Deitado na cama, apenas pensando no quão idiota eu sou, percebi que não poderia mais fugir. Não dela. E, além do mais, apesar de tudo e, mesmo depois de tudo o que passamos, eu não queria mais fugir. Estiquei o braço até a mesinha ao lado da cama e peguei meu Ipod, procurando por músicas tristes e melancólicas só pra me lembrar ainda mais dela. Pois é, não são só as garotas que se torturam com essas músicas idiotas.
- Droga de Ipod, não tem nenhuma música menos agitada? – disse pra mim mesmo e bati na minha testa – Ótimo, agora até falar sozinho eu falo. Isso é perfeito, !
"Just when I had you off my head (Justo quando eu tinha você fora da minha cabeça) Your voice comes thrashing wildly through my quiet bed (Sua voz vem batendo selvagemente direto em minha cama silenciosa)"
A música começou a tocar e eu não me lembrava de tê-la colocado no Ipod. Na verdade, eu nunca nem tinha escutado aquela música! Eu e minha mania de colocar qualquer porcaria nessa merda de Ipod.
Quando ia mudar pra próxima música, uma estrofe me chamou a atenção.
"You say you wanna try again (Você diz você quer tentar de novo) But I've tried everything but giving in (Mas eu tentei de tudo a não ser ceder)"
- Mas que porra é essa? – falei sozinho novamente e percebi que devia parar de pagar de louco.
Decidi que ia escutar a música até o fim, só pra ter certeza de que não estava ficando doido. Ou com problemas de audição.
"Why you wanna break my heart again? (Por que você quer partir meu coração de novo?) Why am I gonna let you try? (Por que vou eu deixar você tentar?) When all we ever do is say goodbye (Quando tudo que nós sempre fazemos é dizer adeus) All we ever do is say goodbye (Tudo o que nós sempre fazemos é dizer adeus) All we ever do is say goodbye (Tudo o que nós sempre fazemos é dizer adeus) All we ever do is say goodbye (Tudo o que nós sempre fazemos é dizer adeus)"
Flashback On
- Alô? – disse, em uma voz sonolenta. Quem, diabos, liga pra casa dos outros às 10 horas da madrugada?
- ? – o sono simplesmente desapareceu quando ouvi aquela voz. Minha garganta ficou seca e tudo o que eu conseguia pensar era: “Não pode ser, não pode ser!”
- ? – perguntei, hesitante, depois de quase um minuto em silêncio.
Ouvi um suspiro do outro lado da linha e somente aquele som foi suficiente pra que um arrepio se passasse pela minha nuca. “Não seja gay” eu disse pra mim mesmo.
- É, sou eu... – ela disse, finalmente e eu realmente não sabia o que dizer. – Tá tudo bem?
- Tudo ótimo, e você? – respondi, falsamente.
- Não sei – ela respondeu, com aquele traço de sinceridade na voz que eu sempre admirei e que sempre a impedia de contar uma mentira pra quem a conhecia bem. – – ela chamou, depois de mais uma rodada de silêncio – Desculpa se eu te acordei, mas eu... Eu precisava falar com você! Precisava saber se pra você tá sendo tão difícil como está sendo pra mim.
- E faz diferença, ?
- Você sabe que faz, , não se faça de idiota – ela disse no mesmo tom que eu tanto conhecia.
- Tá, eu sei – admiti – Mas eu realmente não te entendo, . Foi... Foi você quem terminou tudo, lembra?
- E você concordou – ela disse, magoada e eu não tive como me defender contra essa acusação. Flashback Off
É, eu havia concordado. Mas só porque não queria parecer ter saído por baixo. Só porque não queria parecer um desesperado, nerd apaixonado, que correria atrás dela até ela desistir de desistir de nós. Mas não foi fácil desistir dela. Na verdade, foi bem mais difícil do que eu imaginava e eu preferia não passar por tudo aquilo de novo.
Eu e meu orgulho idiota. Eu e meu jeito idiota. Eu e minhas palavras idiotas. Eu e... Eu idiota!
Mas eu sabia que, de um jeito ou de outro, acabaria deixando aquela garota me destruir de novo.
"I bought a ticket on a plane (Eu comprei uma passagem em um avião) And by the time it landed, you were gone again (E perto da hora que ele aterrissar, você já tinha ido novamente) I love you more than songs can say (Eu amo você mais do que as canções podem dizer) But I can't keep running after yesterday (Mas eu não posso continuar correndo atrás do passado)"
Flashback On
- Eu sei – eu disse. – Mas eu não vou ficar me apegando ao passado, , porque não adianta.
- Foi seu orgulho, não foi? – ela disse, aumentando o tom de voz e me ignorando. – Me diz que foi isso, .
- Por que você quer que eu diga? – perguntei, já sabendo a resposta.
- Porque eu quero ter certeza de que o que você dizia sentir era verdade. Porque eu quero ter certeza de que você também não queria terminar e só escolheu isso porque era a saída mais fácil. – agora ela falava com a voz embargada pelo choro e, como o idiota que eu era, desejei estar ao lado dela. – Eu só preciso ouvir isso...
- Depois de seis meses? – perguntei, simplesmente.
- É, depois de seis meses – ela confirmou – Porque mesmo depois desses seis meses, eu não consegui seguir em frente. Eu não consigo nem... Nem pensar em outros homens.
- Eu também não – admiti com a voz baixa, me sentindo envergonhado – Não... Não quis dizer que também não consigo pensar em outros homens... Não consigo pensar em outras mulheres, foi o que eu quis dizer – me enrolei, como de costume, e quis me chutar. Isso é hora de neurônios dormirem?
Ela riu e a saudade que eu sentia apertou. Flashback Off
"So why you wanna break my heart again? (Então por que você quer partir meu coração mais uma vez?) Why am I gonna let you try? (Por que eu vou deixar você tentar?)"
- Não é possível! – me levantei, pensando em que porra de música era aquela. – Música filha da puta.
É, depois disso eu ainda continuei ouvindo. Masoquista? Muito.
"When all we ever do is say goodbye (Quando tudo que nós sempre fazemos é dizer adeus) All we ever do is say goodbye (Tudo o que nós sempre fazemos é dizer adeus) All we ever do is say goodbye (Tudo o que nós sempre fazemos é dizer adeus) All we ever do is say goodbye (Tudo o que nós sempre fazemos é dizer adeus)"
Fui até o banheiro e lavei o rosto, me lembrando de todas as vezes que tudo o que restava para nós, eram as despedidas.
Flashback On
27 de Novembro de 2009
- Você tem certeza disso? – ela perguntou, olhando pra baixo, tentando não chorar.
- Absoluta – eu disse, embora meu coração dissesse que não. Que queria ficar ali.
Ela cruzou os braços em volta do meu pescoço e ficou na ponta dos pés, pra me dar um beijo. Segurei-a pela cintura, mas ela logo se afastou, deixando meus dedos formigando, pedindo por mais daquele toque.
- Tchau, . Até... Qualquer dia.
Ela se virou e caminhou pra longe de mim. Tive que me controlar pra não ir atrás dela. Nunca corri atrás de ninguém e aquela não seria a primeira vez. - Última chamada para o vôo 951, com destino a Londres...
Aquela voz me tirou do transe em que me encontrava e eu dei as costas pra cidade onde nasci, onde estava a minha família e onde abandonaria a única garota que algum dia me importei de verdade.
Segui para o portão e ainda virei o rosto para olhá-la duas vezes, antes de perdê-la de vista. Ela não olhou pra trás.
09 de Maio de 2010
Ela jogou o travesseiro em mim e eu me controlei pra não xingá-la.
- Você é um idiota, por que eu ainda insisto em você?
- Talvez porque você seja a idiota! – gritei sem dó, mas logo me arrependi do que disse.
- Devo ser mesmo. – ela disse, controlando a raiva – Realmente, sou uma idiota. Uma idiota que esperou a vida inteira até você a notar e que, quando você notou, teve que aguentar te ver ir embora, como se não significasse nada. E pior ainda, esperou você voltar, porque tinha esperanças de te ter de novo. Você tá certo, eu que sou uma idiota!
Ela se virou pra ir embora, mas eu a segurei pelo braço, impedindo que ela desse outro passo.
- Não precisa ser assim...
- O quê? – ela disse, virando-se completamente pra mim.
- Não precisa ser assim – repeti. – Eu... Se você acha... Não foi fácil pra mim, ok? Quando eu fui pra lá, não foi fácil pra mim! E eu não quero te deixar de novo. Eu não quero que acabe assim. A gente... A gente pode se entender. Mesmo com todas essas brigas, a gente não precisa se separar...
- Você tá brincando, não tá? – ela disse, ainda incrédula.
- Não – eu disse, firme, olhando-a nos olhos. – Eu te quero do meu lado, , eu preciso de você.
- Você sabe que não vai dar certo. – ela disse, olhando pra baixo – Você sabe...
- – eu comecei, segurando-a pelo braço novamente – Por favor! – Meu Deus, implorando por algo?! Isso é uma coisa inédita, mas que se dane! – Por favor, fica comigo.
Ela olhou nos meus olhos e eu vi a resposta. Puxei-a pra um beijo, em uma esperança desesperada de que isso a fizesse mudar de ideia, mas ela me empurrou e foi em direção à porta.
- Não posso. – sussurrou.
- Eu te amo, - disse, em uma última esperança e suspirei aliviado, vendo-a virar pra trás, quando ouviu as palavras que sempre quis ouvir saindo da minha boca e que eu nunca tinha dito.
- Às vezes, o amor não basta.
Flashback Off
Claro que ela não ficaria comigo. Claro que não, porque eu sempre fui um idiota. Demorei anos pra notá-la e depois fui embora. E quando voltei, voltei tão mudado que ela nem ao menos me reconhecia. Nem eu me reconhecia.
Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto e a sequei, com raiva. Uma pequena parte do meu cérebro prestava atenção na música, enquanto uma outra parte tentava se controlar pra não chorar. Mas a parte maior se concentrava em pensar nela. Em evocar memórias. Em querê-la por perto.
"We say goodbye (Nós dizemos adeus) We say goodbye (Nós dizemos adeus) We say goodbye (Nós dizemos adeus)"
Flashback On
Março de 2011
Estávamos no nosso apartamento, na agitada Londres, abraçados no sofá da sala que era tão pequena que quase não cabia a TV. Depois que se tornou maior de idade, decidimos tentar de novo. Uma vida em um lugar diferente e uma vida juntos e, finalmente, as coisas pareciam começar a dar certo.
- Lembra daquela vez que eu fui te empurrar no balanço, mas você tava distraído olhando praquela menininha loirinha do terceiro ano? – ela me perguntou, rindo.
- O que tem? – perguntei, rindo também, me lembrando do fato.
- Nada... Só estou bolando uma teoria do por que a sua cara é meio amassadinha assim. É que quando eu te empurrei você caiu de cara no chão, deve ter sido isso.
- Ah, vá se ferrar! – eu disse, rindo com ela. – Ei, espera aí... – continuei, pensativo – Meu rosto não é amassado! – gritei e ela gargalhou, batendo em sua própria testa, em um sinal bem óbvio de que me achava um burro.
- Eu amo você, meu burrinho – ela disse, me dando um beijo na bochecha.
- Mesmo que eu tenha a cara amassada? – perguntei e ela riu mais.
- Aham, mesmo com a cara amassada! – disse, tirando sarro.
- É melhor você se preparar pro ataque – eu disse e ela arregalou os olhos.
- Cócegas não, , por favor – gritou, quando me viu avançando pra ela.
- Agora a sua barriga vai ficar amassada – gritei ameaçadoramente.
Ela riu alto.
- Como você é idiota! – gritou, enquanto corria.
Flashback Off
Claro, aqueles meses foram maravilhosos. Mas como sempre, nada é fácil quando se trata de e .
Flashback On
22 de Agosto de 2011.
- Você não vai voltar pra lá comigo, não é? – perguntei.
- E você vai continuar se preocupando só com você mesmo, não é? – ela retrucou e eu respirei fundo.
- , você ama a nossa cidade. E eu não aguento mais ficar aqui...
- Você tá dizendo isso só por que foi demitido e não consegue arrumar outro emprego! – ela disse, alterada – Mas eu, , eu tenho um emprego. Um ótimo emprego, pra falar a verdade. E eu não vou embora agora que praticamente a minha vida toda está aqui!
- E você vai ficar me sustentando por quanto tempo? – gritei, sentindo meu rosto queimar de raiva.
- O tempo que for preciso – ela gritou de volta – Já disse que não me importo com isso. Não me importo de pagar nossas contas enquanto você procura um emprego...
- Isso não é certo... Não quero isso.
- Só porque você é um machista. Não quer admitir pros seus amigos que precisa da ajuda de uma mulher pra pagar as suas contas!
- Então você tá jogando na cara agora?
- Não tô jogando na cara, , pelo amor de Deus! Seja um adulto uma vez na vida!
- Ótimo, agora você tá me chamando de criança! - gritei - Eu já decidi. Eu vou embora. Quando eu puder, eu volto. Se você não quiser vir comigo, eu vou sozinho.
- Então é isso? – ela disse, de um jeito estranho – Você vai desistir de nós?
- Não – eu disse, hesitante – Eu não quero desistir. Eu te amo, – falei, mais confiante. – Eu... Eu vou e você fica. A gente pode conversar por telefone todos os dias, se você quiser. A gente não precisa terminar e quando eu voltar...
- Não – ela falou, em um sussurro. Levantou a cabeça e agora falava de um jeito decidido – Você sabe que isso não vai dar certo. Nunca dá certo!
- Você não quer que dê certo, essa é a verdade – eu disse, irritado com a incompreensão dela e vi na mesma hora que a magoei, mas não voltei atrás. – Eu vou voltar. Se você quiser, fique aqui, eu volto sozinho!
- É sempre assim, . Você vai embora e eu fico. Ou eu vou e você fica. Eu não aguento mais isso. Se você quisesse mesmo ficar comigo, não me deixaria aqui, já que tem outra opção! E se você for... – ela disse, com a voz embargada – , se você for, vai ser melhor terminarmos. E dessa vez não vai ter volta.
Olhei-a por um momento, incrédulo. Ela não podia ter dito aquilo, podia?
Meu coração estava acelerado e algo em minha barriga doía. Que porra era aquela?
- Talvez seja melhor mesmo – eu disse, escondendo tudo aquilo e pude ver a decepção nos olhos da mulher que eu amo.
Saí de casa e, quando voltei, foi somente pra fazer as minhas malas, antes que pudesse mudar de ideia. E eu sabia que mudaria.
Flashback Off
"All we ever do is say goodbye (Tudo o que nós sempre fazemos é dizer adeus) All we ever do is say goodbye (Tudo o que nós sempre fazemos é dizer adeus) All we ever do is say goodbye (Tudo o que nós sempre fazemos é dizer adeus) All we ever do is say goodbye (Tudo o que nós sempre fazemos é dizer adeus)"
Senti um milhão de lágrimas escorrendo pelo meu rosto e lembrei-me da voz dela ao telefone.
Flashback On
- ... Eu não quero viver sem você. Por favor, para de ser orgulhoso. Eu... Eu te...
- Não, não diz isso – interrompi, tentando controlar a minha mão que tremia. – Você terminou.
- Mas eu te quero de volta.
- Talvez seja tarde demais – disse, com o restinho de força que me sobrava.
Ouvi um soluço do outro lado da linha e sabia que não poderia jogar pra sempre na defensiva.
- , eu... – suspirei – Eu não vou voltar.
- A gente não pode terminar assim, ! - Fiquei em silêncio, tentando pensar em algo pra dizer, mas não consegui. - Tudo bem – ela disse, por fim, depois de alguns minutos de silêncio esperando uma resposta que não veio. Percebi que o tom de sua voz havia mudado e senti meu estômago revirar – Boa sorte, . E se cuida.
Não sabia se podia suportar perdê-la de novo. E sabia que, dessa vez, a culpa seria minha se a perdesse.
- Eu ainda te... – Ouvi o telefone desligar e senti a primeira lágrima cair.
Flashback Off
Voltei pra minha cama e coloquei a música pra tocar novamente. Li o nome do cantor: John Mayer. Um viadinho, com certeza. Quem ela pensa que é pra escrever uma musica como aquela?
Puxei o notebook pra perto e entrei no twitter, checando o que ela havia postado. “Mania idiota” pensei. Fazia isso desde que éramos apenas amigos, ambos com 15 anos e eu ainda nem imaginava que um dia poderia amar aquela garota.
Abri a página dela e um dos tweets me chamou atenção. @:
Ouvindo Your Body is a Wonderland do John Mayer. A voz dele me acalma, pois é!
- What the fuck...?! – disse, em voz alta, e me levantei, fechando o notebook com força e jogando o Ipod pra qualquer lado do quarto.
Só pode ser brincadeira... Ou, quem sabe, um sinal.
Com um estalo, me levantei da cama. Coloquei uma calça qualquer e peguei minha mochila, jogando algumas roupas que nem olhei direito lá dentro e pegando algum dinheiro, com uma ideia fixa na cabeça. “Que se dane o meu orgulho.” Pensei. Não perderia aquela garota por nada desse mundo. Não de novo.
- Pois é, orgulho, acho que você perdeu – eu disse, trancando a porta rapidamente e assustando um vizinho que lia o jornal ali perto – Minha namorada é mais importante que você. Eu a amo. E não vou deixar você resolver se devemos ou não ficar juntos.
"Why you wanna break my heart again? (Por que você quer partir meu coração de novo?) Why am I gonna let you try? (Por que eu vou deixar você tentar?)"
Lembrei da música e sorri, enquanto corria até um táxi que estava estacionado na esquina. Não me importaria se ela partisse meu coração novamente, se depois continuasse do meu lado e o consertasse. E me fizesse amá-la mesmo quando a odiasse.
FIM
N/a: Olá *--* Sempre adorei essa música, então resolvi escrever uma história que acontecesse em torno dela, mas não exatamente baseada nela.E foi tão legal escrever essa short *---* Espero que gostem de ler tanto quanto eu gostei de escrever! Agradeço desde já a quem perder um tempinho pra lê-la e agradeço à minha beta, super paciente comigo e que me ajuda bastante! Obrigado Nessa!
Xx
Nota da Beta: Awn, Mah! Não precisa me agradecer, não, é sempre um prazer te ajudar <3
E você, leitor que chegou até aqui, deixa um comentário! Faz a autora feliz e não custa nada :3
Xx. Vanessa