minha cintura, fazia-me sentir bem.
As pessoas nos olhavam. Os meninos que passavam cumprimentavam . As garotas ou me ofendiam ou lançavam um olhar invejoso a mim. Era engraçado como todas elas morriam de inveja do fato de ele ser o meu melhor amigo e nada delas. Caminhamos até o stand onde Claire estava sentada. Ananka estava à sua direita e à esquerda, uma moça loira aparentando não ter mais que trinta anos. Acima, havia uma placa escrito: “Quer fazer parte das Warriors da Ambler High? Inscreva-se aqui!”.
não me soltou. Paramos na frente da mesa e eu disse, voltando-me à moça loira.
– Oi. Eu gostaria de fazer a inscrição.
Claire e Ananka começaram a gargalhar sarcasticamente.
– Você está brincando. Certo? – perguntou Claire.
– Suma daqui, V.V. – disse Ananka.
– Desculpe-me – disse a mulher. – Mas eu já disse a vocês duas que todas podem fazer o teste. Sou Diana Morris.
Sorri. Ela provavelmente era a nova treinadora das líderes.
– Ah, é um prazer. Sou – falei, sorrindo.
– Acho que a minha filha e as amigas dela falaram com você... Vejo que deu certo – disse a mulher, anotando o meu nome. – Finalmente tomou coragem para voltar ao time.
– Ela nunca vai voltar ao time. Sem chance – disse Ananka.
– Eu já disse a vocês duas que eu mando a partir de agora. Essa menina foi a melhor líder de torcida da divisão de base da Pensilvânia. Se ela for bem no teste, vai entrar na equipe.
– Se ela ousar voltar... – disse Claire com ódio no olhar. – Vai ter o pior ano da vida dela.
– Você fez da minha vida aqui um inferno, Claire. Nada pode piorar – falei, assinando o meu nome na lista.
– Pode apostar que vai... – continuou ela. – Piorar muito.
– O teste é às três. Não deixe de aparecer, – disse Diana com uma piscadela.
– V.V., você está muito ferrada. Vai ficar sozinha, excluída e com a fama cinco vezes pior – sussurrou Claire.
Foi aí que agradeci por estar ali.
– Sozinha não, Claire. Ao contrário de você, tem um cara que se importa com ela e larga qualquer coisa por sua causa – disse ele baixinho.
– Vou guardar bem essas palavras, . Quando a sua V.V. estiver no lixo e você vier me seguir como um cachorro, vou lembrá-lo delas.
– Claire, nunca vou segui-la. Nunca vou seguir nenhuma de vocês. Sigo garotas. Não vadias no cio.
Claire ficou vermelha e dei um beijo na bochecha de .
– Vamos, príncipe – falei, segurando a mão dele e o fazendo rir.
– Claro, .
Dei uma última olhada para trás, vendo Claire e Ananka trocando palavras com expressões absolutamente chocadas. Sorri internamente e continuei caminhando com ao meu lado.
– Viu só? Você foi excelente – disse ele.
– Não teria sido, se você não estivesse ali – completei, afagando o rosto dele e atraindo olhares raivosos de meninas à nossa volta.
Então ele me abraçou e senti o seu nariz roçando deliciosamente em meu pescoço.
– Tenho que ir para a aula. Prometa que vai se cuidar – disse.
– Prometo – falei, acariciando os cabelos dele.
Ele deu um beijinho em meu pescoço e me soltou, virando-se. Lançou-me um sorriso perfeito e depois foi para a aula.
O dia seguiu comum. e eu éramos de séries diferentes. Por isso não tínhamos aula juntos. Apenas o almoço. Como ninguém na escola falava comigo além dele, eu geralmente ficava bastante sozinha nas aulas, ou então sendo atormentada por Claire e suas amigas. Mas eu já era bem acostumada com isso e até lidava muito bem com a situação.
Depois do almoço, tive aula de cálculo. Quando acabou, ao sair da sala, surpreendi-me com parado ali na porta, vestindo o seu uniforme de futebol e segurando a minha bolsa de ginástica rosa.
– São quinze para três. Eu trouxe as suas roupas de ginástica. Vou assistir ao seu teste – disse ele.
– Obrigada – respondi, dando um beijo na bochecha dele. – Vai assistir por quê?
– Porque o teste para o futebol americano é hoje também, no mesmo campo – respondeu o rapaz.
– E por que vai assistir ao teste das cheerleaders? – perguntei confusa.
– Se você fosse um cara, o que preferiria assistir: a um bando de caras suados correndo, caindo um em cima do outro, ou a um bando de gostosas empinando a bunda com pompons?
Fingi uma expressão pensativa.
– Considerando a quantidade de gostosos que tem no time de futebol, eu escolheria a primeira opção.
– “Quantidade de gostosos”? O time de futebol não tem “gostoso”. Tem um “gostoso” que não vai fazer o teste. Ele vai assistir à amiga chata dele tentar pela qüinquagésima vez entrar para as líderes de torcida.
– Sou chata, mas você me adora – falei, rindo.
– Adoro você de roupa de ginástica. Isso, sim – rebateu ele.
– Idiota – resmunguei, dando um soco em seu braço.
E assim seguimos para o teste. Quando chegamos ao campo gramado, despedi-me de e fui ao vestiário trocar de roupa. No caminho, ouvi vários comentários agressivos vindos da parte das outras torcedoras. Provavelmente todas estavam tão chocadas quanto Claire. Vesti um top rosa claro que ia até a metade da barriga e um short saia da mesma cor com os tênis de sempre. Saí do vestiário usando toda a confiança que eu tinha. Sorri ao ver e os outros meninos do time de futebol à beira do campo. , que estava do lado de , acenou para mim. Respondi brevemente. Depois pisquei para eles e fui aquecer.
, Amber e Courtney estavam lá também. Elas acenaram para mim e andei até elas.
– Você veio! – disse surpresa.
– Estamos felizes por isso – falou Amber.
– Estou muito nervosa – admiti. – Há anos não torço.
– Você vai ser ótima. A minha mãe disse que as garotas estão iradas porque você voltou – comentou Courtney.
– É. Não sou muito querida nessa cidade.
– Vamos mudar isso – disse com uma piscadela.
Nessa hora, Claire e a sua trupe entraram no campo e se postaram no meio, enquanto analisavam as candidatas.
– Ela tem cara de má – disse Courtney, analisando Claire.
“Ela é má”, veio à minha cabeça.
Mas antes que eu pudesse verbalizar o meu pensamento, a treinadora falou.
– ATENÇÃO, MENINAS! – quando todas se voltaram, ela retomou. – Para quem não me conhece, sou Diana Morris, ex-treinadora das Blue Jeans da Califórnia, e esse ano vou treinar vocês. Andei olhando a retrospectiva das Warriors em campeonatos e vocês são patéticas.
As meninas, que já eram do tipo, soltaram grunhidos de desaprovação. Claire apenas estreitou os olhos de raiva.
– Por isso estão todas cortadas da equipe – disse Diana, dando de ombros.
Claire e a trupe de torcedoras começaram a gritar freneticamente coisas do tipo: “isso é um absurdo”, “não vou fazer teste!”.
– Meninas, sem algazarra. Vocês conquistaram os seus postos uma vez, então podem conseguir de novo. A não ser, é claro, que não estejam nessa equipe por talento, e sim por outros motivos – disse Diana. – Não vou fazer teste – disse Claire. – Sou capitã dessa equipe há dois anos e fui a terceira melhor cheerleader da Pensilvânia nas divisões de base. Não vou me rebaixar a isso.
– Se for assim, eu, Court e Amber deveríamos ser coroadas rainhas da escola – disse . – Afinal, somos as top três do país inteiro.
– É. E a também, porque ela foi a número um da divisão de base na Pensilvânia – completou Courtney.
– A V.V. teve a chance dela. Quem mandou não saber se comportar? – perguntou Ananka com raiva.
– Desculpe. Da próxima vez, vou ser como você, Ananka. Ao invés de vadia virgem, serei só vadia mesmo – retruquei.
Todos começaram a rir. Principalmente os meninos que assistiam do lado de fora. Eles começaram a gritar: “V.V.! V.V.!”, como se aprovassem o que eu estava dizendo.
– Meninas, acabou a baixaria. É simples. Todas farão o teste. Se forem boas o suficiente para conquistar a vaga, parabéns. Se não... Sinto muito. Ah, e só para constar... Claire Zizes não é mais a capitã. O time fica sem capitã até que eu decida quem é a pessoa certa para isso – disse Diana.
Eu podia jurar que Claire mataria a treinadora.
A primeira parte do treino foi dança. Tentei me concentrar em imitar os passos de Diana sem ouvir os comentários desrespeitosos que os meninos faziam do lado de fora. Concentrando-me, fui bem.
A parte onde mostrávamos as nossas habilidades como ginastas foi ótima para mim, mas um fiasco no geral. Metade das meninas que estavam na equipe principal não sabia fazer as piruetas exigidas por Diana. Eu, como nunca tive dificuldade em nenhuma especificamente, fui bem.
No fim, Diana simplesmente foi para a frente com um papel na mão.
– Meninas, atenção. Vou ler os nomes das selecionadas para a equipe principal e para as reservas. Se eu chamar o seu nome, vá até a mesa e pegue o seu kit que contém uniforme, uniforme de treino, adereços de torcida, meias especiais e casaco. Fizemos novos e adaptados. Atenção, então.
Todas se calaram.
– Equipe principal: , Courtney Morris, Amber Tate... – elas se levantaram juntas sob aplausos. – Alice King, Kate Harris, Jessica Anderson... – meu nervosismo cresceu. – Jennifer Allen, Mary Jules, Hannah Koelsh... – nesse momento, tive certeza de que não seria selecionada. – Kayla Commeti, Claire Zizes e por fim... .
Todo mundo ficou com a cara no chão. Até eu.
Quase todo mundo da equipe principal tinha saído e EU, a vadia, a banida, a exilada, estava ali.
– Equipe reserva – anunciou Diana. – Caroline Hampton, Lucy Jonah e Ananka Miller.
ANANKA REBAIXADA A RESERVA! Deus, estava sendo o melhor dia da minha vida.
Peguei o meu uniforme e recebi um abraço de .
– Estou tão feliz por você. Todas nós estamos – disse ela.
– É, . Você foi ótima – disse Courtney, apertando os meus ombros.
– Obrigada, meninas – agradeci. – Vou ao vestiário me trocar.
, a sua mãe tem uma loja de perfumes? – perguntou-me Amber.
– Tem. Por quê?
– Passamos lá mais tarde. Temos um convite para lhe fazer – disse Courtney.
– Tudo bem. Até mais tarde – respondi com um aceno.
Foi o banho mais gratificante de toda a minha vida. Estava radiantemente feliz. Era eu de volta. Eu estava na equipe. Nunca mais precisaria escolher uma roupa de manhã. Eu tinha um uniforme. Era uma Warrior de novo. Ah, meu Deus, como eu estava me sentindo bem.
Vesti o meus jeans e a minha blusa de manga três quartos. Calcei os tênis e penteei os cabelos. Quando eu estava saindo do vestiário, vi um grupo de meninas (vulgo, demônios disfarçados de meninas) parado à porta. Claire, Ananka e a sua trupe de líderes de torcida falidas.
– Dá licença? – falei.
– Não. Ainda não – disse Ananka.
– V.V., você foi uma menina má. Desobedeceu-me – disse Claire.
Gargalhei.
– Ah, ‘ta, Claire. Eu a obedeço desde... Hã... Nunca – falei ironicamente.
– É uma pena para você – disse ela. – Realmente uma pena, porque está morta.
Fingi uma expressão amedrontada.
– Ai, você me dá licença? É que fiquei tão assustada agora que preciso ir para casa chorar – zombei.
– Você vai ficar sem nada, . Vai se arrepender de ter entrado no nosso caminho – completou Ananka.
– Você realmente devia ir para casa chorar, V.V. Chore enquanto pode, porque vai sofrer tanto que não vai nem mais soltar lágrimas. Você vai se matar – disse Claire.
– Oh – falei, fingindo secar uma lágrima. – Então acho que vou fazer exatamente isso. Melhor! Farei isso nos braços do – alfinetei. – Ele tem braços maravilhosos, né? Fortes, musculosos... Nossa, uma delícia. Pena que só eu posso. Não é?
Claire e Ananka pareciam prestes a explodir. As outras continuavam robóticas atrás com expressões maldosas e mãos na cintura.
Empurrei-as e saí. Nada podia me abater naquele momento. Quando saí, atravessando o campo, passei em frente aos meninos que estavam lá. Vários deles começaram a gritar coisas do tipo: “V.V. gostosa”, “V.V., quero ver você fazer aquela dancinha para mim”. Apenas ignorei, sorrindo.
Então vi . Ele parou exatamente na minha frente com um sorriso.
– Parabéns, estrelinha. Você está de volta! – disse ele.
– Obrigada – respondi, corando. Ai, droga. Eu odiava essas reações corporais que eu tinha perto dele.
– Bom... Espero que você se saia bem e que nenhuma acusação injusta a atrapalhe dessa vez – disse ele.
– Obri... Espere aí. Como você sabe que a acusação que me tirou das torcedoras foi injusta?
– Você está falando com o cara que namorou por um ano Claire Zizes. Acha que não sei as sujeiras dela? – perguntou ele. – Bom, , tenho que ir. Parabéns.
Ele me deu um beijo na bochecha e saiu andando. Fiquei estática por alguns segundos com a mão afagando o lugar que os seus lábios haviam tocado. Não consegui reprimir um sorriso.
Procurei pelo campo, porém ele não estava. Resolvi então ir até o carro esperá-lo. Encostei à porta da picape Ford e consultei o meu relógio.
– Bu – ouvi atrás de mim.
Não me assustei. Apenas me virei rápido e sorrindo.
? Você viu? – falei sem consegui esconder a felicidade.
– Que você está dentro? Claro. Não perderia por nada – disse ele, sorrindo.
Dei um pulinho.
– Estou tão feliz! – falei.
– Também estou feliz por você. Por isso resolvi lhe dar isso – disse elem entregando-me uma caixinha de presente. – Parabéns.
Olhei a caixinha, sorrindo.
– Ah, , não precisava – falei.
– Abra – disse ele.
Abri. Era um cordão com um pingente de menina vestindo um uniforme de líder de torcida e segurando dois pompons.
– Isso é muito fofo. E muito lindo – falei. – Obrigada.
– Comprei há dois anos. Ia lhe dar de aniversário, mas como foi expulsa da equipe, achei que a deixaria triste. Então resolvi entregar hoje – disse o menino, sorrindo fofo.
Afastei os cabelos do pescoço, indicando para que ele colocasse o cordão, e o garoto o fez.
Então lentamente me virei. As mãos dele seguraram a minha cintura e um sorriso brotou em seus lábios.
– Você estava incrível lá – disse ele.
– Você foi incrível indo assistir a mim. Ajudou-me demais e ainda me deu esse cordão lindo! Se tivesse algo que eu pudesse fazer para agradecer, eu...
– Na verdade, tem – disse ele, cortando-me.
– E o que é? – perguntei, sorrindo.
– Isso.
E ele me beijou. Naquele momento, senti-me completa como nunca. era bom demais para ser de verdade. Simplesmente senti como se eu tivesse nascido para beijá-lo. Ele era tudo o que eu queria.
Mas era só meu amigo. Certo? Aquilo era só atração, não? Eu esperava que sim.


QUATRO


A minha posição naquele momento era muito inadequada. Inadequada e nada convencional.
O meu turno na loja da minha mãe em dias de semana era das quatro às sete. Cheguei meio atrasada para começar, já que eu e tivemos um estranho “contratempo”. Mamãe não gostou do atraso. Por isso ficou me fazendo várias perguntas sobre onde eu estava, o que estava fazendo...
E , que estava ao meu lado, apenas disse:
– Tia Jude, ela entrou para as líderes de torcida de novo.
A minha mãe ficou tão feliz que me deu a tarde de folga. Ela tinha ficado muito chateada com toda aquela história de reputação ruim e de eu ter sido expulsa das líderes... E entendo o lado dela. Imagine ser mãe da menina que tem reputação de vadia virgem. Devia ser horrível ouvir as pessoas falando absurdos sobre mim.
Mamãe parecia acreditar que aquilo era um recomeço na minha vida social destroçada e problemática e eu também acreditava nisso. Por isso, assim que deu a maravilhosa notícia, ela decretou que ele deveria me levar para comemorar. E, bem, depois do que tinha acontecido mais cedo, eu não poderia esperar uma comemoração muito diferente dessa.
Estávamos trancados nos fundos da loja. Minha mãe e estavam trabalhando. Assim, nem iam lá. E só a tinha a cópia da chave. Então estávamos parcialmente seguros.
Eu estava sentada na mesa de madeira onde e eu empilhávamos os sabonetes cheirosos. Ele estava encaixado entre as minhas pernas, segurando a minha cintura com força. Eu tinha minhas mãos em seu pescoço e os nossos lábios estavam grudados. A sensação de beijá-lo era uma das melhores que eu já havia experimentado. Não era a primeira vez que eu o beijava, mas não me lembrava de ter me sentido assim antes. Tudo era tão encaixado, tão estupidamente bom... Chegava a irritar. O cheiro dele, os músculos perfeitos, as mãos fortes, os lábios macios, o hálito quente, o gosto de chiclete e refrigerante da boca dele... Tudo era incrível.
Separei os nossos lábios e fui direto ao pescoço dele. Vi marcas ali. Aliás, ali estava sempre marcado por outras. Aquilo me deu raiva - pensar em outras com ele -, porque agora eu tinha certeza. Mesmo que aquilo fosse só uma atração doida, era meu. De alguém devia marcá-lo, esse alguém era eu.
– disse ele, ofegando. – ...
Afastei-me e afaguei o seu pescoço.
– Está tudo bem? – perguntei.
– Hã... Está. Só acho que a gente devia sair daqui. Posso levá-la para jantar... Podíamos comemorar e tal... – disse ele.
– Jantar parece legal – falei. – Mas daqui a pouco. Venha – eu disse, puxando-o de volta.
Foi a vez dele de atacar o meu pescoço.
– Quem é você e o que fez com a minha ? Está toda animada me beijando. Tento beijá-la todo dia e você nem percebe – disse ele num sussurro.
– É verdade. Não percebo. Porque se eu tivesse percebido, isso já estaria acontecendo há muito tempo – respondi maliciosa.
Ele riu e voltou a me beijar. Foi aí que algo interrompeu. A porta se abriu e eu e nos separamos exaltados.
entrou no quarto e exclamou um “opa” com uma cara surpresa. Não estávamos nos beijando quando ela entrou, mas provavelmente nossos estados denunciavam o que fazíamos antes de ela chegar. Tirei os braços do pescoço de numa tentativa de fazer a situação não parecer tão comprometedora.
– Desculpe interromper... É que preciso pegar um... Sabe... Para uma cliente e... Ah, volto depois – disse ela envergonhada.
– Não, . Tudo bem – falei, descendo da mesa. – Não estávamos fazendo nada.
Ela ergueu a sobrancelha de um jeito divertido e foi andando até o armário.
– É claro que não estavam – disse, soando meio irônica.
parecia meio descontrolado. Facilmente percebi que o seu descontrole não tinha a ver com o quase flagra.
– Preciso ir ao banheiro. Com licença – disse ele, saindo rápido.
começou a rir quando o cara saiu.
– Está rindo do que, sua mongol? – perguntei irritada.
– Eu sempre soube que vocês se pegavam – disse ela. – SEMPRE!
– A gente não estava se pegando – falei. – A gente não se pega.
– Ah, então essa mancha vermelha do seu pescoço é alergia, né? Porque, Deus, está enorme – disse ela, gargalhando.
Olhei no espelho a minha situação. Pescoço vermelho, blusa esgarçada e os cabelos bagunçados.
– ‘Ta. Tudo bem. Eu confesso. A gente estava se pegando – falei. Quando riu vitoriosa, completei: – Mas não é sempre!
– Hoje foi a primeira vez? – perguntou ela curiosa.
– Não – respondi, corando. – Mas a última vez foi há muito tempo.
– Você é uma safada – disse a menina, rindo. – Tirando uma casquinha do amigo bonitão, enquanto todo mundo pensa que vocês são só amigos... A mim você não engana, sis.
– Cale a boca – falei, mandando o meu dedo médio para ela e saindo do quartinho.
Quando fui para a frente da loja, conversava com a minha mãe. Achei estranho ele ter saído do banheiro tão rápido, mas sorri ao vê-lo mais calmo.
– Filha! – disse a minha mãe, parecendo animada. – Estávamos falando sobre você.
– Ah, é? Espero que seja bom – respondi, parando ao lado dela.
– Isso já é pedir demais, – retrucou , dando uma piscadela que quase fez o meu coração parar.
Como é que se respira mesmo? Eu me esqueci.
– Na verdade, estávamos planejando como vocês poderiam comemorar e o sugeriu um jantar – disse ela. – Eu particularmente adorei a idéia e por isso marquei uma hora para você na Kempton’s. Vocês vão jantar no Jardillas hoje.
Que maravilhoso!
Kempton’s era uma loja de roupas maneira de Ambler, onde você comprava a sua veste com consultoria de especialistas e depois tomava banho, fazia cabelo e maquiagem... Enfim, saía de lá prontinha para qualquer evento social. E Jardillas era o único restaurante chique de Ambler. Não era algo comum para a minha pessoa ir até lá. A minha mãe não era rica. Geralmente era freqüentado por casais porque tinha vários lounges, andar de boate, espaço para dançar... Ou seja, era muito legal. Só não entendi porque a minha mãe tinha pagado esse programa caro para mim. Aliás, para mim e para o , o que era duplamente estranho.
– Mãe, você é linda. Sabe que não precisava – falei.
– Bom, não paguei nada – disse ela, erguendo as mãos como se estivesse se rendendo.
Olhei para confusa.
– Vamos dizer que foi um presente do bonzão aqui com uma pequena ajuda do tio John – disse ele, sorrindo.
AH, QUE IRADO! Que fofo, que lindo, que tudo!
Dei um gritinho e voei nele. Comecei a beijar as suas bochechas.
– Amo você, amo você, amo você! – gritei. – Você é o melhor!
E, na hora da empolgação, meio sem querer querendo dei um selinho nele. ficou vermelho, provavelmente por causa da presença da minha mãe. Eu não fiquei.
– Desculpe por esse selinho. Foi sem querer – falei com a cara mais cínica do mundo.
– Mas logo não será – disse a minha mãe, erguendo a sobrancelha e sorrindo.
– Mãe! – briguei.
– Ah, vocês dois deviam ficar juntos! Ia ser perfeito.
– Vou fazer o possível, tia Jude – disse , sorrindo. – Ela ainda vai ser minha. Pode escrever.
– Que lindos! – mamãe falou, batendo palminhas animadas. – Ah, você, vá logo. A sua hora marcada é às seis.
– Vou buscá-la lá, já pronto, ás oito. Tudo bem? – perguntou .
– Sim – respondi. – Você me dá uma carona até a loja?
– Claro – disse ele.
– Ah, – disse a minha mãe quando eu estava saindo. – Antes que eu me esqueça, uma garota chamada passou aqui e pediu para entregar isso a você.
Mamãe me entregou um envelope. Era branco e estava escrito à mão em preto: “Para e ”. Enquanto saíamos da loja, abri o envelope e li o conteúdo.
– falei perplexa. – Isso é um convite para uma festa.
Ele puxou o envelope das minhas mãos.
– Festa latina, sexta que vem às oito – leu. – Ah, não vamos desperdiçar, né? Bebidas de graça. Podíamos ficar juntos... – disse, aproximando-se e cheirando o meu pescoço.
Acariciei a nuca dele.
– É Claro que não vamos desperdiçar. , fui convidada para uma festa! Ninguém me convida para festas – falei animada e surpresa.
– É, mas agora você voltou ao topo. Prepare-se. Duas festas por semana – disse ele. – Não que eu vá deixar você beber, dançar ou algo assim.
– Você é chato para caramba – falei, entrando no carro.
Quando chegamos até a loja, despedi-me.
– Prometo ficar bem linda para valer o dinheiro que você gastou – falei, sorrindo.
– Tudo bem. Só tente não humilhar as outras meninas. ‘Ta? – respondeu ele, afagando o meu rosto.
Beijei–o e falei:
, o que fiz com você? Está tão romântico.
Ele riu.
– Até de noite – disse.
– Até – falei, saindo do carro.
A Kempton’s era muito divertida. Várias vendedoras e consultoras de moda a cercando, certificando-se de que você ficaria linda... E eu realmente gostei do resultado no fim.
Eu estava pronta em frente a um espelho, usando um vestido azul escuro colado com a alça no pescoço e um salto preto de bico redondo. Os meus cabelos estavam lisos em cima e cacheados nas pontas e a minha maquiagem era escura e bem bonita. Eu geralmente não me sentia bem comigo mesma. Acho que pelo fato de nunca sair com ninguém e tudo mais... Porém, naquele momento, consegui me achar linda e isso me deixou feliz.
– Senhorita – disse a recepcionista. – Já tem um carro a aguardando lá fora.
– Obrigada – respondi. Despedi-me das consultoras de moda e maquiagem e fui para o lado de fora da loja.
estava encostado a um Jaguar preto, usando uma blusa de botão preta e uma calça jeans social. Os seus cabelos estavam meio arrumados e meio jogados. A blusa havia sido dobrada no cotovelo.
– Oi – disse ele, olhando-me de cima abaixo. – Wow, você está... Hã... – ele pareceu nervoso. Ergui uma sobrancelha, esperando uma resposta. – Linda. Eu pedi para não humilhar todo mundo, mas parece que você não conseguiu.
Ri.
– Você é tão legal comigo. Realmente não estou feia, mas “humilhando todo mundo” seria bem difícil – respondi, indo até ele.
– Acho que você faz isso sem nem tentar. Por isso é que a odeiam – disse, afagando o meu rosto.
– Eu te amo muito, – falei. – Você é o melhor amigo desse mundo.
mudou de feições. Parecia levemente irritado.
– Melhor amigo? – disse ele, soltando o meu rosto. – Ok, então.
– Ei – falei, colocando as mãos em suas bochechas. – O que foi? Você é, sim, o meu melhor amigo.
– É, – disse ele, soltando-se de mim. – Bem, vamos logo. A gente não quer se atrasar.
Entrei no carro e percebi então que a picape Ford não era a escolhida do dia.
– Cadê a picape? – perguntei.
– Não quis sujá-la – respondeu ele.
– Ah, certo. Você não quis sujar a picape num restaurante chique. Por isso trouxe o Jaguar do seu pai – rebati irônica. – Admita que você pegou o carro porque é uma ocasião especial.
Ele travou a mandíbula e ficou em silêncio.
Eu realmente não estava entendendo o que estava havendo. Estava todo fofo e agora estava assim, frio e estranho... Havia ficado assim desde que eu dissera que ele era meu melhor... Amigo.
Ah, não. Não era possível.
, você está assim por que eu disse que você é o meu melhor amigo? – perguntei perplexa.
Ele me olhou com uma expressão tonta.
– Não! – negou rápido.
– Você é o meu melhor amigo, sim – confirmei, ignorando o “não” dele. – Mas isso não o impede de ser outras coisas também.
Ele riu, parecendo mais calmo.
– Marido, por exemplo? – brincou ele.
– É. Marido, por exemplo – respondi, chegando perto dele e dando um beijo na sua bochecha.
E o resto do caminho foi tranqüilo.
O Jardillas era o restaurante mais chique de Ambler. Tinha três andares e ambientes diferentes: um para jantar, o segundo para casais com musiquinhas melosas e sofás de pegação, e o terceiro andar era uma mini-boate (praticamente a única da cidade).
Quando chegamos, recebemos um cartão VIP, o que significava que tínhamos acesso às três áreas. Estranhei.
– Por que você comprou um cartão com acesso a todos os ambientes? Só o primeiro e o terceiro estavam ótimos.
– Você nunca sabe o que vai querer fazer à noite, . E nós dois podemos precisar do segundo ambiente – disse ele, erguendo a sobrancelha malicioso.
Apenas ri e subi com ele.
Nós dois pedimos o nosso prato preferido de todos os restaurantes: costeletas com molho barbecue. Ok. Sei o que você deve estar pensando: que eu me arrumei toda, fiquei linda e tudo mais para depois ir comer uma costela nojenta com molho. Mas o motivo da minha arrumação é o . Não, não preciso me importar.
– Essa costela é oficialmente a melhor da cidade – disse , limpando a boca vermelha e perfeita.
Droga. Sem tara, .
– Esse restaurante é o melhor da cidade. Tudo aqui é lindo – falei, sorrindo e olhando em volta.
– Bom, sou incrível cortejando garotas. Pode falar – disse ele com um ar convencido. – Tudo bem que a maioria se contenta com o banco de trás da picape, já que sou a companhia da noite, mas se a quer assim, assim a terá.
– Você não é ótimo cortejando garotas – falei, aproximando os meus lábios do ouvido dele. – É ótimo fazendo tudo que quero.
Senti o pescoço dele arrepiar quando os meus lábios tocaram o lóbulo de sua orelha. Ah, eu estava o provocando.
– N-não sou, não – respondeu ele, arfando.
– É, sim – respondi, descendo os lábios para o pescoço dele.
– Pare com isso. Você vai se arrepender – ameaçou ele.
– Ah, vou? – falei. – Engraçado... Você é quem está arrepiado. Sabe por quê? – sussurrei. – Porque quero que fique. E, como eu disse antes, você faz sempre o que eu desejo.
– E nunca sou minimamente recompensado por isso – rebateu, acariciando a minha nuca.
– Você nunca pediu para ser recompensado – ressaltei.
Ele me olhou de um jeito muito estranho, como se estivesse me despindo com os olhos. Parecia um maníaco.
– Segundo andar me parece uma boa – disse o rapaz, abandonando o jantar e me puxando.
Ri com o descontrole dele, que me levava afoito pelas escadas do restaurante.
O segundo ambiente, ao contrário do primeiro, quase não tinha luz. A música era lenta e vários casais dançavam no meio. Pequenos sofás para duas pessoas estavam espalhados por todo o andar. Eram tantos que, se todos os casais se sentassem, ainda haveria espaço para mais gente.
me puxou para um sofá bem no canto e me colocou no colo dele. Sentei-me em cima de suas coxas com o meu corpo virado de lado. Quando ele se inclinou para me beijar, eu disse ironicamente:
– Você nem tenta conquistar a menina primeiro? Já parte logo para a ação?
O garoto colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e os seus lábios se aproximaram do local para sussurrar:
, venho tentando conquistá-la desde os meus sete anos de idade, quando percebi que eu a... – parou e consertou a frase. – Que eu queria você.
Então senti medo. “Que eu a...”.Caramba, o ... Não. Ele não podia gostar de mim dessa maneira. Eu não gostava dele desse jeito mesmo! Eu amava o , com certeza. Era por causa do que eu corava, por causa dele que já chorei inúmeras vezes, por causa dele eu me arrumava do jeito mais lindo que conseguia para ir à escola.
Então por que eu estava no colo do , sem conseguir tirar os meus olhos dos dele e parar de pensar em como era perfeito beijá-lo? Aquilo era uma atração doida. Só podia ser, das duas partes. Até porque o nunca amava. Ninguém. E eu já amava alguém. Aquilo era atração acumulada por anos. A gente se conhecia perfeitamente bem em todos os aspectos, menos nesse. Era só isso. Ansiedade para conhecer o que era “obscuro” um no outro. Não podia ser mais que isso.
– falei séria. Os olhos dele encontraram os meus rapidamente e quase me esqueci do que queria falar. Recuperei-me, quebrando o contato. – Não sei se continuar com isso é uma boa idéia.
– Isso? – ele perguntou confuso, soltando a minha coxa, pensando que eu me referia àquele toque maravilhoso.
– Não – falei, pegando a mão dele. – Quer dizer... Sim. Sei lá. Estou falando dessa pegação. Isso é errado.
Era hora do payback dele. Droga.
Ele encostou os lábios dele ao meu pescoço e deu uma mordida.
– É errado por quê? – disse o menino, continuando a dar pequenas mordidas.
– Porque a gente não se ama assim. É errado – falei, sem conseguir evitar colocar os dedos em seus cabelos.
– Você gosta de errar assim? – perguntou ele.
Arrepiei-me instantaneamente.
Ele continuou beijando e mordendo a pele fina do meu pescoço. Não respondi. Então as mãos dele começaram apertar as minhas coxas por dentro e por fora do vestido.
– Perguntei uma coisa, . Acho que não entendeu. Você me quer? – disse ele.
– Quero – respondi, beijando-o com pressa.
era bom demais para ser verdade, bom demais para ser meu. Incomodava-me me sentir assim. Incomodava-me ele não me deixar entender o que eu sentia. Porque sempre fora tão claro para mim que tudo era amizade... E agora?
Eu e nos beijamos por tanto tempo naquele dia que nem me lembro de ter respirado. Antes de ir embora, ele disse:
, sei que a gente não fez nada demais, mas esse foi o melhor encontro de toda a minha vida.
Beijei os lábios dele.
– Da minha também.
O menino sorriu. Não significava muito. Afinal, eu não tinha muitos encontros. Porém para aquilo era suficiente. Já que ele me pareceu feliz.
E eu estava feliz? Como nunca.


CINCO


Eu estava dando voltas há quase dez minutos. Diana queria nos deixar em forma antes de passar o número das seccionais e era por isso que, todos os dias depois da aula, eu e mais dezessete meninas infelizes íamos para o campo ficar dando piques por entre as arquibancadas.
Eu estava morta? Muito.
A parte divertida era que as meninas pareciam me tratar melhor. Menos, é claro, Claire e Ananka. Essas ainda tentavam fazer da minha vida um inferno. Mas quando eu saía do treino e vinha me buscar com aquele sorriso matador, tudo parecia se consertar. O ódio delas crescia junto com a minha estranha felicidade.
Eu e estávamos meio juntos... Quer dizer, nada oficial. Permanecia a mesma coisa. Só que a gente se beijava. Eu continuava o classificando como melhor amigo... Porém aquilo estava começando a ficar sério e eu sabia que uma hora teria que tomar uma atitude drástica. Ou terminar com aquilo ou... Sei lá. Oficializar. Deus do céu. Eu estava mesmo considerando essa possibilidade?
A festa de boas-vindas de era hoje. Então e eu íamos para casa depois de nossos treinos para irmos à festa juntos.
– Bom, meninas, por hoje é só. Divirtam-se no fim de semana e boa festa hoje à noite. Não se esqueçam de que na segunda vamos começar os treinos para as seccionais – disse Diana.
– Finalmente – disse . – Pensei que o fim de semana não chegaria.
– Melhor que fim de semana! Hoje tem festa – disse Claire. – E, nessa cidade, isso é raridade.
– Verdade – concordei, sorrindo, enquanto ia para o vestiário.
Tomei um banho e vesti um short jeans com um moletom preto que não era meu.
– É do o casaco? – perguntou alto com um sorriso malicioso nos lábios.
– É – respondi alegre.
Pude ver os olhares de Claire e Ananka sobre mim.
– Vocês dois estão ficando que eu sei! Você o colocou na linha, hein? Todo mundo sempre disse que ele era um cafajeste – perguntou Courtney alto novamente, com clara intenção de provocar.
Eu, é claro, não perdi a chance.
– Ah, vocês sabem... Sou a que ele realmente quer. As outras o cara usava para me esquecer.
– Não era o que parecia quando ele me levava para aquela picape e passava a noite comigo lá – disse Ananka com raiva.
– Engraçado... Levou-a para a picape? Que droga. Eu, ele levou ao Jardillas... Com o Jaguar – rebati.
– Ele não gosta de você, V.V. Ninguém gosta. Só é ótima para dar uns amassos e esfregas. Porém na hora de realmente fazer um cara feliz, você congela. Por isso é a vadia virgem – disse Claire.
– Ele não gosta de mim, Claire? – perguntei, fingindo confusão. – Engraçado... Não foi o que pareceu quando a largou no piquenique do lago para ficar comigo.
Ela franziu a testa e se calou. Claire calada me preocupava porque, se a menina não estava respondendo, estava arquitetando algo. E isso era preocupante.
Terminei de me arrumar e, saindo do vestiário e me despedindo das meninas com um “até mais tarde”. Afinal, a festa era logo mais. Olhei a minha bolsa e não encontrei o meu celular. Quando vi na beira do campo, bebendo água e limpando o rosto suado com uma toalha, corri até ele.
– Oi – eu disse, aparecendo de surpresa atrás dele.
Ele se virou com um sorriso lindo no rosto.
– Olá, Cheerleader . Casaco legal – respondeu, apontando para o próprio moletom que estava em meu corpo.
– Só uso os melhores. Você sabe – exclamei, rindo. – Mas não vim aqui para isso.
– Ah, não? – disse o menino, erguendo a sobrancelha com malícia.
– Não. E nem para isso que você está pensando também – respondi, recebendo um biquinho e um “droga” em resposta. – Esqueci-me do meu celular em algum lugar. Você sabe onde está?
– Você o esqueceu na minha bolsa. Aliás, as suas mensagens de texto para a são bem legais. Não sabia que eu era tão gostoso assim – disse, fazendo-me corar.
– Você leu as minhas mensagens?! Idiota convencido – resmunguei.
>– Também a amo, linda.
– A sua bolsa está no vestiário? – perguntei.
– Está. Espere. Pego para você depois.
– Não. Preciso ligar para a minha mãe. Vou entrar lá de fininho. Ninguém vai ver – eu disse.
– ‘Ta. Dou-lhe cobertura, se der merda. Qualquer coisa, entre no box quinze. É o meu. Aí você espera lá. Tudo bem?
– Sim. Vou indo – falei, dando um sorriso e me virando.
– Meu beijo, ! – protestou ele.
Voltei-me para , segurei de leve as suas bochechas e dei um selinho demorado em seus lábios. Ele tentou um beijo de língua, mas não deixei. Não me sentia à vontade em público.
! – gritou o treinador. – Largue a senhorita AGORA! E VOLTE PARA O TREINO!
Soltei-o e comecei a rir.
– Fale sério, treinador! Sou macho! Beijo de garota é combustível para mim.
Todos os outros garotos começaram a rir. O homem indicou o campo para que ele voltasse.
– Desculpe, . Mais tarde a gente resolve isso – disse ele, dando-me mais um selinho.
– Tchau – respondi, correndo até o vestiário masculino.
Chequei a entrada para ver se alguém me veria e me esgueirei para dentro.
Pergunta básica: você já foi a um vestiário masculino? Bom, é simplesmente assustador. A quantidade de roupas no chão, fotos de garotas nuas, coisas quebradas, cheiros estranhos... É de impressionar. Desviando-me de todos os obstáculos que esse lugar oferecia, caminhei até a bolsa do . Quando encontrei o meu celular lá dentro, ouvi a porta abrindo.
– Cara, você viu aquilo? – disse uma voz masculina desconhecida. Escondi-me debaixo dos armários porque não tive tempo de alcançar o box do . Se eu me arrastasse, poderia sair pela porta dos fundos sem ser notada.
– Aquilo o quê? – outra voz respondeu. Essa reconheci. Era do . Oh, ... Que voz deliciosa você tem. Ops. Foco, .
– O beijando a V.V. Bom, eu sempre soube – respondeu o menino. Coloquei a cabeça um pouco para fora e percebi que era James Fleet, um moreno gostoso e sarado do segundo ano.
E ele e simplesmente começaram a se despir. Meu Deus, eu ia morrer. Ia mesmo. Nem consegui me mexer.
– Acho que ele gosta dela de verdade – disse . Dei um sorriso involuntário. Estavam falando do e do quanto ele gostava de mim!
– Sei lá, cara. Só sei que sempre achei os dois estranhos. No dia em que a Zizes espalhou aquele apelido pela escola inteira, ele chegou aqui no vestiário e disse: “escutem bem, seus merdinhas. Se algum de vocês falar, encostar, olhar ou convidar para sair a , quebro vocês inteiros. Não quero ninguém perto dela. Entendeu?”.
O QUÊ?! COMO É QUE É?!
– Do que é que você está falando? – perguntei alto, saindo do meu esconderijo.
– EI! – gritou James. – Você não deveria estar aqui!
? – perguntou confuso. – O que você está fazendo?
me pediu para pegar uma coisa – expliquei rápido e me voltei para James. – Do que você estava falando? Que lance é esse do ter proibido todo mundo de chegar perto de mim?
– Bom... – disse o garoto meio envergonhado. – Olhe, não sei. Ele disse isso. É que você... Bem, você é... Sabe... – ergui a sobrancelha com um típico ar de “fale!”. – Gostosa. E os caras comentavam sobre você.
– Achava que ninguém chegava em você por quê? Porque é feia? Fale sério, . O proibiu na marra – disse .
– É mentira – falei, sacudindo a cabeça. – Vocês não estão falando sério. Ele nunca faria isso. Sabe o quanto minha auto-estima ficou baixa depois do que passei e...
– É errado. E cruel – falou . – Mas acho que ele teve boa intenção.
– Isso não me interessa. Ele está morto! – gritei, saindo do vestiário e correndo em direção ao campo, do qual saía suado.
Como o pode ter feito aquilo comigo? Sempre achei que era pelo jeito que eu era que ninguém nunca saía comigo. Sempre achei que eu não fosse bonita o suficiente, boa o suficiente... Nunca pensei que o , o garoto pelo qual sempre fui apaixonada, achasse-me atraente. Isso foi tudo culpa do . Todos esses anos de insegurança e medo, todas as noites que passei chorando no ombro dele porque quem eu queria não me queria de volta... Tudo isso tinha sido causado por ele. A minha dor tinha sido causada por ele. Eu simplesmente não podia acreditar. Era um misto de ódio e mágoa o que sentia ali, enquanto caminhava bufando na direção dele.
– falei entre dentes. – Precisamos conversar agora.
– Vou tomar banho, . Já encontro você...
– Agora – repeti, puxando-o para um canto.
Encostei-o à parede de um corredor que dava para a escola. Ele me olhou surpreso e sorriu, dizendo:
– Tudo isso é saudade?
– Por que você proibiu os meninos do time de futebol de falarem comigo? – perguntei direta e raivosamente.
A expressão dele tomou um ar de seriedade e preocupação.
– Quem lhe disse?
– Não interessa – respondi. – Fiz uma pergunta.
Ele me fitou e cuspiu:
– Foi o , né? Aquele idiota... Ele está louco para separar a gente.
– Acho que você está louco para separar a gente – retruquei. – Afinal, proibiu os meninos da escola de tentarem alguma coisa comigo. Fez-me acreditar por dois anos que sairia da escola sem namorado e virgem.
– Eu sempre disse que você era bonita – defendeu-se ele. – E além do mais, fiz isso para protegê-la, .
– Não me interessa por quê. Interessa-me o fato de que você não é a pessoa que eu pensava que fosse.
– O que fiz? Eu estava tentando fazer o que aconteceu não acontecer de novo!
– Não estava, não, . Você, como sempre, estava sendo extremamente egoísta e me querendo como sua melhor amiga oficial sempre – respondi, sentindo uma lágrima cair. – Vou embora agora. Por favor, não me siga. E nem me ligue hoje.
Saí andando, sentindo as minhas lágrimas. tinha feito aquilo comigo por quê? Seria realmente para me proteger? Eu não acreditava. E nem entendia.
Ouvi uma buzina de um carro atrás de mim. Virei-me e vi um carro preto Sedan parando ao meu lado. O vidro abriu e colocou a cara para fora.
– Vai uma carona? – perguntou ela, sorrindo.
Assenti com a cabeça, sequei as lágrimas e entrei no carro. Ela me perguntou onde eu morava e respondi. Depois notou a minha expressão e disse:
– Vai me contar o motivo das lágrimas?
– respondi simplesmente.
– O que ele fez?
– Nasceu.
Ela deu uma risada gostosa.
– Tudo bem. Além de nascer, o que ele fez?
Contei a ela tudo. Sobre o sênior que espalhou a minha fama, sobre a Claire, sobre como eu me sentia feia e tudo mais... Ela simplesmente assentia atentamente. Quando acabei de contar, riu e disse:
– Meu Deus, você e o são tão burros! Burros e orgulhosos.
– Como assim? – perguntei confusa.
– Ah, meu Deus. Garota, não seja boba. Vocês se amam.
Comecei a rir.
– Nem em sonho! O gosta de mulheres variadas! Sou só a melhor amiga que ele nunca pegou e sempre quis saber como era.
– Sabe que isso não é verdade. Ele pega todas as outras porque simplesmente quer a sua atenção... Porque quer você.
– Não, . É sério. Conheço o . Ele não se apaixona por ninguém – falei.
– Ele já passou do estágio “paixão”. O cara a ama. E você o ama também.
– Já lhe falei que amo o...
? – perguntou ela, rindo. – Fale sério. Paixonite de escola. Você quase se derrete ao lado do . Os seus olhos brilham quando fala dele ou com ele. Dá para ver que está totalmente na dele. Só não se tocou disso ainda.
Fiquei calada, pensando, mas não consegui me convencer. Talvez, apenas talvez, eu gostasse dele de um jeito mais avançado. NADA DE AMOR! Porém um jeito mais avançado.
Mas ele...? Gostava de mim? Nunca.
– Não consigo acreditar que ele me ame. Ele não ama – afirmei.
Ela sorriu.
– Então hoje na festa experimente ficar com outro cara para ver se ele não vai ter um ataque.
– Você não ouviu a história?! Ele proibiu os caras de chegarem em mim.
– Você também nunca tentou. Aposto – ela respondeu. – Olhe, se provocasse algum deles, não ia ter que parasse.
– ‘Ta. Vou fazer isso. Ele provavelmente vai me ignorar apenas.
– Vá nessa – disse ela, rindo. – Bom, está entregue. Não se esqueça de ir bem gata hoje à noite para testar a nossa teoria.
Ri.
– Pode deixar. Obrigada, .
Saí do carro e fui para casa dormir. Até porque eu teria uma noite absolutamente longa.


SEIS


Dei uma última checada no espelho em frente à porta da casa de . Eu estava arrumada corretamente para uma festa latina. A saia amarela rodada que não chegava nem na metade das coxas, o top T-shirt de tecido meio transparente na cor cereja indo até a metade da barriga, e o sapato de salto em tom cereja também. Até preguei uma flor amarela discreta em meus cabelos, puxando um dos lados um pouco para trás.
É. Tipo uma versão pobre e vagabunda da Shakira.
Toquei a campainha e abri o meu sorriso carregado de brilho labial. abriu a porta e vi que o seu traje também era latino e que, como eu, tinha uma flor nos cabelos. Só que azul.
– Eu a pegaria, se fosse sapata – disse ela, sorrindo.
– Digo o mesmo – respondi, dando dois beijinhos. – O já está aí?
– Já. E tem uma morena desconhecida no colo dele.
CANALHA ORDINÁRIO!
Senti as veias pulando do meu pescoço. disse:
– O garoto está se preparando para fazer ciúmes, . Espera que você faça o que fez no lago quando ele estava quase ficando com a Claire.
– É bom ele esperar sentado – falei, entrando. – Preciso de uma cerveja.
Ela me puxou e nós duas desfilamos pela festa. A Ke$ha berrava em nossos ouvidos, as garotas dançavam para os caras que começavam a tomar atitudes, deixando as bebidas de lado. Encontrei logo com a garota morena atacando o seu pescoço. Quando me viu, analisou-me intensamente e pareceu estremecer. Sorri internamente e fui à cozinha pegar uma bebida. Quando entrei, dei de cara com James Fleet. Ele estava usando uma bermuda creme e uma camisa pólo azul escura apertada que deixava os seus bíceps musculosos marcados de um jeito perfeito. O seu sorriso se abriu ao me ver e senti um arrepio na espinha.
James nunca foi a minha primeira opção do time de futebol. e dividiam esse posto. Mas eu não podia negar que ele era gostoso. A pele morena, os cabelos arrepiados que pareciam estar sempre com gel, o tanquinho, o sorriso escultural... James era muito gato.
– Oi, – disse ele, pela primeira vez na vida me chamando apenas pelo nome e não pelo apelido.
– Oi, James. Tudo bem? – perguntei, sorrindo e pegando uma cerveja.
– Estou ótimo. Mas você... – disse ele, secando-me. – Você está excelente.
Sorri maliciosa e joguei o cabelo para trás.
– Você acha? – perguntei.
– Com certeza acho – respondeu, aproximando-se.
Ele era perfeito para o meu plano da noite e estava me dando mole. Por que não?
– Quer dançar? – perguntei.
Ele sorriu e segurou a minha mão, conduzindo-me para fora da cozinha, em direção à pista. Quando chegamos ao local, um hip hop obsceno explodia as caixas de som. Coloquei os braços em volta do pescoço de James e ele segurou a minha cintura descoberta num contato direto com minha pele. Entrelacei as nossas pernas e comecei a me movimentar no ritmo da música.
Encontrei os olhos de me encarando num canto. Ele parecia... Magoado. Que direito ele tinha? Nenhum. Porém a verdade é que aquilo não estava sendo satisfatório como pensei que seria.
Continuei dançando com James que começava a beijar o meu pescoço lentamente. Ele não estava me empolgando muito. Os toques dele só conseguiam me fazer lembrar do quanto era melhor nisso do que ele.
– Vamos para algum lugar mais reservado? – perguntou no meu ouvido.
Eu não disse nada. Ele provavelmente interpretou que aquilo significava sim, pois começou a me puxar para o andar de cima. Não me lembro muito bem desse momento a seguir, já que tudo aconteceu meio rápido e confuso demais. Só sei que James me empurrou para um quarto do segundo andar e começou a me agarrar. Ele estava começando a se tornar violento, o que me levou a querer parar aquilo.
– James, está machucando.
Ele não respondeu e continuou atacando o meu pescoço. Eu tentava me esquivar e não conseguia. O cara era muito mais forte do que eu.
– James, solte-me – ofeguei quando ele foi respirar. – Não quero. Deixe-me ir.
– Você vai gostar, V.V. Vai ser legal. E além do mais, ninguém vi mais poder chamá-la por esse apelido estúpido – disse ele, empurrando-me para a cama.
Contorci-me freneticamente, mas ele não me soltou. Então mordi o seu lábio com raiva, fazendo-o me soltar e tentar me dar um tapa. Aproveitei a distração dele para lhe dar uma joelhada que o fez rolar para o lado.
– Sua vadia idiota! – resmungou ele de dor.
Levantei rápido, tentando alcançar a porta, contudo James agarrou a minha perna, fazendo-me tombar com o rosto no chão. Senti o meu punho receber o impacto e uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Entretanto eu ainda sentia que precisava me salvar. Estiquei a mão boa para pegar um vaso de plantas que estava em uma mesinha. Lancei na direção de James, acertando a sua perna esquerda. Levantei-me rápido, conseguindo alcançar o banheiro. Tranquei a porta e senti os murros do lado de fora.
– Você não pode ficar aí para sempre! Uma hora vai ter que ser minha – gritou James.
Estremeci, forçando o meu corpo contra a porta e procurando o meu celular. Pensei em todas as pessoas para as quais eu poderia ligar. Só uma delas podia resolver meu problema.
– Alô? – disse uma voz confusa do outro lado da linha.
– Preciso da sua ajuda agora.
? – perguntou o dono da voz ainda confuso.
, SOCORRO! – gritei quando ele reconheceu que era eu.
– O que houve? Você está bem?
– Estou no terceiro quarto, no segundo andar! James está tentando me machucar! Você precisa me ajudar.
– Agüente aí. Vou salvá-la – disse ele, desligando.
Continuei pressionando o meu corpo contra a porta para impedir que James a abrisse. Fiquei pelo menos um minuto sentindo murros nas costas que de repente cessaram. Não ouvia mais a voz de James. Relaxei o corpo instantaneamente. Algo havia acontecido. Talvez ele tivesse ido embora e eu só teria que esperar ali.
Ouvi alguns gritos dentro do quarto e vários barulhos diferentes de coisas quebrando. Voltei novamente à posição contra a porta, preparando-me para o pior. Então ouvi uma voz e tive certeza de que era um anjo me chamando.
? , sou eu. Você está bem? Abra a porta!
estava ali. Sorri de alívio. Afastei-me da porta com dificuldade e destranquei.
Olhei para ele que vinha em minha direção. As teimosas lágrimas escorreram dos meus olhos novamente.
– Você está bem? Está machucada? – disse ele, abaixando-se. Notei um pouco de sangue em sua boca.
– Caí em cima do meu punho – falei, chorando. – E ele puxou o meu pé. Não sei se consigo andar.
Ele olhou o meu braço com cuidado e falou:
– Acho que vou levá-la ao hospital. Vamos – disse, pegando-me no colo.
Enquanto saíamos do quarto, vi James no chão sangrando inconsciente.
– O que você fez com ele, ? – perguntei assustada.
– Algo que com certeza o fez entender que ninguém mexe com aquilo que pertence a – respondeu.
Eu sorri. Ele, não.
Beijei o pescoço dele meio que agradecendo. estava sempre ali me salvando, protegendo-me, mesmo que eu fosse uma vaca.
– Desculpe-me. Por favor – sussurrei.
– Não – disse ele. – Ainda não.
Atravessamos a festa sem falar com ninguém. me tirou do colo apenas para me colocar na picape e prendeu o meu cinto antes de bater a porta. Foi para o outro lado e ligou o carro.
– Sei que você de novo me tirou de uma enrascada, mas dessa vez tem que admitir que está tão errado quanto eu – falei.
– Ah, é? Por quê? – perguntou ele ironicamente.
– Porque foi você que proibiu todos os garotos de ficarem comigo, mesmo sabendo que eu gostava do . E foi você que se agarrou com outra menina primeiro.
– E daí que proibi os outros meninos de chegarem em você? – disse ele com raiva. – Entenda de uma vez por todas: você é minha. Só minha.
– Por quê? – perguntei, desafiando.
– Por que o quê?
– Por que acha que sou sua?
Ele suspirou.
– Porque você precisa de mim. E eu de você. Então um tem o outro nas mãos – abri a boca para retrucar, porém ele interrompeu. – E nem pense em negar. Principalmente depois de hoje. Sabe perfeitamente bem que, quando as coisas apertam, é o meu nome que você grita.
Mordi o lábio, reprimindo um sorriso.
– Tudo bem. Mas por que você ficou com outra garota?
Ele me olhou incrédulo.
– Você me deu o fora. Eu tinha que fazer algo a respeito. Não tomo foras. Nem mesmo seus.
Comecei a rir, todavia parei ao sentir o punho latejar.
– Do que é que você está rindo? – perguntou ele, dando partida.
– De você... Tentando fazer ciúmes em mim – falei convencida.
Ele pareceu ultrajado.
– Agora pegar uma garota é fazer ciúmes em você? Desde quando?
– Desde que você gosta de mim – falei. – Não negue. Sabe que é verdade.
– Não gosto – disse ele. – Você é a minha melhor amiga e é boa de ficar. Só.
– Então não vou mais ficar com você – falei birrenta. – Vou ficar com um garoto do time de futebol, agora que descobri que eles todos me querem.
– É. Espero que você fique feliz quando sair no jornal que foi vítima de estupro. Ou acha que eu vou protegê-la sempre?
– O conceito de estupro é relação sexual forçada. E os caras do time nunca precisariam me forçar a nada. Vontade própria rola solta – provoquei.
– Cale a sua boca! – disse ele, ficando vermelho.
– Se você parar de ser um imbecil comigo e disser a verdade, calo! – gritei de volta.
Ele se calou e eu também. As lágrimas ainda teimavam e saíam dos meus olhos, cada vez mais intensamente. Eu não queria que visse a minha tristeza, mas estava difícil.
– Chegamos – disse ele, estacionando.
Não saltei. Ele veio, abriu a porta e me puxou para o seu colo, enquanto entrávamos no hospital.
O médico me atendeu em menos de dez minutos. Por causa da hora, a movimentação estava pequena.
– Sabe, . Estou olhando as suas radiografias – comentou o doutor Roberts que me atendia. – Não foi nada muito sério, mas você vai ter que imobilizar esse punho. Pelo menos por uns cinco dias. Faz alguma atividade física?
– Torcida – falei.
– Fique só na dança. Nada de usar os braços para apoio em piruetas – disse ele.
Saí do consultório com uma tala no punho. Eu só queria ir para casa e abraçar a minha mãe. Só isso.
veio até mim e me levou para o carro.
– Comprei para você – disse ele, estendendo um saco de papel pardo.
Abri e encontrei um cheeseburger, batatas e coca.
– Obrigada – falei de má vontade.
Comi com raiva. me observava, parecendo tentado a dizer algo.
? – disse ele, finalmente parando de me encarar.
– O que é? – respondi irritada e de boca cheia.
– Você está certa. Sobre tudo. Fui um babaca.
Baixei o meu sanduíche para olhá-lo. Eu conhecia , conhecia o orgulho dele. Imaginei que aquilo provavelmente estava sendo duro para ele.
– Não foi, não – falei. – Você me salvou, trouxe-me ao médico... Você é o melhor, .
– Isso nunca teria acontecido se eu não tivesse sido um imbecil e...
– Sh... – falei, colocando os dedos nos lábios dele. – Você fala demais às vezes.
Afastei os restos de comida e apoiei em cima do porta-luvas. Virei para ele e me estiquei para me sentar em suas pernas, de modo que pudesse segurar o seu rosto em minhas mãos. Ele me encarou, os olhos brilhando e a expressão um tanto quanto magoada. Beijei os lábios dele com muita calma só para que ele sentisse o meu toque. fechou os olhos e achei que aquela era a cena mais linda que eu já havia visto.
– Eu te amo – balbuciou ele.
Sorri contra os seus lábios.
– Eu te amo também – respondi.
Ele começou a beijar o meu pescoço e senti o quanto ele era melhor que James naquilo tudo. Ele era perfeito, todo meu.
– Quero avançar com você – disse ele, fazendo-me encará-lo.
– Avançar? – perguntei.
– É. Segunda fase – falou.
– E isso seria...? – perguntei nervosa. E se ele me pedisse em namoro? O que eu faria?
– Nunca tentei nada com você porque sei que é virgem e tudo mais e não queria apressar nada... Mas eu quero você... Cada dia mais.
Ah, ele não estava falando de namoro.
Calei-me e fiquei olhando para ele. Não era algo que eu nunca tivesse pensado... era o meu melhor amigo, amava-me, eu o amava... O cara perfeito para perder a virgindade. Mas se aquilo era teoricamente fácil, na hora da prática, tudo escurecia.
– Hoje não – falei nervosa.
– Não. Claro que não. Você não é uma qualquer. Isso tem que ser especial – disse ele. – Mas quero ser o seu primeiro. É algo que realmente importa para mim. Se você quiser, é claro.
Sorri.
– É claro que quero. Você é o mais especial, portanto tem que ser o primeiro.
Ele sorriu também.
– Vou deixá-la em casa.
– Fica comigo essa noite? – perguntei.
Ele assentiu r eu confortavelmente segui para casa com segurando a minha mão.


SETE


Acordei, sentindo a respiração dele em meu pescoço. Virei um pouco para ver seu rosto ali, quase o fundido ao meu. era um sonho. Lindo demais para ser real. Aquela cena, dele dormindo angelical, fez-me sorrir.
Na noite anterior, depois de prometer a minha virgindade a ele, nós dois fomos para a casa dele. Tomei banho e vesti as minhas roupas que ficavam em seu armário. A gente ligou a TV e deitou de conchinha. E simplesmente dormimos. Eu acho que aquele deve ter sido o sono mais gostoso que já tive. Os braços dele eram fortes na medida certa, o cheiro era delicioso e o nariz roçando em meu pescoço... Nada poderia ser melhor. Porém naquela noite realizei o que ele havia dito anteriormente sobre querer ir para a segunda fase e me dei conta de algo: eu também queria ir para a segunda fase. Queria ser toda dele de uma vez por todas.
Ele abriu os olhos lentamente e sorri.
– Que coisa boa acordar vendo esse sorriso lindo – disse ainda sonolento.
– Que coisa boa acordar sentindo esse bafo – ironizei. Ele me olhou meio incrédulo. – É brincadeira, gatinho – falei rápido, dando um selinho nele.
– Bom que seja, cachorrinha.
– Cachorrinha? – perguntei. – Isso soa meio ofensivo. Sabe?
– É que acho gatos nojentos. Então achei “gatinha” inadequado para você.
– Isso é fofo – comentei, rindo.
Então a porta se abriu com um estrondo. Eu e nos olhamos sobressaltados, ainda sem nos separarmos.
, tenho uma notícia para... – tio John entrou no quarto, falando. Ele então me notou ali e disse: – ?
– Bom dia, tio – falei, tentando não parecer envergonhada.
– Você dormiu aqui? Na mesma cama que ele? – perguntou tio John. Achei quase cômico o modo com que se referia ao filho. Como se ele fosse um estuprador louco e dormir na mesma cama que ele fosse sinônimo de engravidar.
– Pai, é só a – disse envergonhado.
– Bom, eu e a Jude temos notícias para vocês. Vamos almoçar aqui, todos em família. Estejam prontos em meia hora.
– Meia hora? – perguntei.
– É. Já é uma da tarde e vocês, mocinhos, estão aí de sacanagem sem fazer nada.
– Estávamos dormindo! – defendi-me.
– Certamente que sim – disse tio John, sorrindo sem conseguir ser convincente. – Até já.
– O meu pai me constrange às vezes – disse , bufando ao ver a porta bater. – Ele fala como se eu dormisse com uma garota por dia.
– E você não faz isso? – perguntei, acariciando a bochecha dele.
– Eu fazia isso. Há mais de duas semanas que não durmo com ninguém – disse o menino, fazendo um bico fofo.
Sorri.
– Eu estava pensando no que você disse ontem... E acho que em breve a gente pode acabar com essa sua abstinência.
me olhou perplexo.
– Isso é sério? – perguntou ele. – De verdade? Não é pegadinha matinal?
Comecei a rir descontroladamente.
– Não, não é uma pegadinha matinal. É sério. Quero fazer isso com você.
O garoto me beijou calmamente e correspondi feliz. Parecia tão certo estar com ele... Tudo finalmente estava certo na minha vida.
– Vai ser a melhor noite da sua vida – sussurrou, sorrindo.
– É, vai. Por isso eu vou organizar – falei autoritária.
– Ah, não – reclamou ele.
– Ah, sim. Minha primeira vez, meu jeito, minhas regras – falei, colocando o dedo no rosto dele.
– Tudo bem. Desde que a gente realmente finalize a coisa, não estou nem aí para a organização – disse ele, rindo.
– Vou me vestir. Você deveria fazer isso também, já que a família precisa conversar – falei, levantando-me em direção ao banheiro.
Coloquei um vestido tomara-que-caia florido que caía até o meio das coxas encontrado no armário de . É, eu dormia muito lá. Geralmente eu, na cama, e ele, no chão. Ou os dois no chão. Juntos na cama... Bem tinha sido a primeira vez.
Penteei os cabelos de modo que pudesse ajeitar a minha franja para o lado. Quando saí do banheiro, estava vestindo uma camisa pólo verde e uma bermuda creme. Ele sorriu e disse:
– Você está linda. E esse vestido está curto.
– Ah, não encha – falei, dando um selinho nele. – Venha logo.
Descemos as escadas. , a minha mãe e o tio John estavam sentados à mesa com uma lasanha cheirosa à frente.
– Oi – falei.– Boa tarde.
– Onde foi que você se enfiou a noite toda? – perguntou a minha mãe.
– Festa, hospital, caminhonete e casa do – falei objetiva.
– Hospital? – perguntou ela abismada.
Mostrei o punho imobilizado.
– Caí com o salto – menti.
– Na verdade – disse com uma expressão convencida. – Um cara tentou agarrá-la. Aí ela caiu com o salto. E dei uma surra no imbecil, é claro.
– Ela está sempre metida em merda. É impressionante – comentou .
– Quieta – ralhei.
– E depois, ao invés de voltar para casa, você simplesmente vem para cá dormir de conchinha com o ? – perguntou a minha mãe em tom irritado.
– Como é que você sabe que dormi de conchinha com o ?!
– Vi vocês dormindo – disse tio John.
– Valeu, pai – falou , corando.
– Olhe, temos uma coisa importante para dizer. E, com o que vamos contar, esperamos que vocês mudem de comportamento um com o outro – disse minha mãe.
– Vamos nos casar. E viver os cinco juntos – completou tio John.
sorriu e eu e trocamos olhares abismados.
– Isso significa que vocês dois têm que voltar a ser o que sempre foram: irmãos – disse a minha mãe. – Não posso deixar que as coisas evoluam entre vocês.
Segurei a mão de .
– Olhe, estamos como sempre... – falei. – Até agora. Mas só porque vocês vão se casar não significa que a gente não possa se gostar um dia. E estou muito feliz que finalmente seremos uma família – terminei com um sorriso.
– É, isso é muito legal. Parabéns – completou .
– Estamos pensando em sair de Ambler também – falou tio John.
– Isso é excelente! – exclamei.
– Isso é horrível! – disseram e .
– Isso não é decisão de vocês – falou a minha mãe. – Comunicamos depois. E a última notícia: vamos viajar na terça-feira.
– Todos nós? – perguntei.
– Não. Eu e a sua mãe – falou tio John.
– E vocês três vão ficar sozinhos. Então espero que cuidem direito da loja e que não façam nada que se arrependam – advertiu a minha mãe.
Sorri e , também. Íamos fazer muitas coisas, entretanto certamente nada que nos arrependêssemos.
Na segunda-feira, a notícia de que John e Jude iam finalmente juntar as escovas de dente já havia se espalhado pela cidade inteira. Percebi isso quando estava na escola, em um dos intervalos, inocentemente sentada no colo de . Conversávamos sobre a nossa possível "noite de amor" e como a gente ia se livrar da .
– Ela disse que vai dormir na casa da amiga dela na quarta à noite e voltar no domingo – falei. – É feriado quinta, então elas vão passar juntas. Acho que essa amiga dela tem uma tia que tem uma fazenda. Sei lá.
– Então está certo. Que coisa esquisita – disse ele.
– O quê? – perguntei. – Fazer isso?
– Não. Combinar de fazer isso. Essas coisas deveriam acontecer naturalmente.
– Você realmente se importa se isso é combinado ou não? – perguntei, mordendo a orelha dele.
– Claro que não. Desde que você esteja na minha cama, estou bem – respondeu ele com malícia, beijando o meu pescoço. – Mas acho que isso vai deixá-la nervosa.
– Não vai, não – retruquei.
– Você sabe que não lida bem com situações que não sejam inusitadas.
– Claro que lido bem com isso – defendi-me.
– Você é uma delícia quando fica assim, toda teimosinha – disse ele, beijando-me. Não hesitei em corresponder.
– Venha cá, isso não é incesto? – ouvi uma voz irritante ao nosso lado. Eu e nos afastamos, porém continuei em seu colo com os braços em volta de seu pescoço, enquanto ele segurava a minha cintura.
– Oi, Claire – falei de má a vontade. – O que é que você quer?
– Dar os parabéns. Soube que agora vocês serão uma família – disse ela.
– Sempre fomos – falei, dando de ombros. – Agora dá licença? Eu e temos assuntos inacabados para resolver.
Quando rocei a minha boca contra a dele, ouvi novamente um pigarro.
– Imagine se os pais de vocês soubessem – disse ela. – Acho que não iam gostar.
– Eles sabem – menti, só para não demonstrar fraqueza.
– Então você é mais vadia do que eu pensava. Pegando-se com gente da própria família.
– Aposto que você venderia todas as suas unhas postiças para estar no meu lugar – alfinetei, sorrindo.
Ela me lançou um olhar sarcástico e se afastou, rebolando.
– Então onde estávamos? – perguntei a .
– Aqui – disse ele, encostando os nossos lábios.
, , posso falar com vocês? – ouvimos uma voz grave interromper novamente.
Voltei-me para ver o dono da voz. James estava parado ali, coçando a nuca.
– O que você quer? – perguntei ácida.
– Vim em paz – disse ele, levantando as mãos para o ar como se estivesse "se rendendo". – Vim lhe pedir desculpas. Na verdade, vim pedir desculpas aos dois.
apertou a minha mão e disse:
– Não sei se o que você fez merece desculpa, cara. Atacar uma garota é uma coisa bem séria. Mais séria ainda quando a garota é minha.
Quase sorri com isso.
– Juro por Deus que não ia fazer nada com ela – disse James. Então se voltou para mim. – E me sinto muito mal pelo seu punho, se você quer saber. É que eu estava bêbado, nervoso, e você é tão bonita...
Quase sorri de novo. Só quase.
– James, não vou ficar guardando mágoas suas, mas nunca vou me sentir segura o suficiente para ser próxima a você. Sinto muito por isso, porém... É verdade. Contudo, eu o desculpo – falei, sorrindo no fim.
– E você, cara? Somos amigos. Sempre fomos. Você me perdoa? – perguntou ele a .
– Desde que você fique bem longe da , por mim está tudo bem – disse , apertando a mão de James que sorriu.
– Valeu, cara – ele se inclinou e beijou a minha bochecha. – Desculpe de novo, .
– Tudo bem – falei sem graça.
Quando James se afastou, o sinal tocou. Eu e voltamos às aulas e, por causa do meu penho, hoje eu não faria parte do treino. Por isso vesti o meu uniforme e fiquei correndo. Fiz um pouco de dança, mas, na hora do treino acrobático, fui me sentar e assistir. Eu realmente me impressionava com o quanto Diana estava fazendo aquele time melhorar. Já estávamos ficando boas e vencer as seccionais não parecia nada impossível.
Só que eu não conseguia pensar nisso. O que estava me matando era a ansiedade dessa semana. Ansiedade pela noite de quarta-feira. O dia em que V.V. não seria mais tão virgem assim. Ou nem um pouco virgem. Por isso, naquele dia, quando se sentou ao meu lado, eu disse:
– Posso lhe pedir um conselho?
Ela, que estava concentrada assistindo ao treino, apenas soltou:
– Hum?
– Eu queria falar com você sobre uma coisa importante. É que não tenho amigas meninas e...
– Não seja boba – disse ela, parando de olhar a pirâmide de torcedoras que Diana insistia em dizer que estava errada. Voltou-se para mim e completou: – Somos amigas, .
– Eu e o ... – comecei, entretanto senti o nervoso me dominar e murmurei. – Ah, não. Esqueça.
– Fale logo! – reclamou ela, dando-me um tapa.
– Eu e o vamos... Ah, você sabe – falei, rindo.
Ela ergueu a sobrancelhas em sinal de entendimento.
– Aaaah... Bom, e o que é que tem? É normal – disse ela, dando de ombros.
– Nunca fiz isso, – falei.
– Espere aí, então essa coisa de você ser virgem é verdade mesmo? Não é curtição com a sua cara? – perguntou ela perplexa.
– É, é verdade. Sou virgem. E estou surtando. E quero que a minha noite seja perfeita. E preciso de ajuda para organizar – disparei.
– Vai organizar a sua primeira vez? – disse ela, rindo. – Você é maluca?
– Ah, , não zoe! – briguei, dando um tapa nela. – Você nunca ouviu dizer que, se quer fazer uma coisa bem, deve fazer você mesma?
– Amiga, na sua primeira vez, você infelizmente vai precisar de alguém. Um macho, na verdade – continuou ela, rindo.
– Pare, ! Ajude-me!– fiz bico.
– Está bom, tudo bem! Avise a sua mãe e ao que você vai chegar tarde a casa hoje. Vou levá-la para fazer umas compras – disse ela animada.
– Que tipo de compras? – perguntei assustada.
– O treino já está acabando. Vá tomar banho e trocar de roupa. Não demore! – avisou.
E foi isso o que fiz. Liguei para a minha mãe, avisando que sairia, e para digitei uma mensagem.

, saí com a para fazer umas compras para a nossa noite na quarta! Assim que chegar a casa, vou à sua vê-lo.
Xoxo.


Tomei banho e vesti meus jeans com um casaco de moletom rosa. Prendi os meus cabelos num rabo de cavalo e saí. estava encostada ao próprio carro, digitando mensagens de texto. Acenei para ela que sorriu, indicando a porta do carona.
– Aonde vamos? – perguntei.
– Vamos à Spring House, já que aqui quase não tem lojas de roupas – disse ela, dando ombros.
– Spring House fica a uns quatro quilômetros daqui de Ambler – falei.
– Deixe de ser preguiçosa. Quem vai andar é o carro e não você – rebateu , rindo. – Spring House é muito perto. Vamos estar lá em menos de uma hora. E você sempre vai a Fort Washington com o que eu sei...
Dei de ombros e seguimos, rindo e conversando.
Devo dizer que realmente ajudou. Ela me deu conselhos muito úteis e compramos coisas legais. Eu não contaria o que compramos porque a graça acabaria.
– Enrole-o bastante – disse enquanto voltávamos. – Sério. Quando ele chegar, vá para o banho e fique se arrumando por pelo menos uma hora.
– Não vou agüentar de ansiedade – falei. – Vou ficar muito nervosa.
– Você tem que relaxar. É o essencial – dizia ela.
Quando voltei para casa, jantei com mamãe e . A minha mãe estava tão animada com a viagem no dia seguinte que nem percebeu quando escapei para ver o . Bati na porta da casa dele e tio John abriu com um sorriso.
– Oi, . O está lá em cima.
– Oi tio. Vou até lá vê-lo então – falei, já entrando e subindo as escadas.
Abri a porta azul de e me esgueirei para dentro. Deparei-me com uma cena um tanto quanto adorável.
Ele estava deitado, usando só a boxer e os óculos de grau com aro de tartaruga, assistindo ao canal dos esportes na TV.
– Oi – falei, indo até a cama e me sentando ao lado dele que estava deitado.
– Oi – disse ele, colocando a mão por cima da minha coxa e se inclinando para me beijar. – Aonde você foi?
– Spring House com a – falei, separando os lábios dos dele e acariciando os seus cabelos.
– Para...?
– Ora, não existem lojas de lingerie muito boas aqui em Ambler – falei, rindo.
Ele ergueu a sobrancelha e disse:
– Obrigado por me dizer isso. Agora vou dormir pensando na cena.
– Espere dois dias e você não vai mais precisar imaginar – sussurrei.
Ele riu de volta e me puxou para que eu me deitasse ao seu lado. Mudei de canal e coloquei em um filme qualquer. Ficamos deitados apenas abraçados, trocando beijos calmos e tímidos, até que ouvimos um barulho lá embaixo. Fiz menção para que ele colocasse a coberta por cima do corpo e endireitei a minha blusa e os meus cabelos. Sentei-me ao lado dele na cama e segurei a mão dele, assistindo à TV.
, você está aí? – ouvi a minha mãe do lado de fora, abrindo a porta devagar.
– Entre, mãe – falei, sorrindo com naturalidade.
– Oi – disse ela. – Vamos para casa?
– Claro. Eu nem sabia que você estava aqui – comentei, dando de ombros e me levantando.
– Amanhã tenho um dia cheio. Despeça-se do e vamos – ordenou.
– Tudo bem – falei, esperando-a fechar a porta.
Porém a minha mãe não o fez.
– Mãe? Licença? – pedi.
– Por quê? Vocês são só amigos! Por que quer privacidade para se despedir dele? – perguntou ela.
Merda. A minha mãe sabia que tinha algo diferente rolando.
– Quero falar uma coisa com ele – defendi-me. – Dá licença, por favor?
Contrariada, a minha mãe fechou a porta e gritou:
– Cinco minutos!
– Ela percebeu já – comentou . – Cara, se eles pegarem a gente no flagra, é capaz de acabar o casamento.
– A minha mãe não terminaria o casamento por isso... Mas na certa me mandaria para um internato. Ou um convento.
– O meu pai nem ligaria – comentou .
– É, eu sei. Eles dois são tão diferentes.
– Nós também, mas dá certo – comentou ele, puxando-me para um beijo gostoso.
– Eu o vejo amanhã – falei quando finalmente nos separamos.
– Não. Vou vê-la antes. Afinal, vai estar nos meus sonhos – disse ele com um sorriso.
– Você é lindo demaaaaais! – gritei, voando nele e beijando o seu pescoço. – Onde você escondia essas fofuras?
– Guardei para você.
– Lindo, lindo, lindo, gostoso, cheiroso e lindo – falei sem parar de beijá-lo.
– Está me constrangendo. Essa coisa de ser fofo é meio ridícula. Acho que quero ser cafajeste de novo.
– Você é um safado – falei. – Um safado muito lindo e fofo.
Ele riu e o beijei de novo. Só que depois me levantei para ir embora.
– Até os sonhos – falei.
– Até.
E assim voltei para casa com a certeza de que tinha escolhido o cara certo.


OITO


“Respire, ”, foi o meu mantra durante o dia todo. O dia todo.
Tentei relaxar na hora que acordei. Tentei relaxar tomando café, almoçando. Até dormir tentei. Mas enquanto eu arrumava a casa, a única coisa em que eu conseguia pensar era que em poucas horas estaria ali... Na minha cama... E eu estaria com ele. Deus, eu estava nervosa. Por isso deixei a minha chave na casa dele. Eu simplesmente não tinha coragem de recebê-lo.
Quando estava no sexto banho do dia, ouvi alguém bater na porta do meu banheiro.
– QUEM É?! – perguntei alto.
– Sou eu! – respondeu do lado de fora, fazendo o meu corpo estremecer. – Só para avisar que estou aqui, esperando você.
– Coloque o seu pijama e me espere aí fora! – respondi, tentando não parecer nervosa.
Saí do banho e me olhei um tempão no espelho. Achei o meu corpo tão feio, o meu rosto, tão estranho, os meus cabelos, tão sem vida... era tão lindo e eu era tão... Eu.
Afastei os pensamentos e me concentrei em arrumar os meus cabelos. Fiz algumas ondas e, quando acreditei que estivesse aceitável, passei para a maquiagem. Coloquei o menos possível, passando apenas um delineador fino bem rente aos cílios, lápis e algumas camadas de rímel. As minhas bochechas estavam coradas pela tensão e o banho quente, então dispensei o blush. Vesti a minha lingerie que eu havia comprado dois dias antes com a . Não chegava a ser uma lingerie... Era só um conjunto de calcinha e sutiã bem fofo. Era rosa com listras pretas. O sutiã tinha um fecho frontal de prata bem discreto.
Borrifei o perfume que gostava e suspirei. Eu estava pronta. Prontinha.
Coloquei a mão na maçaneta. Era a hora que eu havia esperado ansiosamente. Eu nunca havia imaginado daquela forma. Nos meus sonhos, eu e tínhamos um namoro firme e forte há anos e, um dia, íamos a uma viagem romântica e tínhamos um momento perfeito de amor. E agora eu estava ali, com o cara que sempre foi o meu melhor amigo, no meu quarto (o lugar mais familiar do mundo), preparada para fazer tudo diferente do plano. Acho que às vezes as coisas são assim: do jeito que a gente não imaginou.
Abri a porta com toda a minha coragem. estava deitado em minha cama, vendo televisão, usando uma camiseta branca e uma boxer preta. Ele já havia bagunçado os lençóis cor-de-rosa que eu havia comprado para a ocasião e “zapeava” os canais desesperadamente. Acho que ele também estava nervoso. Porém, no momento em que abri a porta, o olhar dele foi direto para mim. O jeito com que me olhou... Nunca vou poder descrever. Foi um jeito único, o tipo de olhar que apenas ele podia dar e apenas eu podia receber. Algo só nosso.
– Achei que tivesse se afogado no banho – disse ele, rindo.
Sorri de volta meio envergonhada.
– Eu só queria ficar bonita o suficiente.
– Você certamente conseguiu muito mais do que isso. É linda demais, mas hoje... Está uma deusa – comentou ele, jogando os cabelos para o lado.
– Como você imaginou? – perguntei.
– Muito melhor – disse ele.
Olhei para baixo, ainda envergonhada. acabava comigo sem nem encostar em mim. É, chocava-me isso.
– Pretende ficar parada aí a noite toda? – disse ele. – Chegue perto de mim.
Eu o fiz. Caminhei até ele, postando o meu corpo em frente ao dele.
– Você é linda.
– Você é lindo – respondi.
– Eu te amo – disse ele. Congelei no ato. Percebendo, completou: – Desculpe. Precisava dizer. Guardei isso por tanto tempo para mim mesmo... Eu a amo desde sempre. Desde a primeira vez que a vi. E eu só tinha três anos.
Sorri sem responder. O que eu poderia dizer? Eu o amava também. Não sabia se era daquele jeito exatamente, porém sabia que era amor.
– Eu te amo também – falei. – E quero ser sua.
Ele segurou as minhas mãos e se aproximou de mim, beijando-me. Antes que eu pudesse perceber, estava ao lado dele na cama.
– Você realmente quer isso? – perguntou ele.
– Sim. Realmente quero você – falei, sorrindo.
E nunca, nunca, vou me arrepender dessa frase.
Senti os lábios dele contra o meu pescoço. Puxei levemente os seus cabelos para que os movimentos se intensificassem. O cara o fez sem demora. estava apoiado em um dos antebraços, posicionado ao lado de minha cabeça no colchão. A sua outra mão passeava pelo meu tórax, descendo até as minhas coxas. Resolvi que aquilo estava sem graça alguma, então estendi a mão para tirar a camisa dele. Antes que eu percebesse, o meu sutiã, escolhido com tanto carinho, estava no chão. E enquanto beijava toda a região que ia do meu pescoço até a minha barriga, me pediu permissão com um olhar para continuar. Concedi. Logo vi a minha última peça de roupa ser retirada e a última peça de roupa dele ser retirada também.
Por um momento, senti uma onda de calor na minha barriga misturada com um nervoso estranho. Fechei os olhos e respirei fundo, tentando fazer aquilo passar. Porém com os beijos entorpecentes de , era quase impossível.
– Está na hora. Pronta? – perguntou ele ofegante. Coloquei as mãos na nuca dele e os meus lábios foram de encontro a um de seus ombros.
– Só para você – respondi, sorrindo. Ele passou o nariz pela minha bochecha e beijou o meu pescoço, enquanto eu suspirava.
E, com um simples movimento dele, tornamo-nos um. Não tenho a capacidade de descrever esse momento. Foi o mais doloroso, delicioso e calorosamente perfeito. Só tive uma certeza: eu o amava como nunca tinha amado, ou poderia amar um dia, ninguém.

's POV

Ela estava dormindo, ali ao meu lado, a respiração calma e compassada. Eu simplesmente não conseguia deixar de observá-la.
Eu nunca tinha ficado olhando uma menina depois de fazer sexo com ela. Geralmente dormia ou então simplesmente ia embora, contudo a vontade que eu tinha era de nunca mais deixar aquele quarto e observar para sempre adormecida. Queria passar a vida me lembrando daquela noite - a mais maravilhosa que eu já havia tido. Isso soa tão gay! Mas é verdade. Eu simplesmente não conseguia mais negar. E nem precisava.
A verdade é que sempre amei a . Sempre, desde pequeno. Todas as vezes que eu ficava com outras meninas era porque ela sempre quis aquele pateta do . Só que agora ela era minha e só minha. Eu podia dizer que a amava para sempre sem nem me importar.
se mexeu. Ela suspirou e então sussurrou:
.
Sorri feliz. Ela estava falando o meu nome enquanto dormia. A minha garota estava sonhando comigo.
– Estou aqui, ... E sempre vou estar – respondi.
Ela, mesmo dormindo, sorriu e o meu coração sorriu junto.

's POV

Eu amava . Com certeza, não havia dúvidas. Eu amava e amava daquele jeito. Ele fora tão perfeito na noite anterior, tão atencioso, tão mágico... Cada momento, cada toque, cada beijo, cada palavra da noite anterior foi perfeito, como se eu nunca tivesse sentido nada de ruim em minha vida, como se ele pudesse curar todas as feridas que eu guardava comigo por anos de sofrimento na escola, como se ele pudesse me fazer feliz para sempre.
Até sonhei com ele. Sonhei com aquele momento.
Acordei no dia seguinte e o vi me encarando. Antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, eu disse alto:
– Eu te amo demais! Demais, demais, demais. Amo você mais que tudo. Ninguém o ama mais do que eu.
Ele sorriu e me beijou.
– Eu te amo mais que a vida. Eu te amo mais do que qualquer um no mundo. E ninguém ama alguém como eu te amo.
Ele começou a me beijar de novo. Só sorri e correspondi, porque ele na minha vida era tudo o que eu queria.
Se alguém me contasse aquilo há alguns anos, eu não acreditaria, nunca mesmo, que um dia eu perderia a minha virgindade da forma mais perfeita possível com em meu quarto e que eu acordaria gritando que o amava. E enxerguei a magia do momento ali. Tudo tão inusitado, tão magicamente surpreendente... era assim. E eu gostava assim.
Os dias que seguiram foram os mais maravilhosos da minha vida. Até hoje não me recordo de ter tido uma semana mais perfeita. Se a minha mãe estava comemorando com tio John o noivado deles no Havaí, eu e estávamos em Ambler, ora na minha casa, ora na dele, comemorando sei lá o quê. E eu duvidava que mesmo estando noiva e no Havaí, a minha mãe conseguisse sentir metade da felicidade que senti.
Foi no sábado daquela semana. Lembro-me perfeitamente. Depois de quatro dias sem nem conseguir me separar de , finalmente resolvi que precisava ir à rua comprar um almoço para a gente. Assim, fui de bicicleta ao mercado e comprei ingredientes para fazer uma macarronada. Quando eu voltei para casa com todas as coisas, estava sentado no sofá, usando roupas normais e com os cabelos molhados e cheirosos. Apenas sorri e disse:
– Finalmente você resolveu tomar um banho sem mim.
Ele sorriu em resposta e veio me ajudar com as compras. Fizemos juntos o almoço. Quando estávamos comendo, o cara ficou insistindo que a gente tentasse fazer aquela coisa com o macarrão do filme "A Dama e o Vagabundo". Depois de inúmeras tentativas e fios de macarrão partidos, conseguimos. Ele me deu um selinho longo e correspondi sem conseguir evitar rir daquela cena. Romântico demais. Nada a ver com o que eu conhecia. Quando nossos lábios se separaram, ele me fitou profundamente, os olhos brilhando de um jeito mágico. Antes que eu pudesse processar, ele disse:
– Quer ser a minha namorada?
Não consegui evitar arregalar os olhos. Quase exclamei de surpresa. Fiquei tão idiotizada que só consegui dizer:
– A sua boca está suja de molho.
Ele me encarou confuso e pareceu meio triste. Então se levantou.
– Vai aonde? – perguntei nervosa.
Merda, . Você é estúpida demais!
– Para casa. Acho que passei tempo demais aqui.
Eu precisava fazê-lo ficar, eu precisava dizer que sim, que queria ser a namorada dele, que queria que o casamento, a minha mãe e o tio John fossem para o inferno com o moralismo idiota de deles que tínhamos que nos comportar como irmãos. Eu precisava dizer que o queria ele. Porém só o que saiu foi:
– Mas a sua boca ainda está suja de molho.
Ele me olhou confuso.
, realmente não entendo você e, sinceramente, acho que ninguém se importa com o estado da minha boca no momento.
Levantei-me e fui até ele. Com o guardanapo que estava em minha mão limpei a boca dele. pareceu meio entorpecido com meu toque. Era maravilhoso saber que eu causava sensações nele, porque ele as causava em mim também.
– Afaste-se – disse ele com um bico. Só que era sério e eu sabia disso.
– Não. Que tipo de namorada eu seria se fizesse isso? – perguntei, sorrindo.
Ele me lançou outro olhar completamente confuso. Sorri e agradeci aos céus pela coragem que finalmente havia crescido em mim.
– Você disse que é minha...?
– Sh – falei, dando um selinho nele. – Eu o amo e é claro que quero ser sua namorada.
Ele começou a rir e disse:
– É... Claro que você quer. Todo mundo quer.
– Mas só eu posso. Certo?
– Só você – afirmou ele.
Passei os braços ao redor do pescoço dele e o beijei.
– Posso lhe perguntar uma coisa? – falei, bagunçando os cabelos dele. Ainda estávamos com os lábios grudados.
– Hum? – disse ele.
– Sou sua primeira namorada. Não é?
– Você sabe que sim. É minha amiga desde os três anos – disse ele.
– Sempre disse que namorar era para os fracos... – continuei.
– Namorar aquelas garotas da escola é para os fracos. Namorar você é para quem pode E é óbvio que quem pode sou eu. Afinal, como disse, sou eu. E eu sou a pessoa mais foda das galáxias.
– Você? Eu que sou 3,14 K – disse, jogando a cabeça para trás com uma expressão convencida.
– Você é o quê?! – perguntou ele sem entender.
– 3,14 K – respondi como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Quando ele continuou me olhando confuso, eu disse: – Ai, seu idiota. 3,14 é o Pi. Então 3,14 K. Entendeu?
Ele começou a rir descontroladamente.
– As suas piadas são podres. E matemáticas.
– Sou inteligente. Tenho que fazer piadas do meu nível.
– Ah, minha gênia...
– Você me ama – falei convencida.
– Amo muito – sussurrou ele.
– Eu também te amo – respondi, sorrindo e o beijando de novo.


NOVE


Um mês depois

– Mais duas voltas! – gritou Diana.
Continuei correndo e bufando. me deu uma piscadela e sussurrou:
– Ela sabe o que faz.
A verdade é que Diana estava me matando. Na verdade, tudo estava. Desde aquela noite, eu simplesmente não conseguia dormir direito. Eu e todo dia fugíamos de madrugada para passar um tempo juntos e completamente sozinhos... Os nossos pais nem imaginavam obviamente. Até porque seria um escândalo enorme. E Diana insistia em nos fazer treinar feito loucas.
As seccionais eram no sábado e, se vencêssemos, estaríamos nas regionais. O objetivo delas era pelo menos nos fazer entrar nas nacionais, o que seria muito, muito difícil. Porém a equipe estava inegavelmente melhor. Diferentemente da minha situação em casa.
A minha mãe tinha certeza de que eu e tínhamos algo. E eu sabia que, se ela descobrisse, estaríamos ferrados. A mulher provavelmente brigaria sério com o tio John. Entretanto eu simplesmente não poderia e não queria ficar longe do ... Eu o amava e isso era importante.
– Meninas, as seccionais são no sábado... Então espero que estejam bastante relaxadas. Por isso, os treinos de amanhã e sexta estão cancelados. Descansem bastante e repassem as coreografias! – disse Diana ao fim do treino.
Só faltou eu dar piruetas de emoção. Ia ter duas tardes dessa semana com o meu namorado gostoso. Ia poder ver os treinos dele ou me agarrar com ele atrás das arquibancadas. Poderíamos até comemorar nosso um mês de namoro.
Minha mãe me ligou mais tarde, dizendo que eu e tínhamos que ir a uma prova idiota de roupas para o casamento, o que certamente melou qualquer chance de termos um tempinho a sós depois do treino.
Essa coisa de casamento era muito estressante também. Só naquela semana, eu já tinha tido cinco compromissos relacionados ao maldito matrimônio. Contrariada, lá fui eu tirar as minhas medidas... De novo.
– Acho que temos que apertar mais – disse a costureira, puxando o tecido lilás contra o meu corpo.
Eu, , mamãe e a mulher estávamos na sala. O meu vestido estava sendo fortemente apertado em minhas costas e eu ofegava.
– Está apertado demais – falei sem ar.
A minha mãe sorriu e pediu que a costureira afrouxasse um pouco.
O meu vestido era mesclado entre lilás e roxo com uma saia de um tecido que parecia filó caindo até a metade das coxas. Em cima, um corpete e uma alça que abotoava no pescoço.
Depois que o corpete fora devidamente ajeitado, sorri para o meu reflexo. Estava lindo.
– Você gostou? – perguntou mamãe.
– Sim. Amei – falei, sorrindo.
– Bom, então não emagreça ou engorde. O casamento é no início do mês que vem e não dá mais tempo de fazer muitos ajustes.
Ela saiu do quarto, provavelmente para checar se o terno de estava bom. Fiquei em êxtase só de imaginar o meu namorado de terno. que vestia um vestido do mesmo modelo que o meu, só que azul, postou-se ao meu lado.
– Você fica muito melhor nesse vestido do que eu – disse ela, olhando-se.
– Não seja boba, . Você é linda – falei sincera.
– Ah, mas você é mais. Fez o se apaixonar por você. É provavelmente a menina mais bonita dessa cidade.
Sorri. Não sabia se ficava feliz com o elogio ou irritada com o fato de ela saber a verdade.
– Em primeiro lugar, se sou linda, você também é. Afinal somos parecidas. E depois, o não é apaixonado por mim.
– É. Ele namora uma garota que ele não ama. Acredito – disse , rindo.
– Quem lhe disse que sou namorada dele? – perguntei abismada.
– Qualquer pessoa com o QI maior que quarenta percebe. Até porque todo mundo está comentando o quão incestuosos vocês dois são.
– Não namoro o – menti.
– Para mim você não mente. E ele está ali na porta. Então veja se mede as suas palavras – disse , virando-se para sair do quarto. Ela estava certa. realmente estava na porta. – Oi, – ela completou, acenando. – Você está lindo e estou a fim de você. Já que não tem namorada, ligue para mim.
Fuzilei-a com os olhos por causa da provocação e riu.
– Pode deixar, . Um cara solteiro feito eu nunca desperdiçaria uma menina linda como você – respondeu ele, entrando na brincadeira.
– Vocês são dois imbecis. Calem a boca.
me mandou um beijo, saindo do quarto, e chegou mais perto, exibindo um sorrisinho idiota. Merda, ele tinha que estar de smoking? Aliás, tinha que ser a pessoa mais linda do mundo usando smoking?
– Você está linda, .
– Saia daqui – falei, fazendo bico. – Você não vale nada.
– Ah, com ciúmes de mim com a ? Você não pode culpá-la por me querer. Foi você que disse que não era minha namorada.
– Não estou com raiva dela. Você é que é um idiota de dizer que está solteiro.
– Você disse primeiro – disse ele, colocando as mãos em minha cintura e beijando o meu pescoço.
– Pare, seu doido – falei, já rindo. – A minha mãe...
– Está lá embaixo conversando com a costureira. Relaxe. Só quero um beijo. E quem sabe, se der tempo, tirar esse vestido.
– Você não vai conseguir tirar esse vestido. É muito complexo. Nem com tempo de sobra conseguiria – comentei enquanto me virava de frente para ele.
– Quando eu tiver com tempo de sobra, pode apostar que vou dar um jeito – disse ele com um sorriso sarcástico, beijando os meus lábios.
– Droga – exclamei sem desencostar a boca da dele. – Sinto a sua falta. A gente só tem encontros assim agora. Afobados, com tempos mínimos...
– Eu também sinto, minha linda, mas não temos muito o que fazer...
– AHÁ, PEGUEI! – gritou na porta, surgindo de lugar nenhum. Eu e nos separamos sobressaltados. – EU SABIA!
– Dá para você calar a boca, sua idiota? – perguntei com raiva.
– Eu sempre disse que isso ia acontecer – falou ela convencida.
– É verdade. Ela sempre disse – concordou , puxando para perto de nós.
– Vocês têm noção de que estão em minhas mãos agora? – falou ela, brincando. – Se eu contasse isso para a mamãe... Estariam mortos.
– Contasse o que, ? – perguntou uma voz na soleira da porta.
Todos nós enrijecemos. Ninguém conseguia abrir a boca.
, contar o que exatamente? – falou a minha mãe irritada.
– Que a está fazendo dieta e pretende perder mais oito quilos antes do casamento – disse ela.
Sorri de alívio. Essa foi muito sagaz, . Tenho que admitir.
– Você está maluca?! – disse minha mãe, gritando. – O vestido nunca vai entrar em você se perder oito quilos!
– Era isso que eu estava tentando dizer a ela, tia Jude – falou ao meu lado. – Mas quem disse que essa menina escuta alguém?
– Puxou a mãe – falou , brincando.
A minha mãe começou a rir. Acho que ela não conseguiu segurar.
– Nem pense em fazer isso. Entendeu, mocinha? Se eu souber que está fazendo dietas malucas...
– Entendi, mamãe. Pode deixar – respondi, sorrindo.
– Tudo bem. Vocês vão para casa. Não quero que ninguém, principalmente você, , veja o meu vestido. É surpresa e não quero que o John tenha idéia do que se trata – disse ela.
– Acho que essa é a nossa deixa – disse . – Vou trocar de roupa.
Voltei para casa e fiquei com um tempo. Foi bom porque minha mãe demorou e tio John raramente se importava quando a gente sumia.
O dia seguinte foi mais atribulado ainda. O time de futebol jogaria essa noite, o que significava que as líderes de torcida se apresentariam. Isso levou a família toda a se programar para assistir ao jogo. Afinal, e eu estaríamos em campo.

Antes do jogo, entrei no vestiário para colocar um pouco de farinha nas mãos, porque isso tirava o suor e dava mais precisão às acrobacias que eu fazia. Atrás de mim, quase todo o time veio junto também com o mesmo objetivo. Foi quando me deparei com uma cena mais do que patética. Claire estava debruçada sobre as minhas coisas, colocando alguma substância de cor suspeita na sola dos meus tênis.
– O que é isso? Que troço é esse? – perguntei.
Ela ficou muito vermelha e não respondeu. Diana, que estava presente, caminhou até ela, pegando os tênis de sua mão. Cheirou a substância.
– Isso é óleo? – perguntou Diana furtivamente a Claire. – Você estava colocando óleo no tênis de uma das flyers da equipe?!
– Essa é a minha posição. Não é justo! – respondeu ela como uma criança mimada.
– Você está cortada. Não é digna de ser uma líder de torcida. Ananka, coloque o uniforme principal. Você é a nova dancer principal das Warriors – ordenou Diana.
Ananka, por incrível que pareça, deu um sorriso.
– NEM OUSE, ANANKA! – gritou Claire. – Sou a líder do grupo! Se eu saio, você sai junto.
– Você é uma loser pretensiosa. Isso, sim. Não ando mais com você – declarou Ananka.
Juro que achei que não fosse parar de rir nunca mais.
Fomos para o jogo e Claire foi para a arquibancada como uma derrotada. Devo dizer que foi muito engraçado ver a cara daquelas idiotas que passaram a vida me xingando sentadas nas arquibancadas e me vendo com o uniforme azul e amarelo das Warriors.
O momento mais legal daquela noite foi quando as bases me ergueram para o topo de pirâmide e eu fiz um scorpion (manobra em que você se apóia em um pé e coloca outro atrás da cabeça em forma de escorpião). No exato momento em que fiz a manobra, fez um touchdown. Muito mágico.
Depois do jogo, corri até e o abracei.
– Você foi fantástico – falei.
– Obrigado – respondeu ele.
Soltei-o quando começou um coro do lado de fora do campo com gritinhos histéricos de: “beije!”, “V.V. ”. Em suma, coisas que eu não queria que minha mãe nem cogitasse.
Quando eu estava saindo, senti um cutucão. Virei-me para o lado para ver Claire usando jeans claros e uma baby look rosa. Os cabelos loiros estavam presos de uma maneira que eu nunca havia a visto usar. Havia algo de... Angelical nela. Uma estranha pureza naquela visão.
– Posso falar com você? – ela perguntou em um tom de voz aveludado.
Aquela educação me chocou tanto que respondi:
– Pode.
Ela me puxou para um canto e então disse:
– Na verdade, só quero agradecer.
– Agradecer? – perguntei confusa.
– É. Você está fazendo tudo isso ser muito simples – disse ela. – Está se destruindo sem nem precisar me mexer.
– Cara! Qual é o seu problema comigo, garota? – perguntei, elevando descontroladamente a voz. – Você me persegue desde a sétima série! Nunca lhe fiz nada! Sempre teve aí a sua vidinha perfeita, cheia da grana, com o seu namorado perfeito! O que você quer de mim?
– Nada na minha vida me interessa, V.V. A única coisa que quero nessa vida está sob a sua guarda – retrucou ela calmamente.
– O quê? Por favor, diga-me, Claire!
– respondeu ela com um brilho no olhar.
Fiquei em silêncio. Aquilo era um choque.
– Sou apaixonada por ele desde que tenho sete anos e este nunca me deu a mínima bola. Estava sempre atrás de você, igual a um cachorrinho. E só agora você resolveu corresponder.
Ok, aquilo era muito mais do que chocante.
– Claire, sinto muito. Já gostei de alguém que não gostava de mim também... Por muitos anos. Mas, infelizmente, quando duas pessoas se amam, você não pode fazer nada. Simplesmente não pode.
– Sei que você gostava do . Por isso eu o namorava. Queria que você fosse atrás dele, mas nunca ia. Foi aí quu percebi que eu estava sendo burra – continuou ela. – Notei naquele dia do lago que o que ele gosta na sua pessoa é o fato de você precisar dele... E da sua proteção.
– Não seja idiota. A gente se ama – pronunciei.
– Você é tão ingênua. Nem percebe o que está fazendo. Está olhando para nós duas nesse momento? Perceba, queridinha: trocamos os papéis. Sou a menina que foi retirada da equipe pela líder de torcida malvada. E você é a líder de torcida malvada.
– Você não foi retirada por mim, sua idiota. Foi retirada porque estava colocando óleo nos meus tênis. Eu poderia ter me machucado muito sério! – retruquei irritada.
– Cometi o mesmo erro que você, . Achei que venceria por cima. O problema, fofa, é que uma hora você sempre cai. E quanto mais em cima se está, mais forte é a queda.
Eu estava bufando. Achei que fosse torcer o pescoço dela.
– Escreva as minhas palavras, . Vou fazer você se sentir um nada tendo simplesmente tudo. Vou fazê-la cair para cima. E cair para cima é muito ruim. Sabe por quê? Porque ninguém a ajuda a se levantar.
Com isso, ela saiu calmamente. Senti lágrimas de ódio nos meus olhos e segui para o vestiário. Quando saí e encontrei , beijei-o. Nem me importei se as pessoas ao redor estavam comentando.
– O que foi?
– Prometa-me uma coisa – pedi. – Que você nunca vai ficar com a Claire na sua vida. Por nada.
Ele riu.
– Por que isso?
– Só prometa – pedi.
– Só se você me prometer que vai ser sempre minha – disse ele.
– Eu prometo.
– Então também prometo – ele sorriu.
– Eu te amo muito, .
– Eu também te amo muito, minha .


DEZ


(Música do capítulo: Don’t Trust Me – 3OH!3)

Espalhei o gel brilhante pelos meus braços. Eu estava bem ali, em frente ao espelho do camarim das seccionais do condado de Montgomery. Havia nove equipes na disputa. Uma de cada cidade das redondezas. A equipe vencedora iria para as regionais disputar com as outras quatro vencedoras do resto da Pensilvânia. Era uma chance. Uma única chance. Se perdêssemos, Diana, , Amber e Courtney voltariam para a Califórnia, sem seus objetivos cumpridos, e, no caso das meninas, sem o direito de escolha de suas faculdades.
Olhei o meu uniforme no espelho. O vestido azul, amarelo e branco com um “W” estampado na frente em azul e branco e em baixo “AMBLER HIGH” escrito em amarelo. A saia pregueada que balançava com os meus movimentos parecia perfeitamente encaixada ao meu corpo adolescente disfuncional. Eu havia prendido minha franja com grampos e tic tacs, além de ter colocado uma quantidade boa de gel com purpurina. Os meus olhos estavam maquiados com um delineador azul forte e o resto do meu rosto estava completamente “purpurinado”.
Mesmo com todo o nervosismo, não pude deixar de sorrir. Droga, eu estava estupidamente feliz. Sempre fora o meu sonho ser líder de torcida de novo. Poder competir, saltar, usar esses uniformes ridiculamente colados ao corpo... Ser cheerleader era para mim. Era o que eu sabia fazer bem. E se aquela era a minha chance de fazer isso, assim eu faria.
Sabia que, se Diana saísse da escola, Claire daria um jeito de me colocar para fora da equipe. Então eu ia me divertir muito e ser a melhor que podia.
– chamou uma voz atrás de mim. Diana estava lá parada na soleira da porta e sorrindo.
– Oi, Diana. Já estou indo.
– Eu só queria falar com você – disse ela. – Queria dizer que não importa o que aconteça hoje... Gostei muito de ser a sua técnica. E que você é uma menina adorável.
– Obrigada – respondi. – Digo o mesmo. E espero que a gente vença.
– Divirta-se, – disse ela com um sorriso, saindo.
Saí do camarim logo atrás dela. Deparei-me com minha família na porta. E meu namorado também.
– Estamos aqui para lhe desejar boa sorte, querida – disse a minha mãe.
caminhou para me abraçar e disse:
– Espero que você se saia bem. É uma irmã excelente.
– Amo você, . Obrigada.
– VÁ, ! – gritou o tio John, dando um salto e fingindo erguer pompons no ar, fazendo-me gargalhar. – Arrase, baixinha.
Bati a mão com a dele e respondi:
– Pode deixar, tio.
A minha mãe me deu um beijo também. Ela, tio John e fizeram menção de ir embora.
, você vem? – perguntou tio John.
– Daqui a pouco – disse ele. – Vou acalmar a girl aqui. Ela parece nervosa.
Sorri, vendo a nossa família se afastar, e entrelacei os dedos nos dele.
– Finalmente esse dia chegou – falei.
– É, finalmente. Você está aí, com o seu uniforme, preparada para mostrar ao mundo o quanto a sua bundinha fica linda nessa saia – disse ele maliciosamente.
Dei-lhe um soco.
– Outch! Que agressiva!
– Eles não estão interessados na minha bundinha, seu idiota! Estão interessados no meu backflip, no meu scorpion...
– É, vá nessa – disse ele, cruzando os braços. – Eles podem olhar, se quiserem. Podem mesmo. Não ligo. É tudo meu mesmo.
– Seu nada. É tudo meu. Meu corpo – falei, cruzando os braços e dando língua a ele.
– Meu corpo – sussurrou ele, abraçando-me. – Todo meu.
Beijamo-nos e não pude conter o sorriso. Ele sempre tinha que me deixar assim, boba e feliz?
– Os caras do time estão todos aqui – disse ele, ainda com as mãos na minha cintura após partir o beijo.
Eu, que estava entretida em beijar o seu pescoço, fingi interesse:
– Ah é?
– É – continuou ele. – O técnico Parker está tentando chamar a treinadora Morris para sair. Então chegou aqui cheio de pose, dizendo que, já que as meninas dela sempre torciam pelos meninos dele nas competições, uma vez na vida poderíamos inverter as posições.
Ri contra o pescoço dele.
– Isso é fofo da parte dele.
– É. E agora, quando vim ver você, ela estava rindo cheia de charme de alguma coisa que o técnico sussurrava no ouvido dela. Aprenda uma coisa, ... Homens não são fofos. Homens enganam as mulheres.
– Você não. É o meu cafajeste safado e fofo.
– Você sempre tem que me chamar de cafajeste, mesmo eu tendo saído dessa vida – disse ele, puxando o meu cabelo para que eu beijasse a área com mais força.
Afastei-me dele e exclamei.
– Ih, ficou marcado.
Dedilhei a área perigosamente vermelha em seu pescoço.
– Você é meio violenta às vezes – disse ele, rindo.
– Como você pretende explicar isso a eles quando voltar? – falei preocupada, segurando a mão dele e caminhando.
– Cara, você está falando com . Eu com um chupão de garota no pescoço não é surpresa para ninguém. Ainda mais numa competição dessas cheia de líderes de torcida gosto... – ele congelou o que ia falar quando viu o meu olhar de reprovação. Então consertou. – Cheia de garotas que, apesar de serem razoavelmente bonitas, não chegam nem aos seus pés.
– Bem melhor – assenti, sorrindo e caminhando na frente dele.
– Ganho um beijo por isso? – perguntou ele esperançoso.
– A mamãe e o tio John vão sair para jantar com a hoje à noite... Então, se você for bonzinho e me levar a algum lugar legal, pode ganhar até mais que um beijo por isso – falei com um sorriso maldoso.
– Mal posso esperar – disse ele, alcançando-me e beijando a minha bochecha.
Todas as competidoras estão sendo chamadas para concentração no salão um – anunciou uma voz em um microfone.
– Tenho que ir – falei, abraçando-o.
– Boa sorte, – disse o menino, beijando a minha testa, depois o meu nariz, as minhas bochechas, até finalmente chegar à boca. Só quando tive forças para me afastar ele disse: – Acabe com elas.
– Pode deixar. Amo você.
– Amo você – disse ele, afastando-se e acenando.
Corri então para o salão um e encontrei o time todo lá. Pisquei para que repassava um passo de dança com Ananka que só tinha pegado a posição de dancer principal há alguns dias. Então estava bastante insegura. Posicionei-me ao lado de Courtney que era, como eu e Amber, uma flyer.
– Preparada para alcançar as estrelas? Você vai ser o topo da pirâmide – disse Courtney.
– Estou. Um pouco nervosa, mas acho que vai ser tudo bem.
– Claro que vai. Depois daquele scorpion do jogo de quinta, não tem como você se dar mal.
Sorri e prestei atenção nas recomendações de Diana.
– Não se esqueçam de sorrir muito – disse ela. – Vocês são líderes de torcida! Querem animar o público, fazê-lo se empolgar. Não são más, não são destruidoras. São meigas, alegres e sorridentes. Então, pelo amor de Deus, mesmo que tenham uma fratura exposta, sorriam. Mesmo que seja com lágrimas nos olhos, sorriam.
Aquilo me assustou um pouco.
Dirigimos-nos ao ginásio, onde várias equipes se aqueciam. Na prévia, apenas entrávamos gritando “Warriors!” e fazíamos cada uma a sua acrobacia desconexa. Aquilo era apenas para mostrar que estávamos ali.
As primeiras escolas a se apresentarem foram razosvelmente bem. Éramos o número sete na ordem. Em nossa vez, peguei-me tremendo. As bases estavam postadas atrás de mim. Pisquei para Amber que estava ao meu lado com suas bases às costas como eu. As dancers estavam agachadas com os punhos fechados, quase socando o chão. Eu estava ereta, com o queixo colado no peito, os braços retos ao lado do corpo e os punhos fechados. Contei até dez e a música da apresentação, que era “Don't Trust Me” do 3OH!3, começou a tocar.

Black dress with the tights underneath.
I've got the breath of a last cigarette on my teeth .
And she's an actress, but she ain't got no need.
She's got money from her parents in a trust fund back east.


A música começava lenta, mas, assim que o primeiro acorde começava, eu e as meninas levantávamos os nossos rostos sorrindo.

T-t-t-tongues always pressed to your cheeks,
While my tongue is on the inside of some other girl's teeth.
Tell your boyfriend if he says he's got beef
That I'm a vegetarian and I ain't fucking scared of him.


O ritmo da música passou a acelerar. Começamos então a fazer a coreografia. Punho para a esquerda, desça. Punho para a direita, desça. Passo para frente, passo para trás. Enquanto fazia a coreografia, recebi um aceno de cabeça vindo de que estava na platéia. Respondi com uma piscadela.

She wants to touch me, whoa, oh.
She wants to love me, whoa, oh.
She'll never leave me, whoa, oh, whoa, oh, oh, oh.


Nessa hora, a música ficava agitada e as bases nos erguiam. Estiquei os meus braços e reproduzi o scorpion de outro dia, sendo acompanhada por Amber e Courtney, uma de cada lado, ambas erguidas também. Procurei com o olhar, mas o que vi foi um bico emburrado. Provavelmente ele me vira piscar para antes.

Don't trust a hoe.
Never trust a hoe.
Won't trust ‘cause a hoe won't trust me.
Won't trust me.


Desfiz graciosamente a posição do escorpião e mandei um beijo para antes de saltar para o chão com uma cambalhota aérea. As dancers todas reproduziam os seus Dive Rolls, que eram acrobacias com rolamento no final. Depois voltávamos à posição inicial, já que Diana, com o objetivo de não ultrapassar o tempo limite de apresentação, havia feito uma versão cortada da música.

Shush, girl. Shut your lips.
Do the Helen Keller
And talk with your hips.


Hora da dança. Todas as meninas caminhando até o centro e fazendo passos de dança coreografados.

Shush, girl. Shut your lips.
Do the Helen Keller
And talk with your hips.


A parte mais complicada da apresentação era aquela: a pirâmide. Várias chances de erro existiam e eu estava no topo, o que significava que, se caíssemos, eu seria totalmente a mais prejudicada. Mas, para a minha sorte, a pirâmide ficou perfeita. Antes do último refrão, dei mais um salto. Diana comentou mais tarde que devo ter pulado quase seis metros nessa acrobacia.

She wants to touch me, whoa, oh.
She wants to love me, whoa, oh.
She'll never leave me, whoa, oh, whoa, oh, oh, oh.


Quase no fim, as dancers faziam os seus twists carpados e as flyers, as suas hélices(quando você é arremessada ao ar e gira com os braços esticados).

Don't trust a hoe.
Never trust a hoe.
Won't trust ‘cause a hoe won't trust me.
Won't trust me.


Desci das bases e dei um Dive Roll. Mandei um beijo gracioso para a mesa de juízes e me posicionei no meio, pousando as mãos na cintura e sorrindo mais animada que um cientista depois de descobrir a cura da AIDS. A equipe toda fez o mesmo e a música acabou. Fomos muito fortemente aplaudidas.
Abraçamo-nos animadas, correndo para fora do tatame de competição e acenando para a platéia. Diana gritou:
– Vocês foram perfeitas. Meus parabéns!
Sorri e fui procurar , e os meus pais.
Encontrei no caminho.
– Ei, você estava ótima.
– Ah, obrigada – respondi, sorrindo. – Viu o por aí?
– Não... Quer que a ajude a procurar?
– Ah, não. Está tudo bem – respondi nervosa. Se me visse falando com ele, daria confusão.
– Ele tem ciúmes. Não tem? – perguntou com um sorriso.
Assenti culpada.
– Entendo. Sabe? Se você fosse a minha namorada, eu também teria ciúmes. Vejo-a por aí, – disse ele, dando-me um beijo que foi na bochecha, mas quase no canto da boca.
O meu coração explodiu em meu peito.
"Se você fosse a minha namorada, eu também teria ciúmes". O tinha dito isso. Ele disse que teria ciúmes de mim. O .
Chocante.
Ainda entorpecida com o peso daquelas palavras, voltei a procurar os meus parentes e o meu namorado.
– Vááááááááááá, ! – ouvi alguém gritando atrás de mim.
Virei-me e vi tio John, minha mãe e vindo em minha direção. Corri para abraçá-los.
– Você estava esplêndida, querida – disse a minha mãe.
– Obrigada, mamãe. Cadê o ?
– Ele estava conversando com os amigos na arquibancada. Vocês brigaram? – perguntou a minha mãe. Quando balancei negativamente a cabeça em resposta, ela completou: – Estranho. Ele parecia muito irritado.
”Merda”, pensei. estava com ciúmes do só porque pisquei para ele. Meu Deus, que possessivo!
– Vou falar com ele – assenti, despedindo-me.
estava sentado na arquibancada com um semblante bastante duro e irritado. Resolvi ir por trás sem que ele percebesse, porque sabia que, se a criatura me visse, sairia andando.
Céus, adorava um drama.
Quando estava apenas a um degrau de diferença para ele, abaixei-me de modo que as nossas cabeças pudessem ficar próximas. O garoto ainda não tinha me notado ali, então passei os meus braços em volta do seu pescoço.
– Oi – falei baixinho.
Ele não respondeu.
Mesmo assim insisti e comecei a beijar o pescoço dele.
– Pare, – reclamou ele.
– Você não quer que eu pare... – provoquei.
– Impressionante como você sempre sabe que fez merda.
– Não fiz merda. Pisquei para um garoto.
– Um garoto que até mês passado você era apaixonada.
– Sou apaixonada por você. Então deixe de ser chato.
– Você se comporta mal demais. Deveria castigá-la – disse ele, já assumindo um tom de provocação.
– Então castigue – respondi.
Ele sorriu e pigarreou.
– Pode deixar. Cuido disso mais tarde.
Soltei o seu pescoço e me levantei, sentando-me ao seu lado.
– E aí, como eu estava?
– Animada e gostosa – disse ele. Dei-lhe um tapa. – Outch, ! O que você queria que eu dissesse?
– Algo mais decente – falei.
– Você pula alto – comentou ele.
– Esse é um comentário bem idiota. Eu sou uma flyer. Os meus saltos mínimos tem quatro metros – rebati convencida.
– Achando-se – disse ele. – Pois saiba, , que sou um tackle. E sabe o que faço? Dou tranco em caras do tamanho dos seus saltos. Então não comece de onda para cima de mim, senão corto as suas asinhas.
– Você é bem um tackle mesmo. Afinal, a função deles não é proteger o quarterback contra o outro time?
– É – concordou ele.
– Então. Você é o meu tackle. E eu sou a sua quarterback.
– Esse é um comentário bem idiota – disse ele, reproduzindo a minha fala de antes. Dei língua para ele. – Coloque essa lingüinha para fora de novo e a arranco.
– Não arranque, não. Você ia morrer de saudades – brinquei.
– Ia mesmo... – disse ele, beijando-me rapidamente.
Anunciaremos em instante os resultados da competição. Competidoras, dirijam-se ao tatame do ginásio principal – anunciou uma voz.
– Tenho que ir de novo. Agora estou nervosa – falei, sentindo-o me abraçar. Coloquei o nariz na curva de seu pescoço.
– Relaxe, . Você estava linda, com aquela cara sorridente de quem acabou de ganhar na loto. Eles não vão resistir.
– Espero – falei. – Tenho que ir.
– Boa sorte – disse ele, dando-me um selinho.
– Obrigada. Amo você – falei.
– Amo você – respondeu enquanto eu corria para o local do anúncio dos vencedores.
A equipe estava tensa. Eu estava também. Diana nos olhava o tempo tod,o mandando olhares encorajadores.
– Em terceiro lugar... – anunciou uma mulher em um microfone. – As Zodiacs de Blue Bell High!
As meninas foram aplaudidas e foram buscar as suas medalhas com expressões decepcionadas. O terceiro e o segundo lugar passavam por uma disputa de reclassificação para tentar entrar nas regionais. A chance de entrar era bem pequena.
– Em segundo lugar, as Warriors de Ambler High! – anunciou a mulher novamente.
Uma pontada de decepção se instalou em mim. Em todas nós. me olhou e sussurrou um “sinto muito”.
As regionais agora pareciam bem distantes. Era quase impossível entrar como reclassificada, já que disputávamos uma vaga com todos os terceiros e segundos lugar do país todo.
– E em primeiro lugar, as Snakes de Horsham High!
Roubo. Elas tinham feito um número ridículo e pejorativo, cheio de movimentos sensuais.
Olhei para Diana. Ela exibia um semblante muito irritado.
– Meninas, vamos embora.
Dispensei qualquer tipo de diversão à noite. Fiquei tão decepcionada que nem quis comemorar.
pediu autorização para dormir no quarto comigo e minha mãe, meio a contragosto, cedeu. Ela viu que eu estava mal.
No dia seguinte, quando acordei, me fez um chocolate quente. Estávamos apenas os dois em casa, pois a minha mãe, o tio John e a tinham ido passar o dia no lago. O plano era a família toda ir, porém eu estava completamente sem ânimo. Vesti uma legging cinza com um moletom branco. Fiz um coque e coloquei os meus óculos de leitura. Deitei no colo de no sofá e ele disse:
– Como sou bonzinho, vou deixá-la escolher o filme.
Rocky Horror Picture Show? – perguntei esperançosa.
– E eu que estava com esperança de você querer ver Dirty Dancing... Só porque você está muito triste, vou deixar.
Comemorei de leve, mas logo depois me acomodei no colo dele e começamos a ver o filme. Antes mesmo de Brad pedir Janet em casamento, cantando Damn it, Janet, a campainha tocou.
– Eu abro. Não vou perder nada mesmo – disse , levantando-se.
Quase gemi de reprovação quando ele me soltou de um abraço para atender a porta.
? – ouvi perguntar surpreso. – Entre aí!
– A está? – perguntou ela.
– Curtindo a fossa na sala – respondeu ele, fazendo-me rir.
! – chamou , fazendo-me levantar. – Tenho uma super notícia para você!
– Você já está indo embora? – falei, fazendo bico.
– Nãããão! – gritou ela. – Cara, pegaram as meninas da Horsham usando anfetaminas e esteróides! E isso é proibido. Elas foram desclassificadas.
– E? – perguntei.
– E, já que fomos o segundo lugar, passamos para primeiro! Somos campeãs das seccionais e estamos indo direto para as regionais!
– AAAAH! – gritei de alegria. Eu e nos abraçamos pulando.
ficou olhando e rindo.
– E tem mais! – disse . – Tome – ela me entregou uma medalha. – Você foi escolhida a melhor líder de torcida da competição. Foi depois de a gente sair...
Olhei a medalha e disse:
– Obrigada.
– Que é isso... Você foi ótima. Tenho que ir. Ligo depois.
– Tudo bem! Vamos sair mais tarde.
– Tenho um encontro hoje – disse ela, rindo.
– Poderíamos fazer um encontro duplo – falei dando os ombros. – Eu e , você e seu date...
– Pode ser. Eu ligo – falou, rindo.
Ela mandou um beijo e saiu.
– AAI, AMOR! – falei, pulando no colo do . – Ganhei um prêmio!
– E quando vou ganhar o meu, hein? – perguntou ele, beijando o meu pescoço.
– Agora, se você quiser – disse.
O filme ironicamente tocava “Touch a Touch a Touch a Touch Me”, uma música em que Janet, a personagem principal, pedia a Rocky, um monstro lindo, que a tocasse porque ela queria ser "suja". Eu amava aquela cena e aquela música. Mas é claro que não me deixou assistir.
– Então quero agora – disse ele, beijando-me.
– Quarto – eu disse entre beijos.
– Como queira – murmurou, levando-me para cima.
E eu só me perguntava se a minha vida poderia ficar melhor.


ONZE


Ah, como é doce estar no topo.
Na segunda-feira, após a vitória nas seccionais, cheguei na escola aplaudida. Todas as pessoas me olhavam diferente, como se pela primeira vez eu fosse invejável ou interessante, pois eu agora era simplesmente a garota mais popular da escola.
O que um uniforme curto e apertado de líder de torcida não faz com a vida de uma pessoa?
sempre foi popular, o que fez com que, em meio segundo, nós nos tornássemos o casal. Se todas elas já queriam o antes, agora queriam o dobro. Porque, aqui entre nós, cafajestes são dez vezes mais atraentes quando estão domados. Pelo menos eu acho. Parece que eles são ainda mais proibidos... Quer dizer, para as outras. Sou a domadora do leão. Nada em relação a ele é proibido para mim. Ha.
E Claire... Pobre, Claire. Essa coitada olhava de longe. Porém confesso que o seu comportamento pacífico me assustava... Bastante.
Mas agora ninguém poderia me parar. estava de volta ao topo.
– Oi, ! – ouvi umavoz me chamar lá atrás, enquanto saía da aula de cálculo avançado. Olhei e vi Courtney sorrindo na minha direção.
– Court – cumprimentei. – E aí?
– Olhe, acho melhor você dar uma passadinha lá no refeitório... Está acontecendo uma coisa... Bem, não sei se você vai gostar. É que o ... – disse ela.
– Courtney, do que você está falando? – perguntei, colocando as mãos na cintura.
Eu já disse que essa pose fica simplesmente incrível quando se está usando aquele uniforme? Provavelmente não. Mas fica.
– Bom, você deveria ver.
Apertei os meus livros contra o corpo e fui caminhando decidida até o refeitório com Courtney em meu encalço. Os meus tênis polidamente brancos faziam um barulho agudo e arrastado em contanto com o chão por causa de meus passos agressivos. A minha saia e meus cabelos balançavam quase que na mesma intensidade, arrancando suspiros de caras ao meu redor. Aquilo era deliciosamente maléfico. Porém eu estava preocupada demais com o que aquele imbecil estava fazendo para prestar atenção nisso.
Adentrei o refeitório com toda a minha "classe" (ok. Zero classe) e me deparei com aquela cena imbecil. O retardado do estava sentado em sua mesa de refeitório com Ananka parada ao seu lado e sussurrando algo ao seu ouvido. Caminhei decidida até eles e senti os olhares do refeitório sobre mim. Merda, odeio que me olhem desse jeito.
– Oi, – falei num tom elevado e sarcástico.
– Oi, – respondeu ele num tom parecido.
Ok. O que estava havendo?
Ananka não se mexeu. Apenas exibia um sorrisinho idiota no rosto.
– Oi, ! – disse ela.
Ignorei-a no meu melhor jeito "sou superior" e me virei para .
– Vamos sair daqui, .
– Amor, estou conversando com a Ananka... Mais tarde a gente se fala – disse .
Fiquei perplexa. Principalmente com o jeito sarcástico que ele me chamou de "amor". Qual é o problema desse garoto?
, levante-se daí e venha comigo. Agora – falei entre os dentes. Fiz um bico e falei, disfarçando. – Quero ir à cantina.
Olhei ao redor. A maioria das pessoas exibia expressões tensas. Ananka sorria e segurava o ombro de . sorria para mim de um jeito satisfeito. E notei , Courtney e Amber às minhas costas.
– Amor, eu já disse que vou mais tarde.
Posso matar o agora? Obrigada.
– Você quer que eu vá com você, ? – ofereceu , sorrindo.
Bingo. fechou a cara. Sorri de volta satisfeita.
– Obrigada, . Eu adoraria que você fosse comigo.
Quando fez menção de se levantar, o meu namorado afastou os braços de Ananka e disse:
– Não precisa, . Ela tem namorado – disse ele.
– Bom, só me ofereci porque você não estava querendo e...
– ‘Ta. Já entendi – disse , cortando . Ele puxou o meu braço, afastando-se comigo para fora do refeitório.
Comecei a notar cochichos e olhares em nossa direção enquanto me arrastava para fora.
– Dá para você me soltar? – perguntei irritada quando saímos do lugar.
– Ah, agora vai bancar a estressadinha. Eu mereço – disse ele, andando atrás de mim.
– Vá se ferrar, idiota! Você estava quase pegando a Ananka Miller antes de eu chegar! – gritei, olhando para trás.
– Ciúmes, ? – perguntou ele, assumindo um tom levemente sarcástico. Depois se aproximou de mim e segurou a minha cintura, levando os lábios ao meu ouvido: – É bom, né?
– Você é doente – cuspi. – O que é bom, ?
– Sentir ciúmes. Ver as outras pessoas rindo da sua cara por isso...
Então entendi tudo. Mas que merda!
– O contou para alguém o que eu disse? Ele contou que disse que você tem ciúmes dele comigo? – perguntei.
– Contou para todo mundo. Tudo graças a você que não consegue controlar essa boca gigante. E ainda por cima fala besteira...
– Besteira, ? Tudo bem. Eu não devia ter dito isso, porém é verdade! Você tem medo até de pensar em mim ao lado do .
– Eu sou eu – disse ele. – . Não tenho o mínimo medo de perder uma garota. Sabe por quê? Se uma sair da minha asa, outras mil aparecem.
– Ótimo. Realmente excelente que você tenha várias para substituir, porque estou caindo fora – falei, virando-me para sair de perto dele.
As lágrimas nos meus olhos pesaram, quase implorando para cair. Senti então o meu pulso ser segurado e meu corpo jogado em algum lugar. Olhei e vi que era a sala de música. trancou a porta atrás de si e ficou me encarando.
– Deixe-me ir embora.
– Você não quer – disse ele. – Porque me ama.
– Cale a boca – rebati, sentindo-o se aproximar. – Vou embora.
– Não, você não vai, porque sabe que não quer ir. Sabe que não quer que eu fique com outra garota – disse ele, segurando a minha cintura.
– O que você tem na cabeça? Arma a maior cena no refeitório para me deixar com ciúmes. Depois me tranca numa sala e tenta me agarrar.
– Tenho você na minha cabeça. E a quero agora – respondeu, colando os lábios nos meus.
Não tinha como resistir. Logo eu estava cedendo e correspondendo. Ele começou a beijar o meu pescoço e me deitou em cima do grande piano preto que tinha na sala. apalpava as minhas vestes de torcedora, demorando-se nos meus seios e coxas, parecendo procurar por algo.
– Cadê o zíper desse troço? – perguntou ele, ainda me beijando.
– Você ficou maluco? – perguntei. – Estamos na sala de música!
– Qual é?! E o espírito de aventura? – disse ele sarcástico. – Relaxe, . Já fiz isso centenas de vezes com as meninas do coral. Não tem risco – comentou, fazendo-me ficar com raiva.
– Você está dizendo que está tentando me agarrar num lugar onde já trouxe milhões de garotas? Qual é o seu problema, ? – perguntei com raiva, mas ainda sem forças para afastá-lo.
– Não seja boba. Sabe que no passado existiram várias. Porém a única que eu conseguia ver toda vez que estava com elas era você... O seu rosto.
Sorri e o beijei.
– O zíper é lateral. Direita – falei com um sorriso.
Ele retribuiu e logo estava me despindo. Quando o meu uniforme caiu no chão, puxei-o e fiz menção de tirar a sua camisa também. Logo estávamos os dois seminus, enroscados em cima do lustroso piano.
– Eu a quero tanto o tempo todo... – sussurrou para mim.
– Eu também – respondi arfando.
Senti as mãos dele indo em direção ao meu sutiã para desabotoá-lo, contudo um barulho o fez parar. Alguém estava destrancando a porta. E a pessoa entrou na sala. Era a senhorita Collins, uma das inspetoras.
e eu nos separamos assustados. Eu estava seminua e ele, sem camisa, ainda com as mãos em minhas coxas.
! ! O QUE SIGNIFICA ISSO?! – bradou a mulher.
puxou as nossas roupas e ficou desajeitado e parado à minha frente para que eu não fosse vista seminua pela inspetora da escola.
– Estávamos... Eu... – tentou articular, todavia nada saía.
– Direção. Agora – disse ela, indicando a porta.
Devidamente vestidos, eu e a seguimos.

Entramos na direção e eu já tremia por dentro. só olhava para baixo e quis xingá-lo. Se aquele idiota tivesse a capacidade de manter "as coisas" dele dentro da própria calça, nada disso teria acontecido.
– Esperem sentados aqui. Vão falar com a orientadora enquanto converso com o diretor.
Comecei a chorar. Agora eu estava lindamente ferrada.
– Ei, não chore – disse , apertando meus ombros. – Vai ficar tudo bem...
– Não, não vai. Merda – reclamei, soltando-me dele.
Ele se calou e cruzou os braços.
– A culpa é sua. Deveria ser menos gostosa – disse ele, fingindo irritação.
– Você deveria saber que existem horas adequadas para se brincar – falei irritada.
– Eu não estava brincando – rebateu ele. – Qual é, ? A orientadora vai nos dar umas camisinhas, o diretor vai falar... Não precisa ficar desse jeito.
Fechei a cara ainda nervosa, rangendo os dentes. E se a minha mãe soubesse? Ela me mataria? E se a escola soubesse? Eles voltariam a me chamar por aquele maldito apelido que tanto custei para me livrar? Eu seria novamente expulsa da equipe das torcedoras? Pior de tudo: eu voltaria a ser uma perdedora? Porque, por mais que me envergonhasse de admitir, era o que mais me importava.
Mordi o meu lábio com força e nervosismo. E o maldito nervoso apenas piorou quando a orientadora, a senhorita Keppler, pôs a cara para fora de seu escritório com um sorriso totalmente desnecessário.
– Vocês podem entrar – disse ela.
Eu e nos levantamos e entramos na pequena sala.
Você já teve a infelicidade de visitar uma orientadora escolar? Pois é. Eu já.
As salas costumam ser irritantemente brancas e alegremente iluminadas, com uma mesa de vidro grande (que lembra muito as mesas de consultórios médicos) e cadeiras para os alunos se sentarem. Aquela mulher, a orientadora, começa a lhe fazer um monte de perguntas, a lhe entregar panfletos e agir como se fosse sua amiga ou algo assim.
Bom, nos últimos dois anos, devido ao bullying constante que eu sofria, havia visitado a orientadora várias vezes. Especialmente na época que fiquei doente por causa disso. Tudo bem... Admito que ajuda desabafar, mas ela simplesmente ficava sorrindo de um jeito que me irritava. Como se tudo estivesse bem! E fale sério... Se eu estava ali, as coisas não estavam nada bem. Isso era meio óbvio.
– Vocês estão confortáveis? – perguntou ela quando eu e nos sentamos. – Querem beber algo?
– Estamos bem. Obrigada – respondi seca.
A senhorita Keppler me analisou com calma e depois sorriu brevemente.
– Bom... Eu não esperava ver você aqui por esse motivo, – disse ela, desmanchando o sorriso. – E quanto a você, , eu não esperava ver você aqui por esse motivo de novo. É a oitava vez em dois anos.
– Você disse que nunca tinha sido pego! – reclamei ultrajada.
– Não. Eu disse que nunca tinha sido pego na sala de música – disse ele. – É bem diferente.
Rolei os olhos e bufei.
– Idiota.
Ele sorriu e sussurrou:
– Você sabe que não acha isso.
– Ahã-hã – pigarreou a senhorita Keppler. – Desculpem-me a intromissão, mas na última vez que conversamos, , lembro-me de você ter mencionado que era seu amigo. O melhor e único. O que mudou?
– Eu a amo – disse , fazendo-me esquecer da idiotice dele. – Na verdade, sempre amei. O que mudou foi que ela finalmente percebeu que me ama também. E estamos juntos agora.
Ela ergueu uma sobrancelha de um jeito preocupante.
– Crianças... Infelizmente isso é uma cidade pequena. E todo mundo sabe das coisas. Inclusive eu. Se não me engano, os seus pais vão se casar no mês que vem. Não?
– É – concordei. – E daí?
– Eles sabem disso? Que vocês dois estão juntos?
– Estamos juntos desde antes do noivado – rebati, tentando me justificar.
– Não perguntei isso, . Perguntei se eles sabem.
Baixei a minha cabeça. respondeu por nós.
– Não, eles não sabem. Porém provavelmente desconfiam.
Ela ficou em silêncio. Aquilo foi estranhamente desconfortável e assustador.
– Olhe... – disse ela depois de um tempo. – O já passou por isso antes. Sabe o que faço normalmente. Eu diria que esse lugar não é o adequado para esse tipo de coisa, entregaria um folheto a vocês e algumas camisinhas, e ambos voltariam às suas aulas. Contudo as circunstâncias são diferentes dessa vez.
– Por quê? – perguntou .
– Os pais de vocês vão se casar, . Não posso deixar que isso aconteça sem eles saberem que vocês possuem um relacionamento muito além da amizade. E se a aparecesse grávida? Não é algo muito difícil de acontecer e vocês sabem disso – falou ela.
Eu nem conseguia contestar. Ela tinha razão.
– Vocês dois estarão praticamente se casando junto com os pais de vocês! Isso não é saudável para ninguém. Se o senhor e a senhora não se incomodarem, nunca mais toco nesse assunto. Porém, infelizmente, a diretoria vai ter que contar a eles o que está acontecendo.
– Mas você não pode! – exclamei. – A orientação escolar funciona como um meio a desabafos nossos! É contra as regras contar o que se passa aqui, senhorita Keppler.
– Seria contra as regras se um de vocês tivesse vindo me procurar para conversar e tivesse dito isso – ela falou calmamente. – Como a orientação foi forçada, infelizmente sou obrigada a reportar o que houve aqui. Espero sinceramente que vocês dois não tenham problemas por isso, mas tenho que fazer o meu trabalho.
Quando as lágrimas escorreram pelos meus olhos, a senhorita Keppler me olhou de um jeito piedoso. apertou a minha mão.
– vou conversar com os pais de vocês. Esperem aqui até serem chamados – disse ela, saindo da sala.
Foi aí que desabei. Eu estava ferrada. Simplesmente ferrada. se levantou da sua cadeira e ajoelhou na minha frente.
– Ei – disse, ele enxugando as minhas lágrimas. – Minha , não fique assim. Não vai acontecer nada. Ninguém vai separar a gente.
– Não é só por isso! A minha mãe vai ficar louca! E se a escola toda souber? Vou ter a minha reputação arruinada de novo! E não quero isso. Não quero que a minha mãe me mande para longe ou obrigue a gente a terminar. Não quero.
Ele me abraçou.
– Não vou deixar nada disso acontecer. Tudo bem? Você e eu somos amigos muito antes deles serem qualquer coisa. E nós nos amamos. Quanto à sua reputação... Fale sério. Desde quando ser pega dando uns amassos quentes no namorado arruína a reputação de alguém? Principalmente quando o namorado em questão sou eu?
Comecei a rir.
– Você não tem jeito mesmo, né? Sempre convencido.
– Sim. E você sempre fútil e preocupada com a reputação – rebateu ele, brincando.
– Eu o amo, . Não quero que me tirem de você.
– Eu também a amo, . E ninguém vai tirá-la de mim.
Ele me beijou. Ai, droga. Por que eu tinha que me sentir desse jeito? Toda vez que ele me beijava, eu sentia como se o mundo tivesse parado ali.
Ficamos mais um tempo ali sentados, esperando. Quando vi a senhorita Keppler abrir a porta, o meu coração pulou.
– Os pais de vocês estão aguardando do lado de fora. Estão dispensados da aula de hoje.
se levantou e me puxou pela mão. Hesitei.
– Eles já sabem mesmo – disse ele. – Que mal tem?
Dei de ombros e segui com ele, o corpo tremendo pelo nervoso de encarar a minha mãe.
A expressão dela correspondeu muito bem às minhas expectativas. Ela parecia furiosa. Tio John estava com as mãos nos ombros dela, apertando carinhosamente. Por mais estranho que pareça, o rosto dele me incomodou mais do que o da minha mãe, porque ele parecia magoado, traído... Como se tivessem quebrado a sua confiança. A minha única resposta a essas expressões foi abaixar a cabeça e me aninhar nos braços de que mantinha o semblante firme.
– Vamos para casa. Conversamos lá – disse a minha mãe entre os dentes.
Vi assentir por mim enquanto me puxava.
O caminho no carro foi tenso, mas eu e não nos desgrudamos nem por um segundo. Eu me sentia como uma adolescente inconseqüente que tinha sido pega se prostituindo ou se drogando. É, a minha mãe me faz sentir assim. Quando entramos em casa (casa do ), ele me puxou para o sofá e nós dois nos sentamos. Pela primeira vez, ergui o meu rosto. A minha mãe estava de pé com as mãos na cintura e tio John, sentado na poltrona com os cotovelos apoiados nos braços do móvel e os indicadores grudados perto do lábio.
– Há quanto tempo, hein? – disse a minha mãe.
– O que, tia Jude? – disse .
– Há quanto tempo vocês dois estão... Saindo, namorando... Eu sei lá – falou ela irritada.
– Dois meses na segunda – falei. – E estamos namorando.
– Viu, Jude? Eu não disse? – comentou tio John. – Não precisa desse drama todo. Foi antes do nosso noivado.
– Não acredito que vocês dois vêm fazendo isso por dois meses! Debaixo dos nossos narizes! O que vocês pretendiam? Namorar morando na mesma casa? – perguntou a minha mãe.
– Na verdade, essa era a pretensão – disse .
– Não é hora de brincar – repreendeu mamãe.
– Ninguém aqui está brincando – rebati.
Ela ficou em silêncio. Todos nós ficamos. Eu só conseguia ouvir a respiração meio arfada de e o seu coração palpitando, já que estava enrolada em seus braços.
– Vocês deveriam ter contado – disse tio John.
– Vocês repreenderiam a gente. Como vão fazer agora – falei.
– Não vamos repreendê-los. Nós...
– Desculpe-me, John – cortou a minha mãe. – Mas vamos, sim. Isso acaba aqui.
– Jude, não seja precipitada. Você vai obrigar os garotos a se separarem? – replicou John.
– Ela é minha filha de dezesseis anos. Não vou deixar que ela viva na mesma casa que o namorado. Somos noivos antes deles começarem a namorar.
– Só vai ser pior, Jude! Eles vão fazer isso nas nossas costas! Pelo amor de Deus, seja razoável.
– Estou sendo razoável. Mas você conhece as minhas preocupações... Sempre apoiei a amizade deles e sempre achei que deveriam ficar juntos. Porém a partir do momento que nós dois vamos nos casar, não apoio mais. E tenho certeza de que, se eu pedir à minha filha que se separe do , em respeito ao meu casamento ela fará isso por mim. Certo, querida? – ela disse, olhando para mim.
– Mãe eu... – comecei. Merda, eu não sabia o que dizer. – Não entendo os seus motivos.
– Você está sendo ridícula! A sua filha sofreu anos seguidos na escola por causa de apelidos e o sempre esteve ao lado dela. Agora estão juntos. É normal. E você vai obrigá-la a se separar de alguém que ama?
– Ninguém ama ninguém com dezesseis anos.
– Você estava esperando um bebê aos dezesseis anos, Jude! Como pode dizer isso? – perguntou tio John perplexo. – Você está destruindo a felicidade da sua filha! E a do meu filho também.
Eu e não conseguíamos falar nada. Eu me dignava a apertar as mãos dele, sentindo o meu coração bater forte.
– Existem duas opções para que eles continuem juntos – disse minha mãe calmamente. – A primeira é que eles namorem mesmo vivendo na mesma casa. E isso não vai acontecer. Então só nos resta a segunda.
– E qual é a segunda opção? – perguntei.
– Eu e John vamos cancelar o casamento até que vocês dois tenham ido para a faculdade.
Eu, e tio John ficamos de queixo caído.
– Você vai cancelar o seu casamento porque eu e estamos saindo? – perguntei abismada.
– Estou "pensando na felicidade da minha filha" – disse ela, fazendo aspas com as mãos. – Bom, , seja muito feliz com o . Eu, como sempre, vou ceder para você.
– Não coloque a culpa nela – disse tio John com raiva. – Ela não tem nada a ver com o fato de você ser extremamente fria e egoísta. E é sua filha. Ceder para ela é sua obrigação.
A minha mãe se virou e me olhou com desprezo.
– Acho que você pode passar a noite aí. Até.
E saiu batendo a porta.
As lágrimas finalmente desceram decididas. Tudo que eu não esperava tinha acabado de acontecer.


DOZE


– Pare de chorar, – pediu pela quinta vez em apenas uma hora.
Eu estava em prantos desde que a minha mãe saíra de casa. Tio John estava no quarto dele.
– Destruímos um noivado de treze anos. E um casamento – falei contra o peito dele.
– Não é culpa nossa. A sua mãe não acredita no que a gente sente.
– A gente podia continuar ficando escondido. Eles trabalham tanto – falei. – , temos que fazer alguma coisa.
– Ficar escondido não seria muito legal.
– A minha mãe nunca se casou. Ela engravidou de mim com dezesseis anos e veio com meu pai, que também tinha dezesseis, morar em Ambler porque a família dele tinha um negócio de perfumes. Ela ficou tomando conta do negócio e o meu pai foi para a Califórnia tentar tocar o negócio de lá por um tempo. Só que ele morreu em um acidente de carro. E isso foi o ponto alto da vida romântica dela.
– O meu pai não é muito diferente. Teve filho com dezenove anos e aos vinte e dois já era viúvo. A minha mãe teve câncer. Você sabe – disse .
– Não podemos deixar isso acontecer. Que tipo de filhos nós somos?
– A sua mãe está sendo fresca.
– É o casamento dela – falei. – Estamos sendo egoístas.
– Quer terminar? – perguntou ele. – Por favor, não diga que vai fazer isso.
Calei-me. O que eu podia fazer?
– Ainda acho que deveríamos ficar escondidos – insisti.
– Isso seria desonesto, errado e maldoso – comentou .
– Certo é destruir um casamento – rebati irônica.
– Não é culpa nossa – disse ele em meu ouvido.
Fiquei em silêncio, sem saber o que responder.
– Eu amo você – falei depois de muito tempo.
– Também amo você. E não vou deixá-la ir embora.
– Não quero ir embora – afirmei.
– A gente podia terminar o que começou na sala de música, né? Aposto que o meu pai nem ia perceber... Vou trancar a porta – disse , pulando da cama.
Quando ele voltou e me puxou para beijar o meu pescoço, eu disse:
– Não sei se estou no clima para isso agora...
– Aham – concordou ele sem parar de me beijar.
– Sério. Pare – falei em um tom nada convincente.
– Vou parar. Um dia – disse ele, escorregando as mãos para as minhas coxas.
Que se explodisse o mundo. estava me beijando e só isso importava.
Passei a noite lá e tio John deixou que a gente não fosse à escola. Eu estava tentando de todas as maneiras adiar a hora de voltar para casa. Eu não queria encarar a minha mãe, as crises de raiva dela e toda aquela merda. Mas uma hora ia acontecer. E estava cada vez mais perto.
A minha irmã apareceu na casa de algumas horas depois do almoço.
– Oi – disse ela ao entrar. – Como vocês estão?
– Bem, na medida do possível – falei, dando de ombros. , que estava compenetrado na TV, nem se mexeu.
– Mamãe está um saco. Sério. Ela é louca. Você precisa voltar logo para casa, sis!
, estou seriamente pensando em ficar por aqui – falei.
– Você tem que conversar com a sua mãe – disse , desviando a atenção da TV. – Voltar a morar na sua casa e tal...
– Expulsando-me? – perguntei, erguendo a sobrancelha.
– Fale sério, . Você sabe que não – disse ele.
, vamos para casa... Por favor – disse , fazendo um bico.
Bufei. me puxou e disse:
, dê só um segundo para a gente.
Ele me levou até a cozinha e fechou a porta.
– Você tem que ir para casa – disse ele.
Eu me encostei à bancada, subindo. se aproximou, encaixando-se entre minhas pernas, quase me obrigando a passar os braços em volta de seu pescoço.
– Eu sei – respondi baixinho.
– Então por que não vai? – perguntou ele, passando o nariz pela minha bochecha.
– Estou com medo – admiti.
– Eu também. Existe uma boa chance de você ouvir coisas o suficiente para se sentir culpada e querer terminar comigo... Mas precisa ir.
– Não vou terminar com você. Nada que ela diga vai me convencer a fazer isso. Prometo – falei.
Ele sorriu.
– Vá para casa. E volte depois para me contar como foi. Ou pra dormir aqui se quiser – disse ele. – Não se esqueça de que eu amo você. Tudo bem?
– Eu também te amo – falei.
Beijamo-nos por alguns minutos e ele se afastou. Saí da cozinha e peguei a mão de para irmos juntas de volta para casa.
Quando abriu a porta, fiquei meio estática. Eu não queria entrar e ouvir tudo o que minha mãe tinha para falar, porque ia me fazer sentir culpada. E culpa é o pior sentimento que uma pessoa pode ter dentro dela.
A minha mãe estava na sala com um olhar vago e triste. Não parecia nada com ela mesma.
– Ah – murmurou ela, voltando o olhar para a porta e notando a nossa presença ali. – Você voltou.
– Voltei – confirmei.
– É. Filhos são assim. Eles acabam com a sua vida e depois voltam para casa como se nada tivesse acontecido.
– O que houve aconteceu por sua culpa.
– Eu não esperava que você estivesse com o . Aliás, eu achava que você era virgem. Era o que você sempre dizia – cortou minha mãe.
– A minha castidade ou a falta dela vem ao caso?
– Muito mais do que você imagina, filha.
Fiquei em silêncio. Depois de um tempo, apenas falei:
– Por favor, não coloque a culpa em mim. Já estou bastante mal.
Ela me olhou chorosa.
– Não quero que você se sinta mal. Fui ridícula. Não é sua culpa, querida.
Fui correndo até minha mãe e a abracei. Começamos a chorar juntas.
– Desculpe-me por ontem... Vou conversar com o John. Ele vai entender... – disse ela.
– Você ainda não desistiu disso? Mamãe, eu e só estamos namorando.
– Não vou deixar, . Isso não tem discussão. Nenhuma menina da sua idade mora com o namorado – disse ela com voz dura. – Mas não vou separá-la do ... Você anda tão feliz.
– Você também anda muito feliz desde que descobriu que vai se casar...
– Mas você é minha filha. A sua felicidade vem primeiro – minha mãe falou isso como se tentasse convencer a si própria desta afirmação.
Eu não podia. Não podia ficar com sabendo que a minha mãe estava sofrendo assim. Era óbvio que ia acabar comigo e acabar com ele... Mas a minha mãe tinha o direito de ser feliz. Ela havia casado porque estava grávida, ficado viúva... Meu Deus, eu não podia ser egoísta assim.
– Mãe – chamei nervosa. – Vou terminar com o por você – decretei, chorando.
– Você faria isso? – disse ela.
– Por você? – perguntei calmamente. – Sim, eu faria. Com o coração partido, mas faria.
Ela sorriu e me beijou na testa.
– Você é a melhor filha. Vamos temos que acertar as coisas.
A minha mãe me puxou para fora de casa para que tocássemos na casa dos . Meu Deus, o que eu tinha feito? Eu não podia terminar com o . Porém agora eu teria que fazer isso de qualquer maneira.
Toquei a campainha. abriu e nos olhou surpreso.
? Senhora ?
– Oi, – disse a minha mãe meio ríspida.
– Entrem – disse ele, dando espaço.
– Eu e você – falei. – Vamos para o seu quarto.
Ele me seguiu com um sorriso. Quando entramos no quarto, o menino fechou a porta e veio na minha direção, beijando-me.
– Você é incrível – disse ele com a boca encostada à minha. – Fez a sua mãe aceitar a gente e se casar com o meu pai.
– É... – eu disse, afastando-me. – Bom, sobre isso...
– O que houve? – disse ele, sentando-se na cama.
– Existe uma condição para a minha mãe e o tio John voltarem. E é a mesma de antes. Nós separados.
– Mas a sua mãe estava aqui e... – ele começou, mas parou. Então mudou de expressão. – Ah.
– Sinto muito. Não quero fazer isso porque o amo...
– Você está terminando comigo? – perguntou ele.
– Não é assim. Não quero fazer isso, mas a minha mãe... Ela...
– Você prometeu. Você disse que me amava – falou ele nervoso.
– Mas amo. É verdade... Só que não podemos fazer isso com os nossos pais.
Ele ficou em silêncio e eu também. Aproximei-me dele e segurei o seu rosto com as duas mãos.
– Olhe, quando acabar o ano, vamos para a faculdade. Eles não vão poder separar a gente – falei, encostando nossas testas. – Vou esperar você.
afastou as minhas mãos bruscamente. Quase num instinto, os meus olhos se encheram de lágrimas. Lançou-me um olhar cheio de mágoa e disse:
– Você não vai me esperar, não. Você vai embora.
... – tentei.
– Você é ridícula. A sua mãe nunca teve nada a ver com isso, né? Eu disse que a amava!
– Eu te amo! – gritei. – Mas é o casamento da minha mãe! O que espera que eu faça?
– Ela é a sua mãe! O meu pai também vai se casar e ele não pediu para a eu lhe dar o pé na bunda. Pediu? Isso é desculpa sua! Quer terminar porque agora você tem a sua maldita popularidade e pode correr atrás do merda do em paz.
– É isso que você acha de mim? – perguntei nervosa. – Não acredita em nada do que eu disse? Não acredita no que sinto por você?
– Você não sente nada por ninguém. A sua única preocupação é se o seu backflop está certo e se a chamam de vadia...
– É backflip – corrigi por instinto.
– Está vendo? Você é uma escrota mesmo. Sabe... Sempre tentei convencer todo mundo de que aquele apelido era maldade com você. Mas sabe que eles tinham razão? – cuspia as palavras, rasgando-me por dentro. – Agora posso ver claramente o que você é: uma vadia. Mas não é uma vadia virgem, como todo mundo pensa. Uma vadia sem coração.
Não precisei de convites para sair daquele quarto. Ou melhor, daquela casa.
Cheguei à minha em um minuto e encontrei sentada na minha cama como se esperasse por mim. Joguei-me contra ela, sendo recebida num abraço cheio de soluços magoados por tudo o que havia acontecido naquele dia infernal.
– Não chore.. Vai passar... – dizia , mexendo em meus cabelos.
Mas eu sabia que não ia passar. Ele estava fora da minha vida. E aquilo doía como o fim.


TREZE


Acordei meio tonta. Tentei me lembrar de tudo que acontecera no dia anterior só para ter certeza de que era verdade. Quando olhei para o lado e vi adormecida em minha cama, tive certeza de que era. Eu provavelmente dormira chorando e ficara ali comigo.
Arrastei-me até o banheiro e me encarei no espelho. Havia marcas de lágrimas secas. Isso quase fez com que novas surgissem. Porém eu ia ser forte. Afinal, agora eu estava no lugar que eu sempre quis estar. E eu ia fazer tudo perfeito como o plano mandava. É claro que me apaixonar por não estava incluído... Contudo, se eu fizesse tudo certinho, poderia esquecê-lo. Quem sabe aquela não era a deixa para ficar com ? Ou me tornar capitã? Porque era o que eu queria. O que sempre quis.
Não era?
Tomei um banho calmo e vesti o meu uniforme. Como de habitual, sequei os cabelos de modo a prender a franja graciosamente. A maquiagem foi a de sempre. Desci para o café sem dizer uma palavra. Recebi um afago carinhoso de nos cabelos e sorri em resposta. A minha mãe só disse:
– Sei que você está triste, mas vão se entender. Seremos uma família feliz e vocês vão ser irmãos. Vai ver só.
Quis mandá-la à merda, mas obviamente não o fiz.
Liguei para que atendeu sonolenta.
Alô?
– falei. – Sou eu, .
Oi, amiga... Está tudo bem? Por que está me ligando a essa hora da madrugada?
– São sete e meia... E eu queria saber se você pode me dar carona.
Posso, mas está tudo bem?
– Explico no caminho – respondi.
Tudo bem. Passo aí em meia hora. A gente mata a primeira aula para conversar. Beijos.
– Beijos – respondi.
Já vestida, saí de casa e me sentei na soleira da porta. Eu costumava esperar ali quando era criança para brincar depois do dever de casa. Eu sempre terminava antes dele, então me sentava quietinha até que ele aparecesse com um sorriso gigante, chamando-me para escalar um árvore. Sorri internamente com a gostosa lembrança.
O meu sorriso interno se desmanchou quando a porta da casa dos se abriu. Dei um suspiro aliviado quando vi que era tio John se esticando para buscar o jornal.
– E aí, baixinha? – disse ele, sorrindo.
– Bom dia, tio.
– Fazendo o que aqui?
– Esperando a minha carona – falei, dando de ombros.
Ele sorriu.
– Aquele idiota do ... Nem dorme em casa e ainda faz você ter que ir para a escola de carona.
Isso significava que ele estava com outra menina. Cem por cento de certeza.
– Não faz mal – falei. – A minha amiga vai passar aqui daqui a pouco.
– Acho que você deveria ter um carro – disse ele. – Vou conversar com a sua mãe.
– É, isso seria ótimo – falei sem animação.
– Você e o brigaram? – perguntou tio John.
– Mais ou menos – admiti, dando de ombros. – Na verdade, sim. A gente terminou.
– A sua mãe impôs como condição e você fez isso por ela? – perguntou ele.
– Algo assim – respondi.
– A Jude não tem jeito. De qualquer maneira, você não deveria ter feito isso, .
– Você e o falam como se fosse simples – retruquei, bufando.
– E é. Você e sua mãe complicam.
Sorri de leve e ele continuou:
– Faça o favor de se acertar com ele. Vocês são meu casal favorito no momento e ninguém os quer separados.
– Infelizmente, por enquanto não dá. E acho que o não quer esperar.
– Ele a ama. Vocês vão poder ficar juntos... Um dia.
– É – concordei. – Um dia, se ele ainda quiser.
Tio John sorriu e entrou em casa. Quase me debulhei em lágrimas até ver o carro de .
Andei sem rodeios até o veículo e entrei rápido.
– Ei – disse . – O que houve?
– Tudo. Meu Deus, tudo – falei, colocando a mão no rosto, permitindo que algumas lágrimas saíssem.
Contei a que ouviu pacientemente. Ela, ao contrário de todo mundo, deu-me razão e disse que teria feito o mesmo pela mãe dela.
– O a chamou de vadia mesmo? – disse ela.
– Foi – respondi. – Na maior cara dura.
– Que idiota! – xingou . – Bom, enfim... Vamos voltar para a escola e treinar muito. Assim você se distrai.
– Não quero vê-lo, – falei, fazendo bico.
– Deixe de ser boba... Ele vai lhe pedir desculpas. Pode apostar.
Mas eu sabia que não iria acontecer. era estupidamente orgulhoso... E eu também, parcialmente.
Quando cheguei à escola, já estava quase na hora do recreio. e eu nos sentamos numa mesa e ela puxou um maço de cigarros. De repente, Ananka Miller saiu rebolando de trás de um dos muros da escola. Caminhou até nós com um sorriso. Eu fechei os punhos instintivamente, como se sentisse um barraco próximo, porém na verdade a expressão dela era maldosamente amigável.
Amigável. Sei.
– Olá! – cumprimentou sorridente.
sorriu em resposta. Traguei o meu cigarro com mais força.
– Eu soube que você e o terminaram. Sinto muito – disse ela.
– É, aposto que sente – falei sarcástica.
– Ei, não fique assim arisca. Lembre-se de que agora eu e você estamos no mesmo barco – falou ela com um sorriso. – Por isso achei que, como uma boa colega de equipe, eu deveria ajudá-la a sair dessa fossa.
– Não estou em fossa alguma – respondi irritada.
– Bom, de qualquer jeito... Você precisa passar pela sua iniciação. É divertido. Vai ajudá-la a esquecer.
– Que iniciação? – perguntei.
– Inventamos depois que a Claire virou capitã... É bem simples. Você tem que sacanear um loser.
– Sacanear um loser? E por que eu faria isso? – questionei, erguendo uma sobrancelha.
– Porque você está chateada e isso é muito divertido. Sem contar que é praticamente um pré-requisito para ser líder: saber maltratar alguém – disse ela com a mão na cintura.
– Em primeiro lugar, não sou você. Não faço esse tipo de coisa. E em segundo, você deveria aprender a saltar direito, porque isso sim é pré-requisito para ser líder de torcida.
– Já falei para não ficar estressadinha. Somos do mesmo time, gata – falou ela, piscando. – E, além do mais, conheço uma loser em especial que você adoraria zoar.
– Quem?
– Uma garota que, se estivesse no seu lugar hoje, provavelmente nesse momento estaria arquitetando um plano para destruir a sua vida.
– A Claire? – perguntei incrédula. – Você quer que eu passe um trote na Claire?
Ela deu de ombros.
– Nunca gostei dela mesmo.
– Era a sua melhor amiga – falei chocada.
– Ela estava no comando.
– Meu Deus, você conseguiria ser um pouco mais escrota? Acho impossível – disse irritada.
– Quer saber? – falei, levantando-me. – Talvez ela tenha certa razão.
– O quê? – perguntou incrédula.
– Aquela imbecil fez da minha desgraça a diversão dela por anos! O que tem demais em curtir com a dela uma vez? – perguntei.
– Não sei se é legal você fazer isso, amiga... – disse .
– Ah, , não é nada demais. Ela já fez inúmeras vezes. Sofrer pode ser bom.
– Como sou muito legal, já mandei os nerds do clube AV prepararem algumas coisas... – disse Ananka. – Tem armas de tinta no armário dela. Quando abrir, vai direto nas fuças...
– Então acho que a gente deveria ir ao corredor esperar.
E lá fui eu para frente do armário de Claire Zizes com uma Ananka muito excitada, uma trupe de líderes de torcida mudas e maleficamente risonhas e uma apreensiva.
Na hora do intervalo, vimos Claire se aproximar. Foi nesse momento que me senti mal. Lembrei-me de todas as vezes que fizeram aquilo comigo...

Flashback

Um ano e seis meses antes...


Caminhei tranqüilamente até os vestiários. Eu sempre saía da aula de Educação Física mais cedo para não ter que dividi-los com as lideres de torcida maléficas. Eu ainda era líder, contudo já carregava uma fama indesejada e havia me tornado o alvo constante de todos. Quando cheguei à porta, dirigi-me até o feminino, porém uma garota me parou.
– Ei – disse ela. – Teve um vazamento enorme lá dentro. Tiraram as nossas coisas e colocaram aqui fora. Estão todas usando o vestiário masculino e os meninos vão para o do segundo andar.
Sorri e agradeci, sem desconfiar obviamente.
Peguei a minha bolsa e me dirigi ao vestiário dos meninos. Tomei um banho demorado lá dentro, cantei... Quando eu estava acabando, comecei a ouvir vozes. Entrei em pânico quando percebi que as vozes eram masculinas e que, por Deus, tinha MENINOS ENTRANDO ALI!
Aquelas vacas haviam me enganado e eu estava completamente ferrada. Desliguei o chuveiro instintivamente e me amaldiçoei por ter largado a toalha na bolsa.
– Ei, de quem é essa bolsa de mulherzinha aqui? – gritou um dos garotos.
– Deve ser do . Só pode – ouvi brincar.
estava ali. Um leve alívio me percorreu a espinha. Porém eu ainda estava completamente ferrada, nua, num banheiro masculino.
Olhei para cima e notei o número do box em que estava. Box quinze. Era o boxe do . Suspirei aliviada com minha sorte.
Quando me foquei na conversa, senti a chave ser virada. Encostei-me na parede e fiz o possível para esconder meu corpo. A porta se abriu. Encarei os olhos de , que se arregalaram instantaneamente. Descobri o corpo com a mão e fiz um "sh", colocando o indicador nos lábios. Notei que, diferentemente de mim, era inteligente o suficiente para carregar consigo uma toalha e para entrar no banheiro de boxers. O mesmo entrou rápido no banheiro e trancou a porta.
– O que é que você está fazendo aqui, merda? – perguntou ele nervoso.
– Pregaram-me uma peça. Disseram que o banheiro feminino estava interditado e que vocês usariam o lá de cima – sussurrei.
engoliu em seco.
– Você está nua... Na minha frente – disse ele.
– Fique de costas, então – sussurrei desesperada. – Preciso sair daqui sem que ninguém veja, . Preciso de você.
Ele parecia estático, olhando o meu corpo.
! – ralhei um sussurro. – Pare de olhar e pense em alguma coisa!
! – ouvi alguém chamar do lado de fora. Era o treinador. – , estou vendo pés no seu box! Quem está aí com você?
“FODEU!”, foi o que pensei. E pensei certo.
Subi nas costas de (para impossibilitar a visão dos meus pés) que ficou paralisado demais até para responder.
– Responda, merda – sussurrei no ouvido dele.
– Não tem ninguém aqui, treinador.
– Eu vi pés aí dentro, ! – respondeu o homem em tom impaciente.
Eu estava quase escorregando, então dei um jeito de me virar de modo que minhas pernas envolvessem a cintura de e os meus braços, o seu pescoço. Agora a minha situação era muito constrangedora. Eu estava nua, no colo do meu melhor amigo visivelmente empolgado e paralisado com a situação, tdavia com muito medo para ficar envergonhada.
As mãos de foram instintivamente até minhas pernas.
– Controle-se, por favor. Ajude-me a sair dessa – implorei.
, quero que você abra a porta. Estou vendo pelo box uma garota no seu colo.
– Não tem ninguém aqui – respondeu fraco.
O nosso contato visual estava forte. Ele parecia extremamente incomodado em me ter tão perto.
– Abra a porta, então. Se você não abrir, está expulso do time.
– Expulse-me – disse sem quebrar o contato visual.
A minha boca se aproximou do ouvido dele para sussurrar uma coisa, mas esta se perdeu no caminho. Ele se aproximou de modo que os nossos lábios se roçaram.
– O... O que você está fazendo?
– Não sei – respondeu ele, beijando-me.
Lembro-me de que pareceram séculos. Esqueci-me da posição, do desconforto, do medo...
. . .
Sempre fora .
, estou falando sério! – gritou o treinador. – Se tem uma garota aí com você, diga agora!
– TEM UMA GAROTA COM ELE, SIM! – berrei. – NÃO ENCHA!
Não vi a cara do treinador, mas deve ter sido espantosa. Só me inclinei para que me beijasse... De novo. Porque tudo na minha vida era sobre ele e eu nunca percebi.

End of flashback


Lembrar-me disso me fez refletir se zoar Claire daquela maneira era certo. Não era. Porém me lembro de ter me ferrado muito. Saí das torcedoras depois disso.
Só me irritava estar sempre pensando no . Merda, ele era a minha vida. Eu estava quase mandando a minha mãe para um lugar bem longe e reatando com ele.
Desliguei-me (graças a Deus!) de quando Claire abriu o seu armário. Um balde de tinta laranja voou nela.< Ananka soltou uma gargalhada estridente e as outras meninas acompanharam. Quis rir. Tentei. Mas não saiu a risada. Era eu ali de novo. Magoada, constrangida.
Merda... A Claire tinha razão. Nós estávamos inversas.
– Claire querida, acho que laranja definitivamente vai com seu tom de pele – provocou Ananka.
Claire rebateu:
– Você faz de tudo para chamar atenção, né, Ananka? Mas sabe o que você é? Patética. Até a droga da V.V. consegue ser mais popular que você.
– A droga da V.V.? – falei pausadamente, assumindo um tom maldoso. – Não foi a Ananka que fez isso, gatinha. Fui eu – menti.
– Como se ninguém soubesse disso – disse uma voz masculina às nossas costas.
Era . Ele entrou no corredor e sorriu para Claire.
– Ei, você quer ajuda? – perguntou ele para ela, estendendo-lhe um lenço tirado do bolso. Claire abriu um sorriso vitorioso.
– Obrigada – disse ela. – Eu sinceramente nem sei porque você está fazendo isso comigo, .
– Ah, é... Porque você é uma fofa – rebati sarcástica. – Como se você nunca tivesse feito isso comigo.
– Todo mundo achava que você era diferente de mim – respondeu ela.
– E sou diferente. Sou legal com todo mundo. Mas quando o caso é você, faço questão de ser infernal.
– Mudei para melhor, – disse ela. – E você deveria ter continuado a mesma.
– Não seja hipócrita, pelo amor de Deus! – repliquei.
– Claire, vamos embora – disse . – Não brigue. É pior para você. Vamos.
Quando ele se virou, gritei:
– Lembra-se de quando era para mim que você dizia isso? Hein, ?
Ele tornou a me encarar e com um suspiro disse:
– Eu nunca disse isso para você. Eu dizia isso para a minha . E ela sumiu faz muito tempo. Descobri isso ontem.
E vi o cara que eu amava ir embora de mim.


CATORZE


Dois meses. Dois meses sem . Sem nem falar com ele. Muitas coisas aconteceram nesse meio tempo.
Os treinos continuavam árduos e nós, cada vez melhores. Conseguimos um patrocinador de ponta e agora fazíamos exibições pelo país. Até saímos na American Cheerleader: sua revista de torcida! numa matéria falando sobre redenção.
De resto as coisas não estavam tão boas assim. me chamara para sair umas duas semanas depois do meu rompimento com e desde então estávamos meio juntos. Nada oficializado, mas... O problema era que eu obviamente era ainda muito apaixonada pelo , que parecia simplesmente ter me deletado de sua vida. Agora que Claire tinha se tornado o alvo da maioria das líderes de torcida (eu sinceramente me incluo nesse grupo), ele a adotou como sua nova melhor amiga. Colocou-a no meu antigo papel e agora eles estavam sempre juntos, para cima e para baixo. Eu estava puta até a raiz dos cabelos com isso. Pelas minhas costas, as pessoas a chamavam de "a nova V.V. do " (até porque quem dissesse isso na minha frente ganharia uma passagem só de ida ao inferno), mas, pelo que se sabia, só eram amigos mesmo.
Outra coisa sobre mim é que agora eu mandava na escola. Se não gostava das coisas, elas mudavam. Se não gostasse das pessoas, elas mudavam de corredor ao me encontrar... Não que usasse muito isso ao meu favor. Eu era uma garota legal, apesar de tudo.
Minha mãe e tio John estavam simplesmente putos com o fato de eu e nos ignorarmos ou nos xingarmos toda vez que estávamos no mesmo lugar. Morar na mesma casa parecia tão infernal (para ele. Não para mim) que eu nem gostava de imaginar (ou talvez gostasse).
Meu aniversário chegou. E em três dias seria o casamento. Eu havia convidado , Courtney, Amber e para um jantar bem íntimo na minha casa. Minha mãe, e tio John iriam obviamente. Apesar de todos os meus protestos contra isso, fora intimado a comparecer. Foi bem desagradável ver tio John e ele discutindo. De qualquer jeito, eu estava torcendo internamente para que ele não aparecesse porque eu sabia como acabaria: em briga.
Eu estava usando um vestido colado no corpo, estilo bandage verde escuro. Aquela cor certamente realçava o meu tom de pele. O vestido tinha as alças logo abaixo do ombro e, com a ajuda de um salto, deixava-me mais esbelta. Minha mãe estava com a mesa arrumada e , na sala esperando. Desci e recebi elogios das duas sobre o quanto eu estava bonita. A campainha tocou e minha mãe disse:
– Vá lá abrir, .
Dirigi-me até a porta. estava lá usando uma camisa pólo listrada, jeans e tênis. O seu perfume masculino delicioso me fez abrir um sorriso. Ele estava lindo demais.
– Oi – falei.
– Oi, boneca – disse ele, entrando e me dando um selinho. – Feliz aniversário.
– Obrigada – respondi, sorrindo. – Entre.
Ele deu um passo à frente. A minha mãe se caminhou até ele e disse:
– Oi, querido. Você está tão lindo.
Minha mãe adorava . Ela achava que o sol nascia e se punha em função dele. E que terminar com para ficar com ele tinha sido a melhor coisa que eu já havia feito. Ela sempre dizia: "Ai, . Fiz um grande bem na sua vida. Sei que é um menino ótimo, e o amo como um filho, mas ele não é exatamente o que você planeja para ser o marido da sua filha um dia". Eu um dia ainda mando a minha mãe à merda. Afinal, ela sabia que eu realmente gostava de , e não do .
– Senhora , é sempre tão gentil – respondeu ele, sorrindo e segurando a minha mão. – Oi, – disse ele, acenando para a minha irmã.
– cumprimentou ela, sorrindo.
– Boneca – chamou . Esse apelido até que era bonitinho. O "" de era bem mais sexy, porém eu já estava meio que aceitando o fato de que nunca seria . – Tenho um presente para você. Entrego mais tarde.
– Nem precisava se incomodar – respondi.
Ele afagou o meu rosto.
– Vai ser um presente para nós dois – disse ele com simplicidade, abrindo um sorriso.
Sorri de volta enquanto ele entrava e se acomodava na mesa. Logo depois, chegaram , Courtney e Amber. Os seus presentes eram fofos: me deu um perfume. Courtney, um conjunto de calcinha e sutiã escrito "Cheer Fight" e Amber, um estojo de maquiagem da Mac. Tio John chegou logo em seguida, dizendo que o meu presente era dele e da minha mãe e que eu receberia no fim da noite.
As pessoas estavam muito misteriosas para o meu gosto...
– Sabe, estou muito feliz que estejamos todos aqui hoje – disse minha mãe enquanto jantávamos à mesa. – A minha bebê está completando dezessete aninhos e sábado vamos nos casar!
– Ah, a neném tem dezessete aninhos? – disse , fazendo um bico.
– Cale a boca – respondi, corando. – Você é a pirralha da história.
– Você realmente parece uma neném, discutindo com a sua irmã de quinze anos – alfinetou .
me deu um beijo na bochecha e sussurrou:
– Fique tranqüila. Sei que você não é bebê. Bebês não são gostosas assim.
Ri porque foi bonitinho, contudo foi inevitável pensar em como isso soaria melhor na voz do... Esqueça.
– A campainha está tocando – disse minha mãe, interrompendo os meus pensamentos.
Tio John abriu a porta e os meus neurônios quase congelaram quando vi quem entrava.
– E aí, pai? Estamos atrasados?
estava realmente ali. E não estava sozinho.
– Olá, senhor . É um prazer – disse uma voz nojenta, metida à boazinha.
Ele estava com a piranha da Claire Zizes... No dia da merda no meu aniversário... Na porra da minha casa.
Deus, quantos palavrões eu disse?
Os dois vieram caminhando até a mesa de jantar.
– O que eles estão fazendo aqui? – perguntei indignada.
! – reclamou a minha mãe. – O é seu irmão e a Claire é a namoradinha dele...
– Ele não é meu irmão e ela não é namorada dele! – ralhei. me olhou com cara brava e completei meio que tentando justificar a minha crise de ciúmes: – Não que nada disso seja da minha conta! Mas ele não é meu irmão mesmo.
– Acho, que a sis está estressada – disse sarcástico.
– Acho que você é um imbecil que trouxe esse verme para o meu aniversário. Quem mandou o senhor vir mesmo? – perguntei com raiva.
– Meu pai! – rebateu ele. – Porque pode apostar essas suas unhas falsas ridículas que eu não estaria aqui se não fosse obrigado.
– Você é um...
– BASTA! – gritou tio John. – , , na sala de estar agora.
Levantei-me como um furacão e fui batendo os meus saltos até o cômodo. me seguiu, andando quase com a mesma força. Tio John e minha mãe fecharam a porta às nossas costas. Cruzei os braços e bufei impaciente. abriu um meio sorriso sarcástico.
– Está irritadinha? – perguntou ele.
– Cale a boca – respondi. – Você é um...
– Vocês parecem duas crianças mimadas – disse minha mãe. – Duas crianças mimadas disputando a atenção um do outro.
, como é que você trás a menina que a odeia para o aniversário dela? – perguntou tio John.
– Ela é minha garota. Tenho o direito de trazê-la para as nossas reuniões de família. A não trás o namoradinho dela?
– A diferença pateta é que é o meu aniversário e a minha casa! – gritei. – E ela não é a sua garota – completei, abaixando o tom de voz.
– Isso lhe importa realmente?
– Você sabe que sim, – completei baixo.
– Não vou presenciar isso. Vocês não são mais namorados. Sempre foram amigos e vão viver na mesma casa. Aprendam a se tratar direito – disse minha mãe. – Vou sair para colocar o bolo na mesa.
Tio John a seguiu e e eu ficamos sozinhos.
– Desculpe-me por ofendê-lo. Eu não queria – falei rapidamente.
– Está tudo certo – disse ele. – Irritei você no dia do seu aniversário.
Sorri e fui em direção à porta.
– chamou ele. – Você realmente queria que eu não tivesse vindo?
Suspirei e me virei para ele.
– É claro que eu queria você aqui. Só não queria ter que vê-lo com ela.
E com isso saí voltando para a sala.
O jantar foi estupidamente desconfortável. me olhava estranho, Claire parecia feliz demais e os outros tentavam deixar a situação mais natural. também me pareceu incomodado com toda aquela tensão no ar.
Aniversário de merda.
Depois do parabéns, tio John e minha mãe me entregaram uma pequena caixa.
– O que é isso? – perguntei confusa.
– Abra – disse minha mãe, sorrindo.
Abri e encontrei uma chave de carro cor-de-rosa dentro.
– AH, MEU DEUS! – gritei de surpresa. – Onde está?
– Lá fora. Vá ver, querida.
Saí correndo e me deparei com um New Beatle rosa escuro. Gritei de alegria, correndo até o meu carro. A placa de trás tinha escrito "cheer Carter" e os bancos eram de couro branco.
– Quero dar uma volta nele! – falei animada.
– Que tal a gente ir, eu e você? – perguntou , entrando no carona.
Olhei para minha mãe como quem pedia permissão e ela sorriu:
– Vá, querida.
Quando liguei o carro, lancei um último olhar a que segurava a cintura de Claire. Ele nem tinha me desejado feliz aniversário ainda e eu estava triste, porque eu queria que ele estivesse no banco do carona comigo nesse momento.
– Aonde vamos? – perguntei a , tentando afastar os meus pensamentos ruins.
– Programei no GPS. Só siga as coordenadas – disse ele, sorrindo.
– Cheio de mistérios, hein...? – brinquei.
– Só para você – respondeu ele com um sorriso torto.
Quando o GPS parou de dar coordenadas, estacionei. não parava de sorrir um segundo e eu tentava corresponder ao máximo. Olhei para o lugar em que estacionei. Era uma colina não muito alta. Mais abaixo dela estava um grande lago. Reconheci aquele lugar como o lago da cidade, onde todos nós passávamos tardes livres. Lembrei-me de vários momentos ali. Especialmente um com , onde ele havia largado Claire para ir atrás de mim. Pensar nisso hoje em dia parecia piada, já que agora ela era a garota dele.
Como as coisas haviam chegado a esse ponto?
– Venha, – disse , batendo no vidro e me fazendo tomar um susto.
Saltei do carro com a ajuda dele. tirou uma manta branca do carro e estendeu no gramado, à beira do lago. Apenas observei a cena, tentando entender o contexto de tudo aquilo.
– Então... Sente-se aqui comigo – disse ele, apontando para o edredom branco.
Caminhei na direção dele e tirei as minhas sandálias antes de me sentar cuidadosamente. Cruzei as pernas, ficando ao lado dele, enquanto fitava o lago brilhante pela luz da lua.
– Você acha isso romântico? – perguntou ele.
É, meio idiota. Eu sei. Ele era sempre tão fofo.
– Sim – respondi, sorrindo. – Obrigada. Não mereço tanto.
Eu não merecia mesmo.
– É claro que você merece. Depois de todos esses anos sofrendo... Merece ser tratada como uma princesa – disse ele, acariciando os meus cabelos. – Sei que você gostava de mim antes. E sei que o não era muito bom para você.
– Ele é bom para mim, sim – defendi. – Quer dizer... – tentei consertar rápido. – Era... Um amigo ótimo.
– Ele nunca quis ser seu amigo... E, de qualquer jeito, não é a ele que você pertence, linda...
Suspirei enquanto se aproximava e pousava o nariz na curva do meu pescoço.
– Quero que você seja toda minha. Quer namorar comigo?
O meu corpo endureceu.
O que eu queria? Dizer a que eu sentia muito e ir correndo para casa de , entrar no quarto dele e abraçá-lo até que fôssemos um só.
O que eu deveria fazer? Dizer sim.
E como sempre fui uma pessoa cumpridora do meu dever...
– Sim, . Quero ser sua namorada – respondi, dando o melhor sorriso que consegui.
abriu um sorriso alegre e senti o meu coração apertar. O quanto errado era aquilo tudo?
Ele puxou um anel prateado simples do bolso e colocou no meu dedo. Depois fez o mesmo com outro anel em seu próprio dedo.
– Viu só? Estamos juntos agora – disse ele.
– É, estamos.
me beijou e correspondi. Era bom porque ele sabia o que fazia. O menino desceu os beijos para o meu pescoço e me deitou delicadamente no edredom branco estirado na grama. Então sussurrou:
– Agora que somos namorados, acho que é hora de a gente fazer isso, né?
Ops.
Eu tinha dito a que ainda era virgem. Se sou imbecil? Sim, eu sou. Mas foi a única maneira que encontrei de protelar para não chegar ao finalmente com ele. Porque eu simplesmente não queria. Eu me sentia tão suja, tão traidora em fazer algo tão íntimo com alguém que eu não amava...
– Não sei, – falei nervosa.
De certa forma eu ainda me sentia virgem, porque era meu porto seguro e eu me sentia confortável com ele. Não dava medo, nervoso... Nada saía errado. Por mais que fosse fofo e parecesse ser um cara legal, não era... Certo.
– Vamos lá, bonequinha. Não vou fazer nada que você não vá gostar.
Suspirei.
– Mas eu...
– Uma hora isso vai ter que acontecer – disse ele, puxando levemente a alça do meu vestido. – Por que não agora?
A merda é que ele estava certo. As minhas chances de ficar com de novo tinham ido para bem longe e, se bem me lembro, foi depois de dormir com ele que descobri que o amava. Quem sabe eu não poderia amar o também e acabar com esse show de horrores?
Foda-se. E eu simplesmente me rendi.

Quando caiu do meu lado, arfando, quase não acreditei que tinha mesmo acontecido. Respirando com força, ele me puxou em seus braços para que ficássemos abraçados.
– Espero que tenha sido especial – disse ele, beijando a minha cabeça. Senti-me mal por enganar daquela maneira, então me dignei a sorrir.
– Não poderia ter sido melhor – falei, agradecendo mentalmente por ele não ter percebido que de virgem eu não tinha nada.
Ele beijou a minha testa enquanto eu sentia lágrimas em meus olhos. Droga, eu não me sentia apaixonada. Não havia funcionado.
Quando levei à casa dele com meu carro, despedimo-nos com um beijo de cinema. Eu estava tentando ser o mais carinhosa possível. Afinal, nós éramos namorados. E eu supostamente tinha acabado de perder a virgindade com ele, o que deveria fazer de mim a "senhorita super apaixonadinha". Quando encostei o carro na porta de casa, vi que eram dez para meia-noite. Dez minutos para o fim do meu aniversário e nem sequer havia me cumprimentado. Eu nem me lembrava de ter tido um aniversário que não fosse perto dele...
Era doloroso. Muito.
Não quis entrar em casa e ter que conversar com ninguém. Fui caminhando até o meio do jardim, onde havia uma escada. Essa dava para um pequeno telhado entre a minha casa e a casa dos . Eu costumava ficar ali com , fugindo dos adultos... Por isso me pareceu um lugar apropriado. Sentei-me ali e observei, contrastando com o anel de prata em meu dedo, uma lua cheia e brilhante. Senti-me igual a ela... Sozinha naquele céu.
– Imaginei que você estivesse aqui... Sabe? – ouvi uma voz atrás de mim.
Quase morri de susto ao ver parado ali. Ele caminhou vagarosamente e se sentou ao meu lado.
– O que você está fazendo aqui? – perguntei.
– O mesmo que você: pensando – disse ele. Ergui a minha sobrancelha e ele continuou: – Nem venha com essa cara para mim. Esse não é o seu lugar. É o nosso lugar.
Fiquei em silêncio, encarando o chão. Não me atrevi a olhar de novo e sentir aquela avalanche de sentimentos confusos.
– O que o lhe deu de aniversário? – perguntou ele após um longo silêncio.
Não respondi.
– Bom, pelo seu anel, acho que foi um pedido de namoro. Você já transou com ele? – retrucou ele sarcástico.
Engoli seco.
– Não fale assim comigo. Se eu estiver transado? Não é da sua conta. Ele é meu... Meu... – parei na frase.
– Seu namorado? – completou ele.
– É, . E você já comeu a Claire? Aposto que já, do jeito que ela é fácil – rebati.
– Não mude de assunto – reclamou ele.
– Mudo se eu quiser – rebati novamente.
– Você deu para o e não quer admitir. Agora fica aí...
– EU O QUÊ?! – gritei revoltada. – REPITA, !
– Você... Deu... Para o... – disse ele pausadamente, provocando-me. – O que foi? A verdade dói?
– A verdade não, mas isso sim – respondi. Então levantei a mão e bati com força na cara dele. me olhou com raiva. Aí eu chorei.
Olhei para o relógio em meu punho. Marcava onze e cinqüenta e nove. Em um minuto, eu não estaria mais fazendo aniversário e nem sequer havia falado coisas boas para mim.
– Feliz aniversário – disse ele de repente.
Olhei surpresa em seus olhos lindamente brilhantes.
– Você leu a minha mente? – perguntei.
– Não, porém nunca deixei de lhe dar parabéns desde que nos conhecemos.
Permiti-me fixar o seu rosto e instantaneamente estendi a minha mão para tocar sua face, onde eu havia batido.
– Machuquei você? – perguntei.
– Não – disse ele. – Quer dizer, não aqui.
– Onde machuquei então? – perguntei confusa.
Ele segurou a minha mão e levou até o lado esquerdo do peito. Senti seu coração pulsar em minha delicada palma.
Aqui. É aqui que você me machucou. Não pára de doer – disse ele.
– Dói em mim também – respondi. – Deus, sinto tanto a sua falta.
– Também sinto a sua – disse ele.
Não me agüentei e cheguei mais perto. Recostei a minha cabeça na curva de seu pescoço. Ele começou a acariciar os meus cabelos.
– Você realmente o deixou tocá-la? – perguntou ele.
– E você tocou nela? – respondi com outra pergunta.
– Não vamos falar disso – ele respondeu.
– É – falei. – Com certeza não vamos.
– Nem lhe dei presente... – disse ele, apertando-me mais forte contra o seu corpo.
– Ficar perto de você já é um presente – falei, sorrindo.
– Mas não tem nada que você queira? – disse ele.
– Tem sim, mas não posso ter – respondi, suspirando.
– Não pode ter... Por causa que você tem namorado? – perguntou ele.
– Não... Porque tenho mãe – eu disse, bufando.
– É, a sua mãe é um pé no saco.
Eu e ele rimos como costumávamos fazer juntos. Busquei a sua mão para entrelaçar nas minhas, mas ele me parou.
– Posso tirar esse anel? Sinto como se ele estivesse entre a gente – disse .
– falei pausadamente. – Eu amo você. Nada está entre a gente. Não existe mais ninguém.
– Ele é seu namorado – contestou.
– Só por hora – falei, dando de ombros.
– Isso é errado com ele. Sabia?
– O que você faz com a Claire não é errado? – contestei.
– É – disse ele. – Porque eu amo você.
– Sinto falta dos seus lábios – falei. – Nunca pensei que pudesse passar dois meses longe deles.
– Sinto falta do seu corpo. E do seu cheiro. Ver você de longe me dói.
Eu queria o . Queria de verdade. E mesmo que fosse errado tê-lo, eu ia dar meu jeito.
Simplesmente precisava daquilo.
– Mate a saudade – falei, levantando o rosto para encará-lo. – Vamos, .
– Não é certo fazer isso. Você tem namorado – respondeu ele.
– Ah, pelo amor de Deus – falei, deslizando a mão por sua coxa. – Não finja que não quer.
Comecei a beijar o pescoço dele devagar. estava arrepiado.
– Não – disse ele, afastando-me. – Não vou facilitar as coisas para você. Quis ceder para a sua mãe e terminar comigo. Não sou seu boneco e muito menos o .
– Mas, ... – falei.
– Sem mas – cortou ele. – Eu a amo, mas não sou imbecil. Comigo não, .
E ele saiu andando, deixando-me com a cabeça ainda mais cheia do que antes.


QUINZE


(Música do capítulo: Flying High – Jem)

– Acorde, pelo amor de Deus, – disse uma voz abafada.
Acordei então confusa e vi debruçada sobre mim. Levantei-me devagar e esfreguei as costas da mão nos meus olhos embaçados e vacilantes.
– O que é que está pegando? – perguntei com voz arrastada.
– O que está pegando? O casamento da mamãe está pegando, sua imbecil da porra! – gritou a minha irmã.
Olhei meu calendário do lado da cama. Oito de dezembro. Puta merda, era mesmo. Três dias após o meu fatídico aniversário, me que briguei com / virei namorada de / "perdi a virgindade" com ele/ fiz as pazes com / banquei a vagabunda e dei em cima dele/ briguei com de novo. E hoje era o dia em que minha mãe seria a mais nova senhora . E eu e seríamos as irmãzinhas do . Meigo, não?
– Ok. Foda-se se eles vão casar. São oito horas da manhã e que eu saiba ninguém vai se casar no meu quarto – falei, colocando o travesseiro sobre o rosto.
– Ok – disse . – Levante-se. Tem um cabeleireiro, um maquiador e uma massagista a esperando para ir à clínica de estética, onde a mamãe vai se arrumar. O casamento é às três. A gente precisa ir agora.
Bufei e me levantei, vestindo um short jeans e uma camiseta rasgada.
– Vamos, inferno – murmurei.
riu do meu mau humor e nós duas descemos.

xx

Minha mãe estava uma chata oficial. ‘Ta, eu sei que é o casamento dela e tal, mas fale sério: precisa ser insuportável? Acho que não.
Já estávamos no local onde seria o casamento. Eu e meu vestido lilás já estávamos em nossa perfeita sincronia juntos, assim como estava com o dela.
– Alguém pode fazer alguma coisa de útil e terminar de colocar esse véu? – gritou minha mãe.
– Ei, não somos suas empregadas – falou . – Pare de gritar.
Alguém bateu na porta.
Ei, sou eu, !
O meu coração deu aquele pulinho habitual. Desde o meu aniversário não nos falávamos.
– O que esse garoto quer? – rosnou minha mãe. – , vá lá ver.
– Por que eu? – perguntei indignada.
– Dá pra você ir logo? – disse . – Ela já está bem estressada sem a sua ajuda.
Bufei e puxei a maçaneta. Quando saí do quarto, deparei-me com usando um smoking, simplesmente lindo de morrer. Os seus cabelos estavam meio bagunçados e sua gravata não havia sido colocada ainda. Ele engoliu seco ao me ver, parecendo quase tão estático com a cena quanto eu. Então me lembrei de que eu provavelmente estava bonita também com o meu vestido.
– A minha mãe pediu para eu lhe perguntar o que você quer – falei, tentando não parecer tão nervosa.
Ele pigarreou.
– Eu... Hum... Preciso de ajuda com a gravata.
Não pude conter um sorriso.
– Ah, claro. Onde está? – falei, procurando a gravata.
– Lá dentro – disse ele, apontando para um quartinho às suas costas, onde estava se arrumando.
Caminhei com ele até o lugar e o garoto fechou a porta. Encarei o meu reflexo no espelho e me senti bonita. estava às minhas costas, olhando-me também.
– Você está bonita – disse ele rápido.
Sorri abertamente. Ele pareceu se envergonhar.
– Você também está. Cadê a gravata? – perguntei.
Ele me estendeu a gravata borboleta e cheguei perto dele para fazer o nó. O seu cheiro era tão inebriante e delicioso e eu estava com tantas saudades... O pior é que ele me encarava sem parar.
– Pare de olhar desse jeito – reclamei.
– Desculpe. Só estava me lembrando da primeira vez que a vi com esse vestido – disse ele, lançando-me um sorrisinho sedutor.
“Hello, ele está me cantando?”, pensei.
– Você tentou tirá-lo e não conseguiu – continuei, rindo.
– Não tive muito tempo. Uns cinco minutos e eu teria conseguido – disse ele em tom convencido.
– Sabe... Aposto que você leva no mínimo quinze minutos para tirar esse vestido – provoquei.
– Ah, é? Dê-me quinze minutos então e você tem a sua aposta.
– Certo – falei.
– Certo – disse ele.
Ficamos nos encarando enquanto eu terminava de dar o nó.
– Pronto. Acabei – declarei.
– Não. Não quero que acabe – disse ele, puxando a minha nuca.
Quando nossos lábios se encontraram, senti um formigamento absurdo. Parecia que o meu mundo se partiria, se ele sequer cogitasse me soltar. S sua língua tocou os meus lábios e não hesitei em dar passagem pra que ela massageasse a minha. As suas mãos grandes e talentosas escorregaram pelas minhas costas, acariciando-as. Depois ele subiu novamente uma delas para jogar os meus cabelos para o lado, descendo os beijos para o meu pescoço. Controlei-me para não desarrumar completamente os seus cabelos quando os seus lábios encostaram ao meu pescoço e suas mãos agarraram as minhas coxas. Ele ergueu o meu vestido, acariciando as minhas pernas com vontade. Gemi de leve.
– Estou cansado disso... – disse ele. – De ficar longe. Você me enlouquece.
– Não me deixe ficar longe, por favor – supliquei.
Ele me prensou contra a parede e voltou a beijar a minha boca. Eu implorava para que alguma força divina eternizasse aquele momento por mim. Era simplesmente maravilhoso. Quando as mãos dele encostaram à lateral da minha calcinha por baixo da meia-calça, ele parou de súbito, encostando o nariz à minha bochecha. Dei um gemido de reclamação.
– Acho que é melhor a gente parar por aqui antes que a situação saia do controle – disse ele.
Suspirei e concordei com a cabeça. As suas mãos foram tiradas de dentro do meu vestido e subiram para a minha cintura.
– Você me deixa maluca – desabafei. – De verdade. Simplesmente nunca sei o que você vai fazer.
Ele aproximou os lábios da minha bochecha e disse:
– Desculpe-me por isso. Foi um erro. Você está linda.
E saiu do quarto como um furacão. Sentei-me no chão vacilante, tentando me recuperar.
Quando consegui parecer um ser humano normal de novo, desci as escadas em direção ao local onde seria a cerimônia. Vários familiares vinham falar comigo e eu os cumprimentava sorrindo e com acenos educados. veio em minha direção com seu vestido verde escuro colado no corpo. Ela deu um sorriso e segurou a minha mão.
– Amiga, você está arrasando.
Sorri de volta.
– Você também. E aí, o que me conta?
– Adivinhe quem veio com um Versace rosa ridículo? – disse ela.
– A piranha Zizes? – perguntei, olhando em volta, tentando encontrar Claire.
– Gosto de você porque me saca – disse ela, sorrindo. – O seu homem está com ela.
– Pare de falar que ele é meu homem. Tenho uma porra de um namorado – reclamei irritada.
– Hum, que grossa... Fale sério. Vcê gosta dele e não do . Todo mundo sabe dessa merda.
– Ele me agarrou, – falei baixo.
– O ? – perguntou ela distraída. – É normal, certo? Afinal, como você mesma disse, ele é “a porra do seu namorado”.
– Deixe de ser imbecil. O . O me agarrou agora há pouco. Depois disse que tinha sido um erro e foi embora.
Ela assumiu um tom chocado.
– Sério? Caraca, que droga. Você está se sentindo bem?
– Não – falei. – Não. Ele me tem totalmente. Que merda.
– Eu sei. Uma merda mesmo – disse ela, apertando os meus ombros. Depois seu olhar de compreensão sumiu e um sorriso se abriu para alguém atrás de mim. – Ah, oi, . E oi, Josh.
Virei-me e vi meu namorado parado atrás de mim com as mãos nos bolsos. Ele estava lindo do jeito cavalheiro dele.
– Oi – falei, sorrindo.
– Oi, boneca – “apelido idiotaaaaaa!”, pensei ao ouvi-lo proferir. – Você está linda.
– Muito obrigada – respondi, sorrindo. Ele me puxou e me deu um selinho.
Senti-me mal pelo que tinha acontecido antes entre mim e , então abracei com força. De longe, vi e Claire de mãos dadas, conversando e rindo. Ele não me parecia nem um pouco culpado enquanto lançava sorrisinhos sedutores à garota que parecia querer morrer toda vez que ele abria a boca. , que conversava com Josh (um amigo de que fora ao casamento), ao perceber para onde meu olhar estava voltado, sussurrou:
Seja forte.
Ah, eu estava sendo. Há muito tempo. Mas estava cansada daquilo tudo. Eu ia dar um basta naquela história.
Naquela noite, quando minha mãe e tio John fossem viajar de lua-de-mel, eu ia colocar o para fora da minha vida. De uma vez por todas.

xx

– E eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva – disse o padre.
Apertei a mão de minha irmã, abrindo um sorriso, enquanto tio John se inclinava sobre minha mãe para beijá-la. Todos aplaudiam freneticamente.
O meu olhar encontrou o de que estava do outro lado. Eu e ele sorrimos porque foi simplesmente impossível evitar. Pensei em mim. No meu casamento. Em como seria. Aí pensei em ao meu lado, com um terno preto, esperando-me no altar. Pensei nos filhos que poderíamos ter, no cachorro que eu ia querer comprar... Aquilo parecia tão distante, tão incerto. Por que ficar com a pessoa que você ama parece tão impossível enquanto é tão fácil para os outros?
Saí de cima do altar, segurando a mão de minha irmã, e afastei aqueles pensamentos de minha cabeça.

xx


Estávamos dançando muito. Eu e não ficamos longe na festa por um segundo sequer. E eu estava me divertindo. Tudo bem. Eu dava aquelas secadas no só para ver se ele ainda estava com Claire. Às vezes eu os via se beijando de leve e sentia umas pontadas. Contudo ele certamente parecia comportado junto a ela enquanto eu fazia questão de esfregar na cara de todos, beijando-o toda hora.
Até que no meio da festa uma cerimonialista subiu no palco e disse ao microfone:
– Os noivos agora farão uma dança em homenagem à sua união. E pedem que todos da família acompanhem.
Dei um beijo na bochecha de como quem pede desculpa e caminhei até o centro. A minha mãe e tio John dançavam e logo os outros convidados, também familiares, agrupavam-se em pares e iam para a pista de dança. Olhei em volta, na esperança de encontrar um dos meus primos, avós, ou tios, mas é claro que eu não teria essa sorte.
estava parado ao meu lado com seu sorrisinho de cafajeste estampado no rosto. Ele virou de frente para mim e disse:
– Às vezes o destino consegue ser insuportavelmente irônico, não? Eu e você dançando a dança dos noivos... Parece até que é de propósito.
– Não estamos dançando – falei.
– Ainda não – ele parou de sorrir e assumiu uma postura séria. Estendeu a mão e disse calmamente: – Então, , minha eterna ... Concede-me essa dança?
Eu sorri. Um sorriso de verdade, sem sarcasmo, sem ironia, sem falsidades. Um sorriso que desde sempre só o conseguia arrancar de mim.
– Eu nunca diria “não” para você – falei, segurando a mão dele.
Ele me conduziu até a pista e delicadamente passou o seu braço por minha cintura. Depois alisou com carinho toda a extensão do meu outro braço para só então erguê-lo na altura de seu ombro. A ninha outra mão se entrelaçou na dele.
A música que tocava era uma espécie de valsa, mas, no segundo que assumimos a nossa posição, ela mudou.

You can't know... Oh, no.
You can't know…

Você não pode saber... Oh, não.
Você não pode saber...

How much I think about you. No…
It's making my head spin.

O quanto eu penso em você. Não...
Isso está fazendo a minha cabeça girar.

Looking at you
And you are looking at me.

Olhando para você
E você está olhando para mim.

And we both know what we want..
Hm, so close to giving in.

E nós dois sabemos o que queremos.
Hm... Tão perto de nos entregarmos.


aproximou um pouco mais as nossas mãos entrelaçadas, fazendo com que elas ficassem grudadas nas laterais de nossos corpos. A minha bochecha encostava à dele e aquela sensação era maravilhosa. Ele estava tão perto e era tão bom, mas tão proibido.
Feel so nice.
Oh, yeah, you feel so nice.

A sensação é tão boa.
Oh, yeah, você se sente tão bem

Wish I could spend the night,
But I can't pay the price.
Oh, no, no.

Queria poder ficar aqui a noite toda,
Mas não posso pagar o preço...
Oh, não, não.


– Você acha que as pessoas imaginam? – perguntou ele ao meu ouvido.
– Imaginam o quê? – perguntei.
– Tudo o que tem por debaixo dos panos... Será que elas nos vêem dançando e imaginam o quanto a gente queria poder ficar junto?
– Não sei – admiti. – Espero que não. Perco demais por tentar esconder tudo o que sinto por você. Espero ao menos que valha a pena.

But I'm flying so high…
High off the ground,
When you're around.

Mas eu estou voando tão alto...
Muito acima do chão,
Quando você está por perto.

And I can feel your high
Rocking me inside.
It's too much to hide.

E posso sentir a sua felicidade
Mexendo-se dentro de mim.
É demais para poder esconder.


, eu me sinto mal. Sabe... Estou aqui dançando com você, desesperadamente louca para que todas as pessoas desse salão sumam e eu possa beijá-lo, mas simplesmente não consigo me sentir culpada por isso. Não consigo nem me lembrar que a mamãe existe, que o existe... – desabafei.
– Fico feliz em saber que causo em você as mesmas sensações que você causa em mim – disse ele sem conter um sorrisinho.

I know. Oh, yes.
I know that we can't be together,
But I just like to dream.
It's so strange.

Eu sei. Oh, sim.
Eu sei que não podemos ficar juntos,
Mas gosto de sonhar.
É tão estranho.

The way our paths have crossed,
How we were brought together...
Hm, it's written in the stars, it seems.

Como os nossos caminhos se cruzaram
E como fomos ficar juntos...
Hm... Parece que está escrito nas estrelas


– Sabe, no início do ano, eu só queria ser popular. Queria estar nas líderes de torcida, queria ser namorada do , queria que a Claire fosse o cocô do cavalo do bandido na escola... – comecei.
– É, você nunca me inclui em nenhum dos seus planos de Cérebro para dominar o mundo – alfinetou ele.
– Deixe-me terminar – reclamei. – O que quis dizer é que eu sempre quis todas essas merdas que tenho agora. E sempre tive você. E agora que tenho todas essas merdas, só consigo pensar em como eu era feliz sem isso e com você ao meu lado.
– Não é como se você fosse a única pessoa sofrendo com isso tudo – disse ele.
– É isso o que mais me dói. Você está sofrendo também – murmurei.

But I'm flying so high…
High off the ground,
When you're around.

Mas eu estou voando tão alto...
Muito acima do chão,
Quando você está por perto.

And I can feel your high
Touching me inside.
It's too much to hide.

E posso sentir a sua felicidade
Tocando-me por dentro.
É demais para poder esconder.


– Você podia parar de falar essas coisas. Já estou quase mandando todo mundo à merda e a beijando aqui mesmo – disse .
O meu coração acelerou violentamente.
– Só estou tentando ser sincera. E fazê-lo ver que não sou a vilã da história como parece – falei. – Eu o amo, . Machucar você desse jeito me deixa doente por mais que não acredite.

Back to Earth.
Where did you take me to?
I know there's no such thing
As painless love.

De volta à realidade.
Para onde você me levou?
Sei que não existe amor
Sem dor.

Well, it'll catch us up
And we can never win,
But I feel so alive.

Bom, isso nos afetará
E nunca poderemos vencer,
Mas me sinto tão viva.

Just wanna hold you,
Hold you so tight.
Só quero abraçar você,
Abraçar tão forte...

– Nunca lhe pedi desculpas pelas coisas que disse no dia em que terminamos. Foram horríveis – disse ele.
– É, foram – concordei.
– Desculpe-me. É que pareceu tão louco. Você foi simplesmente arrancada de mim. Eu não podia agüentar aquilo e estourei em você, como se a culpa fosse sua.
– E é culpa minha em parte... – comecei.
– Vamos parar de falar disso? – disse ele. – É o nosso momento. Só nosso. Para a gente lembrar um dia, contar para os nossos filhos.
– Se é que vamos tê-los – brinquei.
– Claro que vamos. A gente vai ficar junto um dia. Eu sei disso.
– Eu espero que você esteja certo – murmurei.

But I'm flying so high…
High off the ground,
When you're around.

Mas eu estou voando tão alto...
Muito acima do chão,
Quando você está por perto.

And I can feel your high
Touching me inside.
It's too much to hide.

E posso sentir a sua felicidade
Tocando-me por dentro.
É demais para poder esconder.

– Eu amo você, agora e sempre. Nada nem ninguém vai mudar isso – disse ele.
– Eu o amo também, demais. – sussurrei.

But I'm flying so high…
High off the ground,
When you're around.

Mas eu estou voando tão alto...
Muito acima do chão,
Quando você está por perto.


A música acabou e senti uma tristeza. a beijou minha testa e acariciou os meus cabelos rapidamente, afastando-se. As minhas pernas fraquejaram até eu sentir uma mão segurando a minha. Olhei para o lado e vi .
– Tente não parecer que vai morrer. Vocês estavam fofos dançando – disse ela.
– O está puto?
– Não. Ele nem ligou. Acha que você terminou com o para ficar com ele. Lembra? – disse ela.
– É. Que bom que ele acredita nisso – murmurei.
pegou a minha mão para que fôssemos até e Josh. Aprontei o meu sorriso falso, colocando-o em meu rosto. Sorrir sem querer estava se tornando prática naquela minha vida.


DEZESSEIS


(Música do capítulo: Misery – Maroon 5)

Eu estava morta. De cansaço, é claro.
Imagine que sua mãe se case. Aí ela sai para a lua de mel... E deixa que você e sua irmã de quinze anos cuidem da hospedagem de sete familiares!
Você com certeza não estaria exausta. Aposto.
Fiquei esperando cuidar dos últimos preparativos, sentada na sala. Minha irmã desceu com uma coberta e um travesseiro na mão, vestindo o seu pijama rosa.
– Só tem um travesseiro, ? Cadê o meu? – perguntei.
– Olhe – disse . – Não tem lugar para você dormir.
"Conte até dez, . Matar é errado", repeti para mim mesma.
– Como assim não tem lugar para eu dormir? – repeti suspirando, prestes a ter um ataque.
– Sis, é simples: não tem lugar. Sem espaço. As primas estão todas no seu quarto. Os primos, no meu. E o vovô e a vovó, no da mamãe.
– E o quarto de hóspedes? – perguntei esperançosa.
– Os tios estão lá – disse ela. Abri a boca, mas ela me cortou: – E o sofá-cama é meu.
– Vá se ferrar. Divida comigo – reclamei.
– Olhe, você pode dormir na casa do seu namorado, na casa da , da Courtney, da Amber... Ou melhor, pode ir aqui ao lado, bater na casa do , pegar suas roupas que estão lá e dormir no quarto de hóspedes.
– Você é realmente muito cara de pau de me sugerir isso! – gritei.
, pare de gritar. O meu ouvido não é penico. E vai acordar a casa toda com esses seus ataques ridículos!
– Ridículos? – baixei meu tom de voz, sem deixar de parecer indignada. – Olhe só, tive um dia de cão e quero dormir numa cama confortável!
– A casa do é ali do lado. Ok? – disse ela, puxando as cobertas e se deitando no sofá.
– Idiota – bufei, marchando para fora de casa.
Peguei meu celular, a chave da casa de e bati com força a porta na hora de sair. Encarei a porta da casa dos e pensei no quanto aquilo era esquisito. Toquei a campainha e ninguém atendeu. Imaginei que estivesse dormindo. Abri a porta e entrei.
Na suíte de hóspedes havia várias roupas minhas. Separei uma com o pijama e tomei um banho rápido. Lembrei-me de que não tinha avisado a ele, então subi devagar as escadas em direção ao seu quarto.
Aquela casa tinha cheiro de . Isso me fazia sorrir mesmo sem querer. Pensei em como era errado estar ali dormindo na casa dele, porém dei de ombros e ignorei. Eu estava cansada de reprimir tudo o que eu sentia o tempo todo. Era errado e doloroso.
Coloquei a mão na maçaneta da porta azul do quarto. Dei um suspiro antes de abrir, contudo não o fiz, porque ouvi uma voz feminina lá dentro.
Ninguém faz como você, bebê. Você me dá prazer demais – pronunciou a voz.
– Eu sei disso – respondeu .
Adoro esse seu jeito convencido – respondeu a menina.
– Você adora tudo em mim, Claire.
Minha primeira reação foi soltar a maçaneta com força. O barulho foi alto. A segunda foi soltar a porcaria do celular das minhas mãos. E a terceira foi correr igual a uma doida pela escada, sair da casa e entrar no meu New Beatle rápido. Travei as portas do carro e me sentei no banco do motorista com os joelhos colados no peito e as canelas encostando ao volante. Liguei o rádio e deixei os meus braços abraçarem as minhas pernas. Eu sabia que ela e o estavam juntos. E uma parte de mim sabia também que ele não ficaria com ela a troco de nada, então eles provavelmente dormiam juntos. Entretanto saber que ela estava ali, na cama dele, com o corpo junto ao dele... Era triste de um modo enlouquecido. Aquele quarto, o quarto de ... Era parte do nosso mundo. Ninguém sabia o que se passava ali dentro. As confissões trocadas, os filmes a que assistíamos...
Encostei a cabeça ao banco, tentando afastar as lágrimas dos olhos. Chorar podia ser cansativo. E lembrar também. Mas foi impossível evitar aquela lembrança que me atacou no momento.

Flashback

Cinco anos antes...

– Qual filme a gente vai ver? – perguntou .
Aquele era um diferente do atual. Seu corpo era mais magro e seus dentes, mais arqueados. A sua expressão era muito mais infantil, assim como seu sorriso. Porém a beleza era a mesma e o carisma também. Todo mundo o amava, achava-o lindo. Menos eu, que era totalmente apaixonada por .
– Não sei. Um filme bem romântico – respondi com um suspiro.
Aquela com certeza não era a mesma. Muito mais baixa e atarracada, eu era com certeza mais jovial. Os meus cabelos eram mais compridos e meus seios, para os padrões das meninas de doze anos, eram bem grandes. Eu era líder de torcida da escola primária pública de Ambler e , jogador de futebol. Porém, mesmo assim, ele era meu único amigo e eu, a única amiga dele.
Estávamos em uma daquelas "festas do pijama" que fazíamos enquanto nossos pais saíam juntos. Geralmente minha mãe e tio John iam lá para casa depois fazer sabe-se lá Deus o quê. Como eu não gostava de ficar no meio, ia para a casa de dormir lá no quarto de hóspedes ou no colchão no quarto dele. Víamos filmes, conversávamos... Divertíamo-nos como sempre.
– Filme romântico é chato – disse ele, torcendo o nariz.
– Ah, vá, . Gosto de filmes fofos. Lembram-me o – falei, dando um suspiro apaixonado.
Ele bufou.
– Você só fala nesse cara. Ele nem é tão legal assim.
– Você é amigo dele, !
, sei o que digo. Ele é chato – retrucou com um bico. – Aposto que, se você namorasse com ele, nunca mais iríamos ser amigos.
– Por quê? – perguntei.
– Porque ele acha que a gente é namorado. Fala isso alto no vestiário e todo mundo faz piadinhas – respondeu .
– Você disse a ele que não era verdade? – perguntei nervosa.
– Disse, mas eu não ligo tanto assim. Sabe... As pessoas podem pensar o que quiserem. Coloque logo o filme.
Sorri, pegando um filme romântico e bobo qualquer da minha coleção e colocando no DVD.
Eu e estávamos deitados um ao lado do outro na cama de barriga para baixo e vendo o filme. Então o personagem principal beijou a menina. Fiz um “oh!” de exclamação, típico de uma pré-adolescente idiota, e ele riu de mim. Depois disse:
, você já beijou alguém? Sabe, de verdade... Não daquele jeito que a gente fazia quando era criança.
Corei ao responder.
– Você sabe que não. Eu teria lhe contado.
Ele fez um “ah” meio que de compreensão.
– E você? – perguntei.
– Não – disse ele. – A Katherine tentou naquele dia em que a gente estava brincando, mas eu não quis. Ela não é uma garota que eu beijaria.
– E que garota você beijaria? – perguntei.
Ele ficou em silêncio, olhando para baixo. Depois respondeu:
– Eu beijaria você.
Os meus olhos se arregalaram. Senti meu coração disparar.
– Deve ser bom, né? – perguntou ele. – Beijar...
Assenti.
– É, deve.
Eu nunca havia me sentido tão nervosa em toda minha vida. Achei que meu coração fosse simplesmente pular.
– Quer tentar? – perguntou ele.
Eu tentava responder, mas não saía. Então soltei um:
– Aham.
Ele sorriu e se aproximou. Fiquei parada, esperando-o se aproximar mais. A sua mão segurou minha bochecha e suspirei. Os lábios de encontraram os meus devagar. Meu coração acelerava cada vez mais e eu simplesmente nem sabia o que fazer, até que sua língua tocou minha boca que se abriu, dando passagem.
parecia saber fazer aquilo muito bem, enquanto eu me sentia confusa e atrapalhada. A língua dele explorava a minha boca com calma e eu só conseguia pensar em como aquilo era bom e esquisito. Antes que eu pudesse perceber, me puxara para baixo dele, fazendo-me segurar sua nuca com força. Eu não tinha noção disso no momento, mas aquele encaixe era perfeito. Nossos lábios tinham os tamanhos e medidas perfeitamente elaborados para permanecerem juntos.
Eu queria respirar, mas nem conseguia pensar em parar. fez isso por mim. Ele separou nossos lábios e pareceu meio nervoso ao checar nossas posições. Porém eu não estava nervosa. Não mais. Ele era o meu me beijando. Aquilo era simplesmente correto para ambos. Sorri então. Ele sorriu de volta.
– Você gostou? – perguntou ele baixinho.
– Sim – concordei.
– Hum, devo ser bom então – rolei os olhos, ainda sorrindo. – Não faça essa cara. Você também é.
– Talvez não exista essa coisa de ser bom em beijar. Acho que tudo é uma questão de encaixe – falei.
Ele me olhou confuso.
– Encaixe? Como assim?
– É, encaixe. Talvez a sua boca combine com a minha – falei, dando de ombros com um sorriso simples.
Ele rolou para o lado, deitando-se de barriga para cima na cama. A sua mão segurou a minha, entrelaçando nossos dedos.
– Será que você combina com
ele como combina comigo?
Eu suspirei.
– Não sei. Espero descobrir isso um dia – respondi desapontada. – E espero muito combinar com ele também.
– E espero que você não combine – disse ele baixinho com a intenção de que eu não ouvisse.
? – chamei. – Você é bonito. Sabia? – falei.
Ele sorriu.
– Ah, você também é – respondeu ele.
– Muitas garotas vão gostar de você – falei calmamente.
– Nem ligo para elas. Só gosto de ficar perto de você mesmo – disse ele, dando de ombros.
– Mas e se um dia você gostar de uma delas de verdade? – perguntei. – Vai trazê-las para cá, ver filmes e beijá-las também?
– Não vai acontecer. Vou lhe prometer uma coisa: a única garota que vai poder entrar nesse quarto comigo é você. Sempre.
Sorri.
– Gosto dessa promessa. O mesmo fica valendo para o meu quarto então – eu disse. – É como se tivéssemos nossos mundos afastados dos outros, né?
– Sinto-me bem vivendo num mundo com você – disse . – Mesmo que não tenha mais ninguém nele.
Rolei na cama e encaixei minha cabeça na curva do pescoço de . Ele era tão cheiroso sem nem ao menos tentar... me apertou ainda mais contra o seu corpo com seus braços. Fechei os olhos.
Eu o amava, com toda a certeza. Eu o amava desde aquela época. Só não sabia.


End of flashback

Era irônico. Está certo. Foi uma promessa de duas crianças que tinham acabado de se beijar, mas a imbecil que vos fala cumpriu essa promessa sem pestanejar. É, acredite se quiser. Nunca deixei um menino entrar no meu quarto. Só o .
Eu não ia chorar. Não de novo. Eu simplesmente estava cansada disso. Tentei ser boa, tentei ser legal, levar isso na esportiva. Tive que terminar, que arranjar outro namorado. E tive que passar pelo papel de vaca sem coração.
queria uma vadia insensível? Ele teria uma. E ela seria simplesmente arrasadora.

's POV

Eu sabia que era ela.
Quando ouvi aquele barulho alto, coloquei minha cabeça na janela e a vi correndo para fora da minha casa e direto para o New Beatle.
– Volte para a cama, – disse Claire atrás de mim.
Suspirei e fui para cima dela.
– Ei, lembrei-me de que tem uns parentes a mais da... Hã, , na casa delas. Acho que vão precisar ficar aqui.
Claire suspirou.
– E?
– Importa-se se eu levá-la para casa? – perguntei. – É só hoje. Amanhã eles vão embora e você pode ficar aqui a semana toda.
Claire beijou meus lábios. Correspondi mesmo sem muita vontade.
– Ok – disse ela, fazendo uma voz baixa meio maliciosa. – Vou sentir sua falta ao meu lado na cama me tocando como só você sabe fazer.
Sorri por instinto. Que culpa tenho se as garotas só sabem inflar o meu ego?
Levantei-me e mandei que ela se vestisse. Claire morava perto, o que me rendeu cinco minutos de carro para deixá-la em casa e voltar. Entrei em casa, pensando em um jeito de como falar com . O New Beatle dela estava vazio, então imaginei que a menina tivesse ido para casa.
Subi lentamente para o meu quarto e abri a porta... Para me deparar com aquela cena.


So scared of breaking it,
But you won't let it bend.
And I wrote two hundred letters
I will never send.

Tanto medo de fugir,
Mas você não vai deixar isto dobrá-la.
E escrevi duzentas cartas
Que nunca vou enviar.


Ela estava bem ali. . Na minha cama. Onde eu e Claire havíamos, hum... Deixe para lá.
O meu coração deu aquela disparada. Que diabos aquela garota estava fazendo ali? E daquele jeito?


Sometimes these cuts are so much
Deeper then they seem.
You'd rather cover up.
I'd rather let them bleed.

Às vezes isso machuca demais,
Mais profundamente do que parece.
Você prefere encobrir-se.
Prefiro deixar sangrar.


– Surpreso, gatinho? – disse ela com um sorriso malicioso.
Ela vestia apenas uma lingerie vermelha de renda. As suas pernas bronzeadas estavam cruzadas e seu sorriso era quase maléfico.
Linda demais. Sexy demais.


So let me be.
I'll set you free.

Então me deixe ser.
Eu vou libertar você.


Eu ainda não conseguia proferir uma palavra sequer. Ela abriu ainda mais o sorriso enquanto encostava uma mão na coxa.
– chamou ela. – Gatinho, perguntei uma coisa. Perguntei se você está surpreso.
– Estou – respondi, tentando fazer minha voz soar grossa e viril, porém só consegui parecer um moleque de dez anos com medo de uma bronca da mãe.


I am in misery.
There ain't nobody who can confort me.
Why won't you answer me?
The silence is slowly killing me.

Estou na miséria.
Não tem ninguém que possa me reconfortar.
Por que você não me responde?
O silêncio está me matando lentamente.


, o que é que você está fazendo aqui? – perguntei, tentando recobrar minha voz de homem.
– Ué, vim dormir com você... Na sua cama. No nosso quarto – pronunciou ela lentamente.
Puta merda, ela tinha que ser tão gostosa?
– Você se lembrou da promessa, né? – perguntei culpado.
– Meu amor, lembro-me de tudo que você faz – disse em tom sarcástico. – Contudo, se você não se lembra, tudo bem. Posso fazê-lo entender.


Girl, you really got me bad.
You really got me bad.
I'm gonna get you back,
Gonna get you back.

Garota, você realmente me deixa mal.
Você realmente me deixa mal.
Vou ter você de volta,
Ter você de volta.


– Fazer-me entender o quê? – perguntei.
– Em primeiro lugar – disse ela, levantando-se da cama e caminhando em minha direção. – Quero que entenda a quem você pertence.
– E a quem eu pertenço? – perguntei, já sorrindo e entrando naquele jogo idiota.
Ela parou na minha frente e pousou as mãos sobre os meus ombros.
– Uma dica para você: ela é a única que o faz se sentir do jeito que está se sentindo agora.


Your salty skin and how
It mixes in with mine...
The way it feels to be
Completely intertwined.

A sua pele é salgada e como
Ela se mistura com a minha...
A forma como parecemos ser
Completamente interligados.


– Pensei que ela tivesse namorado – falei de birra.
– E tem, mas ela lhe prometeu que seria sempre sua. E a garota cumpre o que ela promete sempre – disse , começando a acariciar os meus cabelos.
– Você está brincando comigo... – falei entre dentes.
– A próxima coisa que vou lhe ensinar é a cumprir as suas promessas. Você tem sido um menino muito mau quanto a isso, – falou, aproximando a boca do meu ouvido.


Not that I didn't care.
It's that I didn't know.
It's not what I didn't feel.
It's what I didn't show.
So let me be.
I'll set you free.

Não é que não me importei.
É que eu não sabia.
Não é que não senti.
É o que não mostrei.
Então me deixe ser.
Eu vou libertar você.


– Eu nunca lhe prometi...
– Shiiiu – ela fez. – Você prometeu que ficaria comigo no final, prometeu que nunca deixaria outra menina entrar nesse quarto. E não foi isso que vi hoje, sabe...
– Mas ela pediu e você provavelmente já levou o ao seu quarto.
– Nunca fiz isso. Cumpro o que digo. E você vai aprender a cumprir também, .


You say your faith is shaken.
You may be mistaken.
You keep me wide awake and
Waiting for the sun.

Você diz que a sua fé está abalada.
Pode estar enganada.
Você me mantém acordado e
Esperando pelo sol.


Ela então beijou a minha bochecha. Lutei internamente para não segurar a sua cintura. A menina apenas continuou a me beijar de leve.


I'm desperate and confused
So far away from you.
I'm getting near.
I don't care where I have to run.

Estou desesperado e confuso
Tão longe de você.
Estou chegando perto.
Não me importa aonde eu tenha que ir.


– Sabe... – sussurrou ela. – Naquele dia, você me recusou... No dia do meu aniversário. Mas hoje você não tem desculpas.
– Posso muito bem sentá-la nessa cama e a trancar nesse quarto. Sou mais forte que você – respondi.
– Meu lindo, força física não conta nada nesse momento. Você não tem controle.


Why do you do what you do to me, yeah?
Why won't you answer me, answer me, yeah?

Por que você faz o que faz comigo, yeah?
Por que você não me responde, responde, yeah?


Ela continuou a me beijar agora no pescoço. Dando mordidinhas leves, começou a levantar a minha blusa e eu, como o perfeito retardado que sou, levantei os braços para ajudá-la. Senti que ela sorria com isso.
– Diga que sou melhor que ela. Diga que sou a única que sabe como deixá-lo maluco – sussurrou ela.
– Você é infinitamente melhor do que ela. E só você me deixa maluco. Nunca quis outra garota nesse quarto. Você é a única que quero perto do meu corpo e no meu coração – falei.

I am in misery.
There ain't nobody who can confort me.
Why won't you answer me?
The silence is slowly killing me.

Eu estou na miséria.
Não tem ninguém que possa me reconfortar.
Por que você não me responde?
O silêncio está me matando lentamente.


– Isso – disse ela, mordendo o meu queixo. – Muito bem. Você é um bom menino, .
– Sou, é? – perguntei, sentindo-a abrir o botão da minha bermuda.
– É. Agora pegue o seu prêmio.

Girl, you really got me bad.
You really got me bad.
I'm gonna get you back,
Gonna get you back.

Garota, você realmente me deixa mal.
Você realmente me deixa mal.
Vou ter você de volta,
Ter você de volta.


Beijei-a com força, sendo correspondido. Era tão bom tê-la em meus braços. Tão bom que nem me lembrei que o meu estoque de proteção havia acabado. Porém naquele momento eram apenas detalhes.
Detalhes que poderiam se tornar grandes.

's POV OFF


DEZESSETE


Eu estava ofegante. O meu plano tinha ocorrido perfeitamente bem. Eu sabia que não resistiria a mim e que ele tinha entendido minhas palavras.
Olhei para o lado e o vi estirado na cama, ofegante como eu. Sorri de prazer ao ver sua expressão deliciosamente cansada e satisfeita.
– Não me sinto assim há muito tempo – disse ele. – Dois meses, para ser exato.
– Imagino – falei.
Ele chegou perto de mim. As suas mãos grandes e másculas se aproximaram do meu corpo, envolvendo os meus seios. Pensei em afastá-las dali, mas não consegui.
– Você fala como se não sentisse a minha falta também – disse ele.
Não respondi. Ele apenas chegou mais perto. Os seus lábios se encostaram ao meu rosto, um pouco acima da minha boca, e suas mãos passaram a acariciar a região onde estavam.
– Diga que sentiu falta... Você aparece de surpresa, faz com que eu me sinta mal e expulse minha... Hum, minha Claire daqui. Seduz-me com uma lingerie vermelha, impõe-me um monte de condições... Poxa, mereço escutar isso.
Virei de costas para ele bruscamente.
– Pare de ficar fugindo de mim. Você sabe que sente falta – ele sussurrou, esfregando o nariz no meu pescoço. Depois pousou as suas mãos em minha cintura, descendo às vezes para a barriga e acariciando.
– Na verdade, fiz isso para dar um basta nessa história – falei, virando-me novamente para ele. – Não dá para continuar desse jeito, . Ou a gente está se matando ou está na cama. Isso não é certo.
– A gente se matar não é certo. Mas nós dois na cama... – ele deu um sorrisinho malicioso. – Não vejo nada de errado nisso.
– Na realidade, é ainda mais errado do que estar se matando – falei. – Somos potencialmente irmãos...
– Você só fala disso – reclamou ele, afastando-se um pouco.
– É – eu disse. – Mas não vou falar mais. Não vou mais precisar lembrá-lo de que nós somos irmãos porque não vamos mais ter recaídas.
– Você não soa convincente dizendo isso quando está nua na minha cama – provocou ele.
– Estou falando muito sério – suspirei. – , a gente vai morar na mesma casa.
– Não entendo por que a gente não pode ficar escondido – disse ele.
– Porque é errado – falei.
– E o que estamos fazendo agora é certo?
– Não, . É completamente errado.
chegou perto e subiu em cima de mim. Eu podia sentir o seu peitoral pressionando os meus seios e sua barriga encostando à minha. Ele ergueu o braço e começou a acariciar minhas bochechas com as costas da mão.
– Você e eu nos amamos.
, por favor, não torne isso complicado – suspirei.
– Dê-me uma chance de lhe mostrar que pode dar certo. Termine com o , chuto a Claire e a gente fica escondido até a faculdade. Só até a faculdade.
– É isso o que estou dizendo. Só até a faculdade – falei.
Ele fechou os olhos.
– Dê-me só essa noite. Se eu amanhã não conseguir fazer você ficar, a gente decide depois.
Beijei-o calmamente. Ele interpretou aquilo como um "sim". Porque, na verdade, foi isso mesmo.

Claire's POV

– Está legal, . Seja rápido – falei.
Quem entende os homens? Eu sinceramente não.
Eu estava lá, deixando o fazer o que quisesse comigo, e aí ele me manda de volta para casa. Tipo, ele nem era tão bom assim de cama. Eu só estava com ele para irritar aquela piranha da e o idiota do .
Tudo bem, eu disse à que eu era apaixonada pelo , mas, cara, isso foi uma puta mentira. Não sou apaixonada por ele. Ele é gostoso e tal, porém sou total e completamente do . O único motivo de eu armar esse circo todo é que eu queria sacanear a e fazer o voltar para mim. ‘Ta, eu sei que é confuso, porém sou assim.
Agora o me aparece aqui com essa cara de cachorro sem dono querendo falar comigo.
– Eu só queria conversar com você – disse ele num bico.
– Percebi – retruquei. – Então comece a falar.
Ele segurou minha mão. Meu coração acelerou.
– Eu meio que... Sinto a sua falta.
Arregalei os olhos.
– Ok – falei com calma, usando meu leve sarcasmo habitual. – Onde estão as câmeras?
– Sem câmeras – disse ele, recostando-se ao banco. – Fale sério, né, Claire.
– Fale sério você, – retruquei. – Você me deu o fora.
– Não foi desse jeito – disse ele. – Você estava pegando muito no meu pé. Eu só queria um tempo.
– Um tempo para pegar a V.V.? – ironizei.
– Só a peguei dois meses depois. E foi quando você começou com esse seu plano de maluca para tirar o dela.
– Não tenho um plano de maluca para tirar o dela – falei entre dentes.
– Ah, fale sério, Clairezinha. Todo mundo sabe que você os viu se agarrando e mandou aquela inspetora maluca para que eles fossem pegos. Foi você quem sabotou a para ser expulsa das torcedoras e sair como coitada. Foi você quem armou aquele circo todo com a Ananka de "façam bullying com a Claire" para o ficar ao seu lado.
Não respondi. ‘Ta, é verdade. Eu tinha feito todas aquelas coisas, mas era só para ver a se espatifando bonito. Aquela vadia ridícula sempre se achou boa o bastante para me enfrentar. Eu só queria mostrar a ela que não importava se eu estava no topo ou no lixo. Eu sempre estaria por cima dela.
– ‘Ta. Fiz isso tudo – admiti.
– Eu sei – disse . – Sei de tudo, amor. E, na verdade, acho você um máximo.
Um sorriso involuntário se abriu no meu rosto.
– Não me importo de largar esse plano, terminar com o e ficarmos juntos de novo – falei.
– Amor, eu a amo, você é minha linda – disse ele. – Mas simplesmente não é mais popular. E isso... – ele se aproximou para terminar a frase. – Faz muita diferença.
– É por isso que você está com a ? – perguntei.
Ele riu.
– Cada um tem seus motivos, boneca. Você está com o para foder a vida da V.V. e eu estou com a V.V. porque ela é popular e gostosa. E popularidade e bunda bonitinha sempre foram coisas que me atraíram.
– Sabe, ... Todo mundo pensa que você é o príncipe e o é o cafajeste. Na verdade, eles nem imaginam como você é realmente.
– E todo mundo pensa que você é a loser fodida e que a V.V. é a fodona que manda na escola. Na verdade, nem imaginam quem está por trás de tudo – disse ele, pousando a mão na minha perna.
– Somos imbatíveis. Temos que ficar juntos – falei baixo.
Ele se aproximou de mim, segurando o meu rosto.
– Para isso acontecer, boneca, você precisa fazer sua parte.
Tem que se esquecer desse plano maluco para foder a e ser popular de novo.
– Não é fácil conseguir isso – reclamei.
– Você vai dar o seu jeito. Popularidade é algo instável. Em um segundo ela pode estar no chão.
– Tem muita gente querendo o lugar da , . Não sou a única – falei.
– Mas é a mais experiente de todas porque sempre teve tudo sob controle – disse ele.
– Então vou ter que mudar os meus planos? – perguntei.
– É. Agora você precisa voltar ao topo – disse ele.
– Podemos nos ver escondidos enquanto isso? – perguntei esperançosa.
Ele sorriu malicioso, puxando-me para o seu colo.
– O que você acha que vim fazer, hein?
E lá estava eu nos braços dele de novo, sendo beijada do jeito certo.
Eu tinha que fazer o e voltarem e precisar fazer dela chão a ser pisado. De novo. E eu sabia exatamente como, porque se alguém era especialista em fazer descer do pedestal... Esse alguém era eu.

Claire's POV OFF

's POV

Acordei sentindo reflexos de luz no meu rosto. As cortinas de eram claras e por isso a gente quase sempre acordava cedo dormindo lá. Olhei profundamente para que continuava dormindo.
Eu era tão vaca. Tão maldosa.
havia me pedido uma chance de me fazer ficar. Uma chance de me fazer ser dele de novo mesmo que fosse às escondidas. Eu não queria ser errada. Não queria mentir. Mesmo que fosse partir o coração dele e mais ainda o meu, era a coisa certa.
Vesti-me lentamente para que ele não acordasse. Depois puxei um dos cadernos da escola dele para que pudesse arrancar uma folha e escrever um bilhete. Levei um susto ao abrir o caderno dele e ver uma foto nossa colada. Era uma daquelas fotos de cabines. Eu me lembrava desse dia. O primeiro shopping de Ambler havia sido aberto e eu e ficamos animados com isso. Então fomos e tiramos um monte de fotos na cabine de lá. Na primeira eu beijava a bochecha dele. Na segunda ele beijava a minha. Na terceira nós dois fazíamos careta... E na última ele me roubou um selinho. A foto era engraçada porque saí com a maior cara de espanto e ele, com olhos sorridentes.
Embaixo da foto havia um bilhete meu escrito: "Para animar a sua aula de cálculo, fotos suas com a pessoa que você mais ama na vida. Beijos da sua ." Ele guardava fotos minhas no caderno. Bilhetes meus. Ele me amava de verdade. E eu ia magoá-lo... De novo.
Com lágrimas nos olhos puxei uma folha e com qualquer caneta e escrevi:

,
Ontem você pediu uma chance para me convencer a ficar, mas nem precisou me convencer. Tudo o que eu mais queria em minha vida era estar deitada ao seu lado sentindo o seu cheiro. Só que amo muito a minha mãe e prezo pela nossa família. Então só estou tentando fazer a coisa certa.
Se eu já me perguntei se quebrar nossos corações é a coisa certa? Várias vezes. Só penso nisso. Porém ainda acho que um dia nós dois vamos embora desse lugar, longe dessa gente precária, desse mundo pequeno... E vamos poder estar juntos sem pensar em certo e errado.
Desculpe-me de novo. Eu amo você e essa noite foi perfeita. Só que, pelo visto, amor nunca será o suficiente.

.


Passei os dedos pelo rosto dele na foto e deixei uma lágrima pingar, criando uma pequena nódoa no cantinho da figura. Descansei a carta ali e saí em passos rápidos.
Quando estava na porta de casa, virei meu rosto para trás em um movimento rápido. Foi isso o que me fez voltar meu olhar para a janela de . Ele estava ali em pé, segurando um papel nas mãos. Olhei profundamente nos olhos dele que transmitiam uma tristeza profunda, porém compreensiva. acenou com a cabeça como se acatasse minhas palavras escritas e acenei de volta.
E ali, naquele momento, tive a sensação de que não o teria nunca mais.
Nunca mais.


DEZOITO


Afundei minha cabeça na carteira na esperança de que a professora Crowe não me visse dormir.
A noite anterior havia sido muito estranha. Minha mãe e meu padrasto voltaram de viagem e nos levaram para nossa “nova casa” que era no centro de Ambler. A casa tinha quatro andares e cinco quartos. Isso significava que era oficial: eu e dividíamos o mesmo teto. Posso começar a pular de alegria?
E pela manhã, ao chegar à escola, Diana disse que já havia decidido a nova capitã da equipe, o que significava um monte de gente estressada ao cúmulo ao meu redor e especulando. Vou confessar que nem estava muito empolgada com isso. Todo mundo sabia que seria a escolhida... Então eu nem tinha chance.
– Com licença, professora Crowe – ouvi uma voz conhecida na sala que me fez erguer a cabeça. Era o meu namorado gostoso, fofo, lindo, porém não amado por mim, . – A treinadora Morris pediu para que todas as líderes de torcida sejam dispensadas de suas aulas.
No caso a única líder de torcida da classe de cálculo avançado era eu (as outras não tinham inteligência suficiente para isso. E, modéstia à parte, sempre fui muito boa aluna). Levantei meu olhar sonolento à professora Crowe que me lançou um sorriso torto.
– Então, senhorita , arrume as suas coisas e pode se retirar.
Obedeci prontamente e me levantei, sentindo os olhares das pessoas sobre mim. Perguntei-me como a Claire agüentou quatro anos de tanta atenção. Na boa, ser popular é muito chato.
Ouvir isso de mim mesma é doentiamente irônico.
Saí da sala e fechei a porta. se adiantou e beijou meus lábios.
– Todos os jogadores foram convocados para passar esses avisos... Mas pedi para avisar aqui na aula de cálculo avançado – disse ele com uma carinha meiga.
Lancei a ele meu melhor sorriso, porém com certeza não foi nada satisfatório.
– Você está se sentindo bem? – perguntou ele, passando o braço pela minha cintura e me encostando contra a lateral do seu corpo enquanto caminhávamos.
– Sim... – murmurei. – Quer dizer, primeira noite numa casa nova é sempre meio estranho.
– Acho que o seu problema não é a casa nova e sim a casa nova com o dentro – disse ele com um sorriso lateral. – Entendo você. Só não o deixa intimidá-la.
– Ele não me intimida – defendi. – Apenas ignora solenemente a minha presença.
– Não tem jeito – disse . – São coisas da vida.
Calei-me ainda meio emburrada e continuei caminhando. me acompanhou até a porta do ginásio das torcedoras e se despediu novamente com um beijo. De lá, ele seguiu seu caminho que eu sinceramente nem me animei a questionar qual era. Entrei no ginásio e vi os olhares se voltarem para mim. Pelo visto, eu havia sido a última a chegar.
, pode vir aqui por favor? – pediu Diana.
Dei de ombros e caminhei em direção ao círculo onde toda a equipe se encontrava. Confesso que estava meio chateada. Depois de tudo o que eu havia feito, todo aquele esforço para ser popular, emagrecer, namorar o , treinar feito louca, eu merecia ser capitã. Mas aquele posto não seria meu com certeza.
– Quero fazer dois anúncios. O primeiro deles é bastante simples. , meus parabéns, você é a mais nova capitã das Warriors.
Aplaudi de má a vontade. Ok. era minha melhor amiga, entretanto aquilo não era uma grande surpresa para ninguém.
– Muito obrigada pela confiança treinadora – disse .
Rolei os olhos. Como se ela não fosse peixe da Diana há anos...
– O segundo anúncio é que eu conversei com a e tomei a liberdade de tomar uma decisão. Quero dar uma segunda chance a uma pessoa talentosa que pediu sua vaga de volta na equipe.
– E quem seria? – perguntou Amber.
– Claire Zizes – disse Diana.
O meu sangue ferveu. Só então notei que ela estava ali no canto usando um uniforme de torcedora com um sorrisinho maldoso no rosto.
– Você não pode estar falando sério, treinadora – falei com ódio. – Isso é simplesmente uma piada.
, sei que vocês duas tem desavenças... – disse ela.
– Desavenças? – cortei. – Essa garota é uma paneleira de quinta que passou óleo nos meus tênis para eu cair saltando. Ela é praticamente uma psicopata.
, pelo amor de Deus, pare com esse drama – disse com uma voz suplicante.
– E você? – falei, apontando para o rosto de . – Você ainda concordou com essa merda! Tudo isso para ser capitã?
crispou o lábio, formando uma expressão ofendida.
– Só acho que as pessoas merecem uma segunda chance, . Você também teve a sua.
– Só que ao contrário dela, ninguém nunca teve prova alguma para me incriminar. Vimos essa menina colocar o óleo nos meus tênis, pelo amor de Deus! – gritei irritada.
, você está se descontrolando – disse .
– Você é minha melhor amiga. Será que dá para ficar do meu lado? – perguntei irônica.
– Estou do lado certo.
– Não. Você está do seu lado. Do lado que garante essa merda desse posto de capitã. Que conseqüentemente é o lado dessa puta da Zizes – falei.
– Puta? – disse Claire, pronunciando-se pela primeira vez. – Pelo menos nunca fui pega pela diretoria sendo comida pelo meu namorado na sala de música. E no vestiário masculino também, se não me recordo mal...
– EU VOU MATAR VOCÊ, SUA BISCATE DE QUINTA! – gritei, avançando nela e bufando.
As meninas me seguraram.
– Uhhh, acho que a verdade dói – disse Claire.
– Acho que você é uma dedo duro de merda que foi dizer isso para a diretoria. Por isso fomos pegos.
– E se for, hein? Hein? – disse ela, provocando.
Avancei novamente nela, sendo apartada por várias meninas.
– Acabou. , é a capitã e não você. Ela concordou com a volta de Claire. Conforme-se. Vocês estão dispensadas.
Eu não podia deixar aquilo barato. Quando todas as meninas saíram do ginásio cochichando, comecei a seguir que ia em direção ao vestiário. Ela não notou minha presença às suas costas enquanto entrava e se dirigia ao seu armário. Continuei parada, esperando que ela me visse, até perceber que a mesma estava tomando uma medicação.
? – chamei. Ela se assustou e deixou o frasco cair.
Caminhei rápido até ela e peguei o frasco.
– Que porra é essa?
– Advil – disse ela nervosa, tentando puxar o remédio de volta. Não deixei.
Analisei a embalagem com cuidado.
– Rivotril? – li o nome do remédio. – , por que você está tomando essa merda?
– Ando meio estressada... – disse ela, gesticulando. – Com esse lance de faculdade e tal. Mas não é nada demais.
– Você tem receita para esses troços? – perguntei.
– Não, claro que não, . Um psiquiatra não me daria um remédio só porque ando estressada.
Andei até o armário dela e a empurrei.
– Deixe-me ver essa merda que você está tomando.
– Pare de escândalo, . São só remédios – reclamou ela.
Olhei o armário e me choquei. Havia várias embalagens de Rivotril para ansiedade, Valium também para relaxar e Acomplia para emagrecer. Encarei os fatos. Minha melhor amiga estava vivendo à base de remédios tarja preta.
– Você tem noção do que vai acontecer com a sua vida se a pegarem com isso? – perguntei depois de um tempo em silêncio.
– Não tem como me pegarem.
– E quando a gente for fazer antidoping para as competições? – perguntei.
– Paro de tomar por uns dias. Está tudo sob controle.
– A Diana a mata se descobrir. Você com certeza perde o posto de capitã – comentei.
– É SÓ NISSO QUE VOCÊ PENSA! QUE MERDA! – esbravejou .
– Não – falei, mantendo meu tom calmo. – Estou preocupada com você, .
– Não, não está. Você quer que eu me foda para que seja a capitã.
– Se eu quiser ser a capitã, , vou ser. Basta eu levar esses seus remedinhos na sala da Diana. Mas eu não faria isso, porque você é minha melhor amiga.
Ela me olhou e começou a chorar. Adiantei-me para abraçá-la.
– Vai ficar tudo bem. Logo vamos todos para a faculdade. As cartas de admissão chegam logo, logo. Fique tranqüila. Essa pressão vai passar.
– Espero que você esteja certa. Desculpe-me por aceitar a Claire de volta na equipe. Sei que ela não merece, mas eu estava tentando ganhar a confiança da Diana.
Dito isso, ela saiu do vestiário, deixando-me com a cabeça cheia e confusa.

xx


No dia seguinte acordei cedo em casa e saí do meu quarto a caminho do banheiro. Legal é que na casa nova meu quarto é colado ao do . Então é quase certo eu esbarrar nele enquanto saio de sutiã procurando uma toalha decente.
Tomei um banho calmo. Como hoje não tinha treino na parte da tarde, podia usar uma roupa comum para a escola. Saí do banheiro no meu roupão com os cabelos presos em um coque. Quando entrei em meu quarto, tive que esfregar os olhos duas vezes para ter certeza de que estava enxergando corretamente. estava parado no meu quart, apenas com uma toalha amarrada na cintura.
? – perguntei. – O que você faz aqui?
Ele abriu um sorriso malicioso.
– Meu carro quebrou. Você se importa de me dar uma carona? – disse ele com um sorrido sedutor.
– Não. Claro que não – falei, tentando manter a voz controlada.
– Hum, então ‘ta. Obrigado – respondeu ele, continuando sentado em minha cama.
Resolvi ignorá-lo, indo em direção ao closet e separando um jeans cinza. Ele não parecia se mover. Escolhi uma blusa branca e lilás com manga 3/4 e coloquei na cama. Fui até minha gaveta de lingeries e separei a primeira que vi: uma lilás rendada. parecia compenetrado em assistir à minha pessoa se vestir, porém aquilo não me intimidou. Coloquei a calcinha por baixo do roupão e fiquei de costas para na hora de me despir para colocar o sutiã. Antes que eu pudesse finalizar o ato, senti mãos em minha barriga. Suspirei e me virei.
, não podemos – falei baixo, suspirando. – Já lhe expliquei dezenas de vezes e...
– É só uma recaída! Juro! Sonhei com você de madrugada e estou com muita vontade de tê-la. Você me chuta, me pisa, quebra meu coração e só a quero mais.
, a gente não pode...
– Shiu, . Pare de fingir que não quer.
Ele estava certo. Eu queria e queria muito.
Passei meus braços por seu pescoço, sentindo as mãos dele percorrerem toda a extensão do meu corpo devagar. Tranquei a porta com uma das mãos e logo depois fui levada a cama.
– Camisinha – murmurei. – Não tenho.
– Não vou buscar no meu quarto – disse ele irritado.
– Ah, não, . Da outra vez a gente ficou a noite inteira sem camisinha e...
– Nada aconteceu – disse ele.
– Foi há duas semanas – murmurei.
– Por favor, eu tiro antes.
Suspirei.
– ‘Ta.
E mais uma vez eu estava entregue.
Quando acabou, se levantou rápido, sem nem sequer me beijar, e se enrolou na toalha. Olhei confusa para ele.
– Aonde você vai? – perguntei.
– Meu quarto – respondeu ele. – Ou você acha que vou ficar aqui deitado de amorzinho com você depois do sexo? Só faço isso com a minha namorada.
Olhei para ele absolutamente perplexa.
– Como é que é?
– Agora você é surda também? – perguntou irônico.
– Por que é que você está me tratando assim, como se não significasse nada? – perguntei indignada.
– Porque não significa – disse ele com indiferença.
, você sabe o quanto sexo é importante pra mim. Principalmente com você, que foi o meu primeiro e...
– Ah, fui o seu primeiro? – perguntou ele com sarcasmo. – Engraçado. Não foi isso que o babaca seboso do estava dizendo no vestiário ontem.
Gelei. Então era isso. foi desmascarada.
Ok. Sei que menti para o sobre a minha virgindade, mas só achei que esse era o melhor jeito de protelar para transar com ele. era muito recente. Não me sentia preparada para estar com outra pessoa.
Só que, pelo visto, não consigo fazer nada certo mesmo.
, não fiz isso para...
– Você não percebeu que não me importo? , há tempos sei o que você é... É só mais uma que posso ter quando quiser – disse ele com os olhos brilhando de indiferença. – Como agora... – estendeu a mão para tocar meus seios. – Aposto que, se eu quisesse, mesmo depois de esnobá-la, pisá-la, você estaria bem aqui de joelhos para mim de novo... Porém não quero. Não agora.
Simplesmente quis vomitar. Era tanto ódio, tanto nojo. Meu estômago se revirava.
Como eu podia ter um dia dormido com ele? Como eu podia amar aquele canalha?
Fechei os olhos para dizer:
– Eu disse que era virgem porque queria uma desculpa para não ter nada com ele, porque eu não conseguia esquecer você – abri os olhos e o vi vacilar. – Mas quer saber? Eu errei feio. Quem dera que eu tivesse esperado. Antes tivesse sido o o meu primeiro. Porque você... – falei com raiva. – Você é sujo. Não quero nunca mais pensar em deixar você encostar em mim.
ficou estático, todavia não acabei por ai. Levei minhas mãos ao meu pescoço, soltando o cordão com pingente de pompons que ele havia me dado. Levantei-me e entreguei o cordão na mão dele.
– Saia do meu quarto. Aliás, saia da minha vida e leve isso com você. Não quero nada seu em mim. Nada.
Ele me olhou de um jeito triste, parecendo meio arrependido, entretanto era orgulhoso acima de tudo. E ele saiu do quarto, deixando-me sozinha.

xx


Estacionei meu carro em minha vaga e saí lentamente. De longe, vi acenar e caminhar até mim. Eu me sentia mal agora por tê-lo traído.
– Oi, boneca – disse ele, beijando-me.
– Oi – respondi, sorrindo. – – perguntei vacilante. – Você por um acaso falou alguma coisa sobre a minha primeira vez lá no vestiário?
Ele pareceu ficar nervoso.
– Eu só... Hum, perguntaram-me se sua primeira vez tinha sido comigo e eu disse que sim.
– Está tudo bem. Só queria saber – falei.
– Quem lhe contou? – perguntou ele. Dei de ombros, explicando que não responderia. – Foi o , né? Eu sabia que não era uma boa idéia você e ele na mesma casa.
– Não esquente. Conheço-o muito bem para saber no que devo acreditar e no que não devo – falei com um sorriso simples.
– Eu sei – disse , dando-me um beijo. – Você é uma menina esperta.
Ele passou o braço pela minha cintura e fomos caminhando juntos para a escola. Nesse instante, vi passar na nossa frente e me lançar um olhar do qual desviei, enterrando meu rosto no pescoço de e depositando um beijinho ali.
Quando estávamos caminhando em direção aos nossos armários, apareceu no fim do corredor. Seu rosto parecia furioso e choroso ao mesmo tempo. Ela parou na minha frente a apontou o dedo na minha direção.
– De todas as pessoas do mundo que achei que pudessem fazer isso comigo! – gritou ela. – Você foi a última delas. Você conseguiu, .
E nisso ela jogou um papel em minha direção que agarrou no ar com muita agilidade. Ele abriu cuidadosamente o papel. Minha boca fez um “oh” de exclamação. Havia uma foto minha conversando com na frente do armário dela cheio daqueles remédios malditos. Ela segurava o Valium nas mãos. Embaixo havia uma legenda:

"Seria a capitã das Warriors viciada em remédios? Estaria a co-capitã e melhor amiga tentando ajudá-la?"

– Puta que pariu – falou .
Amber corria apressada pelo corredor. Segurei bruscamente seu braço.
– Amber, que merda está acontecendo?
Ela suspirou.
– Até parece que não sabe. Foi você quem fez tudo.
– O que eu fiz? – perguntei desesperada.
– Alguém denunciou a para a Diana. A treinadora a tirou do cargo de capitã e está pensando em rebaixá-la a reserva.
– E vocês acham que fui eu? – gritei.
– A única pessoa que ganhou com isso foi você, .
– Por quê? – perguntei irritada.
– Porque agora você é a nova capitã. Vai ter um pronunciamento oficial. Você conseguiu, V.V. Meus parabéns.


DEZENOVE




– Diana, acho que você não me entendeu – falei calmamente. – Não posso aceitar ser a capitã.
Eu estava na sala da treinadora Morris, tentando recusar o tentador convite de assumir o título de capitã das Warriors.
, você tem que aceitar. Como co-capitã, é importante que substitua a nesse caso.
– Olhe – falei. – Todo mundo pensa que eu denunciei a . Se assumir a posição de capitã, as pessoas terão certeza disso. Amber e Courtney são tão capazes quanto eu de serem capitãs. Você deveria nomeá-las.
Diana abaixou a cabeça.
– Elas nunca vão aceitar fazer isso com a , .
– E você acha que eu vou? – perguntei, aumentando meu tom de voz. Diana nada respondeu. Então compreendi. – Também acha que fui eu quem mandou a denúncia anônima né?
, não interessa o que acho. Quem fez isso fez certo – disse ela.
– Não fui eu – falei não convencida. – Por mais que seja certo, eu nunca faria isso com ninguém. Muito menos com a . E não vou ser capitã.
Levantei-me para sair da sala e ouvi Diana dizer:
– Vou lhe dar até o fim do dia para pensar. Se ainda quiser, apareça no pronunciamento oficial no ginásio.
Assenti com a cabeça e saí andando.
Eu precisava falar com . Ela não podia acreditar que eu tinha feito aquilo com ela. Era tão baixo que me dava nojo.
Encontrei atrás da quadra (onde todo mundo matava a aula) com Courtney e Amber em seu encalço. Claire e estavam ali um pouco mais afastados, assim como e os caras do futebol. Ananka e as líderes de torcida restantes também se encontravam na área. Quando apareci, todos voltaram seus olhares para mim. Caminhei até minha amiga e disse:
– Temos que conversar.
– Não, não temos – disse ela.
– Você não pode estar falando sério. Como vai acreditar que lhe fiz isso? – perguntei.
– Tenho que listar os motivos? Um: você vai ser capitã. Dois: sendo capitã, tira a Claire do time principal. Três: a única coisa com a qual você se importa na vida é a merda da sua popularidade.
– Não foda, . Sou sua melhor amiga! E além do mais, tiraram uma foto na qual estou! Como eu poderia ter denunciado?
– Você tem ajuda, é óbvio, da outra pessoa que vai ganhar com isso tudo – disse ela.
– E essa seria...?
– A Ananka. Ela seria rebaixada a reserva com a volta da Claire. Se você for capitã, a menina vai ser da equipe principal. E já vi vocês duas tramando contra a Zizes.
– Você está viajando tanto... – falei, colocando a mão na cabeça.
– Ela não é a única que pensa assim – disse Amber.
– É, . Eu gostava muito de você, mas não dá para não concordar com a teoria da – disse Courtney.
– Então você não vai acreditar em mim? – perguntei diretamente a . Ela fez que não com a cabeça. – Certo então. Já que vocês querem que eu seja a vilã, vou ser.
Virei-me para sair e gritou:
– Isso que dizer que...?
Sorri maldosa.
– Que eu sou a nova capitã. Não tinha aceitado o cargo, mas já que vocês acham que fui eu, façamos então jus à crença. Certo?
Caminhei então até Claire. que estava ao seu lado ficou me olhando como um imbecil. Ela ergueu a sobrancelha como quem questiona a minha presença.
– Nem adianta me olhar com essa cara de palhaça. Sei que foi você – falei.
– Você me acusa de tudo, né? O que você pensa? Que fico o dia inteiro arquitetando a sua queda de popularidade? – perguntou ela.
– É. Na verdade é exatamente isso – falei, rindo maldosa.
– Para a sua informação, eu estava com o o tempo todo ontem e hoje.
– Hoje não, querida – falei vingativa. – Sabe por quê? Porque hoje de manhã seu namorado estava na minha cama. E, agora que sou capitã, pode se considerar reserva.
Saí andando para longe deles. Eu só precisava de um lugar onde pudesse esfriar a minha cabeça.

xx


Meu carro não era o local mais convidativo do mundo para relaxar, mas foi o melhor que consegui. Liguei o rádio na esperança de uma música que me fizesse sentir melhor, mas eu nem conhecia a que tocava no momento. Então apenas encostei a testa ao volante, sentindo as lágrimas rolarem. Eu agora era um nada. Não tinha amigos, não tinha o cara que amava, era odiada e popular. A única coisa que eu tinha era um namorado do qual eu não gostava. E só estava com ele para enciumar .
Foi ali que percebi que eu tinha acabado de realizar todos os meus sonhos de infância. Eu era exatamente como a Claire Zizes.
A depressão que aquela constatação me trouxe foi inexplicável. Eu me sentia uma vadia. Uma vadia das boas, sem coração. Magoava-me ser acusada daquela maneira. Eu nunca faria aquilo com ... Sempre fui boa amiga. O problema é que só tive um único amigo na vida que poderia confirmar esse fato e no momento ele não era exatamente meu fã número um.
Meu único amigo... . Lembrar dele me fez perguntar o que ele estava achando de mim no momento. Será que achava que eu tinha pisado em todos para ser capitã? Essa mera cogitação já fazia um pânico crescer em mim. Se não acreditava mais em minhas palavras, ninguém acreditaria. Eu estava totalmente sozinha então.
Continuei pensando nele. Será que estava arrependido do que tinha feito mais cedo? Será que ele me amava? Eu sinceramente esperava que não. A minha situação com ele estava tão maluca que eu só queria que o cara me odiasse e me esquecesse... Porque esse drama tinha que acabar.
Alguém deu duas batidas leves no vidro do carro. Parecendo ler meus pensamentos, vi os olhos maravilhosamente intensos de me encararem através do vidro do carro como quem pedia para entrar. Meu cérebro dizia “ele a magoou. Fique longe”, mas meu coração simplesmente não conseguia afastá-lo. E, por ordem do meu coração, destravei as portas.
entrou no carona, bateu a porta e a trancou novamente. Recusei-me a olhá-lo. Apenas encarei minhas coxas grossas na calça jeans cinza, enquanto fazia leves círculos com minhas unhas curtas sobre ela. não disse nada. Ele apenas mudou a estação de rádio. Olhei então para o teto. Continuei acariciando minha própria coxa irregularmente.
– Posso fazer isso para você, se quiser – disse , pronunciando-se pela primeira vez. Então o encarei.
– Fazer o que, ? – perguntei.
– Fazer carinho... – disse ele, esticando a mão e tirando a minha das minhas coxas, tocando-as e começando um carinho leve. Olhei-o com raiva.
– Olhe, , não estou com paciência para aturar os seus ataques de cafajeste. Então se veja se me erra – falei, cruzando os braços.
– Só preciso tocá-la de novo, porque tenho que ficar perto de você. Amo todos os erros deliciosos que a gente comete.
– Cale essa boca – falei irritada. – Tem tanta coisa errada acontecendo e você vem com insinuações baratas para cima de mim?
– Sei que você não fez aquilo com a . E sei também que sinto muito pelo que lhe fiz de manhã. É claro que sexo com você significa muito.
– Não pareceu.
– Mas é verdade – disse ele. – Não negue.
– Não estou negando nada – falei.
– Está sim. Sabe que pertencemos um ao outro e que qualquer relação para nós significa muito.
Fiquei em silêncio, olhando fixamente para frente.
– Não quero ser capitã – admiti.
– Então não seja – disse ele indiferente.
– Se minha reputação for destruída, não vou ter mais nada, .
– Você vai ter a mim.
– Não posso ter você – falei triste.
Ele suspirou.
– Você adora se fazer de certinha, porém aposto que se eu tentasse você se renderia. Estou começando a cansar de correr atrás de você.
– Então saia do carro – falei. – Tenho namorado. Não quero nada com você.
Ele se aproximou, mordeu o lóbulo da minha orelha e sussurrou:
Menina má e mentirosa. Merecia um monte de palmadas.
Sou uma imbecil por achar aquilo excitante. Contudo não demonstrei.
– Saia de perto de mim, seu safado – falei com raiva. Ele riu.
– Ainda vou ter você de novo.
– Você sabe que hoje mesmo vou oficializar meu namoro com , né?
Ele ficou em silêncio.
– E daí? – disse com desprezo. – Você é minha. MINHA. E sabe disso. Não me importo com ele.
– Eu só queria conforto, mas atualmente você parece mentalmente incapaz de não me tratar como trata suas putas. Não sou sua putinha, . Nunca fui e não vou ser. Então se não sabe me tratar direito, tire a sua bunda do meu carro.
– Tudo bem. Eu saio – disse ele, erguendo os braços com um risinho de escárnio estampado no rosto. – Mas, só para você saber, já estou ficando cansado de tudo isso. E quando me cansar, vai ter que vir atrás de mim.
E ele saiu do carro, deixando-me chorar em paz.

xx


– Parabéns, . Você é a mais nova capitã da equipe de torcedoras da Ambler High – anunciou Diana no microfone.
Todos do auditório aplaudiram. Sorri agradecida. Então senti alguém pegar minha mão. Olhei para o lado e vi ali parado e sorrindo.
– Acho que agora é hora certa de anunciar para a escola o mais novo casal. O capitão de futebol e a capitã das torcedoras... Não é perfeito? – disse ele.
– Totalmente – concordei com um sorriso plástico.
Então ele me beijou para todo mundo ver. E foi no mínimo decepcionante. Quase como beijar a minha própria mão. Não senti nada. Nada mesmo.
Droga. Por que eu estava assim? Finalmente tinha chegado o momento em que eu conquistava tudo que sempre sonhei. Eu era capitã das torcedoras, Claire estava fora da jogada, era finalmente meu... Então por que parecia que tinha alguma coisa fora do lugar?
Foi quando encontrei um par de olhos azuis me fitando. E percebi que todo o meu esforço não valeu de nada. Tudo que sempre quis foi ele. Tudo que sempre tive foi ele. E agora eu não tinha mais.
E me senti um lixo por isso.


VINTE


Duas semanas. Duas malditas semanas.
Do que estou falando? Da minha menstruação. É, isso mesmo. Duas semanas de atraso.
Ok, eu não tinha opção. Precisava fazer um teste de gravidez urgente. O problema é que eu morava num lixo de cidade pequena, onde todo mundo conhecia a minha família. Se eu aparecesse na farmácia com "oi. Será que dá para você me dar um teste de gravidez?", alguém com certeza contaria isso para a minha mãe. E foi exatamente por esse motivo que não tomei a merda da pílula. Porque comprar um anticoncepcional numa farmácia em Ambler era a mesma coisa que chegar ao centro da cidade e gritar "OI! EU FAÇO SEXO!" para todo mundo ouvir.
Foi aí que cuidadosamente planejei o meu sábado. Eu iria até a cidade mais próxima, esperando não ver ninguém por ali, e iria comprar um teste. Eu só me sentia mal por ter que fazer isso sozinha... Mas realmente não tinha opção. Veja bem: eu nunca havia transado sem camisinha com . Se eu pedisse a ele, o menino desconfiaria. não iria querer me ver nem que eu me transformasse num donut e fosse visitá-la. E estava totalmente fora de cogitação chegar à cara de (que, diga-se de passagem, foi o único com o qual não usei camisinha) e dizer "ei, você é um papai em potencial! Que tal ir comigo a uma farmácia comprar uns testes de gravidez?". O que me restava era dirigir meu fusca sozinha.
E foi quase isso o que fiz. Quase porque, quando me levantei da cama às oito da manhã de sábado, deixando um bilhete que inventava um treino de última hora falso, e me dirigi até a porta, uma voz me incomodou:
– Aonde você vai?
Coloquei a mão no peito, arfando.
– Que susto, porra! – reclamei. Então vi à minha frente. – Oi, .
– Aonde você está indo e por que está fingindo que tem treino? – perguntou ela.
Analisei minha irmã calmamente.
– Preciso ver umas coisas por aí – falei. – Nada demais.
– Posso ir com você? – disse ela. – Já estou até vestida.
– Ah, , é melhor não... Eu...
– Você não vai se encontrar com o , né? – disse ela.
– Não, mas...
– Então me deixe ir! Por favor – pediu minha irmã.
Foi aí que considerei a hipótese. Eu não queria ir sozinha mesmo e era minha irmã... Alguém em que eu podia confiar.
– Venha. Vamos logo. Explico no caminho o que vamos fazer – falei. Ela sorriu e saiu de casa saltitando atrás de mim. Abri a porta do carro e entrou no carona.
– ‘Ta – disse ela. – Agora abra o jogo. O que é que você vai fazer?
Suspirei.
– Um teste – falei.
abriu a boca em sinal de espanto.
– Um te... Teste? – gaguejou ela.
– Isso – confirmei.
A menina ficou em silêncio, encarando-me em choque. Era agora. Eu receberia meu primeiro sermão. Eu choraria e a mandaria sair do carro. Por que ela estava assim toda espantada? Merda, . Preciso de suporte aqui!
– Por favor, diga-me que é de matemática, sis – disse depois de um longo silêncio.
Minhas quase lágrimas se soltaram numa “risada-soluço” abafada. se juntou a mim rindo. E logo nós duas gargalhávamos.
– Não é engraçado – falei, ainda rindo. – Não acredito que você disse isso.
– Desculpe-me. Só quis ver você rir... Sabe, de verdade. Porque só vejo você fingindo que está tudo bem – disse ela.
Minha gargalhada se transformou num sorriso. Um sorriso sincero para uma pessoa que merecia vê-lo.
– É um momento de merda para mim. Você sabe, né? – falei. assentiu. – É... Porém só queria lhe dizer que... Se estou na merda, que bom que você está aqui ao meu lado. Ir à merda sozinha não é tão bom.
– Eu a amo, . Você é minha irmã.
– Eu também, . Obrigada por estar ao meu lado quando ninguém mais está.
Ela sorriu e eu dei a partida no carro.

xx


A simpática cidade de Fort Washington, localizada a três quilômetros de Ambler, no condado de Montgomery, Pensilvânia, é um pulinho. Ainda mais quando se sai do centro. Uma pequena resenha de Fort Washinton, só para vocês compreenderem minha situação: Habitantes: aproximadamente três mil e quinhentos. Escolas: uma apenas. Farmácias: duas. Uma no centro e outra mais ao sul da cidade. E é óbvio que a escolhida foi a mais ao sul.
– Ok. Vá lá. Compre e depois voltamos para Ambler e fazemos o teste em casa – disse .
– Você perdeu a noção? – perguntei.
– Relaxe, cara. A mamãe e o tio John foram a Pittsburg hoje s seis para ver uma filial nova para a loja... E o vai sair com a puta Zizes. A casa é só nossa.
– Certo. Vou comprar uns cinco só para ter certeza absoluta.
– Ok. Faça isso – falou .
Comprar aquele teste foi a coisa mais constrangedora que já fiz. A atendente me olhou com uma cara muito chocada quando pedi cinco. Pobre dela. Nem sabia o quanto eu estava necessitada daquilo.
Saí da farmácia com os testes numa sacola.
– Casa? – perguntou .
– Isso – confirmei.

xx


Cinco testes. Eu havia feito cinco testes. Combinei com de não olhar os resultados até que eles estivessem todos devidamente feitos. Suspirei quando saí do banheiro.
– Não sei como você conseguiu fazer tanto xixi. De verdade – disse ela.
– Você já olhou? – perguntei, sentando-me.
– Claro que não – disse .
– Olhe, acho melhor a gente...
De repente a porta foi arrombada. Dei um pulo e caí da cama. meteu a cara no quarto.
, preciso de um favor seu e...
– SEU BRUTAMONTES! – gritou . – Quase me matou de susto!
então caminhou até mim. Eu só rezava para que saísse logo do quarto.
– Você está bem? Será que machucou o be...?
– Não. Está tudo ótimo! – falei alto e me levantando.
me olhou como quem se arrepende e disse:
, o que você quer?
Ele entrou no quarto.
– Que porra é essa na cama? – perguntou sério, apontando os testes.
Eu me levantei e andei na direção dele.
– Saia do quarto. Nada disso é da sua conta.
– Não vou sair. Ande. Que porra é essa?
– Saia, por favor – pedi.
– Quem está fazendo teste de gravidez? – perguntou ele. – Qual das duas?
disse:
– Eu estou.
... – falei. – Pare. Não é da conta dele. Saia, . Isso não é teste de gravidez.
– Não sou burro. Acha que eu nunca tive que comprar essas coisas para nenhuma menina?
, SAIA DAQUI! – gritei.
– É VOCÊ, NÉ?! – gritou ele. – Como não desconfiei...?
Senti lágrimas nos meus olhos.
– Qual é o resultado? – perguntou ele.
– Não sei – respondi. – , olhe, por favor.
suspirou.
– Hum... – ela olhou os testes e depois me encarou pesarosa. – Sis... Eu...
– Fale logo, – implorei.
– Tudo positivo.
Abaixei a cabeça.
– Você está grávida – concluiu depois de um tempo de silêncio.
– Conclusão inteligente a sua – alfinetei.
, pode nos dar licença um segundo? – pediu .
– O quê?! – perguntou ela meio ultrajada. – Esse é o meu quarto!
Lancei a ela um olhar de súplica. então suspirou e deu de ombros.
– ‘Ta. Tanto faz.
saiu e me deixou encarando os testes, enquanto sentia me olhar. Era desconfortável, doloroso, estar ali. Eu só queria que não tivesse visto aqueles testes. Eu queria nem ter feito os testes na verdade.
Matem-me.
se sentou na poltrona lilás em frente à cama de . Apenas me dignei a encará-lo profundamente.
– Não acredito que você fez isso, . Logo comigo.
Ergui a cabeça confusa.
– Fiz o quê?
– Você está grávida, ! Grávida! Logo dele! – disse ele, abaixando-se e colocando as mãos na cabeça.
Observei-o, esperando que ele se acalmasse.
– chamei. Ele ergueu o rosto em minha direção. – Tenho uma coisa para lhe dizer.
– Mais uma?
– É.
– Diga. Pode mandar. Nada pode ficar pior – ele falou, balançando a cabeça.
– O meu filho... O bebê... Ele não é do , não – falei calmamente. me olhou ultrajado.
– Como é que você pode ter certeza disso?
– A gente só transou três vezes e todas com camisinha. Não pode ser dele.
– Porra, . Você só faz merda! Ainda por cima anda traindo o ? Com quem você fez sexo sem camisinha então, pelo amor de Deus?! – exclamou ele. Ergui minha sobrancelha. Era minha vez de ficar ultrajada.
– Você é idiota assim mesmo ou são anos de prática? – perguntei.
– Do que é que você está falando?
– Seu imbecil, o único merda com o qual transei sem camisinha foi você! Esse bebê é seu.
Primeiro achei que ele fosse desmaiar. Depois pensei que fosse me bater ou algo assim. Contudo no fim só riu sem humor.
– Não. Não é verdade. Você não está falando sério.
– É. Realmente a piada do ano, né? Eu grávida de você. Não sei por que não morri de rir ainda – falei sarcástica.
, isso é algum tipo de golpe para me fazer ficar com você? Porque não precisa fingir que o filho é meu para isso... Não vou me importar em ficar com você mesmo com isso tudo, sabe?
– Vá se foder, ! Esse filho é seu, seu merda!
– Desculpe-me, mas não acredito. Não sei o que você faz com o e a gente nem transou muito sem camisinha ultimamente...
– Não acredito nisso. , pelo amor de Deus – falei desesperada. – Vou me humilhar agora e lhe pedir: por favor, acredite em mim. O filho é seu. Preciso de você. Não vou conseguir segurar essa sozinha!
, olhe para você. Você está desesperada. Não acredito. Sou o maior garanhão daquela escola e nunca engravidei uma menina porque sou cuidadoso até quando não uso camisinha. Sei os truques que as mulheres usam para ter você por perto e gravidez é um deles. Não cola comigo.
Acho que nunca senti tanto ódio de alguém quanto senti dele naquele momento.
– Suma daqui. Suma. Não preciso de você e nem de merda nenhuma. Vou criar esse bebê sozinha.
– Não seja ridícula. Você tem que falar com o pai dessa criança...
– SAIA DAQUI! – gritei, pegando o copo de vidro que estava na cabeceira de e o jogando na direção de . Ele se abaixou rápido e me olhou assustado.
então entrou no quarto e disse:
– Saia, . Saia logo.
Ele me olhou assustado e depois para , saindo rápido do quarto. Ela se abaixou e catou alguns pedaços de vidro com um saco plástico. Observei-a enquanto chorava silenciosamente. Minha irmã veio em minha direção depois que terminou de limpar os cacos. Ela me lançou um sorriso tranqüilo e disse:
– Vai dar tudo certo. Estou aqui para qualquer coisa que você precisar.
E foi nos braços dela que chorei o resto do dia.

's POV

Merda. Merda. Merda.
Ela estava grávida. Grávida, cara. Não era meu. Eu sabia que não era. Ela só diria que era porque me amava e queria que eu ficasse com ela.
não era muito diferente das outras meninas como sempre pensei, mas ainda era a minha garota. E eu ia tirar satisfação com aquele merda do namorado dela.
Desci as escadas e peguei minha picape. Sempre fui amigo dele, então sabia exatamente onde aquele desgraçado morava.
Saltei da picape quando estacionei em frente à casa amarela dos s. Subi os degraus da pequena escada antes de tocar a campainha. Ouvi uma voz feminina perguntar:
– Quem é?
Aquela voz era muito familiar. Familiar demais.
Não respondi, porém mesmo assim a menina abriu a porta. Não me surpreendi ao ver Claire ali parada, vestindo uma camisa de botões masculina.
!– ela exclamou. – O que você está fazendo aqui? Olhe, não é nada do que você está pensando...
Dei uma gargalhada sarcástica. Pena ela ser tão inocente a ponto de achar que eu não suspeitava daquela merda.
– Claire, você é a porra de uma vadia. Acha que eu não pensava nisso? Onde é que está o ?
, não fale assim! – disse a menina nervosa. – Vamos conversar, amor..
– Não quero conversar com você. Sei a piranha que você é. E além do mais, também é corna nessa merda de namoro. Cadê o ?
– Quem é, gatinha? – ouvi uma voz masculina atrás de Claire surgindo. Então ele me viu e soltou um pigarro. – Oi, cara. Como é que está? A Claire veio fazer um trabalho de...
– Ele já sabe, – disse Claire bufando.
– Merda – sibilou ele.
– Tenho que falar muito sério com você, . E sem ela por perto – falei, indicando Claire com a cabeça.
– Respeite-me, . Não sou “ela” – reclamou a menina.
– Olhe, Claire, você pode ser uma putinha de quinta, mas “ele” é que você não é. Já fui para a cama com você vezes o suficiente para comprovar sua feminilidade – rebati sarcástico.
Claire fechou os punhos com ódio e saiu andando da sala.
– O que você quer falar, ? – perguntou , sentando-se no sofá e indicando a poltrona para mim.
– Cara, quero saber uma coisa e preciso que você seja totalmente sincero comigo – falei.
– Tranqüilo. Somos amigos. Serei sincero – disse ele, dando de ombros.
– Você e a já transaram depois da primeira vez dela? – falei.
– A Claire me falou que ela mentiu sobre essa coisa de primeira vez. Não precisa acobertar – rebateu . – E sim. A gente transou três vezes. Só que a é muito chata e paranóica com proteção. Tive que continuar a ver a Claire por isso – falou ele.
Quase quis quebrar a cara daquele merda.
– Ela está grávida – falei. – Como você explica isso, seu imbecil?
– Como eu explico isso, ? – perguntou ele, rindo. – Como você explica?! Caralho, . Não sou retardado, não.
– Tem certeza? – perguntei sarcástico.
– Se aquela menina está grávida, o filho é seu. Dormi com ela três vezes na vida e todas devidamente protegido. Já você... Deve ter perdido as contas, né?
Calei-me por um tempo.
– Vou embora – falei, levantando-me de súbito e abrindo a porta. – Mas fique avisado: se eu descobrir que foi o senhor quem engravidou a , mando castrarem você, seu merda.
– Antes de descobrir isso, vai ter que aprender a trocar fraldas. Parabéns, papai. E, ah, pode falar para a mãe do seu filho que eu e ela não somos mais nada – disse , fechando a porta de casa.
Eu estava tremendamente puto. Pelo visto, tinha razão. Aquele filho era meu. Mas agora eu estava fodido. Eu não podia ter um filho. E agora só me restava uma única saída. Talvez essa saída me custasse o amor da .
Se é que ele ainda existia.

's POV off


VINTE E UM


Acordei enjoada. Acho que isso é coisa de grávida pelo visto. É, com certeza.
Levantei-me da cama e corri para o banheiro mais próximo. Abri a porta e meti a cara no vaso sanitário, despejando todo o conteúdo preso em minha garganta.
Vomitando. Típico, não?
Sentei-me no chão, limpando a boca com as costas da mão, ainda de olhos fechados. Tão fechados a ponto de não perceberem alguma presença no banheiro.
– Você está bem? – ouvi alguém perguntar.
Olhei para cima e vi se curvando em minha direção, fechando a porta, enquanto se ajoelhava no chão.
– Estou – respondi com a voz fraca.
Ele colocou as mechas dos meus cabelos para trás e acariciou o meu rosto.
– Tem certeza? – perguntou ele.
– Tenho, merda – resmunguei, fechando novamente os olhos. Ele ficou em silêncio, acariciando meu rosto. Então disse:
– Terminei com a Claire. Ela e o estavam juntos na casa dele ontem e eu vi. Mandou dizer que você e ele não eram mais namorados. Acho que o cara quis terminar antes que você fizesse isso.
– Nossa, que surpresa – respondi sarcástica.
Ele chegou ainda mais perto, afundando o rosto no meu pescoço e depositando pequenos beijinhos ali. Se não estivesse tão enjoada, eu me esquivaria.
Ah, como adoro enganar a mim mesma.
– Saia, .
– Quero ficar com você – sussurrou ele.
– Você tem o dom de ignorar simplesmente as coisas que faz, né? Quem você pensa que é para fazer merdas e depois voltar desse jeito?
– E se eu disser que acredito em você e que tenho uma solução para os nossos problemas?
– Como assim? – perguntei, olhando para ele. – , você acredita em mim que é o pai dessa criança?
– Acredito – disse ele. – E vou fazer a gente sair dessa enroscada numa boa – afirmou ele.
Eu sorri.
– Ah, – exclamei, abraçando-o. – Estou tão feliz. Você vai ficar ao meu lado.
– Sempre, – disse ele. – Sempre.
Sorri tranqüila.
– Escove os dentes e vamos descer.
Levantei-me e fiz o que ele pediu. Depois descemos as escadas lentamente.
– Crianças, que bom que vocês acordaram. Chegaram as cartas de admissão da faculdade.
Meu estômago deu um pulo. A faculdade. Eu tinha me esquecido completamente dessa merda. Como diabos eu faria faculdade agora que estava grávida?
Minha mãe sorriu um sorriso brilhante para nós dois, entregando-nos a correspondência. Meu sonho era fazer faculdade de Direito e , Medicina. O plano era que a gente se formasse e fosse para uma das grandes faculdades do país juntos. Como éramos os dois bons alunos e bons esportistas, tínhamos chance de receber uma bolsa de estudos. Mas agora eu carregava uma criança. E isso me deixava visivelmente nervosa.
Abri a primeira carta.

A Universidade de Harvard lamenta informar que a senhorita não possui os requisitos necessários para um bolsa de estudos...

Rasguei a carta. Minha mãe me observou atentamente.

A Universidade de Yale tem o prazer de informar que a senhorita foi aprovada para ser uma estudante da nossa universidade...

– Yale me aceitou – comentei.
– Continue lendo, filha – mandou minha mãe.

A Universidade de Nova York lamenta informar que a senhorita...

Fechei a carta. Se lamentava, era porque nem tinha rolado.

A Universidade de Princeton tem o prazer de informar que a senhorita foi aprovada em nossos testes para ser estudante da nossa universidade, com bolsa de estudos integral em Direito...

Olhei o resto das cartas. Fui aceita em Stanford e Berkeley e não fui aprovada em Georgetown.
– Yale, Princeton, Stanford ou Berkeley – falei. – Basta escolher.
– Querida, estou muito orgulhosa de você. Faculdades excelentes. E você, ?
– Ah, fui aceito em Princeton, NYU e Georgetown – disse ele, dando de ombros.
– Então está decidido! Princeton ano que vem para os dois – disse minha mãe.
Sorri amarelo. me lançou um olhar de “precisamos conversar”.
– Vamos sair para comemorar então, ? – falei, disfarçando.
– Vamos, claro! Encontre-me na picape em meia hora.
Subi rápido e me arrumei. ainda dormia.
– Vocês têm certeza de que vão sair agora? – disse minha mãe quando desci. – Está cedo!
– Estamos muito contentes! – falei, fingindo um sorriso.
– É, acho que vou morrer de felicidade – completou sem conseguir deixar de ser sarcástico. Dei um beliscão leve em seu braço e ele sorriu falsamente.
– Tudo bem então... – disse minha mãe.
Saí de casa com atrás de mim.
– A gente conversa na picape, dirigindo – disse ele.
E assim fizemos. Coloquei meu cinto e esperei alguma palavra de . Ele arrancou com o carro e, enquanto batucava no volante, disse:
– Temos que fazer alguma coisa.
– É, temos – concordei. – Precisamos pensar em como vamos nos arranjar com o bebê na faculdade. Precisaremos de apartamento e...
– Espere aí – cortou ele. – Você está realmente pensando em ter esse filho?
Ergui as sobrancelhas em choque.
– O que você quer que eu faça?
– Olhe, você se lembra de quando eu disse que estava ao seu lado? Estou. Juro por Deus. Mas ter esse bebê é uma loucura completa – continuei em choque enquanto ele retomava a fala. – Tenho bastante dinheiro guardado. A gente se livra desse problema o quanto antes e podemos ir para a faculdade, nós dois, juntos.
– A gente se livra do problema? – perguntei enojada. – Do “problema”? É isso o que você pensa que seu filho é? Um problema que pode simplesmente eliminar?
, não quis dizer isso. Só não queria estragar a nossa vida. Você sabe... Mas tirar seria uma boa.
– Pare o carro – mandei.
– Não seja ridícula – repreendeu ele.
– Pare a droga do carro, . Agora – falei novamente.
Ele parou no acostamento da estrada de pedra. Saltei do carro num pulo e segui, caminhando nervosa.
– Dá para você voltar aqui e conversar comigo como uma pessoa normal?
– Desculpe, mas não quero falar com o assassino do meu filho! – gritei, andando para a frente.
– Pare com esse teatro, . Que merda! – gritou ele atrás de mim, vindo em minha direção.
Continuei andando até sentir as mãos dele me puxarem bruscamente, fazendo-me virar.
– Não me toque! – exclamei, soltando-me ainda de frente para ele.
– Dá para você me ouvir? – disse ele.
– Estou cansada, ! – reclamei, andando para trás e de costas. Apesar de a estrada ser de pedra, eu estava fazendo isso com muita segurança. – Cansada de você, das suas desculpas, das suas falhas! Sempre os mesmos erros, sempre as mesmas coisas! Simplesmente não agüento mais isso tudo e...
, CUIDADO! – gritou ele.
Mas não foi tempo suficiente. Desequilibrei-me quando andava para trás ao não sentir o chão atrás de mim. E aí caí com tudo.
As coisas naquele momento ficaram meio embaraçosas. Tudo ao meu redor ficou embaçado, minha cabeça doía, e eu sentia sangue quente escorrendo pelo meu corpo. Quando tentei virar a cabeça para olhar o sangue, ouvi dizer:
, ! ! , está tudo bem? Fique comigo, por favor! Não desmaie! – dizia ele.
Mas era tarde demais. Tudo ficou preto e eu já nem sabia mais onde estava.


VINTE E DOIS


Abri meus olhos lentamente, encarando um teto estupidamente branco. Minha cabeça doía terrivelmente, dificultando-me de ter forças para olhar em volta. Mexi o corpo de leve, tentando ver onde doía... Tudo. Parecia que eu tinha sido atropelada por um trator.
Usei as forças restantes que eu tinha para me mexer, conseguindo me sentar na cama.
– Onde é que estou? – balbuciei.
– Ah, você acordou – ouvi uma voz dizer.
Olhei para os lados e encontrei no canto do quarto branco ... Minha melhor amiga. O que ela fazia ali mesmo?
? Onde eu estou? O que você está fazendo aqui?
Ela se levantou, caminhando até a minha cama.
– Você caiu num buraco na estrada e bateu com a cabeça numa pedra. Tomou três pontos e torceu o tornozelo. Além de vários cortes pelo resto do corpo... E está no hospital dormindo há um dia inteiro quase. A pancada na cabeça foi meio forte. Você se lembra do que houve?
– Lembro-me de estar brigando com o ... E de cair. Depois só me lembro de muito sangue e muita dor – falei.
– Tem mais uma coisa que precisa saber – falou ela cautelosamente. – Você estava grávida.
Senti lágrimas nos meus olhos.
– Como assim estava? – perguntei.
– A pancada foi forte, . Sinto muito. O bebê não resistiu.
As lágrimas salgadas escorreram pelos meus olhos e pousei as mãos sobre a minha barriga.
– Você sabia que estava grávida? – perguntou ela.
– Sabia – respondi. – Cadê a minha mãe?
– Em casa pegando umas roupas. Ela e não têm saído daqui. E nem .
– E você? – perguntei. – Por que está aqui?
– Eu queria estar aqui para você porque sabia que ia precisar – disse ela, dando de ombros. – Acredito em você. Sei que foi a Claire quem armou essa falcatrua toda. O me disse.
– O meu bebê... Como a minha mãe reagiu?
– Bom, ela ficou bastante transtornada. Primeiro arrancou um monte de cabelos do e pediu para o médico fazer um teste de paternidade. O garoto ficou dizendo que o pai não era ele e tudo mais... Aí o teste deu resultado e ele era o pai sim. Aí sua mãe teve um surto. Ela começou a gritar com o , dizendo que ele tinha engravidado a garotinha dela e a feito abortar de propósito para não criar o filho. O chorou, pedindo desculpas, e o seu tio entrou na briga... Sua mãe disse que isso era culpa do John, que não tinha criado o direito. E John disse que a culpa era dela por ter obrigado você e o a se separarem...
– Eles estão todos brigados? – perguntei.
– Não... A começou a chorar e dizer que eles eram uma família e que você precisaria de apoio, e não desse caos todo. Sua mãe pediu desculpas ao , o , a ela. O John e ela se perdoaram... Enfim, agora estão bem.
Senti um pequeno alívio ao saber que minha família estava agindo de maneira compreensiva em relação à minha situação.
– E você? – perguntou ela. – Como se sente?
Abri a boca para responder, mas congelei. Eu ainda não tinha parado para pensar sobre isso. Como eu me sentia?
Olhei para a minha barriga e automaticamente minhas mãos foram até a mesma. Aquele lugar tinha sido a casa de um bebê. Um bebê que pertencia a mim. E que agora estava morto.
Por um momento senti alívio. Alívio porque agora não haveria dificuldade. Eu seria apenas uma menina meio traumatizada que perdeu um filho em um acidente e pôde seguir sua vida normalmente. Cair naquela estrada havia sido apenas uma conveniência da vida.
Depois senti nojo. Nojo por pensar nisso. Aquela criança era minha. Meu filho. Sangue do meu sangue. Eu tinha perdido uma parte de mim por causa de uma discussão inútil, de um acidente estúpido e infeliz.
Era triste, era vazio. E o pior: era tudo culpa do . Foi acidente, sim, mas ele quis isso. Quis que meu filho morresse. E ainda negou para minha mãe que era o pai... Ela precisou mandar fazer um teste para que eles tivessem certeza. Ele quis meu filho morto. Ele quis o filho dele morto. E assim quebrou... Espere aí. Quebrou não. Ele simplesmente fez meu coração sumir.
? – chamou , fazendo-me sair do meu pequeno transe. – Perguntei se está bem. Você me ouviu?
Olhei lentamente para ela e sorri fraco.
– Estou sim – esfreguei os meus olhos. – Acho que vou voltar a dormir. Se o ou a minha mãe chegarem, não deixe que me incomodem. Se a chegar, peça para ela me acordar.
– Mas sua mãe vai ver... – disse .
– Sinceramente? Isso é em parte culpa dela também. Foda-se – falei.
– Descanse. Ok? – disse .
– Ok – murmurei, fechando meus olhos.
Quando o fiz, a imagem de um bebê sorrindo e cheio de sangue me veio à mente. E foi ali que percebi que agora em diante dormir seria uma tarefa nada fácil.

xx


Eu estava em um bosque. Era um bosque lindo e verdejante. A luz do sol batia nas árvores ao fundo e havia um som de córrego correndo. Caminhei por dentro dali. Era tudo tão calmo, tão iluminado...
De repente uma menina, uma garotinha de não mais que cinco anos de idade, apareceu ao meu lado. Ela sorriu para mim de um jeito angelical que me fez sorrir de volta. Havia nela uma leve semelhança comigo quando pequena. Porém ao observá-la mais atentamente, na verdade se parecia muito com nessa idade. Os mesmos olhos, o mesmo sorriso. Talvez apenas meus cabelos e o formato do rosto.
– Filha? – perguntei hesitante.
– Mamãe !– disse ela, vindo me abraçar.
Eu tinha uma filha. O meu bebê não estava morto... Era uma menina. E ela estava tão grande...
Correspondi o abraço. Ela então me soltou e puxou minha mão.
– Venha, mamãe. Vamos ver o papai – disse a menina animada.
Segui-a sorrindo, sentindo-me estupidamente feliz com aquela situação. De repente, depois de andar muito, avistei . Meu coração deu um pulinho ridículo de nervoso e sorri mais abertamente. Mas aquele não era como o de sempre. Ele parecia mais magro, mais tenso... Seu sorriso não saía. A menina soltou minha mão e me encarou.
– Desculpe, mamãe, mas tenho que ir. O papai está esperando para me levar embora.
Fiquei nervosa. A minha filha estava viva! Por que ela tinha que ir embora?
– Embora? Para onde? – perguntei a ela. A menina apenas abaixou a cabeça com um bico triste. Então me voltei para . – Para onde você quer levá-la?
– Ela precisa ir. Não posso cuidar dela. Não posso tê-la em minha vida – disse ele, puxando a menina.
– Mas eu posso cuidar dela! – protestei. – Ela é minha também.
– Não dá, . É o destino dela – disse, afastando-se mais ainda.
, ela é minha filha também – ele então a levantou, encaixando os pezinhos dela num buraco no chão. – , pelo amor de Deus, não faça isso. Eu...
– Eu a amo, mamãe. Adeus.
E a largou no buraco. A menina soltou um grito fino e desabei a chorar. Ele então caminhou até mim, puxando-me. Quando eu estava quase caindo no buraco também, manifestei-me.
– O que você quer comigo?
– Só estou mandando os fardos embora da minha vida – disse ele.
E aí eu caí no buraco gritando.


Acordei com um susto, levantando-me rápido. Meu corpo todo estremeceu com aquele sonho estúpido e lágrimas vieram. Sequei-as rapidamente e me deitei de novo, encarando aquele teto branco.
? – ouvi alguém murmurar com voz arrastada.
A voz que me chamava.. Era tão familiar. Eu tinha acabado de ouvi-la ali no sonho...
– Eu estava tão preocupado com você – murmurou, tocando no meu braço com cuidado.
Era ele. . Tive certeza quando olhei para o lado e o vi de pé perto da minha cama e com os cabelos desgrenhados. Por um momento quis sorrir, porque ele me parecia adorável. Depois quis chorar, pois o filho ou filha que eu teria dele estava morto. E aí me lembrei de que tudo isso era em parte culpa dele. E que na verdade era o que ele queria que acontecesse. Então senti raiva. Pior. Senti nojo.
– Tire a sua mão suja de cima de mim – falei, encarando-o com raiva.
Ele tirou e me olhou profundamente. Aquele olhar representava milhões de coisas. Coisas que nunca foram expressas em palavras, nem mesmo nas mais elaboradas frases. Naqueles olhos que tanto amei, muitas vezes sem nem saber, vi o pior sentimento do mundo: culpa.
– Acho que temos que conversar.
– Você acha? – perguntei debochada. – Pois eu acho que não.
, por favor, eu...
Fechei os olhos, tentando controlar minha vontade de esmurrar com toda a força. Eu estava com muito ódio. Um ódio estranho, desumano, que nunca pensei em sentir. Eu odiava . Odiava demais. Odiava-o por todos os erros, todas aquelas promessas não cumpridas. Odiava-o por não ter dito à minha mãe que era o pai do bebê. Odiava aquelas malditas desculpas que ele daria!
– Sei exatamente o que você vai dizer. Vai inventar uma desculpa estúpida para justificar a morte dele – falei.
– Não fique falando como se eu tivesse matado o bebê. Não encostei nele. Eu só...
– Sugeriu que o matássemos friamente. Mas é claro que a culpa não é sua – completei irônica.
Ele ficou em silêncio. Parecia nervoso,
– Pelo amor de Deus... Só quero que a gente fique bem, que a gente fique junto! Quero me esquecer disso.
– Você não precisa tentar esquecer. As coisas que não importam a gente esquece sem fazer esforço – falei com um sorriso falso. – Vai ser bem fácil para você fingir que nada aconteceu. É só não se lembrar de mim, do meu filho, e você certamente ficará bem.
, não fale isso. Amo você. Eu só não estava preparado para receber a notícia e...
– E eu estava? – perguntei. – Você acha que eu estava pronta para simplesmente carregar um filho aos dezessete anos?
– Não. Mas você sempre foi boa em lidar com problemas. E eu sou bom em ficar ao seu lado. É assim que sempre funcionamos.
– As coisas não são mais assim há muito tempo – comentei, virando de lado.
– Só quero que você me perdoe.
– De novo, ? – perguntei, virando-me novamente. – Quantas vezes mais vou ter que perdoá-lo? E se eu engravidar de novo? Vou ter que ficar com medo de você simplesmente pegar as suas coisas e ir embora? Ou terei que ter medo de você simplesmente me obrigar a matar meu filho de novo?
Ele me encarou sério. Eu ia de começar a chorar a qualquer momento.
– Não tive culpa da morte dele e você sabe disso.
– Você não entende. Não é, ? Não é pela morte dele. É por tudo. Tudo o que aconteceu. Você me machuca o tempo todo – ele baixou o olhar como um menino de dez anos tomando bronca da mãe. – Tentei passar a culpa para os outros. Tentei colocá-la na Claire. Depois na mamãe. E até em mim mesma. Mas a verdade é que essa dor que sinto é culpa sua. Sua.
– Sinto o mesmo sobre você, se lhe interessa saber – disse ele.
– Quando você ama demais uma pessoa, tende a não culpá-la pelos erros que ela comete... Porque é uma droga amar alguém que erra toda hora.
– Concordamos nesse ponto então – disse . Ele se aproximou de mim o suficiente para que nossos rostos ficassem próximos. – Não me importo com as coisas horríveis que você está dizendo, porque mereço essa raiva sua. Se você está machucada, também estou. Mas nem por isso vou deixá-la ir embora. Você já foi minha uma vez. Posso fazê-la ser minha de novo.
– Eu quero que você se afaste.
– Não vou me afastar. Sei que sou aquele que mais machuca você, mas também sou aquele que pode fazer a dor parar. E uma hora você vai ter que admitir isso.
Ele me beijou então. De início tentei afastá-lo, porém não consegui. Não foi um dos nossos melhores beijos, contudo ele tinha razão. Aquilo aquecia meu coração de um jeito bom... Quase como se eu não estivesse mais triste. Só que dessa vez eu não ia ceder.
partiu o beijo e encostou nossas testas.
– Eu a amo demais. Por favor, não me deixe ficar sem você – sussurrou ele.
Juntei todas as minhas forças para olhar nos olhos de e dizer:
– Não toque em mim. Tenho nojo de você. Deixe-me em paz.
Ele assentiu, beijou minha testa e saiu do quarto. Quando olhei para a porta, ele tinha saído. Suspirei e deixei então as lágrimas seguradas rolarem. Quando comecei a soluçar, vi a porta do quarto se abrir.
– Filha? – ouvi minha mãe dizer ao entra no quarto. – Querida?
Eu chorava meio alto. Meu olhar encontrou o dela e ela veio rápido em minha direção.
– Minha querida – a mulher me abraçou. Meio a contragosto me aninhei nos braços dela. – Por que está chorando tanto?
– Preciso mesmo dizer, mamãe?
Ela apenas acariciou meus cabelos enquanto eu soluçava sem parar.
– Desculpe-me por tudo, querida. Isso é minha culpa desde o início. Se eu não tivesse separado você e ele, talvez... Ah, droga – murmurou ela.
Não contestei porque era verdade em parte, mas me senti mal por minha mãe assumir toda a culpa.
– Eu a amo, mãe. Obrigada por não estar brigando comigo – falei.
– Ah, querida, eu nunca brigaria com você. Eu a amo muito...
E assim adormeci de novo aquele dia... Esperando que um milagre secasse as minhas lágrimas e parasse com a minha dor.


VINTE E TRÊS


, jantar – ouvi uma voz na porta do meu quarto.
Rolei os olhos e mudei novamente o canal da TV. Eu não desceria, até porque eu não fazia mais isso.
Nos últimos cinco dias, meu único contato com o mundo era a televisão e o computador. Eu não saía do meu quarto nem por um segundo que fosse e não falava com ninguém. Minha mãe insistia em me levar comida e tentar ter um diálogo comigo, porém eu não comia nada e respondia monossilábica.
Não gostava muito de dormir. Fazia-me sonhar. E sonhar era ou ter pesadelo ou sonhar com o (o que não deixava de ser um pesadelo).
Nos primeiros dias, eu chorei. Agora já nem fazia isso mais. Apenas assistia à televisão. O dia inteiro, sem cansar.
– Olhe, a Jude está dizendo para você descer, – ouvi outra voz no meu quarto. Porém essa voz reconheci.
Dava-me um arrepio tremendo toda vez que eu escutava. Outrora esse arrepio já fora bom. Todavia agora era um calafrio, um arrepio de nojo. A porra do de novo. Minha mãe nunca aprende.
– Saia daqui – falei, tentando não tirar os olhos da TV.
– Mas a sua mãe...
– Que merda, . Saia daqui logo! – falei áspera. Ele ficou me encarando com um olhar triste. – Vá, antes que eu vomite só de ouvir essa sua voz nojenta.
A porta do meu quarto então bateu com força. Bufei. Levantei-me da minha cama à procura de um espelho. O do meu banheiro foi o primeiro que encontrei. Meu reflexo me assustou um pouco. Nunca tinha me visto tão feia e sem vida. Havia uma vermelhidão estranha nos meus olhos seguida logo abaixo por olheiras profundas. Meus cabelos pareciam secos e sem brilho e minha pele, pálida e morta. Forcei um sorriso para o espelho, mas não consegui.
Num ato de loucura súbita comecei a me despir. Apenas de calcinha e sutiã na frente do espelho, comecei a alisar minha barriga. Virei de lado e forcei para frente, tentando fazer com que parecesse de grávida.
– Eu queria que você estivesse aqui – murmurei, olhando minha barriga no espelho, alisando-a. – Eu cuidaria tão bem de você. Seríamos uma dupla perfeita. Eu não ia precisar de mais ninguém se tivesse você...
Era o fim. Eu estava completamente surtada. Conversando com a minha barriga vazia.
Quem disse que eu me importei?
– Sabe errei ao pedir a ajuda dele... Do seu pai – continuei falando. – Se eu tivesse assumido você sozinha, nunca teria ido parar naquela estrada e nunca cairia e perderia você. Você me perdoa por isso? – perguntei nervosa. – Um dia vai conseguir me perdoar? Acho que não o culparia se não conseguisse. Não consigo perdoar ninguém nessa casa e eu mal sei o que eles me fizeram...
? – ouvi uma voz.
Minha mãe entrou no banheiro e ficou me encarando. Continuei alisando minha barriga.
– Filha... – ela disse com a voz carregada de pena. – Querida, pare de se martirizar. Vá tomar um banho e descemos para um jantar em família.
– Não quero jantar em família – falei com raiva. – Não quero ver ninguém. Será que dá para entender isso?
– Entre no banho, – disse minha mãe, indo em direção ao chuveiro e ligando a água quente.
– Deixe-me em paz – falei baixinho.
Minha mãe deu um suspiro e fechou os olhos.
– Não agüento mais você assim, pelo amor de Deus. Venha. Entre nesse banho – disse ela, puxando-me bruscamente na direção do chuveiro.
Despi o resto das minhas roupas e entrei. Minha mãe saiu do banheiro. A raiva estranha que eu sentia era imensa. Minha vontade era socar tudo, arrebentar aqueles ladrilhos brancos irritantes. Um deles tinha uma rachadura... Eu queria tanto quebrá-la mais... E foi isso o que fiz. Dei um soco com tudo na parede.
A única coisa que consegui foi sentir uma dor absurda que me fez gritar. Depois constatei que havia sangue em minhas mãos. Provavelmente eu havia me cortado na rachadura.
Minha mãe entrou no banheiro rápido e abriu a porta do boxe:
– Que berro foi...? – seu olhar se voltou para minha mão e o sangue no chão e na parede. – Que porra é essa?
– Nada – resmunguei. – Deixe-me tomar banho em paz.
– O que é isso?! – gritou ela, puxando minha mão e me fazendo sentir muita dor.
– AI, PORRA! – resmunguei.
– Você deu um murro na parede? Meu Deus, ! Meu Deus, qual o seu problema?
– Estou com raiva – falei bufando. – MUITA, MUITA, MUITA RAIVA! – gritei, socando a parede de novo.
– PARE! – gritou minha mãe, segurando-me.
Depois disso a dor horrorosa da minha mão aumentou e comecei a chorar.
– Venha, querida. Pare de chorar – disse minha mãe, acariciando meus cabelos molhados. – Vamos lavar a sua mão.
Quando minha mãe molhou a região machucada e o sangue saiu, pude ver o quanto estava feia. Havia três cortes profundos e meus dedos pareciam esmigalhados. Saí do chuveiro e coloquei a toalha. Minha mãe me entregou as roupas que ela havia separado e me ajudou com as mesmas.
Quando eu estava devidamente vestida e com os cabelos penteados, mamãe se abaixou em minha direção e disse:
– Deixe-me ver a sua mão – estendi. Ela analisou e disse. – Vou levá-la ao médico.
– Não quero ir – murmurei.
– Mas você vai... E não só no médico da mão. Num de cabeça também. Você está doente, filha.
Olhei-a abismada. Como minha mãe ousava me dizer uma coisa daquelas?
– Não estou doente – resmunguei.
– Você está sim. Não vou deixá-la ir para a faculdade desse jeito. Vai a um psicólogo.
– Não quero. Deixe-me – murmurei, deitando-me na cama.
Então alguém bateu na porta. Minha mãe murmurou um “entre” enquanto eu colocava o travesseiro no rosto.
– Estávamos preocupados. Ouvimos gritos – ouvi a voz de tio John dizer. Levantei a cabeça e chequei que e estavam parados ao lado dele.
– Quantas vezes vou ter que dizer que não quero você aqui? – falei, olhando na direção de .
! – repreendeu minha mãe.
– Não vim ver você. Só vim ver o que houve – disse ele.
– Mas eu não quero ver a sua cara! – gritei.
– Então se mude! – gritou ele mais alto, saindo do quarto.
– Vou ver se ele está bem – murmurou minha mãe, saindo do quarto atrás de .
– Vou com você – disse , seguindo-a.
Olhei-as abismada como se estivesse me sentindo traída. Tio John caminhou em minha direção e se sentou na beira da cama.
– Você estava fazendo uns barulhos terríveis – comentou ele. Então apontou minha mão. – Foi isso o que deixou sua mão assim?
– Só uns murros na parede. Nada demais – falei, dando de ombros.
– Sei que você está triste... Muito triste. Mas ele também está – disse John. – E se você não fosse como minha filha, estaria com raiva de você por deixá-lo assim.
– A culpa é toda dele – falei.
– Você sabe que não é – disse tio John. – Ele não a empurrou nem nada assim.
– Mas ele me pediu para tirá-lo... O bebê.
– Eu sei. E isso foi muito errado da parte dele. Só que talvez ele estivesse assustado apenas... E agora só quer que você o perdoe.
– Estou com raiva – falei, sentindo lágrimas nos olhos.
– Você está com ódio, contudo é do que aconteceu, e não do . Só está transferindo para o porque quer descontar essa raiva toda... E isso não é legal, .
– Vou pensar nisso – falei, limpando as lágrimas.
– Tudo bem – tio John sorriu. – Vou fazer um curativo bem legal na sua mão. Que tal?
Sorri e assenti como uma criança boba. Quem sabe a dor não parava...
Quem sabe?


VINTE E QUATRO


– Hey, ... – ouvi minha mãe chamar. – Hora da escola.
Abri os olhos lentamente e dei um suspiro. Era hora da verdade. Depois de duas semanas descansando em casa, conversando com psicólogos e tentando me manter sã, eu voltaria à escola pronta para encarar todo mundo.
Eu tinha certeza que todos sabiam do ocorrido... Numa cidade mínima como Ambler, qualquer coisa virava notícia. E eu tinha mais certeza ainda de que estariam me chamando de vadia. Fosse pela frente ou pelas costas, eles me fariam saber de todas as coisas horríveis que estavam falando de mim. Porém eu não podia arregar. Não quando eu estava a apenas um mês de distância de Princeton. Eu ia até lá mostrar que eu era sim a vadia deles, mas a vadia que ia embora para a cidade conseguir uma vida melhor. E isso ninguém me tiraria.
Levantei-me e tomei um banho. Sequei meu cabelo e passei uma maquiagem bem leve. Coloquei uma calça jeans azul clara e uma bata florida, combinando com uma tiara e uma sapatilha azul. Parecia a roupa de uma menina doce e não notada. Tudo o que eu desejava ser naquele momento.
– Bom dia – murmurei ao descer as escadas. Tio John e que estavam lá me olharam sorrindo.
– Bom dia, baixinha – disse ele. – Você está bonita e parece bem-humorada. Pronta para a escola?
– Nunca estive – falei, dando de ombros indiferente.
– Se a reconforta, acho que nenhum de nós está. A escola é uma preparação do mundo cruel que você vai enfrentar lá fora – comentou ele, guiando-me até a cozinha.
– Talvez eu não sobreviva até o fim. Se a escola é só uma preparação para a verdadeira crueldade, acho que não vou agüentar o tranco – completei, dando um sorriso desanimado.
– Você ainda vai sentir falta disso tudo, .
– Não mesmo – murmurei.
Minha mãe me preparou um café enorme. Comi, tentando sorrir e parecer tranqüila, contudo eu estava mais nervosa do que nunca, principalmente porque sabia que estaria sozinha.
Todas as garotas dessa cidade que engravidaram antes de terminar o colegial foram apedrejadas e maltratadas (no caso de Casey Melbourne, expulsa da escola). Eu tinha certeza de que comigo não seria diferente. A única diferença é que todas as meninas que vi tinham um namorado para apoiar. Porém é claro que a tremenda biscate da não teria isso.
Está certo que, se eu quisesse ao meu lado, eu certamente teria. Mas eu só queria distância dele, então...
– Cadê o ? – disse minha mãe. – Está na hora da escola e ele não desceu ainda...
Revirei meus olhos. Eu estava muito bem ali sem ele. Por que diabos ela tinha que lembrá-lo?
– Eu estou aqui! – disse ele, descendo rápido. apareceu na cozinha com uma camiseta branca e seus jeans surrados, colocando o casaco de jogador de futebol azul e amarelo por cima. Se eu não o odiasse, teria achado aquela cena bastante adorável.
– Fiz seu café, , mas acho que vai ter que comer no caminho... – disse minha mãe, entregando a ele um sanduíche.
– Tranqüilo... Vamos, meninas? – perguntou ele, sorrindo na minha direção e de .
Dei um tapa na mesa, bufando.
– Você só pode estar brincando. Vou com o meu carro! – falei levantando-me e pegando as minhas chaves. – Tchau, galera.
! – gritou minha mãe antes que eu saísse. Virei-me e a olhei. – Se eles forem muito cruéis e você quiser voltar... Tem minha permissão. Certo?
– Realmente vou precisar disso? – perguntei receosa.
– As pessoas dessa cidade são maldosas. Cuide-se, filha – disse ela.
– Certo... – falei, olhando para trás. – Valeu.
E com isso saí, pronta para encarar o mundo.
Ou não tão pronta assim.

XX


O letreiro “AMBLER HIGH SCHOOL" nunca me parecera tão ameaçador quanto me parecia naquele momento. Mesmo com minha lista de momentos desagradáveis na escola, eu nunca tinha sentido tanto medo. Talvez porque eu estivesse me acostumando a ter dias de glória por ali. Ou talvez porque eu estava sozinha.
Meu carro me parecia um lar. Era quente, silencioso, longe de toda a maldade do mundo. Eu poderia passar minha vida ali, isolada daquela gente. Porém, ainda assim, num ato de coragem, destravei os pinos e saltei dele.
Assim que eu pulei fora daquele automóvel no qual eu queria ficar, senti todos os olhares do estacionamento em minha direção e o silêncio que se alastrou... Terrível. Fingi não notar a atenção toda que recebi e continuei caminhando de nariz em pé. Não dava para arregar e voltar correndo para o meu carro. Não dava para fugir.
Mas que merda.
Continuei caminhando, tentando não olhar para as pessoas ao redor. Quando me aproximei do primeiro degrau da escada, ouvi uma voz às minhas costas:
– Se não é a nossa vadia favorita!
Dei um suspiro, como se me preparasse para ver aquela cara. Olhei para trás e vi Ananka e sua trupe de líderes de torcida do mal.
– Oi, Ananka – falei cordialmente.
– É ótimo vê-la tão cheia de saúde, V.V. – disse ela, a maldade brilhando no olhar. – Opa... Acho que esse apelido está fora de moda... Vamos ter que inventar outro. Agora que engravidou, a gente já sabe que virgem você não é, né...?
– Por que se incomoda tanto comigo? – perguntei sinceramente, encarando-a. – Não me lembro de ter lhe feito nada. Por que você insiste em me ofender e ficar atrás de mim?
– Ah – disse ela. – Vai começar o discurso. Não se faça de vítima... Você anda pisando em todo mundo nessa escola. Agora temos a chance de colocá-la no seu lugar... E você vai agüentar.
– Agüentei a minha vida inteira – falei, começando a ficar com raiva. – Nada que você diga ou faça me atinge mais. Sei que sou superior.
Nesse momento todo mundo do lado de fora da escola nos rodeavam, como se assistissem ao capítulo final da temporada da série mais famosa do país. E eu era a porra da personagem principal.
Já comentei sobre o quanto adoro isso?
– Ah, você é superior? Você e seu bebê? – perguntou Ananka com a voz venenosa. – Ah, eu me esqueci... Você arrancou seu filho daí de dentro.
– Não ouse falar sobre isso – ameacei com a voz alterada. – Não sabe nada sobre o meu bebê.
– Ah, acho que tocamos num ponto sensível. Diga-me: como é que você abortou? Foi caro? Do jeito que você é vadia, deve ter feito uns serviços para o dono da clínica e...
Eu só me lembro de ter visto tudo preto. E, quando ficou claro, Ananka estava no chão. Senti uma leve dor na mão, como se tivesse batido a própria contra algo forte.
– MEU DEUS, A V.V. SOCOU A CARA DA ANANKA! – gritou um telespectador da cena.
Olhei Ananka no chão. Ela chorava E estava com a boca meio suja de... Sangue.
Puta merda.
– A gente precisa levá-la para a enfermaria! – gritou uma líder de torcida.
Senti alguém segurar meu braço direto e outra pessoa, o esquerdo.
– Quietinha agora. Sem se descontrolar, vamos sair à francesa – disseram ao meu ouvido.
Quando percebi, Courtney e me puxavam lentamente e eu as seguia atônita com o que havia acabado de fazer.
– De onde vocês vieram? – perguntei confusa.
– A gente estava assistindo e resolvemos resgatá-la. Vamos rápido antes que alguém chegue e...
– Não tão rápido, senhorita – disse uma voz às nossas costas.
– Merda – murmurou . – É a porra da senhorita Collins, não é? Aquela inspetora de merda...
Soltei-me dos braços das duas e me virei para encarar a mulher.
– O que é que foi, hein? – enfrentei.
– A senhorita vai para a direção. Agora – disse a inspetora.
– Ok – falei com calma. – Eu vou... Mas isso foi só para vocês verem o que acontece quando alguém mexe com ! – gritei.
Todo mundo me olhou assustado. Bom, acho que funcionou. Agora ninguém mais ia mexer comigo. Quero dizer, ninguém insignificante... Porque eu sabia que um soquinho mal dado não assustaria as líderes de torcida. Muito menos os meninos do futebol. Nem os do clube da luta... Então eu só estava livre dos nerds e dos comuns.
A senhorita Collins me puxou escola adentro pelo braço, enquanto eu hesitava em caminhar rápido.
... Sempre dando problema... Você não consegue mesmo, não é? Aquele dia em que a senhorita Zizes me disse que você e seu namorado estavam se agarrando... Devia ter sido expulsa – murmurou ela.
– A senhorita Zizes lhe disse isso? – perguntei curiosa. – A Claire Zizes denunciou eu e o ?
– Mas é claro! A senhorita Zizes não dá problema feito você! Ela ajuda essa instituição.
Por que não me surpreendi? Ah, é. Estamos falando de Claire Zizes.
A diretoria foi entediante. Deram-me um sermão sobre o quanto era errado e maldoso agredir uma colega daquela maneira. Mas me dispensaram.
Bom, eu realmente não era a “porradeira da Ambler High”. Apenas a vadia. Então não tinha por que me castigar. Um deslize apenas.
Consultei minha próxima aula. Psicologia, com a merda da orientadora, a senhorita Keppler. Eu detestava essa aula porque:
1. e eu fazíamos juntos.
2. Aquela mulher ficava tentando entrar na minha mente, como se eu fosse analisável.
Eu não fui feita para ser analisada. Contudo, como eu não podia matar aula por causa da briga, segui para a sala.
Aquela era a única aula que não possuía assentos em ordem alfabética. Portanto eu podia acabar ficando perto de se ele viesse se sentar ao meu lado. Para ser sincera, uma parte de mim esperava que ele o fizesse. Por mais que eu estivesse com raiva dele, gostava da idéia de tentando de todos os jeitos se aproximar de mim, mesmo que eu tentasse afastá-lo. Porque no fundo eu o amava e queria que ele me amasse de volta.
Sentei-me numa cadeira mais para o fundo da sala e abaixei a cabeça. Não vi os alunos entrarem. Não vi ninguém. Recusei-me a chorar pela situação na qual me encontrava, então fiquei apenas de olhos fechados, esperando a aula começar.
Foi então que senti alguém passar ao meu lado. Senti o perfume da pessoa que se sentou atrás de mim. Quase sorri pelo conforto que aquilo me trazia. . Mas, como eu era uma vadia, levantei meu rosto e me virei para ele.
– Você realmente não consegue, não é? – perguntei com sarcasmo na voz.
– Não consigo o que exatamente? – perguntou ele, levantando uma sobrancelha.
– Deixar-me em paz – falei, dando de ombros.
– Nem falei com você – disse ele num tom calmo.
– Sentou-se atrás de mim...
– Gosto do cheiro do seu cabelo. E desse lugar perto da janela – bufei e de birra fiz um coque. – Sabe... Continuo sentindo o cheiro do seu cabelo. E da sua nuca – sussurrou ele de uma forma meio sexy no meu ouvido.
– Deixe-me em paz, . Você me dá arrepios – falei com a voz carregada de nojo, deitando a cabeça de novo.
Senti-o se mexer atrás. Acho que ele não esperava por isso. Só sei que seriam longos dois tempos... Muito longos.

XX


– Bom dia, alunos! – entoou a senhorita Keppler com uma voz animada. – Hoje teremos uma atividade muito divertida e que conta ponto na média final de vocês. “Ah não”, pensei. “Atividade muito divertida” era sempre, sempre em grupo.
– Então, galera – disse ela irritantemente como se fosse super legal e popular entre nós. – O trabalho de hoje é o seguinte: farão dupla com um colega e escreverão com ele uma narrativa que tenha a ver com a relação de vocês... Metaforicamente, é claro.
– Quem serão nossas duplas, professora? – perguntou a voz irritante da presidente do clube de teatro Katilin Summers.
– Hum... – ela observou a turma pensativa. – Vocês estão em fileiras de seis certo? Façam duplas com o colega da carteira de trás!
Abaixei minha cabeça em sinal de derrota. De cinqüenta pessoas naquela sala, a minha dupla tinha que ser a porra do !
A cadeira dele deslizou rapidamente para o lado da minha.
– CARACA!– ouvi a voz de Josh Silverstone, um menino magrelo metido a palhaço, gritar: – A V.V. E O ESTÃO JUNTOS!
A turma inteira começou a rir. Dignei-me a levantar a cabeça para encarar Josh maldosamente, esperando que ele calasse a boca. Mas é claro que ele não o fez.
– Sabe, vocês poderiam escrever um conto erótico... Para todo mundo saber como foi que vocês fizeram aquele bebê! Todo mundo quer saber o quanto a V.V. é boa de cama... – disse Josh com um risinho de escárnio.
A turma riu mais alto. Cadê a professora mesmo?
– Eu deveria mesmo fazer isso, Silverstone – disse , olhando para ele com um sorriso irônico. – Quem sabe, se eu escrevesse um conto erótico sobre mim e , você não tivesse um bom material para bater uma no seu banheiro...? Ia saber exatamente como é ter uma mulher de verdade na sua cama, porque eu realmente duvido que você já tenha tido algo diferente da sua mão.
Nesse momento a turma urrou.
– JOSH PUNHETEIRO! – gritaram os meninos.
Não consegui segurar o sorriso. me encarou e tentei parar de rir rápido. Não consegui.
– Foi boa essa, né? – disse ele, parecendo corar.
Que coisa mais fofa!
– Foi excelente! – exclamei.
– Parem com a baixaria, por favor, garotos! – disse a senhorita Keppler. – Deixem o e a em paz. Eles estão passando por um momento difícil e precisam de apoio.
– Não precisamos, não. Estamos muito bem só com vocês nos deixando em paz – falei alto.
A senhorita Keppler ergueu a sobrancelha para mim.
– Enfim, podem começar.
A turma se calou por um instante e depois começou o falatório entre as duplas.
– Então... – disse .
– Só para deixar bem claro, não gosto mais de você por causa disso – falei com a voz irritada.
– É, eu sei – disse ele como se realmente acreditasse nisso. – Sobre o que vamos escrever?
– Não sei – falei com uma cara pensativa e sarcástica. – Que tal sobre uma garota que era uma loser e tinha um amigo legal? Do nada eles viraram namorados. Aí os pais deles resolveram se casar e por isso a menina terminou com ele. Mas o menino não aceitou e simplesmente resolveu confraternizar com a maior inimiga da vida dela. Só que, como ela é estúpida, ainda assim foi para a cama com ele e, o pior, sem camisinha! Acabou ficando grávida e, quando foi contar, ele negou ser o pai. Depois o moleque veio pedir desculpas e ela não entendeu nada, mas aceitou, porque sabia que não poderia criar uma criança sozinha. Porém só o que ele queria era convencê-la a abortar o bebê. Aí ela sofreu um aborto espontâneo e simplesmente entrou em depressão com tudo isso porque apenas queria ele ao lado dela o tempo todo...
me olhou atentamente. Suspirei. Dava um alívio estranho dizer todas aquelas coisas.
– Talvez a gente devesse se esquecer por uns instantes do ponto de vista da garota e ver como o cara se sente. Talvez ele tenha amado essa menina a vida toda e sempre pensou não ser correspondido. E de repente ele a tinha bem ali nos braços dele. Só que, quando pôde notar ela, estava indo embora porque outras pessoas, que deveriam significar menos que ele, pediram! Esse cara deve ter sentido raiva. E deve ter sido por isso que foi procurar a inimiga do amor da vida dele. Contudo com certeza ele não resistiu às milhares de tentativas de sedução da garota que amava e acabou indo para a cama com ela sem se cuidar. Depois acabou descobrindo que a pessoa que ele mais gostava na vida fazia sexo com o namorado dela e ainda dizia a esse que era o seu primeiro homem. Como se aquele cara, que passou a vida cuidando dela, nunca tivesse existido. Todavia, quando a menina fica grávida, ah, é o amigo quem ela vai procurar. Ele simplesmente ficou confuso e chateado. Não acreditou nela. E depois viu que, se não fosse ele ao lado dela, ninguém ficaria. Então o garoto, num ato de covardia, quis que ela tirasse o bebê. Mas isso foi só um medo que ele teve, de enfrentar as conseqüências da vida. Só que ela acabou perdendo o filho e o menino então percebeu que essa criança era tudo que ele queria. O problema é que a garota acha que a culpa é dele. Mas o rapaz a quer de volta mais do que tudo, porque ele não sabe viver sem ela. Ele nunca aprendeu.
Arregalei meus olhos.
– Uau – falei. – Isso foi...
– Relaxante. Assustador – disse ele. – Eu sei.
– É – concordei.
– Sinto a sua falta – disse ele. – Não só como namorada, porém sinto falta de coisas bobas. Tipo, escutar sua voz chamando meu nome ou de assistir àqueles filmes estúpidos com você... Aqueles que você gosta quando está de TPM. E quando você me pedia para levantá-la e treinar seu backflup...
– É backflip – corrigi.
Ele riu.
– Nunca acerto o nome desse troço.
– Eu sei – falei, rindo também.
– Você vai me perdoar um dia? – perguntou ele.
Fiquei em silêncio, olhando para baixo.
– Vamos escrever sobre um pássaro – falei depois de um tempo.
– Um pássaro? – perguntou ele confuso.
– É. Um pássaro que vivia num ninho. Só que a mãe do pássaro o obrigou a voar e se afastar dali – falei. – E então ele fez isso.
– E depois? – perguntou , ainda confuso com as minhas metáforas.
– Depois o pássaro quis voltar, mas já tinha alguém no ninho. Outro pássaro. Aí ele procurou também por outro ninho.
– Porém esse outro ninho não era tão bom quanto o inicia. Certo? – perguntou ele, entendendo a minha comparação.
– Não, não era. Contudo o ninho inicial do pássaro também não era como antes e ele não quis aceitá-lo de volta.
– O ninho só ficou magoado porque o pássaro o trocou por outro, mas sabe de uma coisa? O ninho conhece o pássaro. Sabe que no fim das contas ele sempre volta, porque eles pertencem um ao outro.
– O pássaro não tem mais certeza disso.
– Mas o ninho tem. E ele vai trazer o pássaro de volta – disse .
Sorri e comecei a escrever. Talvez um dia as coisas pudessem ficar bem.

XX


Mais tarde, depois da aula, fui para o treino das torcedoras. Diana me recebeu com um sorriso e deu boa-vindas à capitã. As meninas pareciam sorridentes e muito calmas na frente dela. Porém, quando foram me passar a coreografia para as regionais e eu errei quase tudo, não pude deixar de notar as risadas constantes e maldosas.
– Você vai conseguir pegar até a competição. Relaxe – disse ao fim do treino.
– Vou pegar é o meu atestado de morte. Estou perdida, . Sou a capitã e nem sei fazer isso – falei, massageando as têmporas nervosamente.
– Você passou por um problema e teve que se ausentar... Já aconteceu com todo mundo. Relaxe e repasse as coreografias. Certo?
Concordei com a cabeça. Eu ia ter quer treinar duro para voltar a ser o que era antes... Mas eu ganharia aquelas regionais. Ou meu nome não era .


VINTE E CINCO


apertava o meu braço com força. Estávamos na Filadélfia, a muitas milhas de casa. Não muitas porque estávamos ainda dentro do nosso estado, mas, mesmo assim, as regionais abrigavam quinze equipes dispostas a disputar o campeonato nacional.
Três classificadas. Era ficar entre as três e pá! Seríamos nós praticamente vencedoras.
– Estou nervosa – falei.
– Eu também, porém não tanto quanto na primeira vez – disse , dando de ombros.
– Você já ganhou isso. Não é? Qual é a sensação? – perguntei.
– Se Deus quiser, você vai descobrir por si só e não vai precisar de mim para tentar lhe explicar.
Eu e ela sorrimos nervosamente e seguimos o fluxo de torcedoras.
– Meninas, atenção! Vamos aquecer e depois seguiremos para o nosso camarim. Somos as sétimas a nos apresentarmos – disse Diana assim que entramos no ginásio para esperar.
De repente, Courtney apareceu correndo usando casaco e calça de moletom da Ambler High em nossa direção.
– Creio que temos um problema sério – disse Courtney ofegando.
– O que houve? – perguntei.
– As Blue Jeans copiaram o nosso movimento principal em que misturávamos dança de rua com as piruetas. E roubaram a nossa música. E elas são a segunda apresentação. Estamos mortas.

XX

Aquilo era crise.
Crise mesmo.
O que fazer quando o seu salto principal e sua música são roubados? Hello! As Apimentadas não ensinaram nada para essas líderes? Roubar é feio, errado.
Mas que merda!
– Aquelas piranhas! – gritou . – Aquela vagabunda da Kimberly veio conversar comigo sobre a apresentação e contei TUDO!
– Você contou as nossas coisas para o inimigo? Inteligente da sua parte – disse Claire com sarcasmo.
– Imbecil, nós estudávamos lá ano passado! Elas são nossas amigas – disse Amber.
– Super amigas – espetou novamente Claire.
– Mas, gente, as Blue Jeans só vão concorrer com a gente se passarmos nas regionais – disse Amber.
– Não interessa, Amber – interviu Diana. – Os juízes são os mesmos. Não podemos fazer ou seremos desclassificadas.
– Você tem que fazer alguma coisa, ! – disse Ananka. – Você é a capitã!
– Você quer o quê? Que eu fabrique uma música e um movimento maravilhoso? – perguntei a ela irônica.
– Ué, você que é a garota de Princeton! A “faculdade pioneira em torcida” e blá, blá, blá... E, além do mais, é a capitã.
– Você já disse isso e eu sei! Se disser de novo, vou lhe dar outro soco para ver se você fica com mais um roxo nessa sua cara disfuncional! – gritei.
– Meninas, chega – disse Diana. – Vamos desistir. Não há o que fazer.
– Não!– gritei. – Não podemos! Sério, gente. Desistir não dá. A gente vem treinando duro há um ano para esse dia!
– O que vamos fazer então, ? – disse . – Você mesma disse]: não dá pra fabricar uma música e nem movimentos.
Suspirei derrotada.
– Vou dar uma volta e tentar pensar em alguma coisa! Diana, não desista antes que eu volte. Certo? Pensem todas em algo também! – falei.
Saí andando pelos corredores da competição.
A vontade que me deu foi de chorar. Cheguei a um ginásio vazio. Era branco, iluminado. As arquibancadas estavam vazias. Eu precisava pensar. Precisava agir.
Saí correndo feito doida pelo ginásio, tomando impulso para saltar. Fiz um duplo twist carpado e parei em pé. Dei uma estrela sem as mãos e girei. Por fim joguei meu corpo para trás num backflip rápido. Quase errei. Parei com as mãos na cintura e suspirei.
Alguém bateu palmas. Palmas leves e compassadas. Procurei pela pessoa ali. Na arquibancada, sorrindo, usando uniforme de futebol da Ambler High.
– O que você faz aqui? Eu não tinha visto-o – falei.
– Estava escondido. Você parece nervosa.
– Triste – falei, dando de ombros.
– Mas não fiz nada... – disse ele.
– Só porque você é noventa por cento das vezes o causador da minha tristeza não quer dizer que nada mais me deixe chateada.
– Você quer me contar o que está havendo? – perguntou ele, descendo em minha direção.
– Umas vadias de saia azul claro roubaram a nossa música. E nosso elemento surpresa que era uma escada de cambalhotas aéreas. E elas se apresentarão primeiro – contei.
– E o que você pretende fazer sobre isso? – perguntou ele.
– Não sei – admiti. – Desistir, eu acho.
Ele já estava próximo. Se andasse um pouco mais, poderia me tocar. Não que eu quisesse, é claro.
– Desistir? Estou ouvindo isso mesmo? Da ?
– Não tenho mais o que fazer. E isso não é tão importante assim para mim. Já tenho a minha bolsa de esportes em Princeton.
– Não é uma questão de bolsa. É uma questão de honra. De querer vencer. E sei que você quer.
– Não posso fazer nada. Está legal? – falei, sentindo lágrimas de raiva. – Eu tentei. Muitas vezes. Porém sempre tem alguém para me vencer. Estar por cima não é para mim.
– Você não pode estar falando sério – disse , levantando o meu queixo devagar.– Isso da menina que me disse que poderia saltar de alturas mais altas que os caras nos quais bato no futebol.
– Você se lembra disso? – perguntei, fungando.
– Lembro. Lembro-me de que você me disse que poderia alcançar o céu. E sei que você pode, porque é mais que uma simples garota. Você é uma saltadora. Não só na torcida, mas na vida também. Você cai no chão toda hora, contudo, toda vez que cai, dá impulso e volta ao topo.
– Estou no chão, . Há tanto tempo... E eu nem sabia.
– E acho que está na hora de tomar distância e pular. Hoje é a chance que você tem de voltar ao topo.
– E se eu cair?
– Vou estar lá para ajudar.
– Você já disse isso antes – falei emburrada.
– Mas sempre estive, né? – disse ele, acariciando o meu rosto. – Posso ter feito coisas que a chatearam, ou ter agido do jeito errado... Porém estar ao seu lado eu sempre estive. Até mesmo naquele dia em que você fez aquele scorpion...
De repente parei de ouvir. A palavra “scorpion” me despertou uma lembrança...
Eu tinha um plano.
– MEU DEUS! – gritei.
– O que houve? – perguntou ele assustado.
– Tive uma idéia... Que pode nos salvar! Obrigada, – murmurei, abraçando-o com força.
– De nada... – disse ele meio confuso.
Soltei-o e corri na direção da porta. Então me virei rápido e disse:
– Ei, – ele murmurou um “hum”. – Talvez o perdoe um dia. Talvez, se você se esforçar mais um pouquinho, eu possa querê-lo de novo.
– Farei isso! – ouvi-o gritar enquanto eu saía com um sorriso no rosto.

XX


– GALERA, EU TENHO UM PLANO! – entrei no salão gritando.
As meninas me olharam espantadas.
– Fale logo! – disse .
– Vocês se lembram daquele jog, em que eu fiz aquele scorpion com cambalhota aérea? Chequei no livro de manobras. Aquilo é movimento de alta dificuldade.
– Certo. E daí? – disse Claire.
– E daí que podemos fazer a coreografia de manobras daquele jogo. Só que, no caso, todas as flyers terão que fazer esse scorpion de alto nível.
– É muito difícil. E arriscado – disse .
– Court e Amber são capazes que sei. Elas duas e a Claire podem fazer em cima das bases. O meu plano é um triângulo de scorpions. Três no alto e uma no chão para ser a ponta.
– Você pirou? – perguntou . – Como você vai saltar e fazer um scorpion sem base?
– Vou dar um duplo twist carpado enquanto as bases erguem as meninas. Com o impulso do ar, eu caio reta e faço o scorpion.
– Você vai ter que cair em scorpion depois de um salto! Ginastas medalhistas de ouro não conseguem cair retas! Você perdeu completamente a noção! – disse Amber.
– Já tentei isso antes. Vai dar certo. Confiem em mim – pedi nervosa.
– Certo. A coreografia é a do jogo. E a música? Tem que ser ousada.
– Tenho uma idéia. Vamos conseguir. Confio em vocês, garotas. Vamos nessa dar uma última treinada.

XX

– Nossa apresentação é a próxima! – gritou Amber. – Meu Deus, acho que vou vomitar!
– Relaxe todo mundo! – falei, segurando o braço de Amber. – Vai dar certo. Vamos conseguir, galera.
Claire estava abaixada com a cabeça entre os joelhos. Fui na direção dela.
– Ei, Claire, está tudo bem?
– Eu admito – falou ela baixo, fazendo com que só eu escutasse. – Estou nervosa.
– Olhe, Claire, não somos amigas. Não gosto nada de você, mas sei que é uma grande saltadora. Vai conseguir, com certeza.
– Não sou como você. Sou uma boa saltadora, mas é um movimento meio arriscado.
– Claire, você já fez isso antes. Vai dar certo. Tudo bem?
Ela afirmou com a cabeça e me levantei.
– Garotas, hora de entrar. Boa sorte – disse Diana.
– E, AGORA COM VOCÊS, AS WARRIORS DA AMBLER HIGH!
E entrei para vencer, porque é isso o que uma saltadora faz.

XX


A apresentação havia sido bastante correta. Usamos “Peacock” da Katy Perry como música, o que foi “ousado” da nossa parte. E por incrível que pareça, o meu scorpion sem base foi perfeito.
Porém ainda dava medo. Tínhamos que ficar em terceiro lugar e as outras equipes haviam ido tão bem!
Eu estava sentada, bebendo um Gatorade, um pouco afastada do grupo, observando as meninas conversarem animadas e felizes por terem contornado a situação.
– Com licença, ? – ouvi uma voz ao meu lado. – Sou Angelina Malturi da revista American Cheerleader e gostaria de fazer algumas perguntas.
Olhei a mulher parada ao meu lado. Ela usava uma calça jeans e uma blusa rosa clara de botões. Os cabelos castanhos lisos nos ombros quase tapavam os olhos azuis, complementados por óculos de aro branco parecidos com os meus de leitura.
– Oi – falei, sorrindo. – Claro. Pode perguntar o quiser.
Ela puxou uma cadeira e parou na minha frente.
– É verdade que você está indo para Princeton como futura estudante de Direito e líder torcida da faculdade?
– É sim – falei, sorrindo orgulhosa. – Fui selecionada há pouco tempo.
– Como você se sente em ter sido escolhida pela melhor universidade no quesito torcida antes do campeonato regional?
– Estou muito feliz – respondi.
– O scorpion que você fez hoje sem base foi uma manobra de alto nível muito complicada. Você treinou muito, com certeza?
– Na verdade, houve um problema de uma equipe usando o nosso salto surpresa e tivemos que inventar na hora – comentei.
– Então foi um improviso?
– Isso – confirmei.
, por que você só virou cheerleader da Ambler High em seu último ano de escola? É tão talentosa...
Suspirei. Aquilo era uma pergunta e tanto. Como explicar?
– Posso lhe contar tudo? Do início? Porque minha vida daria um livro adolescente – comentei, rindo.
– Eu lhe prometo uma capa se realmente for interessante – disse ela, dando uma piscadela e sorrindo.
E contei para ela... Desde o início. Do meu apelido, do , da Claire, de tudo que eu passei... Do bebê, da minha vida, de como eu queria que tudo fosse como antes.
No fim, a mulher me abriu um sorriso.
– Sua história realmente daria um livro, mas vou fazer uma matéria sobre ela... Como você conseguiu tudo o que queria e depois viu que não era nada daquilo. É incrível.
– Eu que agradeço por me ouvir...
– Você vai amar a matéria! Agora acho melhor ir. Quando anunciarem a melhor líder de torcida, você deve estar lá para pegar o prêmio.
Sorri.
– Obrigada, Angelina.
– Obrigada você, ! É uma garota de ouro.
Saí de perto dela e fui em direção à equipe.
– Meninas, eles vão anunciar as três melhores líderes de torcida e vão colocar um mural com o top dez das equipes. Lembrando que temos que ficar em terceiro para classificar – disse Diana.
Todas assentimos e seguimos para o ginásio principal. Olhei a arquibancada lotada. Os meninos do futebol, vários pais, mães... Todos torcendo.
E eu mais ainda por dentro.
pegou a minha mão. Apertei com força o braço dela e ficamos paradas, esperando.
– Eu gostaria de dizer que o resultado de melhor torcedora não influencia de maneira nenhuma os resultados finais da competição. Essa categoria é decidida por individualidade – disse a jurada principal no microfone. O meu coração batia rápido e forte. – Pois bem... Em terceiro lugar, , das Warriors !
me deu um sorriso e foi caminhando para pegar a sua medalha de bronze. Claire que estava ao meu lado sussurrou:
– Acho que você perdeu para a sua amiguinha, capitã.
Suspirei e ignorei.
– Em segundo lugar – leu a mulher. – Kimberly Harrah, das Zodiacs!
Uma loira alta foi correndo em direção ao pódio. Ela parecia muito feliz.
Fiquei nervosa. Apesar do fato de ter sido terceiro lugar diminuir minhas chances, eu ainda tinha expectativas de vencer.
– E finalmente em primeiro lugar... Eu gostaria de chamar a melhor cheerleader das seccionais da Transilvânia, , das Warriors!
Era delicioso. Os aplausos, as expressões das minhas colegas de time, a cara de Angelina enquanto batia uma foto minha no pódio sendo parabenizada... Eu me sentia radiante, como não me sentia há muito tempo.
– Agora os resultados do top dez das melhores equipes foram colocados numa lista do lado de fora. As três melhores estarão classificadas para as nacionais no ano que vem.
Foi uma correria. Todo mundo ia rápido na direção da lista olhar. Enfiei-me rápido entre as pessoas, tentando chegar lá. Senti uma mão segurar a minha.
Olhei para o lado e vi ali. Sorri para ele que me empurrou de leve em direção à lista. Quando chegamos em frente a ela, fechei o olho.
, olhe pra mim, por favor! Não consigo ver.
Ele ficou meio em silêncio.
– Você quer primeiro a notícia boa ou a ruim?
– A ruim! – falei rápido.
– Bom, vocês não foram primeiro.
Senti um aperto no peito.
– E a boa?
– Vocês foram segundo, Princesa. Parabéns!
Dei um gritinho de alegria e o abracei. Depois fui correndo para as meninas.
– SEGUNDO LUGAR, GENTE! – gritei.
E aquele dia foi histórico. Amber High ficou entre as dez melhores depois de quinze anos sem conseguir nem ao menos se classificar. E o dia em que eu, , salvei-a.


VINTE E SEIS


Popularidade, para que a quero?
Ela tinha voltado com tudo.
Depois que salvei o campeonato como capitã e fui a melhor cheerleader da competição, virei algum tipo de ídolo na escola. E isso só piorou depois que fui a matéria capa da “American Cheerleader!”. Voltando a ser tratada como princesinha, amada e conhecida por toda a cidade. É, essa era eu de novo. Mas eu nem estava ligando. Na verdade, aquilo era meio indiferente...
parecia determinado a me conquistar. E ele fazia isso sendo meu amigo de novo. Estava bem mais fácil viver numa amizade com ele. Uma nada colorida, apenas a de sempre.
Recebemos os nossos diplomas uma semana depois da competição. Mamãe ficou orgulhosa tirando várias fotos da sua filha e seu “filho postiço” se formando... Falava coisa como “meus filhos, um médico e a outra advogada, blá, blá, blá”.
Enfim, muita gente na cidade não ia para a faculdade e a maioria ia para universidades próximas. Eu e éramos praticamente os únicos de Ambler a nos mudarmos para um lugar tão longe.
Naquele dia específico, começou a doideira chamada “baile de formatura”. A escola disse que não haveria tema, que rei e rainha seriam votados na hora e que os pares deveriam começar a ser convidados, já que o baile aconteceria em uma semana. Eu não fazia parte do comitê nem nada assim... E nem queria ser rainha. A verdade é que a questão “baile” estava me deixando tensa.
Não me sentia bem em ir com o , porque isso lhe daria falsas esperanças... E eu simplesmente não queria que ele pensasse que estávamos voltando. Porém simplesmente não conseguia me ver indo com nenhum outro menino dali... Era esquisito.
Eu mexia no meu armário, guardando os livros e pronta para esvaziá-lo, já que os dias na escola estavam contados. Foi quando senti um perfume forte e conhecido de homem. Perfume que já havia me deixado louca.
– Oi, – ouvi a voz sexy dizer.
Virei-me e vi parado bem em frente a mim. A gente não se falava desde antes de eu perder o bebê. Havíamos passado a noite juntos e depois me deu o recado que ele teria terminado comigo para voltar a se pegar com Claire.
– Oi, – respondi educada.
– Podemos conversar? – perguntou ele. Ao perceber a minha expressão desconfiada, ele disse com cara pidona: – Por favor...
– Certo – falei, encostando-me ao armário. O corredor agora estava vazio.
– Eu queria que você fosse ao baile comigo – disse ele simplesmente.
Os meus olhos se arregalaram.
– Eu? Baile? Com você? – perguntei perplexa. – , você terminou comigo por recado! Nenhuma explicação! Acha mesmo que...?
– Você me traiu, – disse ele, cortando-me. – E logo depois a traí de volta. Por isso terminei. Contudo isso não significa que eu não goste de você...
, sério. Eu não entendo – falei, balançando a cabeça.
– Doeu muito ver você grávida do ... – disse ele com um bico triste.
não era . Ele não me destruía, mas me desconcertava... E talvez ir com ele não fosse de todo uma má idéia.
– Desculpe-me por isso. Eu não queria traí-lo – falei envergonhada.
– Só a perdôo se você for comigo – disse ele, abrindo um sorriso. – Então, o que me diz?
Sorri de volta.
– Certo então, .
Ele colocou a mão na minha cintura e me puxou para mais perto. Passei os meus braços por seu pescoço, sentindo a sua aproximação. E logo e eu estávamos nos beijando animadamente.
Eu sentia falta de beijar... Já fazia tempo! E, além do mais, não era um estranho qualquer. Era o meu ex-namorado, por quem já fui muito apaixonada.
– Quer ir lá para casa hoje à noite? – perguntou ele. – Os meus pais não estão.
– Pode ser – respondi, sorrindo.
– Certo. Passo para pegá-la às sete – dito isso, beijou-me mais uma vez e saiu.
Suspirei... Eu estava bem por ir com .
Mas o que me incomodava era qual seria a reação de .

xx

Quando cheguei a casa mais tarde, a minha mãe e o tio John não estavam. ainda estava na escola... Só , provavelmente, no quarto dele. Fui até lá e bati na porta.
– Ei, ! – gritei. – Almoçar!
Ele abriu a porta bruscamente e me olhou.
– Podemos conversar?
– Claro – assenti em dúvida.
Entrei no quarto bagunçado e azul claro dele e me sentei na cama.
– Venho tentando reconquistá-la, se você não percebeu – disse ele nervosamente.
– Posso ter notado levemente – falei baixo e envergonhada.
– Estou fazendo tudo certo. Voltei a ser seu amigo. Não tento nada... Não sei se mereço isso que você fez.
– O que eu fiz?
– Por que ele, ? Logo ele! Sei que você está brava ainda, sei que você não me quer mais... Mas o ? – perguntou triste.
– Você viu? – perguntei impressionada. – Como? O corredor estava...
– Não, não estava. Eu sabia que você estaria ali. Fui convidá-la para o baile porque estaria sozinha – disse ele, olhando-me profundamente nos olhos.
Suspirei triste... Era tão ruim.
Sinceramente, não dá para saber exatamente o que eu queria, porque parecia errado ir com , mas parecia ainda mais errado ir com ...
Caminhei até ele e peguei as suas mãos.
– Sinto muito. Não quero magoá-la.
Ele segurou o meu rosto, aproximando o seu.
– Então não me magoe. Fique comigo para sempre. Porque você sabe que, lá no fundo, ainda me ama.
Os nossos narizes se encostavam e eu não me permitia me afastar. Eu amava . Isso era óbvio. E eu já o havia perdoado... Mas a verdade era uma só.
, não nascemos para ficar juntos. A gente se ama, mas não dá certo! Amor é insuficiente... – falei baixo, sentindo a respiração dele perto do meu rosto.
– Como você pode dizer uma coisa dessas? Aqueles meses foram os melhores de toda a minha vida!
– Da minha também... Porém você já viu o preço que pagamos por ficarmos juntos? Ameaçamos o casamento dos nossos pais, nossa amizade acabou, perdemos um filho... Não sei se realmente vale a pena sofrer tanto por uma coisa que não vai dar certo.
– Não deu certo por culpa das pessoas, . Não faça isso comigo. Não faça isso com a gente... Não fique com ele quando sou eu quem precisa de você – pediu num sussurro.
Quis ceder a tudo, mas aquilo não me parecia bom. Alguma parte de mim não estava totalmente preparada para perdoar e simplesmente voltar a ser namorada dele. Eu não conseguia ver as coisas sendo as mesmas, ele e eu juntos como antes...
Antes que pudesse processar, fui colocada contra a parede. As mãos de desceram do meu rosto para a minha cintura e os seus olhos brilhantes estavam bastante fixos nos meus. Quando aproximou novamente os seus lábios e os encostou ao meu ouvido, eu arrepiei.
– Por favor, diga que me ama. Diga que me quer de volta... Porque eu sei que sim. Sei que você sente o mesmo. Só diga...
– Eu não consigo – admiti. – Não dá.
– Ele não a ama como eu, ele não gosta de você! Você não ouviu da boca dele o que ouvi.
– Você implica com o , . Nós dois sabemos o porquê...
– Vá com outra pessoa então! Qualquer outra! Eu aceito. Só não me faça perdê-la para ele... – suplicou .
, acabou...
– Você vai ver que estou certo. Eu vou lhe provar. E outra: espero realmente que esse cara não a magoe, ou vai ser a última coisa que ele vai fazer.
E assim me soltou. E saí do meu quarto meio tonta, desejando que a faculdade chegasse o mais rápido possível.


VINTE E SETE


Olhei-me no espelho algumas vezes para ter certeza de que aquela era realmente eu. Porque, se fosse, havia algo muito errado com o mundo hoje.
Eu estava linda como nunca antes. Os meus cabelos estavam soltos e cacheados de um jeito angelical, com uma tiara de laço prateada no topo. A minha maquiagem era branca e luminosa, como o meu vestido tomara-que-caia. Os meus sapatos brancos também eram lindos e de bico redondo.
– Você está ainda mais linda do que no dia do casamento! – comentou , enquanto entrava no quarto.
Sorri para ela que estava usando um vestido vermelho justo de cetim com alça no pescoço. O seu sapato era um scarpin vinho e os seus cabelos castanhos meio ondulados estava enrolados em cachos e presos em um rabo lateral. Finalizava com um batom vermelho, deixando a minha irmã de quinze anos com cara de dezoito no mínimo.
– Você está sexy demais – falei rindo.
– Sou uma versão mais perigosa sua. E com cabelos mais escuros – disse ela com uma piscadela divertida. – Sério mesmo. Você está muito linda. Prepare-se para pegar aquela coroa!
Eu ri.
– Não sei se estou animada com isso, mas enfim... Com quem você vai mesmo? – perguntei curiosa.
– Jason Kzauli – disse ela, olhando-se.
Arregalei os olhos. Jason Kzauli era um loirinho de pele bronzeada bem alto e da equipe de natação. Ele era bonito e musculoso, além de atrair atenção de muitas meninas.
– Ele é bem gostoso. E é sênior – comentei, rindo. – Onde você conseguiu um desses?
– Quando você estava ocupada com seu o namoradinho rei do baile e estava em depressão, ele começou a me levar a um monte de festas. Numa delas, bebeu demais e o Jase, que é amigo dele, me ajudou. Continuamos nos falando e umas semanas depois o garoto me convidou para sair – ela deu de ombros.
– Nossa, eu nem sabia disso.
– Você tinha muitos problemas...
Fiquei mais um tempo a encarando, hesitando em perguntar o que eu queria. só ficava se conferindo no espelho.
– Ei, ...– chamei. Ela me olhou sorrindo. – Você... Você sabe com quem o...? – eu estava travando para dizer.
ergueu a sobrancelha.
– O vai com a Brooke Fielderson – respondeu ela, lendo os meus pensamentos.
– Eu não ia perguntar dele. Ok? – falei, fungando.
– Certo... Claro que não ia – provocou , rindo de leve.
Depois de certo tempo terminando de ajeitar o meu cabelo, olhei emburrada para .
– Brooke Fielderson é uma vagabunda daquelas. Ela é pior do que a Ananka.
– Pelo menos é simpática.
– Não gosto dela – comentei.
– Oh, é mesmo? Como se você gostasse de qualquer garota na qual o toca que não seja você, eu ou mamãe.
– Deixe-me em paz, chata – ralhei.
, E , VENHAM AQUI PARA BAIXO LOGO! – gritou a minha mãe do primeiro andar.
– Melhor a gente descer – falei.
Quando saí do quarto, dei de cara com saindo do dele. Ele estava lindo, usando um smoking com a gravata totalmente mal colocada.
– Pode me ajudar? – pediu ele com uma cara confusa.
Eu e nos adiantamos ao mesmo tempo para a tarefa. Ela então deu um passo pra trás e disse:
– Hã, ajude-o, , e eu vou descer... Está gatinho, hein? – disse ela, piscando para e indo em direção à escada.
– Você também, projetinho! – gritou ele. Ela gargalhou enquanto descia.
– Projetinho? – perguntei confusa.
– Ela é projeto de você – disse ele rindo. – A propósito, você está linda demais.
– Obrigada – sorri, começando a fazer o nó. Quando terminei, alisei os ombros do terno dele, colocando as minhas mãos carinhosamente ali. – Você também está. Na verdade, você é – inclinei-me e lhe dei um beijo na bochecha. – Espero que o seu baile seja bom, .
Ele riu.
– É bom o seu ser ótimo, ou eu mato aquele canalha de uma vez por todas.
Sorri e saí descendo graciosamente as escadas. A noite seria longa.

xx


Eu, e estávamos tirando várias fotos para a minha mãe enquanto esperávamos os nossos pares. não ia buscar a Brooke. Ela viria para a nossa casa também para que eles fossem juntos na limusine que e Jason haviam alugado. O que me levava a crer que tudo seria muito tenso.
Jason foi o primeiro a chegar. Ele foi muito simpático com todos e disse que eu estava linda, além de ficar admirando a com um sorriso bobo por bastante tempo. Achei-o um fofo.
e Brooke chegaram juntos. Ela, como a boa puta que era, já estava jogando charme. Porém, quando a minha mãe abriu a porta e viu , ela começou com aquela baba de ovo de sempre. Então Brooke foi logo para .
me trouxe um arranjo de flor prateado e branco muito lindo. Ele estava perfeito naquele smoking e quase me esqueci do quanto queria estar indo com .
– Você está linda demais... Como uma rainha mesmo – disse ele, acariciando o meu rosto de leve.
– Obrigada – murmurei sem graça.
– Bom, então... Todo mundo em casa antes do dia clarear é a única regra. E me liguem dizendo onde estão e com quem estão, por favor! – disse minha mãe.
Todos rimos e seguimos para os nossos carros. abriu a porta de seu carro para mim no lado do carona e me abriu um sorriso encantador. Eu me sentia em um conto de fadas... Mais linda do que nunca, a caminho do baile, com um príncipe lindo...
Porém, de alguma maneira, aquilo não se encaixava. Não me parecia tão divertido quando eu vivia a situação.
– O que foi? – disse , acariciando as minhas bochechas com doçura. – Você me parece distraída.
– Só ansiosa... – comentei.
Ele se inclinou e me beijou. Correspondi, tentando mostrar entusiasmo.
– Essa vai ser a melhor noite da sua vida – sussurrou .
Como eu queria que ele estivesse certo.

xx


O ginásio principal da Ambler High estava lindamente decorado. Luzes coloridas piscando e acabando com a escuridão que se instalava de leve. A música bombava, quase me fazendo colocar os dedos nos ouvidos.
e eu estávamos de mãos dadas e caminhando pelo salão. Era estupidamente clichê o modo como as pessoas nos olhavam. As meninas com olhares que intercalavam entre inveja e admiração e os caras pareciam achar algum tipo de gênio. Aquilo estava me incomodando. Ser o centro das atenções estava me deixando irritada, porque eu queria poder simplesmente encarar sem que ninguém percebesse. Eu queria dançar com o meu par sem ter que ficar sorrindo forçado só porque estavam olhando.
Eu queria sorrir por vontade própria.
Eu invejava Brooke Fielderson no momento. Apesar de saber que era comigo que queria estar, ele e ela pareciam muito felizes juntos. Dançavam sorrindo de maneira simples e conversavam como um casal.
Tudo estava me matando. Merda de baile, de coroa. Merda de par, de vestido branco. Merda de vida.
– Ei, ? – me chamou.
– Hum? – perguntei distraída.
– Vou lá fora falar com o James e os caras do futebol um instante... Você se incomoda? – perguntou ele.
– Não, claro que não. Quer que eu vá com você?
– Não precisa, boneca... Fique aí que volto rapidinho. Certo? – ele sorriu e me beijou, saindo em direção à parte de fora.
Encostei-me à parede, bufando. Vi Claire Zizes e o seu vestido verde indecentemente curto rebolando também em direção à parte de fora do salão. No caminho, ela me lançou um sorrisinho de escárnio que não compreendi e ignorei.
– E aí, queen! – gritou uma voz ao meu lado. Era com o seu vestido azul claro brilhante.
– Oi, – respondi sorrindo. – Como está o baile?
– O meu? Maravilhoso! – disse ela empolgada. – Ai, amiga, Josh é um sonho... Ele é tão fofo!
– Que bom que você está se divertindo... – falei, sorrindo fraco, não conseguindo evitar direcionar o meu olhar para e Brooke que agora se beijavam.
– Você é idiota. Sabia? – disse , fazendo-me olhá-la com a sobrancelha erguida.
– Obrigada – bufei.
– Por que diabos você não veio à porra do baile com ele? – perguntou ela com a mão na cintura. – Parece uma viúva idiota com essa cara depressiva!
– Nunca mais vou me envolver romanticamente com o , . Nunca mais – proferi, tentando parecer convincente.
– ‘Ta, ‘ta, e eu sou a rainha do baile! Ligue-se, ! Vá se divertir com o ou então vá lá dar o fora nele, porque ficar encarando o e a Brooke com essa cara depressiva não dá!
Dei de ombros como quem dizia “esqueça isso” e riu sem humor.
– Você gosta de se martirizar. Sabia? Olhe, vou encontrar o Josh lá fora... Se precisar de mim, é só procurar.
Assenti sem prestar atenção na saída de , observando e Brooke se separarem e ela sussurrar algo em seu ouvido. Brooke lançou um sorriso a ele e se afastou em direção a algum lugar que não consegui identificar. parou no meio da pista e me encarou intensamente. Tentei desviar o olhar, mas foi meio impossível. Principalmente porque eu podia vê-lo se aproximando de mim lentamente.
– Oi, – disse ele com um sorriso.
– Não me chame por esse apelido idiota – reclamei, bufando. Ele riu.
– Fale sério, . Eu a chamo assim desde que a gente tinha seis anos.
– Ah, é? – falei com raiva. – E como é que você chamava a Claire, hein? E a Brooke? Como você a chama?
me olhou seriamente.
– Ah, qual é? Vai bancar a ciumenta agora?
– De maneira alguma – rebati, cruzando os braços com um olhar de indiferença. – Só não acho certo você ficar atrás de mim me chamando por esse apelido estúpido quando tem uma menina que não sou eu na sua companhia.
– Você não tem o direito de ficar brava. Sabia?
– Não estou brava. Cadê a Brooke? Vá ficar com ela, vá – mandei impacientemente.
– Eu a chamei para o baile e você recusou. Por que diabos está brava? – perguntou ele.
Mordi o lábio com força, tentando segurar as coisas que eu queria dizer. Não que tenha conseguido, é claro.
– Não estou brava, ! Nunca estou brava! Por que eu ficaria brava? Você acha que me importo se você vem dizer que me ama e logo depois está se agarrando com a primeira garota que lhe dá condição? Você realmente acha que me importo?
– Realmente espero que sim, . Na verdade, eu suplico: por favor, se importe.
Eu não esperava essa resposta. Por isso, fiquei meio estática.
, eu...
– Você está brincando comigo – disse ele, parecendo chateado. – E talvez eu até mereça... Mas me sinto péssimo. É ridículo ter que armar com uma garota de ir ao baile com ela, beijá-la na sua frente para ver qual vai ser a sua reação... É ridículo. Eu sou ridículo. parecia atormentado. Eu queria tanto abraçá-lo, beijá-lo e dizer que ele não era ridículo. Dizer que eu me importava e que ele era o mundo pra mim.
– Você devia ir se divertir com a Brooke, ... E depois conversamos. Ela não merece um baile ruim só porque era comigo que você queria vir.
– Você não ouviu o que eu disse? Combinei tudo com a Brooke. Não é como se ela realmente fosse o meu par.
– O quê? – questionei confusa.
– A Brooke namora um cara de vinte e um anos de Fort Washington. Só que a mãe dela é contra... Por isso combinamos de dar uns pegas na casa dela e ir ao baile juntos. Não queríamos levantar suspeitas.
Fiquei em choque.
– Por que você não convidou alguém? , sabe quantas dessas meninas venderiam a alma para ir a esse baile com você?
– Eu não queria que fosse sério. Não queria magoar alguém. , eu só queria que você largasse a mão dele e ficasse comigo. Seria cruel envolver outra pessoa.
– Você se preocupa em não magoar as pessoas... Engraçado, nunca se importou em não me magoar – concluí chateada.
– E você não se importou em perdoar esse merda pelo que ele falou sobre você, contudo se importa muito em me perdoar.
– Não compare o que você fez com o que ele fez! E, além do mais, eu o traí!
– É impossível conversar com uma pessoa que acha que você é um lixo. Acho que vou pra casa. Não agüento mais ter que ficar implorando perdão pra você, – disse com uma expressão magoada, virando-se para sair.
Segui-o, tentando alcançá-lo.
, espere! ! – gritei pelo salão, indo em direção à parte de fora.
abriu a porta e o segui. Ao ouvir uma gargalhada alta e levemente conhecida, segurei o braço dele e congelei.
– Vai ser tão engraçado! – disse a voz feminina. – Ah, vai ser o melhor momento da minha vida.
– Tudo ao seu tempo, gatinha – rebateu uma voz masculina também conhecida.
– Bebê, sabe o que fazer. Não sabe? Assim que ela for coroada, você tira a coroa dela e manda me chamarem no palco. Depois... A Ananka disse que as garotas da torcida vão jogar ovos nela. Sério. Vai ser o máximo!
– Sei o que fazer... Já repassamos o plano milhões de vezes.
– Vamos destruir de uma vez por todas aquela maldita .
E, de repente, as vozes pararam. Só que eu sabia exatamente a quem pertenciam. O casal de falantes agora se beijava furtivamente.
E esse casal era ninguém menos do que Claire Zizes e .


VINTE E OITO


Eu não sabia o que fazer. apertava a minha mão com força, respirando pesado como um touro ao meu lado. Claire e se separaram por um momento e a garota virou a cabeça para nós.
– Ops – sussurrou ela.
– Ops mesmo – rebati, cruzando os braços.
me olhou também com uma expressão tensa.
– Olhe, eu posso explicar, ...
– Ah, mas não precisa – rebati sarcástica. – Sei exatamente a explicação para isso tudo. Ela é uma vadia sem escrúpulos e você é um merda de um capacho dela.
– Eu o beijei – disse Claire. – Ele não teve nada a ver com isso.
– Ouvi a conversa. Aliás, muito criativo da sua parte pensar em ovos... Geralmente usam tinta para jogar nas rainhas do baile.
Ela bufou, crispando o lábio.
– Você acha mesmo que merece esse vestido? Esse par? Essa coroa? É uma merda de uma menina metidinha que conseguiu se sentar na minha mesa do almoço. E é o máximo que pode conseguir nessa sua vida: ser uma líder de torcida secundária e namorar um cafajeste estúpido.
– Você é tão invejosa que dá desespero! – gritei. – Qual o seu problema comigo? Se queria que eu continuasse na minha, por que sabotou os meus tênis? Por que me separou do ?
– Eu queria que você sofresse por tentar tomar o meu lugar – disse ela simplesmente.
– Não tomei seu lugar, Claire. Ele era meu por direito. Conquistei isso tudo. Mas, se importa tanto ser a merda da rainha do baile e ficar com essa merda de par, vá em frente. Nada disso é o que eu queria de verdade e hoje eu sei.
– Merda de par? – disse irônico. – Você nunca pareceu me achar uma merda de par quando ficava nua embaixo de mim.
pela primeira vez se mexeu. Ele acertou um soco forte no meio da cara de . Arregalei os meus olhos e Claire também. Nós duas nos olhamos estupefatas e depois percebi se levantar meio tonto.
– Você é desprezível, . Sempre se achou o pegador, porém faz tudo por essa vadia ridícula. Sabe a verdade? É por mim que ela sempre foi apaixonada. Você é um merda – disse , cuspindo sangue.
ia bater nele de novo, contudo entrei na frente, segurando-o pelos ombros.
– Não vou deixar você fazer isso. Não vale a pena.
– Você está ouvindo o que ele está dizendo? – gritou para mim. – Deixe-me – disse ele, contorcendo-se. – Deixe-me, . Eu vou matá-lo! Pare de defendê-lo!
, por favor – implorei, virando-me para e dirigindo minha fala a ele. – Dá para você sair daqui, seu imbecil? Ele vai matá-lo!
– Deixe vir – disse com um risinho de escárnio. – Ele está putinho, igual a uma garotinha na TPM! Pode me bater o quanto quiser... Isso não muda o fato de ele ser um merdinha apaixonado pela garota que me quer.
– Não foda, ! Acha mesmo que quero você? Que é de você que gosto? – gritei. – É só um estepe! Acha mesmo que tenho algum remorso de todas as vezes que fui para a cama com o enquanto namorava você? O único remorso que eu tinha era o de ter que deixar o cara que eu amava para voltar para você! Não significou nada para nenhum de nós dois. Você queria namorar a popular gostosa e eu queria esquecer que amava alguém que não podia. Agora se mande daqui, você e a sua putinha!
Claire parecia assustada. Ela puxou rápido, que nos olhava com ódio. bufava atrás de mim. Virei-me para ele.
– Acalme-se, por favor... – pedi, segurando as suas mãos.
Foi aí que notei uma platéia imensa atrás de nós. Todos olhando embasbacados.
– O que foi? Gostaram do show? – perguntei irritada. – Quantos de vocês estavam envolvidos nessa merda? Dêem o fora daqui.
Por incrível que pareça, todo mundo obedeceu. E tive certeza de que não seria mais incomodada naquela noite.
Novamente olhei , enquanto via a multidão sair. Ele não parecia mais calmo... Estava tão tenso quanto antes.
... – chamei, segurando o seu rosto. – Eu queria dizer que...
– Eu lhe falei. Milhões de vezes avisei que ele ia fazer isso. Por que não me escutou? – bradou, afastando a minha mão do seu rosto.
– Eu não sabia que o ia fazer isso! – defendi-me.
– Mas eu sabia! Eu sabia e lhe disse! Isso deveria ser o suficiente – disse ele, virando-se.
, volte aqui! – gritei, vendo-o andar em direção ao estacionamento. – ! Aonde é que você vai?
– Embora! – gritou. – Ou acha que vou ficar aqui vendo essa palhaçada toda?
, por favor! Eles estão armando uma para mim... E se fizerem alguma coisa? Preciso de você aqui comigo – pedi manhosa.
– Ah, precisa? – disse ele com sarcasmo. – É realmente uma pena para você. No próximo baile, escolha um par melhor.
E, dito isso, virou-se e saiu andando na direção da escuridão.

xx


– Não quero voltar lá, ! – reclamei entre soluços.
Essa era eu: uma garota vestida como rainha e chorando como uma idiota assustada no banheiro do ginásio da Ambler High.
– Você tem que voltar... Não pode deixá-los a vencerem fácil assim! Eles nem fizeram nada ainda... – disse , passando o papel embaixo dos meus olhos, tentando não permitir as lágrimas de borrarem a minha maquiagem.
Eu estava sentada na privada de um dos boxes com os cotovelos apoiados nos joelhos. estava agachada em frente a mim, tentando inutilmente me acalmar.
– Todo mundo viu a discussão! O que eles planejavam fazer! E agora o está se agarrando com ela bem no meio do salão enquanto choro sem parar e escondida... – funguei novamente.
– Você precisa superar isso, . Olhe, não vai demorar muito... Vai ser coroada e depois pode ir para casa e para a sua faculdade, sair dessa cidade.
Limpei as lágrimas e suspirei.
– Tudo bem. Vamos nessa – murmurei.
sorriu e me ajudou a limpar as lágrimas dos olhos e a retocar a maquiagem. Quando eu já estava pronta, abriu a porta, indicando que eu deveria sair. Ela sorria encorajadora, mas isso não mudava o meu nervoso...
Era engraçado o quanto tudo era instável. Num momento, você era a rainha do baile, a capitã das líderes de torcida. E no segundo seguinte... Era só uma garota assustada chorando no banheiro. E isso era algo que eu não queria mais para mim.
O salão continuava animado e dançante. Ainda não tinham parado a música, mesmo faltando pouco para a meia-noite...
E foi só eu falar isso que o diretor anunciou:
– Atenção, alunos. Vamos pausar a música para a coroação do rei e rainha do baile dos formandos de 2011.
ainda segurava a minha mão com força. As pessoas especulavam baixo enquanto o diretor recebia uma almofada com duas coroas de plástico e dois envelopes. O homem pigarreou em um pedido de silêncio e logo todos estavam silenciosos.
– E o nosso rei do baile é... – ele abriu o envelope e sorriu ao ler o nome. – .
Uma chuva de aplausos correu pelo salão. Os caras do futebol davam soquinhos nos ombros de e Claire lhe deu um beijo forçado. Quis chorar. Aquilo era mesmo péssimo.
Ele subiu ao palco e colocou a coroa prateada na cabeça. Então falou ao microfone:
– Obrigado pelos votos. E é isso aí. Boa formatura para todos! – gritou com um sorriso.
– Babaca – resmunguei. riu ao meu lado.
– E agora vamos anunciar a rainha do baile.
O meu coração palpitou. Eu não estava nervosa como as outras garotas daquele salão, que possuíam uma mínima esperança de ouvirem os seus nomes sendo pronunciados por aquele microfone. Estava nervosa por estar sozinha. Porque aquele era o meu grande momento e eu não tinha com quem dividi-lo.
– Gostaria de chamar ao palco a rainha do baile de 2011 – ele abriu o papel, leu e pronunciou. – Senhorita .
Aquele momento foi exatamente como nos filmes. Tudo pareceu ficar silencioso, em câmera lenta. Até mesmo eu. Todos os olhares eram meus de novo, todas as luzes... Alguns segundos depois começaram os aplausos e me senti ainda mais assustada.
me deu um empurrão delicado, indicando que eu deveria caminhar em direção ao palco. Saí do meu transe e comecei a andar. estava em cima do palco com um sorriso acolhedor, mas era um falso acolhimento. Eu não o queria ali. Não queria nada daquilo. Não queria ser aquela garota!
Mas eu já sabia disso... Os outros é que não. Por ora, é claro.
Subi no palco e recebi a minha coroa. O diretor me indicou o microfone com um sorriso amigável seguido de um “parabéns”. Segurei o aparelho e encarei as pessoas. Eram tantas! Todas me olhando fixamente.
– Boa noite – falei com a voz simples. Engoli em seco e continuei. – Sei que vocês esperam um grande discurso, porque é isso o que as rainhas geralmente fazem... Porém não sei se consigo.
Todos me encaravam com expressões curiosas. Assim, continuei.
– Nunca fui encaixada nessa escola. Aliás, eu era totalmente de fora. E agora estou aqui nesse palco, vestindo o vestido mais lindo que eu poderia um dia encontrar e usando essa coroa. E quer saber? Sinto-me vazia.
As expressões curiosas viraram de choque. Cochichos de todos os lados meio surpresos.
– Esse ano, aprendi muitas coisas sobre mim e sobre o mundo. Aprendi que nem todas as pessoas são populares, e más, e... – lancei um sorriso a . – Nem todo mundo quer acabar com a sua vida. Porém acho que a principal lição que aprendi é que às vezes, quando você quer demais algo, deixa de dar valor ao que tem. E algumas vezes o que você tem é muito melhor do que o que quer. Era o meu caso, por exemplo.
Senti lágrimas nos meus olhos. Era o primeiro momento da minha vida em que era realmente corajosa sem me importar com nada que fossem pensar de mim. E a pessoa pela qual eu estava fazendo isso nem sequer estava ali.
– Eu queria muito, muito, muito tudo isso – continuei, fungando de leve. – Queria ser capitã das líderes de torcida, namorada do jogador de futebol bonito, ter vários amigos, ser a rainha do baile... Queria tanto que era cega. E agora tenho essas coisas e me sinto ridícula. Isso é superficial. Ser rainha do baile é só ganhar uma coroa de plástico. Ser capitã é apenas ficar no topo da pirâmide. E namorar o jogador de futebol é só namorar um cara bonito e popular que nem ao menos gosto. E os amigos... Sempre tive os necessários e nunca percebi.
As pessoas pararam de cochichar. Elas me olhavam com atenção.
– Sempre olhei as meninas que ganhavam com uma inveja. Via aquilo como um momento de glória ou algo assim... E talvez alguém esteja pensando isso de mim nesse momento. Pois não pensem. Sou só a ... A menina da aula de cálculo avançado, a melhor amiga do , a garota grávida, a melhor líder de torcida da Pensilvânia. Rainha do baile foi apenas um erro de percurso. Eu sou só eu. , a V.V. de Ambler. E é isso o que quero ser.
Limpei uma grossa lágrima que escorreu do meu olho antes de continuar.
– E é por isso que quero dizer que não aceito essa coroa – falei, tirando a mesma. – Não quero fazer parte disso. Não quero ser alguém que não sou. Não quero dançar com esse verme desse jogador de futebol de meio cérebro que está ao meu lado na minha última valsa da escola. Claire – chamei. A garota me lançou um olhar assustado. – Por que não vem aqui? Você merece todas essas coisas. Afinal, como previu há tempos, eu me tornei você. E acho que é hora de as coisas tomarem os seus devidos lugares.
Ela me encarou com dúvida, porém caminhou em direção ao placo.
– Agora vocês realmente terão o seu rei e rainha do baile. E vou procurar o cara que amo para dizer isso a ele. Se fiz tudo isso foi, apenas porque sei que ele merece uma garota muito melhor do que me tornei. Tenham uma boa noite.
Coloquei a coroa na mão de Claire, que subia ao palco, e me dirigi às escadas. Por mais incrível que possa parecer, todo mundo começou a aplaudir. E me senti leve como nunca.
– Agora o rei e a rainha terão a sua dança. Os outros poderão se juntar durante a valsa – anunciou o diretor.
Dei de ombros e fui em direção à parte de fora. e caminharam até mim.
– Chorei com o que você falou – disse . – Foi muito legal e corajoso.
– Obrigada – eu disse, sorrindo ainda com lágrimas.
– Você foi ótima. A cara do , da Claire, de todo mundo... Meu Deus, foi chocante – disse .
– Não fiz isso para chocá-los. Mas se acabou acontecendo... Acho que valeu a pena.
Jake e Josh, os pares delas, aproximaram-se.
– Meninas, vamos dançar? – disse Jake.
– Podem ir – falei. – Vou pedir para o John me buscar. Bom baile.
Virei-me para buscar a minha bolsa e sair. Quando estava quase alcançando a mesa, ouvi um estrondo e um grito:
– PAREM A MÚSICA, POR FAVOR!
Assim foi feito. De repente, o salão ficou novamente em silêncio e reconheci a voz quando me virei.
estava no palco segurando o microfone, o diretor o olhando com um olhar assustado (o que me levou a concluir que ele havia tirado o aparelho da mão do pobre coitado do homem). Arqueei minha sobrancelha, pedindo uma explicação muda para aquela cena, mas a única coisa que ele fazia naquele momento era me encarar com seus lindos olhos brilhantes.
– Preciso dizer uma coisa antes da última valsa da noite – disse ele. – Juro que vai ser rápido. Não se irritem.
Claire soltou um muxoxo no palco enquanto apertava o braço de .
– Hoje é por acaso o dia da terapia em grupo de vocês? – disse ela alto. – Porque estou bastante a fim de curtir meu momento de rainha do baile.
– Cale a boca, Claire. Você só é rainha porque a foi caridosa o suficiente de lhe dar a coroa – gritou Amber com raiva.
Claire então se calou de cara fechada.
– Ao contrário da , não vim aqui para falar para todos vocês. Só tem uma pessoa que realmente precisa ouvir o que tenho a dizer.
O meu coração pulava. Eu não o esperava ali, não esperava que tivesse escutado tudo que eu havia dito antes.
– chamou ele, olhando-me diretamente nos olhos.– Aconteceram muitas coisas, erros de várias partes, confusões... Porém a única coisa da qual tenho certeza e sempre tive é que a amo. Não existe nenhuma outra garota nem nunca existiu. Deixa-me maluco pensar que um dia a fiz infeliz, ou pior... Saber que você não se acha boa o suficiente para mim.
Eu estava sorrindo e chorando naquele momento. Sorrindo porque ele me amava, chorando pelo que ele dizia. Era quase como se chovesse e fizesse sol ao mesmo tempo...
– Não me importa se eles a adoram ou se a odeiam. Não me importa quem você é dentro dessa escola. O que me importa é o quanto a amo. E é por isso que quero lhe pedir algo – ele deu uma pequena pausa, abrindo um sorriso. Ainda segurando o microfone, desceu do palco na minha direção. Caminhei na direção dele também. – Sei que você é a rainha do baile e eu sou só um plebeu... Mas será que se importa de dançar comigo essa última dança da noite? – perguntou ele, olhando-me adoravelmente.
Peguei o microfone de suas mãos. Sequei as lágrimas e abri um sorriso, o mais feliz e sincero que já havia aberto.
– Eu nunca diria não para você – respondi simplesmente.
e eu trocamos um sorrisinho divertido, enquanto eu largava de qualquer jeito o microfone no chão e as mãos dele vinham ao encontro da minha cintura. Quando nossos lábios se tocaram, foi perfeito. Talvez o melhor beijo de todos os que já havíamos dado.
Não sei por quanto tempo o beijei. Não sei por quanto tempo ficamos os dois no meio daquele salão com as bocas grudadas.
A música que começou a tocar, o que fez toda a platéia de nossa cena se distrair. Não pude ouvir. Eu só queria ter , beijá-lo, senti-lo... Porque ali senti que a noite era nossa. Senti que a vida era nossa.
Porque tudo aquilo era eterno como o nosso amor.


VINTE E NOVE


– Eu te amo. De verdade. Eu a amo demais – disse .
Sorri e o beijei.
Naquele momento, o céu estava coberto de estrelas brilhantes que estavam sendo observadas por nós. Depois da noite do baile, eu e voltamos para casa juntos, como namorados de novo. E novamente eu me sentia feliz e completa. Agora estávamos no lago, às dez horas da noite, deitados num edredom qualquer e de mãos dadas. Era um programa idiota de casal, mas ninguém se importava.
– Amanhã, nossa vida muda – comentei quando parei de beijá-lo.
– É. Amanhã é dia de finalmente ir embora de Ambler.
– Estou com medo – admiti, suspirando.
Fechei os olhos e me aninhei em seu peito. Ele acariciou os meus cabelos.
– Por quê? Ir embora sempre foi seu maior sonho... – comentou com a voz serena.
– Eu sei... Mas é que parece tão absurdo. Nunca mais vamos morar aqui, deitar-nos nessa colina e ficar namorando no lago, ir ao shopping e tirar fotos idiotas, ficar andando de picape pela cidade inteira... Vou sentir falta disso.
– Vamos fazer outras coisas! Vamos ser dois caipiras juntos na cidade grande. Além de sermos aquele perfeito casal da faculdade: a líder de torcida, futura advogada, e o jogador de futebol, futuro médico – disse ele com um sorriso presunçoso no rosto.
– Também conhecidos como senhor e senhora ? – perguntei piscando.
– Claro. A não ser que você queira ser uma mulher independente e nós dois tenhamos que virar senhor e senhora .
Eu gargalhei.
– Não... Amo o seu sobrenome – falei.
– E eu amo você – disse ele simplesmente.
– Eu também o amo. Para todo o sempre.
– Para todo o sempre – concordou o garoto. – Não precisa ter medo. ‘Ta, ? Estaremos juntos.
Sorri e me virei, colocando-me por cima dele.
– Você é lindo demais e fofo demais. Cadê o meu cafajeste?
sorriu malicioso e colocou sua mão por dentro da minha blusa, acariciando minhas costas.
– Bem aqui – disse ele, beijando o meu pescoço. – O que você acha de uma última vez em Ambler? – riu, levantando a minha blusa.
– Acho maravilhoso – respondi, beijando-o, pronta para amar o único garoto entre todos que me merecia.

xx


– Não acredito que os meus bebês vão embora! – disse minha mãe chorosa, abraçando-me.
Estávamos no carro, a caminho do aeroporto da Pensilvânia. Ambler já havia ficado para trás. O destino agora era Pittsburg e depois New Jersey.
Ir embora tinha sido estranhamente triste.
estava no banco da frente, batucando no porta-luvas. Tio John dirigia. , mamãe e eu estávamos atrás abraçadas.
– Vamos ver vocês nas férias... – comentei. – E, além do mais, quando o for o melhor médico do país e eu, a promotora de justiça, vamos todos morar na mesma cidade.
– Eu espero – disse tio John. – O alojamento é caro. Estudem direito na faculdade... Não quero saber de vocês fazendo filhos e matando aulas.
Todos nós rimos juntos.
Minha mãe, tio John e estavam muito tristes e não queriam ver o avião decolando. Então nos despedimos na porta. Era um momento difícil para mim... Eu havia vivido a vida toda com a minha irmã e minha mãe e até mesmo com o meu tio. Ir embora era doloroso.
– Cuide da mamãe, por favor – falei enquanto abraçava tio John. Ele sorriu e piscou.
– Pode deixar, baixinha.
Cruzei os braços e ergui uma sobrancelha, desaprovando o apelido.
– Eu tenho 1,60 m. ‘Ta? – falei birrenta.
Tio John riu e me abraçou. Quando fui falar com , ela já estava chorando.
– Quero que você me prometa que não vai arranjar confusão nem engravidar antes dos 28! – falei.
– Não fale como se você fosse embora para sempre – disse chorosa.
– Eu não vou. Volto nas férias de Natal. Mas, por favor, comporte-se. ‘Ta?
– É você que arranja problemas, e não eu – defendeu-se .
Sorri e abracei.
– Eu a amo. Fique bem.
– Boa sorte – disse ela, secando as lágrimas. – Veja se me escreve. Vou ficar com saudades.
Soltei-me dela e vi que vinha para abraçar . Isso me levou à mamãe.
– Não acredito que você vai morar longe de mim. O bebê da mamãe... – disse ela chorando.
– Nem eu acredito, mãe – falei, segurando a mão dela.
– Quero lhe pedir desculpas, querida – disse a mulher, puxando-me para um abraço. – Fui uma das responsáveis por esse ano terrível que você teve.
– Sei que você estava tentando fazer o melhor para todo mundo, mãe. E agora já está tudo bem.
– Você vai ser feliz, querida. Será maravilhosa.
– Obrigada – falei sinceramente. – Eu amo você.
– Eu também – respondeu ela, soltando-me.
Eles acenaram e voltaram para o carro. Eu chorava um pouco e segurava minha mão, enquanto entrávamos no aeroporto.
Quando já estávamos no avião, eu apertava o braço de com força. A aeromoça anunciou a decolagem e meu coração acelerou.
, vai decolar – falei.
– É, vai – concordou ele.
– Estou nervosa. O que acontece depois?
Ele me olhou e sorriu. Pensei por uns instantes no quanto aquele cara era lindo.
– Não sabemos, , mas eu sei de uma coisa.
– O quê? – perguntei.
– Não importa o que venha pela frente, porque o final é sobre nós dois. Sempre.
E eu sorri concordando.
Ali, eu sabia que estava finalmente pronta para viver com o cara que eu amava. E o futuro nunca me parecera tão maravilhoso e convidativo.


EPÍLOGO


Quinze anos depois

– Eu não agüento mais ficar dentro desse carro! Que horas a gente chega? – reclamou uma vozinha estridente atrás de mim.
– Lilly, querida, por favor... A gente vai chegar daqui a pouco – falei impaciente.
– Mas, mãe, eu quero agora! Quero fazer xixi! – reclamou a garotinha de cabelos loiros e braços cruzados, fazendo um bico adorável.
, amor, quanto tempo falta para chegarmos? – perguntei, bufando.
– Dez minutos – disse ele, concentrado no caminho.
– Viu só, Lilly? – perguntei, virando-me e sorrindo. – Dez minutos! Por que você não conta em voz baixa? Um minuto tem sessenta segundos. Sessenta segundos dez vezes e tcharam! – falei animada. – Vamos ter chegado.
Ela sorriu.
– Vou fazer isso, mamãe! Porque eu sei contar. Lembra?
– Lembro, querida! Faça isso, então.
A menina deu um sorriso e começou a usar seus dedinhos gorduchos para fazer intermináveis contas. riu baixo, enquanto eu me virava de volta para frente.
– Você é muito boa em distrair essa menina. Queria saber fazer isso – disse ele.
– Alguém tem que conseguir. Não é? Afinal, ela só quer saber de brincar com você... E distraí-la para ficar longe de você não tem graça – comentei sorrindo.
Ele apertou minha mão com um sorriso maldoso.
e eu estávamos casados há doze anos. Casamos ainda na faculdade. Quando ele terminou, fomos morar de aluguel em NJ. Ele trabalhando no hospital da faculdade como Residente e eu, num escritório. Com o tempo, estudei muito e acabei entrando para a promotoria de justiça. continuou se esforçando como residente. Lilly, nossa filha, nasceu quatro anos antes, logo depois de comprarmos uma casa com três quartos. Foi assim até três meses atrás, quando recebeu uma carta sendo convidado para ser o diretor clínico geral do hospital de... Ambler.
É, estávamos de volta.
O salário era alto demais para recusar. Por isso pedi transferência para trabalhar no tribunal local. E inscrevi Lilly na Ambler High. Era estranho voltar. Principalmente depois que descobri que a casa que tinha comprado para nós era a antiga casa da família Zizes, ou seja, a maior da cidade. Pelo menos, era perto da minha mãe e do tio John.
estava morando em Nova York e trabalhando como atriz na Broadway. Eu a visitara várias vezes para vê-la em musicais.
– Chegamos – disse .
Lilly abriu um sorriso enorme enquanto tentava abrir a porta do carro. saltou do carro e abriu a porta para ela.
– Por que você não vai ver a casa?
Lilly sorriu e saiu correndo. Saltei do carro logo após para observar a casa grande, luxuosa e branca à minha frente. Na época dos Zizes, ela era menos sofisticada...
– Mandei fazerem umas obras nela. O que você achou? – perguntou o rapaz, abraçando-me por trás.
– Maravilhoso, meu amor – respondi, sorrindo. – Porém, só de pensar em ter que arrumar tudo... Que preguiça.
– Contratei gente daqui da cidade para fazer isso para nós. Já está tudo lá dentro e arrumado! Menos as roupas, porque sei que você detesta que mexam nas suas coisas – disse ele com um sorriso presunçoso. – Sou o melhor. Pode falar.
– Você envelhece, mas continua o mesmo metido de sempre – comentei.
– Com a velhice piora – disse ele, pegando a minha mão e rindo. – Venha. Vamos ver a casa por dentro.
Segurei a mão dele rindo e fui.

xx


, você já está pronta? – gritou .
– Só um minuto, amor! – respondi, colocando os brincos.
Eu e havíamos deixado Lilly na casa da avó para sair essa noite. Iríamos ter um programa um tanto quanto interessante: o baile dos ex-alunos da Ambler High. Seria muito divertido ver como estavam todos e, pelo que diziam, muita gente iria. E eu e nunca perderíamos essa chance.
Quando terminei de me arrumar, seguimos para o carro e fomos conversando para o baile. Ao chegar a Ambler High, tive uma das mais estranhas sensações de toda a minha vida. Lembrei-me de quantas vezes entrei por aquela porta com medo, feliz, orgulhosa, envergonhada... E me lembrei de quantas vezes eu já tinha passado por ali com ao meu lado.
Aquele lugar era o maior caldeirão de sensações da minha vida. Todos os sentimentos possíveis que alguém poderia ter sentido eu já havia experimentado ali. Na minha escola. Foi engraçado entrar de novo de mãos dadas com , como quase sempre e me sentindo normal. Sem sentimentos. Apenas bem comigo mesma.
A festa não parecia muito animada.
, você reconhece alguém? – perguntei no ouvido dele, enquanto olhava em volta.
– Não... Mas somos os mais bem arrumados daqui.
Ri baixo.
Eu e estávamos com trinta e um anos. Nenhum de nossos colegas estava com mais do que isso. Porém, naquela festa ninguém parecia estar antes dos quarenta.
Abri minha boca para comunicar a de que aquela festa era a errada, quando ouvi um grito atrás de mim:
– NÃO ACREDITO NISSO! e !
Virei-me para ver uma mulher extremamente gorda e de cabelos vermelhos vivos, usando um vestido colado rosa que fazia suas gorduras saltarem e abrindo os braços para me abraçar.
– Oi – murmurei sem graça. – Tudo bem?
A ruiva logo perdeu a animação e fez uma expressão meio irritada.
– Não se lembram de mim? Sou eu! Ananka!
Eu e não nos comunicamos, contudo vi por sua expressão que a vontade que ele teve de rir foi a mesma que a minha. Mordi o lábio muito forte.
– Oi – disse , sorrindo cordial, enquanto apertava minha mão. – Como é que vai?
– Não tão bem quanto você! , você está maravilhoso – exclamou ela com um olhar sensual que a fazia parecer uma elefanta no cio.
– Obrigado. Tenho que acompanhar minha esposa, se não acabo perdendo – respondeu educado rindo.
Apertei sua mão.
– Meu amor, você sabe que nunca me perderia – falei para ele. Depois me virei para a mulher. – Você está ótima, Ananka! Ainda parece a mesma.
– É – concordou ela excitada. – Tive meus problemas de peso depois da terceira gravidez, mas ainda dou conta do meu homem.
– Ah, você está casada? – perguntei curiosa.
– No momento, não! Engravidei do logo após vocês se mudarem. Depois acabei tendo um filho com o Matt Andrews do time... Aí nos casamos e tivemos mais um filho. Ele é dentista e fico em casa com nossos filhos. Mas agora eu dei um tempo com ele. Sinto falta de ser solteira. Porém, acho que vamos voltar.
– Fico feliz por você – disse sinceramente, sorrindo. – Nós temos uma filha também: a Lilly. Inscrevemos a garota em Ambler High.
– Eu ouvi dizer! A cidade toda, na verdade... Todos estão comentando a sua volta.
– Que ótimo! Esperamos ser bem recebidos – completou-me .
– Ah, serão, queridos! Sabe, o papo esta ótimo, mas vou ver se reencontro mais amigos... Até qualquer hora.
– Até – dissemos eu e juntos, vendo aquele elefante rosa se virar e rebolar nada graciosa pelo salão.
– “Amigos” – falei, fazendo aspas com as mãos. – Eu realmente mereço.
então apertou os olhos e disse:
– Se essa “amiga” a incomodou, espere pela que está vindo em nossa direção agora mesmo.
Virei meus olhos para olhar. Tão loira quanto antes e tão bonita como sempre (ainda com a mesma cara de má), era Claire Zizes. Acompanhada de um homem que parecia um nerd de óculos redondos e com um rosto engraçado.
– A gente devia cumprimentá-la – falei para que me olhou como se eu estivesse louca.
De todas as pessoas que eu esperava encontrar naquele lugar, Claire era a única que eu desejava arduamente que não. Ela sempre tinha aquele efeito sobre mim, de me fazer sentir mal comigo mesma. Porém, por incrível que pareça, naquele dia eu queria falar com ela, mostrar a todas aquelas pessoas que eu não era rancorosa e que o passado estava onde deveria estar. Além do mais, Claire havia sido para mim uma espécie de ídolo na adolescência (mesmo que de um jeito estranho). Afinal, por mais que eu a odiasse, tudo que eu queria era ser como ela.
Os nossos olhares então se cruzaram. Ela parou de supetão e pareceu confusa sobre o que fazer. Abri um sorriso caloroso e disse:
– Oi, Claire.
Primeiro, a mulher me encarou de forma profunda. Depois respondeu o sorriso do melhor jeito que pôde e disse:
. . Mas que surpresa encontrá-los aqui. Este é o meu marido, Mario. Conhecemo-nos na faculdade – apresentou ela.
– Olá – murmuramos eu e para o homem que respondeu com um aceno educado.
– Estão em Ambler a passeio? – perguntou o marido de Claire.
– Mudamo-nos para cá. De volta às raízes – disse calmamente.
– É, eu soube – respondeu ela, olhando para baixo. – Soube também que sua filha vai estudar na Ambler High. Minha garota é daqui também. E é líder de torcida como nós. Vão ser colegas de classe.
– Que legal. Lily ainda não é líder, mas ela já mostra um interesse – comentei.
– Ela vai mostrar. Espero de coração que elas sejam amigas. Seria um novo começo – disse Claire com um tom sincero.
Sorri abertamente.
– É. Um novo começo.

XX


e eu saímos mais cedo, logo depois de dançarmos umas duas músicas lentas. Ir até lá tinha sido divertido, porém a verdade é que, desde sempre, e para sempre, a única coisa que gostávamos mesmo (além de nossa filha) era um do outro.
E aonde fomos ao fim da noite? Sim, ao lago. Aquele lago, onde passamos metade da nossa adolescência contando estrelas e juramos nosso amor eterno quinze anos antes.
– Amo esse lugar – disse . – As estrelas aqui são muito mais fáceis de ver do que em Jersey.
– Normal, amor – respondi. – Cidades pequenas são assim.
– Não é só por isso que gosto daqui. Você sabe... É o nosso lugar. Tudo que você pode ver aqui lembra nós dois. Até a lixeira na entrada.
Soltei uma gargalhada e o abracei. Ficamos assim por um tempo.
– Sabe – começou ele. – Já faz quinze anos... E às vezes não consigo acreditar que ficamos juntos de verdade.
– Nem eu. É tão perfeito com você – respondi.
– Não é por ser perfeito. É só porque... É tudo que sempre quis. E nunca vou me cansar disso.
– Eu não soube disso por muito tempo... Mas quer saber de uma coisa? Agora eu sei. Estar com você é tudo que sempre quis também.
Não dissemos mais nada. Não precisávamos dizer. Nossas experiências até ali diziam mais que qualquer palavra. Sabíamos apenas que ali era para sempre e . Eu, ele, as estrelas, o lago, Ambler, nosso amor e a eternidade.
Tudo o que eu queria.


Fim



Nota da autora: Vocês não imaginam o quanto eu estou chorando. Eu amo tanto essa fic e nada corta tanto meu coração quanto ela acabar!
Foram quase dois anos de fic (chequei agora meu primeiro e-mail com a minha queria beta, Ana linda) e confesso que venho enrolando esse final porque não queria que chegasse. Amo essa história em todos os sentidos, independente de acharem boa ou não, mas obviamente esperando que achem! Hahaha.
Tenho muitos agradecimentos a fazer. Queria agradecer a todos e a cada um que leu e comentou essa fic. Só tenho a agradecer por todo o carinho e apoio que recebi. Geralmente faço um agradecimento enorme com o nome de todo mundo que comentou desde o início, mas, como o site mudou a caixa de comentários e perdi os meus, não posso fazer isso, infelizmente. Porém, sintam-se agradecidos de coração. Vocês foram muito importantes no desenrolar dessa história. Especialmente aqueles que insistiram todas as vezes em que desanimei.
Quero que saibam que amo falar com vocês e espero que continuem vindo conversar no twitter ou no fb (Marcella Moreira)... Afinal, vocês leitores são a razão de ser de qualquer fanfic.
Também quero agradecer a qualquer pessoa que esteja lendo depois de finalizada! Vocês são as pessoas que mantêm as fics antigas vivas, kakakaka.
Agradeço também a vocês que me elegeram autora do mês no ano passado. Fiquei muito feliz e sei que foram vocês, leitores de AIW, os responsáveis (os de The Jack também, mas mando outro beijo pra vocês quando finalizar lá).
Obrigada a todas as meninas da antiga tag (salve tag!), que me ajudaram com inúmeras sugestões de músicas, rumos para a história e até problemas pessoais que não vêm ao caso. Se alguma de vocês chegar a ler isso, saibam que sinto muita falta desse tempo.
E obrigada à minha querida beta, Ana, que aceitou essa fic quando eu estava mais perdida que cego em tiroteio. A Aninha nos acolheu mesmo estando indisponível e detalhe: EU APRENDI A FAZER SCRIPT SÓ QUANDO A FIC ESTAVA LÁ PELO CAPITULO 23 OU 24. OU SEJA, POBRE ANA!! Muito obrigada pela paciência, por me situar no site, por ser uma pessoa ótima. E desculpe pela pegadinha do teste falso (kakakaka).
Queria mandar um beijo especial pra Giovanna que era só minha leitora e agora é minha best de ferveção. É muito boa de gossip e me deu de aniversário uma caneca escrito “Diva não bebe. Degusta”, o que foi provavelmente um dos presentes mais geniais da História. E beijo também para na Julinha, esperando que você não leia The Jack antes dos quinze. Afinal, tem muita coisa feia lá!
Enfim, gente... É isso aí. Obrigada de novo e saibam que amo vocês.
E amo também o e a para sempre...
Beijos com muito amor,
Cell Moreira

Nota da beta: Ai, Cell, sua linda, AUHUASHUSASA.
Admito que não agüentei e vim aqui deixar em N/B surpresa. /hm
Também fico muito triste que AIW tenha acabado. Digo, não me caiu a ficha ainda... Anyway, espero que comentem muito, muito e muito! Lotem essa trolha do Disqus.
Cell, não precisa me agradecer em nada. Fiz tudo com muito carinho. Obrigada por ter me escolhido como beta! /o/
FELIZ NATAL atrasado E BOM 2013!
Ana;







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