bela bailarina



Capítulo um.

- O que você quer ser quando crescer, ?
- Viajante! – isso não é uma coisa que sua professora gostaria de ouvir. Nem sua professora, nem sua mãe, muito menos seu pai.
- Mas você sabe que precisa ganhar dinheiro, não é?
- Sim! Mas eu vou arrumar um jeito... – mesmo que você tenha oito anos e seja uma criança cheia de sonhos.
- querido, – ela se abaixou e ficou da minha altura, passando os dedos no meu cabelo. – seu pai já tem uma loja no centro, tem uma fazendinha, você pode escolher tantas coisas.
- Sim, senhorita Hoult, mas eu quero conhecer o mundo! – todos na sala riram.

Queria conhecer todos aqueles lugares legais que aprendemos na aula de geografia e história. As praias, montanhas, monumentos, belezas naturais, pessoas, línguas, culturas, cidades. Queria ver tudo isso! Mas ninguém me entendia.
Eu não sabia como iria conseguir viajar, conhecer, comer, dormir, mas eu ia mesmo assim.
Meu pai é dono de uma loja no centro. Ele quer que eu tome conta dela quando crescer. Já trabalho lá um pouco pra conhecer como é, mas eu não quero isso. Minha casa fica na nossa fazendinha perto da cidade. Ela é pequena, temos um cavalo para a carroça, três ovelhas, duas vacas, quatro galinhas, um galo e um poço de água ao lado da nossa casa. Além do terreno de plantação que tem milho, tomate, alface, morango, maçã e melancia.
Tudo o que produzimos aqui, tem na lojinha do meu pai para vender.
Minha mãe fica na fazenda o tempo todo cuidando das plantas e dos animais. E meu pai, na cidade, dentro da lojinha. Eu fico um dia lá, um dia em casa. Tenho uma irmã menor, ela se chama Sarah e tem quatro aninhos.

As férias estavam chegando, o frio já estava grosso e o natal vinha vindo. Não tinha mais escola e ia menos à cidade.
- O que é isso, papai? – ele lia o jornal todas às noites, frente à lareira e tomando café. Eu fazia as tarefas com minha irmã tomando chocolate quente. Mas como eram férias, apenas desenhava e ela brincava de boneca.
- Aqui diz que estão preparando a cidade para algo muito bom e especial, pessoas de fora vão chegar e trazer muita alegria antes do nosso natal. – ele leu um pedaço do jornal para minha irmã. Então algo ia acontecer na cidade.
- Eu vou poder ir ver?
- Sim, Sarah, quando tudo estiver pronto e tivermos notícia, vamos nós quatro! – sorri abertamente.
- ! Vamos para a cidade ver o que está acontecendo lá depois! Papai disse que era uma coisa especial e boa pro natal! Pessoas de longe vão vir pra cá! – ela me contou, apesar de eu já ter escutado.
- Que legal! Eu quero ir ver, mãe!
- Sim, nós vamos ir ver outro dia, agora vamos dormir? Está tarde.
O que será que chegaria ao nosso vilarejo? Nada acontece por aqui. O máximo é quando nasce alguma criança, ou quando algum jovem vai pro exército. Pessoas de fora, será que são viajantes?

- Querido, o que é isso que tem no jornal?
- Ah Lauren, não disseram ainda, mas é algo especial.
- Não alimente a cabeça desse menino, Josh, você já o conhece e sabe como tem a cabeça voando...

Capítulo dois.

Hoje. Vamos para a cidade hoje na carroça e Tavus vai nos levar. Tavus é o nosso cavalo.
A cada galope que ele dava, meus olhos brilhavam mais. Minha irmã que era mais nova estava feliz, mas nada se comparava a mim.
Estávamos chegando perto e podia-se ver as luzes de natal, enfeitando toda a cidade.
Chegamos mais perto e algo me chamou muita a atenção. Uma grande, enorme, gigante cabana, parecia ser feita de pano, com listras amarelas e vermelhas em toda ela. O que era aquilo? A casa das pessoas de fora? Talvez.
- Estão vendo aquilo, Sarah e ? É o circo.
- Circo? E as pessoas de fora? – perguntei.
- As pessoas de fora fazem várias apresentações, palhaços, animais, bailarinas, domadores, equilibristas, malabaristas, dançarinas, homens fortes e um mágico.
- Isso tudo está ali debaixo? – Sarah perguntou.
- Está, e ainda cabem as pessoas para assistir!
Estava fascinado pelas luzes fortes, cores, objetos, tudo!
Sentamos num grande banco, onde foram entrando mais pessoas da vila.
- RESPEITÁVEL PUBLICO, – um homem de preto com uma grande cartola apareceu no meio da arena de areia. – eu sou o mágico Covalski. – ele disse e uma fumaça surgiu de algum lugar.
- Papai, tem alguma coisa pegando fogo! – ela sussurrou.
- Não filha, faz parte do show! – como minha irmã é boba.

O mágico fazia mágica de verdade! Ele cortou a assistente numa caixa, pombos saíram de sua camisa, flores do seu sapato e um coelho da sua cartola!
Rimos bastante com o que os palhaços faziam! Rolavam, caiam, pulavam, se molhavam, corriam, brincavam. Era tudo muito colorido e lindo! Depois um palhaço gordo brincou com um elefante todo pintado e vestido engraçado! UM ELEFANTE!
Depois entraram dois homens que andaram numa corda! E uma mulher que andou de bicicleta até cair na piscina do outro lado com um pulo da rampa.
Veio um moço que jogava coisas para cima, ao mesmo tempo, e nada caia no chão. Jogou bolas, argolas, brinquedos...
Vieram garotinhas e mulheres, com um maiô rosa, cabelo preso e uma saia engraçada, elas rodopiavam e pulavam pela arena e não se trombavam. A música que tocava era calma e tranquila. Foi realmente incrível e muito bonito!
Depois veio um homem muito gordo e forte, ele levantou várias coisas pesadas. E depois ele entrou na jaula do leão! Eu vi um leão de verdade! Ele fez os tigres saltarem em arcos de fogo!
Tudo acabou e todos reapareceram. Ficaram juntos de mãos dadas e sorriram. Todos ficaram de pé e bateram palmas, mas a pessoa mais feliz de todas ali, era eu.

- Vamos passear um pouco pela cidade, você vem, ?
- Não mamãe, vou ficar por aqui e brincar com as crianças.
- Ok, quando escurecer, vá para frente da capela.
- Certo mamãe, leve Sarah com vocês, não quero tomar conta dela. – não iria brincar com as crianças.

Todos foram embora, mas eu continuei ali. Queria conversar com algum deles, perguntar de onde vinham, como chegaram aqui, pra onde iam, onde estiveram...
Andei para trás da grande coisa e meus olhos estavam bem abertos para qualquer movimento. Vi vários caminhões, caixas, trailers, e ouvi risos.
- Quem é você?
- Que susto! – pulei para trás. Uma meninazinha do meu tamanho apareceu do nada. Ela tinha o cabelo preso e a reconheci, era uma bailarina.
- Desculpe – ela disse envergonhada.
- Você é bailarina?
- Não posso conversar com estranhos.
- Sou , . E você?
- , . – ela sorriu.
- Agora não sou estranho.
- Então acho que posso conversar com você.
- Quantos anos você tem?
- Oito, e você?
- Doze. – nossa, ela era muito mais velha.
- O que faz aqui fora?
- As crianças têm que ir dormir, os adultos sempre fazem uma festinha depois de um show.
- Tem mais crianças?
- Sim, você assistiu o espetáculo?
- Assisti, foi muito bonito, muito legal! Todas aquelas cores, músicas, animais, todo mundo correndo, dançando, fazendo uma coisa incrível! – dizia empolgado – Você e suas amigas dançaram muito bem, nunca vi nada parecido. – ela ficou vermelha.
- Obrigada.
- E onde estão as outras crianças?
- Dormindo.
- E por que você não foi dormir?
- Não estava conseguindo, então vim passear.
- O que vocês são? – sentei numa das caixas e ela sentou ao meu lado.
- Somos uma família muito unida, viajamos por vários lugares e fazemos apresentações.
- Viajam? – abri meus olhos e me estiquei. Não podia ser. Encontrei uma saída!
- Sim, passeamos por vários lugares e várias cidades.
- Meu sonho sempre foi passear, viajar, conhecer todos os lugares do mundo!
- Pois é o que nós fazemos.
- Vocês ganham dinheiro?
- Sim, as pessoas pagam para entrar e assistir.
- Sério? Meu pai fala que se eu for viajante e não tiver trabalho, não terei dinheiro.
- Não está pensando em entrar pro circo, está?
- Claro que estou! – ela riu.
- Você não pode fazer isso! Não pode deixar seu pai e sua mãe aqui e viajar com a gente. Além disso, não sei se vão deixar você vir.
- Mas , eu preciso ir! É o meu sonho, é o que eu quero pra minha vida, pra sempre!
- Se você entrar, vai ter que fazer alguma coisa.
- Não importa, enquanto eu não aprender a andar na corda ou jogar as coisas pro alto, eu posso fazer comida ou lavar pratos! Posso até limpar os quartos. – ela riu.
- Estou vendo que você está muito empolgado, desse tamanho e já tem um objetivo! - ela fez um cafuné no topo da minha cabeça.
- Eu não sou um bebê!
- Mas é uma criancinha! – ela riu.
- Você vai poder me ajudar? – perguntei já irritado com a situação.
- Nós vamos ficar três dias aqui na cidade, você pode passar aqui amanhã de manhã?
- Vou tentar, moro fora da cidade, numa fazendinha, pode ir lá um dia conhecer se quiser.
- Eu adoraria, – ela sorriu. – mas antes que eu arrume problema, preciso ir dormir.
- Tudo bem, , está escurecendo e eu preciso ir pra capela, minha mãe e meu pai estão me esperando.
- Tchau, !
- Tchau, não esquece de falar de mim pra sua família!
- Ta certo, não esqueço. – ela sorriu e correu.
Fui para frente da capela e esperei meus pais e minha irmã. Contei pra eles que precisava voltar de manhã, mas não disse o motivo, tinha que conversar mais com . Ela era legal e bonita, era do circo e ela tinha gostado de mim! Podia ter uma chance de participar e ir de vez conhecer o mundo.

- ! Que bobagem!
- Não é Covalski, ele é legal.
- Tenho certeza de que os pais dele não vão deixar que um menino de oito anos venha com a gente.
- Ele me chamou para ir pra fazenda dele, você pode ir comigo e convencer os pais dele!
- Não, , já falou com a sua mãe sobre isso?
- Não, – ela disse abaixando a cabeça – e você nem pode falar, ela me mata se souber que não estava dormindo.

Capítulo três.

Acordei cedo aquela manhã. Tavus já estava de pé e pronto para sair, o arrumei de noite, não queria atrasos. Acordei papai e fomos logo à cidade. Só eu e ele.
- Você gostou mesmo do circo, não foi?
- Sim! Eles são viajantes, sabia?
- , não começa.
- Calma, só comentei!
- O que quer tanto fazer na cidade?
- Ver outro show, o senhor pode pagar?
- Não meu filho, você sabe que no frio não vendemos muito.
- Tudo bem, eu arrumo um jeito de entrar lá.
- Só não arruma encrenca, ouviu bem? – concordei com a cabeça e desci da carroça. Corri até onde estava a grande tenda atrás de .

- Bom dia, pequeno!
- Oi, .
- Eu conversei ontem com um adulto sobre você, não tem condições de você ir.
- Nem que eu vá escondido?
- ! – ela bateu no meu braço.
- O que foi?
- Você não pode abandonar sua família, eles te amam! E não vou me responsabilizar por manter uma criança no circo escondido de todos, isso é feio!
- , você não entende! Minha vida inteira eu sempre quis viajar, mas nunca tive como sair dessa vila e agora a oportunidade está aqui na minha frente!
- Não, , você que não entende! – ela disse séria – Não posso esconder algo da minha família, todos nós nos amamos... Jamais esconderia algo tão sério deles.
- Se você não vai me ajudar, então não tenho mais nada a fazer aqui.
- Então vai embora!
- Tchau. – disse e não ouvi resposta. Virei e fui para a frente da grande tenda. Sentei ali e esperei que começasse o próximo show. Tinha que ver mais uma vez, uma ultima vez, os leões, tigres, palhaços, elefantes, cordas, objetos, bailarinas. Tinha que ver pela ultima vez. Ela era um ser lindo e irritante, intrigante e charmoso, curioso, misterioso. Que coisa estranha!

Não consegui entrar, porque não tinha dinheiro para pagar, então fiquei na lateral com a cabeça para dentro da tenda. Não enxergava quase nada, então tive a brilhante idéia. Corri na loja de meu pai.
- Tem uma caixa vazia ai?
- Sim, , pra que você quer?
- O senhor me deixa vender comida?
- Claro, só tome cuidado, tome essa com uma alça! – ele disse me entregando a caixa.
- Vou pegar maçãs, morangos e milho.
- Certo, cuidado com o dinheiro, não perca nada. – corri de volta rápido para a tenda.

- Não pode entrar aqui rapazinho.
- Por favor, moço? Eu preciso de dinheiro pra entregar a meu pai, se não ele não me dá jantar essa noite. – eu consegui falar manhoso e meus olhos brilharam com as lágrimas que tentava formar a força. Ele sorriu e me deixou entrar.
Ver aquilo nem parecia ser de novo. Tudo era igual, mas para mim, era diferente.
Ali estava ela, brilhando e sorrindo, pulando e rodopiando. Estava mais bonita do que antes. Ao terminar a apresentação, os olhos dela pousaram em mim, um menino em pé com uma caixa pendurada no pescoço cheia de comida. Ela sorriu mais aberto e acenou com a mão, voltando para trás das cortinas.

- Você veio me assistir?
- Sim, precisava ver tudo outra vez, pela ultima vez, e ver você também, antes que fosse embora.
- Desculpa ter falado grosso com você.
- Vamos esquecer isso, você vai embora logo, logo.
- É... Na verdade, ainda hoje.
- Sério?
- É...
- Nossa, então nesse caso, tenho que te dar um presente, para você lembrar de mim. – ela sorriu. – Tome essa maçã, para você comer na viagem, - lhe entreguei a mais vermelha e mais brilhante. Ela sorriu – e essa flor, para você guardar dentro de um livro, assim ela nunca vai ficar feia e murcha. – disse lhe entregando uma pequena flor de um arbusto que tinha ao nosso lado.
- Muito obrigada, , são lindos, os dois presentes. – ela disse dando um beijo na minha bochecha.
- ?
- Minha mãe está me chamando, preciso ir.
- Adeus, .
- Tchau, , - eu dei um beijo na sua bochecha. Antes que ela fosse, segurei sua mão.
- Promete que volta?
- O que?
- Promete que vai voltar pra me buscar? Vou juntar dinheiro e quando for mais velho, não preciso fugir, já serei grande para decidir e deixar minha família.
- Eu prometo. – ela sorriu e correu.
Era uma promessa, certo?
E ela voltaria, certo?

Capítulo quatro.

- Toma filho, você merece. – meu pai me entregou a chave da loja pendurada num cordão. É tradição de família usar a chave de ouro como um pingente de um colar.
- Parabéns, maninho, eu te amo! – Sarah me abraçou.
- Parabéns, meu lindo! – minha mãe me abraçou forte depois.
- Feliz aniversário, campeão. – meu pai se juntou ao abraço coletivo.
Completava dezoito anos esse dia. Ganhei a loja de presente e agora ela era minha. Meu pai trabalharia lá, mas eu seria o dono.
Não pense que me esqueci do meu sonho. Só dei prioridades para a minha vida. Queria ter um emprego e ganhar dinheiro. Venho juntando sempre que recebo pagamento.
A bela bailarina nunca saiu dos meus sonhos. Ela me assombrava de uma maneira anormal. Quase toda noite sonhava com ela, hoje é mais tranquilo, mas nunca esquecerei da bailarina.
Agora mais velho, tenho noção de que estive apaixonado, só não sabia.
Passei muitos dias pensando nela, no sorriso dela, e pensando se ela realmente voltaria.
Tenho dezoito anos e nunca senti isso por outra menina. Apesar de já ter me envolvido com algumas da vila, nunca tirei a bela bailarina da cabeça.
Mas como eu prometi a mim mesmo, se com dez anos ela não voltasse, juntaria dinheiro suficiente para ir embora daqui. Por isso estou trabalhando mais na loja e agora virei dono.

- Não vamos trabalhar hoje?
- Não, , Tavus morreu. – meu pai disse triste. Tavus me acompanhava todos os dias, da fazenda para a cidade, da cidade para a fazenda. E ele morreu. Fiquei triste, mas me preocupei como iríamos para a cidade agora.
- Vamos ter que sair cedo amanha com Mimos pra comprar outro cavalo, ela não tem condições de nos levar todo dia. – Mimos era nossa vaca. A outra que tínhamos morreu e compramos um boi, assim eles poderiam ter vários bezerros.
- Como não vai trabalhar, quero que me ajude aqui. – minha mãe me puxou pelo braço e fui trabalhar na roça. Sempre arava a terra e fazia o trabalho pesado que minha mãe não podia mais, e me tornei forte e musculoso, enquanto meus amigos da antiga escola ficaram magros demais, ou gordos demais. Acho que por isso faço tanto sucesso com as garotas.
- Pai, vou hoje a noite para a cidade.
- Sua irmã vai com você?
- Não.
- Certo, tome cuidado.

Tinha uma coisa marcada e importante para fazer essa noite. O que fazia várias vezes, com pessoas diferentes. Tinha um vazio dentro de mim, então o que me restava era isso. E esse vazio foi deixado por uma bela bailarina.
- , e se alguém ver a gente?
- Ninguém vai ver, relaxa. – já era a décima vez que ouvia isso enquanto caminhávamos. Já estava escuro e estávamos indo em direção ao celeiro do senhor Kits. Beijávamos ferozmente e minhas mãos caminhavam por todo aquele pano que ela vestia. Estava louco para tirá-lo. Megan e eu estávamos juntos desde antes de ontem. Beijamos no lago de tarde e hoje ela foi para a loja e marcamos de nos ver.
Mas como Megan é uma moça de família, temos que fazer tudo escondido. E nem que ela não fosse, teríamos que nos esconder.
Tratei de achar logo o bolo de feno que tinha no fundo do celeiro antes que ficasse louco. Ela deitou e eu deitei logo em seguida. Depois de um tempo, terminamos o que viemos fazer. Deitei ofegante pro lado e senti feno grudando nas minhas costas suadas.
Acordei e ela tinha a cabeça sobre meu peitoral. Ainda estava escuro e continuávamos do jeito que estávamos de noite.
- Acorda, – disse dando um selinho nela, que sorriu dando um suspiro. – precisamos ir antes que o velho acorde!
- Não lembro de nada de ontem! – ela sorriu sapeca e me deu um beijo.
- Ah é? Não se lembra? – arqueei a sobrancelha mordendo o lábio dela.
- Não, o que aconteceu ontem? Mostra pra mim? – ela podia ser filha de família, mas de santa não tinha nada. Era educada na frente de todos, mas longe deles, era completamente diferente. Uma menina com desejo nos olhos e que sabia seduzir.

Capítulo cinco.

- Olha quem vem para a cidade... O circo! – ouvi a voz do meu pai da cozinha. Não podia ser. Meu coração ficou acelerado, minhas pernas balançaram e minha garganta ficou seca.
- Com é papai? Quando eles vêm?
- Antes do natal, você se lembra, ?
- Sim! Claro que lembro, e nós vamos de novo esse ano, não é?
- Não está grandinho demais para isso?
- Qual é pai, vai dizer que circo é para crianças? – ele negou rindo.
Corri pro meu quarto e comecei a arrumar minhas coisas.
Não sabia por quanto tempo iam ficar na vila, então tinha que estar preparado. Iria falar com algum adulto, explicar minha situação e tudo. Se eles me aceitassem, iria contar a meus pais.
Coloquei minha bolsa escondida na carroça, para meu pai não desconfiar.

- Pegou o casaco, Sarah?
- Peguei, vamos mãe?! – entramos todos na carroça e fomos.
Estava realmente muito ansioso. Criava as expectativas de que ela poderia estar lá. Mas tinha que acordar, podia ser outro circo, ela poderia não estar lá, ou simplesmente não se lembrar.
Será que ela também ficou pensando em mim depois? Decidi parar de pensar nisso, só ia encher minha cabeça de coisas.

- RESPEITÁVEL PÚBLICO... – a mesma voz disse ao microfone. Mais velho, mas sabia que aquele era o mágico Covalski, eu lembrava dele! Meus olhos eram atentos a tudo. Um sonho de infância estava bem na minha frente outra vez, e estava muito feliz. Mas querendo ou não, era ela quem eu queria ver.
Passou-se o mágico, os palhaços, malabaristas, equilibristas e domador. As apresentações estavam diferentes e mais bem elaboradas do que antes. Logo vieram as bailarinas. Meus olhos brilhavam e eu tentava olhar no rosto de cada uma. A dança era calma e bonita, cheia de rodopios e pulos. Nada de identificar , mas eu sabia que ela estava ali, eu tinha certeza. Ela só não estava reconhecível depois de dez anos.

O espetáculo acabou. Sarah adorou tudo, era muito nova e não lembrava direito. Todos foram indo embora e papai foi para loja com mamãe e Sarah. Informei de que ia dar uma volta antes de ir trabalhar.

- Quem é você?
- Que susto! – pulei para trás. Achei que fosse ela mesma, mas era uma meninazinha. Ela tinha o cabelo preso e a reconheci, era uma bailarina.
- Desculpe – ela disse envergonhada.
- Você conhece a ?
- E você a conhece? – ela levantou a sobrancelha.
- Pode me levar até ela?
- Não sei, não devo falar com estranhos, muito menos levá-los para dentro dos trailers.
- Então vá chamá-la, preciso muito falar com ela.
- E você a conhece, por um acaso? – ela colocou a mão na cintura.
- Eu preciso falar com ela, você pode fazer esse favor? – perguntei doce, ela sorriu e foi correndo.

//
Ouvi passos rápidos e batidinhas fracas na porta de meu trailer.
- Wanda! Cuidado pra não cair!
- , tem um moço querendo falar com você lá fora.
- Um moço?
- É, ele disse que era pra eu te chamar aqui.
- Você está falando com estranhos, Wanda? Não acredito! O que a gente de ensinou? Ele deve estar de brincadeira, vem, vou te levar pro quarto – disse tentando colocá-la no colo.
- Não! – ela afastou minhas mãos. – Ele disse o seu nome, ele te conhece, ele sabe quem é você.
- Sério?
- Vem, vou te levar até lá. – ela pegou na minha mão e foi andando. Será que poderia ser?
off//

De longe pude ver seu cabelo ao vento. Seus olhos brilhantes. Suas pernas definidas. Seu andar elegante na ponta do pé. A pequena menina vinha ao lado, puxando-a pela mão.
- Esse é o moço que diz te conhecer, agora eu vou jantar. – ela disse e saiu correndo.
- Oi! – disse tímido.
- Oi, er...
- ! – completei. Espera ai, ela não me reconheceu?
- Isso, ... – ela colocou uma mecha pra trás da orelha e arregalou os olhos – Ai meu deus, ?
- Eu mesmo.
- ? Aquele menininho que queria vir com a gente? – concordei com a cabeça. – Nossa! Você cresceu! Ficou maior do que eu!
- Passaram-se dez anos, .
- Poxa, dez anos... – ela olhou pensativa pro chão. – Então, quantos anos tem agora?
- Dezoito, e você vinte e dois.
- Isso mesmo... Já desistiu do sonho bobo de criança? – meu pequeno sorriso que estava ali sumiu. Olhando de perto, aqueles olhos nem brilhavam tanto assim.
- Bom, primeiro que não é bobo e nem de criança. Conhecer o mundo não tem nada de criança nele... – não sei se fui um pouco grosseiro. – Mas eu comecei a ter outras prioridades, e resolvi trabalhar, mas sempre juntando dinheiro para sair da vila.
- Então ainda quer viajar com o circo?
- Achei que fosse lembrar da sua promessa. – ela fez cara de confusa na hora. Ela abriu a boca e a fechou para falar algumas vezes, mas não saiu nada. – Você me prometeu voltar pra me buscar quando fosse maior, porque ai eu teria idade para escolher sair de casa.
- Ah, , foi uma palavra boba de criança.
- Promessa é promessa, não importa quem a faça. Você deu uma palavra.
- , você tem dezoito anos, não vou me responsabilizar.
- Eu não pedi isso.
- Hey! Quem é esse rapaz?
- Ninguém, Covalski, ele já estava indo embora.
- Não, eu não estou indo embora. Sou , .
- Prazer, , sou Covalski, só Covalski. O que faz aqui?
- Bom, meu sonho sempre foi viajar pelo mundo e desde criança que quero viajar com o circo.
- Então você quer entrar para a família? – concordei. – Então verei o que posso fazer por você, meu rapaz.
- Não! Ele tem dezoito anos! Não pode abandonar a família dele aqui, e além disso, nosso circo já tem muita gente, e ele não sabe fazer nada, é inesperiente e...
- , não precisa me dizer tudo isso, eu sei bem sobre essas coisas, se você se lembra, alguém que também não sabia nada e era jovem entrou no nosso circo. – ela abaixou a cabeça. Mas eu sabia que não se tratava dela.
- Obrigada Covalski, você não tem noção do quanto isso é importante para mim.
- Venha, vamos conhecer o pessoal.
- Covalski! Ele é um estranho! E se ele não for legal ou qualquer coisa?
- , eu sei o que estou fazendo.
Andamos um pouco e a cada pessoa que passávamos, ele dizia quem eu era e conheci várias pessoas. Todas muito simpáticas, sorridentes e coloridas.
- Venha jantar conosco para todos te conhecerem melhor. Você fala da sua vida, família, passado, presente e futuro, e amanhã te digo se você entra ou não.
- Certo. Venho que horas?
- Quando acabar a próxima apresentação.
- Certo, eu vou pro centro e volto para o jantar. Obrigada.
- Por nada, meu rapaz.
- Tchau, – disse dando um beijo na bochecha dela.
- O que é isso menino? – ela me empurrou de leve e eu sorri pra ela, brincando. Mas por dentro, estava muito triste. A mulher dos meus sonhos, da minha vida, estava me rejeitando. Ela não queria que eu entrasse.

- Pai? Mãe? Sarah?
- Oi ! – escutei eles responderem.
- Preciso conversar com vocês. – Sentamos os quatro nos fundos da loja, fechamos a porta por enquanto.
- Diga filho, você está me deixando nervosa! – minha mãe disse.
- Bom, todos vocês sabem e sempre souberam que eu sempre quis conhecer o mundo.
- , lá vem você de novo com essa história? Você está com dezoito anos e tem uma loja para tomar conta, não tem tempo de estar se preocupando com sonhos bobos! – meu pai falou grosso antes de eu começar.
- Não importa para mim uma palavra do que o senhor disse. Eu conheci um pessoal do circo e vou jantar com eles hoje à noite, se eles me aceitarem, partirei em cinco dias quando eles forem embora. Tenho um dinheiro que guardo há muito tempo, dinheiro suficiente para algum tempo. Também já comecei a arrumar minhas malas e tenho tudo organizado.
- , meu filho, você está dizendo que vai nos deixar?
- Mãe, eu nunca vou deixar vocês, vocês vão estar sempre no meu coração, eu amo vocês três.
- Então por que vai embora? – Sarah estava com os olhos vermelhos e braços cruzados. Ela ia chorar e estava com raiva.
- Porque existem coisas maiores lá fora e eu quero vê-las.
- Você vai trocar sua família por “coisas”? – meu pai continuava grosso.
- Nunca trocarei vocês por nada, só quero viver meu sonho, ganhar o meu dinheiro fazendo algo que eu gostasse de fato.
E aquele silêncio se instalou. Meu pai se levantou e arrancou o colar com a chave do meu pescoço e saiu. Abriu a loja e ficou atrás do balcão. Minha mãe correu para o depósito chorando e minha irmã me olhava com raiva. Dei um beijo no topo de sua cabeça e me levantei, andando até a carroça.
Fui para casa, tomei um banho, coloquei a melhor roupa e terminei de arrumar uma segunda bolsa, colocando dentro da carroça. Despedi-me de todos os animais, do poço, da casa e da plantação. Tudo isso aqui foi minha história e sentiria falta de tudo.
Entrei na carroça e rumei à cidade.

Capítulo seis.

- Boa noite a todos. – ele se levantou. – Temos um convidado especial, esse é , . – me levantei e acenei. Todos acenaram de volta. – Ele é um menino de dezoito anos cheio de sonhos. Ele irá jantar conosco e vocês o avaliarão, quando ele for embora, vocês decidirão se ele será o mais novo membro da família ou não, certo? – todos concordaram. – Então vamos comer. – rezamos e começamos a comer. Muitos perguntaram sobre minha família, o que eu fazia da vida. Foi um jantar divertido e legal. Rimos bastante e me senti em casa. Falei dos meus sonhos de infância, de quando vi o circo pela primeira vez e de quando conheci . Ela fechou a cara e se levantou da mesa.
- , não seja mal educada, que coisa feia! – Covalski falou grosso e ela voltou a sentar.
Depois que todos terminaram, me despedi e fui para casa. Mas antes de sair daquela tenda, não pude deixar de ver que todos permaneceram sentados. Eles iriam começar a discutir se eu iria ficar. A cara de não era uma das melhores.

A pior noite da minha vida. Não consegui dormir. Meu pai não olhou no meu rosto uma hora se quer, minha mãe ficava me abraçando e chorando, e minha irmã me olhava com raiva.
Estava pronto para ir. Sabia que não podia criar muitas expectativas, pois eles podiam nem me aceitar, mas tinha que estar preparado. Roubei da estante da sala uma foto de nós quatro, tirada um dia antes do meu aniversário. Linda foto.

Acordei. Peguei a carroça e fui com meu pai e minha irmã. Desci com a carroça na loja e fui ao circo.
- Bom dia, !
- Oi, Covalski.
- Trago-lhe novidades... – ele sorriu para mim. – Seja bem vindo! – ele abriu os braços. Sorri de orelha a orelha e lhe dei um abraço. Ele estranhou, mas logo retribuiu.
Não acreditei.
De certa forma sabia que ia, mas mesmo assim, não acreditei.
- Muito obrigado, Covalski, você não sabe o quanto eu estou feliz. De verdade, obrigado.
- Calma, garoto! Também precisa agradecer a todos os outros.
- Sim, claro que agradecerei, onde está ?
- No trailer dela. – ele disse apontando. Caminhei até lá e bati na porta. Ela abriu e deu passagem para mim.
- O que quer aqui? – enquanto sentava no sofázinho, analisava o ambiente. Tinha fotos e lembranças de vários lugares espalhadas pelas paredes.
- Eu vim conversar com você. – ela sentou num poof a minha frente. – Covalski disse que todos me aceitaram, vou ser parte dessa família agora.
- Ah, legal. – ela disse sem emoção.
- Notei que você está incomodada por eu estar entrando pro circo. Se você realmente não quiser que eu vá, eu não irei. – tinha dito isso mesmo? Ela arregalou os olhos.
- Deixaria seu sonho por eu estar incomodada? Não quero ser o monstro que acabou com seus sonhos, não faça isso por mim.
- Prefiro fazer isso a ficar o resto da minha vida com você se incomodando com a minha presença.
- Não me incomodo com sua presença.
- Pois parece. Eu só não entendi o que aconteceu, porque você ficou assim do nada.
- Assim como? Eu sou assim, .
- Não, você era toda alegre e simpática, gostava de mim e até se importou comigo.
- Muitas coisas aconteceram na minha vida, , agora sou a bailarina chefe, tenho de ensinar para todas as meninas, treinar e treinar, agora sou uma adulta e assumi muitas responsabilidades.
- Então tudo bem por você se eu entrar pro circo?
- Sim, tudo bem. Seja bem vindo. – ela disse sem graça, virando o rosto olhando pro chão.
- Obrigado... Não se importa de verdade?
- Sim, caramba! Não já falei?
- Olha ai, toda grossa sem motivos!
- , sai do meu trailer, por favor. Tenho certeza de que tem muitas coisas para arrumar agora que terá seu lugar aqui. – ela falou isso e nada mais disse. Me levantei e sai.
O que tinha acontecido com essa menina?
Era algo que eu tinha feito?
Passei a tarde tentando lembrar de algum momento que tivemos juntos, mas daqueles dias eu lembrava perfeitamente, e não brigamos hora nenhuma quando ela estava indo embora.

//
Ouvi a porta bater. Seria ele de novo?
- Oi, ! – era minha melhor amiga. Ela também era uma bailarina e era um ano mais nova do que eu. é filha de Covalski, então ela é minha melhor amiga desde que entrei pro circo. Ela sabe tudo sobre mim e eu sei dela. Bom, esqueci de dizer que ela é minha irmã também! Covalski e minha mãe tiveram um caso assim que chegamos, e ela nasceu. Mas minha mãe e Covaslki resolveram mentir e nos enganar, fui descobrir isso quando tinha 17 anos.
- Oi!
- Por que bateu na porta? Você entra aqui e sai sem mais nem menos...
- Claro, eu moro aqui também, posso fazer isso, mas é que eu estou sendo educada, porque você sempre bate.
- Ah tá, e por que você voltou? Você tinha acabado de sair!
- Eu vi alguém saindo daqui e vim conversar com você. É ele, não é?
- Ele quem?
- Ah, faça-me um favor, ! Não se faça de desentendida!
- Dá pra ser mais clara, por favor ? – fui meio grosseira.
- Esse que jantou com a gente é o que você conheceu com 12 anos e que ficou LOUCAMENTE apaixonada por ele até seus 17 anos e depois deixou esse assunto ENTERRADO e nunca mais conversou sobre ele comigo nem com ninguém? Quer que eu seja mais clara? – fiquei encarando ela por alguns segundos de boa aberta. Realmente tinha acontecido tudo isso que ela falou, de verdade.
- É sim, e daí?
- Ah, , vai dizer que você não está animada por ver ele?
- Qual é?! Parei de gostar dele desde os meus 17 anos, já o esqueci faz muito tempo.
- Não esqueceu não, você está falando nele agora.
- Eu não quis dizer esqueci dele, esqueci dele do tipo, não sou mais apaixonada por ele.
- Eu não falei nada de gostar dele! Falei que você poderia estar animada! – ela cruzou os braços. – Mas se a carapuça serve... – ela arqueou as sobrancelhas me olhando safada.
- Muito engraçada você – fiz cara de tédio e virei de costas para pentear meus cabelos, fiquei olhando para ela pelo espelho.
- Quis dizer que você reencontrou o seu grande amigo de infância, que você sonhava com ele quase todas as noites, desenhava 20 mil vezes vocês dois juntos, criou até um amigo imaginário dele!
- Nem me lembre, - ri fraco – como era inocente e boba.
- Esqueceu do apaixonadaaaaa! – ela cantarolou assanhando meus cabelos.
- Para com isso! Eu era, sim, muito apaixonada por ele, mas agora não sou mais.
- Qual é, ? Primeiro amor nunca se esquece, sempre que se fala dele a gente suspira e sente o coração ainda acelerar! Não se acaba com o sentimento de algo não grande.
- Ah é? E desde quando se tornou especialista nisso?
- Desde que levei o fora do Matt há três anos atrás.
- Você ainda gosta dele?
- Você ainda pergunta? MEU DEUS, você é mais lerda do que eu pensava!
- Você nunca me disse!
- MINHA NOSSA! ? Você vive em que planeta? Eu falo sempre nele, quando a gente janta juntos, conversa, bla bla bla...
- Mas você nunca chegou pra mim e disse “Eu sou apaixonada por Matthew”.
- Nem precisa! Como minha melhor amiga você devia saber ou no mínimo NOTAR, sua tonta! – essa hora já estávamos rindo e dava graças por ela ter esquecido do assunto.
- Desculpa!
- Mas é uma coisa que se guarda com amor no coração, eu não sinto mais nada por ele agora, do tipo, querer voltar com ele, mas sinto arrepios as vezes.
- Ok, já entendi, vamos dormir.


Capítulo sete.

Covalski me mostrou onde dormiria. Iria dividir o trailer maior que tinha, o do grupo de apoio. Eram as pessoas que limpavam, arrumavam, organizavam, etc. Ele disse que eu podia arrumar alguma das atrações para fazer, mas até lá, era do grupo de apoio. Ele disse também que não era pra achar que ia entrar em alguma atração, porque eu podia não conseguir fazer nada.
Os caras do apoio me mostraram onde seria meu cantinho do trailer.
Arrumei o que já tinha dentro daquela bolsa e avisei a todos que iria pegar a outra bolsa. Corri na loja do meu pai.

- Pai, eu sei que você está muito chateado comigo por eu estar querendo ir pro circo, mas eu fui aceito, e irei embora quando eles forem, será que dava para desamarrar essa cara e ao menos curtir esses dias que vou ficar aqui? – ele me olhou e pude ver seus olhos cheios de lágrimas. Nunca vi meu pai chorar. Então ele me abraçou e se rendeu ao choro. Sarah estava ao lado e ouviu o que eu tinha dito, chorou e me abraçou também.
Aquela noite tinha que dormir em casa, me despedir de todos, pois partiríamos em três dias.
A noite mais triste que tive, não pensei que seria tão difícil deixá-los. Não que não os amasse, mas, sei lá, achei que fosse ser mais fácil por estar querendo seguir meus sonhos. Demoramos a dormir, estávamos os quatro conversando no quarto dos meus pais, lembrando de muitas coisas e rindo bastante. No meio da noite senti um peso ao lado da minha cama.
- Não tá conseguindo dormir?
- Quem vai me acalmar quando eu tiver pesadelos?
- Sarah! Mamãe e papai são ótimos nisso, e outra, você já tem 14 anos, tem que parar de ter medo de pesadelos.
- Eu sei, grandão, vou sentir muito a sua falta.
- Eu também, vou. – a abracei forte. – Amo você.
- Eu também.
Dormimos meio abraçados, mas depois dela ter dito isso, eu não consegui dormir. Comecei a imaginar muitas coisas, medos e dúvidas surgiram. Cheguei a pensar como minha irmãzinha viveria se meus pais morressem. Daí pensei como iria me despedir deles se morressem. E ai pensei “como vou saber se eles morreram?” vou viver trocando de cidade, não terei endereço fixo, não tem como mandar cartas!
Os raios do sol passava pelas frestas da janela de madeira. Era hora de ir embora. Foi a maior choradeira de novo, até eu estava chorando. Eles foram me deixar no circo mesmo. A tenda já estava desarmada, os trailers já estavam conectados uns aos outros e Covalski já estava na cabine do grande caminhão à frente. Apresentei minha família à minha mais nova família.

Entrei no trailer e fiquei na janela olhando mais alguns entrarem. Também observava meu pai envolvendo minha mãe e minha irmã com os braços. Os três choravam e senti algo muito frio descendo pela minha bochecha. Tive vontade de gritar e pular daquela janela. Mas tinha que ser forte. Foi a cena mais triste que vi na minha vida. Eles sussurraram um “te amo” para mim, e eu respondi. Fiquei olhando para eles até virarem pontinhos no horizonte.
- Você supera, cara. – Um homem que parecia ter quase a mesma idade que eu disse colocando a mão no meu ombro. Sorri agradecido. – Sou , mas pode me chamar de .
- , mas me chama de . – sorri e ele sentou no seu cantinho do trailer. Pude ver que tinha mais quatro homens. Eles acenaram dizendo seus nomes. Justin, Marcus, Petter e Ashton.

Capítulo oito.

Paramos numa pequena cidade, maior do que a minha.
Reconheci pelo nome, ouvia falar nos jornais e meu pai já tinha viajado pra lá pra comprar animais. Passamos apenas três dias lá, só pra recarregar a comida enquanto não chegávamos numa cidade maior. Consegui andar pela cidade depois de arrumarmos a tenda, afinal, conhecer o mundo é o meu sonho e farei meu passeio sempre! Não importa quantos dias passe na cidade.
Era uma cidade muito parecida com a minha, não me interessei muito. Vi pessoas estranhas, só isso.

Nesses dias conheci a amiga de , . Ela foi muito simpática comigo e eu gostei muito dela. ela era muito bonita, mas não tanto quanto .
Fiquei o tempo todo perto de , ele me ensinava tudo o que eu precisava fazer e nós estávamos nos dando muito bem. Ele me apresentou mais dois amigos dele, muito legais por sinal... , e , . Os dois eram malabaristas.
Consegui falar com por dois momentos.
- Bom dia! – disse sorridente. Estávamos nos servindo para o café.
- Bom dia pra você, novato. – ela nem se quer me olhou.
- Tudo bom? Viajou bem?
- Sim, estou bem, e sim, viajei bem, tudo se torna legal quando divide o trailer com sua melhor amiga e sua irmã.
- é muito legal, gostei muito dela. – pude vê-la colocar o prato com força na mesa e me olhar estranho.
- Você conheceu a ?
- Aham! Ela falou que vocês eram irmãs e melhores amigas.
- Nossa. – ela voltou à posição normal e continuou andando.
- Conheci , e , muito legais eles!
- Eu gosto deles também. – espera ai, ela estava sendo no mínimo educada? – Agora vou para a minha mesa. Bom café para você! – ela disse sorrindo falso e sem ânimo.
- Posso comer com vocês?
- Vai tomar café com seus novos amigos! – ela virou de costas e sentou ao lado de , que acenou e eu retribuí.

- Para com isso, ! Para de acenar pra ele! Ele queria comer com a gente e eu não deixei, fazendo assim parece que você está chamando ele!
- Qual é, ?! Eu conversei com ele um pouco e ele me pareceu muito legal, tão legal quanto você falava aos 12, 13, 14, 15, 16 e 17 anos. – ela disse num tom de deboche e rindo. bateu no braço dela e as duas encerraram a conversa e começaram a comer.
Tomei café com , e mesmo. me disse que eu e ele tínhamos que comer mais rápido pra arrumar a arena logo, iria ter uma apresentação cedo.

- RESPEITÁVEL PÚBLICO! – Covaslki entrou na arena gritando ao microfone. Desta vez via o show da parte de trás, eu e estávamos lá prontos pra qualquer coisa. Tínhamos que estar de roupas iguais, era uma farda, caso precisássemos entrar na arena.
Ver o show dali foi legal, vi de mais perto e me senti importante e privilegiado. Segurei vários objetos que as pessoas passavam e pegavam para se apresentarem. Foi muito bom.
Assistir a apresentação de de perto é ainda mais emocionante. Ela tinha que ser tão linda?

- Belo show, meninas! – disse à e que estavam juntas. O jantar era a única refeição que fazíamos todos juntos.
- Obrigada, ! – agradeceu e bateu com o braço em .
- Er... Obrigada, novato.
- Vem jantar com a gente? Digo... Do nosso lado? – perguntou e recebeu um olhar matador de .
- Não sei se ela vai gostar... – falei baixinho. – Mas combinei de jantar com os meninos!
- Hum... , e são muito legais e engraçados! Vamos jantar com eles ?
- , eu...
- Por favor? – pedi e ela abaixou a cabeça indo na direção onde eles estavam.
- Meninas! Foram lindas como sempre! Graciosas e suaves...
- Por favor, ! Não perde uma oportunidade de nos elogiar! – disse descontraída. Eles eram amigos.
- Claro que não, minha linda! – ele disse alisando a bochecha dela e ela riu, tirando a mão dele com um tapinha, sentando-se.
- Então garotas, vejo que já conheceram ! – disse.
- Ah sim! Muito antes até de vocês! Não é, ? – a chamou a atenção.
- Aham. – ela apenas disse, sem gosto.
- Sério? Quando?
- Bom, e eu...
- No dia que ele chegou a gente se encontrou e eu o levei até Covalski. – ela me interrompeu. Qual é? Vai mentir agora?
- E eu o conheci depois, no primeiro dia aqui. – completou e depois olhou confusa pra , ela disse que explicava depois. Então sabia de nós dois?!
- Eu estou ajudando ele com o grupo de apoio, ele está se saindo muito bem! – disse.
- Como e são muito amigos de , conheci e eles vieram de brinde! – briquei e todos riram, menos .
- meu amor, que carinha é essa? – perguntou rindo alisando o seu braço.
- Me poupe! Licença. – ela tirou o prato dela e foi pro trailer.
- Ih! Que bicho mordeu a ? – perguntou e todos olharam pra , ela com certeza sabia.
- Não posso dizer nada, mas foi um bicho muito grande... – depois que todos deram de ombros e voltaram a se concentrar na comida, olhou pra mim e eu entendi que o bicho grande era eu. Afinal, que loucura é essa?
Nesse jantar descobri que e já namoraram, e que ela e já tiveram um caso! Mas agora eles são melhores amigos. e já namoraram , mas foi por pouco tempo, e , bom, digamos que foi o mais duradouro, mais recente e mais envolvente de todos. Assumo que fiquei enciumado, e se ela não gostasse mais de mim e gostasse de ? Tudo bem, não deixei de ter namoradas e casos com outras meninas, mas era tudo o que eu queria, era a bela bailarina que assombrava meus sonhos.

Terminamos e eu pedi que me levasse ao trailer de .
- Vocês estão meio estranhos... Achei que quando vocês se falarem iam virar melhores amigos e tal.
- Eu também. – disse triste.
- Fica assim não, tem paciência com ela... – ela disse passando a mão no meu braço.
- Eu só não entendo.
- Ela passou por algumas coisas na vida dela, depois você entende por que... Então, o que quer falar com ela?
- Perguntar porque ela fez aquilo no jantar, por que ela mentiu?
- Eu também não sei, e vou ficar junto com você se não se importar, também quero saber.
- Então você sabe de nós dois?
- Aham.

- ? Tá ai? – perguntou colocando a cabeça pra dentro do trailer.
- Não to, não.
- Temos visita, está vestida? – ela entrou no trailer.
- Já me viu andando pelada pelo trailer? Quem está ai? – então mandou eu entrar e logo vi saindo de trás de uma cortina.
- Vim conversar.
- Eu estou cansada, novato, você pode voltar amanhã?
- Não.
- Como é?
- Não vou voltar amanhã, preciso conversar com você.
- Mas eu não quero conversar com você.
- ! Para de besteira! – disse sentando, eu sentei ao seu lado e na cadeira da frente.
- Quero saber por que você mentiu pros meninos. Por que você não disse como nos conhecemos de verdade?
- Porque não precisa, ué.
- Achei que eles fossem seus amigos, e que eu saiba não se mente pros amigos.
- Eu acho uma informação desnecessária, só isso.
- Então me conhecer aquele dia foi insignificante? – disse com a voz triste. Tinha certeza que meus olhos estavam vermelhos e logo menos iriam ficar cheios de lágrimas. Ela me olhou assustada pela minha reação.
- Não disse isso. – ela disse quase sem voz.
- Então tudo o que nós tivemos foi esquecido?
- O que nós tivemos? – ela falou mais alto e vi seus olhos brilharem pelas lágrimas se formando. Ela virou o rosto depois disso e enxugou as lágrimas quase que desfarçadamente.
- Vai negar que passou um tempo pensando em mim? Um garotinho mais novo que tinha grandes sonhos? Um menino doce que gostou muito da bela bailarina? Vai negar ? – disse com voz de raiva e choro ao mesmo tempo. ouvia tudo sem dizer uma palavra e pude ouvir um fungado.
- Sai daqui, por favor. – ela pediu extremamente doce. A vontade que tive foi de abraçá-la e pedir desculpas, dizer que ficaria tudo bem, mas não. Me levantei e me acompanhou até a porta.
Ao sair, se afogou em choro. Chorou mais forte e a amiga a abraçou.
- Ele não tem direito de chegar aqui e cutucar numa ferida velha! NÃO TEM! – ela disse e a acalmava.
Eu fui para o meu trailer respirando fundo para o choro entrar e os olhos voltarem à cor normal.

- Ta tudo bem? – me pegou de surpresa no meio do caminho.
- Que susto!
- Onde estava?
- No trailer da , tava conv...
- Cara, vou te dar uma bela dica. é linda, desejável, gostosa e muito sedutora. Além de ser gentil, educada, doce e meiga. Não ache que você vai consegui-la fácil, ela é frágil e quase intocável.
- Eu não estava tentando conquistá-la! Tive só que conversar uma coisa com ela e !
- Tudo bem cara! Não precisa se explicar!
- E você? Pra onde vai?
- Quando o leão do bando vai dormir, - ele apontou para o trailer de Covalski – os leões mais jovens vão atrás das leoas... – ele fez cara de safado. – Quer ir comigo?
- Espera um pouco, cara! Não sou tão conhecido assim a ponto de ir atrás das mulheres!
- Não precisa, não! Uma noite a cada parada, a gente vai pra o trailer de várias meninas! É só combinar com uma, ou duas quem sabe, de manhã! No dia seguinte, a gente age como se nada tivesse acontecido.
- Nossa! Deixa pra outra vez.
- Tá bom então, boa noite.
- Pra você também!
- Terei! – ele riu e continuou andando.


Capítulo nove.

- Bom dia !
- Oi ... Cadê os meninos?
- Estavam dormindo e eu estou com muita fome, vim tomar café sozinho... Cadê ?
- Na verdade não sei, acordei e ela não estava no trailer, vim pra cá e pensei que eu a encontraria, mas não a vejo.
- Bom café pra você, vou pegar meu prato. – Não peguei prato nenhum. Fui atrás de . Andei pelos trailers e a encontrei no final da fila de trailers. Ela estava de cabelo solto, uma blusa bem folgada e shorts. Ela tinha os olhos fechados e os cabelos voavam forte. Ela não notou minha presença, então apenas fiquei a observando.
- O que você faz aqui? – ela perguntou ainda de olhos fechados.
- O que eu faço ou o que eu vim fazer? – ela me olhou confusa.
- E seriam coisas diferentes? – apenas concordei com a cabeça. – Então Brooks, o que veio fazer aqui? – ela voltou a fechar os olhos me ignorando.
- Te procurar, estava preocupada.
- E o que o senhor estava fazendo?
- Olhando. – ela abriu os olhos surpresa, mas não me olhou.
- Terminou? Estou me sentindo constrangida e preferia ficar sozinha. – ela disse seca.
- Só vim ver se você está bem, você está bem? – perguntei me levantando.
- Sim.
- Ótimo, agora vou tomar meu café, tenha um bom dia Parker. – sai andando sem olhar pra trás. O que eu tinha feito pra ela me tratar assim?

- Olha , em respeito a ela eu não posso contar!
- Mas , eu preciso entender! Eu não posso mais olhar pra ela e receber aqueles foras sem motivos!
- Own , deve ser duro pra você, mas ela...
- Ela nada! Eu não dei motivos nenhum pra ela fazer isso comigo, ela nem uma segunda chance me deu! Desde que eu encontrei ela de novo ela faz isso comigo, porque?
- Você terá que cativá-la, conquistá-la, só assim ela vai te dizer alguma coisa... ficou muito fechada e tímida desde que... – Ri ironicamente.
- Não me lembro dela ser fechada, muito menos tímida!
- Ah , você vai ver. – ela virou-se e saiu. Ser amiguinha de e conquistá-la não vai ser fácil, principalmente porque ela não é qualquer uma. Seria mais fácil ser amiga de , ela é bem mais sociável.
Estava começando a ficar com raiva de , e disso eu não gostei.

- ? Tá acorado?
- O que foi ?
- Vamos lá fora um minuto? Preciso conversar com você.
- Tudo bem... – estava de noite, escuro, todos dormiam e esse doido vem me cutucar!
- Eu preciso de ajuda!
- O que aconteceu ?
- Bom, é que... Tá, eu vou te contar isso porque confio em você, hein rapaz? Não queira criar inimigos aqui no circo! A gente tem cara de família, mas com tanta gente assim, tem sim pessoas que não se suportam! Então você fica de bico fechado!
- Calma ! Eu saquei, e pode confiar!
- Eu gosto da , mas ela é melhor amiga da e eu ainda gosto da um pouco, e eu terminei com ela faz pouco tempo, e eu não sei o que fazer!
- Calma, – respirei fundo, ele não podia gostar de ainda. – de quem você gosta mais, da ou da ?
- Bom, a é incrível cara, não foi à toa que namorei ela por quase dois anos, mas ela não tem o mesmo brilho de antes, o sorriso, os olhos, tudo nela mudou! A gente se gostava muito, eu via isso, e sentia isso, mas ela fica triste de vez em quando, e dizia que eu não entenderia, e começava a chorar, ai depois ela voltava sorrindo e foi muito confuso! Era isso quase toda semana!
- Mas e a ?
- Ah, a é muito linda, engraçada e sabe conversar! No nosso grupinho de amigos todo mundo já se pegou, menos nós! E isso é tentador.
- Então você gosta mais da...
- É isso que me perturba! Não sei se vou pelo sentimento ou por atração.
- Mas você tem que rever suas chances! Quais suas chances com ? E com ? Será que voltaria com você? Será que se você ficasse com não começasse a surgir sentimentos? Saiba que nem todas as vezes você gosta da garota e pronto! Isso também se constrói.
- Cara, você tem razão! Muito obrigada ! E de onde você adquiriu tanta experiência amorosa, essas palavras foram bonitas.
- Eu tenho uma grande ferida, meu caro... – ri.
- Tanto faz, depois você me conta dessa ferida ai, não diga a ninguém que falei com você sobre isso.
- E nem você diga que eu usei palavras profundas, isso chega a ser meio...
- Estranho! – rimos e entramos para dormir. Então ele gostava da ?

- Hey! ! Vem tomar café comigo e com !
- Tudo bem!
- Bom dia !
- Bom dia , .
- Cadê ?
- Foi comer com as crianças hoje! Todos os dias um adulto fica responsável pelo café das crianças, depois temos que agendar você !
- Com prazer, adoro crianças.
Tomamos café nós três, os meninos foram arrumar alguma coisa e conversamos bastante. Pelo visto esses dois vão andar mais rápido do que eu imaginava! Fizemos outra apresentação e partimos.
Na viagem tentou puxar o assunto “ferida” várias vezes, mas não me sentia à vontade de contar pra ele, principalmente nos mínimos detalhes, incluindo meus sentimentos em relação à ela, porque afinal eles são ex-namorados e ele ainda está incerto de seus sentimentos.
Ele então falou várias vezes sobre , de como ela era bonita, gostosa, charmosa. Já não agüentava mais! Se demorássemos mais um minuto na estrada, EU ia acabar me apaixonando por ela.

- , preciso falar com você.
- Não use esse tom comigo , o que aconteceu?
- Preciso que seja muito sincera comigo, o mais sincera que puder, do findo do seu coração.
- Ai meu deus, assim você me assusta! Fala logo.
- Você ainda gosta do ? – começou a rir. – É sério , não ria disso!
- Calma, porque está perguntando isso?
- Uma pergunta por vez, eu perguntei e você tem que responder.
- Ok, eu não gosto mais dele! A gente já namorou, já o amei muito! Tive o melhor relacionamento com ele, ele é muito legal e eu adoro a pessoa que ele é, mas aquele sentimento especial passou. Agora está na sua vez de responder a minha pergunta, porque está perguntando isso?
- Porque eu estou pensando desse seu mesmo jeito.
- Não me diga que te conquistou!
- Foi sem querer, quando vi já estava com a mão no queixo o vendo montar a tenda sem camisa.
- ! – ela sorriu e jogou um pano nela.
- Que foi? Não consegui evitar. Agora sei porque se apaixonou por ele. – fico séria e se virou.
- Então você vai...
- Eu não vou nada! Até parece que não me conhece! Vou ficar na minha, só jogando charme e ver no que dá.
- Ok, só não me peça ajuda, você sabe que eu tenho vergonha...
- Ah ! Você é minha irmã e minha amiga! É seu dever, é sua obrigação! – elas riram e continuaram conversando sobre outras coisas.

- Então , gostou do meu novo uniforme?
- Gostei sim , te deixa mais sexy! – ela gargalhou. – Georgia vai adorar!
- Shi! Fala baixo!
- Calma malabarista! Ela não vai ouvir!
- Você é uma palhaça mesmo!
- Não, sou bailarina. Agora vou pro trailer, preciso ajudar com umas coisas.
- Espera, você não veio me contar uma coisa?
- Não, não vim não! – ela disse nervosa.
- ! Você não me esconde nada, anda, fala logo! Tenho que encontrar com pra ensaiarmos uma vez.
- Er... Você está com pressa, a gente se fala depois.
- !
- Tá bom! – ela sentou e cruzou os braços. – Seu chato!
- Você me ama!
- Quer calar a boca ou não?
- Comece.
- Eu estou gostando de uma pessoa.
- Sério? De quem? Fala fala fala! Vou te arrumar pra ele!
- Não ! Você não vai fazer nada!
- Tudo bem, mas eu não posso saber quem é? – ela suspirou.
- .
- Ah cara! O ?
- É, qual o problema?
- Er... nenhum! Só acho ele novo demais.
- Qual o problema?
- Nenhum, é bom que ele é menos safado e assim eu tenho menos ciúmes.
- Palhaço! – ela deu um tapa no braço dele.
- Errou! Malabarista! – ele disse e saiu do trailer atrás de .

- Ai desculpa! – esbarraram em mim enquanto caminhava pro trailer.
- Não foi nada. – disse simpaticamente. – Ah, oi !
- Oi novato.
- Ok, chega! Eu tenho nome! Se não se lembra, é .
- O que foi isso menino? Porque está falando assim comigo?
- Eu não sou menino, e eu estou te tratando a nível!
- Nível de que?
- Do mesmo nível que você me trata! Estou cansando de falar educadamente com você e você só vem com grosserias de não sei de onde vêem, tenha uma boa noite Parker! E não se preocupe, não vou te importunar mais.
Não me pergunte o que foi isso, porque eu não sei! Realmente isso é verdade, mas de onde eu tirei essa coragem pra falar com a mulher que assombra meus pesadelos assim, eu não sei.

Capítulo dez.

Velentine’s Day. Um dia muito bonito e rosa. Todos trocam flores, presentes, cartões, chocolates. Independente de ser seu namorado ou namorada, amigo ou amiga, amado ou amada. É apenas um dia feliz. Senti um aperto no coração. Todo ano ajudava minha irmã a fazer um cartão pra um menino na escola de que ela gostava. Papai e mamãe sempre trocavam presentes entre si, era muito lindo.

- Vai mandar algum cartão ? – estava deitado na rede enquanto estacionavam os trailers e acabara de sair do banho.
- Não sei se mando pra , ainda estou pensando.
- Você deveria mandar.
- Mas eu não sei o que escrever.
- Você pode falar que ela é uma ótima amiga, bonita, ai bota mais qualidades pra ela ficar rindo boba e vermelha, daí fala que gosta muito dela e se ela gostou muito do cartão, abra a porta. Ai ela vai abrir e você vai estar lá, com uma rosa na mão e vai sorrir timidamente, chama ela pra caminhar e vê no que dá.
- Cara, você tem quantos anos?
- 18, porque?
- Onde você aprendeu essas coisas? Ah já sei, a ferida, a amada que não te amou, sei lá o que é. Quando você vai me contar?
- Tem um tempo agora?
- Adoro uma fofoca, conta.
- Tem que me prometer com a sua vida que não contará a ninguém.
- Cara, você tá me ajudando muito com , eu não vou contar.
- Bom, por onde eu começo? – sim, contei a historia de . Como nos conhecemos, e quando ela foi embora e eu fiquei abobalhado sozinho, sofrendo por ela, sonhando com ela, ficando com outras e pensando nela. Ele fez perguntas do tipo “E porque vocês não estão se falando agora?” e conversa vai, conversa vem, eu tive uma idéia.

- Bom dia senhores das coisas no ar! – fui ver e pra deixar e o papel a sós.
- Quanta alegria é essa? – perguntou.
- Valentine’s Day meu caro! Feliz Valentine’s Day amigos! – disse os abraçando.
- Sai daqui seu gay! – eles disseram iguais.
- Qual é? Aprendi que Valentine’s Day é dia do amigo também! – ri.
- Vocês vão entregar alguma flor, cartão, presente, flores ou chocolates? – perguntou.
- Não sei, estava afim de mandar flores anonimamente para várias mulheres, assim elas se sentem especiais! – disse suspirando. – Mas pra ninguém especificamente. E você ?
- Er, eu? Não! A não ser que mande pra e , elas tem se tornado minhas amigas.
- ? Tudo bem, já vi você e conversarem, mas ? Ela nem te olha!
- É, você tem razão. Vou ver se já tomou banho, tchau! Boa sorte com os presentes Sr. Anônimo!
- Ele tá estranho! – disse.
- É o dia, esse dia é todo rosa e vermelho, meche com a masculinidade de alguns!

- Já fez seu cartão?
- Para de me apressar ! Eu estou nervoso, não consigo pensar em nada! Porque a pressa?
- Porque eu não posso entregar o meu cartão pra anonimamente, ela abre a porta e você tá lá, imagina a macacada que vai ser!
- Ah ta, entendi, mas eu ainda não sei o que escrever!
- , feliz Valentine’s Day! – ia dizendo e ele ia escrevendo. –... Ai você descreve ela, não posso dizer o que EU acho, se não EU estarei descrevendo ela.
- Certo. – ele mordeu a língua e começou a escrever alguns adjetivos. – E depois?
- Ai pode colocar assim...
- Escrevi, mas e se ela não gostar?
- Ai como você é tonto! E se você não tentar, vai saber? – ele calou e sentou. – Vai entregar agora?
- Vou esperar você escrever a sua.
- Já escrevi, toma. Coloca as duas debaixo da porta. Boa sorte!

//
Estava na penteadeira quando vi uma sombra por debaixo da porta e dois papeis passando por ali. Sorri e lembrei que era Valentine’s Day. Levantei e peguei. Um era meu, outro de .

, feliz Valentine’s Day! Quero que saiba que você é uma grande amiga e muito especial para mim, além de ser inteligente, linda, legal, sabe conversar e dança muito bem! Vou parar por aqui porque você provavelmente deve estar vermelha e com um sorriso tímido. Acertei? Bom, se sim, abre a porta.

Com amor, .



Meu coração estava acelerado. Não podia ser! Deixei meu cartão sob a penteadeira e abri a porta rápido. Ele estava com uma única rosa na mão e todo vermelho!
- Quer dar uma volta? – ele perguntou rouco, quase sem voz. Sorri e saímos.
off//

//
- ? Cadê você? – tinha saído do banho agora e ia começar a escrever cartões com ela. – ? – vi dois cartões em cima da penteadeira, um aberto e outro fechado. Como sou curiosa, vi logo o aberto e não pude ler sem segurar meu queixo! Fiquei muito feliz por eles dois ficarem juntos!
Peguei o outro e vi que era para mim.

, feliz Valentine’s Day!
Não pense que esse dia é apenas para namorados, porque não é. É um dia especial, colorido, onde todas as pessoas acordam felizes. Flores, chocolates, presentes ou apenas cartões são distribuídos entre pessoas amadas, amigos, parentes, familiares e outros.
Estou te mandando esse cartão porque gosto muito de você, acho você linda e charmosa, misteriosa e brilhante! Acredito que no fundo do meu coração você é uma pessoa amada, mas na vida real nem chega a ser minha amiga! Não sei se ao menos você me conhece, mas eu queria que conhecesse, sei que vai gostar de mim.
Bela bailarina, caso queira responder, dê à Covalski, e nem tente grudar nele, porque ele está me fazendo um favor e manterá minha identidade em segredo.
Com amor, Viajante.


Meu Deus! Que coisa linda! Quem será ele? Eu preciso responder! Caneta? Caneta? Caneta?
Ouvi a porta bater e dei um pulo. Era , ela se encostava na porta e tinha os olhos fechados.
- , você está bem?
- SIM! SIM SIM SIM SIM MIL VEZES SIM!
- O que foi menina? – ri.
- AH! A gente conversou!
- A gente quem?
- Não se faça de boba! Você leu meu cartão que eu sei!
- Ah ta bom, li sim! E ai, como foi?
- A gente conversou e deu tempo suficiente pra eu notar que ele é mais lindo, mais legal, mais cabeça, mais TUDO! Ele falou que gosta mesmo de mim, e eu acabei falando que também gostava dele, já fazia um tempinho, e a gente quase se beijou!
- Nossa! Porque não se beijaram?
- Porque umas crianças passaram correndo e gritando “FELIZ VALENTINE’S DAY!” – ela bufou derrotada.
- Você parece uma adolescente.
- Eu me sinto uma! Nós vamos jantar juntos hoje!
- Ah claro, ta bom! Você vai me deixar sozinha, arruma um namorado e larga a melhor amiga irmã. Ok!
- Nem vem, você pode jantar com os meninos, você não só conhece a mim aqui, por favor! E ele não é meu namorado.
- Ainda! – disse rindo.
- E eu vi que tinha um para você, cadê, deixa eu ver, quem te madou? ?
- Não! – ri de novo. – Não diz quem foi, mas não acho que seja ele, a gente brigou e eu acho que ele não vai mais falar comigo.
- Brigaram? Como?
- Ontem à noite, você já estava dormindo quando eu fui comer alguma coisa antes de dormir, na volta esbarrei nele e ele explodiu! Começou a falar que estava cansado de eu tratar ele assim.
- Não tiro razão dele.
- De certa forma, nem eu tiro. – suspirei, ele tinha toda razão, eu não tinha motivos de tratá-lo mal.
- Mas e ai, o que diz no cartão?
- Fala coisas lindas e ele deixou em anônimo, falou que se eu quisesse responder desse a Covalski.
- E você vai responder?

- , toma ai!
- Valeu Covalski! Tem certeza que ninguém te viu vindo, né?
- Tenho seu pateta, agora vai, lê ai! Eu vou voltar pro trailer.

Viajante,
Também lhe desejo um feliz Valentine’s Day. Apesar de não te conhecer e não saber quem você é, já sinto que é uma pessoa profunda e sabe usar as palavras. Obrigada pelo cartão e pelos elogios, estou lisonjeada, pena que não posso lhe elogiar porque não sei quem é!
Tenho uma pergunta para você, como sabia que eu iria querer responder?

Com amor, Bailarina.



Não acredito! É essa a que eu estava procurando!
- ! Ela respondeu, olha! – ele pegou e leu.
- Que legal cara! Agora vamos, temos que terminar de armar a tenda! – guardei o cartão atrás do espelho e fui.
Pude observar que , , e tipo, umas 15 mulheres estavam lavando as roupas no rio e olhando para todos aqueles homens sarados e sem camisa arrumando o circo.
Hoje à noite terá uma apresentação especial em homenagem aos apaixonados, amigos, familiares e todos por causa do Valentine’s Day. Essa noite não olharei um segundo se quer para . Ela não pode suspeitar de nada! E eu acho que ela não suspeita por causa do meu show de raiva, ainda bem!

A noite estava linda. Holofotes grandes, muita gente, muitas flores e balões espalhados pela arena e arquibancada. Deu trabalho montar tudo isso! Todos os cidadãos vinham e ficavam admirados. Não deu tempo de eu passear na cidade, mas amanhã farei com certeza!

Covalski mais uma vez entrava e fazia seu número. Mas agora não tinham coelhos, cartas nem nada, era chocolates, flores e corações.
Todas as apresentações foram voltadas a amor, coração, amizade, essas coisas.
Mas a apresentação mais linda foi com certeza a das bailarinas. Os palhaços se apresentaram antes, e logo depois elas vieram. Elas dançavam graciosas e leves, e um palhaço ficou assistindo admirado. Reconheci, era o Ben, um rapaz de 30 anos e casado. Eles fizeram tipo um teatro. , a bailarina chefe ficava envergonhada, e o palhaço tentava segurar na mão dela. As outras bailarinas dançavam ao redor enquanto a bailarina e o palhaço estavam juntos no meio. Eles ficavam de frente e davam as mãos, outros palhaços começaram a correr e pular ao redor deles também, junto com as bailarinas. Isso foi engraçado, as bailarinas bem cuidadosas e delicadas, e os palhaços tortos e desorganizados. Eles se olharam e deram um beijo tímido. Era apenas um selinho, mas isso me derrubou por dentro.
Todos na platéia se levantaram e aplaudiram. Acabou o show e Covalski deu feliz Valentine’s Day para todos.

- Vai responder o que para ela?
- Já escrevi e já coloquei no trailer dela, antes da apresentação dos palhaços.
- Seu louco! E se eu precisasse de ajuda?
- Qual é ? Nunca precisa de ajuda!
- E se acontecesse um acidente?
- Cara, só foi um minuto, o trailer dela é um dos mais pertos!
- Ta bom, mas não acha que é pra fazer isso sempre.

- Ai, cansei!
- Eu também, vou dormir agora, não vou nem jantar.
- Pois eu vou, preciso ver !
- Apaixonadinha.
- Ei bailarina, olha o que tem no chão!
- Ah! Outro cartão! – ela disse empolgada e leu rápido.

Bela Bailarina,
É claro que eu sei que responderia! Sou homem, conheço as mulheres. Conheço tanto que sei que está rindo agora!

- Olha! Ele adivinhou! Haha! – riu debochando.

É brincadeira, eu só sou alguém com esperanças, ela é a ultima que morre. Tenho esperanças de que você me veja, goste de mim e seja minha amiga, no mínimo. Mas então, quero te parabenizar pelo show de hoje! Foi realmente lindo! Você foi brilhante e espetacular como sempre.

- Hum, brilhante e espetacular são adjetivos fortes!
- Cala a boca !

Boa noite Bela Bailarina, responda se tiver algo a perguntar! A Covalski de novo.
Viajante.

- Nossa! Que mistério! Você vai responder?
- Claro. Não posso deixar de falar com ele até descobrir quem é.
- Tem idéia de quem seja?
- Não! Tem tantos homens no circo que eu converso, que eu não falo, que eu apenas cumprimento, que são meus amigos, AI QUE COISA!
- E o que você vai responder?

Viajante,
Não sei se Covalski entregou ainda à noite, mas se sim, boa noite também, se não, bom dia! Haha.
Não pense que pararei de responder só porque não tenho o que dizer, porque eu arrumo e te falo! Não vou parar de escrever até descobrir quem você, agora ganhou um fardo que vai carregar até revelar sua identidade secreta, ó Viajante! Agora eu acerto, você riu!
Bom, queria perguntar outra coisa: Porque você quer ser meu amigo?
Bailarina.

- Poxa, essa foi uma pergunta difícil, porque ?
- Ah , me deixa com meus cartões e vai dormir! – ele gargalhou.
- Boa noite Viajante!
- Para cara! Se alguém escuta? Ela pode ficar sabendo!
- Boa noite pra você também meu amigo.
- Boa , Boa noite!

Capítulo onze.

Logo de manhã fiz meu lindo passeio pela cidade. Era linda! As casinhas pequenas, grandes, altas, lojas, pessoas alegres e sempre sorrindo. Ouvi umas pessoas do circo falando que chegaríamos logo à Londres. Como eu quero conhecer Londres! Estou muito empolgado, mas não pude deixar de escrever para a minha Bela Bailarina!
Na volta deixei debaixo de sua porta e corri com muito cuidado para que nem ela nem ninguém me visse.

Em minha opinião você é a bailarina mais linda de todas, sua saia é a maior, seus olhos são os mais brilhantes e seu cabelo é o mais macio, seus movimentos são os mais precisos e você me parece uma pessoa legal.
Quero muito saber mais sobre você, sua personalidade, seu passado, seus sentimentos, seus sonhos, suas opiniões. Quero ser seu amigo, te conhecer.
Viajante.

- Olha isso ! Que lindo! Ele está muito apaixonado por você.
- para com isso! – ela choramingou. – Só faz eu me sentir pior por não saber quem é!
- Bom dia para você também, sua frustradazinha.
- Bom dia nada, como foi o jantar?
- Nossa! Foi maravilhoso! Conversamos muito e SIM! Nos beijamos!
- NOSSA! Como as coisas andam rápidas!
- Sua boba! A gente se gosta, já sei que ele vai me pedir em namoro sem prévias, logo logo.
- Hum, safada! Vão se ver quando?
- No almoço, ele disse que ele e vão precisar arrumar umas coisas hoje de manhã e não vai poder me ver.
- Nossa, no almoço? Você agüenta de tanta saudade? – fechou a cara e bateu no braço dela, depois as duas caíram na gargalhada e foram ensaiar.

- , tenho uma carta dela, te entrego aqui ou deixo no seu trailer?
- Covalski! Aqui não, ela pode me ver e eu estou trabalhando, não tenho nem onde guardar! Coloca debaixo da minha porta, por favor?
- Ta bom seu tampinha, mas você me deve essa!
- O que foi que Covalski tava falando com você?
- Ah , sobre as cartas.
- Claro.
- Vai me contar como foi o jantar com a senhorita ?
- Foi incrível, ela é incrível! Conversamos e vou vê-la no almoço, já que vamos passar a manhã arrumando essas coisas.
- INTERVALO PESSOAL! Podem ir tomar uma água e descansar. – corri pro meu trailer e depois de ler já respondi e botei no trinco da porta, uma hora dessas ela está no ensaio e todos estão ocupados demais por ai.

Viajante,
Com esses elogios eu chego a ficar vermelha! Assim você me deixa sem graça! Obrigada, fico lisonjeada mais uma vez. Pelo que você me fala, também parece ser uma boa pessoa, uma pessoa legal e que sabe conversar. Confesso que minha curiosidade está grande e isso faz com que eu queria também te conhecer e ser sua amiga. Mas eu não posso te conhecer sem saber quem você é! Acho que o primeiro passo seria esse.
Bailarina.

- , , quando eu tava vindo do meu trailer vi um papel na porta de vocês, eu fiquei com medo de voar e coloquei por debaixo da porta.
- Obrigada Georgia! E ah, tava falando de você essa semana! – disse arqueando as sobrancelhas e Georgia ficou vermelha. – Ei! ? Aonde você vai? – via a menina correndo. – Temos ensaio!
- Volto já, 5 minutos!

Bailarina,
Fique ciente de que não direi quem sou nem tão cedo, então pode se acalmar ai! Mas faremos o seguinte, vamos fazer perguntas! Perguntas alheias sobre qualquer coisa e nós respondemos. Ai vai a minha primeira: Porque está no circo?
Viajante.

- ! Você não pode sair no meio do ensaio, me deixar aqui com as meninas e as crianças por causa de uma carta de um cara que você nem sabe quem é!
- Calma ! Eu só fui ler, nem escrevi ainda!
- , eu não gostei disso, não quero que se repita!
- , foi só o tempo de beber água, calminha ai! E devo lembrar que eu sou a bailarina chefe, ok?
- Ser bailarina chefe não te dá direito de sair no meio do ensaio. Antes de tudo você é apenas uma bailarina.

- AI!
- Desculpa ! Desculpa, foi sem querer, eu não vi, eu, desculpa!
- , você não pode ficar olhando para todos os lados vendo se ela passa, se ela ta te vendo, se ela respondeu, cara, se concentra! Viu o que você fez? Martelou o MEU dedo! Muito mais fácil martelar o seu!
- Desculpa, eu..
- Tá desculpado, e vai martelar mais pra lá! – ele disse rindo. Eu estava nervoso, queria logo acabar com isso, poder abraçá-la e ter certeza de que ela seria minha.
- RESPEITÁVEL... – mais um show. Ficava conversando bobagem, comentando sobre as pessoas na arquibancada, as expressões delas, as bonitas, as feias, os gordos os magros, e os shows rolando.
- Está bem ? – perguntou.
- Não comi direito hoje e estou meio tonta.
- , leva para a cozinha, ajuda ela a comer alguma coisa e voltem antes da apresentação das bailarinas, mas , só faça isso se estiver bem!
- , vamos? – disse apreensivo. Juro que achei que ela ia pedir que fosse com ela, ou outra pessoa. Mas ela concordou e deu abertura para que passasse o braço em sua cintura para ajudá-la a andar.
Senti choques por todo o meu corpo, meu braço ficou tremendo, mas ao mesmo tempo forte para segurá-la. Fomos sem dar uma palavra.
- Você tem que comer, vida de atleta é puxada. – falei sem emoção.
- Não sou atleta. – ela disse enquanto comia uma bolacha salgada e suco.
- Bailarinas se esforçam muito também, trabalham o corpo e se cansam muito! Se não se alimentar direito vai acabar adoecendo! – sentei-me à mesa na sua frente.
- Se importa que eu fique doente? Não influencia nada na sua vida.
- Não sou egoísta, não penso só em mim! Penso na sua saúde enquanto membro deste circo, penso no duro que você, e todas as outras bailarinas dão ensaiando e como se entregam no palco. Sem você a apresentação é muito diferente, já que é a principal. Elas precisam de você .
- Nossa, falando assim parece que eu sou egoísta.
- Eu não te chamei de egoísta, e meu objetivo não foi te atingir com palavras, mas se a carapuça serve...
- Olhe aqui, você não pode me chamar de nada porque não me conhece e outra coisa novato...
- Vamos embora, seu show já vai começar. – peguei-a no colo e coloquei no meu ombro como se fosse um saco de batatas. Sorria sem fazer barulho enquanto ela batia nas minhas costas.
- Voltaram bem na hora! – suspirou.
- , onde você estava?
- Estava comendo !
- Está entregue a moça. – disse colocando-a no chão.
- Você quis dizer a mercadoria, seu bruto!
- Vamos vamos vamos – disse rápido e todas as bailarinas entraram.

- Boa noite Covalski, vai entregar ainda à noite?
- Vou , nem se preocupe, mas isso já está me cansando!

Viajante,
Entrarei no seu joguinho de perguntas, assim poderei saber mais sobre você! Eu estou no circo desde recém-nascida com a minha mãe. Ela engravidou e meu pai a abandonou, ela fugiu e entrou pro circo. E você, porque está no circo?
Bailarina.

- Então, vai dormir bem agora, não é? – ele disse dando um soquinho no meu braço.
- Claro que sim , boa noite! – sorri e dormi daquele jeito.


Capítulo doze.

- Oi ! – disse animado. Carregava cestas cheias de coisas para deixar na arena.
- Nossa , que animação é essa?
- As coisas estão dando bem para mim, só isso!
- Nossa, estou torcendo por você! Você merece...
- Obrigada! Eu também torço por você e ! – ela riu sem graça e ficou vermelha.
- Eu soube que você e andam brigando...
- É... Mas sabe, eu estou tão feliz que nem estou ligando muito para isso, tenho que me acostumar com ela desse jeito comigo. Ela não gosta de mim, não quer ser gentil comigo, então eu tenho que respeitar.
- É... Tenho que ir agora.
- Tenha um bom dia, querida! – disse dando um beijo na bochecha dela. – Ah! Covalski está muito ocupado hoje e pediu para que eu entregasse isso à , pode fazer isso, por favor?
- Claro!
- Mas não leia! Covalski disse que era confidencial, muito importante e que ninguém podia ficar sabendo de quem é.
- Pode deixar.
- , que mistério é esse dela hein?
- Não sei se devo te contar, afinal você pode ficar triste, sei que gosta dela.
- Eu tenho que aprender a esquecê-la, e estou conseguindo... E como! Pode me contar , me magoar não vai, decidi que ela não me machuca mais.
- Bom... Uma pessoa mandou um cartão no Valentine’s Day anonimamente e ela tem conversado com ele por bilhetes!
- Ah, que engraçado! Ok então, entregue a ela, tenha um bom dia!
- Pra você também! Fala pro que eu quero vê-lo depois.
- Hum... Vou falar – fiz cara de safado e ela ficou completamente vermelha! Tratei-a assim para ela ir fofocar pra e ela suspeitar menos de mim. Tomara que dê certo.

- Ele disse isso mesmo?
- Aham, acho que ele está gostando de alguém, não vejo um homem desse jeito sem estar apaixonado... Mas e você está bem?
- Que? Puft! Claro que sim! Eu não tenho motivos pra ficar triste nem nada! Deixa ele ser feliz pra lá! Menos um pra riscar da lista do “Viajante”!
- É, agora vamos que temos muitas coisas a fazer.
- Calma, vou ler e responder.

Bailarina,
Digamos assim, foi opção minha entrar pro circo. E você, gostando de alguém?
Viajante.

- Expresso-estou-ficando-sem-paciência-chegando! – Covalski disse entrando no trailer.

Viajante,
Se disser que sim, tiraria esperanças, se disser que não, poderia alimentar esperanças. Haha! Brincadeira.
Não estou interessada em ninguém a não ser na identidade de vossa pessoa. E você?
.

- Olha só pra você , ela não gosta de ninguém!
- Cala a boca , vai passear com sua namoradinha, vai!
- Eu não pedi, ainda. Vou pedir agora!
- Sério? E como vai fazer?
Estavam os dois caminhando de mãos dadas pelo campo perto de onde estavam os trailers. Mais tarde iríamos arrumar as coisas e de manhã nos organizaríamos para partir. Eles conversavam sobre qualquer coisa e davam beijos vez ou outra.
- , posso mudar de assunto?
- Com uma condição, se for mais interessante do que falar sobre as cidades que já visitamos.
- Quer namorar comigo? – ela arregalou os olhos ao máximo e sorriu abertamente. Pulou no pescoço dele e o encheu de beijos. Eles voltaram andando e cada um foi espalhando a notícia.

- , encontrei Covalski a caminho daqui, toma outra carta.

,
Não se faça de boba! Meu interesse é em você!
Viajante.

- AAAAH! ELE GOSTA DE MIM! PRECISO SABER QUEM ELE É!
- Calma ! – ria. – Viu só o que eu falei sobre se sentir uma adolescente?
- Vi sim amiga! Vamos almoçar juntas para você me contar melhor essa história com .
- Não mesmo, você vai responder AGORA! Depois nós vamos.

Mister Mistério,
Então porque não diz logo quem você é e acaba com essa aflição? Eu vejo você e vejo as chances da gente!
.

- Ela quer saber quem eu sou, de novo.
- Claro ! Você se declara pra ela, fala mil e um elogios, ela quer saber quem é esse ser romântico pra no mínimo saber que AQUELA pessoa gosta dela. Mulheres, e principalmente , gostam de coisas concretas.
- Mas eu não vou contar ainda.
- Tá certo então, faça o que achar melhor, eu vou dormir. Amanhã vamos acordar cedo e engatar os trailers, trabalho pesado cara, trabalho pesado.
- Eu também, só vou responder e deixar lá, é rápido.

Não direi quem sou até que me conheça, o meu rosto não influencia na pessou que sou, mas influencia na pessoa que VOCÊ PENSA que sou.
Viajante.

De manhã Covalski me entregou logo a carta, já que na estrada não vamos trocar cartas.

Nossa, me conhece tanto assim pra dizer que sou superficial a ponto de não querer te conhecer por causa do seu rosto?
.

- Depois dessa eu TENHO que responder antes de partimos! Se não ela vai passar a viajem com raiva de mim.
- Mas Covalski já tá no trailer dele, você tem que correr e entregar sozinho.
- Tá bom. – corri para a bancada e escrevi com pressa.
- Você pensa em contar pro e ?
- Não agora, deixa pra depois, sei lá... vai pedir Georgia em namoro logo menos, tá ai, sempre pegando todas e você já está namorando. Eles vão achar uma bobagem!
- Tudo bem então, se é assim que você quer que seja, irei respeitar.

Querida Bailarina,
Não foi isso que eu quis dizer! Se te achasse superficial, não te acharia meiga e linda nem estaria conversando com você.
Bom, passaremos um tempo sem nos comunicar por causa da estrada, mas vou esperar muito ansioso e tomara que essa viajem pareça ser rápida. Boa viajem para você e
, curtam bem esses dois dias.
Viajante.

- Ai meu Deus, ! Eu já teria endoidado com esse mistério.
- E eu estou por um fio! Dá vontade de por um PONTO nessa história, estou começando a me irritar!
- Passa esses dois dias de estrada pensando, no que vale a pena, no que não vale, no que você quer e no que não quer.
- É...

Capítulo treze.

Chegamos à cidade. Finalmente. Mal posso esperar para receber uma carta de , e mal posso esperar para conhecer a cidade. Covalski disse que essa seria uma grande.
Assim que chegamos fomos dispensados, pela viajem ter sido cansativa. Durou três dias por causa das chuvas. Fiz meu passeio sozinho, como sempre, não queria que ninguém me acompanhasse.
Depois fiquei sabendo que e fizeram compras. as acompanhou e e foram juntos. Só faltou eu mesmo. Mas foi porque eu quis, eles me chamaram.
Ao voltar, Covalski colocou a carta por debaixo da porta.

Viajante,
Obrigada, mais uma vez, pelos elogios, mas peço que pare, pois fico sem graça e não tenho o que falar de volta.
Voltando às perguntas... Que atração você mais gosta?
Bailarina

- Se divertindo com o joguinho de papel?
- Que susto !
- Outra carta dela?
- É sim...
- E como foi seu passeio?
- Adorei, o mundo é muito lindo! E vocês, fizeram muitas compras?
- Não mais do que as mulheres... Falando nelas, contou a todos sobre o Viajante.
- Sério? O que ela disse?
- Que estava perturbada com isso, curiosa e que estava gostando muito de conversar com ele.
- Oba, ponto para mim!
- Já respondeu?
- Vou escrever agora, vai aonde?
- Falar com .
- Então espera, ai você fala que encontrou com Covalski e entrega.

Bela ,
Sinto muito, mas não é a graciosa dança do balé! Haha! na verdade, gosto do circo todo, não tenho nenhuma preferida, acho todas especiais. E você? Tem alguma preferida além da sua?
Viajante.

- Que fofo. – ela pensou alto. Como tinha saído com para almoçarem depois de todos, resolveu dar uma volta e ficar daquele jeito estranho e sentada de olhos fechados sentindo a brisa bater.
Só que dessa vez, ela não se tocou, ou se tocou, que sentou perto do meu trailer, e pude vê-la naquele estado sereno.
- O que faz aqui? Veio me procurar de novo?
- Não, não está nem um pouco preocupada com você.
- Ah é... Ela saiu com .
- Tem ciúmes?
- Como sabe que já namoramos?
- Os meninos me contaram a ficha completa de muitas pessoas. Informações básicas que preciso saber.
- Sei... E respondendo, não tenho ciúmes, só fico triste, sei lá, parece que ela está me esquecendo.
- Quando você namorou ele, esqueceu dela? – ela abriu os olhos e me olhou pensativa. Acho que estava recaptulando a vida dela pra saber se fez ou não isso.
- Não tenho tanta intimidade com o novato para conversar sobre isso.
- Então tá.
- Por que veio aqui?
- Porque você e esse seu ego e seu cabeção estavam atrapalhando a minha visão da janela! – disse levantando batendo de leve na sua cabeça e ri alto.
- Então esse é o seu trailer? E olha só como fala comigo pirralho! – ela levantou, bateu no meu braço e depois colocou as mãos na cintura.
- Não sou tão mais novo do que você. Ou era melhor dizer, você não é tão mais velha do que eu! – ri outra vez.
- ! Pelo amor de Deu, não vou ficar me trocando com um pirralho!
- Antes que sente, é melhor ir mais pra lá, ai não atrapalha a vista da minha janela com seu ego e cabeção! – ri alto de novo e ela cerrou os olhos. Comecei a correr e ela correu atrás de mim.
- Ah pirralho novato afoito! Você vai ver só.
- Qual é vovó? Cansou? Não consegue alcançar a criança aqui? – ria alto e podia ver que ela queria parecer séria, mas ela prendia o riso.
- Ah, cala a boca pirralho! – parei de correr e ela então pulou nas minhas costas agarrando meu pescoço. O impacto fez com que eu caísse no chão.
- Além de velha é gorda? Sai de cima de mim! – garlhava e ela agora nem se preocupava em rir.
- Toda criança tem cócegas. – ela gritou e começou a fazer cócegas em mim! Ria sem parar e tentava tirar ela de cima das minhas costas. Ela ria também então enfraqueceu e depois consegui revidar tirando ela de cima de mim. Deitamos os dois, um do lado do outro e demos aquele suspiro. Seguido de um silencio constrangedor.
- Você é ridículo, vou pro meu trailer.
- Vai negar que não gostou de correr atrás de mim?
- Depois o ego grande é o meu! Olha só pra você, sempre se achando.
- Tudo bem então , vai pro trailer. Diz pra que eu mandei um oi!
- Direi, tchau.
- Tchau! – por que ela tinha que transformar tudo em briga?

Bom, não fui bailarina por escolha. Assim que botei o pé aqui minha mãe me mandou ter aulas de balé, mas a arte mais linda de todas são os equilibristas. Aquela leveza, sutileza, concentração, força, isso é muito bonito. Minha mãe era uma.
E você, o que faz aqui no circo?

Estava embaixo da minha porta. Porque que eu tenho um momento maravilhoso e gostoso com ela, depois brigamos e agora leio a carta? Que droga!
- Já voltou ?
- Vem, larga esse papel e vamos beber. Eu, você, e !
- Nossa! Vou só escrever a resposta.

Não responderei nada que dê pistas sobre minha identidade, pergunte outra coisa.

- ! Você trouxe a criancinha para beber? Ele tem 18! Não podemos deixá-lo beber!
- Cala a boca ! Somos do circo, não tem polícia fiscalizando a gente, além disso, ele não tem carteira de identidade ou documentos. O circo é quase uma sociedade fora da lei! E ninguém liga para a gente! Só querem ver todos nós fazendo coisas bonitinhas.
- Ele já bebeu, não foi? – perguntei rindo e todos concordaram. Tínhamos acabado de almoçar. Não gostava de beber de barriga cheia, então escutei um pouco as conversas loucas para depois começar a beber.

//.
Não foi uma das melhores cenas a se ver. Quatro caras andando um enganchado no outro, com os braços pendurados segurando garrafas. Eles riam baixinho e pediam silencio o tempo todo.
- O que é isso meninos?
- Shi! Covalski não pode nos ver assim! – falou e depois riu.
- Pra onde vocês vão assim? – sussurei.
- Vamos ter que dormir no trailer de e porque logo de manhã Covalski vai nos acordar para armar a tenda! – respondeu meio embolado.
- Vou ajudar vocês, vem . – puxei ele pelo braço e vi que ele estava de cabeça baixa. Parecia envergonhado.
Os ajudei até chegar ao trailer dos meninos. Eles entraram e segurou meu braço.
- Acho que não vou ter coragem de falar isso amanhã, mas eu estou envergonhado de estar assim na sua frente!
- Tudo bem , você e seus amigos beberam pra se divertir, mas da próxima vez me avisa né? Fiquei preocupada quando jantamos e vocês quatro não estavam à mesa!
- Já passou a hora do jantar? Ah cara, eu estou morrendo de fome! – falou engraçado colocando a cara pra fora da porta. Eu tive que rir.
- perguntou por você, ficamos eu e ela preocupadas.
- Sério? Eu ainda agarro aquela bailarina cheia de frescura! – disse sério e entrou.
- Próxima vez eu te aviso amor, me desculpa?
- Claro que sim! Eu não vejo problema nenhum de você se divertir com eles! – dei um selinho nele. – Agora tomem um banho os quatro e vão dormir, cuidado para não se machucarem.
- Ok, boa noite. E não diga à que estava bêbado! Ele vai perder alguns pontos.
- Pontos de que?
- Eles dois estavam se dando até bem, eles brincaram e tudo mais!
- Ela me contou, depois eles discutiram, as vezes é muito infantil.
- Pois é, ele disse que tem certeza que ela gostou deles terem brincado, assim tão próximos, se contar que ele bebeu, ele vai perder pontos! Vai acabar o jogo e ele vai perder o gol nos últimos minutos! – gargalhei.
- Ok amor, vai dormir! Tomem banho, isso é uma ordem.
- Sim senhora! E passa lá no meu trailer e avisa pros caras pra quando Covalski for de manhã, eles dizerem que nós acordamos primeiro, e que depois eles venham aqui.
- Certo, boa noite. – dei um selinho e empurrei ele pra dentro.

- ? Está acordada?
- Sim, estava esperando você voltar... Encontrou com os meninos?
- Sim! – ri baixo – Eles estavam só bebendo um pouco e conversando, os acompanhei até o trailer. Na verdade, acompanhei meu namorado.
- Ah sim... eles estavam bêbados?
- não, um pouco, e sim.
- Eles não tem jeito! – ela gargalhou e deitou-se.
// off.

De manhã sentia aquela pontada na cabeça. Meus lábios pulsavam e meus olhos ardiam. A verdade foi que não chegou a tempo de ver onde estávamos e o que fazíamos. Fomos para os fundos do trailer dos animais. À noite ninguém vai lá, e foi perfeito para a gente beber sem ninguém ver. Os meninos chamaram três mulheres, já que estava namorando. O mesmo estava rindo com o vento e brincando com o feno, fazendo coisas debaixo nos lençóis e brincava de ver quem encostava na amídala do outro primeiro. Eu joguei todas as minhas frustrações com na menina que nem sei o nome e na garrafa de bebida.

Os caras do trailer vieram de manhã cedo chamar a mim e a , e fomos trabalhar para armar a grande tenda. Mas antes passei no trailer pra trocar de roupa. Me sentia sujo de ter beijado aquela moça pensando em . Tudo bem que fiz isso com todas as mulheres da minha vida, mas dessa vez estava do outro lado da fila de trailers.

Ta bom então, senhor Viajante!
Você tem medo de alguma coisa?
.

Ela me respondeu. Depois de trocar de roupa escrevi rapidamente e joguei pela janela quando passei por lá para ir armar a tenda.

Sempre tive muito medo de não ver minha amada outra vez. E você?
Viajante.

- Bom dia , sabe, eu estava dormindo e um PAPEL caiu n meu rosto! – disse irritada. – Esse viajantezinho está tirando a minha paciência, e creio que a de Covalski também.
- Mas a minha não, a cada carta minha vontade de conversar com ele e descobrir quem ele é aumenta!

- Vocês fizeram o que ontem à noite? – Petter, um dos caras do grupo de apoio, perguntou.
- Você sabe, bebemos! – respondeu baixinho e Petter riu.
- Montar e desmontar essa tenda já está me enchendo a paciência!
- E você quer fazer o que ? Quando não se tem talento nenhum, se aprende a ajudar o circo. É um papel de respeito e importante! De nada seria o circo sem nós!
- Mas a questão é que eu não sei se tenho talento ou não, nunca tentei nada por aqui!
- Então cala a boca e faz isso direito, ou quer que a tenda caia? Depois a gente vê se você consegue fazer alguma coisa! A cidade é grande, vamos passar 5 dias.

Meu maior medo já aconteceu, hoje, não tenho medo de nada.

Só vi o papel à noite. E só vou responder pela manhã, não quero nem saber.

- Bom dia margaridas! – e entraram no trailer abrindo todas as cortinas e deixando a luz forte entrar.
- Caramba! Isso queima! – gritei fraco rindo depois.
- PARABÉNS! – Vi dois homens grandes e fortes pularem feito coelhinhas em cima de . Hoje era o aniversário dele.
- Obrigada, agora saiam de cima de mim seus gordos!
- Já viu malabaristas gordos? Somos gostosos e musculosos! – se defendeu.
- Não venham falar de músculos com a gente, não é ?
- Feliz aniversário cara! Obrigado por tudo, você me ajudou bastante.
- Obrigado!
- Opa opa opa, o que é esse papel aqui na mesa de ?
- Ei , deixe isso ai!
- Meu maior medo já aconteceu, hoje, não tenho medo de nada. – ele leu em voz alta. – O que é isso?
- Nada.
- Essa letra, eu conheço! – apontou. – Isso é da !
- NÃO ACREDITO! VOCÊ É O...
- Isso mesmo, agora calem a boca! – pulei e tapei a boca de antes que ele gritasse isso pro circo inteiro ouvir.
- Porque nunca nos contou? – perguntou triste.
- Achei que vocês fossem achar bobagem! Mas é isso, eu sou o viajante, o cara apaixonado perdidamente por .
- Sério? Você gosta dela mesmo? – perguntou com medo. – Ela é muito difícil cara! Pra gente conseguir foi tempos de luta!
Conversei com eles e lhes contei que a conheci pequeno, eles me deram apoio e acabei respondendo e mandando por , já que ele ia conversar com sobre Georgia, parece que ele vai pedir pra eles saírem e ele foi pedir ajuda à .

Capítulo catorze.

Nossa, que fria! Todos temos medos ! Não tem nem medo que isso aconteça outra vez?

- Medos? Ah, por favor ! Conversem sobre coisas mais empolgantes!
- Não quero conversar sobre coisas empolgantes, quero conhecê-lo, quero saber coisas bobas, quero apenas conversar!
- Tudo bem então, mas se eu fosse você conversaria sobre...
- Poupe-me dos detalhes . Entrega isso à seu pai?
- Porque está se referindo à ele desse jeito? Você sempre o chama de Covalski.
- Cansei de falar esse nome, é muito feio! E você disse que ia falar com ele hoje.
- Tudo bem. – saiu do trailer e no meio do caminho encontrou .

- Oi amor! Para onde está indo?
- Oi! Eu estava indo falar com meu pai, e você?
- Indo te ver... Que papel é esse?
- Uma carta para aquele Viajante que conversa com por cartinhas.
- Eu vi seu pai conversando com Petter e dois meninos lá do trailer, já já eu volto para lá, quer que eu leve?
- Tudo bem então.
- ! Eu preciso de ajuda para um movimento! Ainda não aprendi e vamos nos apresentar hoje!
- , fala pro meu pai que falo com ele depois. Stefani, vamos no trailer agora falar com e vamos ensaiar! Tchau amor.
- Beijos!

Não, eu não. Eu só tinha um medo, apenas um. Ele se tornou real, já passou, agora não tenho mais medo de nada. E não tem como ele acontecer de novo, mas já que falou nisso, eu tenho sim, dois medos! Na verdade é o mesmo medo, só com pessoas diferentes.
Bailarina

- Ahn? Como assim, não entendi.
- Então pede pra ela explicar! Aproveita e leva você mesmo, ela está ensaiando.
Escrevi e coloquei logo na porta, já que ela não estaria lá.

Pode explicar, por favor?

- Sabia que ele ia perguntar, eu não quero responder, e agora?
- Ah , se sabia que ele ia perguntar, porque falou? Agora já tem meio caminho andado e eu não vejo problema nenhum de você contar a ele.
- Eu não sei se confio nele, eu não sei nem quem ele é!
- E ai, o que vai responder?

Viajante,
Não sei se estou à vontade e se confio em você a ponto de contar isso, é muito pessoal.
.

- Não acredito nisso Covalski!
- O que foi ? – ele disse sem paciência.
- Ela não confia em mim!
- E quem é você? Ela não sabe! Ela não pode confiar em quem ela não conhece!
- Mas eu confio nela!
- Só que você sabe quem ela é, seu bobão! Agora vou treinar meu novo número, tchau para você!
- ESPERA! Passa no ensaio dela e entrega isso. – escrevi rápido e dei a ele.

Acontece que você já falou tantas coisas, fico entendendo pela metade. Mas se não quiser contar, tudo bem, eu entendo, não vou insistir. Quando quiser conversar, eu sou todo ouvidos.

- Ele tem razão .
- , de que lado você está? – ela disse rindo. Só fui receber à noite, logo depois do jantar.

Que fofo! Obrigada!
Meu maior medo sempre foi perder as pessoas. Tinha medo de perder minha mãe, minha única família, minha amiga, meu tudo, e ela morreu. Mas me toquei agora que tenho medo de perder minha melhor amiga e outra pessoa especial para mim.
.

- Se eu fosse você, não demoraria para responder.
- E nem vou , e nem vou. – escrevi e corri para lá.

Eu sinto muito! Não perguntaria se soubesse que era tão sério! Desculpe!

- Já veio entregar Covalski?
- Essa conversa está ficando empolgante!
- E você está lendo? Seu bisbilhoteiro! – ri e li o pepel.

Relaxa Viajante, já faz 5 anos que o circo pegou fogo, hoje eu falo nisso mais tranqüila, apesar de ainda doer. As outras pessoas são minha melhor amiga é , e a outra pessoa é muito estranho eu falar dele porque eu não demonstro que ele é especial para mim. Mas ele é, se algo acontecesse com ele eu ficaria muito mal.
.

Ele continuou ali.
- O que foi?
- Responde logo, aproveita que hoje não estou cansado! Vai meu rapaz, vai!

Ele? Então é um homem! Você gosta dele?

- Não consigo falar sobre com esse cara!
- É mesmo, vou sentir ciúmes! Você não fala nem comigo sobre ele!
- Ah , não começa com o drama!
- Vamos, escreve logo! Eu vou dormir já já! – Covalski reclamou.

Não sei! Eu já gostei muito, muito dele, era apaixonada! Mas foi há muitos anos, muita coisa aconteceu na minha vida e com a gente, terminou que eu deixei esse sentimento de lado. Ai meu Deus! Olhe para mim falando de sentimentos com um desconhecido!

- Fala umas verdade à ela , fala se tu é homem! – ria com a empolgação de Covalski.

Bailarina,
Primeiro, se não quisesse que eu lesse, teria amassado e escrito outra coisa, haha!
Segundo, eu perguntei dele! Se não quisesse saber, não teria perguntado.
Terceiro, estamos nos conhecendo e nos tornando amigos, eu confio em você para qualquer coisa e a qualquer custo, e você confia?
Viajante.

- Covalski, vai ficar de correio hoje mesmo?
- Eu estou começando a me empolgar com a conversa! Parece coisa de filme.

Viajante,
Essa pergunta foi uma difícil, mas já que você confia tanto em mim assim, eu confio.

- Covalski, te garanto que só vai e volta mais uma vez.
- Por que? O que você vai escrever?

Eu tenho certeza que se ficasse na sua porta, passando os cartões por baixo como uma conversa, você não abriria a porta se eu pedisse.

- AAAH! Não acredito! – pulou e apertou o braço de .
- Dor dor, sinto dor, para!
- Vai mulher, responde logo! Estou velho e vou começar a cansar.

Ai, vai ser uma tentação Viajante! Mas já que confia tanto em mim, darei motivos para merecer tamanha confiança. Pode vir.

- Obrigada Covalski, por tudo. Mas agora terei coragem e vou lá.
- Tem certeza, meu jovem?
- Sim. – disse firme.
- Boa noite e boa sorte. Amanhã me conte como foi. – Covalski bateu na minha cabeça e foi.
- Cara, – segurou meu braço – tem certeza?
- Eu não sei, se pensar demais me arrependo. É melhor eu pegar essa oportunidade e ir.
- Então tudo bem, boa sorte meu amigo, estarei torcendo por você.
- Obrigado por tudo!

penteava os cabelos quando o papel passou por debaixo da porta.
- ! Chegou o outro, você quer ler? – pude ouvi a voz dela, fiquei nervoso, meu coração acelerou.
- Não! Vou dormir agora, amanhã você me conta!

Tá certo então, já estou aqui, sentado na escadinha com a cabeça encostada na porta e com um bloquinho e caneta. Oi!

Antes que pudesse ver o papel passando por debaixo da porta, escutei um barulho e senti um peso se escorando na porta.

E eu, sentada no chão encostada na porta também. Oi!

Qual é a sensação de saber que quase podemos nos tocar?

Ah! Loucura! Eu estou quase explodindo!

Li e gargalhei alto. Não consegui segurar.

Depois de tantos dias escondendo minha identidade, te dei apenas uma pista! Droga, escapou!

Eu conheço essa risada, Viajante, mas não consigo associar a um rosto! Vai passar a noite ai? Quer uma água?

Não, obrigado. Vai ser tentação demais para o seu coraçãozinho tocar na minha mão.

Agora eu consegui escutar uma gargalhada dela.

Tudo bem então, se você quiser alguma coisa, é só pedir, tá?

Certo, obrigado .
Eu tenho uma pergunta: você mentiu? Porque eu sim. Eu não confio em você totalmente.
Viajante mentiroso.

O que? Como assim? Não entendi, o que aconteceu?
.

Não confio que você vá abrir a porta e sorrir ao me ver, ficar feliz ou algo do tipo.
Viajante medroso.

Querido Viajante,
Claro que sim! Eu descobriria quem você é e ficaria muito feliz! Minha pergunta agora: Posso abrir a porta?

Suspirei alto para que ela ouvisse, levantei e bati na porta. Minhas mãos começaram a tremer.
- Tem certeza? – ouvi a voz suave dela. Estremeci por dentro. A vontade que tinha era de sair correndo. Simplesmente estava com minhas mãos frias. Meu coração estava muito acelerado e sentia minhas pernas tremerem. – Se não quiser, não precisa, só manda um bilhete, eu vou entender! – Eu não estava nervoso pelo fato de que iria vê-la agora, mas sim pelo fato de estar com medo dela bater a porta na minha cara como sempre.
Fiquei de frente para aquela porta rosa com uma placa de bailarina na frente. Bati três vezes de novo. Ela abriu.
- ? – pude ver seus olhos se arregalarem e um sorriso tímido e lindo aparecer. – Eu sabia! – ela pulou me dando um abraço e senti que minha jornada para conhecer o mundo só começaria agora. Com a companhia da Bela Bailarina.

FIM.



N/B: Heey :) espero que tenham gostado da fic como eu gostei ;) qualquer errinho já sabem -> /kaah.jones/ xx.



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