Esvaziei a última caixa. Ufa, isso já estava me cansando. Arrumar as coisas da mudança definitivamente é a pior parte de se mudar. Deixei o corpo cair em minha cama e relaxei, desfrutando da sensação de liberdade. Agora eu estava morando sozinha em uma casa, e é tão legal que eu poderia gritar. O único problema é que meus vizinhos me achariam uma louca e não é bem essa a primeira impressão que eu quero passar. O homem da casa da frente, se não me engano, é um senhor de idade, e provavelmente nem escutaria, mas tenho medo de que os outros acabem reclamando. Eu odiaria que acontecesse isso, assim como odiaria que algum dos meus vizinhos gritasse.
Decidi ser educada e dar um olá pra ele. Isso é o que geralmente eu faria, mas não sei se o pessoal aqui faz isso. Coloquei uma roupa menos de ficar em casa, não queria que pensasse que sou uma mendiga pedindo esmola e batesse a porta na minha cara. Enfiei o primeiro jeans que me apareceu e um suéter de cashmere azul com decote em V. Pronto. Peguei uns chinelos e atravessei a rua. A casa dele era mais bonita que a minha. Mais bem cuidada, talvez, pois o jardim estava com a grama cortada, enquanto a minha parecia uma floresta, precisava de um cortador de grama urgente.
Toquei a campainha e esperei por um tempo alguém atender a porta. Fui bem paciente, afinal, se tratava de um cara idoso. Mas quando finalmente a porta se abriu, definitivamente não foi um senhor de idade que apareceu. Na verdade era um cara bem gostoso. Podia ser o neto dele, ou algo assim.
— Hey, eu poderia falar com seu avô? — falei e ele pareceu não ter entendido.
— Avô? O que é isso? Algum tipo de trote? — perguntou e depois revirou os olhos, com cara de que entendeu alguma coisa. — Ah, já entendi, desculpa se não me reconheceu, é que eu fiz umas plásticas para ficar com essa carinha jovial. Não olhe para trás, por favor. Minha bunda ainda está em processo de recuperação depois da última cirurgia, e ainda está um pouco deformada. — falou irônico e fechou a porta na minha cara.
Idiota.
Fiquei parada um pouco em frente da casa e resolvi apertar a campainha novamente. Dessa vez ele abriu a porta quase no mesmo instante.
— O que foi agora? Vai me perguntar sobre meu bisavô que também não existe? Olha, se isso é um tipo daquelas apostas ridículas de meninas que não têm o que fazer, eu peço para que saia daqui. Isso é tão idiota.
— Hey, agora você me ofendeu. Eu não sou nenhuma dessas idiotas, pode crer. Eu só pensei que aqui era a casa do Sr... — estalei a língua. — Ah, me esqueci do nome dele.
— Se você não souber o nome, querida, eu não posso fazer nada por você. — falou novamente em tom de ironia. — Mas o único senhor que mora aqui perto é o Sr. Collins.
— Exatamente. É ele, sabe onde ele mora?
— Bem ali. — ele apontou. — Então, era só isso?
— Humm, você mora aqui?
— Sim, por quê?
— É que agora sou sua vizinha, estou morando na casa aqui na frente. — falei, tentando parecer simpática. — Bem, eu vou falar com o Sr. Collins, bom dia.
— Ah, sei, a que parece cercada por uma floresta — novamente a ironia tomou sua voz. — Bem, acho que a gente se vê. Bom dia pra você também, tchau.
Certo, eu poderia ter passado o dia sem descobrir que sou vizinha desse idiota. Atravessei a rua novamente. A casa do Sr. Collins era, afinal, a casa ao lado da minha, não a em frente.
— Oi, você deve ser o Sr. Collins, não é? Sou , moro aqui na casa ao lado. — falei assim que um senhor de seus 65 anos abriu a porta.
— Oh, sim. Bem vinda à vizinhança, — ele estendeu a mão para um cumprimento. Dei um aperto de mão firme. — Se quiser alguma ajuda para cortar a grama ou algo assim...
Por que todos tinham que mencionar meu gramado?
— Oh, não, não quero causar nenhum incômodo ao senhor. Bem, acho que já vou, passei aqui só para dizer um olá e não quero tomar o seu tempo. Tchau. — acenei com a mão e ele copiou meu gesto.
Eu estava cansada de passar o dia arrumando minhas coisas, por isso peguei um muffin que havia comprado de manhã, comi e me deitei no sofá, zapeando os canais em busca de algo que prestasse, já que a programação era super diferente aqui.
Devo ter caído no sono, pois não me lembro de mais nada. Acabei acordando com um barulho vindo do meu quintal. Limpei a baba que havia escorrido da minha boca e me dirigi até a porta. Para minha infelicidade, encontrei meu vizinho mal-educado cortando a minha grama, bem quem se importaria com isso?
Eu.
— Hey, o que pensa que está fazendo? — perguntei a ele, mas sem esperar respostas. — Eu sei que você acha que meu quintal é uma floresta e tal, mas eu posso fazer isso sozinha, obrigada.
— Eu e o Sr. Collins decidimos que isso era necessário, então eu resolvi fazer logo de vez. Encare isso como um pedido de desculpas por ser um pouquinho mal educado hoje. Mas sabe, é que você me acordou. Eu simplesmente odeio quando fazem isso, fico mal-humorado.
— Ah, você e o Sr Collins? O quintal é meu, eu não preciso que alguém corte a grama por mim. Ninguém ouviu minha opinião. — retruquei.
— Certo, então encare isso como uma boa ação. Acredite, não é todo dia que eu corto a grama de outra pessoa. — ele deu um sorriso do tipo eu-estou-fazendo-uma-boa-ação-vírgula-pare-de-me-atrapalhar.
— Posso pelo menos te ajudar? — bufei, rendida. — É meio desconfortável ver alguém fazendo uma coisa que eu deveria fazer.
— Não. Vai voltar a fazer o que estava fazendo. — falou como se estivesse dando uma ordem.
— Acho que não vou conseguir dormir de novo.
— Você estava dormindo? Uau, que sorte a sua, dormir é a melhor coisa do dia. Por isso é que eu odeio quando certas pessoas me acordam — disse irônico.
Sentei-me na escada e o observei trabalhando, inquieta por não ter como ajudar. Aquela tarefa era minha, era muito chato ficar olhando alguém fazê-la por mim, quase irritante. Fiquei pensando em algo para ocupar o tempo. Não queria que ele me ouvisse cantar, ia ser vergonhoso. Olhar para o nada também não ia ser legal. Percebi então que estava estalando meus dedos compulsivamente.
— Você é estranha. — ele disse. — Hey, reparei que ainda não sei seu nome, vizinha esquisita.
— Meu nome é , e o seu é...?
— .
— Certo, , vou te chamar assim, certo? Não gosto de chamar as pessoas idiotas pelo nome. — dei um sorriso cara-de-pau.
— Uau, eu consegui conquistar o afeto da minha vizinha — disse com sarcasmo. — Vá para dentro de casa, estou trabalhando em uma causa nobre.
Eu entrei em casa, mas não para dormir, para comer. Ao contrário do , eu prefiro me empanturrar de comida a tirar um cochilo. Tem coisa melhor do que comer?
Humm... Nada como um bom chocolate, ou algum doce.
Peguei um bolinho recheado e subi para meu quarto. Ele me disse para eu entrar em casa, certo, eu estava em casa. Mas ele não disse nada sobre observar pela janela. Assim que abri as cortinas dei um grito.
— ! — ele deve ter escutado, pois deu um pulo assustado.
Saí correndo e quase caí da escada. Devo ter batido a porta com muita força mesmo, pois arregalou os olhos , que ficaram do tamanho de bolas de boliche. Eu vou arrancar a cabeça dele com um facão enferrujado.
— Eu te mato, garoto. — falei indo para cima dele e estapeando-o. — Que porra você fez com meu gramado?
Acontece que abriu um buraco no meu quintal. O que era para ter grama, agora só tem um bocado de terra. Não era muito grande nem nada, quem se importaria com aquilo?
Novamente, eu.
— , isso é grama, g-r-a-m-a — soletrou como se eu fosse uma criança. — Cresce novamente. — e deu um risinho irônico.
— Eu sei, mas você estragou o meu gramado depois de dizer que estava fazendo uma “boa ação” — fiz aspas com os dedos. — Isso só prova que estou certa e você é um idiota.
— Não foi de propósito. Olha, é melhor eu sair daqui antes que você me mate. — falou rindo. — Tchau vizinha esquisita.
Revirei os olhos e murmurei um “não volte nunca”.
***
No outro dia acordei tarde. Certo, tarde era muito pouco. Acordei lá pelas 2h da tarde, e com um barulho vindo de onde? Da casa de . Nem foi uma surpresa para mim. Ele devia ser bem surdo, pois estava tocando uma música altíssima. Lá onde eu morava, se tivesse uma música assim, ou alguém estava dando uma festa — o que seria estranho, já que eram duas da tarde —, ou essa pessoa tinha problemas de audição.
Levantei-me rapidamente e atravessei a rua correndo. A música parecia vindo da garagem. Era muito boa, por sinal; mas eu agradeceria se abaixassem o volume.
— . — berrei socando a porta da garagem. — Abre isso agora, se não alguém vai morrer.
Tive que socar algumas vezes mais a porta, até que abrissem. Mas não foi que abriu. E esse cara estava carregando um instrumento.
— Posso falar com o idiota do ?
— Hey, , tem uma garota aqui que quer falar aqui com você — gritou em um tom de quem queria rir. — Que sortudo você hein cara.
apareceu na porta e me olhou de cima a baixo de um jeito estranho. Só aí que me lembrei de que ainda usava pijamas.
Do Bob Esponja.
Droga.
— Dá pra abaixar esse som? Vocês estão me atrapalhando.
— Estamos ensaiando, não vamos abaixar. — fez uma pausa — Ah, entre logo antes que alguém mais nessa rua tenha a infelicidade de te ver com esse pijama ridículo do Bob Esponja. — Ele me puxou para dentro.
— Vocês estão me atrapalhando. Não tem nenhuma esponja ou qualquer que seja aquela merda que... — me perdi com as palavras e depois percebi que ele estava rindo, provavelmente porque eu falei de esponja e era meio irônico já que eu usava um pijama do Bob. — Ah, dane-se.
— Ah, não, não temos. Era só isso? Tchau.
— Vocês não vão nem pedir desculpas por me atrapalhar? — parei e todos olharam para mim, fiquei esperando os mal educados dizerem alguma coisa, mas parecia que não iam. Lembrei-me de uma coisa. — Eu estava dormindo.
Eles, todos de uma vez, começaram a falar “desculpe” e eu quase comecei a rir. Acho que dormir era a palavra mágica para todos aqui, ou pelo menos a de e seus amigos.
— Abaixem essa coisa, certo? Toquem mais baixo ou ensaiem uma música mais calma, façam esse favor para mim. Eu já vou indo, tchau.
— Tchau... Qual é o nome dela, ?
— Creusa. — respondeu , rindo.
devia ter um dom de saber como me deixar no limite. Um dom que pouquíssimas pessoas têm, devo dizer.
— Há, há, que engraçado, .
— Tchau Creusa, volte sempre. — falou irônico e mandou um beijo de brincadeira.
Saí de lá de dentro e ouvi alguém dizendo “Poxa, , por que não me contou que tinha uma vizinha gostosa?”. Dei um risinho baixo.
Ah, garotos.
02
Era o primeiro dia de aula. Que legal, eu já estava até acostumada em poder dormir até tarde. Pensei rapidamente em como meu vizinho idiota, , ia se sentir em ter que acordar cedo. Se é que ele tinha aulas hoje.
Tomei um banho antes que eu desistisse de me levantar da cama, coloquei uma calça jeans skinny que não estava rasgada, uma blusa básica e uma jaqueta azul marinho com detalhes brancos, tinha até uma âncora, por isso fazia um pouco o estilo marinheiro. O sapato vermelho tinha um salto baixo e me deixava com a altura que eu queria ter, não muito alta nem muito baixa.
Na minha antiga escola, eu até passaria despercebida. Talvez não tanto por causa dos sapatos vermelhos, mas aqui as coisas eram um pouquinho diferentes. De qualquer modo, passar despercebida onde eu estudava, era uma boa coisa, por isso achei melhor passar despercebida aqui também.
Peguei um ônibus, meu carro estava sem combustível e eu só ia poder encher semana que vem. Não era tão longe, eu poderia ir a pé, mas a preguiça impedia que eu o fizesse. A escola era bem grande e parecia ter metade da população jovem da cidade, e olha que ela não era pequena, a cidade, quero dizer.
Peguei meus horários e logo depois o sinal soou. Certo, nem preciso dizer que entrei na sala de aula mais desanimada do que nunca e quando eu bati os olhos na única cadeira vazia o desânimo aumentou. Eu ia ter que me sentar na frente do idiota do , ótimo. Ele pareceu ter ficado igualmente desapontado, pois fechou a cara na mesma hora em que nossos olhares se encontraram.
— Você pode ficar com uma postura certinha? Não quero que o professor me veja dormindo. Não que ele repare muito, ele é meio cego, mas é melhor prevenir. — disse assim que eu me sentei. — Você tomou algo com cafeína hoje? — perguntou e eu balancei a cabeça em um “não” — Não vai aguentar essa aula sem dormir, acredite. Tem uma máquina de refrigerante no pátio, é melhor pegar uma coca na hora do recreio.
— Você tomou?
— É claro, uma xícara de café forte. Acredite, se eu não tivesse tomado eu não estaria aqui. — não pude ver se sua expressão estava séria, pois estava virada para frente então ele meio que estava falando no meu ouvido, me causando arrepios involuntários.
— Então por que está pedindo para eu te cobrir?
— Ah, nem se eu tomasse umas seis daquelas conseguiria evitar dormir nessa aula, acredite. Primeiro porque não é uma mulher gostosa dando aula, segundo porque não é nem uma mulher, terceiro por que ele é totalmente chato, quarto... Eu já disse que não é uma mulher gostosa?
Acabou que eu dormi mesmo na aula, acordei com baba no canto da boca, algo típico de cochilos rápidos. Ainda não tinha acabado a aula e o professor estava escrevendo algo no quadro, não consegui ler muito bem, a letra era horrível e o pincel estava escrevendo falhado. Olhei para trás discretamente e não fiquei nem um pouco surpresa ao notar que estava dormindo. Diferente de mim, ele não dormia com a cabeça apoiada na mesa, ele tinha alguma técnica ninja para dormir com a cabeça um pouco apoiada no ombro, ele tinha ombros muito largos, pude perceber. Assim, dormindo, sem falar nenhuma palavra, estava bem melhor, parecia quase um cara legal, e gostoso. Seus cabelos aparentavam ser macios e fiquei com uma vontade absurda de passar meus dedos por eles.
O sinal tocou, interrompendo meus pensamentos insanos. Eu me espreguicei um pouco para evitar dor no corpo depois e deixei a sala. Andei pelos corredores me sentindo perdida e desconfortável, por ser praticamente arrastada pelos outros. Ao chegar à classe me sentei no único lugar vago, ao lado de uma menina com um sorriso perfeito, mas que parecia um pouco lunática.
— Oi, eu sou . — se apresentou, animada. — É, pelo visto vamos ser parceiras de laboratório. Bem, qual é o seu nome? Você é nova aqui, não é? Nunca te vi por aqui, bem vinda! Espero que goste do lugar, eu moro aqui desde que nasci.
Tive que piscar algumas vezes até entender tudo o que ela disse. Ela falava um tanto embolado e rápido demais, deve ser por isso que não tinha nenhum parceiro de laboratório. Mas até que parecia gente boa.
— , prazer, sim, sou nova aqui, obrigada. — falei esperando não ter me esquecido de alguma coisa.
— Eu adoro biologia, sabe? É minha matéria preferida.
— Ah, sério? A minha também. — falei e ela pareceu se animar.
— Que bom, no ano passado eu fiquei com um parceiro de laboratório horrível, nada contra ele, ele era calado e tudo, mas copiava o meu dever. — revirou os olhos. — Quando ele abria a boca para falar alguma coisa, reclamava do quanto não queria estar aqui e estava pouco se importando para a escola, ele queria ser jogador de basquete ou algum outro esporte idiota, eu queria ter ficado com a minha amiga, .
Eu ia falar alguma coisa, mas o professor chegou e interrompeu nossa conversa, me fazendo perder o raciocínio. Achei melhor calar minha boca.
***
Ah, o intervalo. Maravilhoso e lindo intervalo, e isso significa o que? Coca-cola. Assim que encontrei a primeira máquina de refrigerante quase a abracei, não estou exagerando.
— Coca-cola, aleluia. — falei a mim mesma assim que abri uma latinha abençoada. Dei um gole gigantesco, bebendo quase metade.
— Oi — falou uma menina bem arrumada para mim, que provavelmente devia estar me achando uma doida por estar falando sozinha e parecer uma viciada. — Meu nome é Amber, você é uma das novatas aqui, não é? — falou e eu fiz que sim com a cabeça. — quer se sentar com a gente na mesa?
— Certo. Eu só vou pegar mais uma latinha, calma. — Fui até uma máquina e peguei outra, depois segui Amber até a mesa dela.
Só tinham meninas arrumadas e bonitas lá. Certo, eu acho que não me encaixava ali, perto delas eu parecia uma que acabou pegando a primeira roupa que apareceu. Elas usavam uns acessórios estranhos, milhares de colares e eu não uso nem brincos.
— Qual é o seu nome? — uma delas me perguntou.
— É — dei um sorriso um pouco sem jeito.
— Bem, , essas são Nancy, Constance, Chloe e e nós estávamos pensando... — ela deu uma olhada significativa para as amigas dela. — vamos fazer uma festa hoje, de começo de ano, só para meninas. Você parece ser bem legal e adoraríamos que você fosse. — sorriu radiante.
— Hm, eu tenho que pensar um pouco. — dei uma olhada rápida para as meninas da mesa, elas estavam me deixando desconfortável, mas até que pareciam ser legais. — Olha, eu tenho que ir ao banheiro, antes do fim do intervalo eu te dou uma resposta, certo?
— Tudo bem.
Certo, eu estava mentindo. Não ia ao banheiro coisa nenhuma, mas é que queria pensar. Todos aqueles olhares estavam me deixando um pouquinho incomodada. Senti alguém segurando meu pulso e quase dei um grito de susto. Era , que coisa legal, hein.
— O que aquelas piradas queriam com você? — disse em um tom entediado.
— É da sua conta, ? Hm, eu acho que não.
— Ah, vai, deixa de ser irritante. — revirou os olhos. — Fala logo, .
— Nada que vá mudar sua vida, elas só estavam me convidando para uma festa hoje, só isso — falei, esperando que ele ficasse surpreso por eu me enturmar tão rápido, aquelas garotas pareciam ser bem populares.
— Uma festa só para garotas?
— Sim, como sabe disso? — perguntei um pouco surpresa.
— Ah, pensei que elas tinham parado com isso depois do que aconteceu no ano passado. — deu uma pausa, como se decidisse contar ou não contar alguma coisa — É que todo ano as piradas metidas fazem uma festa assim, chamam alguma novata e sacaneiam com ela. Geralmente envolvem coisas com pouca roupa e fotos comprometedoras.
— Oh — foi só o que eu consegui falar. Por que estava me contando aquilo?
Ele deu um suspiro pesado e passou a mão no cabelo, nervoso. Percebi que ele segurava uma latinha de coca, que estava quase sendo esmagada pelas mãos grandes dele. Ele tomou um gole.
— Eu nem sei por que eu estou te contando isso, na verdade. Essa seria uma grande oportunidade de te ver com pouca roupa, coisa que eu estou sonhando desde que te vi na porta da minha casa, com aquela blusa decotada. E é claro, todo aquele negócio com o bob esponja. — ele falou irônico, com um sorriso malicioso nos lábios, fiquei um pouco sem graça. — Mas você é minha vizinha, não é legal deixar que os vizinhos se ferrem e se humilhem na escola, mesmo que eles sejam irritantes.
— Obrigada pela dica, humm... .
— E aí, você vai à festa somente para garotas? — ele falou isso em um tom um pouco irônico, novidade.
— Talvez, se eu for posso usar coisas contra ela, a Avada se virando contra o Voldemort ou algo assim. — isso fez rir.
— Bem, então tchau. — ele já ia saindo, mas pareceu se lembrar de alguma coisa e se virou. — Ah, e aquela coisa da pouca roupa era brincadeira — seus lábios se curvaram em um riso um pouco tímido. — Mas... se você quiser aparecer com pouca roupa, fique à vontade. — seu sorriso tímido foi tomado por um malicioso.
Idiota. Mas admito que o foi até bacana de me avisar sobre a festa, talvez ele tenha um lado legal. Certo, certo, não. “” e “legal” nunca estão na mesma frase, a não ser que tenha um “não é” entre elas.
— Eu vou à festa — falei sorridente a elas, assim que me sentei. Com um sorriso de vocês-vão-se-ferrar, nada que elas tenham percebido.
— Ai, que ótimo. Pode aparecer na minha casa hoje, certo? Tenho que te dar meu endereço depois. — sorriu cúmplice para suas amigas.
***
Assim que a aula acabou fui colocar algumas coisas no armário, rapidamente. Não queria perder o ônibus. Andando? Nem se me pagassem, eu estava cansada. O vi no final da rua. Droga, ele já tinha passado, agora eu ia ter que esperar o próximo. Peguei uma barrinha de chocolate de dentro da bolsa. Comida de verdade, aleluia. Pesquei também um iPod de lá e coloquei em um rock bem pesado. Música de verdade, aleluia. Devo ter ficado esperando um ônibus por uma hora, eu era a única ali, que ótimo. Parecia uma idiota apoiada, olhando para o começo da rua.
— Por que ainda está aqui? — uma voz que infelizmente eu conhecia falou. Virei-me para ver , que estava com seus amiguinhos.
— Estou esperando o ônibus, perdi o primeiro. — falei suspirando pesadamente, bufando um pouco.
— Ah, não tem mais ônibus, não sabia disso? O que você perdeu era o último. — Um deles falou.
— Droga. — falei socando a perna. — E vocês? Por que ainda estão aqui?
— Detenção. E antes que você pergunte o porquê foi por dormir em aula. — falou. — Mas fui só eu, na verdade. Eles estavam me esperando já que hoje é o meu dia de dirigir. Posso te dar uma carona, se quiser.
— Eu normalmente não aceitaria, mas não estou afim mesmo de ir andando. — dei um sorrisinho e logo acrescentei: — Eu vou na frente!
Andamos pelo estacionamento e fiquei reparando que só tinha carro de gente rica, fiquei totalmente agradecida ao meu pai por pagar metade daquele Camaro conversível pra mim no mês passado, se eu ainda estivesse com meu outro carro, eles iam me esmagar totalmente. pegou as chaves e abriu, o SUV dele era muito bonito, por sinal.
— Belo carro. — falei sorrindo e entrei, me sentando no banco do carona.
— Obrigado. Eu gosto muito dele, mas não é o meu preferido, eu estava cobiçando um Aston Martin. — humm, meu conhecimento sobre carro era limitado então: Hã? Ele deve ter percebido minha cara de quem não entendeu nada, pois completou: — O carro do James Bond, manjou?
— Manjei, eu acho.
— Você tem um carro? Porque totalmente não estou a fim de te dar carona toda vez que você perder o ônibus. — falou meio na brincadeira e riu. Eu assenti com a cabeça, irritada.
Revirei os olhos. Que boa vontade, hein? Era melhor nem ter inventado essa idéia de me dar uma carona. Oh, espera, era sim, a não ser que eu quisesse ir me arrastando para casa, ou de táxi, mas eu realmente odeio táxis. deve ter lido minha mente ou algo assim, porque tratou rapidamente de dizer que era só uma brincadeira. Percebi que ele gosta muito de brincadeirinhas, ironia e sarcasmo, muito legal, . O resto do pessoal estava arrumando alguma coisa no porta-malas que eu não sabia o que era nem estava a fim de descobrir. Eles deviam estar tramando uma coisa diabólica que podia destruir a humanidade, legal, eu não ia ver o que era.
— Qual é? O seu carro, digo. — interrompeu meus pensamentos sobre o que os meninos estariam arrumando no porta-malas.
— É um Camaro conversível. Meu pai pagou a metade e eu paguei a outra com o meu dinheiro como... — parei bruscamente.
— Como...?
— Caixa de supermercado. — falei num sussurro, esperava que ele não ouvisse, mas deve ter escutado, pois deu uma gargalhada.
— Uau, você foi caixa de supermercado só pra pagar um Camaro? — ele riu um pouco depois ficou sério de repente. — Bem, deve ter valido à pena, é um carro legal. — ele deu um sorriso, o tipo de sorriso que me fez ficar um pouco sem-graça.
Tentei pensar em algo para dizer, eu era ótima em terminar com conversas, era um talento natural. Mas minha mente clareou.
— Falando nisso, você sabe de algum lugar que ofereça empregos? — perguntei. — Pode ser qualquer um, menos lavadora de pratos, odeio aquilo. Eu estou realmente precisando.
— Eu sei de um como garçonete num restaurante aqui perto. — um dos amigos de falou e eu não tinha percebido que eles estavam dentro do carro. Resultado = um galo, devido ao pulo de susto que eu dei. — Oh, desculpe.
Mas aquilo não era nada, já aconteceu muito pior comigo, consegui cair do balanço e quase quebrar o nariz só porque minha mãe chegou do nada por trás e começou a me balançar. Quando aconteceu aquilo comigo eu senti tanta dor que fiquei com vontade de rir, o que ocorre direto, especialmente quando a dor é absurda. Acho que isso sempre deixou minha mãe um pouco orgulhosa, já que ela me dizia direto que é melhor rir do que chorar.
— Sem problemas.
— Ah, , por que ela tem que se sentar na frente? — O que estava no canto falou, fazendo um bico. Quase fiquei com vontade de rir.
— Para de ser bebezão, — rolou os olhos e depois arregalou os olhos. — Acabei de perceber uma coisa, você ainda não sabe o nome de todo mundo aqui, não é?
— Eu sou o . — ele acenou. — Os outros não são importantes, são meros mortais, apenas. Mas se te interessar de alguma maneira esses são o e o .
— Nós podemos nos apresentar, bebezão. — falou.
— Parem de me chamar assim. — revirou os olhos — E eu só não queria que parecesse algo meio backyardigans.
— Backyardigans? Alguém tem alguma dúvida de que ele é mesmo um bebezão? — eu falei brincando e todos menos concordaram e riram.
Fiquei surpresa ao constatar que não dirigia mal. Na verdade ele dirigia bem melhor do que eu e isso era um pouco triste. Humm, talvez eu esteja aliviando um pouco a situação. Eu era uma péssima motorista comparada a ele. Na realidade comparada a todos, mas em minha defesa todo mundo dirigia mal onde eu vivia, não era culpa minha se eles deixavam qualquer um passar na auto-escola.
No caminho de casa contei aonde ia à noite e também do meu plano. Não tinha bem um plano, mas contei que ia fazer alguma coisa, nem que só desse um tapa na cara delas depois de jogá-las no fogo ou algo assim. Eles me apoiaram totalmente e deu uma idéia excelente de colocar gambás, fazendo todos rirem. Eu o defendi, era até uma idéia interessante se não fosse tão difícil. Eles acabaram combinando de ir me pegar de carro, porque eu não ia passar mesmo a noite lá.
03
— Hey, , você veio. — Amber disse assim que abriu a porta. Ela e suas amigas deram gritinhos animados. — Venha, entre.
Uau, a casa dela era... Uau.
— Venha por aqui, bem, temos que te passar pelo tratamento de pele, humm... Manicure, pedicure, cabelo, maquiagem e depois... Troca de roupa! — falou animada, jogando as mãos para o alto.
Tudo isso? Eu estava perdida, maldita foi a hora que inventei de aceitar essa coisa, mas até que podia ser divertido, só que eu não ia pintar minhas unhas de rosa.
Deixei que elas passassem aquela coisa gosmenta no meu rosto, algum tratamento de pele, ou coisa assim. Todas estavam passando aquilo, então não devia ser uma pegadinha. Fiquei com aquilo na cara por um tempo, com um pouco de agonia. Engoli minha vontade de gritar “Já pode tirar essa meleca?” de cinco em 5 minutos e depois de um longo tempo elas falaram que eu já poderia lavar meu rosto. Pareceram horas.
— Eu preciso MESMO fazer manicure e pedicure? — perguntei secando meu rosto, até que ele tinha ficado com a pele legal.
— É claro, bobinha, faz parte da noite de garotas.
Revirei os olhos. É, eu mereço. Pelo menos elas não falaram nada sobre eu não poder escolher a cor do esmalte. Tinha de muitas cores, mas a que se destacava era... Vermelho. Eu não estava nem um pouco a fim de pintar as unhas de vermelho então peguei um preto do fundo da caixa.
— Eu vou pintar as unhas dessa cor. — anunciei. Elas pareceram um pouco surpresas.
— Oh... Tudo bem — Amber forçou um sorriso.
O cheiro de esmalte estava queimando minhas narinas, era totalmente horrível. Elas até que conseguiram dar um trato nas minhas unhas e felizmente consegui convencê-las a não pintar as do pé, fica um pouco bizarro e não vejo a necessidade, já que só ando na rua com sapatos fechados. Depois de me darem várias orientações sobre não tocar em nada para não estragar o esmalte elas me arrastaram para lavar o cabelo. Devem ter colocado uns 20 xampus e produtos e quando elas terminaram, eu só estava pensando: “se meu cabelo ficar feio eu vou socá-las”.
— Uau, ficou bom. — Amber disse depois que uma delas fez escova. Eu estava realmente preocupada com isso. Todas concordaram e eu me olhei no espelho.
Não estava tão mal, era meu cabelo na versão mais brilhante e um pouco mais liso. Até que estava legal, se minha mãe me visse assim provavelmente ia ficar animada e falar “até que enfim você deu um trato no seu cabelo”. Eu fiquei até feliz, esperava que ele estivesse com a frente um pouco alta, como o penteado da Amber.
— Nós vamos escolher umas roupas lá em cima, , você pode fazer uma maquiagem bem bonita?
— Tudo bem. — falou e sorriu. Ficou meio que esperando elas saírem e pediu para que eu me sentasse em frente a uma penteadeira. — Preciso te contar uma coisa, não aguento mais isso. — bufou. — Elas estão armando para você.
— Ah, eu sei disso. — falei e ela arregalou os olhos.
— Sério? Bem, não sei se você sabe disso, mas elas vão esconder uma câmera no closet para te filmar trocando de roupa. Sapatos, penúltima fileira de baixo para cima, eu procuraria lá. Bem, você usa alguma maquiagem?
— Lápis de olho e delineador. — fiz uma pausa. — Obrigada. — sorri agradecida a ela.
— Bem, você parece ser legal e pode me ajudar a acabar com elas — ela sorriu malígna e dei um risinho. — Descobri que a Chloe tem uma câmera igual a da Amber, ela descarregou essa tarde então está sem nada. Acontece que a câmera da Amber está cheia de vídeos bem... Digamos que comprometedores que ela fez para o ex, ela está desesperada tentando voltar com ele.
Percebi o que ela estava tentando dizer. Ela pegou uma base, colocou uma gotinha nas costas da mão e começou a passar em meu rosto, o mesmo fez com o corretivo, mas usando somente debaixo dos olhos. Ela pegou pó solto e algumas outras coisinhas e foi começando a passar, dando ordens para que eu fechasse os olhos, abrisse...
— Eu trouxe meu notebook, então se você me entregar a câmera dela rápido eu passo os vídeos para o meu notebook, ela não vai desconfiar de nada.
— Uau, de onde saiu tanto ódio? — falei rindo.
— Ano passado eu é que fui a garota zoada por todos, acredite, ela fez algo pior do que ia fazer com você hoje. — falou triste. — É por isso que eu ando com ela, ninguém queria falar comigo e ela falou que se eu virasse capacho dela até, bem, ela encontrar outra pessoa para zoar todos se esqueceriam. Foi o que aconteceu, mas eu cansei, não agüento mais.
— Eu vou te ajudar.
— Obrigada. — seus lábios foram tomados por um sorriso de agradecimento. — Bem, você está pronta. Uau, você está bonita.
Olhei-me no espelho. era mesmo boa, pois conseguia ser bem natural e realçava bem o meu rosto. Meus olhos estavam com certa profundidade a mais, pois ela aplicara um pouco de sombra marrom no côncavo dos olhos, usava cores naturais e só tinha preto no delineador e rímel. Nem mesmo usou lápis de olho, usou sombra, de modo que meus olhos pareciam maiores. Até as maçãs do rosto pareciam salientes. Uau, isso se pode fazer apenas com maquiagem? Agora entendo a minha mãe.
— Uau, obrigada. Mesmo, ficou ótimo. — sorri radiante.
— Bem, eu acho melhor nós subirmos, elas devem estar nos esperando. — Deu um risinho.
Ela me guiou até o quarto da Amber, que, para minha surpresa não era maior que o meu. Mas isso devia ser porque quando foi construído eram dois quartos e como eu não ia morar sozinha preferi que ficasse um quarto grande e um de hóspedes. Na verdade a idéia foi da minha mãe, ela falou que se eu precisasse chamar minhas amigas todas, podiam pegar seus sacos de dormir e acampar. É claro que só podia ser dela, eu nunca pensei em algo assim antes, até porque minhas poucas amigas não dormiam muito em minha casa. Ninguém nunca dormiu, na verdade.
Eu não era a pessoa mais social do mundo e também não era muito apegada aos amigos que tinha lá. Se é que poderia chamar aquilo de amigos, eram pessoas com a cabeça fora do lugar que geralmente tinham algum fato traumático em sua infância que eu conversava e andava junto. Minha mãe nunca gostou muito deles, falava que eu tinha que sair com pessoas normais e admito que às vezes eu saía com eles só para irritá-la um pouco. Ela reclamava, mas acabava chegando à conclusão de que era melhor eu sair com eles do que não sair com ninguém. Eu tinha um afeto especial por uma menina baixinha chamada Eve, ela estudou comigo por uns cinco anos e vivia reclamando que os pais queriam mandá-la para uma escola especial, pois viu o tio morrer e achavam que ela não estava lidando bem com a situação. Besteira, ela era perfeitamente normal.
Ou quase.
Elas me arrastaram até o closet. Aquele lugar era quase maior que meu quarto, sem exageros.
— Bem, aquele é o meu armário com minhas roupas preferidas, está cuidadosamente separado em seções, o canto esquerdo tem roupas de festa, nesse tem duas subsessões, vestidos curtos e longos separados em cores. — ela deu uma pausa para respirar. — No meio tem os sapatos separados por tamanho do salto e cor, e por fim no canto direito tem minhas roupas de dia-a-dia, shopping, escola e etc., as subsessões são jeans, de claro para escuro, jaquetas e casacos, por cor e comprimento e a subsessão de blusas, separadas por cores.
Uau, essa garota definitivamente tinha TOC.
— Mas as roupas que separamos para você estão nos manequins. São fabulosas, você vai amar. — Balançou seu cabelo. Espera aí, ela tem manequins? — Entre lá, vamos ficar esperando aqui.
Que legal, ela tinha um closet dentro de um closet, Amber devia ser mais estranha do que Eve. Fechei a porta e tratei de ir procurar a câmera escondida para poder desligá-la e entregar à . Não foi difícil de achar, estava bem onde ela disse e como eu sabia o que procurar eu encontrei rapidamente. Depois de desligar me virei para ver qual roupa eu colocaria. Achei mais fácil optar por uma saia de cintura alta, blusa e um trench coat, assim eu poderia guardar a câmera sem ninguém perceber.
Vesti-me rapidamente e arrumei um lugar para esconder, ficou quase imperceptível e seria bem fácil de tirar e entregar a .
— Ficou muito bom. — recebi a aprovação de Amber e as outras concordaram. Não pude deixar de perceber um risinho, se ela soubesse...
Puxei discretamente a câmera enquanto elas puxavam o espelho e pegou. Ela falou um “Vou ao banheiro”, mas ninguém além de mim pareceu notar. Na verdade, acho que se ela saísse dali sem dar desculpa alguma ninguém notaria. era uma pessoa legal, estava conquistando minha simpatia e acho que poderíamos até ser amigas.
As meninas começaram a me empurrar para frente do espelho e acertar detalhes na roupa. Depois pediram para que eu entrasse no closet e experimentasse outro. Dessa vez peguei uma jaqueta de couro marrom, blusa básica em tom creme, jeans e botas de cowboy. Aquele era até legal, eu meio que gostei, mas onde, pelo amor de Deus, acharam aquela blusa básica? Ela pinicava. Blusas básicas não deveriam ser confortáveis? Dei umas puxadas na blusa com a intenção de não deixá-la tão colada no corpo e saí do closet.
Certo, eu ficava bem com aquela roupa, precisava comprar um jeans daquele para mim, era totalmente maravilhoso, mas como tudo aqui também devia ser bem caro. Percebi então que fazia algum tipo de sinal que queria confirmar alguma coisa, legal, agora o que eu ia fazer? Eu tinha que ser discreta, não podia simplesmente ir lá e pegar a câmera já que toda a atenção estava virada pra mim, só que aí simplesmente jogou alguma coisa para fora do closet que fez um barulho bem alto e gritou algo como “Rato, corram todas para o banheiro”. É claro que eu não fazia a menor ideia do por que correr para o banheiro, mas não quero julgar.
Rapidamente correu para o closet e colocou a câmera lá, depois deu a desculpa de que tinha confundido com o cachorro da Amber. O pior é que ele parecia mesmo um rato, era assustador. Não que eu tivesse mesmo medo de ratos, eles são um pouquinho nojentos sim, mas acredite, quando você se estuda no lugar onde eu estudava antes, nada mais parece.
Terminei de experimentar todas as outras e liguei para os meninos, que demoraram um pouco de atender. Oh, espero não ter acordado ninguém, isso não seria nem um pouco bom.
Pra mim.
— Alô?
— Oi, quero uma carona, tchau. — falei, não dando tempo de dizer mais nada e desliguei. Pronto, fui clara e objetiva. Espero que eles venham, do contrário mato todos eles amanhã.
Foi quase instantâneo, desliguei o telefone e quando saí do closet ouvi buzinas. Uau, isso foi bem rápido, eles são aliens ou alguma coisa assim? Olhei pela janela e lá estava o SUV de parado do outro lado da rua.
— Você já vai? — Amber choramingou. — Pensei que fosse dormir aqui.
— É, na verdade eu tenho que ir mesmo, eu estou com carona e não quero deixar ninguém esperando, desculpe. — falei, falsa. — Bem, tchau a todas.
— Ei, espera, eu posso ir com você? — ouvi a voz de , uau, ela estava sendo corajosa, é isso aí, garota!
Amber quase teve uma síncope. Admito, foi bem engraçado vê-la com aquela cara de “o quê?”. Amber parecia uma das pessoas que não suportava ser abandonada, aliás, parecia não.
Ela era.
— Tudo bem, . — falei. — Pode vir, acho que eles não vão se importar. — Dei um sorriso e ela pareceu ficar bem agradecida de sair dali.
Esperei até ela pegar todas as suas coisas e depois descemos as escadas, mas somente quando saímos dali pareceu relaxar. Abri a porta do carona e expulsei de lá, ele não fez nenhuma objeção depois que eu disse que ia socar o rosto dele. ainda não havia entrado no carro, parecia um pouco desconfortável.
— Ei, gente, essa é a , ela vai pegar carona com a gente, certo? Ela é um gênio, me ajudou a passar vídeos comprometedores da Amber, digamos assim. — falei. — Ela pode ir também, não é?
— É claro — falou. — Pode entrar, , sinta-se em casa ou... no carro.
E ela fez uma coisa muito inesperada, se sentou ao lado dele apertando o pessoal um pouco, colocou as coisas no colo e riu.
Riu.
Do .
Só então percebi que ele estava olhando bastante para ela. Eu ainda vou zoar ele por isso. Muito. Então ele começou a rir do nada também, eu dei uma olhada para trás e percebi que só eles que estavam gargalhando, dei uma olhada para o , também e ele estava com os olhos bem arregalados, talvez ele tenha notado o que eu percebi. Uau, esse era o primeiro dia de aula, eu estava me enturmando como nunca na vida e de repente senti vontade de rir também.
De repente não era só o , e eu que estávamos rindo, eram todos, olhou para mim, com os lábios tremendo, jogou a cabeça para trás e gargalhou bem alto, deu uma risada bem engraçada e deu um tapa nas costas de , fazendo com que ele desse um pulo e começasse a rir também.
Todos pareciam... Amigos. Exceto , ele ainda parecia um idiota, mas mais como um amigo idiota. E isso soava inexplicavelmente certo.
Depois de um tempo todos pararam de rir e do nada a conversa começou a fluir, ficamos falando de como podíamos expor o vídeo da Amber e toda aquela sujeira. Todos chegaram à conclusão de que deveria ser passado na escola, mas precisaríamos de alguém que editasse, colocasse censuras para ficar mais cômico.
— Humm... Já sei quem pode fazer isso e que toparia na hora. — disse. — .
— Verdade, ela totalmente odeia a Amber e é boa em edições. — concordou .
— Só eu que estou perdida aqui. — falei. — Quem afinal é ? Aluna nova, né, me perdoe se meus conhecimentos sobre o resto é limitado.
— , ela é arqui-inimiga da Amber há anos. — explicou. — Ela é bem legal e, acredite, já ouvimos falar dela o bastante para uma vida toda, o é apaixonado por ela desde... Bem, desde sempre.
— Ei, eu não sou! — exclamou, na defensiva.
— Sério, ? Eu sou amiga dela, se quiser eu posso te apresentá-la. — disse, animada, porém, sua expressão desmoronou. — Ou era, na verdade.
— Eu a conheço, certo? Falo com ela todos os dias, mas, bem, obrigado pela intenção, . — sorriu. — Podemos falar com ela amanhã.
Uma coisa me veio à mente, segurei uma risada.
— Ei, gente, imaginam o que a Amber está fazendo agora? Ela deve estar descobrindo que não filmou nada. — fiz um clique com a língua. — Oh, ainda nem saímos do lugar, é melhor correr, , da janela dela tem uma boa mira para se atirar, hein.
deu um salto e imediatamente ligou o carro e pisou no acelerador. Fiquei olhando pelo retrovisor a casa de Amber, era bem bonita, mas definitivamente nunca ia querer pisar ali de novo. Percebi que depois de virar a rua, desacelerou e, mesmo dirigindo, pareceu às vezes estar olhando para mim. Remexi-me, desconfortável, no banco. Ah, eu ainda estava com aquela maquiagem que fez em mim, devia ter alguma coisa borrada, ou talvez ele simplesmente estivesse me achando bonita, o que era totalmente justo, pois eu também pensava isso às vezes dele.
Ou sempre.
Paramos primeiro para deixar e , que moravam um ao lado do outro, o clima ficou um pouco estranho lá atrás depois disso. De vez em quando eu encontrava o olhar de no retrovisor olhando para e .
desceu do carro assim que paramos em frente à sua casa. Deu um tchau a todos e andou pelo caminho de pedras, veja bem: saltitando.
— E aí, hein , rolou totalmente um clima. — falei, me virando para o banco de trás. Ele riu, tentando esconder.
— Que nada, bem que eu queria. — certo, ele estava pedindo para ser zoado para o resto da vida. — Ei, ei, podem parar, minha casa é ali. — falou. — Tchau, gente, não vão fazer nada no carro não, hein, eu sento no banco de trás pelo menos uma vez por semana, isso é nojento
Outch, vingança do . Fiquei totalmente vermelha que não consegui nem encarar . Definitivamente foi muito estranho.
— Vá para o inferno, — soltou .
Depois disso o clima ficou totalmente estranho no carro, não falamos mais absolutamente nada. É, conseguiu, nos deixou completamente sem-graça um com o outro.
— Estranho. — falei do nada
— Muito estanho — concordou .
— Puta estranho.
O silêncio voltou a tomar conta do carro, mas não durou tanto, pois logo pigarreou, eu me virei para ele.
— Bem, eu vou estacionar na minha casa, certo? — falou. Eu fiz que sim com a cabeça, nós havíamos chegado.
Ele tirou as chaves e tentou fazer uma manobra tentando virar, ou sei lá que merda ele estava tentando fazer. Ele realmente não deveria ter feito isso, pois a chaves caíram ao meu lado então ele meio que tombou quando se inclinou para pegar e se segurou no volante para não cair bem em cima de mim. Resultado = estávamos a milímetros de distância.
Eu podia sentir até seu hálito que cheirava como... Morangos. É isso mesmo, o hálito do cara estava com cheiro de morango. Além disso, eu ainda podia sentir cheiro de loção pós barba, colônia masculina e sabonete. Um sabonete muito bom que por sinal também cheirava a morango. Certo, isso definitivamente era estranho, ele estava olhando para mim e eu não estava com nem um pouco de vontade de virar o rosto. E ele estava com cheiro de morango.
Morango.
Mas o mais estranho nisso é que ele parecia que ia me beijar e eu de certa forma queria que ele o fizesse. Estávamos quase colados e quando achei que ele ia tornar o espaço entre nós nulo ouvi um barulho e tomei um susto tão grande que bati a cabeça no teto. Barulho de buzina. , como havia se apoiado no volante acabou acidentalmente apertando a buzina. Fiquei pensando o que estaria acontecendo se ele não tivesse feito isso. Eu provavelmente estaria envolvida em seus braços e... Mais pensamentos absurdos. Afastei isso da minha mente e saí do carro, fez o mesmo.
— Tchau. — consegui falar, com a voz totalmente esganiçada. — Boa noite.
— Até amanhã. — falou.
Uau, esse foi um dia daqueles.
04
Acabei acordando cedo com o telefone tocando. Ainda um pouco cansada, consegui me arrastar até lá e atender.
— . — falei.
— É claro que é, quem mais moraria aí? — Reconheci aquela voz. Droga.
— Mãe, oi. — disse rapidamente. — Eu... Eu me esqueci de ligar ontem, tudo bem? Como vai a vida aí? Eu estou bem.
— Estou bem, filha. — fez uma pequena pausa. — Tentei te ligar ontem à noite, você dormiu mais cedo?
— Não, eu saí com alguns amigos.
— Sério? — agora ela realmente pareceu estar interessada. — Estou tão feliz que tenha se ajustado aí, quer dizer, na Newton você andava com pessoas bem estranhas. Oh, meu Deus, você não saiu com nenhum drogado ou emo não, não é?
— Não. — falei. — Mãe, eles não eram estranhos, os pais deles achavam que eram. Tudo bem que eles não tiravam as melhores notas e tinham alguns problemas com a direção, mas eu também tive.
— Tudo bem. Eu vou aí semana que vem, certo?
— Huh-hum, tchau, mãe, te amo. — Assim que ouvi um “eu também”, desliguei.
Fui tomar um banho bem gelado para ver se eu acordava totalmente. Escolhi a minha melhor roupa “não mexa comigo” — uma blusa branca justa acompanhada por uma jaqueta preta de couro, saia igualmente preta, meia arrastão, coturnos e uma pulseira que parecia feita de costelas e vértebras — e fui comer alguma coisa. Minha mãe provavelmente surtaria se me visse daquele jeito, ainda que ela tivesse me dado aquela pulseira. Mas isso é porque ela achou a minha cara, já que naquela época eu estava um pouco revoltada e estava usando muitas coisas de ossos. Eu tinha um sapato com saltos que imitavam vértebras, luvas de falanges, várias blusas com costelas, inclusive uma que brilhava no escuro.
Acho que minha mãe ainda culpa a Eve por isso.
De qualquer modo, resolvi sair mais cedo para a escola e ir andando, tinha que conhecer aquele lugar, se eu ficasse o dia inteiro trancada em casa não ia dar em nada e eu não saberia nem andar de carro aqui. Se bem que, falando em carro, eu era um pouco ruim em dirigir, pelo menos comparada a .
E eu não queria estragar o meu Camaro.
Assim que cheguei à escola fui procurar algum rosto familiar e logo encontrei . Ela estava conversando com uma menina muito bonita e gesticulando com as mãos.
— Ah, oi, . — falei, as duas se viraram para mim.
— ! — exclamou animada e me deu um abraço sem jeito. — , essa é , minha parceira de laboratório. , essa é , minha amiga.
Ah, então essa é a .
— Ah, você é a . — eu disse. — Humm, eu tenho uma coisa para falar com você.
— É? — pareceu bem surpresa, já que eu não a conhecia. — Pode falar.
— Eu fui a vítima das brincadeirinhas de começo de ano da Amber ontem e eu e a conseguimos pegar um vídeo bem... Comprometedor da câmera dela. — falei e ela deu um sorriso malicioso, processando a informação. — Eu armei um plano com ela, , , , ... — fui interrompida.
— Tinha que ter dedo dos McGuys. — riu — Prossiga.
— Temos um plano, mas vamos precisar de sua ajuda para editar o vídeo, entende o que eu quero dizer, não é? — perguntei.
— É claro, e eu ficaria muito feliz em ajudar, podem contar comigo e incluir meu nome aí. Ah, até que enfim, devo dizer que essa é uma grande oportunidade de esmagar aquela vaca. — pareceu com raiva.
— Derrubar a Amber? — falou baixinho. — Isso é totalmente demais, eu posso ajudar com alguma coisa? Eu adoraria. Sabe, um dia ela chegou e disse que eu estava babando por um garoto que costumava ser meu amigo bem na frente dele. É, eu estava babando mesmo, mas foi só porque eu tinha acabado de acordar. Ele era um sonso que achou que eu estava obcecada por ele ou algo assim e nunca mais falou comigo. — bufou.
— É claro, . Humm, , a falou que ia fazer um CD para você e que ia te entregar no intervalo. Tudo certo?
— Ok, babe, tudo ótimo.
***
Na hora do intervalo eu me sentei à mesa junto com o pessoal. puxou um CD de dentro da bolsa.
— Eu estou com meu notebook aqui, poderia fazer isso agora. — falou assim que entregou a ela. — Não aqui, é claro, todos iriam ver, mas posso fazer isso no banheiro.
— No banheiro? — perguntou. — Aquilo lá tem cheiro de... coisas nojentas. Não vou lá faz mais ou menos um ano, desde que eu encontrei...
— Tudo bem, tudo bem, não vamos falar nisso, certo? — interrompeu . — Vocês acham melhor fazer logo agora? Eu acho que quanto antes melhor. Ela deve estar furiosa agora por não ter conseguido gravar o que queria, se nós fizermos isso ainda essa semana a cabeça dela vai explodir.
sorriu e foi em direção ao banheiro com a bolsa gigante e quadrada e o CD em mãos, feliz. Ela afastou alguns passarinhos que tentavam comer migalhas e desapareceu em meio às pessoas. Levantei-me, anunciando que ia pegar uma coca. Daquele ângulo dava para ver todas as mesas. Na Newton, geralmente, a escola estava separada em três grupos, os legais, os normais — o que eu fazia parte — e os anormais.
Os legais nem eram tão legais assim, o que diferenciava é que eles sabiam como se arrumar e eram socialmente ativos um pouco demais. Na verdade eles não eram legais, eram totalmente tediosos e falavam uma palavra por dia, que geralmente era “legal”. Não tenho nada a comentar sobre o grupo de pessoas normais. Os anormais, bem, eles eram pessoas com sérios problemas, muitos tinham transtornos psíquicos, infelizmente era o meu grupo, mesmo eu não me encaixando no “transtornos psíquicos”.
Aqui o refeitório parecia estar separado em cinco. O grupo de Amber, que se encaixava perfeitamente em enjoadas. As pessoas emos/góticos/punks, nerds que jogavam PSP e jogos de computadores. Líderes de torcida e jogadores e por fim as pessoas que não estavam em nenhum desses grupos, o que era meu caso. E por mim estava tudo ótimo, desde que não viessem arrumar confusão comigo, porque aí ficaria contente em dar um soco em todos eles.
Quando voltei à mesa, todos pareciam estar um pouco estranhos, exceto , que estava dormindo. estava soprando as mãos, estava olhando para com sua visão periférica e estava olhando para seus sapatos. Não sei o motivo, mas começou a descascar o esmalte das unhas dos pés e estava com os olhos arregalados para ela.
Legal, pelo visto consegui colegas normais, minha mãe iria ficar admirada.
— , que cara é essa? Você parece que se drogou. — falei.
— Eu só estou quebrando meus recordes de ficar sem piscar por mais tempo. — disse bastante animado. — Eu cheguei a ficar 1 minuto ontem.
— Então por que está olhando para ? — eu falei e eles pareceram se olhar esquisito.
— Eu gosto de complicar as coisas, fazer outras categorias desses recordes. — Certo, era mesmo doido, como alguém faria categorias de ficar mais tempo sem piscar os olhos? — Essa era pra ficar mais tempo sem piscar olhando para uma coisa brilhante, neste caso, o cordão da .
Faz sentido.
Silêncio.
— Por que McGuys? — perguntei assim que a coisa me veio à mente.
De repente deu um pulo e acordou, o que teria me assustado se eu não estivesse olhando para .
— McFLY. — falou com um resmungo
— Ah, sim, que legal, , o que é?
— É o nome da nossa banda, . Poxa, eu pensei que você fosse inteligente. — sorriu irônico.
— Eu sou inteligente e não preciso ficar discutindo isso com você. — falei. — E eu cheguei aqui não faz nem uma semana, não fazia idéia disso, certo? — revirei os olhos.
Alguns minutos depois, chegou falando que tinha terminado de editar, falou que era fácil depois que você estabelecia os padrões para preenchimento, ou qualquer coisa que isso signifique. Acho que tem alguma coisa a ver com a faixa preta nas partes íntimas da Amber, mas isso era só um palpite.
— Vocês não vão acreditar no quanto a Amber é gorda. — ela falou. — Bem, na verdade ela não é, mas com certeza usa algum modelador corporal porque mesmo não sendo gorda é meio... quadrada. Como um robô, e talvez ela seja mesmo um robô programado pra infernizar vidas. E ela... — parou um pouco, rindo. — ela está totalmente desesperada por esse tal de Stephen, dá pra perceber isso.
— Podíamos colocar no Youtube, — sugeriu — ou... Ah, meu Deus, eu tive uma idéia excelente. E se esperarmos ela passar o vídeo para o Stephen? A Amber é tipo, uma vaca, ela provavelmente desconfiaria da e da , mas se ela passar pro Stephen ela vai achar que foi ele.
Verdade, não tinha pensado nisso, Amber, com certeza, saberia que fui eu e realmente não queria morrer jovem. Ela tem muitos sapatos de salto, aposto que um daqueles mata alguém. Só digo uma coisa: se ela viesse para cima de mim eu dava um jeito naquele rostinho bonito com meus sapatos de osso.
— Verdade, aí nós tiramos o traseiro da reta. — concordou. — Bem, teremos que esperar até amanhã para passar isso para a internet. E sabe o que seria mais legal? Enviar o vídeo para o site de fofocas das líderes de torcida. Acreditem, mais da metade da população dessa escola acessa o site, seria totalmente legal, e elas atualizam toda manhã.
— Poderíamos mandar hoje à noite então. — sugeriu . — Quem vai fazer isso?
— Eu! — Dissemos todos juntos.
— Bem, se todos querem fazer isso por que não fazemos juntos? — perguntei. — Poderíamos aproveitar e jogar...
— Guitar Hero! — sugeriu e todos aprovaram. — Certo, então, pode ser na casa do ? — falou e todos gritaram “SIM” menos o próprio, que fez uma cara azeda como se pensasse “Nunca que eu vou deixar esse bando de doidos jogar Guitar Hero na minha casa”.
— Por que na minha casa?
— Porque todos aqui sabem onde fica sua casa, você já fez uma reunião escolar nela, não é? — falou. — Ah, vamos lá, .
— É, , vai... — falei rindo. Ele me olhou rápido.
— Tudo bem, tudo bem. Na minha casa às sete. — disse.
***
Faltando uns 15 minutos, tomei um banho e coloquei um vestidinho estampado. Quando foram sete horas exatamente, peguei meus chinelos e saí de casa. Ao atravessar a rua, toquei a campainha e abriu a porta.
— Está atrasada — revirou os olhos e simplesmente bateu a porta na minha cara. Idiota, aposto que ele fez isso só comigo. Gente como o faz isso só pra deixar as pessoas nervosas e mesmo sabendo, me deixa também, é da minha natureza.
— , abra essa porta agora, imbecil. — berrei.
— Ah, que tal você pedir, por favor? — falou. — É feio falar assim com as pessoas, . — fez uma voz de quem está chateado, que seria engraçada se não me fizesse querer arrombar a porta. Infelizmente, não tenho essa capacidade, então o que eu podia fazer era ameaçar.
— Ai, quando você abrir essa porta eu vou te dar um soco bem dado no nariz, não reclame depois. — disse. — e depois quando o seu sangue escorrer pelo chão vai sujar seu tapete e... e eu não vou pagar um novo.
Escutei alguma coisa abafada pela porta, parecia ser uma risada.
— Abre logo essa porta, . — pareceu ser falando.
Ouvi um barulho de chaves e o rosto de apareceu na porta.
— Vem, entre logo, mas, fala sério, , você é muito lerda, né? — disse — Sua casa é ali na frente e você é a última a chegar, pensei que seria a primeira, se você fosse ainda tinha como dar uns pegas. — sorriu irônico.
— Poxa, da próxima vez eu chego, pode deixar. — falei com o mesmo tom de ironia dele e pisquei. — Saia, me deixe passar. — Empurrei-o para entrar pela porta e dei uma olhada.
A casa dele era separada de um jeito que a deixava parecida com a minha. Não tinha tantos móveis, mas, com certeza, os dele eram bem maiores que os meus, enquanto eu tinha uma pequena estante, a dele ocupava uma parede inteira. Sua cozinha parecia ter uma entrada bem perto da porta e pude ver que a mesinha estava cheia de pacotes de salgadinhos. A TV dele era bem grande e... Enfeitada. É, era estranho, mas estava cheia de adesivos holográficos. Uma feliz assistia a um programa de culinária esparramada no sofá enquanto falava alguma coisa sobre não querer assistir àquela coisa idiota e falava que “era a vez da ”. Já e conversavam e às vezes uma delas gritava para os meninos pararem de discutir e deixar assistir o que ela queria. Tudo parecia legal.
— E aí, pessoal? — falei e automaticamente todos se viraram e gritaram “Oi, ” em uníssono. — Eu trouxe meu CD do karaokê — fiz um barulhinho animado. — Eu adoro isso, então, por favor, não estraguem minha felicidade. — em minha boca se formou um biquinho.
— Que músicas têm aí? — se levantou e puxou o CD. — Humm... Like a Virgin, essa vai ser o máximo. — riu. — Girls Just Wanna Have Fun... pelo visto só tem clássicos aqui.
— Estou imaginando os McGuys cantando essas músicas. — falou, rindo. — Isso vai ser divertido. — ela também se levantou e puxou o CD da . — Ah, sabia! Tinha que ter Celine Dion aqui, não é mesmo? Humm... ABBA. Essa seleção é boa, quem fez?
— Minha mãe. — eu disse — Isso é a definição dela de Natal em família, todos cantando músicas assim... Pagando mico... — falei. — Eu aproveito e gravo escondido para depois colocar no Youtube.
, que até então estava na cozinha, chegou carregando os pacotes de salgadinhos. Ele os colocou em cima da mesa de centro que antes estava vazia e franziu o cenho. Ele ficava engraçado assim, quase fiquei com vontade de rir, mas mordi o lábio inferior e me controlei.
— Nós não íamos jogar Guitar Hero e depois mandar o vídeo para o site das líderes de torcida? — questionou .
— Podemos jogar também, mas vamos ao Karaokê antes? — perguntou com a voz melosa. — Eu não sei jogar Guitar Hero direito, vocês vão me humilhar. Vocês devem ser viciados nessa coisa, né? E vocês ainda têm uma banda.
— Certo, Karaokê primeiro. — concordou. — Vamos tirar na sorte para ver quem começa. Ou melhor, quem escolhe. Vamos fazer o seguinte: quem ganhar escolhe quem vai e qual música vai cantar. Essa pessoa depois escolhe outra e assim por diante. — ele sugeriu e todos concordaram com a cabeça.
Resolvemos sortear, então pegou um caderno dele, escreveu os nomes, recortou e dobrou. Antes de fazer isso eu verifiquei se ele não tinha escrito só o nome dele, sei bem como ele é. Acabou que ele não tinha feito isso e quem foi sorteada foi a . Ela escolheu o para cantar YMCA, essa foi boa, . Ponto para as mulheres! A música começou e ele cantou junto.
— Young man, there's no need to feel down. I said, young man, pick yourself off the ground. I said, young man, 'cause you're in a new town there's no need to be unhappy. Young man, there's a place you can go. I said, young man, when you're short on your dough. You can stay there, and I'm sure you will find. Many ways to have a good time. — Cantou ele a plenos pulmões, sua voz estava engraçada, pois ele estava tentando deixar parecido, todos estavam rindo.
— Tem que fazer a coreografia, ! — gritou.
— It's fun to stay at the Y-M-C-A. It's fun to stay at the Y-M-C-A. — Cantou fazendo os gestos com os braços. — They have everything for you men to enjoy, you can hang out with all the boys...
A essa altura todos estavam com a cabeça jogada para trás, rindo e cantou o resto da música com a voz quase tremida com a risada. Já era a segunda vez que eu tinha engasgado com a coca-cola e ela começou a sair pelo meu nariz. olhou para mim com os olhos arregalados e começou a rir novamente. Aquilo realmente não era engraçado. Minhas narinas estavam ardendo e meus olhos se encheram de água, mas eu continuei a rir.
— Eu quero que... A cante Dancing Queen. — escutei falar depois. Eu ainda estava rindo e já havia limpado meu nariz, respirei um pouco.
— Tudo bem, tudo bem. — Coloquei a música para tocar e esperei. — Ooh... You can dance, you can jive, having the time of your life... Ooh, see that girl, watch that scene, digging the Dancing Queen.
— Arrasa, amiga! — gritou.
— Friday night and the lights are low, looking out for the place to go. Where they play the right music, getting in the swing, you come to look for a King. Anybody could be that guy, night is young and the music's high. With a bit of rock music, everything is fine, you're in the mood for a dance.
— Vai, ! — gritou e pude ouvir uma gargalhada alta. — Faz uma coreografia!
Cantei mais empolgada a plenos pulmões, fazendo uns gestos com as mãos.
— And when you get the chance... You are the Dancing Queen, young and sweet, only seventeen. Dancing Queen, feel the beat from the tambourine, Oh Yeah! — pulei, jogando as mãos pro alto — You can dance, you can jive. Having the time of your life, ooh, see that girl, watch that scene, digging the Dancing Queen.
Assim que terminei, liberei toda a risada que eu tinha segurado durante a música. Levei alguns minutos até finalmente falar quem eu queria que cantasse.
— , você vai cantar Like a Virgin. — disse. — Eu não te dei um soco, mas quem disse que não ia me vingar? — dei minha melhor risada de bruxa maligna.
— Like a Virgin? Ah, quero meu sutiã pontudo, por favor. — brincou. — Sem graça, , vai me botar pra cantar Madonna? — revirou os olhos, mas logo que lancei um olhar fulminante ele colocou a música e logo aquele tom conhecido começou a tocar. — I made it through the wilderness, somehow I made it through. Didn't know how lost I was, until I found you. — apontou para mim e eu comecei a rir. — I was beat, incomplete, i'd been had, I was sad and blue, but you made me feel, yeah, you made me feel shiny and new. Like a virgin. Touched for the very first time, like a virgin, when your heart beats next to mine.
cantava bem, precisei admitir. Mesmo forçando a voz para ficar meio gay. Ele terminou de cantar a música e escolheu para cantar My Heart Will Go On. Era uma música bem difícil, mas ela cantou lindamente, todos aplaudiram depois. foi escolhido por ela para cantar Macho Man e devo dizer, ele é muito mais engraçado do que aparenta. Já ele escolheu a para cantar Girls Just Wanna Have Fun. Depois dela, arrasou no Love Me Tender, do Elvis e finalizou com It’s Raining Men. Quando terminamos já eram mais de oito horas, tínhamos terminado com sete pacotes de salgadinho e estávamos exaustos, resolvemos então colocar logo o vídeo no Youtube e mandar. Assumiu o controle do computador.
— Hm, é só fazer isso... — clicou em algumas coisas — ... Isso... E Pronto! Agora está no Youtube. Agora vou entrar em um e-mail falso que eu fiz justamente para mandar coisas para aquele site, já consegui fotos bastante interessantes ano passado.
Ela entrou no tal e-mail, mandou o link do vídeo e todos colocaram o dedo no botão do mouse quando ela ia clicar em enviar. Pronto, estava feito. Agora, eu esperava mesmo que a Amber tivesse enviado realmente o vídeo para o tal de Stephen. Amanhã esse ia ser o assunto mais falado na escola, vingança é mais doce quando compartilhada com amigos.
05
Acabou que no final do dia não jogamos Guitar Hero, combinamos de jogar algum outro dia. Fui para casa e tentei pegar no sono. Foi bem difícil, admito. A expectativa era grande e eu teria que colocar minha melhor roupa de bater, caso o plano falhasse e Amber descobrisse que foi o tal de Stephen. Coitado, ele teria que lidar sozinho com isso, mas antes ele do que eu.
Fiquei surpresa ao acordar na manhã seguinte sem sono nenhum e bem na hora. Coloquei um jeans legging, um top preto e um blusão por cima. Peguei o primeiro par de All Star que encontrei e calcei. Ah, era um visual de bater muito bom.
Eu queria ir de carro para a escola, é claro, mas ele estava sem gasolina e eu não tinha dinheiro, ótimo. Eu tinha que arrumar um emprego urgente. Hum, eu poderia fazer isso à tarde.
Quando eu cheguei à escola aquilo parecia o inferno. 99% das pessoas estavam com seu celular na mão, rindo e comentando com seus colegas que também estavam com celulares na mão. E todos deviam estar vendo o vídeo, suponho. Isso era totalmente o máximo. Será que a Amber tinha vindo hoje? Fiquei procurando com os olhos, mas não encontrei nada, provavelmente ela tinha se escondido ou algo assim. Logo eu encontrei , que estava com a cara enfiada no armário, rindo.
— Menina, eu não imaginava que seria tanto assim. — falei a ela. — Onde será que está ela, hein? Eu gostaria de ter visto a cara dela, provavelmente ainda está em choque.
— Eu a vi no banheiro feminino, estava fuzilando a todos com aquele olhar de cobra — tremeu. — Ela estava falando que nunca mais ia falar com o Stephen, que ela confiou nele e ele fez isso com ela. — riu. — Ai, eu sou demais, não sou? Meu plano deu certo, agora tiramos nosso traseiro da reta.
Eu ri e logo depois nos despedimos já que o sinal tocou.
***
Depois que a aula terminou, eu fui bater perna pra procurar um emprego. Primeiro fui a um restaurante onde disseram que precisavam de uma garçonete. Admito que eu não fiquei muito animada, mas era uma opção e eu precisava do dinheiro. Ao entrar, parei imediatamente ao ver que as garçonetes andavam de patins.
Patins.
Não mesmo.
Dei meia volta e fui para a loja de CDs ali perto, eles estavam precisando de uma vendedora. Eu totalmente adoro lojas de CDs e esperava mesmo conseguir o emprego lá. Assim que entrei, me senti melhor. Estava rodeada de CDs e estava tocando I Hate Everything About You do Three Days Grace.
— Oi, você! — falei para um dos vendedores. — Vocês ainda têm aquele emprego de vendedora?
— Oh, desculpe, nós contratamos alguém ainda hoje, sinto muito. — disse.
— Ah, obrigada. — dei a volta, desanimada.
Ótimo, pelo visto vai ser difícil.
Acabei passando por um restaurante italiano, Luna Piena. Vi que tinha um emprego como garçonete. Sem roupas ridículas, sem patins. Era até um bom negócio. Entrei e logo percebi que tinha AC, ganhou pontinhos comigo. Fui em seguida falar e disseram que ainda tinham vagas e que eu podia fazer a entrevista logo. Não demorou muito, eu já estava com as pernas tremendo, sou um frango mesmo.
No final eles me contrataram. Descobri que o salário daqui é quase o dobro do meu antigo e isso é totalmente o máximo. Se como caixa eu já consegui pagar metade do meu Camaro em... humm... dois anos, agora eu não precisaria economizar tanto.
E ainda conseguiria pagar a gasolina.
Saí de lá feliz, eu começaria na semana que vem no turno das 6h às 10h. Acabei decidindo dar uma volta na cidade a pé, não andei muito e logo encontrei um hospital grande. Resolvi entrar para ver como era. Podia parecer estranho, mas eu adorava o cheiro de hospitais, a sensação... Era tudo limpinho. Fiquei andando até que cheguei à recepção.
— Oi, jovem. — me surpreendi quando uma delas falou comigo. — Você está aqui para visitar alguém?
— Oh, não.
— Ah, já sei o que você quer. — falou certa. — Você está atrás do estágio para estudantes de assistente da Dra. Cable, não é?
Não, eu não estava, mas estágio para estudantes? Num hospital?
— É claro. — falei. Bem, eu não sei quem é essa Dra. Cable, mas um estágio no hospital seria realmente muito legal, ele só não podia ser na hora do meu trabalho. — Então, a Dra. Cable é médica... ahn... o que mesmo?
— Legista. — falou sorridente. — Ah, eu sei bem como são os jovens, sempre confundindo a função dos médicos, não é mesmo?
— Ah, é claro, como pude me esquecer, é que estou com a cabeça cheia de... — bati a mão na testa e tentei inventar alguma coisa para falar. — ...garotos! Sabe como é. — dei um sorriso amarelo, esperando que ela caísse nisso. Imediatamente me lembrei dos episódios de CSI que eu via com a minha mãe. Legista era o que investigava a causa da morte, não é?
— Ai que saudades de quando eu era adolescente. — falou sonhadora. — Mas então, vou te dar uma ficha, você vai ter que preencher agora, hoje acabaria o prazo ao meio dia, mas posso te fazer uma exceção.
— Vou fazer, obrigada. — peguei a ficha e comecei a preencher, devo ter demorado bastante, era enorme. — Aqui.
— A Dra. Cable vai escolher três até amanhã. — falou. — Boa sorte, eu gostei de você. Se você for uma das três nós te ligamos, certo? Tchau.
***
Eu consegui. Assim que me inscrevi foi meio que “Ah, vai”, mas quando me ligaram no dia seguinte, eu fiquei realmente feliz. Mais feliz ainda porque eu iria lá a partir da segunda, assim que me ligassem e como ela sabia que éramos jovens não ia fazer isso à noite. Ótimo, assim não teria conflitos com o trabalho. Fui para a escola saltitante, sem me importar em ir a pé. No caminho da escola, o carro de acabou parando, o vidro abaixou e eu pude vê-lo, estava rindo.
Estranho.
— E aí, você quer carona, ? — perguntou ele. — Só não vai poder ir sentada no banco do carona, estou levando a Dallas. — sorriu e uma garota de olhos absurdamente verdes apareceu lá atrás.
Devia ser um crime alguém ter olhos como aqueles, sério. Eu só não sabia se eu ficava com medo ou se eu chorava por não ter herdado genes como aquele. Lá estava ela longe, no banco do carona do carro e estava reparando nos olhos que praticamente saltavam, querendo mais espaço para tanta cor.
Era de dar medo.
— Ah, , por que você não faz isso quando eu realmente não estou a fim de ir andando? — resmunguei. — Hoje eu estou realmente feliz e seria capaz de dar uma volta pela cidade inteira. — Fiquei com vontade até de jogar os braços para o alto, mas não fiz isso já que estava carregando o caderno. — Eu acho que vou passar essa carona. Tenho mesmo que emagrecer um pouquinho.
— Certo, eu não quero me intrometer na conversa, mas... — A tal Dallas falou, ela tinha uma voz melodiosa. — Eu totalmente daria tudo para ter o seu corpo.
Certo, então vamos trocar? Eu te dou meu corpo e você me dá sua voz e seus olhos. Eu ficaria satisfeita com a troca, a não ser que ela fosse obesa. Aí seria bem difícil abrir mão dos meus doces e chocolates pra emagrecer tanto. Mas acho que pela insinuação ela estava falando que era magra demais. Ótimo, eu não precisaria controlar o que eu como. Bem, isso se essa troca fosse possível, o que não é.
Infelizmente.
— É verdade, , o seu corpo... — nós duas olhamos para ele, estreitando os olhos como um pedido para calar a boca. — Parei, juro.
Dallas fez um som de desaprovação, algo como “tsc, tsc”.
— Entra logo aí, . — revirou os olhos. — Deixe de ser irritante.
— Calma, , ela não está sendo irritante. — disse. — Ela só não quer a carona, tudo bem? — então ela mudou o tom de voz e sussurrou: — E se ela não aceitar podemos dar uns pegas no estacionamento — se voltou para mim novamente. — Então, você vai aceitar?
— Ah, está na cara que vocês dois não querem ser interrompidos. — mas admito, eu adoraria, só para vê-lo irritado. — Então não, obrigada. Se bem que... Não sei, acho que seria legal não ter que carregar os cadernos hoje. Estão pesados. — dei um risinho inocente.
revirou os olhos para mim.
— Entre logo antes que eu mude de ideia. — ele saiu do carro e pegou meus cadernos. — Ei, isso não está pesado. — olhou-me desconfiado. — Ah, você tem que fazer mais exercícios no braço, hein, senão vai ficar cheia de pelancas. — falou irônico.
— Ah, você que é forte, . — falei revirando os olhos, igualmente irônica. Puxei os cadernos das mãos de e entrei no carro. — E aí, Dallas? Humm, o seu nome é Dallas mesmo ou é só um apelido? — perguntei e ela riu.
— Meu nome é esse mesmo. — disse. — Eu nasci em Dallas, sabe como são as mães. Mas ela achou que tinha a minha cara. Eu particularmente acho que parece mais um sobrenome, mas até que gosto. Minhas amigas dizem que é chique — fez uma careta.
estava meio viajando, fiquei com medo que estivesse com sono. Então, como se estivesse lendo minha mente murmurou um “é, legal”. É, ele estava mesmo acordado, mas viajando.
Totalmente.
Ao olhar para frente descobri por que Dallas tinha falado que daria tudo para ter o meu corpo. Ela era extremamente magra, mas não magra do estilo todo-mundo-sabe-que-eu-vomito-as-refeições, era mais um sou-tão-magra-quanto-uma-super-modelo. Era um pouco estranho para falar a verdade, ela movimentava muito os braços quando falava, e como eles eram finos parecia que iam quebrar.
Assim que saímos do carro, eu abri a porta, peguei meus livros e saí, depois perguntei a se ele não poderia fechar a porta do carro para mim. Ele, inacreditavelmente, fez e depois abriu a porta para Dallas, pegou os livros dela e depois que ela saiu fechou a porta! Como assim?
Meu Deus, Dallas é tipo, meu herói. Ou heroína, já que ela é mulher, mas acho que isso não tem muita importância agora. Mas é que ela conseguiu fazer com que segurasse os livros dela. Ela deve ser mesmo muito boa de cama.
Certo, ignorem totalmente meu comentário. Por favor.
— Eu já tenho que ir. — disse Dallas. Ela meio que puxou os braços para baixo, como se estivesse se espreguiçando. Os ossos da clavícula ficavam visíveis e saltando. Medo. — Minha primeira aula é no outro prédio. Vocês ficam aqui, não é?
— Sim, temos aulas juntos. — me abraçou de lado, colando minha cintura a ele. Certo, ele não devia ter feito isso. Senti um arrepio e ele deve ter sentido também, pois seu corpo tremeu e ele tratou de me soltar. — Ela é minha disfarça-sono oficial agora, não é? — falou irônico e riu.
— Ah, é claro. — disse. — Que posto carinhoso, . Fico feliz que tenha tanta importância para você assim. — falei como se estivesse emocionada. Ele sabia que era falso e Dallas também, o que fez com que ela desse uma gargalhada. — Bem, ainda tenho que ir guardar algumas coisas no meu armário. Até mais, Dallas.
Ela também se despediu, entregou os livros a Dallas e eu ele saímos caminhando pelo estacionamento. Estava um silêncio perturbador e havia uma tensão estranha no ar.
— E aí, . — falou ele, rompendo o silêncio — Por que você estava tão feliz hoje de manhã que quase recusou minha carona e mais momentos da minha adorável presença, hein? Posso saber? — eu dei um risinho.
— Ontem eu consegui um emprego. — disse eu. — E, como bônus eu vou trabalhar para a Dra. Cable, uma legista que está oferecendo estágios para estudantes. — Percebi que estava com uma cara de “Hã?” — Legista, , é uma pessoa que trabalha com gente morta.
— Ah, sim, é claro. — falou. — Percebi mesmo que você não tem muita cara de quem se dá bem com gente viva, sabe? — disse irônico. — Mas enfim, parabéns por ter conseguido um emprego e parabéns por esse treco de “gista” aí, sei lá o que é esse... treco com gente morta. Você vai, tipo, dissecar corpos? Se for, aí é realmente legal, eu também quero fuçar órgãos internos de gente que bateu as botas.
— É legista, , e não, não vou dissecar copos. — revirei os olhos. — Acho que você descobre a causa da morte. Eu não sei, não via muito CSI, preferia ER, sabe? County General Hospital, gente viva, hemorragia, gente morrendo, pessoas doentes, deformadas, baleadas...
— Tudo bem, já entendi, , já entendi. — esbarrou os ombros nos meus, ou pelo menos tentou, já que ele era bem mais alto.
Isso me arrancou um sorriso. era bem chato, mas tinha seus momentos.
06
O resto da semana passou muito mais rápido do que eu esperava e queria. Eu ia começar a trabalhar, talvez fosse chamada pela Dra. Cable, tinha que abastecer meu Camaro e ainda tinha que arrumar a casa para minha mãe não achar que eu era irresponsável demais. Resolvi dar uma geral na casa e passei um aspirador para tirar os cabelos do chão. Pensei seriamente em usar toucas, parecia ter mais cabelo lá do que em minha cabeça, isso era frustrante. Depois disso fui abastecer meu carro e acabei dando uma volta pela cidade.
No outro dia, acordei cedo, vesti-me e fui para a escola. Acabei pegando óculos escuros, pois por incrível que pareça, fazia sol aquela manhã. Ao chegar, saiu correndo em minha direção assustada e depois de dizer um “belo carro”, pediu para que eu fosse ver uma coisa. Admito que fiquei um pouco assustada, pelo tom de voz dela parecia ser algo bem sério. Ela me levou até a quadra, para debaixo da arquibancada, tinha um grupo de pessoas cercando alguma coisa. Não pude ver bem o que era, mas assim que entrei, entendi o estado de .
Era uma líder de torcida morta.
O corpo parecia ter sido em parte devorado por ratos, mas dava para ver que era uma menina com cabelos castanhos. O ar tinha um fedor horrível e o chão estava coberto de sangue, conseguia-se ver alguns dos órgãos internos da garota, tudo um pouco nojento. Uma mulher de cabelos castanho-avermelhados examinava os restos como se aquela situação fosse totalmente natural para ela. E talvez fosse mesmo, talvez ela fosse legista também, como a Dra. Cable.
— Uau, já sabem quem é essa, ? — perguntei a ela. não estava olhando diretamente, parecia estar com um pouco de nojo.
— Jenna Van Der Hood — estremeceu. — Ela era a melhor amiga da Hayden Hill, chefe das líderes de torcida. Ao contrário do que geralmente as pessoas dizem, as líderes de torcida daqui não são vadias. — parou para espirar, ainda não se atrevendo a olhar para frente. — Elas são um pouco superficiais, mas são inofensivas. Podemos, por favor, sair daqui?
— Oi, meninas. — chegou ali, junto com os outros McGuys. — Uau, que legal, é a Jenna, não é? Olha, consigo ver as tripas dela, que nojento. — falou e fez uma cara estranha.
— Shh, olhe, tem um gato preto ali. — falou. Espere, deixe-me processar essa informação direito, gostava de gatos? — É melhor não falar nada, o gato pode ter sido testemunha do assassinato, eles podem querer sacrificá-lo.
— Por quê? Acham que o gato vai falar, ou algo assim? — Percebi que também estava lá, ela começou a rir da própria piada sem graça. , como era doente que nem ela, fez o mesmo.
revirou os olhos.
— Só fiquem quietos, certo? — falou. — Coitada da Jenna, foi assassinato, não foi?
— Acho que sim. — sussurrou — E pelo visto foi por um homem.
— Por que você acha isso, ? — questionei.
— Ela está debaixo da arquibancada, . — respondeu . — Você sabe, casais. Eles geralmente vêm pra debaixo da arquibancada se pegar. Principalmente depois dos jogos. Teve um jogo na sexta, faz sentido, ela devia estar aqui com algum cara do... Time de futebol. — muitos concordaram com a teoria da .
Ficamos um minuto em silêncio absoluto. Eu fiquei vendo o corpo e já estava me acostumando ao horror da situação, percebi que um homem que devia estar cuidando do caso estava observando. Ele conversou alguma coisa com a legista e li seus lábios “Dra. Cable”. Oh, espera aí, aquela era a Dra. Cable? Ela era bem diferente do que eu tinha imaginado, era bem bronzeada e tinha os olhos um pouco puxadinhos, só que as íris castanhas eram realmente grandes, tinha também uma pintinha perto do nariz. Seu cabelo era castanho avermelhado e curto, acima dos ombros.
— Ei, , aquela é a Dra. Cable, a legista. — falei. — Ah, se você quiser, eu posso falar alguma coisa com ela sobre ter me aceitado como assistente aí você vai lá e pega o gato preto. — sugeri e ele concordou. Eu fui em direção a ela. — Você é a Dra. Cable, não é? — ela assentiu. — Prazer, sou , eu sou uma das... hun, três assistentes que você escolheu, sabe? Do estágio para estudantes.
Enquanto isso, passou disfarçadamente. Pensei no que eu poderia falar.
— Ah, é claro! Que coincidência! — falou. — Talvez eu possa te designar para esse caso. Ou você prefere ajudar a fazer a autópsia de uma pessoa com um pouco mais de carne?
— Por mim está tudo ótimo. — falei automaticamente — É... Eu não acho nojento, pode deixar. — menti. — Deve ser interessante fazer a autópsia de uma pessoa que não está... Inteira.
— É claro. — falou sorrindo — Chegue lá às 14h, certo? É assassinato, então é confidencial. Ahn, já que está aqui, poderia pegar umas luvas e pegar aquele rato morto ali? — falou como se estivesse pedindo para comprar um café. — Talvez ele tenha se intoxicado com alguma coisa, algum veneno, podemos ver o que o matou. Talvez seja a mesma coisa que matou a vítima. Talvez seja bom analisar os excrementos, também.
Ela estava brincando, certo?
Humm... Pela expressão dela eu acho que não.
Tratei de pegar as luvas e segurei o pobre ratinho morto pelo rabo. Olhei para , que estava com uma expressão de “O que você diabos você está fazendo aí?”. Acabei não precisando pegar os excrementos, um homem fez isso por mim, parecendo achar tudo isso muito fascinante.
— Bem, acho que era só isso, vou mandar todo o resto para o laboratório para análise. — falou. — Então, te vejo à tarde?
— Ahn, é claro, Dra. Cable.
Voltei para perto do pessoal e começou a falar para não tocar nela com aquelas luvas, já que era nojento. Eu expliquei ao resto que eu tinha sido escolhida e todos, principalmente , acharam uma coisa fantástica. falou que tinha pegado o gatinho e desconfiava que fosse uma gatinha.
— A gatinha é toda sua, . — disse assim que saímos de lá e passamos pelo estacionamento, entregando-me a gatinha preta.
— Ei, , eu não gosto de gatos, eles... Arranham. Onde eu vou colocar a coitada? — falei choramingando. — Você que salvou, fica com você. Eu não vou ficar com um gato. Minha mãe vai me matar, ela vem amanhã, odeia gatos. — na verdade era mentira, ela não odiava, só era alérgica.
— Ah, vai, , aceite isso como um presente. — falou ele. — Olha que linda, ela é toda pretinha, veja esses olhos azuis. Você não vai deixar ser uma gata de rua, não é? Provavelmente ela foi abandonada já que é castrada. Ela sente falta dos donos, dê um lar a ela. — falou, com a gatinha no colo. Ele era irresistível, e ela também.
— Tudo bem. — falei, rendendo-me. sorriu e falou um “Viu, pretinha, você vai ter um lar”. — Pretinha? É um nome bonitinho, mas ela é minha, não é? Quero chamá-la de... Pandora.
— Pandora? — pensou um pouco. — Sim, eu gostei do nome.
— Ela vai ficar com você até minha mãe ir embora, certo? — percebi que ele ia fazer alguma objeção, mas não dei tempo dele continuar. — , você vai sim. Minha mãe é alérgica a gatos, se bobear ela fica espirrando mesmo com a Pandora na sua casa no outro lado da rua. E, por favor, não a deixe sem comida.
— Calma, mulher, eu não vou. — falou. — Você veio de carro hoje? — eu balancei a cabeça. — Ótimo, coloca ela dentro do seu carro.
Ele estava brincando, não é?
— Coloca dentro do seu, . — eu disse. — O meu carro é conversível, se esqueceu? Não tem como ela ficar lá, só se quiser que ela fuja e vá viver na rua, sozinha, sem comida, sem abrigo e ter um destino cruel sendo atropelada por um Aston Martin.
— Você precisa envolver o Aston Martin nisso, não é? — revirou os olhos. — Mas hoje eu vim para a escola andando, sexta você disse que ia nos dar carona, não se lembra? — era verdade, eu tinha me esquecido. — Eu resolvi não gastar gasolina. Há, vou andar num Camaro conversível hoje, babe. Qual o nome dele, ?
— O nome de quem?
— Do Camaro. — falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Ah, meu Deus, ele dava nomes para os carros? além de irritante e chato também era doente mental. Ele precisava de um psicólogo, daqui a pouco estaria nomeando suas cuecas.
— Camaro. — eu disse. — Ele não tem nome. — de repente me lembrei, daqui a pouco o sinal tocava. — Precisamos de um lugar para deixar a Pandora. Urgente.
— A cabine do horror, banheiro masculino. — falou. — Ninguém vai lá, aquilo fede.
Isso soou horrível, fiquei até com um pouco de medo de deixar a Pan ali e ela morrer com os gases nocivos daquele lugar. O banheiro feminino não era tão ruim, mas se o masculino fosse tão podre quanto falava... Bem, eu não ia querer ser a Pandora. Mas o feminino era muito freqüentado, então estava fora de questão, ela ia ter que ficar lá.
— Tudo bem, , mas você pode, por favor, pegar um neutralizador de odores na sala do zelador no intervalo? — perguntei.
— Nem vem, você vai comigo, — falou — se eu me ferrar eu te arrasto junto comigo para a detenção, . — eu me rendi e murmurei um “certo”. — Vou correr, tenho que colocar a Pandora no inferno. Deseje-me boa sorte.
— Não mesmo, tomara que você vá para o inferno também. — soltei.
— Só se você for comigo.
Minhas pernas vacilaram um pouco e eu quase caí quando o sinal soou. saiu correndo, escondendo Pandora na mochila.
***
No intervalo, eu e nos escondemos no corredor, esperando o zelador sair da porta. Parecia bem animado e estava fazendo uma arma com as mãos e uma pose, estilo James Bond. Esperamos ela sair de lá e depois fechar a porta, felizmente não a trancou. entrou e eu fiquei dando cobertura a ele no lado de fora. Percebi que o zelador estava virando o corredor, ele ia me ver
— O zelador está vindo, abortar missão, câmbio. — falei
— Entre aqui, . — falou.
Eu corri e fechei a porta atrás de mim. Ficamos em silêncio para ouvir os passos do zelador. Eu tremi, torcendo mentalmente para que ele não abrisse a porta novamente. Bem, isso aconteceu, mas ele acabou trancando a porta. Comecei a pirar, tentei respirar fundo.
— ? Oh meu Deus, você está muito pálida — disse. O desespero tomou conta de seus olhos . — O que houve?
— Claustrofobia. — Encostei-me à porta e deixei o corpo escorregar, até que eu ficasse sentada. Já estava começando a sentir um suor escorrendo pela minha testa. — Estou bem. — falei com a voz esganiçada, mas é claro que eu não estava bem, eu estava mais tentando convencer a mim mesma. — Não se preocupe. — consegui falar, minha voz parecia estrangulada, minha garganta estava quase fechando, minha respiração estava ofegante, eu buscava ar.
— Você definitivamente não está bem. — concluiu ele. me observou por um tempo, horrorizado. — Meu Deus, você está tremendo. — percebeu. Nem eu mesma tinha reparado nisso. — Eu... Eu vou tirar a gente daqui, certo? — falou tentando passar confiança. Eu tentei me agarrar às palavras dele, nós íamos sair dali.
Ele começou a bater na porta, sem resultado. Depois de um tempo ele já estava ofegante e caiu no chão, derrotado. Oh meu Deus, o ar daquela sala tinha como acabar? Porque do jeito que estávamos ele acabaria bem rápido. Tentei fazer uma respiração ninja para me acalmar. Tinha parado de suar um pouco, mas minha testa estava molhada e eu ainda tremia, meus dentes batiam às vezes e tentava me acalmar.
— Não pense que estamos aqui, pense... Que estamos presos em um...
— Estamos presos, , estamos... — fechei os olhos. — culpa sua, culpa sua, você que quis me arrastar para a detenção junto com você, você que... — minha cabeça estava girando. — Eu te odeio! É sua culpa estarmos presos aqui. — falei, meu cérebro devia estar sem oxigênio, eu ia morrer. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, misturando-se ao suor.
Eca, eu ia morrer nojenta.
— Fique calma, nós vamos sair...
— Abre a porra da porta, ! — gritei.
— Eu... — ele jogou os ombros contra porta, parecendo fazer força, mas nada — Não estou conseguindo, . Juro que estou tentando, mas... — repetiu a tentativa — Não dá.
O desespero aumentou. As lágrimas agora rolavam incessantemente pelo meu rosto. Maldita hora que o encontrou aquele gato, maldita idéia de trancar ele no banheiro fedorento, maldito neutralizador de odores. Maldito . De repente ele começou a desabotoar sua camisa listrada, ficando só com uma blusa branca por baixo, ele era um tarado ou algo assim? Bem, pelo visto não era, pois ele começou a secar minhas lágrimas e segurou a minha mão.
— Não me toque! — gritei num impulso. Ele rapidamente soltou.
— Tudo bem, tudo bem, calma... — eu deixei que ele enxugasse meu rosto todo. — Eu que te botei nessa, vou te tirar. Só não entre em pânico, certo? — levantou-se e jogou os ombros novamente contra a porta.
Minhas pernas ainda estavam fracas, mas consegui me levantar, queria ajudá-lo. Fiz o mesmo que ele, mas estava sem força nenhuma, não adiantou muita coisa, então perdi a firmeza nas pernas. chegou perto de mim e eu me segurei nele tentando ficar de pé. Percebi que estava um pouco desconfortável com tudo aquilo e tratei de me soltar, colocando o peso do corpo contra a parede. Minha visão estava embaçada, mas não por conta das lágrimas, que graças ao estavam secas. Tudo estava escurecendo. deve ter percebido, pois me segurou para que eu não caísse. Ele murmurou um “tive uma idéia” e chutou a porta, que se abriu imediatamente. Eu consegui sair de lá, mas estava tão fraca que acabei caindo no chão. Tudo de repente ficou escuro.
***
Abri os olhos e a primeira coisa que eu vi foram os grandes olhos de me encarando. Ele pareceu ficar aliviado. Percebi então que estava ao lado dele, com uma pena nas mãos. Ele deu um risinho e guardou-a.
— Ufa, ainda bem que acordou, pensei que tinha te matado. — disse como se fosse uma coisa comum.
— , sai daqui, por favor? — fuzilei-o com os olhos e ele se mandou. — Hey, , anh. — Levantei-me e pude ver que e também estavam lá. — Olá, rapazes.
— Por que expulsou o ? — questionou. — Ele estava se sentindo culpado pelo que aconteceu. — bem, ele devia mesmo. — Saiu correndo para pedir nossa ajuda e te carregou até aqui, você deveria ser menos dura com ele.
— Me desculpe. — falei um pouco envergonhada. De repente eu sentia vontade de chorar. — Eu, eu pirei, ok? Eu estava me sentindo... Sufocada. Pensei que eu ia morrer, não sei, só queria... Sair dali. não estava ajudando muito com as palavras, nem com a história de arrombar a porta. — fiz uma pausa e gritei: — , volte aqui!
— Ah, resolveu falar comigo, é? — falou, irônico.
— Obrigada. — levantei-me e enlacei os braços em seu pescoço, num abraço. No começo ele pareceu um pouco desconfortável, mas depois retribuiu o abraço envolvendo minha cintura
Eu sorri.
07
Meu carro ficou cheio em uns 2 segundos. Todos os McGuys estavam animados para andar no meu carro, até parece que nunca andaram num conversível. e quase se mataram para ver quem ia sentado no banco da frente, mas por fim, falou que ele era o salvador do dia e achou justo. Bem, na verdade não era justo, já que ele, tentando tirar o traseiro da reta me pediu para fazer aquilo junto com ele. Ele tinha colocado a mochila no chão e estava acariciando Pandora. Eu comecei a dirigir e os meninos no banco de trás começaram a conversar, mas com o tempo pararam de falar e o silêncio tomou conta do carro. Depois de um tempo dei uma olhada em todo mundo pelo retrovisor, isso me fez arregalar os olhos. Todos estavam grudados nos bancos com os olhos do tamanho de bolas de boliche como se estivessem vendo a morte. Eu dirigia tão mal assim? estava agarrado à Pan e sua expressão demonstrava medo, mas seus olhos estavam com um brilho de diversão.
— Eu dirijo tão mal assim? — perguntei choramingando.
— Com certeza. — os quatro garotos falaram em uníssono, como se estivessem combinado de fazer isso.
Não era minha culpa, certo? Ninguém dirigia bem lá, eles admitiam qualquer pessoa na auto-escola, não é à toa que os acidentes de carro eram constantes.
— , por favor, não deixe ela dirigir quando vocês estiverem naquela subida perto da casa de vocês. — falou. — Ela vai capotar com o carro e vocês vão morrer. — disse horrorizado.
— Ei, ei, eu estou aqui, . — falei, revirando os olhos.
Deixei , e em casa, exatamente nessa ordem e o carro ficou silencioso. Eu estava começando a ficar desconfortável. arregalou os olhos assim que passamos pela subida e assim que estacionei, ele saiu do carro e fingiu que estava beijando o chão.
— Terra firme, aleluia.
— , pare de fazer drama, certo? — revirei os olhos. — Eu vou para o laboratório da Dra. Cable agora, se não se importa.
— Dra. Cable? Aquela mulher lá que estava examinando os corpos? — questionou e eu assenti com a cabeça. — Ela é muito gostosa. Eu gostaria de examinar pessoas mortas com ela, deve ser bem excitante.
— Ai, você me cansa
já estava começando a ficar irritante demais, coisa que ele já era mesmo, então não dei a mínima para nada dessas coisas que ele falou. Ele era de um sexo inferior, era do direito dele fazer tudo errado mesmo. Dirigi até o lugar, que por sinal era maior do que minha casa e a do juntas. Ao entrar, fui recebida pela Dra Cable e seu pessoal. Todos sorriam radiantes e admito que eu fiquei com um pouco de medo, pois aqueles sorrisos combinados com os instrumentos cortantes que tinham em mãos davam um ar macabro. Ela pediu que eu desinfetasse minhas mãos e depois colocasse as luvas, tive que prender o cabelo também.
— Você pegou um bom, . Vítima de homicídio, bem legal para descobrir a causa da morte, não é? — falou animada. — Bem, não vou exigir muito de você, é claro. Vou tentar explicar ao máximo o que eu estou fazendo para entender os procedimentos que devo tomar com o corpo.
— Certo... Hun... Certo.
— E então, quando você resolveu dar uma chance à medicina legista? — perguntou casualmente. — Aposto que foi assistindo CSI, acertei? 90% das pessoas que chegam aqui pedindo um estágio assistem e acham que isso vai “temperar” a vida deles com um pouco de mistério. Besteira.
“Na verdade eu resolvi dar uma chance assim que cheguei e senti o cheiro” quis dizer, mas é claro que eu não ia falar isso.
— Não, só assisti a poucos episódios de CSI. Você vê?
— Que nada, minha vida já é cheia dessas coisas. Assassinatos, acidentes... — listou. — Eu é que não vou perder meu tempo assistindo uma coisa que eu posso fazer todos os dias. E cá entre nós, fazer é bem mais divertido e é por isso que eu gosto do meu trabalho. Não é fácil, mas se estou fazendo o que eu gosto estou motivada a continuar, sem me importar com as dificuldades.
Uau, ela tinha ensaiado isso?
— Vamos descobrir o que matou Jenna Van Der Hood. — falei sorridente.
— Certo, para começar eu tenho um palpite muito bom. — disse ela. — Está vendo este buraco? — apontou para um ponto do corpo. — É um buraco de bala. Ela ainda não foi encontrada, mas deve ter sido engolida por algum rato. Logo saberemos se foi isso que matou aquele rato, dependendo do calibre ele pode ter morrido engasgado.
— Tudo bem, mas temos que ver o que aconteceu antes, certo? Ela pode ter sido atingida por alguma coisa antes da morte, ou até depois. — falei insegura. — É o que sempre fazem, não é?
— Muito bem, então, tiramos alguns raios-x, você pode identificar onde ocorreram lesões? — perguntou me passando aquilo. Eu tremi. Não podia ser tão difícil, não é?
Olhei aquela coisa e fiquei um pouco apavorada. Certo, os ossinhos dos dedos tinham algum tipo de fratura que a Dra. Cable mais tarde identificou como lesões de defesa. Eu fiz algum progresso, isso era bom. Percebi que algumas das costelas estavam quebradas. Dra. Cable arregalou os olhos.
— Espera, se as costelas estão assim... — ela correu para examinar o corpo. — Ela não foi morta por um tiro. — afirmou. — Uma das costelas perfurou o pulmão esquerdo, essa foi a causa da morte. Ótimo trabalho, , você está saindo muito bem, continue assim. — sorriu. — As falanges podem ter sofrido esse dano enquanto ela se protegia da coisa que fez as costelas fraturar.
— Então por que a bala?
— Pode não ter existido tiro, eu posso estar errada, temos que ver os excrementos dos ratos para ver se realmente houve uma bala. — ela falou e, como mágica, um dos homens – o estranho que tinha pegado o rato morto e agora estava analisando seus excrementos – apareceu gritando que tinha mesmo achado uma bala. Informou até o calibre da mesma. — Certo, isso é estranho.
— Não, não é tão estranho. — falei. — Talvez ela tenha sido baleada depois de ter morrido. Acho que acontece, sabe, pense como o assassino. Você joga algo que fratura as costelas da pessoa que você quer matar, você acha que ela está fingindo e dá um tiro por precaução. — deduzi, sabe, as palavras simplesmente começaram a fluir, ah, isso é divertido.
— Espere, se aconteceu isso, essa pessoa realmente não imaginou que o que ela jogou ou bateu contra poderia realmente matar. — ponderou a Dra. Cable. — Talvez as costelas já tivessem sido fraturadas um pouco antes e, com o impacto fez com que terminasse. — pausou. — Excelente dedução, , nós geralmente não pensamos muito como o assassino, é um pouco problemático, mas fez um ótimo trabalho e uma cena bem provável.
— Tem como descobrir se quando a pessoa levou um tiro ela já estava morta? — questionei, isso seria de grande ajuda para sustentar minha dedução.
— Ah, tem sim.
***
Não me pergunte o que ela analisou, eu não sei muito bem. Acho que tinha a ver com atividade sanguínea quando o assassino atirou. A Dra. Cable estava bem concentrada, por isso não perguntei nada a ela. Comecei a conversar, então, com o cara dos ratos, seu nome era Vincent. Ele era um pouco anti-social, por isso só conversamos sobre animais e como se podiam fazer muitas coisas com eles para descobrir a causa da morte. Vince era legal, mas um pouco tímido demais, ele não devia sair muito.
— Não havia atividade sanguínea na hora do tiro. — Dra. Cable falou. — Foi isso, ele deu o tiro para se certificar de que estava morta. Ou talvez ele quisesse deixar sua “marca”. Eu particularmente não acho que seria tão burro, quero dizer, nós não achamos nenhuma digital, ele foi cuidadoso.
— Sêmen? — perguntou Vince.
— Nada. — respondeu ela. — Nenhuma atividade sexual antes da morte. Também não foi encontrado sêmen nem na boca nem no ânus. — certo, acho que vou vomitar. — Mesmo assim, ainda acho que foi um homem, porém não podemos descartar nenhuma possibilidade ainda. A hora da morte foi logo após o jogo de basquete, então o assassino estava lá.
Assenti com a cabeça e depois fui ver Vince borrifar algum líquido em bolas de basquete, provavelmente as da escola. Uma delas ficou azul fluorescente e eu bati palmas. Ele falou que provavelmente aquela bola tinha acertado a vítima, talvez até nas costelas. Se conseguisse ligar as fraturas na costela e nas mãos com aquilo, seria a arma do crime.
***
— Ah, oi, você é Hayden, não é? — perguntei para a menina de cabelos castanhos que caíam em ondas até abaixo dos ombros. Eu queria descobrir mais sobre o assassinato da Jenna. Ela fez que sim com a cabeça. — Eu sou , prazer, eu gostaria de dar meus pêsames sobre sua amiga.
— Ela era uma amiga maravilhosa. — falou, choramingando — E ela partiu sem mesmo eu conseguir me despedir, sabe? Quando acabou o jogo eu a convidei para ir comigo e a Britanny na pizzaria, mas ela não quis, foi a última vez que a vi.
Humm... Hayden tinha um álibi.
— Ah, se ela fosse com você, talvez estivesse viva...
— Eu não sei, mas eu devia ter insistido mais. — falou, com a voz chorosa. — E ela não queria me falar com quem estava saindo, eu sempre desconfiei que fosse o Stephen porque, tipo, ele é um gato e ela estava super afim dele. Só sei que ela estava super animada e falou que ia contar detalhes. Ai, só de pensar que o cara pode ter matado a Jenna. — fungou.
— Você acha que foi esse Stephen?
— É claro que não. — falou horrorizada como se eu tivesse dito que tinha sido sua mãe. — O Stephen nunca faria aquilo, acho. Não, não, ele é muito calmo, não creio que tenha sido alguém do time, eles são uns amores, exceto talvez pelo Tyler. Quem fez isso devia apodrecer na cadeia para sempre! — ela limpou as lágrimas do rosto, seu rímel devia ser à prova d’água, pois não havia borrado.
Resolvi não abrir a minha boca outra vez, Hayden continuou a chorar e depois apertou a minha mão. Depois de secar todas as lágrimas respirou um pouco bem rápido, seus olhos estavam um pouco vermelhos, mas parecia mais calma. Despedi-me dela um pouco sem graça e fui correndo falar com alguém conhecido. Por sorte encontrei na arquibancada.
— ! Alguém atirou na Jenna depois dela ser morta com as costelas perfurando os pulmões. — falei baixinho, olhando para os lados.
— Ah, que bom que está aqui, estou me escondendo da , eu falei a ela que o me convidou para um encontro, e ela está falando que vai me produzir. — disse com uma voz de tédio. — Aí está me perseguindo, mas não acho que ela saiba que estou me escondendo.
— Espera, você vai sair com o ? — eu falei animada. Ele devia estar bem feliz — , isso é o máximo, o está totalmente afim de você.
— Jura? — falou e eu pude perceber um brilho em seus olhos. — Bem, eu quero ir bonita, é claro, mas confesso que tenho medo do que a pode fazer com a minha cara.
— Realmente a é um pouco doida, mas não acho que ela vá estragar a sua cara.
Ela respirou bem fundo antes de dizer:
— Certo. — e então balançou a cabeça como se quisesse mudar de assunto. — Como foi no primeiro dia de trabalho?
— Foi ótimo, — falei me animando — o pessoal de lá é muito bom. O cozinheiro é um cara italiano, ele começou a falar um monte de coisa que eu não entendi e depois me deixou provar o tiramisu que estava delicioso. — fechei os olhos tentando me lembrar do gosto, mas só saliva — E essa não foi a melhor parte, teve uma mulher que simplesmente pirou com o marido, se levantou e disse “Você não desliga a porra do seu celular, já é a 5ª ligação que você recebe do serviço, esse é o nosso aniversário, tenha mais consideração” e simplesmente saiu, o homem ficou muito envergonhado, todos ficaram encarando o cara e ele saiu logo depois, eles não comeram na-da.
a essa altura já estava rindo, seu rosto estava começando a ficar vermelho e eu não agüentei e ri também, lembrando-me da cara de confuso e envergonhado do homem, que parecia não entender direito o que estava acontecendo. Fala sério, eu acho que ele era um pouco lerdo.
apareceu ali junto com , elas deram um ‘oi’ e pude perceber que arregalou os olhos quando não falou uma palavra a respeito do . Elas disseram que os meninos estavam nos procurando, ou melhor, procurando a , talvez porque era a única entre nós que sabia como desfragmentar um disco rígido.
Algo do tipo.
Acabou que era só o idiota do convidando para ir à sua casa. E é claro, o querendo falar com a sobre jogos no computador, parece que ele queria instalar Vice City e dava um erro estranho. Eu falei que poderia ir sim, mas teria que ter cuidado com o horário, pois agora era uma pessoa ocupada e tinha... Minha mãe! Eu totalmente tinha me esquecido que ela chegava hoje, oh meu Deus.
08
Cheguei à casa de bem cedo, mas era o horário que tínhamos combinado. Eu deveria saber que havia alguma coisa errada já que era muito cedo e não tinha ninguém lá quando cheguei. Ele era um idiota mesmo e começou a rir quando eu perguntei se alguém já tinha chegado, talvez ele achasse mesmo que eu não acreditaria. Acabamos ficando no quintal onde, pude perceber, havia uma macieira com maçãs tão lindas que pareciam ser tiradas de “Branca de Neve e os Sete Anões”. se deixou cair numa cadeira de balanço da pequena varanda e começou a balançar, eu me joguei na rede, que, para meu susto, quase caiu, do que ela era feita? Era só enfeite? Tudo bem que não sou magra como... Dallas, e eu acho que o chocolate que comi essa tarde ajudou, mas fala sério, eu não sou obesa. Alguém tinha que falar isso com o , mas resolvi não dizer nada para não parecer estranha, quero dizer, ele ia rir com certeza.
Consegui arrumar uma posição que não me deixava com insegurança e continuei olhando para a macieira. Eu bem que queria pegar uma dali, tão vermelhinha, bonitinha... Realmente parecia deliciosa. Fiquei algum tempo apreciando a beleza das maçãs, devia estar dormindo a essa hora, mas como se tivesse lido meus pensamentos, ele resmungou um “ahn”.
— Essas maçãs são de verdade? — perguntei do nada.
— Sim — ele pareceu surpreso. — Se você quiser pode pegar uma. — ofereceu.
Tudo bem que o era meu amigo... quero dizer, é, era meu amigo, mas eu não ia me arriscar, não, obrigada. Ele meio que quase me matou uma vez e tudo bem que me tirou de lá, mas só que e se as maçãs estavessem envenenadas? Ele com certeza sabia que eu o achava irritante e idiota, então podia estar tentando se vingar ou coisa do tipo, era melhor não confiar naquele cara e foi por isso que murmurei um “não, obrigada”.
Olhei para ele, parecia estar viajando, então aproveitando a oportunidade peguei uma maçã da árvore. Arranquei um pedacinho e pensei em dar para a lagartinha que estava passando por entre as folhas secas no chão, se ela ficasse viva, talvez depois eu provasse. Eu sei, é maldade, mas é só uma lagarta, ela não vai fazer diferença. Ou vai? Oh, e se ela tiver uma família de lagartas? A senhora lagarta pode ficar esperando até morrer de fome, pois se recusa a acreditar que seu tão amado marido morreu. Se bem que não sei se lagartas têm maridos, elas ainda não atingiram a fase adulta de borboletas.
— Tudo bem, lagarta — sussurrei — Se você morrer envenenada eu juro que te faço um enterro digno de sua, é... lagarta.
Entreguei a maçã. Ela não fez nada, talvez lagartas não gostem de maçãs, ou talvez tenham um faro bom e saibam que está envenenada. Só que então ela comeu uma pontinha e deu meia volta. Fiquei observando até ela sumir por entre as folhas. Hum, talvez não estivesse com veneno.
— ? — ouvi dizer e pulei de susto. — O que é que está fazendo?
— Eu estava... Dando comida para uma lagarta, , ela parecia tão magrinha, eu resolvi pegar um pedaço de maçã para ela, sabe, elas parecem boas.
— Você conversou com a lagarta?
— O quê? Você acha que eu sou doida a ponto de fazer isso? Eu só estava... cantando uma música — improvisei. — Bom, sabe, eu acho que eu vou comer um pedaço de maçã. — dei um risinho cara-de-pau e peguei a mais vermelha que encontrei na árvore, dei uma mordida e esperei um tempinho para ver se eu ia engasgar/sufocar ou algo do gênero, mas não, não aconteceu nada.
Foi aí que eu tive uma idéia. Do nada me deu vontade de me fingir de envenenada pra ver a reação dele, eu podia dar um susto ou algo assim, e se ele estivesse se comportando como se gostasse, eu dava um soco no nariz dele, talvez até quebrasse. Comecei a colocar a mão no pescoço, como se eu estivesse sendo sufocada, arregalei os olhos e fiz um barulho com a garganta. Ele pulou da cadeira de balanço e fez algo que eu não esperava: começou a rir. Continuei com o fingimento mesmo assim. Eu provavelmente deveria estar vermelha da cabeça aos pés, já que prendi a respiração. parou de rir, não sei muito se acreditou, pois não consegui ver direito a expressão dele. Joguei-me dramaticamente no chão como se estivesse à beira da morte. O jardim estava em silêncio, parei de fingir estar sufocando e me fingi de morta, usando minha técnica ninja de prender o riso.
— Oh não! — fez uma voz dramática — Ela morreu.
Certo, controlar a risada já estava ficando difícil.
— Que o digimundo a tenha. — ouvi ele se aproximando de mim, o som das folhas secas farfalhando enquanto ele andava. — Eu acho que só um beijo irá salvá-la.
A esse ponto eu já estava comprimindo os lábios para não rir, mas aí ele chegou mais perto — tão perto que eu podia até sentir seu cheiro de morango e uma colônia deliciosa — e meu coração quase pulou para fora do peito. Aí ele se aproximou um pouco mais e beijou meu nariz. Abri os olhos, arregalando-os. Seus olhos estavam com um brilho de diversão, como se ele fosse uma criança feliz que havia acabado de comer um doce escondido. Mas é claro que eu não sou um doce, muito menos me comeu (o que soa estranho). A única coisa que eu sei é que no momento seguinte eu estava com as mãos na barriga, lágrimas nos olhos e ria como se estivessem fazendo cócegas em certo ponto do meu corpo. Pude ouvir a risada de também, melodiosa e engraçada, isso me fez rir mais ainda, era contagiante. Tentei parar de rir, mas parecia impossível, acho que o que me fez parar definitivamente foi o fato de e chegarem.
Juntos.
Isso foi um pouco estranho. Não que eu nunca tivesse percebido os olhares trocados nem os risinhos, e estava diferente, é claro, sou amiga dela, como eu não iria perceber? Mas o fato de ser estranho se dava por outra coisa. O pessoal estava começando a fazer pares. Primeiro o e a , que é claro, já estavam um afim do outro desde antes de eu vir pra cá, mas depois a e o ? Era estranho, eu ia ter que arrastar alguém para o nosso grupinho, então? Ou eu seria obrigada a fazer par com o ou o ?
Fala sério.
Olhei de esguelha para o , que estava com os lábios tremendo, mas logo ele se recompôs e decidiu envergonhar os dois.
— Ah, parabéns, vocês estão juntos, finalmente, , tomou coragem, não é? — falou abraçando . — E aí, , tem expectativas? Quer se casar um dia com esse idiota ou alguma coisa assim? — falou rindo e corou violentamente.
— Ah, deixa de ser imbecil, . — eu falei. — Não liguem pra esse idiota.
— Olha quem fala, , você e a bem que estavam se pegando no gramado antes da gente chegar — automaticamente começou a rir, traidora.
— Ah, é claro, . — disse irônico. — Rolamos aqui por um tempo e resolvemos parar porque vimos que vocês estavam chegando. — rolou os olhos. — Claro que não! Nós só estávamos rindo.
— Rindo? — piscou. — Vocês estavam rindo? Quero dizer, a estava rindo do ?
— Hum, eu estava, não exatamente do , eu estava rindo com o . Eu me envenenei com a maçã ali da árvore — expliquei. — Então ele foi me ajudar e falou que eu ia pro digimundo e eu comecei a rir. — dei de ombros.
fez uma cara de “você é doida” e revirou os olhos.
— Alguém quer alguma coisa pra beber? — perguntou de bom humor. falou que queria só uma água bem gelada e pediu o mesmo. — Você vem comigo pegar, ? Ou melhor, se pegar — riu e eu lancei um olhar de desaprovação. — Eu só estava brincando.
— Certo.
Segui até a cozinha e ele encheu uns copos gigantes de vidro com água. Abriu o congelador e pegou gelo e depois foi caçar canudos na gaveta, eu comecei a rir de repente e ele se virou com os olhos interrogativos.
— Você usa muito canudos? — perguntei.
— Só quando tenho visitas, por quê? — estreitou os olhos, como se assim conseguisse ver a razão de eu estar rindo por canudos. — Ah sim, você não acha coisa de macho beber com canudos? — revirou os olhos.
— Não, , não tem nada a ver...
— Afinal, por que a pareceu tão perplexa quando pensou que você estava rindo de mim? — perguntou mudando de tom — Eu sou engraçado, poxa, sou bem mais engraçado que o . — falou indignado. Realmente, mas não que aquilo fosse algo muito difícil.
— Acho que é porque ela sabe que eu te acho um total idiota, então pensou que eu não riria de você, não sei. — falei, dando de ombros.
— Obrigado por me achar um idiota — seu tom de voz era brincalhão, mas estava um pouco sério, como se realmente estivesse realmente chateado e ressentido. — Melhor eu parar de fazer piadinhas, certo?
— , eu...
Silêncio.
Ele parou bruscamente.
— Do que você me chamou? Você... me chamou de . — ele sorriu levemente, mas pareceu querer mais, como se estivesse se contendo.
— Eu não... eu não chamei... . — droga.
— Você chamou, sim... Eu acho que devo fazer minha cara de chateado mais vezes hein, . — sorriu. — Eu gostei de ouvir você falando meu nome, ele fica mais lindo do que já é.
— , eu não... — senti meu rosto ganhar uma cor. Droga, eu fiz outra vez
deu uma risadinha e depois percebi que ele tinha se aproximado bastante de mim, ele agora tinha parado de sorrir. Aspirei seu perfume, que se alastrou rapidamente por meus pulmões, me fazendo fechar os olhos, droga, aquilo não era justo, por que ele tinha que ter aquele cheiro? Homens bonitos e cheirosos sempre foram o meu fraco. Ainda mais cheiro de morango, que me fazia imaginar se ele tinha gosto de morango também. Nossos corpos estavam separados agora por uma distância mínima, o que ele queria, afinal? Dei um passo para trás e lá estava a parede, o cara era esperto.
— Você está... — minha voz falhou — muito perto.
— Eu sei... — sua voz saiu quase como um sussurro. Seus lábios se curvaram em um sorrisinho malicioso.
E antes que eu pudesse fazer alguma coisa, pensar ou até mesmo respirar, me puxou fortemente pela cintura e tomou meus lábios para si, me beijando como se quisesse fazer aquilo desde sempre. Colei meus lábios aos dele, perdendo a cabeça momentaneamente. Suas mãos passeavam por meu cabelo, porém, não ficaram ali por muito tempo, habilmente desceram para meu corpo. Minhas pernas já estavam virando gelatina e foi quando recuperei meus sentidos e o controle de minha mente, mas já era tarde demais, a merda já havia sido feita. Desci e tentei me desvencilhar de seus beijos.
Que por sinal eram muito bons.
— Me larga. — falei ainda ofegante, num tom de voz ríspido e foi como se de repente ele tivesse levado um choque. — Nunca mais faça isso novamente, certo?
— Não posso prometer nada, não sei se vou conseguir. — simplesmente deu de ombros.
A sinceridade em suas palavras até me assustou, então resolvi me comportar como se nada tivesse acontecido, passei a mão em minha boca, ajeitei minha roupa e meu cabelo e peguei dois copos. Segui em frente para o quintal, sem esperar e entreguei as bebidas.
— Demorou, hein. — disse com um sorriso malicioso nos lábios como se soubesse de tudo.
— Ah, é o , aquele idiota demorou um tempão para achar os canudos enroscados, mas valeu a pena porque agora vocês vão beber de um jeito bonitinho. — menti.
Foi aí que vi uma figura do outro lado da rua, tocando a campainha da minha casa e quase dei um grito. Merda, ela tinha chegado mais cedo, devia querer fazer uma surpresinha. percebeu meu olhar e o seguiu.
— Quem é aquela, ? — questionou, confusa.
— Bem... aquela é... — suspirei — minha mãe. Ela vai ficar aqui por uns dois dias.
— Aquela é sua mãe? — ouvi falar. — Ela é bonita... e está vindo para cá, acho que ela te viu, . Se você quer se esconder é melhor fazer isso logo, hein, aproveita. Só tem que ter cuidado porque geralmente eu coloco meus irrigadores de grama em lugares estratégicos...
Eu não estava com vontade de me esconder mesmo, para quê? Mas aí, como se tivesse combinado, a Pandora apareceu e foi direto se enroscar nas pernas de .
— , tira a Pandora daí... Mãe! — saí correndo e dei um abraço nela. — Tudo bem? Esses são meus amigos... a , o e o meu vizinho... . — falei feliz e ela me lançou um olhar de surpresa. — Ainda tem o , o , a e a , mas eles ainda não chegaram.
— Que ótimo! — exclamou animada e coçou o nariz, só que aí ela estreitou os olhos para e viu a minha gatinha. — Você é o , certo?
— Ah... sim, sou . — ele falou numa cara de pau, já que sabia que provavelmente minha mãe iria pedir para que ele tirasse Pandora dali. — Algum problema, senhorita? — seu sorriso irônico se alargou.
— Poderia, por favor, tirar esse... — espirrou. — ...gato daí? Sou alérgica.
Então ela começou uma crise de espirros, como ela fazia sempre que um gato chegava a 1km perto dela, ás vezes eu achava que era um pouco psicológico. não tinha se movido, ele estava acariciando a cabeça de Pandora, que ronronava, mas depois de um tempo pegou a gatinha e levou para dentro. Voltou rapidamente, um pouco estabanado e derrubando coisas.
— Então, mãe, você chegou mais cedo, queria fazer uma surpresa? — perguntei, mas como eu já sabia que a resposta era sim eu prossegui. — Bem, eu acho melhor te levar para casa e guardar essas malas, não é?
— Ah, pode ficar aí, eu não me importo. — ela sorriu, como se me encorajasse.
Eu dei a chave para ela e ela simplesmente se mandou.
Silêncio.
— Estranho. — falou de repente.
— Muito estranho. — concordei.
— Puta estranho. — falou ele e não pude deixar de dar uma risadinha.
era totalmente estúpido.
E por mais que eu não gostasse de admitir, era um estúpido que me fazia feliz.
09
— Filha, você está cheia de amigos, não é? — ela falou assim que eu cheguei em casa. — Aquele é bem bonito, eu achei um pouco irônico demais, mas ele é lindo, daria bons genes para seu filho, hein, por que não namora ele?
Certo, minha mãe era uma pessoa totalmente doida, mas ela bem que reparou na característica mais marcante de : sua ironia.
— O que? Mãe, eu e o ? Porque você simplesmente viu que ele era bonito? — é, ela era daquele jeito.
— Ele deve ser um cara legal, você é amiga dele. — falou dando de ombros.
— Ele é irritante. Mas é, é meu amigo, sim... — era verdade, só que eu já estava me perguntando se amigos realmente se beijavam daquele jeito. — Mas definitivamente é um imbecil, eu só o aturo porque quando ele resolve ser legal é bem gente boa.
— Tudo bem, né, mas por que imbecil? Coitado dele, parece ser um cara normal e bonito, só achei que ele tem um estilo... estranho, ele tem uma banda? — perguntou descompromissadamente, certo, quando ela virou uma vidente?
— Como sabe?
— Ah, ele tem o mesmo estilo de uns caras que chegaram à cidade pra fazer um Show, eu fui, era grátis. — explicou. Eu quase queria rir, eu tinha que ter visto minha mãe num show. — Eles eram até bons.
— Isso tudo depois que eu saí? — perguntei surpresa.
— Ah, eu tinha que arrumar um jeito de me ocupar, sabia?
Revirei os olhos e fui pegar alguma coisa para comer.
***
O outro dia na escola foi puta estranho. Sério, acho que só posso descrevê-lo assim depois de tais acontecimentos. Primeiro o chegou lá em casa, tomou as chaves do carro, me enfiou lá e saiu dirigindo até a escola e eu nem tive tempo para raciocinar. Acho que ele tinha fumado maconha ou algo assim. Eu ainda não tinha acordado totalmente então isso não foi de todo ruim, se eu começasse a dirigir daquele jeito, ia acabar capotando com o carro e morrendo. Não falei nada e também resolveu ficar quieto, então quando chegamos, ele simplesmente me entregou as chaves e saiu. Certo, depois eu ia perguntar o que ele estava pensando da vida ao fazer aquilo, talvez ele tivesse começado a tomar algum antidepressivo.
Mas a coisa mais estranha daquele dia não foi aquilo não. Vou te contar, foi mais ou menos em um lapso de tempo, o efeito contrário ao slow motion. Em um momento eu estava andando pelos corredores da vida (ou da escola) e no outro meu ombro doía bastante e alguns dos meus cadernos estavam no chão, eu tinha trombado com alguém, olhei para a cara da pessoa. Era um cara que devia ser do meu ano, um pouco mais alto que eu e que era... bem, gostoso, ele mexeu em um ombro e pegou as minhas coisas que estavam no chão.
— Obrigada — falei, pegando meus livros. — E me desculpe, hoje estou totalmente aérea, acho que ainda não acordei direito. — eu disse, sem graça, e me surpreendi bastante quando ele deu uma risada. Hã, o que eu tinha dito de engraçado?
— Tudo bem, sem problemas. — sorriu ele. — Acho que nunca te vi aqui, você é nova? — perguntou e eu assenti com a cabeça — Ah, isso explica, eu me lembraria de ter te visto. — seu sorriso se alargou, me deixando sem graça. — Eu sou Stephen, e você é...?
Espera, aquele era o Stephen? O mesmo Stephen que era ex-namorado da Amber? Certo, ele era um gato, mas definitivamente não valia aquele vídeo, eu sabia que Amber era idiota, mas não pensei que fosse tanto assim.
— .
— É um belo nome, . — calma aí, ele estava me cantando? Tudo bem, ele era gostoso e tudo, mas não era bem assim, o era gostoso – e devo dizer, mais gostoso que o Stephen – e era um idiota, um idiota bem legal às vezes, mas ainda sim um idiota.
— Hun... obrigada. — eu sorri. — Bem, acho que já vou, tchau.
— Se você não tiver uma mesa para ficar na hora do intervalo pode ficar com a gente — Certo, aquela era demais, eu nem conhecia esse tal de Stephen.
E, aliás, eu já tinha me ajustado, tinha amigos maravilhosos — ou quase — e tudo bem, eu estava julgando demais pelo grupo de amigos, ele não parecia ser chato, só que... só que eles não eram os McGuys plus , e .
— Eu já... tenho uma mesa. — falei sorrindo e ele pareceu surpreso. — Mas obrigada pelo convite, bem, eu tenho que ir se não se importa, te vejo por aí, tchau.
— Tchau.
É, aí eu saí e o deixei com uma cara de bobo! Tudo bem, era fofo e tudo e realmente não parecia ter as mesmas intenções de certas pessoas cujo nome começa com Am e terminam com ber, que era totalmente me humilhar, pelo contrário, parecia ser até legal, mas o que foi aquilo, hein? E depois disso eu ainda vi a Hayden olhando de um jeito estranho para o Stephen, não sei, talvez ela achasse que foi ele que matou... Oh, meu Deus, eu tinha que perguntar alguma coisa a ele. Então ela percebeu que eu estava olhando e veio falar comigo, essa parte também se encaixa nos acontecimentos estranhos do dia.
— Ah, oi, vi que você estava falando com o Stephen, não é? — ela perguntou, eu assenti com a cabeça. — Você está afim dele ou algo assim? — mais uma vez eu balancei a cabeça, dessa vez negativamente. Ela arregalou um pouco os olhos. — É que ele não me inspira muita confiança, por causa... sabe... da Jenna. — seu sorriso sumiu. — Mas mesmo assim, ele é um gato, não é?
— É, mas não sei... não faz o meu tipo.
Ela sorriu, me deu tchau, disse um “tome cuidado” e saiu dali. Pois é, vai saber, a única coisa que eu sabia era que teria que perguntar alguma coisa a ele, se ele tinha algum envolvimento com a defunta. E para isso eu ia ter que aceitar me sentar à mesa do pessoal dele.
Na hora do intervalo, eu primeiro fui falar com o pessoal para não acharem que tinham sido trocados, ou algo assim. Aquilo era tudo em nome da investigação, eu estava totalmente querendo descobrir o assassino, principalmente porque era alguém da escola. E estava com medo de chatear as pessoas erradas. Passei em frente à mesa dos jogadores/líderes de torcida, que por algum motivo estranho só tinham os jogadores. Como eu imaginei, logo o Stephen veio falar comigo.
— Oi! — me cumprimentou. — Oi, gente, essa é a . — recebi acenos da maioria das pessoas da mesa. — Eu espero que você não me ache chato por isso, mas vou repetir a minha pergunta. Você quer sentar aqui com a gente?
Eu ia estar super deslocada, mas nem me importei, coloquei a minha coca em cima da mesa e me sentei, dando um suspiro como se fosse vencida pelo cansaço.
— E aí, você vai fazer alguma coisa esse sábado? — uau, esse cara era rápido.
— Eu não sei, eu tenho que ver... mas nada me vem à memória esse momento. — eu disse com cautela — Por quê?
— Estava pensando... Será que você não gostaria de sair pra comer alguma coisa, dar uma volta... — ele abriu um sorriso bonito. Pesei um pouco os prós e contras, só encontrei um contra, que era o fato dele poder ser realmente o assassino e que era realmente influenciador, mas acabei assentindo com a cabeça. — Que ótimo. — seu sorriso se alargou ainda mais. — Então, às 19h?
— Certo. — tentei sorrir.
Fiquei um pouco ali conversando um pouco, mas a minha habilidade de terminar conversas era muito forte. Para minha felicidade, o sinal não demorou a soar, eu me despedi e fui correndo atrás do pessoal.
— Ah, amiga, eu totalmente vi a cena todinha — me falou animada. —, e eu totalmente vi que ele estava totalmente afim de você. — eu quase comecei a rir com os “totalmentes” dela, mas me segurei. — Ele te convidou pra sentar lá, te chamou para sair? — perguntou ela e eu assenti com a cabeça. — Você aceitou? — novamente, acenei com a cabeça. — Vou fazer o mesmo que eu fiz com a , vou te produzir, certo? Você vai ficar uma gata! Apesar de... — ela abaixou a voz. — eu achar que você combina mais com o .
— Espera aí. — falou assustado. — Você vai sair? Com o Stephen? E a vai te produzir? Ah, Deus, isso só pode dar merda, já vou avisando, o Stephen é tipo um atleta, ele deve ter o papo ruim, e ainda só deve estar interessado porque você é bonita.
— Ah, , você me cansa, tem alguma coisa contra eu sair com ele? — perguntei, esperando ansiosamente ele dizer sim, mas ele não falou nada. — Olha, isso não é problema seu e se não se importa, agora eu realmente preciso ir para a aula. Tchau, gente.
***
No outro dia, resolvi avaliar meus suspeitos. Eu ainda não tinha nenhum com bases sólidas, então eu ia ter realmente que perguntar alguma coisa ao Stephen, só que aí eu percebi uma coisa que eu deveria ter percebido há muito tempo. Se a Jenna realmente estava afim do Stephen, ela teria uma concorrente: Amber; eu realmente não estava afim de falar com ela. Acabou que eu nem precisei falar, mesmo porque quando eu cheguei à escola, Amber tinha sido encontrada morta. Fiquei um pouco chocada quando vi que tinha sido ela, e mais chocada ainda com o estado em que estava. Seu cabelo estava empapado de sangue e em sua testa tinha um furo, um furo de bala. Encontrei , que estava horrorizada com a cena, era a Amber sim, a vaca da Amber, mas ainda sim não deixava de ser claramente um assassinato. O segundo assassinato.
— Meu Deus, , você acha que foi a mesma pessoa? — ela disse, tentando não olhar diretamente.
— Eu não sei, ... Mas eu tenho um bom palpite que sim. — falei, me lembrando imediatamente de Stephen, se aquilo fosse verdade eu ia sair com um assassino, isso não era bom. — Tem que ver se as balas são compatíveis.
— Hey, gente, o que... — disse animado e parou assim que viu que debaixo da arquibancada, no mesmo lugar, estava um círculo de pessoas. — De novo? — nós assentimos e ele passou a mão no cabelo, nervoso. — Droga, quem foi dessa vez?
— Amber. — eu falei nervosa e ele arregalou os olhos infinitamente , claramente chocado. — Eu tenho um suspeito, na verdade. — eles me olharam com uma cara de “prossiga” — Eu fui falar com a Hayden e ela disse que a Jenna estava afim do Stephen, e todos nós sabemos que a Amber estava afim do Stephen também, e se foi ele?
me olhou com nervosismo aparente, eu já sabia o que ela iria dizer, mas pelo visto foi mais rápido.
— Então vai cancelar o encontro? — ele perguntou e eu pude jurar que vi um sorrisinho em seu rosto. Eu balancei a cabeça negativamente. — Como assim? E se o cara for perigoso? Ele realmente é um grande suspeito, você vai simplesmente sair com ele? Eu vou junto.
— É claro que não vai, ! Eu sei cuidar de mim mesma, certo? — cruzei os braços. — E além do mais, que motivos ele teria para me matar? Não é como se ele fosse um serial killer ou algo assim.
— Eu não sei, . — falou. — Eu concordo com a idéia do ir junto.
— Ainda é um encontro, e também não tem nada certo. — falei, teimosa. — Vocês gostariam que alguém fosse te vigiar num encontro porque acha que a pessoa que você está saindo é um suposto serial killer? — perguntei, não esperando resposta, porque sabia que a da seria “sim”. — Eu acho que não, então, por favor...
Ninguém falou mais nada depois disso. Os outros McGuys chegaram e também ficaram espantados, mas quem não ficaria? Era a Amber, a mais metida e fútil da escola. A mesma Amber que, há uma semana, tentou me humilhar e a Avada se virou contra o Voldemort. A mesma Amber que gravou um vídeo comprometedor para o Stephen, o principal suspeito, e pelo visto um cara cobiçado. Droga, e se ele tivesse me escolhido para ser a próxima vítima? Como se escutasse meus pensamentos, ele passou na minha frente e disse um “te vejo no sábado”. Eu apenas sorri levemente.
***
— Definitivamente foi a mesma arma — disse a Dra. Cable — As balas são iguais. Foi o mesmo assassino, você tem alguma idéia de quem tenha sido, ? — ela perguntou e eu assenti com a cabeça.
— Tem um cara na minha escola, a Amber estava louca por ele e... a Jenna também. Ontem teve jogo, que nem na sexta e ele é do time. — expliquei. — Ele teria as duas se quisesse e estava lá nos dois dias.
— Realmente é bem suspeito, mas não se pode prender alguém porque estão afim dele, não é? — ela sorriu. — Olhe, isso é arriscado, é melhor não se envolver mais com isso. Se ele desconfiar, pode te ameaçar, deixaremos isso tudo para a polícia, é o trabalho deles.
E suspirei. Ainda assim perguntaria ao Stephen, quero dizer, eu não tinha falado o nome dele para a Dra. Cable e se eu achasse que era realmente ele, eu podia falar, não é?
— Mas então, a causa da morte foi realmente o tiro? — perguntei, tentando abafar a situação.
— Desta vez foi. — ela olhou para o vazio. — Essas meninas... tão jovens, o que elas fizeram de errado?
— Acredite, Amber não era nenhuma santa. — falei, fazendo uma careta. — E, bem, metade da escola a odiava, por isso acho que agora vai ser mais difícil descobrir quem foi. — eu disse e ela me olhou um pouco surpresa. — É um pouco mais difícil descobrir uma relação entre elas.
— É, mas você já tem uma, certo?
— Certo.
***
É, e tinha chegado o dia, minha mãe estava completamente louca porque eu ia sair com alguém. foi mesmo à minha casa, chegou lá com uma nécessaire lotada de coisas e começou a arrumar meu cabelo e fazer minha maquiagem. Eu gritava de 5 em 5 minutos para a criatura, pedindo pra ela não me deixar com cara de boneca artificial, mas no final até que ficou legal. Ouvi uma buzina e meti a cara na janela, Stephen estava lá. Mamãe, que arrumou um jeito de ver sem que pudesse ser percebida, estava bem animada.
— Aquele cara é um pão, , só não mais que aquele seu amigo, o...
— ! — completou. — Eu sei! E ela faz totalmente um par bem mais fofo com o . — falou indignada, mamãe assentiu. O que era aquilo? Uma conspiração entre minha melhor amiga e minha mãe?
Eu resolvi sair dali logo, Stephen estava me esperando e eu não estava a fim de ouvir mais aquelas duas falando. Desci as escadas apressadamente e entrei no carro, no banco do carona. Eu tossi algumas vezes ao aspirar aquele cheiro exagerado de colônia. que fazia meus olhos arderem. A colônia era boa, mas tenho que dizer que tinha um gosto muito melhor para cheiros, quero dizer, ele tem cheiro de morangos e dá até vontade de morder, e ainda tem aquela colônia dele que é de longe muito menos exagerada do que essa. Acho que o Stephen simplesmente desacordou a Jenna e a Amber com esse cheiro, matou as duas e colocou debaixo da arquibancada.
Eu tinha que parar com isso de pensar que tinha sido o Stephen, certo, eu ia perguntar algumas coisas a ele, mas era realmente assustador pensar assim, mas se bem que se eu morresse, provavelmente ia virar uma heroína morta, como Joana D’arc, já que a com certeza saberia que foi ele e denunciaria para a polícia, então por que se preocupar? A pior coisa que podia acontecer é, no final desse encontro, eu levar um tiro na testa, como a Amber.
— O que houve? — perguntou ele do nada, enquanto dirigíamos para sei lá onde ele ia me levar. — Você parece nervosa.
— Não... não é nada.
— Certo. Então, você gostaria de ir a algum lugar em especial? — seu humor melhorou. — Eu estou com fome, quer que eu te leve para jantar? — minha barriga roncou instantaneamente, é, eu também estava com fome. — Sushi?
— Sushi. — concordei.
Ele me levou a um restaurante pequeno, mas a comida lá era deliciosa. Peguei um barquinho, separando alguns sushis e hots philadéufias, mas sem sashimi, porque, fala sério, aquilo é nojento. Começamos a comer e conversar, Stephen até que era um cara legal, mas eu mudaria a minha opinião totalmente se ele resolvesse me dar um tiro. Comecei a beber minha coca até que vi uma coisa que quase me fez cuspir tudo. Droga.
— O que foi? — perguntou Stephen assustado.
— Nada... Olha, eu vou ao banheiro, você se importa? — eu sorri, esperando que ele caísse. Pareceu que sim, pois ele assentiu com a cabeça.
tinha ignorado totalmente o que eu disse, não é? Que garoto idiota.
’s POV
Bem, a falou que eu não podia ir junto, mas ela não falou nada sobre eu ir com outra pessoa, por isso eu trouxe a Dallas. Ela era uma pessoa totalmente legal, mas tinha alguns gostos estranhos, tipo sashimi, fala sério, aquilo é nojento. E, aliás, acho que se ela comesse alguma coisa de verdade ela não seria tão magra, quero dizer, tudo bem que ela não tem transtornos alimentares, mas se alimenta bem até demais.
Cheguei ao restaurante e fui logo procurar um lugar longe, mas que desse para vê-los. estava toda feliz conversando com aquele idiota, e estava linda, por sinal, tinha se arrumado toda. E o pior de tudo, tinha se arrumado toda para ele. Não que eu gostasse dela, sabe, como algo a mais, mas o cara era totalmente idiota e era minha amiga. E ele podia estar tentando matá-la. Fechei os punhos automaticamente e bati na mesa, fazendo uma Dallas assustada olhar para mim com os olhos verdes arregalados. E também, eu tinha sido descoberto, droga. Ela veio em minha direção e eu me encolhi.
— Você é um homem morto... — ela disse, estreitando seus olhos delineados para mim, depois viu que Dallas também estava lá. — Ah, oi, Dallas. — sorriu. — Eu posso pegar o emprestado por um momento? — perguntou e Dallas assentiu com a cabeça, traidora. Ela saiu me arrastando até um canto do restaurante e soltou: — O que você faz aqui com a Dallas, hein? Eu disse pra você não se meter nessa história.
— Eu só resolvi chamar a Dallas pra sair, sabe, ela adora sashimi. — ela fez uma cara de nojo.
— Ah, sim, acredito. — falou irônica, fazendo um biquinho e revirando os olhos. — Tudo bem, já que você já está aqui, se assegure que eu cheguei em casa, certo? O Stephen é um cara muito legal, mas ainda estou com medo dele — ela pareceu derrotada.
Eu sorri, satisfeito por ela ter me pedido aquilo. Ela balançou a cabeça e sorriu de canto, depois voltou para sua mesa junto ao idiota e suposto assassino, Stephen. Passei a noite inteira tentando decifrar seus sorrisos para ele, tentando ver se estava sorrindo de um modo “oh, como você é o máximo” ou um sorriso “vou fingir que te acho legal para você não me matar” e acabei ficando frustrado, pois vi que eram sorrisos verdadeiros, sorrisos verdadeiros para ele.
Dallas se comportava como se eu nem estivesse ignorando-a, na verdade ela falava tanto que provavelmente nem tinha percebido que eu estava olhando o tempo todo para . Pelo visto o idiota do Stephen não tinha colocado nada na bebida dela, mas aí me veio uma coisa à cabeça. E se ele colocou enquanto eu falava com ela? Droga, eu não devia mesmo tê-la deixado vir pra essa droga de encontro, mas ela é bem teimosa. Assim que eles saíram, eu paguei a conta e me despedi de Dallas, que ia a algum pub aqui perto à pé com suas amigas, peguei meu carro e comecei a seguir os dois. Devo dizer que foi bem fácil, levando em conta que Stephen dirigia bem devagar. Fui seguindo até que... parou. Bem em frente à casa dela, que ficava do outro lado da rua, simplesmente parou. Sem assassinatos, saiu de lá viva e sorridente.
’s POV
Stephen não tentou me matar, apesar de ainda ser um suspeito. Eu fiz minhas perguntas e ele não tinha álibi, simplesmente falou que não tinha visto ninguém quando fecharam o ginásio, o que faz dele o meu suspeito número um e, aliás, meu único suspeito.
Stephen abriu a porta do carro e eu saí sorrindo, ele me levou à porta de casa.
— Obrigada pela noite, foi... ótima. — eu tentei sorrir.
E foi aí que aconteceu uma coisa bem estranha, simplesmente Stephen se inclinou e... me beijou. E sabe o que eu senti?
Nada.
Quero dizer, eu nem fiquei sem ar, eu nem senti arrepios, minhas pernas nem fraquejaram, eu nem ofeguei.
Como, devo dizer, aconteceu com .
Então ele simplesmente saiu e logo depois vi o SUV de estacionando do outro lado da rua. Eu pensei em ir brigar com ele com mais calma, agora que não estávamos no restaurante, eu poderia dar uns tapas nele. Mas aí ele nem olhou pra mim, assim que estacionou, foi direto para a porta de casa e fechou. Eu pisquei algumas vezes, ele não ia nem perguntar se ele tinha tentado me esfaquear no carro e com minha grande habilidade consegui sobreviver?
10
Toquei a campainha dele no dia seguinte.
— Oi, , eu ainda estou viva. — falei sorridente e ele me olhou com uma cara de tédio.
— Ah, é, eu vi quando cheguei em casa. — ele sorriu irônico, aquele sorriso irônico de sempre que eu já estava tão acostumada. — Bem, se você não se importa, eu... — ele parecia ansioso para se livrar de mim e percebi o porquê assim que Dallas desceu as escadas.
— , onde fica o leite dessa joça? — perguntou ela, mal-humorada, com uma visível ressaca. — Eu também quero remédio pra essa dor de cabeça insuportável... Ah, oi... não consigo ver direito, é a ? — acenou com a cabeça e eu simplesmente fiquei lá parada que nem uma idiota.
— Oh, me desculpe se eu atrapalhei alguma coisa, tchau, , tchau, Dallas. — eu ouvi Dallas falar meu nome, mas eu fingi que não tinha escutado e fui embora.
Saí correndo para minha casa e me tranquei no quarto. Para meu horror, minha visão começou a ficar turva e lágrimas começaram a jorrar de meus olhos. Por que eu estava daquele jeito? Eu nem sabia por que eu estava chorando.
Droga, eu sabia, sim, e se minha mãe me visse chorando e eu contasse o que tinha acontecido, ela falaria a mesma coisa, e estava cada vez mais me convencendo de que era verdade, eu estava totalmente apaixonada pelo idiota do .
Ouvi o telefone tocando e atendi, era .
— Amiga? — disse, sua voz era hesitante.
— Oi, . — falei, e no outro lado da linha ouvi ela suspirar em claro sinal de alívio. — É, estou viva.
— Você está chorando, ? — perguntou. Droga, ela percebeu. — Ah, mas é claro que está. — não esperou eu responder. — O que houve, amiga? Aconteceu alguma coisa? O Stephen tentou te agredir ou alguma coisa assim?
— Não, não. — agora eu sentia mais vontade ainda de chorar. Eu tinha que desabafar com alguém e com certeza não ia fazer isso com a minha mãe. — É... foi o . — suspirei derrotada. — Droga, eu fui à casa do idiota hoje de manhã e... a Dallas estava lá, acho que tinha acabado de acordar.
— Oh — ela pareceu entender. — Eu podia jurar que... que o estava a fim de você com todo aquele papo de te vigiar no encontro pra o Stephen não fazer nenhum mal a você e... — ela fez uma pausa. — Quando descobriu, ? Que gostava dele.
— Ontem à noite quando o Stephen me beijou. — falei e pude ouvir exclamar um “oh”. — Não foi nem de longe tão bom quanto quando o ... — ela me interrompeu.
— Quando foi que o te beijou? Você não contou nada disso a mim, mocinha. — ela falou com um tom zangado, eu quase comecei a rir.
— Foi no dia que minha mãe chegou, quando... você e o chegaram e eu fui pegar água pra vocês junto com o . — admiti. — Na cozinha.
fez uma pausa por um momento, devia estar pensando.
— O é louco por você, mesmo com o lance da Dallas. É minha opinião final sobre o assunto, agora sai dessa vida e fala isso para ele.
— Você está brincando, não é? Nas duas coisas, o ser louco por mim, porque acredite, eu teria percebido. — falei, certa. — E contar pra ele? Só se você estiver maluca. Tudo bem, eu posso estar apaixonada por ele, mas isso não faz do menos idiota.
Ela riu.
***
Antes eu estava preocupada com a história do assassino e tudo. Bem, agora eu estava muito preocupada porque outra pessoa tinha sido encontrada morta, era uma garota chamada Brittany, cujo nome era extremamente familiar. O tiro dessa vez foi no peito, sua camisa que era branca agora estava tingida do tom escarlate do sangue. Percebi que uma garota de cabelos castanhos chorava desesperadamente no canto, depois vi que era Hayden. O chegou ali, já adivinhando a situação e perguntando o nome da vítima da vez, pelo visto ele não conhecia porque não vi nenhum choque ou algo do tipo passando em seus olhos. , como é uma pessoa muito legal, foi falar com a Hayden e inesperadamente trouxe-a para perto.
— E-ela era a minha m-melhor amiga. — soluçou ela. — S-sabe, Brittany era um amor de pessoa, ela d-doava todas as roupas da coleção passada para a caridade, eu n-não vejo como alguém iria querer fazer mal a ela.
— Calma — tentou consolar a menina, mas era visível que estava um pouco desconfortável com a situação.
— Ah, Brittany é aquela que você me disse que... foi com você à pizzaria depois do jogo na noite em que... — eu tentei ser cuidadosa para não despertar mais lágrimas. — a Jenna morreu? — ela assentiu com a cabeça, com os olhos muito vermelhos.
— Nós sempre íamos à pizzaria depois do jogo, sabe? — ela falou chorosa. — Para fofocar sobre os garotos, Brittany era afim do... ah, eu não posso contar, ela pediu segredo. Sabe, eu sou muito... — soluçou. — leal, e não é porque ela... se foi que vou sair contando os segredos dela.
— Eu acho que não faria diferença, mas...
— Tudo bem... ela tinha uma queda do 13º andar pelo meu primo. — falou, derrotada. — Bem, meu primo gostava dela também, eles namoraram por um tempo, mas ambos eram muito orgulhosos, se amavam, mas não gostavam de admitir isso. Oh, ele vai ficar arrasado.
Então não era o Stephen? Certo, agora eu não teria mais nenhum suspeito, aquilo já estava começando a ficar chato.
— Ela não foi com você, sexta? — perguntei.
— Não, o treinador pediu pra ela fechar o ginásio já que o Stephen não podia. — explicou. — Falou que me encontrava lá e depois mandou uma mensagem de texto falando que não poderia mais ir já que o irmão chato dela tinha se metido em encrenca. Você acha que foi o irmão dela? — perguntou chocada.
— Eu acho que não.
estava segurando uma risada, mas parou assim que e chegaram.
— O que faz com ela, ? — perguntou, desconfiada.
— Ah, vocês namoram? — Hayden perguntou inocente. — Eu não sabia, desculpa, seu namorado é um cara muito legal, bem, eu não o conheço — acrescentou. — Mas é que eu estava chorando, por causa... bem... Eu já vou indo, não quero causar problemas, tchau.
— Ei, espera, eu e a não... namoramos. — soltou um suspiro pesado, estava corada dos pés a cabeça.
e chegaram juntos, com as mãos entrelaçadas no maior clima in Love e revirou os olhos ao perceber a situação. O clima de terror parecia estar se alastrando na escola inteira, mas no nosso grupo parecia que estava se esvaindo, já não estávamos tão chocados com as notícias. Só então percebi que todos estavam aqui, menos . Onde aquele garoto se meteu? Devia estar com a Dallas.
E eu pensando que ela fosse legal.
***
não falou comigo nenhuma vez no dia. Imbecil. Eu não entendi muito bem o porquê de estar me ignorando desse jeito, foi alguma coisa que eu disse no restaurante? Resolvi arrombar a porta dele e fazer um interrogatório. Mas é claro que eu não arrombei a porta dele de verdade, eu só toquei a campainha.
— , por que está me evitando o dia inteiro? — perguntei assim que ele abriu a porta, cruzando os braços. — Você tem algum problema ou alguma coisa assim? Porque ainda somos amigos, ou éramos, não sei, só me diz o que eu fiz de errado.
não respondeu.
— Ai, meu Deus, , você é um canalha. — eu falei, revirando os olhos e me lembrando de Dallas.
— Gosta de mim porque eu sou um canalha. — ele disse, dando de ombros. Droga, por pior que fosse, ele tinha razão, mas eu não ia simplesmente falar isso. Evitei encará-lo nos olhos e meus sapatos de repente se tornaram interessantes.
— Eu não! — exclamei levantando os olhos, espantando a covardia. — Eu gosto de caras legais, . — disse num impulso. Vi que em seus olhos tinham um brilho de diversão, é, definitivamente tinha assistido Star Wars, porque disse:
— Eu sou um cara legal. — e simplesmente me puxou para dentro da casa, me imprensou contra a porta e me beijou. Tudo isso em, tipo, um segundo.
Droga, o era mesmo bom. Na verdade foi um beijo até mais rápido que aquelas cócegas do Stephen, mas o suficiente para me deixar com as pernas de gelatina. Quando eu percebi, eu que tinha empurrado ele, como assim?
Ah é, Dallas.
Por mais que meu corpo implorasse por mais eu ainda tinha minha dignidade.
— Por que parou? — ele perguntou, confuso.
— Eu ainda tenho um pouco de vergonha na cara! — exclamei. — Você está saindo com a Dallas, vocês podem ter até um relacionamento aberto, eu não me sinto bem fazendo isso, certo? — falei, juntando a vergonha na cara que ainda me restava e saindo dali. Só que aí senti sua mão grande envolver meu braço.
— De onde você tirou que eu tenho alguma coisa com a Dallas? — ele perguntou um pouco perplexo.
— Ah, não sei, talvez quando ela desceu as suas escadas seminua. — falei, aparentando mais indignação do que eu deveria
— Você está com ciúmes. — ele afirmou, com um sorriso no rosto, eu já ia começando a me defender, só que ele não deixou. — Você está sim! — ele riu e realmente eu não entendi. — Dallas chegou à minha casa bêbada no outro dia, ela às vezes faz isso porque se chegar bêbada em casa a mãe mata ela, ou alguma coisa assim.
De repente, eu queria rir, só que ao invés disso fiquei séria.
— Você ainda não me disse por que estava me ignorando hoje. — falei estreitando os olhos.
— Eu não estava te ignorando! — exclamou na defensiva. Estreitei ainda mais os olhos, até eles virarem fendas, se encolheu. — Ah, ... eu não te ignorei, eu só estava com raiva porque você é teimosa, deixou todo mundo preocupado saindo com aquele cara que é um suposto assassino, depois fez piada porque ainda estava viva... Ah, e ainda beijou aquele idiota.
— Você está com ciúmes. — eu afirmei, rindo.
— Certo, talvez eu esteja mesmo. — ele sorriu, mas depois ficou sério. Por que ele fazia essas coisas, afinal?
— , eu... — parei bruscamente ao ver Pandora fazendo uma manobra suicida. — Pandora! — eu agarrei a gata. — Suicídio não é legal. , o que você fez com a nossa filha pra ela estar pensando em suicídio?
— Nossa filha? — ele riu. — Eu não fiz nada, só alimentei e dei carinho como você falou. Mas essa gata me ama. — ele falou irônico. — Pan é meio assustada, só chega perto de mim quando quer comida, gata ingrata.
— Viu, Pandora, ele te odeia, seu próprio pai, que negação, tsc, tsc.
Minha mãe já tinha voltado para o lugar de onde veio, então simplesmente carreguei a gata para minha casa, tentando deixá-la mais relaxada e menos agitada porque senão ela ia destruir meu sofá. Se bem que o de estava sem nenhum dano, será que ele tinha algum segredo? Droga, eu deveria ter perguntado. Eu não podia evitar de sorrir como uma boba.
Dallas não tinha nada com o .
E ele tinha me beijado, isso queria significar alguma coisa, não?
sabia me deixar irritada tanto quanto sabia me deixar nas nuvens.
11
Fala sério, quem eu tinha pra culpar agora que o Stephen não tinha nada a ver com a defunta? Bem, eu ainda tinha que pensar nas possibilidades, talvez ela tivesse feito alguma coisa, ou talvez tenha descoberto que foi ele, então pediu para não fechar a escola, sabendo que ela estaria lá, ele aproveitou e matou a coitada. Só que mesmo assim eu não estava me convencendo muito disso porque eu não montei essa solução sozinha, foi a Dra. Cable. De alguma forma eu sentia que estávamos indo pela direção errada, Stephen teria me matado assim que eu começasse a fazer aquelas perguntas discretas. Ele ia me manjar, como o costuma dizer.
Falando em , ele estava começando a ficar mais legal, ainda tinha aqueles surtos de ironia, só que aquilo já estava tão comum que eu comecei até a achar a coisa mais atraente que tinha nele. Mais até do que seus olhos, humm... rosto, corpo e aquele cheiro de morango maravilhoso. A ironia de era a essência dele, eu realmente não conseguia imaginá-lo sem aquilo, ele não seria... . Seria só o vizinho que também senta atrás de mim na aula.
— Eu acho que a Amber matou a Jenna por ela gostar do Stephen, então o Stephen matou a Amber por ser uma vaca e estar acusando ele de botar os vídeos, e para isso usou a arma da Amber, então a Brittany descobriu que tinha sido ele e Stephen a matou. — falou um dia que eu fui à sua casa. As visitas estavam sendo freqüentes, acabávamos por jogar Guitar Hero ou ver filmes de ficção científica, com ou sem o pessoal.
— É uma boa possibilidade. — ponderei. — Mas eu ainda não vejo o Stephen nisso.
— Ah, você tem um caso com ele, não é? — riu, divertido. — Eu pensei que você era fiel a mim, que absurdo, eu vou querer o divórcio agora.
— Há, desde quando eu tenho alguma coisa com você? — revirei os olhos, entrando na brincadeira. — Só porque temos uma filha não quer dizer que estamos juntos, . — agora foi a vez dele revirar os olhos.
— Fala sério, você me ama, admita. — ele riu, mas de repente eu fiquei séria.
E eu ia realmente falar alguma coisa, mas quem eu vi? Pandora! Sendo que agora ela estava morando na minha casa. Essa gata é totalmente do mal, ela e o deviam estar mancomunando contra mim, só pode. Agora sei por que ela sai toda noite se eu não fechar as janelas, a traidora vai pra casa do ! Eu ia ter que fazer terapia. Ai, se cuidar de um gato é assim...
***
Stephen era um cara bem estranho. Veja bem, eu tinha aceitado sair com ele uma vez, e devo dizer, foi para perguntar sobre os assassinatos. Do nada, quando eu estava passando distraidamente pela mesa dele, no outro dia, ele se levantou e me pediu para ir ao baile de inverno com ele.
— Eu não...
Fiquei um pouco sem saída. Não, eu não aceitei, de jeito nenhum. O problema é que eu queria realmente ir ao baile, já que na minha antiga escola a única festa que se tinha era uma que eles chamavam de “festa anual” e que só tocavam músicas deprimentes e o pessoal ficava em um canto do ginásio fingindo que não estavam sendo vistos fumando. Não era lá uma coisa muito legal, então eu pulava fora.
Bem, esse não era assim, com certeza, então eu realmente queria ver como era, nem que eu simplesmente odiasse. O problema é que eu não ia com o Stephen, fala sério, ele não era nem um amigo. Só que se eu falasse que não ia e aparecesse lá, ia ser bem ruim.
— Eu já aceitei ir com outra pessoa, desculpe. — menti, torcendo mentalmente para que ele não perguntasse quem era.
— Wow, eu não sabia que eu tinha um concorrente. — riu. — Quem é o sortudo?
Droga.
— . — menti novamente. Eu até falaria que era o , já que ele é doido, mas ele estava afim da e provavelmente a chamaria. — , conhece? É o meu... amigo. Olhe, lá está ele. — indiquei com a cabeça.
— Você vai com ele? — pareceu perplexo.
— Sim, algum problema? — perguntei, estreitando os olhos. Ele rapidamente balançou a cabeça, um pouco nervoso. Todos da mesa dele nos observavam, mas a mais perplexa parecia ser Hayden, seu olhar dizia claramente “Você é doida de rejeitar o Stephen ou o que?”. Todas pareciam ter certa adoração por ele ou algo do tipo, eu quase comecei a rir.
Quase.
— Se não se importa... agora eu realmente tenho que ir. — tentei cair fora dali. — Tchau!
Então eu saí e fui para a minha mesa normal, sem coca, era deprimente.
— O que o Stephen queria com você? — perguntou desconfiado.
— Nada... — eu dei uma rápida virada para a mesa dele. — Nada não.
***
me deu carona no outro dia. Ele estava bem calado então eu estranhei, ele não era de ficar calado, geralmente puxava assunto e quase todas às vezes dava errado, mas ele pelo menos tentava! Eu realmente não sabia do que falar e assim que estacionamos uma coisa me veio à mente, mas ele foi mais rápido, empurrou seu corpo contra o meu, fazendo minhas costas se encostarem à porta do carro. A última imagem que me veio aos olhos foi um sorrisinho no canto dos lábios dele, que depois se encaminharam para junto aos meus. Não sei quanto tempo ficamos nos beijando, só torci mentalmente para que não tivesse tocado o sinal.
Ele me olhou de um jeito interessante, como se estivesse querendo fazer aquilo a manhã inteira. Se isso fosse verdade, eu não ficaria surpresa, mas tinha algo de errado. Beijar-me para ele estava virando um hábito, talvez ele nem gostasse de mim de verdade. Pensar nisso fez meu coração apertar. Eu tinha que perguntar a ele.
— ... — eu comecei, hesitante. — São só beijos?
— Eu... não entendi.
— Você simplesmente chega e faz isso, por quê? Por diversão ou qualquer coisa do tipo ou porque você realmente... — minha voz quase sumiu. — gosta de mim?
— Por que está perguntando isso? — ele pareceu um pouco nervoso, passou a mão no cabelo.
— Droga, porque eu te amo, ! — soltei de uma vez — Você ainda não percebeu, não é? Você é muito idiota mesmo. — eu me forcei a rir. — E é por isso que eu gosto de você. — revirei os olhos para mim mesma, eu estava me igualando à idiotice de , que legal.
congelou, pude ver que estava mais nervoso ainda, seu cabelo estava em pé — literalmente, já que ele já tinha passado a mão lá umas duzentas vezes — e seus olhos estavam ligeiramente arregalados. Ele não ia falar nada não?
— Ah, você não... já entendi. — minha voz saiu um pouco estrangulada, as lágrimas teimosas estavam querendo tomar conta do meu rosto, mas eu me forcei a engoli-las e saí dali, batendo a porta do carro com força, ao sair.
E eu corri para a sala. A aula foi horrível e ainda tive que ignorar , que ficava me cutucando com o lápis e às vezes fazia alguma coisa absurda como encostar os lábios no meu ouvido e sussurrar alguma coisa como “olha pra mim, o professor não vai ver, ”, me fazendo ter arrepios.
Dei graças quando chegou a hora de ir. Fui andando mesmo e tentei ignorar quando meu celular começou a tocar. Era , é claro, estava sendo bem insistente, mas não foi por isso que atendi, foi porque eu me lembrei de uma coisa que infelizmente eu ia ter que falar com ele.
— Alô. — resmunguei.
— , até que enfim resolveu atender. — ele falou, pude perceber o alívio em sua voz. — Eu realmente preciso falar com você.
— Não, atendi porque eu preciso falar com você. — falei, tentando usar meu tom de voz confiante. — Sabe o baile de sexta? Eu preciso que você vá comigo, é que eu posso ter falado sem querer que ia com você já que o Stephen pediu e eu... bem, eu não queria ir com ele, mas eu realmente queria ir ao baile, na minha escola não tinha isso. Se eu falasse que não ia e aparecesse lá ia ser bem ruim então... não precisa ficar a festa inteira não, ok, ? Só falei isso pra tirar meu traseiro da reta.
— Oh, você recusou o convite do Stephen? — sua voz era de quem não acreditava, pude perceber um risinho.
— Eu sei que muitas pessoas mata... — eu parei. Lembrei-me então da expressão da Hayden assim que eu recusei e quando ela me perguntou o que eu estava conversando com o Stephen... — Droga, , eu já sei quem foi. — apressei o passo, olhando para os lados.
— Quem foi o que?
— Que matou a Jenna, a Amber e a Brittany. — eu estava com uma impressão de que estava sendo seguida. — , foi a Hay... — e assim que virei o rosto, lá estava ela, com um sorrido diabólico no rosto.—... den. — e a última coisa que senti antes de cair no chão foi um choque percorrer meu corpo inteiro.
12
Acordei sentindo uma dor enorme. Não, eu não podia ter morrido, acho que morrer é bem pior do que isso. E acho que se eu estivesse morta não veria uma Hayden embaçada na minha frente, com um olhar maligno.
A não ser que eu estivesse no inferno.
Apoiei o corpo em algum lugar, ficando sentada no chão. Minhas mãos e meus pés estavam amarrados, pude perceber. Minha boca não estava tampada, mas de qualquer modo achei uma coisa muito infantil gritar para sair dali. Eu não sabia onde eu estava, na verdade, mas assim que minha visão ficou melhor eu percebi. Estava debaixo da arquibancada, eu era a próxima.
— Sabe, eu não queria ter que fazer isso, mas você se envolveu demais. — ela riu. — E ainda o Stephen, não me pergunte o porquê, tem uma quedinha por você. — pareceu revoltada. — E eu vou ter que matar aquele seu amigo também, você não devia ter falado aquilo, , agora ele já deve saber que fui eu, eu não queria ter que fazer aquilo com um cara tão gostoso, mas é preciso.
Senti um aperto no peito, eu ia morrer. E também, por minha causa.
’s POV
Eu deveria ter falado alguma coisa, agora os meus amigos estão me achando um filho da puta.
Talvez eu seja mesmo um filho da puta.
Quando a falou aquilo eu simplesmente pirei. Não porque não gostava dela, ao contrário, quando ela falou aquilo eu tive certeza que estava totalmente louco por ela, mas... é, eu sou mesmo um filho da puta.
, e estavam aqui em casa. Todos estavam querendo dar um soco em mim, e eu não os culpava, até eu queria dar um soco em mim mesmo. Eles falaram que talvez se eu pudesse ligar podia contar tudo pra ela, mas não duvidava que ela nunca mais falasse comigo então fiquei surpreso quando ela atendeu.
— Alô. — pude ouvir sua voz de tédio do outro lado da linha
— , até que enfim resolveu atender. Eu realmente preciso falar com você.
— Não, atendi porque eu preciso falar com você. — me interrompeu. — Sabe o baile de sexta? Eu preciso que você vá comigo, é que eu posso ter falado sem querer que ia com você já que o Stephen pediu e eu... bem, eu não queria ir com ele, mas eu realmente queria ir ao baile, na minha escola não tinha isso. Se eu falasse que não ia e aparecesse lá ia ser bem ruim então falei isso. Não precisa ficar a festa inteira não, ok, ? Só falei isso pra tirar meu traseiro da reta.
Ela tinha voltado a me chamar de , droga.
— Oh, você recusou o convite do Stephen? — dei um risinho.
— Eu sei que muitas pessoas mata... — ela deixou no ar — Droga, , eu já sei quem foi.
— Quem foi o que?
— Que matou a Jenna, a Amber e a Brittany. , foi a Hay... den.
E de repente o telefone ficou mudo.
Hayden.
De repente tudo fez sentido. Hayden tinha um álibi quando Jenna foi morta então talvez Brittany tenha ajudado na primeira vez, assim as duas teriam um álibi e tirariam o traseiro da reta. Talvez Brittany tenha ajudado com a Amber também, só que depois se sentiu culpada e resolveu contar, então Hayden a matou. Bem, essa era apenas uma hipótese, é claro.
Quanta sujeira, e é só o colegial. E tudo por causa do Stephen? Fala sério, o cara é um babaca.
— Gente, pegaram a . — falei, ainda chocado. — Droga, vou chamar a polícia.
— Como assim? — perguntou.
— Dude, acho que ele tá querendo dizer que a pessoa que anda assassinando o pessoal pegou a . — falou. Ah, até que enfim um amigo que pensa nessa porra dessa banda. Eu assenti com a cabeça, nervoso. — Ah, isso não é bom.
— Isso não é nada bom, !
— Você deveria ir lá, dude. — disse, como se estivesse com a razão.
— É claro! Se eu soubesse onde ela está, né, cabeção. — revirei os olhos, eles não estavam ajudando em nada mesmo.
Era melhor eu chamar a polícia. Mas como mágica meu celular simplesmente tocou, o visor indicava que era , atendi na mesma hora.
— Alô. — atendi, com a voz hesitante, torcendo para que fosse ela.
— Olá, . — ouvi aquela voz de cobra nojenta da Hayden. Aquela vaca ia pagar. — Bem, espero que não tenha chamado a polícia, porque qualquer sirene que eu ouvir aqui perto essa vadiazinha aqui morre.
Tive que me recompor para não xingá-la com todos os palavrões sujos que eu conhecia.
— Eu quero que você venha aqui. — deu um risinho. — Sozinho, entendeu? Eu estou esperando por você, queridinho. — quase vomitei ao ouvir aquilo, sério. — Eu estou na escola, debaixo da arquibancada como sempre. Lembre-se, qualquer ruído suspeito, mesmo que não seja o carro da polícia, se eu achar que é, ela morre.
Fodeu.
’s POV
— Ele não vem. — falei confiante.
— Você acha mesmo? — ela esboçou um sorriso diabólico. — Eu acho que ele vem sim, se ele não vier só vou te matar mais rápido. E é claro, vou ter que ter um trabalho a mais matando ele depois, mas estou contando com o plano A.
— Você é nojenta.
Ela apenas riu e andou, virando a arma com uma das mãos.
— Ah é! — exclamou, parecendo ter se lembrado de alguma coisa. — Tenho uma surpresinha para você. — riu e me arrastou pelo chão. Ela era forte, pois conseguiu fazer isso sem o menor esforço. Devia ser por causa dos treinos de líder de torcida.
Quando percebi o que ela ia fazer, dei um grito.
— Sem gritos, querida. — ela falou e em seguida me jogou dentro do armário onde guardavam as bolas de basquete. — Fique aí pensando enquanto o não chega, converse com Deus, ou sei lá, não vai adiantar mesmo. — riu e bateu a porta com tanta força que elas saíram da estante e caíram e mim. Outch, aquilo doía.
Droga, como ela sabia da claustrofobia? Ela era um tipo de demônio que lia mentes, agora?
Comecei a me sentir suada, aquilo realmente não era nada bom. Tentei me livrar das bolas em cima de mim, mas foi um pouco difícil, já que eu estava com os pés e as mãos amarrados fortemente. Tentei mentalizar alguma coisa boa, as lembranças de ficar trancada no armário com não eram nada boas, mas era melhor lembrar de estar trancada com ele do que encarar a realidade de estar ali, sozinha, esperando pela morte. As lembranças estavam tão vívidas que pude até ouvir a voz de .
— Eu vou te tirar daí, .
Espera, isso era real. Ele tinha vindo mesmo, estava do outro lado da porta. Repentinamente parei de suar, me senti bem mesmo, como se não tivesse ali dentro, tudo o que eu queria era sair dali e abraçar o , mesmo que ele não me amasse de volta.
E de repente a porta abriu, mas não era ele quem estava do outro lado da porta, era Hayden. E ao me tirar dali vi que ele estava amarrado e inconsciente. Calma aí, como ela conseguiu isso? Era algum tipo de ninja?
— Como fez isso com ?
— Ah, do mesmo jeito que eu fiz com você, com uma arma de choque. — revirou os olhos como se fosse óbvio. — Daqui a pouco ele acorda, tomara que seja logo, eu não tenho todo tempo do mundo, sabe. Mas é que eu queria que ele te visse morrer.
— Como você matou a Jenna? — perguntei. Bem, se eu iria morrer pelo menos queria ter minhas perguntas respondidas.
— Ah, sabe que eu não sei. — fez um biquinho, confusa. — Ela estava tentando fugir, então eu joguei uma bola de basquete nela. Ela ficou um pouco estranha, começou a sangrar, caiu e por um momento eu pensei que estivesse morta, então pedi para a Brittany dar um tiro.
— Bem, você deve ter jogado muito forte mesmo, porque quebrou as costelas dela.
Ela pareceu orgulhosa de si mesma.
— Eu quebrei as costelas dela antes...
Ouvi um gemido vindo do meu lado e ela parou de falar, tinha acordado. Meu coração deu um pulo.
— , você é um idiota! — gritei, não conseguindo segurar as lágrimas. Nós íamos morrer, se eu não tivesse sido uma imbecil e falado com ele, pelo menos ele viveria. — Por que você veio? Por que simplesmente não me deixou morrer? Você sabe que ela ia me matar de qualquer jeito, não é? Você devia ter chamado a polícia, pelo menos essa vaca estaria presa.
— Eu não podia deixar de tentar fazer alguma coisa, . — ele disse e eu comecei a soluçar. — E no fundo você sabe por que eu realmente vim.
Droga.
— Ai que coisa idiota, calados! — gritou a última parte. — Pois é, , pelo visto você não conseguiu fazer nada, não é? A sua namoradinha idiota vai morrer de qualquer jeito. Ai, eu quero que você veja isso. E você, vadiazinha, antes de morrer que você sofra um pouco. — ela deu um risinho e se dirigiu a . E então ela simplesmente encostou seus lábios aos dele, fazendo meu sangue ferver. — Viu? É ruim, não é? Ver a pessoa que você ama com outra pessoa.
cuspiu em seu rosto e eu abafei uma risadinha. Ela fez uma careta de nojo.
— Você é um monstro — gritou ele.
— É, sou mesmo. Bem, agora chega de enrolar, não é? — ela riu. — Vou terminar logo com isso.
E então apontou a arma para mim, sorrindo diabólica. Não me forcei a olhar para , apenas fechei os olhos.
Ouvi um barulho estrondoso e... nenhuma dor.
Abri os olhos e vi caído em minha frente. As lágrimas, que antes estavam secas voltaram a cair.
— , você é idiota, ou alguma coisa assim? — me aproximei dele. — Não, eu sei que você é idiota e tal, mas... — eu solucei. — Droga, , por que fez isso?
— Ganhar tempo. Não planejei levar um tiro, é claro... — tossiu — eu só estava querendo te empurrar. — eu cheguei mais perto e ele sussurrou: — A polícia já vai chegar, e acho que uma ambulância, eu vou ficar bem. — a esse ponto as lágrimas jorravam tanto quanto o sangue que saía da ferida de , perto do peito. — Ela ainda está colocando munição naquela arma vagabunda.
De repente ouvi uma sirene. Hayden se encolheu e olhou para com fúria.
— Me desculpe, . — ele tossiu fracamente. — Me desculpe por ter sido um idiota hoje de manhã. Eu te amo. — eu já estava tendo uma convulsão de soluços a essa hora. — Shh, shh, eu vou ficar bem. — seus olhos se fecharam, seus lábios tinham um sorriso fraco.
— Ah, que lindo, vou até chorar, quer ir junto com ele pro inferno, ? — ela apontou a arma para mim novamente. De repente os policiais chegaram. Ela tremeu e atirou, fazendo a bala se alojar apenas em meu braço. Comecei a me sentir um pouco fraca. Senti meu braço queimar em uma dor lancinante e meus olhos cheios de lágrimas se fecharam.
***
Acordei sem dor nenhuma, em algum lugar branco que depois fui reconhecer como o hospital. Eu devia estar dopada. O desespero me atingiu rapidamente e eu comecei a me perguntar várias coisas. Onde estava ? Estaria ele bem? Olhei para o lado e apertei o botão de chamar a enfermeira. Ela chegou rapidamente.
— Oi, eu estava com um amigo, tentaram nos matar e... onde ele está? Está bem? Está vivo? — perguntei rapidamente, ela abaixou a cabeça.
— Eu... vou chamar o doutor. — e saiu do quarto, me deixando com o coração na mão. Aquilo não poderia significar nada de bom, não é?
Logo um senhor de idade atravessou a porta, seus olhos escuros estavam totalmente sem brilho, meu coração acelerou.
— Olá, . — ele começou. — Bem, para começar eu queria te avisar que a... pessoa que tentou te matar foi presa. Uma menina, não é? — ele perguntou e eu afirmei com a cabeça, meu estômago estava dando voltas. — Você se deu bem, se a polícia não tivesse chegado naquele momento, provavelmente vocês dois...
— Doutor, o que houve? — perguntei, hesitante. — O que houve com o ? Me tire daqui, eu quero ver o !
— O seu amigo... , não é? Bem, eu sinto muito... — minhas lágrimas começaram a jorrar. — Ele não sobreviveu, está morto.
13
Fechei os olhos rapidamente, deixando que as lágrimas queimassem meus olhos e escorressem pelo meu rosto. Quase consegui sentir mãos invisíveis esmagarem meu peito. Quando abri os olhos, lá estava a enfermeira novamente.
— Você está bem, querida? Sei que os acontecimentos podem ter sido bem... traumáticos.
— Não estou bem, não estou — falei um pouco alterada. — Ele... droga, ele não pode ter feito aquilo, não... ele me disse que ia ficar bem... — minha voz simplesmente se perdeu em meio aos soluços que eu já dava.
— Bem, eu não sei do que... você vai superar. — ela sorriu, tentando passar confiança.
Superar? Eu não ia superar, droga.
— Você vai receber alta hoje mesmo. — ela falou — Menina de sorte, foi só o braço.
É, eu tive sorte, que ironia.
***
Fiquei por algum tempo naquele lugar horrível. Se antes eu gostava de hospitais, agora eu ficaria com traumas pelo resto da vida, eu teria que falar com a Dra. Cable que não dava mais. Aliás, foi dela a primeira visita que eu tive.
— Então foi a tal de Hayden, quem diria.
— Aquela vaca, quase me deixei enganar por ela. — bufei, mas meus olhos arderam assim que me lembrei de . Não consegui conter as lágrimas, quando vi, ela tinha dado alguns passos para trás, como se quisesse me dar espaço para chorar.
— Tenho que dizer, , você foi a melhor estagiária que eu tive, descobriu muitas coisas na autópsia que muitas não achariam. — sorriu, ignorando completamente minha crise de choro. — E, além disso, foi mais a fundo, não se deixou ficar de fora do caso, descobriu muita coisa, sabe, acho que você deveria seguir essa carreira.
— Eu não sei, Dra. Cable, na verdade a última coisa que eu quero é pensar nisso agora, a Hayden já ferrou com a minha vida e... droga, por causa dela, ou melhor, por minha causa... — comecei a soluçar exageradamente.
Ela deve ter percebido que eu não queria falar no assunto.
— Eu acho melhor eu ir, vão entrar daqui a pouco para ver seu braço. Se quiser um estágio algum dia, pode ir lá, você sabe onde fica. — sorriu e logo depois deu um “tchau” com a mão, passando pela porta e me deixando ali, sozinha.
As lembranças invadiram minha mente imediatamente, antes que eu pudesse ou quisesse bloqueá-las.
Flashback on
— Abaixem essa coisa, certo? Toquem mais baixo ou ensaiem uma música mais calma, façam esse favor para mim, eu já vou indo, tchau.
— Tchau... Qual é o nome dela, ? — perguntou .
— Creusa. — respondeu , rindo.
Flashback off
Droga, o que iria ser de mim agora sem aqueles surtos de idiotice dele? O que eu ia fazer sem o cara que me fazia revirar os olhos a cada palavra que falava, que era totalmente doido e me fazia rir. Que tinha aquele cheiro delicioso de morango e que me fez ficar totalmente apaixonada só com um beijo, como?
Flashback on
Ele tirou as chaves e tentou fazer uma manobra tentando virar, ou sei lá que merda ele estava tentando fazer. Ele realmente não deveria ter feito isso, pois as chaves caíram ao meu lado então ele meio que tombou quando se inclinou para pegar e se segurou no volante para não cair bem em cima de mim. Resultado = estávamos a milímetros de distância.
Eu podia sentir até seu hálito que cheirava como... Morangos. É isso mesmo, o hálito do cara estava com cheiro de morango. Além disso, eu ainda podia sentir cheiro de loção pós-barba, colônia masculina e sabonete. Um sabonete muito bom que por sinal também cheirava a morango. Certo, isso definitivamente era estranho, ele estava olhando para mim e eu não estava com nem um pouco de vontade de virar o rosto. E ele estava com cheiro de morango.
Flashback off
Tentei bloquear as lembranças, era muito doloroso saber que eu nunca mais teria aquilo, doloroso saber que era tarde demais.
Flashback on
E antes que eu pudesse fazer alguma coisa, pensar ou até mesmo respirar, me puxou fortemente pela cintura e tomou meus lábios para si, me beijando como se quisesse fazer aquilo desde sempre. Colei meus lábios aos dele, perdendo a cabeça momentaneamente. Suas mãos passeavam por meu cabelo, porém, não ficaram ali por muito tempo, habilmente desceram para meu corpo. Minhas pernas já estavam virando gelatina e foi quando recuperei meus sentidos e o controle de minha mente, mas já era tarde demais, a merda já havia sido feita.
Flashback off
Agora não passavam de lembranças. Eu poderia conservá-las para sempre em minha memória, sofrer sempre que me lembrar disso, mas isso não ia trazer de volta. Talvez se eu não tivesse me metido nessa história, se eu não tivesse falado com sobre a Hayden... talvez. Nunca teria sabido o que aconteceria, talvez ela tivesse me levado e eu seria a próxima autópsia da Dra Cable, talvez eu tivesse morrido sem mesmo ouvir um “eu te amo” do , talvez a Hayden nem fizesse nada comigo, mas não dá pra viver da palavra “talvez”. O “talvez” não vai mudar o que acontece agora, o “talvez” não é forte o suficiente para trazer o de volta.
Apertei o botão que lançou imediatamente analgésico no meu sangue.
Assim que recebi alta, fiquei vagando como uma morta viva pelo hospital. Não queria encarar o pessoal, que me esperava na recepção, seria muito duro vê-los chorar e saber que foi tudo minha culpa. Olhava para os números dos quartos e ficava imaginando quem estaria lá dentro, até que passei rapidamente por uma porta aberta onde vi um cara igualzinho a . Em um impulso entrei no quarto.
Meu queixo quase caiu até o chão ao ver que a pessoa deitada na cama não era uma pessoa parecida com .
Era ele próprio.
E estava respirando.
As lágrimas invadiram meu rosto e em um impulso o abracei, ele acordou imediatamente.
— Hey, . — ele falou com a voz fraca e deu um sorriso. — Ah, estou um caco.
— ...
— Por que está chorando? — perguntou.
— Me disseram... , me disseram que você tinha morrido. — eu abri um pseudo-sorriso, que logo desfiz. — Isso é um sonho, não é?
É? Bem, se fosse um sonho eu não me importaria muito, sabe como é.
— Acho que não, eu estou sentindo muita dor mesmo. — sorriu fraco. — Eu disse que ficaria bem. — me deu um beijo no canto da boca. — Soube que estava aqui. Há alguns minutos o Doutor me disse que você estava bem e já tinha tido alta, mas parece que quando tinha ido falar com você mais cedo, estava dormindo.
— Mas... ele falou comigo, ele...
Suspirei aliviada ao entender. Aquilo é que tinha sido um sonho. Um pesadelo, mais precisamente.
Dos ruins.
Quase fiquei com vontade de rir.
— O que foi? — perguntou com um sorrisinho no canto dos lábios.
— Nada... nada não. — me forcei a mudar de assunto. — Poxa, , você realmente está péssimo, e você levou um tiro por mim, seu idiota. Poderia ter morrido.
— Eu sei, eu sou um herói mesmo, não é? — ele estufou o peito e pude ver um curativo como o meu. — E eu fico feliz de ter levado um tiro por você, quero dizer, em você ela estava mirando, com certeza teria te matado, e eu não estou morto, estou?
— Se você morresse, eu nunca ia me perdoar, ia ser culpa minha. — bufei. — Aliás, é culpa minha você estar aí nessa cama de hospital. Eu realmente não devia ter falado que foi a Hayden, eu te envolvi nisso.
— Ah, , deixa de ser chata e pare de levar a culpa. — revirou os olhos. — Estamos bem, não estamos? Estamos todos vivos. Não seja tão dura consigo mesma.
— , eu... — consegui sorrir. — foi um sonho, eu sonhei que você tinha morrido, . — meu sorriso se desfez e para o meu horror, lágrimas começaram a cair novamente.
— Ah, é? — ele não pareceu nem um pouco chocado, parecia até estar se divertindo. — Hmm... você está assim por minha causa?
— Assim como?
— Ah, não sei — revirou os olhos, irônico. — Com cara de que pegou uma gripe terrível, talvez. — riu. — Ou talvez como se tivessem te colocado dentro de um armário fechado. — ponderou. — Ou até como se tivesse pegado uma gripe terrível e te colocaram em um armário fechado... e com poeira.
— Ah, falando nisso, eu superei a claustrofobia. — falei, limpando as últimas lágrimas teimosas. — Por sua causa.
— Ah, é? Então eu nem deveria ter tentando te tirar de lá, porque eu fiquei tão preocupado com... não sei, você morrer com um ataque cardíaco que nem reparei quando a Hayden deu um choque nas minhas costas. — ele sorriu mais animado.
— Bem, se você tivesse acabado com a Hayden ali, me pouparia muitos sonhos horríveis. — consegui esboçar um sorriso.
— Eu te amo. — falou e eu sorri internamente.
— Droga, não foi tão difícil, viu? — eu não pude deixar de conter uma gargalhada nervosa. — , você é um idiota, sabia disso?
— Hm, eu sei, mas se eu não fosse você não me amaria, não é? Você disse isso pra mim no outro dia. — sorriu. — Se for assim eu até fico feliz em ser um idiota... essa frase soou muito idiota, não é? — tentou gargalhar, mas começou a tossir.
— Não, só brega.
— Não sei como te aguento, você fica me insultando o tempo inteiro. — revirou os olhos. — quando não me chama de idiota, o que é meio que o tempo todo, você vai lá e me chama de brega.
Eu soltei uma risada que mais parecia uma fungada e sacudiu os braços como se quisesse se livrar das agulhas e me fez perder o equilíbrio quando tentou me puxar para mais perto.
— Outch! — gritou ele quando eu caí batendo o cotovelo no lugar do curativo. — , isso é pior do que levar o tiro de novo.
— Me desculpa, .
— Ai. — ele pareceu ter reprimido um grito. — É melhor você ficar longe de mim por um tempo, hein, só para garantir que eu saia daqui vivo, você não entre em depressão profunda e acabe se matando ou se tornando uma viciada em drogas, sabe como é.
***
É, eu perdi o baile na sexta. Stephen até tentou me convencer a ir com ele, mas eu não aceitei, ele não era o meu par de verdade e era com ele que eu queria estar. O , quero dizer, não o Stephen. Ele ainda estava no hospital sexta à noite e só sairia no outro dia. Sua recuperação havia sido excelente para quem tinha levado um tiro no peito, mas ele teve muita sorte mesmo, a bala não tinha perfurado nenhum lugar crítico.
Eu estava no hospital na hora do baile, conversando sobre o que tinha acontecido na escola depois que Hayden foi internada no manicômio.
— O Stephen ficou sabendo de tudo, ele estava bem chocado por tudo aquilo ter sido por ele. — falei rindo. — Tá aí outro que vai precisar de terapia. — deu uma gargalhada gostosa. — As líderes de torcida ficaram felizes, disseram que a Hayden era uma ditadora e que inventava passos feios. Não sei, acho que isso não mudou muito, não é como se ela tivesse muitos amigos de verdade, sabe? Como, bem... nós.
— Pois é, nós realmente somos sortudos. — e então colou seus lábios aos meus, me arrancando um sorriso.
— Ah, você vai simplesmente morrer com essa notícia. Metaforicamente, é claro. — eu ri. — Advinha que banda que vai apresentar no baile de primavera? — eu falei e ele fez uma cara surpresa, já sabendo a resposta. — O McFLY. Os caras conseguiram mesmo.
— E o baile de inverno é hoje... está sendo hoje. — pausou. — Eu queria estar lá com você, mas devo admitir, não acho que esteja tão bom quanto aqui.
— Ainda temos o baile de primavera.
— É claro, isso se você não arranjar alguma coisa que possa nos matar. — falou irônico.
Eu gargalhei. A ironia de podia me deixar louca algumas vezes, mas sem dúvidas era a ironia mais linda do mundo.
FIM
N/a: nem ia colocar a palavra fim, mas sei lá.
Bem, talvez o povo não me mate agora. Bem, vamos lá, comentários sobre esse capítulo minúsculo, eu só postei ele separado porque... bem, porque eu já tinha pensado em fazer isso antes. Ahh, foi legal.
Esse capítulo é a coisa mais brega que já escrevi na minha vida (certo, não), eu gosto dele, certo? Foi divertido de escrever. Ele foi o único que agora antes de mandar eu adicionei uma página (yeah, foi revisar pra mandar aqui pra a lilá e pá pow, resolvi escrever mais um pedacinho pra deixar um pouco maiorzinho, peninha, esse capítulo era minúsculo.
Acho que ficou boa a parte que eu acrescentei, do meu jeito é claro, porque tenho que falar, eu sei que não escrevo bem, mas tento deixar a história legal e descontraída pra compensar minha negação na escrita, a próxima vai ser melhor, juro.
Falando em próxima estou começando uma outra já, o que quer dizer que só vou postar no ano que vem (certo, não, mas acho que em julho eu posto) e espero que a Lilá esteja comigo nessa também *-*.
Ah é, sobre essa novamente, awn, vocês se apaixonaram pelo cara? Porque ele é meu (o de verdade, digo) e é por isso que eu nunca mataria ele aqui, porque ele nunca me mataria né (cof cof, sou ameaçada de morte todo dia aqui, viu, pra você ver como eu sofro).
Quero dedicar essa fanfic a Deus, hm... ao muso inspirador do principal que não tem cheiro de morango e sim de chiclete (leia-se: viciado que vai ter problemas no estômago algum dia por conta disso), à minha filha Pandora, aos McGuys, porque mesmo eu não tendo escrito essa fic pra McFLY na próxima vou arrasar na divacidade deles.
Quero agradecer especialmente também à Lilá *-* que betou essa fic (e creio que deve ter sido bem difícil porque eu escrevo tudo errado e mudo os nomes, deve ser uma confusão) e a você, que deixou o seu comentário, espero que esteja comigo na Runaway ou qualquer nome que eu dê pra a próxima.
N/B: Meu Deeeus! Hahaha Eu aqui com o coração todo apertado porque ele tinha morrido, eu querendo te matar pelos flashbacks e era um pesadelo? :O Que lindo, lindo, lindo! Eu adoooro caras irônicos, e eu adoro ser irônica também! Hahaha
Enfim, se eu não tiver desistido até lá, com certeza vou estar com você na próxima fic, será um prazer! *-*
Como eu sempre digo: uma vez sua beta, sempre sua beta! Hahaha
Queria pedir desculpas pela demora em enviar essa att, mas foi tudo culpa do Boys Like Girls que não saía da minha cabeça e eu não conseguia me concentrar em nada, sério. Enquanto eles não chegavam ao Brasil, ficava só procurando notícias e... Chega de tagarelar, esse é o fim da fic. –mimimi Comentem muuuuito! xX – Lilá.