Minha vida já não havia mais sentido. Eu não encontrava motivos
para acordar. Me faltava motivação, força de vontade, e, o principal, faltava
ela. Como eu ia me permitir ser feliz sem ela em minha vida? Como eu
ia viver sem aquele sorriso? Um sorriso encantador, que me faz faltar ar. O
sorriso pelo qual me apaixonei, o sorriso com que sonho todas as noites, que
não sai da minha cabeça. E eu não entendo como Deus a levou embora. Quer dizer,
será que esse Deus existe mesmo? Pelo que eu aprendi, Deus nunca permitiria
mal a ninguém! Então por que a levou? Por que de um jeito tão cruel?
- Não culpe Deus,
! Pare com essa raiva toda. Entenda que, se ela se fo,i é porque era a vez dela!
, meu melhor amigo, tentava me acalmar. Eu agradecia a preocupação dele, mas
ele não entendia que, naquele momento, a única coisa que eu queria, era ficar
sozinho.
- E você tem que entender também... – ele continuava – ...que sua vida não acabou!
A vida continua,
! Você não pode deixar isso acabar com você. Olha para a sua casa, cara! Você
conseguiu deixar ela pior que a minha. -
agora sorria – E não é só ela que está suja... Acho que o chuveiro da sua casa
até esqueceu quem é você!
Forcei um sorriso. Para não deixar
chateado, era necessário rir das suas tentativas de piada.
- Vai, cara, levanta daí! Hoje nós vamos sair.
- Valeu,
... mas hoje eu não estou afim.
- Se eu for ficar fazendo a tua vontade, você não sai daqui nunca. Vamos lá,
cara! Vai ser divertido.
- Sério,
. Não se preocupa comigo. Pode sair, eu estou bem aqui. Eu devo ir dormir daqui
a pouco. Tô cansado pra caralho.
- Beleza. Vai descansar, então... Nas toma um banho antes. Tá foda! -
reclamava, abanando o ar com as mãos. – Eu vou tentar dar um jeito nisso aqui
enquanto tu tá no banho, falou?
-
... Obrigado. Por tudo o quê você está fazendo.
Subi até meu quarto e peguei qualquer roupa ao meu alcance. Eu estava mesmo
precisando de um banho e seria até bom tomar um.
- Pelo menos eu ainda sei o caminho... - murmurei para mim mesmo enquanto andava
em direção ao banheiro. Tomei um banho rápido e desci para expulsar Danny de
minha casa.
- Caralho, mano! Tem mais alguém aqui? - perguntei olhando perplexo pra
.
- Não, por quê? - ele respondeu naturalmente.
- Você arrumou tudo. Devia fazer isso na sua casa também...
- Haha, muito engraçado. Bom, eu vou indo agora. Tem certeza que tu vai ficar
bem?
- Vou, cara. Pode ir. - respondi.
- Se precisar de alguma coisa, precisar conversar...Ppode me ligar.
- Deixa de ser gay,
. Eu estou bem, tchau.
Fechei a porta e suspirei aliviado. Agora eu não precisava fingir. Subi ao meu
quarto e não me importei de estar chorando. Toda a dor que eu havia guardado
em mim estava sendo liberada, finalmente.
Eu chorei e, sem perceber, eu dormi.
two.
Quando abri os olhos de manhã, havia algo diferente, mas eu não
sabia o quê. Pisquei o olho três vezes e pude sentir minha cabeça latejar.
- Por quantas horas eu dormi? - perguntei a mim mesmo, me levantando da cama
para escovar os dentes.
Desci para encontrar algo para comer e percebi que havia uma mesa arrumada esperando
por mim. Franzi a testa. A única pessoa que tem a chave do meu apartamento é
, mas ele não ia acordar de manhã para fazer café para mim.
- Oi? - gritei inutilmente, já que ninguém respondeu. E meu apartamento é pequeno,
um grito era suficiente para ser ouvido da casa toda. Dei de ombros e me sentei
a mesa, engolindo tudo o que se encontrava lá.
- Nossa, parece que você gostou da surpresa! - Sussurrou uma voz doce no meu
ouvido completando com uma leve mordida na orelha. Eu conhecia aquela voz, não
me era nem um pouco estranha, era a voz de
e eu tinha certeza disso. Sabia que era impossível, mas logo me virei
e a abracei.
-
? - perguntei assustado.
- Claro, seu bobo! Quem você pensa que é?
Olhei em seu rosto, e lá estava ela; perfeita, como sempre foi. Ela me olhava
sorrindo de uma forma brincalhona e seus olhos brilhavam como nunca brilharam
antes. Ela estava radiante, feliz.
- Mas como? - perguntei enquanto a abraçava. Eu não podia soltá-la mais.
- Shiiiiu... O importante é que estou aqui... Com você. - ela respondeu.
- Eu estou sonhando?
fez uma cara pensativa.
- Hmmm... Podemos dizer assim.
- Então... Então uma hora eu vou acordar.
tocou meu rosto de leve. Era incrível como seu toque ainda me causava arrepios.
- Esqueça isso,
. Vamos aproveitar o tempo que temos juntos. - ela sorriu e se aproximou, deixando
nossas bocas extremamente perto uma da outra. Eu podia sentir seu hálito quente
em mim, e isso estava me deixando louco. Aproximei meu rosto mais um pouco e
toquei nossos lábios. Encostei, mas nada fiz. Fiquei a sentindo bem perto por
bastante tempo até que ela decidiu me beijar. Já tinha provado daquele beijo,
mas nunca com tanto amor e saudade. Abracei-a pela cintura o mais forte que
podia para ter certeza de que ela não sumiria dali, o meu maior medo.
- Vem aqui... - disse ela interrompendo, me puxando pelo braço - Eu quero conversar
com você.
- O quê eu fiz agora? - perguntei rindo.
- Nada... É o que você não está fazendo.
Olhei-a confuso. Eu não fazia a menor idéia do que
falava.
- Olha,
... - ela explicava - Eu não quero que você se tranque em casa por minha causa.
Eu não gosto de te ver triste e saber que a culpa é minha! Você não deve fazer
isso com você.
- Como você pode me pedir para eu ser feliz se não posso ter você? É impossível.
- Você não tentou,
... como você pode saber? E eu quero que você entenda uma coisa. -
dizia, pegando em minha mão - Você pode não me ver, mas não tenha dúvidas,
, eu sempre estou com você. Mas agora eu tenho que ir... Mas você sabe que eu
sempre vou voltar. Sabe que a esperança continua. Eu não vou voltar como você
quer, não estarei tão próxima como estive hoje... - ela chorava, olhando para
mim - Mas eu sempre vou te iluminar, e você sempre vai saber que eu tô te olhando,
e que eu estou te guiando, não importa onde eu estou.
- Não! - a puxei para mais perto, chorando também. - Você não pode ir embora
agora. Não pode me abandonar de novo!
- Não, não, meu amor! Eu nunca vou te abandonar. Nunca.
- Eu te amo,
. Para sempre.
- Eu também, meu anjo. Nunca se esqueça disso. Eu vou estar sempre aqui. -
falou, apontando para meu coração.
Limpei as lágrimas que teimavam cair sobre nossos rostos. Olhei-a mais uma vez
e analisei cada parte de seu rosto. Mesmo chorando, ele continuava perfeito.
- Eu vou ser sempre sua. - Ela sussurrava.
- Eu vou ser sempre seu.
- Tchau,
... -
juntou nossos lábios como sinal de despedida - Agora durma, meu amor. Eu te
amo, sempre vou te amar.
Tudo se tornou escuro e quando acordei, estava na minha cama, sozinho. Ao meu
lado estava um pedaço de papel aberto. Lá dizia: