História por | Revisão por Ana Carolina


I. Tudo uma grande desgraça


Sábado, 01:46 a.m. - Aeroporto de Heathrow

:

Droga.
Quero dizer, sabe quando tua vida tá perfeita, daí alguém traz uma notícia desastrosa, que simplesmente vira tudo de cabeça para baixo?
Então.
Tava tudo indo tão bem. Eu já tinha conseguido me adaptar àquela escola, já tinha passado de ano, já tinha parado com as bebidas e - tá, essa parte é brincadeira. Ou não. Festinhas, sabe como é.
E aí eu descobri sobre o combinado dos meus pais.
É um combinado bem tolo, se você quer saber. Mas acho que até os entendo, afinal, deve ser bem difícil quando duas pessoas de diferentes países - separados pelo Oceano Atlântico - se conhecem e se apaixonam. E quando a mulher engravida, então? O que fazer? Onde morar? A solução encontrada por minha mãe, inglesa; e meu pai, brasileiro, foi essa: viveríamos 16 anos no Brasil, em São Paulo, e o resto em Londres, na Inglaterra. Oras, por que mais tempo na Inglaterra? Segundo minha própria mãe: "Eu carreguei a na barriga por nove meses, então tenho direito de escolher o lugar em que viveremos por mais tempo!". Ao meu pai, mero doador do espermatozóide vencedor (minha mãe nunca entendeu muito de biologia), coube aceitar o que minha mãe impôs a ele.
Ah, o amor! Sempre deixando as pessoas mais bobas.
Eu não disse que o combinado era tolo?
Então isso traz aqui, eu, Collins, 16 anos de idade, no aeroporto de Londres, numa bela madrugada de sábado, nesse frio congelante de fim de ano. Uma corrente de ar cortante passou por mim e eu apertei minha roupa contra meu corpo para me esquentar mais. Impossível.
Maldito clima frio da Europa.
Ei, Brasil, sinto sua falta. E do seu calor. E da sua comida. E dos meus amigos. E da minha família. E da minha casa. E da minha escola.
Tá, parei de reclamar.
- Pai, você não disse que o carro já estava chegando? - perguntei impaciente ao meu pai, que detinha uma expressão preocupada. Problemas com o trabalho, provavelmente. Ele era dono de uma gravadora bem sucedida, responsável por grandes nomes da música, o que justificava minha grande ligação com ela e também o fato de ele estar sempre viajando. Foi assim que ele conheceu minha mãe, na verdade. No museu dos Beatles - que conveniente -, durante sua ida à Inglaterra para resolver sobre a gravação de algum CD. Meu pai era um grande fã do quarteto, e minha mãe, inglesa que só, amava-os desde os primórdios de sua vida. Ela, natural de Londres, na época, havia acabado de finalizar seu mestrado em Oxford, estando em Liverpool apenas para passeio. Depois de cinco anos de namoro e enrolos, meu pai a pediu em casamento, ela aceitou, eles se casaram, minha mãe engravidou e o resto vocês já sabem.
- Me desculpe, meu anjo. Tenho certeza que Peter encontrou algum impecilho para não chegar aqui a tempo. - Meu pai me respondeu, sorrindo de um jeito cansado.
- Deve ser por causa de toda essa neve! Aqui está fazendo mais frio que na Antártida, pai - reclamei, manhosa, apontando para o lado de fora do aeroporto, onde você só podia ver uma cor: branco, branco e mais branco.
- , fique tranquila, tenho certeza que... - meu pai foi interrompido por seu iPhone, que começou a tocar insistentemente. - Com licença. - meu pai pediu, indo para o canto perto do banheiro e já depositando o aparelho sobre a orelha.
- Claro, pai - falei, mais para mim do que para ele, que já se encontrava longe.
Bufei. Mirei minha mãe por um instante. Seus cabelos castanhos caíam em seus ombros e ela colocou-os atrás da orelha, onde um grande brinco de brilhante a enfeitava. Mamãe estava sentada lendo sua revista Elle de sempre, tomando seu café Latte de sempre. Vestia um sobretudo preto, calças escuras, botas Marc by Marc Jacobs e um cachecol que eu lhe havia dado de presente.
Ela parecia bastante feliz. E eu? Parecia bem carrancuda. Resolvi deixar de ser um pouco egoísta e reclamona e tentei ficar feliz por ela.
- Está contente, mamãe? - Perguntei-lhe, chamando atenção dela.
- Você não faz ideia, filha! - mamãe pousou seu café no banco ao lado e fechou sua revista. - E o que combinamos sobre o português? - havíamos combinado que, ao pousar na Inglaterra, eu teria que trocar meu bom e velho português pelo inglês britânico. Nada difícil, se você parar para pensar que o português fora ensinado a mim pelo meu pai, pela escola, e pelos meus amigos. O inglês pela minha mãe, e, o que ela não ensinou, o curso de inglês o fez.
- Opa, foi mal. - falei, em português mesmo, só para provocá-la. Mostrei a língua, e mamãe riu.
- Engraçadinha - revirou os olhos.
- Pessoal, Peter acabou de ligar avisando que está nos esperando perto do ponto de táxi. Já podemos ir para casa! - meu pai disse, interrompendo meu momento com mamãe. Ele parecia animado.
- Finalmente! Se eu ficar mais um minuto aqui, irei congelar. - resmunguei para os dois, que somente riram e comentaram o quanto eu era exagerada.
Ah, tá! Experimente sair de um país tropical e vir para o norte em novembro.
Um funcionário do aeroporto se ofereceu para carregar nossas malas e eu não hesitei. Assim que ele fechou o porta malas, adentramos a limousine preta e partimos rumo a nossa "casa".
- Não se preocupe, , tenho certeza que irá adorar Londres! - mamãe disse, batendo palminhas, um gesto bem adolescente. - E, ah, esqueci de lhe avisar: o seu primo irá morar conosco.
- O quê? - perguntei, assustada diante do pequeno detalhe que ela tinha esquecido de me contar. Quer dizer então que um menino que eu nem conheço vai morar comigo?
Cacete, que porra é essa?
- A mãe dele, minha querida cunhada Rebecca e meu irmão estão se mudando para Liverpool, mas o menino não quis ir, alegando que sua vida estava aqui. Então me ofereci para que ele viesse morar em nossa casa. - mamãe disse, sorrindo como se estivesse dizendo a coisa mais simples do mundo. - Isso não é bom, filha? Você já possui um amigo!
Ótima hora escolhida pra bancar uma de boa samaritana, mãe.
Só que não.
Além de ser obrigada a ir morar em uma casa nova, um país novo, e ter que conviver com gente nova, teria um primo que eu não conhecia morando comigo! Por quantos pecados eu to sendo punida, mesmo?
- Legal. - murmurei, carrancuda e cansada de tantas novidades. Mamãe comprimiu os lábios e encostou a cabeça no ombro de meu pai.
Tirei meu iPod touch branco do bolso do trench coat e encaixei os fones em meus ouvidos. Pode me chamar de antipática, mas eu realmente não estava com aquele humor para conversar.
Será que minha vida pode ficar ainda pior?

Sábado, 02:35 a.m. - The Mass Club

:

- , você tá muito chapado! - ouvi berrar para mim. Não que eu realmente conseguisse ouvir ele berrando, a voz dele chegou baixinha aos meus ouvidos, devido à alta música que tocava na boate em que estávamos. - Como raios vai voltar para casa?
- É por isso que minha mãe me deu um carro, . – respondi, como se aquilo fosse óbvio, pescando no bolso as chaves do meu Porsche Carrera GT. Devolvi um olhar confuso para quando não consegui encontrá-las. Peraí. - Cara, cadê? - perguntei, me sentindo o Ashton Kutcher em "Cara, Cadê Meu Carro?".
- Porra, . - lamentou. - Você acabou de emprestar seu carro para o , não se lembra disso? - eu neguei com a cabeça, olhando para um boquiaberto. Ele era tão retardado. - Você tá muito bêbado mesmo! Eles se foram faz uns dez minutos, cara.
- Porra, e agora? O que eu faço? Gastei meu dinheiro em bebidas pra Hay e as meninas, não tenho como pagar um táxi! - comecei a me desesperar. Eu era tão retardado.
- Ok, hm... - murmurou, pensando.- Faz o seguinte, vem comigo para a casa da minha tia. Acho que ela ainda não deve ter chegado de viagem. Quero dizer, eu espero que não. Porque ela definitivamente não pode nos ver desse jeito.
- Ah, cara! - eu disse, alegre, pegando a cabeça de e dando vários beijos nela. - Obrigado, obrigado, obrigado. - mais beijos. Todo mundo fica idiota quando bebe. E, às vezes, meio gay. - Vamos nos mandar, então. - eu disse, meio doidão, abraçando pelo ombro enquanto atravessávamos aquela multidão de gente, procurando pela saída.
Após alguns minutos de tropeçadas e zoações, conseguimos chegar até a Lamborghini Gallardo preta de . Era presente de despedida de seus pais, que estavam se mudando pra Liverpool, deixando ele em Londres na casa da tia, que estava se mudando do Brasil para cá, junto com o marido e sua filha, que disse ter a nossa idade.
Será que ela era gostosa?
- Eu não sei como você consegue beber tanto, . - me encarou enquanto eu ligava o rádio, sintonizando em qualquer estação. - Algum dia isso ainda vai te causar algum problema...
Blá blá blá, chatice de papai e mamãe.
- Cara, relaxa. Nós somos jovens e temos a vida toda pela frente para nos arrependermos. - eu disse, sorrindo igual bobo. Young, Wild and Free, do Wiz Khalifa tocava no rádio, ironicamente. - Agora aproveita a música e vai com fé. - completei, rindo.
Ah, o etílico...
Depois de algumas músicas, risadas e comentários sobre os vestidos das meninas, paramos em frente a uma mansão gigantesca. Eu abri a minha boca até o chão, se é que isso era possível.
- Caralho, , tua tia é o quê? Chefe dos gangsters? Traficante de drogas? Presidente dos EUA? - perguntei, impressionado. riu.
- Na verdade, ela é designer, mas o marido dela é dono de uma maiores gravadoras do mundo. - respondeu, dando os ombros e estacionando o carro perto de uma limousine. - Ai, caramba, fodeu! - berrou e eu me assustei. - , eles já chegaram! Cacete, eu achei que eles só viriam amanhã! Como eu vou entrar lá com você assim?
- Calma, meu. Você tá parecendo uma mulherzinha desesperada. - eu debochei e ele fez uma expressão séria. Ok, parei, não brinco mais. - Eu 'tô melhor, juro que não irei dar nenhum fora ou algo assim.
- Eu acho bom mesmo, porque, se você fizer merda, minha tia vai contar pra minha mãe, daí você já sabe como vai ser. - falou, sério. - Bom, de qualquer jeito, vamos entrar.
Segui até a entrada da casa. Ele girou as chaves e abriu a porta, revelando um hall iluminado, o que pertubou um pouco os meus olhos, já acostumados com a escuridão da boate. depositou as chaves na mesinha e rumou para a cozinha, enquanto eu o seguia pensando em como a casa era...
- AHHHHHHHHHHHHHHHH! - um berro alto e sonoro interrompeu meu pensamento, me fazendo pular de susto.
Assustado, girei minha cabeça a procura de quem havia gritado.
E foi quando eu a vi pela primeira vez.
Mais baixa que eu, escorada no balcão, com os olhos arregalados de medo, uma camisola curta e um corpo perfeito.
A menina era linda. Extremamente linda.
- Quem são vocês e o que estão fazendo na minha casa? – a menina perguntou em uma língua estranha. Não era inglês, não era francês e parecia um pouco com espanhol.
- O quê? – perguntou, parecendo tão confuso quanto eu.
- Ah, me desculpe. Quem são vocês e o que fazem em minha casa? – a menina disse, agora em inglês.
Já mencionei que ela era gata? Gata e sexy. Tipo, muito gata. E muito sexy.
- Bom, eu sou o e esse é meu amigo . – disse, em seguida apontando para mim.
- Ahn... Certo, acho que você é meu primo. Quero dizer, é , certo? – fez que “sim” com a cabeça. - Sou a , minha mãe me contou sobre você, mas achei que só viesse amanhã. – , tá aí um nome bonito. Tá aí uma menina bonita.
Hora de apresentar os amigos pra família, .
- Ah, sim... Na verdade, eu cheguei há uns dois dias. Meus pais foram embora mais cedo, espero que não se importe. - meu amigo deu de ombros, meio sem graça. - É um prazer conhecê-la, . – disse, com vergonha.
Eu, por outro lado, só fiquei pensando em como era REALMENTE um prazer conhecê-la, principalmente por causa de sua camisola, que mostrava suas torneadas e bronzeadas pernas.
Eu devorava seu corpo com os meus olhos, já que não conseguia parar de olhar, até que ela percebeu, porque começou a tentar tampar as pernas com o pouco pano de sua camisola. Desviei o olhar de lá para seu rosto, criando coragem para falar alguma coisa.
- Olá, – eu sorri fraco.
Fala sério, . Olá? O que você é, uma menininha de cinco anos?
- Oi, - ela respondeu, também sorrindo. Ah, meu Deus, que linda que ela era!
- Pode me chamar de , se quiser - eu disse e pisquei para ela, que corou. Pequeno lembrete: ela fica ainda mais bonita vermelha.
- Tudo bem, então, . - sorriu. - Pode me chamar de - disse, tímida.
- Ok, - sorri para ela. Sim. Foi só isso que eu consegui dizer para ela. Maricas desse jeito.
Silêncio.
- Então, hm... - arriscou, tentando quebrar o silêncio. - Como foi seu voo para cá, ?
- Cansativo. - ela deu um sorriso triste.
- Poxa, que droga. Sinto muito.
- Ah, tudo bem. - ela disse, baixinho.
Silêncio.
- Bom... - pigarreou – ‘Tô meio exausta por causa da viagem, então vou dormir. – Ah, mas já? Não vai não. Fica aqui, vai. Você e suas belas pernas. – Uma boa noite pra vocês. - sorriu. - E, hm, ? – ela arriscou um apelido. virou-se para ela. – Sinta-se em casa – ela disse, logo depois rumando em direção ao hall e subindo as escadas.
A cozinha ficou vazia - e bem menos bonita -, exceto por e eu. Tudo bem, prevejo o comentando da sua prima em 3, 2...
- CARALHO! - ele disse, exaltado. Aí, viu. Falei. - Como eles esperam que eu aja normalmente com uma mulher dessas aqui? Você viu o corpo dela, ? – perguntou. Se eu vi?
Eu só quase comi o corpo dela com os olhos.
- Cara, eu vi. Mas abaixa a bola aí, porque incesto é pecado! – eu disse, tirando uma da situação. Ele me mostrou o dedo do meio, e eu ri. – Além do mais, se você fizesse alguma coisa com a , nem a nem seus pais iriam gostar.
- Nem me fala dela, cara. - disse, revirando os olhos e indo em direção a um armário. - Onde será que eles guardam os copos por aqui? Hm. Ah, achei. - foi dizendo, enquanto ia em direção ao bebedouro. - Continuando, hoje na boate ela me viu conversando com a Katie e me ignorou a noite inteira. Essas mulheres ainda vão me enlouquecer!
bebeu seu copo d’água e continuou seu discurso de como as mulheres precisam aprender a ser mais seguras e lidar com seus ciúmes, mas adivinha se eu tava ouvindo?
Minha cabeça estava lá longe, mais especificamente, no quarto de . O que será que ela tava fazendo? Eu sempre fantasiava sobre o que as garotas faziam quando estavam sozinhas.
Sabe como é, homem e suas mentes pervertidas.
- Você não acha, cara? - ele perguntou, e eu só afirmei com a cabeça, fingindo que estava prestando atenção.
precisava me apresentar para ela. Ele precisava fazer algo de útil na sua vida e ser um bom amigo pela primeira vez.
Ei, , aí vou eu!

Sábado, 03:36 a.m. – na minha cama

:

Querido... Word?
É, isso aí mesmo. Oi pra você, Microsoft Office Word. Esqueci meu diário no Brasil, então é com você mesmo, amiguinho.
Só tô precisando desabafar. Neste exato momento, estou deitada em minha cama, aqui no meu quarto novo, na minha casa nova, pensando sobre a minha vida nova. Vou te atualizar sobre ela.
Acabei de conhecer meu primo, , ou melhor, , que irá morar comigo. Mas junto com ele eu conheci alguém totalmente interessante.
Não que meu primo não seja interessante. Ele é bem bonito, na verdade. E bem vestido. E tem um cabelo legal. É só que ele é.. meu primo. Mas então, voltemos a falar do menino interessante.
O nome dele é e eu acho que ele tem a mesma idade que eu. Mas, se não, alguns anos de diferença não fazem mal a ninguém, certo?
Certo.
E por que raios eu tô pensando nisso? Oh, pai.
Tá legal, talvez seja porque eu posso resumí-lo em uma palavra: lindo. É, pois é. É isso que ele é. Extrema, incrível e irrevogavelmente lindo.
E estiloso. E tem um cabelo muito mais legal. E tem um par de olhos brilhantes. E um sorriso encantador.
Resumindo: homem que toda mulher sonha em ter.
Não que eu queira tê-lo, obviamente.
Não mesmo.
Tá bem, talvez um pouquinho. Mas me desapontei no momento em que o vi olhando de um jeito... faminto?
Isso, talvez essa seja uma boa palavra para descrever o modo como - nem vem, ele que me pediu para chamá-lo assim - olhou para mim. Como se eu fosse só um pedaço de carne.
Homens, por que todos iguais? Eu estava só de camisola, porque, graças ao meu bom pai, tem aquecedor aqui e eu não preciso ficar usando aquelas roupas grossas e enormes de inverno.
Eu só tô tão cansada disso, sabe. Cadê os homens cavalheiros de antigamente?
Cadê os homens que vão me surpreender de verdade?

II. Mas tudo já está melhorando


Domingo, 11:03 a.m. - cozinha

:

- Ah, porra! Você me sujou! - eu disse, passando os dedos pela minha bochecha agora suja de farinha. tentava bancar o Jamie Oliver na cozinha - o que obviamente não estava dando certo -, preparando panquecas para nós comermos no café da manhã.
- Para de ser um maricas e procura um prato pra mim naquele armário. - apontou para o terceiro armário. - Deve estar lá.
- Maricas é o caralho. - resmunguei, abrindo o armário e encontrando os tais pratos. Muitos pratos, aliás. Mas o que é que não tinha de exagerado nessa casa? Era grande demais, chique demais. Só uma coisa: de menos. Ela ainda não havia aparecido para dar o ar da graça. - Você quer os pratos quadrados lisos, redondos com flores, redondos lisos, retangulares, quadrados com bolas ou os pratos triangulares? - perguntei, rindo. me olhou confuso e eu ri. Fala sério, eles tinham pratos triangulares.
- Redondos lisos, obrigado. - ele respondeu, rindo também. - Ah, merda, queimei! - resmungou, e eu tirei os pratos do armário.
- Bom dia, meus queridos. - uma voz feminina interrompeu nosso momento na cozinha. Me virei para procurar pela dona dela e acabei encontrando uma versão mais velha de parada à porta da cozinha, vestindo um hobby de seda bege.
- Oi, tia! Bom dia para senhora também. - ia em direção da mulher, segurando uma espátula em uma mão e uma pequena frigideira em outra. - Teve um bom descanso? Ah, e, a propósito, esse aqui é meu amigo , ele dormiu aqui ontem, espero que não tenha nenhum problema. - a tia cumprimentou-o com um beijo no rosto.
- Ora, mas é claro que não! A casa é sua, , já te disse. E não me chame de senhora, por favor! - a mulher sorriu. E seu sorriso era muito parecido com o de . - Olá, .
- Olá, Mrs. - eu disse educadamente.
- Está cozinhando, meu querido? - ela perguntou. afirmou com a cabeça. - Mas que sobrinho mais prendado que eu tenho! Acho que irei acordar , porque se ninguém fizer isso, ela dorme o dia inteiro. - continuou, rindo.
Nós demos algumas risadinhas, até que uma voz suave soou de trás da tia de .
- Isso não é mais necessário, mamãe. - sorriu. Ela já estava devidamente trocada, com uma roupa básica, e sem aquela camisola que apareceu em meus sonhos. Droga. - Já estou bem acordada, obrigada. Ah, e faminta também. Isso são panquecas? - ela perguntou, apontando para a frigideira na mão de .
- São sim, . Posso te chamar assim, certo? - ela fez um "sim" com a cabeça. - Acordei com vontade de cozinhar hoje, então espero que goste. - pegou um prato de minha mão enquanto pescava talheres na primeira gaveta debaixo da pia. Ele colocou a panqueca no prato, despejou mel sobre elas e ofereceu a refeição à . - Vamos lá, experimente! - disse, confiante.
recolheu o prato com os talheres de , sentou-se no balcão e cortou uma pequena fatia, colocando-a na boca.
- Hm... - ela murmurou enquanto mastigava - Elas estão... - momentos de tensão - ótimas!
Juro que pude sentir um alívio vindo de .
Gay, baitola.
- Você está falando sério? - eu me intrometi na conversa, arqueando as sobrancelhas. - Acho que ele caprichou somente para você, porque, quando cozinha para os amigos, tenho até medo. - continuei. riu, divertida, e me encarou feio. A mãe de apenas lia o jornal enquanto tomava seu café - que apareceu do nada -. Tudo bem, imagino que eles tenham uma cafeteira em algum lugar.
- Haha, muito engraçado, . Eu cozinho bem e todos sabem disso. - retrucou.
- Ah é, sr. gourmet? E qual a tua obra-prima? Cup Noodles? - provoquei.
- É ótimo, ok? - respondeu, contrariado.
- Olha, eu concordo. - disse, partindo a pequena discussão. Ela cortou outro pedaço e colocou na boca, mastigando e engolindo. - Quando eu morava no Brasil, só comia isso nas férias da empregada. Acho que já provei todos os sabores.
- Tá vendo, ? Minha prima concorda comigo! - disse, fazendo um high five com , que só ria.
- Só porque você está aqui. Aposto que quando você sair, ela vai ao banheiro vomitar todas essas panquecas. - eu disse. - Não é? - pisquei para que ela concordasse comigo.
soltou uma gargalhada gostosa.
- Pode deixar, primo, não irei não. - ela disse. Pô, . - Prove isso, , está realmente bom. - ela cortou um pedaço com seus próprios talheres e se aproximou de mim. - Abra a boca. - eu obedeci, e ela colocou as panquecas dentro de minha boca.
Isso foi totalmente sexy, quero dizer, ela me deu comida na boca. Quer saber o que mais eu quero dela em minha boca?
Brincadeirinha.
Ou não.
Não mesmo.
- Gostou? - perguntou, fazendo com que eu saísse de meus pensamentos. Ela mordiscava o lábio inferior. Ah, céus.
- Muito. - respondi.
Não gostei só das panquecas, na verdade.
Mas é claro que ela não saberia disso.
Ainda.
- Meus amores, eu estava pensando que vocês poderiam levar para conhecer um pouco a cidade. - a mãe de falou de repente. Eu tinha até me esquecido de que ela estava lá. Porque bem, há uma distração muito, MUITO boa aqui. - Apresentar pra ela os melhores pontos turísticos e tudo mais que nossa Londres possa oferecer!
Hm, passeio?
Interessante.
- Seria um prazer, tia. - respondeu.
Seria um total prazer, você quis dizer.

Domingo, 12:00 - carro de

:

- Posso, pelo menos, saber qual vai ser a primeira parada? - eu perguntei para , que insistia em fazer mistério sobre quais lugares iria me levar para conhecer. Pelo menos hoje não estava nevando, então eu podia usar algo mais leve. - ? - tentei, mas ele também não respondeu. - Droga. - bufei.
Estávamos dentro do carro de . Após a sugestão de passeio da minha mãe, subi as escadas e troquei de roupa. Totalmente às cegas, aliás, já que os meninos não queriam, de jeito algum, dizer para onde iriam me levar.
A minha "má" impressão de estava aos poucos se desmanchando, assim que vi o quão legal ele era. e ele haviam cozinhado panquecas para mim e agora os dois estavam me levando para conhecer a cidade. Talvez sejam meus primeiros amigos aqui.
- Então vocês podem pelo menos me dizer se estou vestida adequadamente? - perguntei, jogando um verde para colher uma resposta. Mordisquei o lábio inferior, como sempre fazia quando estava nervosa ou ansiosa.
- Você está perfeita, . - finalmente respondeu.
- Do que você me chamou? - perguntei, quase que instantaneamente.
- De . Não pode? - ele perguntou, meio aflito.
- Imagina, . É que somente meus pais me chamam assim. Mas não precisa se preocupar, pode me chamar, eu gosto. - pisquei para ele, confiante.
Na verdade, soava muito melhor na voz dele do que na dos meus pais.
- Ah, que bom. - ele sorriu. Já comentei o quanto o sorriso dele era lindo? Porque era, e muito.
- Estamos quase chegando, . - comentou. Ele quem dirigia, eu e só íamos enchendo o saco dele. Os dois, por vezes, faziam alguns comentários sobre locais turísticos, tipo museus, castelos, etc. Tudo tão inglês.
- Tudo bem, . - sorri para meu primo. - Pode ligar o rádio, ? - pedi para , que ia no banco do passageiro.
Ele respondeu minha pergunta já ligando o aparelho. Paradise, do Coldplay, começou a tocar e eu cantarolei junto com a música.
Depois de alguns minutos de músicas e mais comentários, senti o carro sendo freado e, logo em seguida, estacionado.
- É aqui. Chegamos. - parou o veículo, destravando a porta do mesmo enquanto eu e saíamos.
Assim que ele saiu, pude perceber sua maravilhosa e perfeitamente ajustada roupa. Como ele podia não sentir frio com aquela blusa de manga longa tão fina?
Fiquei ali, babando, quero dizer, apreciando, toda sua beleza, até que me tirou das minhas distrações quando se aproximou de nós dois. Estava vestindo uma roupa um pouco mais quente que a de .
Olha só, alguém ajuizado por aqui.
- , estamos no St. James's Park. - meu primo começou. - Daqui você pode ver a London Eye, logo atrás do lago... - apontou para a linda roda gigante ao fundo. - O Palácio de Buckingham é ali - apontou para outra direção. - E o palácio de St. James é mais ali, para o norte. - apontou novamente. - Acho que esse é um dos parques mais bonitos daqui de Londres. O que achou dele?
Olhei a minha volta. Havia um grande tapete verde de grama fresca no chão, uma fonte de água transparente no meio do parque e, ao redor dela, pistas de caminhada. Árvores enormes cobriam boa parte da minha visão, mas eu ainda podia observar os monumentos que meu primo havia mencionado. Flores coloridas haviam sido plantadas na grama e uma delicada cerca de metal separava o espaço verde da área onde as pessoas andavam.
Tudo era lindo demais.
Mas olha só, talvez Londres não tenha sido uma má ideia!
Inspirei uma boa quantidade de ar para dentro de meus pulmões, respondendo à pergunta de .
- Eu achei... perfeito. - lancei um sorriso. - É lindo, gente, de verdade. Adorei.
- Ufa, que alívio. Enquanto você se trocava, sua mãe comentou com a gente que você não estava gostando muito da mudança. Ainda pensa assim? - me perguntou.
- Mais ou menos. Ainda tô meio desacostumada com tudo isso, sabe como é, você vive sua vida em um lugar e depois se muda de repente. Foi meio... chocante. - respondi, sincera.
- Ah, tudo ficará bem, , tenho certeza disso. Amanhã será seu primeiro dia de aula, mas logo depois virão nossas férias de Natal/Ano novo. O duro é que você vai pegar a escola no meio do nosso ano letivo... mas sua mãe disse que você é inteligente, então aposto que irá se dar bem. - sorriu para mim.
- Ah, tomara mesmo! - eu sorri novamente. Olha só minha mãe, que tiete. - Gente, vamos dar uma caminhadinha? Tô com frio!
- Eita, . O clima daqui não é muito bom mesmo. Aposto que é totalmente diferente do brasileiro. - disse.
- Você não faz ideia do quanto. - eu respondi, sincera.
Começamos a caminhar enquanto eu falava para os dois sobre o Brasil, as praias, o futebol, a caipirinha e, é claro, eles me perguntaram sobre as mulheres. Mas dessa vez eu não fiquei brava ou irritada, porque eu sabia que, no fundo, os dois eram boas pessoas. Passamos umas duas horas andando e conversando, até que sugeriu que parássemos e comprássemos a famosa especialidade inglesa: fish & chips.
- E então, , você falou sobre tudo, menos sobre uma coisa: o amor. Você tem namorado? - me perguntou, e eu juro que ele parecia curioso.
- Ah, eu tinha. Mas aí eu tive que me mudar para cá e as coisas desandaram um pouco, sabe.
- Entendi. Mas você ainda gosta dele? - ele perguntou.
- Digamos que eu estava aprendendo a gostar. - eu disse, meio incerta. - É que a gente só estava junto há algumas semanas, não deu tempo para eu me apegar direito à ele. Acho que é por isso que não sofri tanto com o término. - completei. - Mas e você, ?
Qual é, eu tinha que saber! Por pura curiosidade.
- Olha, hm... estou em um relacionamento enrolado. - disse, meio incerto. - Dá pra entender? - ele me perguntou. Fiz cara de confusa. - Ela não é exclusiva, e eu também não sou dela. Mas a gente fica. Acho melhor assim, não gosto de compromisso sério. Pelo menos por enquanto.
Relacionamento enrolado? O que isso é agora? Status de Facebook?
Não sei bem o porquê, mas a última frase dele me incomodou um pouquinho. Mas só um pouquinho.
- Ah, sim, certo. - dei um sorrisinho amarelo.
Por sorte, o chegou com nossa comida - que, por sinal, era muito boa -, o que acabou com aquela conversa sobre relacionamentos e coisas do tipo. Nós comemos, conversamos, andamos mais um pouco e, depois de uma meia hora, resolvemos ir embora do parque. começou a falar empolgadamente sobre como eu adoraria o próximo lugar que visitaríamos, eu só ria. me olhava criteriosamente e eu me encolhi quando percebi. Ao entrarmos no carro, resolveu sentar do meu lado - e não do banco do passageiro, como fez na vinda -, dizendo que não ia me deixar sozinha. Eu aceitei, né? Faço esse mega esforço.
Tarefa árdua essa, viu? Ainda mais quando o homem ao seu lado é lindo, charmoso e simpático. E ainda cheira a 212 Sexy Men.
Oh, pai.
Fala sério, que homem é esse?

Domingo, 14:48 - Em frente a London Eye

:

- Tcharam! - tirou a mão dos olhos de (nós havíamos combinado de fazer isso com ela, para tudo não ficar tão óbvio), que abriu um sorriso lindo quando viu a roda gigante. - Gosta do que vê? - perguntou e a menina fez que sim com a cabeça.
- Gosto bastante! - disse, ainda sorrindo. - Obrigada, gente, de verdade. - ela agradeceu, olhando para nós dois.
- Ah, que é isso, . - eu disse. - Foi tudo ideia desse cabeção aqui. - apontei para , que ficou sem graça. Ah, que coisa mais baitola!
- Own, que fofo. - ela disse. - Obrigada, priminho. - apertou as bochechas de e eu comecei a rir.
- Engraçadinhos. - disse. Mas como estava apertando suas bochechas, saiu algo como "engrafadinhos". O que foi mais engraçado ainda, na verdade. soltou , que começou a falar. - Ah, , seu viado. Espere só até eu contar para como você ficou todo... - ele foi interrompido pelo toque do seu celular. Pediu licença e foi atender.
Salvo pelo gongo!
Todos rezem para que ela não tenha ouvido a última parte.
Virei para a esquerda e pude ver esfregando os braços e o rosto, apertando seu casaco contra seu corpo.
Ótimo, é bom que ela não tenha ouvido mesmo.
- Frio? - Perguntei.
- Muito. - Ela respondeu.
- Vem aqui. - Eu pedi, abrindo meus braços para ela.
veio em minha direção e se agarrou ao meu corpo. Apoiei meu queixo em sua cabeça, coisa que a altura dela permitia.
- Hm... - murmurou, fechando os olhos.
- Melhor? - perguntei, abraçando ela mais forte.
- Muito.
Eu sorri pra ela, que devolveu o sorriso.
- Então, hm... - ela disse, quebrando o silêncio. - O que é que o ia me contar, hein? - perguntou.
Merda, ela tinha ouvido.
- Nada de mais. - eu respondi. - Algum dia eu te conto, . - eu disse e a apertei mais contra mim, querendo desviar o assunto.
- De verdade? - ela perguntou, levantando seus olhos para mim.
- De verdade. - eu disse, e depois dei um beijo na cabeça dela.
Porra, o que é que eu estou fazendo?
- Então, ok. - ela disse, sorrindo. Cara, o sorriso dela. Eu amei esse sorriso. De alguma forma, ele é tão... bonito.
Uma corrente de ar fria passou por nós e me apertou. Minha mão foi para os cabelos dela, onde eu instantaneamente comecei a fazer um carinho leve. Ela gostou daquilo e soltou mais um murmúrio. Enxerguei desligando o celular e vindo em nossa direção com uma cara de preocupado. Brigas com a , eu imagino.
- Fala, cara. - eu disse, quando ele chegou onde estávamos.
- Meu, a está muito, mas muito puta comigo mesmo. - disse, aflito. - Pediu pra eu ir à casa dela agora.
- Espera, quem é ? - indagou, ainda abraçada comigo.
- É minha namorada, . - respondeu. fez um "ah" de compreensão. - Gente, me desculpem, mas eu tenho mesmo que ir. Mulher nervosa é fogo. - completou.
deu uma risadinha.
- Pode ir. - eu disse. - A gente pega um táxi, certo, ?
- Certo, capitão. - disse, dando risada e fazendo uma continência. - Relaxe, primo. Vai dar tudo certo. - ela piscou para .
- Tomara, prima, tomara. - piscou de volta. - Bom, já vou indo, galera. Tchau pra vocês, e ? - perguntou. - Te vejo em casa? - ela confirmou com a cabeça.
Não, , em um motel. Aonde mais ela iria?
Olha, se dependesse de mim...
- Claro, . Pode ir, sem preocupações. Estou em boas mãos. - ela disse, olhando para mim. - Eu espero. - completou, rindo junto com .
- Ei! - reclamei.
- Tá certo, então. - disse, despedindo-se com as mãos e saindo.
- E então.. - pigarreou. - Somos só nós dois.
- Pois é. - eu sorri pra ela. - Vamos? - apontei para uma das cabines da roda gigante.
Vi os olhos de brilhando. Dei uma risada.
- Com certeza - ela respondeu, feliz.

Domingo, 15:21 - London Eye

:

- Número oito, feito. - eu disse, baixinho, para mim mesma, enquanto entrávamos na cabine transparente da enorme roda gigante. andava em direção à cadeira, e eu o seguia. O mais engraçado era que estávamos sozinhos. Por alguma razão estranha, não havia ninguém na cabine além de nós dois. Acho que os londrinos desanimaram com o frio.
- O que você disse? - me perguntou.
Droga, ele havia ouvido.
- Não é nada. - menti.
A verdade é que, com treze anos, montei uma lista de coisas que gostaria de fazer antes de morrer. Coisinha boba de pré-adolescente, mas eu levava essa lista mesmo a sério. Sei lá, ela tinha um significado para mim.
- Qual é, , não vai contar nada ao seu melhor amigo? - fez cara de chateado.
- E quem disse que você é meu melhor amigo? - eu disse, mostrando a língua pra ele e rindo também.
- Poxa, magoou. - ele fez beicinho. - Posso não ser o seu melhor amigo, , mas sou seu único amigo. não conta, ele é seu primo.
Droga, ele estava certo.
- É, pode ser. Tanto faz. - eu disse, tentando dar uma de não-to-nem-aí-pra-você, rezando pra que ele esquecesse o que eu havia dito antes.
O que não aconteceu, claro.
Ah... a sorte. Sempre ao meu lado.
- Então, vai me dizer ou não? - ele perguntou, apoiando-se no corrimão prata da cabine.
É, não tinha jeito mesmo. Eu podia inventar qualquer coisa, mas não queria mentir pra ele. Por alguma razão, eu havia gostado de desde a primeira vez que o vi. Era inexplicável.
Talvez tenha sido culpa daqueles seus olhos . Aqueles olhos me transmitiam calma e tranquilidade, como se tudo estivesse bem desde que ele estivesse ao meu lado. Aqueles mesmos olhos que estavam me encarando agora, num misto de curiosidade e atenção.
- Não vai desistir, certo? - perguntei. Ele negou. Eu bufei. - É só minha lista de desejos. - mordi o lábio inferior, nervosa. - Coisas que sempre quis muito fazer. Tonto, eu sei. - desviei meus olhos dos dele, circulando pela cabine e parando para observar Londres das janelas transparentes. Se ficasse olhando por muito tempo para ele, juro que perderia a noção dos meus atos.
- Nada, absolutamente nada que você queira fazer é coisinha tonta, . - ele disse, com uma voz calma, suave. Quando eu percebi, já estava posto ao meu lado. - Posso saber alguns desejos que constam nela?
Podia?
Encarei aqueles olhos novamente.
- Vou te dizer os que já fiz, ok? - perguntei, e ele assentiu. Tá vendo, eu disse que perdia a noção dos meus atos. - Tatuagem, pichar um muro, trabalho comunitário na África. E agora, perder meu medo de altura andando em uma roda gigante. - completou, sorrindo.
- Tatuagem? - ele perguntou, eu assenti. - Onde?
- Segredo - respondi, misteriosa.
bufou.
- Pichar um muro? - ele perguntou, rindo.
- Eu era uma pré-adolescente revoltada, tá legal? - eu disse, rindo também.
- Ok, ok. Não está mais aqui quem falou. - disse, rindo mais. - Hm, vejamos, trabalho comunitário na África?
- Foi durante as minhas férias, no 1º colegial. - eu disse, sorrindo. Tinhas muitas boas lembranças daquela viagem, e algumas tristes também. É difícil ver o quanto você tem e o quanto outras pessoas deixam de ter. - Pedi de aniversário. No começo, meus pais foram meio relutantes, mas depois consegui convencê-los.
- Que coisa mais linda, . - ele disse. - Acho que poucas pessoas fariam o mesmo.
- Isso! E foi exatamente por isso que eu quis.
- Agora que você diz, faz sentido. É legal ser diferente. - disse, enquanto olhava para Londres pelo vidro.
- Bastante. - respondi, olhando para a bonita cidade também.
- Mas, ei, me diga um que não realizou ainda! Quem sabe eu possa te ajudar com esse.
Tinha um. Mas só um. Mas eu não sei se ele se encaixava direito na situação.
- Beijar o meu melhor amigo. - mordi o lábio inferior. De onde surgiu essa minha coragem, mesmo?
Surgiu junto com a minha depravação!
- Pode riscá-lo da lista. - ele disse, dando um sorriso safado.
- Por que... - fui interrompida pelos lábios de , que se grudaram nos meus de forma rápida. Senti um choque que fez meu corpo estremecer por dentro, mas automaticamente fechei meus olhos e abri minha boca, permitindo a passagem da língua dele, que se entrelaçava na minha de um jeito muito bom. Senti uma de suas mãos pousando em minha nuca e outra em minha cintura, fazendo um carinho gostoso por lá. Minha mão direita se agarrou em seus cabelos macios e finos, enquanto eu tentava aproximá-lo mais de mim, se isso fosse possível. pegou uma de minhas pernas e me deu um empurrão para cima, de modo que fiquei agarrada a seu quadril com minhas pernas em volta de seu corpo, que, a propósito, era muito forte, obrigada. Ele partiu o beijo, apenas para depositar seus lábios quentes em meu pescoço, dando mordidinhas e chupões que provavelmente deixariam marcas. Eu soltei um gemido alto, enquanto ele subiu seus lábios para meu lóbulo da orelha, dando uma pequena mordida ali. Puxei mais seus cabelos e colei nossos lábios novamente, de um jeito desesperado. Pude sentí-lo dando um sorriso durante o beijo. Foda-se a tal não-exclusiva-mas-ficante-dele. Foda-se que eu só o conhecia há um dia. Foda-se que ele talvez só quisesse se aproveitar daquilo. Eu não acabaria com aquele momento por nada nesse mundo. Era o melhor beijo que eu já havia experimentado em todos os meus dezesseis anos. me deitou delicadamente no banco de madeira bege que havia no meio da cabine, deslizando suas mãos livremente por minhas coxas, enquanto minha mão esquerda agora arranhava suas costas por cima de sua fina blusa. Pude ouví-lo soltando um gemido baixo e quase inaudível. Bom saber que também causava algo nele. Sorri durante o beijo, mas ele parecia concentrado demais para perceber. Agora uma de suas mãos estava entrelaçada em meus compridos cabelos, enquanto a outra encontrava-se embaixo de minha blusa, tocando minha barriga e fazendo o contorno de minha cintura. Eu me arrepiava cada vez mais, seu toque era de quem sabia o que estava fazendo, e, de fato, ele sabia mesmo. Anos de experiência, eu imagino. Tanto faz. Aquilo estava sendo muito, mas muito bom. Continuamos o beijo durante um bom tempo, até meus pulmões implorarem por oxigênio. Nos separamos e eu me sentei. Eu tentava controlar minha respiração, mas quem disse que ela me obedecia?
- Isso foi... wow. Um amasso e tanto. - ele disse, depois de alguns minutos de silêncio. Eu pude sentir minhas bochechas corarem. - Tá com vergonha? - perguntou, apertando minhas bochechas que ficavam cada vez mais vermelhas.
Filho da mãe, não rela em mim. Aí, olha só minha respiração descontrolando de novo.
- Para, , seu idiota. - eu pedi, quase implorando.
- Idiota? Você pareceu gostar muito desse idiota. - ele sorriu, maroto.
Já viu um arco íris no céu? Essa foi a transição de cores do meu rosto.
- A propósito, obrigado pelas marcas. - riu, apontando para suas costas vermelhas, marcadas com unhadas, aparentemente minhas.
- Ah, é? Obrigada pelas minhas. - apontei para meu pescoço marcado também.
- Desculpe por isso, . Há alguma maneira de eu te recompensar por isso? - ele perguntou, malicioso.
- Na verdade, há sim. - eu sorri, maliciosa também. me puxou de volta e começamos tudo de novo.
Sorte nossa que a roda gigante levava um bom tempo para dar uma volta completa.

III. Eton Rodean Preparatory


Segunda-feira, 08:20 a.m. - corredor da escola

:

- Festa? - perguntei à Troy, provavelmente o cara mais festeiro de toda a ERP. - Quando? - completei. Troy e seu grupo de amigos - enormes jogadores de rúgbi - haviam me encontrado no corredor da escola. Eu tinha uma amizade com eles, já que joguei durante um tempo no time de rúgbi. Até descobrir que eu era melhor no futebol. Os caras carregavam pilhas de papel amarelo-fluorescente - e que isso sirva de lição, papéis fluorescentes são sempre convites para festas - e, na outra mão, os seus celulares. Propaganda dupla sempre funciona.
- Sexta feira, a partir das 20:00. - Troy disse.
- Sem hora pra acabar. - disse Chad, um moreno alto do grupo.
- Na sua casa? - perguntei, Troy afirmou. - 'Tô dentro. - eu disse, e pude ouvir um "ae" geral dos caras. Ri com aquilo.
- Beleza, cara. É assim que se fala. - fizemos um high five. - Ah, irmão, aproveita e pega um pouco disso para distribuir. Pode levar quem quiser, . Confiamos no seu bom gosto para gatas. - Troy disse, pegando uma boa quantidade de papel e me entregando. Eu ri e recolhi os convites. - Até lá! - ele disse, indo embora com o grupo.
Assoviando uma música qualquer, rumei para meu armário e recolhi o material necessário para a primeira aula, que seria de Biologia. Nada como começar uma semana de aula aprendendo sobre o corpo humano. Em minha opinião, aprenderíamos muito mais examinando um do que lendo em livros ou com um professor berrando em sua orelha, se é que você me entende.
Mas, com certeza, a diretora Middle não aprovaria essa ideia. Velha mal amada.
Peguei meus livros gigantescos, meu estojo todo assinado em corretivo ou caneta por meus amigos, coloquei minha mochila em meu ombro esquerdo e segui para a sala B.
Até que alguém trombou em mim.
- Desculpe! - a pessoa se apressou em dizer. Era menina, aliás. E eu conhecia aquela voz.
- O quê? - eu fiz uma cara confusa, até que eu finalmente me levantei para observar quem havia sido a desastrada. Logo que a vi, abri um sorriso.
- Olá, . Atrasada no primeiro dia? Ótima maneira de causar boa impressão. E que mania de falar em português! - eu disse, brincalhão.
- Muito engraçado, . Me desculpe pelo trombo. Sabe como é, o foi fazer as pazes com a sua namorada, , já que os dois não conseguiram se resolver ontem... - eu assenti, ela continuou. - E me deixou aqui, completamente sozinha, com esse mapa na mão. - ela fez uma cara confusa.
- Então hoje é seu dia de sorte, senhorita. - eu fiz uma reverência, e riu. - Em que sala você está?
- B, pelo que diz aqui nesse papel. - ela apontou para seu horário. - E você?
- B também. Ótimo, me sentarei com você, então.
- Quem disse que quero sua companhia? - ela disse, tentando ser séria.
- Você parecia querer ela ontem. - respondi, malicioso, relembrando de nossos amassos na London Eye. ficou vermelha. Tipo, totalmente vermelha.
Aí ela me deu um tapinha de leve no braço.
- Ai! Sua bruta. - eu reclamei, brincando.
- Tonto.
- Grossa.
- Babaca.
- Gostosa! - eu disse, examinando como o uniforme da ERP caía bem nela. Depois de uma boa olhada, mordi meu lábio inferior, subindo meu olhar e encontrando uma -cor-de-pimentão desviando seu olhar do meu.
- Tarado. Você é o melhor do mundo em me deixar com vergonha, .
- Obrigado. - eu disse, sorrindo e passando meu braço por cima de seu ombro. - Vamos para a sala, ?
Ela confirmou com a cabeça e nós seguimos corredor adiante em direção ao inferno, quero dizer, à sala B. Quando chegamos lá, avistei o professor Reymonds - mais conhecido como Lacrosse, por ter sido um grande jogador em seus tempos de faculdade - já posto em sua mesa, vestindo seu suéter cinza Ralph Lauren de sempre, uma camisa social branca por baixo e calças e tênis pretos sociais. As meninas geralmente tinham uma queda gigantesca pelo professor Lacrosse, mas eu realmente não sabia o que havia demais nele. Digo, sim, ele era forte, jovem, tinha olhos verdes, e no passado, foi modelo. E, sim, ele era solteiro. Mas o que havia demais nisso? Eu sou muito mais bonito que esse cara aí, por exemplo.
Não sou?
Sou, né?
Mas é claro que sim.
Ou não?
Fiquei observando a reação de ao adentrar a sala. Assim que viu Reymonds, seus olhos brilharam.
Mas que porra é essa?
O professor percebeu nossa presença na porta da sala e lançou um sorriso em nossa direção.
- Entrem, alunos. - Reymonds veio cheio de sorrisinhos para nós. - Olá, . E olá, senhorita...? - Lacrosse indagou.
- . - respondeu baixinho.
- Ah, sim. É a aluna nova, certo? - confirmou. - Seja bem vinda, . Podem se sentar, a aula está prestes a começar. - Reymonds sorriu para , que agradeceu e virou-se para sentar. Lacrosse, antes de voltar-se para seus livros, deu uma boa olhada no corpo de , o que, obviamente, só eu percebi. - Deixem-me só ir ao laboratório buscar as amostras e... - foi falando sozinho e saiu da sala.
Porra!
Eu estava sentindo uma raiva incomum dentro do meu peito, e estava prestes a ir socar sr. Lacrosse, mas não fui, porque ouvi alguém chamando minha voz. Imediatamente soltei meus braços do ombro de .
- ! - Hayley, meu relacionamento enrolado, piou, com aquela vozinha fina - Senti sua falta nesse final de semana, amor. - ela pulou em meus braços e me deu um selinho. Merda, gloss grudento. Fui infestado por uma nuvem de seu perfume forte e doce demais junto com seus cabelos loiros ondulados de baby-liss. Do fundo da sala, pude perceber os olhares desaprovadores de , com sua namorada , e de . Estranhamente, , o rolo-quase-namoro de não estava com ele. e eram da sala A. - Onde esteve? - Hayley me perguntou.
- Oi, Hayley. - eu disse, meio inseguro, já que estava do meu lado. - Estive na casa de , e depois fui apresentar Londres para sua prima, , que acabou de chegar do Brasil. - eu apontei para , sentada ao meu lado.
- Prazer em conhecê-la, Hayley. - disse, parecendo desconfortável com a situação.
- Mas é claro que é. - Hayley disse, convencida. fez uma cara de quem não entendeu nada. Hayley revirou os olhos.
- Vai a festa de Troy na sexta, ursinho? - ela me perguntou, fazendo biquinho.
- Vou, sim. - eu disse, seco.
- Ótimo. - ela sorriu, com os lábios brilhantes de gloss. - Vou voltar para minha sala antes que eu leve uma bronca. - ela me deu outro selinho, se despedindo.
Que merda, agora minha boca tá com gosto de fruta. - Até o intervalo, coração. - Hayley saiu rebolando sala afora, com sua saia sempre mais curta do que a das outras estudantes. Mas ela podia, porque a bunda dela era...
Bom. Deixa para lá.
- Me desculpe por isso. - eu disse, me virando para . - Ela pode ser, sabe como é, meio convencida demais. - passei minhas mãos pela nuca, o que eu fazia quando estava nervoso.
- Percebi mesmo. - ela parecia meio perturbada. - Onde você vai sentar, ? - perguntou.
- Com você, mesmo, . - eu disse. - Escolha uma carteira qualquer aí, pode ser na frente. - continuei e ela jogou sua bolsa em uma das primeiras carteiras. - Vamos ali para o fundo, vou te apresentar ao pessoal. - estendi minha mão para ela, que a pegou.
- Ok! - agora parecia mais empolgada. Talvez pelo fato de que conheceria gente nova.
Andamos até o fundo da sala, onde fui recebido por .
- E aí, cara? Tá melhor já? - fez uma piada e todos riram, exceto eu e . - E quem é essa linda menina?
- Babaca. Óbvio que já estou, a bebedeira de anteontem se curou na ressaca de ontem. - todos riram. - Essa aqui é a prima de , a .
- Oi, gente. - disse, baixinho, com vergonha. - Prazer em conhecê-los.
- Quê é isso, linda, o prazer é nosso! - disse e deu um tapa em seu ombro. - Ai! Calma amor, você sabe que só tenho olhos para você.
- Bom mesmo. Olá, ! - parecia empolgada. - Sou , esse infeliz aqui é meu namorado, , e aquele babaca ali é o . - disse, apresentando a galera para , que riu com os comentários adicionais dela.
- Oi pra todo mundo. - ela sorria. - E me chamem de , por favor.
- Ok, ! - os três disseram em uníssono.
- Ei, , cadê a ? - perguntei.
- Trocaram ela de sala, cara. Disseram que ela e conversavam demais e "atrapalhavam o rendimento escolar do grupo", nas palavras da diretora. - fez uma careta de desgosto.
- Quem é ? - perguntou.
- Digamos que ela é a Hayley de , . - eu sorri para ela, que torceu a cara quando ouviu o nome da loira.
- Não, assim você apela. Ela não é oferecida, fácil e burra daquele jeito - disse. Todos riram com aquele comentário, exceto eu.
- Bem assim mesmo. - disse. - Mas, agora, por causa da Middle maldita, não tenho companhia feminina durante essas aulas entediantes. - bufou.
- Ah, você pode conversar comigo, se quiser. - disse. Os olhos de brilharam. Tão coisa de menina.
- Sério, ? - ela confirmou. - Eba! - bateu palminhas. - Então vamos, sente-se ao meu lado. - puxou , fazendo com que ela sentasse na carteira vizinha à dela. As duas logo engataram em uma conversa empolgada, enquanto eu, e ficamos observando-as com cara de pastel.
- Cacete... - começou.
- Nem me fale, cara. - eu disse, já sabendo o que queria dizer. Comentários maldosos sobre o corpo de , é claro. Coisas de menino. - E beija bem demais. - eu acrescentei, só para os caras ficarem com inveja.
- Mas já, ? - piou, e depois sorriu malicioso. - Esse que é meu amigão! - ele bagunçou meus cabelos, e eu dei um empurrão leve nele.
- Não perde tempo, hein, ? - disse.
- Aproveite enquanto a loira-gema não descobre. - disse, me alertando sobre o que eu já sabia. Ele tinha essa mania meio que chata de chamar a Hay de loira-gema. Mas se você parar para pensar, o cabelo dela era mesmo daquela cor. - Você sabe como ela é.
- Eu sei, eu sei. Mas pode ficar tranquilo, ela não vai. - eu disse, tentando fazer isso soar como verdade, mesmo não sendo. É claro que Hayley descobriria, ela sempre sabia tudo sobre todos. Por isso era tão respeitada no colégio, todos tinham medo dela. - Nós nem somos exclusivos, não tem por que ela ficar brava comigo!
- Eu sei disso, você sabe disso, mas ela não sabe disso, . - falou. - Eu cansei de repetir para você não entrar nessa com ela, porque quem vai se prejudicar será você. Mas ninguém nunca me ouve, então...
Nesse momento, o sr. Lacrosse entrou na sala, todo sorridente. Aposto que tinha dado em cima de mais uma no corredor.
- Tá certo, . Agora vamos prestar atenção nesse Lacrosse antes de sermos expulsos da aula. - eu disse, tentando acabar com o assunto sobre Hayley e eu. - , vamos lá para o nosso lugar? - eu a chamei. Ela se levantou, despediu-use de e nós fomos.
Oras, eu sabia muito bem o que estava fazendo.

Segunda-feira, 12:30 - Refeitório do colégio

:

- Péssima piada, . - eu disse para meu primo, sentado à minha frente na mesa do refeitório. Nós já havíamos tido as três primeiras aulas, e estávamos em horário de almoço. Depois teríamos mais três aulas, e aí, casa. Eu realmente gostei do colégio, e todos até agoram tinham sido legais comigo. Exceto a Hayley. Ugh.
- Ah, qual é, ! Foi ótima essa, assuma. - disse.
- Mas não foi mesmo. - , sentado ao meu lado na mesa, disse. - Nem faz sentido, afinal, por que raios um tomate iria para o banco? - ele completou, e eu ri.
- Para tirar o extrato! - colocou a mão na cabeça. - Ah, eu desisto de vocês dois. Vocês não têm nenhum senso de humor, sério. - disse, bufando. - Ei, pessoal, venham aqui. - ele berrou para um grupo de pessoas que adentrava o refeitório.
O grupo era composto por , com sua namorada - que eu conheci na primeira aula e era, inclusive, minha primeira amiga em Londres -, - outro que eu também já tinha conhecido - e de uma menina muito bonita, da mesma altura que a minha, cabelos escuros e olhos castanhos, que eu ainda não havia sido apresentada. Devia ser a , o rolo de .
O pequeno grupo caminhou em nossa direção, logo juntando-se a nossa mesa no refeitório da ERP.
- E aí, otários. - cumprimentou e com aqueles toques masculinos. - Oi, ! - ele sorriu para mim.
- Oi, . - eu disse, também sorrindo. - Oi ! - eu disse para ela, que retornou meu cumprimento. - Oi , e oi...? - fiz uma cara interrogativa.
- . - ela sorriu, simpática. - Você é a prima de , , não é? - eu confirmei.
- , por favor. - eu sorri também.
- Certo! - ela piscou.
- Ei, , fez as pazes com a ? - perguntou.
- Fiz sim, cara. Ela está no banheiro agora, acho que já deve estar chegando. - disse. - Olha, ali está ela. - meu primo apontou para uma menina também bonita, baixa e com olhos escuros. Seus cabelos castanhos eram mais claros na ponta, assim como os meus.
viu apontando para ela e abaixou a cabeça, corando. Depois correu até nossa mesa, que se localizava quase no meio do lugar.
- Oi, gente! - disse, sendo seguida por "Oi, amor", de , "E aí" dos meninos e um "Oi, amiga", dito por e . Ela esticou a mão pra mim. - Oi! Meu nome é . - ela sorriu, simpática.
- Eu sei. não para de falar de você. - eu disse, sorrindo. me encarou, tentando ser sério, mas logo depois caindo na risada. - Sou , mas chama de . - eu também estendi meu braço para ela, cumprimentando-a.
- Ah, meu amorzinho é muito fofo. - apertou as bochechas de , que corou. - Tudo bem então, .
- Ui, amorzinho! - , o cara que "perde o amigo mas não perde a piada", zoou. mostrou o dedo do meio para ele e todos nós rimos.
- Meninas, tenho um recado para vocês. - anunciou e eu, e viramos a cabeça para ouvir.
- Diga, fofa. - disse, enquanto abria seu lanche. Que, veja bem, não era um lanche. Era uma barrinha. Integral, com fibras e enriquecida de vitaminas A, D, K.
Ugh. Que nojo.
Encarei meu lanche - esse, de verdade - e dei outra mordida nele.
- Então, é que estamos precisando de uma nova cheerleader em nosso time. Lembram que no último jogo contra os Ravens a Stacy torceu o tornozelo? - as meninas afirmaram. - Acontece que a mãe dela me ligou contando que não foi uma simples torção, ela quebrou o tornozelo. É por isso que está faltando da escola esses dias.
e fizeram um "ahhh... que pena".
- Bom, isso quer dizer que teremos que realizar um concurso para eleger a nossa nova integrante. Não dá pra fazer nossa coreografia com onze líderes de torcida, porque eu montei a dança para 12 pessoas divididas em três grupos de quatro. - disse, colocando a mão no queixo, numa pose de quem está pensando. - Mas que saco, ela tinha que se machucar logo agora? O natal já está chegando e o jogo dos meninos é daqui uma semana e meia. Como vamos treinar alguém em tão pouco tempo? - ouvi resmungando.
- Verdade. - disse. - Quem será que poderia substituir a Stacy? Ela sempre dava aqueles saltos mirabolantes e tinha umas acrobacias muito legais. - ela completou a frase, pensativa, enquanto mordia seu sub-lanche.
As meninas passavam os olhos por todo o refeitório, em busca da perfeita candidata. Como aquele assunto não dizia a meu respeito, tentei manter-me ocupada no meu sanduíche e na conversa dos meninos, que era algo como:
- Não, cara, com certeza a Allana tem os melhores peitos. - dizia, com a boca cheia de Pringles.
- Calado, . Eu voto pela Kelly, com certeza. - disse, enquanto roubava um punhado de batatinhas de .
- Nenhuma das duas, seus bocós, a Sabrinna é totalmente a vencedora. - disse, sugando seu refrigerante de leve através do canudinho.
Revirei meus olhos. Meninos, sempre tão... babacas.
Depois de desistir de participar da conversa dos meninos, terminei meu lanche e me levantei, com o intuito de comprar algo para beber. Fui acompanhada por um certo par de olhos , que me encaravam sem constrangimento algum. Fixei meu olhar no de também, que sorria torto para mim.
Pai, tenha piedade. A carne é fraca.
Retornei o sorriso. Eu sustentava seu olhar, e juro que poderia ficar ali perto dele pela minha vida inteira. Sem nem reclamar.
Seus olhos desceram para minha boca, fitando-as com desejo. Eu corei.
- A menos que... - ouvi a voz de soar ao fundo. Senti três pares de olhos cravados em mim. Com enorme esforço, desviei meus olhos de e me virei para ver quem me encarava.
mantinha um sorriso malandro na boca enquanto olhava para mim. Ela olhou de mim para as meninas, e depois sorriu mais ainda.
Fiz uma cara confusa.
Mas aí eu entendi.
- Não. Não mesmo. De jeito nenhum. Total, com certeza, definitivamente não. - eu disse, meio desajeitada, para as três.
- Por favor, por favor, por favor, ! - pedia, juntando suas mãos, como se estivesse implorando por perdão.
- Não o quê? - disse, de repente, atraindo a atenção dos meninos à nossa conversa.
- Elas querem que eu seja a nova líder de torcida. - eu disse, baixinho, apontando das meninas para mim.
Ah, porra, ninguém percebe que essa é uma péssima ideia?
- Mas essa é uma ótima ideia! - exclamou, de repente. Mas o quê?
Ah, a família. Sempre lá para nos ajudar.
Mentira, esse filho da puta do me paga.
- ! - eu berrei, boquiaberta. - É uma péssima ideia, terrível, horrível, a pior do mundo, isso sim.
- Claro que não. Sua mãe me disse que, quando você morava no Brasil, fazia aulas de balé. - ele disse, sorrindo.
- Balé! Não tem nada a ver com essas piruetas malucas que as líderes de torcida dão, não. - eu disse, revoltada.
Passei os olhos pelo resto da mesa, observando e pensativos e , e com olhares esperançosos. Ela tinha parado de comer sua barrinha.
- Eu acho que é uma ótima ideia, . - disse, após uns minutos de silêncio. Ah, não. Ah não!
- Et tu, Brutus? - eu disse, fazendo um drama.
- Concordo com . - falou. - Você vai se sair bem, baixinha. Tenho certeza. - ele bagunçou meus cabelos.
Fiz uma cara abismada para . É isso aí. Todo mundo contra mim, o filme. Estrelando: eu, .
- Qual é, ! Sua mãe disse para gente que você sempre consegue o que quer. - disse.
Quando raios ele havia conversado com a minha mãe, mesmo?
- Ela é minha mãe, ! É o papel dela acreditar em mim! - eu disse, reclamona.
- Então faça seu papel e acredite também. - ele rebateu, dando um sorriso de canto.
- Isso é um sim, ? - me perguntou, com os olhos brilhando.
e me encaravam com aquele olhar de cachorrinho.
Olhei para , que sussurrou algo como, "Vai, garota".
- Que seja. - eu bufei, derrotada. - Mas já vou avisando, é uma péssima ideia, meninas. E eu não vou comer esses trecos nojentos de dieta não. - eu apontei para a barrinha comida pela metade. nem pareceu se ofender com meu comentário, já que bateu palminhas, berrando algo como "Yay!" e depois pulando nos braços de . fez um high-five com , que também comemorava.
e aplaudiram minha decisão.
- Eu sabia que você aceitaria. - disse, com um sorriso torto.
- Não me faça mudar de ideia, - eu resmunguei, mas mal conseguindo resistir a ele.
- Você não vai. Sei que se sairá perfeita, . Melhor do que qualquer uma. - disse, me dando um abraço.
- Como você sabe? - perguntei, comprimida entre seus braços fortes e seu peito definido.
Oh, céus. Não me tire daqui, jamais.
- Porque percebi que você tem essa mania de querer ser perfeita. - ele respondeu, me dando um beijo na testa.
Estremeci por dentro. Uma sensação boa preencheu meu peito e eu sorri com aquilo.
E acho que não vou precisar falar da nuvem de perfume masculino que me atingiu, né?
Porque isso não é mesmo necessário.
Eu estava muito confortável naquela posição. Muito mesmo. Mas aí senti um par de olhos raivosos cravados em mim.
Me desvencilhei de . Do outro lado do refeitório, Hayley me encarava, fumegante. Seus rosto transparecia ódio. Mas, principalmente: ciúme.
Dei um sorriso amarelo para a loira-gema e me virei para meus amigos, que já conversavam sobre qualquer outra coisa. pareceu não perceber a situação.

Segunda-feira, 14:37 - Ginásio da ERP

:

- Esse movimento aqui é conhecido como Liberty Stunt, . É uma das mais típicas poses das animadoras de torcida e lembra bastante a Estátua da Liberdade. - ia gesticulando com as mãos para , que a olhava com atenção. - Funciona assim: todo o grupo levanta uma cheerleader e ela fica com a mão levantada, desse jeito - levantou sua mão esquerda - e depois flexiona a perna esquerda até o joelho direito. - fez o tal movimento.
Eu e os caras estávamos no ginásio assistindo ao treino das meninas hoje, já que o professor Tipp tinha faltado, pois sua mulher estava dando a luz à sua 848486ª filha, hoje. Não é por mal, mas sempre achei que o treinador Tipp era tarado, e o fato da esposa dele engravidar a toda hora só justifica isso.
Mas, sinceramente, não era nada ruim o treinador ter faltado, já que as meninas usavam uma roupa própria para o treino que era bem justa e curta. Eu agradecia à diretora Middle pela brilhante ideia de ter feito um ginásio fechado e aquecido, pois, graças a isso, nós podíamos ver as meninas naquelas vestimentas pra lá de sexys. Eu também agradecia à , que teve a ideia de usar o ginásio no dia de hoje (livre, ou seja, sem Hayley lá) para começar o treinamento de . Obrigado a todos, é isso aí.
- Hm, ... Nós vamos ter que te levantar, porque era a Stacy quem a gente levantava, e, bom, não podemos mudar a coreografia. - disse, gesticulando com as mãos.
- Tudo bem, gente. - ela respondeu, dando de ombros.
- Ok. Pronta para tentar, ? - perguntou, batendo palminhas.
- Ah, mais ou menos. Mas vamos lá, né? - disse, e logo as três meninas a pegaram pelas pernas e depois pelos pés, enquanto se equilibrava em um só e imitava a pose.
Fala sério, como as meninas conseguiam fazer isso?
- Assim? - ela perguntou.
- Perfeito, . Quase igual a Stacy. - respondeu, animada. - Já vi que fizemos a escolha certa, não é, meninas? - perguntou, enquanto descia do ar para o chão.
- Totalmente. - respondeu.
- Ai, gente, não exagera. - disse, tímida.
- Não é exagero! , você tá fazendo tudo certinho, e no primeiro treino, ainda. - disse, sincera.
- Concordo. - disse. - Hm, agora a coisa vai complicar um pouquinho, ok? A gente precisa que você faça um Prep Double, isto é, você vai ter que subir de novo, como no movimento anterior, mas dessa vez fica com os dois pés mesmo. O problema é que, bem, você vai ter que dar uma pirueta no ar. - disse e fez uma cara de terror. Eu ri com aquilo e me mandou um dedo do meio.
- ! - berrou. - Está atrapalhando treino, seu babaca. - ela disse, irritada. - Foco em mim, . Não no idiota ali. - ela apontou para si e depois para mim.
- Ui, ela tá estressadinha. - eu coloquei as mãos para trás da cabeça, imitando uma pose de presidiário. - Foi mal, . - mandei um beijo no ar pra ela.
Ela "socou" o beijo no ar, rindo depois. Delicada como um elefante em uma sala de cristal.
- , fica calma. Você já tem uma boa noção de equilíbrio, por causa do balé. Calma, não se desespera. - disse, tentando ajudar. - A te mostra como você deve fazer, espera.
- Ok. - disse, indo para a cama elástica. - , você tem que fazer assim. - ela esticou os dois braços para cima, juntando as palmas das mãos no ar. - E depois se virar assim, olha. - virou uma pirueta, caindo depois e quicando na cama. - Entendeu? Pode ficar tranquila, amiga, a gente vai te pegar. - piscou para , que ainda estava meio desconfiada.
- Tá legal. - suspirou. - Estou confiando em vocês, hein. - ela sorriu. Muito linda. - Vamos fazer isso logo.
- Certo. - disse, e depois as três pegaram novamente pelas pernas, que, após conseguir ficar em pé e cruzar suas mãos no alto, virou uma pirueta.
E, cara, eu tive uma visão da bunda dela que foi assim, inesquecível. Mando agradecimentos a quem quer que tenha inventado esse movimento também.
- Nossa. Wow. - sorriu largo, enquanto descia dos braços das meninas. - Fui bem? - ela perguntou.
- Demais. - respondeu, chocada. - Eu levei três semanas para conseguir fazer isso, e você fez no primeiro dia! - arregalou os olhos.
- Eu levei um ês. - disse, revirando os olhos.
- Cara, parece que você nasceu para isso, sério. Você tá indo muito bem mesmo! - disse, dando um abraço em .
- Ai, mocréias, relaxem. Vamos continuar, porque até agora eu tô gostando desse negócio. - disse, batendo palminhas, alegre.
- Eu não disse que era uma ótima ideia? - berrou para ela, que riu e mandou um beijo para ele. Injusto. Eu ganho um dedo do meio e ele um beijo?
As meninas voltaram ao treino e eu virei meu rosto para os caras. dividia fones de ouvido com e encarava o teto, pensativo.
- ? - perguntei.
Nada.
- Cara! - arrisquei mais uma vez.
- Seu gayzinho de merda, olha aqui, pô. - eu disse e se virou, a expressão séria.
- Fala, . - disse, baixinho.
- Fala você. Por que tá assim? - eu perguntei, curioso.
era, de nós quatro, o mais bem-humorado. Ele nunca ficava bravo e/ou chateado com alguma coisa, e sempre tentava animar a gente quando ficávamos estressados. O que acontecia, geralmente, quando tratava-se de assuntos sobre nossa banda, o McFLY, que não ia muito bem, já que a maioria das gravadoras insistia em nos dizer "não". E agora ele estava aí, todo pra baixo.
- . - disse, e eu fiz cara de confuso, pois, até onde eu sabia o relacionamento dos dois ia muito bem. - 'To pensando em pedí-la em namoro. - Ah, sim!
- Mas que ótima ideia, irmão! - eu dei um tapa leve em seu ombro. - Acho que você deve fazer isso, sim. - eu o incentivei.
- Mas e se ela não aceitar? Tenho um puta medo de ser rejeitado, cara. - parecia preocupado.
- É claro que ela vai aceitar, seu maricas. - eu disse, revirando os olhos. - Ela gosta muito de você, dá pra perceber. - continuei, confiante. Era bem claro que realmente gostava de , apesar de ser, ugh, o . Brincadeira.
- Acho que sim, né? A gente tá ficando já faz cinco meses. Tá na hora de passar pra algo mais sério. - os olhos do meu amigo brilhavam. Mas que coisa mais homo.
- Pois é. - eu disse, parando pra pensar em minha própria situação. Estava com Hayley há mais de cinco meses.
Será que ela esperava que eu a pedisse em namoro?
Espero que não. Porque eu não iria.
Não estou mesmo a fim de namorar, não mesmo.
Bufei e cocei os olhos com as mãos, os abrindo logo em seguida e dando de cara com as as meninas subindo uma em cima da outra, em um movimento que eu achava que se chamava High Split Pyramid. Hayley havia me dito que esse era um dos movimentos mais perigosos e que ela própria uma vez tinha caído, e eu só lembrava disso porque ela me contou na época que eu a dava muito mais atenção.
- Isso, , perna direita aqui, braço esquerdo ali. Agora põe a mão direita no ombro esquerdo da e se apoia no meu ombro direito. - foi dizendo, num emaranhado de pernas e braços das meninas. - Só toma cuidado para não...
A voz dela foi interrompida por um baque brusco de algo, ou melhor, alguém, caindo.
estava no chão. Quero dizer, no tapete de espuma fofa que era usado para as meninas treinarem.
E ela tava rindo.
Histericamente.
Alto o suficiente para atrair a atenção de todos.
Voei até ela, desesperado. E se ela tivesse se machucado?
- , ! Você está bem? Bateu a cabeça? Quebrou um osso? Distendeu um músculo? Tá sentindo dor? - eu cuspi as palavras, nervoso. - Fala comigo, . Fala! - eu tava realmente desesperado.
- Ai, calma . - ela disse, ainda rindo. - Eu 'to bem, chuchu. Relaxe. - ela abriu um sorriso encantador pra mim.
Ufa. Ela estava bem.
Mas é claro que estava. Ela estava rindo.
- Caramba, . Me desculpe por isso! - ajoelhou-se até onde estava deitada. - Vamos tentar algo menos radical, certo? - ela completou.
- É mesmo. Quero dizer, uma High Split Pyramid logo no primeiro treino, é bem difícil mesmo. - disse, também ajoelhada no local da queda. - Pegamos pesado, vaquinha, desculpe-nos. - ela completou.
- Parem com isso, meninas. Eu estou perfeitamente bem. Relaxem. - piscou para elas.
- Tem certeza? Nós podemos te levar pra enfermaria, se quiser. - disse, preocupada.
- Imagina, gente. Foi só um tombinho. Vamos tentar de novo. - em um pulo, se levantou, empolgada para tentar novamente.
- Ah, mas não vai mesmo! E se você se machucar de verdade? - eu disse, aflito.
Porra, eu ali mega preocupado com ela e ela pensando em tentar se matar de novo? Mas que merda!
- , relaxe! Não irei me machucar. - ela sorriu. - Eu prometo.
- De verdade? - perguntei, com os olhos fixos nela.
- De verdade.

IV. We got each other


Segunda-feira, 19:56 - sala de jantar

:

- , me passa o sal? - pediu.
- Claro, . - eu passei o potinho de cristal com tampa metálica para , que estava sentado ao meu lado em nossa sala de jantar. Meu pai estava sentando em uma ponta da mesa e minha mãe em outra. Duas cadeiras vazias estavam a frente de mim e de , que pegou o potinho de minha mão e salpicou o pó branco em sua salada. Eu o olhava comer com entusiasmo e vontade. O que era estranho, já que ele estava comendo só uma... salada. Meu primo era sempre tão feliz.
- E então, filha? Vai comer isso ou vai ficar só olhando? - perguntou meu pai, que se servia com um pedaço de lasanha. É, ele tinha razão. Eu não estava mesmo com um pingo de fome. E o pior é que eu nem sabia o porquê. - Desse jeito você vai começar a ficar anoréxica igual essas líderes de torcida, já que você agora é uma. - ele completou.
- Desculpe, pai, é que eu estou sem apetite e... - fui interrompida pela campainha tocando. - Eu atendo. - disse, prontamente, unindo o útil ao agradável. Já que estava sem fome e queria escapar dali, nada melhor. - Com licença. - pedi, saindo da mesa.
Segui reto até a porta de entrada da casa, recolhendo um sobretudo qualquer do cabideiro, pronta para me proteger do frio. Depositei minha mão na maçaneta dourada e virei-a, dando de cara com ninguém menos do que .
- Hm... - eu murmurei, juntando minhas sobrancelhas em um tom de surpresa. - Oi, . - disse, por fim.
Ok. Isso é estranho. Primeiro a gente se conhece, aí a gente fica, aí ele diz que tem um rolo, aí ele dá um selinho nela na minha frente, aí ela o trata como namorado, aí ela me encara furiosa e aí ele se preocupa comigo. E agora ele está aqui. Na minha casa. Lindo, charmoso, e bem vestido. É ridículo como até uma roupa simples fica perfeita nele. E aqueles malditos, brilhantes e grandes glóbulos . Como descrevê-los?
- Oi. - ele disse.
Tudo bem, tô começando a ficar impaciente. Por que é que ele está aqui mesmo? Não é que fosse ruim ele aqui... pelo contrário. É só que era estranho. O olhar furioso de Hayley para mim ainda era bastante recente.
- , o que raios você... - eu comecei, mas ele me interrompeu. Depositou seu dedo indicador em minha boca, como se dissesse "shh...".
- Não diga nada, . Só fica bem paradinha, por favor. - ele pediu e eu obedeci, estática. Arqueei minha sobrancelha esquerda em sinal de confusão.
se aproximou de mim, lançou um sorriso malando e colocou sua mão esquerda na minha cintura, me puxando para mais perto. Juntou uma mecha do meu cabelo com sua mão direita e colocou para trás, depositando beijos leves e lentos em meu pescoço, ao mesmo tempo em que fazia em minha cintura um carinho gostoso. Fechei meus olhos, aproveitando aquelas carícias. Ele continuava seu trabalho em meu pescoço, oscilando beijos com mordidas delicadas. Subiu para minha orelha, puxando levemente, com os dentes, o lóbulo. Levei uma de minhas mãos para sua nuca, puxando seus cabelos macios. A outra mão usei para abraçá-lo.
E foi nesse momento que a voz de soou alto.
- ! - berrou.
Merda.
paralisou. E eu também. Pedi silêncio a ele. Suas mãos me soltaram e eu apontei para as escadas, fazendo um movimento de "subida" com as mãos. subiu-as rapidamente, chegando ao topo antes que eu piscasse duas vezes.
- Não vai voltar à mesa? - perguntou e eu pude perceber que sua voz se aproximava. Eu dava instruções com as mãos para , que apontava com cara de dúvida para as portas. Indiquei a do meu quarto. Ele agradeceu, piscou para mim, e adentrou, me fazendo respirar aliviada.
- Eu... eu... - olhei para meu primo quando o mesmo chegou ao hall, onde eu estava. - Eu não, . Estou sem apetite, de qualquer jeito. Peça desculpas aos meus pais, sim? - pedi, indo em direção às escadas.
- Peço sim. - disse, desconfiado. - Credo, , você está pálida. O que aconteceu? - ele perguntou, e eu já senti o desespero tomar conta de mim. - Quem era na porta?
Pensa em alguém, , pensa.
- Ninguém. - eu disse. Pff, esse é o seu melhor? Caramba. - Só o carteiro com uma encomenda. - menti. Hmm, bem pensado, garota.
- Sério? - disse, arqueando a sobrancelha. - Então por que você não está segurando nada? - ele perguntou.
Ops.
- É que eu já coloquei no escritório do meu pai. A encomenda era para ele. - eu menti novamente, gaguejando. Mas acho que meu primo acreditou, já que seu rosto voltou a expressão normal. - Bom, vou subir para meu quarto, ok? - eu disse, subindo alguns degraus da escada. - Hoje foi um longo dia e eu estou louca para cair na cama. - completei.
Com , talvez?
Brincadeirinha.
- Tudo bem. - disse, por fim. - Boa noite, . Durma bem. Te vejo amanhã. - ele completou, e eu murmurei um "Igualmente, ", enquanto subia as escadas.
Caramba, essa foi por muito pouco.

Segunda-feira, 20:11 - Quarto de

:

Então esse é o quarto dela.
Pink. Sofá. Cama grande - ótimo -.
Agora só falta ela!
Ouvi o barulho da maçaneta sendo girada e me virei para a porta, ansioso. entrou no local um tanto quanto vermelha.
- O que foi? - perguntei para ela, que vinha em minha direção.
- - ela disse pausadamente, olhando para mim. Sentou-se do meu lado na cama e continuou. -, me diga, o que é que você veio fazer aqui? - pediu, olhando fundo em meus olhos.
Cruzei minhas mãos e fixei meu olhar para frente.
- Bom... - comecei, sem certeza. Nem eu sabia o que tinha ido fazer lá. - Para falar a verdade, , eu não sei. - respondi, sincero.
estreitou seus olhos, depois os abriu. Sua boca abriu-se em um leve sorriso, que evoluiu para um maior. E aí ela riu.
É, gargalhou mesmo.
Levantei minhas sobrancelhas em tom de dúvida.
- O que é? - perguntei.
- É nada... é só que. Sei lá. - ela respondeu, sorrindo.
Abri um sorriso também, e depois a acompanhei naquela risada.
Nenhum de nós sabia o que estava acontecendo ali, entre nós dois. Mas era bom. Muito bom. E eu iria aproveitar aquilo por todo o tempo que durasse.
- Mas, sabe. - eu comecei, me aproximando dela. Levei minha mão esquerda para seu pescoço e puxei-o levemente, trazendo-a para mais perto de mim. - Eu adoraria... - continuei, afastando seus cabelos do seu pescoço e distribuindo ali beijos. - descobrir.
fechou seus olhos e uniu nossos lábios com pressa. Eu dei um sorriso durante o beijo e deitei-a na cama, ficando por cima dela. Nossas línguas se entrelaçavam, e eu passava minha mão livremente pela extensão do seu corpo, descendo até as pernas e depois subindo até a cintura. Ela puxava meus cabelos e eu devolvia aquilo, beijando-a mais furiosamente, forçando minha boca na dela. Eu desacelerei o beijo e o finalizei puxando levemente seu lábio inferior com os dentes. Desci para seu pescoço. que emitia um perfume gostoso e suave, diferente do Hayley, que era sempre forte e enjoativo. Depositei ali uma leve mordida, que depois se transformou em um chupão. mordia o lábio inferior e estendeu sua mão na cama. Uni nossas mãos e subi de volta para sua boca macia, começando tudo de novo.

Segunda-feira, 21:12 - Meu quarto

:

- Primeiro beijo? - perguntei, curiosa. e eu estávamos em meu quarto brincando de Verdade ou Desafio. Mas na verdade aquilo não estava dando muito certo, já que estávamos só em dois. E eu não chamaria , obviamente. Sendo assim, aquilo estava mais para um "Pergunta e Resposta". É.
- Aos 11 anos. - ele respondeu com um sorriso maroto. Abri minha boca, assustada.
- De língua? - eu perguntei e ele confirmou. Galinha desde sempre. Brincadeira. - Tsc tsc. - eu lamentei, para provocá-lo.
- Ei! Eu entrei na puberdade cedo, ok? - ele disse, inconformado. - Meus hormônios pediram aquilo. - ele disse, puxando-me para mais perto. Estávamos deitados na cama, um de frente para o outro. enrolava uma mecha do meu cabelo entre seus dedos.
- Para mim isso tem outro nome. - eu disse, brincando com a mão dele, que era bem maior que a minha. - Safadeza. - olhei nos olhos deles e dei uma risada.
- Pode ser. - ele respondeu, se aproximando mais de mim. Fitou minha boca. - Mas você parece gostar disso, . - deu um sorriso de lado e me beijou.
Correspondi ao beijo com a mesma intensidade de antes, e depois de alguns minutos, nos separamos.
- Posso te pedir uma coisa? - disse, enquanto beijava meu pescoço. Filho da mãe, pescoço é ponto fraco. Observe-me perder o controle.
- Depende. - eu respondi. - É algo muito tenso? - eu perguntei, de olhos fechados, enquanto apreciava aquele carinho.
- Não acho que seja. - ele respondeu, sussurrando. E a voz dele é muito sexy, só pra constar. E eu já estou perdendo o controle. A verdade é que se pedisse qualquer coisa, eu faria.
- Então diga. - finalizei, puxando seus cabelos levemente enquanto ele subia para minha orelha.
Viu só? Filho da puta, como ele conseguia fazer isso comigo?
- Quero ver sua tatuagem. - terminou, mordendo o lóbulo da minha orelha.

Segunda-feira, 21:39 - Quarto de

:

Mordi meu lábio inferior, observando a reação de após meu pedido. Sua expressão facial passou de choque para nervosismo. Eu sabia que era algo especial, já que na London Eye ela tinha dito que era segredo, mas eu mal podia me conter de curiosidade. Eu queria mesmo ver essa tal tatuagem, e agora me pareceu a oportunidade perfeita para isso, porque eu sabia que ela cederia.
- E então...? - eu pigarreei, depois de alguns minutos de silêncio entre nós dois. - Vai me mostrar? - completei minha pergunta.
não respondeu. Na verdade, o que ela começou a fazer foi desabotoar seu pijama.
Porra!
Peraí! Eu peço para ver a tatuagem e ela começa a tirar a roupa? Isso é um tipo de código secreto e coisas do tipo? Anota isso aí, cérebro. Cara, que coisa mais maravilhosa.
Após terminar de abrir os botões, ela deixou o pijama cair livremente sobre seus braços, parando-o em seus quadris. Quando o mesmo caiu, seu sutiã vermelho revelou-se, e eu pude sentir meus olhos faiscarem malícia. Meu corpo pedia para eu fazer algo, mas eu não conseguia fazer nada, só o que fazia era observar seus atributos físicos. Fiquei tanto tempo olhando que ela perdeu a paciência e apontou para debaixo de seu sutiã, onde algumas letras estavam desenhadas. Em cima das costelas, logo abaixo do coração, as palavras "Make the difference" estavam tatuadas.
Me aproximei mais de , estendendo minha mão esquerda em direção da tatuagem, com a intenção de tocá-la.
Não só a tatuagem, claro.
Num movimento rápido, recolheu seu pijama de volta aos seus ombros, ajeitando-o e fechando-o com pressa, logo depois subindo seu olhar tímido e suas bochechas coradas de vergonha para meus olhos, que transmitiam todo o meu desejo naquele momento.
- Você disse ver. - disse baixinho e eu fiz uma cara confusa. - Você disse que queria ver. Não tocar. - ela completou.
Porra.
Me lembre de escolher melhor os verbos da próxima vez.
- Me desculpe. - eu pedi, mesmo não estando arrependido. Me chame de canalha, mas eu confirmo para você que essa seria a reação de qualquer homem ao ver uma mulher como semi-nua para ele.
- Imagina, . Você não fez nada. - ela respondeu, sincera, dando um pequeno sorriso.
Ainda.
- Encararei isso como uma proposta. - eu sorri, safado. - Um pedido para que eu faça algo. - completei a frase. Ela sorriu também, e eu acabei com aquele espaço insuportável que havia entre a gente, puxando-a para perto e colando nossas bocas rapidamente.

V. Três é demais!


Terça-feira, 9:25 - ERP, classe do 2ºB

:

- O trinitrotolueno é um nitrocomposto formado por um benzeno ligado à uma ramificação metil, o que na química origina o chamado tolueno. Três NO2 também são ligados no tolueno, o que confere... - o sr. Smith, nosso professor de Química Orgânica explicava o conteúdo (leia-se: chatice) de maneira empolgada. Diferentemente dos alunos, obviamente. Eu bufei, dobrando meus braços e encostando a cabeça neles, de maneira confortável, enquanto fechava os olhos, me preparando para uma ótima sessão de sono.
O que seria uma ótima ideia, se você levar em consideração que eu não dormi quase nada a noite passada. E que o problema tem nome, sobrenome e um rosto maravilhoso.
Comprimi mais meus olhos para tentar expulsá-lo de minha mente. Eu odiava ficar assim por causa de um simples... menino. Estava indo bem nesse lance de apertar-os-olhos-até-esquecer, mas fui obrigada a levantar a cabeça ao ouvir meu sobrenome sendo pronunciado por um certo professor nada contente.
- Mas é claro que você já sabia disso, não é mesmo, senhorita ? - o professor perguntou, sarcástico. Eu só confirmei com a cabeça. Sei lá, é instinto. Como é que eu estou na escola há somente dois dias e ele já sabe quem sou? - E se sabe tanto, por que não nos diz o nome popular do composto? - Smith completou, nervoso. Merda.
Engoli em seco ao perceber a raiva do professor, mas não hesitei em responder.
- TNT. - respondi, diretamente, ao sentir vários pares de olhos cravados em mim. Já havia tido todo o curso de orgânica no Brasil. Mordi os lábios, aflita.
- Certa resposta. - sr. Smith bufou, virando-se de volta para o quadro.
Ponto para mim.
- Ótimo. - sorri vitoriosa. Um certo par de olhos brilhantes me encaravam.
Virei meu rosto para a esquerda.
Sempre ele.
"Mandou bem, ", seus lábios finos sussurraram para mim, logo depois se juntando em um sorriso torto m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o.
Lembra do negócio de "tentar esquecê-lo"? Então, esquece.

Quarta-feira, 12:39 - refeitório da ERP

:

- Mas, , você não fica comigo desde sábado! Poxa vida, o que custa? - Hayley dizia, manhosa. - Estou com saudades de você, gatinho. - ela fez um bico, agarrando-se em meu braço direito. Estávamos no refeitório, porque era o horário do almoço. Hayley tentava me convencer a sair com ela hoje à noite, mas eu realmente não estava a fim. Tudo o que eu queria era ficar em casa comendo pipoca e jogando video-game.
Revirei os olhos.
- Ok, ok, Hayley. Que seja. - eu disse. Ela estava enchendo tanto o meu saco, que eu acabei concordando. - Passo na sua casa às 20h, não se atrase. Você está indo à um jantar comigo, não à um desfile. - eu disse, sério, apesar de saber que ela iria se atrasar sim. Hay tinha uma tendência de se arrumar demais para qualquer lugar que ia, fosse na padaria da esquina ou no casamento real. Isso era legal até, mas quando implicava em eu ficar esperando ela se embelezar, a coisa ficava chata. - Vestido comportado e salto alto, vamos a um restaurante chique. - eu disse. Taí outra coisa que Hayley não obedeceria. Eu nunca vira Hayley com algum tipo de roupa comportada. Até seu uniforme era mais curto que o das outras meninas. Isso também era legal. Menos quando os outros caras não paravam de olhar para a bunda dela.
- Certo, bebê, pode deixar. - ela me deu um selinho e saiu rebolando até sua mesa com suas amigas. Eu me virei para a esteira de comida, concentrado em pegar meu almoço.
- Ainda não entendi porque continua com ela, , - Martha, a moça que trabalhava no refeitório da ERP servindo a comida para a gente, disse, simpática. Eu adorava Martha, ela sempre colocava as coisas mais gostosas em meu prato e me dava descontos bacanas. - Ela não parece te fazer feliz. - ela balançou a cabeça negativamente.
- É complicado, Martha. - eu respondi, vendo-a encher meu prato de batatas fritas. É Deus no céu e Martha na terra. - Às vezes eu acho que gosto dela, outras vezes não. 'To meio confuso. - eu disse, sincero. Eu realmente não sabia o que eu sentia pela Hayley, afinal, demorei para conquistá-la, e se eu insisti tanto, é por que gostava, não é?
- Eu vou dizer o que acho, . - Matha pronunciou, tirando-me de meus pensamentos. - Você devia terminar com ela logo e procurar alguém que te deixe sorrindo de verdade. Alguém como... - O diálogo dela foi interrompida pelo barulho da porta do refeitório sendo aberta, e uma de cabelos presos entrando correndo.
Eu sorri. Sei lá, vê-la feliz me fazia um bem danado. Mesmo em poucos dias, ela já havia me conquistado. Eu já a adorava de coração.
- Alguém como ela. - apontou com a cabeça, completando a frase que não havia terminado. - Você está com um baita sorriso no rosto, apenas por vê-la. - Martha sorriu também, compreensiva.
- Ah, é só que eu gosto dela. Mas ela é minha amiga, Martha. - eu disse.
Amigos que ficam? Amigos que se pegam?
- E além do mais, tem a Hayley. Não posso, depois de cinco meses juntos, chegar nela e dispensá-la por outra garota. Isso seria crueldade. - eu terminei a frase.
Realmente, isso seria muita crueldade. Até com Hayley. Meus olhos seguiram o trajeto de pelo refeitório, que se sentou em nossa mesa, juntamente com , , , , e .
- Talvez. - Martha disse, pensativa. - Mas siga meu conselho, , e comece a pensar um pouco em si mesmo. - ela piscou e devolveu minha bandeja, depositando ali a comanda e uma lata de Coca-Cola. - Agora vai comer, menino, você está muito magrinho! - ela disse, e eu ri.
- Obrigado, Martha. Até mais. - lancei um beijo no ar para ela, que riu. Peguei minha bandeja e segui até a habitual mesa de meu grupo, no meio do refeitório, assoviando.
- Ok, galera, essa se chama "O diálogo das impressoras." - dizia, e eu já poderia prever que se tratava de uma piada.
- Ah, não. Não me diga que eu cheguei em tempo de ouvir uma piada do . - eu disse, arrancando risadas de todos.
- Calado, . Ouça, essa é realmente boa. - continuou. Ele só não conseguia aceitar o fato de que suas piadas eram péssimas. Tipo a do tomate.
- Aham, como aquela do tomate? - debochou, como quem lia meus pensamentos. Eu olhei para ela e sorri, ela viu e ficou vermelha. Linda.
- Não me diga que ele te contou essa também, . - disse, dando um tapa leve na testa de , que mandou um dedo do meio para ela.
- Sim. E ainda queria que eu desse risada! - declarou e riu.
- Calada, priminha. - bagunçou os cabelos de e ela reclamou. - Agora, todos ouçam. - cravamos nossos olhos em . Abri minha Coca e dei um gole nela. - O que uma impressora falou para a outra?
- Impressoras não falam, . - disse, revirando os olhos.
- Entra na brincadeira, pô! - respondeu.
- Não sei. - , , e disseram em uníssono.
- Esse papel é seu ou é impressão minha? - respondeu, já rindo exageradamente.
, , e riram. Eu, e só ficávamos nos entreolhando.
Mas aí caímos na risada também.
Trinta minutos de almoço seguiram-se dessa maneira, com contando piadas, ora engraçadas, ora não; roubando minhas batatas enquanto eu dava tapas leves em sua mão e ela reclamava; e se beijando às vezes, enquanto o resto de nós reclamava; e - que agora namoravam (eu podia ver a aliança refletindo a luz toda vez que levantava as mãos) - se pegando também; rindo de e o estapeando quando ele se virava para olhar as pernas das calouras - uma vez , para sempre -; enquanto meus olhares e os de se cruzavam esporadicamente, e ela sorria, tímida.
- Aluna Collins - a voz da diretora Middle soou dos megafones instalados na parede do refeitório e nós nos viramos para ouvir. - Favor comparecer à direção imediatamente. - ela terminou, e logo depois ouvimos um bip, o que significava que havia terminado de dar o recado.
Mas, hã? , na diretoria? O que raios ela havia aprontado?
- Vixe, , mas já? Eu levei duas semanas para ir à diretoria pela primeira vez, e não três dias. - disse, rindo.
- Vai se foder, . - ela mostrou o dedo do meio rindo e se levantou. - Um minuto gente, já volto, ok? - ela disse, e mandou um beijo para todos nós. - Não sintam muito a minha falta. - riu e saiu.
Mas é difícil.
O quê?
- O que vocês acham que é, pessoal? - perguntou, curiosa.
- Ah, nada de mais. A não aprontou nada. - disse, dando de ombros.
- Ainda. - pronunciou, rindo.

Quarta feira, 13:38 - diretoria

:

A sala da diretora era de mármore escuro, com paredes brancas repletas de diplomas de honra. Um tapete persa de fios claros estava esticado no chão e cadeiras de couro preto ficavam sobre ele. Um lustre de cristal pendia do teto alto e várias estantes cheias de livros grossos estavam distribuídas nos quatro cantos da sala. Eu estava sentada em uma das cadeiras, de frente para mrs. Middle, que vestia um terninho Oscar de la Renta preto e justo. Seu coque preso no alto da cabeça me assustava, e toda vez que ela se aproximava, eu me afastava, como se aquele treco na cabeça dela fosse me atingir.
- Então, srta. . - a diretora pigarreou, levantando seus óculos estilo gatinho que haviam caído sobre seu nariz fino e pontudo. - Eu a convoquei aqui para informar-lhe que a senhorita ainda não solicitou o curso extra que irá fazer. - ela disse, finalmente.
- Curso extra? - eu disse, confusa, mas ao mesmo tempo respirando aliviada. Eu achava que havia sido chamada à diretoria por causa do pequeno episódio da aula de química ontem.
- Sim. - ela disse, recolhendo um novo papel e depois virando-se para mim. - A Eton Roedean Preparatory exige dos alunos um curso extra-curricular, para que o aluno possa contribuir com a sociedade britânica com honra e respeito.
- Não sabia que eu precisava de mais cursos aqui, mrs. Middle. - eu disse, resmungando.
Saaaaco. Chega de escola, caramba!
- Eu compreendo, . Mas é necessário, certo? É uma coisa que nós, da Eton Roedean Preparatory nos certificamos que nossos alunos façam. - ela disse, cruzando suas duas mãos enrugadas. - Veja, aqui estão suas opções. - mrs. Middle disse, apontando para um papel com seu dedo indicador fino, com a unha coberta por um esmalte branco-pérola.
Peguei o tal papel e passei os olhos pelo documento.

Caros alunos,

A Eton Roedean Preparatory School for Boys and Girls orgulhosamente apresenta:

CURSOS EXTRA-CURRICULARES OBRIGATÓRIOS

- Culinária & Gastronomia
- Relacionamentos
- Ética
- Filosofia & Sociologia


Mas que porra?
Alguém pode me dizer onde culinária & gastronomia serve à sociedade britânica com respeito? Quem fazia um frango assado o ensinava bons modos primeiro, é isso? Pra serví-lo com respeito?
Refleti sobre todos os cursos, descartando culinária por ser uma calamidade na cozinha, ética porque é chato demais, filosofia & sociologia por ser entendiante e... ah, espera, acabaram as opções.
Mentira, restou uma.
- Eu escolho Relacionamentos, mrs. Middle. - eu disse, dando de ombros. No final das contas, relacionamentos parece uma escolha fácil e simpática, afinal, o que nós faríamos durante a aula?
- Ótima escolha, . - mrs. Middle sorriu para mim e eu pude perceber seu batom vermelho-cereja sujando seus dentes meio amarelados. Eca. - A senhorita pode retornar para a sua sala agora, o horário de almoço já acabou. - ela disse, olhando para seu relógio de pulso Louis Vuitton de couro marrom.
- Certo. Obrigada, mrs. Middle. - eu disse, educadamente, logo depois saindo de sua sala sombria e seguindo para a minha, distraidamente.
Tão distraidamente que trombei em alguém no corredor.
- Desculpe-me. - eu me apressei em dizer para a pessoa. Subi os olhos para ver em quem eu havia esbarrado.
Alto, forte, moreno, olhos azuis.
Mordi o lábio inferior.
- Não foi nada. - a pessoa disse, sorrindo. Anote mais uma qualidade: sorriso bonito e dentes brancos perfeitos. - Ei, você é a aluna brasileira nova, não é? - perguntou, e eu assenti. - Sei porque nunca te vi por aqui. Sou o Ian. - ele disse.
Anote outra: nome bonito.
- Sou . - eu disse, sorrindo também e esticando minha mão para ele, com a intenção de cumprimentá-lo. - Ou melhor, .
- Prazer em conhecê-la, . Mas mãos não são para mim não. - ele disse, e me puxou para um beijo no rosto. - Isso, sim. - uma enchente de perfume Bugatti Pure Black atingiu minhas narinas em cheio.
Mãe.de.Deus.
Eu corei.
- Ah, obrigada por isso... - eu sorri, tímida. O menino sorriu de volta, exibindo um rosto tão bonito que só podia ter sido desenhado.
Sério, para onde eu tava indo mesmo? Ah, meu Deus, para a sala!
- Caramba, Ian, me desculpe, mas estou mesmo atrasada. Tenho que ir para a aula. - falei apressadamente, fazendo uma careta.
- Tudo bem, linda. - ele disse, rindo da minha careta. Ele me chamou de linda. Ah, qual é? - A gente se tromba aí. - ele piscou e saiu.
Segui em direção à minha sala com um sorriso enorme no rosto.
Mas olha só, parece que a aula vai ser um pouquinho mais animada hoje.

Quarta feira, 20:17 - dentro de meu carro

:

Mas que porra de parte do não-se-atrase a Hayley não entendeu? Olhei em meu relógio de pulso de couro marrom novamente, constatando que ela já estava quase vinte minutos atrasada. Bufei.
Nós provavelmente iríamos perder a reserva do restaurante que eu havia feito, e eu estava com muita fome.
- Hayley! - eu disse, irado, quando ela abriu a porta do carona de meu carro. - Até que enfim, porra! Eu não te disse para não se atrasar? - cuspi, exasperado. Eu tava puto pra caramba, afinal, ela acha que eu sou quem pra ficar esperando ela se ajeitar?
- Ai, desculpa, gatinho. - ela disse, manhosa. Gatinho é o caralho, odeio esse apelido. Puta que pariu. - Eu tava arrumando meu cabelo, afinal... - ela ia dizendo, quando eu a interrompi.
- Não me interessa. Vamos logo, porque a gente tá atrasado. - eu olhei para a frente e dei a partida no carro, acelerando.
- Nossa, . Por que você é assim, tão grosso comigo? - ela disse, baixinho, aparentemente magoada, e isso me fez sentir um pouco mal. Mas ela tinha razão mesmo, eu era sempre um estúpido com ela. - Eu tava me arrumando pra você, e você sequer olhou para mim. Fora que me dá patadas o tempo inteiro. - ela continuava, com uma voz de choro.
Ah, merda, ela ia chorar. Cacete, odeio ver gente chorando.
Detesto magoar as pessoas, embora fizesse isso constantemente. Olhei para ela arrependido. Hayley estava com a cabeça abaixada. Decidi parar o carro, estacionando em um canto escuro do condomínio onde ela morava. Virei-me para ela, que usava um vestido, que, como eu imaginara, não era nada comportado. Mas ela estava muito bonita, como sempre foi, e isso era um fato. Seus cabelos estavam lisos, e sua franja para o lado. Uma maquiagem noturna cobria seu rosto, agora triste. E por culpa minha.
- Me desculpe, Hay. - eu disse, passando a mão em sua bochecha, de leve, na tentativa de fazer um carinho. - Você está linda hoje. - dei um beijo leve em sua testa.
- Eu sei. - ela piscou para mim e me puxou pelo pescoço. - Mas não quero beijos na testa de você, . - ela deu um sorriso malicioso e se aproximou de meu ouvido. - Quero muito mais que isso. - ela passou as duas pernas em pela minha cintura e se depositou em meu colo, colando nossos lábios rapidamente. E essa é a Hay que eu conheço.
Eu sorri também e retornei o beijo. Uma coisa estranha é que, enquanto eu beijava Hayley, eu lembrava do beijo de . E de como ela era delicada, e suas mãos percorriam meu corpo não de maneira maliciosa, e sim de maneira curiosa, como quem quer fazer carinho, e não explorar, ao contrário das mãos de Hayley, que já haviam se depositado em meu cinto, enquanto tentavam abrir o botão de minha calça. Eu sou homem, então é claro que meu corpo manifestou alegria com o gesto dela, o que pareceu também agradá-la, uma vez que ela abriu os botões de minha camisa social preta. Eu subi minhas mãos de sua cintura para suas costas, procurando o fecho do zíper. Hayley percebeu minha procura e facilitou tudo, tirando o vestido pela cabeça.
E depois disso, tudo o que podia ser ouvido dentro de meu carro eram gemidos altos.

VI. Um peixe não precisa de uma bicicleta


Quinta feira, 09:51 a.m. - sala de aula

:

- Ow... - eu cutuquei , que estava sentado à minha frente. Ele se virou para mim, discretamente. - Você vai à festa do Troy amanhã? - eu perguntei, baixinho.
- Sim, cara. Você vai? - eu fiz que sim com a cabeça. - Beleza, é assim que se fala. - fizemos um high five.
- vai? - eu apontei para meu amigo, que estava sentado na carteira à minha direita, dormindo. Mas olha só o futuro do nosso país!
- Acho que sim. - respondeu e logo se virou para frente, temendo que a sra. Yoki, nossa professora de Trigonometria chamasse sua atenção. Eu não tô nem aí pra essa velha, então...
Arranquei uma folha de meu caderno e alcancei minha caneta, riscando o papel com as seguintes palavras:

Festa, amanhã?

Dobrei o papel cautelosamente e o depositei na carteira de , sentada à minha esquerda. Parecia tão desinteressada na aula quanto eu.
me observou colocar o papel dobrado em sua carteira e me olhou indagativamente. Eu sorri confiante para ela, que pegou o papel discretamente e o abriu, dando um sorriso leve. Ela pescou uma caneta qualquer em seu estojo azul-claro e rabiscou algumas palavras em nosso "bilhetinho", devolvendo-o para mim. Peguei o bilhete e o abri apressadamente, o que arrancou algumas risadas baixas de .

Com certeza.

Guardei o bilhete em meu estojo e pisquei para ela, que piscou de volta.
Festa. Com .
Interessante.

Quinta feira, 12:37 - refeitório

:

- Meninas, meninas, meninas! - chegou à nossa mesa saltitando, parecendo alegre. Os meninos não estavam em nossa mesa ainda. Segundo , estavam "resolvendo coisas de homem". - Adivinhem aonde vamos daqui a pouco?
- Aula de física do sr. Hugh - torceu a cara, bebendo sua 7UP. Realmente, o sr. Hugh não era uma flor que se cheirasse.
- Aula de biologia do sr. Lacrosse - eu suspirei, enquanto mastigava meu hambúrguer. - Maravilha.
- Inveja de você, . Eu vou ao banheiro mesmo, preciso escovar os dentes. - deu de ombros, levantando-se.
- Você.Fique.Onde.Está. - apontou o dedo para , que levantou as mãos para trás, em um movimento do tipo "eu me rendo", o que arrancou risadas de nós. - Ai, mas que amigas mais desajuizadas que eu fui arranjar. - suspirou. - Nós vamos à Harrods, suas babacas. Precisamos comprar roupas novas para a festa de Troy! - ela bateu palminhas.
- Mas, mas, mas... - começou a protestar, e fuzilou-a com os olhos. - Ok, amiga, ok. - fez um "Yey!" - Tudo para não deixá-la irritada. - sussurrou para mim, e eu ri.
- Eu ouvi isso, vaca. - disse, rindo. - ?
- Que seja. Adoro a Harrods mesmo. - disse, dando de ombros.
- Ótimo! - bateu palminhas - ? - ela perguntou, virando-se para mim.
- Pode ser. me disse sobre essa festa, mesmo eu não sabendo que havia sido convidada. - eu disse.
- É a festa de Troy, . Ninguém precisa ser convidado, mas todo mundo aparece. - explicou e eu dei risada. - Falando em , vocês por acaso já se conheciam?
- Não, zita, por que? - perguntei, confusa.
- Sei lá... vocês parecem tão próximos. - ela disse, dando de ombros e tomando o resto de seu refrigerante.
- É! E vocês são todos fofos um com o outro. - disse. - Só se conhecem há alguns dias, mesmo?
- Sim. - eu respondi, dando de ombros. - Sei lá, acho que nós só temos afinidade, não sei. - completei. O que as meninas estavam dizendo era mesmo verdade. Doug e eu só nós conhecíamos há alguns dias, mas, de alguma forma, eu havia me apegado bastante a ele. - Nós somos amigos, é só. - completei.
- Amigos do tipo amigos mesmo ou amigos coloridos? - perguntou, arqueando uma sobrancelha, curiosa. Eu engasguei com meu suco de laranja.
- Amigos amigos, gente. - eu respondi, tentando convencer mais a mim do que a elas. - E além disso, ele tem a Hayley, né? - completei, ao ouvir as risadas escandalosas de Hayley e seu grupinho de loiras oxigenadas sentadas na mesa ao fundo do refeitório.
- Ah, qual é, ! Todas nós sabemos que o não gosta dela! - disse, revirando os olhos.
- Também acho. Ele tá sempre desprezando ela. O que é um tanto quanto engraçado. - disse, rindo.
- Ah, é? Então por que é que ele ainda tá com ela? - eu rebati, e elas se encararam, pensativas.
- Por... sexo? - disse, e eu e as meninas torcemos a cara. - Ah, gente, o que vocês acham que o faz com aquela vagabundinha de quinta? Andam de mãos dadas e dividem um milk shake? Todas nós sabemos da fama de Hayley.
- Eu não sei, não! Me contem, amigas. - eu disse, e nós nos aproximamos umas das outras, como se estivéssemos em uma "rodinha de segredos". Mas, na verdade, era mesmo.
- Boatos dizem que ela perdeu na sétima série. - disse, baixinho.
- Eu me lembro disso! - disse. - Com Troy. - ela indicou o menino com a cabeça.
- Sétima série? - eu disse, chocada. Caramba. Eu brincando de bonecas e a moça brincando... de médico?
- Pois é. Mas outros boatos contam que ela já havia feito outros, hm, trabalhospara e com os meninos de sua antiga escola, a West School. - sussurrou.
- Deus pai! - eu coloquei minha mão na boca, horrorizada.
- E não para por aí. Dizem que, em outra festa, na oitava série, Hayley foi flagrada na cama com outros três meninos. - contou.
- No primeiro colegial, flagrada em um quarto com quatro meninos de idade 20/21 anos! - disse.
- E agora, o grand finale. No começo desse ano, detenção por ter roubado camisinhas, um uniforme de enfermeira e um estetoscópio da enfermaria. - finalizou, rindo.
- E aí, , ainda acredita que gosta mesmo dela? - pediu, rindo também. Eu saí da rodinha e ri também. Fala sério, aquela moça era uma verdadeira... piranha? - Ou que ele está com ela para satisfazer as fantasias dele?
- Amigas, vocês não prestam. - eu comentei. - Ai, gente, não sei! Homens adoram essas semi-prostitutas.
- Semi? - perguntou e eu ri alto. Senti alguns olhares do refeitório sobre mim, devido à minha risada escandalosa, mas ignorei.
- Malvadinha! - eu disse, entre risadas. piscou.
- Ah, ! O que você foi fazer ontem na diretoria? - perguntou, curiosa.
- Verdade, eu ia te perguntar isso também. - disse.
- A mrs. Middle me disse que eu tinha que escolher algum curso extra-curricular pra fazer. - torci a cara.
- Ih, verdade. Todas nós temos. O que você escolheu? - perguntou.
- Relacionamentos. - eu disse, dando de ombros. - Me parece ser o mais banal de todos, logo não vou ter que me preocupar em ficar estudando e essas coisas.
As meninas riram.
- Você terá uma grande surpresa amanhã, amiga. - sorriu maliciosa, eu fiquei sem entender.
- Não entendi, gente. - eu disse, confusa.
- Espere e verá, . - disse, rindo.

Quinta feira, 12:37 - sala de xerox

:

- Vai logo, , porra, eu tô com fome! - eu disse, impaciente, pela terceira vez.
- Espera, meu, eu 'to tentando achar. - ele respondeu, fuçando nos arquivos da escola na quarta gaveta.
- Foi o que você disse das últimas duas vezes. - murmurou, também impaciente. - Anda, cara! Quero ver a antes do almoço acabar, de preferência. - completou. - , ajuda ele aí.
- Mas é uma anta, mesmo. - disse, revirando os olhos e indo ajudar . Eu e rimos.
Estávamos na sala de xerox da escola, onde todas as provas, testes, trabalhos e boletins eram xerocados. não estava a fim de estudar para sua prova de Francês avançado, então teve a brilhante ideia de roubar a prova. E é claro que teve que nos levar junto. Eu, e também teríamos a mesma prova amanhã, mas nenhum de nós parecia ligar para isso. estava preocupado porque sua mãe havia dito que só permitira que ele ficasse em Londres se suas notas ficassem acima da média. Caso contrário, olá Liverpool.
Mas, como eu não dependo de nota pra ficar em Londres, olá, recuperação.
- Achei! - exclamou, exaltado, com um papel branco que continha o brasão da ERP impresso no canto da folha em mãos.
- Ótimo. Vamos embora, então. - eu disse e nós quatro saímos da tal sala em direção ao refeitório, enquanto dobrava a prova e a colocava dentro de seu blazer.

Quinta feira, 15:11 - banheiro do ginásio

:

- Vamos logo, vaquinha! - batia na porta da cabine onde eu tomava banho. Havíamos treinado mais hoje, mas, dessa vez, junto com todas as líderes de torcida. Inclusive Hayley. Argh. - A Harrods fecha às 20:00!
Ah, claro. Então ela planejava ficar até as 20:00 para comprar... uma roupa?
- Já vai, coleguinha. - eu berrei de volta, sentindo a água quente do chuveiro invadir meu corpo suado.
- Iremos te esperar no carro da . É um Audi A7 branco, não se esqueça! - disse e eu berrei um "Certo.", logo ouvindo a porta do banheiro sendo fechada.
Depois de uns dez minutos, terminei meu banho e enrolei-me na toalha. Saí da cabine do banheiro, sentindo o vento gelado percorrer meu corpo quase descoberto. Tremi.
- Sempre com frio, . - uma voz masculina piou e eu assustei, quase deixando minha toalha cair. Veja bem, quase.
Reconheci quem era pelo uso do apelido. Mas é claro.
- Deus do céu, ! - eu coloquei a mão no coração, assustada. - Quase me matou de susto, seu babaca. - mostrei o dedo do meio pra ele, sentado.
- Educada! - ele disse, rindo.
- Frágil. - eu respondi.
- Ei, . - ele deu um sorriso de canto. Não faz isso, seu filho da mãe. - Nós já sabemos onde isso vai dar, então porque não nos adiantamos? - mudou seu sorriso de canto para um malicioso. Af, sério, esse menino me tira do sério. Cretino.
- Na verdade, não sabemos, não. - eu o cortei, lembrando de Hayley. - E eu não posso, , as meninas estão me esperando. Já estou atrasada! - eu disse, recolhendo meu uniforme e um desodorante de minha maxi-bolsa azul e branca Marc Jacobs, logo entrando na cabine novamente. Passei o produto e mim e me troquei em cinco minutos, saindo da cabine enquanto penteava os cabelos. me fitava com olhos atentos.
- Aonde vocês vão? - ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.
- Harrods. quer comprar roupas para a festa de amanhã. - eu respondi. - Escuta, você não devia estar aqui, não é? - eu perguntei, querendo me livrar dele. - Por que não vai dar... - fui interrompida pela porta do banheiro sendo aberta, e uma certa loira-gema adentrando o ambiente, que foi invadido por seu perfume enjoativo. Fiz uma cara de nojo.
- , meu amorzinho! - sua voz fina piou. - O que faz aqui? - ela perguntou, olhando dele para mim.
Lembrei das meninas contando sobre a fama de Hayley e tive vontade de rir. Mas não o fiz, claro.
- Ah, você sabe... só estava esperando por você, Hay. - ele sorriu amarelo. Ah, canalha!
Rolei os olhos, ignorando a conversa dos dois, calçando minhas meias e as sapatilhas prata da escola. Recolhi meu perfume Very Sexy da Victoria Secret's e espirrei-o em meu pescoço e pulsos, depois jogando-o de qualquer jeito na bolsa que já estava em meus ombros e saindo do banheiro, batendo a porta com uma força um tanto desnecessária. Eu estava muito irritada. O que raios se passa na cabeça dele? Por que ele acha que pode ficar comigo e com ela ao mesmo tempo? Vá se foder, .
Localizei o Audi de , correndo até ele. Quando bati a porta do carro, nervosa, as meninas me olharam indagativas.
- Não é nada. - eu disse, indiferente. - Vamos às compras, por favor.
Elas deram de ombros e depois sorriram animadas. bateu palminhas e disse alguma coisa, , no banco da frente, ligou o rádio e arrancou com o carro. É isso aí, por algumas horas, eu trocaria por estandes enormes de puro consumismo.
Por que quem precisa dele, não é mesmo? Como disse alguém que eu não lembro, "uma mulher precisa de um homem tanto quanto um peixe precisa de uma bicicleta".

VII. O paraíso é logo aqui


Quinta feira, 16:34 - meu quarto

:

- Anhhh... - Hayley caiu ao meu lado, na cama, dando um último gemido. Eu me levantei em direção ao banheiro para retirar a camisinha. Depois de disfarçar no banheiro feminino para Hayley, dizendo que estava à procura dela (e não de , o que era a verdade), nós conversamos um pouco - Hayley comentou o quanto havia adorado nosso encontro de ontem - sendo que eu logo a convidei para repetí-lo, e ela aceitou, o que nos traz aqui em meu quarto.
- Tenho que ir, gatinho. - ela se aproximou de mim e me deu um selinho. - Prometi à Katie que iria ajudá-la com... - interrompi Hayley. Porque não, aquilo realmente não me importava.
- Tudo bem, Hayley. Tenho que ir à casa de , mesmo. - eu dei de ombros, saindo do banheiro. E ela na minha cola. Como sempre.
- Af, eu não sei porque você anda com aqueles perdedores, . - Hayley disse, levantando-se e recolhendo suas roupas jogadas pelo chão.
Peraí, mas que porra que ela disse? Me virei para ela, com as sobrancelhas unidas.
- Meça suas palavras, Hayley. Não vou tolerar que fale merda dos meus melhores amigos. Eu não digo nada sobre aquele bando de idiotas com quem você anda junto. - eu rosnei, bravo.
Quem ela achava que era pra falar mal das pessoas que eu mais gostava? Eu defenderia elas com unhas e dentes, com certeza.
- Nossa, , calma. Eu só quis dizer que eles são... - ela ia tentando se explicar, mas eu a cortei novamente.
- Sua opinião não importa pra mim. Eles são meus amigos, não seus. Agora vai. - eu apontei para a porta e Hayley parecia brava agora também.
- Calma, , porra! Eu me expressei errado. Me desculpe, não precisa ser grosso assim. - ela disse, chorona, enquanto fechava os botões de seu uniforme.
- Tá bom, Hayley, que seja. - revirei os olhos.
Ela não ia embora? Vai logo, caralho.
- Bom, então eu te vejo amanhã na festa. - ela disse, sorridente.
- Por que? Não vai na escola, não? - eu perguntei, confuso.
Hayley passou as mãos no cabelo e respondeu, simplesmente:
- Claro que não, gatinho. Passarei o dia inteiro no salão, me arrumando para a festa. - ela sorriu, terminando de vestir suas meias e calçando as sapatilhas. - E para você. - piscou e saiu, mandando um beijo.
Mas que porra de menina mais fútil.
Aposto que não demorava tanto tempo assim para se arrumar. Porque ela realmente não precisava. Era bonita naturalmente, sem qualquer maquiagem ou arrumação demais.
Espera, acho que o não vai ficar bravo se eu me atrasar, certo?
Ainda dá tempo de passar na Harrods.

Quinta feira, 16:54 - Harrods

:

- Que tal esse? - perguntou, puxando da arara de vestidos um Chloé.
- Não gostei da cor, . - disse, sincera. Eu também não tinha gostado muito.
- É verdade. E eu não fico bem de verde. - torceu a cara, procurando por outro vestido.
- Amigas, sejam sinceras. - declarou, saindo do provador da loja. - Esse vestido me deixa gorda? - perguntou, apontando para sua roupa.
- Não mesmo. - eu disse, honesta. era magra pra caramba, como ela poderia se achar gorda?
- Eu amei esse em você, colega! - bateu palminhas.
- Eu também! - disse.
- Ótimo, gente! Então é esse mesmo. - exclamou, feliz.
Uma a menos. Obrigada, pai.
A verdade é que eu já havia escolhido minha roupa, então ficava apenas sentada, opinando e esperando as meninas escolherem as delas. Mas confesso que aquilo já havia começado a me entediar. Tanto que eu já havia olhado as horas umas seis vezes nos últimos vinte minutos. Puxei novamente meu relógio de pulso Michael Kors branco com dourado e mirei os ponteiros, que indicavam 16:57.
Bufei, meio impaciente. Mas é claro que eu não iria embora, não seria assim tão mal educada.
Talvez pudesse sair para um passeio. Ei, espera, ótima ideia!
- Meninas, vou ali tomar um café e já volto, ok? - eu disse. - A fome está me atingindo. - Ouvi um coro de "tá, " e saí.
Segui pela enorme loja de departamentos e esperei pelo elevador, descendo até a cafeteria, que ficava no primeiro andar. Entrei no lugar, já sendo atingida pelo delicioso cheiro de café e bolinhos frescos. É, talvez eu estivesse mesmo com fome.
- Posso ajudá-la? - a garçonete perguntou, simpática.
- Sim, quero um Moccha Branco e um muffin de blueberry, por favor - pedi. Ela assentiu, recolhendo o bolinho da estufa depositada no balcão de madeira marrom. Colocou o bolinho em um prato e depois entregou-o a mim, que aguardava sentada em um dos altos bancos em volta do balcão. A garçonete recolheu um copo e prencheeu-o com meu café, tampou o mesmo e me deu . Eu agradeci, enquanto sentia o líquido quente invadir meu interior. Comi meu muffin e, quando terminei a bebida, segui em direção ao caixa da cafeteria.
- São 9,31 libras. - a moça do caixa sorriu, informando-me.
Peguei minha carteira Chanel branca e recolhi uma nota de 10 libras de dentro.
- Fique com o troco. - sorri de volta, logo depois virando-me para sair da cafeteria.
Aí eu trombei em alguém.
Porque você sabe, eu não posso andar dois metros sem trombar em alguém.
- Me desculpa! - eu me apressei em dizer, como sempre. Quando é que eu ia parar de ser uma desastrada?
- Não foi nada. - a pessoa respondeu.
Inalei o ar para dentro de meus pulmões, sentindo o cheiro de um certo perfume Bugatti Pure Black.
- Ian! - eu exclamei, sorrindo.
- Oi, ! - ele me abraçou. Ah, paraíso. - Sempre trombando em alguém, né? - ele riu, com os olhos azuis cintilando.
- Você sabe, é mania. - eu ri, também. - O que faz aqui? - eu perguntei.
- Minha irmã me arrastou até aqui. - ele apontou para uma menina baixa, de cabelos e olhos castanhos que estava sentada em uma cadeira na mesa próxima as janelas. - Disse que precisava de uma opinião masculina. - ele torceu a cara.
- Ah, entendi. - eu sorri. Coitado, ele deveria sofrer como irmão mais velho. Mas veja bem, além de lindo, também é legal. - Mas opinião para quê?
- A formatura dela é na semana que vem. - ele explicou, colocando as mãos no bolso da calça jeans.
- Ah, sim! - eu respondi. - Falando em festas, você vai amanhã na de Troy? - eu perguntei, empolgada. Eu precisava saber, né?
Na verdade não precisava não. Mas seria bom se ele fosse. Muito bom.
Quero dizer, esse sorriso... Ah, mãe.
- Vou sim. E você, linda? - ele perguntou.
- Eu também, lindo. - eu respondi, usando o mesmo adjetivo que ele. Ian riu.
- A gente se vê lá, então? - ele perguntou.
- Com certeza. - pisquei.
Ian me puxou para outro abraço e se despediu com um beijo em minha bochecha, andando em direção à sua irmã, enquanto eu saía da cafeteria, feliz.
Mas minha felicidade diminuiu quando eu vi algo, ou melhor, alguém, encostado em uma parede, com os braços cruzados, olhando para mim.
.
Vestido com roupa preta, ainda.
Filho da mãe.
Sempre tive uma queda gigante por homens de preto.
- O que tá fazendo aqui, ? - eu perguntei, estressada ao me lembrar do episódio no banheiro.
- Quem era aquele que você tava abraçando, ? - ele me respondeu com uma pergunta. parecia bravo, mas, ao mesmo tempo, curioso. Eu já sentia que perderia a paciência.
- Não te interessa! Por que você não volta para a Hayley? - eu disse, irritada. Fala sério, ele acha mesmo que pode me usar desse jeito? Mas não pode mesmo.
- Pra você voltar para aquele cara? Não mesmo. - ele se aproximou e uma nuvem de 212 Sexy Men invadiu meus pulmões. Mas.que.merda.
Prendi a respiração quando me puxou pela cintura, colando nossos corpos, e se aproximando de meu rosto.
- Eu quero você, pode ser? - ele sussurrou, dando uma mordidinha leve no lóbulo da minha orelha.
Não preciso nem comentar que me arrepiei inteira.
percebeu o efeito de seu ato e sorriu malicioso. Ele deu um beijo em meu pescoço, eriçando os pelinhos da região. Como eu não estava aguentando mais aquele joguinho dele, puxei-o pela nuca e colei nossos lábios com urgência. sorriu no beijo e eu pousei minhas mãos em seus ombros, enquanto a boca dele se abria para a minha.
Isso aqui é que é o paraíso, viu?

Sexta feira, 09:46 - sala de aula

:

Eu encarava o papel depositado em minha carteira.
Merda, talvez ter lembrado de pedir a prova para o poderia ter sido útil.
Chacoalhei a cabeça para os lados, tentando espantar meu medo e peguei a caneta, escrevendo meu nome no devido espaço reservado.
I) Decrivez votre famille.
Descrever minha família?
Minha mãe se casou com um filho-da-puta que a abandonou quando eu tinha seis anos. Depois de dois anos e meio ela se casou novamente, mas desta vez com um milionário, dono de fábricas de uísque. Eu curtia o cara, porque ele sempre me liberava bebidas alcóolicas e me levava em lugares com bastante mulheres bonitas. Mas aí ele morreu em um acidente e minha mãe ficou com o dever de administrar suas milhares de matrizes espalhadas pelo mundo. Mas, dessa vez, ela não me liberava bebidas nem mulheres.
Triste fim.
É isso aí.
Na verdade, na prova, escrevi algo como: minha mãe casou-se com um homem que a deixou quando eu tinha apenas seis anos. Após dois anos e meio ela casou-se novamente com um homem bastante sucedido, uma vez que era dono de uma renomada fábrica de bebidas. Eu adorava meu padrasto, pois ele se tratava de um homem legal e bastante sociável. Sua vida teve fim em um acidente horrível, onde ele perdeu a vida, e eu, minha imagem de pai. Para minha mãe, agora viúva, coube o dever de administrar as fábricas de seu falecido marido, tarefa que ela cumpre até hoje com imenso prazer e dedicação.
II) Quelle est votre routine?
Rotina?
Acordar. Escola. Casa. Dormir.
Hayley e em dias periódicos. Mas é claro que isso eu dispensei.
III) Quel serait votre souhait un génie est apparu pour vous?
Imagino que a frase seja algo do tipo "qual seria seu desejo se um gênio aparecesse para você?".
Quero dizer, acho que é isso.
Comprimi os lábios, pensando.
Qual seria o meu desejo? Entrar na faculdade? Fazer o McFLY vingar de uma banda de garagem para uma internacionalmente conhecida? Fechei e abri os olhos pra depois me encontrar encarando , que fazia a prova concentrada. Ela percebeu que eu a fitava e levantou seus olhos, jogando pra mim um sorriso lindo. Depois ela prendeu os cabelos em um coque e voltou sua atenção para a prova.
Porra, é isso! Aquela tatuagem dela.
"Eu desejaria fazer a diferença." - escrevi em francês.

Sexta feira, 15:24 - sala de aula

:

Entrei na sala apressada, porque sentia que já estava atrasada. Hoje seria o primeiro dia do tal curso extra que eu teria que frequentar.
Primeiro dia para mim, e não para o resto do pessoal. Eu havia entrado na ERP no meio do ano escolar. É isso que você ganha por ter pais com propostas malucas e cabeças piradas.
Eu sentia que esse tal curso seria um porre. Primeiro porque nenhuma das meninas estava matriculada em Relacionamentos (aparentemente todas gostavam de cozinhar e tinham se matriculado em culinária, mas eu achava mesmo que elas estavam lá porque era um professor gato - e irmão do Lacrosse - que dava a aula). Segundo, era fora do horário escolar. Isso quer dizer que toda sexta feira eu teria que aguentar uma aula a mais. Terceiro, porque a havia dito que eu teria uma surpresa aqui, e uma coisa coisa que eu simplesmente odiava era supresas.
Cheguei até minha sala e segui direto até a carteira onde sempre sentava, colocando minha bolsa azul marinho com branco no chão. Senti uma bolinha de papel atingir minha cabeça e me virei para xingar o sem noção que havia feito aquilo.
- Oi, ! - disse, sorrindo. Droga, não vou poder xingar mais. - Não sabia que fazia esse curso também. - ele declarou, ainda com o sorriso.
Mas que porra estava fazendo em um curso de Relacionamentos?
Espera, será que ele era gay? Mas ele tinha tanta pegada, não é possível.
- ? - eu disse, confusa. - O que você está fazendo em curso para meninas? - eu perguntei, rolando os olhos pela classe e encontrando um sexo dominante: o feminino, claro.
Ele rolou os olhos.
- Não é para meninas, . Essas aulas me ajudam muito no que diz questão à entender vocês, mulheres. - ele apontou para mim e piscou. - Além do mais, eu me sinto exclusivo. Sou o único homem aqui. - ele sorriu novamente enquanto batia a mão de leve em seu peito.
- Ah, é mesmo? - eu levantei uma sobrancelha. - Então me diz o que você já aprendeu por aqui.
Ele se aproximou de mim. Ah, isso vai dar merda.
- Aprendi, por exemplo... - ele sussurrou. - Que quando vocês, mulheres, dizem que "está tudo bem", é o contrário. Está tudo mal. - ele apertou meu nariz.
- Isso é óbvio, . - rolei os olhos. - O que mais?
- Nunca diga para uma mulher ficar calma. - ele passou as costas de suas mãos em minha bochecha. - Em uma briga, assuma que você é quem está errado. - ele colocou uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha. - Dê chocolate quando ela estiver na TPM. - ele beijou meu pescoço. - Faça ela sorrir. - ele deu um beijo no canto da minha boca, me fazendo dar um mini sorriso. - E, por fim, sempre que tiver a oportunidade, diga que a ama. - ele me deu um selinho.
- Ah, é? - eu disse, arqueando uma sobrancelha. - Aposto que usa esse último com todas. - completei.
Eu sabia que era um verdadeiro conquistador. Ele conseguia atrair todas as mulheres com aquele rosto estupidamente bonitinho, o sorriso divertido, os olhos brilhantes e o corpo perfeito. Sem mencionar os cabelos, sempre desarrumados propositalmente, as roupas bem escolhidas e o perfume encantador.
Combo perfeito para qualquer uma com estrógeno correndo nas veias.
- Sua falta de confiança em mim me deprime, . - ele me deu outro selinho. - Na verdade, não. Acho que nunca disse pra nenhuma delas. - ele olhou no fundo dos meus olhos e eu me arrepiei.
- Como assim? - perguntei, meio abismada com aquela última frase. - Você nunca disse que amava ninguém?
- Hmmm... Não. - ele deu de ombros.
- Nem pra sua mãe? - indaguei, as sobrancelhas meio unidas.
- Ah, ... Eu não preciso ficar falando isso pra ela, não é? Ela já sabe.
Acho que minha boca tava um pouco aberta. Ele nunca tinha dito "eu te amo" pra ninguém.
Nem pra Hayley!
- Eu nem sei o que falar. - murmurei, confusa. Ele riu, parecendo se divertir com aquilo.
- Relaxa, bonitinha. Algum dia eu vou falar pra alguém. E esse alguém, com certeza, vai ser bastante especial.
Concordei silenciosamente. Para meu alívio, a professora do tal curso chegou.
Que essa aula comece e termine logo. E que eu possa ir a festa de Troy para beber umas e dançar muito.
- Em duplas, meus queridos. - a professora falou. - E sim, vocês podem escolher.
- ? - pediu.
- Claro, . - eu disse e ele puxou sua carteira para meu lado, pegando minha mão e enroscando seus dedos nela. Deitou sua cabeça em meu ombro e sussurrou:
- Estou feliz por você estar aqui comigo, .

Sexta feira, 15:31 - sala de aula

:

- Eu também, . - respondeu, baixinho, só para eu ouvir. - Eu também estou feliz por estar aqui com você.
Eu sorri com aquilo e a abracei. Seus cabelos cheiravam à amêndoas e eu simplesmente adorava aquilo.
Era tão melhor que o cheiro de qualquer outra menina com quem eu havia ficado.
- Você é cheirosa, . - eu disse.
- Olha quem fala. - ela riu, baixinho. - 212 em pessoa.
Eu ri também.
- Obrigado, senhorita. - eu disse, cordialmente. - Agora vamos prestar atenção na aula, sim? - levantei minha cabeça de seu ombro.
- Hm... não. - ela se aninhou em meu peito e eu a abracei mais forte. - Tô com sono, .
- Se você dormir, nós vamos para fora, . - eu disse, fazendo um carinho em sua bochecha.
- Mantenha-me acordada, então. - ela pediu, e eu já estava prestes a beijá-la, quando ela completou a frase. - Converse comigo.
Porra.
- Ok. - eu tentei disfarçar meu momento e pensei em um assunto qualquer. - Ah, quando é que vai me mostrar a sua lista completa de desejos?
Essa é uma coisa que eu realmente quero saber. Desde aquele dia, na London Eye, estou curioso para descobrir mais tópicos da lista dela. Porque assim, um dos desejos levou ao nosso primeiro beijo. E isso foi ótimo. - Mais alguma coisa relacionada a beijos? -
Ela riu, e respondeu:
- Não, . - disse, divertida. - Mas se houvesse, por que eu deveria te contar? - perguntou, arqueando uma sobrancelha.
- Porque, . - eu me aproximei dela, chegando a centímetros de sua boca. - Eu realizaria com o maior prazer. - sussurrei, dando-lhe um selinho rápido e depois virando para a prestar atenção na aula. Do canto do meu olho pude ver um sorriso se formar nos lábios dela. Sorri também.

VIII. Usar alguém


Sexta feira, 19:51 - meu quarto

:

- , passa meu salto aí! - disse, sentada no sofá bege, do outro lado do meu quarto.
As meninas estavam se arrumando em minha casa, então meu quarto estava realmente uma loucura, repleto de saltos, vestidos, jóias, bolsas e maquiagem. A música Cannibal, da Ke$ha, tocava alto de meu amplificador de iPod. A cada quinze minutos, vinha nos chamar, e nós o enrolávamos com a velha desculpa do "estamos quase prontas".
- Aqui. - eu entreguei para seu par de Louboutin. Minha amiga estava realmente linda com aquela roupa, que era simples, porém uma graça. Seus cabelos pretos estavam lisos e uma maquiagem preta carregada em seus olhos completava o look. Na boca, gloss transparente e, nas bochechas, blush rosa claro.
- Vamos todas de Louboutin, então? - disse, saindo do banheiro. Ela usava um vestido azul cobalto justo, e delicadas jóias de ouro branco. Seus cabelos castanho-escuros estavam presos para o lado esquerdo, e uma maquiagem leve cobria seu rosto. Nos pés, os sapatos maravilhosos.
Nota mental: pedir esses saltos emprestados a ela.
- Mas é claro, ele é total meu melhor amigo. - declarou, terminando de enrolar seus cabelos. Usava um vestido vermelho, pulseira e brinco de pérola rosa-bebê, uma clutch de prata Louis Vuitton e saltos pretos. Seus olhos estavam delineados por um lápis preto e as bochechas, rosadas.
- Concordo! - eu disse, terminando de passar minha maquiagem e ajeitando minha saia. Perto de todas elas, eu me sentia a mais simples, vestindo uma blusa de paetês pretos e uma saia de franjas metálicas. Calcei meus saltos escuros e alcancei minha bolsa carteira à tiracolo Chanel, preta, em cima da cama. Passei novamente pelo espelho e arrumei meu cabelo, que caía liso até as pontas, enroladas. Meus olhos estavam cobertos de preto e eu usava um gloss rosa-bebê. Peguei meu blush M.A.C. e sorri em frente ao espelho, batendo levemente seu conteúdo em minhas bochechas sobressaltadas.
- Meninas, caramba, vamos logo! - bateu em minha porta, pela terceira vez, impaciente.
- Já vai, meu amor! - berrou de volta. - Eu recompenso a demora mais tarde, pode deixar.
- É bom mesmo! - berrou, rindo.
- Mas que nojo! - eu disse, arrancando risadas de todas, menos de . - Foi mal, amiga, mas ver você falando assim com meu primo é, no mínimo, esquisito. - lancei um beijo para .
- Ai, gente, que saudades do . - declarou, levantando-se de meu sofá e pousando ao meu lado. - Não vejo ele desde a escola. - disse, triste.
- Nossa, porque é, assim, um tempo exorbitante. Como você ainda não está morrendo? - disse e nós rimos alto.
- Insensível! - reclamou, mas rindo ao mesmo tempo.
- Realista, na verdade. - declarou, levantando sua mão direita. Pude observar sua aliança reluzindo. Percorri os olhos pela mão de todas as outras meninas, vendo a mesma aliança ali, no dedo anelar. - Prontas? - ela perguntou, virando-se para nós.
- Sim! - respondemos, em uníssono. Abri a porta do meu quarto e as meninas saíram. Ao me virar para seguir em direção as escadas, segurou meu braço.
- Belo beijo em frente à cafeteria. - ela piscou e eu abri a boca. - Não se preocupe, vaquinha, não contarei.
Droga.
Desci as escadas também, seguindo minhas amigas. Avistei meu primo na porta do hall. Ele segurava pela cintura, e os dois estavam se beijando. vestia camisa social listrada de preto e cinza, calça jeans escura e tênis escuros também. O relógio em seu pulso era prata, e seus cabelos estavam bagunçados. Provavelmente culpa de minha amiga, que estava enroscada em meu primo de uma maneira nada agradável de se ver.
- Eca! - exclamou.
- Um voto. - disse.
- Dois. - eu disse. - Arrumem um quarto!
- Pode ser o seu, priminha? - perguntou, desgrudando-se de .
- Vá se foder, . - eu disse, rindo e fazendo com que todos os outros também.
- Ai, vamos logo, vai, pessoal. - exclamou. - Não me arrumei toda assim à toa, quero ver logo meu . - ela bateu palminhas.
- Nojo! - eu disse.
- Um voto. - disse.
- Dois. - a acompanhou.
- Três. - exclamou.
- Para o inferno, todos vocês. - mostrou a língua e nós rimos.
Fechei a porta de casa e segui o grupo até a garagem subterrânea, onde ficava o carro de .
Foi ali, em meio a piadinhas e risos com meus novos amigos, que percebi que, mesmo estando na Inglaterra há somente uma semana, já havia feito amizades verdadeiras, arranjado um paquera gato de olhos azuis e um... .
Não consigo achar uma classificação exata pra ele. Éramos só eu e ele. E aquilo, por enquanto, estava bom para mim.
Fechei os olhos enquanto entrava na Lamborghini e deixei-me levar pelos meus pensamentos.
Será que ele pensava em mim tanto quanto eu pensava nele?

Sexta feira, 20:17 - em casa

:

- Porra, , onde você colocou meu 212? - berrei para meu amigo retardado que escovava os dentes.
Nós estávamos atrasados, e eu me sentia uma mariquinha por estar atrasado porque estava me arrumando.
- Ih, desculpa, cara. Tá em cima do balcão da cozinha. - respondeu, mas, como ele estava cheio de espuma na boca, saiu algo como "ih, dixculpa, cara. Tá im cima du balcon da cuzinha.". Eu ri e segui até a cozinha. Por que o perfume estava lá, eu não sei.
Olhei para o relógio de parede, que marcava 20:18 e corri de volta ao meu quarto.
- Caralho, corre, que a gente ainda precisa pegar o , ainda! - eu disse, borrifando o perfume rapidamente em meu pescoço e jogando-o de qualquer jeito em minha cama. cuspiu a espuma da pasta de dente de sua boca e a enxaguou rapidamente, apagando a luz do banheiro e vindo para o meu quarto.
- Eu voto por deixarmos aquele biba e irmos direto para a festa. - disse, rindo, enquanto ia em direção ao espelho e dobrava a manga de sua camisa xadrez.
- E depois ouví-lo reclamar igual a uma mulherzinha? Não mesmo, cara. - eu ri também, tomando um lugar ao lado do espelho e bagunçando meus cabelos . estava vestindo uma camisa azul clara listrada com branco, jeans de lavagem clara também, sapatênis e um relógio de pulso de couro marrom.
- Que seja. Vamos logo, . Mal posso esperar para ver a . - ele disse.
Mas que amigo mais gay que eu tinha.
Não que eu estivesse animado para ver a , também.
Não mesmo.
Tá, talvez, só um pouco.
Ok, bastante.
- Seu homossexual. - eu zombei dele, rindo, enquanto fechava a porta do meu apartamento. riu, me xingou, chamou o elevador e nós descemos para a garagem do prédio. Localizei o meu Porsche e procurei as chaves em meu bolso. Depois de achá-las, abri o carro e me sentei no banco do motorista, com ao meu lado, no banco do carona. Dei partida e fomos em direção à casa de . ligou o rádio e uma música animada começou a tocar. Nós seguimos cantando e falando besteiras.

Sexta feira, 21:48 - festa

:

- E aí eu simplesmente não entendia o que aquela louca queria! Ela falava tudo em alemão, mas eu não tava entendo nada. - Ian disse, me fazendo gargalhar alto.
É. Ian.
Não , porque, afinal, quem precisa dele?
Ninguém. Principalmente depois de eu tê-lo flagrado em um canto conversando com amigos, com a mão em Hayley. E é claro que eu passei e ignorei.
- Mas você não sabia falar nada em alemão? - eu perguntei. Nós estávamos sentados em um dos pufes coloridos que haviam sido colocados perto do bar, na área livre da casa de Troy. Ian havia me encontrado depois de alguns minutos que eu vi o tal fato. Ele segurou na minha mão, me levou até o bar, pegou bebidas e depois ele me chamou para conversar. E era o que estávamos fazendo.
Ele me contava sobre sua última viagem, na Alemanha, e eu havia dito pra ele algumas coisas sobre minha vida no Brasil. Eu gostava mesmo de Ian, ele me ouvia e me divertia. Além de ser muito simpático, gentil e extremamente gato.
- Nadica de nada. - ele respondeu, dando um sorriso encantador. - Ah, mentira. Eu aprendi uma coisa.
- O quê? - perguntei, vendo ele se aproximar do meu ouvido. Sorri. Ele realmente estava conseguindo tirar da minha cabeça por um tempo. E estava lindo com aquela pólo Ralph Lauren azul escura - que destavaca seus os olhos azuis -, jeans de lavagem clara e sapatênis brancos. Muito melhor que com aquela camisa social azul-clara listrada com branco que mostrava o quão forte ele era e, ah...
Esquece.
- Du bist schön. - Ian sussurrou, em seguida depositando um beijo no canto da minha boca. Senti cada pelo do meu corpo se arrepiar com seu toque.
- O que isso quer dizer? - eu perguntei, meus olhos fixos nos dele. Ian estava muito perto, com o rosto praticamente colado ao meu.
- Você é linda. - ele declarou, a voz sexy e aveludada enquanto mordiscava meu lóbulo. Agarrei um punhado dos cabelos dele, mordendo meu lábio de ansiedade.
Ian se aproximou de mim, fazendo um carinho gostoso em minha bochecha. Seus olhos já estavam fechados, e eu senti seu nariz roçar de leve sobre o meu.
Fechei meus olhos, a respiração quente dele jorrando na minha pele. Meu coração acelerou, e estávamos prestes a nos beijar. Até que...
- ! - ouvi alguém berrar.
Ah, não.
Não você.
Puta que pariu!
Ian e eu nos separamos rapidamente, nos recompondo. Levantei meu olhar, encontrando ali um com uma expressão seca, séria, fria.
- Oi, . - eu disse, desanimada. Desviei meu olhar dele e mirei Ian, que mantinha uma expressão confusa e ao mesmo tempo frustrada. Merda, , mas que merda! - Esse aqui é Ian. - eu disse, apontando para Ian. - Ian, esse aqui é meu amigo, . - eu apontei para . Os dois meninos se remexeram, desconfortáveis.
- Eu sei, . Já nos conhecemos. - disse, seco. Não sei, mas acho que tem alguma coisa estranha acontecendo aqui. Os dois não pareciam se gostar muito. - Só não o reconheci aquele dia. - ele disse para mim. - Enfim, eu tava te procurando, .
É mesmo? Durante os pegas com a Hayley?
Ok, controle-se. Afinal, você não viu nada, certo?
- Bom, me achou. - eu tentei dar um sorriso fraco. Não acho que tenha funcionado. Mas eu nem esperava que tivesse funcionado. Eu só queria que ele saísse daqui. Poxa, estava tudo dando tão certo com Ian.
- Pois é. - sorriu também.
Silêncio.
Tudo bem, ele não vai mesmo sair? Então eu saio.
- Hm, gente? - eu pedi, e os dois olharam para mim ao mesmo tempo. - Vou ao banheiro, e já volto, ok? - eu disse, não esperando pela resposta e saindo rapidamente.
Saí com tanta pressa da área livre que acabei trombando em alguém. E quem era?
Isso aí. Hayley. Com um vestido tão curto que, se ela caísse, eu poderia ver o seu útero.
Hm, ela cair não seria uma má ideia. Prendi a risada com esse pensamento.
- Desculpe. - eu disse, mesmo não me sentindo arrependida pelo trombo.
- Tanto faz. - ela respondeu, me olhando com desprezo e saindo.
Falando super sério, quando essa menina anda, ela rebola tanto, que eu acho que ela pode quebrar o osso do quadril.
'Taí outra coisa que não seria má ideia.
Não segurei a risada com esse pensamento e gargalhei alto, seguindo para o banheiro. Adentrei o cômodo e fechei a porta, sentindo a intensidade da música que tocava na festa diminuir. Fui ao espelho e chequei meu estado. Minha maquiagem estava levemente borrada de preto debaixo do olho esquerdo, e eu peguei um pedaço de papel higiênico, molhando-o com água e passando na região. Após ficar satisfeita, lavei as mãos com o sabonete líquido cheiroso que estava sob a pia, secando-as com a toalha pendurada na parede bege clara. Ajeitei meu vestido e destranquei a porta do cômodo que, como todos da casa, era grande e espaçoso.
Assim que o fiz, pude ouvir a batida de uma música eletrônica invadir meus tímpanos. E outra coisa invadir meus olhos.
.
Beijando Hayley-vadia-Herch.
Os dois estavam encostados em uma parede da sala, e as mãos de percorriam o corpo de Hayley livremente, deslizando de sua bunda para suas coxas e depois para seus seios. Aquelas mesmas mãos que já haviam percorrido algumas partes do meu corpo.
Piranha maldita!
Ah, aquele aproveitador iria me pagar!
Mas peraí, por que eu estava brava, mesmo? A gente nem tinha nada, não é?
Pois é. E é por isso mesmo que eu tenho todo o direito de fazer o que eu quiser. E com quem eu quiser.
Percorri os olhos pela pista de dança, encontrando e em um canto, ela escorada nele, que fazia carinho em seus braços descobertos. e próximo a eles, ele sentado em seu colo e os dois rindo e conversando. e se beijando em outro canto, mas vamos pular isso, porque.. argh, ele ainda era meu primo e ela ainda era minha amiga.
Não precisei procurar tanto pelo que queria. Encostado em uma cômoda, com uma garrafa de Heineken em mãos, Ian estava. Caminhei duro até ele.
- Dança comigo? - eu pedi, mordendo o lábio inferior, nervosa.
- Claro, . - ele respondeu, pedindo licença ao amigo e deixando sua bebida em um balcão. Eu me senti um lixo por estar usando um garoto tão legal quanto ele para provocar o , mas já o tinha convidado, então, que se foda.
Ian pegou em minha mão e nos dirigiu a pista de dança, onde, ironicamente, Use Somebody, do Kings of Leon, começou a tocar.
Obrigada, papai do céu, e obrigada, DJ.
Ele colocou suas mãos em minha cintura e passei as minhas por seus ombros, juntando-as atrás de sua nuca. Por causa da diferença de altura, subi meu olhar para seu rosto, onde um sorriso lindo encontrava-se formado em sua boca, enquanto os olhos azuis me fitavam atentamente. Nós nos encarávamos intensamente e eu sorria para ele também. Ian me guiava para os lados, numa dança lenta. Seu olhar agora demonstrava que ele estava ansioso, e eu pude entender o porquê após sua voz pronunciar a frase:
- Não quer terminar o que começamos agora há pouco? - ele sussurrou em meu ouvido. Ian estava realmente muito perto de mim. E, sabe, tanta beleza afeta teus pensamentos. Pior ainda, ela estimula, após ver a cena que eu vi. Naquele momento, a única coisa que eu consegui pensar foi: por que não?

You know that I can use somebody...

- Mas é claro. - eu respondi, sorrindo.
No minuto em que senti seus lábios quentes e macios grudarem nos meus, abri minha boca lentamente permitindo a passagem de sua língua e puxei-o para mais perto de mim. Ele apertou minha cintura e eu enrosquei meus dedos em seus cabelos escuros, puxando de leve alguns fios. Ian colocou uma de suas mãos quentes em meu pescoço, e eu passei minha unha de leve em suas costas. Ele fazia um carinho gostoso em mim e eu continuava meu trabalho com as unhas, ocasionalmente mudando dos ombros para as costas. Nosso beijo prosseguia, lento e gostoso.

You know that I can use somebody
Someone like you, and all you know, and how you speak...


A vingança é doce!

Sexta feira, 22:31 - festa

:

Eu não acreditava no que estava vendo.
Quero dizer, eu sabia que Ian estava a fim de . Eu vi os dois se abraçando na cafeteria da Harrods e também vi o jeito que ele olhava para ela. Esse desgraçado tá sempre cobiçando tudo que é meu. É incrível.
Meu carro, meus amigos, minha vaga no time de futebol..
Mas agora ele estava beijando ela. Ele estava beijando a minha. E ela estava aceitando! Meu sangue borbulhava de ódio e eu sentia uma fúria enorme formar-se em meu peito. Mesmo sabendo que eu e não tínhamos nada, de alguma forma, foi ruim vê-la ficando com outro. Porque eu não queria que ela fizesse isso. Eu queria que ela ficasse só comigo.
Mas por que ela faria isso, se, afinal, eu também não era só dela? Sei que não sou o tipo de cara para namorar, porque não aguento ser exclusivo. Sempre fui assim, e é difícil mudar... Além do mais, eu tinha a Hayley. Talvez, se fosse para tentar um relacionamento sério, eu devia tentar com ela, certo?
Nós já estávamos juntos há um bom tempo e ela sempre se mostrava atenciosa, apesar de eu muitas vezes descartá-la. E agora, , aparentemente, já havia seguido em frente. É só que... eu ainda não me sentia preparado para algo firme.
- Nossa, eu não sabia que a era a fim do Ian! - cochichou para , que estava ao seu lado. Espera, como foi mesmo que eu cheguei até aqui? Acho que em algum momento meu de masoquismo ao ficar observando aquela cena deles se beijando no meio da pista de dança, Hayley havia me guiado para meus amigos.
Obrigado, Hay.
- Então, , eu também não sabia, não! - cochichou de volta. E com vocês já somos três. Ela era mesmo a fim dele?
- Quem não sabia o que, ? - disse, chegando na roda de mãos dadas com , que tinha em sua boca vermelha e inchada um sorriso enorme.
- Daquilo. - se intrometeu na conversa, apontando para e Ian. Todos nós olhamos, e quando eu digo todos nós, estou me incluindo também.
Qual é o meu problema? Eu simplesmente não conseguia parar de olhar para eles.
- Peraí, o que? Quem é aquele desgraçado beijando a minha prima? - uniu as sobrancelhas, aparentemente irado. Isso, obrigado, cara! - Ah, mas ele vai me pagar muito bonito. - ele disse, com a intenção de partir para cima do casal e começar uma briga.
Muito bem, , apoiado. Eu te ajudo, com prazer.
- Para, cara. - segurou-o pelos braços. O quê? - Não vê que ela está gostando? Eles estão assim há, pelo menos, dez minutos. - disse, sereno. - Se ela não quisesse, já teria saído, concorda? - ele finalizou.
Essa última frase de caiu como um balde d'água fria em mim. Porque era verdade. Ela estava mesmo gostando do beijo.
- Humf, ok. - disse, acalmando-se. - Mas eu já aviso que, se ele aprontar alguma coisa com ela, ele vai me pagar.
- Relaxa, . Se ele fizer alguma coisa com a , vai se ver com a gente também. - disse, apontando para as meninas depois, que afirmaram.
- E conosco também! - apontou para nós três, agora.
- Pode crer, cara. - disse, dando um tapa leve no ombro de . - Não é, ? - ele virou-se para mim, que estive quieto durante esse tempo todo.
- Sim, . - eu respondi, friamente. - Se ele aprontar algo com a , é um homem morto. - eu declarei, firme, saindo do grupo em direção ao bar.
Duas coisas das quais eu precisava naquele momento: Hayley e ficar bêbado.

IX. I want you to stay
(Stay - Rihanna ft. Mikky Ekko)




Sábado, 12:39 - minha casa

:

Bip.
Abri os olhos preguiçosamente, pensando se valia a pena acordar ou não. Acabei decidindo que sim, já que meu estômago pedia por comida e minha bexiga pedia para fazer xixi. Levantei da cama, cocei os olhos e bocejei, procurando pelo meu celular, que havia sido meu despertador hoje. Encontrei ele em minha bolsa usada na festa de ontem.
Sobre a festa de ontem, hm, eu diria que ela foi ótima. Depois de minha pequena cena com o Ian, fiquei junto dele a noite inteira e conversamos muito, até que as meninas vieram me avisar que estavam indo embora, e Ian disse para - que não parecia muito feliz - que ele não precisava se preocupar comigo, pois ele me levaria para casa.
Quão fofo era isso? Ele me trouxe para casa e depois nos beijamos mais um pouco, até que ele disse para eu entrar, senão meu primo ficaria preocupado com a minha demora.
É, é oficial, ele é o cara mais fofo do mundo. Quanto a , eu não o vi mais a noite inteira, após aquela insinuação de sexo entre ele e a loira-gema. Ótimo.
Peguei o aparelho e me deparei com uma mensagem nova de .

"Nós estamos indo aí."

Respondi com um: "Nós quem?", entrando no banheiro.
Depois de meus minutos de higiene pessoal, ouvi o interfone tocar. Me troquei rapidamente. Optei por uma roupa básica, passei desodorante, penteei os cabelos e borrifei a colônia Secret Charm, da Victoria's Secret em meu pescoço, saindo em seguida. Berrei por , obtendo nada em resposta. Desci as escadas e segui até o hall, que estava vazio. Vindo da cozinha, pude ouvir algumas risadas altas. Sorri quando identifiquei a voz dos meninos, porque, apesar de conhecê-los há pouco tempo, já os adorava demais. Ao chegar no local, me deparei com , , , , , e sentados em volta do balcão, conversando.
Ah, então o "nós" era o grupo todo.
Corri até eles e me joguei em cima do último casal.
- Bom dia, amigos! - eu disse, animada, recebendo um coro de "Bom dia, " de quase todos.
Quase todos, porque, veja bem, não me disse bom dia. Ele não falou nada. Nem uma mísera palavra.
Mal educado.
- Bom dia o caramba! Sai de cima de mim, . - reclamou.
Todo mundo tá um doce hoje, não é?
- Nossa, amiga. Educação passou e saiu, né? - eu disse, rindo. - Eu só vou me levantar porque estou com fome. - eu fiz um bico, saindo de cima do casal.
- Ah, Deus, muito obrigado. Posso respirar agora. - disse, dramático. Eu mandei o dedo do meio para ele, o que arrancou risadas de todos. Menos de .
Estranho.
- , o que tem para comer? - eu perguntei, direcionando o olhar para .
- Ah, sei lá, . Vasculha aí. - ele respondeu, dando de ombros.
- Todo mundo resolveu ser bacana comigo hoje, é isso? - eu disse, rindo. Fui até a geladeira, abrindo a mesma e encontrando uma coisa para comer: nada. Fiz um bico enorme e olhei de volta para meus amigos, que agora conversavam entre si. Peguei o interfone e disquei o número 45, que dava direto no escritório de mamãe, no andar de cima. - Mãe, não tem nada para comer. - eu disse, suspirando, quando ela me atendeu. - Nem pão? Francamente, mamãe, até prisioneiros tem pão. - finalizei, rolando os olhos no meu mini drama. Pude ouvir meus amigos rindo, mas senti falta da melhor risada: a dele, é claro.
- Ah, me desculpe por isso, . Seu pai, e eu saímos para tomar café e acabamos esquecendo de trazer algo para você. A empregada começará a trabalhar segunda feira, então é melhor que você saia para comer algo. - minha mãe disse.
Minha própria mãe se esquecendo de mim! Hoje é o dia.
- Ok, certo. - eu respondi. - Beijos, mãe. - despedi-me dela e desliguei o interfone.
Virei para meus amigos, que me encaravam. Exceto , que olhava para baixo.
Mas o que raios está acontecendo com esse garoto?
- Vocês já almoçaram? - perguntei.

Sábado, 13:47 - Nobu

:

Eu não conseguia olhar para ela.
Eu não conseguia olhar para aquele rosto, sem me lembrar que, ontem, outro menino estavam grudado nela.
E por isso, toda vez que nossos olhares se encontravam, eu desviava o meu, olhando pra qualquer canto, que não ela.
- Ei, gente! - disse. - Escutem essa piada, é nova. - ele finalizou. Estávamos no Nobu, um restaurante japonês próximo ao Hyde Park, almoçando. Quando apareceu com as meninas e em casa, dizendo que estavam indo para a casa de , eu disse que não era uma boa ideia. Mas ele insistiu e eu concordei, porque, por mais que negasse, estava com saudades dela, já que mal havíamos conversado ontem.
- Ah, não. - disse, enquanto mordia seu temaki de salmão com cream cheese. - Eu passo, , obrigada.
- Eu também passo. - disse, concordando com a namorada. Ele esticou seus braços para alcançar os hashis.
- Ai, gente! Vocês só desprezam o meu boy. - disse, deitando a cabeça em . - Não fica assim, bebê, eles são gente do mal. - ela completou, fazendo um carinho na bochecha do meu amigo, que sorria bobo.
Amor. Eca. Fedido.
fez uma cara de nojo para a cena e eu quis rir. Mas não diz nada.
- Nossa, coitado do boy. - debochou, tomando seu refrigerante, fazendo o que eu normalmente faria, isto é, zoar de tudo e todos. Mas eu não estava com humor para isso hoje..
- Ai, amiga, desculpa. Mas as piadas do são sempre péssimas. - disse, abraçando .
Novamente: amor, eca, fedido.
Levantei o braço para pegar o shoyu, que estava no meio da mesa. Ao fazer esse gesto, minha mão encostou na de , que também ia pegar o líquido. Retirei a minha mão rapidamente, como se tivesse levado um choque. Ela levantou o olhar para mim, arqueando uma sobrancelha, como se perguntasse por que eu havia agido desse modo.
- Desculpe. - eu declarei, baixinho. - Pode pegar. - empurrei o frasco para ela.
- Obrigada. - ela respondeu. Todos na mesa pararam para observar aquela cena. Desviei meu olhar do dela e todos ficaram em silêncio.
- Então... - pigarreou. - Posso contar a piada? - perguntou.
- Pode, . - disse, revirando os olhos. - Eu sei que se você não contar, vai ficar enchendo a... - ela foi interrompida pelo toque de seu celular. - Um minuto, gente. - pediu, pegando o aparelho de sua bolsa. - Alô? - ela disse. - Ah, oi, Ian! - abriu um sorriso.
Assim que ouvi esse nome cravei meu olhar nela. O que esse cara queria, agora? Mas que saco. Fazia menos de doze horas que eles haviam se visto pela última vez, será que ele poderia pelo menos deixá-la em paz? Para, sei lá, por exemplo, almoçar?
Quero dizer, para almoçar com a gente?
- ... - chamou. Não me atrapalha, caramba. Eu preciso ouvir essa conversa. - ! - ele disse, mais alto, chamando a atenção de . Virei meu rosto para meu amigo, relutante.
- Fala, . - eu disse, sem paciência.
- Preciso falar com você, cara. - ele disse.
- Diga, ué? - dei de ombros. O que era tão importante que ele não podia dizer ali, em frente a todos, enquanto eu ouvia a conversa de ? Mas que inferno.
- À sós. - ele declarou. Porcaria, viu? Levantei-me da mesa, seguindo , que já estava em pé. Quando estava saindo, ouvi dizer algo como "Às oito está ótimo para mim".
Ela ia sair com ele?
Filho.da.puta.
- O que está acontecendo com você, ? - perguntou, quando já estávamos longe o suficiente da mesa.
Eu juntei as sobrancelhas, confuso.
- Nada, ué? - eu dei de ombros. Mentira, mentira, mentira.
- Você não me engana, . E sabe disso. - declarou, me encarando. - Parace que você está assim desde que viu a beijando aquele cara, e hoje você não queria ir até à casa dela, e agora está todo calado. Meu, você está com ciú... - ele ia dizendo, quando eu o interrompi.
- Não estou, não. - eu disse. - Por que estaria? Não tenho nada com ela, mesmo!
, ao ouvir o que eu dissera, ficou quieto.
- Sei, sei. - ele completou, rindo. Acho que estava tentando disfarçar o clima tenso. Enfim, tudo bem para mim. - Vamos voltar, vai. Não saciei minha fome ainda. - passou a mão na barriga. Eu ri.
- Vamos logo. - eu dei um tapa no ombro dele. Voltamos para a mesa no minuto em que desligou o celular. Ela levantou o olhar para mim e deu um pequeno sorriso no canto da boca. Eu também sorri levemente, mesmo não estando tão feliz. Não consigo resistir àquele sorriso. Ela desviou o olhar de mim e falou com .
- Vou sair com Ian, hoje à noite, está bem? - ela declarou.
- Tanto faz, . - deu de ombros, movendo seu hashi para a barca, em busca de um hot roll. - Posso contar a piada agora?
- Pode, . - respondeu, e depois todos atentaram os olhares em , ouvindo sua piada. Mas eu não. Eu trabalhava com a minha mente em outra coisa. Mais especificamente: em um plano.
Sorri malicioso. Ah, sim. , me aguarde.

Sábado, 15:29 - Westfield London

:

- Uma dessa no P, por favor! - pediu para a atendente da Dior, apontando para uma jaqueta preta em suas mãos.
- Gente, isso aqui é o paraíso. - eu disse, com os olhos brilhando. Depois de termos almoçado no restaurante de comida japonesa, os meninos foram para a casa de e nós viemos para o shopping, porque eu precisava de uma roupa para sair com Ian, hoje à noite. Mas, no fim, as meninas estavam comprando mais roupa do que eu, a que realmente precisava.
- Tá vendo, . - disse. - Morar em Londres tem lá as suas vantagens. - ela piscou.
- Tem mesmo, amiga. - eu pisquei de volta. - O que vocês acham desse? - eu peguei um vestido azul claro.
- Não gostei, . - disse, sincera.
- É, verdade. Tem esses negócios aqui, que são meio esquisitos, né? - eu apontei para um detalhe do vestido, torcendo a cara. - Acho que vou procurar mais um pouco.
- É sempre bom. - disse.
- Para onde ele disse que vocês vão? - perguntou.
- Então.. - falei, vasculhando nas araras de vestidos. - Eu não sei. - virei para elas, suspirando. - Ele disse que é surpresa.
- Ah, que fofo! - apertou minhas bochechas.
- Nossa vaquinha vai namorar, gente! - debochou. - Awn! - ela bateu palminhas e eu corei.
- Saiam, suas chatas. - eu disse, rindo. Namorar Ian não seria uma má ideia. Afinal, ele tem aqueles olhos azuis e aquele sorriso encantador e aquele perfume maravilhoso.
- Mas olha só, a vaquinha também está sendo mal educada. - disse, rindo também.
- Babacas. - eu disse, arrancando risadas delas, até que a atendente chegou com a jaqueta de .
- Vou ali provar, ok? - ela disse. - Já volto, não sintam muito a minha falta.
- Não sentirei nenhuma, pode deixar. - disse e eu ri.
- Otária. - disse, mandando um dedo do meio para e saindo depois.
- Ele não te deu nenhuma dica do que usar, ? - perguntou.
- Ah, ele disse para eu por um vestido e um salto. - eu dei de ombros. - Isso quer dizer que vamos a um lugar chique, né?
- Sim, sim. - afirmou com a cabeça. - Pode deixar, porque se depender da gente, rodaremos o shopping todo hoje.
Eu ri e continuei passando os vestidos na arara, à procura de um que chamasse a minha atenção.
Mas mesmo com todas aquelas roupas lindas e amigas super bacanas à minha volta, eu ainda não conseguia tirar ele da minha cabeça.
Talvez fosse o meu karma. Talvez eu fui uma vadia em outra vida e, por isso, estava sendo punida.
Sério, essa era a única desculpa razoável pra ele não sair dos meus pensamentos. Maldito seja ele e aqueles estúpidos olhos .

Sábado, 19:14 - Quarto de

:

Sim. Eu estava no quarto dela.
Sim, eu iria impedí-la de sair com Ian.
Sim, esse era meu plano brilhante.
Não, ninguém sabia que eu estava aqui.
Na verdade, depois de voltar da casa de , ofereci uma carona ao , que não recusou, já que estava sem carro e teria que pegar um táxi. Eu pedi para entrar e comer algo, disse que "tanto faz", despediu-se de mim e foi para seu quarto dormir, enquanto eu vim para o de . Genial.
Ouvi um barulho vindo do banheiro e me ajeitei em sua cama, pegando seu urso de pelúcia no colo. A porta do banheiro estava fechada e eu a esperava há exatos dez minutos. A porta finalmente se abriu, revelando uma coberta por um roupão branco estilo de piscina. Seus cabelos estavam lisos e sua franja, jogada para o lado. Ela não percebeu que eu estava em sua cama e seguiu para seu closet, voltando de lá com um vestido rosa e um sapato de mesma cor, nas mãos. Quando foi colocar as coisas em cima de sua cama - provavelmente para se trocar depois - subiu a cabeça e deu de cara comigo, que estava sorrindo largamente. Sua expressão passou de confusão para choque e depois para confusão novamente, quando, por fim, ela abriu a boca, com a intenção de gritar. Voeei até ela e tampei sua boca. Se ela gritasse, viria até aqui e me encontraria, e aí uma grande merda estaria feita.
- Shhhhh. - eu sussurrei em seu ouvido. - Quietinha, . - eu dei um beijo do pescoço dela. Pude perceber os pelinhos finos da região se eriçando, sorri com o resultado da minha pequena provocação. Tirei minha mão de sua boca e a puxei para mais perto de mim, colando nossos corpos.
- O que... - ela tentava dizer, mas eu continuava meu trabalho em seu pescoço, dando mordidinhas leves. soltou um gemido baixo e eu abri um sorriso ainda maior. - O que você... - ela tentou novamente, mas eu a impedi, colocando o dedo indicador em sua boca, fazendo um sinal de "silêncio".
- Isso. - declarei, me aproximando de seu rosto e colando nossas bocas em um beijo cheio de saudade. As mãos de se depositaram em volta da minha nuca e as minhas em sua cintura, apertando aquele local de leve. Ela abriu sua boca lentamente e eu enrosquei nossas línguas, enquanto apertava mais a sua cintura e ela puxava alguns fios de cabelos meus. Eu a beijava com vontade, tentando recuperar todo o tempo que perdi assistindo a cena dela com aquele panaca. Içei e ela se enroscou em minha cintura, enquanto eu sentava em sua cama ela ficava com as pernas em volta de meu corpo. Subi minhas mãos de sua cintura para seu cabelo, procurando pela sua nuca e fazendo ali um carinho que ela pareceu gostar, já que puxou meus cabelos com mais força e depois arranhou meus ombros. Sério, eu amava quando ela fazia isso.
- Você sabe o que provoca em mim? - perguntei, partindo o beijo e mordiscando o lábio inferior dela. Ela gemeu baixo.
- Você sabe... - ela disse, com a voz rouca, descendo até meu pescoço. - O que provoca.. - ela continuou, depois depositando sua boca ali, dando um chupão leve. - Em mim? - perguntou, sussurrando em meu ouvido, depois mordiscando meu lóbulo. Os gestos dela me deixaram totalmente maluco e sem controle, atiçando meus instintos mais sujos.
- Não... - eu disse, provocando-a, sussurrando perto de sua orelha. - Mas estou louco para descobrir. - finalizei, depois colando nossas bocas novamente. Ela retribuiu o beijo com a mesma vontade que eu, e mais uma vez nossas mãos exploravam o corpo um do outro. Eu peguei e troquei nossas posições, colocando ela sobre a cama enquanto ficava por cima dela. Eu a beijava com toda minha disposição, para compensar o quanto eu fiquei na vontade ontem. Deslizava minha mão livremente de sua cintura para seu quadril, e depois percorria toda a extensão de suas coxas, enquanto ela arranhava minhas costas por debaixo da blusa. Continuei concentrado no beijo, que esquentava cada vez mais, com direito a passando seu dedo indicador pelo cós da minha calça e eu tentando desamarrar o laço de seu roupão.
Quando eu finalmente consegui, um barulho irritante de celular tocando nos interrompeu, quebrando totalmente o clima.
Caralho!
partiu o beijo e bufou, em seguida olhando para mim, como se pedisse permissão. Agora, que o clima já estava acabado, tanto faz, né? Dei de ombros. Peguei o celular dela, que estava próximo de mim, perto de sua cabeceira. Na tela, um nome piscava, insistentemente: Ian. Eu gelei, olhando para com pavor. Ela arqueeou uma sobrancelha e pegou o aparelho de minhas mãos, olhando para a tela do mesmo e depois olhando para mim. É isso aí, é agora ou nunca.
- Não vai. - eu pedi, baixinho. - Fica aqui comigo. - supliquei, puxando-a para mais perto e dando um beijo em seu pescoço, porque eu sabia que ali era o ponto fraco dela. Ela estremeceu com o toque e eu sorri, dando ali uma pequena mordida.
- ... - ela dizia, enquanto a porra do telefone não parava de tocar. Eu continuava a provocar , trabalhando caprichosamente em seu pescoço, que cheirava à sabonete. - , eu não posso! - ela me empurrou para a ponta da cama, apertando o botão verde do celular e depois colocando-o na orelha. disse "Alô" no celular enquanto pedia silêncio com os dedos. Bufei. - Oi, Ian, - ela disse, revirando os olhos. olhou com cara feia para mim, o que me fez querer rir mais. - O quê? - ela disse, confusa. - Ah, você já está aqui embaixo? - olhou para mim, desesperada. Porra, peraí, o cara já estava aqui em baixo? Quão adiantado ele estava? Olhei para o meu relógio, que indicava 20:18. Caramba, nós ficamos nos beijando por tanto tempo assim? - Sim, claro. Estou descendo. Espere aí mesmo. - ela completou, logo depois desligando o aparelho e olhando novamente para mim. Logo depois ela voou até a cama, recolhendo seu vestido e salto e adentrando o banheiro. Voltou de lá trocada e olhou para mim, que assistia toda a cena sem saber o que fazer.
- Vá para o quarto de . - declarou, impassível. - Amanhã a gente conversa.

Sábado, 21:39 - Alain Ducasse at Dorchester

:

- ? - Ian pediu, e eu virei o rosto para ele. - Aconteceu alguma coisa? Você está meio aérea.
Pensei um pouco sobre como daria aquela resposta. Algo como: olha, não aconteceu nada, não, fora o fato de que o cara por quem eu tenho uma queda maior que a torre Eiffel surgiu no meu quarto, do nada, a gente deu uns amassos e quase avançou para a fase 2.
Ou algo como...
- Estou? - eu forcei meu melhor sorriso. - Me desculpe. - abaixei a cabeça, depois levantando-a. - Não aconteceu nada, é que eu estava pensando que este será o primeiro Natal que eu passo longe da minha família. - completei.
Bom, isso não era uma mentira, afinal, eu nunca havia passado essas datas comemorativas longe dos meus avós e parentes. Mas agora eles estão no Brasil, e eu estou aqui, em Londres.
A verdade total, entretanto, é que eu não prestei atenção em uma palavra que Ian disse para mim, hoje. Minha cabeça estava longe, mais especificamente, em . Após nossa pequena cena em meu quarto, ele saiu e eu fui me maquiar, descendo para o hall, logo depois, encontrando lá um Ian muito bem vestido, com camisa social preta, jeans escuros e sapatênis brancos com preto. O problema é que: eu não consigo achá-lo tão lindo quanto . Aliás, eu não consigo parar de compará-lo com .
Isso faz de mim uma espécie de bruxa?
- Ah, entendo. - ele disse, pensativo. - Mas, ei, não fique assim, ! Pense no tanto de coisas legais que já aconteceram com você por aqui, e no monte de amigos que já fez. - completou. É, bom, isso é verdade. Tá se saindo bem, Ian. - Isso não é um motivo para comemorar? - Ian perguntou, sorrindo.
Ok, ele é lindo. Tipo, muito lindo. E ele ainda é fofo! E se veste bem. E cheira bem. E tem olhos maravilhos. Boca também. Cabelo também. Sorriso também.
- É sim, Ian. - eu disse, sorrindo verdadeiramente para ele.
- Então vamos comemorar. - ele piscou, charmoso e depois chamou o garçom com os dedos, que percebeu o sinal e veio até nossa mesa.
- Pierre, me vê uma garrafa de Moët & Chandon. - Ian pediu. - Mas, ei, meu pai não precisa ficar sabendo disso, certo? - ele depositou um bolinho de notas no bolso do garçom, que afirmou com a cabeça. - Obrigado, Pierre.
Oras, então Ian não era um total cavalheiro, afinal. Ele havia comprado o silêncio do homem.
- Por que ele contaria para o seu pai? - perguntei, curiosa, numa tentativa de prestar atenção em Ian e não pensar em . O que era muito difícil de se fazer, acredite. Ainda mais depois de um beijo daqueles. Bom, alguns beijos.
- Bem, meu pai é o dono daqui. - ele respondeu, dando de ombros. - Tenho descendência francesa, . - Ian olhou em meus olhos. - Achei que tivesse te dito isso ontem à noite.
- Hm... - eu vasculhei minha cabeça em busca de um vestígio de Ian dizendo algo parecido. Mas nesse terreno, só uma coisa podia ser encontrada: . E tudo relacionado a ele. - Acho que não, Ian. - eu neguei com a cabeça. - Eu me lembraria. - terminei.
Ou não. Mentira, ok, lembraria, sim. Foco em Ian, cérebro, foco em Ian.
- Bem, agora você já sabe. - ele deu um sorriso e eu retribuí. - Agora, , vamos pedir algo para comer, ok? - ele disse, puxando o cardápio e entregando-o para mim.
- Ué, você não vai escolher sua refeição? - eu perguntei, ao perceber que ele estava sem cardápio.
- Não preciso, . Conheço esse cardápio inteiro. - Ian disse, sorrindo.
- Ah, sim. - eu disse. Era compreensível, afinal, o pai de Ian era dono do restaurante, então ele devia comer muito aqui. Vasculhei o menu e escolhi o que queria.
- E então? - ele perguntou. - Pronta para fazer seu pedido, mademoiselle? - Ian sorriu.
- Pode apostar que sim, monsieur. - eu disse, piscando para ele.
Apesar de não ser nada parecido com , Ian era um cara legal. E que gostava de mim, aparentemente. Então, eu acabei me decidindo pelo seguinte: enquanto estivesse com ele, tentaria tirar da minha cabeça. Afinal, ele tinha Hayley. Por que eu também não poderia ter outro, já que não éramos nada?
Virei minha cabeça e cravei meus olhos nos glóbulos azuis de Ian, sorrindo largamente.

X. Não tô com ciúmes


Domingo, 16:19 - em casa

:

O toque estridente do meu celular interrompeu meu sono e eu fui obrigado a me levantar, estressado. Alcancei o maldito aparelho e amaldiçoei mentalmente qualquer um que estivesse me ligando tão cedo. Deslizei o dedo pela tela do iPhone e coloquei-o direto na orelha, sem nem olhar quem me ligava.
- Alô? - eu disse, mal humorado.
- Oi, . - uma voz delicada respondeu. Eu sorri. Ok, definitivamente, retiro todas as macumbas. A dona dessa voz não merecia e eu nem queria que acontecesse nada de mal com ela. - Desculpe, te acordei?
- ! - exclamei, animado. Ouvir a voz dela me fazia bem. Beijá-la, então... - Imagina, não tem problema. - eu disse, enquanto procurava minha camisa pelo chão do quarto.
- Sou eu mesma. - ela disse, e eu pude prever que do outro lado da linha ela estava sorrindo. Outra coisa que me fazia muito bem era aquele sorriso. De um jeito único, aquele sorriso era o mais bonito que eu já havia visto em toda a minha vida. - Você não me ligou, então eu decidi ser o homem da vez.
- Ah, tomou a decisão certa, amiga! Eu não ia mesmo te ligar, tava ocupado fazendo minhas unhas. - eu zombei, fingindo ser gay por causa do comentário dela.
- Viu, eu disse! Vou ter que ser o macho agora, bro. - ela disse, engrossando a voz.
- Ok, , chega. Isso está ficando estranho demais. - eu disse, acompanhando-a no riso. É engraçado como eu nunca me diverti como uma menina como eu me divirto com ela. De certa forma, ela me faz sentir mais... eu mesmo. Sem esforços, sem pressão, sem nada. Só me faz sentir à vontade para ser eu mesmo. E isso é uma coisa que eu estou adorando.
- Concordo, cabritinho. - ela disse. - Vamos trocar de lugar agora, sim? - completou.
- Com certeza. - eu disse, enquanto abria a porta do meu quarto e seguia à cozinha. Abri os armários e a geladeira, em busca de algo para comer. Como minha mãe trabalha e viaja demais, na maior parte do tempo eu moro sozinho. E é por isso que nunca tenho comida em casa. Bufei quando não encontrei um sinal de comida.
- E então, ... - ela disse. - Eu te liguei porque... - ela ia completar a frase, quando eu a interrompi. Caso você não tenha notado, eu tenho mania de interromper as pessoas, isso aí.
- Você não precisa de motivos para me ligar, - eu disse, baixinho. - Mas, me desculpe por não ter te ligado antes. - completei a frase, para não parecer tão o-panaca-gay-babaca-idiota-estou-babando-por-você.
Não que eu estivesse babando por ela.
Poxa, não mesmo.
O que será que ela estava vestindo? Aquela camisola, será? Ou uma menor?
- Na verdade, eu não te desculpo, não. - ela disse, em um tom sério. Opa, peraí, agora a porra ficou séria. Uni minhas sobrancelhas em um misto de confusão, pensando em todas as merdas que eu já havia em minha vida. Será que ela havia me visto nadar pelado na piscina dela no dia em que nós nos conhecemos? Hmmm. Quando eu finalmente ia falar alguma coisa, foi mais rápida. - Só se você me levar para patinar!
- Patinar? - perguntei, inseguro. - Hmmm. - murmurei, pensativo.
Patinar, certo? Com . Com ela se segurando em mim para não cair. Comigo dando o apoio necessário para ela. Ela grudada em meu corpo, eu grudado no dela. Tentador.
- Sim! - ela exclamou, animada. - disse que todos vão, e como eu estou sem par, vai você mesmo, né? - ela riu, divertida. Ouch, !
- É assim que você pretende me convencer a ir contigo? - perguntei, fazendo um bico enorme. - Humf. - bufei.
- Me desculpe, ! - ela apressou-se em dizer. - Mas, e aí, sim ou não? - perguntou e eu não hesitei em responder.
- É claro que sim, pequena. - eu disse.
- Ótimo. - ela disse, feliz. - Me busque às 17:00. - terminou e desligou.
No meio de toda essa confusão sim--faço-qualquer-coisa-por-você, eu me esqueci de um pequeno detalhe.
Eu não sei patinar.

Domingo, 18:51 - Somerset House Ice Rink

:

- , você é pior nisso do que eu! - eu disse para ele, rindo muito e tentando segurá-lo, enquanto ele teimava em cair e tropeçar. - Fala sério, não demos nem uma volta completa ainda e você já tropeçou quinze vezes! - eu disse. - E caiu quatro! - completei, rindo.
- Sem zoação, ok, ? - ele disse, tentando se segurar em mim. Mas é óbvio que ele era mais pesado que eu, e, por isso, quando ele foi se apoiar em mim para se levantar, eu acabei caindo por cima dele. O resultado desse acidente foi a seguinte cena: ele por cima de mim, nós dois rindo histericamente e chamando a atenção de todos. Os pais olhavam com os olhos arregalados para nós, ao mesmo tempo em que tampavam os olhos das crianças para que as mesmas não vissem uma mini cena não apropriada para um lugar tão frequentado por menores de dezoito.
Não quero nem saber o que as pessoas pensaram de mim naquele momento.
- , seu cabrito, sai de cima de mim! - eu pedia, rindo muito.
- Nossa, , cabrito? - ele perguntou, com a sobrancelha levantada. Sexy, sexy, sexy. - Não tinha outro xingamento melhor, não? - ele disse, sorrindo. Abri minha boca para respondê-lo, mas ouvi uma voz familiar soar ao fundo.
- , ! - berrava. Ela estava muito longe da gente, no início da pista de patinação, preparando-se para dar o que parecia a sua terceira volta. É, então eu acho que a nossa cena foi bem escandalosa mesmo. Pude enxergar ela se aproximando de nós rapidamente, de mãos dadas com .
- Vocês estão bem? - perguntou, com os olhos arregalados.
- Estamos sim, priminho. - eu disse, sorrindo. Com ainda por cima de mim.
- Gente, gente! - dizia, correndo apressadamente pela pista de patinação, seguida por , e . - O que aconteceu? - ela perguntou.
- Uma laranja gigante me atacou, . O que acha que aconteceu? - disse, rindo e revirando os olhos. Todos nós rimos e fechou a cara.
- Grosso. - ela disse, bufando e fazendo um bico.
- Ei, linda, calma. - disse, puxando-a para perto e dando um beijo em sua testa. Ela abriu um sorriso enorme.
- Hm, e aí, tá confortável no chão, ? - perguntou.
Olha, na verdade, tá frio. Mas o tá em cima de mim, então...
- Não. - falei. - Mas esse ser não sai de cima de mim, . - apontei para .
- Ei, que mentira! - disse, rindo. - Depois dessa, eu vou até sair.
- Bom mesmo. - eu disse, debochando.
- Babaca. - ele disse, rindo. - , me ajude aqui. - pediu e estendeu a mão para ele, levantando-o em seguida. - Obrigado, irmão.
- De nada, cara. - disse, fazendo um high-five com depois.
- Alguém pode me ajudar? - eu pedi, ainda no chão. veio até mim e eu rejeitei. - Não, você não! Vai acabar caindo em cima de mim de novo. - eu disse.
- Ok, grossa, então fica aí, no chão mesmo. - ele disse, mostrando a língua. Eu revirei os olhos e veio me ajudar também. Ele esticou o braço em minha direção e me içou.
- Obrigada, zito. - agradeci, enquanto batia minhas mãos em minha roupa, tirando os resquícios de sujeira e gelo das mesmas.
- De nada, baixinha. - ele respondeu, apertando meu nariz.
- Espera, , deixa eu arrumar o seu cabelo. - disse, se aproximando de mim e passando as mãos pelo meu cabelo, que devem ter ficado totalmente bagunçados durante a queda. - Pronto, amiga. - ela piscou e depois voltou para os braços de .
- Obrigada, vaquinha! - mandei um beijo no ar para ela.
- Gente, eu 'tô com fome! - disse.
- E quando é que você não está com fome? - disse, revirando os olhos.
- Depois que eu como, babaca. - ela respondeu, mostrando a língua para , que riu, ainda agarrado em .
- Justo. - ele disse.
- O que vocês acham de nós alugarmos algum filme, irmos para a casa da e depois pedir pizza? - sugeriu.
- Ih, quem disse que eu deixo vocês irem? - eu disse, brincalhona.
- Ninguém disse. Mas eu deixo vocês irem, gente. - respondeu. - Como sua mãe disse, a casa também é minha. - piscou para mim.
Uh, touché.
- É isso aí, . - bateu de leve no ombro de .
- Idiota. - eu disse, mandando um dedo do meio para meu primo.
- E então, gente, pode ser? - perguntou para todos, recebendo como resposta um sonoro "Sim". - Ótimo, vamos então. - ela disse, indo em direção ao início da pista de patinação, onde havia uma saída. correu até ela e a pegou pela cintura, dando um beijo em seu pescoço.
- Espera, ninguém quer saber o que eu acho sobre isso? - eu perguntei.
- Não. - , e disseram em coro, deslizando pela pista e se afastando de nós.
- Poxa, magoou. - eu fiz uma cara de triste. riu e veio em minha direção.
- Tá vendo, . É isso que você ganha por dar mais valor em seus ditos amigos e menos valor em mim. - ele sussurrou, brincalhão, perto do meu ouvido. Filho da mãe.
Abri a boca para dizer algo, mas fui interrompida por uma vozinha fina e irritante, que eu sabia que pertencia a uma certa loira-gema.
- Amorzinho! - Hayley piou. Puta que pariu, tem alguém mais chata, babaca, estressante e ridícula em todo o mundo como essa menina? - Que saudades de você! - ela disse, e se aproximou de , grudando em seu pescoço. Eu revirei os olhos.
- Oi, Hay. - ele disse, passando as mãos pela sua cintura. Ah, filho da mãe, por que ele tá correspondendo a ela? Vai se ferrar, . - Mas nós nos vimos ontem, já está com sau... - parou a frase no meio, olhando para mim. Eu fingia não prestar atenção na conversa dos pombinhos, mas quando ele pronunciou essa última frase, não pude deixar de olhar para ele. Cravei meus olhos nos de .
Espera. Eles se viram ontem? Como? Quando? Que horas? Ele não estava comigo até... eu sair?
AH MEU DEUS! Desgraçado, desgraçado, desgraçado. Então é assim, né? Vem comigo e depois com ela? Sou tão estúpida. Que raiva de mim mesma, que raiva de , que raiva da Hayley.
Nós quatro estávamos em silêncio. Hayley mantinha um sorriso confuso na cara, eu olhava com raiva para , que me olhava como quem pedisse: "desculpe". Sabe onde eu quero que você enfie esse "desculpe", ?
, mesmo sem saber o que havia acontecido, percebeu o clima tenso que havia se instalado ali e perguntou:
- E então, gente, nós vamos ou não? - minha amiga quebrou o silêncio.
Deus te abençoe, amiga. É a minha deixa para sair daqui e experimentar meu novo estilo de vida: nunca mais olhar na cara de cafajestes como ele.
- Mas é claro que sim! - eu disse, sorrindo falsamente. São nessas horas que meu instinto mais teatral aflora. - Eu vou, você também, mas vamos deixar a sós com sua namorada, sim? - continuei sorrindo falsamente.
- Ela não é a minha... - tentou dizer, mas eu o cortei.
- Vamos, . - eu disse, puxando minha amiga pela mão. - Tchau, Hayley. - eu disse, fitando-a com um olhar de indiferença. Oras, eu ainda não gostava dela. - Tchau, . - mirei os olhos dele profundamente e observei seu olhar se contrair com a intensidade do meu. - Aproveitem o resto de domingo. - eu completei e depois saí com , que dava "tchau" com a mão desocupada.
Que eles formem um casal muito bonito, namorem, se casem, tenham filhos e que depois ele morra.
É, isso mesmo.
- ... - pediu e eu virei para ela. Ela lançou um sorriso compreensivo para mim, e eu dei um sorriso fraco de volta. - O que está acontecendo entre vocês dois? - ela disse, e eu abri minha boca para falar, quando ela me interrompeu. Mas que droga, ninguém vai me deixar falar hoje? - Não negue.
- Ok. - bufei, pronta pra falar a verdade. - A gente já ficou. - eu disse, olhando para as minhas unhas, tentando ignorar o fato de que a boca dela estava meio aberta. - Umas, hm, três vezes... - completei, e os olhos dela se arregalaram.
- Ah, eu sabia! - ela bateu palminhas, feliz. Sabia? Eu arqueei uma sobrancelha, olhando para ela. - Não, quero dizer, não que eu realmente soubesse de vocês, mas eu suspeitava. Só se você for muito lesado para não perceber o clima que tem entre vocês dois. - completou, dando um sorriso.
Por que ela estava feliz ao saber de nós? Quero dizer, não é como se eu pudesse ficar com , de qualquer jeito. Ele tinha a Hayley e parecia bem envolvido com ela. E eu tinha, hm, o Ian?
- Não exagera, . - eu disse, revirando os olhos. - Bom, com clima ou não, tanto faz. A gente não vai ficar junto. - completei, enquanto me apoiava na barra lateral da pista de patinação.
- Ei, como assim, por que não? - ela perguntou.
- Hayley. - eu disse, fazendo uma cara de nojo. riu. - E eu tenho o Ian, né?
- Qual é, ? A gente já te disse porque está com ela. - ela disse, fazendo um gesto obsceno com as mãos. Eu ri alto, o que atraiu a atenção de todos, inclusive a dele, que estava com a loira-gema no outro canto da pista. olhou para mim e desviou rapidamente. Eu só ignorei, voltando meu rosto para o de .
- Você não existe, amiga, sério. - eu disse, ainda rindo.
- Ah, que bom que te fiz sorrir! - ela disse, dando outro sorriso. - Mas não pense que vai escapar de mim, . Por que você ficou toda irritada quando o disse que esteve com a Hayley ontem? - perguntou. Droga, droga, droga!
- Bom, quando nós voltamos do shopping, eu fui tomar banho e tal. - eu dizia, e ela me ouvia atenta. - Quando saí do banheiro, adivinha quem estava em minha cama? - pensou e depois abriu a boca. - Sim, . E aí ele se aproximou de mim e me beijou. - eu completei. - E depois pediu para eu não ir ao encontro com o Ian.
- Assim, do nada? - ela perguntou e eu confirmei. - Hm, ? - ela pediu e eu a olhei. - Acho que vocês estão com ciúmes um do outro. - completou, e eu arqueei minha sobrancelha.
- Eu não estou com ciúmes. - respondi, incerta. Tudo bem. Talvez eu esteja.
- Não minta. - disse. - Amiga, talvez ele só tenha saído com ela depois de ter ficado contigo porque você também fez isso, . Você também ficou com ele e depois saiu com Ian, apesar dele ter te pedido para não ir.
- Eu sei. - eu disse. É, ela estava certa. Nunca tinha parado para pensar pelo lado dele. Eu o criticava, ficava brava por ele alternar entre mim e ela, mas no final, eu fazia exatamente a mesma coisa. - Por que você disse que ele também tem ciúmes de mim? - perguntei, curiosa. Não podia me esquecer desse detalhe, né?
- Porque sexta, na festa, quando ele te viu beijando o Ian, ficou todo calado, quieto. - ela disse. - E eu conheço o há anos, isso não é típico dele. Principalmente em uma festa. E depois, no sábado, ele hesitou em ir a sua casa, mas o convenceu, e quando nós chegamos lá, ele ficou todo calado novamente. No restaurante também. - dizia e um monte de coisas rodavam em minha cabeça. Na festa, o que me estimulou a ir até Ian, fora a impressão que eu queria causar em , mostrar para ele que, assim como ele não era meu exclusivo, eu também não era a dele. Então eu havia conseguido? Pude sentir a raiva de alguns minutos atrás ir se desfalecendo, e eu até arrisquei um sorriso, girando meu pescoço para procurar por ele. estava no mesmo canto, com a mesma garota. Mas a diferença, é que, agora, eles estavam se beijando. O jato de raiva que estava sendo destruído voltou a me atingir, mas eu me controlei. Eu não tinha razão para ficar com ciúmes dele, porque a gente não estava junto.

Domingo, 20:36 - no meu carro

:

Eu sou um otário.
Onde foi que eu estava com a minha cabeça, mesmo? Por que raios eu disse aquilo na frente de ?
Mas que merda, mas que merda!
Agora ela deve estar pensando que eu sou um cretino. Eu sei disso. Eu vi a cara dela quando eu disse aquela frase. Mas, poxa, ela ia sair com o Ian, eu ia ficar fazendo o quê? Em casa, vendo Hannah Montana?
Claro que não. É por isso que eu fui para a casa de Hayley depois. Mas ela não devia ficar sabendo disso. Droga.
Bati minha cabeça no volante do Porsche, acionando a buzina sem querer, o que atraiu a atenção de várias pessoas que passavam pela rua. Decidi que era hora de ir embora. Sei que não iria querer me ver em sua casa, fingindo que nada aconteceu.
Eu me resolvo com ela amanhã na escola.
Dei a partida no carro e segui até meu prédio.

Domingo, 21:29 - cozinha da minha casa

:

- Ei, , me explique novamente porquê o não veio. - pediu, atrás de mim, segurando os pratos e talheres usados pela gente enquanto comíamos a pizza.
- Ele encontrou a Hayley e preferiu ficar por lá. - eu disse com desdém. Ainda tô puta. 'Tô mesmo. Apesar de não ter razões para tal. Me processe.
- Hm... - murmurou, depositando os pratos sujos na pia. - Ele disse isso? - se virou para mim, que colocava os copos sobre a pia também.
- Não, ué? - eu disse, dando de ombros. - Mas não precisa, né, ? Eu vi os dois juntos e já deduzi. - me virei para ele.
- Certo. - deu um sorrisinho. - Você está esquisita hoje. - ele disse.
- Esquisita? - perguntei, arqueando uma sobrancelha enquanto colocava 7UP no meu copo. - Esquisita como? - pedi, levando o conteúdo da bebida à minha boca.
- Esquisita estilo estou-com-ciúmes-de-você-. - ele declarou e eu engasguei com meu refrigerante. veio até mim e deu batidas leves em minhas costas, enquanto eu tossia exageradamente. ria e eu lançava meu melhor olhar mortal para ele.
- Não estou com ciúmes dele. - eu disse, após a minha tosse cessar. - Por que eu estaria, ? Nós não temos nada. - declarei, olhando firme em seus olhos.
- Eu sei. Por isso é que é estranho. - ele sorriu, maroto. - Mas, não mente para mim, não, . Eu sei que vocês já ficaram. - completou e saiu da cozinha, me deixando ali sozinha.
Mil coisas se passavam pela minha cabeça. já havia contado para eles? O que ele havia contado? Quero dizer, de qual das três vezes? Da primeira? Da segunda vez? Ou da terceira? Ou de todas? Havia comentado sobre mais alguma coisa? Por que eu estou pensando nele? Não ia parar de pensar nele? Eu não estava com raiva dele? Ai, caramba!
Voltei para a sala de cinema e me sentei ao lado de , que era a única das meninas que não sabia de meu enrosco com . Meu primo nunca comentou nada disso comigo, mas eu imagino que, se contou para , logo, e já sabiam.
- ... - eu pedi e ela se virou para mim. - Tenho que te contar uma coisa. - eu disse, baixinho. e estavam no canto do sofá, abraçados, e se beijavam em um pufe e pescava algo de bom para assistir, já que havíamos acabado de ver o filme que alugamos.
- Eu já sei, vaquinha. - ela disse, e sorriu para mim. Eu juntei as sobrancelhas, confusa. - me disse. - completou, deitando sua cabeça em seu namorado.
Sorri sem mostrar os dentes e ela apertou minha bochecha.
- Relaxa, pequena . Vai ficar tudo bem.
Apenas uma semana em Londres e minha vida já está completamente mudada.

XI. We fight, we break up. We kiss, we make up
(Hot N' Cold - Katy Perry)




Segunda feira, 08:10 - sala de aula do 2ºB

:

- Cara, mas a gente precisa fazer algo a respeito. Meu pai já está me achando um vagabundo, e disse que, se a banda não vingar, eu terei de ir para a faculdade. - falou, aflito.
Eu e os caras estávamos na sala de aula, amontoados em quatro carteiras, discutindo sobre o futuro de nossa banda, o McFLY. O sinal só batia 8:15, então, , e ainda estavam conosco e depois iriam para a classe A.
- O que a gente teria que fazer para provar ao seu pai que a banda tem um futuro certo? - perguntou.
Nenhum de nós quatro realmente queria ir para a faculdade, e sim fazer sucesso ao redor do mundo todo, dar autógrafos, gravar CD's, DVD's, ter fãs gritando nossos nomes e muitas, mas muitas groupies.
Uma vez cafajeste, sempre cafajeste.
- Acho que o primeiro passo seria arranjar uma gravadora. - disse, pensativo.
- Nossa, , continue com essas ideias brilhantes, que talvez nós até te deixaremos continuar no McFLY. - eu disse, debochando do meu amigo. e riram, e mandou um dedo do meio para mim.
- Boa, . - fez um high-five comigo, rindo. - Mas agora é sério, gente. Onde nós iremos achar outra gravadora? Nas cinco que nós fomos até agora, recebemos um belo e sonoro "não" como resposta. - completou.
- Ei, acalmem-se. - eu disse, tentando pensar em alguém que conhecesse e que era meu amigo e tinha afiliações com uma gravadora.
Ouvi a risada alta de ecooar ao fundo e me virei quase que instantaneamente, encontrando-a escorada na carteira de . Cravei meus olhos nela, que percebeu e levantou o olhar. Eu sorri fraco e ela não correspondeu, abaixando a cabeça e voltando a falar com as meninas.
Saco, ela tava puta ainda. Não sei se fiz bem ou mal em não ir à casa dela.
Espera aí, aquela casa! Lembrei da noite que eu a conheci e do que tinha me dito. Cacete, o pai da era dono de uma gravadora!
- , seu completo retardado. - eu disse, feliz, e ele levantou uma sobrancelha. - Você mora com o dono de uma das maiores gravadoras do mundo e nunca se deu conta disso. - completei, pondo as mãos na cabeça.
- Eu moro? - ele perguntou. Não importa o quão lerdo você seja, nunca superará . - Porra, eu moro! - exclamou.
e nos olhavam com cara de pastel, como quem não estava entendendo nada.
- Mas, espera, você não mora com a ? - perguntou, confuso.
- É aí que está a questão, . - eu disse, virando meu rosto para ele com um sorriso maroto. - O pai dela é dono da MusicRecords. - completei e deixou a boca cair. - Sim, , o próprio Paul Collins. Pode chorar agora.
- Eu não acredito! - exclamou, saltando da cadeira e fazendo um barulho que chamou a atenção de todos. - Puta que pariu, você tá falando sério? - colocou as mãos na cabeça, exaltado.
- Ele está falando seríssimo, cara. - confirmou.
- Duvido! - disse, e eu revirei os olhos. - Ei, ! - pediu, aflito, e a menina virou-se para ele.
- Diga, do meu coração. - ela disse, sorrindo.
- Pode me dizer seu nome completo? - pediu e ela fez uma cara confusa. Eu, e só assistíamos a cena.
- Posso, ué? - ela respondeu, ainda confusa. - É Collins. - disse, dando de ombros. - Por que? - ela terminou e eu vi as expressões de e desabarem em choque. e eu apenas sorríamos.
- Por nada, não. - disse, ainda perplexo. - Obrigado, . - ele completou e ela piscou para ele, dizendo um "não há de quê".
se virou para a gente de boca aberta. Eu ria baixinho.
- Cara... - ele começou, mas o sinal o interrompeu.
- No intervalo a gente fala com ela. - eu finalizei e eles concordaram.
Ah, que coisa mais perfeita!

Segunda feira, 12:32 - fila do refeitório

:

- Então o que vocês querem que eu faça é dar um contrato para o McFLY, é isso? - eu perguntei aos quatro meninos que me encaravam com olhos atentos.
Basicamente, quando deu o sinal para o almoço, , e me fizeram esperar até chegar, dizendo que tinham que conversar comigo sobre um assunto importantíssimo. Segundo , era coisa de vida ou morte. Quando meu primo chegou, eles me acompanharam (leia-se: seguiram) até o refeitório, entrando comigo na fila e impedindo as meninas de ficarem comigo. O tal assunto, como eu descobri, era o seguinte: os quatro possuíam uma banda, chamada McFLY, que estava no estágio "banda de garagem", mas os meninos queriam levá-la adiante, sonhando em alcançar algo maior e algum reconhecimento na Inglaterra. Para isso, precisavam de uma gravadora. Bom, meu pai tem uma gravadora. E aí, é isso. Unindo o útil ao agradável.
- É isso mesmo, . Será que o seu pai daria uma chance para a gente? - pediu, aflito. De todos os quatro, ele e pareciam os mais nervosos. Eu sentia confiante e parecia meio distraído.
Ou talvez fosse só porque ele era meio lesado: morava comigo há mais de uma semana e nunca mencionou que tinha uma banda.
- Isso depende. - eu disse, parando meu prato em frente a moça que servia o almoço. Ela sorria para mim e eu sorri de volta. A moça colocou algumas batatas fritas em meu prato e eu agradeci, seguindo para a balança e pedindo um suco de laranja natural. Fui acompanhada pelas minhas Tartarugas Ninjas, quero dizer, pelo meus quatro amigos, que olhavam curiosos.
- Depende do quê, ? - pediu. Era a primeira vez que ele falava comigo hoje. Eu havia visto o seu sorriso, mais cedo, na primeira aula. Mas ignorei. Eu ainda estava brava com ele e com toda aquela confusão dele.
- Depende do quão bons vocês são. - eu disse, virando-me de frente para eles. Fui até o caixa do refeitório e entreguei a minha comanda. Eu estava brincando, afinal, era óbvio que meu pai daria uma chance a eles. Primeiro porque um dos membros era meu primo. Segundo porque eu pediria muito pra ele ajudar os meninos. Terceiro porque meu pai era um cara muito legal e, na sua juventude, também teve uma banda. Só que essa não vingou, mas ele adorava essas coisas de bandas novas que podem vir a ser um sucesso. Segundo ele, "nunca se sabe o que pode acontecer".
Então, eu estava apenas me fazendo de difícil, porque era engraçado ver os meninos implorando por algo que você pode dar. Me chame me malvada.
- São 11,79 libras, mocinha. - o velho do caixa disse e eu recolhi do ombro a minha bolsa, preparada para pegar a carteira.
- Deixa que eu pago, . - disse, tirando do bolso uma nota de vinte libras e entregando ao caixa. Ele estava pagando meu almoço. Quão importante essa banda era para ele?
Tipo, muito.
- Ok, , obrigada. - eu disse, dando de ombros.
- Nós somos muito bons, baixinha. - disse, apertando meu nariz.
- Vocês estão me dizendo, então, que podem fazer uma música alto nível? E estão totalmente certos disso? - eu perguntei, seguindo para uma mesa vazia no refeitório, já que, na nossa mesa de sempre, estavam as minhas amigas, que os meninos haviam tirado da conversa. Malvados, eu sei.
- Nós estamos 100% certos disso, . - disse com uma voz rouca.
Fala sério, por que ele era tão gostoso e sexy e lindo? Afes. Ele não podia ser nem um pouco mais feio? Seria mais fácil ficar brava com ele assim. Tá vendo, sinto que já o perdoei.
Merda.
- Sim, . Podemos fazer melhor do que a sua banda favorita! - disse.
- ? - eu pedi, sentando-me.
- Nós somos bons, . Eu te garanto. - ele disse, cruzando os braços.
- Ok, então. - eu disse, dando de ombros. - Me dêem um minuto, sim? - pedi, sacando de minha bolsa meu fiel Blackberry branco. Os meninos observavam cada passo meu atentamente. Desbloqueei o aparelho e apertei o botão de número dois, que dava direto no escritório de meu pai. Três toques foram necessários antes da voz grave dele soar ao fundo.
- Oi, meu anjo. - meu pai disse.
- Olá, papai. - eu disse. - Desculpe incomodar, é só que eu preciso mesmo falar com você.
- Que é isso, filha? Você não é incômodo algum e sabe disso. - meu pai disse e eu sorri fraco.
- Ah, bem, fico feliz. - eu disse. - Está muito ocupado agora?
- Só fechando algumas cláusulas para a produção do novo CD do Maroon 5. - ele disse. - Mas pode falar, filha.
- Ok, bom, veja. - eu dizia. - Resumidamente, pai, e seus outros três amigos, , e , tem uma banda chamada McFLY que está à procura de um contrato. Posso pedir para eles irem até aí? - eu cuspi as palavras, rapidamente.
Olhei para os quatro meninos em minha frente, que me fitavam com um misto de sentimentos, que giravam em torno da felicidade, esperança, confiança, ansiosidade e desespero.
- Banda de , seu primo? - meu pai perguntou e eu confirmei. - Mas é claro que sim, . - meu pai disse e o apelido me lembrou alguém. Levantei meu olhar para o de , que mantinha um sorriso de canto. Sacana, filho da mãe, lindo.
Droga.
- Combinado, então, pai. - eu disse. - Em qual horário você está disponível hoje? - perguntei e eu pude sentir os meninos comemorando em frente a mim. Sorri com a animação deles.
- Pode ser às 17:40, filha? Tenho um intervalo de meia hora entre duas reuniões importantíssimas aqui, e creio que esse será meu único horário disponível no dia de hoje. Se eles já tiverem algum compromisso, diga que marcamos amanhã ou depois. - meu pai disse. Eu suspirei. Papai, sempre ocupado.
- Tudo bem. - eu disse. - Obrigada, pai.
- Imagina, anjo. - ele respondeu. - Beijos, te amo.
- Eu também te amo, pai. Um beijo. - eu finalizei e desliguei o telefone. Virei-me para os meninos, ansiosos.
- Ele disse sim. - eu declarei e os meninos exaltaram-se, saltando da mesa e fazendo high fives, dando tapinhas e socos um no outro. Eu ria com a felicidade deles, e, ao mesmo tempo, me sentia feliz também. Meu primo veio até mim e me abraçou forte.
- Obrigado, zita, obrigado. - ele disse, enquanto me apertava em seus braços.
- De nada, cabeção. - eu disse, espremida. - E, ei, você também é muito lerdo, né, . - eu ri. - Mora comigo e com meu pai e nunca parou para pensar nessa possibilidade.
- Ah, você sabe como eu sou. - disse, tímido, passando as mãos no cabelo.
- Eu sei. - eu ri. - Mas de quem foi a brilhante ideia de falar comigo? - perguntei, arqueando uma sobrancelha.
- Do . - apontou para o mesmo, que estava com um sorriso enorme no rosto. Sem comentários, af. - Mas, ei, obrigado, baixinha. - me puxou para um abraço também.
- Não tem de quê, zão. - eu disse, rindo e olhando para seu rosto, que estava bem acima do meu, por causa da diferença de altura.
- Ai, saiam, quero abraçar a também. - pediu, já me abraçando. Enquanto estava sendo abraçada por e , pude observar dando um sorriso malicioso para e uni as sobrancelhas, confusa. olhou para mim e deu um sorriso malandro, e logo depois eu entendi os planos deles.
- SANDUÍCHE! - berrou e se aproximou de mim, sendo seguido de . Segundos depois, senti meu corpo ser comprimido entre muita testosterona, músculos e perfume masculino. Um, em especial.
Sempre 212.
.
Ou talvez fosse coisa do meu psicológico doentio viciado no cheiro dele.
- Saiam, saiam! - eu pedia, afobada, e os meninos riam. Filhos da mãe. - Eu não consigo respirar. - eu disse, rindo no meio daquele sanduíche de meninos.
Novidade no menu do McDonald's: McFLY. Alguém quer?
- Ah, mas falar você consegue, né, ? - disse, rindo. Revirei os olhos, sem uma resposta para aquilo.
- Babaca. - eu disse, rindo.
- Ih, , se liga. Um dia você vai sair nos jornais contando sobre o dia em que foi abraçada ao mesmo tempo por nós quatro. - disse, sorrindo alegremente.
- Ah, tá, mas pode deixar que a modéstia vai me acompanhar, priminho. - eu disse, rindo alto. - Ok, gente, chega. Tô mesmo sufocada. - eu pedi, suplicando.
- Ok, ok. - disse, soltando-se de mim, sendo seguido pelos outros três. Ar, oxigênio, eu amo vocês. - Mas é sério, , à que horas a gente tem que ir para lá? - perguntou.
- Meu pai disse que às 17:40 está ótimo. - eu disse, batendo em meu uniforme que havia sido amarrotado durante o abraço. - Algum de vocês tem compromisso?
- Não. - , e responderam em uníssono.
- Sim. - disse. Eu e os meninos nos viramos para e ele sorriu maroto. - Tenho que ir fazer a minha banda conseguir um contrato. - sorriu mais ainda, sendo acompanhado pelos meninos, que pareciam ter voltado a empolgação inicial. Senti uma mão puxando meu braço e já me virei, pronta para outro abraço.
Mas o que eu consegui foi bem diferente de um abraço.
Foi um beijo.

Segunda feira, 14:01 - diretoria

:

- Sr. , a mrs. Middle o aguarda em sua sala. - a secretária da diretora, a mrs. Pascuale, uma espanhola muito gata, disse para mim.
- Certo, Sandra, obrigado. - eu disse, piscando para ela, que me olhou feio. Ela odiava que os alunos a chamassem pelo nome, eu bem sabia disso. Eu e os caras, na verdade. Troy havia nos contado. Altos boatos sobre Sandra Pascuale e Igor Krum, ex aluno do 3ºB, dentro do banheiro masculino, no ano passado, rodavam pela ERP.
Segui até a sala da diretora, nervoso, minhas mãos suavam e eu só conseguia pensar no quanto eu estava encrencado. Cheguei até a sala, bati na grande porta de madeira e aguardei uma resposta.
- Entre, sr. . - a voz da mrs. Middle soou ao fundo. Aposto dez pratas que ela está com aquela bolota monstruosa na cabeça.
Obedeci à voz e entrei no cômodo tão conhecido por mim. Já havia ido à diretoria dezenas de vezes, fosse por motivos bobos, como ficar de recuperação em todas as matérias, ou motivos mais sérios, como quebrar o muro da escola. Sentei-me na cadeira de couro posicionada em frente à escrivaninha da diretora e subi meu olhar para ela. Adivinha quem estava certo?
Ali estava a bolotinha de cabelo. Vulgo "coque".
- Muito bem, . - ela pigarreou. - Conte-me por que está aqui. - ela pediu e largou a caneta Montblanc com a qual escrevia, cruzando suas mãos e apoiando-as em seu queixo.
Eu engoli a seco enquanto as más lembranças de mais cedo invadiam meus pensamentos.
- Bom, tudo começou quando...

- ! - ouvi a voz fina da Hayley soar ao fundo. Cortei meu beijo com , que me olhava interrogativamente. O refeitório inteiro cravou os olhos em mim e nela. Eu estava paralisado. O que raios eu fui fazer? - VOCÊ PODE ME EXPLICAR QUE PORRA É ESSA? - Hayley se aproximava de mim, irada. - POR QUE VOCÊ ESTÁ BEIJANDO ESSA AÍ? - ela me perguntou, olhando para com desprezo.
- EI! - disse, aparentando estar nervosa. - Essa aí o caramba, menina! - ela apontou o dedo para a cara de Hay. Vai, , vai. Espera, eu não devia estar torcendo para a minha quase namorada? - Não vou aturar que fale desse jeito comigo. - finalizou, vermelha.
- Eu falo com você do jeito que eu quiser. - Hayley cuspiu essas palavras com desdém.
- Ah, mas não fala mesmo! Quem você acha que é? - encarou Hayley, irritada. Eu só ficava assistindo a briga, sem fazer nada.
- Eu sou Hayley Herch! - ela berrou, num típico ataque histérico. - A garota mais popular da escola! - Hay continuou, alterada. - E esse aqui - Hay apontou para mim. - É , o meu namorado, sua vadia. Favor não chegar perto dele. - Hay concluiu, satisfeita.
Opa! Eu ouvi certo? Ela me chamou de...?
- Acho que está confundindo as coisas, Hayley. - suspirou. - A única vadia aqui é você. Será que, além de uma vagabunda, você também é burra? - a desafiou. - E fique à vontade, aproveite bem o seu "namorado". Como você vê, eu já aproveitei também. - ela terminou, piscando e depois virando as costas para Hay.
Ouvi várias risadas do pessoal da ERP, mas estava mais preocupado com a . Fui em direção dela, afinal, eu precisava fazer algo.
Entretanto, alguém me impediu, barrando minha passagem. Depois, me atingiu um soco no rosto.
Foi Ian quem fez isso. Ele viu o beijo e toda a cena e ficou irado ao perceber que eu a tinha conquistado também. Nós dois nunca nos demos bem, porque ele cobiçava tudo o que era meu. Mas, para ele, agora estava sendo o contrário. Na cabeça daquele lesado, era dele, e não minha. E por isso ele havia me batido.
Eu caí no chão com o soco, sentindo meus ossos da face se contorcerem de dor. Ian aproveitou essa desvantagem para partir novamente para cima de mim, mas foi segurado por Troy e sua cambada de amigos gigantes.
percebeu a confusão ali formada e voltou para a roda. Ela encarou Ian e depois me olhou, decidindo-se por vir em minha direção.
Aham, vem pro papai, !
- ! - ela gritou, desesperada. - Meu Deus, você está bem? - ela me perguntava, aflita.
- Já estive melhor, - eu disse, rindo bobo. Pode parecer ridículo, mas eu ainda estava feliz por ela ter vindo até a mim. E não estava ligando tanto para a dor que estava sentindo.
- Tosco. - ela revirou os olhos. - Você não perde o humor nem nesses momentos, . - segurou minhas mãos. - Não acredito que apanhou por mim.
- Eu faria muita coisa por você. - eu completei, apertando forte sua mão. Ela sorriu e eu sorri também.
Depois de alguns segundos, os meninos vieram me socorrer e me levaram à enfermaria. O sinal para a aula soou e todos voltaram para suas salas. Após a enfermeira certificar-se que eu estava bem, fui chamado à diretoria. E aqui estou eu.


- Foi isso, mrs. Middle. - eu terminei a história.
- Bom, hm, certo. - a diretora respondeu, levantando seus óculos e o olhar para mim. - Estou cansada de lhe dar detenções, .
- Então não me dê, oras. - eu disse, maroto.
- E também não acho que a culpa foi sua. - Mrs. Middle disse. - Sei que no fundo, você é um ótimo rapaz. - ela disse. Podemos pular a parte da lição de moral e ir direto ao castigo? - Só me parece que o senhor gosta de se envolver em encrencas.
- É. É mais ou menos por aí. - sorri, malandro. - Qual será a minha punição, querida diretora?
- Não é uma punição, mas uma condição. - ela disse. - Não lhe darei mais nenhuma detenção, nenhum castigo, se o senhor não ficar mais de recuperação até o final do ano. Em nenhuma matéria. Sequer em "Relacionamentos". - Mrs. Middle completou.
Ai, caramba, fodeu.
- Mas, se você teimar em aprontar e deixar suas notas no vermelho, providências muito sérias serão tomadas. - Middle cruzou os dedos. - Tão sérias quanto uma expulsão.

XII. Help! I need somebody. Help! Not just anybody.
(Help - The Beatles)




Segunda feira, 14:21 - sala de aula 2ºB

:

- MAS NEM EM RELACIONAMENTOS? - perguntou, boquiaberto. confirmou com a cabeça. - Essa mulher tá doidona, meu! - finalizou, chocado.
havia voltado da diretoria após o pequeno incidente ocorrido na cafeteria (aquela briga de homens por excesso de testosterona e músculos e beleza e ah... deixa para lá), e estava nos contando qual era a punição da vez. E para supresa de todos - menos de mim, eu não o conhecia antes -, não recebera uma detenção. E sim uma missão: nenhuma recuperação até o final do ano letivo. Ou seja, até julho do ano que vem. Estamos em dezembro, então é... isso é mesmo um desafio. Essa escola era bem difícil.
- Estou de acordo. - disse. - Sei lá, cara, eu preferia mil vezes uma detenção! Até porque a monitora de lá é seriamente gostosa. - ele sussurrou essa última frase baixinho, mas eu ainda ouvi. Revirei meus olhos e fui me sentar, já que sra. Yoki adentrava a sala nesse instante. Homens, por que tão nojentos?
, por que tão lindo?
Cérebro, por que tão retardado?
- Concordo. - sussurrou, piscando para . Virei-me para trás, chamando , que sentava junto comigo, uma vez que as carteiras eram duplas. Ele pediu um tempo com a mão e disse que logo iria. Dei de ombros e resolvi esperar por ele, sentando-me na carteira de . Engatamos uma conversa aleatória.
- É, cara. Mas agora fodeu tudo mesmo. Como raios eu não vou pegar nenhuma recuperação? Isso é praticamente impossível aqui na ERP. Só tem uma matéria em que eu sou bom: nenhuma. - disse, parecendo desesperado. Sim, eu ainda estava ouvindo a conversa deles. - Onde é que eu vou achar alguém inteligente o bastante para ter paciência em me ajudar?
- Hm... - murmurou, pensando. - disse para mim que a é bem inteligente. - finalizou, rindo maliciosamente. - Vai lá estudar Química e Anatomia com ela, guy.
Rolei os olhos, rindo também. Isso até que não seria má ideia. Quero dizer, ele e eu, eu e ele, estudando juntos... Hm.
me encarou indagosamente, como quem perguntava por que eu estava rindo. Parei o riso e direcionei o olhar para os meninos, querendo ouvir o que ele diria agora.
- Babaca. - disse, rindo. - De qualquer jeito, pedirei ajuda para ela. - finalizou, fazendo um high five com eles e vindo em minha direção. - Vamos, senhorita? - pediu, alcançando minha mão. Me despedi de e saí da carteira, de mãos dadas com .
- Claro, senhor. - eu ri, o acompanhando até nossa carteira. Chegamos rapidamente à ela e eu sentei do lado direito, com à minha cola. Eu me virei para frente, pronta para prestar atenção na chata aula de matemática da velha senhora coreana.
- ... - sussurrou, muito perto do meu ouvido. Talvez perto demais. Suficientemente perto para que os pelinhos daquela região se eriçassem e minha atenção fosse perdida. Droga, .
- Não vou poder te ajudar a não ficar de recuperação se você não me deixar prestar atenção nas aulas, . - eu disse, baixinho, olhando para ele.
Lancei-lhe um sorriso calmo.
- Isso é um sim? - ele pediu, esperançoso. Mas você ainda pergunta?
- Começamos hoje à noite. - eu disse, chegando muito perto dele e dando um beijinho em seu pescoço. Se ele pode me provocar, eu também posso. Ora bolas.
sorriu manso com o meu carinho, depositando sua mão esquerda sob a minha coxa, por debaixo da carteira. Com seu toque, o sangue daquela região passou a circular mais rápido, um calor gostoso dominou meu corpo e eu me senti bem. Como se tudo estivesse no lugar certo. E como se eu estivesse no lugar certo. Quando minha mãe me avisou que nos mudaríamos para Londres, detestei a ideia, abominando o fato de ter de me mudar de país. Mas, repensando em tudo que vivi desde que cheguei, tudo parece certo. Londres parece ser tudo que eu precisava. Com um sorriso no rosto, depositei minha mão na de e virei minha cabeça para sra. Yoki, agradecendo por estar aqui, não no Brasil.

Segunda feira, 18:17 - sala de estar de /

:

- Não, ! - me repreendia. - O exercício pede para você considerar a gravidade igual a 10, mas a bolinha está subindo, contrariando a gravidade! Temos que colocar -10 no lugar de G, entende? - Estávamos em sua sala de estar e tentava me ensinar Física. Mas quem disse que eu estava entendendo algo?
Pra falar bem a verdade, eu não estava me esforçando. E, acredite, ela estava mesmo sendo muito paciente comigo. Mas que culpa tenho, se eu só conseguia olhar para as coxas dela, minimamente escondidas naquele mini shorts? Porra. , você acaba comigo.
- Ai, , chega. Tô de saco cheio dessa merda já. - eu disse, fazendo bico. - Desisto. Isso é demais pro meu cérebro. Não tenho essa capacidade toda.
Como você pode ver, sou uma pessoa que insiste, persiste e nunca desiste.
- . - disse, se levantando da sua cadeira e vindo em minha direção. Vish. - Você disse que precisava de ajuda, e aqui estou eu. Vamos lá, faça isso. Faça por mim. - ela pediu, chegando muito perto de mim. Ah, ok, eu faria aquilo por ela. Mas do meu jeito.
- O que você não pede sorrindo, que eu faço chorando? - eu disse, pegando na cintura dela e a puxando para o meu colo.
Que raios de bruxaria ela usa para conseguir me deixar tão preso assim? Caramba, cara. Se todos vendessem isso aí, Harry Potter seria coisa para os fracos. Eu faria tudo que ela pedisse, e isso era muito óbvio.
- O ditado não é assim, bobão. É ao contrário. - ela sorriu, enquanto sentava em volta das minhas pernas.
- Tanto faz. Você entendeu o que eu eu quis dizer. - eu sussurrei, perto de seu ouvido. Adorava fazer aquilo com ela. Adorava ver o efeito que eu tinha sobre ela. E eu sabia que ali era seu ponto fraco. Afastei os cabelos de seu pescoço e encostei a ponta de meu nariz ali, sentindo seu cheiro doce e viciante. Beijei aquela área, e, como previsto, ela puxou meus cabelos. Eu também amava isso que ela fazia em mim.
- Eu entendi? - ela perguntou, se fazendo de boba. - Acho que não, me explica? - pediu, sapeca. Eu sorri e cheguei ainda mais perto dela.
- Te explico, zita. Com todo o prazer. - estalei outro beijo em seu pescoço e subi para sua boca, colando nossos lábios com grande urgência. cravou suas unhas em minha nuca e eu a ajeitei em meu colo, fechando suas pernas na meu quadril. Estávamos totalmente agarrados na cadeira, mas não havia risco de ninguém nos ver, já que os pais dela estavam trabalhando e estava com . E, por isso, poderíamos fazer o que quiser. Interessante, não?
Muito interessante.
abriu sua boca, permitindo que eu intensificasse o beijo. Minha língua se chocou com a dela e logo as duas começaram a se entralaçar. Apertei sua cintura delicadamente, enquanto ela puxava meus cabelos. Com a mão vaga, fazia carinho em meu rosto, enquanto eu passava a minha livremente pela extensão de sua coxa. Confesso que já estava morrendo de vontade de fazer aquilo desde quando a vi com aquele mini short. Apertei sua coxa e ela soltou um gemido abafado. Subi a minha outra mão para seus cabelos, amassando-os completamente. Ela desceu a outra para minhas costas, arranhando a região. Aquele era, sem dúvida, o amasso mais quente que havíamos tido. Abri o cinto que prendia seu short, querendo retirá-lo. não fez nenhuma objeção à isso, então, após retirar a peça e jogá-la ao chão, subi para sua blusa, atingindo sua barriga, que contraiu com meu toque. Ela desceu sua mão para a barra da minha calça jeans e um volume considerável cresceu ali. Beijei-a com mais força, precisando extinguir o espaço minúsculo que havia entre nós dois. Aquela garota estava me enlouquecendo de um jeito que ninguém antes havia feito. alcançou a base da minha camiseta, puxando-a para cima. Eu a ajudei, quebrando o beijo só para retirar a peça. jogou a peça em qualquer lugar e voltou para o beijo.
Suas mãos agoram percorriam meu abdome nu, dedilhando meus músculos e tórax. Eu já estava pronto para fazer o mesmo com o corpo dela - nu, de preferência - quando ouvimos o barulho de uma porta sendo fechada.
Merda.
Nos separamos quase que instantaneamente e ela saltou do meu colo, recolhendo seu cinto e minha blusa com pressa. vestiu seu cinto e arremessou a minha camiseta para mim, eu a peguei e a coloquei de qualquer jeito. Ela se sentou na cadeira ao meu lado e fez um coque rápido com o cabelo. Depois pegou a lapiseira e fingiu estar lendo algo no livro. Juro que parecia que nada havia acontecido ali.
Nota dez para ela em atuação.
Nota zero para mim, que estava todo animado. Como raios eu ia cumprimentar a pessoa que estava chegando? Como?
Merda.
ria da minha cara, provavelmente eu demonstrava desespero. Sussurrei a palavra "excitação" para ela, que entendeu e riu mais ainda.
- ? - a voz da mãe de soou. Merda! Era a mãe dela, ainda! Porra, sorte, você anda mesmo ao meu lado.
- Na sala de estar, mamãe. - berrou, embora eu implorasse para ela ficar quieta. Essa garota tá de brincadeira com a minha cara, só pode. Fiz uma cara de bravo para e ela apontou o banheiro ao lado da sala de estar. Ah, sim, menina esperta. Pulei da cadeira e lancei um beijo no ar para ela, que o pegou e guardou no coração. Segui em direção ao banheiro e o tranquei, respirando aliviado por não ter de enfrentar a mãe dela naquela situação totalmente constrangedora.
Ufa.

Terça-feira, 09:44 - corredor da ERP

:

- Vocês fizeram o quê? - perguntou, ou melhor, berrou.
- Shh. - eu tapei a boca dela, desesperada. - Pelo amor de Deus, , alguém pode ouvir!
- Alguém pode ouvir, ou a Hayley vadia pode ouvir? - perguntou, rindo.
- Tonta. - eu ri, revirando os olhos.
- Mas é sério, , o que raios? - pediu. - Você disse que ele ficou sem blusa, é isso?
- Ai, gente, foi só um amasso. - eu disse, fechando meu armário. Eu tinha contado para as meninas sobre o pequeno episódio de ontem, mas já começava a me arrepender disso. Óbvio que eu tinha omitido a parte em que precisou ir ao banheiro para esconder certa reação. Elas me zoariam muito se soubessem.
- SÓ UM AMASSO? - berrou, novamente. Pô, coleguinha, assim não dá. Voei novamente nela e tapei sua boca com a minha mão. - Desculpa, . Eu me empolguei um pouquinho.
Um pouquinho?
- Não tem problema. - eu disse, seguindo pelo corredor. Mirei o chão quadriculado de branco e preto, reparando como as sapatilhas pratas do uniforme do colégio se destacavam e sumiam, conforme o quadriculado alternava as cores.
- ? - perguntou, percebendo que eu fiquei quieta de repente. - O que aconteceu, vaquinha?
- Ah... nada. - eu respondi, calando-me depois.
- Qual é, coleguinha? - exclamou. - É óbvio que alguma coisa aqui te afetou. Conta pra gente o que foi, vai. - ela pediu, olhando para mim com uma cara de criança pidona.
- Ah, gente. - eu disse, olhando para elas. Havíamos parado de andar e eu encostei no corrimão da escada. As meninas me acompanharam, fechando um círculo a minha volta. - É só que sei lá... eu tô me sentindo meio vaca ficando com o e o Ian ao mesmo tempo. - falei de uma vez. Aquilo estava me incomodando e as meninas eram minhas únicas amigas aqui.
Não que eu lamentasse isso. Pelo contrário, eu já as adorava de coração. Sentia que podia mesmo contar com elas.
- Mas que raios? - perguntou, levantando a sobrancelha. - , pelo amor de santo pai! Você não precisa se sentir assim, meu! Homens fazem isso o tempo todo, por que não poderíamos nós, mulheres?
- Verdade, . - continuou. - Aliás, você tem certeza que ainda está ficando com o Ian? Quero dizer, o levou um soco dele por você, mas, ainda assim, você foi atrás do , não dele.
- Nossa. Parem. A falou algo sábio. - fez cara de chocada, levando um pedala de depois. - Ai, vaca! - reclamou. - Não, , é sério. Elas tem razão. Você não tem porque estar se sentindo assim, porque não há problema algum. Nenhum dos dois namora, nem você. E você não fica com os dois ao mesmo tempo, só dá uns beijos no ocasionalmente. E com o Ian você saiu uma vez, qual é!
- É... - eu piei, pensativa. - Ontem o Ian me mandou uma mensagem, mas sabe, eu não quis responder. Tipo, não tinha motivo nenhum para ele bater no !
Ok, na verdade, é compreensivo. Mas tá, mesmo assim, ele não devia ter batido no guy. E se ele se machucasse de verdade?
- Hm... talvez ele tenha ficado meio ciumento, né, ? - arriscou. - Tipo, você sabe que meninos tem essa coisa meio doentia de "posse".
- Nossa, isso é um fato. - disse. - Às vezes, eu tenho até medo do . A reação dele quando outros meninos se aproximam de mim é uma coisa doida. Daí depois ele vem falar que ele não é ciumento, blablabla.
- Foco na , gente. - estalou os dedos. - O que a gente tá querendo dizer, baixinha, é que não tem problema você ter os dois. Tipo, sério, qualquer menina ficaria dividida. Afinal, pelo amor né, não ignoremos toda aquela beleza, etc.
- Você tá falando sério? - eu perguntei. - É só que... eu não consigo escolher. - assumi. Era verdade. Eu simplesmente não conseguia me dedidir entre os dois. Ficar com Ian era tão bom e ele me tratava tão bem. Aliás, ele me fazia muito bem. Era carinhoso, fofo, atencioso, cavalheiro. Tudo o que uma garota busca em um menino. Mas o ... ele é... ai. Ele tem aqueles olhos brilhantes, o maldito cabelo jogado, o sorriso malandro, o cheiro viciante e aquele charme. É muita mancada, eu sei. Mas em compensação, tudo que ele tem de bom se converte em uma palavra ruim: Hayley.
- . Olhe para mim. - pediu, e eu olhei. - Escuta, você não precisa escolher. Pelo menos, não agora.
- É, ... - continuou. - É claro que, eventualmente, você terá que escolher. Mas não precisa ser nesse momento. Deixa as coisas esfriarem um pouquinho.
- Isso aí! - falou. - É tudo muito recente, . Você chegou faz pouco tempo e está nesse enrosco. Calma, respira, tudo vai se ajeitar. Você verá. - ela terminou e piscou para mim.
Eu abri um sorrisão. Elas eram mesmo muito amigas.
- Ai, gente, obrigada. - eu disse, sorrindo. - Obrigada por me ouvirem com esses problemas banais. Sério mesmo. Vocês já são muito especiais para mim.
- Own, a vaquinha tá emocionada! - apertou minha bochecha e eu reclamei. - Ai, vaquinha mal educada.
- Haha. - eu ri, beijando a cabeça dela. - Desculpa, anjinho.
- Abraço grupal? - pediu e nós nos juntamos em um mega abraço apertado.
- Own, lindas. - comprimiu mais ainda o abraço. - Alguém tem que tirar uma foto desse momento!
- Tudo bem, tudo bem. - esticou o braço esquerdo, segurando na mão o iPhone branco. - Olhem para a foto!

Terça-feira, 13:28 - quadra da ERP

:

- Hm, guy! É assim que se faz! - fechou um high five comigo. - Eu disse que vocês iam acabar estudando Anatomia, não disse?
Estávamos na quadra da ERP, treinando futebol. O treinador Tipp havia nos dado uma pausa para descansar e eu aproveitei para contar o ocorrido de ontem. Contei até a parte do banheiro, porque os caras me entenderiam.
Mas é claro que eles me zoaram um pouquinho.
- Cara, isso é nojento. - disse, passando as mãos pela sua testa suada. Não, cara, isso é que é nojento. - Quero dizer, você e a minha prima, na sala de estar, se agarrando... Qual é, eu nunca mais vou pisar ali.
Dramático.
- Cala a boca, . - deu um pedala em . - está pegando duas gatas maravilhosas ao mesmo tempo, enquanto você tá aí, sendo um bibinha. , meu rei, sou seu fã.
se curvou diante de mim, me fazendo rir alto e escandaloso. Chamei a atenção de Ian e de seu grupinho, que me olharam com desprezo. É, acho que ele ainda estava meio bravo comigo. Foda-se, esse cara é um babaca.
- Mestre, mestre! - aclamou, fazendo reverências em minha frente.
- Puxas saco de merda. - revirou os olhos. - Mas, realmente, , como raios você consegue?
- Porque sou foda. - eu disse, e pisquei, me sentindo o próprio Mystery¹.
- Humilde também, não? - ajeitou sua camiseta.
- Com toda a certeza. - falei, mexendo no meu cabelo. Ficamos batendo papo e comentando sobre meninas, até que o treinador pediu para que voltássemos a jogar. Confesso que aquela conversa com os meninos havia me feito pensar. Será que eu estava sendo um cretino por ficar com e Hay ao mesmo tempo? Quero dizer, não estou em um relacionamento sério com nenhuma das duas e nunca disse que seríamos exclusivos para nenhuma. Aliás, nunca comentei nada a respeito. Mas acho que as duas sabem, certo?
Eu espero que sim.

¹ Erik von Markovik, ou Mystery, é conhecido por ter desenvolvido um eficaz método de sedução. Em teoria, se você conversasse com ele por três minutos, já se sentiria completamente atraída.

XIII. Perfeitamente certo


Quarta feira (da semana seguinte ao capítulo anterior), 08:01 - jardim da ERP

:

- Acho que a gente precisa de uma festa. - declarou , abraçada com . Eu cocei os olhos, sonolenta, e beberiquei meu Caramel Macchiato da Starbucks. Fazia um frio de doer e eu me apertava contra minhas finas roupas. Ainda não havia me acostumado com as baixas temperaturas tão contrastantes com as do Brasil.
- Sim! - gritou, agudo, e reclamou. - Desculpe, amor. - ela deu um beijo na bochecha dele, que sorriu, lhe dando um selinho.
Revirei os olhos e bufei, ainda não acostumada com todo aquele mel pela manhã. percebeu e riu. Ele andava estranho por esses dias. Quero dizer, desde aquele dia nós não havíamos conversado direito. E confesso que aquilo estava me incomodando, porque, poxa, ele havia sido meu primeiro amigo aqui. E, de repente, a gente nem estava mais se falando. Nem se beijando.
Tudo bem. Mas que eu estava chateada, estava.
- Concordo. - disse, acordando. resmungou, já que ele se mexeu e ela estava deitada nele. - Tipo uma festa de encerramento, antes do natal. - completou, fazendo carinho em . Sua aliança brilhou.
- Caraca, é mesmo! O natal é em uma semana! - fez cara de chocado e eu ri. Meu primo era tão lento. O que era engraçado, já que todos o zoavam por isso. Inclusive a namorada.
- Putz! - levantou. - Nem comprei o presente de vocês ainda, panacas. - ele bateu em sua testa. levantou-se também.
- Tudo bem. Da última vez, você demorou três meses para me dar o de aniversário. - disse, rindo. A risada dele era tão gostosa, contagiante, que eu sentia vontade de rir junto. E foi isso que eu fiz.
- Então espera, vamos organizar isso direito. - bateu palminhas, entusiasmada com a ideia da festa. Eu já tinha percebido que, do grupo, ela era sempre a mais animada.
- Organizar o que? - perguntou, sonolenta. Ela ainda estava meio que dormindo. Estendi meu café a ela, para que acordasse, e ela sorriu, recusando. - Sou alérgica à cafeína, . - explicou-se, e eu fiz uma cara de dó.
- A festa de encerramento da ERP, ! - deu um gritinho e novamente reclamou. Ele era sempre o mais mal humorado em relação a acordar. Ela se desculpou e ele fez um sinal de joinha.
- Mas o nosso ano letivo nem acabou, lerda. - disse, dando um peteleco na cabeça de , que fez uma careta.
- Ai, seu tosco! - ela xingou, devolvendo o carinho e eu ri. virou-se para mim e ficou me observando, enquanto eu corava, envergonhada. Odiava que ficassem me olhando por muito tempo.
- Isso aí, amor, não deixa esse troglodita encostar em você. - abraçou-a, deitando sua cabeça no ombro dela. Casais... tsc tsc.
- Certo. Onde é que vai ser, então? - perguntei, falando pela primeira vez naquele dia. Encontrei o olhar de e ele sorriu. Tão majestosamente lindo.
- Hm... - hesitou. - Na minha casa não dá, galera. Está reformando.
- Nem na minha. - lamentou. - Minha mãe resolveu reconstruir a piscina. Parece que ela quer uma cascata, ou algo assim. - ele fez uma careta engraçada.
- Bom... - começou. - Eu moro com a minha prima. - ele riu, olhando para mim.
- Meus pais vão viajar nesse final de semana. - eu disse, lembrando da noite anterior, quando mamãe ficou discursando sobre como a Alemanha seria maravilhosa e blá blá blá. - Posso ver se eles deixam. - completei, sorrindo. Era mesmo uma possibilidade, e se eu fizesse aquela chantagem emocional, com a velha desculpa do "Acabei de chegar, preciso me enturmar", meus pais não negariam.
Todos me olharam esperançosos, quase implorando para meus pais permitirem.
- Isso! - animou-se, batendo palmas. Ah, agora você acorda, né, cretina? - Ai, zita, tomara que eles deixem!
- Ou você poderia não pedir permissão e simplesmente fazer a festa. - sugeriu, rindo malicioso.
- E aí eles descobrem e eu fico de castigo até ir pra faculdade! - eu respondi, rindo. Levei meu café a boca, tomando mais um pouco. Tremi de frio quando um vento cortante passou por mim.
vestia um sobretudo e o retirou, vindo até mim. Ele me deu o casaco e eu o coloquei, agradecendo-o com um sorriso. O sobretudo cheirava a 212 e eu já me sentia completamente aquecida.
- Tudo bem. , você pergunta para eles e nos dá a resposta hoje, à tarde. - pediu, arregaçando as mangas de sua blusa. Como raios ela podia não estar com frio?
- Não pode ser amanhã? - perguntei, tomando mais café.
- Não, porque aí não dá tempo de arrumar tudo. - disse, com a voz da experiência. Fiquei imaginando sobre como era a vida de todos antes de eu chegar... será que eles faziam muitas festas e tal? Será que eram doidões iguais os personagens de Skins?
Nota mental: perguntar tudo isso para meu primo mais tarde.
- Ui, desculpa aí, promotor de festas! - zombou, rindo. Como sempre, ele era o mais piadista.
- Haha. - riu, amargo. - Muito engraçado, .
- Não, mas tem razão. - disse, levantando o dedo. - E eu nunca pensei que diria isso. - completou e todos nós explodimos em gargalhadas.
- Mas que porra é essa? - perguntou, revoltado. Ui, olha para ele, todo estressadinho. - Bullying comigo, agora? - ingadou, indignado.
- , meu amigo. - lhe deu um tapinha compreensivo nas costas. - O bullying sempre foi e sempre será com você.
- De acordo. - fez um high five com .
- Totalmente. - entrou no toque.
- Engraçadinhos. Tadinho do meu dengo. - defendeu , abraçando-o.
- Own dengo, tadinho do dengo. - zombei de minha amiga, que me mostrou o dedo do meio. Eu fingi estar ofendida, abrindo a boca. e riam, e eu terminei meu café.
Tudo estava muito bem.
Exceto pela loira gema encostada ao poste, que não parava de nos encarar.
E com Ian. Ela estava com Ian.

Quarta feira, 15:16 - cinema da

:

- A não vem? - perguntou , tirando as palavras da minha boca.
Hoje era um daqueles milagrosos dias em que a ERP resolvera suspender todas as atividades vespertinas por algum motivo que eu não me preocupei em saber. Na verdade, o motivo não era relevante. O importante era que a gente não tinha aula! Não era maravilhoso? Mas ter a tarde vaga não era coisa a ser desperdiçada, e também assim pensou , que nos convidou para passar a tarde aqui. Também aguardávamos ansiosos a resposta de , que diria se a festa poderia ou não ser na casa dela. Mas ela teimava em não chegar, e eu já estava começando a ficar nervoso.
- Ela vem, sim. - respondeu. É, ele era realmente quem melhor poderia responder. - Só está conversando com os pais sobre a festa e tal.
- Amor, você acha que seus tios liberam? - indagou, depositando o balde cheio de pipoca na mesinha central de sua sala de cinema.
- Eu tenho certeza que sim. - atacou o balde. - Meus tios são bastante liberais e a é uma filha super exemplar.
- Olha essa vaquinha, que duas caras! - disse, rindo. Ela trazia várias garrafinhas de Smirnoff Ice. Para , cujo pai era o maior distribuidor de bebidas de Londres, álcool era refresco.
- Né? Toda se fazendo de santa para os pais. - revirou os olhos, depositando uma garrafa de cerveja estranha. Essa eu não conhecia. Assim que colocou-as na mesinha, peguei uma.
- Qual é essa, ? - perguntei, curioso. Enchi minha mão de pipoca e comecei a comer.
- Ah, é uma nova! - ela respondeu. - Papai está pensando em começar a vender aqui, é da Bélgica. Provem e me digam o que acham.
- Epa, pode deixar comigo! - disse, animado. Curvou-se e pegou três, dando uma para cada menino, exceto para mim, que já tinha uma.
- Cadê o abridor? - pedi, sedento pela nova experiência. Eu adorava ser o cobaia de , ela sempre tinha umas bebidas excelentes.
- Aqui. - ouvi a doce voz de declarar. Todos nós viramos para ela, que sorria. Olhei-a de cima a baixo, imaginando como alguém poderia ficar tão linda com roupas tão simples. Ela reunia tudo que eu mais gostava nas garotas. E olha que tinha muita coisa.
E é por isso que eu gostava tanto dela.
carregava o abridor de garrafas, e veio em nossa direção.
- Oi, baixinha. - bagunçou os cabelos dela. reclamou e lhe deu um tapa no braço. - Ouch, grossa!
- Tonto - ela revirou os olhos, rindo.
- Oi, priminha. - passou por ela, bagunçando seus cabelos novamente.
- Será que dá para vocês pararem? - pediu, arrumando suas mechas.
- Não! - riu, mexendo nas madeixas dela.
- Ah! - ela reclamou. - Saiam daqui!
- Graças a Deus você veio, . - juntou as duas mãos, rezando. - Antes eles faziam isso comigo.
- Nossa, também estou contente por ter te conhecido, amiga. - riu forçado, depositando o abridor em cima da mesinha. Eu fui pegá-lo e nossas mãos se encostaram. Como num choque, afastei-me, e ela me olhou indagativa. Tentei lançar um sorriso para ela, como quem explicava mais tarde.
- Eu me lembro disso... - sorriu, nostálgica. É, eu também me lembrava. Isso era antes da chegar, e agora eu já não consigo mais imaginar o grupo sem ela.
- Olá, gatinhas. - aproximou-se do grupo, carregando uma bandeja com mini sanduíches. - Você chegou na hora certa, .
- Estou vendo. - ela abriu um sorriso lindo.
- , mais comida, cadê? - pediu, faminto como sempre.
- Mais? Eu acabei de dar um balde de pipoca para você e pro e... - ela procurou o balde com os olhos, encontrando-o vazio no sofá. - Puta merda, seus animais!
- Eles disseram que não. - declarou, de repente. Seu rosto era sério, e a expressão, impassível. Observei todos do grupo olharem para ela e depois fazerem uma cara de triste. Todos nós já sabíamos do que ela estava falando. E era da festa, é claro. - Que não podem esperar essa festa chegar e marcar o quase final de ano! - ela completou e abriu um sorriso enorme.
- Ah, , caralho! - correu em direção a ela e a levantou. e o acompanharam na brincadeira, e eu pensei: por que não? Juntei-me a eles, e nós a ameaçávamos jogar no chão, enquanto ela berrava.
ria gostoso e as meninas pulavam em nossa volta. Don't Stop The Party, do Pitbull, tocava do som de , pondo a gente no clima de quase festa.
- Ok, ok, parem de me amar! - ela pediu, quando a jogamos no sofá e as meninas iniciaram com as cosquinhas.
- Mas nós nunca dissemos que te amamos. - disse, rindo. recolheu sua cerveja, tomando um gole.
- É! Só estamos animadinhas por causa da festa. - declarou, gargalhando.
- Grossas. - fez um bico, e eu senti uma enorme vontade de beijá-la. Sentei no sofá, com ao meu lado.
- Tadinha da vaquinha, gente. - zombou, apertando o nariz de .
- É! Tadinha de mim e... - ela disse, cruzando os braços. - Ei, vaca não! - deu um leve tapa em .
- Fracas, não parem com as cócegas, não. - falou, tomando a cerveja. - Essa aí merece punição por ter nos enganado.
- De acordo. - assentiu, batendo continência.
- Também acho. - disse. - Não é, ?
Acho que ele percebeu que eu não estava muito falante.
- É. - eu disse, sorrindo.
- Isso aí, , a sua punição será sentar ao lado do guy e ali permanecer durante todo o filme. - riu, maliciosa.
Eu olhei para ela, que mantinha uma expressão de quem havia aprontado. Ah, filha da puta. Será que...?
- Tá bem, ué? - deu de ombros. Bom, pelo menos ela estaria ao meu lado. - Por que isso seria uma punição?
- Você verá. - declarou, misteriosa. beijou o topo de sua cabeça e a abraçou.
- Acho que elas fizeram de novo. - riu para .
- Tudo bem, sempre será divertido. - respondeu, risonho. Pegou e a puxou para seu colo.
Cruzei os braços, emburrado, já prevendo o que me aguardava. Merda.

Quarta feira, 16:57 - cinema da

:

Senti apertando minha mão novamente.
As meninas haviam alugado Sexta feira 13, e o filme contava a história de Jason, um moço que havia, supostamente, morrido no lago de um acampamento. Sua mãe enlouqueceu e saiu matando todos do tal acampamento, revoltada com a perda do filho. Uma menina sobreviveu e a matou, e Jason volta para vingar o assassinato de sua mãe. Até aí, tudo bem.
Exceto que ele usava uma máscara.
E morria de medo de máscaras.
Isso não é uma piada.
- Olhe para mim. - pedi, e ele virou. Sua expressão era um misto de susto e medo. Tadinho, ele estava mesmo todo assustado. - Tudo bem ter medo, eu também tenho os meus. - sorri, compreensiva.
- É, mas isso não é engraçado. E elas fazem isso toda vez. - ele revirou os olhos, parecendo uma criancinha birrenta. Confesso que ele estava muito fofo.
- Tá. Assuma. É um pouco engraçado. - eu sorri para ele. E não era? Um puta homem de dezessete anos, amedrontado com um carinha que usava máscaras?
- Hm... um pouquinho. - ele admitiu. - Mas não é motivo para piada.
- Hm... ? - eu pedi, rindo.
- Tá, tudo bem. É sim. - ele cedeu, fazendo beiço.
Eu estava mesmo me segurando para não puxá-lo e beijá-lo.
Mordi meu lábio inferior, olhando para o dele.
- Não faz isso. - pediu, me encarando. Seus glóbulos azuis pareciam faiscar desejo, centrados em minha boca. Bom saber que eu posso provocá-lo.
- Isso o quê? - provoquei, chegando bem perto dele. Eu continuava a morder meu lábio, nervosa. Vamos ver se surte algum efeito nele.
- Não diz que eu não te avisei. - ele respondeu, colando nossas bocas depressa. puxou-me pela nuca e eu puxei seus finos cabelos. Ele me encurralou no sofá, já que estávamos na ponta, e eu deitei no braço do estofado. Uma de suas mãos foi em direção a minha cintura, apertando levemente a região. Nossas línguas dançavam sincronizadas e ele se deitou por cima de mim. Beijar era uma sensação indescritível e inédita, e eu nunca me cansaria daquilo. Passei uma de minhas pernas por cima da dele, encaixando-me desajeitadamente. Percebi o quanto aquilo estava pornográfico e abri os olhos, assustada. E se alguém visse aquilo? Por sorte, todos do grupo estavam beijando as respectivas namoradas, exceto e , que dormiam. Como você pode ver, o filme era bem interessante. Ri com esse pensamento e partiu o beijo.
- O que foi? - perguntou, arqueando uma sobrancelha. Sexy, sexy, sexy.
- Nada. - respondi, puxando-o novamente. Qual é, fiquei vários dias sem isso! Teria que aproveitar agora.
Senti uma palma quentinha acariciando minhas costas e migrando para a barriga, apertando o local. Finquei minhas unhas nas costas de , que reclamou. Eu tinha que apertar algo também, oras. Ficamos uns bons minutos assim, até que ele partiu o beijo, distribuindo selinhos em meu pescoço. Perto da clavícula, instalou um chupão, e eu puxei seus cabelos mais forte. Ele sabia que o pescoço era meu ponto fraco e se aproveitava imundamente disso.
- Não... é... justo. - eu balbuciei, entre gemidos.
- O quê? - perguntou, interrompendo o serviço em meu pescoço.
- Você sabe onde é o meu ponto fraco. - eu fiz um bico e ele me olhou, intrigado. - Eu ainda não sei o seu.
Ele riu pelo nariz, me dando um selinho.
- É você. - ele respondeu, abaixando a cabeça. - Meu ponto fraco é você, .
Eu até que fiz um esforço imenso pra conter a minha euforia diante daquela resposta dele. Mas é lógico que não consegui.
Abri o maior sorriso que já dei e beijei ele com vontade.

- ?
- Diga, .
- Por que passou a semana sem falar comigo? - soltei, de uma vez. Eu queria mesmo saber por que a gente estava... estranho. Depois da pancadaria na escola, foi para a minha casa e nós meio que avançamos demais. Daí ele foi embora e não conversou mais direito comigo. Na verdade, sequer falou comigo. Enquanto isso, no decorrer da semana, Hayley e Ian ficavam nos encarando feio, sendo que o segundo me ligou, mas não atendi. Eu realmente não queria falar com ele, porque desaprovava sua atitude em relação à . Tá, tudo bem, a gente estava ficando e ele me viu sendo beijada por outro cara, mas não precisava ir lá e bater nele, certo?
- Te faço a mesma pergunta. - ele respondeu, olhando para mim.
- ! - exclamei, chamando a atenção dos casais. Ele me soltou e se ajeitou no sofá, enquanto eu fiz o mesmo. , , e nos olharam estranho. e ainda dormiam. - Pare de ter medo disso, seu besta! - inventei uma desculpa qualquer.
- Mas, , você não entende como é! - ele protestou, entrando na brincadeira.
- Viu? - intrometeu-se na "briga". - Eu disse que seria uma punição. - ela sorriu, maliciosa.
- Ainda com esse medo bobo, ? - riu, revirando os olhos.
- Não se mete, . - bufou. Aquilo estava mesmo convicente.
- Credo, hein, ! Nem parece que é homem. - disse, rindo.
- De acordo. - eu fiz um high five com ela.
olhou para mim, abrindo um sorriso cheio de más intenções. Do que pude intepretar, parecia falar: você se arrependerá disso.
Opa.

Quinta feira, 17:18 - Sainsbury’s

:

- O que exatamente nós viemos comprar? - indagou, sonolenta. Ela e eram o casal sono, então tivemos que encher muito o saco deles para acordá-los. Estávamos todos reunidos na casa de , conversando aleatoriamente, e ficou discursando sobre como nós precisávamos arranjar as coisas para festa, o que culminou na nossa vinda ao supermercado Sainsbury's.
- Também quero saber. - disse. - Já temos bebidas, que são por conta da . O que é que estamos fazendo aqui?
- Uma festa não se faz só de bebidas, . - lhe deu um pedala.
- Exatamente. - concordou, pescando seu celular no bolso da calça jeans. - Ainda precisamos de guardanapos, copos, pratos...
- Mas você já tem pratos, . - eu cruzei os braços. - Tem até triangulares! - encostei em um balcão qualquer, lembrando do dia em que resolveu cozinhar para ela.
- Precisamos de pratos que não quebrem, . - ela respondeu, abrindo as "Notas" do Blackberry. Aparentemente, aquilo era uma "lista do que comprar". Só que digital.
- O que é que vai ter pra comer, gente? - perguntou. Esse cara só pensa em comida.
- Galera! Ga-le-ra!! - cortou , batendo palminhas. Vish, lá vem... Nós viramos para ela, que parecia animada. - Que tal uma festa temática?
- Temática? - perguntou, curiosa. Ah, agora ela acorda, né?
- Sim! Tipo uma Festa do Rosa, ou sei lá! - ela deu um pulinho. Tão cheerleader.
- Ah, não, rosa é gay. - resmungou.
- Preconceito bobo, . - mostrou a língua para seu namorado, que a abraçou e lhe deu um selinho.
- Que tal uma festa do Branco? - sugeriu, recolhendo um carrinho. É. Gostei.
- Eu topo. - fiz um high five com .
- Eu também. - entrou no toque.
- To dentro, turma. - deu um tapinha em todos nós.
- Mas não vai ser cafona? Porque o ano novo está chegando e tal... - perguntou.
- Acho que não, . - respondeu, pensativa. - Talvez fique legal justamente por isso, porque é a última festa.
- Também acho! - disse, animada. - O que acha, ?
- Acho digno, coleguinhas. - ela sorriu.
- Então está decidido. - declarou. - Festa do Branco, na minha casa, sábado a noite.

Quinta feira, 19:39 - casa da

:

- Certo. Então, quais bebidas vocês querem? - perguntou, com um iPad na mão. Ela estava encomendando as bebidas da festa para Mark, o empregado de seu pai. Os dois se falavam pelo Skype, mas os meninos estavam em uma briga sobre qual marca de cerveja e bla bla bla.
- Buddweiser! - berrou, levantando as mãos.
- Nada disso! Heineken na veia, cara. - discordou, lamentando.
- Mark, manda um pouco de cada. - tomou a vez. - É uma festa para mais ou menos 150 pessoas... Vamos convidar só os segundos e terceiros, certo?
- Certo. Não quero aquelas nojentas do primeiro na minha casa. - manifestei-me.
- Ok. Então dá umas 150 mesmo. Sempre tem gente que cancela e etc. - disse.
- Pede para ele mandar metade de cada. - declarou.
- Isso. Perfeito. - deitou-se no sofá. - Não se esqueça da vodka, amor.
- Tudo bem. Mande uma quantidade suficiente de vodka para nós também, Mark. - pediu.
- Pede umas garrafas de Smirnoff Mojito também! - disse. - É uma delícia.
- Duas dessas, Mark. - falou.
- Tudo anotado, senhorita. Algo mais? - o empregado perguntou.
- Algo mais, gente? - devolveu a pergunta.
- Não. - respondemos em uníssono.
- Só isso, Mark. Muitíssimo obrigada. Diga ao papai que mandei um beijo. - finalizou e desligou o Skype, jogando o iPad no sofá.
- Ah, gente, antes que eu me esqueça, preciso falar com vocês sobre o McFLY. - eu disse, evocando o pedido de papai.
- Diga, priminha. - sentou ao meu lado.
- Então, lembram que na segunda passada, vocês iam visitar meu pai e conversar com ele sobre a banda e tal? - perguntei, gesticulando com as mãos. - E aí vocês não foram, porque deu aquela confusão na escola e etc? - eu disse, relembrando a briga de Ian e .
- Certo. - disse. - Disso eu me lembro. - ele riu.
- Não, , é sério. - pediu silêncio, atento ao que eu falava. Lembrei do que me disse um dia, que era dos quatro o mais preocupado, já que o pai o ameaçava mandar para a faculdade. E se tinha uma coisa que ele não queria, era ir para a faculdade.
- Prossiga, . - pediu.
- Bom, ele perguntou se vocês não podem ir falar com ele amanhã, já que ele embarca para a Alemanha no sábado pela manhã e só volta para o natal. E, bem, todos param por um tempo nesse período de final de ano, aí vocês poderiam tratar desses assuntos só no ano que vem, e me parece meio que urgente, então... - finalizei.
- Ah, por mim tudo bem, . - disse. - Não teremos provas amanhã, então está fechado.
- Eu estou de boa também. - respondeu, animado. - Estou com aquele feeling de que tudo correrá bem.
- Somos dois. - sorriu. - Tomara que tudo dê certo, não quero estar com aqueles marrentos da London University daqui dois anos.
- Nem eu. - fez um sinal da cruz. - Por mim, tudo certo, pirralha.
- Ei, pirralha não! - eu pedi, fazendo bico. Ali no grupo, todos me tratavam como criança, pelo fato de eu ser a mais nova.
- Tô com fome. - disse.
- E quando é que você não está, otário? - perguntou, rindo.
- Quando acabo de comer, seu viado. - respondeu, mostrando o dedo do meio para .
- Não, dessa vez eu vou com o . Também tô. - abraçou .
- E eu. - envolveu seus braços em .
- E eu. - e disseram.
- Vamos pedir alguma coisa. - disse, levantando-se. Chamou com a mão e todos foram para a cozinha, deixando eu e sozinhos.
Opa.
- Enfim, sós. - sussurrou, sorrindo sacana. Ah, pai. Ele se aproximou sorrateiramente de mim, chegando cada vez mais perto. Eu estava estática, congelada, esperando para ver o que ele faria. esticou seu braço por trás de mim, alcançando minha cintura. Meus batimentos haviam se acelerado e eu agora estava nervosa. Aquilo era mais um jogo de sedução dele, é claro.
- Eles podem chegar a qualquer momento. - eu disse, baixinho. - Você não vai querer que eles vejam isso. - tentei, levantando uma sobrancelha. Acho que ele tomou aquilo como um desafio, pois olhou fundo nos meus olhos e acostou-se de meu rosto. lançou-me um sorriso sujo e mordeu meu lábio inferior, puxando-o devagarinho.
- Eu quero sim. - ele murmurou. - Para que percebam que eu sou homem. - sussurrou, colando sua boca em meu pescoço. Ele trilhava selinhos pela região, afastando meus cabelos dali. Todos meus finos pelinhos se eriçaram, e eu joguei a cabeça para trás. abriu a boca e cravou um chupão no mesmo local do dia anterior, quando assistíamos ao filme. É, tudo bem, acho que a minha marca roxa foi reforçada. Eu gemia baixinho, e passeava minhas mãos por dentro de suas roupas. Dedilhei todos os músculos de seu abdome, arranhando levemente o peitoral. Eu queria provocá-lo da mesma maneira que ele fazia. percebeu isso e sugou com mais força. Quando se deu por satisfeito, subiu para minha orelha, mordendo meu lóbulo. Ele colou nossos lábios de maneira agressiva, beijando-me furiosamente. Era rápido e intenso, e durou poucos minutos. O suficiente para o sangue de meu corpo percorrer e irrigar todas as regiões, aquecendo meu interior. - Diz agora, . - zumbiu, baixinho. Subiu seu glóbulos azuis para mim, e eu estremeci com aquele olhar tão profundo. - Diz que eu não sou homem. - pediu, sorrindo safado, enquanto sua mão vasculhava por debaixo da minha blusa. Com a outra, ele apertava a minha coxa, subindo e descendo. Eu estava completamente e totalmente entorpecida e o seu perfume só atrapalhava minha concentração. Meus batimentos agora estavam irregulares, e parecia se divertir com isso.
- Se você não for homem, então eu não sei quem é. - respondi, completamente rendida. Como raios um menino conseguia ter esse efeito sobre mim? Olhe só, estou toda... desconcertada.
- Muito bem. - ele me deu um selinho carinhoso, afastando-se de mim. ajeitou-se no sofá, e eu pude ouvir as vozes dos meus amigos se aproximarem. Como é que ele sabia quando parar? Ah...
Ele sorriu para mim, recolhendo o iPad de . Abriu um jogo qualquer, agindo como se nada houvesse acontecido ali. Mas minha feição vermelha, meu roxo no pescoço e meu corpo, mole, denunciavam que, sim, havia acontecido coisa ali.
Resolvi imitá-lo e me arrumei, cobrindo a marca. Peguei uma almofada e a coloquei no colo, apoiando meu rosto nas minhas mãos e os cotovelos no acolchoado.
- Pedimos comida tailandesa. - declarou. Juntei as sobrancelhas, confusa. O que há de errado com pizza? - A gente ia pedir pizza, mas decidimos que essa será a comida da festa de amanhã.
Ah, sim. Realmente, é uma boa comida para festa. Combina com tudo.
- Entendi. - eu disse, ouvindo meu celular tocar. Pesquei o Blackberry no bolso e o nome Ian piscava na tela. Apertei em rejeitar, guardando o aparelho. Eu sei que não poderia evitá-lo para sempre, mas o máximo que pudesse, faria.
- Ei, . - chamou e eu me virei. - Nós estávamos pensando, enquanto os meninos vão na gravadora conversar com o seu pai, que tal irmos fazer compras?
- Por favor, diga que sim. - implorou. Shopalcoholic era uma boa definição para ela. - Estou precisando de uma roupa nova para o natal.
É... pensando bem, eu também.
- Tudo bem. - respondi, dando de ombros. - Também estou precisando de uma. Sabe como é, no Brasil não costumava nevar e aqui é a única coisa que acontece. - reclamei, revirando os olhos.
- É, mas o Brasil não tinha gente tão legal e bonita como nós. - me abraçou, rindo. , e concordaram, abraçando-me também.
- E nem amigas tão bacanas quanto a gente, né, ? - piscou para mim.
- Depende, você quer uma verdade dolorida ou uma mentira bonitinha? - perguntei, gargalhando. Os meninos já começavam com o processo de cócegas e eu já estava pronta para começar a reclamar.
- A verdade, sempre. - pediu, bagunçando meu cabelo. Ah, maldita, não faça isso!
- Então não. - eu disse, sufocada pelos abraços e cócegas. - O Brasil não tinha mesmo gente como vocês. - terminei, sincera. Eu já estava super apegada à todos eles, mesmo estando aqui há somente um mês.
- Se você falar que tinha gente melhor, eu te esgano. - ameaçou, rindo.
- Oi? Não, que isso, imagina. Eu nunca faria isso. - zombei. - Agora me larguem, seus britânicos metidos a besta.
Tudo bem, essa é a parte em que eu morro de cosquinhas, etc.
- O que foi que você disse, ? - a voz dele espaireceu. Eu já sabia quem estava me chamando só pelo apelido. - Britânicos metidos a o quê?
- A besta, foi isso que ela disse, . - declarou, rindo.
- Cortem-lhe a cabeça! - ordenou, imitando a rainha vermelha de Alice no País das Maravilhas. Confesso que a imitação fora mesmo muito boa.
- É pra já, mestre. - disse. - Podemos matá-la com cócegas, mesmo? A faca está muito longe e tal.
- Atacar! - berrou, e eles partiram para cima de mim.
E também foi aqui, neste momento, gargalhando alto e sendo atacada pelos meus amigos, que eu percebi que a saudade do Brasil já não incomodava. Nem a vontade de para lá voltar. Eu estava bem, e nunca havia gostado tanto de me mudar. Eu já adorava aqueles sete seres estranhos, e não me imaginava mais fora do grupo. Mesmo que minha semi-relação com o não vingasse, eu sabia que tinha um amigo para o que desse e viesse. De algum jeito, as coisas pareciam em seu perfeito lugar.

XIV. Direitos iguais


Sexta feira, 08:13 - cafeteria da ERP

:

- Então espera, deixa eu ver se entendi direito. A gente segue a Starbucks da Charing Cross Road até chegar na GAP da Cleveland Street? - confirmou com a cabeça. - E aí a gravadora fica na Oxford Street, que número? - perguntou novamente. O sinal para a primeira aula ainda não tinha batido e a gente tava tentando fazer com que a Martha nos descolasse um café. Ela havia inicialmente negado, dizendo que a cafeteria sequer tinha aberto e blábláblá. É claro que, com todo meu drama de menino em crescimento que precisa de comida e está com fome, ela nos deu a bendita cafeína. , logo quando chegou, avisou que hoje nos encontraríamos com o pai dela para falar sobre o futuro do McFLY como banda - óbvio, e tem outro futuro pra ele? Hm, talvez um lanche do McDonald's? Ok, parei - e pegava o endereço com ela. ditava e ele anotava nas "Notas" do iPhone, mas esquecia o número toda hora, fazendo-a repetir sempre. Segundo o próprio, ele tinha um problema com números e tudo relacionado à matemática. Eu me oferecera para levar, mas ele acabara de ganhar um carro do seu pai e queria nos mostrar. Pessoalmente, concordei, porque não gostava muito de dirigir. Achava meio tedioso, sei lá. Hoje também era o último dia de aula e o natal se aproximava cada vez mais. Eu agradecia, porque, a partir do momento que o sinal tocasse, teria cinco belas semanas de férias.
- 817, zito. - ela respondeu pela 4ª vez, sorrindo. levou seu café a boca, bebendo um pouco. Fazia um frio tremendo lá fora e Londres já estava completamente coberta pelo tapete branco de neve típico de fim de ano. Imitei o gesto dela, tomando um pouco do meu, apreciando a sensação do líquido doce e quente descendo pela minha garganta. Quando se vive em um país frio, como aqui, você acaba se acostumando a sempre ter de beber líquidos quentes. E como eu detestava chá - fala sério, tem algo mais florzinha do que chá? -, bebia muito café.
- Bem, então é isso. Vamos para dentro, pessoal? - pediu, jogando seu copo vazio na lata de lixo. Ela ajeitou o cachecol e se escorou no peito de . A ERP tinha um uniforme fixo para meninas e outro para meninos, sendo que o delas não continha coisas como os nossos - por exemplo, gravatas e cachecóis - mas quando o inverno estava de rachar, elas podiam usar. Nossas gravatas eram do mesmo xadrez da saia delas e o blazer com calça social eram peças obrigatórias.
- Sim! Mas a gente pode cortar o caminho aqui por dentro? Eu não tava a fim de sair da escola de novo e passar frio. - fez cara de coitada, tentando cobrir as pernas.
- Ah, frescas! Tudo bem, a gente pode. - disse, pegando na mão de e a conduzindo para o tal caminho.
- Fresca porque não é você que tá de saia nesse frio da porra! - chiou, reclamando. Dei uma boa olhada nas pernas dela e tive dó. Realmente, devia estar congelante. Pouco pano e pouca temperatura.
- Blábláblá. - ignorou, maroto. - Ninguém mandou nascer mulher!
- Como é, ? - se soltou da mão de , dando um tapa em suas costas.
- Briga, briga, briga! - berrou, como que chamando o pessoal naquelas rodinhas que se formavam quando homens resolviam se espancar e tal. Como aconteceu quando o retardado do Ian veio me bater.
- Ai, ai, amor! - reclamou, passando a mão pela região estapeada. Eu gargalhava, assim como faziam todos. A risada mais gostosa, é claro, vinha dela. - Foi brincadeirinha, você quer minha blusa para cobrir as pernas?
- Hunf, bom mesmo. - disse, abraçando meu amigo novamente. - E não, não quero tua blusa.
- Tsc tsc. - lamentou. - Tão submisso.
- Também acho. - eu disse, me manifestando. fez uma cara raivosa pra gente e eu ri.
- Calado, . - resmungou. - Você diz isso, porque não sabe como é ser estapeado pela sua namorada.
É. Tem razão. Eu não sei mesmo. Porque eu não tenho uma namorada.
- E nem quero saber, . - ri nervosamente, coçando a nuca, desconfortável. Olhei para , que mirava suas unhas, calada. - Bom, pelo menos não para apanhar. - completei, tentando quebrar o silêncio que ali fora instalado. Continuamos a andar, seguindo para a sala de aula.
É. Tudo bem. Menções sobre namoro quando envolvem a mim, são sempre estranhas. Porque, veja, eu ainda não sei se quero entrar em um relacionamento com alguém e, bem, apesar de gostar bastante da , a gente só se conhecia há um mês. E tem a Hayley... Se eu tivesse que entrar em um, não havia de ser com ela? Quero dizer, a gente estava enrolado e, ah...
Muitas complicações. Deixa para lá.

Sexta feira, 18:58 - Harrods

:

- Ei, vaquinhas, alguma de vocês faça o favor de fechar o meu zíper! - disse , saindo do provador descalça e segurando seu vestido com as mãos. se levantou e foi até ela, fechando o bendito. - Obrigada, colega!
- Não foi nada, amiga. - respondeu, sorrindo. Eu e ela já havíamos escolhido nossas roupas e esperávamos e . A última parecia a mais indecisa, variando entre uma roupa mais ousada e outra mais clássica, pedindo nossa opinião em um só dos casos: todos. Tudo bem, eu amava roupas e também amava comprá-las, mas toda aquela indecisão e sucessão de trocas estava começando a me cansar. Principalmente quando você foi a primeira a escolher e ainda teve que esperar outras 3 meninas decidirem.
- E então? - perguntou, dando uma volta em frente ao espelho. - O que acham deste?
- Eu acho que vai ser esse. - respondi, olhando para minha amiga que desfilava de um lado ao outro, observando atentamente seu reflexo no espelho. Aquele vestido estava mesmo deslumbrante nela, pois valorizava tudo o que uma mulher quer, sem ficar vulgar ou coisa assim. Era fino, sem ser exageradamente clássico, mas também não era depreciativo. E também me era estranhamente familiar. Franzi o cenho, tentando lembrar onde foi que eu o vira. Capa de revista ou algo assim?
- Eu também acho. - fez um sinal de "joia" para . - Relaxa, colega, um Marc by Marc Jacobs nunca te desaponta.
- Concordo. - pisquei para elas. - E espera, onde foi que já vi ele?
- Em Gossip Girl, no episódio em que a Blair pede pro Chuck dizer as "three words, eight letters". - apareceu, saindo do provador com um vestido m-a-g-n-í-f-i-c-o. Eu deixei minha boca cair até o chão, se é que isso era possível.
- Caralho! - disse, olhando para . Assim como eu, ela estava boquiaberta. - Amiga, que vestido lindo! - completou, batendo palminhas.
- Eu te mato se você não pegar esse, na boa. - falou, com os olhos brilhando para a roupa daquela.
- Olha, eu não te mato, não; mas, se você não comprar, eu compro. - eu disse, sorrindo para , que sorriu de volta. Ela virou-se de perfil, checando a silhueta. - Amiga, escolha esse, por favor. Ficou divino em você. - supliquei.
- Vocês gostaram de verdade, meninas?. - ela perguntou, dando uma volta. Nós três afirmamos com a cabeça e ela sorriu. - É, gente... parece que escolhi o meu. - declarou, feliz.
Aleluia.
Abadia de Westminster, soe os sinos aí.
- Que isso, amiga, mas já? - perguntou, irônica. - Qual é, você só provou toda a seção da Diane von Furstenberg e da Yves Saint Laurent, mesmo.
- Haha. - riu, amarga. - Engraçadinha. Pelo menos eu consegui escolher, ok? E, ó, não fica falando muito, senão eu mudo de ideia e a gente só sai daqui amanhã!
- Não, pelo amor da virgem Maria! - eu pedi, juntando as duas mãos em posição de reza. e riram, revirou os olhos.
- Então deu, certo, galera? - perguntou, entrando no provador novamente. Para se trocar, eu espero. - Todas já estão com suas roupas à mão?
- Sim! - comemorou, dando pulinhos. Olha, alterou o lance das palminhas agora.
- Tudo certo aqui, vacas. - eu disse, ouvindo meu celular apitar. O barulho era de uma nova mensagem. Abri a bolsa Chanel Caviar branca, retirando de dentro o BlackBerry. Deixei um sorrisinho escapar quando vi quem havia me enviado a mensagem.

"Vocês estão na Harrods, correto? Morrendo de vontade de fugir daqui e fazer um remember na frente da cafeteria. xx "

"Então venha. Eu já estou até indo para lá. xo "
, respondi. O sinal de "mensagem entregue e visualizada" piscou na tela e eu sorri. Logo em seguida, meu celular tocou.

- Hm, meninas, eu vou comer alguma coisa e já volto, ok? - pedi, ouvindo vários "Ok, " como resposta. - Com licença. - recolhi a bolsa e me retirei.
Apertei o botão verde, levando o celular à orelha.
- Está mesmo tão chato aí com meu pai? - perguntei, dando uma risadinha.
- Está nada, . Eu só queria mesmo era falar com você. - a voz divertida de soou.
- Então diga, cabritinho. - respondi, pegando a escada rolante. Olhei para frente, observando um casal se abraçando. Aquilo me incomodou um pouquinho.
- Nossa, , cabritinho? Belo jeito de me chamar, hunf. - ele reclamou e eu o imaginei fazendo um bico. Ri com o pensamento.
- Awn, desculpa, magoou? - perguntei, descendo da escada rolante. A Harrods estava decorada para o Natal e eu estava achando tudo aquilo uma graça. Luzes espalhavam-se para todos os locais e o vermelho/verde eram presença marcante na gigantesca loja de departamentos.
- Sim. Mas eu vou ignorar isso, porque estou plenamente feliz. - respondeu .
- Ah, é, Mr. ? - segui à cafeteria. - E posso saber o por quê?
- Porque, Mrs. .... - ele fez uma pausa, misterioso. - Graças ao seu bom pai, a banda McFLY agora está de contrato assinado com uma grande gravadora.
- Wow! - eu exclamei, entusiasmada. - Sério? Droga, eu disse para o meu pai recusar. - brinquei.
- Boba. Parece que ele resolveu ouvir a razão e aceitou, do mesmo jeito. - se gabou, rindo.
- Ah, é? E o que te faz pensar que assinar o contrato foi racional? - desafiei, chegando à cafeteria.
- Porque nós somos bons, mon belle. - ele respondeu.br> - Blábláblá. - eu disse, sentando na bancada do café. - Tudo o que eu ouço até agora, , são palavras. Nenhuma música ainda para comprovar esse talento nato que vocês afirmam ter. - completei, rindo. Eu sabia que eles eram bons, tudo isso não passava de implicância. havia me mostrado algumas letras deles em casa e eu havia adorado. Era divertido e juvenil, perfeito para estourar em todas as rádios.
- Juro que, no próximo ensaio, você vai. Aliás, já fica até combinado, o próximo ensaio é na sua casa. - falou.
- Ah, e quem foi que convidou vocês para ir lá? - perguntei, provocando. É claro que eu estava muito feliz por eles terem conseguido o contrato. - E não ouse dizer o , pastel.
- Ah, mas era exatamente ele quem eu ia mencionar. Droga, , você me quebra. - ele resmungou, igual criança.
- Own, desculpe, zinho. - falei, indicando o Frappuccino do menu como meu pedido à atendente. Apontei ainda para o muffin de chocolate exposto na estufa. Ela sorriu e concordou, anotando o pedido. - Mas, sério agora, os meninos estão perto de você? Se sim, me põe no viva voz, quero falar com todos de uma só vez.
- Você quem manda, senhorita. - ouvi um "tic", percebendo que agora estava no viva voz.
- Oi, gente! - eu disse, animada, recebendo vários "Oi, " como resposta. - Awn, parabéns, galera! Eu sabia que vocês conseguiriam!
- Obrigado, baixinha. - a voz de soou. - Graças a você e seu bom pai, não vou ter que ir pra faculdade.
Eu ri, não conseguindo associar a imagem de a uma faculdade. É, realmente, o destino dele era outro.
- Imagina, zito.
- , cara, você foi demais. - falou. - Nem sei como te agradecer!
- Gravando um CD que estoure em todos os lugares do mundo, pode ser? - perguntei, rindo. Eu estava tão feliz por eles! - E, de quebra, coloquem meu nome nos agradecimentos, pra eu ter várias fãs emputecidas comigo.
- Deixe conosco, . - disse e eu o imaginei batendo continência.
- Bom mesmo! - depositei a bolsa ao meu lado. - Parabéns, gente, de verdade. Fiquem tranquilos, eu confio em vocês e sei que têm futuro.
- Ah, quando eu estava falando, ela não acreditou, mas agora acredita, é isso mesmo? - perguntou, ofendido. Eu ri.
- É isso mesmo, bobão. - respondi, rindo. - Vamos sair para comemorar?
- Vamos! - ouvi um coro de vozes.
- Tudo bem, vou levar isso como um sim. - eu ri. - Agora são 19:13, eu e as meninas devemos ir embora da Harrods daqui a pouquinho, isto é, se a srta. sua namorada, , não atrasar para escolher uma roupa de natal. - falei, ouvindo risadas dos meninos. - Então, hm, vamos nos encontrar para jantar?
- Por mim, tudo bem. Vamos de japonês hoje? - perguntou .
- Topo, topo. - respondi. - Fui em um muito bom com meus pais esses dias, é o Roka, conhecem?
- Cacete, eu adoro lá, baixinha. - falou.
- Então tá marcado. Beijos, McFLY. - respondi, rindo.
- Isso soa tão bem, cara. Beijos, priminha. - disse. - Ah, , só uma coisa! Já que está aí, passa na Ladurée e compra aquela barra de chocolate que eu gosto. - pediu meu primo.
- Ok, . - confirmei, vendo a moça chegar com o meu pedido.
- Beijos, . Até daqui a pouco. - falou, desligando a ligação em seguida.
- Aqui está, senhorita. - ela me entregou o muffin e o café. - São sete libras.
Abri minha carteira Louis Vuitton Damier, retirando uma notinha de dez e dando-a para a moça.
- Obrigada. - ela sorriu e foi para o caixa. Eu sorri de volta, mordendo meu bolinho.

Sábado, 11:02 - casa da /

:

- Não, ! - disse, repreendendo o namorado, que fez uma careta engraçada. - As luzes tem que ser dispostas irregularmente, senão não fica legal. É pra parecer que elas são estrelas, entende? Como se elas estivessem caindo... Ah, quer saber? Deixa para lá, você não entende. Vai lá ajudar o , deixa que eu cuido disso.
Estávamos na casa da , organizando as coisas para a festa do Branco, hoje à noite. era meio que a chefe do negócio, já que sua mãe era dona da maior empresa organizadora de festas de Londres - ela havia organizado a festa de casamento do príncipe William, já que era tia da Kate Middleton. Ela tinha bastante experiência quanto à esse quesito e por isso havia tomado posse, mandando e desmandando na gente. Eu obedecia, porque mulher brava não é comigo não. E também porque eu tinha um pouco de medo da . Embora delicada na maioria das vezes, eu sabia que quando ela e o brigavam, a coisa era feia.
- Onde eu ponho isso, colega? - perguntou, segurando duas grandes bolas brancas.
- Ah, isso aí a gente vai ter que pendurar, pra ficar suspenso no ar. - respondeu, indo em direção à . - Pede para o te dar uns pedaços de linha e pendura no teto da sala.
- Certo. - falou, saindo da sala.
- Não acha que tá um pouco demais, amiga? - perguntou, olhando a bagunça que ali estava instalada.
- É, não acha, ? - perguntei, já cansado por todo o trabalho que estava sendo forçado a realizar. Fala sério, era sábado de manhã! Eu ainda estava ressentido com por ter me acordado e obrigado a vir para cá.
- Que nada, galera. É a festa de encerramento do ano, tem que ser de arrasar mesmo. - ela respondeu, pegando o estilete e rasgando uma caixa de papelão. - , vocês entregaram os convites ontem, né?
- Sim, senhora. - eu disse, batendo continência. - Vocês entregaram para as meninas?
- Aham. - respondeu, prendendo seu cabelo em um coque. - E a ficou de chamar o pessoal pelo Facebook, alguém sabe se ela fez isso?
- Ora, mas é claro que sim, . - surgiu na sala, comendo um pote de iogurte. - Peguei da sua geladeira, espero que não se importe. - ela apontou para o pote sabor morango.
- Sem problemas. - respondeu, sorrindo.
- O pediu para perguntar se a gente acaba tudo até a hora do almoço. - surgiu no local, abraçando por trás e depositando o queixo em seu ombro.
- Cara, ele já está com fome? - perguntei, rindo. confirmou com a cabeça. - Esse meninão tá pra sempre em fase de crescimento.
- Hm... - murmurou, pensativa. - Olha, diz pra ele que eu acho que não, mas a gente vai fazer uma pausa para almoçar, é claro.
- ELA DISSE QUE NÃO! - berrou e reclamou, passando a mão pelo ouvido. - Desculpa, amor. - deu um beijo em sua bochecha e saiu.
- E aí, ? - chamou e direcionou o olhar para ela. - Seus pais não ficaram nem um pouco preocupados com a gente estar fazendo festa aqui sem eles?
- Ah... - respondeu, sentando no chão. - Na verdade, não, amiga. Eu fazia festas no Brasil também e meus pais, graças a Deus, confiam bastante em mim. Nunca deu nenhum problema.
- Entendi. - disse, concentrada. - Meus pais não deixariam, eu acho. Não por mim, mas pelos outros, sabe?
- Sei... - falou. - Bom, eles deixaram o telefone de uma super empregada, de qualquer jeito. Ah, e meu pai disse antes de ir embarcar: "juízo, ". - ela riu.
Eu adorava aquela risada, cara. Era tão leve, gostosa de se ouvir.
- Nossa, a gente vai mesmo chamar essa moça. - eu disse. - Eu não vou limpar tudo isso aqui de novo, não, já basta estar arrumando agora!
- Tudo bem, . - ela respondeu. - Acho que eles até já avisaram ela, então...
- Ah, que beleza! - lancei um sorriso para , que retornou. Cara, olha como ela é linda, puta que pariu.
- Vamos só guardar as coisas mais quebráveis, certo? E trancar os quartos, por favor. - ela pediu, rindo.
- Com certeza. - riu. - e estão guardando os móveis da sala, pra tentar criar uma pista de dança. O DJ chega mais tarde e vai colocar aquelas coisas pra dar efeito, sabe? Tipo o globo no teto e tal.
- Certo. - disse. - E o que o está fazendo, exatamente?
- Ajudando a com a decoração. - ela respondeu, abrindo mais uma caixa.
- E a gente? - perguntei. Qual é, eu não estava mesmo entendendo o que estávamos fazendo. Até agora, tudo que fiz foi abrir caixas e mais caixas. Nada muito emocionante.
- Isso, . - respondeu, retirando um puff de dentro da caixa de papelão. Mas que porra? Como raios aquilo coube dentro daquela minúscula caixa? Uni minhas sobrancelhas em sinal de confusão, assim como fizeram e , que estava sentada na escada. - São puff's compactos, minha mãe que cedeu pra gente. Ela ganhou de uma empresa aí e me pediu para experimentar.
- Cara, que demais. - disse, extasiada. - Essa festa vai ser tudo! Ah, antes que eu me esqueça, meu pai pediu para avisar que as bebidas chegam por volta das 17:30, ok?
- Beleza! - eu disse, animado. A bebida, para mim, era o assunto mais importante. Decoração e comida deviam ficar para depois, vamos priorizar o etílico. - Aí sim!
- E a comida vai ser pizza mesmo, gente? - perguntou, retirando um puff de outra caixa.
- Sim! - disse, animada.
- Ok. - respondeu, pegando o estilete. Ela foi cortar a caixa, mas ainda olhava para a gente. Desatenta, sua mão esquerda segurava o papelão e pude ver quando a lâmina passou cortando sua fina pele, fazendo brotar ali um fio de sangue. - Ai, droga!
Larguei imediatamente o que estava fazendo e voei até ela.
- , ? - chamei, aflito, segurando sua mão. - Deixa eu ver, cortou muito? Tá ardendo? , rápido, vai pegar um bandaid! Pergunta pro onde tem! , água, pega na cozinha! Ah, meu Deus, , tá doendo muito? Quer que a gente te leve pro hospital?
- ! - ela disse, rindo. Como raios ela podia rir em um momento como aquele? - Primeiro, respira. Depois, fica calmo, foi só um cortezinho.
- Não foi só um cortezinho, . - eu disse, preocupado e bravo com ela. - Você estava com esse estilete afiadíssimo aí, vai que cortou bastante?
- Relaxa, cabritinho. - passou sua mão pelo meu cabelo. - Estou bem, passou de raspão. Aí, viu, nem tá sangrando tanto. - ela me mostrou o pequeno sangramento que realmente não exalava muito sangue.
- Tudo bem. Mas você tem vacina contra tétano? - perguntei, ainda aflito. Eu simplesmente não conseguia ficar calmo sabendo que ela estava machucada.
- ! - ela repetiu, rindo alto. - Eu já disse que estou bem. O que tenho que fazer para provar isso?
- Hm... - eu disse, chegando muito perto dela. Lancei-lhe um sorriso de canto, malicioso. Ela queria provar que sua mão estava boa? Bom, então eu esperava que estas fossem para os meus cabelos, puxando daquele jeito que só ela sabe fazer. Ou até dentro da minha camiseta, arranhando meu abdome. - Eu tenho uma ideia.
- É mesmo? - se aproximou também, mirando com desejo para a minha boca. Ela subiu seu olhar para o meu e sorriu pervertida. Ah cara, eu adorava aquela garota! - E qual seria?
- Assim, ó. - sussurrei, colando minha boca apressadamente na dela. Ela colocou seus braços em meus ombros, depositando uma mão em minha nuca e a outra a puxar os meus cabelos. abriu a boca, permitindo que eu aprofundasse o beijo e assim eu fiz. Encostei-a na parede, colocando uma mão em volta de seu rosto. Minha língua foi de encontro à dela e eu já podia sentir aquela sensação engraçada dentro da minha barriga, presente em todas as vezes que nós nos beijamos. Aquilo estava ficando intenso e eu me preparava para trocar as posições, deixando ela por cima de mim.
- COF COF. - ouvi a voz grave de soar. Me afastei de , partindo o beijo. Droga, , justo agora? - Ah, desculpem, podem continuar.
- Idiota. - revirei os olhos, rindo. Todos os nossos amigos nos encaravam com cara de deboche e pelo canto dos olhos encontrei uma vermelha como a gota de sangue do seu dedo recém-cortado.
- Foi mal, gente, é que disseram que tinha alguém machucado aqui. - disse, rindo. Ele segurava uma caixinha de bandaid.
- É, mas sabe como dizem, ... - deu um tapinha no ombro de , rindo de canto. - Com um beijinho, passa. Não é, zita?
Todo mundo explodiu em risadas, menos , que mantinha as duas mãos no rosto, escondendo sua vergonha. Doce e angelical, como sempre.
- Ah, tudo bem, coleguinha. - disse, chegando perto da gente. Ela segurava uma embalagem branca e um gominho de algodão. - Cedo ou tarde a gente tinha que ver isso, mesmo.
- É, , tudo bem. - falou, se segurando para não rir. - Juro não rir só porque você está toda com vergonha.
- Nossa, , eu não juro nada. - fez um coque em seu cabelo. - O , sério? De todos os meninos do mundo, ele?
- Ei! - reclamei e riu.
continuava com as mãos no rosto, completamente vermelha. Ela estava ignorando a todos e eu achava aquilo uma graça. Meninas são muito engraçadas quando estão com vergonha.
- Babacas. - ela disse, mostrando o dedo do meio. Aí está o bendito dedo cortado.
- Ih, pera lá, agora eu consegui ver o machucado. - disse, chegando perto de sua prima com o bandaid. - Quer dar um beijinho aqui também, ?
- Puta merda. - xingou, baixinho. Ela jogou o cabelo para trás e abaixou o rosto, ainda vermelho.
- Chega, gente. - pedi, rindo. Como meus amigos eram babacas, por Deus.
- É, chega, porque a já tá competindo quem é mais vermelho: o rosto ou o sangue dela. - tirou sarro.
- Own, tadinha da pirralha. - bagunçou o cabelo dela, que reclamou. Pude ver abrindo a embalagem branca e retirando de lá um remédio. Ela espirrou o remédio no gominho de algodão, pedindo o dedo de . - Só não vou zoar mais porque você tá machucada.
- Ai, cacete, isso ardeu! - disse, recolhendo o dedo cortado. chiou. - O que tem nesse algodão aí?
- É antisséptico, colega. - explicou. - A gente tem que desinfectar isso antes de botar o curativo.
- Blergh. - ela cedeu, devolvendo o dedo. comprimiu os olhos quando passou o algodão novamente, provavelmente pela ardência. abriu um bandaid e entregou para , que o colou no local ferido.
- Bem, tudo certo aqui, então? - perguntou, se levantando. - Podemos voltar ao trabalho escravo, senhora ?
- Sim, podem! - falou, ou melhor, mandou. - Todos à posto!

Sábado, 20:26 - festa

:

- Tá tudo lindo, ! - disse Stacy, olhando à sua volta. Ela era a menina que eu substituíra no time das líderes de torcida logo após a minha chegada, já que a mesma havia quebrado o pé e tal. No fim, eu mentalmente agradecia à ela, pois me tornei muito mais próxima das meninas e acabei descobrindo que eu gostava de fazer parte das cheerleaders. Me julguem.
- Awn, obrigada, Stacy. - eu sorri, dando um abraço nela. Ela era da minha sala, então a gente conversava de vez em quando. Isso é, quando dormia nas aulas ou não estava fazendo alguma gracinha comigo.
- Ah, também devo mencionar que eu simplesmente amei o seu vestido! - a loira sorriu, colocando as mãos na cintura. Stacy era magra, bronzeada e tinha um corpo de dar inveja, além de um rosto angelical. Como raios consegui substituí-la no time? - Estou invejando esses seus Louboutin, . Eu, por outro lado, tenho que ficar usando essas sapatilhas sem salto até meu pé se recuperar completamente. - ela revirou os olhos. O único defeito dela era ser a melhor amiga de Hayley. Blergh.
- Obrigada! - eu disse, rindo. - Ah, fica calma, tenho certeza que daqui alguns dias ele se recupera. Foi mesmo uma pena que você não pode dançar naquele jogo...
- Não tem problema, zinha. Eu não estava lá, mas soube por várias pessoas que você se deu super bem com as acrobacias.
- Foi por isso que os meninos perderam, então? - caçoei, rindo.
- Boba. Aquilo não teve nada a ver com seu desempenho. - ela me deu um pedala, rindo. - Ah, , o Troy está me chamando ali. - ela apontou para um canto, onde um certo moreno dos olhos verdes a chamava. Troy era um tremendo gato e Stacy e ele formavam um belo casal. - Gostei da festa, brasileirinha! A gente se tromba por aí. - Stacy me deu um beijo no rosto e nos despedimos.
Sentei-me em um dos puffies compactos que havia trazido para a festa, observando o fluxo de pessoas ao meu redor. Eu ainda não conseguia acreditar que aquela era a minha sala. e haviam guardado os móveis e os tapetes orientais na sala de cinema - agora, trancada, juntamente com os amados cristais e esculturas da minha mãe -. e fizeram um belo trabalho na decoração e eu podia enxergar as tais bolas brancas e o caminho de estrelas pendendo do teto - sabe-se lá como é que eles as penduraram -. Os puffies de variavam entre dourado, bege e branco, dando um toque final ao cômodo. O DJ chegara um pouco mais tarde do previsto, mas conseguiu montar uma incrível pista de dança, onde algumas pessoas dançavam com seus namorados ao som de Cobra Starship. dera a ideia de montar um mini bar para acomodar as bebidas que nos entregara e assim foi feito. A comida ficava em um grande balcão, mas ninguém parecia dar muita bola à ela. Sorri para um grupo de garotas que veio me cumprimentar, decidindo levantar e circular pelo local. Procurei pelas meninas, encontrando-as na área externa, também decorada. Abri a porta de vidro e segui até lá.
- Olá. - eu disse, sentando em um puff dourado. estava sentada com e usava o tal vestido da Blair. , contrariando a namorada, não usava uma roupa completamente branca, assim como eu. O casal estava ocupando conversando, por isso não me cumprimentou. Pareciam falar sobre algo sério, já que gesticulava com as mãos sob o olhar impassível de .
- Oi, vaquinha! - respondeu, bebericando seu drink. Ela usava um maravilhoso Valentino, último modelo na Harrods e justamente o seu tamanho. Tamanha sorte, não? - Preciso te perguntar, viu o por aí? - perguntou, provavelmente querendo sair daquele ambiente meio tenso.
- A última vez que o vi, ele estava cumprimentando o time de futebol. - respondi, dando de ombros. Eu tinha visto Ian nesse mesmo grupo, mas fugi rapidinho, evitando uma possível conversa. Desde que ele bateu em , na segunda, eu simplesmente não conseguia mais olhá-lo da mesma maneira. Porque, poxa, precisava daquele surto de violência? A gente ficou algumas vezes, mas nunca nenhum dos dois disse que era exclusivo, ou que estávamos sério. Assim, precisava daquele ataque de ciúmes? Tudo bem que eu também ficaria puta se ele beijasse outra bem na minha frente, mas nem por isso armaria o maior escárceu e...
Ok, armaria sim.
Certo, acho que até entendo. De qualquer jeito, eu vinha evitando todas as ligações dele, assim como os encontros na escola. E diga-se de passagem, fiz isso muito bem.
Muito má, talvez?
- Priminha do meu coração. - ouvi a voz de soar. Virei-me para a esquerda e lá estava ele, acompanhado de . Sorri ao perceber como os dois combinavam até nas cores das roupas, preto e branco. Ela usava o maravilhoso vestido escolhido facilmente - só que não - na loja de departamentos, e ele vestia a roupa escolhida com a minha ajuda, horas mais cedo.
- ! - exclamei. - Bela roupa, quem foi mesmo que a escolheu?
- Tolinha. - ele disse, apertando a minha bochecha. - Onde é que estão e , mesmo?
- Também quero saber. - respondeu. - Só do último, claro. O primeiro eu deixo aqui pra minha amiga .
Ah, lá... vai começar! Puta merda, maldito momento em que eles nos viram se beijando. Eu ficava vermelha só em pensar.
- Engraçadinha. - eu disse, dando um leve tapa na sua perna descoberta. - Vamos procurar por eles, então? - pedi, querendo deixar e sozinhos. Todos concordaram, entendendo a situação e nós saímos.
Abri a porta de vidro, adentrando a sala, seguida por , e . A música trocara e uma versão mixada de Don't Wake Me Up, do Chris Brown, saía pelas potentes caixas de som do DJ. Nós vasculhamos o olhar pelo cômodo, procurando pelos queridinhos. Identifiquei pegando uma bebida no mini bar e me virei para .
- Achei. - apontei para o local e ela deu um sorrisinho murcho. Estranhei, unindo as sobrancelhas. Será que eles também haviam brigado?
- Não surta. - declarou, olhando fixamente para um lugar. Eu direcionei o olhar para lá, me arrependendo no instante seguinte. estava escorado na porta, entre o hall e a sala. Até aí, tudo bem. Exceto pelo fato de que entrelaçado em seu braço, estava uma certa loira gema. Ela sorria para ele e ele sorria de volta, parecendo gostar da situação. Pisquei os olhos com força, sentindo o sangue nas minhas veias correr mais rápido e minhas mãos se fecharem. Contrai minha boca, com raiva.
- Fica calma. - depositou sua mão no meu ombro, querendo transmitir paciência. Fácil falar, fácil pensar, difícil mesmo de acontecer.
- Pelo menos a gente achou ele, não? - eu sorri amarelo, queimando de ódio por dentro. Por que raios fazia isso? Nós não tínhamos nada, é claro. Mas ele não podia agir assim! Ele simplesmente não tinha o direito de alternar entre nós duas, variando a cada 24 horas ou quando enjoasse de alguma.
- ... o , ele é assim mesmo, quero dizer, ele tem essa mania de... - começou, gaguejando. Eu percebi que que ele tentava defender o amigo, mas ele não tinha que defendê-lo, porque a gente nem tinha nada. Não é? já havia deixado claro sua opinião sobre relacionamentos sérios no dia seguinte à minha chegada. E, bem, a gente se conhecia há muito pouco tempo. Bobeira minha pensar que a gente iria se beijar algumas vezes e depois começar a namorar. Não que eu tenha pensado nisso.
- Relaxa, eu tô bem. - tentei sorrir, fingindo o melhor que podia. Não me pergunte a razão, mas, de alguma forma, me incomodava aquela indiferença dele. O quão fácil era pra ele me deixar e ir dar uns amassos com Hayley? Ele parecia tão à vontade para fazer isso, sabe? Como se num instante eu nem existisse. Nem parecia o que me tratava bem, se preocupava com qualquer corte ou tombo meu e que me dizia as coisas mais fofas. Lembrei-me do que tinha dito às meninas na terça, me sentindo culpada por ficar com Ian e . Como pude ser tão idiota a ponto de me preocupar com o que ele sentia? Ele, certamente, não se importava nem um pouquinho. - Eu vou pegar uma bebida.
Saí do grupo, atônita, dando passos firmes até o mini bar, evitando o olhar e comentários pervertidos de alguns garotos.
- . - ouvi uma voz masculina me chamar, mas não reconheci quem. Mas que droga, será que eu não podia ficar um minuto em paz?
- Que foi? - eu disse, áspera. Joguei com violência o copo no qual iria beber, virando-me para identificar quem tinha me chamado.
- Ah... vejo que ainda está brava. Desculpe. - Ian disse, tímido. Ah, puta merda, eu tinha me esquecido do quão bonito ele era. - Acho que vou indo então, depois a gente conversa e...
Eu também tinha me esquecido do quão fofo, doce e compreensivo ele era.
- Não, Ian, me desculpe. - eu sorri, fitando aqueles olhos azuis maravilhosos. Sinceramente, eu já o havia perdoado por causa da briga. Se ele quisesse espancar de novo, podia ficar à vontade. Só podia levar a Hayley junto também e fim. - Fica. - pedi, pegando na sua mão.
Ele abriu um sorriso lindo e me puxou para um abraço. Inalei aquele perfume Bugatti mais uma vez, intoxicada com seu cheiro.
- Senti saudade. - ele disse, apertando minha cintura. Senhor, esse homem é real?
- Eu também. - respondi, cravando minhas unhas em suas costas. Pelo canto do olho, pude ver nos encarando. Em uma mão, a cerveja. A outra, fechada em punho. A expressão de raiva e os olhos opacos. E, desta vez, ele estava sozinho. Sorri vitoriosa, pensando no quão estava enganado ao pensar que somente ele podia alternar de caso. Afinal, é como dizem: os direitos são iguais para homens e mulheres.

XV. Hasta la amigos con beneficios!


Sábado, 20:39 - festa

:

Puta que pariu. Será que toda festa vai ser assim?
Eu estava encostado no canto da parede com uma cerveja. Hayley saíra para ir ao banheiro retocar a maquiagem ou coisa assim. Eu observava o casal dançar na pista; ela ria de alguma piada que ele tinha feito. Os braços dela no ombro dele, as mãos dele na fina cintura dela. O casal era e Ian e, por alguma razão, eu estava irado por vê-los juntos. Mesmo sabendo que nós não éramos exclusivos nem nada. Porque era isso. A gente não era nada um do outro.
- , seu do contra! - disse, trombando em mim. Ela estava com , os dois pareciam meio bêbados. Desviei, contrariadamente, os olhos da pista de dança. - A festa é do branco, não do azul! - completou, referindo-se à minha roupa. Eu sorri, tentando ignorar meu impulso de permanecer encarando . Ela parecia, afinal, bem com Ian. E eu também estava bem com Hayley. Todos estamos bem, não é?
- Mas a minha calça é branca, besta. - eu disse, dando um pedala nela. xingou e riu. Ok, eles estavam mesmo bêbados. - E a minha blusa de baixo, também. Assim como a minha meia. - completei, e eles explodiram em risadas. Certo, totalmente bêbados.
- Boa resposta, cara. - fez um high five comigo. - Agora, se não se importa, nós vamos utilizar o quarto de hóspedes da . - ele sorriu malicioso para a namorada e eu ri. Enfiei a mão no meu bolso, à procura da chave do mesmo.
- Aqui está a chave, espertinho. - entreguei o objeto à . Eu havia ficado com ela, pois pensei que poderia ter proveito do quarto. Mas, obviamente, isso não aconteceria. A pessoa que eu queria como companhia estava bem ocupada beijando outro na pista de dança. - Usem camisinha! - Berrei e me mostrou o dedo do meio. O casal foi embora e eu fui pegar outra cerveja.
Atravessei a sala em direção ao mini bar, sedento por álcool. Chegando ao local, procurei por mais garrafas, encontrando-as vazias. Bufei.
- As cervejas estão na cozinha, irmão. - disse , com . Eu nem havia percebido que os dois estavam ali. - Procura na geladeira, a pediu para colocar lá.
- Valeu, . - agradeci, deixando o casal. Rumei para a cozinha, as caixas de som estourando Rest of my life, do Ludacris com o Usher e o David Guetta. Dei uma última mirada na pista de dança, encontrando um Ian sozinho. Não pude evitar um sorrisinho, mesmo estando levemente estressado com .
Cheguei à frente da porta do local, abrindo-a e percebendo um ambiente vazio. Aparentemente, as necessidades etílicas do pessoal da festa estavam bem supridas com o estoque do mini bar. Mas as minhas não. Eu queria mais.
Abri a geladeira metálica, encontrando facilmente as preciosas Buddweiser. Recolhi uma, fechando o eletrodoméstico. Passei os olhos pela cozinha, procurando um abridor de garrafas. Falhei na tentativa, pensando depois que ele poderia estar nas gavetas. Comecei a abrir e fechar várias seguidamente, encontrando o bendito abridor. Retirei a tampinha da Bud com o mesmo e o guardei, levando a garrafa à boca. Girei meu corpo, pronto para ir embora. Se não fosse por algo - ou melhor, alguém - que avistei sentada na bancada da cozinha. Os sapatos claros, as pernas bronzeadas e muito bem torneadas, o vestido branco com detalhes dourados, a cintura fina e o busto maravilhosamente projetado. Um pescoço deliciosamente atrativo, o sorriso inocente e o rosto doce. Seus cabelos estavam lisos até as pontas, onde tornavam-se cacheados.
Ela era a minha combinação de anjo e demônio. E, puta merda, como ela era linda.
- Oi, . - ela sussurrou meu sobrenome daquele jeito sexy, fazendo com o que a cozinha se tornasse estranhamente quente. Senti meu estresse com ela evaporar. subiu o olhar para mim e alargou o sorriso.
- Oi, . - devolvi o sobrenome, aproximando-me da bancada. Ela parecia estar ali de propósito, justamente para me provocar. Bem, entremos no jogo dela, então.
- Onde está Hayley? - perguntou , colocando as duas mãos na bancada. Ela jogou a cabeça para trás, revelando mais ainda de seu pescoço. Senti uma vontade gigantesca de beijá-lo, mas me contentei em somente colar nela, dando um sorrisinho de canto.
- Onde está Ian? - perguntei, arqueando as sobrancelhas. Ela soltou uma risada leve, mexendo no cabelo. Eu coloquei minhas mãos na cintura dela, puxando-a para perto de mim. endireitou os braços ao redor dos meus ombros. E assim estava muito melhor.
Eu direcionei o olhar para e ela o sustentou. Ficamos assim por alguns minutos, um sentindo a presença do outro. Os olhos dela brilhavam, transmitindo ansiedade - e os meus não estavam muito diferentes, tenho certeza -. Apontei para a porta, perguntando "Está trancada?". Ela afirmou, respondendo "Sim, ". Inclinou a cabeça, ficando cada vez mais perto de mim, enquanto eu fazia o mesmo, tornando-me cada vez mais próximo dela.
O beijo se iniciou calmo e lento, adquirindo profundidade quando nossas línguas se chocaram e eu colei seu corpo no meu. passou as pernas ao redor da minha cintura, entrelaçando seus dedos nos meus cabelos. Eu subi uma mão da cintura dela para a nuca, pressionando levemente o local. levou uma mão ao meu rosto, fazendo ali um gostoso carinho. Nosso beijo agora passara para algo voraz, muito mais quente do que como começara. Passamos bons minutos assim, aproveitando a situação. Quando descolamos nossas bocas, eu depositei minha cabeça no ombro perfumado dela, e uniu nossas mãos. Estávamos estranhamente carinhosos um com o outro hoje, mas eu estava gostando daquilo, como nunca havia gostado antes.
- ... - a suave voz de pediu e eu olhei para ela. - Eu preciso... - ela fez uma pausa, pensando. - Eu preciso, hm, eu preciso saber o que é isso. - perguntou, apontando para nós. Eu já sabia ao que ela se referia.
- Hm... - murmurei. Eu pensava num jeito bom de dizer ", não quero um relacionamento sério agora, mas também não quero deixar de ficar contigo" sem soar canalha ou magoá-la. - , eu, sabe... não sei bem.
- Muito menos eu, . - ela respondeu, soltando da minha mão. Oh-oh, mau sinal, , mau sinal.
- Lembra da nossa conversa no carro do , um dia depois de você chegar? - perguntei, na esperança dela lembrar e eu não ter que repetir. - As coisas não mudaram, entende, ? Eu sei que não aguentaria ser fixo de alguém, sabe? É duro admitir, mas sei que não. Simplesmente não sirvo para assumir compromisso. - fiz um carinho no rosto dela, tentando sorrir o mais docilmente possível. - Não sou maduro o suficiente para isso. - uni nossas mãos novamente, apertando levemente a de .
Eu observava atentamente a reação dela àquela notícia. Primeiro, seu rosto assumiu uma feição de confusão, passando para uma leve raiva e depois, finalmente, a compreensão.
- E a gente fica como, ? - perguntou, abaixando a cabeça.
Espera... ela estava triste? Ah, mas que merda.
- . - pedi, decidido. Ok, eu preciso dar um jeito nisso. Vamos lá. - Deixa eu te fazer uma pergunta séria: você quer "terminar" com Ian?
- Não. - ela respondeu prontamente. Aquilo me incomodou um pouquinho, sabe? O fato dela ter sido tão rápida. - E você quer "terminar" com a Hayley?
- Não também. - respondi, sincero. Do mesmo jeito que eu tenho certeza que o Ian fazia algum bem à , a Hay também fazia à mim.
- Então você não acha que a gente devia ser só amigo? - perguntou, passando os dedos pelos meus cabelos. Eu fechei os olhos, tentando imaginar a minha vida dali pra frente sem os beijos dela, sem as mãos dela, sem o sorriso dela, sem o carinho dela. Sem ela.
De jeito nenhum.
- Esse é o problema. - abri os mesmos. - Eu não aguentaria ser seu amigo.
- Tudo bem. - ela me deu um selinho. - Nem eu. - riu, leve. Suspirei aliviado. - E agora?
- Podemos ser amigos com benefícios, então. - eu sorri, chegando à esta brilhante conclusão. Aquilo era uma ótima ideia, porque, veja, ela não queria ser minha exclusiva, nem eu queria ser dela. Nós dois precisávamos dos nossos rolos, mas também precisávamos um do outro.
- Você tem certeza que isso é uma boa ideia? - ela indagou, arqueando a sobrancelha.
- Eu tenho absoluta certeza. - pisquei, dando um selinho nela. - E você, ?
- Acho que sim. - ela abriu um sorriso lindo. - Mas você tem que pedir, porque, sabe, eu sou difícil. - completou, rindo. Eu ri também, desgrudando do corpo dela. Ajoelhei-me em sua frente, pegando sua mão.
- Senhorita ... - fiz uma pausa dramática. - Vossa Alteza aceita embarcar em uma amizade colorida comigo?

Domingo, 10:03 - Starbucks da East Block County Hall

:

- Isso nunca dá certo. - declarou , bebendo seu chocolate quente. Ela era alérgica à cafeína, mas, mesmo assim, tinha aceitado vir conosco à cafeteria (é claro que estava passando longe de tudo que continha a tal substância). As meninas haviam dormido na minha casa após a festa de ontem, enquanto os meninos, na de . Nós fizemos essa divisão para que não houvessem tantos bêbados no mesmo lugar. E também porque os casais estavam num grude que... argh. Eles simplesmente não poderiam dormir juntos. Tipo, de jeito nenhum. A menos que eu quisesse ceder o ninho do amor aos pombinhos - o que estava totalmente fora de cogitação, obrigada -. Eu havia acabado de contar para elas sobre a minha nova situação - agora devidamente nomeada - com .
- Oras, por que não? - perguntou , descontraída. Ela cortou seu waffle, levando o garfo à boca. - Eu acho que vai ser tremendamente divertido, .
- É, mas vocês estabeleceram um limite, ou algo assim? - perguntou, unido as sobrancelhas. Ela bebia um café latte: muito leite, pouco café. - Ou pretendem seguir assim eternamente? - disse, num tom meio sarcástico.
Eu rolei os olhos. Pelo visto, era a única que me apoiava naquilo.
- A gente combinou que vai seguir assim até que um queira "terminar". - fiz aspas com os dedos. e eu havíamos discutido sobre isso ontem e estabelecemos o seguinte: quando nos apaixonássemos (por quem quer que fosse) ou nos cansássemos daquilo, pararíamos. Eu achava uma boa ideia, afinal, não queria terminar com o Ian - ele me tratava como uma princesa e eu amava aquilo -, tampouco com - ele era... ah. Tudo de bom.
Cortei um pedaço do meu sanduíche, levando-o a boca. As meninas estavam estranhamente atenciosas nesta manhã. Elas observavam cada mínimo detalhe ou reação que eu tinha. Parecia que queriam me proteger, cuidar de mim.
- ... - hesitou. Oh-oh, lá vem. - Olha, me desculpa, mas eu não sei se isso vai funcionar...
Rolei os olhos novamente. Mas que coisa, gente!
- Oras, por que não? - imitei a pergunta da . - Nós dois estamos solteiros, nós dois estamos aproveitando, ué?
- Sim, nisso você está certa. - disse. - Até algum de vocês se apaixonar, eventualmente, um pelo outro.
- Uai... - a largou os talheres, bebericando seu suco de laranja. - E qual o problema nisso?
- O problema é o . - pegou o guardanapo, limpando a boca. uniu as sobrancelhas, confusa. - Ah, galera, vamos lá. A chegou faz pouco tempo, por isso não conhece bem como ele é. Mas a gente convive com ele há anos e conhece o jeito dele...
- E como é o jeito dele? - perguntei, mesmo sabendo da resposta.
- , o , ele não gosta de compromisso sério. - disse pausadamente, me lembrando o na festa. Eu já entendi isso, galera. Dá pra vocês, por favor, pararem de repetir isso? Mas que saco! Ela pegou na minha mão, tentando ser suave. Mas quer saber? Aquilo não estava suave coisa nenhuma. - Tipo, de verdade. A gente viu ele pegar várias meninas, iludi-lás e depois descartá-las. Nós já vimos isso acontecer com várias, entende? E não queremos que isso ocorra com você.
- É, pequena . - me abraçou, carinhosa. - Só por isso nos preocupamos. Gostamos demais da conta de você. - ela deu um beijo na minha cabeça.
Eu sorri. Elas só estavam sendo cuidadosas, afinal. Era papel de amiga, não? Senti meu nervosismo ir desaparecendo aos poucos.
O Blackberry apitou, chamando a minha atenção. Retirei o eletrônico da bolsa rosa claro Miu Miu - comprada por mamãe para se desculpar por não me levar na viagem (eu não liguei mesmo, a bolsa compensava tudo) -, identificando uma nova mensagem. Abri.

"Bom dia, . Almoço hoje na Oxo Tower Restaurant? Os meninos estão convidando. Ouvi dizer que a área reservada de lá é excelente para quem quer dar uns amassos. Haha. x "

Revirei os olhos com a mensagem, rindo. tinha razão. Aquilo seria tremendamente divertido.
As meninas olharam estranhamente para mim e eu logo me recompus.
- Eu não acho que o vá ferir você ou algo assim, . - limpou a boca, terminando de comer. Mirei seu rosto. - Mas, de qualquer forma, para evitar problemas, tente não se apaixonar por ele, sim?

Domingo, 10:17 - casa do

:

"Hm... e quem disse que eu quero dar uns amassos? E, principalmente, com você? xo "

Revirei os olhos. Essa menina era jogo duro.

"Ouch, ! Mas, respondendo à sua pergunta: ninguém precisa dizer, depois do trabalho feito pela gente no balcão da sua cozinha. x "

Sorri, satisfeito com a minha resposta. Aquilo deveria colocá-la nos eixos.

"O prêmio do melhor do mundo em me deixar com vergonha vai para... ! Parabéns, bobão. Convite aceito, por falar nisso. Te vejo às 13."

- Ei, cara! Com quem você tanto troca mensagens? Até perdeu no God of Wars, cara. - disse, surgindo atrás de mim. Ele tentou ler o conteúdo da tela, mas fui mais rápido e bloqueei o iPhone.
- Deve ser com a, ui, . - debochou e os guys explodiram em risadas. Revirei os olhos, não conseguindo evitar um risinho com a voz afetada dele.
- Se querem tanto saber, seus bichas, era com ela sim. - falei, vendo morrer e ganhar. A tela LED piscou "jogador um, você ganhou" e depois "jogador dois, sentimos muito". xingou e deu um pedala em , que revidou.
- Ah, e aí... como é que vocês tão? - virou-se para a poltrona onde eu estava, com o balde de pipoca na mão. não tinha comida na casa dele (uma das consequências de ser filho único e com os pais viajando era essa: falta de comida. E não esquecemos da bagunça na casa, também), por isso nossa bela primeira refeição do dia - vulgo café da manhã - foi pipoca, os ovos mexidos horríveis e completamente sem sal do ( havia dito para ele que sal não fazia bem, retinha líquidos e todas essas porras de gurias que vivem fazendo dieta, mesmo não precisando) e o meu café igualmente horrível. Tudo bem, no quesito alimentação, uma menina fazia muita falta em uma casa.
- Ficando. - respondi, dando de ombros. Eu não queria ficar compartilhando da minha relação com ela com os caras. Sei lá, era estranho.
- Só isso? - perguntou, com um prato vazio na mão. Ele parecia ser o único que conseguia comer aquilo. Ugh.
- Desembucha, . - disse, segurando uma caneca de café na mão. - Conte-nos tu-di-nho! - ele disse, batendo palminhas. Eu ri, lembrando do quanto ele parecia a namorada quando fazia aquilo.
- OK. Mais umas palminhas à la e a gente para de ser amigo. - alertei e todos riram. - A e eu estamos, hm, em uma amizade colorida.
Observei atentamente a reação dos meus amigos àquela notícia. arqueou as sobrancelhas, não compreendendo bem - óbvio, ele era o , e suas piadas eram tão ruins quanto seu raciocínio -. fez uma cara estranha e deu de ombros.
- Tudo bem. - disse, rindo. - Boa sorte, irmão. Isso nunca funciona.
Rolei os olhos.
- Por que não? - indaguei.
- Simples: eventualmente, algum de vocês vai se apaixonar. Você por ela ou ela por você. E , não és tu mesmo o cara que não-consegue-se-amarrar-com-ninguém? - perguntou , meio paternal.
- Sim, ué? E é exatamente por isso que é uma ótima ideia. Eu entrei nessa justamente para não me amarrar à ela. Assim como não estou amarrado à Hayley, oras. - eu disse, como se aquilo fosse a coisa mais simples do mundo. Porque era simples! Nós não queríamos ser exclusivos, mas também não deixaríamos de ficar. Era uma ótima ideia, eu não estou entendendo porque os caras discordaram.
- Puta merda... e a Hayley, ela tá sabendo disso? - pediu, cruzando os braços.
Ops. Esqueci do pequeno detalhe que elas se odeiam. Ah, mas que importa?
- Ela não tem que gostar ou não. A gente não tem nada. - eu dei de ombros. Era verdade, ué...
- Péssima ideia. Existem filmes sobre essas "amizades coloridas". - falou. - Quer saber como terminam? Com os casais juntos. Porque é assim que tem que ser, sua bichona.
Revirei os olhos. Eles simplesmente não entendiam.
- Olha lá, hein, ... - disse, levando o garfo à boca. Ele subiu o olhar, sério, para mim. - Não vai machucar a minha prima.
- Não vou, . Pode deixar comigo. - Meu celular vibrou, e uma nova mensagem piscou na tela. Dei por finalizada aquela conversa e deslizei o dedo pela tela.

"Sobre aquela tal área dos amassos... bom, reserve-a para a gente. xo "

Ri com aquela mensagem. Ah, cara, essa garota é demais.

Domingo, 18:17 - quarto de

:

- Esta ou essa? - perguntou , apontando para duas camisas. A primeira, xadrez azul claro com bege; a segunda, vermelha com preto.
Depois do almoço na Oxo Tower - que correu muito bem, obrigada (agradecimento especial à ) - fomos à casa de e ali ficamos por algum tempo. convidara para jantar e eu fora convidada também, mas por Ian. Desta vez, fiz prometer que eu não o encontraria no meu quarto, pedindo para ficar. Ele prometeu que não faria isso, me deixando aliviada.
Porque, sabe, pode ser difícil demais dizer não à ele.
Aliás, é difícil demais.
- Gosto mais da vermelha. - apontei para a tal camisa. Estava jogada na sala, me acabando na pipoca e no chocolate, babando pelo Dean em Supernatural quando me chamou, pedindo ajuda com as roupas, como sempre. Eu ri e pausei a série, indo socorrê-lo.
- É, eu também! - ele pendurou a opção descartada e jogou a escolhida na cama.
- Sabe, , acho que você tem mais problemas com roupas do que eu. - caçoei, rindo. Ele me mandou o dedo do meio.
- Toda cheia de graça essa minha priminha. - ele riu forçado. - Agora vaza, a não ser que você queira ver meu corpo nu. - deu um sorriso malicioso para mim.
- Tá tentando me seduzir, ? - perguntei, arqueando uma sobrancelha. - Porque, tipo, não tá funcionando! - ri alto. Ele me mostrou o dedo do meio de novo.
- Então por que você ainda tá aqui, bonitinha? - sorriu amarelo. - Sempre soube que o não era muito homem mesmo. Tá insatisfeita com o produto? Quer trocar?
Eu ri mais alto ainda, escandalosamente. era o primo mais legal que eu tinha, como raios não o havia conhecido antes?
- Sai pra lá, seu babaca. - eu disse, e ele riu. - Você é todo da minha amiga, eu ein?
- Sou mesmo, . - ele falou, adentrando o banheiro. Eu sabia que os dois eram completamente loucos um pelo outro. Em poucas semanas, já havia percebido. - Agora tchau! - ele bateu a porta e, em poucos segundos, pude ouvir o barulho do chuveiro.

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- Você está absolutamente deslumbrante. - Ian disse, me olhando sem pudor algum. Eu corei, dando-lhe um sorriso tímido. Seus olhos azuis faiscavam e eu ficava cada vez mais com vergonha. Não estava usando nada demais, na verdade. Apenas um Lorick da coleção de primavera. Eu o havia comprado em uma viagem, um ano atrás. O vestido estava meio escondido no meu guarda roupa, porque eu não o vestia com frequência. Mas aí olhei para ele e para o sapato Pour la Victoire, unidos com a bolsa Oscar de la Renta e... tcharam. Foi paixão.
- Olha quem fala. - respondi, mordendo meu lábio. Agora era a minha vez de olhar para ele. Ian vestia uma camisa azul cobalto e uma calça jeans clara. Um pedaço do cinto ficava à mostra pois a camisa estava levemente depositada por dentro da calça. Nos pés, calçava um sapatênis de cor branca, assim como a blusa por debaixo da camisa. O pulso direito abrigava um relógio prata, e ele mexeu nos morenos cabelos, bagunçando-os de um jeito totalmente convidativo. Puta que pariu, que homem mais charmoso.
Eu estava literalmente babando.
E ele ainda exalava Bugatti Pure Black.
Ah, qual é!
- Então, eu estava pensando... - ele pediu, e eu subi meu olhar ao dele. Seus olhos azuis pareciam divertir-se do meu momento estou-totalmente-caidinha-por-você. - Devemos ir, certo? - lançou-me um sorriso torto completamente maravilhoso.
Olha, na verdade, eu poderia ficar aqui tranquilamente só olhando para você.
- Hm, o quê? - perguntei, meio abestada. Ian riu, me puxando para perto dele. Concentre-se, . Ele o chamou para ir. - Ah, certo! Nós devemos, sim.
- Só preciso fazer uma coisa antes. - ele se aproximou de mim, os glóbulos brilhando, o sorriso safado no canto da boca. - Posso?
- Po-pode. - Gaguejei, muito abestalhada. Ok, , você é muito retardada. O que raios tá acontecendo comigo? Tudo bem que o Ian sempre foi maravilhoso, mas de alguma forma, agora ele parecia mais. Muito mais.
Ian sorriu, muito malicioso. Eu tremi, sentindo minha pele se arrepiar. Ele se aproximou, encostando-me na porta (antes fechada por mim) de casa. Passou seus braços por volta da minha cintura, colando seu corpo no meu. Pude sentir seus músculos quando me envolveu e seu cheiro quando ele me prensou na parede. Mirou meus olhos mais uma vez e eu, impaciente, colei logo nossas bocas, colocando um fim - ou início, como preferir - em tudo aquilo.
Ah, nós nos atrasaríamos para a reserva do restaurante. Ou até a perderíamos.
Mas quem se importa, mesmo?

XVI. All I want for Christmas is... I guess it's you


Segunda feira, 12:16 - meu quarto

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- Você viaja quando, cara? - perguntou através do telefone. O Natal era na quarta feira, mas como no dia seguinte já era a véspera, eu deveria estar na casa dos meus avós maternos para passar a virada com eles. tinha viajado para a Itália com os pais, lá permaneceria para Natal e ano novo. e ficariam aqui mesmo, mas eu teria de ir à Durham, cidade natal da minha mãe. Eu até gostava de lá, mas Londres era tão mais interessante...
- Hoje, lá pelas cinco. Deixa eu ver que horas tá marcado aqui na passagem, calma aí. - disse, apoiando o iPhone no ombro e procurando a passagem na minha carteira, já guardada na mala. Peguei a carteira e joguei-a na cama. - Aqui, hm, vejamos... Isso, o voo é à\s 5:40. Tá a fim de vir aqui para, sei lá, jogar um pouco de video game? Você pode ficar até mais ou menos a hora de eu ir.
- Fechou, . Ah, peraí, a não para de me atrapalhar aqui. - ele disse, rindo. Eu sorri, ouvindo a voz de dizer ", vai se foder, você acabou com todo o chocolate que eu comprei sexta? Mas que droga, eu quero chocolate! , para de rir, uma garota tem as suas necessidades! Pode sair agora e comprar! Eu não me importo se está nevando, vai logo, babaca". - Só um instante, . Preciso controlar uma fera aqui. - falou, e eu ouvi retrucar "Eu não sou uma fera, seu besta, mas vou ficar se ninguém me der chocolate! Não, não tem leite condensado pra eu fazer o meu brigadeiro. Não, idiota, não é assim que se fala, é bri-ga-dei-ro. Ai, britânicos malditos. Vou chorar, quero chocolate!"
- , pelo amor de Deus, dê o precioso cacau pra ela, antes que essa menina surte. - falei, rindo alto. era engraçada às vezes.
Principalmente quando estava nervosa.
- Se você preza pela sua vida, é bom parar a frase por aí. Ah, e só para constar, você está no viva voz. - a voz dela, num tom nervoso, soou.
Opa.
- Desculpa, . - eu ri. - Qual é a do escândalo aí?
- Ah, esse idiota acabou com todo o chocolate! E eu trouxe quatro caixas! Ele comeu tudo, todos os bombons. - ouvi-a dizer, manhosa.
- Ai, . - revirei os olhos, achando graça de todo aquele drama dela. Tentei me lembrar de todas as aulas de Relacionamentos. O que fazer quando uma mulher está atacada desse jeito? - Você tá de TPM, ou algo assim?
- Ela deve estar é grávida, mesmo. Nunca vi tanto desejo por algo! - caçoou, rindo. Prevejo ela batendo nele em 3, 2... - Ai, , caralho! Doeu! , controla sua mulher, pelo amor do santo pai.
- Você mereceu essa, meu. - falei, remexendo na mala. Graças à boa ajuda de Kate, a empregada daqui de casa, ela estava completamente pronta. - Se você quer tanto que ela pare, por que não sai e...
Opa. Tive uma ideia.
- , esquece. Podemos inverter o local? 'Tô indo aí pra tua casa, ok?
- Tá, ué? - falou. - Até daqui a pouco, .
Voei em direção ao closet, trocando de roupa rapidamente. Peguei o primeiro relógio preto que vi na gaveta, colocando-o. Mirei as horas. 12:30. Ainda tinha tempo, graças a Deus.
Recolhi as chaves do Porsche de cima da cômoda e a carteira da cama, mandando uma SMS para minha mãe.

"Fui no . Vou de lá para o aeroporto. A gente se encontra. x "

Peguei a mala, saindo de casa e trancando a porta. Andei até o elevador, esperando o mesmo chegar. Quando aconteceu, abri a porta, entrando no ambiente e apertando o andar -1, a garagem. O iPhone vibrou, indicando a resposta de mamãe. Um simples "Ok. Juízo. xx". Revirei os olhos, rindo do "juízo" dela. O elevador parou e as portas se abriram ao mesmo passo em que eu destravei as chaves do Porsche. Entrei nele e acionei o som.
Certo. tinha mesmo razão. Estava nevando, e bastante. Liguei o aquecedor, tentando não deixar com que toda aquela neve me atrapalhasse.
Em poucos minutos, cheguei ao meu destino. Pelo fato de estar nevando bastante, quase não havia congestionamento no trânsito. Desci do carro, adentrando a quentinha doceria.
- Pois não? - disse uma simpática atendente da Ladurée.
- Vocês têm cestas de doces?

Segunda feira, 12:45 - meu hall

:

Arrastei meu corpo até a escada, o dinossauro comedor do meu útero - vulgo cólica - me acompanhando no percurso. Subi as escadas sôfregamente, minha mão sob a região da barriga, tentando aliviar a intensa dor.
Menstruação. Obrigada, organismo. Era mesmo tudo o que eu precisava. Nesse frio londrino e sem chocolate, ainda. Muito obrigada.
Bufei, nervosa, abrindo a porta do meu quarto. Andei até o closet, parando diante do espelho. Meu cabelo estava um caos e meu pijama, nada atraente. viria para cá, o que significava que eu tinha de ficar, ao menos, decente. Despi-me do pijama, jogando-o no chão. Fui até a parte das calças, colocando meus jeans mais confortáveis possíveis. Alcancei meu desodorante - por que raios ele estava ali e não no banheiro, mesmo? -, passando o produto. Caçei uma blusa branca simples, colocando-a. Procurei pelo meu maior moletom, encontrando, facilmente, o meu "I Love NY" azul marinho. Calcei meu Vans branco, fazendo uma careta quando uma pontada da cólica me atingiu. Quando é que o remédio faria efeito?
Ok. Agora eu precisava dar um jeito no meu cabelo. Já no banheiro, abri a primeira gaveta da pia, recolhendo um pente. Ajeitei a franja e, com o resto do cabelo, fiz uma trança lateral. Prendi-a com um elástico simples e joguei uma água no meu rosto, pálido e sem maquiagem. Jesus, eu estava horrível. Como aguentava olhar para mim sem dizer nada, mesmo?
Tudo bem, talvez era porque ele morava comigo. E por ser meu primo. Ou porque ele era gentil.
De qualquer jeito, eu continuava um monstro.
Sequei o rosto com a toalha, piscando duas vezes em frente ao espelho. Peguei o rímel M.A.C. transparente, o gloss labial Beauty Rush by Victoria's Secret e o blush Dream Bouncy by Maybelline, aplicando os produtos nos devidos locais.
Sorri em frente ao espelho, satisfeita com o resultado. Simples e bonito. Ótimo.
Borrifei o Dazzling Kiss, também da VS, em diversas áreas do corpo. Mexi mais uma vez no cabelo e saí do banheiro. Recolhi meu celular, abandonado na cama e desci as escadas. No penúltimo degrau, ouvi a campainha tocar. Devia ser o , é claro.
Caminhei até a porta, sentindo meu coração bater um pouco mais rápido. Por que ele insistia em fazer isso quando eu estava perto do , mesmo?
Toquei a maçaneta e, sem nem olhar, abri.
Era ele. Lindo como sempre, bem vestido como sempre. O 212 de sempre. Só uma coisa ali era estranha: segurava uma cesta. Rosa. Grande. Recheada de chocolates. Da Ladurée.
Senti meus olhos brilharem e tive fome. Vontade de devorar tudo aquilo de uma só vez, sem nem pensar em calorias, gordura ou dor de barriga.
Eu estou falando da cesta, ok? Devorar a cesta. Só ela.
- ! - berrei, surpresa. Ele tampou os ouvidos com a mão vaga, fazendo uma careta. - Ah, desculpa! Puta que pariu, o que é isso? - perguntei, com água na boca.
Por favor, que seja para mim, por favor, que seja para mim.
- Seu presente de natal. - ele abriu um sorriso lindo. Eu abri um sorriso gigante, olhando toda abestalhada pra ele.
Ah.Meu.Deus.
Casa comigo, tipo, agora?
- Você comprou tudo isso... - arrisquei, mordendo o lábio. - Só para mim?
- Você estava fazendo um super drama no telefone. - revirou os olhos. - Daí eu achei que devia fazer alg...
Eu não deixei ele terminar de falar. Simplesmente puxei a nuca dele e colei nossas bocas. Desesperadamente.
Porque ele merecia. E muito.
sorriu durante o beijo, mas eu estava muito concentrada em retribuí-lo pelo presente. O perfeito presente.
Ele nos conduziu para dentro do hall, fechando a porta da entrada. Colocou a cesta no chão e uniu suas mãos na minha cintura, enquanto eu entrelaçava as minhas em sua nuca. O beijo ficava mais agressivo conforme nossas línguas se chocavam, provocando as mesmas sensações em meu interior. Ele pressionou a minha cintura, encostando meu corpo na parede. Já estava pronta para começar uma sessão ainda pior - não, melhor - de amassos, quando...
- Ah, cara, mas que nojo. - a voz de soou e eu parti (contrariadamente) o beijo. - Não sou obrigado a aguentar essas coisas, sabe, você é minha prima e você é meu melhor amigo e... Puta merda, o que é tudo isso? - interrompeu a frase, apontando para a cesta no chão.
- Isso é meu, . Nem ouse tocar. Não te darei nada. Nem um macaron sequer. - coloquei as mãos na cintura, com ao meu lado.
- É meu presente de natal para ela. - explicou, rindo do meu egoísmo.
- Por que raios ela ganha um e eu não? - meu primo perguntou, cruzando os braços. Invocadinho como uma criança.
- Porque você é só meu amigo... - respondeu. - E a é mais do que minha amiga. - ele piscou para mim e eu me arrepiei. Ah, puta merda, que homem maravilhoso.
- Ah, vão se foder. - mostrou o dedo do meio para gente, rindo. - Mas, e aí, ? O que tem aí dentro que você não gosta?
- Nada. - falei. - Não sou enjoada com doce, priminho. Gosto de tudo.
riu, colocando sua mão em volta da minha cintura. Eu dei um beijo no pescoço dele.
- Obrigada, . - sussurrei. - É o melhor que eu já ganhei.
- Se você continuar a retribuir do jeito que fez hoje, ganha sempre. - sibilou, fazendo com que eu estremecesse. Sexy, sexy, sexy.
- Se você continuar a me supreender do jeito que fez hoje, também ganha sempre. - respondi, ficando na ponta do meu pé e dando um selinho nele. - Agora vamos lá, deixa eu abrir o meu lindo presente!
Sentei-me no chão, sob os olhares de e . Desfiz o bonito laço cor-de-rosa, retirando o papel transparente meio rendado que cobria o presente. Meus olhos brilharam ainda mais quando vi todo o conteúdo. Macarons, bolos, cupcakes, brownies, cookies, bombons e os demais doces possíveis-de-serem-feitos-na-presença-de-chocolate infestavam a cesta. Eu abri a boca mais ainda, sedenta por açúcar.
- Ah, ... - falei, abobada. - Muito, muito, muito obrigada mesmo!
- Não há de quê, . - ele sorriu, maroto.
- Sabe, , eu adoro cookie. - jogou um verde para colher um biscoito.
- Sério? - perguntei, comendo alguns bombons. - Nem ligo. - levantei, recolhendo a cesta.
- Cadê seu espírito natalino? Jesus compartilhou o pão e depois de amanhã é o aniversário dele. Compartilha doce aí, malvada! - pediu e eu gargalhei.
- Na-na-ni-na-não! - retruquei. - Onde é que estava esse seu pensamento quando acabou com o chocolate?
- Poxa vida, ! - meu primo chiou.
- Tudo bem, vai, eu te dou um cookie. - cedi, entregando um pacotinho pra ele.
ria da nossa infantilidade. E, meu Deus, ele tinha um sorriso tão lindo.
- Ah, olha isso, tem até um coelhinho aqui! - falei, retirando a pelúcia de lá. - , não sei nem como retribuir tudo isso...
- Olha, mas eu sei. - sorriu, safado, chegando perto de mim. - E é assim, ó...
Ele uniu nossas bocas, a mão na minha cintura, a minha em volta do corpo dele....
- Acho que vou vomitar. - declarou e nós paramos o beijo, rindo alto.

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- Ele fez o quê? - perguntou , a voz meio chocada.
Após toda a euforia do presente, e foram jogar video game e eu subi para o meu quarto, dormindo um pouco. Meia ou uma hora depois, os dois engraçadinhos fizeram o favor de me acordar - da maneira mais barulhenta possível -, dizendo que a gente precisava fazer algo de útil. Eu dei de ombros e nós passamos o resto da tarde conversando, comendo e rindo. Por volta das cinco horas, disse que precisava ir embora e pegar seu voo rumo à Durham, onde passaria o Natal em família. Eu perguntei se ele voltaria o ano novo e ele, maliciosamente, respondera que sim. Sugeri que passássemos toda turma junta, com exceção de , que estava na Itália e , que estava na Escócia. Os meninos acharam uma boa ideia e assim ficou decidido. desejou boa viagem para e foi para seu quarto, mas eu e ele, hm, demoramos um pouco mais.
- Me trouxe uma cesta repleta de chocolates porque eu estava com muita vontade de comer. - respondi, empolgada. - Não é fofo?
- É mais do que fofo. É muito fofo. - disse , se derretendo toda. - E muito romântico também!
Ah, esqueci de mencionar que após a longa despedida eu havia ligado para as meninas, colocando nós três numa mesma conversa. Estava atualizando elas sobre os últimos fatos ocorridos.
- Tá vendo? É o primeiro passo, . Um presenteando o outro. Logo vocês serão dois pombinhos apaixonados. - zombou e eu ouvi alguém chamá-la com um inglês um tanto quanto puxado. Com muito sotaque.
- Ah, deixa de ser uma estraga prazeres, ! A tá se divertindo e sendo feliz com o , não vê? , minha vaquinha, eu te apoio 100%! - riu.
- Obrigada, . E, , eu sei que você tá tentando cuidar de mim, mas não se preocupe. Tenho tudo sob controle. - falei, colocando a unha na boca e comendo o cantinho dela. Tudo bem, talvez eu estivesse um pouquinho nervosa.
- Se você diz... Ai, gente, eu queria ficar aqui no telefone com vocês, mas meus avôs não param de me chamar! Eu já vou indo, ok? Ligo pra vocês amanhã, e mantenham-me atualizada sobre as coisas aí em Londres! Beijos, colegas. - ela disse, e nós respondemos com "Ok, pode deixar, beijos". Ela desligou e nós voltamos a conversar.
- Contei pra vocês que saí com Ian? - perguntei, saindo do meu quarto.
- Ih, não! Como foi? - indagou.
- Foi muito bom, gente. Tipo, mil vezes melhor do que a primeira vez! E eu não consigo entender por quê...
- Não é por que vocês estão mais íntimos agora? - sugeriu. - A primeira vez em que eu saí com o também não foi assim excelente. Gostei muito mais das outras.
- É, talvez... - respondi, descendo as escadas. Ou talvez o fato de minha cabeça poder de fato concentrar nele, e não em outra pessoa, tivesse ajudado.
- Deve ser. - concordou. - Gente, eu vou desligar agora. Preciso ir me arrumar para sair com o boy.
- Vai lá. E, ah, só pra constar, ele vai te levar em um lugar muito chique. Vestido e salto alto devem dar. Sei que era surpresa, mas só pra você não ficar meio desorientada na hora de se vestir. - eu disse, sabendo que ele me mataria se eu contasse onde iriam. Mas uma dica não devia matar. Abri a porta da sala de cinema, preparando para passar a noite ali mesmo, vendo filmes e comendo porcarias.
- Obrigada, . Salvou a minha vida. Beijos, vaquinhas! - despediu-se, desligando em seguida.
- E para me ajudar com o , você não tem nada não, ? - perguntou, rindo.
- Vixe... ai já dificulta. Sabe como é, ele não é meu primo, nem mora comigo. - eu ri, ligando a televisão.
- Poxa, mas que droga, hein? Acho que esses meninos gostam de fazer um suspense e nos matar de curiosidade. - ela disse e eu gargalhei, concordando. - Manolo Blahnik ou Jimmy Choo?
- Se for o Manolo que me mostrou na semana passada, ele, com certeza. - respondi, lembrando-me do maravilhoso modelo azul piscina. - Vai vestir o quê?

Segunda feira, 16:02 - primeira classe do voo 7789 com destino à Durham

:

Nuvem. Azul claro. Branco. Mais nuvem. Minúsculas gotículas de água. Mais azul claro.
Mas que tédio.
- Quanto tempo você disse que demorava para chegar, mesmo? - perguntei para minha mãe. Ela encontrava-se ao meu lado, ligeiramente perturbada por não poder usar o seu bendito celular durante o voo. Mamãe, desde que assumira a empresa do meu pai, era uma mulher muito ocupada, passando pouco tempo em casa e muito tempo trabalhando.
- Eu não disse. - ela respondeu. - Mas tomara que logo.
- Tomara mesmo. Odeio aviões. - falei, inquieto.
- Dorme um pouco, filho. - aproximou-se de mim e fez um carinho em meus cabelos. - Só se lembre que quando for um artista famoso terá que se adaptar à eles. - ela abriu um sorriso.
Eu ri. Minha mãe, apesar de ausente, era a minha primeira fã. Ela me apoiava e acreditava no futuro da banda, já que, segundo ela, "nenhuma grande banda começou famosa, esse processo leva tempo e paciência".
- Ok. Vou tentar. Espero que, até lá, tenha conseguido perder esse receio. - respondi, deitando meu banco.
- Eu também. - falou, me dando um beijo no rosto. - Dorme bem, . - acariciou meu ombro e eu fechei os olhos.

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- Porra, eu tinha me esquecido do quão tediosa era essa cidade. - reclamei para os guys ao telefone.
Chegamos em Durham com cerca de 40 minutos de voo. Minha mãe me acordara de um sonho muito bom e isso me deixou levemente estressado. Descemos do avião e recolhemos as malas, avistando no aeroporto os meus sorridentes avós. Após irmos para a casa deles e eu ouvir mamãe comentando sobre como adorava a boa recepção de sinal da cidade e também sobre como morria de saudades dali, eu me estabeleci no quarto extra - que meus avós haviam, gentilmente, decorado para mim - e dormi mais, acordando agora há pouco, às 20:00. Jantamos e eu vim para o quarto conversar com os caras.
- Credo, . É tão ruim assim? - perguntou .
- Aposto que nem é ruim e o só tá reclamando porque é uma mariquinha fresca. - zombou e eu tive vontade de socá-lo na cara. Amigavelmente, é claro.
- Otário. - retruquei, deitando na cama. - É chata, parada. Não tem nada para fazer a não ser visitar castelos, catedrais e a universidade.
- Vai encontrar a sua princesa, vai, . E para de reclamar aí. - disse, rindo.
- Ou talvez ele já tenha encontrado e só está com saudades dela. Da, vocês sabem, . - zombou .
- Idiota. - xinguei, rindo. - Ela foi a última pessoa com quem eu tive contato em Londres, se querem saber.
- Ah, cara! Eu não queria saber! Ela é minha prima, porra. - reclamou , com voz de nojo.
Os caras explodiram em risadas, assim como eu.
- Ulalá, olha para esse , todo garanhão. - caçoou , rindo.
- Tenho um nome a zelar, não é?

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"Estou uns três quilos mais gorda. E a culpa é toda sua. E da cesta. xo "

Eu ri, revirando os olhos. Aquilo deveria ser mais um dos exageros dela. Respondi ao SMS imediatamente.

"Duvido. E, ah, você continua gostosa."

Hoje era dia 24 de dezembro, quarta feira, véspera do natal. Minha mãe e minha avó estavam indo à loucura com todos os preparativos, enquanto eu e meu avô, como bons imprestáveis, estávamos fazendo nada. Não é como se eu não tivesse tentado, mas quando o fiz, acabei deixando queimar o maravilhoso "Cookie de banana com suspiros e créme brulèe" da minha mãe. Ela ficou levemente - exageradamente - brava e depois não me deixou tocar em coisa nenhuma.
Não que eu estivesse reclamando.

"E você continua safado. Como está Durham?"

"Parada. Como está Londres?"

"Branca. E fria."

"Quer que eu vá para aí te esquentar?"

"Não seria uma má ideia..."

- ! Vai levar o lixo para fora! - pediu, ou melhor, exigiu a minha avó. Eu não retruquei, nem xinguei, afinal, ela era a minha avó e eu gostava bastante dela.
- Em um minuto! - disse, deslizando o dedo pela tela ao receber uma nova mensagem. Franzi o cenho. Não era de .

"Você foi embora sem que eu pudesse me despedir. Queria pelo menos um beijo de natal, gatinho. Ou outra coisa. Você decide. xo Hay"

Soltei um sorrisinho. Hayley... desde quando eu não a via? Acho que desde sábado, na Festa do Branco.
Estava com saudades dela. Ficar com ela, em geral, era sempre agradável. Hay só tinha essa mania de se tornar meio chata quando estávamos na presença de alguém. Mas comigo ela sempre fora muito legal. E, cara, eu tinha dado um duro danado para conquistá-la uns cinco meses atrás.
Hora de valorizar o pão, talvez?

"Hm... prefiro a 'outra coisa'. Saudades. Juro que quando voltar, recompensarei, ok? "

- ! O lixo! - minha avó berrou.
- Ah, ok! Onde está? - falei, guardando o celular no bolso.
- Na cozinha, é claro. Onde mais estaria? - ela revirou os olhos, como se o que havia dito fosse óbvio. Até minha avó me dando patadas. 'Tô bem, viu?
- Obrigado, simpatia. - eu disse, dando um beijo no topo da cabeça dela. Ela riu e me deu um tapinha no quadril.
- Anda, menino! Daqui a algumas horas é a ceia! - vovó me despachou e eu fui.

Quarta feira, 23:58 - sala de jantar

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- Dois minutos, . - meu pai disse, abraçando-me de canto.
Os pais de - meus tios, Rebecca e Fred - haviam voltado de Liverpool para passar o Natal conosco e, assim, não precisaria ir para lá, além de termos a oportunidade de ficar em família. Mamãe e papai haviam voltado de viagem ontem de madrugada, trazendo com eles várias malas e histórias engraçadas. Eu, apegada do jeito que era, aproveitei para matar a saudade deles. Passamos o dia de hoje decorando e enfeitando toda a casa, utilizando várias coisas que eles haviam trazido da Alemanha. Nós seis estávamos, no momento, sentados, aguardando pela chegada do Natal.
- Pronto, deu meia noite! FELIZ NATAL! - minha tia Rebecca exclamou, tirando os olhos de seu relógio Louis Vuitton branco com dourado. Ela era uma versão feminina e mais velha de . Tinha os mesmos olhos e boca. O nariz de , no entanto, vinha do pai. Eu vira os dois quando criança, há muito tempo atrás - segundo minha mãe, antes mesmo dela dar luz ao -; assim, não me recordava muito bem de suas feições. Fiquei feliz em finalmente conhecer meus tios.
- Feliz Natal, minha gente! - berrou, vindo em minha direção com os braços abertos. Eu sorri. Estava feliz. Afinal, estava mesmo em família.

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- Feliz Natal, cabritinho. - falei, lançando um sorriso para através da tela do notebook.
Era cerca de meia noite e vinte. Os adultos conversavam na sala de estar, à beira da lareira. e eu havíamos escapado para desejar Feliz Natal à nossos amigos via Skype.
- Ainda não engoli esse apelido, . - ele respondeu, sorrindo de canto. - Feliz Natal para você também, .
- E o seu outro ? Não existe mais? - perguntou, fazendo um bico. - Sabe, eu costumava ser o único . Agora que ela chegou, tô me sentindo substuído. Sinto que está atrapalhando nosso gaylacionamento, .
Eu gargalhei alto, assim como e depois, .
- Seu maricas ciumento. - disse , mexendo no cabelo. - Feliz Natal, babaca.
- Igualmente, guy. Agora, se vocês me dão licença, deixarei o casal, a fim de fazer contato com a minha namorada, que, por algum motivo, insiste em não me atender. - falou, recolhendo o celular e discando alguns números na tela. Ele afastou-se de mim e do notebook, indo para o meu banheiro.
- Fala pros seus avós e pra sua mãe que eu desejo um Feliz Natal! - eu disse, mirando a imagem de em frente à uma bonita árvore.
- Fale você mesma! Um instante, . - ele pediu, levando a sua imagem para perto de três pessoas. A primeira eu julgava ser a mãe dele. Ela era muito jovem e bonita, cabelos num comprimento médio e olhos como os de . A segunda devia ser a avó dele. Cabelos chanel levemente grisalhos e um sorriso muito simpático. A terceira pessoa era o avô, uma expressão amigável e cabelos bastante grisalhos. - Gente, essa aqui é a , a prima do . Vocês lembram do , né? Então, ela chegou do Brasil há cerca de um mês... Digam um Feliz Natal para ela!
- Feliz Natal, ! - disseram os três ao mesmo tempo. - Ela é muito bonita, filho. - disse a mãe de , dando um abraço nele.
- Muito obrigada, sra. . - agradeci, dando-lhe um sorriso. - A senhora também é muito bonita. - respondi e ela agradeceu. - Um Feliz Natal para todos vocês!
- Agradecemos, mocinha. , eu gostei dela. Vocês namoram? - a avó de perguntou, e eu ri. Quero ver como ele se sairá dessa agora.
- Hm, na verdade não, vovó. - ele disse, coçando a nuca. Parecia desconfortável.
- Pois vocês deviam. Olhe só para ela, toda simpática. E olha esse sorriso, que coisa linda! - o avô dele falou, colocando-se bem em frente à tela. - , perdoe meu neto. Não se fazem mais homens como antigamente.
Eu gargalhei.
- Ah, tudo bem, senhor. E tenho que concordar com o segundo aspecto. - falei, sorrindo largo.
- Pois é! , trate de amigar-se com essa simpática senhorita logo logo. - o avô disse, dando um tapinha no ombro de , que rolava os olhos.
- Tudo bem, já chega de me envergonhar por hoje. Dêem tchau para a , vou subir para ao quarto e conversar com ela. - ele pediu e as três pessoas despediram-se de mim. Eu sorri e também me despedi, vendo subir as escadas. Aparentemente, ele estava pelo Skype via celular.
- E aí? O que você ganhou de presente? - perguntei, observando-o encostar na cama.
- Headphones, jogos de vídeo game, alguns instrumentos musicais... A terceira coisa foi a que eu mais gostei, claro. - ele sorriu, empolgado. Como amante da música e integrante de uma banda, posso imaginar que irá realmente aproveitar os instrumentos. - E você, ?
- Um carro. - respondi, lembrando-me da minha cara de choque ao ver meu pai segurando a chave com o logo da alemã BMW. "Já estava na hora, filha", disse minha mãe. "Trouxemos da Alemanha", disse meu pai. "Mas ela não pode nem dirigir", disse . "Tô sentindo seu recalque, ", eu disse. - É claro que eu ainda preciso tirar a minha carta, e isso só com 17 anos, mas não é bacana? Assim que eu aprender, vocês não vai mais precisar ficar me dando carona. - falei, rindo.
- Ah, eu gosto de te dar carona! - bagunçou o cabelo. - Qual carro?
- Uma BMW série 3 prata. - respondi, prendendo o cabelo em um coque.
- Muito massa, ! Se você quiser, posso te ensinar a dirigir. Só me deixe fazer um seguro de vida antes... - zombou .
- Otário. - respondi, rolando os olhos.
- Barbeira!
- Ei! Você não tem como saber, ok?
- Veremos assim que eu chegar aí.
- Não serei, tonto.
- Educada.
- Besta.
- Linda.
- Não tem graça brigar com você. - falei, pegando o notebook e indo para a cama.
- Não é como se eu quisesse brigar com você. - coçou os olhos.
- , a quer falar contigo! - berrou .
- Já volto. - disse para . - Não sinta muito a minha falta.
- Meio difícil, não? - ele respondeu e eu abri um sorriso, praticamente derretendo por dentro. - Vai lá.
Mandei um beijo para ele, correndo até o banheiro. Peguei o telefone, colocando e na conversa também. Nós nos desejamos um Feliz Natal e conversamos um pouco. Eu havia despachado para ir conversar com e, quando voltei ao meu quarto, ele havia conectado e no vídeo. Conversamos e rimos, até todos saírem e só restarmos eu e , novamente.
- Ainda não sei o que te dar de presente. - falei, cobrindo-me até os braços e colocando o notebook no colo.
- Não quer se dar de presente? - perguntou, rindo.
- Tonto. - revirei os olhos. - É sério, . Eu não sei mesmo.
- Mas eu falei sério. - ele riu mais ainda.
- Tudo bem, já que você não vai me ajudar, pensarei em algo sozinha. - falei, mordendo o lábio. - Eu gosto muito disso.
- Disso o quê? Natal? - perguntou e eu ri. Tão lerdinho.
- Não, . - gargalhei. - Disso aqui. Da gente. Assim.
- Ah! Eu também, pequena , eu também. - ele piscou.
- Queria que você estivesse aqui. - falei, meio sonolenta.
- Eu também queria você aqui. Não quer se teletransportar ou algo assim? É tudo o que eu preciso para esse Natal. - perguntou.
- Quem dera. - eu ri, ouvindo meu celular tocar. - , peraí, um minuto.
- Tudo bem. - respondeu.
Saí debaixo do edredom e da cama. Coloquei os pés no chão, tentando ouvir de onde vinha o toque. A última vez que eu o usara fora algumas horas atrás, conversando com o . E eu estava sentada onde? Ah, no sofá. Fui até o local, encontrando o celular jogado de qualquer jeito no canto do mesmo.
Vi o nome "Ian" piscando na tela e atendi sem hesitar.
- Oi, Ian! - disse, sorridente. Eu gostava bastante dele.
- Oi, linda. Como vai? Feliz Natal! - falou e eu o imaginei com aquele sorriso encantador.
- Vou bem, lindo. Ah, obrigada, Feliz Natal para você também! - desfiz o meu coque. - Como vai a França?
- Ah, como sempre. Acho que já estou ficando enjoado de Paris. - ele lamentou e eu ri. - Como vai Londres?
Conversamos por mais alguns minutos, até eu mirar o notebook e me lembrar de que ainda estava lá. Despedi-me de Ian, que prometeu me ligar mais vezes depois. Eu disse que era bom que ele o fizesse, já que não o veria até o ano novo.
Joguei o Blackberry no sofá, correndo para a minha cama. Peguei o notebook e notei que não estava lá, apenas a parede de seu quarto era visível na tela.
Ué, cadê?
"Relaxa, Hay. Juro que quando chegar em Londres a primeira coisa que farei será recompensá-la.", ouvi dizer. A voz dele parecia meio distante. Deduzi que ele estava longe do notebook. Aumentei o volume, querendo espiar. Me julgue.
"Tudo bem. Beijos, gatinha."
Ok. Fala sério. Gatinha?
Trinquei os dentes, levemente irritada.
Vocês não são exclusivos, . E também saiu para conversar com o Ian. Relaxe. 1, 2, 3, 4. Respira, inspira.
Excelente.
- Achei que você estivesse no Skype pelo celular. - falei, quando a imagem dele reapareceu na tela.
- Eu estava, mas você demorou tanto no celular que eu resolvi trocar para o notebook. - esclareceu, não parecendo muito feliz também.
- Entendi. - falei, mordendo o lábio. - Hayley?
- Sim. - ele confirmou. - Ian?
Balancei a cabeça, afirmando. A expressão de estava meio estranha.
- Sabe, isso não tem que ser estranho. - falei, entrando debaixo do edredon novamente. - A gente não combinou fidelidade, ou algo assim.
- Certo. - encostou na parede. - Sem ciúmes, ressentimentos e ódio, então?
- Combinado. - falei.
- De verdade? - ele perguntou.
- De verdade. - respondi, sorrindo.

XVII. Quem você vai beijar à meia noite?


Sábado, 13:00 - meu quarto

:

- Quatro palavras. Treze letras. Eu amo as férias. - disse, jogando-se em minha cama.
Eu havia voltado de Durham na tarde anterior, dia 26. Como prometido, saí com Hayley durante a noite e bem, durante a madrugada também, se é que você me entende.
- Duas palavras. Oito letras. Eu também. - falou, pulando em cima de , que soltou um berro e deu um tapa no .
- Cinco palavras. Sei lá quantas letras. Vocês dois são uns viados. - revirei os olhos, passando uma camisa qualquer pela cabeça.
Os meninos vieram aqui em casa e a gente planejava ir jogar paintball. Havíamos convidado as meninas também, e elas estavam na casa de se arrumando. e não puderam vir, claro, pois estavam em outros países; mas eles chegariam à Londres amanhã, bem a tempo para o ano novo, daqui 4 dias.
- A gente podia ir ao cinema depois do paint... Tá passando o novo "American Pie", e eu ainda não vi.
- Então o que temos para hoje é um programa de casal? - perguntou .
- Se você acha que ver um filme quase pornográfico com três meninas é coisa de casal, então sim. - falei, arrancando risadas dos guys. - Quero dizer, não tecnicamente, já que eu e a não somos um casal.
revirou os olhos e bufou.
- São o que, então? - perguntou.
- Amigos coloridos, oras. - falei, dando de ombros.
- Conta outra, . - espreguiçou-se e bocejou, sonolento. - Todos sabemos onde isso vai dar.
- Podemos mudar de assunto? - pedi, procurando meu Vans azul marinho. Eu não gostava de, sabe como é, ser o centro das atenções. Muito menos queria que a minha vida amorosa fosse.
- Sim, a gente pode discutir sobre como nós 6 não caberemos no seu Porsche. - coçou a nuca.
- Não tem problema, eu vim com a Ferrari. - pescou a chave no bolso. - Então, mariquinha, já está pronto? Ou ainda precisa ficar mais arrumadinho para a ? - ele zombou, rindo. Eu mostrei o dedo do meio pra ele, parando em frente ao banheiro do espelho e bagunçando o cabelo de um jeito que eu gostasse.
- Vá se foder. Como se você não ficasse horas se arrumando para a . - falei, rindo.
- Ah, mas aí tem uma leve diferença... - intrometeu-se. - A é a, hm, namorada dele.

Domingo, 9:18 - quarto dos meus pais

:

- Bãe, binha cabeça tá doendo buito. - falei, com a voz totalmente fanha. Eu estava gripada, muito gripada, beirando à rouquidão. Meu nariz estava completamente inchado, vermelho e repleto de, argh, muco. O interior dos meus olhos doía, e minha garganta era um palco de reprodução pras bactérias. Ou vírus. Tanto faz.
- Ah meu Deus, ! - minha mãe veio correndo até mim, carregando uma expressão totalmente preocupada. Ela colocou a mão gelada na minha testa e eu estremeci com o choque de temperatura. - Paul, ela está queimando de febre. Não é melhor levá-la ao hospital?
Eu sabia de onde tinha contraído esse resfriado. Fora da maluca ideia de de pular na piscina noite passada, com esse vento extremamente gélido do inverno da Inglaterra. Meus pais não estavam em casa e havia ido para a após o cinema, e quando me pedira a loucura... eu simplesmente não consegui dizer não. Nós nadamos, nos divertimos, nos beijamos (muito) e, principalmente, quase congelamos. Eu achava que estava tudo bem, mas descobri que não assim que acordei essa manhã. O aquecedor estava ligado no máximo, mas não continha meu enorme frio. Eu vestia um quente pijama de flanela da Victoria's Secret e estava enrolada em um enorme cobertor quando bati à porta dos meus pais, queixando-me de dores na cabeça/garganta/olhos/corpo todo.
- Ah, meu anjinho. - meu pai me abraçou, confortando-me em seus braços. - Foi esse clima de congelar, não? Não deixe sua mãe saber, mas também detesto todo o frio daqui. - ele sussurrou no meu ouvido, dando um beijo em minha bochecha. Colocou a mão em meu rosto, medindo minha temperatura. Eu tentei rir da piada, mas a dor de cabeça não permitia.
- Eu ouvi isso, Collins. - mamãe olhou para o rosto dele, meio séria. Ela sentou-se no sofá, chamando-me para ir ao lado dela. Obedeci. - Você não conhece algum médico por aqui?
- Hm... - papai murmurou, pensativo. - Ah, sim, conheço! A mrs. Champoudry, esposa do Pierre! Lembra do Pierre, o dono do Alain Ducasse at the Dorchester?
Esse nome não me é estranho...
Pense, cérebro, pense.
- Ah, sei! Aquele adorável restaurante francês? - mamãe perguntou.
Ian.
- Eu conheço o filho deles. - disse, baixinho, pois minha garganta não permitia um tom mais alto. Os dois viraram-se para mim, com uma expressão indagativa. - Do senhor e da senhora Champoudry. É o Ian. Estuda cobigo. Eu achei que eles estivessem viajando...
- Eles já voltaram, filha. Fomos ontem no Alain e conversamos bastante com o Pierre. - papai disse. - Já que você conhece o filho, não poderia fazer uma ligação e convidar a mãe dele para vir aqui? Diga que é uma consulta de emergência e que eu pago, claro.
- Tudo bem, bai. - falei. Por estar fanha, eu trocava o "m" e "p" pelo belo "b". Não era legal. Não estava legal. - Bãe, você bode encontrar o meu celular?
- Claro, filha. No seu quarto? - perguntou e eu afirmei. Ela saiu e papai sentou ao meu lado.
- Estou com buita dó do beu anjinho. - zombou meu pai, fazendo carinho em meus cabelos. Eu revirei, sofridamente, os olhos, sorrindo levemente.
- Engraçadinho.

xxx


Aninhei-me ao corpo de Ian, fechando os olhos e sorrindo.
É. Ian. Após fazer a ligação, totalmente rouca e praticamente sem voz, pedindo - implorando - para sua mãe vir me "consultar" e ela aceitar, ele fizera questão de vir junto e, mais ainda, trouxera um super pacote derruba-gripe (segundo o próprio) da Starbucks. O pacote continha café quentinho, muffins e um croissant. É claro que ele tinha que deixar a marca francesa registrada.
Ele não era perfeito?
- Estou com tanta pena de você, minha linda. - falou, acariciando meu rosto. Eu sorri mais ainda diante daquele carinho.
Estávamos sozinhos na sala de cinema. Eu me encontrava entre as pernas dele, apoiada em seu peito. Minha mãe pareceu sacar quando eu dissera que ele era "O Ian, entende, mãe?" e nos deixou ficar a sós.
- Não fique. Tenho uba ótiba bédica e o tratamento dela deve funcionar. - respondi, tossindo um pouco. Ah, garganta, pra que te quero?
- Aqui, . - ele me entregou uma cartela de pastilhas cedidas à mim por sua mãe. Recolhi as balinhas, colocando uma na boca. - E, ah, sobre essa médica, é bom que funcione, pois se não o filho dela ficará bem bravo. - sorriu com todos os dentes.
Eu tentei rir do melhor jeito que meu corpo abatido pela gripe permitia.
- Desculpe não ter ligado assim que cheguei. Tudo o que eu queria era a minha cama. - falou, me dando contínuos beijos no pescoço. Eu me arrepiei. - Sei que devia ter te avisado, mas est...
- Ei... - interrompi, dando-lhe um selinho. Ok, eu estava gripada e tudo o mais, mas as bactérias não deviam passar só com um rápido selinho, né? - Tudo bem. - sussurrei.
- Eu não me contento com isso, linda. - mordeu o lóbulo da minha orelha e fixou os glóbulos azuis em mim. - Sabe, senti saudades - murmurou, aproximando-se de mim.
Estremeci. Não de frio, caso você queira saber.
- Eu também. - assumi, mordendo o lábio inferior, levemente aflita. Variava meu olhar entre os olhos dele e a boca, ambas muito convidativas.
Ah, pai.
Ian sorriu, decidindo quebrar aquela distância insuportável entre a gente. Colou seus lábios no meu, e antes de eu corresponder, um flash de consciência veio à tona.
- Ian, estou gripada. - falei, partindo o nosso início de beijo. - Você não vai querer adoecer e...
Ele levou a mão à minha nuca, puxando-me para perto.
- Por você, eu vou sim.

Domingo, 12:05 - casa da /

:

- , estou com fome, me dê comida. - pedi, jogado no sofá da confortável sala daquela mansão.
Eu havia vindo correndo para cá após saber que estava doente. Quando cheguei, ela vestia um pijama totalmente coberto e fechado, o que me deixou um pouco desapontado. Cadê aquela camisola, mesmo?
Ok, brincadeira. Ela estava gripada e era totalmente compreensível.
- , o está com fome, dê comida a ele. - disse, não desviando os olhos do video game.
Eu estava abraçado à ela. Quando cheguei, estava ardendo em febre. Agora, meia hora depois, ela parecia melhor. Graças a Deus. Odeio vê-la passar mal.
- Delivery de comida chinesa, está com fome, dê comida a ele. - riu e nós também. - Podem pedir para vocês, eu não estou com fome.
- Ah, na na ni na não. - falei, paternal. - A senhorita vai tratar de comer, sim. Está gripada, precisa de forças, e elas vêm da comida.
- Mas é que o Ian me trou... - começou, interrompendo a frase. Ela fez uma expressão estranha, corrigindo a frase. Eu uni o cenho. Quando foi que ele esteve aqui, mesmo? - É que me trouxeram café da manhã.
Ah, mas que merda. Nem pela manhã ele dava um tempo?
Certo. Não exclusividade, . Contenha-se.
- Mesmo assim, você tem que comer, . - eu disse, impressionado com o tom calmo da minha voz. - Pra ficar curada. Pela gente. - pedi. - Por mim.
Dei um selinho nela, apertando sua cintura. Ela deitou a cabeça, levemente quente, em meu pescoço.
- Por você, sim. - falou, subindo o olhar ao meu e abrindo um sorriso lindo, delicado. Angelical.
Mirei a boca dela, desejando aquilo como nunca.
- Posso? - perguntei, pedindo permissão. Ela estava doente, vai que aquilo a machucasse ou algo assim?
- Você pode ficar doente, . - falou, baixinho.
- Eu não me importo. Nem um pouquinho. - sorri, colando nossas bocas e matando a saudade dela.
Graças ao santo pai, estava focado no jogo e, dessa vez, não nos atrapalharia. Puxei para meu colo, agarrando sua nuca e iniciando um beijo mais intenso.

xxx


Hoje era segunda, dia 29 de dezembro. Apesar de já ser tarde e meu estômago reclamar por comida, minha cabeça e meu corpo reclamavam de dor. Fechei os olhos e resolvi ficar deitado na cama por mais algum tempo.
Isto é, até meu celular começar a tocar irritantemente e minha mãe bater na porta.
- Entra! - berrei e a porta se abriu. Recolhi o celular da cômoda e pedi um minuto à minha mãe. Ela sentou-se na cama e ali ficou, enquanto eu ia para o banheiro. Deslizei o dedo pela tela. - Alô?
Observei minha imagem pelo espelho. Eu estava péssimo. Meu nariz estava vermelho e eu sentia um pouco de frio. O que era estranho, pois, normalmente, era muito calorento.
- Oi, cabritinho. - a conhecida e doce voz falou.
- Por mais que eu peça, você nunca vai parar com esse apelido, né? - perguntei, rindo. Abri a torneira e com a mão livre, joguei água em meu rosto. Estava fria. Estremeci. - Ai. - reclamei.
- O que foi, ? Machucou? - indagou, o tom de voz preocupado.
- Ah, tudo bem, . É só que eu estou meio indisposto hoje. - falei, pegando a escova de dente. Senti uma vontade imensa de tossir, e assim o fiz.
- Ah não, essa não, ! Eu te passei a minha gripe! - ela lamentou, ainda mais preocupada.
Rolei os olhos, rindo baixo, pois minha garganta doía. Equilibrei um pouco de pasta na escova, abrindo a torneira novamente. Molhei a escova e coloquei-a na boca.
- Não tem problema, . - falei, com a boca meio lotada de bolhas. - Valeu muito à pena. - cuspi o conteúdo na pia, abrindo a torneira novamente. Enxaguei a boca. - De verdade..

Terça feira, 21:34 - Ministry of Sound

:

- O tá doente, o Ian também. A estava, no sábado. - falou, virando seu dry martini. - Não sou muito boa em matemática, mas façam as contas e descobriremos que foi a, hm, propagadora do vírus. - ela caçoou e as meninas explodiram em risadas. Rolei os olhos, rindo também.
Era 30 de dezembro. Noite de ano novo. e haviam voltado de viagem ontem pela tarde, e nós passamos o resto do dia discutindo sobre um bom lugar para ir. O Koko fora sugestão de , que adorava as bandas que tocavam lá. No entanto, essa noite só haveria música ruim e, por isso, trocara o lugar para o Ministry of Sound, uma gigante boate londrina. Ela era insípida por fora, mas por dentro... Eu nunca tinha visto tanta gente juntas em um só lugar. E tanta iluminação. E uma música eletrônica tão alta, explodindo através das potentes caixas de som. Aquele lugar era demais e muito legal para virar o ano. Ótima ideia, priminho.
Minha gripe, graças aos bons remédios receitados pela mãe de Ian, havia praticamente se curado, me deixando no pique para o último evento do ano. Ao contrário de mim, e Ian haviam adoecido, contraindo a minha gripe.
Nem vem. Eu falei para os dois não me beijarem.
- Idiota. - falei, mostrando o dedo do meio para ela, que fez uma expressão estilo "estou ofendidíssima". Eu ri mais ainda, levemente bêbada por causa dos três Sex On The Beach.
- E aí, zita? Quem você vai beijar à meia noite? - perguntou , bebericando o Bloody Mary.
Opa. Boa pergunta.
E sabe qual a melhor parte? Ambos estavam aqui, na balada.
- Sei lá... - balbuciei, terminando minha bebida. - Vou deixar rolar.
É. É uma boa ideia.
- Let it be, então, coleguinha? - riu, terminando sua vodka. Pude entender a associação dela ao ouvir uma versão completamente mixada e eletrônica da legendária música. Nesse exato momento, John Lennon e George Harrison se reviraram no túmulo, mas devo confessar: a versão era bastante legal.
- Beatles entendem tudo! - confirmei, rindo alto, alcoolizada.
- Vê lá quem você quer começar o ano beijando, hein, ? - sussurrou.
Dei de ombros, concordando.
- Será o primeiro e único ou o primeiro de muitos a beijar no próximo ano? - perguntou , visivelmente embriagada.
Engasguei com a minha quase finalizada Piña Colada, rindo alto. Eu pensaria naquilo depois. Por ora...
- Quem vai querer mais bebidas?

xxx


Minha cabeça girava, meu estômago se contorcia, minha garganta queimava e eu dançava feito louca.
- Vem, ! - me chamou com as mãos, o copo de bebida na mão. - Tonight... We are young, tonight!
- So let's set the world on fire, we can burn brighter! - completei a cantoria, me divertindo com as meninas.
Devia ser por volta das onze e meia. Depois do momento conversa com as meninas na ala VIP da boate, os meninos chegaram para ficar com elas, inclusive . Conversamos um pouco - sem beijos, dessa vez. Eu tinha medo que Ian visse e uma nova briga fosse formada - e ele disse que "ia pegar outra bebida". Deve ter se perdido no caminho, porque nos próximos longos minutos, ele sumiu. Acho que estava com Hayley - eu também havia visto a queridinha aqui. Com um micro-vestido estilo mamãe-quero-ser-cabaré, é claro -, mas não importava. Ian me encontrara pouco tempo depois, me convidando para dançar. É lógico que eu aceitei. Ele foi perfeito, simpático, e cortês, elogiando minha roupa, meu cabelo, meu rosto... Tudo. Como sempre.
É claro que eu o beijei. Com ele, não havia problemas. Porque eu sabia que não bateria nele em razão disso, assim como eu não bateria em Hayley se os visse se beijando.
Já ela, eu não posso afirmar nada.
A vadia é estressadinha, eu hein.
- Faltam quinze minutos! - berrou , animada. Sua taça de champagne virou e ela derrubou um pouco, mas não pareceu ligar para isso.
- Juro solenemente fazer do ano que vem o melhor da minha vida. - disse , dançando com a gente. Nós gargalhamos. - Assim como todos os outros!

Terça feira, 23:56 - Ministry of Sound

:

- Quatro minutos! - berrou , passando a mão pelos ombros de e batendo tapinhas na cabeça dele.
Faltavam menos de cinco minutos para o ano novo. Estávamos - o grupo todo, incluindo eu e Hayley e e Ian - reunidos na parte VIP da boate (a qual fora reservada para nós anteriormente graças aos bons contatos da mãe de ) esperando pela virada. Eu não me mostrava assim tão animado, visto que a gripe havia me pegado de jeito. Minha cabeça doía ainda mais exposta ao grande barulho da música e eu não estava em pique para festa. Meu nariz insistia em me incomodar, e eu precisava ir ao banheiro frequentemente para assoá-lo. A cada 15 minutos.
Já havia se passado mais de 15 minutos desde a minha última ida. Aquilo estava insuportável.
- Preciso ir ao banheiro. - falei, sentindo uma pontada na garganta ao engolir minha saliva. - Não estou aguentando mais essa gripe.
Sejá lá quais fossem os vírus que havia me passado, ela havia feito isso com maestria.
- Mas já vão começar a contagem regressiva, ! - chiou Hayley, batendo o pé em um gesto que eu julguei extremamente infantil.
- Eu sei, mas volto rápido. - respondi, dando-lhe um selinho e saindo, sem tempo adicional para que ela reclamasse.
Eu realmente não estava com saco para tudo aquilo. Pela primeira vez em tempos, tudo o que queria era sair daquela festa e ir para cama.
Fugi do barulho e da agitação, trombando em alguém. Não me preocupei nem em pedir "desculpas", fui logo para o banheiro. Adentrei o ambiente claro e silencioso - graças à Deus -, respirando aliviado ao sentir a dor em minha cabeça afastar-se. Abri a torneira, abaixando-me para lavar o rosto. Joguei água fria nele repetidas vezes, levantando e percebendo um reflexo no espelho. Quase caí para trás com o susto, me sentindo em um filme de terror. Virei à procura da pessoa, encontrando ninguém menos do que ela ali.
Não. Não a menina do "Espelhos do Medo". Nem qualquer espírito, é claro. A .
- Sabe, eu realmente sinto muito por ter te passado essa gripe. - ela falou, aproximando-se de mim. Fiquei parado, encostado na bancada da pia. - E por ter te assustado também. - riu, leve, colando em mim.
Ah, menina... Não me teste. Não faça isso.
- Sabe, eu já disse que não tem problema. - sussurrei, colocando minhas mãos em sua cintura. - Achei que fosse ficar com o Ian até a virada.
- É. Eu também achei. - falou, entrelaçando suas mãos em meu pescoço. Fiquei feliz com o verbo no passado. - Você está molhado. - reclamou, percebendo as gotas d'água escorrendo de meu rosto.
- Por que? Quer ficar também? - perguntei, malicioso. Ela gargalhou e eu também, entendendo o duplo sentido adquela frase. - Sabe, pode não ser daquele jeito, mas talvez de outro... - encostei meu nariz no dela, sentindo toda a irritação da gripe partir. tinha esse efeito meio mágico sob mim. Acho que nunca conseguiria ficar realmente bravo com ela.
- Ah, é, ? - arqueeou uma sobrancelha. - E como, então?
Sorri, safado, e ela mordeu novamente o lábio inferior. Aquilo me atiçou, despertando todos os instintos mais tarados em mim.
- Não me culpe se ficar gripada de novo. - falei, rapidamente, antes de colar nossas bocas com urgência. No mesmo momento em que fiz isso, ouvi um grito de "Feliz Ano Novo!" ecoar de fora do banheiro. Extasiado, conduzi para dentro de uma cabine sem desgrudar do beijo. Abaixei a tampa do sanitário, sentando no mesmo, com ela em meu colo. partiu o beijo, depositando os lábios quentes em meu ouvido.
- Feliz Ano Novo, cabritinho. - murmurou, distribuindo beijos em meu pescoço.
- Feliz Ano Novo, . - respondi, passando a mão livremente pelas pernas descobertas dela. - Adorei a sua saia, aliás. - sorri, colando nossas bocas mais uma vez.
Primeiro beijo do ano. Primeiro de muitos. E por muitos, eu quero dizer muitos com ela.

XVIII. I belong with you, you belong with me, you're my sweetheart
(Ho Hey - The Lumineers)


Sexta feira, 09:07 a.m. - Café Rouge

:

- Talvez nós devêssemos ir viajar. - declarou , depositando sua xícara de café no pires.
Dois dias haviam se passado desde o memorável ano novo. Depois que saí do banheiro - antes de , é claro -, dei uma desculpa qualquer à Ian, algo como "fui pegar champagne mas acabei me perdendo no meio do pessoal e por isso perdi a virada. Quer receber seu beijo agora?". É claro que ele acreditou, mas ficou visivelmente chateado por eu não ter começado o ano com ele.
E o pior: eu não estava sentindo a mínima falta de não o ter beijado à meia noite.
A pergunta de martelava em minha cabeça. seria o primeiro de muitos, ou seria o único que eu beijaria no ano?
Eu queria que ele fosse o único?
Mas eu não estava começando a gostar de Ian?
Ou não?
- Viajar? - perguntou, unindo as sobrancelhas. Ele estava ao lado de , que bebia chocolate quente. - Para onde?
Estávamos no Café Rouge, que era um lugar bem bacana. Todo decorado em vermelho e bem iluminado, havia me chamado atenção no caminho para a Starbucks. Com alguns minutos, consegui convencer a parar ali, ao invés da outra cafeteria. Avisamos o resto do grupo e eles vieram juntar-se a nós.
- Sei lá... - deu de ombros. - Só estou enjoada desse frio da Inglaterra. Queria ir para um lugar quente.
- Nossa, eu também. Com praias, de preferência. - bebericou o café latte. - Tipo o Brasil da .
- O que meu? - perguntei, escapando dos meus devaneios. Foquei os olhos na minha amiga.
- A minha namorada aqui acabou de dizer que a gente devia viajar. - abraçou . - Para algum lugar com sol. E praia. Tipo o seu lar doce lar. - ele falou, rindo.
Ah... o Brasil. Por que a saudade de lá não estava mais apertando, mesmo?
- Mas eu não morava na praia, panaca. - disse, levando meu Caramel Macchiato à boca. - Eu morava na cidade grande, em São Paulo.
- Nossa, baixinha, nem pra você morar em um lugar legal? - provocou , pegando um dos meus bolinhos.
- Pode largar isso daí. - falei, lançando-lhe um olhar de morte. Ele pareceu assustado e largou o cupcake. - Muito obrigada. E só pra sua informação, São Paulo era demais, ok? - fiz um bico, lembrando por alguns segundos da Paulista, dos shoppings, o movimento de uma cidade que quase não dorme...
- Se você diz... - riu, abraçando de canto.
- Voltando ao assunto viagem; onde você sugere, ? - perguntou , colocando o cotovelo sobre a mesa e encostando o queixo nas mãos.
- A gente vai mesmo escutar ela? É de manhã, ela provavelmente está sonhando. - caçoou , sentado ao meu lado.
Ele estava terrivelmente lindo hoje. De algum jeito, o frio conseguia o deixar ainda mais bonito. E eu achei que aquilo nem era mais possível.
Mas era. E, droga, ele tinha mesmo que ser tão cheiroso?
- Idiota. - deu um tapa em , que reclamou. - E respondendo à sua pergunta, , que tal Cancun?
Mordi meu lábio inferior.
Cancun.
Tentador.
Muito tentador.
- Acho perfeito. - os olhos de brilharam, provavelmente pensado em tudo aquilo que a cidade podia oferecer. - Praia, calor, água clarinha e limpa, areia branquinha... Sem mencionar as mulheres maravi...
- Para o bem do seu lindo rostinho, acho bom parar a frase por aí. - pediu , encarando , que fez uma expressão engraçada.
- Você não deixou eu completar a frase. Eu ia dizer "as mulheres maravilhosas que nos acompanharão". - ele sorriu infantilmente para ela, que se rendeu e o beijou.
- Ok, ok. Chega! - pedi, cobrindo os olhos. - Não é nada agradável vocês dois a essa hora da manhã. Especialmente quando é meu primo.
- E daí? Também não é agradável ver você e o aos beijos, priminha. - respondeu, mostrando a língua. Eu corei, olhando para meu lado. ria e desceu sua mão para a minha cintura, acariciando-me.
Abri minha boca pra responder. Mas depois me rendi e sorri.
- Hm... Touchè. - falei. riu em meu ouvido e me deu um beijo na bochecha.
- Mas a gente vai assim, do nada? Não tá meio em cima da hora? - levantou uma sobrancelha, unindo as mãos em volta de sua bebida.
- Acho que não. Ora, todos estamos com o passaporte em dia, certo? - indagou.
Respondemos àquela pergunta com um coro de "sim, ".
- Então não vejo problema algum. - ela sorriu.
- Ah meu Deus, a gente vai realmente fazer isso? - bateu palminhas.
- Sim! - eu respondi, animando-me também.
- Então, bonitinhas, apressem-se em terminar o café. Vamos combinar o seguinte, saindo daqui, cada um fala com os respectivos pais e depois conversamos a noite, pode ser? - sugeriu , finalizando seu sanduíche.
- Uai, achei que você era o senhor não-vamos-dar-ouvidos-à-mim. - falou, rindo.
- Acontece que eu parei para pensar e essa pode ser realmente a única boa ideia que você teve. - ele respondeu, zombando. mostrou o dedo do meio e depois riu.
- Certo, , chega de zoar a minha garota. - ele pediu. - Continuando, e aí a gente podia ir amanhã comprar as passagens e acertar a viagem em alguma agência, que tal? - perguntou , colocando o cotovelo na mesa.
- Por mim pode ser. - respondeu. - E onde vamos nos encontrar hoje à noite para conversar?
- Ah, pode ser na sua casa, . - deu de ombros. - Você disse que ia mostrar o novo Call Of Duty pra gente, lembra?
- Beleza, cara! É irado, vocês vão ver. A gente joga a noite. - meu primo disse, animado.
- A outra e moradora-mor da casa não tem direito à opinar, não? - indaguei, rindo.
- Não. - responderam, em coro, os meus engraçadinhos amigos. Rolei os olhos e mostrei um dedo do meio comunitário, encostando-me no peito de .
Fechei os olhos, repousando no aconchegante corpo dele. passou as mãos por volta de meu corpo e me puxou para perto, de modo que eu quase fiquei em seu colo.
- ! - piei, rindo.
- Só quero você perto de mim, reclamona. - ele falou, fixando o olhar no meu. Aproveitei a proximidade para observar cada mínimo detalhe de seu rosto. Os cabelos bagunçados, a pele clara, bochechas rosadas. Olhos brilhantes, nariz fino e um sorriso encantador. Ele parecia, sem exageros, ter sido desenhado. Era de longe o menino mais bonito que eu havia conhecido. - O que é que você tanto olha?
- Ah... - desviei meus olhos dos dele, corando. - Nada. Só sua estonteante beleza britânica.
Ele soltou um riso, colocando as mãos em meu rosto.
- Se eu for parar para observar a sua estonteante beleza brasileira, é possível que não pare nunca mais. - sussurrou, dando-me um selinho.
Sorri com aquele elogio. me apertou contra seu corpo e enterrou o rosto em meu pescoço. Todos os pelinhos da região se eriçaram com o toque da sua pele na minha.
- Sabe, eu já te disse que pescoço é apelação. - falei, baixinho, só para ele ouvir.
- E eu já te disse que qualquer lugar que você tocar é apelação. - respondeu, fazendo uma trilha de beijos até o canto da minha boca. - Acho que sou eu quem está em desvantagem aqui, .
- Você está com o pescoço coberto por esse cachecol e o resto por grossas roupas. O único lugar que eu posso tocar é seu rosto. - reclamei, rindo.
- Quer que eu tire algumas peças, então? - sugeriu, sorrindo lascivo.
Gargalhei alto, despertando a atenção dos meus amigos. Opa. Eu até havia esquecido que eles estavam ali.
- Nossa, que bom que vocês saíram do transe, casal. - riu. - Já íamos chamá-los pra avisar que pedimos a conta, ok?
Concordei com a cabeça, reparando que todos os pratos e copos haviam sido retirados da mesa. Uau, nota dez pro atendimento rápido e silencioso do Café Rouge.
- Galera, esqueci de contar pra vocês a piada nova que eu aprendi! - disse , chamando a atenção de todos. bateu a mão na testa, num ato de lamento. Eu ri e meu primo reprovou, olhando feio para gente. Me desculpei e foquei nele. - É assim...

Sexta feira, 19:59 - sala de cinema da /

:

- Para de batucar o chão com a perna, cabritinho. - ela pediu, rindo levemente.
Sete e meia da noite era o horário que havíamos combinado para nos encontrar na casa dos afim de conversar melhor sobre a viagem, confirmar quem vai e etc. Mas é claro que o pessoal estava atrasado.
Virei-me para , sorrindo.
Ela vestia uma roupa básica, para ficar em casa. E, mesmo assim, estava estonteamente bonita. É engraçado como, antes dela, eu nunca havia reparado muito nas roupas de uma menina. Quero dizer, só se fosse curta ou algo chamativo. Mas, antigamente, se visse uma garota vestida como ela está, dificilmente repararia. Agora, por alguma razão, eu tinha essa mania de ficar medindo, olhando, observando cada mínimo detalhe dela. Tudo nela me atraía, me deixava ligado e atento.
Por que será?
- Desculpe, . - falei, dando um selinho nela. - É mania de músico.
- Metido. - revirou os olhos. - Sabe, eu tinha certeza que não devia ter contatado meu pai, porque agora você está todo aí se achando só porque faz parte do McFLY.
- Ouch! - fiz birra. - Não sou metido, ok? E agradeça por ter tido o privilégio de me conhecer, pois em alguns anos o escritor da minha biografia virá te entrevistar e você vai se sentir toda importante.
- Nossa, espera. Onde foi mesmo que a parte do "não sou metido" se perdeu, hein? - perguntou, rindo.
Eu ri também, me divertindo da situação.
- Boba. - dei um beijo na testa dela. - Você sabe que eu estou brincando, não sabe? - perguntei, passando o braço pelo corpo dela e arrastando-a até o meu colo. ficou deitada em mim, e eu passei a mão pelo rosto dela. Linda, tão linda.
Ela sorriu.
- É claro que sim, bobão. - apertou meu nariz.
- Ei, cadê o complemento do xingamento? - pedi, fazendo um bico.
- Qual complemento?
- A parte boa do xingamento, oras.
- , tá doido? - ela perguntou, o rosto confuso.
- "Doido" não era a palavra que eu queria, minha .
Eu sorri malicioso, levando minha mão à sua barriga. Sem mais delongas, iniciei meu ataque de cócegas. berrou e caiu do meu colo.
- !
Ela gargalhava alto, debatendo-se no sofá. Eu não estava disposto a ceder, por isso, continuava com as cócegas.
- PUTA MERDA, AI! - gritou, entre risadas. - ME LARGA! - berrou. - SOCORRO, !
- Lembrou-se do complemento já? - perguntei, diminuindo o ritmo das cosquinhas para que ela conseguisse responder.
- Oi? Você tá louc... - começou, levantando uma sobrancelha. Diante daquela atitude, aumentei o ritmo. berrou. - TRÉGUA, POR FAVOR.
- Não existe essa de trégua, . - declarei. - Comigo é tudo ou nada. Agora, eu sou um bobão o que?
- LINDO! - ela berrou, gargalhando.
- Agora que demorou demais para ceder, pode elogiar mais. - pedi, inflando o ego.
- LINDO, TESÃO, BONITO E GOSTOSÃO. - gritou, o rosto vermelho e o fôlego perturbado. Eu sorri vitorioso e parei com as cócegas. sentou-se e arrumou os cabelos, tentando acalmar-se. - Você definitivamente não sabe brincar, .
- Mas você ainda não consegue viver sem mim, não é?

xxx


- Existem oito fichas "não" e oito fichas "sim". Cada um vai receber um "sim" e um "não". Em sentido horário, um por um, nós levantamos a ficha para mostrar a decisão dos pais. Dúvidas? - perguntou , distribuindo as tais fichas para nós.
Nosso grupo havia chegado à casa de , e estávamos sentados na mesa de sua sala de estar. Erámos oito ao total, e, de repente, antes que alguém pudesse questionar, a doida da namorada do decidiu que devíamos encarar a viagem como um jogo. Ela montou tudo muito rapidamente e estava nos explicando agora.
- Eu tenho. - levantou a mão e ela fez um gesto para que ele continuasse. - Por que a gente simplesmente não diz se vai ou não e partimos logo para a comida?
- Pois é, cara. Também gostaria de saber. - fiz um high five com ele.
- Você já está com fome? - perguntou, meio abismada. - , acabamos de passar na Starbucks e você devorou um sanduíche.
Ah, ok, isso explica o atraso de trinta e cinco minutos deles.
- Um homem tem necessidades energéticas, amor. - falou, abraçando a namorada.
- Mas você tem por três deles, não? - debochou, arrancando risadas da gente.
- Fica na sua, baixinha. - respondeu, jogando uma bolinha de papel amassada nela. mostrou a língua, reclamando.
- ATENÇÃO! - berrou e eu vi tapar os ouvidos. - Desculpa, lindinho. Ok, , respondendo à sua pergunta, tudo isso é pra deixar mais divertido, sabe?
Onde é que a diversão entrava, mesmo?
- Ah tá... ok então. - confirmou, dando de ombros.
- Beleza, vamos começar? Nossos tacos já estão para chegar. - pediu.
- Vamos. - respondeu. - Amiga, quem vai primeiro?
- Ah, sei lá... , vai você. - falou.
- Certo. - falei, puxando as duas fichas. Observei o "não", pensando em pregar uma peça no pessoal. Mas eu estava com pressa e ansioso, por isso, joguei o "sim" no meio da mesa.
O mais engraçado dessa viagem, tão rápida e do nada era que minha mãe até havia me apoiado a ir. E isso nunca havia acontecido antes.
Nas palavras dela: "Vá, . Divirta-se. Você precisa aproveitar essas férias e eu estou sempre viajando, mesmo. Aquela sua amiga também vai?".
Não entendi o por que dela perguntar da , mas vai entender as mães...
Aí eu só respondi "aham" e ela pediu "juízo, e manda um beijo para ela".
Será que tudo bem se eu não mandar beijos, mas sim dar beijos na ?
- AEEE, CARA! - fez um toque comigo. - Assim que se faz, guy.
Eu ri e passei a vez para , ao meu lado.
- Let's go to the beach, each. Let's go get away! - cantarolou Starships, a parte específica e significativa, ao mesmo tempo em que jogava a ficha de "sim" no centro da mesa. Nós comemoramos e ela sorriu para mim.
Por baixo da mesa, peguei sua mão, unindo-a com a minha.
Nove minutos depois, após muitas comemorações, berros e urros, estava tudo decidido. E, embora eu ache essa expressão gay, é boa para o momento:
Arriba, muchachos! Nós vamos para a praia!

Sábado, 10:32 a.m. - Directline Holidays

:

"Bom dia, linda. Topa sair hoje à noite? Ian."

Pisquei duas vezes, desencostando do ombro de .
Sei lá, eu só me sentia mal estando "próxima" dos dois ao mesmo tempo.
Como combinado, após nós oito confirmarmos a viagem, viemos à agência comprar as passagens. Como não havia espaço na sala para todos nós, , , e foram, enquanto eu, , e ficamos na recepção do local. cochilava no ombro de (já mencionei o fato deles serem o casal sono?), que jogava no celular. e eu dividíamos fones de ouvido, alguma música do Switchfoot tocava. Retirei o foninho, devolvendo-o à ele. Sorri tímida e abaixei a cabeça, pronta pra responder a mensagem.

"Bom dia, lindo. Topo sim. Você me pega às 8:30? xo ."

"Combinado. Vamos ao cinema? Pra variar um pouco nosso histórico de restaurantes, haha."

"Certo! Até a noite."

Bloqueei a tela do Blackberry e recolhi o fone que havia retirado, colocando-o em meu ouvido. Levei meu Cookie Frappuccino à boca, sugando do canudinho.
- Depois você fica gripada e não sabe por que, . - disse, rindo e apontando pro meu café, que era gelado. - Você realmente é a única que consome Frappuccino em pleno inverno.
- Fiquei com vontade, poxa. - fiz um biquinho. - Parecia gostoso no menu, tá?
- Tudo bem, tudo bem. - ele riu pelo nariz. - E é melhor ao vivo, pelo menos?
- Aham! Quer provar? - perguntei, estendendo a bebida à ele.
- Não, obrigado. 'To bem com o meu. - respondeu, levantando o Capuccino.
- Eu amo essa música. - falei, ouvindo os acordes de Ho Hey, do The Lumineers soarem. Doug sorriu, murmurando um "eu também". - I've been trying to do it right, I've been living a lonely life... - cantarolei.
- I've been sleeping here instead, I've been sleeping in my bed... - ele continuou, os dedos batucando na minha perna ao ritmo da música.
- Caramba, cabritinho, sua voz é linda. - sorri para ele. Era a primeira vez que eu o ouvia cantando, e, céus, ele tinha uma voz e tanto.
- Bondade sua. - ele falou, dando um beijo em minha testa.
- Não é nada. - mostrei a língua. - Você realmente canta bem.
- Você diz como se sua voz fosse horrível. - rolou os olhos, dando-me um sorriso em seguida.
- E é. - dei de ombros.
- Na verdade, é uma das mais bonitas que já ouvi em toda a minha vida. - ele me deu um selinho, passando os braços a minha volta. Aceitei o carinho e aconcheguei meu corpo no dele.
- Você é um ótimo mentiroso.
- Deixe disso, . Olha, agora vem o refrão. - sussurrou em minha orelha. - I belong with you, you belong with me, you're my sweetheart...
cantou esse trecho com os grandes olhos azuis fixos nos meus. Quando finalizou, deu um sorriso de canto.
Juro que arrepiei dos pés a cabeça.
Céus, por que tão maravilhoso?
Mordi o lábio, estremecendo. A música continuou, mas eu já não dava bola para ela. Meu pensamento estava fixo na última frase, que ele cantou exatamente para mim.
Subi meu olhar para o dele, sorrindo leve. Colei minha boca na de , minha mão indo em direção à sua nuca.
Fechei os olhos, sentindo todo o misto de sentimentos típicos de um beijo com Doug invadirem meu interior. Por alguma razão, meus pensamentos foram direcionados para uma frase de .
"Mas, de qualquer forma, para evitar problemas, tente não se apaixonar por ele, sim?"

Domingo, 15:46 - casa de Hayley

:

- Uau. - foi a palavra que saiu da boca de Hayley quando ela caiu, ao meu lado, na cama.
- É... - respondi, meus olhos encarando o teto do quarto dela.
Depois de comprar as passagens, fechar a viagem e ir embora da agência, almoçamos no Westfield London. As meninas ficaram para fazer compras, enquanto os guys foram para a casa de . Eu também ia, mas aí recebi uma mensagem com as palavras: "Meus pais foram para Oxford por exatos dois dias. Já estou de lingerie. x H."
E bem, o resto já podemos deduzir.
Levantei da cama e fui ao banheiro. Descartei a proteção, vestindo minha cueca. Arrumei o cabelo, já que Hay tinha o dom de bagunçá-lo de um jeito que eu totalmente odiava.
Bem diferente de ...
- A gente podia sair hoje à noite. - sugeriu Hay, encostando o braço na cama e a cabeça na mão.
- Hm, não sei se estou muito a fim, Hayley... - respondi, sentando na ponta da cama.
- Credo, , você está parecendo um velho. - ela revirou os olhos. - Nossa, meu namorado é um homem com 17 anos e jeit..
Espera aí. Namorado?
Mas que porra? Ela disse namorado? Eu ouvi bem?
- O que você disse? - perguntei, arqueando uma sobrancelha e interrompendo-a.
- O que eu não disse, né? Você me interrompeu e tal. Mas enfim, eu dizia que você tem 17 anos mas espírito de 80. - ela riu.
- Não, Hayley, merda. - falei, ficando nervoso. - O que você disse antes disso. Você me chamou de namorado, foi isso?
- Foi, ué. - ela deu de ombros, saindo da cama. Recolheu a lingerie e a vestiu enquanto eu era rodeado por pensamentos.
Pisquei três vezes, tentando digerir a informação.
Era sério. Agora era exclusivo. Ela me considerava exclusivo.
Mas eu não a considerava a minha. E nem queria ser o dela.
- Hayley, por favor, volte aqui. - pedi, vendo ela sair do quarto. Como não o fez, fui atrás dela. - Hayley, caralho!
Ela havia descido as escadas, pouco importando que eu a estava chamando.
- O que foi, ? - perguntou, a fina sobrancelha arqueada quando eu finalmente a alcancei. Escorou no balcão da cozinha, a boca fechada e os olhos fixos nos meus.
- Hay... Olha, eu não sei bem como te dizer isso, mas... - bufei, coçando a nuca, nervoso. - Olha, é que pra mim, isso aqui não é um namoro propriamente dito... Sabe, eu gosto de ficar com você e tal, mas achei que você concordasse comigo com relação à assumir um compromisso. Nunca te disse nada porque achei que você soubesse. Mas a minha intenção nunca foi transformar isso num namoro e...
- ENTÃO QUAL ERA A SUA INTENÇÃO, ? - ela berrou, o rosto vermelho. - Porque a gente tá ficando há quase seis meses! Seis merdas de meses! O que você queria que eu pensasse?
- Sei lá, eu só queria que você entendesse e...
- Não, me desculpe, mas eu não entendo mesmo! Posso não ser a menina mais santa do mundo, nem a ideal para namorar, mas seis meses, ? É meio ano com uma pessoa só! - completou, a voz trêmula.
- Uma pessoa só? Então você tá querendo dizer que foi fiel essse tempo todo? - perguntei, arqueando uma sobrancelha.
- Não, quero dizer... Ah, não importa. O que importa são os fatos, . É muito tempo ficando contigo, e tudo me levou a crer que isso era mesmo uma merda de namoro. - disse, visivelmente magoada.
Porra.
- Hayley. - pedi, o olhar fixo no dela. - Olha, vem cá, senta aqui. - peguei a mão dela e segui até a sala, sentando no sofá. - Vou ser bem sincero com você. Se isso aqui fosse um namoro, nós sairíamos para comemorar cada aniversário juntos. Se isso fosse um namoro, a gente sairia de mãos dadas, um olhando para o outro daquele jeito que os casais fazem. Eu te apresentaria para os meus pais, você me apresentaria para os seus. A gente ia passar várias noites juntos, e não ir embora depois do sexo. Seríamos um fiel ao outro, e nem precisaríamos dizer nada, porque a gente já saberia.
- Isso é sobre a ? - perguntou, o tom de voz confuso. - Porque se for, , quero que saiba que eu já te perdoei por aquele incidente no refeitório há séculos, quase o esqueci, inclusive.
Puta merda, após tudo o que eu falei, ela só se apegou ao último detalhe?
- Não, Hayley, pô! - retruquei. - Isso aqui não tem nada a ver com a !
- Tem certeza? Eu sei que você já ficou com ela, mas se for parar pra pensar, ela também já ficou com outros além de você; tipo o Ian, e foi por isso, inclusive, que eu fiquei com ele e...
Opa. - O que você disse? - perguntei, meio abestalhado com a última informação.
- De novo, o que eu não disse. Essa sua mania de interromper é mesmo muito incoveniente, sabe, ? - reclamou, colocando as mãos na cintura. - Eu disse que fiquei com o Ian, ué?
- Puta.Que.Pariu. - falei pausadamente.
Merda.
Isso não era nada bom. Nada mesmo.
Aquele idiota traiu a minha
- Por que? Você tá com ciúmes?
Eu ainda estava avoado.
Será que a sabia? Quero dizer, será que eles tinham combinado algo? Não, espera, acho que não. Porque, afinal, ela fica comigo. E com ele. Então o mesmo vale para ele, eu presumo?
- ! Acorda! - Hay estalava os dedos na minha cara.
- Ah, desculpa. - pedi, voltando à realidade.
- Então... como a gente fica? - perguntou.
- Você quer terminar, Hayley? - indaguei, com uma facilidade de se ficar surpreso. Agora, com em meus pensamentos, eu não fazia mais tanta questão de Hay assim. Apesar de ter dado um duro danado para consegui-la.
Não me entenda mal, não é que eu não gostasse mais dela. É que, de alguma maneira, não era mais como antes.
- Não, , tá louco? - Hay exclamou. - Eu não quero deixar de ficar com você.
- Tudo bem. Então, o que faremos?
- Oras, o de sempre. Eu aceito ficar com você. Mas quero que saiba que, daqui para frente, serei fiel à você. Não estou pedindo para que também seja a mim, mesmo que eu realmente gostaria disso.
- Não compreendo, Hay. Por que você tá fazendo isso? - perguntei, minha cabeça muito confusa com tudo.
- Porque eu estou apaixonada por você.

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