A pequena e grande tinha lágrimas nos olhos, sabia o que viria com aquela carta, sabia que era o adeus eminente. Eles não estavam bem por seus próprios erros e agora teriam que aguentar firme. Colocou a xícara de café, ainda quente, sobre a mesa e abriu o papel cuidadosamente fechado.
“Pequena,
Tudo que eu queria, nesse exato momento, era estar aí com você, mas, infelizmente, essa maldita distância não permite. Ainda não acredito que te perdi para o Brasil, malditos vistos que ninguém consegue. [...]
A menina deixou escapar um sorriso fraco, imaginava detalhadamente as reações de enquanto escrevia aquilo.
[...] Sabe, eu preferi escrever, primeiro porque sei que você adora esse tipo de coisa e segundo, porque o telefone ultimamente nos tem causado muito sofrimento. Não tenho a intenção de te fazer chorar, queria só lembrar dos bons momentos, de quando não havia erros, de quando éramos felizes. [...]
- Eu ainda sou feliz... – murmurou, em meio às lágrimas. – Com você, eu vou sempre ser feliz.
[...] Não quero te culpar, não quero me culpar, só quero esclarecer o que nunca me deixaram mostrar, o que eu mesmo nunca me permiti mostrar.
Lembra quando estávamos na sétima série e aquela sua amiga fresca fingiu gostar de mim, só porque sabia que você nunca ficaria com alguém que ela gostasse? Eu nunca pude dizer... E quando, no ensino médio, fizeram-me dizer coisas horríveis para te ferir? Eu não me expliquei... No segundo ano você estava na minha sala, lembra disso? [...]
- Eu nunca esqueceria - mais algumas lágrimas.
[...] Era a oportunidade perfeita, eu iria, de qualquer maneira, te reconquistar, nem que fosse a última coisa que eu fizesse. E lá estava eu, tentando de todo jeito mostrar o que eu nunca soube dizer, olhando para os seus olhos. Continuaram, por alguma obra estúpida do destino, tentando nos separar, com coisas fúteis ou sérias, mas eles sempre estavam lá, causando algum problema. [...]
- Amiga, eu estou aqui por você, ok? Não esquece. – Anne se aproximou da amiga ao perceber a situação emocional da mesma. apenas assentiu, enquanto limpava o rosto como podia.
[...] Era o terceiro ano, eu sabia da mudança dos meus pais, mas não tinha certeza de como seria e, por isso, não quis te contar. Com o último ano, veio a última chance de te conquistar, de te provar que o que eu sentia era real. Eu pensei em mandar bilhetes anônimos, mas achei um pouco bobo e infantil; pensei em flores, mas confesso que senti vergonha e, por fim, decidi falar o que eu sentia. [...]
Agora, mais uma vez, o sorriso fraco, comparando-se às lágrimas, estava no rosto da garota. Ela lembrava daquele dia com exatidão.
- Era inverno...
[...] no mês de julho, para ser mais exato. [...]
- Eu vestia um casaco rosa, e ele...
[...] uma jaqueta de couro preta. A chuva que caía beirava um temporal, de tão forte. [...]
- Mas, ainda assim, não nos importava. O que importava naquele momento...
[...] é que tínhamos um ao outro, sem ninguém para interromper ou atrapalhar, éramos só nós. Eu me declarei, disse tudo que estava preso há anos, tudo que já tinha ensaiado e o que me veio à cabeça na hora. Mas eu não disse a única coisa que eu aprendi a ignorar e que quando me acertou em cheio, eu tive medo... As únicas três palavras que eu sei que você queria ouvir.
Ainda assim, lá estava você com essa compreensão imensa, me aceitando do jeito que eu era, com meus erros e falhas, com meus problemas... Nós soubemos aproveitar do nosso jeito único, como tudo na nossa vida é... Único. [...]
sentiu a mão da amiga tocar-lhe o ombro, e fazer ali uma massagem fraca. Não podia dizer que tinha se acalmado, mas com certeza, sentiu-se querida e mais leve para continuar a ler.
[...] E então eu me mudei, tudo tinha dado certo, passaporte, visto, tudo. Nem eu sonhava que seria assim, foi estranhamente rápido demais. Eu não sei como você conseguia ser tão paciente, mas você foi e, mais uma vez, aceitou a loucura de namorar à distância, mesmo que essa distância fosse [...]
- Um oceano.
[...]Você poderia ser feliz sem mim, seguir sua vida com garotos possíveis, mas você me aceitou, me aceitou longe, apenas ouvindo minha voz embargada enquanto eu ouvia seu choro baixinho do outro lado da linha. [...]
- Foi quando a gente começou a errar.
[...] Eu te amava tanto, não sei por que fazia aquilo, não sei se queria apenas esquecer o sofrimento que eu sabia que estava te causando, ou se queria mesmo uma diversão rápida. E você... Você estava na mesma dúvida, eu tenho certeza. [...]
- Você me conhece...
[...] tão bem...
E se quer mesmo saber, eu não ligo, não ligo pros seus erros, e espero que você não se importe com os meus, afinal, eles são apenas mais uma prova que teremos que passar por cima. Juntos. [...]
Mais lágrimas marcavam o rosto de , que tentava se acalmar olhando para a janela a sua frente. Ela sabia que viria a única parte da carta que ela não gostaria de ler, a única que ela desejava ardentemente que não existisse, ou não passasse de um pesadelo.
[...] Mas talvez, seja melhor dar um tempo para aceitarmos que erramos e que nosso amor é forte mesmo. Eu não queria que fosse assim, acredite. Mas você não faz ideia do quão duro é para mim ouvir sua voz baixinha na linha porque eu fiz mais uma besteira. Sabe, acho que é mais do que eu posso aguentar... Mais do que eu aprendi a aguentar... [...]
Faltavam palavras, faltavam emoções para descrever o que se passava na cabeça da menina. Era tudo junto, era tristeza, solidão, medo... Era tudo ali escancarado na sua frente, para que ela sentisse e se deliciasse com aquilo, se assim fosse possível.
[...] Eu devo estar te fazendo chorar, certo? Me desculpe! Não por isso apenas, mas por tudo, por cada erro, cada palavra boba ou mentiras. E, por fim, te peço perdão por nunca ter dito o que eu senti desde a primeira vez que conversamos. [...]
não cabia em si mesma de tantos sentimentos misturados. Ela não conseguiria acabar aquilo, não sabendo que ele não a diria pessoalmente o que dizia na carta.
Saiu da sala, passando pela amiga e se aninhou debaixo das cobertas, procurando abrigo. Não era capaz de dormir, mas queria fechar os olhos e se guiar para o mundo dos sonhos. Queria viver, mas precisava descansar, descansar do mundo e do que ele fazia com ela. Queria um tempo, um tempo sem falsidades ou mentiras, um tempo sem seus próprios erros. Buscava embaixo do edredom branco mais do que um lugar quente, buscava se encontrar, como se ali estivessem respostas para as mil perguntas que não saíam de sua cabeça. Deixou as lágrimas rolarem, como que para lavar a alma.
Enquanto isso, na escrivaninha de madeira, jazia as palavras mais lindas e sinceras que aquele casal já havia vivido. Jazia o fim de uma carta e o começo de uma história de amor verdadeiro, que durou até que virasse história para os filhos e netos... E que foi única até o fim.
[...] Eu te amo!
De seu eterno, .
Fim
N/A: Hey galera :D Queria primeiro agradecer a quem leu minha primeira short aqui e deixou aqueles comentários lindos, obrigada mesmo! Fiquei super feliz *-* E pra quem não leu, é a Change in routine :D
Bom, sou um pouco ruim pra fazer notas, então é isso mesmo, espero que tenham gostado, eu particularmente fiquei um pouco decepcionada com o final que escrevi rs.
Beijão. Fiquem com Deus e leiam bastante! X
E obrigada a minha nova beta, Bia!
N/b: Que short linda! Adorei a carta. E por nada, Aline (;
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