Chez Bruce , Wandsworth. London.
26 anos. Aniversário de casamento, três anos.
Horário da reserva: 20:00.
“Madame?” O garçom a olhou com curiosidade antes de perguntar. “A senhora gostaria de alguma coisa?” Observando-a enquanto ela conferia o horário em seu relógio.
“Uma taça de vinho, por favor.” Respondeu sem encarar o homem que estava parado à sua frente.
“E tens alguma preferência?” Ele a ofereceu o cardápio, que foi empurrado enquanto o olhava nos olhos.
“Escolha da casa, por favor.” Disse apoiando novamente a cabeça em sua mão.
Ele assentiu e saiu, levando o cardápio consigo.
Eram 22:15. Fazia duas horas que ela estava o esperando chegar de NY; eles não se viam há um mês. Não que isso fosse, de fato, algo não usual. Ele era um homem muito ocupado.
“Madame.” O garçom disse colocando delicadamente o vinho na taça. “Gostaria de algo para acompanhar?” Ele virou-se para encará-la.
“Não, obrigada” Ela disse com um sorriso educado.
olhou para sua mão esquerda, encarando seu anel de casamento. Ele era lindo, é claro. Foi ela mesma quem escolheu. “Escolha qualquer um de seu agrado.” Fora o que Brandon, seu marido, dissera quando ligou dizendo que não poderiam sair juntos para comprá-lo. Ela ficou um tempo o encarando e tomou um gole do vinho; de muito bom gosto, por sinal.
Fora sempre assim desde que se casaram. Afinal, o presidente de uma das mais influentes revistas de economia dos EUA era muito ocupado, era o que sempre ouvia de sua mãe quando reclamava disso; Deus a tenha. Faz dois anos.
Alguma coisa a interrompeu de seus pensamentos. Alguma coisa, ou alguém.
Um homem de certa estatura, estranhamente bem vestido, apesar de ser de uma forma um tanto quanto irreverente, acabara de entrar falando alto no telefone. Ele parecia agitado. Sem dúvidas uma peça de outro quebra-cabeça, num lugar onde todos são tão silenciosos. Especialmente numa quarta feira. Ele era interessante, de certa forma. Claro, se você fosse uma adolescente e procurasse alguém para se apaixonar.
“Boa noite, senhor , a mesma mesa de sempre?” O garçom sorriu, retirando seu casaco e mostrando cordialidade. Ele devia ser um freqüentador assíduo do lugar.
“Claro, claro, Jeff!” Ele disse com um sorriso largo no rosto. Um rosto um tanto quanto familiar.
Eles foram andando em direção a mesa. Que por coincidência, se encontrava ao lado da minha. Ele sentou e rapidamente o garçom entregou-lhe o cardápio, que ele agradeceu com um sorriso. Era um homem muito bonito.
Eu voltei a me concentrar em meu vinho e meus pensamentos me remeteram ao dia que prometi tomar conta de minha irmã. Como uma mãe, eu disse. E tem sido assim desde então. Assim que meu pai faleceu, há nove anos, minha mãe parou de cuidar da gente. Isso simplesmente virou obrigação minha. Não que eu já não estivesse acostumada, as viagens dela sempre foram freqüentes. E foi por isso que eu me casei aos vinte e três anos, com um homem de trinta e sete, por quem eu não sentia nada.
“, você pode assinar aqui pra mim?” Uma voz de criança desviou meu olhar para encarar uma menina, de uns 7 anos, sorrindo com um papel, possivelmente um guardanapo, estendido em direção ao homem ao meu lado. , ela disse. . Eu sabia que já havia ouvido aquele nome, não sabia de onde.
“Claro! Qual o seu nome?” Ele disse com um sorriso simpático no rosto, enquanto interrompia seu jantar. Que parecia muito apetitoso, por sinal.
“Jessie.” Sorriu abertamente. Que criança adorável, parecia um anjo com seus cachos loiros caindo sobre sua jaqueta. Lembrou-me de , quando era mais nova. Se eles fossem negros, é claro.
“Para Jessie, uma menina muito linda, de ” Ele leu, enquanto dava à menina o autógrafo.
“Obrigada.” Ela disse sorrindo enquanto corria para a mesa da mãe e cochichava alguma coisa em seu ouvido. A mãe fez que sim com a cabeça e a menina voltou para a mesa que ele jantava. “Você pode dizer ao resto do McFly que vocês são a melhor banda do mundo e falar que a Jessie pediu para avisar?” Ela tinha seus olhos brilhando, como se toda a sua vida dependesse de sua resposta. Eu conhecia aquele olhar. E eu sabia quem era ele; era viciada em McFly.
“É claro que sim. Eu aviso que ela era uma das nossas fãs mais lindas.” Ele disse sorrindo, enquanto retribuía o abraço da menina. Adorável, preciso admitir. Ela voltou correndo para a mãe que acenou com um sorriso de agradecimento à e voltou-se a mesa.
Tomei mais um gole de vinho e decidi que era hora de fazer o pedido. Acenei com a cabeça e chamei o garçom que ofereceu o cardápio. Mais uma vez eu o neguei e pedi confiante.
“Eu vou querer o que aquela mesa pediu.” Eu disse demonstrando com a cabeça há que mesa eu estava me referindo.
“Excelente pedido, madame.” Ele se retirou com um sorriso.
Fiquei um tempo encarado a taça e passando o dedo pelo cristal perfeito da borda, até que senti meu celular vibrar.
Era uma mensagem. Uma mensagem de Brandon.
“Querida, desculpe por não chegar a tempo. Eu precisei passar na empresa, um problema de última hora. Mas você será recompensada, com amor.. Brandon.”
Enquanto esperava, eu olhei para o saguão e vi um movimento estranho na porta. Algo não tão comum para esse tipo de restaurante. Foi então que eu vi um lindo bouquet de flores , acompanhado com uma caixinha de presente prateada .
O garçom assentiu para seu superior e entrou, indo em direção da mesa que iria recebê-los. A minha.
“Entrega para a senhora”. Ele disse me entregando a caixa, atraindo olhares de todos do recinto.
“Você pode deixar as flores na mesa.” Eu disse sorrindo, um pouco, em agradecimento.
“I’m sorry.” Era o que dizia no cartão.
Eu deveria saber que seria dele. Eu abri a caixinha, desfazendo seus laços lentamente e me deparei com um colar de diamantes .
Muito bonito. Mas infelizmente, nada que pudesse me comprar. Eu o olhei e delicadamente coloquei os presentes ao lado da mesa, sentindo olhares ainda pousando sobre mim. Eu ainda observava as flores, quando uma voz me chamou a atenção.
“Tem certeza que era só isso?” Ele disse com um sorriso enorme nos lábios para o garçom que havia chamado de Jeff. Ele desceu até perto de seu ouvido e sussurrou alguma coisa que não fui capaz de escutar, logo antes de sorrir também. sorriu e falou mais alguma coisa baixa demais para que eu escutasse. Foi então que ele olhou para mim e percebeu que eu estava olhando. Eu devo ter ruborizado na hora, mas não fui capaz de desviar o olhar.
Seu olhar era tão profundo que, por um momento, eu esqueci da discrição que minha mãe sempre nos ensinou a ter. Nós ficamos assim por algumas frações de minuto. Logo antes de eu perceber o começo de um sorriso brotando em seu rosto. Eu voltei a encarar o nada e avistei o garçom chegando com meu prato. Ele o colocou em minha frente e eu só assenti com um sorriso, esquecendo-me de agradecê-lo e ainda sentindo o olhar estranhamente perturbador sobre mim. Corei novamente com essa possibilidade. Peguei delicadamente o garfo e comecei a provar a comida. Sem coragem de voltar o olhar para aquela mesa novamente. Ela estava realmente deliciosa. Com a fome que eu estava, me esqueci – ou quase - rapidamente do que antes me incomodava e me concentrei no jantar. Estava quase terminando, quando uma voz me assustou.
“Olá!” E eu derramei o vinho em meu colo. “Oh, me desculpe! Eu não pretendia te assustar. Ai, droga! Jeff!” Ele disse com um braço levantado, pedindo atenção. Ele tentou me ajudar se aproximando com um guardanapo, como se fosse limpar meu colo, o que me fez duvidar de sua sanidade por um momento.
“Não, tudo bem. Eu limpo isso, obrigada.” Eu disse tentando sorrir e tirando, delicadamente, o guardanapo de sua mão.
“Claro.” Ele disse enquanto se afastava, ainda com um sorriso no rosto.
O garçom chegou para ajudar, mas não havia muito que ele pudesse fazer. Eu já estava com o vestido manchado e o meu jantar já havia sido arruinado.
“Eu não acredito que fiz isso.” passava a mão pela cabeça, como se não acreditasse. “Eu insisto em pagar.” Ele disse com culpa nos olhos.
“Não se preocupe com isso.” Sorri fraco tentando ser cordial.
“Não, por favor, eu insisto.” Ele falou olhando serenamente para mim.
Eu parei por um instante, para olhar pra ele, e duvidei da minha sanidade. Eu não acreditei no que estava prestes a dizer.
“Você pode me acompanhar em outra taça de vinho então.” Eu o analisei, me olhando com curiosidade e depois olhando para as flores e para a caixa ao meu lado. Eu abri um sorriso e continuei. “E levando essas coisas para a sua namorada.”
“Eu posso te acompanhar na taça de vinho.” Ele disse com um sorriso enorme no rosto. “Mas receio que não poderia fazer nada sobre as flores.” Ele terminou com uma expressão engraçada.
“Por favor, o sonho das adolescentes não sabe o que fazer com um bouquet de flores e um colar de diamantes?” Eu disse arqueando a sobrancelha. “Isso é um pouco decepcionante.” Concluiu tomando mais um gole do vinho.
“Então você sabe quem eu sou?” Ele disse com um misto de curiosidade e felicidade.
“Tenho uma idéia.” Eu disse sorrindo. E ele fez o mesmo.
“Não, é sério. Eu tenho uma irmã de 17 anos.” Concluí.
“E ela gosta da minha banda?” Ele perguntou curioso.
“Você conhece alguma menina de 17 que não?” Sorri e dei mais um gole do vinho. Ele fez o mesmo, já que agora o garçom o havia servido e comentou.
“Eu estava me perguntando” Ele passou o olhar pelos presentes. “O que ele pode ter feito, para que negasse seus presentes assim.” Ele disse voltando o olhar para mim.
“Qualquer coisa que faça a explicação um desperdício do meu tempo”
Ela deu mais um gole e um sorriso. “Ou do seu.”
Ele fez o mesmo e acrescentou mais alguma coisa. Logo depois, já estavam conversando como amigos de longa data. Seus interesses eram basicamente os mesmos; suas vidas, completamente diferentes.
“Eu não acredito que você ganha dinheiro sendo adorado.” Ela disse, sorrindo divertida. “O quão agradável isso pode ser?” Retrucou enquanto virava o olhar para o teto, como se perguntasse a alguém.
“Você não ia acreditar se eu dissesse que nem tudo é legal.” Ele respondeu sorrindo para ela, que simplesmente negou com a cabeça, também sorridente. “Mas nossas vidas são difíceis! Precisamos gravar, fazer shows, dar entrevistas sobre coisas que nem se quer sabemos que existem!” Acabou, percebendo a expressão debochada que ela fazia. “Não dá para conversar se você não acredita em mim!” Tomando mais um gole de seu vinho.
“Oh, no. Desculpe-me, mas é... Bem, é difícil acreditar que você esteja realmente reclamando!” Riu de modo desconcertado. Como não fazia há bastante tempo.
“Eu não estou reclamando! Gosh, o meu trabalho é o melhor do mundo!” Ele sorriu concordando. “Mas ainda é trabalho.” E finalmente concluiu.
“E você só faz isso pelo dinheiro?” Ela perguntou provocativa.
“Eu provavelmente faria tudo que eu faço de graça” Ele sorriu “Mas sem dúvida o dinheiro torna tudo mais divertido!”
Ela parou, como se refletisse por um momento.
“O que houve?” perguntou preocupado. “Foi algo que eu disse?” Ele a olhou pousando seus profundos olhos nos dela. Que, por um momento, estremeceu.
Eu olhei para a entrada do restaurante, onde o último casal vestia seus casacos. Já fazia algumas horas que estávamos ali e já passava da hora de ir para casa.
“Acho melhor irmos” Eu falei voltando a sorrir para ele.
“Ih, é verdade. Já são quase duas horas.” Respondeu voltando-se para seu relógio. “Não sei como não fomos expulsos ainda!” Ele disse rindo e olhando para o garçom que era seu amigo, o qual lhe lançava um olhar fuzilante.
“Bem, podemos começar pedindo a conta.” Eu disse sorrindo e levantando a mão para o garçom que já estava inquieto.
“Fala aí, Jeff, pede a conta pra mim, por favor?” disse antes que eu pudesse dizer uma palavra.
Ele me olhou sorrindo. Nós ficamos nos olhando durante aquela fração de tempo entre a eternidade e o constrangedor.
“Você não vai pagar.” Eu disse tentando parecer séria.
“Eu sou o homem da mesa” Ele levantou uma das sobrancelhas, logo antes de desviar seu olhar novamente aos presentes. “Sendo assim, eu pago a conta.” E terminou com um sorriso pequeno nos lábios.
“Isso soa bastante machista, não acha?” Eu perguntei provocativa, levantando também, uma de minhas sobrancelhas.
“Não. Isso é educado.” Ele sorriu novamente. “Uma coisa que minha mãe me ensinou; nunca deixe uma dama esperando e muito menos deixe que ela pague a conta.” Ele riu de como isso soava engraçando vindo dele.
E eu também.
“Aqui, ” O garçom, que confesso nem ter percebido chegar, colocou a conta na frente dele.
“Hei, , Jeff; . Estou tentando parecer sério aqui” Ele disse sorrindo para o amigo que olhou para mim e sorriu. , ou , colocou o cartão, sem conferir a conta e deu uma piscadinha para o amigo que se retirava da mesa.
“Você disse que sua ir-“ Ele foi interrompido por seu telefone que acabara de tocar. “Desculpe. Eu tenho que atender isso.. é a minha” Ele hesitou em falar, então eu completei o que ele queria dizer.
“Sua namorada.” Eu sorri gentilmente assentindo para ele continuar “Anda. O que está esperando? Atenda!” Eu disse ainda sorrindo enquanto ele me lançava um olhar abatido.
Ele levantou-se, tomou o último gole de vinho da taça e foi em direção ao banheiro. A única coisa que eu ouvi foi o “Oi, ” e então o restaurante ficou em silêncio.
Eu tomei o que restou em minha taça de uma vez, sentindo a cabeça pesar sobre minhas mãos, onde eu acabara de recostá-las. O que eu estava pensando? Eu era casada. Não podia me permitir ficar de papinho com um ídolo adolescente enquanto meu marido me aguardava em casa.
Mesmo que ele não estivesse realmente me aguardando em casa. Em quê eu estava pensando? Não é certo tomar vinho a sós com um homem, quando se é casada. Onde está minha integridade? Os meus princípios? Onde foi parar toda aquela conversa que você ouviu durante oito anos de sua vida de que você não era uma adolescente? E de que você precisava se portar como tal. Porque está agindo como se tivesse dezessete anos novamente?
“Pronto” disse interrompendo meus pensamentos. “Podemos ir, agora?” Ele disse com um enorme sorriso no rosto e estendendo a mão para mim onde, por algum motivo que não sou capaz de definir, eu coloquei a minha. Ele tinha as mãos um pouco ásperas, devido aos anos tocando guitarra, eu suponho. Mas ainda assim, muito delicadas. Suaves.
O primeiro contato de nossos corpos fez com que eu me arrepiasse. Definitivamente, eu havia perdido a minha sanidade.
Fomos andando até o saguão de entrada do restaurante e nenhum dos dois foi capaz de soltar as mãos, que só aconteceu quando tivemos que vestir nossos casacos.
“Obrigado, gente. E desculpa pela hora” lançou um sorriso sem graça aos funcionários, que claramente já o conheciam.
“Boa noite, Senhorita” A moça sorriu abrindo a porta para sairmos. Senhora, eu pensei.
Nós saímos e deparamos com o céu caindo sobre nossos pés. Havia ficado tanto tempo lá dentro que já me esquecera de como o tempo estava ruim em Londres, há, pelo menos, uma semana.
“Senhora! Você esqueceu as suas coisas.” O garçom, amigo de , falou antes que pudéssemos dizer alguma coisa. Ele olhou para mim, estendendo as flores e a caixa prateada.
Eu olhei para , que estava me encarando com uma expressão de curiosidade, como se esperasse alguma reação. Eu sorri para ele.
“O que acha de fazer uma surpresa para a sua esposa, Jeff?” Eu disse conferindo o anel do lado direito, que ele carregava em seu dedo.
“Mas, madame!” Foi só o que ele conseguiu dizer, com cara de espanto.
“Você a ouviu, Jeff. A patroa hoje vai ter uma surpresinha.” sorriu e deu tapinhas nas costas do amigo.
“Eu não posso aceitar, senhor.” Ele disse encarando com perplexidade. “Isso é um colar de dia-” Ele gaguejou e eu o ajudei.
“Sim, é um colar de diamantes. E ele é todinho da sua esposa.” Eu disse sorrindo.
“A não ser que queira dar para mais alguém” acrescentou se divertindo com a idéia, que fora reprovada por mim. “Que foi? Ele pode querer dar para mãe, oras!” Sorriu tentando se desculpar.
“Isso é muita gentileza da Senhora. Eu nunca vou ter como pagá-la.” Ele lançou um olhar, como se pedisse perdão. Antes que eu pudesse responder, um vento frio veio até nós e fez com que cada parte do meu corpo se arrepiasse. , percebendo o meu desconforto, chegou mais perto e passou suas mãos em meus braços, como se quisesse me aquecer. Eu sorri em agradecimento a ele. E me voltei para Jeff.
“Você pode começar me chamando de ” Eu sorri para ele e depois encontrei o olhar de , me olhando serenamente. Eu ainda não havia me apresentado.
“Muito obrigado, senho-.” Ele riu e tentou se consertar. “Muito obrigado, . Serei eternamente grato pela sua generosidade.” Isso não foi exatamente generosidade.
“Que isso. Não foi nada!” Eu disse, forçando um sorriso.
Ele agradeceu novamente e se virou para dentro do restaurante, onde eu pude ouvi-lo comentar com os colegas. E também.
“Foi muito legal da sua parte.” Ele disse sorrindo enquanto encontrava problemas para fechar seu casaco.
“Precisa de ajuda?” Eu disse tirando a mão dele e puxando o fecho que havia ficado preso, encontrando também certas dificuldades. Ele sorriu e comentou.
“Viu? Eu não sou tão idiota assim a ponto de não conseguir fechar um casaco!” Ele disse divertido olhando para mim. Eu levantei meus olhos para encará-lo e ele me olhava sério. Com a expressão mais doce que eu já havia visto. Por um segundo, eu senti que poderia facilmente me perder naquele olhar.
Então a chuva parou de repente. E nós nos desviamos para encarar a rua, nos assustando com o barulho; ou a ausência dele.
“Bom, agora nós podemos andar.” Ele disse sorrindo, enquanto segurava a minha mão.
Eu fiquei um tempo o encarando, maravilhada.
“Nós vamos caminhar às duas horas da manhã? Em Londres? Really?” Eu o olhei com um sorriso de canto de boca.
“Nós vamos.” Ele me puxou e começou a caminhar lentamente pelas ruas desertas, de uma Londres adormecida. Ou quase.
“Não acredito que ainda tem fila para entrar em locais como esse, não a essa hora!” Eu disse enquanto passávamos pelo The Royal Oak .
“Você precisa sair mais!” disse rindo enquanto desviávamos das pessoas. “Esses lugares só começam a ficar cheios por essa hora.” Enquanto conferia o relógio.
“É. Então talvez seja eu. Estou velha demais para acompanhar a noite londrina.” Eu disse enquanto olhava para as pessoas que aguardavam na fila. Quando olhei para ele estava rindo. “Do que está rindo?”
“De você. Falando que é velha demais.” Ele disse se divertindo com a minha cara de desaprovação.
“E eu sou!” Eu disse convicta do que tinham me ensinado.
“Quantos anos você tem?” Ele perguntou arqueando a sobrancelha.
“Você não deveria perguntar isso a uma dama!” Percebi ele hesitar por um instante, enquanto pensava no que responder e me adiantei. “Eu tenho 26 anos, .”
Ele me olhou com um ar de confusão, não sei se por revelar minha idade, ou por chamá-lo de .
“Você só é três anos mais velha do que eu.” Ele parou por um momento.
“E pode me chamar de , por favor... ?” Ele disse sorrindo docentemente quando pronunciou meu nome.
“Mas aparento ser muito mais, .” Eu disse finalmente. Ele ficou calado durante um tempo e quando eu subi meu olhar, ele estava olhando para mim.
“Eu não tenho o que dizer.” Ele disse sem graça, abaixando a cabeça.
“Está tentando se desculpar por isso?” Eu disse sem acreditar em quão puro ele parecia ao encarar isso como uma verdade. Ele sorriu, assim como eu.
“Eu me sinto uma criança conversando contigo.” Ele disse enquanto ainda encarava o chão. “Você é sempre tão cordial e madura” Ele disse levantando os ombros e me encarando.
“Eu acho que é porque foi assim que eu aprendi.” Eu hesitei por um momento, em dizer algo tão pessoal para alguém que acabara de conhecer. Seu olhar me convenceu. “Digamos que minha mãe me obrigou a me portar como uma adulta desde bem cedo. É meio que uma coisa de família. Sempre fomos muito tradicionais.” Eu sorri, imaginando se ele teria entendido o que quis dizer.
“Acho que você será a única mãe que responderá a verdade para os filhos quando eles perguntarem se você nunca fez nada estúpido.” Ele falou com um sorriso, acredito que mais para ele, do que para mim. Eu só levantei os ombros e sorri, em resposta.
“Você nunca sentiu vontade?” Ele perguntou mordendo os lábios, com curiosidade. O que fez meu estômago revirar.
“Eu...” Eu parei por um instante, analisando a pergunta. “Acho que nunca me permiti pensar muito nisso. Ou os outros.” Eu forcei um sorriso, que não saiu exatamente como eu pretendia.
“Você não se arrepende de não ter vivido?” Ele perguntou ainda em tom casual. O que me fez imaginar o porquê isso era tão importante. O que saber sobre a minha miserável vida, mudaria para ele.
“Eu vivi. Só não do modo como gostaria.” O tom de voz que usei, terminou o assunto.
Andamos durante certo tempo calados, apenas apreciando a vista. O vento estava cada vez mais frio e eu podia ouvir os gemidos dele, também sentindo na pele o sopro congelante.
“Está ficando frio” Eu disse assoprando o ar em minhas mãos e as esfregando. Ele fez sinal de que ia tirar seu casaco e eu o interrompi. “O que pensa que está fazendo?” Falei levantando a sobrancelha e segurando sua mão.
“Eu vou te dar meu casaco.” Ele disse como se fosse óbvio.
“Estás ficando louco? Eu não quero o seu casaco.” Eu disse isso exatamente na hora que uma rajada de vento nos acertou, deixando cada parte do meu corpo paralisada. Ainda que o frio tivesse se tornado quase insuportável durante aquele momento, eu desejei que ele acontecesse novamente. Ao mesmo tempo em que o frio congelou meu corpo, o cheiro de seu perfume me invadiu. Um cheiro que eu já havia sentido antes, dentro do restaurante e fora dele, mas que parecia ter se intensificado enquanto andávamos. Um cheiro tão agradável como o perfume de minhas flores favoritas. Como o cheiro do café que acabou de ficar pronto, ou como o cheiro do chocolate no fogo. Seja qual for o meu aroma favorito, esse era melhor. Muito melhor.
“E por que não?” Ele disse assustado e cheirando o casaco, provavelmente conferindo se ele cheirava mal.
“Não é que eu não o quero, . ” Eu me consertei assim que ele lançou um olhar de desaprovação. “ Eu só não vou obriga-lo a passar frio por minha culpa.” Eu disse e sua cara de alívio, me fez sorrir involuntariamente.
“Mas não é justo você passar frio.” Ele fez uma expressão inocente. Quase infantil. “A luva?” Ele perguntou sorrindo e desfazendo o sorriso quando eu neguei com a cabeça. “Posso, pelo menos?” Ele estendeu a mão, para que eu a pegasse. De todas as possibilidades que eu poderia escolher, foi justamente a pior que eu optei. Ele pareceu satisfeito enquanto eu senti sua mão quente e aconchegante segurar firmemente a minha.
Why can’t I? (n/a: coloca para tocar)
Nós continuamos andando sem rumo pela cidade. Eram quatro horas da manhã. Por mais que aquele momento parecesse com a eternidade, era como se o mundo inteiro estivesse esperando por nós. Respeitando o nosso momento.
Get a load of me, get a load of you
Pegue um pouco de mim e um pouco de você Walkin' down the street, and I hardly know you
Caminhando na rua, e eu mal te conheço It's just like we were meant to be
É como se fosse nosso destino
Holding hands with you, and we're out at night
De mãos dadas com você, e saindo à noite Got a girlfriend, you say it isn't right
Você tem namorada, diz que isso não é certo And I've got someone waiting too
E eu tenho alguém me esperando também
Well, this is just the beginning
Bem, isso é simplesmente o começo We're already wet, and we're gonna go swimming
Nós já estamos molhados, e agora vamos nadar
“Obrigada” Eu disse sem coragem de encará-lo. Ele apenas esperou.
“De nada” Eu ainda não conseguia olhar para ele. Ou respirar. “Foi bom...estar com você. E errado.” Ele disse segurando meu rosto, para encarar seus olhos, e por um momento, eu senti tudo que eu sempre quis sentir.
“Foi” Tudo que eu consegui dizer e a chuva começou a cair. Ainda tínhamos um período até chegarmos a minha casa e já estávamos completamente encharcados. Ele apertou minha mão com um sorriso enorme nos lábios e começou a correr. De pouco adiantaram os meus pedidos de espera; ele parecia se divertir ainda mais com eles.
“É esse!” Eu disse enquanto fazia-o parar em frente ao meu apartamento.
Ele deu um sorriso e parou olhando para mim. Ele estava todo molhado e sua blusa branca estava colada no corpo. Estava tremendo, mas por algum motivo eu não sentia frio.
Isn't this the best part of breakin' up
Não é essa a melhor parte de terminar Finding someone else you can't get enough of
Achar outra pessoa que você não enjôe Someone who wants to be with you too
Alguém que quer estar com você também
“Obrigado por essa noite.” Ele disse jogando seu cabelo molhado para longe de seus olhos, onde eu pude encontrar o que tanto procurava. “Eu não vou esquecer” Ele disse com um sorriso grande em seus lábios se afastando de mim.
But wouldn't it be beautiful
Mas não seria lindo
Here we go, we're at the beginning
Aqui vamos nós, estamos no começo We haven't fucked yet, but my head's spinning
Nós não transamos ainda, mas minha cabeça está girando
Eu fiquei vendo o se afastar, incapaz de impedi-lo. Incapaz de me mover. Fiquei parada na chuva, que parecia só aumentar, por um momento que deixava a eternidade curta. Eu finalmente dei por mim, e virei indo em direção ao prédio; quando eu ouvi a única coisa que realmente quis, em toda a minha vida.
“Quer saber?” Ele me puxou e colocou as mãos no meu rosto, fazendo cada parte do meu corpo reagir a proximidade que nos encontrávamos.
“Que se foda!” Então ele colocou sua boca desesperadamente na minha. Era tarde demais para desejar que aquilo não acontecesse.
It's inevitable, it's a fact that we're gonna get down to it
É inevitável, é um fato que ainda estamos resolvendo So tell me
Então me diz Why can't I breathe whenever I think about you
Por que eu não consigo respirar quando penso em você?
I'd love for you to make me wonder
Eu amaria se você me fizesse desejar saber Where it's goin'
Aonde isto está indo I'd love for you to pull me under
Eu amaria que você me fizesse voltar a realidade Somethin's growin'
Alguma coisa está crescendo I'd, for this that we can control
Eu iria, para isso que não podemos controlar Baby I am dyin'
Querido, eu estou morrendo
Em menos de cinco minutos estávamos em meu apartamento. A cada toque ou beijo, sentia meu corpo inteiro estremecer. Era tão errado; e mesmo assim era a única certeza que eu podia encontrar. Eu pertencia a ele e ele, a mim. Era tão forte que eu mal podia controlar. Eu fiz amor, pela primeira vez em minha vida.
Why can't I breathe whenever I think about you
Por que eu não consigo respirar quando penso em você Why can't I speak whenever I talk about you
Por que eu não consigo falar toda vez que falo sobre você It's inevitable, it's a fact that we're gonna get down to it
É inevitável, é um fato que ainda estamos resolvendo So tell me
Então me diz Why can't I breathe whenever I think about you
Por que eu não consigo respirar quando penso em você
Eu o olhava, tentando guardar na memória a expressão do seu rosto. Seus olhos me encaravam e eu não era mais capaz de evitar e emoção que eles me causavam. Ele era tudo que eu sempre quis. Era tudo que eu não pude ter.
Whenever I think about you
Toda vez que eu penso em você
Ele beijou minha testa, sorriu e deitou ao meu lado, me abraçando.
“Eu não quero que acabe.” Ele sussurrou em meu ouvindo.
“Eu também não.” Foi o que consegui dizer.
Depois da melhor noite de minha vida, eu adormeci; nos braços dele. Meu . Pelo menos, por uma noite.
Acordei com cheiro de margaridas e café. Margaridas e café? Eu abri os olhos e vi uma mesinha onde um café da manhã estava posto. Um Hot Brewed Coffee , alguns pãezinhos, mel, geléia de morango, manteiga,algumas torradas e um lindo vaso pequeno de margaridas. Minhas flores favoritas. Tinha um bilhete também. “Espere por mim” Eu sorri quando li o quão ambíguo aquilo soava e comecei a tomar o café. Acabei e fui tomar banho, respondendo o bilhete, caso ele voltasse antes.
“Eu vou”
Liguei e deixei a água quente cair sobre o meu corpo, o que me fez acordar. O que eu fiz fora errado. Eu não podia me deixar influenciar por qualquer possível, e claro, sentimento. Eu precisava dizer aquilo a . Precisávamos nos afastar, ainda que só a idéia me fizesse agonizar. Saí do banho e me enrolei na toalha, esquecendo que não havia trazido a roupa. Passei o pente uma vez pelo cabelo e abri a porta, dando de frente para , que me olhou intrigado, retirando a mesinha de minha cama. Eu não soube o que dizer.
“Bom dia.” Ele me olhou com um sorriso extremamente sem graça, provavelmente devido às minhas vestimentas.
“Bom dia.” Eu devolvi com um sorriso fraco. “E obrigada pelo café. Como conseguiu?” Eu perguntei com curiosidade, ainda com um sorriso fraco em meu rosto.
“Eu peguei a sua chave... se não se importa. Ela estava em cima da mesa.” Ele disse com um misto de medo e confusão. Foi a primeira vez que nossos olhos se encontraram. E isso fez meu corpo inteiro estremecer, novamente.
“É claro que não.” Eu respirei fundo e ele percebeu a mudança da minha expressão. “Acho que precisamos conversar.” Eu disse finalmente. Ele assentiu e sentou-se na cama, batendo uma das mãos ao lado, para que eu me juntasse a ele.
Ele me olhou sorrindo, e por um momento, eu desisti de fazer o que estava prestes a fazer.
“Eu já sei o que vai dizer.” Ele disse me roubando de meus pensamentos.
“Vai dizer que não deveríamos ter feito isso. E que é errado, que nós dois temos pessoas que se importam conosco.” Ele olhou para mim com um olhar vazio. “Mas eu não me arrependo.” E, mais uma vez, a única coisa que eu quis foi desistir de tudo e ficar com ele. Mas não ter algo que eu queria, era além de um costume, uma obrigação. Mesmo que nenhuma das vontades tenha sido tão absurda.
“Eu não me arrependo.” Eu disse segurando sua cabeça e tocando seus lábios nos meus. Não fui capaz de controlar a lágrima que se formou em meus olhos, mesmo fechados. “Mas eu não posso.” Perdi completamente o ar de meus pulmões e engasguei na última palavra. “Eu simplesmente não posso.” Percebendo que eu não diria mais nada, ele abriu seus olhos e passou a mão em meu rosto. Olhando-me uma última vez e secando as lágrimas que agora escorriam sem controle.
“Se essa é a última vez que eu te vejo, não quero que seja assim.” Ele tomou o meu rosto e beijou minha testa, com um sorriso fraco nos lábios. “Você vai se lembrar de mim sorrindo. E é assim que eu quero me lembrar de você.” disse realmente me fazendo sorrir, por tamanha a pureza de seus atos e eu pensei estar encarando a melhor pessoa do mundo. Ele selou nossos lábios com um beijo e andou em direção a porta. Ele colocou a mão na maçaneta e virou-se para mim e eu pude ver em seu rosto, que não era sorrindo como eu o veria pela última vez. Seu olhar era vazio agora, embalado somente por uma leve inclinação no canto da boca.
Ele estava chorando; por dentro. Mas chorava tanto quanto eu. Eu parei de respirar, enquanto o via saindo pela porta.
On my Own (n/a: coloca para tocar)
Senti meu corpo seguir em direção ao espaço, que antes, estava ocupado por ele. Ainda dava para sentir seu perfume, que se entranhou em meus pulmões deixando um gemido escapar por minha boca.
See all those people on the ground
Wasting time
Try to hold it all inside
For just one night
Top of the world
I'm sitting here wishing
The things I've become
That something is missing
Maybe I...
But what do I know
Eu apoiei minha mão na porta, tentando sentir sua presença de alguma forma. Desesperadamente.
On my own
On my own
Now it seems that I have found
Nothing at all
Wanna hear your voice out loud
Slow it down slow it down
Without it all
I'm choking on nothing
It's clear in my head
I'm screaming for something
Knowing nothing is better than knowing at all
Eu me virei, para encarar a cama, que até pouco era o lugar onde estávamos nos amando.
Escorreguei até o chão, me escorando na porta. Coloquei minhas mãos sobre o rosto. Eu nunca havia me sentido daquela forma. E como em todas as vezes que eu desejei alguma coisa... eu chorei.
On my own
I'm on my own
I'm on my own
Top of the world
Sitting here wishing
The things I've become
Something is missing
Knowing nothing is better than knowing it all
On my own
On my own
Eu estava completamente sozinha novamente. Do mesmo modo que na noite anterior; só que, dessa vez, a dor era minha aliada.
“Estou chegando em casa, meu amor.” A mensagem estava no meu celular desde sete horas da manhã. Ele chegaria a qualquer momento.
Duas semanas se passaram. Brandon já havia viajado mais uma vez a negócios e havia prometido levar , sua irmã, para compras de aniversário. Ela estava completando seus dezoito anos de vida.
“Você não vai querer sorvete?” perguntou e se assustou por não encontrar sua ao seu lado. Ela estava olhando uma banca. Andou até ela. “Quer alguma coisa?” Ela disse passando o olho pelas revistas, que não pareciam muito interessantes para ela.
“Eu quero essa aqui.” sorriu para irmã e completou. “Está falando de McFly.” Ela abriu mais ainda o sorriso ao pronunciar a última palavra. tremeu.
“E quanto custa?” Ela perguntou ao dono da banca, sem ter coragem de olhar para a revista.
“São 4 libras, senhora.” Ele respondeu e ela rapidamente lhe entregou o dinheiro. “Pode ficar com o troco” Ela sorriu gentilmente, saindo da banca.
Elas passaram o dia inteiro fazendo compras. Ao final da tarde, resolveram lanchar no mesmo shopping que se encontravam.
“O que vai querer comer?” perguntou ainda olhando o Menu.
“Shiiiu” Ela recebeu de , que estava com o telefone celular no ouvido.
“Desculpa” Ela sussurrou enquanto andava em direção as mesas. Ela sabia que a ligação iria demorar.
“Amiga, você não sabe o que eu acabei de ler!” Ela disse empolgada, fazendo revirar os olhos e sorrir, levando um olhar de reprovação de sua irmã. “O está solteiro de novo!”
Minha irmã disse ao telefone e eu senti meu coração parar por um momento.
“Aham, pera aí que eu vou ler para você.” Ela se aproximou da revista e começou a ler. “Nós entrevistamos o McFly, e, sim, meninas, está solteiro novamente! Quando perguntamos o porquê dele ter terminado a única resposta que tivemos foi um sorrisinho fraco. Achamos melhor mudar de assunto, afinal, ele parece ser muito sensível. Aww, não é lindo?” comentou mais alguma coisa que eu não fui capaz de ouvir com quem quer que estivesse falando.
Então havia terminado o namoro. Por um segundo, o meu mundo tinha parado. E no outro, ele era exatamente como sempre foi.