Uma dupla de drogados. Era o que as pessoas achavam que eles eram, era o que eles eram. Embora nunca tivessem deixado essa condição, nem sempre era assim que as coisas aconteciam. O casal cultivava um amor imenso e recíproco, que os manteria juntos sempre, mesmo que a droga insistisse em levá-los para outro lado.
Tentaram lutar contra ela, juntos. E apesar das crises, foram imensamente felizes sóbrios. Mas os problemas voltavam, e quando desistiam de lutar, era a droga que os fazia esquecer de tudo. Mas a droga os levava para longe não só dos problemas, mas da felicidade também. Além do mais, um problema muito maior vinha e crescia junto à essa fuga.
Acordara dolorido, seus ossos ficavam cada vez mais prejudicados com aquilo que já estava virando uma rotina. Estranhou ao não ver ao seu lado, eles costumavam começar e terminar juntos quando se drogavam daquela forma. Arrastou-se até a cozinha, e da porta pôde avistar uma sombra tênue no chão, que deveria pertencer a .
Ela estava encolhida em um canto da cozinha, tremia, pálida, os olhos vermelhos. Mesmo que estivesse acostumado a vê-la nesse estado, sentiu que dessa vez ela estava pior que o normal.
Aproximou-se dela, tocou suas mãos geladas, que tremiam freneticamente. Podia ver um olhar de desespero naqueles olhos que outrora eram considerados os mais encantadores já vistos, mas agora os mais sofridos.
Não sabia o que fazer, tudo que ele tentava falar parecia estar sendo sugado para que nenhum som saísse de sua garganta. Não queria perdê-la. Queria simplesmente tê-la consigo pelo máximo de tempo possível.
Então ele a abraçou. aninhou-se nos seus braços, fraca. Passaram um tempo ali, apenas absorvendo a presença um do outro, até que afastou-se lentamente para que pudesse encará-lo. Ela o queria, queria viver aquele amor, queria viver. Então selou seus lábios, de forma calma e desesperada, tentando aproveitar aquele beijo o máximo possível, como se fosse o último. E quando se separaram lentamente, ela ainda mantinha os olhos fechados, e podia se notar um sorriso fraco e quase imperceptível em seu semblante. E ela não abriu mais os olhos.
Fim do Prólogo
A tinta preenchia a tela com formas abstratas e sombrias. Fazia aquilo mais por ter sido obrigado, mas ainda assim sentia que a pintura realmente tivesse esse efeito psicológico sobre ele. Não o relaxava, mas ajudava a liberar aquele excesso de energia que ele sentia acumulado dentro de si. Talvez aquela reabilitação realmente fosse uma luz, um começo de uma nova vida.
And it's all in how you mix the two,
And it starts just where the light exists.
It's a feeling that you cannot miss,
And it burns a hole,
Through everyone that feels it.
Nunca teria imaginado, no fim das contas, como realmente era aquela sensação.
Estranho, sofrido. Sombrio, ameaçador. Ainda assim a sensação de estar finalmente começando a viver novamente era incrível.
Sentia como se algo estivesse ruindo-o por dentro. Não sabia se aquela era uma nova dor, a dor de viver, ou simplesmente aquela dor sempre esteve ali, mas ele nunca estava sóbrio o suficiente para perceber.
And you never would have thought in the end
How amazing it feels, just to live again.
It's a feeling that you cannot miss,
And it burns a hole,
Through everyone that feels it.
Tentava procurar uma resposta, uma justificativa para o que havia acontecido. Mas quanto mais procurava essa resposta, mais longe dela aparentava estar.
Well you're never gonna find it,
If you're looking for it,
Won't come your way,
Well you'll never find it,
If your looking for it. (looking for it)
Ele devia ter feito alguma coisa. Chamado uma ambulância, ou coisa do tipo. Mas, pela forma como ela tremia...
Ele devia ter falado algo. Qualquer coisa para melhorar aquilo, mas naquela hora as palavras não conseguiam sair.
Mas ele fez o suficiente.
Ele preferiu ter ficado com ela, aproveitado a presença dela, aproveitado o resto de vida dela. Absorvendo aquele momento, absorvendo a ela, absorvendo o amor.
Should've said something, but I've said it enough.
By the way, my words were faded.
Rather waste my time with you.
Should've done something, but I've done it enough.
By the way, my hands were shaking.
Rather waste some time with you.