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Prólogo
Monólogo


Juntar os pedaços de meu coração. Era essa a tarefa que eu agora tinha. Meus dias, contados ou não, seriam como enfrentar o deserto com roupas de inverno, ou talvez uma nevasca com roupas de verão. Eu não podia cair agora.
Não agora.
Olhei para a bela pulseira dourada com lágrimas nos olhos. A dor... tão grande...
Havia uma ferida que sangrava. Sangrava amor, vida e mentiras.
Sangrava amor por aquele que me deu as costas em meio à batalha. Por aquele que me deixara para trás, sozinha e desamparada.
Sangrava vida, pois minha vitalidade nunca fora tão perfeita. Nunca esbanjei tanta vida. Eu tinha uma tarefa e a resistência necessária para completá-la. Pelo menos fisicamente.
Sangrava mentiras que eu contava para mim mesma. Nada ia ficar bem. Ele não ia voltar.
Para que fechar os olhos se não consigo dormir? Para que chorar se minhas lágrimas não o trarão de volta? Para que lamentar se isso não irá resolver nada?
Eu não posso estar inteira, mas posso fingir. Posso criar uma nova face, posso me esconder.
Então é isso o que farei. Mas não posso esconder meu desejo de sobreviver para vislumbrar aqueles olhos uma vez mais.


Capítulo 1
Minha última despedida?


Agosto. Mais uma vez agosto. Faltava pouco para as aulas retomarem seu curso em Hogwarts, e eu ainda estava em casa, sem saber o que fazer.
Tornara-se algo comum eu sair para caminhar sozinha pelas ruas, assim como eu fazia nos corredores da escola. Aquele ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts me mudara profundamente. Meu hábito apenas tornou-se mais intenso depois de uma carta que recebi, através do correio bruxo, por meio de corujas. Era uma carta de Minerva McGonagall.

—x—


,

Escrevi-lhe à pedido de Dumbledore. Ele pediu-me que lhe enviasse o documento anexo, mas não faço a mínima ideia do que possa ser.

Conte comigo para o que for necessário,
Minerva McGonagall.


—x—

McGonagall sabia o quanto tudo estava sendo difícil para mim, e certamente este fora o motivo do "conte comigo para o que for necessário". Eu senti uma afeição ainda maior por ela.
Dumbledore enviara uma certidão de nascimento que alegava que eu era sua neta. Juntamente, havia uma carta, que explicava que aquele documento era a maneira mais viável para que eu retornasse à Hogwarts, e que era crucial que eu voltasse. Era um documento falso, porém só eu podia saber disso. E isso era o pior: ter que guardar sozinha um segredo como este.

Como de costume, fui dar uma volta pelo quarteirão. Havia uma praça ali perto, e eu gostava de ir até lá para caminhar a esmo, sem direção, tomar um pouco de ar e luz solar. Certamente nunca esperava ver o que vi; não ali, tão distante daquele mundo. Não ali, onde nada parecia real.
— Olá, .
Parei imediatamente, me virando, incrédula. Não conseguia acreditar.
— Draco?
Draco Malfoy, no Brasil? Atrás de mim? Como é?
Rapidamente, procurei por minha varinha, mas eu a deixara em casa.
Merda, pensei.
— O que você quer? – perguntei. – O que te fez vir até o Brasil?
— Eu... preciso de sua ajuda – disse.
Mentira. Ele está armando alguma coisa para cima de mim.
— Hm. Fale o que houve.
— O... Você-Sabe-Quem, ele... , você disse que podia me ajudar. Eu... preciso disso agora.
— Claro que precisa. Não deve ser nada agradável dividir sua casa com um bando de bruxos sádicos.
— O que você disse, sangue ruim? – perguntou Lestrange, desfazendo o Feitiço da Desilusão. – Como soube disto?
Eu sabia. Perfeito.
Atrás de Lestrange e Draco, surgirem mais quinze Comensais. Sim, eu contei.
— Precisa de ajuda, Draco? – eu disse, com repulsa. – Você irá se arrepender disto, eu prometo.
Eu precisava fugir, o quanto antes melhor. E só tinha uma saída.
Bombarda Maxima!
O som da explosão foi alto, mas foi simples, como o de um bruxo comum com sua varinha comum. Comigo não devia ser assim. Eu era incomum, capaz de fazer feitiços que os outros não podiam sem a varinha. Mas com minha varinha, eu tinha o dobro do poder.
Ou seja, eu tinha as mesmas chances que Harry Potter teria para escapar daquilo. Ou talvez ele tivesse mais chances que eu – nunca enfrentei basiliscos e afins.
Aparatei até minha casa, sem pensar duas vezes, mas já era tarde demais. Draco certamente me espionara nos últimos dias, pois eles já estavam lá quando cheguei. E Bellatrix segurava minha mãe, varinha na jugular dela.
— Não! – gritei. – Não, Lestrange, por favor, não! Eu faço o que quiser, mas não os envolva nisto!
Lestrange sorriu; era um sorriso debochado.
Eu dei um passo e ela apertou a varinha no pescoço de minha mãe.
— Melhor ficar quieta se quer que a Sra. sobreviva, .
— Não faça nada – pedi. – Por favor.
— Infelizmente, querida, este não é seu dia de sorte. – Bellatrix sorria como se o Natal tivesse sido antecipado e ela visse o presente que mais desejara. – Tenho minhas ordens.
E então ela gargalhou, ao mesmo tempo em que uma luz verde e forte saía de sua varinha em direção à minha mãe. E depois, ela estava no chão, os olhos arregalados de pavor vazios.
Estava morta.
— SUA VACA! – gritei, ao mesmo tempo em que saltava para cima dela e metia-lhe um soco no rosto. Foi um erro. Eu devia tê-la matado enquanto tive chance, pois antes mesmo de cair ao chão, minha casa estava em chamas; eu devia me lembrar bem que não se brinca com Bellatrix Lestrange. Era Fogo Maldito. Eu jamais poderia passar por ele; não aprendera ainda como lidar com aquilo.
— Não vai salvar o Sr. e a cadelinha... como é mesmo o nome dela? Mel? – Bellatrix mantinha o mesmo tom debochado, porém agora mais anasalado devido ao soco que levara no nariz.
— NÃO! – gritei, enquanto tentava passar pela enorme serpente de fogo, que me atacou e mordeu meu braço. Não desisti. Levei várias mordidas de outras criaturas de fogo enquanto tentava milhares de feitiços que eu sabia; até tentar passar por sobre o fogo usando levitação eu tentei, mas é claro que os monstros de fogo não me deixaram passar. Em poucos minutos, a casa explodiu pelos ares.
— NÃO! – Eu continuava a gritar, mas era tarde demais.
Minha família estava morta.
Tremendo de ódio e dor, com o cabelo destroçado pelas chamas do Fogo Maldito que ainda queimavam os restos daquilo que há minutos fora meu lar, as vestes destroçadas e o corpo ensanguentado, virei-me para Draco, Bellatrix e as outras quinze figuras encapuzadas. Não iria perder tanto sem levar muitos comigo.
— Accio Varinha! – Evoquei minha varinha e ela surgiu dos escombros, completamente intacta. De repente, lembrei-me de algo que eu não podia deixar para trás de modo algum. – Accio Documento! – A certidão de nascimento falsa veio parar em minha mão, parcialmente queimada. Lestrange ria descontroladamente, de modo similar àquele a atriz Helena Bonham Carter, que fez no filme Harry Potter e a Ordem da Fênix depois de matar Sirius Black, só que ainda mais detestável e revoltante. – Sectumsempra! – No ar, agitei a varinha de um lado para o outro, e, de uma vez, feri profundamente quatro dos Comensais que ali estavam. Eu precisava agradecer Snape por esse feitiço; era realmente útil. Eles sangravam descontroladamente, com cortes horrendos.
Agora faltava derrubar mais onze deles.
Travamos uma batalha injusta e sangrenta, onde eu machuquei muitos deles. De um modo doentio, aquilo me acalmava e me dava conforto. Alguém estava pagando pelo que Bellatrix fizera aos meus pais. Mas quem deveria pagar não o fez. Assim sendo, com os quinze Comensais no chão, machucados, uns até inconscientes, encarei Bellatrix. Draco, vi pela visão periférica, me olhava como se eu fosse Jacob Black e tivesse acabado de me transformar num monstro na frente dele.
— Você vai me pagar pelo que fez, Bellatrix Rosier Black Lestrange. – Isso só fez com que gargalhasse mais alto.
— Acredito que hoje não, sujeitinha de sangue ruim imunda! Crucio!
Fui pega de surpresa, e caí ao chão, completamente desnorteada e sentindo aquela dor excruciante. Lestrange se aproximou, varinha à postos, rindo.
— Vamos embora, tia – disse Draco. Parecia agitado, pelo tom de sua voz.
— Assim que eu terminar com ela, querido.
— Mas... era só para... – balbuciou ele. – Não era para fazer nada a ela, tia.
— Você vai me pagar, Malfoy – eu disse, olhando-o nos olhos. – Vou me vingar por ter feito isso comigo.
E antes que pudessem fazer algo, desapareci no ar. Meu rumo? A Toca, é claro.

Quando desaparatei, caí de costas numa superfície plana (o chão, provavelmente), tonta e sem forças. Todo o meu corpo doía demais.
? – Quem me chamou foi Harry, mas várias vozes lhe fizeram coro.
Abri meus olhos, mas a visão era turva. Pela quantidade de pessoas que vi e a claridade do céu, deduzi que eu tinha "invadido" a festa de Harry. A festa a qual me esqueci de ir. Antes tivesse ido; minha família estaria viva.
— Harry...
— Ela se estrunchou – ouvi Hermione dizer.
— Vou cuidar disso. – Essa certamente era a voz da Sra. Weasley.
— O que houve? – perguntou Harry, segurando minhas mãos.
— Comensais... Quinze Comensais... Draco... Bellatrix... – Eu não conseguia falar direito. Caí no choro.
— Ela precisa ir para um quarto – disse Sra. Weasley, num tom urgente.
— Eu levo – disse Fred.
Ele me pegou em seus braços e eu me vi gritando de dor e chorando ao mesmo tempo. Quando minha cabeça tombou no travesseiro, adormeci quase que imediatamente. Tive diversos pesadelos diferentes, mas todos envolviam quem eu perdi e os culpados da perda.

Era noite quando despertei. Ainda sentia dores no corpo. Alguém certamente me limpara, pois lembrava-me de estar muito suja graças aos destroços de minha casa. Meus machucados eram horríveis.
Minha casa, minha família. Destruídas.
Levantei e me olhei no espelho que ali havia, pendendo na parede. Eu estava num vestido que ia até pouco acima dos joelhos, e que era lilás. Não era meu. A maior parte de meu cabelo era um caso perdido; destroçado e chamuscado. Usando a varinha, cortei-o até estar bem curto. Ficou um Chanel, mas deixei duas mechas na frente um pouco maiores. Era como um corte em V invertido, por assim dizer.
Eu odiava cabelos curtos.
Desci as escadas e me deparei com uma sala cheia. Era hora de responder perguntas e mentir.
! – Hermione veio para meu lado.
— Mione – murmurei, abraçando-a. Logo Harry, Rony e Fred vieram me abraçar também.
— Agora pode nos contar o que houve? – perguntou Gina, abraçando-me.
— Aham – murmurei.
Eles se sentaram e eu fiz o mesmo, sentando numa cadeira disponível. Encarei os Weasley e meus amigos.
— Draco Malfoy foi me procurar – comecei. – Eu não estava em casa. Ele levou Bellatrix Lestrange e mais quinze Comensais.
Todos arfaram.
— Quando eu o encontrar... Ele vai se arrepender de ter nascido. Vou torturá-lo até a morte.
Eu tremia de ódio e uma lágrima me escapou, seguida de outras. Fred parecia deprimido.
... acredito que isso não irá resolver nada – disse Hermione. - Entendemos que foi um risco enorme, mas você está bem. Já passou.
— Você não entende! – Eu estava gritando. – Lestrange matou minha mãe com a Maldição da Morte na minha frente. Eu pude VER o pânico nos olhos dela enquanto aquela filha da puta lhe tirava a vida! E, como se não bastasse, ateou Fogo Maldito à minha casa e meu pai estava lá! Tudo por culpa dele!
Ninguém disse nada.
— Ele fez com você o mesmo que Pettigrew fez com meus pais – disse Harry, com a voz rouca.
— Ele disse que precisava de ajuda, e depois ficou olhando enquanto a tia destruía minha família. Ele ficou parado quando ela ia me matar.
— O que aconteceu foi horrível, mas você não deve querer vingança – disse o Sr. Weasley.
Era hora de mentir. Precisava fazer isso.
— O que Dumbledore iria pensar se soubesse que nem capaz de proteger seu filho eu fui?
— O quê? – perguntou Rony, chocado.
— Não sou nascida trouxa – eu disse, invocando minha certidão de nascimento falsa. – Veja.
Harry tomou-a de mim, e leu. Depois, disse:
— Dumbledore. Dumbledore.
Choque. Basicamente isto.
— Por que escondeu isto de nós? – perguntou Harry. Parecia traído. – Por que nunca disse que seu pai era bruxo, e ainda por cima filho de Dumbledore?
— Dumbledore se casou algum dia? – Rony parecia ofensivamente chocado.
— Eu e Dumbledore combinamos que passar por uma simples nascida trouxa seria mais seguro, uma vez que ninguém sabia que ele havia sido pai. Essa descoberta ia causar alvoroço, colocando toda a atenção dos bruxos sobre a neta de Dumbledore, um dos maiores magos de todos os tempos, pai de um bruxo abortado. Meus pais não esperavam que eu tivesse poderes; cresci como uma garota trouxa comum, porém à par de tudo no mundo bruxo. Dumbledore ficou chocado quando eu demonstrei meus poderes pela primeira vez. Eu era... muito pequena. Quase matei meus pais. E agora estão mortos, e a culpa é minha. Eles só tentavam me proteger... mas... eu devia protegê-los, e...
— Não é assim, – disse Gui. – Não pense isso.
— O que aconteceu non foe sua culpa, querrida. – Me surpreendeu ver Fleur dizendo isso.
Suspirei.
— Bem, não importa. Não posso mudar o que houve.
— Oh, querida. – Sra. Weasley me agarrou num abraço apertado. – Pode contar conosco. Vamos cuidar de você.
— E agora? Como serão as coisas? – perguntou Rony.
— Vou voltar para Hogwarts, como eu disse no ano passado – eu disse. – Desculpe mais uma vez, Harry... Dumbledore deixou bem claras as consequências de eu ir com vocês.
— Nós entendemos, – disse Harry. – Lamento pelo que houve.
Harry me puxou para um abraço reconfortante. Eu escondi meu rosto, chorando silenciosamente enquanto o apertava.
— Sei bem como se sente – disse Harry, ao meu ouvido.
— Ele... eu confiava nele, Harry. Eu o amava.
— Isso deve tronar tudo muito pior.
— Aham.
Seria difícil eu conseguir superar aquilo. Eu precisava de uma dose de vingança.


Capítulo 2
A Nova Hogwarts


Exatamente como no livro, houve o casamento de Gui e Fleur. E, também como no livro, o lado das trevas dominou Hogwarts, o ministério e, assim, o mundo bruxo. Harry, Rony e Hermione fugiram e eu fiquei para lutar.
Isso aliviou um pouco a dor, mas só momentaneamente.
Estávamos na véspera do retorno à escola. Fred e George trabalhavam, assim como os outros da casa, e ficávamos somente eu e Gina. Nós ficamos bastante próximas durantes estes tempos.
— Como acha que será lá na escola agora? – perguntou Gina, numa tarde de tédio no verão britânico. Na verdade, o nosso último dia de férias de verão.
— Um verdadeiro inferno. Sabe, teremos aulas de Artes das Trevas com Comensais.
— Hunf – fez Gina.
— Eu queria não ter que ir – murmurei. – Mas não tenho escolha.
Gina me abraçou.
— Vou ajudar você – prometeu. – No que precisar.
— Obrigada, Gina.

No dia seguinte, fomos para a estação King's Cross para retornar à escola. Sr. e Sra. Weasley pareciam preocupados demais comigo. Tratavam-me como se eu fosse filha deles, e aquilo era um novo alívio para minha dor.
— Venha ficar conosco nas férias de natal, querida – pediu Sra. Weasley.
— Obrigada por me convidar. – Eu sorri. – De verdade.
— Cuide-se. – Ela me beijou na face e adentrei o trem.
Foi uma longa viagem, aquela.
Quando finalmente desembarcamos, eu estava afastada de Gina – graças a Deus; nem gosto de imaginar o que podia ter-lhe acontecido – e fui barrada por Comensais. É claro que eu não ia entrar tão facilmente em Hogwarts.
— Você é uma das nascidas trouxas mais procuradas do país – disse ele. Com certeza me conhecia, decido à convicção de suas palavras.
— Sou sangue puro – eu disse. – E isso facilmente pode ser confirmado.
— O que faremos? – perguntou o mais robusto dos três.
— Veremos com Severus – disse o mais esguio.
Com isso, me arrastaram até o castelo à pé.
É, parece que eu jamais chegarei no horário certo no primeiro dia de aulas do ano em Hogwarts.
A caminhada foi bastante longa. Chegamos ao castelo e percebi que já estavam todos reunidos no Salão Principal. As portas se abriram e o silêncio reinou. Era como uma reprise barata do que acontecera há exatamente um ano.
— Diretor, temos uma sangue ruim no castelo – disse o filho de uma mãe que me segurava pelos cabelos, como se eu fosse um saco de batatas.
— Eu já lhe disse que sou sangue puro! – bradei, empurrando-o e fazendo com que ele me largasse.
— Não, você é uma sangue ruim! – Reconheci a voz fanha de Pansy Parkinson.
Vadia.
Ela se levantou da mesa da Sonserina e veio até onde eu estava.
— Todos sabemos que você é uma sangue ruim. Você mesma disse isso quando chegou, no ano passado.
— Aham, exato. – Fiquei bem próxima a ela. – Manipulei a todos para esconder a verdade.
— E qual seria a verdade? – Era Snape quem falava comigo agora. – O que você pode ter escondido de todos nós?
— Me admira muito que você não saiba, Professor Snape. – Escarneci do título. – Na verdade, surpreende-me que nenhum dos novos professores e funcionários de Hogwarts não saibam. Qualquer Comensal que se preze devia saber disso, para ser mais verdadeira.
Todos esperavam que eu acabasse com o suspense e fosse mais clara.
— Acredito que tenha chegado ao conhecimento de vocês que meus pais foram mortos – eu disse. – Bom, acredito que ninguém saiba disso, mas meu pai não era trouxa. Era um aborto. E era filho de Dumbledore.
Pareceu que cada ser vivo dentro daquele salão arfou ao mesmo tempo.
— Dumbledore? Seu pai trouxa filho de Dumbledore! – Snape parecia a ponto de cair no riso.
— Aborto, não trouxa. Minha mãe também era uma bruxa abortada. Conheceram-se no Brasil, casaram-se e lá passaram a viver entre os trouxas, pois era menos humilhante que caminhar entre bruxos e não poder fazer o que fazemos. – Incrível como as mentiras pareciam reais. Eu mesma estava quase acreditando.
Mentira.
Fechei os olhos e virei em direção à entrada do Salão, pensando "Accio Certidão". O documento surgiu quase que imediatamente e voou para minha mão.
— Tenho provas – eu disse. – O senhor pode muito bem mandar uma coruja ao ministério e confirmar se é verdadeira.
Enquanto Snape ponderava, observei atentamente a mesa dos professores. Mcgonagall e Slughorn me encaravam em evidente choque, esperando o momento em que eu seria pega na mentira. Gina me encarava ao lado de Luna e Neville.
— Hm, enquanto não confirmamos, junte-se à nós, Srtª. Dumbledore. E menos 70 pontos para Grifinória pelo atraso.
Com um olhar atento a Snape, notei que ele parecia temer por mim. Convenhamos, todos sabíamos que ele sempre fora fiel a Alvo Dumbledore, e se ele estava ali, como diretor, era por conta de uma promessa a ele. Se ele ainda era Comensal era por esse mesmo motivo, pois ele nunca voltaria a ser leal a alguém como Voldemort, não depois de tudo que ele fez a Snape.
O professor parecia estar usando Legilimência¹ para entrar em minha mente e descobrir a verdade. Enquanto fingia não perceber isso, deixei que ele visse a verdade. Eu confiava nele, e fiz questão, repentinamente, de deixar isso claro para ele. Não sabia se ele também via pensamentos além de lembranças e sentimentos, pois nunca usei Legilimência, mas quis tentar.
Confio em você, Snape. Assim como Dumbledore. Não me decepcione.
Ele pareceu extremamente intrigado, e isso me deixou claro que ele ouvira e sentira aquilo. Ele sabia que eu realmente confiava nele.
Virei, encaminhando-me para a mesa da Grifinória, ou pelo menos tentando.
— Não, não, não, Srtª. Dumbledore. – Ele sempre escarnecia do título. – A senhorita não pertence mais à Grifinória.
— Eu sou da Grifinória – eu disse.
— Eu digo que a senhorita é da Sonserina.
— Ela é minha aluna, Severus. – Mcgonagall se fez ouvir. Fiquei levemente em choque ao vê-la tomar partido para me defender.
— Não é mais – disse Snape, com um sorriso sínico.
— Mas...
— Não, professora – eu disse. – Isso não é problema.
Snape apontou a varinha para mim e tudo que era vermelho e dourado se tornou verde e prateado. O leão tornou-se uma cobra. Encarei Snape e cada um de seus colegas com cara de poucos amigos e uma vontade imensa de xingá-los de todos os palavrões que existem. Passei a mão pelos cabelos curtos e fui para o único espaço na mesa da Sonserina. Só depois de sentar foi que notei de quem eu estava perto. Draco Malfoy estava à minha frente.
Minha sorte é tão boa. Alguém tem um pouco de Felix Felicis aí? Eu agradeceria imensamente.
Ao meu lado, uma menina aparentemente do primeiro ano estava prestes a chorar. Quando seu olhar encontrou o meu, ela gritou e se levantou, saindo de perto de mim. Eu bufei. Todos ainda me encaravam.
— Qual é o problema de vocês? – perguntei, completamente irritada. – Perderam algo aqui?
Eu falava isso com as pessoas perto de mim. Elas, por sua vez, desviaram os olhares; algumas pessoas pareciam assustadas.
— Hunf – bufei outra vez.
O banquete começou, mas eu não toquei em nada. Passei todo o tempo encarando minhas mãos sobre a mesa para não correr o risco de socar Malfoy ali, naquele momento.
— Hey, – ouvi Pansy chamar. – Qual é, , não espera mesmo que eu a chame de Dumbledore, espera?
— O que você quer? – perguntei.
— Aquela história de ser uma Dumbledore é mentira, né? Seus pais eram trouxas, não eram?
Inclinei-me por sobre a mesa, olhando dentro dos olhos daquela cretina.
— Você acredita mesmo que eu viria aqui se fosse mentira? Sério? Com os tempos em que estamos? – Sorri maldosamente. – Você é muito burra. Se for mentira, Pansy, você me verá indo à Azkaban logo, logo. Acha mesmo que eu correria tal risco?
Ela não disse nada. É claro que eu correria o risco. Eu estava correndo o risco em questão. As pessoas por perto observavam – incluindo Malfoy.
— Aham, acho. Você é uma aberração louca.
Acho que as duas últimas afirmações dela eram válidas.
Semicerrei os olhos e voltei a encarar minhas mãos.
— Aliás, por que mataram seus pais?
— Aqueles malditos os mataram porque são um bando de desocupados. E se você perguntar mais uma coisa, juro que vou fazê-la se arrepender.
Pela expressão que fez, eu pude jurar que ela me levara a sério.
Fomos liberados. Tive que acompanhar aquela Comensal da Morte, a Aleto Carrow, que me guiou até as masmorras.
Como se eu não soubesse, graças aos livros de J. K. Rowling, a localização da Sala Comunal Sonserina.
A senha era Malevolência. Adentrei o salão comunal bem... sonserino, se é que me faço entender. Aquilo me dava náuseas.
As meninas foram praticamente todas para seus dormitórios. Fiquei ali no salão mesmo; sentei-me ao lado de uma garota que provavelmente era do primeiro ano, bem pequena, que estava de frente para a lareira. A garota, ao me ver, correu para longe com um pequeno grito agudo.
— Mas qual é o problema dessas meninas? – perguntei à meia voz para ninguém em particular.
— Jura que não sabe? – Virei-me para ver a menina pálida de cabelos escuros e olhos claros. Seu nome era Amelia; tivemos poções juntas no ano anterior.
— Juro – eu disse. – Não faço ideia.
Ela remexeu a bolsa em cor verde sobre suas pernas. Tirou de lá um exemplar d'O Profeta Diário.
— Tome. – Ela o entregou a mim.

Sangues Ruins - A escória do mundo bruxo.

Mais uma prova de que os nascidos trouxa são uma ameaça à comunidade bruxa.

, 17 anos, nascida trouxa recém chegada à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, mostrou-se uma jovem conturbada e de comportamento preocupante. Sua família trouxa foi brutalmente assassinada no Brasil, América do Sul, onde residiam. Testemunhas afirmam que não havia ninguém próximo à casa com magia além dela. As mesmas testemunhas afirmam que ela parece perigosamente desequilibrada e com comportamento anti-trouxa. Diz ainda:
— Ela é anormal e isso a torna ainda mais perigosa. Os que estão em Hogwarts certamente já viram que ela é capaz de
muita coisa. Recuso-me a mostrar minha identidade com medo do que ela fará a mim se descobrir. Se ela é capaz de acabar com os pais trouxas, o que seria de minha família e de mim?
A anormalidade em questão é o fato de não precisar de varinha como todos nós, bruxos comuns. Na verdade, ao usar a varinha, testemunhas afirmam que ela tem o poder de dois bruxos poderosíssimos juntos. É claro que não há provas concretas de que a menina tenha
mesmo cometido tais crimes. Mas era de esperar que a anormalidade dela em bruxaria fosse suficiente para salvar a família de um ataque de bruxos das trevas, certo? O que nos leva a pensar que ela é uma bruxa das trevas. Não me surpreenderia se soubesse mais tarde que é partidária d'Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado.
Acredito que o que temos a fazer é esperar que o Ministério faça alguma coisa. Não podem deixar uma bruxa como ela à solta, muito menos aprendendo magia em Hogwarts, se o que ocorreu aos trouxas foi mesmo culpa dela.

Escrito por: Rita Skeeter.

— Puta que p... – Eu devolvi o jornal para a menina. – Snape e os outros não acreditaram no que eu disse – falei, em voz alta. – Me mantêm aqui para me entregar ao Ministério. Filhos de uma...
Logo entendi. Eles me prenderiam na frente da comunidade bruxa, acusando-me das mesmas coisas que Rita Skeeter. Será que ela sabia o quanto cooperara com Comensais? Será que era uma deles? Só Deus pra saber o que fariam comigo depois que supostamente fosse levada à Azkaban. Era o mesmo caso que logo seria com Harry Potter. Eu estava ferrada – para não ser mais grossa e vulgar.

Legilimência: como é uma palavrinha difícil de lembrar, vou colocar o que ela significa. Legilimência é a capacidade de ver os sentimentos e lembranças da memória de outras pessoas. Aqueles que dominam a legilimência são capazes, sob determinadas condições, de penetrar a mente de suas vítimas e interpretar suas conclusões corretamente. Alvo Dumbledore, Severus Snape, Salazar Slytherin e Lord Voldemort eram brilhantes em legilimência. A legilimência pode ser impelida pela Oclumência.
A legilimência pode ser muito usada em casos de emergência, o mesmo caso do Veritasserum.




Capítulo 3
E que comece a tortura!


Enquanto o desespero consumia meu corpo lentamente, eu me perguntava o que seria de mim. Snape entendera que eu sabia o "segredinho" dele, não? Ele ia pegar leve comigo e me proteger, não ia?
Ia?
Eu não podia confiar inteiramente nisso. Eu não sabia, afinal, até que ponto Dumbledore prevenira-o a meu respeito.
Senti um frio na barriga quando vi Snape e seus amigos Comensais adentrarem o Salão Comunal com os olhos em mim. Meus novos colegas de Casa observavam a cena sem pestanejar. Céus, como eu sentia falta da Grifinória naquele momento. Eu sabia que eu tinha amigos lá que me passariam a sensação de segurança e proteção. E aqui, o que tinha? O menino que entregara meus pais à morte? Uma menina que me odiava profundamente? Centenas de alunos que me repudiavam?
Se eu disser que eu estou enrascada, estou apenas descrevendo a ponta disso tudo.
— Senhorita Dumbledore? – O tom de voz dele me causou arrepios de medo. Nunca me sentira tão acovardada.
— Sim, senhor? – Mantive a voz calma e vazia, pois jamais daria a eles o gostinho de saberem que me afetavam. Ha, ha, até parece que eu me rebaixaria desse jeito.
— Precisamos conversar.
Pronto. Fodeu de vez.
— Pode falar – tive a cara de pau de dizer. Eu sabia muito bem que ele não queria conversar coisa alguma. Queria mesmo era me torturar, é claro, para manter a pose dele de fodão-que-matou-Dumbledore. E eu tinha que manter minha pose de bruxa de sangue puro rebelde que não tinha medo de nada.
— Acompanhe-me, por favor. – O falso tom cordial da voz dele deixava claro que, por piores que as coisas fossem ser nesse ano escolar em Hogwarts, ele gostaria de manter suas pequenas sessões de tortura comigo em segredo. Está se perguntando por que me refiro ao pedido dele para conversar comigo de início de sessões de tortura? Ora, todos nós sabemos como este ano será para os alunos de Hogwarts. Não todos, é claro. Mais especificamente para pessoas como eu, que apóiam Harry. Quem se lembra de como o Neville estava quando Harry, Rony Hermione e ele tornam a se encontrar lá para o fim de Relíquias da Morte? Eu tinha absoluta certeza de que, comigo, seria algo assim.
E preciso dizer: eu estava completamente apavorada.
Oh, meu Deus, era o que eu pensava, enquanto punha a alça de minha bolsa vermelha por sobre o ombro, empunhava a varinha sob as vestes escolares e me levantava vagarosamente, com cada célula de meu corpo relutando em seguir em direção à dor.
Apertei a varinha e a alça da bolsa com mais força para esconder o tremor de minha mão. Meu olhar encontrou o de Draco. O tremor aumentou. Agora era de ódio.
Deixamos a masmorra e partimos para o corredor. Tomamos escadas – eu esperei seriamente que elas dessem um surto e mudassem várias vezes para as direções erradas, mas oi? Nem Hogwarts estava ao meu lado!
Chegamos rapidamente ao corredor do sétimo andar. Meu coração disparou e meus olhos se encheram de lágrimas ao avistar aquela gárgula tão conhecida no fim do corredor em questão. Tudo que eu queria era correr e passar por ela, subir por sua escada em espiral e buscar conforto com Dumbledore.
Mas ele estava morto. Não me confortaria.
Talvez, na verdade. Ainda havia seu retrato na parede, mas nem de longe é a mesma coisa.
Snape parou de repente no corredor, e os irmãos Carrow seguiram seu exemplo.
— Muito bem. – Snape me jogou no chão, onde eu caí. Fiquei lá sentada, sem deixar minha expressão mostrar que cair de bunda no chão - literalmente - doera. Ele me olhava de cima, com expressão de nojo. – Você sabe onde Potter está. Quero saber agora.
Droga. Estaria ele falando sério? Ele sabia que, se alguém sabia como encontrar Harry, este alguém era eu. Será que ele queria realmente saber onde Harry estava, ou isso fazia parte do jogo?
Fiquei a olhá-lo, desnorteada por um tempo devido aos meus devaneios. Ele não parecia inclinado a ser paciente.
— FALE AGORA! – berrou. As carnes de seu rosto tremiam. Eu estremeci.
— Não sei – disse. Numa boa, eu merecia um Oscar pela cara de inocência que eu exibia, e pela voz fininha de uma garota completamente indefesa.
— Está mentindo! – PAFT! Ele meteu a mão na minha cara, sem nenhuma piedade. – Não me faça perguntar outra vez; juro que sou capaz de usar Sectumsempra pra arrancar a verdade de você! E a senhorita sabe muito bem o que essa maldição faz.
Sem sombra de dúvidas que sei.
— Aham. Você arrancou a orelha de George Weasley com ela.
Ele não parecia nem minimamente afetado.
— Quero a verdade – sibilou para mim. – Crucio!
Se eu dissesse que berrei, estaria mentindo. Aquilo foi muito, muito potente. Doía em meus próprios ouvidos. Minha voz não vacilou nem por meio segundo enquanto eu berrava e me contorcia no chão, numa agonia sem tamanho. Aquela tinha que ser a pior dor do mundo. Eu queria morrer.
— Vai falar agora? – Ele me libertou da maldição e eu fiquei completamente enjoada. Cada fibra de meu corpo tremia. Eu não tinha forças nem para ficar sentada.
— M-mas e-eu já disse...
— CRUCIO!
Foi ainda pior que da primeira vez. E eu gritava ainda mais alto. Os Carrow riam tão alto que chegava a ser assustador.
— Por favor, professor, por favor... – Eu chorava sem nenhum pudor, largada no chão, completamente esgotada. – Eu não estou mentindo, eu juro, por favor...
— Se soubesse, não nos contaria – disse ele, sorrindo. – Não sem um bom motivo. CRUCIO!
Eu berrava absurdamente alto, implorando de todas as maneiras possíveis. Aleto Corrow, achando pouco, pôs-se a escrever toscamente em meu braço a frase "Sangue-ruim ou traidora do sangue?", escrevendo isso com meu próprio sangue, gravado em minha carne. Eu chorava desesperadamente. Não tinha forças para articular pedidos por clemência.
— Por Merlyn! – Eu ainda urrava em agonia, mas pude reconhecer brevemente aquela voz. Snape me libertou da maldição e eu chorei de alívio.
Snape parecia avaliar a situação. Ou melhor; parecia decidir se deveria ou não se preocupar com Amelia. Acabou, para minha sorte, escolhendo me deixar para lá.
— Voltem para sua Casa – ordenou-nos.
Amelia não sabia como reagir. Não sabia se corria para pedir ajuda ou se tentava me socorrer ela mesma... Contudo, quando ela fez menção de se aproximar, fiz um sinal para que se afastasse. Podia sentir aquela coisa subindo pela garganta...
Vomitei lindamente. Sério. Fiquei com tanto nojo que acabei por vomitar outra vez.
Encolhi-me para me afastar daquela coisa nojenta que acabara de sair de mim, tapando o rosto febril nas mãos. Eu não estava bem. Eu não estava nada bem mesmo.
— Você decididamente precisa ir à ala hospitalar – disse Amelia que, com um aceno de varinha, fez aquele treco gosmento desaparecer do chão. Respirei fundo, aliviada.
— O-obrigada, Lia – foi o que saiu por meus lábios ressecados.
— Lia – repetiu ela. – Gosto de como isso soa. Me chame assim, daqui para frente. – E sorriu.
Não era minha intenção apelidar a menina, mas o "Ame" de "Amelia" sumiu enquanto eu falava. Tsc.
Pelo menos ela gostou.
Então, Amelia me deu sua mão como apoio, e eu a segurei, grata. Não havia reparado, mas ela resgatara minha bolsa, que agora pendia em seu ombro. Ao ver meu olhar, disse:
— Sua varinha está aqui também, viu? Agora vamos; Madame Pomfrey cuidará disso...
O caminho para a ala hospitalar pareceu tão longo quanto caminha da estação de trem de Hogsmeade até o castelo. Eu estava muito mal.
Madame Pomfrey fez um belo muxoxo em protesto ao ver o que me acontecera. Fez Amelia explicar tudo, então botou-a para fora de lá, e logo desatou uma torrente de xingamentos a Snape e os Carrow, que envolvia algo como "ah, mas eles vão se ver comigo, aqueles filhos de uma...!" Confesso que isso contribuiu com meu ânimo.
— Sei de uma poção muito boa para amenizar os efeitos da Maldição Cruciatus. – Enérgica como era, não parava de andar e catar coisas pelo caminho enquanto falava. Juro que não acompanhei nem um décimo dos seus passos. – Graças aos céus, é bastante simples; você está péssima... Ah, Profª McGonagall!
McGonagall?! NÃO! Não podem envolvê-la nisso. Tudo o que eu não quero é prejudicar mais alguém!
— Qual o problema, Madame P... – E então seu olhar caiu sobre mim, deitada na maca. Eu não tinha ideia do que ela via. – Mas que diabos...
Madame Pomfrey repetiu as palavras de Amelia.
— Mas Severus vai se ver comigo! – McGonagall já se retirava.
— Não! – gritei. Minha voz estava estranha. – Por favor, não!
Ela ficou paralisada. Não esperava aquilo, mas até que gostei.
— E por que não?
— Sei... no que estou me metendo – eu disse. – Esqueça isso.
Esperava uma reprimenda depois de um insolente "esqueça isso", mas ela suspirou.
— Se eu não tivesse prometido ao Dumbledore... – começou ela, num tom irritado.
— Prometido o quê?
Pensei que ela não fosse me contar. E ela me surpreendeu outra vez.
— Prometi que confiaria em você e em suas decisões como confiava nele e nas dele. – Ela franziu a testa. – Já estou arrependida.
— Não vale à pena comprar briga por tão pouco.
— Pouco? – Ela parecia extremamente furiosa. – Pouco?
— Ele só queria saber onde Harry está – eu disse. – Acredite, professora. Eles estão só começando.

Consegui sair de lá minutos depois, após implorar que Madame Pomfrey me liberasse. Ela só deixou que eu saísse quando prometi que tomaria a poção nas horas certas e retornaria regularmente à ala hospitalar para ela checar meu progresso. E então, com um frasco de poção na mão, retornei cambaleante às masmorras.
Assim que passei pela porta, todo mundo calou a boca ao mesmo tempo. Deus sabe como eu amava aquela situação.
— Pensei que não fosse voltar tão cedo – disse Amelia, se aproximando de mim e puxando minha bolsa pesada para me ajudar.
— Madame Pomfrey concluiu que estarei tão bem aqui quanto lá – menti. Eu só estava ali porque não queria dar o braço a torcer e mostrar que era fraca. Ou seja, puro orgulho. – Além disso, não estou tão mal assim.
— Você já se olhou no espelho? – retrucou.
Ao ouvir suas palavras, abri minha bolsa e de lá tirei um pequeno espelho. Eu estava ainda mais pálida do que um albino – bom, acho que nem tanto – e minha pele, além da palidez, assumira um tom esverdeado. Aqui e ali haviam arranhões na pele, que eu provavelmente ganhara enquanto me contorcia pelo chão em agonia. O mais horrendo era um corte meio cicatrizado que fora feito com o tapa de Snape – ele BEM QUE PODIA ter pegado leve com isso, né.
— Nossa. Que coisa – murmurei, para que só Amelia ouvisse. – Quero me deitar, Lia. Me ajuda a achar meu dormitório?
— Claro – disse ela, dando as costas para mim, em seguida, e indo por um corredor, carregando a minha bolsa. Só não gostei porque tive que passar ao lado de Draco, Crabbe, Goyle, Parkinson e Zabini.
— Pena que não fui eu quem a deixou nesse estado – comentou Pansy com o grupo, rindo-se. Eu fingi que não ouvi.
— Já chega, Pansy. – Draco se levantou, olhando para ela com expressão irritada. – Já chega. – E saiu de perto dos amigos. Confesso que isso me deixou confusa. Bom, os amigos dele também ficaram.
Balancei a cabeça e segui Amelia.
É, esse seria um ano bem complicado.

Quando acordei na manhã seguinte, ainda sentia as dores dos maus tratos da noite anterior. Tive que ter muita força de vontade para me levantar da cama de espaldar coberto por cortinas verde-escuras enfeitadas com detalhes prateados, e jogar para lá os grossos e confortáveis cobertores que combinavam com as cortinas e todo o resto da decoração. Minhas colegas de quarto ainda dormiam, assim como Amelia. Levantei e fui para o banheiro, e eu já não aguentava mais ver tanto verde e prata para tudo que era lado.
Depois de tomar banho e fazer todo o procedimento de higiene matinal, fui para o Salão Principal tomar meu café da manhã. Percebi que fazia tempo que eu não comia nada.
Estava subindo as escadas para deixar as masmorras quando tropecei quase caí lindamente de cara no chão. Tive muita sorte; alguém passava por ali e teve a bondade de me ajudar a me manter de pé. Olhei para o rosto da pessoa enquanto ela falava: "hey, vá com calma, garota..." num tom de voz quase doce. Meu sorriso de gratidão esmaeceu ao ver quem era.
Aquilo tinha que ser uma brincadeira de mau gosto. Ele logo largou minha cintura, meio sem graça. Se não fosse tão moreno, poderia ter corado.
— Obrigada, Zabini – eu disse. Sim, Blásio Zabini, amigo de Draco Malfoy, estava ali comigo naquele momento constrangedor.
Ele parecia indeciso – não sabia se sorria e dizia que estava tudo bem, se me desprezava, se me perturbava com xingamentos e ofensas... Acabou decidindo por manter sua arrogância.
— Não há de quê – disse formalmente.
Esbocei mais um sorrisinho para ele e saí de perto, indo para o Salão o mais rápido que pude. Ao chegar lá, fui automaticamente para a mesa da Grifinória, mas aí me lembrei que aquela não era mais minha mesa.
! – Gina correu e me abraçou.
— Gina – murmurei, observando Zabini se juntar aos amigos. Percebi que conversavam com os olhos em mim.
— O que houve? – perguntou Simas.
— Fui torturada – eu disse. – Acham que eu sei onde Harry está.
Todos os meus amigos ali arfaram.
— Mas... É absurdo – disse Luna, me surpreendendo. Pouca coisa parecia impressioná-la.
— Eles não se importam – eu disse a ela.
! – A Profª McGonagall vinha pelo corredor entre as mesas da Sonserina e da Grifinória. – Meu Deus, você deveria ir para a ala hospitalar agora mesmo...
— Estou bem, professora – eu disse, apenas. Ela me lançou um olhar Severus.
— Não acho que Dumbledore ficaria feliz em saber que a senhorita não anda se cuidando direito...
— Ouça o que a professora diz, – sugeriu Parkinson. De onde foi que ela saiu? Mas que coisa! – Não vai querer desapontar o vovô, não é mesmo? – E riu. – Mas... me diz uma coisa. Como pode ser neta de Dumbledore e não se parecer nem minimamente com ele?
Percebi que todos queriam essa resposta, até mesmo a professora. Porém, Pansy era a única com coragem de me perguntar.
— Meu pai era filho de Dumbledore, e, bom, eu me pareço bem mais com a minha mãe.
Verdade. Eu me pareço muito com minha mãe. Na verdade, havia em minha casa fotos dela aos 17 anos, e éramos quase iguais.
Mas meu pai não era filho de Dumbledore, nem se parecia com ele.
— A trouxa assassinada no outro dia? – perguntou Pansy, sorrindo como se tivesse ganhado um prêmio. – Aquela escória...
Chega, foi o que pensei. Para mim já chega. Vou dar um basta nesta situação! Eu estava muito cansada, com dor e faminta... Simplesmente não tinha capacidade de raciocinar.
Corri até Pansy, peguei em seu pescoço e a coloquei no chão sem nenhuma delicadeza. Ela gritou.
— Minha mãe não era trouxa e é melhor você calar essa sua boca, vadia! Se tem alguma escória, é você! Não se atreva a falar da minha mãe! – Enquanto eu gritava para ela essas palavras, subi em cima dela, literalmente, e comecei a estrangulá-la. As pessoas no salão principal arfavam e todos começaram a comentar. Peguei a varinha, pretendendo lançar uma bela maldição nela.
Então, alguém me pegou pelo braço, e logo outras mãos e mais outras seguravam meus braços.
— Fazendo baderna, ahn, Srtª. Dumbledore? – Snape parecia animado. Eu jurava que, no fundo, seu olhar era como o de McGonagall; preocupado e furioso pela minha atitude. – Levem-na daqui – ordenou aos Carrow.
Merda, merda, merda, mil vez merda!
Os irmãos pareciam felizes em serem os encarregados pelo meu castigo. Severus não queria me machucar, eu sabia disso, mas os verdadeiros Comensais? Ah, esses queriam meu sangue.
Literalmente.
— Sendo quem você é, se eu estivesse em seu lugar, seria a melhor aluna da escola – disse Aleto, com um sorriso maldoso. – Porque você não vai gostar nadinha do que vai te acontecer.
Amico parecia entediado. Deixou-nos ali e foi para o Salão novamente.
Aleto estava tão perto de mim que pensei que ela fosse lançar a Maldição Cruciatus, mas, para minha surpresa, ela fechou o punho e me socou. Sim, o mais trouxa possível.
— Nunca engoli essa história de que você é neta do velho biruta – disse ela. – Para mim, você é só uma aberração ainda pior que os malditos trouxas ou os sangues-ruins nojentos. CRUCIO!
Dor. Amarga dor. Eu gritei e ela gargalhou.
— Encarcerus!
Uma corda surgiu, envolvendo meu pescoço. Tentei puxá-la, mas ela prendeu também minhas mãos e braços.
— Quer um conselho? Me entregue Potter; as coisas ficarão bem mais fáceis para você! Crucio!
Mais um berro. É.
— E então?
— Eu não sei – menti.
— Crucio! – Outro grito. – Resposta errada.
— Eu não sei!
A tortura continuou por mais meia hora. Eu sangrava muito pelo nariz e por uns cortes. Meus olhos estavam inchados pelo choro; eu podia sentir. Nem vou dizer como eu me sentia emocionalmente.
— Vai dizer?
— Vou – eu disse. – Eu conto onde Harry está.
Ela riu.
— Severus! Severus! Ela vai entregar Potter! Vou chamar o Lord...
Snape estava ali? Eu nem havia percebido.
E o que foi que ela disse? Chamar o Lord? COMO ASSIM?
Fodeu.
— Espere, Aleto. não entregaria à toa seu querido Potter. – E finalmente pude vê-lo. – Se bem que ela tem bons incentivos, agora. Onde ele está?
— No inferno. – Cuspi no chão. Só o que vi foi sangue. Pus-me de pé. – Vá procurá-lo lá e aproveite para não voltar.
— Sectumsempra!
Se antes senti dor, não fora nada. Gritei como nunca havia feito antes. Foi aí que tudo ficou escuro.



Capítulo 4
Completamente Louca


! – Quem berrou meu nome dessa maneira tinha uma voz potente e aguda que fez meus tímpanos doerem. Lutei com meus lábios para que se mexessem e mandassem aquela pessoa calar a boca de uma vez, mas nada. Tentei abrir os olhos para ver quem era o ou a desesperada, e nada. Alguém, talvez o mesmo "ser" que berrava meu nome, jogou um líquido gelado na minha cara. Eu arfei com a baixa temperatura. Com isso, fui recuperando aos poucos a sensibilidade, tendo consciência de que meu corpo latejava com dor, ainda sem conseguir abrir os olhos ou falar algo. – !
— OI, OI – gritei. Bom, era para ser um grito, mas estava mais para um grunhido de trasgo montanhês. É. Perfeitamente lindo. E isso, para completar, fez minha garganta doer.
— Falei que conseguiria acordá-la. – Finalmente reconheci a voz que gritava por mim. Era de Gina. – Você está bem?
— Sim, ótima! – disse mecanicamente, piscando freneticamente meus olhos para focalizar o grupinho que me rodeava, mas sem sucesso. Mal conseguia ver Gina a centímetros de meu rosto.
— Pare de mentir – disse Gina, parecendo realmente brava quando finalmente consegui enxergá-la. Olhei ao meu redor e notei Blásio, Córmaco, Gina, Neville, Luna e Amelia. Todos me observavam como se eu estivesse com as tripas de fora ou algo assim. Tive medo de me mover. Eu não conseguia sentir meu corpo muito bem, só aquele latejar constante em cada músculo, mas sabia que quando movesse um dedo... Pronto, já era. Toda a dor desabaria sobre mim.
— O que foi, gente? – perguntei.
— Diga-nos você – retrucou Gina. – Te arrastaram do Salão Principal depois que bateu em Parkinson, aliás, que ideia idiota foi aquela, mocinha? – Com as mãos na cintura, ela me pareceu bem mais velha que eu, ou eu pareci uma criança, e, tanto faz, sem falar que ela era a Sra. Weasley em pessoa. – Viemos te procurar e te achamos assim!
Quando esqueci que me mexer doeria, tentei levantar, e aí me ferrei, para não ser mal educada. Minha perna tinha um corte, e pude sentir que ele sangrava violentamente agora. Eu gemi alto.
Córmaco foi quem tomou uma atitude diferente de assistir ao sangramento de minha perna: chegou perto de mim, se abaixou e me pegou nos braços fortes. Pensei que seu toque me faria sentir ainda mais dor, mas me enganei. Ele foi tão delicado que me surpreendi. Ele parecia realmente bruto nos livros, mas ao vivo era outra coisa.
— O que pensa que está fazendo? – perguntei. Quando ele me tinha firme em seus braços, nossos narizes quase tocaram. Meio que suspirei ao encará-lo de tão perto. Wow. Ele era gato.
Veja bem: estou toda destroçada e ainda penso na beleza do cara. Maravilha, não? Devia significar que eu já estava pronta para outra.
Okay. Não.
— Vou te levar à enfermaria. – Meu Deus, como ele é bonito! Faltava-me o ar. Pestanejei diversas vezes enquanto o encarava, e ele me deu um sorriso safado. Aí me toquei: eu estava dando mole para ele! BURRA! Como posso fazer isso? Fiquei muito constrangida, e a saída foi esconder meu rosto no ombro dele.
Ele saiu comigo pelo corredor e eu não protestei. Ele era tão forte. Nossa. Meu peso nem parecia incomodá-lo. Tanto que nem se lembrou de usar magia para me carregar.
Acho que o que tem em beleza falta em inteligência. Tsc.
Ele logo tratou de me colocar com cuidado e carinho numa das macas, me olhando ainda com aquele olhar safado dele. Madame Pomfrey logo veio cuidar de mim – de novo –, lamentando-se que mal começara o ano e eu chegara naquele estado deplorável ali mais uma vez. Não posso fazer nada, certo? Preciso completar a droga da missão de Dumbledore. Para tanto, preciso permanecer em Hogwarts.
Os outros, que ficaram para trás, entraram poucos minutos depois de chegarmos. Inclusive, Blásio entrou. Contudo, não se demorou e logo saiu. Eu fiquei encarando-o abertamente antes que ele se fosse para ver se me dizia algo, mas... tudo o que ele fez foi me olhar intensamente, e, depois, partir. Estranho.
— Aquele Zabini... Ele é o melhor amigo de Malfoy! Que fazia aqui? – Gina perguntava a mim, fazendo com que eu parasse de encarar a porta por onde o foco do assunto saíra.
— Eu não sei – respondi. – Estou tão ou mais surpresa que você, para falar a verdade.
— E quanto a ela? – Gina olhou abertamente e sem cerimônias para Amelia de cara fechada, e ela instantaneamente ficou escarlate.
— Amelia Armstrong é legal, Gina – eu disse, num tom repreensivo. – Não é como os outros de lá.
— Hunf.
Gina cruzou os braços e me deu as costas. Eu não podia acreditar. Que estava acontecendo com Gina? Fiquei observando-a, enquanto ela se mantinha na postura irritada, olhando para fora da janela.
Madame Pomfrey veio me medicar e tratar de meus ferimentos. Foi um momento ruim, mas era para meu bem. Logo se afastou. Olhei para Gina uma vez mais. Ela ainda não se movera.
— Gina, qual é o problema? – Fui direto ao ponto. Aquele clima estava constrangendo todo mundo ali.
Gina chegou a me assustar. Aquelas palavras foram como se eu abrisse uma torneira: o que ela pensava jorrou como água.
, talvez você não se lembre, mas na última vez em que confiou em alguém da Sonserina, pessoas que você ama morreram! – Meus olhos se arregalaram e minha boca se abriu num "O" de espanto. – Dumbledore, quando é que vai aprender a confiar somente nas pessoas certas?
Como ela podia ser tão dura comigo? Será que tinha noção do quanto aquelas palavras me fizeram mal? De repente, senti-me a garota mais idiota do mundo, a culpada pela morte dos próprios pais, cuja culpa baseia-se no fato de que amou o menino errado. O que era a realidade, eu sabia disso, mas ela precisava realmente me lembrar?
— Não preciso que você me lembre que meus pais morreram porque confiei demais num comensal da morte, okay? – eu disse à Gina, com lágrimas ameaçando cair em meus olhos. – EU SEMPRE SOUBE QUEM ELE ERA, MAS EU O AMAVA, GINA! ACHEI QUE ELE PODERIA MUDAR, QUE QUERIA SER DIFERENTE! E SE FOSSE HARRY?
Gina arregalou os olhos e sua expressão passou de fúria à culpa e vergonha um instante. Claro que se fosse Harry ela faria a mesma coisa.
Mas não havia cabimento algum em comparar Harry e Draco. Eram pessoas diferentes, com valores diferentes. E claro que Harry era uma pessoa muitíssimo melhor.
— Cometi uma merda de um erro horrível, mas porque ele é assim não significa que todos da Sonserina também são! Lia é a única pessoa que me apóia lá!
— Desculpe, . – Ela suspirou, encarando os sapatos.
Virei o rosto, limpando duas lágrimas que escaparam e recompondo a expressão. Na certa, minhas bochechas estavam coradas e meu nariz vermelho. Argh.
— Perdoe-me – pediu Gina.
— Esquece – murmurei.
Eu já estava de saco cheio. Precisava trabalhar na missão à qual Dumbledore me incumbira o quanto antes. Pois, assim que conseguisse a merda de arma secreta que provavelmente faria com que Voldemort triunfasse no final dessa história, eu poderia me libertar dessa prisão de dor, sofrimento e angústia, e assim viver em paz em algum lugar.
De preferência, no meu mundo trouxa. O mundo da magia era muito complexo – percebi tarde demais.

No restante desse dia e no seguinte, tive bastante tempo para pensar em Harry, Rony e Hermione em sua caçada pelas horcruxes. Eles, juntos, tinham muito mais chance que EU nisto tudo. Havia Hermione, muitíssimo inteligente, e Harry, cheio de valentia e com um talento para desvendar mistérios. Rony sempre tinha um surto surpreendente que realmente solucionava muita coisa, sem falar que ele fará tanto ou mais que Harry. Tá, não mais, mas definitivamente destruirá duas das horcruxes. Agora, como, meu Deus, eu sozinha posso ter isso tudo? Só sirvo mesmo para saco de pancadas e para exibir meus poderes anormais até para uma bruxa. Argh. Dumbledore tirou praticamente toda a responsabilidade das costas dos três e jogou para mim. E vem cá, dona J.K. Rowling, como pode ter deixado um pequeno detalhe como A ARMA SECRETA QUE SUPOSTAMENTE IMPEDE VOLDEMORT DE MORRER escapar em sua narração? COMO? E Dumbledore, como pode deixar tudo isso para mim apenas com uma ordem e nenhuma explicação?
Estão querendo me ver louca. Só pode.
Era hora de surtar.
Após alguma melhora – ou seja, algumas horas na enfermaria –, levantei no meio da noite, sem um plano formado em mente, e fiz meu excelente feitiço da desilusão em mim. Eu não seria pega nos corredores, disso podia ter certeza. Quando dei as caras no corredor, uma coisa extremamente óbvia me ocorreu, e me apressei para o corredor do sétimo andar, finalmente tendo uma fagulha de excitação no meio de tudo de ruim. Não me deixei hesitar ao chegar à gárgula que guardava a escada para o escritório do diretor.
— Lord das Trevas – eu disse. A gárgula deu passagem, e pude ver a familiar e em outros tempos acolhedora escada em espiral que levava ao escritório do diretor. Eu não tinha conhecimento prévio da senha, mas era absolutamente previsível.
Ao chegar à porta, não bati; fui entrando sem pudor. Snape encarava o horizonte pela janela, com uma mão segurando a outra nas costas, como se estivesse muitíssimo distraído. Havia até o semblante, que eu via meio de lado, que parecia sereno, como se estivesse só. Mas provavelmente sabia que havia alguém com ele no cômodo. Contudo, não se deu ao trabalho de se mover.
— Precisamos conversar! – eu disse, depois tranquei magicamente a porta. Só então lembrei que estava invisível. – Finite! – Com esse feitiço, tornei-me visível novamente. Ainda assim, qualquer um poderia nos ouvir. Encarei a porta e empunhei a varinha no alto: – Abaffiato!
— Não esperava vê-la aqui, senhorita Dumbledore.
— Severus, eu sei que você não é Comensal. Sei que ainda é fiel a Dumbledore.
Eu o matei – disse. Ele era realmente convincente. – Não seja tola.
— Severus, por favor, sem teatrinhos comigo – eu disse. – Você deveria saber que sei de tudo sobre todos com quem convivo no mundo da magia. Sabe que conheço seus segredos.
Os lábios dele se franziram. Claramente desgostava do fato de eu ter conhecimento de seus segredos.
— E acredito que você sabe que estou aqui em Hogwarts só por causa de Dumbledore. – Ao terminar essa frase, olhei para o retrato do Profº Dumbledore atrás da mesa do diretor. Ele dormia serenamente. – Se eu falhar... – Meus olhos encheram-se de lágrimas. – Severus, se eu falhar, tudo pelo que Dumbledore lutou, tudo o que sacrificou e o que ainda há por sacrificar... será em vão.
Snape encarou-me por um longo momento. Percebi que ele usou legilimência comigo, e então permiti. Ele suspirou após ver alguns dos acontecimentos mais recentes. Ou melhor, ao ver meus pensamentos e saber que eu confiava nele, e deve ter concluído que podia confiar em mim.
— O que posso fazer por você?
Sorri para ele. Era a primeira vez que sorria verdadeiramente em tempos.
— Preciso encontrar algo que possa impedir de que Voldemort morra no fim deste ano letivo, como deve ser. Para isso, preciso aprender a detectar magia negra.
— E como espera fazer isso do dia para a noite, ? – Snape mantinha no rosto uma expressão sarcasticamente amargurada. Típico.
— Aprendo rápido – murmurei. – Sei que pode me ensinar com perfeição.
— Não seja tola, menina. – O jeito que ele falava soava como reprimenda. Ele até fez uma careta; eu quase me esqueci que ele meio que me desprezava por causa de Harry. Esperava que isso tudo tivesse ficado no passado. Eu precisava dele, no fim das contas. – Todos notarão quem realmente sou! E inviável!
— Tenho um bom plano, Severus. Não sou uma menininha tola como você pensa que sou – eu disse, com arrogância. Argh. Parecia até com Narcisa Malfoy. CREDO. – Farei coisas que deixará longe de qualquer mente a ideia de que estamos mentindo e enganando a todos.
Snape saiu detrás de sua mesa e caminhou até mim, apoiando-se de costas na mesa enquanto me encarava.
— O que quer dizer com isso?
— Querem que eu sofra, não é mesmo? Então, você pode muito bem dar o que querem! Pode me torturar durante algumas horas em alguns dias, com o pretexto de descobrir onde Harry está e o que faz. Sabe que se o fizesse, eu jamais abriria a boca para lhes dar qualquer informação. Sabe que podem me matar que não abrirei a boca. – Eu sorri. – E enquanto você supostamente me tortura, estarei aprendendo tudo o que preciso.
— E qual será a explicação para sair ilesa de cada sessão de tortura?
— Quem disse que sairei ilesa?
Com essas palavras, ele meio que se encolheu e semicerrou os olhos. Claramente esperava que eu estivesse blefando. Esperava em vão, obviamente.
— Depois que acabarmos com a aula, você me faz alguns machucados e me atira para fora da sala, para que todos possam me ver chorando e sofrendo. Garanto que minhas lágrimas e o sangue farão um bom trabalho. – Eu sorri novamente para ele, enquanto pela expressão pude perceber que questionava a minha sanidade.
— Não posso fazer isso – disse.
— Começamos amanhã – fingi não tê-lo escutado. – Vou aprontar alguma coisa grave que mereça castigo. Aproveite e dê ordens aos malditos Carrow para me entregarem a você, não importa o que eu faça, se puder. Não vou aguentar olhar para a cara daquela vaca novamente sem amaldiçoá-la...
Sem mais, me virei e deixei sua sala. Mas não sem antes olhar uma vez para Dumbledore, e ver que dormia profundamente em seu retrato. Meus olhos marejaram, e por isso me mandei dali o mais rapidamente possível.

— Outro ponto de vista —

— Vocês acham que a voltou a Hogwarts ontem? – perguntou Hermione, observando Harry, que encarava a lareira do Largo Grimmauld, sério.
— Espero que não – disse ele. – Ela é nascida trouxa; seria como suicídio.
— Mas qual será a missão que Dumbledore deu a ela? – Rony, deitado no sofá com os pés para cima, mantinha o rosto numa carranca intrigada. Típico.
— Seja o que for, não está escrito nos livros e com certeza tem ligação com o fim que terá esta batalha entre Harry e Voldemort, como na profecia. – Hermione sentou-se ao lado de Rony, fazendo com que ele se pusesse numa posição ereta rapidamente. – Deve ser algo muito ruim. jamais gostaria de voltar à Hogwarts. Não depois do que Malfoy fez.
— Apesar de tudo, ainda não entendo como ele teve capacidade de fazer isso com ela – disse Harry, e havia um brilho de revolta em seus olhos. – Quero dizer, ele não presta, disso todo mundo sabe, mas a ... Ela fez de tudo por ele. Sabemos o quanto ela gostava dele, o que ela queria deixar para trás para salvar sua pele...
— Eu cheguei a pensar que ele gostava dela, sabe – disse Rony. – Apesar de ser o rato imundo que é, ficou com ela, mesmo com todo o preconceito por ela ser nascida trouxa...
— Juro que achei o mesmo que você, Rony – disse Hermione, com o olhar meio duro. – Eu, melhor que ninguém, conheço o preconceito nojento que ele tem. Com ela foi tão diferente que achei que ele estivesse mudando. Se eu estivesse no lugar dela, juro que cometeria uma loucura. – Ela passou a mão pelos cabelos com força, irritada. – Mas agora devemos voltar nossa atenção para os nossos problemas, já que não podemos fazer mais nada por ela. E, além disso, é de invadir o ministério que estamos falando! Vamos logo repassar os planos para recuperar o medalhão que está com a velha nojenta da Umbridge.

— Fim do outro ponto de vista —


Não dormi nada naquela noite. Eu tinha um plano e isso era um começo, mas ter começado me deixava ansiosa por terminar. Ainda mais levando-se em consideração que meu plano me traria mais dor e sofrimento.
Eu tinha conseguido cochilar, mas o dia amanhecera e era hora de ir estudar. Então, atormentei Madame Pomfrey para que me liberasse, e ela deixou que eu saísse. Tive então pequenas dúvidas de que Dumbledore pediu para todos os professores e funcionários me darem o que precisasse e quisesse. Bom, era algo ao meu favor.
Corri para o Salão Comunal para me livrar do pijama que eu usava. Eu ainda estava bastante deplorável, por isso fui o assunto das fofocas matinais. Só encontrei Amelia quando saí do dormitório e retornei ao salão comunal. Já ali, tinha usado bastante pó e blush no rosto, para disfarçar os hematomas. Ela estava conversando com Malfoy e Zabini.
COMO É? Minha amiga tinha se juntado com o inimigo? COMO ASSIM?
Quem via a cena, me comparava com aquelas mulheres traídas que vão até o marido e metem a mão na cara dele. Caminhei decidida até o grupinho e encarei minha suposta amiga.
— Bom dia, Amelia. – Meu tom era formal, e minha expressão queria dizer: "que merda você tá fazendo com esses nojentinhos?!"
! – Ela literalmente gritou e pulou em cima de mim. Por pouco não desabei. O que havia de errado com essa menina? Eu estava quase caindo e ela se atira em mim?! – Meu Deus, o que você está fazendo aqui?! Tem que se recuperar! Tem que ficar em repouso! Você-
— Hey, hey, vá com calma – eu disse a ela, arregalando os olhos. – Estou maravilhosamente bem e pronta para outra. Tão pronta que... – Foi aí que dei atenção para Malfoy e Zabini, que participavam da conversa. Eu deveria revelar meus planos na frente deles? Fiquei em dúvida, mas pensei um "que se dane" e prossegui: – Tão pronta que vou armar alguma coisa hoje.
Amelia me olhou com aquela cara de "oh, não".
— Nem pense...
— O quê, Amelia? – Eu sorri. – Me arrependi de ter retornado à Hogwarts e, já que não posso sair, vou fazer jus ao tratamento que recebo.
— Não entende o que farão com você? – Ela me pareceu bastante preocupada. Revirei os olhos. – Isso é sério, ! Eles te machucam sem você fazer nada. Se você-
— Eu não quero me meter nem nada, mas sua amiga tem razão – disse Blásio Zabini. – Estão implicando com você. No seu lugar, me comportaria muito bem. Ainda mais depois do que fizeram com você ontem.
Eu sorri para ele. Então, agora os mais filhos da mãe da Sonserina queriam ser meus amiguinhos? Veremos onde isso vai dar.
— Nunca gostei muito de regras, sabe. – Sorri para ele com ironia. – Uma das características que me levaram a ser da Grifinória.
— Vai me dizer que não combina em nada com Sonserina? – retrucou, arqueando a sobrancelha numa típica expressão arrogante de "aham, sei".
Encarei o chão, depois olhei para Amelia, Malfoy e para ele. Eu ia dizer algo que não tinha revelado para ninguém – que eu me lembre, ao menos.
— O Chapéu cogitou me mandar para a Sonserina, é verdade. – Pude perceber que os olhos de Malfoy e Amelia se arregalaram. Zabini não se impressionou. Na verdade, deu um sorriso presunçoso. – Mas eu não me importo com quem é sangue puro ou não. Portanto, não sirvo para Sonserina.
— O que pretende fazer? – perguntou Amelia, retomando o foco da conversa.
— Por ora, só vou ofender alguém. Acho que a Carrow... – disse, com um sorriso maldoso. – Para começar. Mas depois, não serei a única a precisar de cuidados da Madame Pomfrey.
— Não... , não seja tola!
Eu ri.
— Garota, por acaso as maldições Cruciatus que recebeu afetaram seu cérebro? – Ela parecia apavorada.
Arqueei a sobrancelha.
— Não é essa a finalidade? – Fiz uma expressão meio insana, completamente estranha. – Enlouquecer a vítima?
— Contigo o trabalho está completo.
Eu ri com vontade.
— Não há nada de errado comigo, Lia. – Esbocei um sorriso bondoso para ela, enquanto colocava uma mão no ombro dela, tentando acalmá-la. – Essa sou eu. Não há mais nada que eu possa perder que me faça falta, aliás. Quando isso acontece com a pessoa... Como posso dizer? Ela se torna destemida. Essa sou eu agora.
— Maluca – comentou Zabini.
— Acho isso idiotice – disse Draco, se fazendo ouvir, finalmente, depois de todo esse tempo calado. Eu o fuzilei com o olhar. – Vão acabar ferindo você de verdade. Isso pode vir a ser ainda mais grave do que já...
— Não finja que se importa. – E, ao dizer isso, dei-lhe as costas e saí de lá com Lia. Podia até falar com Zabini, mas com ele? Não. Eu preferia até ser amiga de Parkinson!

No fim do período de aulas, corri à biblioteca para encontrar uns bons livros de magia negra. Tinha feito Amelia me dizer exatamente o que estava fazendo com aqueles dois, e tudo o que me disse foi que Zabini era uma pessoa legal e extremamente amável e que Draco era um pouco deprimido, porém legal. Fiquei calada. Ela tinha direito de escolher com quem andava, mas... Esse era um bom motivo para me afastar dela.
Só que isso não me importava, não é mesmo? Não estava em Hogwarts para fazer amizades. Estava lá para destruir Voldemort. Então...
Fiquei chocada ao receber conselhos de Madame Pince para pegar emprestado algum livro da seção reservada. Dumbledore realmente me deu muitos privilégios.
Peguei um livro realmente horrível de magia das trevas e pus-me a ler no tempo livre que tive, no Salão Comunal. Era repugnante, porém útil. Inclusive, anotei dúvidas para saná-las posteriormente com Snape. Eu estava muito absorta naquele estudo. Só que...
— Estudando magia negra? – perguntou Carrow, olhando meu livro. Ela claramente achara que estava tirando sorte grande ao ir me provocar, mas o que ela não sabia é que eu tinha um trufo na manga. Ela provavelmente não podia me punir diretamente. Ou seja: eu era intocável. Amelia formava com os lábios um "por favor, não faça besteira", mas não se atrevia a falar. É claro. Por que arriscar a própria pele por alguém como eu? Afinal, eu não era realmente sua amiga.
E essa sou eu perdendo o foco novamente.
Semicerrei os olhos para Carrow. Ótima hora para conseguir um bom castigo, não é mesmo? Meus colegas observavam, já imaginando que de alguma forma eu iria parar na direção.
Mal sabiam eles como estavam certos.
— Bom, na realidade, estou aprendendo algumas azarações bem perversas. – Sorri para ela, fechando o "Livro Padrão das Piores Azarações do Mundo Mágico e Suas Contra-Azarações", e tive certeza de que ela pôde ler o nome na capa velha e desgastada. – Agora tenho apenas uma dúvida: qual delas eu posso usar em você? Ou melhor! Qual será o método mais doloroso de matar você?
— Pensei que matar fosse algo indigno de um Dumbledore – disse debilmente.
— Você não conta. – Eu ri. Era uma risadinha afetada digna de Pansy Parkinson.
Céus, a que nível estava me rebaixando!
Os que observavam arfaram, chocados com minha impertinência. Ela não gostou nada das minhas respostas. Agarrou-me pelos cabelos e me encarou, furiosa.
— Você vai pagar por isso!
— É só me dizer quantos galeões e nuques eu estou devendo! – eu disse, sorrindo. – Qual é? O que vai me fazer? Hein?
Ela estava ficando vermelha. Eu sentia vontade de gargalhar bem alto. Snape, eu te amo!
— Você tem sorte porque tenho ordens de te levar diretamente ao diretor quando tivesse problemas com você, escória! Se não fosse por isso...
— Dobre sua língua ao falar de mim! – retruquei, dando um tapa na mão que ela segurava meus cabelos. – Você não é ninguém para me chamar de escória, sua vaca maldita!
Ela fez uma cômica expressão de "como ousa?!"
— Olhe aqui, mocinha...
— Não, olhe aqui você – retruquei mais uma vez, lhe apontando um dedo. – Eu estava estudando e você não tinha o direito de vir me perturbar sem uma boa razão! Mereceu cada palavra que ouviu de mim, e ainda merece ouvir mais! Você só está no direito de me levar à direção porque eu disse que você é uma vaca maldita, te dei um tapa e ameacei te matar, e, tecnicamente, eu não posso dizer esse tipo de verdades. Infelizmente. Agora, a partir do momento que você me chamou de escória e me puxou os cabelos, você mereceu ser punida tanto quanto eu. Tecnicamente, estamos ambas erradas e, portanto, você está sem autoridade. – Olhei-a de cima a baixo com olhar esnobe e um sorriso sínico. Ela estava boquiaberta. – Mas para provar que não tenho medo de uma vaca maldita como você ou de qualquer lixo que tenha nessa escola, estou indo agora mesmo ver o diretor.
Dei-lhe as costas, juntei meus materiais e saí dali. No último relance que tive de seu rosto, ela ainda parecia idiotamente chocada. Tipo computador antigo tentando processar alguma coisa. Já à porta, ouvi alguém dizer:
— Ela é completamente louca, mas não posso negar: ela tem estilo. – E, ao olhar para ver quem era, encontrei o olhar de Blásio Zabini, ao lado de Malfoy. Sorri para Zabini e fui ver o diretor.



Capítulo 5
Entre o Amor e o Ódio


Snape teve bastante tempo para me ensinar magia negra na teoria. Passamos juntos muito tempo no escritório, e acabei por perceber que ele estava gostando mais e mais de mim. E eu dele. Quando não usava a máscara da amargura, Snape era quase gentil e paciente. Lembrava-me vagamente o modo como meu pai me tratava quando vivo, e isso nos rendeu um momento embaraçoso.
— Qual é o problema? – O desespero dele ao ver as minhas lágrimas era tão chocante que quase me fez rir. Parecia mesmo meu pai. Ele nunca fora bom em lidar com lágrimas. Snape também não era.
— Você me fez lembrar meu pai – eu disse a ele. – Mas não importa. Esquece. – E ao dizer isso, livrei-me das lágrimas e me concentrei na matéria. Depois de pigarrear, ele voltou a atenção para outra coisa. Evitamos nos olharmos.
Passamos alguns minutos assim, tensamente. Mas só até...
— Ah, ! – Ouvi Dumbledore dizer. Olhei para seu retrato, sorrindo aberta e sinceramente. Somente ele e Severus me fizeram sorrir assim nestes tempos tenebrosos.
— Professor! É tão bom falar com o senhor! – Ele agradeceu com um aceno de cabeça.
— Devo dizer que estou muitíssimo orgulhoso de sua coragem – disse. – Severus me contou tudo o que andou fazendo. E devo acrescentar que lamento muito o que o menino Malfoy fez. Confiei que ele fosse mudar, mas acredito que a pressão que sofreu foi extrema...
Meu sorriso esmaeceu. Fiz um muxoxo de irritação.
— Sempre soube que ele não prestava – eu disse, franzindo meu rosto numa carranca irritada. – Mas tudo bem; tem volta. Não vai ficar assim.
. – O tom de voz dele era Severus. Estava me dando uma bronca! Como pode?
— O quê, professor? Não tenho porque fingir! Se eu pudesse, acabava com a vida dele! – Dei as costas a ele e caminhei de um lado para o outro umas três vezes, e enfim parei, respirando fundo. Questionei-me quanto à veracidade da afirmação que fizera. Eu seria mesmo capaz disso? – Mas isso não importa. Vou me vingar dele depois que eu achar a... o que quer que seja.
Dumbledore assentiu.
— Fico feliz que isso seja prioridade no momento. Devo dizer que deve priorizar isso ainda mais que os estudos normais da escola. Sabe que poderá retornar a Hogwarts quando tudo isso acabar.
— É, acho que é hora de ser um pouco mais rebelde – eu disse, sorrindo. – Ainda mais se tenho permissão.
— É, você tem. – Dumbledore sorriu. – Você tem... Como é que os trouxas costumam dizer? "Carta branca" este ano em Hogwarts. Desde que possa contornar os irmãos Carrow, está livre para fazer o que bem entender.
— O que bem entender – repeti, adorando ouvir aquilo. – Hm, bastante útil. Ainda mais agora que tenho Severus ao meu lado. Acho que o primeiro passo é reunir a AD. Nada melhor que um pouco de rebeldia.
— Como achar melhor – disse Dumbledore, sorrindo de modo carinhoso. – Mas devo alertar que tenha cuidado. Não só por você, mas por seus amigos e por todos os nossos planos.
— Só me pegarão se eu quiser, professor. O senhor sabe. – Pisquei para ele. Nada presunçosa, ahn?
Dumbledore riu.
— Outra coisa, professor. – De repente, algo me ocorreu. Fiquei até excitada apenas com as perspectiva. Eu quase quicava no lugar, agitada. – Será que... sei lá... Teria problema se eu aparecesse para visitar Harry, Rony e Hermione?
O semblante de Dumbledore se tornou pensativo.
— Não sei, . Sabe que é arriscado, mas tenho plena confiança em você. – Ao ouvir isso, meus olhos se arregalaram. Acho que brilhavam como os de uma criança satisfeita com seus feitos. – Mas teria que ser um momento oportuno.
— Tem um lugar que sei que precisarei ir, mais dia, menos dia, para procurar... você sabe o quê. Acho que posso aproveitar o momento e ir no mesmo dia em que eles estarão lá. O fato de estarem lá servirá de distração para concluir meus planos... vão me ajudar sem saber. É só que... não consigo pensar num lugar melhor do que o lugar em que Voldemort está, entende? Se é algo tão... decisivo para o fim dessa historia, onde mais estaria? Tem que estar ao lado dele, senhor. Não sei o que é, mas sinto que está ao lado dele.
Dumbledore parecia muitíssimo orgulhoso de mim.
— Se eu não soubesse que é mentira, diria que somos realmente parentes – disse ele. Havia um brilho por trás dos óculos. Lágrimas?
— Quem sabe, professor? Esse mundo é tão cheio de surpresas! – Esbocei um belo sorriso e ficamos a nos observar. Até que alguém se fez ouvir:
— Severus? Posso entrar?
Era Aleto Carrow.
Pronto, ferrou tudo.
— Vai, vai, Severus, me faça alguns cortes rápido! – eu disse, ao mesmo tempo em que conjurava água com a varinha e me molhava estrategicamente, como se fosse suor. Molhei a parte mais colada da camisa, que era no busto, perto do pescoço, e a face. Snape me fez alguns cortes feios e eu me pus a arfar e chorar teatralmente, implorando bem alto:
— Não, por favor, professor... Por favor... Deixe-me... Por favor... – E caí num choro angustiado de dar pena em qualquer um.
Okay, não qualquer um. Não em gente como Lord Voldemort.
— Entre de uma vez – ordenou Severus num tom ríspido. Quando Carrow deu as caras, ele disse: – Espero que tenha algo útil. Eu estava obtendo um ótimo progresso com essa aberração, e agora você estragou isso.
— Ah. Perdão. Eu não sabia – disse. – Vim conferir se estava se saindo bem.
— Como é? – perguntou Snape, e a voz dele chegava a assustar. – Está duvidando de minha capacidade de torturar uma fedelha e arrancar informações dela? Nem o Lord das Trevas desconfia disso em mim! Como ousa?
— Eu... eu não... Desculpe.
— Suma de minha frente.
Snape não teve que falar duas vezes.
Uns segundos se passaram e eu ri.
— Um dia desses eu vou ter que deixar escapar alguma coisa.
— Nem pense nisso – ordenou.
— Relaxa, Severus. – Sorri para ele. – Tenho alguns bons planos. E vou deixar escapar onde Harry e os outros estarão apenas quando Greyback os pegar.
— COMO É? – Severus gritou. – Lobo vai pegá-los e você não irá impedir que isso...?
Eu ri. Snape, no fundo, gostava muito de Harry. Eu estava quase certa disso.
— Não posso impedir nada, Severus. Não posso mudar nada. Lobo Greyback vai levar os três para a mansão dos Malfoy, onde vocês se reúnem, você sabe. Lá vão torturar Hermione por causa da espada de Gryffindor, e com isso darão a Harry uma pista magnífica sobre uma horcruxe. Mas se isso te conforta, eles vão sair de lá todos bem. Então, calma, Severus. Calma.
— Hunf.
Eu tive que rir de novo.
— E nesse dia, Severus, eu estarei lá. E também nesse dia, eu descobrirei qual é a arma secreta de Lord Voldemort.

—x—

Arrastei-me para fora da sala do diretor. Fui arrastando-me falsamente pelos corredores, com o rosto inchado e cheio de lágrimas e sangue. Só fui esbarrar em Gina e nos meus outros amigos no Salão Principal. Fiz ceninha para acharem que eu estava à beira da morte, mas sussurrei para eles:
— Gente, disfarcem, mas eu estou fingindo. – Gina odiou ouvir aquilo e ia me xingar, mas eu tornei a sussurrar. – Não posso explicar agora. Quero todo mundo na sala da AD em cinco minutos. Sem perguntas. – E então, me levantei, ainda chorando. – Preciso ir ver Madame Pomfrey; estou péssima! – Acho que muita gente pôde ouvir isso. E, para minha total surpresa...
— Eu te ajudo – disse Blásio Zabini, que certamente estivera apenas passando por ali quando viu meu drama. – Afinal, somos colegas de Casa.
Okay, aquele era um comentário para me irritar só pelo fato de eu não ser fã da Sonserina.
— Agradeço muito, colega. – Apoiei-me pesadamente sobre ele de propósito. Do outro lado do Salão, Malfoy parecia prestes a vomitar, ou a vir voando como um dragão, ou coisa assim. É, andar com Zabini tinhas suas vantagens. Eu gargalhava internamente. Externamente, eu era um poço de sofreguidão.
Isso renderia boas historias aos meus filhos e netos. Se eu sobrevivesse para ter alguns.
Zabini quis dar uma de Córmaco e me pegou no colo. Fiquei chocada ao ver que ele me segurava quase do mesmo modo que Córmaco. E por falar nele, logo ouvi sua voz.
— Ela não precisa de você, Zabini. Ela tem a mim.
WOW, o negócio estava começando a ficar interessante.
— Não sabia que era sua propriedade privada, e que não se podia tocar nela. – Não se enganem. Ele não estava com ciúmes não. Quero dizer, Blásio não. Só Córmaco. Blásio estava naquela de me irritar e de estragar minha vida.
Coisa de sonserino, vocês sabem. Não sabem?
— Ih, gente, sem estresse. Vou sozinha. – E dei um tapa na mão de Zabini para ele me deixar ficar de pé. Ele obedeceu imediatamente. Contudo, encarava Córmaco como se fossem sair na pancada. – Obrigada pela ajuda, colega – eu disse a Zabini, sorrindo. – Tchau, lindo. – Apertei a bochecha de Córmaco e saí de perto.
Eles que se entendessem. Eu queria rir. Pedi para Gina prestar atenção para me contar tudo depois e me mandei dali.

—x—

Quinze minutos depois, estávamos todos reunidos na Sala Precisa. Quando digo todos, me refiro aos membros da antiga AD e eu, é claro. A turma ali parecia na dúvida. Estaria eu em condições mentais de guiar um grupo como a AD? E será que eu planejava de fato comandar a AD? O modo como me observavam, sentados todos no chão sobre almofadas com cores das três Casas presentes, parecia muito com o modo como fizeram com Harry, tempos antes.
Antes de abrir minha boca, pensei sobre o que deveria falar. Como falar. Se deveria falar. Por fim, com um que se dane em mente, tomei ar e comecei:
— Primeiramente, bem vindos de volta.
Silêncio.
— Sei bem que não fiz parte da AD original, mas... Creio que não é um fato de tanta importância.
Enquanto eu falava, andava de um lado para o outro, gesticulando. Não sorri e nem aparentei ser amistosa. Não estava ali para fingir.
— Quando digo que não tem importância, vejam bem, digo que... a causa deve continuar. Se eu era da AD ou não, pouco importa. O que eu quero hoje não é diferente do que vocês queriam na época.
Alguns assentiram.
— É claro que nosso líder não está aqui para assumir o poder. – Alguns arquearam a sobrancelha quando me inseri a equação, mas ignorei. – Então, acho que devemos ter um líder temporário. Alguém que vá nos guiar enquanto Harry não voltar.
— Harry vai voltar? – Simas quis saber.
Sorri para ele como quem se desculpa, e isso deixou bem claro: não vou falar a respeito.
— E esse alguém é você – disse Gina. – Óbvio. Não é, gente?
Depois de um tempo, para minha surpresa, todos concordaram com ela.
— Que seja – eu disse, friamente. – O fato é que eu serei líder por pouco tempo - não pretendo ficar muito tempo na escola. E tenho alguém que quero que fique em meu lugar.
— Quem? – perguntou Gina.
— Neville Longbottom.
Para resumir, a reação de todos foi: "O QUÊ?!"
— É minha condição para ser a representante atual – eu disse.
— Eu não vejo nada demais – disse Luna, daquele jeito sonhador.
— E sei que no tempo certo vocês todos também não verão nada demais nisso – eu disse. – Confiem em mim.
Eles não confiavam, eu sentia, mas ninguém ousou abrir a boca.
— Vamos começar, então? – Finalmente, um sorriso animado perpassou meu rosto. – Hora de continuar o legado de Potter.

—x—

A aula na AD foi demais. Fiz uma introdução em algumas azarações boas que aprendi naqueles livros, e aproveitei para saber o que eles queriam aprender. A maioria queria me usar pra saber mais sobre minha "esquisitice" e coisas nada a ver com Defesa Contra as Artes das Trevas. No fim, decidi que ensiná-los a resistir à Maldição Imperius e aprender Oclumência seria uma boa. Eles ficaram ligeiramente surpresos com o toque sombrio dos temas, uma vez que aprenderam só a desarmar, a conjurar o patrono e estuporar, mas pareceram excitados diante da perspectiva de elevar o nível.
Depois da reunião para apenas discutir o funcionamento do grupo, detive Gina na primeira oportunidade.
— Conta – exigi.
Ela me deu um sorriso maldoso.
— Contar o quê?
— Não me enrola, Ginevra. – Fiz cara feia para ela.
Ela riu.
— Foi o seguinte... Assim que você saiu, Córmaco empurrou Blásio e disse: "não quero mais vê-lo perto dela, está me entendendo?"
Revirei os olhos.
— Blásio sorriu para ele, aliás, que garoto mais mal encarado.
Eu ri. Quase podia ver o sorriso sínico dele.
— Córmaco foi para cima dele – disse Gina, séria.
— O QUÊ? – Gritei.
Córmaco tinha ido para cima de Blásio? Tinha puxado briga? Em tempos como estes, ele resolveu puxar briga com um sonserino? Esse menino não tem cérebro?!
— Gina, me explica direito esse negócio pelo amor de Deus – pedi, com urgência. – Córmaco foi literalmente para cima...? Saiu mesmo briga?
— Não, mas foi por pouco.
Suspirei, aliviada.
— Malfoy se enfiou no meio, foi para cima do Córmaco, e o negócio entre os dois foi pior que entre Córmaco e Blásio.
Meu choque foi tanto que eu não soube nem o que falar. Malfoy se envolvendo...? Não fazia sentido. Blásio só queria mesmo se divertir às custas da irritação e ciúmes de Córmaco, mas o Comensalzinho? Ele não tem nada com isso.
— Explica melhor isso daí, Gina! – exigi.

— Outro ponto de vista —

Os dois observaram se afastar. Quando ela sumiu de vista, se encararam. McLaggen tinha um olhar furioso e Zabini era zombeteiro.
— Não quero mais vê-lo perto dela, está me entendendo? – Havia um tom, ou melhor, uma sinfonia inteira de ameaça explícita na voz dele.
Zabini sorriu. Era um sorriso frio, irritante e arrogante, que nada queria além de confusão.
Córmaco rugiu, lembrando muito um trasgo montanhês adulto. Furioso. Assustador. Zabini, porém, não se deixou impressionar. E isso fez com que o outro perdesse as estribeiras e se lançasse no que se tornaria uma briga, não fosse...
— Tire suas mãos do meu amigo – Malfoy se fez ouvir.
— O que quer, Malfoy? Vá procurar o que fazer – disse Córmaco, olhando ameaçadoramente para Malfoy.
O loiro sonserino fechou a expressão e lançou um olhar mortífero ao loiro da Grifinória. Havia excitação geral no ar; confusões entre essas Casas sempre davam o que falar.
— Veja bem como fala comigo, McLaggen – alertou o outro.
— Senão o que, perdedor? – Desafiou McLaggen, sorrindo maldosamente. – Vai sair correndo para se queixar com o diretorzinho querido? Ou vai chamar o papaizinho para resolver seu problema?
Aquilo foi o limite.
Malfoy sacou a varinha, apontou-a para McLaggen e já ia murmurando "Crucio" quando o outro prontamente reagiu, sendo mais rápido e berrando "estupefaça" a todas as alturas. Malfoy caiu no chão e McLaggen gargalhou.
— Vai se arrepender – disse Malfoy, e conseguiu o que queria: – CRUCIO!
McLaggen caiu ao chão, contorcendo-se, berrando em agonia. Malfoy não conseguiu manter firme a Maldição Imperdoável por muito tempo, e logo McLaggen se viu livre. Jogou de lado a varinha e partiu para cima do outro. Saíram numa briga onde só o que valia era a agressão física. É claro que Malfoy saiu perdendo; McLaggen era grande e forte, bem mais que o outro.
— Chega. – O diretor se fez ouvir no meio da euforia de "BRIGA, BRIGA, BRIGA!" dos alunos. Bastou apenas ele abrir a boca e todos se calaram. Os dois arruaceiros pararam a briga. Malfoy estava despenteado, amarrotado e com cortes e arranhões. McLaggen também, porém não tanto quanto o outro. – Para meu escritório.
McLaggen passou por Malfoy, empurrando-o com o ombro propositadamente.
— Que isso sirva de lição para você e seu amiguinho se afastarem da minha garota. – E com isso saiu à frente, cheio de superioridade no andar.
Se Malfoy fosse um dragão, estaria soltando fogo pelas narinas naquele momento mesmo. Blásio tinha a sombra de um sorriso no rosto.

— Fim do outro ponto de vista —

— Diz que você tá exagerando, Gina – supliquei. – Por favor!
Gina riu.
— Nem um pouco.
— Merda.
Fiquei um pouco quieta.
— Você parece preocupada. – Fechei a expressão para ela. Será que não estava claro que Córmaco estava com sérios problemas àquela altura?
— Claro que estou! – Quase gritei. – Corm mexeu com dois sonserinos filhos da mãe! Pode estar com sérios problemas! – Respirei fundo.
Precisava me acalmar.
, não tem real motivo para se preocupar – disse. – É Córmaco, não você. Não acontecerá nada. No entanto, tem uma coisa que você precisa me explicar – disse ela.
Pronto, pensei. Agora ferrou de vez.
— Ah, é? – Fazer de desentendida podia resolver...
— Claro, mocinha.
É, com Gina o desentendimento não rola.
— E o que é?
— Que tal "Gente, disfarcem, mas eu estou fingindo." Ou "Não posso explicar agora.", ahn, mocinha? Ou talvez um "Preciso ir ver Madame Pomfrey; estou péssima!" Quer me dizer o que está acontecendo aqui?
Não.
— Bom, é que...
— Sem enrolar, !
Suspirei.
— Gina, você sabe que eu não posso falar sobre... coisas que vocês não devem saber. Entende do que estou falando?
— Claro. Entendo. Mas o que eu não entendo... Você de numa hora está toda quebrada por causa do Snape, e de repente sai da sala dele armando teatros... É disso que estou falando!
— E isso faz parte das coisas que vocês não podem saber por mim – disse.
— Isso é uma merda – disse, zangada. – Odeio esses segredinhos todos.
— Acha que gosto disso? – repliquei. – Tenho que guardar tudo aqui, sozinha. Tenho, por assim dizer, o destino de muita gente em minhas mãos e não posso mudar nada! Tenho que assistir tudo se desenrolar...
— O modo como você fala me deixa assustada – disse. – E como se alguém... fosse morrer...
— Sabe o que eu acho? – Eu a encarei, exasperada. – Que quando isso acabar, vocês todos irão me odiar. Vão me culpar... eu sei disso.
E sem dizer mais nada, corri para longe de Gina, antes que ela arrancasse mais algo de mim. Eu estava dando muita bandeira; ela podia muito bem fazer eu deixar escapar quem vai morrer no fim deste ano letivo.
E aí ela me odiaria antes do tempo. Precisava preservar a amizade dela enquanto a tinha.

—x—

Caí de cara nos estudos de magia das trevas no fim de semana. Ignorei todos os deveres de casa. Rebeldia, ah-ha!
Enfim, o que eu estava aprendendo era bastante perverso. Horrível! Só que eu ansiava a ação. Eu queria luta. Queria derrotar os malditos Comensais e seu líder. E como queria.

—x—

Segunda-feira de manhã. Aquela era a minha segunda semana em Hogwarts. Passei por coisas até ali que só Deus sabe. Parecia ter-se passado pelo menos um ano.
Vesti-me para ir a aula de Artes das Trevas, com Grifinória.
Essa era a pior aula que eu tinha.
Quando cheguei ao Salão Comunal para ir ao café da manhã, Amelia sorriu para mim e fez um sinal para que me juntasse a ela.
— Como está? – perguntou.
Ih, ela não sabe que era farsa. Melhor contar que não foi nada.
Não. Ela anda com Malfoy e Blásio. Não mesmo.
— Vivendo – eu disse, fazendo drama. – Enquanto posso.
Ela me deu um sorriso triste e condescendente.
— Acho melhor irmos – eu disse. – Se tem algo que eu não quero é arrumar mais problemas.
Pegamos os nossos livros, pergaminhos, tinteiros e penas, juntamos tudo e fomos para o Salão Principal, tomar café. Ou tentamos.
— Já que vão usar cobaias agora, amor – disse Pansy para Malfoy. Amor. Eca –, não vejo mal em usarem nossa querida Dumbledorezinha. Ela tem servido muito bem de cobaia do nosso ilustre diretor.
Crabbe e Goyle, que estavam ali, riram. Malfoy e Blásio estavam sérios.
Sorri para a garota.
— Eu realmente queria que você fosse meu único problema, Pakinsonzinha – eu disse. – A solução seria dar uma poção de sumiço para você. – Pelo menos eu ainda me divertia naquela escola. Pansy ficou pálida no ato. – Talvez eu faça isso. Cuidado com o que for beber – acrescentei, e, sorrindo, passei por ela. Mas parei em Blásio e Malfoy. – Deixem Corm em paz, okay? Não quero que fiquem arrumando confusão com ele. – Vendo Blásio sorrir, acrescentei: – Ou vão se ver comigo. Vamos, Lia?
— Se você não for me dar uma poção de sumiço para beber... Eu vou. – E riu. Pansy não tornou a abrir a boca. Fomos nos afastando gradativamente do grupinho. – Você não presta, .

—x—

A aula foi um tremendo pé no saco. Não que eu soubesse o que é isso, né... Enfim, eles ficaram ensinando aquelas magias horríveis das trevas, que eu aprendia por minha conta. Além disso, eu queria aprender a bloquear, desfazer e me livrar de magia negra, e não a fazer.
O professor – Carrow, aquele maldito, quem mais? – disse que se eu não treinasse a Maldição Cruciatus em um Luna ou Neville eu seria a única cobaia para a sala toda.
— Tudo bem – eu disse a ele. Pude ver seu choque ao ver que concordei com aquilo, assim como o pessoal da Grifinória.
— Você torturando seus amiguinhos – disse Carrow, como se repetir aquilo fosse tornar mais real. – Pago para ver.
— Eu faço... se for parceira de um sonserino.
O outro arqueou a sobrancelha.
— Por quê?
— Ah. – Dei-lhe um sorriso maroto e pisquei um olho. – Puramente por questões de afinidade. Posso fingir lançar a maldição e eles, por serem meus amigos, podem fingir dor. Pense bem.
Uma ova.
— Que seja nosso ilustre Malfoy, então! – disse ele.
Burro.
Eu não me mexi nem falei nada. Malfoy perdeu a pouca cor que tinha no rosto. Evitou me encarar. Ficamos um de frente para o outro. Meu coração palpitava, e eu não entendia e nem via um bom motivo para isso.
— Tenha as honras de começar, Malfoy – eu disse. – Por favor.
O professor riu.
— Mostre-me do que é capaz – meu tom dava a ideia de duplo sentido. Me mostre que você está pouco se fodendo se vai me machucar ou não. Me mostre o maldito que você é.
Ele ficou ainda mais pálido.
Acompanhei a dificuldade dele para formular a palavra "crucio". Eu quis matá-lo. Agora ia fingir que não conseguia me machucar? Queria que vissem que ele é incapaz de me ferir?
Esse garoto queria mesmo que eu o matasse.
— O que foi, querido? – perguntei a ele, fingindo caçoar. Quem me conhecia sabia que eu apenas queria disfarçar que estava prestes a voar no pescoço dele. – Não consegue lançar uma Imperdoável?
O pessoal da Grifinória abafou risinhos. Um ou dois sonserinos fizeram o mesmo. Amélia estava vermelha de tanto rir.
Ele não respondeu. Covarde.
— Crucio – murmurou, mas nada me aconteceu.
Você tem que querer, Draco – eu disse. – Precisar querer me ver sentindo dor. Pensei que você, melhor que ninguém, soubesse disso.
— Mas eu não quero – disse e abaixou a varinha.
Eu não me impressionaria com aquilo.
— Só que eu quero ver você sentido dor – eu disse.
Eu já ia atacá-lo com a Cruciatus quando o professor me estuporou lindamente. Eu caí pesadamente por sobre várias mesas; derrubei muitas e algumas até quebraram. Meu corpo doía. Foi como se uma corrente elétrica tomasse conta de mim. Meu corpo vibrava com aquela energia. Olhei para o professor, e canalizei toda aquela energia nele.
Crucio, pensei.
Ele caiu ao chão, aparentemente sendo eletrocutado. Eu fazia caretas de dor pelas pancadas que levei. Ele gritava. Então, eu o libertei da maldição.
— Como ousa?! Hein? Como ousa usar uma Imperdoável contra mim? EU SOU UM PROFESSOR!
— Não fiz nada. – Fiz uma expressão inocente. – Nem estou com varinha. – Acrescentei.
— Você pode fazer magia sem varinha – acusou Pansy.
— Estamos falando de uma das três Maldições Imperdoáveis, por favor! – eu disse. Era tão sonsamente inocente que cheguei a me assustar. – Se for assim, também posso matar qualquer um com a Maldição da Morte sem varinha, não é mesmo? – Pansy arregalou os olhos. – Sinto-me lisonjeada que você ache-me tão poderosa, mas, Pansy... não sou tanto assim. – Dei-lhe um sorrisinho afetado. Ela imediatamente ficou escarlate. Percebeu que eu parecia ter mais razão que ela. Começaram a zombar dela, dizendo que ela virou minha fã número um, perguntando se ela não iria me pedir autógrafos... e eu ri dela.
— Não quero saber de nada – disse o professor. – Vá ver o diretor imediatamente!
Sorri internamente. Mal sabia ele que ficar com Snape seria bem melhor para mim.
— Sim, senhor. – Juntei minha dignidade para me levantar do chão. Minha perna doía. Estava quebrada, certeza. Meu braço também. Eu não conseguia virar bem o pescoço. Costelas fraturadas.
Madame Pomfrey, me aguarde.
Minha perna boa bambeou e eu desabei. Péssimo. Eu não ia me levantar sem ajuda.
— Acho que vou precisar de uma ajudinha depois dessa, professor.
Córmaco logo veio para me socorrer. Sorri para ele. Aquele fofo...
— Volte para seu lugar, McLaggen.
— Vá se danar – disse ele.
Os meus amigos ficaram apavorados. Dei-lhes um sorriso amarelo.
Antes de sair, eu e Draco nos encaramos. Sorri para ele como quem diz: "da próxima você não escapa" e então Corm me levou, sem mais delongas.

—x—

— Corm, você precisa ser mais cuidadoso.
Eu e ele seguíamos pelo corredor. Ou devo dizer que ele seguia? Eu estava sendo carregada no colo.
Já estava se tornando hábito: eu desfilar por aí nos braços de Córmaco.
— Com o que, linda? – perguntou, sorrindo para mim.
— Com o que faz. Você não deve desafiar os Carrow.
Ele sorria presunçosamente.
— Só você pode ser rebelde aqui, é? – disse, em tom brincalhão. Eu ri levemente.
— Não é assim, Corm. Tipo, eles não gostam nada de mim, e então eu tenho que me impor. Com isso você só arruma problemas. Eu já tenho problemas, então nem ligo.
— Não quero que mexam com você – disse. Fiquei embasbacada. Que fofo! – Não ligo pra mais nada.
Sorri para ele.
— Você é muito, muito fofo – eu disse.
O sorriso dele queria dizer "ah, eu sei disso". Era super lindo aquele sorriso.

—x—

Córmaco me levou para a enfermaria, e lá recebi logo os cuidados de Madame Pomfrey. Ela mais que prontamente curou todas as minhas fraturas. Num instante eu estava nova em folha.
Ela me disse que, se fosse de meu interesse, eu podia passar por ali qualquer hora para aprender algumas poções milagrosas. Concordei veemente e disse que na primeira oportunidade estaria lhe cobrando aquilo.
Saí da enfermaria e me despedi de Córmaco, prometendo que nos falaríamos mais no almoço. Encaminhei-me para a sala do diretor.
Levei uns dez minutos para atravessar o castelo e chegar ao sétimo andar. Ao chegar à gárgula, dei a senha, sub pela familiar escada em espiral, logo chegando ao escritório do diretor. Com três batidas à porta e um porta e um "com sua licença", adentrei a sala.
Os antigos diretores descansavam em seus quadros. Dumbledore também. Severus escrevia em um pergaminho, sentado à sua mesa. Com minha intromissão, ele parou o que estava fazendo.
. – Sua voz não continha emoção. – O que foi dessa vez? Com Aleto ou Amico?
Dei um meio sorriso.
— Amico e Malfoy.
Ele me lançou um olhar desaprovador enquanto eu sentava na cadeira defronte a ele.
— Sabe... você bem que podia deixar o menino Malfoy em paz – disse ele cautelosamente. – Ele já passa muita coisa em casa com o Lord das Trevas. Você deve saber disso.
Encarei Severus como se ele tivesse me batido na face. Como, céus, justo ele podia defender Malfoy depois do que me fez?
— Não posso acreditar, Snape, que você esteja defendendo aquele...
— Sei que por tudo que aconteceu no último semestre em Hogwarts com vocês... Talvez você possa ter guardado mágoas dele, mas pense...
— Severus, desde quando o que ele me fez em junho passado me importa? – repliquei. – Aquilo não foi nada. Se não fosse por ele, meus pais estariam vivos! Se não fosse por ele, eu teria um lar para onde voltar no natal, coisa que eu não tenho!
Percebi com pavor que, enquanto eu falava isso, as lágrimas iam acumulando-se. Severus parecia não entender.
— Não entendo...
— Ele levou Bellatrix para matar meus pais, Severus! Você sabe disso! – Meus lábios tremulavam. – Acha mesmo que devo deixá-lo em paz? O que eu faço não é nada perto do que ele merece!
As sobrancelhas dele se franziram.
— Não devia ter acontecido dessa maneira.
— Como?
— O Lord das Trevas mandou que ele fosse tentar persuadi-la a se unir a causa. Ele tem interesse em você e achava que Draco era capaz de convencer você a ir de bom grado – disse ele, estudando minha expressão. – Mas, ao que parece, você não estava bem com ele e brigaram... e as coisas fugiram do controle dele. Você tentou matá-lo e ele chamou a tia, e num duelo, sua casa acabou em chamas, seus pais acabaram mortos e você desapareceu, prometendo acabar com cada Comensal com suas próprias mãos.
Eu gargalhei. Muito alto e superfluamente.
— Não é verdade. Ele disse que precisava da minha ajuda. E de repente estava a tia dele lá com mais quinze comensais. QUINZE. Eu fugi e eles foram atrás de mim. BELLATRIX assassinou meus pais para se divertir!
— Foi Bella quem contou a historia – disse ele. – E Draco confirmou sem nem hesitar.
Minha boca se abriu num "O". Filho de uma mãe. Comensalzinho metido, arrogante, idiota e mentiroso!
— Quando eu por minhas mãos em Draco Malfoy, Severus, a Maldição Cruciatus será o melhor que poderá acontecer a ele!
Saí correndo da sala de Severus sem ver nada. Tudo o que eu queria era bater em Malfoy até ter seu sangue em minhas mãos.
Severus gritou por mim, e eu o ignorei. Corri como se minha vida dependesse daquilo.
Peguei Malfoy saindo da sala de aula; o período de Artes das Trevas tinha chegado ao fim. Fui em sua direção. Os amigos iam a frente e ele os seguia. Apareci do nada por trás dele, puxei-o pela mão no meio da multidão e fomos engolidos por ela. Continuei andando, e ele veio comigo. Idiota. Mal sabia ele o que o aguardava.
Viramos num corredor e este estava vazio. Haviam ali algumas salas de aulas vazias. Puxei Draco para a última delas, a mais afastada. A adentramos e eu tranquei a porta.
É agora.
— Vamos acertar nossas contas, Malfoy... aqui e agora... de uma vez por todas – eu quase sibilava.
— Se isso for resolver as coisas entre nós, estou mais que de acordo – disse ele, seus olhos cinza esquadrinhando os meus. Aquilo fazia o calor da raiva piorar em mim.
— Você mentiu, destruiu minha vida e minha família! Me destruiu! Você devia ficar DO MEU LADO, e não CONTRA MIM! – Enquanto eu gritava com ele, as lágrimas rolavam. Minhas palavras não faziam mais sentido. Nada fazia sentido. Só tinha um jeito de tirar aquele ódio do meu peito.
Eu tinha que matá-lo. Precisava matá-lo.
— EU ESTAVA DISPOSTA A DEIXAR DE LADO TODA A MINHA VIDA PRA LIVRAR VOCÊ DAS HUMILHAÇÕES QUE VOCÊ ESTÁ PASSANDO HOJE NA SUA PRÓPRIA CASA, E COMO VOCÊ ME PAGA? – Perdi o fôlego. – Me traindo, é assim que você me paga. Você me traiu. Preferiria que você tivesse me matado. Mas agora que você fez tudo isso... quem vai te matar sou eu.
Por um instante, lembrei daquela cena do filme A Ordem da Fênix. Para ser mais exata, lembrei das palavras de Voldemort na voz de Ralph Fiennes.
Você tem que querer, Harry... Você sabe o feitiço. Ela o matou. Ela merece!
É, ... você tem que querer.
Não importa que um dia vocês tenham dado certo juntos.
Você sabe o feitiço. Avada K...
Foi por causa dele. Você não tem pai. Não tem mãe. Não tem
casa.
Ele com certeza merece!

— Vou fazer você pagar... sim, eu vou, Draco...
Tirei a varinha das vestes, já com um A-V-A na ponta da língua, e travei por ali. Eu ia conseguir. Ia mesmo.
Draco segurou meus pulsos com força e me prendeu contra uma parede atrás de mim, usando o corpo para pressionar o meu também. Eu arfei. Seu rosto estava tão perto que nossos narizes roçavam um no outro.
— Você pode me matar, sim... Claro que pode. E sabe disso – disse ele. Eu não aguentava olhar dentro aqueles olhos cinza que pareciam mostrar todo o interior dele, quando não mostravam nada. Eu não conhecia aquele monstro como eu pensava antes. – Mas antes, eu quero uma coisa... o meu último desejo.
Ele fechou os olhos e se aproximou. Seus lábios tocaram os meus com urgência, a língua já pedindo passagem sem pudor, e eu, estática, cedi facilmente. Logo eu estava grudada em seus cabelos, puxando-o para mim, prendendo minhas pernas em volta de seu corpo, na altura da cintura, deixando que ele sustentasse sozinho meu peso. Suas mãos vagavam pelo meu tronco e pernas, me apertando, me enlouquecendo. Minha respiração era irregular, e a cada segundo o beijo era mais delicioso. A sincronia... era tão perfeita que nós tínhamos que ter sido feitos um para o outro.
Não dava mais. Eu precisava respirar.
Ele me deu um segundo, mas não parou; beijou meu pescoço, fazendo um caminho delicioso até meu ouvido. Arranhei sua nuca, ouvindo-o suspirar por isso. Apertei-o ainda mais conta mim. Ele mordeu meu lóbulo, me fazendo suspirar baixinho. E então atacou meus lábios novamente, iniciando outro beijo molhado e cheio de desejo. Eu nunca havia sentido... aquilo antes. Eu nem sabia como descrever aquela sensação.
Enquanto eu me deliciava com aquele momento, meu subconsciente berrava algo insistentemente. Isso me irritava. Ele não via que nada importava? Eu estava beijando Draco. E era isso o que...
Espera. Estou beijando Draco! Mas que foi que deu em mim?!
Afastei-o com urgência, partindo o beijo, descendo de seu colo e encarando-o com pavor.
— Eu te amo, – disse ele. Seus olhos eram tão receptivos e calorosos que parecia verdade.



Capítulo 6
Pinga, pinga, pinga. Malfoy, Malfoy, Malfoy.


Aquele “eu te amo, ” ainda ecoava em minha cabeça. Mas também... como poderia ser diferente? Sério? Depois de tudo o que nos aconteceu... como eu poderia ficar ali, ouvindo dele aquelas palavras, e não ficar sem reação?
Eu tinha que ter sangue frio para lidar com aquilo tudo. Oh, Merlin, me ajude. Força. Vamos lá.
Enquanto eu ficava ali, parada, totalmente sem reação após perceber que eu estivera aos beijos com o cara que destruiu minha vida – como se “eu te amo, ” já não fosse o bastante –, ouvi alguns Comensais-guardas-professores vindo pelo corredor. Gelei. E aquilo era o suficiente para que eu gelasse, certo? Não podíamos ser vistos juntos. Não podiam me ver. Isso era mais que óbvio. Eu estaria ferrada se...
Deviam ter ouvido nossos gritos (meus gritos, para ser mais precisa). Eles abririam a porta. Iriam pegar-nos ali.
Oh, Merlin!
Com isso em mente, ignorei a forte e crescente náusea que me dava ao olhar para Malfoy. Okay, não parece ter sentido eu sentir náusea, considerando-se que eu tinha deixado ele me beijar. Certo. Aquilo foi irracional. Isso não. Foi pensando. Calculado.
Ele apenas me observava, esperando alguma reação após o que ele dissera. O que eu fiz foi colar minha boca na de Malfoy num selinho, além de ficar aninhada nos braços dele, esperando, enquanto ele me acariciava e se empolgava. Meu estômago se revirava. Oh, céus. Ele não deixou parar por ali, e como eu precisava usá-lo, tive que ceder mais um beijo a ele.
A porta se abriu; pude ouvi-la e sentir o vento passando por ela, remexendo meus cabelos bem de leve. Na certa, veriam Malfoy se atracando com alguém e não interromperiam, né? – Era o que eu desesperadamente esperava. Ele era um queridinho. Sempre foi. Teria lá seus privilégios. – Esperei que eles se afastassem, e isto logo aconteceu. A porta se fechou e tudo ficou como antes, calmo e silencioso. E então empurrei Malfoy, sem piedade.
— Mas...? – Ele estava muito confuso.
— Nunca mais me toque novamente, entendeu? – Sibilei para o loiro a minha frente, arfando, e logo passei a mão em meus lábios para me livrar de qualquer vestígio daquele beijo. Só tinha um que não dava para tirar. O gosto dele. Aquele sabor de canela ou chocolate, ou quem sabe os dois. Estava ali, na minha boca. Eu podia sentir.
E não havia nada que pudesse ser feito quanto a isso.
Merda.
Eu já havia me encaminhado um passo para me afastar dele quando sua mão me prendeu o pulso. Eu parei. Fiquei um segundo paralisada, de olhos fechados, sentindo ainda aquele sabor delicioso e nauseante, mas então olhei para a mão em meu pulso, e depois para seu rosto com aquela expressão de “dois segundos para me largar se não quiser ser assassinado” na face.
— E o que acabou de acontecer, ahn? – perguntou, me encarando em desafio e triunfo. – O que foi isso? Eu posso ter beijado você primeiro, mas isso... agora...
Isso foi eu te usando para que seus amigos Comensais não me vissem. – Indiquei a porta. O desafio e o triunfo deram lugar à vergonha e raiva. Eu quis rir. E vomitar também. – Você foi conveniente para mim. Ponto. Se me der licença, tenho coisas mais importantes para fazer. Tipo vomitar.
Agora, eu sorria em triunfo. Alcancei a porta e saí por ela, mas não sem antes ouvir:
— O que fiz para merecer isso?
Ele não falava comigo. Eu sabia. Mas eu tive que responder. Há momentos em que é impossível manter a boca calada.
— Você sabe bem o que fez. Mal vejo a hora de ter oportunidade de dizer ao seu Lord umas coisas que sei sobre você e sua tia. Ele vai adorar.
E então eu saí, deixando-o com essa pulga atrás da orelha.
Que momento espalhafatoso. Eu supostamente não ia matá-lo? Como que o jogo virou dessa maneira?

—x—

Tive muitas lições importantes com Snape nos dias que se seguiram. Claro que não falhávamos com a tortura. Ou seja: eu estava andando machucada por aí, como sempre.
No primeiro encontro após meu surto por causa das mentiras de Malfoy, Severus se mostrou bastante irritado.
— O que você pensa...? – Já foi atirando em mim, assim que me viu passar pela porta.
— Antes de mais nada, boa noite, eu estou muito bem, tudo vai perfeitamente bem e a vida é bela – eu disse, sem expressão e cheia de sarcasmo. Ele me lançou um olhar mortífero. – Não fiz nada com aquele sujeito nojento, loiro e de olhos claros. Infelizmente, eu ainda não pude fazer nada. Mas...
— Sem “mas” para você – disse. – Esqueça-o, garota. Entendeu?
O tom ríspido dele me abalou. Quero dizer, eu estava muito confusa, cheia de coisas na cabeça e... irritada, muito triste, e ferrada de raiva de tudo... o que fazia de mim um poço de lágrimas ambulante. Eu não podia desabafar. Não tinha com quem contar. Eu só tinha ele e o quadro de Dumbledore... Eu me sentia sozinha. E aquilo foi... digamos que excessivo.
Quase chorei.
— Você melhor que ninguém deve entender quando se trata de traições... em que perdemos pessoas queridas. Achei que ficaria do meu lado.
Fiquei observando sua expressão. Confusão. Culpa. Confusão. Raiva. Confusão. Pena. Foi a gota d’água.
— Quer saber? Deixa pra lá. Fiz os exercícios de teoria que me passou sobre aqueles feitiços. – Peguei o livro e o atirei com um estrondo na mesa dele. O Sr. Black me xingou de seu quadro. Dumbledore me olhou com curiosidade. – Volto outra hora pra aula prática. Esqueci umas coisas para fazer. – Não dando oportunidades de Severus dizer nada sobre meu último comentário, saí correndo de lá, antes que eu começasse a chorar e ele ficasse me encarando com aquela piedade de dar ódio.

—x—

Encontrei Amelia no Salão Principal. Era hora do jantar. Eu não conseguia me lembrar de quando fora a última vez em que comera algo, e isso me deixou com um apetite que assustou. Amelia começou um tagarelar sem fim sobre algo que eu nem entendi e fui só completando com “uh-hum” e “ahn” enquanto enchia um prato de macarronada à bolonhesa.
— Mas você não o acha bonitão? – perguntou ela.
— Uh-hum – concordei. E depois percebi: quem foi que eu disse que acho bonitão?
— Pois é. – Ela sorriu amplamente. – Aquela pele morena dele é um charme. Tão lisa! E o jeitão dele todo sério é sedutor.
— É? – retruquei. Quem era o moreno, charmoso, sério e sedutor?
— Aham. E, sabe, torno a afirmar: ele deve ter uma queda por você. Embora nunca vá admitir, você sabe...
Moreno, charmoso, sério e sedutor que tinha uma queda por mim? Que tipo de drogas estão dando pra Amelia? (Ou eu deveria dizer poções ao invés de drogas? Ai, deixa pra lá.)
— Nada a ver – eu disse, mordendo a língua para segurar o “de quem você está falando?”
— Qual é, ! – Ela riu. – Olha, quando você chegou ano passado, eu me lembro dos meninos comentando que você era bonita e que torciam para você ser da Sonserina para poderem dar em cima de você. Ficaram desapontados quando você escolheu a Grifinória... E hoje eles acham que você é doida, então, ficam sem coragem de chegar em você... Mas o Blásio parece nem ligar.
Blásio. Moreno, charmoso, sério e sedutor. Pode ser.
Tem uma queda por mim?
Gargalhei alto.
— Lia, que delírio é esse?! Ficou louca? – E ri de novo. – Nunca... nunca que ele teria sequer em pensamento uma queda por mim. Não viaja.
— Não viajar? – ela ficou confusa com a expressão. – Ahn. Coisa de trouxas.
Claro que Amelia tinha sua mínima porcentagem de preconceito com trouxas. Era da Sonserina, afinal.
— Bom, eu acho que ele teria sim. Na verdade, acho que ele tem.
— Hm – fiz eu, dando uma bela de uma garfada no macarrão, que estava muito bom.
— Mas é claro que você só tem olhos pro Córmaco. – E ela pestanejou várias vezes daquele jeito nauseante de apaixonada.
— Vou te amaldiçoar – ameacei de boca cheia.
Ela riu.
— Entendi. Ficarei quieta.
Ficamos em silêncio enquanto eu atacava o macarrão com vigor, sem me importar com mais nada.
Quando eu estava satisfeita, baixei o garfo e avistei o Prof. Slughorn vindo devagar pelo corredor. Seus olhos pairavam em mim. Viria falar comigo. Esperei.
, minha jovem! – Saudou majestosamente. Murmurei um “professor” como saudação em resposta. – Bom te ver! Andei pensando em uma festa de boas vindas para os alunos mais seletos... Você deve se lembrar de minhas festas.
— Com certeza lembro! – eu disse. – São sempre inesquecíveis.
Ele se animou ainda mais.
— Oho! Gostaria muito de vê-la nessa festa, então! Será ainda melhor que as outras!
Sorri para ele.
— Pode contar comigo.
— Maravilha! Aguarde minha coruja. Ah, e pode levar acompanhante! – Sem mais, saiu, acenando.
Amelia tinha um sorriso sem tamanho que perguntava “e então, que vai levar?”
— Há duas pessoas que posso levar – eu disse a ela.
— Desde que uma delas não seja eu, claro.
— Neste caso, verei se Córmaco quer ir comigo.
Ela deu um gritinho baixo e bateu palmas.
— Assim que se fala! Mas eu levaria Blásio – e suspirou.
— Ele com certeza vai – eu disse. – De repente pode levar você.
Quando os olhos dela brilharam ao som de minhas palavras, saquei que nunca houve maldade na aproximação dela com Blásio/Malfoy.
Era puro sentimento por ele.
Cheguei a me sentir mal.
— Estou indo nessa, Lia. – E corri. Tinha que convidar alguém para a festa de boas vindas.

—x—

Perto da torre da Grifinória, encontrei o loiro grandalhão.
— Hey! Corm! – Ele estava quase entrando no Salão Comunal, mas ao me ouvir, ele se virou e me deu aquele sorriso dele. Eu gostava daquele sorriso. – Oi! – Enquanto ele se aproximava, meu olhar se perdeu no retrato da mulher gorda. Suspirei. – Sinto falta de ser da Grifinória. Ai, ai. Enfim, não vim aqui para me lamuriar.
Sorri para ele e, é claro, obtive aquele sorriso dele em resposta.
— Bom te ver, – disse ele.
— Bom te ver também. Estava te procurando.
O sorriso sedutor se tornou malicioso.
— Aí está uma coisa muito boa – disse, e eu ri. – Mas diga: o que posso fazer por você?
— Pode ir comigo à festa do Slughorn – eu disse. Era impressionante como eu estava sem pudores ali, com ele. As coisas eram fáceis entre a gente. Eram boas. Diferentemente de... Deixe para lá. – E então, o que me diz?
— Wow, será incrível – disse ele. – Obrigado.
— De nada, querido – eu disse, apertando sua bochecha. Ele era tão fofo. Eu o adorava. – Nos vemos por aí.
Ele sorriu maliciosamente e me olhou de cima a baixo. Safado.
— Tchau – disse ele. Mandei-lhe um beijo em resposta e me afastei.
Essa festa tinha tudo para ser inesquecível.

—x—

Enquanto as semanas se arrastavam, eu sabia que Harry, Rony e Hermione haviam obtido sucesso em sua missão de resgate à uma das horcruxes – vocês sabem, Dolores Umbridge fingindo ser descendente de Salazar Slytherin, usando o colar no ministério –, e agora ficariam um longo tempo em busca de outra, assim como um modo de destruí-las.
Para refrescar a memória, Hermione e Rony ficam decepcionados por Harry não ter planos e Rony vai embora, deixando-os sozinhos naquela caçada.
Bom, enquanto eles faziam coisas úteis, eu não parava de estudar. Sério, isso estava me deixando louca. Eu precisava de ação. Ficar trancada naquele castelo só apanhando estava me fazendo muito mal.

—x—

Na sábado, pela manhã, esbarrei com Blásio no Salão Comunal. Ele estava sozinho, lendo jornal, jogado numa poltrona, ainda de pijamas. Vê-lo ali me fez lembrar uma coisa... e isso me animou muito. Corri até ele e me sentei no braço de sua poltrona, espiando o jornal.
— Bom dia, colega – disse ele.
— Bom dia – respondi.
Ele não disse mais nada. Era como se dissesse, no entanto: “e então? O que quer?”
— Você tem par para a festa do Slughorn? – perguntei. Olhando-o de soslaio, pude ver seu sorriso presunçoso, e ele levantou seu olhar para mim.
— Sei o quanto você adoraria ir comigo, mas não seria um pouco tolo de nossa parte irmos juntos, se nós dois já fomos convidados? Por que não damos a chance de mais duas pessoas irem conosco? Você podia levar Malfoy.
Sorri para ele.
— Já tenho um par, e preferiria levar Amico em vez de Malfoy. Responda minha pergunta!
Ele sorriu.
— Não.
— Hmm.
— Por quê? – Ele mantinha um sorriso insinuante.
— Nada, colega. Tem alguém que queira levar?
— Sua amiga, Amelia. O que acha disso?
— Fantástico. – Pisquei para ele, marota. – Mas se magoar minha amiga, eu juro, vou fazer com você o mesmo que os comensais nojentinhos fazem comigo aqui. – Dei um beijo na bochecha dele e me levantei. Ele riu.
— Estou apavorado – disse, sarcástico e brincalhão. – Mas gostei da conversa. Suas palavras me dão coragem para convidá-la. Embora eu não me importe de me encontrar com você lá, no escurinho, para... – Ele deixou a frase pairando no ar, cheia de subentendidos.
— Leve Malfoy, Lia e Pansy e podemos fazer um grupal selvagem. Posso até chamar Córmaco também.
Blásio gargalhou.
— Por favor, Blásio. – Revirei os olhos para ele. – Adoro seu sarcasmo, mas manere nas brincadeiras. E tenha em mente que usar o nome Malfoy comigo é campo minado.
Ele ficou sério repentinamente.
— Eu gostaria de entender o motivo – disse.
Fechei a expressão.
— Pergunte a ele. Talvez para você ele não minta. Embora eu não confie nessa teoria.
— Mas e a parte do grupal selvagem...?
Imitei aquela expressão de desprezo do Severus para ele.
— Menos, Blásio. Vá falar com Lia. Tchau.
Uma hora depois Amelia chegou gritando no dormitório por causa do convite. Deus sabe como foi difícil aturar a alegria contínua dela ao longo do dia. Mas estava valendo. Gostava de vê-la contente. E isso me tirou aquele peso na consciência por julgá-la por andar com Blásio/Malfoy.

—x—

Recebi minha coruja com a data da festa de Slughorn e tratei de correr para falar com Severus. O episódio dramático do último encontro caiu no esquecimento. Instantaneamente. Sinceramente nem lembrei dele ao receber a carta. Só pensei: preciso de ajuda e vou pedir pra Severus. Ponto.
— Severus! – Irrompi a sala dele, eufórica. – Preciso de ajuda!
Ele pareceu chocadamente surpreso.
— Fale.
Expliquei sobre a festa e a necessidade de vestes novas. O modo como expus a questão foi cômico. Eu agia como se fosse urgência, e nem era importante! A expressão dele foi digna de Paola Bracho da novela “A Usurpadora” (você sabe, aquele desprezo de enojar), e isso me fez rir.
— Sei que é uma coisa meio fútil, mas minha casa pegou fogo... e só comprei o básico e extremamente necessário para vestir... Severus, você é o mais próximo de uma família que eu tenho agora... por favor?
Os olhos dele quase saltavam das órbitas. Aposto que estava em dilema. Ajudar-me e fazer com que minha raiva sumisse pelo deslize dele ou me mandar crescer e criar juízo?
— Não preciso de muito – eu disse. – Só uma forma de sair e entrar em Hogwarts sem ser pega. Ou vista.
— Mas você será vista lá fora, pela comunidade bruxa inteira – retrucou.
— Se isso é o que me impede, tenho uma solução. – Eu sorri. – Nada que bons feitiços não resolvam.
Severus me deu as costas, olhando pela janela, ponderando.
— Por favor! – Meu tom era infantilmente implorativo, e eu quase quicava no lugar. Ai, céus, que vergonha.
— Hunf – bufou. – Está bem, eu ajudo. Na terça, quando o movimento for menor por aqui.
Eu o abracei. Severus ficou meio paralisado e eu tive que rir.
— Obrigada, pai substituto. – E corri para longe dali, um pouco feliz. Aquilo, apesar de não ser muito, era melhor que o usual desespero.
A festa era uma distração. Até os maiores heróis tem seu momento de descanso, né? Harry tem os seus. Eu podia ter o meu também, né?
Eu não podia estar mais enganada.

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Na terça, como fora prometido, Severus me levou (literalmente) até Madame Malkin - Roupas e Vestes Para Todas as Ocasiões. Estávamos “diferentes”, já que usamos alguns feitiços para não sermos reconhecidos. Ele esperou pacientemente enquanto eu fazia minhas exigências e acertava os detalhes, e cerca de uma hora depois retornamos a Hogwarts. Severus aos poucos se tornava alguém importante para mim. Realmente como família.
Eu não sabia como ele se sentia com relação a mim.

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Chegara o dia da festa. Eu estava animada, ansiando um pouco de distração por algumas horas, antes de mergulhar de cabeça outra vez em meus problemas.
Meu vestido era maravilhoso, feito literalmente sob medida para se adequar a mim. Era longo e escarlate, deixava à mostra minhas costas, completamente. Na frente havia um belo decote em V, e no lado da perna esquerda havia uma abertura que ia bem acima do joelho, enfeitada com alguns babados delicados. Ele valorizava muito meu corpo. Fiz alguns cachos no cabelo super curto, abusei da maquiagem como há tempo não fazia, pus acessórios e pronto! Estava linda de matar. Ou tão linda quanto eu podia ficar.
O que importa é que eu estava linda.
Combinei com Córmaco de nos encontrarmos na festa, então fui rapidamente para lá, levantando o vestido para que não arrastasse no chão e indo o mais rápido que conseguia sem cair com aquele par de scarpin vermelho.
Eu provavelmente fui a última a chegar. Havia uma música bastante jovial, algum rock bruxo, e muitas pessoas conhecidas. Todos ficaram me encarando quando entrei; quase me fez pensar que tinha cometido uma gafe. Mas aí eu reparei. Não havia nada errado. Só eu. Uau. Primeiro dia em Hogwarts, de novo e de novo.
Por que eu sempre tenho que chegar causando impacto no público? Que saco.
, minha cara! – Slughorn parecia contente. Sorri para ele. – Seja muito bem vinda! Cheguei a pensar que não a veria mais.
— Desculpe meu atraso – eu disse. – Sapatos altos e vestidos longos são empecilhos quando combinados.
— Não há o que desculpar! Venha, vamos curtir a festa!
Senti-me Hermione em Harry Potter e o Cálice de Fogo, quando ela chega ao Salão Principal para dançar com Victor Krum. Mas isso não foi de longe o melhor. A expressão de Draco Malfoy ao me ver foi impagável. O mais distante possível de todos, na penumbra da sala de Slughorn, Draco me olhava com muitos sentimentos diferentes em sua expressão, ao lado de Pansy Parkinson. Sorri para ele. Não aquele tipo de sorriso afável, mas sim aquele tipo “ha, se fodeu, otário”. Olhei para Córmaco, e esse me abraçou e beijou meu rosto, os olhos em Draco. Quando voltei a olhar para Malfoy, senti que ele podia muito bem matar Córmaco. Blásio e Lia riam-se ao lado dele.
Aquela seria uma noite interessante.



Capítulo 7
A Festa


E quando eu pensei que a festa seria interessante, não podia nem sequer imaginar que seria tanto assim. Eu bebia muita cerveja amanteigada – aliás, que bebida estupenda, esta – e dançava muito animadamente com Córmaco, que tinha um pique indiscutível.
Ficar com ele era melhor do que eu planejara. Ele é um garoto maravilhoso – apesar de ser muito abusado. Cheio de mãos bobas, se é que me entendem. Isso fazia Malfoy subir pelas paredes ao lado de Parkinson. Blásio e Lia pareciam se divertir com a situação.
Continuamos dançando durante vários e longos minutos. Enquanto eu estava ali, forçava-me a não pensar em tudo de ruim que tinha acontecido e que ainda estava por acontecer. Quero dizer, que mal tem tirar algumas horas de descanso? Não fizera nenhum progresso em semanas; algumas horas não mudariam isso.
Ou pelo menos era o que eu insistia em pensar, ignorando aquelas pontadas de culpa no estômago, ou onde quer que fosse.
Eu já ria tolamente depois de muitas cervejas. Digamos que... eu estava beirando o vexame, mas ainda tinha dignidade e postura. Estava lúcida, porém, bastante animadinha. Por fim, num dado momento, eu me cansei e, respirando fundo, olhei ao meu redor, parando de dançar, o sorriso tolo ainda no rosto.
Havia um cara estranho adentrando a festa; percebi o profº Slughorn olhá-lo com uma expressão de óbvia tensão na face. Conforme o convidado indesejado – ou intruso; duvido muito que o professor tenha convidado aquele tipo de ralé para a festa dele – ia se aproximando de onde eu e Córmaco estávamos, percebi que deveria ser Yaxley, um dos malditos Comensais que assistiram à morte de Dumbledore na torre de Astronomia. Se não me engano, ele escapou por pouco de muitas maldições que lancei naquela noite. E, ao perceber isso, também me dei conta de que eu estava ferrada – ou pelo menos estaria se eu não usasse logo o cérebro. Não só porque aquele detestável loiro vinha ao meu encontro, mas porque outros estavam guardando a porta. A mensagem era clara: ninguém entra e ninguém sai.
Àquela altura, todos começavam a ver a estranheza do momento. Aos poucos os dançarinos se tornaram espectadores, e Yaxley se fez ouvir:
— Gostaríamos de conversar com a Srtª. , e fomos informados de que ela se encontra aqui, nesta festa. – Seu tom de voz estava pouco mais alto que a animada música.
Durantes alguns instantes, só o que se ouvia era a dita música. Dei um passo à frente, atraindo o olhar de Yaxley para mim, e Córmaco rapidamente puxou-me para trás pelo braço.
— Ele é do ministério... – começou, bem baixinho ao pé do meu ouvido. Seu tom era urgente.
— Relaxe, Corm. Eu sei. Está tudo bem – retruquei friamente. Livrei-me de sua mão e caminhei mais para perto de Yaxley.
— Dumbledore, se não se incomodar – corrigi-o.
— Hm – desdenhou. – Tanto faz. Faça o favor de nos acompanhar, senhorita.
Sorri para ele, como quem diz "você deve estar brincando".
— Não sem ter um bom motivo, senhor – disse, com um tom meigo.
— Temos assuntos ministeriais para tratar, e creio que a senhorita não gostaria de compartilhá-los com seus colegas – disse. A expressão era fria e hostil, e os lábios estavam repuxados sobre os dentes, como um cachorro rosnando.
— O senhor logo irá perceber que está enganado – disse, de um modo bondoso, que em muito lembrava o modo de Dumbledore falar. Ele deve ter notado isso, uma vez que semicerrou seus olhos para mim, parecendo prestes a me arrancar a força dali. – Não tenho porque esconder nada de ninguém.
Isso nem de longe é verdade, mas ele não precisa saber.
Para minha surpresa – pensei que ele fosse insistir em me retirar dali –, ele trocou um breve olhar com os outros Comensais à porta e me deu um sorriso enviesado.
— Tenho em mãos um mandado de prisão para a senhorita.
Mandado de prisão? Uma ova!
O burburinho de vozes cochichando começou. Claro que iriam fofocar sobre aquilo mais tarde.
Bom, tenho que admitir que era uma jogada de mestre, essa. Primeiro, me pintaram como desequilibrada e potencialmente perigosa, para depois me prenderem, e, de fato, sob essas circunstâncias, não havia muito a questionar. Quem se oporia a prisão de uma delinquente perigosa? Quem iria se importar? Em tempos loucos como estes, poderia trazer até algum conforto para algumas pessoas.
Como eu disse, jogada de mestre.
Ele começou a ler o mandado de prisão, e minha expressão não se alterou nem sequer um pouco. Resumidamente, iriam me prender por ser uma ameaça a comunidade não-mágica, e, provavelmente, à mágica também. Ainda sob acusações infundadas de que eu tinha culpa na morte dos meus pais. Num tom de leve irritação, perguntei:
— Provas? Evidências? Testemunhas?
Ele ficou paralisado; não esperava que eu fosse espertinha, mas se ele achou que eu ia me entregar tão fácil... não sabia como estava enganado.
— Não existem, não é? – Sorri para ele, debochando. – Pois então, senhor, eu o aconselho a voltar quando tiver estes três pequenos itens de vital importância. Lembre-se também de trazer uma convocação judicial em lugar de um mandado de prisão. Afinal de contas, tenho direito a um julgamento. Não se pode prender ninguém sem provas...
— Ninguém precisa de provas para saber que matou a sangue frio aqueles trouxas – retrucou rapidamente, zangado.
— Se eu tivesse a Marca Negra no braço como você, seu maldito trasgo, estaria me venerando agora – cuspi as palavras, com repugnância. – Não pense nem por um segundo que vou cair no seu blefe, Yaxley. E só pra te deixar de sobreaviso: se eu sumir nos próximos dias, as pessoas que se importam comigo vão saber quem procurar. Fica a dica.
Ele parecia não ter palavras. Abriu a boca uma, duas, três vezes, mas não havia o que discutir. Eu estava certa, e ele sabia; então, ele tinha que enfiar o rabinho entre as pernas e sair dali rapidinho. E ele não tardou a fazer isso.
Logo todos cansaram de me encarar. Começaram a fingir que nada havia acontecido, e eu agradecia internamente por isso. Melhor que me olhassem de esguelha como se eu fosse maluca quando eu não estivesse vendo do que me encarando abertamente quando eu podia ver. Afinal, o que os olhos não vêem, o coração não sente. Contudo, a minoria ali não deixaria que aquilo passasse despercebido. É claro que eu me refiro a Córmaco, Gina e Lia. Blásio e Malfoy apenas me olhavam como se não me reconhecessem. Parkinson parecia extasiada.
! – Gina correu ao meu encontro, Neville a seu encalço. Eles estavam juntos. – Isso está fugindo ao seu controle! Isso tem que parar!
De onde o "meus colegas" da Sonserina estavam, claramente podiam escutar a conversa. Por isso, medi minhas palavras e disse breve e rispidamente para Gina:
— Fique calma. Vou resolver isso. – Olhei diretamente nos olhos de Malfoy, com um plano arriscado se formando em minha mente. – Agora.
— Como você pode ser tão fria? – Gina parecia furiosamente preocupada; sibilava e parecia prestes a dar uns tapas em mim para ver se isso me fazia pensar racionalmente. – Você sabe do que eles são capazes, você viu o que fizeram a sua família! Como pode ficar aí e me mandar ficar calma?!
— Tá aí algo que eu gostaria de saber – acrescentou Corm.
Olhando de um para o outro com determinação, eu disse, simplesmente:
— Vou resolver tudo. Agora.
Passei entre os dois, Córmaco e Gina, que estavam ombro a ombro, e meio que os empurrei rudemente. Podia sentir seus olhares arderem em minhas costas, mas não deixei isso me impedir de ir até onde Lia, Blásio, Malfoy e Parkinson permaneciam parados. Só parei quando estava frente a frente com Malfoy. Ignorando os outros, meus lábios numa linha rígida e a sobrancelha arqueada em desdém, tomei ar – e uma lufada de coragem e adrenalina veio junto – e, sem hesitar, murmurei:
— Quero conversar com você, se não for incômodo – disse, formalmente. Era isso ou sair gritando e xingando-o de vários nomes não muito agradáveis.
— Ele não vai – disse a cara de buldogue, lembrando muito o tio Válter (quero dizer, o tio do Harry... ah, tanto faz) quando disse ao Hagrid que Harry não ia para Hogwarts.
Sorri para ela.
— Desculpe, não entendi.
Ele não vai - repetiu Parkinson. – Não vou deixar o meu Draquinho ir a nenhum lugar com você, sua aberração!
Draquinho. Draquinho. Sem comentários.
— Desculpe, querida. Continuo a não entender – disse, num tom digno de Dolores Umbridge.
— Mas que diabos...?
— Sabe... eu não entendo o que você diz porque eu não aprendi a falar com cadelas. – A minha expressão combinaria perfeitamente com a de Umbridge naquele sorriso enviesado e maldoso, o ar de felicidade e tudo o mais. Lia abafou risinhos. – Você fica latindo e latindo... e eu não entendo absolutamente nada. – Então, tornei a olhar para o loiro a minha frente, esperando ver uma carranca pela ofensa a namoradinha dele, mas não vi nada além de receio. – Preciso conversar com você, Malfoy. Não vou me demorar, eu prometo.
— Já disse que ele não vai, sua sangue-ruim nojenta! – Ouvi Parkinson dizer.
— Continue latindo – eu disse, ignorando a ofensa ao fato de eu ser sangue-ruim. Grande merda ter sangue puro. Como se me importasse. – Sua resposta pra mim de nada vale.
— Eu vou – disse Malfoy, por fim, afastando Parkinson de seu corpo. Eu não percebera, mas ela grudara nele que nem trepadeira numa parede. Argh.
Troquei um olhar e um sorriso com Lia. Ela ainda tentava abafar risinhos. Ainda sorrindo, dei as costas ao grupo e segui em direção a porta. Não diminui o ritmo ao passar pela porta, nem ao seguir pelo corredor, em busca de uma sala fechada onde ninguém fosse nos interromper. Não parei para checar se Draco me seguia, mas pude ouvir seus passos leves e o farfalhar de suas vestes atrás de mim, além do som que meus próprios sapatos e vestes produziam.
— Só preciso saber uma coisa, Draco. Uma coisa - murmurei, enquanto fechava a porta, depois que ele passou. Permaneci parada, ainda encarando a porta, nervosa. – Sem mentiras, sem embromação. Me dê uma resposta e nós dois saímos daqui; simples e fácil.
Não era bem assim que seriam as coisas, independentemente da resposta dele, mas ele não precisava saber disso. Se ele podia mentir para mim, eu também podia mentir para ele.
Por fim, me virei para olhá-lo. Queria ver nos olhos dele a resposta. Mas, para minha surpresa, ao ouvir estas palavras, ele encarou os sapatos numa expressão que eu já vira, e que nunca iria esquecer. Era a expressão daquele menino que eu tanto amei, aquele que podia ser doce, que precisava de alguém para clarear-lhe as idéias. Aquele que me fez amolecer e baixar guarda, que estava confuso e desesperado, e que precisava de mim. Aquele menino que jamais existiu e que foi apenas fruto da minha imaginação. Ele era um monstro. E foi isso que coloquei em mente quando fiz a pergunta vital:
— O que vocês querem de mim, Malfoy?
Ele fechou os olhos, ainda com aquela expressão.
— Diga-me – exigi.
— Não – sussurrou ele, com firmeza.
Ah, então é assim? Ahn. Veremos.
Cerrei minhas mãos em punhos, concentrando-me. Não peguei a varinha, mas ordenei:
Crucio.
Ele caiu, gritando, sofrendo. Mantive a maldição com firmeza por uns instantes, assistindo ao sofrimento dele. E então, tornei a perguntar:
— Diga o que vocês, malditos Comensais, querem de mim, Malfoy. Quero saber agora, e você vai me dizer.
Ele se levantou. Seu corpo tremia ligeiramente por conta da dor recente. Ele arfava. Seu olhar buscou o meu, e parecia não me reconhecer.
— O que aconteceu com você, ?
Mordi a língua para impedir o jorro de acusações que eu queria desferir sobre ele. Eu tinha um propósito, e seguiria com ele.
— Você. Foi o que aconteceu – eu disse, com simplicidade. – Deve estar orgulhoso. Agora, responda a minha pergunta.
— Não quero que você saiba. Não quero dar a ele... o gostinho...
Mentira. Era só nisso que eu conseguia pensar. Que era mentira.
— Poupe-me – retruquei furiosamente. – Quero a verdade, e só a verdade.
— Ele... Ele... Ele... – Draco engoliu em seco e respirou fundo. Covarde. – Ele usou Legilimência em mim umas noites antes de eu ir... ao Brasil... – Ele tornou a engolir a seco e respirar fundo. – Viu você em minhas memórias. Sentiu o meu... afeto por você. – Ele corou. – Ah, ele achou aquilo estupendo. E então, ele mandou... mandou eu ir te buscar, te convencer a se aliar a ele... É isso o que querem. Você. Ele tem planos e quer você para eles. Mas era para ser apenas eu... eu não queria que minha tia fosse, você tem que me perdoar...
Se ele estava sendo sincero quanto a última parte ou não, eu nem quis saber. Só sabia que eu tinha providências a tomar.
— Ele quer tanto me ver – murmurei. – Pois bem, vamos realizar o desejo da criança mimada. Me leve até ele.
...
— Sua casa, Draco. Leve-me para sua casa. Agora.
— Não! , não! Não posso deixar você fazer isso! É suicídio! – Ele me olhava desesperadamente.
— Não finja que se importa, Draco. Você me deve muita coisa e eu só estou começando a cobrar.

—x—

A mansão da família Malfoy era magnífica, de um jeito sombrio. Estupenda e imponente. Draco me conduziu pelo portão de entrada, mas parou comigo no hall.
, eu imploro, vamos voltar. – A perspectiva de dar de cara com o Lord das Trevas o aterrava. Era isso o que parecia. – Por favor, não entre aí...
— Se eles só querem me recrutar, Malfoy, pense pelo lado bom; você me trouxe e deve receber algumas honrarias. Mas se eles me querem morta, o que eu não duvido... Bom, veremos. De qualquer forma, você vai se sair bem na frente de todos aqueles malditos.
— Não, por favor...
Fiz uma falsa expressão de pena para ele.
— Ah, é. Você tem medo deles. Pode ir embora, Draquinho. Não faço questão que fique.
— Não tenho medo... não deles! Tenho medo do que pode te acontecer, pois...
Eu ri em alto e bom tom.
— Comovente.
— JÁ CHEGA! – Ele parecia à beira de um colapso nervoso. – Não vou deixar você fazer tamanha besteira!
Cheguei bem perto dele, como se fosse beijá-lo. Seu olhar foi logo para meus lábios e eu sorri.
— Então me impeça, Draquinho.
Dei-lhe as costas e entrei no que só podia ser a sala das reuniões que eles tinham. Na ponta da longa mesa, Lord Voldemort me olhava com leve interesse, cercado por vários Comensais. Severus, ao seu lado, parecia petrificado. Bellatrix, por outro lado, me deu um sorriso maldoso, sentada do outro lado do Lord. Encarei aquela criatura de olhos vermelhos e expressão ofídica com embrulho no estômago. Eu não ia desistir, não agora, tão perto como estava.
E também, nem podia.



Capítulo 8
Lord das Trevas


O silêncio naquela sala era estupendamente assustador. Cada alma ali prendia a respiração, esperando pelo que quer que viesse a acontecer a seguir.
Eu não conseguia desviar o olhar de Tom Riddle – ou Lord Voldermort. Quero dizer... Tom Riddle, apesar de monstro “por dentro”, era bonito “por fora”, certo? Voldemort era... nojento. Tanto por dentro quanto por fora.
Um sorriso que me fez engolir a seco surgiu na face de caveira; os olhos vermelhos cintilavam – mais vermelhos que sangue recém-derramado. Eu tremia. Uma leve camada de suor cobria meu corpo, ainda afogueado pela cerveja amanteigada. Eu não queria falar. Não sabia o que falar. Nem como fazer isso. Parecia ter perdido a capacidade de abrir a boca e pronunciar qualquer coisa. Eu me senti totalmente ferrada.
— Então, Srtª. Dumbledore... fora da escola sem permissão – disse Severus. – Que situação interessante...
— Claro – concordei, cordialmente. – Note que o Sr. Malfoy aqui também se encontra nas mesmas circunstâncias. Não queremos que malfeitores saiam impunes, não é verdade? – Abri um sorriso enviesado para ele.
As palavras que dissemos eram essas. Mas uma coisa é certa; ele queria me estrangular pela burrice que eu estava fazendo – e eu também, pois para falar a verdade, estava me sentindo bastante burra.
— Agora, não sejamos tão rígidos, não é, Severus? – Voldemort se fez ouvir. Sua voz era mais fria do que a brisa mais gélida do inverno britânico; causou-me arrepios. – Regras podem sempre ser revistas... sob circunstâncias especiais. Creio que razões fortes o bastante para trazer esta jovem até nós se enquadram perfeitamente nisto.
— Ah, milorde, sempre tão misericordioso... – entoei, em zombaria, imitando quase com sucesso o tom de voz dele. De repente, eu só conseguia me lembrar do desespero da minha mãe, da luz deixando seus olhos. Aquilo era o meu lembrete; eu não podia mais me acovardar. – Não é isso que todos dizem a você, Lord das Trevas? Não é essa a mentira que todos contam quando estão se borrando de medo de você? É a sua misericórdia que você quer que eu conheça?
Outro sorriso na face de caveira. Um sorriso mais hostil que o primeiro, na verdade.
... – alertou-me Draco.
— Calado, seu... – sibilei para ele, olhando-o de esguelha ameaçadoramente. Ele engoliu a bile e se afastou, indo para os braços da mãe, que me olhava, assustada. Voltei a olhar para Voldemort.
— Sempre soube que você era uma menina bastante informada – disse ele, avaliando-me. – Só não fazia ideia do quanto.
— Você não tem ideia do número de coisas que não sabe sobre mim – retruquei. – Mas esse não é o ponto.
Bellatrix riu. Ouvir aquela gargalhada foi a gota d’água para mim. Eu perdi de vez as estribeiras.
— Do que é que você está rindo, vaca nojenta e asquerosa? – Sibilei para ela. – Está se divertindo? Hein?
Ela continuou a rir.
— Vamos ver por quanto tempo mais você vai rir, vadia – eu disse. – Você tem ideia do motivo de eu vir aqui?
De repente, ela pareceu me levar mais a sério. Sua risada se esvaiu e ela me olhou, desconfiada, esperando que eu esclarecesse.
— O seu Lord acabou de dizer; sou bem informada – eu disse a ela. – Então... pense... some um mais um... ainda sente vontade de rir?
Aquele som abafado entre um grunhido e um grito de pavor tinha que ser de Draco. Sim, eu tinha certeza de que era ele. Devia ter percebido o que eu ia fazer. Estava apavorado. A tia dele não estava tanto, mas com certeza sabia que ia pagar caro pelo momento de diversão às minhas custas. Seus olhos dançavam entre mim e Draco, cada vez mais arregalados, cada vez mais cheios de entendimento.
Eu iria entregá-los. Ia desmascarar a mentira. Draco estava apavorado; devia estar se perguntando se eu o acusaria também.
Contudo, agora, pensando nisso, que diabos eu inventei de fazer ali? Desde quando Voldemort ligava para quem matou quem? Ele próprio estava interessado em me ver morta, depois que eu não fosse mais útil. Ele é assim. Como, meu Deus, eu fui tão idiota ao ponto de me entregar em uma bandeja de prata? Eu praticamente dei uma de Harry e fui pra morte com a varinha guardada no bolso e sem vontade (ou melhor, incapacitado) de lutar.
— Duas mortes – eu disse, baixinho, para que a voz não tremesse. – Três, se contarmos a Mel, meu animal de estimação. Tudo isso para que eu viesse aqui... – Sorri para Bellatrix e olhei para Voldemort. Eu queria gritar, correr, me esconder... mas a culpa era minha; eu fiz a besteira. – Tenho uma confissão a fazer. Isto é, se quiser ouvir, milorde. – E fiz uma breve reverência para ele, gesto muito característico de Alvo Dumbledore.
E por falar em Dumbledore, imagino que ele vá me xingar quando souber...
Ah, desgraça.
Nagini apareceu; estivera sob a mesa. Foi para perto de Voldemort e ele a acariciou.
— Adoraria escutá-la – disse ele, e sua voz realmente demonstrava um fiapo de interesse. – Acredito que será uma conversa interessante.
Nos poucos segundos que tive para organizar meus pensamentos, percebi que eu não tinha chances de escapar dali. Teria menos ainda se eu fosse idiota e hostil. Eu podia me vingar de Lestrange e ainda sair sem um arranhão se eu fosse esperta. Com sorte, Draco seria punido também. Respirei fundo. Era tudo ou nada, agora.
Okay, eu estava mentindo para mim mesma, era essa a verdade. As chances de eu sair dali, viva ou morta, eram bem poucas. Será que eu acabaria no exército de inferi...?
— Dia trinta e um de julho, no Brasil, nos arredores de minha casa... – comecei. – Recebi uma visita inesperada. Numa rua movimentada, cheia de trouxas.
— Não foi bem assim, senhorita, pelo que me contaram – disse Voldemort, interrompendo-me.
— O senhor não foi bem informado. – Dei de ombros. – Draco apareceu sozinho, contando uma mentira que eu não engoli. A tia dele logo saiu das sombras, com mais quinze amiguinhos mascarados, se é que me entende. – Caminhei pelos arredores da mesa, indo para mais perto de Voldemort. Se é para morrer, ao menos que seja com dignidade... Sem demonstrar medo. – Ninguém me chamou para a festa, milorde. Ninguém disse que eu era uma convidada. Eles só me assustaram, me perseguiram, me atacaram... como vocês fazem com os trouxas, só por diversão... Eu podia jurar que aquele ataque era só um momento de diversão e distração para seus fiéis servos. E, em nenhum momento, alguém deu a entender que a situação era diferente. Então, como qualquer bruxo esperto, eu me defendi... e, se eu não matei todos, matei a maioria. O senhor soube disso?
Pela expressão sombria, ele com certeza sentira falta de alguns dos servos dele. Pelo visto, ele não tinha explicações. Sorrindo, eu prossegui:
— E depois, tsc, meus pais mortos, minha casa pegando fogo... Obra de nossa querida Bella – eu disse. – Para encerrar com chave de ouro, se eu não tivesse ido embora, estaria morta, também. Bella já tinha na ponta da língua A-V-A quando eu me mandei, se é que estou sendo clara. Agora, tenho só uma pergunta: há alguma chance de eu querer fazer parte do seu time quando ele só me fez perder? – Eu e Voldemort nos encarávamos de frente. – Ficando do lado da Ordem, eu sempre tive proteção, e tudo que em quinze minutos o seu lado me tomou. Posso ter o que eu quiser no lado em que me encontro. Acha que essa manobra de sua serva, no dia em que ela me atacou, pode me trazer para você? Não se ataca um aliado. Você perdeu a chance de me ter do seu lado, e a culpa é da Lestrange. É por isso que estou aqui; quero deixar bem claro...
— Você teria vindo? – perguntou Severus, interrompendo-me.
— Sem pensar duas vezes – afirmei, ainda olhando para Voldemort. Acho que se eu olhasse para Severus eu acabaria por fraquejar. E eu não podia... ainda não... – Contudo... não tenho interesse em ficar ao lado de pessoas que me matariam se tivessem a chance. Teria sido mais esperto mandar Snape me recrutar, se quer saber minha opinião. Entre uma tortura e outra, um “sim” sairia fácil... se eu não tivesse sido prejudicada anteriormente.
Esbocei um sorriso bondoso para Voldemort.
— Você é boazinha demais para se aliar a mim. Patética como o seu adorado avô. Você está mentindo – disse.
Inclinei-me para ele, encarando-o bem de perto.
— Tem certeza? – Ele não tinha, é claro. – Você saberia se eu estivesse mentindo. Então, como pode afirmar isso?
Ele ficou a me avaliar por tanto tempo que eu comecei a sentir o peso da atmosfera me oprimir. Como eu não havia percebido que aquele lugar era horripilante? Como consegui falar tudo o que falei, agir com tanta frieza diante de um lugar aterrador como este? Eu comecei a tremer de medo. Cerrei minhas mãos em punho para não deixar nenhum daqueles malditos perceberem que eu finalmente estava começando a cair na real. Continuei esperando Voldemort fazer alguma coisa. Seria muito patético se eu me virasse e saísse correndo? Será que eu conseguiria chegar viva até a porta?
— Talvez eu esteja errado – disse Voldemort, por fim. – Talvez você se prove mais valente do que eu posso imaginar. Você sempre me surpreende, . Surpreende-me bastante. Sempre inovadora e inusitada.
Vamos, seu maldito. Acabe logo com isso. Eu tremia dos pés à cabeça, mas ainda tentava ser valente.
— E isso significa que...? – Dei minha última carta. Claro que não seria a final. Voldemort seria o último a jogar.
— Vou provar que você também estava errada, senhorita.
Pisquei algumas vezes, tentando entender. Como é? No que eu estava errada? Eu tinha absoluta certeza de estar cem por cento certa em tudo o que dissera. Então, como...?
— Perdão? – eu disse, com simplicidade.
— “Ah, milorde, sempre tão misericordioso...” – Foi a vez dele de usar de zombaria, agora imitando o meu tom de voz. – “Não é isso que todos dizem a você, Lord das Trevas? Não é essa a mentira que todos contam quando estão se borrando de medo de você? É a sua misericórdia que você quer que eu conheça?
Tive que me segurar muito para não ficar com cara de tonta, de tão boquiaberta. Ele decorara o início do meu discurso, e agora repetia com maestria.
— Ainda não entendi – eu disse.
— A senhorita disse que não sou misericordioso... disse que minto – começou. – Então, resolvi te dar uma prova de que está errada. Sou misericordioso e não minto.
Pronto. É agora. Estou ferrada.
— Ah, é? – perguntei, a mão direita empunhando a varinha com mais força, preparada para lutar. Eu ia morrer, mas jamais perderia minha dignidade. Morreria lutando.
— Sim. Pode ir. Vá em paz. – Aham, okay, Voldemort. Eu acredito em você. Assim como o Papai Noel e o coelhinho da Páscoa existem. – Em troca, só quero uma coisa.
Ah, sim. Agora estava explicado. Estava demorando para ele querer alguma coisa.
— Repense em sua resposta – pediu. Ou devia dizer que ordenou? – Ficarei muito desapontado se, por ventura, a senhorita deixasse de se aliar a mim por causa de um erro de uma amiga minha... A fúria de Lord Voldemort seria grande.
Alguém precisa dizer para ele que falar de si mesmo em terceira pessoa é extremamente sem graça.
Olhei, sem acreditar, para o bruxo assustador a minha frente. Eu estava impassível. Não sabia o que fazer.
— É só isso? – perguntei a ele, desconfiada. – Então, está me dizendo que se eu me virar e sair por aquela porta, nada vai me acontecer?
Ele sorriu para mim. Argh. Fiquei ainda mais assustada.
— Digamos, apenas, que quero que tenha tempo de repensar no que me disse. Realmente seria bom tê-la conosco.
Lendo nas entrelinhas, era: você vai embora hoje, mas quando me der na telha, eu vou te procurar, e se disser não de novo, Avada Kedavra será a última coisa que você vai ouvir na sua vida.
— Pois é – concordei com ele, sorrindo falsamente. – E não é que eu estava enganada? Nosso ilustre Lord das Trevas é realmente misericordioso – comentei.
Ele assentiu.
— Vá. Leve o menino de volta com você – ordenou.
Quem era eu para reclamar? Eu enfrentei Voldemort e estava saindo com vida e sem um arranhão. Eu estava ocupada demais me sentindo muito foda para me incomodar com o fato de ele estar me dando ordens.
— Vamos – chamei Malfoy e ele veio para junto de mim, tremendo dos pés à cabeça. Quando alcançamos a porta, me virei para Voldemort.
— Nos veremos em breve. – E, sem mais, caminhei com Malfoy ao meu encalço para bem longe daquele lugar.



Capítulo 9
It Ends Tonight –
(Clique aqui e deixe a música do capítulo – It Ends Tonight, The All American Rejescts – carregando)


Draco e eu caminhamos por uns dez minutos, sem conversar. Chegamos a um ponto onde, eu podia sentir, dava para aparatar. Severus me ensinara muito sobre detecção de magia. Eu tinha aprendido a ser bastante sensitiva e perceber alguns tipos de feitiços.
Olhei para Draco. Como eu tinha tirado essa criatura da escola? Eu não conseguia lembrar. Será que ele tinha visto a minha forma de escapulir da escola sem ser vista? A forma que encontrei, para quando fosse necessário no futuro? Continuei a olhá-lo. Deveria perguntar? Eu era um poço de dúvidas e receio naquele momento.
— Você vai fazer de novo? – perguntou.
— Fazer o quê? – sussurrei em resposta, cautelosa.
— Me nocautear. Você me faz apagar na escola, eu acho, e quando eu dei por mim, estávamos bem aqui, onde estamos agora. Vai fazer de novo...?
Então eu tinha feito o Draquinho apagar? Ótimo. Um problema a menos.
Confundus! – bradei, segurando seu braço, desaparatando e aparatando dentro de uma caverna em Hogsmead. Puxei um Draco totalmente confuso ao meu lado pela caverna, embrenhando-me nela. Fora ali que Sirius Black passara um tempo durante o quarto ano de Harry. Eu meio que criei a passagem – eu sabia que eu podia precisar escapar da escola a qualquer momento, então a Sala Precisa me deu essa passagem, que só eu conhecia, e eu sei que não mencionei isso. Mas foi bem assim que aconteceu. Eu “nocauteei” Draco, fui para a Sala Precisa e ela me deu a passagem. Graças a Deus, Draco não perceberia; estava tão confuso que mal caminhava.
Depois de uns vinte minutos andando de volta para o castelo, talvez mais, finalmente avistei a porta da Sala Precisa. Precisei reforçar meu feitiço uma ou duas vezes em Draco, mas quando chegamos ao corredor da sala de Slughorn, ele parecia desorientado. Ouvi algo como “mas eu estava perto de casa ainda há pouco... como...?”
— Precisamos voltar para a festa – eu disse a ele, sem olhá-lo. Daria a ele alguns segundos para se recuperar do feitiço, depois deixaria que fosse correndo para os braços da Cara de Buldogue.
— Precisamos conversar – retrucou.
— Não, nós não precisamos não – devolvi, arqueando a sobrancelha e cruzando os braços sobre o peito. – A Cara de Buldogue deve estar se perguntando onde você está, Draquinho.
— Cara de Buldogue? – repetiu, e só então notei que eu dissera em voz alta o apelidinho carinhoso que tínhamos para Pansy Parkinson.
— Só volte para a festa – eu disse, com impaciência.
— Não! – teimou ele. – Já chega disso! Você precisa...
— Sim, exato, eu preciso que você volte para a festa. Tipo, agora. Vá.
, JÁ CHEGA! – Eu arregalei meus olhos para ele. Nunca – jamais – vi Draco altear o tom de voz comigo. Acho que nunca o vi gritar com ninguém. – As coisas não podem continuar assim. Eu sei que errei! Queria muito poder voltar no tempo e fazer diferente, mas não posso! Eu queria ter ido com você, e como queria!
— MAS NÃO FOI! – gritei em resposta, irritada. – Você foi um idiota, e continua sendo! Agora temos que conviver com isso!
— Eu não poderia me culpar mais! – exclamou.
— Pare de mentir, está bem? – Olhei com altivez e desprezo. Eu estava ligeiramente surpresa com a minha capacidade de esnobá-lo. – Já chega de tanto fingir que se importa com tudo o que aconteceu. Isso é inaceitável.
Dei-lhe as costas, caminhando, imponente, pelo caminho por onde viemos horas antes. Não me importei em checar se ele me seguia, pois de nada ele me servia agora. Voltaria a ignorá-lo e desprezá-lo, como vinha fazendo até então. Seria como se nada tivesse acontecido.
Ele, contudo, não parecia nada bem com isso. Draco não é do tipo que reclama, se rebela. Todos sabemos que ele sempre corria para o papai quando havia algum problema, grande ou pequeno. Esse pequeno detalhe parecia estar mudando em Draquinho.

Your subtleties
Suas sutilezas
They strangle me
Enforcam-me
I can't explain myself at all
Eu não posso me explicar
And all that wants
E tudo que quer
And all that needs
E tudo que precisa
All I don't want to need at all
Eu não quero mais precisar

Antes que eu pudesse chegar até a festa, contudo, percebi uma agitação do lado de fora, que indicava que os convidados estavam partindo. Pouco depois, Córmaco, Gina, Neville saíram, e bem atrás vinham Blázio, Amelia e a Cara de Buldogue. Os seis me fuzilavam com o olhar – cada um com seus motivos. Não me importei com a maioria, pois havia uma pessoa que merecia explicações antes dos outros, que merecia prioridade. Corm. Ele se aproximou de mim como quem nada quer. O olhar era cauteloso e confuso. Ele não disse nada.
Bom, a culpa era minha, certo? Então, quem tinha que acertar as coisas era eu.
— Me desculpe por ter te deixado sozinho – comecei, olhando diretamente nos olhos dele. – Deus sabe como lamento, Corm. Eu queria ter ficado com você, porque, céus, eu adoro ficar com você! Me faz tão bem... me faz sentir viva de novo...
Suspirei. Era extremamente difícil dizer aquilo para ele.
Ele não disse nada. E também não precisou.

The walls start breathing
As paredes começam a respirar
My minds unweaving
Minha mente se desembaraça
Maybe it's best you leave me alone
Talvez seja melhor você me deixar sozinho
A weight is lifted
Um peso é levantado
On this evening
Nesta noite
I give the final blow
Eu dou o último suspiro

Ele colocou o indicador sob meus lábios, silenciando qualquer outra coisa que eu pudesse dizer. Meu olhar questionava sua atitude, mas nem tive tempo de fazer nada. Ele simplesmente entrelaçou os dedos pelos meus cabelos, trazendo-me para perto, e me beijou com muita vontade. Correspondi imediatamente, os braços envolvendo-o pela nuca, os corpos grudados. O beijo de Corm era maravilhoso. Naquele momento, não havia dor, preocupação... nada. Era eu, ele e uma paixão forte e avassaladora. E o resto que ficasse para depois.

When darkness turns to light
Quando a escuridão se tornar luz
It ends tonight
Isso terá fim hoje à noite
It ends tonight
Isso terá fim hoje à noite

Mas nada é perfeito, certo? Nada mesmo. Nem um momento. Nem um mísero momento...
Como este.
— MALDITO! – Ouvi-o gritar, mas não pude acreditar. Córmaco foi brutalmente arrancado dos meus braços, tão bruscamente que eu cheguei a me desequilibrar. Desorientada, olhei a minha frente, e vi que Draco acertara um soco na face de Corm. Minha boca estava aberta num “O” de choque e surpresa.

A falling star
Uma estrela cadente
Least I fall alone
Pelo menos eu caio sozinho
I can't explain what you can't explain
Eu não posso explicar o que você não pode explicar
Your finding things that you didn't know
Você achou coisas que você não sabia
I look at you with such disdain
Eu olho pra você com tanto desprezo

— VOCÊ FICOU LOUCO?! – gritei, encarando Draco, que se lançava numa bruta violenta com Córmaco. Dei um passo a frente, com a intenção de me intrometer, e logo depois lembrei que era uma bruxa e não tinha porque me envolver numa luta corporal onde eles socavam todas as áreas próximas um do outro. Eu nem sequer podia dizer que estava ganhando. Levantei a mão direita e tornei a gritar: – IMPEDIMENTA!
Os dois foram arremessados para trás, um para cada lado. Exatamente ao mesmo tempo, ambos me encararam. Eu, contudo, fuzilava Malfoy com meu olhar. Eu sentia tanta, mas tanta raiva... Eu queria estraçalhar, matar...
Não. Eu não vou mais me importar com isso. Não com ele.
De fúria, meu olhar passou para desdém. Assim. Num segundo. Sustentei esse olhar por mais uns instantes.

The walls start breathing
As paredes começam a respirar
My minds unweaving
Minha mente se desembaraça
Maybe it's best you leave me alone
Talvez seja melhor você me deixar sozinho
A weight is lifted
Um peso é levantado
On this evening
Nesta noite
I give the final blow
Eu dou o último suspiro

— Será que você não se cansa de se meter na minha vida, Malfoy? – comecei. Minha voz era firme, decidida e destemida. Eu sabia o que eu queria. Eu sabia o que dizer. Já havia tomado aquela decisão.
— E será que você não se cansa de me punir pelos meus erros? – retrucou. – Acha que sou burro o bastante para não ver que só está com este desmiolado para me ver sofrendo por você? Pensa que não vejo o que você está fazendo?
Eu ri. Ele odiou me ver fazendo isso.
— ESTOU CANSADO, ! ISSO TUDO É UM TORMENTO... E EU SEI QUE MEREÇO, MAS EU NÃO AGUENTO MAIS!
Aquilo foi a gota d’água.

When darkness turns to light
Quando a escuridão se tornar luz
It ends tonight
Isso terá fim hoje à noite
It ends tonight
Isso terá fim hoje à noite
Just a little insight won´t make this right
Só um pouco de perspicácia faria isso certo
It's too late to fight
É muito tarde para lutar
It ends tonight
Isso terá fim hoje à noite
It ends tonight
Isso terá fim hoje à noite

— Há muito que não faço nada pensando em você – disse a ele. – Há muito abri mão de você e de qualquer sentimento bom que tive por ti... Estou com Córmaco porque ele me faz feliz, e não para mexer de qualquer forma que seja contigo... Até porque, isso é impossível. Você é uma pedra; não tem sentimentos, não sabe o que é o amor.
Desdém. Minha expressão se resumia a isso. Desdém e muito, muito nojo.
— Você está cansado? Se sente atormentado? Não aguenta mais? Vou te dizer o que é tudo isso é: consciência pesada. Me admira que ainda consiga dormir à noite com a quantidade de burrices que você fez em tão pouco tempo. – Abri um sorriso que combinava com minha expressão. Cínico. – Vai ter que conviver consigo mesmo, Draco. Boa sorte nessa.
Eu já ia dando as costas a ele quando ouvi:
— Não terminamos! Espere!
— Sim, nós já terminamos. – O modo como frisei a palavra deixou bem claro que eu não falava apenas de mais uma discussão. Deixava implícito que tudo já havia acabado. Tudo mesmo. – Isto acaba esta noite, Draco. É tarde demais.
— Mas...
— Se você não fosse tão idiotamente leviano, as coisas seriam diferentes. Um pouco de perspicácia tornaria isso certo.

Now I'm on my own side
Agora eu estou do meu próprio lado
It's better than being on your side
É melhor do que estar do seu lado
It's my fault when you're blind
É minha culpa quando você é cego?
It's better that I see it through your eyes
É melhor que eu veja através dos seus olhos
All these thoughts locked inside
Todas essas verdades trancadas aqui dentro
Now you're the first to know
Agora você é o primeiro a saber

...
— Estar sozinha é melhor que ficar ao seu lado, Draco – eu disse. – Você estraga tudo o que toca. É um desastre ambulante, um perigo até para si mesmo. Não é minha culpa que você tenha sido tão cego. Também não é minha culpa que tudo esteja dando errado agora.
Ele não falou mais nada. Ouvir o que eu disse parecia ter feito com que qualquer argumento dele tivesse evaporado.
— Eu estive guardando tudo isso aqui – Eu toquei meu peito, no lado esquerdo. – por muito tempo. E agora você é o primeiro a saber.
Ele me fitava, procurando em meu rosto algum sinal de que eu estivesse blefando.
— Quando eu me virar e sair daqui, quero que saiba que tudo acabou, entende? Não existirei para você... e você não existirá para mim.

When darkness turns to light
Quando a escuridão se tornar luz
It ends tonight
Isso terá fim hoje à noite
It ends tonight
Isso terá fim hoje à noite
Just a little insight won´t make this right
Só um pouco de perspicácia faria isso certo
It's too late to fight
É muito tarde para lutar
It ends tonight
Isso terá fim hoje à noite
It ends tonight
Isso terá fim hoje à noite

Ele não falou nada, e nem fez objeção. Agarrou-se ao que eu disse; isso eu pude ver antes que ele desviasse seu olhar marejado do meu e saísse precipitadamente para longe dali.
Pronto. Estava feito. Nós nunca terminamos aquilo que tinha começado de um jeito totalmente errôneo. Por mais que ele tenha errado e me deixado furiosa, eu nunca disse que tinha terminado. Então, era isso o que precisava? Isso bastaria?
Isso significava que nós nunca mais voltaríamos a nos falar?
As paredes pareciam ter vida própria, e tudo ao meu redor me sufocava... mas, ainda assim, eu me sentia satisfeita. Eu havia feito a coisa certa. Era disso que eu precisava.

When darkness turns to light
Quando a escuridão se tornar luz
It ends tonight
Isso terá fim hoje à noite
It ends tonight
Isso terá fim hoje à noite
Just a little insight won´t make this right
Só um pouco de perspicácia faria isso certo
It's too late to fight
É muito tarde para lutar
It ends tonight
Isso terá fim hoje à noite
It ends tonight
Isso terá fim hoje à noite

Quando o vi sumir na primeira curva, eu soube. Sim, aquilo havia terminado. Quando a penumbra se tornasse claridade amanhã, já não haveria mais nada além do passado. O que acontecera seria deixado para trás, e nós nunca mais nos falaríamos – cada qual com suas razões.
Os braços fortes de Córmaco me envolveram, e a sensação de sufocamento me abandonou. Quando nos olhamos, eu tive aquela sensação de estar em casa. Feliz. Aquele abraço queria dizer que ele estaria comigo, que estaria ali para mim. E era disso mesmo o que eu precisava.

Tonight...
Esta noite...
Insight...
Perspicácia...
When darkness turns to light
Quando a escuridão se tornar luz
It ends tonight
Isso terá fim hoje à noite

— Não importa que você me deixe louco quando o assunto é Draco Malfoy e o que vocês tiveram antes... – disse Córmaco. – Não importa o quanto eu sinta ciúmes de vocês dois juntos. Também não importa a raiva que estou sentindo de você agora. Eu te amo, e isso basta.
E ele me beijou, de um jeito que nunca fizemos antes. Um jeito doce, carinhoso... com amor.



Capítulo 10 (Dedicado à @ClaraaSousaa)
A escuridão se tornou luz... e realmente estava tudo terminado


Brigas, intrigas, emoção, romance, aventura... Minha vida estava se tornando um filme ou coisa assim?
Isso não saía de minha cabeça.
Nunca tive um ano tão complicado em toda a minha vida. E ele nem havia terminado.
Tudo o que eu estive tentando evitar, que escondi sob a superfície, veio à tona depois que Córmaco me deixou sozinha. Enquanto estive com ele, sendo distraída de tudo o que estava sentindo, tudo estava bem. Mas foi só ele virar as costas e BUM! As emoções explodiram como uma bomba, com força arrasadora. Quando isso aconteceu, eu estava pertíssimo da Sala Precisa, e ela se transformou no que eu precisava.
Era uma réplica perfeita do meu quarto no Brasil. Perfeitinho em cada detalhe. Desde aos pôsteres na parede ao abajur em forma de dado que deixava o quarto numa luz azul. Minha cama, também forrada de azul. Um lugar familiar. Acolhedor. Encolhi-me na cama, os olhos no pôster de Tom Felton vestido de Draco Malfoy em O Enigma do Príncipe. Deixei que toda a dor e ressentimento se apoderassem de mim, e sofri, não mais em silêncio. Minha mente reproduzia todos os acontecimentos como se fosse um filme.

(...)
— Bela pulseira — comentou.
Eu sorri.
— É, sim. Foi meu presente favorito. É uma pena que eu não possa agradecer à pessoa que me deu.
— E por que não?
— Eu não sei quem me deu. Não vi quem o mandou, ou a coruja e nem ninguém. Quem quer que seja, foi muito cuidadoso. Nenhum dos Weasley viu o presente chegar. Tão misterioso...
— O que você diria a essa pessoa? — Draco quis saber.
— Hm... Acho que eu abraçaria, beijaria e agradeceria mil vezes, em primeiro lugar. Depois diria que tem um ótimo gosto para presentes. E é claro que perguntaria se cada pingente tem um significado.
(...)


Como eu sentia falta de quando minha preocupação era por conta de um presenteador misterioso! Ah, e eu nem fazia ideia do quanto minha vida ficaria complicada... Creio que se eu soubesse, nunca teria vindo para este mundo, para começo de conversa.

(...)
— O que tem a pulseira?
— Fui eu quem te dei.
(...)
— Ah, explica logo esses significados — ordenei.
— Estão faltando os mil agradecimentos, abraços e beijos. Eu não esqueci.
Arqueei a sobrancelha.
— Explique-se.
Ele fez aquela cara de “nossa!” e então pegou meu pulso com carinho, girando a pulseira.
— Quando eu a comprei, escolhi os pingentes, justamente para terem significados específicos... — Ele riu, como se aquela fosse a coisa mais tola que fizera em sua vida. — A estrela... Okay, isso é muito piegas, mas é porque você é a estrela que ilumina as minhas noites. Sem você... eu estaria perdido.
(...)
— Esse rostinho feminino... Basicamente, é pelo fato de eu só enxergar você. Que piegas, por Merlim!
(...)
— Okay, okay. — Ele pegou a chave e o coração. — Só você tem a chave para abrir meu coração.
Eu sorri.
— E esse cristal... Ele tem várias faces, assim como você. Sinto que, às vezes, você finge ser mais forte do que realmente é ao querer assumir os meus problemas, mas não importa o quanto você se esconda... Eu sempre posso ver através de ti.
Momentos perfeitos como aquele não duram para sempre... infelizmente.

(...)


As lágrimas corriam livremente. Eu me sentia mal por estar chorando por uma pessoa como Draco... Eu não conseguia parar de pensar nas maldades que ele fez para mim, em tudo de ruim... Quando eu pensava nele, era só a maldade que eu via. A covardia. Aquele era um momento em que eu estava extravasando meus sentimentos, coisa que eu não fazia na frente dos outros. Sabia que era importante ter aquele momento, isolada de tudo e todos, remoendo as dores e perdas que não me deixavam seguir em frente. Para me reerguer, eu tinha a consciência de que eu precisava passar por aquilo.
Minha mão foi em meu pulso, onde a pulseira costumava ficar, sem que eu me desse conta disso. Era um forte hábito meu tocar naquela pulseira de tempos em tempos, só que há muito guardei a dita cuja dentro de uma caixa no fundo do meu malão. Não havia sentido em continuar a usá-la... não mesmo.
No meio de toda infelicidade ainda consegui reunir ironia para pensar que queria que Katy Perry estivesse certa, e que após o furacão, realmente viesse o arco-íris.
Meu mundo não se resumia só ao Draco. Olhando para o pôster do Harry (ou melhor, Daniel Radcliffe vestido de Harry Potter), várias lembranças me ocorreram. A primeira foi referente ao dito pôster, que minha mãe trouxera para mim. Lembrei-me dos gritos que eu dei, porque além do pôster, ela tinha comprado o uniforme da Grifinória para mim, porque eu disse a ela que queria ir ao cinema caracterizada. Lembrei-me do jeito como ela sempre sabia o que se passava comigo, como se eu fosse um livro aberto. Lembrei-me do meu pai brincando comigo, naquele mesmo quarto, quando eu era criança. Abracei uma das pelúcias sobre a cama e tornei ao chorar com as lembranças que até aquele bichinho de pelúcia trazia.
Eu passava por uma fase extremamente difícil, mas eu sabia que um dia teria fim. Eu precisava ter muita paciência até lá... mas, sem dúvidas, num dado momento, tudo tem um fim.

—x—

Cheguei atrasada na reunião da AD daquela noite. Eu arfava por ter corrido, e minha testa estava suada. Alguns lugares latejavam em minha barriga.
— Desculpem meu atraso – disse, numa voz entrecortada. – Estão todos prontos para treinar? Motivados?
Os murmúrios de concordância foram preenchendo o ar.
— Estive pensando em aprender o feitiço do patrono... Harry ensinou a vocês, eu sei... mas acontece que eu não sei executar. – Eu sorri.
— E-eu sei – disse Neville, receoso. – Acho... acho que posso ajudar.
— Magnífico! – eu disse, meu sorriso ainda mais amplo. – Acho que vendo como se faz, talvez eu consiga.
Neville ficou um pouco nervoso e se atrapalhou por duas vezes, mas logo conseguiu me mostrar o patrono, e não foi o único. Luna, Gina, Simas... cada um deles foi executando seus patronos, e eu vi que a “teoria” era simples. Meu problema era com a lembrança feliz que deveria me preencher no momento de executar o feitiço. Revirei minhas memórias, procurando por lembranças fortes e felizes, mas tudo o que era de alegre me lembrava meus pais, e lembrar-me deles trazia à tona o dia em que os perdi, e logo a felicidade sumia... Contudo, peguei uma lembrança feliz, e me prendi nela. Não, pensei, não vou deixar que todas as minhas lembranças boas se percam. Preciso ser forte. Draco e eu... Era nisso que eu pensava. Revivi nossos melhores momentos juntos. Por fim, envolta pelos patronos de meus colegas correndo pelo lugar, fechei os olhos e me concentrei. Respirando fundo, apertando a varinha com força, murmurei:
Expecto patronum. – E uma tigresa prateada e graciosa irrompeu pela ponta de minha varinha. Começou a andar devagar, ameaçadoramente graciosa, e todos olharam para ela. Após um instante de silêncio, ouvi risinhos.
— Então... tigresa, ahn? – disse Amelia (pois é, Lia havia se juntado aos rebeldes com causa). Seu tom de voz beirava o riso e tinha sugestão de malícia.
— Hm... é – murmurei, distraída, ainda surpresa com minha maestria ao conjurar meu patrono.
— Hmmmmm... – sacaneou ela. – Então, tá, desculpa aí se você é muito... RAAWWR. – Lia fazendo garra mais rosnado mais cara de safada é igual à vergonha alheia. Só depois que todo mundo estava rindo foi que eu entendi.
— EI! – Corei instantaneamente. – Idiota!
Que vergonha alheia que nada! Eu era o motivo de chacota ali.
Deu trabalho pra colocar todos em foco novamente – aparentemente, rir e fazer piadinhas sobre mim e meu patrono era engraçado demais, e muito mais interessante que uma aulinha de DCAT¹. Eu estava super sem graça. Tipo, qual é, que culpa eu tenho do meu patrono...? Era muita maldade comigo.
Nem quero imaginar o que seria de mim se eles soubessem que Draco foi meu pensamento mais forte. Nem via a ironia ali.
— Se vocês calarem a boca, eu posso compartilhar com vocês – eu disse, mais para desviar a atenção deles do meu patrono que qualquer outra coisas.
— O quê? – perguntou Gina.
Dei um sorrisinho maldoso.
— O que vocês acham de um pouco de... ação, para variar?

—x—

Gina, Neville e eu mantínhamos contato visual constante. Era nosso melhor meio de comunicação. Ambos envolvíamos cuidadosamente nossas capas pretas por cima das roupas. Era hora do jantar, e eu só aguardava pelo sinal de Simas.
A carta de Fred pesava meia tonelada no bolso detrás da minha veste, me implorando em diversas linhas para não fazer o que eu já estava fazendo. Ela tinha vindo junto com minhas compras de logros de sua loja. Foi trabalhoso convencê-lo a me vender tudo o que tinha vendido, mas eu consegui.
Neville suava em bicas. Estava nervosíssimo. Eu sentia um frio na barriga – adrenalina. Quase como se estivesse numa montanha russa. Eu temia pelos meus amigos, e mais nada. Mas aquilo precisava acontecer... eu só esperava que estar no meio disso não piorasse a situação.
Eu sei o futuro de todos aqui, mas quando eu estou junto... se eu mudo algo, o final pode ser desastroso. Eu não deveria me meter, mas a irresponsabilidade me atraía fortemente.
Amelia ia ficar de fora, porque eu pedi. Por questões óbvias, eu não queria sonserinos no meio dessa batalha. Tá, eu não conto. Sou grifinoriana e ponto final.
Deslizei com sutileza para fora da mesa. Simas caminhava pela entrada do Salão Principal – o sinal que esperávamos.
Um minuto depois, ouvimos a explosão. Um grande BUM que fez as paredes do castelo vibrarem. E logo o salão ecoava gritos e mais gritos – só eu, Gina, Neville e outros da Ordem não nos assustamos.
Nós quatro (eu, Gina, Neville e Luna) nos juntamos no meio do Salão. Luna levantou a varinha para a parede leste, Gina para Oeste e eu para a detrás da mesa dos professores e começamos a gravar alguns dizeres. Gina e Luna escreviam repetidamente “Armada de Dumbledore” e eu fui além. Desenhei o emblema da escola, mas apertei um pouco Sonserina e Grifinória para caber um novo espaço, preenchido com um cervo. As cores eram vermelho bem escuro, que diferia bastante do vermelho da Grifinória, e prata. Uma obra de arte. Abaixo, os nomes das Casas... Gryffindor, Slytherin, Ravenclaw, Hufflepuff... e Potter.
Oh... eu teria sério problemas mais tarde por isso.
Circundando minha obra de arte, escrevi diversos xingamentos aos Carrow e Severus. E, juntos, corremos dali, passando por milhares de fogos de artifício explodindo em multicores por todos os lados, e mais umas coisas engraçadas que se espalhavam pelo chão. Tiramos as capas e corremos com nossos uniformes modificados para aderir ao emblema da casa “Potter” e suas cores.
Estava chegando a peça final. Separei-me dos três nas escadas – eles foram furtar a espada de Gryffindor, e eu tinha uns planos mais... interessantes.
O combinado era de um grupo da AD atrair Severus para um lado e os Carrow para outro. Era para eu ir com eles até a sala do Severus, mas eu os convenci que pregar uma peça nos irmãos valeria mais à pena, e eles concordaram. Isso me dava certeza de que tudo ocorreria com o escrito no livro, e eu ainda sairia com o bônus de humilhar aquela dupla odiosa.
Acompanhei de perto enquanto eles corriam atrás dos meus amigos. Usei neles o feitiço das pernas presas e eles caíram lindamente, esparramados de cara no chão. Eu ri da cena, porque realmente foi engraçado, e logo em seguida usei o levicorpus para deixá-los flutuando no ar, como se estivessem presos pelo calcanhar. Duas vezes mais engraçado. Conjurei duas camisas com “I LOVE HARRY POTTER” (ou melhor, “I – coração – Harry Potter”) que eu tinha em meu malão e os fiz vestirem. Eu queria pegar pesado, mas confesso que fiquei com medo da reação de Severus; ele dava um duro danado tentando me proteger, e eu não cooperava. Foi isso o que me fez parar por ali.
Eu desejei ter uma câmera. Sério. Estava linda a cena.
Ainda rindo, dei as costas à eles, e me deparei com Severus arfando, furioso como eu nunca havia visto.
— Você está com sérios problemas, senhorita – rosnou, fazendo meu sorriso esmaecer.



Capítulo 11
Dizendo adeus


Que a verdade seja dita... Severus Snape sabe como botar medo em mim.
Tá, eu sei que ele nunca quis me machucar, que evitava como podia que isso acontecesse, e eu tinha plena consciência de que eu estava passando de todos os limites... mas o que ele fez comigo deixou marcas. Não só as físicas – se é que me expressei bem.
A balbúrdia acabou – tão rápido quanto havia começado. Fomos apanhados; Gina, Neville e Luna foram apanhados por Severus, tentando afanar a espada de Godric Gryffindor (a imitação, na verdade) e eu fui apanhada humilhando os Carrow. A situação mudou de figura de forma estupendamente rápida e eficaz, e no momento seguinte, nós quatro e mais meia dúzia de integrantes da AD éramos reunidos no Salão Principal.
As ordens foram claras: todos os seres vivos do castelo deveriam estar agrupados naquele Salão. O diretor tinha algo a dizer.
Trinta minutos depois de começarmos a baderna, estávamos todos lá, sem exceção, cada estudante e funcionário – e cada pintura e fantasma também.
Nós da AD estávamos cheios de hematomas, arranhões e machucados leves. Todos descabelados e esfarrapados, sem exceção, meninos e meninas. Apenas uma parte de nós tinha sido apanhada, e eu esperava que os que escaparam fossem inteligentes o bastante para esconder seus uniformes da “Casa Potter” e esperar o pior passar.
Mas nada é como queremos.
Alinhados em frente à mesa dos funcionários, observávamos Severus se encaminhar em nossa direção, a capa farfalhando no chão atrás dele. A expressão era medonha, e o olhar gelava quem quer que ele fitasse. Eu estava em destaque, à frente dos outros, Gina, Luna e Neville em segundo plano, o restante atrás. Digamos que era essa a ordem: do que cometeu a pior infração ao que cometeu menores. O que, obviamente, significava que nós quatro estávamos seriamente perdidos.
— Será que vocês... fazem a menor das ideias... do que eu tenho vontade de fazer com vocês? – Seu modo de falar pausadamente me era bem familiar, mas não deixava de me apavorar.
Ninguém respondeu.
— O que leva vocês a fazer tamanhas idiotices? – perguntou, o olhar gravado em mim. – Eu até podia perguntar quem liderou essa burrice toda, mas não acho que seja necessário. Posso apostar tudo o que tenho que estou olhando para a responsável.
Sustentei o olhar dele, desafiadora.
— Explique-se.
Eu não disse nada. Eu não diria nada.
Os Carrow, quase tão maltratados como nós estávamos, quase rugiam de ódio ao lado dele.
— Mate-a – disse a Aleto, os olhos em mim.
— Agora – concordou o irmão.
Um risinho agudo veio da multidão de sonserinos. Eu não precisei olhar para saber quem era.
— Me pergunto o que McLaggem acha de ver sua namorada apoiando Potter – disse. – Acho que a burrice dele é tão grande que ele não vê o quanto a sangue-ruim ama o Potterzinho. Está pronta para dividi-la com o Potter? – E riu.
— Cale-se – disse Córmaco. Idiota! Por que ele não ficou calado? Ele não tinha sido descoberto!
— Ora... estou falando apenas a verdade. Olhe para ela! Se rebelou usando seu amor pelo Potter!
— Nós usamos o nome do Potter porque sabemos que é ele o Eleito! Sabemos que ele é a nossa esperança! – E Córmaco deixou a multidão grifinoriana, despindo a capa, mostrando o uniforme igual ao nosso. Aos poucos, saindo das multidões das outras Casas, menos Sonserina, o restante da AD se uniu. – Somos muitos, e não ligamos para vocês, Comensais, e foi isso o que nos uniu. A escola é nossa, estamos em maior número e...
— Acha mesmo que pode fazer alguma coisa para nos tirar do controle da situação, senhor McLaggem? – o tom de Severus era assustadoramente baixo. – Posso assegurar que estamos em número muito maior que vocês.
Confirmando as palavras do diretor, um grupo de alunos da Sonserina veio à frente. Malfoy, Crabbe e Goyle, à frente, mostravam que eram os que estavam no comando. Eram quase tão numerosos quanto a AD.
— Vão se arrepender – disse Malfoy.
— Acha que vamos ceder assim? – gritou Córmaco.
— Não vamos mesmo – eu disse e, dando um passo à frente, ataquei Severus com uma maldição, e eu e ele começamos a duelar.
Antes mesmo de levantar minha varinha, eu soube que aquele não seria um duelo de mentirinha. Soube também que eu não podia de maneira nenhuma pegar leve. E com seu desenrolar, eu percebi que aquele seria meu último momento no castelo... talvez para sempre.
Vamos lá, ... Tudo de pior que você conhece... Tudo o que machucar sem matar, e sem danos permanentes...
Respirei fundo, como se o ato fosse me dar coragem. Tudo acontecia em segundos, mas pareciam décadas aos meus olhos. Cada ação, sendo minha ou de meu adversário, eu via em câmera lenta. Dentro de mim, no entanto, as emoções e pensamentos tinham a velocidade da luz. Medo. Coragem. Covardia. Desafio. Desespero. Esperança. Adrenalina. Medo. Medo. Medo.
CONFRINGO! – gritei, e me arrependi com um segundo de atraso. Era para parecer um duelo com um Comensal! Eu não estava mais brincando com os idiotas da Sonserina. Aquilo tinha que ser sério! O Severus Snape que todos ali imaginam já teria me matado!
Minha burrice me custou caro; Sev me acertou com o Sectumsempra na perna, seguido de uma Cruciatus, ambas sem pronúncia. Eu me desviei o quanto pude da primeira maldição, e isso evitou um dano grave na perna; pegou de leve, um corte feio, mas nada que me paralisasse. A Cruciatus me pegou de jeito, e eu gritei a plenos pulmões, caindo dolorosamente no chão.
Tudo tinha parado à nossa volta. Achavam que estava terminado. A Cruciatus causa dor o suficiente para paralisar uma pessoa, mas graças a Severus, eu tinha algumas vantagens.
Juntos, durante nossas “aulas”, desenvolvemos um feitiço protetor, baseado no “protego”, que nos dava uma barreira que diminuía os efeitos das imperdoáveis. Não dizimava, mas tornava mais suportável. O legal desta barreira é que, uma vez feita, ela só deixa de funcionar se você a “desativa”. Como a “Levicorpus”, que sem a “Liberacorpus”, a pessoa continua presa no ar pelo calcanhar. Em resumo, era uma proteção muito útil – e é claro que eu a coloquei em cada um dos integrantes da AD antes de começar. Mesmo inacabado, o feitiço servia bem.
Gritando ainda mais alto, usei o feitiço Accio mentalmente para atrair uma das enormes mesas do Salão. Foi preciso muito, muito esforço mesmo – eu senti cada fibra do meu corpo pulsar, o sangue acelerar, e uma umidade em meu buço me alertou de que meu nariz sangrava. Mas a mesa veio, e assustou muita gente ali. Como uma onda quebrando na praia, a massa de alunos foi abaixo para se desviar da mesa que vinha em minha direção; no último segundo me atirei no chão, escapando dela, que errou um surpreso Severus por pouco, me dando o que eu queria – a distração dele.
— CRUCIO! – berrei exatamente ao mesmo tempo em que a mesa caía do outro lado do salão com um grande baque que abafou minha voz, e então Severus nada ouviu. No instante seguinte, ele caiu de joelhos no chão, agonizando, visivelmente em dor, mas nenhum som deixou seus lábios além de um arfar de surpresa. Ele, assim como eu, se libertou logo do feitiço, e eu pude sentir a ligação entre meu poder, a varinha e ele se partir (outra coisa sutil que ele me ensinou), e então eu soube que era hora de atacar de novo.
Começamos com uma série maldições, um contra o outro. Desviei com escudos, com contrafeitiços, ou simplesmente fugindo deles... os alunos eram guiados para fora, e isso foi um alívio; eu não queria que mais ninguém se machucasse. Nossos feitiços explodiam coisas por toda parte. Consegui arremessá-lo pelos ares uma vez – e ele me arremessou umas outras três ou quatro. Por fim, ficamos eu, ele e a Prof.ª Minerva – uma pessoa de ótimo coração, certamente preocupada que algo fosse me acontecer –, e eu tentei conversar com Sev, mas correndo de azarações era meio difícil. Acabei confundindo a professora e, ignorando o sentimento de culpa, virei para ele.
— Partirei esta noite – disse a ele.
Ele estava mortalmente sério. Fiquei assustada e continuei falando, sem saber o que fazer.
— S-sei que não conversamos sobre como seria quando este momento chegasse, mas a-acho que estou pronta.
Uma ova de sapas que estava, mas tá, né.
— Perdoe-me pelo que fiz hoje – sussurrei, nervosa. – Eu...
Ele suspirou, e eu não tive coragem de continuar. Ferrou. É agora que ele mata?
— Você está mais do que pronta, – disse ele. – Confie em si mesma. Você é uma bruxa muito poderosa e talentosa... causa mais problemas do que pode resolver, mas... – Ele parecia perdido em pensamentos. – Te ensinei tudo o que podia. Tenho fé em você, assim como Dumbledore sempre teve. Cuide-se.
Minha visão estava turva e meu nariz ardia. Isso não queria dizer nada. Severus tinha me elogiado, e muito, e eu estava embasbacada demais com isso para notar que eu chorava.
— Obrigada, Sev... cuide-se. – Levantei a varinha para ele, e tudo o que eu via era o negro de suas roupas, já que de repente meus olhos estavam cheios de lágrimas. – Estupore!
Ele caiu no chão, desacordado. Eu não quis olhá-lo, pois tudo o que eu pensava era: esta pode ser a última vez em que eu o vejo. E tudo o que eu não queria era ter que perder Severus também.
A professora me olhou, ainda confusa, e eu a abracei, chorosa.
— Estou indo embora, professora. Está na hora de fazer o que Dumbledore me mandou... Cuide dos meus amigos, por favor... não deixe que eles sofram pelo que fizemos hoje! E cuide-se!
Sem olhar para ela, corri para longe, em direção às masmorras. Havia uma porção de coisas que eu não podia deixar para trás.

—x—

Esgueirei-me pelos corredores até as masmorras, chorava feito criança. Meus soluços eram fortes, e se comparavam aos da Murta-Que-Geme, tão irritantes que eram. Sentia-me péssima; eu não sabia que deixar Hogwarts seria assim tão difícil.
Alguns instantes depois, eu entrei no Salão Comunal da Sonserina, apinhado de alunos. Eles não podiam me ver, pois eu tinha utilizado o Feitiço da Desilusão, para evitar falar com qualquer um. Esbarrando em três ou quatro alunos, cheguei ao dormitório. Encontrei Lia ali. A conversa era inevitável. Eu não tinha como sair sem falar com ela. Assim sendo, desfiz o encantamento.
— Lia – chamei.
! – gritou. – Céus, você é louca, todos são loucos; o que vocês estavam pensando...? Eu mal posso acreditar...!
— Esqueça isso – eu disse, séria. – Estou partindo... agora.
Ela me olhou, sem expressão.
— Essa é a parte em que você ri escandalosamente e fala que é brincadeira, certo?
Amelia, de fato, esperava que eu risse e dissesse que era brincadeira.
— Não – respondi.
A garota me deu as costas, cruzando os braços.
— Você não me disse nada sobre isso – reclamou.
— Não disse nada sobre muita coisa, é – eu disse, impaciente. – Um dia, talvez, você entenda... eu só queria dizer adeus...
Respirei fundo. Por que falar de sentimentos é tão difícil?
— Queria dizer também “obrigada” por sua amizade, por seu carinho, e por tudo o que me ofereceu e ainda me oferece.
... – disse, num tom triste.
— Não digo “nos veremos em breve”, porque não sei se amanhã ainda estarei viva. – Minha voz falhou quando aumentei o tom de voz numa tentativa de ignorar a tentativa dela de me interromper. – Não sei o que vai me acontecer. Não sei se nos veremos de novo.
Foi aí que me perdi em lágrimas de vez, e chorei com tanta intensidade que não consegui falar. Para não ficar parada ali, no meio do quarto, chorando como boba, fui guardar no malão o restante dos meus pertences. Peguei os produtos de higiene, meus materiais, e só restou a caixa de joias. Hesitei com a mão na caixa e, por fim, a abri. Olhei para a pulseira que Draco me dera com receio, como se ela fosse uma cobra. Peguei-a e a coloquei dentro de um envelope. Pensei em escrever... mas acho que aquilo não precisava de palavras.
— Preciso que faça algo por mim – eu disse a ela. – Se puder.
— O que quiser – disse, chorosa.
— Entregue isto ao Malfoy. – Estendi-lhe o envelope.
— Hm... – fez ela, recolhendo-o e avaliando-o com curiosidade. – E o que eu digo?
— Nada – eu disse e, sem mais, enfiei a caixa de joias na mala e acenei com a mão para que fechasse. Então, fiz com que sumisse e aparecesse na Sala Precisa (ou quartel da AD, como ele seria quando eu entrasse lá). – Lia, eu te adoro... Você é uma amigona... e eu jamais me esquecerei disso.
Eu a abracei e, juntas, derrubamos mais algumas lágrimas.
— Ok. Chega dessa coisa melosa – eu disse. – Tenho trabalho a fazer. Prometa-me que ficará bem.
— Ficarei.
— Ótimo. – Sorri para ela. – Adeus, Lia.
Ela sorriu.
— Isso não é um adeus – disse. – Te verei em breve.
Eu sabia que as chances não eram boas, mas não acabaria com nossa felicidade assim. Saí sem falar mais nada, tornei a fazer o feitiço da Desilusão em mim, e deixei o Salão Comunal da Sonserina de uma vez por todas.

—x—

Quando cheguei à Sala Precisa, percebi, com choque, que a AD em peso estava ali. Sujos, machucados, porém excitados, eles me observavam. Gina deu um passo à frente.
— Espero que você não esteja pensando em partir agora – disse ela, séria, encarando meu malão.
— Gina...
— Isso seria muita covardia de sua parte! – disse ela, exaltando-se. – Você nos liderou numa revolta! Nós fizemos coisas... e nós iremos pagar por isso, e você simplesmente vai partir?!
— Gina...
— Eu não posso acreditar...
— GINA! – gritei. Ela se calou no ato e ficou a me observar. – Pensa que eu não quero ficar aqui? EU QUERO! Dói em mim ter que partir, mas você sabe que eu não posso ficar!
— O que você veio fazer aqui, então? Por que não partiu com Harry?
— NÃO INTERESSA! – Perdi de vez as estribeiras. – EU ESTOU PERDIDA E NÃO SEI O QUE FAZER, E FICAR SÃ E SALVA EM HOGWARTS, FINGINDO QUE O CÉU NÃO ESTÁ DESABANDO LÁ FORA...
, v-vá com calma – murmurou Neville ao meu lado.
— ISSO NÃO AJUDA! EU PRECISO FAZER ALGUMA COISA! PRECISO ACHAR UMA COISA E EU SEI QUE AQUI EM HOGWARTS EU NÃO A CONSEGUIREI!
Perdi o fôlego, e já estava chorando novamente.
— Deixei-nos ajudar, então! – Pediu.
— Não posso... – eu disse. Ela fez cara feia. – Ninguém além de mim pode, Gina. Nem Harry, Rony, ou Hermione. Por que acha que eu não estou com eles?
Ela não disse nada.
— Sei que vocês vão ficar bem; confie em mim. Acreditem em mim... O que aconteceu hoje é só minha culpa. Então, quando virem que eu sumi, eles vão me procurar... e quando isso acontecer, Gina, pode dizer a verdade. Diga que eu fugi.
Ela acenou positivamente com a cabeça.
— Não parem, por favor... não parem, pessoal. Continuem lutando. Deixo o legado de Harry nas mãos de Neville... como o combinado.
Por um instante, só nos olhamos. Então, Neville me abraçou, Gina o imitou, e quando vi, estávamos todos ali num abraço coletivo enorme. Era uma daquelas cenas que você nunca mais esquece na vida...
Mas o que, neste mundo da magia, não marca nossas vidas para sempre?

—x—

Fiz todos saírem da Sala Precisa, e só uma pessoa ficou para trás. Córmaco, obviamente.
Nós caminhamos um em direção ao outro, sem falar, olhando diretamente nos olhos. Eu não queria falar o precisava ser dito. De alguma forma, dizer adeus para ele era ainda mais difícil do que para qualquer outro de quem me despedi. Então, como a covarde que eu me sentia, corri para os braços dele e afundei meu rosto em seu peito.
— Sabe, eu realmente odeio dizer adeus – disse ele. – É embaraçoso, e dói.
— Uh-hum – concordei.
— Não pensei que este dia chegaria – disse ele, apertando-me ainda mais, pois ele sabia que eu me sentia segura em seu abraço.
Eu não disse nada. Eu sempre soube que aquele dia estava chegando.
— Mas... não precisava ser um adeus.
Ah, lá vamos nós.
— Corm...
— Não, , escute! – disse ele, e eu me calei. Oh, aquilo não seria fácil. – , sei que não pode ficar, sei que tem algo que você é obrigada a fazer... Mas por que fazê-lo sozinha?
— Porque eu não tenho escolha – respondi.
— Sim, você tem! Pode me levar com você; ficarei feliz em ir.
MEU DEUS, esse Córmaco é tão FOFO!
— Awn, Corm, eu adoraria poder ter você comigo... – disse, infeliz. – Mas eu não posso; tenho que fazer isso sozinha, entende?
— Na verdade, eu não entendo – replicou, também triste. – Eu só não sei se conseguirei me acostumar a ficar sem você.
Eu não achei mais palavras para respondê-lo. Eu tentava reprimir um mar de lágrimas, e não era nada fácil. Para não ter que falar, beijei os lábios dele, e aquele foi O beijo. Nunca tínhamos nos beijado daquele jeito. E era bom.
Mas estava ficando quente demais.
Ele acariciava meu corpo, com um desejo ardente. Não ficarei aqui dizendo que era ruim e coisa e tal, até porque seria hipocrisia, mas estava indo... longe demais. Eu só o parei quando ele estava quase tirando minha blusa. Na verdade, eu paralisei.
— Não – eu disse. – Desculpe, Corm... Eu não posso...
Ele me deu um sorriso carinhoso.
— Tudo bem, . Só achei que não custava tentar – disse ele. – Mas entendo que não esteja preparada. E posso esperar.
AI, MEU DEUS, isso é real? Quero dizer, Córmaco é realmente assim, tão fofo? (Ou será que estou tendo alucinações?!)
— Você não existe – eu disse, com um sorriso bobo na face, afagando o rosto dele. – Não pode ser real. É bom demais para ser real.
— Esse sou eu, babe; aquele com quem toda garota sonha: completamente irresistível e bom demais para ser real – disse, com aquele típico sorriso que só ele tinha, que revelava malícia e arrogância. Eu ri, e ele me acompanhou.
Ficamos assim por um tempinho, mas ele precisava ir. Não queria que se metesse em problemas por estar fora da cama.
— Vá, Corm. Está na hora.
— Sentirei sua falta.
— Nem preciso dizer, mas eu também. Você nem tem ideia.
Ele me beijou.
Lembrei, não sei porque, do filme O Sexto Sentido, da cena em que Cole percebe que Malcolm está morto, e que chega a hora de ele ir embora. Então, Cole pede para que eles não se despeçam... que finjam que irão se ver novamente...
E resolvi imitá-lo.
— Podemos não dizer “adeus”? Posso fingir que ainda vou te ver amanhã? – perguntei a Corm.
— É claro.
Eu sorri.
— Te vejo amanhã, Corm. Durma bem. – E beijei seus lábios.
— Até amanhã, minha tigresa...
— EI! – Ele estava me sacaneando por causa do patrono.
— Durma bem, e sonhe comigo... – disse, rindo.
— Ok – eu disse.
E ele se foi. Deixou a Sala Precisa e eu desejei que aquela não fosse a última vez em que eu o veria. Não segurei mais o choro. Eu tinha que ser forte, mas para isso, tinha que deixar para trás toda essa dor. Saí da Sala Precisa, ainda chorando; precisava que ela se transformasse na passagem que me levaria para um destino incerto.
Malfoy estava passando pelo corredor quando saí. Ficamos a nos encarar; eu era da Armada de Dumbledore e ele era da maldita Brigada Inquisitorial recém-instaurada. Eu estava fugindo, e ele devia me delatar para os Comensais. Arqueei minha sobrancelha, desafiando-o a tentar me impedir. Ele não fazia nada. Não se mexia, não falava. Os segundos corriam, e eu estava cada vez mais impaciente.
— Vai ficar só me olhando? – perguntei, perdendo a paciência.
Ele não disse nada. Ok. Como na primeira série. “Ficamos de mal”.
— Você tem três opções. Tentar me prender e me levar para seus donos; ir até eles e dizer que eu estou aqui; ou você simplesmente toca nessa marca ridícula no seu braço e eles vêm correndo e abanando os rabinhos deles. Escolha.
Ele sabia que não me obrigaria a ir. Sabia que não daria tempo de chamá-los. Restava uma opção – e eu esperava ele tocar a marca.
E ele não o fez. Deu-me as costas e simplesmente saiu andando, com aquela postura de quem estava bravo com uma possível mancada minha.
Ridículo.
Eu não deixei de notar que eu não o veria novamente. E eu não pude ignorar a maldita pontada que senti no coração por isso. Bufando de raiva, virei e entrei novamente na Sala Precisa. Eu ainda estava chorando – e notando isso senti ódio de mim por deixar Malfoy me ver chorando.
A Sala agora era a passagem secreta para a caverna em Hogsmeade. Olhei para meu malão enorme, que estava bem no meio do caminho. Ele precisava sumir. Decidi copiar Hermione – achei uma bolsinha pequena em meio aos meus pertences (de couro, azul, e tinha um lindo laço) e fiz nela o feitiço de extensão indetectável, e depois arrumei todas as coisas do meu malão lá dentro. Problema do malão resolvido, enxuguei minhas lágrimas para poder enxergar direito e comecei a caminhar.
Aquele era apenas o começo da pior reviravolta em minha vida. Eu estava carregando um peso tão grande e meus ombros que eu sentia que eles desabariam, cedo ou tarde. Eu estava tão apavorada que me sentia entorpecida.
Hora de deixar para trás, deixar tudo de lado. Eu tinha uma missão, e o tempo estava correndo.
E eu não sabia nem por onde começar.



Capítulo 12
Vivendo na surdina


Caminhei durante vários minutos pela passagem que me levaria até a caverna, mas cada minuto mais parecia como uma hora inteira. Eu sentia dores em todo o corpo, e a exaustão falava mais alto. E como se não bastasse, meus sentimentos estavam completamente destroçados.
Depois do que me pareceu uma vida inteira, cheguei à caverna. Ela era completamente blindada com magia, o que me garantia uma proteção quase impenetrável – desde que eu não pagasse de idiota e falasse “Voldemort”, tudo estaria ótimo. Vocês sabem por quê. O tabu e etc. Num canto, havia uma barraca que Severus armara tempos antes para quando esse dia chegasse. Posso ser boa em magia, mas em montar barracas... sou uma negação – tanto no mundo mágico quanto no trouxa.
Peguei uma velha panela enferrujada que estava no canto e conjurei fogo para me manter aquecida durante a noite. Entrei na barraca e dormi do jeito que estava.

—x—

Na manhã seguinte, acordei grogue, ainda vestindo o uniforme de Hogwarts com o símbolo de Potter. Sorri tristemente ao vê-lo.
Eu ainda sorria, bestificada, quando ouvi um ruído que me assustou para valer. Havia alguém comigo na caverna, e fosse quem fosse, chutou uma pedra no escuro ou coisa assim. Talvez fora isso o que me acordara. Tapei a boca, reprimindo um grito. Minha respiração era falha e meu coração estava frenético. Um momento depois, me lembrei dos meus feitiços de proteção, e isso acalmou um pouco meu coração.
Foi aí que eu ouvi um pio muito familiar.
— O que diab...? EDWIN?!
Durante todo esse tempo eu nem sequer me lembrei que tinha uma coruja. Juro por tudo o que há de mais sagrado. Eu me sentia uma idiota. Como podia tê-la esquecido assim?
E por onde andara – ou melhor, voara – durante todo este tempo?
Ela não podia nem me ver e nem me ouvir. Mas piava, irritada e insistente, como se dissesse “você não pode se esconder de mim, sei que está aí”. Removi meus feitiços, receosa, e a coruja voou para perto de mim. Apressei-me em refazer todos os feitiços e então, finalmente, me virei para ela.
— Edwin! Oh, meu Deus, mas que dona desnaturada... Por favor, me perdoe!
Ok. Vamos esquecer a parte em que estou falando com uma coruja e eu não parecerei tão louca.
Edwin piou alto, um som ameaçador, como se me acusasse. Juro que não estou louca; ele realmente o fez.
— Não foi por mal... Juro, não foi mesmo por mal...
Um pio mais suave. “Eu entendo”, era a mensagem.
— OWN, EDWIN, QUEM É A CORUJA MAIS FOFA?
Um pio arrogante (se é que isso é possível).
— Menos – eu disse.
Ele estendeu a perna e eu recolhi um rolo de pergaminho bem grosso. Sorri para a coruja e acariciei suas penas.
— Você deve ter sido bem esperto... aposto que esteve em Hogwarts este tempo todo, né? Ah, Edwin, você é muito esperto!
Argh, se coruja tem ego, o de Edwin é bem grande.
Desenrolei o pergaminho enorme, e comecei a ler.


!

Espero que não se meta em apuros por nossa causa. Você sabe, por esta carta. Só queríamos que soubesse das últimas novidades. Aposto que você ficou curiosíssima.
Snape ficou completamente ensandecido quando soube que você fugiu. Eu contei a ele que você tinha me dito que iria partir (ele ameaçou torturar toda a AD) e ele falou que você era uma covarde, e muitas coisas mais, isso na frente de toda a escola. A Sonserina riu muito, Parkinson fez piada, o de sempre. Mas Draco estava definitivamente triste. Ficou em choque quando ouviu que você tinha desaparecido, e quase chorou quando Amelia devolveu a pulseira a ele (ela me contou; espero que não se importe).
A verdade é que meu sangue ferveu. Eu o xinguei (de tantas coisas feias que não me lembro da maioria), disse que ele era um hipócrita que além de levar seus pais para a morte, , ainda finge que se importa com você. Então o amaldiçoei no corredor do sétimo andar; ele está na ala hospitalar, cheio de dores.
Ganhei uma detenção extra por isso, nada demais, mas valeu muito a pena.
Ah, e nós da AD só vamos cumprir detenções na Floresta Proibida. Nada nos acontecerá! Hagrid estará conosco.
Espero que esteja bem, de verdade. E não se importe com nada; se a coisa ficar feia, nos avise, ok? Dane-se se vai alterar o que deve acontecer. Todos devemos ficar bem, entendeu? Isso inclui você.

Gina W.



Abaixo da carta de Gina, no mesmo pergaminho, havia uma nota de Luna e outra de Neville.


Queríamos estar aí com você; tememos por sua segurança. Procure por Harry, fique com ele, e volte para nós quando ele voltar. Sei que ele vai voltar. Você e ele são as nossas esperanças.

Neville L.


Faço minhas as palavras de todos. Você é uma ótima pessoa, assim como Harry. Sentirei sua falta. Todos sentiremos.
Fique segura.

Luna L.



Eu já podia sentir a saudade me apertando o peito. Eles eram importantes para mim, eram o que me mantinham em sã consciência. Eu sentia que, sozinha, iria enlouquecer.
Mas eu não podia. Eu tinha muito a fazer.
E era melhor começar.
Para variar, eu não tinha a menor ideia de que ou onde procurar. Garanto que passou pela minha cabeça, tipo, umas milhares de vezes, a ideia de ir até nossa ilustre J. K. Rowling e perguntar por que diabos ela esqueceu de me incluir na historia dos livros 6 e 7. Depois lembrei que não era culpa dela que eu tenha decidido, afinal, vir para Hogwarts. Minha decisão, minha culpa.
Eu tinha me perdido nestes devaneios, e Edwin chamou minha atenção – e deixou um belo corte no meu dedo.
— Não finja que foi só pela falta de atenção! Sei que está se vingando, espertinho.
Ele se fez de desentendido, olhando para os lados.
Mas é claro que ele olhou para os lados, Burra. Ele é uma ave.
Apressei-me em escrever uma resposta; convoquei uma pena, tinteiro e pergaminho de dentro de minha bolsa e comecei. Disse que estava tudo entediante, mas bem e que eu não estava em problemas, e nem estaria. Disse também que não me escrevessem mais; eles poderiam ser pegos e entrar numa enrascada. Falei que fiquei feliz por não tê-los deixado em apuros, e falei que já sentia falta. E sobre Malfoy...

E quando o assunto é Malfoy, só há uma coisa a se dizer, escrevi. Que o que aqui se faz, aqui se paga. É algo que os trouxas dizem em meu país. Mas digo: não há coisa mais verdadeira.

Enrolei o pergaminho e antes de amarrá-lo em Edwin, olhei para ele.
— Desculpe, ok? Não quis te deixar de lado. Continue em Hogwarts; eu morarei aqui durante muito tempo e, como vê, não é confortável. Mas eu prometo que se escapar disso, eu vou cuidar de você, como costumava ser. – E sorri, amarrando o pergaminho à perna dele.
A coruja se aproximou para que eu a acariciasse e isso era o mesmo que dizer: cuide-se. Eu ficarei bem.
E então partiu.
Novamente solitária, aproveitei para me acostumar com a ideia de que assim seria dali em diante. E para minha alegria, tomei algumas decisões. Primeira, eu iria ao Brasil pegar todo o dinheiro que herdei dos meus pais. Segundo, eu iria ao Beco Diagonal comprar vestes bruxas; deixaria todo o meu lado trouxa para trás. E terceiro, eu não sabia o que procurar, mas sabia com quem. Decidi que seguiria os Comensais, investigaria ao máximo. Era isso ou ficar sentada numa caverna mofada sem fazer absolutamente nada.
A última opção é inviável. E tentadora.
Eu não queria, de forma alguma, retornar ao meu país natal. Só de cogitar o pensamento, eu tremia. A dor... a excruciante dor que esta pequena visita me traria... Eu não precisava disso, mas era necessário.
Juntei tudo o que me pertencia e coloquei de volta na pequena – e agora inseparável – bolsa. Antes de remover a barreira protetora que a caverna tinha, fiz o feitiço da desilusão e, uma vez que tudo estava pronto, aparatei na praça que ficava perto de onde, um dia, fora minha casa. A mesma onde eu encontrara Malfoy naquele maldito dia. A mesma que me trazia as piores lembranças.
Tentando ignorar tudo isso, olhei o movimento ao meu redor, encostada numa árvore, onde ninguém poderia esbarrar em mim por acidente. Havia algumas pessoas passando aqui e ali, nada demais. Mas também havia aqueles dois sujeitos em vestes bruxas, parados a alguns metros de distância, num vácuo onde um dia fora minha casa. Estavam olhando para onde eu estava, atraídos pelo som da minha aparatação. Um deles levantou a varinha exatamente em minha direção, e o raio verde levou um segundo para cruzar a distância entre nós. Só tive tempo de mover a cabeça, e a Avada Kedavra acertou a árvore atrás de mim.
— Filho da puta! – gritei, desfazendo meu feitiço da desilusão e partindo para cima deles. – Como – Bombarda Máxima. – você ousa – Bombarda Máxima. – me atacar – Bombarda Máxima. – desta maneira? – Bombarda Máxima. As curtas pausas em minha fala foram pontuadas por estrondos do feitiço, tão fortes que o chão vibrava. – VOU ACABAR COM VOCÊS DOIS, MALDITOS, IMUNDOS, E...!
Os dois me atacaram de uma vez, e eu tive que me desviar, fazendo movimentos dignos de Matrix.
Ok, é mentira.
A verdade é que eu quase fui acertada, e isso só me deixou mais irritada e, aparentemente, cega. Eu não sabia o que eu atirava (que tipo de maldição, ou coisas, já que, repentinamente, muitas coisas começaram a voar), menos ainda em quem. Os dois à minha frente eram dois borrões, e eu ia em direção a eles. E, então, com um alto creque, os dois sumiram no ar.
— COVARDES! – gritei, mesmo sabendo que eles já podiam estar na China àquela altura.
Precisei de um breve momento para respirar fundo e olhar o estrago à minha volta. À esquerda, uma árvore estava rachada, efeito de um Bombarda Máxima; um gato jazia no chão, imóvel e coberto de sangue; provável que fosse efeito da Sectumsempra. À direita, um cachorro estava morto; sua imobilidade denunciava isso, mas nenhum ferimento. Avada Kedavra. Mas o pior estava atrás de mim.
Três cadáveres. O pai, a mãe e a filha. Inocentes transeuntes, que nada tinham com isso, e que agora jaziam no chão, atingidos por maldições que eram para mim. Eu senti ódio. Muito ódio. Eu queria o sangue daqueles dois em minhas mãos.
Eu queria o sangue de Voldemort em minhas mãos.
Não sei quanto tempo fiquei encarando o chão. Sei que, quando saí de meu transe, estava cercada por viaturas, de todos os lados. Todos miravam em mim suas armas.
Perfeito.
Eu não sabia o que fazer. Então, simplesmente desaparatei. Imagine agora a cara de cada um dos policiais quando me viram sumir no ar.
Impagável.
Quando aparatei, estava numa rua bastante movimentada de minha cidade. As pessoas nem notaram quando apareci, não viram que eu surgi no ar. Então, sem perder mais tempo, fui ao banco em que sabia que estava todo o dinheiro dos meus pais. Confundi os funcionários, e eles me entregaram todo o dinheiro.
Parti sem olhar para trás. Eu não podia ficar por muito tempo em nenhum lugar. Precisava me manter fora das vistas dos comensais.
Ao retornar para Londres, fui mais cuidadosa. Aparatei em lugares que eu sabia que estariam repletos de gente, onde seria confuso de me perseguirem. Aprendi isso com Hermione na sua fuga do casamento de Bill e Fleur. Lugares tumultuados, confusos, e que possibilitava perfeitamente que eu me misturasse.
Não encontrei companhia, o que foi um alívio. Pude ir ao Caldeirão Furado e chegar ao Beco Diagonal através de sua passagem.
Não era nada como eu me lembrava ano passado. Já estava ruim, isso é fato, mas agora, era deprimente. Tudo destroçado, lojas desativadas, e os transeuntes eram bruxos maltrapilhos e sombrios ou bruxos assustados, que procuravam sair de vista o mais rapidamente possível. Respirei profundamente e aumentei o ritmo de meus passos. Passei em Gringotes para trocar o dinheiro trouxa pelo bruxo. Sem parar e nem hesitar, adentrei a loja “Madame Malkin – Roupas para todas as ocasiões”.
A loja tinha um ar triste que eu não vira no dia em que entrara ali para comprar meu uniforme. Será por que eu estava excitada naquele dia diante da perspectiva de ir à Hogwarts? Meu mau humor estaria agora tornando a paisagem triste e desanimadora?
Era uma explicação aceitável. Tudo ao meu redor parecia deprimente. Triste, eu passei a acreditar que tivesse relação com meu próprio humor.
— Olá, querida, em que posso ajudá-la?
Os olhinhos de Madame Malkin brilhavam. Aparentemente, estava feliz por ter uma cliente. Os negócios não deviam estar indo bem.
— Olá! – cumprimentei com um sorriso, e seus olhos se espremeram, como se ela estivesse pensando se já me vira antes ou não. – Eu gostaria de ver e experimentar algumas vestes... comuns.
— Ah! Por favor, em acompanhe! – Ela me deu as costas e caminhou pelo lugar movendo algumas araras, procurando. Eu a seguia de perto, observando as araras e procurando coisas que pudessem me interessar. – Preferência por cores e estilos?
— Discretos – respondi. Ela sacudiu a cabeça em resposta, dizendo que entendera. Foi separando umas peças aqui e ali, e logo tinha uma grande variedade. Eram peças bonitas. Animei-me e comecei a experimentar.
Uma hora depois, eu já tinha um ótimo número de roupas discretas e muito legais. Paguei a ela. Quando ia saindo, ela me chamou:
— Ei, querida, nós não nos conhecemos?
— Claro. Você me vendeu vestes para Hogwarts ano passado.
— Sim, mas... Sinto que a vi em algum outro lugar...
Saquei onde ela queria chegar. Meu nome com certeza devia estar sendo cada vez mais e mais manchado pelos jornais. Eu era o mau elemento, assim como Potter. Poderei antes de responder. “Que se dane”, pensei.
— Claro. Talvez n’O Profeta Diário. Soube que eles andam falando muito de mim por aí. Você sabe, a lunática que assassinou os pais trouxas a sangue-frio. – Os olhos dela se arregalaram de pavor. Não era culpa dela. Ela não merecia que eu me portasse de tal maneira, mas eu não me importava muito, para ser sincera. – Passar bem, Madame.
Com isso, deixei a loja, e aparatei o mais cedo possível.
Voltei para a caverna, tomei um banho e me vesti, depois guardei o resto de minhas coisas na bolsinha. O tempo passava tão rápido que eu nem notei, mas já era noite. Eu precisava agir. Precisava! O tempo passava muito rápido, e se eu continuasse nesse ritmo, não ia chegar a lugar algum.
Eu estava bastante estressada por isso quando cheguei. E meu estresse só foi piorando e piorando.
Quase não dormi naquela noite.

—x—

Eu estava pronta para a ação. Para sair dali, arriscar meu pescoço e, quem sabe, conseguir alguma informação útil. Por isso, não tardei em fazer jus aos meus sentimentos: eu me sentia pronta, então ia provar.
Eu usava uma longa veste preta e discreta, que era colada ao meu corpo na cintura e folgada partindo dali. Ia até meus pés. Era bastante confortável e não era muito diferente do que as bruxas usavam no dia-a-dia – e era essa a ideia, afinal. Havia um detalhe no decote, um cordão que ficava amarrado num laço. Na cintura, mais detalhes, como um cinto. Era bonito. Enfim, peguei todas as minhas coisas e coloquei na bolsa. Eu não era idiota de arriscar tudo o que eu tinha deixando fora de meu alcance, então, por mais que eu fosse voltar para a caverna no fim do dia, eu não deixaria nada que me pertence para trás. E se algo desse errado? Eu não podia me arriscar, nunca. Passei a alça pela cabeça e a coloquei no ombro direito, e então, fazendo o feitiço da Desilusão em mim mesma, saí da caverna para Hogsmeade.
Não havia muita gente por ali. Alguns baderneiros, que eu imaginei que fossem Comensais ou caçadores. Excluindo eles, ocasionalmente um bruxo ou outro passava apressado, sempre com a maior rapidez possível para chegar ao seu destino. Fiquei à espreita, observando os estúpidos que estavam ali adiante, rindo e conversando. Não tardou para que tomassem rumos diferentes, e eu escolhi o único que não aparatou para seguir.
Não seria fácil seguir esses caras. Quero dizer, eles simplesmente aparatam... e se eu chegar perto o suficiente para ir junto, posso não gostar nada do que irá acontecer.
Ele caminhou, caminhou e caminhou. Era maltrapilho e bem porco, claramente não tomava banho há muito, e bebia uma garrafa do que eu supunha que era Whisky de Fogo enquanto caminhava. Não demorei a reconhecer o caminho; ele levava à mansão Malfoy.
Por que todo caminho que eu escolho me leva em direção à ele?
Ignorando minha revolta, eu continuei a segui-lo.
No fim das contas, não deu em nada. Eu fiquei parada do lado de fora da mansão dos Malfoy, e nada consegui. Ocasionalmente alguém entrava ou saía, mas não me deu nada para prosseguir. Voltei no fim da noite, frustrada, para a caverna de onde eu havia saído.

—x—

Imagine a minha surpresa quando eu cheguei à caverna e encontrei Edwin lá, esperando-me para entregar uma nova carta. Encarei-o, estupefata, enquanto ele encurtou a distância entre nós e, piando alto, estendeu a perna, como que dizendo “você não acha que já esperei o suficiente?”
Sorrindo, peguei a carta, e ele levantou voo, deixando a caverna. Provavelmente iria caçar.
Removi a fitinha e desenrolei o pergaminho. Meio queixo caiu com o que eu li.

Hey, ...

Eu não sei porque estou fazendo isso. Escrevendo para você, quero dizer. Nós não estamos nos dando bem, nem de perto, e mesmo assim, eu não consigo deixar você para trás.
Sei que você não vai me perdoar nunca pelo que eu fiz. Eu não tive a intenção de... você sabe, mas também não tive a coragem necessária para fazer algo à respeito.
E eu lamento por isso, e me arrependo amargamente.
Quando Amelia me entregou sua pulseira... , eu queria fugir. Queria ir para junto de você. Sinto sua falta, e faz pouquíssimo tempo que você partiu. Não sei como lidar com isso.
Fique segura, . Viva e se imponha. Se tem alguém que pode superar isso é você.
Espero te ver de novo, em breve. Mesmo que você me trate como lixo, como sempre. Melhor isso que nada. Melhor ver você me odiando a cada dia que passe do que não te ver.
Não tenho mais nada a dizer. Só que... eu me arrependo amargamente por não ter te dado ouvidos, e você sabe disso.

D. Malfoy


Malfoy. Malfoy. Fiquei a encarar o nome dele. Ainda não conseguia acreditar que ele escrevera para mim. Não sabia o que fazer. Tinha uma carta dele em mãos, meus olhos marejavam e eu não precisava fingir que não me importava com ele. Eu o amava e odiava ao mesmo tempo, e ambos os sentimentos eram grandes, e eles me dominavam ali. Pressionei a carta junto ao meu rosto, sentindo o perfume, que era o mesmo que ele usava. Eu chorava, e nada me faria parar. Aquele era o modo que minha dor encontrou para sair. Aquilo aliviava meu coração partido.
Eu não ia responder. Não queria e não podia. Por um instante, cogitei a ideia de rasgar em mil pedaços, mas percebi que parte de mim não queria isso. Então, não o fiz. Sentei-me o chão, a carta amarrotada ainda em minhas mãos, a mente vagando para as memórias que eu tinha dele. As boas. As ruins. Cada uma delas.
E, de repente, eu já não chorava só por Draco. Chorava por meus pais, pelas pessoas inocentes que morreram por minha causa, pelos meus amigos, e por todo o resto. Chorei até não aguentar mais, e isso demorou bastante.

—x—

Mesmo com olhos fechados, o brilho invadia minhas pálpebras. Era uma luz muito forte, e primeiramente eu pensei que fosse o sol, mas depois eu me lembrei de que estava numa caverna e estranhei. Eu me questionava internamente sobre de onde vinha esse “clarão”. E, detalhe, isso tudo semiacordada e ainda deitada na cama.
Por fim, me dei por vencida e abri meus olhos. E então, rapidamente, eu estava bem acordada.
Era um patrono, isso eu podia ver. Uma corsa prateada que brilhava fortemente. À princípio, seu brilho machucou meus olhos, mas não importava. Eu dava cambalhotas de alegria internamente.
Era Sev, eu tinha certeza disso. Eu estava tão animada! Desfiz toda a proteção e esperei, ansiosa, olhando para a passagem que ia dar em Hogwarts. Não demorou muito, e logo Sev apareceu, hesitante, olhando ao redor com sua habitual desconfiança.
— SEV! – gritei, correndo para abraçá-lo. Literalmente me atirei contra ele, e senti que ele se desequilibrou um pouco. Sentindo seu corpo enrijecer de choque, soltei-o, um sorriso sincero cravado na expressão. – Oh, Deus, como estou feliz por te ver!
Ele murmurou algo como “é, posso ver”, meio que para si mesmo, e eu ignorei.
— O que faz aqui? Pensei que não fôssemos mais nos ver!
Cauteloso, ele caminhou para perto da barraca. Parecia intrigado.
— Você anda recebendo cartas? – perguntou, com aquele tom de um pai que descobre uma travessura do filho e está prestes a puni-lo.
Olhei para onde ele olhava, e lá estava Edwin, parado e empertigado, observando-nos.
— Hm... mais ou menos.
Severus cravou seus olhos em mim.
...
Odiei o tom dele. Parecia minha mãe quando achava que eu estava mentindo.
— O quê? Foram só duas cartas...!
— Que vieram por uma coruja que pode facilmente ser interceptada!
— Eu sei! Desculpe!
Ele me olhou seriamente.
— Quem anda escrevendo para você?
— Gina, Luna e Neville escreveram uma só para me dizer que estavam todos bem; eles não sabem que eu já sei tudo isso. E, bem...
Parei. Não queria lembrar daquilo.
— Continue – disse.
— Draco escreveu a última.
Ele arqueou a sobrancelha.
— Pensei que não estivessem mais se falando.
— Não estamos.
Ele semicerrou os olhos.
, acho que você não compreende a seriedade de toda essa situação...
— Compreendo, Severus. E eu não respondi e não irei responder a esse idiota. Ele não merece. Nem sei para que escreveu, para início de conversa.
Endureci a expressão, encarando fixamente um ponto atrás dele. Podia sentir que seu olhar procurava entender minhas atitudes, mas eu tentava com todas as minhas forças não pensar em Malfoy e nem em nada que deixara para trás.
— O melhor que faz é não responder mesmo – disse Severus, num tom um pouco mais leve e muito mais cauteloso. Como quem se desculpa. – Vim aqui para saber dos seus planos – informou, mudando o rumo da conversa.
Apressei-me em contar sobre a inutilidade da minha primeira tentativa. Contei do que aconteceu no Brasil, e de como fiquei plantada do lado de fora da mansão dos Malfoy, e que nada obtive.
— Você não precisa ficar de tocaia, – disse-me ele, assim que acabei de lamuriar. – Sei de tudo o que se passa lá dentro. Posso informar a você.
Suspirei.
— Isso só me deixa uma opção.
Olhei nos olhos dele pela primeira vez desde que ele chegou. Eu não aguentava olhá-los, pois sempre me lembrava do que eu lera no “Harry Potter e as Relíquias da Morte”, do que eu vira no “Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2”. Nagini atacando-o por ordens de Voldemort. Ele agonizando. Morrendo.
— Será uma missão suicida, Severus. Não quero chegar a esse ponto. Estou apavorada; a perspectiva de me deixar ser torturada por Riddle só p...
— O quê? – A voz de Severus foi baixa como um silvo. Estremeci e desviei o olhar. – Você não fará isso, está me entendendo? Não! De forma alguma!
— Eu apreciaria palavras encorajadoras – eu disse, baixinho. – Estou apavorada, como já disse, diante desta perspectiva.
— Não! – repetiu. – Você não pode fazer isso! E você não vai.
Era claro que eu iria, e nós sabíamos bem disso. Enquanto eu encarava o chão, buscava forças para olhá-lo nos olhos e mentir, mas mentir com maestria, porque, se Severus Snape percebesse que eu mentia para ele... nem imagino o que ele faria.
Obriguei-me a encará-lo, com a expressão mais vazia que eu conseguia elaborar. Sustentei esse olhar por instantes e, por fim, veio a mentira:
— Você tem razão, Sev. Não farei isso. De nada adiantaria.

—x—

Severus não demorou a ir embora. Atualizou-me de algumas coisas dos Comensais e logo se foi. Eu senti alívio por não ter mais que fingir que eu ia sentar e esperar que tudo desse errado, só para não me arriscar. Mas também senti uma dor enorme ao vê-lo ir. De novo, eu não sabia se o veria novamente... vivo.
Sentei dentro da barraca, no chão frio e duro, pernas cruzadas, braços apoiados nos joelhos, cabeça enterrada nas mãos. Minha testa estava franzida do esforço. Eu pensava, e com uma concentração que jamais tive. Eu analisava tudo o que eu conhecia sobre Voldemort. Cada lugar importante para ele... A caverna, Hogwarts, Gringotes... As casas onde assassinou seus familiares (já que escondera um anel lá), talvez Kings Cross (por levá-lo à Hogwarts; vai saber), o Ministério (ideia de poder e dominação; mais uma vez, vai saber, né). E, então, depois de um tempo pensando e uma dor de cabeça, eu tinha lugares para procurar. O Ministério, Kings Cross, e a casa de seu pai. A última me parecia mais provável. Ele passara tempos lá antes de retornar e recomeçar a causar pânico e discórdia, no quarto ano de Harry em Hogwarts. Você sabe.
Decidi que seu lugar utilizado para as reuniões (também conhecido como a mansão dos Malfoy) era um lugar insignificante. Quero dizer, que importância tinha um lugar em que ele reúne um bando de bruxos idiotas que não significam nada para ele pode ter? Ele não tinha lembranças marcantes de lá, nem teria. E daí que era lá onde ele passava a maior parte do tempo? Eu imaginava que lá não seria um grande esconderijo.
A casa de seu pai trouxa, por outro lado...
Ele assassinara o pai, o avô e a avó naquele lugar. Vira a luz deixar seus olhos, sentira prazer com isso. Definitivamente, um lugar que eu deveria e iria visitar.

—x—

Apanhei todos os meus pertences e me preparei psicologicamente no processo. Eu não sabia com o que eu poderia me deparar, mas sabia que não seria nada de bom. É de Voldemort que estamos falando e, com ele, nada de bom poderia ser esperado.
No fim, com tudo o que me pertencia dentro de uma pequena e inseparável bolsinha, aparatei, a casa que eu só vira no filme em mente. Quando abri os olhos, estava no meio do caminho para a casa. Agradeci a Deus pelo filme ter tido um cenário tão parecido com na realidade.
Para ser sincera, o filme não tinha sido tão realista, mas sim realista o bastante. A casa que pertencera aos Riddle era mil vezes mais horripilante que o filme “Harry Potter e o Cálice de Fogo” nos mostrou.
Fiz o Feitiço da Desilusão ao meu redor, fechei meus olhos e apurei os outros sentidos. Snape me ensinara a fazer isso. Ele me disse que com esforço e concentração eu poderia sentir lugares que foram tocados, afetados por magia de alguma forma. Ainda mais facilmente se fosse magia negra. Era algo tão poderoso que sempre deixaria um rastro... e eu precisaria encontra-los. Era o único meio de achar algo que permita que o Lord das Trevas triunfe no final.
Eu senti. Era algo forte, aterrador, e sussurrava por mim. Me induzia a entrar. Era, eu imaginava, como o efeito da Maldição Imperius: uma vozinha dentro de minha cabeça, instigando. Mas, diferentemente da maldição, eu podia simplesmente virar e sair dali.
Mas, é claro, não o fiz.
Caminhei vagarosamente, agora de olhos abertos e atentos. Estava silencioso – nem um grilo sequer fazia sons –, e isso me deixou ainda mais perturbada. Nada que espante esses pequenos animais pode ser bom. Tentei não hesitar em momento algum e simplesmente ir de uma vez e acabar com o maldito suspense.
Isso não aliviava nem um pouco meu medo.
Quê? Eu estava com medo, e aí? Nunca disse que eu era a pessoa mais corajosa do mundo.
Com um “que se dane” em alto e bom tom, andei rapidamente até a porta. Como nada me deteve, não hesitei ao girar a maçaneta – e me ferrei, como consequência.
Galhos enormes se ergueram do chão. Tinham vida própria. Ok, era só um maldito feitiço, igual ao do labirinto do quarto livro/filme, no Torneio Tribruxo. Eles se enrolaram aos meus tornozelos e me derrubaram de queixo no degrau, e na hora comecei a sangrar.
— Merda – gemi. Os galhos tinham imobilizado meus braços e pernas. As mãos, felizmente, eu ainda podia usar.
Reducto – disse, e o galho se partiu em minhas pernas. – Redcuto! Reducto! Reducto!
Por fim, me livrei. Praguejando alto, peguei minha varinha, que havia caído no chão, e entrei – dessa vez abri a porta com o Alohomora. O feitiço utilizado nos galhos devia ser para os trouxas, já que se manifestou ao meu toque. Nota mental: somente abrir portas de casas que estou invadindo com o feitiço. Nada de tocar.
Adentrei o lugar. Meus pés doíam. Dando uma boa olhada, reparei que os galhos destruíram minhas botas (que eu adorava) e eram elas quem cortavam meus pés.
— Ah, ótimo – disse. – Eu gostava dessas botas! – Arranquei-as e joguei dentro da bolsinha. Logo depois ouvi um baque e o som de frascos rolando.
— Ótimo. Lá se vão meus ingredientes. – Eu me referia ao meu estoque de ingredientes de preparo de poções.
A casa fedia. Era escura e muito imunda.
— Eca – murmurei, pensando “lumus” e a ponta de minha varinha se acendeu.
Eu não sabia o que procurava, nem onde procurar. Apenas olhei a casa. Fotos dos Riddle tomavam as paredes. Eram fotos ao estilo trouxa, comuns, portanto, não se mexiam.
Tom Riddle fora um lindo rapaz, realmente. Feições suaves, agradáveis. Com certeza o filho herdara a aparência.
Imagino como ele se sentiria agora que seu filho aparentemente não tem nariz.
Ok, eu não disse isso.
A sala não era o esconderijo, estava claro. A cozinha imunda também não. Nada no andar de baixo.
Mas por que o feitiço de proteção se não há nada a proteger?
Havia algo ali.
Subi as escadas.
No andar superior, tornei a sentir aquilo que senti lá embaixo, antes de entrar. Vasculhei minuciosamente cada cômodo.
Mas o que se procura sempre está no último lugar em que olhamos.
Não toquei a maçaneta. Não sou tão burra.
Alohomora – e a porta se abriu para mim.
A escuridão naquele quarto não era comum. Era intensa demais, e minha luz de nada servia.
Lumus máxima. – Uma esfera de luz se desprendeu de minha varinha e brilhou por um instante antes de sumir. – Ótimo – murmurei, amarga.
Dei o primeiro passo, às cegas. Era uma escuridão terrível. Então, bati o pé em alguma coisa, e uma dor aguda me indicou que machuquei feio meu dedinho. Doeu. Muito.
— Que porra, ai, isso é tudo culpa desse filho da puta desse Vol...
Voldemort é um tabu. Voldemort é um tabu. Sua burra, Voldemort é um tabu; não diga!
— ...demort.
Creque. Escutei pelo menos uns quatro.
Sim, eu estava ferrada. Tudo isso por ter me zangado por bater meu dedo num móvel, ou numa parede.
— Quem está aí? – Alguém perguntou. Eu não reconhecia a voz, logo, imaginei que não conhecia a pessoa. Um longo segundo se passou, e então vi um jorro de luz verde cortar a escuridão em minha direção.
Infelizmente, ela estava perto demais quando a vi.
Acho que, à esta altura, todos sabemos qual maldição é a caracterizada pela luz verde. Para refrescar a memória, só uma pessoa sobreviveu à ela até hoje.
O menino da cicatriz. O Eleito. Harry Potter.



Capítulo 13 - Dedicado ao Victor Mendes (Feliz Aniversário)
Casa dos Riddle


Eu tenho que dizer, eu sou uma criatura de sorte. Sorte mesmo. Completamente sortuda.
Ok, serei mais clara.
Aquela maldição da morte não me acertou. Ah, passou perto, bem pertinho mesmo, e eu até senti o vento em minha face e etc. Mas ela passou e não me acertou.
Mais uma vez: eu tenho muita sorte.
O quê? Aposto que você andou pensando que eu escapei como o Harry, com uma cicatriz e coisa e tal. Mas não, de modo algum. Afinal, ele é o menino que sobreviveu e continuará sendo.
Na hora, a expressão “cutucar onça com vara curta” passou pela minha cabeça, ao mesmo tempo em que minha mente se recuperava do choque e meu corpo daquela sensação de estar prestes a morrer. E, pouco a pouco, o medo deu lugar à raiva, depois ao ódio, e eu finalmente me sentia como uma fera, prestes a atacar. Minha fúria era tamanha que minhas mãos, em punhos, tremiam, e a varinha soltava fagulhas avermelhadas. Eu estava prestes a explodir.
Ah, mas quem quase me matara ia se arrepender de ter nascido.
— Acha que acertamos? – perguntou uma segunda voz.
— Creio que sim – respondeu o que me atacou. Reconheci o tom manso. Fiquei estupefata por não tê-lo reconhecido antes. Ah, Merlin, pensei, enojada. – Vamos chegar mais perto.
E então, pude vê-los. Todos eles. E, como eu percebera, era Lúcio Malfoy e mais três desconhecidos. Fora Malfoy quem me atacara, eu tinha certeza.
Grunhi. Fiz um som estranho com a boca, cerrando os dentes, fuzilando-os com o olhar.
— Vai se arrepender – avisei a ele e, com um grito agudo, ataquei-os. Eu não sei bem o que eu tentei fazer, mas então, inexplicavelmente, fiz o quarto todo explodir. Não foi uma explosão qualquer; as paredes voaram pelos ares, assim como o quarteto. O cômodo todo foi envolto por uma luz intensa, tanto quanto a minha raiva. Eu não sabia que tipo de feitiço fora aquele, mas uma coisa eu sabia: ele acabou com todas as minhas forças.
Cambaleei e minhas pernas desabaram. As paredes tinham virado entulho, apesar de ainda haver pequenas partes delas no lugar, como um lembrete de onde aquele entulho todo saíra. A mobília estava em pedacinhos, e todo esse entulho escondia o quarteto. Do lugar onde eu estava – um círculo que escapou tudo, intacto –, observei o estrago que eu fizera, ainda sem acreditar. Tinha um cômodo destruído e quatro comensais inconscientes, e eles estavam sob meu poder.
Depois de me recuperar do choque, percebi que isso era útil. E foi com isso em mente que conjuguei quatro cadeiras e os prendi a elas.
Instantes depois, Malfoy demonstrou sinais de que recuperava sua consciência. Eu não sabia ao certo o que estava fazendo, e nem percebi, no calor do momento, como era arriscado. Nenhum deles tinha me visto, realmente. Eu podia simplesmente sair e deixa-los ali, sem entender muita coisa.
Sem respostas para o poderoso Lord.
Isso deveria lhes render uma tortura, né?
Acontece que eu queria fazer a tortura pessoalmente.
Os olhos de Lucius se cravaram nos meus, e a expressão confusa se tornou hostilmente obstinada.
— Malfoy pai – saldei-o, em tom ameno. – Devo agradecer a você pela maldição da morte?
— Pensei que tivesse acertado – disse, apenas.
— Acertou – disse.
A expressão dele foi interessante. Sarcasmo, dúvida, negação e, por fim, incredulidade.
— Interessante, não é?
Ele ficou me olhando.
— Eu te conto o segredo se você me contar o seu – eu disse.
— Eu devo ter errado.
— Mas você acertou – falei. – Fez cócegas.
Os olhos dele se arregalaram. Eu odiava olhar naqueles olhos. Droga, eram os mesmos do filho. Ou o que seja.
— Agora... Conte-me o motivo de tanta proteção para uma casa como essa que eu conto como não morri.
Ele riu.
— Menina idiota – disse. – Acha mesmo que vai conseguir alguma coisa?
Eu sorri.
— Não acho. – O sorriso dele foi tipo “Viu? Até você concorda.” – Eu sei que vou. Tem uma diferença aí. – O sorriso dele morreu. – Agora, aprecie a situação. Eu posso conseguir pacificamente e te beneficiar com um segredo meu, um segredo intrigante e valioso ou... – Deixei a frase no ar. Ou te uso de saco de pancadas, pensei. Mas ele não devia estar caindo no meu blefe.
Ele gargalhou. Tipo gargalhada do mal. Ah, céus. Eu mereço. Revirei os olhos.
— Acha mesmo que tenho medo de você?
Eu sorri.
— Deveria. – Cheguei bem perto dele, encarando aqueles olhos odiosos que o filho herdou. – Você não sabe com quem está lindando.
Segurei o pescoço dele e murmurei em seu ouvido:
Crucio.
Ele resistiu à dor em silêncio. Eu me concentrei mais, sabendo que podia fazer a maldição ser mais forte. Só parei de intensificar quando senti-o estremecer violentamente em agonia sob minha palma, deixando um gemido sôfrego lhe escapar. Tornei a sorrir para ele.
— Ora, se não é um progresso o que temos aqui. – Lucius me observava, os olhos temendo que eu fizesse a dor voltar, a expressão fingindo que não se importava. – Até acho que já sei a resposta, mas não me custa nada perguntar. Pronto para cooperar?
Ele disse uma coisa feia. Me mandou a um lugar fazer uma coisa que eu não posso dizer. Fingi estar chocada.
— Que horror! – Desdenhei. – Crucio!
Foi como da outra vez, mas fui mais a fundo. E se você acha que estou torturando o pai e me vingando do filho, você...
Não podia ter acertado mais.
— Sua vaca estúpida, nós vamos acabar com você! – gritou um dos comparsas dele.
Com um leve aceno de varinha, fiz um corte profundo na bochecha dele, usando o Sectumsempra.
— Ou vocês sangrarão aqui até a morte.
Os quatro se entreolharam. Será que começaram a acreditar em mim?
Eu não sou fã de tortura. Só estava irritada. Mas nem isso mudava o fato de que machucar outras pessoas, mesmo que essas pessoas sejam escória do mundo, me deixava doente.
— Para sorte (ou azar) de vocês, estou com pressa. Por isso, vamos acabar de uma vez com isso. E você terá sua última chance, Malfoy. E note que eu vou ficar sabendo de qualquer jeito. Então, por que não me conta logo?
Ele nem sequer abriu a boca. Só me fitou, querendo que laisers mortais saíssem de seus olhos e me retalhassem.
Suspirei.
— Você pediu por isso. – E invadi a mente dele com o uso de Legilimência.
A sensação era a de estar vendo um filme. Só que as imagens eram mais rápidas, assim como os sons. Mil e um detalhes correndo em frente aos meus olhos. Vi Voldemort num desses detalhes e desejei vê-lo melhor. Foi assim que tudo voltou e eu pude assistir otimamente, como se de fato tivesse estado naquele lugar, no dia do acontecido.
— Você tem sido um desapontamento para mim, Lucius. – Aquela voz ridiculamente gélida me arrepiou de medo. – Um dos piores.
— Lamento, milorde – gaguejou. Estava ferido. Aposto que havia sido torturado na véspera.
— Lamento, milorde – ecoou o outro, fazendo uma careta. – Não se lamente. Faça as coisas como devem ser feitas, ou sinta a fúria de seu Lord.
— O que quiser, milorde.
Cortando o lenga-lenga de um vilão com um ego maior que ele, o que importava era que Malfoy e os outros três foram designados a cuidar dessa casa. Ele não disse por que, mas sou esperta o bastante; Harry tinha conhecimento desse lugar, por causa do início de suas visões no Cálice de Fogo, e ele devia imaginar que porventura Harry poderia aparecer por ali... Então, quem chegasse ali e se atrevesse a dizer o seu fodástico nome, deveria ser levado para ele imediatamente.
Nem estou ferrada, né? Básico.
Ou...
Talvez não dê em nada.
Lucius me atacou. Achou que eu estava morta, e nem sabia quem estava ali. Podia ser Harry. Imagine só!
Vejamos como Voldemort lidará com isso.
Ao me cansar daquela memória, decidi ver se achava algo mais. Deparei-me com o rosto de Draco e involuntariamente invadi essa memória.
Draco tremia dos pés a cabeça, e estava em sua casa. Eu já o vira assim antes; foi no ano passado, antes de brigar com Harry... antes de ficar comigo.
— Diga a ele, filho. – Implorava o pai. – Diga o que ele quer saber.
— Ouça seu pai, menino – disse Voldemort, chegando mais perto dele, intimidando-o ainda mais. – Ele sabe o que diz.
Draco estremeceu, fechando os olhos.
— Na-não há n-nada a dizer – gaguejou. – Por favor... Eu não sei nada sobre ela... Eu...
— Não minta para mim – retrucou Voldemort. Creio que nesse momento deve ter invadido a mente de Draco. Passaram-se instantes e então Voldemort riu.
— Você me lembra Severus – disse, ainda com um traço do riso na voz. – Apaixonado por uma sangue-ruim.
Eu não podia acreditar. Aliás, como Voldemort pôde cair nessa? Tudo bem que ele não entende coisa alguma de amor, mas acreditar que Draco me amava? Fala sério.
— Eu não... – Draco tentou negar que estivesse apaixonado. “Aí está”, pensei. “Até ele admite.”
— É claro que está – retrucou. – Não apenas vi; pude sentir a intensidade dessa memória. Pude sentir como isso te afeta... como ela te afeta.
Ah, tá. Uhum. Claro.
— Não... Não é...
— Mas não é tão ruim, Draco. Na verdade, é útil, conveniente. Você pode trazê-la para nosso lado, torna-la digna para você. Com todo o poder que ela possui... até o sangue sujo pode ser perdoado.
Draco pareceu mais calmo, mas nem tanto.
— Pode trazê-la para mim?
— Desde que ela não seja machucada – respondeu Draco, num surto de coragem atípico.
— Meus planos são de torná-la uma de nós. Como vê, são nobres. Não tocarei num fio de cabelo dela.
— Então, irei convencê-la... imediatamente, milorde.
A cena se desfez, e eu me agarrei na seguinte. Era a continuação.
— Você não se atreva a se envolver com esse tipo de ralé! – bradou Lucius. – O que deu em você, hein? – Vendo que o filho não responderia, acrescentou: – Agora vai me dizer que já se sentiu atraído pela Granger também? Ou quem sabe pela menina dos Weasley?
Draco empinou o nariz, cheio de arrogância.
— Me recuso a falar sobre isso.
O pai parecia prestes a explodir.
— Acha mesmo que pode trazê-la para o nosso lado? – perguntou Lucius, tentando ficar calmo.
Ele fechou os olhos, sôfrego.
— Não. Ela me odeia agora – respondeu. Abriu os olhos e fitou o teto. – Se não veio quando tudo estava bem... entre nós... bom, agora...
Narcisa estava preocupada.
— Diga a ela o que você tem sofrido – sugeriu. – Ela gosta de você e tem um grande coração... não negaria essa ajuda...
Os olhos dele marejaram.
— Ela me avisou, mãe. Ela sabe. Sempre soube que eu passaria por isso, que passaríamos por isso. – Lutava para não chorar. – Ela pediu que eu fosse com ela e nos ofereceu proteção, a nós três, mamãe. Ela sabia o que sofreríamos nas mãos dele.
Narcisa parecia cada vez mais apavorada.
Não é tarde demais, mamãe. Nós podemos pedir ajuda a ela. – Draco sussurrou.
— DE JEITO NENHUM! – O pai se meteu. – Não.
Mãe e filho se entreolharam. Dava para ver que, sendo humilhante ou não, queriam se ajoelhar aos meus pés e pedir socorro. Queriam sair daquele lugar, se livrar daquele bruxo das trevas doidão.
Mas não o fariam. Porque, eu sabia, era nesse dia que eu perderia a minha família. Eu sabia que era nesse dia que Draco estragaria a minha vida.
— Mas, papai... – Ele tentou argumentar.
— Vá logo atrás dela, filho. E esse é um assunto que não será discutido. Se render ao inimigo não é uma opção – disse ele.
Quando a cena se dissolveu, Bellatrix entrou no cômodo falando que o Lord mandara que ela e seus comparsas fossem junto. E eu não quis mais ver ou ouvir.
Pestanejei para o Lucius a minha frente, bem mais acabado que o da memória. Seus olhos fitavam os meus, ambivalentes. Eu não sabia o que fazer com as novas memórias que tinha de Draco, e decidi deixar isso de lado e terminar logo o maldito serviço ali.
Apaguei as memórias dos quatro, deixando apenas até a parte da Maldição da Morte, e implantei uma falsa sobre a explosão, como sendo culpa deles. O que fariam quando acordassem era um mistério que pouco me importava.
Não havia nada naquela casa para mim, e eu meio que sabia desde o princípio. Mas agora havia a certeza, que faz valer um pouco a pena.
Que faz valer a pena que nada; aquela viagem fora uma tremenda perda de tempo, e mais uma tortura para mim. Até ali Draco me perseguia. E, por mais que eu me odeie por isso, cheguei a sentir pena dele.
Mas depois eu quis me chutar. Era culpa dele que meus pais estavam mortos! Eu estava sozinha, amargurada e dolorida, e era culpa dele!
Não é?
Eu já não tinha mais tanta certeza.

—x—

Uma vez na barraca, me joguei na cama, grunhindo alto como um ogro. Enquanto fitava o teto de lona, meu peito se apertava cada vez mais. Era uma dor estranha, e eu estava evitando pensar nela desde que invadira a mente de Lucius. Afinal, não tinha tempo para pensar noutra coisa que não fosse o possível retorno de Voldemort pós-morte. Organizava meus pensamentos, divididos entre Draco e a missão.
Apanhei a varinha de dentro das vestes e conjurei um pergaminho no tamanho de uma cartolina. Coloquei-o para flutuar. Com o uso da varinha, e ainda deitada, escrevi:
Casa dos Riddle – Nada.
Ministério da Magia – ?
Casa dos Malfoy – ?
Hogwarts – ?

Eu não conseguia pensar em mais lugares importantes para Voldemort. E mesmo nesses quatro, dois já eram improváveis pelo fato de já ter uma horcrux em cada (Hogwarts e no Ministério), um não tinha nada e o outro não era importante, na realidade.
Mas espera aí. Harry, Rony e Mione resgataram a horcrux no ministério, mas ela fora escondida na caverna...
Nem preciso dizer que me empolguei toda. O ministério! Tinha que estar lá... Fosse o que fosse. Até onde eu conheço a historia, Voldemort não escondeu nada no ministério!
Então, se existe uma nova coisa escondida num novo lugar, pode ser o ministério!
Tentei me conter, mas foi complicado. Quero dizer, era uma pista promissora, e eu estava confiante. Qualquer coisa que aparecia me deixava animada, pois eu estava em desespero.
Fiquei imaginando como seria quando eu entrasse lá, e o que eu procuraria, e isso me prendeu a atenção por todo o tempo em que permaneci acordada. Não era noite (muito pelo contrário; ainda era o meio da tarde), mas em algum momento eu adormeci, e meus sonhos foram sobre invadir o ministério. Nem preciso dizer que no sonho eu era tipo super-heroína, imbatível e coisa e tal, e encontrei o que quer que fosse, mas a realidade era bem diferente.
Fui acordada várias horas depois (várias mesmo; já eram as primeiras horas da madrugada) por nada mais, nada menos que Edwin, trazendo uma nova carta. Mordi o lábio inferior, lembrando do quanto Sev ficou bravo ao vê-lo da outra vez, e acenei para que a ave voasse até mim. Acariciei-o e conversei com ele, como sempre, e peguei o rolo de pergaminho. Desenrolei-o e meu coração acelerou ao reconhecer a caligrafia.

Oi. Eu, de novo.
Não acreditei que fosse obter uma resposta sua tão facilmente, mas, no fundo, mantive esperanças de que me respondesse. Confesso que fiquei esperando... E tive que me conformar com o nada.
Não estou em posição de lhe cobrar nada e tenho consciência disso.
Você deve estar se perguntando o porquê de eu estar escrevendo-te novamente. Bem, sinceramente, só estou querendo notícias suas. Estou preocupado. Posso até imaginar você me chamando de hipócrita enquanto lê isso e, se quer saber, isso me fez rir. E, ultimamente, eu não tenho feito muito isso. São tempos difíceis estes. Mas... Você sempre soube que seriam. E eu não te dei ouvidos.


Senti-me obrigada a interromper a leitura, e afastei a carta de mim. Meu peito voltou a doer da mesma forma que quando eu cheguei esta tarde, e dessa vez eu não pude fazer nada. Quando notei, já estava chorando. Por Merlin, como tudo pode ser tão complicado? Por quê? Por que nada é simples para mim?
Fungando, limpei as lágrimas e peguei o pergaminho para terminar a leitura. Continuava a chorar, mas desistira de fazer algo a respeito.

Há tanto que eu não te contei, mas que deveria ter contado... , eu só queria ter um momento para conversar com você agora. Para falar sobre tudo o que aconteceu entre nós. Não deixo de pensar que seja tarde demais, mas não vou desistir.
O problema é que eu sou um covarde. Posso muito bem escrever essas coisas para você, mas jamais tive coragem de dizê-las pessoalmente, . Maldita covardia que não me deixa falar.
Dê-me algum sinal, . Preciso saber que está bem, que está viva, em algum lugar. Preciso saber como está. Fui um covarde e não admiti o quanto você é importante para mim, não tive coragem para admitir nem sequer os meus sentimentos por você, e talvez isso tenha feito esse estrago. Não, talvez não. Foi isso. E eu lamento.
E isso não muda nada.
Eu queria poder voltar no tempo, ter fugido com você, mas não posso. Tenho que conviver com meus erros. Mas não vou desistir de conseguir o seu perdão.
Eu te amo demais para abrir mão de você assim. E quer saber de uma coisa? Eu já cansei de esconder isso. Já cansei de fingir que isso não é verdade. Eu te amo, . Você não acredita, eu sei, mas eu te amo. Demais.
Aguardo uma resposta, . Qualquer coisa.

D. Malfoy


Chorei, chorei e chorei. Para falar a verdade, não conseguia nem fazer outra coisa que não fosse chorar. Não pensava, não reagia. E foi assim por um longo tempo.
Por fim, cansei de chorar, e me vi segurando um pergaminho, pena e tinta. Uma grande dúvida pairava em mim. Será que eu deveria responder a carta de Malfoy?
Eu não sabia o que fazer.



Capítulo 14
You - Música do capítulo:
You (The Pretty Reckless)


Como, por Merlim, posso responder uma carta como a que Draco mandou? Ou melhor, as cartas? Já era complicado só pensar a respeito, me expressar seria difícil. Perdi a conta de quantas horas perdi só encarando os pergaminhos, sem saber o que escrever e como escrever. Havia tanto que eu queria dizer, tanto que precisava dizer... Por diversas vezes tentei começá-la, mas como começar uma carta para uma pessoa como Draco Malfoy? “Olá, Draco querido?” Ou “Prezado Draco”? Eu querendo ou não admitir, nós éramos próximos o bastante para a informalidade e ao mesmo tempo afastados o bastante para tratar um ao outro como estranhos.
A pilha de pergaminho amassado ao meu lado no chão só aumentava e aumentava. Minha mão tremia toda vez que pressionava a pena sobre o pergaminho, escrevia míseras palavrinhas e desistia. Que covarde eu era. No fim, eu estava numa cena precária. Deitada na cama, encarando o teto de lona da barraca, perdida em pensamentos. Havia em mim uma barreira que me impedia de pensar nele e em qualquer coisa a ele relacionada. Eu mesma punha essa barreira. Eu já sofri tanto... Pensar nele só faria com que eu sentisse uma dor ainda maior, praticamente impossível de se superar. Com a primeira de muitas lágrimas, removi essa bendita barreira. A dor me tirou o fôlego e as memórias me invadiram de uma só vez.

N/A: Dê play na música agora!

(...) — Confie em mim, por favor, Draco. Eu imploro. Deixe que eu ajude você. Não faça essas coisas. Você está machucando as pessoas; primeiro a Bell e hoje será o Rony. Você tem que parar.
— Desista; eu não quero ferir seus amigos nojentos, mas vou fazer isso se for necessário. Não me importo com nada e nem ninguém. Não quero você aqui e não quero mais falar com você. Pare de tentar ser minha amiga, pois eu não te quero por perto! Fique longe de mim e não se meta mais em minha vida, sua sujeitinha de sangue ruim!

You don't want me, no (Você não me quer, não)
You don't need me (Você não precisa de mim)
Like I want you, oh (Como eu te quero, oh)
Like I need you (Como eu preciso de você)

(...) — Por que está me segurando? — perguntei. — Não vai querer se sujar com o meu sangue ruim.
...
— Olha, eu já me cansei de ouvir sua voz, okay? Fique longe.

(...) — Você ainda não descobriu quem te deu a pulseira, imagino — disse. — Quem quer que seja a ama. Te deu até o coração.
Eu sorri, olhando para o coração de cristal.
— Concordo — eu disse. — Mas tem uma coisa que eu não compreendo.
— O quê? — Ele levantou o olhar intenso para encontrar o meu.
— Como é “não ser amigo” para você? — perguntei. — Quando não se gosta de uma pessoa, Malfoy, se fica longe dela. Você me pediu para ficar longe e eu fiz isso. E, agora, do nada, você chega querendo minha atenção! — Ele abriu a boca para falar, mas eu não deixei. — Não sou um brinquedo, Malfoy; tenho sentimentos. E agora quem te quer longe sou eu.
— Eu nunca quis magoar você. — Seu sussurro rouco quase me fez amolecer. Quase.
— Chega, Malfoy. Eu não vou mais chorar por você.


And I want you in my life (E eu quero você em minha vida)
And I need you in my life (E eu preciso de você em minha vida)

You can't see me, no (Você não pode me ver, não)
Like I see you (Como eu vejo você)
I can't have you, no (Eu não posso te ter, não)
Like you have me (Como você me tem)

(...) — É nessas horas mais difíceis que vemos com quem podemos contar de verdade.

(...) — Você fugiria com uma família de Comensais da Morte? — Claro que ele era cético.
— Sim. — Dei de ombros. — Se gosto de um Comensal, terei de aprender a viver entre Comensais.
— Não espere que eu confraternize com trouxas — disse.

(...) — Desculpe, querido, mas se você vai lutar, eu também vou. Do meu lado da força. Não vou permitir que seus amigos Comensais machuquem meus amigos e nem a mim. Mas se isso acontecer, vou levar muitos comigo, pode crer.
Eu me afastei dele, em direção a porta.
, faça o que peço. Por mim.
Eu encarei o chão antes de olhá-lo pela última vez antes de sair.
— Por que não vem você comigo? — retruquei. — Acabaríamos aqui essa briga.

(...) — Não dá certo. Não quando eu sou um Comensal e você uma garota da Ordem da Fênix.
— Adeus, Draco.


And I want you in my life (E eu quero você em minha vida)
And I need you in my life (E eu preciso de você em minha vida)

Love, love, love (Amor, amor, amor)
Love, love, love (Amor, amor, amor)
Love, love, love (Amor, amor, amor)

(…) — O que você quer? – perguntei. – O que te fez vir até o Brasil?
— O... Você-Sabe-Quem, ele... , você disse que podia me ajudar. Eu... preciso disso agora.
— Claro que precisa. Não deve ser nada agradável dividir sua casa com um bando de bruxos sádicos.

(...) — Não! – gritei. – Não, Lestrange, por favor, não! Eu faço o que quiser, mas não os envolva nisto!
— Melhor ficar quieta se quer que a Sra. sobreviva, .
— Não faça nada – pedi. – Por favor.
— Infelizmente, querida, este não é seu dia de sorte. Tenho minhas ordens.


(...) — Você vai me pagar pelo que fez, Bellatrix Rosier Black Lestrange. – Isso só fez com que gargalhasse mais alto.
— Acredito que hoje não, sujeitinha de sangue ruim imunda! Crucio!
— Vamos embora, tia – disse Draco. Parecia agitado, pelo tom de sua voz.
— Assim que eu terminar com ela, querido.
— Mas... era só para... – balbuciou ele. – Não era para fazer nada a ela, tia.
— Você vai me pagar, Malfoy – eu disse, olhando-o nos olhos. – Vou me vingar por ter feito isso comigo.

You can't feel me, no (Você não pode me sentir, não)
Like I feel you (Como eu sinto você)
I can't steal you, no (Eu não posso te roubar, não)
Like you stole me (Como você me roubou)

(...) — Comensais... Quinze Comensais... Draco... Bellatrix... – Eu não conseguia falar direito. Caí no choro.


(...) — Sei bem como se sente – disse Harry, ao meu ouvido.
— Ele... eu confiava nele, Harry. Eu o amava.
— Isso deve tornar tudo muito pior.
— Aham.

(...) — Não há nada de errado comigo, Lia. Essa sou eu. Não há mais nada que eu possa perder que me faça falta, aliás. Quando isso acontece com a pessoa... Como posso dizer? Ela se torna destemida. Essa sou eu agora.
— Maluca – comentou Zabini.
— Acho isso idiotice – disse Draco. – Vão acabar ferindo você de verdade. Isso pode vir a ser ainda mais grave do que já...
— Não finja que se importa.


And I want you in my life (E eu quero você em minha vida)
And I need you in my life (E eu preciso de você em minha vida)

(...) — O Lord das Trevas mandou que ele fosse tentar persuadi-la a se unir a causa. Ele tem interesse em você e achava que Draco era capaz de convencer você a ir de bom grado – disse Severus. – Mas, ao que parece, você não estava bem com ele e brigaram... e as coisas fugiram do controle dele. Você tentou matá-lo e ele chamou a tia, e num duelo, sua casa acabou em chamas, seus pais acabaram mortos e você desapareceu, prometendo acabar com cada Comensal com suas próprias mãos.
— Não é verdade. Ele disse que precisava da minha ajuda. E de repente estava a tia dele lá com mais quinze comensais. QUINZE. Eu fugi e eles foram atrás de mim. BELLATRIX assassinou meus pais para se divertir!
— Foi Bella quem contou a historia – disse ele. – E Draco confirmou sem nem hesitar.

(...) — Será que você não se cansa de se meter na minha vida, Malfoy?
— E será que você não se cansa de me punir pelos meus erros? Acha que sou burro o bastante para não ver que só está com este desmiolado para me ver sofrendo por você? Pensa que não vejo o que você está fazendo? ESTOU CANSADO, ! ISSO TUDO É UM TORMENTO... E EU SEI QUE MEREÇO, MAS EU NÃO AGUENTO MAIS!
— Há muito que não faço nada pensando em você – disse a ele. – Há muito abri mão de você e de qualquer sentimento bom que tive por ti... Estou com Córmaco, porque ele me faz feliz, e não para mexer de qualquer forma que seja contigo... Até porque, isso é impossível. Você é uma pedra; não tem sentimentos, não sabe o que é o amor.
...
— Estar sozinha é melhor que ficar ao seu lado, Draco – eu disse. – Você estraga tudo o que toca. É um desastre ambulante, um perigo até para si mesmo. Não é minha culpa que você tenha sido tão cego. Também não é minha culpa que tudo esteja dando errado agora. Quando eu me virar e sair daqui, quero que saiba que tudo acabou, entende? Não existirei para você... E você não existirá para mim.


E, então, eu sabia o que escrever. Eu achava que nunca mais voltaria a vê-lo. Percebi que, se saísse viva dessa guerra, não iria querer continuar aqui, onde só me lembraria de minhas perdas. Eu precisaria de um recomeço.
Foi então que eu decidi que aquela carta seria a nossa verdadeira despedida. Eu havia dado adeus a ele antes... mas não havia dito tudo o que ele precisava ouvir. Era essa a hora.
Quando peguei o pergaminho, minha mão não tremulava mais. Não precisei nem refletir sobre o que escrever. Aquela barreira que se desfizera já nem era mais de forma alguma importante.
Eu já havia aceitado as perdas. Já havia dado adeus. E agora dava adeus a Draco.

Confesso que não sabia, inicialmente, como começar a escrever para você. É verdade que eu não queria responder, mas ao refletir a respeito, dei-me conta de que precisava disso. Preciso desse encerramento. E agora sei o que preciso dizer.
Quando cheguei a Hogwarts no ano passado, tudo era maravilhoso. Tudo era como num dos contos de fadas que minha mãe lia para mim quando eu era pequena; eu vivia um sonho. O mundo era colorido. Mesmo quando conheci você ainda pensava dessa maneira.
Quando deixei-me envolver com você, eu não podia imaginar que as coisas ficariam tão fodidas como estão. Sei que você também não imaginou. Sei que ficou ainda mais surpreso ao ver que se deixou levar e se apaixonou por mim. Quase consigo visualizar você lutando com todas as forças contra este sentimento. Mas é impossível, não é? Não se pode escolher por quem irá se apaixonar. E isso vale para mim, também. Se eu pudesse escolher, optaria por sentir o que sinto por você por Fred ou Córmaco. Contudo, aqui estou, impedida de fazer essa escolha.
Assim como você.
É, Draco, eu finalmente admiti para mim mesma o quanto eu te amo. Sim! Agora! Eu admito. Eu amo você como jamais amei ninguém.
Oh, Merlim, é libertador expressar isso em palavras.
Há uma coisa que você precisa saber. Sei da veracidade de seus sentimentos e da sinceridade de seu arrependimento (que até recentemente desconhecia). Eu sei DE TUDO. No fundo, me alegra que ainda exista essa humanidade em você. Mas isso não é tudo. Há mais que você precisa saber.
Eu não espero sair viva dessa guerra e, mesmo que saia, não quero mais ficar aqui. Quando tudo acabar, – sendo ou não em minha morte - vou partir. Vou para longe dessa vida, recomeçar bem longe disso.
E dessa vez eu não estou te chamando.

Eu te amo, Malfoy. Só você conseguiu fazer da minha vida o paraíso e depois o inferno. Mas isso acaba aqui. Esta é nossa despedida.

Você mesmo disse uma vez: “Não dá certo... Não quando eu sou um Comensal e você a garota da Ordem da Fênix”. Eu não percebera, mas ali, você estava certíssimo. Nós nos amamos, é verdade, mas isso não muda nada.
Isto é o meu adeus.
Com amor,
.


A decisão estava tomada.
Edwin não tardou a retornar de sua caçada, e após brincar um pouco com ele, mandei a carta para Draco. Cheguei a sentir um pouco de tristeza ao vê-lo se afastar com a carta, mas eu sabia que estava fazendo a coisa certa. Não podia dar para trás agora. Tinha que ficar firme no que decidi. Ponto.
Suspirei fundo. É. Acabou.
Pronto, agora chega de dramas pessoais, né? Ainda tenho um ministério para invadir e vasculhar!, pensei.
Na mesa da cozinha, comecei a fazer o planejamento de minha próxima fase da missão. E dessa vez eu não podia me dar ao luxo de ter Comensais a minha cola. Eu não podia falhar. Tudo tinha que ser perfeito.

—x—

Eu não tinha muita ideia de como começar a desenvolver um plano de invasão ao ministério. Quero dizer, não é como se eu fosse uma agente secreta cheia de artimanhas. Eu era só uma garota de 17 anos que teve o azar de pegar a maior das responsabilidades.
E sozinha.
A única ideia descente que tive após uma reflexão profunda foi reler “Harry Potter e as Relíquias da Morte” para ter um mínimo de noção de em que parte da historia eu estava. Calendário é para os fracos. Eu me orientava pelo ritmo de Harry, Rony e Hermione. Cada dia que passava era um passo a mais para ferrar com todo o trabalho dos três e Dumbledore em destruir Voldemort. Eu tentava não pensar nisso para não pirar de vez, mas era a pura verdade.
Quando comecei a reler a história, era bem cedo ainda; nem havia clareado lá fora. No meio da tarde eu já conseguira encontrar o ponto da história em que me encontrava. Era mais ou menos entre o fim do 15º capítulo e o começo do 16º. Rony e Harry já haviam brigado, eu tinha certeza, e Rony deveria estar bem longe agora...
E então a ideia surgiu tão rápido que quase deu pra ouvir o estalo do meu cérebro com o surto de inspiração. Rony. RONY! É ISSO! Ele não aparecia nas próximas páginas. Seja lá o que ele esteja fazendo, eu provavelmente não estragaria tudo se o chamasse...
Meu peito se encheu de um calor que há muito eu não sentia. De repente, eu estava quase feliz. Ver Rony era uma vontade inexplicável, assim como ver Harry, Mione... Céus, todos! Ficar isolada do mundo é desesperador – ainda mais sozinha! Eu não podia evitar, então, ficar toda feliz com a possibilidade de rever um amigo, mas isso não significa que eu não pensava em tudo o que podia dar errado. Não, de modo algum. Antes de chamá-lo, eu pensei em todas as hipóteses que podiam destruir os planos que Dumbledore criou. Pensei em tudo MESMO, tanto que, quando concluí que não faria muito mal, já era noite.
Nem sei descrever a sensação. Eu querendo ou não, eu podia chamá-lo. Não faria mal! Isso era libertador.
Eu sabia que bastava chamar o nome dele, e o desiluminador o traria até mim. E foi o que fiz.
— Rony... Ron...
Um estalo na caverna me indicou que não estava sozinha. Esperançosa e assustada – e se não fosse ele? Querendo ou não, precisava desconfiar até mesmo de minha própria sombra –, saí da barraca. Meus feitiços me ocultavam, mas, mesmo assim...
— Eu conheço esse lugar... – A voz de Rony era inconfundível.
Removi os feitiços em segundos e corri para ele, gritando:
— RONY! – E quando estava perto o bastante, literalmente me joguei pra cima dele. Rony ficou tão surpreso que ficou paralisado ao me ver, e não teve forças pra me segurar, e por isso, caímos os dois no chão. Eu ria. Ria! Céus, há muito não fazia isso. Já havia me esquecido de como era se sentir feliz.
Por Merlin! ! – Rony me abraçou (foi meio estranho, se levarmos em consideração que eu tinha caído em cima dele e ele me abraçava naquele estado) e beijou minha testa. Levantei e estendi a mão para ajudá-lo. Ele parecia feliz em me ver também, e isso me alegrou ainda mais. – Nossa, como é bom te ver! Você não sabe como é bom!
Sorri para ele.
— Eu acho que faço uma leve ideia – disse a ele. – Vamos entrar; não é seguro ficar aqui, sem proteção.
Ele concordou e me acompanhou. Refiz todos os meus feitiços e me juntei a ele à mesa da cozinha. Os olhos dele avaliavam cobiçosamente o exemplar de “Harry Potter e as Relíquias da Morte”.
— Você sabe que não pode ler – eu disse a ele, em tom de alerta.
— Sei – disse tristemente, ainda sem desviar o olhar do livro. – Mas não muda o fato de que eu adoraria saber o que vai acontecer.
Suspirei profundamente.
— Este é um fardo que só eu preciso carregar, Ron. – Pus minha mão sobre a dele e ele finalmente me olhou. – Mas não foi por isso que eu te chamei aqui hoje.
— Me... chamou? – Ele estava confuso.
— Sim. O desiluminador. Ele te leva até onde você precisa estar... Quer estar. Sorte minha que hoje você precisava estar aqui. – Dei a ele um sorriso maroto. – Ele te trouxe até mim.
Ele aquiesceu. Estava processando o que eu falara.
— Como você está, ? O que aconteceu? Como veio parar aqui?
Pensei por um instante. Faria mal se eu o mantivesse por mais que algumas horas comigo? Será que poderia fazer muito mal a historia?
Decidi conversar um pouco com ele naquela noite, depois descansaríamos e pela manhã pediria ajuda com o meu plano.
— Bom, foram tempos complicados, os que eu passei em Hogwarts neste ano... – E comecei a contar tudo o que tinha acontecido comigo, com a AD, com a irmã dele... Rony ficou muito contente por ter notícias de todos, revoltado por eu ter namorado o “idiota-pomposo-McLaggem”, enojado por ter feito amizade com pessoas da Sonserina e ainda mais enojado por eu ter sido jogada lá. Divertiu-se ao saber de nossas armações e, enfim, adorou ouvir tudo o que eu tinha para contar. Após hesitar, contei sobre o que tinha feito desde que fugi de Hogwarts, sempre excluindo Severus, e cheguei até a contar sobre o que me aconteceu na casa dos Riddle, o que vi nos pensamentos de Malfoy pai e até sobre o meu fim definitivo com Malfoy filho. Para minha surpresa, ele disse:
— Não me surpreende que ele tenha sido tão burro a ponto de ferrar as coisas com uma pessoa que ele... gosta – disse. – Também não me surpreende que ele se arrependa. Mas você está certa. Não dá certo... Vocês são de mundos opostos.
Eu concordei. Havia dito tudo. Menos que não ficaria naquele mundo depois da guerra. Ele não precisava saber. Não agora.

—x—

Acordei mais cedo que Rony. Ele estava bem cansado. Dormiu na parte de cima do beliche e eu, embaixo. Deixei para ele um recado de que saíra e voltava logo sobre a mesa. Aparatei em uma cidade trouxa próxima. Passei num mercado, comprei algumas coisas para nosso café da manhã e voltei. Ele ainda dormia quando cheguei. Só acordou quando eu servia ovos e salsichas em nossos pratos.
— Bom dia! – Sorri para ele. Ele me deu um beijo na testa em resposta, os olhos nos pratos.
— Sou oficialmente seu fã. Finalmente vou comer algo descente!
Eu ri.
— Você me deu uma desculpa para cozinhar. Comi muito pouco nos últimos tempos – eu disse.
— Sem querer ofender, mas dá pra notar. Você perdeu muito peso.
Essa era nova. Eu não havia notado.
— Jura? – perguntei a ele.
— Juro, . Você está muito magra.
Olhei para os pratos.
— Bom, então vou tentar recuperar algum peso agora. – E, rindo, nos sentamos para comer.

—x—

Quando terminamos de comer (sonolentos, pois comemos MUITO), ele me contou de como estava se virando com isso de estar sozinho, tentando encontrar Harry e Mione. Isso era novidade para mim, pois no livro ele falou bem por alto onde esteve, o que fez... Mas ali ele me deu detalhes. E eu garanto: Rony é uma pessoa de muita coragem e valentia. Não há como negar.
Por fim, ele tocou no assunto pelo qual eu o havia chamado:
— Mas então, ... Você havia dito ontem que me chamou... De que você está precisando?
Respirei fundo.
— Preciso invadir o Ministério da Magia.

— Outro Ponto de vista —

— Ei! McLaggem, espere! – Amelia Armstrong corria pelo corredor do sétimo andar, Córmaco McLaggem estava mais a frente. O rapaz, ao ouvir isso, parou e olhou questionadoramente para a garota. – Te procurei por toda parte!
Ele não entendia o que levava a garota a procurá-lo. Nunca se falaram, mesmo ela sendo amiga de sua ex-namorada, . Não entendia o que mudara para de repente estarem se falando.
— O que houve? – perguntou a ela.
— Bom... É que, você era namorado da , então... eu pensei que talvez você tivesse notícias dela.
Córmaco, de repente, ficou um pouco triste. Sentia falta da garota.
— Não, não tenho tido notícias dela... ninguém mais teve.
Isso deixou Amelia inquieta.
— Você não acha isso estranho? – perguntou ao garoto. – Ela não é do tipo que fica nas sombras por muito tempo. Era de se esperar que, a essa altura, já tivesse feito algo notável.
— Penso o mesmo que você – confessou ele. – Às vezes fico pensando que algo de ruim tenha acontecido.
Amelia estremeceu ao considerar a hipótese.
— Bom... Se você tiver alguma notícia dela, me avise, por favor, ok? Estou realmente preocupada.
— Todos estamos. E fique tranquila, pois se soubermos de algo, você saberá também.
Ela sorriu para ele.
— Obrigada. – E viu Blásio, seu namorado, e foi ao encontro dele, acenando uma despedida para Córmaco. Este, por sua vez, estava com os pensamentos perdidos... onde quer que estivesse.

— Fim do Outro Ponto de vista —

Rony me ajudou muito, me dizendo coisas que eu jamais teria como descobrir sozinha sobre o Ministério. Na verdade, se não fosse a explicação de Rony, eu provavelmente ia morrer ou ser presa tentando entrar. Para resumir, eu agora devia a Rony – e muito.
— Ah, Rony, você é o máximo! – eu disse, abraçando-o com muita força. Ele riu e seu riso foi abafado pelo meu aperto. – Você tem noção de que você evitou que eu morresse antes mesmo de entrar no Ministério, né? Você me ajudou muito!
— Pare com isso, , você é brilhante e eu tenho certeza de que você se daria muito bem, com ou sem a minha ajuda.
Revirei os olhos e suspirei. Aquela era a hora da despedida.
— Você já está me mandando embora? – perguntou ele, com um sorriso maroto.
— Não por vontade própria, mas por obrigação – e tornei a suspirar.
Ele me abraçou novamente, dessa vez, com mais força.
— Não deve estar sendo nada fácil para você.
— É, não está – concordei. – Mas esse é o único jeito. Eu não posso arriscar mudar mais a história. Preciso que as coisas fiquem como estão; já tem muita coisa dando errado.
Ele assentiu.
— É verdade, não posso tirar você da razão. – E foi pegando as coisas dele, preparando-se para partir.
— Coloquei um pouco de comida na sua mochila – eu disse a ele, sorrindo. – Cuide-se, Rony. E mande um beijo a Harry e Mione por mim, okay? Diga a eles o quanto sinto falta deles. Diga também que em breve nos encontraremos...
... Eu não estou mais com eles... – E ele se calou. – Ah. Ah!
— Você entendeu – eu ri. – Considere a revelação desse fato como um agradecimento. Continue fazendo o que você está fazendo, mais cedo ou mais tarde dará resultados.
Como que para confirmar o que eu disse, a voz de Hermione saiu da mochila dele, onde o desiluminador se encontrava. Eu sorri.
— Tchau, Rony.
— Tchau, . – Ele me deu um beijo na testa e saiu da barraca. Poucos segundos depois o ouvi desaparatar.
E mais uma vez, eu estava sozinha.

—x—

Eu empenhava todo meu esforço e tempo nessa invasão ao Ministério da Magia. Começava praticamente logo ao acordar (só dava tempo de uma breve higiene matinal, um bom banho, escolha das roupas) e já começava atrapalhar. Em dois ou três dias, a barraca já parecia o esconderijo de assassino em série, cheio de coisas coladas pelas paredes de lona, papéis sobre a mesa, coisa de gente obcecada mesmo. Era mais ou menos assim que eu estava: obcecada. E não enxergava grandes avanços, no entanto. Parecia que eu não saía do lugar. Não tive muito que acrescentar ao que Rony me deu, então apenas dispus de tudo o que conseguira com ele de um modo mais objetivo e mais claro, mas fora isso? Eu não tinha nada a acrescentar. Completamente inútil. Segui nessa inutilidade toda por mais um bom tempo. Dias se tornaram semanas... E cada vez que, exausta, eu deitava minha cabeça no travesseiro (somente quando eu já estava tão esgotada que nem ficar de pé eu conseguia), eu chorava por ser mais um dia perdido em absolutamente nada.
A gente não sabe o quanto é frustrante até passar pela situação.

Cansada de não fazer nada, decidi fazer um pouco do que eu podia chamar de “pesquisa de campo”.
Era uma manhã gélida e enevoada. Juntei tudo o que me pertencia na pequena bolsa e saí para ter uma breve noção do que eu enfrentaria no dia da invasão. Fui a uma das entradas do Ministério. O que eu vi lá não foi nada diferente do que Rony tinha descrito. Ao verificar outras entradas, soube que era a mesma coisa; Rony não deixou um detalhe passar. Foi então que percebi que não havia mais nada a fazer. Era só encontrar o melhor dia e invadir de vez o Ministério. Voltei, então, para a caverna, onde refiz o meu esconderijo e fiz um passo a passo do plano (embora fosse desnecessário; eu o tinha gravado praticamente no crânio, que não significava que fosse funcionar).
Então, finalmente, admiti que não havia opção além de ir de uma vez ao ministério.
Conferi no calendário (que eu roubara de uma padaria vários dias atrás) que dia era – sei que disse que calendários são para os fracos, mas... – e encontrei o dia perfeito para a invasão ao ministério. Era dia 22 de dezembro, e em três dias o ministério estaria vazio devido ao natal...
O que significava que eu passaria o natal no ministério da magia.

—x—

Era véspera de Natal e eu estava presa numa caverna gélida. Não tinha mais o que fazer quanto ao meu plano de invasão ministerial. Simplesmente não havia absolutamente mais nada para fazer. Isso era desesperador. Eu não gostava de não ter algo com o que ocupar minha mente. De alguma forma, sempre que eu não tinha em que pensar, acabava retomando meus dramas: minha família, Dumbledore, Draco e as perdas que ainda estavam por vir. Sempre terminava em lágrimas – e eu não gostava nem um pouco.
Em puro desespero, me peguei tentando pensar em qualquer coisa. E eu só conseguia pensar em pessoas. Meus amigos que eu deixei para trás no Brasil, as pessoas que magoei ao partir... As pessoas que deixei em Hogwarts, e aí senti falta de Córmaco... De repente eu estava pensando em Fred e quando dei por mim decidi que visitá-lo antes de ir à missão parecia uma ótima ideia.
Não sei ao certo o que era. Carência e um desejo obsessivo por atenção e calor humano, talvez. Eu nem me dei ao trabalho de medir os riscos. Juntei o que me pertencia e parti para A Toca. Aparatei no quintal, perto do quartinho de objetos trouxas do Sr. Weasley. Certeza que ninguém na casa me ouviu – o que me dava a opção de partir sem ser notada caso me acovardasse.
?
Ou talvez não.
Meu coração deu cambalhotas e mortais no meu peito. A voz vinha das minhas costas e eu reconheci de pronto.
— Fred. – O nome dele saiu como... se de repente ele fosse a pessoa que eu mais quisesse ver no mundo. Pura admiração e alívio.
Que sortuda eu era. Era ele quem eu queria ver e justamente quando cheguei, ali ele estava. Virei para abraçá-lo e me deparei com um Fred desconfiado, erguendo a varinha para mim.
– Fred? – Dessa vez pronunciei o nome dele como uma indagação, em tom de dúvida.
— Qual foi... qual foi... – Ele respirou fundo. Acalmou-se. – Quando eu perguntei o que você queria para seu futuro, o que você me disse?
Precisei me esforçar para lembrar. Parecia que fora há um milênio, e não um ano. Mas finalmente eu lembrei.
[...] — Um sonho?
— Não sei — respondi.
— Você não sabe o que quer para o seu futuro? — perguntou.
— Não, agora não. Antes de eu descobrir meus poderes, eu queria ser médica.
— Médica?
— Tipo uma curandeira. [...]

Naquela ocasião, eu sentia que tudo era perfeito, que meu sonho estava realizado. Doeu ter que lembrar-me disso.
— Eu disse que não sabia, já que havia descoberto meus poderes, e isso mudava tudo. E disse também que antes disso tudo eu queria ser uma médica.
Fred então sorriu e me puxou para um abraço esmagador. Eu ri e baguncei os cabelos dele.
— Desculpe – disse ele.
— Tudo bem. – Dei um soquinho de brincadeira no braço dele.
, o que faz aqui? Não que eu não esteja feliz em te ver, mas é perigoso demais para você...
— Eu... bem, eu não sei, na verdade. – Eu ri. Estava um tanto nervosa. – Muito em breve vou fazer algo perigoso. Acho que me deixei levar pela solidão e nostalgia... – Tornei a rir, evitando o olhar dele.
— E você está apavorada – disse, simplesmente.
Tentei abrir a boca e dizer que ele estava errado. Desisti. Repeti isso umas vezes mais. No fim, não pude. Dizer que ele estava enganado era enganar tanto ele quanto eu.
— Você está absurdamente certo – eu disse e dei um sorriso amarelo. – Estou assustada. Desesperada. Precisava de alguém que me fizesse sentir segura, que me lembrasse do quanto eu era feliz com a ideia de vir para o mundo bruxo. E você foi uma das primeiras pessoas que me proporcionou esse sentimento. – Suspirei e fechei os olhos, arrependendo-me de imediato do que disse. Fred não merecia que eu brincasse assim com seus sentimentos. Era injusto. – Desculpe. Eu não devia estar dizendo essas coisas.
— Não, muito pelo contrário. – Os olhos de Fred tinham um brilho incrível. Nos lábios, um sorriso esperançoso. – Você deve sim dizer isso para mim. Eu mereço saber.
— Mas não é justo – insisti. – Você sabe que não.
— Bem... cabe a mim decidir isso. – Deu um sorriso maroto muito familiar, que me transmitia conforto. Joguei-me nos braços dele. Foi um abraço apertado. Ele riu e me fez cafuné. Fred é uma pessoa maravilhosa que me amava muito. Não merecia que eu ficasse alimentando as esperanças dele de uma maneira totalmente errada. Ele merecia mais que isso. Porém, egoísta como sou, acabei não dando atenção a isso. Fred estava ali por mim, ajudando a ter forças para lidar com meus medos, e eu não pensava verdadeiramente nos sentimentos dele.
— Obrigada, Fred. Por tudo. Por estar presente sempre que preciso de você. Eu não mereço... e mesmo assim, aqui está você.
— Pare de dizer bobagens – disse ele, me empurrando levemente de brincadeira. – Sério.
Apenas sorri. Não precisava dizer mais nada. Fred sentou-se na grama, encostado a parede do quartinho do Sr. Weasley e me puxou junto. Aninhou-me em seus braços e ali eu fiquei. Sabe aquela sensação maravilhosa de estar em seu lar? Segurança, conforto, amor... Eu sentia tudo aquilo ao lado dele. Bem que dizem por aí “lar é onde seu coração está”. Realmente. Eu não tinha casa – mas ali estava eu, me sentindo “em casa”.
Guardei tudo isso para mim mesma. Fred não precisava de mais nada que alimentasse falsas esperanças.
— Quanto tempo você pode ficar? – perguntou-me.
— Não posso – eu disse e ri. – Eu não deveria estar aqui para começo de conversa.
— Mas já que está... – começou, com um sorriso insinuante nos lábios. – Pode muito bem ficar mais um pouco.
Sorri e concordei. Ficamos ali. Não conversamos. Foram poucos minutos, mas garanto que foram os melhores que tive em muito tempo. Ficamos perdidos em pensamentos até eu decidir que não era seguro continuar ali.
— Eu devo ir – disse a ele. – Preciso.
Suspirou.
— Coisas boas realmente duram pouco – disse. Dei um sorriso triste. – Mas não importa. Fico feliz por poder passar um tempo com você.
— Eu também. – Levantei, esperando a despedida para poder partir.
— E ...
— O quê?
— No caso do pior acontecer... – E então Fred me jogou contra a parede do modo mais delicado que pôde e me ergueu, de modo que minhas pernas envolveram a cintura dele. Seus lábios procuraram os meus com uma urgência voraz, e tudo o que eu fiz foi me render ao calor daquela paixão ardente que ele claramente sentia. Minhas mãos grudaram nos cabelos dele, bagunçando-os, e ele se arrepiou e estremeceu. Como que em resposta, as mãos dele subiram pela minha cintura, chegando aos meus seios. Senti sua mão apertando um deles por cima da roupa e gemi. O beijo ficou cada vez mais e mais profundo e ardente, e nós estávamos em chamas. Não respirávamos. Não queríamos terminar aquele beijo. A sensação... tão deliciosa... Mas num dado momento ficou difícil respirar, e tivemos que nos separar. Ele escondeu o rosto em meu pescoço e eu decidi que aquilo já tinha ido longe demais.
Por um momento, quis continuar. Eu não conseguia deixar de pensar que ele ia morrer. Achava que era justo ele ter a mim, pelo menos... agora. Eu sabia que não seria difícil continuar – pelo contrário.
Mas eu não continuei. É.
Puxei-o para um beijo calmo: a despedida. Da nossa amizade, da proximidade... de nós dois. Aquele adeus tinha um tom definitivo.
— E como eu falei, no caso do pior acontecer... – continuou. – Pelo menos eu saí ganhando.
Gargalhei alto e dei um tapa nele.
— E eu aqui pensando que você ia dizer uma coisa linda e romântica... Então quer dizer que saiu ganhando, é, Fred? – E dei outro tapa nele e depois um beijo. – Tchau.
— Tchau. Te Amo. Pra Sempre. De todas as maneiras.
— Tchau, Fred. Também te amo. – E ao ver o sorriso dele, acrescentei: – E de todas as maneiras.
E, sem mais, desaparatei para longe dele... De tudo. De novo.



Capítulo 15 – Dedicado a @Dheinefer
A sorte está ao meu lado!


:: Ministério da Magia – Noite de Natal – 11:45 p.m. ::

— Dolores... você não sabe como me alegra que estejamos juntos aqui, nessa noite... sozinhos. – Lucius ia lentamente ao encontro da mulher que o encarava, ultrajada. Conseguia ficar ainda mais feia com essa expressão.
— De que está falando, Lucius?
— De nós. – Dolores ficou ainda mais perplexa. Lucius passou a mão ao longo do braço da mulher, começando pelo ombro e parando ao segurar a mão. – Estive pensando muito em você ultimamente.
Dolores assentiu, claramente desconcertada. Parecia prestes a sair correndo, tamanho era seu desespero. Lucius pegou a outra mão dela e foi se aproximando. Estava cada vez mais perto...
Lucius Malfoy estava prestes a beijar Dolores Umbridge.

:: Jardim de Dolores Umbridge – Noite de Natal – Duas horas antes ::

Invadir a casa de Umbridge não poderia ser tão difícil. Afinal, ela se achava invencível, esperta e tudo mais. Então, a quem temeria? Assim sendo, era de se imaginar que não se ocupasse com segurança. Eu poderia me aproximar com facilidade e sem medo algum. Só fui tola com relação a um aspecto: não me preocupei com os vizinhos, também. Não me passou pela cabeça, eu acho, que estava cercada por bruxos e bruxas desconhecidos, que poderiam (ou não) ser amigos da velhota. Subestimá-los quase ferrou comigo.
Eu espreitava atrás de alguns arbustos quando alguém se aproximou às minhas costas, sem que eu percebesse.
— Olá – disse. Tinha voz grossa e masculina. O susto foi tão grande que quase caí ao chão. Xinguei alto e olhei para trás, varinha empunhada, para ver quem me assustara. Meu coração estava acelerado e eu estava realmente assustada.
— Mas que diabos você está fazendo aqui, Zabini? – Blásio Zabini, o sonserino moreno e charmoso que andava com Malfoy, sorriu para mim de modo malévolo.
— Não sou eu quem deve fazer esta pergunta? – retrucou, presunçoso. – É você quem está em minha vizinhança. – Praguejei alto mais uma vez. O que eu iria fazer? Precisei de alguns segundos para acalmar-me. Uma vez que meu coração havia desacelerado um pouco, eu o encarei.
— Não tem como você fingir que não viu nem ouviu nada e sair daqui, não é? – perguntei, mesmo sabendo que ele não faria isso.
— De modo algum. – Zabini sorria maldosamente. – Quero saber o que você está aprontando.
Suspirei, exasperada. Como pude ser tão descuidada? Do mesmo modo que Zabini me viu aqui, um Comensal da Morte também poderia ter me avistado facilmente. E se chamassem um punhado deles ou mesmo Voldemort? Eu estaria morta à meia noite, certeza.
Mais uma vez, me pergunto: como diabos pude ser tão descuidada?
— Zabini, agora não é uma boa hora – foi o que eu disse.
— Aí é que você se engana – retrucou, o sorriso se alargando. – A hora não poderia ser melhor. Estou completamente entediado e posso ver que você irá se meter em encrenca. Essa parece ser sua especialidade.
Fiz cara feia para ele para demonstrar irritação – bem melhor que deixar transparecer o medo que eu sentia de ele me delatar aos Comensais ou algo pior. O sorriso dele se alargou em resposta.
— Ah, qual é, – disse ele. – Poxa, vai dizer que não está contente em rever um amigo? – Semicerrei os olhos e continuei calada. Isto meio que dizia: “Amigo... Onde?” – Ai. Essa doeu. Partiu meu coração. Então quer dizer que não me considera seu amigo?
— Blásio, dê o fora daqui – eu disse, demonstrando ainda mais irritação. – Sério. Não pense que não vou forçá-lo a ir. Você irá de qualquer maneira. Entendeu?
Isso só o deixou ainda mais interessado.
— Pelo visto, é coisa séria – disse.
— Por Merlin, Blásio! O que preciso fazer para que você me deixe em paz? – perguntei. Ele me olhou de cima a baixo, me medindo mesmo, e por um breve momento, pude jurar que vi malícia em seu olhar. – Hein?
— Basta me levar para o que você estiver tramando – respondeu. – Aí te deixarei em paz.
Lancei a ele um olhar cheio de irritação. Infelizmente, só vi uma saída. Usaria Blásio do modo que pudesse. Assim, caso ele resolvesse me delatar, eu faria parecer que ele era parte de tudo, ou ao menos isso daria uma boa ameaça. A parte complicada era que ele não era confiável. Era, afinal, um sonserino. E não me compare nem por um segundo com ele ou qualquer sonserino. Não sou sonserina de verdade. Fui forçada a ir para a sonserina. Não faço parte dessa equação.
— Tá certo, você pode vir – disse a ele, rendendo-me. Ele deu um sorriso arrogantemente presunçoso e eu tentei ignorá-lo para poder me concentrar no que iria fazer. A verdade é que, mesmo receosa com o que estava por vir, era bom ver Blásio. Ele me lembrava do meu período em Hogwarts, que apesar de ser recente, parecia impressionantemente distante. Olhei de esguelha para ele com um pequeno sorriso. Estava me encarando, tentando me entender.
— Por que o sorriso? – perguntou. – Pensei que estivesse irritada por eu estar me intrometendo nos teus planos ou o que quer que seja.
— Sim, mas o sorriso é por outra coisa – disse, dando de ombros, evasiva.
— É o meu charme, não é? – perguntou, com um sorriso maroto. Depois, deliberadamente, me mediu com o olhar, mais evidente que da outra vez. Blásio deu uma conferida em mim. Fiquei ultrajada.
— Fique quieto... tarado – eu disse a ele. Blásio riu.
Olhei novamente para a casa de Dolores Umbridge, que estava bastante calma. Só havia luz em alguns cômodos. Era uma casa enorme demais para uma velha ridícula que certamente não tinha família, que deveria ser solitária. Afinal, quem iria querer uma coisa como ela? Eca.
— Então, qual é o grande plano? – perguntou Blásio, animado.
— Bem, não há um. – Olhei para ele, mordendo o lábio inferior. De fato, não tinha planejado nada.
— Você ainda não confia em mim, não é? – Suspirou, falsamente cansado. – Ai, ai, . Assim você me magoa.
— Pare com isso – eu disse, rindo levemente. – Falo sério. Eu estava tentando criar alguma coisa quando você apareceu.
Blásio arqueou a sobrancelha.
— Então quer dizer que você veio até aqui fazer algo, mas não tem ideia de como fazê-lo?
Meus lábios estremeceram levemente a guisa de um sorriso.
— Eu sei do que preciso – eu disse, como e isso compensasse todo o resto que eu não sabia. – Quero um fio de cabelo de sua vizinha... e preciso, é claro, me certificar de que ela não irá a lugar algum.
Blásio ficou surpreso e isso me deixou receosa novamente. Mordi o lábio, esperando que ele dissesse algo. Ele focou o olhar em meus lábios por um momento antes de falar.
— Você tem certeza de que precisa fazer isso?
— Claro que sim – respondi. – Não arriscaria minha vida à toa.
— Então, vamos. – Ele se levantou. Estivera abaixado comigo atrás do arbusto. – Tenho um plano. Sabe fazer o feitiço da desilusão?
— Sei, sim.
— Então, tá. Faça-o sobre si mesma.
Fiquei de pé, mas não fiz mais nenhum movimento. Obviamente, não confiava nele. E se ele me delatasse para Dolores? Eu estaria em sérios problemas. Talvez devesse petrificá-lo ou estuporá-lo e ir sozinha...
! – disse ele. – Pare de desconfiar de mim. Nós vamos lá, eu a distraio com uma conversa fiada enquanto você a enfeitiça e pronto!
Era um plano simples e eficaz, isso eu precisava admitir.
— Blásio, por favor... Eu imploro. Não apronte comigo.
Ele revirou os olhos.
— Precisarei fazer o voto perpétuo para que você acredite em mim? – retrucou. Eu ri.
— Ficarei te devendo. – Eu ri. – Vamos logo. – E então fiz o feitiço da desilusão em mim mesma.
— Puxa – disse ele, num tom surpreso. – Você é boa mesmo.
Não falei nada e nem ele falou algo mais, tampouco. Encaminhamo-nos para a porta de Dolores. Eu sorri e agradeci a Deus por essa velhota ser tão presunçosa ao ponto de não proteger sua casa contra intrusos. Acho que minha pequena visita ensinaria a ela uma lição.
Não demoramos a chegar à varanda da casa cor-de-rosa. Argh. Ela e sua obsessão por rosa. Era enjoativo. Blásio segurou a aldrava enrustida na porta e bateu contra a madeira. O som reverberou através das paredes. Esperamos alguns instantes, e Dolores não demorou a atender a porta.
— Oh, olá! – disse ela ao ver Blásio, dando um sorrisinho desagradável de apreciação (devo dizer que a atriz que a interpretou no filme fazia a expressão com maestria... só que ela era mais bonita). – Senhor Zabini! A que devo o prazer de sua adorável visita?
— Olá, senhorita Umbridge – disse Blásio e eu olhei ao redor para me certificar de que não estávamos sendo observados, e de fato não estávamos. – Estive revendo algumas de minhas coisas do meu quinto ano e me lembrei do quanto adorava suas aulas e seus métodos de ensino... E então pensei em lhe fazer uma visita.
Sentindo ânsia de vômito, (qual é? “Adorava suas aulas e seus métodos de ensino”? Eca) me aproximei de Umbridge e passei por ela, adentrando o hall.
— Oh, mas que coisa boa! – disse ela. – Entre, entre, vamos conversar, relembrar velhos tempos!
— Com prazer. – Umbridge deu passagem a Blásio e ele entrou devagar para dar tempo para que eu entrasse. Assim que passei, ele fechou a porta, e então lancei o feitiço sobre ela. Foi Petrificus Totalus, de modo que ela caiu, fazendo barulho. Fiz um som que se assemelhava a alguém vomitando.
— Você podia ser mais puxa-saco? – perguntei, enojada. Ele deu de ombros.
— Foi conveniente e me trouxe benefícios naquele ano. – Foi só o que ele disse em resposta. Voltei a fingir que vomitava e ele riu. – Não reclame, pois meu “puxa-saquismo” está favorecendo sua causa.
Removi meu feitiço da desilusão e assenti.
— É, com isso eu devo concordar. – Eu ri.
Abri minha bolsinha e, usando o feitiço convocatório, fiz meu frasco de poção polissuco vir à tona. Peguei um fio de cabelo de Umbridge e o adicionei à mistura. Ela adquiriu um nojento tom de verde, que me lembrava comida muito estragada. Zabini assistia a tudo, calado.
— Tenho o que preciso – informei. – Vou fazê-la dormir, pegar algumas roupas dela e depois partirei.
— De nada – disse ele, com seu sorriso arrogante. Dei um sorriso amarelo.
— Pude confiar em você no fim das contas, hein? – eu disse a ele, sorrindo.
— Não fale tão cedo – disse. – Ainda estamos aqui, ainda posso aprontar muita coisa.
— Só tenha em mente que agora você é meu cúmplice – eu disse, sorrindo marotamente. Ele riu.
— Acho que estou encrencado – ironizou.
Com a ajuda dele e de magia, levei Umbridge até o sofá. Nós a deitamos lá. Eu tirei feitiço anterior, e ela pôde se mexer – só por tempo suficiente para que eu pudesse dar a ela uma forte poção do sono. Foi engraçado. Ela abriu a boca para cuspir seus insultos e então engasgou em poção. Dois segundos depois, desmaiou e eu ri.
— Será o suficiente para mantê-la apagada durante a noite toda – informei a Blásio. – O que me dá tempo de sobra.
Eu e Blásio ficamos nos encarando por um breve momento. Confesso que o jeito que ele me olhava me deixou desconfortável.
— É... Acho que vou pegar um vestido dela. É. – Tive que passar por ele para ir até as escadas e, constrangida com o olhar dele, tropecei em meu próprio pé e quase caí. Blásio me segurou (sabe como é, naquele estilo de TV, quase beijando). É, isso não podia ficar mais constrangedor e embaraçoso.
— Desculpe – murmurei, afastando-o de leve, sem olhá-lo. Deus, eu gostaria que ele não me olhasse daquele modo.
Subi rapidamente e procurei pelo quarto de Umbridge. Não surpreendentemente, a casa toda era rosa. Logo achei o closet cheio de roupas em variações da mesma cor. Peguei uma, sem parar para escolher e logo me troquei. Ficou muito largo e horrendo, mas não liguei. Guardei minhas roupas na bolsa e desci. Blásio começou a rir assim que me viu. Revirei os olhos.
— Nem fale nada. – Ele fez mímica, fechando um zíper imaginário em sua boca, indicando que nada diria. Eu dei um pequeno sorriso. – Bom, agora realmente tenho tudo o que preciso.
— De nada – tornou a dizer, presunçoso e arrogante. Meu sorriso se alargou. Fui até ele, dei um beijo em sua bochecha e o abracei. Ele apertou minha cintura e fiquei imaginando que aquele abraço estava, bem... muito apertado. Pigarreei alto ao afastá-lo, desconcertada.
— Obrigada. Você me deu uma grande ajuda hoje – eu disse. Ele piscou para mim de um jeito charmoso e sedutor.
— Não por isso – disse. – Foi bom sair do tédio. – Eu ri e ele me acompanhou.
Voltei minha atenção para a Poção Polissuco. Fazendo careta e ignorando o fedor que a bebida exalava, virei tudo de uma só vez e quase joguei tudo para fora. Aguentei firme, mas mesmo assim ainda acabei cuspindo uma parte. Era nojento demais. Tossi um pouco após engolir.
— Hora de ir, Blásio – eu disse. – Sentirei sua falta. Espero ver você em breve. – Sem mais, saí depressa da casa de Dolores Umbridge, pois ainda havia muito por fazer.
A noite estava apenas começando.

:: Uma das entradas do Ministério da Magia – Noite de Natal – 1 hora antes ::

E enfim, lá estava eu. Do lado fora do banheiro público em Londres, exatamente como Rony havia me ensinado. Tinha tudo o que precisava, então, decidi entrar logo e enfrentar o que me aguardava.
O Ministério da Magia era lindo e majestoso. É claro que, devido ao novo governante, – Lord Voldemort – o lugar estava um tanto bizarro e assustador, mas era lindo, sem sombra de dúvidas. Caminhei calmamente, observando o monumento central, dos bruxos de puro sangue esmagando trouxas e criaturas mágicas “inferiores”, a dita escória. Podia facilmente ver meu rosto estampado no lugar de qualquer um deles ali. Eu também era a escória, aos olhos dessa gente. Isso me deixava enojada. É um pensamento elitista tão ultrapassado...! E a pior parte é que muitos bruxos apoiavam a maldita causa.
Se você quer saber, para mim isso é desculpa de gente idiota para fazer mal a outros e ter algo para culpar além de si mesmo. Desculpa imbecil de gente imbecil.
Tentando reprimir os pensamentos de revolta para ser capaz de clarear minha mente e pensar nas atitudes que estavam por vir, continuei caminhando até alcançar o elevador. As portas se abriram para me receber e eu entrei. A porta se fechou, mas o elevador não se moveu, pois eu ainda não informara meu destino. Encarei o painel, em dúvida. Fiquei pensando durante um longo instante.
E agora? Qual é o botão que me levará ao Departamento de Mistérios? É por lá que devo começar. Droga. Faz um tempinho desde que li “Harry Potter e a Ordem da Fênix”. Tenho certeza de que tem a informação lá. O livro está em algum lugar entre meus pertences... mas não posso parar para procurar agora! Merda. Como fui me esquecer de algo tão importante?
Com um suspiro, desisti de me lembrar do andar. Estava em dúvida entre os andares de número dois, sete e nove. Decidi que tentaria em todos e veria o resultado. Fui pela ordem. Ao chegar no 2º andar, uma voz feminina anunciou: “Nível dois, Departamento da Execução das Leis da Magia, que inclui a Seção de Controle do Uso Indevido da Magia, o Quartel-General dos Aurores e Serviços Administrativos da Suprema Corte dos Bruxos.” Claramente, não era o Departamento de mistérios. O Nível sete era do Departamento de Jogos e Esportes Mágicos. Felizmente, dei sorte com o Nível nove, e quando a porta do elevador se abriu, a voz calma anunciou: “Departamento de Mistérios”. Com a varinha a postos, saí do elevador, e então começou minha caçada.
A verdade é que eu estava perdida como cego em tiroteio (desculpe a referência). Estava mesmo. Eu não sabia o que precisava encontrar. Não sabia onde procurar. Não sabia nem se seria capaz de identificar a magia negra no que procurava. Havia a possibilidade de eu cair de cara na coisa e não ter ideia de que isso aconteceu.
Ao sair do elevador, imediatamente dei de cara com uma porta preta e simples. Eu sabia que ao passar por ela encontraria uma sala circular toda preta, com portas idênticas, sem letreiros... puro mistério. E assim foi. Marquei a porta pela qual entrei com dois “X” de fogo para poder diferenciá-la. Assim que a fechei, fui engolida pela penumbra. As luzes azuladas produzidas pelo fogo dos candelabros das paredes eram fracas e ficaram borradas (porque as paredes literalmente estavam girando, para confundir quem entrasse) e logo tudo parou. A porta que marquei estava a minha direita, e não mais atrás de mim. O fogo bruxuleante tremeluzia calmamente agora.
Sorri, aliviada por lembrar-me dessa cena que não reproduziram no filme. Ainda bem que eu havia lido os sete livros muitas vezes, de modo que as informações, de um modo geral, estavam vívidas em minha memória. Quando Harry e seus amigos mais próximos vieram resgatar Sirius Black no Departamento de Mistérios no quinto ano, (aquele falso alarme quando o Lord das Trevas queria que Harry retirasse a profecia) ele foi pego de surpresa por esse truque de segurança. Por ter lido os livros, tive essa vantagem. Agradeço J.K. Rowling por ser tão precisa na descrição dos fatos. Para ser perfeita, ela só precisava ter me incluído na historia. Mas tudo bem.
Por que foi mesmo que decidi procurar o objeto misterioso no Ministério da Magia? Era como procurar agulha num palheiro! Não era nada fácil tentar achar algo que eu nem sabia o que era num lugar tão enorme – e ainda ter o cuidado de não ser vista pelos guardas noturnos.
Procurei em TODAS as salas que havia além daquelas portas. Marcava um “X” apenas em cada uma antes de entrar – Um “X” para cada sala onde havia procurado, dois “X” na porta de saída. Exausta e faminta, fui para a próxima sala. Por favor, que eu ache alguma coisa... qualquer coisa! Abri a porta e passei por ela. Quando fui fechá-la, percebi que não estava sozinha.
Retiro o que disse. Não queria mais achar qualquer coisa.
Eu não conhecia aquele homem, mas imaginei que fizesse parte da guarda noturna. Ele passou a mão pelas vestes, procurando a varinha. Não dei tempo para que ele pudesse encontrá-la e duelasse comigo. Agitei minha varinha e o enfeiticei.
Petrificus Totalus!
Ele caiu no chão, duro como uma rocha. Respirei fundo para me acalmar e prossegui em minha busca.
A última porta pela qual passei dava para aquela sala com o estranho portal em forma de arco. Aquele para o qual Sirius foi sugado no filme após ser assassinado por sua prima Bellatrix Lestrange. Era um fino véu que separava o mundo dos vivos do mundo dos mortos. Confesso que, ouvindo os fracos sussurros que vinham do outro lado, senti uma vontade enorme e tentadora de atravessar o véu. Não tinha medo de morrer, percebi. Talvez encontrasse mamãe e papai do outro lado. Talvez lá eu pudesse receber um beijo de cada um deles antes de ir para a cama novamente. Quem sabe até voltaria a discutir por coisas bobas com minha mãe, como a hora mais adequada de arrumar meu quarto. Sorri ao lembrar-me do que ela dizia praticamente todos os dias.
... Quantas vezes mais precisarei falar com você? Primeiro arrume o quarto e depois pode fazer o que quiser! – dizia ela, lançando-me um olhar irritado, enquanto colocava as mãos na cintura, numa postura que dizia “não abuse, estou zangada” característica de Molly Weasley.
— Okay, já to indo! – eu sempre respondia, e continuava no que estava fazendo, seja a leitura de um livro, ou a assistir um filme ou seriado.
, não me obrigue a falar com você novamente! Levante-se agora e arrume logo esse quarto, senão...
— Tá, tá, tá, tá! – Eu levantada, bufando, e começava a arrumar. Ela se conformava e me deixava sozinha. Algumas vezes eu costumava esperar ouvir os passos dela na escada para simplesmente voltar ao que estava fazendo antes de ela entrar.

Meus olhos encheram-se de lágrimas com as lembranças. Qual era o ponto de ficar vagando pelo mundo da magia? Havia muito que perdera aquela coisa mágica de fã. Uma coisa é assistir Harry vencer batalha após batalha e desejar fazer parte dessa alegria. Outra é viver todos os dias em puro medo e desespero, sem saber se acordarei na manhã seguinte. Saber que, mesmo que vençamos essa droga de guerra, não terei casa para voltar. Então, mais uma vez, qual é o ponto?
Avancei um passo, ficando bem próxima ao véu. Meu corpo foi se enchendo de um sentimento profundo que eu não experimentava havia muito. O sentimento me fez sorrir. Os rostos de meus pais preencheram minha visão. Era ilusão, eu sabia, mas eu os estava vendo. Sorriam para mim. Só sorriam. É, atravessar o véu era o certo a se fazer. Eu estava absolutamente convencida disso. Aquele sentimento bom aumentou e aumentou... e eu finalmente fui capaz de reconhecer...
Paz.
Dois passos. Era só disso que eu precisava. Mais dois passos e eu estaria além do véu. Mais dois passou e eu finalmente teria paz. Repentinamente, eu estava ansiosa por saber o que viria a seguir. Dei mais um passo. Agora restava somente mais um passo. Apenas mais um passo e eu seria livre, finalmente. Então eu respirei fundo, me aprontando para dar o último passo e...
— Não se mexa – ouvi alguém dizer. Ao me virar, constatei que era Lucius Malfoy, brandindo a varinha para mim. Arfei. Comecei a suar frio. As mãos tremiam. Isso não descrevia nem o começo do meu pânico. Malfoy não estava sozinho. Todos os vigias noturnos começaram a aparecer.
Eram muitos. Vinte ou talvez mais.
Eu estava perdida.

:: Ministério da Magia – Noite de Natal - 11:45 p.m. ::

Engoli em seco. E só então eu me lembrei de minha aparência. Não era que eles viam. Era Dolores Umbridge. Isso me proporcionou um alívio imensurável.
— Dolores? O que faz no Ministério? E o que faz tão perto do véu? – Lucius parecia sinceramente intrigado. – Sabe que não é seguro.
Pisquei várias vezes para poder clarear minha mente. Depois ri brevemente. Era um riso nervoso. Sério? Isso estava acontecendo de verdade ou era só um sonho terrível e grotesco? Eu estava mesmo prestes a me suicidar e fui salva por Lucius Malfoy? Sacudi minha cabeça, tentando clareá-la. Isso estava muito, muito confuso. Eu estava muito confusa. Minha mente era uma bagunça.
— E-eu... – comecei, mas depois me faltou força para continuar falando. Encarei o chão, e assim fiquei. Que diabos eu faria agora?
Lucius deu um sorriso amigo; estava sendo condescendente.
— Creio que vocês deviam continuar a patrulha e deixar que eu lide com Dolores. Está tudo certo aqui – disse Lucius. Os Comensais que com ele estavam saíram. Claramente não aceitavam ordens de Lucius (talvez por isso ele não usasse tom imperativo, e apenas sugeriu que eles saíssem). Teria sido interessante vê-lo tentar mandar naqueles caras.
Lucius voltou sua atenção para mim.
— O natal te entristece? – perguntou, olhando para o portal.
— Ahn... – Apressei-me em procurar uma resposta. – Bem, é.
— Entendo. – Ele sorriu. – Dolores... você não sabe como me alegra que estejamos juntos aqui, nessa noite... sozinhos. – Mas o quê...? Eu não havia entendido nada. De onde viera isso? Não estávamos aparentemente falando sobre eu quase ter atravessado o portal?
— De que está falando, Lucius?
— De nós. – Fiquei ainda mais perplexa. Lucius passou a mão ao longo do meu braço, começando pelo ombro e parando ao segurar a mão. – Estive pensando muito em você ultimamente.
MAS O QUÊ? Lucius Malfoy flertando com Dolores Umbridge? QUE NOJO!
Assenti, desconcertada. Comecei a sentir desespero. E Lucius pegou minha mão.
Lucius Malfoy estava prestes a me beijar. E ele achava que estava prestes a beijar Dolores Umbridge.
— Mas o que é isso? – perguntei ao empurrá-lo para longe de mim.
— Eu sabia – disse ele, com aquela voz que lembrava um ronronar de um gato satisfeito. – Quem é você?
Arregalei os olhos, genuinamente surpresa. Como diabos ele havia descoberto que eu não era a verdadeira Umbridge?
— Lucius... Mas o que é isso? Você está alucinando ou coisa parecida? – perguntei, tentando imitar o tom irritante e a expressão de altivez que eu me lembrava que ela ostentava.
— Pode parar com esse joguinho – disse ele, ainda naquele bonito tom de voz. – Sei perfeitamente que você não é a verdadeira Dolores. A verdadeira teria flertado comigo na primeira oportunidade. – Então a velha com cara de sapo tinha uma queda pelo Malfoy pai? Coitada! Como se pudesse competir com Narcisa. Malfoy seria louco de trocar a esposa por esse saco de batata com cara de sapo!
Decidi que levar a farsa adiante não daria em nada, pois obviamente, eu já havia sido descoberta. Então era bom que eu saísse dali tão rápido quanto fosse possível. Ou eu podia simplesmente me jogar no bendito véu.
Quando pensei novamente no véu, percebi que já não estava mais interessada em atravessá-lo. Aquele sentimento lindo, puro e tão gostoso se fora... não havia mais sentido em atravessar o portal.
Eu não era digna de tal paz.
— Não sei porque ainda me incomodo em perguntar – disse Lucius, sem alterar a voz ou a expressão. – É claro que só pode ser uma pessoa. A maldita sangue-ruim que se acha digna de se relacionar com meu filho. – Inspirei longamente o ar. Malfoy estava testando minha paciência. Eu não deixaria que ele me afetasse. – Nos encontramos novamente. Só que dessa vez, você não sairá dessa sala viva.
Comecei a rir. Ria como se tivesse acabado de ouvir a melhor das piadas. É claro que era um riso falso e sem humor algum. Lucius não gostou. Fechou a expressão.
— Me poupe, Lucius – eu disse, ainda rindo. – Eu estava prestes a me suicidar quando você entrou. De fato, tenho muito a agradecer. Você salvou a minha vida!
A expressão dele foi impagável. Parecia ter levado um forte chute nas partes baixas. Ele sabia que eu estava falando sério, ele mesmo viu isso. Achava que eu era Dolores... talvez tenha começado a desconfiar que não era ela um pouco depois de me impedir de atravessar o véu. Eu tornei a rir, mas dessa vez, ria de verdade, da expressão dele.
— Eu ia mesmo, sabe – eu disse. – Atravessar. Ia em busca de paz. – Lucius continuava a me encarar, estupefato. – Mas agora percebo que tenho que ficar. Tenho que sofrer. Porque minha família está morta e a culpa disso é toda minha. E já que ficarei aqui para sofrer... vou me certificar de que outros sofram comigo.
Tendo dito isso, brandi a varinha e usei a Maldição Cruciatus nele, sem proferir o feitiço. Falar só gerava desvantagem. Imediatamente, ele caiu no chão e começou a se contorcer com violência, gemendo, visivelmente sentindo dor. Libertei-o da maldição um instante depois só para poder petrificá-lo. Tive muita sorte, eu sabia disso. Apressei-me em sair daquele lugar, lançando um último olhar ao portal e mais uma vez pensando em meus pais. Suspirei ao fechar a porta. Dei de cara com aqueles Comensais que estavam conosco na sala havia poucos instantes.
— Onde está Lucius? – perguntou o mais próximo. A voz saía indefinida por de trás da máscara, então, mesmo que eu o conhecesse, não poderia reconhecê-lo. Empertiguei-me num surto de inspiração.
— Recolhendo os pedaços do orgulho dele – respondi, em um tom enojado. – Acredita que aquele trasgo teve a audácia de se insinuar para mim? Oh! Que enorme desrespeito! – E saí pisando forte, demonstrando irritação.
Meu teatro pareceu convencê-los o bastante ao ponto de me deixarem ir, sem mais delongas. Enquanto eu ainda estava no campo de visão deles, continuei naquele passo empertigado, porém rápido, característico da velha Dolores. No entanto, foi só me ver livre de sua presença que desembestei a correr como se não houvesse amanhã. É claro que poderia não haver se eu fosse capturada. Corri, corri e corri, e logo me vi no elevador. Entrei nele rapidamente e parei, respirando fundo. Meu sangue pulsava com força em meus ouvidos. Parecia não haver ar suficiente. Já havia corrido distâncias maiores sem me cansar tanto, mas Dolores era pesada. Não era fácil correr com o corpo dela.
O efeito da poção começou a passar assim que parei no elevador. Deve ter levado um ou dois segundos apenas para começar a me transformar de volta. Era uma sensação nojenta, dolorosa e repulsiva. Quando acabou, respirei fundo e já abri a bolsa para pegar uma roupa minha. Permanecer dentro das largas vestes de Umbridge poderia me atrapalhar na hora de correr. Eu certamente não precisava de mais nada dando errado, então, me livrei desse empecilho. Peguei a peça que havia separado – um vestido muito simples de bruxa, completamente liso, longo, e preto. Não me atrapalharia em nada. Era perfeito. Peguei minhas peças de lingerie também, me despi completamente das peças de Dolores Umbridge e me enfiei dentro das minhas sem perder tempo. Para finalizar, peguei sapatos meus e calcei. Então, apertei o botão que me levaria de volta ao Átrio e tentei guardar as coisas roubadas de Umbridge na bolsa enquanto o elevador sacudia e ia para frente, para o lado, subia e tal. Não foi algo simples e eu não consegui guardar. Acabei desistindo e larguei as roupas no chão, me preocupando em segurar a varinha e corri da mesma maneira que havia corrido para dentro do elevador – só que dessa vez em busca da saída do Ministério. Não cheguei a correr muito. Cheguei perto da fonte que ficava próxima às lareiras que serviam de entrada e saída. E então me deparei com um grupo de Comensais da Morte a minha espera. Um grupo razoavelmente grande.
Olhei para eles, pensando em que diabos eu faria então. Eles bloqueavam qualquer chance de saída que eu poderia ter. E havia mais de 10 deles, para completar. Era uma parte do grupo que estivera com Lucius instantes antes, eu podia jurar.
Respirei fundo uma vez. Podia tentar distraí-los de alguma maneira. Tornei a respirar fundo. Poderia me render. Inspirei longamente uma vez mais. Ou eu posso simplesmente explodir tudo e todos.
É isso aí, pensei comigo mesma. Seja o que Deus quiser!
Canalizei o máximo de energia que pude reunir e então, sem hesitar, segurei minha varinha com muita força com as duas mãos e bradei com todas as minhas forças:
BOMBARDA MAXIMA! – O feitiço saiu tão forte que fui capaz de sentir a energia correndo ao longo de meus braços e passando pela varinha como um funil. Só que, em vez de canalizar em grande quantidade, o que fez foi expandir três, quatro vezes. Saiu mais forte do que eu pensara. Mais forte do que eu jamais havia conseguido fazer. Com um novo surto de inspiração, me lembrei do filme Harry Potter e a Ordem da Fênix uma vez mais, e por isso tentei imitar Dumbledore naquele duelo com Voldemort. Fiz primeiramente uma barreira a minha frente e então invoquei a água, exatamente com Dumbledore, e fiz com aquele ela engolisse os Comensais. Não surtiu grande efeito porque eles estavam em grande quantidade, mas ajudou a desnorteá-los. O lugar era uma bagunça de destroços, poeira agora embebida em água e Comensais machucados e confusos. Conjurei uma corda e com ela enlacei um pequeno grupo, prendendo-o. Continuei rapidamente nesse movimento até conseguir prender todos. Tudo isso deve ter acontecido em meio minuto.
Eu mal conseguia acreditar.
Comecei a correr outra vez, correr como se não houvesse mesmo um amanhã, e com muita sorte, cheguei a uma das lareiras antes que outros Comensais conseguissem me alcançar. Lancei-me através de uma delas e imaginei a caverna aonde vinha me escondendo o tempo todo. Quando abri os olhos e vi que estava lá, sã, salva e, principalmente, segura, comecei a rir. Cheguei a gargalhar. Eu não conseguia acreditar no que acabara de acontecer.
Ao menos uma vez, a sorte esteve ao meu favor.



Capítulo 16 – Dedicado a @Dheinefer
Veritaserum, a famosa poção da verdade


:: Jardim de Dolores Umbridge – Noite de Natal – 10:45 p.m. ::
— Outro ponto de vista —

Blásio observou partir, sorrindo. De fato, havia se divertido naquela hora que passara com a garota. Não estivera em momento algum entediado. Desejava somente saber o que a garota aprontava. Chegou a pensar em delatá-la e impedi-la, mas ao passar algum tempo com ela acabou percebendo que sua companhia era agradável. Imaginou que seria uma pena se a vida de uma pessoa tão espirituosa fosse tirada. E, por isso, resolver participar da travessura. Uma vez que a aventura terminou, voltou para casa, onde se aprontou rapidamente para a ceia de natal. Iria para a mansão dos Malfoy com os pais. Não se demorou nos preparativos. Terminou de se arrumar rapidamente, pegou os presentes de natal e acompanhou a família. Utilizaram a Rede de Flu como meio de transporte, e ao chegar a seu destino, foram recebidos na sala da mansão por Narcisa e Draco. A mulher parecia cansada, abatida e assustada. Draco, estava da mesma forma, só que mais sério e sombrio. Blásio espanou a fuligem com as mãos e retirou sua capa de viagem antes de cumprimentar a mãe do amigo e dar a ela o presente, o que fez de forma silenciosa e cheia de respeito, tal qual o ato de dar condolências a alguém que perder um ente querido. Então, após os cumprimentos, os dois amigos deixaram o lugar onde as mães conversavam e foram silenciosamente para o quarto de Malfoy.
— Aqui, pegue seu presente – disse Blásio ao amigo assim que adentraram o cômodo. – Feliz natal.
— Obrigado – murmurou Draco, entregando a Blásio um embrulho que pegou de uma cômoda. – Feliz natal.
Nenhum dos dois abriu os presentes. Blásio estudava a expressão do amigo.
— Você parece tenso – comentou.
— E você parece contente – rebateu, encarando desdenhosamente a janela ao seu lado. Os lábios de Blásio estremeceram-se a guisa de um sorriso.
— Encontrei por acaso aquela garota, – ele comentou e sorriu. Ele lembrava-se claramente que Draco tinha uma paixão pela garota e revolveu sacaneá-lo um pouco. Draco vinha sofrendo bastante ultimamente e Blásio, como um bom amigo, queria animá-lo de alguma forma. Uma boa provocação, a seu modo de ver, resolveria isso. Era óbvio que a ideia de Blásio de humor e divertimento não produzia efeito em ninguém além dele mesmo, embora ele não se desse conta disso. – Tive uma boa hora de diversão com ela.
Draco levantou o olhar para o amigo, genuinamente interessado. Desdém passava bem longe de sua expressão, agora.
— Diversão?
O sorriso de Blásio se alargou.
— Muita diversão – disse ele, vagamente, e se levantou, fingindo interesse pelas fotos na parede de Draco, dele com seus amigos de Hogwarts. – Uma menina engraçada e espontânea.
— E o que ela estava fazendo?
— Onde está seu pai? – perguntou Blásio, ignorando o amigo. Sorria, de costas para ele.
— Você não respondeu minha pergunta – disse Draco, secamente. – Quero saber o que você andou fazendo com... . – Blásio se virou para olhá-lo, arqueando uma sobrancelha, fingindo estar irritado.
— E desde quando devo satisfações a você do que faço com ou qualquer outra pessoa? – Ele sorriu maldosamente. – Está com ciúmes, Draquinho?
O menino Malfoy se empertigou, todo irritado. Blásio se controlava para não rir, pois ainda não queria estragar a diversão.
— Ciúmes? – Foi a vez dele de arquear uma sobrancelha. – Até parece. Só não fazia ideia de que você andava com sangues-ruins.
Blásio riu.
— Então é só por isso que está interessado? – perguntou.
— Obviamente – apressou-se em responder Draco. Foi rápido demais e soou falso. O amigo reprimiu um sorriso.
— Então essa conversa é irrelevante – disse Blásio, desdenhoso. – Ande, vamos descer. Imagino que já estejam se preparando para jantar.
Blásio foi na frente para que Draco não percebesse que estava querendo rir. Decidiu que depois do jantar contaria tudo o que aconteceu, mas que o deixaria intrigado durante o resto da noite. Draco não ficou nada satisfeito com a situação. Estava irritado, muito irritado. Não gostava de se sentir contrariado por seu amigo e nem por ninguém, e era exatamente dessa forma que se sentia. Carrancudo, ele seguiu Blásio pelo corredor, mas parou ao chegar ao topo da escada. Pensou em tentar assustá-lo ou intimidá-lo para obter a informação que desejava, mas depois desistiu. Blásio era mais forte, ele sabia, e por isso talvez não surtisse efeito algum qualquer uma de suas tentativas. Mas de uma coisa ele sabia: a situação não ficaria daquele jeito. Ainda parado no topo da escada, encarou as costas de Blásio enquanto ele continuava a descer e eventualmente sair de seu campo de visão.
— É a verdade o que eu quero – Draco falou consigo mesmo, encarando o ponto onde Blásio sumiu, de repente sentindo-se inspirado. Sorriu marotamente e fez o caminho de volta para seu quarto. – E é a verdade que eu obterei.

—x—

Estavam à mesa os Malfoy (incluindo Lestrange) e os Zabini. Dos primeiros, apenas ausente Lucius Malfoy, que estava em vigília no Ministério da Magia e retornaria pouco antes da meia-noite. Além destes, estavam presentes Lord Voldemort, Severus Snape e mais alguns Comensais da Morte. Como era costume, somente Lord Voldemort falava, e se alguém mais falasse alguma coisa, seria meramente uma resposta a uma pergunta feita por ele.
Draco só observava os movimentos de Blásio, que permanecia ao lado dele com um ar relaxado e divertido. Não prestava atenção a mais nada além dele. Enquanto observava tão atentamente, o amigo serviu-se de suco de abóbora, e Draco viu ali sua oportunidade. Os olhos chegaram a brilhar em expectativa. Então, teve um surto de inspiração e não se demorou a agir. Inclinou-se para cochichar no ouvido de Blásio:
— Aquela cobra não lhe dá arrepios?
Blásio virou a cabeça para a direção oposta a Draco para poder visualizar Nagini, a cobra de Lord Voldemort. Enquanto isso, Draco literalmente virou todo o conteúdo da ampola em sua mão dentro do copo do amigo de forma sorrateira, de modo que ninguém notou seu pequeno movimento.
— É verdade – disse Blásio, voltando o olhar novamente para Draco. – Parece que há mais nela do que numa cobra comum. É de dar arrepios. – Draco assentiu e Blásio pegou o copo, entornando mais da metade do conteúdo de uma só vez. Draco sorriu marotamente. Agora era só esperar pelo momento oportuno e saberia de toda a verdade que o amigo vinha ocultando.
Lucius Malfoy adentrou o cômodo, mais pálido que um fantasma. Draco percebeu que algo ruim havia acontecido e isso gerou um frio incômodo em sua barriga. Sua família vinha sofrendo bastante pelos erros de seu pai. Ele esperava, quase ansiava que fosse só sua imaginação e que tudo estivesse normal. Mas sabia que não era assim. Seu pai havia atrasado e ainda chegou dessa maneira... Aí tinha coisa.
Lord Voldemort parecia ter feito as mesmas observações que o menino Malfoy, pois não perdeu tempo em perguntar:
— Qual foi o motivo de seu atraso, Lucius? – Acariciava Nagini, com os olhos fixos em Malfoy.
— Perdão, Milorde... Perdão... Aquela garota, , ela invadiu o Ministério...
Os olhos de Draco se arregalaram ao ouvir o nome da garota. Olhou de soslaio para Blásio que ostentava uma expressão de culpa no rosto.
— Acha que está bem?
Ele deu de ombros.
— Não. Muito descuidada. – Draco fez sinal para que ele falasse mais baixo. Tinha certeza que todos na mesa podiam ouvir o amigo falando. Blásio ignorou e olhou sonhadoramente ao longo da mesa. – E bonita. Aquela menina é muito bonita. Sério. Sinto-me atraído por ela. Fico imaginando como deve ser beijá-la. Só que aí me lembro que ela é sangue-ruim e coloco na minha cabeça que não, não posso...
— Blásio, cale a boca! – sussurrou Draco.
— Mas não adianta. Não sinto nada por ela. Só queria dar uns amassos, sabe como é. Até já pensei em chegar e falar isso para ela... Quase falei isso para ela ontem...
— Cale a boca! – repetiu Draco, um pouco mais alto.
— Só que te respeito muito, Draco. Sei que gosta dela. E não vou pegá-la só porque ela é muito gata... não quando você a ama. É traição. Não sou traiçoeiro.
Draco olhou para Lord Voldemort, que estava alguns lugares de distância, observando Blásio com uma expressão nada boa. Ele sentiu um arrepio percorrer-lhe a coluna. Estava apavorado.
— Mas o que há com esse garoto? – perguntou Voldemort e Draco sentiu-se nauseado. Droga. Estavam metidos em sérios problemas. – Suma daqui antes que eu mude de ideia. – E voltou a atenção para Lucius. Draco empurrou o amigo para fora da mesa e Blásio saiu, felizmente, sem dizer mais nenhuma palavra. – Agora, Lucius, é bom você ter uma boa explicação... Fale agora!
Ele ergueu a varinha e Draco se encolheu e fechou os olhos, ouvindo os gritos do pai invadirem seus ouvidos. Isso acontecia com uma frequência inacreditável, e graças a . A garota sempre piorava a situação.
Narcisa segurou a mão do filho por debaixo da mesa e os dois permaneceram ali, encarando o vazio, tentando ignorar. Era, afinal, a única coisa que podiam fazer. Draco segurou as lágrimas, e a tortura continuou.

—x—

Assim que teve permissão, Draco deixou a sala de jantar sem sequer encostar um dedo na comida. Subiu para seu quarto, onde encontrou Blásio sentado na poltrona com uma expressão assustada. Fechou a porta e os dois se encararam.
— Draco...
— Não – cortou. – Não.
— Olha, aquilo da , antes do jantar, foi só uma brincadeira – disse ele. – Eu pretendia contar tudo depois do jantar, só queria sacanear você um pouco. Você não precisava jogar soro da verdade no meu suco.
— Desculpe – disse, vagamente. – Não estou com humor para brincadeiras.
— Me desculpe você, irmão – disse ele, se levantando e colocando a mão no ombro do amigo. – E aquilo que eu disse sob o efeito da poção...
— Esquece. Foi tudo inútil, de qualquer forma. – Ele encarou os sapatos. – Vai me contar ou não?
— Vou, mas é claro que vou! – apressou-se. – Encontrei-a por acaso do lado de fora da casa de Dolores e fui falar com ela. Descobri que ela estava aprontando... Resolvi me meter, ver o que ela ia aprontar. – Ele abaixou o tom de voz. – Pensava inicialmente em entregá-la... Mas depois decidir ficar de boca fechada. Eu a ajudei a entrar, ela pegou umas roupas da velhota e um fio de cabelo pra poção polissuco... Conversamos um pouquinho e depois ela se foi. Foi ao Ministério e lá se deparou com seu pai e o resto você já deve saber.
— Sim, sim. – Draco fez um aceno com a mão, informando claramente que não queria mais prosseguir com o assunto. Um silêncio incômodo se instalou e Blásio lutava internamente com a vontade de prosseguir com o assunto “”. Acabou se rendendo à vontade e falou:
— Ela deve ter escapado ilesa, pois é uma garota esperta. Está abatida demais, mais magra e parece até estar um pouco doente...
— Isso não me importa – disse Draco. – Ela não me interessa.
— Desculpe, mas para mim você não pode mentir, amigo – retrucou Blásio. – Não há vergonha nenhuma em admitir que se importa com ela. é uma ótima pessoa. Uma bruxa extraordinária. Não somos melhores que ela... Não acho que você deveria dar as costas aos seus sentimentos por ela só por ser sangue-ruim. E também acho que não há razão para você querer esconder seus sentimentos de mim. Está muito óbvio para que você possa negar. Sem falar que, aparentemente, ela é uma Dumbledore... No fim, o seu único empecilho pode nem ser real...
— Ah, cale a boca, por favor – disse Draco, se jogando na cama com a típica expressão arrogante na face.
— Você está apaixonado, Draquinho – disse, rindo. – Não adianta negar.
Draco atirou o travesseiro na cara de Blásio e os dois começaram uma briga de mentira. Conversaram pequenas amenidades até a hora de Blásio partir.

— Fim do outro ponto de vista —

Minha animação sumiu em questão de segundos para dar lugar ao desespero. É, a invasão ao Ministério havia sido bem sucedida, mas não significou absolutamente nada. Não deu em nada! Não consegui achar nem sequer uma pista. Continuava na estaca zero. Em suma, o meu grande plano havia sido uma grande perca de tempo.
Deitei na cama e fiquei me descabelando – literalmente – por não saber mais o que fazer. Grunhia, me debatia e puxava os cabelos. Não adiantava nada, mas pelo menos eu podia descarregar minha raiva contra a pessoa certa, que era eu. Sentia raiva de ser tão burra. Sério. É inaceitável! Tanto tempo para nenhum resultado. Era de enlouquecer qualquer pessoa.
Ouvi um estalo que só podia significar que alguém aparatara na caverna e me desesperei. Levantei correndo, perguntando-me se eu havia colocado os devidos feitiços de proteção enquanto saía da barraca para ver quem estava ali comigo. Quando vi, meu peito se encheu de alívio e felicidade. Era Severus! Estava com uma carranca que só podia indicar que eu levaria muito esporro, mas não fazia a menor diferença. Eu estava feliz e ponto final.
Removi todos os feitiços de proteção para que ele pudesse entrar e logo em seguida os refiz. Ele não proferiu uma palavra sequer; só ficou lá, de braços cruzados, postura irritada.
— Feliz natal, Sev. Estou muito feliz em te ver, e eu sei que você está feliz por me ver também. Agora manda ver, pode começar a brigar comigo – eu disse, sorrindo para ele.
Podia ver que ele se impressionou com o que eu disse, mas não comentou a respeito. Partiu logo para o que interessava:
— Mas o que se passa por essa sua cabecinha oca, hein, senhorita ? – começou num tom baixo e ameaçador.
— Me chame pelo primeiro nome, por favor, Sev. – Meus lábios estremeceram-se a guisa de um sorriso.
— Não seja insolente – retrucou, ainda mais irritado. – Não posso acreditar nas besteiras que fez. – Sua expressão estava muitíssimo séria. Exageradamente séria. Ele sabia que eu era um desastre ambulante, então qual a surpresa em eu ter montado um completo circo outra vez? – As barbaridades de sempre posso até compreender. Você simplesmente não vive sem toda a atenção para si. Mas suicídio? Você perdeu o juízo?
Arregalei os olhos. Não posso viver sem toda a atenção para mim? Ele estava me chamando para a briga.
— Desculpe, você deve estar me confundindo com Harry Potter, só pode. Afinal, é com ele que você fala dessa maneira. Não precisa ficar jogando supostas verdades na minha cara, nem me menosprezando – rebati, franzindo o cenho. – Não fiz nada, percebe? Esta é uma discussão infundada.
— Infundada? Infun... – Ele parecia estupefato demais para sequer terminar de repetir a palavra. – Pare de ser infantil e arrogante, . Não engana ninguém com toda essa superficialidade. Na verdade, só mostra o quão irresponsável e volátil você é...
— Não sou infantil, tampouco arrogante – repliquei, cortando-o. – Pare de querer me ofender e irritar. Não gosto disso. Pensei mesmo em desistir; e daí? É normal. Acontece. Não faz de mim uma louca, covarde e nem nada. Só demonstra que sou humana.
— Demonstra que lhe falta inteligência, isso sim – replicou ele, elevando o tom de voz. – Você não é a única cansada por aqui. Muitos de nós não aguentamos mais também, e nem por isso pensamos em desistir assim, facilmente, deixando o problema para trás. Não é assim que as coisas funcionam, senhorita. No mundo real, as coisas são complexas e duras, o mundo é cruel e pessoas morrem o tempo todo. Você não pode querer se matar toda vez que alguém que você conhece morrer, porque se for assim, acabará morta ao amanhecer.
Fiquei apenas a encará-lo com os olhos arregalados demais, pois estava querendo chorar e temia o que aconteceria se piscasse. Ah, isso não ficaria assim. Eu não ia ficar ouvindo aquilo. Não mesmo.
— Pare com isso! – gritei. – Até parece que é assim que as coisas realmente são. Pelo amor de Deus, Severus, pare de agir como um canalha! Não é minha culpa que você não entenda a dor perder toda a sua família! Não é minha culpa que isso seja insignificante para você porque ninguém te deu o que uma família deve dar!
Arrependi-me do que disse assim que as palavras deixaram meus lábios, mas era impossível retirar o que disse. Ele arqueou a sobrancelha de um modo desafiador e ficou a me encarar durante longos segundos. Depois, deliberadamente me deu as costas. Entrei em pânico.
— Severus! – chamei, e ele fingiu não ouvir. – Severus, volte, por favor. Eu não queria...
Ele se virou de repente, me fazendo calar a boca. Fiquei a encará-lo, de olhos arregalados.
— Não venha me dizer “eu não queria ter dito isso” – disse ele, num tom afiado. – porque sei que é uma mentira. Você...
— Severus, Severus, Severus! – falei, aumentando o tom a cada vez que repetia o nome dele. – Por favor, por favor, vamos terminar aqui essa discussão. Por favor. – Antes de prosseguir, esperei uma resposta dele. A reação foi ficar calado, me encarando com uma expressão feroz. – Eu me excedi, admito, e por isso peço as mais sinceras desculpas. – Suspirei. Ele não alterou a expressão. – Mas você também precisa admitir que não foi só eu quem saiu da linha nesta conversa – cutuquei, cruzando os braços na altura dos seios. – Não tenho nada que falar de sua família. Não tenho motivo para descontar em você minhas frustrações. E também não tenho que agir como se fosse a única sofrendo por aqui. Okay. Eu entendi. Desculpe-me. Mas não gostei de ser chamada de infantil, arrogante, volátil, irresponsável e exibicionista. – Olhei para ele, esperando que dissesse algo. Sua única reação para meu discurso foi arquear a sobrancelha em desdém. Bufei. – Ai, por Merlin, Severus, você é uma causa perdida. Está perdoado também. Pronto.
Ele não abriu a boca e eu já não tinha mais o que falar. Aguardei em silêncio que ele tivesse alguma outra reação além de me olhar com desprezo.
— Você está enganada – disse ele, por fim. – Sobre o que disse acerca de família.
— Sev, não leve a sério...
— Entendo perfeitamente – ele me cortou. – E você bem sabe disso.
Imediatamente entendi que ele não se referia ao pai abusivo dele ou a mãe submissa, mas sim a Lily, a única mulher – talvez a única que pessoa – que amou em toda a vida.
— Eu sei. Desculpe – murmurei. – E sobre o suicídio... – Suspirei. – Eu sou inútil, convenhamos. Cada dia que passa deixa este fato mais evidenciado. E não estou falando isso para atrair a sua pena. É meramente uma explicação. Confesso que ao ver o véu... me imaginar do outro lado em paz com minha família... eu pensei sim em atravessar. Não sirvo de nada aqui, no fim das contas, então não faria falta alguma. Só que eu não mereço essa paz. Ainda preciso pagar por todos os erros que cometi. Então posso assegurar que jamais voltarei a pensar em... tamanha estupidez.
Claramente ainda havia certa frieza no modo como ele se portava comigo, mas talvez eu merecesse. Talvez dessa vez eu tenha passado dos limites, como ele falou.
— Preciso ir agora – informou Severus, naquele tom manso e contido, mas ao mesmo tempo, sombrio e irritado, olhando-me com uma expressão estranha na face. – Posso confiar que quando voltar a vê-la ainda estará andando e falando?
— Pode sim, Severus. Sabe que pode. – Fui até ele e dei um abraço apertado que não foi retribuído. Não importava. E se aquela fosse a última vez em que eu o via? – Adeus.
— Adeus – disse ele e então, sem mais, me afastou e partiu. Dois segundos depois, ouvi o som que indicava que ele aparatou.
Voltei para dentro da barraca, onde me joguei na cama. Minha cabeça era uma enorme confusão de pensamentos. Desisti de fazer qualquer outra coisa e logo peguei no sono.

—x—

Levantei cedo na manhã seguinte e escapuli até uma cidade trouxa por meio de aparatação para conseguir comida. Tive que surrupiar, porque minha reserva de dinheiro já havia acabado. Eu estava quase no fundo do poço. Mesmo assim, sentia culpa por estar roubando. Peguei poucas coisas; dei preferência a macarrão instantâneo e coisas que não estragam fácil. Peguei também um pequeno bolo, leite, suco e etc. Ao voltar para a caverna, multipliquei o quanto pude para que pudesse durar mais tempo. Então, com um pedaço de bolo e um copo de leite, comecei a trabalhar nos meus próximos passos na caçada pelo objeto misterioso. Decidi que fiasco nenhum me deixaria para baixo, porque simplesmente não havia tempo para mais bobagens.
Atualizei minha linha do tempo para poder acompanhar o ritmo de Harry, Rony e Hermione. Como a noite de natal havia passado, eu tinha plena certeza de que Harry e Mione haviam ido até Godric’s Hollow. Tinha certeza de que Harry estava agora mesmo se lamentando pela varinha dele, que acabou quebrando. E ele estava se recuperando do ataque de Nagini. Lembrava-me da passagem no livro que mostrava Hermione assumindo a vigília da barraca à meia-noite do dia 27, e era quando alguém começava a tentar localizá-los. Eu sabia que era Severus e que ele só conseguiria deixar a espada de Griffyndor para Harry duas noites depois – o que me dava mais quatro noites de planejamento. Rony se reuniria a eles nesta terceira noite e a visita a Xenofílio Lovegood só aconteceria um dia depois. O ruim é que, depois disso, não tinha certeza de quantos dias levaria até o próximo acontecimento marcante, que seria a captura deles pelos caçadores e o aprisionamento na mansão dos Malfoy. Procurei o livro para conferir, folheando rapidamente, mas a passagem dizia “à medida que as semanas passavam imperceptíveis” e isso não era de grande ajuda.
Sem saber por onde começar, o que fiz foi atualizar a antiga lista de lugares em potencial:

Casa dos Riddle – Nada.
Ministério da Magia – Nada.
Casa dos Malfoy – ?
Hogwarts – ?


Meus olhos pararam no terceiro lugar indicado em minha lista. Minha opinião havia mudado nos últimos tempos. Eu imaginava que não haveria nada lá, mas passei a imaginar que era o lugar mais indicado para que eu encontrasse o que procurava, mas obviamente preferiria enfrentar um grupo de Comensais por dia todos os dias a sequer considerar a ideia de colocar meus pés naquela casa novamente. Mas... a vida não é só fazer o que se quer. Por isso, comecei a bolar meu novo grande plano, já pedindo a Deus, Merlin e quem mais pudesse me ouvir que surtisse algum resultado positivo... Qualquer um.
Depois de muito pensar, acabei por decidir que o melhor que eu poderia fazer era ficar de olho em Harry, Ron e Mione. Assim, eu saberia como as coisas iam, em que parte da historia eu estou. Porque, se eu ficar entocada dentro da caverna o tempo todo, como posso saber se a minha melhor oportunidade se foi e eu nem percebi?
Eu não podia correr tamanho risco.
Sem perder tempo, marquei num pergaminho os lugares para os quais eu sabia que Harry, Rony e Hermione iriam, as datas aproximadas. Decidi ficar planejando minha próxima caçada até chegar a hora de ir procurá-los. Assim sendo, passei os quatro dias que se seguiram enfiada em livros, pergaminhos, tinteiros e penas, numa bagunça tremenda, só planejando. Quando caiu a noite, tive que me agasalhar extremamente bem, porque nevava lá fora e a temperatura era mais baixa do que jamais pensei ser possível. Dentro de Hogwarts, nunca senti todo esse frio. Mas nem isso foi incentivo para que eu diminuísse meus esforços. Continuei até estar completamente exausta e, por fim, parei para dormir um pouco. Foi tudo igual nos dias que se seguiram.
Lá pelo terceiro dia, tinha tudo planejado e mais nada por fazer. Resolvi, então, reler Relíquias da Morte. Comecei pelo capítulo 16, Godric’s Hollow, e prossegui calmamente, fazendo ocasionais anotações de datas, períodos de tempo que ajudasse a confirmar que eu estava correta. Foi então que me deparei com um trecho que me passara despercebido:
“Somente em março a sorte, finalmente, favoreceu Rony.”
MARÇO? Reli a passagem mais umas dez vezes. Ali dizia claramente março. Era aquela parte do livro, no capítulo 22 em que eles finalmente conseguiam ouvir a rádio da Ordem da Fênix, o “Observatório Potter”, que era quando Harry usava o nome tabu – Voldemort – e eles eram capturados pelos comensais da Morte. Eu ali pronta para partir e eles só seriam capturados em três meses.
Ah, meu Deus.
Eu acabei confundindo a narrativa com o filme. No longa, eles são capturados e levados à mansão dos Malfoy no mesmo dia em que visitam a casa dos Lovegood, mas no livro é diferente, e eu estava esquecendo.
Depois disso, fiquei um pouco desnorteada. Essa informação – ou melhor, falta de atenção de minha parte – mudou toda a situação. Os planos, o cenário, os métodos... tudo mudou! Eu não podia mais manter o plano original e esperar até março para conseguir realizá-lo. Eu simplesmente não podia ficar mais perdendo tempo e sabia bem disso, mas ainda assim, levei um tempo para aceitar.
—x—

Dois dias depois, indo contra todos os meus instintos, (que obviamente gritavam para que eu ficasse longe) decidir ir até a mansão dos Malfoy. Eu tinha plena consciência de que era só covardia de minha parte, porque eu não queria rever Draco Malfoy. Foi por isso que ignorei o sentimento e fui sem pensar duas vezes.
Aparatei um pouco distante da mansão para não correr o risco de ser vista. Fiz o feitiço da desilusão em mim e fui aos poucos me aproximando. A ideia agora era observar o movimento e ter certeza de que Lord Voldemort não estava dentro da mansão. Tudo o que eu não queria era um reencontro com o medonho Lord das Trevas.
Passei um tempo absurdamente longo ali, espreitando a mansão. Demorou o que pareceu uma eternidade para eu conseguir finalmente a confirmação que precisava. Uns comensais passaram pelo caminho que lavava aos grandes portões de entrada e ouvi quando disseram claramente que Voldemort se fora por alguns dias, só não consegui ouvi que o Lord fazia porque eles se afastaram demais.
— Hora de agir, então. – Fiz um feitiço de extensão indetectável no bolso de meus jeans e escondi lá a bolsa. O casaco ocultava o pequeno volume e rezei para que ninguém fosse xeretar em meus bolsos. – Bem... é agora ou nunca. – Respirei fundo, olhando para a mansão com as mãos já trêmulas. – Voldemort.
Três estalos. Três comensais prontos para me prender. Fingi estar surpresa para que não desconfiassem de nada.
— Ora, ora, ora, veja o que temos aqui. – O bruxo se aproximou de mim devagar. Sua capa roçava de leve o mato encoberto por uma fina camada de neve e sua bota rangia ao encontrar o solo. – O que faz aqui, belezinha? E quem é você, hm?
Fiz uma postura defensiva, indicando que não abriria a boca. Um deles grudou em meus cabelos e eu gritei.
— Okay, sou Dumbledore! Pronto, já disse! Me solte! - O choque tomou conta das expressões dos brutamontes. O meu nome claramente significava alguma coisa.
— Vamos levá-la para a mansão e aguardar o retorno do Lord das Trevas! – disse um deles. – Ele com certeza ficará feliz com esta captura. Seremos recompensados! – Os dois riam como se tivessem acabado de ganhar na loteria. Comecei a xingar e mandar que me soltassem para que parecesse que estava assustada diante da ideia de ser capturada e levada aos Malfoy. Mal sabiam eles que o meu plano era, de fato, ser arrastada para lá. É claro que eu podia entrar sorrateiramente, mas havia chance de eu ser pega em flagrante, e isso certamente estragaria meus planos. Podiam deduzir que eu estava atrás de algo, talvez até deduzir exatamente do que eu estava atrás, e eu podia perder a chance de obter sucesso nessa missão. E, obviamente, eu não podia correr tamanho risco.
Então... não havia saída senão fingir pânico diante da ideia de adentrar a mansão dos Malfoy.
Fui arrastada para dentro, fazendo escândalo. Arrastaram-me pela entrada, pelos jardins e escadarias acima, sem nem se abalarem com o estardalhaço. Talvez alertados pelo barulho ensurdecedor que eu fazia, os Malfoy, um a um, foram a nosso encontro. Estávamos no hall dos Malfoy. Bellatrix Lestrange foi quem entrou primeiro, seguida de perto por Narcisa, Lucius e, um pouco mais afastado, Draco Malfoy.
— Ora, mas o que temos aqui? – Lestrange soltou sua detestável gargalhada de deleite. – É a garotinha trouxa! A pobre órfã, a pobre coitadinha...
Meu sangue pareceu ter-se transformado em brasa em minhas veias, pois de repente eu estava queimando no calor do ódio. Ardia. Doía. Pulsava. E eu nada podia fazer.
Como se o fato de “não poder” me impedisse de qualquer coisa.
— Vou te mostrar quem é a coitadinha, sua vaca! – gritei a plenos pulmões, atirando-me em sua direção com força, ato que surpreendeu os homens que me seguravam. Eles nem conseguiram reagir e me deter; eu já havia me distanciado e azarei Lestrange. Bem, “tentei azarar” seria mais apropriado de se dizer. Ela, diferentemente dos palermas que me mantinham prisioneira, tinha reflexos muito rápidos e estava sempre pronta para o combate. Por essa razão, antes que pudesse repassar mentalmente a azaração para derrubá-la, fui atingida em cheio pela Maldição Cruciatus, de modo que antes de chegar perto dela, caí de bruços no chão, tomada pela dor. Um grito agudo escapou por meus lábios e preencheu meus ouvidos, assim como os dos outros que ali se encontravam. Lestrange gargalhou novamente, mas dessa vez, foi mais alto e o deleite era mais notável que a anterior. Levantei a cabeça para olhá-la, sentindo cada parte de meu corpo reclamar da agressão inesperada. Observando-a, pude ver quando, numa fração de segundo, o deleite deu lugar ao profundo ódio moldado por selvageria em seu olhar, e já me encolhi automaticamente. Meu corpo receava dor. E como era de se imaginar, a dor não tardou em vir.
— Sangue-ruim imunda! Como ousa...! – Um novo aceno de varinha e uma nova e intensificada carga de dor. – Escória! Coisa medíocre! Quem pensa que é? Acha mesmo que pode bater de frente comigo? – Mais dor. Mais gritos. – Você não aprende! Não viu no que dá se meter comigo? Ver sua família queimar não foi o suficiente?
Eu já tinha até perdido um pouco a noção do que estava fazendo, e era tudo culpa dela. Eu não conseguia evitar. Aquela cretina me lembrava, obviamente, da grande perda que sofri. Ela queimou minha família e era só o que eu enxergava quando meus olhos caíam sobre ela. O Fogo Maldito, tomando tudo, levando a casa abaixo. O calor que me impedia de chegar perto e salvar meus pais. Eu via tudo com clareza.
— Hoje você vai entender de uma vez por todas o seu lugar. Hoje, você terá sorte se escapar com vida. – Ela apontou a varinha e a dor veio novamente. Percebi que ali era só o começo. Seria uma noite muito longa.



Capítulo 17
Garota em chamas


De uma coisa eu tenho muita certeza: eu nunca apanhei tanto em toda a minha vida.
Bellatrix Lestrange acabou comigo. Machucou-me mais que os irmãos Carrow e Snape, todos juntos. Deixou hematomas, cortes feios, costelas e ossos quebrados, arranhões e muitas dores. Além, é claro, de um trauma emocional que eu carregaria pelo resto de minha vida. Eu achava que já havia sofrido de agonia antes. Achava. Eu não sabia o que era agonizar. Não até aquele momento, ao menos. Porque ali, Lestrange fazia um ótimo trabalho de tortura. Ela estava acabando comigo lentamente e estava em deleite com isso. Foram horas a fio de tortura. Sem pausa, sem descanso. Para que parar? Afinal, Lestrange estava adorando a situação, e na certa queria aproveitar ao máximo. Houve uma única interrupção; chegaram alguns comensais, e Lestrange foi obrigada a me deixar de lado um instante para atendê-los. Parecia urgente. Tão urgente que ela me deixou de lado e partiu, furiosa, sem mencionar aonde ia ou o que faria para qualquer pessoa ali. Eu podia chorar de gratidão por qualquer que fosse o motivo que a tirou de perto de mim. Foi só o que eu tive tempo de ver e, então, minha visão se tornou cada vez mais turva e, eventualmente, perdi os sentidos.

— Outro Ponto de Vista —

Brasil, julho de 2012
O rapaz de cabelos lisos e escuros caminhava lentamente pela rua. Fazia frio, mas o tédio o fez enfrentar o mau tempo e procurar na rua alguma distração. Sentia falta de uma pessoa que foi muito importante em sua vida e que o deixou sem uma explicação, sem um adeus. Sem nada. Nem um bilhete. Nada. Já fazia mais de um ano, e até ali, nada. Absolutamente nada.
A dor do abandono consegue ser imensuravelmente pior que qualquer dor. Mas será que fora abandonado? O jovem não sabia. Não fazia a menor ideia. Afinal, quando sumiu, foi sem motivo. Não sabia nem o que acontecera a ela. E, quando tentava falar com os pais da garota, eles simplesmente não atendiam à porta. Não diziam nada. Se ele ligasse, desligavam o telefone. Chegou a ficar horas a fio escondido do lado de fora da casa da garota, não uma nem duas vezes, mas várias, e nem sinal dela. E os seus outros amigos não sabiam nada. A situação era igual para todos: sumiu. Ponto final.
Mas, espere aí. Como assim, sumiu? Eu nem sequer disse a ela o que eu sinto...
Esse pensamento não saía da mente de Eric. Mesmo um ano depois, esse pensamento lhe ocorria, quase todo santo dia. Os demais amigos já nem se lembravam dela com tanta frequência. É, de fato, o que acontece quando alguém se ausenta por muito tempo. Deixa de ser “tão” importante. As pessoas seguem em frente, e aquele que se foi se torna mera lembrança que ocasionalmente volta à tona – se acaso voltar. Mas, para Eric, não era dessa forma, pois o garoto, durante muito tempo, nutriu um sentimento muito forte pela melhor amiga, . Sempre se lembrava dela. Sempre questionava o que diabos poderia ter acontecido.
Um ano após o inexplicável sumiço da garota, uma tragédia ocorreu à família dela. Eric, não por coincidência, estava nas redondezas e viu quando tudo aconteceu. Chegou a flagrar o absurdo momento em que uma cena digna de telas de cinema se passava bem diante de seus olhos, em seu pacato bairro. Não conseguiu acreditar quando viu sua amiga no meio daquela loucura. E aquelas outras pessoas? A princípio chegou a pensar que era uma convenção de Harry Potter, ou algum cosplay, ou coisa assim, já que era aficionada pela série literária. Só quando pessoas começaram a morrer, coisas absurdas como fogo criar formas de animais e engolir a casa, foi que notou que a coisa era séria ali. E então achou que finalmente havia enlouquecido de tanto pensar na garota, e já estava fantasiando sobre ela e coisas a ela relacionadas.
Antes fosse. Mais tarde, ao assistir ao noticiário, constatou que era procurada no país todo, e que era acusada de muitos crimes. Num instante, todos os amigos voltaram a falar dela, e falavam das coisas mais absurdas possíveis. Quanto a Eric, só aumentou seu desespero. Que diabos aconteceu à garota, afinal?

— Fim do outro Ponto de Vista —

Quando recuperei meus sentidos, podia jurar que havia morrido, e ido para um lugar semelhante ao que Harry foi (ou melhor, ao lugar aonde ele vai, uma vez que, para nós, o fato ainda não ocorreu) quando deixou que Voldemort o abatesse com o Feitiço da Morte. A cena não fazia sentido, portanto achei de fato que estava morta.
Narcisa Malfoy estava com as mangas de suas vestes arregaçadas, de pé ao lado de onde eu jazia deitada e reclinava-se sobre mim, fazendo alguma coisa. Havia uma claridade terrível para meus olhos, uma forte luz branco-azulada que machucava a retina para valer. Daí, imaginei que estivesse morta mesmo. Mas após piscar algumas vezes, constatei que meus olhos apenas estavam sensíveis, e que a luz nem era tão forte assim. Era um feixe de luz produzido pelo feitiço Lumus Maxima – como disse, não tão forte assim. Conforme fui recuperando de fato os sentidos, notei que ela estava tratando de meus ferimentos.
Narcisa Malfoy tratando ferimentos da pessoa que mais era detestada pelos partidários das trevas depois de Harry Potter. Cadê o sentido nisso?!
Tentei me levantar e me defender, – convenhamos, mesmo com o fato dela mais para frente mentir para o Lorde das Trevas sobre Harry estar vivo ou morto, eu não entregaria minha vida nas mãos dela. Confiança é algo muito frágil, algo complicado de se ceder ultimamente – mas foi uma tentativa digna de pena, pois não saí do lugar. Só me debati de leve e resmunguei.
— Shhh – Fez Narcisa, baixinho. – Fique quietinha, não quero que ninguém nos veja aqui.
— Por... por... – Falar era surpreendentemente mais difícil do que aparentava. – Por quê? Por... que... Por que me... ajuda...?
— Por que estou te ajudando? – Perguntou ela, bem baixinho, tentando entender exatamente o que eu queria falar a ela. Fiz que sim com um leve aceno de cabeça, e ela suspirou. – Olhe, vou contar, mas você finge que de nada sabe. Promete? – Tornei a fazer que sim com a cabeça, imediatamente ansiosíssima por saber o que se passava na mente de Narcisa Malfoy. – Draco é o motivo. Eu sei o quanto ele... – Ela parou de falar, tentando localizar a palavra que melhor descrevesse o que queria dizer. Neste breve intervalo, lavou a toalhinha encharcada de sangue. Não pude vê-la lavar, só escutei o som da água sendo despejada e remexida. – o quanto tem afeto por você... Talvez mais que isso... – Ela parou de novo, nervosa. Depois baixou o tom de voz para um mero sussurro. – Ele não fala muito, certamente não fala a ninguém o que sente, mas uma vez, apenas numa única ocasião, ele acabou tendo um... um momento de desabafo comigo. – Ela percorria meu braço com a toalha, removendo de leve o sangue já seco. Era doloroso, mas aguentei firme para não fazer barulho. – Eu sei o quanto você é importante para ele, e como foi doloroso te deixar para trás. No começo não aprovava. Sempre quis que ele namorasse e futuramente desposasse Astoria Greengrass, com quem se dá muito bem, que seria o par ideal para ele...
Eu franzi a sobrancelha, nem sequer incomodada com o fato de que estava claramente enciumada. Astoria era a futura esposa de Draco. Daqui pouco mais de 19 anos, ele estaria levando o pequeno Scorpio para pegar o Expresso de Hogwarts na Plataforma 9 ¾. Argh. Argh.
Narcisa deu um pequeno sorriso ao notar minha expressão.
— Mas percebi que Draco não é feliz do jeito que está, que o rumo que sua vida está levando não é o melhor para ele, e quando se trata de você, tudo só piora. Ele sofre muito com tudo o que fez...
Suspirei. Quase havia me esquecido de Astoria. Bom, na verdade, me forcei a esquecer.
— Então... Isso quer dizer que você não me repudia por ser nascida trouxa?
Narcisa demorou para responder.
— Mestiça, não? – Disse, por fim. – Você não é neta de Dumbledore?
Ops. Que grande vacilo!
— É, é sim – Dei uma risada nervosa. – Minha mente está tão ruim que me atrapalho com certas coisas.
— Tanto é que uma mentira quase passa a ser sua realidade – Comentou. Imaginei que no fundo ela suspeitasse que não era verdade essa história de neta de Dumbledore, mas deveria ser mais fácil aceitar que seu filho se apaixonara por uma mestiça do que por uma sangue-ruim.
— É tudo muito complicado – Meu comentário foi evasivo.
— Imagino – Disse ela, cuidando de um ferimento, que ardeu ao contato com a toalha.
— Ai! – Protestei e me encolhi, involuntariamente.
— Desculpe. – Narcisa se encolheu também.
— Há uma coisa que não consigo tirar da mente – Eu disse a ela.
— O quê? – Narcisa parecia sumamente interessada.
— Você está cuidando de mim... mas o que acontecerá quando Bellatrix retornar?
— Francamente, não sei – Disse, num tom melancólico. – Bella é muito difícil de lidar; nem eu consigo influir em seu comportamento. Estou pensando em ajudar você a fugir, e depois dizer que não faço ideia do que aconteceu. Para tanto, você precisa se recuperar, mas está difícil. Ela fez um enorme estrago em você, e está sendo difícil fazer você voltar ao normal.
Eu estava francamente assustada com o retorno de Bellatrix, mas não podia desistir agora. Eu tinha que cumprir o que me levara até ali. Não podia de forma alguma dar para trás agora.
— Eu ainda não posso ir – Confidenciei, embora tivesse medo do que Narcisa poderia fazer posteriormente. – Cheguei aqui por um motivo... eu... eu precisava vir até aqui.
Ela parou durante um longo momento de cuidar dos ferimentos. Ficou só a me encarar. Depois, deliberadamente, voltou ao que fazia.
— Imaginei que não fosse puro acaso – Disse. – Tem a ver com Draco?
Deliberei durante um momento. Que seja, pensei. Vou contar de uma vez, pelo menos até onde puder contar.
— Na verdade, não, não tem a ver com Draco – Comecei, com o coração apertado pelo medo. – Desisti dele há muito tempo. Desisti dele no dia em que ele entregou a vida de minha família nas mãos de sua irmã. Ele me fez perder tudo. – Narcisa me olhou subitamente, o olhar contido, sôfrego e cheio de piedade. – Não, o que me trouxe aqui é algo maior, Narcisa. Algo que vai... além... de uma paixão adolescente. Algo que vai além da minha compreensão.
— Olhe, eu lamento muito o que aconteceu... – Começou, mas eu não deixei que continuasse.
— Não, Narcisa. Já foi. Não há o que falar – Falei, com a voz embargada e cheia de amargura.
— Não é algo que simplesmente se vai, , eu sei disso – Acrescentou. – Não é o momento, mas sei que um dia você verá as coisas como elas são. Não gosto do que o modo como vivemos fez com meu filho. Não gosto da pessoa em quem ele vai acabar se tornando. Eu o quero longe disso. Bella nos infernizou, chegou a agredir-nos para conseguir chegar até você. Quando Draco a levou até você, já estávamos sem conseguir suportar... Sei que não justifica, e é por isso que eu vou fazer o que puder para te ajudar. O que te aconteceu foi extremamente injusto, e você não mereceu... não vou permitir que mais injustiças aconteçam, eu prometo.
Ficamos a nos encarar. Meus olhos marejavam. Quando pisquei, algumas lágrimas caíram. Narcisa secou-as, afagou meu cabelo delicadamente e se levantou. Murmurou alguns encantamentos e aos poucos senti o alívio domar meu corpo. Estava, enfim, melhorando.
— Volto logo – Disse, e saiu, me deixando sozinha na penumbra.

—x—

Uma vez sozinha e sem ter absolutamente nada que me ocupasse a mente dos medos de sempre, não pude conter os maus pensamentos. Ou bons, não sei. Creio que posso definir como uma mistura de ambos. Eu não pude deixar de pensar em Draco e tudo o que havia ocorrido entre nós. Isso era um mau pensamento. Ou será que era bom?
Não, definitivamente. Draco me fez mal. Draco é um mal.
Mas e se ele fosse um mal do qual não consigo e jamais conseguiria, tampouco, me ver livre? Não podia, afinal, ignorar o que meu coração gritava tão incessantemente para mim toda vez que pensava nele. Não conseguia deixar de amá-lo – até por que não é assim que funciona.
E ainda havia mais. Ainda tinha o que Narcisa disse. Ela tinha razão; nada do que fosse dito jamais poderia justificar o que aconteceu. Porém, no fundo, era bom ter a visão do ocorrido desse ponto de vista – ou eu sou uma completa idiota. Afinal, não era um erro qualquer. Foram vidas tiradas bruscamente, cedo demais. Foi a minha família que foi destruída, não era pouca coisa. Não era nada passível de perdão.
Foi assim, ao chegar a essa conclusão, que a culpa me dominou. Que burrice! Ora, como eu podia estar aceitando esse tipo de absurdo?! Fiquei inconformada com minha atitude. Sabia que Narcisa foi a causadora disso. Suas boas ações me amoleceram, assim como suas palavras. Lá no fundo, eu queria acreditar nela e passar uma borracha no passado tortuoso. E, ainda lá no fundo, eu sabia que quando era Draco em cena, a página que compunha nossa história não fora escrita a lápis, de modo que não se pode apagar completamente. O corretivo vai deixar sua marca sobressalente no papel, um constante e visível lembrete de que alguém errou. Draco estragou tudo. Por mais que fosse capaz de “apagar o erro”, eu ainda poderia vê-lo. Ele permaneceria onde já está, apenas oculto por uma camada fina e delicada.
Eu não sabia se dava para viver assim. Não sabia se queria viver isso, me submeter a tanto risco. Será que valia a pena? Haveria algo de bom nisso para mim?

—x—

A minha paz não reinou por muito tempo. Obviamente, Lestrange retornou tão ou mais enfurecida do que estava quando partiu. E eu tomei uma decisão desesperada: esconder-me dela. É. Como uma perfeita covarde. Enfiei o rabinho entre as pernas e dei no pé. Narcisa compartilhava do mesmo medo, de modo que, quando ela soube que a irmã estava de volta, entrou correndo – literalmente – no quarto onde me escondera e me arrastou de lá pelo braço. Eu estava bem melhor, mas não havia me recuperado por completo. Não conseguia correr. Então, fui o mais rápido que pude, respeitando minhas limitações físicas. Narcisa me guiava para fora de casa, e logo nos embrenhamos na alta vegetação que circundava a sombria mansão. Foi um milagre não sermos vistas. Um milagre e tanto! Ali era, afinal, onde os Comensais e o próprio Voldemort passavam grande parte de seu tempo, onde se reuniam, onde discutiam e praticavam seus terríveis feitos.
— Fique aqui – Sussurrou Narcisa, entregando-me uma varinha, que logo reconheci. Era a minha. – Por Merlin, , não se mexa. Não respire, se puder evitar. Faça feitiços de proteção e não saia daqui. Me escute e me obedeça, certo? Se fizer qualquer coisa diferente do que estou falando, você será uma mulher morta antes do que imagina.
Narcisa olhou para os lados e depois voltou para dentro de casa com a postura completamente diferente da que adotada há pouco. Assumiu a elegância e arrogância usual; ninguém jamais acreditaria se dissesse que era a mesma que há pouco corria como se a vida dependesse disso. Eu, enquanto isso, a obedeci, palavra por palavra. E demorou demais para o tempo passar. Depois de longos minutos, alguns Comensais passavam de quando em quando procurando por mim. Meus feitiços de proteção me ocultavam e os afastava, e isso foi o que me salvou. A própria Bellatrix passou por mim sem me ver, parecendo um feroz Rabo-Córneo Húngaro* – até pude visualizá-la cuspindo fogo para todos os lados. Ao vê-la dar as costas e se afastar de mim, esbravejando xingamentos aos quatro ventos, senti um calorzinho no peito. Parecia até que havia tomado uma dose de Felix Felicis*.

– Outro ponto de vista –

— Onde está? Onde está? – Lestrange olhava diretamente para sua irmã, expressão insana. – DIGA-ME, NARCISA! – Esbravejou, esbofeteando a face da irmã, que imediatamente assumiu um tom avermelhado no local atingido. Ela já colecionava alguns cortes dos pedaços das louças e demais coisas que Lestrange andara arremessando para todos os lados, em todas as pessoas. A Sra. Malfoy arfou, estupefata, e encarou de volta a irmã, devolvendo o tapa com a mesma veemência.
— Me respeite! OUVIU?! ME RESPEITE! Não ouse JAMAIS levantar um dedo para mim dentro de minha casa novamente!
Lestrange rugiu como um monstro, voltando a encarar sua irmã, brandindo a varinha, pronta para o ataque. Narcisa já esperava isso de sua irmã, portanto, antes de ser atacada, ela desarmou Lestrange.
— NÃO FIQUE EM MEU CAMINHO, NARCISA! VOU PASSAR POR CIMA DE VOCÊ SE PRECISO FOR PARA PÔR MINHAS MÃOS NAQUELA MALDITA VACA DOS INFERNOS!
— VAI ABAIXAR O TOM SE QUISER CONTINUAR SOB MEU TETO, SUA ARROGANTEZINHA DE MERDA. – Narcisa estava completamente alterada. – JÁ ESTOU FARTA DE TANTO DESAFORO DENTRO DE MINHA PRÓPRIA CASA! A GAROTA SE FOI, E EU ESTOU POUCO LIGANDO PARA VOCÊ E SUAS IDIOTICES! AGORA SUMA DAQUI! JÁ!
Lestrange baixou a guarda, mas somente por se convencer que sua prisioneira se fora de fato. Fora de si como estava, Sra. Malfoy não seria coerente o bastante para mentir, disso Lestrange tinha certeza. Pegou sua varinha e saiu, revoltada, atacando coisas pelos ares. Narcisa somente olhou ao seu redor, para as coisas quebradas, os Comensais ensanguentados e, o pior, Draco com um profundo corte na testa. Correu para o lado do rapaz. A expressão era de angústia.
— Filho... meu menino... – Dizia ela, sem saber o que fazer.
— Estou bem, mamãe – Disse ele, afastando a mão que ela estendeu para o ferimento em sua testa. – O que ela fez com a senhora...
— Isso não interessa, filho – Suspirou Sra. Malfoy. – Oh, eu já estou cansada disso. Não vejo a hora desse circo finalmente chegar ao fim.
Uma lágrima lhe escapou e Draco a acolheu em seu peito. Suspirou. Ele compartilhava do mesmo desejo, e com a mesma intensidade. Talvez até mais.

– Fim do outro ponto de vista –

Um bom tempo depois do ocorrido, Narcisa veio me resgatar. Ela obviamente não podia me ver por conta dos feitiços de proteção, mas me chamou quando se aproximou de onde havia me deixado. Rapidamente removi a proteção para que ela me visse e ouvisse.
— Vamos – Sussurrou, apenas. Deu as costas e se encaminhou para dentro da mansão. Eu a segui de perto.
Felizmente, não encontramos nenhum empecilho, e logo nos vimos no quarto onde eu estivera escondida. Só então ela se virou para me encarar, e eu notei; era impossível não notar, de qualquer forma.
— Mas o que aconteceu ao seu rosto?! – Meus olhos se arregalaram com o choque. – Narcisa...
— Não tem importância – Respondeu, expressão ambígua, superficialmente demonstrando altivez, ao passo que por dentro a vergonha era evidente em seu olhar. – O pior passou. Ao menos por ora, estamos seguras.
Gostei do jeito como ela se igualou a mim. “Estamos seguras”. Isso me alegrou muito, por um lado. A outra parte jazia preocupada com o que havia acontecido com o rosto dela. Havia uma mancha muito rocha que tomava uma boa parte de sua face, ao redor do olho direito, e também alguns cortes.
Eu a abracei. Agi sem pensar, sem ao menos considerar o que eu estava fazendo. Ela pareceu chocada, mas retribuiu, sem jeito. Não dissemos nada. Ela pela surpresa, e eu pela vergonha. Mas de nada adiantava, né? Eu sabia que teria que dizer alguma coisa depois de voar nela desse jeito. O mico já foi, não tinha volta.
— Desculpe – Comecei. – Me deixei levar. Acho que fiquei emocionada por você se colocar... no mesmo lugar que eu, “estamos” seguras... Enfim. – Corei.
Ela sorriu em resposta.
— Draco me fez gostar de você – Disse. Eu arregalei meus olhos para ela. – É contagiante o que ele sente por você... Ele nem precisa falar. Está escrito no olhar dele.
Se antes eu estive corada, agora eu já era um tomate de tão vermelha. Mal consegui assimilar o que ela disse. Creio que foi meio que um instinto de bloquear automaticamente qualquer possibilidade de tornar Draco uma boa pessoa aos meus olhos. Eu estava na defensiva.
A culpa ameaçou voltar, por isso, mudei de assunto.
— Preciso fazer uma coisa, aqui, em sua casa. É seguro circular por aí? Isto é, para mim?
— Mais ou menos. Bella saiu, mas ainda não é seguro.
Ponderei por um instante e então dei de ombros.
— Ok, isso já serve.
— Você precisa ter cuidado – O tom dela era de preocupação.
— Está tudo bem, Narcisa. – Sorri para ela. – Vou ter cuidado. E já estou melhor, graças a você. Quase nem dói mais.
Foi a vez dela de sorrir.
— Fico feliz.
O silêncio reinou por um tempo e eu olhei para os lados, sem jeito.
— Não pretende partir após... o que quer que você pretende fazer... né? – Narcisa quebrou o silêncio.
— Na verdade, pretendo, sim – Respondi, mordendo o lábio.
— Não – Pediu ela, meio manhosa, até. – Não vá ainda. Fique pelo menos até amanhecer.
Olhei pela janela, tentando calcular mais ou menos quanto tempo faltava até o amanhecer. Concluí que demoraria consideravelmente. Contudo, eu vasculharia a casa toda. Poderia demorar.
— Combinado. Até porque... bom, eu vou demorar.
— Perfeito – Disse ela.
Ficamos de novo em silêncio, observando-nos e, para meu choque, foi ela quem me abraçou, e a situação foi exatamente como a anterior, só que com papéis trocados.
— Queria que tudo fosse diferente – Confessou. – Queria que Draco tivesse concordado com você e aceitado sua ajuda. Acho que estaríamos bem melhores.
Retribuí o abraço, emocionada.
— Significa muito saber disso, Narcisa – Foi minha vez de confessar. – Também queria que fosse tudo diferente. Queria mesmo. Olhe, no momento estou tão ou mais ferrada que você, mas não importa. Quando você precisar, pode me procurar. Eu farei tudo o que puder por você. Tudo mesmo.
— Espero que você e Draco acabem dando certo – Disse. – Você faz muito bem a ele.
Tal informação me tirou o ar, o chão e tudo mais. Ela afagou minha bochecha e saiu sem dizer mais nada. E eu nada pude fazer além de ficar paralisada feito uma idiota.

—x—

Procurei em cada cantinho escuro daquela mansão – e puta merda, que lugar grande e chapado de coisas. Tinha de tudo ali – de bom a asqueroso. Prefiro não comentar as coisas onde enfiei a mão. Eca. O fato é que foi tudo em vão porque, caramba, não achei nada. Foram muitas horas de busca minuciosa, ora me escondendo de Comensais, ora me escondendo de Draco, para no fim constatar que foi tudo à toa.
Tanta pancada para nada. Ai, ai.
Nada me restou a fazer senão aproveitar para ter algum descanso para depois partir. Exausta, tomei um banho e escovei meus dentes e logo me enfiei na cama quentinha que Narcisa preparara para mim. Dormi pesadamente por algumas horas. Estava muito cansada.

Eu ouvi as suaves batidas na porta, mas fingi estar desacordada. Quem quer que fosse me acordou de primeira, mas eu não revelaria isso, pois não queria companhia. No entanto, quem estava do lado de fora me ignorou completamente e adentrou o aposento. Não houve um ruído sequer, mas um feixe de luz que varreu brevemente o piso denunciou o invasor. Permaneci imóvel, na esperança de quem quer que fosse desistisse e me deixasse em paz. Contudo, isso não aconteceu. A porta foi fechada, novamente sem qualquer som, e passos suaves denunciaram a aproximação. O invasor então me descobriu suavemente, removendo o cobertor até meus quadris. Logo senti o toque suave e quente de sua carícia em meu braço, seguido por um beijo em minha testa. Eu já estava desconfiada, mas a certeza me dominou. Eu sabia muito bem que era Draco Malfoy. E, eu querendo ou não, meu coração acelerou freneticamente por essa razão.
E se não fosse ele? Era de se esperar que me apavorasse, uma vez que havia pouco tempo que sofri nas mãos de uma mulher insana dentro desta mesma residência. Porém, meu coração de imediato assumiu uma absoluta certeza. Sem pensar, confiei. Acabei me rendendo e desisti de fingir que estava dormindo. Virei e o encarei, e logo meu coração acelerou em um ritmo frenético, soando alto em meus ouvidos, parecendo até que queria saltar do peito. O ar sumiu por um instante ao me perder naquela imensidão cinza dos olhos dele. A luz que vinha do corredor me dava detalhes precários de sua beleza, porém, eram preciosos. Ele mordeu o lábio, me fitando, claramente querendo falar mil coisas, mas sem saber como ou por onde começar.
Nem parecia que, há menos de um ano, ele levara a tia homicida até minha casa para me matar.
Nem parecia que eu perdi tudo por culpa dele.
Tampouco parecia que eu o odiava.
Eu não sei o que deu em mim, pois fui eu quem puxou assunto.
— Como você veio parar aqui?
— Eu te segui o dia todo – Disse ele, sem hesitação alguma. Sua voz rouca e baixa me deixou completamente arrepiada, de uma forma gostosa e calorosa. – Vi quando você se enfiou aqui e vi minha mãe entrar logo depois. Também ouvi a conversa, e depois fiz com que ela me contasse o que estava acontecendo.
Limitei-me apenas a olhá-lo, sem dizer nada. Ele estendeu a mão e carinhosamente afagou minha bochecha.
— Fico feliz que esteja melhor. Estava preocupado – Disse.
Não sei ao certo o que foi. Se foi amor, se foi saudade, ou carência. Não sei se foi paixão, ou puro êxtase; só o que sei é que um certo calor aos poucos tomou cada célula de meu corpo. Uma vontade inexplicável, algo que eu jamais senti. Algo que nem sei como começar a descrever. Só o que sei dizer é: não havia absolutamente mais nada no mundo que me importasse – exceto, é claro, Draco e o que eu sentia naquele momento. E foi assim, nessa explosão de desejo e tesão que eu o agarrei. Sim, “agarrei” é a palavra certa para expressar precisamente o que fiz. Logo seu corpo preenchia o espaço que nos separava, fazendo minha pele formigar de uma forma deliciosa onde entrava em contato com a dele. Meus lábios buscaram os dele furiosamente, e a resposta obtida foi sensacional. Nada importava. Nem sequer o ato de respirar.
Eu o queria. Eu precisava dele.
E eu o tinha exatamente onde queria.

* Rabo-Córneo Húngaro: Dragão com a fama de ser o mais perigoso, o Rabo-Córneo Húngaro tem escamas pretas e aparência de lagarto. Seus olhos são amarelos e os chifres cor de bronze e tende a alcançar 15 metros com suas labaredas. (Fonte: Harry Potter Wiki).
* Felix Felicis: poção da sorte.



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