Ela nunca tivera muita certeza sobre nada na vida. Não tinha certeza sobre quem queria ser e talvez não soubesse ao certo nem quem era. Não se prendia a planos, não se prendia ao futuro ou ao passado. Ela queria viver e queria o agora. Queria todos os momentos, os bons ou mesmo os ruins. Queria absorver cada coisa que pudesse lhe acontecer, queria tirar uma lição, aprender, chorar, rir. Queria poder ser ela mesma sem julgamentos, sem preconceitos, sem idéias pré-concebidas. Ela queria tanta coisa, mas seu desejo mais forte era somente um. Ela queria se apaixonar e sentir, viver aquilo com todas as forças. Queria rir, sentir saudade, receber ligações no meio da madrugada, fazer alguma loucura, beijar de baixo de uma chuva torrencial, brigar, gritar e ser calada com um beijo. Queria gritar de felicidade e chorar de tristeza. Não sabia ao certo se queria amar. Talvez isso deixasse as coisas complicadas de mais. Talvez não fosse tão bom. Ainda era jovem e queria se lembrar daquilo. Da grande paixão que viveu no passado, que a fez tão bem e que a despedaçou, a fez fraca e logo depois forte. Ela queria tudo. Mas, ela não tinha muita certeza sobre quem era.
Ele não gostava de se prender a ninguém. Não queria dar satisfações, não queria sentir mais do que o necessário. Era um garoto de dezoito anos que queria aproveitar cada momento com os amigos. Rir de cada piada, criar as próprias. Chamar atenção das garotas certas e quem sabe, das erradas também. Ele sabia o que queria, sabia onde queria chegar e sabia exatamente o que fazer para conseguir, mas nunca se esquecia. Era apenas um garoto, mais um cara no meio de um monte que queria ter histórias engraçadas para contar. Não tinha medo de responsabilidades, mas se pudesse evitá-las, ele não reclamaria. Queria dirigir rápido, sentir o vento no rosto e gritar sua música preferida no meio da estrada. Queria pular do alto de uma cachoeira, mas não tão alto. Ele era aventureiro, não burro. Queria tirar notas suficientemente boas para conseguir passar de ano e agradar aos pais. Queria aproveitar aquele último ano de colegial e principalmente, queria aproveitar cada segundo. Mas, ele não gostava de se prender a ninguém e evitava responsabilidades.
estava jogada na cama do quarto, encarando as estrelas coladas no teto branco e sorrindo de leve. Sabia que suas bochechas estavam coradas pelo sol que tinha tomado mais cedo, na praia com as amigas. E podia senti-las quentes. Ela gostava daquela sensação, sentiria falta quando fosse para a faculdade no próximo ano. Brighton era seu lugar, sua casa, onde seu coração estava. Escutou alguma coisa cair no banheiro e riu. sempre derrubava tudo, em qualquer lugar que estivesse. Virou-se para o lado esquerdo e encolheu as pernas, Almost Lovers tocava baixinho no som. Aquela música conseguia realmente mexer com ela. Algo que ela nunca tinha sentido, nunca tinha ficado sem ar por causa de ninguém. Uma vez até pensou que fosse acontecer, mas fora mera imaginação. Escutou um palavrão baixinho soar no banheiro e se levantou. Se não interviesse, talvez toda sua maquiagem e banheiro estivessem destruídos no sofá. Andou até a porta do banheiro e encostou-se ao batente rosa-claro. tentava curvar os cílios, mas se atrapalhava na hora de apertar o aparelho.
“Você podia ter me chamado para ajudar.” – A morena falou, já esperando o olhar desaprovador da amiga. Ela sempre queria fazer tudo sozinha, por mais que não soubesse. Sentia um pouco de inveja dessa independência da melhor amiga.
“Não preciso de ajuda. Se não aprender agora, não aprendo nunca.” – bufou irritada e rolou os olhos. – “Não é tão difícil, quer dizer, você consegue.”
“Muito obrigada pela parte que me toca.” – fez uma careta e se sentou na tampa do vaso sanitário, abraçando as pernas. – “Sabe, se você ficar mais meia hora tentando curvar seus cílios, nós vamos chegar ao final do lual.”
“Ah, não, eca.” – suspirou e passou o curvex para . – “Final de lual só dá duas coisas: bêbados e maconheiros.”
“Nós já ficamos até o final de alguns luais.” – comentou, enquanto posicionava o curvex nos cílios da outra.
“Mas foi porque nós somos meio loucas e quisemos ver o sol nascer e nadar, todas essas coisas de mes loucas e legais.” – Ela deu de ombros e riu. – “Então, você pretende achar seu príncipe encantado essa noite ou o quê?”
“Não quero um príncipe encantado, .” – jogou o curvex na nécessaire azul clara e foi em direção a poltrona em que sua bolsa estava jogada. – “Só quero me apaixonar.”
“Não é fácil.” – balançou a cabeça e suspirou. – “Mas se é isso que você quer, eu te apoio. E prometo não dizer eu te avisei, quando você estiver com o coração partido.”
deu de ombros e desligou o som. Não podia culpar a amiga por ser tão pessimista. Ela já tinha passado por aquilo, já tinha vivido uma grande paixão com tudo que tivesse direito, mas tinha se entregado demais e não soubera a hora de parar. Então, teve seu coração totalmente quebrado quando viu o garoto com quem estava há quase oito meses, ficando com outra em uma festa. Ela dizia que o detestava e fazia questão de demonstrar aquilo, mas não enganava . Ela sabia que tanto quanto ainda se gostavam muito, mas ambos eram os seres mais orgulhosos já colocados no mundo.
“Não é como se eu me importasse com isso.” – sorriu e pegou a bolsa que estava em cima da poltrona. – “Eu quero tudo. As partes boas e as ruins também.”
“, às vezes me pergunto por que você é tão esquisita.” – cruzou os braços e balançou a cabeça. – “É a única pessoa que eu conheço que quer sofrer de amor.”
“Não é amor, é paixão.” – fez uma careta para a melhor amiga, apagou a luz do quarto e saiu para descer as escadas. – “Garanto que muita gente pensa do mesmo jeito, mas como eu sou a única pessoa que você conhece de verdade, então é a única que você sabe que quer tanto o ruim quanto o bom.”
“Você e toda sua vontade de viver.” – riu e abraçou a amiga pelos ombros. – “Às vezes te acho esquisita, às vezes te admiro. Deve ser por isso que nós somos melhores amigas.”
“Idem para você.” – riu e foi até a cozinha onde os pais estavam jantando para avisar que já estava de saída. – “Pessoas que eu amo, estou indo.”
“Não chegue muito tarde.” – a mãe de olhou para ela e sorriu.
“E não dê muita confiança para os garotos, vocês duas, aliás. Eles podem ser traiçoeiros.” – o pai dela falou, com um tom que misturava piada com alerta.
“Okay.” – rolou os olhos e riu. Ela e saíram da cozinha jogando beijos no ar e saíram logo pelas portas do fundo. Não precisariam ir de carro, já que a casa de era quase na praia.
“Então, eu estava pensando...” – falou enquanto elas desciam uma ladeira. – “Se o estiver nessa festa, existem duas opções. Ou dou uma de superior e finjo que nada está acontecendo ou nem olho na cara dele e finjo que nada está acontecendo. Qual é melhor?”
“, sinceramente, vocês deviam dar um jeito em toda essa situação doida.” – deu de ombros. – “Não é como se vocês não se gostassem mais ou coisa do tipo.”
“E quem te disse que eu gosto dele?” – forçou uma risada de escárnio e balançou a cabeça.
“Não precisa dizer, eu te conheço melhor do que ninguém.” – a morena sorriu e desceu as escadas que davam para a praia. Já podiam ver as pessoas espalhadas, perto da fogueira. Tinham montado espaço para uma banda, pelo que parecia. Tinha instrumentos por todos os lugares e tendas coloridas faziam a decoração daquilo tudo. Geralmente, os luais não eram tão montados assim, mas aquele era o primeiro do ano, então, os estudantes do último ano, tinham se decidido por uma coisa mais organizada. Quando as garotas finalmente colocaram os pés na areia, olharam uma para outra e sorriram. Um sorriso que trazia todas as expectativas para a primeira grande festa daquele ano. Para aquele ano. O ano que mudaria a vida de .
estava sentada na areia, com as pernas estiradas, encarando o mar e sentindo o vento no rosto. Ela adorava aquilo. Simplesmente sentir. tinha sumido já havia quase uma hora. tinha aparecido, parecendo muito deprimido e pedindo para eles conversarem. ainda tentou se fazer de indiferente, rolou os olhos, cruzou os braços, mas quando ele pediu pela segunda vez, ela decidiu que talvez não fosse tão ruim assim escutar o que ele tinha para falar. riu. A melhor amiga era a pessoa mais complicada e engraçada que ela já conhecera na vida. Suspirou e abraçou-se, ainda com o sorriso leve nos lábios. Talvez não fosse exatamente naquela festa que ia se apaixonar. Não era de se preocupar demais, ou apressar as coisas. Esperaria que acontecesse e tinha certeza, que aconteceria naquele ano. Fechou os olhos. Sentiu algo bater em sua panturrilha e olhou para os lados assustada, vendo apenas um par de pernas masculinas. Levantou os olhos.
Ele estava com uma camiseta do Elmo. O que meio que a fez rir. Ele era engraçado de uma forma diferente. O cabelo parecia nunca ter encontrado pente, já que as mechas iam para todos os lados. Os olhos eram de uma cor incrível e as suas bochechas meio vermelhas e o nariz longo, davam um jeito meio infantil ao rosto quase de homem. Ele balançou a cabeça e pareceu confuso, dando de ombros e sorrindo. Aquilo fez com que de alguma forma, ela sentisse um frio esquisito na barriga e vontade de sorrir de volta. Ela nem sabia o nome dele, mas apostava que tinha encontrado o que queria.
O cabelo longo com algumas mechas mais claras pelo sol balançava de uma forma esquisita e hipnotizante com o vento. Ela tinha os olhos pequenos e iguais ao cabelo. Uma mistura de claro e escuro. Sorriu de uma forma infantil quando ele sorriu para ela. Um sorriso simples, mas daqueles sinceros, aquele com os olhos. As bochechas estavam vermelhas e ela parecia quente, confortável dentro do casaco rosa. Parecia à vontade consigo mesma e com ele. E pela primeira vez, não sabia exatamente o que sentia em relação àquela garota. Mas era uma daquelas que ele queria chamar atenção. Queria muito.
“Desculpa por isso. Não te vi, acho que estou meio bêbado.” – ele coçou a nuca e sentou ao lado dela. – “Machucou?”
“Não, não foi realmente um chute ou coisa do tipo.” – ela deu de ombros e sorriu. – “Meio bêbado?”
“É, eu não bebi muito, mas sei lá.” – ele fez uma careta. – “Fiquei tonto.”
“São as conseqüências do álcool.” – encostou a cabeça na mão esquerda e o encarou.
“Não que eu fique tonto constantemente, mas hoje muita coisa está me fazendo ficar tonto.” – ele voltou seu rosto para ela e sorriu de lado. – “Acho que não é um bom dia.”
“Sempre é um bom dia, por pior que pareça.”
“Talvez sim.” – deu de ombros e sorriu. – “Vou me lembrar disso.”
“.” – ela falou o nome depois de um tempo em silêncio. Em que os dois se encararam, apenas sorrindo.
“.” – ele deu um beijo na bochecha dela e sorriu envergonhada. Talvez ela tivesse achado o que queria. E talvez, estivesse diante do que faria seus dias bons, por pior que parecessem.
That somewhere somehow you've passed me by;
estava no meio da praia, encarando as chamas coloridas da fogueira e franzindo o cenho. Olhou para o lado e observou o garoto alto, os cabelos bagunçados e tão diferentes. Ela queria tocá-los. Sorriu como costumava fazer quando era criança e se aproximou dele. riu e balançou a cabeça. Ela sentiu algo esquisito no estômago e de repente tudo virou uma bagunça de imagens. Escutou o barulho da porta de seu quarto e alguém deitando ao seu lado na cama. Abriu os olhos devagar e suspirou confusa. Tinha sido um sonho, mas parecia ter sido tão real. Ela ainda lembrava-se do sorriso de . Para falar a verdade, era a única coisa que tinha em sua cabeça há quatro dias, desde a noite no lual. Ficou irritada por alguns instantes. Não conseguia entender, porque não tinham trocado número de telefone? Voltou a fechar os olhos e as imagens do sonho lhe vieram à cabeça de novo. Eles tinham conversado quase até de manhã naquele dia, ele tinha ficado sóbrio com o tempo. Ele a fazia rir como ninguém nunca tinha feito. Qual era o problema com ela, afinal?
Ela nem o conhecia.
“Sei que está acordada, não adianta fingir.” – a voz de soou ao seu lado e sorriu. - “Hoje, nós vamos passar o dia na praia.”
“, nós saímos todos os dias.” – virou com a barriga para cima e encarou o teto do quarto, com os olhos meio fechados, sonolenta ainda. – “Não podemos ficar em casa?”
“, é nossa última semana de férias.” – falou indignada e riu. – “Depois que as aulas começarem, vou escutar você reclamando no meu ouvido que não temos tempo para nada e que queria sair, portanto, vamos aproveitar enquanto podemos.”
“Okay, você me convenceu.” – se espreguiçou e sentou-se. “Você acha que, talvez hoje eu consiga?”
“O quê?” – saiu da cama e foi até as cortinas para abri-las. – “Reencontrar seu príncipe encantado e imaginário?”
“Não é meu príncipe encantado e já disse que não é minha imaginação.” – jogou a almofada mais próxima nas costas da amiga. – “Ele existe!”
“Estou brincando, mas é que é meio estranho vocês não terem se encontrado mais. Quer dizer, nós saímos todos os dias desde o lual e ele simplesmente desapareceu.”
“Talvez ele seja de fora e já tenha ido embora.” – deu de ombros e se levantou. – “Talvez eu esteja meio obsessiva com essa idéia de me apaixonar.”
“Bom, nós vamos à praia. Talvez vocês se encontrem por lá e toda essa coisa louca de destino aconteça.” – deu de ombros e abriu a porta da varanda do quarto da amiga. – “Vai se arrumar.”
“Eu estava bêbado, talvez fosse uma alucinação ou coisa do tipo.” – falou, sentado em uma das cadeiras que tinham em frente ao balcão da cozinha da casa de .
“Cara, você está ficando louco.” – balançou a cabeça, enquanto cortava bananas para fazer sua vitamina matinal.
“Talvez.” – deu de ombros e passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os mais ainda. – “O que me deixa mais confuso, é que tenho certeza de que com o tempo fui ficando sóbrio e ela continuava ali... O sorriso dela.”
“Você nunca ficou assim por nenhuma garota, quer dizer, teve a Kelly, mas depois você desanimou, como sempre.” – rolou os olhos e riu.
“Não é como sempre.” – fez uma careta e encostou a cabeça na mão esquerda. – “Ela é meio diferente e a gente nem se beijou, nem nada.”
“Nós passamos quatro dias procurando por essa garota pela cidade toda e nada.” – balançou a cabeça negativamente. – “Você precisa relaxar e deixar as coisas acontecerem.”
“Sempre que eu relaxo e deixo as coisas acontecerem, elas simplesmente não acontecem.” – ele voltou a encostar as costas na cadeira e suspirou.
“Então, pára de pensar um pouco nisso, o que for.” – ligou o liquidificador e por algum tempo, foi escutado apenas o barulho do aparelho. cruzou os braços e franziu o cenho. Porque mesmo não tinha pedido o numero do celular dela? Desde quando era tão imbecil? Suspirou. O sorriso de não saía de sua cabeça e aquilo estava começando a enlouquecê-lo.
Já fazia algumas horas desde que e tinham chegado à praia. Poderiam passar o dia todo naquele lugar, pisando na areia fofa, encarando o mar e sentindo a brisa leve no rosto e nos cabelos, se pudessem. Elas simplesmente amavam aquilo.
“Vou dar um mergulho.” – puxou o fone de ouvido de para que ela escutasse. – “Você vem?”
“Não, não gosto de ficar de vela.” – sorriu e rolou os olhos, fazendo uma careta para a melhor amiga, tentando demonstrar raiva. estava surfando e tinha passado o tempo todo fingindo que não tinha visto o ficante. Era difícil definir os dois. Amigos com benefícios? Não, eles eram mais que aquilo. Eles eram complicados e totalmente apaixonados, era a única definição que poderia dar naquele momento.
Quando finalmente parou de surfar e chegou até onde as duas estavam para cumprimentá-las, disse que ia descansar um pouco com os amigos e depois dar um mergulho. as convidou, mas fez olhando para . sabia o que aquilo queria dizer e sabia muito bem ler nas entrelinhas.
“Como se eu fosse mesmo ficar com o .” – a amiga falou antes de sair andando pela areia e deu de ombros. Já escutara aquilo tantas vezes que nem se impressionava mais quando os dois acabavam ficando todas as vezes que falava aquilo. Voltou a colocar o fone de ouvido e fechou os olhos. The Kooks, era definitivamente música de praia. Aproveitou a sombra do guarda-sol, já que não queria se queimar e pensou que talvez conseguisse cochilar um pouco. Voltar aos seus sonhos esquisitos com lhe parecia muito convidativo naquele momento. Já estava quase dormindo quando sentiu algo tocar sua cintura. Abriu os olhos e virou para o lado, encontrando uma bola vermelha de plástico. Era normal, aquilo sempre acontecia, ela era um ímã para objetos ou coisa do tipo. Sentou-se e pegou a bola para devolver ao dono, ergueu os olhos e pensou, que por um momento, tivesse realmente dormido. Seu coração acelerou e o estômago revirou de uma forma estranha, daquelas de quando você está com medo ou muito ansioso para que algo aconteça. estava em pé, apenas com uma bermuda, os cabelos parecendo mais desalinhados que o normal e o sorriso que ela tanto queria voltar a ver.
“Pensei que você estivesse dormindo.” – ele falou e sorriu. sentiu um arrepio passar pela coluna. – “Não quis te acordar.”
“Não acordou, talvez, se tivesse chegado uns cinco minutos mais tarde.” – se levantou e devolveu a bola para ele. – “Acho que isso é seu.”
“Na verdade, não.” – ele deu de ombros e riu. – “É de um garotinho.”
“Você roubou a bola de um garotinho?” – fez cara de espantada e riu. – “Que tipo de pessoa é você, ?”
“Não, não roubei.” – ele balançou a cabeça. – “Tive que comprar um picolé para ele por dez minutos com a bola. Não queria te acordar de mal jeito, se você estivesse dormindo ou coisa do tipo.”
“Muito obrigada!” – colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha.
“É bom te ver, sabia?” – falou enquanto apertava a bola nervosamente.
“Também acho.” – ela sorriu e encolheu os ombros quando uma brisa bateu leve. – “Você meio que sumiu desde aquele dia.”
“Na verdade, não.” – franziu o cenho e balançou a cabeça. – “Você que sumiu... Quer dizer, saí com os meus amigos todos os dias.”
“Também saí com minha amiga todos os dias.” – olhou para o mar, em busca da figura da melhor amiga. Queria que visse que aquele garoto não era só imaginação dela. era muito melhor que sua imaginação.
“Então, acho que a gente ficou se desencontrando o tempo todo.” – ele sorriu de lado e resolveu se aproximar um pouco mais. Não que ele fosse fazer qualquer coisa, só queria estar um pouco mais perto da garota. – “Escuta, eu andei pensando e...”
“Minha irmã falou que já passou dez minutos, quero a bola.” – um menino com os cabelos cacheados e cerca de cinco anos se intrometeu no meio dos dois e olhou para .
“Ah é, desculpa.” – coçou a nuca, envergonhado e sorriu, achando aquilo fofo e sexy ao mesmo tempo.
“Ele parecia meio irritado.” – falou depois que o menino deu de costas e saiu correndo para onde a irmã estava esperando.
“As crianças não ficam muito felizes quando nós tiramos os brinquedos delas, sei disso melhor do que ninguém.” – ele suspirou e continuou o encarando, para que ele desse uma explicação para aquilo. – “Não, não é como se eu tivesse filhos por aí ou coisa do tipo. Tenho uma irmã mais nova.”
“Pensei nisso, mas como você parou de falar do nada, eu pensei... Bom, nada contra quem tem filhos na nossa idade, é só que... Não sei, eu...” – se interrompeu sentindo as bochechas vermelhas. Porque ela tinha que começar com os monólogos confusos dela bem na frente de ?
“Acho que entendo.” – ele assentiu. Ela ficava tão bonita quando estava envergonhada. Era outro lado de que ele estava descobrindo e definitivamente queria descobrir tudo sobre aquela garota. – “Então, como eu estava falando antes de ser interrompido pela criança enfurecida e tudo o mais... Vai ter uma festa na casa de um amigo hoje à noite.”
“Legal!” – ela assentiu e olhou para o mar. Encarar os olhos dele por muito tempo era prejudicial à sua sanidade. Ele tinha os olhos mais lindos que ela já tinha visto.
“Você quer ir?” – ele encolheu os ombros e ela voltou sua atenção para ele, novamente. – “Pode levar quem quiser.”
“Vou ver com meu namorado.” – ela segurou o sorriso e assentiu, parecendo extremamente decepcionado. – “É brincadeira.”
“Ah, que ótimo.” – ele falou aliviado e sentiu um rubor tomar conta de suas bochechas, mordendo o lábio inferior para não sorrir. – “Quer dizer, não que seja ótimo você não ter namorado... Esquece.” – ele balançou a cabeça e riu. Não conseguiu segurar. Alguém chamou por e ele virou o rosto. Um amigo estava o chamando. – “Estou de carona com ele, tenho que ir. Me passa seu celular para eu te mandar o endereço da festa?” – ela assentiu e passou o número de seu celular, enquanto observava ele gravar na memória do dele. – “Te vejo mais tarde.” – não era uma pergunta, era uma afirmação. meio que gostou daquilo. Talvez ela estivesse começando a gostar demais de . E definitivamente, estava gostando demais dela.
Well I'll state something rash, she had the most amazing... smile;
se olhou no espelho de corpo inteiro que tinha no quarto e depois rodou o corpo. Fez uma careta e pediu mentalmente que chegasse logo, ela precisava da melhor amiga. O vestido cinza parecia bem no seu corpo, o laço estava amarrado corretamente, do jeito que ela gostava das coisas. As sapatilhas pretas de veludo estavam nos pés e pareciam combinar com o resto da roupa. O cabelo preso pela metade dava um ar leve a suas bochechas avermelhadas pelo sol. Pelo menos, não perceberia se ela ficasse com vergonha. Sorriu de leve e balançou a cabeça. Todo o problema com a roupa era ridículo, ela nunca tinha se vestido para impressionar nenhum garoto. Apenas para si mesma. Mas dessa vez parecia ser diferente. A expectativa quanto aquilo a estava deixando louca, tinha certeza. Passou a mão pelo rosto e suspirou, meio irritada. Sentou-se na cama e pegou o celular que estava largado em cima do colchão. Qual era o problema com ? Ela quase nunca se atrasava. Deitou atravessada na cama e encarou o teto do quarto, em silêncio. Ficou algum tempo refletindo sobre todos aqueles sentimentos confusos que já tomavam conta dela. Quer dizer, ela nem conhecia direito, como poderia estar toda encantada por ele? Como poderia só pensar nele desde a noite do lual? Rolou os olhos e resmungou, virando-se de lado. Escutou batidas na porta do quarto e gritou para quem quer que fosse, que entrasse.
“Desculpa, desculpa.” – escutou a voz da amiga e se levantou. – “Desculpa, mas o passou a tarde lá em casa e eu acabei perdendo o horário de me arrumar.”
“ passou a tarde na sua casa?” – arqueou as sobrancelhas e rolou os olhos, balançando a cabeça.
“Vendo filme, .” – ela se encarou no espelho de corpo todo, como tinha feito minutos atrás. – “Ah, você não vai acreditar.”
“Em quê?” – pegou a bolsa que estava em cima da poltrona perto da escrivaninha e se virou para . Ela parecia empolgada e receosa, ao mesmo tempo.
“ conhece o . Eles são muito amigos, pelo que ele falou.” – sorriu, mas logo depois fez uma careta. – “Só tem um problema, quer dizer, ele disse que o não pára quieto com ninguém.”
“Resumindo, ele pega todas.” – ela encolheu os ombros. – “Não é como se eu fosse ter alguma coisa com ele, ou algo do tipo.”
“Não é como se você fosse ter alguma coisa com ele.” – repetiu, balançando a cabeça. – “Claro que não, tirando o fato de que você só pensa e fala nele, ultimamente.”
“Muito engraçado, .” – deu língua para ela e a empurrou porta afora. A amiga resmungou, enquanto saía do quarto. – “A gente já se atrasou o suficiente, pára de reclamar.”
estacionou o carro em frente à casa do endereço que tinha passado mais cedo por mensagem. Era a casa de um tal de , que parecia conhecer também. Qual o problema com ele, afinal? Tinha todos aqueles amigos e nunca apresentara ninguém. desconectou o ipod do rádio do carro e o guardou na bolsa. As duas andaram até a porta da casa que estava aberta, revelando um monte de pessoas espalhadas pela sala da casa. Alguns bebendo, cantando alto a música do All Time Low que saía das duas caixas de som enormes que deviam ter sido colocadas ali mais cedo. Um grupo estava jogando pôquer no balcão da cozinha. se empolgou, ela adorava pôquer. a puxou pela mão para que andasse mais rápido e foi atrás da amiga até uma porta de vidro enorme para os lados, que dava em um quintal enorme, com piscina e rede de vôlei. O tal de parecia realmente ter dinheiro. Algumas pessoas estavam gritando dentro da piscina e as meninas riram, fazendo careta uma para outra.
“Ali.” – apontou para uma mesa que tinha perto da churrasqueira e o coração de acelerou automaticamente quando ela viu gargalhar de alguma coisa que os amigos dele tinham acabado de falar. Entre eles, estava . Sentiu a amiga puxá-la com mais força e mais rápido. Ela sempre andava mais rápido quando via e eles pareciam estar bem, então, ela não reclamou. – “Oi.”
“.” – foi o primeiro a se levantar e dar um selinho demorado na garota, em meio a um abraço de urso. Todos riram. – “Pessoal, essa é a e essa é a .” – deu um beijo no rosto da outra e ela sorriu, acenando para todo mundo. – “Mas parece que o já conhece, já que ele não parava de perguntar quando vocês iam chegar.”
“Obrigado, .” – sorriu sem graça e agradeceu mentalmente pela vermelhidão que o sol da tarde tinha dado a sua bochecha. Se bem que, talvez fosse possível ela ter ficado mais vermelha quando se levantou e lhe deu um beijo na bochecha. – “Oi.”
“Oi.” – ela sorriu de leve e escutou um grito vindo da piscina. Todos se viraram para ver o que estava acontecendo e era apenas uma escandalosa, tentando chamar atenção de algum garoto.
“Quer beber alguma coisa?” – rolou os olhos e fez uma careta quando a garota voltou a gritar. – “Ou quer sair daqui para não ter que agüentar isso?”
“Quero.” – ela balançou a cabeça e seguiu com ele, de volta para o interior da casa. Olhou para trás e viu , sorrindo. Daquele jeito de novo. Empolgada e receosa. falou alguma coisa em seu ouvido e ela encolheu os ombros. voltou a olhar para frente e caminhou ao lado de , silenciosamente, até a cozinha. O pessoal do pôquer ainda estava jogando e ela mordeu o lábio inferior, com vontade de juntar-se a eles. – “Você joga pôquer?”
“Jogo.” – a encarou confuso por causa da pergunta repentina e depois voltou sua atenção ao balcão. – “Se quiser, peço para a gente entrar no jogo.”
“Quero.” – ela deu um sorriso infantil e sentiu vontade de abraçá-la como tinha feito com minutos atrás.
“Okay, só vou pegar alguma coisa para a gente beber primeiro.” – ele piscou para ela e sentiu uma leve sensação de esquisitice dentro de seu estômago. Ele deu as costas e foi até a geladeira, voltando com duas garrafas de Heineken. – “Gosta?”
“Gosto.” – ela sorriu agradecida e a puxou pela mão até o balcão. Ambos sentiram um choque leve passar por seus corpos, mas acharam melhor ignorar aquela sensação.
Depois da ultima rodada, os dois entraram no jogo, sentando-se de frente um para o outro. sorriu de lado quando viu suas cartas e arqueou uma sobrancelha olhando para . Ela deu língua para ele e voltou sua atenção ao que tinha nas mãos. Eram boas cartas, ela sabia daquilo.
Eles já tinham jogado cinco rodadas e tinha ganhado três, encarava a garota indignado. Depois de quase duas horas, eles já estavam na quarta garrafa de cerveja e estava mais solta. O álcool fazia efeito rapidamente nela. Quando ela mostrou as cartas que indicavam que ela ganhava dele, pela segunda vez. Ele balançou a cabeça.
“Chega de pôquer para você.” – ele a levantou e todos riram, inclusive ela.
“Não tenho culpa se jogo bem.” – ela acenou para o pessoal que continuou o jogo, enquanto a puxava de volta para o quintal. Os dois andaram de mão dadas, segurando as garrafas de Heineken nas mãos que estavam livres e sentaram-se, lado a lado, em uma das esprigaçadeiras que tinham espalhadas ao redor da piscina, que estava vazia. O vento frio que batia devia ter assustado as pessoas.
“Ainda bem que nós não apostamos nada, se não você teria levado todo meu dinheiro.” – ele riu e balançou a cabeça.
“Você pensou que eu jogava mal por ser menina?” – ela falou a primeira coisa que lhe veio à cabeça e fez uma careta. – “Acho que já estou meio bêbada.”
“Você é fraca.” – ele a empurrou de leve com o ombro e riu. Ficou de joelhos e logo depois se deitou na espreguiçadeira. Olhou para o perfil de e sorriu.
“Não sou fraca, eu ganhei de você no pôquer. Duas vezes.”
“Não precisa ficar jogando na cara.” – ele sorriu de lado e se virou de frente para ela, colocando um de seus braços apoiado ao plástico da cadeira, por cima das pernas esticadas dela. – “Na verdade, eu te deixei ganhar.” – ele sorriu debochado e gargalhou.
“Você é muito orgulhoso, .” – ela balançou a cabeça e virou o rosto, encarando as plantas que tinham ao lado do local em que estavam. Fechou os olhos, sentindo o vento fraco que batia em seu rosto e se distraiu por alguns momentos. Voltou a abrir os olhos e se deparou com o rosto de muito próximo ao seu. Sorriu, sentindo as bochechas ficando realmente vermelhas. Ela podia apostar que era possível perceber através da vermelhidão do sol. Ela devia estar de um tom vermelho intenso. – “Oi.” – ela murmurou e ele sorriu.
“Oi.” – ele murmurou de volta e ela tomou coragem para tocar no rosto dele com uma das mãos. fez uma careta e ficou confusa, sentindo-se idiota. Tirou a mão do rosto dele, rapidamente. – “Não, é que sua mão está gelada.” – ele a pegou e voltou a seu rosto. – “Mas eu gosto.” – ela encarou os olhos azuis e fez um leve carinho na bochecha macia dele. se aproximou, encarando-a profundamente. Parecia que ele podia descobrir tudo sobre ela por meio daquele olhar. sentiu um arrepio na espinha e fechou os olhos quando ele lhe deu um selinho rápido, quase uma permissão para que pudesse realmente beijá-la. passou a língua pelos lábios dela, a menina os abriu e ele aprofundou o beijo. Ele entrelaçou a mão na dela, a que não estava em seu rosto e a garota sorriu contra o beijo. Ele meio que gostou demais quando ela fez aquilo. Ela era diferente de todas as garotas com quem ele já tinha ficado. Ela tinha luz própria. Ela queria viver, acima de tudo, assim como ele. Colocou a outra mão na cintura dela e os dois ficaram ali. Apenas se beijando, apenas descobrindo um ao outro e sentindo os corações acelerarem como nunca. podia sentir que estava se apaixonando. podia sentir que talvez, quisesse assumir responsabilidades.
sentou na cerca que tinha ao redor do deque e balançou as pernas, encarando as sapatilhas brancas. Sentiu uma brisa bater um pouco mais forte em seu rosto e fazer com que seu cabelo fosse a todas as direções. O verão estava acabando. As férias estavam acabando. Na verdade, aquele era o último dia. Aquela sexta-feira. Ela nunca contava os fins de semana, já que eles eram... Bom, fins de semana. Olhou para o lado e viu em uma das lanchonetes com . Eles estavam abraçados e riam de alguma coisa. Era sempre assim, eles sempre ficavam perfeitamente bem quando era o final das férias, mas bastava as aulas começarem para todo o drama vir à tona novamente.
“Desculpa a demora.” – ela escutou a voz de e virou sua atenção para ele. – “Chá gelado, senhorita.”
“Muito obrigada.” – ela sorriu e pegou o copo das mãos dele. sentou ao lado, com um copo nas mãos também. Eles tinham passado o dia inteiro naquele deque, conversando ou em silêncio. O que era mais incrível era que o silêncio entre os dois nunca era incômodo. Era até confortável. Agora eles estavam ali, encarando o mar à sua frente, as pedrinhas que cobriam o chão da praia e observando o começo do pôr-do-sol. Era uma sensação boa demais, eles achavam. Já fazia uma semana que os dois estavam juntos. Quer dizer, não exatamente juntos. Eles ficavam e não ficavam. Tinha dias em que eles nem sequer se beijavam. Conversavam mais. gostava daquela sensação, não se sentia pressionada. gostava daquela situação por não ter que lidar com cobranças da parte da garota, ela era realmente diferente de todas as outras. Era tranqüila e calma, pelo menos, na maior parte do tempo. James tinha dito que quando a garota ficava com ciúmes, não existia ninguém que pudesse controlá-la. Era outro lado dela que ele estava disposto a descobrir. Ele queria descobrir tudo. Pela primeira vez, sentia-se extremamente curioso sobre alguém.
“Espera.” – ele se aproximou e tirou uma folhinha que tinha se prendido ao cabelo dela com o vento. sorriu e se aproximou dele, beijando o canto de sua boca. De vez em quando se deixava tomar por seus impulsos e fazia a primeira coisa que lhe vinha à cabeça, sem filtro algum. Sem segundos pensamentos, sem segundas intenções. Ela apenas se permitia.
“Obrigada, .” – encolheu os ombros e ele sorriu. Se aproximou e passou o braço pelos ombros dela. Aconchegando-a junto a seu corpo.
“Você está com frio.” – não era uma pergunta, era uma afirmação. Pelo menos, ele já tinha notado que toda vez que a garota sentia frio, ela colocava as mãos dentro dos bolsos. No caso, a mão que não segurava o copo de chá gelado.
“Um pouco.”
“Quer andar?” – ele perguntou baixinho e ela assentiu, pulando da cerca do deque. deu a mão para ela e os dois desceram as escadas que dava para a praia. Lá estaria mais frio, com certeza. Mas eles pareciam não se importar ou pensar naquele tipo de coisa quando estavam juntos.
“Sabe, quando eu era pequena...” – riu com a lembrança que lhe veio à cabeça e a encarou, com o cenho franzido. – “Fugia para cá. Quer dizer, sabe quando você diz que vai fugir e nunca mais voltar, e faz uma trouxinha de roupas? Então, eu sempre vinha para cá. Deixava meus pais loucos.”
“Você o quê?” – ele balançou a cabeça e gargalhou. sorriu e encolheu os ombros, tomando um gole do chá gelado. – “Não dá para não te imaginar menor do que já é, com uma trouxinha mal feita de roupas nas costas, fazendo bico e correndo para cá, e não rir”
“O que você quis dizer com menos do que já é, ?” – ela ergueu as sobrancelhas e deu um tapa no ombro dele. – “Não sou tão pequena assim.”
“Mas também não é grande.” – ele continuou a gargalhar e fez uma careta para ele. se aproximou, abraçando-a pela cintura e rolou os olhos, cruzando os braços. Se fingindo de indiferente. – “Você é fofa.” – a gargalhada tinha se transformado em riso, e agora ele só tinha um sorriso leve nos lábios. Um sorriso bobo. – “Gosto de você.”
“Ah é?” – encarou os olhos dele e sorriu, mal lembrando que estava tentando ser indiferente a ele. Sentiu as bochechas avermelharem. Talvez as coisas estivessem indo rápido demais entre os dois. Mas ela não queria pensar naquilo. Não naquele momento. Ela queria apenas aproveitar.
“É.” – ele se aproximou e colou a testa na dela. descruzou os braços e os passou pelo pescoço dele, ficando nas pontas dos pés. passou o nariz pela bochecha dela, fazendo com que a garota fechasse os olhos, se aproximou e colou os lábios aos dela, passando a língua por eles. abriu a boca em uma permissão muda para que o beijo fosse aprofundado e afundou uma das mãos no cabelo dele. Ela adorava a textura do cabelo dele. a beijou ternamente, como sempre fazia. Ainda não era hora de tentar uma coisa mais profunda. E ele queria aproveitar todos os momentos com ela. Dos mais simples aos mais íntimos.
se virou para o lado, puxando o cobertor colorido de listras rosas e roxas para cobrir seus ombros e aconchegou-se melhor aos travesseiros. Ainda de olhos fechados, a garota passou a mão por algumas mechas de seus cabelos, afastando-as do rosto. Abriu um dos olhos, encarando a escuridão do céu através das cortinas claras e finas que cobriam a janela de seu quarto. Apesar de estar escuro, ela sabia que logo o dia iria amanhecer. Dava para perceber pelas nuvens que pareciam brincar no céu. Voltou a fechar o olho esquerdo e se concentrou em dormir novamente. Quando já estava quase entregue ao sono, escutou Somewhere over the rainbow vindo de seu celular no criado-mudo ao lado da cama. Passou a mão pela madeira clara do móvel, procurando o celular às cegas, sem raciocinar direito. Quem estaria ligando uma hora daquelas? Talvez . Talvez ela tivesse brigado com , sempre que os dois brigavam, ela ligava para . Talvez alguém tivesse discado o número errado e ligado para seu celular. Só ia saber quanto atendesse, não estava com vontade de abrir os olhos para descobrir quem era por meio do identificador de chamadas. Subiu o flip do celular e falou alguma coisa com a voz rouca e embolada, pelo sono.
(n/a: coloque a música para tocar ;D)
“Oi.” – ela escutou a voz dele do outro lado da linha e abriu os olhos. Meio surpresa. Meio empolgada. – “Te acordei.”
“Acordou.” – ela riu e sentiu a garganta seca. Precisava de água. Encarou o teto do quarto. Tinha perdido as contas de quantas vezes ficara encarando o teto daquele quarto, sem realmente vê-lo desde o beijo com naquela festa.
“Desculpa.” – ele suspirou e os dois ficaram em silêncio por algum tempo. Apenas escutando a respiração um do outro. – “Não me ache louco, okay?” – ele pediu e assentiu, por mais que ele não pudesse ver, ela sabia que encarou o silêncio dela como um assentimento. – “Estou na frente da sua casa.”
“Da minha casa?” – ela franziu o cenho, se levantou e foi até a janela do quarto. Afastou as cortinas e abriu um pouco a janela. estava em frente ao portão da casa. Encarando a rua, o cabelo despenteado pelo vento forte e com um casaco relativamente grande, até para ele mesmo. não conteve o sorriso. – “Então, o que você está fazendo em frente a minha casa, parecendo morrer de frio a essa hora da manhã?”
“Como você sabe que eu...?” – ele se interrompeu ao olhar para cima e encontrar a garota em uma das janelas da casa. sorriu. O melhor sorriso, aquele sorriso infantil e fácil. O sorriso que tomava conta dos pensamentos dela facilmente, quando ela encarava o teto do quarto. – “Oi.”
“Oi.” – ela encolheu os ombros e acenou para ele.
“Você podia descer? Quer dizer, nós podíamos ir até o deque. O sol já está quase nascendo.” – ele falou com os olhos semicerrados, encarando e parecendo um pouco envergonhado. Ela sorriu, assentiu e pediu que ele esperasse. Foi até o guarda-roupa pegando a primeira calça jeans que encontrou, vestiu-a. Logo depois tirou a blusa do pijama e colocou seu casaco azul listrado, calçando o all star branco em seguida. Prendeu os cabelos, pegou o celular e já estava quase saindo do quarto, quando se lembrou que tinha acabado de acordar. Correu até o banheiro, escovou os dentes e desceu as escadas rapidamente, tentando não fazer barulho para não acordar os pais. Fechou a porta da entrada da casa com cuidado e quando pisou na calçada que dava para a rua, saiu correndo até onde estava, pulando em seus braços. O garoto riu e a segurou pela cintura. – “Desculpa te acordar.”
“Não tem problema.” – ela beijou os lábios dele rapidamente e saiu de seus braços, entrelaçando a mão direita à esquerda dele. Os dois caminharam em silêncio, observando as nuvens se moverem calmamente no céu. Observando o escuro dar lugar ao claro. Observando a diversidade de cores que o nascer do sol trazia.
Quando chegaram ao deque, sentaram no cercado de madeira em frente ao mar. O sol acabava de sair do meio das nuvens e fazia um reflexo absurdamente bonito no mar. apertou a mão de e ela deitou a cabeça no ombro dele.
“Senti sua falta.” – ele praticamente murmurou. Era manhã de domingo. Eles não tinham se visto no sábado, já que tinha ido a Cambridge com os pais. Não era normal para sentir falta de uma pessoa por passar apenas um dia sem vê-la. Ele era mais do tipo que só notava a falta que alguém quando fazia cerca de uma semana depois. Mas com era diferente, ele não sabia explicar. Simplesmente era diferente. – “Como foi em Cambridge?”
“Foi ótimo.” – ela levantou a cabeça do ombro dele, para encarar os olhos que tinha aprendido a gostar tanto. Os olhos que em apenas pouco tempo, a deixavam completamente sem chão. – “Meus pais me levaram até a universidade.”
“Então, você vai ser uma garota de Cambridge no ano que vem.” – ele sorriu, colocando uma mecha do cabelo dela atrás da orelha.
“Não sei.” – ela fez uma careta e voltou sua atenção para o mar, ficando em silêncio. Perdida em seus próprios pensamentos. Ela queria Cambridge, mas talvez Cambridge não a quisesse. Era difícil ser aceita em uma universidade daquelas. deu um beijo no topo da cabeça dela e olhou para ele.
“Você é incrível, , eles vão te aceitar.” – se assustou. Como ele podia saber o que ela estava pensando? E como ele podia ter tanta certeza de que ela era incrível? Os dois se conheciam há pouco mais de uma semana. Ela passou a mão pelo rosto dele, que estava gelado. Ela sorriu levemente ao lembrar-se do primeiro beijo deles. De como sua mão estava gelada, pelo nervosismo e pelo frio. De como ela tinha passado a mão pelo rosto dele da mesma forma. fechou os olhos e se aproximou dela. passou o braço livre pelo pescoço dele em um abraço, sentindo os lábios dele nos dela. Era uma das melhores sensações. E talvez, ele soubesse que ela era incrível, do mesmo jeito que ela sabia que iria fazer de sua vida uma bagunça. Uma bagunça boa. Uma bagunça bonita.
My friends say I’m a fool in love;
estava sentada em um dos bancos de madeira espalhados pelo jardim que tinha perto da entrada e do pátio do colégio, mais conhecido como área de lazer. Balançou as pernas vestidas em meiões brancos, olhou o relógio e se permitiu continuar na mesma posição em que estava. Tinha chegado muito cedo no colégio, já que tinha aproveitado a carona do pai que ia para o trabalho. Olhou para a grade horária que tinha pegado na secretária. Voltou a choramingar e amassou um pouco o papel. Os primeiros dois horários de suas segundas seriam Física, daqui para frente. Ela não suportava Física, números, lógica e todas essas coisas. Por que tinha que estudar física? Para passar em Cambridge, ela lembrou a si mesma. E por que uma pessoa que cursaria Literatura, tinha que ter boas notas em exatas para passar em Cambridge? Porque o mundo nem sempre é justo, ela voltou a lembrar a si mesma. Balançou a cabeça, desolada com seus próprios devaneios. Apertou o casaco azul escuro do uniforme ao corpo e tremeu levemente quando uma brisa leve passou por seu corpo, bagunçando sua franja. Ela passou a mão pelos cabelos presos, tentando arrumá-los, mas perdeu a paciência quando percebeu que aquilo era em vão. Apoiou o rosto nas mãos e ficou encarando o gramado verde do jardim fazer contraste com suas sapatilhas pretas. poderia chegar logo para as duas reclamarem da vida até a hora de entrar nas aulas. Ficou mais algum tempo na mesma posição e decidiu escutar música para passar o tempo. Ainda faltava meia hora para que o sinal batesse indicando o começo das aulas. Acenou para algumas pessoas conhecidas que passavam por ela, enquanto o jardim começava a ficar cheio. Mexeu no interior da bolsa lilás, procurando pelo celular, apalpando outros objetos que estavam lá dentro e conseguiu achar o aparelho, após alguns segundos. Abriu o flip do celular, como de costume e franziu o cenho quando viu o aviso de nova mensagem. Ela estava tão envolvida ao seu próprio tédio que não escutara o toque de mensagem do próprio celular? Balançou a cabeça negativamente e não conteve o sorriso quando viu quem tinha enviado. Era uma mensagem de . Eles tinham passado a noite de domingo trocando mensagens antes de dormir. Ela se sentia meio boba por seu coração acelerar toda vez que recebia uma resposta dele, mas achou melhor ignorar os próprios pensamentos.
Bom dia, garota de Cambridge! Boa aula pra você, te ligo quando as minhas acabarem... Química no primeiro horário, vou morrer.
riu pelo drama do garoto, apesar de ela mesma estar fazendo drama sobre seu horário. estudava em outro colégio, um pouco distante do dela. O colégio dele era melhor que o dela. Tinha pessoas mais ricas e mais enjoadas também. Era o mesmo colégio de . tinha conhecido o garoto em um dos jogos interescolares de futebol, não que ele jogasse ou coisa do tipo, mas os dois haviam se esbarrado no meio das arquibancadas. Um ano e meio atrás, parecia que tinha sido ontem. Respondeu a mensagem de com o mesmo tom dramático e levantou o rosto para encontrar com um sorriso malicioso nos lábios.
“Vocês não conseguem ficar sem falar um com o outro ou coisa do tipo?” – ela riu, sentando-se ao lado de . Subiu um pouco os próprios meiões por causa do frio que fazia.
“Bom dia para você também, .” – fez uma careta e a amiga continuou a rir. – “E qual o problema de trocar mensagens de boa sorte?”
“Boa sorte no primeiro dia de aula do último ano?” – uma expressão pensativa tomou conta do rosto de e ela deu de ombros. – “É, acho que todos vamos precisar.”
“Pegou sua grade?” – mostrou o papel meio amassado que estava em suas mãos para a amiga.
“Peguei.” – ela assentiu e pegou o papel das mãos de . – “Você tem física nos primeiros horários?” – ela olhou assustada para , a garota apenas assentiu tristemente e passou a mão pelo braço dela, em sinal de consolo. – “Pelo menos, nós temos Literatura, Artes, Sociologia e Química juntas.”
“É, pode ser que Química não seja tão ruim.” – sorriu e colocou o celular no silencioso. Levantou-se, olhou para o relógio e suspirou pesadamente. – “Hora da tortura.”
“Acho que sim.” – imitou os gestos da amiga e as duas se encaminharam até a grande porta que dava para a entrada do colégio. Com uma escada no meio, levando a duas direções. Dois corredores distintos. As duas subiram até o meio, se despediram e foram para suas respectivas aulas.
Quando já estava chegando à sala, percebeu que tinha esquecido o livro. Correu pelo corredor, desceu as escadas apressadamente e voltou a correr até os armários vermelhos espalhados pelo saguão de entrada do colégio. Sentiu algo vibrar na bolsa e pegou o celular, enquanto abriu o cadeado do armário com a mão esquerda. Como ela conseguiu fazer aquilo, era um mistério. Pegou o livro e abriu o flip do celular ao mesmo tempo. O mesmo sorriso de minutos atrás voltou ao seu rosto.
As aulas irritantes de Filosofia, me fazem sentir sua falta.
continuou a encarar o visor do celular, perdida em seus próprios pensamentos. Se pelo menos, ela e pudessem estudar no mesmo colégio e se encontrar nos intervalos. Escutou a monitora do corredor gritar alguma coisa para ela, acordando-a de seus devaneios bobos. mostrou o livro para a mulher e fez o caminho de volta, com a mesma pressa.
Ela tinha cheiro de lavanda e camomila. Uma mistura viciante, que o deixava mais tonto do que qualquer tipo de álcool. sorriu para si mesmo, pensando em como soaria gay se falasse aquilo para os amigos. Com toda a certeza, seria alvo fácil de zoação. Encarou e sentados no chão, jogando algum game de corrida no Xbox. Sorriu de lado, quando soltou um palavrão, era sinal que estava perdendo. tinha saído para comprar pizza e cervejas. Eles eram tão tipicamente adolescentes sem nada o que fazer em uma sexta à noite. voltou sua atenção para a tela da televisão de plasma, percebendo que os amigos jogavam Mario Kart. tinha escolhido Princess Peach, porque segundo ele, ela era uma das melhores para correr. Se ele não ficasse com quase o tempo todo, ele acharia que o amigo era algum tipo de gay enrustido. Soltou uma risada nasalada, sem se preocupar em chamar a atenção dos dois que estavam no chão. Nada chamaria a atenção deles, de qualquer forma. Voltou aos seus devaneios sobre . Ele estava com saudade, o que era uma sensação estranha e boa, ao mesmo tempo. Os dois não se viam desde aquele domingo de manhã, impossibilitados pela agenda da garota. Quantas atividades extra-curriculares ela tinha mesmo? Tinha perdido as contas. Se não conhecesse , acharia que a garota era um tipo de máquina ou coisa do tipo. Mas ele entendia, ela queria ir pra Cambridge, a universidade que só aceitava os melhores. Suspirou pesadamente e bagunçou os cabelos.
“ está pensando na namorada.” – escutou a voz de e se virou para o corredor que ligava a sala de estar ao hall de entrada da casa de . – “Está até suspirando.” – ele gargalhou, sendo acompanhado por e que tinham acabado a corrida.
“, seu patético.” – deu um tapa em seu braço. – “Você está apaixonado. Que lindo.” – ele se aproximou para apertar as bochechas de , mas o outro o empurrou com um dos braços.
“Sai, seu idiota.” – falou se levantando do sofá em que estava deitado, enquanto gargalhava histericamente. – “Feliz, ? Só porque não vão mais te zoar tanto como antes?”
“É legal não ser o único alvo.” – deu de ombros e levantou-se indo até e pegando uma das caixas de pizza que o garoto tinha em seus braços.
“Muito engraçado.” – soltou sarcasticamente, ainda empurrando que cantava uma música brega qualquer de filme romântico. – “Você é retardado?”
“Talvez.” – deu de ombros, gargalhando e abriu a caixa de pizza quando a colocou em cima da mesa de centro. balançou a cabeça negativamente e colocou a sacola cheia de garrafas de cerveja no chão, sentando no sofá que antes ocupava.
“Você era minha única esperança, .” – olhou desolado para o amigo. – “Pensei que não fosse patético como esses dois idiotas.”
“Não sou idiota.” – falou com a boca cheia de pizza de mussarela. – “Você que é.”
“ está gostando de verdade de uma garota, pela primeira vez na vida.” – deu de ombros, abrindo a tampa de uma das garrafas de cerveja. – “Seja simpático com ele, .”
“Vocês podem parar de discutir minha vida?” – fez uma careta para os amigos, enquanto pegava um pedaço da pizza. – “Não é como se fosse o fim do mundo gostar de uma garota.”
“Não, ainda mais quando a garota é legal e gata.” – falou, após um segundo de reflexão e sentiu o murro de em seu ombro direito. Olhou indignado para o amigo. – “O que eu te fiz, cara?”
“Falou que a garota dele é gata e legal.” – deu de ombros, tornando a falar de boca cheia. Era uma mania irritante, às vezes. Mas os garotos não se importavam, já estavam acostumados. – “Ele sentiu ciúme.”
“Que frescura!” – voltou a balançar a cabeça negativamente. – “Você ficaria com ciúme se eu dissesse que a é gata e legal? Porque ela é.”
“Eu sei que sim, ! Não preciso de você me lembrando disso.” – olhou de forma ameaçadora para , que olhou para e os dois gargalharam.
“Vocês são problemáticos, caras!” – tomou um gole da cerveja e voltou a pegar o controle do Xbox.
“Não vai comer, seu gordo?” – perguntou ao amigo, que parecia concentrado em escolher a pista que iria correr agora.
“Não estou com fome.” – ele deu de ombros. – “Já jantei.”
“Com a garota misteriosa, aposto.” – falou e os amigos concordaram, rindo. saía com uma garota há quase um mês e meio já, mas nunca contava quem era para os amigos. Dizia que não tinha certeza se valia à pena ou não, que iria esperar para ver. E se fosse certo, apresentaria para eles.
“O é tão esquisito, cara!” – comentou, recebendo o dedo do meio como resposta do amigo. Os quatro riram. – “Então, , você está realmente apaixonado?”
“Eu conheço ela há duas semanas.” – deu de ombros e encarou a fatia de pizza que tinha nas mãos. Pensando na pergunta de . Ele estava apaixonado? Por Deus, ele a conhecia há duas semanas. Mas ele estava apaixonado? É, ele gostava muito dela. Sentia falta dela. Queria que ela estivesse ali com eles, naquele momento. Queria que a noite de sábado chegasse logo para que eles pudessem se encontrar. Queria subir as escadas, se trancar no quarto de e poder ligar para ela, perguntar se estava tudo bem. Desejar boa noite para a garota, que devia estar cansada após um dia cheio de estudos. É, ele meio que estava apaixonado, ele achava. – “Não sei, sei lá... Não quero pensar nisso agora.”
“Eu estou apaixonado.” – sorriu, com a boca cheia de comida, arrancando protesto dos amigos. Ouvindo sobre como ele era porco e não tinha educação alguma. Pouco se importava, ele pensou, gostava dele.
Uma expressão de curiosidade tomou o rosto de quando parou o carro em frente aos portões de metal enferrujados do parque antigo de Brighton. O que eles estavam fazendo ali, afinal? Por que ele a tinha levado àquele lugar que aparentava ser um pouco assustador? Olhou para o lado do banco do motorista e arqueou as sobrancelhas para o garoto, em busca de uma explicação. Ele sorriu de lado, deu de ombros e saiu do carro, sem falar qualquer coisa. rolou os olhos e abriu a porta do lado do carona e cruzou os braços, quando ele chegou até ela.
“Você não me deixa nem ser cavalheiro e abrir a porta para você.” – ele falou em um tom de brincadeira, balançando a cabeça.
“Não preciso disso.” – ela deu língua para ele e encolheu os ombros. fez uma careta, entrelaçou sua mão a dela e a conduziu até a entrada do lugar. franziu o cenho, ainda confusa. Mas sabia que se tentasse perguntar qualquer coisa sobre aquilo tudo, ficaria sem resposta. Assim, como estava desde que ele tinha ido pegá-la em sua casa, quinze minutos atrás. conseguia ser bem irritante quando queria. Era uma coisa que ela acabara de descobrir, mas não teve tempo para ficar chateada. Ela gostava de descobrir coisas sobre ele.
empurrou um lado do portão com as duas mãos e fez uma espécie de reverência para que entrasse na sua frente. Ela soltou uma risada nasalada, meio irônica e voltou a rolar os olhos. Já tinha desistido de descobrir o motivo daquele comportamento esquisito de . Se deixaria ser guiada por ele para ver onde aquilo tudo, ia dar. Mas ela já não estava fazendo aquilo? Não só em relação ao parque, mas aos dois. Sorriu quase imperceptivelmente com o próprio pensamento e sentiu puxá-la pela mão. Andaram por quase toda a extensão do parque. se sentia um pouco assustada com todo aquele clima mórbido que tomava conta do local. Era um parque de diversões abandonado há anos, afinal.
“Ali.” – apontou para o que parecia ser uma casa de terror e a garota se perguntou se ele estava em seu total estado de sanidade. Ela jamais entraria naquele lugar.
“Você quer que eu entre ali?” – ela puxou a mão dele, parando repentinamente no meio do caminho e virou-se para ela. As sobrancelhas erguidas, um sorriso sarcástico tomando conta dos lábios dele.
“Qual o problema? Você tem medo?” – ele falou em tom de provocação, fazendo com que ela quase se esquecesse de onde estavam. Por que ele tinha que ser tão bonito?
“E se tiver?” – ela respondeu no mesmo tom e puxou sua mão da dele, cruzando os braços. – “Não vou entrar ali.”
“Você não precisa entrar, garota de Cambridge.” – ele gargalhou e se aproximou, pegando a mão dela de volta. – “Nós só vamos subir. Ficar no telhado.”
“Ficou louco? Aquilo vai desabar no momento em que nós pisarmos ali.” – ela balançou a cabeça, deixando que todo medo que sentia fosse expresso por seu rosto. sorriu e colocou uma mecha do cabelo dela atrás da orelha.
“Você confia em mim?” – ele quase murmurou e não precisou pensar muito, antes de balançar a cabeça afirmativamente. Ela confiava nele. Confiava plenamente e aquilo a deixava sem chão. Ela o conhecia fazia tão pouco tempo. Como podia sentir todas aquelas coisas? Mais uma vez, resolveu ignorar suas dúvidas e apenas se entregar àquele momento. Deixando-se ser puxada por ele até a lateral da construção antiga, onde uma escada de ferro enferrujado se encontrava. Ele era completamente louco. E ela completamente maluca por concordar com aquilo. Suspirou e pegou nas laterais da escada, sentindo a textura esquisita daquele metal. Colocou um dos pés no primeiro degrau e voltou a suspirar. Ela estava morrendo de medo. – “Confia em mim.” – voltou a repetir, um pouco abaixo dela, segurando sua cintura como medida de precaução. Ela olhou para ele, por cima do ombro. Sentindo os olhos a afetarem instantaneamente e assentiu. Voltou a subir as escadas, com um pouco de velocidade demais. Quando pisou no telhado cheio de folhas amareladas que haviam caído das árvores ao redor do local, agradeceu mentalmente por nada de ruim ter acontecido até aquele momento. Olhou para frente e sua boca abriu em choque. Ela podia ver quase toda a cidade dali. Melhor ainda, ela podia ver o mar, se estendendo em um oceano perfeito e o sol quase o tocando.
“Uau!” – foi a única coisa que ela conseguiu dizer e se virou para . Ele a encarava em silêncio. Em uma expressão de total concentração.
“Eu disse para você confiar em mim.” – ele deu de ombros de forma prepotente e fez uma careta, sentando no concreto que formava o telhado. sentou ao seu lado, passando o braço pelos ombros dela.
“Eu confio em você.” – ela virou seu rosto, para poder encarar o perfil do garoto. Ele era absurdamente lindo de uma forma comum. Ela gostava das coisas comuns. Elas pareciam mais especiais que o diferente, para ela. virou-se para olhá-la e os dois ficaram se olhando, por algum tempo. passou a mão pelo rosto dele, sorrindo timidamente e se aproximou, colando seus lábios aos dela. abriu a boca e sentiu a língua dele tocar a sua de uma forma que ela não podia descrever. Passou um dos braços pelo pescoço dele, fazendo um leve carinho em sua nuca e sentiu apertar sua cintura com um pouco mais de força. Sem ao menos perceber, ou planejar se encontrou deitada sobre o concreto do telhado. Poderia muito bem dizer que não queria, mas a verdade é que ela queria. Passou o outro braço pelo pescoço dele e puxou os poucos fios que tomavam conta de sua nuca. Sentiu o garoto suspirar contra sua boca e tentou segurar o sorriso, mas acabou não dando certo. Ele abriu os olhos e a encarou, a expressão séria, mas os olhos brilhantes, quase divertidos. Ela mordeu o lábio inferior e beijou seu maxilar demoradamente, mordeu o lóbulo de sua orelha. passou uma das mãos pelas costas dele, segurando o ombro do garoto com força, logo em seguida. Os beijos dele desceram para seu pescoço e se misturaram com leve mordidas. voltou a fechar os olhos e desceu a mão que estava no ombro do garoto, até a barra de seu casaco. Colocando-a por dentro do tecido, sentindo a pele dele, em contato com a sua. A pele quente e macia de quase fez com que ela ficasse sem ar. Apesar de culpar também, o modo como ele respirava contra seu maxilar, passando a barba por fazer contra seu rosto, delicadamente. passou a mão por toda a extensão das costas dele. Sentindo uma espécie de choque bom. Um choque novo. Sentindo coisas que ela jamais tinha sentido com qualquer outro garoto. afastou a blusa dela para cima e apertou sua cintura, subindo a mão relativamente grande por toda a lateral de seu corpo. Mas ainda assim, respeitando os limites dela. Os limites que ela não sabia se conseguiria controlar por mais muito tempo. Achou melhor que era hora de parar. Ela queria continuar, mas alguma coisa a chamava para a razão. Eles se conheciam há apenas duas semanas e ela... Bom, ela tinha mais do que limites estipulados quando não sabia muito bem lidar com toda aquela situação.
“?” – sua voz saiu mais ofegante do que queria aparentar. Ele resmungou qualquer coisa, com o rosto ainda enterrado no pescoço dela, em meio a um chupão. Ela sorriu e passou a mão pelo cabelo dele, fazendo um cafuné. – “Nós vamos perder o pôr do sol.”
“O quê?” – ele levantou o rosto, parecendo estar em um transe total, com os cabelos totalmente bagunçados, a boca vermelha. gargalhou e apontou para o céu que era tomado por cores escuras. – “Ah.”
“Então...” – ela sorriu e ele assentiu, saindo de cima dela e logo a puxando para se aconchegar aos seus braços. sentiu as bochechas avermelharem e o coração acelerar consideravelmente. Ele era tão carinhoso com ela.
“Eu não te trouxe aqui para te agarrar, só para você ficar sabendo.” – ele falou em tom brincalhão e soltou uma risada nasalada. – “Mas até que valeu à pena.”
“Cala a boca, .” – ela o empurrou e fez uma careta quando ele riu da expressão envergonhada que ela fez. Passou a mão pelo braço dela e lhe deu um beijo na testa.
“Te trouxe aqui, porque é um lugar especial.” – voltou sua atenção para ele. Observando seu perfil, como fizera minutos atrás. – “Foi aqui que meus pais se conheceram.” – ele pareceu envergonhado ao admitir aquilo e assentiu, entrelaçando uma das mãos na dele. A partir daquele dia, aquele parque também seria especial para ela. Era muito mais do que um parque abandonado. Era o local em que ela se tinha descoberto totalmente apaixonada por .
As cortinas claras balançavam descoordenadamente na sacada do quarto de . Ela tinha deixado as portas entreabertas para que o vento forte que trazia o cheiro da possível chuva tomasse conta do cômodo. Ela foi até o lugar, sentindo o vento bagunçar seus cabelos e cortar seu rosto com força, mas de uma forma carinhosa. Resmungou para si mesma e suspirou. Por que tinha que sair aquela noite? Ela queria ficar deitada em sua cama, encolhida em seu cobertor aconchegante, lendo um livro ou escutando música, o que fosse. Música. Ela iria escutar música aquela noite, sorriu de leve. Ela iria escutar a banda de pela primeira vez. Ele e os meninos tinham, finalmente, decidido sair da garagem, parar de se esconder, apostar em seu sucesso.
Foi até o armário e abriu a porta de madeira branca, em dúvida sobre o que vestir. Teria que ser algo que a agasalhasse, com toda a certeza. Olhou para o relógio de pulso e decidiu que só se preocuparia com aquilo quando se passassem vinte minutos. Deitou-se atravessada na cama, como costumava fazer. Fechou os olhos e começou a pensar em , como sempre fazia. Eles já estavam juntos há um mês e meio, não que estivessem namorando ou coisa do tipo. Talvez não precisassem de definições para se sentirem seguros em relação um ao outro. Sentiu um sorriso bobo passar por seus lábios e escondeu o rosto entre as mãos, como se ele estivesse ali, ao seu lado.
Quando os dois estavam juntos, ela sentia aquela espécie de felicidade completa, meio que ingênua, de uma forma que não podia explicar ou ter palavras para descrever. A memória dele aparecendo, no final das aulas, duas semanas atrás, ainda estava fresca em sua memória. Aquele dia, ela tinha faltado a todas suas atividades complementares da tarde para ficar com ele, no deque congelante da praia.
“Se você tivesse dito que ia me fazer congelar, eu não teria vindo.” – fez uma careta ao encostar-se a um dos pilares do deque e cruzando os braços, para tentar se esquentar o máximo que podia.
“Mas como você gosta de reclamar, garota de Cambridge.” – ele se aproximou dela, passando seus braços pela cintura da garota, a trazendo para mais perto de seu corpo. Beijou o topo da cabeça dela e encostou o rosto no peito de .
“Não posso fazer nada se é meu passatempo preferido.” – ela sorriu ao escutar ele gargalhar baixinho e apertá-la mais contra ele. Sentiu encostar o queixo em sua cabeça e colocou as mãos dentro dos bolsos do casaco de moletom dele.
“O que você quer com as mãos aí?” – ele perguntou em tom brincalhão e levantou o rosto para ele tentando segurar a risada e balançou a cabeça.
“, você é controlado pelos seus hormônios. Não tenho mais dúvidas quanto a isso.” – ela deu língua para ele e gargalhou alto. tirou uma das mãos do bolso do casaco e passou pelos cabelos dele, bagunçando-os. Ele fechou os olhos e sentiu-se meio que perdida, encarando o rosto dele. As bochechas vermelhas pelo frio, o sorriso fácil que se formava no canto dos lábios, os cabelos bagunçados por ela. Tudo ali se complementava de uma forma inexplicavelmente linda. abriu os olhos e sorriu, sentindo-se envergonhada por ser pega no flagra.
“Sabe qual é a verdade?” – ele perguntou após algum tempo encarando a garota à sua frente, em total silêncio. – “Eu não consigo me controlar, de qualquer forma, de qualquer coisa, quando você está comigo.” – pareceu surpresa com as palavras que tinham acabado de sair de sua boca e se perguntou se tinha falado demais, para variar um pouco. Ele não era bom naquilo. Nunca tinha passado tanto tempo com alguém. Nunca tinha sentido tanta coisa por ninguém. Nunca tinha tão poucas explicações para suas perguntas. Sempre fora prático, direto. Sempre soube exatamente quem era e o que sentia, o que queria. Mas quando se tratava de , as coisas se complicavam. Quando se tratava de , ele parecia ser melhor. Queria ser um cara melhor. Queria realmente se importar. Ele não era do tipo romântico, que fazia coisas inusitadas. Loucuras, declarações de amor e todas as coisas que ele achava serem bobagens para levar uma garota para cama. E lá estava ele, congelando no deque da praia que tinha conhecido há semanas atrás. Abraçado a ela, apertando-a fortemente. Inseguro sobre o que ela tinha acabado de achar do que ele tinha falado. No meio de uma comemoração frustrada e boba de um mês que eles estavam juntos.
Ela pareceu se recuperar do choque e sorriu, mordendo o lábio inferior. sentia vontade de apertá-la quando ela fazia aquilo, quando se sentia envergonhada perto dele. A garota ficou na ponta dos pés, segurou o rosto dele entre as mãos e lhe deu um selinho demorado, que logo se transformou em um beijo mais intenso. Não do tipo que fizesse com que eles quisessem ir para cama ou coisa do tipo, mas do tipo de beijo que tinham cinco palavras implícitas de uma forma doce: eu estou apaixonado por você.
compreendia que ela se dedicava um pouco demais aos estudos, mas naquele dia, ele parecia realmente querer ficar com ela. Talvez porque fizesse um mês que os dois estavam juntos. Abriu os olhos, percebendo uma coisa nova sobre aquilo tudo: ela nunca usava a palavra ‘ficar’, o que eles tinham era mais que isso. Mais que uma simples atração. acordou de seus devaneios com o toque de seu celular que tinha deixado em cima da pia de mármore claro do banheiro, enquanto tomava banho. Viu o número de no visor e sorriu.
“Oi!” – falou e a amiga respondeu com um resmungo. – “Qual é a crise?”
“Meia-calça ou calça jeans mesmo?” – perguntou e gargalhou.
“Não sei, acho que vou de meia-calça, porque vou de vestido.” – deu de ombros, analisando seu rosto no espelho e fez uma careta pelo tamanho de suas olheiras. – “O meio que gosta muito quando você usa skinny.”
“!” – falou indignada. – “Não vou ficar me vestindo para o idiota do .” – ah, é, eles estavam brigados, lembrou. Mas podia apostar que iria usar skinny.
“Me desculpe, esqueci que você não se importa com ele.” – riu ironicamente e escutou bufar irritada, do outro lado da linha. Era melhor parar com as brincadeiras. – “Desculpa.”
“Tudo bem.” – ela fez uma pausa, parecendo pensar em alguma coisa e esperou, em silêncio. – “Que horas vocês passam aqui?”
“Não sei, o vem me pegar às nove e nós vamos passar aí. Você podia esperar na porta às nove e quinze?”
“Okey, ficam sobrando cinco minutos para vocês se agarrarem. Muito inteligente.” – foi a vez de gritar o nome da amiga de forma indignada e as duas começaram a gargalhar.
parou o carro perto da calçada da casa de . A garota já estava sentada nos degraus da entrada, olhando distraidamente para o celular. riu e balançou a cabeça, chamando a atenção de . Ele encarou a garota e ela sorriu de lado, erguendo as sobrancelhas, inclinou-se e apertou a buzina, fazendo com que levantasse o rosto assustada. gargalhou e sorriu de lado. Ela era uma criança, às vezes. Aquilo fazia com que ele se encantasse mais ainda por ela.
“Oi, .” – falou assim que entrou no carro e fez uma careta para a melhor amiga. – “Qual seu problema?”
“Não tenho problemas.” – sorriu infantilmente e encostou o rosto na lateral do banco, encarando a amiga. deu partida no motor e rolou os olhos. Era como se pressentisse que uma conversa de garotas estava para surgir. Ele não gostava de conversas de garotas. Elas eram complicadas e falavam em códigos. – “Mas você tem. Quer dizer, você vai ignorar o ou o quê?”
“Vou.” – deu de ombros, olhando para as casas que passavam um pouco rápido demais pelo vidro da janela fechada do carro.
“Acho engraçado.” – riu e se perguntou se podia continuar com aquela conversa. Analisou o rosto de , ela não parecia chateada. Na verdade, ela parecia querer conversar sobre aquilo, mas ela nunca admitia, de qualquer forma. – “Você, provavelmente, vai se agarrar com ele e depois colocar a culpa no .”
“Eu não faço isso.” – franziu o cenho, mas não conseguiu segurar um sorriso culpado que surgiu no canto dos lábios.
“Você sabe que faz e sempre fica comentando que é culpa dele. Porque ele acabou te seduzindo ou coisa do tipo, e você não pôde resistir.” – riu.
“Mas ele faz isso. E ele sempre faz as coisas certas para me tirar do controle, com aquele jeito...”
“Estranhamente sexy.” – completou antes que a amiga terminasse a frase. As duas se olharam e riram. estava envergonhada, como sempre ficava quando aquele tipo de conversa surgia. – “Nós já tivemos essa conversa sobre como o consegue fazer com que você perca seu chão, milhões de vezes.”
“Garotas, vocês estão mesmo tendo essa conversa na minha presença?” – deixou uma expressão enojada e brincalhona tomar conta de seu rosto. e o encararam, ambas com o cenho franzido, confusas. – “Ele é o , ele é nojento.”
“Não fala assim do seu amigo, .” – gargalhou e deu um beijo estalado na bochecha dele.
“Ele não é nojento, .” – deu de ombros e cruzou os braços, pensativa. – “Ele só gosta de chamar atenção fazendo coisas bobas.”
“Você é tão defensora dele.” – soltou uma risada nasalada e rolou os olhos. – “E ele é tão idiota por brigar com você por causa de ciúme.”
“Ele é idiota.” – concordou e deu de ombros, voltando sua atenção para frente.
“Você está de skinny.” – comentou depois de um tempo e sorriu abertamente, já que parecia concentrado no trânsito e no perfil dele.
As pessoas ainda gritavam e assobiavam de forma engraçada, quando os últimos acordes do cover de Umbrella da Rihanna foram escutados. Ao total, os meninos tinham tocado quatro músicas próprias. Todas excepcionais, na opinião de . Eles realmente tinham talento. Um talento que ela se perguntava o motivo de terem escondido por todo aquele tempo.
A garota estava encostada no canto esquerdo do pequeno barzinho com ao lado, reclamando de como parecia satisfeito com todas aquelas garotas pulando em cima dele. As duas tinham se afastado do palco meio que improvisado quando as pessoas começaram a ficar histéricas e alguns bêbados se aproveitavam para ‘esbarrar’ nelas, sem querer. balançou a cabeça quando bufou ao ver rir de alguma coisa que uma morena tinha acabado de falar para ele.
“Vamos lá.” – pegou a mão da amiga e a puxou pelo meio da pequena multidão que havia se formado em frente ao palco. ficou na ponta dos pés, procurando por , mas acabou sendo em vão. Ele não parecia estar em lugar algum. Dessa vez, foi que puxou a amiga até onde e estavam.
“Vocês foram ótimos.” – abraçou , fingindo ignorar a presença de ali. O garoto a encarou, meio indignado pelo modo como ela se dirigia a um dos melhores amigos e esquecia totalmente dele. riu e passou uma das mãos pelo braço de .
“Você sabe que ela está fazendo de propósito.” – fez uma careta, assentindo. – “Você viu o por aí?”
“Ele foi te procurar.” – respondeu, parecendo confuso. Ainda com os olhos presos a e conversando. – “Acho que deve ter ido ao bar ou sei lá.”
“Ah, então a gente se desencontrou.” – encolheu os ombros, sorriu e deu um beijo na bochecha de . – “Obrigada, .”
“.” – virou para ela com um sorriso envergonhado tomando conta de seus lábios. – “A , ahn... Tem falado de mim?”
“Não posso te dar esse tipo de informação, ela confia em mim.” – balançou a cabeça negativamente e fingiu uma expressão severa. assentiu decepcionado e a garota riu, piscando para ele. – “Todos os dias.”
voltou a ficar na ponta dos pés, tentando localizar onde era o bar. Ela já tinha estado lá por volta de três vezes só naquela noite, mas tinha uma péssima memória para aquele tipo de coisa. Era no lado direito. Voltou a andar pelo meio das pessoas e de algumas mesas que tinham distribuídas pelo local. Distraída, pensando em como era incrível quando subia em um palco, como os olhos dele brilhavam e ele sabia o que fazer, quase como se pertencesse àquilo tudo. Na verdade, era óbvio que ele pertencia àquilo tudo. sorriu de lado e de repente, pareceu não conseguir mais andar. Suas pernas ficaram dormentes, sua cabeça parecia dar voltas e parecia que ela poderia vomitar tudo que tinha ingerido durante a semana toda. estava em um dos cantos do bar, conversando com uma loira alta e do tipo fácil que sai com qualquer garoto que tenha uma banda possivelmente famosa. Na verdade, os dois não estavam conversando. apenas desejava que eles estivessem conversando. Balançou a cabeça, tentando organizar seus pensamentos, seus sentimentos. Olhou para uma das mãos dele na cintura dela. Os dois braços dela cruzados no pescoço dele, fazendo um carinho quase que indecente na nuca do garoto. Os lábios não estavam juntos e parecia dizer alguma coisa para ela, mas a mão dele ainda estava na cintura dela. E eles poderiam ter se beijado antes. Mas que porcaria era aquela, afinal? Ela pensava que os dois estavam juntos e não abertos para... Para que ele pegasse qualquer loira oferecida que aparecesse em sua frente, quando ela não estava por perto. Era realmente ótimo, da parte de . Aliás, era realmente a cara dele, pelo que já tinha escutado das histórias do garoto. O que a levava a pensar que com ela seria diferente?
(n/a: coloque a música para tocar ;D)
“Estúpida.” – sussurrou para si mesma e sem pensar duas vezes, foi até a porta do bar, passando na frente de e da louca que estava com ele. Batendo os pés com força, as sapatilhas fazendo um barulho quase silencioso no meio de toda aquela gritaria das pessoas. Ela queria ir para casa, pouco se importava se teria que andar durante meia hora. Não queria ficar ali e não queria falar com ninguém.
viu passar por ele e pareceu recuperar a consciência. O que ele estava fazendo? Ele quase tinha ficado com Ash. Quantas vezes ele já tinha tentado ficar com aquela garota e agora ela estava ali, se oferecendo para ele. Mexendo em seus cabelos e sorrindo de forma maliciosa, mas ele não queria. Ele não sentia mais curiosidade ou vontade de ficar com a garota. E era isso que estava tentando dizer para ela, mas era um garoto. Um garoto com hormônios, como qualquer outro garoto e por causa daquilo, podia ter tido certos impulsos que não desejaria ter. Mas ver passando por ele, com a expressão furiosa e magoada, fez com que ele acordasse. se afastou de Ash que pareceu confusa e balançou a cabeça para a loira, correndo em direção à porta pela qual tinha saído segundos atrás.
Ficou surpreso quando chegou à rua e percebeu que um temporal estava caindo. As gotas gordas de chuva machucaram seu rosto, mas ele pouco se importou. Agora mesmo que precisava achar , ela poderia ficar doente andando por aquele temporal. Saiu correndo pela calçada, quase escorregando algumas vezes e viu a garota um pouco mais a frente, abraçando o corpo com os braços e andando rapidamente.
“.” – ele gritou, mas a garota pareceu não escutar. Ou fingiu não escutar. bufou irritado e correu atrás dela. Chegando perto e pegando o braço da garota. – “Eu te levo para casa.”
“Não, muito obrigada.” – ela puxou o braço de volta, mas parou de andar e se virou para ele. – “Posso ir sozinha, você está ocupado.”
“Eu não estou ocupado.” – franziu o cenho e balançou a cabeça. – “Você vai ficar doente, pára de bobagem.”
“Não vou ficar doente.” – ela parecia realmente furiosa, notou. se aproximou dele, com os olhos semicerrados. – “Não vou ficar nada, a propósito.”
“Não parece.” – ele respondeu e aquilo pareceu o limite para a garota.
“Eu estou furiosa, . Poderia te bater até você pedir para eu parar e mesmo assim... Eu não pararia.” – ela riu ironicamente e deu de ombros. – “Não exijo que você não fique com ninguém, porque, afinal nós não somos nada. Mas fazer isso na minha frente é um pouco demais, não acha?”
“Eu não ia ficar com a Ash.” – ele passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os. – “Você devia ter me escutado antes de ficar desse jeito.”
“A Ash?” – ela voltou a rir e balançou a cabeça. – “Sua mão estava na cintura dela, . Ela estava a essa distância de você.” – se aproximou do rosto dele, ficando nas pontas dos pés, encarando os olhos azuis. Os narizes quase se tocando, mas nenhum dos dois parecia notar. Estavam com muita raiva para notar qualquer coisa.
“Você devia confiar em mim.” – ele falou em voz baixa e se afastou, cruzando os braços.
“Você tem um histórico, . E eu não posso ignorar certas coisas, desculpe.” – ela falou sarcasticamente e sentiu um arrepio passar por seu corpo, quando uma brisa gelada passou pelos dois.
“Você é totalmente absurda. Como eu posso ter me apaixonado por você?” – ele balançou a cabeça negativamente, sem perceber o que tinha acabado de falar. Sem perceber o choque e a surpresa que tomaram conta do rosto de . Os olhares se encontraram e a garota se aproximou dele apressadamente, segurando o rosto do garoto entre as mãos e colando seus lábios aos dele. passou um dos braços pela cintura dela automaticamente e com a outra mão segurou a nuca dela, se perdendo nos cabelos embaraçados e totalmente molhados da garota. abriu a boca e sentiu a língua de tocar a dela. Abaixou uma das mãos para o ombro direito dele e o apertou com força. puxou uma mecha do cabelo dela com um pouco de força, o tipo de força que não machucava e ela respirou forte contra a boca dele, fazendo sorrir. Apertou-a mais contra seu corpo, quase como se quisesse fazer com que os dois se tornassem um só. afundou uma das mãos nos cabelos dele, bagunçando-os mais ainda e absorvendo o gosto bom que ele tinha. Quase como uma mistura de menta com mais alguma coisa. Alguma coisa meio ácida, meio amarga, alguma coisa absurdamente viciante.
Depois de alguns minutos, o ar faltou e eles tiveram que se separar, trocando leves selinhos, ainda abraçados como se quisessem se fundir. No meio de toda aquela chuva, no meio de todo aquele temporal. Eles estavam sozinhos, eram só eles e mais ninguém.
“Eu também me apaixonei por você, .” – ela piscou para ele e colou sua testa na dela, acariciando sua bochecha com o polegar. notou que naquele momento, a felicidade dos dois podia quase ser tocada.
Everything is quiet as she waits to tell him who she is;
Era totalmente inexplicável como ela tinha ido parar no banco do motorista. Na verdade, aquilo tinha uma explicação, mas ela não conseguia se lembrar de nada entre o momento em que o beijo que eles trocavam começou a tomar proporções maiores até aquele momento. estava sentada no colo de , com as pernas uma de cada lado do corpo do garoto. Uma das mãos afundadas no cabelo do garoto, que estava encharcado pela chuva, e a outra seguindo o caminho até o meio de suas costas nuas, já que eles tinham se livrado da camisa molhada do menino um pouco antes. apertava a coxa da garota com força, fazendo uma pressão que ela poderia jurar que a deixaria louca se ela não estivesse ocupada em sentir a pele molhada do garoto contra a sua. Ele tinha abaixado um pouco o vestido de , do lado direito. Deixando a mostra o ombro fazendo contraste com a alça escura do sutiã preto. passava o dedo indicador pela alça, de uma forma nada inocente que fazia com que suspirasse contra a boca dele, em meio ao beijo intenso que os dois trocavam. voltou a juntar seus lábios aos dela e as línguas se encontraram quase que violentamente. afundou ainda mais a mão que tinha nos cabelos de , puxando alguns poucos fio que cobriam sua nuca e apertou as costas do garoto de forma quase sedenta. mordeu o lábio inferior dela e voltou a suspirar, descendo a mão até o pescoço dele, fazendo um carinho cheio de segundas intenções. soltou um gemido baixo e levantou ainda mais a barra do vestido de , subindo sua mão até a cintura dela, percorrendo toda a lateral do corpo da garota, se demorando um pouco mais no quadril dela. afastou o rosto e colou a testa na dele. sorriu, de olhos fechados. Sabia que era hora de parar. Não obrigaria a garota a fazer nada, ele entendia os motivos dela. Também não queria que aquele tipo de coisa acontecesse no carro dele estacionado no meio do deque ao som de trovões barulhentos. Podia parecer bobo, mas ele queria que fosse especial para ela. Especial com ela.
"Você não devia fazer esse tipo de coisa." - ele resmungou baixinho e gargalhou, dando um selinho demorado no garoto.
"Foi meu pedido de desculpas por não te escutar antes, lindo." - ela disse em tom divertido e abriu os olhos, ainda com o sorriso fácil. Ela existia mesmo ou era uma invenção de sua cabeça? E como ele podia estar completamente entregue nas mãos de uma garota que ele conhecia há um mês e meio? Ele nunca se entregara nem para as que ele conhecia há anos.
"Vou te provocar mais vezes para você ficar chateada e com ciúme de mim." - ele falou com uma expressão pensativa e deu um tapa forte no ombro dele. soltou um 'outch' e colocou as mãos na boca. Tinha esquecido que ambos estavam molhados e que o tapa deveria ter doído o dobro por causa daquilo. Inclinou sua cabeça para o ombro dele e começou a distribuir leves beijos pelo local. - "Se você continuar fazendo isso, vai ser meio difícil."
"Desculpa." - ela sorriu, piscou para ele, deu um último beijo no pescoço do garoto e se levantou do colo dele, voltando desajeitadamente para o banco do passageiro. passou a mão pelo rosto dela, beijou-a delicadamente e riu.
"Você acabou com todo o resto de sanidade que eu ainda tinha." - ele fez uma careta, fingindo tristeza e voltou a gargalhar, entrelaçando a mão a dele.
As gotas da chuva leve batiam nas janelas da sala de televisão, cobertas por uma persiana escura, deixando o cômodo totalmente escuro, exceto pela luz que vinha das imagens que apareciam na televisão. subiu as pernas para o sofá, querendo aconchegar-se melhor. Escutou falar qualquer coisa com a mãe e voltou sua atenção para o episódio reprisado de Grey’s Anatomy que estava começando. Meredith falava sobre mudanças, amava aquele texto. Amava o modo como algumas mudanças eram necessárias e como certas coisas sempre continuariam as mesmas, exatamente como a expressão chateada da melhor amiga ao abrir a porta de sua casa para e como ela a desculpou facilmente e as duas se reuniram no cômodo mais confortável da casa de .
Naquela manhã, tinha acordado com um sentimento de culpa que ela não conseguiu compreender muito bem, por causa da sonolência. Logo em seguida, imagens da noite passada invadiram sua cabeça e ela se sentiu perdida ao lembrar do beijo trocado com no meio de toda aquela chuva, nos misto de sensações e sentimentos desconhecidos que tomaram conta de seu corpo. Lembrou-se também de como eles tinham voltado ao local do show apenas para pegar o carro dele e ir até o deque. De como tinham passado uma parte da madrugada apenas conversando ou fazendo coisas extremamente produtivas na opinião de , como se agarrar um pouco. E depois, ela lembrou e entendeu o sentimento de culpa. Tinha esquecido a melhor amiga no bar, havia saído sem explicação alguma.
Levantou-se rapidamente, ficando ligeiramente tonta e foi até o canto do quarto em que tinha jogado sua bolsa na noite passada, mexeu no interior dela por alguns segundos até encontrar o celular desligado. A bateria devia ter descarregado e ela nem tinha notado. Correu até a gaveta da escrivaninha, pegou o carregador e conectou as entradas em seus devidos lugares, sentou no chão e esperou até o telefone ligar. Uma mensagem e três chamadas não atendidas de . Que porcaria de amiga ela era, afinal? A mensagem da amiga era bem fria, do tipo que trazia implícito que não chegasse perto dela por alguns dias, mas ela não se importou. Foi até o armário, vestiu a primeira coisa que parecia aceitável para se usar na rua, pegou a bolsa, o carregador e o celular e desceu as escadas, apressadamente. Os pais dela conversavam na cozinha sobre qualquer coisa e pediu o carro, dizendo ser uma emergência. Depois que eles a olharam com espanto, a garota disse apenas que não era uma emergência do tipo morte, mas que precisava do carro. A mãe deu as chaves do próprio carro para a garota e ela saiu de casa. Agradeceu mentalmente por sua mãe existir, o pai nunca lhe emprestaria o carro com tanta facilidade. Aliás, ele nunca lhe emprestaria o carro de forma alguma, era como uma espécie de segundo filho ou coisa do tipo.
“Você está em que mundo?” – a voz de interrompeu seus pensamentos dos últimos acontecimentos e encarou a amiga, que tinha acabado de sentar ao seu lado. – “Minha mãe disse que vai sair e trazer subway para a gente.”
“Legal, mas...” – franziu o cenho e balançou a cabeça. – “Você ainda não me respondeu como fez para voltar para casa.”
“Ah, eu vim com outra carona.” – deu de ombros e virou seu rosto para a televisão. Ela fazia aquilo quando estava envergonhada. podia apostar que as bochechas da amiga estavam vermelhas.
“Que carona?”
“O me trouxe.” – a garota falou entre os dentes e segurou uma gargalhada. Os dois ainda não estavam bem, já que ainda estava chamando o garoto pelo sobrenome, mas ela podia apostar que alguma coisa tinha acontecido.
“Só te trouxe?” – fez uma cara de inocente, mordendo o lábio inferior para não rir e rolou os olhos.
“Ele... Eu... É complicado!” – ela coçou a testa e passou a mão pelos cabelos, totalmente agoniada. – “Tudo bem, então... Eu estava quase matando alguém e ele veio falar comigo, ver como eu estava e todas essas bobagens e... Não sei, de repente ele estava me beijando.”
“E você não beijou de volta?” – arqueou as sobrancelhas e não pôde segurar o sorriso irônico que tomou conta de seus lábios.
“Depois de um tempo... Quer dizer, eu estava puta da vida e meio bêbada com o efeito da tequila e tudo, não é como se eu fosse fazer esse tipo de coisa sóbria. Ele é um babaca!” – sorriu de lado e riu. Era óbvio que a amiga faria a mesma coisa se estivesse totalmente sóbria. As duas sabiam disso. – “Não interessa o que eu fiz ou deixei de fazer com o . Interessa o que você fez ou deixou de fazer com .”
“Eu não fiz ou deixei de fazer nada com .” – fez um careta e sentiu as bochechas levemente quentes.
“Você fez sim.” – balançou a cabeça positivamente, com um sorriso malicioso.
“Eu só... Nós brigamos porque tinha uma loira idiota em cima dele e ele pareceu estar realmente aproveitando aquilo.” – intensificou a careta ao lembrar daquele momento e depois deu de ombros. – “Ele foi atrás de mim, pediu desculpas, disse que estava apaixonado e...”
“Ele disse o quê?” – parecia surpresa e não entendeu o motivo daquilo. – “Meu Deus, ele te ama.”
“Ele não disse que me amava, .” – riu da expressão totalmente chocada da amiga.
“Para um garoto tipo ele, falar que está apaixonado é quase como falar que ama.” – deu de ombros e sorriu. – “E depois?”
“Depois nós fomos até o deque e ficamos por lá até quase amanhecer. Tinha que chegar em casa antes que meus pais acordassem e tudo e mais.” – mexeu no zíper do casaco, levantando-o para cima e para baixo, até bater na mão dela, com um expressão irritada.
“Ai, sua louca.” – riu e empurrou a amiga com o pé, fazendo com que ela voltasse a lhe bater. As duas gargalharam por algum tempo e logo que o silêncio tomou conta da sala, exceto pelo som que vinha da televisão, tomou coragem de fazer a pergunta. – “, você acha cedo para eu ter vontade de ahn... Avançar as coisas com o ?”
“Não.” – sorriu e abraçou uma almofada. – “Quer dizer, não é como se ele fosse qualquer um. Dá para perceber que ele realmente gosta de você e se você estiver preparada...”
“Foi assim com o , não foi?” – perguntou cuidadosamente e ficou algum tempo em silêncio, perdida em seus próprios pensamentos e lembranças. A amiga voltou sua atenção para depois de alguns minutos, sorriu levemente e assentiu. Podia parecer uma resposta incompleta, vazia para qualquer um, mas para , tinha sido extremamente suficiente.
deitou a cabeça no travesseiro macio e fechou os olhos na expectativa de conseguir dormir logo, mas parecia que aquilo não iria acontecer tão facilmente. Virou para o lado e balançou uma das pernas, por mais esquisito que parecesse, aquele movimento sempre fazia com que ela caísse no sono mais rápido, mas naquela noite não iria acontecer. Ela tinha muitas coisas em sua cabeça, muitas perguntas sem respostas. Como por exemplo, o que tinha falado sobre a mini declaração de . Como assim dizer que estava apaixonado era quase a mesma coisa que dizer que amava, para um garoto como ele? Quer dizer, era impossível que um sentimento como aquele, como o amor pudesse surgir entre duas pessoas em tão pouco tempo, não era? Ia fazer dois meses que os dois estavam juntos e ela já estava pensando em ficar com ele de uma forma definitiva? Em realmente dormir com ele? sabia que não era mais uma garota medrosa e que já tinha passado por coisas o suficiente para saber que aos dezessete, quase dezoito anos, já estava preparada para aquilo, principalmente se fosse com ele. Não que fosse do tipo de garota que saía por aí com muitos caras, mas ela já tinha uma idéia de como as coisas funcionavam. Quer dizer, antes de , ela já havia estado com cinco garotos, até entrado em um relacionamento aparentemente sério com um deles: Trey, o tipo que era legal à primeira vista, que tratava a garota como ela gostaria de ser tratada, nos primeiros meses, mas que enjoava quando decidia que outra pessoa era mais interessante do que com quem ele estava, acabando por transformar-se no tipo que quebra o coração da garota com uma facilidade absurda. Não que isso tivesse acontecido com , o término do namoro fez com que ela percebesse que se sentia... Aliviada e que estava apaixonada pela idéia de se apaixonar, não por Trey. Aquilo tinha acontecido aos dezesseis e naquele meio tempo, ela tinha decidido se dedicar aos estudos e em curtir a vida de uma garota adolescente que vivia no litoral da Inglaterra, até perceber que a idéia de se apaixonar lhe parecia convidativa novamente.
confiava em e sabia que o garoto não faria nada que pudesse machucá-la, de qualquer forma. Quando os dois estavam juntos, ele sempre parecia estar mais preocupado com o bem estar dela do que com o próprio. Sem contar que ela sempre pensara que quando perdesse a virgindade, seria com um garoto como ele... Mas eles não eram nem namorados, por Deus! A garota abriu os olhos e encarou o teto, aquilo já estava virando uma espécie de mania compulsiva. De repente, a letra de Speechless da banda The Veronicas lhe veio à cabeça, a parte que ela sempre teve curiosidade de saber, finalmente parecia fazer sentido. Como alguém podia deixá-la sem palavras, sem ar, só com um olhar? Bom, aquilo estava acontecendo e ela não sabia explicar, não tinha nem noção de por onde começar a achar respostas. Logo ela, a garota que sempre teve a vida extremamente organizada, a garota que sempre teve tudo planejado. Riu com o pensamento que veio em seguida, ela mesma tinha planejado se apaixonar aquele ano. E tudo que ela planejava, realmente acontecia, menos... Bom, talvez as coisas estivessem saindo de seu controle pela primeira vez em toda a sua vida. Era uma sensação assustadora, que fazia com que ela perdesse o fôlego, que fazia com que ela se sentisse absurdamente atordoada, mas tudo tinha dois lados. E o outro lado daquela situação era que ela nunca tinha estado tão feliz como naqueles últimos dois meses, que ela nunca tinha estado tão preparada para o que estava por vir. Não era como se ela estivesse sentindo tudo que planejara sentir. Ela sentia muito mais, coisas que ela nem conseguia ao menos pensar. Pegou o celular em cima do criado mudo e mordeu o lábio inferior, em dúvida sobre o que digitar na mensagem. Quando apertou o primeiro botão, o aparelho fez um barulho, o toque que ela tinha escolhido para as mensagens. Uma mensagem dele.
Estava pensando em você, só isso! Xx
sorriu bobamente e balançou a cabeça, soltou um muxoxo, quase uma risada e suspirou. O que estava acontecendo ali era muito além de qualquer explicação. A ligação que os dois tinham era muito maior do que ela poderia tentar entender e talvez... Só talvez, ela achasse melhor deixar as coisas acontecerem da forma como tinham que acontecer. Sem planejamentos, sem decisões precipitadas, apenas do jeito que tinham que ser.
O barulho de alguma coisa se quebrando, provavelmente um copo, veio da cozinha e as três pessoas que estavam na sala, levantaram as cabeças, assustadas. se levantou um pouco rápido demais para o seu estado bêbado e quase tropeçou nas pernas de . A garota reclamou e logo em seguida gargalhou. sorriu de lado e puxou as pernas para junto do corpo, dando espaço para que passasse por ela em direção à cozinha.
Naquele sábado à noite em que a chuva ia e voltava de meia em meia hora e não tinha nada de interessante para se fazer, além de ver filmes ou dormir, a casa de tinha parecido uma ótima opção para que todos passassem o tempo juntos, já que os pais do garoto estavam viajando para aproveitar o feriado na casa de praia deles em uma pequena cidade litorânea que não lembrava o nome. tinha dito que não se interessava em ir para outra praia com os pais, por que... Bom, ele morava em Brighton.
“O vai acabar com eles.” – falou com a voz um pouco embolada e riu das próprias palavras. – “Quase dá vontade de me levantar para ver.”
“Se eu não estivesse tão tonta, também iria.” – assentiu vagarosamente e fez uma careta. – “Não devia beber assim.”
“Não devia beber assim?” – riu e balançou a cabeça. – “Amiga, você tomou dois copos e meio de vodka com suco de uva.”
“Isso é o suficiente para me deixar tonta.” – assentiu deixando com que uma expressão engraçada tomasse conta de seu rosto. – “Por isso, é melhor você ficar de olho em mim para eu não acabar fazendo nada de errado.”
“Tipo?” – arqueou uma sobrancelha e olhou para ela de uma forma significativa, como se dissesse que a amiga sabia ao que ela estava se referindo. Apesar de estar um pouco mais bêbada que , entendeu a mensagem. – “Não acho que ele deixaria você fazer esse tipo de coisa no seu estado pouco sóbrio.”
“Também acho que não, mas a gente nunca conhece realmente as pessoas.” – deu de ombros e olhou para os próprios pés calçados em meias rosas da Pucca. Era quase irônico ter aquele tipo de conversa, pensar naquele tipo de coisa. Quase deixar que acontecesse quando se estava usando meias tão infantis. Bom, ela era daquele jeito: uma mistura esquisita de uma garota com uma quase mulher. Quis rir de seus próprios pensamentos alterados pelo álcool e escutou um grito da cozinha, seguido de gargalhadas masculinas altas e um pouco exageradas. Sorriu para si mesma e olhou para a melhor amiga, ela fazia o mesmo. Elas já estavam completamente apegadas àqueles garotos, a todos eles. Obviamente que com uma intensidade diferente.
“Você consegue juntar coragem o suficiente para se levantar e ir até lá para ver o que está acontecendo? Fiquei curiosa.” – franziu o cenho e assentiu, levantando-se um pouco rápido demais e sentindo seu mundo literalmente girar. Fechou os olhos e tentou recuperar o equilíbrio, até sentir a melhor amiga puxando-a em direção a cozinha. Admirava . Quando bebia, a amiga parecia totalmente sóbria, exceto pelas gargalhadas fáceis e altas. A voz dela quase nem embolava.
e estavam sentados no balcão da cozinha, rindo abertamente enquanto observavam ajoelhado, tentando juntar cacos do copo que tinha quebrado antes. estava de braços cruzados, encarando o amigo e dando ordens para que ele limpasse tudo.
“Outch!” – gemeu e levantou o dedo indicador em que um corte mínimo podia ser visto. – “Eu disse que ia me machucar. Eu estou bêbado, merda!”
“Ele está bêbado, !” – olhou para o amigo com raiva e andou rapidamente até onde estava. – “Ele já não sabe fazer as coisas sóbrio, quem dirá bêbado.” – ela falou irritada e se ajoelhou ao lado do ex que a encarava com um sorriso bobo tomando conta dos lábios. – “Nunca viu? Me ajuda com essa bagunça, !”
se encostou ao balcão, entre as pernas de e o garoto deu um beijo no topo da cabeça dela. A garota olhou para cima com o pescoço esticado e gargalhou.
“O que foi?” – ele perguntou parecendo curioso, enquanto ainda gargalhava alto e fazia brincadeiras sobre estar em uma posição totalmente comprometedora. e discutiam, enquanto a garota enrolava um pano de prato no dedo de , como se aquele corte mínimo fosse acabar em uma hemorragia fora do comum. Tudo era uma bagunça extrema ali, mas os olhos de sempre faziam com que ela partisse para um mundo totalmente diferente. Um mundo em que a voz dos amigos ficava longe. Um mundo cheio de torpor, quase como se estivesse totalmente bêbada. É, ela não precisava de tipo algum de álcool para ficar tonta, relaxada.
“Acho que eu estou bêbada.” – ela voltou a rir e se virou de frente para ele. – “Estou tonta.”
“Eu também.” – ele assentiu e passou os braços pela cintura dela, pouco se importando por ter virado o alvo das brincadeiras de , que cantava alguma música melosa daqueles carros de mensagens bregas. Colocou uma mecha do cabelo dela atrás da orelha e passou o indicador pela bochecha direita de .
“Sou absurdamente sensível ao álcool.” – ela fez uma expressão triste, brincando e balançou a cabeça negativamente. Tinha como gostar mais dela? Bom, se tinha, estava acontecendo naquele exato momento.
“Sabe o que eu acho?” – praticamente gritou, descendo do balcão de forma desastrada e rindo de si próprio. – “Nós devíamos jogar verdade ou conseqüência.”
“Por que isso?” – fez uma careta levantando a cabeça e encarando o amigo como se dissesse que ele estaria morto se não falasse que estava só brincando. Para o azar de , ele estava bêbado demais para entender os sinais do amigo. Existia uma razão para que não quisesse jogar. Na verdade, existiam várias razões, como o fato de ele nunca conseguir mentir quando estava bêbado e saber que os amigos fariam perguntas que ele talvez não estivesse preparado para responder em voz alta. E principalmente, que odiaria se algum de seus amigos fosse desafiado a beijar ou vice-versa se escolhessem conseqüência. Quer dizer, gente bêbada sempre é inconseqüente e deixa para pensar em suas ações apenas no dia seguinte: o dia da ressaca moral.
“Eu acho legal.” – levantou os braços com um sorriso bobo no rosto. Ah, claro que ela achava, pensou. Olhou para e a garota parecia estar na mesma situação que ele. Bom, talvez ela não quisesse responder que estava completamente apaixonada por desde... Ahn, sempre.
“É uma desculpa boba para ficar com alguém, ? Você está tão necessitado assim?” perguntou com os braços cruzados e as sobrancelhas erguidas. Ela estava contra-atacando, estava se protegendo do mesmo modo que .
“Você me magoa assim, !” – ele colocou uma das mãos no coração e fez uma careta. A garota deu de ombros, mas logo depois depositou um beijo na bochecha de . já estava com uma garrafa nas mãos e parecia animado. Era bem o estilo dele querer queimar os amigos quando eles não tinha condições de se defender decentemente.
“É!” – saiu de perto de , indo até a sala meio que dançando e sendo seguida por , e completamente animados. continuou sentado no balcão e ainda encarava a porta pela qual eles tinham saído, de braços cruzados. A garota olhou para e suspirou, fazendo um sinal com a cabeça para que eles fossem para a sala.
“ , você está ferrado!” – gritou quando a tampa da garrafa apontou para e o fundo para ele, que tinha direto a pergunta. Já fazia cerca de quinze minutos que os amigos estavam jogando. já tinha dançado cancan, já tinha tomado um copo de leite com sal e açúcar, que na opinião dele, nem era tão ruim. E tinha finalmente respondido quem era a garota misteriosa com quem ele estava saindo há algum tempo. Para espanto de todos, era uma das garotas certinhas e quietas do colégio dos garotos. fez questão de deixar claro que era apenas aparência e que as quietinhas eram as melhores. O comentário foi seguido de urros aprovadores dos amigos e de caretas das garotas. – “Verdade ou conseqüência.”
“Eu, ahn...” – olhou para e logo depois para . Ela tentava fingir que não se importava com a escolha dele, mas o garoto percebeu que a... Ficante? Namorada? Amiga com benefícios? Ele nem sabia o que eles eram, apenas que ela estava nervosa. – “Verdade, eu acho.”
“Decisão de risco, .” – assentiu, olhando impressionado para o amigo e empurrou a caneca em que tinha tomado o leite minutos atrás para o lado, esquecendo a vingança que tinha planejado, caso tivesse escolhido conseqüência.
“Vou ser legal, juro!” – sorriu de lado e os outros riram, menos que apenas forçou um sorriso. Por que estava se importando tanto com qual seria pergunta de , afinal?
“Todo mundo sabe que você não é um cara de se acomodar, que gosta de ahn... Experimentar muito, ver o que realmente funciona e...”
“Acho que já deu para entender que tipo de cara eu sou. Não precisa fazer uma descrição tão completa.” – falou irritado, tomando um gole da garrafa de Heineken.
“Okey.” – deu de ombros e olhou para . – “Você virou um garoto de namoro agora?”
“Acho que sim.” – ele encolheu os ombros e mordeu o lábio inferior, tentando não sorrir. Olhou para , lembrando do que a amiga tinha dito uma semana atrás sobre ter confessado que estava apaixonado por ela. assentiu e sorriu, talvez ela estivesse mesmo certa. – “É, eu definitivamente virei um garoto de namoros.”
“Uau, ele cresceu!” – fez uma expressão de choque e deitou a cabeça no ombro de . – “Lembra quando nós conversamos com ele sobre sexo seguro pela primeira vez? Eu sempre quis que ele fizesse amor e não sexo, lembra?” – ele falou com a voz fingidamente emocionada e assentiu, fingindo chorar. Todos gargalharam, mas se sentiu um pouco incomodada, já que ela e ainda não tinham chegado tão longe.
“Vocês têm sérios problemas psicológicos.” – balançou a cabeça, ainda gargalhando e girou a garrafa para que o centro de atenção se tornasse outra pessoa logo, já que a namorada parecia meio desconfortável com todo aquele papo.
“Eu, eu, eu, eu.” – falou animado quando a tampa da garrafa apontou para ele. sorriu e pediu mentalmente que ele escolhesse conseqüência. Ela tinha um plano que em seu estado bêbado parecia absurdamente bom. – “Conseqüência é mais legal, quero conseqüência.”
“Você vai ter que beijar a , pode ser um selinho, mas não pode ser rápido.” – sorriu de lado e ignorou o olhar assassino de e o choque da melhor amiga. Era óbvio o que estava acontecendo ali e se e precisavam de provas para se convencer que eram completamente loucos um pelo outro, bom... Ela as providenciaria.
“, eu não sei...” – falou confuso e olhou para , que parecia mais chocada ainda. – “Não é que eu não queira te beijar e tudo o mais.” – bufou irritado após o comentário e passou a mão pelos cabelos. – “E nem que eu queira, quer dizer...”
“É só um selinho, vocês não vão casar.” – rolou os olhos tomando a atitude mais relaxada e indiferente a todo o drama da situação, como sempre.
“Acaba logo com isso, !” – se ajoelhou na frente do garoto, fechou os olhos e suspirou profundamente. Ela não queria fazer aquilo, mas como pareceu não se importar, talvez ela devesse fazer o mesmo. olhou para o amigo, quase como se pedindo desculpas e virou o rosto para ele. Talvez estivesse errada sobre aquilo e seu plano sairia as avessas, fazendo com que os dois brigassem e pensasse que não ligava se ela ficasse com um dos melhores amigos dele. Era um plano bêbado e inconseqüente, já estava começando a se sentir culpada quando interrompeu , puxando-o pela camisa. Ele e ainda não tinham se beijado.
“Espera!” – falou e sorriu fracamente. – “Essa é uma brincadeira boba e nós estamos bêbados, então se ninguém está confortável com a situação, acho que não teria problemas se você pedisse que a escolhesse outra coisa para você fazer.”
“Eu não estou desconfortável.” – falou em tom de desafio e realmente olhou para pela primeira vez naquela noite.
“Mas eu estou.” – deu de ombros, fazendo com que sorrisse e acotovelasse que parecia chocado demais para falar qualquer coisa desde que ela tinha proposto aquilo. – “O que você acha, ?”
“Acho que você entendeu.” – ela assentiu e desafiou a cantar a música da Bela e a Fera, fazendo vozes masculinas e femis. O que era para ter sido o maior drama da noite acabou se tornando a cena mais engraçada. Ou talvez eles só estivessem bêbados demais e tudo acabava se tornando engraçado. Mas o que realmente importava é que eles estavam juntos, fazendo com que uma noite tediosa e chuvosa de um sábado se tornasse em um dos melhores momentos da vida deles.
estava sentado na ponta seca de uma das espreguiçadeiras que tinham do lado de fora da casa de , perto da piscina. O garoto encarou as poucas gotas finas da chuva enjoada que ainda insistia em cair baterem na água desenhando circunferências que para um quase bêbado pareciam realmente interessantes. Escutou o grito de do lado de dentro da casa e balançou a cabeça negativamente, deixando um sorriso bobo tomar conta de seus lábios. Tinha algo a respeito dela que era diferente, algo que fazia com que ele mudasse de idéia sobre relacionamentos sérios e havia sido por causa daquilo que tinha respondido a que era um cara de namoros.
Ele não gostava de criar expectativas, não gostava de assumir responsabilidades que achava que não podia cumprir, não gostava de se prender a uma rotina e talvez aquele fosse o motivo para nunca ter levado nenhuma garota realmente a sério. passava a vida se divertindo e aquilo parecia o suficiente, parecia mais do que qualquer garoto da idade dele poderia desejar, mas até naquilo ele estava errado. A vida tinha dado um jeito engraçado de lhe mostrar que existia mais, que ele podia criar expectativas e oferecer o seu melhor para alguém sem precisar ter nada em troca. E o que era melhor naquela situação toda, é que ele recebia muito mais do que dava. O sorriso dela, o jeito como ela mordia o lábio inferior quando estava concentrada nos estudos, como ela se irritava quando não conseguia fazer algum exercício de exatas, mas mesmo assim continuava tentando. O jeito como ela era protetora em relação a melhor amiga, o jeito como ela tinha acolhido os amigos idiotas dele, como se fossem seus há anos. O jeito como ela mexia no cabelo, prendendo-o em uma espécie de coque frouxo e muito complexo para que ele entendesse como era feito, quando estava com calor. Até as brigas que ela tinha com quando os dois jogavam guitar hero, faziam com que ele se sentisse estranhamente encantado, estranhamente preso a ela. tinha mudado alguma coisa dentro dele de forma tão sutil que só tinha notado aquela noite, após aquele jogo bobo de perguntas em que verdades se mostravam necessárias. Escutou a porta de vidro que fazia a divisão entre o quintal e a cozinha se abrir e virou o rosto, observando se virar para fechar a porta e caminhar até ele. O amigo parou ao lado de , com as mãos nos bolsos, parecendo notar a churrasqueira da casa de , pela primeira vez. Ele queria conversar, desabafar, tinha certeza. Não eram só as garotas que tinham aquele senso de proteção, de fraternidade quanto aos amigos.
“Então, eu devo ir lá dentro para checar esses gritos ou está tudo bem?” – perguntou e soltou uma risada nasalada.
“O só está contando umas histórias nojentas de porres que ele já tomou.” – ele deu de ombros e sentou na outra ponta da espreguiçadeira em que estava. – “Sabe como são garotas, fazem escândalo por tudo.”
“Elas são diferentes das outras, mas nem tanto.” – sorriu de lado e olhou para . – “Qual o problema, cara?”
“O de sempre.” – franziu o cenho e fez uma careta. – “Nós brigamos, ela me desafia, eu fico louco e chateado, porque ela não parece se importar. Quer dizer, até parece que eu sou a mulherzinha dessa coisa toda.”
“Bom, de certa forma, você é.” – riu e o amigo lhe deu um soco no ombro. – “Seu idiota, isso dói!”
“Deixa de ser sensível, !” – riu e balançou a cabeça, encostou o rosto em uma das mãos e suspirou. – “Às vezes, eu fico procurando o motivo de estar nessa situação por tanto tempo. Quer dizer, nunca dá resultado nenhum.”
“E mesmo assim, vocês sempre ficam juntos. Você nunca parou para pensar que aquela garota realmente gosta de você? Eu mal conhecia a antes, mas dava para ver o tanto que ela é totalmente apaixonada por você só de olhar quando vocês estão juntos. Quer dizer, vocês me davam vontade de vomitar quando nós saiamos juntos e vocês estavam bem.” – fez uma careta engraçada. – “Mas eu meio que já sei como é se sentir assim, totalmente entregue a alguém... Cara, ela é sua garota, vai atrás dela e mostra que você realmente se importa, faz isso funcionar, por que por mais idiota que pareça, só vai ser assim que você vai conseguir ser realmente você. Nós meio que somos melhores com elas, do que sem elas.”
“Você sabe que se o escutasse isso, ele ia dizer que nós somos gays e devíamos nos casar, certo?” – arqueou uma sobrancelha e gargalhou, sendo acompanhado por . – “Talvez, pela primeira vez, você tenha razão.”
“Eu sempre tenho razão.” – uma expressão de arrogância tomou o rosto de , mas o amigo sabia que era só brincadeira.
As mãos estavam entrelaçadas fortemente, mas ela estava andando com um pouco mais de pressa, meio que dançando. A maior parte do efeito do álcool já tinha passado, mas ela ainda estava meio ‘alegre’. já estava quase completamente sóbrio e olhava para a garota com um misto de ternura e paixão. Ela era pura essência, vivia o momento e fazia com que todos ao seu redor se sentissem extremamente amados. Ela não precisava estar sob efeito de qualquer coisa para ser daquele jeito impulsivo, que fazia o que lhe passava pela cabeça, em momentos de felicidade extrema. E era por isso que ela cantarolava baixinho para não acordar ninguém e dançava descoordenadamente na calçada perto de sua casa, no meio da madrugada. Quando finalmente chegaram à casa de , ela sentou nos degraus da entrada e puxou-o pela mão para que ele se sentasse ao seu lado.
“Você não está com sono?” – ele perguntou assim que ela deitou a cabeça nas pernas dele. passou as mãos pelos cabelos dela, puxando-os todo para trás para que pudesse ver o rosto de .
“Um pouco, mas não quero entrar agora.” – ela encolheu os ombros e fechou os olhos, sentindo o garoto fazer um leve cafuné em sua cabeça. Quando estava com era daquele jeito, ela podia estar com muita fome, muito sono, qualquer coisa... Mas a vontade de passar pelo menos mais cinco minutos ao lado dele prevalecia.
“Você devia me apresentar para os seus pais.” – falou após alguns segundos de silêncio. abriu os olhos e olhou para o rosto dele.
“Você quer conhecer os meus pais?” – ela perguntou ainda observando a expressão dele. parecia estar perdido em seus próprios pensamentos, que ela realmente gostaria de saber quais eram. Apesar de achar que o conhecia absurdamente bem pelo pouco tempo em que estavam juntos, ainda tinha muito sobre ele a ser desvendado.
“Quero.” – ele sorriu de leve e olhou para baixo, encontrando os olhos dela. Sentindo um leve arrepio na nuca e uma sensação esquisita na barriga, como aquelas que sentia quando seu pai descia rapidamente em alguma ladeira, com o carro. Era o tipo de sensação que ele esperava ansioso quando tinha sete anos. O tipo de sensação que tinha se transformado em sua preferida aos dezessete anos. – “E acho que você devia conhecer os meus.”
“Eu acho que...” – levantou a cabeça do colo dele, sentando-se e apoiando o rosto entre as duas mãos, enquanto encarava o jardim bem cuidado do vizinho que morava na sua frente. Por que de repente ela se sentia totalmente sóbria? Por que de repente ela sentia medo e estava nervosa? Chegou à conclusão que talvez as pessoas simplesmente se assustassem quando recebiam muito mais do que pediam, achavam melhor não se entregar completamente, criar barreiras para estarem preparadas quando o fim chegasse, para que fosse menos difícil, que o vazio fosse menor e mais fácil de ser remendado, pelo menos, um pouco. Afinal, tudo acabava um dia, não era? Talvez nem tudo, ela pensou pelo lado positivo. Virou-se para que a encarava com uma expressão terna, tranqüila. Ele não exigia respostas afirmativas e nem que ela estivesse pronta para aquilo. Ela podia quase pressentir que ele queria que ela fizesse o que era melhor para ela. Que fosse ela. Sorriu levemente. – “Eu acho que você devia jantar aqui amanhã... Ou mais tarde.”
“Você me liga.” – deu um beijo na testa dela e se levantou, sendo imitado pela garota. Ela passou os braços pelo pescoço dele, envolvendo-o em um abraço apertado. Escondeu o rosto do pescoço dele e absorveu o cheiro que ele tinha, aquela mistura de roupa limpa, perfume caro e bala tic-tac de menta. Era viciante.
“Boa noite.” - ela murmurou e levantou o rosto para que os dois pudessem se encarar. pousou uma das mãos na bochecha dela, fazendo um leve carinho com o polegar e a puxou pela nuca, selando seus lábios aos dela. abriu a boca, quase como uma permissão para que o garoto aprofundasse o beijo e logo em seguida, afundou a mão esquerda nos cabelos dele. Sentindo a textura dos fios nem finos, nem grossos. apertou a cintura da garota, fazendo com que ela suspirasse profundamente contra sua boca.
“Boa noite.” – ele murmurou de volta e mordeu o lábio inferior dela, se afastando. Ela franziu o cenho e fez um bico, parecendo uma criança mimada da qual tinham acabado de tirar o brinquedo preferido. rolou os olhos e deu um beijo na bochecha dele, subindo o resto dos degraus até a porta de entrada da casa. – “Ah, .”
“O quê?”
“Só para deixar oficializado...” – ele parou, com as mãos nos bolsos e parecendo envergonhado. Era engraçado ver parecer inseguro, já que aqueles momentos eram raros. – “Nós estamos namorando agora. Quer dizer, se você quiser.”
“Você vai ter que descobrir o que eu quero.” – ela sorriu de forma quase infantil e deu língua para ele. balançou a cabeça e soltou uma risada nasalada. Bom, ele estava mais que disposto a descobrir tudo o que ela queria.
We're falling apart and coming together again and again;
(’s POV)
Encarei os rabiscos da equação de física resolvida pela metade em meu caderno e suspirei, passando a mão pelos cabelos. Estava tão difícil me concentrar, prender minha atenção a algo que não fosse o vazio que sentia. Me levantei, largando a lapiseira em cima do livro, e caminhei lentamente até a varanda do meu quarto, abrindo as cortinas e observando as nuvens quase escuras, criando formatos divertidos no céu. Passei as mãos pelo rosto e me sentei no chão, apoiando as costas na cama e a cabeça no colchão. Suspirei pesadamente e senti meus olhos arderem de uma forma incômoda, não conseguindo ignorar aquela sensação de angústia que estava tentando não levar em conta desde o domingo de manhã. Balancei a cabeça negativamente, decepcionada comigo mesma, com as minhas ações, com a minha insegurança, com tudo.
Por algum motivo idiota, tomando um caminho oposto para toda a felicidade que todo aquele relacionamento estava me oferecendo, eu tinha surtado no domingo. Quando pensei em jantando com meus pais, uma sensação aterrorizante surgiu. Não era como se eu não quisesse que ele fizesse parte da minha vida, que conhecesse a parte mais importante dela. Era mais como se eu tivesse medo por deixá-lo chegar tão perto, por descobrir tudo a meu respeito tão rapidamente, por derrubar todas as minhas barreiras, me deixar totalmente sem limites, sem chão, completamente entregue. E era exatamente por aquilo que em um impulso incontrolável tinha ligado para ele, dando a desculpa de que meus pais iam sair com amigos. compreendeu e não pareceu duvidar da minha história mal contada, o que fez com que eu me sentisse mais culpada. Desde aquele domingo, por alguma razão que eu ainda desconhecia, algum desvio louco da minha personalidade, comecei a evitá-lo, usando a semana de provas como desculpa. Quer dizer, eu tinha que me dedicar aos estudos para tirar notas aceitáveis para Cambridge, era meu sonho. Ele entendia meus sonhos, muito mais, desejava que todos realmente acontecessem, fazia planos comigo no meio de nossas ligações noturnas, imaginando como seria minha vida totalmente organizada, presa a uma rotina em um campus bagunçado, vivendo em um meio desconhecido. Ele ria só de pensar na bagunça que minha vida iria se tornar e como eu conseguiria lidar com aquilo tudo sem enlouquecer, quando perdesse o controle da situação. Sorri levemente, ele me conhecia melhor do que achava. Ele sabia me definir melhor do que eu mesma. Era o que me assustava, era o que me fazia absurdamente vulnerável. Eu não tinha previsto toda aquela intensidade quando nós nos encontramos naquele lual... Bom, talvez eu só tivesse achado melhor fingir que não.
Por me conhecer tão bem, ele não era estúpido quanto a certos modos de agir meus, sabia que tinha algo de errado, apesar de não demonstrar explicitamente. Talvez, eu o conhecesse bem demais também, e sabia quando ele se sentia chateado, apenas ao escutar sua voz em uma conversa rápida.
Naquele momento em que o vazio havia se tornado insuportável, percebi que apenas queria esquecer de equações físicas ou qualquer outra coisa e me sentir do modo como ele fazia com que eu me sentisse. Era quase como se eu dependesse daquele frio na barriga, das mãos e pernas trêmulas, da sensação de estar imersa na mais pura e profunda felicidade, de estar presa aos olhos azuis de uma maneira que eu não conseguia explicar, quase como se eles me hipnotizassem, de me sentir uma pessoa melhor, de ser eu mesma sem medo de julgamentos. Eu não precisava inventar ser alguém diferente para impressioná-lo, não precisava conter minhas ações perto dele, nenhuma delas, por mais loucas que fossem... Como dançar na rua no meio da madrugada, quase bêbada. Como brigar com ele no meio de um temporal. Como dar chilique por estar em um parque mal assombrado.
Pensando bem, era mesmo intrigante, o fato de ele estar comigo há tanto tempo. Eu era confusa demais, irritável demais, perfeccionista demais, talvez até um pouco chata, enquanto era o oposto. Ele era vivo, sempre carregando um brilho absurdo no olhar, sempre compreensivo, fazendo com que todos ao seu redor se sentissem bem, apenas com sua presença. E talvez, aquele fosse o motivo de eu sempre me fazer a mesma pergunta, todos os dias, ao acordar e antes de dormir. A pergunta que tinha sido o estopim para o meu surto ridículo. Eu estava apenas apaixonada ou era maior que aquilo?
Eu realmente não sabia, não tinha a resposta para todas aquelas novas sensações. Não tinha o controle, não tinha planejado chegar onde estava. A única coisa que eu conseguia compreender naquele momento, era a falta que ele me fazia. Era a vontade de abraçá-lo, enquanto ele falava alguma bobagem no meu ouvido, me deixando em dúvida se era uma provocação ou apenas um modo de me fazer rir. Era simplesmente o fato de sentir sua respiração contra minha boca quando nós nos separávamos após algum beijo, longo ou curto, nós sempre ficávamos sem ar. Nós sempre ficávamos perdidos um nos olhos do outro. Era como se fôssemos ímãs de pólos distintos que se atraem automaticamente, de forma irreversível, apenas pelo fato de que... Bom, eram as leis da física. Eu não sabia quais leis eram aquelas que me envolviam naquela situação tão confusa, quer dizer, eu não fazia sentido nem para mim mesma. Peguei o celular jogado no meio da cama e encarei a tela do aparelho por alguns segundos, tentando tomar uma decisão de que não me arrependesse depois. Mas que porcaria... Eu não iria me arrepender por viver. Digitei uma mensagem rapidamente, mandando para o número dele e me levantei, indo até o armário e pegando o primeiro casaco que vi.
(’s POV Off)
estava sentada na areia, encarando o mar que escondia o sol a sua frente. Com certeza, quando ela se mudasse para Cambridge, o pôr-do-sol de Brighton seria uma das coisas que ela sentiria mais falta. Suspirou pesadamente e virou o rosto para a direita, encarando o perfil de , uma expressão séria tomava conta do rosto lindo do garoto. Colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha e subitamente, percebeu do que sentiria mais falta quando deixasse Brighton. A falta que ele faria seria indescritível, avassaladora de uma forma que poderia causar-lhe dores quase que físicas. Trouxe as pernas para junto de seu corpo e abraçou-as, encostando o queixo em seus joelhos e voltando sua atenção para um dos momentos que ela mais amava na vida. Seus olhos arderam e uma vontade súbita de chorar tomou conta dela, algo que ela não podia entender. Talvez, fosse pelo que tinha acabado de perceber, em relação a sentir tanto a falta dele, talvez por nunca estar preparada para deixá-lo ir, para deixar-se seguir em frente quando fosse a hora de acabar. Talvez, fosse a culpa que a corroia por dentro desde que ela tinha mentido para ele, cinco dias antes, a respeito de seus pais saírem com os amigos. Talvez, fosse a saudade que sentia de escutar a risada dele, já que tinha evitado o garoto a semana quase inteira, por algum motivo que ela não sabia compreender, muito menos explicar. Talvez, fosse pelo fato de ele parecer chateado, magoado, tão silencioso. Ou talvez, fosse a soma de todas aquelas coisas. Tudo que o envolvia.
“...” – ela chamou e o garoto virou o rosto para ela. Os olhos azuis não carregavam aquele brilho comum de quando os dois estavam juntos, era mais como se estivessem decepcionados. – “Eu...”
“, não é como se nós fossemos casar amanhã.” – ele deu de ombros e a garota sentiu os olhos abrirem um pouco mais, pela surpresa das palavras dele. – “Você está me evitando desde o dia em que eu disse que estávamos namorando. Não precisa levar tão a sério.”
“Eu menti.” – ela falou quase que automaticamente, sem ao menos perceber, como se aquelas palavras estivessem lutando para sair de sua boca desde quando tinha planejado aquela desculpa idiota.
“Eu sei.” – assentiu e entortou a boca, mostrando-se um pouco irritado.
“Meus pais não saíram com os amigos naquela noite, eu só...” – ela encolheu os ombros e sentiu os olhos arderem ainda mais. Não queria chorar, não podia criar distrações no meio de uma conversa tão séria. Quando parecia tão magoado com ela. – “Me desculpe.”
“Você tem medo.” – ele soltou uma risada irônica e balançou a cabeça negativamente. Era a primeira vez que ela o via agir daquela forma. Com raiva, chateado, quase furioso. – “É a primeira coisa na sua vida sobre a qual você não tem controle, não é mesmo?”
“Eu não chamaria de coisa.” – sentiu uma rajada forte de vento passar pelos dois, atingindo-os de forma quase dolorosa. Como aquela conversa.
“Nem eu, mas você prefere tratar como se fosse uma coisa.” – a raiva de parecia aumentar a cada palavra. – “Eu também tenho medo, sabia? Nunca estive tão fora do controle de uma situação como essa.”
“Eu não trato como se fosse qualquer coisa, .” – o encarou, totalmente indignada. Sim, tinha dado uma de louca naqueles últimos dias, totalmente entregue à sua insegurança, mas ela não achava que aquele relacionamento fosse uma coisa. Algo bobo, insignificante. – “Estava ocupada com as provas.”
“Você está se ouvindo?” – ele sorriu de lado de forma sarcástica e se levantou, olhou para cima, totalmente surpresa. Aquela conversa não tinha acabado, tinha? – “As mesmas desculpas, . Sabe de uma coisa? Eu sei o que quero, como nunca soube a respeito de nada em toda a minha vida, mas você não. Quando descobrir, me procura e nós conversamos.” – a mágoa nos olhos dele tinham voltado, quase acabando com toda a raiva. Ele deu de ombros e se virou, andando até as escadas que davam para o deque, as mãos nos bolsos, a cabeça abaixada. Não olhou para trás nem uma vez.
“Eu quero você.” – murmurou para si mesma, querendo gritar para que ele ficasse, mas não conseguiu. Parecia incapaz de fazer com que sua voz projetasse algo além daquele murmúrio quase inaudível. Virou sua atenção para o mar, apenas uma mínima parte do sol ainda podia ser vista. passou as mãos pelos olhos irritadamente e se levantou, tirando a areia que tinha ficado em sua calça. Ela sabia o que queria, mas era difícil se entregar quando sua felicidade parecia estar completamente nas mãos de outra pessoa. Pela primeira vez em sua vida, não dependia apenas dela.
(’s POV)
Joguei o celular em cima da cama e passei a mão pelos cabelos, bagunçando-os completamente, demonstrando toda minha frustração. Liguei a televisão e me deitei de qualquer forma na cama, balançando o pé esquerdo de forma ansiosa. Qual era a porcaria do meu problema? Eu não era daquele jeito. Nunca fiz o tipo nervoso, nunca fiz o tipo que se deixava abater por coisas bobas, nunca fiz o tipo que se apaixonava. Encarei as imagens de algum programa a respeito de carros que passava na televisão, sem realmente vê-las. A única coisa que conseguia manter na minha cabeça era aquela conversa estúpida que havia tido com na tarde anterior. Por que ela tinha começado a agir de forma tão esquisita? E por que eu tinha sido tão grosso com ela? Quer dizer, eu já estive na pele dela... Eu sabia o que era se sentir confuso, não ter certeza sobre o que queria, se sentir assustado com certas coisas. Na verdade, quando se tratava de relacionamentos sérios, eu tinha sido daquele jeito minha vida toda. Não que eu tenha realmente namorado alguém, mas... Bom, eu nunca tinha sentido vontade de levar as coisas à diante com as garotas que havia conhecido antes dela. Nenhuma delas me prendia como conseguia, nenhuma delas fazia com que eu sentisse aquelas coisas bobas de garota, tipo aqueles frios na barriga constantes que elas chamavam metaforicamente de borboletas. Nunca tinha sentido vontade de estar com alguém o tempo todo. Nunca tinha sentido aquela espécie de calafrio misturado com um calor intenso, toda vez que qualquer outra garota sorria. Nunca tinha pensado no meu futuro com nenhuma delas... Exceto com . Era até ridículo o fato de como ela estava presente em todas as imagens que eu formatava do que aconteceria dali há dois, quatro, dez anos. Eu estava soando maluco até para mim mesmo.
Ela tinha aquela espécie de essência que podia iluminar um lugar, era algo que eu não conseguia explicar. Talvez tenha sido esse o motivo de eu me sentir tão confortável ao lado de desde o primeiro momento, quando eu estava idiotamente bêbado naquele lual esquisito, que eu nem teria ido, se não fosse a insistência de . O sorriso dela tinha me tocado de uma forma arrebatadora, parecendo tornar impossível que minha atenção fosse desviada para qualquer outra coisa. Eu tinha ficado completamente entregue àquela garota. Ela era linda, mas não era apenas pela aparência. Era como se eu pudesse ver o mundo todo nos olhos dela, por mais estranho que parecesse. Era como se ela me conhecesse muito antes de nós nos encontrarmos, de uma forma quase intuitiva, de um jeito que mexia comigo, mudando e reformulando todos os meus conceitos.
Nunca fui do tipo que acredita em amor a primeira vista, em almas gêmeas, em coisas predestinadas para acontecer. Para mim, cada um fazia seu futuro tomando as decisões que pareciam melhores para o que estava planejado se concretizasse, mas ela tinha me mudado. De uma forma quase silenciosa, nós havíamos modificado um ao outro, tão intensa e profundamente que não tínhamos nem percebido. E agora, parecia que tudo estava prestes a desmoronar por causa da insegurança dela. Por causa do meu orgulho, do meu medo de perdê-la, mas não conseguir fazer nada a respeito enquanto ela não demonstrasse o que sentia.
Escutei o celular tocar e atendi sem olhar para o numero que aparecia na tela, mas sabendo que não era ela. Não era o toque que tinha escolhido para . Por mais estúpido que fosse, ela era a única pessoa da minha agenda de contatos a ter um toque personalizado. Eu era uma garotinha mesmo, concluí, sorrindo amargamente e escutei a voz de .
“Já está pronto?” – encarei minha calça jeans, a blusa social branca, sendo escondia pelo suéter azul escuro por cima. É, quase. Só faltavam as meias e o tênis.
“Aham.” – menti, lembrando que ainda não tinha escovado os dentes. Qualquer coisa, ele podia esperar mais cinco minutos.
“Já estou chegando, se você não estiver na porta quando buzinar, te deixo.” – riu de forma quase histérica e eu balancei a cabeça, me levantando. Ele estava muito mais nervoso do que eu, com certeza. Tinha planejado uma conversa séria com , como presente de aniversário.
“Até parece que você agüenta essa noite sem a minha presença.” – eu ri sarcasticamente e desliguei o telefone quando ele me mandou a merda, fui até o banheiro, escovei os dentes e calcei o adidas todo branco. Passei as mãos pelos cabelos, bagunçando-os mais e desci as escadas apressadamente. Senti uma fisgada idiota no estômago e rolei os olhos. E eu ainda nem tinha encontrado com ela.
(’s POV Off)
“Quem são todas essas pessoas?” – perguntou quando três garotos passaram pelo grupo reunido na passagem que dividia a sala de estar da sala de jantar.
“Não faço idéia.” – balançou a cabeça, parecendo totalmente confusa, sem conseguir falar mais que aquilo.
“Acho que a noticia se espalhou.” – falou, parecendo mal-humorado ao perceber um idiota que não tirava os olhos de . Ah tá, como se ele tivesse alguma chance com sua garota. Okey, naquele momento ela não era tão dele, mas nada o impedia que ele se sentisse daquela forma.
“Acho que você não deveria ter deixado a porta aberta.” – a garota que tinha levado falou e rolou os olhos. Era o tipo de comentário estúpido que não ajudava em nada.
“Você quer essas pessoas fora daqui?” – perguntou com uma sobrancelha arqueada e segurou a mão de , buscando demonstrar apoio, de alguma forma. olhou para todos ao redor, parecendo ainda não entender como todas aquelas pessoas tinham ido parar ali. Assentiu, mordendo o lábio inferior, sentindo vontade de chorar por seu aniversário ter se tornado uma falha épica.
“Então, nós vamos tirar essas pessoas daqui.” – falou determinado, deu um beijo na bochecha dela e olhou para o resto dos amigos. Os outros assentiram e cada um saiu em direção a um canto da casa, planejando uma forma de acabar com aquela festa rapidamente e da melhor forma possível.
foi até a cozinha pedindo mentalmente que não tivesse que lidar com bêbados desagradáveis quando chegasse ao cômodo, mas suspirou aliviada quando o viu totalmente vazio. A porta da geladeira estava aberta e a garota rolou os olhos, indo até o eletrodoméstico e o fechando. A casa de estava cheia de pessoas que ela nunca tinha visto na vida, não sabia sequer da existência. Tudo meio que tinha saído de controle quando os boatos começaram a correr e o que era para ser uma reunião para poucos amigos para comemorar o aniversário de , tinha se tornado naquela festa enlouquecida com adolescentes bêbados e gente agarrando por todos os lados. estava no andar de cima, trancando todos os quartos e expulsando as pessoas com a ajuda de . escutou o volume do som abaixar consideravelmente e gritos, logo em seguida. Qual era o problema daquelas pessoas, afinal? Era tão difícil se divertir de forma civilizada? Olhou para o resto da cozinha, com as mãos na cintura e balançou a cabeça. Aquilo estava uma bagunça e tudo deveria ser arrumado antes de sábado à tarde quando os pais da melhor amiga chegariam... Quer dizer, tinha sido muito legal da parte deles deixar a casa livre para a reunião íntima de aniversário da filha, o pequeno problema é que as coisas tinham saído um pouco de controle.
olhou o relógio de pulso que marcava quase meia noite. Ela definitivamente dormiria ali para ajudar a arrumar a casa e terminar de expulsar aquelas pessoas. As coisas já tinham saído de controle o suficiente. foi até a pia, coberta de pratos e copos sujos. Por que eles não podiam ter usado as coisas de plástico? Puxou o cabelo para trás e prendeu-o em um coque frouxo. Iria começar com a louça logo. Pelo menos, aquela confusão toda tinha feito com que ela esquecesse, ou pelo menos ignorasse o tremor que passara por todo o seu corpo quando viu entrar na sala horas mais cedo. Ele estava absurdamente lindo e ela não conseguiu segurar o suspiro quando ele falou alguma coisa para os garotos, logo em seguida sorrindo de lado. e ele não tinham se falado, apenas um leve cumprimento com a cabeça para que se sentissem devidamente educados. Era esquisito encontrar e não pular em seu pescoço assim que ele sorria e abria os braços para ela. Suspirou, irritando-se com os próprios pensamentos que deveriam ser guardados para mais tarde e com uma mecha do cabelo repicado que teimava em roçar na sua bochecha.
“Cara, isso só se resolve conversando.” – escutou a voz de quando ele entrou na cozinha e mais alguém parecia estar com ele. – “Vocês vão ter que falar sobre isso uma hora... Não é como se você não estivesse doido para... Oi, !” – ele se interrompeu ao perceber a presença da garota e ela não teve coragem o suficiente para virar seu rosto, já que pelo tom daquela conversa, podia adivinhar quem estava com ele. – “Nós já conseguimos expulsar metade das pessoas loucas.”
“Falta muito para a outra metade ir embora?” – ela perguntou meio que histericamente e quis bater em si mesma por causa do nervosismo que apenas lhe causava. Garoto idiota!
“Não sei, o está gritando com todo mundo.” – riu e se encostou ao balcão. – “A está péssima! Queria poder fazer mais do que ajudar a arrumar a casa.”
“Você pode, só não tem coragem.” – falou e podia apostar que ele estava sorrindo levemente, de forma divertida. Ela conhecia todos os tons de voz dele e todos os sorrisos que lhes acompanhavam. A garota se virou para , com o cenho franzido, pedindo uma explicação.
“O é um imbecil que se mete onde não deve.” – fez uma careta para o amigo e como pareceu não se convencer, ele deu de ombros. – “Eu pretendia, sei lá... Fazer um pedido oficial de namoro para ela hoje. Meio que comprei um anel de compromisso e tudo.” – ele terminou envergonhado e abriu um sorriso, pronta para dizer que era ótimo, mas acabou sendo interrompida.
“Aparentemente isso assusta as garotas.” – falou como se comentasse a respeito do clima e sentiu vontade de jogar o copo ensaboado que tinha nas mãos, no meio da testa dele.
“Cara!” – repreendeu o amigo e balançou a cabeça, como se pedisse para que ele deixasse para lá. Afinal, ela era a principal culpada de toda aquela situação.
“Ela vai gostar... Na verdade, acho que seria a única coisa que poderia salvar a noite dela.” – a garota sorriu para , tentando passar confiança para ele fazer o que tinha que fazer e transformasse o aniversário da amiga em um momento muito melhor que aquele. No final das contas, talvez ela não precisasse dormir lá.
“O é realmente assustador quando quer.” – falou entrando na cozinha, com uma expressão exausta, seguida por , a garota com quem ele estava e que mantinha um sorriso satisfeito no rosto. – “Expulsou todas as pessoas esquisitas em menos de dez minutos ou sei lá.”
“A prática leva à perfeição.” – ele sorriu de lado, encostando-se ao balcão. Olhou para e arqueou uma sobrancelha. – “Cara, você parece mais acabado que a . Você e a ainda não se acertaram, brigaram de novo ou o quê?”
“Você é tão sutil.” – falou amargamente e sentiu as bochechas vermelhas. Colocou o último copo no escorredor e virou-se para , olhando significativamente para o amigo. Ela daria um jeito de tirar todos da cozinha para que ele ficasse sozinho com . entendeu a mensagem silenciosa da garota e assentiu levemente.
“Acho que nós devíamos comprar um bolo para já que o outro meio que foi devorado.” – ela olhou para todos os amigos, não demorando o olhar em .
“Todo mundo?” – ergueu as sobrancelhas, confuso e cruzou os braços. deu um empurrão leve no braço do amigo e pareceu se tocar. – “Claro, vamos comprar bolo.”
“Quero de chocolate.” – falou totalmente distraída, sem perceber a respeito do que aquilo se tratava e acenou de leve para os amigos quando eles saíram da cozinha às pressas.
estava sentada no balcão de mármore que tinha no meio da cozinha da melhor amiga, encarando os próprios pés e pernas cobertos pela meia-calça preta de fio grosso. e pareciam estar em uma espécie de mundo paralelo chamando alegrilândia ou coisa do tipo, desde que eles tinham chegado do mercado uma hora mais cedo. Logo após cantar parabéns de maneira meio desajeitada para a garota e quase comerem o bolo todo, os amigos resolveram assistir um daqueles filmes idiotas que passavam de madrugada na televisão. Mero pretexto para que os casais se agarrassem no escuro da sala de estar. Menos , que tinha caído no sono assim que deitou a cabeça em uma almofada no chão. e a garota misteriosa que nunca conseguia decorar o nome e e faziam barulhos incômodos, enquanto se beijavam. Aquilo tinha a deixado louca a ponto de ser tão inconfortável que ela teve que tomar alguma atitude e sair da sala, indo parar onde estava, terminando de comer o que sobrara do bolo. Chocolate era um ótimo amigo quando ela precisava não enlouquecer pela vontade de agarrar . Ótimo amigo, mas não substituto, ela pensou amargamente. voltou a colocar o garfo na boca e balançou os pés distraidamente, concentrando-se na mistura do amargo com o doce da torta.
“Você não devia brincar com o garfo desse jeito.” – pulou de susto e virou o rosto para encontrar os olhos de . O garoto estava encostado ao batente da porta, com as mãos nos bolsos e um sorriso de lado. A camisa social branca deixava as formas do corpo dele extremamente aparentes, muito melhor sem o suéter. De uma forma que deixava totalmente sem ar e necessitando desesperadamente de chocolate.
“Eu não estava brincando com o garfo.” – ela falou, sentindo as bochechas arderem pela provocação que ele trazia no olhar. Só porque ela estava lambendo o resto da cobertura que tinha ficado no talher? Homens, ela pensou.
andou até ela, parando em sua frente e mordeu o lábio inferior. Ele a encarava tão intensamente que ela pensou que o garoto pudesse ler seus pensamentos, que pudesse entendê-los, organizá-los. O que era mais incrível ainda, é que nem ela fazia noção do que passava por sua cabeça.
“Desculpa.” – ela falou sem pensar e a palavra pareceu certa. A solução para aquilo tudo seria falar o que lhe passava pela cabeça, sem filtrar o que seu senso de controle achasse o que era apropriado ou não. – “Desculpa por ser ridícula e agir como uma criança assustada, apesar de que eu estou mesmo com medo. Desculpa por não conseguir te falar, por não conseguir expressar. Eu sei o que quero, .” – ela colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha e abaixou os olhos para o bolo. – “E parece tão estúpido me entupir de chocolate, só porque... Não consigo dizer o que eu quero.”
segurou o rosto dela entre as mãos e o levantou, para que os olhares se encontrassem naquele choque desconhecido e tão bem-vindo por ambos. Ele colou a testa na dela e fechou os olhos, segurando os pulsos do garoto, sentindo a respiração lenta dele bater em sua boca. Mordeu o lábio inferior e beijou sua bochecha, depois a ponta de seu nariz, o outro lado de seu rosto e o canto de seus lábios. apertou levemente os pulsos dele e roçou sua boca na dela. Como eles tinham conseguido ficar a noite toda sem aquele contato vicioso que eles necessitavam de forma quase que assustadora e complementar? colocou o corpo entre as pernas da garota e desceu uma das mãos até sua cintura, para puxá-la para mais perto. suspirou contra a boca dele e passou o braço livre pelo pescoço do garoto, afastando um pouco o rosto e beijando seu pescoço demoradamente, inspirando aquele cheiro absurdamente agradável que era próprio dele. passou a ponta do nariz pelo seu maxilar e a garota mordeu levemente a base de seu pescoço, fazendo com que a respiração de se acelerasse. Ele desceu a mão que estava na cintura da garota até sua coxa e mordeu o lóbulo de sua orelha, escorregando os dentes pela ponta da orelha de de uma forma que pareceu mais longa do que realmente tinha sido. apertou sua coxa com mais de força e levantou um pouco o vestido solto que ela usava, aconchegando os dedos longos na parte interna do local. encostou o rosto no ombro dele, respirando aceleradamente contra o pescoço do namorado e desceu mão que segurava o pulso do garoto, por seu pescoço até chegar aos primeiros botões abertos da camisa social, passou a mão por dentro da peça de roupa, sentindo a pele quente dele em contato com a sua que parecia gelada, um choque térmico que fez com que ela se arrepiasse e seu coração batesse tão forte que ela se perguntou se seria possível que ele ouvisse. Passou a mão por toda a extensão de pele dele que conseguiu alcançar, até encontrar os cabelos de sua nuca, puxando-os de forma quase violenta quando ele levou a mão que estava pousada em sua coxa até o começo da virilha. Ele podia deixá-la completamente sem chão, sem ao menos beijá-la. Ela nunca tinha controle nenhum quando se tratava de . A respeito de nada.
“...” – ele murmurou com a voz rouca, fazendo com que os arrepios que passavam pelo corpo da garota se intensificassem. Ela levantou o rosto e viu algo muito além de apenas desejo, luxúria nos olhos azuis. Eles a provocavam, mas também a acolhiam de forma protetora, mostravam depender daquele momento tanto quanto ela. selou seus lábios aos da garota, passando a ponta da língua por eles, fazendo com que controlasse um gemido. As línguas se encontraram em uma mistura de ferocidade e ternura, fazendo com que os dois juntassem ainda mais os corpos, experimentando tudo que era possível, tomando para si e dividindo todas as sensações que os rodeavam, que brincavam com seus corpos, com seus sentidos. mordeu o lábio inferior de , quando os dois se separaram para respirar. Algo que parecia tão irritantemente necessário após alguns minutos em que os dois tinham evitado se soltar, se agarrando um ao outro como garantia de segurança. – “Sabe, eu gosto das nossas brigas. Você definitivamente sabe como se desculpar.”
“Seu ridículo!” – ela o empurrou, gargalhando e voltou a se aproximar, abraçando-a pela cintura de forma carinhosa.
“Desculpa por ter sido tão grosso.” – ele encolheu os ombros, parecendo envergonhado e assentiu. – “É só que não dá para pensar no fato de isso acabar e não ficar meio problemático.”
“Eu prometo sempre ser verdadeira com você e contar todas as minhas inseguranças e medos, de agora em diante.” – ela sorriu infantilmente, estendendo o dedo mindinho para que ele cruzasse e selasse aquela promessa.
“Você é tão diferente. Quer dizer, há um minuto você estava abusando de mim e agora parece uma criança.” – ele soltou uma risada nasalada e cruzou o dedo ao dela.
“Eu estava abusando de você?” – ergueu as sobrancelhas de forma divertida. – “E sua mão na minha coxa foi imaginação?”
“Não gosto de deixar ninguém no vácuo.” – ele encolheu os ombros inocentemente e rolou os olhos, gargalhando. deu um beijo estalado na bochecha da garota e ela o abraçou, afundando seu rosto no pescoço dele. Não existia lugar melhor que aquele. Ela nunca tinha tido a sensação de pertencer a nenhuma outra coisa, como pertencia aos braços de . Ele nunca tinha tido a sensação de depender tão completamente de apenas uma pessoa que não fosse ele, nunca tinha tido a sensação de proteção, de acomodação como sentia quando estava com .
She is the words that I can’t find;
Ela se encolheu debaixo do cobertor, quase encostando os joelhos na barriga, sentindo os pés sem proteção alguma. Devia ter descalçado as meias durante o sono, um leve arrepio passou por seus braços e ela abriu os olhos lentamente. Desde quando estava fazendo tanto frio? Quando tinha ido dormir, tinha colocado um de seus pijamas mais quentes e meias para que não acordasse no meio da noite, tremendo ou coisa do tipo. Pegou o celular no criado-mudo ao lado da cama. Eram seis e cinqüenta, logo o despertador do aparelho, programado para as sete horas, começaria a tocar. Por que ela tinha perdido dez minutos de sono? Todo o tempo em que podia passar dormindo era precioso. Suspirou, empurrando o cobertor colorido para o lado e levantou-se da cama um pouco rápido demais, ficando levemente tonta... O que piorou seu humor consideravelmente.
abraçou o corpo com os braços e foi até as cortinas, com a intenção de abri-las, como fazia em todas as manhãs. Puxou o pano para o lado e colocou as mãos sobre a boca para conter um grito. Os olhos surpresos adquiriram um brilho de felicidade e nunca pareceria que ela tinha acordado de mal-humor. Estava tudo branco lá fora, a neve fofa cobria desde os carros aos galhos das árvores. A época que ela passava o ano todo esperando, finalmente tinha chegado... Aquilo significava que o natal estava próximo, assim como o ano-novo. deu um pulo meio desajeitado, pegou o celular, discou o numero que já tinha memorizado e enquanto escutava os toques enjoados da chamada, puxou a cadeira que tinha perto da escrivaninha para a frente do armário. Era hora de pegar seus enfeites preferidos.
“Oi!” – falou do outro lado da linha com a voz rouca. Era óbvio que ela devia tê-lo acordado.
“Não vou pedir desculpas, uma hora dessas você já deveria estar de pé tomando o café da manhã.” – sorriu de leve e deu um impulso com uma das pernas apoiada na cadeira para subir em cima do móvel.
“Ah, que ótimo ser acordado de forma tão carinhosa! Quase pareceu minha mãe.” – ele resmungou e gargalhou. Nada podia irritá-la naquele momento, naquele dia, naquele período do ano.
“Bom dia, lindo.” – ela falou e soltou um murmúrio de aprovação. – “Agora levanta, abre a persiana e vê o que aconteceu durante a noite.”
“Voltou a soar como minha mãe.” – ele riu e rolou os olhos, abrindo uma das portas de cima do armário. Olhou para a caixa rosa-clara em que guardava seus objetos preferidos e se não tivesse segurando o celular, tinha certeza que teria batido palminhas empolgada. Estava perto do natal, ela podia ser infantil o quanto quisesse.
“Anda logo, .”
“Uau!” – ela escutou a voz de após alguns segundos e subitamente desejou estar ao lado dele. Subitamente desejou que os dois pudessem acordar juntos todas as manhãs, que ela sentisse um dos braços dele por cima de sua cintura e a respiração do garoto bater de forma relaxada em sua nuca, que ela pudesse se virar para ele e sorrir, observando-o dormir. Mais uma vez, ela estava fora do controle, imaginando coisas que não sabia serem possíveis de acontecer, desejando um futuro que ela tinha quase certeza que nunca se concretizaria. – “Linda?”
“Desculpa, eu estava tentando achar uma forma de pegar minha caixa cheia de coisas com uma só mão.” – ela mentiu e balançou a cabeça. Tinha que voltar a realidade, viver o presente.
“É incrível, não é? Como tudo fica coberto e branco e parece fofo e aconchegante.” – ele falou de forma infantil e sorriu, desejando que fosse final de semana e eles pudessem se encontrar exatamente naquele momento. Era engraçado como as sextas-feiras não significavam nada de importante para ela, antes de e passou a ter um relacionamento de amor e ódio com esse dia da semana depois dele. Era o dia em que ela tinha certeza que iria vê-lo, nem que fosse por cinco minutos... E talvez fosse exatamente por aquilo que ele parecia passar se arrastando, mais devagar que o resto da semana.
“Eu queria estar com você agora.” – ela falou e desistiu da caixa, sentando-se na cadeira com as pernas encolhidas.
“Eu penso nisso sempre que acordo.” – ele falou carinhosamente e podia apostar que ele estava sorrindo, de olhos fechados.
“Talvez eu não tenha as aulas dessa tarde.” – deu de ombros, olhando para os próprios pés e mordendo o lábio inferior. Ela tinha planejado aproveitar a tarde livre para estudar, mas que porcaria... Estava nevando, ela não via há quatro dias e sentia falta dele. Apenas uma tarde sem se acabar de estudar, não faria com que ela não fosse aceita em Cambridge. – “Você podia, não sei...”
“Te busco na hora da saída, nós almoçamos e depois passamos a tarde no deque, congelando de frio na praia totalmente coberta de neve.” – ele não estava pedindo, estava afirmando. fazia uma falta que ele não conseguia explicar, mas ele não demonstrava. Talvez por medo. Talvez por não querer pressioná-la a deixar um pouco os estudos de lado. Então, qualquer oportunidade, qualquer leve abertura na rotina programada da namorada, o fazia agir rapidamente e tomar aquele espaço para si.
“Está bem.” – ela sorriu de lado e encolheu os ombros. – “Eu te...” – ela parou repentinamente. O que estava prestes a dizer? Por que aquelas palavras haviam decidido sair de sua boca tão repentinamente? Por alguma razão que ela agradecia, tinha se dado conta antes de completar a frase, coçou a testa nervosamente... Talvez não tivesse percebido nada. Ela esperava que não. – “Te vejo mais tarde.”
“Ah, okey.” – era impressão dela ou ele tinha parecido meio decepcionado? Achou melhor se despedir de uma vez e desligar antes que pudesse ter tempo de fazer alguma besteira. olhou para a madeira branca do armário à sua frente, parecendo assustada consigo mesma e encostou a cabeça nos joelhos. Ela quase tinha acabado de dizer que o amava? Era isso mesmo?
O vento cortava seu rosto violentamente e os flocos de neve faziam com que o frio aumentasse. andava apressadamente pela entrada do colégio, procurando por . As pessoas estavam todas na lanchonete ou na parte fechada do pátio, querendo se proteger do vento forte e de uma possível morte causada por hipotermia. Ela balançou a cabeça, irritada com os próprios pensamentos, precisava se focar em achar uma solução para sua confusão mental. Uma rajada de vento bateu fortemente contra si, levando seus cabelos para todos os lados, mas foi como se ela não tivesse percebido. Sentia-se dormente, como se tivesse acabado de acordar de uma noite mal dormida, como se seu corpo não respondesse aos comandos de seu cérebro, como ela estivesse em um mundo paralelo, viajando no tempo ou coisa do tipo.
A mãe tinha percebido o estado dela, enquanto tomavam café da manhã, mas não conseguiu responder quando ela perguntou o que estava acontecendo. Talvez estivesse em um estado miserável mesmo, já que a mãe tinha oferecido a opção de ficar em casa aquela manhã, ela nunca fazia coisas daquele tipo, se não fosse uma emergência ou estivesse absolutamente impossibilitada, com pneumonia ou coisa do tipo. Bufou irritada, onde estava quando ela precisava? Algumas pessoas acenaram para ela, esperando uma resposta empolgada, já que era sua época preferida do ano, a época em que ela ficava mais gentil e receptiva com todos ao seu redor, mas ela não respondeu a nenhum dos cumprimentos, ignorando devidamente qualquer pessoa que estivesse dividindo aquele espaço com ela. Ficou nas pontas dos pés e viu conversando com uma garota loira e alta, alguma amiga dela de que não gostava muito. Quase correu até onde a amiga estava e a puxou pelo braço para um canto afastado, assim que a alcançou.
“Você podia ter ao menos falado com a Ellen.” – comentou parecendo chocada com a atitude de .
“Eu o amo.” – falou em voz alta, deixando com que o choque tomasse conta de seu corpo por inteiro. franziu o cenho, totalmente confusa. – “O .”
“Oh!” - uma expressão de surpresa deu lugar a confusão no rosto da garota, logo depois ela pareceu pensativa e sorriu. – “Você o ama.”
“É.” – balançou a cabeça fervorosamente e desapertou o cachecol de seu pescoço, aquele pedaço de pano parecia a estar sufocando. Ou talvez fosse outra coisa.
“Isso é bom, não é?” – ergueu as sobrancelhas de forma desconfiada, mas o sorriso não desapareceu de seus lábios.
“Não sei. É?” – passou uma das mãos pelos cabelos, demonstrando sua ansiedade incontrolável.
“Okey, primeiro, respira.” – colocou as mãos nos ombros da amiga e fez o que ela tinha mandado. As duas ficaram em silêncio por algum tempo, até fechar os olhos e sorrir de forma doce.
“Eu quase disse essa manhã que eu o amava, mas... E se ele não sentir o mesmo?” – abriu os olhos e por um momento, pareceu que ia chorar, mas logo se recuperou. – “Estou sendo muito dramática? Quer dizer, eu não sei como é... Nunca senti essas coisas, não sei como lidar com esses sentimentos, com essas situações.”
“Você não está sendo dramática.” – balançou a cabeça negativamente e encolheu os ombros. – “Você só vai saber quando falar.”
“Ficou louca?” – riu meio histericamente e de repente sua respiração voltou a acelerar. – “Não quero dar uma de Marissa, sabe? E receber um ‘obrigado’ como resposta... Apesar de que depois o Ryan fez uma coisa realmente interessante.”
“, acorda.” – riu e estralou o dedo. – “É a vida real, está bem? E por mais que nós sempre baseamos as coisas que acontecem com a gente nos seriados que vemos, a realidade é um pouco diferente.”
“A realidade pode ser diferente de uma forma boa?” – mordeu o lábio inferior, totalmente insegura. Era esquisito para ver a melhor amiga daquela forma, ela era sempre tão segura de tudo, sempre no controle de todas as situações, de todos os sentimentos, ela decidia o que sentir, como sentir e quando sentir. sempre tinha sido daquele jeito desde que se entendia por gente. A única coisa que ela podia fazer pela amiga naquele momento, era demonstrar seu apoio e desejar que sentisse o mesmo. O que a propósito, ela tinha uma leve desconfiança de que ele sentia, talvez até com mais intensidade.
“Lembra quando nós tínhamos uns catorze anos e ficávamos imaginando como seria a primeira vez que um cara dissesse as três palavras mágicas?” – perguntou e assentiu.
– “A realidade pode ser diferente de uma forma maravilhosa.” – sorriu levemente e afastou a franja da testa.
Alguma coisa lhe dizia que já tinha usado as três palavras mágicas com . E bom, ela realmente esperava que as dissesse antes que aquele tipo de surto a tomasse com freqüência.
Uma bola de neve acertou as costas de e gargalhou alto, sendo seguido pelos outros, assim que o amigo virou o rosto para , fingindo indignação. Ela deu de ombros e se escondeu atrás de , mordendo o lábio inferior quando se abaixou para juntar neve suficiente para uma bola tamanho gigante.
“Desculpa, linda, mas eu não tenho nada a ver com isso.” – saiu da frente dela, rindo, enquanto sorria de lado, a encarando de forma maníaca.
“São em momentos como esses que eu me pergunto o porquê de namorar com você.” – balançou a cabeça e fechou os olhos com força, esperando o ataque de , mas tudo que escutou foram gritos de . Ela abriu os olhos assustada e viu a amiga e caídos no chão, de forma desajeitada. Qual era o problema com eles, afinal? Sentiu algo bater em seu braço esquerdo e se virou para que arqueou uma sobrancelha, sorriu levemente, correu até ela e a abraçou pelos ombros. rolou os olhos e observou brigar com , que tentava não rir.
O que era para ser uma tarde calma com o namorado, tinha acabado naquilo. Todos tinham almoçado juntos e ido para o deque, observar a praia coberta pelo tapete branco que a neve tinha formado. Era o meio da tarde, quando os garotos decidiram fazer uma guerra de bolas de neve para espantar o frio, sendo acompanhados por e minutos depois. virou o rosto para onde estava conversando com . Os dois gargalhavam e ela sentiu seu estômago dar voltas, ela amava a gargalhada de . Como os olhos dele brilhavam de uma forma especial, como ele balançava a cabeça logo depois e terminava com um sorriso leve. Por falar em amor, bom... Ela meio que estava agradecida por não ter tido a oportunidade de ficar totalmente sozinha com ele, já que o fato de quase ter dito as três palavras a assustavam de uma forma aterrorizante. Não era como se ela não quisesse falar, era mais como não soubesse como ou a resposta que teria.
“Sabe, eu gosto de você.” – falou depois de algum tempo, ainda abraçado a ela. riu e balançou a cabeça.
“Eu também gosto de você, .”
“Quer dizer, eu nunca vi o desse jeito.” – sorriu levemente. – “Ele nunca gostou realmente de alguém e tudo, sempre foi meio cachorro com as garotas, nunca se importou realmente em cuidar de ninguém e... Se ele souber dessa conversa, ele me mata, mas, , você faz dele um cara melhor.”
“Ele me faz uma pessoa melhor também.” – assentiu e voltou sua atenção para . – “Ele me fez descobrir coisas a meu respeito, me fez... Não sei se posso explicar.”
“Você sabe que deve aproveitar, não é?” – a soltou do abraço, virando-se para ela. – “Sei que esse negócio todo de Cambridge preocupa os dois, mas vocês não podem ficar pensando no que vai acontecer daqui a sete meses ainda.”
“Por mais que seja preciso?” – ergueu as sobrancelhas, refletindo a respeito das palavras do amigo. Refletindo a respeito dos próprios medos, das próprias inseguranças, da própria dor que sofria antecipadamente toda vez que se pegava pensando naquela situação.
“Uma hora vai ser preciso.” – deu de ombros. – “Mas não é agora.”
“Estou com ciúme.” – falou, enquanto caminhava até os dois de braços cruzados e com uma expressão fingida de raiva. e gargalharam.
“Pode deixar, lindo, se for para te trair, não vai ser com um dos seus melhores amigos.” – sorriu de lado, abraçando o namorado pela cintura. – “E não vou te deixar sabendo também.”
“Outch.” – gargalhou alto e arqueou uma sobrancelha, segurando o sorriso. – “Você encontrou alguém a altura, cara.”
“É, eu sei.” – assentiu e passou o braço pelos ombros de , apertando-a contra si. A garota riu e ficou na ponta dos pés, dando um selinho demorado nele, notando sorrir contra seus lábios. Mais uma vez, ela quase sentiu as três palavras lutarem desesperadamente para sair de sua boca. segurou o rosto dela entre as mãos e os dois ficaram se encarando, esquecendo de onde estavam, as pessoas que estavam ao seu redor, qualquer coisa que pudesse existir além dos dois. Já era quase automático, como um daqueles vícios que não têm cura, por mais que se lute contra ele, por mais que se tente achar uma alternativa em substituição. Nada era como a sensação que tomava conta dos dois sempre que se olhavam e sabiam, de uma forma quase silenciosa, que um era do outro, não importando o que acontecesse.
“, eu...” – começou, mas foi calada com um beijo. Talvez ele soubesse o que ela estava prestes a falar e não soubesse como lidar. Ou talvez ele simplesmente sentisse que ela ainda não estava completamente preparada para falar, talvez ele a conhecesse muito melhor do que ela sequer imaginava. apertou ainda mais o abraço e depois de separar os lábios do dela, beijou sua testa carinhosamente. Momentos como aquele, eram o que a faziam acreditar que ele nunca a machucaria, de qualquer forma.
“ e .” – gritou perto das escadas onde todos os outros estavam, chamando os dois. Eles se entreolharam, sorriram um para o outro, entrelaçaram as mãos enluvadas e foram até os amigos.
“ tem uma noticia importante.” – rolou os olhos por causa do suspense que o amigo estava fazendo e abraçou que já parecia tê-lo desculpado pela queda.
“É importante.” – um sorriso tomou o canto dos lábios de e ele ficou em silêncio por alguns segundos, com a intenção de irritar os amigos.
“Nós não temos a vida toda, .” – falou, enquanto se sentava ao lado dele nos batentes da escada.
“Eu sei, só gosto de ver vocês irritados.” – o garoto deu de ombros e piscou para os amigos.
– “Meus pais vão para Paris no ano novo, então a festa vai ser na minha casa de praia.”
“Seus pais têm uma casa de praia?” – perguntou parecendo muito impressionada e balançou a cabeça.
“É só uma casa de praia.” – ergueu as sobrancelhas, como se aquilo não fosse nada de mais.
“Aposto que não é uma casa de praia qualquer.” – completou, parecendo tão chocada quanto a amiga.
“Se vocês continuarem me encarando assim, vou desistir do convite.”
“Já falou com seus pais?” – falou, rindo da surpresa das garotas. Depois de anos de amizade, ele já estava acostumado ao fato de que era extremamente rico e tinha casas de praia, não só em Brighton. Pelo menos, os pais dele tinham.
“Eles já me deram as chaves.” – deu de ombros e começou a cantar em um ataque de empolgação repentina. Todos olharam para ele e o garoto sorriu, levemente envergonhado.
“É festa de ano novo, cara.”
“Uma festa de gente grande.” – falou em um tom divertido, deu um tapa em seu braço e todos riram. sentiu beijar o topo de sua cabeça e ergueu seu rosto para que pudesse encontrar os olhos , sorriu para ele e assentiu quase imperceptivelmente. Ela não precisava pensar nos problemas que estavam por vir, não era? No fim das contas, estava certo, a hora de se preocupar em achar soluções para o que aconteceria, ainda não tinha chegado. A garota ficou nas pontas dos pés e deu um beijo demorado no rosto do namorado, olhou para os amigos que já começavam a fazer planos para a viagem e concluiu que nada poderia fazer com que ela se sentisse mal... Não era por causa da neve, não era por causa do natal ou ano novo, ou qualquer outra coisa. Era porque ela nunca tinha se sentindo tão completa em relação a tudo: tinha os melhores amigos e estava completamente apaixonada, muito melhor... Ela estava amando.
Uma canção antiga de natal saía dos alto-falantes da enorme loja de departamento em que estava com os amigos. acompanhava a música de forma empolgada, enquanto e tinham uma discussão a respeito de qual era o melhor super-herói, estava no meio de um discurso ardoroso em defesa de Batman e como ele era ‘o cara’, especialmente por conseguir fazer qualquer tipo de coisa sem poderes. rolou os olhos e se perguntou o motivo de ter chamado os garotos para ajudá-lo. Virou-se para com a esperança de que pelo menos ele estivesse disposto a lhe escutar, mas o outro amigo parecia em uma espécie de transe olhando para aquelas miniaturas absurdamente caras dos personagens de Star Wars.
Como eles tinham ido parar na parte de brinquedos mesmo? Nos primeiros quinze minutos tinha sido o máximo, mas depois lembrou que estava ali por um motivo realmente sério.
“Cara, vocês podiam me dar um desses.” – falou de forma idiota e os outros se viraram para ele. – “Sério, não quero um presente de cada um... Juntem dinheiro e me dêem um desses.”
“Será que nós podemos nos concentrar ao que viemos fazer aqui?” – perguntou de forma irritada e os amigos finalmente pareceram notar sua presença.
“Não precisa ficar todo sentimental.” – riu, sendo acompanhado pelos amigos e deu de ombros. Era melhor se preocupar em fazer o que tinha planejado antes que ficasse tarde demais, nem que precisasse ser sozinho. Deu as costas para os amigos, saindo da seção de brinquedos, tomando cuidado para não tropeçar nas crianças barulhentas que rodeavam o lugar por todos os lados. Sentiu algo bater com certa força em sua canela, quase soltou um palavrão e olhou para baixo, encontrando um garoto loiro em uma espécie de moto automática. Ele sorriu para si mesmo, desejando ter tido aqueles brinquedos ultra tecnológicos em sua época. Franziu o cenho, quando a criança fez uma careta para ele e uma memória pareceu surgir a sua cabeça lentamente.
“Você continua sendo um babaca.” – o menino falou de forma mal-humorada e balançou a cabeça, sorrindo de lado. Pouco se importava com a falta de educação do pirralho mimado, ele lhe trazia boas lembranças. Era o mesmo menino para quem tinha pagado um sorvete em troca de alguns poucos minutos com sua bola para que pudesse falar com , meses atrás na praia. Parecia que tinha sido um dia antes e ao mesmo tempo parecia que fazia tanto tempo. Se ele soubesse metade das coisas que iriam acontecer, metade das coisas que sentiria, teria se preparado melhor. Passou a mão pelos cabelos, saindo da frente do garoto para que ele pudesse passar, sem atropelá-lo novamente e sentiu uma espécie de arrepio passar por toda sua coluna. Era aquela sensação estranha que tomava conta dele toda vez que pensava na namorada. No jeito como gostava quando ela se aconchegava aos seus braços, ou gargalhava das piadas estúpidas deles, ou mordia sua bochecha de forma infantil toda vez que ele roubava alguma coisa que ela estava comendo. o fazia se sentir um daqueles caras de quem ele costumava rir e tirar sarro, um daqueles caras totalmente dependentes das namoradas loucas por atenção e carentes. O melhor de tudo, era que não era controladora, ciumenta ou coisas desse tipo. Ela lhe dava espaço o suficiente para que ele pudesse respirar, sair com os amigos, para que ele pudesse ter o tempo dele, por mais que nos últimos meses, ele preferia passar todo e qualquer tipo de tempo ao lado dela.
“Cara.” – chamou, colocando a mão no ombro direito dele. – “Desculpa, nós viemos te ajudar e é isso que vamos fazer.”
“Eu meio que surtei.” – deu de ombros e olhou para os três garotos a sua frente. – “É a primeira vez que eu faço isso.”
“Não é tão difícil assim.” – afirmou, ele já estava acostumado a comprar presentes de natal para . – “Mas é a primeira vez que eu faço oficialmente.”
“É a primeira vez que eu faço de todas as formas.” – assentiu, voltando a passar a mão pelos cabelos em sinal de nervosismo.
“Garotas gostam de jóias, bichos de pelúcia e Kelly Clarkson.” – falou, enquanto eles saíam da seção infantil e se encaminhavam até a parte mais adulta da loja.
“Eu gosto de Kelly Clarkson e bichos de pelúcia.” – falou de um jeito ofendido e os amigos gargalharam.
“Por isso mesmo que se eu não visse você ficando com garotas, ia achar que você é uma delas.” – falou em tom brincalhão e deu um tapa forte em sua nuca, sendo seguido por reclamações de falando que o amigo precisava relaxar.
“Vocês estão perdendo o foco de novo.” – puxou os amigos pelos braços com a ajuda de , enquanto eles ainda discutiam de uma forma engraçada até chegar à ala de jóias do local. Sem perceber, ele tinha usado uma das frases que mais falava, era engraçado como você podia pegar manias das pessoas se passasse muito tempo com elas. Talvez fosse isso o que quisessem dizer com todo aquela conversa de fazer parte um do outro. Ou talvez não.
“Uau, uma jóia.” – assentiu com os braços cruzados. – “Está tão sério assim?”
“Mais do que eu posso explicar.” – encolheu os ombros, parecendo envergonhado.
“Uma aliança de compromisso, então.” – sugeriu, indo até o balcão envidraçado que guardava todos os anéis.
“Não, o deu isso para a no mês passado, parece uma imitação.” – fez uma careta e se virou para , esperando o conselho do amigo. Ele era o que mais entendia de garotas e mulheres em geral, apesar de nunca ter um relacionamento sério com ninguém. Ele dizia ser fiel aos amigos e a própria sanidade, as mesmas palavras que usava antes de bagunçar sua vida de adolescente solteiro convicto.
“O quão sério é isso, ?” – perguntou com uma expressão pensativa.
“Muito, muito mesmo.” – ele respondeu, sentindo-se nervoso pelos amigos o encararem de forma curiosa, pedindo que ele fosse mais especifico. – “Do tipo, ahn... Do tipo amor.” – ele quase sussurrou a última parte e os outros assentiram, sem parecerem chocados, surpresos ou nada do tipo. – “Vocês já sabiam?”
“Desde que você a levou para sair com a gente pela primeira vez.” – deu de ombros, como se não fosse nada de muito importante. – “Você nunca fez questão de que nós virássemos amigos de nenhuma garota, elas que se sentiam mal e tomavam a iniciativa.”
“Mas ela vai para Cambridge no próximo ano.” – falou e recebeu um olhar mortal de . – “Desculpa, mas é realidade.” – ele suspirou, realmente arrependido de ter mencionado o fato.
“Não, tudo bem e...” – se interrompeu e sorriu de forma infantil, como ele fazia todas as vezes em que tinha alguma idéia para uma nova música que estava compondo. – “Ela precisa de uma coisa para levar com ela. Algo que a faça lembrar de mim.”
“Um colar com uma enorme inicial do seu nome.” – falou entre risadas e os garotos o acompanharam.
“Não, idiota.” – foi até um mostrador em que várias correntes de prata estavam expostas, uma delas lhe chamou atenção em especial. Uma corrente fina, com um brilho diferente e um pingente em forma de uma pequena estrela. Ele sabia que amava estrelas e podia ter um outro significado. O significado que ele só dividiria com ela e que os amigos não precisavam saber. – “A com estrela.” – ele apontou, colocando o dedo no vidro e os amigos soltaram murmúrios aprovadores. Era ridículo pensar que eles dividiriam o mesmo céu quando ela fosse embora e que isso os faria se sentirem próximos de alguma forma? Era ridículo pensar que as mesmas estrelas que ele veria, eram as que ela veria da janela de seu quarto em Cambridge e que a corrente poderia carregar aquele significado? Ele não fazia ideia, mas não se sentia estúpido por ter aquele tipo de pensamento. Quando se tratava de , ele era ridiculamente ligado a sensações e significados novos e não se importava se soasse bobo e clichê.
observou a garota, enquanto ela conversava animadamente com e gargalhava, mexendo em utensílios esquisitos da cozinha, alguns dos quais ele sabia utilizar, mas não fazia ideia de como se chamavam. Ela fez uma careta e ele sorriu levemente. Era incrível como ela era absolutamente espontânea, dava para perceber o quanto a garota se sentia relaxada quando estava ao lado dos amigos. Ela virou o rosto, sorriu de forma engraçada para ele e voltou sua atenção ao que estava fazendo, com a expressão concentrada. sentiu seu estômago afundar, como se ele estivesse no começo da descida de uma daquelas montanhas-russas que são consideradas as mais perigosas e indicadas para quem gosta de se aventurar, uma descrição meio parecida com o que era amor para ele, dando aquela sensação de quando se tenta controlar os sentidos, os rompantes, no momento em que o carrinho começa a se inclinar, mas acaba sendo impossível por elas acabarem acontecendo de forma automática, quando a pessoa dá por si já está segurando na barra de proteção com muita força, de olhos apertadamente fechados e sentindo o vento bater no rosto com força. era sua montanha-russa particular, ele concluiu rindo de seus pensamentos, logo em seguida.
“Quando você vai dar o presente?” – perguntou, tocando no ombro do amigo e sentando ao lado dele. Era a noite de natal, para ser mais preciso o começo da madrugada. Todos tinham ceado com suas respectivas famílias e depois de alguns minutos passados da meia-noite, o grupo se encontrou na casa de , onde seus pais davam uma daquelas festas sensacionais e cheias de convidados que pareciam estar muito mais interessados nas próprias conversas do que no que o grupo de jovens estava fazendo na cozinha. O que eles agradeciam intensamente, principalmente , pelo fato de os pais serem tão relaxados e receptíveis a visitas.
Eles tinham ficado na parte fechada do quintal, sentados em uma das mesas e falando besteira, até as meninas se animarem para fazer um bolo. A idéia tinha parecido meio esquisita a principio, mas eles acabaram por se animar também, já que pretendiam ver o sol nascer e trocar presentes ao longo daquela madrugada.
“Não sei, quando tiver a oportunidade de ficar sozinho com ela.” – deu de ombros e escutou e entrarem no cômodo no meio de uma discussão sobre o que era mais inexplicável a respeito da neve.
“Está congelando lá fora.” – falou se jogando em uma das cadeiras que rodeavam a mesa que tinha na cozinha do amigo.
“Só um pouco.” – eles escutaram a voz manhosa de , com o dedo dentro da tigela em que as meninas tinham batido a massa do bolo, enquanto tentava brigar com ele, mas parecia não conseguir controlar as risadas.
“Seu idiota, não coloca o dedo sujo aí.” – gritou, procurando alguma coisa para jogar no amigo. – “Nós vamos comer isso.”
“Fresco.” – rolou os olhos para o amigo e os outros riram. – “Sério, , depois que vocês começaram a namorar, ele ficou todo sensível.”
“Eu só ensinei boas maneiras a ele.” – sorriu de lado, como sempre fazia quando tinha alguma resposta desafiadora na ponta da língua, daquele jeito irônico que encantava . Como alguém com uma expressão e um jeito tão delicados, era capaz de responder as pessoas daquela forma?
“, controle sua namorada.” – olhou para ele de forma cômica, se fazendo de ofendido e todos gargalharam.
“Coitado dele!”- abraçou o namorado pela cintura e ele a apertou de volta, sorrindo satisfeito. – “Você ainda vai aprender a não me fazer passar vergonha, não é? Coloque na sua lista de resoluções para o próximo ano.”
“Cara, qual o problema com elas hoje?” – perguntou em um tom zombeteiro e todos voltaram a rir, enquanto olhava chocado para até ela lhe dar um selinho demorado.
“É natal.” – deu de ombros, como se aquilo explicasse tudo e os garotos olharam confusos uns para os outros, com o cenho franzido. rolou os olhos, derrubou a massa do bolo em uma forma, abriu o forno e colocou-a lá dentro, logo em seguida olhando relógio para marcar o tempo.
“Você quer que eu dê um jeito de sair com todo mundo daqui?” – perguntou em voz baixa para , enquanto estava distraída parecendo tomar coragem para lavar a louça, sem contar com a ajuda de que parecia muito concentrada em beijar . escutou e se virou para , animado.
“Não sei, vai parecer forçado.” – encolheu os ombros e sentiu seu coração acelerar significativamente. Ele pretendia fazer muito mais do que dar o presente a . Ele pretendia falar o que realmente sentia, era assustador. A primeira vez que ele seria capaz de fazer aquele tipo de coisa. A primeira vez que ele realmente sentia aquele tipo de coisa.
“Você quem sabe.” – pegou a taça de vinho, tomando um gole. – “Ei, vocês dois, arranjem um quarto.”
“Quanta amargura, .” – respondeu de volta, rindo e seguindo com até a porta de vidro que dava para a parte fechada do quintal.
“Já dei jeito em dois.”
“Nós podemos desaparecer magicamente.” – sorriu levemente e levantou-se com , saindo pela porta que dava para o corredor que ia até a sala de jantar.
passou a mão pelos cabelos, visivelmente nervoso e depois colocou a mão por cima do bolso da calça jeans, sentindo os contornos da caixinha de veludo que tinha guardado ali mais cedo, logo que se vestira para o jantar na casa do tio.
parecia totalmente dispersa ao que estava acontecendo ao seu redor, concentrada na louça em que lavava, cantando alguma música dos Beatles bem baixinho, que ele não conseguiu reconhecer por estar tentando controlar toda a ansiedade daquele momento. Se o perguntassem onde ele morava, ele não saberia dar o endereço da casa em que vivia desde os cinco anos, com a precisão de sempre. Continuou sentado, sentindo-se covarde por não ter forças para levantar e ir até a namorada. Por Deus, ela era sua namorada, ele a amava e queria que ela soubesse. Qual era o problema naquilo tudo? Por que ele estava fazendo parecer uma coisa tão grande? Bom, porque talvez fosse, ele concluiu. Ele a amava, era a primeira vez em seus dezoito anos que ele podia dizer sentir aquilo em relação a uma garota. Era a primeira vez que ele não tinha aquela sensação de independência. Era a primeira vez que ele sentia que seu tempo não estava sendo desperdiçado. Era a primeira vez que ele se sentia forte o bastante para lutar por algo, mesmo sem saber se os resultados seriam positivos. Era a primeira vez que ele se sentia realmente responsável pelo bem de alguém, pelo bem dele mesmo. Então, porque ele não conseguia dizer tudo aquilo em voz alta?
colocou o último talher no escorredor de louça, enxugou as mãos em um pano e se virou, parecendo surpresa pela ausência de todos, exceto de . Ela sorriu e foi até ele, caminhando lentamente. Cada passo dela, fazia com que o coração dele se acelerasse mais. A garota chegou ao lado dele e sentou-se em seu colo, passando um dos braços por seu pescoço.
a abraçou pela cintura e encostou o queixo no ombro dela, inspirando toda aquela mistura de lavanda e camomila, acalmando-se momentaneamente. Ela tinha aquele efeito louco e inexplicável sobre ele. Então, por que se sentir inseguro, nervoso, ansioso? Ele tinha tudo que queria personalizado em uma garota de dezessete anos, que estava sentada em seu colo e passeava uma das mãos por seus cabelos, em um cafuné carinhoso. Ele tinha tudo.
“Eu te amo.” – ele murmurou, mas alto e claro o suficiente para que ela escutasse as palavras. Afastou o rosto do pescoço dela, para ver a expressão de . Ela o encarava com os olhos surpresos e um sorriso tomava conta de seus lábios de uma forma tão arrebatadora que ele quis repetir as três palavras. – “Eu te amo, . Pode parecer prematuro, nós só estamos juntos há quase quatro meses, mas não sei... Acho que não existe uma contagem de tempo para sentir isso, não existem regras e tudo, como eu sempre tinha pensado antes. E tudo bem, se você não sentir o mesmo, eu só queria que você soubesse que eu...” – ele foi interrompido pelos lábios da namorada em um beijo terno. Talvez o beijo mais terno que os dois já tinham trocado durante aqueles meses. Pareceu demorar uma eternidade e um milésimo de segundo, ao mesmo tempo. Os corações acelerados, quase batendo no mesmo compasso. As mãos trêmulas dela emoldurando o rosto do garoto. As mãos trêmulas dele seguras na nuca da garota, entrelaçadas em seus cabelos. O sentimento de imensidão completa, o sentimento de algo totalmente diferente da solidão tomando corpo, mente e alma dos dois.
“Eu te amo, .” – ela riu, após se afastar um pouco do namorado, colando a testa na dele. Os olhos dela pareciam marejados, ou talvez fosse apenas um brilho diferente que tomava conta deles. – “Nunca pareceu tão fácil dizer nada, como: eu te amo.”
“Nunca pareceu tão fácil dizer nada como é para você.” – ele passou a mão pelo rosto dela, em um carinho delicado. Ela continuou a sorrir e se não estivesse tão presa aos olhos dele, teria afundado o rosto em seu pescoço. Eles finalmente pareciam se completar de toda e qualquer forma.
“Eu tenho uma coisa para você.” – ele se afastou mais um pouco, mexendo em seu bolso e pegando a caixinha azul. mordeu o lábio inferior, curiosa, e ele sorriu. Abriu-a e mostrou a corrente delicada que tinha guardada ali dentro. – “Eu nunca comprei presente de natal para nenhuma garota, quer dizer... Você tem o poder de me fazer e sentir coisas novas o tempo todo, então não sei se...” – ele deu de ombros, totalmente envergonhado.
“É perfeito.” – ela assentiu e deu um beijo na bochecha de . – “Não se preocupe, você anda se saindo muito bem.” – ela sorriu ironicamente, dando lugar à zombeteira de novo e balançou a cabeça negativamente, rindo.
“A estrela tem um significado.” – ele suspirou, parecendo não conseguir controlar o medo que aqueles pensamentos lhe traziam. Não era hora de falar a respeito daquilo, pelo menos, não depois dos dois terem sido tão claros quanto ao que sentiam. Não depois de toda aquela felicidade que os tinha inundado, que ainda tomava conta dos dois. Foi a vez de balançar a cabeça negativamente parecendo ler seus pensamentos. Pegou a corrente e entregou a ele, para que a prendesse em seu pescoço.
“Eu não vou tirar, não importa o que aconteça.” – ela colocou as duas mãos no rosto de , depois de ele prender a corrente devidamente em seu pescoço, e voltou a colar a testa na dele. – “Não importa onde eu esteja.” – sussurrou a última parte e sentiu o namorado se afastar um pouco, beijar o canto de seus lábios e afundar o rosto em seu pescoço. Não importava o que eles fariam de um ano para frente, não importava onde eles estariam. O que importava era que sempre iriam carregar aquele momento para qualquer lugar que fossem, não importava o que acontecesse.
I wanna live a life from a new perspective, you come along because I love your face;
Era exatamente sete e meia quando a campainha tocou, fazendo com que ela desejasse que ele não fosse tão pontual. Fechou os olhos, apertando-os, sentindo seu coração praticamente bater em sua garganta e levantou rapidamente do sofá, ignorando o olhar desconfiado do pai. Encolheu os ombros e andou apressadamente, quase esbarrando com a mãe no hall de entrada. Semicerrou os olhos, se perguntando o porquê de ela parecer extremamente ansiosa e fez um sinal com a cabeça, pedindo para que a mãe fosse para a sala em que estava minutos atrás. Emma suspirou, parecendo uma adolescente, parecendo muito com a própria e continuou o caminho para o outro cômodo da casa. abaixou a cabeça e inclinou o corpo, apoiando as mãos nos joelhos levemente dobrados e tentando manter sua respiração coordenada. Ela não ia dar para trás como da outra vez, ela faria com que conhecesse seus pais, ela o deixaria participar da parte mais importante de sua vida. Passou a mão pelo rosto e foi até a porta, virando a chave e girando a maçaneta para que ela se abrisse. Inspirou profundamente e prendeu o ar por algum tempo, completamente perdida. estava absurdamente bonito com uma blusa que aparentava ser social pela gola, suéter preto, calça preta e o par de adidas perfeitamente brancos. A única coisa desarrumada em todo aquele visual, era seu cabelo, mas aquilo fazia com que ele parecesse ainda mais agradável aos olhos.
“Pensei que não tinha ninguém em casa.” – ele murmurou, como se estivesse com medo que alguém os escutasse. – “Não sei o que...”
“Não faça brincadeiras das quais vai se arrepender depois, .” – ergueu as sobrancelhas, deixando uma feição irritada tomar conta de seu rosto por adivinhar o final daquela frase. Com certeza, ele faria alguma piada idiota a respeito de ela ter desistido da outra vez.
“Desculpe.” – ele encolheu os ombros, sorrindo de lado e parecendo mais confortável. Se aproximou, passando uma das mãos pelos cabelos totalmente bagunçados da namorada. – “O que você estava fazendo? Parece que nós acabamos de nos agarrar.”
“Ah, ótimo começo!” – a voz de Christopher foi escutada e voltou a apertar os olhos com força, como minutos atrás. Por que tinha de falar aquele tipo de coisa para tentar fazê-la rir? E por que o pai não podia simplesmente ter esperado, sentado no sofá como tinham combinado mais de cinco vezes?
“Ah, eu...” – afastou a mão e o resto do corpo de , parecendo totalmente constrangido. Coçou a nuca e tentou um sorriso simpático.
“, esse é o meu pai.” – rolou os olhos, resolvendo tomar o controle da situação. Ela era a única que podia quebrar aquele clima estranho. – “Pai, esse é o .”
“Prazer.” – Christopher estendeu a mão direita, esperando que a apertasse. O garoto se aproximou rapidamente e a apertou, decidindo que era melhor ao menos tentar relaxar. Quer dizer, eram os pais de . Ela era uma garota legal, então, era provável que seus pais fossem legais, certo?
“Christopher, você não devia fazer esse tipo de coisa.” – Emma falou de forma ameaçadora, franzindo o cenho. De repente, sentiu a sensação engraçada de estar vendo vinte e tantos anos mais velha. – “Olá, querido! É tão bom finalmente conhecê-lo.”
“O prazer é todo meu!” – se aproximou da mulher que parecia muito com para apertar sua mão, mas foi recebido com um abraço maternal que o deixou envergonhado e confortável ao mesmo tempo.
“Nunca me senti tão esquisita.” – murmurou para si mesma, chamando atenção de todos e deu de ombros, pegando a mão de e o levando até a sala, sendo seguida pelos pais.
“O jantar vai demorar um pouco ainda.” – Emma falou, se sentando em uma das poltronas que tinham de frente para o sofá enorme que se encontrava em um dos cantos da enorme sala. vivia impressionada com o tanto de dinheiro que tinha, mas ela parecia não ficar muito atrás. De repente, se sentiu curioso a respeito do que os pais dela faziam.
“Para chegar.” – completou, com um sorriso sarcástico, fazendo o pai gargalhar discretamente e a mãe lhe encarar em uma perfeita expressão de choque. – “Mãe, eu já contei que você não sabe cozinhar e nós vivemos graças à maravilhosa comida industrializada.”
“E ao serviço de entrega.” – Christopher assentiu e encarou , com um sorriso amigável. – “É bom você saber que a habilidade da na cozinha é igual a da mãe.”
“Não é como se nós fossemos casar, pai.” – ela bufou, mas suas bochechas ficaram instantaneamente vermelhas. Ela, com toda a certeza, já havia pensado naquilo.
“Eu já estou acostumado, de qualquer forma.” – deu de ombros e sorriu. – “Meus pais vivem trabalhando e ocupados e quase não têm tempo para essas coisas domésticas, mas nós nos viramos bem.”
“Eu também sou muito ocupada, vocês sabem.” – Emma achou a hora perfeita para se defender e sorriu para o marido, da mesma forma que tinha feito segundos atrás. Era assustador como as duas se pareciam.
“Então, , quais são seus planos para o próximo ano?” – Christopher perguntou de forma séria, fazendo com que ele se assustasse.
“Pai!” – olhou para o pai de forma repreensiva. Aquele não era o tipo de pergunta a se fazer.
“Bom, eu... Eu acho que vou para Londres.” – respondeu aparentemente desconfortável por tocar no assunto do qual ele e a namorada tentavam fugir.
“Londres, querido?” – Emma falou em um tom que pedia mais detalhes.
“Eu tenho uma banda e o pai de um amigo meu conhece um produtor que ficou interessado em uma demo que mandamos. Nós vamos até lá para ver o que ele pode fazer pela gente.” – deu de ombros como se não fosse grande coisa, mas um sorriso orgulhoso tomou conta de seu rosto de forma quase imperceptível. O mesmo sorriso que passou pelos lábios de . Existia um problema em ele ir para Londres e ela para Cambridge, mas aquele fato não a impedia de sentir orgulho pelo futuro brilhante que esperava o garoto.
“É interessante!” – Christopher assentiu de forma aprovadora e sorriu de leve para o pai, agradecendo por ele não ser o tipo de pessoa mais velha que não acreditava na possibilidade de que jovens eram capazes de realizar seus sonhos, mesmo de forma diferente da que a maioria dos pais planeja. – “Eu sempre quis tocar algum violão, mas nunca deu certo. Por mais irônico que pareça, a pouca coordenação da é uma herança minha.”
“Se o senhor quiser, eu posso ensinar algumas coisas fáceis.” – falou de forma amigável, parecendo mais relaxado e confortável pela aprovação que havia recebido do pai de .
“Isso seria ótimo, nós temos um violão encostado no porão há anos.” – Christopher se levantou com um sorriso empolgado e saiu da sala apressadamente para pegar o instrumento. sorriu muito satisfeita pelo bom comportamento de seu pai e virou a atenção para a mãe, que se encontrava com o cenho franzindo, mordendo o lábio inferior em uma expressão pensativa.
“Me desculpe, mas...” – Emma balançou a cabeça, mostrando toda sua confusão. – “Sei que não devo me meter, mas vocês já conversaram a respeito disso?”
“Disso o quê, mãe?” – imitou a expressão confusa da mãe, se fazendo de desentendida, por mais que soubesse ao que ela se referia.
“Vocês dois em cidades diferentes e relativamente longe.” – uma expressão de preocupação tomou o rosto da mulher daquele jeito maternal, daquele jeito que só as mães eram capazes de expressar suas emoções pelo olhar e rosto. abriu a boca para responder, mas de repente pareceu impossibilitado de falar. Eles ainda não tinham achado solução para aquele problema, certo? Escutou murmurar qualquer coisa para a mãe e desejou muito que não estivesse tão perdido em seus próprios pensamentos para ter conseguido escutar o que a garota havia falado. O pai de voltou à sala com o mesmo sorriso empolgado e pela primeira vez naquela noite, viu os traços da namorada no rosto do homem. Pela primeira vez naquela noite, realmente se sentiu em casa e resolveu guardar aqueles devaneios, a sensação ruim que o tomava para outro momento.
A luz do abajur deixava o quarto de uma cor rosa estranhamente calmante. Uma voz calma e masculina acompanhada por apenas um violão que não conhecia, saía das caixas de som e ele escutava cantar baixinho, acompanhando a música. Ela brincava com os dedos dele, entrelaçados aos seus e balançava um dos pés, acompanhando o ritmo. Ele sorriu de leve, sentindo-se surpreso por não ter se surpreendido, o quarto da namorada era exatamente como ele tinha imaginado, parecia gritar o nome da garota em todos os pequenos detalhes, nos enfeites natalinos extremamente delicados que ela tinha colocado ao lado da porta do banheiro. As paredes eram de tons pastéis e ele se perguntou se era papel de parede ou apenas um serviço muito bem feito de pintura. Talvez fosse o quarto mais organizado em que ele já estivera, mas com um toque absolutamente pessoal e íntimo. Era como se tivesse alguma espécie de bagunça na forma como as coisas eram dispostas, como os livros didáticos jogados despreocupadamente em cima da penteadeira cheia de elásticos e presilhas de cabelo, cremes para mão e maquiagem. se virou devagar, passando o braço pela cintura dela e beijando sua bochecha demoradamente, enquanto a garota encolhia os ombros e ria timidamente. E ele ainda tinha a capacidade de se perguntar como podia estar completamente apaixonado. Como alguém poderia não se apaixonar por ela?
“Desculpe pela minha mãe.” – murmurou e se virou de frente para ele, colocando seus pés entre as pernas dele. – “Ela consegue ser inconveniente quando quer.”
“Eu gostei dela.” – deu de ombros e abaixou o rosto até a curva do pescoço da garota, em busca do cheiro dela. Era um das coisas que ele mais gostava em , talvez fosse seu único e maior vício. – “Sabe, vocês duas se parecem mesmo.”
“As pessoas vivem falando isso.” – ela afundou uma das mãos nos cabelos dele, passeando os dedos pelos fios e bagunçando-os de forma inconsciente. – “Você precisa ver as fotos de quando ela tinha minha idade, parece que eu voltei no tempo ou coisa do tipo.”
“É meio absurdo mesmo.” – ele deu um beijo demorado no começo do pescoço de e a garota voltou a se encolher, fechando olhos automaticamente. – “...”
“O quê?” – ela perguntou com a voz fraca e quase protestou quando se afastou para fazer contato visual com ela.
“Ela não foi inconveniente.” – ele colocou uma mecha do cabelo da garota atrás de orelha e passou os dedos por sua testa, de forma delicada. – “Ela é mãe, só está preocupada com o que pode acontecer quando as coisas tomarem outro rumo.”
“As coisas não vão tomar outro rumo.” – falou um pouco mais alto do que deveria, parecendo tentar convencer a si mesma. – “Vai ficar tudo bem.”
“Nós não podemos ter certeza disso.” – ele suspirou recebendo um olhar chocado de , tentando se afastar. segurou o braço da garota e sorriu, dando um beijo na testa dela. – “Posso terminar antes de você decidir que está chateada?” – ele perguntou em tom de brincadeira e ergueu uma sobrancelha, mostrando-se incomumente contrariada, já que não fazia o tipo mimada e incompreensiva – “Eu não sei o que vai ser de nós dois no próximo ano, não sei se vamos conseguir nos preparar para tudo, mas... Eu sei do agora, eu sei o que sinto toda vez que você se aproxima de mim ou quando ouço você gargalhar, sei o que sinto todas as manhãs quando a primeira coisa que eu faço é te mandar uma mensagem... Eu sei o que é estar aqui, com você.” – ele deu um beijo no canto da boca da garota e desceu uma de suas mãos até a cintura dela. – “Sei o que é sentir você se encolher quando eu faço isso.” – ele roçou os lábios no pescoço dela e subiu a boca até sua orelha, mordendo o lóbulo da garota de leve. – “Eu sei principalmente o que eu sinto, quando você afunda suas mãos nos meus cabelos e suspira no meu ouvido.” – gargalhou baixinho por ter feito exatamente o que ele tinha dito. – “Eu sei o que é me sentir completo. E o que eu não sei não me importa, eu vou descobrir quando chegar a hora.”
“, obrigada por mudar minha vida.” – ela passou a mão pelo rosto dele, traçando cada pedaço que fazia parte do rosto que ela chamava de perfeição. Do rosto do qual ela tinha se tornado absurdamente dependente, que ela tinha aprendido a amar incondicionalmente. – “Obrigada por me fazer sentir todas essas coisas.”
“Obrigado por me ensinar a amar de todas as formas possíveis.” – ele sorriu timidamente e procurou os lábios dela, de forma delicada e sedenta. De uma forma que os tomava por completo. De uma forma que trazia toda a intensidade daquele momento, daquelas palavras ditas, de todos os sentimentos, de tudo que era possível e impossível de se sentir.
O sol começava a surgir entre as nuvens escuras daquela manhã, quase como um pedido de licença para que seus raios pudessem mostrar que o dia finalmente chegara. resmungou qualquer coisa e não se importou em virar o rosto, sabia que a amiga não estava falando com ela. Observou a mistura espetacular do claro e do escuro que dava uma espécie de cor diferente ao azul costumeiro do céu. Encolheu os ombros e se abraçou, tentando espantar o frio intenso do começo da manhã. Balançou o banco em que estava sentada ao lado da melhor amiga, em sua varanda. pareceu não notar, ou ao menos fingiu que não tinha percebido o movimento de que riu, se perguntando como a amiga conseguia ficar tão impassível diante de todas aquelas expectativas para a viagem. Diante de um nascer do sol como aquele, o penúltimo nascer do sol daquele ano. O último nascer do sol que elas iriam ver aquele ano, em Brighton.
Talvez só estivesse fazendo um drama muita grande em cima de uma coisa tão pequena, mas ela estava se sentindo diferente. De uma forma que não conseguia explicar, estava se sentindo aquecida e cheia de uma felicidade que ela mal sabia ser capaz de poder sentir, era como se estivesse começando a ver a coisas sob uma nova perspectiva. Como se estivesse se preparando para viver sob uma nova perspectiva. Ela estava pronta para o que estava por vir. Ela estava pronta para abraçar as mudanças que aquele novo ano traria. Ela estava pronta para lutar pelo que queria. Estava pronta para lutar por ele, por , pelo garoto que estava tão disposto a lutar por ela. Ao menos, ela se achava forte o bastante para aceitar tudo que o destino lhe mandasse, tudo de bom e tudo de ruim. Subiu uma das mãos até o pescoço e apertou o pingente em forma de estrela que caía da corrente presa ao seu pescoço desde a noite de natal. Ela não a tirava por nada. iria com ela para qualquer lugar que fosse, ele estaria com ela, e não importava o que acontecesse.
Suspirou e abaixou os olhos para o relógio de pulso, eram quase seis e meia. Os meninos deviam estar perto de chegar, na verdade, ela achava que devia ter acordado atrasado e com certeza, ter esquecido alguma coisa a caminho de sua casa, tendo que voltar para buscar o objeto esquecido. Tinha ligado para o namorado na noite anterior, depois de ter escutado todas as observações e restrições dos pais a respeito da viagem, para ajudá-lo a conferir o que estava na lista que tinha feito para ele. No começo, tinha achado estranho e ficado meio chateado por ‘ser tratado como criança’ nas palavras dele, mas depois se sentiu profundamente agradecido pelo trabalho de .
“Se essa demora for culpa do , garanto que ele não vai viver até o próximo ano.” – finalmente se manifestou, passando as mãos, de forma mal-humorada, pelos cabelos presos. Ela tinha dormido na casa de para que facilitasse quando os meninos fossem buscá-las para a viagem.
“Até parece.” – sorriu de lado e virou o rosto para a amiga, parecendo desconfiada. – “Eu andei pensando. Como será que vai ser ao negócio dos quartos?”
“Que negócio?” – franziu o cenho, parecendo confusa. Ela realmente ficava lenta quando estava com sono. – “Ah, você diz a divisão?” – ela perguntou e assentiu, sentindo as bochechas esquentarem consideravelmente. Bom, ela estava mesmo pensando que aquela era a ocasião perfeita para avançar mais um passo na relação com . – “Acho que casais e o e o dividem outro.”
“Ah.” – mordeu o lábio inferior e voltou a encarar o céu, mais claro que o de minutos atrás.
“Se você quiser, nós dividimos um e o e o ficam juntos em outro quarto.” – ela sorriu levemente para , percebendo o aparente incômodo e a vergonha da melhor amiga.
“Não, está tudo bem.” – voltou a se virar para , forçando um sorriso que buscava demonstrar coragem e a outra apenas assentiu, sorrindo da mesma forma. Passou uma das mãos pelo braço de .
“Se você estiver certa a respeito disso.” – quase murmurou e assentiu levemente. – “Aposto que vai ser perfeito.” – elas voltaram a sorrir uma para a outra e o barulho de um carro entrando na rua tomou conta do silêncio compreensivo entre as duas. Elas se levantaram, pegando as pequenas malas e entrou na casa, rapidamente, para se despedir dos pais e convencê-los de que não precisavam conversar seriamente com os garotos sobre o respeito e o cuidado que deviam ter com ela e . Quando fechou a porta da entrada da casa, saindo para a varanda novamente, sentiu aquela sensação esquisita na boca do estômago, o arrepio quase imperceptível que tomava conta de seu corpo toda vez que o via. Observou organizar as bagagens no porta-malas do Sedan de sua mãe, enquanto falava com . Ele parecia irritado, talvez por não conseguir organizar todas as malas da maneira certa. O casaco preto por cima da blusa de manga comprida cinza com capuz, a calça preta, o par de adidas todo branco, o cabelo bagunçado pelo vento, as bochechas vermelhas e a expressão concentrada. Como era possível que ficasse cada vez mais bonito? Era injusto uma pessoa ser tão linda, não era?
notou o outro carro estacionado logo atrás, parecia um daqueles Volvos menos populares e extremamente caros. Ela não sabia diferenciar marcas de carro, e naquele momento, tudo o que queria era chegar logo em Londres e se trancar em um quarto com . De maneiras pervertidas e não pervertidas, pensou com as bochechas voltando a esquentar.
“E aí.” – a cumprimentou assim que chegou perto o suficiente do grupo. virou o rosto para a namorada e sorriu, quase que automaticamente. Por que ele tinha se irritado mesmo? tinha aquele efeito calmante sobre ele, mas o cheiro dela faria com que ele se sentisse ainda melhor. Largou as malas do jeito que estavam e andou até ela, abraçando-a fortemente e enterrando o rosto na curva do pescoço dela. riu e passou as mãos pelos cabelos de , bagunçando-os mais, viu revirar os olhos, resmungar alguma coisa a respeito de tudo sempre ficar nas costas dele e ir até o Sedan, para arrumar as malas.
“Você está irritado.” – sussurrou no ouvido de , percebendo que os poucos fios de cabelo que tomavam conta da nuca do garoto, se arrepiaram. Ela sorriu, satisfeita consigo mesma.
“O não quis me ajudar.” – ele se afastou um pouco e encostou a testa a dela. – “Nem viu as malas, correu para abraçar a .”
“É meio o que você está fazendo agora.” – ela voltou a sussurrar, mas dessa vez de forma engraçada, fingindo contar um segredo para ele. riu, deu de ombros e colou seus lábios aos dela em um selinho demorado.
“Podem parar, por favor?” – escutaram a voz de e se viraram para o amigo, que fazia uma careta zombeteira. – “Todo esse drama de casal feliz que vocês estão fazendo, me dá náuseas.” – mandou o dedo médio para ele e lhe deu um tapa no ombro, gargalhando. Após alguns minutos, eles conseguiram organizar toda a bagagem, dividindo-as entre os dois carros e seguiram até o final da rua, saindo de Brighton e pegando a estrada para Londres.
Londres parecia o centro do mundo no começo daquela tarde de inverno. O tráfego era intenso, as ruas estavam tomadas de pessoas que se misturavam, algumas andando apressadamente, falando ao celular, sérias e outras que pareciam passear lentamente, parando para observar cada vitrine, comparando preços de coisas ou simplesmente admirando. A cidade era um misto de antigo com moderno, com grandes prédios altos e espelhados e outros de tijolos, que deviam ser de séculos passados. Era possível notar os pisca-piscas presos entre as grandes construções e os postes, que haviam colocado ali para a decoração das festas de dezembro, a cidade devia parecer estranha e maravilhosa durante a noite. O frio era intenso de tal forma que fazia parecer desligado o aquecedor do carro. A neve deixava tudo absurdamente branco, meio que translúcido, ardendo os olhos de quem a encarasse por muito tempo. sorriu, cruzando os braços, tentando ignorar o tremor que passava por seu corpo e aproveitando aquele momento. Ela estava em Londres, era a única coisa que conseguia pensar. Amava Brighton, tinha crescido ali, mas nunca tivera a pretensão de viver na pequena cidade litorânea pelo resto de sua vida, ela queria o mundo e naquele momento, Londres parecia o mundo que ela sempre tinha imaginado. Claro que já havia ido à cidade com os pais, mas tinha dez anos, era uma criança, uma me diferente que tinha como maior plano ganhar o concurso de redação da escola.
Olhou para o lado, observando seguir o Honda Accord de , muito concentrado em não se perder no meio de toda aquela bagunça e depois virou o rosto para o banco de trás, vendo e dormindo calmamente e abraçados. sorriu, sentindo um pouco de inveja por não poder nem pegar na mão de , sabendo que aquilo o desconcentraria do trânsito e voltou sua atenção à Londres, guardando cada imagem mental que fazia para si mesma.
“Acho que nós chegamos.” – falou baixinho, virando em uma esquina que dava direto para a garagem de um prédio de tijolos meio avermelhados, escuros pelo tempo e tomados pela hera que crescia por sua extensão, quase parecendo ter sido colocada ali de propósito, com janelas imensas e fachada branca que parecia ter sido retocada há pouco tempo, exatamente no centro da cidade. Os pais dele deveriam ser loucos por ter um apartamento no meio de todo aquele barulho, ou era apenas uma forma de fugir da calmaria por vezes entediante de Brighton. buzinou para algum desconhecido e a porta automática se abriu como mágica. se virou, esticando o braço e cutucando e de forma insistente para que os dois acordassem logo, não queria que eles perdessem toda a essência daquilo. Já tinham ficado sem ver a cidade toda, então era necessário que vissem ao menos a perfeição do prédio. O carro entrou na garagem antes que o casal sequer abrisse os olhos e bufou irritada, rolando os olhos. dirigiu até o final do lugar, estacionando ao lado de uma parede e apontando para a vaga que tinha ao seu lado, demarcada por duas pilastras grandes e de engenharia simples, mas bastante sólidas.
“Por que vocês não me acordaram quando nós entramos na cidade?” – perguntou deixando uma expressão confusa tomar conta de seu rosto, por estar observando uma garagem mal iluminada em vez de uma cidade fantástica e enfeitada pela neve.
“Juro que tentei, mas parecia que vocês tinham entrado em coma.” – deu de ombros e riu. imitou os movimentos de para sair do carro e os dois deram alguns poucos passos até chegar onde e estavam. – “É incrível.”
“A cidade, não é? Eu vim aqui faz uns dois anos, acho.” – sorriu colocando a mão no pino que travava sua porta para abri-la.
“...” – chamou antes que a amiga pudesse se afastar e mordeu o lábio inferior de forma insegura. – “Preciso conversar com você a respeito de uma coisa.”
“Que coisa?” – inclinou o corpo até o banco da frente, onde estava sentada de lado, encarando-a como uma criança em dúvida. – “Ah, acho que entendi.”
“Depois.” – assentiu quando escutou sua porta sendo aberta pelo namorado. Piscou para a amiga e colocou as pernas para fora do carro, levantando-se. – “Vou me sentir uma simples mortal com pouco dinheiro quando entrar naquele apartamento, não vou?”
“Pelos primeiros dez minutos.” – gargalhou e entrelaçou as mãos as dela, dando um beijo em sua testa. – “Depois passa e você se sente extremamente confortável.”
“E ambiciosa para ganhar bastante dinheiro e ter um lugar como esse para poder fugir da mesmice de vez em quando.”
“Você pega o espírito das coisas com facilidade, por isso te amo.” – voltou a gargalhar, enquanto encolhia os ombros, fingindo humildade. - “Vamos pegar as malas e subir antes que o tenha um ataque de ansiedade para jogar Mario Kart.”
“...” – chamou o amigo e sorriu de lado. Ela adorava a amizade que tinha crescido entre os dois, que trazia no pacote uma intimidade forte o suficiente que a permitia fazer brincadeiras bobas sem ser levada a mal. – “Que tipo de geek joga Mario Kart? Os mais afeminados?”
“Nós mal chegamos e você já começou.” – balançou a cabeça negativamente, enquanto se controlava para não rir como todos os outros ao redor. – “Se você não namorasse um dos meus melhores amigos, eu poderia facilmente te mostrar que geeks que jogam Mario Kart não são nada afeminados.”
“Olha o respeito com a namorada alheia.” – riu, abraçando pela cintura e puxando-a até a parte traseira do Honda Sedan para que ela o ajudasse com suas malas.
Os seis levaram todas as malas para o último andar do prédio, onde era localizada a cobertura, em duas viagens. Assim que e pisaram no hall de entrada, olharam uma para a outra com as bocas entreabertas de puro choque e surpresa e andaram lentamente, como se pudessem colocar as paredes abaixo, se fizessem qualquer movimento brusco. Os garotos acharam graça do comportamento das duas, mas tiveram de admitir que tinham ficado exatamente do mesmo jeito na primeira vez que tinham estado ali com . O apartamento era como um mundo novo a ser descoberto, decorado de uma forma esquisita que misturava antiguidades a móveis modernos, mas que prendiam a atenção de qualquer um, fazendo com que a pessoa se perguntasse como dois extremos podiam combinar tão perfeitamente. A sala era dividida em dois ambientes e tinha um espelho enorme em uma das paredes, que daria um aspecto brega em qualquer outro lugar que não fosse aquele. Elas seguiram pelo corredor que não parecia ter fim, enquanto ele apontava para cada cômodo, explicando qual a função de cada lugar. já estava jogado no sofá baixo e com capacidade para umas dez pessoas, na sala de televisão, com o controle do Wii na mão direita e sorrindo de forma maníaca. Quando chegaram ao final do corredor, apontou para as portas que tinham de cada lado e encolheu os ombros.
“Não sei o que foi decidido.” – ele falou de forma envergonhada e franziu o cenho, achando o comportamento do amigo esquisito. nunca tinha vergonha de nada.
“Como assim?” – ela perguntou e escutou pigarrear baixinho ao seu lado.
“Eu vou ficar com o e a com o .” – respondeu, recebendo um assentimento de e vendo o garoto andar rapidamente pelo caminho de volta para ajudar os garotos com as malas. – “ é um covarde.”
“Ainda não entendi.” – se virou para a amiga e cruzou os braços, irritada consigo mesma por não conseguir entender uma coisa que parecia tão óbvia para todos.
“Esse tour pelo lindo corredor do apartamento foi proposital. Aliás, que papel de parede lindo, aposto que é importado.” – passou a ponta dos dedos pela parede, sorrindo levemente e soltou um resmungo para ter sua atenção de volta. – “ não queria perguntar se vocês iam dividir o mesmo quarto, então pediu que o fizesse o serviço sujo com a desculpa de mostrar o lugar para a gente.”
“Oh!” – o rosto de pareceu se acender com o entendimento daquilo e a garota sorriu. – “Covarde.”
“Foi o que eu disse.” – riu e deu de ombros, abrindo a porta do quarto à esquerda e depois olhou para o lado, observando os garotos se aproximarem com algumas malas nas mãos. – “Espero que você não seja barulhenta ou que essas paredes tenham aquelas proteções sonoras.”
“O que você... , cala a boca.” – empurrou o braço da amiga, sentindo as bochechas queimarem intensamente, enquanto a gargalhada alta de tomava conta de todo o corredor.
“O que foi, lindinha?”- perguntou para a namorada, dando um beijo na bochecha dela e sendo puxado pela garota até o quarto que já estava com a porta aberta, sendo fechada logo em seguida. ainda encarava a porta de madeira trabalhada e pintada de branca, com irritação, quando escutou chamando seu nome.
“Será que você pode abrir a porta? Minhas mãos estão meio ocupadas.” – ele olhou para as malas, como se demonstrando o porquê de estar pedindo ajuda dela e virou o corpo para o lado direito, puxando a maçaneta prateada para o lado e dando espaço suficiente para que passasse. – “Nunca fiquei nesse quarto.”
“Vocês já vieram muito aqui com o ?” – segurou a porta por algum tempo, em dúvida se a fechava ou não. Bufou irritada para si mesma e empurrou-a para que se fechasse. Ela já havia estado em um quarto fechado com . Ela tinha estado em um quarto fechado com poucos dias atrás. Qual era o problema dela, afinal?
“Quase todo ano novo desde que nós tiramos nossas carteiras de motorista.” – deu de ombros, colocando as malas em um canto perto do armário, tirando os tênis e se jogando na cama de casal que parecia absurdamente confortável, como uma nuvem. Na verdade, não fazia ideia se nuvens eram mesmo confortáveis ou era só imaginação das pessoas por elas parecerem tão fofas e brancas como leves plumas. Aquelas plumas com que faziam aqueles travesseiros que pareciam ter alguma espécie e sonífero e... Mas que porcaria ela estava pensando, afinal? Qualquer coisa parecia convidativa para que a garota afastasse aqueles outros pensamentos que a envolviam nos braços de , completamente entregue, naquela cama. – “Você está bem, linda?”
“Perfeita.” – fez um sinal de okey com o polegar e logo passou a mão pelos cabelos, sentando-se na ponta do colchão.
“, se você quiser, eu peço para trocar com o e você divide o quarto com a .” – falou, se aproximando da namorada e sentando ao lado dela. – “Não quero que você se sinta pressionada a fazer alguma coisa ou aja de forma estranha, só porque nós vamos dormir na mesma cama.”
“Desculpa.” – encostou a cabeça no ombro de e repentinamente se sentiu mais calma. Ele era o ser mais apaixonante e fofo que qualquer um poderia imaginar, enquanto ela era uma controladora louca pelo nervosismo e ansiedade. – “Não me incomoda nenhum pouco.”
“Então, nós vamos fazer um teste.” – ele piscou para ela, beijou a testa da garota e puxou-a pela cintura até que os dois estivessem completamente deitados. se aproximou, passou a mão pela cintura de e encostando seu corpo nas costas dela. – “Nós vamos dormir um pouco.”
“Assim?” – ela riu, parecendo em pleno torpor e entrelaçou a mão esquerda à dele, que pendia ao lado de sua barriga. Ele resmungou um assentimento e fechou os olhos, sentindo a respiração do namorado bater de forma leve e fraca em sua nuca. Era mesmo como dormir em um pedaço de nuvem, afinal.
We're still here and what a beautiful mess this is;
acordou com um grito estridente, seguido de uma gargalhada alta e logo após outro grito mais grave, com certeza vindo de algum dos garotos. Passou a mão pelo rosto, coçou os olhos e observou o quarto escuro totalmente desorientada. Quanto tempo tinha passado dormindo? Virou-se para o outro lado da cama de casal, encontrando-o vazio e se perguntou se já tinha acordado fazia muito tempo ou se tinha realmente dormido como ela. A garota colocou as pernas para fora da cama, levantando-se, e andou as cegas até onde se lembrava ser a porta, a procura do interruptor para iluminar o quarto. Semicerrou os olhos quando a luz forte tomou conta do cômodo, sentindo aquela espécie de incômodo comum quando uma pessoa passa de um estado a outro de forma rápida. Passou os olhos pelo quarto e encontrou a mala de aberta ao lado da sua, com as roupas totalmente desorganizadas, ele devia ter mexido ali mais cedo pela bagunça que tomava conta de seu interior e balançou a cabeça desoladamente. Custava ser um pouco mais organizado? Encolheu os ombros e se agachou em frente à própria mala vermelha, abrindo o zíper rapidamente. Encarou as roupas dobradas cuidadosamente, separadas em tipos e riu ao comparar sua organização à desorganização do namorado. Pegou uma calça xadrez de pijama, uma blusa rosa, roupas íntimas e a nécessaire em que havia guardado suas coisas para higiene pessoal. Foi até o banheiro, escutando gargalhadas altas e sentiu a curiosidade de saber o que estava acontecendo tomar conta de si, decidindo deixar o banho para depois e só escovar os dentes. Assim que terminou de fazer a higiene bucal, saiu do quarto, andando rapidamente pelo corredor que já estava parcialmente desorganizado pela bagunça dos garotos e percebeu que todo o barulho vinha da cozinha. e estavam com os rostos totalmente sujos de farinha de trigo, enquanto mexia concentrado em alguma coisa que parecia ser um daqueles aparelhos de fazer massa de macarrão. Olhou para o outro extremo da enorme cozinha e viu que mexia em uma panela, enquanto recebia instruções de , que vez ou outra gargalhava de alguma coisa que o namorado fazia de errado, ou de algo idiota que ele falava.
“Nós pensamos que você estava morta.” – praticamente gritou, dando um susto em que ainda estava sonolenta e distraída. – “ ia conferir se você estava respirando daqui a pouco.”
“Oi.” – sorriu para a amiga. – “Nós estamos fazendo macarrão, enquanto o e o atrapalham.”
“Por que vocês estão sujos?” – apontou para os dois que estavam sentados no balcão da cozinha.
“Nós fomos proibidos de participar, então, estávamos brincando.” – encolheu os ombros, com um sorriso leve nos lábios e aquele brilho especial nos olhos que sempre o tomavam quando via .
“Com farinha de trigo?” – a garota balançou a cabeça e gargalhou, indo até o namorado e encaixando o corpo entre as pernas dele. – “Oi.”
“Oi.” – o sorriso do garoto aumentou e ele e encostou a testa na dela, sujando-a e entrelaçando as mãos às da namorada.
“Vocês são tão fofos.” – falou, enquanto fazia um quadrado com as mãos e um barulho esquisito. Como se estivesse fingindo tirar uma foto da cena.
“Você está bêbado?” – se virou para o amigo, sentindo o rosto todo sujo e pouco se importando, já que ainda não tinha tomado banho mesmo.
“Não, comi um saco de bengalas de natal.” – ele gargalhou de forma histérica e depois baixou a voz. – “Quase quebrei o Wii do , então ele mandou eu me afastar, enquanto não estivesse melhor.”
“Eu ainda te escuto daqui, .” – falou de forma irônica, enquanto cortava uma massa fina em tiras desiguais. – “Ele estava com o rosto grudado a televisão, gritando com o Yoshi, irritado por não ter conseguido vencer a última corrida e colocando a culpa no controle.”
“Mas o controle estava estranho.”
“E você estava gritando com o Yoshi por quê?” – perguntou para e olhou para , segurando a gargalhada, como se dissesse que era para ela esperar ouvir a maior das idiotices.
“Porque ele não fez as coisas do modo como eu mandei.” – falou se fosse óbvio e gargalhou alto, sendo seguida pelo resto dos amigos e deixando com um sorriso envergonhado no rosto.
(n/a: coloque a música pra tocar ;D)
se olhou no espelho e encarou o rosto de forma meio deformada pelo embaçado que tomava conta de todo o vidro, graças a seu banho extremamente quente. Levantou a mão que segurava uma escova e começou a passar pelos cabelos de forma despreocupada e sentindo a respiração acelerar lentamente. Pousou a escova em cima da pia, estendeu a toalha em um dos suportes que haviam sido colocados na parede esquerda do banheiro para aquilo e mordeu o lábio inferior de forma insegura, olhando para a porta fechada do banheiro. estava deitado na cama, esperando por ela. Não que ele estivesse esperando algo além de conversar um pouco abraçados e depois ir jogar videogame com os amigos, mas ela estava preparada para aquilo. Para se entregar a ele e... Sabia que se não aproveitasse, enquanto tinha coragem, não o faria mais. Pelo menos, não naquela viagem. E depois que eles voltassem para Brighton já seria o outro ano, o ano que eles teriam de tomar decisões, ano que eles teriam de conversar a respeito do que fariam em relação um ao outro. O ano em que eles poderiam se separar. sentiu uma fisgada em seu peito, mas resolveu ignorá-la devidamente, não era hora de pensar naquelas coisas. Era hora de sentir próximo de si como nunca antes. Abriu a porta do banheiro e o encontrou deitado de forma atravessada na cama de casal, com os fones de ouvido e mexendo rapidamente no ipod. Levantou os olhos para ela e sorriu, como se a chamasse para deitar ao seu lado. Deus, como ela podia amar tudo em uma pessoa? Não que ele fosse perfeito, estava longe daquilo, era um ser humano normal. Mas ela estava apaixonada por todos os defeitos dele. se ajoelhou na cama e deitou ao seu lado, sentindo parte das pernas ficarem para o lado de fora do colchão, escondendo o rosto no pescoço dele e sentindo passar a mão por suas costas em um carinho afetuoso. Ela aproximou mais os corpos, passando o braço por ele em um abraço e beijou o pescoço do namorado de forma demorada, sentindo a resposta do corpo de imediatamente, quando ele se encolheu de forma quase imperceptível.
“O que foi?” – ele se afastou um pouco para poder ver o rosto dela e notou que as bochechas de estavam vermelhas, enquanto um brilho novo tomava conta dos olhos dela. Um brilho quase adulto, de quem estava determinado a fazer algo. – “Você está bem?”
“Você se importa se nós não falarmos agora?” – ela passou a mão pelo rosto dele e se aproximou, colando os lábios aos do garoto. apertou a cintura dela e beijou a namorada de forma lenta, quase como uma provocação, enquanto sentia a respiração dela se acelerar e acalmar continuamente. abaixou uma das mãos, procurando pelo zíper do casaco de moletom azul que ele usava e descendo-o logo em seguida. Ele virou, ficando por cima dela e terminando de tirar o casaco de forma desajeitada, jogando-o do outro lado da cama. Abaixou o rosto e roçou a boca por toda a extensão do pescoço de , enquanto ela descia uma das mãos até a barra de sua camisa e a colocava por dentro, fazendo com o que o choque entre as peles quentes fosse tão intenso que ela mordeu o lábio inferior para conter um gemido. Ou talvez, fossem apenas os beijos molhados e demorados que distribuía em seu pescoço, subindo até sua mandíbula e respirando lentamente contra sua orelha, mordendo seu lóbulo fracamente, mas com força o suficiente para que ela sentisse um arrepio tomar conta de todo seu corpo. levantou a blusa rosa que a garota vestia, olhou para como se pedisse permissão para continuar e ela sorriu, passando a mão pelo rosto dele e logo em seguida, levantou os braços para que ele pudesse terminar de tirar aquele pedaço de pano que parecia extremamente desagradável e o atrapalhava a sentir a pele dela na sua e inspirar o cheiro de camomila e lavanda com mais facilidade. sentiu as bochechas formigarem, totalmente envergonhada. Já tinha estado de biquíni na frente do namorado, mas daquela vez parecia diferente. Ela estava vestindo uma lingerie provocante e preta que a tinha ajudado a escolher dias antes. Era como se a peça de roupa gritasse quais eram suas intenções.
“Não precisa ficar com vergonha.” – falou, assustando-a, dando mais uma vez a sensação de que ele podia ler seus pensamentos. Ele passou a ponta do nariz pelas bochechas vermelhas da garota e sussurrou. – “Não existe ninguém além de você para mim. Ninguém nunca conseguiu me fazer sentir desse jeito e não é só porque você é linda.” – ele voltou a levantar o rosto para poder encarar os olhos nos quais ele podia ver o mundo. – “É porque, de alguma forma inexplicável, você me completa.”
“.” – ela riu, sentindo-se envergonhada e puxou-o pela nuca para um beijo carinhoso que logo tomou mais intensidade, fazendo com que eles voltassem a explorar o corpo um do outro como segundos antes. puxou a camisa de e ele terminou de tirá-la, jogando para o lado do mesmo jeito que havia feito com o casaco. O corpo dele era absurdamente lindo, não de uma forma artificial como o dos homens que passam horas se esforçando em uma academia. Ele não era magro, nem forte de mais. Era a medida perfeita de tudo que ela precisava, tudo que ela imaginava.
A mão de passeou lentamente, em uma mistura de provocação e carinho pela lateral do corpo de , fazendo com que ele sentisse a pele da garota esquentar com a simples menção de seu toque, aquecendo-o internamente. O tipo de calor que fazia com que ele se sentisse completo, que era quase como necessário para sua sobrevivência. Às vezes, achava loucura que alguém com apenas dezoito anos pudesse sentir todos aqueles arrepios, aquela sensação de dois corpos dividindo apenas uma alma, a sensação dos corações batendo no mesmo compasso, da respiração se acelerando e acalmando ao mesmo tempo, quase como se tivessem ensaiado a vida toda para aquele momento de forma tão intensa, tão inexplicável. Às vezes, se achava tão imaturo que parecia impossível que ele fosse capaz de amar alguém tão incondicionalmente, que pudesse ter a sensação de que as coisas estavam finalmente em seu lugar, que não tinha mais lições a aprender, erros para cometer, não precisava conquistar mais nada em sua vida. Era quase como se ele já tivesse realizado todos seus sonhos, tivesse alcançado todas as suas expectativas, tivesse lutado por tudo que valia a pena. Tivesse encontrado as respostas para todas as suas perguntas nos olhos de . Como se tivesse encontrado a ele mesmo nos olhos dela. – “Eu só preciso que você saiba que não importa o que aconteça, eu sempre vou ter você próximo a mim, como nessa noite. Como em todas as outras noites e dias que nós dividimos.”
“Nós não somos o tipo que só vão ter memórias, linda.” – ele sorriu e beijou sua testa, enquanto sentia a pele da cintura dela com a ponta dos dedos, parando no elástico da calça de pijama da garota, brincando com o pano. – “Os fatos podem ser contrários, mas nós somos do tipo para sempre.” – ele colou a testa na dela e sentiu a namorada abraçar seu pescoço de uma forma como nunca havia feito antes. Ela estava deixando claro o quanto precisava dele, o quanto necessitava que suas palavras fossem verdade, o quanto desejava que tudo aquilo fosse sua verdade durante muito tempo. Para sempre.
“Eu sou sua, .” – ela murmurou e segurou o rosto dele com as duas mãos, sentindo-as tremerem levemente. Não era a ansiedade por se entregar a um garoto de corpo e alma pela primeira vez, ou por não saber o que fazer que a levava a sentir-se daquele jeito. Era a certeza nos olhos do namorado que acelerava seu coração, fazendo com que seu corpo todo tremesse e uma sensação estranha tomasse conta de si. Era a certeza dela mesma. A certeza de que eles iriam ficar bem. A certeza de que ela seria para sempre dele. A certeza de que era suficiente, ela não precisava de mais nada. A certeza de que o amava.
“Eu sou seu.” – ele sussurrou em seu ouvido e voltou seus lábios aos dela, empurrando a calça da garota para baixo com delicadeza. – “Eu fui seu quando você sorriu para mim naquele lual. Eu sou seu hoje e vou ser seu sempre.”
(’s POV)
Continuei a encarar o teto por mais alguns segundos e virei meu rosto para a direita, observando dormir profundamente. Ela respirava lentamente, fazendo um barulho engraçado e fofo sempre que inspirava o ar. Era mais o som de uma respiração alta e relaxada, não pareceria nunca com alguma espécie de ronco. Meus pensamentos vagavam pelas coisas mais estúpidas, às vezes. Ela apertou minha mão levemente e eu voltei minha atenção para os nossos dedos entrelaçados, me perguntando se tínhamos dormido a noite toda daquele jeito. Quer dizer, as poucas horas que nós havíamos dormido. Não que tivéssemos passado a noite toda fazendo amor ou... Fazendo amor? Aquela garota realmente tinha mudado muito as coisas para mim, tinha me feito enxergar o mundo sob um ponto de vista totalmente diferente do qual eu estava acostumado, do qual eu tinha aprendido desde que comecei a me relacionar. Garotas eram para diversão, para sair de vez em quando e me distrair, pelo menos, havia sido assim antes de chegar, antes de eu descobrir que aquele tipo de coisa podia ser muito mais do que atração física, que era muito mais do que uma série de toques em lugares certos para que o corpo fosse alimentado com prazer. A noite com , a madrugada, havia sido uma troca dos sentimentos mais profundos e intensos que eu sequer podia ter imaginado sentir. Era como uma se sucessão de acertos tivessem nos levado àquele momento. Tivessem feito com que a sensação de fazendo parte de mim, sendo minha, valesse a pena toda a espera. Nunca fui um expert em expressar meus sentimentos, descrever as coisas que passam pela minha cabeça. Nunca fui muito de me deixar sentir qualquer coisa, de ser realmente sincero comigo mesmo. Mas naquele momento, olhando para a mão dela tão pequena em comparação à minha, para os nossos dedos encaixados como peças perfeitas de um quebra-cabeça, eu realmente entendi o significado do que queriam dizer com a ‘pessoa certa’. De alguma forma, de algum jeito eu sentia que não existia ninguém além de para mim. Ninguém me faria sentir tão completo, tão próximo de mim mesmo, de quem eu queria ser. Eu a amava mais do que era possível descrever, mais do que achava possível que qualquer um entendesse. Sorri, passando o polegar pela mão dela e voltei a olhar o rosto calmo da minha namorada, enquanto acordava aos poucos. Ela abriu os olhos, sorriu de leve e me encarou intensamente, do jeito que só ela podia fazer, descobrindo tudo que se passava comigo, lendo cada pensamento meu, decifrando cada sensação minha só pela minha expressão. E de repente, me dei conta... Era mesmo o cara mais sortudo que conhecia, talvez, que pudesse existir.
“Oi!” – ela murmurou com a voz rouca e cansada, se aproximando de mim e escondendo o rosto na curva do meu pescoço, como de costume.
“Oi, garota de Cambridge!” – sorri por usar o apelido que dera para ela naquela manhã que tínhamos visto o sol nascer no deque. O apelido que eu vinha tendo medo de usar por todo o significado que carregava. Por mais louco que parecesse, chamá-la daquela forma, me fez bem.
“Oi, garoto de...” – ela parou, levantou o rosto e ficou me encarando. – “Londres?”
“Quem sabe?” – ri e dei de ombros. Ainda era um mistério se nós conseguiríamos ficar em Londres, depois que o amigo do pai de escutasse nossa demo. Talvez, ele não gostasse. Talvez, sim.
“Queria dormir o dia todo.” – falou com a voz infantil e afundou o rosto no travesseiro, resmungando alguma coisa que não entendi.
“Acho que vai ser impossível.” – dei um beijo no topo da cabeça dela e me levantei, sentindo frio por só estar vestindo minha boxer. Passei os olhos pelo chão do quarto e achei meu casaco perto de uma das poltronas, lembrando que o tinha jogado ali no meio da madrugada quando ele estava em baixo de mim, incomodando minhas costas. Balancei a cabeça com um sorriso bobo nos lábios e o vesti rapidamente. Aproveitei para pegar um casaco qualquer na mala de e jogar para ela na cama.
“Onde você está indo?” – ela perguntou com a voz manhosa e eu gargalhei.
“Escovar os dentes. Não vou te beijar com mau hálito.” – abri a porta do banheiro, escutando ela levantar da cama rapidamente e correr até mim, pulando nas minhas costas.
“Você realmente aprendeu tudo que te ensinei, não é?” – ela deu um beijo estalado na minha bochecha e desceu, se afastando de mim e colocando pasta de dente nas nossas escovas que estavam em cima do mármore frio da pia.
“Como se eu fosse uma espécie de porco antes.” – disse com a boca cheia de pasta, só para irritá-la e encolheu os ombros, concentrada em sua tarefa.
“Se você parar de bobagem, vai terminar logo e nós vamos poder nos beijar.” – ela piscou para mim, com um sorriso maroto desenhando seus lábios e eu balancei a cabeça, como uma criança obediente. Terminamos de escovar nossos dentes e assim que fechei a torneira, ela passou os braços pelo meu pescoço, ficando na ponta dos pés. – “Agora faça o favor de me cumprimentar decentemente.” – sorri e inclinei minha cabeça, encostando os lábios aos dela e sentindo o gosto de hortelã por termos acabado de escovar os dentes. Puxei-a para mais perto pela cintura e tirou os pés do chão, colando nossos corpos mais ainda. Sentia-a afundar as mãos pelos meus cabelos e arranhar minha nuca sutilmente. Meu corpo já começava a responder as carícias e ao beijo mal – ou bem - intencionado dela, quando minha namorada tomou impulso e cruzou as pernas na minha cintura. É, acho que o café da manhã poderia esperar mais alguns minutos.
(’s POV Off)
Trying not to lose my head, but I have never been this scared before;
“Eles estão trancados lá dentro desde ontem.” – falou, enquanto ajudava a namorada a enxugar a louça do café da manhã. – “Nós arrumamos a cozinha, jogamos e agüentamos o reclamar por umas duas horas antes de ir dormir e eles nem apareceram. Será que aconteceu alguma coisa?”
“Tipo?” – perguntou, erguendo as sobrancelhas, enquanto passava água em um copo para tirar toda a espuma do detergente. Segurou o sorriso e balançou a cabeça levemente. O namorado era tão inocente, às vezes.
“Cara, você é ou se faz de retardado?” – perguntou para o amigo, com uma sobrancelha arqueada, fazendo com que finalmente gargalhasse.
“Muito obrigado por rir em vez de me defender.” – fez uma careta para ela e se afastou, quando a garota se aproximou para abraçá-lo.
“Meu amorzinho, desculpa!” – ela riu e passou os braços pela cintura dele com força, fazendo com que ele reclamasse e risse ao mesmo tempo. – “Eles estão fazendo o que namorados fazem quando ficam sozinhos.”
“Jogando truco?” – ele sorriu de lado, fazendo com que sentisse as bochechas avermelharem.
“Vocês chamam assim?” – perguntou sarcasticamente, gargalhando e sendo acompanhado de , logo em seguida.
“, vamos jogar truco?” – se virou para o amigo e passou um dos braços pelos ombros dele.
“Claro, amor.” – gargalhou quase que histericamente, vendo os rostos de e totalmente vermelhos. – “Mas depois nós jogamos vinte e um. É o meu preferido!”
“ e resolveram assumir o amor tórrido um pelo outro que sempre esconderam?” – perguntou, entrando na cozinha com uma das mãos entrelaçada à de , fazendo com que os garotos se afastassem reclamando e e sorrissem ironicamente para os dois.
“Bom dia!” – falou, enquanto observava a expressão da amiga com atenção. Se alguma coisa tinha acontecido, ia deixar transparecer só pelo olhar e foi exatamente o que aconteceu quando elas se encararam e encolheu os ombros quase imperceptivelmente e sorriu de leve. assentiu e pegou uma caneca de leite com chocolate em pó que tinha colocado em cima do balcão minutos antes da entrada dos dois na cozinha e andou até a outra garota, para entregá-la. Os meninos já conversavam e provocavam uns aos outros, gargalhando alto, o que era ótimo para elas saírem do cômodo sem perguntas. As duas andaram em silêncio pelo longo corredor acarpetado e entraram na sala de televisão.
sentou no tapete azul escuro que só ocupava o lugar pelo simples fator decoração, já que o carpete deixava o local devidamente aquecido. Segurou a caneca entre suas mãos, com força, tentando controlar o sorriso que forçava seus lábios a se erguerem repetidamente e olhou para o lado esquerdo, encarando seu reflexo na tela da enorme televisão de plasma, quase podendo sentir a ansiedade e curiosidade da melhor amiga sentada a sua frente, mas sabia que não iria perguntar nada antes que ela falasse qualquer coisa. As duas se conheciam há tempo demais para saber como aquelas conversas surgiam, para saber da conexão muda que elas dividiam. tomou um gole do chocolate quente e suspirou pesadamente, mordendo o lábio inferior logo em seguida. Ergueu o rosto e voltou a sorrir, tendo seu gesto imitado pela garota a sua frente.
“Então...” – finalmente falou e riu, sentindo-se totalmente estúpida, mas pouco se importando. Era seu direito sentir-se daquela forma depois dos últimos acontecimentos. – “Não sei como explicar.”
“É como se você estivesse mais feliz do que achasse capaz sentir, como se tivesse a certeza de que vocês nasceram para ficar juntos, como se tudo indicasse para isso. Como se você nunca tivesse se sentido tão próxima de si mesma e tão completamente entregue a outra pessoa.” – falou de forma afobada, fazendo com que risse ainda mais, balançando a cabeça em um assentimento.
“Todas as vezes que pensei a respeito disso, sempre tive medo. Não por causa da dor ou por não saber o que fazer, mas sempre tive medo de me sentir completamente desconfortável, como se estivesse errando comigo mesma, mas... , foi tudo isso que você falou e muito mais! Nunca pensei que fosse usar a palavra lindo para descrever sexo.”
“Eu te falei que muitas vezes a realidade pode ser muito melhor, lembra?” – encolheu os ombros e sorriu de forma empolgada. – “E você foi bem silenciosa até.”
“Cala a boca, sua idiota!” – gargalhou, colocando a caneca já vazia ao seu lado – mal tinha percebido que estava com tanta fome – e deu um peteleco na testa da amiga. A outra a encarou com uma expressão indignada e deu um tapa em seu braço, desencadeando uma luta infantil que elas costumavam ter de vez em quando, gargalhando histericamente.
“Aposto que a vai desistir primeiro.” – elas escutaram a voz empolgada e alta de , seguida por comentários dos outros garotos. As duas olharam para a porta da sala de televisão e levantou-se rapidamente e correu até , passando os braços pelo pescoço dele, agradecendo-o por apostar nela. balançou a cabeça negativamente e olhou para , que sorria para ela de uma forma diferente. Quase como se ele pudesse dividir tudo com ela, por meio dos gestos mais simples. Os meninos entraram no cômodo, se jogando nos sofás absurdamente confortáveis e sentou ao lado de no chão, passando um dos braços pelos seus ombros.
“Eu sempre apostei em você, garota de Cambridge.” – ele falou para a namorada e deu um beijo no topo de sua cabeça, fazendo com que ela risse e passasse um dos braços pela cintura dele, enquanto escutava os gritos exaltados de e que já discutiam por qual jogo iriam começar a rodada de videogame daquela manhã. Ela podia ser a garota de Cambridge para ele, mas não precisava ser aprovada na universidade para ter seus sonhos realizados. Tudo o que ela queria estava bem ali, ao seu alcance.
A nécessaire preta estava em cima da pia de mármore, com os vários tipos de maquiagem lhe fazendo uma espécie de moldura desorganizada. Pegou o pequeno pote de um blush rosa muito claro e escutou resmungar ao seu lado, sentada na tampa do vaso sanitário e tentando usar o curvex. Aquela imagem deu a uma espécie de deja vu que ela pensou nunca poder sentir, era mais forte que qualquer um dos outros que já tivera. Há meses atrás, no final do verão, a melhor amiga estava no banheiro de seu quarto, tentando curvar os cílios, enquanto se perguntava se um dia realmente conseguiria se apaixonar ao ponto de se entregar totalmente, de deixar com que todas suas barreiras fossem derrubadas, conhecendo-a por inteiro.
Ela tinha planejado e desejado que aquilo acontecesse e após muito tempo, vivendo aquele exato momento, ela se surpreendeu de uma forma que quase fazia com que fosse difícil inspirar o oxigênio necessário. Estava surpresa por ter chegado aonde estava, por estar sentindo muito mais que uma espécie de paixonite boba ou atração física, por ter deixado ter conhecimento de cada defeito e qualidade sua, de cada pensamento absurdo ou que se fazia essencial dentro de sua cabeça. Voltou a encarar seu rosto no espelho, observando o vestido tomara-que-caia azul turquesa que havia comprado semanas antes especialmente para aquela noite. Os cabelos com finas mechas clareadas pelo sol, fazendo contraste com o azul intenso do vestido, os brincos de pedras que imitavam diamantes, relativamente pequenos que brilhavam e os lábios levemente rosados. Ela era a mesma daquela noite no lual, tinha certeza absoluta. Mas alguma coisa havia mudado de forma silenciosa, sutil e quase imperceptível.
“Você pode me ajudar ou vai ficar se admirando o resto da noite?” – perguntou com a voz irritada, como na noite do lual e virou sua atenção para ela, quase como se não conseguisse realmente enxergá-la. Pegou o curvex de uma das mãos da melhor amiga e se ajoelhou no chão de porcelanato frio, dirigindo o aparelho até os cílios dela e o apertando. Suspirou pesadamente e fez a mesma coisa no olho esquerdo, se levantando logo em seguida e começando a guardar todas as parafernálias de maquiagem de volta a nécessaire. – “Qual o problema?”
“Nunca conseguirei esconder nada de você.” – sorriu levemente e mesmo sem olhar, teve certeza que seu gesto havia sido imitado pela outra.
“Nós podemos deixar essa conversa para depois, se você quiser.” – se levantou, fazendo barulho com o salto de seu sapato, andando pelo quarto em que ela e estavam dormindo.
“Não é como se tivesse o que conversar.” – encolheu os ombros e escutou o barulho do zíper sendo fechado devagar. Saiu do banheiro e sentou-se em uma das poltronas confortáveis, de modelo antigo e que deviam custar o mesmo tanto que o carro de sua mãe, a um canto do quarto. – “Só parece que eu não preciso de que o ano vire, para que as coisas mudem.”
“Entendi, acho.” – falou, abrindo a porta espelhada do armário e pegando seu casaco grosso, preto e branco, com grandes botões. – “Vocês já conversaram?”
“Não.” – fez uma careta e olhou para os próprios scarpins de bico redondo, que imitavam Louboutins com pouca perfeição. – “Sei que as cartas de admissão começam a chegar em fevereiro e que nós já devíamos estar nos preparando para não ser esquisito, mas parece tão impossível e ridículo tocar no assunto.”
“Não é impossível e muito menos ridículo.” – se sentou na poltrona que tinha do lado e passou as mãos pelo casaco, com uma expressão pensativa. – “Mas entendo o porquê de todo o adiamento para a conversa. De qualquer forma, você sabe que as coisas sempre acabam da melhor forma, certo?”
“Não ando acreditando muito nisso, ultimamente.” – fez uma careta e forçou uma risada, balançando a cabeça e se levantando. – “O apartamento está meio silencioso, não é melhor nós descobrirmos o que está acontecendo?”
“Silêncio quer dizer perigo, quando se trata daqueles quatro.” – riu e se levantou também, andando apressadamente para a porta. As garotas pararam em todos os quartos que tinham ao longo do corredor e não os encontraram em lugar nenhum. Olharam uma para a outra com os cenhos franzidos, se perguntando quanto tempo teriam demorado para se arrumar e se eles seriam capazes de abandoná-las no apartamento, com instruções confusas do local onde seria a festa de ano novo. Finalmente, escutaram murmúrios vindos da sala de jantar.
“O que será que está acontecendo?” – sussurrou, fazendo com que balançasse a cabeça negativamente e andasse devagar até a grande porta amadeirada de correr que dava para o cômodo, pisando levemente no chão para não fazer barulho. Não entendia o motivo de estar agindo daquela forma, como também não entendia o porquê de os amigos estarem em uma aparente reunião escondidos delas.
“Não acho que nós devíamos tocar algo nosso.” – a voz de se sobressaiu e as duas se encolheram pelo susto. – “Seria legal fazer um dos covers.”
“Concordo com o .” – o tom de voz de saiu sério e concentrado, como nunca tinha escutado. De repente, ela entendeu o fato de ser tão apaixonada pelo garoto. – “Nós podemos acabar, sei lá... Desconfortáveis com mais essa pressão e acabar fazendo merda.”
“Pode ser.” – respondeu de forma contrariada e uma cadeira fez barulho em atrito com o chão de tábua corrida, sinalizando que alguém tinha se levantado.
“É melhor escolher uma música que nós gostamos de tocar e que, de alguma forma, signifique alguma coisa... Para nós.” – voltou a falar com o mesmo tom de voz usado anteriormente e escutou a melhor amiga suspirar levemente ao seu lado. Mordeu o lábio inferior, concentrada em segurar o riso.
“Sabia!” – gritou, dando um pulo para fora da sala de jantar e apontando para e , que tinham as mãos pousadas no coração e o encaravam com raiva e surpresa, por causa do susto.
“, seu idiota!” – gritou de volta e rolou os olhos. – “Quero estar viva no próximo ano.”
“Então, não devia ficar ouvindo a conversa dos outros, por trás da porta. Coisa feia, vocês! Esperava mais maturidade das duas.” – ele falou de forma brincalhona, com um sorriso maroto tomando conta dos lábios e cada uma deu um tapa nos braços vestidos pela camisa social do amigo. O resto dos garotos apareceu, rindo da situação e parecendo tão chocados quanto .
“Vocês podiam ter entrado, não era segredo nenhum.” – falou sorrindo e foi até ele, passando os braços por seu pescoço.
“Se tivesse entrado, você não ia continuar falando daquele jeito todo sério e sexy.”
“Mas eu teria ficado feliz antes, por te ver linda assim.” – ele a abraçou pela cintura, arrancando protestos de todos os amigos para que os dois arranjassem logo um quarto. olhou para ao seu lado e entrelaçou a mão a dele, como se pedisse por um porto seguro.
“Não se preocupe, você também está absurdamente linda! Se isso for mais possível.” – ele deu um selinho demorado na namorada, fazendo com que e voltassem aos protestos enfáticos.
“Qual era o tema? Para deixar o tão sério, deve ser interessante.” – perguntou depois que separou seus lábios dos dela e os meninos, encolheram os ombros, parecendo inseguros.
“O produtor do James vai estar na festa hoje à noite.” – foi a primeiro a falar, ignorando seu breve momento de insegurança. – “É o mesmo cara que meu pai conhece e o James acha legal nós tocarmos uma música lá, para ele ver como somos bons ao vivo e despreparados e todas essas coisas.”
“Isso é ótimo!” – falou de forma empolgada e passou a mão pelos braços de , que aparentava ser o mais nervoso de todos. – “Acho que esse amigo de vocês está certo.”
“É...” – forçou um sorriso e olhou para os braços, procurando alguma desculpa para se afastar dali. Sentia-se nauseada, sua cabeça rodava e seu estômago parecia brincar em uma montanha-russa muito perigosa. Por outro lado, sentia a mesma empolgação de , uma felicidade absurda, pelo sonho do namorado e dos melhores amigos estar se realizando, absorvendo completamente seu corpo. Era um misto de sensações que ela achou nunca ser possível existir: um enjôo por sentir medo pelo que estava por surgir, o fato da separação, finalmente, se fazendo presente e uma alegria inexplicável pelas melhores pessoas que ela já havia conhecido em toda a sua vida.
“Dakota do Stereophonics.” – falou no meio de toda a conversa alta que tinham virado zumbidos para , fazendo com que ela voltasse a realidade do corredor do apartamento de . – “Essa é a música.”
“Perfeita, cara!” – sorriu e voltou a conversar animadamente com os outros a respeito de como aquela noite mudaria a vida deles. levantou os olhos para , sentindo-se observada pelo namorado e pousou as duas mãos no rosto dele. se aproximou e colou a testa na dela, passando as mãos pelos braços descobertos de , como se dizendo que eles não precisam ter medo de nada... Por enquanto.
I don't know where we are going now
So take a look at me now.
O último verso foi cantado e os instrumentos foram silenciando aos poucos, indicando o final da música. As muitas pessoas que se encontravam na grande sala do loft no centro de Londres bateram palmas e assobiaram com empolgação para os garotos. sorriu, orgulhosa dos quatro e olhou para o lado esquerdo, onde o tal produtor conversava de forma ansiosa com James, com um sorriso nos lábios... Aquilo só podia dizer algo positivo e sem que ela pudesse evitar, o vazio que tinha tomado conta dela horas atrás quando recebeu a noticia no corredor do apartamento de , apareceu novamente. Colocou uma das mãos no braço de , para indicar que iria se afastar um pouco da multidão.
“Você está passando mal?” – ela perguntou de forma preocupada.
“Só preciso de um pouco de ar.” – balançou a cabeça negativamente quando a amiga fez sinal de que a acompanharia. – “Eu estou bem, sério. Vai falar com eles!”
A garota cruzou os braços, procurando passagem por entre as pessoas e se aproximou da grande janela com vista para uma avenida movimentada, rodeada de pubs descolados e lojas que só pessoas ricas freqüentavam.
(n/a: coloque o vídeo pra tocar a partir de 0:38 ;D)
Então, aquela seria a vida de , quando eles conseguissem o contrato... Festas, bebidas de todos os tipos, mulheres bonitas e lofts chiques. Suspirou pesadamente, comparando sua vida com a que levaria e chegou à conclusão de que talvez não tivesse espaço para ela. Sempre seria a garota de Brighton com sotaque carregado e obsessiva pelo controle de cada aspecto mínimo de sua vida. O namorado teria acesso a modelos de longas pernas e cabelos característicos de propagandas de shampoo, enquanto ela estaria mais preocupada com suas notas em Cambridge, dedicando-se integralmente aos estudos e algum trabalho que arrumasse para se sustentar, fazendo com que acabasse por se esquecer de lavar o cabelo todos os dias. Deus, ela se sentia tão completamente Bridget Jones!
Bateu um dos saltos no chão, de forma nervosa e olhou para o teto alto do local, tentando se concentrar nas pequenas luzes espalhadas por ele, para que não começasse a chorar e acabasse com a festa de todos ao seu redor.
“Por que a garota mais bonita da festa está se escondendo?” – sentiu os braços de entrelaçarem sua cintura, enquanto o tronco encostava as suas costas, dando a ela uma sensação de proteção.
“Você já viu essas modelos com pernas enormes? Posso garantir que não sou a garota mais bonita da festa.” – ela forçou uma risada e colocou as mãos sobre as dele, fazendo um carinho com o polegar.
“Não vi nada disso.” – ele deu um beijo no pescoço dela e fez com que a garota se virasse de frente para ele. – “Qual o problema, linda?”
“Nada.” – ela encolheu os ombros e apoiou as mãos nos ombros dele. – “Vocês foram fantásticos, sabia? O tal produtor pareceu gostar muito, estava conversando todo animado com o James.”
“E isso tudo é ótimo, mas poderia ser melhor...” – ele encostou a testa a dela. – “Se você sorrisse de verdade.”
“Por que, de repente, todo mundo sabe o que acontece comigo? Pensei que fosse menos previsível.” – ela falou de forma emburrada e passou o braço pelo pescoço dele.
“Porque você não usa máscaras e é isso que eu mais gosto em você.” – ele sorriu de lado e rolou os olhos, empurrando-o de leve.
“É só que essa vai ser sua vida daqui a alguns meses.” – ela fez um sinal com a cabeça, indicando toda a agitação da festa. – “Vai ser tudo novo e muito empolgante, o que vocês sempre quiseram. Você vai ter um mundo de possibilidades, ! E talvez, o comum não te atraia mais, a quilômetros de distância em Cambridge.”
“Um mundo de possibilidades?” – ele fez uma expressão pensativa e mordeu o lábio inferior, sentindo-se insegura. – “Tenho essa sensação toda vez que você me olha, . Sinceramente, não preciso de tudo isso para me sentir parte de algo realmente especial... E comum? Não te colocaria nessa categoria de jeito nenhum, você me enlouquece com todas as suas manias esquisitas.”
“.” – ela riu e balançou a cabeça, sentindo as bochechas avermelharem. Voltou a morder o lábio inferior e suspirou. – “Uma hora nós vamos ter que conversar a respeito disso, das decisões que nós temos que tomar e todas as...”
“E nós vamos, quando nos sentirmos preparados.” – ele a interrompeu e segurou o rosto da namorada entre as mãos. – “Mas não é agora e não é amanhã, talvez nem daqui a duas semanas.” – ele sorriu e encostou os lábios aos dela em um rápido selinho. – “Faltam trinta minutos para a meia-noite e eu preciso te levar a um lugar.”
“Que lugar?” – franziu o cenho, olhando para ele de forma desconfiada.
“Nós vamos assistir aos fogos tradicionais de Londres. Não ia deixar você sair daqui sem essa experiência.” – ele sorriu e encolheu os ombros, esperando pela resposta afirmativa da garota.
“Londres está sendo bem surpreendente com essa coisa de novas experiências.” – ela sorriu de lado, esperando que entendesse a malícia que havia colocado naquelas palavras. Ele gargalhou balançando a cabeça e se inclinou para beijar a namorada.
“Você não existe, sabia?” – ele falou após se separarem pela falta de ar e deu de ombros, fingindo estar convencida. – “Vou pegar nossos casacos e avisar a algum dos meninos, me espera na saída.”
“.” – ela segurou o braço dele, impedindo-o que se afastasse. – “Eu te amo, mais do que posso demonstrar ou explicar e isso basta para que eu seja feliz aqui ou em qualquer outro lugar.”
“Nós vamos ficar bem, prometo.” – ele assentiu, deu um beijo demorado na bochecha de e apertou a mão da garota, se afastando para onde estava tentando se dar bem com alguma modelo. havia prometido que eles ficariam bem, uma promessa implícita de que tudo daria certo e eles não precisariam se preocupar. Então, por que ela ainda sentia o vazio tão intenso toda vez que ele se afastava?
And the ice kept getting thinner with every word that we'd speak;
(Coloque a música pra carregar ;D)
Os fogos pareciam sair diretamente da London Eye, como se tivessem colocado um pacote especial em cada cabine da enorme roda-gigante, o Big Ben badalava alto, se fazendo ouvir no meio de todo o barulho das explosões contínuas. As cores que tomavam o céu pareciam ser combinadas com perfeição, para que o momento se tornasse ainda mais especial. Era como ter um turbilhão passando por todo seu corpo, sentindo-se arrepiar e respirar profundamente, como se cada tomada de oxigênio fosse a primeira, era como entrar em um mundo paralelo em que eles ficariam juntos para sempre, apenas revivendo aquele momento quantas vezes fossem possíveis. Sentiu a respiração de bater contra sua bochecha, enquanto ele beijava a lateral de sua testa e os braços dele apertarem o abraço em que a envolvia. Olhou para cima e sorriu, segurando o rosto dele entre as mãos e fazendo um leve carinho na face do namorado. De repente, todo o barulho se desfez e ela olhou ao redor, confusa e tentando entender o que tinha acontecido... Eles estavam no parque abandonado de Brighton em que a tinha levado meses atrás, o lugar parecia ainda mais assustador e ela voltou sua atenção para o namorado novamente em busca de uma explicação, mas ele também havia sumido.
sentiu sua respiração pesar, como se estivesse dentro de um cubículo fechado, sem nenhuma entrada para o ar. Sentou-se em um dos bancos de madeira com a pintura descascando que existiam espalhados pelo local e quis gritar pelo nome de , mas não conseguiu produzir nenhum som, um mínimo sussurro ou resmungo. Fechou os olhos e pediu com toda a determinação que ainda lhe era possível que aquele vazio passasse, que fosse possível se livrar daquela sensação e voltar à London Eye. A garota abriu os olhos após alguns minutos, absurdamente assustada e com as mãos tremendo levemente, prestando atenção em cada mínimo detalhe ao seu redor: ela estava em seu quarto, deitada na própria cama e percebeu que havia acabado de acordar de um pesadelo. passou a mão pelo rosto e sentou-se rapidamente, ficando tonta por alguns segundos por causa do movimento brusco. Sentiu os olhos arderem e deixou que as lágrimas que se forçava em manter escondidas todos os dias, caíssem por suas bochechas de forma quase violenta. Já fazia três meses desde a viagem para Londres e duas semanas que ela acordava quase todos os dias da mesma forma... Quando conseguia dormir. O mês de março finalmente estava chegando ao fim e o período em que as cartas de admissão da faculdade começariam a chegar se fazia presente, causando à garota uma ansiedade incontrolável, um medo que ela jamais poderia prever, uma sensação que era difícil de pôr em palavras para qualquer pessoa que a perguntasse se estava bem. Não, ela não estava, mas não conseguia entender exatamente o que estava acontecendo com ela, talvez tivesse que descobrir sozinha, já que o vazio se tornava ainda maior a cada dia que passava, como um buraco cavado planejadamente. Em momentos como aquele, tudo que ela mais precisava era escutar a voz de , mas nunca se permitia ser egoísta o suficiente para pedir a ajuda dele, sabia que o namorado também estava sofrendo e passando pelas mesmas coisas, de forma silenciosa.
olhou ao redor, tentando enxergar através da escuridão que tomava conta do quarto e se levantou, procurando o interruptor para acender o abajour. Assim que a luz se acendeu, ela semicerrou os olhos, acostumando a visão. Passou a mão pelos cabelos, prendendo-os em um nó frouxo e foi até o armário, vestindo as primeiras peças de roupas que pareciam usáveis para sair aquela hora da madrugada, quase manhã. Calçou o tênis, escovou os dentes e desceu as escadas de forma cuidadosa para não fazer nenhum barulho e acordar os pais. Eles não se importavam, já sabiam da rotina que se transformara em todos os seus fins de semana pela manhã naquelas últimas semanas. Ela sempre caminhava até o deque, com os fones nos ouvidos e o Ipod ligado, escutando as músicas que ela havia selecionado para aquele momento, as músicas que ‘falavam’ com ela, que a ‘consolavam’, mas que nunca conseguiam fazer com que ela se desligasse. Sentava no cercado da construção, com os pés balançando em direção ao mar e esperava pacientemente que o sol nascesse. Esperava pacientemente que o novo dia lhe trouxesse respostas a respeito do que fazer, alternativas para o único caminho que parecia ser o possível de se seguir.
Franziu o cenho, assim que se aproximou do local tão conhecido ao ver alguém sentado no mesmo lugar que ela costumava ocupar todas as semanas. Se controlou para caminhar lentamente, mordendo os lábios e sentindo o coração acelerar de forma instantânea. Ela sabia que era ele, era engraçado o fato de como ela poderia reconhecer a qualquer distância, por mais clichê ou patético que pudesse parecer. Desligou o Ipod, guardando os fones no bolso do casaco e sentou ao lado dele sem dizer uma única palavra, encarando o céu não mais tão escuro sendo refletido no oceano. Sentiu entrelaçar a mão a sua e soltou um suspiro aliviado. As coisas estavam estranhas, mas eles ainda podiam ter momentos em que nada parecia importar.
“Não conseguiu dormir?” – ele quase murmurou e encostou a cabeça no ombro do namorado.
“Pesadelo.” – ela sentiu os olhos arderem, logo que lembrou das cenas do sonho, mas ignorou com rapidez. – “E você?”
“Não sei.” – ele falou de forma receosa e levantou a cabeça para encarar o perfil dele.
“Você quer conversar?” – ela apertou a mão do garoto de leve, fazendo com que ele olhasse para ela.
“Você quer?” – ele ergueu as sobrancelhas e deu de ombros, voltando sua atenção para o céu. Às vezes, ler as coisas nos olhos de era absurdamente difícil, como se ela fosse acabar se machucando se tentasse descobrir tudo. – “Nós devíamos...”
“As cartas ainda nem chegaram, .” – respondeu de forma irritada e balançou os pés.
“Como se nós precisássemos disso para resolver as coisas.” – ele falou ironicamente e virou o rosto também, afrouxando o aperto na mão da garota.
“Será que nós podemos não brigar agora?” – ela apertou a mão dele em resposta e puxou o rosto do namorado para si, com a intenção de que os olhos se encontrassem. – “Por favor.”
“Desculpa.” – ele encostou a testa a dela e fechou os olhos. - “É difícil não pensar quando está tão perto de acontecer.”
“Eu sei.” – ela sussurrou em resposta e aproximou o corpo do dele. Ela mesma não conseguia não pensar a respeito de todas as coisas que eles teriam de fazer dentro de alguns dias, principalmente, o fato de que a decisão que eles já haviam tomado silenciosamente parecia tão gritante, quase como se pedisse para ser exposta logo.
caminhou lentamente pelo bairro de , que ficava a apenas dois quarteirões de sua casa. A melhor amiga tinha planejado uma sessão de filmes relaxantes para os garotos que estavam esperando o telefonema do tal agente que tinham conhecido na festa de ano novo em Londres. Era algo para o qual não estava com humor, mas nunca conseguia dar uma resposta negativa quando os amigos precisavam dela. Passou a mão pelos cabelos que balançavam de forma rebelde, atrapalhando sua visão, por causa do vento primaveril. Aquela costumava ser a estação que ela mais gostava no ano, em que ela podia passar horas observando os leves chuviscos caindo na grama da frente de sua casa, que se transformava de um bege esquisito em um verde vivo. A cidade ficava absurdamente colorida pelas milhares de árvores espalhadas pelos cantos, rodeadas de flores dos mais variados tipos. Ela amava Brighton e tudo que se relacionava aquele local, era onde seu coração estava, onde ela havia crescido, onde ela tinha os melhores amigos e onde tinha perdido totalmente o controle de sua vida fadada à rotina, quando apareceu. Balançou a cabeça se sentindo estúpida por não conseguir aproveitar o clima como costumava e acelerou os passos, passando pela entrada da casa da amiga rapidamente, sentindo as palavras quase abrirem espaço a força por sua garganta. Ela precisava desabafar antes que aquilo a fizesse mais mal do que já estava fazendo. Tocou a campainha e assim que abriu a porta, a garota abraçou a amiga, sentindo os olhos arderem, mas sem vontade de realmente chorar, pelo menos, não naquele exato momento.
“Aconteceu alguma coisa?” – perguntou de forma preocupada e encolheu os ombros, se afastando da outra. – “Vamos subir e...”
“Quem chegou?” – a voz de soou do topo das escadas, fazendo com que se sentisse envergonhada por se deixar aparecer naquele estado na frente de um dos melhores amigos de . Ele não precisava saber como ela se sentia.
“A .” – respondeu, puxando a amiga pela mão para subir as escadas, já que ela parecia colada ao chão. – “, é só o e ele entende os dois lados, sabe.” – as duas subiram e foram até o quarto de , onde se encontrava sentado no chão, mexendo no Ipod da namorada e sorrindo de forma orgulhosa. Os dois tinham o mesmo gosto musical, era impossível não dizer que o casal era completamente compatível.
“Vocês andaram conversando a respeito disso?” – perguntou, enquanto sentava no chão em frente a , que deixou uma expressão confusa tomar conta de seu rosto. – “Quer dizer, a respeito de mim e do .”
“Às vezes.” – falou timidamente e sentou ao lado do namorado. – “É só que nós não conseguimos ver como os dois estão acabados e não comentar nada.”
“Não tem problema, eu acho.” – falou de forma automática e olhou para . – “Ele tem falado disso?”
“Sim.” – assentiu e suspirou, parecendo levemente incomodado. – “Mas não acho que devia ficar repetindo o que ele diz, sabe? É uma coisa que vocês têm que conversar.”
“Eu sei.” – deu de ombros, sentindo-se emburrada pela resposta negativa do amigo. Esperava ter alguma informação de como estava se sentindo, sem precisar perguntar.
“Amiga, você fala isso o tempo todo.” – falou de forma suave e se aproximou da garota, pegando a mão dela. – “Mas não acho que você tenha ideia do que fazer.”
“Ele meio que tem esperanças de que você acabe sendo aceita em alguma Universidade de Londres.” – deixou escapar e colocou o Ipod de lado. – “Não precisa fazer essa cara de indignada, . Ele não está sendo racional em relação a isso tudo, só quer achar um jeito de poder ficar com você.”
“Eu também quero.” – ela falou com a voz embargada pelo nó que tinha se formado em sua garganta, sentindo as lágrimas caírem por suas bochechas. Não existia coisa que ela mais detestasse do que chorar constantemente e lá estava ela, se deixando vencer todas as semanas. – “Mas eu tenho meus sonhos e ele tem os dele e... É difícil de entender, mas se nós abrirmos mão de correr atrás do que queremos, vamos acabar nos culpando e talvez doa muito mais do que está doendo agora.”
“Eu te entendo.” – apertou a mão da amiga de leve. – “Mas não é para gente que você tem de falar isso.”
“Sabe, o mudou muito depois que te conheceu, não é como se ele tivesse virado uma pessoa totalmente diferente do que era, ainda existem características da personalidade do que eu conheço desde que tenho cinco anos, mas de alguma forma, ele se tornou uma pessoa mais calma, mais compreensiva, menos impulsiva e não foi só por ele, foi por você... Então, sinceramente, ele sabe o que está acontecendo, sempre soube. Quer dizer, ele sempre teve a consciência de que a melhor pessoa que ele já conheceu, ia acabar indo embora, mas ele nunca deixou com que isso atrapalhasse o que sente por você. Isso quer dizer alguma coisa, , ele te ama e nunca vai te culpar por nada que ele já sabia que ia acontecer.” – falou carinhosamente, enquanto observava a garota chorar abraçada a .
“Você foi abduzido?” – perguntou com uma expressão de choque quase cômica, que fez sorrir levemente. – “Desculpa, mas meu namorado nunca foi profundo assim.”
“Eu tenho meus insights, querida.” – ele piscou para ela, sorrindo de lado e voltou sua atenção para a amiga. – “Eu vou cuidar dele para você, prometo.”
“Acho bom.” – respondeu, passando a mão pelo rosto para enxugar as lágrimas. – “Se souber de alguma modelo estúpida se aproveitando da fama dele, vou até Londres e faço você desejar nunca ter nascido.”
“Faço isso por você, pode deixar.” – falou com um sorriso malvado tomando conta de seus lábios e balançou a cabeça, com medo da conversa das garotas.
“Quem vai me ajudar em Cambridge?” – falou, sentindo as lágrimas voltarem a cair em torrentes. – “Todas as pessoas que eu mais amo, vão para Londres.”
“Inclusive eu?” – a voz de veio da porta do quarto e virou a cabeça, completamente assustada. – “Desculpa invadir sua casa, , mas seu irmão deixou a gente entrar. e já estão lá embaixo, tentando não destruir sua sala de televisão.”
“Droga!” – levantou, puxando pela mão para que ele fizesse o mesmo. – “Preciso de ajuda para controlar aqueles dois.” – e saiu reclamando do quarto, enquanto tentava não gargalhar do que a namorada falava. continuou sentada ao chão, abraçando as pernas e sentiu sentar ao seu lado, tocando o ombro ao dela. Fazia algumas semanas que eles estavam cuidadosos com toda espécie de contato físico que podia haver entre os dois, parecia quase como se tentassem se acostumar à falta do que tanto necessitavam.
“Inclusive você.” – falou após alguns segundos de silêncio. – “Principalmente você.”
se aproximou, puxando o rosto da garota em sua direção, pousando as mãos ao redor dele e colando a testa a dela. Sentiu a respiração de acelerar e a sua seguir o mesmo ritmo, quase como se fossem ensaiados há anos. Afastou-se um pouco e passou o nariz pela bochecha dela, fazendo com que as bochechas de logo esquentassem ao toque dele, deu um beijo no final de seu maxilar e desceu o rosto até o pescoço da namorada, se demorando um pouco mais ali. Sentiu a garota subir uma de suas mãos até a nuca dele, fazendo um leve carinho com a ponta dos dedos, enquanto a outra se entrelaçava a dele que não estava mais em seu rosto. Por que haviam se privado por tanto tempo daquilo? Era quase como um crime que não se sentissem próximos daquela forma. se afastou de , procurando os lábios do namorado que a atenderam quase com ferocidade, mas ainda de forma terna e carinhosa. puxou a garota para seu colo, sem entender muito bem como tinha feito aquilo sem descolar a boca da dela, mas sem querer compreender. afundou as mãos nos cabelos dele, sentindo a fibra sedosa dos fios e seu coração quase pular pelo efeito daquele toque, daquele beijo, das mãos de segurando sua cintura firmemente, subindo até sua nuca, os dedos se embaraçando em seu cabelo de forma quase nervosa. Os dois não saberiam explicar quanto tempo havia durado aquele beijo, mas responderiam com plena certeza de que havia sido o beijo mais longo que tinham trocado durante todos aqueles meses, durante todas as suas vidas, afastando-se apenas por falta de ar na tentativa de fazer com que o compasso se seus batimentos cardíacos e respiração voltassem ao normal.
“Eu...” – começou, mas foi interrompido pelos lábios de , voltando a beijá-lo.
“Nós não precisamos falar nada agora.”
“Só ia falar que te amo, mas tudo bem.” – ele encolheu os ombros, sorrindo de forma marota e balançou a cabeça, sentindo-se completa novamente depois de tantas semanas de vazio. Abraçou pelo pescoço quase que desesperadamente e suspirou. Cambridge era seu sonho, mas ela nunca sentiria nem um terço do que estava sentindo naquele momento, nos braços de . Não poderia haver outro lugar ao qual ela pertenceria melhor.
As coisas finalmente pareciam ter voltado ao normal, de uma forma que parecia quase fingida, mas que ainda valia mais a pena do que continuar naquele distanciamento incômodo. A primeira coisa que fazia todas as manhãs quando acordava era respirar fundo e se obrigar a não deixar que os maus sentimentos tomassem conta de si, para que ela pudesse aproveitar ao máximo o dia que estava por vir, para que ela pudesse viver aqueles últimos momentos sem preocupação alguma ao lado dos melhores amigos e de , para que ela pudesse simplesmente ser uma adolescente normal, sem medos do que uma vida totalmente sozinha em uma cidade completamente diferente a traria, o modo que a obrigaria amadurecer, a tornar-se uma pessoa da qual ela não tinha muita certeza de que gostaria.
Assim que colocou os pés para fora da cama, a porta de seu quarto abriu abruptamente e olhou assustada para a mãe que entrava com alguns envelopes notavelmente grossos na mão. As reações de seu corpo foram mais automáticas do que ela jamais poderia prever: as mãos começaram a tremer, a boca tomou um gosto amargo e seus lábios pareceram dormentes, o zunido em seus ouvidos tornou-se o único som que ela parecia ser capaz de escutar por toda a sua vida, o embrulho em seu estômago se fez presente como se ela fosse colocar para fora até o que não tinha comido. A mãe sorriu orgulhosa e empurrou três envelopes para o colo da garota, fazendo com que os encarasse sem realmente se mover por alguns segundos, apenas se concentrando em sua respiração que parecia pesada, mas ela não podia afirmar com muita certeza, já que parecia ter sido levada para um mundo paralelo.
“Filha, você não vai abrir? Sei que esses não são importantes como o de Cambridge, mas tenho certeza que vai chegar até o final da semana.” – a voz de sua mãe soou, se fazendo ser escutada através de todo aquele zunido e passou os envelopes um por um, vendo os remetentes. University of Brighton, não era surpresa alguma que ela seria aceita, desde que havia se destacado na escola como aluna com méritos, já haviam oferecido uma bolsa para ela. University of Buckhingham, era surpreendente, mas não chocante já que o pai e a mãe como ex-alunos ainda tinham algumas facilidades e finalmente, City University que ficava em Londres, para a qual ela havia se inscrito depois de conhecer , pensando talvez em uma alternativa para a separação dos dois, mas que não parecia tão convidativa enquanto ela lia as palavras de aceitação. Quer dizer, sabia que era uma ótima e conceituada universidade, que ela ficaria perto dos amigos e do namorado e que nada do que ela mais temia poderia acontecer, mas ao mesmo tempo era como se ela estivesse abrindo mão de uma grande parte de sua vida, como se estivesse jogando tudo pelo qual havia se esforçado desde os doze anos quando decidiu que Cambridge era seu destino, no lixo.
Eram sensações tão conflitantes que ela sentiu que não poderia lidar com aquilo naquele exato momento, sorriu falsamente para a mãe e foi até o banheiro, se trancando logo em seguida. Encarou o próprio rosto no espelho e se assustou, estava pálida com os olhos vermelhos pelas lágrimas que mal havia percebido estar segurando, parecendo sem vida e sem qualquer expectativa pelas coisas que estavam para acontecer, fossem elas boas ou ruins. Passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os e olhou para o boxe. É, um banho poderia não resolver, mas pelo menos, ajudaria.
Após a rotina matinal, sendo sempre seguida pelos olhos preocupados dos pais, dispensou a carona do pai e disse que preferia caminhar até a escola para aproveitar um pouco do sol que havia saído naquela manhã. Andou pelas ruas tão conhecidas de Brighton, sentindo os carros passarem por ela com a velocidade de sempre, com o Ipod no volume máximo, mas não conseguindo fazer com que o zunido em seus ouvidos passasse. Chegou até o final de uma rua que se dividia em duas, em direções opostas e seguiu pela esquerda. Não se importava de matar aula, quase nunca fazia isso e naquela época do ano, com as provas finais já prestadas e as cartas de admissão chegando, todo mundo parecia não se importar... Então, por que ela deveria? Andou lentamente, observando atentamente os comerciantes que trabalhavam na praia abrirem suas lojas, varrerem suas calçadas, arrumarem suas vitrines e receberem os primeiros turistas que começavam a chegar, em sua grande maioria casais de idosos. parou em frente ao deque, sentindo que sua respiração acelerava consideravelmente e sentou na mureta branca de que rodeava o local, colocando sua mochila de lado e tirando os fones de ouvido das orelhas, mordeu o lábio inferior, sentindo os olhos arderem e tentou se concentrar no barulho das ondas chegando até a areia coberta de pequenas pedras, batendo contra o cais quase como uma carícia. Ficou daquele jeito por tanto tempo, que não chegou nem a perceber que já haviam se passado horas. O sol estava mais forte, os burburinhos que vinham dos turistas na praia haviam se tornado mais altos, sendo possível se escutar a risada constante de uma criança, o que fez com que sorrisse de leve, a maré começava a subir lentamente... Tudo parecia tão normal, tão absolutamente em seu lugar certo.
(Coloque a música pra tocar ;D)
“Você não foi à escola.” – a voz de soou do seu lado direito e virou o rosto para ele, que parecia tão sem expressão quanto ao seu. – “A me ligou preocupada, pedindo para te procurar e eu pensei que... Não sei, você sempre vem aqui.”
“As coisas parecem normais aqui.” – deu de ombros e passou a mão pela tinta descascada da mureta.
“Então, você recebeu, não foi?” – ele perguntou com a voz baixa e soltou uma risada pelo nariz, sem entender muito bem o porquê.
“Três. Brighton, Buckingham e Londres.” – ao ouvir o último nome, não pôde controlar o sorriso e o brilho que passou por seus olhos. – “Minha mãe disse que Cambridge deve chegar até o final da semana.”
“É, eles sempre fazem mais suspense.” – colocou as mãos nos bolsos e encarou o mar por alguns minutos em que os dois dividiram um silêncio quase que ameaçador. – “Bom, mas sempre tem Londres.”
“Eu não vou para Londres.” – balançou a cabeça negativamente e suspirou, sentindo-se completamente furiosa por cogitar aquela ideia. Sabia que estava perdendo a razão e que não estava lidando bem com o misto de sensações, transformando tudo em uma raiva que precisava ser colocada para fora, já prevendo que ela iria se arrepender amargamente por descontar nele, mas sem conseguir controlar. – “Você não vai abrir mão dos seus sonhos, eu também não vou.”
“Eu nunca falei isso, .” – olhou para ela, com a expressão ofendida e magoada. – “Só disse que existe uma opção.”
“Não existe opção, .” – ela se levantou e se aproximou do garoto, mas não o suficiente para que pudessem ter a possibilidade de qualquer contato físico. – “Sempre fui eu pensando em alternativas, nunca pensei em me inscrever na City University, só aconteceu depois que nós nos conhecemos e eu nem entendo o motivo de ter feito isso. Você nunca sequer pensou em talvez tentar Cambridge, porque você é esperto o bastante para saber que seus sonhos são muito maiores do que isso. Então, porque eu, ? Porque eu tenho que pensar em opções? Em mudar tudo pelo qual eu lutei desde os meus doze anos?”
“Entendo que você esteja confusa, mas não desconta em mim.” – segurou pelos braços e a encarou de forma determinada. – “Você realmente acha que eu nunca pensei nisso? Mas com as notas que eu tenho, nunca ia acontecer, por mais que eu praticamente implorasse ao entrevistador ou coisa do tipo. Eles não saem distribuindo vagas de presente para pessoas que estão desesperadas por ficar longe de quem amam, eles não estão interessados em criar lindas histórias de amor e serem lembrados por isso... Eles querem pessoas que são capazes como você, .”
“Eu não posso.” – a garota abaixou a cabeça e sentiu os olhos arderem com mais intensidade, mas com a sensação de que não conseguiria derrubar uma lágrima. – “Eu te amo, mas não posso ter essa conversa agora.”
“Eu sei.” – balançou a cabeça e deu um beijo no topo da cabeça de , se afastando logo em seguida. – “Quando receber a carta de Cambridge, me procura?”
“Você vai ser a primeira pessoa.” – respondeu com um fio de voz e levantou o rosto, encontrando os olhos de . Havia alguma coisa naquele azul que ela podia sentir que estava nos castanhos dela, como se eles tivessem devolvendo um ao outro o pedaço de si mais importante que haviam trocando meses atrás.
And it saddens me to say
But we both knew was true
That the ice was getting thinner
Under me and you
The ice was getting thinner
Under me and you
I'm falling apart, I'm barely breathing with a broken heart that's still beating;
O barulho do papel alumínio sendo arrancado do rolo e colocado em cima da tigela da sobremesa que a mãe tinha preparado a irritou mais do que ela poderia ser capaz de explicar. Olhou para o lado, procurando a janela da cozinha e soltou o ar exasperadamente ao ver as cortinas bem fechadas, impossibilitando qualquer visão que ela pudesse ter do quintal não tão arrumado e cheio de flores como ela e sua mãe gostariam que fosse, mas que não tinham tempo ou paciência o suficiente para se dedicar.
voltou sua atenção para os pais que conversavam, enquanto se organizavam para um almoço na casa de amigos próximos e percebeu que de vez em quando, eles se olhavam com admiração e sorriam quase imperceptivelmente, como se a convivência cotidiana, como se todos os problemas diários, todas as preocupações e stress do trabalho não fossem capaz de acabar com o modo como um via o outro, não fosse capaz de sequer fazer com que eles pensassem na possibilidade de viver sem o outro. passou as mãos pelos longos cabelos, soltos e embaraçados da noite mal-dormida em que tinha se virado de um lado para o outro na cama, suspirou irritadamente e se levantou fazendo barulho o suficiente para que seus pais a olhassem de forma assustada, quase como uma repreensão. Ela deu de ombros e sentiu-se, finalmente, com coragem o suficiente para sair pelo hall de entrada da casa e abrir a porta, caminhando lentamente até a caixa de correio pintada com os mesmos desenhos e a letra feia que ela tinha aos nove anos de idade. Abriu a portinhola e mordeu o lábio inferior quando notou a presença de um único envelope no interior da caixinha de madeira, puxou-o para fora e segurou o ar no exato momento em que percebeu o carimbo de Cambridge e voltou para dentro de casa, segurando a carta como se segurasse o ar, como se segurasse a ausência de alguma coisa que só podia ser imaginada e entendida por ela. Jogou o envelope em cima da mesa da cozinha e voltou a se sentar na mesma cadeira na qual tinha passado as duas horas desde que tinha se decido levantar da cama e dizer aos pais que não poderia ir ao almoço com eles, pois estava passando mal.
“Chegou alguma carta importante?” – a mãe dela perguntou com um sorriso quase penalizado no rosto.
“Cambridge.” – deu de ombros e olhou para a mãe de forma desafiadora. – “Não quero abrir agora.”
“Não precisa.” – a mãe respondeu de forma carinhosa, fazendo com que ela se sentisse ainda mais culpada por estar tratando todas as pessoas que amava daquela forma fria desde que tinha decidido só falar com quando tivesse a resposta de Cambridge.
“Hm, você vai ficar bem? Nós podemos ligar para o Josh e dizer que não podemos ir, talvez te levar ao hospital.” – o pai perguntou de forma preocupada e quis gritar para que eles apenas saíssem e a deixassem sozinha, depois quis bater cabeça na mesa como punição por estar sendo tão cruel consigo mesma e com qualquer pessoa que tentasse uma aproximação.
“Não precisa, obrigada!” – ela forçou um sorriso e baixou os olhos para o relógio de pulso que sempre usava. – “Acho melhor vocês irem, é quase onze e meia e ingleses não se atrasam, não é mesmo?”
“Sim!” – a mãe respondeu de forma automática e se aproximou de , dando um beijo no topo de sua cabeça. – “Se precisar de qualquer coisa, você liga.”
“Eu sei, mãe!” – ela assentiu e se levantou para dar um abraço rápido no pai, fechando a porta no momento em que ele ligou o motor do carro, fazendo com ela encarasse os degraus da escada de forma indecisa. Várias opções do que fazer passavam por sua cabeça, mas nenhuma delas envolvia abrir o envelope jogado em cima da mesa da cozinha, parecendo intocável como algo amaldiçoado... Ela podia subir e dormir, mas tinha certeza que não conseguiria sequer fechar os olhos. Podia procurar alguma coisa interessante para ver na televisão, mas sabia que não iria se concentrar no documentário mais interessante ou na sua série preferida. Por fim, pegou o casaco em cima do sofá e vestiu-o, calçando suas galochas cinzas, já meio velhas de tanto uso e saiu decididamente pela porta dos fundos da cozinha. Pela primeira vez, durante todos aqueles anos em que morava naquela casa, ela tinha tempo e paciência o suficiente para organizar e arrumar o quintal, pouco se importando com as nuvens escuras que tomavam conta do céu, sinalizando um temporal.
Andou rapidamente até o pequeno galpão que o pai havia construído quando ela era ainda muito criança, para que brincasse de boneca ou qualquer coisa que sua imaginação resolvesse criar. Abriu a porta de madeira velha e olhou para o canto em que a mãe guardara os instrumentos de jardinagem que havia comprado há muitos anos. sentiu o lábio inferior tremer e soltou um suspiro demorado, que pareceu ter vindo de um esconderijo que ela havia escolhido especialmente para a sensação que aquele simples gesto desencadearia... A visão ficou turva, a cabeça doeu, o coração pareceu acelerar mais do que ela poderia agüentar e o zunido em seus ouvidos foi tão forte, que talvez existisse apenas a opção de ela escutar aquele barulho ensurdecedor continuamente. Deu passos rápidos e raivosos até o local para o qual tentava enxergar através das lágrimas e empurrou a pá para o chão, escutando o barulho do metal sobressaindo-se ao zumbido. Sentiu os olhos arderem, as bochechas levemente molhadas e derrubou uma pilha de livros velhos que estavam em cima da mesa feia dos anos 80, da qual a mãe não havia conseguido se desfazer, mas não queria mais em sua sala reformada. Continuou a derrubar qualquer coisa que passasse pelo seu campo de visão, tentando se concentrar apenas do som que elas faziam ao entrar em contato com o chão frio e duro de azulejo amarelo que o pai havia escolhido especialmente para alegrá-la. Alegria era apenas uma palavra engraçada e sem sentindo naquele momento em que as mãos de tremiam quase convulsivamente e as lágrimas molhavam o rosto de forma automática, como se tivessem ensaiado movimentos precisos.
Sentou-se em meio a bagunça que havia feito e abraçou os joelhos, sendo iluminada por um rápido raio que havia caído por ali perto e um trovão que a teria assustado, se não estivesse tão concentrada nas mais diversas sensações que tomavam conta de seu corpo e mente. Passou as mãos pelo rosto de forma violenta e afastou a franja da testa, colocando-a toda para trás. Por que havia decidido que precisava se apaixonar antes de ir para Cambridge? Ela não fazia nada sem planejamentos decisivos, mas aquela relação com já estava fora de seu controle no momento que ele tropeçou em sua perna na praia. Soluçou alto e sentiu seu corpo todo se contrair como se sua pele estivesse queimando, como se ela tivesse sido atropelada por um caminhão... Era tudo tão conflitante e frustrante que ela não conseguiria usar qualquer tipo de metáfora para explicar o que se passava dentro de si. Escutou as primeiras gotas grossas da chuva baterem no telhado do galpão e levantou o rosto, como se pudesse enxergar além do concreto. Deitou-se, encostando a cabeça em algum livro duro que havia derrubado e fechou os olhos, sentindo todo o corpo ser tomado por uma dormência quase bêbada. estava exausta e precisava descansar antes de tomar a decisão mais difícil que já precisara tomar.
se virou para o outro lado da cama quando sentiu um dos travesseiros bater no seu rosto de forma violenta, tentou resmungar qualquer coisa, mas por sorte dos amigos, o xingamento ficou apenas em seu pensamento. Suspirou pesadamente quando alguém o empurrou com os pés, para abrir espaço na cama e se virou irritado para que havia sido o culpado pelo movimento.
“Que saco! É tão difícil perceber que hoje eu não estou a fim de ensaiar?” – ele praticamente gritou, fazendo com os três olhassem surpresos para o melhor amigo.
“Cara, a gente nem falou de ensaio. Relaxa!” – falou no mesmo tom de voz e cruzou os braços de forma irritada. Não tinha vocação para agüentar grosseria gratuita calado. Sabia que estava passando por problemas e que não queria conversar a respeito do que estava acontecendo entre ele e , mas não deixaria que ele descontasse suas frustrações nos amigos.
“!” – olhou de lado para ele, quase sussurrando seu nome. Como se fosse um aviso para que eles haviam ido até a casa do amigo para tentar compreender o que se passava na cabeça de e tentar ajudá-lo.
“O que é?” – deu de ombros e olhou para . – “Eu sei que você não fala com a há quase uns dez dias e resolveu que se trancar no quarto e ficar isolado do mundo é a melhor solução para os problemas que vocês estão passando, mas cara... Esse não é você, e pelo pouco que eu conheço, não é ela. Será que eu sou o único que percebe o quão fácil vocês estão se entregando? Quer dizer, não dá para se dizer que algum dos dois está lutando para descobrir uma solução, e sim que vocês estão aceitando e duplicando todo o sofrimento. Eu percebi, , eu... O mais insensível de todos nós.”
“Não é fácil assim.” – fez uma careta contrariada e soltou um muxoxo aborrecido, fazendo com que todos olhassem para ele.
“Eu entendo o que o quer dizer, mas também entendo o .” – ele deu de ombros e voltou sua atenção para , como se pedisse ajuda para continuar a falar. Os dois já haviam conversado a respeito de toda aquela situação quando o amigo resolvera faltar dois ensaios seguidos.
“Já passou da hora de vocês conversarem. Há muito tempo.” – começou de forma insegura e se largou na cadeira que ficava em frente à mesa de computador do quarto de . – “Vocês deviam decidir o que fazer logo. Decidir se vale a pena continuar, se vai ser menos pior se terminarem, se... Sei lá, , vocês ficam fugindo desse assunto, o que faz com que tome proporções gigantes.”
“Eu sei.” – encolheu os ombros e fechou os olhos fortemente, sentindo o corpo todo se contrair só de pensar em uma das opções que havia acabado de oferecer. A opção que ele e já haviam escolhido há mais de uma semana, quando se encontraram no píer. A única opção que os dois viam como acessível para que tudo aquilo se resolvesse sem maiores mágoas. sabia que era insegura demais para conseguir sustentar um relacionamento à distância e tinha certeza que por mais que tentasse, ele não era dos melhores caras que existiam. E exatamente por ter essa sensação de insuficiência, que não se permitia o direito de fazer com que desistisse de seus sonhos, com que ela simplesmente esquecesse de algo pelo qual lutava desde que ainda era criança. Cambridge não era apenas uma Universidade de alta qualidade para . Era algo muito maior, era o sonho da garota, era o seu desejo de aprender tudo que fosse possível a respeito de Literatura com os melhores especialistas no assunto da Inglaterra, talvez até da Europa. Ele, logo ele, não podia fazer com que a namorada desistisse de algo muito maior, de um futuro muito melhor do que talvez ele pudesse oferecer a ela. Não, era extremamente inteligente e capaz e ele não seria a pessoa que acabaria com o brilho que a garota carregava. Tinha certeza de que estava sendo realista e que acabaria machucando-a, se fosse egoísta o suficiente para decidir que os vários quilômetros que separavam Londres de Cambridge não atrapalhariam o relacionamento de alguma forma. Olhou para cada um dos amigos e passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os raivosamente.
“É por isso que eu durmo o tempo todo.” – ele não falou para ninguém em específico, encarando a parede azul a sua frente. – “Porque pensar a respeito faz com que eu me odeie.”
“O quê?” – franziu o cenho, totalmente confuso.
“É tão óbvio que eu não sou bom o suficiente para ela. Quer dizer, ela vai para Cambridge se formar em Literatura e eu vou para Londres em busca de algo que nem sei se vai dar certo. E é mais óbvio ainda quem eu sou, as coisas que eu faço. Eu sou o cara que não gosta de responsabilidades, lembram?”
“Você está tão errado que só de te ouvir, meus ouvidos doem.” – balançou a cabeça negativamente. – “Você foi o cara que não gostava de responsabilidades, porque não havia pelo quê valesse a pena se responsabilizar.”
“Cara, você acha que vai trair a na primeira oportunidade que tiver?” – perguntou com um sorriso irônico nos lábios. – “Chega a ser ridículo de tão absurdo, desculpa!”
“Não na primeira oportunidade, mas talvez em alguma outra.” – era melhor deixar com que os amigos pensassem que aquele era seu problema, que aquele era seu medo, sua maior frustração. De qualquer forma, concordaria com tudo que os três dissessem, já que não queria mais conversar.
“E depois o problema é a insegurança da .” – se levantou, pegando a mochila que tinha colocado no chão quando chegou e pôs nas costas. – “Você confia tão pouco em você, cara! Deixa para lá, não adiante o que a gente fale. Vocês dois já tomaram a decisão mais idiota de todas, porque estão morrendo de medo de tentar e admitir que um mudou o outro completamente.”
voltou a deitar e fechou os olhos com uma expressão totalmente contrariada no rosto. Aquela conversa já tinha acabado para ele. , e perceberam o sinal que o amigo estava mandando e se olharam meio decepcionados por terem imaginado um resultado totalmente diferente daquele.
Ela estacionou o carro em frente à casa de pedras escuras e pintura cinza e suspirou pesadamente, encostando a testa no volante, tentando fazer com que sua respiração desacelerasse, tentando fazer com que o vazio que tinha tomado conta de si há dias desaparecesse. Tentando fazer com que o tremor em suas mãos se tornasse imperceptível, que não passasse para o resto de seu corpo. Virou o rosto para o banco da esquerda e observou o envelope claro com o brasão de Cambridge estampado que tinha jogado ali de qualquer jeito, no minuto em que havia acordado no galpão do quintal e mordeu o lábio inferior. Pelo tamanho, ela já devia saber a resposta. Mas ignorar era mais fácil, não abrir o envelope era ainda melhor. Pegou o papel pesado em suas mãos e abriu a porta do carro, pisando na calçada em frente a casa de grandes janelas e apertou o botão do alarme, quase se assustando com o barulho que ele emitiu. Subiu os olhos até a janela do meio com uma pequena varanda e sentiu seu coração brincar automaticamente em seu peito, como se estivesse em uma daquelas brincadeiras de corda das quais costumava fazer parte quando era criança. Qual é a letra do seu namorado? Sorriu para si mesma, lembrando-se que as iniciais em que tropeçava no pedaço de corda colorida, nunca tinham sido a dele. A de seu namorado, o primeiro. Se dependesse de toda a sua vontade, o único.
A sombra de passou pelas cortinas que protegiam qualquer visão do quarto e ela sentiu um fiapo de coragem aparecer em seu íntimo, quase como um mini-empurrão para que ela começasse a andar, sem realmente sentir as pernas. Para que tocasse a campainha, sem realmente sentir os dedos. Estava completamente anestesiada, perdida, absorta em seus pensamentos, absorta no vazio que a preenchia de forma sufocante.
“Olá, querida!” – a mãe de atendeu a porta, puxando-a pelo braço com um sorriso no rosto, para que ela entrasse. Aquele sorriso assustava . Era o tipo de sorriso agradecido por ter mudado a vida do filho para melhor. Por ter transformado o próprio . – “Você está tão pálida. Aconteceu alguma coisa?”
“Não, senhora.” – balançou a cabeça negativamente e apontou para as escadas. – “Preciso conversar com ele, posso?”
“Claro, pode subir.” – ela assentiu e levou a garota até o final do hall que dava para as escadas do segundo andar da casa. – “Vou fazer um chá para você. Depois desça para tomar.”
“Okey.” – respondeu sem saber realmente se podia dar aquela pequena certeza a ela e subiu as escadas lentamente, se perguntando o quão devagar poderia ir sem parecer estranha, com os olhos da mãe de em suas costas. Após alguns segundos chegou ao final e pisou no chão encarpetado do corredor grande que dava para os quartos e um banheiro social. Caminhou até a segunda porta a direita e passou os dedos pela madeira clara, antes de conseguir bater. Abaixou o rosto e apertou o envelope seguro em sua mão esquerda, sentindo um bolo se formar em sua garganta. A porta se abriu repentinamente e a encarou de forma preocupada, assustada, sem precisar de palavra alguma para entender o que aquilo significava.
(Coloque a música pra tocar ;D)
“Chegou?” – ele perguntou apenas para fazer algum barulho em meio aquele silêncio angustiante. – “Você é oficialmente uma garota de Cambridge.” – ele afirmou e forçou um sorriso de quem quase se sentia completamente feliz.
“Não sei, não abri.” – ela encolheu os ombros e entrou no quarto, andando até a cama do namorado e se sentando em uma das pontas, da mesma forma que ela tinha feito em Londres poucos meses antes.
“Mas você já sabe a resposta.” – ele sentou ao lado dela, sentindo seus braços roçarem levemente. Suspirando, sentindo seu corpo implorar por qualquer mínimo contato físico que pudessem ter.
“Acho que sim.” – abriu o lacre do envelope rapidamente, tirando a carta de dentro com as mãos absurdamente trêmulas e sentiu as lágrimas caírem por suas bochechas quando leu as palavras de aceitação da Universidade. Era um sonho realizado. Mas o que tinha de realmente bom naquilo? De que adiantava que tudo se realizasse, que todos seus planejamentos de anos tivessem valido a pena, tivessem sido concretizados, se ela teria de abrir mão de algo muito maior? Se ela teria de abrir mão de , de se sentir completa, de se sentir segura, de se sentir feliz, de sentir que seu mundo finalmente fazia sentindo, de sentir que finalmente pertencia a uma coisa muito melhor?
“Parabéns, garota de Cambridge.” – sentiu seus olhos arderem com o misto esquisito de uma tristeza imensa por si e uma felicidade absurda por ter a pessoa mais importante de sua vida realizando seu maior sonho. Passou o braço pelos ombros dela, trazendo-a para si e beijou o topo de sua cabeça, inspirando o cheiro dos cabelos da namorada.
“E se eu não quiser ser a garota de Cambridge?” – ela falou entre soluços e o abraçou pela cintura, se levantando um pouco para sentar no colo dele e afundando o rosto no pescoço de . – “E se eu quiser ser sua garota?”
“, nós sabíamos que essa hora ia chegar.” – ele falou respirando contra seu rosto, sentindo as próprias lágrimas dançarem estupidamente por seu rosto. Ele quase não chorava, não gostava. Não por ter a ideia machista de que homens não choram, mas por achar desnecessário, por nunca se deixar sentir tão fraco e ponto de deixar sua dor transparecer. – “Não tem problema, de verdade.”
“Lógico que tem problema, .” – ela bateu no ombro dele e levantou o rosto, prestando atenção nos olhos azuis ainda mais intensos pelas lágrimas. – “Existe um enorme problema... Eu te amo.”
“E eu te amo, mas isso nunca foi um problema para mim.” – ele segurou o rosto dela entre as mãos e sentiu o corpo de tremer contra o seu. – “E por isso eu quero que você seja feliz.”
“Eu não quero...” – ela voltou a abaixar o rosto, deixando com que seu choro tomasse proporções maiores. Fazendo com que seus soluços se tornassem mais altos e com que seu corpo se inclinasse para frente. Sentindo uma dor absurda passar por si, brincar com cada pedaço dela, quase como se estivesse fazendo piada de seu sofrimento. – “Eu não quero, .”
“Eu sei.” – ele a puxou mais ainda para si, abraçando-a fortemente, quase como se quisesse fundir seus corpos, transformá-los em apenas um para que não pudessem se separar nunca. Que fosse impossível. – “Mas nós sabemos que vai ser melhor.”
“Não, não vai.” – ela colou os lábios aos dele em um beijo terno, mas que demonstrava todo seu desespero, agonia, dor. levou uma das mãos à nuca dela e intensificou a ação. Era impraticante que existisse qualquer forma de tempo, naquele momento. Os milésimos, segundos, minutos, horas pareciam absurdos. Coisas inventadas, ficcionais. Eles podiam ficar ali para sempre e nada mais existiria, já que o tempo não passaria. Não existiria o término que estava para acontecer, a separação definitiva em agosto, ou a ida de para Cambridge. A ida dele para Londres, a distância que os separaria. Eles nunca precisariam entender o significado dolorosamente irracional de saudade.
“.” – ele se afastou para tomar ar e colocou uma mecha do cabelo dela levemente molhada pelas lágrimas, atrás de sua orelha. – “É melhor nós ficarmos com as boas lembranças, certo? Eu não quero lembrar de nós dois como um daqueles casais que brigam por tudo.”
“É nisso que nós estamos nos tornando.” – ela assentiu e se afastou dele, andando até o outro lado da cama e sentando abraçada aos joelhos, encarando a madeira escura do guarda-roupa de . Ele encarou o perfil da garota abraçando as pernas com os olhos vazios, exceto pelas lágrimas que caíam de forma automática. Não gostava de brigar com ela. Não gostava de sentir tudo aquilo que sentia por ela. Tudo era confuso demais. Ela era confusa demais, mas ele gostava dela. Mais do que devia. Ela era uma bagunça. Uma linda bagunça, da qual ele teria de se separar. Pelo bem dela, pelo próprio bem, sabendo que as feridas já abertas se tornariam ainda maiores se eles insistissem naquela situação ou a ignorassem, como tentavam fazer desde o começo.
“É.” – respondeu de forma monossilábica e passou as mãos pelos cabelos de forma quase desesperada, apoiou os braços nos joelhos e voltou sua atenção ao carpete do quarto. virou o rosto para ele e deixou com que um soluço escapasse de seus lábios, levando uma das mãos à boca para reprimir um segundo barulho inconfortável no meio de todo aquele silêncio formado por frases incompletas.
“Não é certo.” – ela se permitiu falar, levantando-se e indo até a janela do quarto do namorado. Notou que já era noite e a rua parecia ainda menos movimentada que o normal, nada fazia sentido aquele dia.
“Então, nós fomos um daqueles amores de verão? Pelo menos, eles são divertidos de se contar.” – ele perguntou em voz baixa, quase inaudivelmente. Tentando disfarçar toda sua dor, tentando transformar tudo em algo mais suportável.
“Não.” – ela balançou a cabeça negativamente e sorriu de forma terna, tentando esconder em vão o sofrimento, que os olhos dela expressavam sem nenhum pudor. – “Você é muito mais que isso: é o meu primeiro amor. Pode não ser divertido de contar, mas é o que eu sinto.”
“Eu sei.” – ele levantou e foi até ela de forma insegura, virando-a para si e a abraçando. Beijou o topo da cabeça de , inalando o cheiro viciante que ela tinha pela última vez, como se quisesse guardar em sua lembrança como uma fotografia. – “Nós sempre vamos ter um ao outro, por mais que não estejamos juntos.”
“Obrigada pelos melhores momentos da minha vida.” – ela sussurrou com o rosto encostado no ombro do garoto, entrelaçando uma das mãos a dele, assim como tinham feito em seu primeiro beijo. Ela nunca tinha se sentindo tão vazia como naquele momento, em que o fim praticamente gritava sua presença e trazia consigo toda a realidade da qual eles tinham fugido por meses. Talvez, estivesse certo a respeito de acabar antes que não restassem mais boas lembranças. Talvez, eles estivessem errados por não lutar com mais empenho. Talvez, ela nunca mais conseguisse se sentir completa, nunca conseguisse superar. Talvez... tinha cansado de fazer previsões para sua vida, mas ela esperava que aquele término não fosse permanente. De alguma forma, em algum momento, não importava quantos anos se passassem, eles voltariam a ficar juntos.
I need to find my way back to the start when we were in love;
Um mês. Exatamente quatro semanas, trinta dias e ela não era idiota o bastante para contar horas e minutos. Um mês desde que tinha saído da casa de com o rosto molhado de lágrimas, sem conseguir responder ao convite para o chá que a mãe do garoto fizera. lembrava de pouca coisa daquele começo de noite, para falar a verdade. No momento em que se despediu de com um beijo na testa do ex-namorado e saiu de seu quarto, tudo pareceu tomar forma automática. Ela sabia que tinha dirigido até em casa pelo simples fato de ter cruzado a porta de entrada e subido as escadas para seu quarto, sem nem ao menos notar se seus pais já haviam voltado do encontro com os amigos ou não. Sabia que tinha deitado em sua cama e olhado para o teto por um longo tempo, tinha certeza de que foram horas que haviam parecido mínimos segundos. Não escutou nenhum barulho, nem mesmo o zunido irritante que havia tomado conta de seus ouvidos naquela tarde tinha aparecido. Ela estava simplesmente surda. Era uma sensação esquisita que ela estava experimentando durante aquele período... O som havia voltado aos seus ouvidos na única vez que tinha visto depois do término. tinha ido buscar em sua casa e o garoto estava no carro do amigo, parecendo irritado por não ter sido avisado do desvio de trajeto. O zunido voltou aos ouvidos de com menos intensidade do que se poderia esperar e ela encarou os olhos azuis dele sem interpretar nenhum papel, sem ter de demonstrar forçadamente que era suficientemente forte para superar a dor que estava sentindo... Ele entendeu, porque sentia o mesmo, mas acima de tudo ela pôde ver mágoa no olhar do ex-namorado, uma mágoa que ela já esperava, mas que não sabia que a afetaria tanto. Após o carro de ter partido, voltou a ser surda. Ela apenas se levantava todos os dias, encarava o envelope de Cambridge por tempo indeterminado, sem realmente pensar em nada e vestia sua roupa para o colégio. Nos fins de semana, era capaz de repetir a mesma rotina até perceber que não precisava ir para a escola. Ela simplesmente se trancava em seu quarto, recebendo quando vinha visita-la e tentando se concentrar nas tarefas que os professores passavam... Sabia que já tinha sido aceita pela Universidade que queria, mas não era como se pudesse deixar de importar com as notas finais.
Exatamente um mês até ela decidir que não queria mais ficar inaudível aos sons que circulavam ao seu redor. Não era fácil simplesmente ignorar o que ela estava passando, o que estava passando, o que os pais... O que todos que de alguma forma eram próximos dela, estavam passando. nunca foi de natureza egoísta, nunca se importou menos com o sofrimento dos outros por pensar que o seu era maior, nunca quis deixar ninguém absurdamente preocupado como estava fazendo, presa naquele estado catatônico. Foi até a casa da melhor amiga e a raptou, nas palavras de , para um orfanato. Ela precisava ajudar, precisava fazer sorrir, precisava se redescobrir sem ... Não que tivesse deixado de amá-lo; se fosse possível, o sentimento que tinha pelo garoto tinha aumentado em proporções indizíveis, mas ela precisava de um tempo para sentir algo diferente, ela precisava de um tempo para reencontrar a si mesma, se aquilo fazia algum sentido.
“!” – gritou com quatro crianças ao seu redor, duas penduradas às suas costas. – “Socorro?”
“Que é isso?” – ela gargalhou de forma sincera pela primeira vez durante um longo tempo e correu até a amiga para ajudá-la. – “A tia já é muito velha e tem problema na coluna, é melhor não fazer mais isso, se não ela quebra ao meio.”
“Wow.” – uma das crianças soltou assustada, enquanto as outras gargalhavam de forma infantil.
“Nossa, muito engraçado!” – rolou os olhos e puxou o braço esquerdo de para checar que horas eram. – “Amo crianças, você sabe, mas já faz duas horas que nós estamos aqui e preciso me alimentar antes que desmaie.”
“Eu também.” – assentiu e as duas se despediram das crianças, após longos protestos de que elas ainda tinham de brincar de várias outras coisas. As duas sorriram e prometeram que voltariam outro dia, se despedindo de cada uma com um beijo e agradecendo a diretora do local por deixar com que elas fizessem aquela espécie de serviço comunitário.
O sol já começava a se por quando as garotas chegaram à lanchonete que mais gostavam no píer da praia de Brighton. se sentou em uma das cadeiras e virou o rosto para o local onde ela e haviam passado muito tempo juntos, suspirou e começou a mexer no arranjo da mesa, mordendo o lábio inferior de forma ansiosa. Ok, talvez ela não estivesse pronta para superar de qualquer forma.
“Quer conversar?” – ofereceu, encarando a amiga de forma preocupada.
“Não sei.” – passou a mão pelos cabelos, afastando-os do rosto e voltou a suspirar. – “Me sinto meio vazia.”
“Acho que é normal.” – ela assentiu de forma compreensiva. – “Você sente muita falta dele?”
“Mais do que é possível sentir.” – sorriu de leve e sentiu os olhos arderem. – “É difícil acordar todos os dias e não poder ligar ou receber as mensagens idiotas que ele sempre me mandava durante as aulas. Quer dizer, nós só nos vimos daquela vez.”
“Por falar nisso, queria perguntar...” – se aproximou um pouco e franziu o cenho. – “Vocês decidiram que não seriam nem amigos?”
“Não, nós não tomamos nenhuma decisão do tipo, mas acho que no momento é mais fácil manter distância.”
“É difícil, sabe? Para os meninos. Quer dizer, eles te adoram, mas acham que precisam ficar do lado do ou coisa do tipo.”
“Ele precisa dos amigos agora, .” – sentiu uma lágrima descer por sua bochecha esquerda e a limpou rapidamente.
“Você também.” – ela segurou a mão de e suspirou. – “Se você quiser, nós mudamos de assunto.”
“É só que acordo todos os dias com a esperança de que a gente se encontre sem querer por aí. Quer dizer, não é uma cidade muito grande, nós moramos meio que perto e freqüentamos os mesmos lugares... Eu quero abraçá-lo e passar um tempo com ele, mas ao mesmo tempo me sinto egoísta porque sei que vai ser difícil para ele, é tudo tão conflitante que me dá vontade de arrumar minhas coisas e ir logo para Cambridge.”
“Como se lá você não fosse sentir saudade dele também.” – respondeu de forma carinhosa e suspirou. – “Não quer tentar? Não é como se vocês precisassem ficar sozinhos. Posso conversar com o para ele falar com o e nós invadimos a casa do amanhã.”
“Amanhã é sábado.” – falou de forma automática, fazendo com que a amiga sorrisse. Era esquisito que precisasse de um planejamento prévio para que pudesse ver , que os amigos precisassem conversar com os dois para saber se podiam se reunir como costumavam fazer, mas ela precisava e queria se encontrar com ele, certo? – “Hm, acho que sim.”
“Achar não é uma coisa muito segura.” – fez uma careta, fazendo com que suspirasse.
“Sei que não.” – ela assentiu e se levantou, amarrando os cabelos em um rabo de cavalo alto e bagunçado. – “Se importa se eu der uma de estranha e pedir para ficar um pouco sozinha?”
“Dar uma de estranha?” – sorriu de forma carinhosa e brincalhona, assentindo para o pedido da amiga. – “Tudo bem, posso ligar para o vir te substituir, já que estou morrendo de fome e não quero comer sozinha.”
“Você é a melhor.” – colocou a alça da bolsa no ombro. – “Prometo que te ligo, assim que me decidir a respeito de amanhã.”
“Sem problemas! Mas pensa direito, ok? Qualquer desculpa é usável para invadir a casa do e usar a piscina.” – disse de uma forma engraçada, fazendo com que desse uma de suas primeiras gargalhadas sinceras em semanas.
A garota acenou para a melhor amiga, ligou o Ipod e colocou os fones rosa nas orelhas, enquanto andava pelo píer sem realmente perceber qualquer coisa que estivesse acontecendo ao seu redor. Simplesmente deixou com que seus instintos a levassem para o local que ela tinha evitado de todas as formas durante aquele mês. Observou as grades enferrujadas do parque de diversão abandonado e olhou para o relógio de pulso, percebendo que ainda tinha tempo o suficiente antes que o sol se posse para andar pelo parque sem medo de qualquer coisa assustadora... Sorriu levemente de si mesma, era tão dela ficar mais assustada com espíritos maldosos do que com ladrões ou qualquer coisa do tipo. Sentiu a brisa leve que anunciava o final da primavera e começo do verão passar por seus braços e pernas descobertos e se arrepiou levemente, empurrando o portão do local e respirando profundamente antes de dar o primeiro passo para dentro do parque.
Folhas amareladas do outono ainda cobriam o chão de uma forma quase mórbida, mas bonita ao mesmo tempo. Os brinquedos estáticos podiam assustá-la se aquele lugar não significasse tantas coisas para ela. As barracas onde as pessoas costumavam brincar de tiro ao alvo ou qualquer coisa do tipo estavam completamente abandonadas, com as prateleiras vazias e sem o colorido vivo dos brindes que eram a essência das brincadeiras... caminhou até um banco com a tinta descascada e sentou-se de pernas cruzadas, apoiando os cotovelos nas pernas e absorvendo cada mínimo detalhe que seus olhos podiam alcançar. Era realmente uma pena que um lugar como aquele estivesse tão esquecido. Pior ainda, era terrível que casais que tiveram sua história começada ali tivessem de voltar para um lugar que tinha se tornado em algo tão sem vida. Passou a mão pela franja, afastando-a e ergueu os olhos para o lado direito, em busca da pequena casa de terror que a havia levado meses atrás e sentiu seu coração dar uma batida única e depois parecer parar, o ar que entrava em seus pulmões pareceu ser bloqueado e os zunidos em seus ouvidos fizeram-se presentes novamente, mas não tão alto que pudesse bloquear o som da música.
estava em pé, a alguns metros de distância, com as mãos nos bolsos da calça jeans e o cabelo sendo bagunçado pela brisa que tinha virado um vento já, tamanha a intensidade. Praticamente arrancou os fones e levantou-se rapidamente, como se algo desconhecido a tivesse empurrado. levou uma das mãos à nuca, coçando-a do jeito que fazia quando se sentia incomodado, sem saber como agir e andou lentamente até onde a ex-namorada estava.
“Oi!” – a voz dela saiu quase histérica e suas bochechas tomaram o tom avermelhado que tinham o atraído desde a primeira vez no lual.
“Oi!” – ele respondeu quase em um sussurro e pigarreou. – “Tudo bom?”
“Não.” – ela mordeu o lábio inferior, fazendo com que uma expressão surpresa tomasse o rosto dele. – “Desculpa, não sei fingir. Não para você. Então, é melhor ser sincera.”
“Você... Hm.” – ele desviou o olhar de , encarando o carrossel praticamente destruído que tinha ao seu lado esquerdo.
Os dois ficaram em silêncio por minutos que não puderam ter noção, apenas escutando a respiração um do outro e sussurro assustador do vento que envolvia os dois em uma bagunça de roupas e cabelos balançando para todos os lados. Parecia que tudo relacionado a ambos tinha bagunça em sua essência. Ela mordia o lábio inferior com força, segurando as lágrimas que teimavam em arder em seus olhos, como uma espécie de tortura auto-infligida quando sentiu a mão dele em seu rosto, enxugando suas bochechas molhadas de lágrimas que ela nem percebeu terem caído.
“Não quero te fazer passar por isso de novo.” – balançou a cabeça de forma negativa, parecendo muito irritada consigo mesma. Ou talvez com a situação na qual se encontrava. – “Não é justo.”
“Não é.” – assentiu e desceu as mãos até os ombros da garota, puxando-a para um abraço inesperado. – “Mas eu não me importo.”
passou os braços pela cintura do ex-namorado, enlaçando-o com tanta força que parecia quase prejudicial a ambos, se não estivessem tão concentrados em apenas sentir um ao outro tão próximos depois de tanto tempo. De repente, os olhos da garota pararam de arder, a visão já não era embaçada, o zunido tinha sumido totalmente e seu coração voltou aos batimentos normais, quase como se tivesse imitado o compassado do de . Era terrível, era egoísta e injusto, mas parecia que a única forma de canalizar toda a dor pela qual ela estava passando há um mês, era estar tão próxima a . Sentindo-se protegida, aliviada, relaxada. Quase normal.
“Como você está?” – afastou o rosto do peito dele.
“Não sei.” – ele sorriu de forma envergonhada, quase como uma criança que não sabe a resposta de algo que realmente importa. – “Nunca passei por isso antes.”
“Nem eu.” – encolheu os ombros e se afastou mais um pouco, sentindo-se mal por estar fazendo com que ele passasse por isso. pareceu não gostar da ação da garota, mas deixou com que ela o fizesse, apenas entrelaçando suas mãos às dela. Precisava de apenas algum tipo de contato.
“Às vezes, fico me perguntando se vai passar, sabe?! Se algum dia vou voltar a ser o mesmo.”
“Acho que passa.” – sorriu tristemente e abaixou o rosto. – “Mas tenho certeza de que nunca mais vou ser quem era antes de você.”
“Se passar...” – se interrompeu, fazendo com que voltasse sua atenção para ele. – “Passar não significa esquecer.”
“Não.” – ela fez um gesto com a cabeça que indicava a negativa e suspirou, contendo a vontade de passar a mão pelo rosto dele e beijá-lo.
“Eu evito pensar em certas coisas, sabe?” – os olhos dele brilharam de forma quase furiosa e se assustou. – “Você é linda, ! É óbvio que não vão faltas caras em cima de você em Cambridge e isso machuca mais do que qualquer coisa. Saber que em algum momento, as coisas vão seguir e outra pessoa vai te dar o que eu não posso.”
“Tenho certeza de que ninguém, nunca, vai sequer oferecer um décimo, um milésimo, qualquer coisa do que você ofereceu para mim, !” – como algo automático, aproximou seu rosto do da garota, mas ao perceber desviou os lábios para sua testa. – “Mas eu te amo o suficiente pra te deixar ir.”
“.” – ele murmurou de forma atormentada contra o topo da cabeça da garota e ela fechou seus olhos com força. Não queria tornar aquele momento ainda mais difícil.
“Você precisa se focar no que está por vir.” – ela se distanciou dele lentamente, fazendo uma força sobre-humana e passou a mão no rosto do ex-namorado. – “Seu futuro é muito mais do que você pode imaginar.”
“Não é tanto assim sem você do meu lado.” – ele encarou os olhos da garota como se fosse achar as respostas para todas suas perguntas, soluções para todos os seus problemas como fazia antes, mas dessa vez tudo que conseguiu encontrar foi um vazio doloroso. Um vazio que não fazia parte da garota incrível que ele tinha conhecido meses atrás na praia, um vazio que fazia com que ele se sentisse enjoado, pensando ser o culpado por aquilo. não merecia passar por aquilo, ele não merecia passar por aquilo.
“Você sabe que isso nunca significou pra sempre.” – e falando isso, ficou na ponta dos pés e colou os lábios aos de em um beijo rápido, quase como se fosse um aviso de que não importava o que acontecesse, eles sempre teriam um ao outro, ou pelo menos a memória do que tinham vivido juntos. Ela voltou a se afastar quando ele passou os braços por sua cintura e sorriu para ele, fazendo o caminho de saída do parque com passos rápidos para que ele não pudesse ver as lágrimas que apostavam uma espécie de corrida por suas bochechas. Deixando com dúvida a respeito da última coisa que tinha dito. Eles não significavam para sempre ou o término?
encarou as estrelas coladas no teto de seu quarto e balançou os pés no ritmo da música desconhecida que saía das caixas de som de seu rádio. Era um costume dos finais de tarde de sábado, sintonizava o velho aparelho que fora de seu pai quando ainda era jovem como ela, talvez até mais do que ela, em uma estação qualquer e esperava o inesperado, os acordes incomuns aos seus ouvidos, as sensações novas que cada letra diferente lhe trazia e a sensação de conhecer profundamente o que lhe era desconhecido. Talvez fosse um dos únicos momentos em sua rotina restrita e complexa que se deixava realmente relaxar, sem planejar, sem criar expectativas, sem sentir-se ansiosa... Era somente ela e a surpresa que poderia ser tanto agradável como totalmente desagradável. Sorriu de si mesma, sentindo-se idiotamente excêntrica, buscando motivos para chegar exatamente naquele momento em que a harmonia da música fazia com que seu coração batesse descompassadamente em seu peito, como se seguisse o ritmo que tomava conta de todo o seu quarto de forma contagiosa. Passou a mão pelo rosto, afastando a franja para trás e virou o corpo para criado-mudo que tinha ao lado de sua cama, abrindo a gaveta e pegando a agenda na qual anotava seus compromissos, trabalhos, avaliações... Tudo muito impessoal e pouco íntimo, não lembrava em nada a agenda de uma adolescente, parecendo algo de um adulto ocupado. Mas algo ali se diferenciava das folhas marcadas de caneta azul com lembretes em cores diversificadas, uma página em especial era rabiscada de forma diferente, com uma aquarela mais viva e uma foto que ela não se lembrava de ter sido tirada: ela e abraçados no deque, sorrindo um para o outro como se fossem os únicos habitantes em um raio de quilômetros, milhas, o que fosse. tinha a sensação daquele momento presente em sua memória. O último momento de calmaria, o último momento que antecedeu a tempestade ou qualquer metáfora que quisesse ou pudesse empregar para o que havia acontecido semanas antes de receber a carta de Cambridge. Sorriu para a foto, para a memória, para o momento e para si mesma... Já haviam se passado dois meses desde o encontro que tivera com no parque de diversões abandonado e eles pareciam estar levando a situação toda de forma muito correta e civilizada. Quer dizer, não é como se tivessem se tornado os melhores amigos do mundo ou se telefonassem todos os dias e a presença um do outro tão próximo ainda não doesse tão intensamente que seus corpos pareciam em brasas, mas já podiam sair juntos com os amigos sem causar nenhum tipo de constrangimento, conversar e se divertir... Entretanto, seria demais pedir que os dois ficassem totalmente sozinhos em um cômodo sem que se sentissem desconfortáveis e incomodados pelo silêncio cheio de significados infinitos que talvez nem eles entendessem ou talvez preferissem não entender.
voltou a guardar a agenda em seu lugar e levantou-se, indo até o canto do quarto onde sua mala feita estava no chão, rodeada por algumas caixas de papelão em que guardara coisas pessoais que lhe fariam falta, que precisariam estar no alojamento de Cambridge para que sentisse, pelo menos, uma sensação de que estava em casa, que estava segura e de que conseguiria passar por aquilo, viver seu sonho sem nenhuma limitação. Abriu as cortinas e olhou para o relógio de pulso, já estava atrasada. Tinha combinado com a melhor amiga de ver seu último pôr-do-sol em Brighton antes da viagem definitiva para o campus da Universidade e logo depois, iriam para a casa de , comemorar, despedir-se, o que quer que fosse... A única coisa da qual a garota tinha certeza desde que abrira os olhos naquela manhã era a de que queria estar ao lado dele. Mesmo que não pudesse ou conseguisse tocar, mesmo que estivesse rodeada de várias outras pessoas e ainda assim, sentisse uma solidão que ela sequer era capaz de explicar. Mesmo que lhe doesse a alma, o corpo, tudo. Ela precisava escutar a voz dele, a risada quando algum dos amigos fizesse algo bizarro, já que a sensação da música desconhecida era libertadora, mas o som do conhecido que vinha por meio dele era confortável, necessário, essencial.
Escutou o barulho de um carro estacionando em frente a sua casa e abriu a porta de vidro que dava para a pequena varanda de seu quarto, podendo ter a visão completa de toda a sua rua e de uma pequena parte do oceano que se escondia por trás das casas da vizinhança. Observou a melhor amiga saindo do carro e caminhando lentamente até o portão da frente, enquanto procurava o celular na bolsa de forma distraída. contou até três mentalmente e sorriu quando bateu em sua testa, chamando-se de imbecil e voltou ao carro quando lembrou que tinha deixado o aparelho lá, era tão previsível que ela sabia exatamente que ia acontecer no momento em que o carro da amiga apareceu... Ela sentiria falta do previsível, de rir dos esquecimentos da melhor amiga, de sair com ela nos finais de tardes para conversar a respeito dos pequenos dramas nos quais se metiam ou simplesmente esperar a noite tomar conta do céu, enquanto tomavam chá gelado no copo engraçado da lanchonete preferida que tinha na praia. Ela sentiria falta do pequeno e do grande, do previsível e do imprevisível, da vida com a qual estava acostumada e perfeitamente satisfeita desde que se entendia por gente. Sentou-se na cama e esperou a amiga atravessar a porta de seu quarto com um sorriso triste, quase que forçado, como se não quisesse preocupar ninguém com seus próprios sentimentos. tinha essa mania, achava que não merecia a preocupação de ninguém.
“Oi!” – ela falou em um fio de voz e se levantou para abraçá-la. – “Não é como se você fosse morrer ou coisa do tipo.”
“Nem você.” – respondeu sentindo um nó na garganta e sorriu quando se afastou da garota.
“Então, está tudo arrumado.” – falou mais para si mesma ao ver as coisas da amiga organizadamente colocadas no chão de seu quarto. – “Isso é esquisito.”
“O quê?”
“Tudo.” – ela falou de forma quase sussurrada e sentou-se ao lado de . – “Não sei se tenho permissão para falar isso, mas... O me disse que o não quer ir à casa do hoje.”
“Eu meio que já esperava por isso.” – sorriu de leve e encolheu os ombros, sentindo as pontas de seus dedos adormecerem estranhamente. – “Não é como se fosse fácil.”
“Sei que não, mas ele não precisa agir como um babaca.” – falou irritada, fazendo com que risse e voltasse a abraçá-la. Não importava o que acontecesse, a amiga sempre a protegia.
“Ele não está, você sabe.” – ela falou de forma delicada e se levantou, pegando a bolsa em cima de sua poltrona. – “É difícil ficar até no mesmo lugar sem não... É até difícil de explicar.”
“Não é como se você realmente estivesse tão bem como demonstra.” – afirmou, enquanto se afastava para pegar sua bolsa em cima da poltrona em frente a sua mesa de estudos. – “Não é como se você estivesse pronta para ir embora amanhã, não é?”
“Não é como se eu tivesse esperado muita coisa na minha vida.” – ela respondeu tristemente e segurou a mão da amiga, puxando-a para que se levantasse. – “E não é como se quisesse conversar a respeito disso agora em vez de comprar chá gelado e ver meu último pôr-do-sol na praia em tempos, então, pode ser?”
“Preferia que você falasse o que está sentindo, mas posso fingir que não estou preocupada.” – fez uma careta e riu, balançando a cabeça e saindo de seu quarto.
“Você sabe que vou acabar falando de qualquer maneira, por isso vai fingir por uma hora e eu vou acabar colocando as palavras para fora sem nem sequer perceber.” – sentiu os olhos arderem pelas lágrimas que estava segurando o dia todo. – “Vou sentir mais saudade de você do que é possível explicar.”
“Nós sempre temos trens e ônibus, telefones e meios que não são suficientes, mas que ajudam.” – empurrou a melhor amiga de leve e as duas sorriram uma para a outra, selando a promessa silenciosa de que as coisas ficariam bem enquanto tivessem a certeza do apoio, do pilar, da base da amizade mais pura e intensa não importasse qual fosse a situação.
encarou o controle de do wii sem realmente vê-lo e jogou na cama, fazendo com que virasse sua atenção para ele. Deu de ombros e sentou no chão, encarando os próprios pés calçados no adidas branco e preto e passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os de forma quase desesperada. Voltou a levantar e caminhou devagar até a janela do quarto do amigo, afastando a persiana em um movimento automático que ele não entendeu o motivo de ter realizado. De repente, sentiu algo como fúria subir por todo seu corpo, congelando seu cérebro, esquentando seu rosto e corpo. Algo como a sensação de uma impotência que ele tinha vontade de simplesmente fazer desaparecer com um simples piscar de olhos, com um simples segundo de concentração, mas não, nada adiantaria. Olhou para que o encarava parecendo assustado e bufou irritado, querendo realmente quebrar a primeira coisa que visse em sua frente. Jogou-se de forma descuidada na cama do amigo, ficando atravessado no colchão, com suas pernas para fora e penduradas desconfortavelmente. Parecia que estava se vendo fora do corpo e a sensação era mais esquisita do que poderia sequer imaginar, era mais desesperador, mais aterrador e assustador do que qualquer coisa que ele já havia sentido.
“Cara, você está começando a me assustar.” – a voz de pareceu vir de um outro cômodo muito distante, como se ele estivesse gritando para se fazer ouvir, mas a única coisa que se podia escutar era um sussurro quase mudo. – “.”
“O que é?” – ele falou de forma brusca, fechando os olhos, tentando manter o foco para que não descontasse toda sua frustração em quem não merecia.
“Você precisa colocar para fora antes que isso te coma vivo.”
“Muito inteligente.” – ele respondeu grosseiramente e logo em seguida coçou a testa impacientemente e sentou-se. – “Desculpa, não é como se a culpa de eu estar me sentindo um babaca fosse sua. Na verdade, é mais minha do que de qualquer um.”
“Ainda é cedo e dá tempo de ir para o .” – desligou o videogame com um tom esperançoso. – “Elas devem ter acabado de chegar, na verdade.”
“Não posso impedir que você se despeça dela.” – balançou a cabeça e suspirou pesadamente. – “Na verdade, isso é totalmente egoísta da minha parte! Você devia ir, sério, posso sobreviver uma noite sozinho.”
“Ah, claro, a noite antes de ela ir embora e vocês não terem a certeza de se ver por sei lá quanto tempo.” – pegou o casaco jogado no chão apenas por força do hábito, já que o verão tinha começado e Brighton se tornara um lugar realmente quente. – “Mas, cara, vocês vai se arrepender tanto se não passar pelo menos cinco minutos lá...”
“Ok.” – deu de ombros e levantou-se da cama saindo do quarto sem esperar o amigo. Tudo que ele precisava era de cinco minutos para todo seu autocontrole ser destruído por um único sorriso dela, mas como ele já estava se sentindo totalmente acabado mesmo, não faria mal se torturar um pouco mais, não é mesmo? Ele era um garoto crescido e podia lidar com toda e qualquer dor que aquela noite podia lhe trazer, então por que ainda sentia seu corpo todo mandando vibrações contrárias? De que ele não deveria encontrar com , pelo menos, não do jeito que estava se sentindo.
e mal tinham trocado um olhar durante a quase uma hora desde que ele tinha chegado a casa de , apenas tinham se cumprimentando com um aceno de cabeça, sem nenhuma espécie de toque físico, um encontro de ombros, de pontas de dedos, de qualquer coisa. Parecia que qualquer tipo de proximidade seria capaz de desencadear uma série de acontecimentos que nenhum dos dois estava preparado para enfrentar e foi exatamente por causa das sensações conflitantes que resolveu se isolar no quintal, enquanto os amigos devoravam as três pizzas que haviam pedido.
A água da piscina mexia ao redor de suas canelas como se fossem pequenas ondas que ele mesmo provocava. Assim como aquelas ondas que tinham surgido quando entrou na sala da casa de , com um sorriso nos lábios, mas os olhos tristes. Ao contrário das ondas feitas na piscina, ele não havia conseguido controlar as que brincavam de forma arrebatadora e estúpida com seus sentimentos. Escutou o barulho de passos e não precisou virar o rosto para saber quem era. No inicio do verão, o cheiro dela sempre parecia mais forte. Talvez, porque aquela estação sempre trouxesse a lembrança da primeira vez que ele sentiu aquele perfume. Continuou a encarar os próprios pés cobertos pela água gelada, enquanto ela sentou ao seu lado, tirando as sandálias e escorregando as pernas para dentro da piscina também, com o cuidado de manter distância suficiente para que os dois não se tocassem.
“Oi.” – a voz dela saiu rouca e colocou a lata de refrigerante que tinha na mão entre os dois. Quase como se estivesse demarcando um limite, uma linha que ninguém poderia ultrapassar.
“Oi.” – ele respondeu com um pouco mais de grosseria do que gostaria e deu de ombros.
“Então, boas notícias.” – ela forçou uma risada, desejando que aquela última conversa não fosse extremamente estranha. Se ela desejasse muito, as coisas aconteciam, certo? Infelizmente, já tinha experiência o suficiente para saber que não. O melhor seria tocar no assunto que faria com que ele falasse, algo que ela mesma não poderia estar mais feliz por ter acontecido, por ter a certeza de que ele merecia que seus sonhos se realizassem tanto quanto ela. – “Vocês conseguiram! estava falando que vocês viajam para Londres na semana que vem.”
“É.” – ele voltou a dar de ombros, como se fosse o único movimento que ele havia aprendido em toda sua vida. Ou o único movimento que ele tinha forças para realizar naquele momento. – “E você vai para Cambridge amanhã.”
“Sim.” – a voz de saiu ainda mais baixa e rouca do que da outra vez, quase como se ela estivesse sussurrando. não pôde evitar levantar seus olhos pra ela, preocupado com o que a garota pudesse estar sentido. – “Tenho de ir mais cedo para ver onde vou morar, me inscrever nas aulas e todas essas coisas.”
“O que você sempre desejou.” – ele falou de forma irônica e sorriu de lado, quase como se debochasse dela.
“, eu estou realmente feliz por você e pelos garotos.” – ela ignorou o comentário dele. Não iria brigar, queria apenas uma despedida decente. – “Vocês merecem realizar esse sonho.”
“Tanto faz.” – ele se levantou, fazendo com que algumas gotas de água a acertassem e escutou o barulho de imitando seus movimentos. – “Sabe de uma coisa?” – ele se virou para ela, com os olhos furiosos. Parecia que toda a raiva que sentira na casa de mais cedo tinha se multiplicado com a percepção real de que ia embora e ele não podia fazer nada, não tinha a mínima ideia de quando a encontraria novamente, nem sabia se ia falar com ela de novo. Aquilo o deixava louco. Tornando-o cego para qualquer coisa, além daquela sensação. – “Minha vida era ótima antes de te conhecer. Eu vivia do jeito que bem entendia, sem me responsabilizar por coisas que não valessem à pena, como garotas. Eu era livre, . Não tinha esse enorme vazio que você deixou dentro de mim, não tinha essa dor que me faz me perguntar todos os dias se eu vou conseguir fazer coisas básicas ou me divertir com meus amigos. Eu estava bem e feliz, então, por quê? Por que você tinha de aparecer e fazer isso? Por que você tinha de acabar com a minha liberdade, brincar comigo, sabendo o tempo todo que ia embora? Eu estou acabado, mas você conseguiu o que queria. Riscar mais um dos itens da sua lista estúpida de planos ou qualquer coisa, parabéns.”
“O que você está falando?” – a voz dela estava embargada e lágrimas que ela teimava em secar caíam repetidamente de seus olhos.
“Não estava nos seus planos se apaixonar antes de ir para a faculdade? Você conseguiu, mas às minhas custas. Então, você pode riscar da sua lista de planos e seguir em frente. Aliás, você já seguiu e vai para Cambridge, viver seu sonho. Seja feliz.”
“, não seja estúpido.” – ela gritou e passou a mão pelo rosto para se controlar, sentindo sua respiração acelerar e seu corpo todo dormente. Respirou profundamente e ignorou o choque que tomou conta do rosto dele. – “Planejei mesmo me apaixonar ano passado e era só isso, era para a situação ser totalmente controlável. Mas aconteceu mais, , foi amor. Um amor que eu nunca achei possível sentir, entregando meu corpo, minha alma e meu coração para você. Você, seu idiota...” – ela apontou o dedo indicador para ele. – “Eu vim aqui para me despedir, tentar conversar com você, ir embora com a lembrança do seu abraço. Do seu sorriso, com a sensação de que isso tudo não é nada perto do que eu sinto por você. E você simplesmente estragou tudo com essas porcarias que falou, sendo um babaca. Eu não me apaixonei por um babaca. Eu não amo um babaca. Então, por favor, eu sei que você está machucado, porque eu estou danificada de formas que são impossíveis de explicar, dói tanto que chega a ser físico. E você é mais que isso. Você me ensinou que não existe um jeito de controlar o incontrolável.” – balançou a cabeça, sentindo um soluço de desespero passar por sua garganta e emitir um som estranho por sua boca. Sentindo o corpo todo tremer, sentindo o medo tomar conta dela, o medo de que nunca mais pudesse estar nos braços de . De que nunca mais pudesse fazer aquela dor passar, de que nunca mais fosse dele. Abaixou a cabeça, se irritando com as lágrimas que não paravam de dançar por suas bochechas e sentiu os braços de passarem por seus ombros, em um abraço apertado. Ela encostou a cabeça no peito dele, escutando o coração do ex-namorado bater fortemente contra seus ouvidos, no mesmo compasso que seu próprio coração, como quando eles estavam juntos e o afastou com as mãos. Não tinha condições de passar por aquilo, não naquele momento. As palavras de ainda ecoavam em seus ouvidos e tudo que ela precisava era um pouco de isolamento. E por isso, despedindo-se dos amigos e tentando evitar mais lágrimas, foi embora.
(Coloque a música pra tocar :D)
Crianças gritavam enquanto corriam atrás de bolas coloridas, famílias passeavam de mãos dadas ao longo da praia, adolescentes agiam despreocupadamente como se não houvesse nada mais importante do que passar o dia todo tomando sol na areia e surfando. Era engraçado pensar que ele tinha sido um desses garotos, mais interessados em simplesmente viver cada segundo de prazer e diversão do que em realmente assumir responsabilidades ou lutar pelo que queria. Era mais engraçado ainda ter a noção de que se dissessem um ano atrás que ele estaria ali, naquele lugar, tomado por sensações conflitantes que pareciam fazer parte de si desde que se entendia por gente, ele riria e diria que não era esse tipo de cara. Não o tipo que se deixava abater, não era o tipo que se importava, não era o tipo que se entregava a aquela espécie de sentimento, não era o tipo que acreditava que pudesse se apaixonar tão jovem. Tudo que ele queria era pegar boas ondas, levar o colégio de um modo que suas notas fossem suficientes para que ele passasse de ano sem precisar ir para recuperação como e conhecer garotas bonitas, apenas para ficar por uma noite, brincar por uma semana e quando se sentisse entediado com o que era comum, partir para outra que trouxesse a excitante sensação do novo, do desconhecido... Afinal, ele era o garoto que preferia não assumir responsabilidades, não é mesmo?
Sua atenção foi prendida pela gargalhada de uma garota, enquanto era erguida por um cara que tinha sido ele anos atrás. Ele a colocou no chão, enquanto passava a mão pelo seu rosto e ela sorriu de uma forma que podia ter certeza que tinha causado um zunido nos ouvidos dele, deixando-o tonto e sem consciência do que estava acontecendo. Na verdade, aquele garoto era meses atrás, quando tropeçou nas pernas de naquele lual fatídico. Sentiu um enjôo tomar conta de si, trazendo uma sensação esquisita para sua garganta, como se tivesse engolido um chiclete ou coisa do tipo. Os olhos arderam e ele os baixou para o relógio de pulso, ela iria embora dentro de duas horas e a última lembrança que teria seria a dele acusando-a de coisas que ele nem sequer havia entendido. Coçou a nuca, desejando que pudesse ter forças o suficiente para caminhar rapidamente até a casa dela, mas parecia paralisado naquele deque. No deque que tinha presenciado todos os momentos íntimos dos dois, os bons e os ruins, os necessários e os casuais, era como se tivessem enterrado uma caixa de recordações ali, como se só eles soubessem exatamente o lugar onde ela estava trancada com uma chave que haviam perdido propositadamente para atenuar a dor que a despedida, que o término haviam causado, que causavam.
“Precisava vir aqui antes de ir.” – ele escutou a voz que lhe era tão familiar e instantaneamente o enjôo que sentia tomou outra forma, algo desconhecido que ele não soube explicar. – “Não podia ir sem te ver.”
Sua boca parecia seca e sua voz parecia ter desaparecido junto com a sensação esquisita em sua garganta. Aproximou-se da garota, colocando as mãos em seu rosto, vendo fechar os olhos enquanto pesadas lágrimas caíam por suas bochechas, desenhando um caminho descoordenado. Beijou a testa dela demoradamente e a abraçou por longos minutos que eles não saberiam contar nem se pudessem. Parecia que todo o barulho que os rodeava tinha se transformado no silêncio que eles precisavam, já que palavras não chegavam a significar nada perto dos corações batendo fortemente no mesmo compasso. Aquilo causaria estranheza ao de anos atrás, mas ele tinha se modificado de maneiras tão absurdas que aquela sensação era comum, cômoda, imprescindível. levantou o rosto e sem pensar no que estava fazendo, seguiu o instinto de procurar os lábios de com os seus, dividindo um beijo terno, calmo, nostálgico e cheio de um amor implícito que não precisava ser descrito para que qualquer um entendesse. Aquilo era suficiente, era maior do que qualquer sonho, do que qualquer planejamento, do que qualquer possível experiência que pudesse esperar pelos dois em seus futuros e caminhos distintos. passou os braços pelo pescoço dele, afundando suas mãos no cabelo já bagunçado do garoto, enquanto ele a abraçava tão fortemente que as pontas dos pés dela quase saíam do chão, tentando buscar uma proximidade quase impossível. Afastaram-se para tomar ar, encostando as testas e sentindo a respiração um do outro, aceleradas, baterem contra suas faces, se misturando à brisa leve de verão.
“Desculpa por ontem.” – falou após recuperar o uso das cordas vocais. – “Não queria ter falado tudo aquilo. Estava me sentindo impotente diante de todas as coisas que pareciam brigar dentro de mim, de toda a minha vontade de pedir para você não ir,de todo o meu egoísmo.”
“Eu tenho de ir.” – sussurrou e entrelaçou os dedos da mão esquerda aos dele. – “Queria poder escolher, queria poder sentir que é certo ficar e ir com você para Londres e... Na verdade, acho que é necessário, mas não sinto que seja o certo a fazer. Nós dois vamos acabar nos machucando muito mais.”
“Eu sei disso tudo.” – ele falou em meio a um suspiro e encarou os olhos de , eles tinham as respostas para as perguntas dele. Pelo menos, costumavam ter. – “E eu te amo o bastante para te deixar ir, viver seu sonho, lutar pela sua carreira, se recriar e se transformar na pessoa que você tem potencial para ser, na pessoa que consegue mudar as coisas ao seu redor para melhor.”
“E eu te amo o bastante para deixar você livre para seguir com sua música que tem o poder de fazer com que as pessoas se sintam melhores a respeito do mundo, de si mesmas, de qualquer coisa, qualquer conflito por que passem.” – ela soltou um leve soluço pelo choro que tentava segurar, mas parecia uma batalha perdida. Nunca fora muito boa em controlar sentimentos, pelo menos.
“Isso tudo não foi em vão, .” – ele sorriu e beijou o rosto da garota. – “Nós podemos nos separar agora, mas de alguma forma, isso ainda vai voltar. Nós ainda vamos voltar.”
“Eu sei.” – ela assentiu e mordeu o lábio inferior. – “Eu sei que nós vamos dar um jeito quando estivermos prontos.”
“E pela primeira vez, nós vamos ser completamente um do outro.” – ele se afastou um pouco e os dois se encararam com sorrisos. Não eram os sorrisos tristes que estavam acostumados a dar desde o término, mas sorrisos cheios de certeza, segurança, convictos de que as promessas silenciosas que acabavam de selar iriam ser cumpridas. Eles não estavam prontos naquele momento, mas estariam. E como havia dito, eles pertenceriam completamente um ao outro e não pela metade, não em pedaços como haviam sido.
voltou a puxar a garota pelos ombros, andando até as grades do deque com ela e sentaram-se, abraçados, observando o oceano em sua imensidão como tinham feito meses atrás, como tinham feito repetidamente. Mas dessa vez, tinham a sensação completa de que amar também é deixar ir, também é libertar, também é deixar com que o outro se encontre para que possa descobrir o que é completude da verdadeira entrega.
FIM
Os burburinhos das pessoas chegando e se acomodando no enorme auditório faziam com que ela sentisse uma falta de ar incontrolável. Passou a mão pela seda preta da beca e encarou o teto antigo tentando concentrar-se em tudo que teria de fazer antes de poder se sentar ao lado de seus amigos formandos. Passou a mão pelo rosto, com o cuidado de não acabar com a maquiagem que tinha demorado minutos intensos para deixar perfeita e olhou para os lados, recebendo sorrisos aleatórios sem conseguir identificar os rostos das pessoas. Por que tinha aceitado mesmo ser a primeira oradora? Ah, claro, tinham a convencido por causa de sua boa escrita, mas ela não achava que o discurso que havia preparado estava à altura de todas as sensações que tomavam conta de seu corpo naquele momento de sonho realizado ou o que quer que fosse. Sentiu alguém bater em seu ombro de leve e virou-se, encontrando com um sorriso orgulhoso, fazendo com que ela sentisse seus olhos enchendo de lágrimas e correndo para abraçar a melhor amiga. Trocaram algumas palavras até que expulsassem a mulher do local, já que a colação iria começar em alguns minutos. sentou com a intenção de retomar a força em suas pernas quando os colegas começaram a ser chamadas um a um. Apesar da ordem alfabética, ela e Lizzie seriam as últimas por serem as oradoras oficiais. Quando escutou seu nome, sentiu-se levantar automaticamente e andar até o pedestal montado no canto direito do enorme palco, respirando aceleradamente e deixando com que o tremor incontrolável tomasse conta de todo seu corpo. Levantou o olhar para as duzentas e poucas pessoas que ocupavam os assentos do auditório com os olhos atentos sobre ela e mordeu o lábio inferior, segurando na madeira do objeto que estava a sua frente, já que suas pernas tinham virado gelatina. Os olhos azuis a encaravam ternamente na última fileira, acompanhados por um corte novo de cabelo, um rosto mais másculo, mas com a mesma atitude relaxada de anos atrás. não impediu que o sorriso largo tomasse conta de seus lábios e limpou a garganta discretamente, em busca de sua voz.
“Na minha vida, tudo sempre foi planejado. Tenho uma rotina organizada desde os meus doze anos para que meu sonho de estudar em Cambridge fosse realizado, mas quando tinha dezessete anos, algo mudou e é exatamente por causa disso que agradeço a presença de todos e parabenizo todos os formandos, mas acredito que a Elizabeth fará um discurso muito melhor que o meu, porque a pessoa que faz com que eu seja impulsiva está aqui e pela primeira vez na minha vida, não sei o que vem depois, não planejei e não tenho intenção nenhuma de planejar.” – se afastou do pedestal sendo seguida por olhares chocados e curiosos, desceu as escadas e andou rapidamente até o local em que estava, enquanto o homem se levantava e esperava por ela no final do longo corredor de cadeiras. tirou o chapéu que fazia parte de sua vestimenta de formanda e jogou-o para trás, gargalhando quando abriu a boca em um susto fingido. Quando, finalmente, o alcançou, ele entrelaçou os dedos aos dela e puxou-a para fora do local em busca de um pouco de privacidade. Assim que o barulho da grande porta de carvalho antigo se escutou, ele a abraçou, beijando-a como se fosse a primeira vez, fazendo com que ambos sentissem coisas conhecidas e outras totalmente diferentes das quais já estavam acostumados.
“E agora, garota de Cambridge?” – ele perguntou minutos depois, quando se afastaram. rolou os olhos e riu.
“Não sei, como eu disse, não planejei nada.” – ela encolheu os ombros, rindo enquanto ele dava repetidos selinhos em seus lábios.
“Que tal eu te amo e acho que nós devemos ficar juntos pelo resto das nossas vidas?” – ele passou a mão pelos cabelos dela, bagunçando um pouco o coque que ela tinha perdido horas para deixar arrumado.
“Parece ótimo.” – ela segurou o rosto dele entre as mãos e sentiu que o momento tinha chegado. Eles estavam completos, entregues um ao outro e nada mudaria o fato de que estavam prontos para dividir uma vida.
N/A: Então, gente, final de Beautiful Mess, nem consigo acreditar! Passei um tempo sem saber o que escrever aqui e até pensei em não falar nada porque meio que ta sendo difícil me despedir dessa história, mas senti que não ia ser certo. Preciso agradecer a todas vocês pelo apoio, pela paciência com os meus atrasos e toda a minha falta de tempo para me dedicar realmente à fic, por todo o carinho que vocês demonstraram fazendo com que eu sentisse vontade de escrever, com que eu me sentisse responsável por esse projeto, com que eu procurasse sempre dar o meu melhor, apesar de não achar que isso é suficiente.
Decidir postar Beautiful Mess foi meio que difícil pra mim, porque me cobro muito e tenho uma tendência terrível ao perfeccionismo, por isso já to me cobrando por esse final, achando que podia fazer melhor, mas tendo a certeza de que dei tudo que podia pra que saísse desse jeito. Tudo aconteceu quando vi um menino com uma blusa que achei engraçada na faculdade e meio que na brincadeira, a história da fic me veio à cabeça, cheguei em casa e escrevi aquele comecinho com as personalidades de cada um e por falha minha, as coisas meio que tomaram um caminho incoerente, mas tenho de admitir que não mudaria em nada as escolhas que fiz pra que a história chegasse até vocês do jeito em que chegou!
Agradeço à minhas melhores amigas, Máa e Lô, pela paciência com as minhas crises inseguras e meus ímpetos de inspiração, por terem me apoiado desde o começo, me dando dicas, escutando minhas ideias e por terem me dado uma força nesse final que meio que me fez surtar, porque realmente vou sentir falta disso, porque realmente me apaixonei pelos personagens que criei e porque vivi cada momento enquanto escrevia!
Agradeço à minha beta, Lara, por agüentar meu perfeccionismo, pedindo que certas coisas ficassem de tal modo e fazendo exatamente o que eu pedia! Obrigada :)
Agradeço, de novo, à vocês pela espera e espero de verdade que tenham gostado de cada momento que busquei sempre fazer com que fosse envolvente pra todas! Muito obrigada por tudo, meninas!
E é escutando A Beautiful Mess do genial Jason Mraz e com lágrimas nos olhos, sensação de dever cumprido e um buraco deixado pelo fim desse projeto, que digo: até a próxima, gente!
Nina x
Nota da Beta: Eu não vou nem dizer nada porque eu ainda acho que BM não devia acabar nunca ): HAIUHAUIHAIUHIA Enfim, qualquer erro, e-mails para scheffer.lara@gmail.com, certo? Obrigada! Xx.