Passei meu rímel enquanto meu celular tocava em cima da cama e, assim que terminei de me maquiar, corri para ver quem era. Um vento frio entrou pela janela, me fazendo encolher um pouco, peguei o celular e era quem havia me ligado. Retornei a ligação enquanto passava um leave-in nos cabelos para tirar um pouco do frizz, aquela noite teria de estar impecável, nada poderia sair dos meus planos. Não demorou muito e ouvi a voz animada de do outro lado da linha.
- E aí, ?
- Estou pronta! – Sorri ao me olhar no espelho. – Já passou na casa da ?
- Tô aqui esperando ela colocar o sapato dela ainda – Não respondi nada apenas suspirei. A minha ansiedade estava me matando. – ? Tá aí ainda?
- Sim... é que... – Me sentei em minha cama, sentindo toda minha confiança desvanecer e uma ansiedade, um medo de tudo dar errado tomou conta de mim. – Não sei deveria...
- , corta essa! – nem ao menos me deixou terminar de falar. – Tô indo agora na casa do e depois vou passar aí. É dia dos namorados! E você tomou sua decisão, não adianta voltar atrás e nem vem com essa de não saber o que fazer, você o conhece há cinco anos.
- Tudo bem então, mas não demora tá? – Desliguei e fiquei ali sentada olhando para meu reflexo no espelho e me lembrando do dia dos namorados de dois anos antes, quando tudo realmente começou.
era meu melhor amigo havia 3 anos e eu namorava Renly. Meu namoro era perfeito para mim, Renly parecia ser perfeito em todos os quesitos, até que tudo desmoronou e essa perfeição foi pelo ralo.
foi até a minha casa completamente bêbado com (que nem namorava a ainda) quando eu me preparava para sair com Renly . Ele, então, se declarou e disse com todas as letras que meu namorado era gay e que estava cometendo um grande erro ao namorá-lo, pois o cara certo para mim era ele.
Lembro-me de tê-lo xingado e chorado pelo ‘show’ ao qual fui submetida por ele e então, para finalizar a noite que de longe já era a mais trágica da minha vida, ele vomitou sobre meu vestido Gucci novinho, presente de Renly - que horas mais tarde, enquanto me consolava no sofá da minha casa, admitiu sua homossexualidade.
Voltando ao presente, eu sorri me lembrando daquele dia dos namorados trágico. Havia ficado com tanta raiva de que demorei muito para voltar a olhar pra cara dele, uns seis meses ou mais. Afinal, não era só raiva, havia entre nós uma timidez que nunca havia existido antes e tudo que pensava quando citavam o nome dele era: “Ele gosta de mim.”
Voltamos a conversar e no início tudo era muito estranho ainda, mas com o passar do tempo senti se soltando mais e em algum momento entre nossas festas, gargalhadas, bebedeiras e ressacas, ele voltou a ser ele mesmo. Desde então, passei a ter um amigo que eu sabia que era apaixonado por mim, mas ao qual nunca havia dado uma chance.
Ok. Talvez uma. Ou algumas poucas vezes.
Se você contar o dia dos namorados do ano anterior, por exemplo.
Flashback on
-, como você consegue me deixar assim tão louco, fascinado por você? – esperava pelo e eu pela , tínhamos acabado de apresentar os dois numa festinha de solteiros e os dois já se pegaram no minuto seguinte no meio da pista de dança e depois num canto da festa, no banheiro e agora estavam num canto qualquer do estacionamento.
e eu estávamos encostados no carro de , ele estava bêbado e como sempre se tornou mais verdadeiro e sincero do que nunca.
- Não sei, você é maluco – Sorri e o olhei de canto.
- Mas é sério – Ele se virou, ficou na minha frente e colocou os braços dispostos um a cada lado do meu corpo. Meu coração acelerou quando olhei nos olhos dele. - Quando fico perto de você é como se eu não fosse eu mesmo.
- ...
- Não, agora eu vou falar – Ele abaixou a cabeça e então sorriu, o sorriso mais lindo que ele tinha e eu senti minhas pernas tremerem. – Sabe aquele dia em que nos falamos pela primeira vez? – Assenti, lógico que lembrava do dia em ele me deu uma bolada nos peitos em pleno treino de futebol. – Eu sei que foi muito tenso a situação toda, mas eu acho que comecei a me interessar desde aquele momento. Claro que não me apaixonei à primeira vista, pra mim isso nem existe, mas eu meio que me liguei a você.
- Como assim? – Me interessei realmente em ouvi-lo, afinal que mal tinha nisso?
- Não sei te explicar, mas foi como se cada pedaço de mim necessitasse de você e do seu sorriso meio irônico por perto pra sobreviver – Ele passou uma das mãos pelo meu cabelo lentamente e eu tremi. E não era de frio. – Desde então comecei a me aproximar, mas você foi sempre tão amiga de todos, nem notou que meu interesse não era na sua amiga ou em apenas saber dos seus lances e sim em você por completo. Eu queria ser um dos seus lances.
- Mas eu... Como nunca percebi?
- Eu não sei – Ele se aproximou de mim e eu deixei, eu estava pela primeira vez me sentindo realmente atraída pelo , não haveria maneira de mentir, eu o queria e muito. Ele estava tão perto dos meus lábios que sua respiração quente se misturou à minha que saia pela minha boca entreaberta e convidativa. Ele me olhou profundamente nos olhos e foi ali que ele começou a me ganhar de verdade.
Seus lábios envolveram os meus de maneira sutil, suave como quem pedia permissão para continuar e eu a concedi. Passei meus braços em volta do pescoço dele e ele aprofundou o beijo entre nós enquanto colava seu corpo no meu numa junção perfeita.
Meu coração batia tão rápido que nem de longe poderia tentar contá-las, nada conseguiria medi-las e se fosse pra tudo acabar ali que acabasse, pois de alguma maneira eu me senti no lugar certo e com a pessoa certa.
passou as mãos de leve pela minha cintura e as subia de uma maneira sensual. Separamo-nos ofegantes do beijo e nos olhamos, o mundo parou por alguns instantes e sorrimos um para o outro.
- Vem comigo? – Ele me perguntou e eu assenti, sorrindo ao vê-lo sorrir para mim.
Flashback off
Sorri ao me lembrar de como passamos a noite: olhando as estrelas no terraço de um prédio que ele conhecia e enrolados num cobertor velho, mas que com certeza foi o melhor e mais aconchegante de toda minha vida, pois eu estava com a melhor pessoa do mundo ao meu lado.
Pena que quando percebi isso era tarde demais.
Uma semana depois e eu ainda erámos amigos, nada havia mudado desde a noite do dia dos namorados; talvez ele tivesse entendido que não queria nada com ele e de alguma maneira, mesmo não querendo, começou a aceitar isso.
Mas não era isso que estava em minha cabeça, o que estava em minha mente era a música ‘Gravity’ e ‘Slow dancing in a burning room’ do John Mayer, que eu insistia em colocar pra repetir sem parar enquanto ele tentava contar as estrelas no céu e as comparava ao tamanho do amor dele por mim, o cheiro dele ainda parecia impregnado em mim e os lábios tão doces e gentis pareciam estar encostando-se aos meus quando fechava meus olhos.
Mas ele me deu a notícia que fez tudo mudar, ele havia começado a namorar uma vizinha nova dele, que parecia gostar dele de verdade. Eu acabei por não contar para sobre o que senti naquela noite, achei tão injusto contar tudo para ele quando ele havia achado alguém tão legal, que ao contrário de mim poderia amá-lo, pois eu nem sabia o que sentia ao certo, talvez fosse passageiro.
Quem dera se fosse, pois então não estaria tão preocupada em como agir com ele nessa noite, não teria passado horas me arrumando ou planejando o que falar e como falar. Como falar o que sentia por ele? Tudo de uma vez ou calmamente, tentando explicar como tudo aconteceu? Talvez se descrevesse o sabor de cereja do beijo dele e o aroma forte do perfume dele que parecia me rondar...
Levantei-me e fui para a sala da minha casa vazia, morava sozinha havia 3 anos e confesso que às vezes era ruim não ter alguém por perto. Sentei-me no sofá e liguei a televisão, uma cena romântica entre um casal me fez voltar mais uma vez ao passado.
Flashback on
Duas semanas antes...
Enlacei minhas pernas na cintura de firmemente e sorri para ele enquanto ele me abraçava forte e depositava beijos em meu pescoço, me fazendo arrepiar por completo.
- Assim não dá pra brincar – Disse e ele riu de mim.
- Não estou levando na brincadeira... – Ele passou os lábios dele de leve sobre os meus e eu afundei meus dedos nos cabelos dele.
- Nem eu – Ele me beijou e me deitou sobre o sofá da casa dele.
Ele havia terminado com a namorada dele já tinha três meses, pois ela havia ido embora para New York e, desde então, eu e meio que voltamos a andar grudados, pois o namoro dele havia feito nós dois brigar algumas (várias) vezes.
Era uma tarde de verão, enquanto brincávamos jogando água um no outro no jardim da casa dele, que também morava sozinho, caímos um em cima do outro e, de repente como se ele fosse um ímã para mim. Não resisti e me aproximei mais e acabamos nos beijamos.
Logo após o beijo, trocamos um olhar confuso e ele se levantou, me puxando e me fazendo correr atrás dele.
Então ali estávamos, no sofá da casa dele, trocando beijos e carícias e mais uma vez percebi o quanto o queria e o quanto senti falta do toque dele. Suas mãos carinhosas percorriam meu corpo e seus olhos me olhavam de tal maneira que pareciam chamas vivas que lambiam meu corpo.
- Eu te quero tanto – Ele disse com a voz meio rouca. – Mesmo depois de todo esse tempo, eu não te esqueci.
Meu coração disparou e minha garganta ficou seca.
Eu sorri boba diante daquela declaração e o puxei para mais um beijo e senti suas mãos acariciando minhas coxas, minha barriga e então o senti tocar meus seios levemente. Ele parou o beijo, me olhando como quem pedia permissão e eu voltei a beijá-lo, indicando que estava tudo bem.
O clima estava cada vez mais quente e comecei a sentir um volume entre suas pernas. Continuei a beijá-lo enquanto as mãos dele passeavam por dentro de minha blusa e a levantavam lentamente. Ele aproximou seus lábios do meu ouvido e, com a voz rouca e ofegante, fez uma súplica:
- Eu sei que você não gosta de mim como eu de você, mas... – Eu sorri e o afastei de mim, que me olhava confuso e sem-graça. Para a surpresa dele, retirei minha blusa e puxei-o para perto, beijando-o novamente.
Suas mãos desta vez deslizaram para dentro do meu short, diretamente para o calor entre minhas pernas, soltei um grunhido alto, me entregando completamente a naquela tarde.
Flashback off
Sentia meu corpo reagir àquelas lembranças e me lembrei de que tudo foi desfeito no dia seguinte, quando me pediu desculpas e disse que nunca mais faria nada daquilo, pois não era correto me envolver nos sentimentos dele, ele não poderia usar da minha boa vontade para satisfazê-lo.
Ele não imaginava, mas ele havia me satisfeito também. Fiquei calada, como covarde que sou, apenas assentia e dizia que não havia problemas. A verdade ficou entalada na garganta. Três palavras.
Mas ali estava eu, sentada no sofá, me sentindo ansiosa e estava decidida de que aquele dia dos namorados seria diferente. e conversaram comigo e eu por fim tomei coragem de contar tudo que sentia para , naquele momento eu sabia exatamente o que fazer, não havia dia melhor para me declarar do que exatamente no dia dos namorados que de alguma forma significava grande importância para nós.
Só esperava que ele pudesse me aceitar, pois depois de tanto tempo ele poderia simplesmente perceber que não me queria mais. Meu coração doía só de imaginar, mas no fundo sabia que ele teria toda razão.
A buzina do lado de fora me acordou de todas as lembranças e o frio na minha barriga era comparado ao da Antártida. Respirei fundo e passei a mão na minha bolsa, pegando-a em cima da mesa e saí pra encarar a realidade.
estava encostado no carro me esperando, com um sorriso tão lindo no rosto que poderia matar qualquer uma do coração.
- Uau! – Ele estendeu a mão para mim. – E quando acho que não poderia ficar mais linda, você vem e aparece assim, atingindo um nível de perfeição que nenhuma palavra expressaria ao certo.
Olhei para o carro de relance e vi que nem ou estavam ali.
- Cadê o casal? – Coloquei minha mão sobre a de e sorri.
- Eles foram pra festa e pediram pra eu vir te buscar – Ele levantou uma sobrancelha demonstrando que se sentia alarmado. – Tem problema?
- Não! De maneira alguma... – De repente, sem aviso prévio, eu me aproximei dele, que virou o rosto para que eu pudesse beijá-lo no rosto, mas então eu encostei minha mão levemente no rosto dele e o virei de frente para mim. – Feliz dia dos namorados!
E o beijei. Assim, simples como abrir uma bala.
Passei uma mão no pescoço dele o arranhando de leve e ele, que tinha uma mão pousada sobre minhas costas, a apertou, enquanto me puxava para mais perto.
Coloquei a minha mão livre sobre o peitoral dele e me afastei dele, separando nossos lábios. Sorri tímida para que sorria encantado comigo.
- , o que houve?
- Não precisa agir assim abobado – Passei a mãos carinhosamente pelo rosto dele. – Isso poderia se tornar bastante comum se você quisesse... Porque eu quero.
Ele sorriu e coçou a testa, bem típico de quando ele fica totalmente sem palavras, num nível de incredulidade ou timidez que psicanalista algum conseguiria explicar.
- Se eu quiser? – Ele sacudiu a cabeça negativamente e eu tremi achando que ele iria rir de mim e me dispensar. Meu sorriso começou a desarmar quando ele me puxou para mais perto. – Só quero se for pra sempre – Ele piscou para mim e quem ficou com cara de abobada fui eu. – Feliz dia dos namorados.
- Eu amo você – Eu disse e ele sorriu tão lindamente que tive certeza que o resto do corpo dele teve inveja da perfeição do sorriso dele.
- Isso é real mesmo ou eu estou sonhando de novo como tenho feito nos últimos cinco anos? – Ele depositou um beijinho em meus lábios e, ainda com os lábios colados nos meus, disse o que queria ouvir naquela noite. – Eu te amo.
Fim
N/A: Consegui terminar! Demorei uma hora pra escrever essa fic louca aí! Se eu contar que saiu de um sonho, vocês acreditam? Claro que o sonho não foi a história toda, mas teve algumas cenas ( a cena final, por exemplo). Só não sei como pude dispensar meu favorito tantas vezes no meu sonho, ainda me pergunto. Já tá meio tarde e amanhã acordo cedo, então não vou prolongar o papo :x Espero que tenham gostado, que tenham um ótimo dia dos namorados e, caso vocês se interessem por uma fic restrita/em andamento, leiam ‘A confused heart’ que é de minha autoria também. Beijos e até o próximo especial ;)