- Talvez a morte não seja tão ruim. – Ela falou sozinha enquanto se sentava na janela do seu quarto. Não se importava com ouvintes indesejáveis, já que morava sozinha há mais de 4 anos e sabia que ninguém conhecido a visitaria naquela noite.
Olhou para baixo e ficou tonta quando tentou acompanhar alguns dos carros que passavam na frente da portaria do seu prédio, 14 andares abaixo. Ela havia pensado muito no que faria essa noite, e nada a faria desistir. Não agora que estava tão próxima de acabar com seu sofrimento.
Pensou por um momento nas duas cartas que havia deixado em cima da sua cama, cada uma endereçada a uma pessoa diferente. Lembrou-se das palavras que havia dedicado às duas pessoas mais importantes da sua vida, o que lhe trouxe várias lembranças boas e uma tristeza arrebatadora.
As lembranças de passar os momentos com sua grande melhor amiga e com seu namorado. Lembranças que, apesar de felizes, lhe prejudicaram mais uma vez a saúde mental. “Não sei como pessoas que me fizeram tão bem antes poderiam ter me machucado tanto.” Ela refletiu por um momento. Depois de tanta confiança depositada nessas pessoas, depois de tudo o que passaram... Ela não podia acreditar na traição.
- Será que rezar antes de se suicidar adianta? – A garota murmurou enquanto respirava fundo e fechava os olhos. Era agora. Por fim tudo acabaria e ela poderia finalmente encontrar seu final feliz e sem traições.
- Eu não sei se adianta, mas não arriscaria.
Ela se segurou no último segundo, assustada com a voz que repentinamente havia chamado-lhe a atenção. Não era qualquer voz, e sim a de um homem. Mas não a do homem que ela queria ouvir.
Ao invés do stress e da raiva que ela sentiria normalmente, apenas a calma e a serenidade dominaram sua mente de uma maneira que ela não conhecia. Ela finalmente se sentia bem, como não se sentia há 3 ou 4 dias. Tudo por causa de uma simples voz.
- Quem é você? – Ela perguntou enquanto colocava as pernas para fora do quarto, ainda sem olhar para o homem que havia lhe interrompido. Não estava entendendo, ninguém que estivesse vivo possuía suas chaves, apenas sua mãe, mas ela havia partido há dois anos.
Ela sentiu um aperto no peito. “Mãe” foi a palavra que preencheu cada canto dos seus pensamentos. E foi também o que lhe trouxe as lágrimas. Mais uma vez. Apesar do tempo transcorrido, a tristeza ainda a assolava em certos momentos.
Mas agora elas iriam se encontrar, e tudo ficaria bem.
- Meu nome não importa agora. – A voz respondeu gentilmente, parecendo preocupado com ela. – O que importa agora é que você, , não deve fazer isso.
levantou a cabeça e olhou para trás, finalmente conseguindo identificar o rosto daquela voz. E apesar da sua comum resposta a esse conselho, “Não é da sua conta”, já estar na ponta da língua, ela se calou no exato momento que seus olhos encontraram os olhos que a olhavam serenamente.
Era o mais belo homem que ela já tinha visto em toda sua vida, suas feições tão belas quanto as de um anjo esculpido por qualquer daqueles artistas clássicos. Simplesmente idealizado. Seus cabelos combinavam perfeitamente com seu tom de pele, assim como as vestes pretas contrastavam com as...asas?
Sim, asas! O homem tinha um par de asas conectadas às suas costas, tão grandes que chegavam a encostar no teto do quarto da garota. As lindas penas brancas estavam literalmente luzindo no quarto escuro, iluminando fantasmagoricamente todo o ambiente com uma luz branca e fraca.
Não só parecia, como também era um anjo.
- O quê exatamente é você? – Ela perguntou, ainda sem conseguir tirar os olhos das asas do homem. Eram tão esplêndidas, belas e hipnotizantes. estava simplesmente fascinada pelo rapaz.
- Isso mesmo o que você presumiu, cara . – Ele sorriu. – Um anjo. Fui enviada por alguém para te ajudar.
- Quem te mandou? Deus? – Ela perguntou seriamente, agora conseguindo desviar os olhos das alvas estruturas atrás do rapaz e olhando-o nos olhos.
- Não exatamente, mas isso não importa no momento. – O rapaz tinha as mãos pendendo ao lado do corpo, e num movimento suas asas se fecharam atrás de si, sendo escondidas. – Você estava prestes a realizar algo pelo qual se arrependeria profundamente, além de fazer outras pessoas sofrerem.
- Desculpe-me... Anjo. – Ela não sabia como chamá-lo. – Mas eu não me arrependeria do que eu ia fazer antes de você me interromper, e tenho certeza de que ninguém sofreria por minha causa.
O anjo ficou observando longamente a garota, observando-a de cima a baixo num silêncio que, para , não era incômodo. Mas apesar disso, ela não pôde impedir sua mente de imaginar o motivo desse “exame”, pensando no pior motivo possível. O anjo deu uma risada breve, o que pareceu o mais belo som que já havia ouvido.
- Não, minha jovem, eu não tenho tais intenções. – Ele sorriu para ela amavelmente, fazendo-a corar muito rápido. Como ele havia lido sua mente? – E desculpe-me se li durante um momento os seus pensamentos. Prometo que tentarei não fazê-lo novamente. Agora, se me permite, eu gostaria de lhe propor um acordo.
Ela ficou encarando o anjo, ainda um pouco furiosa e corada pelo acontecimento anterior e tentando adivinhar o que ele estava fazendo no seu quarto.
- Eu gostaria de uma chance para tentar impedi-la de cometer o maior erro da sua vida. – Ele começou, olhando intensamente nos olhos da garota à sua frente. Ela sentiu a sinceridade no seu tom de voz e concordou com a cabeça levemente.
- O que você propõe? – cruzou os braços em frente ao peito e olhou o anjo seriamente. Ela não conseguia imaginar uma única pessoa que conseguisse fazê-la mudar de idéia, havia decidido isso no exato momento em que foi traída. E já teria realizado seu desejo se um certo anjo não tivesse aparecido em seu quarto na pior hora possível. Quem infernos mandaria um anjo para salvá-la? Quem teria tamanha consideração por ela?
não conseguiu pensar em ninguém.
- Acredite, existem pessoas que têm uma absurda consideração por você, . – Ele deu um meio sorriso, deixando sua expressão séria mais suave. – O que eu lhe proponho é um passeio.
- Um passeio? – Como ele conseguiria convencê-la de não se matar passeando com ela? – Tá... Desde que não haja nenhum furgão do hospício me esperando lá embaixo...
- Ah, não vamos descer. – Ele riu um pouco e pôde notar que suas asas haviam se estendido, tocando mais uma vez o teto e iluminando brevemente as estrelinhas que ela havia colado ali, daquelas que brilhavam no escuro. Ela sentiu um leve aperto no peito, havia colado aquelas estrelinhas com a ajuda de ... – Por favor, senhorita, poderia deitar na cama?
- Como é? – olhou preocupada para o anjo, estranhando seu pedido. Ele riu mais uma vez.
- Confie em mim e deite-se na cama, tome cuidado para ficar em uma posição confortável. – Ela suspirou e deitou-se na cama de casal, colocando as cartas na mesinha ao lado da sua cama. – Agora feche os olhos e tente não se mover até eu permitir.
A garota suspirou mais uma vez e fechou os olhos, colocando os braços ao lado do corpo e tentando relaxar.
- Não se assuste se você sentir um formigamento ou cócegas, é normal. – O anjo falou enquanto se aproximava da cama. Ele esticou os braços, fechando os olhos e proferindo algumas palavras baixinho. sentiu o tal formigamento em todas as partes do seu corpo e lutou contra o instinto de se mexer, permanecendo o mais imóvel possível. Sentiu-se leve de repente, como se não houvesse nada mais ao seu redor. – Pode abrir os olhos.
Quando ela o fez, viu a mesma coisa que havia visto antes de fechá-los: o teto branco com estrelinhas que brilhavam no escuro. Mais um aperto no seu coração ao se lembrar de seu namorado. Ou talvez ex namorado.
- Pode se levantar. – O anjo falou enquanto olhava para fora da janela. levantou-se e sentiu um leve formigamento da cintura pra baixo. Virou seu corpo, colocando as pernas para fora da cama e plantando os pés no chão. Mas quando olhou para suas pernas... Ela podia ver o jogo da sua cama através delas!
- Que diabos...? – Ela murmurou enquanto examinava agora suas mãos, levemente transparentes com as unhas roídas que ela conhecia. Levantou-se, olhando para si e espantando-se cada vez mais com a leve transparência de sua pele e das suas roupas, que não eram mais as mesmas e foram substituídas por um vestido longo e branco. Apesar de não estar totalmente transparente, ela conseguia ver agora o piso de madeira sobre seus pés. – O que é isso?
- Você deixou seu corpo temporariamente, e essa é a sua alma. – O anjo explicou pacientemente, indicando com a cabeça a cama de . Quando ela olhou, seu corpo continuava ali deitado com os olhos fechados e completamente imóvel.
- Está...morto? – se surpreendeu ao perceber que estava muito assustada com a visão imóvel de seu corpo. Isso a fez refletir por um momento o que teria acontecido se ela tivesse pulado da janela. Estaria ela tendo a mesma visão de agora?
O anjo poderia responder suas questões?
- Me perdoe senhorita, mas por acaso tive um relance de seus pensamentos. – O anjo reverenciou brevemente. – E receio que não tenha como responder sua pergunta, já que eu... Digamos, passei dessa pra melhor há muito tempo mesmo.
- Não tem problema... Eu acho. – Ela comentou com relação à primeira afirmação do rapaz. – E acho que vou descobrir mais tarde...
- Talvez. – Ele replicou baixinho, ainda olhando para fora. Depois voltou a atenção para a garota, um meio sorriso em seus lábios e uma expressão divertida no rosto. – Vamos então?
- Afinal, aonde estamos indo? – Ela perguntou quando o anjo acenou para ela, pedindo que se aproximasse da janela. Ela foi até ele, desviando das asas gigantescas e postando-se em frente à janela, olhando para as luzes acesas de Nova York. – Posso ser a mulher invisível, mas não tenho um par de asas que nem a suas.
- Você não precisa disso. – Ele riu um pouco com o meu comentário e indicou suas asas. Depois estendeu sua mão. – Segure firme, por favor.
Ela hesitou brevemente, mas depois segurou sua mão e olhou mais uma vez ara o anjo ao seu lado. Ele parecia confiante.
- Quando eu contar três, você fecha os olhos e relaxa, okay? – Ele pediu a ela.
- Tá... – respondeu. Não sabia o que aconteceria em seguida, será que ela estava tendo um sonho?
- 1...
A garota respirou fundo e voltou a olhar para as ruas movimentadas da sua cidade.
- 2...
Ela olhou então para o anjo e seu último pensamentos antes de fechar os olhos foi “Se eu estiver tendo uma ilusão, pelo menos estarei me suicidando como queria. E ainda terei um anjo ao meu lado.”
- 3! – Ela fechou os olhos e relaxou seu corpo. Sentiu sua mão que estava sendo segurada pelo anjo ser puxada, e em seguida ela não estava mais com os pés no chão. – Pode abrir os olhos agora.
Ela os abriu e quando olhou para baixo, arregalou os olhos e seu queixo caiu. Ela e o anjo estavam sobrevoando a cidade, mas ao invés de ela estar sendo rebocada, ela estava na mesma altura dele, seu corpo na posição vertical. Ela estava voando.
- Mas...como isso é possível? – perguntou, olhando espantada para o anjo ao seu lado.
- Não pense nisso, temos coisas mais importantes para pensar nesse momento. – Ele deu um meio sorriso para ela e começou a voar mais rápido, suas asas batendo com uma força inumana. olhou para aquelas lindas penas brancas e ficou, mais uma vez, admirada.
- Onde nós estamos indo? – A garota perguntou, desviando os olhos das asas e observando os carros presos em um engarrafamento no chão.
- Você vai ver. – O anjo respondeu enigmaticamente, fazendo suspirar. Ela não gostava de surpresas.
Continuaram voando por algum tempo até que ela sentiu que estavam descendo. Olhou para frente e identificou o prédio que tanto conhecia, sentindo seus olhos lacrimejarem de tristeza e por causa do vento.
- Por que você me trouxe na casa dele? – Ela perguntou com amargura, desejando que tivesse pulado de uma vez, mesmo tendo ouvido aquela voz desconhecida atrás de si.
- Você precisa ver uma coisa. – Os dois pararam diante de uma janela, mais especificamente na frente da janela da sala de . As luzes estavam todas apagadas e não havia ninguém no cômodo. – Mas antes, por favor, pode me contar o que você viu há 4 dias atrás?
sentiu seus olhos arderem mais uma vez e seu nariz latejar, sabia que as lágrimas logo começariam a cair de seus olhos. As lembranças daquela tarde invadiram seus pensamentos com velocidade, não a permitindo bloqueá-los como havia feito até agora.
- Eu estava na praça na frente da casa dele... – Ela relembrou tudo, sentindo as lágrimas descerem por suas bochechas. - ... Esperando que ele chegasse em casa. Estava me sentindo muito sozinha em casa, então resolvi fazer uma surpresa.
“Fiquei sentada em um banco esperando por ele, até que o vejo...mas ele está acompanhado de uma garota. E essa garota era a minha melhor amiga.”
A vivacidade da cena fazia com que se sentisse lá mais uma vez. Ela lembrou-se do barulho das folhas farfalhando, dos pássaros terminando a orquestra do dia, do sol pintando o céu com as cores quentes de fim de tarde. Viu casais passarem por lá abraçados e conversando animadamente, sorrindo e trocando beijos enquanto caminhavam. Lembrou-se de cada detalhe.
- Eles estava caminhando lado a lado... Eu me escondi atrás de uma árvore ali perto para que não me vissem e quando chegaram perto de onde eu estava, eu ouvi sua conversa. Eles falavam de qualquer coisa trivial, nada com muita importância, mas faziam brincadeiras freqüentemente. Observei-os continuarem a caminhar até que minha melhor amiga parou de repente e se virou para , um sorriso muito feliz em seu rosto...
Mais lágrimas caíam agora de seus olhos e uma dor começou a dominar seu peito. respirou fundo, tentando se acalmar de uma vez por todas.
- ... e os dois se abraçaram. Mas não foi o tipo de abraço de despedida, foi um daqueles fortes. Quando se separaram, os dois permaneceram com os braços encostados, como se estivessem prestes a... Se beijar. Saí detrás da árvore e fiquei ali, observando aquela cena horrível. me notou e soltou . Mas antes que algum deles pudesse falar ou fazer qualquer coisa a mais, eu estava correndo de volta para casa. – suspirou, abaixando o rosto e limpando algumas lágrimas que desciam por suas bochechas.
- Sim, sim... – O anjo concordou com a cabeça, parecendo solidário. – A primeira coisa que eu gostaria de lhe mostrar, senhorita, é que em situações aparentemente ruins, temos a tendência de pensar na pior hipótese possível. Você, ao ver os dois juntos, não hesitou e presumiu a pior coisa que poderia estar acontecendo no momento, quando haviam as mais variadas teorias para explicar o que estava acontecendo naquele momento.
Ela concordou com a cabeça, lembrando de ouvir os dois gritando seu nome quando corria de volta para o carro. Lembrou-se das várias vezes que interfonaram e ligaram na sua casa, mas não atendeu qualquer uma delas.
- Pois bem... – Ele olhou mais uma vez para a sala de . – Ele chegará em 3... 2...
A porta da sala se abriu e um rapaz alto de cabelos e olhos entrou na casa, sendo seguido por uma garota. a reconheceu como sendo sua melhor amiga, .
- Eu não sei! Não sei onde ela tá, não sei pra onde ela foi, não sei se ela tá bem! – Ela exclamou, entrando na casa e indo até o telefone que ficava no centro. – Vou tentar mais uma vez...
- Não é possível que você não saiba! Você é a melhor amiga dela, tem que ter algum lugar que ela esteja e que você saiba qual é! – passou a mão nos cabelos e sentiu mais uma vez uma pontada no peito. Sempre adorou esse pequeno gesto dele, que indicava que ele estava nervoso e ansioso com alguma coisa. – Já ligou na...
- Na casa dela, na sua casa, no trabalho dela...sinceramente, esse apartamento era a minha última esperança! – suspirou. – Você queria que se tornasse a melhor noite da sua vida e acabou saindo pela culatra.
Percebi que o anjo me observava curiosamente, mas não me importei. Será que meu ex namorado esperava... Se dar bem com ou algo assim?
- Por que aquela cabeça de vento tinha que pensar errado? – A amiga de levantou os braços e olhou para o teto. – Pelos céus, foi só um abraço!
- E não foi um abraço à toa, foi de comemoração! – completou, parecendo tão frustrado quando . – Mas que droga, ! Onde você está?!
“Mais perto do que você imagina, .” pensou enquanto sentia seus olhos se encherem de lágrimas. Mais uma vez.
- E agora, , o que eu faço? – Ele foi até o sofá bege e despencou nele, colocando as mãos no rosto. O velho sofá no qual ele e assistiram a tantos filmes e riram juntos. Mais uma lágrima desceu pela bochecha da garota que assistia tudo à distância, a agonia do garoto contagiando-a. – Logo no nosso aniversário de 2 anos! Eu ia fazer a surpresa naquele dia!
- A melhor surpresa de todas, devo acrescentar. – comentou enquanto desligava mais uma vez o telefone. – Ela não atende. Será que ela bateu a cabeça na pia ou alguma coisa assim?
- Não acho que isso tenha acontecido. – murmurou enquanto passava novamente a mão no cabelo, bagunçando-o ainda mais. – Por que, ? Era para ter sido a noite mais feliz de nossas vidas!
- Eu sei, . – A garota falou enquanto se sentava no braço do sofá e dava alguns tapinhas nas costas de . – Olha, eu tenho que ir. Vou tentar a casa dela de novo, se der em alguma coisa eu te ligo.
- Tá. – Ele permaneceu na mesma posição, nem se dando o trabalho de se levantar para abrir a porta para . Ela se levantou do braço e abriu a porta, saindo sem dizer palavra alguma. , depois de um tempo, levantou-se frustrado e foi até o seu quarto.
- Venha. – O anjo sussurrou enquanto puxava até a janela que dava para o quarto do garoto. estava de frente para a parede, os dois punhos fechados e parecendo ter batido na superfície de gesso. Sua cabeça também estava encostada na parede.
- Por quê, meu amor? – Ele perguntou alto, sua voz agora cheia de mágoa. – Por que você tinha que presumir isso? Você entendeu tudo errado !
O garoto foi até a cama, sentando-se na colcha que havia ganhado de aniversário da mãe. Apoiou os cotovelos nos joelhos e enfiou uma das mãos no bolso, puxando uma caixinha preta de veludo. Esse simples gesto fez prender a respiração e suas lágrimas voltaram.
- Por quê logo no dia em que eu ia te pedir em casamento? – Ele murmurou, agora uma lágrima caindo na manga da sua camisa.
O garoto abriu a caixinha, e lá estava: um lindo anel enfeitado com vários diamantes pequenos que formava três losangos, sendo o do meio com diamantes maiores. Era o anel mais lindo que havia visto.
- É... É... – Ela gaguejava, não conseguia acreditar. Então no parque ele havia abraçado sua melhor amiga... Porque estavam comemorando a proposta de ?
sentiu seu coração inchar de tanta felicidade, seus olhos agora com várias lágrimas gordas caindo na sua blusa semi-transparente. Eram lágrimas de felicidade.
- Entende agora, senhorita? – O anjo lhe perguntou serenamente. – Tudo possui uma explicação, não tome decisões precipitadas.
Ela não conseguia falar, tamanha era sua surpresa e admiração pelo namorado. Ele iria pedi-la em casamento. Depois de dois anos juntos, ele a pediria em casamento.
- Ele...não me traiu. – Ela murmurou para si mesma e o anjo concordou com a cabeça. sorriu, mas as lágrimas não deixaram de cair. Há quatro dias havia refletido, chorado, sofrido e chorado um pouco mais, apenas tentando imaginar porque ele a havia traído com sua melhor amiga. Agora ela podia ver que tudo não passava de um mal entendido. Nunca se sentiu tão aliviada.
- Não, não a traiu. – O anjo confirmou. – Você esteve prestes a se matar sem antes saber o que havia acontecido de verdade, . Você ia acabar com sua vida e levar duas pessoas junto.
Ela concordou com a cabeça, parecendo um pouco culpada e arrependida. Naquela hora, ela tinha uma boa razão para pular. Mas agora... Ela sabia a verdade.
- Vamos, temos que voltar a tempo de a chegar no seu apartamento e roubar a chave do porteiro. – O anjo murmurou, puxando pelo pulso e voltando a bater suas enormes asas. A garota deu uma última olhada no garoto, observando mais uma vez o rosto que tanto conhecia agora em angústia e tristeza. Doía-lhe o coração ao vê-lo assim.
Voaram por um tempo e então chegaram ao apartamento de , passando mais uma vez pela janela que dava para a rua.
- Volte a se deitar na cama e tente ficar na mesma posição que estava antes. – O anjo lhe pediu. – Caso contrário, você provavelmente vai sentir uma dorzinha...
Ela fez o que ele pediu e o anjo fez a mesma coisa, fazendo a alma da garota voltar para seu corpo. As únicas partes do corpo nas quais sentiu dor foram nas pernas e nos braços, mas nada muito intolerável. Quando a garota se levantou, o anjo havia se voltado para janela e ela percebeu que suas asas estavam estendidas mais uma vez, prestes a alçar vôo.
- Não, espera! – foi até ele, tocando-lhe uma pequena parte da asa. Pôde sentir como era macia, suas penas se assemelhavam a nuvens. Se é que ela sabia como eram nuvens. – Aonde você vai?
- Eu tenho que ir, senhorita. – Ele sorriu para ela serenamente. – Meu trabalho aqui já está finalizado, o restante está por sua conta.
- Mas... Antes, pode me responder duas perguntas?
- Se estiver ao meu alcance, claro. – Ele retraiu suas asas e virou-se para a garota, olhando nos olhos dela calmamente.
- Quem te enviou aqui?
- Receio que não possa lhe informar, mas tenha certeza de que essa pessoa a ama incondicionalmente. – Ele deu um meio sorriso. – E a outra pergunta?
- Qual é o seu nome, anjo? – Ela perguntou curiosa.
- . – Ele sorriu, voltando a estender suas asas e virando mais uma vez para a janela.
- Espere... Como eu saberei que isso tudo foi de verdade? – perguntou, sentindo uma tristeza invadir-lhe o peito. Ela não queria que ele fosse embora tão rapidamente.
- Só há uma maneira de descobrir. – Ele sorriu para mim.
E então o anjo partiu, suas asas fortes e grandes batendo com suavidade e ao mesmo tempo agressividade, brilhando levemente no meio da noite escura. De repente, o pequeno brilho desapareceu.
Um cansaço inesperado e inexplicável tomou conta do corpo de e, apesar de ela não querer, despencou na cama e apagou na hora. Acordou algum tempo depois com alguém chacoalhando seus ombros violentamente e chamando seu nome.
- ! ACORDA CRIATURA! – Era , sua melhor amiga. – DÁ PRA ABRIR LOGO OS OLHOS OU TÁ DIFÍCIL?
A primeira coisa que a garota, ao acordar, fez foi abraçar a melhor amiga, as lágrimas voltando a descer por suas bochechas. Percebeu que estava surpresa com o abraço mas não se importou, e em instantes as duas se abraçavam e choravam convulsivamente.
- Você não sabe a preocupação que você me causou! Aposto que vou ter rugas antes da hora por sua causa! – falava com a voz chorosa, e em seguida se distanciou da amiga. – E que negócio é esse de carta suicida? Você por acaso tentou se suicidar?
- Pode-se dizer que sim... – sorriu sem-graça para , que torceu a boca. – Mas não se preocupe, um anjo me impediu de cometer a maior burrada da minha vida.
- Percebe-se! – revirou os olhos. – O está louco atrás de você! Foi tudo um mal entendido amiga...
- Eu já sei, . – sorriu. – Não sei como pude duvidar de você, minha melhor amiga desde pequena!
As duas se abraçaram mais uma vez.
- Tenho que ligar pro ! – exclamou quando as duas se separaram. – Ele está simplesmente horrível, durantes esses quatro dias ele não comeu coisa alguma!
- Não ligue. – murmurou, um sorriso sapeca brincando em seu rosto. – Quero fazer uma surpresinha, e você vai me ajudar.

estava deitado na sua cama, olhando para o teto e tentando descobrir onde estaria. Há 4 dias ela não havia dado notícia alguma, não havia comparecido ao trabalho e não freqüentava os mesmos lugares que costumava freqüentar. Ele estava ficando desesperado, tentando descobrir o que havia acontecido ao amor da sua vida, desde o dia em que tudo havia saído errado não conseguia parar de pensar na e em como ela havia entendido tudo ao contrário.
O suposto melhor dia de suas vidas se tornara o pior.
Revirou-se na cama, ficando de frente para a mesinha de canto e observando mais uma vez a caixinha de veludo preta, entreaberta e com o anel de diamantes à mostra. Lembrou-se do dia em que conheceu , no velório da mãe dela. Ele estava acompanhando um amigo, que era sobrinho da falecida, e ao pôr os olhos em não conseguiu mais desviá-los. Ela estava encantadora, mesmo com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar.
Naquele dia, ele sentiu-se mal por ela ao vê-la sofrer tanto. Ela chorava a cada passo que os tios, sobrinhos e primos davam ao carregar o caixão. Depois de enterrarem, todos os familiares foram embora menos . Ela ficou ali, ao lado da lápide, ajoelhada e chorando muito. Como havia perdido a mãe há pouco tempo também, soube exatamente o que falar para a garota ao se aproximar para consolá-la. A partir desse dia, os dois não se desgrudaram mais.
A , melhor amiga de sua amada, não pôde ir ao enterro por estar viajando à trabalho, por isso não pode acompanhar . sempre agradeceu por isso, uma vez que, com acompanhando sua namorada, ele nunca poderia ter se aproximado.
Levantou-se com frustração, tentando afastar as lembranças dele ao lado de . Todas felizes, as brigas entre os dois eram raras. Mas desta vez estava realmente chateada com ele, e não a culpava. Ele também ficaria chateado se visse a namorada abraçada ao seu melhor amigo. Mas óbvio que ele não permaneceria incomunicável.
Ou talvez sim.
Foi até a cozinha, abrindo a geladeira e encontrando-a vazia. A fome não era tanta, mas sabia que se continuasse sem comer poderia ter gastrite novamente. Lembrou-se da primeira vez que a inflamação no estômago o atacou, de como cuidou dele com todo o carinho e precaução possível: regulava o horário do seu remédio, preparava refeições leves e ficava até tarde em seu apartamento, voltando para o próprio quando não tinha mais condições de ficar ao lado dele.
Pegou um cacho de uvas e levou para sala, onde sentou-se no sofá e começou a comer as frutas roxas. Lembrou-se da vez em que ele e assistiram filme naquele sofá e comeram uvas, divertindo-se ao jogá-las e tentar acertar as bocas um do outro.
sabia que se continuasse a relacionar cada parte da casa a uma lembrança [N/A: SEM MALDADES!], sua tristeza só aumentaria com as milhares de memórias felizes ao lado da linda . Mas mesmo assim não conseguia frear os pensamentos bons ao lado dela. Agora era a única coisa à qual ele podia se apegar.
A campainha tocou de repente.
, não conseguindo imaginar quem estaria na porta a esta hora, olhou pelo olho mágico, encontrando com uma cara de desânimo. Ele suspirou, não conseguindo imaginar o que a garota estaria fazendo ali a essa hora, e abriu a porta, olhando-a calmamente.
- Dude, eu fui na casa da . – Ela pareceu ainda pior aos olhos de , que congelou com a visão. Estava com medo do que ela diria. – E encontrei só um pacote gigante lá, me ajuda a pegar no elevador?
- Isso pode ser chamado de invasão de privacidade, sabia? – Ele murmurou enquanto ia pegar um par de chinelos, calçando-os rapidamente.
- Mas tá dizendo que é pra você. – Ela levantou uma sobrancelha, parecendo interrogar o garoto com seu olhar. Ele apenas deu de ombros e franziu o cenho, parecendo intrigado com o tal pacote. Por que alguém lhe enviaria uma encomenda para o endereço de ?
- Você já abr... – Mas antes que ele pudesse terminar a frase, uma linda garota abriu a porta do elevador e sorriu para ele, olhando-o nos olhos. Ele ficou paralisado por um momento, depois entendeu o que estava acontecendo e sorriu de volta, o casal agora não conseguia mais desprender a conexão de seus olhares.
- Bom, vou embora logo antes que a vela fique pesada demais pras minhas mãozinhas. – falou enquanto entrava no elevador, deixando o casal sozinho.
- Onde você...
- Shh. – estendeu um dedo e colocou-o sobre a boca do namorado, calando-o. – Não nos importemos com o passado, vamos viver o agora, sim?
- O que você quiser. – sorriu ainda mais e abraçou a namorada, finalizando a noite de ambos com um longo e apaixonado beijo. Depois os dois foram para a casa dele e ficaram assistindo filme, abraçados como se nada tivesse acontecido.
- Ah! Tinha me esquecido! – O rapaz soltou a namorada e correu até o quarto, voltando rapidamente com algo atrás de suas costas. – , por favor se levante.
A garota o fez e se ajoelhou, olhando para ela apaixonadamente e mostrando a pequena caixa preta em suas mãos. Ele abriu-a, revelando o lindo anel de noivado e pedindo a menina em casamento. Ela imediatamente disse sim, com lágrimas nos olhos de tanta emoção Os dois se abraçaram, aproveitando mais um momento de felicidade juntos.
Do lado de fora do apartamento, perto da janela, encontrava-se um homem com um par e asas grandes e brilhantes, as penas brancas reluzindo e o vento da noite esvoaçando seu sobretudo preto. Ele ficou observando o casal com um meio sorriso no rosto, até que sentiu uma presença ao seu lado.
- Fez um bom trabalho, . – Ele ouviu o elogio e assentiu.
- Obrigado, . – agradeceu sem virar para a anja atrás de si. – Sua filha é uma ótima garota, minha senhora.
- Ela é. – A mulher sorriu, seus olhos agora lacrimejando de felicidade. Por fim ela suspirou, limpando suas lágrimas, e voltou-se para a lua. – Vamos, temos mais trabalho pela frente.
Os dois começaram a seguir em direção à lua, porém antes de chegarem à Linha De Separação, Adriana voltou rapidamente até o apartamento onde sua filha estava com o noivo. Ela ultrapassou a janela, entrando no cômodo e observando o casal feliz deitado no sofá, abraçado e assistindo algum filme que passava na televisão. A anja foi então para o lado da televisão e desejou aparecer apenas para a filha.
levou um susto ao ver a própria mãe ao lado da televisão com as mesmas asas de nas costas, mas não pulou ou algo parecido. Apenas ficou olhando para a linda mulher que parecia com ela e viu-a sorrir carinhosamente, acenando afirmativamente com a cabeça e desaparecendo logo em seguida. Uma sensação boa invadiu o corpo da garota e, naquele momento, ela soube que tudo o que aconteceu naquele dia foi obra de sua mãe, o que a fez sorrir. notou a mudança repentina em suas feições.
- O que aconteceu? – Ele perguntou, confuso com o riso inesperado da garota. O filme que estavam assistindo era de drama, não havia graça alguma naquelas cenas.
- Um anjo passou por aqui.

Fim



N/A: Sei muito bem que essa fic não foi uma das minhas melhores e foi a mais dramática até agora, mas enfim. Brigadinha por ter lido e gasto seu tempo nessa página!
Thanks to: God, mom, dad, sins, Gaby, Bia². They all know the reasons.

Agora é hora dos links mágicos. Let’s Go?
Twitter
MSN: bia.haack@live.com (adeda à vontade :D)

PS. Leiam também:

1. I Can Only Look At You (JB – Finalizadas)
2. Inseparable - Even If We’re Miles And Miles Apart (JB – Finalizadas)
3. Inseparable 2 - You’re Still Holding All Of My Heart (JB – Finalizadas)
4. O Banco da Pracinha (JB – Finalizadas)
5. Two Is Better Than One (Outros – Finalizadas – Em breve no site)

Não se esqueçam, uma autora feliz é uma autora com críticas! Sejam boas ou ruins! seeya l8r! (L

comments powered by Disqus