All She Dreams
by Cah (Kerouls)


01


A chuva forte caia do lado de fora da escura janela, os clarões constantes a assustavam fazendo com que ela se encolhesse cada vez mais na poltrona velha. Da sala ela ainda podia ouvir os gritos de seu pai e dos amigos dele enquanto jogavam e faziam apostas num jogo de cartas. Que morressem todos, não faria a mínima falta para ela.
Outro estrondo forte e mais risadas vindas da sala. Ela não era obrigada a ficar ali, seus dezoito anos recém completados a permitiam liberdade suficiente para sair daquela casa de um vez por todas, ela só precisava da ajuda de alguém, duvidava que conseguisse fazer tudo sozinha e por mais que se odiasse por isso, ela tinha medo, muito medo de seu pai.
Pegou o telefone em forma de hambúrguer que ficava ao lado da foto de sua mãe. Ela amava aquela foto, tinha tirado apenas alguns meses antes de sua mãe falecer em um acidente de carro. Sorriu fraco desejando com todas as forças que sua mãe tivesse sobrevivido e seu pai tivesse ido no lugar dela. Se isso tivesse acontecido, certamente as duas estariam felizes comemorando o aniversário de dezoito anos da garota.
Ouviu a voz alta do pai vinda da sala, seguida de mais risadas, olhou o telefone infantil em sua mão e discou os únicos números que sabia de cor, aqueles números lhe transmitiam uma calma somente pelo fato dela discá-los.
- Alô. – Aquela voz calma fez com que a respiração dela se acalmasse e seu corpo estremecesse.
- ? – Ela perguntou com a voz fraca, havia ficado calada por tanto tempo que sua própria voz a assustava.
- Eu mesmo... ? – Perguntou em duvida e a garota sorriu, o alivio percorrendo seu corpo. – Aconteceu alguma coisa? – Ele sempre sabia quando ela ligava apenas para ouvir a voz dele, ou quando ligava depois de alguma briga com o pai. Era como se eles tivessem a mente ligada, não era preciso mais do que uma palavra para que ele adivinhasse o que ela estava sentindo.
- Eu... eu quero ir embora. – Ela pediu olhando a rua escura do outro lado da janela. – Me tira daqui, por favor. – Suplicou abraçando os joelhos com força.
- Calma, me fala o que aconteceu. – Ele pediu sentando na cama e fechando a revista de musica que estava lendo. Ele sempre desviava toda a atenção para ela, não importava o que estivesse fazendo, às vezes tinha a impressão de que se estivesse no meio de um show pararia tudo para atendê-la, ou quem sabe até se estivesse transando com alguma mulher. Exagerado, mas ele achava que era verdade, apesar de desejar que isso nunca viesse realmente a acontecer.
- Não aconteceu nada, eu só quero sair daqui. Eu tenho dezoito anos agora, . Eu sei que posso sair daqui. Eu não agüento mais ter que morar sob o mesmo teto que ele, ter que agüentar ele falando mal da minha mãe e me chamando de vagabunda, eu não merecia ser chamada de vadia na frente dos amigos dele e no dia do meu aniversário. – Sentiu as lágrimas guardadas começarem a cair. Ela já tinha suportado demais até ali.
- Eu... – passou a mão pelo cabelo sem saber o que fazer. Antigamente tudo que ele tinha que fazer era cantar alguma musica para acalmá-la, ou ir até lá e ficar com ela até que dormisse, mas agora ele sabia que isso não ia mais adiantar. – Eu to indo aí, não sai do quarto, por favor. – Pediu se levantando e começando a caminhar pelo quarto catando a bermuda jeans e a camisa.
- Eu não vou. – respondeu antes de desligar o telefone e respirar fundo apoiando a cabeça no encosto da poltrona e fechando os olhos tentando fazer com que o tempo passasse mais rápido. Apenas mais alguns minutos e ele estaria ali, do que mais ela precisava?

Ouviu um barulho de fora da janela e sorriu consigo mesma jogando as roupas mais rapidamente dentro da mala. Segundos depois a janela foi aberta e apareceu sorrindo e ajeitando a roupa totalmente desarrumada por ter escalado uma arvore para entrar pela janela.
A garota sorriu fraco sentindo uma felicidade instantânea correr pelo corpo. Só de ver o rosto dele ela já sentia como se todos os problemas estivessem longe. Mordeu o lábio olhando as roupas jogadas pela cama e a mala aberta, voltou a jogá-las sem o menor cuidado dentro dela.
olhou a porta fechada do quarto e fez careta ao ouvir as risadas escandalosas vindo da sala. Caminhou até onde estava e a ajudou a botar as roupas dentro da mala.
- Parabéns. – Ele a olhou sorrindo, era a segunda vez que ele falava aquilo, mas agora ela podia ter certeza que ele estava sorrindo, e era só pra ela. A menina sorriu de volta o encarando por alguns breves segundos. Quem olhasse de fora iria dizer que a relação deles era no mínimo estranha, mas eles tinham um mundinho particular e ali dentro somente eles se entendiam.


fechou a mala observando a menina sentada na cama com as pernas cruzadas, ela brincava com os dedos tentando espantar o medo que tinha a atingido em cheio quando pensou no que estava fazendo. Durante tantos anos tudo que ela mais quis foi ir embora daquela casa sem olhar pra trás, mas agora o medo tomava conta dela e ela não tinha mais tanta certeza sobre sua coragem de enfrentar seu pai e deixar tudo pra trás. Suspirou pesadamente sentindo sentar ao seu lado e segurar suas mãos que se mexiam incontrolavelmente.
- Vai dar tudo certo. – Ele sussurrou beijando seu ombro descoberto e ela mordeu o lábio balançando a cabeça afirmativamente.
Claro que ia, ele estava ali com ela.
Mais uma vez a gritaria vinda da sala tomou conta do quarto. respirou fundo e olhou a mala em sua frente, ela ia sair dali, não importava se teria que brigar com seu pai, estava ali ao lado dela, ela não precisava de mais nada.
- Vamos. – Se levantou calçando o tênis e vestindo o moletom duas vezes maior que ela. concordou silenciosamente e pegou a mala da garota.
Ela fechou os olhos por cinco segundos respirando fundo e abriu a porta do quarto sentindo a luz forte do corredor machucar seus olhos. Caminhou até a escada e parou ouvindo a voz alta de seu pai seguida de risadas.
Ela ia conseguir, sabia que ia.
segurou sua mão a apertando levemente e ela observou seu rosto sereno.
Começou a descer as escadas o mais lentamente que pôde ainda segurando firmemente a mão de . Quando chegou ao ultimo degrau sentiu a sala cair num silêncio assustador e encarou o rosto dos seis homens naquela sala, deixando seu pai por ultimo.
- Como diabos você entrou aqui, moleque? – Perguntou ríspido olhando de para . – E aonde vocês pensam que vão com essa mala? – Se levantou apertando os olhos, mas continuou onde estava.
- Eu vou embora. – ouviu sua voz firme falar.
- Embora? – Ele riu sarcástico olhando para os amigos que também riram. – E pra onde você pretende ir? Morar na rua e sobreviver com o dinheiro que algum velho idiota te der depois de uma noite de sexo? – Voltou a olhar para a filha.
sentiu enrijecer e apertou sua mão ainda mais forte.
- Ela vai pra minha casa. – Respondeu calmamente.
- Pra sua casa? – Perguntou dando alguns passos em direção a eles. – O que ela prometeu pra você? Sexo de graça? – Riu.
o olhou apertando os olhos e tentando manter a calma.
- Me espera no carro. – Falou baixo entregando a mala para . Ela concordou com um breve aceno de cabeça.
- Não ouse pisar o pé fora dessa casa! – Seu pai rosnou a olhando feio.
A menina o ignorou e caminhou até a porta sentindo todo o corpo tremer.
- Volte aqui, sua vagabundazinha! – Começou a caminhar até ela, mas entrou no meio do caminho.
- Não encosta suas mãos sujas nela! – Falou respirando fundo para controlar a raiva.
- Saia da minha frente, seu moleque. Essa vadia não merece que você a defenda! – parou de caminhar quando estava quase na porta.
- , vai pro carro! – ordenou ainda parado entre a garota e seu pai.
Ela não sabia se tinha forças suficientes para caminhar até o carro. Sua visão estava embaçada por causa das lágrimas que ela insista em não deixar cair e suas pernas tremiam fora de seu controle. Seu coração parecia que estava sendo perfurado por milhares de lâminas, ela podia odiar aquele homem parado a alguns metros dela, mas ele ainda era seu pai, ele devia ser seu porto seguro.
- Nem mesmo seu primo conseguiu escapar de suas garras. – A voz de seu pai a puxou de volta para a realidade. – É por isso que você é igualzinha a sua mãe! Aquela ordinária foi capaz de me trair com o próprio primo, e agora você tá seguindo os passos dela! Vocês duas não valem nada... – preferiu não ouvir o resto, nada que saísse da boca dele a importaria mais, ela só precisava dar alguns passos até a porta.
Quando sentiu o ar gélido do lado de fora tocar seu rosto, ouviu alguém gritar e depois a mão de a empurrar para fora e pegar a mala de sua mão.
- Corre! – Ele falou com a voz abafada a puxando para o carro estacionado alguns metros dali. De relance ela viu seu pai caído no chão e os amigos indo até ele.
Entrou no banco do carona sentindo cada parte de seu corpo tremer e viu entrar no carro segundos depois, jogar a mala no banco de trás e acelerar o carro cantando pneus. Seu pai e os amigos saíram da casa exatamente nessa hora, apenas a tempo de ver os dois sumindo pela rua escura.

Sentia as lágrimas caírem seu controle por seu rosto e seus soluços ficarem cada vez mais altos, seus braços abraçavam suas pernas com força e ela tinha medo de soltar e sentir seu corpo se partir. O carro estacionou no que parecia uma lanchonete e ela sentiu os braços de a puxarem para seu colo, era só aquilo que ela precisava, que ela sempre precisou e sempre precisaria.
- Me desculpa, eu não queria ter feito aquilo. – Ele sussurrou beijando sua testa e abraçando mais forte. – Não na sua frente. – Completou mais baixo.
A vontade de socar o pai de não era nova. Ele sempre quisera botar aquele verme em seu lugar, quem ele pensava que era pra falar aquelas barbaridades para a própria filha? Não que fosse a primeira vez que ele maltratava a menina e xingava sua finada mulher, mas dessa vez ele passara de todos os limites.
- Você não devia ter feito aquilo. – Ela conseguiu falar entre os soluços. – Ele pode vir atrás de você, . – O abraçou mais apertado como se aquilo pudesse protegê-lo.
- Ele não vai vim atrás de mim, . Fica tranqüila. – Ele segurou o rosto da menina em suas mãos e passou o polegar para limpar suas lágrimas. – Tá com fome? – Ele sorriu tentando distraí-la, e agradeceu mentalmente quando ela riu balançando a cabeça afirmativamente.
Soltaram do carro rapidamente por causa da chuva que voltava a cair e entraram na lanchonete praticamente vazia.
observou as fotos dos enormes sanduíches que ficavam logo a cima do balcão de atendimento e percebeu o quão faminta estava. A ultima vez que sequer tinha visto comida fora logo pela manhã quando seu pai não estava em casa, depois que ele chegou, ela decidira se trancar no quarto, era melhor não ter que olhar para a cara rabugenta dele.
Mordeu o lábio em duvida ainda observando as várias opções de sanduíche.
- Não sei pra que olha tanto se no final vai pedir um sanduíche de frango com queijo, alface e tomate. – comentou sorrindo. Ah droga, ela tinha esquecido que ele a conhecia melhor do que ela mesma e seria capaz de tomar decisões muito melhores que as dela.
- Ok, eu me rendo! – Ela brincou.
Um atendente parou sorrindo na frente dos dois e começou a pedir seu sanduíche.
- E pra namorada? – O atendente sorriu para deixando a garota absurdamente sem graça e satisfeita. Como se ela se importasse em se passar por namorada do cara que ela amava.
- Prima, na verdade! – corrigiu. Ah sim, mas ele se importava. O atendente sorriu um pouco sem graça. – Você devia ir sentar, daqui a pouco eu vou. – concordou com um aceno de cabeça e caminhou até o canto da lanchonete onde ficava a parede de vidro.
Sentou no sofá encostado na parede e cruzou as pernas observando as luzes dos carros passarem pela rua. Sua mente vagou pelas lembranças que tinha de sua infância.
O casamento dos pais nunca fora um mar de flores, mas eles eram uma família comum britânica que morava em um bairro de classe média e vivia uma vida pacata. Um dia seu pai chegou bêbado em casa acusando sua mãe de traí-lo com o primo e a partir daí a situação só se complicou. Ela via o pai chegar quase todos os dias bêbado em casa e ameaçar sua mãe, até o dia em que eles sofreram um acidente de carro e somente seu pai sobreviveu.
tinha nove anos quando isso aconteceu e ainda podia lembrar quando sua tia, irmã de sua mãe, foi buscá-la em casa com , seu filho adotivo, quatro anos mais velho que , dizendo que seus pais tinham sofrido um acidente e sua mãe não havia sobrevivido.
A partir dali fora sempre que estivera ao seu lado, alguns anos depois a mãe adotiva dele também se foi, mas ele por já ser maior de idade não precisou ficar sob a guarda de nenhum adulto.

- ? – a chamou pela terceira vez e a menina balançou a cabeça o olhando.
- Desculpa, me distrai. – Ela sorriu fraco pegando o sanduíche que estava em sua frente. a olhou alguns instantes, mas sabia que não devia perguntar o que a distraíra, ela odiava quando as pessoas a despertavam de seus devaneios e perguntavam sobre o que estava pensando.
Comeram em silêncio absortos demais em seus próprios pensamentos. Hora ou outra trocavam olhares cúmplices como se soubessem exatamente no que estavam pensando.
ainda pensava na possibilidade de seu pai aparecer a qualquer momento e a levar de volta pra casa a força, mesmo sabendo que isso dificilmente aconteceria, ele nem ao menos sabia onde morava.
ainda pensava no que faria a respeito da prima, ele não se importava que ela fosse morar com ele, já que desde sempre ele se sentia responsável por ela, mas sua rotina teria que mudar muito dali por diante.

- Não liga pra bagunça, ok? – sorriu um pouco sem graça e abriu a porta do loft deixando que entrasse primeiro. – Os caras vieram aqui hoje, e eu ainda não tive tempo de dar uma arrumada.
o olhou sorrindo, ela amava a independência dele. Tinha seu próprio apartamento, seu próprio carro e trabalhava como musico tocando algumas noites em bares junto com os amigos, mesmo com a boa quantidade de dinheiro que sua mãe adotiva havia lhe deixado como herança.
- Sabe que meu sonho sempre foi morar em um loft? – Ela falou observando a cozinha e a sala. Quase tudo na casa era branco. Ela gostava de branco.
Branco é tão neutro, e ao mesmo tempo é a junção de todas as cores.
É, branco é legal.
- Hm... realizei um sonho no dia do seu aniversário! – sorriu bobo fazendo a menina rir. Como se o sorriso dele já não fosse suficiente pra ela ter o melhor aniversário de todos. – Então, se importa de dormir no sofá? Você sempre diz que o sofá daqui é bom. – Apontou o sofá preto que contrastava com a maioria dos móveis.
- Claro que não, outro sonho realizado. Sempre quis roubar esse sofá! – Ela pulou no sofá sorrindo. Era tão macio e confortável, e o melhor de tudo é que ele tinha o cheiro de . Não só o sofá, a casa inteira tinha o cheiro dele.
- Ok, acho que chega de desejos realizados, certo? Já estou me sentindo como sua fada madrinha. – Ele botou a mala dela do lado do sofá.
- Ainda falta um. – Ela falou baixo, pra si mesma.
- O que? – Ele perguntou e ela se espantou ao perceber que ele tinha ouvido.
Malditos pensamentos que teimam em serem ditos audivelmente.
- Nada. – Respondeu balançando a cabeça, ela precisava aprender a ficar calada.
- Agora que eu já realizei dois, acho que posso realizar mais um. – Ele sorriu se agachando em frente a ela no sofá.
balançou a cabeça novamente negando.
Não que ele não soubesse o que ela sentia por ele, porque ele sabia. Não que eles nunca tivessem se beijado, porque eles já tinham. Não que ele não já houvesse deixado claro através de gestos e palavras que sentia um amor de irmão em relação a ela, porque ele já havia.
Mas quem era ela pra mandar no próprio coração?
Suspirou pesadamente.
- Fecha os olhos. – Ela falou baixo se aproximando dele, ainda sentada no sofá. arqueou a sobrancelha sem entender. mordeu o lábio insegura e viu o primo fechar os olhos.
A sala caiu em silêncio enquanto ela observava o rosto dele por alguns instantes. Ela já conhecia cada traço do rosto dele, cada expressão e até sabia de cor onde ficavam algumas poucas pintinhas espalhadas pelo rosto dele.
Tocou os lábios do menino com os seus, ainda incerta sobre seu ato.
As milhares de sensações que ela sentia eram tão fortes que a assustavam. Era como se todo seu corpo se entregasse aquele beijo, cada pedaço seu reagia de uma forma. Ela havia passado tanto tempo sem aquelas sensações, que já tinha esquecido como aquilo era bom e quão bem fazia a ela.
O beijo durou no máximo dez segundos. Não havia mãos explorando o corpo um do outro e nem saliva sendo trocada. Era um beijo simples, mas que havia muito mais sentimento e significado do que qualquer outro beijo.
se afastou lentamente ainda de olhos fechados, tentando guardar aquelas sensações dentro de si. Abriu os olhos observando suas mãos em seu colo, sem coragem de encarar os olhos que a fitavam logo a sua frente. deu um beijo rápido na testa da menina e se levantou em silêncio indo para seu quarto.
A garota permaneceu sentada no sofá, sem mover um músculo sequer. Ela ainda sentia as sensações passarem por todo seu corpo e esperava seu coração voltar a bater no ritmo normal. Esperou por quase cinco minutos, parecia ter ido realmente dormir, ou pelo menos estava deitado em silêncio. Suspirou pesadamente e separou uma roupa para dormir entrando no banheiro em seguida. Escovou os dentes e prendeu o cabelo num rabo de cavalo frouxo. Observou seu rosto em seu pálido usual e tocou levemente seus lábios com as pontas dos dedos.
Voltou para o sofá e arrumou as almofadas e o travesseiro de estimação que tinha levado de casa, sua cabeça ainda girava e o misto de emoções que sentira minutos atrás ainda a assustava, mas se ela pudesse escolher, poderia sentir aquelas emoções pelo resto da vida.



02


abriu os olhos lentamente, sentindo o cheiro de café invadir suas narinas. Olhou o teto alto e branco e lembrou da noite anterior se assustando quando o barulho de alguma coisa caindo veio do que ela achava que fosse a cozinha. Levantou um pouco a cabeça e viu abaixado pegando algum objeto prateado caído no chão. Sentou no sofá lentamente e esfregou os olhos.
- Te acordei, né? Desculpa. – falou num tom audível, mas bem baixo.
- Sem problemas. – Respondeu no mesmo tom. – Eu já estava acordada. – Completou se levantando e arrumando o sofá.
A menina pegou uma roupa qualquer dentro da mala que ainda estava ao lado do sofá e entrou no banheiro para fazer sua higiene matinal. Saiu poucos minutos depois, guardou a roupa de dormir na mala e foi até a cozinha ainda sem saber direito como falar com .
- Er... bom dia. – Falou baixo fazendo desenhos na mesa ao centro da cozinha em sinal de nervoso. estava de costas, ao que parecia, esperando as torradas serem jogadas para fora da torradeira.
- Bom dia. – Falou virando um pouco o rosto sorrindo levemente para a menina.
A torradeira apitou e duas torradas pularam para fora. pegou um prato e depositou as duas torradas.
- Você prefere manteiga ou... – Ele parou observando a menina de cima a baixo. Aquele short jeans era perigosamente curto, e os pensamentos do menino eram perigosamente luxuriosos.
Puta merda.
Foi a única coisa que ele conseguiu pensar observando as pernas dela.
arqueou a sobrancelha sem entender a falta momentânea de fala do menino. Os olhos dele em suas pernas a fizeram sorrir, sem graça e maliciosa.
- Manteiga ou geléia? – Ele perguntou balançando a cabeça e indo até a geladeira fazendo caretas. Que droga foi aquela? E por que ele não podia ter sido um pouco mais discreto?
- Geléia. – respondeu simplesmente.

# Flashback (17 anos antes)

- Como é o nome dela? – O garoto perguntou observando o bebê se mexer no berço.
- O nome dela é . – Sua mãe respondeu sorrindo. – Ela é sua nova prima! – Falou passando a mão pelo cabelo de . O menino sorriu olhando da mãe adotiva para a prima.
- Ela é bonita! – Ele comentou quando o bebê o olhou e sorriu. Sorriu de volta ainda encantado com os grandes olhos brilhantes que o encaravam.
- Querem fazer um lanche? Comprei algumas coisas, inclusive seu chá preferido! – A mãe de sorriu para a irmã.
- Claro, vamos lá! , vamos lanchar? – Perguntou sorrindo para o filho recém-adotado.
Quando soube que não poderia ter filhos nem cogitou a possibilidade de adotar um. Ela queria um herdeiro que tivesse seu sangue, seus traços. Ver a irmã grávida a deixava com ainda mais vontade de ter um filho. Pouco depois de nascer ela resolveu visitar um orfanato, mesmo sabendo que aquilo não era o que ela realmente queria. Depois de observar as crianças dali, tão diferentes umas das outras, cada uma com sua história, ela se perguntou se seria capaz de adotar algumas delas, foi quando apareceu sorrindo pra ela.
- Posso ficar um pouco com ela? – O garoto apontou o berço e as duas mulheres sorriram.
- Claro que pode, meu anjo! – A mãe de o olhou ternamente e saiu do quarto com a irmã.
observou as duas mulheres saírem do quarto conversando e caminhou novamente até o berço. estava de olhos fechados, a respiração tranqüila e calma fez o menino segurar na grade do berço e apenas observá-la em silêncio.
Minutos depois a menina abriu os olhos calmamente, sorriu e passou um dos braços por entre as grades botando o dedo indicador na pequena palma da mão do bebê. sorriu e apertou o dedo dele.
- Oi, ! Meu nome é , eu sou seu novo primo. – Falou como se estivesse conversando com alguém da sua idade. – Posso te chamar de ? – A menina continuou sorrindo para ele, como se pudesse entender cada palavra.
emitiu um som pela boca, como se quisesse falar alguma coisa e riu levando o dedo de até sua boca ainda sem dentes.
- A minha mãe é irmã da sua mãe, e ela me adotou faz alguns dias. – O menino continuou falando enquanto a menina brincava com seu dedo. – Eu não conheci meus pais verdadeiros, mas fiquei muito feliz por ter conhecido minha nova mãe. – Sorriu vendo o bebê depositar a pequena mão, em cima de sua palma, um pouco maior. Ela o olhou sem sorrir, os olhos brilhantes vidrados nos olhos do menino. não desviou o olhar, continuou a encarando sentindo a leveza de sua mão em cima da mão dele.
- De hoje em diante, eu vou proteger você, . De qualquer coisa, prometo. – Sorriu segurando a delicada mão da menina entre seus dedos.

sempre fora maduro demais para a idade, quando chegou ao orfanato, com poucos meses de vida, todas as freiras se apaixonaram pelo pequeno menino branquinho de olhos . Aos dois anos já conversava com todas as freiras e sabia seus nomes de cor, sempre fora muito brincalhão, mas não gostava de ficar brincando com as outras crianças. Era como se elas fossem de um mundo diferente do dele, como se ele fosse mais maduro que elas e estivesse ali apenas para protegê-las. Muitos casais que iam até o orfanato se apaixonavam por ele, mas diferente do que todos imaginavam, apenas se portava mal na frente dessas pessoas, ele não queria ser levado embora dali, não por aquelas pessoas.
Pouco depois do seu aniversário de quatro anos, ele estava brincando no jardim do orfanato e viu uma mulher jovem e bonita observar as crianças com um brilho no olhar. correu para o quarto dos meninos no andar de cima e sentou na cama ofegante por causa da corrida. O olhar daquela mulher era diferente de qualquer outro que ele já tinha visto. Sentiu o coração voltar a bater no ritmo normal e se levantou respirando fundo, era hora dele ir embora dali. Desceu as escadas calmamente e viu que a mulher estava na porta do orfanato conversando com uma das freiras. Ficou em pé no ultimo degrau da escada e quando a mulher o olhou ele sorriu.

- , meu amor, você não quer comer nada? – As duas mulheres voltaram para o quarto rosa claro com alguns desenhos nas paredes.
- Quero. – respondeu e depois olhou para . – Mas antes, posso segurar ela? – Perguntou inseguro. A mãe de o olhou por alguns instantes, ela achava incrível a forma como os olhos de eram verdadeiros e transmitiam tantos sentimentos de uma vez só.
- Pode sim, só toma muito cuidado, tá bom? Ela é muito delicada. – Tirou a filha do berço e se ajoelhou ficando na altura do garoto que sorria. – Bota o braço assim como o meu e segura firme. – Ela deu as instruções e depositou nos braços magrinhos dele.
sorriu observando o rosto de agora mais de perto, levantou uma das mãos e tocou o queixo dele.
As duas mulheres observaram a cena um pouco assustadas, nunca reagia muito bem quando ficava no colo de alguém que não fosse a própria mãe, mas ali, no colo de , ela parecia tão natural.
Os braços dele em volta dela faziam o perfeito encaixe para o corpo pequeno e frágil dela.

# End of flashback


mudava os canais da televisão compulsivamente sem achar nada que a interessasse.
- , pára de mudar os canais assim! – falou do andar de cima e ela deu de ombros.
- Não tem nada legal passando! – Resmungou.
- Então desliga. – Ele riu.
- Se você me der outra opção para passar o tempo, eu desligo! – Respondeu ainda zapeando os canais. Noticiários, filmes, desenhos, programas de auditório, de culinária, de vendas... nada a interessava.
- Veste uma roupa de frio! – falou do andar de cima e entrou no banheiro deixando a menina sem entender. Deu de ombros desligando a televisão e procurou por roupas de frio na mala.
Quando saiu do banheiro, estava no sofá vestindo uma calça jeans, um moletom com outro casaco por cima e a toca listrada que ela havia dado de presente no ultimo aniversário dele, afirmando que fora feita especialmente pra ele.
- Aonde vamos? – Perguntou curiosa arrumando o cachecol em volta do seu pescoço.
- Patinar! – sorriu se levantando e riu quando o sorriso no rosto da menina desapareceu.
- , você sabe que eu sou péssima nisso. Ainda tenho marcas da ultima vez que você me arrastou pra uma pista de patinação. – Ela apontou o joelho coberto pela calça jeans, mas que os dois sabiam que havia uma pequena cicatriz.
- Você não vai cair, ! É só não inventar de querer girar ou andar num pé só! – Ele sorriu abrindo a porta do loft e a menina bufou se dando por vencida.

- Pronto, tá seguro! – ficou de pé após arrumar os patins de . Ela observou a pista cheia de pessoas sorridentes patinando como profissionais.
- Eu não vou conseguir! – Falou baixo observando os patins azuis claro que tinha escolhido pra ela.
- Claro que vai. – Ele segurou as duas mãos dela e a levantou. sentiu os pés doerem um pouco, mas conseguiu se estabilizar em cima deles. – Confia em mim? – perguntou sério a olhando nos olhos. Ela apenas balançou a cabeça concordando, sem conseguir achar palavras que fizessem sentido. Ele sorriu e a guiou até a entrada da pista.
pisou primeiro no gelo sem maiores dificuldades ainda segurando a mão da prima que o observava em silêncio. Ele arqueou a sobrancelha a olhando, como se questionasse se ela ia continuar parada. Respirou fundo e pisou na pista sentindo os patins já deslizarem um pouco. Com uma mão ela segurava a de e a outra estava firme na grade que circulava a grande pista de gelo.
- , solta a mão da grade. – riu ficando de frente para ela e retirando sua mão da grade. – Não fica olhando pra baixo, olha pra frente! – Falou andando lentamente de costas e vendo a menina respirar fundo e começar a se mexer.
- , você vai cair andando de costas. – Ela reclamou um pouco irritada.
- Não vou cair, você não deixaria. Confio em você. – Sorriu andando um pouco mais rápido.
- AI, AI, AI. CALMA!! – A menina gritou desesperada o fazendo rir alto. – É SÉRIO, DROGA! NÃO RI! – Falou emburrada.
- Tá, a gente faz uma troca! Eu não dou risada se você confiar em mim e deixar de dar passos de tartaruga. Senão a gente só vai conseguir dar a volta na pista quando anoitecer.
- Háhá, muito engraçado! – Ele arqueou a sobrancelha. – Tá bom! – Bufou concordando e respirou fundo.
ficou ao lado dela segurando apenas uma mão e começou a patinar calmamente. não sabia se observava o jeito como o primo patinava, para tentar fazer igual, se olhava para frente para não esbarrar em ninguém, ou se olhava para os próprios pés. Lembrou que a aconselhou a olhar pra frente, e foi o que ela fez.
sorriu vendo a menina começar a patinar mais tranquilamente ainda segurando forte em sua mão.
- Lembra que a gente sempre patinava quando éramos crianças? – Ele riu levemente com a lembrança. o olhou sorrindo, era bom saber que ele também guardava as memórias da infância deles.
- Eu sempre tive medo, e você sempre ficava do meu lado me ajudando. – Mordeu o lábio deixando que as memórias da infância aparecessem pouco a pouco em sua mente. – Eu lembro quando você me trouxe aqui pela primeira vez. Era natal, e eu estava louca pra ver a árvore que eu ficava vendo na televisão, então você pediu pra sua mãe nos trazer até aqui e tapou meus olhos com uma venda...
- E você queria entrar na pista sem patins! – a interrompeu rindo.
- Eu tinha sete anos, ! – Ela deu um tapinha no braço do garoto. – Eu achei tudo tão mágico, acho que foi o melhor natal da minha vida. – Sorriu.
- Era mais legal quando a gente era criança. Não tínhamos tantas preocupações. – filosofou e o olhou rindo.
- Não que você alguma vez na vida já tenha sido criança, né? Você sempre foi um adulto no corpo de menino. – Ficou em silêncio alguns segundos. – Acho que foi por isso que eu me apaixonei por você. – Falou mais baixo e sentiu soltar sua mão e cair de bunda no gelo.
se virou assustada e começou a rir enquanto o primo fazia caretas tentando se levantar. Quando estendeu a mão para ajudá-lo a situação só piorou, já que ela também caiu.
- Aai, minha bunda! – Ela fez careta sentindo o gelo em contato com a calça jeans a incomodando.
- Espera, eu levanto e te ajudo. – conseguiu ficar em pé com algum esforço. – Me dá a mão e não deixa os patins deslizarem. – Falou segurando firme as duas mãos da menina.
Depois de algumas tentativas frustradas os dois ficaram de pé lado a lado.
- Machucou? – Ele perguntou preocupado e negou balançando a cabeça. Estendeu novamente a mão para a menina e recomeçaram a patinar tranquilamente. preferiu não tocar de novo não assunto, mesmo não entendo a reação exagerada de , não era novidade o fato dela admitir os sentimentos em relação à ele.

- Meu pé tá doendo, a gente devia ter vindo de carro. – comentou sentindo os pés apertarem dentro da bota. – E minha bunda tá doendo por causa de tanta queda. - Fez careta vendo sorrir.
- Conseguiu bater seu record de quedas. Nem da primeira vez você caiu tanto. – Ele balançou a cabeça rindo.
- Eu tenho problemas de equilibro com aquelas coisas. – Respondeu emburrada. Nunca fora boa em patinar, por mais que tentasse. Para ela a idéia de conseguir se equilibrar em cima de duas lâminas e ainda sair dando piruetas era absurda.
Sentiu o pé doer ainda mais quando tentou apressar o passo e choramingou começando a mancar.
- Tá doendo muito? – perguntou preocupado se virando de frente pra ela. confirmou balançando a cabeça e suspirando. – Desculpa, eu não devia ter te levado pra patinar, e nem muito menos ter ido sem carro.
- Claro que a culpa não é sua, . – Bufou um pouco irritada. Odiava quando ficava se culpando por tudo que acontecia à ela. – Eu consigo andar até em casa. É perto e a gente já andou bastante. – Falou voltando a andar.
- , a gente pega um táxi. – segurou no braço dela.
- Eu tô bem, vamos. Eu consigo andar! – Reclamou impaciente.
- Cara, por que você tem que ser tão teimosa? – Bufou andando mais rápido para alcançar a garota. – Me deixa ao menos te ajudar, vai. – Reclamou.
- O que você vai fazer, ? Me carregar nas costas? – Perguntou com os dentes trincados. Ela não era nenhuma criança chorona que precisava de ajuda só porque sentia uma dorzinha ali e aqui.
Viu entrar em sua frente ainda de costas e virar um pouco a cabeça para encará-la.
- Sobe! – Ele falou sério.
- , não vou subir na suas costas só porque eu tô sentindo uma droga de dor no pé! – Falou baixo e quando tentou passar por ele sentiu-o segurar firme em seu pulso.
- Sobe na droga das costas agora! – Mandou de um jeito autoritário e sentiu de vontade de estapeá-lo. – Agora! – Repetiu e a menina bufou batendo o pé com força no chão e fazendo uma careta logo depois.
- Droga! – Reclamou e abriu um pequeno sorriso no canto dos lábios. – Odeio você, ! – Exclamou baixo subindo nas costas do garoto.

resmungou impaciente e desceu das costas do primo assim que viraram a esquina do apartamento. Sua única vontade naquele momento era de bater em , por ele ficar se culpando por tudo e por fazê-la ir quase todo o caminho até em casa montada em suas costas. Maldita hora em que reclamou da dor no pé! Claro que ia arrumar uma maneira de se culpar por aquilo.
- Senhorita? – Ouviu uma voz praticamente cantar quando passou apressada pela frente de uma casa que parecia abandonada a algum tempo. Se virou encontrando um senhor que aparentava ter mais de setenta anos com um pequeno cachorro cor de chocolate no colo. – Não gostaria de adotar esse pequeno cão? – Perguntou docemente e sentiu o coração apertar ao ver o pequeno cachorro todo encolhido no colo do senhor.
- Ai, que coisa mais linda. – Falou sem se preocupar com que tinha se virado para ver onde ela estava.
- , o que você... – Começou a falar, mas a menina se virou sorrindo com o pequeno cachorro no colo.
- , olha que coisa mais linda! – Falou com um sorriso bobo, sem conseguir tirar os olhos do cachorro.
- , ele deve ter pulgas. – comentou baixo, mas o senhor ouviu.
- Não tem pulgas, meu jovem. O fato é que a minha cadela teve três filhotes algumas semanas atrás, mas infelizmente minha esposa adoeceu e eu não posso cuidar desses filhotes. Preciso apenas de pessoas que possam me ajudar, adotando-os, para que eu tenha certeza de que serão bem cuidados. – Explicou ainda com o mesmo sorriso doce nos lábios. – Os outros dois foram levados ontem por um casal e seu jovem filho que ficou encantado com eles, só não levou os três porque os pais não permitiram. Posso te mostrar que os cachorros foram bem cuidados e já estão vacinados, tenho os papéis aqui. – Falou abrindo uma maleta.
- Não precisa. – comentou um pouco sem graça.
- , podemos ficar com ele? – perguntou manhosa ainda encantada com o cachorro que respirava calmamente em seus braços.
- , eu acho que isso é um labrador, certo? – Olhou incerto para o senhor, que confirmou com um aceno de cabeça. – Cachorros dessa raça ficam enormes, como ele vai poder ficar lá no loft?
- E qual o problema, ? Seu loft é grande. – insistiu. – Olha só pra isso, como você consegue recusar uma coisinha linda dessas? – Botou o cachorro em frente ao rosto de que se afastou rolando os olhos.
- , não posso...
- Por favor! – O interrompeu fazendo cara de criança. – Por favor, por favor!! Eu não vou conseguir dormir em paz sabendo que abandonei essa pequena criatura aqui! Vai que alguém adota ele e o maltrata? – Falou pensando nas milhares de possibilidades. – E eu preciso de uma companhia pra quando você me abandonar sozinha no loft. – Deu de ombros e rolou os olhos mais uma vez. Sabia que ela não ia desistir.
- Eu só queria saber se vai adiantar eu dizer que não. – Falou já conformado que teria que agüentar um cachorro destruindo sua casa. Não que ele não gostasse, na verdade ele amava cachorros, mas não achava o loft um lugar ideal pra criar um.
- Não! – A menina sorriu vitoriosa.
se virou para o senhor que pegava os papéis da vacinação em uma pasta e começou a fazer algumas perguntas sobre o cachorro e que tipos de cuidado teria que ter enquanto se afastou um pouco fazendo carinho no cachorro que estava tão quieto que se ela não sentisse sua respiração, poderia jurar que estava morto.
Quando se deu conta já estava na porta do prédio, olhou pra trás vendo caminhar lentamente com alguns papéis na mão. Pelo olhar dele, ela já sabia que teria que o ouvir falar sobre responsabilidade e mais um monte de coisas que ela considerava besteiras saídas da boca de uma pessoa que era apenas quatro anos mais velha que ela.
- Antes que você fale alguma coisa... – Levantou o dedo indicador quando viu abrir a boca. – Você perguntou se é macho ou fêmea? – Fez uma cara inocente e bufou abrindo a porta do elevador para que ela entrasse.
- É macho, . Tem noção do que esse animal vai fazer com meu apartamento? Eu não vou me responsabilizar por qualquer dano que ele causar, seja aonde for, ouviu bem? Você já tem idade suficiente pra assumir responsabilidades... – preferiu não ouvir o resto do discurso. Sorriu fazendo carinho no focinho do cachorro que abriu os olhos preguiçosamente e encarou sua nova dona.
- HARTE! – Ela gritou assustando que aparentemente ainda fazia seu discurso. Ele a olhou sem entender. – O nome dele vai ser Harte! – Exclamou sorrindo.


03


Sentiu alguma coisa gelada e molhada em seu rosto e abriu os olhos com dificuldade. A respiração ofegante do pequeno cachorro atingiu seu rosto e ele choramingou baixo.
- Ah, não! – reclamou afastando o cachorro e passando a mão pelo rosto babado. – Que nojo, Harte! – Sentou na cama fazendo careta. Ele odiava ser acordado pelo labrador, que insistia em lamber seu rosto. – Porque você nunca acorda a , hein? – Observou o cachorro o olhar balançando o rabo e desistiu de entender por que só ele era sua vitima todas as manhãs.
Se levantou esfregando os olhos e deu um olhada rápida no relógio do criado mudo que indicava pouco mais de nove da manhã. Entrou no banheiro para fazer sua higiene matinal e o labrador, que agora tinha pouco mais de três meses, entrou junto.
- Até aqui você me persegue. – Reclamou olhando o cachorro se sentar perto do vaso sanitário e o observar enquanto escovava os dentes. Passou água pelo rosto e bagunçou os cabelos numa tentativa frustrada de arrumá-los.
Desceu as escadas observando encolhida no sofá, a respiração era calma e pausada e os cabelos estavam espalhados pelo travesseiro quase formando um leque perfeito. Desviou o olhar para as pernas descobertas dela e respirou fundo balançando a cabeça antes que algum pensamento impróprio surgisse.
Caminhou até a cozinha ainda com Harte em seu encalço que balançava o rabo sem parar.
- Cara, larga do meu pé. – Reclamou baixo pegando um suco na geladeira.
se mexeu um pouco e o cachorro foi até lá sentando em frente ao sofá. balançou a cabeça pensando que aquele cachorro só podia ter alguma coisa contra ele, por que com ele apenas observava e nunca lambia o rosto dela a acordando?
Foi até onde Harte estava sentado e parou também observando a menina dormir, não faria mal se ele a acordasse da mesma forma, afinal o cachorro era dela.
Sentou em frente ao sofá e pegou Harte no colo resmungando quando o cachorro lambeu seu rosto, que mania desagradável! Aproximou-se de e botou o cachorro bem na frente do rosto dela. Esperou alguns segundos até que finalmente Harte resolveu lamber a dona.
resmungou alguma coisa e o cachorro começou a balançou o rabo lambendo novamente seu rosto.
- Não! – Falou sem abrir os olhos, cobrindo o rosto com uma mão. riu baixo. – Pára, ! – Resmungou afastando o cachorro.
- O cachorro é seu, e ele me acorda todos os dias assim! – Deu de ombros. – Por sinal, ele precisa de um banho. Acorde e vá dar banho nele! – Deu um beijo na testa da menina e se levantou botando o cachorro no sofá junto com ela.
- Harte, você tá fedendo! – Reclamou tirando o cachorro do sofá.
- Tirar ele do sofá não vai melhorar a situação! – falou fazendo a menina bufar. – Vai logo, ! Vem tomar café e depois você dá banho nele.
- Você me ajuda? – Perguntou manhosa ainda deitada. ficou em silêncio. – Quem cala consente! – Riu.
- Levanta, ! – O menino falou num tom engraçado.
- Aaai, que saco! – se sentou passando a mão pelo cabelo e prendendo-o em um coque frouxo. Se levantou entrando no banheiro em seguida, escovou os dentes e molhou o rosto com água gelada numa tentativa de acordar. – Ok, levantei! – Sorriu sentando na bancada da cozinha.
- Ótimo, agora come e depois dá um banho no vira-lata!
- Hei, vira-lata o cacete! Respeite meu labrador lindo! – Ela mandou beijo para o cachorro que a observava deitado no chão e riu. – Vai me ajudar, não vaai? – Insistiu olhando para o primo. – E não venha com o papo sobre responsabilidade. Você não tá fazendo nada, não custa me ajudar! – Reclamou.
- Cara, era tão mais legal quando você não falava! – fez careta balançando a cabeça.
- Era! Até eu falar minha primeira palavra e nunca mais te deixar em paz! – brincou e os dois sorriram.

# Flashback (16 anos antes)

engatinhou pela sala até o pequeno urso de pelúcia que estava em cima do sofá e com algum esforço ficou de pé, apenas a tempo de segurar o urso, depois caiu sentada. Olhou para a mãe ainda em dúvida se chorava ou ria, quando a mãe sorriu, ela faz o mesmo.
Resmungou alguma coisa indecifrável levantando o objeto em sua mão.
- Você gosta do ursinho que o te deu, meu amor? – Sua mãe perguntou sorrindo. A menina deu um de seus típicos gritinhos animados, mostrando sua boca ainda sem dentes.
Emily observou a filha brincar com o pequeno urso branco que segurava um coração com as duas mãos. Entre tantos outros brinquedos espalhados pela sala, o único que realmente dava atenção era ao que tinha lhe dado em seu aniversário de um ano.
A menina engatinhou até o colo da mãe e apontou um porta-retrato que estava na mesinha ao lado do sofá. Emily sorriu pegando objeto que continha uma foto de segurando no colo, a foto fora tirada em um das milhares de vezes em que o garoto ia para a casa da tia e passava o dia inteiro brincando com a prima e fazendo-a rir.
botou a mão na foto e sorriu para a mãe.
- É o esse aqui? – Perguntou brincando e a menina riu batendo a mão na foto, animada. Emitiu um som pela boca como se quisesse falar alguma coisa e a mãe sorriu. – Você gosta muito do , não, é meu amor? – Perguntou amorosa.
- ! – A menina falou de um jeito embolado, mas claro e alto.
Emily abriu a boca tentando falar alguma coisa, mas não emitiu som algum. Aquela era a primeira palavra que falava, e ela ainda piscava os olhos fortemente sem saber se fora realmente real. Sua bebêzinha, sua menina... tinha acabado de falar a primeira palavra, e ela fora simplesmente o nome de seu primo.
Pegou o telefone rapidamente e digitou o numero da casa de sua irmã. Depois de três toques, a mesma atendeu.
- A falou! A falou a primeira palavra dela!! – Gritou animada e a filha a olhou sem entender.
- Aw, perdi esse momento! – A tia se lamentou. – E o adoraria ter visto também! – Pensou em como o filho sempre tentava fazer com que falasse.
- Ele adoraria mesmo, ainda mais se soubesse que foi o nome dele que ela falou! – Disse ainda sem acreditar e a irmã ficou alguns instantes em silêncio.
- Tá falando sério? – Perguntou incrédula e a irmã riu do outro lado da linha.
- Completamente sério! Ela simplesmente pegou o porta-retrato que fica aqui na sala, aquele em que o tá segurando ela no colo, e quando eu menos esperava ela falou '!' – Riu.
- Ai-meu-Deus! – Olhou a foto de com que fora tirada no mesmo dia em que a outra e sorriu. – Seria loucura minha pensar que esses dois foram... destinados um pro outro? – Falou sem nem ao menos acreditar nas próprias palavras.
- Eu não sei. – Emily respondeu nervosa. – Eu ainda to tentando absorver o fato de a minha filha ser o único bebê que não disse 'mamãe' da primeira vez que conseguiu falar! – Riu nervosa.
- Olha, eu vou pegar o na escola daqui a pouco e nós vamos ai, ok?
- Tudo bem! – Falou rápido desligando o telefone.
estava sentada no chão, abraçando o ursinho branco e observando a foto.
Emily pensou no que a irmã dissera; "Destinados um pro outro."
Ela não acreditava nesse tipo de coisa, mas ela sabia que a relação da filha com o sobrinho era intensa demais para duas crianças. Cada gesto e sorriso que os dois partilhavam eram como se fossem secretos e só eles pudessem entender, como se os dois vivessem em um mundo diferente, um mundo que eles dois construíram e ninguém fosse capaz de entender.

# End of flashback

- , me passa o shampoo? – pediu enquanto segurava o cachorro que insistia em querer fugir do banho. – Harte, fica quieto! Você precisa de um banho! – Falou impaciente.
passou o produto para a menina que agradeceu rapidamente e botou uma grande quantidade sobre o pêlo do animal.
- , você tá botando muito, vai fazer muita espuma! – reclamou sentado no chão com as costas na parede.
- É a intenção, oras. Ele tá fedendo! – Resmungou espalhando o shampoo pelo cachorro que continuava inquieto. – E você não tá ajudando, então não reclama! – Deu de ombros fazendo o primo rir.
sorriu observando bufar impaciente cada vez que Harte tentava fugir. A menina tinha espuma até no cabelo e o cachorro escorregava pelo chão molhado do banheiro. Quanto mais ela reclamava, mais o cachorro insistia em se mexer e fugir das mãos da dona.
- , pára de rir! – A menina gritou sem controlar a própria risada. – Que droga, esse cachorro não fica quieto! – Puxou o animal para seu colo que já estava todo molhado e cheio de espuma.
- Vai, deixa eu te ajudar senão você só vai terminar esse banho amanhã! – engatinhou até onde e Harte estavam e pegou o cachorro. – Eu seguro e você dá o resto do banho. – Falou segurando firme o cachorro que ainda balançava o rabo sem parar.
passou o shampoo por todo o pêlo do cachorro deixando a espuma se acumular e riu quando percebeu que o cachorro estava praticamente branco com tanta espuma.
- Falei que ia fazer muita espuma. – falou com um ar superior.
- ... – falou calma e quando ele a olhou, a menina passou espuma pelo nariz dele.
- Ah, não, ! – Ele reclamou tentando limpar, mas a menina passou espuma em sua bochecha também. – , pára! – Falou rindo já que a menina gargalhava descontroladamente.
Segurou Harte com apenas uma mão e com a outra melou a testa da menina com espuma. O cachorro começou a latir enquanto os dois riam com os rostos sujos.
- Aw, vem cá, meu amor! – Pegou o cachorro no colo e ele lambeu sua bochecha. – Argh, não! Sem lamber, Harte! – Reclamou passando a mão pela bochecha que ficou cheia de espuma. riu da situação dos dois.
- Tá, chega de tanta espuma. Termina logo de dar banho no pulguento! – Segurou novamente o cachorro enquanto a menina pegava o chuveiro e começava a tirar o shampoo do cachorro.

- Finalmente! – resmungou quando finalmente terminaram de dar banho no cachorro. A menina pegou rapidamente uma toalha e começou a passar no pêlo do animal.
- Agora fica quieto, Harte! – sacudiu um pouco o cachorro que parou de balançar o rabo. O braço dela começou a doer por causa do esforço e ela parou de secar o cachorro, no mesmo instante ele se sacudiu espirrando água pra todos os lados.
- Aaaai, meu olho! – A menina reclamou fechando rapidamente o olho esquerdo e apertando com a mão. – Droga, Harte! – Choramingou sentindo o olho arder.
- Consegue abrir o olho? – perguntou se aproximando da menina que balançou a cabeça negativamente. Ele tirou a mão dela do olho e segurou seu rosto. – Tenta. – Ele pediu observando a menina com os dois olhos fechados.
- Mas tá ardendo. – Reclamou tentando botar novamente a mão, mas não deixou.
Com cuidado, abriu primeiro o olho direito e depois o olho esquerdo. Piscou várias vezes sentindo-o lacrimejar até que finalmente conseguiu deixá-lo aberto e se assustou com a proximidade do rosto de . Conseguia sentir suas respirações se misturando e o perfume dele que a deixava um pouco tonta.
- Ainda tá doendo? – Ele perguntou carinhoso e ela balançou a cabeça negando.
- Só arde um pouco. – Falou com a voz fraca. A proximidade de a deixava insegura e nervosa, e ela se achava uma boba por isso.
tentou sair daquele momento um pouco embaraçoso, mas seus olhos se prenderam nos de e ele não conseguiu os desviar por mais que tentasse. Os olhos dela atraíam os seus e ele sentia suas mãos implorarem por algum contato com a pele dela, aquela atração o assustava e o deixava nervoso e inseguro.
controlou a vontade de se aproximar ainda mais de , só mais um pouco e ela poderia sentir o calor que emanava da pele dele, e o gosto de sua boca que lhe parecia tão convidativa. Ela podia quase tocar aquela tensão que tinha se instalado entre eles, mas tinha medo de quebrá-la.
Num impulso, se aproximou na menina e sentiu que ela prendeu a respiração no mesmo instante em que Harte deu um latido e novamente se sacudiu espalhando ainda mais água pelo banheiro.
- Não, Harte! – segurou o cachorro quando ele ia sair do banheiro.
soltou lentamente a respiração e olhou para a toalha em seu colo. Teve medo de ter sido apenas a imaginação dela, mas estava bem ali em sua frente, com as bochechas levemente rosadas e segurando o cachorro sem jeito.
- Vem aqui, Harte. – Falou baixo puxando o cachorro para si e voltando a enxugá-lo. – , pega o secador pra mim? – Pediu sem coragem de levantar os olhos e encarar o primo que concordou silenciosamente.
Quase vinte minutos depois o cachorro estava seco e eles saíram do banheiro ouvindo os latidos animados do animal. foi até a cozinha pegar uma água e ficou parada no meio da sala, ainda desorientada.
- Er... eu vou tomar banho! – Falou finalmente olhando para o menino e sentindo as bochechas arderem. Entrou no banheiro rapidamente e escorregou até o chão respirando fundo.
se jogou no sofá e respirou profundamente observando teto branco do loft. Desde quando ele simplesmente deixava exercer toda aquela força de atração sobre ele? Onde estava seu auto-controle? Aquilo o deixava assustado e ele preferia não pensar nas conseqüências que aquilo poderia trazer para a nova situação deles.


04


Dobrou a camisa com cuidado e colocou em cima do pequeno montinho com outras camisas igualmente bem dobradas. A mala estava um caos e ela duvidava que conseguisse achar qualquer coisa que fosse lá dentro. Separou as calças e bermudas jeans e as roupas íntimas, agora só precisava colocar tudo de volta na mala, de forma organizada, claro.
Observou a outra mala ainda fechada e suspirou pesadamente. No dia anterior ela e tinham ido a sua antiga casa para a garota pegar mais uma mala de roupas e algumas outras coisas que ela tanto gostava no quarto e não queria deixar pra trás. Foram cedo e esperaram na rua detrás da casa até que o pai de saísse e entraram rapidamente tomando cuidado para que os vizinhos não os vissem.
Ouviu o barulho de chave na porta e sorriu vendo e Harte entrarem no loft. Eles sempre revezavam os passeios com o cachorro, alguns dias os dois iam juntos, outros iam sozinhos.
- Ei, meu amor! – Brincou com o cachorro que foi até ela abanando o rabo. – Gostou do passeio? – Perguntou com uma voz boba e riu.
- Qualquer dia desse ele vai ter responder. – Falou brincalhão e a menina deu língua. – Amanhã é a sua vez de passear com o vira-lata! Hoje ele quase saiu me arrastando pelo parque, ele tá virando um monstro! – Reclamou indo até a cozinha.
- Ai, como você é fresco, ! O Harte mal fez quatro meses, né, meu anjo? – Sorriu para o cachorro deitado no sofá. – Ele ainda é um bebê! – Brincou terminando de guardar as roupas arrumadas na mala.
- Anjo e bebê são palavras que não combinam com esse animal, ! – balançou a cabeça.
- Ai, larga de ser implicante, vai! – Ela se levantou encarando as costas do menino. – Eu bem sei que você também é louco por ele e adora acordar sentindo ele lamber seu rosto! – Brincou indo até a cozinha.
se virou para responder alguma coisa, mas tudo que conseguiu foi engasgar com a água e se virar para a pia cuspindo o líquido que estava em sua boca ao perceber a roupa – ou a falta de roupa - de . A menina usava apenas uma blusinha branca e uma calcinha larga com desenhos de estrelas.
- Wow! A água tá contaminada? – perguntou assustada dando uns tapinhas nas costas do menino. balançou a cabeça negando, mas evitou olhar novamente para a menina. – O que aconteceu, bobão? – Perguntou rindo e viu olhar para o teto da cozinha e suspirar pesadamente.
- Nada. – Falou em voz baixa e a menina deu de ombros e virou de costas caminhando pela sala.
- , a gente precisa ir ao mercado. O leite tá acabando, o queijo tá passando da validade e não tem porcarias para comer. Preciso de chocolate. – A menina fez uma careta e apenas resmungou alguma resposta enquanto olhava fixamente para o corpo da menina de costas para ele.
Observou o movimento que as pernas da garota faziam quando ela andava e quase pôde ouvir sua própria consciência lhe mandando desviar o olhar.
Ele nunca mais chamaria uma garota pra morar com ele, definitivamente não!
- ! – chamou sua atenção e ele a olhou surpreso. – Espelho. – Ela mostrou o espelho que ficava no canto da sala.
Ah, claro, ele esquecera do maldito espelho e agora sentia o rosto arder por ter sido pego olhando a bunda da própria prima.
- Hm... mercado. Sim, claro. Hoje à tarde a gente vai. – Tentou disfarçar a confusão que tinha se metido virando-se de costas pra menina e sentindo o rosto arder. Fingiu que arrumava alguma coisa na pia e ouviu uma risadinha baixa da menina um pouco antes da televisão ser ligada e o único som a ser ouvido era a musica do canal de clipes que assistia.

# Flashback (14 anos antes)

- . – chamou enquanto a mãe passava shampoo em seu cabelo. O garoto olhou para ela se mantendo embaixo da água corrente. – Você tem, eu não. – Ela apontou o pênis do menino que estava igualmente nu.
Os dois haviam passado toda a manhã na piscina e agora estavam tomando banho para irem almoçar.
Emily riu baixinho olhando caridosa para .
- Hm, isso é porque você é menina, e eu sou menino, . – explicou calmamente. o olhou ainda sem entender e ele sorriu. – Meninas têm uma vagina, meninos têm um pênis. – Falou olhando rapidamente para Emily que parecia mais embaraçada do que ele mesmo.
- Eu não posso ter um também? – A menina perguntou de forma inocente fazendo os outros dois rirem abafados.
- Não, meu amor, você não pode. – Emily se intrometeu na conversa e sorriu em agradecimento.
- Não posso ser igual ao ? – A menina perguntou com os olhos enchendo de lágrimas.
- Não, mas é mais legal assim. – sorriu carinhoso. – Se você fosse menino, a gente não ia poder ter filhos quando crescesse. – Fez careta vendo sorrir.
Emily riu achando graça no que o menino dissera, mesmo sem saber se ele tinha falado sério, ou fora apenas uma brincadeira. Desligou o chuveiro e pegou sua filha no colo a enrolando em uma toalha, enquanto fazia o mesmo.
Poucos minutos depois os dois estavam vestidos e sentados na cama enquanto a mulher penteava os cabelos de e esperava pela sua vez. Emily fazia uma trança cuidadosamente no cabelo da filha enquanto a observava brincar com os dedos do primo entrelaçados aos seus e ele acompanhar os movimentos graciosos dela com o olhar atento e um leve sorriso no rosto.
Quando terminou a trança de , foi para o lado de começando a pentear o curto cabelo do menino também, mas foi interrompida pela mão da garota que segurava em seu braço.
- Eu quero. – Falou mostrando a escova na mão da mulher e sorrindo. Quando o objeto foi entregue em suas mãos, ela começou a passar carinhosamente pelo cabelo de .

# End of flashback

lia atentamente uma revista, deitada no sofá de barriga pra cima, enquanto estava sentado no chão encarando a televisão ligada em um programa de auditório. Vez ou outra seu olhar se desviava até as pernas descobertas da menina que estava concentrada demais para notar o desconforto do primo.
- Publicidade é um curso legal. – Ela comentou vagamente puxando a atenção do primo para seu rosto. Ele concordou sem dar muita atenção. – Relações Públicas também parece ser interessante. – Falou pensativa ainda com o olhar preso no artigo da revista que falava sobre cursos de Comunicação.
O silêncio se instalou na sala por quase um minuto, e bufou irritada.
- Você ao menos prestou atenção no que eu disse? – Perguntou abaixando a revista e olhando para .
- Hm? – Ele perguntou confuso e a menina bateu a revista na cabeça dele, lhe arrancando uma careta.
- Droga, ! Eu aqui falando sobre uma coisa importante que envolve o meu futuro, e você aí, entretido com uma porcaria de programa de auditório. – Reclamou fazendo se sentir aliviado. Se ela soubesse o que realmente o estava distraindo...
- Desculpa. – Falou com simplicidade e desligou a televisão. – Pronto, agora minha atenção é toda sua. – Falou calmo fazendo a menina sorrir.
Ela amava esses pequenos gestos dele, tão simples e tão adoráveis.
- Eu ainda tô em duvida sobre o que eu quero fazer realmente. – Mordeu o lábio inferior observando a revista em seu colo. – Eu me identifico com algumas, mas não consigo escolher definitivamente.
- Já conseguiu eliminar algumas daquela sua lista de vinte cursos? – perguntou rindo lembrando de quando a menina falava os vários cursos que gostava.
- Não eram vinte, eram nove! – Falou sem graça. – Na verdade mesmo, eu me identifico muito com Design, já li bastante sobre isso e é provavelmente o que mais me animou.
- Então, qual é a duvida? – O menino arqueou a sobrancelha e ela riu.
- Não sei. – Admitiu botando uma mecha do cabelo atrás da orelha em sinal de nervosismo.
A campanhia do apartamento tocou e fez careta sem querer se levantar.
- Eu atendo! – A menina falou animada se levantando fazendo o menino arregalar os olhos.
- Nem pensar! – Ele se levantou rapidamente. – Vestida desse jeito você não vai abrir a porta! – Caminhou até a menina que se virou de frente pra ele com os braços cruzados.
- E por que não? – Perguntou sorrindo de lado e caminhando de costas até a porta.
- Você tá só de calcinha, ! – respondeu fechando a cara fazendo a menina sorrir ainda mais.
se virou de frente e correu até a porta tocando a maçaneta.
- Nem pense nisso! – falou alto e correu, prensando a menina contra a parede e abrindo a porta.
- Fala, . – Mark, o vizinho do garoto cumprimentou e olhou pela fresta da porta.
- Iai, cara! – respondeu soltando um pouco o braço que prendia a menina contra a parede. Olhou rapidamente para ela que soltou um "que gato!" inaudivelmente fazendo-o fechar a cara.
- Botaram essa conta de luz lá na minha porta, e é sua! – Falou simpático entregando uma conta para o garoto.
- Ah, valeu aí, cara! – Sorriu brevemente e ia fechar a porta quando Mark resolveu falar novamente.
- Cara, você sabe de uma garota nova que anda circulando por aqui? – Perguntou sorrindo e arqueou sobrancelha. Não sabia de nenhuma garota nova. – A vi outro dia de relance, aqui nesse andar mesmo, tava vestida com uma camisa roxa com uns desenhos estranhos, e cara, ela era muito gata! – Sorriu.
prendeu o riso sabendo que a tal garota era ela, mas não lembrava de já ter visto Mark em lugar algum. apertou ainda mais o braço contra a garota também sabendo que era dela que Mark falava.
- Hm... não vi ainda, cara! Mas vai ver ela nem mora por aqui. – Deu de ombros. – Olha, eu tenho que ir! – Falou rapidamente e sorriu para o garoto que fez um breve aceno e se virou em direção ao seu apartamento.
- Ficou maluca? – perguntou fechando a porta e ainda prensando a menina contra a parede.
- Não me importaria em atender a porta pra ele vestida assim. – respondeu calmamente. – E aposto que ele também não se importaria. – Sorriu de lado.
- Você não seria doida. – respondeu irritado.
- Quer apostar? – Perguntou provocativa encostando seu corpo no do menino.
- Não, não quero apostar. E se eu souber que você atendeu a porta pra quem quer que seja, vestida dessa forma, não queira saber as conseqüências. – Se afastou um pouco da menina quando sentiu seu corpo gelar com o contato dela.
- Hm.. talvez eu queira sim! – Respondeu rindo passando os braços pelo pescoço de .
O menino engoliu em seco tentando ignorar a reação imediata que seu corpo teve com todo aquele contato. Suas mãos não se decidiam entre afastar o corpo da menina ou puxá-lo ainda mais pra perto.
- Você sabe que eu não tenho olhos pra nenhum outro garoto além de você, não sabe? – A menina perguntou baixo depositando um beijo no queixo dele.
A respiração falha entregava o nervosismo do garoto.
- , isso não é... - Tentou falar, mas a menina lhe deu um selinho rápido.
- Esquece qualquer outra coisa que não seja o contato dos nossos corpos e o que você tá sentindo agora. – falou tranqüila acabando com o pouco espaço que ainda restava entre o corpo dos dois.
respirou fundo e antes que se decidisse entre afastar a garota, ou agarrá-la ali mesmo, mordeu seu lábio inferior fazendo-o realmente esquecer de qualquer outra coisa. Pressionou a garota contra a parede e selou seus lábios aos dela sentindo mais uma vez a resposta rápida do seu corpo.
Ouviu soltar um gemido baixo quando fez o contorno de seus lábios com a língua, e ela abriu a boca fazendo-o sentir o gosto doce que vinha da boca dela e que ele nem lembrava mais. Apertou as mãos em sua cintura tentando aliviar um pouco a tensão que percorria seu corpo e sentiu a menina morder novamente seu lábio com força. Antes que tivesse tempo para pensar no que estava acontecendo, suas mãos entraram por baixo da blusa que ela vestia, acariciando todas as partes alcançáveis do corpo da menina.
ofegou sentindo as mãos de em seu corpo. As mãos quentes dele percorriam sua cintura, sua barriga e suas costas de forma ágil, enquanto ela fazia carinho no cabelo dele, sentindo suas línguas brincarem como se fossem intimas.
O beijo foi perdendo velocidade ao mesmo tempo em que as mãos de se acalmavam na cintura da menina e os dedos de se perdiam nos cabelos dele.
Ele mordeu o lábio da menina levemente puxando-o um pouco e voltou a beijá-la sem vontade alguma de se afastar e pensar no que tinha acabado de acontecer. sorriu descendo uma das mãos até o braço de e o apertando carinhosamente. Ela precisava de ar e sabia que ele também, mas alguma força, muito maior que a vontade deles, os impedia de se desgrudarem um milímetro que fosse.

Aos poucos o beijo foi se tornando selinhos demorados, beijinhos na bochecha e no queixo, até os dois se afastarem um pouco e se encararem ainda sentindo o gosto de suas bocas se misturarem.
sorriu sem jeito, ainda sentindo o corpo completamente eletrificado pelo contato com o corpo do primo. Tirou as mãos do pescoço dele e passou a mão pelo cabelo sem saber o que dizer. Ela sentira falta dos beijos de , das mãos ágeis dele tocando seu corpo e de como ela se sentia quando estava nos braços dele. Ela não saberia comparar a sensação de ter qualquer outro garoto tocando seu corpo, ela apenas sabia que quando estava nos braços de aquilo parecia certo, e ela gostava da sensação de posse, de saber que ela era dele.
piscou os olhos com força ainda sentindo a boca latejar e implorar por mais contato com a boca da menina. Se alguém perguntasse pra ele o que tinha acabado de acontecer, ele não saberia explicar, na verdade ele mal sabia qual era seu nome naquele momento. Seu corpo ainda estava colado ao dela e suas mãos ainda estavam na cintura desnuda da menina. A única coisa que ele sabia era que fazia tempo desde a ultima vez que aquilo acontecera, e ele não se lembrava de que era tão bom.
- Hm... não foi tão embaraçoso da ultima vez. – comentou mordendo o próprio lábio. Mais uma vez a tensão entre os dois era enorme e ela tinha medo de quebrá-la.
- É, não foi. – concordou tirando as mãos da cintura dela e passando pelo cabelo. Suas mãos formigaram com a falta de contato e ele se sentiu frustrado por todo seu corpo estar conspirando contra ele. Ele abriu a boca pra falar mais alguma coisa, mas foi interrompido.
- Se você pedir desculpas, eu vou te bater. – falou num tom brincalhão. – Eu beijei porque eu quis e você não me forçou a nada. – Completou vendo sorrir.
- Hm... acho que a gente ainda precisa ir ao mercado, certo? – Mudou de assunto se afastando da menina que concordou vagamente com a cabeça. – Eu vou tomar um banho, e a gente vai. – Falou apontando para o andar de cima do loft.
- Erm... eu vou tomar banho também. – sorriu fraco. Antes que conseguisse entrar no banheiro ouviu a chamar já no andar de cima.
- , você... erm... – Passou a mão pelos cabelos fazendo careta. – Andou, hm... praticando? – Apontou a parede ao lado da porta onde os dois estavam anteriormente.
A menina sentiu o rosto arder e balançou negativamente a cabeça.
- Ah! – exclamou se sentindo um idiota por ter perguntado aquilo. – Ok, então! – Falou por fim e entrou no banheiro antes que falasse mais alguma coisa que não devia.
ficou alguns instantes parada na porta do banheiro sorrindo e olhou novamente para a parede ao lado da porta. Ela podia praticar sempre que ele quisesse.

Continua...


05
( música: Supermassive Black Hole - Muse )


estava no sofá com um potinho de Nutella assistindo Um Amor Pra Recordar pela milésima vez, era capaz de repetir as falas do filme junto com os personagens. Harte estava deitado ao seu lado ressonando audivelmente, mas sua atenção estava inteiramente voltada para a tela onde Landon dizia as mesmas palavras que ela repetia em voz alta: "I'll always miss her. But our love is like the wind. I can't see it, but I can feel it."
Deixou algumas lágrimas caírem pelo rosto, ela nunca conseguira segurá-las de qualquer forma. O barulho de chave a assustou e ela limpou as lágrimas rapidamente. entrou pela porta milésimos de segundos depois.
- Hey. - Ele sorriu tirando o moletom. retribuiu o sorriso ainda sentindo os olhos arderem por causa das lágrimas e fungou baixo tentando não chamar a atenção do primo. Falhou. – O que aconteceu? – Ele perguntou assustado se aproximando do sofá.
- Nada. – Balançou a cabeça passando a mão pelo nariz. Apontou a televisão onde os créditos do filme subiam pela tela.
- Um Amor Pra Recordar? – perguntou mais calmo e a menina confirmou balançando a cabeça. – Você chora nesse filme desde que você tinha uns quinze anos. – Balançou a cabeça sorrindo.
- Não ria dos beus sentibentos, ok? – falou emburrada desligando a televisão. riu alto.
- Não tô rindo deles, só acho engraçado você chorar pelo mesmo motivo há anos. Você até repete as falas junto com os personagens. – Ele balançou a cabeça e ela sorriu um pouco sem graça. Talvez devesse procurar por outros filmes românticos. – Vai fazer alguma coisa hoje à noite? – perguntou tirando a garrafa de água da geladeira e colocando-a em cima da bancada.
- Assistir filmes melosos na tv, por quê? – Sentou-se no banquinho alto que ficava atrás da bancada da cozinha.
- Eu e os caras vamos pra uma boate aqui perto. Quer ir? – Ele a olhou.
Quando os amigos sugeriram que ele chamasse ele achou a idéia um pouco absurda, até que lhe perguntaram por que ele não chamaria. É, por que essa idéia era tão absurda? Pelo fato de que sua prima atraia olhares masculinos? Ele sabia disso, não era primeira vez que sairia com ela. Por medo de algum deles finalmente atrair a atenção dela? Ele tremeu com esse pensamento. Estava acostumado a ter sempre ali, precisando dele. Por mais que tentasse negar, ele sabia que ela era dele, e o medo de perdê-la lhe trazia uma sensação ruim.
- Hm... só os garotos da banda? – Ela perguntou ainda indecisa.
- Só eles, sem acompanhantes. – Sorriu entendendo a pergunta dela.
sorriu um pouco sem graça, que péssima mania de achar que não iria entender o que ela queria dizer. Ele sempre entendia.
- Não vou ser deixada de canto? – Perguntou fazendo uma careta engraçada.
- Só se você quiser. – Deu de ombros. – Vai que você encontra alguém que te interessa... – Deixou a frase no ar. A menina riu baixo.
- HAHA! Então tá bom! – Fez um joinha para o garoto e se levantou indo novamente para o sofá.
Harte abriu os olhos preguiçosamente quando sentiu o sofá afundar e olhou para a garota.
- Tá a fim de dar um passeio, bebezão? – Ela perguntou carinhosa segurando o rosto do animal nas mãos. Harte balançou o rabo fazendo a dona sorrir. Foi até o armário da sala e pegou a coleira do cachorro, colocou-a rapidamente, vestiu um moletom e mandou beijos no ar para o primo antes de sair de casa.

# Flashback (12 anos antes)

- Você tem mesmo que ir? – perguntou olhando para o menino ao seu lado.
- Tenho. Parece que minha mãe tirou férias só para ir visitar essa tia distante. – respondeu com a seriedade de alguém com muito mais que dez anos. – Mas é só por dez dias, eu volto logo. – Sorriu para a garota ao seu lado. sorriu encostando a cabeça no ombro dele.
- Vou sentir sua falta. – Falou suspirando. pegou a mão dela, visivelmente menor que a dele, e entrelaçou seus dedos.
- Também vou sentir sua falta.
Os dois ficaram sentados na escada em frente a grande casa com paredes cor creme enquanto suas mães conversavam e colocavam a bagagem dentro do carro. Elas olharam as duas crianças sentadas e sorriram.
- O que você vai fazer aqui durante esses dez dias? – perguntou fazendo a menina levantar a cabeça para encará-lo.
- Não sei. – respondeu sincera. – Acho que eu vou deitar na cama e esperar o tempo passar. – a olhou confuso.
- Achei que só eu fosse fazer isso. – Sorriu.
- Achei que você fosse se divertir na casa da sua tia. – A menina rebateu.
- Sem você? Seria perda de tempo. – Falou sorrindo.
- Espera aqui, preciso pegar uma coisa. – se levantou e caminhou rapidamente para dentro da casa. Minutos depois ela voltou com um ursinho branco que segurava um coração entre as mãos. – Toma, leva. – Entregou o objeto para .
- Você tá me devolvendo o presente que eu te dei? – Arqueou a sobrancelha e a menina sorriu.
- Não, é pra você não esquecer de mim. – Falou serena, o olhando nos olhos.
- Sabe que eu não preciso disso pra lembrar de você, né? – Perguntou a encarando da mesma forma. sorriu e balançou a cabeça confirmando.
- , vamos? – Sua mãe lhe chamou e ele a olhou vendo-a se despedir da irmã.
Se levantou sendo seguido pela menina e botou sua pequena mochila nas costas, deixando o urso em suas mãos. Deu uma olhada rápida na casa que estava com a porta aberta e depois olhou a menina à sua frente. Os dois sorriram ao mesmo tempo.
- Tchau, . – Ele a abraçou fazendo-a ficar na ponta do pé para passar seus pequenos braços pelos ombros dele.
- Tchau, . – Falou se afastando.
Caminhou lentamente até o carro onde a mãe já estava no banco do motorista e sorriu para a tia que estava segurando a porta para ele.
- Tchau, tia. – Abraçou a mulher rapidamente. – Não deixa a deitar na cama e esperar eu voltar, tá? – Falou calmamente. A mulher deu um sorriso rápido sem entender direito o que ele queria dizer.
Olhou novamente para a prima quando a mãe acelerou o carro e acenou vendo-a repetir seu gesto.

# End of flashback

- Ok, seja sincero... – falou saindo do banheiro enquanto penteava os cabelos. – Essa roupa me engordou? – Perguntou apontando para a barriga.
observou a menina com a calça skinny preta, um tomara que caia amarelo claro e uma sandália preta de salto fino. Ela parou de pentear os cabelos e o encarou com a sobrancelha arqueada esperando por uma resposta. sorriu serenamente.
- Claro que não. – Falou sincero.
suspirou e parou em frente ao grande espelho que tinha na sala. Observou seu perfil e passou a mão pela barriga ainda achando que havia algo estranho e maior que o normal ali. Mulheres sempre têm a capacidade de achar seus corpos estranhos e o deformarem em frente ao espelho. Passou algum tempo ali se encarando enquanto terminava de ajeitar o cabelo e quando olhou para o lado viu a encarando escorado na bancada da cozinha.
- Que foi? – Saiu da frente do espelho e guardou a escova rapidamente no banheiro.
- Nada. – Respondeu calmo. – Tô só te esperando.
- Tem certeza mesmo que esse tomara que caia não me deixou com uma barriga imensa? – Perguntou insegura fazendo o menino rir.
- Isso é tudo sua imaginação, . Você continua linda como sempre. – Falou tranqüilo pegando a chave do carro e a carteira e guardando-a no bolso. – Vamos? – concordou com um breve aceno de cabeça e os dois saíram do loft em silêncio.

A música alta e agitava tocava sem parar fazendo com que as pessoas dançassem mesmo que estivessem fora da pista de dança. estava no balcão esperando por sua Marguerita enquanto estava ao seu lado observando uma das atendentes e lhe lançando olhares nada discretos. A mulher lhe entregou uma cerveja e sorriu quando piscou em agradecimento. riu baixo balançando a cabeça.
era o amigo de que ela tinha mais contato. Nada muito íntimo, mas ela sempre tivera certa preferência sobre ele, talvez por ele ser tão engraçado mesmo sem querer.
O atendente bonitinho botou a bebida da garota e lhe lançou um sorriso parecido com os que estava lançando para a atendente. limpou a garganta alto fazendo o atendente lhe olhar e sorrir sem graça se afastando.
- Então você pode, e eu não? – perguntou indignada e sorriu.
- O não te mataria se eu pegasse a atendente bonitinha. Já se eu deixasse aquele cara dar em cima de você, ele provavelmente me comeria vivo. – Deu de ombros e sorriu com a explicação.
Voltaram para o pequeno sofá circular em que e estavam sentados conversando, a menina olhou em volta sabendo que estava faltando alguém ali e viu na pista de dança com uma menina loira. Sentou ao lado de enquanto sentava do seu outro lado.
- O é rápido. – Comentou sorrindo. Os três garotos olharam para o amigo que dançava animado. – Ou vocês são lentos. – Completou voltando seu olhar para os três.
, e se entreolharam ficando um pouco sem graça. Já estavam ali há mais de uma hora e era realmente estranho que ainda não estivessem agarrados com alguma mulher.
As luzes do local começaram a ficar mais fracas e a introdução de uma musica começou a ser tocada fazendo dar um pulo animada.
- Ai, eu amo essa musica! – Se virou para os meninos sorrindo. – Algum de vocês vai ter que ir dançar comigo! – Falou fazendo cara de criança. e olharam pra ao mesmo tempo.
- Quê? – Ele se assustou com o olhar dos amigos.
- Vamos, , por favor! – pediu segurando uma das mãos do garoto.
- Eu não sei dançar, . – Balançou a cabeça já sabendo aonde aquilo ia dar.
- Vai, , por favor. Só essa, prometo! – Se agachou em frente à ele, ficando na sua altura e o lançou seu melhor olhar de carência. bufou se dando por vencido e se levantou fazendo a garota sorrir e o puxar rapidamente para a pista de dança onde várias pessoas já dançavam animadas.

Ooh, baby, don't you know I suffer?
Ooh baby, você não sabe que eu sofro?
Ooh, baby, can't you hear me moan?
Ooh baby, você não pode me ouvir lamentar?
You caught me under false pretenses
Você me prende com falsos pretextos
How long before you let me go?
Quando você me deixará partir?

começou a dançar de frente para o garoto que não sabia direito o que fazer, principalmente com as mãos. A garota sorriu observando o desconforto do primo e se aproximou dele passando os braços por seu pescoço enquanto cantava a musica e dançava com o corpo colado no dele. a olhou sentindo as mãos começarem a suar e achou melhor pousá-las na cintura da menina.

Ooooh-ahhh, you set my soul a-light
Ooohh-ahhh, você deixa minha alma iluminada
Ooooh-ahhh, you set my soul a-light
Ooohh-ahhh, você deixa minha alma iluminada
Glaciers melting in the dead of night
Geleiras se derretem numa noite morta
And the superstars sucked into the supermassive
E as grandes estrelas estão indo pro grandioso

olhou os amigos ainda sentados no sofá que o encarava com as bocas praticamente escancaradas. realmente amava aquela musica e não estava sendo nem um pouco discreta em sua dança com o corpo colado no dele. Engoliu em seco voltando seu olhar para o rosto da menina que sorria e cantava com o rosto próximo ao dele, aquilo não estava sendo nem um pouco fácil, podia sentir todas as partes do seu corpo correspondendo às provocações de e manter o controle ali já estava se tornando impossível. A menina aproximou o rosto do dele ainda com um sorriso e roçou a boca na de fazendo-o apertar inconscientemente sua cintura.

I thought I was a fool for no one
Pensei que eu não era um bobo por ninguém
But, ooh, baby, I'm a fool for you
Mas, ooh baby, eu sou um bobo por você
You're the queen of the superficial
Você é a rainha do superficial
But how long before you tell the truth?
Mas quando você dirá a verdade?

Ooooh-ahhh, you set my soul a-light
Ooohh-ahhh, você deixa minha alma iluminada
Ooooh-ahhh, you set my soul a-light
Ooohh-ahhh, você deixa minha alma iluminada
Glaciers melting in the dead of night
Geleiras se derretem numa noite morta
And the superstars sucked into the supermassive
E as grandes estrelas estão indo pro grandioso

- Quer parar de me provocar? – pediu baixo olhando para a boca da menina a centímetros da sua, fazendo-a sorrir ainda mais.
- Vai parar de corresponder? – Respondeu num tom brincalhão.
- Não tô correspondendo. – Falou com a voz fraca e a menina riu aproximando sua boca do ouvido dele.
- Seu corpo tá. – Depositou um beijo leve na mandíbula do menino.
se xingou mentalmente sentindo o suor em sua testa e em suas mãos, sem contar as partes mais baixas que insistia em pressionar com seu corpo só para provocá-lo ainda mais. Ela tirou as mãos de seu pescoço momentaneamente, mas apenas para prender seus cabelos em um coque frouxo, e voltou a colar o corpo no dele. definitivamente sabia como provocá-lo, agora seu pescoço estava ali, completamente exposto e mais convidativo do que nunca. Aquela garota tinha o poder de acabar com ele.

Supermassive black hole
Grandioso buraco negro

Glaciers melting in the dead of night
Geleiras se derretem numa noite morta
And the superstars sucked into the supermassive
E as grandes estrelas estão indo pro grandioso

Suas mãos se apertaram na cintura dela acabando com o mínimo espaço que ainda havia entre seus corpos e sua boca foi de encontro ao pescoço pálido e convidativo da garota. Sentiu ela segurar com força em seu cabelo o estimulando e deixou que seus instintos masculinos o guiassem.
sorriu sentindo a língua do menino em contato com a sua pele e mordeu um lábio para não deixar um gemido escapar. Uma das mãos dele desceu um pouco chegando até o cós de sua calça e ele segurou no passador de cinto tentando ganhar ainda mais contato com o corpo dela, como se fosse possível.
- Me deve vinte, cara. - sussurrou vitorioso e fechou a cara. – Falei que ele não ia resistir. – Sorriu satisfeito dando um tapinha no ombro do amigo e depois voltou sua atenção para a cerveja que já estava no fim e logo o obrigaria a ir pedir mais uma para a atendente bonitinha.

Ooooh-ahhh, you set my soul a-light
Ooohh-ahhh, você deixa minha alma iluminada
Ooooh-ahhh, you set my soul a-light
Ooohh-ahhh, você deixa minha alma iluminada
Glaciers melting in the dead of night
Geleiras se derretem numa noite morta
And the superstars sucked into the supermassive
E as grandes estrelas estão indo pro grandioso

puxou levemente o cabelo do menino fazendo-o levantar o rosto e olhá-la sentindo a boca latejar um pouco. sorriu observando a boca rosada dele e puxou lentamente o lábio inferior de entre seus dentes fazendo um gemido baixo escapar pela boca dele. Quando ela ia se afastar para provocá-lo ainda mais, foi mais rápido e a segurou pela nuca fazendo seus lábios colidirem.
sorriu mais uma vez deixando que a língua de entrasse na sua boca e brincasse com a sua própria língua. Ela gostava da sensação de estar no controle e saber que cedia às provocações dela, gostava de sentir o gosto da boca dele misturar com o gosto dela, gostava da sensação dos dedos dele entrelaçados em seus cabelos.
prendeu sutilmente o lábio dela entre seus dentes e o puxou seguidas vezes até ouvir a menina soltar um gemido indignado e o impedir de puxar novamente. Os dois sorriram ao mesmo tempo enquanto voltavam a deixar que suas línguas explorassem suas bocas, como se essas fossem totalmente desconhecidas.

- Opa, desculpa! – Uma voz masculina falou depois de esbarrar com os dois. Eles se separaram e olharam simultaneamente para o homem que já estava se afastando.
respirou fundo reparando pela primeira vez que precisava de ar e prendeu novamente seu cabelo em um coque frouxo. passou a mão sem jeito pelo cabelo e observou a boca vermelha da menina sentindo que se continuasse ali, a boca dela não iria continuar tão afastada assim da dele.
- Eu vou, hm.. no banheiro rápido. – Falou apontando o lado da boate onde ficavam os sanitários. mordeu os lábios inocentemente sem saber o quão apelativo aquilo era para o primo.
- Eu vou pegar alguma coisa pra beber. – Sorriu fraco.
Os dois se encararam alguns segundos antes de se afastarem e seguirem cada um por um caminho. deu meia volta e viu e olhando para ela com sorrisos maliciosos no rosto. Sentiu o rosto esquentar um pouco e acenou brevemente com a cabeça indo em direção ao balcão para pegar alguma bebida.

- Cara, parabéns! – falou dando um tapinha nas costas de quando o menino sentou ao seu lado. lhe lançou um olhar ameaçador, mas ele apenas riu. – Sério, se fosse eu, nunca iria resistir tanto quanto você.
- Cala boca, cara. – balançou a cabeça. – Argh, eu sou muito estúpido. Sempre caio nos joguinhos dela.
- Sempre? Não foi a primeira vez? – arregalou os olhos. – Digo, eu sei que vocês já se beijaram antes, mas não quando ela estava na sua casa.
- A gente se beijou semana passada. – Confessou bebendo um gole da cerveja. e se entreolharam. – Cara, é difícil! Eu nunca pensei que fosse ser tão difícil assim morar com a , mas ela tá me deixando louco. Ela insiste em passear pela casa com o mínimo de roupa possível, e me provoca até sem querer. – Bufou frustrado.
- É, cara. Eu daria tudo pra tá no seu lugar. – comentou inocente e o olhou feio. – Desculpa.
Os três ficaram em silêncio observando se aproximar da mesa com alguma bebida azul nas mãos. Ela sorriu constrangida e sentou ao lado de evitando o olhar de e de e olhando para a pista de dança.
- Hm... o sumiu. – Comentou vagamente e os três balançaram a cabeça concordando.
- Se você quiser, eu e o podemos sumir também. – comentou sorrindo recebendo um olhar nada agradável de e abaixou os olhos para as mãos. – Ah, qual é? Vão fingir que não aconteceu nada? Que nunca houve aquela pegação minutos atrás? – Deu de ombros e deu um chute fraco na canela dele.
- A gente vai pegar mais bebidas. – sorriu puxando pela camisa e os dois sumiram no meio das pessoas.
suspirou olhando para o lugar onde os dois desapareceram e se mexeu desconfortável abrindo os dois primeiros botões da camisa branca social. Um casal que estava em frente à mesa dos dois começou a se beijar sem pudor algum enquanto suas mãos se mexiam livremente pelo corpo um do outro fazendo com que e se entreolhassem e começassem a rir baixo. Quando as risadas cessaram, ela o olhou novamente, encontrando seus olhos que a analisavam. Ele sorriu levemente.
- Vem cá. – Falou baixo a puxando levemente pela nuca fazendo seus lábios colidirem mais uma vez e suas línguas rapidamente começassem a explorar suas bocas de uma forma intima e que só eles sabiam o quão prazeroso era.


06


- Preparada? – perguntou incerto observando a menina ir se acalmando aos poucos enquanto posicionava as mãos no volante do carro. Ela concordou vagamente com a cabeça e ele respirou fundo. – Ok, fica calma, não é nenhum bicho de sete cabeças.
- Eu sei. – A menina engoliu em seco tentando não deixar a respiração ficar desregulada.
Ela odiava ter tanto medo de estar fazendo aquilo. Um dia ela teria que aprender a dirigir, certo? Ela não podia viver pra sempre assustada e com medo de que um acidente acontecesse e a machucasse tanto quanto aquele que acabou com a vida de sua mãe.
- Certo. – começou. – O carro é automático, então não existe embreagem e nem marchas, você apenas precisa pisar no freio e no acelerador. Cuidado porque os dois, digamos, funcionam muito rápidos. Você não precisa pisar com força. – ouvia tudo atentamente e concordava vez ou outra com a cabeça. – O volante você vai sempre girar para a direção que você quer seguir, mesmo que esteja dando ré. As marchas desse carro você só vai usar em casos extremos. Em ladeiras muito íngremes, por exemplo, você usa a primeira marcha.
- As setas, para cima é direita e para baixo é esquerda, a luz liga aqui no canto e o limpador controla aqui. – sorriu vendo concordar. – Algumas coisas eu lembro. – Falou tentando não deixar imagens da sua ultima e desastrosa tentativa de dirigir invadirem sua mente.
- Hm... acho que você pode começar. – sorriu lhe passando confiança enquanto a menina batia os dedos ansiosamente no volante. Ele apontou o freio de mão e ela fez um gesto com a cabeça concordando.
Respirou fundo uma ultima vez antes de empurrar o freio de mão para baixo e ir tirando o pé do freio aos poucos. Olhou os retrovisores reparando na rua vazia e agradecendo mentalmente.
- , você pode acelerar. – falou receoso.
Com mais cuidado que o necessário, pisou no acelerador fazendo-o sair lentamente do lugar. Aos poucos foi pisando com um pouco mais de força, até atingir uma velocidade que considerou razoável. observou o ponteiro marcar 30 km/h e sorriu achando engraçado o medo da menina de andar um pouco mais rápido.
Um carro os ultrapassou buzinando e pisou no freio fazendo voar pra frente do carro por estar sem cinto.
- Ai meu Deus, ai meu Deus. O que eu fiz? Você se machucou? – Ela se desesperou tirando o pé do freio.
- Não tira o pé do freio! – falou um pouco mais alto fazendo-a colocar novamente o pé no freio e o olhar com medo. Ele a ajudou a encostar o carro, colocou no ponto morto e puxou o freio de mão. – Ok, pode tirar. – Falou mais calmo respirando fundo.
- Desculpa. – sussurrou encarando as mãos que estavam entrelaçadas em seu colo.
- , você não pode se assustar com cada carro que passar buzinando por você, estamos em uma via em que as pessoas andam no mínimo à 50 e você estava em 30. E você não pode parar o carro e tirar o pé do freio, ele vai recomeçar a andar. – Explicou calmamente vendo a menina concordar em silêncio. – Quer tentar de novo?
- Não. – Respondeu simplesmente olhando para o lado de fora da janela. O medo estampado em sua face e dominando seu interior.
ficou em silêncio por algum tempo deixando que a menina se acalmasse ou que o medo a abandonasse, mas ele duvidava que aquilo fosse acontecer. Ele ainda se lembrava perfeitamente da reação da menina ao saber que a mãe havia morrido em um acidente de carro, e aquela memória provavelmente a atormentava com a mesma intensidade.
- Eu não consigo. – A voz fraca da menina preencheu o silêncio fazendo com que ele a olhasse e percebesse seus lábios trêmulos.
- Hei, você não precisa fazer isso agora se não quiser. – falou calmamente. – A gente vai ter todo tempo do mundo pra isso, . E você tem dezoito anos, tem a vida inteira pra tentar dirigir.
- E se eu nunca conseguir? – Ela finalmente virou o rosto para encará-lo e deixou uma lágrima solitária correr por seu rosto.
- Ônibus, táxi, metrô e existem pra isso. – Falou de uma forma engraçada arrancando um riso baixo da menina. – Mas sério, , você não é obrigada a saber dirigir. Se você não se sente bem com isso, então ninguém vai te forçar a nada.
- Sei disso. – Concordou voltando a olhar a rua do lado de fora.
Um homem passou de mãos dadas com uma menina que aparentava uns 15 anos, os dois sorriam enquanto o homem parecia falar uma coisa engraçada. mordeu o lábio sentindo o coração pesar mais do que deveria.
- ... – O chamou ainda olhando o homem e a menina se afastarem, sentiu os olhos de sobre si. – Você tem alguma noticia do meu pai?
abriu a boca rapidamente, mas nenhum som saiu dela. Agradeceu o fato de ainda estar perdida em pensamentos olhando pela janela, ou ela teria visto que seu rosto de repente ficou pálido e seus olhos se arregalaram. Olhou também para a rua do lado de fora pensando no que falar.
A verdade é que ele havia encontrado uma senhora que mora na mesma rua que a garota morava, e para sua surpresa a senhora lembrava-se perfeitamente dele e de . Antes mesmo que ele pudesse perguntar se ela havia visto o pai da menina, a senhora começou a reclamar de como homens suspeitos e medonhos rondavam a antiga casa de e o pai dela era raramente visto.
- Não. – Respondeu simplesmente se odiando por ter que mentir para ela.
voltou seu olhar para e ele, e por alguns instantes pôde jurar que ela soube que ele estava mentindo. Sorriu fraco e sem vontade vendo a menina repetir seu gesto antes de abrir a porta do carro e sair. Ele entendeu o recado e pulou para o banco do motorista no mesmo instante em que ela abria a porta do carona e sentava no mesmo lugar que ele estava segundos antes.
- Casa? – perguntou ligando novamente o carro.
- Tanto faz. – deu de ombros voltando a se perder em pensamentos enquanto olhava pela janela.

# Flashback (11 anos antes)

- Espera, , assim eu nunca vou te alcançar. – falava arfando enquanto corria atrás do menino.
- Vamos, logo, ! – Ele parou esperando a menina se aproximar mais e quando ela chegou perto, pegou sua mão voltando a correr pelo enorme gramado, até entrarem na casa. – Shh! – botou o dedo na boca pedindo para que ela fizesse silêncio e a menina concordou mordendo o lábio inferior.
Os dois adentraram a enorme sala e subiram a escada em silêncio e tomando cuidado para que ninguém os visse. olhou os dois lados constatando que o extenso corredor estava vazio e puxou a menina pela mão caminhando com cuidado até uma das ultimas portas que estava entreaberta. Olhou pela fresta aberta e botou a mão na boca rapidamente para conter um riso fazendo arquear as sobrancelhas sem entender.
- Vem aqui. – Sussurrou botando a menina em sua frente fazendo com que ela tivesse a mesma visão que ele estava tendo.
Dentro do quarto havia duas pessoas deitadas na cama, ou melhor, um casal bastante animado aos beijos e um pouco mais, por sorte ainda estavam parcialmente vestidos.
abriu a boca sem acreditar e também segurou um riso olhando pra em seguida. Ele sorriu em silêncio e os dois voltaram a observar o casal.
As mãos do homem passeavam por toda extensão alcançável do corpo da mulher que arranhava as costas nuas dele fazendo-o soltar gemidos nada discretos.
- Ew! – falou baixo entortando a boca quando o homem desceu os beijos para o pescoço da mulher. – Que nojo. – Completou.
- Um dia você vai fazer isso também. – falou rindo e parando de prestar atenção no casal.
- Não vou nada. – A menina retrucou o olhando.
- Vai sim. – Deu de ombros com um ar de superioridade.
A menina fez uma cara emburrada e cruzou os braços olhando novamente o casal.
- Eu não vou beijar nunca, é nojento. – Fez uma careta se afastando da fresta aberta da porta. - Não é nojento se for com a pessoa que você gosta. – sorriu a olhando.
- Você já beijou? – A menina perguntou mais chocada pelo fato dele nunca ter contado nada, do que por ele já ter beijado alguma menina.
- Não, mas eu sei. – Deu de ombros novamente e se afastou da porta. – Vamos descer, nossas mães devem estar nos procurando. – Falou voltando a caminhar com em seu encalço.
- . – A menina o chamou parando no meio da escada e sentando, ele a olhou sem entender. – Se eu beijasse você, não ia ser nojento? – Perguntou com curiosidade. parou por alguns segundos, pensando.
- Não sei. – Falou com sinceridade sentando-se ao lado da menina. – Quer tentar? – A olhou em dúvida recebendo o mesmo olhar de volta.
olhou rapidamente a boca de e se sentiu envergonhada por isso. Olhou o final da escada pensando em sair correndo, mas percebeu que ela não queria sair correndo, ela queria mesmo tentar. era o único garoto que ela confiava de qualquer forma. Se não for com ele, pensou, não vai ser com nenhum outro.
Olhou novamente o garoto ao seu lado e balançou a cabeça concordando.
sorriu fraco sem saber direito o que fazer, não pensava que ela ia concordar.
- Hm... fecha os olhos. – Pediu vendo a menina o olhar em dúvida, mas fechar os olhos segundos depois. Devagar, ele aproximou o rosto do dela e encostou sua boca na dela fechando também os olhos.
Menos de dez segundos, que pareceram uma eternidade na cabeça dos dois, eles se afastaram abrindo os olhos. estranhando o formigamento nas mãos e o calor que lhe atingiu em cheio, e achando que tinha algo errado com o coração que tinha acelerado sem mais nem menos.
Antes que pudessem falar alguma coisa, duas vozes se aproximaram no corredor e eles trocaram um olhar rápido antes de descerem as escadas correndo e saírem da casa voltando para o jardim bem iluminado que estava cheio de mesas e cadeiras e com várias pessoas circulando.
Chegaram ofegantes até a mesa em que suas mães estavam e sentaram lado a lado nas cadeiras.
- Onde vocês estavam? – Emily perguntou olhando a filha respirar com dificuldade e reparando em seu rosto levemente avermelhado e não muito diferente do de .
- Brincando. – Os dois falaram levantando os ombros ao mesmo tempo.
A mulher os olhou desconfiada, mas sabia que mesmo se estivessem aprontando alguma coisa, nunca iriam falar, achou melhor deixar de lado e voltou a conversar com a irmã ao seu lado.
observou as próprias mãos enquanto esperava o coração desacelerar e sentiu o olhar de sobre si a analisando.
- Você sentiu alguma coisa? – Ele perguntou mais baixo, mais por vergonha do que medo que alguém os escutasse.
- Meu coração acelerou. – Respondeu com sinceridade. – E você? – O olhou ansiosa.
- Nada. – Acabou falando depois de um tempo e por pouco não voltou atrás e confessou que sentiu as mãos suarem e formigarem, enquanto um calor estranho percorreu seu corpo.
A menina balançou a cabeça concordando e deu de ombros levemente voltando sua atenção para a conversa que as mulheres na mesa estavam tendo.

# End of flashback

Observou o cachorro chocolate correr pelo gramado espantando alguns poucos pássaros que haviam por ali e riu sozinha achando graça em como Harte tinha capacidade de se divertir sozinho e com qualquer coisa. Agora ele estava maior já tinha passado da fase de ser paparicado por todas as pessoas e passara para a fase em que as elas se aproximam com medo e perguntam se ele mordia.
Ele se deitou ao lado de que estava encostada em uma árvore e apoiou a cabeça em uma das pernas dela num pedido de carinho. A menina adorava os momentos de carência do animal, ele tinha mania de querer ficar no colo, ou de deitar com a barriga pra cima para que a acariciassem. Ela levou uma das mãos até a cabeça dele e começou a fazer carinho fazendo-o fechar os olhos aos poucos.
Ouviu passos na grama se aproximando e segundos depois alguém sentar ao seu lado. Sorriu para que retribuiu antes de passar a mão rapidamente pela cabeça do cachorro fazendo-o balançar o rabo preguiçosamente.
- Qual era o assunto tão urgente do ? – perguntou o olhando.
deu de ombros soltando uma risada pelo nariz.
- Uma antiga ficante dele apareceu do nada dizendo que suspeitava estar grávida e só podia ser dele. – riu também balançando a cabeça. – Mas no final não tinha gravidez nenhuma, parece que a menina é meio obcecada pelo .
- O deve ter muitas fãs espalhadas por ai. – A menina concordou.
Alguns minutos se passaram em silêncio e os dois apenas observavam a pequena movimentação do parque. Algumas crianças brincando, alguns casais apaixonados e alguns patos barulhentos que ficavam em um lago e tinham a sorte de Harte estar bem aconchegado na perna da dona, ou eles certamente seriam sua maior diversão.
- Não gosto quando você mente pra mim. – quebrou o silêncio soltando um suspiro cansado.
- Sei que não. – apoiou as duas mãos na grama um pouco atrás de si e cruzou as pernas ficando em uma posição mais relaxada.
o olhou sabendo que ele tinha entendido o que ela quis dizer.
- Nem sou tão frágil quanto você pensa.
- Sei que não. – Repetiu a olhando e desviando rapidamente o olhar para o céu. – Encontrei a senhora Wayde alguns dias atrás. – Finalmente falou fazendo com que a menina parasse de fazer carinho no cachorro e voltasse sua atenção toda para ele. – Ela não vê o seu pai faz algum tempo e parecia assustada com uma movimentação estranha perto da sua casa.
- Movimentação estranha? – Perguntou sem entender.
- Alguns homens suspeitos, como ela mesma disse. – Deu de ombros nem um pouco confortável por estar tendo aquela conversa com a menina.
- O que você acha? – o olhou em dúvida.
- Não sei. – Preferiu não falar nas possibilidades que já havia pensado.
- Tenho medo que aconteça alguma coisa com ele. – Confessou mais baixo.
Não importava o quanto ele a tinha maltratado e o quanto ele a machucou com todas as palavras ditas durante os longos anos em que morou com ele. Acima de tudo ele ainda era seu pai e suas memórias de infância provavam que ele algum dia esteve presente na vida dela e a fez sorrir incontáveis vezes. Era ele que ficava acordado durante a noite quando ela não estava se sentindo bem ou que acampava junto com ela no jardim de casa.
- Não vai acontecer nada. – falou com a voz tranqüila querendo que aquilo fosse realmente verdade. Mas como ele podia ter certeza se suspeitava que o pai da menina estava envolvido com drogas?
Se sentou mais perto da garota também encostando-se à árvore e passou um braço por detrás dela a abraçando pela cintura. Ela deitou a cabeça em seu ombro recebendo um beijo na testa que a faz sorrir levemente, gostava do cuidado que tinha com ela, mesmo que por vezes se irritasse por ele achar que ela era de cristal e pudesse partir a qualquer momento.
- Às vezes eu me culpo por ter saído de casa e nunca mais ter dado noticia. – Comentou calmamente.
- Se você não deu mais noticia foi porque ele fez por merecer. – deu de ombros. – Não se culpe por nada, você sabe que seu pai há muitos anos perdeu o respeito por si próprio e por todos que faziam parte da vida dele.
- Não queria que fosse assim. – Se encolheu um pouco sentindo os braços de a apertarem mais contra si e ele se mexer para deixá-la mais confortável.
- Mas aconteceu e você não teve culpa de nada. – Sua voz tranqüila a reconfortou. Como sempre acontecia.
- Eu acho que eu já teria enlouquecido se eu não tivesse você do meu lado. Provavelmente estaria tão perdida quanto o meu pai. – Riu ironicamente do próprio destino.
- Você nunca foi muito boa em se virar sozinha. – zombou recebendo uma leve cotovelada na barriga.
- Queria conseguir me lembrar da primeira vez que você foi lá em casa, depois da minha tia te adotar. – Suspirou puxando todas as suas memórias de infância de sua mente. Não conseguia lembrar de alguma em que não estivesse presente. – Você lembra?
- Quase nada. – Mentiu.
Lembrava-se perfeitamente dos olhos do bebê de seis meses que o encarava como se pudesse prever toda sua vida. Lembrava-se perfeitamente de como o corpo frágil dela ficava perfeitamente seguro em seus braços como se tivesse de alguma forma sido moldado para se encaixar ali. Lembrava-se principalmente do que dissera a ela, e aquela promessa ele podia dizer que não iria quebrar nunca.



07


Abriu os olhos rapidamente com a respiração pesada e encarou o teto branco. Por alguns segundos não teve coragem de se mexer, apenas esperou sua respiração se acalmar e tateou o sofá para ter certeza de onde estava. O perfume de estava espelhado pela sala e ela se sentiu mais leve e segura. Sentou-se calmamente e viu Harte subir no sofá balançando o rabo animado.
- Bom dia, meu bebê. – Acariciou a cabeça do cachorro que se esparramou pelo sofá e se aconchegou em um canto macio.
suspirou fechando os olhos por alguns segundos ainda podendo ver imagens do seu sonho vagarem por sua mente. Ela ainda podia ver a imagem clara de sua mãe e seu pai sorrindo para ela, antes de simplesmente sumirem, desaparecerem bem na sua frente.
Se levantou passando a mão pelo rosto da tentativa de espantar as lembranças do sonho e entrou no banheiro para tomar um banho rápido e acordar de vez.

- Hey, bom dia! – A menina sorriu vendo entrar pela porta e Harte correu até ele abanando o rabo. sorriu fraco sem falar nada e caminhou até a mesa da cozinha onde tomava café, passou os dedos pela mesa fazendo desenhos abstratos e a menina o olhou sentindo o coração doer. Ela não gostava dessa sensação, e não gostava do silêncio assustador que havia se instalado no loft, nem mesmo Harte fazia barulho algum.
- O que aconteceu? – Ela perguntou baixo observando o café na xícara sem vontade alguma de tomar. suspirou audivelmente fazendo a menina prender a respiração.
- O... seu pai. – Falou fechando os olhos fortemente. o olhou sem entender, mas sentindo seu coração pesar. – Ele morreu. – deixou um gemido baixo escapar por entre seus lábios e sentiu a dor no coração ficar ainda mais insuportável. Inconscientemente levou a mão até o peito e sua respiração ficou mais pesada.
a olhou sentindo a dor da menina e segurou sua mão que ainda estava em cima da mesa. A outra mão dela continuava no peito, como se dessa forma ela pudesse fazer a dor parar. Seus olhos estavam vidrados na mesa branca da cozinha e seu rosto ficava mais pálido conforme os segundos passavam.
deu a volta na mesa e parou se ajoelhando ao lado da menina.
- Eu sinto muito. – Falou baixo vendo que a menina não esboçava nenhuma outra reação, apenas continuava ali parada com a respiração pesada. Ele a puxou para seu peito e segundos depois, sentiu a menina se contrair e finalmente começar a chorar com o rosto enterrado na curva de seu pescoço.
- Eu tive um sonho hoje. – começou a falar, sua voz saindo abafada. – Com meu pai e minha mãe, e eles sumiam bem na minha frente. Eu gritei por eles e tentei caminhar até onde eles estavam, mas eles tinham simplesmente sumido. – Afastou um pouco o rosto para olhar para o garoto em sua frente.
- Foi só um sonho, . – sorriu fraco segurando seu rosto.
- Não, não foi só um sonho, . Foi uma despedida. – Falou fungando enquanto secava as lágrimas que ainda caiam por seu rosto. – Foi minha ultima oportunidade de vê-los. E eles estavam felizes, sabe? Sorrindo e tudo. – Brincou com os dedos da mão tentando lembrar com mais clareza do sonho. Odiava o fato de nunca ter sido boa em memorizar sonhos, nem os bons e nem os ruins. Bastava uma misera horinha pra eles desaparecerem de sua mente, restando apenas alguns flashes aleatórios.
- O enterro vai ser hoje à tarde. – falou segurando em suas mãos. – Você quer ir? - Ela concordou balançando a cabeça.
Levantou-se da cadeira deixando o menino que ainda estava joelhado no chão e foi até o sofá se sentando e abraçando os joelhos com força, parecia que uma parte de seu coração havia sido arrancada. A segunda parte dele a ser arrancada, agora só restava uma. Olhou rapidamente para sentado na cadeira que ela ocupara segundos antes, seu olhar preocupado sobre ela e sua feição séria e triste. Qualquer coisa que a machucasse, o machucaria também. E vice-versa.

- ? – perguntou num tom preocupado batendo na porta do banheiro.
havia entrado para se trocar fazia quase meia hora, e aquilo já estava o deixando preocupado. Passara toda a manhã e o começo de tarde observando a menina deitada no sofá com uma expressão vazia no rosto. As lágrimas se acumulavam em seus olhos a todo instante, mas ela parecia disposta a lutar contra todas elas.
A porta do banheiro foi aberta revelando uma com o rosto mais pálido que o normal e os olhos vermelhos. A observou em silêncio sem saber as palavras certas para acalmá-la, então apenas a abraçou sentindo a menina começar a chorar segundos depois.
- Você não precisa ir se não quiser. – Falou minutos depois enquanto a menina parecia chorar tudo que havia segurado durante àquelas horas. A ouviu soltar um gemido em negação e a apertou entre seus braços.
Alguns minutos se passaram até que a menina conseguisse se acalmar e seus soluços cessarem dando lugar para apenas algumas lágrimas solitárias que vez ou outra caiam por seu rosto.
- A gente pode ir agora. – Ela falou saindo do banheiro depois de jogar uma água no rosto e constatar que nem maquiagem iria melhorar seu rosto pálido e sem vida. Mas foda-se, ela tinha acabado de perder o pai, tinha todo o direito de parecer um cadáver ou que fosse.
pegou sua mão entrelaçando os dedos no dela e saíram de casa em silêncio. E assim foi todo o caminho até o cemitério. Ficou em dúvida se ligava o rádio, mas achava que uma música lenta aumentaria o clima melancólico, e uma música pesada faria a tensão aumentar ainda mais. Optou por deixar que o barulho da cidade fosse a única coisa a ser ouvida no carro.
saltou do carro apertando o sobretudo em seu corpo, o vento gélido naquele momento lhe parecia tão inconveniente e incomodo quanto o barulho de seus passos pelo chão de pedras do cemitério. Procurou pela mão livre de que em segundos se juntou à sua com os dedos entrelaçados, estava sem a menor vontade de ter que ficar com elas dentro do bolso para esquentá-las.
De longe avistaram algumas pessoas em silêncio enquanto um padre dizia algumas palavras que por causa da distância eles não conseguiam ouvir. fez menção de se aproximar, mas sentiu a garota rígida ao seu lado, o olhar perdido em algum lugar à sua frente e a respiração que por vezes parecia falhar. A observou em silêncio e percebeu que ela não sairia dali, ela não conseguiria se aproximar mais. Alinhou-se ao lado dela e apertou carinhosamente sua mão sentindo-a corresponder da mesma forma.
Uma mulher os observou de longe e fez um breve aceno para , ele acenou uma vez com a cabeça reconhecendo a senhora Wayne. A mulher olhou que continuava com o olhar perdido e voltou sua atenção para o padre.
Os minutos já pareciam horas e achava que a qualquer momento suas pernas poderiam ceder. Sentia seu nariz doer por causa do frio, mas ela não conseguia se mexer, não queria se aproximar mais e não queria ter a confirmação de que, se não fosse por , nesse momento ela estaria sozinha no mundo.
- Vem comigo. – Os lábios de em seu ouvido a acordaram e foi como se milagrosamente suas pernas tivessem ganhado vida novamente. Ele a puxou pela mão fazendo-os contornar o amontoado de pessoas que se encontravam por ali e subiu uma rampa e alguns degraus desgastados.
observou de cima de um pequeno morro que dali podia ver perfeitamente o caixão de seu pai apesar da distância. Observou o rosto calmo de se perdendo por alguns segundos nos olhos dele que pareciam mais claros e transparentes que o normal. Ele beijou sua testa e a colocou na frente dele a abraçando pela cintura sem deixar qualquer mínima distância entre eles.
O caixão começou a descer e os dois observaram em silêncio algumas pessoas se aproximarem e jogarem flores no grande buraco que havia ali. Por alguns segundos a menina desejou que alguém também jogasse flores no espaço vazio que ficara em seu coração, talvez não doesse tanto.

# Flashback (11 anos antes)

- Pai pai, pai! – A menina pulava animada em volta do homem que sorria vendo sua pequena gargalhar. – Posso chamar o ? – Ela falou com os olhos brilhando. Como se ela aceitasse ir para algum lugar sem ele, mesmo que fosse o quintal de casa.
- Claro que pode, minha princesa. – Ele a carregou e pegou o telefone discando rapidamente o numero da cunhada. – Você fala! – Entregou o telefone para a criança vendo-a concordar freneticamente.
- ? – A excitação na voz da menina fazia o homem rir. – Eu e o papai vamos acampar no jardim de casa, mas só vai ser legal se você vier. – Qualquer pai se perguntaria o que havia de errado para a filha falar aquilo, mas quem conhecia e sabia que para eles não havia diversão se não estivessem juntos. Os dois pareciam não funcionar se estivessem separados, era como se não conseguissem se sintonizar sem a presença um do outro.
Minutos depois a menina desligou e sorriu para o pai.
- Ele vem! – Falou sem conseguir conter a animação. O pai a colocou de volta no chão e ela correu escada a cima enquanto ia gritando pela mãe.

mordeu o torresmo fazendo uma careta ao sentir sua língua queimar. O menino seu lado riu assoprando seu próprio torresmo e depois tirando um pequeno pedaço apenas para constatar se estava em uma temperatura que considerava comestível.

- Crianças, não comam muito porque pode não fazer bem a vocês durante a noite. – O homem falou sorrindo observando a filha e o sobrinho concordarem.
ajeitou a manta que cobria seu corpo e o de fazendo com que os dois ficassem mais próximos e se aquecessem mais. A pequena fogueira já estava se apagando e o calor que emanava não era mais suficiente para proteger as três pessoas do lado de fora da casa.
Duas barracas estavam logo ao lado das crianças, uma menor e uma maior para que o pai de coubesse.
- Sabia que se você passar o dedo rápido pelo fogo não vai queimar? – falou sorrindo e se aproximou um pouco mais da fogueira passando o dedo pela chama baixa.
- Não! – falou se assustando e ele riu.
- Não queima, . – Falou tranquilamente passando novamente o dedo. – Quer tentar?
- Não, tenho medo. – A menina falou com sinceridade fazendo o pai sorrir. Ele apenas observava as duas crianças enquanto lia um livro distraidamente.
- Eu não ia pedir pra você tentar se soubesse que vai te machucar. – a olhou um pouco magoado por ela ter duvidado.
- Tem certeza? – Perguntou ainda incerta e viu o menino concordar sorrindo.
se aproximou um pouco mais da fogueira e pegou sua mão fazendo com que seu dedo passasse rapidamente pela chama. A menina fechou os olhos com força e ele riu.
- Já passou? – Ela abriu um dos olhos e viu o menino passar novamente o dedo dela sem queimar. – É legal. – Riu achando graça da sensação.
- Crianças, acho que está na hora de dormir, certo? – O pai da menina se levantou deixando o livro que estava lendo em cima da cadeira. As duas crianças concordaram se levantando sem jeito para não deixar que a manta que os cobria caísse.
Com uma lanterna o homem iluminou a barraca das crianças e os ajudou a entrar.
- Não fiquem acordados conversando e se precisarem de qualquer coisa eu estarei na barraca ao lado. – Os dois concordaram com murmúrios e se deitaram nos pequenos colchonetes que havia ali.
ajeitou a manta a manta fazendo-a ficar sobre os dois enquanto a menina se encolhia.
- Tá frio. – Ela falou rindo quando ele deitou de frente pra ela.
- Você não tem medo? – perguntou baixo com o rosto próximo ao dela. arqueou uma sobrancelha sem entender. – Que apareça algum bicho aqui. – Deu de ombros.
- Não. – Respondeu calmamente. – Você tá aqui. – Ela sorriu sincera já de olhos fechados.
observou o rosto calmo da menina que respirava tranquilamente e sentiu novamente o estranho calor que percorreu seu corpo fazendo-o corar levemente. Fechou as mãos por debaixo da manta e sentiu que apesar do frio, elas suavam.
- Boa noite, . – Falou baixo também fechando os olhos.
- Boa noite, .

# End of flashback

O aquecedor do carro indicava 23 graus e ainda assim a garota podia sentir suas mãos geladas e trêmulas e seus dentes que por alguma razão ficavam se batendo todo o tempo. A volta para casa agora parecia mais longa que a ida até o cemitério, ela sentia como se estivesse sentada naquele banco há horas e ainda assim estivesse longe de chegar.
observava o céu ganhar um tom rosa alaranjado enquanto os carros ligavam seus faróis e as luzes da cidade se acendiam. Ele odiava ficar parado no trânsito e sempre que podia, evitava sair em horários de pico, mas lá estava ele seguindo lentamente atrás da fileira de carros. Podia sentir a inquietação da menina, fosse por suas mãos fechadas em punho ou por sua respiração que parecia totalmente desregulada.
observou as pessoas passarem na rua do lado de fora, completamente alheias e absortas em seus próprios problemas. Ela se perguntou se alguém mais também havia perdido uma parte de si mesmo naquele dia. Se alguém mais podia sentir um espaço oco no coração que por vezes parecia parar de pulsar. Olhou rapidamente para o lado e viu o rosto sério de que prestava atenção nas ruas. Ele sentia. E ela não gostava disso, não gostava da mania que os dois haviam adquirido desde pequenos de sentir a dor um do outro, mas era inevitável e por mais que eles tentassem fingir que estava tudo bem, sempre sabiam se estavam sofrendo.
O carro parou na vaga da garagem e saiu rapidamente indo chamar o elevador, deixando um pouco pra trás. Suas mãos inconscientemente estavam fechadas em punho ao lado de seu corpo e antes que ela percebesse que suas unhas estavam machucando sua palma, a mão quente de encaixou-se a sua com perfeição fazendo-a soltar um suspiro como se estivesse antes prendendo a respiração.
O simples gesto de segurar a mão da garota, sabia que era suficiente para acalmá-la. Ele podia saber como estava se sentindo com aquele simples toque, parecia que o contato de sua mão com a dela lhe permitia sentir o que ela estava sentindo, e vice-versa. Era mais fácil tranqüilizá-la dessa forma, especialmente quando ele nunca fora muito bom com palavras de conforto.
Entraram em casa em silêncio, que apenas foi quebrado por alguns latidos de Harte. passou a mão rapidamente pela cabeça do cachorro e pegou algumas roupas entrando no banheiro em seguida. suspirou pesadamente sabendo que ela iria voltar a chorar e por mais que ele odiasse vê-la daquele jeito, sabia que não havia nada que ele pudesse fazer.
Foi até a cozinha preparando um sanduíche rápido ouvindo o estômago protestar e se sentou comendo calmamente e consultando o relógio a todo o momento imaginando se demoraria muito para sair do banheiro fingindo que não havia ficado intermináveis minutos chorando.
Estava observando o vazio escuro da sala quando ouviu a porta do banheiro se abrir revelando uma com calça e casaco de moletom e os cabelos presos no alto da cabeça. Seu rosto não demonstrava nenhuma emoção, mas seu olhar jamais conseguiria esconder a tristeza que estava sentindo.
se levantou rapidamente.
- Quer comer alguma coisa? Posso preparar um... – Antes que conseguisse terminar a frase, balançou a cabeça.
- Não, obrigada. – Falou baixo. – Posso? – Perguntou apontando o quarto de no andar de cima. Ele concordou balançando a cabeça sabendo que ela queria ficar sozinha. A observou subir a escada lentamente e depois o loft cair em total silêncio.

Desligou a televisão sentindo os olhos pesados e ouviu Harte ressonando no chão da sala encostado no sofá. Levantou-se sem fazer barulho e agradeceu pelo cachorro parecer estar cansado demais para se levantar junto com ele.
subiu lentamente as escadas ouvindo a garota fungar no andar de cima. A única luz acesa era a do abajur ao lado da cama. estava deitada de lado, suas pernas encolhidas e suas mãos embaixo da cabeça, sua respiração estava um pouco descompassada por causa do choro baixo que ainda escapava por entre seus lábios.
- Precisa de alguma coisa? – perguntou baixo chegando perto da cama. A menina balançou levemente a cabeça em negação. – Quer algum remédio pra dormir? – Novamente ela balançou a cabeça. – Quer que eu fique aqui com você? – Sentou-se na cama e viu a menina confirmar baixinho.
Deitou-se com cuidado aproximando seu corpo do dela, um de seus braços passou por debaixo da cabeça dela, e o outro a abraçou trazendo-a mais pra perto. Beijou demoradamente sua cabeça e depois seu pescoço descoberto. Entrelaçou seus dedos aos dela e acariciou as costas da mão da menina com seu polegar.
- Tá doendo. – falou baixo fazendo o menino soltá-la um pouco. – Não é isso. – Bufou frustrada fazendo-o abraçá-la forte de novo. – É o coração. – Completou mais baixo.
- Se eu pudesse de alguma forma, fazer parar de doer, eu faria. – falou no mesmo tom, e a menina fechou os olhos sabendo que aquilo era verdade. Se ele pudesse encontrar alguma forma de fazê-la não sofrer, então ele faria, sem hesitar.


08


- , espera! Meu cadarço tá desamarrado! – reclamou num tom irritado e alegre ao mesmo tempo. Andar tentando amarrar os cadarços e ao mesmo tempo ter alguém puxando seu moletom é uma tarefa realmente difícil.
- Você amarra no caminho! – continuou puxando o capuz da menina recebendo um tapa na mão e um olhar maligno dela.
Se abaixou arrumando o all star que estava quase saindo do pé e depois arrumou o moletom, bagunçado graças aos puxões de .
- Pronto, agora podemos ir! – Falou sorrindo fazendo o menino rolar os olhos. – Nunca vi você com tanta pressa. – Reclamou colocando as mãos dentro do bolso do moletom e sentindo o vento frio jogar seus cabelos para trás. deu de ombros.
- Já disse que as inscrições acabam hoje, e eu não olhei o horário. – Falou consultando o relógio que marcava quase meio dia.
- Você tá mais preocupado do que eu. – riu. – Parece até que é você que vai se inscrever no curso.
- Isso, continua caçoando que eu nunca mais vou que nem um idiota correndo te avisar sobre algo que te interesse. – Fechou a cara fazendo-a prender o riso.
- Aw, você é tããão dramático. – Ela o abraçou de lado sem parar de andar.
- Não tem graça, . – tentou se soltar do abraço dela, mas a menina entrou em sua frente fazendo-o caminhar mais devagar e sorriu passando os braços por seu pescoço.
- Lógico que tem graça, . Você nem imagina o quão bonitinha é essa sua cara emburrada. – Riu sozinha vendo-o rolar os olhos.
- Dá pra parar de me abraçar e me deixar continuar caminhando? A gente não vai chegar lá a tempo. – Tirou delicadamente os braços da menina de seu pescoço fazendo-a estender a língua.
- Rabugento! – Brincou pegando sua mão livre e quando ele fez menção de soltá-la, entrelaçou os dedos nos dele.

- Acho que é aqui. – apontou uma casa de madeira escura. Estivera ali algumas horas antes, mas podia jurar que vira um anúncio sobre um curso de Design na porta.
Entraram pela porta de vidro da casa ainda de mãos dadas e foram recebidos por uma senhora sorridente que arrumava alguns papéis em cima da mesa.
- Posso ajudá-los? – Perguntou serenamente. balançou a cabeça confirmando.
- Não era aqui que estava acontecendo as inscrições para um curso de Design? – Perguntou em duvida.
- Sim, aqui mesmo. Eu apenas tirei o cartaz da porta porque o período de inscrições acabou dez minutos atrás. – Confirmou.
apertou a mão de sem acreditar em sua falta de sorte.
- Será que a senhora não pode nos ajudar e deixar que ela se inscreva? Eu vi o cartaz mais cedo, mas ela não estava comigo e eu tive que ir até em casa para trazê-la. – Pediu fazendo a cara convincente que sabia que só ele conseguia fazer.
A senhora observou o relógio por alguns segundos e depois olhou a pilha de inscrições em cima da mesa, não era muito grande, mas havia um numero considerável.
- Tudo bem, afinal são apenas dez minutos. Mas, por favor, não demorem. – Sorriu lhes entregando algumas folhas para que pudesse preencher e a menina sorriu agradecida. Sentaram-se em algumas cadeiras que havia por ali e enquanto preenchia uma das folhas, a ajudava preenchendo a outra.
- Você vai ter que ser meu responsável. – Ela riu colocando o nome de na folha. – Que absurdo! – Fez careta.
- A gente mora junto, não faz diferença. – Ele deu de ombros também rindo.
- Olha, eu posso ganhar bolsa de estudo na Rússia ou no Japão. – falou lendo a parte de trás da folha. – Cara, imagina um curso de Design no Japão! – Falou pensativa. fez uma careta discreta sem gostar da idéia. A menina o olhou e viu que ele ainda terminava de preencher a ficha.
- Pronto. – Falou pegando a folha que a menina tinha preenchido e juntando com a sua. – Aqui, senhora. – Entregou as duas folhas para a mulher que sorriu.
- Se inscrevendo para fazer o curso você já automaticamente concorre as bolsas de estudo fora do país. – Esclareceu vendo concordar com um sorriso. – Boa sorte. – Falou sorridente e os dois acenaram com a cabeça saindo da casa.

# Flashback (10 anos antes)

- Você ainda vai demorar? – perguntou sentada na cama observando o menino concentrado na tela do computador.
- Acho que não. – respondeu sem desviar o olhar do monitor.
A menina bufou irritada e deitou na cama ainda deixando as pernas cruzadas. Era sábado à tarde e desde que chegara à casa de , o menino estava fazendo um trabalho do colégio. Ela já havia lido revistas, assistido televisão, ouvido música, mas nada conseguia prender sua atenção por muito tempo.
Desde que completara 12 anos e entrara na irritante fase da adolescência, ela vinha sentindo que estava perdendo seu melhor amigo tanto para os estudos como para os novos amigos dele.
O telefone tocou no criado mudo ao lado da cama e atendeu ouvindo uma voz feminina perguntar por do outro lado da linha. "Só um instante", murmurou mal humorada estendendo o telefone para o menino que a olhava.
- Oi, Katlin! – falou animado e saiu do quarto deixando encarando a cadeira vazia que antes ele estava sentado.
Abraçou as pernas suspirando alto e desejou que eles nunca precisassem crescer. A maldita chegada da adolescência de a irritava. Se ao menos eles tivessem a mesma idade as coisas seriam mais fáceis. Eles poderiam ir para a escola juntos e não a trocaria por um telefonema de alguma garota da mesma idade que ele.
Ouviu uma risada alta vinda do corredor e segundos depois adentrou o quarto desligando o telefone e sentando novamente na cadeira em frente ao computador sem dizer nada.

Meia hora depois desligou o computador e sorriu observando a menina adormecida em sua cama. Ela estava crescendo tão rápido que por vezes ele sentia medo de perdê-la, e por mais que soubesse que, mesmo sem querer, algumas vezes a estava deixando de lado por causa do colégio e dos novos amigos, se sentia egoísta o suficiente pra desejar que ela não fizesse o mesmo com ele. Não queria perdê-la para meninas bobas pré-adolescentes e nem para um garoto qualquer que pudesse se aproveitar dela.
Deitou de barriga pra cima ao lado da menina e ficou observando o teto sentindo a respiração calma dela bater em seu pescoço.
As horas que passava com eram as únicas em que ele se sentia ele mesmo, se sentia seguro com ela, não precisava fingir que gostava de alguma coisa apenas para agradá-la, ela sabia melhor do que ninguém como ele era, o que gostava e como se sentia. o aceitava como ele era e nunca faria nada para mudá-lo, sentia como se ela fosse uma parte dele mesmo que nascera separada do seu corpo. Ela era aquela parte que as pessoas estão sempre em busca e que levam anos para encontrar, se é que encontram.
abriu os olhos encontrando os olhos de a encarando.
- Eu dormi? – Perguntou coçando os olhos e confirmou rindo. – Achei que você fosse sair. – O olhou com a sobrancelha arqueada.
- A gente combinou de ver filme, lembra? – Sorriu.
- Mas achei que seus amigos tivessem te chamado. Não foi pra isso que aquela menina te ligou?
- Aham. – confirmou e fechou a cara. – Mas eu falei pra ela que já tinha combinado de ficar com você. – Falou a olhando com sinceridade.
abriu a boca tentando achar alguma coisa para falar, mas sua única ação foi abraçar o menino e enterrar seu rosto na curva do pescoço dele sentindo as lágrimas chegarem até seus olhos. sorriu abraçando a menina pela cintura.
- Eu amo você, . Nada muda isso. – Falou respirando o perfume de morango que saia do cabelo dela.
- Também amo você. – Respondeu com a voz fraca desejando que aquele momento durasse para sempre.

# End of flashback

- , senta aqui. – chamou enquanto o menino descia as escadas bagunçando o cabelo.
- Pra quê? – Perguntou desconfiado.
- Ai, deixa de ser chato e senta logo aqui, garoto. – Ela apontou o espaço vazio do sofá fazendo-o arquear a sobrancelha. – Ai, eu to carente hoje, tá legal? Só quero sua companhia, droga. – Cruzou os braços olhando para a televisão e riu baixo.
- Tpm, é? – Perguntou deitando no sofá com a cabeça no colo da menina. Ela negou balançando a cabeça.
- Só carência mesmo. – Respondeu mais baixo passando as mãos pelo cabelo do menino.
- Então pode ficar carente sempre. – Ele sorriu fechando os olhos e aproveitando o carinho. sorriu sozinha observando o rosto sereno do garoto e se ajeitou no sofá colocando uma almofada em seu colo para que ele ficasse mais confortável. Seus dedos brincavam com o cabelo de desarrumando-o enquanto fazia penteados nele.
- Não dorme. – riu baixinho abaixando o rosto.
- Sério que você não quer que eu durma? – brincou abrindo apenas um olho e encarando a menina. Ela riu balançando a cabeça negativamente.
- Quero sua companhia, lembra? – Arqueou a sobrancelha vendo-o concordar vagamente com a cabeça. – Gosto de ficar assim com você. – Passou o dedo levemente pela testa dele e desceu contornando o rosto calmamente.
- E eu gosto da carente. – Abriu os dois olhos encarando a menina que estava perdida em pensamentos observando seu rosto e fazendo o contorno dele com seus dedos. Os cabelos dela presos em um coque frouxo deixavam seu rosto com um ar mais inocente e pôde ver quando suas bochechas ficaram levemente coradas e se deu conta de que estava tão perdido no rosto de , quanto ela estava no dele.
Eles não precisavam de palavras em momentos como esse, sabiam o que estavam pensando e o que estavam sentindo. Também não precisavam de esforço algum pra se aproximarem, antes que pudessem reparar já conseguiam sentir as respirações se misturando e os lábios se encostando lentamente e se abrindo na mesma hora para que pudessem sentir seus gostos já tão conhecidos e ainda assim tão novos.
Os dedos de se perderam nos cabelos da menina, enquanto acariciava seu rosto com o polegar fazendo movimentos circulares. partiu o beijo apenas por alguns segundos, para que pudesse se sentar e ficar de frente para a menina que sorriu docemente quando ele a puxou para sentar em seu colo.
Harte estava deitado no chão ao lado do sofá e espirrou fazendo os dois partirem o beijo novamente para poder dar risada.
- Nossa, isso é que eu chamo de quebrar o clima! – riu alto ainda sentada no colo de e olhou o cachorro que continuava deitado com os olhos fechados sem saber o que tinha acabado de fazer.
- Sério, esse animal me odeia! – falou indignado pegando uma almofada para jogar no cachorro, mas sendo impedido por .
- ! – O repreendeu tirando a almofada de sua mão.
- Eu não ia jogar de verdade, . – Falou sincero a olhando. – Se alguém visse isso ia até pensar que eu maltrato o Harte.
- , você tá rabugento hoje. Já falei isso? – A menina o olhou sorrindo.
- Rabugento, é? – sorriu de lado a olhando. já sabia o que ele ia fazer, mas antes que pudesse se levantar e sair correndo ele a deitou rapidamente no sofá e começou a fazer cócegas em sua cintura, fazendo-a se contorcer.
- Nããão! , pára! – Ela falava entra as risadas fazendo o menino rir de suas tentativas frustradas de se soltar dos braços dele.
- Você se contorce demais, cara. Tenho medo que atinja alguma área frágil. – Ele riu deixando seu corpo cair por cima do de e enterrou o rosto no pescoço dela, como ela gostava de fazer com ele.
- Rabugento e fresco! – falou baixo no ouvido dele e riu baixo quando ele estremeceu.
começou a dar pequenos beijos no pescoço da menina que fechou os olhos sorrindo e segurou com força na camisa que ele vestia. Aos poucos os beijos foram virando chupões e ela teve que morder o lábio para evitar que alguns gemidos escapassem. As mãos dele percorreram seu corpo e pararam em sua cintura a apertando por debaixo da blusa enquanto ela entrelaçava os braços em seu pescoço sentindo se afastar um pouco apenas para poder olhá-la e passar o nariz carinhosamente pelo dela fazendo-a sorrir.
- Rabugento, fresco e lindo! – Eles riram baixo e prendeu o lábio inferior da menina entre seus dentes, puxando-o devagar fazendo-a suspirar pesadamente. Ele segurou o rosto dela com uma das mãos e a observou fechar os olhos enquanto ele acariciava sua bochecha com o polegar e assoprava os lábios molhados dela.
sorriu sozinho vendo a menina daquela forma, ela ficava incrivelmente linda e ainda mais desejável com os olhos fechados e um sorriso no canto dos lábios. Encostou sua boca na dela lhe dando um selinho demorado e depois passou a língua por seus lábios sentido-os se abrirem dando passagem para encontrar com a língua dela.
apertou mais seus braços em volta do pescoço de e encaixou uma de suas pernas entre as dele. Sentiu ele morder lentamente seu lábio inferior, puxando-o seguidas vezes e sorriu gostando da provocação. Achava incrível a forma como sabia o que fazer em momentos como aquele, ele conseguia provocar diversas sensações na menina e fazê-la se sentir segura de verdade. Segura de que era aquilo que ela queria e que não havia nada mais certo do que aquilo. Do que a certeza deles dois juntos em seu mundinho impenetrável.


09


- Faz quanto tempo mesmo? Digo... que vocês estão, er... ficando? Se pegando? Ou sei lá o quê... – riu.
- Duas semanas. – suspirou.
- Cara, você sabe que ela gosta de você. – a garota parou no topo de escada ao ouvir a voz de vindo da cozinha. – E não é de agora.
- Eu também gosto dela, , desde sei lá... sempre! Mas não é assim que as coisas funcionam. Nós fomos criados juntos, entende? Ela é... minha prima, minha familia! – falou num tom de voz mais baixo. Os quatro ficaram em silêncio alguns instantes e ponderou se descia ou continuava ali. Preferiu optar pela segunda opção quando quebrou o silêncio.
- Tecnicamente, vocês não são realmente primos, então eu não vejo problema. – Deu de ombros.
– A questão não é essa, ! – suspirou passando a mão nervosamente pelo cabelo. Deu um gole na cerveja e observou o céu claro pela janela. Ele bem queria que o único problema fosse o fato deles serem primos ou terem sido criados juntos, mas ia muito além disso. Fechou os olhos lembrando-se de sua mãe e bufou irritado. – Se ela ao menos tentasse, poderia conseguir qualquer cara que ela quisesse, a é incrível! Ela é linda, esperta, inteligente, engraçada...
- E gostosa pra caralho. – completou com um sorriso e levou um pedala de .
- , cara, esqueça. Do pouco que eu conheço a , ela não vai desistir de você. - falou calmamente olhando para o amigo. – Uma hora ou outra você vai acabar se envolvendo demais. Mulheres, meu caro, quando a gente menos espera já estamos apaixonados por elas. – falou sabiamente fazendo sorrir.
suspirou chegando a conclusão de que eles já tinham se envolvido demais desde o dia em que se conheceram.
- É frustrante. – Falou balançando a cabeça. – Ela nunca saiu para conhecer pessoas novas, nunca teve a chance de conhecer caras que poderiam ser legais pra ela. – Olhou para os amigos que se entreolhavam e bufou desistindo de fazê-los entender.
Caminharam de volta até sala obrigando a menina a entrar no banheiro novamente e encostar um pouco a porta para que eles não reparassem em sua presença. Pela fresta que ficou aberta, pode ver os quatro sentarem no sofá e no chão da sala em silêncio.
- Não esquece o seu encontro hoje com a Cindy. – falou distraidamente batendo na perna de e o menino engasgou o olhando.
- O meu... Cindy? O quê? – Perguntou sem entender recebendo um tapinha no ombro.
- A Cindy, seu gay! Lembra aquela minha amiga que gostou de você e eu disse que marcaria um encontro com vocês dois? – Os outros três riram quando bateu na testa fortemente se lembrando que lhe falara sobre esse encontro semanas antes.
- Se você se esqueceu da Cindy... – fez um gesto com a mão como se desenhasse as curvas de uma mulher. – Então é porque a anda tomando espaço demais na sua cabeça. – Riu fazendo um coração no ar e recebendo um olhar torto de .
- Então, você vai? – se pronunciou o olhando.
Um silêncio tomou conta da sala e prendeu a respiração chegando o mais perto que pôde para ouvir a resposta de . O menino apenas deu de ombros jogando a cabeça no encosto do sofá e apertando os olhos com uma das mãos.
saiu do banheiro e bateu a porta, fazendo um estrondo proposital. Do andar de cima ela viu os quatro garotos a olharem apreensivos e sorriu docemente.
- Olá, garotos! – Desceu as escadas rapidamente e pegou a bolsa na poltrona.
- Oi, ! – , e responderam em coro.
- Vai sair? – perguntou arqueando a sobrancelha.
- Vou, tchau! – A garota respondeu saindo rapidamente pela porta sem olhar para trás.
Odiava quando reagia daquela forma insegura. Parecia que alguma coisa o afastava sempre que eles estavam realmente se entendendo. Bufou descendo as escadas apressadamente e se sentiu mais tranqüila quando saiu na rua e um vento frio tocou seu rosto.
Não gostava nem da possibilidade de perder para outra garota, era uma sensação estranha pra ela. Por vezes tentava imaginar seu futuro sem ele, mas parecia sempre que faltava alguma coisa, como se uma parte dela não estivesse realmente lá... era tudo incompleto.
"Uma hora ou outra você vai acabar se envolvendo demais."
Lembrou do que dissera e riu sozinha enquanto caminhava pelas ruas. Talvez a gente tenha envolvido demais desde que nos conhecemos, pensou.


- Bebendo antes do encontro? – A garota falou descendo o ultimo degrau e a observou de cima a baixo. Ela vestia apenas uma baby look e uma calcinha azul com pequenas nuvens brancas. A garota sexy-inocente estava de volta, e ele estava ferrado mais uma vez. – A garota é baranga ou burra? – Ela perguntou sarcasticamente abrindo a geladeira e se abaixando um pouco propositalmente. Puta merda, ele estava muito ferrado.
- Espero que seja a segunda opção. – Ele resmungou bebendo mais um gole da cerveja e desviando o olhar para a televisão desligada à sua frente.
- Você podia tentar conciliar esses dois atributos em uma garota só, sabia, ? – Ela o olhou sorrindo. – Inteligência e beleza, não é assim tão difícil. - Caminhou lentamente até o sofá e parou quando estava perto o suficiente para sentir o perfume do garoto. Sorriu sozinha o observando enquanto ele tentava desesperadamente desviar o olhar das pernas desnudas dela.
bateu os pés num ritmo desesperado no chão enquanto seu cérebro tentava pensar numa resposta rápida. Olhou novamente para a calcinha azul da garota e fechou a mão com força na garrafa de cerveja. Porra, o álcool não estava o ajudando.
- Então... Quer ajuda pra elaborar uma resposta? – perguntou afastando sua mão que segurava a cerveja e estava apoiada em sua perna e sentou em seu colo com uma perna de cada lado da sua cintura. suou frio. Essa mania de ler seus pensamentos e o fazer suar frio nos piores momentos, não era muito agradável.
- , não começa. – Ele falou nervosamente vendo a garota em sua frente sorrir de uma forma sexy e maliciosa. Sentiu os lábios dela encostarem lentamente em seu pescoço e distribuir alguns beijinhos por ali. Porque seu corpo tinha que reagir tão rapidamente ao mínimo toque dela?
- Começar o que? – Ela perguntou o olhando e sorrindo. – Eu só acho que você deveria ficar em casa hoje à noite. Sabe? Eu odeio ficar sozinha num sábado à noite. – Ela brincou com o primeiro botão de sua camisa e ele a olhou sentindo a respiração começar a ficar mais pesada.
O primeiro botão foi aberto e ele bebeu um gole da cerveja deixando que ela começasse a brincar com o segundo botão de sua camisa. Uma de suas mãos ainda segurava a cerveja com força e a outra estava largada em cima do sofá, o punho fechado e o mais distante possível da perna da garota que parecia uma espécie de imã para suas mãos.
O segundo botão foi aberto. O terceiro. O quarto.
- , por favor. – Ele tentou fechar os botões, mas a garota afastou suas mãos que num gesto inconsciente, ou não, foram parar naquelas pernas que tanto o atraiam.
- Viu? – Ela sorriu olhando para as mãos do menino em sua perna. – Você não precisa sair hoje à noite. – Beijou o queixo dele lentamente e depois prendeu seu lábio inferior entre seus dentes, o puxando levemente. As mãos de apertaram as coxas dela. Merda, ele era tão fraco. abriu os botões que faltavam da camisa do menino e depois o olhou sorrindo. Dew uma forma ou de outra, ele sempre se deixava ser seduzido por ela. Agora era tarde demais.
levou uma de suas mãos até a nuca da garota e a puxou para um beijo que imediatamente fez seu corpo inteiro corresponder aquilo. Sua outra mão subiu até a cintura dela por debaixo da blusa e ele sentiu ela se arrepiar. Ótimo, pelo menos ele não era o único vulnerável ali.
Deitou a garota no sofá ficando por cima dela e abriu suas pernas para que as dela ficassem no meio. Uma parte do seu cérebro mandava ele se afastar, mas a outra o mandava seguir em frente perguntando o que havia de errado naquilo? Não tem nada de errado!, pensou. Mas ele prometera...
Quando deu por si, já estava deitado no sofá com por cima dele. Que droga aquela garota fazia com ele?
Ela desceu os beijos para o pescoço dele passando a mão por seu peito e sua barriga descobertos. já sentia seu corpo correspondendo de todas as formas possíveis, e sua calça começava a incomodá-lo. Aonde ele tinha se enfiado? Cindy estava lá o esperando, seria tão mais fácil pra ele lidar com ela e não com .
Suas mãos inquietas passeavam pelo corpo da garota sem saber aonde pararem. Ele já conhecia cada pedacinho dela, era como se ela fosse uma ilha deserta e ele fosse o único morador, só ele conhecia aquela ilha tão bem como a palma da sua mão.
As unhas da garota arranharam sua barriga obrigando-o a fazer uma careta e apertar os lábios para que não deixasse um gemido escapar por eles. Os beijos que ela dava em seu pescoço só ficavam mais provocantes. Ela trilhou um caminho de beijos até seu peito enquanto com as mãos abria o cinto e a bermuda xadrez que o garoto usava.
Enquanto ela descia os beijos ainda mais pela sua barriga o garoto a observou sentindo a respiração falha. Que porra ele estava fazendo? Por Deus, aquela era ! Ela era sua menina e outro dia mesmo eles estavam brincando de fazer anjinhos na neve ou acampando no jardim. E agora ela ia...
Quando sentiu a garota tocar no elástico de sua boxer a puxou pelo braço num impulso.
- Nem pense nisso! – Falou irritado a olhando nos olhos. Irritado consigo mesmo e com ela. Ele era homem, droga! Será que era tão difícil pra ela entender isso? Se ela ao menos não provocasse tanto e não fosse estupidamente gostosa.
arqueou a sobrancelha sem entender a reação do garoto.
- Droga, ! Pelo amor de Deus! – Ele falou impaciente sentando-se no sofá passando a mão pelo rosto e cabelo, tentando reorganizar as idéias. – Será que é tão difícil pra você entender que eu sou homem e tenho minhas vontades? Você não pode simplesmente me provocar assim! Já pensou o que poderia ter acontecido agora? Você acha que eu ia me perdoar algum dia se deixasse você fazer... aquilo? – Levantou do sofá abotoando a camisa e fechando o cinto novamente.
Olhou ainda sentada no sofá abraçando os joelhos e olhando calmamente para as unhas. Menina teimosa! Ela tinha que parecer sexy até enquanto observava as unhas?
- Volto mais tarde! – falou baixo pegando a carteira e a chave do carro saindo do apartamento em seguida. Ele só precisava de alguma bebida alcoólica e uma mulher.
Qualquer uma que não fosse .

# Flashback (9 anos antes)

- O ligou? – perguntou observando a mãe guardar algumas coisas nos armários da cozinha. A mulher a olhou sorrindo carinhosamente.
- Não, meu anjo. Mas daqui a pouco vamos até lá, lembra? – Passou a mão pelos cabelos da menina que deu de ombros suspirando e saiu da cozinha correndo até o quarto.
Sentou na cama cruzando as pernas e abraçando um travesseiro enquanto encarava o mural de fotos na parede do quarto. Fotos de seus pais, seus colegas de infância que ela já nem sabia mais quem eram e fotos dela com . Várias fotos deles dois. Aquele mural era praticamente um túnel do tempo, havia fotos desde que ela era bebê, até os dias mais atuais.
Fechou os olhos por alguns segundos tentando se lembrar da ultima vez que falara com . Quase duas semanas haviam se passado e ela sentia um vazio dentro de si, tudo parecia errado quando ele não estava por perto. Seus pais continuavam brigando praticamente todos os dias e ele era a única pessoa a quem ela podia recorrer. Ele sempre estava lá para acalmá-la e dizer que tudo ia ficar bem, e agora tudo parecia apenas piorar.

Tomou um banho rápido pensando se estaria na casa dele quando ela chegasse, precisava dos abraços reconfortantes dele. Vestiu uma bermuda jeans, uma camisa rosa clara quadriculada e o tênis de sempre. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto e botou os pequenos brincos prateados que sua mãe havia lhe dado de aniversário.
- Tá pronta? – Emily entrou no quarto e sorriu ao ver a filha se encarando no espelho. A menina apenas confirmou com a cabeça se virando para a mãe. Forçou um sorriso reparando a apatia da menina, sua pele parecia mais pálida que o normal e seu olhar não demonstrava nenhum tipo de emoção. Não conseguia entender que tipo de relação ela e mantinham, mas sabia que havia algo mais intenso do que uma relação saudável de amizade entre duas crianças. Sentia medo por isso, era como se uma parte de sua filha se apagasse quando ele não estava por perto. Sempre fora assim, desde que eram crianças.

Tocou a campainha da casa sentindo as mãos geladas e lançou um olhar ansioso para a mulher ao seu lado. Ela apertou carinhosamente seu ombro quando ouviu a porta da casa ser destrancada e sua irmã lhes sorrir.
abraçou a tia lhe lançando um sorriso rápido e passou os olhos pela casa na expectativa de vê-lo por ali. Nem sinal. As duas mulheres conversavam animadas e seguiram para a cozinha deixando-a na sala pensando se perguntava a sua tia se estava em casa ou não. Suspirou optando por subir as escadas silenciosamente ouvindo as vozes se afastarem e um silêncio ir tomando conta do corredor na parte de cima da casa.
A porta do quarto dele estava entreaberta com o aviso de "Não Entre" virado. Ela odiava aquele aviso, fora posto ali quando ele entrou na adolescência e aprendera a usar a palavra privacidade em momentos adequados. Abriu um pouco mais a porta sem fazer barulho e demorou alguns segundos para avistar a figura de sentada no chão com as costas apoiadas na cama e as pernas encolhidas. Caminhou até lá e sentou ao seu lado também encolhendo as pernas.
- Oi. – Falou calma olhando o perfil do menino até ele virar o rosto para encará-la.
- Oi – Respondeu da mesma forma esboçando um sorriso que passaria despercebido pelo olhar de qualquer um que não fosse . – Senti sua falta. – Admitiu olhando os próprios pés.
- Também senti sua falta. – Abraçou os joelhos. – As coisas lá em casa estão chatas. – Suspirou recebendo um olhar confuso do mais velho. – Mamãe e papai continuam brigando. – Deu de ombros.
- É normal os casais brigarem. – brincou com o carpete que cobria o chão do seu quarto.
Um silêncio se instalou no quarto e observou algumas folhas que estavam no chão próximas a ela. Passou os olhos rapidamente constatando que era algum trabalho escolar de e leu no final da página; "Dupla: e Katlin Smith". Desejou por alguns segundos que fosse seu nome ali ao lado do dele, como sempre fora, fosse em pedaços de árvores ou em desenhos infantis.
- Você gosta dela? – Perguntou num tom de voz quase inaudível sem tirar os olhos da folha de papel. acompanhou seu olhar e deu de ombros.
- Não sei. – Respondeu com sinceridade. – Eu... – Suspirou pesadamente tentando encontrar as palavras certas. – Beijei a Katlin, de verdade. – Confessou com medo da reação da garota ao seu lado.
não se moveu e nem tirou os olhos da folha no chão.
- Eu senti sua falta. – Repetiu com a voz estável. Havia aprendido com a ser madura cedo demais.
- Desculpe. – respondeu a olhando.
Para qualquer pessoa que escutasse aquela conversa, seria como se faltasse um pedaço dela, alguns esclarecimentos, algumas palavras exaltadas e outras mais calmas. Mas eles não precisavam disso, eles conversavam no silêncio agonizante que deixaria qualquer espectador revoltado e ainda assim seduzido por aquele espetáculo sigiloso.

# End of flashback

Seus olhos se fecharam por alguns segundos e depois abriram novamente encarando a televisão ligada em algum filme de ação. Ela nem gostava desse tipo de filme, mas o barulho a mantinha acordada. Respirou fundo se sentando no sofá, ou acabaria pegando no sono mesmo com aquela barulheira de gritos e tiros que vinha de filme. Eca.
Encarou a porta do loft tentando apenas com a força do pensamento fazer com que entrasse por ela. Já eram quase onze horas da noite e ainda não havia dado noticia, ela odiava quando ele fazia isso. Desejou por alguns segundos não ter o provocado daquela forma, mas era simplesmente algo maior do que ela. Ele estava sempre por ali passeando pra lá e pra cá apenas com suas boxers engraçadas e a provocando mesmo sem saber, e se ele fazia, por que ela também não poderia? Ela tinha tantos desejos e vontades quanto ele.
O barulho da chave girando na porta a acordou de seus pensamentos e viu entrar e passar direto por ela sem nem olhá-la.
Ele odiava fazer isso, ignorar era uma coisa que doía nele mesmo.
Ela abraçou as pernas olhando para o chão sem coragem de falar qualquer coisa. Preferia que a xingasse do que a ignorasse. Ouviu a porta do banheiro no andar de cima bater com força e o chuveiro ser ligado em seguida. Suspirou profundamente sentindo uma dorzinha estúpida incomodar seu peito.

ficou embaixo do chuveiro deixando que a água gelada praticamente congelasse seus ossos. Era tudo que ele precisava. Fechou os olhos com força tentando não pensar em nada, mas a porcaria da culpa o estava assombrando. Será que ele não conseguia ignorar a garota nem por um segundo sem sentir idiotamente culpado por isso? Ela mesma era culpada pela culpa que ele estava sentindo. Ela e a sua estúpida calcinha azul com nuvens brancas.
Ele nunca fora tão vulnerável nas mãos de uma garota, mas com era sempre assim. Desde que eram adolescentes, desde o primeiro beijo, desde sempre. E depois de anos achando que tudo havia sido apenas sua imaginação, lá estava ele de novo se sentindo fraco e vulnerável. Patético.
Desligou o chuveiro e pegou a toalha rapidamente a esfregando pelo corpo numa tentativa de não sentir tanto frio. A boxer de patinhos que havia lhe dado alguns meses antes pendia atrás da porta, ele bufou a vestindo e passou a mão pelo cabelo rapidamente fazendo com que o espelho ficasse todo molhado.
Quando abriu a porta do banheiro viu a imagem de sentada em sua cama com as pernas cruzadas como um índio e aquela feição que ele conhecia tão bem; ela queria pedir desculpas, mas pra variar não sabia como.
Ela sempre fora péssima em pedir desculpas, muitas vezes por orgulho, outras vezes por não saber o que falar. era uma das poucas pessoas a quem ela conseguia pedir desculpas, mesmo que desse milhares de voltas para conseguir finalmente dizer a palavra.
A olhou por alguns segundos ainda em dúvida do que fazer, e quando decidira por ignorá-la novamente, ela resolveu falar.
- Você podia ter ao menos ligado pra falar que ia chegar tarde. – A voz de saiu baixa, mas firme. – Eu fiquei preocupada. - observou a sala escura no andar de baixo, iluminada apenas pela televisão.
- Eu acho que já sou crescidinho demais pra ter que ficar dando satisfações pra alguém. – Respondeu sério.
- Então eu devo ser estúpida demais por ainda me preocupar com você! – A irritação fez a voz dela sair mais alta. – Espero que você tenha se divertido com a Cindy. – Frisou o nome da menina e se levantou da cama na intenção de voltar para a sala.
- Eu não saí com a Cindy. – deixou escapar e observou a menina parar no meio da escada e se virar para encará-lo.
- Saiu com alguma outra mulher? – Perguntou com medo da resposta, mas sentiu um alivio imediato quando viu o garoto negar balançando a cabeça.
- Eu fui pra casa do , os caras estavam lá. – Deu de ombros.
concordou vagamente com a cabeça. Olhou os degraus da escada que faltava descer e depois olhou novamente pra mordendo o lábio.
- Desculpa. – Falou por fim fazendo o garoto a olhar. – Por hoje mais cedo... – Suspirou sem vontade de completar a frase. Ela não se arrependia do que tinha feito, apenas se arrependia de ter deixado irritado.
- Me desculpa também. Acho que fiz tempestade num copo de água. – Falou com simplicidade. – Eu não precisava ter aumentado a voz com você. – E ele bem sabia o quanto ela odiava que aumentassem a voz para ela.
balançou a cabeça sem jeito e sem saber direito o que fazer, no final acabou se decidindo por voltar para a sala, o barulho do filme de ação já estava a tirando do sério.
Se jogou no sofá encolhendo as pernas e as abraçando pelo joelho e botou em um canal de clipes. Ela amava assistir clipes, era sua terapia. O único problema era quando começava aquela seção de clipes de rap que a deixava totalmente frustrada, se ao menos os clipes fossem diferentes. Mas era sempre um monte de mulheres seminuas, jóias, dinheiro e carros importados para todos os lados. Argh. Rappers podem ser seres desprezíveis.
Sentiu o sofá afundar e se deparou com ao seu lado com um sorriso infantil no rosto.
- Não tá com sono? – Perguntou calmamente. balançou a cabeça negando. – Estranho você ainda estar acordada. A televisão ligada te faz dormir. – Falou com convicção.
- Faz. – Concordou mesmo sabendo que ele não fizera uma pergunta. – Mas eu estava realmente preocupada.
- Você nunca vai deixar de se preocupar comigo, né? Mesmo que eu tenha 40, 50 anos. – sorriu fazendo a menina rir pelo nariz concordando.
- Você vai parar de se preocupar comigo? – O olhou mordendo o lábio inferior e viu negar sorrindo. - Consegue esquecer o que fez você se irritar hoje mais cedo e me deixar voltar a fazer o que estava fazendo? – sorriu de lado observando o menino deixar um riso baixo escapar.
- Se eu disser que não você vai me provocar de novo? – Ele a olhou com a sobrancelha arqueada.
- Pode apostar! – Riu.
- Ah, então a resposta é não. – Falou um pouco mais sério e depois sorriu de lado.
- Hm... – A menina se virou pra ele com a sobrancelha arqueada. – Sempre posso tentar te fazer mudar de idéia! – Sentou no colo dele desligando a televisão e jogando o controle no chão.
Começou a dar leves beijos no pescoço de sentindo-o acariciar suas pernas e aos poucos foi fazendo os beijos virarem chupões que com certeza deixariam algumas marcas pelo pescoço do garoto.
fechou os olhos sentindo a garota trilhar um caminho até seu ouvido e morder levemente seu lóbulo. Suas mãos subiram pelas pernas dela até irem parar embaixo da blusa que ela vestia, apertou sua cintura com força sentindo os beijos dela chegarem até sua boca e no mesmo instante sua língua pedir a passagem facilmente cedida. A menina se ajeitou no colo dele colocando uma perna de cada lado do seu corpo e ele a puxou ainda mais para perto se esquecendo da lei de que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço.
desceu as mãos até a barra da camisa do garoto e a puxou desajeitamente para cima, partindo o beijo apenas por milésimos de segundos suficientes para jogar a camisa do outro lado da sala. Com um pequeno impulso fez com que ela se deitasse no sofá e ficou por cima puxando a perna dela para cima para que pudesse encaixar as suas entre as dela.
Passou as unhas pelas costas dele ouvindo um gemido abafado sair pela boca do menino e sorriu para si mesma, ela amava provocá-lo e sentir ele reagir ao toques dela. desceu a mão pelas costas dela e apertou levemente sua bunda fazendo-a rir, mas impedindo-o de quebrar o beijo. Levantou a camisa da menina aos poucos, beijando cada novo pedaço revelado da barriga dela e quando terminou de tirá-la não pôde evitar olhar para os seios da menina ainda dentro do sutiã.
Beijou o colo desnudo dela deixando que suas mãos passeassem por aquele corpo que ele tanto adorava e que vinha habitando seus pensamentos. Os dedos da menina delicadamente entrelaçados em seus cabelos faziam um carinho gostoso e provocante que o fazia esquecer qualquer outra coisa que não fosse o corpo dela em contato com o dele.
Procurou pelos lábios dela novamente e deixou que suas línguas brincassem enquanto vez ou outra mordiscava o lábio inferior dela ouvindo-a ofegar e apertar as unhas em suas costas e ombros. As mãos dela brincaram com o elástico de sua boxer e ele sentiu como se tivesse levado um murro quando começou a abaixar a boxer.
- O que foi? – Ela perguntou confusa quando ele se afastou e sentou no sofá com a boca vermelha e a respiração descompassada.
- , a gente não.. vai... – Falou com dificuldade tentando encontrar as palavras certas, e que não soassem como se ele fosse a garotinha da relação ou seja lá o que fosse que eles tivessem.
- Transar? – completou a frase ainda tentando entender qual era o problema de . Ele a olhou procurando por alguma resposta, mas ela apenas bufou e se sentou no sofá direito. – Então me diz, . O que a gente vai fazer? Ficar se pegando no sofá e em outros cantos da casa pra sempre? É isso?
-NÃO! – Respondeu irritado. – A gente só... não precisa fazer isso agora. – Completou passando a mão pelo cabelo.
- E se depender de você nem agora e nem nunca, . Essa é a segunda vez que isso acontece. Por Deus, eu nunca vou perder o cargo de prima fraca e mais nova que você tem que proteger? – escondeu o rosto entre as mãos e tentou respirar normalmente sentindo o coração acelerado.
- Não é isso, . – Bufou impaciente. Ou era isso? Talvez ele ainda não tivesse se acostumado em vê-la como mulher, não se acostumara em sentir o desejo dela tão próximo e igual ao seu. – Olha pra mim. – Pediu segurando os dois pulsos da menina e obrigando-a a olhá-lo. – Você é a pessoa mais importante que eu tenho e se eu machucar você, vai doer mil vezes mais em mim.
- Você não vai me machucar. – falou com convicção.
- Não, não vou. – Ele a abraçou com força. – Me desculpa. – Falou baixo beijando o ouvido dela e a viu concordar com a cabeça ainda com o rosto afundado em seu peito.
- Não vai adiantar se eu disser que dessa vez to realmente preparada? – Perguntou inocente fazendo rir baixo.
- Não hoje. – Suspirou recebendo o impacto das palavras dela.
Ela estava preparada. Preparada pra ele, pra ser dele.
Ele só precisava saber se estava preparado pra aceitar isso, e finalmente deixar que aquilo acontecesse.


10
( música: Naked – Avril Lavigne )


Observou o menino passar rapidamente por ela usando apenas uma boxer e subir rapidamente as escadas entrando no banheiro em seguida. Mexeu o chocolate quente na xícara suspirando alto e lembrando da conversa que tiveram algumas noites antes. O que ela teria que fazer pra aceitar que ela queria ficar com ele? Queria ser dele, queria ele pra ela. Só pra ela.
Continuou sentada observando o liquido marrom fazer movimentos circulares na xícara e quando deu por si, viu que já descia as escadas apressado.
- Vou sair. Tenho que resolver algumas coisas com os caras, só devo voltar de noite. – Falou roubando uma torrada no prato dela.
- Entende agora por que eu quis ficar com o Harte? – Ela sorriu levemente fazendo-o rir.
- Vai ficar bem? – Perguntou calçando o tênis que estava jogado no canto da sala.
- Não, vou tentar me suicidar. – Falou séria e sentiu uma bolinha de papel atingir sua cabeça. – Ai, é brincadeira! – Riu.
- Não brinca com isso. – Respondeu sério, a olhando. Vestiu o moletom e guardou a carteira no bolso traseiro. – Quer alguma coisa? – Perguntou distraído procurando alguma coisa no sofá da sala.
- Você pra mim. – respondeu baixo o olhando. Ele a olhou esperando uma resposta e ela negou com a cabeça sorrindo em seguida.
- Até mais tarde! – Acenou brevemente e ela mandou um beijo vendo sumir pela porta.

Caminhou pensando no que tinha acontecido algumas noites antes. Estava claro que queria aquilo tanto quanto ela, mas por alguma razão ele parecia ter medo de que aquilo acontecesse.
"Medo!"
Pensou rolando os olhos, o que podia acontecer? Ela ficar grávida? Fez careta. Lógico que não, ela sabia os cuidados que devia ter. Lembrou do medo dele a machucar, mas não podia ser aquele o único motivo. Quem ele pensava que era? Edward Cullen? Riu sozinha.
Não hoje. A voz de ecoou em sua cabeça. Aquela noite não, pensou, mas e essa noite? Ela sabia que ele não poderia negar se fosse pego de surpresa, afinal ele também queria e ele era homem! Por Deus, desde quando homens conseguem ser tão controlados? Por que logo tinha que ser tão certinho e maduro?
Sentiu os olhos de Harte sobre si e se deu conta de que estava andando em círculos enquanto o animal a observava deitado no canto da sala. Riu sozinha se achando patética por estar bolando maneiras de fazer um homem dormir com ela.

# Flashback (9 anos antes)

abriu os olhos e se sentou rapidamente na cama sorrindo ao lembrar que seus pais voltariam de viagem. Pulou da cama e saiu do quarto às pressas indo até o quarto ao lado, mas seu sorriso sumiu ao ver que ele continuava vazio. Desceu as escadas de dois em dois degraus e entrou na cozinha esperando ver sua tia preparando o café da manhã como acontecera nos últimos dias, mas estava tão vazio quanto o quarto no andar de cima. Um post it estava preso na geladeira.

"Volto logo, não se preocupe."

A letra de sua tia estava estranha, parecia ter sido escrita às pressas.
A menina suspirou observando a cozinha vazia e subiu as escadas indo até o quarto de seus pais. Abriu a porta do closet e entrou no pequeno cômodo passando a mão pelas roupas empinduradas e arrumadas. Sentia falta de acordar sentindo sua mãe fazer carinho em seus cabelos ou com a televisão alta que seu pai assistia na sala no andar de baixo. Parecia que meses haviam se passado desde a ultima vez que os vira, apenas doze dias antes.
Sentou no chão ao lado do vestido longo que sua mãe usara apenas uma vez e fechou os olhos encostando a cabeça no armário atrás de si.

O barulho de porta se fechando a despertou rapidamente. Se deu conta que havia cochilado sentada no chão e seu pescoço doía por estar apoiado para trás. Se levantou e saiu do quarto correndo.
- Mãe! – Gritou ainda no andar de cima, mas quando chegou no meio das escadas viu que era sua tia e .
Parou os olhando e sentiu o coração apertar, os olhos da mulher estavam vermelhos e o rosto de era uma mistura de dor e preocupação. Sua respiração ficou pesada como se aquela sala tivesse ficado apertada demais e o ar que entrava não conseguisse chegar até seus pulmões. Sentia a aproximação cuidadosa de sua tia, mas não desviou o olhar do de .
- ... – A mulher falou quase inaudivelmente tentando evitar que as lágrimas acumuladas em seus olhos caíssem. balançou a cabeça ainda sem entender o que estava acontecendo, mas sabia que havia algo muito errado por ali. Onde estavam seus pais afinal?
- , o que aconteceu? – Perguntou sentindo um caroço em sua garganta.
O menino deu alguns passos se aproximando dela que continuava parada no meio da escada.
- Aconteceu um... – parou engolindo em seco e fechou as mãos em punhos. – Um acidente. – Completou mais baixo. balançou a cabeça negativamente dando um passo pra trás. Ela só queria saber onde estavam seus pais! – A sua mãe... Ela, ela não resistiu.
Um grito ficou preso na garganta da menina quando ela sentiu seu coração ser esmagado pelas palavras de . Seus lábios estavam abertos, mas nenhum som foi emitido. Tentou respirar normalmente, mas não havia oxigênio suficiente por ali, não pra ela.
Subiu as escadas correndo tropeçando em vários degraus por causa das lágrimas que embaçavam sua vista e entrou no quarto de seus pais ouvindo passos a acompanharem, mas não se preocupou em mandar parar de segui-la, ele sabia os limites. Fechou a porta do closet escorregando até o chão e encolheu as pernas encostando a testa nos joelhos deixando que o choro tomasse conta do cômodo.
sentou em silêncio do outro lado da porta sentindo a pontadas em seu peito aumentarem cada vez que o choro da menina se tornava mais alto. As lágrimas caiam livremente por seu rosto, mas ele não importava com a dor que estava sentindo, só queria poder fazer a dor de parar.

Sua garganta doía e seus olhos mal conseguiam se manter abertos, as lágrimas que caiam por ele foram cessando ao poucos enquanto a menina sentia seu corpo completamente estuporado. Seu rosto continuava afundado entre seus braços e suas pernas e ela não sabia se conseguiria sair daquela posição.
- ? – Chamou o garoto estranhando sua própria voz baixa e abafada.
- Eu to aqui. – Ele respondeu, calmamente.
- Por quê? – Perguntou em meio a um soluço. suspirou esticando as pernas e observando o quarto vazio e perfeitamente arrumado.
- Destino. – Falou incerto ouvindo a menina fungar.
- O destino é sempre ruim assim? – Desencostou a testa de seus joelhos e sentiu o corpo doer por causa do movimento. O closet tinha o perfume de sua mãe e ela fechou os olhos inspirando profundamente para guardá-lo na memória.
- Nem sempre. – deu de ombros.
- Ele não é ruim com você, é? – Se virou ficando encostada na porta e espalmou uma das mãos na madeira clara.
- Não.
- Por que não?
observou a porta fechada do closet e encostou a palma da mão na madeira. – Porque meu destino é você. – Respondeu quase inaudivelmente.

# End of flashback

Abriu a porta de casa se sentindo aliviado por finalmente estar em algum lugar livre do frio. O loft estava quente e confortável, as janelas estavam fechadas, da mesma forma como ele as deixara pela manhã. Harte foi ao seu encontro balançando o rabo e ele fez um carinho rápido na cabeça do animal. Olhou ao redor, tudo estava quieto demais, nenhum sinal de . Largou o moletom em cima do sofá e caminhou até o quarto. No meio da escada pôde ouvir o chuveiro ligado, isso explicava o silêncio.
Desabotoou os primeiros botões da camisa e sentou na cama abruptamente tirando o tênis de qualquer forma e deixando-o largado no chão. Arrumou os travesseiros de forma que eles ficassem altos e se deitou respirando fundo.
O barulho do chuveiro cessou e minutos depois saiu dali enrolada numa toalha, com os cabelos presos em um coque mal feito.
observou as pernas descobertas da garota, por que as pernas dela o atraiam tanto? Seu olhar subiu pelo corpo quase nu dela e parou em seu sorriso doce.
- Chegou cedo! – Ela falou ainda parada na porta do banheiro arrancando-o de seus pensamentos.
- É – Foi a única coisa que saiu de sua boca. – Eu... acho que vou tomar um banho também! – E se o frio não estivesse doendo nos ossos o banho seria bem gelado. Aquela garota podia acabar com ele se quisesse.
observou ele entrar no banheiro rapidamente e sorriu sozinha. Foi até a cozinha cantarolando uma musica qualquer e pegou algumas uvas na geladeira. Ela queria aquilo mais do que nunca e estava certa do que estava fazendo. Se não fosse com , então não seria com nenhum outro cara. Ela era dele e qualquer um que a conhecesse sabia disso. Ela sempre fora dele e isso era algo que tempo algum mudaria.
Ajeitou a toalha no corpo e se olhou no espelho que tinha na sala. Ela estava pronta e confiante. Nada estragaria aquela noite.

A porta do banheiro foi aberta e um apenas de boxer e com os cabelos bagunçados e molhados saiu de lá. o observou ainda do andar de baixo, ele sentou na cama e começou a mexer no celular. Uma ultima olhada no espelho e um último sorriso confiante.
Subiu as escadas lentamente e quando pisou no ultimo degrau viu os olhos de desviarem do celular e a analisarem meticulosamente, dos pés até chegarem em seus olhos.
- Não vai se vestir? Tá frio. – Ele sorriu fazendo-a sorrir também.
mordeu o lábio inferior num misto de sedução e insegurança. Ela não podia ficar insegura, não naquela hora. Ela queria aquilo e aquela era sua maior certeza.
Deu alguns passos em direção à vendo o menino a olhar sem entender. Ela sorriu docemente e ele se levantou botando o celular no criado mudo novamente.
- , o que... – antes que ele terminasse a frase ela deixou seu braço se afastasse um pouco de seu corpo, fazendo com que a toalha caísse em seus pés.
a olhou sem entender, ela só podia estar brincando com ele, que droga ela estava fazendo? E por que ele sentia como se o corpo dela fosse uma espécie de imã para suas mãos que pareciam implorar para tocar na pele dela? Observou o corpo absolutamente nu da garota em sua frente e viu seu desejo por ela se triplicar, aquele corpo habitava seus pensamentos há tanto tempo, e agora a visão dessa forma o fez pensar se ele precisava mesmo lutar tanto contra seus desejos.
Ela se aproximou ainda mais dele pousando uma mão em sua cintura e a outra em seu peito.
- Por que você fez isso, ? – Ele ouviu sua própria voz implorar por misericórdia. Aquilo era demais pra ele.
- Eu amo você, , e não vou desistir de ser sua. – Ela o olhava nos olhos enquanto ele se proibia mentalmente de mover suas mãos. – Você é homem, eu sou mulher, não existe absolutamente nada de errado com isso, . Nós temos um desejo em comum e eu não vejo o por que de controlar isso. Eu quero ser sua. Mais do que eu sempre fui.

I wake up in the morning put on my face
Eu acordo de manhã e coloco minha máscara
The one that's gonna get me through another day
A que vai me fazer passar por outro dia
Doesn't really matter how I feel inside
Realmente não importa como eu me sinto por dentro
'Cause life is like a game sometimes
Porque a vida às vezes é como um jogo

Sem que tivesse tempo de pensar duas vezes, suas mãos já estavam percorrendo o caminho pelo corpo da garota. Desde seu quadril, sua cintura, seu seio, seu colo, tudo nela parecia chamar por ele. Passou a mão pelos cabelos macios dela soltando-os do coque e deixando que eles caíssem livremente pelas costas dela.
As mãos de subiram até a nuca do garoto, seus dedos imediatamente entrelaçando-se em seus cabelos. Ela se esticou um pouco alcançando seus lábios e sentindo o corpo do garoto finalmente ceder. Deixou escapar um gemido quando sentiu a língua dele brincar com a sua.

But then you came around me
Mas então você chegou perto de mim
The walls just disappeared
As paredes desapareceram
Nothing to surround me
Nada para me cercar
And keep me from my fears
Nem me proteger dos meus medos
I'm unprotected
Eu estou desprotegida
See how I've opened up
Veja como eu me abri
Oh, you've made me trust
Oh, você me fez confiar

As mãos dele seguraram firmemente em sua cintura, enquanto sentia todo o corpo ser eletrizado pelo contato com o corpo nu dela. Ela apertou ainda mais seu corpo contra dele e ele sentiu a resposta imediata, tudo acontecia tão rápido quando ela estava por perto, e sempre saia de seu controle.
deitou a garota na cama, ainda incerto do que estava fazendo, aquilo tudo era tentador demais pra ele, e por mais que ele tivesse medo de machucar a garota, seu desejo era enorme e fazia todo o seu corpo gritar pelo dela. Se encaixou entre as pernas dela enquanto suas mãos viajavam naquele corpo que vinha assombrando seus pensamentos há semanas. Ouviu um gemido escapar entre os lábios dela quando apertou sua cintura aumentando o contato entre os corpos.

Cause I've never felt like this before
Porque eu nunca senti nada assim antes
I'm naked around you
Eu estou nua perto de você
Does it show?
Dá pra perceber?
You see right through me and I can't hide
Você vê através de mim e eu não posso esconder
I'm naked around you
Eu estou nua perto de você
And it feels so right
E isso parece tão certo

As mãos dela passearam pelo corpo dele, o arranhando constantemente e foram até a boxer azul escura com carneirinhos que ele usava. Ela parou de beijá-lo e sorriu enquanto descia a boxer que ele mesmo terminou de tirar e jogou em algum canto do quarto.
- Eu não vou fazer nada que você não queira. – falou mais para si mesmo do que para . Ela sorriu segurando o rosto dele com as duas mãos.
- Eu quero você, mais do que qualquer outra coisa. – Sussurrou com a respiração falha.
suspirou alto e concordou com uma aceno de cabeça. Ele sabia que ela era virgem e nunca tivera sequer um namorado. Beijou lentamente o pescoço da garota ouvindo sua respiração ficar mais pesada, ela segurou com força em seu cabelo e arranhou suas costas o estimulando. Beijou toda a extensão de sua mandíbula, seu queixo até chegar em seus lábios deixando com que suas línguas se encontrassem e explorassem suas bocas.

I'm trying to remember why I was afraid
Eu estou tentando me lembrar por que eu tinha medo
To be myself and let the covers fall away
De ser eu mesma e deixar as proteções irem embora
I guess I never had someone like you
Eu acho que nunca tive alguém como você
To help me, to help me fit
Para me ajudar, me ajudar a me ajustar,
In my skin
Na minha pele

As mãos da menina estavam inquietas e indecisas sobre o corpo dele, ela sentia seu corpo inteiro desejar pelo dele, sentia seu coração bater descontroladamente em seu peito e sua mente se desligar de tudo que estava à volta deles.
Aquele era o momento deles, só deles. Nenhuma pessoa nunca saberia dizer o que eles sentiram, talvez nem eles mesmos conseguissem definir todos os sentimentos se misturando e se encontrando.
esticou o braço abrindo a gaveta no criado mudo e tateou a procura de uma camisinha. A menina começou a beijar seu pescoço desviando sua atenção e ele respirou fundo pegando o preservativo e colocando-o o mais rápido que conseguiu.
I've never felt like this before
Eu nunca senti nada assim antes
I'm naked around you
Eu estou nua perto de você
Does it show?
Dá pra perceber?
You see right through me and I can't hide
Você vê através de mim e eu não posso esconder
I'm naked around you
Eu estou nua perto de você
And it feels so right
E isso parece tão certo

Encostou a testa na de a olhando nos olhos e se assustou com a quantidade de desejo e confiança refletida neles. Viu a menina morder o lábio para não deixar que um gemido escapasse e segurar com força em seu braço. Aquilo provavelmente iria doer por ela ser virgem e ele só esperava que isso não fizesse com que todo o desejo e confiança se esvaíssem.
Ela o puxou pela nuca beijando sua boca avidamente numa tentativa frustrada de controlar os gemidos e suspiros.
Os movimentos de eram lentos e cautelosos, a idéia de que podia machucá-la o assombrava. Desceu os beijos para o pescoço da garota enquanto a ouvia suspirar e sussurrar seu nome de tempos em tempos. A cabeça dela jogada pra trás e seus lábios abertos com a respiração ofegante o estimularam a continuar e aumentar o ritmo dos movimentos. As unhas dela se encravaram em seu braço e uma lágrima solitária desceu por seu rosto suado.
- , eu to te machucando? Eu posso tentar parar se você quiser e... – Ele pareceu tão horrorizado com a idéia quanto ela.
- Não! Tá tudo bem, eu confio eu você! – Ela deu um meio sorriso ofegando e selou os lábios nos dele.

I'm so naked around you
Eu estou desprotegida ao seu redor
And I can't hide
E eu não posso esconder
You're gonna see right through, baby
Você vai ver através de mim, baby.



11


Abriu os olhos devagar se acostumando com a pequena claridade que entrava pela cortina fechada e sentiu uma respiração tranqüila batendo em seu pescoço, virou um pouco o rosto e encontrou o de a milímetros do seu. O queixo dele estava encostado em seu ombro e sua boca estava um pouco aberta fazendo com que o hálito dele agora batesse na boca da menina. Sorriu sozinha analisando o rosto sereno dele e chegando a conclusão de que ela não ia cansar nunca de ficar o olhando dormir.
Fazia uma semana em que aquela cena se repetia, exatos sete dias em que ela acordava com ao seu lado. Algumas vezes suas pernas estavam intercaladas, outras ele a abraçava pela cintura e no dia anterior ao acordar se deu conta que estavam dormindo de conchinha.
Passou seu nariz pelo do menino num carinho e riu baixinho ao perceber que ele nem se abalara. Ela adorava o sono pesado de , ela podia fazer o barulho que fosse e ele nunca acordava, sempre continuava com sua feição calma e inatingível. Deu um beijo rápido na testa dele e se levantou indo até o banheiro para fazer sua higiene matinal, antes que pudesse fechar a porta ouviu o típico barulho que as patas de Harte faziam no chão do loft. Riu vendo o cachorro entrar animado no banheiro e encostou a porta.

- Hei, bom dia! - Falou sorrindo para o rapaz dentro do elevador.
- Bom dia, . – Mark retribuiu o sorriso e fez um pequeno aceno com a cabeça. – Então alguém naquela casa acorda cedo. – Comentou simpático fazendo a menina rir.
- Alguém precisa ser responsável, né? – Ela piscou abrindo a porta do elevador.
- Quer uma carona pra algum lugar? – Ofereceu indo até o carro.
- Não precisa, obrigado. Tenha um bom dia! – Falou antes de afastar e sair para a rua pouco movimentada.
Sábado antes das nove da manhã, não era de se estranhar a falta de movimento. A menina caminhou pela calçada já podendo ver a loja da Starbucks mais um pouco à frente e sorriu agradecendo mentalmente às milhares de lojas espalhadas pela cidade.
Entrou no estabelecimento sentindo o cheiro de café entrar em suas narinas e foi até o balcão de atendimento pedindo dois chocolates quentes e dois muffins para viagem. Olhou rapidamente o relógio que marcava oito e trinta e cinco e rezou para que não acordasse antes dela chegar em casa, esquecera completamente de deixar um bilhete avisando que tinha ido até a Starbucks e não ia levar celular.
Menos de dez minutos depois ela já estava entrando novamente no loft e, a julgar pelo silêncio, continuava dormindo. Deixou as duas pequenas sacolas no balcão da cozinha e subiu as escadas em silêncio sendo acompanhada por Harte.
estava deitado de bruços abraçando o travesseiro de , seu rosto estava um pouco afundado no colchão e seu cabelo caia levemente sobre seus olhos. A menina se agachou ao lado da cama e o encarou por alguns segundos pensando em alguma forma de acordá-lo. Passou levemente o dedo indicador pela testa dele e depois desceu até seu nariz, repetindo a ação algumas vezes. Quando ela já estava pensando em alguma forma menos carinhosa, viu os olhos de se abrirem preguiçosamente e a encararem.
- Bom dia. – Falou baixo afastando o cabelo do menino que caia em seu rosto.
- Que horas são? – Perguntou com a voz arrastada deixando que seus olhos se fechassem novamente.
- Quase nove. – respondeu sentando na beirada da cama. – E antes que você reclame que hoje é sábado, se lembre que você marcou com os meninos. – Sorriu sabendo que ia começar um discurso sobre como sábados e domingos foram feitos para se descansar e acordar tarde. Geralmente o humor dele não era dos melhores pela manhã, e ela sabia disso, mas incrivelmente essa regra nunca funcionou para ela. nunca fora mal educado com ela pela manhã e nunca lhe negou um sorriso de bom dia.
Abraçou os joelhos observando o céu claro do lado de fora da janela, não queria ficar em casa o dia todo. Talvez acompanhasse até a casa que e dividiam, um dia com os meninos era sempre agradável e divertido. Sentiu o colchão se mover e segundos depois depositar um beijo rápido em sua nuca descoberta.
- Você costuma ser mais tagarela quando acorda. – Ele riu se levantando. deu de ombros levemente.
- Posso ir com você até a casa do e do ? – Perguntou observando o menino entrar no banheiro.
- Claro que pode.
- Ok. Tem Starbucks na cozinha. – Avisou se levantando e descendo as escadas.
- Por isso que eu te amo! – Ouviu o menino gritar e riu sozinha começando a arrumar a mesa da cozinha.

# Flashback (8 anos antes)

caminhava pela rua movimentava observando as outras crianças que brincavam por ali. Alguns garotos jogavam bola, algumas meninas brincavam de boneca e as crianças mais novas se divertiam no parquinho que havia na praça.
Sorriu para uma senhora que podava algumas plantas em sua cerca viva e entrou no jardim da casa vizinha atravessando-o e indo até os fundos. Ouviu algumas risadas e franziu o cenho sem reconhecê-las.
- Cuidado! – Ouviu alguém gritar e se encolheu rapidamente sentindo uma bola passar muito perto de sua cabeça.
- Desculpa. – Um garoto loiro com grandes olhos verdes falou sem graça. Ela apenas sorriu levemente deixando claro que estava tudo bem. Quem eram aqueles afinal?
- Ei, pequena! – surgiu sorrindo atrás dela com uma bola na mão. Deu um beijo na testa da menina e bagunçou seus cabelos lhe arrancando uma careta.
- Não sabia que você estava com seus amigos. – Falou lançando um olhar rápido para os garotos que faziam brincadeiras bobas entre si.
- É, chamei para eles passarem o dia por aqui. – Respondeu sorrindo. – Se quiser pode assistir o mestre jogando! – Um sorriso convencido tomou conta do rosto do garoto e a menina riu.
- Hm... acho que vou pra casa. – Mordeu o lábio em dúvida. Não queria ficar em casa sozinha. Desde que sua mãe morrera, estava acostumada a passar seus finais de semana e tempo livre na casa de .
- Não precisa ir pra casa, fica aqui. Minha mãe tá aí na cozinha e daqui a pouco vamos jogar vídeo game. Você pode mostrar pra eles que garotas também sabem jogar. – Sorriu.
- Vem logo, ! – Um dos meninos chamou e jogou a bola pra ele.
- Tudo bem, vou falar com a sua mãe. – Concordou vendo o garoto se afastar e se virou entrando pela porta do fundo. – Oi, tia! – Falou vendo a mulher cozinhar alguma coisa que cheirava muito bem.
- Bom dia, minha princesa. – Cory falou de uma forma maternal e lhe deu um beijo no topo da cabeça. – Tudo bem?
- Tudo sim. – Respondeu sentando-se em um dos bancos que ficavam em volta da bancada da cozinha.
- Seu pai não tá em casa? – Sua voz tinha um tom de preocupação. A menina negou balançando a cabeça. – Sabe onde ele foi? – Perguntou já sabendo a resposta e deu de ombros brincando com uma tampinha.
A mulher voltou a atenção para as panelas no forno lançando, a todo o momento, olhares para a menina que se distraia fazendo desenhos abstratos na bancada enquanto ouvia as risadas dos garotos do lado de fora da casa.

Seus pés balançavam inquietos suspensos no ar por causa do banco alto enquanto seus dedos se enrolavam e desenrolavam em uma mecha de cabelo. Os quatro garotos entraram sorridentes na cozinha, veio por ultimo segurando a bola nos braços. observou seus rostos e camisas suados e a excitação estampada em seus olhos.
- Fiz quatro gols, mereço um abraço? – perguntou brincalhão já abraçando a menina que fez careta e deu alguns tapas no braço dele.
- Sai, , que nojo! – Falou afastando o menino pelo peito.
- Que traíra, cara! Só porque eu to suado. – Ele fez bico recebendo um olhar sem graça da menina. Não ficava a vontade na frente dos amigos de que os encaravam sorrindo.
- Garotos, vão tomar banho e daqui a pouco o almoço está pronto. – Cory falou passando a mão pela cabeça do filho e sorriu para os outros garotos que concordaram saindo da cozinha. - Você não é muito fã dos amigos do . – A mulher afirmou sorrindo para a sobrinha.
- Não conheço. – Deu de ombros.
- Mesmo se conhecesse, . – Piscou para a garota. – Você não é muito fã de ninguém que roube a atenção do de você.
- Não sou egoísta. – Se defendeu.
- Não é egoísmo, meu anjo. Você e são grudados desde que você nasceu praticamente. Vocês cresceram em um mundo impenetrável e que ninguém nunca foi capaz de entender, e com a chegada da adolescência do a coisas podem parecer um pouco diferentes.
- Elas estão diferentes. – Afirmou entre dentes.
- Não estão. – A mulher riu baixo. – Os olhos do podem mudar de direção milhares de vezes e ele pode, por vezes, parecer distante de você, mas a atenção dele vai ser sempre toda sua e tempo algum vai mudar isso.

A menina se mexeu desconfortável na poltrona bege enquanto observava os quatro garotos sentados no chão da sala jogando vídeo game e fazendo piadas bobas que a garota podia jurar ser em outra língua. Meninos são estranhos quando estão perto de amigos, pensou, olhando dar um pedala em um garoto moreno que até onde ela se lembrava chamava-se Derek.
Eles já estavam ali há quase duas horas e podia jurar que se não fosse pelo barulho que faziam, já teria caído no sono.
tinha a chamado para jogar no começo, mas ela negara alegando estar com um pouco de dor de cabeça e desde então ele parecia ter esquecido da presença dela na sala. Cory passava por ali algumas vezes e lançava um olhar de piedade para a sobrinha que apenas sorria tentando fazê-la acreditar que estava realmente se divertindo.
- Ganhamos! – Algum dos meninos gritou e ela se deu conta de que estava adormecendo.
Os quatro garotos se levantaram desligando o vídeo game e subiram as escadas entre risadas. suspirou audivelmente e abraçou os joelhos enterrando a cabeça entre os braços.
"Você não é muito fã de ninguém que roube a atenção do de você." As palavras da tia ecoaram em sua cabeça. Ela não queria ser egoísta, se sentia mal por estar com raiva dos amigos de , mas ela não conseguia evitar o sentimento. Estava com raiva dele também, por estar entrando tão rápido na adolescência e por tê-la trocado por três garotos bobos que falavam besteiras e faziam brincadeiras idiotas.
Levantou-se da poltrona e foi até a cozinha encontrando a tia sentada em um dos bancos lendo uma revista enquanto um cheiro de bolo de chocolate tomava conta da cozinha.
- Acho que vou pra casa. – Falou encostando-se ao balcão. A mulher a olhou por alguns segundos.
- Vou ter uma conversinha com quando os garotos forem embora. – Falou um pouco irritada.
- Não se preocupe com isso, tia. A culpa não é dele. – Deu de ombros. – Ele está se divertindo, isso é o que importa. Eu vou lá em cima me despedir. – Sorriu rapidamente para a mulher e ia se retirando da cozinha quando a ouviu falar novamente.
- Você sabe que essa casa está sempre aberta pra você, não sabe? Eu e o estamos aqui em qualquer momento que você precisar. – Cory sorriu de uma forma materna.
- Sei que sim. Obrigada, tia. – Sorriu saindo da cozinha e subindo as escadas rapidamente. No corredor do andar de cima ela pôde ouvir a voz dos meninos dentro do quarto de .
- E você vai trocar ela por uma menina de dez anos? – Ela parou de caminhar sentindo as mãos gelarem. "Não sou eu. Não sou eu. Não sou eu.", implorou baixinho.
- Vocês não conhecem a . – defendeu. A menina olhou a porta do quarto entreaberta ouvindo sua própria consciência a mandar ir embora, mas suas pernas não obedeciam o comando.
- A gente conhece a Katlin. – Derek respondeu. – E cara, ela é muito bonita.
- E gosta da gente! – Jake riu. – Essa parece que nos odiou. – Risos. – Vai logo, ! Escolhe; Katlin ou ? – A menina sentiu o coração parando e de repente aquele corredor parecia sufocante demais para ela.
- ? – A voz de Cory atrás dela a sobressaltou e tudo que ela conseguiu ouvir foi o grito animado dos meninos dentro do quarto. "Katlin", ela ouviu a voz de em seus pensamentos. – ? – Sua tia a chamou novamente e só então ela percebeu que estava encostada na parede com os olhos fechados.
Olhou a tia rapidamente e, sem falar nada, saiu apressada da casa.
Nos primeiros 20 metros ela sentia as pernas caminharem apressadamente, depois tudo que ela sentia era o vento bater com força em seu rosto e as lágrimas salgadas chegarem até sua boca. Ela estava correndo com a visão completamente embaçada e tropeçando vez ou outra em seus próprios pés.
Entrou em casa sem se importar se seu pai estava lá ou não e subiu para o quarto batendo a porta com força e jogando no chão alguns bichos de pelúcia que estavam em cima de sua cama. Deitou abraçando um travesseiro e colocando o outro no rosto para abafar os soluços.

Ouviu a porta do quarto ser aberta, mas não tinha forças pra se virar e ver quem era, seu peito ainda subia e descia e alguns soluços escapavam por entre seus lábios. Seus olhos doíam e as lágrimas insistiam em cair, mesmo que eles permanecessem abertos.
Sentiu alguém se aproximar da cama e segundos depois ela afundar ao seu lado. Um braço envolveu sua cintura enquanto ela sentia uma respiração quente e descompassada bater em seu pescoço e o choro silencioso de que fez seu coração apertar. Ficou em silêncio o ouvindo soluçar baixinho perto do seu ouvido e quase foi capaz de sentir a culpa que parecia consumir o garoto aos poucos.
- Desculpa. – Deixou escapar baixo enquanto ainda lutava para controlar o choro. fechou os olhos ainda muda. – Eu agi como um idiota hoje, eu te deixei de lado e magoei você. Me desculpe.
A menina desceu uma das mãos até a própria cintura e tocou as costas da mão de sentindo os braços dele a apertarem mais contra si como se daquela forma ele pudesse impedir que ela fugisse. Sorriu levemente se achando estúpida por se sentir tão bem apenas pelo fato de ter perto dela.
- E eu também não escolhi a Katlin ao invés de você. – Completou fazendo a menina se mexer um pouco desconfortável por tocar naquele assunto. – Você ainda é a garota mais legal que eu conheço e a que eu mais gosto também. Não trocaria você nem por dez Katlin's, pode apostar. – Riu levemente.
ficou em silêncio de olhos fechados deixando que as palavras dele ecoassem em sua cabeça. Ela acreditava nele, sempre acreditara... ele não mentiria pra ela.
Sentiu brincar com os dedos de sua mão enquanto sua respiração, que aos poucos ficava mais calma, batia demoradamente em seu pescoço lhe trazendo uma sensação desconhecida e engraçada.
Virou-se de frente pra o menino deixando seus rostos próximos, sobre o mesmo travesseiro. Observou seu rosto calmo e seus olhos que pareciam brilhar por causa das lágrimas que ainda estavam por ali. Sentiu ele passar o polegar por seu rosto enxugando uma lágrima que nem percebera que tinha caído e sua pele ardeu levemente seguindo o movimento do dedo dele. Fechou os olhos sentindo o olhar dele praticamente perfurar sua pele num misto de curiosidade e dúvida.
- Me desculpe. – Ele repetiu. – Dói em mim também. – Falou mais baixo fazendo-a abrir os olhos sem entender. sorriu levemente. – Ver você sofrer, me faz sofrer também.
reprimiu um riso achando graça do que ele dissera, mas depois se lembrou das vezes que o vira chorar e sentira o peito incomodar com uma dor estranha.
- Por quê? – Sua voz saiu num sussurro.
deu de ombros levemente.
- Não sei. – Sorriu lembrando-se de uma coisa boba que tinha pensado alguns dias antes. – Só tenho uma teoria.
A menina o olhou sentindo a excitação em seus olhos entregarem sua curiosidade.
- Acho que é como se você fosse uma parte de mim, como um pedaço faltando. – Riu. – Ou algum tipo de extensão. – Pensou em voz alta.
- Isso é um pouco surreal, . – riu levemente.
- Eu sei. Acho que são aqueles filmes mela cueca que você me faz assistir. – Soltou uma risada nasalada. – Mas isso não importa. Fiz você sorrir, você me desculpou, não é? – Seus olhos brilharam e a menina riu baixo concordando.
- Não faz de novo. – Pediu o olhando.
- Não vou. Prometo. – Beijou a bochecha da menina vendo-a corar levemente e a abraçou sentindo-a repousar a cabeça em seu peito e seus braços pequenos passarem por sua cintura deixando seus corpos perfeitamente juntos e acomodados.

# End of flashback

A cozinha havia caído em um incomodo silêncio que fazia passar as mãos pelos cabelos em sinal de nervoso. Os outros três garotos lançavam-lhe olhares surpresos a todo o momento e ele só queria sair daquele ambiente ou pelo menos que voltasse logo e quebrasse aquele clima.
Estavam todos na casa de e , até Harte fora pego de surpresa e levado para o ensaio dos garotos. Estavam todos tranqüilamente conversando na cozinha, até dizer que ia ao banheiro e se retirar.
- Cara, vocês estão diferentes. – comentou vendo e concordarem silenciosamente. o olhou sem entender.
- Vocês parecem mais... ligados um ao outro. – fez uma careta. – Achei que isso fosse impossível. – Riu incrédulo.
- Estamos normais. – deu de ombros. Ainda não havia contado aos amigos que tinha transado com , mas notara os olhares estranhos que vinha recebendo. Por Deus, ele mudara tanto assim só porque havia transado com ela?
- Parecem mais íntimos. – explicou de uma forma mais clara.
engoliu em seco vendo que não havia mais para onde fugir. Onde havia se enfiado? Não podia voltar logo? Respirou fundo encarando os amigos e se ajeitou no banco achando-o de alguma forma pequeno demais.
- Nós transamos. – Falou baixo encarando a mesa branca.
- O QUÊ? – gritou recebendo um olhar feio de . – Cara isso é... ótimo. Acho. – Falou sorrindo. – Quer dizer, vocês se gostam e tudo o mais.
- Porque não falou antes? Aposto que não rolou ontem pela primeira vez. – o olhou falando baixo.
- Sei lá... Parece estranho, mesmo não sendo. Foi incrível. – sorriu meio bobo. – No começo não pareceu muito certo, mas as coisas foram acontecendo e quando eu percebi já havia acontecido e foi a melhor transa da minha vida. – Balançou a cabeça um pouco sem graça. – Foi diferente.
- Foi com amor. – riu e fez uma cara gay apertando suas bochechas.
- Eu já tinha feito sexo com amor antes, cara. Mas mesmo assim... com a foi inexplicável. – Se levantou caminhando até a geladeira e pegando uma lata de cerveja.
- Ela tá vindo. – alertou pigarreando alto.
- Cara, eu particularmente acho que a gente deve trabalhar naquela musica que o escreveu, porque sem duvidas ela ficou incrível e os arranjos podem ficar muito fodas. – falou rapidamente fazendo todos os meninos prenderem o riso quando entrou na cozinha novamente.
- Ainda falando sobre essa tal musica? – perguntou sorrindo e sentando na bancada.
- É, ainda... – sorriu para os amigos e deu um tapinha no joelho dela para que pudesse encaixar sua cintura entre as pernas dela.
- Quem quer assistir filme? – perguntou já levantando a mão e os meninos levantaram também lançando um olhar de dúvida para a menina.
- Ah! – Ela fez uma cara de compreensão e levantou o braço também. – Achei que vocês fossem ensaiar. – Explicou.
- Mais? – a olhou. – Por hoje já deu. – Falou enfiando um cookie na boca. – Eu voto em Ghostbusters! Falei primeiro. Ganhei! – Gritou correndo pra sala.
- Ei, eu quero Star Wars! – reclamou correndo atrás dele e balançou a cabeça rindo e indo atrás dos amigos.
riu baixo achando graça do jeito infantil dos garotos.
- Seus amigos são anormais. – Falou dando um beijo rápido na nuca de .
- É, acho que eu sou o único equilibrado por aqui. – Ele riu virando-se de frente pra ela e recebendo um tapinha fraco no braço. Os latidos de Harte vieram seguidos de risadas escandalosas dos meninos e eles sorriram olhando para a porta da cozinha.
- Viu? – Ele a olhou fazendo uma cara sapeca e riu. – Vamos ver filme? – Falou passando os braços pela cintura dela.
- Hm... você não tem nada pra me falar? – sorriu o abraçando pelo pescoço. arqueou a sobrancelha sem entender. – , quando eu saí da cozinha os meninos ficavam nos lançando olhares nada discretos, e quando eu voltei, eles nem pareciam mais os mesmos. – Explicou.
respirou fundo fazendo uma careta. Ela tinha mesmo que ser tão perceptiva?
- Eu contei pra eles sobre a gente, er... sobre as coisas que aconteceram ultimamente. Não sabia que você não queria falar nada. Eles são meus amigos. – Deu de ombros.
- Não to chateada por você ter contado, . – Ela riu baixo. – Mas você não precisava ter esperado eu sair pra contar. – Completou brincando com a corrente que ele usava.
- Não esperei você sair, eu não planejava falar nada. Mas eles já tinham percebido que a gente tava... diferente.
- A gente tá diferente? – Ela o olhou sem entender.
- Estamos? – riu baixo. – Sei lá, os caras são anormais, certo? – A olhou.
- Hm... ok. Acho que sim. – Falou em duvida. – Vamos ver filme então. – Falou um pouco mais animada.
- Vamos? – brincou roubando um selinho dela e lhe dando um beijo de esquimó.
- Hm... – Ela sorriu encostando os lábios nos dele. – Aqui tá melhor. – Sentiu os braços de se apertarem em sua cintura e a língua dele fazer o contorno de seus lábios lentamente. Abriu a boca deixando que a língua dele encontrasse a sua e sentiu vontade de rir quando seu estômago revirou numa sensação engraçada. Que coisa boba de adolescente!
- Parem de se pegar na cozinha e venham logo! O filme já começou. – gritou.
- Também acho! – A voz de saiu engraçada.
- Fiquem por ai que sobra mais pipoca! – gritou agarrado ao balde de pipoca e os dois riram sem partir o beijo.
puxou pela cintura fazendo a garota ficar de pé e partiu o beijo sorrindo e lhe dando vários selinhos.
- Melhor a gente ir ou o próximo a gritar vai ser o Harte. – Falou fazendo careta e arrancando uma gargalhada da menina.
- Vamos. – Ela deu um ultimo selinho no menino e sentiu ele pegar em sua mão e entrelaçar seus dedos enquanto saiam da cozinha.



12


Seus olhos estavam quase se fechando enquanto seu corpo ia ficando mole e se rendendo ao sono que dez minutos antes ela nem estava sentindo. Uma das mãos dele fazia carinho em sua nuca e a outra estava firmemente abraçando sua cintura a fazendo esquecer que havia um mundo lá fora. A televisão ligada passava clipes de bandas conhecidas que ela já havia parado de prestar atenção. O som estava baixo e o loft completamente silencioso e escuro lhe dava a impressão de que já era de noite. Olhou rapidamente o relógio ao lado da televisão e constatou que ainda eram cinco da tarde e aquele dia nebuloso parecia já praticamente estar chegando ao fim.
- A gente devia ter participado desse clipe. – Ouviu a voz de falar baixo perto de seu ouvido.
Olhou para a televisão que passava um clipe do Plain White T's e riu.
- Daí ia ter escrito e , se conhecem da vida toda. – Concluiu o pensamento dele.
- As pessoas teriam inveja da gente. – O menino falou de uma forma engraçada. apenas concordou balançando a cabeça e se virou de frente para o menino tomando cuidado para não cair do sofá.
- Tá frrrio! – Riu se aconchegando no peito dele e sentindo a abraçar mais forte a deixando encaixar uma das pernas entre as dele.
- You make it easy, as easy as 1, 2... 1, 2, 3, 4. cantou baixinho acompanhando a musica e fazendo seu corpo inteiro relaxar. Ela amava a voz calma e baixa dele, sempre a fazia se desligar de tudo e se concentrar apenas nele. - There's only 1 thing, 2 do, 3 words, 4 you. I love you. – Sorriu sozinha sabendo que não podia ver seu rosto enterrado no peito dele.
se mexeu desconfortável e a menina se afastou um pouco para que ele pegasse o celular que vibrava no bolso da bermuda. Olhou a tela que piscava o numero de e atendeu aconchegando novamente a menina em seu peito.
- Oi. – Falou calmamente.
pôde ouvir a voz de do outro lado da linha, mas não conseguia entender o que ele falava. concordou umas três vezes e desligou falando um “Tudo bem.”
- Algum problema? – levantou o rosto o olhando. sorriu meigamente beijando sua testa.
- Vou precisar viajar amanhã. – Falou sem muita emoção. – O conseguiu falar com o produtor em Liverpool que estávamos correndo atrás faz algum tempo. – Concluiu.
- Ah. – falou no mesmo tom. – Tudo bem. Quanto tempo? – Seus olhos ansiosos encontraram os dele.
- Uma semana no máximo. – Sorriu. – Acho que não vou estar aqui no dia da sua prova para o curso de Design. – Entortou a boca.
- Não tem problema. – Afundou o rosto no peito dele novamente.
Claro que tinha problemas! Ela queria fazer a prova tranquilamente sem se preocupar sobre onde estava e o que estava acontecendo. Queria sair de casa com ele e quando voltasse ser recebida por ele e contar como a prova havia sido e o ouvir dizer que ela iria passar com certeza.
- Me desculpe. – Ele falou baixo a abraçando. – Mas você vai se sair bem e passar no curso, tenho certeza disso.
- Não fique tão confiante. Odiaria te decepcionar. – falou baixo.
- Você não vai me decepcionar. – Tocou o queixo dela fazendo-a olhar em seus olhos e sorriu.
- Ok, não vou. – Riu dando um beijo na ponta do nariz do menino e depois um selinho rápido.
O barulho de trovão fez a menina se encolher com o susto e Harte deu um latido subindo no sofá e deitando em cima das pernas deles.
- Não, Harte! – gritou rindo. – Cara, que cachorro medroso!
- Deixa meu bebê ser medroso! – acompanhou sua risada. – Ele ainda é uma criança, tem todo direito! – Falou passando o pé carinhosamente pela barriga do animal.
- , ele deixou de ser criança há muito tempo. Olha o tamanho desse monstro.
- Na-não. Ele só tem, errr... – parou fazendo as contas mentalmente. – Oito meses! – Falou rindo. – Né? Quando a gente o pegou ele tinha quase dois... acho que é algo por aí. – Deu de ombros.
- Imagina quando fizer um ano. – resmungou levando um tapa no braço.
- Deixa ele, seu chato. – Riram. – Que horas você vai?
- De manhã, umas dez. – Falou calmo passando a mão pelo cabelo dela.
- Quer ajuda pra arrumar a mala? – Perguntou sorrindo. Ele confirmou com um sorriso, admirado com a animação dela para arrumar a mala.
- Não sabia que você gostava de arrumar malas. Acho que é a primeira coisa que eu não sabia sobre você.
- Eu gosto, mas só a dos outros. As minhas são sempre chatas. – Sorriu se sentando no sofá.
- Você que arrumar agora meesmo? Tem certeza? – fez manha e a menina riu.
- Vamos logo, preguiçoso! – O puxou pela mão ajudando-o a se levantar e pulou em suas costas o obrigando a levá-la de cavalinho até o andar de cima.

# Flashback (7 anos antes)

Pegou uma grande quantidade de neve juntando-a entre suas mãos, formando uma bola e olhou a menina a alguns metros de distância que fazia um boneco de neve torto. Riu sozinho e se afastou um pouco mirando a bola nas costas dela.
- Preparar, apontar... – Sussurrou baixo. – Fogo!
- , seu idiota! – caiu sentada na neve tentando não rir. – Vai pagar caro! – Gritou pegando uma enorme quantidade de neve e jogando de qualquer jeito na direção do menino que se abaixou sem ser atingido.
- Você não vai conseguir acertar em mim! – Correu para detrás de uma árvore e pegou um pouco da neve jogando na perna da menina.
- Droga, ! – riu. – Você sabe que eu não tenho uma mira boa! - Jogou uma bola de neve quase acertando o pé do menino.
- Cara, você é péssima! – gargalhou. – Ok, te dou uma chance. Pode acertar uma onde você quiser. – Falou ficando de frente pra ela e abrindo os braços.
- Qualquer lugar? – A menina sorriu maldosa.
- Err... qualquer lugar que não afete a minha masculinidade! – Respondeu rindo.
- Nah, assim não tem graça. – Entortou a boca. – Não quero ser café com leite. – Deu de ombros soltando a neve que estava em sua mão.
- Tudo bem. Vamos fazer o boneco então. – concordou caminhando até as duas bolas de neve um pouco tortas e começando a ajeitar o boneco. Sentiu alguma coisa atingir seu braço com força e se virou encontrando rindo.
- Eu não desisto tão fácil assim, bobinho! – Piscou.
- Se preparada pra correr! – avisou se levantando e correu atrás dela rindo dos gritinhos que ela soltava.

- Pára de desperdiçar pipoca, ! – deu um tapa na mão do menino que riu jogando novamente uma pipoca pra cima e tentando pegá-la com a boca.
Os dois estavam sentados no sofá da casa de assistindo um filme de amor bobo que passava na tv a cabo. A neve do lado de fora caia com mais força os obrigando a ficar de baixo de grossos edredons.
- Esse filme tá um saco. – falou dando de ombros.
- Não tem nada melhor pra fazer. – repetiu seu gesto se levantando.
- Onde você vai? – Prendeu uma das pernas dela a fazendo se segurar para não cair e riu.
- Me solta, lerdo! Vou ao banheiro! – A menina deu um tapinha na perna dele fazendo-o soltá-la e correu para o andar de cima entrando na suíte de .
Um tênis largado perto da porta do banheiro a fez quase tropeçar e reparar no quarto dele mais desarrumado que o normal. Como ele conseguia fazer tanta bagunça? Lembrou que ele costumava ter mania de arrumar tudo antes de chegar à adolescência e riu sozinha fechando a porta do banheiro.
Quando estava saindo do quarto do menino, tropeçou novamente, dessa vez no outro pé do tênis. Riu sozinha da própria falta de atenção e se virou para o quarto bagunçado. Talvez se ela arrumasse um pouco ele não se importasse, certo? Só colocaria algumas no lugar, ele provavelmente nem perceberia.
Juntou o par de tênis colocando-o ao lado da cama dele e dobrou as duas camisas e o moletom que estavam jogados em cima do colchão. A cama bagunçada dava a impressão de que ele tinha acabado de acordar, mas sabia que nunca arrumava a própria cama, ele dormia e acordava com ela da mesma forma. Pegou o edredom azul marinho que estava quase caindo no chão o jogou com cuidado sobre a cama, cobrindo-a.
Levantou um pouco o colchão para ajeitar o edredom e viu que havia algumas revistas ali embaixo. Achou estranho o fato de guardar alguma coisa embaixo do colchão, mas pensou que pudesse ser alguma mania idiota de garotos adolescentes. Terminou de arrumar a cama e sorriu satisfeita consigo mesma, o quarto já aparentava ser habitado por uma pessoa normal.
Já estava saindo do quarto para voltar para a sala quando ouviu a voz chata da curiosidade invadir sua mente mandando-a olhar novamente embaixo do colchão de . “Não vou olhar!”, pensou rapidamente. Se virou para o quarto novamente e antes que percebesse já estava caminhando em direção à cama de e levantando seu colchão. Pegou uma das revistas que estava com a capa virada e quase deu um grito ao virá-la. Fez cara de nojo largando a revista no chão e levou a mão até a boca sem acreditar no que vira.
Respirou fundo algumas vezes e se abaixou pegando a revista ainda sem coragem de olhar a capa novamente. “Não seja idiota, !”, a voz em sua mente insistiu. Com cuidado ela virou a capa da revista encontrando novamente uma mulher loira pelada.
- ? – A voz de no andar de baixo a assustou.
- Droga! – Xingou baixinho enfiando a revista de qualquer jeito embaixo da cama novamente.
- ? - A voz dele agora estava mais próxima e ela se sentou na cama tentando parecer relaxada e sorriu quando ele apareceu na porta do quarto.
- Já ia descer. – Mentiu se levantando e se afastando rapidamente da cama.
- Você arrumou minha cama. – apontou a olhando.
- Hm... desculpe. Não gosto de como você faz seu quarto parecer um chiqueiro. – abriu a boca para protestar, mas ela continuou falando. – E também sei que você não gosta que mexam nas suas coisas. Desculpe, de verdade. – Falou sorrindo sincera.
sorriu se sentindo incapaz de fazer qualquer outra coisa. Algum dia ela iria aprender que aquele sorriso poderia fazer um homem morrer do coração.
- Vamos descer, aquele filme chato acabou e eu descobri que tem um canal passando As Tartarugas Ninja! – Falou animado arrancando uma risada da menina.
- Quantas vezes você já assistiu esse filme mesmo? – Balançou a cabeça sem acreditar na paixão que mantinha por Donatello.
- Poucas. Acho. – Falou incerto recebendo um tapinha na cabeça.
Os dois saíram do quarto rindo das piadas bobas que contava e sentiu de repente um aperto no peito imaginando se algum dia ficaria maduro demais para ver As Tartarugas Ninjas, ou para contar piadas bobas e sem nexo só para fazê-la rir, ou até mesmo se algum dia ele acharia chato brincar de guerra de neve e se cansaria de correr atrás dela apenas para se vingar por ela ter trapaceado na brincadeira.
- . – Falou séria parando na escada. O menino se virou sem entender o tom na voz dela e a olhou em dúvida. – Promete que você nunca vai deixar de gostar desse filme idiota. – Pediu sentindo as lágrimas incomodarem seus olhos.
- O que aconteceu, ? – Perguntou em duvida subindo alguns degraus e parando um abaixo do que ela estava.
- Promete que você não vai me deixar nunca não importa o que aconteça. Mesmo se eu estiver, sei lá... no Japão e você estiver nos Estados Unidos. – Deu de ombros. – Não vai deixar que nada fique entre a gente, nunca. – Falou mais baixo.
- Não vou. – Sorriu fazendo a menina perder o ar por alguns segundos. – Vem cá. – Falou baixo puxando-a pela cintura e beijando sua cabeça. – Nada nunca vai conseguir te tirar de mim. Vamos ser sempre nós dois e mais ninguém. Acredite. – Afagou os cabelos dela com carinho sentindo a respiração calma dela bater em seu pescoço.
- Eu acredito. – Respondeu fechando os olhos.
- Não há nada como você e eu. – falou em meio a um suspiro e apertou a menina em seus braços numa tentativa boba de mostrar ao destino que ele nunca conseguiria tirá-la dele.

# End of flashback

- Tem certeza mesmo de que não esquecemos nada? – perguntou insegura fazendo rolar os olhos enquanto fechava a mala.
- Se esquecemos a culpa é sua por ficar perguntando toda a hora e me impedindo de pensar direito. – Respondeu rindo recebendo um olhar de repreensão da menina. – Sério, , tá tudo aqui. Não se preocupe. – Sorriu calmamente se olhando no espelho e bagunçando o cabelo arrepiando-o um pouco.
- Que horas os meninos vão passar aqui? – Ela se levantou caminhando até ele e entrando em sua frente.
- Daqui uma meia hora mais ou menos. – Respondeu sentindo a garota passar a mão por seus cabelos os arrumando. – Ei, eu quero eles bagunçados. – Protestou arrancando uma risada da garota. Quando ela terminou de ajeitá-los saiu da frente do espelho.
- Que mania chata de cabelos bagunçados-arrumados você e os meninos têm! – riu.
- É sexy. – fez uma cara convencida.
- Te acho sexy sem precisar dessa besteira de cabelos bagunçados. – Deu de ombros.
- Você, mas não as outras garotas. – Riu.
- As outras garotas não importam. – falou indiferente sentando novamente na cama. a olhou com a sobrancelha arqueada.
- Você não tem ciúmes? – Perguntou um pouco indignado fazendo a menina sorrir de lado.
- Não preciso ter ciúmes, . Você é meu. – Falou calmamente. Ele abriu a boca pra falar, mas o interrompeu. – Eu te esperei por dezoito anos. Acha mesmo que uma garota pode simplesmente chegar e te roubar de mim? – Perguntou num tom convencido e o menino riu baixo.
- Te esperei por vinte e dois. Ganhei! – Falou sorrindo vitorioso fazendo a menina gargalhar.
- Esperou porque quis, ué. Poderia ter sido antes. – Deu de ombros.
- Não esse assunto de novo. – fez careta sentando ao lado dela. Odiava quando a conversa deles tomava um rumo completamente inesperado e acabava naquele assunto. Ele não gostava de falar sobre aquilo, com principalmente. Talvez um dia, pensou.
- Você não sente? – Ela perguntou o olhando. – Ciúmes. – Completou.
- Não. – Falou baixo sentindo o corpo inteiro protestar dizendo que sim.
- Mentiroso! – acusou rindo.
- Não tenho ciúmes, ok? – falou puxando-a pela cintura e lhe dando um selinho rápido. – Eu tenho medo de te perder, é diferente. – Falou sorrindo.
- , medo de perder é o sinônimo mais bonitinho que ciúmes pode assumir. – Riu.
- Certo. Então nesse caso eu tenho ciúmes. – Deu de ombros.
- Hm... acho que nesse caso eu também tenho. – Confessou baixo fazendo o menino sorrir.
O celular de tocou na cômoda e ele viu o nome de piscar na tela. Atendeu já sabendo que ele diria que já estava saindo de casa ou algo do tipo e apenas concordou duas ou três vezes quando ele falou que iria passar na casa de e depois iria pegá-lo.
- Ele já tá vindo? – perguntou deitando encolhida na cama.
- Vai passar no antes. – Deitou ao lado dela puxando-a pela cintura deixando o mínimo de espaço que pôde entre seus corpos. Ela se aconchegou entre os braços dele e deitou a cabeça em seu ombro inspirando a maior quantidade de perfume que pôde. Fechou os olhos sentindo a ponta dos dedos de fazerem um carinho gentil em seu braço e sorriu sozinha sem motivo algum, ela gostava de estar com ele e não conseguiu achar um motivo mais óbvio que a fizesse sorrir tanto.

Quase meia hora depois a buzina do carro de ecoou pelo apartamento quebrando o silêncio que havia se instalado ali. Os dois ainda estavam deitados na cama apenas sentindo a presença um do outro e ouvindo as respirações que pareciam ritmadas.
se levantou primeiro, vestindo o moletom imaginando que do lado de fora devia estar mais frio do que ali dentro. se sentou na cama passando a mão pelo rosto e pelos cabelos. Observou carregar a mala e descer as escadas sendo acompanhado por Harte.
Respirou profundamente antes de se levantar e desceu encontrando sentado no braço do sofá a esperando, parecia até que ela iria com ele também.
- Me liga quando chegar lá? – Pediu o abraçando pelo pescoço e encaixando-se entre suas pernas. concordou em silêncio a abraçando pela cintura. – Boa viagem. – Segurou o rosto dele com uma das mãos e selou seus lábios nos dele com um pouco de pressa.
se levantou sem partir o beijo e carregou a menina pela cintura até perto de onde a mala estava no chão.
- Te amo. – Sussurrou com os lábios ainda colados nos dela.
- Também te amo. – sorriu dando um beijinho em seu nariz.
Ele a colocou no chão novamente e pegou a mala fazendo um carinho rápido na cabeça de Harte.
- Boa sorte na prova, vai dar tudo certo. – Deu um último selinho rápido na menina antes de caminhar até a porta. – Qualquer coisa me liga. – Sorriu vendo a menina concordar e saiu ouvindo novamente a buzina do carro de ecoar pelo loft.



13
( música: Lullaby - The Spill Canvas )


Olhou a folha em sua mão toda respondida e releu as respostas com cuidado. As perguntas eram mais sobre conhecimentos gerais do que de alguma matéria especifica, o que a deixara muito mais tranqüila.
Respirou fundo depois de reler as quatro folhas de resposta e as juntou organizadamente prendendo-as com um clipe. Levantou-se da cadeira com cuidado para não fazer barulho e atrapalhar os outros que ainda estavam fazendo a prova e se dirigiu até a fiscal a entregando a prova e recebendo um sorriso.
- Boa sorte. – A senhora falou recolhendo sua prova e guardando em um envelope. sorriu agradecida e saiu da sala agradecendo por finalmente ver a luz do sol.
Suspirou alto quando chegou à calçada do lado de fora do prédio onde a prova acontecera e pegou o celular na bolsa lembrando que se esquecera de desligá-lo, por sorte estava no silencioso. Sorriu quando viu piscar na tela o aviso; “Nova mensagem de .

“Me liga quando terminar a prova?
Boa sorte. Te amo!
xx”


Discou o numero dele rapidamente e caminhou até a praça que havia um pouco mais a frente.
- Oi, ! – Ela ouviu uma voz animada do outro lado da linha e riu sozinha.
- ? – Falou em duvida.
- Cara, me dá meu celular! – A voz de reclamou fazendo rir alto. – , fala pro idiota do que você ligou pra falar comigo! – gritou arrancando uma risada da menina.
- , eu liguei pra falar com o , mas não me importo nem um pouco de falar com você. – Sorriu sentando em um dos bancos vazios da praça e agradeceu por não estar chovendo que nem no dia anterior.
- Viu? Ela disse que não se importa de falar comigo! – se gabou. – Outch! , ele me bateu. – Fez voz de choro. ia responder, mas a voz de a interrompeu.
- Oi! Desculpe por isso, já bebeu algumas cervejas. – Falou rindo quando gritou “Calúnia”.
- Não tem problema, eu gosto do . Ele sempre me faz rir. – Deu de ombros.
- Espera um pouco. – tirou o aparelho do ouvido e se afastou dos amigos saindo do quarto em que estavam. – Pronto! Então, como foi a prova? – Sorriu caminhando pelo corredor vazio do hotel.
- Tudo bem. Perguntas sobre conhecimentos gerais e algumas poucas especificas. – Respondeu tranqüila observando uma criança brincar com um cachorro, fazendo-a lembrar que Harte estava sozinho em casa. – E por aí, como foi a reunião com o produtor? – Se levantou fazendo o caminho até o metrô.
- Ótima! Ele pareceu interessado na banda e nós mostramos algumas musicas que o deixaram animado. – A empolgação na voz de fez a menina sorrir. – A gente precisa de um nome legal pra banda, mas estamos sem idéias. – Reclamou.
- Tenho certeza que vocês vão achar um nome legal. – sorriu. – Preciso desligar, vou descer no metrô e ir pra casa. O Harte deve estar pirando lá sozinho.
- Sabia que você era péssima dona! – Acusou rindo e a menina resmungou baixo. – Tudo bem, amanhã a gente se fala e daqui a dois dias eu volto.
- Estarei esperando. – Sorriu. – Beijo. – Ouviu o garoto repetir sua fala do outro lado da linha e desligou o celular guardando-o na bolsa.
O metrô lhe parecia incrivelmente calmo e silencioso naquele dia. As pessoas pareciam compenetradas demais em seus próprios pensamentos, livros e jornais e as poucas que conversavam, pareciam querer que ninguém mais os escutasse. Agradeceu mentalmente e pegou o ipod na bolsa ligando-o no shuffle e relaxando durante o não tão longo caminho até o loft.

# Flashback (6 anos antes)

sentou na bancada observando a tia caminhar pela cozinha abrindo algumas gavetas e resmungando baixo.
- Achei. – Ela falou sorrindo. Caminhou até a menina e tocou sua testa e sua garganta antes de colocar o termômetro embaixo do braço dela. – Como você tá se sentindo? – Perguntou num tom maternal.
- Eu tô bem. – respondeu tossindo logo depois. Sua garganta doeu e ela fez uma careta de desaprovação.
Cory suspirou pesadamente balançando a cabeça em negação e amaldiçoando o pai de em pensamentos. Como ele podia deixar a filha de 12 anos doente sozinha em casa? Se dependesse dela, já teria saído daquela casa há muito tempo. Aquele homem claramente não tinha condições de cuidar da própria filha.
- Vou até a farmácia comprar um xarope e algum remédio para dor, tudo bem? – Falou olhando a menina que concordou com um aceno de cabeça. – O deve estar lá em cima se arrumando para uma tal festa na casa de um amigo. Você sabe melhor do que eu que quando ele quer, parece uma noiva se arrumando.
- Hei, eu ouvi isso. – falou alto passando pela porta da cozinha. – Mãe, você viu o outro pé do meu tênis branco? – Perguntou dando a volta na sala.
- Acho difícil que esteja aqui na sala. – Respondeu caminhando até a porta. – Vou até a farmácia comprar alguns remédios, ok?
- Aconteceu alguma coisa? – enrugou a testa preocupado. Cory sorriu levemente.
- A tá gripada e provavelmente com febre. Nada muito grave. – Falou vendo o filho já caminhar até a cozinha. Balançou a cabeça negativamente e saiu de casa apertando o casaco contra si.
- Oi, enferma. – brincou entrando na cozinha. – Como você tá? – perguntou tocando a testa da menina que rolou os olhos e tirou a mão dele de lá.
- Eu tô bem, só um pouco gripada. – Deu de ombros.
pegou o termômetro checando a temperatura da garota.
- E com febre. – Falou vendo o mercúrio marcar quase 39 graus.
- Nada demais. – A menina deu de ombros. – Festa? – Perguntou observando as roupas que vestia.
- Hm... acho que não. – Falou dando de ombros. o olhou sem entender. Ele estava vestindo a camisa rosa que ela mais gostava e sabia que ele só usava para sair. – Não vou sair pra festa e te deixar aqui doente. – Explicou a olhando.
controlou um sorriso e tentou uma expressão indignada.
- A sua mãe vai ficar aqui comigo, . – Falou descendo da bancada. – Você não precisa ficar também.
- Não preciso, mas eu quero. E não adianta fazer essa expressão indignada, eu sei que você quer que eu fique. – Brincou ganhando um tapa no braço. – Vamos lá pra cima. Eu comprei o box com a ultima temporada de Friends que saiu em DVD. – Sorriu.
- Apelar pra Friends é golpe baixo, . – Ela riu subindo as escadas ao lado do menino.
- Eu sei. – Ele deu língua correndo na frente dela fazendo a menina gargalhar.

se mexeu embaixo do edredom cobrindo uma pequena parte do seu pé que estava descoberta e se encolheu sem desviar a atenção do quinto episódio de Friends que ela e assistiam.
- Ainda tá com frio? – perguntou baixo a olhando.
- Não. – Mentiu sem encará-lo.
se levantou em silêncio e saiu do quarto voltando menos de um minuto depois com o termômetro na mão.
- Não vou medir minha temperatura de novo! – bufou sem paciência se encolhendo ainda mais debaixo do edredom. rolou os olhos sentando na beirada da cama. – É sério! Faz umas 3 horas só que a sua mãe mediu.
- Pára de ser mimada, . Você tomou remédio, preciso ver se fez efeito. – Falou um pouco irritado colocando o termômetro na menina.
o olhou mal humorada e resmungou baixo voltando sua atenção para a televisão ligada. Tossiu forte fazendo sua garganta doer e resolveu ignorar o riso baixo de , ela estava sim se sentindo melhor, mas seu corpo insistia em negá-la.
deitou sem jeito na beirada da cama e ela rolou os olhos se movendo um pouco para o lado para que ele não caísse da cama, mas o garoto foi mais rápido e a puxou pra perto de novo.
- Tô te passando calor humano, . – Disse sério.
A menina sentiu vontade de rir, mas ficou quieta ao sentir a respiração dele bater lentamente em sua bochecha fazendo seu sangue ferver naquela área. Encolheu um pouco o pescoço e fechou os olhos respirando fundo. O que estava acontecendo com ela? (n/a: botem a musica pra tocar!)
Sentiu brincar com o anel que estava em seu dedo girando-o rapidamente e o olhou pelo canto do olho reparando que ele estava concentrado na televisão. Virou um pouco o rosto e gelou ao perceber o quão próxima dele estava. Seu nariz estava a poucos centímetros da bochecha levemente rosada dele e ela sentiu uma vontade enorme de tocar o rosto macio dele.
- . – Ela falou com a voz fraca e observou quase em câmera lenta o rosto dele se virar em direção ao seu fazendo com que seus narizes se tocassem e a respiração dele caísse diretamente em sua boca.
a olhou inseguro sentindo a própria respiração falhar e controlou a vontade de acabar com aquela distância entre eles de uma vez. Sua mente estava dividida entre beijá-la ou se afastar e fingir que aquilo nunca havia acontecido. Ele não conseguia saber o que ela estava pensando, mesmo que estivesse olhando nos olhos dela que lhe pareciam mais transparentes que o normal. Ele não ia se arrepender de fazer aquilo, mas haviam as conseqüências e ele não sabia se poderia lidar com elas.
respirou fundo sentindo seu coração bater tão forte e desesperado que era um milagre não estar ouvindo. Seus olhos estavam fixados nos dele e ela não se sentia capaz de desviar daquele olhar, ela não queria desviar. Sentiu um frio na espinha quando a mão de tocou em seu rosto com tanta delicadeza que a fez fechar os olhos e relaxar os músculos de seu corpo inteiro.
Seus lábios se tocaram com um misto de cuidado e ternura e nenhum dos dois saberia dizer o que havia acontecido exatamente. Era o momento deles que havia chegado sem que eles percebessem, os sentimentos que antes pareciam escondidos vieram à tona e todas as lembranças dos momentos em que estavam juntos invadiam suas mentes sem permissão.
deslizou a mão fazendo com que seus dedos se entrelaçassem nos cabelos dela, podia sentir o nervosismo dela praticamente entrando em sua pele. Aquele era o primeiro beijo de e ele tinha consciência disso. Sua língua fez o contorno dos lábios delicados dela e ele sentiu a mão dela segurar em seu braço.
abriu a boca ainda sem saber direito o que fazer, seu nervosismo estava estampado em cada ato e em cada pensamento. Ela já havia lido sobre aquilo e imaginado por diversas vezes como seria seu primeiro beijo, mas na prática tudo parecia ser mais complicado. E por Deus, aquele era ! Quantas vezes ela imaginara que seu primeiro beijo seria com ele? Perdera as contas. Agora aquele choque de realidade lhe trazia a insegurança e ela tinha medo de parecer uma pirralha na frente dele, apenas uma boba que nunca havia beijado ninguém.
A língua dele tocou a sua e ela sentiu os pêlos em sua nuca se arrepiarem e seu estomago revirar numa sensação engraçada. Deixou que seus instintos a guiassem e relaxou deixando que o gosto dele se misturasse ao seu.
Com uma mordida de leve no lábio inferior da menina, se afastou lentamente ainda de olhos fechados tentando absorver o máximo daquele momento e não deixar o gosto dela escapar da sua boca. manteve os olhos fechados, ainda extasiada, toda a coragem havia fugido e agora ela estava insegura de novo. Abrir os olhos significava encarar , olhar nos olhos dele e ver a decepção e o arrependimento era algo que ela não queria.
- , abre os olhos. – A voz suave dele a assustou.
Abriu os olhos lentamente encontrando a ternura estampada na íris azul de . Ele sorriu quando as bochechas dela assumiram um tom rosado entregando sua timidez. abaixou os olhos para a própria mão que ainda segurava o pulso dele e antes que pudesse evitar, já estava falando a frase que ecoava em sua cabeça.
- Eu fui horrível, não fui? – Sua voz estava fraca e baixa demais. Ela desejou que ele não tivesse ouvido, mas a risada baixa e nasalada dele chegou até seus ouvidos.
- Claro que não. – Respondeu calmamente tocando o queixo dela levantando seu rosto e conseguindo encarar seus olhos inseguros. – Você tá suando frio. – Ele sorriu segurando a mão dela.
balançou a cabeça rapidamente e soltou a mão dele. Odiava quando seu corpo entregava tudo que estava acontecendo com ela. Corpo traidor, pensou com raiva. não precisava saber que a vontade dela era se enfiar em um buraco e nunca mais ter que olhar nos olhos hipnotizantes dele. Como ela iria encará-lo agora?
- , olha pra mim. – pediu baixo, dessa vez sem tocá-la. Ela relutou alguns segundos antes de encará-lo. – Você não precisa ficar sem graça e nem com vergonha de mim. Nós ainda somos e . Isso não vai mudar o que eu sinto por você. – Falou sério.
respirou fundo e concordou balançando a cabeça. Então, pela segunda vez em menos de cinco minutos, se ouviu perguntando a frase que ecoava em sua cabeça.
- E o que você sente por mim? – Sua voz firme contrastava com sua insegurança e os gritos de protesto em sua mente.
a olhou sentindo o ar sumir por alguns instantes. Como ele iria explicá-la que ainda não haviam inventado uma palavra que definisse exatamente o que ele sentia por ela? Como ele iria explicá-la que ele se sentia o cara mais sortudo da face da terra por saber que aquela menina em sua frente era só dele e ninguém mudaria isso? Como ele iria explicá-la que só com um sorriso, ela conseguiria qualquer coisa dele?
- ? ? – A voz de Cory veio do andar de baixo os assustando. se sentou ereto na cama e se afastou um pouco voltando sua atenção para a televisão ainda ligada.
- Aqui no quarto! – respondeu tentando fazer a respiração voltar ao normal.
- , como você está se sentindo, minha linda? – Cory perguntou em seu habitual comportamento materno. A menina sorriu levemente.
- Eu tô bem, tia. – Respondeu rezando para que seu corpo não desse qualquer sinal de que seu coração ainda parecia que iria pular pela sua boca a qualquer momento e suas mãos suavam frias mesmo que ela sentisse frio.
Cory caminhou até ela e botou a mão em sua testa e garganta, checando sua temperatura.
- , você mediu a temperatura dela? – Perguntou olhando o filho.
abriu a boca por alguns segundos lembrando que o termômetro estava provavelmente caído na cama.
- Medi. – Mentiu. – Uns dez minutos atrás, a febre diminuiu. Tá praticamente normal. – Sorriu convincente.
- Ótimo. Acho que está na hora de irmos dormir. – Falou consultando o relógio no criado mudo. – Vamos, . Você vai dormir lá na cama comigo. – Tirou o cobertor da menina e a ajudou a se levantar.
olhou para deixando claro que ainda queria uma resposta, mas ele desviou o olhar para as próprias mãos.
- , vista alguma coisa. Você não é mais uma criança para ficar circulando na frente da apenas de cueca. – Cory reclamou já saindo do quarto e arrancando um sorriso discreto do filho e da sobrinha.
deitou na cama sem se preocupar em vestir uma camisa, desligou a televisão que mostrava os créditos de Friends passando e fechou os olhos lembrando-se do que havia acabado de acontecer.
Ele imaginara aquilo tantas e tantas vezes, de diversas formas possíveis e não se lembrava de ter imaginado que seria tão perfeito. Era como se todas as peças do quebra-cabeça se encaixassem, aquilo parecia tão certo que ele precisava lembrar a todo o momento que era sua prima, não de sangue, mas ela era a menina que ele havia carregado no colo e crescido junto. Ele não sabia como seria dali pra frente, e ele não queria que aquele beijo mudasse a relação dos dois, mas sabia que havia conseqüências e ele teria que aprender a lidar com elas.

# End of flashback

terminou de arrumar a casa com um suspiro. Estava tudo limpo e varrido, não havia pratos sujos dentro da pia e alguns objetos haviam sito mudados de lugar pelo simples fato dela não conseguir ficar parada em algum lugar. Já havia tentado assistir televisão, ver filmes, ouvir música, mas tudo lhe parecia entediante demais e nenhuma das escolhas fazia o tempo passar mais rápido.
só chegaria pela noite e ela já estava achando impossível se concentrar em alguma tarefa. Agora estava tudo arrumado e ainda faltavam umas 5 horas para que ele chegasse em casa. Harte passou por ela indo deitar no carpete, mas ela o impediu correndo até a coleira dele e o levando para fora do loft. Passear com o Harte era uma terapia, e a ajudaria a passar tempo.

As ruas movimentadas distraiam seus pensamentos, ela gostava de observar o comportamento das pessoas. Gostava de ver grupinhos de meninas adolescentes andando todas juntas e sempre falando segredinhos entre si. Gostava dos empresários que caminhavam sempre perdidos em seus próprios pensamentos com suas maletas na mão. Gostava mais ainda das senhoras que sempre andavam pela vizinhança distribuindo sorrisos.
Harte caminhava tranquilamente, sempre com seu instinto farejador aguçado. Farejava qualquer coisa que houvesse pela frente, achava engraçada a forma como ele se interessava por coisas mínimas e raramente dava atenção para algum outro cachorro que estivesse passando perto dele.
Seus pés começarem a doer quando ela finalmente chegou à pracinha que sempre tivera vontade de ir. Passara de carro por ali algumas vezes e sempre fora encantada com o tanto de verde que havia por ali, só não imaginara que ir a pé fosse ser tão cansativo.
Sentou-se em um banco vazio e soltou Harte da coleira sabendo que ele era medroso demais pra ir muito longe dela ou se arriscar a chegar à rua com os carros passando. Ele deitou-se perto de seus pés com a língua pra fora e a respiração pesada fazendo-a rir, pelo menos não era só ela que estava fora de forma.
- Belo cachorro. – Uma voz masculina falou ao seu lado, a assustando um pouco. Ela encarou o garoto moreno com uma franja caindo sobre os olhos e sorriu agradecida. – Ele ou ela? – Olhou em dúvida.
- Ele! Harte. – Respondeu olhando o estranho acariciar a cabeça de Harte fazendo-o balançar o rabo preguiçosamente.
- Posso sentar aqui? – Perguntou apontando o banco.
- É publico. – sorriu dando de ombros reparando em suas roupas largadas e seus olhos profundamente castanhos.
- É, verdade. – O menino riu sentando ao seu lado. – , certo? – A olhou.
ficou estática por alguns segundos observando o rosto do menino ao seu lado. Ele a conhecia?
- A gente estudava no mesmo colégio. Não sou um maníaco perseguidor nem nada do tipo. – Ele riu divertido vendo a feição da menina se acalmar um pouco. – Freddie. – Estendeu a mão.
- Acho que o meu você já sabe. – Sorriu apertando a mão dele. – Não sou muito boa para reconhecer pessoas. – Se desculpou.
- Você vivia em outro mundo, acho que não conseguiria lembrar nem dos seus professores. – Ele riu. – Você tava sempre quieta e sozinha, a não ser quando estava com o . Parecia que você virava outra pessoa. – Falou sério arrancando um riso baixo da menina.
- Achava que passava despercebida naquele lugar. – Respondeu sem graça.
- Nah, as pessoas comentavam sobre você. – Riu sozinho recebendo um olhar espantado da menina. – Você era um mistério pra todo mundo, menos pro . Eu falava com ele algumas vezes, mas não éramos exatamente amigos. – Deu de ombros.
- Ele falava sobre mim? – perguntou curiosa.
- Nunca. – Freddie sorriu. – E ele não gostava quando alguns curiosos perguntavam. Às vezes parecia até que você era propriedade dele. – O menino soltou uma risada nasalada e sorriu fraco.
Freddie lembrava-se de muita coisa dos tempos de colégio que não conseguia. Não era exatamente sua época favorita, ela apenas se lembrava dos intervalos que passava na sala até que fosse até lá e a puxasse para os enormes jardins lotados de alunos.
Ela nunca poderia imaginar que as pessoas de fato reparavam nela, nenhuma nunca chegara até ela para conversar. Talvez o fato de ser conhecido a tornava conhecida também, ela cansara de receber olhares tortos de algumas garotas e agora se perguntava se não era pelo fato dela estar sempre com e elas estarem com inveja.
Freddie acabou sendo uma ótima distração e fez com que o tempo passasse sem que percebesse, ele era divertido e ela havia gostado da companhia dele.
- Freddie, eu preciso ir. – Falou um pouco sem graça observando o relógio.
- Ah, tudo bem. Eu também preciso encontrar minha irmã no shopping. – Fez careta. – Err... você pode me dar seu telefone? – Perguntou inseguro e um pouco sem graça. – Foi legal reencontrar você e conversar um pouco sobre os tempos de colégio.
- Ah. – sorriu indecisa. Mas o que havia de mal? – Claro. – Falou pegando o iPhone que o menino lhe estendeu e anotando o celular. – Prontinho.
- Brigada. Eu posso te ligar qualquer dia desse? Só pra jogar conversa fora. – Deu de ombros. sorriu confirmando com um aceno de cabeça.
- Até mais. – Freddie se aproximou dando um beijo em sua bochecha, a deixando extremamente sem graça. Nunca fora boa em lidar com garotos ou manter uma conversa com eles, não saberia dizer se alguém estava ou não interessado nela, mas algo lhe dizia que Freddie poderia ter interpretado os sorrisos sem graça dela da forma errada.
- Tchau. – sussurrou se virando e andando o mais rápido que pôde de volta pro loft.

Saiu do banho e vestiu uma calça de moletom e uma camisa com desenhos infantis, o relógio marcava quase nove da noite. Ligou o som baixo e sentou na cama pegando uma revista qualquer que estava no criado mudo, aquilo a ajudaria a passar o tempo.
Aos poucos seus olhos foram ficando pesados e ficava mais difícil a cada minuto mantê-los abertos. Colocou a revista de volta no criado mudo e deixou a luz do abajur acesa, não gostava de escuro, sempre se sentia mais sozinha com todas as luzes apagadas.
Fechou os olhos lentamente, prometendo para si mesma que ia apenas descansar enquanto não chegava. Não queria dormir, de forma alguma! Queria estar bem acordada quando ele chegasse. A luz fraca do abajur a impediria de dormir e logo logo estaria lá.

Alguma coisa em seu subconsciente a fez abrir os olhos rapidamente e ela se assustou ao se ver cega pela escuridão.
- ? – A voz de baixa de a assustou e ela se virou conseguindo distinguir os olhos dele. – Te acordei? – Perguntou a puxando pela cintura mais pra perto dele.
- Não. – Ela sorriu o abraçando e deixando que seu rosto ficasse escondido na curva do pescoço dele. – Eu me assustei com a luz desligada.
- Eu acabei de desligar, achei que você tivesse dormido sem querer e deixado ligada. – Falou passando os dedos carinhosamente pelas costas dela.
- Não gosto de dormir com as luzes todas apagadas quando você não tá aqui. – Deu de ombros levantando o rosto para encará-lo. – Não era pra eu ter dormido.
- Claro que era, não precisava ter ficado me esperando. – respondeu tirando o cabelo que caia sobre o rosto dela.
- Aaaai, como eu senti sua falta. – riu antes de colar seus lábios no dele e sentiu suas mãos já debaixo de sua camisa a apertarem contra ele.
Ela deixou que seus dedos se perdessem nos cabelos dele enquanto sentiu todo o corpo se eletrizando e pedindo por cada vez mais contato com o dele. As mãos de em suas costas, subiam e desciam constantemente e ela sorriu separando-se dele por alguns segundos, apenas para tirar sua camisa rapidamente.
soltou uma risada na nasalada.
- , você não quer voltar a dormir?
- HÁ! Até parece... – Falou maliciosa arrancando uma risada alta do menino antes de voltar a beijá-lo e se sentir completa de novo.



14
( música: I Could Get Used To This - The Veronicas )


abriu os olhos incomodado com a pouca claridade que passava pela cortina do quarto e sentiu o braço doer por estar embaixo do corpo de . Ele tirou com cuidado para não acordá-la e esfregou os olhos observando o relógio que marcava quase dez da manhã. A menina ao seu lado se mexeu e ele a olhou deixando que um sorriso surgisse em seus lábios. A boca dela estava entreaberta e ela dormia pesadamente, mas ele sabia que qualquer barulho a acordaria. Ao contrário dele, ela tinha um sono leve demais.
A observou durante alguns minutos, escutando sua respiração baixa e a forma como seu peito subia e descia ritmadamente. Os cabelos dela estavam espalhados pelo travesseiro e em seu rosto uma expressão suave o lembrava o quanto ela parecia um anjo enquanto dormia. Seu corpo estava coberto apenas por sua calcinha rosa e o leve cobertor amassado.
riu baixo imaginando o quão bobo ele devia estar parecendo e se levantou entrando no banheiro para fazer sua higiene matinal, estranhando o fato de Harte não ter subido as escadas correndo quando ouviu um movimento no andar de cima. Saiu do banheiro e avistou o cachorro adormecido no sofá, quando se aproximou ele apenas levantou a cabeça e mexeu o rabo para o dono. Foi até a cozinha sentindo o estomago protestar de fome e abriu a geladeira pensando em alguma coisa para comer, quando fechou a porta viu que tinha um post it rosa grudado com a frase: “Você faz a minha vida valer a pena (:”
Sorriu sozinho e pegou a bandeja dentro do armário pensando se ainda tinha a geléia de frutas vermelhas preferida de na geladeira. Preparou algumas torradas rapidamente e encheu dois copos com o suco de laranja que ele esperava que tivesse ficado bom. Arrumou os dois pratos e copos na bandeja e por fim botou dois Kit Kats sabendo que no lugar deles deveria ter uma flor como nos filmes. Mas ele não se importava, gostava de adaptar alguns clichês.
Subiu as escadas com cuidado e encontrou ainda adormecida, sorriu agradecido e colocou a bandeja na beirada da cama. Sentou ao lado da garota e pegou uma das mãos dela beijando carinhosamente a ponta de cada um dos seus dedos. Observou ela se mexer minimamente e sorrir de forma quase imperceptível. Não pra ele. Continuou segurando sua mão e se inclinou um pouco beijando sua testa, a ponta do seu nariz e lhe dando um selinho demorado.
riu abrindo apenas um olho e encontrando os olhos de a encarando, um sorriso bobo brincava em seus lábios e ela sentiu seu coração disparar sem controle fazendo seu peito doer um pouco como se quisesse explodir. Como ela podia negar que era a garota mais sortuda que existia?

You make me breakfast in bed
Você me faz café da manhã na cama
When I'm mixed up in my head
Quando estou confusa
You wake me with a kiss
Você me acorda com um beijo
I could get used to this
Eu poderia me acostumar com isso

- Bom dia. – A voz suave e um pouco rouca de a fez sorrir ainda mais.
- Pelo começo dele, tenho certeza que vai ser perfeito. – Sentou-se na cama roubando outro selinho do garoto e viu a bandeja arrumada. – Café da manhã na cama? – O olhou sem acreditar. sorriu puxando a bandeja para o colo dela.
- Com sua geléia preferida e Kit Kat. – Ele apontou os chocolates. arqueou a sobrancelha rindo. – Não tinha uma flor, daí eu resolvi inovar. – Deu de ombros.
A garota sorriu sem acreditar e passou a mão pelo cabelo prendendo-o em um coque ao perceber o quão bagunçado ele estava. Uma camisa aul escura de estava jogada no chão ao lado da cama e ela a pegou vestido-a rapidamente.
- , eu preciso escovar os dentes e passar uma água no rosto. Devo estar com uma cara amassada de sono. – Falou sonolenta.
- Nah, você tá linda assim. Tá natural. – Ele a abraçou passando um braço por detrás dela e lhe deu um selinho. Ela abriu a boca pra protestar, mas ele lhe deu vários outros selinhos a impedindo de falar.

You think I look the best
Você acha que eu fico o máximo
When my hair is a mess
Quando meu cabelo está uma bagunça
I can't believe you exist
Não consigo acreditar que você existe
I could get used to this
Eu poderia me acostumar com isso

Because I know you're too good to be true
Porque eu sei que você é bom demais pra ser verdade
I must have done something good to meet you
Eu devo ter feito alguma coisa boa pra conhecer você

- Tá azedo. – falou fazendo uma careta e arrancando uma risada da menina.
- Não tá nada, tá bom! – Ela disfarçou bebendo um pequeno gole do suco. arqueou a sobrancelha e ela fez um barulho com a boca se rendendo. – Tá péssimo. Argh! – Riram.
- Eu fiz às pressas, não lembro o que pode ter dado errado. – Fez bico fazendo a garota apertar suas bochechas.
- Não importa, foi o café da manhã na cama mais lindo, e eu amei. O que vale é a intenção. – Sorriu lhe dando um selinho.
- As segundas intenções também contam? – Riu com malicia.
A menina abriu a boca sem acreditar e depois riu.
- Você existe mesmo? – O olhou boba. soltou uma risada nasalada e beijou sua testa carinhosamente.
- Depois de 18 anos você ainda tem alguma duvida?

'Cause you wrote my name across your hand
Porque você escreveu meu nome na sua mão
When I freak you understand
Quando eu piro, você entende
There is not a thing you miss
Você não perde nada
And I could get used to this
E eu poderia me acostumar com isso

I'm feeling it comin' over me
Estou sentindo isso vir na minha direção
With you it all comes naturally
Com você tudo vem naturalmente
Lost the reflex to resist
Perdi o reflexo para resistir
And I could get used to this
E eu poderia me acostumar com isso

O telefone tocou no andar de baixo e desceu correndo deixando a menina terminando de comer as torradas. Ela observou os Kit Kat’s no canto da bandeja e sorriu sozinha, sempre conseguia fazer com que gestos simples se tornassem extremamente apaixonantes e a deixasse mais boba que o normal. Ultimamente, mais do que nunca, ela vinha se perguntando que tipo de alma boa ela fora em outra vida para merecer um cara como nessa. Ele conseguia curar todas as suas feridas e cicatrizá-las sem fazer o mínimo esforço.

You love the songs I write
Você ama as músicas que eu escrevo
You like the movies I like
Você gosta dos filmes que eu gosto
There must be some kind of twist
Deve haver algum erro
But I could get used to this
Mas eu poderia me acostumar com isso

Because you listen to me when I'm depressed
Porque você me ouve quando estou deprimida
It doesn't seem to make you like me less
Não parece fazer você gostar menos de mim

Ouviu os passos dele na escada e segundos depois ele se jogou na cama junto com Harte. A menina sorriu vendo o cachorro começar a lamber o rosto dele, enquanto ele tentava o afastar e fazia careta.
- Era o no telefone. – Falou sentando ao lado dela e fazendo o cachorro deitar na beirada da cama. – Ele tá no Saint James e parece que acabou de comprar um cachorro, quer que a gente vá até lá.
- Oba, mais um cachorro pra família. – riu. – Vou tomar banho e a gente vai.
- Vou levar isso lá pra baixo. – concordou pegando a bandeja e descendo rapidamente com Harte em seu encalço.
entrou no banheiro e se olhou rapidamente no espelho, como ela esperava, seu rosto estava amassado e seu cabelo estava uma bagunça. Soltou o coque frouxo e fez careta desistindo do espelho, quando ia começar a tirar a blusa se assustou com alguém abrindo a porta do banheiro e a desceu novamente.
- Eu já vi o que tem ai embaixo, não precisa esconder. – sorriu deixando-a sem graça. Ele entrou no banheiro e fechou a porta fazendo a menina arquear a sobrancelha. – Sabe, eu estava pensando e me veio uma idéia na cabeça... – Um pequeno sorriso surgiu no canto dos lábios dele e podia jurar que sabia o que vinha a seguir. Ele a abraçou pela cintura e começou a levantar a blusa dela. – Para as coisas irem mais rápidas e a gente não deixar o pobre esperar tanto... – Terminou de tirar a blusa e a jogou no chão. – A gente podia tomar banho junto. O que você acha?
sorriu passando os braços pelo pescoço dele e lhe dando um selinho rápido.
- Eu acho uma ótima idéia.

If there's a dark side to you I haven't seen it
Se há um lado ruim em você, eu não vi
Every good thing you do feels like you mean it
Toda coisa boa que você faz parece que é de coração

- Acho que é ele ali sentado. – comentou apontando para um rapaz sentado em um banco enquanto um cachorro brincava na grama perto dele. concordou com um aceno de cabeça e puxou Harte pela coleira antes que ele começasse a perseguir uma lagartixa.
- ! – falou alto quando estavam mais perto. O amigo se virou e sorriu.
- Hey, achei que vocês não viessem mais. O Ringo já está cansando de brincar. – Ele apontou o Chow Chow deitado na grama com a língua pra fora.
- Ai, meu Deus! Você comprou um Chow Chow! – falou um pouco histérica e se ajoelhou ao lado do cachorro fazendo carinho em seu pêlo. – Olha a carinha dele que coisa mais linda. – Falou com voz de criança fazendo os dois meninos rirem.
- Achei que Ringo combinava com ele. – comentou sentando novamente no banco, observou o cachorro deitar na grama com as patas pra cima, gostando do carinho que fazia nele.
- Por quê? Ele tem cara de baterista? – Riu.
- Há! Engraçado. – zombou.
sentou no banco com Ringo no colo e Harte foi até ela começando a cheirar o outro cachorro. Ringo rosnou um pouco fazendo a menina rir.
- Harte, o Ringo é macho, não gosta dessas coisas. – Os três riram.
- Eu vou passear um pouco com Harte, ele tá muito agitado. – puxou o cachorro que insistia em ficar cheirando Ringo. – Você vem? – Olhou para .
A menina olhou o cachorro deitado em seu colo e fez uma careta.
- Tô com pena, acho que vou ficar por aqui. – O olhou pedindo desculpas. apenas sorriu e se abaixou para lhe dar um selinho.
- Já volto. – Falou caminhando para um lugar com menos pessoas.
olhou pro lado e viu a olhando com um sorriso bobo no rosto. Riu sozinha. - Que foi?
- Vocês dois. – Ele soltou um risinho baixo e a menina o olhou sem entender. – É estranhamente engraçado ver vocês dois juntos.
- Hm... vai explicar ou quer que eu tente entender assim mesmo?
- É estranho porque eu nunca tinha visto nada assim, vocês dois são tão... almas gêmeas que chega a assustar. – A menina riu com a explicação. – É sério, é como duas partes de um inteiro. Não sei se é porque eu conheço os dois faz tempo, mas às vezes tenho a impressão que até um estranho conseguiria enxergar isso se visse vocês dois.
- E é engraçado porque...?
- Porque eu sempre imaginei vocês dois juntos, e agora é engraçado ver isso acontecer. – Deu de ombros arrancando uma risada da menina.
- Não vejo o como meu namorado, é estranho. – Ela fez uma careta e foi a vez de rir. – Eu sei que ele é meu, mas não consigo definir exatamente o que ele é meu!
- Alma gêmea. – sorriu.
- Nah, não sei. Já desistir de tentar definir. – Deu de ombros. – Mas mudando de assunto, será que você ficaria chateado se eu roubasse o Ringo de vez em quando? – Falou prendendo um sorriso e fazendo o menino gargalhar.

# Flashback (6 anos antes)

- , eu to estudando, sério. – reclamou abaixando o livro de História que estava em suas mãos. A casa silenciosa estava propicia para o estudo e ela aproveitava o máximo para fazer isso antes que o pai chegasse com alguns amigos para começar a velha jogatina que sempre atrapalhava seu sono.
- É rápido, . Eu só quero que você conheça o e o . Prometo que não vou te prender aqui em casa. – pediu enrolando o fio do telefone no dedo.
- Mas por que você quer tanto que eu conheça eles? – Falou desconfiada.
abriu a boca para responder, mas acabou não falando nada. Agradeceu por não estar cara a cara com a menina, ou ela iria perceber que suas bochechas ficaram levemente rosadas.
- Porque eu quero, oras. Eles são meus melhores amigos e estão sempre comigo e você é... você, ué. Eu quero que vocês se conheçam. E além do mais, você agora está sempre ocupada com os estudos e não vem mais aqui. – Reclamou.
suspirou sentindo um peso na consciência. Ela estava agindo como uma boba imatura evitando desde que o beijo acontecera.
- Tudo bem. Estarei aí em uns quinze minutos. – Se deu por vencida. sorriu do outro lado da linha e sussurrou um ok desligando rapidamente o aparelho.
A menina levantou caminhando até o espelho do banheiro e soltou o cabelo que estava preso num coque mal feito. Passou uma água no rosto e escovou os dentes rapidamente antes de pegar um moletom e sair de casa.
Caminhou pelas ruas apressadamente e hesitou alguns segundos antes de tocar a campanhia da casa. “Não seja tola!” sussurrou para si mesma quando ouviu os passos do lado de dentro se aproximarem da porta.
- Hei, sumida. – sorriu dando espaço para que ela entrasse. Sorriu sem graça e lhe deu um beijo na bochecha agradecendo pelos amigos dele não estarem ali na sala. – Vem comigo, eles estão lá no quarto. – Falou pegando a mão dela e a puxando animadamente escada acima.
ouviu uma risada alta e engraçada vinda do quarto de e sorriu tentando imaginar os amigos dele.
- Esse é o , é um pateta. Ri de tudo. – falou baixo antes de entrarem no quarto. – Caras, essa é a . – sorriu parando na porta do quarto com a menina ao seu lado. As mãos ainda entrelaçadas faziam com que a menina ficasse ainda mais sem graça.
- Oi, ! – e responderam em uníssono. A menina sorriu.
- Oi. – Respondeu baixo olhando deles para .
Por que diabos os três a estavam encarando com um sorriso no rosto? Eles podiam ao menos disfarçar! Imaginou até onde eles sabiam sobre ela e se havia lhes contado sobre o beijo. Ela já estava se achando paranóica por pensar tanto nisso, ele não devia nem mais lembrar do que acontecera.
- Errr... – A menina tentou pensar em alguma coisa pra dizer, mas acabou apenas apertando a mão de pra chamar sua atenção.
- Então, eles estavam doidos pra te conhecer. – Falou piscando para os amigos.
- Claro, a famosa . – brincou.
- De cada 10 frases que o fala, pelo menos 5 envolvem . completou levando um soco no braço.
- Hm... pode ser que nem tudo seja verdade. – falou olhando desconfiada para , ele disfarçou olhando para um canto qualquer do quarto e puxando a garota para sentar-se na cama.
- A parte da beleza, era. – sussurrou de uma forma que ele julgava ser baixa, mas o silêncio dentro do quarto permitiu que todos ouvissem. Ele fez uma careta olhando pra como se pedisse desculpas.
- O falou que ano que vem você vai estudar lá no colégio. – comentou a olhando e agradeceu mentalmente.
- Ah, é verdade. – sorriu. – Mudar um pouco de ares, estudar sempre no mesmo colégio pode ser sufocante. – concordou com um aceno de cabeça.
rapidamente encontrou outro assunto qualquer para que não deixasse o silêncio constrangedor tomar conta do quarto novamente.
aos poucos foi se soltando mais e já ria alto das besteiras que falava, os dois riam com uma facilidade incrível. Ele observou a garota ao seu lado e desceu os olhos para as mãos deles que ainda estavam entrelaçadas no colo dela. Passou o polegar pelas costas de sua mão e viu ela abrir um sorriso discreto enquanto ainda prestava atenção em alguma história engraçada que contava. Observou os amigos e encontrou o olhar de seguido de um sorriso cúmplice do menino, sorriu de volta e voltou sua atenção para que agora ria tentando terminar de contar a história.

- Até segunda, cara. - deu um tapinha nas costas de e sorriu. – Tchau, . Prazer te conhecer. – Deu um beijo rápido na menina que sorriu acenando. repetiu o gesto do amigo saindo da casa em seguida.
- Gostou deles? – perguntou depois de fechar a porta e se virar para a menina sentada no sofá.
- Gostei. – Sorriu vendo-o se jogar no sofá e deitar a cabeça em seu colo. – Eles são legais e o é uma figura.
- Eu te disse. – sorriu convencido arrancando uma gargalhada da menina.
- Na verdade você não disse não. – Deu língua. – E eu preciso ir pra casa terminar de estudar. – Completou sem parar de passar as mãos pelo cabelo de .
- Não precisa não. – Respondeu de olhos fechados aproveitando o carinho. Ela riu o olhando.
- Claro que preciso, .
- , você me ama? – Ele se sentou de lado deixando que um de seus braços a prendesse no sofá e a olhou sério. A menina arqueou a sobrancelha sem entender.
- Amo...? – Falou em duvida.
- Então fica aqui. – Fez bico.
o olhou por alguns segundos engolindo em seco. Ele fazia aquilo de propósito ou o quê?
- Eu... não posso, . – Olhou as próprias mãos e suspirou. – Tenho mesmo que estudar.
- Tudo bem. – rolou os olhos sem que ela visse. – Vem, te levo em casa. – Falou se levantando.
- Já que você insiste. – Riu.
A chuva fina começou a cair quando eles estavam há uns 20 metros da casa de . Se entreolharam cúmplices e sorriram antes de começarem a correr até a porta de casa.
- Me impressiono com a nossa sorte. Não podia ter chovido um pouco depois? – A menina riu abrindo a porta. – Fica aqui até a chuva passar. – Pediu o olhando.
- Não precisava nem ter pedido. Não tô afim de tomar chuva. - fez careta recebendo um tapinha no braço. – Seu pai tá ai? – Perguntou receoso.
- Pai? – Gritou sem obter resposta. – Não! – Sorriu.
- O que vamos fazer de bom? – perguntou se jogando no sofá.
- Você eu não sei, mas eu vou estudar. – Riu subindo as escadas e deixando o menino pra trás.
- Ei, volta aqui! – Ouviu quando já tinha entrado no quarto. Deu risada ouvindo os passos de na escada e sentou na cama pegando o livro que estava em cima do travesseiro como ela deixara. – Ah, , esquece os estudos um pouco. – reclamou, dessa vez se jogando na cama dela.
- Eu já esqueci os estudos a tarde praticamente toda, . – Rolou os olhos. – Vai, levanta daí e me deixa esticar as pernas e estudar em paz. – Reclamou.
- Mas se você estudar eu não vou ter nada pra fazer! – Bufou sentando no carpete e encostando as costas na cama da garota.
A menina ignorou o comentário dele e voltou sua atenção para o livro aberto. Ela gostava de História, seria fácil se concentrar. De canto de olho pode ver dobrar as pernas e resmungar alguma coisa, sorriu sozinha.
O silêncio não permaneceu por muito tempo, sentiu a mão de em seu pulso e quando se deu conta estava caída no colo dele que ria sem controle.
- Sua meiguice me comove, . – Reclamou indo sentar de novo na cama, mas ele a segurou pela cintura.
- Vem cá, droga. Só quero que você sente aqui comigo, pode continuar estudando. – rolou os olhos e sentou ao lado de rezando para que ele parasse de reclamar. Chegou a pensar se não era melhor que a chuva parasse logo e ele fosse embora, mas ela não enganaria a si mesma negando que queria a presença dele ali ao seu lado.
deitou a cabeça no ombro da menina e permaneceu calado reprimindo a vontade de pedir que ela fizesse carinho em seu cabelo. Ele poderia ir pra casa e deixar a menina estudar já que a chuva estava fraca e ele não se importava com isso, mas eles haviam passado quase um mês inteiro sem se ver e tudo que ele queria naquele momento era aproveitar o fim do dia ao lado dela. Ele suspeitava qual era o motivo dela o evitar durante todos esses dias, mas preferia não comentar nada e dá o espaço que ela precisava, ele mesmo precisara de uns dias para processar o que tinha acontecido e decidir que aquilo definitivamente não iria mudar a relação deles.
levou uma das mãos até o cabelo de e começou a fazer carinho nele sem desviar a atenção do livro. Aos poucos e o corpo dele foi relaxando e ela sentia o peso sobre si aumentar, se perguntou se ele tinha caído no sono e parou o carinho.
- Pode continuar. – falou com a voz sonolenta fazendo a menina rir.
- Achei que você tivesse dormido.
- Mais alguns minutos e eu dormia mesmo. – Falou esfregando o olho. – Acho que eu vou pra casa.
- Por quê? – A menina perguntou imediatamente.
- Achei que estivesse te atrapalhando. – sorriu.
- Ainda tá chovendo. – Desconversou. – E você não tá atrapalhando. – Respondeu brincando com as folhas do livro.
- Tudo bem, continuo calado em meu canto. – Concordou. – Mas podemos ir pra cama? Estou desconfortável aqui. – Falou fazendo careta. A menina o olhou e não controlou o riso alto. – Que foi?
- Você ouviu o que acabou de dizer? Não soou muito inocente. – sentou na cama vendo o menino fazer o mesmo.
- Soou inocente pra mim, sua mente suja. – Riu.
- Podemos ir pra cama? Estou desconfortável aqui. – A menina forçou uma voz masculina tentando imitá-lo.
- Cala boca, . – respondeu tentando não rir.
- Minhas costas doem muito nessa posição. – A menina continuou forçando a voz.
- Sh, quieta!
- Podemos ir pro sofá agora se você quiser.
- , cala boca!
- Me faça calar. – Ela riu deixando a voz ainda mais estranha.
Sem pensar direito no que estava fazendo, colocou as mãos apoiadas na cama em volta da menina e colou sua boca na dela sentindo enrijecer surpresa. Ainda sem pensar no que estava acontecendo, ele colocou uma de suas mãos na nuca da menina e a outra em sua cintura puxando-a timidamente mais pra perto. Quando passou sua língua pelos lábios dela, sentiu o corpo da menina relaxar e suas mãos irem até sua nuca e fazerem um carinho discreto em seus cabelos.
Aos poucos ele foi deitando seu corpo por cima do dela, até se apoiar com os cotovelos na cama para que não deixasse o peso todo sobre ela. deixou que eu um gemido baixo escapasse por entre seus lábios quando intensificou o beijo e apertou sua cintura com desejo. Suas mãos estavam indecisas entre desceram até as coxas dela ou entrarem por debaixo de sua camisa, mas uma voz em sua mente o lembrou que aquela era e não uma garota qualquer que ele tinha conhecido em alguma festa do colégio.
Quando a menina desceu uma das mãos até seu peito ele se afastou rapidamente tomando cuidado para não assustá-la de novo.
- Hum. – Ele falou baixo se sentando novamente na cama. repetiu seu gesto encolhendo as pernas e passando a mão pelo rosto numa tentativa de mostrar pra si mesma que aquilo havia realmente acontecido novamente. – Isso tá ficando meio freqüente.
- É. – Concordou sem jeito.
- Minha culpa, eu não sei por que fiz isso. Me desc... – Antes que pudesse terminar a frase, sentiu o peso de jogando seu corpo pra trás enquanto os lábios dela encontravam os seus num misto de insegurança e ansiedade. Sorriu ainda desconcertado e a abraçou pela cintura moldando o corpo dela ao seu.
A menina sentia o coração batendo num ritmo descompassado enquanto as mãos de faziam um carinho gostoso em suas costas e a língua dele brincava com a sua como se não houvesse nenhuma outra coisa no mundo que ele quisesse fazer. Ela não entendia como aquilo parecia tão certo, costumava pensar que era apenas loucura de sua cabeça, apenas mais um sonho a que ela se prendia. Mas ali estava ela, pela terceira vez contrariando todas as vezes que sua mãe lhe dissera que não havia perfeição nesse mundo. Aquilo era. E ela tinha certeza disso.
mordeu lentamente o lábio inferior da menina e o puxou um pouco abrindo os olhos e vendo que ela sorria de olhos fechados. Soltou o lábio dela e deixou que suas bocas roçassem numa provocação boba. Lhe deu um selinho rápido e foi beijando a bochecha, queixo, mandíbula, até chegar ao pescoço da menina. Ele se virou na cama deixando o corpo da menina sob o seu e continuou dando pequenos beijos pelo pescoço dela, aquilo tudo lhe parecia tão convidativo que ele tinha que reprimir seus hormônios e reações rápidas ao mínimo toque de .
O barulho da porta fechando no andar de baixo fez com que os dois se olhassem em pânico.
- É meu pai! – sussurrou empurrando rapidamente. O menino se pôs de pé em um segundo enquanto a menina ajeitava a blusa amassada. – Sai pela janela. – Falou apavorada.
- Ué, por que eu tenho que sair? – a olhou.
- Não sei, é melhor sair. Ele vai suspeitar de alguma coisa, eu tenho certeza! Vai logo, . – O empurrou até a janela aberta e agradeceu por já ter parado de chover.
bufou roubando um selinho rápido da menina e saiu pela janela escorregando agilmente pelo telhado e pulando para a grama. Olhou para a janela e balançou a cabeça negativamente amaldiçoando o pai da menina. Além de ser um vagabundo inútil que tratava a filha como se ela não existisse, agora era um empata foda.
sentou na cama pegando o livro aberto e fingindo que lia atentamente. Viu seu pai passar pela porta do quarto dando uma olhada rápida apenas para verificar se ela estava lá e suspirou aliviada. O que tinha acabado de acontecer?

# End of flashback

terminou de secar o cabelo e deu uma ultima checada no espelho passeando seus dedos entre os fios agora apenas um pouco úmidos. Guardou o secador na gaveta, saiu do banheiro e viu no andar de baixo deitado no sofá assistindo televisão. Se Harte não tivesse ido para casa de , ele certamente estaria deitado no chão fazendo companhia ao dono.
- Senta aqui. – falou enquanto ela descia as escadas. Sorriu sentando no sofá e colocando uma almofada no colo para que deitasse, quando ele o fez, ela começou a acariciar os cabelos dele.
O celular de que estava jogado no sofá, quase caindo entre uma almofada e outra, começou a tocar fazendo se mexer sem vontade e atendê-lo com menos vontade ainda.
- Hm, ela tá aqui sim. Quem tá falando? – Perguntou desconfiado. Desde quando algum homem ligava para falar com ?
A menina gelou lembrando-se de Freddie e respirou fundo quando a olhou e lhe estendeu o telefone com uma cara mal humorada.
- É um tal de Freddie. – concordou pegando o aparelho e engolindo em seco antes de falar.
- Alô? – Sua voz saiu tremida e ela desejou poder sair da sala e ir para algum lugar onde não pudesse ouvir a conversa, mas sabia que isso não ajudaria em nada sua situação. – Oi, Freddie. Tudo bem sim, e você? – Tentou conversar normalmente enquanto , ainda deitado em seu colo, fingia prestar atenção na televisão ligada.
Freddie engatou uma conversa sobre como no dia anterior a irmã dele o havia feito rodar o shopping inteiro atrás de uma bolsa para combinar com o sapato novo, e quando ele perguntou como havia sido o dia dela, apenas desconversou com um “nada de interessante” pouco convincente. Sentiu o estomago revirar quando ele perguntou o que ela faria no dia seguinte. Ela estava cansada de saber a pergunta que vinha após essa, e podia dizer que não estava no melhor momento para escutá-la.
- Eu acho que nada. – Respondeu sem animo rezando para que Freddie fosse diferente de outros garotos e tivesse perguntado aquilo apenas para ser simpático, mas ele não era. O velho “podemos sair amanhã?” escapou da boca do menino de uma forma tão tímida, que se fosse em outra situação ela certamente iria sorrir.
- Hm, acho que não vai dar, Freddie. Desculpe. – Respondeu baixo.
a olhou com as sobrancelhas arqueadas e uma expressão revoltada no rosto. O cara tinha acabado do chamar pra sair ou ele estava começando a imaginar coisas? Ela desviou o olhar tentando se focar em um comercial qualquer que passava na televisão.
- Tudo bem, a gente se fala depois. – Se despediu, desligando o telefone e tentando se preparar para o que viria a seguir.
Para sua surpresa, permaneceu calado, parecendo absorto demais em seus próprios pensamentos. Ela se xingou por não ter lembrado de contar sobre Freddie para , como ela podia ter esquecido?
O silêncio durou no máximo dois minutos. o quebrou quando sua mente começou a bolar planos para quebrar a cara de quem quer que fosse Freddie.
- Freddie? – Perguntou controlando a voz e sem olhar para a menina que ainda mexia em seu cabelo como se nada tivesse acontecido.
- Hum, é. Acho que esqueci de contar sobre ele. – A culpa em sua voz era quase visível. permaneceu em silêncio, ela achou que deveria explicar. – Ontem eu fui passear com o Harte naquela praça perto daquele brechó e acabei encontrando o Freddie. Você não vai se lembrar dele, mas ele estudava no mesmo colégio que a gente. Ele é moreninho e tem um cabelo bem lisinho. Hoje em dia ele anda com umas roupas bem largadas de skatista, não sei se naquela época já era assim.
- É, acho que lembro vagamente. – falou a contragosto. – O que ele queria? – Perguntou sem esconder o mal humor.
- Hm, nada demais. Só conversar. – Mentiu.
- E desde quando você mente pra mim? – Sentou no sofá encarando a menina que se encolheu no canto.
- Não to mentindo. - Droga, droga droga! Fala logo a verdade.
bufou se levantando e foi até a janela aberta do loft. Respirou fundo algumas vezes tentando controlar a raiva, por que ela estava mentindo? Que droga tinha acontecido no dia anterior que ela fazia tanta questão de esconder dele? Freddie maldito. Ele se lembrava muito bem do dia em que Freddie o perguntara sobre e brincara sobre ser apresentado a ela. Na época apenas o olhou atravessado, aquilo já era o suficiente para que ele entendesse que deveria ficar longe de , mas ele provavelmente não entendera que aquilo ainda valia até os dias atuais.
- Eu dei meu telefone pra ele, e ele me chamou pra sair. – A voz baixa da menina o chamou de volta pra realidade.
- Se ele te pediu seu telefone não era meio óbvio que ele iria te chamar pra sair? – Falou ainda sem olhar pra ela.
- Claro que não! – A menina se defendeu.
- Claro que sim, ! Quando você está sozinha e um cara pede o seu telefone é porque ele vai te chamar pra sair!
- E por que droga eu tenho a obrigação de saber isso? Quem sou eu pra entender a mente masculina? – Se levantou jogando a almofada que estava em seu colo para um canto qualquer da sala.
- E por que droga você não falou que estava comigo? – finalmente se virou pra ela, mas se arrependeu no mesmo segundo. A mágoa no rosto dela o furava como facas afiadas. abriu a boca para responder, mas a fechou quando percebeu que não sabia o que responder. Ela não disse pra Freddie que estava com porque ele não havia perguntado, só isso.
- Achei que essa coisa toda de primos não importasse pra você. – a olhou esperando que ela tivesse uma resposta dessa vez.
- Você sabe que não importa e nem nunca importou. – Respondeu magoada. – Não sei por que você tá fazendo esse circo todo, . Eu falei que não ia sair com ele...
- Mas não disse que estava comigo, ou ao menos que estava comprometida com alguém! – A interrompeu.
- E em momento algum falei pra ele que estava disponível. – continuou como se ele não a tivesse interrompido. - Eu não devo satisfações à ninguém sobre o meu estado civil. Pra mim não importa que ninguém, além de você e eu, saibamos sobre o que rola entre a gente. – Parou de falar sentindo a respiração mais pesada. – E eu achei que você tivesse dito que não sente ciúmes! – Completou.
- Não é ciúmes! – Se defendeu.
- É medo de perder? Pra um cara que eu mal conheço? – Riu irônica.
- Nenhum cara gosta de ver a garota que ele ama sendo cantada por outro cara pelo simples fato dela não ter dito que tem um namorado! – Respondeu sem a olhar.
Namorado.
A palavra ecoou na cabeça dos dois, não era exatamente o que queria ter dito, mas ele não sabia o quão bom aquilo soava aos ouvidos de .
- Essa discussão não faz sentido algum, . Eu não comentei com Freddie que estava com você porque ele não perguntou, e mesmo se ele tivesse perguntado eu provavelmente não diria. Não é algo que seja do interesse dele. Agora se você quiser continuar discutindo, vai ter que ficar falando sozinho. – Finalizou sentando novamente no sofá e cruzando os braços emburrada.
a olhou sem conseguir sentir raiva e achou no mínimo fofa a cara emburrada que ela fazia. Ele acabara de brigar com ela por uma coisa estúpida e imatura, havia agido como um garoto mimado e ainda a havia quase magoado. Era por isso que ele odiava esse maldito ciúme, ninguém deveria sentir ciúme. É uma coisa tão mesquinha e idiota que cega qualquer pessoa, mesmo a mais racional.
Caminhou calmamente até a cozinha e encheu um copo de água virando-o de uma vez na boca. continuava no sofá olhando para a televisão com mais atenção do que ela realmente estava. Enrolou um pouco na cozinha sem saber direito o que fazer e resolveu ir sentar ao lado nela no sofá, mesmo que fosse pra ficar calado.
A televisão alta era o único som que prevalecia na sala, suspirou algumas vezes se mexendo incomodado. Ele precisava consertar a besteira que havia feito.
- Eu tenho ciúmes de você. Muito. Desde sempre. – Confessou com o olhar preso nas imagens da TV. – Acho que eu tinha ciúmes até das nossas mães. Eu sempre queria que fosse eu e você e mais ninguém. Você dizia que eu era maduro e na verdade em relação a você eu sempre fui um garoto mimado e egoísta. – Terminou de falar sentindo um peso sair de suas costas, nunca pensara que um dia seria capaz de confessar aquilo pra alguém, muito menos pra .
- Sempre soube e sempre fui igual. – A menina falou após alguns torturantes segundos de silêncio.
a olhou sorrindo e passou um braço por sua cintura trazendo-a pra perto dele. Deu alguns beijinhos na bochecha dela, vendo-a se encolher e depois a mordeu com um pouco de força fazendo-a protestar rindo.
- Canibal!
- Ninguém mandou você ser gostosa e boa de morder. – Brincou.
- Não tenho culpa se sou irresistível. – Riu.
- Desculpe pela discussão, foi realmente sem sentido. Confio em você. – Falou sincero.
o olhou sorrindo e beijou seu nariz.
- Fico feliz em saber disso. O Freddie é lindo, mas você dá de mil a zero nele. – gargalhou quando o menino fez careta. – Own. – Apertou as bochechas dele.
- Vai passar Velozes e Furiosos! – quase gritou pegando o controle e aumentando o volume. – E é agora! – Comemorou sem perceber a careta que fazia.
Batalha Perdida, pensou. Por que homens gostam tanto desses filmes?
Deitou a cabeça no ombro dele e se conformou que teria que assistir ao filme.
- . – O chamou ouvindo ele sussurrar um “diga” para mostrar que estava a ouvindo. – Te amo! – Falou boba. riu baixo.
- Te amo mais. – Sussurrou em resposta.
- Vai sonhando! – Beijou o ombro dele e deitou em seu colo sem vontade alguma de prestar atenção no filme, agradecendo mentalmente quando ele começou a fazer carinho em seu cabelo. Aquilo já era o suficiente para fazê-la se desligar do filme e de qualquer outra coisa em sua volta.

- Esse filme tá ficando tão chato. – falou baixo depositando um beijo no ouvido de e mordendo seu lóbulo levemente. – Eu tenho idéias de coisas bem melhores pra fazer. – Sorriu distribuindo alguns beijos pelo pescoço do menino. a olhou com a sobrancelha arqueada.
- Tipo o quê? – Perguntou, fingindo não entender as intenções da menina.
- Quer que eu fale ou que eu mostre? – Sorriu de lado vendo repetir a ação e aproximar o rosto do seu.
- Mostra. – Pediu baixo ouvindo um riso escapar por entre os lábios da menina antes deles grudarem nos seus.
sentou no colo do menino botando uma perna de cada lado do seu corpo e sentiu as mãos dele acariciarem suas coxas e subirem lentamente para sua cintura por debaixo da camisola de seda que ela usava. Ele a apertou mais contra seu corpo e ela sentiu a excitação de ir crescendo ao mesmo tempo em que suas mãos exploravam o corpo dela.
Ele abriu o sutiã da menina ainda por debaixo da camisola, fazendo com que ela partisse o beijo apenas para tirar rapidamente o sutiã e jogar em algum canto da sala.
observou os seios da menina cobertos apenas pela seda fina e mordeu o lábio inferior a desejando ainda mais. sorriu docemente e tocou em seu queixo fazendo-o levantar os olhos e encará-la. Ela beijou seu olho, e desceu lentamente até chegar novamente à boca, prendeu o lábio inferior dele entre seus dentes e o puxou com certa força sentido-o protestar apertando sua coxa e sua cintura e puxá-la para um beijo.
desceu as mãos até a barra da camisa branca que usava e foi subindo-a lentamente, partindo o beijo quando ele levantou os braços para ajudá-la a tirar. No segundo seguinte suas bocas já estavam novamente coladas e suas línguas brincavam uma com a outra. Nada ali era novo, nem o gosto dos beijos, nem os corpos colados, nem mesmo as provocações, eles já se conheciam melhor do que ninguém e ainda assim as sensações que causavam um no outro lhes pareciam novas.
gostava da forma como ela se arrepiava com os toques dele e como ela, de vez em quando, soltava um eu te amo tão baixo que por vezes podia jurar que estava ouvindo coisas. gostava de saber que ele sempre cedia aos caprichos dela, e de como ele se entregava à ela deixando o resto do mundo de lado.
Duas pessoas tão intimas e intensas e que por vezes pareciam ser apenas uma.
As mãos de subiram pelo corpo da menina levando a leve seda junto e segundos depois ela já estava jogada em cima do sofá. Ele observou o corpo praticamente nu da garota em seu colo e deixou que sua mão deslizasse do pescoço dela, passando pelo colo e parando em seu seio. Passou o polegar suavemente por ele e depois depositou um beijo carinhoso no lugar do seu coração.
passou a mão pelos cabelos dele, afastando-os da testa um pouco suada e sorriu beijando-lhe os lábios suavemente. Sentiu a língua dele procurar pela sua e abriu a boca deixando que ele a provocasse mordiscando seu lábio.
Num movimento rápido, tirou a garota de seu colo e a deitou no carpete da sala. Suas pernas se encaixaram intercaladas com as dela e ele começou a beijar seu pescoço sentindo as unhas dela passarem por seus braços e costas lhe causando arrepios.
mordeu o lábio sentindo a língua quente de em contato com sua pele, enquanto as mãos dele exploravam seu corpo de forma sedutora e desinibida. Seus corpos colados lhe permitiam sentir a excitação do menino que crescia mais a cada minuto que passava enquanto suas mãos iam ficando mais inquietas e indecisas. Ele subiu os beijos para o rosto da menina e parou ofegando e a olhando nos olhos.
Ela conhecia aquele olhar de incerteza dele e podia dizer que não era seu preferido. Era raro ele não estar absolutamente seguro em relação à ela. beijou-lhe os lábios calmamente e se afastou passando a mão em seu rosto enquanto sentia o polegar dele acariciar seu quadril, bem perto da alça de sua calcinha.
Antes que ela pudesse perguntar qual era o problema, sentiu pressionar seus lábios com força contra os dela. Se ela não estivesse acostumada com esses impulsos dele, ela definitivamente teria se assustado. Deixou que ele aprofundasse apressado sentindo sua hesitação ficar mais evidente e já ia separar suas bocas e perguntar o que estava havendo afinal, quando sentiu a mão dele cuidadosamente se movimentar por sua calcinha fazendo-a prender a respiração.
diminuiu a intensidade do beijo sentindo que ela tinha recuado um pouco. Por alguns segundos, ele achou que fosse afastá-lo, mas depois de morder seu lábio inferior, voltou a beijá-lo com intensidade dando-lhe o estimulo que precisava.
encolheu um pouco as pernas, num gesto involuntário ao sentir o toque dele. Encravou as unhas em seu ombro e mordeu o lábio controlando um gemido. Uma sensação desconhecida e prazerosa invadiu seu corpo fazendo-a puxar pela nuca para que seus lábios se encontrassem novamente com os dele e depois de alguns segundos sentiu que haviam prendido as respirações, antes sincronizadas.

tirou a mão de sua intimidade ouvindo um ultimo gemido escapar pelos lábios da menina e a beijou suavemente sentindo-a passar as mãos por sua testa que estava suada e com cabelos grudados.
- Te machuquei? – Ele perguntou baixo a olhando. sorriu levemente e balançou a cabeça negativamente.
- Eu gostei. – Ela falou quase inaudivelmente e sentindo o rosto ferver. riu baixinho e ela teve a certeza de que estava corando, o puxou pela nuca antes que ele falasse mais alguma coisa e o beijou com força sentindo-o apertar sua cintura e corresponder da mesma forma.
arfou em meio ao beijo sentindo que não poderia agüentar mais tanto tempo entre beijos e carícias.
- A gente precisa ir pro quarto. – Falou enquanto distribuía chupões pelo pescoço dela. o olhou sem entender. Sorriu malicioso. – Camisinha. – Explicou.
concordou vagamente com a cabeça sentindo seu corpo protestar quando começou a se afastar e o puxou de volta fazendo-o rir em meio ao beijo. Eles se levantaram sem jeito, tentando não partir o beijo e quando finalmente conseguiram ficar de pé, foram às cegas subindo as escadas, parando em cada degrau e rindo dos tropeços.
Quando ela sentiu as pernas encostarem-se à cama, deixou que seu corpo caísse, puxando consigo. Eles riram enquanto se ajeitavam apressados na cama, os dois já sentindo a excitação passando por todas as partes de seus corpos. As duas únicas peças que ainda estavam em seus corpos rapidamente foram parar em algum canto do quarto. abriu rapidamente a gaveta do criado mudo tirando uma camisinha de lá.
- Deixa que eu boto. – pediu o olhando receosa, mas fazendo com que sua voz saísse firme e segura. lhe entregou a camisinha e ela a colocou enquanto ele depositava pequenos beijos em seu ombro.
começou com os movimentos mais lentos e aos poucos foi aumentando a velocidade sendo estimulado pelos gemidos e suspiros da menina que vez ou outra soltava seu nome baixinho perto de seu ouvido, o fazendo duvidar de alguma vez já ter gostado mais de ouvir seu nome de forma tão encantadoramente apelativa.

Caiu exausto ao lado da menina, ouvindo a respiração dela tão ofegante quanto a sua. A puxou pela cintura fazendo seus corpos ficarem grudados e beijou a ponta do nariz dela.
sorriu passando a mão pelo cabelo suado do menino e botando-o pra trás. Virou-se de frente pra ele e depositou um beijo leve e rápido em seus lábios. Ele sorriu a abraçando pela cintura, ainda mantendo o contato visual.
Aos poucos a menina foi sentindo os olhos irem ficando mais pesados, e seu esforço para manter os olhos abertos e continuar observando ir ficando mais inútil.
- Dorme. – falou baixinho a apertando mais contra si e beijando-lhe a testa suavemente.
- Você me cansa muito, isso é injusto. – falou baixo se aconchegando nos braços dele. gargalhou achando incrível a inocência que ela conseguira dar aquela frase. – Eu que deveria ficar acordada vendo você dormir. – Completou.
- Tenho certeza que haverá outras oportunidades para você, agora dorme e, por favor, não ronque tanto. – Brincou recebendo uma tapinha de leve no braço. A respiração dela que batia em seu pescoço, aos poucos foi ficando mais calma e antes que ele pudesse ter certeza que ela já estava dormindo, caiu no sono.


15


vestiu a calça jeans e uma blusa pólo azul clara, se olhou no espelho imaginando se estava vestida adequadamente, mas se lembrou que aquela era apenas um encontro informal com o advogado e sentiu seu estomago se contrair só de pensar nisso.
Três dias antes, recebera o telefonema do advogado de sua mãe pedindo para encontrá-la para que pudessem resolver algumas coisas que estavam pendentes desde que seu pai morrera. Aquela não era exatamente uma lembrança que queria reviver, mas agora ela era adulta e precisava aprender a lidar com a vida.
saiu do banheiro com uma calça jeans escura e uma pólo também azul clara. Os dois se entreolharam rindo e balançou a cabeça.
- Sem chance, vou trocar, espera. – Falou indo até o armário e escolhendo uma camisa preta. Trocou rapidamente e se olhou no espelho passando a mão pelo cabelo.
- Tô pronta. – falou pegando a bolsa em cima da cama. – Tô muito adolescente? – Fez careta arrancando uma risada do menino.
- Tá normal. – Deu de ombros. – All Star não tem faixa etária. – Brincou.
- Tô nervosa, . – Confessou enquanto saiam de casa. – Não gosto de ter que conversar sobre esses assuntos.
- Não precisa ficar assim, . São apenas coisas que ficaram pendentes com a morte de seu pai. Tenho certeza que não é nada demais. – Falou calmo, tranqüilizando-a.
Entraram no carro em silêncio, ligou o som baixo deixando em uma rádio qualquer apenas para tentar aliviar a tensão. olhava distraída pela janela, vez ou outra soltando um longo suspiro numa tentativa de se acalmar e convencer a si mesma que não era nada demais e tudo acabaria mais rápido do que ela podia imaginar. Suas mãos inquietas brincavam com o zíper da bolsa fazendo um barulho irritante que passava despercebido para ela.
parou em um sinal vermelho e olhou de canto de olho para a menina ao seu lado. Aquele barulho já estava o deixando louco. Pegou a mão dela entrelaçando seus dedos e a segurou firme em seu colo. soltou outro suspiro pesado e fechou os olhos se sentindo levemente mais calma apenas por aquele contato com a mão dele.
Em menos de meia hora chegaram ao escritório do advogado. soltou primeiro e foi abrir a porta para a menina vendo o medo estampado em seus olhos.
- Quero voltar pra casa. – Falou engolindo em seco.
- Hei, olha pra mim. – pegou suas mãos fazendo-a olhá-lo. – Não se resolve os problemas fugindo deles. Você tem dezoito anos e é uma adulta, você é responsável por si mesma. – A menina abaixou os olhos envergonhada por estar sendo tão fraca, mas ele tocou em seu queixo voltando a ter contato visual com ela.
- Desculpe. – Sussurrou.
- Eu tô do seu lado, mas isso não significa que eu possa resolver seus problemas, eu só posso ajudar você a enfrentá-los. – concordou com um aceno de cabeça e soltou do carro.
- Tudo bem, vamos resolver logo isso. – Respirou fundo ajeitando a blusa e viu sorrir. – Brigada. – Falou baixo, beijando o ombro dele.
- Sempre que precisar, madame. – Riu beijando as costas da mão dela.

entrou no escritório sentindo o corpo todo tremer e a vontade de sair correndo dali ficar cada vez mais forte. Ela apertava firmemente a mão de e sentia que ele tentava a tranqüilizar passando o polegar pelas costas de sua mão.
Philip era um homem de quase 50 anos e apesar da aparência tranqüila e quase infantil, parecia ser um advogado extremamente competente. Sua expressão era quase sempre séria, apesar do humor que por vezes ele deixava transparecer, o que fazia ficar mais relaxada e esquecer que aquilo era um encontro para falar de assuntos tão importantes.
preferiu ficar mais quieto e deixar que assumisse o controle da conversa, ela já era adulta o suficiente para falar por si mesma e entender o que Philip a explicava. Algumas vezes ele entrava na conversa apenas para dar suporte a garota que lhe sorria agradecida.
Quase uma hora depois, Philip se levantou da cadeira e estendeu a mão para que e logo depois a apertassem. A reunião havia acabado e agora respirava aliviada, não fora tão ruim quanto ela prevera.
- Então, o que achou? – perguntou ligando o carro e olhou a menina ao seu lado.
- Melhor que o esperado. Achei que ele fosse algum tipo de carrasco. – Riu.
Recostou-se no banco e observou as ruas movimentadas pensando no que faria. A reunião afinal era pra discutir o que sua mãe havia deixado para ela desde morrera, seu pai nunca havia lhe falado nada, fato que não a surpreendera tanto. A casa que moravam antigamente estava em seu nome, assim como uma conta intocada no banco, seu pai nunca teve acesso a ela apesar das tentativas frustradas de persuasão.
- No que está pensando? – perguntou curioso. Ela sorriu levemente dando de ombros.
- Em tudo. – Suspirou. – O que acha que devo fazer com a casa?
- O que você quer fazer? – Ele rebateu.
- Vender. – respondeu de imediato.
Aquela casa havia tantas lembranças que ela tentava desesperadamente esquecer que ela não conseguia enxergar nenhuma outra possibilidade. Ali ela vivera os melhores e piores momentos de sua vida e ela sabia que os bons momentos estariam pra sempre com ela, o resto eram apenas fantasmas que a assombravam.
- Conheço um corretor legal, ele que me ajudou a encontrar o loft e vender a casa antiga. – sorriu. – Se quiser posso entrar em contato com ele.
- Brigada. – A menina sorriu sincera.
Quando chegaram em casa, foi até a cozinha ouvindo seu estomago protestar de fome e abriu o congelador procurando por alguma comida congelada, já que seus dotes culinários não eram exatamente aceitáveis.
- O que quer comer? – Perguntou para que estava no sofá brincando com Harte.
- O que tiver, não tô com tanta fome. – Deu de ombros.
- Já sei! – Exclamou animada e abriu o armário ao lado da geladeira. – Cup Noodles. – Falou sorridente pegando dois potinhos.
Esquentou a água rapidamente e quando ferveu, derramou nos potes de macarrão instantâneo. Sentou ao lado de no sofá e o entregou um dos potinhos.
- Que horas é o aniversário do ? – Perguntou distraidamente olhando para a televisão. Quase se esquecera que alguns dias antes tinha os convidado para o aniversário dele.
- Acho que oito. – respondeu dando de ombros.
concordou em silencio e voltou sua atenção para o macarrão instantâneo repassando mentalmente as possíveis roupas para usar no aniversário.

# Flashback (5 anos antes)

anotava calmamente as anotações que o professor fizera no quadro enquanto, vez ou outra, lançava olhares para os colegas de sala tentando memorizar seus rostos. Estava sentada quase no fundo da sala, em um canto encostada na parede sendo devidamente ignorada por todos os outros alunos. Ser novata na escola tinha suas desvantagens.
Observou pelo canto do olho quando uma garota loira que estava um pouco a sua frente comentou alguma coisa com outra menina igualmente loira e as duas olharam para ela soltando uma risadinha logo depois. Engoliu em seco e, discretamente, passou a mão pelo cabelo e conferiu se havia algo errado com seu uniforme. Antes que pudesse achar algo fora do lugar, o sinal tocou anunciando o intervalo e ela suspirou aliviada.
As pessoas saíram da sala com uma rapidez incrível e quando deu por si só havia ela e mais dois garotos na sala que estavam concentrados em seus próprios livros de Biologia. Nerds, pensou ponderando se sairia da sala apenas para dar uma escapada até o banheiro e tentar achar , ou se era melhor permanecer ali, longe dos olhares julgadores e comentários maldosos.
- ! – Ouviu uma voz a chamar e olhou para a porta da sala vendo a olhar sorrindo. Sorriu de volta e quando ele fez um gesto a chamando ela hesitou alguns segundos antes de ir até seu encontro.
- Hei, como você achou minha sala? – Arqueou a sobrancelha pensando se havia algum mural de avisos com o nome dos alunos e suas respectivas salas, mas, até onde se lembrava, as salas eram indicadas em papéis que os alunos recebiam.
- A Jane da secretaria gosta muito de mim. – Ele sorriu convencido. – Vamos lá pra fora. – Falou abrindo a porta completamente e pôde ver as duas garotas loiras e mais uma morena encostadas na outra parede encarando os dois e cochichando entre si.
- Hm, acho melhor não, . – Observou novamente seu uniforme. A única diferença entre o dela e os das outras garotas era o all star branco sem meia que ela achava bem mais bonito do que aquele sapatinho de boneca e aquela enorme meia branca. Não vira nada sobre isso ser alguma infração no regulamento do colégio.
- Por que não? – perguntou sem entender. – Por sinal, eu adorei o all star. Poucas garotas aqui têm coragem de usar.
- É, percebi. – Respondeu sem graça.
rolou os olhos e observou o corredor quase vazio.
- Vai, vamos conhecer o colégio. Não tem quase ninguém no corredor, tá vendo? – Puxou a menina pela mão pra fora da sala e indicou o corredor. abriu a boca pra protestar, mas foi interrompida. – Sem desculpas. Não vou deixar você enterrada na sala com dois nerds. – Falou lançando um olhar rápido para os dois meninos concentrados nos livros.
escondeu as mãos nas mangas compridas do uniforme e sentiu passar o braço por seu pescoço enquanto eles caminhavam pelo longo corredor. Dali ela já podia ver o enorme jardim apinhado de alunos aproveitando o dia claro e sem chuva. Duas garotas que pareciam da idade de passaram por eles e a olharam de cima a baixo fazendo-a arregalar os olhos e sentir o rosto esquentar. Antes que pisassem na grama, ela parou olhando o garoto ao seu lado.
- Afinal, o que tem de errado comigo? – Perguntou, irritada. Ele a olhou de cima a baixo, como as outras garotas. – Não me olha assim! Qual é o problema? É proibido usar all star?
- Claro que não, . E não tem nada de errado com você. – respondeu um pouco assustado.
- Claro que tem, todo mundo fica me olhando e me medindo.
- Porque você é nova aqui, só isso. – Explicou calmo. – Agora vamos logo antes que o intervalo termine e você não conheça nada. – Ele a pegou pela mão novamente e ela controlou o impulso de soltá-la. Não se sentia confortável no meio de todas aquelas pessoas desconhecidas, e, pelos sorrisos que já havia distribuído, ele parecia ser no mínimo popular por ali.
Caminharam calmamente enquanto ia apontando os lugares e alguns grupos de alunos. Como ela prevera, havia realmente o famoso grupo de cheerleaders e os garotos que jogavam futebol, os observou atentamente e viu que duas das cheerleaders apontaram para eles e lançaram olhares nada agradáveis em direção a ela.
- ! – Uma voz feminina chamou sua atenção e ela viu uma garota morena e alta se aproximar sorrindo.
- Oi, Chelle. – a cumprimentou com um sorriso. A menina olhou rapidamente para , as mãos dos dois entrelaçadas e depois sorriu pra novamente. – Essa é a .
- Aw, que bonitinha. Você é nova aqui? – Chelle falou com uma voz de criança e franziu o cenho olhando para . Bonitinha?, pensou, ela acha que eu sou a irmãzinha mais nova do ou o quê? - É, sou nova aqui. – Forçou um sorriso.
Chelle devolveu o mesmo sorriso e voltou sua atenção para puxando algum assunto inútil. rolou os olhos e soltou a mão de seguindo em frente observando os grupos de pessoas que conversavam animadamente. Passou por um grupo de garotos e apressou o passo quando eles sorriram pra ela e um deles tentou chamar sua atenção com um “ei, você!”.
- Outch! – Reclamou quando bateu de frente com alguém.
- ? – sorriu a olhando e ela se sentiu aliviada por ver um rosto conhecido.
- ! Esqueci que você também estudava aqui. – Falou sem graça. – Cadê o ?
- Hum... foi procurar o . – Respondeu olhando em volta em busca dos amigos. – Você tava com ele?
- É, estava. Mas uma tal de Chelle apareceu. – Torceu o nariz ao falar o nome da menina. – Acho que ela pensou que eu era a irmã mais nova do . – Deu de ombros.
- Hm, provavelmente. – O menino fez uma careta. – A Chelle acha que é a pessoa mais madura e maravilhosa desse colégio.
- Ela é uma vaca.
- Quem é uma vaca? – perguntou sorrindo parando ao lado dela. trocou um olhar cúmplice com e deu de ombros.
- Um banco vago no gramado, é nosso! – falou e correu para o banco fazendo os outros três rirem. – Andem logo. – Gritou já sentando.
Os três caminharam calmamente até o banco observando estirar a perna para impedir que dois garotos sentassem ali. sentou na parte de cima fazendo com que ficasse entre suas pernas e ela apoiou um dos braços no joelho dele vendo que muitas pessoas que estavam sentadas ali perto viraram a cabeça pra olhá-la.
- Qual é o problema dessas pessoas? – Perguntou baixo fazendo sorrir.
- Carne nova no pedaço, elas estão apenas curiosas.
- Mas será que eu sou a única novata nessa escola? Ninguém mais entrou aqui esse ano? – Resmungou com a voz quase esganiçada. gargalhou e passou a mão pelo cabelo.
- Claro que existem, mas elas não andam com a gente. – Sorriu convencido fazendo um sinal para ele e os dois amigos.
- Argh, vocês são populares, eu devia ter imaginado quando o sorriu pra metade do colégio que passava por ele.
- É, mas nós somos populares legais, diferentes de outros. – explicou.
- Diferentes da Chelle? – Provocou arqueando a sobrancelha arrancando uma careta do menino.
- A Chelle é legal, cara. – o repreendeu. – Ela só é um pouco fútil.
- Um pouco, claro. – falou irônico. – Você tá cansado de saber por que ela é legal com você. – Resmungou recebendo um olhar feio de .
sorriu sem graça e deixou que o assunto morresse, não precisava de maiores explicações para entender aquilo. Olhou para o outro lado do gramado e viu Chelle rir com mais três amigas. O cabelo castanho claro dela fazia um bonito contraste com os olhos esmeraldas e a pele clara. Suspirou imaginando que ela era da idade de e chegou a conclusão de que nunca poderia competir com uma garota como ela.
Os minutos correram rápido e quando menos esperava ouviu o sinal tocar indicando o final do intervalo. Fez careta tentando lembrar qual aula teria agora e ficou em duvida entre Inglês ou Física. se levantou animado e fez um high five estranho com os garotos alegando que ele teria aula com a professora mais gostosa do colégio, a menina fez uma careta e ele riu beijando sua testa e correndo pelo gramado de volta para o prédio.
- Quem é a professora? – Perguntou curiosa enquanto caminhava entre e .
- A Sra. Smith. – respondeu rindo. – A população masculina inteira desse colégio baba nela.
- Gostosa demais. – balançou a cabeça sorrindo. – , vou indo pra sala, se eu chegar atrasado de novo o Sr. Bones me mata.
- Tudo bem, vou levar a até a sala dela e vou pra lá.
- Não precisa me levar até a sala, , eu já sei o caminho. – o olhou depois que se afastou pelo corredor. deu ombros virando para subir as escadas.
- Aula de quê?
- Inglês ou Física, não lembro direito. – Respondeu pensativa. – , a Chelle... – Interrompeu a própria pergunta sem saber o que falar. Ele a olhou com a sobrancelha arqueada e ela suspirou. – Deixa pra lá. – Apressou o passo querendo que chegassem logo na sala ao final do corredor e agradeceu mentalmente quando parou em frente a porta. Viu que a sala já estava cheia e uma senhora com algumas pastas passar por ela para entrar na sala.
- Olá, . – Ela sorriu para o garoto.
- Oi, Sra. Kim. – Sorriu. – Ela é legal. – falou baixo quando a mulher entrou na sala.
- Certo, obrigado por não me deixar o intervalo todo dentro da sala. – se virou pra ele e sorriu agradecida.
- Você agora faz parte do grupo. Não estranhe se o e o começarem a te chamar de mascote. – Riu vendo a careta que a menina fez. – Tem certeza que não quer... terminar a pergunta? – A olhou incerto. - Seria retórica, acho que já sei a resposta. – Deu de ombros tentando parecer indiferente. – Vi o jeito como ela olha pra você, . – Sorriu fraco. a olhou tentando decifrar o olhar dela, não sabia dizer o que estava refletido ali, mas a palavra decepção passou por sua cabeça lhe dando uma sensação estranha. Ele havia ficado com Chelle dois anos antes, quando ambos tinham 15 anos em alguma festa que ele já nem lembrava mais. O “romance” não havia durado nem três meses, deixara claro que era melhor eles serem apena amigos, mas desde então tinha escutar as pessoas comentarem como ela era apaixonada por ele e ele apenas dispensara uma das garotas mais bonitas da escola. - , vai pra aula. – o acordou de seus devaneios e ele concordou vagamente com a cabeça.
- Boa aula. – Sorriu beijando a testa dela e se afastou lentamente afundando-se de novo em pensamentos.

# End of flashback

- Ok, acho que tô pronta. – falou do andar de cima. rolou os olhos, ainda sentado no banco da cozinha com uma garrafa quase vazia de Heineken em sua frente. Mulheres...
- Então desce logo, . Já são quase nove horas. – Respondeu dando um último gole na cerveja.
A menina se olhou novamente no espelho checando a maquiagem e sorriu sozinha, suas bochechas estavam levemente rosadas, seus olhos pintados com sombra azul escura e nos lábios o batom rosa claro dava um leve brilho. Puxou os cabelos para frente deixando-os caídos em seus ombros e saiu do banheiro descendo as escadas com cuidado por causa do salto alto.
jogou a garrafa de cerveja no lixo e suspirou alto ouvindo os passos de na escada, caminhou de volta até a sala e parou sem reação ao vê-la chegar nos últimos degraus.
Wow!
- Então, gostou? – Sorriu passando a mão pelo vestido que havia comprado quando viajara. – ? – Falou lentamente vendo os olhos dele grudados em suas pernas e corou levemente caminhando até ele e tocando seu queixo. – Aqui em cima, .
- Hum, é curto. – Resmungou olhando novamente para as pernas dela, fazendo-a gargalhar.
- Eu sei que é curto, mas eu achei tão lindo que não resisti e comprei. Agora dá pra parar de olhar pra minhas pernas e me responder? – Brincou.
- Eu gostei, mas não sei se vou deixar você sair com ele. – Respondeu sério fazendo a menina arquear a sobrancelha. – Não, eu não estou brincando. – Completou passando os braços firmemente pela cintura dela. – Acho que a gente pode ficar por aqui mesmo. – Sussurrou passando o nariz calmamente pelo pescoço dela, lhe arrancando um suspiro.
- Devo dizer que essa proposta é bastante tentadora, mas eu realmente quero ir pro aniversário do .
- Que ? – a olhou com um sorriso brincalhão e ela riu. – Sério, você está extremamente linda e tentadora dentro desse vestido. – Sussurrou em seu ouvido, sentindo ela se arrepiar.
- E a sua proposta está se tornando cada vez mais tentadora. Acho melhor irmos logo antes que eu desista. – O puxou pela mão ouvindo-o resmungar baixo e a puxar de volta.
- Não posso me aproveitar de você nem um pouquinho, antes de ter que te dividir com todos os olhares masculinos daquela festa? – a empurrou calmamente até prensá-la contra a parede e beijou lentamente seu pescoço.
- Pretensioso achar que todos os olhares masculinos da festa estarão em mim. – riu.
- Sou apenas realista. Aceite esse fato. – Rebateu a olhando. – Eu vou adorar mostrar pra todos os babacas da festa que você é só minha. – Ele deu um beijo no canto da boca dela.
- Adoro quando você fica possessivo. – Sorriu puxando o lábio inferior dele e sentindo-o prensar ainda mais seu corpo contra a parede. Antes que ele pudesse beijá-la, colocou o indicador nos lábios dele o afastando. – Guarda isso pra festa, não quero precisar retocar a maquiagem agora.
- Aw. – gemeu inconformado arrancando uma risada da menina.
- Vamos, amor, já tá tarde. – O afastou pelo peito pegando em sua mão.
- Mas nem um selinho? Desde quando você é tão má? – Perguntou deixando que ela o puxasse para a porta. se virou e lhe deu um selinho rápido. – Menos mal. – Resmungou emburrado sem conseguir deixar de sorrir ao ouvir a gargalhada dela.

- Parabéns, cara! – abraçou lhe dando alguns tapas nas costas. – Seu presente foi encomendado na internet, então vai atrasar um pouco. – Se desculpou.
- Sem problemas. – sorriu.
- Parabéns, . – sorriu o abraçando e ele lançou um olhar assustado para fazendo o menino rir sabendo que ele se referia ao vestido da menina.
- Gostei do vestido. – Falou depois de se separarem. sorriu agradecida e tímida.
- Tira o olho, cara! – reclamou quando o amigo olhou as pernas dela. Os três gargalharam e entraram na casa já cheia de convidados. – Cadê os viadinhos?
- Acho que estão no jardim, o trouxe uma garota nova. – fez um gesto indicando que a garota tinha seios grandes e rolou os olhos achando aquele comportamento extremamente adolescente, mas ainda assim riu.
- Finalmente, . Achei que vocês não vinham! – brincou quando avistou os três saindo pela varanda.
- Mulheres. – acenou discretamente com a cabeça para a menina ao seu lado e ela mandou língua.
- Por quê? Ela ficou procurando a outra parte do vestido?
- ! – o repreendeu e ele gargalhou a abraçando.
- O aqui é corajoso, eu não deixaria mulher minha sair de casa com essas pernas de fora não. – continuou falando e trocou um olhar cúmplice com a menina que estava de mãos dadas com , mesmo sem conhecê-la. Homens podiam ser tão machistas.
- Pare com isso, . Ela tá ficando sem graça e o vestido nem é tão curto assim, além de ser lindo. – A garota falou e a olhou agradecida. – Charlotte. – Estendeu a mão sorrindo.
- , prazer. – Copiou o gesto dela apertando sua mão. – Aliás, o seu vestido também é lindo. – Apontou o vestido lilás da menina, um pouco mais comprido que o seu.
- Brigada.
- Então, vamos saber como você se conheceram? – apontou para e Charlotte e os dois se entreolharam sorrindo e ela começou a contar quando ele alegou que já tinha contado para e .

- Quero outra cerveja. – fez bico olhando o garoto ao seu lado. O braço dele a abraçava pela cintura enquanto ela descansava a cabeça em seu ombro. Ele a olhou com a sobrancelha arqueada e depois sorriu.
- Não acha que já bebeu demais? – Brincou apontando a mesa de centro que já acumulava pelo menos cinco cervejas dela, fora as outras espalhadas que juntas acumulavam pelo menos quinze.
- Claro que não, eu tô perfeitamente sóbria ainda, faço até o quatro e o dezesseis se você quiser. – Respondeu emburrada arrancando uma risada do menino. – Por favor, amor. Por favor, por favor. – Ela beijou o pescoço dele e depois subiu para a bochecha enquanto sussurrava “por favor” da forma mais apelativa que conseguia.
- Aw, . Isso é jogo sujo. – reclamou fazendo uma careta.
- Eu sei que sim. – Ela soltou um risinho baixo e segurou o rosto dele lhe dando um selinho. – Eu nunca negaria um favor pra você e pegaria todas as cervejas que você quisesse. Não acredito que você vai me negar isso.
- Um dos sintomas da embriaguez é ficar sensível demais e começar a apelar para golpes muito baixos. – Declarou se levantando e a menina gargalhou mandando beijo para ele.
No sofá em frente ao dela, e Charlotte trocavam litros de saliva e passadas de mãos em todos os lugares alcançáveis. riu balançando a cabeça e passou os olhos pela festa. Do outro lado da sala, duas loiras com enormes decotes fofocavam alguma coisa animadamente e ela rolou os olhos se perguntando como chamava aquele tipo de gente pro aniversário dele. Viu sair da cozinha com duas garrafas de Heineken e ao mesmo tempo uma das loiras fingiu tropeçar e bateu no braço dele fazendo-o derramar cerveja no chão e na camisa. Arqueou a sobrancelha sem acreditar no atrevimento das duas garotas, mas permaneceu no sofá observando a reação de que apenas sorriu dizendo que estava tudo bem enquanto as duas o seguravam e uma delas passava a mão na camisa dele onde estava molhado.
- Wow, garanhão. – Um bêbado sentou no sofá ao lado de e riu observando o amigo. Ela arqueou a sobrancelha e o olhou com os olhos serrados. – Opa, desculpa, . E você tá fazendo o quê aqui parada olhando o com aquelas duas gosto... piranhas?
- Quem sou eu pra criar barraco com duas vadias? – Olhou novamente para que agora ria de alguma coisa que as garotas falavam. – Ele sabe as conseqüências dos atos dele, não é nenhuma criança. – Deu um sorriso cínico para o garoto ao seu lado e cruzou as pernas vendo-o engolir em seco e olhar rapidamente para a parte exposta do seu corpo se levantando rapidamente e sumindo pela varanda.
- Aqui, madame. – Menos de dois minutos depois, sentou ao seu lado lhe estendendo uma garrafa de cerveja. Da mesma forma que fizera minutos antes, ele olhou para as pernas dela e tomou um grande gole de cerveja.
- Se divertiu com suas novas amiguinhas? – Sorriu irônica.
- Bastante, mas não via a hora de vir me divertir com você. – respondeu tranqüilo passando o braço pelos ombros dela a puxando mais pra perto dando-lhe um selinho.
- Hum sei, com duas loiras peitudas se jogando em cima de você, até parece que você se lembrou de mim. – Fez manha.
- Aaw, você fica tão bonitinha com ciúmes, . – Brincou mordendo a bochecha dela. – Eu não trocava você nem por um ménage com aquelas duas. – Sussurrou puxando o lóbulo da menina com seus dentes.
ia responder, mas apenas deixou um gemido baixo escapar por entre seus lábios quando sentiu a língua quente de em contato com a pele de seu pescoço. A mão dele que não segurava a cerveja foi até a perna descoberta dela, desde o joelho até a coxa onde permaneceu com as unhas um pouco encravadas. Ela levou a mão até a nuca dele e deixou que seus dedos se perdessem no cabelo dele, fazendo um carinho provocante. Ele mordeu novamente seu lóbulo e depois foi passando o nariz calmamente pela bochecha dela lhe dando um beijo de esquimó em seguida. sorriu abrindo um pouco os olhos encontrando os de a encarando, ela podia dizer que ele estava sorrindo sem precisar desviar o olhar para sua boca.
- Te amo. – Sussurrou sem esperar que ela respondesse, colando os lábios no dela e passando a língua por eles pedindo a passagem facilmente concedida.
a empurrou um pouco pra trás, fazendo-a se recostar no encosto alto do sofá e cegamente colocou a garrafa de cerveja na mesinha de madeira que ficava logo ao lado do sofá. Puxou as pernas dela fazendo com que ficassem em seu colo e aproximou os corpos o máximo que pôde. A mão agora livre da cerveja foi até o pescoço dela massageando-o fazendo com que outro gemido escapasse dos lábios dela. Sorriu satisfeito e aproveitou para dar mais velocidade ao beijo deixando que sua língua praticamente brigasse com a dela.
mordeu o lábio inferior do menino numa tentativa de conseguir recuperar o ar, e o segurou entre os dentes sentindo os próprios lábios latejarem por causa da intensidade do beijo. A mão de em sua coxa a apertou com mais vontade e ela deduziu que ele queria que ela parasse de morder seu lábio.
- Machucou? – Perguntou, abrindo os olhos preocupada e olhou rapidamente os lábios vermelhos de . Ele apenas sussurrou algo que ela entendeu como uma negação e a puxou pela nuca para que voltassem a se beijar.
- Vão pra um quarto. – A voz embolada de gritou e em seguida recebeu um tapa no ombro. – Porra, vocês tão corrompendo minha inocência. – Reclamou fazendo gargalhar e o olhar mal humorado.
- Cara, vai pegar mulher e deixa a gente em paz. – Bufou passando a mão pelo cabelo e afundando o rosto na curva do pescoço da menina.
- Eu tava pegando, mas a menina fugiu, cara. – olhou para os lados desnorteado e reprimiu a risada. – Acho que ela não me quer mais. , você me quer? – Perguntou manhoso e antes que a menina respondesse, lhe mandou dedo.
- , se o apagar, pode me procurar. – piscou, ouvindo reclamar ainda com o rosto enterrado em seus cabelos.
- Olha que eu procuro, hein? , você já apagou? – Riu, recebendo novamente o dedo do meio. – Tá, enquanto isso não acontece, eu vou caçar. – Deu de ombros caminhando desajeitadamente pela sala, onde várias pessoas dançavam ao som da musica alta.
- O é ótimo quando fica bêbado. – riu acariciando o cabelo de . – Vamos dançar?
- Dançar? – Ele finalmente desenterrou o rosto do pescoço dela e a olhou em duvida. – Com tanta coisa melhor pra fazer, você quer dançar?
- Uhum. – Ela roubou um selinho fazendo-o sorrir. – Eu quero mostrar pras duas loiras peitudas que você já tem dona, porque elas não param de olhar pra cá. – Comentou observando as duas garotas dançando e lançando constantes olhares para o sofá em que eles estavam.
- Vai que na verdade elas querem você, e não eu. – Brincou se levantando a puxando pelas mãos.
- Ah sim, claro. Nesse caso eu acho que devo ir até lá e ouvir a proposta delas.
- Oba, eu quero assistir.
- Fica quieto, ! – Deu um tapinha no ombro dele e começou a dançar no ritmo da musica agitada.
A principio ela se afastou um pouco de e apenas se deixou levar pela musica, mas viu as duas garotas se aproximarem lentamente por trás dele e sorriu fazendo um gesto com o dedo para se aproximasse dela.
- Tem três imbecis atrás de você praticamente te comendo com os olhos. – Falou passando os braços pela cintura dela.
- Hm, e tem duas vadias loiras atrás de você só esperando eu me afastar pra darem o bote. – Passou os braços pelo pescoço dele e olhou feio para as duas garotas. – Posso mostrar pra elas que você é só meu? – o olhou sorrindo e ele gargalhou a abraçando com mais força.
- Fique a vontade. – Sussurrou já com os lábios praticamente grudados no dela.
Suas bocas se abriram ao mesmo tempo e eles não precisavam de palavras para entender o que queriam, em questão se segundos o beijo ganhou intensidade os fazendo esquecer da festa em volta deles e das pessoas que os olhavam. apertou o abraço em volta do pescoço de e sentiu ele a abraçar mais forte como se ainda houvesse qualquer mínimo espaço entre os corpos. Leis da Física não se aplicavam à eles nesses momentos.
Com os lábios latejando e sem ar, partiu o beijo se afastando apenas alguns centímetros de e respirou fundo vendo-o fazer o mesmo.
- Eu acho que devíamos seguir o conselho do e irmos para um quarto. – Ele conseguiu falar por baixo fôlego, sentindo a voz falhar.
- Como você é exagerado. Foi só um beijo. – Ela brincou.
- Só um beijo? – a apertou mais contra si e ouviu um riso baixo escapar pelos lábios dela.
- Olha como seu amiguinho tá animado hoje. – Gargalhou vendo-o sorrir com as bochechas coradas. – Não quero ir pra um quarto, quero me aproveitar de você aqui mesmo. – Mordeu levemente o queixo dele.
- Vocês mulheres acham que é muito fácil pra gente controlar esse tipo de coisa, né? – sussurrou passeando o nariz pelo pescoço dela enquanto a empurrava discretamente até um corredor mais vazio.
- Acredite, não é nada fácil para as mulheres também. – Reclamou jogando a cabeça pra trás ao sentir a língua dele em seu pescoço. – Principalmente quando vocês fazem isso. – Completou levando uma das mãos até o cabelo dele e o puxando como uma forma de estimulo. Sentiu as costas baterem contra a parede e fechou os olhos deixando que o garoto brincasse com seu pescoço.
sentia sua excitação aumentar cada vez que sussurrava seu nome ou apertava seu braço o estimulando. Se ele tivesse contado, sabia que já haveriam pelo menos três marcas no pescoço da menina por causa da intensidade dos chupões que ele dava. Desceu uma das mãos para a coxa dela e levantou um pouco sua perna encaixando com perfeição sua coxa entre as dela. Ouviu ela gemer em seu ouvido e puxá-lo pelo cabelo para que pudesse grudar os lábios nos seus novamente.
- , tem um quarto aqui nesse corredor. – Falou sugestivo ignorando a respiração pesada que mal deixava sua voz sair com clareza. Ela o puxou pela gola da camisa distribuindo pequenos beijos por seu pescoço, enquanto ele procurava a porta do quarto. Quando finalmente a encontrou, girou a maçaneta e viu que estava trancada.
- O deve ter trancado pra ninguém entrar. – concluiu.
resmungou um palavrão incompreensível e pegou o celular no bolso da calça, apertando o numero 4 da discagem automática.
- Fala, , garanhão. Já soube das duas loiras, vou contar pra , hein? – brincou já embriagado.
- Cara, onde tá a chave desse quarto de hospedes aqui do primeiro andar? – Sussurrou tentando manter a voz firme.
- Opa, opa, o que você quer aí? – Perguntou desconfiado e ouviu as respirações pesadas do outro lado da linha. – Cara, me diz que você tá com a e não com minhas primas do interior que abrem as pernas pra qualquer cara. – O tom sério dele fez soltar uma risada de frustração.
- Claro que é a , seu babaca. Agora dá pra você falar onde tá a droga da chave?
- OK, tá vendo essa mesinha antes da porta do banheiro com um vaso de flores? A chave tá embaixo do vaso.
- Certo, valeu, cara. – Desligou ouvindo dizer “Usem camisinha” e correu para pegar a chave quase deixando o vaso cair e fazendo a menina gargalhar.
- A pressa é inimiga da perfeição, .
- Há, engraçadinha. – Ele deu língua abrindo a porta e a puxando pra dentro, trancando o quarto em seguida.
A pressa de fez rir enquanto desabotoava a camisa preta dele com um pouco de dificuldade já que estava prensada contra a porta. As mãos dele estavam inquietas sem se decidir se permaneciam em suas costas ou desciam para suas pernas, quando ela finalmente conseguiu escorregar a camisa dele pelos ombros e jogá-la no chão, deu um impulso e cruzou as pernas na cintura dele sentindo-o segurar firme em suas coxas.
- Cama. – Sussurrou entre os beijos que distribuía no pescoço dele e em menos de dez segundos sentiu ficar de joelhos na cama e deitá-la calmamente se encaixando entre suas pernas. Ela passou as unhas pela barriga e peito dele, ouvindo-o soltar um gemido enquanto beijava seu pescoço e continuou o arranhando levemente até chegar em suas costas. Suas unhas subiam e desciam pela pele lisa dele, ela amava as costas de . Lembrava-se de quando eram mais novos e iam a praia, sempre dava um jeito de discretamente ficar olhando para as costas e a nuca dele. Riu sozinha com os pensamentos e ele a olhou sem entender.
- Que foi? – Perguntou respirando com dificuldade e ela lhe roubou um selinho.
- Nada, acho que é efeito do álcool. – Mentiu puxando-o pela nuca e voltando a grudar seus lábios, não por muito tempo já que ele voltou a beijar o pescoço dela e foi descendo por seu colo, até chegar no final do decote em V do vestido e fazer o caminho de volta.
levou as mãos até o cós da calça jeans que ele usava e abriu o cinto, e a calça junto deixando que ele mesmo a tirasse ficando apenas com a boxer preta que ela adorava. Eles sorriram cúmplices antes dele tirar o vestido dela, deixando-a apenas de calcinha.
deslizou a mão sensualmente pela cintura dela ouvindo-a sussurrar seu nome, seus dedos seguraram a barra fina da calcinha dela e ele beijou suavemente seu ouvido.
- Eu quero tanto você. – Conseguiu falar sem falhas.
- Vá em frente, eu sou sua, sempre fui. – respondeu beijando o ombro dele.
Descendo os beijos pelo pescoço dela, ele tirou a calcinha da menina e se afastou um pouco para olhá-la. Já fizera aquilo tantas vezes, e ainda assim a sensação de vê-la nua e inteiramente pronta pra ele lhe parecia surreal.
- Te amo. – sussurrou lhe dando um selinho e ele sorriu.
- Também te amo. – Sussurrou de volta vendo-a morder o lábio e tirar a boxer dele jogando-a ao lado da cama.
Pegou uma camisinha na carteira e colocou-a tentando não se distrair com os beijos que dava em seu peito.
- Posso pedir uma coisa? – Ela perguntou com um sorriso tímido e ele concordou com um aceno de cabeça. respirou fundo e o empurrou levemente pelo peito fazendo-o cair ao seu lado da cama e ficando por cima dele. Sorriu de uma forma sexy tentando esconder a timidez e viu repetir seu gesto botando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. Ele beijou seus lábios com carinho e sussurrou o mais claro que pôde:
- Vá em frente, eu sou seu, sempre fui.


16


Se olhou no espelho analisando o próprio corpo coberto apenas pelo biquíni roxo e segurou os seios com as duas mãos, arqueando uma sobrancelha. Eles haviam crescido ou era apenas impressão? Colocou as mãos na cintura e virou de perfil ainda encarando o espelho que lhe dava visão do corpo inteiro. Reparou na curvatura do próprio corpo e soltou um suspiro pesado, desde quando ela aparentava tão... mulher? Nunca havia reparado em como seu corpo mudara, agora seus seios pareciam mais fartos e seguros, suas pernas estavam mais torneadas e suas curvas eram visíveis. Apertou a parte da barriga perto do umbigo e soltou um muxoxo alto.
- . – Chamou alto vendo a porta do banheiro abrir segundos depois e o menino sorrir pra ela através do espelho. – Estou gorda. – Deixou os ombros relaxarem e viu quando ele rolou os olhos.
- Você só pode estar brincando comigo, .
- Não estou brincando. – Respondeu séria. – Olha isso! – Apertou novamente a barriga. – E isso. – Mostrou os seios.
- Ei, não fala deles. São perfeitamente normais e adoráveis. – fez cara feia arrancando outro muxoxo da menina.
- São meus seios, . Não são adoráveis. – Resmungou. – Não sei se quero ir pra casa da Charlotte. Imagina quando eu cair na piscina, vai espirrar água para todos os lados. Sou uma baleia. – Balançou a cabeça dando uma ultima olhada no espelho e voltou pro quarto, sentando na cama puxando os joelhos para cima os abraçando.
- , o que aconteceu? – a olhou sem entender. – Você nunca foi disso, nunca ficou se importando com sua aparência. Achei que soubesse o quão linda você é. – A menina deixou que um sorriso mínimo surgisse em seu rosto e choramingou puxando um travesseiro para cobrir seu rosto.
- Eu estou horrível, . Me deixe em paz. – A voz abafada saiu quase incompreensível.
suspirou alto sem entender o que estava acontecendo e sentou na cama ao lado da garota puxando o travesseiro do rosto dela e a abraçando.
- Você tá na TPM? – Perguntou baixo, com medo do que ela faria.
- Não. – deu de ombros. – Não sei. Talvez. – Completou rindo baixo. – Estou me sentindo horrível e gorda. Não quero sair assim com você, vão apontar pra gente e falar “olha só que menina horrível, me pergunto como ela conseguiu um cara lindo como esse.” gargalhou recebendo um beliscão no braço.
- , eu nunca ouvi tamanha bobagem. – Beijou o ombro descoberto dela. – Nenhuma pessoa em sã consciência vai dizer que você é horrível e muito menos me chamar de lindo.
- Ah, cala boca, . Eu sei os suspiros que você arranca das garotas em qualquer lugar que vá. Eu já fui uma delas.
- , olha pra mim. – Ele pediu sério. balançou a cabeça escondendo ainda mais o rosto. – Por favor. – Sua voz fez a menina fechar os olhos com força. Ela nunca poderia resistir aquela voz. Levantou o rosto ainda de olhos fechados e sentiu beijar seus lábios rapidamente.
- Pra mim você é garota mais incrível, mais linda, mais sexy e mais perfeita pra mim que existe. – Disse a olhando nos olhos. – Não me importa que você fique gordinha, com pelancas ou cheia de rugas porque eu olho pra você e vejo muito além disso. A gente dividiu uma vida, construímos uma história e ainda temos um futuro imenso pela frente, e não existe nenhuma outra garota que eu veja ao meu lado além de você. – Sorriu sincero passando o polegar pela bochecha da garota e enxugando uma lágrima que ela havia deixado cair.
- Então mesmo que eu tenha crises idiotas e me ache a pessoa mais horrível do mundo você ainda vai gostar de mim? – Perguntou manhosa se aninhando no peito dele.
sorriu e beijou sua cabeça, passando os braços pelo corpo dela e apertando contra si.
- Eu vou sempre tá aqui pra te lembrar o quão linda você é, e o quanto eu amo você.
- E pra falar que meus seios são adoráveis? – Ela o olhou e sorriu como uma criança que havia acabado de aprontar alguma besteira. concordou rindo e selou os lábios nos dela ouvindo-a sussurrar um eu te amo abafado.


Sentou na borda da piscina cruzando as pernas e observou os garotos tentarem afogar por ele ter falado alguma besteira. Charlotte sentou ao seu lado e logo depois deixou que o corpo escorregasse pra dentro da água.
- Não vai cair? A temperatura ta ótima. – Sorriu.
- Hm, não agora. – Respondeu afundando a mão na água e retirando-a logo depois ao constatar que a temperatura estava realmente boa. – Queria ter uma piscina assim em casa pra usar a hora que eu quisesse.
- É bom encontrar a piscina aquecida quando chego do trabalho cansada e estressada. – Charlotte deixou que o corpo afundasse na água, deixando apenas sua cabeça do lado de fora. chegou por trás dela e abraçou beijando sua bochecha.
- Não vai cair, ? – Perguntou a olhando. Ela reprimiu a vontade de rolar os olhos e apenas sorriu fraco.
- Daqui a pouco. – Deu de ombros.
e Charlotte se afastaram ainda abraçados e ela soltou um suspiro pesado descruzando as pernas e afundando-as na água. Observou a imagem de submersa enquanto ele ia até ela tocando em sua canela e emergindo segundo depois. Esfregou os olhos com força e sorriu pra ela se encaixando entre suas pernas.
- Por favor, não me diga que não tirou esse vestido porque ainda está se achando gorda. – Comentou apontando parta o vestido branco que ela usava. o olhou mordendo o lábio inferior e negou balançando a cabeça. – O que aconteceu, ? – apoiou os braços na borda e ficou de pé na piscina, encarando os olhos dela.
- Não aconteceu nada, eu estou chata hoje. – Respondeu calmamente.
- Tem certeza? Você sabe que pode me falar qualquer coisa, certo? – Ela confirmou sorrindo fraco. – O Freddie te ligou de novo? – Arqueou a sobrancelha desconfiado.
- Esquece o Freddie, . – rolou os olhos bufando, sem acreditar que tinha trazido Freddie para a conversa.
- Então, por favor, pare de me deixar preocupado. Você fica linda fazendo bico com essa cara mal humorada, mas eu prefiro te ver sorrindo. – Tocou o rosto dela com a ponta dos dedos e os deslizou desde sua bochecha até seu queixo. Ela fechou os olhos deixando que um suspiro escapasse e ele aproveitou pra selar os lábios nos dela. Uma de suas mãos acariciou a lateral da coxa da menina e a outra foi até sua nuca, sentindo-a relaxar o corpo. Abriram as bocas ao mesmo tempo, sem que nenhuma das línguas precisasse pedir permissão para se encontrarem.
sorriu fazendo um carinho delicado no cabelo dele e xingou qualquer um dos meninos que tenha jogado água em cima deles. Sentiu que ia partir o beijo e cruzou os braços ao redor do pescoço dele, ela não queria que ele parasse, estava se sentindo mais tranqüila daquela forma, sabendo que estava ali.
Puxou o lábio inferior da menina e abriu os olhos vendo que ela sorria. Lhe deu alguns selinhos e se afastou calmamente, deixando a testa encostada na dela.
- Pode agora parar de chatice e cair na piscina? – Perguntou baixo. sorriu e resmungou manhosa, mas concordou com um aceno de cabeça.
sorriu e puxou o vestido dela pra cima.
- Epa, isso é uma casa de respeito! – gritou arrancando uma risada de todos.
- Finalmente. – Charlotte sorriu vendo entrar na água e sorrir sem graça.
Caminhou até os banquinhos que os amigos estavam sentados dentro da piscina e apoiou os braços no pequeno balcão. a abraçou por trás e deu um beijo em sua cabeça.
- Quer beber alguma coisa?
- Agora não. – Sorriu agradecida e voltou sua atenção para a conversa que os amigos estavam tendo sobre alguma nova banda que haviam descoberto no Myspace.

# Flashback (5 anos antes)


- Oi, . – Claire sorriu para a menina sentada no gramado com um caderno no colo.
- Ei, Claire. Chegou cedo hoje. – a olhou, estranhando a amiga chegar cedo ao colégio em plena segunda feira.
Claire era colega de na maioria das matérias, as duas ficaram amigas quando tiveram que fazer um trabalho de Literatura juntas. Se deram bem desde o começo, as duas eram parecidas, reservadas, prestavam atenção nas aulas e estudavam juntas quase sempre, uma sempre ajudando a outra quando tinham duvidas.
- É, cai da cama. – Riu, sentando-se ao lado da outra. – Esqueceu de fazer algum exercício? – Apontou o caderno.
- Nah, só estou revisando a ultima aula de matemática, esses problemas de regra de três são um pouco complicados. – Respondeu pensativa encarando o caderno.
- É, também achei. – Claire concordou olhando as anotações da amiga.
- ! – Ela ouviu uma voz masculina e olhou para frente, observando caminhar até ela. – Achei que quisesse carona, passei na sua casa e buzinei até. – Ele se abaixou e beijou a bochecha da menina, sorrindo para Claire em seguida.
- Hm, desculpe não ter avisado. Cheguei mais cedo para revisar a matéria.
- Tudo bem. Almoça comigo hoje? – o olhou arqueando a sobrancelha, mas cedeu quando viu o sorriso dele. Concordou com um aceno de cabeça. – Te espero lá fora depois das aulas. Vou procurar os caras. – Beijou a cabeça dela e acenou rapidamente para Claire.
- Hm, um final de semana pode fazer a pessoa chegar animada em no colégio em plena segunda feira pela manhã. – Claire comentou com um meio sorriso e a olhou sem entender.
- Do que você tá falando? – Perguntou desconfiada.
- A festa na casa da Alicia, amiga da Chelle. Você não soube?
- Não, eu não soube de nada. Do que exatamente você tá falando, Claire? – a olhou nervosa sentindo a barriga revirar e o coração diminuir a pulsação.
- O e a Chelle ficaram. – Falou mais baixo dando de ombros.
manteve seus olhos fixos nos enormes olhos verdes de Claire, o que ela tinha acabado de dizer? e Chelle? O seu e a Chelle? Apertou os dentes com força sentindo que podia vomitar a qualquer momento e uma tontura a fez fechar os olhos por alguns segundos.
- ? Tá tudo bem? – Claire tocou seu braço a olhando preocupada. Ela respirou fundo algumas vezes antes de conseguir abrir a boca tendo certeza que não colocaria o café da manhã pra fora.
- Eu... – Antes que conseguisse completar a frase, ouviu o sinal tocar anunciando o inicio das aulas. Fechou o caderno com força e se levantou num pulo, caminhando em direção ao prédio e deixando Claire sentada a olhando sem entender.

Olhou o relógio pelo que parecia a milésima vez e engoliu em seco quando percebeu que faltavam apenas cinco minutos para que a aula terminasse. Respirou fundo tentando se concentrar na voz da professora, mas ela parecia cada vez mais distante.
O sinal finalmente tocou e ela sentiu vontade de protestar, como assim já tinham se passado cinco minutos? Pelos cálculos dela ainda faltavam, pelo menos, quatro minutos! Os alunos se levantaram fazendo barulho e em poucos minutos a sala já estava quase vazia. Olhou rapidamente o caderno aberto em busca de alguma duvida que tivesse tido na aula, mas não havia nada, estava tudo ali explicado. Desejou que Claire tivesse aquela aula com ela, pelo menos teria alguém pra distraí-la.
Guardou o material sem pressa, ainda pensando no que fazer quando visse a esperando na porta do colégio. Ela poderia tentar uma saída estratégica e depois telefoná-lo dizendo que havia ido pra casa mais cedo pois estava se sentindo mal, mas sabia que iria até a casa dela preocupado.
Caminhou pelo corredor quase vazio e passou por duas garotas do ultimo ano que fofocavam alguma coisa em um tom de voz quase inaudível. Uma delas deu um gritinho histérico e arregalou os olhos recebendo um tapinha de repreensão da outra, pôde ouvir quando uma delas falou os nomes e Chelle. Bufou andando mais depressa apenas para se afastar das garotas, quando chegou no meio do pátio, avistou conversando com e parou pensando nas desculpas que poderia dar para fugir daquele almoço, mas nenhuma lhe parecia convincente.
- ! – Droga, ela ficara tanto tempo assim parada pensando em uma desculpa? – O que ta fazendo aí parada? – a olhou sem entender.
- Hum... só estava... pensando se guardei minha caneta ou a deixei na sala. – Falou a primeira desculpa que lhe veio em mente.
concordou ainda a olhando desconfiado.
- Então, vamos?
- Claro. – Sorriu o máximo que pôde, mas sentiu que não era o suficiente. Não pra enganar .

- Aconteceu alguma coisa? – O garoto perguntou a observando com curiosidade.
Os dois estavam sentados em uma mesa de um restaurante japonês. observava, com mais atenção que o necessário, o sushiman preparar os sushis com uma velocidade incrível. Desviou os olhos e os focou por alguns segundos nos de .
- Não. – Suspirou pegando os palitinhos e começando a brincar com eles em cima da mesa. Viu a mão de se aproximar da sua e tirar a distração de suas mãos.
- Você não me engana. – Falou sério, arqueando a sobrancelha.
Bufou rolando os olhos e cruzou os braços encarando o garoto à sua frente.
- Comigo não aconteceu nada, . Talvez tenha acontecido com você, não? – Sua voz carregada de irônia o assustou.
- Do que você tá falando? – Perguntou um pouco tenso, já tendo alguma idéia do que ela queria dizer. Existia alguém naquele colégio que ainda não soubesse do que havia acontecido no fim de semana? Bando de fofoqueiros, pensou.
- Você também não me engana, . Você sabe do que eu estou falando. – Apoiou os braços na mesa e esperou a expressão de se acalmar.
Ele suspirou recostando-se na cadeira e desviou do olhar dela por alguns instantes, ainda pensando no que dizer. permaneceu em silêncio o encarando, ela não iria tocar no assunto, se ele quisesse, que falasse.
- Então, como foram suas aulas hoje? – perguntou soltando todo o ar acumulado nos pulmões. A menina o olhou sem entender e depois balançou a cabeça sem acreditar.
- Normais. – Respondeu séria.
Antes que o silêncio se instalasse, o garçom chegou colocando um prato com variedade da cozinha japonesa e dois refrigerantes na mesa. Sorriram agradecidos, mais por ele ter interrompido a conversa do que pelo fato de ter servido o almoço.
fez um aceno com a mão para que se servisse, ela pegou os hashis sem vontade e colocou uma das peças no prato sentindo que sua fome já havia ido embora.
- Você me chamou pra almoçarmos em silêncio? – Ela finalmente perguntou, depois de comerem quase tudo em um incomodo silêncio.
- Não, mas acho que você não quer exatamente conversar comigo hoje. – Deu de ombros.
- Tudo bem. - Suspirou colocando os hashis no prato e apoiando os braços na mesa. – Como foram suas aulas hoje? – Repetiu a pergunta dele. abriu um sorriso torto irônico.
- Normais.
- Nada legal aconteceu? Nenhum aluno foi pego fumando no banheiro? Nenhum professor passou mal durante a aula? Nenhuma fofoca sobre o fim de semana? – Sorriu cínica vendo-o copiar seu gesto.
- Não, nada que me interessasse.
o encarou sem saber o que dizer e ele devolveu o olhar arqueando uma sobrancelha a desafiando a perguntar mais alguma coisa.
- Nenhuma fofoca te interessa? Nem quando é sobre você?
- É apenas falação, fofoca, pessoas que não têm nada mais interessante pra fazer.
- Eu diria que são fatos.
- Fatos irrelevantes e sem significados.
o olhou semicerrando os olhos, aquele jogo de frases cheias de significados a estava deixando cansada.
- O fato é que esses fatos, de fato, aconteceram.
- Sim, os fatos, de fato, aconteceram e não há nada que possa mudar isso, mas é uma opção minha querer deixar esses fatos de lado, pelo simples fato de que eles não foram importantes, principalmente pelo fato de eu mal lembrar do fato.
- E você mal se lembra porque...?
- Bêbado. E sob pressão. Muita pressão.
- E quer deixar de lado porque...?
- Não teve importância. Nem o fato, nem a pessoa.
A menina concordou com um aceno de cabeça e se recostou na cadeira ao perceber que estava praticamente debruçada sobre a mesa. sorriu brincando com os hashis enquanto ela piscava lentamente ainda tentando absorver todos aqueles fatos.
- O fato é que...
- Chega de fatos! – Falou um pouco alterada recebendo alguns olhares tortos das poucas pessoas que estavam por ali. reprimiu uma risada e limpou a garganta.
- Nem sempre essas coisas têm significado, . – A menina conteve um sorriso ao ouvir seu apelido pela primeira vez naquela conversa. – Mas, às vezes, elas podem significar muito mais do que a gente pode expressar. – Concluiu a olhando nos olhos, vendo-a devolver o olhar com a mesma intensidade.
- Com licença, pode retirar? – Garçom interrompeu o contato visual. o olhou e concordou com um sorriso. – Aceitam alguma sobremesa? – Os dois balançaram a cabeça discordando e o garçom se retirou deixando que o silêncio tomasse conta da mesa.
mordeu o lábio inferior e passou as mãos pelos braços se sentindo incomodada por algum motivo. Ela não sabia se havia interpretado a frase da maneira correta, não sabia se tinha mesmo dito o que ela estava pensando, mas ainda podia sentir o olhar dele sobre si.
- Eu vou, hum... pagar a conta. – Falou sem jeito vendo a menina balançar a cabeça concordando.
respirou fundo quando deixou a mesa e fechou os olhos por alguns segundos, abrindo-os rapidamente quando alguns flashbacks invadiram sua mente. Ela não podia se sentir daquela forma em relação a , simplesmente não podia. Ela não era dona dele e nem muito menos dos sentimentos e atitudes dele. Queria ele só pra ela, mais do que qualquer outra coisa, mas não podia se achar no direito de controlá-lo.
esperou calmamente enquanto a mulher do caixa fazia as contas, passou a mão pelo cabelo dando uma olhada rápida em e deixou que um suspiro escapasse. Que droga ele tinha feito ficando com Chelle? Ela era legal e bonita, mas aquilo não significara nada e a ultima coisa que ele queria era que pensasse que ele simplesmente beijava garotas por diversão. Ela não era diversão. Ela era . Era sua garota. Seu mundo inteiro resumido em uma só pessoa.
- Senhor? – A voz fina da atendente o despertou. – Aqui está a conta. – Sorriu agradecido e lhe entregou o cartão de crédito.

- Vamos? – A voz de a assustou. Levantou-se pegando a bolsa e forçando um sorriso. – Se importa de irmos andando? Estamos perto de casa.
- Sem problemas. – Deu de ombros vagamente.
Os primeiros metros foram silenciosos e torturantes, os pensamentos absorvendo a atenção dos dois adolescentes que caminhavam lado a lado. mantinha os braços cruzados firmemente, enquanto mantinha as mãos nos bolsos do jeans largo.
- Está chateada comigo? – Ele perguntou dando fim ao silêncio e atraindo a atenção da menina ao seu lado.
- Não. – Respondeu com um sorriso fraco. – Na verdade estou chateada comigo mesma.
- Eu devia ter lhe contato sobre Chelle. – Suspirou.
- Sabe que não me deve satisfação, certo? Não sou sua dona e nem nada desse tipo. – mordeu o lábio o olhando e viu ele sorrir discretamente.
- Lembra de uma coisa que eu te falei há uns 3 anos atrás? Uma teoria na verdade.
- A de que eu seria um pedaço seu? – Riu sozinha lembrando.
- Essa mesmo.
- O que tem ela, ?
- Não era só uma teoria boba que eu inventei. É o que eu realmente penso. – Parou a olhando. parou alguns passos a frente e o olhou.
- , ninguém nasce incompleto. – conseguiu falar com a voz fraca.
- Droga, sempre soube que eu era uma aberração. – Bateu na própria testa fazendo a garota gargalhar.
- Nós somos completos sim. – Falou se aproximando dele. – Nós apenas não funcionamos sem o outro. Somos como, hum... – Parou por alguns segundos pensando. – Um coração? – Perguntou rindo. – E você é o sangue venoso e eu o sangue arterial.
- Mas eles funcionam separados. – riu.
- Mas sem um de nós dois, o coração não funciona.
- Ai como você é nerd, . – Ele a abraçou rindo.
- Pode falar que você não vive sem mim, senhor sangue venoso.
- É, eu não vivo mesmo sem você, senhora sangue arterial. – Sorriu beijando a testa dela e a abraçando pelos ombros, voltando a caminhar em silêncio.

# End of flashback


- Tá se sentindo bem? – perguntou preocupada, olhando o menino a sua frente.
- Um pouco de dor de cabeça só. – deu de ombros e abriu a porta do elevador para que ela saísse. – Vou tomar um banho, tomar remédio e deitar. Passa rápido. – Abriu a porta do loft ouvindo as unhas de Harte fazerem barulho no piso.
- Ei, meu bebê. – Ela se agachou fazendo carinho no cachorro. – Se comportou direitinho? – Falou com a voz boba.
tirou a camisa ainda no meio da escada e deixou-a em cima da cama, entrando rapidamente no banheiro. Sua cabeça latejava e seu estomago dava voltas, não devia ter misturado cerveja com vinho. Entrou embaixo da água quente e deixou que o corpo relaxasse, seu estomago novamente deu uma volta e ele sentiu um liquido nojento passar por sua garganta.
- ? Tá tudo bem? – perguntou se aproximando da porta entreaberta do banheiro.
- Tá sim, . Não se preocupa. – Tentou manter a voz firme.
A campainha tocou e ela desceu rapidamente com Harte em seu encalço. Abriu a porta e encontrou o porteiro com algumas correspondências.
- Brigada por trazê-las aqui, Mario. – Sorriu agradecida vendo-o acenar com a cabeça.
Olhou rápido algumas contas e se assustou ao ver uma correspondência endereçada a ela. Deixou as contas na bancada da cozinha e sentou-se no sofá percebendo que a carta se tratava do resultado da prova de Design que fizera. Respirou fundo tentando se acalmar, e abriu lentamente o envelope.
Seus olhos percorreram rapidamente o papel, se prendendo nas ultimas palavras. Releu algumas vezes sentindo a respiração ficar falha e guardou novamente o papel no envelope. Ouviu o chuveiro sendo desligado e subiu rapidamente, guardando o envelope em uma de suas gavetas.
Sentou-se na cama abraçando os joelhos e fixou os olhos no lençol estampado tentando esvaziar a mente.
- ? – A voz de a acordou. Forçou um sorriso convincente.
- Está se sentindo melhor agora? – Ele concordou com um aceno de cabeça. – Vem aqui pra eu enxugar seu cabelo. – Falou batendo no espaço vazio ao seu lado. lhe entregou a toalha branca e se virou de frente para a garota deixando que ela enxugasse seu cabelo com calma.
- Você faz isso com tanto carinho que eu to ficando com sono. – Comentou baixo ouvindo um risinho da menina.
- Vou lá embaixo pegar o remédio pra sua dor de cabeça e você vai deitar e dormir pouco.
- Tá bom, mãe. – Brincou recebendo um beliscão na barriga.
se levantou e guardou a toalha no banheiro antes de descer para pegar o remédio. Encheu um copo de água e virou de uma vez na boca sentindo o peito subir e descer rapidamente. não podia vê-la daquele jeito, ele saberia na mesma hora que algo havia acontecido. Se deixou escorregar para o chão gelado da cozinha e escondeu o rosto entre as mãos. O que ela faria agora?
Quase dois minutos depois ela se levantou se sentindo mais calma. Pegou o remédio e um copo com água e subiu a escada encontrando deitado na cama com os olhos fechados.
- Amor? – Perguntou baixo sentando na beirada da cama. Ele abriu os olhos e sorriu agradecido. se levantou e pegou um pente no banheiro, sentando novamente ao lado do menino e penteando seu cabelo com a mesma calma que havia o enxugado.
- Brigada. – sorriu quando ela pegou o copo em sua mão.
- Agora deita e dorme um pouco. Eu vou tomar um banho e venho deitar um pouco também. – Deu um selinho rápido nele.
Fechou a porta do banheiro silenciosamente e encostou-se à porta já sentindo as lágrimas encherem seus olhos. Tirou o vestido e o biquíni rapidamente, entrando debaixo do chuveiro e sentindo as lágrimas finalmente caírem, se misturando com a água quente. Deixou que alguns soluços saíssem o mais silenciosamente possível e se encolheu sentindo o coração doer.
Quando sentiu a pele começar a ficar enrugada, desligou o chuveiro se enrolando rapidamente na toalha. Saiu do banheiro vendo deitado e respirando calmamente, pegou uma calcinha, um sutiã e um blusão qualquer dele dentro do armário e se vestiu rapidamente, com cuidado para não fazer barulho e acordá-lo. Harte estava deitado no chão ao lado da cama e a observava preguiçosamente. Sentou na cama encolhendo as pernas e puxando o cobertor para si, ainda dormia calmamente e ela o observou em silêncio sentindo algumas lágrimas teimosas escaparem. Fungou baixo e levou uma das mãos até o cabelo de o acariciando.
O rosto dele estava calmo e sua respiração era lenta e compassada, nunca cansaria de olhá-lo dormir, aquilo a fazia esquecer qualquer problema que estivesse a atormentando. Ele se mexeu um pouco e ela passou a mão rapidamente pelo rosto tentando se livrar dos vestígios de lágrimas.
- Deita, amor. – resmungou puxando um pouco a blusa que a menina vestia.
- Gosto de te olhar dormindo. – Respondeu com a voz fraca.
- E eu gosto de dormir abraçado com você. – sorriu e deitou de frente pra ele. a abraçou pela cintura e passou uma das pernas por cima das dela.
- Eu te amo tanto. – Sussurrou com a voz abafada. – Não esquece disso.
- Aconteceu alguma coisa? – Os braços dele ficaram rígidos ao redor de sua cintura. Ela apenas negou com um resmungo.
- Só não quero que você esqueça. – Beijou o peito desnudo dele.
- Não vou esquecer, meu anjo. Também te amo. – Deu um selinho rápido nela e um beijo na ponta de seu nariz. – Dorme bem e sonha comigo. – Sussurrou a apertando mais contra si.
suspirou pesadamente e fechou os olhos sentindo as preocupações se esvaírem. Enquanto ela tivesse com ela, não se importava com o que pudesse acontecer.


17
( música: Signal Fire – Snow Patrol )


ouviu um barulho no andar de cima e deduziu que havia acordado. Colocou as duas fatias de pão na torradeira e tirou o suco da geladeira, colocando-o em cima da mesa da cozinha. Voltou a se sentar no banco e tomar seu café tranqüilamente, sabia que enrolava na cama e depois se levantava para fazer sua higiene matinal, ainda levaria alguns minutos para que ele descesse.
A torradeira apitou, fazendo as duas fatias de torrada pularem para fora e ela as colocou em um prato ao lado da geléia. Quando acordara, pensou em levar café da manhã na cama para , assim como ele fizera com ela semanas antes, mas ainda era cedo e ela não queria acordá-lo, haviam ido dormir tarde, assistindo um filme que passava na televisão.
- Bom dia. – entrou na cozinha e ela se virou sorrindo.
- Bom dia. – Cantarolou indo até ele e passando os braços por seu pescoço lhe dando um selinho. – Preparei seu café, ia levar na cama, mas não quis te acordar. – Confessou.
- Brigado. – Ele tocou seu rosto e selou os lábios novamente nos seus. soltou um suspiro lembrando que decidira que iria mostrar pra a carta que recebera e ponderou se aquele era o momento certo. Quando ele passou a língua por seus lábios, ela esqueceu o que a preocupava tanto, abriu a boca deixando que a língua dele encontrasse a sua e apertou o abraço no pescoço dele, sentindo-o puxá-la pela cintura grudando o corpo no seu.
partiu o beijo, dando um selinho rápido no menino e sorriu quando seus olhos encontraram os dele.
- Aconteceu alguma coisa? – Perguntou, preocupado. mordeu o lábio e balançou a cabeça negando mais uma vez. Durante os onze dias que se passaram desde que recebera a carta do curso de Design, constantemente lhe perguntava se estava tudo bem e ela apenas sorria confirmando. Até quando continuaria mentindo?
- Vem tomar café. – O puxou pela mão, tentando sair daquele momento embaraçoso e sentou no banco ao lado do dele.
- Já comeu? – a olhou e ela confirmou com um sorriso. – Por que acordou tão cedo?
- Não sei, o sono acaba, eu acordo. – Brincou. – Que horas é a reunião?
- Dez e meia. – Olhou o relógio e viu que ainda eram oito da manhã. – Não sei pra que acordei tão cedo. – Balançou a cabeça inconformado, fazendo a menina ao seu lado rir.
- Se quiser pode voltar a dormir, eu te chamo quando for pra você tomar banho e se arrumar. – Fez carinho no cabelo dele.
- Nah, agora que eu já acordei, prefiro me manter acordado mesmo. – Deu de ombros.
Terminaram de tomar café em silêncio. estava preocupado com a reunião que teria com alguns produtores, ainda deixava que sua imaginação fluísse tentando achar alguns prováveis nomes para a banda e apresentá-los na reunião. Algumas noites antes, ele havia falado sobre isso com e os dois haviam tentado encontrar algum nome, mas acabaram perdendo o foco quando as brincadeiras com nomes absurdos começaram. Sentou no sofá ligando a TV, escolhendo um canal qualquer e deixou que a voz do Paul O'Grady preenchesse seus ouvidos, enquanto sua mente ainda vagava em busca de filmes antigos que pudessem lhe ajudar.
lavou a louça em um silêncio que contrastava com a agitação de sua mente. Ouvia as palavras que estavam escritas na carta ecoarem lentamente e quanto mais tentava adiar que soubesse o que tanto a preocupava, mais se conformava que era melhor que ele soubesse logo. Olhou por cima do ombro e viu que ele ria de alguma coisa na televisão, sorriu sozinha suspirando alto e prometendo que não adiaria mais aquilo.
- Ei, quer jantar comigo hoje à noite? – perguntou quando a garota sentou ao seu lado no sofá. Ela o olhou e riu baixo.
- Eu sempre janto com você. – Brincou. Ele semicerrou os olhos a olhando e arrancando uma gargalhada dela. – Claro que quero. Jantar fora ou você vai revelar dotes culinários que eu não sabia que existiam?
- O que você prefere? – passou um dos braços por sua cintura e viu a garota sorrir de lado como se a resposta fosse óbvia. – Certo, vamos jantar fora. – Suspirou conformado, recebendo um beijo rápido no pescoço.
- Você não vai tá cansado da reunião? - Perguntou o olhando.
- É só uma reunião. – Ele respondeu tranqüilamente, lhe dando um selinho.
sorriu encostando a cabeça no peito do garoto e sentindo-o acariciar seus cabelos. Fechou os olhos, deixando um suspiro cansado escapar e se perguntou se esse jantar seria o momento ideal para contar a ele.
A voz de despertou-a e ela percebeu que havia cochilado, o olhou confusa e viu o garoto sorrir passando a mão por seu rosto.
- Preciso tomar banho. – Sussurrou se desculpando. Ela olhou o relógio e viu que já eram quase dez horas.
- , você vai se atrasar. Vai logo. – Sua voz sonolenta estava preocupada. Ele riu baixo e beijou seus cabelos antes de se levantar e subir rápido as escadas.
deixou que o corpo caísse pesadamente no sofá e passou as mãos pelo rosto numa tentativa de despertar. A televisão ligada mostrava algum talk show e ela mudou para um canal de desenhos animados pensando que seria melhor para distraí-la. Pegou o celular no móvel ao lado do sofá e entrou nas mensagens recebidas, relendo a mensagem que Freddie havia mandado dois dias antes, apenas perguntando como ela estava. Mordeu o lábio se culpando por não ter respondido e se perguntou se seria errado ligar pra ele, afinal, estava precisando desesperadamente conversar com alguém, precisava de algum conselho, já estava se sentindo sufocada. Ouviu a porta do banheiro se abrir e chamá-la. Deixou o celular no sofá e subiu as escadas, encontrando o garoto já vestindo uma calça jeans escura e um tênis.
- Qual delas? – Perguntou, apontando três camisas em cima da cama. Uma pólo azul marinho e duas camisas sociais, uma preta e uma branca listrada.
- Essa. – Apontou a branca e lhe entregou. Ele sorriu agradecido e vestiu a camisa, dobrando as mangas até os cotovelos. ajeitou a gola, o ajudando com os botões e deixou que um risinho baixo escapasse.
- O que foi? – perguntou curioso.
- Estou acostumada a desabotoar essas camisas, não abotoá-las. – Sussurrou timidamente, ouvindo o menino gargalhar.
- Sinta-se a vontade para fazer isso sempre que quiser. – Piscou.
- Certo, hoje à noite seguirei esse conselho. – Concordou abotoando o penúltimo botão. sorriu e desabotoou, deixando os dois últimos abertos.
- Me sinto sufocado se não deixar pelo menos dois abertos.
- É, eu esqueci. – Sorriu, beijando a bochecha dele.
colocou a carteira e o celular no bolso da calça e foi até o banheiro para passar o pente rapidamente no cabelo e botar perfume.
- To indo. – Anunciou saindo do banheiro, a garota concordou com um aceno de cabeça e lhe deu um selinho, pegando sua mão e descendo as escadas. Harte estava deitado no sofá e levantou a cabeça para olhar os donos.
- Vai sair hoje? – a abraçou pela cintura já perto da porta.
- Vou passear um pouco com o Harte e talvez saia com Charlotte. Vou ligar pra ela. – Sorriu. – Boa sorte.
- Brigado. Não se esquece do jantar.
- Não vou. – Riu.
selou os lábios nos dela e passou a língua pedindo passagem. abriu a boca deixando que a língua dele encontrasse a sua e sorriu sentindo-o apertar o abraço em sua cintura e tirá-la um pouco do chão. Apertou os dedos que estavam entrelaçados no cabelo dele e fez um carinho em sua nuca.
- Você vai se atrasar. – riu baixo quando ele lhe deu alguns beijos suaves no pescoço.
- Tchau! – Sussurrou lhe dando um último selinho e saiu de casa deixando a menina com um sorriso no rosto e a mente ainda mais confusa.

Sentou exatamente no mesmo banco que sentara da outra vez e olhou o relógio que marcava pouco mais de duas da tarde. Soltou um suspiro pesado e acariciou a cabeça de Harte que estava apoiada em uma de suas pernas, os olhos do animal estavam fechados e ele respirava tranqüilamente sem se importar com a movimentação a sua volta. Ela desejou aquela mesma calma pra ela.
- Oi, . – Uma voz masculina chamou sua atenção e ela observou o garoto sentar ao seu lado e lhe dar um beijo em cada bochecha.
- Ei, Freddie. Obrigada por ter vindo. – Sorriu o olhando.
- Sem problemas. Fiquei até surpreso com a sua ligação, achei que minha mensagem não tinha chegado ou que você não quisesse mesmo falar comigo. – sorriu sem graça e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha.
- Desculpe por isso.
- Então, você parecia nervosa no telefone e agora eu to vendo que está mesmo. Aconteceu alguma coisa?
- Hm... é uma longa história. – Comentou timidamente o olhando e viu Freddie abrir um sorriso sincero.
- Não estou com pressa.
- Tudo bem. – Concordou se preparando para resumir a história. – Você se lembra do , certo? – O menino concordou com um aceno e ela continuou a história, resumindo o máximo que pôde. Não precisou dar detalhes, contou apenas por cima o que acontecera desde que fora morar com . Por fim tirou a carta do bolso e o entregou.
Freddie leu a carta com calma enquanto sentia os olhos ansiosos da menina observarem sua mudança de expressão. Soltou um suspiro pesado e a olhou sem saber exatamente o que dizer.
- Japão? – Perguntou em voz baixa. concordou vagamente.
- Eles têm ótimos cursos de Design por lá, já pesquisei sobre isso.
- É o que você quer? – Freddie analisou os olhos dela e percebeu que ela não sabia responder.
- Acho que sim. – Respondeu, depois de quase um minuto em silêncio. – Quer dizer, essa é uma oportunidade única, certo?
- O que acha que o vai dizer?
- Que eu tenho que ir e provavelmente vai repetir a mesma frase que eu acabei de dizer.
- Tem certeza que ele não iria dizer que é melhor você ficar por aqui? Existem cursos ótimos de Design aqui também. – A menina negou balançando a cabeça.
- Ele nunca me pediria pra ficar. sabe que isso é importante pra mim. – Suspirou. – Ele sempre sabe quando usar o altruísmo dele, e não hesitaria em usá-lo contra mim nesse caso.
- Você consegue se imaginar vivendo no Japão?
- A pergunta certa seria se eu consigo me imaginar vivendo sem o . E honestamente... eu não consigo. – Sentiu uma lágrima indesejada correr por sua bochecha e fechou os olhos com força tentando impedir que alguma outra caísse.
- Você não precisa desistir de um dos dois, . Existem tantas tecnologias hoje em dia que poderão manter vocês dois perto um do outro. A distância seria irrelevante perto do amor que vocês sentem. – Freddie comentou passando os olhos novamente pela carta. – Vocês vivem juntos desde sempre, um ano de separação não significaria muita coisa.
- O tem sido meu mundo desde que minha mãe morreu, nove anos atrás, Freddie. Eu sinto que sem ele, seria como ter uma venda em meus olhos. – Olhou o garoto e sorriu fraco. – Eu passei a minha vida inteira ao lado dele, ele foi muito mais do que um primo, um irmão ou mesmo um namorado. E durante toda a minha vida eu vivi por nós dois, como se fossemos um só. As alegrias dele eram minhas, assim como as dores também. Minha mãe costumava dizer que éramos as duas metades de um inteiro e até mesmo o dizia que tinha uma teoria de que eu era uma parte dele que veio faltando. – Fungou, impedindo que uma lágrima teimosa caísse. – Eu costumava achar graça nisso e falar que todos nascemos inteiros, mas agora eu consigo entender o que ele quis dizer. Agora eu sinto que ele também é um pedaço faltando em mim e passar um ano sem esse pedaço vai doer e sangrar demais.
- Os ferimentos sempre fecham, o sangue estanca mais cedo ou mais tarde. – Freddie comentou sabiamente. riu baixo e negou balançando a cabeça.
- Não vai fechar, é fundo demais. – Mordeu o lábio. – É como um buraco na alma. – Sussurrou encolhendo as pernas e abraçando os joelhos.
Freddie suspirou sem saber o que dizer, nunca imaginaria que e compartilhavam aquela história. Claro que ele sabia que os dois eram primos inseparáveis, mas achou que fosse apenas aquilo que via diariamente na escola. Abraçou a garota pelos ombros e passou a mão por seu cabelo, tentando confortá-la.
- Eu acho que você deve seguir o que seu coração mandar. Sei que isso é papo de garota, mas é a verdade. – A garota riu baixo agradecendo por ter tido a idéia de conversar com Freddie, tirar todo aquele peso de cima de si estava sendo relaxante.
- Sabe, já faz quase um ano que eu to morando com ele, passou rápido. – Comentou vagamente.
- Um ano passa mais rápido do que a gente imagina. – Concordou.
- Obrigada, Freddie. – Sussurrou, sentindo a mão dele fazer carinho em seu ombros.
- Sempre que precisar. – Beijou os cabelos da menina.

# Flashback (4 anos antes)


acariciou os cabelos do menino que estava deitado no sofá com a cabeça em seu colo. O rosto cansado e a expressão tranqüila e calma dele fez com que ela sorrisse brevemente. Observou as paredes brancas da ante-sala do quarto de hospital e suspirou pesadamente, ouvindo os bips vindos do quarto, indicando que a tia respirava tão tranqüila quanto seu filho.
Bebeu um gole do café já frio e fez careta, precisava pegar mais se quisesse se manter acordada. Se levantou com cuidado, apoiando a cabeça de em uma almofada e saiu do quarto silenciosamente.
Apertou o casaco contra o corpo enquanto caminhava pelo longo corredor do hospital. Desceu o elevador até o primeiro andar e foi até a cantina vazia, por causa do horário. Botou uma moeda na máquina escolhendo um M&M’s qualquer e depois pediu um café para a garçonete que lhe lançou um sorriso fraco quando se sentou à mesa. Encostou a cabeça no vidro da grande janela e comeu o chocolate calmamente, agradecendo por finalmente colocar alguma coisa, além de café, no estômago. Se soubesse que a ultima coisa que ela havia comido fora uma torrada às sete da manhã, provavelmente ela teria que ouvir novamente o discurso de que deveria ir para casa e parar de mudar completamente a rotina apenas para ficar com ele no hospital. Tomou um grande gole do café que a garçonete havia botado na mesa e relaxou.
Fechou os olhos por alguns segundos tentando fazer com que sua mente parasse de trabalhar a mil por hora como vinha acontecendo ultimamente. Seu sono estava mais leve que o normal, e ela sentia o corpo implorar por uma noite inteira de sono.
Já faziam três meses que a mãe de havia descoberto um câncer já avançado no pulmão, desde então a vida dos dois adolescentes havia virado um caos. Noites perdidas ou mal dormidas no hospital e preocupações viraram rotina diária dos dois. havia se acostumado a sair do colégio direto para o hospital enquanto raramente aparecia na faculdade de administração por estar ocupado demais cuidando da mãe ou resolvendo alguns problemas.
Abriu os olhos se dando conta de que havia cochilado e passou a mão pelo rosto despertando. Terminou de tomar o café e foi até o balcão para pagar por ele e pegar um para , pois sabia que ele estava sem comer. Pegou um pacote de amendoim na máquina e colocou no bolso do casaco, mesmo sabendo que era proibido comer nos quartos.
observava o teto branco sentindo o corpo cansado demais para fazer qualquer movimento. Ouviu a porta se abrir e a imagem de surgir com um copo grande de café e um sorriso meigo no rosto.
- Hei. – A menina sussurrou colocando o café e o amendoim na mesa. – Trouxe pra você.
- Obrigado. – Sorriu sincero. – , vai pra casa descansar. – Reclamou, a olhando e sentando no sofá.
- Não estou com sono. – Mentiu. riu irônico e fez um gesto mostrando as olheiras claras embaixo dos olhos dela. – Estou bem. – Deu de ombros.
se levantou bufando por causa da teimosia da garota e pegou o café que ela havia levado. Agradeceu mentalmente sentindo o líquido quente passar por sua garganta lhe dando uma sensação de tranqüilidade.
- Come o amendoim, . Você precisa colocar alguma coisa no estômago além do café. – o olhou abraçando os joelhos. O menino rolou os olhos discretamente e abriu o pacote, jogando alguns amendoins dentro da boca e se sentindo enjoado só por isso.
Ouviram uma batida na porta e segundos depois o pai de colocou a cabeça dentro da sala.
- Como ela está? – Perguntou pacifico.
- A mesma coisa. – sussurrou em resposta. O homem fez um aceno com a cabeça, concordando.
- Estou aqui fora caso você queira ir pra casa agora. – Falou, olhando diretamente para a filha que apenas sorriu levemente, ainda não acostumada a vê-lo ser tão cordial e calmo desde que sua mãe morrera.
- Vai pra casa. – sentou ao lado dela quando a porta se fechou.
- Não quero te deixar aqui. – O olhou séria e o viu sorrir serenamente.
puxou a garota pela cintura e a abraçou com força, sentindo ela passar os braços por seu pescoço e fazer o mesmo. Respirou profundamente sentindo o perfume que exalava dos cabelos dela e soltou o ar lentamente sentindo uma lágrima descer por seu rosto.
- Vai pra casa. – Ele repetiu soltando-a um pouco e a olhando tão de perto que suas respirações se misturavam e seus narizes roçavam levemente com qualquer movimento. passou o polegar no rosto dele, enxugando a lágrima.
- Não chore, vai ficar tudo bem. – Sussurrou, acariciando a bochecha do menino e deixando que sua testa encostasse na dele. Ouviu fungar e apertou os dedos no cabelo de sua nuca. Os lábios dele tocaram em sua bochecha com delicadeza e ela percebeu que havia deixado uma lágrima cair. – Eu te amo. – Suspirou, duvidando que ele tivesse ouvido.
segurou a nuca da garota da mesma forma que ela fazia com ele e encostou os lábios nos dela. Sentiu os músculos relaxarem quando a mão dela fez um carinho em sua nuca e, pela primeira vez em três meses, sentiu sua mente se esvaziar de qualquer problema ou preocupação, sua atenção inteiramente voltada para . Partiu o beijo antes mesmo de aprofundá-lo e soltou o ar calmamente.
- Também te amo. – Sussurrou em resposta.
forçou os músculos do rosto tentando formar um sorriso, mas deduziu que no máximo conseguiria uma careta. Levantou-se do sofá, olhando apoiar os cotovelos nos joelhos e esconder o rosto nas mãos.
- Eu volto amanhã. Não chore, por favor. – Pediu. Ele levantou o rosto e sorriu. Sorriu de volta, naturalmente dessa vez, e fechou a porta do quarto sem fazer barulho.

abriu os olhos soltando um suspiro cansado e levou alguns segundos para se acostumar com o breu que dominava o quarto. Ouviu o barulho do soro pingando e começou a contar os pingos, apenas para passar o tempo. Conseguira cochilar por meia hora no começo da madrugada, mas acordara assustado e agora não conseguia mais limpar a mente e descansar. Checou o relógio no pulso com a luz acesa e viu que era um pouco mais de três da madrugada.
Cory se mexeu desconfortável na cama e levantou o tronco tentando enxergá-la.
- Tá tudo bem, mãe? – Perguntou preocupado.
- , durma um pouco, meu filho. – Sussurrou cansada.
- Não estou com sono. – Mentiu. Seu corpo gritava por pelo menos uma hora de descanso, mas ele não se sentia capaz de fechar os olhos e relaxar nem por um minuto.
- Você passa o dia inteiro aqui, deveria ir pra casa descansar. – Cory protestou, com uma voz que soaria autoritária se não estivesse tão fraca.
- Não vou te deixar aqui sozinha! – Falou, ofendido.
- Não estou sozinha, . Os enfermeiros estão sempre aqui. – Ele não respondeu, apenas deitou de lado cruzando os braços.
Com os olhos já acostumados a escuridão, ele observou as formas que os poucos objetos e móveis faziam no escuro. Suspirou fraco e voltou a contar os pingos do soro.
- Como está ? – Sua mãe voltou a atrair sua atenção.
- Consegui convencê-la a ir pra casa descansar um pouco. Ela tem passado muito tempo aqui no hospital.
- Ela está faltando a escola? – Cory se preocupou.
- Não, eu não deixaria ela fazer isso. Ela vem pra cá depois das aulas e só sai de noite, mudou completamente a rotina dela e eu não consigo convencê-la a não vir.
- Não fique se preocupando tanto, . A não é mais uma criança há muito tempo, nenhum de vocês é. - Comentou calmamente. – Eu preciso te contar uma história.
- Mãe, você precisa dormir. – contestou, sentando no sofá.
- Ora, eu durmo o dia praticamente inteiro, . É a única coisa que eu tenho feito desde que vim para esse hospital. – Rebateu, fazendo o filho se calar. – Acho que nunca te contei que Emily namorou um primo nosso, contei?
- Não. – sussurrou em resposta.
- O nome dele é Joe, ele é um primo de segundo grau. Quando Emily e ele tinham por volta de 16 ou 17 anos, perceberam que estavam apaixonados. Namoraram escondidos por mais de um ano, estavam sempre juntos e eu, é claro, era cúmplice deles. Os ajudava a se encontrarem escondido, inventava desculpas para nossos pais, eu os achava lindos juntos. Nunca tinha visto um amor como aquele. – Parou um pouco respirando fundo.
- Você não precisa me contar isso agora, mãe. – percebeu a voz cansada dela.
- Convenhamos, , eu não tenho mais tanto tempo assim pra te contar. – Ela o cortou. O garoto engoliu em seco, sem coragem de contestá-la. – Então depois de um tempo nossos pais descobriram. – Ela continuou. – Foi uma briga horrível lá em casa, a Emily já era maior de idade e o Joe também, eles ameaçaram fugir juntos, alegaram que ninguém podia separá-los. – Suspirou.
foi até a cama e pegou a mão da mãe com cuidado. Os olhos lacrimosos dela o olharam atentamente através da escuridão e ele devolveu o mesmo olhar intenso.
- Nós acabamos mudando de cidade, não era muito distante de onde vivíamos e não foi suficiente para que os separassem. Mas o tempo foi passando e Emily foi amadurecendo, foi aprendendo com a vida, e acabou se distanciando de Joe. Todo aquele amor lindo foi ficando no passado dela, mas não no dele. Pouco depois de Emily ficar noiva do John, soubemos que Joe havia tentado se matar. – Soluçou baixo, sentindo o filho apertar um pouco sua mão, lhe confortando.
- Ele ainda está vivo? – conseguiu perguntar, sentindo a voz falhar.
- Está, não sei bem onde mora agora. Da última vez que tive noticias, ele estava morando no Canadá.
Os dois permaneceram em silêncio por alguns minutos. fixou os olhos em um ponto qualquer da escuridão e se deixou perder em pensamentos, ainda absorvendo a história que a mãe havia acabado de contar. Ele não sabia por que ela havia contado aquilo pra ele, ou talvez soubesse e não quisesse admitir, não fazia sentido pra ele. Aquela história não era em nada parecida com a dele e a de , não era assim que as coisas funcionavam com eles.
- Amores adolescentes são passageiros, meu amor. – Cory sussurrou interrompendo o silêncio e chamando sua atenção. – Eles são lindos e nos fazem pensar que nunca haverá outro amor como esse em nossas vidas, mas as coisas mudam.
- Mãe, por que você me contou essa história? – Perguntou com medo da resposta.
Cory sorriu fraco o olhando e passou o polegar por sua mão num carinho.
- Eu quero que você me prometa uma coisa. – A mulher sussurrou. concordou com um aceno de cabeça e esperou que ela falasse. – Eu quero que você viva sua vida o máximo que você puder, quero que você se divirta e ame muito. Promete pra mim que você vai ter várias namoradas até achar a garota certa, e que você não vai se prender em nenhum amor adolescente. Não deixe nenhuma mulher tomar conta da sua vida, por mais que você a ame. Promete? – Segurou a mão dele com o máximo de força que pôde e o olhou ansiosa.
respirou fundo sentindo sua garganta se fechar, por que ela estava lhe dizendo tudo aquilo e lhe pedindo aquela promessa? Ele não ia tentar se matar por causa de ninguém, por Deus!
- E-eu prometo. – Gaguejou, sem conseguir negar aquilo pra ela.
- Você vai ser muito feliz, meu filho. Eu sei que vai. – Ela deixou uma lágrima cair. – Qualquer mulher que tiver a sorte de ganhar seu coração, precisará agradecer pra sempre por estar com um rapaz como você. – Os dois sorriram fracamente e foi deitar novamente no sofá ainda sentindo sua garganta fechada e o ar que parecia não chegar até seus pulmões.
Fechou os olhos se amaldiçoando por ter prometido aquilo, como ele podia fazer uma promessa já sabendo que ela seria quebrada? Ele prometera algo que não conseguiria cumprir, era algo que fugia do seu controle.
Aos poucos sua mente e seu corpo foram sendo vencidos pela exaustão, tudo que ele precisava era se desligar de tudo a sua volta. Ele queria sua vida de quatro meses antes, como as coisas podiam mudar tanto em tão pouco tempo? (n/a: coloquem a música pra tocar, baixinho de preferência)


Ela podia sentir a camisa ser molhada pelas lágrimas dele, mas não se importava. Deixou as mãos fortes dele apertarem sua cintura com tanta força que ela sentia que poderia partir a qualquer momento, mas como ela poderia se despedaçar ainda mais? Podia sentir seu coração ficar cada vez mais fraco, a medida que os soluços do garoto ficavam mais altos e impossíveis de controlar. Como se manter tão firme por fora, estando tão despedaçada por dentro?
Seus dedos faziam um carinho calmo no cabelo dele, numa tentativa frustrada de acalmá-lo. Ela já havia passado por aquilo, sabia exatamente como era aquela dor que ia aos poucos tomando conta de todo o corpo até que a pessoa se sentisse praticamente inerte e entorpecida. Encostou a bochecha nos cabelos dele e deixou que algumas lágrimas descessem silenciosas. Como sempre acontecia naquela estranha relação, a dor era compartilhada mesmo que sem querer, como se passasse de um corpo para o outro através da própria pele, como se o coração que batesse e se despedaçasse fosse exatamente o mesmo.
Os médicos saíram da sala e os olhou, sabendo que não conseguiria. Eles se entreolharam e o que parecia ser mais velho soltou um suspiro cansado e frustrado.
- Nós não conseguimos reanimá-la. Eu sinto muito. – As palavras dele encheram o ar e ela pôde sentir os braços de apertarem ainda mais seu corpo e o choro dele tomar o lugar das palavras e inundar o corredor vazio do hospital.
Os médicos fizeram um aceno breve com a cabeça e se afastaram ao mesmo tempo em que três enfermeiros entravam no quarto. olhou o pai encostado numa parede um pouco distante, observando a cena em silêncio, ele mostrou o celular e indicou o elevador como se avisasse que ia descer para falar com alguém. Ela apenas concordou brevemente, sem se importar muito.
- Shh, eu to aqui. – Sussurrou, levantando o rosto de e passando os polegares para enxugar as lágrimas que caiam sem parar. – Vai ficar tudo bem, meu anjo. – Encostou a testa na dele e fechou os olhos ouvindo o choro dele se acalmar aos poucos.
- Isso dói tanto. – Ele choramingou com os olhos apertados. beijou sua testa e suas bochechas calmamente.
- Eu sei que sim e não tem nada que eu possa dizer para fazer essa dor parar. Mas você é mais forte do que ela, e se precisar eu serei forte por nós dois, como você fez comigo. – Sorriu fraco vendo-o concordar brevemente e enterrar novamente o rosto em seu pescoço.
A porta do quarto novamente se abriu e ela viu os enfermeiros saírem de lá, retirando a cama em que sua tia se encontrava. O corpo estava coberto pelo pano branco e ela fechou os olhos com força tentando se livrar da dor latente em seu peito. Apertou o ombro de chamando a atenção dele e levantou do seu colo, puxando-o pela mão para ajudá-lo a levantar também.
Aproximaram-se da cama, e ele segurou firme na grade branca. apertou seu braço mostrando que estava ali e pegou sua mão, entrelaçando os dedos. Ele tirou o lençol do rosto da mãe e a olhou com atenção gravando sua expressão calma, seus dedos deslizaram pelo rosto dela, sentindo sua pele ainda quente, mas completamente sem vida. A garota ao seu lado soluçou alto e ele a abraçou forte com apenas um braço sentindo-a enterrar o rosto em seu peito. Respirou fundo e se inclinou dando um beijo na testa da mãe e cobrindo novamente seu rosto, olhando brevemente para os enfermeiros e acenando com a cabeça. Eles se afastaram aos poucos enquanto os dois adolescentes permaneciam parados no corredor vazio e silencioso, observando o destino mais uma vez interferir em suas vidas, os unindo ainda mais e lhes dando a certeza de que, o que quer que acontecesse, os sangues venoso e arterial estariam sempre ali pra manter o coração batendo.

# End of flashback


sentou no sofá cruzando as pernas e respirando fundo. Observou seu sapato preto e começou a balançar o pé num movimento que denunciava todo seu nervosismo. Pegou a bolsa pequena olhando novamente se não tinha se esquecido de pegar nada ao mesmo tempo em que sentia o celular vibrar ali dentro. “Nova mensagem de piscava na tela.

“To aqui embaixo, não demora (: xx”

Leu rapidamente e guardou o aparelho novamente na bolsa, se levantando do sofá e caminhando até a porta do loft com Harte em seu encalço.
- Você fica, meu amor. – Falou sorrindo e fazendo um carinho rápido no focinho do cachorro.
Desceu o elevador se olhando no espelho pela milésima vez e passou a mão pelo cabelo, trazendo-o para frente e o amassando um pouco para dar um efeito ondulado. Quando o elevador parou, hesitou um pouco antes de sair, não sabia se estava realmente preparada para fazer aquilo. Puxou o máximo de ar que pôde e soltou lentamente, ela não podia esconder aquilo de . Não mais.
Abriu a porta do carro e sorriu para o garoto, sentando no banco do carona.
- Boa noite! – Ele sorriu, inclinando-se para beijar levemente seus lábios.
- Como foi a reunião? – Perguntou animada, decidindo que era melhor começar com uma conversa neutra.
- Ótima, tivemos algumas idéias legais de nomes, mas nenhum definitivo ainda. Jason, o produtor, está tão animado quanto a gente em relação à banda. Ele acredita na gente de verdade e tá dando muita força. – sorriu sincero e ela não pôde evitar um sorriso. – Então, quer ir pra algum restaurante especifico?
- Hm... não. Não tenho nenhum em mente agora, pode ir pra qualquer um que você gostar. – Deu de ombros vagamente. Ele concordou com um aceno e aumentou um pouco o som do carro que tocava uma música animada.
parou o carro em frente a um restaurante que não reconheceu e soltou, entregando a chave para um manobrista antes de abrir a porta para a garota e sorrir galante.
- Já disse que você está incrivelmente linda com essa roupa? – Perguntou enquanto caminhavam até a porta de vidro do restaurante.
- Já disse que você é incrivelmente lindo com qualquer roupa e sem elas também? – Rebateu, arrancando uma gargalhada do menino.
Entraram no restaurante, sendo recebidos por um maître de terno e gravata que os levou até uma mesa perto da varanda, e se sentaram observando a vista agradável. pegou o cardápio que o garçom lhe entregou e folheou calmamente, se sentindo repentinamente sem fome. Olhou o garoto em sua frente e viu que ele olhava atentamente a carta de vinhos, deixou que um suspiro baixo escapasse e voltou sua atenção para o cardápio.
- ? – A voz de despertou sua atenção e ela o olhou, vendo a feição preocupada no rosto dele. – Você tá se sentindo bem? Te chamei três vezes.
- Desculpe. – Sussurrou fechando o cardápio. – Estava distraída com as descrições dos pratos. – Mentiu.
- Já escolheu? – Perguntou pegando um dos vários pães que estavam na cesta de couver. xingou mentalmente, tentando se lembrar de algum nome que vira no cardápio, mas estivera distraída demais.
- Ahn... tem um Penne que me parece bom, mas eu esqueci o nome. – Respondeu pegando novamente o cardápio. – Esse aqui. – Mostrou o nome pra e viu ele sorrir concordando.
Os minutos iam passando sem que percebesse, sua cabeça estava confusa e sua mente cheia demais para que ela notasse o tempo passar. conversava sobre assuntos que iam desde a reunião até uma possível festa que ele e os garotos da banda estavam combinando, ela apenas sorria e concordava algumas vezes para demonstrar que estava ouvindo. Lembrou do que Freddie dissera mais cedo e sentiu uma tontura repentina que a fez fechar os olhos com força.
- ?! – perguntou preocupado, segurando sua mão que estava em cima da mesa. – O que aconteceu? Você não tá se sentindo bem? Quer ir pra casa? – As perguntas dele a confundia ainda mais. Fez uma careta e levantou a mão para que ele parasse de falar.
- Tá tudo bem, foi uma tontura rápida. – Se levantou, vendo-o fazer o mesmo. – Eu só vou até o banheiro, .
- Eu vou com...
- Não. – Respondeu séria, sentindo o peito doer por estar fazendo aquilo. – Não precisa, amor. Eu vou rápido e volto. Tá tudo bem. – Seu tom de voz ficou mais doce. acenou sentando novamente e ela caminhou até o banheiro sentindo a respiração ficar mais pesada.
Passou um lenço úmido pelo rosto tentando se manter calma e se olhou no espelho, fechando os olhos por alguns segundos e inspirando uma grande quantidade de ar. Dez segundos foram o suficiente para que ela se convencesse de que não podia mais adiar aquela conversa, o que ela estava fazendo com o ? Por Deus, ele precisava saber.
Saiu do banheiro a passos largos e sorriu para o garçom que tirava os pratos da mesa, antes de sentar-se e encarar a feição ainda preocupada de .
- Está se sentindo melhor? – Perguntou segurando a mão dela e a acariciando com o polegar.
- Está tudo bem, não se preocupe com isso. – Tentou sorrir. a olhou desconfiado.
- O que você fez hoje à tarde? – Perguntou a assustando, essa não era a melhor forma de começar aquela conversa. Abriu a boca algumas vezes sem conseguir encontrar uma forma de dizer aquilo para que não interpretasse errado.
- Eu saí com o Freddie. – Disse por fim.
- Com quem? – Ele falou um pouco alto, atraindo a atenção de algumas pessoas.
- Não, ... não é nada disso.
- Você saiu com o Freddie? – Ele a interrompeu. – E você me fala isso assim? O que aquele cara te fez? Ele te obrigou a sair com ele? Porque se ele te obrigou, eu...
- Ele não me obrigou a nada, . – cortou sua fala, fazendo o garoto a olhar sem entender. – Eu liguei pra ele, eu pedi pra sair com ele, eu marquei o encontro. – Suspirou. Foi a vez de abrir a boca sem saber o que dizer, ela tinha marcado um encontro com Freddie? – Eu precisava de alguém para conversar, entende? – Sua voz implorou.
- Você tem a mim pra conversar, , não precisa marcar encontros com o Freddie pra isso. – Sua voz ríspida fez a garota se encolher um pouco.
- Mas eu não queria conversar com você! – Soltou sem medir as palavras. a encarou, magoado.
- Com licença, vocês desejam alguma sobremesa? – O garçom interrompeu a conversa.
- Não, pode trazer a conta, por favor. – O garoto amenizou o tom de voz.
se encolheu na cadeira entrelaçando os próprios dedos e os apertando com força, não era aquela conversa que ela queria ter com . Freddie não era importante naquele momento, poderia ter mentido e simplesmente dito que ficou em casa, teria sido tão mais prático. Olhou o garoto a sua frente e sentiu vontade de chorar ao ver sua feição dura e magoada.
- . – Chamou baixo. Ele continuou olhando firmemente para o lado de fora do restaurante. Mordeu o próprio lábio e engoliu em seco sabendo que ele estava muito chateado, ou então não a ignoraria. Não era a primeira vez que ele ficava tão irritado que preferia se manter em silêncio, ela sabia que quando isso acontecia era porque havia feito algo muito errado e ele a ignorava para evitar uma briga.
O silêncio fúnebre foi mantido até os dois chegarem em casa. não olhou para a garota nem uma vez desde que saíram do restaurante, sua mente trabalhava tentando entender os motivos para ter marcado um encontro com Freddie, mas ele não conseguia pensar em nenhum. Nada parecia suficiente para ela dizer que não queria conversar com ele, por que logo com Freddie?
sentou no sofá, ouvindo os passos de no quarto e escondeu o rosto entre as mãos, o que estava acontecendo com ela? Não podia ser tão fraca, não podia fazer aquilo com . Fungou alto sem deixar que nenhuma lágrima caísse e subiu as escadas rapidamente, encontrando o garoto deitado na cama usando uma boxer escura e a blusa branca e lisa que ele geralmente usava pra dormir. Abriu uma das gavetas do armário e procurou pelo envelope embaixo de algumas roupas, quando o encontrou, respirou fundo caminhando até a cama e sentando na beirada.
abriu os olhos e encarou a garota que o olhava com os olhos cheios de lágrimas, aquilo acabava com ele. Ela colocou um envelope pardo em cima da cama, próximo a ele e permaneceu em silêncio o encarando. Sentou-se na cama e pegou o envelope, tirando a carta que havia ali dentro e reparando que era do curso de Design. Deu uma ultima olhada em antes de ler e viu que ela não havia conseguido prender as lágrimas que escorriam livremente por sua bochecha.
Seus olhos percorreram atentamente a carta e ele chegou a esboçar um sorriso quando viu que ela havia sido aprovada, um pouco mais embaixo estava o comunicado que fez seu coração diminuir a pulsação até que duvidasse que ele ainda estivesse pulsando.
- Me desculpe por ter dito que não queria conversar com você. – soluçou, passando a mão pelo rosto. – Eu não sabia o que fazer, não sabia como te dizer isso.
releu novamente o final da carta, seus olhos se mantendo nas palavras “bolsa de estudos” e “Japão” sem conseguir encontrar uma conexão entre elas, aquilo não fazia o menor sentido pra ele. Por que não “bolsa de estudos” e “Inglaterra”? Aquilo soava certo aos seus ouvidos.
- Eu ainda não decidi. – A garota voltou a falar, mas estava absorto demais em seus próprios pensamentos, a voz dela era apenas um sussurro baixo que se confundia com as milhares de vozes que gritavam em sua mente.
“É claro que ela vai pro Japão, você não pode prender a garota e a impedir de seguir o próprio sonho.”
“Você não pode deixar que ela vá, não a garota que você esperou por tantos anos. Ela é sua!”
“Ela não pertence a você, era uma questão de tempo e você sabia disso. Não seja tolo.”
“Não deixe ela ir, basta pedir e você sabe que ela desistirá.”
“É a vida dela, o sonho dela. Não seja tão egoísta!”

- ? – perguntou preocupada e ele a olhou, finalmente conseguindo fazer as vozes se calarem. A olhou ainda desnorteado e viu o rosto dela vermelho e molhado com as lágrimas que ainda caíam, a carta ainda estava em sua mão, quase amassada pela força que ele fazia.
Soltou o papel na cama e puxou a garota pelo braço para que ela sentasse em seu colo. Sentiu ela afundar o rosto em seu pescoço e as lágrimas molharem sua camisa e sua pele, fazendo com que a dor dela o perfurasse.
- Você não precisa resolver isso agora. – Sussurrou, acariciando os cabelos dela.
- Eu preciso dar a resposta, . Só me restam quatro dias. – soluçou. – Eu recebi essa carta há onze dias e fui covarde demais pra te mostrar.
- Sh, você não foi covarde, não diga isso. E me desculpe por ter surtado quando falou sobre Freddie, fico feliz que você tenha alguém com quem conversar.
- Eu tenho você. – Sussurrou com a voz fraca.
- Você sempre vai ter a mim, não se preocupe com isso. – Beijou seu ouvido e a abraçou com mais força desejando poder ter a certeza que tivera anos antes, de que o destino nunca conseguiria tirá-la dele.

“Se você ama uma pessoa, liberte-a. Se ela voltar, é porque é sua; se não, é porque nunca foi.”

18

( música: All About Lovin’ You – Bon Jovi )


tomou um gole do refrigerante e fez careta constatando que estava aguado, demorara tanto para beber que o gelo havia derretido. Pegou o copo e se levantou para ir até a cozinha e colocar mais refrigerante, mas quando chegou na porta de vidro, viu que e Charlotte estavam, no mínimo, se agarrando. Riu sozinha e se virou para voltar até a mesa, mas deu um encontrão em e levou a mão até o peito.
- Desculpe. – O garoto riu. – Por que desistiu de entrar? - Perguntou, desconfiado.
- Hm... o e a Char estão em um momento um tanto quanto intimo. – Riu. - Não quero atrapalhar.
- Então não vamos atrapalhar. – a abraçou pela cintura. – O que você ia fazer?
- Pegar mais refrigerante, virou água. – Fez careta, mostrando o copo.
- Tem no freezer aqui fora. – Apontou o quiosque e pegou a mão da garota, levando-a até lá. – O que vai querer? – Perguntou abrindo a porta do freezer.
- Coca. – Sorriu docemente, dando um impulso e sentando na bancada alta que havia no quiosque. abriu a lata de refrigerante e jogou fora o resto o liquido no copo, enchendo-o novamente. – Obrigada. – Selou os lábios nos dele rapidamente e cruzou as pernas, virando-se para observar a piscina.
correu e se jogou na piscina vazia, fazendo a garota sorrir levemente. Depois de algum tempo submerso, ele emergiu e apoiou os braços na borda, encarando a garota com os olhos apertados por causa do sol. O mesmo sorriso discreto que continuava nos lábios dela, podia agora ser visto nos lábios dele. Permaneceram se encarando em silêncio até e Charlotte saírem pela porta do fundo, gargalhando de alguma coisa. se virou para encará-los e deixou que o sorriso desaparecesse de seu rosto, suspirando baixo.
Ela e haviam feito um pacto silencioso de não tocar em nenhum assunto que envolvesse a ida dela para o Japão. Depois de dar a resposta afirmativa para a escola de Design e saber que teria mais dois meses na Inglaterra, antes de ir para o Japão passar um ano, resolvera que iria aproveitar o máximo que pudesse seu tempo ao lado de . Nenhum dos dois havia pedido para que o assunto fosse deixado de lado, eles não precisavam usar palavras para chegarem a esse acordo.
- , , falem pro que as piadas dele são muito sem graça. – Charlotte pediu, sentando no colo do namorado.
- , suas piadas são sem graça. – Os dois disseram, em uníssono.
- Ei, vocês nem ouviram, essa é legal! Como o Batman conheceu o Robin? – Perguntou já controlando o riso. Charlotte rolou os olhos, deu de ombros e apenas permaneceu em silêncio, esperando pela resposta. – Pelo bat-papo! – Gargalhou. A namorada lhe deu um tapa na testa, fazendo os outros dois rirem.
Um barulho de trovão fez com que os quatro olhassem pro céu assustados, não estava fazendo sol cinco minutos antes?
- Opa, hora de entrar e agüentar o e o gritando enquanto jogam Wii. – fez careta, se levantando e puxando Charlotte pela mão.
- Vocês vão entrar? – Ela olhou para os dois amigos.
- Já vamos. – sorriu, dando um impulso para sair da piscina. Pegou a toalha em uma das espreguiçadeiras e foi até o quiosque onde continuava sentada com o copo de refrigerante na mão. – Vamos entrar? – Perguntou, passando a toalha pelo cabelo. deu de ombros observando o céu ficar mais escuro.
- Quero ficar aqui. Quero ver a chuva, gosto disso. – Falou pensativa. – Pode entrar se quiser. Sei que você gosta de jogar Wii com os meninos. – Sorriu sincera, o olhando.
encostou-se à bancada em que ela estava e sorriu de volta, fazendo-a perceber que ele também permaneceria ali. Outro barulho de trovão ecoou, dessa vez acompanhado pela chuva que começou fraca e, aos poucos, foi ficando mais forte, até que fizesse um barulho alto no telhado do quiosque.
desceu da bancada e andou alguns passos, esticando a mão e sentindo a água gelada relaxar seus músculos. Fechou os olhos, respirando fundo e sentindo o cheiro da grama molhada, ela amava aquela sensação. Olhou pra trás, encontrando os olhos intensos de a encarando e esticou a mão para ele. O garoto sorriu, pegando a mão dela e se deixou ser puxado para fora do quiosque, fez careta sentindo a força da chuva e a temperatura baixa. passou os braços por seu pescoço, e ele a abraçou forte pela cintura, deixando que seu corpo colasse no dela.
Uma música alta veio de dentro da casa e os dois olharam para uma das janelas da sala, vendo Charlotte fazer um coração no vidro embaçado e depois sorrir, sumindo de vista. Sorriram se olhando e deixaram que suas testas se encostassem.
- Eu amo essa música. – sussurrou, sorrindo.
- Eu sei. – respondeu, a observando fechar os olhos.

Looking at the pages of my life
Olhando para as páginas da minha vida
Faded memories of me and you
Lembranças desbotadas de você e eu
Mistakes you know I've made a few
Erros que você sabe que cometi
I took some shots and fell from time to time
Arrisquei algumas coisas, caí de tempos em tempos
Baby, you were there to pull me through
Querida, você estava lá pra me ajudar a superar
We've been around the block a time or two
Já estivemos por aqui algumas vezes

I'm gonna lay it on the line
Vou deixar tudo bem claro
Ask me how we've come this far
Me pergunte como chegamos tão longe
The answer's written in my eyes
A resposta está escrita em meus olhos

abraçou a garota com mais força e levou sua boca até o ouvido dela, cantando num tom baixo, mas que conseguisse superar o barulho da chuva. Sentiu acariciar sua nuca lentamente e a respiração pesada dela bater em seu pescoço.

Every time I look at you, baby, I see something new
Toda vez que olho para você, vejo algo novo
That takes me higher than before and makes me want you more
Que me deixa mais animado do que antes e me faz te querer mais
I don't wanna sleep tonight, dreamin's just a waste of time
Não quero dormir essa noite, sonhar é uma perda de tempo
When I look at what my life's been comin' to
Quando olho o que minha vida vem se tornando
I'm all about lovin' you
Tudo se resume a amar você

Os dois corpos se moviam em perfeita sincronia. Nenhum dos dois prestava muita atenção ao que estavam fazendo, apenas se deixavam levar pelo ritmo lento da música. A chuva continuava caindo forte sobre os dois, mas eles não pareciam se incomodar com isso, o calor que emanava de ambos os corpos, os mantinha aquecidos o suficiente para que a baixa temperatura não fosse uma perturbação.

I've lived, I've loved, I've lost, I've paid some dues
Já vivi, já amei, já perdi, já paguei dívidas
Baby, we've been to hell and back again
Estivemos no inferno e voltamos novamente
Through it all you're always my best friend
Durante tudo isso você sempre foi minha melhor amiga
For all the words I didn't say and all the things I didn't do
Por todas as palavras que eu não disse e todas as coisas que eu não fiz
Tonight I'm gonna find a way
Hoje vou encontrar um jeito

Every time I look at you, baby, I see something new
Toda vez que olho para você, vejo algo novo
That takes me higher than before and makes me want you more
Que me deixa mais animado do que antes e me faz te querer mais
I don't wanna sleep tonight, dreamin's just a waste of time
Não quero dormir essa noite, sonhar é uma perda de tempo
When I look at what my life's been comin' to
Quando olho o que minha vida vem se tornando
I'm all about lovin' you
Tudo se resume a amar você

depositou um beijo no nariz da garota, fazendo-a abrir os olhos e encará-lo com um sorriso. Sorriu de volta e levou uma de suas mãos até a nuca da garota, deixando que seus dedos se entrelaçassem nos cabelos encharcados dela. Passou o nariz calmamente pelo dela e sorriu vendo de perto o brilho que os olhos dela possuíam, era aquele brilho que mais faria falta em sua vida. Aqueles olhos tão sinceros e transparentes que diziam tudo, sem precisar que nenhuma palavra fosse dita. Sentiu os lábios dela encostarem muito lentamente nos seus, e a observou fechar os olhos, se entregando. Segundos depois, ele fez o mesmo e deixou que sua língua procurasse pela dela e se movessem em perfeita sincronia, como sempre.

You can take this world away
Você pode acabar com o mundo todo
You're everything I am
Você é tudo que eu sou
Just read the lines upon my face
Somente olhe para minha cara
I'm all about lovin' you
Tudo se resume a amar você

# Flashback (4 anos antes)


- Eu tenho mesmo que fazer isso? – reclamou, bufando enquanto olhava as ruas passarem pelo vidro da janela. rolou os olhos, sorrindo.
- Pára de ser implicante, cara. – Apertou a bochecha da menina recebendo um tapa na mão e um olhar mal humorado. – Sério, . Isso é importante pra mim, tente se esforçar um pouco.
- O fato de eu estar nesse carro demonstra o meu enorme esforço. – Fez careta.
- Você tá parecendo uma criança mimada. – deu risada, estacionando o carro.
- Me deixa. – deu de ombros, saindo do carro enquanto desejava com todas as forças que alguma coisa desse errado. Ela nunca tivera tanta vontade de sumir.
Caminhou lentamente até a entrada do pequeno restaurante e antes que conseguisse chegar até a porta, sentiu uma mão em seu ombro a segurando. Se virou encontrando os olhos calmos de a encarando.
- , eu não estaria te pedindo pra fazer isso se não fosse realmente importante. – Falou com a voz aveludada fazendo a menina quase se render. Quase. – Consegue dar um sorriso pelo menos? – Arqueou a sobrancelha. cerrou os dentes num sorriso forçado arrancando uma gargalhada do menino. – Eu esperava algo melhor que isso, mas tudo bem. Vamos? – Apontou a porta do restaurante e concordou derrotada.
O restaurante era simples e não muito grande, poucas pessoas almoçavam por ali. olhou em volta rapidamente, desejando com todas as forças que a tal garota não estivesse ali ainda. Antes que conseguisse checar todo o restaurante, levantou a mão e acenou para uma garota sentada em uma mesa perto da janela.
- Ali está ela. – Tocou as costas de e a guiou entre as mesas, sabendo que se dependesse dela, continuaria parada na porta. – Por favor, pelo menos finja que não acabou de sair de um velório. – Ouviu sussurrar e abriu um sorriso enviesado.
Deu uma olhada rápida na garota de cabelos claros que se levantava da cadeira com um sorriso e a mediu discretamente. Pela roupa que ela usava, não parecia ser uma qualquer, era simples e discreta. Desviou os olhos para o próprio all star, sabendo que eles se cumprimentariam com um selinho e só levantou os olhos quando tocou seu ombro.
- Amy, essa é a . – Sorriu, apresentando a garota. tentou forçar um sorriso, mas pelo olhar de , talvez não tenha sido tão convincente.
- Finalmente estou conhecendo a famosa . – Amy sorriu simpática e se inclinou para beijar as bochechas da menina. – Adorei seu vestido. – Comentou observando a roupa da garota.
- Obrigada. – Respondeu, tentando ser simpática também.
Sentaram-se à mesa e observou o casal começar a conversar entre sorrisos, rolou os olhos discretamente. Por que tinha aceitado ir até ali mesmo? Um garçom colocou o cardápio em sua frente e ela agradeceu por finalmente ter alguma distração. Passou os olhos pelas folhas cheias dos mais variados pratos da culinária chinesa e tailandesa.
- , você prefere um prato só pra você ou quer dividir o yakissoba com a gente? – a olhou, sorrindo. deu uma olhada rápida no cardápio e depois sorriu brevemente.
- Tudo bem, eu como o mesmo que vocês. – Deu de ombros.
- Tem certeza? Você pode pedir o que quiser. – Amy sorriu simpática. a olhou por alguns segundos, analisando seus cabelos claros que caiam perfeitamente sobre seus olhos azuis piscina. Algumas poucas sardas espalhadas por seu rosto lhe davam uma aparência quase infantil.
- Eu gosto de yakissoba. – Respondeu firme, se esforçando para sorrir quando lhe lançou um olhar feio.
Os minutos já haviam se tornado horas quando resolveu deixar as duas garotas a sós com a desculpa de que precisava ir até o banheiro. sabia que ele apenas queria deixá-las sozinhas para que pudessem conversar e suspeitava que Amy também sabia disso. As duas se entreolharam e sorriram sem graça, sem saber direito o que fazer.
- Então, , o me falou que você não queria muito vir hoje. – Amy comentou, ainda tímida. sentiu o rosto esquentar, precisava mesmo ter comentado aquilo? – Eu sei que o é tudo na sua vida e você também é tudo na dele, principalmente depois da morte da mãe dele.
- Hm... é. – Concordou, sem saber direito o que dizer.
- Eu não pretendo roubá-lo de você e nem espero que ele me ame da mesma forma que ama você, até porque vocês são praticamente irmãos. – Irmãos com beneficio, pensou, contendo um sorriso. Afinal que papo era aquele? Ela estava se sentindo a criança mimada tendo uma conversa com a nova madrasta.
- Voltei. – anunciou, sentando novamente na cadeira ao lado da namorada. A garota lhe lançou um sorriso meigo e beijou sua bochecha.
- Vamos pedir sobremesa? – Perguntou empolgada, passando os olhos pelo cardápio. – O petit gateau daqui é maravilhoso. Você quer, ?
- Não, obrigada. Estou cheia. – Comentou, fazendo uma careta.
- Divide comigo, amor? Não agüento comer todo sozinha.
- Divido. – sorriu, passando o braço por detrás da cadeira dela.
observou as pessoas no restaurante, numa tentativa de se distrair e fazer com que aquele almoço acabasse logo. Observou o casal de velhinhos na mesa ao lado que parecia absorto em uma conversa séria, o casal jovem sentado mais perto da entrada com os filhos pequenos que pareciam procurar motivos para brigar o tempo todo e até os garçons que iam e viam com seus bloquinhos ou as bandejas com comidas e bebidas. Quando voltou o olhar para a mesa, viu que já estava guardando o cartão de crédito na carteira e sorria agradecido para o garçom.
- Vamos? – Falou, já se levantando. Amy e se levantaram ao mesmo tempo, a primeira pegou a mão do namorado e a outra andou um pouco mais atrás, agradecendo por aquilo ter finalmente terminado.
deu a chave do carro para , avisando que iria apenas levar Amy até o carro dela, estacionado do outro lado da rua. A garota concordou com um aceno de cabeça e se dirigiu até o carro preto, parado perto da porta do restaurante. Antes de entrar, observou os dois caminharem abraçados e conversando alguma coisa que ela já não era capaz de ouvir. Entrou rapidamente no carro e pegou a caixa com lenço de papel que sempre deixava por ali, não iria deixar que nenhuma lágrima saísse e ele nunca poderia sequer suspeitar que ela estivera prestes a chorar.
- Não vou chorar. Não vou chorar. – Repetiu diversas vezes, se esforçando para não deixar que as lágrimas chegassem até seus olhos.
Como ela poderia impedir que vivesse a vida dele? Céus, ele tinha 18 anos, fazia faculdade, tinha os amigos dele, ela não poderia querer que ele vivesse em função dela. Ela o amava o suficiente para querer que ele vivesse com ou sem ela.
A porta se abriu, a sobressaltando e sorriu sentando no banco do motorista.
- Demorei? – Perguntou, ligando o carro e manobrando para sair do estacionamento. balançou a cabeça negando. – Ainda está emburrada? – A garota negou novamente e ele sorriu levemente. – Quer ir pra casa?
- Não. – Respondeu, baixo.
- Quer ir lá pra casa? A maioria das coisas está empacotada para a mudança, mas o sofá e a televisão estão lá. – tentou novamente, mas ela negou mais uma vez.
- Quero ir no loft. – A garota o olhou, séria.
- Não tem nada no loft, . Está completamente vazio.
- Não importa, quero ser a primeira a conhecer. – Deu de ombros. suspirou e concordou vagamente, vendo um pequeno sorriso brincar nos lábios dela. O que ele não fazia para ver aquele sorriso?
Destrancou a porta branca e a abriu, dando espaço para que a garota entrasse primeiro. observou o loft vazio, muito mais espaçoso do que ela imaginara. A enorme janela fazia com que o lugar fosse bem iluminado e ventilado, era um lugar perfeito.
- Te disse que estava vazio. – parou um pouco atrás de onde ela estava.
- Não importa, é perfeito. – Sorriu sozinha. Caminhou lentamente até a janela e a abriu um pouco, deixando que o vento frio jogasse seus cabelos para trás. – Quando você se muda?
- Semana que vem. – Respondeu, ainda parado no mesmo lugar, observando a garota se apoiar um pouco no peitoril janela.
- Vou sentir sua falta, é meio impossível vir andando de lá de casa até aqui. – Confessou, abaixando o tom de voz.
- Você sabe que é só me ligar e pedir para ir te buscar.
- Não é bem assim, . Agora você tem uma namorada e também precisa se dedicar à faculdade por causa do tempo que você perdeu. Não posso ficar atrapalhando a sua vida, não quero ser um peso. – Virou-se, encontrando a alguns passos de distancia, a encarando com uma feição séria.
- Nunca mais repita isso. – Falou, num tom controlado. mordeu o lábio inferior e abaixou o olhar. se aproximou e tocou seu queixo, fazendo com que seus olhos se encontrassem e ela percebesse que ele realmente ficara chateado com o que ela disse. – Você nunca seria um peso em minha vida.
- Vou me lembrar disso. – Sorriu levemente, recebendo outro sorriso em resposta. – Vamos tomar sorvete? Por favor, por favor! – Pediu, fazendo bico.
- Certo, mas depois te deixo em casa. Não quero que seu pai fique achando que eu estou atrapalhando seus estudos.
- Vamos, vamos! – Sorriu animada e pegou a mão do garoto, o puxando até a porta enquanto ele ria da animação exagerada dela.

# End of flashback


- A gente devia aproveitar que a chuva tá fraca e ir logo. – comentou, olhando pela varanda.
- Também acho. – concordou, o olhando. Sorriram e trocaram um selinho antes de se levantar e anunciar que iriam embora.
Despediram-se de todos rapidamente e correram até o carro, acenando pelo vidro aberto para os amigos que os observavam pela janela da casa. O relógio no painel marcava pouco mais de 7 da noite e o céu estava completamente escuro, coberto de nuvens carregadas.
- Vai chover muito essa noite. – comentou vagamente. observou o céu e concordou com um aceno de cabeça.
Uma música tranqüila saia do som do carro, e a estrada estava vazia, poucos carros passavam por ali. Um clarão iluminou o céu, fazendo a garota de sobressaltar e olhar um pouco amedrontada para o menino ao seu lado. acelerou o carro, querendo chegar logo em casa, antes que a chuva caísse de verdade.
Não foi preciso mais que dez minutos para que o teto do carro fosse atingido pelas espessas gotas de chuva. fechou os olhos e suspirou audivelmente, desejando chegar logo em casa. Odiava estar em um carro num momento como esse, chuvas fortes a assustavam e os trovões pareciam ficar cada vez mais forte.
- Acho que essa chuva não vai parar tão cedo. – falou, tentando enxergar alguma coisa pelo vidro do carro, mas estava escuro demais. – Era melhor a gente ter ficado por lá e só saído quando a chuva parasse.
- A gente não ia saber que a chuva ia aumentar tanto assim. – comentou, cerrando os olhos para enxergar alguma coisa mais a frente, mas tudo que podia ver era a estrada até onde farol do carro conseguia iluminar.
- , acho que tinha uma placa ali falando alguma coisa sobre barro. – olhou pra trás, numa tentativa de ver a placa novamente. freou o carro e deu ré com cuidado, procurando pela placa. – Ali! – Ela apontou quando eles passaram, aumentou a luz dos faróis e leu a placa em voz alta.
– Trecho de barro à 300 metros. Perigo de atolamento.
- Nossa, que ótimo! Era tudo que a gente precisava. – A menina riu, irônica.
- Ainda dá pra andarmos por alguns metros e procurarmos algum hotel. – Falou, voltando a andar com o carro e o olhou com a sobrancelha arqueada.
- , estamos no meio do nada. Acha mesmo que vai ter ao menos uma casa abandonada que seja por aqui?
- Tenho quase certeza que tinha um hotel nessa estrada. Passei por aqui uns anos atrás. – Falou, observando a estrada na tentativa de ver alguma placa indicando um hotel. Ele não se arriscaria a passar com o carro por um lugar cheio de lama. Se ficassem atolados em algum lugar seria muito pior.
viu uma placa velha e quase apagada indicando um hotel à 50 metros e sorriu.
- Sabia que tinha um hotel! – Falou, animado e acelerou um pouco o carro.
Um portão velho estava aberto indicando a entrada do hotel e eles entraram, estranhando a falta de movimentação e iluminação do local. Pela luz do farol, eles puderam ver uma casa um pouco antiga e toda apagada.
- Eu acho que tá abandonado. – falou baixo, observando várias portas fechadas.
estacionou o carro e buzinou na tentativa de chamar a atenção de alguém que pudesse estar dormindo. Segundos depois ele buzinou de novo.
- , pára! – reclamou, segurando seu braço. – Eu to com medo, isso tá parecendo Psicose! Vai que você encontra uma Sra. Bates rondando por aí. – Ela se encolheu no banco.
- Eu vou lá fora. – falou, botando o capuz do moletom sobre a cabeça e sentiu apertar com mais força seu braço. – Não vai acontecer nada, . O máximo que pode acontecer é isso aqui tá abandonado e nós passarmos a noite no carro. – Comentou tranquilamente.
- Não gosto disso. – Reclamou, finalmente soltando o braço de que lhe lançou um sorriso fraco antes de sair do carro.
o observou caminhar rapidamente até uma parte mais escura onde o perdeu de vista e abraçou os joelhos com medo. Odiava aquela escuridão e aquela chuva só piorava. Pensou em ir atrás de , mas sabia que ele provavelmente se aborreceria com ela se fizesse isso.
Minutos depois a porta do carro se abriu e um completamente ensopado sentou no banco do carro. Ele abaixou o capuz e pode ver seu cabelo completamente colado na testa e sua respiração descompassada.
- Não consegui nada, parece completamente abandonado. – Passou a mão pelo cabelo, bagunçando-o e molhando mais o interior do carro.
- E agora? – A menina o olhou, amedrontada. deu de ombros.
- Agora a gente passa a noite aqui no carro mesmo, é melhor do que arriscar passar com o carro pelo barro. – Desligou o carro e ligou a luz interna, fazendo fechar os olhos por causa da claridade.
pulou para o banco de trás, tirando o moletom encharcado e o torcendo no tapete. A camisa branca estava grudada no corpo por também estar molhada e ele sentia que se tirasse o tênis alagaria o carro com tanta água. Passou a mão novamente pelo cabelo, fazendo respingar água na menina no banco da frente e ela se virou ainda assustada, vendo-o sorrir de uma forma infantil.
- Por que você tá tão tranqüilo assim? – Ela perguntou se recostando de lado no banco para que pudesse olhá-lo.
- Não vai acontecer nada, . Não fica com medo, eu to aqui, não to? – olhou em seus olhos e ela levou alguns segundos para conseguir balançar a cabeça concordando. – Então, pra acontecer alguma coisa com você teria antes que acontecer comigo.
- Não fala isso. – respondeu, com um tom levemente irritado. Ela não gostava de pensar naquelas coisas.
- Vem aqui. – Ele bateu no espaço vazio ao seu lado.
Sentou ao lado do menino sentindo a pele gelada dele por causa da chuva e pegou na camisa e na calça que ele usava.
- , você vai ficar resfriado. Sua camisa tá colando no corpo e sua calça tá encharcada. Você não tá com frio? – Perguntou, passando a mão pelo cabelo bagunçado dele.
- Morrendo. – Respondeu com sinceridade.
suspirou pesadamente e pegou a mochila que estava no banco da frente. Ela sempre levava uma toalha extra para qualquer lugar que fosse, nunca fora tão útil como naquele momento.
- Vai, tira essa camisa. – Falou, já puxando a camisa de pra cima. Ele riu, achando graça da postura materna que ela tinha assumido. Tirou a camisa a torcendo como fizera com o moletom e sentiu passar a toalha por suas costas e seus braços. Estendeu a camisa no encosto do banco do motorista e se virou de frente, para a menina enxugar seu peito e depois seu cabelo.
estendeu uma das pernas no banco e puxou a menina fazendo-a ficar entre suas pernas.
- , você tem que tirar a calça também. – falou inocente, arrancando um sorriso maldoso do menino.
- Você tá querendo se aproveitar da minha boa índole, né? – Perguntou, num tom engraçado, recebendo um tapa no braço descoberto. – Eu tenho uma idéia melhor. – Puxou a menina pela cintura novamente, fazendo-a sentar em seu colo. Ela o olhou, sorrindo. – Você pode tirar minha calça. – Sem esperar pela resposta da menina, a puxou pela nuca e colou seus lábios no dela sentindo-a passar os braços por seu pescoço e corresponder ao beijo da mesma forma entusiasmada que ele.
a deitou no banco jogando a mochila no chão e abriu o zíper do moletom que usava tirando-o desajeitadamente e jogando no banco da frente de tal forma que a luz que ficava logo acima do retrovisor foi apagada. Os dois riram sem partir o beijo e se ajeitaram no banco, fazendo com que as pernas ficassem intercaladas. Ela desceu as mãos até a barra da calça do menino e abriu o cinto sabendo que aquilo bastava para que a calça dele saísse sem maiores dificuldades.
O espaço que tinham não era muito grande, o que fazia com que qualquer movimento muito grande os fizesse bater nos bancos e nas portas do carro, sempre arrancando risadas abafadas dos dois.
sentia a língua quente de em seu pescoço e apertava os dedos no cabelo ele, o estimulando. Sentiu ele puxar sua camisa para cima e levantou o tronco, o ajudando a tirá-la completamente e depois voltar a distribuir beijos por seu pescoço e colo agora descobertos. As mãos dos dois estavam inquietas, passeando por seus corpos como se tivessem se descobrindo. podia sentir as unhas dela passarem por suas costas, sua barriga e, vez ou outra, se encravarem em seus ombros enquanto podia sentir as mãos dele apertarem sua cintura e suas coxas de tal forma, que ela não se assustaria se encontrasse algumas marcas no dia seguinte.
A calça jeans da menina não demorou muito para se juntar as outras peças de roupas espalhadas pelo carro, assim como seu sutiã, que deu um pouco de trabalho para e a fez rir de suas tentativas frustradas de livrar-se dele.
- , você tem camisinha, não tem? – sussurrou com a voz abafada e a respiração descompassada. tateou o chão procurando a calça jeans e, quando a encontrou, pegou rapidamente a carteira, rezando mentalmente para encontrar um preservativo perdido por ali. Olhou todas as partes da carteira enquanto distribuía beijos por seu pescoço e seu peito.
- Merda. – Falou irritado, fazendo a menina o olhar. – Não tenho camisinha. – Ele sussurrou, vendo a menina rolar os olhos e bufar.
- Droga, ! – Reclamou, passando a mão pela testa suada.
- , por Deus, tenha piedade de mim. – falou baixo em seu ouvido e ela sentiu um frio percorrer sua espinha. Podia sentir a excitação de e imaginava o quão difícil seria pra ele parar naquele momento. Sentia os lábios dele subirem e descerem por seu pescoço apenas esperando uma resposta afirmativa dela para que tirasse suas ultimas peças de roupa.
- Eu posso te ajudar. – Respondeu receosa, sentindo-o diminuir a intensidade dos beijos em seu pescoço enquanto esperava ela completar a frase.
fechou os olhos e mordeu os lábios já esperando uma resposta negativa de enquanto ela descia a mão até a boxer dele e o tocava com tanto cuidado que se assustou ao ouvir um gemido escapar por entre seus lábios. enterrou ainda mais o rosto no pescoço da menina enquanto ela começava a movimentar a mão ainda com uma delicadeza inexperiente. Suas mãos inconscientemente apertaram a cintura dela com força a estimulando a continuar e soltou o ar que estava preso em seus pulmões.
Ouvia o menino sussurrar seu nome em seu ouvido, a estimulando a continuar e sabia que não demoraria para que ele chegasse ao orgasmo. Quando a respiração dele vacilou e seus dentes morderam, o mais levemente que pôde, o ombro da menina, ela sentiu os músculos de relaxarem e o peso do corpo dele sobre o dela aumentar. Tirou a mão de dentro da boxer dele e procurou pela toalha jogada no chão do carro.
beijou levemente toda a extensão da garganta e mandíbula da menina enquanto esperava sua respiração voltar ao normal. Sentiu as unhas dela passearem calmamente por suas costas num carinho e fechou os olhos aproveitando.
- Achei que você fosse fazer um escândalo. – Ela sussurrou, rindo. levantou o rosto para encará-la. – Lembrei de quando eu provoquei você lá no loft e você surtou.
- Isso faz muito tempo, eu ainda não estava, hm... preparado. – Sorriu, sem graça. – As coisas mudaram, olhe onde estamos agora. Nós dois amadurecemos e agora temos controle da nossa relação.
- Adoro quando você fala desse jeito. É tão maduro e sexy. – brincou, lhe roubando um selinho.
- Além do mais, sem querer ser egoísta, mas já sendo... se for pra você ter essa experiência, que seja comigo. – Sorriu carinhosamente, saindo de cima da menina e deitando ao seu lado, a abraçando pela cintura.
- Eu não faria isso com nenhum outro cara, . – Falou um pouco ofendida, levantando seu braço dobrado até os seios descobertos.
- Não foi isso que eu quis dizer, desculpe. – Beijou sua testa, puxando-a para que se acomodasse em seu peito. – Eu sei que você é minha.
- Possessivo. – Sussurrou, com o rosto enterrado no pescoço dele. riu, tamborilando os dedos levemente pelas costas nua dela. – Quando chegarmos em casa vamos terminar isso aqui, você saiu ganhando dessa vez.
- Hm, claro que vamos. Vou recompensar você devidamente, não se preocupe.
- Mal posso esperar. – sussurrou no ouvido dele, sentido-o encolher os ombros. - Tá calor. – Comentou de uma forma engraçada, fazendo-o rir. Levantou o rosto tocando os lábios de e o beijou de forma urgente, o assustando um pouco. – Boa noite. – Falou rindo quando ele soltou um gemido indignado por ela partir o beijo.
- Dorme bem, meu anjo. – Beijou-lhe a testa e observou seu rosto calmo até que o sono o lhe vencesse.



19
( música: Sow Dancing in a Burning Room – John Mayer )


Ajeitou o vestido no corpo, se admirando no espelho e virou de costas, puxando o cabelo pra cima e soltando-o segundos depois ao concluir que ficaria melhor se o deixasse solto.
- Estou pronta. – Anunciou, pegando a bolsa em cima da cama e descendo a escada rapidamente.
a olhou, ainda sentado no banco da cozinha, e sorriu. caminhou até onde ele estava e lhe deu um selinho, passando um dos braços por seu pescoço e sentando de lado em seu colo.
- Então, não vai mesmo me falar aonde vamos? – Tentou mais uma vez, rezando para que cedesse e lhe dissesse logo onde pretendia levá-la.
- Hm... não! – Riu.
- Aw, ! Vamos, me diga. Como posso ir para um lugar sem saber se vou gostar?
- Eu tenho certeza que você vai amar. Te conheço melhor que você mesma. Podemos ir? – Levantou-se, dando um beijo rápido na ponta do nariz dela e pegou sua mão, entrelaçando os dedos.
- Chato! – Sussurrou, alto o suficiente para que ouvisse e sorrisse sozinho.
O caminho dentro do carro foi silencioso, exceto pela música que saia do rádio. permanecia com o olhar concentrado do lado de fora da janela, imaginando onde ele poderia a estar levando e por que estava fazendo tanto suspense. tamborilava a batida da música no volante e dirigia tranquilamente, tentando imaginar a reação de quando eles chegassem ao destino.
Olhou incomodada pela janela, sentindo todo aquele suspense começar a deixá-la nervosa. Não conseguia reconhecer as ruas que passava e os sorrisos discretos e misteriosos que ele dava estavam começando a fazê-la perder a paciência.
- Estamos chegando. – anunciou, depois de alguns minutos. Ela voltou a olhar pela janela e mordeu o lábio inferior, agora algo naquela vizinhança lhe parecia familiar. – Vou estacionar aqui e vamos ter que andar um pouco, certo? – Ele a olhou, vendo-a concordar rapidamente.
Soltaram em uma rua com casas no estilo vitoriano que fizeram sorrir sozinha, ela amava casas naquele estilo. A rua estava silenciosa e poucas pessoas passavam por ali. Caminharam de mãos dadas até o final da rua, e viraram uma esquina que dava em uma rua tão movimentada que podia jurar que haviam entrado em outro bairro.
- ! – exclamou, parando de repente ao finalmente reconhecer o local. – Estamos em Notting Hill? – Praticamente gritou, atraindo a atenção de algumas pessoas e as fazendo rir.
- Não podia deixar você ir embora de Londres sem antes conhecer esse bairro. – Ele sorriu. – Notting Hill ainda é um dos seus filmes preferidos, certo?
- Claro que sim. – Riu, selando seus lábios rapidamente nos dele e o puxando pela rua. – Quero ver a casa da porta azul, sabia que ela virou ponto turístico depois do filme?
- Sei disso desde a primeira vez em que você me fez assistir o filme. – Rolou os olhos, apenas para irritá-la e sentiu a mão leve da garota lhe dar um tapa fraco no braço. – Vamos logo que eu vou te fazer conhecer esse bairro inteiro. – A abraçou pela cintura, roubando-lhe um beijo antes de voltar a caminhar lado a lado.

observou a garota ao seu lado e sorriu ao ver os olhos atentos dela admirarem a casa com a porta azul. Ela soltou sua mão e caminhou alguns passos, chegando um pouco mais perto da porta.
- Isso é incrível. – sussurrou para si mesma. Olhou para o garoto atrás de si e sorriu. - Brigada.
- Eu não podia deixar você ir embora sem conhecer esse lugar. - se aproximou e passou um dos braços pelos ombros dela.
- Eu vou voltar, sabia? - Riu.
Ele a olhou atentamente por alguns segundos e depois concordou vagamente, dando um pequeno sorriso.
- Ainda tem um lugar aqui que eu quero te mostrar.
- Outro? - A garota arqueou a sobrancelha e o viu concordar e pegar em sua mão, indo em direção a uma parte do bairro que parecia estar mais quieta.
observou as casas quase iguais e se imaginou vivendo em uma daquelas e em um bairro como aquele. Pensou na decoração da casa num estilo mais retrô, com paredes de cores claras e alguns objetos mais antigos. Fechou os olhos por três segundos e tudo que conseguiu enxergar foi a que a agência de Design havia mandado do bairro que ela iria morar no Japão.
Olhou a feição séria do garoto ao seu lado e tentou adivinhar se era sobre isso que ele estava pensando.
- Eu quero ficar. - Falou, hesitante.
levou alguns segundos para olhá-la e balançar a cabeça negativamente.
- Não, você não quer ficar. Você quer ir, é seu sonho.
- Meu sonho é você. Se você não estiver comigo o resto não vale a pena. - Apertou a mão dele, fazendo-o parar de andar.
- Por que quer falar sobre isso agora? Você sabe que essa bolsa de estudos é importante pra você. - falou com a voz firme. o olhou e preferiu não falar nada, sabia o quanto doía falar sobre aquilo. Por mais duras que as palavras dele soassem, seu rosto demonstrava a mesma dor que ela podia sentir no peito. - O lugar está logo ali na frente. - Encerrou o assunto, apontando para um parque a poucos metros de distância de onde estavam.
Caminharam em silêncio até o portão baixo que cercava o enorme gramado que fazia parte do parque. Caminharam por um caminho de pedras e pararam em frente a um pequeno lago onde algumas crianças observavam três cisnes deslizarem graciosamente pela água clara.
- Vamos sentar naquele banco? - apontou para um banco de madeira clara.
A menina sentou com as pernas cruzadas e sorriu quando apoiou a cabeça em uma de suas pernas. Levou uma das mãos até os cabelos dele e começou a fazer carinho, vendo-o fechar os olhos e sorrir discretamente. Suspirou observando o parque e fixou seu olhar em um casal de crianças que brincavam com um livro, que ela deduziu ser de ilustrar. O garotinho rabiscou alguma coisa e a menina deu uma risada alta, as duas mulheres que estavam por perto se entreolharam e sorriram. Poucos minutos depois os dois se levantaram e deram as mãos, caminhando juntos até as mães.
desviou a atenção para e percebeu que ele também estava observando as duas crianças, sorriu imaginando se algum dia elas seriam igual a ela e .
- Brigada por ter me trazido aqui. – Falou baixo, atraindo a atenção do garoto.
- Não é grande coisa. Se eu pudesse, te levaria pra conhecer o mundo. – Respondeu, pegando a mão dela e depositando um beijo na palma. sorriu, deixando que um suspiro escapasse.
Como poderia deixá-lo pra trás sem deixar a maior parte de si com ele?

# Flashback (3 anos antes)

- Como ele tá? – perguntou, observando a garota sentar ao seu lado no sofá.
- Bêbado. – deu de ombros e depois riu. Esticou o braço e alcançou a latinha de cerveja na mesa de centro, se estava bêbado, não era ela que iria ficar sóbria, certo? Quem se importa se seria o primeiro porre de sua vida?
- Vai com calma, pirralha. – a alertou, bagunçando seu cabelo. – O vai estar bêbado demais pra cuidar de você depois.
- Se eu ouvir mais uma lamentação dele sem álcool algum em meu sangue, eu vou pirar. Sério, o que tinha de tão legal na Amy? Aquela menina era chata. Foda-se se ela deu um pé na bunda dele. – Resmungou, fazendo o garoto ao seu gargalhar.
- O ainda tá vivo? – entrou na sala e sentou no carpete, encostando-se ao sofá. e se entreolharam e deram de ombros ao mesmo tempo. – Sério, a ultima vez que eu o vi, ele tava praticamente desmaiado.
- Assim é bom. Quem sabe amanhã quando ele acordar, já não vai ter esquecido tudo? – sugeriu e olhou a garota ao seu lado, vendo-a mostrar o polegar, concordando.
O silêncio se instalou na sala, sendo quebrado apenas pelo som da televisão que passava algum filme de besteirol americano que nenhum dos três realmente prestava atenção. se levantou e pegou as latas de cerveja vazias que estavam espalhadas por ali, deixou-as sobre a pia da cozinha e caminhou até a porta de vidro que dava para o jardim. Observou deitado no chão, ao lado da piscina e pensou se deveria ir até lá ou apenas deixá-lo sozinho com seus próprios pensamentos.
- ? – Ouviu a voz dele chamar, antes que pudesse voltar pra sala. Ficou imóvel por alguns segundos, ainda em dúvida se deveria realmente ir até lá, mas acabou se rendendo e caminhando até onde ele estava.
- Tudo bem? – Perguntou com um meio sorriso. a olhou com os olhos apertados e sorriu, confirmando. – Não quer entrar? Parece que vai chover. – Observou o céu cheio de nuvens e abaixou o olhar novamente para o garoto.
- Sabe que eu consigo ver sua calcinha quando o vento passa, né? – Brincou, fazendo a menina rolar os olhos e se afastar um pouco. – Não, volta aqui. É brincadeira. – Riu. – Na verdade eu realmente vi, mas prometo que não faço isso de novo.
Um trovão ecoou, fazendo os dois olharem assustados para o céu. Antes que pudessem sequer pensar em sair correndo, uma chuva forte começou a cair, deixando os dois sem reação. Entreolharam-se, apertando os olhos por causa da força da água e caíram na risada.
- Entrem em casa, seus sem noção! – A voz de parecia distante demais.
- Já vamos! – respondeu, gritando um pouco mais que o necessário. – Vamos, , não quero pegar um resfriado.
- Nossa que egoísta, nem tá preocupada comigo. – Riu. – Não sei se agüento levantar, tô bêbado.
- É, eu sei. Vem logo. – Estendeu a mão, ajudando-o a se levantar e o puxou rapidamente para a parte coberta, ainda do lado de fora da casa.
- Ah, aqui é tão sem graça. – deitou no chão e observou o telhado, sentindo o frio começar a atingi-lo. – Agora eu tô com frio.
- Vou pedir umas toalhas pro . – entrou na cozinha com cuidado para não escorregar e chamou por , sem querer molhar o resto da casa. – Me empresta duas toalhas, por favor? – Pediu. De uma forma inocente, vendo o menino rir e concordar.
Quando voltou para a varanda, já enxugando o cabelo, percebeu que não estava mais deitado no chão. Soltou um suspiro cansado quando viu o garoto no meio da grama com os braços abertos e olhando para o céu distraidamente. Sentou no batente que separava a cozinha da varanda e continuou a secar o cabelo, sabia que não ria adiantar se pedisse que saísse da chuva, ele não estava exatamente sóbrio.
- When I’m alooone, time goes so sloooooow. I need you here with meee. – O garoto cantou alto. riu, achando graça da entonação dele. – Warm and aliiive I’m all over yoooou, would you smother meeeee? - Pulou uma parte da música e riu sozinho. – , vem dançar comigo. – Pediu.
o olhou e balançou a cabeça, negando. A chuva parecia ter ficado ainda mais forte e ela realmente não estava disposta a acordar no dia seguinte gripada.
- , sério, amanhã você vai acordar mal. Sai dessa chuva.
- Se eu sair eu vou precisar lembrar o motivo que eu comecei a beber. – Falou com sinceridade. – Não to afim de pensar nisso hoje. – mordeu o lábio e ficou em silêncio. Minutos antes ela estava reclamando por ele estar falando sobre Amy, agora que ele parecia ter esquecido o assunto, ela não queria que ele lembrasse novamente.
- Let me be the one who calls you baby aaall the tiiiiime. – Continuou cantando.
- Credo, pára com essa música depressiva! – A menina reclamou.
- You stupid motherfucker, you stupid motherfucker, you stupid motherfu...ckeeer. gargalhou depois de cantar e olhou para . – Melhorou?
- Desceu demais o nível. – Fez careta. – Mas eu até gosto dessa música.
- Graças a mim. – Sorriu, orgulhoso. – Essa conversa muito alta tá começando a ficar desagradável. – Sorriu, chegando mais perto da varanda, mas sem sair da chuva.
- É só você voltar pra cá que nós conversaremos normal. – Ela deu de ombros.
- Ou você vir pra cá. – Arqueou a sobrancelha, sugestivo. deu de ombros, mas continuou sentada no batente. – Me dá um abraço? – quebrou o pequeno instante de silêncio.
- Não, você tá molhado.
- Antigamente você me abraçava mesmo quando eu estava suado depois de jogar futebol.
- Você me abraçava quando tava suado, .
- Isso quer dizer que eu posso te abraçar agora? – Sorriu, malicioso.
- Não! – Falou, se encolhendo um pouco. – , não! – Repetiu, vendo o garoto se aproximar. – Não adianta se aproximar, não vou correr pra chuva e nem vou entrar molhada desse jeito na casa dos meninos.
- Tá bom, só vou sentar do seu lado. – Deu de ombros, sentando no batente ao lado da garota. – Vem cá. – A abraçou rapidamente e beijou sua bochecha com força, fazendo com que ela se encolhesse e fizesse careta.
- TE ODEEEEEEEIO! – gritou, sem controlar o riso.
deu risada, mordendo a bochecha dela enquanto passava um dos braços por debaixo das pernas dela e o outro por suas costas, a carregando a levando para a chuva.
- , me solta. Me leva pra lá! – Pediu, tentando sair do colo dele.
- Olha pra mim. – falou, sério. – Tomar chuva e esquecer os problemas é uma das melhores coisas que uma pessoa pode fazer. Mas já que você quer voltar pra lá... – Fingiu que ia botar a menina no chão, mas ela o abraçou mais forte.
- Agora eu quero ficar. – Sorriu. – Sou pesada? – riu com a forma infantil que a menina fez a pergunta.
- Não, seu corpo sempre se encaixou perfeitamente em meus braços. Parece até que foi moldada. – Riu.
- Oh, eu fui moldada para você, Romeu. – Dramatizou.
- Depois dessa você merece ser jogada na piscina. Sério. – caminhou pela grama, enquanto ria e se debatia em seus braços.
- Se eu for você vai junto, vou logo avisando.
- Quer apostar?
- Vai pagar pra ver, é? – Arqueou as sobrancelhas.
se aproximou ainda mais da piscina, parando na borda e sorrindo sugestivo para a garota. pensou por alguns segundos, observando a pequena distância entre eles e a piscina, mas não havia muita coisa que pudesse fazer. Olhou novamente pra e sorriu.
- Não vai fazer nada pra me impedir? – Ele perguntou, achando estranha a reação dela.
- Estou tentando ter alguma idéia, mas só uma me vem em mente e eu não estou muito certa de que você vai gostar. – Disse, com honestidade.
- Quer tentar? – o olhou e confirmou, balançando a cabeça.
Antes que pudesse pensar em dizer mais alguma coisa, sentiu os lábios gelados da garota encostarem nos seus e um calor percorreu suas costas, fazendo com que ele a apertasse contra si. Esperou que ela fizesse mais alguma coisa, mas ela ainda parecia com medo de sua reação. Fez o contorno da boca dela com a língua e sorriu quando ela abriu a boca, deixando que o beijo se aprofundasse.
recolheu as duas toalhas jogadas no chão e observou os amigos de longe, balançando a cabeça, inconformado. Quem conseguia entender aqueles dois? Ele já havia desistido.
partiu o beijo, dando alguns selinhos rápidos no menino e pensando se ele já havia desistido da idéia de jogá-la na piscina. Sorriu o observando ainda de olhos fechados e deu um beijo na ponta de seu nariz.
- Por favor, diga que desistiu de me jogar na piscina. – Pediu.
suspirou, deixando que um pequeno sorriso brincasse em seus lábios.
- O que você não me pede chorando que eu não faço sorrindo? – Deu um selinho rápido nela e apontou a varanda da casa. – Quer voltar pra lá?
- Quero. E se eu acordar mal amanhã a culpa é sua. – Riu.
- Certo, certo. – rolou os olhos.
Quando chegaram na varanda, já livres da chuva, ele a colocou no chão e passou a mão pelo cabelo encharcado. olhou ao redor, procurando pelas toalhas que havia deixado no chão.
- Acho que o pegou as toalhas. – Avisou, sentando novamente no batente. – Tá frio. – colocou a cabeça pra dentro da cozinha e chamou o amigo.
- Tem problema se entrarmos na cozinha? – Perguntou, já entrando.
- Não ousem ultrapassar a porta da cozinha pra sala! – Respondeu, sério.
- Vem. – puxou pela mão. – Olha, ele deixou uma das toalhas aqui. – Sorriu, passando o pano pelo cabelo e pelo rosto, não iria adiantar passar pela camisa e nem pela bermuda, estavam encharcadas demais.
- Egoísta. – fez bico, esfregando os braços por causa do frio.
- Awn, que bobona. – Riu, segurando as pontas da toalha e passando em volta de , fazendo com que ela ficasse muito próxima dele. – Melhorou? – Perguntou, enxugando o rosto dela. A menina sorriu, confirmando. – Acho que vamos ter que dormir por aqui, pegar o carro nessa chuva é meio perigoso.
- Tudo bem. – Deu de ombros. reparou na boca dela, que tremia por causa do frio e a abraçou com força. – Eu estou bem.
- Você tá batendo dentes, . Fica quietinha, fica. – Brincou.
- Seria besteira minha perguntar como você está? – O olhou, preocupada.
- Não, não seria. – Respondeu simplesmente, deixando que o silêncio se instalasse por alguns segundos.
- Como você tá? – Ela perguntou, arrancando-lhe uma risada.
- Eu acordei hoje cedo achando que o dia seria uma bela merda, mas ele acabou sendo bem melhor que o esperado. – Sorriu. – Não se preocupe, eu vou superar.
- Eu sei que vai. – Lhe devolveu um sorriso confiante.

# End of flashback

- Por que quando a gente menos quer, o tempo parece voar? – comentou, inconformada. Tirou a toalha do cabelo e colocou o secador na tomada. Observou o relógio na cômoda e relaxou, percebendo que estava adiantada. – Não vai tomar banho? – Olhou o garoto deitado na cama e percebeu que ele estava dormindo. Deu de ombros e começou a separar algumas mechas do cabelo tranquilamente.
As últimas semanas começaram a passar como um filme em sua mente. Ela havia aproveitado o máximo que podia, tanto o tempo com , quanto o tempo sozinha ou com amigos. Prometera a si mesma que não iria desperdiçar um segundo que fosse, e cumpriu a promessa, estava satisfeita consigo mesma.
Observou a enorme mala no canto do quarto e sentiu o estômago revirar de ansiedade. Não negava que estava ansiosa para a viagem, mas ainda existia uma voz dentro de si que implorava para que algo desse errado e a viagem fosse cancelada.
Durante todas aquelas semanas ela havia tentado ensaiar algum tipo de discurso para sua despedida, algo que conseguisse expressar o quanto doía ter que deixar Londres e as pessoas mais importantes de sua vida. Havia escrito palavras soltas num pequeno caderno, e até textos enormes, que depois da quinta linha já parecia sem sentido. Por que era tão difícil expressar os sentimentos através de palavras?
Sentiu os dedos de acariciarem calmamente suas costas e se virou sorrindo.
- Posso ter essa visão sempre que eu acordar? – Brincou, arrancando uma risada da garota.
- Hmmm... – Ela fingiu pensar. – Só por mais dois dias. – Piscou.
Ao mesmo tempo em que sua partida ficara mais próxima, o assunto começara a se tornar mais freqüente e menos doloroso. Eles já podiam fazer brincadeiras sobre a viagem e não se sentirem desconfortáveis, o assunto deixara de ser um tabu. Era melhor que eles começassem a se acostumar, e evitar conversas sobre aquilo só tornava tudo mais difícil.
- Só mais dois dias? – puxou a garota pelo braço, fazendo-a deitar desajeitada. – Então eu quero passar esses dois dias olhando pra você assim. Vamos começar cancelando essa festa de despedida, não quero que você se vista. Tá bom assim. – Brincou, beijando suavemente o pescoço dela e deixando que suas mãos desenhassem o corpo coberto apenas pela lingerie preta.
- Você sempre faz umas propostas tão tentadoras. – suspirou, sentindo os lábios dele passearem calmamente por seu ombro. – Elas são quase irresistíveis.
- Quase? – A olhou. A menina sorriu, confirmando. – E o que eu posso fazer para torná-las completamente irresistíveis? – Sussurrou, roçando os lábios nos dela. Seus dedos dedilharam a coxa dela lentamente, fazendo-a fechar os olhos e suspirar.
- Você já tá fazendo. – conseguiu responder, a voz quase inaudível.
encaixou uma de suas pernas entre as dela e apertou seus dedos na cintura da menina. Soprou os lábios dela e puxou o inferior antes de deixar que sua língua pedisse passagem para encontrar a dela. Ouviu um gemido baixo escapar quando forçou seu corpo contra o dela, apenas para provocá-la.
- Sabe que a gente não vai poder ir muito além disso, né? – brincou, sentindo o garoto descer os beijos para seu colo. – Daqui a pouco tem alguém batendo ai na porta.
- Achei que fossemos cancelar essa festa. - Respondeu, descendo ainda mais os beijos pela barriga da garota.
respirou fundo e fechou os olhos, não iria negar que aquela proposta ficava cada vez mais irresistível. Como ela podia se importar com uma festa de despedida enquanto os lábios de acariciavam sua pele daquela forma?
- E então? – Ele perguntou baixo em seu ouvido.
- Honestamente, ... – Ela o olhou por alguns segundos. – faz o que você quiser. – Pressionou sua boca contra a dele, deixando que aprofundasse o beijo e resolvesse o que realmente queria fazer.


observou os garotos conversando animados se pensou no quanto ela sentiria falta daquilo.
Tudo naquele loft lhe faria falta, incluindo as pessoas que agora animavam sua festa de despedida. Até mesmo de seus vizinhos que nunca havia tido conversas muito longas, mas sempre lhe foram simpáticos e prestativos. Desde Mark, o garoto que usara há muito tempo atrás para provocar ciúmes em , até Lisa e Hellen, as gêmeas que insistiam em dizer que ela era uma garota de sorte por namorar com .
- Pensando na vida? – lhe pegou de surpresa. Sorriu confirmando. – Vamos sentir sua falta, sabe? – Passou o braço pelos ombros dela e lhe deu um beijo na testa.
- Cuida dele pra mim, tá? – Pediu, o olhando nos olhos. concordou sorrindo, já sabendo a quem ela se referia, e voltou para o sofá onde os amigos estavam.
Resolveu passear um pouco pela festa e conversar com as pessoas, quem sabe quando iria voltar a vê-las, certo? E também não eram tantas assim, se juntasse todo mundo somaria no máximo vinte pessoas, nunca fora de ter tantos amigos mesmo, estava acostumada.
Não levou meia hora para que ela parasse ao lado de e sorrisse para , e . Uau, ela levava essa coisa de ser anti-social bem a sério!
- Olá, garotos. Posso sentar, ou é assunto de homem? – Brincou. Os quatro se entreolharam, fingindo constrangimento. – Ah! – se assustou, mas antes que se virasse para sair do grupo, eles riram e a puxaram de volta.
- É brincadeira, . Não vamos expulsar a homenageada da festa, né? – a abraçou de lado. – Então, pronta pra deixar esses quatro inúteis aqui morrendo de saudade de você?
- Ai, cala boca. – Riu. – Lógico que eu não to pronta, seu inútil! – O abraçou com força. – Querem ir na minha mala?
- Eu vou! Falei primeiro! – levantou o braço. Os outros se entreolharam e caíram na risada.
- Sério, . Você precisa parar com essa mania de “falei primeiro”. – comentou, imitando a voz do amigo.
- Eu falei mesmo. – O menino deu de ombros, emburrado.
- falou primeiro, ele vai comigo. – piscou, adorava concordar com as brincadeiras bobas dele.
Quanto mais conversava com aqueles quatro garotos, mais percebia o quanto sentiria falta deles, não era algo que ela queria ficar pensando, mas era inevitável. A forma despojada que eles conversavam entre si, pareciam que se conheciam da vida toda, e era a mascote do grupo, como eles gostavam de ressaltar vez ou outra. Ela acabara se tornando parte daquele grupo. Eles eram os melhores amigos dela, como não pensar na falta que iriam fazer?
sentou ao seu lado e passou um dos braços por seus ombros.
- Tá triste? – Perguntou, beijando sua bochecha.
- Claro que não, só pensativa. – Sorriu. – Brigada por ter organizado essa festa, não ia conseguir ir embora sem ver essas pessoas.
- Não precisa agradecer... – Deu de ombros. – Só precisa me colocar no lugar no na sua mala. – Sussurrou, fazendo a garota gargalhar.

olhou a sala a sua volta, agora vazia e silenciosa. O sorriso ainda no rosto, depois de receber um abraço triplo de , e e do pequeno discurso de despedida que eles inventaram na hora.
abraçou sua cintura e lhe deu um beijo suave nos lábios.
- Dança comigo?
- Dançar? – O olhou, confusa.
- É, dançar. Se movimentar de um lado pro outro, sabe? – Ele brincou. – O som ainda tá ligado, vou aumentar e a gente vai dançar a música que estiver tocando.
- E se for um metal? – Fez um gesto com as mãos, imitando metaleiros. riu e deu de ombros.
Quando o som tomou conta do loft, perceberam que era uma música Maroon 5 terminando. sorriu quando a introdução da outra música começou a tocar.
- John Mayer, bem na hora. – Abraçou , encaixando o rosto na curva do pescoço dele. – Isso não foi programado, né? – O olhou.
- Nem que eu quisesse. – Sorriu, selando seus lábios nos dela.

It's not a silly little moment
Isso não é um momentinho bobo
It's not the storm before the calm
Não é a tempestade antes da calmaria
This is the deep and dying breath
Isso é a profunda e ofegante respiração
Of this love that we've been working on
Deste o amor no qual estávamos trabalhando

Can't seem to hold you like I want to
Parece que não consigo segurá-la como quero
So I can feel you in my arms
Para senti-la em meus braços
Nobody's gonna come and save you
Ninguém virá lhe salvar
We pulled too many false alarms
Nós já demos muitos alarmes falsos

afastou o corpo da menina do seu e a girou até o meio da sala, achando graça na forma como ela ria e deixava o cabelo esvoaçar, como se estivesse em alguma competição de dança. A segurou novamente pela cintura e enterrou o rosto no pescoço dela, dando um beijo suave naquela área.
- Podemos ficar assim até a hora do meu vôo? – brincou.
- Podemos ficar assim até quando você quiser.

We're going down
Estamos acabando
And you can see it, too
E você também pode ver isso
We're going down
Estamos acabando
And you know that we're doomed
E você sabe que estamos condenados
My dear, we're slow dancing in a burning room
Minha querida, estamos dançando lentamente num quarto em chamas

I was the one you always dreamed of
Eu fui aquele com quem você sempre sonhou
You were the one I tried to draw
Você foi aquela que eu tentei desenhar
How dare you say it's nothin to me?
Como ousa dizer que isto não é nada pra mim?
Baby, you're the only light I ever saw
Querida, você é a única luz que eu já vi
I'll make the most of all the sadness
Eu farei o melhor de toda essa tristeza
You'll be a bitch because you can
Você será uma vadia porque pode
You'll try to hit me just hurt me
Você tentará me atingir apenas pra me machucar
So you leave me feeling dirty
Então você me deixa me sentindo mal
Because you can't understand
Porque não consegue entender

- Achei que quisesse ficar dançando até a hora de ir embora. – brincou quando a garota começou a beijar seu pescoço e subiu pra sua boca.
- Nah, prefiro ficar fazendo outra coisa. Queimando algumas calorias, sabe? – Riu.
- A gente queima caloria dançando também. – Deu de ombros, segurando o riso.
- Ah, cala boca, ! – Reclamou, antes de colar a boca na dele e deixar que a música dissesse tudo que não precisava ser dito naquela despedida.


We're going down
Estamos acabando
And you can see it, too
E você também pode ver isso
We're going down
Estamos acabando
And you know that we're doomed
E você sabe que estamos condenados
My dear, we're slow dancing in a burning room
Minha querida, estamos dançando lentamente num quarto em chamas

Go cry about it, why don't you?
Vá chorar sobre isso, por que não iria?
My dear, we're slow dancing in a burnin room
Minha querida, estamos dançando lentamente num quarto em chamas

Don't you think we oughta know by now?
Você não acha que já deveríamos estar sabendo agora?
Don't you think we should have learned somehow?
Você não acha que deveríamos ter aprendido, de algum jeito?



20
( músicas: You - The Pretty Reckless e Could It Be Any Harder - The Calling )



- , não consigo fechar a mala! – choramingou, sentando em cima da bagagem e forçando o zíper. – Me recuso a tirar alguma coisa daí, eu já to levando o mínimo possível.
- Quatro pares de All Star não são o mínimo possível. – O garoto brincou, a puxando para que se levantasse da mala. – Só precisa ter jeito. – Em menos de vinte segundos ele fechou o zíper e colocou o cadeado.
o olhou com as mãos na cintura e arqueou uma sobrancelha. Como ele havia feito aquilo tão rápido? sorriu da expressão indignada dela e lhe deu um beijo rápido na bochecha.
- Quer que leve logo lá pra baixo? – balançou a cabeça concordando.
Mordeu o lábio inferior, observando o armário mais vazio do que nunca, deixara poucas roupas para trás, apenas aquelas que não gostava muito ou nem servia mais. A cama ainda estava desarrumada, o lençol amassado, misturando o cheiro dela com o de . Tudo naquele loft parecia ser uma mistura dos dois, como se desde sempre eles houvessem decorado o lugar.
Harte chegou de mansinho e se enroscou nas pernas dela, como se fosse um gato. se abaixou para acariciá-lo e riu quando ele deitou virado para cima, num pedido para que ela coçasse sua barriga.
- Ai, que falta que você vai me fazer, meu monstrinho. – Brincou, puxando um pouco a orelha dele, sabendo que ele não gostava muito.
- Iai, tá pronta? – se agachou também e brincou com o cachorro.
- To pronta pra viajar, mas nunca pra ficar longe disso tudo aqui. – Suspirou. – Mas, enfim, prometi que não ia ficar me lamentando, é o que eu quero fazer.
- Se você não gostar ou não se acostumar, você volta. A gente vai tá aqui esperando. – beijou as costas de sua mão e a ajudou a se levantar.
- Tchau, coisa linda. – Fez um último carinho na cabeça de Harte antes de dar a mão pra e descer a escada.
Antes de passar pela porta, observou o loft uma última vez, deixando que todas as memórias de tudo que havia acontecido ali preenchessem sua mente. Aquela não seria a última vez, ela sentia isso. Dizem que nossa casa é onde o nosso coração está, e agora ela tinha certeza disso.

A chuva parecia aumentar a cada passo apressado que eles davam. O guarda chuva não era grande o suficiente para cobrir os dois e mais a enorme mala que puxava. Entreolharam-se rindo e praticamente correram até a entrada do aeroporto, agradecendo quando conseguiram passar pela entrada já coberta.
- Acho que o vôo vai atrasar, a chuva tá muito forte. – comentou, fechando o guarda chuva e o sacudindo para tirar o excesso de água. - Vamos logo fazer o check-in, quero passar na WHSmith e comprar algum livro pra me distrair nas 12 longas horas de vôo.
- Sei que você quer se livrar logo de mim, mas ainda faltam duas horas pro seu vôo. – a olhou e sorriu, vendo a menina mostrar a língua e balançar a cabeça negativamente.
Saíram em direção ao guichê da companhia aérea e esperaram na pequena fila. cutucou e apontou um casal de idosos logo na frente deles que riam enquanto sussurravam no ouvido um do outro.
- Acha que algum dia vamos ficar assim? – A menina perguntou, abraçando o garoto ao seu lado.
- Todos ficaremos velhos um dia, boba. – Brincou.
- Haha, engraçado. – Ironizou. – Adoro casais idosos e apaixonados.
- Você nem sabe se eles são realmente namorados, ou casados.
- Olha só pra eles, . O que você acha? – A menina o olhou, arqueando a sobrancelha.
- Eu acho...
- Próximo! – A atendente no balcão apontou para eles.
- Que é a nossa vez. – sorriu, pegando a mala e se dirigindo até o balcão, sendo seguido por .

Caminhou entre as estantes lotadas de livros da livraria, algumas capas chamavam sua atenção, outras passavam despercebidas. Chegou à sessão dos mais vendidos e observou calmamente alguns nomes já conhecidos e outros que ela havia apenas ouvido falar.
- Esse. – Falou pra si mesma, pegando um livro com uma capa que lhe pareceu interessante. – A Mulher do Viajante do Tempo. – leu em voz baixa, virando a contra capa para poder ler o resumo do livro. Já havia lido algumas resenhas sobre ele, mas não conseguia lembrar exatamente sobre o que era.
parou ao seu lado e se abaixou um pouco para ler o nome do livro.
- Vai levar?
- Provavelmente. – Respondeu, ainda lendo o resumo. – É, vou levar. – Respondeu, ao terminar. – Preciso também de algumas palavras cruzadas.
Dez minutos depois, eles sentaram em um café em frente à livraria.
- Nervosa? – perguntou, reparando nas pernas inquietas da garota. Ela deu de ombros e sorriu, segurando a mão dele que estava em cima da mesa. – Que foi? – Perguntou, reparando nos olhos dela que passeavam calmamente por seu rosto.
- Nada, eu gosto de te olhar. – Sorriu. O garoto beijou as costas de sua mão e voltou a atenção para a revista que estava lendo. Ainda podia sentir os olhos de o examinando e podia apostar que ela estava fazendo a mesma coisa que ele fizera na noite anterior enquanto ela dormia. Estava guardando seus traços e feições na memória, apenas pra ter certeza de que nenhum detalhe lhe escaparia durante esses doze meses.

Quando a voz feminina anunciou o vôo de no auto falante, ela e já estavam perto da porta que dava acesso aos diversos portões de embarque. Caminhavam de mãos dadas, tentando lembrar o que vinham ensaiando há semanas quando esse momento chegasse, mas agora todas as palavras se confundiam e as frases pareciam perder o sentido.
Param lado a lado ao chegarem em frente ao portão. As mãos mais entrelaçadas do que nunca, num pedido mudo para que continuassem daquela forma.
ficou de frente para a menina e estudou seu rosto cabisbaixo, respirou fundo antes de puxá-la para si e abraça-la o mais forte que pôde. A ouviu soltar um soluço abafado e apertar o abraço em sua cintura. Beijou seus cabelos e puxou seu rosto para cima, deixando-o tão próximo ao seu que mal pôde ver as lágrimas que desciam ferozmente pelo rosto da garota.
- Você prometeu que não ia chorar, lembra? – sussurrou, vendo a garota concordar e segurar o choro, sem grande sucesso. Passou o polegar pelo rosto dela, enxugando as lágrimas e beijou o caminho de volta delas até os olhos de .
- Vai dar tudo certo. – Ela disse, mais para si mesma do que para ele.
- Claro que vai. – Concordou, beijando seus lábios com pressa. – Me liga quando chegar ao apartamento, eu vou ficar do lado do telefone esperando.
concordou com um sorriso e o puxou para outro beijo, ainda mais apressado que o anterior. Tentava guardar todas as sensações, os toques, a sutileza dos lábios dele. Ela queria levar tudo aquilo consigo, precisava daquilo.
- Se cuida. – separou seus lábios do dela apenas por alguns segundos. – Te amo. – Sussurrou, distribuindo beijos pelas bochechas dela e repetindo a frase a cada segundo que seus lábios desgrudavam da pele dela. – Não esquece. – Segurou o rosto dela com firmeza e ouviu um riso escapar por entre seus lábios.
- Não vou esquecer. – O beijou novamente. – E, a propósito, eu também te amo. – Sorriu.
Trocaram mais alguns selinhos antes de finalmente se desgrudarem e perceberem que o mesmo casal de idosos da fila do check-in, agora os olhavam com sorrisos em seus rostos.
- Se cuida. – leu nos lábios de quando se virou pela última vez antes das portas automáticas se fecharem e a imagem dele sumir.

# Flashback (3 anos antes)



As duas garotas se observaram no espelho, atentas a cada detalhe de suas roupas e maquiagem. Eram tão diferentes por fora e quase irmãs gêmeas por dentro, haviam dado sorte de terem se conhecido em um chato trabalho de Literatura. Sorriram satisfeitas para seus reflexos, antes de saírem animadas do quarto.
e Claire estavam indo para uma festa de uma das garotas de sua sala. A primeira e única em que iriam juntas. Claire estava se mudando para a Holanda na semana seguinte e as duas haviam prometido aproveitar os últimos dias juntas. Não costumavam freqüentar festas, mas já que haviam feito uma promessa, decidiram cumpri-la.
A casa da aniversariante ficava em um condomínio fechado e era muito maior do que as fofocas descreviam. As duas desceram do carro e ajeitaram seus vestidos, o de Claire um pouco mais curto e o de com um decote nas costas, a prova viva de que não eram mais crianças.
A música alta e agitada tornava a comunicação um pouco difícil, precisavam falar alto demais ou perto demais para conseguirem se entender. Avistaram Daisy, a aniversariante, sentada em uma das espreguiçadeiras, rodeada por duas de suas amigas e alguns garotos mais velhos. Entreolharam-se, sem saber se deveriam ir até lá ou apenas deixar o presente com uma mulher que os estava recolhendo. Optaram pela segunda opção já que Daisy parecia estar se divertindo demais naquela roda.
O jardim da frente estava cheio de mesas e cadeiras ainda vazias, já que a maioria das pessoas que já haviam chegado estavam no jardim de trás, ao redor da piscina. Sentaram na parte mais vazia, sem vontade de rodar pela festa para fazer a social, não eram populares e sabiam que teriam que falar com um monte de gente que nem ao menos gostavam.
Distraíram-se conversando e acabaram nem notando o quão cheia a casa ficava a cada minuto. Quando olharam ao redor, se viram cercadas por adolescentes conversando alto, alguns já bêbados, agitados pela música e pelo álcool. se perguntou se era mesmo verdade que os pais de Daisy haviam saído para deixar a casa livre ou se estavam escondidos em algum lugar, prontos para aparecerem quando as coisas saíssem do controle.
- Garotas. – Um moreno alto, com enormes olhos azuis sorriu para as duas e mostrou uma garrafa de vodka. – Gostariam de batizar seus refrigerantes? – e Claire se entreolharam, sem saber direito como recusar algo vindo de um cara como aquele.
- Claro. – Claire deu de ombros, e sorriu concordando.
O garoto derramou a vodka nos copos e os devolveu para as duas garotas.
- Aproveitem. – Piscou, saindo em seguida e deixando as duas sem reação.
- Ele não pode estudar lá na escola. Eu teria notado. – riu.
Beberam o líquido, fazendo careta quando a vodka queimou suas gargantas. Já haviam bebido antes, mas nada tão forte como aquela mistura. Não iria demorar para o álcool fazer efeito nelas, mas já que estavam em uma festa, tinham que entrar no ritmo.
Quando o sol finalmente foi embora, as luzes da enorme sala se apagaram, dando lugar a dois globos coloridos que fez grande parte da festa se juntar no cômodo, dançando e bebendo a vontade.
- Vamos, garotas! Não quero ver ninguém desanimado por aqui. – A mesma mulher que estava recolhendo os presentes apareceu, agora vestindo um vestido curto e ousado demais para sua idade. As garotas se entreolharam, tentando controlar o riso. Não tiveram escolha, senão se juntar ao amontoado de pessoas na sala, dançando sem se preocupar com a falta se espaço e o calor que fazia ali dentro.

I’m in Miami, bitch.

A música começou a tocar, fazendo com que as duas garotas começassem a dançar também, como poderiam resistir àquela música? Viviam escutando-a na casa de Claire e inventando danças ridículas e vergonhosas. Quando entraram no ritmo animado dos outros convidados, resolveram se entregar completamente e dança sem se importar com quem estivesse olhando. Estavam se divertindo tanto que nem perceberam que já estavam quase no meio da sala. As pessoas pareciam nem notar as duas nerds se divertindo como nunca.
sabia que as chances de ela ir em uma festa sem Claire eram mito pequenas, afinal, ela era sua única amiga e sabia que não podia contar com para levá-la para alguma festa. Olhou ao redor, notando um garoto que a observava dançar. Sorriu de volta ao perceber que ele era bonito e sussurrou no ouvido de Claire para que ela olhasse discretamente.
- Ele ta vindo pra cá! – Claire respondeu, tentando controlar a afobação.
Duas garotas de quinze anos numa festa, sendo paqueradas por garotos mais velhos... O que mais poderiam querer?
- Oi! – ouviu uma voz masculina falar em seu ouvido e se virou, já com um sorriso pronto.
- Oi. – Respondeu, tentando fazer com que suas bochechas não entregassem seu nervosismo.
- . – Ele estendeu a mão, apresentando-se.
- . – Apertou a mão dele.
De alguma forma, o som dentro da casa parecia ficar cada vez mais alto, dificultando qualquer conversa.
- Você quer conversar lá fora? – perguntou, apontando a parte de trás da casa, a área da piscina. negou apontando para Claire, deixando claro que não ia abandonar a amiga. sorriu e pediu que ela esperasse um pouco.
- Acho que ele foi arrumar um amigo pra você. – sorriu para Claire.
- Wow! – Claire apontou discretamente para que voltava realmente com um amigo, que na opinião de Claire era ainda mais bonito que ele.
Depois das apresentações eles tentaram conversar um pouco, mas a altura da música estava realmente tornando aquilo impossível. Dançaram um pouco, mas acabaram cansando e indo para a área da piscina.
Sentaram em uma das mesas vagas, cada casal mantendo uma certa distância, para que pudessem conversar tranquilamente.
gostou de não tentar nada antes mesmo de começarem a conversar e se conhecer um pouco. A maioria dos garotos da idade dela teria começado a tentar beijá-la sem nem ao menos saber seu nome. Ela não era aquele tipo de garota, não tinha experiência e nem vontade suficiente para sair beijando qualquer cara que aparecesse. Ao contrário da maioria das garotas aqui, pensou, olhando em volta.
aproveitou quando a garota virou o rosto e beijou levemente seu pescoço, apenas para testar sua reação. Ela se encolheu um pouco, mas sorriu. Aquilo era um sinal para que continuasse, certo? Deu outro beijo, agora em sua mandíbula, sentindo que ela estava gostando daquilo.
- Cara, eu ‘tava te procurando. – Uma voz masculina fez com que os quatro na mesa se virassem.
- Fala, perdedor. – sorriu para o amigo. gelou ao ver quem era.
Não, não, não.
- ? – riu, sem acreditar.
Só pode ser brincadeira. A garota acenou, desejando puxar Claire pela mão e sair dali.
- Reunião de perdedores? – Uma voz conhecida atingiu em cheio. Aquilo tinha que ser brincadeira.
Suspirou, abaixando a cabeça e desejando desaparecer no ar. Por que aquelas coisas só aconteciam com ela? Por que não podia ser como qualquer garota normal de quinze anos com pais normais, amigos normais, aproveitando uma festa normal e ficando com garotos normais sem que seu primo aparecesse para atrapalhar tudo?
Sentiu alguém chutar sua perna e imaginou que todos agora deviam estar observando-a. Levantou a cabeça e tentou sorrir normalmente.
A julgar pela quantidade de cerveja que cuspiu quando percebeu que era ela que estava sentado ao lado de , ele não gostou do que viu.
- Ah, não! – pareceu finalmente perceber o que estava acontecendo. – Essa é a ? – Perguntou, alternando o olhar de para . Claire riu baixo, sem acreditar no que estava acontecendo.
- É, parece que sim. – tentou rir para acompanhar a amiga, mas sua vontade de gritar era muito mais alta e incontrolável. – Claire, vamos ao banheiro. – Não era uma pergunta, e Claire sabia disso.
As duas saíram rapidamente dali e voltaram pra dentro da casa, ainda chocadas demais para conseguirem achar o banheiro. puxou a amiga para fora da casa e foram em direção ao outro lado da rua que estava vazio.
- Sério? – Falou, um pouco mais alto do que pretendia. Claire levantou os braços, mostrando que estava tão abismada quanto ela.
Sentaram-se em silencio no meio fio alto, tentando processar o que havia acabado de acontecer.
A mente de girava, tentando entender por que entre tantas festas que provavelmente estavam acontecendo, e os amigos estavam justamente naquela. Era só uma festa de aniversário de uma garota de quinze anos, o que droga eles estavam fazendo lá?
- Já pensou se ele chegasse um pouco depois e pegasse você e o no maior amasso? – Claire comentou. a olhou, não gostando nem um pouco do comentário, mas acabou caindo na risada junto com ela. Afinal, aquilo tudo era uma grande piada, certo? Tinha que ser.
Voltaram para dentro da casa, agora empenhadas a realmente achar um banheiro. Acabaram perguntando para a mulher do vestido curto demais para sua idade, uma das únicas que ainda parecia sóbria dentro daquela casa.
Antes que entrassem no banheiro, pareceu, impedindo que seguisse a amiga.
- Posso falar com você? – concordou, deixando que ele a levasse para um canto menos barulhento. – Cara, eu não sabia que era você. Eu realmente não sabia.
sabia, pelo tom de arrependimento na voz dele, que devia ter dado uma bronca nele por ter tentando ficar com ela. Estava cansada de ser tratada como alguma espécie de propriedade de .
- , sério, não me importa. – Falou, sincera. – Eu sou prima do . Prima! Nem namorada e nem propriedade, apenas prima. Eu tenho direito de sair e me divertir e de conhecer gente nova. Eu tenho direito de ser paquerada e de ficar com outros caras. Honestamente, eu adoraria ter ficado com você e lamento muito se o fato de eu ser prima do atrapalha qualquer tipo de atração que você sentiu por mim. Não me importa o que ele disse pra você sobre mim, eu ainda sou a mesma garota de dez minutos atrás, a mesma garota que você estava prestes a beijar. – Respirou fundo, tentando acalmar o coração acelerado por conta das palavras eu saíam praticamente uma atropelando a outra.
- Eu também adoraria ter ficado com você, mas... – Ele parou de falar, sabendo que ela não ia gostar que ele completasse aquela frase. – Desculpa. – Deu de ombros e se afastou.
Claire saiu do banheiro, encontrando a amiga ainda olhando para o lugar onde desaparecera.
- Dá pra acreditar nisso? – Perguntou, incrédula.
- Acho que essa festa definitivamente acabou. – Claire comentou. – Vamos embora. Vou ligar pro meu pai vir nos burcar. – Puxou a amiga pela mão.
As duas voltaram para o lado de fora e sentaram no passeio, desejando que o pai de Claire não demorasse muito. Se pudesse, iria a pé, só para sair logo dali. Observou as unhas pintadas e o vestido arrumado que havia comprado especialmente para a festa. Grande porcaria, pensou.
- A gente pode conversar? – A voz de atrapalhou seus pensamentos. Ela olhou para Claire que deu de ombros e se afastou, dando-os privacidade. – Não sabia que você conhecia a aniversariante.
- Supresa. – Falou, sem disfarçar o sarcasmo.
riu, desgostoso, e sentou ao lado dela.
- Não queria atrapalhar sua noite. – deu de ombros, fingindo que não se importava. Onde estava o pai de Claire? Estava indo de carroça?
Permaneceram em silêncio pelo que pareceu uma eternidade, nenhum dos dois estava confortável naquela conversa.
- Conheci o por causa do , eles estudaram juntos quando eram pirralhos. – explicou, sem saber o que falar. – Vocês ficaram? – Perguntou de uma vez, cansado de enrolar.
- Ele já deve ter te falado que não. – Respondeu, seca. Ela estava certa, já havia dito que nada acontecera, mas ele precisava ouvir isso da boca dela.
- , meu pai chegou. – Claire interrompeu a conversa. se levantou em um salto, agradecendo por poder sair daquela conversa.
- Deixa eu te levar em casa. – pediu, segurando seu braço, impedindo-a de se afastar mais.
- Eu vou dormir na casa da Claire.
- Eu te levo lá. Ele desceu a mão pelo braço dela, até entrelaçar os dedos nos dela. respirou fundo, sabendo que ele estava fazendo aquilo de propósito.
- ...
- Por favor. – Ele se aproximou, deixando seu rosto próximo ao dela. Próximo demais.
- Se eu for com você, isso – Ela apontou para a pouca distância entre eles. – vai acontecer.E eu honestamente to cansada desse jogo. – Soltou a mão dele, caminhando apressada para o portão do condomínio.
- Então é um jogo pra você? – perguntou, alto suficiente para que ela ouvisse.
não se virou e nem respondeu, não tinha forças para tal. Se a mão de Claire não estivesse segurando seu ombro com força, certamente ela teria desabado ali mesmo.

# End of flashback


(Coloquem a música do The Calling pra tocar)

caminhou pelo aeroporto movimentado em direção ao estacionamento. As mãos nos bolsos da calça e a cabeça baixa denunciavam tudo que estava sentindo.
As portas automáticas que o protegiam do frio que fazia do lado de fora se abriram, fazendo com que seu corpo estremecesse por causa da baixa temperatura. Ficou algum tempo parado, sentindo a realidade o atingir com mais força que o vento gélido. Uma mulher passou apressada e trombou em seu braço, despertando-o. Suspirou, olhando em volta uma última vez antes de se dirigir até o carro, agradecendo pela chuva ter dado uma trégua.


You left me with goodbye and open arms
Você me deixou com um adeus e de braços abertos
A cut so deep I don't deserve
Um corte tão profundo, eu não mereço
Well, you were always invincible in my eyes
Você sempre foi invencível aos meus olhos
The only thing against us now is time
A única coisa contra nós agora é o tempo


Entrou no carro e colocou a chave na ignição, ansioso para ligar o aquecedor. Observou o próprio rosto refletido no retrovisor e se assustou com o par de olhos sem vida que o encarava. Notou discretas olheiras que não existiam até uma semana atrás. Passou as mãos pelo cabelo numa tentativa de arrumar o que o vento havia bagunçado.

Could it be any harder to say goodbye and live without you?
Poderia ser mais difícil dizer adeus e ficar sem você?
Could it be any harder to watch you go, to face what's true?
Poderia ser mais difícil te ver partir, encarar a verdade?
If I only had one more day...
Se eu tivesse só mais um dia...

Ligou o carro, com a intenção de sair da vaga e ir embora, mas o motor fez um barulho e o carro desligou. Tentou novamente, mas a mesma coisa aconteceu. Segurou o volante com força, tentando controlar uma raiva repentina e uma vontade estúpida de simplesmente chutar e sacudir o carro. Respirou fundo tentando se acalmar, segurou a chave na ignição com força e a girou, ouvindo o motor fazer o mesmo barulho e novamente o carro desligar. Sacudiu o volante, contendo um grito na garganta e tentou mais uma vez.
E de novo.
E de novo.
Até perder a força nas mãos que seguravam o volante com tanta força que pensou poder transforma-los em pó. Bateu com força no painel e finalmente soltou o grito que estava entalado em sua garganta. O carro estava todo fechado, impossibilitando as pessoas do lado de fora de o ouvirem. Sacudiu uma ultima vez o volante, antes de deixar que o grito se transformasse em um choro infantil. Sentia as lágrimas jorrarem sem controle por seu rosto e os soluços ficarem mais altos a cada segundo. Encostou a cabeça do volante e fechou as mãos com força, até conseguir sentir as unhas encravarem em sua pele.

I lie down and blind myself with laughter
Eu me deito e me encubro com riso
A quick fix of hope is what I'm needing
Um pouco de esperança é o que eu estou precisando
And how I wish that I could turn back the hours
E como eu gostaria de poder voltar as horas
But I know I just don't have the power
Mas sei que não tenho esse dom

Could it be any harder to say goodbye and live without you?
Poderia ser mais difícil dizer adeus e ficar sem você?
Could it be any harder to watch you go, to face what's true?
Poderia ser mais difícil te ver partir, encarar a verdade?
If I only had one more day...
Se eu tivesse só mais um dia...


Sentia uma dor pulsante no peito, como se, a cada batida, seu coração o machucasse. Como se a cada batida ele perdesse um pedaço.
Não se lembrava de chorar assim desde que perdera sua mãe.
A dor da perda.
Achou mesmo que fosse escapar ileso dessa vez?
Fechou os olhos, tentando se concentrar no rosto de . Desde a primeira vez que a viu, quando tinha apenas seis meses, até alguns minutos atrás, quando ela ainda pertencia a ele.
Agora ele não tinha mais o direito de se referir a ela como minha. Havia deixado-a ir numa estúpida tentativa de parecer altruísta. Altruísta de merda que ele era. Agora estava trancado no carro desejando que ela nunca tivesse feito nenhum teste, que ele nunca tivesse sido idiota o bastante para mostrá-la o anuncio sobre o curso de Design.

I'd jump at the chance, we'd drink and we'd dance
Agarraria a essa chance, beberíamos e dançaríamos
And I'd listen close to your every word
E escutaria cada palavra sua
As if it's your last, well I know it's your last
Como se fossem as últimas, mas sei que são
Cause today, oh, you're gone
Porque hoje você se foi...

Deixou que os minutos passassem e sua respiração se acalmasse sozinha. As lágrimas aos poucos foram cessando, e quando elas finalmente pararam completamente, enxugou o rosto com a manga do moletom e respirou fundo algumas vezes, apenas para se certificar de que não ia começar tudo novamente.

Could it be any harder to live my life without you?
Poderia ser mais difícil viver minha vida sem você?
Could it be any harder? I'm all alone I'm all alone...
Você se foi, oh) Poderia ser mais difícil?

Girou a chave na ignição, soltando um suspiro de alivio quando o carro permaneceu ligado. Olhou em volta, se certificando de que ninguém presenciara seu surto e saiu da vaga desejando se afastar logo do aeroporto e chegar em casa. Havia deixado algo escondido no armário que poderia ser muito útil no momento. Ao imaginar o ardor do liquido quente descendo por sua garganta, apertou o acelerador, querendo se livrar da dor e das malditas lágrimas que insistiam em embaçar sua vista e que ele estava cansado de segurar.

Like sand on my feet, the smell of sweet perfume
Como a areia em meus pés e o cheiro de um doce perfume
You stick to me forever
Você ficará em mim para sempre
And I wish you didn't go
Gostaria que você não tivesse partido
I wish you didn't go, I wish you didn't go away
Gostaria que você não tivesse partido, Gostaria que você não tivesse ido
To touch you again with life in your hands,
Para te tocar novamente, com vida em suas mãos,
It couldn't be any harder... harder... harder
Não poderia ser sido mais difícil... difícil


(Coloquem a música da Pretty Reckless)

olhava fixamente para um ponto qualquer, tentando manter a mente vazia exceto pela música alta que tocava nos seus fones de ouvido. Sentia seus olhos arderem por causa de todas as lágrimas que havia derramado e pelas que insistiam em continuar caindo. Passou a mão pela bochecha rapidamente, enxugando o rastro já quase seco deixado pela última lágrima.
Suas pernas inquietas balançavam fora do ritmo da música, mas ela nem havia percebido. Algumas pessoas passavam pelo banco em que estava sentada e a olhavam, curiosos pelo motivo de tanto choro silencioso.
A música alta a impediu de ouvir a voz no alto falante anunciar que o avião já estava estacionado e que já era possível ir para a fila de embarque, mas, ao ver as pessoas formarem uma linha no portão de número 4, se levantou ajeitando a mochila nas costas e pegando o cartão de embarque.

You don’t want me, no
Você não me quer, não
You don’t need me
Você não precisa de mim
Like I want you, oh
Como eu quero você, oh
Like I need you
Como eu preciso de você

And I want you in my life
E eu quero você na minha vida
And I need you in my life
E eu preciso de você na minha vida

Observou o ticket em sua mão, um ticket que ao mesmo tempo lhe garantia um futuro, parecia roubar-lhe o passado.
Destino: Japão.
Ela leu, em uma voz alta o suficiente para que pudesse ouvir a si própria. Perguntou-se se aquele destino era sem volta, ou se algum dia ela poderia voltar para tudo que havia deixado pra trás.
Quando não estava em casa, ela havia criado o hábito de procurar relatos de pessoas que fizeram o mesmo concurso que ela e que tiveram a mesma oportunidade de estudar no Japão. Alguns ainda estavam lá, depois de três, quatro, até cinco anos. Alguns haviam voltado sem grande sucesso. Os mais sortudos agora viajam o mundo, praticando tudo que aprenderam durante o curso. Imaginou em que categoria ela se encaixaria.

You can’t see me, no
Você não pode me ver, não
Like I see you
Como eu vejo você
I can’t have you, no
Eu não posso ter você, não
Like you have me
Como você me tem

And I want you in my life
E eu quero você na minha vida
And I need you in my life
E eu preciso de você na minha vida


A fila começou a andar e ela observou uma última vez o saguão a sua volta. Algumas pessoas viajavam em casal, grupos de amigos, outras estavam sozinhas como ela. Imaginou se elas também haviam deixado a parte mais importante de suas vidas pra trás.
Algumas vezes sua mente, mesmo sem seu consentimento, insistia em culpá-la por tudo que estava acontecendo. Se não tivesse concordado em fazer aquele teste, as coisas seriam diferentes. Precisava constantemente repetir para si mesma que aquele era seu futuro, uma oportunidade única que a vida havia lhe proporcionado. Ela sabia disso, mas sua mente insistia em dizer o contrário.

You can’t feel me, no
Você não pode me sentir, não
Like I feel you
Como eu sinto você
I can’t steal you, no
Eu não posso te roubar, não
Like you stole me
Como você me roubou

Entrou no avião caminhando para o fundo, já sabendo que sua cadeira ficava pela parte de trás. Agradeceu por ter conseguido pegar a janela, odiava ter que ficar no meio de dois desconhecidos, e odiava mais ainda ter que ficar no corredor observando a vida alheia.
Enquanto os passageiros entravam, ela observou o céu escuro, cheio de nuvens. Sentiu quando uma pessoa sentou ao seu lado, mas não se virou para olhar, não estava mesmo interessada.
O ar frio do avião a obrigou a esconder as mãos no bolso do casaco. Pensou em pedir um cobertor para a aeromoça, mas teria que esperar aquela fila de pessoas no corredor diminuir. Sentiu um papel no bolso e o retirou, tentando se lembrar se o havia colocado lá. A caligrafia de a fez sorrir antes mesmo de ler o que havia escrito.
While you were sleeping, I figured out everything:
I was constructed for you, and you were molded for me.
(Enquanto você estava dormindo, eu percebi tudo:
Eu fui construído pra você, e você foi moldada pra mim)
Sorriu ao se lembrar que na noite anterior ele ficara a olhando dormir, achando que ela não conseguia sentir seu olhar sobre si. Guardou novamente o bilhete no bolso e deixou uma última lágrima correr por seu rosto.
Agora ela sabia que não se encaixaria em nenhuma daquelas categorias, pois nenhuma daquelas pessoas possuíam algo que ela havia tido a sorte de conseguir desde que nascera: uma alma gêmea.

And I want you in my life
E eu quero você na minha vida
And I need you in my life
E eu preciso de você na minha vida


21


resmungou algo incompreensível enquanto jogava algumas roupas em cima da cama. Como conseguiria achar um pen drive no meio de tanta bagunça? Quando Makedde chegasse iria ter uma conversa séria com ela. Era humanamente impossível alguém viver no meio daquela bagunça.
Avistou um pequeno objeto branco embaixo da cama da colega de quarto e sorriu pegando o pen drive no chão.
Três meses haviam passado desde que trocara a Inglaterra pelo Japão. Já estava acostumada a rotina de estudos do curso de Design e mais acostumada ainda com a bagunça de Makedde, sua colega de quarto. Elas moravam em um dos apartamentos de um flat que também abrigava outros seis bolsistas de diferentes países. Makedde viera da Holanda e, apesar de achá-la um amor de pessoa, se irritava constantemente com a sua falta de organização. O telefone tocou e ela correu para atender, o relógio mostrava que eram três da tarde e ela soube que não era , ele provavelmente estava dormindo naquele horário.
O sotaque holandês de Makedde cantou em seu ouvido.
- , preciso que você me faça um favor. – Sem esperar por uma resposta, ela começou a dar as instruções sobre algum papel importante perdido na bagunça. tampou o bocal do telefone com a mão e xingou alto, amaldiçoando todas aquelas roupas e objetos espalhados pelo quarto.
Depois de finalmente achar o papel e passar as informações para Makedde, desligou o telefone e se concentrou em tentar terminar o trabalho do curso.

Quase duas horas depois salvou o que tinha feito no pen drive e se espreguiçou, ouvindo o estômago roncar. Resolveu checar os e-mails antes de fazer um lanche e viu que havia uma nova mensagem de em sua caixa de entrada, ele havia mandado algumas horas antes, provavelmente antes de ir dormir.

Acabei de chegar do ensaio, to morto de cansaço, mas produzimos muito. Amanhã vai ser difícil te ligar, eu e os caras vamos passar o dia fora e provavelmente chegarei tarde e cansado novamente. Assim que puder, ligo no horário combinado. Desculpe por isso. Te amo, .


Terminou de ler o e-mail com um suspiro. Era quarta-feira e ele ainda não havia ligado. Estava acostumada a ouvir a voz dele três vezes na semana, uma pelo telefone, as outras pelo Skype. Agora aquilo já estava se tornando raro, no final do dia mandava um e-mail avisando que era muito tarde e ele estava cansado demais dos ensaios com a banda.
Perguntou-se se na verdade ele não estava cansado dela e daquele relacionamento à distância.

- Cheguei! – Makedde entrou no pequeno apartamento com uma sacola grande de alguma loja japonesa.
- Oi, Mak. – a cumprimentou. – O que tem aí? – Apontou a sacola.
- A bolsa mais incrível já produzida! – Exclamou, dando um salto afetado. conteve uma risada ao lembrar que ela havia falado a mesma coisa de uma bolsa que havia comprado duas semanas antes.
Por alguns segundos chegou a sentir pena do pai de Makedde por precisar sustentar uma filha tão consumista sem supervisão e morando em outro país, mas então lembrou ela havia lhe falado que o pai era dono de uma empresa famosa na Holanda e em alguns países vizinhos. Makedde tirou uma bolsa marrom com alguns detalhes dourados da sacola e estendeu para que pegasse.
- Couro legítimo. – Avisou. – Sinta a maciez na parte de dentro. É exatamente o que eu estava procurando.
- Hm – refletiu, olhando todos os detalhes da bolsa. – É realmente linda. – Afirmou.
- Pode pegar emprestada quando quiser.
Ela pode ser uma vaca de vez em quando, mas pelo menos não é uma vaca egoísta, pensou.
O estômago roncou novamente e ela lembrou que precisava lanchar. Desligou o laptop e guardou o pen drive na bolsa. Observou novamente a bagunça e resolveu reclamar com Makedde depois, estava com muita fome para dar um discurso sobre organização e respeito pelo espaço alheio.
- Vou lanchar, tô faminta. – Anunciou, colocando a bolsa no ombro. – Quer vir?
- Vou! Comprar dá fome. – Reclamou. – Aonde vamos?
- Qualquer lugar que não tenha sushi. – brincou, trancando a porta.
Quando estavam caminhando pela rua em busca de alguma lanchonete, Makedde resolveu perguntar sobre .
- Ele mandou um e-mail mais cedo. – respondeu, sem muita vontade de tocar naquele assunto.
- Você tem sorte, Andy não dá noticia há alguns dias. – Makedde também havia deixado alguém para trás, mas, diferente de , Andy era apenas uma amizade colorida. – O que ele disse?
- Que chegou tarde e cansado em casa. – Deu de ombros. Makedde a olhou, sem saber o que falar para consolá-la. – Podemos nos concentrar apenas em achar algum lugar pra comer? Esse assunto vai acabar com a minha fome. – Falou, com sinceridade.
Mak sorriu, apertando seu ombro em sinal de compreensão. O consumismo e a falta de organização eram compensados pelo excesso de compreensão e preocupação.

# Flashback (3 anos antes)

- Hei, bem vinda a sua primeira festa de verdade! – falou, a abraçando com uma lata de cerveja na mão. A menina sorriu, observando a quantidade de pessoas que já estavam ali. A música estava alta e as luzes da casa estavam mais baixas que o normal, se ela não soubesse que ali era realmente a casa que e dividiam, podia jurar que era um lugar completamente diferente e desconhecido.
- Isso é... – Começou a falar quando um garoto passou por ela a olhando de cima a baixo e lhe lançando um sorriso – Igual, mas ao memso tempo diferente. – Falou em dúvida.
- É bem diferente do que você está acostumada, te garanto. - Provocou. - Vem comigo! – passou um braço por seus ombros e a levou até uma outra sala que estava sem móveis e parecia muitas vezes maior que o normal.
- Não é culpa minha se você sempre se recusou a me trazer em uma como essa. – Deu de ombros, se defendendo.
- Você era muito nova. Com dezesseis é uma boa hora pra começar a frequentar festas como essa. Mas nunca vá em uma sem mim. - Ameaçou rindo, mas sabia que ele falava sério.
- Uma bebida especial para a nossa convidada de honra. – apareceu sorrindo com um copo contendo uma bebida azul anil. olhou o copo em dúvida, arrancando uma risada do menino. – É bom, eu juro! Não garanto que eu saiba fazer de novo porque eu misturei muita coisa, mas ficou bom. Ficou até doce. – Bebeu um gole, entregando o copo para a menina em seguida.
- Hm... Vejamos. – Falou, cheirando a bebida sem encontrar um cheiro definido.
- Bebe logo, ! – empurrou a bebida até a boca da menina, fazendo-a rir.
- Ei, isso é bom! – Sorriu, bebendo mais um gole.
- Bebidas doces são as piores. Você fica bêbada e nem percebe. – reprovou, recebendo um olhar feio de . lhe estendeu a língua.
- Aproveitem a festa, crianças, eu estou indo aproveitar a minha em grande estilo. – sorriu, observando algumas garotas entrarem pela porta e depois se afastou indo até elas.
observou abraçar duas garotas pelos ombros e elas darem risada de algo que ele havia dito. ao seu lado deu um gole na bebida também observando a cena.
- Vai lá. – Falou naturalmente. Ou tentando parecer na natural. a olhou com a sobrancelha arqueada.
- Tá dispensando minha presença? – Tentou fazer uma cara ofendida.
- Tô tentando fazer você não perder seu tempo. Posso me virar sozinha. – Deu de ombros, observando as pessoas ao seu redor. Ou talvez não. – Vai logo! – O empurrou um pouco em direção a uma menina que estava o olhando desde que entrara na festa. lhe lançou um último olhar e ela forçou um sorriso, quando ele lhe deu as costas, virou o copo inteiro com a bebida azul em sua boca. Agora ela teria que se virar sozinha.

Caminhou pela casa desviando de algumas pessoas que pareciam já estarem bêbadas e foi até o quintal que estava mais vazio. Sentou em uma das espreguiçadeiras que haviam por ali e ficou observando a movimentação das pessoas, que vez ou outra lhe lançavam olhares estranhos como se questionasse o motivo dela estar sozinha e desanimada em uma festa como aquela.
- Oi. – O mesmo menino que a olhara quando ela entrou na festa apareceu ao seu lado.
- Oi. – Respondeu, um pouco sem graça. Não estava acostumada a conversar com pessoas estranhas, mas afinal ela estava naquela festa para quê?
- William, mas pode me chamar de Will. – O garoto estendeu a mão.
- , mas pode me chamar de . – Apertou a mão dele, ainda sem jeito. – Conhece os donos da casa? – Puxou o primeiro assunto que veio em sua cabeça. Se fosse pra conversar com estranhos, ao menos que ela controlasse a conversa.
- Meu primo conhece na verdade. É mais de um dono? – Perguntou, fazendo uma cara engraçada que fez a menina rir.
- São dois. O e o . – Respondeu calmamente.
- E você, conhece? – Will rebateu. concordou com um movimento de cabeça. – E veio sozinha?
- Não. Eu vim com meu... – Parou por um segundo. – amigo. – Completou, sorrindo fraco.
- E agora o seu amigo tá por aí agarrado com alguma mulher enquanto você tá aqui sozinha? – Perguntou, olhando em volta. mordeu o lábio inferior pensando no que responder.
- É, quase isso. – Deu de ombros.
Ficaram em silêncio durante alguns minutos, cada um olhando em uma direção. viu passar por ela agarrado em uma menina e rindo alto, pensou em chamá-lo apenas para cumprimentá-lo, mas quando se deu conta, ele já tinha entrado de novo na casa.
- Eu vou pegar uma bebida na cozinha. Aceita alguma coisa? – William perguntou, educado.
- Vou com você! – Se levantou sorrindo. Queria mais daquela bebida que havia lhe dado, mas como ela conseguiria fazer igual se não tinha idéia do que ele tinha misturado?
- Então, o que vai querer? – O menino perguntou, pegando um copo longo e mostrando a variedade de bebidas que estava na cozinha.
- Hm... Não sei bem. Meu amigo me ofereceu uma bebida muito boa, mas nem ele mesmo sabe como fez. – Riu sozinha.
- Posso tentar fazer uma também se você quiser. – William ofereceu. o olhou por alguns segundos pensando em recusar, mas o que poderia acontecer? Ele parecia ser legal.
- Tudo bem. – Concordou. – Consegue fazê-la ficar azul anil? – Perguntou em dúvida, arrancando uma gargalhada do menino.
- Isso é fácil. Posso fazer uma verde limão! – Falou, concentrado em misturar algumas bebidas.
- Ok! – Respondeu distraída.
Alguns minutos depois ela estava experimentando a bebida verde limão e recebia um olhar ansioso de Will.
- Ficou ótima! – Sorriu.
- Há! Sou mestre em inventar bebidas e de alguma forma elas sempre acabam ficando boas. – Comentou, pegando uma cerveja na geladeira. se sentou na bancada da cozinha bebendo a bebida calmamente e William encostou-se à mesa de frente pra ela. A música alta continuava a tocar na sala e as pessoas entravam e saiam da cozinha a todo o momento.

Quase uma hora depois os dois já estavam rindo das histórias que Will contava de sua infância. já tinha experimentado quatro tipos de bebidas de cores variadas que ele preparava pra ela. Observou Will conversar com o garoto que ele lhe apresentara como seu primo e agradeceu por ter sido simpática com ele ou estaria completamente sozinha naquela festa. Onde estava afinal?
- , preciso ir ali fora rápido. Volto em alguns minutos. – William sorriu simpático e ela concordou com um aceno de cabeça.
Observou a bebida rosa dentro de seu copo e suspirou, descendo da bancada. Saiu da cozinha percebendo que a casa parecia no mínimo três vezes mais cheia do que antes e ficou na ponta dos pés procurando algum rosto conhecido, nem sinal. Caminhou por entre as pessoas que dançavam insanamente e foi até a outra sala que estava mais vazia, mas ainda assim não conseguiu encontrar ninguém. Quando estava indo para o jardim, esbarrou com alguém.
- ! – Falou alto, quase abraçando o menino. Ficar sozinha naquela festa estava sendo sufocante.
- ! – Ele falou, já rindo. – Você não sabe o que o fez. – Riu mais um pouco, o suficiente para perceber que ele já estava, no mínimo, bêbado. – Sabe aquele menino que estava conversando com você?
- O Will? – Perguntou, arqueando a sobrancelha.
- É. Deve ser. Tanto faz. – Riu alto. – O falou... – Risos. – Falou pra ele ficar longe de você. – Mais risos. Histéricos dessa vez. – Você perdeu a cena!
- Espera! O pediu pro William ficar longe de mim? – perguntou em dúvida, sem entender direito o que falava. Além de rir muito, as palavras saiam emboladas e pareciam sem nexo para ela. Ele concordou com um aceno de cabeça. A menina abriu a boca algumas vezes sem conseguir emitir som algum.
- Ei, Ash! – gritou e, sem nem olhar para , se afastou, sumindo rapidamente entre as pessoas.
Ficou parada alguns instantes ainda olhando para o ponto onde sumira de sua vista. Sentiu algumas lágrimas chegarem até seus olhos, mas respirou fundo sem deixá-las cair. Odiava certas atitudes extremamente imaturas de . Afinal o que ele queria? Porque sozinha na festa ela já estava!

Foi até a cozinha e pegou duas cervejas na geladeira, saindo da casa sentando na mesma espreguiçadeira de antes. Abriu uma das latas de cerveja e deu um gole grande fazendo uma careta, ela nem gostava muito, mas não estava com saco de preparar bebidas coloridas.
Em quatro goles ela percebeu que a cerveja já havia terminado. Deu de ombros e abriu a outra, já se sentindo um pouco tonta, não estava muito acostumada a beber, ainda mais tão rapidamente.
Quando a segunda lata de cerveja estava no final, sentiu alguém sentar ao seu lado. Não precisava olhar quem era, conseguiria distinguir apenas pelo perfume a metros de distância. Ele encostou a cabeça no ombro dela, suspirando alto.
- Eu mandei aquele cara ficar longe de você. – Admitiu, embolando-se um pouco com as palavras. ficou em silêncio, esperando a raiva diminuir aos poucos. – Você não vai me xingar? Me bater? – Perguntou a olhando, ela não retribui o olhar. Sabia a melhor forma de fazer se sentir culpado. – Não me ignora, . Por favor, você sabe que eu odeio!
suspirou audivelmente e deu um último gole na cerveja, esvaziando a lata. Arrumou calmamente a pequena pilha que estava ao lado da espreguiçadeira e ouviu bufar ao seu lado e se deitar, passando a mão pelo rosto. Sorriu com a frustração do menino. Olhou a mão dele que estava com outra latinha de cerveja e pegou, bebendo o restante do liquido.
- Eu não sei por que eu fiz aquilo. Eu acho que estou bêbado. – Comentou rindo e arrancando uma risada irônica da menina. Ele achava?
Sentiu a cabeça pesar um pouco e sua vista embaçar por alguns instantes, talvez ela também estivesse bêbada. Ou pelo menos achava que estava. Deitou-se na espreguiçadeira ainda ao lado do menino e observou o céu escuro, as estrelas estavam brilhando mais que o normal ou era efeito do álcool?
Sentiu o olhar de em seu rosto e sorriu sozinha ainda com o olhar distante, nunca fora muito boa em ignorá-lo, sempre acabava cedendo aos pedidos de desculpa dele, aos sorrisos bobos e olhares de criança que ele lhe lançava. Virou o rosto encontrando o de a poucos centímetros do seu e pôde sentir o hálito de cerveja que saia da boca entreaberta dele. Normalmente não seria muito agradável, mas considerando que o dela estava igual, não importava muito.
- Eu acho que eu quero te beijar. – confessou baixo.
- Eu acho que você devia me beijar. – respondeu, em meio a um suspiro.
Fechou os olhos, sentindo afastar a franja que caia em seus olhos e depois acariciar sua bochecha. O hálito quente dele bateu mais forte em sua boca quando o nariz dele passou pelo seu e segundos depois os lábios dele estavam grudados nos seus.
Viraram-se de lado ao mesmo tempo, ficando praticamente um de frente por outro. contornou os lábios da menina com a própria língua e a ouviu gemer baixinho, abrindo a boca e deixando que a língua dele invadisse a sua própria. Deixou a mão que estava no rosto dela descer por seu braço, até chegar em suas costas, a puxou mais pra perto e sentiu ela passar uma das pernas por entre as suas.
Não importava se ele estava bêbado ou sóbrio. As sensações de ter só pra ele, mais do que normalmente, eram sempre as mais variadas. Tudo sempre parecia novo, como se ele a estivesse experimentando pela primeira vez. Era como se sempre houvesse uma nova parte que ele desconhecia, e ela deixasse para que apenas ele descobrisse.
Os dedos dela brincaram com seu cabelo num carinho provocante e deixou que seus dedos deslizassem lentamente para dentro da blusa que ela vestia. A barriga quente de se contraiu imediatamente ao toque de seus dedos frios. Mordeu levemente o lábio inferior dela ficando no controle da situação e sentiu o corpo dela grudar ainda mais no seu.
Virou-se deitando por cima do corpo de , já alheio ao fato estarem em uma festa. As pessoas ali estavam tão bêbadas quanto eles, ou até um pouco mais. Encaixou-se alternadamente entre as pernas dela e sentiu o corpo dar os primeiros sinais de alerta. Por que seu corpo sempre o entregava? Tudo era rápido demais com ela, como se ele sempre perdesse o controle.
Deixou a mão deslizar até as costas dela num carinho ainda tímido e sentiu a menina corresponder, passando a mão por dentro de sua camisa. É a e ela tem só dezesseis, é a e ela tem só dezesseis.
Ouviu sua própria voz gritar dentro de sua cabeça. Mas ele não a estava obrigando a nada, estava? E de qualquer forma, aquela relação já tinha saído do controle dele, não tinha? E fora muitos anos antes.
- . – Ouviu a voz arfante de falar em seu ouvido e apertou os olhos. – É melhor a gente ir pra um quarto.
Diz que não, diz que não, diz que não. - Vamos! – Levantou-se rápido, puxando-a pela mão e atravessou o jardim e a sala desviando das pessoas que dançavam animadamente.
apertou os olhos deixando que a guiasse, por que droga a vista dela embaçava o tempo inteiro?
- , esse não é o quarto do... – Começou a falar, mas foi interrompida pela boca de que já estava grudada na sua.
- Não importa! – Sussurrou com os lábios colados nos dela.
Caminharam às cegas pelo quarto, esbarraram em uma mesa e depois no criado mudo, antes de caírem na cama rindo. passou os braços pelo pescoço de enquanto ele se ajeitava na cama por cima dela e jogava alguns travesseiros pelo quarto. Um dos travesseiros derrubou a luminária em cima da mesa e fez um barulho alto.
- O vai nos matar. – riu.
- Ele vai entender. – deu de ombros, trilhando beijos pelo pescoço da menina. desceu as mãos até a barra da camisa dele e a puxou pra cima de qualquer forma, ele apenas levantou os braços a ajudando e sentindo as mãos formigarem para fazer a mesma coisa com ela.
Só dezesseis. Só dezesseis. Só dezesseis.
Por Deus, será que aquela voz não ia parar nunca? Ele estava bêbado, mas estava ciente do que estava fazendo. Ou pelo menos achava que estava. O dia seguinte responderia essa dúvida.
Abriu rapidamente os botões da camisa da menina e observou seu sutiã preto com alguns desenhos que ele não conseguiu identificar. Beijou o ombro dela que ia ficando descoberto enquanto ele tirava a blusa e ouviu a menina protestar tirando a própria blusa e jogando-a pra fora da cama.
passou a unha pelas costas do menino, ouvindo um gemido baixo escapar por entre seus lábios antes de eles se encaixarem com perfeição aos seus. Sua calça foi retirada tão rapidamente que ela não saberia dizer quem a arremessou pelo quarto, só percebeu que estava sem ela quando a mão de apertou sua coxa com força e sentiu os dedos dele passarem pela barra de sua calcinha algumas vezes num misto de pressa e indecisão.
- Merda. – sussurrou, sentindo o celular vibrar no bolso da calça.
Pegou o aparelho, xingando o infeliz do outro lado da linha.
- Fala! – Sua voz saiu mais fraca do que ele esperava. Ouviu a voz de do outro lado falando algumas palavras emboladas e depois ficar em silêncio.
Que droga estava falando? Tudo que ele tinha entendido fora "Blábláblá blábláblá."
.
Ele olhou a garota que lhe lançou um sorriso meigo e depois desviou o olhar para o teto do quarto.
Puta merda. .
- , eu te ligo depois. – Falou, passando a mão pela testa e desligando o celular, deixando-o em cima do criado mudo.
Apertou os olhos com o máximo de força que pôde e passou as mãos pelos cabelos, ainda sentindo o gosto da menina em sua boca.
Deitou ao lado de , também encarando o teto do quarto. Sentiu a tensão que havia se instalado por ali.
- Não dá. Desculpe. – Falou com a voz embargada. Sentiu um nó na garganta.
balançou a cabeça afirmativamente e mordeu o lábio inferior se sentando na cama, de costas pra .
Passou a mão pelos cabelos percebendo o quão bagunçados estavam e apertou os olhos por alguns segundos tentando recuperar a sobriedade.
- Nunca vai dar, não é? – Perguntou, estranhando o tom da própria voz.
a olhou sem entender.
Levantou-se, pegando a calça jeans jogada no chão e a vestiu passando os olhos pelo quarto escuro em busca da blusa.
- Eu nunca vou ser boa o suficiente pra você, ! – Aumentou a voz, fazendo o menino arquear a sobrancelha. – Você nunca vai conseguir me desejar dessa forma. – Pegou a blusa no chão, sentindo os olhos se encherem de água. Como ela havia sido ingênua. Ingênua e estúpida.
Quando estava abotoando a blusa, sentiu as mãos de se fecharem em seus pulsos e os puxarem em volta de sua cintura. Encostou a cabeça no ombro dele e deixou que algumas lágrimas caíssem.
- Entenda que você é muito mais desejável do que pensa ser, e que isso tudo é muito mais difícil e complicado do que você imagina. – falou baixo, com a boca colada em seu ouvido. Sentiu-a encolher um pouco os ombros sentindo cócegas. – Por favor, me desculpe. Eu não quis te magoar.
- Desculpe por ser uma pseudo bêbada chorona. – Falou, fazendo voz de criança e arrancando uma risada do menino.
- A gente finge que você está completamente fora de si. – segurou o rosto dela com as duas mãos, fazendo-a olhar em seus olhos e sorriu. – E você é muito mais do que eu jamais mereci. – Falou mais baixo, encostando a testa na dela e lhe dando um beijo de esquimó.

# End of flashback

entrou no loft e jogou a mochila no chão, deixando que seu corpo caísse com força no sofá. Ouviu o ruído na escada e soube que era Harte vindo saudá-lo. Fez um carinho no cachorro que abanava o rabo e tentava lamber seu rosto, animado por finalmente ter companhia em casa.
Desde que fora embora, o animal passava a maior parte do dia sozinho. andava ocupado com a banda que ele, , e haviam decidido levar a sério. Os ensaios eram intensos e duravam o dia inteiro, eles estavam confiantes quanto as composições e sabiam que tocavam bem, agora precisavam apenas de alguém com contatos que tivesse a mesma confiança que tinham em si mesmos.
Harte deitou ao lado do sofá, aproveitando os carinhos que o dono fazia em sua barriga. odiava deixá-lo em casa sozinho, mas não havia outra opção. Eles ensaiavam na casa de e a mãe do amigo tinha alergia a pêlos, se levasse Harte, seria barrado na porta.
Os ponteiros do relógio de parede apontavam para direções opostas, indicando que faltava meia hora para a meia noite. Perguntou-se se estaria em aula ou ainda em casa, não sabia ao certo que horas o curso começava e quanto tempo ela demorava para chegar até lá. Pegou o telefone e a agenda para checar o número do celular que ela havia lhe dado. Havia feito uma ligação para aquele número apenas na primeira semana sozinho no loft. Sentira vontade de ouvir a voz dela e decidira ligar para seu celular, apenas para dizer que já ia dormir e desejar-lhe um bom dia.
Digitou os números rapidamente, temendo mudar de idéia ou acabar adormecendo no sofá por causa do cansaço. Após quatro bipes atendeu, a voz um pouco falha.
- Hei. – Sorriu sozinho, apertando o telefone contra a orelha.
- ? – A voz dela suavizou. podia ter jurado ouvir um suspiro de alivio escapar pelos lábios dela. Havia sido tão estúpido por deixar que aquela semana passasse sem ter contato algum com ela.
- Você tá ocupada? Se estiver em aula posso ligar outra hora. – Na verdade ele queria falar com ela naquele momento, não queria ter que esperar.
- Não, eu... – Ouviu uma voz feminina ao fundo e deduziu ser Makedde, a colega de quarto. respondeu algo que ele não entendeu. – Eu ainda estou em casa, estava arrumando as coisas para ir para o curso.
O silêncio se apoderou da linha, enquanto eles pensavam no que falar.
- Tá tudo bem por aí? – perguntou, sentando na cama e abraçando as pernas.
- Tudo certo. Desculpe por não ter ligado antes, eu só... As coisas estão corridas. – Suspirou.
- Tudo bem, eu entendo.
Outro silêncio, dessa vez ainda mais desconfortável que o anterior.
- O Harte tá aqui do meu lado. – observou o cachorro levantar as orelhas ao ouvir seu nome. – Se ele pudesse falar, diria que está com saudade.
sorriu, sentindo um aperto ao lembrar do cachorro que havia sido seu companheiro durante tanto tempo. Harte tinha um jeito único de demonstrar afeto, podia jurar que ele era mais humano do que muitas pessoas por aí.
- Na verdade ele diria que nós dois estamos com saudade. – Confessou.
Uma lágrima desceu solitária pela bochecha da menina. Segurou o telefone com mais força, desejando que ele pudesse transportá-la para Londres.
Suas respirações calmas eram as únicas coisas quebrando o silêncio. Nenhum dos dois se incomodava de ficar assim por minutos ou até horas, era tranqüilizador poder escutar suas respirações juntas.
- Também sinto falta de vocês. – finalmente respondeu.
sorriu do outro lado da linha. Depois de tanto tempo em silêncio, achou que ela não fosse dizer nada. Sua mente girou tentando encontrar motivos para ela demorar tanto responder, se é que havia algum.
Um bocejo escapou por entro os lábios do garoto, fazendo-o amaldiçoar a si mesmo por deixar que aquilo acontecesse.
- , você tá cansado. – Ele estava mesmo, mas apenas negou com um grunhido estranho. Não queria desligar o telefone. Passara uma semana sem ouvir a voz de e nem ao menos tinha se dado conta do quanto aquilo lhe fazia falta.
- Me conta como foi sua semana. – Mudou de assunto. Queria que ela falasse, queria ficar ouvindo sua voz falar aleatoriedades até ele esquecer o resto do mundo.
contou sobre os consumismos de Makedde, resumiu o que tinha aprendido no curso e tentou cantar um trecho de uma música japonesa que ela havia gostado, o que fez gargalhar e prometer procurar pela música na internet.
- Que falta a sua risada me faz. – fechou os olhos, tentando se concentrar naquele som. Ouviu suspirar do outro lado da linha. – Eu meio que preciso ir pro curso, não posso faltar a aula hoje. – Falou sem vontade.
- Que horas começa?
- Hm, na verdade já começou. – Confessou, soltando uma risada sem graça.
- Não vou te prender mais. Boa aula.
- Brigada.
Alguns segundos se passaram sem que eles tivessem coragem de dizer mais alguma coisa. Por fim decidiu deixá-la ir.
- Amo você. – Sussurrou.
- Também amo você.

Desceu as escadas passando a mão pelo cabelo molhado e bagunçando-o completamente. A televisão estava ligada em algum canal que mostrava um filme de guerra que ele não reconheceu. O relógio da cozinha agora marcava quase uma da manhã, sabia que precisava dormir, mas depois de falar com perdera completamente o sono. Observou Harte dormir pesadamente e o invejou por alguns segundos, ele parecia completamente alheio a qualquer barulho ou movimentação.
Decidiu preparar alguma coisa para comer e depois tentar dormir de uma vez, não ia ajudar ficar vagando pela casa feito um zumbi.
O post-it amarelo na porta da geladeira o fez sorrir sozinho. havia deixado vários parecidos com aquele espalhados pela casa. Alguns continham algumas “dicas de sobrevivência”, como ela mesma dissera, outros trechos de músicas ou pequenos poemas. Mesmo depois de três meses, ainda encontrava alguns novos bilhetes em cantos mais escondidos do loft. O que estava na porta da geladeira era uma das dicas de sobrevivência como, por exemplo, “lembre-se que o leite azeda rápido”. Por mais que lesse aquilo, o leite sempre acaba azedando, o que o irritava mais do que deveria.
Dias antes havia encontrado um post-it rosa que continha os dizeres; “Se você não se atrasar demais, posso te esperar por toda a minha vida.”
sabia que adorava aquele pensamento de Oscar Wilde, ela tinha lido em um livro quando era mais nova e adorava escrevê-lo em cadernos e blocos de anotações.
Fez um sanduiche rápido, apenas com queijo e uma rodela de tomate, resolveu comer na cozinha mesmo, se subisse, não iria descer novamente para deixar o prato na pia. Em menos de dois minutos já havia acabado de comer, se estivesse lá provavelmente reclamaria da sua rapidez e lhe explicaria a importância de uma mastigação lenta. Por mais que ela lhe desse os mesmos sermões quase diariamente, ele confessava que adorava quando ela se irritava com suas mancadas. Agora a voz um pouco alta e estressada dela fazia falta.
Deitou na cama fria e tentou não sentir falta de um corpo quente e feminino ao seu lado, mas foi em vão. A cama de casal parecia maior do que nunca, como se seu corpo fosse pequeno demais para ela. Havia comprado lençóis novos e mandado lavar os mais antigos, depois de mais de um mês dormindo com o cheiro de o enfeitiçando, decidira que precisava se livrar daquilo ou enlouqueceria.
Os lençóis novos eram feios e sem cheiro, tudo que não era.
Ouviu o barulho de trovão do lado de fora e se encolheu na cama. Seus olhos focaram no porta retrato que ficava no criado mudo, a foto havia sido tirada quando levou em Notting Hill, o sorriso dela quase não cabia no próprio rosto. Fechou os olhos e tentou não pensar em nada, tentou ver a escuridão, apenas um vazio preto, era assim que fazia para dormir desde que havia partido. Nas primeiras semanas sua mente vagava pelas lembranças, o que fazia com que o sono desaparecesse e a noite fosse passada em branco.
Preto.
Escuridão.
Era a única coisa que ele podia imaginar agora.
Era tudo que ele era capaz de ver.

22


caminhou pela sala da casa de , suas mãos suavam dentro do bolso e ele tinha a impressão de que poderia vomitar a qualquer momento. Já havia feito círculos por toda a casa, caminhado pelo jardim, sentado na escada, nada parecia aliviar seu nervosismo.
Sentou no sofá, tentando encontrar uma maneira de ficar confortável, mas nenhuma posição lhe parecia agradável.
Os passos de na escada fizeram com que ele se levantasse num pulo.
- Vamos? – O amigo lhe deu alguns tapinhas no braço.
Concordou, apenas mexendo a cabeça, sentindo-se incapaz de dizer qualquer coisa.
cantarolava baixinho, aparentando tanta calma que fazia com que ficasse ainda mais nervoso. Observou o amigo, tão confiante e relaxado, e sentiu inveja. A tensão estava o matando.
- Você parece muito nervoso. – comentou, observando as mãos inquietas do amigo.
- E você parece muito calmo. – Replicou.
deu uma risada nasalada, mexendo a cabeça negativamente.
- Esse é o segredo. Eu apenas pareço calmo, por dentro devo estar que nem você. – o observou por alguns segundos, desejando poder imitá-lo. – Eles não já disseram que vão assinar? Se aparentarmos muito nervosismo vão começar a duvidar da nossa capacidade. Somos bons, cara. – Tocou o braço de com o punho fechado.
- Não acredito que convencemos um produtor a nos contratar. – Riu, incrédulo. – Dois meses atrás éramos só uma bandinha de garagem com esperanças demais pra pouca oportunidade.
- E agora estamos indo assinar um contrato com uma gravadora. – completou.
Os dois se olharam e sorriram, ainda tentando processar como tudo aquilo havia acontecido em tão pouco tempo.

- Cara, minha mão tá suando. – comentou, passando as palmas das mãos pela calça jeans, tentando secá-las sem sucesso.
- Fica calmo, cara. Vai dar tudo certo.
- O tá quase verde. – riu, apontando para o amigo.
respondeu lhe mostrando o dedo do meio e escondendo o rosto nas mãos. Se ele não se acalmasse ia acabar vomitando ali mesmo.
- Alguém pensou em um nome pra banda? – olhou os amigos negarem. – Eles vão perguntar e nós vamos ficar sem resposta. De novo.
- Podia ser, hm... Skywalker. – sorriu.
fez careta, negou e riu.
- Certo. Nada de Skywalker. – Conformou-se.
- Nem Jedi, Yoda, ou qualquer coisa relacionada à Stars Wars. – comentou, já sabendo o que passava na cabeça do amigo. – E nem Star Trek!
- Droga! – Reclamou.
Ouviram uma batida na porta e viraram-se ao mesmo tempo, já sabendo quem era.
- Olá, rapazes. Podem me acompanhar. – Mark, o provável empresário da banda apontou para um corredor longo e seguiu na frente dos garotos. – Agora vocês vão entrar em uma pequena reunião com o produtor e alguns executivos da gravadora. Nada demais, mas eles querem bater um papo sério com vocês e ver se vocês realmente têm futuro.
Os quatro amigos se entreolharam, demonstrando todo o nervosismo pelo olhar. Suas mentes trabalhavam rápido, tentando se conformar de que aquilo tudo estava realmente acontecendo, de que existia uma chance real da banda dar certo e gravar um cd.
- Prontos? – Mark os olhou, tentando lhes passar confiança. – Vai dar tudo certo. – Sorriu.
Após dar três batidas na porta, entrou, fazendo uma rápida apresentação dos garotos e pedindo para que eles se sentassem.

foi o ultimo a assinar o contrato, sua mão tremia tanto que ele estava com medo de deixar a caneta cair ou desmaiar em cima do papel. Sua assinatura lhe pareceu estranha, mas fez o melhor que pôde para controlar o nervosismo. Quando Richard, o produtor, sorriu para ele, pegando o contrato de sua mão, uma voz conhecida em sua cabeça ecoou, assustando-o.
deu um tapinha nas costas do amigo, trazendo-o novamente para a realidade.
- Tá pensando no quê?
- Pra ser honesto, nada. – Sorriu.
- Bem vindos à Extreme Records, garotos. – Richard os olhou. – Quero que vocês voltem daqui a duas semanas com uma lista de possíveis músicas para o álbum. Quinze delas pelo menos. Já dei uma lida em algumas composições de vocês e gostei do que vi, espero que tenha mais de onde aquelas vieram. – Guardou o contrato da maleta e fez um gesto com a mão, indicando que a reunião estava encerrada. – Vejo vocês em duas semanas. Até lá. – Fechou a porta, deixando os quatro sentados, ainda sem saber direito o que fazer.
- Quinze? Sério? – olhou os amigos. – Temos uma seis ou sete. Como vamos escrever mais oito em duas semanas?
- Vamos dar um jeito. – deu de ombros.
- Somos contratados agora. Richard confia na gente. – se levantou e deu um tapinha no ombro de cada um dos amigos. – Vamos voltar em duas semanas com vinte músicas, vamos ganhar ainda mais a confiança de Richard e vamos gravar o álbum. – Disse, confiante.
- E depois vamos dominar o mundo. – debochou, recebendo um olhar feio de . – Certo, vamos logo porque essas músicas não vão cair do céu.

- Tchau, cara. A gente se vê amanhã. – deu um abraço rápido em e entrou em casa.
caminhou pela rua vazia e gélida, suas mãos estavam bem protegidas dentro do bolso do moletom, mas podia sentir suas orelhas começarem a pedir por socorro. Resolveu apressar-se já que o carro não estava estacionado muito longe dali. Resolvera ir com para a gravadora apenas por medo de se perder e chegar atrasado.
Entrou no carro e ligou o aquecedor com pressa. Ficou alguns instantes com o carro desligado, apenas aproveitando a temperatura alta. Algumas memórias familiares invadiram sua mente e quase foi capaz de sentir o perfume que sempre era deixado no carro depois de entrar nele.
- Droga! – Resmungou, ligando o carro e dirigindo apressado pelas ruas.
Fora a voz dela que ele ouvira enquanto assinava o contrato. A voz dela que ainda era presença constante em seus sonhos e em sua mente, mesmo que estivessem há semanas sem se falar.
Dirigiu sem saber direito para onde estava indo, resolvera apenas seguir seus instintos e não parou até entrar em uma vizinhança conhecida.
Desceu do carro e caminhou pela rua de casas parecidas e jardins bem cuidados. Uma casa azul clara chamou sua atenção, ela parecia vazia, mas pelo estado conservado alguém com certeza ainda morava ali.
“Espera, , assim eu nunca vou te alcançar”
“Se eu beijasse você, não ia ser nojento?”
“Não sei, quer tentar?”
, seu idiota! Vai pagar caro”
“Você não vai conseguir acertar em mim!”
“Tô te passando calor humano, !”
“Eu fui horrível, não fui?”
“Promete que você não vai me deixar nunca não importa o que aconteça? Mesmo se eu estiver, sei lá... no Japão e você estiver nos Estados Unidos.”

- Sai da frente! – Uma voz infantil o acordou, fazendo com que ele pulasse para fora do passeio poucos segundos antes de duas crianças passarem correndo de patins.
Agora ele sabia por que tinha ido até lá, sabia que casa era aquela que atraíra sua atenção, havia lembranças demais ali.
Observou mais uma vez sua antiga casa e caminhou pela rua, contando o número de casas que separavam a dele da de . Antigamente, quando era bem mais novo, achava aquelas casas todas muito parecidas e decidira contar a distância de sua casa para a de para nunca se perder ou entrar na casa errada.
A antiga casa de , diferente da sua, estava bastante movimentada. Algumas crianças brincavam no jardim e ele podia ouvir vozes animadas dentro da sala.
Um casal de crianças brincava animado quando a garota, visivelmente mais nova que o menino, machucou a mão e deixou que algumas lágrimas caíssem. Antes que ela pudesse correr em busca da mãe, o garoto pegou a mão dela na sua e beijou o machucado, fazendo a menina sorrir.
“Eu não ia pedir pra você tentar se soubesse que vai te machucar.”
fechou os olhos por alguns segundos e fechou os punhos, sentindo a unha curta machucar a pele. Por que havia ido até lá? Aquelas lembranças não o estavam fazendo nada bem.
Virou de costas para as crianças e saiu correndo em direção ao carro, aquilo tudo era demais para ele.
Pegou o celular e discou o número já tão conhecido. Pensou alguns segundos antes de fazer aquilo, mas, quando deu por si, já estava apertando o aparelho contra a orelha e desejando ouvir aquela voz novamente.

# Flashback (3 anos antes)

As vozes no andar debaixo pareciam aumentar a cada minuto que passava. As vozes masculinas se misturavam entre gritos e risadas, e fazia com que a garota se encolhesse cada vez mais na cama. A chuva forte batia na janela e o frio estava se tornando insuportável.
olhou o relógio na cômoda que marcava pouco mais de onze da noite e desejou poder fugir dali. Deixar aquela casa pra sempre. Estava cansada de seu pai, dos amigos dele, das palavras que a feriam como facas em suas entranhas. Ela precisava ir embora, aquela vida não era pra ela.
- Por que você foi embora, mãe? – Sussurrou.
Se ela ao menos tivesse um celular poderia ligar para alguém. Mas a quem ela queria enganar? Só havia uma pessoa a quem ela podia recorrer.
Fungou alto, engolindo o choro e apertando os olhos para tentar afastar as lágrimas, estava cansada de chorar pelo mesmo motivo. Sempre pensou que os pais existiam para proteger os filhos, para fazê-los se sentirem amados, para dar carinho. Nenhum pai tem o direito de machucar a própria filha. Havia aprendido sozinha que a dor emocional era muito pior que a dor física.
Ouviu passos no corredor e fechou os olhos com força, respirando calmamente. A luz de fora invadiu seu quarto e pôde sentir alguém observá-la por alguns instantes antes da porta ser fechada sem cuidado.
- Ela já está dormindo. – Ouviu a voz de seu pai se afastar.
Se ele veio checar agora, pensou, não vai checar de novo. É minha chance.
Levantou-se com cuidado para não fazer barulho e trocou de roupa rapidamente.
Colocou o enorme moletom por cima da blusa de manga comprida e uma calça jeans velha. Não se preocupou em amarrar a bota preta ou em prender o cabelo, apenas pegou o guarda-chuva e desceu cuidadosamente pela janela. Agachou-se para passar pela janela da sala e, quando chegou à calçada, correu até sentir suas pernas implorarem por descanso.
Olhou para os lados, tentando se localizar e percebeu que estava perto de uma linha de metrô. Antes que pudesse dar cinco passos, uma rajada de vento fez com que seu guarda-chuva entortasse e voasse para longe. Xingou alto, voltando a correr, mesmo sentindo que suas pernas poderiam ceder a qualquer momento.
Quando finalmente chegou à plataforma do metrô, tirou o capuz e espremeu um pouco o cabelo, na tentativa de secá-lo o máximo que podia. O frio estava congelando seus ossos e ela estava encharcada dos pés à cabeça.
Comprou o ticket e esperou alguns instantes antes de entrar em uma das carruagens. Algumas pessoas a olharam torto por estar molhada e uma senhora chegou a se afastar quando ela sentou ao seu lado. Preferiu baixar os olhos para o chão e esperar que aquela viagem fosse rápida.

Saiu da plataforma percebendo que a chuva havia ficado mais fraca e agradeceu mentalmente. Seu estado já estava acabado demais para mais chuva.
Caminhou apressada pelas ruas escuras e vazias, começando a se arrepender de não ter pegado dinheiro suficiente para um táxi. Nunca havia sentido tanto medo por estar sozinha, se algo acontecesse, como iria pedir por socorro?
Avistou o prédio já conhecido e apressou o passo, tocando a campanhia do loft e rezando para que estivesse lá. Não poderia voltar pra casa, se seu pai percebesse que ela havia saído escondida... Preferia nem imaginar o que aconteceria.
- Vamos, , atende. – Buzinou mais algumas vezes, sentindo toda a esperança se esvair.
Ouviu o portão se abrir e uma senhora sair de dentro do prédio, sorrindo ao vê-la.
- Olá. – Cumprimentou.
sorriu, sem saber direito o que fazer. Pelo menos ela não havia saído correndo, achando que iria ser assaltada ou algo do tipo.
- Você quer entrar? Já te vi por aqui. Amiga do , certo?
- É. Prima, na verdade. – Um sorriso de alivio surgiu em seu rosto.
- Entra. – Abriu a porta para que passasse e a observou. – Não vai subir?
- Er... O não está aí. Ou não está atendendo o interfone. – Deu de ombros. – Sei onde ele guarda a chave de emergência, mas não sei se devo.
- Minha querida, pelo que eu percebi, vocês dois são muito próximos. Tenho certeza que ele não vai se importar.
concordou e agradeceu antes de subir o elevador, aliviada, mas ainda nervosa pela ausência de .
Pegou a chave que ele guardava escondida na planta do corredor e abriu a porta do loft, sentindo-se finalmente segura.
Tirou as botas pesadas e as colocou no canto. O moletom molhado a estava incomodando, assim como todo o resto da roupa. Subiu para o quarto e pegou um moletom preto de , entrando no banheiro em seguida.
Saiu de lá quinze minutos depois, já com a roupa e o cabelo seco. Agradeceu por guardar um secador na gaveta, mesmo que pensasse que ninguém sabia daquilo.
Caminhou pelo loft escuro, observando os pequenos amontoados de bagunça que deixava espalhado em todos os cantos. A cama ainda estava desarrumada e a toalha jogada em cima dos lençóis. Tocou o travesseiro, sentindo o perfume dele lhe invadir de imediato. O armário estava com uma das portas abertas, revelando um monte de roupas entulhadas e jogadas de qualquer forma.
Desceu as escadas e viu um pote de cereais esquecido ao lado do sofá. Sorriu sozinha. Era incrível como ele podia ser o oposto dela e ao mesmo tempo parecer tão igual. Controlou a vontade de arrumar tudo. Aquela era a bagunça dele, não queria invadir sua privacidade.
Deitou no sofá e abraçou uma das almofadas. A escuridão e o silêncio a fizeram cair em inconsciência antes que ela pudesse pensar em qualquer coisa.

fechou a porta do loft e tirou o moletom, agradecendo por finalmente estar em algum lugar quente e aconchegante. Ia jogá-lo no sofá quando viu que havia um corpo deitado nele. Deu um passo pra trás antes de reconhecer aqueles cabelos espalhados pela almofada e aquelas pernas desnudas com as quais já havia sonhado tantas vezes.
- ? – Chamou baixo.
Sentou na ponta do sofá e a observou respirar calma e pausadamente. Imaginou o que havia acontecido para ela ter ido parar no loft e como havia conseguido entrar no prédio. Procurou por algum vestígio de agressão, já pensando nas diversas maneiras de destruir a cara do pai da garota. Respirou aliviado ao perceber que não havia hematomas, pelo menos não nas partes descobertas do corpo dela.
Sua mão foi de encontro ao rosto de e seu polegar fez um carinho leve na bochecha quente dela. Não queria acordá-la, mas estava preocupado e queria saber o que havia acontecido. Continuou com o carinho até ela resmungar algo e despertar aos poucos.
- Oi. – Sussurrou, quando os olhos dela encontraram os seus.
- Oi. – sorriu, ainda sonolenta.
- Aconteceu alguma coisa? – Ela se sentou no sofá e ficou próxima a ele.
procurou em seu rosto sinais de medo, mas a única coisa que percebeu foi sua feição de alívio.
- Desculpe pela invasão. – Mordeu o lábio inferior, demonstrando seu constrangimento. – Não aconteceu nada, não se preocupe. – A mão dela alisou sua testa carinhosamente, fazendo com que sua expressão se acalmasse. – Fugi de casa, meu pai e os amigos dele estavam bebendo e jogando. Estavam sendo os babacas de sempre. – Deu de ombros.
- Por que não me ligou?
- Ele pegou meu celular. – balançou a cabeça, indignado. Aquele miserável iria pagar por tudo que estava fazendo com a filha. – Ei. – segurou seu rosto. – Tá tudo bem agora.
- Ele não pode fazer isso com você, !
- , fica calmo, por favor. – A menina pediu, segurando o rosto dele com as duas mãos e trazendo-o para perto do seu. – Eu tô aqui agora. Ele não fez nada comigo, ele só está sendo o canalha de sempre. Esquece isso, por favor.
Aos poucos a expressão no rosto de foi se acalmando e sua respiração voltando ao normal. Deixaria para pensar em alguma forma de matar o pai dela outro dia. Aquilo tinha que parar, nenhum pai pode maltratar uma filha dessa forma.
- Você ta aqui há muito tempo? – Perguntou, vendo a menina sorrir e negar, olhando para o relógio.
- Acho que deve ter uma hora. Eu apaguei assim que deitei no sofá.
segurou as mãos dela e beijou cada um de seus dedos com ternura. O sorriso no rosto dela era calmo e seus olhos estavam atentos a cada movimento seu. Sentia-se bem por saber que ela estava segura ali, se pudesse a manteria ali em segredo até que completasse dezoito anos e pudesse sair de casa.
Seus lábios encontraram os dela por breves segundos e depois foram de encontro a sua bochecha macia e quente.
- Fico feliz que esteja aqui. Sinto sua falta.
- Também sinto sua falta. – o abraçou apertado. – Agora vai tomar banho e dormir, você deve estar cansado.
- Dorme bem. – sorriu, fazendo um carinho na nuca da garota. Ela sorriu, com a boca e com os olhos, desejando-lhe boa noite.

# End of flashback

observou o cardápio, tentando controlar a gula e não pedir todas aquelas coisas gostosas. Ainda eram oito da manhã e não estava assim tão faminta. Acabou optando por um capuccino diet e um muffin salgado. Chamou a garçonete e fez o pedido, esperando que Makedde não demorasse muito ou iria comer sozinha.
Observou as pessoas ao redor e reparou que se tivesse chegado um pouco mais tarde, não iria encontrar nenhuma mesa vazia. Será que ninguém no Japão tomava café da manhã em casa?
Viu Mak entrar afobada pela porta e levantou um dos braços para chamar sua atenção.
- Bom dia. Desculpe pelo atraso. – Sentou, colocando a bolsa na cadeira ao seu lado e sorrindo para a amiga. – Que bom que você chegou antes, ahn? Esse lugar está lotado!
- Pensei nisso agora a pouco.
- Já pediu? – Mak perguntou vendo a amiga assentir. – Vaca, nem me esperou.
- Desculpe, achei que você fosse demorar um pouco mais.
Makedde chamou a garçonete e pediu um Caffe Latte e dois cookies com gotas de chocolate, fazendo se perguntar como diabos ela conseguia ser tão magra. Conhecia Makedde há pouco mais de cinco meses e ela sempre parecia carregar algumas barrinhas de chocolate na bolsa. Se comesse aquele tanto de doces já teria engordado pelo menos cinco quilos.
Viu que a amiga a observava com um sorriso estranho no rosto e franziu a testa.
- Que foi?
Makedde suspirou, como se juntasse coragem para falar.
- Você falou de novo. – Disse simplesmente.
a olhou sem entender. O que ela havia falado de novo?
- Essa noite, enquanto dormia. – Explicou. – Você falou o nome dele.
sorriu sem graça. No último mês havia criado a estranha e incomoda mania de chamar por enquanto dormia. Não sabia o motivo e não lembrava de ter habitando seus sonhos, mas Mak a alertara depois da segunda noite seguida. Conseguira passar a última semana sem que isso acontecesse, mas parecia que a mania estava de volta.
- Você pediu pra ele não te deixar. – Makedde completou.
Antes que pudesse responder, a garçonete voltou com os pedidos e os serviu. As duas sorriram em agradecimento e deixaram que o silêncio predominasse na mesa enquanto comiam.
A mente de trabalhava a mil por hora, tentando encontrar alguma razão para que sua maldita falação houvesse voltado. Por mais que tentasse, não conseguia lembrar-se com o que sonhara, não podia saber se fora com ou não.
Olhou o celular para ver se havia alguma nova mensagem ou talvez uma chamada perdida, mas não encontrou nada novo. Exceto o fato de não falar com há quase um mês, não havia motivo para que tudo aquilo estivesse acontecendo novamente. Quanto mais pensava no assunto, mais se conformava de que precisava falar com , mesmo que fosse apenas por um minuto, apenas para ouvir sua voz e espantar aquela sensação de que estava o perdendo para a distância.
Depois de passarem no caixa para pagar, seguiram apressadas para o metrô ou chegariam atrasadas na aula.
- Tem uma festa amanhã naquele clube perto do centro. – Mak finalmente quebrou silêncio. – Quer ir?
- De quem é a festa?
- Não sei. – Deu de ombros, fazendo a amiga rir. – Alguém do curso. Quer ir?
- Hm, acho que sim. Não sei. – Hesitou.
- Vamos. Você não tem nada melhor pra fazer que eu sei. Fora que vai te ajudar a esquecer um pouco os problemas. – sabia exatamente a qual problema ela se referia.
- Tudo bem, mas nada de voltar pra casa cinco da manhã. – Lembrou da última festa que Makedde havia ido.
- No máximo três. Prometo. – Cruzou os dedos indicadores e os beijou, fazendo uma cara infantil.
sorriu achando graça no jeito da amiga. Apesar de medir quase um e oitenta e ter um rosto de mulher madura, Makedde podia ser tão infantil quando queria.

Entrou no apartamento jogando a bolsa no sofá e largando o corpo cansado na poltrona em frente a televisão. Makedde entrou logo em seguida e fechou a porta, imitando a amiga e se jogando no sofá. Tiveram que correr da chuva que começara a cair quando estavam a menos de trinta metros do flat.
- Morri. – Mak comentou com a voz cansada. – Preciso voltar a me exercitar.
- Academia já! – apoiou.
- A luz de recados tá piscando.
- Tô com preguiça de estender o braço e ouvir a mensagem. – Olhou Makedde e percebeu que ela estava ainda mais longe do telefone e de forma alguma iria se levantar para checar os recados. Bufou, se levantando preguiçosamente e apertando o botão vermelho.
“Oi. Hm, sou eu. – pausa – .”
viu Makedde se sentar no sofá e a olhar. Não disse nada, apenas ouviu o resto da mensagem.
“Eu, er... Faz tempo que a gente não se fala. Acho que você não tá em casa agora, não tenho certeza. – outra pausa – Só queria saber como andam as coisas. Passei pela nossa antiga rua e lembrei dos velhos tempos. E bom, eu e os caras fomos contratados por uma gravadora. Somos uma banda séria agora. – riu. – Acho que daqui a pouco a secretária vai me cortar. Queria ouvir sua voz, às vezes tenho a impressão de que esqueci como ela é. – mais uma pausa, dessa vez ainda mais longa. – Certo, era isso. Fica bem.”
e Makedde permaneceram em silêncio, ainda encarando o telefone sem saber o que dizer.
Antes que conseguisse formar alguma frase que fizesse sentido, apertou o botão vermelho novamente e a mensagem se repetiu.
Uma.
Duas.
Três vezes.
- Vem aqui. – Makedde segurou os ombros da amiga e a sentou no sofá. – Se eu ouvir essa mensagem mais uma vez acho que vou enlouquecer.
- Fica bem? – Repetiu, com a voz fraca quase falhando.
- Hm, foi o que ele disse. – Mak sentou-se ao lado dela e segurou seu braço.
- Fica bem? – Repetiu, dessa vez com a voz firme e alta. – Ele não dá noticia durante quase um mês e agora me manda ficar bem?
- , sem querer defender ninguém... Você também tem o telefone dele. – As duas se entreolharam. – Quer dizer, você também poderia ter ligado.
Droga. odiava a sinceridade de Makedde. Ela podia ter lhe poupado dessa vez.
- Liga pra ele. – observou a amiga pegar o telefone e colocá-lo em sua mão. – Estarei lá no quarto se precisar de mim. – Sorriu sincera.

10 minutos depois **

passou os dedos pelas teclas pelo que parecia a milésima vez. Sabia de cor o número que precisava discar para falar com , mas cada vez que pensava no que falar, as palavras sumiam e sua mente esvaziava.
O que estava acontecendo com ela?
O que havia acontecido com eles?

25 minutos depois **

Discou o número, reunindo toda a coragem que pôde, mas não conseguiu apertar a única tecla que faltava. O Talk destacado das outras teclas parecia chamar sua atenção mais do que qualquer outra. Ela só precisava apertá-lo. Bastava aquilo para que o telefone do loft tocasse e atendesse.
Off.

30 minutos depois **

- Alô? – A voz sonolenta de atendeu no quarto toque.
Ele estava dormindo.
- Alô? – Repetiu.
abriu a boca na intenção de falar oi, mas nenhum som foi emitido. A respiração dele era ruidosa e ela desejou poder tê-la perto do seu ouvido, sem países de distância entre eles.
resmungou algo incompreensível e ela percebeu que teria que falar alguma coisa.
- Oi. – Falou, o mais alto e claro que pôde, mas pareceu baixo até para si mesma.
- ?
- Isso. – Sorriu. – Desculpe por te acordar, não prestei muita atenção ao horário.
- Não tem problema, eu teria que acordar daqui a pouco mesmo.
brincou com a almofada em seu colo, pensando no que poderia falar primeiro. Havia tantas coisas que ela queria dizer. Queria conseguir expressar a falta que ele vazia em sua vida, e como era estranho acordar sozinha na cama sem os braços dele ao redor de sua cintura ou como sem a risada e os sorrisos bobos dele ela se sentia incompleta.
- Parabéns pela banda. Diz aos meninos que eu não poderia estar mais orgulhosa. Já tem um nome?
- Hm, ainda não. – fez uma pausa para bocejar, fazendo a menina rir. – O teve algumas idéias idiotas, todas envolvendo Star Wars ou Star Trek.
- Aposto que ele sugeriu Yoda, Skywalker e Spock. – Riram.
- Bem por aí.
observou Makedde sair do quarto e sorrir pra ela, perguntando se era no telefone. Confirmou sorrindo.
- Você disse que passou pela nossa antiga rua. – Disse, depois de alguns instantes de silêncio.
- É, passei. – respondeu, simplesmente.
A menina controlou a vontade de perguntar por que, mas achou melhor não aprofundar o assunto. Se ele não havia dito ainda era porque, provavelmente, não queria tocar no assunto.
O silêncio constrangedor que vinha tomando conta das conversas os incomodava mais do que qualquer outra coisa. Desde quando existiam silêncios constrangedores entre eles? Sempre havia algo a ser dito, e mesmo que não houvesse, o silêncio falava por eles.
- ? – Chamou. “O que está acontecendo com a gente?”, teve vontade de perguntar. – Boa sorte com a banda. – Foi o que conseguiu dizer. – Espero que dê tudo certo.
- Brigado. – Sorriu sozinho. – Espero que esteja tudo certo com o seu curso também.
- Está sim. – Suspirou. - Vou deixar você voltar a dormir. Tenho algumas coisas para fazer.
- Tudo bem.
- Se cuida. – riu, sabendo que ela estava repetindo o que ele havia dito.
- Te amo.
mordeu o lábio e fechou os olhos, aquelas duas palavras vieram acompanhadas de uma melodia que ela há muito não ouvia.
- Também te amo. – Makedde fez uma cara apaixonada, fazendo-a rir baixo.
Ainda ficaram alguns segundos em silêncio antes de finalmente desligarem, questionando tantos silêncios constrangedores.
- Doeu? – Mak brincou. a olhou séria e assentiu, fazendo a amiga se assustar com sua seriedade e sentar ao seu lado.
- Dói perceber que as coisas mudaram. – Sussurrou. – Se cuida? Mais silêncio que conversa? Eu quase não consigo reconhecer a gente. Antes a distância era só física, quando a gente se falava ela parecia sumir.
- Agora ela é constante. – Makedde completou, a abraçando. – Você ficaria assustada se soubesse o que a distância é capaz de fazer.
a apertou com mais força.
- Desculpe, não quis dizer isso.
- Algum dia isso passa? – choramingou.
Makedde a abraçou com mais força e respondeu com toda a sinceridade que pôde:
- Geralmente não.


23
(coloquem pra tocar já no começo do capítulo: Broken Arrow – Pixie Lott )


recostou-se na árvore e observou o homem brincar com a criança, correndo pela grama e pegando-o no colo. O sorriso no rosto dos dois a fez rir, a conexão entre eles era quase palpável, conseguiam se entender apenas com um simples olhar.
A criança soltou uma gargalhada antes de ser levantado no ar e abrir os braços, fingindo ser um avião. Adorava a facilidade que crianças tinham para se divertir, não era necessário muito esforço para fazê-las sorrir.
Uma mulher se aproximou dos dois e o homem entregou o menino nos braços dela, dando-lhe um beijo na bochecha. Trocaram algumas palavras antes de ela virar para e acenar, afastando-se com a criança no colo.
- Como você faz para se dar tão bem com crianças? – Perguntou, observando o homem sentar ao seu lado.
- É o meu charme. – Ele sorriu de lado, fazendo-a rir. – Desculpe não ter ficado muito com você, Susie disse que o médico se atrasou.
- Não tem problema. Gosto de ver você brincar com o Charlie. Às vezes ele parece mais seu filho do que seu sobrinho. – Sorriu, compreensiva.
Ele aproximou seu rosto do dela e selou seus lábios, acariciando as bochechas quentes da menina. Percebeu que ela estava sorrindo e aproveitou para aprofundar o beijo, sentindo-a corresponder com a mesma empolgação.
partiu o beijo e sentiu os lábios de Jared acariciarem sua bochecha. As mãos dele seguravam seu rosto com cuidado e seu hálito quente cheirava a canela. Encostou a cabeça no ombro dele e suspirou, fechando os olhos por alguns instantes. Os dedos dele se entrelaçaram aos seus e ela observou suas mãos juntas, a dele muito maior que a sua.
Havia conhecido Jared na festa que fora com Makedde alguns meses antes. A principio não notou o interesse dele, apenas achou que fosse mais um cara apaixonado por Makedde vindo lhe pedir ajuda, mas aos poucos ele foi se aproximando de , tão sutil que quando ela percebeu já estava encantada por ele.
Encantador. Era o que ele era.
Era isso que ela sentia falta em muitos homens. A delicadeza, a preocupação com os sentimentos da garota. E esse era Jared. Sempre preocupado e sutil. Sempre mostrando o quanto se importava com ela.
Por que então seu coração insistia em negá-lo?
- Recebi a resposta do curso. – Comentou.
Jared a olhou, arqueando a sobrancelha. sorriu, entregando a resposta.
- Consegui a bolsa. – Jared a abraçou e beijou seus lábios brevemente.
- Sabia que você iria conseguir.
A menina engoliu em seco, lembrando a última vez que havia contado sobre uma bolsa de estudos no Japão. Reações tão diferentes, mas seus sentimentos ainda eram os mesmos.
- Makedde também conseguiu. Vou ter que agüentá-la por mais um ano. – Rolou os olhos, fingindo insatisfação.
- Fico feliz por vocês. – Jared voltou a abraçá-la pelos ombros. – E feliz por mim, que vou poder ter você pra mim por mais um ano. Quando recebeu a resposta?
- Há algumas horas, você é o primeiro a saber, acredita? Ainda nem contei pro . – Antes que pudesse segurar a língua, o nome dele já havia escapado. Fechou os olhos, soltando todos os palavrões que pôde em sua mente.
Sentiu Jared enrijecer ao seu lado e permanecer em silêncio. Por que não podia pensar um pouco antes de falar?
Não falava com há tanto tempo que havia perdido as contas. No último e-mail que recebera dele, soube que a banda estava indo viajar para gravar o primeiro álbum, mas depois daquilo provavelmente ficaram ocupados demais para mandar notícia.
Desde que conhecera Jared os sonhos e a falação durante a noite haviam parado. Não gostava de confessar para si mesma que não rondava seus pensamentos há algum tempo. Mas então por que quando recebera a notícia de que passaria mais um ano no Japão, a primeira pessoa que pensou em contar foi ele?
Percebeu que Jared estava dizendo alguma coisa e virou o rosto para ele.
- Desculpe, estava distraída. O que disse?
- Perguntei quando você pretende falar com ele.
Jared sabia sobre . Talvez soubesse mais do que precisava saber, mas se quisesse conquistar , teria que saber do seu passado e, mais ainda, saber com quem estava competindo. Sabia que o que ela sentia por ele ainda era muito forte, mas estava disposto a lutar pelo amor dela. era incrível demais para que ele a deixasse escapar tão fácil. Estava apaixonado por ela e a queria para si. Se fosse preciso fazê-la esquecer de um amor que durou a vida inteira, então estava disposto a fazer isso.
- Em breve. – Ela respondeu, quase num sussurro. – Muito em breve.

Caminharam de mãos dadas pelo parque ensolarado, aproveitando o final de setembro, já sabendo que muita chuva viria nos próximos meses. Por vezes ele a girava pelas mãos, fazendo com que seu vestido esvoaçasse um pouco e a deixasse constrangida e sorridente ao mesmo tempo.
Jared apontou uma sorveteria no final da rua e sugeriu que fossem até lá, afinal, a temporada de sorvetes estava quase acabando e o calor em breve se tornaria frio e chuvas sem trégua. Beijou as costas da mão da menina, que estava segurando a sua com firmeza e a olhou por alguns segundos, acompanhando o sorriso dela se transformar em uma mordida no lábio inferior.
sabia que ele não fazia de propósito, ou pelo menos achava que não, mas a forma como ele a olhava, quase a idolatrando, a deixava constrangida. A forma como o olhar dele acompanhava seus movimentos a paralisava, não sabia como agir. Jared tinha uma maneira única de mostrar o quanto se importava com ela, nunca tinha visto alguém transparecer tanto em um único olhar como ele.
- Pára de me olhar assim. – Reclamou, sentindo o rosto enrubescer.
Jared soltou uma risada nasalada e a abraçou, beijando-lhe os lábios por alguns segundos.
- Desculpe, é inevitável. – Sorriu.
Pegaram os sorvetes e sentaram em um banco em frente à sorveteria. olhou o garoto ao seu lado e sorriu, tentando decidir se melaria ou não a bochecha dela com seu sorvete. Ele percebeu seu olhar e sorriu.
- Quer? – Ela perguntou.
Jared concordou e se aproximou do sorvete dela, levanto um susto quando o doce molhado melecou sua bochecha. gargalhou, jogando a cabeça pra trás e se afastou rapidamente, temendo que ele fizesse o mesmo.
- Vem aqui. – Jared a segurou pela cintura, tentando melar o rosto dela também, mas a menina foi mais esperta e melou o outro lado da bochecha dele, deixando-o com o rosto cheio de sorvete.
Quando ele desistiu de tentar melar o rosto de , ela se levantou e pegou alguns guardanapos no balcão, vendo a vendedora sorrir com a cena.
- Você é tão fácil de enganar. – Riu, limpando o rosto dele.
- Tá bom, esperta. – Pegou o guardanapo nas mãos dela e terminou de limpar o rosto.
- Own, desculpe por isso. – segurou o rosto dele e beijou seus lábios brevemente.
- Só isso? Um beijinho por ter melado meu rosto inteiro?
- Mal agradecido. – Ela brincou, levantando-se para jogar os papéis no lixo, mas antes que conseguisse virar, Jared a segurou pela cintura e colou os lábios nos seus novamente.
Ela deixou que ele aprofundasse o beijo e se entregou ao momento, não se importando muito por estarem em um lugar movimentado. Jared se afastou, dando um último selinho, fazendo-a sorrir e se assustar ao abrir os olhos. Precisou piscar algumas vezes para que o rosto do garoto a sua frente parasse de sumir.
- Tudo bem? – Jared perguntou, preocupado.
- Tudo. – Respondeu, rápido. – Era só... Alguma coisa do meu olho. Preciso voltar pra casa. Tenho uma prova no fim dessa semana e preciso estudar.
- Ok. Te levo em casa.
Jogaram os restos dos sorvetes no lixo e, com um último selinho, ele segurou a mão dela e começaram a caminhada de volta para o flat. A cabeça de dava voltas e ela sentia que o sorvete podia voltar a qualquer momento. Alguma coisa não estava certa. Na verdade quase nada estava certo na vida dela, mas ficava cada vez mais difícil lidar com tudo aquilo. Desde quando o rosto de simplesmente aparecia entre ela e Jared?

Subiu o elevador do flat já procurando a chave da porta perdida na bolsa. Entrou apressada no apartamento e foi até o quarto, pegando canetas e papéis pelo caminho.
- O que aconteceu? – Makedde se assustou.
- Nada.
- O que você vai fazer?
empurrou as coisas da mesa, fazendo-as cair pelo chão.
- Uma carta.
- Carta? – Mak perguntou sem entender. – Carta pra quem?
não respondeu, mas ela não precisou de uma resposta. Viu a amiga escrever algumas poucas palavras apressadamente e resmungar, amassando o papel e jogando-o no chão. Isso aconteceu pelo menos três vezes, até que ela pareceu conseguir escrever alguma coisa que a agradou. Resolveu deixá-la sozinha no quarto, mas pôde ouvi-la fungar ao encostar a porta.

# Flashback (2 anos antes)


Terminou de tomar a sopa já fria e depositou a colher no prato. Observou o pai molhar o pão na sopa enquanto lia o jornal do dia anterior despreocupadamente. Ponderou se deveria se retirar da mesa, mas acabou optando por esperar que o pai acabasse o jantar. De qualquer forma, teria que lavar os pratos, se não o fizesse, eles ficariam sujos na pia até que cansasse da sujeira e resolvesse limpar.
Quando o pai se levantou e foi sentar no sofá, ainda com o jornal velho nas mãos, ela recolheu os pratos e os levou para a cozinha. Na panela ainda estava uma boa quantidade da sopa que ela guardou em um recipiente e colocou na geladeira. Podia ouvir a televisão na sala, o noticiário falava sobre a queda na bolsa de valores. Sabia que seu pai não se interessava por nada daquilo, ligava a tv apenas por força de hábito e esperava que subisse para o quarto para sair escondido.
Terminou de enxugar os pratos e os colocou no armário. A cozinha estava limpa graças a arrumação que havia feito mais cedo. Olhou o relógio que marcava pouco mais de nove da noite e decidiu estudar um pouco antes de dormir.
Fechou a porta do quarto, finalmente silenciando o barulho da televisão e deitou na cama, pegando o livro que estava no criado mudo. A prova de Biologia não aconteceria até a próxima semana, mas matara tantas aulas que precisava ler o assunto com muita antecedência se quisesse continuar com notas razoáveis. Não era a melhor aluna da sala, mas conseguia se manter um pouco acima da média e achava aquilo suficiente.
Com a proximidade do último ano de colégio, passara a pensar bastante sobre o que faria quando se formasse. Fizera algumas pesquisas, chegara a fazer testes vocacionais que achara na internet, mas cada um deles dizia uma coisa. Ou eles eram inúteis demais, ou ela realmente não sabia o que queria. Conversara com uma vez sobre o assunto, mas a conversa não durou muito, quando perceberam já estavam falando sobre como tudo seria mais fácil se fossem estrelas do rock.
Quando completou quatro páginas de anotações, decidiu que estava na hora de descansar um pouco. O relógio agora marcava onze da noite e seu corpo começava a dar sinais de moleza, assim como seus olhos que vez ou outra se fechavam por mais tempo que o necessário.
Olhou em volta e desejou ter um computador para se distrair. Não que um site de relacionamento fosse ser muito útil. Já que sua rede social era tão restrita que chegava a ser vergonhosa, especialmente para uma garota de dezesseis anos. As únicas vezes que podia usar um computador era no colégio ou na casa de . Como não gostava de passar mais horas que o necessário no colégio e parecia muito ocupado nas últimas semanas, seu acesso à internet estava mais restrito que o normal.
O celular vibrou em cima da cama e ela sorriu ao ver que era uma mensagem de Claire. Mantiveram a amizade apesar da distancia, mandavam mensagens sempre que podiam e às vezes trocavam alguns e-mails.
“Festa na casa de um desconhecido rico. Queria que você estivesse aqui. – C.”
Sorriu ao terminar de ler a mensagem. Sabia que Claire havia feito amigos novos na França, mandara fotos algumas fotos, mas ficava feliz ao saber que não havia sido esquecida.
“Aproveita por mim então. Estou estudando biologia :/”
A resposta de Claire chegou antes do esperado.
“Pelo amor de Deus, ! Sai um pouco de casa, vai conhecer alguém.”
Uma risada irônica saiu de sua boca. Conhecer alguém, até parece, pensou. Estava cansada de saber que a falta de amigos era culpa dela mesma, havia se fechado para o mundo desde que sua mãe morrera e sua vida virara de cabeça para baixo.
Imaginou se tudo seria diferente se ela ainda estivesse viva. Talvez ela tivesse mais amigos, provavelmente não estaria em casa àquela hora. Ou talvez não. Talvez sua relação com fosse completamente diferente. Talvez eles fossem apenas primos, como tantos outros primos que só se falam em reuniões de família e não sabem nada da vida um do outro. Mas então novamente, talvez não.
Mordeu o lábio inferior, pensando se deveria seguir o conselho de Claire ou continuar estudando. Não conseguia escutar se a televisão ainda estava ligada, mas pela hora seu pai já deveria ter saído.
Era sempre assim. Ela subia, ele enrolava um pouco e saía para beber. Voltava de madrugada bêbado, algumas vezes já de manhã quando estava saindo para o colégio. Por duas vezes ele só voltou quase de noite. Estava acostumada, parara de se preocupar depois da terceira vez.
Discou um número no celular e o levou até a orelha, ouvindo o bip da chamada se repetir por sete vezes antes de cair na caixa postal. Desligou o aparelho, deixando-o em cima da cama. Aquele provavelmente era um sinal de que deveria ficar em casa, terminar de estudar e dormir.
Foi até o banheiro e escovou os dentes enquanto observava a própria imagem no espelho. Ao terminar, limpou o rosto com um produto que a moça da loja havia recomendado e prendeu o cabelo. Iria terminar o capítulo e dormir, era o que deveria fazer.
Antes que pudesse abrir o livro na página que parara, o celular vibrou, perdido no lençol embolado na cama. Quando finalmente o achou, atendeu sem olhar o identificador na tela.
- Você me ligou? – A voz de soou abafada por causa da música alta ao fundo.
- Hm, é, liguei. – Falou. Agora que se convencera a ficar em casa, parecia sem sentido dizer o que queria antes. Permaneceram em silêncio por alguns instantes.
- E você queria me dizer alguma coisa? – O barulho diminuíra, agora a voz dele soava claramente curiosa. riu.
- Queria. Mas não sei se quero mais. – Admitiu.
- O que você está fazendo acordada? Não tem aula amanhã?
- Tem, pai. – Brincou. – Para a sua informação ainda nem é meia noite. – resmungou algo incompreensível, mostrando que ela estava certa. – Onde você ta?
- Em um bar. Perto de sua casa até. A banda de um amigo vai se apresentar essa noite.
concordou, balançando a cabeça, mas lembrou que ele não podia ver e riu sozinha.
- Então, em que posso ser útil? Vai falar ou vai continuar enrolando?
- Era só... – Hesitou. – Eu só queria sair um pouco de casa. E como nenhum dos meus outros amigos está disponível, resolvi checar você.
- Outros amigos, né? – riu. – Bom saber que eu sou a última opção da sua vasta lista de amigos.
- Pois é.
- Quer vir pra cá? Quer dizer, não sei se você consegue entrar, é um bar.
- Hm, acho que consigo sim. – abriu a gaveta do criado mudo e procurou pela carteira de identidade falsa que Claire a havia praticamente obrigado a fazer quando ainda morava em Londres. – Vou me arrumar e pego um táxi, onde...
- Não, eu vou aí. – a interrompeu. – Em quinze minutos to aí, tudo bem?
- Perfeito. – Sorriu. Deixou o celular em cima da cama e correu para o armário.
Em menos de cinco minutos separou a roupa que achou adequada e começou a se trocar. Foi até o banheiro e se maquiou um pouco mais rápido que o normal. Optou apenas por uma base, um pouco de blush rosada e lápis nos olhos. Estava simples e arrumada. Vestia uma blusa branca básica e uma xadrez azul por cima. A calça jeans era clara e tinha alguns discretos rasgos propositais. Para completar optou pelo all star branco e neutro.
O relógio marcava onze e quarenta e três quando o som da buzina de soou pelo bairro silencioso. Desceu as escadas apressada, já sabendo que o pai não estava mais ali, e saiu de casa colocando o celular em um bolso e a carteira de identidade falsa com algum dinheiro no outro.
- Olá! – Sorriu ao entrar no carro.
- Olá. – respondeu. – Sozinha em casa? – Ele observou a casa escura. confirmou com um aceno.
A música alta que saía do rádio do carro substituiu a conversa até chegarem ao bar.
- Me dá a mão. – pediu.
- Por quê?
- Falei pro segurança na porta que ia pegar minha namorada e voltava rápido. Dá logo a mão. – Sussurrou.
segurou a mão dele prontamente e sorriu quando chegaram em frente ao segurança. Ele a olhou de cima a baixo e fez um gesto para que entrassem, sem pedir a identidade dela. Os dois entraram e trocaram um sorriso cúmplice.
viu conversando com um garoto desconhecido em uma mesa na frente do palco e se perguntou se aquele era o amigo cuja banda iria tocar. Ele era bonito, tinha os cabelos lisos e compridos puxados para frente e um piercing no nariz.
- Voltei! – anunciou, puxando uma cadeira para que sentasse.
Ela sorriu, acenando para os dois garotos, vendo-os repetir seu gesto.
- O você conhece, e esse é o Joel.
O garoto estendeu a mão e ela a apertou. Sentou na cadeira e observou três homens no palco que pareciam montar alguns equipamentos.
- Você é o amigo da banda? – Perguntou, sorrindo para o garoto em sua frente.
- Eu mesmo. – Ele fez uma pequena reverência e riu. – E você é a prima?
- A própria!
- Vai querer beber alguma coisa? – perguntou e ela percebeu o garçom parado ao lado dele.
- Coca? – Disse em dúvida, baixo o suficiente para que apenas ouvisse.
- Cuba Libre. – Ele sorriu para o garçom.
- Isso. Trás uma de menor pro bar e a embebeda de uma vez. – brincou.
- Caras, vou nessa. – Joel se levantou. – Hora do show!
- Boa sorte, cara. – e disseram em uníssono.
- Senhorita. – Joel fez mais uma de suas reverências e piscou para .
- Arrasa! – Ela levantou o polegar antes de ele se afastar. – Qual é o nome da banda? – Perguntou para .
- This Century.
Joel subiu no palco acompanhado de mais três garotos que pareciam ter a mesma idade que ele. Cada um pegou seu instrumento enquanto ele se dirigia ao microfone e apresentava a banda para o bar. Quando a platéia aplaudiu, notou pela primeira vez o quão lotado o bar estava. A banda devia ser realmente boa.
- Vamos começar com a música nova. Ela chama Hopeful Romantic. – Joel disse no microfone.
acompanhou o ritmo da música batendo os pés no chão e mexendo a cabeça. Era realmente boa e Joel tinha uma voz que ela considerou muito fofa. Percebeu que na mesa ao lado, três garotas acompanhavam a letra da música animadamente. Fã clube eles já tinham.
A segunda música pareceu ainda melhor que a primeira. não sabia o nome, mas definitivamente iria perguntar a Joel depois, havia gostado bastante e na segunda vez que refrão foi repetido ela já arriscava cantar algumas partes da letra.
- Você precisa me avisar sobre essas bandas legais e desconhecidas. – Reclamou, olhando para . Ele sorriu e a olhou, confirmando com um aceno. Ela sorriu de volta e por alguns segundos se viu presa nos olhos dele, como não acontecia há algum tempo. Sentiu o rosto esquentar um pouco e voltou a prestar atenção no palco.
Quando a sessão acústica começou, teve certeza de que já havia virado fã da banda. Agora apenas Joel e o guitarrista estavam no palco. Os dois estavam sentados em um banco alto e conversaram algo rapidamente.
- Essa próxima música é um cover do Hall and Oates, uma banda dos anos 80. Ela chama Kiss On My List. – Joel anunciou.
Quando a melodia começou o público acompanhou com palmas. sorriu também batendo palmas no ritmo e mexendo o corpo de um lado para o outro.
Quando Joel começou a cantar, ela pôde ouvir acompanhar a letra, animado. Nunca tinha ouvido falar na música e nem na banda dos anos 80 que não lembrava mais do nome.

Because your kiss, your kiss is on my list
Porque seu beijo, seu beijo está na minha lista
Because your kiss, your kiss is on my list
Porque seu beijo, seu beijo está na minha lista
Because your kiss is on my list of the best things in life
Porque seu beijo está na minha lista das melhores coisas da vida
Because your kiss, your kiss is on my list
Porque seu beijo, seu beijo está na minha lista
Because your kiss, your kiss I can't resist
Porque seu beijo, seu beijo eu não consigo resistir
Because your kiss is what I miss when I turn out the light
Porque seu beijo é o que eu sinto falta quando apago a luz

O refrão além de lindo era fácil, o que fez com que e a grande maioria das pessoas acompanhassem junto com Joel. Ele sorriu ao perceber a animação do público e deixou que cantassem sozinhos uma parte da música.
Mesmo com toda a agitação, ainda conseguia ouvir a voz baixa de cantando. Sentiu um arrepio e encolheu os ombros levemente, será que durante todos esses anos ela nunca havia reparado como a voz dele era linda, ou ela apenas não lembrava? Não o ouvia cantar a tanto tempo que não conseguia lembrar quando fora a última vez.
Virou para ele e sorriu.
- Que foi? – Perguntou, confuso.
- Eu gosto da sua voz. – Deu de ombros.
resmungou, abaixando a cabeça e passando a mão pelos cabelos, demonstrando que estava sem graça. Segurou o rosto dela e a fez virar novamente para frente, voltando a cantar quando ela fingiu não prestar mais atenção nele.

Depois de cantar mais três músicas, os garotos agradeceram a presença de todos no bar e desceram do palco.
e se levantaram para cumprimentar Joel, e resolveu fazer o mesmo, apenas para não parecer que estava sendo mal educada.
- Virei fã! – Confessou, abraçando Joel.
- Gostou mesmo? – O garoto sorriu, colocando a cadeira ao lado dela. confirmou com um sorriso.
Nenhuma outra banda iria tocar depois deles, então as pessoas se dispersaram e o barulho no bar pareceu aumentar como se milhares de pessoas tivessem chegado ali.
Os outros garotos da banda também se juntaram a eles na mesa e entraram na conversa sobre bandas independentes que estavam começando a fazer sucesso.
se divertia com as histórias que a banda contava sobre shows nos lugares mais estranhos e fãs histéricas que pareciam brotar do chão em certos lugares. Normalmente ela não se sentiria a vontade sendo a única garota do grupo, mas naquele momento ela nem estava ligando para esse fato. Sentia que era parte daquele grupo, não havia distinção por ela ser mais nova ou por ser garota, estava se divertindo tanto quanto eles.
E ali, sentada entre aqueles garotos, ela percebeu que os poucos amigos que tinha lhe bastavam. E que eles valiam muito mais do que quaisquer outros.

# End of flashback

entrou no loft, sem acreditar que, depois de mais de um mês, estava finalmente em casa. Olhou ao redor tentando se certificar de que não era um sonho e sorriu sozinho. Do outro lado do corredor pôde escutar um latido, Harte provavelmente sentira seu cheiro e agora queria voltar pra casa.
Antes que pudesse se virar, ouviu a porta no final do corredor se abrir e o cachorro correr até onde ele estava. Harte não se decidia entre latir, pular e lamber as mãos de , a euforia estava fora de controle.
Mark se aproximou e riu da cena.
- Brigado por ter ficado com ele, cara. – Trocaram um aperto de mão.
- Sem problemas. No início ele ficou um pouco histérico, mas depois ele se acalmou. – Mark deu alguns tapinhas amigáveis na barriga do animal. – Mas me conta, como foi a gravação do álbum? Vão ficar famosos mesmo?
- É, quem sabe? Deu tudo certo lá, faltam apenas algumas coisas pra que ele fique todo pronto. Já escolhemos o primeiro single e tudo o mais.
- Caraca, vai virar cantor de boyband, hein? Todas as meninas dando em cima. – Deu um soco de leve no braço do vizinho.
riu, sem jeito.
- Tenho uma demo com algumas das músicas na mala, depois te mostro.
- Beleza. Vou nessa. Bom ter você de volta. – Com um aceno, Mark se afastou e entrou em casa, fechando a porta atrás de si.
- Vamos entrar, garotão? – acariciou a cabeça de Harte, que soltou um latido em resposta.
Fechou a porta e jogou a mala no canto, sem se importar muito em desempacotar. Poderia fazer isso alguma outra hora. Só o que queria era deitar e não fazer nada por algumas horas.
O vôo da Irlanda até a Londres era curto, mas foi o suficiente para deixá-lo com dor de cabeça e cansado como se não dormisse direito há dias. O que não deixava de ser verdade. Ficaram tão ocupados com a gravação do cd que por vezes deixavam de dormir e de comer. A empolgação era grande demais para caber em um período de vinte e quatro horas.
Jogou-se na cama, fechando os olhos e relaxando. Desejou ter mais alguém por ali que pudesse pegar algum remédio e deitar ao seu lado em silêncio. Abriu os olhos e observou a foto no criado mudo, duas crianças sorriam para ele, um sorriso sincero que ele conseguia compreender mais do que ninguém.
O botão de recados do telefone não piscava, mas o apertou apenas por força de hábito. Não há novas mensagens, foi o que a voz anunciou. Apertou algumas teclas e verificou as chamadas perdidas durante o tempo em que estivera fora. Havia alguns números desconhecidos, mas no meio deles, um que ele sabia de cor se perdia. Havia pelo menos cinco chamadas não atendidas desse número.
- Droga. – Resmungou, largando o telefone na cama.
Fechou os olhos e decidiu que resolveria isso depois. E de qualquer forma, já era muito tarde do outro lado do mundo. As pessoas lá já deveriam estar dormindo, exatamente como ele desejava fazer naquele momento.

O barulho da campainha o despertou de um sono profundo. Abriu os olhos ainda desorientado e olhou ao redor, tentando se situar. Levantou, caminhando apressado em direção as escadas, já vendo Harte parado em frente a porta.
- Olá, Sr. . Bem vindo de volta. – Hugo, o porteiro, o cumprimentou.
Sorriu, ainda sonolento demais para dizer qualquer coisa.
- Guardei as correspondências como o senhor pediu. – Hugo estendeu um pequeno bolo de cartas e acenou, entrando no elevador antes que pudesse agradecer.
Colocou as correspondências no balcão e deitou no sofá na intenção de voltar a dormir. Menos de cinco minutos depois abriu os olhos, suspirando pesadamente e desejando poder ter apenas mais uma hora de sono.
Levantou-se frustrado e foi até a cozinha preparar algo para comer, não havia percebido o quanto seu estômago pedia por comida.
Preparou um sanduíche rápido e sentou para comer, pegando as correspondências para olhar se tinha perdido alguma coisa importante. Os pagamentos principais ele havia conseguido fazer de Dublin, então provavelmente não haveria nada muito significativo naquela pilha.
Um envelope azul claro chamou sua atenção. Nenhum pagamento vem em envelopes azuis.
Sentiu o sanduíche engasgar na garganta ao ler o nome do remetente no envelope. Bebeu um gole do suco rapidamente, sentindo os olhos encherem de lágrimas por causa do pedaço preso na garganta. Tossiu algumas vezes antes de conseguir engolir o sanduíche e respirar normalmente.
Uma carta de ? Em todos esses meses que ela estava no Japão, nunca havia mandado uma carta. Sempre se falavam por e-mail ou telefone, com tanta tecnologia, mal conseguia se lembrar que ainda se usavam cartas.
Abriu o envelope com cuidado para não rasgar a carta e respirou fundo antes de abrir o papel e encontrar a letra delicada de .

Enfim uma carta, né? Estou aqui há tanto tempo, mas confesso que nunca me ocorreu de te mandar uma. Talvez seja porque é um pouco demorado, e você sabe que eu odeio esperar por uma resposta, mas acho que dessa vez essa é a melhor forma de me expressar. E pelo menos por aqui não corremos o risco de cairmos em silêncio.


Certo, ela também havia percebido os silêncios constrangedores que tomavam conta de suas conversas. Pelo menos não era só ele que se incomodava com aquilo. Aqueles silêncios pareciam gritar palavras inconvenientes que não queria ouvir. Eles gritavam a verdade que os dois se recusavam a aceitar.
Balançou a cabeça e continuou a ler.

Eu nem sei direito como escrever uma carta, mas suponho que eu só precise escrever o que quiser e mandar, certo?
A gente não se fala há algum tempo, no seu último e-mail você comentou sobre a gravação de um cd. Espero que tudo tenha dado certo. Vocês já têm um nome para a banda? Tomara que não tenham se rendido a vontade do e nomeado a banda com algum nome esquisito de Star Wars.
Por aqui as coisas estão tranqüilas. O curso continua ótimo e Makedde continua a mesma consumidora descontrolada de sempre. No começo fiquei com receio, mas hoje percebo que eu não poderia ter encontrado uma colega de quarto melhor. Lógico que ajudaria se ela fosse um pouco mais organizada, mas acho que depois de todo esse tempo eu me acostumei com a bagunça dela.
Estamos no Outono agora, o tempo ainda está um pouco quente, mas em breve o frio chega, então temos que aproveitar. Às vezes sinto falta do clima de Londres, das chuvas, do frio, mas é fácil se adaptar ao clima daqui.
Sei que estou falando um monte de besteiras que não interessam, mas honestamente não sei direito como começar os dois assuntos que são o motivo de eu te mandar essa carta.
Makedde me deu um pouco de privacidade e estou sozinha no quarto. O silêncio que supostamente me ajudaria a pensar no que dizer, só está me sufocando.
Nesses quase dez meses em que estamos separados, em momento nenhum eu deixei de sentir a sua falta. Seu sorriso infantil que fazia com que eu me sentisse segura aos poucos foi ficando fora de foco em minha mente, hoje eu preciso de uma foto para lembrar exatamente dele, mas não é a mesma coisa.
Seus telefonemas me ajudavam a guardar sua voz, e, por vezes, ainda consigo escutá-la em minha mente, mas é como um rádio fora de sintonia. E dói não conseguir sintonizar.
Às vezes, durante a noite, consigo sentir seus braços em volta de mim e sua respiração pesada fazendo cócegas em meu pescoço, mas essa é a única lembrança que ainda me parece viva. Mas a cama fria pela manhã me traz de volta a realidade.
Há alguns meses fui a uma festa com Makedde. Aceitei ir porque precisava esquecer de algumas coisas que estavam acontecendo. As noites de sono não estavam sendo boas para mim. Falei sobre isso no nosso último e-mail. Você se lembra da festa que eu comentei? Falei sobre algumas amigas de Makedde que vieram da Holanda e sobre um cara. E é sobre esse cara que eu queria falar.


pensou alguns segundos antes de continuar a ler a carta. Talvez não tivesse tanta importância assim. Ponderou colocá-la de volta no envelope e ler depois, mas uma voz em sua mente gritava para que ele continuasse. Sentia a própria mão apertar o papel com tanta força que começava a amassá-lo.
Ele não esperava que passasse um ano fora pensando apenas nele. E sabia que ela não esperava o mesmo dele. Não iria fingir que nenhuma garota passara por sua cama nos últimos dez meses, mas não podia dizer que lembrava o nome de ao menos uma delas. Todas haviam virado um borrão em sua mente, conseqüência de uma noite regada a álcool.
Nunca havia chegado a mencioná-las nos e-mails ou telefonemas, não achara necessário. Eram apenas corpos quentes em sua cama fria. Uma tentativa fracassada de, por ao menos alguma horas, esquecer a saudade que ardia em seu peito. Mas na manhã seguinte a solidão o fazia companhia novamente.
Abriu o papel mais uma vez e se obrigou a continuar. Faltavam dois meses para ela voltar para casa, o quão sério podia ser aquilo? Em dois meses ela seria sua novamente.

O nome dele é Jared, e ele é realmente um cara encantador. Ficamos amigos na festa e passamos a nos falar todo dia. Ele sempre foi tão sutil que não percebi o quão próximos estávamos até que eu já estava envolvida. Estamos junto há um pouco mais de um mês, mas nem por um segundo eu parei de sentir sua falta.
Eu sinto que por mais que eu tente, eu não consigo me entregar. Meu peito dói, constantemente me lembrando que o meu coração está sem o sangue venoso para fazê-lo funcionar. Cada vez que eu deixo o Jared se aproximar mais, é como se eu me afastasse.
Por que é tão difícil sem você?
Essa carta é tudo que eu desejei nunca precisar escrever. Ela representa tudo que eu nunca imaginei que pudesse acontecer. Como meu sonho se tornando realidade, mas na forma de pesadelo.
Queria poder dizer que em dois meses eu vou poder te ver novamente. Que daqui a pouco tempo essa angustia vai passar, mas parece que o destino reservou outra coisa para nós dois.
Hoje eu recebi uma resposta do curso que estava esperando há algum tempo. Desde que recebi tal resposta a única coisa que tenho pensado é em como te contar. Gostaria que fosse pessoalmente, só para eu ouvir sua voz me dizendo que vai ficar tudo bem e que tudo vai dar certo no final. Eu e Makedde ganhamos outra bolsa de estudos, vamos ficar mais um ano por aqui. Não é noticia que eu gostaria de te dar e definitivamente nada disso estava nos meus planos, mas aconteceu.
Agora os dois meses que faltavam parecem distantes e um ano virou uma eternidade. Não sei como tudo vai ser a partir de agora, mas a única certeza que eu tenho no meio de tudo isso é você. Não importa qual estrada eu pegue, qual caminho eu decida seguir, eu sei que o final vai ser sempre você. Só você.
Vou terminar essa carta por aqui, não consigo continuar, já está sendo difícil demais te falar tudo isso.
Desejo que tudo dê certo para você, , e . Qualquer que seja o nome da banda, até mesmo alguma tosquice de Star Wars, eu tenho certeza que vocês serão um sucesso. Manda um beijo pra eles e fala que eles fazem muita falta.
Se cuida. Amo você.

xx


releu as duas últimas frases até conseguir ouvir a voz dela dizendo aquilo. Podia sentir algumas lágrimas rolando livremente por seu rosto, e não se importou com aquilo. Observou o papel com algumas marcas indicando que ela também havia chorado ao escrever.
Por que as coisas se complicaram tanto? Eles já não tinham sofrido o suficiente até ficarem juntos? Parecia que quanto mais tentavam ficar juntos, mais alguma coisa os afastava.
Guardou a carta no envelope e inspirou uma grande quantidade de ar, limpando o rosto com as costas da mão. Ficou alguns minutos parado, apenas aproveitando o silêncio e a solidão que o acompanharia por mais catorze meses.
Pegou o copo vazio e o jogou na pia, gostando do som do vidro se quebrando. Harte correu assustado para o seu lado e ele se rendeu, sentando no chão, derrotado.
Deitou no mármore gelado e fechou os olhos, mais uma vez tendo que se contentar com a escuridão.

24



apertava a almofada em seu colo já completamente inconsciente do que estava fazendo. Tinha a impressão de já ter acordado fazendo tudo automaticamente e sem prestar muita atenção. A movimentação ao seu redor era grande, mas ainda assim incapaz de fazê-lo despertar daquele estado de total desatenção.
Sentiu uma mão apertando seu ombro e olhou para o garoto ao seu lado. sorriu dando uns tapinhas nas costas dele e pareceu falar alguma coisa, mas ele não prestou muita atenção, apenas sorriu e voltou a apertar a almofada.
- Qual é o problema dele? – Ouviu uma voz falar, mas não quis virar e ver quem era.
- Sei lá. Nervoso? – Reconheceu a voz de .
- Vocês são os próximos. – Outra voz desconhecida entrou no camarim.
- Certo, a gente consegue! – falou, otimista como sempre.
finalmente resolveu olhar ao redor e viu que seus companheiros de banda já estavam de pé pegando os instrumentos e dando uma última checada no espelho. Respirou fundo antes de fazer a mesma coisa e logo depois ouvir a porta ser aberta e alguém gritar que eles tinham que ir para o palco.
Caminharam pelos corredores do backstage, vez ou outra se entreolhando e sorrindo meio idiotas, sem saberem direito o que fazer.
- Cinqüenta mil pessoas. – repetiu o que Richard havia lhes falado antes saírem do camarim.
- Mais que isso! – corrigiu. – Cara, vamos tocar para mais de cinqüenta mil pessoas. – Gritou. Os outros três riram para esconder o nervoso.
Não era o primeiro show do McFLY, nem o segundo muito menos. Mas sem dúvidas eram o maior que já haviam feito até aquele momento. Nos últimos meses eles vinham se apresentando para pequenas audiências e chegaram até a ir a um programa de televisão local, mas não passou por suas cabeças que um dia tocariam para aquela quantidade de pessoas. Claro que não era um show só deles, era um festival com várias outras bandas, mas a sensação era a mesma.
O primeiro single havia sido lançado dois meses antes e o segundo há apenas uma semana, seria a primeira vez que tocariam a música ao vivo. Haviam ensaiado o suficiente e sabiam disso, estavam mais que prontos para aquela apresentação. O álbum estava pronto para ser lançado em uma semana e pelo que os dois primeiros singles mostravam, ele seria um sucesso imediato.
Finalmente subiram ao palco, debaixo de gritos e aplausos ensurdecedores. observou a quantidade de garotas que se espremiam na primeira fila e depois foi percorrendo o olhar por todos aqueles rostos desconhecidos. A sensação de estar diante de tantas milhares de pessoas era única e ele podia jurar nunca ter imaginado nada igual.
Eles começaram a tocar o primeiro single e ficaram impressionados ao ouvir as milhares de vozes cantando junto. Vez ou outra se entreolhavam, ainda sem acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. Os flashes de câmeras pareciam não ter fim, assim como os gritos que em momento algum pararam.
ouviu uma garota na primeira fila gritar seu nome e a olhou, sorrindo agradecido, fazendo-a ficar ainda mais histérica. Ele tinha mesmo esse efeito nas garotas? Estava acostumado a ter apenas uma lhe dizendo o quão lindo ele era, mas nunca acreditara realmente.
Tão rápido quanto começou, o show terminou. Com um total de oito músicas e infinitos gritos, eles saíram do palco, satisfeitos com o resultado.
- Surreal. – conseguiu definir a experiência em apenas uma palavra. Os outros concordaram, com resmungos, cansados demais para falar mais alguma coisa.
Os gritos histéricos de milhares de garotas ainda zuniam no ouvido de . No caminho até o camarim, ele se pegou cutucando o ouvido, tentando fazer aquele barulho ir embora.
Jogaram-se no sofá e nas cadeiras espalhadas pelo camarim e beberam as garrafas de água em silêncio. Todos suavam e estavam extasiados demais para comentarem sobre a experiência. Vez ou outra, olhavam ao redor, ainda tentando se localizar e entender tudo que vinha acontecendo nos últimos meses.
Mark entrou apressado no camarim, chamando a atenção dos garotos e sorriu, parabenizando-os pelo show.
- Algumas fãs estão do lado de fora do estacionamento esperando uma mínima chance de ver vocês e tirar algumas fotos. Se vocês não estiverem cansados demais...
- De forma alguma. – foi o primeiro a falar. – Elas foram incríveis hoje.
- Certo, quando quiserem, estarei do lado de fora. Não são muitas, mas a segurança foi reforçada. – Mark deu de ombros e saiu da saleta.
Os quatro ficaram uns instantes em silêncio enquanto tentavam controlar a ansiedade e se preparavam para possíveis mais gritos histéricos. fez uma careta, cutucando novamente o ouvido, tentando fazer o zunido ir embora.
- Vamos nessa. – se levantou e foi seguido pelos três amigos.
Ao sair pela porta que dava acesso ao estacionamento, já puderam ouvir alguns gritos. Riram, sem saber como reagir a todo aquele histerismo. Até dois meses antes eles eram apenas quatro amigos com um sonho, agora eram tratados como rockstars e as garotas surtavam só de vê-los.
- Groupies. – falou baixo no ouvido de e apontou discretamente para três meninas que, diferente das fãs, estavam dentro do estacionamento. – Cara, nós temos groupies. – Riu, dando um tapinha nas costas do amigo.
sorriu e balançou a cabeça negativamente, sem acreditar que havia realmente três garotas sorrindo maliciosamente para eles.
- ! – Uma das fãs gritou, passando os braços pelas grades e lhe estendendo um bloquinho e uma caneta numa mão e uma máquina fotográfica na outra. – Oi! – Ela mal conteve a empolgação quando ele se aproximou.
Sem saber direito o que fazer, ele sorriu e assinou o bloco. Havia treinado alguns autógrafos, mas poucos lhe agradaram, acabou optando por um mais fácil e básico, sabia que teria de ser rápido em alguns momentos.
- Tira uma foto?
- Claro. – Sorriu, pegando a máquina da mão da garota e chegando mais perto dela. – Prontinho. – Disse, após o flash quase cegá-lo.
- Brigada!
Depois daquela veio outra, e depois mais outra e então mais outra e quando se dera conta, já estava com o pulso doendo e a cabeça girando por causa dos flashes. As garotas foram se dispersando lentamente, até restar apenas as três do lado de dentro do estacionamento. Trocou um olhar com e, mais uma vez, balançou a cabeça negativamente. Sabia o que o amigo estava pensando.
- Vamos, cara. – Ele lhe deu um tapa, nada simpático no braço. sorriu, mas não fez movimento algum. – Quatro meses, . Quatro meses desde aquela carta. Segue em frente, cara.
- Eu não... – Respirou fundo, sem saber como completar a frase. – Não é isso. – Deu de ombros. – São só groupies. São fáceis. Não tem graça.
- Acredite, você não está em condições de exigir uma garota difícil. – riu. – Quanto tempo mesmo desde a ultima vez em que você usou seu amigão ai? – Apontou para o meio das pernas de .
- Eu...
- Sozinho não vale. Com uma mulher! – deu de ombros e observou e conversarem animadamente com Mark. Desejou estar com eles e não precisar ouvir as palavras duras de . – A seguiu em frente... – Ele ainda podia sentir o coração acelerar apenas com a menção do nome dela, ainda sentia a dor escondida muito no fundo. – Agora é a sua vez.
- Oi. – Ouviu uma voz feminina atrás de si e se virou respirando fundo.

Ele não sabia como havia chegado até o quarto. Não lembrava de subir o elevador. Não lembrava de ter aberto a porta. Não lembrava nem mesmo o nome da garota que distribuía chupões pela pele do seu pescoço e peito. Fora tudo no automático.
Sentia a língua quente da garota fazer caricias maliciosas em todas as partes descobertas do seu corpo. Sua camisa, que ele nem sentira ser retirada, estava no chão. Podia sentir as mãos ansiosas dela abrindo o zíper de sua calça, explorando seu corpo sem pudor.
- . – Ela sussurrou, mordiscando seu lóbulo.
Pela primeira vez percebeu que seus braços estavam estendidos ao lado do corpo, sem tocá-la. Engoliu em seco e a abraçou com cautela.
Surpreendeu-se mais uma vez ao ser jogado na cama e ver o sorriso malicioso nos lábios dela. Ela estava apenas de calcinha e sutiã e ele não conseguia lembrar se havia a despido ou ela havia feito esse serviço.
Observou o corpo dela deitar-se em cima do seu e reparou nas curvas incríveis que ela possuía. Por que então seu corpo não estava respondendo a nenhuma daquelas caricias?
Virou o corpo dela, fazendo-a ficar por baixo e a olhou nos olhos, vendo nada além de desejo refletido neles. Beijou-a com força, tentando de qualquer forma se concentrar no que estava fazendo e não nas coisas que havia dito mais cedo.
“A seguiu em frente. Agora é a sua vez.”
- . – A voz alta da garota o despertou. – Você tá me machucando. – Ela empurrou suas mãos e só então percebeu na marca vermelha na cintura dela.
- Desculpe. – Sussurrou.
Ela não pareceu ligar para o machucado, já que na mesma hora voltou a beijá-lo com intensidade.
percorreu as mãos pela curvatura da cintura dela até suas coxas torneadas. Não conseguia acreditar que uma garota com aquele corpo não o estava deixando excitado. Aquilo não acontecia com ele. Não deixaria acontecer.
“O nome dele é Jared, e ele é realmente um cara encantador.”
Soltou um grunhido frustrado e desviou os lábios para o pescoço e o colo da menina. Aquilo iria deixar sua mente ocupada. Os gemidos dela em seu ouvido precisavam o distrair.
“Eu e Makedde ganhamos outra bolsa de estudos, vamos ficar mais um ano por aqui.”
Que droga estava acontecendo? Em todos os quatro meses que havia passado desde que recebera a carta, havia conseguido bloqueá-la de sua mente. Não conseguia lembrar-se direito das palavras dela nem quando se esforçava. Por que droga todas as frases estavam voltando agora? Logo agora...
Sentiu a mão da garota dentro de sua boxer e pôde ouvi-la resmungar algo incompreensível.
- . – Ela o olhou e sorriu, debochada e frustrada. – Você não tá excitado.
Ele balançou a cabeça e voltou a chupar o pescoço dela com vontade. Claro que ele estava excitado. Ele precisava estar excitado.
Procurou pelos lábios dela e a beijou com uma grosseria que ela interpretou como excitação. tirou rapidamente o sutiã dela e observou seus seios nus, esperando que, de alguma forma, aquilo ajudasse em sua situação. Colou seu corpo ao dela e deixou que suas mãos explorassem aquele campo desconhecido.
“Não sei como tudo vai ser a partir de agora, mas a única certeza que eu tenho no meio de tudo isso é você.”
Sentiu vontade de gritar, de bater em si mesmo, de se espancar. Não podia acreditar que sua mente o estava traindo daquela forma.
- , não dá! – A garota o afastou. – Não vai rolar.
- Claro que vai. Eu só preciso...
- Você precisa ficar excitado, é só isso que você precisa. E pelo visto isso não vai acontecer. – Ela o empurrou e ele se deixou cair pesadamente ao lado dela na cama. – Não se preocupe, não vou contar isso pra ninguém.
Ela estava mentindo, ele sabia disso. Pegou um dos travesseiros e o apertou contra o próprio rosto. Gritou. Uma. Duas. Três vezes. Até ouvir a porta do quarto fechar com um baque surdo.
Arremessou o travesseiro pelo quarto e ouviu algo de vidro cair no chão e se partir em mil pedaços.
Não se levantou para ver o que era. Não importava. Desejava apenas poder fazer a mesma coisa com seu corpo traidor.


# Flashback (1 ano antes)


Caminhou pelo shopping já apinhado de gente por causa do horário de almoço. As pessoas passavam apressadas por ela, todas tinham horário para voltar pro trabalho, ou algum outro compromisso importante.
Chegou à loja e cumprimentou as vendedoras e Beth, a gerente que ficava no caixa. Entrou na porta escondida no fundo da loja e encontrou Tina já trocando de roupa.
- Movimento tá pesado hoje. – Comentou.
sorriu concordando enquanto abria o armário e pegava a roupa separada com seu nome.
- Final do ano ta chegando. Daqui a pouco é Natal. – Falou distraída.
Tirou a roupa que estava vestindo, já acostumada a trocar de roupa na presença de outras garotas. Colocou o vestido cinza que todas as vendedoras usavam e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo arrumado.
- Bom, vou indo. – Tina anunciou. – Boa sorte e boas vendas, . – sorriu agradecida, vendo a garota sumir pela porta.
Terminou de se arrumar, calçou as sapatilhas pretas e voltou para a loja.
Há duas semanas havia conseguido aquele emprego. Era temporário, só até se formar no ensino médio. Estava cansada de ter que depender da boa vontade do pai para conseguir dinheiro. Por sorte aquele trabalho se ajustava ao seu horário e pagava razoavelmente bem.
- Boa tarde. Posso ajudá-la? – Sorriu simpática para uma senhora bem vestida que aparentava ter em volta de quarenta anos.
Já havia pegado o jeito de atender os clientes, não era difícil e nem exigia muita técnica. Bastava ser simpática e sorrir sempre. Além de ter paciência.
Depois de experimentar seis vestidos, a senhora saiu da loja de mãos vazias e dizendo que ia dar uma olhada pelo shopping.
Pois é. Muita paciência.
Tina estava certa sobre o movimento estar pesado. Pessoas entravam e saiam da loja, algumas apenas olhavam, outras pediam para experimentar algumas coisas, as mais consumistas saiam com até três sacolas e um sorriso satisfeito no rosto.
observou o relógio e agradeceu quando percebeu que faltavam apenas cinco minutos para o seu horário de lanche.
- Oi. – Ouviu uma voz conhecida e surpreendeu-se a dar de cara com . Sorriu e pediu que ele esperasse alguns minutos.
- Seu namorado? – Suzi, uma senhora de sessenta e poucos anos e cliente fiel da loja a olhou com um sorriso revelador no rosto.
sorriu quase sem querer, mas negou balançando a cabeça.
- Não é o que parece. – Suzi cantarolou.
- É complicado. – Confessou, quase num sussurro.
- Então descomplique. Vocês são jovens demais para perderem tempo com relacionamentos complicados. – As duas sorriram, cúmplices.
- Acho que a senhora vai adorar a nova coleção. Posso buscar alguns...
- Quando eu disse para descomplicar, quis dizer agora! Vá logo, posso me virar sozinha aqui. E me chame de Suzi, já disse que me sinto velha quando me chama de senhora.
- Mas Suzi...
- Mas nada. Vá logo antes que eu reclame de você para Beth. – Suzi sorriu, empurrando delicadamente a garota e voltou sua atenção para a arara de roupas.
riu sozinha e caminhou até .
- Vim dar uma olhada. – Ele comentou, apontando ao redor da loja.
- , você sabe que a loja é de roupas femininas. – Ela arqueou a sobrancelha, fazendo-o corar levemente.
- Ok, eu me rendo. – Riu. – Você pode sair agora?
- Hm, poderei em... – Olhou o relógio. – Trinta e quatro segundos.
revirou os olhos, fazendo-a rir.
procurou Beth pela loja e quando a encontrou, apontou para a porta, dando a entender que iria lanchar. Beth concordou, apontando o relógio, deixando claro que não era para ela se atrasar por causa do movimento na loja.

Sentou na cadeira em frente a de e colocou a bandeja com um sanduíche natural e um suco na mesa que os separava. Só quando sentira o cheiro de comida, se dera conta do quão faminta estava. Mal havia almoçado e seu café da manhã havia sido três torradas com geléia e uma pequena xícara de capuccino.
Antes que falasse qualquer coisa, mordeu um grande pedaço do sanduíche e saboreou em silêncio, observando a olhar com atenção.
- Pode falar. – Disse, com a boca cheia.
- Você ta comendo.
- Eu ouço com o ouvido, não com a boca.
deu de ombros e coçou a cabeça, um pouco desconfortável. o olhou sem entender. Ele nunca a havia visitado no trabalho, apesar de saber a loja em que ela trabalhava e o horário em que estava lá.
- Como você tá? – Ele finalmente falou.
tomou um gole do suco e limpou a boca com o guardanapo. O olhou por alguns segundos antes de responder.
- Hm, bem. Normal. E você?
- Tudo bem.
A menina concordou com um aceno de cabeça e voltou a comer seu sanduíche. Ele havia ido até lá para perguntar se ela estava bem?
- E o trabalho?
- O que tem o trabalho?
- Tá tudo bem por lá?
- . – Ela sorriu. Colocou o sanduíche na bandeja e o olhou, pensativa. Ele a encarou de volta, em silêncio. – Ta tudo bem comigo, com o trabalho, com o colégio, com meu pai. Tá tudo bem com tudo. Agora você pode me dizer por que veio até aqui e está agindo todo estranho?
- Não estou agindo estranho. – Deu de ombros.
riu, mas não contestou. Se ele quisesse falar, falaria. Voltou a comer tranquilamente seu sanduíche e consultou o relógio, notando que quase dez minutos já haviam se passado desde que saíra da loja. Olhou ao redor e notou o movimento intenso, quanto mais o Natal se aproximava, mais o shopping ia enchendo.
pigarreou, chamando sua atenção de volta pra ele e sorriu.
- Você anda sumida. – Falou, brincando com uma tampa de garrafa que estava em cima da mesa. – Com o último ano do colégio, o emprego e tudo mais. Você meio que... some.
Colocando o último pedaço do sanduíche na boca, sorriu, entendendo o que ele queria dizer.
- Você sente minha falta.
- Sinto.
- Não foi uma pergunta. – Riu.
levantou os olhos para encará-la e viu o sorriso doce e infantil que brincava nos lábios dela. Estendeu o braço sobre a mesa e pegou a mão dela, entrelaçando seus dedos e sentindo a quentura e maciez da pele dela.
- Também sinto a sua falta.
Ela terminou de tomar o suco, sem soltar a mão dele, que fazia um carinho gostoso e reconfortante na sua.
Levantaram da mesa e andaram sem prestar muita atenção para onde estavam indo. Estavam apenas aproveitando a companhia um do outro, sem dar muita importância para qualquer outra coisa. Vez ou outra checava o relógio, desejando que apenas por aqueles minutos, os ponteiros se movessem mais devagar.
parou em frente a uma loja de vestidos pra festa e observou a vitrine.
- Você já escolheu o seu?
- Pra quê? – O olhou, sem entender.
- Pra sua formatura. – Falou, como se fosse óbvio.
deu de ombros, indiferente.
- Não vou pra minha formatura. Posso pegar o diploma no colégio, sem precisar passar por nenhum tipo de constrangimento social.
- Tá falando sério? – a olhou, incrédulo. Ela apenas deu de ombros, novamente mostrando sua indiferença. – Não vou deixar você perder sua formatura.
- E o que você vai fazer? Me obrigar a ir?
- Se for preciso, sim. Vem comigo. – Ele a puxou pela mão e a fez entrar na loja.
- , preciso voltar pro trabalho. Me solta!
- Olá, boa tarde. – cumprimentou a vendedora, ignorando e a força que ela fazia para soltar a mão dele. – Ela quer ver alguns vestidos para a formatura dela.
- Não, não quero!
fez um gesto com a mão, pedindo que a vendedora também a ignorasse.
- Pegue os mais bonitos que você tiver. Nada curto e nem decotado demais. Tem preferência por alguma cor? – Ele finalmente a olhou.
o fuzilou com o olhar e tentou mais uma vez soltar a mão dele, sem sucesso.
Finalmente soltou um suspiro cansado e se rendeu.
- Nada rosa. – Falou, olhando para a vendedora. E depois virou-se para . – Se eu perder o emprego a culpa é sua!
Ela não precisou experimentar mais do que quatro vestidos para achar o que queria. Quando o vira fora do corpo, não achara grande coisa, mas agora que olhava seu reflexo no espelho, sabia que aquele era o escolhido.
Abriu a porta do enorme provador e viu abrir a boca algumas vezes antes de conseguir emitir qualquer som.
- Uau!
sorriu, satisfeita. Aquele era seu vestido, não seria capaz de escolher qualquer outro, não queria nem mesmo tirá-lo do corpo. Era tão macio e deixava seu corpo tão incrível e cheio de curvas que podia jurar que aquele vestido era milagroso.
Depois de cinco minutos, resolveu tirá-lo de uma vez, já estava atrasada demais para voltar pra loja e só estava perdendo tempo ali. Levaria aquele, não precisaria nem pensar.
- , pode me ajudar a tirar? Estou com medo de rasgar.
Abriu a porta, deixando-o entrar no provador e virou-se de costas para ele.
mordeu o lábio inferior, observando o decote em V nas costas, deixando sua pele a mostra. Tão tentadora quanto qualquer outra parte de seu corpo.
Sem conseguir resistir, deslizou o dedo desde sua nuca, até a parte em que o vestido cobria. Ouviu suspirar e pôde sentir que ela estava arrepiada. Abriu o pequeno zíper, logo abaixo do decote e desceu lentamente as alças de strass do vestido. Sua boca foi de encontro a pele descoberta dela, fazendo-a soltar um gemido muito baixo, quase inaudível. Deslizou as mãos pelos braços dela, enquanto sua boca percorria lentamente a nuca apelativa dela.
virou-se lentamente, até ficar de frente pra . Observou os olhos dele passearem por seu colo quase descoberto e sua boca ir de encontro a seu ombro nu. Deixou que um suspiro pesado saísse por sua boca. O que estava acontecendo ali? Tanto tempo se passara desde a última vez em que haviam estado juntos. Agora a língua dele acariciava seu pescoço, e ela não sabia se o pouco de sanidade que lhe restava conseguiria impedir que algo mais acontecesse.
desceu um pouco mais as alças de vestido, mantendo seus olhos atentos nos seios quase descobertos dela. Só mais um pouco e ele não seria mais capaz de responder por seus atos.
- Senhor? – A voz da vendedora pareceu os acordar.
se virou subitamente e subiu as alças do vestido. bateu as costas contra a parede e passou a mão pelos cabelos.
- Só um instante. – Sua voz estava trêmula. – Eu acho que o zíper do vestido prendeu.
- Sem problemas.
esperou apenas um minuto, não dava tempo de recuperar por completo sua sobriedade, mas sabia o que as vendedoras deviam estar pensando. Saiu do provador, sem olhar para e foi até o caixa.

- Hm, obrigada pelo vestido. – parou em frente a loja, vendo Beth a fuzilar com o olhar.
- Sem problemas. Desculpe por ter feito você se atrasar.
Os dois se olharam em silêncio, ainda cautelosos e sem saber direito como agir.
- Bom, preciso ir. A gente se fala depois.
- Certo.
Com um beijo desajeitado na bochecha, eles se despediram.
observou ele se afastar e deixou seus ombros despencarem. Aquilo tinha mesmo acontecido?

# End of flashback



A música alta estava começando a incomodá-la. O fato de Makedde não lhe dar a atenção também estava começando a chateá-la. Para piorar, Jared havia encontrado uma velha amiga e agora estava em pé ao seu lado, conversando animadamente.
Uma garrafa de cerveja estava entre suas mãos, não era a primeira, e definitivamente não seria a última. Mais cedo, ela e Mak haviam apresentado um trabalho importante do curso e agora, supostamente, elas deviam estar comemorando.
Bem, Makedde estava, mas não com ela. Estava ocupada demais enfiando a língua na boca de Pete, seu quase namorado, como ela mesma dizia. Makedde não estava pronta para um namoro sério, sabia disso.
Bebeu um gole da cerveja e tentou se concentrar na letra da música que tocava. Acompanhou o ritmo com os pés e desejou ter uma pista de dança por ali, apenas para fazê-la esquecer do curso, e da falta de atenção de sua amiga e de seu namorado.
Jared finalmente sentou na cadeira ao seu lado e passou o braço por seus ombros. Ela se afastou um pouco, sem paciência para ouvi-lo falar sobre a conversa hilária que acabara de ter.
- Tá chateada? – Ele perguntou, puxando-a mais pra perto. Ela deu de ombros, bebendo mais um gole da cerveja. – Desculpe não ter te dado muita atenção. Fazia muito tempo que eu não via a Daisy.
- Não tem problema. – Sussurrou.
Deitou a cabeça no ombro dele, se perguntando que tipo de comemoração era aquela. Não podia dizer por Makedde, ela sim parecia estar comemorando.
- Arrumem um quarto! – Reclamou, amassando um guardanapo e jogando no meio do casal que se agarrava em sua frente.
- Faça o mesmo ao invés de reclamar. – Makedde a olhou e sorriu.
- Quando eu quiser fazer o mesmo, irei para um quarto!
- Certo, vamos para um quarto. – Mak se levantou, puxando Pete pela mão.
- O quê? Não! – a olhou, sem acreditar. – Mak, é a nossa comemoração. Deu tudo certo no trabalho hoje, estamos aqui para comemorar, lembra?
- , amiga, com todo o respeito. Você sabe que eu te amo e tudo o mais, mas você parece mais estar em um funeral. – A sinceridade de Makedde, de alguma forma, ainda conseguia surpreender .
- Mak... – Tentou argumentar.
- A gente comemora amanhã, certo? Só nós duas. Nós duas, um balde de pipoca, um pote de nutella e Vin Diesel. O que acha?
concordou, mesmo emburrada e sem vontade. Nutella e Vin Diesel, como podia dizer não?
Quando Makedde e Pete os deixaram sozinhos, Jared também começou a dar sinais de que queria ir embora. Não falava muito e vez ou outra beijava carinhosamente o pescoço de . Ela sabia que ele podia ser extremamente dengoso quando queria alguma coisa.
O olhou e sorriu, selando os lábios rapidamente nos dele. Não estava mesmo em clima para comemorar nada. Estava cansada e sua mente implorava por um pouco de descanso e silêncio.
- Quer ir embora? – Perguntou, já sabendo a resposta. Jared sorriu confirmando.
Pagaram a conta e caminharam de mãos dadas até o carro dele, aproveitando a tranqüilidade da rua e o vento frio que soprava.
A viagem até o flat de não era longa. No máximo vinte minutos.
Jared estacionou perto da entrada e eles saltaram do carro. o olhou, tentando entender por que ele estava subindo junto com ela, mas não foi preciso pensar muito para descobrir. Quando entraram no elevador, os lábios dele encontraram os seus. Um beijo gentil, mas que ela sabia que estava carregado de segundas intenções.
Estavam juntos há mais de seis meses e ele sempre respeitara seu espaço e seu tempo, mas de uns tempos para cá, ela vinha percebendo as indiretas não ditas por ele. Jared tinha um jeito mais sutil de dizer o que queria, pois sabia que ela podia entender os sinais.
Fechou a porta do apartamento com dificuldade, a língua de Jared em seu pescoço dificultava o processo e a desconcentrava. Deixou que ele tirasse sua jaqueta e procurasse faminto por seus lábios.
A sutileza ainda estava presente, mas agora ela se misturava a excitação e a vontade. As roupas trilhavam um caminho pela sala até o quarto. Caíram na cama, sem se desgrudarem, usando apenas as roupas intimas.
As mãos de Jared ainda eram cautelosas por seu corpo, como se estivessem esperando por algum sinal negativo dela. Bastava que ela o afastasse, que ele pararia. Mas ela estava cansada de evitar aquilo. Estava pronta, queria que aquilo acontecesse.
Puxou os cabelos da nuca dele e procurou por seus lábios, esperando que ele entendesse o sinal e seguisse em frente. Em pouco minutos seu sutiã estava jogado no chão do quarto e tudo que podia ouvir eram seus gemido misturados com os dele.
A boca de Jared passeava por seu corpo enquanto suas mãos seguravam firmemente suas coxas. Podia sentir as gotas de suor em sua nuca, a única corrente de ar que entrava no quarto vinha de uma fresta da janela. A luz da lua era a única iluminação do quarto. Fechou os olhos por alguns instantes, mas depois desejou não ter o feito.
“- Dança comigo?
- Dançar? – O olhou, confusa.
- É, dançar. Se movimentar de um lado pro outro, sabe? – Ele brincou. – O som ainda tá ligado, vou aumentar e a gente vai dançar a música que estiver tocando.
- E se for um metal? – Fez um gesto com as mãos, imitando metaleiros. riu e deu de ombros.
Quando o som tomou conta do loft, perceberam que era uma música Maroon 5 terminando. sorriu quando a introdução da outra música começou a tocar.
- John Mayer, bem na hora. – Abraçou , encaixando o rosto na curva do pescoço dele. – Isso não foi programado, né? – O olhou.
- Nem que eu quisesse. – Sorriu, selando seus lábios nos dela.”

Abriu os olhos assustada, a respiração descompassada não era por causa das caricias de Jared. Sua mente havia vagado para muito longe dali.
- Você é tão linda. – Jared sussurrou, selando os lábios nos dela.
nem foi capaz de fechar os olhos, estava com medo de acontecer de novo. Segurou os braços de Jared, tentando se concentrar no que estava acontecendo naquele momento e esquecer o que havia acontecido muito tempo antes.
Viu o namorado tirar a cueca e depois, lentamente, tirar a única peça de roupa que ainda cobria seu corpo. Sentiu-se desprotegida diante do olhar dele. Um olhar cheio de admiração e desejo, um olhar que qualquer mulher desejaria, mas naquele momento ela só queria que sua barreiras levantassem novamente. Queria não estar tão exposta.
“- Podemos ficar assim até a hora do meu vôo? – brincou.
- Podemos ficar assim até quando você quiser.”

Uma lágrima teimosa desceu por sua bochecha, mas não conseguiu percorrer todo o caminho. Jared beijou a lágrima e limpou seu rosto.
- Estou te machucando? – Perguntou, ofegante.
engoliu em seco, segurando todas as outras lágrimas teimosas que queriam cair. Sentia Jared investir com força e o corpo suado dele roçar no seu.
- Não, não. – Tentou sorrir, tranqüiliza-lo.
Desejou ter alguém para tranqüilizá-la.
Desejou que aquela noite não estivesse acontecendo.
Desejou poder vê-lo. Mais ainda, desejou que fosse ele ali com ela.
Se fosse ele, não estaria desprotegida.
Se fosse ele, não impediria que suas barreiras caíssem.
Se fosse ele, não estaria vazia.
Se fosse ele. Ah, se pudesse ser ele...

25
( músicas: 6 Months - Hey Monday / Fireworks - You Me At Six )


Sentou no ônibus ao lado de Makedde, deixando a cabeça pender para o lado e fechando a cortina. Ouviu a amiga resmungar alguma coisa e não precisou entender para saber que era alguma reclamação sobre seu humor. Aqueles resmungos vinham acontecendo com bastante freqüência nas últimas semanas.
- Você podia ao menos tentar sorrir.
Rolou os olhos, virando para a janela e apertando o moletom contra o corpo.
- Não enche, Mak. Eu aceitei vir nessa viagem, não foi? Já é um grande esforço.
Makedde deu de ombros e virou para o corredor, sorrindo para as pessoas que entravam no ônibus.
A turma de Design do curso que elas faziam havia combinado de irem à praia juntos já que em uma semana as provas começariam e eles não teriam tempo para festas.
colocou o fone do ipod no ouvido e aumentou o volume, esperando poder dormir durante a viagem até a praia ou que Makedde a deixasse em paz. Nem ao menos conseguia lembrar por que havia aceitado ir naquela viagem. Tudo que ela queria era ficar na cama e dormir durante dias seguidos.
Seu namoro com Jared havia terminado e agora tudo que ela precisava era de um abraço sincero e algumas palavras que confirmassem que iria ficar tudo bem. Makedde não estava sendo muito prestativa, em parte porque ela adorava Jared, mas especialmente por saber o motivo que havia levado a terminar com Jared.
.
Em uma das várias brigas que vinham tendo desde o término ela confessara sua antipatia por . Não conseguia entender como, depois de quase dois anos, podia ainda estar tão ligada à ele. Não compreendia por que a amiga não conseguia seguir em frente, ainda mais com um cara como Jared ao seu lado.
nunca argumentava. Não tentava explicar. Como iria explicar algo que nem ela mesma entendia?
Abriu os olhos, percebendo que o ônibus já estava em movimento e se virou ao ouvir a voz animada de Makedde. No banco do outro lado do corredor uma garota morena com algumas mechas loiras conversava com sua amiga. Percebeu o violão no banco ao lado dela e deduziu que ela deveria fazer parte da banda que Derek, um dos garotos do curso, disse que conhecia e que poderia tocar na praia.
- Ei. – Makedde sorriu a olhando. – Você não dormiu muito.
- É, percebi. Deu de ombros, guardando o ipod de volta na bolsa.
- Olá! – A voz da garota com a mecha loira era animada. Sorriu, acenando brevemente enquanto Makedde as apresentavam.
A garota se chama Cassadee e ela realmente fazia parte da banda que Derek conhecia. não estava com muita vontade de ficar conversando, mas sabia que se ficasse em silêncio, aquela viagem duraria mais do que ela gostaria.
- Ah, ela está de mau humor porque terminou com o namorado. – A voz de Makedde chamou sua atenção.
- Mak! – Exclamou, sem paciência. Não precisava ter sua vida pessoal espalhada para desconhecidos.
Makedde deu de ombros. Não via nada demais em falar sobre aquilo. Cassadee sorriu simpática, mas pôde sentir o olhar de pena sobre si, era exatamente por isso que não queria comentar sobre o assunto.
- Está tudo bem. – Sorriu, tentando parecer despreocupada.
- É, ela gosta de outro.
- Mak!
Dessa vez Cassadee riu.
- Já passei por essa situação. – Ela comentou. – É melhor terminar do que tentar usá-lo só para esquecer do outro, certo?
- Não quando o outro está em um país a quilômetros de distancia e não manda noticias há milênios. Enquanto o outro...
- O outro é um amor e te trata como uma princesa. – Cassadee completou.
e Makedde a olharam, reparando no olhar de tristeza que ela carregava, mesmo com um sorriso no rosto.
- Viu, Mak? A Cassadee me entende.
- Pode me chamar de Cass. E sim, eu te entendo.
Não demorou muito para o ônibus parar e todos saltarem em frente a uma praia quase deserta. Dali era impossível ouvir o som dos carros ou buzinas. Os pássaros cantando e as ondas se quebrando eram os únicos sons presentes.
O céu estava nublado e as nuvens pareciam carregadas, mas ninguém ali pareceu se importar. Toalhas foram estendidas na areia, troncos de árvores formaram círculos e duas caixas de som animavam o grupo.
, Makedde e Cassadee sentaram nas toalhas que haviam levado e observaram o mar agitado.
- ‘Tô com fome. – Mak comentou, pegando uma barra de chocolate na bolsa.
- Chocolate mata sua fome? – Cassadee a olhou com a sobrancelha arqueada.
- Chocolate ajuda a abrir espaço para a comida. – explicou, imitando a voz da amiga.
As três riram da péssima imitação.
- Boa garota. Aprende rápido. – Brincou, alisando os cabelos de .

A tarde pareceu voar para todos que estavam na praia. Os três garotos da banda ainda sem nome de Cassadee se juntaram a conversa das meninas na hora do almoço e o grupo permaneceu conversando até o sol começar a se pôr e alguém dar a idéia de um luau.
Rapidamente uma fogueira foi armada e diversos troncos de árvores foram colocados ao redor dela. Algumas pessoas continuaram caminhando pela praia e conversando, mas a maioria se juntou à banda perto da fogueira.
- Vamos pra lá. – Makedde se levantou.
- Nah, tem muita gente. Consigo ouvir daqui. – a olhou.
Makedde se agachou na frente da amiga, já ouvindo a primeira música ser tocada.
- , não quero te ver triste assim. Sério, dói meu coração ver essa sua carinha sem um sorriso.
- ‘Tá tudo bem, Mak. Pode ir lá, eu estou bem aqui. – Sorriu. Ou tentou sorrir. Não sabia se tinha dado muito certo.
- Não vou te deixar sozinha aqui.
- Vai sim. Eu quero, ok? - Makedde a olhou em dúvida. – É sério. Eu me viro bem sozinha.
- Qualquer coisa me grita, tá? – Mak beijou a testa da amiga e foi até onde o grupo estava reunido.

ouvia a voz calma de Cassadee e os aplausos da platéia. Ela fazia covers de bandas conhecidas e cantava algumas músicas que ela mesma havia escrito.
O sol começava a sumir no horizonte quando uma melodia leve começou a ser tocada no violão. fechou os olhos, gostando da brisa leve que tocava seu rosto.

You're the direction I follow to get home
Você é a direção que eu sigo para chegar em casa
When I feel like I can't go on, you tell me to go
Quando eu sinto que não consigo ir em frente, você me diz pra ir
And it's like I can't feel a thing without you around
E é como se eu não pudesse sentir nada sem você por perto
And don't mind me if I get weak in the knees
E não ligue se eu ficar enfraquecida nos joelhos
Cause you have that effect on me, you do
Porque você causa esse efeito em mim, você causa


teve a impressão de saber para quem Cassadee havia escrito aquela música. Podia jurar que, se tivesse a escrito, não mudaria nenhum verso, nenhuma palavra.

Everything you say
Tudo o que você diz
Everytime we kiss I can't think straight, but I'm ok
Toda vez que nós nos beijamos eu não consigo pensar direito, mas estou bem
And I can't think of anybody else
E eu não consigo pensar em mais ninguém
Who I hate to miss as much as I hate missing you
Que eu odeie ter saudade o tanto quanto eu odeio sentir sua falta

Months are going strong now, and no goodbye
Meses passam rápido agora e nenhuma despedida
Unconditional, unoriginal, always by my side
Incondicional, comum, sempre ao meu lado
Meant to be together, made for no one but each other
Feitos para ficar juntos, feitos para ninguém além de nós dois
You love me, I love you harder, so
Você me ama, eu te amo mais, portanto

Everything you say
Tudo o que você diz
Everytime we kiss I can't think straight, but I'm ok
Toda vez que nós nos beijamos eu não consigo pensar direito
And I can't think of anybody else
E eu não consigo pensar em mais ninguém
Who I hate to miss as much as I hate missing you
Que eu odeie ter saudade o tanto quanto eu odeio sentir sua falta

Levantou-se, sentindo a cabeça girar com lembranças que há muito tempo não pensava. Caminhou na direção contrária a que a maioria das pessoas estava. Tirou o moletom dos ombros e o vestiu, apertando-o contra si e colocando as mãos nos bolsos para aquecê-las.

So please, give me your hand
Então, por favor, me dê sua mão
So please, give me your lesson on how to steal
Então, por favor, me dê uma lição de como roubar
Steal a heart, as fast as you stole mine
Roubar um coração, tão rápido como você roubou o meu
As you stole mine
Como você roubou o meu

A voz de Cassadee ia ficando mais distante na medida em que ela se afastava da fogueira. Sentia uma vontade de correr, de chorar, de gritar. Queria voltar para Londres e dizer para que nunca quis abandoná-lo, que sua intenção nunca foi deixá-lo para trás e nem esquecê-lo.
A imagem dele apareceu em sua mente com tanta clareza que ela se assustou com os detalhes que já havia quase esquecido.
Caminhou em direção ao mar e tremeu ao sentir a água gelada molhar seus pés. O sol agora era quase impossível de ver no horizonte, algumas estrelas já brilhavam forte no céu. Fechou os olhos e desejou que os quatro meses que faltavam passassem num piscar de olhos. Tudo ia ficar bem quando ele estivesse ao seu lado novamente. Tudo estaria em seu devido lugar quando a mão dele segurasse a sua e os lábios dele se encaixassem com perfeição aos seus.

Everything you say
Tudo o que você diz
Everytime we kiss I can't think straight, but I'm ok
Toda vez que nós nos beijamos eu não consigo pensar direito
And I can't think of anybody else
E eu não consigo pensar em mais ninguém
Who I hate to miss as much as I hate missing you
Que eu odeie ter saudade o tanto quanto eu odeio sentir sua falta

So please, give me your hand
Então, por favor, me dê sua mão
So please, just take my hand
Então, por favor, apenas pegue minha mão


# Flashback (1 ano antes)


Observou a sala lotada de pessoas que sua vista já não era mais capaz de focar, teve a impressão de estar sendo observada e olhou ao redor, se sentindo um pouco tonta.
- ? – Perguntou para si mesma, tentando focar a visão em um ponto do outro lado da sala. Piscou fortemente sentindo os olhos arderem, e, quando os abriu novamente, quem quer que estivesse a olhando, já havia sumido.
Resmungou baixo pegando a cerveja e bebendo um grande gole. Aquela seria a décima? Ela havia perdido a conta quando passara da quinta e ainda havia virado alguns copos de vodca em uma aposta com os garotos do time de natação do colégio. Quem se importava em ficar sóbria? Aquela era sua última festa do colégio. Poderia ser a última vez que teria que socializar com aquelas pessoas, mas insistia em fazê-la ir para a formatura.
Levantou-se rapidamente e caiu novamente sentada no sofá. Riu sozinha dando um tapa na própria testa e se levantou novamente com mais cuidado.
Atravessou a sala entre dancinhas ridículas e risos histéricos, e quando chegou ao jardim olhou ao redor reparando na quantidade de casais praticamente transando ao ar livre.
- Arrumem um quarto! – Falou alto, caminhando para o fundo do jardim que dava para um riacho que atravessava o condomínio.
Sentou em uma área mais vazia e abraçou as pernas. Que droga de festa era aquela? E o que ela estava fazendo ali? Lembrou de quando ela e eram pequenos e diziam que não havia diversão se estivessem separados. Velhos hábitos dificilmente morrem.
- Ei, garota! – Ouviu uma voz masculina e virou a cabeça, encontrando um par de olhos azuis a encarando. O menino sorriu e a estendeu um cigarro.
- Hm, não, obrigada. – Falou sem graça.
- Ah, qual é, gatinha! Achei que você fosse diferente daquelas patricinhas. – Apontou a casa.
olhou a casa toda iluminada e mordeu o lábio em dúvida. Ela era diferente daquelas garotas! Não queria ser fútil e ignorante que nem elas, e afinal, um cigarro não poderia matá-la, poderia?
Sorriu, aceitando o cigarro que ainda lhe era estendido e acendeu com o isqueiro que o garoto jogou em sua mão. Na primeira tragada ela tossiu tanto que pensou em devolver, mas com um pouco de incentivo, continuou tragando e aos poucos foi se sentindo mais leve.

Acendeu o segundo cigarro entre risos histéricos por causa de alguma história sem nexo que John contava.
- Cala boca, John! Lógico que isso não é verdade! – Falou, tentando controlar o riso.
- ‘Tô falando que é! – John rebateu. – Droga os cigarros acabaram. Eu devia ter feito mais. – Comentou, pegando o cigarro da mão da menina. – Você me deu prejuízo hoje, .
- Desculpe por isso! – Riu, pegando o cigarro de volta.
- Primeira vez? – Perguntou curioso. A menina ficou calada por alguns segundos e depois balançou a cabeça confirmando. – Então vamos aproveitar! – Falou, já se levantando e puxou a menina pela mão.
Entraram novamente na casa e foram se esgueirando pelas pessoas até o meio da casa. A música agitada estava ensurdecedora e eles mexiam o corpo de acordo com a batida entre gritos e risos.
sentia o sangue ferver e o coração acelerar enquanto tudo a sua volta parecia ser apenas um flash. As pessoas iam se tornando apenas borrões na medida em que ela se sentia mais leve e desligada de tudo a sua volta. Aos poucos seus movimentos foram se tornando constantes e iguais, não importando a batida da música.
John sorriu observando a menina já um pouco mais afastada dele e sentiu alguém dar um tapinha em suas costas. Sorriu para um menino de cabelo comprido e pegou dois tubos na mão dele, lhe mostrando o polegar em seguida. Caminhou novamente até a menina e passou os braços por sua cintura.
- Consegui uma coisa pra gente! – Falou em seu ouvido. – Vem comigo. – Segurou em sua mão sem sentir nenhuma resistência da parte dela.
Subiram as escadas rapidamente e entraram no ultimo quarto do corredor.
- Aqui. – John entregou um dos tubos para a menina que o olhou sorrindo. Seu rosto parecia entorpecido e o sorriso era bobo e permanente.
- Não sei cheirar lança, John! – Riu sozinha. – Vai você primeiro. – Falou, sentando na cama relaxadamente.
O menino pegou o tubo também sentando na cama e deu uma grande inalada sentindo imediatamente uma euforia. Depois outra novamente, e mais outra, até praticamente esquecer da menina sentada ao seu lado.
o observou sentindo a euforia dele praticamente se desprender do corpo e pegou o tubo repetindo o ato do menino. Riu sozinha depois da primeira inalada. A música alta que chegava até o quarto a fez levantar da cama e começar a dançar sozinha sendo seguida, segundos depois, pelo menino.

caiu na cama sentindo John beijar seu pescoço com vontade enquanto ela ainda ria sem motivo algum. Sua cabeça estava pesada e ela estava alheia aos acontecimentos ao seu redor, sentia seu corpo leve demais, praticamente flutuando. Fechou os olhos por alguns segundos e ouviu um barulho alto. Segundos depois John já não estava mais em cima dela e a língua dele não molhava mais seu pescoço.
Abriu os olhos vendo tudo girar e só o que conseguiu ouvir foram algumas vozes que lhe pareciam distantes demais.
- ! – Sufocou, levando a mão até a garganta.
- Fala logo o que você deu pra ela, porra! – Um grito pareceu lhe puxar de volta para a realidade, mas sua vista ainda estava desfocada demais. – Fala antes que eu arrebente a sua cara!
- É efeito do lança! – A voz de John gritou.
- , fala comigo! – Duas mãos seguraram em seu rosto e ela riu boba. – Foi só lança? – A voz perguntou alto.
- Lança e maconha, porra! Eu não sabia que ela ia reagir dessa forma!
- E o que você pensou, seu imbecil? Ela tem dezessete anos e nunca se drogou! Sai daqui antes que eu acabe com você! – Gritou.
- ! – sufocou novamente. Procurou por ar, mas parecia que o oxigênio não estava chegando até seus pulmões.
- Tenta respirar, . Por favor. – falou afastando a mão dela da própria garganta.
- Me tira daqui – pediu. – Eu não consigo respirar direito! – Falou baixo.
carregou a menina no colo, tomando cuidado para não deixar a cabeça dela pendendo e saiu do quarto rapidamente. Durante todo o caminho até o lado de fora da casa, sentiu os olhares curiosos das pessoas e os cochichos sobre a garota que estava se drogando no quarto.
Quando chegou ao jardim avistou ao lado de seu carro já com a porta aberta.
- Obrigado, cara! – Falou sentando no banco. – ? Consegue me ouvir? – Deu alguns tapinhas no rosto dela.
- Me tira daqui. – A menina repetiu.
- O que deram pra ela? – perguntou preocupado, olhando a menina.
- Maconha e lança. – respondeu fechando a porta do carona. – Obrigado pela ajuda, cara! Vou levar ela pro loft.
- Quer que eu vá com você? – o olhou, mas o garoto apenas balançou a cabeça negando.
Entrou rapidamente no carro e arrancou, ouvindo o barulho dos pneus cantando. A menina no banco do passageiro respirava pesadamente como se ali dentro não houvesse oxigênio suficiente, abriu os vidros vendo-a se mexer desconfortável e balbuciar algumas palavras sem sentido. Olhou o relógio que marcava quase duas da madrugada e imaginou há quanto tempo ela havia cheirado o lança perfume, o efeito provavelmente passaria em alguns minutos.
abriu a boca e inspirou uma enorme quantidade de ar, abrindo os olhos em seguida. segurou sua mão com força, recebendo um olhar amedrontado da menina que foi relaxando aos poucos enquanto ainda respirava com dificuldade.
fez menção de soltar a mão de , mas ela segurou com mais força, encolhendo as pernas e encostando a testa nos joelhos.
- Me desculpe. – Falou por baixo fôlego.
- Guarde suas desculpas pra si mesma. – rebateu sem se importar se estava sendo grosso. Sentiu a menina apertar sua mão, mas nenhum dos dois disse mais nada.
Estacionou o carro mais rapidamente que o normal e soltou indo até a porta do carona e a abrindo.
continuava com as pernas encolhidas e sua mão estava solta no banco do mesmo jeito que ele deixara ao soltá-la. respirou fundo tentando controlar a raiva e viu a menina levantar a cabeça e o olhar, envergonhada. Assustou-se um pouco com os olhos vermelhos dela e engoliu em seco, sentindo uma pontada no peito.
- Vamos. – Falou, a pegando no colo novamente.
- Me desculpe, me desculpe, me desculpe. – A menina sussurrava com a cabeça encostada no peito dele.
bufou rolando os olhos. O efeito do lança perfume já havia passado, mas ele sabia que o da maconha ainda demoraria um pouco para passar.
Abriu a porta do loft com cuidado e subiu rapidamente para o seu quarto, deitando na cama. Olhou o rosto ainda perturbado dela e sua boca que estava seca e levemente arroxeada.
- Fica aqui! – A menina falou baixo quando ele se afastou. a olhou rapidamente e desceu as escadas. Em menos de um minuto estava novamente ao lado dela com um copo de água na mão.
- Bebe. – Ordenou sentando ao lado dela na cama.
pegou o copo com a mão trêmula e quase o deixou cair. bufou, afastando a mão dela do copo e ajudando-a a beber calmamente.
- Vem tomar um banho. – Falou, a pegando pelo braço e a ajudando a andar até o banheiro.
Antes que a menina pudesse reclamar, ele a colocou embaixo do chuveiro somente de calcinha e sutiã. murmurou algumas palavras que não entendeu e nem se preocupou em perguntar o que era. Ainda sentia seu sangue ferver de raiva só de imaginá-la consumindo drogas.

deitou a menina na cama, sentindo o quão mole ela estava, seus olhos não conseguiam se manter abertos por mais de dez segundos.
- Eu tô com muito sono. – falou, tão baixo que ele quase não pôde ouvir.
- É o efeito da... droga passando. – Explicou, sentindo a garganta apertar. Levantou-se, tirando a camisa e, antes de entrar no banheiro, ouviu a menina resmungar.
- Não me deixa aqui sozinha.
- Eu só vou tomar banho. – Falou, se aproximando e passando a mão pela testa dela. – Não vou te deixar sozinha.
- Obrigada. – A menina conseguiu abrir os olhos por alguns segundos e encará-lo. – Eu amo você. – Suspirou fechando os olhos e sentindo o corpo todo se render ao sono.
- Também amo você. – sorriu fraco dando um beijo na testa da menina e vendo um pequeno sorriso se formar no canto dos lábios dela.

# End of flashback


O relógio marcava quase uma da manhã quando ele passou pela cozinha e saiu pela porta no quintal da casa tipicamente australiana. A vista para o mar agora era quase impossível de admirar, a escuridão tomava conta da paisagem e a única evidência do oceano ali perto era o barulho das ondas.
sentou na grama inclinada, sentindo o ar frio quase congelar seus pulmões.

So this is the end of you and me
Então este é o fim de você e eu
We had a good run and I'm setting you free
Nós tivemos um bom curso e eu estou te libertando
To do as you want, to do as you please
Para fazer o que você quiser, para fazer o que te agradar
Without me
Sem mim

Remember when you were my boat and I was your sea?
Se lembra quando você era meu barco e eu era o seu oceano?
Together we'd float so delicately
Juntos nós flutuávamos tão delicadamente
But that was back when we could talk about anything
Mas isso é de quando nós podíamos conversar sobre qualquer coisa


Pegou o maço de cigarro no bolso do moletom e o isqueiro no bolso da calça. Nunca gostara de cigarros, mas ultimamente havia adquirido esse vicio desagradável. Soltou a fumaça no ar, vendo-a sumir rapidamente na escuridão.
Observou o céu conseguindo contar facilmente quantas estrelas conseguia ver. A enorme lua cheia era quase uma visão de filme. Apoiou os braços na grama e esticou as pernas, relaxando lentamente e aproveitando o vento frio e o breu.

'Cause I don't know who I am
Porque eu não sei quem eu sou
And you're running circles in my head
E você está correndo círculos em minha cabeça
And I don't know just who you are
E eu não sei apenas quem é você
When you're sleeping in someone else's bed
Quando está dormindo na cama de outro alguém

Three whole words and eight letters late
Três palavras inteiras e oito letras atrasadas
That would have worked on me yesterday
Que teriam funcionado para mim ontem
We're not the same, I wish that it could change
Nós não somos os mesmos, eu queria que isso pudesse mudar
But it can't
Mas não pode

And I'll say your name and in the same breath
E eu direi seu nome e no mesmo fôlego
I'll say something that I'll grow to regret
Eu direi algo que crescerei me arrependendo
So keep your hands on your chest and sing with me
Então mantenha suas mãos em seu peito e cante comigo
That we don't wanna believe
Que nós não queremos acreditar


Com os olhos fechados ele podia ver com mais clareza. Com os olhos fechados ele podia ver o que estava tão distante de seus olhos abertos.
A imagem que tinha em sua cabeça era quase desbotada. Não fazia jus à realidade.
Lembrava do som da risada dela, agora já distante. Seus cabelos que caiam com perfeição em seus ombros e suas costas. Seu corpo formando o encaixe perfeito junto ao dele.
Não importava quantos corpos passassem por sua cama, eles seriam apenas copos. Nenhum conseguiria preencher o vazio que ela havia deixado ao partir.
Abriu os olhos sentindo uma lágrima escorrer por seu rosto e se perguntou como, depois de quase dois anos, ainda estava sofrendo por . Ela estava com outro, tinha novos amigos, uma nova vida. E ele não ficava para trás. Estava famoso, tinha garotas em seu pé o tempo inteiro, mas ainda assim era ela que atormentava seus sonhos e seus pensamentos.
Quanto tempo essa tortura duraria? Não sabia se era capaz de agüentar por mais tempo. A dor em seu peito constantemente o lembrava que fora ele quem a deixara partir.

'Cause I don't know who I am
Porque eu não sei quem eu sou
And you're running circles in my head
E você está correndo círculos em minha cabeça
And I don't know just who you are
E eu não sei apenas quem é você
When you're sleeping in someone else's bed
Quando está dormindo na cama de outro alguém

So it's true what they say
Então é verdade o que eles dizem
If you love someone, you should set them free
Se você ama alguém, você deve libertá-los
Oh, it's true what they say
Oh, é verdade o que eles dizem
When you throw it away
Quando você joga isso fora

I don't know who you are
Eu não sei quem é você
I don't know who you are
Eu não sei quem é você

“Acho que é como se você fosse uma parte de mim, como um pedaço faltando. Ou algum tipo de extensão.”
“Isso é um pouco surreal, .”


Riu sozinho ao lembrar de sua antiga teoria. Seria muita estupidez acreditar nisso até hoje? Ele não conseguia deixar de pensar que ela era seu pedaço faltando. Não era romantismo, ele apenas não conseguia encontrar outra explicação plausível.
Nunca gostara de filmes românticos e achava tudo uma baboseira, mas se não fosse sua alma gêmea, o que mais ela seria? Por que outra razão, depois de tanto tempo, ainda estaria ali, sofrendo por ela e desejando-a ter apenas para si? Por que outra razão não conseguiria imaginar sua vida sem a presença dela? Por que outra razão sentiria o vazio dentro de si quanto ela não estava por perto?
Sua vida e a dela se cruzavam. Em todos os sentidos, em todos os caminhos. Exatamente como ela dissera na carta; “Não importa qual estrada eu pegue, qual caminho eu decida seguir, eu sei que o final vai ser sempre você.”
Sempre ela.
Sempre ela.
Para sempre ela.

Oh, 'cause I don't know who you are
Oh, porque eu não sei quem é você
When you sleep with somebody else
Quando você dorme com outro alguém
'Cause I don't know who I am
Porque eu não sei quem eu sou
When you sleep with him
Quando você dorme com ele

It's true what they say when you throw it away
É verdade o que eles dizem quando você joga isso fora


26


Entrou no táxi apressada, desejando que a cidade não estivesse tão engarrafada quanto geralmente estava naquele horário. Deu o endereço para o motorista e se acomodou no banco tentando ficar calma e não pensar no quanto Makedde iria xingá-la pelo atraso. Não teve culpa se a lavanderia havia demorado tanto para entregá-la a roupa.
Observou as luzes da cidade e sorriu sozinha. Depois de tantos meses de intenso estudo, estava finalmente indo à uma festa, merecia um descanso.
O celular vibrou e ela leu a mensagem de Makedde; “Cadê você?”. Preferiu não dizer exatamente onde estava ou a amiga iria saber que tinha acabo de sair do flat. “No táxi, estou a caminho”, respondeu simplesmente.
Depois de quase meia hora entre alguns pequenos engarrafamentos, o táxi parou em frente a um casarão iluminado, cheio de fotógrafos e seguranças na frente. Uau, essa banda é mesmo famosa, pensou. Pagou o motorista e desceu do carro se ajeitando.
- Convite. – O segurança pediu, a olhando sem expressão.
Mostrou o convite VIP que Makedde havia lhe dado, e insistido que não esquecesse de forma alguma, e entrou pelas enormes portas brancas, sem nem notar o cartaz com a foto da banda que pendia na parede.
Teve que esperar alguns segundos para se acostumar com as luzes que atingiram seus olhos e a música tão alta que faziam sua cabeça latejar.
Olhou em volta, procurando por Makedde, mas percebeu que encontrá-la por ali seria tarefa quase impossível. Desviou de algumas pessoas que conversavam animadas e outras que dançavam sem se preocupar com qualquer outra coisa e passeou pela casa tentando se familiarizar. Algumas pessoas sorriram para ela, fazendo-a se perguntar se era assim que pessoas VIP’s se tratavam nas festas.
Um garçom ofereceu champanhe e ela sorriu, pegando a taça e agradecendo. Resolveu descansar um pouco no bar e observar com mais atenção as pessoas no local. Pensou ter visto dois rostos conhecidos passarem, mas a única pessoa que conhecia na festa era Makedde. Ou champanhe era forte demais, ou sua resistência ao álcool estava muito fraca.
Sentiu uma mão em seu ombro e se virou sorrindo.
- Aí está você! – Makedde a abraçou um pouco esganiçada.
- Calma, já cheguei. – Brincou.
Podia jurar que a amiga estava um pouco em alerta e abafada demais.
- Mak, o que houve? Você tá pálida!
- Nada. Eu, pálida? Deve ser o álcool. – Riu disfarçando. – Opa, mais um aqui! – Pediu, vendo o garçom se aproximar com uma bandeja de champanhe.
apertou os olhos observando a amiga, mas acabou esquecendo o assunto, talvez fosse mesmo o álcool. Makedde a puxou para dançar e ela se rendeu a alegria contagiante dela. Um DJ tocava as músicas animadas do momento e parecia que todos por ali estavam gostando. Deixou-se levar pelo ritmo e dançou o máximo que pôde. Precisava mesmo esquecer os estudos e finalmente se divertir.

Prendeu o cabelo em um coque mal feito e se abanou com as duas mãos. Era impressão ou há meia hora o clima estava mais fresco? Makedde riu, ajudando-a a se abanar.
- Como você agüenta dançar tanto? – Perguntou, vendo Mak dar de ombros. – Preciso retocar a maquiagem, devo estar parecendo uma louca suada e com a maquiagem escorrendo.
- Eu vou pegar mais champanhe. Encontro você no bar. - Mandou beijos no ar e se afastou, ainda dançando animadamente.
sorriu observando a amiga e desejando ter metade da disposição que ela tinha para festas. Makedde definitivamente sabia como se divertir.
Caminhou pelo casarão, desviando de pessoas que dançavam tão animadas quanto ela e Mak dez minutos antes. Não havia reparado na quantidade de gente que estava ali e nem o quão imensa aquela casa era.
Desceu alguns degraus e entrou em um ambiente completamente diferente do que estava antes. As luzes eram menos violentas em seus olhos e a música mais baixa, as pessoas também não pareciam tão animadas e sim mais sérias. Era quase como se estivesse entrando em outra festa.
- Com licença. – Tocou no ombro de uma senhora que usava uniforme. – Pode me dizer onde fica o toilet? – A mulher a instruiu a seguir até o final da sala e entrar no corredor. Sorriu agradecida e caminhou lentamente, ainda observando ao redor.
Assustou-se um pouco ao ver seu reflexo no espelho. O cabelo estava desarrumado, o rosto brilhava de suor e o batom já havia ido embora há muito tempo. Pegou o pequeno kit de maquiagem que sempre levava consigo e começou o trabalho, não iria conseguir ficar como estava antes, claro, mas tentaria amenizar o estrago que quase uma hora de dança continua havia feito.
Começou secando o rosto com um papel próprio para isso e depois retocou a base e o blush. Passou outra camada de lápis embaixo dos olhos e um pouco mais de rímel. Adorava fingir que tinha enormes cílios, Makedde havia lhe dado aquele rímel e desde então não conseguia sair de casa sem ele. Passou um pouco de brilho nos lábios e ajeitou rapidamente o cabelo, ficando satisfeita com o resultado.
Saiu do toilet se sentindo muito melhor do que antes, nada como uma boa maquiagem para levantar o astral de uma mulher. Podia até sentir seu andar mais confiante e algumas pessoas a olhando diferente. Ou podia ser só sua imaginação.
Mais uma vez um garçom a ofereceu champanhe e ela aceitou, sabendo que já estava ficando um pouco bêbada, ou talvez só alegre demais.
Voltou para a parte da casa onde as luzes eram fortes demais e a música preenchia completamente o ambiente. Avistou facilmente Makedde conversando com um homem alto e muito bonito e sorriu sozinha. Pelo menos alguém iria se dar bem aquela noite. Não se importava de ir embora sozinha, não seria a primeira vez de qualquer forma. Uma garota como Makedde chama realmente a atenção, se fosse ficar chateada por ela abandoná-la para sair com um cara, teria que cortar a amizade ou viveriam brigando.
Quando foi beber um gole do champanhe, alguém passou apressado, esbarrando em suas costas e a fazendo derramar o liquido, por sorte no chão e não na própria roupa. Ouviu uma voz masculina pedir desculpa, mas quando olhou, ele já havia sumido de vista.
- Idiota. – Xingou baixo, abanando a mão molhada.
Alguém tocou seu ombro, soltando uma risada baixa.
- Desculpa, meu amigo estava apressado.
Virou-se, já pronta para dar um sorriso amarelo e pedir para que ele mandasse o amigo para merda, mas ao encontrar um rosto conhecido, deixou que a taça caísse no chão. O volume alto da música abafou o som, apenas algumas pessoas próximas olharam assustadas.
O garoto a olhou, tão assustado quanto ela mesma.
sentiu uma pessoa varrer rapidamente o vidro espalhado pelo chão, mas seus olhos estavam presos no menino a sua frente. Aquilo não podia ser efeito do álcool, era real demais. Piscou os olhos mesmo assim, apenas para ter certeza.
- ! – finalmente falou. – Não acredito. – Antes que ela dissesse qualquer coisa, ele a abraçou, deixando-a ainda mais sem reação.
- O-oi. – Conseguiu dizer quando ele a soltou do abraço. Podia sentir seu rosto congelado, incapaz de transparecer qualquer emoção. – Eu... Você... – Balançou a cabeça, tentando formar a pergunta e fazê-la sair corretamente por sua boca. – O que você está fazendo aqui?
- É a after party do show do McFLY! – Riu.
o olhou sem entender. Que McFLY?
- A banda. Minha banda. – explicou, entendendo a confusão no rosto dela. – Quer dizer, nossa banda. Eu, o , o e o .
Havia tanto tempo que não ouvia aquele nome fora dos seus pensamentos que pôde jurar que o coração pulou algumas batidas. Sentiu suas mãos tremerem e uma leve tontura a dominar por breves segundos.
- Opa. – segurou seu braço. Talvez a tontura tenha durado mais do que ela imaginou. – Tudo bem? – Perguntou preocupado.
tentou sorrir para deixar claro que estava tudo certo, mas seus músculos faciais ainda estavam congelados. Abriu a boca, tentando dizer alguma coisa, mas as palavras estavam presas em sua garganta.
- McFLY? – Acabou dizendo.
Fechou os olhos por um segundo e lembrou-se de uma garota que vira com a camisa de uma banda que ela pôde jurar conhecer os rostos, mas não teve tempo de verificar já que a garota sumira rapidamente de sua vista. McFLY era o que estava escrito, por isso teve a estranha sensação de conhecer os rostos estampados no tecido. Ela os conhecia de fato, mas como poderia saber?
- Vocês são a banda... – Apontou para qualquer lugar, esperando que ele entendesse o gesto.
- Sim, fomos nós que nos apresentamos. Você não viu? – Perguntou, confuso.
- Eu, hm... – Não queria dizer que nem se interessou em conhecer a banda e só queria mesmo ir à festa. – Cheguei atrasada. Coisas do curso. – Explicou.
a olhou sorrindo, um sorriso bobo que ela já nem se lembrava de sentir falta. Podia quase ver as memórias passando pela cabeça dele, ninguém deixava transparecer tanto o que estava pensando como . Sorriu de volta, um pouco sem jeito.
- Cara, nem acredito que você é real. – Ele tocou seu braço, como se quisesse confirmar que não era imaginação.
- Pensei a mesma coisa alguns minutos atrás. – Sorriu amarelo.
Precisava sair logo dali, sabia o que viria a seguir e não estava certa de que estava preparada. Procurou por Makedde e viu que ela a observava do bar. Seu olhar era de espanto e seu rosto estampava um pedido de desculpa. Ela sabia, pensou. Por isso toda aquela afobação no começo da festa, por isso estava pálida e tentou disfarçar.
- , eu... – Apontou para Makedde, mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa a mão dele segurou seu braço.
- Achei os caras. Vem, eles vão adorar te ver.
- NÃO! – Gritou, o assustando. – Quer dizer... Eu meio que deixei uma amiga sozinha e er... Tenho que encontrá-la. – Apontou o lado oposto de onde ele estava te levando.
olhou ao redor, desconfiado. Observou o rosto em pânico dela e soltou seu braço, entendendo o que ela queria dizer.
- Tudo bem, não vou te obrigar. – Sorriu amigável.
pôde sentir seu rosto esquentar, estava agindo como uma criança e sabia disso, mas tudo havia acontecido muito depressa. Não sabia se podia agüentar o que viria a seguir.
- Desculpe. – Respondeu sincera. – Fico feliz por saber do McFLY. Boa sorte com isso. – Beijou a bochecha dele e se afastou o máximo que conseguiu. Lançou um olhar para Makedde que entendeu imediatamente o que ela queria.
- O que aconteceu? – Mak perguntou, segurando a amiga pelos ombros quando chegaram do lado de fora do casarão. – Me conta!
- Nada! Não aconteceu nada. – Suspirou. – Aquele é o .
- Eu sei, reconheci das fotos que você já me mostrou. Não consegui reconhecê-los no show, mas quando cheguei aqui e vi aquela foto – Apontou para o cartaz preso na parede. – reconheci o na hora.
- Não sei o que fazer. – Confessou, mordendo o lábio com força.
Sua mente gritava para que ela fosse embora e esquecesse, mas seu coração sabia que ela não iria conseguir parar de pensar nisso. Queria voltar lá, queria encontrar os garotos, queria mais do que tudo poder ver , mas tinha medo da realidade. E se ele não fosse mais seu? E se ele a odiasse?
- Espero que você não esteja se perguntando se ele te odeia. – Makedde segurou sua mão. Deixou um riso escapar, às vezes podia jurar que ela lia sua mente. – , olha pra mim. – Pediu, carinhosa. – Ele não te odeia, ele não vai sair correndo quando te ver e aposto que não vai te ignorar.
- Mas e eu? O que eu vou fazer? – Desesperou-se. – Mak, é o ! Sei que pode parecer drama, mas é ele. O cara que eu amei a vida inteira e perdi contato há um ano. O cara que atormenta meus sonhos e que eu chamo durante a noite...
- Eu sei, eu sei! – Makedde a interrompeu. – E é por isso mesmo que você vai entrar nessa casa agora e vai atrás dele... Ou deles. Tanto faz. – Balançou a cabeça. – Você não vai fugir e nem se esconder. Vai encarar a realidade e vai fazer isso de queixo erguido, entendeu?
concordou com um aceno de cabeça e respirou fundo.
- Tem certeza? – Olhou em dúvida para a amiga que a empurrou em direção a porta da casa.

Caminhou entre as pessoas, esbarrando sem querer em algumas e pedindo desculpas desajeitadamente. Certo, como ela iria encontrá-los no meio daquelas pessoas? Havia esbarrado em por acaso, não fazia idéia de onde eles podiam estar. Continuou caminhando na esperança de esbarrar com alguns deles de novo, mas depois de quase dez minutos rodando pela casa, cansou e sentou-se em um dos banquinhos do bar.
- Champanhe, senhorita? – Um garçom sorriu, mostrando-lhe a bandeja com taças de champanhe.
- Hm, não, obrigada. Preciso estar sóbria parar lembrar o que vai acontecer essa noite. – Respondeu, mais para si mesma do que para o garçom. Ele a olhou sem entender e voltou a oferecer champanhe pela festa.
deu uma última olhada em volta, já pensando na reação de Makedde quando a encontrasse e dissesse que não havia encontrado os garotos. Sabia que ela a mandaria voltar e procurar novamente. Quando seus olhos passearam pelo fundo da enorme sala, viu um rosto conhecido, rindo de alguma coisa que outro rosto conhecido havia falado.
- Licença! – Praticamente berrou, afastando as pessoas e caminhando em direção ao grupo de amigos. – Não sumam. Não sumam. – Implorava, tentando não errar a direção.
Antes que pudesse perceber, estava parada em frente a três garotos. Um deles lhe olhava com um sorriso no rosto e os outros dois arregalaram os olhos ao vê-la.
- Então vocês são o McFLY? – Perguntou, sem conter um sorriso.
- Tá brincando? – a abraçou, levantando-a um pouco do chão.
repetiu o gesto do amigo e a fez dar uma voltinha para ter certeza de que era ela mesma.
- É ela mesmo. – riu. – Já belisquei pra ver se era real.
- Claro que sou eu, idiota. – Reclamou, sem esconder um sorriso no canto dos lábios. – Como eu não fiquei sabendo sobre o McFLY? – Perguntou, incrédula.
Os três ficaram calados, sem saber o que responder, e ela percebeu o que tinha falado. Não ficara sabendo sobre a banda porque deixara de falar com há muito tempo. Lembrou quando ele disse que os garotos tinham assinado com a gravadora, mas depois daquilo os e-mails e telefonemas trocados foram ficando mais curtos e raros, até pararem completamente.
- É tão bom ver vocês. – Mudou de assunto, sorrindo para os três garotos à sua frente.
Três.
Não quatro. Três.
Onde estava o quarto, afinal?
- Ei, ! – acenou para alguém atrás dela.
Sentiu seu sorriso congelar, assim como todo o resto de seu corpo. Não sabia se conseguiria virar e encará-lo. Não sabia o que iria acontecer, mas não iria fugir novamente.
Observou os rostos apreensivos de e e engoliu em seco, virando-se lentamente.
Quando seus olhos encontraram os dele, sentiu o ar lhe faltar e o coração acelerar, quase rasgando seu peito. Não conseguia mais ouvir a música ou as vozes das pessoas ao redor. Tudo havia sumido. De repente estavam sozinhos, estavam novamente vivendo no mundinho impenetrável deles. Era como se nada tivesse acontecido. Os olhos dele estavam cravados nos seus e era só isso que ela conseguia ver.
Mas a realidade a atingiu em cheio quando um casal ficou entre os dois, quebrando a troca de olhares. Virou novamente de frente para , e e puxou o máximo de ar que pôde. Mais um pouco e ela jurou que poderia desmaiar.
- Oi. – Uma voz suave e neutra atingiu seus ouvidos. A mesma voz que atormentou sua mente durante dois longos anos.
Olhou para sua direita e o encontrou, mais próximo do que esperava. Sorria!, ouviu a voz de Mak gritar em algum lugar de sua mente.
- Oi. – Sorriu da melhor forma que pôde.
Olharam-se durante alguns segundos, apenas para confirmarem que aquilo estava mesmo acontecendo. pigarreou, sentindo o rosto esquentar.
- Parabéns pelo hm... McFLY. – Apontou os garotos.
não respondeu, apenas acenou com a cabeça em forma de agradecimento.
O silêncio se instalou entre os cinco. tentava disfarçar o nervosismo direcionando o olhar para todos os cantos, menos para o garoto ao seu lado. Mas ainda assim podia sentir o olhar dele a perfurando.
Arriscou olhar para o lado e, mais uma vez, seus olhos encontraram os dele que a observava tão concentradamente. Percebeu que ele não estava com vergonha por olhá-la daquela forma, seus olhos analisavam cada detalhe de seu rosto, cada movimento que ela fazia.
Sentiu vontade de abraçá-lo, de sentir seu perfume de novo, de sentir a pele quente dele contra a sua. Queria sentir todas aquelas sensações que não sentia há muito tempo. As sensações que ela sabia que nunca sentiria com nenhum outro homem. Perguntou-se se era isso que ele estava pensando enquanto a analisava. Perguntou-se se ele podia perceber que era isso que ela estava pensando enquanto o olhava. Não sabia se ele queria que ela dissesse alguma coisa. Um pedido de desculpa talvez? Mal conseguira dizer oi, um pedido de desculpa estava fora de questão naquele momento.
- Ei. – A voz de Makedde a fez desviar os olhos do rosto de . – Você demorou, estava ficando preocupada. – Sorriu sem graça, olhando o rosto dos garotos que estavam ali.
- Mak. – falou, um pouco histérica. Sentiu um alivio imediato ao ver o rosto da amiga. – Meninos, essa é a Makedde. Mak, esse é o McFLY. – Riu. – , , , - apontou cada um dos meninos. – e .
- Olá. – Acenou. – O show foi ótimo.
- Brigado. – Os quatro responderam ao mesmo tempo.
Makedde apertou a mão de , apenas para mostrar que estava ali caso ela precisasse. A amiga agradeceu com um sorriso discreto.
Uma garçonete aparentemente ainda adolescente apareceu com mais uma bandeja de champanhe, fazendo se perguntar quantos litros de champanhe havia na festa e se não havia nenhuma outra bebida. A adolescente sorriu, observando os garotos e parecia se controlar para não gritar.
- Sou fã de vocês! – Disse, rápido, ficando corada em seguida.
- Obrigado. – respondeu educadamente. – É bom saber que temos fãs japoneses. – Sorriu.
- Claro, claro. Eu e minhas amigas amamos vocês. – Um riso nervoso escapou por seus lábios.
sorriu sozinha. Será que era sempre assim agora? Fãs histéricas, dizendo o quanto os amava e querendo autógrafos e abraços.
- E você é lindo. – A menina sorriu para e o suas bochechas adquiriram um tom quase vermelho.
- São seus olhos. – sorriu, um pouco sem graça, fazendo a garota soltar um suspiro e os garotos rirem.
- Champanhe? – Ela finalmente ofereceu.
pegou duas taças e ofereceu uma para , deixando-a sem reação. Sorriu, tranqüilizando-a e a viu sorrir de volta, pegando a taça. Viu a garçonete acompanhar a cena e olhar de um para o outro, desconfiada.
Um silêncio constrangedor se instalou enquanto eles bebiam a champanhe e se entreolhavam, ainda sem saber direito o que fazer ou dizer.
Makedde ainda segurava com firmeza na mão de , mas os constantes apertões que a amiga dava estavam começam a incomodá-la. Queria ir dançar e sair logo daquele ambiente pesado. Não que não tivesse gostado dos garotos, eles lhe pareceram simpáticos, mas podia sentir o desconforto de todos naquela roda, nem mesmo a garçonete havia se livrado.
- Hm, , você pode ir comigo até... ali? – Apontou pra trás, sem dar muita importância para o que havia ali.
- Ah, claro. – Sorriu.
- Foi um prazer conhecer vocês. – Makedde acenou para os garotos.
- Eu falo com vocês depois. Acho. – ia se afastar com apenas um sorriso, mas viu a olhar carinhosamente e abrir os braços, num pedido mudo por um abraço.
Merda.
- Senti sua falta. – Ele sussurrou.
- Também senti sua falta. – Confessou no mesmo tom.
Abraçou e rapidamente, desejando poder sair correndo depois, mas lá estava , com um sorriso misterioso no canto dos lábios, confundindo-a ainda mais.
Passou os braços em volta do pescoço dele e sentiu um abraço firme em sua cintura. Sentiu seu perfume inebriante atingi-la, deixando-a tonta, assim como o contato com a pele dele, que fez seu corpo esquentar de imediato. A respiração pesada dele batia em seu cabelo, arrepiando-a por inteiro.
Poderia ficar ali nos braços dele pelo resto da noite. Poderia adormecer daquela forma, como já fizera muitas vezes. Poderia até enterrar o rosto no pescoço dele, deixando-se levar pela maciez de sua pele. Mas apenas deixou que seus braços o soltassem e se afastou, vendo o olhar dele seguir calmamente seus movimentos.

observava Makedde dançar animadamente, atraindo a atenção dos homens ao seu redor, enquanto praticamente virava taças de champanhe de uma só vez. Não estava no clima para dançar, mas ficar sentada naquele bar já estava ficando depressivo. Dois caras já haviam se aproximado dela, mas dera um fora neles apenas com o olhar.
Pegou mais uma taça e finalmente se levantou, juntando-se a amiga no meio das pessoas. Com um sorriso sensual no rosto, ela mexeu o corpo no ritmo da música e percebeu alguns olhares, que antes estavam presos em Makedde, se virarem para ela. Sentiu-se satisfeita por saber que os caras a achava interessante.
Música depois de música ela dançou e bebeu. Mak já havia arrumado um pretendente e havia sumido há alguns minutos, deixando-a sozinha, entretida demais para parar de dançar. Olhou ao redor, tentando achar um garçom para encher novamente sua taça e encontrou um par de olhos a encarando com intensidade. Um nó se formou em sua garganta, mas ela não estava disposta a deixar que ele percebesse isso.
Como num filme, uma música, que de tão ideal para o momento pareceu irônica, começou a tocar. Deixou que um sorriso malicioso aparecesse em seu rosto e se aproximou de onde estava, mas ainda mantendo distância. O álcool que corria em seu sangue lhe dava ousadia suficiente para fazer aquilo, mas um aviso de perigo ainda apitava em sua mente.

I was missing you, you were miles away
Eu estava sentindo sua falta, você estava muito longe
He was close to me I let him stay
Ele estava perto de mim eu o deixei ficar
Then, I closed my eyes he almost felt the same
Então fechei meus olhos ele quase sentiu o mesmo
But when the morning broke I cried out your name
Mas quando amanheceu eu gritei seu nome
If I'd only known it would break us
Se eu soubesse que isso iria nos separar
I'd done anything just to save us
Teria feito qualquer coisa pra nos salvar.

Agora ela podia sentir todos os olhares das pessoas ao redor sobre si. Apenas um deles realmente a interessava e era esse olhar que acompanha o movimento do seu corpo e dos seus lábios que acompanhavam a música. Ela podia ver claramente a tensão no corpo de , a censura em seus olhos estava explícita, mas ela estava se deliciando com aquele momento. Queria que ele sentisse exatamente o que ela estava sentindo, queria deixar claro sua vontade.

'Cause you're all I have when the world comes down on me
Porque você é tudo que eu tenho quando o mundo desaba em mim
You're the one I love and I'm begging you to see
Você é o único que eu amo e eu imploro pra que você veja
You're all, you're all, you're all I have
Você é tudo, tudo, tudo que eu tenho
You are, you are the one I love
Você é, você é o único que eu amo
You're all, you're all, you're all I have
Você é tudo, tudo, tudo que eu tenho.

You've forgiven me but it doesn't change
Você me perdoou, mas isso não muda
The guilt I feel when you mention his name
A culpa que eu senti quando você mencionou o nome dele
No more innocence, how to trust again?
Chega de inocência, como confiar de novo?
Wanna believe that you won't do the same
Quero acreditar que você não fará o mesmo
And every time we fight we're getting closer
E todas as vezes que brigamos estamos nos aproximando
I slowly die inside I'm scared it's over
Eu morro lentamente por dentro tenho medo que seja o fim.

Ela mal podia acreditar no quão conveniente aquela música estava sendo. Todas aquelas palavras, aquilo era tudo que ela queria poder dizer para ele e sabia que não teria coragem. No meio da música ela já nem se dava mais conta do que estava acontecendo ao seu redor. Seus olhos estavam cravados nos dele e seus movimentos já haviam saído do seu controle, apenas acompanhava o ritmo e a letra da música.

'Cause you're all I have when the world comes down on me
Porque você é tudo que eu tenho quando o mundo desaba em mim
You're the one I love and I'm begging you to see
Você é o único que eu amo e eu imploro pra que você veja
You're all, you're all, you're all I have
Você é tudo, tudo, tudo que eu tenho
You are, you are the one I love
Você é, você é o único que eu amo
You're all, you're all, you're all I have
Você é tudo, tudo, tudo que eu tenho.

Your love for me was always there
Seu amor por mim estava sempre lá
Maybe too much for me to care
Talvez muito pra eu me importar
Now that I know I messed it up
Agora que eu sei que eu baguncei tudo
I'd give my all to take it back
Eu daria tudo para tê-lo de volta.

Assustou-se ao perceber que um cara estava dançando em sua frente, interrompendo seu contato visual com . O olhou com raiva, mas viu que ele sorria malicioso e dançava aproximando-se dela. Tentou dar alguns passos e se afastar, mas ele segurou sua cintura e apertou contra si.
- Não. Me solta! – Falou, alto. Ele a olhou e, soltando um palavrão, se afastou.
olhou em volta, esperando encontrar novamente aqueles olhos, mas a música terminou e as luzes que antes iluminavam a pista de dança diminuíram quando uma música lenta começou.
Passou a mão pelo cabelo, sem se importar com o quão suado ele estava e sentiu a respiração ficar mais pesada. O que ela havia feito?
- Mak. – Sussurrou, implorando para que a amiga estivesse por perto. – Mak. – Chamou, sentindo as lágrimas chegarem até seus olhos.
Um grupo de pessoas animadas passou, esbarrando-se nela, fazendo-a se desequilibrar e cair no chão. Nenhum deles sequer olhou pra trás. Ali, sentada no chão e sozinha, ela deixou que as lágrimas caíssem e o choro infantil que ela vinha tentando prender há tempos finalmente se libertasse.

# Flashback (1 ano antes)


Saiu do banho e se enxugou lentamente, tomando cuidado com o cabelo que já estava perfeitamente arrumado. Olhou-se no espelho e sorriu ao perceber que o pesteado ainda permanecido intacto. Olhou o vestido em cima da cama e suspirou, estava fazendo aquilo apenas para atender aos caprichos de que insistia em levá-la a sua festa de formatura.
Vestiu a calcinha que comprara especialmente para a ocasião e lembrou-se dos comentários de algumas garotas do colégio. Passava tão despercebida pela maioria das garotas que muitas delas nem se davam ao trabalho de interromperem a conversando quando ela entrava na sala ou passava pelo grupo. Segundo elas, a noite de formatura é importante para uma garota porque é quando a maioria delas perde a virgindade, seja com o namorado ou com seu par para a noite. Por que mesmo havia comprado uma lingerie nova? Não tinha namorado e as chances de perder a virgindade com seu par eram nulas.
Admirou o vestido por algum tempo antes de finalmente vesti-lo. Desejou que ele tivesse o mesmo efeito em que tivera no dia em que o comprara. Se aquela noite não serviria para que ela perdesse a virgindade, que pelo menos mostrasse a que Ela não era mais nenhuma garotinha.
Pegou o kit de maquiagem quase novo devido a falta de uso, e desejou ter alguém para ajudá-la a fazer aquilo. Pensou em sua mãe e no quanto ela ficaria orgulhosa por ver a filha se formar. O destino tinha mesmo de ser tão cruel? Lembrou dos conselhos que Claire havia lhe dado sobre maquiagem alguns anos antes e começou o trabalho, desejando apenas não ficar parecendo uma palhaça no final.
Às sete horas em ponto ouviu uma buzina e olhou pela janela, mesmo sabendo que era , pontual como sempre.
Deu uma última olhada no espelho e ajeitou o cabelo preso em um coque que parecia mal feito, mas que havia dado trabalho a moça do salão. Sentiu-se satisfeita com o resultado da maquiagem e, pegando a carteira preta que um dia fora de sua mãe, saiu do quarto e desceu as escadas, respirando fundo e tentando controlar a ansiedade.
Encontrou o pai na sala, com uma cerveja em uma mãe e o controle da televisão na outra. Percebeu como ele se assustou ao vê-la e, por alguns segundos, sentiu medo do que ele poderia dizer. Atravessou a sala, agradecendo pelo silêncio e, quando chegou à portam ouviu a voz dele.
- Você está parecendo com ela. – se virou e o olhou, sem entender. – Você está parecida com a sua mãe. – Explicou.
A garota sorriu, mesmo sentindo um nó se formar em sua garganta. Mordeu o lábio, sem saber o que responder, mas não foi necessário dizer nada, seu pai continuou falando.
- Divirta-se. Eu estou orgulhoso de você. – Seu olhar estava vidrado na televisão e a garota podia perceber o constrangimento na voz dele. Aquele não era o tipo de relacionamento que eles tinham.
- Obrigada. – Sussurrou antes de abrir a porta e sair para o ar frio do lado de fora.
- Ei. – A voz de atingiu seus ouvidos e ela o olhou, assustada. Aquela conversa a fizera até esquecer o garoto do lado de fora da casa. – Tudo bem? – Ele se aproximou, a olhando com preocupação.
- Tudo bem. – Sorriu, disfarçando. – É só nervosismo.
- Vai dar tudo certo. Mão se preocupe. – beijou sua bochecha e, só quando o perfume inebriante dele a atingiu, ela reparou realmente nele.
Vestia terno e calça pretos, camisa branca e uma gravata vermelha. Seu cabelo estava desajeitadamente penteado pra trás, dando um ar mais jovial à roupa. A tulipa em sua mão combinava com a gravata e um sorriso brincava em seus lábios quando ele estendeu a flor para a menina e ofereceu o braço para que ela o acompanhasse até o carro.
Se o resto da noite for como o começo, pensou, então tudo vai ter valido a pena.

Finalmente, depois de quase duas horas, que ela julgou serem as duas horas mais entediantes e lentas da sua vida, desceu do palco com o diploma na mão. Procurou no meio da multidão de pais e familiares e comemoravam a formatura de seus filhos. Quando o avistou, percebeu que ele conversava com uma garota que, a principio, não reconheceu, mas quando chegou mais perto conseguiu ver direito o rosto dela.
- Claire! – Gritou, andando mais rápido até onde eles estavam. – Não acredito que você ‘tá aqui!
- Acha mesmo que eu perderia sua formatura? – Riu, abraçando a amiga. – O me mandou um e-mail há algumas semanas, agradeça a ele.
o olhou e sorriu, dispensando as palavras naquele momento.
- Então, vamos? A festa já deve estar começando.
- Vamos. – Um garoto loiro que estava logo atrás de Claire se pronunciou. o olhou, sem conseguir reconhecê-lo.
- Ah, , esse é o Gerard, meu namorado. – Claire apresentou.
- Ah sim, você falou sobre ele em um dos e-mails que me mandou no começo do ano. – apertou a mão de Gerard e sorriu.
- Apresentações feitas, agora vamos para a festa. – colocou a mão na base das costas da menina e a guiou pelo meio das pessoas que ainda se encontravam no teatro onde a cerimônia ocorrera.
A casa que fora alugada para a festa de formatura já estava lotada quando os quatro chegaram. Cada formando tinha direito a mais dois convites, não sabia como eles entrariam com uma pessoa a mais, mas quando saiu do carro viu que todos estavam com um convite na mão.
Não demorou muito para que a área coberta da casa já estivesse abafada pela quantidade de gente ali dentro. A parte de fora também estava cheia e praticamente todas as mesas pareciam estar tomadas. As luzes coloridas e a fumaça dificultavam a visão, mas ninguém parecia se importar com isso, não havia uma só música que o DJ tocasse que não fosse aprovada pelos jovens animados que dançavam como se não houvesse amanhã.
- Pensando na vida? – A voz de fez com que se sobressaltasse. Estava tão perdida em suas memórias que não percebeu ele se aproximando.
Agradeceu o copo de refrigerante que ele colocou na mesa à sua frente e balançou a cabeça, negando a pergunta dele.
- Estava só... lembrando. – Deu de ombros.
- Algo em especial?
Ela estava pensando no quanto aquela pista de dança a lembrava da última festa do colégio que fora, mas sabia que a menção daquela lembrança traria um clima pesado. Olhou Claire e Gerard dançando juntos perto de onde eles estavam e sorriu sozinha, não deixaria aquela lembrança estragar a noite de ninguém.
- Nah, deixa pra lá. – Levantou-se. – Vem, vamos dançar. – Riu da cara que ele fez quando ela falou em dançar e o puxou pela mão até onde Claire e Gerard ainda dançavam.

I am in misery
Eu estou na miséria
There ain't nobody who can confort me
Não há ninguém que possa me confortar
Why won't you answer me?
Por que você não me responde?
The silence is slowly killing me
Seu silêncio está me matando lentamente
Girl you really got me bad, you really got me bad
Garota, você realmente me deixa mal, você realmente me deixa mal
I'm gonna get you back, gonna get you back
Eu vou ter você de volta, vou ter você de volta

dançava fazendo movimentos engraçados e arrancando risadas da garota. A música tinha uma pegada sensual e, por vezes, ele encostava o corpo no dela e fazia alguma gracinha. Ela não conseguia saber se ele fazia de propósito, apenas para provocá-la, ou se não havia má intenção por detrás de seus atos.
Percebeu algumas garotas atrás dele, fazendo comentários com as amigas e rindo das besteiras de . Há tanto tempo não saia com ele para algum lugar que já havia esquecido a facilidade com que ele atraia olhares de outras garotas. Ele não pareceu notar as garotas e, se notou, não demonstrou isso, pois continuou a brincar de provocá-la.
A hora das músicas lentas finalmente chegou, muitos casais rapidamente se formaram e a pista de dança pareceu ficar mais vazia, ou talvez era a apenas a impressão causada quando as pessoas se juntavam para dançar. fez uma reverência exagerada e segurou a mão de , fazendo com que ela desse uma voltinha antes de puxá-la para perto de si e começar a se movimentar tão lentamente quanto o ritmo da música.
passou os braços pelo pescoço dele e deitou a cabeça em seu ombro, aproveitando para fechar os olhos e deixar que ele a guiasse.

So lay here beside me, just hold me and don't let go
Então deite-se aqui ao meu lado, abrace-me e não solte
This feelin' Im feelin' is somethin' I've never known
Esse sentimento que estou sentindo é uma sensação que eu não conhecia
And I just can't take my eyes off you
E simplesmente não consigo tirar os olhos de você
And I just can't take my eyes off you
E simplesmente não consigo tirar os olhos de você


O relógio no painel do carro marcava quase duas e meia da manhã quando parou o carro em frente àquela casa já tão conhecida. já estava adormecida no banco do carona, uma parte do seu cabelo já solta cobria seu rosto e o terno de a protegia do frio.
Cutucou-a, tentando acordá-la, mas ela nem se mexeu. Riu sozinho, pensando em como ela poderia ter entrado em um sono tão profundo em tão pouco tempo.
- . – Chamou, baixo.
resmungou alguma coisa antes de abrir os olhos e o olhar, ainda desorientada.
- Já chegamos? – Perguntou, esfregando os olhos, esquecendo da maquiagem.
- Já, já chegamos. E você acabou de borrar toda maquiagem. – riu.
xingou baixinho e deu de ombros, já estava em casa mesmo. Tirou o terno de e o entregou, arrepiando-se ao sentir o frio a atingir desprevenida.
- Obrigada pela noite, .
- Se arrependeu de ter participado da formatura? – Ele brincou, lembrando que algumas semanas antes ela não queria ir de forma alguma.
- Não, não me arrependi. Obrigada por isso também, se você não tivesse me convencido, teria passado essa noite em casa e nem teria visto a Claire. – sorriu, observando as próprias mãos que brincavam com o tecido fino do vestido.
- Não queria que você perdesse essa experiência só porque acha que ninguém na escola gosta de você.
- Eu não acho, tenho certeza disso. – O olhou.
- Você nunca deu uma chance a eles, deu?
Ela não precisou responder.
- Bom, agora é tarde demais. – levantou os ombros. Pelo vidro do carro pôde ver as nuvens carregadas no céu. – É melhor eu ir antes que essa chuva caia. Obrigada mais uma vez.
- Não tem problema. Você mereceu tudo isso.
sorriu e se aproximou para beijar a bochecha do menino. O olhou uma última vez e saiu do carro, estremecendo por causa do vento gelado. Tirou a chave de casa de dentro da carteira e olhou as luzes todas apagadas. Seu pai deveria estar dormindo, ou talvez nem estivesse em casa. Não iria ao quarto dele checar, estava cansada demais para fazer qualquer coisa que não fosse trocar de roupa e cair na cama.
- Ei. – saiu do carro e correu até onde ela estava.
se virou, assustando-se com a pressa dele.
- Quase esqueci o mais importante. – Ele riu, colocando a mão no bolso e tirando uma caixinha vermelha de lá. – Seu presente de formatura.
- ! – sorriu, sem acreditar que ele tinha mesmo comprado algo para ela. – Não precisava ter comprado um presente. Você ter me levado lá e ainda ter chamado a Claire já foi o melhor presente de todos.
- Isso não foi nada, foi só pra te ver feliz. O presente é pra mostrar o quão importante você é pra mim e o quão orgulhoso eu estou de você.
- Pára! Você vai me fazer chorar. – Ela riu, sentindo algumas lágrimas se acumularem.
Abriu a caixinha vermelha e sorriu ao ver um colar de ouro com seu nome no pingente, na última letra havia um coração de brilhante.
- Gostou?
- Você ainda pergunta? Claro que gostei. É lindo. – O abraçou, sentindo-o beijar seu ombro e a apertar contra si. – Brigada.
- Não fica bom com esse vestido, mas vira pra eu colocar. – Falou, pegando o colar da mão dela.
se virou e segurou o cabelo, deixando que ele colocasse o colar em seu pescoço. Quando ele terminou, segurou o pingente com seu nome e sentiu o pequeno coração na última letra. Uma lágrima solitária desceu por sua bochecha, mas antes que chegasse até a metade do caminho, a limpou.
- Não chora.
- Desculpe. Eu só... Desculpe. – Respirou fundo, lutando para afastar todas as lágrimas que insistiam em embaçar sua vista.
- É melhor eu ir, você está cansada. Sem choro, promete? – Ele estendeu o dedo mindinho.
- , não tenho mais dez anos. – riu, afastando a mão dele.
- Shiu, promete! – Estendeu novamente o dedo.
- Prometo, vai. – Ela rolou os olhos. – Tchau, se manda!
- É, eu também te amo. – Brincou, beijando a testa dela. – Tchau.
acenou, observando-o entrar no carro e se afastar rapidamente. Tocou a corrente em seu pescoço e sorriu novamente antes de entrar em casa e começar a repassar aquela noite na cabeça.

# End of flashback


O táxi parou em frente ao hotel e ela olhou a enorme estrutura do lugar, parecia ser no mínimo caro uma diária por ali, se por fora assustava, mal conseguia imaginar por dentro. Nunca conseguiria entrar ali, o que iria dizer? Que é a prima de um dos rockstars que está hospedado ali? Como se alguém fosse acreditar.
E se estivesse no lugar errado? Não podia nem ter certeza se era ali que eles estavam e sabia que não adiantaria perguntar, os seguranças não iriam responder.
Por que foi seguir o conselho de uma senhora de sessenta anos? Por que não foi para casa? Poderia estar em sua cama, tentando esquecer que aquela noite um dia existira. Tudo bem, a senhora de sessenta anos havia sido a única pessoa na festa que pareceu a ver caída no chão e se oferecera para ajudá-la. Também havia sido a única a lhe dar um copo de água com açúcar e xícaras de café para recuperar a sobriedade. Mas por que ela não podia ter ouvido sua consciência e ido para casa? Agora estava ali, sozinha na chuva, tentando imaginar se algo podia acontecer para salvá-la naquele momento.
Passou a mão pela testa, tirando o cabelo, que começava a ficar grudado à medida que a intensidade da chuva aumentava, e olhou em volta, tentando encontrar alguma saída para a enrascada em que tinha se metido. Não tinha dinheiro suficiente para pegar outro táxi e voltar pra casa e o celular insistia em dizer que estava fora de área, grande porcaria essa tal de tecnologia. Não podia ligar para Makedde e, mesmo se pudesse, ela provavelmente não atenderia. Não queria imaginar o que ela devia estar fazendo àquela hora.
Um dos funcionários do hotel a olhou com pena e ela sorriu sem graça. Quanto tempo até ele a expulsar dali achando que ela era alguma maluca bolando um plano maligno para invadir o hotel? Pelo menos estava bem vestida.
- ?! – Uma voz conhecida chamou sua atenção e ela viu a olhar com os olhos apertados por causa da intensidade da chuva, apesar dele estar embaixo de um enorme guarda chuva que o funcionário do hotel segurava.
ainda vestia a roupa da festa e parecia ter acabado de sair de lá. A garota acenou, em dúvida do que fazer, e viu o menino acenar para que ela fosse até a entrada do hotel, ainda do lado de fora da recepção.
- O que aconteceu? Por que você estava parada na chuva? , você tá encharcada. – Observou o estado da menina e tocou seu braço gelado.
- Eu vim... – Ela falou sem saber que desculpa poderia dar. Abriu a boca algumas vezes, mas nenhuma resposta convincente lhe veio em mente.
- Vem, não vou deixar você aqui. – sorriu gentilmente. – O tá lá em cima, meu quarto é do lado do dele.
- , eu não... – Respirou fundo. – Essa não é uma boa idéia.
- Não vou te deixar aqui, . Assim você até me ofende. – Colocou a mão no peito, magoado.
- Desculpe, não foi minha intenção. – Sorriu.
- Vamos, você precisa se secar e tomar alguma coisa quente para te esquentar. – Tocou as costas dela e a guiou pela recepção do hotel até os elevadores. Apertou o vigésimo quinto andar e encostou-se à parede ainda analisando a garota com os braços cruzados e o queixo tremendo de forma quase imperceptível.
- Por que não subiu? – Perguntou, calmo. A garota deu de ombros.
- Não sei o que vim fazer aqui. Não deveria estar fazendo nada disso. – Sussurrou, observando o número no mostrador ir mudando rapidamente.
- Eu fico feliz que você esteja fazendo. Nós sentimos sua falta. – Usou o plural deixando claro que não estava se referindo a . Quem sabe esse nós se referisse apenas a ele, e ? deveria odiá-la, assim como ela mesma se odiava por tê-lo deixado dois anos antes.
- Também senti saudade de vocês. – Sorriu sincera.
O elevador apitou, parando no andar em que os garotos estavam hospedados e mordeu o lábio inferior sem saber o que fazer. entrou no enorme hall e olhou a menina ainda parada dentro do elevador, sorriu a encorajando e segurou a porta, vendo-a sair a passos lentos. Seguiu andando ao lado dela e parou em frente a uma das portas de madeira clara. Tirou o cartão do bolso e se virou para a garota.
- , eu realmente quero que você e o se entendam. – Começou a falar, vendo que ela iria o interromper, e levantou a mão para impedi-la. – Eu sei o quanto vocês se amam e sei que nem dois, nem cinco e nem vinte anos destruiria esse amor. Acredite, ele nunca te julgou nem por um segundo por você ter decidido seguir seu sonho, ele sempre quis o melhor pra você. – A garota olhou para as próprias mãos sentindo a garganta apertar. beijou sua testa e sorriu. – Se eu estou fazendo isso, é porque eu amo vocês dois e ainda acho vocês o casal mais bonito que eu já vi, por mais gay que isso possa soar. - Riu.
o olhou sem entender o que ele quis dizer, o garoto se virou e bateu na porta, caminhando rapidamente até uma outra porta e entrando ainda mais rápido, deixando a garota boquiaberta.
- ? – Perguntou em dúvida, sentindo todo o corpo tremer. Ouviu a porta em frente a ela se abrir e um apenas de boxer e com uma cara de sono surgir.
Abriu a boca pelo menos quatro vezes na tentativa de ao menos pedir desculpa por acordá-lo, mas os olhos dele a encaravam com tanta atenção que a única coisa que ela pensava era como precisava abraçá-lo e ouvir suas palavras sempre tão doces e sinceras.
- Entra. – A voz tranqüila dele a assustou. Olhou novamente para a porta fechada de e hesitou alguns segundos antes de entrar no espaçoso quarto. Virou-se, pronta para pedir desculpa, mas ele tinha sumido. Arqueou as sobrancelhas sem entender, e ouviu um barulho vindo do banheiro. Segundos depois ele saiu de lá e lhe estendeu uma toalha branca.
- Obrigada. – Sorriu fraco pegando a toalha e passando-a levemente pelo cabelo, reparando pela primeira vez no quão encharcada estava.
caminhou até a janela fechada e observou as luzes da cidade, podia praticamente ver seu coração batendo em seu peito tão acelerado e desritmado que estava com medo que pudesse ouvi-lo.
- . – A voz baixa da menina o fez engolir em seco. Tanto tempo sem ouvir aquele timbre suave e calmo, suas memórias não faziam jus a realidade. Virou-se de frente para ela e encarou seus olhos amedrontados. – Desculpe por te acordar.
- Não estava dormindo. – Deu de ombros. Como se ele fosse conseguir dormir depois de tudo que acontecera. – Como você conseguiu vir até aqui? Digo, ao meu quarto. Disseram que a segurança daqui é pesada e ninguém da recepção me ligou pra avisar. – Sua curiosidade foi maior que o medo de magoá-la com a pergunta, ele não se importava com o fato de estar parada no meio de seu quarto, completamente encharcada e sem saber o que dizer.
- Desculpe por isso também, eu subi com o .
- Não tem problema. – Caminhou até onde ela estava e estendeu a mão para pegar a toalha quando ela terminou de se secar. sorriu agradecida e passou a mão pelo cabelo, numa tentativa frustrada de arrumá-lo.
- Você deve estar com frio. Quer tomar uma sopa ou um chocolate quente? Posso ligar para a recepção e pedir que tragam. – A olhou, preocupado.
- Não precisa. Obrigada. – Sorriu sem graça e respirou fundo. estava parado a menos de dois metros de distância e ela podia sentir o perfume dele. Era o mesmo de sempre, o mesmo que ela amava, o mesmo que fazia seu coração se acalmar.
- Então... Como você tá? – Ele perguntou, tentando iniciar uma conversa normal.
- Bem. – Respondeu controlando a vontade de dizer “com saudade”. – E você? Fiquei feliz de saber do McFLY. – Sorriu, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.
- É, conseguimos. – abriu um sorriso sincero. – Foi um pouco depois de você... – Parou, se arrependendo por ter dito aquilo. olhou para o chão, sentindo o coração apertar.
- Eu fico feliz que tenha dado tudo certo, vocês merecem.
- E o curso de Design?
- Continua ótimo. Tem sido uma experiência e tanto pra mim. – Explicou.
- E quando terminar... Você vai voltar? – perguntou, inseguro, tentando não demonstrar toda a esperança que havia ressurgido em seu peito. – Digo, pra Inglaterra. – Consertou.
- Eu não sei ainda. – Mordeu o lábio inferior. Seu corpo inteiro queria gritar que sim. – Mas acho que sim, não quero trabalhar por aqui. – Deu de ombros. – Quando vocês vão embora?
- Só vamos ficar mais dois dias aqui. Vamos dar algumas entrevistas e depois voltamos pra casa. – A menina concordou, com um sorriso um pouco forçado. – Talvez a gente possa sair, se você quiser. Pode nos mostrar a cidade. – Sugeriu.
- Hm, claro. Eu adoraria. – Concordou com um sorriso. – Eu acho melhor eu ir e deixar você descansar. – Falou dando alguns passos pra trás. – Sei que deve estar cansado por causa do show, me desculpe novamente por incomodar.
Se virou, agradecendo por já estar perto da porta e, quando girou a maçaneta para abri-la, a mão de empurrou novamente, fechando-a.
respirou fundo virando-se de frente para o garoto e se assustando com a proximidade dele, seus rostos estavam tão perto e ela queria tanto tocá-lo. Sem que precisasse mandar esse comando até seu cérebro, sua mão tocou o rosto dele levemente, acariciando sua bochecha. fechou os olhos, respirando fundo, como conseguira viver tanto tempo sem aquele toque? Sem aquela respiração calma que tocava seus lábios fazendo-o lembrar o gosto dela.
- Eu não vou embora daqui sem você. – Confessou baixo, abrindo os olhos e a encarando. – Eu preciso que você diga que quer voltar e ir embora comigo também.
- , eu não posso. – sussurrou, deixando clara a dor em seu tom de voz. – Preciso receber o certificado do curso de Design, é importante pra mim.
- Mais importante do que eu? – Perguntou, sério. balançou a cabeça negativamente.
- Nunca. – Respondeu. – Nunca.
aproximou ainda mais os rostos e colou o corpo no dela, sentindo as respostas imediatas. Era aquilo que ele nunca sentiria com nenhuma outra garota. Seu corpo sempre pediria pelo de , somente ela lhe dava todas aquelas sensações, somente ela o fazia sentir vulnerável. Passou o nariz calmamente pelo dela, e segurou seu rosto com as duas mãos, vendo a garota fechar os olhos.
Seus lábios se encontraram num misto de expectativa e hesitação, nenhum dos dois poderia negar aquela vontade, seus corpos os entregariam. A calma não foi mantida durante muito tempo, a saudade e o desejo gritavam, lhes dando pressa. Suas línguas se moviam com intimidade e intensidade e suas mãos inquietas estavam se redescobrindo, ainda incertas diante de algumas mudanças.
não conseguia se decidir entre a nuca e o peito de . Uma de suas mãos acariciava os cabelos dele, deixando que seus dedos se perdessem entre eles, enquanto a outra arranhava levemente seu peito. Era aquele desejo mais forte que seu próprio auto controle que ela nunca encontrara em Jared, aquela vontade de ter o corpo dele tão colado junto ao seu até que parecesse ser apenas um. Sentiu puxar seu lábio inferior e gemeu baixo, sentindo a respiração ficar cada vez mais descompassada. Uma das mãos dele foi até a sua nuca e puxou levemente seu cabelo, enquanto seus lábios desceram lentamente pelo pescoço e colo da garota. inclinou a cabeça deixando que as mãos dele passeassem por seu corpo sem restrições, ele tinha direito certo? Era dele, sempre fora.
desceu o zíper da saia que ela vestia e a puxou um pouco pra baixo, deixando que caísse aos pés da menina. Suas mãos imediatamente desceram até os glúteos e as coxas dela, percebendo que estavam mais firmes, assim como a curva de sua cintura que estava ainda mais delineada. Ele conseguiria, de olhos fechados, dizer todas as mudanças que ocorrera em cada parte do corpo dela. Ainda era aquele corpo que atormentava seus sonhos e tirava sua concentração, aquele mesmo corpo que ele vira mudar ao passar dos anos.
Desencostaram-se da porta e caminharam cegamente até o meio do quarto. subiu um pouco as mãos até chegar à barra da blusa que ela usava e a puxou pra cima, vendo a menina se afastar e levantar os braços, o ajudando a tirar a peça de roupa com um sorriso. Sorriu de volta depois de jogar a blusa no chão e desceu os olhos pelo corpo dela, ainda era aquele mesmo corpo capaz de despertar seus melhores e piores desejos. Ainda era seu pedaço faltando, a outra metade que o completava, o único corpo que se encaixava perfeitamente ao seu, como se tivesse sido cuidadosamente desenhado.
mordeu o lábio inferior quando os olhos dele encontraram novamente os seus. Ela não sentia vergonha de ter o corpo tão calmamente estudado pelos olhos dele, aquilo lhe parecia natural. segurou novamente em sua cintura e ela fechou os olhos, suspirando, nunca se dera conta de como sentia falta do contato das mãos dele em seu corpo nu. O nariz dele passeou por seu ombro subindo por seu pescoço muito lentamente. Sentia a respiração pesada dele tocar sua pele com a mesma delicadeza que suas mãos acariciavam suas costas e cintura.
- Eu te amo tanto. – Sussurrou, deslizando as próprias mãos para o pescoço dele. Aquelas palavras lhe pareciam tão certas.
- Mais do que qualquer outra coisa. – respondeu no mesmo tom, sem parar de passear o nariz pelas bochechas quentes dela.
- Eu não quero te deixar de novo. – Confessou, sentindo um peso sair de seu coração. Era aquilo que ela queria dizer, para isso tinha ido até ali.
- Eu vou esperar e, se você não se atrasar demais, eu posso esperar por toda minha vida. – Os dois riram baixo, antes de deixar que seus lábios voltassem a se encontrar.
empurrou o garoto em direção a cama e fez com que ele se sentasse, o empurrando para trás. Sorriu, indo até a parede perto da porta e abaixando um pouco a luz do quarto. Caminhou até a ponta da cama novamente e desabotoou o sutiã, jogando-o no chão sem se importar muito. a observou daquela forma e sorriu calmamente, vendo-a subir na cama e trilhar um caminho de beijos lentos e provocantes desde sua barriga até sua boca. Segurou-a pela cintura, enquanto deixava que seus dedos se perdessem nos cabelos dela e girou o corpo, deixando-a sob si.
As mãos do garoto desceram calmamente pelo corpo dela até alcançar sua perna, levantando-a um pouco para que se encaixasse entre elas. Seus lábios percorreram toda a mandíbula dela, chegando até seu pescoço, ainda tão tentador quanto ele podia se lembrar. Depositou pequenos beijos sensualmente naquela área e sentiu a garota apertar seu braço e soltar o ar pesadamente em seu ouvido. Segurou firmemente na coxa de e movimentou sua cintura em cima da dela, fazendo com que um gemido escapasse pelos lábios da menina. Sorriu satisfeito e deixou que sua língua acariciasse aquele pescoço tão macio e convidativo.
segurou o elástico da boxer que vestia e mordeu o lábio inferior, imaginando que seu pescoço já devia estar com algumas marcas, tamanha era a intensidade dos chupões que ele dava. Desceu a ultima peça de roupa que cobria o corpo dele e deixou que ele mesmo terminasse de tirá-la. Sorriu quando ele voltou a deitar sobre seu corpo e passou os braços pelo pescoço dele, sentindo sua pele esquentar por estar em contato com a dele. Deixou que descesse a calcinha por suas pernas lentamente, enquanto os olhos dele analisavam cada parte de seu corpo com tanta atenção que parecia estudá-la minimamente.
voltou a beijá-la e deixar que suas mãos explorassem o corpo dela, ainda procurando por mudanças, enquanto sentia as unhas dela subirem e descerem lentamente por suas costas, o provocando. Partiu o beijo apenas para pegar a carteira que estava no móvel ao lado da cama e pegou uma camisinha, colocando-a com cuidado.
Olhou intensamente nos olhos dela, sorrindo ao perceber que ela precisava daquilo tanto quanto ele. Era mais que vontade, mais que desejo, era a necessidade de senti-la novamente, sentir seus corpos se entregarem da mesma forma. Selou os lábios calmamente nos dela, antes de ouvir um gemido escapar por entre eles e as mãos dela apertarem seu braço com força, se entregando completamente ao momento.

27


Abriu os olhos preguiçosamente, ainda sentindo o corpo cansado, implorando por mais algumas horas de sono. Estava de costas para a janela, mas podia perceber a forte claridade que entrava por entre as brechas da cortina. Quando conseguiu manter os olhos abertos, viu que o relógio no criado mudo ao seu lado marcava quase dez da manhã.
Reparou pela primeira vez no lençol branco que a cobria quando um corpo se mexeu ao lado ao seu. Não conseguia vê-lo, mas sabia que ele estava acordado e a observava.
Sentiu os dedos dele acariciarem desde a base das suas costas até a sua nuca, com tamanha delicadeza que o gesto poderia ter passado despercebido se ela não estivesse acordada. Suspirou, apenas para confirmar que já estava acordada, mas duvidava que ele ainda não soubesse disso. Novamente os dedos a tocaram, dessa vez desenhando a curvatura de sua cintura e depois seu ombro. Cada toque queimava sua pele, fazia com que algo dentro dela despertasse do que parecia ter sido um longo sono.
A mão dele espalmou suas costas, deslizando sensualmente até sua barriga, por debaixo do lençol. Prendeu a respiração quando os dedos dele, ainda mais ousados que antes, dedilharam a pele embaixo do seu umbigo. Quase não foi capaz de conter um gemido quando o corpo dele colou no seu. Ela estava nua e sabia que ele também estava, a única coisa separando suas peles era o fino pano branco.
Seu cabelo, antes cobrindo seu ombro e suas costas, foi afastado e agora estava espalhado sobre o travesseiro. Encolheu os ombros ao sentir os lábios dele entrarem em contato com sua pele, agora ainda mais quente do que antes. Uma trilha de beijos até seu ouvido foi finalizada com uma mordida leve em seu lóbulo e um riso fraco e brincalhão.
Quando tocou sua cintura, virando seu corpo para ele, não teve opção, senão ceder e encará-lo de uma vez. Deixou que ele encaixasse uma das pernas no meio das suas e se apoiasse no braço para que não largasse o corpo em cima do seu.
Os olhos dele, ainda mais transparentes que o normal, analisaram seu rosto com cuidado. Os dedos dele agora estavam perdidos em seu cabelo, enquanto o dedão acariciava sua bochecha. Perguntou-se por quanto tempo mais aquela tortura duraria.
deixou que um sorriso quase imperceptível surgisse em seu rosto ao perceber a tensão no corpo da garota embaixo do seu. Seus rostos estavam tão próximos que podia sentir a ponta do nariz dela roçar no seu. Os olhos dela, vez ou outra, miravam sua boca, mas se desviavam rapidamente, talvez com medo de serem flagrados.
Mordiscou o lábio inferior dela algumas vezes, até prendê-lo entre seus dentes e o puxar, sentindo corresponder, encravando as unhas em seus ombros. Os olhos dela ainda estavam vidrados nos seus, o desejo explicito neles. Deslizou a língua por entre os lábios entreabertos dela e ouviu um gemido de aprovação como resposta. Ela abriu a boca, deixando que sua língua encontrasse a dela. Quando ela passou os braços por seu pescoço, deixou que o peso de seu corpo caísse sobre o dela, fazendo-os estremecer com o contato.
arranhou as costas do garoto enquanto sentia as mãos dele viajarem por seu corpo, deixando que a delicadeza fosse substituída pelo desejo. Sua pele antes quente, agora pegava fogo e desejava por cada vez mais contato. Ela não queria parar, seu corpo implorava por mais, mas algo em sua mente gritava, impedindo-a de ir mais longe.
- . – Ela o afastou um pouco, empurrando-o pelo peito. Recebeu um olhar reprovador e confuso de volta. – A gente precisa conversar. – Foi necessário juntar mais do que coragem para falar aquilo. O pouco de contato perdido quando ele se afastou, já fez seu corpo esfriar.
concordou, claramente sem dar atenção ao que ela havia falado. Enterrou o rosto no pescoço dela e distribuiu alguns beijos naquela área, deixando que suas mãos apertassem as coxas dela.
gemeu, tanto em reprovação a falta de atenção dele, quanto num pedido por mais. Ela sabia que aquilo já havia ido longe demais. Eles precisavam conversar, havia muito a ser dito, não sobre a noite anterior, porque ela fora resolvida através de gestos que valeram mais do que quaisquer palavras, mas sobre o que iria acontecer a partir do momento em que ela saísse daquele quarto.
- , por favor. – Implorou, lutando contra todo seu corpo que teimava em querer mais e mais.
- , - se afastou, apenas o suficiente para olhar nos olhos dela. – a noite passada valeu mais do que qualquer conversa que a gente possa ter. Nós dois sabemos o que ela significou e...
- Não é sobre a noite passada que a gente precisa conversar. – Insistiu.
- A não ser que você queira me dizer que vai voltar comigo pra Londres, eu, honestamente, não quero ouvir.
o olhou, indignada.
- Então é isso? Eu venho até aqui, me humilho...
- Você se humilhou? – aumentou um pouco a voz, saindo de cima dela e sentando na cama. – Fui eu que disse que não voltaria sem você, fui eu que impedi você de sair desse quarto ontem. O único que se humilhou fui eu!
- É, , você é sempre o forte, o altruísta da relação. Eu sou a vilã, a cabeça dura. Fui eu que destruí nossa relação quando vim pro Japão, fui eu quem partiu seu coração, a culpa de tudo isso é minha! Por que você não fala isso de uma vez?
- Porque a única coisa que eu quero dizer é que eu te amo, e a única coisa que eu quero ouvir de você é que esses dois anos não mudaram seus sentimentos. Eu só preciso disso, - Ele apontou para a cama, para seus corpos nus. – foi só isso que eu desejei por quase dois anos. – Relaxou os ombros, derrotado. – Por que você precisa tornar tudo isso tão difícil?
o olhou, confusa, ainda tentando absorver o impacto das palavras dele. Abraçou as pernas, sentindo o coração apertar e o nó na garganta incomodar. Observou se levantar, pegar um maço de cigarros, um cinzeiro, e ir em silêncio até a janela.
Desde quando ele fumava?
O quarto permaneceu silencioso por longos minutos. Nenhum dos dois ousou quebrar esse silêncio, mesmo que ele falasse mais alto do que suas vozes minutos antes.
Ainda sem saber direito o que dizer, mas tendo certeza de que algo precisava ser feito, se levantou e caminhou até onde estava.
- Desculpa. – Sussurrou, abraçando-o por trás. – Não queria que a gente discutisse. – Beijou suas costas.
permaneceu em silêncio, aproveitando a sensação agradável que o cigarro lhe dava e sentindo a garota distribuir beijos por suas costas e seus ombros. O corpo dela grudado no seu fazia com que seu sangue corresse mais rápido e sua pele esquentasse instantaneamente. Podia sentir os arrepios, e a forma como seu coração acelerava fora de controle chegava a ser patética.
Quando o cigarro estava no fim, amassou-o no cinzeiro, soltando a fumaça uma última vez. permanecia abraçada a ele, o rosto quente colado na pele nua de suas costas. Pegou uma das mãos dela e a levou até os lábios, dando um beijo carinhoso em sua palma. Ela correspondeu apertando o abraço.
segurou os braços dela e os afastou um pouco, apenas para poder virar de frente e encará-la. Os olhos sinceros dela não escondiam o arrependimento e a culpa por ter começado a discussão. Segurou seu rosto com as duas mãos e deixou as testas encostadas, adorava sentir as ondas elétricas que o atingiam cada vez que ela chegava perto demais.
- Você me desculpa? – Ela perguntou, de uma forma tão inocente que ele não pôde conter um riso.
- Não tem nada pra desculpar, foi uma discussão boba e sem significado.
sorriu, sabendo que aquilo era verdade. Aquela discussão não significara nada, ela não iria conseguir estragar a noite que passaram juntos. Acordar ao lado dele havia sido a melhor coisa que acontecera desde que fora para o Japão e ela não conseguia mais se imaginar acordando de outra forma. Como poderia deixá-lo ir de novo?
- Eu te amo tanto. – Sussurrou, como se estivesse contando um segredo. Nos braços dele ela se sentia de novo uma adolescente indefesa, uma criança com medo do escuro.
passeou os lábios pelas bochechas dela, sentindo a maciez de sua pele. Ainda não conseguia entender como passara dois anos longe dela, longe daquele corpo, daquela pele. Agora que ela estava lá, era como se aquele tempo não tivesse passado, como nunca tivesse havido uma despedida. Sabia que no dia seguinte teria que voltar pra Londres, e também sabia que ela não poderia voltar sem concluir o curso. Como poderia deixá-la ir de novo?
Seus lábios se encontraram num beijo sutil, delicado, cheio de ternura e inocência. Os dois ainda estavam com os olhos abertos, conseguindo ver seus reflexos na íris um do outro.
abraçou a garota pela cintura e a levantou, fazendo com que ela cruzasse as pernas em sua cintura e os braços em seu pescoço. O caminho até a cama era curto, em questão de segundos eles já estavam novamente sobre o colchão, repetindo a noite anterior, sentindo novamente as emoções e se entregando sem restrições aos sentimentos que os dominava.

observava os dedos de brincarem distraidamente com os seus. A respiração dele era leve e compassada, podia sentir seu peito subir e descer calmamente, assim como as batidas do seu coração que eram possíveis de ouvir por estar com a cabeça apoiada bem em cima dele.
Vez ou outra um beijo delicado era depositado em seus cabelos e era impossível conter o sorriso que se formava em seu rosto. Deitada ali ela estava em paz consigo mesma e com o mundo. Todos os problemas haviam desaparecido. Tudo em sua volta se resumia àquele momento.
Uma batida na porta fez com que eles se entreolhassem.
- , acorda! – A voz de soou do outro lado.
se levantou e caminhou preguiçosamente até a porta.
não conseguiu escutar o que ele disse à , mas ouviu quando ele soltou um animado “Oi, !”. Riu, devolvendo o cumprimento e sentindo o rosto queimar um pouco. Se ele sabia que ela estava ali, então e também sabiam... E provavelmente toda a equipe que havia ido com eles para o Japão.
Quando a porta foi fechada e voltou a deitar ao seu lado na cama, ela o olhou, questionando o que queria.
- Tem uma entrevista marcada duas horas em alguma rádio. – Respondeu, passando o braço pelos ombros dela.
olhou o relógio que marcava quase meio dia. Na mesma hora sentiu seu estomago roncar em protesto. Nem café da manhã havia tomado ainda.
- Que tal um banho e um almoço farto? – Brincou.
concordou com um sorriso, mas não se mexeu, continuou abraçando-a e fazendo um carinho delicado no braço da garota. levantou a cabeça do ombro dele para poder olhá-lo.
- O que foi? – Perguntou, vendo os olhos dele a analisarem.
Alguns instantes de silêncio se passaram até que ele balançasse a cabeça e beijasse seus lábios longamente. Os braços dele passaram por suas costas e por detrás dos seus joelhos, carregando-a com uma facilidade que ela ainda não sabia que ele era capaz.
- Hm. – O olhou, intrigada. - Alguém andou malhando? – Brincou. Ele nunca a carregara daquela forma, era quase como se ela fosse uma criança.
riu antes de fechar a porta do banheiro e responder.
- Você já vai descobrir.

Em pouco mais de uma hora e já estava no saguão do hotel, depois de um almoço rápido em que Richard, o produtor do McFLY, falava tanto que quase foi capaz de tirar o apetite dos dois.
Os outros garotos já estavam caminhando em direção a van que os levaria até a rádio. fez questão de ficar pra trás enquanto segurava firme na mão da menina ao seu lado, quase com medo de soltá-la e deixá-la partir.
- Não vou a lugar nenhum. – Ela sussurrou.
Ele a olhou, assustado. Seus pensamentos eram assim tão óbvios?
- Estarei bem aqui quando você voltar. Só preciso ir em casa resolver algumas coisas.
- Eu sei. – Respondeu, encostando a testa na dela e respirando fundo, tentando inalar o máximo que podia do perfume doce que exalava dos cabelos dela.
Ele se odiava por estar parecendo um bebê, por estar tão vulnerável. Toda a barreira que construíra em volta de si durante dois anos fora quebrada em apenas uma noite.
- Te vejo mais tarde então. – Despediu-se, segurando o rosto dela com apenas uma mão e selando seus lábios longamente antes de ir atrás dos companheiros de banda e entrar na van.

# Flashback (1 ano antes)


- Observou em silêncio o calendário na parede, destampou a caneta em sua mão e circulou o dia que supostamente era para ser seu, mas o relógio já marcava mais de dez da manhã e ainda nenhum parabéns lhe fora dado.
O computador apitou com um barulho irritante que informava que havia um novo e-mail na caixa de entrada. Hesitou um pouco antes de sentar na cadeira em frente à ele e abrir o seu e-mail.
Imaginou se seria mais um spam que fora enviado para o lugar errado, mas sorriu ao ver o remetente conhecido.
“Amiga, que saudade!
Nem acredito que você já está completando 18 anos. Parece até que eu mudei para França, mas já fazem três anos.
Enfim, isso não importa. Quero te desejar um aniversário incrível, e um dia maravilhoso, espero que você curta muito essa maioridade. Algo especial preparado para hoje? Queria poder estar aí para comemorarmos juntas. Quem sabe nas próximas férias?
Escreva mais, sinto sua falta.
Com amor,
Claire.”


Sorriu sozinha, um sorriso meio sarcástico e meio feliz. Queria ter ao menos Claire ao seu lado, pelo menos ela se lembrara e se incomodara em mandar os votos de felicidades. Mas parecia até que havia esquecido com quem estava falando. Algo planejado para o dia? Era sério?
Olhou novamente o relógio e decidiu tomar um banho para ver se a hora passava mais rapidamente.
Quem visse de fora poderia pensar que ela ansiava para que a noite chegasse logo, como qualquer adolescente que esperava por uma grande festa no final do dia. Mas a verdade era que ela apenas ansiava por uma ligação, apenas um telefonema que faria o seu aniversário valer a pena.
Depois de um longo banho, enrolou-se na toalha felpuda e voltou para o quarto. Checou mais uma vez os e-mails, mas o mais novo ainda era o de Claire. Logo acima do computador estava o mural de fotos, agora mais vazio já que ela tirara alguns bilhetes que costumava trocar com Claire durante as aulas.
A foto central fora tirada dez anos antes, pouco tempo antes do acidente que matara sua mãe. Na foto as duas sorriam para a câmera, a vista no fundo revelava que o retrato havia sido tirado em uma das cabines da recém inaugurada London Eye.
- Sinto sua falta, mãe. – Sussurrou.
Um vento frio entrou pela janela entreaberta e ela correu para fechá-la. Ao mesmo tempo, em cima do criado mudo, seu celular tocou. sorriu antes mesmo de ler o nome no visor.
- Parabéns, maior de idade!
A voz do outro lado da linha fez seu coração acelerar e um sorriso se formar em seu rosto. Era simples assim. Bastavam poucas palavras vindas dele para que ela ficasse naquele estado.
- Hm... Valeu. – Respondeu, sem jeito. Nunca fora muito boa na hora de dar e receber parabéns.
- Sabe que eu te desejo tudo de melhor, né? – A voz de estava animada e havia música ao fundo. – Algo planejado para o dia?
- Nah. – Deu de ombros. – Recebi um e-mail da Claire. - Desconversou. – Queria que vocês estivessem aqui.
suspirou do outro lado da linha.
- Também queria poder estar aí. Desculpe. Estou indo até Brighton, mas volto ainda hoje. Se não for tarde, passo aí, tudo bem?
- Você fala como se eu fosse uma criança. – riu. – Não tem problema, o telefonema basta.
- Não pra mim. Vou te ver mais tarde, está resolvido. Preciso desligar, estou esperando uma ligação. Aproveita o seu dia.
- Pode deixar. – Sorriu. – Beijo.
- Beijo, linda. Te amo. – desligou antes que ela pudesse responder.
- Também te amo. – Sussurrou para si mesma.
Jogou o celular na cama e suspirou, pensando se valia a pena passar o dia no quarto ou sair para celebrar os seus dezoito anos, mesmo que fosse sozinha.
Abriu o armário e analisou as roupas. O sol lá fora brilhava, mas o dia estava frio, nada que exigisse mais que uma calça jeans e um moletom. Vestiu-se rapidamente, agora já animada com a idéia de tomar um café da manhã tardio na Starbucks e quem sabe comprar um presente para ela mesma.
Colocou o celular no bolso de trás da calça e checou o cabelo no espelho. Pensou em prendê-lo num rabo de cavalo, mas resolveu deixá-lo solto, era um milagre que ele tivesse amanhecido tão arrumado e liso.
Desceu as escadas, estranhando o silêncio, normalmente a televisão estaria ligada e seu pai estaria esparramado no sofá. Checou a cozinha e o jardim que ficava na parte de trás, mas a casa estava mesmo vazia.
Pegou a chave e saiu para o vento frio do lado de fora. Caminhou pela rua, observando os jardins vazios das casas vizinhas. Havia muitas crianças naquela vizinhança, mas parece que o tempo frio estava obrigando-as a ficar dentro de casa.
Quatro quarteirões depois, ela estava finalmente protegida do frio. O cheiro de café a atingiu em cheio, fazendo seu estômago doer de tanta fome. Já era quase meio dia, mas ela não estava preocupada com o horário. Era o dia dela, e iria aproveitar o máximo que podia longe de casa.
Depois de fazer o pedido e esperar no balcão para que ele ficasse pronto, foi se sentar na mesinha com uma poltrona preta de couro que ficava ao lado da enorme janela de vidro que dava para a rua pouco movimentada.
Acomodou-se no sofá e pegou uma revista de fofoca que estava no revisteiro ao seu lado. Com a mão livre pegou o café e bebericou, constatando que ainda estava muito quente. Folheou a revista, tentando encontrar alguma matéria interessante e que prendesse sua atenção, mas tudo que havia ali eram notícias sobre novos namoros e términos das principais celebridades do mundo. Deixou a revista de lado e pegou o muffin em cima da mesa, se concentrando apenas em não se preocupar em nada que não fosse qual presente iria dar para si mesma.
Terminou o café sem pressa, tentando aproveitar o máximo que podia do aconchego e da temperatura agradável da cafeteria.
Já sabendo o que queria e onde iria comprar seu presente, se levantou e resolveu encarar de uma vez o frio do lado de fora. Colocou as mãos no casaco do moletom e caminhou apressada para uma livraria que ela adorava e não ficava muito longe dali.
A caminhada acabou sendo mais rápida do que ela se lembrava da última vez que estivera ali.
Passou pelas portas automáticas e sorriu ao ver as enormes estantes de livros. Já havia perdido as contas de quantas tardes passara ali, perdida em livros. Alguns atendentes da loja já a conheciam e a chamavam pelo nome, cansara de torrar a paciência deles perguntando sobre as últimas novidades literárias.
Olhou os últimos lançamentos, lendo algumas sinopses e folheando alguns livros. Já havia pesquisado sobre alguns e sabia qual queria comprar, mas um de seus hobbies preferidos era ir a livrarias e procurar por livros, novos ou velhos, ela não ligava.
Caminhou até uma de suas estantes favoritas, era impossível ir ali e não passar pela seção de livros jovem adulto. Podia tranquilamente passar horas olhando os livros daquela estante.
Pegou alguns exemplares que ainda não conhecia e leu as sinopses, anotando mentalmente o nome dos que gostava.
- Posso ajudá-la? – Uma atendente sorriu, simpática.
sorriu de volta e balançou a cabeça negativamente.
- Não, estou só dando uma olhada. Obrigada.
A atendente concordou e se dirigiu até uma senhora ali perto que parecia perdida.
As horas passaram tão rapidamente que, ao olhar o relógio, se assustou ao ver que horas eram. Já estava ali há três horas, mas podia jurar que tinha acabado de chegar.
Pegou dois livros que já tinha escolhido e se dirigiu até o caixa.
- Olá, boa tarde!
- Oi!
A mulher no caixa pegou os livros e os registrou.
- Já tem cadastro na loja?
confirmou e deu o número de cadastro.
- Hoje é seu aniversário! – A mulher afirmou sorrindo. – Parabéns! Aniversariantes ganham 15% de desconto.
- Hm, perfeito! Queria saber disso desde o ano passado. – Riu, lamentando.
Saiu da loja com um sorriso no rosto e uma sacola na mão. Aquele estava sendo um ótimo aniversário. Solitário, claro, mas ela estava se virando bem sozinha.
O cheiro de comida vindo do restaurante ao lado a fez perceber que a fome já estava a atingindo novamente. Resolveu aproveitar que ainda estava aberto. Em breve a maioria dos restaurantes fecharia e só abririam novamente pela noite.
Almoçou o mais lentamente que pôde, sabendo que quando terminasse teria que voltar para casa. Seu pai provavelmente já estava lá, talvez a jogatina já tivesse até começado.
No caminho para casa, apesar do frio, andou lentamente e parou para olhar todas as vitrines que pôde. Poderia ter pegado o metrô e simplificado tudo, mas sua vontade de chegar logo em casa era mínima, existia apenas porque seus pés estavam cansados depois de tanta caminhada.
Do lado de fora já podia ouvir a televisão ligada em algum esporte que era impossível de identificar apenas pelo barulho. Abriu a porta e o cheiro de cerveja e cigarro a atingiu em cheio. Fez careta, odiando o odor que juntamente com as risadas roucas tornavam a cena ainda mais nojenta do que ela já era.
- ‘Tava aonde? – Seu pai perguntou.
Obrigada pelos parabéns, pensou.
- Saí para almoçar.
- E essa sacola aí? – Apontou a sacola da livraria na mão dela.
- Livros. – Respondeu, pegando o celular que vibrava em seu bolso.
- Oba, mensagem do namorado. – Sean, um dos amigos nojentos do pai, que estava passando por ela com uma garrafa de cerveja na mão, pegou o celular antes que ela conseguisse ler a mensagem que havia mandado.
- Devolve meu celular! – Gritou, irritada.
- . Quem é ? – Sean perguntou enquanto lia a mensagem.
avançou na direção dele, mas seu pai, com uma agilidade impressionante para um bêbado, conseguiu ficar entre os dois.
- ? – Pegou o celular e olhou para a filha, a raiva faiscando em seu olhar.
não disse nenhuma palavra, apenas observou o pai ler a mensagem. Seu coração batia acelerado, podia sentir o ódio crescente pulsando por todo seu corpo. Queria gritar, bater e expulsar todos aqueles homens de sua casa. Eram todos lixos desprezíveis.
- Passo aí mais tarde? – O pai finalmente falou, reproduzindo a mensagem que havia lido. – Se esse moleque ousar pisar os pés na minha casa, eu cuidarei para que ele não saia vivo.
- Você não faria isso. – respondeu, os dentes cerrados e a respiração desregulada.
- Teste. Traga ele aqui e você vai ver o quão sério eu estou falando.
A menina respirou fundo, controlando a vontade de chorar. Não iria demonstrar tamanha fraqueza na frente de nenhum deles.
- Quero meu celular de volta. – Estendeu a mão.
Seu pai riu desgostosamente e colocou o aparelho no bolso da bermuda que usava.
- Suba para o seu quarto. Não quero mais ver a sua cara hoje.
- Devolve meu celular!
- Para você ficar trocando juras de amor com aquele safado miserável? Não!
- Não fale assim dele. – Respondeu pausadamente.
- Sua vadia! Você é igualzinha a sua mãe! Saia já da minha frente antes que eu te expulse dessa casa.
o olhou, controlando a tremedeira que atingia todo seu corpo. Queria dizer tudo que estava entalado em sua garganta há anos. Queria bater naquele homem que um dia chamara de pai. Naquele momento, ela poderia matá-lo.
- Suba. Agora! – Ele gritou uma última vez.
virou e subiu as escadas correndo. Já podia sentir as lágrimas escorrendo por suas bochechas, os soluços enchiam seu peito. Tropeçou no último degrau e por sorte não caiu de cara no chão.
Entrou no quarto e bateu a porta com força, trancando-a antes de se jogar na cama e deixar que o choro roubasse o silêncio do quarto. Seu coração doía, seu corpo ainda tremia e ela se sentia fraca, vulnerável e indefesa.
Chorou até sentir os olhos arderem, até sentir-se incapaz de derramar mais alguma lágrima. Chorou por sua mãe, por e por ela mesma. Chorou até perder as forças. E depois apagou.

Um trovão a despertou de seu sono forçado. O sonho confuso ainda passava em flashes por sua cabeça, só conseguia se lembrar de ver sua mãe e , todo o resto era um borrão. Esfregou os olhos e se sentou na cama, reparando que o sol já havia ido embora e dera lugar para a noite chuvosa.
Escolheu as pernas e abraçou os joelhos. Não gostava de trovões, especialmente quando estava sozinha. Os clarões repentinos iluminavam o quarto escuro a todo o momento, assustando-a ainda mais e fazendo-a parecer uma criança indefesa.
Levantou da cama e sentou na poltrona perto da janela. Precisava sair dali, mas seria difícil fazer tudo sozinha.
Pegou o telefone em forma de hambúrguer que ficava ao lado da foto de sua mãe. Ela amava aquela foto, tinha tirado apenas alguns meses antes de sua mãe falecer em um acidente de carro. Sorriu fraco, desejando com todas as forças que sua mãe tivesse sobrevivido e seu pai tivesse ido no lugar dela. Se isso tivesse acontecido, certamente as duas estariam felizes, comemorando o aniversário de dezoito anos da garota.
Ouviu a voz alta do pai vinda da sala, seguida de mais risadas, olhou o telefone infantil em sua mão e discou os únicos números que sabia de cor, aqueles números lhe transmitiam uma calma somente pelo fato dela discá-los.
- Alô.

# End of flashback


A caneta batia no caderno num ritmo já acelerado que se intensificava a cada vez que a porta era aberta. Os pés também ritmados denunciavam o nervosismo e a ansiedade misturados num temor silencioso que era marcado pelas dez olhadas no relógio em menos de um minuto.
Sentiu uma mão em seu ombro e a voz de Makedde lhe dizendo algo que não conseguira identificar. Num mesmo instante a porta se abriu e um senhor careca e com uma aparência cansada entrou, cumprimentando a todos com um bom dia baixo e um aceno de cabeça.
suspirou aliviada e se levantou num pulo. O relógio em seu pulso indicava que o professor estava dez minutos atrasado, portanto ela não podia perder mais tempo. Enquanto esperava os colegas sentarem em seus devidos lugares, imaginou , que provavelmente já estava no aeroporto. Desejou que o vôo dele também atrasasse, não podia nem pensar na possibilidade de não se despedir dele. Prometera que estaria no aeroporto no horário combinado e estava disposta a honrar esse compromisso.
O professor pigarreou, chamando sua atenção de volta para a sala de aula. sorriu, esperando que aquela apresentação fosse tão breve quanto das vezes que a ensaiara.
Ela havia esquecido apenas um detalhe: nos ensaios ninguém a interrompia com perguntas impertinentes e pedidos para que ela repetisse uma parte específica da explicação. A vontade de rolar os olhos cada vez que isso acontecia estava vencendo sua disposição para tirar uma nota máxima naquela apresentação.
Respondeu cada um dos questionamentos com o máximo de calma que conseguiu juntar, enquanto fazia um enorme esforço para não olhar o relógio e perceber o quanto já estava atrasada.
Quando finalmente se viu livre daquelas obrigações, jogou as coisas na bolsa e saiu em disparada até o ponto de táxi que ficava próximo ao prédio de aula do curso de Design. Conseguiu ouvir Makedde desejar boa sorte antes de sair da sala, mas não teve tempo de responder que iria precisar de mais do que sorte para chegar a tempo no aeroporto.
Dentro do táxi seu coração batia acelerado. Cada vez que o motorista parava em um sinal ainda amarelo, tinha vontade de xingá-lo, mas ao invés disso, apenas fechava os olhos e contava até dez.
Percebeu que a bolsa ainda estava em seu ombro, o braço apertando-a com a mesma força desde que entrara no carro. Puxou algumas vezes o ar, obrigando-se a inspirar e expirar muito lentamente e seguidas vezes. Tudo ia dar certo, ela precisava relaxar.
Quando o táxi parou na porta do aeroporto, ela puxou algumas notas da carteira, sussurrando para o motorista que ele podia ficar com o troco. Teve e impressão de ouvi-lo gritar algo enquanto corria para o saguão, mas não soube dizer se era um agradecimento pelo dinheiro a mais, ou um xingamento pelo dinheiro a menos. Não prestara atenção nas notas que tirara da carteira.
Caminhou apressada por entre as pessoas tentando achar um rosto conhecido e que não tivesse olhos puxados.
Foi até o portão de embarque onde uma enorme família se despedia de um casal entre muito choro e abraços. Procurou garotos carregando cases de guitarra ou alguém que aparentasse ser músico, ou pelo menos estrangeiro, mas o máximo que viu foi uma família aparentemente australiana.
Pegou um pedaço de papel no bolso e leu o número do vôo que havia lhe dado. O monitor com os vôos que estavam partindo alternava entre japonês e inglês. Esperou que ele mudasse para sua língua nativa, sem querer correr o risco de confundir os vôos por ainda não ser tão fluente na língua japonesa. Quando o monitor mudou para inglês, apertou o papel na mão e conferiu atentamente as aeronaves que estavam partindo e as que já haviam partido.
Achou finalmente o vôo que estava procurando e pôde sentir sua esperança se esvair. O avião havia decolado dez minutos antes. Ela havia perdido. Quebrara sua promessa. Deixara, mais uma vez, o amor de sua vida escapar por entre seus dedos. E dessa vez nem ela mesma seria capaz de se perdoar.
Conferiu o vôo mais uma vez, tentando desesperadamente encontrar algum erro, mas estava ali, bem na sua frente. Ele havia partido.

Saiu do aeroporto segurando as lágrimas. Que direito ela tinha de chorar? Mais uma vez havia estragado tudo. A culpa era sempre dela. Como podia deixá-lo escapar duas vezes? Todo o sofrimento de dois anos atrás não fora o bastante?
Enquanto esperava por outro táxi, sentiu algo molhado descer por sua bochecha. Enxugou o rosto, achando que fossem lágrimas, mas sentiu várias outras gotas em seu rosto e cabelo, percebeu então o céu escuro e a chuva que caiu tão de repente que ela mal teve tempo de procurar por um local coberto.
Apertou o sobretudo contra o corpo e estendeu a mão para um táxi que estava passando. Agradeceu por ele estar vazio, já estava prestes a explodir em lágrimas e se recusava a fazer isso no meio da rua e ainda debaixo de chuva. Deu o endereço para o taxista e deitou a cabeça no encosto, desejando poder apagar aquele dia para sempre.
Deixou a mente vagar pelas lembranças do dia anterior e de como havia sido ter novamente para si. Depois da entrevista dos garotos na rádio, os cinco haviam saído para passear por Tókio. Visitaram um shopping, o parque perto do hotel deles e, para fechar o dia, havia preparado um jantar à luz de velas em sua suíte.
Fora naquele quarto, naquela cama, onde eles haviam finalmente se reencontrado. Fora ali que ela prometera que o iria para o aeroporto se despedir uma última vez. E agora eles estavam sozinhos novamente, ele havia ido embora e era tudo culpa dela. Como conseguira ferrar tudo mais uma vez?
Sentiu o carro parar e abriu os olhos, reparando que estava na esquina do apartamento, mas um enorme engarrafamento impedia o táxi de chegar até a frente do prédio. Analisou a chuva e a distância até a portaria e deu de ombros, o que mais podia estragar um dia já arruinado?
Andou o mais rápido que pôde, tomando cuidado por causa do salto alto e as poças de água que se formavam na calçada. A pasta protegia parcialmente o rosto e os cabelos, mas o resto da roupa já estava muito molhada.
Depois do que pareceu uma eternidade, chegou até a portaria do prédio e entrou rapidamente, cumprimentando o porteiro e agradecendo por estar novamente protegida da chuva.
Somente ao chegar ao elevador, se deu conta que a corrida do táxi até o prédio havia afastado seus pensamentos do que acontecera no aeroporto. Por alguns minutos ela pensou que poderia ter sido um pesadelo, precisava apenas acordar para perceber que ainda era seu. Mas a visão de Makedde saindo do apartamento a fez encarar a realidade. A amiga sorriu, um sorriso misterioso, mas tão revelador que chegava a assustar. Tentou sorrir de volta, mas não foi bem sucedida.
- Às vezes eu acho que existe algum tipo de conexão psíquica maluca entre a sua mente e a dele. – Comentou.
arqueou a sobrancelha. Makedde não havia citado nomes, mas não fora mesmo necessário. Ela sempre sabia quem era ele.
- Sério, ele deve entrar nos seus sonhos ou algo assim. É incrível como ele consegue decifrá-los tão perfeitamente. – Suspirou.
Antes que pudesse perguntar do que diabos ela estava falando, Mak acenou e a porta do elevador se fechou.
ficou alguns segundos parada, apenas ouvindo o barulho do elevador se movimentando enquanto tentava entender o que Makedde havia dito. De quem ela estava falando afinal? De ? Nem ao menos tivera a chance de lhe contar o que acontecera.
Desistiu de tentar entender algo que não fazia o menor sentido em sua cabeça. Caminhou cabisbaixa até a porta do apartamento e se assustou ao ouvir um barulho do lado de dentro. Girou a chave na fechadura e abriu bruscamente, tentando assustar quem quer que estivesse lá dentro.
Mas o susto foi todo seu.
estava de pé, em frente a porta e apenas a alguns passos de distância. Seu sorriso revelava que aquela era exatamente a reação que ele estava esperando dela.
Largou a bolsa de qualquer jeito no chão e correu para os braços dele, sem se importar com o quão clichê aquela cena parecia. O abraçou com força e cruzou as pernas em volta da cintura dele, sentindo-o retribuir o abraço com a mesma intensidade.
- Pensei que tivesse perdido você... – Sussurrou, enterrando o rosto no pescoço dele – de novo.
beijou seus cabelos e segurou seu rosto, trazendo-o para perto do seu, olhando-a com firmeza.
- Você nunca me perdeu e nem nunca vai perder. Não entendeu isso ainda?
sorriu, quase sem conseguir acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. O pesadelo havia virado sonho em um piscar de olhos. Se estivesse mesmo dormindo, agora implorava para não ser acordada.
- Não acredito que isso é real. – Sussurrou, selando os lábios nos dele repetidas vezes. – Pensei que tivesse estragado tudo novamente. Tentei sair da faculdade a tempo, corri o máximo que pude...
- Shh. – a silenciou com um selinho. Caminhou com ela ainda em seus braços até a porta e fechou, encostando o corpo da menina contra a parede. – Podemos não falar sobre isso? Ou melhor, podemos não falar sobre nada? - Sorriu, encostando a testa na dela.
- Sim, sim, sim. – Concordou. – Mas preciso saber o que aconteceu. Como você chegou até aqui?
rolou os olhos, achando graça na teimosia dela.
- Atraso, overbooking, companhia aérea oferecendo hotel cinco estrelas até amanhã e, por último, Makedde. Precisa de mais alguma coisa?
- Não. – Balançou a cabeça. – Só de você.
riu.
- Isso você já tem.

28


Saiu do avião com dificuldade, ainda um pouco zonza por ter acabado de acordar. A valise em sua mão e a bolsa em seu ombro pareciam pesar dez vezes mais do que quando saíra de Tóquio. Começava a se arrepender por ter ido de bota e sobretudo, o aeroporto estava mais quente do que imagina, ou talvez fosse apenas o nervosismo que a fazia suar.
Olhou em volta do aeroporto lotado e por alguns segundos se sentiu perdida. Para onde ir agora? Estava ali de surpresa, teria que se virar sozinha. Mandara um e-mail para uma semana antes, mas ele havia respondido somente dois dias antes da viagem dela, ainda parecia chateado por causa do atraso na volta dela, mas o que podia fazer? Tentar explicar estragaria a surpresa.
Pensou ver um rosto conhecido no meio da multidão de pessoas, mas tão rápido quanto surgiu, ele desapareceu. sabia que a turnê do McFLY havia acabado há poucos dias, dificilmente estaria no aeroporto. Suspirou e seguiu em frente, determinada a achar um táxi e sair dali.
- ? – Uma voz feminina a chamou. Olhou para trás e sorriu ao ver quem era.
- Claire?! – Abraçou a amiga , sem acreditar na coincidência. Quais eram as chances de se encontrarem em um aeroporto tão lotado?
- Não acredito que no meio de tanta gente nós nos encontramos. – Claire sorriu, segurando a mão da amiga.
- O que você está fazendo em Londres? Está de férias?
- Férias? Eu estou é finalmente voltando pra casa!
abriu a boca, tentando comemorar, mas apenas a abraçou novamente. Era tão bom encontrar uma velha amiga, especialmente agora que também estava voltando para Londres.
- Consegui um emprego e já achei um flat pra morar enquanto o Gerard não se muda pra cá.
- Espera! – olhou a mão da amiga e pela primeira vez notou o anel que brilhava em seu dedo. – Isso é uma aliança? Você está noiva? – Quase gritou, sem conseguir controlar a empolgação.
- Uhum. – Claire confirmou, levantando a mão direita para que a amiga pudesse ver direito a aliança. – Por isso estamos nos mudando para cá. Queremos construir nossa vida aqui.
- Ah, fico tão feliz por você, Claire. – sorriu com sinceridade.
- Mas e você, me conta. Você foi pro Japão e acabamos perdendo contato. Você está voltando de vez? E o ?
riu, sem saber como começar a contar as coisas para Claire, mas sabendo que aquele não era o lugar e nem a hora certa.
- É uma longa história. – Suspirou. – Mas sim, eu estou de volta. E quanto ao , bem, eu acho, ou pelo menos espero, que esteja tudo bem entre nós.
- Hm, acho que precisamos nos encontrar em outro lugar para contar todas as novidades. – Claire podia ver o desconforto da amiga. Mexeu na bolsa a procura de um cartão e quando o achou, entregou a . – Nesse cartão tem meu número, ainda é o da França, mas vou usá-lo por enquanto.
- Certo. Eu te ligo assim que chegar em... casa. – Falou, sem saber direito o que dizer. Era mesmo para onde ela iria? Casa?
Depois de se despedir de Claire, chamou um táxi e ajudou o taxista a guardar as duas malas no carro. Sentou no banco e fechou os olhos por alguns segundos sem saber qual endereço deveria dar ao motorista. No último e-mail havia dito que estava vendendo o loft, mas ainda não sabia para onde se mudaria. Com a volta surpresa duas semanas antes do previsto, seu plano de ir ao encontro dele na casa nova, ou onde quer que ele estivesse, havia ido por água abaixo.
Lembrou de Mark e imaginou se ele ainda morava no loft do outro lado do corredor, ou quem sabe os porteiros ainda fossem os mesmos e lembrassem de , ela poderia perguntar se eles tinham o novo endereço de . Queria surpreendê-lo e só ligaria para ele quando já estivesse sem alternativas.
Finalmente decidida, ela deu o endereço ao taxista que esperava pacientemente pela decisão dela. Com a cabeça cheia e confusa, acabou não percebendo que havia dado o endereço errado.
Enquanto as ruas iam passando do lado de fora da janela, percebeu a saudade que sentia de Londres. O céu estava escuro, mas não havia nenhum sinal de chuva aparente. Abriu um pouco o vidro e sorriu ao sentir o vento frio bater em seu rosto, aquela sensação nunca fora tão agradável. Nada como Londres para fazê-la se sentir feliz e completa.
O motorista do táxi virou uma esquina e ela observou com cuidado a paisagem conhecida. Abriu completamente a janela e ergueu a sobrancelha. Sim, aquela vizinhança era bem conhecida, mas estava bem longe do loft.
- Chegamos. – O senhor anunciou, com um forte sotaque do norte.
abriu a boca algumas vezes, sem saber exatamente o que dizer. Como ela havia ido parar em frente a casa que passara toda a infância?
- Senhor, acho que houve algum engano. – Comentou, confusa.
- De forma alguma, senhorita. Esse foi o endereço pedido.
o olhou, sem saber o que responder. Estaria ficando louca? Talvez o tempo que passara longe de Londres a deixara maluca e perdida.
Balançou a cabeça e observou a casa que parecia movimentada. Se não tivesse morado ali por 18 anos provavelmente não conseguiria reconhecer a casa que agora era verde clara e possuía um jardim muito bem cuidado. Até mesmo a porta e janela eram diferentes. Olhou o número perto da porta e se perguntou se era possível estar apenas em uma vizinhança parecida.
- O senhor pode seguir devagar? Acho que me enganei com o número da casa. A que eu estou procurando fica logo ali na frente.
Esperou o carro parar novamente e sorriu ao constatar que não estava enganada, era mesmo aquela casa alguns metros atrás, fora ali que vivera os melhores e piores anos de sua vida.
Saiu do carro, pedindo antes para que o taxista esperasse um pouco. Andou pelo caminho de pedras até a porta da casa onde uma mulher loira e com o rosto bem maquiado já sorria para ela.
Ela me conhece?, pensou.
- Bom dia. Tudo bem? – A loira perguntou.
- Tudo bem.
- A senhora veio olhar a casa?
pensou em perguntar se estava a venda, mas bastou olhar uma placa logo atrás da mulher a sua frente, que pôde ler a palavra “vende-se”. Além disso, o crachá na camisa da mulher informava seu nome, Tracy, e a identificação de uma imobiliária.
- É, vim sim. Morei nessa vizinhança há alguns anos e agora gostaria de voltar. – Sorriu, tentando ser convincente. – Eu só preciso pegar algumas malas no táxi. Acabei de voltar de viagem. – Explicou.
- Claro, sem problemas. –Tracy concordou.
Depois de colocarem as malas na sala vazia, Tracy passou algumas informações sobre a casa. ouviu tudo atentamente, olhando ao redor e reparando em todas as pequenas mudanças que ocorreram ao longo dos anos.
- A família que está vendendo a casa está se mudando para Manchester. – Tracy informou. – Eles estão com um pouco de pressa, por isso a casa está à venda por um preço abaixo do comum para essa área.
sorriu e concordou.
Chegaram ao fundo da casa e Tracy abriu a porta que dava para o jardim. Aquela parecia ser a única parte da casa que não havia sofrido mudanças. Um flash de diversos momentos do passado passou pela cabeça de , mas um latido chamou sua atenção.
Pela primeira vez percebeu um labrador chocolate sentado na varanda, coleira marrada em uma cadeira e o rabo balançando de um lado para o outro animadamente.
- Ah, desculpe. Esse cachorro é de um provável comprador que está no andar de cima.
hesitou alguns segundos antes de se aproximar do cachorro e vê-lo se levantar e agitar ainda mais o rabo, demonstrando alegria pela aproximação.
- Ei, coisa linda. – Brincou, passando a mão pelo pêlo macio dele. – Sabia que você lembra muito um cachorro muito especial que eu tive? – O latido do animal fez com que as duas mulheres rissem.
- Ele parece ser um amor, uma pena que eu não goste de cachorros. – Tracy comentou.
- Eu sou apaixonada! – sorriu, pegando a pata que o cachorro levantou e sentiu o coração apertar. Aquele cachorro lembrava tanto Harte.
- Posso andar o olhar de cima?
- Claro, te levo até lá!
- Não precisa. – Balançou a cabeça. Queria um tempo sozinha, estar naquela casa estava fazendo sua mente girar com lembranças. – Algum outro interessado pode chegar, você precisa ficar por aqui.
- Tudo bem. Se precisar, é só chamar. – Tracy sorriu, voltando para a porta da casa.
subiu as escadas lembrando-se da vez que encontrou revistas masculinas embaixo do colchão de . Naquela época ela não conseguiu entender o que aquilo significava, apenas tinha medo de perdê-lo por algum motivo. Agora conseguia entender perfeitamente o que aquelas revistas estavam fazendo ali. Sorriu sozinha, agradecendo por ele, ao contrário dela mesma, ter tido uma adolescência normal.
Passou pela porta do primeiro quarto e viu um rapaz olhando pela janela, nem parou, sabia que era o outro interessado na casa. Teria entrado no quarto que fora da mãe de se não tivesse sentido algo. Seu coração deu um pulo ao ouvir uma voz em sua mente, de alguma forma, estranha e inexplicável ela parecia chamá-la para o quarto que acabara de passar.
Voltou lentamente, tomando cuidado para que a bota não fizesse barulho no assoalho. Parou na porta e observou o antigo quarto de , a cor ainda era a mesma e lhe trazia uma tranqüilidade incrível.
Pela primeira vez olhou com atenção para o rapaz que permanecia de costas, olhando para o lado de fora da janela. Não foi necessário que ele virasse para ela saber quem era. Seu corpo estremeceu e seu coração por pouco não saltou para fora de sua boca. Aquela sensação ela conhecia. Era única e só uma pessoa conseguia causar aquela sensação em seu corpo e em seu coração.
Caminhou pelo quarto, dessa vez sem se importar com o barulho. virou para trás quando ela estava apenas a alguns passos de distância.
- Acho que vamos ter que brigar por essa casa. – Sorriu, lutando contra a vontade de se jogar nos braços dele. Seu corpo estremecia com a proximidade entre eles e ela podia jurar que o som do seu coração estava preenchendo o silêncio do quarto. – Tenho muitas boas lembranças dessa casa. Vou lutar por ela. – Completou.
sorriu, incrédulo e extasiado. Passou a mão pelos cabelos, puxando-os, talvez numa tentativa de acordar, caso aquilo fosse um sonho.
- Que venha a batalha então. – Respondeu. – Não desisto fácil quando quero algo.
concordou, aproximando-se da janela e observando a rua calma. Sentira falta daquela vista, a do loft era bonita, mas não tinha aquela sutileza, o barulho do balanço de criança da casa ao lado ou do vento balançando as árvores.
- É um bom bairro para se construir uma família. – comentou.
- Qual a sua melhor lembrança dessa casa? – perguntou, curiosa.
levou alguns segundos para responder, seus olhos estavam perdidos na garota logo a sua frente. Algumas memórias invadiram sua mente e ele sorriu. Balançou a cabeça quando o olhou, seu rosto cheio de expectativa.
- Não tenho nenhuma específica, elas variam dependendo do momento. – Respondeu calmo. – A única coisa que não muda é a garota presente em todas elas.
O silêncio que seguiu a declaração dele permaneceu por vários minutos. Os sons do lado de fora preenchiam o quarto vazio, mobiliado apenas por lembranças.
se aproximou novamente da janela, ficando ao lado de e sentindo sua mão roçar na dela, eletrizando seu corpo. Sentia vontade de pegá-la em seus braços e não deixá-la partir nunca mais. A dor que sentira nos mais de dois anos que ficaram afastados ainda estava gravada em seu peito.
- Tenho medo de perder você de novo. – Ele sussurrou como se estivesse retomando alguma conversa.
mordeu o lábio inferior, respirando fundo para tentar conter as lágrimas que se formaram no canto de seus olhos.
- Às vezes penso que não tenho direito algum de te prender, mas não consigo imaginar nenhuma forma de te deixar partir novamente.
segurou rapidamente a mão dele, entrelaçando seus dedos com tanta força que ficou com medo de machucá-lo. O olhou e conseguiu ver a dor que ele carregava refletida em seus olhos. Como conseguira deixá-lo por tanto tempo?
- Não vou partir. Sou sua.
- Minha. – repetiu num sussurro quase inaudível.
concordou, mesmo sabendo que não havia sido uma pergunta.
- Agora é a parte que você me beija e prova que eu sou só sua e de mais ninguém?
riu, mas negou balançando a cabeça.
- Agora é a parte que eu te provoco e, ao invés de te beijar, pergunto o que você está fazendo em Londres duas semanas antes do combinado e como diabos você sabia que eu estava aqui.
- Eu não sabia. – riu. – Estou aqui agora porque a resposta sobre um emprego que eu estava esperando acabou saindo antes do esperado. – Ela percebeu a confusão no rosto de e começou a explicar desde o começo, quando o diretor de seu curso a havia chamado para uma conversa sobre uma proposta de emprego em Londres.
- Quando ele me pediu para ficar por mais dois meses enquanto negociava a proposta, quase desisti. Eu precisava voltar, precisava de você, não sabia se conseguiria te dizer mais uma vez que precisava de mais um tempo.
percebeu que ela tremia e a abraçou, ouvindo-a fungar, controlando as lágrimas.
- Cheguei a pensar que tinha perdido você. Quando percebi o quão chateado você tinha ficado com a notícia cheguei a olhar os preços das passagens para Londres, mas meu diretor me convenceu que era melhor eu já voltar com o futuro certo e definido. - Suspirou. – Ele não sabia que meu futuro é você.
- Eu pensei que tivesse te perdido no momento em que você sumiu pela porta de embarque.
balançou a cabeça e o olhou sorrindo.
- Sou seu destino, lembra? – Sussurrou, tocando o rosto dele calmamente. Seu polegar acariciou os lábios dele, quentes e convidativos, tão desejosos quanto os seus.
segurou a mão dela e beijou seus dedos, um por um, sem desviar os olhos dos dela. Seus rostos se aproximaram como ímãs, sem que eles precisassem fazer qualquer esforço.
Ela fechou os olhos, aproveitando a calmaria que a proximidade dele trazia. beijou sua testa, desceu os lábios para a ponta de seu nariz e lentamente tocou os lábios dela com os seus.
Ali, naquele quarto, não parecia haver tempo. Eram novamente crianças sem preocupações, adolescentes se descobrindo aos poucos.
Ali eles eram eles mesmos. Só eles, perdidos em seu mundinho impenetrável.

Desceram as escadas entre risinhos secretos e olhares indiscretos. Do lado de fora o latido de Harte fez com que sentisse seu peito apertar. Como não havia reconhecido seu próprio cachorro?
Tracy apareceu na sala, a prancheta segura contra seu peito e o mesmo sorriso simpático nos lábios. Olhou e juntos e parou um instante, tentando entender o que estava acontecendo. Podia perceber a intimidade que os dois carregavam e a forma como se movimentavam em torno de si próprios de uma forma tão particular.
- Então, o que acharam da casa? – Seu olhar passeou pelas mãos unidas do casal a sua frente e parou em seus rostos sorridentes.
Os dois se entreolharam e sorriram.
- Nós vamos ficar com ela.


FIM


n/a: Oi, amores. Como estão?
ASD finalmente terminando, nem acredito, parece até sonho. Mil atrasos, mil imprevistos, mas ta aí o final. Sei que não está nada super surpreendente e maravilhoso, mas ele tá simples e resumido como eu quis. Não gosto de ficar enrolando no último capítulo, prefiro ser direta.
Obrigada MESMO por todo o apoio, carinho e elogios, vocês nem imaginam como isso é importante pra mim. Os puxões de orelha e cobranças valeram também, saíram do controle numa determinada época, mas tudo bem HAHA
Pra quem já perguntou no formspring/twitter, eu to sim escrevendo outra fic, mas não faço idéia de quando vou postar e nem se eu vou mesmo postá-la, mas eu gosto muito dela e vou me esforçar para que dê tudo certo. Qualquer notícia de outras fics posto no twitter e se tiver algum quote vai pro blog.
Vou aproveitar e divulgar meu blog de au pair aqui. É o agorasouaupair e lá explica direitinho o que diabos é au pair, mas pra já adiantar, é um programa de intercâmbio. Pretendo ir pro zazunidos no final desse ano ou começo de 2012. Torçam muito por mim (yn)
É isso, beijos enormes e até a próxima!

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Minhas outras fics:

Meet Me In The Elevator
Nothing’s Wrong With Dreaming
Defeitos Perfeitos
I Hate Everything About You
There’s No Easy Way Out
There is (continuação da de cima)
Long Goodbyes I
Long Goodbyes II (em andamento e abandonada)
Closer
When You Walk Away
Addicted
Decoy (restrita - finalizada)
The Not-Xmas Day (conto de natal)
Flower In Your Hair (especial pro aniversário do site)
Tell Me a Secret (Outros - finalizada)

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