Fic por: Cah Sodré
Beta-Reader: Isabela H.


Aquele era, de longe, o pior dia de sua vida.
Enquanto caminhava pelos corredores da estação Grand Central, se sentiu pequena. Era como se tivesse cinco anos de idade e todos os pais de seus coleguinhas a estivessem encarando naquele recital da pré-escola. Sentiu seu rosto enrubescer instantaneamente, as lágrimas quentes pinicando nos olhos.
O que diabos havia feito?
As pessoas cochichavam e ela tinha certeza que alguém estava com uma câmera fotográfica apontada para ela. Mas não tentou checar, apenas segurou com força a longa cauda de seu vestido de noiva Vera Wang, que ela demorara meses para encontrar, e correu em direção às escadas e ao vento frio de Nova York.

5 horas antes, Greenwich, Connecticut

- Muriel, Muriel, cadê a sombra 0.95? – alguém gritou na sala. respirou fundo, as mãos virando as páginas da Vogue America furiosamente, mas sem prestar atenção em nada. – MURIEL!
- Eu já te dei a 0.95! – Muriel, provavelmente, respondeu.
- Essa é a 0.97, não percebe pelo tom de terracota? Inferno, tenho que fazer tudo sozinho! – o maquiador gritou e correu pelo quarto movimentado.
abaixou a revista e olhou ao seu redor. Estava na suíte presidencial do Hyatt Regency Greenwich, um dos mais famosos hotéis em meio às mansões de sua cidade natal, Greenwich, onde sempre fora criada com muitos brunchs beneficentes, partidas de mini golfe em mansões decoradas por arquitetos renomados e colégios particulares que colocam 100% de seus alunos em universidades da Ivy League, Cambridge ou Oxford, de acordo com a preferência da família. Sempre adorou sua vida privilegiada e tudo o que ela lhe podia proporcionar. Mas, naquele dia em específico, todo aquele excesso de luxo estava, talvez, pela primeira vez em sua vida, dando-lhe nos nervos.
O que diabos havia de errado com ela, afinal?
Aquele era o dia de seu casamento. O dia para qual se preparou desde a adolescência, sonhando com o vestido perfeito, o bolo perfeito, a festa perfeita... E, é claro, com o marido mais invejável e incrível do mundo.
Ela tinha Edward Beauchamp.
O homem mais bonito, inteligente e indiscutivelmente rico de Greenwich e, como constava em algumas revistas, também de boa parte dos Estados Unidos. Conheceu Edward ainda na infância – seus pais costumavam jogar partidas de hóquei na grama juntos – e no colegial, quando o garoto se tornou cobiçado por seus olhos ) penetrantes, cabelo loiro e sotaque levemente francês. Acabou o fisgando, sem nem saber como, entre um almoço de família e outro. Beijaram-se pela primeira vez atrás das arquibancadas em uma partida de futebol americano do colégio. Foram eleitos rei e rainha do baile três vezes. Ele foi o primeiro garoto com quem foi pra cama e seria o único dali a algumas horas.
Estava prestes a se casar. Tinha vinte e dois anos e iria se casar.
Era como se vivesse no começo do século XX ou algo do tipo, pelo amor de Deus.
Percebeu que estava amassando gradualmente a revista quando Muriel, o assistente do maquiador, encarou-a, curioso.
- Nervosa? – perguntou, sorrindo de maneira leve enquanto procurava alguma coisa em uma das 350 caixas de maquiagem que seu patrão havia trazido. Ela tentou sorrir de volta.
- Ansiosa. – corrigiu, mas no fundo sabia que estava mentindo.
Duas semanas antes, quando seu vestido finalmente chegara em sua casa, olhou-se para uma última prova e, sozinha no quarto, teve o primeiro dos muitos ataques de pânico que tivera depois disso. Até então, achava que amava Edward. Mas se o amasse, não estaria feliz por se casar com ele?
Iriam viver em uma imensa mansão que ganharam de seus pais, perto da mansão que já morava. A casa parecia um castelo. Tinha oito quartos, para duas pessoas. Sete empregados. Vagas suficientes para acomodar os cinco carros de luxo que Ed colecionava. Edward se formara em Yale, assim como ela. Decidiram fazer faculdade no mesmo lugar, para que não se separassem – e, de alguma forma, sempre se sentiu presa e banida de viver todas as experiências acadêmicas de farra que esperava, por causa disso –; Ed havia se formado em Direto e estava tocando os negócios do pai como ninguém. Ela, por sua vez, havia se formado em Teatro. Pensara que seu pai iria lhe matar com a escolha, mas ele não ligou, porque sabia que ela viveria do dinheiro dele até o fim dos estudos e quando casasse com Ed, não seria mais responsabilidade dele. Os dois obviamente esperavam que ela levasse a vida que todas as mulheres da região levavam. Acordar tarde, mandar nos empregados, ir para aulas de ioga e pilates, comprar o shopping inteiro com suas amigas e planejar viagens para as férias dos maridos. Em algum ponto da vida, é claro, planejar ter os filhos que elas mesmas não iriam cuidar. Mais tarde, visitas regulares aos cirurgiões plásticos para consertar alguns erros da natureza e esse ciclo vicioso só teria fim... Bem, no fim de sua vida.

- Voilá. - Stu, o cabelereiro, disse com um sorriso enorme nos lábios. Depois de duas extensas horas de maquiagem, cabelo e muito barulho de secador e gritos ecoando em sua cabeça – praticamente estragando todos os tratamentos relaxantes que tivera em seu dia da noiva – ela estava pronta. Encarou sua imagem no espelho, o penteado que fora escolhido dois meses antes, depois de muitos testes. A maquiagem perfeita.
Ela estava deslumbrante e todos ao seu redor pareciam confirmar isso. Sua mãe, sua irmã e sua futura cunhada estavam na sala.
- Ai, meu bebê, você vai ser a noiva mais linda que essa cidade já viu. – sua mãe lhe disse, secando o canto dos olhos com um pequeno lenço. Sua cunhada sorriu.
- A noiva mais linda que a América já viu, Sra. Carrington!
- Isso só até chegar a minha vez, aí sim a América vai ver o que é arraso. – sua irmã, Savannah, disse e ao perceber os olhares de reprovação das outras mulheres, sorriu amarelo. – Eu estava brincando, que falta de humor! Você está uma princesa, !
sorriu, olhando de soslaio para sua irmã mais nova.
- E você, posso imaginar, será como uma rainha.
As duas riram.
- Ai, você realmente me conhece.
abriu um largo sorriso pela primeira vez naquele dia. De fato, estava uma princesa e se sua irmã tinha assumido isso, realmente devia estar deslumbrante. Respirou fundo e voltou a olhar o caos que estava em sua volta. As garotas ainda falavam, mas ela precisava de um pouco de paz. Precisava de uns cinco minutos sozinha para poder organizar as ideias. Era seu grande dia, afinal, devia ter esse direito!
- Mamãe, Savannah, Lizzie – ela as chamou. – Vou até o outro quarto, preciso de cinco minutos de paz, essa barulheira toda está me surtando!
Lizzie, sua cunhada, sorriu.
- Fique calma, querida, vai dar tudo certo no final. – ela incentivou. – Nós já vamos sair.
- Não, podem ficar! Tem muita gente aqui, até todos saírem, já tenho que atravessar a igreja com dor de cabeça. – confessou, sorrindo fraco. Sua mãe ergueu a sobrancelha.
- Está tudo bem com você, ? – perguntou, desconfiada.
- Claro que está, mamãe. Eu volto logo. – disse, por fim, enquanto saía sem olhar para trás. Sabia que Savannah devia ter achado aquilo estranho – sua irmã sempre sabia das coisas, era impressionante, a garota devia ser vidente – e ela não queria lidar com isso, não naquele momento.
Apenas bateu a enorme porta de madeira atrás de si e partiu para o corredor vazio do hotel.

Pegou o elevador e desceu para o térreo, caminhando sem rumo pelo lobby do hotel. Algumas pessoas a encaravam, podia ouvir alguns elogios, apesar de não estar prestando atenção nisso. Com o celular em mãos, fuçou rapidamente no Twitter e no Facebook, culpando-se mentalmente por querer saber o que as pessoas que conhecia estavam fazendo de interessante, ao invés de se empolgar para casar. Aquilo não estava certo. Ouviu vozes conhecidas – vozes de seu futuro marido e de seu próprio pai – e se escondeu instintivamente.
Quer mais azar do que a própria noiva sem empolgação nenhuma pra casar? Não vamos dar essa chance com o noivo-vendo-a-noiva-de-vestido-antes-do-casamento.
Não conseguia ouvir direito o que eles diziam. Focou em Edward. Edward Beauchamp. Seu futuro marido. Ele estava maravilhoso, como era de se esperar.
Não estava sorrindo, mas parecia levar uma conversa tranquila com seu pai.
Beauchamp. Dali uma hora, esse seria seu nome.
E agora lhe ocorrera: Ela não amava Edward.
Ela o amara, sim, quando eram adolescentes, mas há muito já estavam acomodados em uma rotina de um relacionamento de seis anos exatamente iguais. Fazendo as mesmas coisas. Vendo as mesmas pessoas. Viajando para os mesmos lugares.
E aquela vida previsível seria sua, para sempre.
Num ímpeto, correu para dentro do lobby, quase derrubando um garçom de sua própria festa no meio do caminho. Sua corrida não demorou muito.
- Ei, aonde você vai? – Savannah, sua irmã, encarou-a com curiosidade. Ela estava sozinha, tirando um isqueiro de sua pequena bolsa de mão.
não conseguia falar.
Sentiu os olhos marejarem, as pernas tremerem. Sua irmã arregalou os olhos.
- , pelo amor de Deus, você não...
- Eu não posso fazer isso. – soltou, com a voz estrangulada.
- Ai, caralho. Ai. Meu. Deus – Savannah a segurou pelos braços. – Você pirou? Como que você não pode fazer...
- Eu não posso. Eu simplesmente... Eu...
- Fala!
- Eu não amo o Edward, Savannah. – olhou para fora, encarando seu futuro ex noivo. – E eu preciso sair daqui.

Nova York, Estação Grand Central
O vento frio daquele fim de tarde de outono parecia um chicote contra os ombros nus de . Quando decidira fugir, a pequena bolsa de sua irmã foi a salvação momentânea – até que ela descobrisse que só haviam vinte dólares lá dentro, que não seriam suficientes para uma corrida de táxi. Pegara um trem e passou os piores 50 minutos de sua vida sendo encarada e julgada por estranhos. Vinte minutos depois de sua saída repentina, seu telefone começara a tocar alucinadamente – ligações de seu pai, sua mãe, seus sogros, de Edward e até da organizadora do casamento – uma vadia louca que queria tudo do jeito dela – e aquilo estava a enlouquecendo.
E coitada da Savannah, que deveria estar aguentando tudo aquilo.
Era uma péssima irmã. Uma péssima pessoa, na verdade.
No meio das ruas lotadas da maior cidade do mundo, a correria fez com que alguém pisasse em seu vestido. Ao ouvir o barulho do rasgo, a garota despencou em lágrimas. Era terrível estar mais preocupada com seu Vera Wang do que com o casamento que acabara de destruir?
Quando a garoa fina começou a cair, para terminar de estragar por completo aquele que devia ser o dia mais maravilhoso de sua vida, entrou na primeira estação de metrô que viu pela frente, sem ligar se iriam continuar a olhando como se fosse louca. Já havia perdido cada resquício de dignidade que ainda tinha.
E como mais um daqueles ímpetos malucos que teve naquele dia de merda, ela já sabia pra onde deveria ir.

assistiu a garota de cabelos longos e loiros se livrar de seu próprio vestido, curto e justo, que deixava pouco para a imaginação – mas quem era ele pra reclamar, na verdade? Pra que imaginar, se você pode simplesmente tocar e fazer um estrago com aquela imagem toda?
A menina sorriu, apoiando as pernas ao redor de seu corpo, no sofá bagunçado de um típico apartamento de garoto.
Qual era mesmo o nome dela?
Rápido, , Rápido. Pense.
- Oh, . – ela exclamou ao sentir os beijos que ele lhe dava no pescoço.
Ele sabia que ela estava esperando. Por que diabos sempre esquecia os nomes das garotas? Se não tivesse uma lábia muito boa e fosse, modéstia muito à parte – ele não era nem de longe um cara modesto – muito gostoso, desconfiaria que nunca levaria nenhuma mulher pra cama. Aquilo era impressionante.
Entre um devaneio e outro, teve um estalo.
- April! – disse, do nada, e a garota parou de beijar-lhe a barriga para o encará-lo com os olhos esbugalhados e com uma expressão injuriada.
- Meu nome é June! – disse, afetada.
Merda. Por dois míseros meses.
E que porra de nome era aquele, afinal?
Antes que formulasse uma resposta que faria com que a garota do mês voltasse ao seu serviço, a campainha tocou de maneira estrondosa no silêncio da sala.
Normalmente, ele xingaria até a nona geração dessa pessoa, mas, nesse caso, estava se sentindo praticamente “salvo pelo gongo”.
Não estava esperando ninguém, então provavelmente era seu porteiro entregando alguma das milésimas contas que pareciam pipocar em seu nome naquele prédio. Abriu a porta de uma vez só.
- Jack, eu to meio ocupado agora. – disse, rapidamente, e tomou um susto quando seus olhos pareceram realmente tomar foco.

Greenwich, 25 de junho de 2007

- Eu odeio você. – a garota disse, com os olhos vermelhos, tentando enxugar as lágrimas com o enorme moletom que lhe emprestara, minutos antes. Estavam no verão, mas já passava das dez da noite e o vento estava forte na praia.
Ele tentou sorrir, segurando suas mãos pequenas entre as suas.
- Não, você não me odeia. – disse, tentando parecer divertido, mesmo que seu coração estivesse batendo nos ouvidos.
Odiava vê-la chorar e, até aquele momento, nunca tinha sido responsável por suas lágrimas.
- Para com isso. – ele a puxou pra perto, aninhando-a em seu peito.
- Eu não vou deixar você ir embora. – ela disse, infantilmente, então o olhou nos olhos. – , por favor... Fica. Por mim.
- Não faz isso. - ele soltou o ar, encarando-a de volta. - Você sabe que eu não posso.
- Eu sei que você não quer, o que é bem diferente. - retrucou, amarga, mas os dois sabiam que aquilo nada mais era que uma máscara para seu verdadeiro sentimento.
Ficaram em silêncio por alguns incontáveis minutos, o que não era normal para eles, que costumavam falar sem parar. Sentado em sua frente, observando-a inquieta e chorando, encostou sua testa na dela e suavemente enxugou uma lágrima que escorria.
- Você sabe que eu tenho que ir, não sabe? - perguntou e ela assentiu, concordando. - Você é a única pessoa pela qual eu ficaria aqui, mas isso é algo que eu preciso fazer. Eu preciso ter a minha própria vida, longe dessas pessoas, longe de tudo...
- ... E de mim. - ela interrompeu, sorrindo sem humor.
acariciou seu rosto. Suas mãos estavam geladas, mas não era só pelo vento e pelo fato de ter emprestado seu casaco. Ele sabia disso.
- Você nunca vai se livrar de mim e você sabe disso. - os dois riram levemente. - Um dia desses, eu volto pra te buscar e a gente vai cair no mundo e viver bêbados e rindo por aí. - disse e riu pela primeira vez naquela noite.
- Promete?
- Prometo.
Ela o abraçou.
- Eu amo você. - disse e sorriu, beijando-a na testa.

East Village, New York, 2012

observou a sala cheia de coisas espalhadas - antes fossem móveis - e se sentiu confortada. Aquele apartamento de era novo, ela nunca havia estado ali antes, mas era exatamente como ela imaginava que fosse. Talvez seu melhor amigo fosse imprevisível para o mundo, mas não para ela. Ele estava se despedindo na porta da garota que estava seminua em uma posição comprometedora no sofá quando ela entrara, o que a fez ter um ataque de riso pela primeira vez em semanas e, obviamente, ofendido a menina. Ah, dane-se.
- Olha... Isso foi constrangedor. - voltou para a sala, com um meio sorriso, e os dois caíram na gargalhada.
- Só se for pra você, eu já estou mais que acostumada com essa cena. - respondeu, rindo. – E, por favor, coloca uma roupa, ninguém merece ficar batendo papo com um cara de boxer, essa hora.
- Como se você nunca tivesse visto antes. - ele respondeu, com um olhar malicioso, e recebeu uma almofada na cara enquanto ria. - Curioso mesmo é conversar com uma noiva toda ensopada e com o vestido imundo no meio da minha sala. - disse e ainda riu um pouco, mas ele sabia que era forçado.
- O que houve, ? – ele sentou em sua frente e ela respirou fundo.
Ah, como diria isso para as pessoas, se nem conseguia admitir a si mesma?
Tinha deixado seu noivo no altar! Bom, não propriamente no altar, mas, ainda assim, aquela era uma atitude desprezível, ou até pior que isso.
- Deixa eu adivinhar. – continuou, percebendo que a garota não diria nada. – Você estava prestes a casar, quando percebeu que se fizesse isso, nunca mais poderia ir pra cama comigo e isso foi demais pra você? – disse, divertido, fazendo rir e lhe estender o dedo do meio.
- Isso parece mais seu sonho que o meu. – ela tentou sorrir maliciosa, mas sua expressão triste e confusa não lhe deixava espaço para muitas piadinhas. apenas sorriu de canto, pois sabia que aquele não era o momento de encher o saco da garota. Algo muito sério devia ter acontecido. Antes que pudesse questionar, no entanto, ela mesma disse. – Eu... Eu fugi. Fugi porque... Porque eu não amo o Edward.
estreitou os olhos enquanto um milhão de coisas passava em sua cabeça.
Tinha pensado em absolutamente tudo: Que ela descobrira alguma traição, que o próprio Edward fugira, mas nunca, jamais, pensaria naquilo. Abriu a boca algumas vezes, mas não conseguiu emitir nenhum som.
- Eu sei. – ela riu, sem humor, como quem lia os pensamentos do amigo.
- Você fugiu do seu casamento? – ainda parecia atônito, o que fez a garota rir. – Como assim? – Dessa vez, ele quem gargalhou, alto e de olhos fechados, o que sempre a aquecia por dentro e fazia com que risse junto.
- Para de rir, não é engraçado! – respondeu, reprimindo o riso. – Eu sou a pior pessoa do mundo, . Do mundo!
- Ah, para de besteira. – ele a encarou com seus olhos , sorrindo. – Você só fez o que era certo. Afinal, você não amava o playboyzinho filho da puta, certo?
- Não fala assim dele, que saco. – repreendeu.
- Você acabou de dizer que não o ama, acho que chamá-lo de playboyzinho filho da puta me pareceu apropriado. – ele sorriu. – Como que você veio pra cá? – ele perguntou.
- De trem e metrô – respondeu, fazendo o garoto irromper em risadas. Ela podia matá-lo por rir da desgraça alheia, mas era inegável que só havia uma pessoa no mundo que poderia fazê-la se sentir melhor naquele dia e aquela pessoa era . – Você quer morrer? Porque é sério, com o humor que eu estou hoje, mataria você fácil, fácil... – Ela disse, fazendo-o rir ainda mais.
- Ok, noiva assassina. - ele respirou fundo, para tentar parar de rir. – Mas é só que a ideia de você andando de trem e metrô é hilária, ainda mais vestida de noiva. Porra, por que eu não fui convidado pra assistir isso?
- Porque você é um puta dum babaca que faltou no casamento da sua melhor amiga. – ela respondeu simplesmente e a olhou nos olhos.
- Você sabe que se eu tivesse ido, eu estragaria a porra toda. – ele respondeu, tentando manter o bom humor. Ela sorriu.
- Acho que eu faria isso de qualquer maneira. Aliás, eu fiz isso! Você não conseguiria fazer pior – tentou rir.
- Ah, vejamos... O melhor amigo do seu pai, que no caso é o meu pai, me odeia. Não nos falamos há anos e, de quebra, seu noivo engomadinho não pode me ver nem fantasiado de Oscar...
- Fantasiado de Oscar?
- Pintado de ouro. - ele respondeu idiotamente, fazendo a garota gargalhar. Ficava impressionado como conseguia ser cinco vezes mais babaca e idiota quando estava por perto.
- Se você estivesse lá, poderia ter me ajudado a fugir. Agora a coitadinha da Savannah deve estar morrendo na mão do papai.
- Ela continua gostosa? – perguntou, sem cerimônia, e rolou os olhos.
- Por favor, me diga que você não está perguntando se minha irmã estava gostosa quando eu acabei de fugir do meu casamento sem um tostão no bolso e não sei o que fazer da minha vida.
sorriu levemente.
- Você está muito gostosa. – disse, do nada, e ela gargalhou.
- Você não muda, .
- Era pra eu mudar?

podia ouvir os berros de no banheiro. Duas horas antes, quando ela tinha chegado, os dois levaram a coisa toda de uma maneira muito divertida – riram, fizeram piada, até que ela desabasse em lágrimas e ele simplesmente não soubesse o que fazer. Não tinha intimidade alguma com garotas – além de cantá-las em bares e satisfazê-las na cama – e, depois de anos de amizade com , que não foram interrompidos mesmo com os estilos de vida totalmente opostos que vinham levando, era muito raro ele precisar consolá-la, a não ser por telefone, mesmo morando a apenas uma hora de distância. Por telefone era fácil, ele simplesmente a ouvia, fazia algumas piadas e lhe contava alguma novidade sobre alguma garota com quem estivesse dormindo e ela se dava por satisfeita. Mas aquilo era diferente. Primeiro porque não envolvia briguinhas de casal ou frustrações com o pai, a garota – maluca, maluca – havia largado seu noivo quase no altar. E, ao vivo, ele a via chorar, o que sempre o deixava desconcertado ao extremo. Tinha sentimentos extraprotetores por , que não tinha nem por sua irmã. Vê-la chorar lhe dava vontade de correr pra Greenwich e quebrar a cara de Edward, embora, dessa vez, aquele idiota não tivesse culpa de absolutamente nada.
E agora ela estava trancada no banheiro, berrando ao telefone com seu pai, e ele não conseguia entender direito o que se passava, pois estava meio alto depois de oferecer vários drinks para a menina, beber junto e adquirir uma nova nota mental: bebida não faz com que as garotas parem de chorar, nesse caso, só piora.
- Papai. – ela gritou, mas ele não estava deixando que ela falasse. – O QUÊ? – Silêncio. estava curioso. E com medo. – Você não pode fazer isso! Papai, me ouve, eu...
Silêncio.
Silêncio demais.
abriu a porta, que não estava trancada, e deu de cara com – ainda vestida de noiva – sentada no chão, ocupando o espaço todo com a cauda do vestido.
- Meu pai não vai mais me bancar. – disse, com os olhos esbugalhados. – Ele disse que se eu não voltar hoje e casar com o Ed, eu posso esquecer que ele existe. – completou, soluçando no final.
Sem saber o que fazer de novo, apenas abaixou, sentando ao seu lado no pouco espaço que restava, e a abraçou, deixando que a menina chorasse em seu ombro.
Não disse nada, mas agora queria mesmo ir até Greenwich e ter uma conversinha com o pai dela.
- . – ela sussurrou, interrompendo sua briga mental com o Sr. Carrington.
- Fala, linda.
- Eu posso ficar aqui com você?

Ah, por que mesmo ele tinha dito sim? era sua melhor amiga e ela precisava de ajuda, mas começara a se arrepender duas horas depois de ter sucumbido à carinha de gatinho de botas do Shrek que ela tinha feito, beijado sua testa e dito que ela poderia ficar “o quanto quisesse”.
Porra, por que ele tinha dito aquilo?
Tinha acabado de voltar do restaurante chinês, onde foi retirar suas encomendas para o jantar, já que os dois estavam famintos demais para esperarem o delivery, e seu pequeno apartamento parecia ter sido tomado por um furacão.
O que era absolutamente estranho, tendo em vista que tudo o que a garota possuía era um vestido de noiva caríssimo e seu iPhone.
Não que sua casa fosse arrumada – era uma bagunça, ele sabia bem disso – mas achou que tinha tido uma tentativa extremamente frustrada de organizá-la.
Mas nem estava ligando para isso, o problema era outro.
Ao pisar dentro do apartamento, ouviu vozes. Duas vozes. Uma era de e a outra ele reconhecia, mas não sabia dizer de quem era.
Ele tinha transado com aquela garota! E ela estava ali, sentada em frente à , tomando um chá e conversando.
Como se fossem amiguinhas. E o esperado pior: Ele não sabia dizer seu nome, nem como e nem quando ela esteve com ele, mas sabia que não fazia muito tempo e essa estava prestes a ser uma nova situação constrangedora.
Bem que ele devia ter escutado seu instinto quando ele lhe disse, mais de doze anos atrás, que não era para perdoar a bolada que chutara bem em seu nariz na primeira vez que ele visitou sua casa, com seus pais.
Devia simplesmente ter chutado a bola de volta (na cara também, claro), mas não, quis ser uma boa pessoa.
Bonzinhos só se fodem.
- Oi? – disse, rezando para todos os santos, e as duas pararam para olhar para ele.
- ! Quanto tempo! – a morena, da qual ele não lembrava muito bem, disse, empolgada, e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, parecendo ansiosa.
sorriu e levantou.
- Bom, eu preciso tomar um banho e tirar esse vestido. Vou deixar vocês em... – não conseguiu concluir a fase, pois a segurou pelo braço antes que ela conseguisse sair da pequena sala.
- Não, não vai não. – ele disse entre dentes e soltou um olhar matador para a amiga. Sabia que surtiria efeito, pois ela se endireitou na mesma hora. – Você não vai querer que a comida esfrie, vai?
o encarou, confusa.
- Hum... Acho que não. – disse, por fim, pegando o pacote. – Ei, Melrose, quer comer com a gente?
MELROSE! Ah, se não tivesse quebrado todas as regras de sua vida deixando aquela menina entrar, convidando-a pra sentar e tomar um chá e para jantar com eles, ele até poderia voltar a amá-la como sempre.
- Obrigada, querida, eu ainda tenho que voltar pra loja. – Melrose respondeu calmamente, com sua voz irritantemente anasalada. Mas essa informação sobre a loja fez com que lembrasse um fato importante: Ela era vendedora da Urban Outfitters e ele quase fez a coitada perder o emprego, querendo fazer coisas inapropriadas no provador.
Bom, ainda bem que foi quase, então não precisava se sentir culpado por nada.
- Ah, já vai? – interrompeu, antes que a menina abrisse a boca. – Uma pena ter passado tão rápido!
Melrose o encarou, pasma.
- Eu ainda não falei com você. – disse, meio confusa, e então levantou. – Você não me ligou mais, queria saber se poderemos nos ver semana que vem, tenho a noite de folga na quarta feira, podíamos ir até aquele barzinho no Soho e...
- Sabe, Melrose, semana que vem eu peguei todos os turnos noturnos no pub, mil desculpas. – ele disse, fazendo cara de triste. rolou os olhos teatralmente e chutou levemente sua perna.
Ela não deixou barato e pisou em seus dedos com a ponta do sapato de salto, até que ele fizesse uma careta.
- O que há com você? – Melrose arregalou os olhos, assustada.
segurou o riso.
- Incontinência urinária. – respondeu calmamente, como quem informava as horas, e dessa vez que arregalou os olhos.
- Incontioquê? – disse rapidamente e estava prestes a ter um ataque de risos. – Eu não tenho nada disso. – afirmou rapidamente e Melrose parecia querer sair correndo dali. – Melrose, ando muito ocupado, mas pode deixar que eu vou ligar pra você assim que possível, certo?
A garota sorriu, desconfiada, mas quando lhe lançou seu melhor sorriso de canto, somado ao olhar penetrante, ela pareceu amolecer e anasalou ainda mais a voz ao agradecer.

- Vou esperar mesmo, hein? – Melrose disse e estava quase a empurrando no buraco do elevador. Em vez disso, sorriu novamente.
- Mal posso esperar pra ver você de novo. – disse, mas estava rindo por dentro. Era terrível, sabia disso, mas não conseguia parar.
Antes que ela dissesse mais alguma coisa, ele fechou a porta do elevador e encostou nela, só pra ter certeza que ela não voltaria para o hall, e sentiu uma explosão de alívio ao vê-la sumindo pela janelinha da porta.
Ao voltar para a sala, estava devorando um rolinho primavera e não conseguiu não rir da cara do amigo.
- Incontinência urinária? – perguntou, com as mãos na cintura, e a garota só riu mais.
- É, eu sei, foi meio falsa... Da próxima vez, eu digo que você está com clamídia. – ela respondeu simplesmente e desatou a rir.
não queria acompanhar, mas estava quase impossível. Forçou uma feição séria e pegou o bolinho que ela estava segurando.
- Ei! – reclamou prontamente e ele enfiou tudo de vez na boca, fazendo com que ela torcesse o nariz.
- Regra número um. – ele puxou a sacola com a comida pra longe e ela rolou os olhos. – Se você quer morar sob o mesmo teto que eu, nunca, jamais abra a porta para garotas acima de dezoito anos que sejam bonitas e gostosas, a não ser que elas estejam comigo.
- O quê? – riu, quase indignada.
- Estou falando sério, , isso não vai funcionar se você descumprir essa valiosa regra.
- O que tem de mal em abrir a porta pra uma garota que queria falar com você?
- Ela queria falar comigo, eu não queria falar com ela. – disse simplesmente, abrindo uma Coca.
- E minha clarividência mandou lembranças, não é mesmo? riu, irônica, e a acompanhou.
- , você me conhece. Eu não era muito diferente no colegial.
- Era sim! Você não tinha braços torneados e barriga tanquinho. – ela gargalhou da careta que fez. – Tinha, no máximo, a lábia com as garotas.
- Meu talento nato. – ele riu, malicioso, e tacou um rolinho nele.
- Não desperdiça comida, porra. – reclamou, devorando o outro rolinho. – Olha, eu não sei me apegar. Você me conhece melhor que ninguém. Então, eu me afasto e, se tem alguma doida que vem procurar, eu simplesmente dou um jeito. não nasceu para ser monogâmico. – disse, presunçoso, fazendo a menina rolar os olhos.
- Você é nojento. – ela respondeu, fazendo-o rir. – Se eu não te conhecesse há mil anos, diria que isso é trauma de ser chifrado na adolescência ou algo do tipo, mas pior que você sempre foi um puta dum galinha mesmo. Que vergonha. – ela riu.
- Ei, em minha defesa, eu trato todas as minhas mulheres muito bem, nunca deixei nenhuma insatisfeita!
- Ah, imagine, só deixou as coitadas chorando por dias pensando se você ia ligar!
- Vamos pular essa parte? – disse e sorriu, vitoriosa. – Estou morrendo de fome, me passa meu yakissoba.

- , acorda. – sussurrou, balançando o amigo de um lado pro outro no sofá. Ele nem se moveu. – ...
- Mimdeixamãe, mimdeixa. – ele respondeu, ainda dormindo, e ela gargalhou.
- ! – berrou e, no susto, o garoto despencou do sofá, fazendo com que seu ataque de riso só piorasse.
- O que diabos...? – ele ia começar, confuso, e então parou prontamente.
Assim que terminaram de comer, os dois sentaram para ver um filme qualquer no sofá e ele não se lembrava de mais nada. E agora estava ali, sem seu vestido de noiva e usando sua camisa social branca – a única mais arrumadinha que ele tinha – com os cabelos soltos e lavados, ainda meio molhados, e ele parecia estar sonhando.
- Olha pra cima, babaca. – ela o empurrou pra trás, fazendo-o chacoalhar a cabeça.
- Caralho, . – ele disse, assoviando. – Puta merda, se isso não é ficar bem numa camisa masculina, eu não sei o que é. – ele disse, fazendo a menina corar e o empurrar de novo.
- Cala a boca, seu pervertido. – disse, rindo.
- Olha, ficou vermelhinha. Que coisa mais... – ia fazer uma piada, mas o interrompeu.
- Regra número dois: Se você quer que isso dê certo, vai ter que se comportar comigo. Não sou uma das suas peguetes!
- E desde quando você pode ditar regras? É a minha casa e a minha camisa. – ele riu, malicioso, porque sabia que ela iria se irritar. bufou.
- Eu odeio você! – disse, batendo o pé, e ele gargalhou.
- É muito amor acumulado pela minha pessoa. – disse, rindo, enquanto ela ainda estava emburrada. sabia que ela não tava nem aí. – Me perdoa, , eu não fiz por mal... – disse com a voz arrastada, passando seus braços em sua cintura, para tomar um empurrão.
- Já quer abusar de mim de novo! – riu da cara de pervertido que ele fazia. – Você não presta!
- Você devia agradecer que eu sou assim com você, o que só prova que você é gostosa. Eu tenho um gosto muito bom.
Ela gargalhou.
- Ah, mas que lisonjeiro. Vou colocar isso na cabeça. E da próxima vez que você vier com pedreiragem pro meu lado, vou convidar umas cinco ex suas para tomar uns bons drinks. – riu da cara de pânico do amigo, que levantou as mãos ao lado da cabeça.
- É, você venceu. – disse, sorrindo.
despencou ao seu lado no sofá, mudando de canal.
- Eu estava vendo isso. – provocou.
- Você quer MESMO apanhar, né?
- Nunca foi meu fetiche. – respondeu, olhando pra cima, e sabia o que estava por vir. – Outch! Para de me bater!
- Você não tem que trabalhar?
- Você tá me expulsando da minha própria casa?
- Mas é claro. – sorriu angelicalmente e rolou os olhos. Será que isso funcionava com Edward Almofadinha?
- Estou de folga hoje, mas amanhã vou pegar o turno do almoço. – fez careta. – Não é muito interessante fazer drinks para caras engravatados em reuniões de negócios.
- Dá pra tirar uma boa grana, sendo barman?
- Dá pra viver, . Eu não ligo pra muita grana, você sabe.
- Eu bem sei. Vi seu pai uns dias antes do meu jantar de ensaio do casamento, ele disse que... – falava, distraidamente, mas a interrompeu.
- Desculpa, , mas ouvir sobre o meu pai é a última coisa que eu quero agora. E sempre. – ele disse e encostou a cabeça em seu ombro.
- Um dia você vai ter que lidar com isso. – respondeu e ele acariciou seus cabelos.
- Esse dia está longe de chegar.

- Ok, estou oficialmente capotando. – disse, meio atordoado, e sorriu.
- Somos dois. – ela bocejou.
- Vamos pra cama? – ele perguntou, casualmente, enquanto coçava os olhos, e riu.
- Como vamos pra cama? – arqueou a sobrancelha.
riu.
- Você quer dormir onde? – respondeu, confuso com o sono, e riu.
- Eu não vou dormir na mesma cama que você! – disse, a voz ligeiramente afetada. – Você é tarado e não, não posso, era pra eu estar casando hoje, não é uma coisa muito respeitável.
- Você largou o cara no altar.
- Antes do altar e cala a boca. – disse. – É sério, !
- Eu só tenho uma cama, amor da minha vida. – dessa vez, ele quem parecia afetado. riu.
- Você tem o sofá. – ela disse com um sorriso triunfante e rolou os olhos.
- Está bem, vou pegar um travesseiro e um cobertor. – disse, contrariado, e saiu falando. – Mas não é como se dormindo separados eu não poderia te atacar da mesma maneira.
riu.
- Vou ficar alerta.
- Isso é meio sexy. – ele gritou. – Me sinto desafiado.
gargalhou e voltou pra sala.
- Toma. – ele tacou as coisas desajeitadamente na cara dela. – Tenha uma boa noite.
arregalou os olhos, chocada.
- O... O quê? – Disse e girou os pés, voltando a encará-la.
- O que foi dessa vez, porra? – perguntou, bocejando, e percebeu que aquilo não era uma brincadeira.
- Você está falando sério? – ela disse, segurando o travesseiro.
- Oi? Sério sobre o quê?
- VOCÊ VAI DEIXAR UMA GAROTA DORMIR NO SOFÁ ENQUANTO VOCÊ DORME NA CAMA? – berrou e tampou os ouvidos, depois riu.
- Mas que porra, eu te convidei pra dormir na cama. – disse, rindo levemente.
- Com você!
- E daí? A gente já dormiu na mesma cama.
- Quando, pelo amor de Deus?
- Quando fomos para Vermont.
- ERAM CINCO CRIANÇAS NUMA CAMA KING SIZE NUM COCHILO DA TARDE!
riu alto.
- Você é muito fresca, . Greenwich não te fez bem. – ele disse simplesmente. – Vai parar de frescurinha e dormir comigo na cama?
- Claro que não! Estou traumatizada ainda.
rolou os olhos.
- Então, boa noite, aproveite o sofá. – ele se virou novamente.
- E por que você não dorme no sofá como um homem faria nessas horas?
- O homem que faria isso nessas horas acordaria todo torto e com torcicolo por causa de uma garota que caberia na metade do sofá. – ele retrucou rapidamente. – Aliás, não é como se eu não tivesse te dado uma opção. – sorriu, malicioso.
- Você é um ogro! – disse, brava. se jogou em cima dela, que soltou uns gritinhos afetados de menininha, depois a beijou na testa.
- Boa noite, linda, meus melhores pensamentos estarão com você nesse sofá, tente não acordar torta. – ele sussurrou, tomando uma almofada nas costas enquanto corria para o quarto.

estava exausto depois de um turno conturbado da hora do almoço no pub. Sempre tinha algum cliente filho da puta – daqueles que fazem os garçons quererem cuspir onde não devem – e isso sempre o estressava. Estava faminto, pois não tivera tempo de comer nada mais do que dois nuggets entre um drink e outro e mal podia esperar pra ter um encontro memorável com seu chuveiro e sua cama. Ao entrar na pequena rua que dava para sua casa, avistou uma grande movimentação. Muitas pessoas estavam no meio da rua e ele pôde ver uma senhora de roupão e toalha na cabeça. Achou que estivesse variando das ideias – o excesso de trabalho pode fazer essas coisas, não? – quando avistou um carro de bombeiro na frente do seu condomínio. Uma onda de desespero o tomou freneticamente. Só conseguia se lembrar de uma coisa: .
Correu entre as pessoas, mas não conseguiu distinguir o que falavam em meio a tanto barulho. Quando o pânico estava quase o tomando por completo, avistou-a com um short e um top curto da Victoria’s Secret Pink e um coque no cabelo, com os olhos esbugalhados.
- O que aconteceu? – ele a pegou pelo braço, atropelando as palavras. O carro do bombeiro começou a se distanciar e a muvuca das pessoas também.
O rosto de corou.
- Eu juro que não foi minha culpa. – ela respondeu rapidamente e arregalou os olhos.
- VOCÊ FEZ ISSO? – ele berrou e a garota tampou o rosto com as mãos, chamando atenção de alguns curiosos.
- Shhh, você quer que eu seja linchada, inferno? – disse, olhando de soslaio para uma senhora de uns cinquenta e tantos anos que parecia muito interessada no papo dos dois e também muito nervosa.
- Isso depende. – respondeu, puxando-a pra mais longe. – Que porra você fez, ?
- Aaaaaaah, – ela disse, com a voz arrastada. – A culpa é sua!
- Minha? – ele respondeu, alterado.
- É! Eu tinha acabado de chegar da casa da Millicent, onde minha irmã tinha deixado as roupas que ela conseguiu transviar do meu quarto, e escutei sua mensagem na secretária eletrônica. Você parecia nervoso e disse algo sobre clientes idiotas e nuggets e que estava com fome e...
- E VOCÊ RESOLVEU QUEIMAR A PORRA DA MINHA CASA?
- Eu resolvi cozinhar! – ela disse, alterada. – Eu não queimei nada, eu juro! É que eu fui olhar a receita no notebook e a Jenny estava no skype, sabe a Jenny, noiva do Andrew? Eles...
- ! – gritou, passando a mão nos cabelos.
- Certo, certo. – disse rápido, vendo o rosto do amigo ficar vermelho. – Bom, eu acabei me distraindo e aí a parada começou a ferver e a fumaça foi parar no alarme de fumaça. Quando eu vi, estava tudo apitando, caindo água e todos estavam correndo e os bombeiros chegaram, então eu corri também e fingi que não era comigo. – ela disse por fim, roendo uma unha.
arqueou uma sobrancelha, avaliando a garota em sua frente. Ela parecia ansiosa, de fato, e ele apenas respirou fundo, puxando-a pela mão.
- O que você tá fazendo? – perguntou, sendo arrastada escadaria acima. não respondeu.
Ao entrarem no apartamento, ele fingiu não ver sua cozinha ensopada e seu fogão emporcalhado com algo que poderia ser molho de tomate ou calda de bolo, mas ele nunca saberia distinguir. Largou no sofá e abriu uma gaveta embaixo da televisão, tirando dela uma pasta azul atulhada de papéis, depois tacou em seu colo.
- O que é isso? – arqueou a sobrancelha, olhando para com aquele olhar de cachorrinho caído da mudança, que ele jurara que nunca faria efeito sobre ele, mas sempre acontecia e ele nunca admitiria.
- Isso... - ele usou uma entonação paternalista na voz. – É você cozinhando.
abriu a pasta e retirou menus de todos os restaurantes possíveis de Manhattan.
- Mas...
- Sem meio mas, , se você chegar perto daquele fogão de novo, eu juro que...
- Jura o quê? – ela desafiou, colocando-se em pé na frente dele. a olhou de cima a baixo, depois soltou um longo suspiro.
- Inferno. – ele disse e segurou o riso.
- O que foi? – perguntou com um sorriso malicioso.
- Victoria’s Secret é maldade, .
A garota o estapeou, rindo.
- Ainda vão te prender por ser tão tarado!
- Se não me prenderem antes por VOCÊ ter incendiado meu prédio!
- Ah, , desculpa, eu só queria fazer alguma coisinha pra que você ficasse mais... – ia dizendo, com a voz embargada, e sorriu, abraçando-a.
- Eu sei, eu sei. – ele sorriu, beijando o topo de sua cabeça.

Nos dias que seguiram, achou que fosse enlouquecer. Era ótimo ter sua amiga ali, eles riam muito, jogavam videogame (ele tinha certeza que ele era a única pessoa que fazia a garota jogar), bebiam horrores e falavam muita besteira. No entanto, achava que iria destruir tudo a qualquer momento. A garota era um furacão e cada dia era uma novidade. Primeiro ela quase incendiou o prédio. Dias depois, resolveu lavar as roupas da casa, mas nunca tinha feito isso, é claro, e o deixou com pelo menos cinco camisetas brancas super manchadas. Sua resposta para isso? , desencana, tié dye está na moda”. Ela era maluca. E o pior, toda vez que ele queria matá-la, ela arrumava um jeito de fazê-lo rir de tudo e ele esquecia. Um dia, cansado de ter que consertar as coisas da casa que ela quebrava enquanto andava com o edredom pendurado nas costas, ou de ter que se desculpar com o cara do delivery por ela ter lavado o hall do prédio porque estava entediada e achou que estava sujo e fazer o cara escorregar no sabão e derrubar chilli por todos os lados, deu um ultimato: teria que arrumar um emprego. Seus pais continuavam ligando, queriam que ela voltasse, mas estava irredutível. Ele se orgulhava disso e, de alguma maneira, ela o lembrava de uma versão dele mesmo com dezessete anos quando se emancipou. Depois de alguns dias de procura, ela finalmente conseguiu algo: Uma vaga de garçonete no pub que trabalhava.
A princípio, achou que teria sido a maior idiotice que já tinha feito. errava os pedidos, trocava as mesas, batia papo com todos os clientes em serviço e tomava broncas constantes do gerente. Mas quando reparou que algum dinheiro estava entrando e esse dinheiro não era de seu pai, a garota pareceu se empolgar para fazer as coisas direito e, em duas semanas, já era uma garçonete ao menos apresentável. tinha certeza que todos em Greenwich deviam estar dizendo que ele desencaminhou a garota, mas estava pouco se importando com isso. Ele estava orgulhoso dela e isso já bastava para os dois.
estava radiante. Depois de um turno sofrido no fim da tarde no pub, ela queria correr pra casa e contar a novidade maravilhosa que tinha para , que estava de folga no dia. Durante pelo menos quatro das seis horas do turno, ela o invejou, perguntou-se o que ele estava fazendo em casa, se estava dormindo, se estava descansando, se não tinha nenhum barulho para lhe dar dor de cabeça lá – tudo o contrário do que estava vivendo. Esse negócio de emprego era algo recompensador – na maior parte das vezes – mas descobrira que cansava, e muito. Enquanto cobria o almoço de um garçom no balcão, um dos clientes costumeiros daquela semana – o cara devia ter aparecido três dias seguidos, no mesmo horário, resolveu puxar assunto com ela. Ele era jovem, devia ter no máximo uns 28 anos, usava óculos de grau grandes e calças de alfaiataria mais curtas, deixando as canelas de fora. Era estiloso e ela jurava que era gay, mas descobriu, com um pouco de conversa aleatória, que estava noivo de uma dançarina da Broadway.
- Mentira! Eu sou atriz. – disse, empolgada pelo fato de conhecer alguém que conhecia alguém da Broadway. – Quero dizer, eu nunca fiz nada de expressivo. Mas estudei Teatro na Yale.
Martin, o garoto estiloso, descansou sua xícara de café expresso no balcão, interessado.
- Yale? É mesmo? – disse, surpreso. – Que incrível. Eu me formei em Teatro também, mas na NYU.
- O que não deixa de ser incrível – sorriu, limpando o balcão.
- Me diga, , você está trabalhando como garçonete enquanto procura testes aqui em Nova York? – ele perguntou casualmente e achou melhor dizer que sim. Aliás, se sentia um pouco estúpida por não ter tido essa ideia. Testes! Era disso que precisava.
- Exatamente, por quê?
Ele lhe estendeu um cartão.
- Ligue nesse número amanhã por volta das três da tarde, a agência em que eu trabalho está procurando uma garota exatamente no seu perfil para um comercial de creme dental.

subiu as escadas do condomínio rapidamente. Tinha comprado uma garrafa de espumante meia boca porque queria comemorar. Está certo, nem tinha feito o teste e muito menos passado nele, mas ainda assim aquilo devia ser motivo de festa. Abriu a porta e correu para dentro.
- , você não vai acredi... AAAAAH!
deu um pulo do sofá, derrubando uma garota no chão. Os dois estavam nus e bem, dois segundos antes, a garota estava lhe dando um... preferia não recordar.
- ! Ai, caralho! – ele correu para se vestir e a menina também.
- Olha, não é nada disso que você tá pensando. – ela disse rapidamente para uma atônita. – A gente...
e se entreolharam e o garoto segurou o riso.
- Ela é só minha amiga, Kerry. – disse rapidamente.
- Eu vou... Vou... – disse e riu, segurando-a pelo braço.
- Por favor, não me diga que te deixei traumatizada. – ele brincou e tomou um beliscão.
- Eu durmo nessa porra desse sofá. – sussurrou para que Kerry não os escutasse. gargalhou, o que só fez a garota querer estapeá-lo para sempre. – !
- Eu sei, desculpe. Mas a gente não conseguiu chegar no quarto. – ele respondeu, malicioso, fazendo rolar os olhos.
- Poupe-me dos detalhes sórdidos, meu amor. – disse, com cara de nojo, o que só fez com que risse ainda mais.
- Certo, nova regra. – ele disse. – Se estiver acontecendo alguma coisa aqui dentro, a gente deixa um laço pendurado na maçaneta. Pra evitar esse tipo de trauma. Acho que seria demais pra mim ver você em posições...
- Ah, para, você sonha com isso todo dia. – disse e gargalhou da cara que fez. – E eu não sou uma puta pervertida não, obrigada?
- Tá me chamando de puto pervertido na minha cara? – fez uma voz afetada e riu.
- Alguém tem que ser sincera com você, amorzinho. E da próxima vez que você copular no meu sofá, corto teu pau fora.

Pouco mais de uma semana depois do incidente do sexo interrompido, o novo esquema de aviso de e estava funcionando bem. Ela nunca o usava, era bem verdade – exceto pela vez que colocou a fita na porta e o deixou pra fora por meia hora só pensando com quem ela estaria transando e avaliando se isso o traumatizava de alguma maneira, só para ele ver como era divertido (não) ficar do lado de fora.
estava com uma garota novamente. Ele a conhecera poucas horas antes em uma lanchonete e lá estavam os dois, na cama, enquanto ele tentava esquecer a fome brutal que estava – tinha pedido uma pizza há mais de cinquenta minutos e nada dela chegar – e tinha que satisfazer a menina, que estava com fome de outra coisa. Sabia que estava com Melody, sua nova melhor amiga do trabalho, fazendo compras na Century 21. A música estava ligada e, enquanto a menina tirava sua camiseta, teve certeza que ouviu um baque na porta.
Seria sua pizza? Seu estômago pulou de alegria e ele se sentiu meio idiota de estar mais empolgado com uma pizza de peperonni do que com Shannon (Sharon?).
- Ei, acho que tem alguém na porta. – ele disse, um pouco ofegante com os beijos que ela estava lhe dando no pescoço.
- Deixa pra lá... – Shannon/Sharon respondeu e continuou com os beijos. rolou os olhos.
- Vou ver, espera só um minuto. – ele sorriu de maneira sedutora, mas ainda assim ela não pareceu satisfeita. Bom, ele não podia fazer nada.
Abriu a porta rapidamente, feliz e quase sentindo o cheiro de comida involuntariamente e avistou , de costas, sentada na escada.
- ? – perguntou, caminhando até ela, que não tinha se virado. – Ei, achei que você ainda estava... – ia dizer, quando olhou em seu rosto pela primeira vez. estava chorando. Seus olhos estavam vermelhos e levemente inchados, seu rosto molhado pelas lágrimas.
percebeu um nó se apertar na garganta e sentou do lado dela.
- O que aconteceu? – perguntou, um pouco alto demais, e com a voz meio estranha. – Você foi assaltada? Fizeram alguma coisa com você? – ele se desesperou ao perguntar, porque ela ainda estava chorando.
segurou suas mãos geladas entre as suas, ficando um pouco nauseado. Ele já a vira chorar várias vezes, mas algo o dizia que dessa vez era tudo muito pior e não saber o que estava acontecendo o estava deixando louco.
- ? Fala comigo, o que foi que...
- ... Eu estava com o Edward. – ela respondeu, soluçando, e empalideceu.
Quando a garota voltou a chorar, a única coisa que conseguiu foi envolvê-la em seus braços, o que só pareceu fazer com que chorasse mais. Ele a aninhou em seu peito e mexeu em seus cabelos, apertando-a com mais força.
Queria perguntar, queria saber dizer alguma coisa.
Mas nunca foi bom com isso, então ficou ali, apenas a abraçando. Seu nó na garganta parecia aumentar consideravelmente a cada segundo e ele realmente queria entender que porra era aquela.
- , vem, vamos entrar – ele disse baixinho, e a garota o olhou nos olhos. Mesmo com os olhos vermelhos e a visão meio embaçada, conseguia dizer que estava com os olhos marejados, o que aumentou sua vontade de chorar por dias.
- Mas o laço estava na porta, você não está... – a menina ia dizer, mas a interrompeu.
- Dane-se a menina. É você que importa agora – ele disse, e tentou sorrir, mas não conseguiu.
Quando entraram, a garota já estava arrumada, perto da porta. teve certeza que ela ouvira tudo, mas realmente não estava ligando.
- Eu vou nessa – Shannon/Sharon disse, olhando pra , inexpressiva.
- Eu não queria atrapalhar, me desculpe – se apressou em dizer, e a garota sorriu, parecendo, pelo menos para , bem sincera.
- Não se preocupe comigo – respondeu. – Não sei o que aconteceu, mas isso parece mais importante. Vou nessa, , se você quiser me encontrar outro dia, você tem meu número, certo?
- Certo – ele respondeu. – Eu ligo pra você.
Quando a garota sumiu pela porta, começou a chorar automaticamente. sentou à mesa de centro, bem de frente para ela, e segurou suas mãos.
- O que diabos aquele mauricinho filho da puta fez com você? – perguntou, sentindo um ódio nauseante. sorriu brevemente, mas não o defendeu do apelido dessa vez.
- Eu fui encontrar a Melody e quando cheguei no pub, ele estava lá. Ele estava horrível, , a barba por fazer, os olhos injetados – lutou para segurar as lágrimas. – Pediu pra gente dar uma volta pra conversar. Fui com ele, e foi horrível – ela fungou. – Ele me disse coisas terríveis. Disse que eu sou uma vadia sem coração. E que ele se odeia por cada dia que me amou e que vai continuar se odiando até me esquecer.
deixou uma lágrima cair, por fim, e instintivamente a secou. Encostou a testa na dela, sem dizer nada por um instante, tentando organizar os pensamentos.
Quem, diabos, aquele filho da puta pensava que era pra deixar assim? Ele queria quebrar a cara dele. Queria socá-lo com um soco inglês. Do fundo do coração. Não importava se ela havia o machucado, ele não queria saber. Empurrou esses pensamentos pra longe, porque não precisava disso agora. Precisava falar alguma coisa útil.
- Você sabe o que eu sempre pensei desse cara – ele disse, por fim, num suspiro. chacoalhou a cabeça.
- Mas ele está certo. Olha o que eu fiz! Com ele, com a família dele... Com a minha família! Eu sou uma vadia sem coração mesmo, o Ed está certo, ele...
- Ah, cala a boca! – disse, e a garota arregalou os olhos, atônita por meio segundo, antes de lembrar com quem estava falando. segurou suas mãos ao continuar. – É fácil pra ele dizer alguma coisa quando você finalmente tomou alguma atitude com o relacionamento de vocês. Ele nunca fez nada por você, . Dar joias caras e levar a festas da alta sociedade não é demonstração nenhuma de sentimento!
- Mas, ...
- Deixa eu falar, porra – ele disse rapidamente, e sorriu por instinto. – Se ele foi idiota o suficiente de te perder, ele que saiba lidar com isso. Não se sinta culpada por fazer o que é melhor pra você, e não o que te disseram que era melhor pra você - ele sorriu de canto. – Você é maravilhosa, . Pelo menos pra mim, e se isso vale de alguma coisa, acho que você devia se acalmar porque eu fico em pânico quando você chora, você sabe – ele disse e a garota riu. Riu de verdade, como se não estivesse chorando trinta segundos antes.
acabou rindo também, e ela o abraçou.
- Obrigada por tudo – disse, com a voz abafada no pescoço do garoto. – Eu amo você, sabia disso?
Ele sorriu e a abraçou com mais força, o “eu também amo você” entalado na garganta, mas não conseguiu colocá-lo para fora. Nunca tinha conseguido fazer isso na vida, com absolutamente ninguém, e queria fazer agora, mas sua voz simplesmente não saía. Acariciou seus cabelos e num suspiro, apenas respondeu:
- Eu sei que sim, linda.

- Eu acho que vou dormir – disse com a voz arrastada, acertando um guardanapo dentro de um copo.
Seu coração ainda estava em frangalhos, mesmo com ali. Tinham rido um pouco, comido pizza – ele tinha comido, ela mal conseguiu tocar em nada – e ela se esforçou ao máximo pra não chorar porque não queria decepcioná-lo. Mas ainda estava com o choro preso na garganta, sentindo-se a pior pessoa do mundo pelas coisas que ouvira.
olhou o relógio – uma da manhã – e depois sorriu.
- Pode ficar com a cama hoje – disse, calmamente, e arregalou os olhos.
- Não acredito! A sua cama? O todo poderoso quer dormir no sofá?
Ele riu.
- Veja bem, eu não quero – ele riu. – Mas faço isso por você hoje. Só se você prometer não ficar mal acostumada.
- Prometo! – disse rapidamente, e sorriu. – Vou me trocar e correr pra lá antes que você mude de ideia.
deitou desajeitadamente no pequeno sofá e sorriu ao ver a garota correr em direção ao banheiro, com uma camisa surrada do Guns’N’Roses (dele) nas mãos. Era estranho, mas sua vida tinha dado uma reviravolta nas últimas semanas com a chegada dela, e ele não conseguia mais se lembrar de antes direito.
- Boa noite, gordinho – apareceu na sala e o abraçou. Os dois riram.
- Gordinho? Acho que você não me chama assim desde o primeiro colegial, quando eu fiquei gostoso demais pro apelido – disse, presunçoso, e gargalhou.
- Gostoso demais? Você parecia um palito desajeitado, mas tudo bem – ela riu da careta do garoto, e então partiu para o quarto.
tentou se mexer no sofá, pois qualquer movimento o faria cair de cara no chão. Estava com o travesseiro que estava usando e ele estava com o cheiro dela, o que era estranhamente reconfortante, sabia Deus por que. Mas, ainda assim, estava acostumado a dormir com pelo menos dois travesseiros e já que ia acordar completamente torto, que pelo menos tivesse o mínimo de conforto.
Caminhou devagar pelo corredor para não fazer barulho e abriu a porta com calma. Para sua surpresa, estava encolhida num canto minúsculo da cama e com a luz do abajur ligada.
- ? – ele perguntou baixo, e a menina demorou meio segundo pra responder.
- Fala – ela disse quase sussurrando, e sua voz estava estranha.
- Você disse que estava com sono – ele respondeu simplesmente, e a menina suspirou.
- Estou. Só liguei o abajur pra ver as horas – ela respondeu e arqueou a sobrancelha, enquanto pegava o travesseiro vago ao lado dela.
- Certo – respondeu, imaginando que ela não queria papo, se não teria falado logo. – Eu vou lá pra sala, só vim buscar outro travesseiro. Se precisar de alguma coisa...
- Eu te chamo – ela respondeu.
ouviu o baque leve da porta e deixou que outra lágrima escorresse. Não conseguiria dormir. Não com tanta coisa na cabeça.
estava parado do lado de fora da porta. Ficou ali, uma mão na maçaneta, a outra segurando o travesseiro, pensando se deveria voltar pro quarto e ver se ela estava bem.
- – ele ouviu a voz de , superbaixa, lá dentro.
Ela sabia que ele estava ali?
Abriu a porta devagar, e ficou parado.
- O que foi, linda?
- Dorme aqui comigo – pediu, ainda olhando para o outro lado, com uma voz chorosa. – Não quero ficar sozinha hoje.
sorriu.
- Pensei que eu fosse tarado demais pra isso – brincou, e não sabia como, mas tinha certeza que a garota sorriu.
- Só por hoje vou esquecer esse detalhe – ela murmurou.
deitou na cama e jogou o edredom pesado por cima do corpo. virou de frente, os olhos marejados, e ele acariciou seu rosto.
- Vai ficar tudo bem – disse, calmamente, e ela sorriu breve.
- Obrigada – disse, segurando sua mão, e a beijou na testa.
virou para apagar o abajur e, meio que por instinto, passou o braço por sua cintura, aninhando-a contra seu corpo. Achou que talvez fosse dizer alguma coisa, fazer alguma piadinha, mas ela simplesmente entrelaçou seus dedos nos dele e depois beijou sua mão suavemente. O garoto sorriu sem querer, e se pegou pensando que nunca tinha sido próximo assim de uma garota. Na verdade, nunca tinha sido próximo assim de ninguém. E por mais que dormisse com Manhattan inteira, por mais que tivesse noites de sexo intermináveis, achou que aquele era o momento mais íntimo que tivera na vida. Beijou o topo da cabeça de e a ouviu suspirar, e calmamente, sabia que ela estava pegando no sono.
E ele assistiu tudo, maravilhado e apavorado, porque não sabia realmente que porra de sentimento era aquele.

- Acorda, gordinho – sussurrou em seu ouvido, mas mal se mexeu. Então ela pegou uma almofada e bateu com força em sua cabeça.
- CARALHO – ele gritou, fazendo a garota gargalhar.
abriu os olhos e deu de cara com , ainda com a camiseta de banda que fazia de camisola, rindo de sua cara. Sentiu o coração bater nos ouvidos – de susto e de lembrar que demorou horas pra dormir olhando pra ela e pensando nela, o que era pior – e então pulou sentado.
- Perdeu o medo do perigo? – perguntou simplesmente, coçando os olhos, e ela riu.
- Depois que dormi na mesma cama que você e não acordei grávida, acho que perdi – ela sorriu e o garoto fez o mesmo.
chacoalhou a cabeça, pulando fora da cama e indo para o banheiro.
- Quer fazer alguma coisa antes do meu turno hoje? – perguntou do lado de fora, enquanto encarava o espelho com um certo desespero.
O que, diabos, estava fazendo? Estava fugindo da menina?
E por que ela tinha que ficar tão gostosa àquela hora da manhã? Era quase demais pra acreditar.
- , você dormiu na privada? – ela perguntou calmamente, fazendo-o rir do lado de dentro.
- Que horas são? – perguntou a primeira coisa que lhe veio à cabeça, depois se sentiu meio idiota.
- Dez – ela respondeu. – Meu turno começa às duas.
Não, quatro horas era demais. Ele não podia passar todo esse tempo com ela se quisesse se livrar daqueles pensamentos malucos que habitavam sua mente desde a madrugada. Ele sabia como era com as garotas, se acabasse a assustando?
No que estava pensando, por Deus? Ela era sua amiga! Sua melhor amiga! Estava doido, com certeza.
- Eu tenho um encontro com uma garota – respondeu do nada, e a menina riu.
- Que bom, se fosse com um garoto eu acharia estranho.
percebeu que já não estava mais esperando do outro lado da porta, e soltou o ar audivelmente. Certo, ele iria simplesmente lavar o rosto, escovar os dentes e fugir dali. Com certeza, fora do apartamento, conseguiria respirar direito e veria que aquilo tudo era uma puta de uma bobagem.
não tem sentimentos amorosos profundos.
não tem sentimentos amorosos profundos.
Talvez, se repetisse isso o suficiente, tudo daria certo até o fim do dia.

assistiu entrar no pub, do outro lado da rua. Ela estava atrasada uns dez minutos, mas isso se tornara rotina. Ele apenas sorriu, depois começou a caminhar para o lado oposto. Aquelas quatro horas sem tinham feito bem para sua cabeça. Ele realmente não tinha se deixado pensar nela e estava orgulhoso disso – tão orgulhoso que conseguiu o telefone de uma garota muito bonita, na academia. Mas não estava com vontade de ligar, e aquilo o estava irritando ao máximo.
Decidiu que talvez precisasse de um dia sozinho. Sem garotas, sem , sem absolutamente ninguém para pensar. Faria isso. Esse era o novo plano.

mergulhou os pés na água fervente da banheira. Respirou fundo e sorriu, fisicamente e emocionalmente exausta depois de um turno de sete horas e muitos clientes insuportáveis. Aquela vida não era pra ser sua, definitivamente. Como quem adivinhava pensamentos, Savannah perguntou ao telefone:
- E aquele teste do cara que parecia, mas não era gay? – sua irmã disse, e sorriu, sem humor.
- Não deu certo. Mas eu sabia que não ia dar, nunca estive tão nervosa em toda a minha vida – respondeu e sua irmã riu.
- Fica calma, irmãzinha, esse vai ser o primeiro de muitos. Um dia, eventualmente, algum deles dará certo – disse, e antes que respondesse alguma coisa, Savannah emendou em outro assunto, outra mania que ela tinha. – Ah, não te contei! Saí com o Clint de novo!
- Mentira! – deu um gritinho fino, fazendo a irmã rir. – Isso deve ser o quê? Seu QUARTO encontro? Savannah Carrington está crescendo!
A irmã riu e fez um barulho engraçado com a boca.
- Para de me zoar, sua babaca. Deixa eu te contar... Fomos a um bistrô francês, você sabe que eu odeio comida de gente fresca...
- ...Deixa a mamãe ouvir isso! – interrompeu e as duas riram.
- Mamãe não ligaria, afinal, para o meu desgosto, o Clint é rico! – Savannah disse, e tinha certeza que ela devia estar rolando os olhos. – Mas deixa eu falar, cacete! Estávamos no bistrô, tudo certo, quando...
ouviu o barulho da campainha e xingou mentalmente. Estava de roupão, sua irmã estava falando, e ela decidiu que não iria atender. tinha a chave, e quem quer que fosse não devia ser mesmo pra ela. Só mais uma garota carente perdida querendo saber se ainda estava disponível. Aquilo já estava ficando chato.
- ...E o escargot, tipo, VOOU nas costas da tia rica que é dona de Greenwich toda, como é mesmo o nome dela? – Savannah gargalhou, e riu.
- Angela Adlerberg? – perguntou, rindo.
- ISSO! – Savannah gritou. – Você não imagina a cara que ela fez quando...
A filha da mãe da garota estava com o dedo enfiado na campainha, fazendo um barulho ensurdecedor. bufou e rolou os olhos.
- Sis? Posso te ligar em alguns minutos? Tem alguma louca atrás do quase arrombando o apartamento aqui – disse e Savannah riu, do outro lado.
- Continua fazendo sucesso esse menino, hein?
- Mais do que você pode imaginar! – fez uma careta, impaciente. – Já te ligo!
Correu até a porta, já prevendo todos os xingamentos que iria fazer a garota ouvir por perturbar o bom andamento do seu descanso, mas, quando abriu a porta sem olhar, deu de cara com Austin, garçom do pub, tentando segurar um completamente bêbado e com o rosto todo machucado do lado de fora.
- AI, MEU DEUS – gritou, pulando para o lado de fora com o coração na boca. – O que aconteceu? – perguntou, passando o outro braço de por seus ombros e ajudando Austin.
- Muitas coisas acontesejsncjceram – disse, enrolando a língua, depois riu. arregalou os olhos e encarou Austin. – Mas num tenho culpa de naaaaaada – continuou, trocando as pernas.
- Tem, sim – Austin disse, bravo, enquanto os três cambaleavam pra dentro. Ele interrompeu quando ia protestar. – Ele chegou alto no pub, mas disfarçou. Continuou bebendo em serviço e depois resolveu cantar uma garota...
- Goxxxxtosa – disse, e tampou sua boca com a mão.
- Fica quieto, cacete – ela reclamou, e Austin prosseguiu.
- Bom, a garota era casada. E o noivo dela é lutador de UFC – Austin completou, quase rindo da cara que fez. Os dois o largaram no sofá, e reclamou das dores que isso lhe causou.
- Você tá maluco, porra? – berrou, e tampou os ouvidos.
- Não grita, caralho – disse, a voz um pouco mais grave.
- Você tem noção que pode ter perdido seu emprego? – ela ralhou. – Austin, o Tim ou a Sue estavam lá?
- Graças a Deus, não – ele negou. – Os dois foram para um coquetel de um fornecedor. E a vaca da Pauline estava fora, resolvendo umas coisas, e não viu nada. Sorte que meu turno estava acabando, consegui correr de lá e o Brent vai dizer para a Pauline que o passou mal e veio pra casa. Não sei bem no que vai dar.
respirou fundo. estava estatelado no sofá, tampando os olhos com as mãos, e ela chacoalhou a cabeça.
- Não sei nem como te agradecer, Austin, você realmente foi um grande amigo – ela disse por fim.
- O que ele fez? – perguntou e bufou.
- Cala a boca, ! – ela disse, e o garoto enterrou o rosto nas almofadas.
- Não tem de quê, – Austin disse, rindo da cara do amigo. – Eu preciso ir, minha noiva está me esperando e eu já estou atrasado.
Quando fechou a porta com um baque, ouviu gemer na sala. Caminhou até ele, respirando fundo, e ele a olhou nos olhos.
- Por que, diabos, você... – ela ia dizer, mas ele o interrompeu com uma risada. Ele estava GARGALHANDO, parecia um maluco, o que dessa vez só deixou mais irritada. – O que foi, porra? – ela gritou e segurou o riso, como uma criança de cinco anos.
- Tava vindo pra cá com o Auuuuustin – parou por dois instantes, chacoalhou a cabeça, limpou a garganta e continuou, parecendo minimamente mais sóbrio. – E eu sabia que você ia ficar puta comigo, então eu o fiz parar pra pegar isso aqui – disse, infantilmente, tirando uma margarida do bolso traseiro. – Só que eu sentei em cima dela – ele gargalhou novamente, e quase riu quando, debilmente, enfiou a flor em seu rosto, fazendo-a tossir.
- Você podia ter perdido seu emprego – tentou ficar séria, e rolou os olhos.
- Eu poderia arrumar outro igualzinho – ele respondeu, meio sem foco, e bufou.
- O que aconteceu com você? – tentou perguntar, mais calma, mas gemeu quando ela encostou em sua mão.
Viu que seus dedos estavam arroxeados – provavelmente por tentar revidar na briga – e finalmente reparou o corte na sobrancelha e o olho vermelho, e sentiu o coração apertar.
Não disse nada e apenas correu para o banheiro, atrás de um kit de primeiros socorros. Depois brigaria o quanto fosse com ele, mas sabia que não conseguiria fazer isso olhando para aquele cara bêbado e acidentado.
- Você não vai pôr a flor na água? – ele perguntou debilmente, com cara de triste, e sorriu.
- Eu vou, mas primeiro vamos cuidar de você.
mexeu na caixa de primeiros socorros e se endireitou no sofá. Ora parecia mais sóbrio, ora totalmente bêbado.
- Onde esse cara te bateu?
- Ele espalhou bem – riu, e sorriu idiotamente.
- Você é um babaca.
- Eu sei – ele respondeu, dando de ombros.
- Você consegue abrir e fechar a mão? – perguntou e testou, gemendo. – Certo, se continuar doendo muito amanhã, vamos ao médico.
- Eu não gosto de...
- Eu não perguntei se você gostava.
sorriu, depois riu brevemente. molhou um algodão num remédio e encostou na sobrancelha do garoto, que arfou de dor e apertou seu braço.
- Calma, não seja tão mulherzinha – a garota brincou e ele riu.
- Que porra é essa? – fez careta, fazendo a amiga rir.
- A porra que vai curar sua cara – ela respondeu, divertida.
Pressionou o remédio contra o corte enquanto xingava baixo e apertava os olhos fechados. Quando os abriu, viu que estava sorrindo.
E então lembrou porque estava bêbado, e porque deu em cima da garota errada, e porque estava ali, sangrando e gemendo feito uma bichinha. aproximou seu rosto do dele, pra observar melhor o corte, e ele tinha certeza que se ela ficasse mais trinta segundos ali, faria alguma besteira.
- Eu estou bem, – disse, rapidamente, e ela sorriu.
Não respondeu nada e então assoprou devagar o corte, fazendo-o arrepiar a nuca. Quando ia se afastar, no entanto, sentiu a respiração quente de contra seu rosto, e respirou fundo. Ele a estava olhando de forma fixa, de maneira indecifrável, e por alguns segundos, não disseram nada. Suas bocas estavam próximas demais, e por mais que soubesse que deveria se afastar, não conseguiu fazer nada. Era como se estivesse presa ali.
- Eu... – ia dizer, quando encostou o nariz no dela e um choque percorreu seu corpo.
- Shhh – ele murmurou, sentindo-se inteiramente sóbrio do nada.
Colou a boca na dela e puxou seu lábio inferior com os dentes. Segurou em sua nuca e a puxou pra ainda mais perto. Achou que fosse oferecer alguma resistência, mas quando suas línguas se tocaram, ele simplesmente esqueceu o que estava pensando. Um arrepio percorreu seu corpo dos pés à cabeça. Não sabia bem que força o estava levando a fazer isso, mas aquilo pareceu absolutamente certo. Beijavam calmamente, a princípio, mas com pouco tempo de beijo, sabia que não respondia mais por seus movimentos. Estava embriagado, não só pela vodka, mas por seu cheiro, seu gosto e pelo toque da sua pele na dele.
E, pela primeira vez na vida, teve a certeza de que não devia ter esperado tanto tempo para fazer aquilo.

Eram quatro da manhã e estava encarando o teto do quarto, com os olhos esbugalhados. O beijo que lhe dera não parava de passar em sua cabeça, como um filme, e estava lutando consigo mesma para não admitir que aquilo tinha sido uma das melhores coisas que fizera na vida.
- Ele beija bem, é óbvio. Já viu o tanto de garotas com que ele dormiu? – falou sozinha, e sua voz saiu meio alta demais no silêncio absoluto da casa.

Quatro horas antes

- , eu... – estava com o coração na garganta.
Achava que ia ter uma síncope, realmente achava. Estava arrepiada, atordoada, e só conseguia pensar em uma única e assustadora coisa: Ela queria outro beijo.
Ela queria outro beijo do seu melhor amigo.
Ele chacoalhou a cabeça, como quem acordava de um transe, depois a encarou.
- Eu... Me desculpe – ele disse simplesmente. – Ai, caralho, eu não quero que você me odeie. Você me odeia, não é? , eu...
O garoto parou de falar quando percebeu que ela estava atônita.
estava prestes a abrir a boca para falar que tinha gostado – não sabia como faria isso, mas podia jogar a culpa na única taça de vinho que tomara, quando ele encostou a testa na dela e sorriu, totalmente sem jeito.
- Me perdoa. Eu não devia ter feito isso – disse, atropelando as palavras. – Isso não vai mais acontecer, eu prometo.

End Flashback

- Bom dia – disse, vendo que esfregava os olhos ao levantar do sofá onde tinha capotado, poucos minutos depois de simplesmente lhe dar o melhor beijo que já tivera na vida.
Que merda de vida, essa, por falar nisso.
Ele corou instantaneamente.
- Bom dia – respondeu rapidamente, e sumiu em direção ao banheiro.
despencou no sofá e escondeu o rosto com as mãos. Aquilo não poderia ser desse jeito. Caramba, ele era seu melhor amigo! Os dois não podiam simplesmente ter uma relação estranha só por causa de um beijo. Ele estava bêbado! Ela se sentia uma idiota, e parecia que tinha tirado vantagem do garoto.
Muito bem, , é assim que se faz. Agarre garotos bêbados. Agarre seu melhor amigo. Não, não podia fazer isso.
Quando saiu do banheiro, os dois se encararam brevemente, e ele partiu para a cozinha. Antes que conseguisse chegar nela, no entanto, falou.
- Não podemos ficar assim, .
Ele girou os pés e respirou fundo.
Não tinha pregado os olhos a noite toda, mesmo estando completamente bêbado. Queria a todo instante correr para o quarto e agarrá-la, e dizer que tinha pensado insistentemente nela nos últimos dias, mas sabia que não podia fazer isso, porque ela não sentiria o mesmo, e ele só estragaria uma amizade de anos.
- Eu já pedi desculpas – disse, baixo, e sorriu.
- Eu sei. Eu estou dizendo assim – ela fez um gesto entre os dois. – Estranhos.
avaliou por dois instantes.
Não se podia ter tudo nessa vida. Ele não sabia direito o que sentia por , mas era tudo muito recente. Recente o suficiente para empurrar pro fundo da memória e superar. É, ele iria superar.
E daí que ela parecia mais bonita que todas as garotas juntas?
E mais engraçada? E daí que ela o entendia?
Merda, .
- Não vamos ficar – ele se aproximou dela e a abraçou.
achou que pudesse derreter ali, mas não disse nada, já que ele não disse. Quando abaixou para lhe dar um beijo na testa, seus olhares se sincronizaram novamente, por alguns segundos, e então ele deu um pulo pra trás, coçando a cabeça.
- Eu vou esquentar uns bagels pra gente – disse, rapidamente, e saiu.

- , você está maluca? – Austin reclamou quando a garota derrubou uma caneca cheia de chá no chão. – Você e o estão estranhos.
olhou para o balcão, onde era abordado por uma loira peituda que tinha virado uma cliente fiel – nos turnos de – e hoje estava subitamente a irritando.
- Ciuminho agora, ? Toma vergonha na cara, vocês não tem nada. Vocês são amigos! Você não é ciumenta! - ela pensou, depois recolheu a caneca sem alça do chão.

estava inquieta. Quarenta minutos antes, quando seu turno e o de acabara, ele disse pra ela pura e simplesmente a frase que estava lhe dando náusea, subindo à cabeça e enlouquecendo-a desde então:
- Vou tomar um drink com a Amber, pode ir.
Quem, diabos, era Amber?
Por algum acaso ele beijara Amber na noite anterior?
Foi ela que cuidou dele quando ele precisava?
Que homens são uns putos ela já sabia, mas não esperava isso de .
Pelo menos, não com ela.
- Vou pensar nisso de maneira prática – ela falou sozinha, andando de um lado pro outro na sala. – Foi só um beijo. Um erro. Ele estava bêbado, por Deus! Você estava hipnotizada. É, hipnotizada. Não foi tão bom assim. Você vai pensar nisso como ele. Não foi nada. é apenas seu amigo. Um amigo com um beijo que você jamais irá esquecer. Ai, não, porra! – ela parou de andar e deu um tapa na testa. – Vou tomar um banho e vou deixar isso pra lá.

O banho realmente tinha sido relaxante, mas, quando abriu a porta, deu de cara com sentado no sofá. Ele a olhou e imediatamente uma raiva consumiu o corpo de . Ele era um idiota, como todos os outros caras, não era?
- E aí? – ele disse despreocupadamente, jogando o controle da televisão para o lado. Ainda vestia os mesmos jeans cinza surrados, a camiseta preta e estava descalço. Ela já reparara o quanto ele era lindo diversas vezes, mas hoje essa beleza toda estava pra lá de irritante.
Não respondeu nada, apenas soltou o coque do cabelo, despreocupadamente, e partiu para a cozinha. não pareceu perceber nada.
- Pensei em pedir comida mexicana, tá com fome? – perguntou calmamente, e a garota fechou as mãos em punhos.
- Não estou – respondeu, seca, e entrou na cozinha.
Água. Precisava de água. E precisava se acalmar.
a interrompeu ainda no primeiro gole, ao aparecer na cozinha com a sobrancelha erguida.
- Aconteceu alguma coisa?
Não, ele não tinha perguntado isso.
tacou o copo na pia de mármore e ficou abismada de ele não ter quebrado.
- Como disse? – perguntou, irônica, e a encarou, confuso.
- Aconteceu alguma coisa – ele afirmou dessa vez, avaliando-a. – Foi o Edward?
- Não, não foi o Edward! – ela gritou, depois disparou pra fora da cozinha.
Tinha que ficar sozinha, estava prestes a pular no pescoço do garoto – e no sentido ruim da coisa.
Foi aí que lhe ocorreu que nunca sentira esse ódio súbito – ciúme? – por seu ex noivo. Aquilo era ridículo, namoraram por anos!
Quando alcançou a porta do quarto, percebeu que estava em seu encalço.
- Eu fiz alguma coisa? – ele perguntou simplesmente, e a garota sentiu os olhos arderem.
- ARGH! EU ODEIO VOCÊ – gritou, entrando no quarto e deixando que a porta batesse bruscamente. Por dois segundos, achou que finalmente ficaria sozinha, mas forçou caminho porta adentro quase derrubando-a.
- Você pirou? – dessa vez, ele parecia mais alterado. – Tá de TPM ou alguma merda assim?
- , sai daqui – a garota disse entre dentes, e ele continuou imóvel.
- Eu não vou sair daqui enquanto...
- Você acha que simplesmente pode BEIJAR as pessoas DO NADA, agir COMO SE NADA TIVESSE ACONTECIDO e depois SE ATRACAR COM UMA LOIRA PEITUDA NA PORRA DE UM PUB?
- ...
- Não, sai daqui – ela disse, mas não se moveu. – SAI DA MINHA FRENTE!
esmurrou o peito de , que a segurou pelos dois pulsos. Ficou muda instantaneamente, e ele segurou o olhar por pouco tempo antes de puxá-la para tão perto que suas respirações pesadas se misturaram.
Beijou-a com voracidade, como quem precisara a vida inteira daquilo. ainda tentara esmurrá-lo mesmo contra sua própria vontade, mas não conseguia pensar em mais nada. soltou uma de suas mãos e a segurou pela nuca com força, intensificando o beijo ainda mais, e depois sua outra mão se perdeu nas costas da garota, descendo até sua bunda. sorriu no meio do beijo, o que fez com que ele também o fizesse e os dois quase riram – sabiam disso – mas estavam ocupados demais pra isso. Sem desfazer o beijo, a conduziu de costas até a cama, onde a deitou menos gentilmente do que pretendia – estava arranhando suas costas e isso estava o deixando maluco. Ele apertou sua coxa e a prendeu entre suas pernas, descendo em beijos por seu pescoço. apertava sua cintura, em aprovação. Ela sorriu e mordeu o lábio quando o viu ajoelhar na cama e se livrar da camiseta.
Puta merda, que corpo era aquele? Era demais pra conseguir lidar. Deixou que ele puxasse sua camiseta e a retirasse, jogando em algum lugar do quarto e revelando o sutiã rendado e pink nada sexy que ela escolhera. Amaldiçoar-se-ia para sempre por isso.
- Isso não é sexy – ela disse, com a voz ofegante, e negou.
- É aí que você se engana – respondeu, rindo levemente, antes de voltar a beijá-la.
Desceu em beijos por sua barriga e puxou seu short jeans, revelando o par pink do sutiã. Por um momento, seu coração acelerou como o de um garoto virgem de quinze anos, quando lhe passou pela cabeça que talvez tivesse esperado fazer isso desde sempre, sem nem se dar conta. beijava seu pescoço e arranhava sua barriga, e quando ouviu seu nome sussurrado, na voz dela, teve a certeza: Ela tinha sido “o problema” a vida toda.
As peças de roupa sumiam pelo quarto, e quando finalmente nenhuma estava mais em seus corpos e tateava o criado mudo em busca de um preservativo, encostou a testa na dela e apenas se olharam, sem dizer coisa alguma.
- Tem certeza que quer fazer isso? – ele perguntou, a voz rouca, e ela sorriu. – Uma vez que a gente faça, não tem mais volta.
riu, depois o beijou levemente.
- Acho que, oficialmente – ela sussurrou em seu ouvido – acabou a amizade.
Os dois riram, e quando voltaram a se beijar, não se preocuparam.
Aquilo era o certo. Era o que queriam. E como queriam.
E era isso o que importava.

jogou uma panqueca para o ar, dançando pela cozinha, depois riu sozinho, lembrando do clipe de Accidentally In Love. estava no chuveiro e ele pensara por pelo menos duas vezes em invadir o banheiro pra sabe... Brincar na água? Riu do pensamento e da sua idiotice.
Aquela garota tinha o enfeitiçado, certeza. Não era possível que ela estivesse conseguindo em um mês o que todas as garotas de Manhattan e arredores vinham tentando há anos.
Teve a noite mais incrível de sua vida, disse isso pra ela depois da segunda vez que transaram naquela noite. Jantaram quatro da manhã, brincando como dois idiotas apaixonados no sofá. Ele odiava admitir, mas achava que estava se rendendo. E quem melhor do que pra isso?
- O que temos aqui? – ela o abraçou pelas costas e viu a pele do garoto arrepiar com seu toque na espinha.
- Panquecas com chocolate – ele respondeu e ela o virou de frente, sorrindo maliciosa.
- Pensei que fosse um cara gostoso na minha cozinha – disse, puxando os lábios inferiores de com os dentes e riu brevemente antes de beijá-lo.
Era isso. Talvez fosse a hora de ele dizer.
Acariciou seu rosto calmamente, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, e então a campainha tocou.
- Por favor, não me diga que você tem um encontro essa hora da manhã, não estou a fim de bater em ninguém – brincou, saltitando até a porta.
- Quem é? – gritou por cima do ombro, mas não obteve resposta alguma.
Ao caminhar até a porta da frente, quase deixou a frigideira cair no chão.

e Edward estavam trancados no quarto por pelo menos duas horas. jogara todas as panquecas fora, porque não conseguia fazer nada lhe descer pela garganta, e sabia que estava atrasado para o trabalho, mas simplesmente se recusava a ir. Não sem antes saber o que estava acontecendo. Não ia deixar os dois sozinhos, pensou, embora os dois estivessem trancafiados em um quarto. Xingou todas as gerações daquele playboyzinho filho de uma puta.
Que timing perfeito, não? Olha a hora que o cara ia aparecer.
Quando finalmente alguma coisa parecia que ia dar certo em sua vida, obviamente Murphy resolveu fazer alguma piadinha.
Ouviu o trinco da porta e se jogou no sofá, encarando a televisão despreocupadamente.
Quando Edward reapareceu na sala com suas roupas de grife, cabelo arrumado e chave de um carro importado em mãos, ele tinha os olhos vermelhos. Por um momento quis rir, mas depois pensou que seria muita maldade.
- Já vai? – obrigou-se a perguntar, e o rapaz assentiu.
- Já. Bom te rever, – ele disse roboticamente, e , pela milésima vez, se pegou pensando o que, diabos, e toda Greenwich viam naquele cara.
- Igualmente – não, definitivamente não.
Ouviu a porta da frente batendo e caminhou até o quarto.
estava sentada na cama, os olhos vermelhos e fixos na parede. Ele sentou do seu lado.
- Vai, rápido, me fala logo que ele te xingou novamente, ainda consigo alcançar o desgraçado na rua e dar o que ele merece – disse, divertido, mas estava gelado por dentro. sorriu, olhando pra frente.
- Ele veio aqui pedir desculpas, . Pedir desculpas pelas coisas que ele me disse aquele dia – disse simplesmente, e achou que fosse ter uma síncope.
Tentou se manter calmo e empurrou goela abaixo tudo de ruim que tinha para dizer do cara.
- E?
- Ele falou que foi um idiota, que estava muito machucado, e que descobriu que ainda me ama, e que também foi um namorado de merda todos esses anos – respirou fundo, mas não conseguiu olhar nos olhos de . – Ele veio pedir outra chance.
sentiu uma náusea repentina, apesar de não ter comido nada. Sua mente foi bombardeada com tudo o que viveu com nesse último mês, com a noite anterior e pelo quanto achava que gostava de verdade dela. Porra, ele a amava. Teria lhe dito isso se não tivesse sido interrompido por Edward.
- , fala alguma coisa – agora o encarava, aflita, e ele bagunçou o próprio cabelo, ansioso.
- O que você quer que eu diga?
- Quero que me diga pra ficar – ela disse, atropelando as palavras. - Quero que me diga que ficar aqui... Que ficar com você é o certo.
estava tremendo. Aquela era a pior situação na qual se metera nos últimos tempos. Pior ainda do que ter fugido do próprio casamento. Ela estava com medo do que ele iria dizer. Estava em pânico, na realidade. Ficaram em silêncio pelo que pareceu uma eternidade, então , que continuava olhando para a frente, suspirou.
- Eu acho que você devia ir – disse, e arregalou os olhos.
- O quê? – disse, com a voz meio alterada, procurando desesperadamente pelo olhar do garoto.
respirou fundo e virou de frente.
- Eu acho que você devia voltar pra Greenwich. Vocês... Vocês tem uma história. E eu sei que você sempre o amou – ele disse, em piloto automático e a voz séria. deixou uma lágrima escorrer.
- Você não pode estar falando sério...
Ele a beijou na testa e a aninhou em seu peito. Sentiu as lágrimas da garota e apertou os olhos, vermelhos, tentando se segurar.
- Eu sempre estarei aqui pra você, , não importa o que aconteça. Você sabe disso, não sabe?
- Sei – ela disse com a voz abafada, e então o olhou nos olhos. – Mas... E tudo o que aconteceu entre a gente? E... Ontem?
suspirou, as mãos trêmulas.
- Você acha que foi um erro? – perguntou com a voz embargada.
não respondeu absolutamente nada, e então ela saiu do quarto.

- Eu odeio você – disse, levando as malas da garota para o lado de fora.
se obrigou a sorrir, mesmo contra a imensa vontade de chorar.
- Não, você não me odeia – ela repetiu o que dissera muitos anos antes, e os dois riram.
Abraçaram-se fortemente, mas não disseram mais nada. Quando o táxi chegou lá embaixo, apenas assistiu descer as escadas e bateu a porta, as mãos trêmulas e os olhos marejados.
Era o certo a se fazer, tentou dizer mentalmente.
Mas não acreditava nisso e, pior, achou que ela ficaria.

Manhattan, quatro dias depois

- Desculpa, desculpa – chacoalhou a cabeça, bebendo outro longo gole de whisky.
Shannon estava deitada no sofá, que durante tanto tempo servira como cama para , e vestia apenas sua lingerie sexy e vermelha. Estava confuso e com imagens demais na cabeça.
- É pra eu começar a achar que é pessoal? – a garota riu, acariciando seu braço.
- De forma alguma, é que... Esses dias têm sido meio complicados pra mim – respondeu, sincero, e Shannon sorriu.
- Posso adivinhar? Tem algo a ver com a sua ex roomate que estava chorando aquele dia, certo? – apenas assentiu olhando para o nada, e a garota riu, sentando de perna de índio no sofá e pegando uma taça de vinho. – Vai. Desabafa.
- O que? – a encarou, rindo, e ela sorriu.
- Você não tá precisando de alguém pra transar com você, e sim alguém pra te escutar. Vai, fala.
contou a história toda – ¬a princípio, meio relutante – e Shannon o escutou atentamente, rindo nas partes engraçadas e fazendo comentários sempre. Aquela era uma garota ótima, era bem verdade. Bonita, sexy, inteligente, ainda sabia escutar. Mas não conseguia tirar a cabeça do lugar errado, e isso o estava matando. Quando terminou de falar, Shannon suspirou audivelmente.
- Posso dar minha opinião sincera?
- Deve.
A garota pegou a camiseta de que estava largada no chão e depois futricou em sua própria bolsa, tirando a chave do carro, e tacou tudo em cima dele.
- Vai logo pra Greenwich e se declara pra essa menina – ela disse, sorrindo, e arregalou os olhos.
- O que? – perguntou alto, e Shannon riu. – Mas... E a gente?
- Não tem “a gente”, – ela fez aspas com os dedos. – Nunca vai ter espaço pra mim nessa história. E eu também não queria espaço algum nela – Shannon sorriu. – Você ama essa garota. Ela te ama. E você não pode deixar que nenhum playboyzinho filho da puta roube-a de você.
continuou a encarando, atônito.
- Anda logo, quer que eu me arrependa de emprestar o carro e pegar esse metrô nojento? – disse e riu, depois lhe deu um selinho.
- Sabia que você é perfeita? E se não fosse...
- Eu sei, eu sei – ela riu. – Agora anda logo. E depois me arruma o telefone de um amigo seu bem gato e bem menos problemático, por favor.

Quando passou a entrada de Greenwich, sentiu um arrepio duplo na espinha. Estava em pânico de se declarar para , mas aquela cidade o deixava nervoso. Sabia que estava tendo um casamento naquele sábado – sempre tinha um casamento – do goleiro do time de futebol do seu colegial com uma, pasmem, campeã de matemática da escola.
As coisas realmente se acertam nessa vida, não?
Sabia que não devia invadir o casamento alheio de jeans e camiseta, mas era o que tinha pra hoje. Já estava anoitecendo e provavelmente chegaria à festa, o que era melhor, porque poderia se misturar entre as pessoas.
Estacionou o carro de Shannon num gramado lotado de outros carros e correu para dentro, avistando a festa ao longe. Tinha memorizado e passado em sua mente o que ia dizer por horas, mas sabia que ia esquecer. Estava com as mãos suando. Ao se misturar no meio das pessoas, acabou despertando alguns olhares, mas não estava ligando pra isso. Sentiu alguém o segurar pelo braço.
- ! – Savannah disse, rindo, com uma taça de champagne na mão. Seu antigo “eu” diria que ela estava gostosa, e estava, mas seu atual eu não estava se importando com isso. – Black tie era opcional, mas nem tanto – ela brincou.
- Eu vim... Correndo – disse automaticamente, olhando ao redor e procurando por . Savannah acompanhou seu olhar.
- Procurando minha irmã? – perguntou, sorrindo de maneira desafiadora, e ele sentiu o rosto esquentar. Savannah não esperou que respondesse. – Porra, até que enfim! – disse, um pouco alto demais, e depois riu. – Ela estava perto da banda. E boa sorte.
sorriu e passou entre as pessoas, os pensamentos de rever os amigos do colégio e sua família afastados em sua mente. Quando avistou-a, de costas, com um vestido nude curto e os cabelos meio presos, quase correu para o outro lado, em pânico.
Como se sentisse sua presença, olhou por cima do ombro, e arregalou os olhos, derrubando a taça no chão.
Era a hora.
- ! – ela disse, assustada, e ele sorriu largamente. Ela estava maravilhosa e ele notou que a pele da garota estava arrepiada, o que era um bom sinal – de frio, talvez, mas preferiu pensar que era por culpa dele.
- Posso falar com você? – disse, baixo demais, mas por um milagre ela o escutou.
Puxou-o pela mão para perto do lago, e sua mão estava gelada na dele.
- Aconteceu alguma coisa? – ela perguntou.
- Aconteceu.
- Fala logo! – ela disse, com um tom de voz preocupado, e sorriu.
- Aconteceu que eu sou um idiota – ele disse. – Eu acabei de deixar uma garota potencialmente perfeita em casa e estou aqui, como um idiota de quinze anos tremendo feito um babaca na sua frente, só porque ela não é você.
sorriu de canto, sentindo um arrepio na espinha.
- O quê? – perguntou, tentando conter o sorriso.
- Eu nunca devia ter deixado você vir embora, . – ele segurou suas mãos, aproximando seus rostos. – Eu fui um puta de um covarde. E eu imaginei que você fosse querer ficar, mas você veio mesmo.
- ...
- Espera. Eu sei que você e o Edward tem uma história imensa. Sei que ele ama você, do jeito tosco dele, e sei que talvez eu tenha te jogado nos braços dele, mas também sei que tudo o que aconteceu nos últimos dias não foi ilusão da minha cabeça.
olhou para os pés, chacoalhando a cabeça.
- Então por que você fez parecer que sim?
- Porque eu sei que você merece muito mais do que um apartamento de um quarto perdido em Manhattan. Merece mais do que um barman sem perspectiva de vida alguma. Merece mais do que ser garçonete pra pagar as contas – sorriu, envergonhado quando a garota o olhou subitamente. – Eu não sou um Edward Beuchamp da vida. Mas se você quiser, eu posso arrumar um emprego das nove às cinco e a gente pode parcelar uma viagem pra Paris – ele riu e a garota o acompanhou. – Eu sei que nós temos uma história também, mas não estou feliz com o final dela. É ridículo, eu sei, mas nós somos... Perfeitos juntos. E eu não consigo me ver com mais ninguém depois que cheguei a essa conclusão.
deixou que uma lágrima escapasse e sorriu, tentando controlar as malditas borboletas no estômago.
- Você não podia ter me jogado nos braços do Ed, já que eu lhe disse que seríamos apenas bons amigos ainda na sua casa – disse, e notou um pouco de surpresa no olhar de - E eu nunca quis que você fosse um Edward Beuchamp da vida, . Se você fosse, não teria absolutamente graça alguma – disse, e o garoto sorriu de verdade pela primeira vez naquele dia.
- Nós devíamos ficar juntos, sabe? – se aproximou, tocando o braço da garota. – Nós somos fodas demais para sermos desperdiçados com outras pessoas – ele riu da cara que a garota fez. – Eu quero ficar com você, . De verdade. E só com você.
achou que talvez fosse desmaiar, encarando o garoto que estivera ao seu lado a vida inteira. Ele fora seu porto seguro, ele a fez rir e enxugou suas lágrimas, e ele estava fazendo seu coração bater descompassado há dias.
- Eu pensei que você só tivesse casos... – ela arqueou a sobrancelha, e riu.
- Eu posso ser o seu caso – sorriu, malicioso. – Mas também posso ser o seu namorado. Eu posso ser tudo o que você quiser. Porque eu amo você.
achara a vida inteira que dizer aquelas três palavras seria impossível. Mas quando abriu o sorriso mais lindo que já vira na vida e depois pulou em cima dele, colando suas bocas e sorrindo no beijo, soube que estava certo. Não era exatamente uma questão de como dizer.
Era só dizer para a pessoa certa.



- Hey, você ligou para o .
- Outch! Hey, você ligou para o e para a . No momento não podemos atender porque estamos mochilando pela Europa. Ficaremos perdidos no mundo dormindo em motéis até que todas as nossas economias acabem, o que não deve demorar muito, então não tentem nos procurar até lá.
- Caso você seja uma garota e esteja ligando para o , estamos encaminhando essa ligação para o número 339 627 1245. Anotou? Esse é o número do Zach, ele é muito bonitinho e sair com ele não vai fazer com que eu arranque seus cabelos fora. Isso mesmo.
- Ah, e essa é pra você, Capitão Meyer: juramos que dessa vez não fomos nós que fizemos com que o alarme de incêndio fosse acionado. Estamos na Europa, então isso não seria fisicamente possível, mas se o senhor quiser, pode vir checar. E, por favor, pare de nos mandar cartas. Nós já aprendemos a cozinhar com segurança, e prometemos que não esqueceremos nenhuma panela no fogo enquanto... Bem... Você sabe. Achamos muito legal da sua parte oferecer um curso de cozinha defensiva no Corpo de Bombeiros em nossa homenagem. Pode esperar que assim que voltarmos pra Nova York, damos uma passadinha aí. Agora, se me der licença, vamos aproveitar os últimos momentos antes da viagem em nosso sofá.
- E na cama.
- Você ouviu. Deixe seu recado após o bipe e seja feliz. Nós estamos sendo.

FIM


Nota da Autora: Interrompemos essa programação para um pronunciamento oficial da autora: Alguém já viu uma SHORTFIC com TRINTA E UMA PÁGINAS? HAHAHAHAHA Ai, me desculpem por isso! Poxa, que saudade de escrever pra vocês, docinhos <3 Estou até com medo de ter perdido o jeito para a coisa, e me perdoem por ter escrito a fic mais clichê da história do site, mas eu realmente não consegui pensar em nada altamente criativo. Vocês me perdoam, né? Afinal, vem cá, esse guy não é uma coisa fofa de Deus? HAHAHAHAHA Muito sexy e querido. Gostei dele. E pra quem não sabe, “Be Your Everything” é uma música LINDA do Boys Like Girls que super vale ouvir :) E bom, vou ficar quietinha e deixar que vocês leiam e comentem bastante pra eu ficar super feliz, tá? Quero saber o que vocês acharam! E agora que entreguei essa bebê aqui, voltarei com as atts finalmente, prometo! (: Ah, e um obrigada final as minhas amigas lindas que leram e deram opiniões e amaram o guy comigo, e também a minha beta linda e mais fofa do universo: Isa, desculpe pelas 31 páginas, você quem quis betar a fic, a culpa é sua! Q AHAHAHHAHA E agradeço também a linda da Emme/Amy/Maureen pela capa linda (por todas! Nunca demorei tanto pra escolher a capa! LOL¬) É isso... Beijos, suas lindas, e até breve <3

Outras fics da autora:
- Summertime (McFly/Finalizadas)
- Beautiful, Dirty, Rich! (Restritas/Em Andamento)
- Take Me Away (McFly/Em Adamento)
- One Night Only (Especiais de Natal)
- Never Gonna Be Alone (Especiais de Natal)
- Amor Em Jogo (Vencedora do Challenge 5 – Futebol)

Nota da Beta: Que coisa mais amada essa short (long) da Cah. Sou meio suspeita porque a Cahzinha é muito minha diva linda e eu amo tudo que ela escreve, mas se amo é porque realmente é tudo muito bom.
Enfim, quanto a essa fic: estou EXTREMAMENTE apaixonada pelo guy! Vou te bater, Camila, espera eu chegar a São Paulo... Agora vou ficar morrendo de vontade de ter um desses e ficar só na vontade mesmo! HAHAHAHA Linda, linda, linda demais! Amei! Ah, e obrigada por me deixar ser sua beta. É uma honra! <3
Ps.: Van, obrigada por me ajudar a betar, já que eu tinha pouco tempo e muitas páginas (mesmo amando, o tempo não permitia betar tudo)!
Ps².: Leitoras, comentem e façam a Cah feliz, que aí ela escreve mais fics maravilhosas pra gente!
xx

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