Beware!
MAYBE YOU WANT TO STAY IN THE FUTURE.
História por Hannah Cirillo | Revisão por Carol Mello
O futuro tem muitos nomes;
para os fracos é o inalcançável;
para os temerosos, o desconhecido;
para os valentes é a oportunidade.
Victor Hugo (1802-1885)
- ? – gritou uma mulher de longos cabelos ruivos enquanto lia o nome da menina em sua prancheta preta – Senhorita , é a última vez que lhe chamo! – disse sem abaixar a voz e ajeitando os grandes óculos de grau. , que até então estava ouvindo uma música alta em seus fones de ouvido, percebeu que a chamavam. Tirou os fones e correu até a mulher.
- Estou aqui! – disse ofegante e arrumou a mochila no ombro antes de entrar no ônibus.
O ônibus acelerou no mesmo momento em que ela entrou, isso a jogou para frente e a derrubou no chão. Demorou um pouco para levantar e, assim que conseguiu, procurou um lugar para sentar. Escolheu um banco que ninguém ocupava. O fato era que a menina preferia se sentar sozinha. A viagem durou pouco e, quando percebeu, já estava encarando um dos diversos aparelhos do museu de ciências. Nele, estava escrito em letras grandes e garrafais: “O FUTURO E O PASSADO ESTÃO MAIS PRÓXIMOS DO QUE VOCÊ IMAGINA.” Será que aquilo era uma máquina do tempo?
- Uau! – exclamou sozinha – Eu daria tudo para voltar no tempo...
- Como se isso realmente funcionasse... – Jason, um menino alto, loiro e não muito inteligente, murmurou.
- Eu aposto que funciona. – respondeu convicta de sua afirmação.
- Aposta? – ele disse interessado – Quanto?
- Cinquenta. – ela o olhou de um jeito desafiador.
- Que tal cem?
- Sessenta.
- Oitenta? – Jason arqueou uma de suas sobrancelhas.
- Setenta. – era sua oferta final.
- Fechado! – o menino disse – Como você pretende ligar isso?
- Apertando o botão. – ela disse o óbvio.
hesitou um pouco. Encarou fixamente o pequeno botão azul que se encontrava na lateral da máquina e percebeu que nele estava escrito “ON”. Aquele era o botão. Aquele era o momento. Apertou o botão e nada aconteceu. Esperou alguns segundos e o apertou novamente. Nada. Outra vez. Nada mudou. Ouviu a risada de Jason, o que a deixou nervosa. Apertou com força. Luzes. Imagens variadas e aleatórias. A sensação de estar caindo. Mais luzes. Cores. Pessoas. Animais. Objetos. Memórias. Ela estava começando a gostar da sensação, quando suas costas bateram com força no chão. Observou, deslumbrada, o lugar que estava. Tudo era tão diferente, até fritar um ovo parecia ser uma divertida aventura naquele mundo desconhecido. Levantou rapidamente e olhou os milhares de prédios estranhos, alguns triangulares, outro redondos, retangulares e tinham até prédios que flutuavam. Olhou perplexa para aqueles que estavam fora do chão, plataformas transparentes levavam as pessoas até lá. Então ela estava no futuro? Aquela máquina realmente funcionava? A resposta mais óbvia era sim. Ela gritou de felicidade sem se importar em ser ouvida e começou a dançar, sendo que nenhuma música tocava, de olhos fechados. De repente sentiu alguma coisa se chocando contra ela.
- Desculpe, senhorita... – uma voz rouca e masculina ecoou em sua mente por alguns segundos – Consegue me ouvir? – abriu os olhos lentamente e encontrou um par de olhos brilhantes com cílios grandes a encarando. Viu uma mão estendida em sua direção e a segurou, sendo puxada para cima no mesmo instante. Ainda tonta, olhou em direção ao homem que lhe derrubara no minuto anterior. Ele aparentava ter, mais ou menos, vinte anos. Seu cabelo, meio despenteado, era e curto – Você está bem?
- Es... – quando começou a falar, sentiu uma dor de cabeça insuportável – Não.
- Sinto muito... – ele disse e abaixou a cabeça, ao levantar seu olhar novamente percebeu uma gota de sangue escorrer da testa da menina.
- Você está sangrando! – ele colocou o dedo no pequeno corte para conter um pouco o sangramento. Será que ela tinha batido a cabeça? Que pergunta óbvia, é claro que tinha.
- Estou? – ela arregalou os olhos e ele assentiu – Droga!
- Minha casa é ali. – ele apontou para um prédio azul que flutuava – Posso fazer um curativo se quiser.
- Não sei se devo. – mordeu o lábio, insegura, afinal, ele é um completo estranho, mas, por outro lado, ela queria muito subir em alguma daquelas plataformas.
- É só um curativo... – ele sorriu mostrando seus dentes perfeitamente brancos e alinhados.
- Tudo bem. – ela deu os ombros e, quando deu um passo em direção ao prédio, se sentiu um pouco tonta.
- Cuidado. – ele disse quando a segurou pela cintura, para que não caísse.
Os dois andaram até uma plataforma. Ela dizia que estava bem e tentava andar rápido, mas acabava tropeçando em alguma coisa ou ficando tonta. Ele tomava o devido cuidado com a garota, segurando seu braço ou cintura toda vez que ela ameaçava cair. Subiram na plataforma e uma cápsula de vidro a fechou, de modo que nenhum dos dois pudesse cair. O garoto apertou um dos botões e, em segundos, já estavam parados no andar do apartamento.
- Eu só preciso de um band-aid, depois posso ir embora. – ela falou enquanto observava o rapaz abrir a porta de seu apartamento. Ele riu.
- Band-aid? Você está pior do que eu pensava... – ele disse sorrindo. Ela ficou sem graça, por um minuto tinha esquecido que não estava em sua casa, em seu tempo e, provavelmente, coisas mais avançadas já tinham sido inventadas.
Observou a sala do apartamento, não era muito diferente das que ela estava acostumada, ela era decorada em tons de branco e azul, havia um pequeno sofá que parecia ser bem moderno e, alguns aparelhos eletrônicos, esses eram muito diferentes dos que ela conhecia. Pareciam ser milhões de vezes mais avançados. Ele ndou até uma mesa e clicou em algumas coisas que pareciam estar escritas no ar. Em poucos minutos, uma das gavetas começou a piscar e ele a abriu, tirando uma espécie de bisnaga de lá.
- Acho que ainda não me apresentei, desculpe, meu nome é . E o seu é....? – ele disse e a puxou para sentar no sofá.
- . – ela sorriu e se sentou.
- Quantos anos você tem? – falou enquanto colocava um pouco de pomada em seu dedo.
- Dezenove, e você? – ele passou a pomada no corte, o que ardeu um pouco – Ai! – ela exclamou, aquilo parecia sabonete. Sentiu uma fina película se formando em sua testa.
- Vinte e sete. Você sabe me dizer que dia é hoje? – ele, com certeza, não parecia ter vinte e sete anos. fazia perguntas para verificar se a menina não tinha sofrido nada grave, devido à batida em sua cabeça.
- Ho-hoje? – ela gaguejou. Não sabia que dia era, muito menos que ano – Nã-não sei... – gaguejou novamente – Mas estou bem, de verdade. – completou rapidamente – Pode me perguntar qualquer outra coisa.
- Quantos dedos tem aqui? – ele brincou mostrando dois dedos.
- Onze. – ela entrou na brincadeira.
- Errou. A resposta certa é... – ele tentou fazer um efeito sonoro indicando suspense, o que não deu certo – Não interessa. – ele sorriu – Que tal um muffin como prêmio de consolação? – ela segurou o riso e assentiu com a cabeça. – Qual o seu sabor favorito? – ele disse andando até aquelas palavras que pareciam estar escritas no ar, novamente.
- Blueberry! – ela disse, torcendo para que blueberries ainda existissem.
- Certo. – ele falou apreensivo e apertou algumas daquelas palavras flutuantes.
sentiu um vento gelado em seu pescoço e resolveu soltar seu coque. Assim que o fez, percebeu o olhar espantado de sobre ela. O que ela havia feito agora?
- O que aconteceu?
- Você tem o cabelo comprido. – Grande coisa. Ela pensou. Arqueou uma sobrancelha indicando dúvida – É difícil ver meninas com o cabelo comprido hoje em dia, devido ao calor. Como você aguenta?
- Eu... Não sei. – sorriu um pouco confusa.
- Aposto que você não está cheirando bem, deve estar suada. – ele brincou.
- Não estou! – se defendeu – Quer ver? – ela começou a rir e prendeu o cabelo em um coque frouxo. Ele assentiu, rindo também e chegou mais perto. Deixou o nariz próximo ao pescoço dela e sentiu um cheiro delicioso invadir suas narinas.
- Morangos... – ele disse e se afastou.
- Morangos? Eu tenho cheiro de morangos?
- Sim. – disse e ouviu a campainha tocar. Abriu a porta, onde dois pacotes brancos estavam parados. Os pegou e jogou um dos pacotes para ela.
- O que é isso? – ela disse olhando o pacote, curiosa.
- Seu muffin.
- Ah... – ela disse e desembrulhou o pacote, pegando o muffin. Percebeu que a encarava com uma espécie de dúvida no olhar.
- Tenho a sensação que te conheço. Você é muito familiar. – Você deve conhecer minha filha, ou quem sabe, neta. pensou.
- Tenho certeza que nunca te vi antes. – Perguntar em que ano estamos é muito vergonhoso? Ah, claro que é. Pensou novamente.
pensava em todas as mulheres que conhecia. Todas. E nenhuma delas era parecida com . Nenhuma delas tinha cheiro de morango. Nem cabelo comprido.
Os dois comeram seus muffins em silêncio e, enquanto isso, ele buscava em sua memória possíveis mulheres que não havia se lembrado antes.
- Você tem namorado? – perguntou de um jeito divertido, só para acabar com o silêncio. Ela começou a rir.
- Não. – parou e soltou uma risada leve – E você?
- Também não. – ele falou e estava pensando em algum outro assunto quando foi interrompido – Não sou de uma mulher só. – ele a olhou sério e, por um momento ela achou que fosse verdade – Brincadeira. Não sou desse tipo. – ele riu – Mas só me recordo de ter namorado de verdade uma vez.
- Então o engraçadinho nunca se apaixonou? – ela perguntou encarando um vaso engraçado que havia na mesinha de centro.
- Não foi isso que eu disse... – ele deu um sorriso de canto.
- Quer dizer que você já se apaixonou?
- Estou apaixonado. – ele começou a encarar o vaso – Pena que ela está longe.
- O que... – ela hesitou – O que aconteceu com ela?
- Ela não morreu. – ele assegurou e suspirou aliviada, mesmo não conhecendo a tal garota – Tudo estava bem até que começamos a morar juntos, em meu apartamento. Nós discutíamos às vezes por motivos bobos, mas depois fazíamos as pazes assistindo um filme enquanto comíamos... – ele hesitou – Muffins de blueberries. Um dia, brigamos por algum motivo que não faço questão de lembrar e ela foi embora. Eu deveria ter ido atrás. Deveria ter segurado seu braço e a abraçado como nunca abracei... – ele cerrou os olhos e encarou a cortina – O estranho é... – ele massageou as têmporas, intrigado – Eu não consigo lembrar do nome que atormenta meus pensamentos e, muito menos, do rosto que aparece na maioria de meus sonhos. Não consigo! – ele ficou um pouco irritado.
, sem palavras, observou olhar para o centro da mesa, como se forçasse seu cérebro a lembrar de alguma coisa. Não uma coisa qualquer, a mulher que ele amava.
- Como posso esquecer da mulher que amo? – ele disse forçando os olhos ainda mais.
- Eu... Não sei o que dizer... – gaguejou.
Um longo tempo de silêncio se passou.
- Vá atrás dela. Não é tão tarde! – ela disse de repente – Você sabe onde ela mora?
- Acho que sim... – ele a olhou confuso, mas, em segundos, sua expressão se tornou um pouco animada – Vamos! – ele disse e pegou uma chave que estava na mesinha ao lado do sofá, girou-as no dedo. Será que ele tem uma nave espacial? Ela pensou.
Chegando à garagem do prédio, ela percebeu que era um carro como os que ela conhecia, porém ele um pouco mais moderno e parecia ser mais rápido. Ele destravou o carro e entrou no banco do carona. entrou no do motorista e deu um sorriso fraco.
- Vamos lá, , você vai conseguir! – ela incentivou e ele alargou um pouco o sorriso.
Depois de algum tempo de viagem, o céu começou a escurecer. Uma lua branca e fraquinha já ocupava seu espaço na imensidão do céu.
- Essa é a minha hora preferida do dia... – ela disse com a cabeça encostada na janela, observando o céu.
- Por que? – ele perguntou sem tirar os olhos da pista.
- Eu adoro quando o céu fica com esse tom de cores, sabe? Quando fica laranja mais perto do horizonte e, conforme vai subindo, se torna um tipo de azul meio lilás? – ele assentiu – Só por isso.
- É uma vista bonita... – ele se apoiou no volante para observar melhor o céu – Muito bonita!
- Realmente... – ela concordou olhando para a lua quase transparente.
- Não sei o que está acontecendo comigo. Tenho a sensação que te conheço e sinto uma vontade estranha de te proteger, parece que você já foi muito especial para mim... Em outra vida quem sabe isso não aconteceu? – brincou.
- De alguma forma, eu confio em você. Não consigo pensar em razões lógicas para isso. – ela encostou a cabeça no vidro novamente – Bom, se não confiasse, nem estaria aqui, não é? Eu não sou o tipo de garota que entra no carro de estranhos, muito menos sem saber para onde eles estão indo. – ele riu.
Ela avistou uma construção que lembrava um pedágio.
- Você tem trocados? Eu tenho alguns... – disse tirando algumas moedas do bolso traseiro de sua calça. Ele esticou a mão sem olhar a menina e ela colocou algumas moedas lá.
- ... – ele disse baixinho depois de um tempo em silêncio. Ela virou sua cabeça para direção dele e percebeu que ele estava dividindo sua atenção entre a pista e as moedas.
- Sim?
- Onde você conseguiu essas moedas?
- Po-por que? – gaguejou.
- Quase não existem mais moedas assim e, se você as tem, com certeza não deve entregá-las para o pedágio, porque valem muito mais que isso. – ele devolveu as moedas a ela.
A viagem já estava se tornando cansativa. dormiu durante alguns minutos e depois não mais, embora não conseguisse manter os olhos abertos durante muito tempo.
- Chegamos! – ele anunciou parando o carro aos poucos. Ela observou a cidade. Era, definitivamente, menos sofisticada que a outra, mas possuía certos luxos. – Você está bem? – ele arregalou os olhos de repente – Meu Deus, , você está ficando transparente! – ela olhou para seus braços e percebeu que ele não estava exagerando quanto à transparência de sua pele. Será que a viagem ao futuro estava acabando?
- , eu preciso te contar uma coisa... – ele assentiu e ela contou como havia parado no futuro. Sem esquecer nenhum detalhe.
- Você está me dizendo que viajou no tempo? – ele disse espantado. Ela ficava cada vez mais transparente, parecia que ia sumir a qualquer momento.
- Sim... – ela torceu para ele acreditar. Ouviu uma risada um tanto quanto escandalosa – Por que está rindo?
- Por nada... Eu só...
não conseguiu ouvir mais nada. Luzes. Imagens variadas e aleatórias. A sensação de estar caindo. Mais luzes. Cores. Pessoas. Animais. Objetos. Memórias. Tudo o que invadira sua mente mais cedo estava voltando.
- Como se isso realmente funcionasse... – ouviu a voz de Jason dizer aquilo que ela já havia ouvido antes.
- O QUE? JASON? EU... EU ESTAVA LÁ... ESTAVA NO FUTURO, EU JURO! – disse sem pensar.
- Não sei se já te contaram, , mas drogas são proibidas na escola. – ele riu sarcasticamente.
- Não vou perder meu tempo discutindo com você! – falou e saiu irritada.
Andou por alguns corredores daquele museu. Ela estava lá. Não era louca e tinha certeza que drogas não estavam envolvidas em sua situação. Sentiu algo se chocando contra ela.
- Me desculpe... – um rapaz disse estendendo a mão para ajudá-la a se levantar. Abriu os olhos e não acreditou no que estava vendo.
- Na-não foi nada. – gaguejou assustada e segurou a mão dele, sendo puxada para cima.
- Sou . – ele se apresentou – E você é...?
- . . – sorriu. Ele estava de volta.
NO FUTURO...
estava sentado em seu carro completamente confuso. , esse era o nome da mulher que ele amava. Agora tudo fazia sentido, a que estava com ele até aquele momento era a versão mais jovem de sua .comments powered by Disqus