CapaFic: Bom dia, senhor. O que vai pedir?



Capítulo I.

Abri, sentada naquele banco de metrô, o livro do cursinho de inglês.
Dia de prova é o pior dia que existe.
Além disso, hoje é o meu primeiro dia no novo trabalho também. Na Starbucks perto do cursinho.
A entrevista fora um pouco tensa. Eu sinceramente pensei que não ia passar por ser uma estudante de inglês e por não ser uma inglesa.
Moro em Londres já tem quase seis meses e divido o pequeno apartamento com meu irmão Caio. Ele está em Londres há dois anos e trabalha em uma empresa de automóveis. Parece que está indo bem. Mais uma promoção e ele vira gerente.
Londres era a cidade que eu sonhava em morar desde pequena, mas depois do primeiro mês eu percebi que a realidade é realmente outra.
Eu sinto falta do Brasil. Acho que é isso. As pessoas aqui são incrivelmente frias e fechadas. Sinto falta da minha mãe e de minha irmã . A verdade é que Londres não é nem de perto a cidade que um dia eu imaginei que fosse.
Desci na estação de metrô e ajeitei meu casaco. Apesar de estarmos em Agosto, aqui não é quente como no Brasil. Aqui o frio é cortante trezentos dias por ano.
Saí da estação e caminhei até à Starbucks, que era a duas quadras da estação. Não estava atrasada. Aliás, os ingleses são incrivelmente chatos com relação a horário.
Protegi meu rosto até chegar à cafeteria.
- Bom dia – falei entrando no lugar.
- Oh, você deve ser , certo? – uma moça simpática falou a me ver. – Sou Lívia. Mas me chame de Lív.
- Ah... Oi. Sou eu sim, mas... está ótimo – falei sorrindo e colocando meu casaco em um armário.
- Então, , você é a nova funcionária? – Outra mulher me olhou sorrindo. – Sou Vivian.
- Oh... Prazer – falei sem jeito.
- Espero que esteja acostumada ao trabalho escravo – a moça do caixa falou. – Karina. Ou Kaka, como preferir.
- Hey, meu nome é Larissa – uma mulher da cozinha falou. – Seja bem vinda.
- Oh... Obrigada.
- Então, ... Você não é daqui, é? – Lív perguntou curiosa.
- Deixa de ser curiosa, Lív! – Vivian a repreendeu e eu ri.
- Não, eu sou do Brasil – falei colocando o avental. – Meu inglês não é convincente?
- Na verdade, é o sotaque. – Kaka sorriu. – Então... Lá tem praias lindas, não é verdade?
- Depende do lugar onde você está. Por exemplo, em Minas Gerais não tem, assim como em Brasília. Mas em Fortaleza, Recife... Existem praias maravilhosas.
- Quando eu me casar, meu marido vai ter que me levar para conhecer na lua-de-mel – Larissa disse sonhadora.
- Enquanto isso, trabalhe para achar um marido rico para lhe bancar. E velho. – Vivian piscou para as garotas e rimos.
A cafeteria abriu e pouco depois estava lotada.
Eu não tinha muita experiência em atender as pessoas, mas, quando morava no Brasil, meu pai tinha uma lanchonete que de vez em quanto eu trabalhava para receber algum dinheiro para alguma festa.
As garotas eram bastante legais. Conheci também o Josh, ele cozinhava também. E era americano.
Eu levava um pedido de uma garota quando eu o vi.
Ele usava uma bermuda branca e uma camiseta amarela. Um All Star e um boné. Ao sentar à mesa, ele tirou os óculos e mostrou seus olhos .
- Esse aí eu casava. Rico, bonito e novo – Kaka falou enquanto Vivian ia atendê-lo.
- Quem é? – perguntei.
- Você não está reconhecendo? – Balancei a cabeça. – Olha bem para ele.
Eu olhei novamente, mas nada naquele rosto era conhecido para mim.
- Eu realmente não sei – falei vencida.
- Ele... – Lív chegou ao meu lado e olhou para ele com a maior cara de pervertida. – É . Do McFly. Você não o conhecia? – Balancei a cabeça.
- Bem, a banda eu já tinha ouvido falar. Tocava nas rádios.
- A única pessoa que o atende é a Vivian – Lív falou amarrando a cara. – O que é uma injustiça já que ela é casada.
Eu ri.
- Um cappuccino e waffles – Vivian falou chegando ao balcão.
- Ele vem aqui todo o dia e pede a mesma coisa – Kaka falou sorrindo.
- Eu rezo todo dia para você ficar doente, Vivian – Lív falou rindo.
- Que bela amiga você é.
- Eu vou trabalhar – falei rolando os olhos e rindo.
Fui atender um casal de idosos que pediram café e algumas bolachinhas.
- Eu só atendo gente velha – falei bufando e Kaka riu. – Dois cafés e bolachinhas – imitei o velho, o que fez Kaka rir mais ainda.
Enquanto esperava o pedido sair, olhei para o tal que lia um jornal bem concentrado. É. Ele era muito bonito.
- , aqui está. – Virei-me, peguei o pedido e levei ao casal.

~

Tirei o avental, vesti o casaco e coloquei minha bolsa no ombro. Segurei os livros e saí da cafeteria.
A aula começaria às sete da noite, eu tinha mais vinte minutos até o cursinho, mas como a cafeteria era perto, cheguei em dez.
Respondi tudo da prova, que estava fácil, e voltei para casa.
- Caio? – chamei, abrindo a porta do apartamento.
Ouvi um barulho do chuveiro e alguém cantando. Ri da voz que Caio fazia.
Fui ao meu quarto e coloquei os livros e a bolsa em cima da cama.
Tirei o casaco e desamarrei meu cabelo.
- Hey, o banheiro tá livre – Caio falou na porta do quarto.
- Okay, vou indo tomar banho. – Beijei a bochecha dele e entrei no banheiro.
- Eu vou fazer alguma coisa pra gente jantar.
- Okay! – falei ligando o chuveiro.
A água morna descia sobre meu corpo como se fosse uma terapia.
Estava cansada. Meus pés doíam.
Demorei um pouco menos de meia hora para terminar o banho.
Vesti um blusão e fui à cozinha.
- Fiz sanduíches – ele disse se desculpando. – É a única coisa que tem.
- Tudo bem. Tenho que ir ao supermercado amanhã já que não tenho aula.
- E como foi o trabalho? Foi bom?
- É, foi cansativo. Mas foi bom sim.
- Ah... – Ele bebeu um gole de coca-cola. - E o seu dia? Foi bom?
- Foi, mas estou um pouco cansado.
- Tem falado com a mamãe?
- Hoje falei com a , ela mandou um beijo. - Hum...
- Eu vou dormir agora. – Ele colocou a louça na pia. – Boa noite.
- Boa noite.
Fiquei sozinha na cozinha terminando de jantar.
Lavei a louça e fui ao meu quarto.
Desliguei tudo e deitei.
Como sentia falta do Brasil.


Capítulo II.

- Espero que você tenha feito sua escolha, . Eu não posso escolher por você.
- Eu já escolhi.
- Escolheu sofrer.


Levantei bruscamente ouvindo meu celular apitar feito louco.
Levantei da cama sentindo que ia cair no caminho do banheiro a qualquer minuto.
Tomei banho, me vesti, tomei café e saí em direção à estação.

As semanas se passaram exatamente dessa forma. Eu tinha pesadelos constantemente e acordava parecendo um zumbi.
Ia trabalhar e depois ia para o cursinho. Com exceções das terças e sextas.
Todo dia também o tal ia à Starbucks e pedia a mesma coisa. Cappuccino e waffles. E, como sempre, Vivian o atendia.
Essa rotinha continuou várias semanas até recebermos a notícia que Vivian estava doente.
- O quê? – perguntei surpresa.
- Pois é... Parece que é algo sério. Ela não quis nos contar – Lív falou séria.
- Meu Deus... – falei chocada.
- Pois é. Ela está de licença.
- Mas vai dar tudo certo, se Deus quiser – falei certa.
- Eu vou atender aquele casal – Lív disse saindo.
- Eu acho legal quando você fala algo com certeza. – Kaka sorriu para mim.
- Eu creio em Deus, Kaka. Ele não falha. Ele faz milagres.
- Assim como esse... – ela falou olhando para a entrada.
Era . Ele usava uma calça jeans folgada e uma blusa xadrez. Como sempre, ao sentar, tirou os óculos.
- Cadê a Lív? – perguntei.
- Ocupada. Você vai atendê-lo.
- Ficou louca, Kaka? A Lív vai me matar.
- Vai logo! – Ela me empurrou para frente.
Eu engoli seco. Não tinha medo de atender aquele homem. Mas não podia negar que era de balançar qualquer garota.
E eu não sou do tipo de garota que vê um rapaz e começa a secá-lo.
- Er... – falei chegando perto. – Bom dia, Senhor. O que vai pedir?
- Quem me atende é a Vivian – ele falou sem olhar para mim.
- Bom, ela não pôde vim trabalhar hoje.
- Hm... Okay. Traga-me um cappuccino e waffles, por favor.
- Sim, senhor. Mais alguma coisa?
- Não – ele respondeu seco.
Eu já disse que detesto essa frieza dos ingleses?
Pois eu detesto essa frieza dos ingleses.
Voltei para o balcão.
- Um cappuccino e waffles.
- Sua vaca, você o atendeu. – Lív me olhou pervertida.
- Quer ir atendê-lo? Vai lá. Ele é todo seu – falei demonstrando frustração.
- Infelizmente não posso. Você vai atendê-lo até a Vivian voltar. Mas me diz... Como é falar com ele?
- Hm... Vejamos... Ele é... frio? – falei irônica.
- Você tem que se acostumar com isso, . Somos assim mesmo.
- Você não é.
- Rara exceção.
- Eu nunca vou me acostumar com isso, Lív. – Peguei a bandeja e levei até a mesa dele. Ele, que lia, continuou lendo.
Terminando o expediente, eu coloquei meu casaco e fui direto para casa.
Ainda estava com raiva. Mas era a cara-de-pau que ele tinha. Em frente às câmeras ele era uma coisa, mas na vida real era outra.
Aluguei alguns filmes e comprei pipoca. Sexta feira não tinha nada pra fazer então ia assistir alguma coisa enquanto esperava Caio. Iria trabalhar só de tarde no outro dia mesmo.
Cheguei em casa, tomei banho, fiz pipoca, coloquei o colchão na sala e coloquei “Ned Kelly” no DVD.
Estava empolgada para saber que fim o Heath Ledger e o Orlando Boom iam tomar quando o meu celular tocou.
- Diz, Caio – falei depois de ver seu nome no visor.
- Eu só liguei para avisar que não vou dormir em casa hoje. Estou na casa da Agatha.
- Okay. Mande um beijo para ela.
- Pode deixar. Boa noite, maninha.
- Boa noite pra vocês – falei rindo.
Okay, detesto ficar sozinha. Normalmente, dia de sexta-feira eu e Caio fazemos alguma coisa de inútil.
Bufei jogando o celular no pé do colchão e desliguei a TV. Tinha perdido a vontade de ver o que ia acontecer com Orlando e Heath.
Levei a vasilha de pipoca para a pia e peguei o Notebook no quarto.
Deitei no colchão e abri meu email.
havia mandado uma mensagem.

Oi, coração. Estou com tantas saudades de você! Como você está? Estão te tratando bem? Caio não te deixa muito sozinha, deixa?

Adivinha, . Claro que deixa.

Deixa eu adivinhar...Te deixa, né?
Cláudio manda um beijo.
Eu mandei essa mensagem para dar uma notícia. Uma notícia MARAVILHOSA.
Eu estou grávida!
Até que enfim eu e o Cláudio teremos um filho.
Semana que vem vamos fazer o primeiro ultra-som.
Eu queria tanto que estivesse aqui, . Você faz tanta falta. Mamãe tá que não se aguenta de saudades.
Me liga assim que puder, . Eu te amo.

							.


Espera aí... Eu vou ser tia? CARAMBA! Que notícia é essa?
Respondi imediatamente o email.

, que notícia maravilhosa. EU VOU SER TIA!
Caramba... Fico realmente feliz por você. Muito feliz. Já estava na hora de me dar um sobrinho.
Eu também queria está aí e ver tudo isso acontecendo. Sinto tanta sua falta. Aqui não tenho com quem conversar. Me sinto bem isolada.
Sim, Caio constantemente me deixa só. Mas ele tem que viver a vida dele. Agora ele está na casa da namorada dele.
Eu vou bem na medida do possível. Trabalho e estudo. Até agora só isso.
Mas espero logo voltar. Quero te visitar antes do bebê nascer.
Farei de tudo.
Tenho muita vontade de conversar com você às vezes. Tudo é tão difícil.
Eu vou indo, coração.
Se cuida, xuxu.
Eu te amo!
							.


Enviei o email. Ia desligar o computador quando me deu uma curiosidade.
Fui à página do Google e digitei “ , McFly”.
Apareceu várias coisas e fui nas imagens.
Nas fotos ele era tão simpático. Tão diferente daquele homem frio.
É como dizem. Não conseguimos esconder das pessoas quem somos por muito tempo.
Bufei e desliguei o computador.
Desliguei a luz e deitei na intenção de dormir.


Capítulo III.

- Não mesmo, . Por mim, eu trocava, mas não posso, é a nossa política.
- Que se exploda esse negócio de política!
Fazia uma semana que atendia o tal e sempre era a mesma coisa.
- Aí chegou ele – Karina falou olhando para a entrada da cafeteria.
- Desculpa, amiga. – Lív me olhou triste.
- Tudo bem, Lív. Eu vou logo atender ele. – Bufei.
Caminhei até a mesa em que ele estava.
- Bom dia, Sr. , o que vai pedir?
- O de sempre – ele falou mais frio que o normal.
Fui ao balcão, fiz o pedido e voltei para a mesa.
Mas quando fui até a mesa, ele que estava no celular, bateu bem na bandeja e derrubou tudo nele.
- OLHA O QUE VOCÊ FEZ! – ele gritou, levantando.
- Me desculpa, senhor – falei, abaixando-me para pegar a bandeja e vi o estrago em sua blusa.
- VOCÊ NÃO VÊ ONDE COLOCA A MERDA DESSA SUA MÃO? OLHA COMO ESTÁ MINHA BLUSA!
- Me desculpe, Sr. , mas eu não tive culpa. O senhor... – falei, sentindo algumas lágrimas se acumularem nos olhos.
- VOCÊ AINDA COLOCA A CULPA EM MIM?
- Não, senhor, eu...
- SUA BURRA! VOCÊ VAI PAGAR. OU NÃO. ACHO QUE SEU SALÁRIO NÃO PAGA ISSO!
- Sr. . - A dona da cafeteria apareceu no lugar. – Se acalme, vamos arcar com esse estrago.
Ela olhou para mim, mas seu rosto era calmo. Eu estava chorando de raiva e injustiça.
- Srta. , pode deixar que eu resolvo aqui.
Corri do lugar e me tranquei no banheiro de funcionários. Sentei no chão e coloquei minha cabeça entre minhas pernas.
Como eu havia deixado aquele filho de uma puta falar assim comigo? E pior, sem dizer nenhuma palavra?
Eu acho que era por que eu precisava realmente daquele emprego. Porque, por trás de tudo, eu sabia que precisava daquele dinheiro.
Era tão injusto eu passar por tantas coisas e ainda ter que ser humilhada na frente de todo mundo.
- ... – ouvi Lív do outro lado da porta. – , você está bem?
- Não se preocupa, Lív. Eu vou ficar bem – falei, levantando e indo em direção a pia para molhar meu rosto.
- A Sra. Luiza quer falar com você.
- Por favor, avisa que eu já vou.
- Tudo bem.
Passei água em meu rosto e tentei tirar algum indício de que estava chorando. Em vão. Estava vermelha e meus olhos inchados. Resolvi não tentar mais fingir e ir logo falar com Luiza.
- Pode entrar, querida – ouvi ela dizer ao bater a porta. – E sente-se.
- Sra., pode tirar o dinheiro do meu salário. Eu não me importo.
- , eu não vou fazer isso. Eu sei que foi um acidente. E não foi você que o provocou.
- Mas mesmo assim, eu não quero ficar devendo nada a ninguém.
- Você é uma boa garota. Eu sei disso. E Sr. só estava um pouco...
- Bruto? – falei sem me controlar. – Por Deus, senhora... Ele não pode fazer isso com as pessoas. Ele não tem esse direito. Caramba... Só porque ele é famoso.
- Eu sei, mas releve, por favor.
- Eu só não quero mais ter que atendê-lo. Por favor.
- Eu cuidarei disso, está bem?
Balancei a cabeça.
- Outra coisa, você pode substituir o horário extra da Vivian? Começa amanhã.
- Tudo bem. – Sorri. – Eu vou voltar ao trabalho.
- Me desculpe, mas é o nosso melhor cliente.
- Não se preocupe. Não vou dizer nada.

~

- Eu não acredito, ! – Caio falou assustado.
- Pode acreditar – falei bufando. – Agora não sei onde estava com a cabeça quando deixei aquele idiota falar daquele jeito comigo.
- Ela estava bem em cima da sua cabeça.
- Mas eu JURO que se isso voltar a acontecer, ele vai ouvir. E muito.
- Não se preocupe. As coisas são assim.
- Não, as coisas não são assim, Caio! Onde está seu senso? Ele não pode tratar ninguém assim. Dois anos e sua mente já foi corrompida?
- Não é isso, . Entenda que essas coisas acontecem.
- Não! Essas coisas não acontecem não – falei com raiva e fui para o quarto. Bati a porta e deitei na cama.
Segundos depois ouvi alguém bater na porta.
- O que você quer, Caio?
- Eu... Poxa, , me desculpe. Você tem toda a razão. Eu fui totalmente idiota com essa minha explicativa. Eu não quero virar frio. Entenda.
Eu sentei na cama.
- Domingo eu e Agatha vamos a um Pub no centro da cidade. Vamos? Você não vai trabalhar segunda, vai? - Não. Não vou. Vou estar folgada.
- Então?
- Amanhã eu trabalho.
- Pronto. Então vamos domingo?
- Okay, okay. Domingo.
- A Agatha vai convidar um amigo e...
- Ah não, Caio. Não. Por favor. Você sabe que eu não posso.
- Mas, ...
- Caio, por favor. Você já sabe por que não posso e nem quero me envolver com ninguém. Deixa que dessa área cuido eu.
- Tá bem, . Eu não vou insistir mais. Não toco mais nesse assunto.

~

Faltavam vinte minutos para as nove da noite. Resolvi lavar logo a louça para fechar a loja.
Coloquei o fone de ouvido e comecei a lavar as xícaras.
Ouvi alguém entrar na cafeteria e virei para olhar.
Paralisei na hora.
- Eu estou quase fechando a loja – falei, levantando o cenho e olhando aquele homem.
- Pelo que me consta no relógio, ainda falta vinte minutos – o homem disse sorrindo cínico.
Eu virei para lavar minhas mãos. era irritante.
- Vai pedir alguma coisa? – perguntei, voltando a virar para ele.
- Um café está ótimo.
Liguei a cafeteira e voltei a abrir o armário, tirando uma xícara. Ele sentou no balcão.
- Eu acho que te devo desculpas – ele disse olhando para cada movimento que eu fazia.
- Eu acho que não.
- É sério. Eu não devia ter falado aquilo pra você. Fui um idiota. Tava com a cabeça cheia e acabei descontando em você.
Eu olhei incrédula para ele e balancei a cabeça voltando a pegar o açúcar.
- Você não vai dizer nada? – ele perguntou.
- Você quer mesmo me ouvir?
- Eu quero.
- Okay. Eu acho que você é um tremendo de um filho de uma puta bruto e muito ignorante. Acho que você não é NADA do que sai nas revistas. Você é um mimado que nunca teve que trabalhar pra sobreviver. Falo literalmente. Acordar cedo e pegar no batente. Eu te digo porque eu aguentei que falasse tudo aquilo comigo. Porque eu preciso do trabalho pra ter que receber um salário ridículo no fim do mês.
Ele sorriu e olhou para a xícara.
- Mais café? – perguntei.
- Não, obrigado. – Ele olhou para mim. – E eu que pensei que era só um idiota.
- Vai por mim, você não é só isso.
Voltei a lavar a louça.
- Eu estou admirado com sua coragem.
- Você quer dizer com minha vergonha na cara. Algo que eu não tive ontem.
Ele riu e me deixou com mais raiva ainda.
- Você tem dez minutos. – Apontei para o relógio.
- Deve ser o suficiente.
- Pra...?
- Despistar o paparazzi.
Eu continuei lavando a louça.
- Você não é daqui, é?
- Não.
- Eu posso saber de onde você é?
- Brasil – respondi fria.
- Tenho vontade de conhecer.
- Eu tenho vontade de voltar pra lá.
- Pelo jeito vai me responder assim, não é?
- Não é assim que os ingleses são?
Ele riu.
- É, tem razão. Eu sou tudo o que você disse.
- Um dia olhamos no espelho e vemos quem somos de verdade.
- Você deve se olhar todo dia, não é?
- Não. Eu tenho medo do que eu possa ver. (N/A.: Senhor dos anéis. *--*).
- Não devia. – Ele piscou para mim e levantou da cadeira. – Mais uma vez me desculpe. É uma pena que me veja dessa forma. Espero que mude seu conceito sobre mim.
- Espero que você mude.
- É. É uma saída.
Ele deixou o dinheiro no balcão e saiu.
Bufei e terminei de lavar a louça brutamente, quase colocando a existência das xícaras em risco.
Troquei de roupa e fechei tudo.
Cheguei em casa e me tranquei no quarto.


Capítulo IV.

/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\

Estava bem no meio de uma floresta escura. Olhei para o lado e vi dois olhos grandes me encarando.
Comecei a correr desesperada tentando fugir daquela coisa que me olhava de forma estranha.
Tentava achar uma saída, mas sempre que ia para um lugar eu ficava mais perdida ainda, pois era noite.
Olhando para trás, não via o caminho que tomava. De repente, suspendi e quase caí em um barranco quando uma mão segurou a minha. Eu vi seu rosto. Era que me puxava para cima.

/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\

Acordei do pesadelo com um trovão.
Olhei ao redor e tudo estava escuro e quieto. O quarto estava sendo clareado apenas pelos relâmpagos.
Deitei novamente na intenção de dormir. Inútil. Estava muito alerta para conseguir descansar.
Em minha cabeça latejava a imagem de me olhando. Era tão... Sincero.
Balancei a cabeça tentando tirar a imagem.
Eu detestava . Era fato.

~

- Você está linda! – Agatha falou ao me ver entrando no carro de Caio.
- Ah... Obrigada. Você também está linda.
- As duas mulheres de minha vida. – Caio sorriu. – Faltam apenas duas. e mamãe.
Eu ri.
- Então... Vamos para o Pub? – Agatha perguntou animada.
- É... – falei sorrindo. Vamos lá.

~

Chegamos a um Pub bem movimentado.
Em poucos minutos Caio e Agatha sumiram. Resolvi não procurá-los.
Sentei em um balcão e pedi uma bebida.
- Oi?
Vi um homem chegando do meu lado e sentando. Ele era bem bonito.
- Você está acompanhada?
- Não. – Sorri.
O barman me entregou a bebida.
- Pode deixar que o dela eu pago – ele falou para o barman, que me olhou.
Senti o olhar daquele homem em mim.
- Eu sou Johnny. John. E você?
- . . – Sorri.
- Nome bonito. Mas diferente. Você não é daqui, é?
- Não, não. Brasil.
- Oh... É claro. – Ele olhou para o meu corpo. – Tá a fim de dançar?
Olhei para a pista.
- É. Estou sim. Fomos para a pista e começamos a dançar.
Ele era um cara animado. Tinha bom papo. Sabe?
Depois de um certo tempo ele falou:
- Eu estou com sede. Vamos sentar?
- Vamos lá. Eu também estou.
Voltamos para o balcão e ele pediu duas águas.
- Eu tô morta – falei fechando os olhos e rindo.
- Vem cá.
Ele pegou minha nuca e colou seus lábios nos meus.
Senti ele passar a língua e eu abri meus lábios para ele dar passagem com um beijo.
Comecei a sentir segundas intenções naquele beijo e eu o afastei.
- É bom pararmos por aqui, não acha?
Ele sorriu.
- É. É melhor mesmo. Posso pedir teu número?
Eu sorri e anotei em um papelzinho.
- Você quer carona?
- Não. Estou com meu irmão – menti, pois nem imaginava onde Caio poderia estar.
- Então okay. Prazer, .
Nos beijamos novamente e eu saí do pub sentindo raiva de mim mesma.
Me vi no meio da rua deserta. Respirei fundo e comecei a andar. Estava muito frio e eu não estava com nada que me aquecesse. Apenas um casaco fino.
Senti todo meu corpo tremer em direção ao metrô. Me cobri mais ainda.
Passei por uma daquelas placas enormes e vi a fotografia de quatro garotos com um nome estampado: MCFLY.
- McFly... – debochei.
Caminhei até a estação de metrô e sentei numa cadeira. Havia pouquíssimas pessoas na estação. Também pelo horário.
Uma mulher quase dormia a duas cadeiras de mim.
Me apoiei em uma coluna ao lado da cadeira e fechei os olhos. Não iria dormir. Era apenas para tentar me esquecer de tudo.
Cheguei ao apê e fui logo ao banheiro. Tomei um banho e fui me deitar.

/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\

Estava em uma sala totalmente escura. Levantei, tentando enxergar alguém. Senti alguém atrás de mim. Não me virei e a pessoa falou ao meu ouvido:
- Você não está sozinha no escuro.
- Estou – falei, fechando os olhos.
- Não, não está. Eu estou aqui.
Me virei e dei de cara com sorrindo.
- Sempre.

/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\

Acordei bruscamente, sentindo todo meu corpo doer. Olhei para o relógio, que marcava oito da manhã.
Era cedo, porém não estava mais com sono.
Levantei da cama e fui à cozinha.
Coloquei a água no fogo e fui ao banheiro.
Lavei o rosto e escovei os dentes.
Tomei café com um pão e voltei para o quarto.
Estudei praticamente o dia inteiro.
Saí de casa cinco horas para poder chegar ao cursinho cedo.
Sentei na cadeira do metrô e abri o livro.
Havia um casal atrás de mim. Mais ao lado, uma senhora cheia de sacolas.
Olhei para trás e vi um homem com um casaco preto, calça jeans surrada e usava botas. Em sua cabeça um boné. Ele usava óculos. Mas mesmo assim eu o reconheci.
Era . O . Ele pareceu ler meu pensamento e sorriu.
Eu balancei a cabeça incrédula e ri virando a cabeça. O que aquele perturbado fazia ali? Ele levantou da sua cadeira e veio até mim.
- Boa tarde – ele falou sorrindo.
- O que faz aqui? – perguntei.
- Eu estou ótimo e você?
- Fala sério. Tá me seguindo?
- Fala sério você. – Ele olhou para o lado para ver se alguém nos escutava. – Estou fugindo de um grupo de fãs. Estava no supermercado.
- Eu posso gritar e dizer quem você é.
- Você não faria isso, faria?
- Não – respondi, virando os olhos, rindo e levantando. – Boa fuga pra você.
- Hey, você vai pra onde?
- Tchau, – falei descendo da estação.
Olhei para trás e me surpreendi vendo-o atrás de mim.
- Me ajuda aqui – ele pediu, enganchando-se na roleta.
Eu bufei e puxei-o, fazendo-o ficar bem perto de mim. Eu meio que travei.
- Pronto? – perguntei, vendo-o vermelho.
- Eu acho que já.
- Ótimo. – Me virei e voltei a caminhar.
- Hey, espera! – Ele correu para o meu lado. – Você vai pra onde?
- Qual é o seu problema afinal? – perguntei parando e colocando as mãos na cintura.
- Eu. Quero. Saber. Se. Pode. Me. Ajudar? – ele perguntou pausadamente, como se falasse com uma criança.
- Te ajudar? Como? Te escondendo na minha bolsa?
- É. É uma boa idéia. Mas você percebeu que ela é pequena? Sei lá. Pra onde você vai?
Eu bufei e ri.
- Que foi? Mudou sua visão com relação a mim?
- Não! – falei rindo. – Vou pro meu curso de inglês. Que... A propósito... estou super atrasada. – Olhei para o relógio. – O curso é a cinco quadras daqui. Ou seja. Perdi a primeira aula.
- Desculpa – ele falou e eu estreitei os olhos e voltei a andar. – O que eu disse errado?
- Como se você se importasse se eu perdi ou não o cursinho.
- É. Eu não me importo. – Eu bufei e ele riu. – Wow, é brincadeira. Desculpa.
- Você ma faz parecer uma idiota – falei andando.
- Onde é seu curso?
- Não importa mais – falei parando. – Por que está aqui? Droga! O que você quer?
- Você me odeia, não é? – ele perguntou rindo. Que merda. Por que ele não podia ser nessa hora aquele frio desgraçado que nem os ingleses?
- Sim, eu odeio sim. Principalmente pela mania chata de me deixar sempre com ódio.
Ele riu mais uma vez.
- AAAAH... – Bati o pé no chão, bufei e andei.
- O que foi?
- Pára de rir, caramba. Eu não sou palhaça!
- Tá, tá. Desculpa. – Ele caminhou ao meu lado.
- Sugiro que cubra melhor seu rosto. Está chamando muita atenção.
Ele sorriu maroto e ajeitou o boné.
- Pra onde vamos? – ele perguntou, quebrando os dois minutos de silêncio.
- É pra onde eu vou. E você não consegue ficar calado um minuto?
- Okay. Onde você vai?
- Você é uma criança ou o quê?
- Eu não sei seu nome.
- Nem vai saber.
- Okay. E pra onde nós... Ops... Você vai?
- Vai calar a boca?
- Não.
Eu ri e parei, colocando a mão na testa. Olhei para ele.
- Você vai me encher até eu responder todas essas perguntas, não vai?
- Vou. – Ele sorriu.
- Por que você quer saber, caramba?
- Pra onde você vai?
Eu respirei fundo.
- Eu vou pro curso, okay?
- Mas não está atrasada?
- Não importa. Eu pego a última aula. Não sei..
Os ingleses detestam atrasos.
- Eu sei. Mas o que você quer? O metrô vai demorar.
- Pode tomar um café comigo enquanto espera.
- No Starbucks?
- Sim, mas naquele ali. – Ele apontou para outra cafeteria. Também era Starbucks. Mas muito mais aconchegante.
Eu respirei fundo.
- Promete me deixar em paz depois que tomarmos esse café?
- Prometo.
Olhei para ele e virei os olhos. Começamos a andar lado a lado.


Capítulo V. (Coloque para carregar: You’ve Got a Friend)

Entramos no lugar, não havia tanta gente.
Sentamos em uma mesa e uma moça veio nos atender.
- O que vão pedir?
- Er... Cappuccino e waffles – ele pediu prontamente.
- E a senhora?
- Hm... Apenas um... Cappuccino. – Sorri para a moça.
Ela anotou o pedido e saiu.
- Você devia pedir alguma coisa a mais, não acha? A comida daqui é boa. – Eu levantei o cenho. – Eu sei, eu sei, você trabalha em uma dessas. Esqueci.
- Por que sempre pede cappuccino e waffles?
- Há algo melhor que isso?
- Não sei. Já pensou em... bolachinhas? São nutritivas.
- Fala sério. Waffles é muito bom.
Eu rolei os olhos.
- Você ainda não me disse seu nome.
- Achei que tinha esquecido essa sua insistência ridícula.
- Não. Eu tenho memória de elefante. Não esqueço as coisas facilmente.
- Você também me prometeu uma coisa.
- Depois de tomar o café. E ele ainda nem chegou.
- Tá, tá. Meu nome é .
- Nome esquisito.
- Esquisito pra você, no Brasil é bem normal.
- Esquisito mesmo assim.
- Esquisito é você.
Ele riu.
- E você?
- Eu?
Bufei.
- Você é famoso, caramba. Por que fugiu de metrô? Devia ter fugido de carro, não de metrô.
Ele sorriu e a moça que atendia trouxe nosso pedido.
Ele bebeu um gole.
- Quer waffles? – ele ofereceu.
- Não, obrigada. – Bebi um gole do cappuccino.
- Eu tentei, mas na correria a chave caiu no estacionamento.
- Coitadas das garotas. Nem sabem por quem corre.
- Obrigado pelo elogio, fico lisonjeado.
- Não, não foi um elogio não. – Sorri.
- E eu que pensei que fosse. – Ele riu e seu telefone tocou. – Alô? Hey, James! Wow... Não, cara, você nem imagina o que me aconteceu.
Ele começou a explicar o que havia acontecido. Eu apenas bebia o cappuccino e observava o lugar.
- Pronto. – desligou o celular. – James vai dar uma olhada pra ver se a chave está por lá.
- Ele é da banda?
- Não. – Ele riu. – A verdade é que você não sabe nada do McFly, não é?
- Não conheço mesmo. – Eu ri.
- James era do Busted e depois foi pro Son of Dork, mas aí acabou. McFly é , e .
- Hm... – Terminei de tomar o cappuccino. – Agora vou indo.
- Hey, espera. Eu te dou carona.
- Não – respondi tirando a carteira de dentro da bolsa quando ele segurou minha mão.
- Não faça isso – ele falou sério.
- O quê? – perguntei sem entender.
- Deixa que eu pago.
- Deixa de ser ridículo, .
- Eu te convidei, eu pago.
- Eu tenho dinheiro pra pagar, okay?
- Eu sei que você tem. Mas eu fiz você se atrasar e eu quero pagar. Eu também quero te levar em casa.
- Mas eu...
- Hey, ! – Um rapaz chegou ao nosso lado. Ele era bem bonito também.
- Fala, James, conseguiu achar?
- Achei sim. Tava lá perto do carro mesmo. No chão.
O rapaz olhou pra mim.
- Hey, desculpa. Oi.
- Ah... – Eu sorri. – Oi.
- James Bourne. – Ele se apresentou.
- . – Aceitei a mão.
- Eu tava tentando convencer a ela que eu vou pagar a conta. – deu o dinheiro à garçonete, que sorriu ao ver James parado ali.
- Deixa ele pagar, ele é rico. – James piscou pra mim.
- Okay. Você paga e eu vou pra casa de metrô.
- Deixa de ser teimosa, garota. Eu posso te deixar lá.
- Deixa de ser teimoso você, caramba.
- Por que você não vai comigo? – James perguntou.
- Certo. – Sorri vitoriosa.
- O quê? – perguntou. – Você prefere ir com ele que acabou de conhecer a ir comigo? Você nem sabe se ele é um pervertido.
- Pelo menos a primeira palavra que ele me disse foi “oi” e não “sua burra” – falei com raiva saindo da cafeteria.
Corri para a estação de metrô quando dei conta que estava sem os livros. Havia os deixado no Starbucks.
- Ótimo, , você é uma desajeitada com todas as letras.
Virei e comecei a andar em direção a cafeteria.
Cheguei à porta da cafeteria e respirei fundo. Entrei de uma vez só e vi que eles já haviam ido embora. Agradeci mentalmente por isso e fui até a mesa.
Não havia nada. Também fui ao balcão e a moça disse que não tinha pegado nenhum livro.
Aceitei a idéia de que estava com meus livros.
É uma droga mesmo!

~

- Hey, garotas. A Vivian já chegou? – perguntei esperançosa.
- Não. Ela ainda está em observação – Lív falou. – Você está acabada.
- É. Eu sei. Não dormi muito bem – falei tirando a bolsa do meu ombro e colocando o avental.
- Então a folga não serviu?
- Não necessariamente.
- Oh, oh. O que aconteceu?
- Nada de tão... importante. – Minha voz saiu um pouco irritada.
- Quer conversar?
- Não. - Sorri. – É besteira. Eu... Não quero falar sobre isso.
- Okay. – Ela sorriu. – Abrimos em cinco minutos.
- Pode deixar.
- Ah, ia me esquecendo. , hoje você pode ficar à hora extra? Por favor. É que minha filha se apresenta na escola hoje.
- Pode deixar, Lív. – Sorri.
- Obrigada – ela falou animada.
Eu sorri.
A manhã estava relativamente corrida. Os clientes entravam e saiam.
Atendia um casal quando meu celular vibrou.
Saí de perto.
- Alô?
- ? , aqui é . - ? – gritei e tapei a boca. , o que...?
- Oi, irmã.
- Eu tô no trabalho. Mas como você está?
- Como é que eu estou? Por Deus, estou no aeroporto.
- Aeroporto. De onde?
- De Londres. Esqueceu que eu te liguei?
PORRA! ESQUECI COMPLETAMENTE.
- Caramba, , me desculpe. Não sai daí. Chego já.
Desliguei o celular.
- O que foi, menina? – Lív perguntou me vendo tirar o avental.
- Lív, eu quebro seu galho hoje, mas você também tem que quebrar o meu.
- O que...
- Minha irmã chegou do Brasil hoje e eu esqueci. Ela está no aeroporto. Vou lá buscá-la e depois volto. Segura as pontas pra mim aqui?
- Claro. Mas você vai de quê?
- Táxi.
Coloquei a bolsa apressada e tirei o avental.
Saí da Starbucks praticamente correndo e sem olhar esbarrei em uma pessoa.
- Oh, me desculpe eu... – Olhei para seu rosto.
- Eita pressa, hein? – levantou sorrindo e me ajudou a levantar.
- Ah, valeu. Desculpa.
- Hey, trouxe teus livros e...
- Desculpa, , mas estou com uma pressa danada. – Peguei os livros. – Obrigada.
- Eu... Posso te ajudar?
Olhei para ele.
- Eu acho que... – Eu era orgulhosa, mas minha situação era crítica. estava sozinha no aeroporto e GRÁVIDA. – Acho que você pode. Mas eu fico até sem graça de pedir depois de ontem.
- Não precisa ficar, pode dizer.
Resumi tudo rapidamente.
- Tudo bem. Vamos lá – ele falou pegando a chave do carro. Eu fiquei paralisada.
- Sério?
- Sério. – Ele meio que riu da minha cara.
Ele abriu a porta de seu conversível preto e eu senti meu rosto corar de vergonha.
- Estou com tanta vergonha – falei sincera.
- Não devia. – Ele sorriu de lado e deu a partida no carro.
Ficamos em silêncio durante alguns minutos.
- Liga o rádio aí. Se quiser – ele falou e eu apertei no botãozinho lá. (Coloque para tocar.)

When you're down and troubled
And you need a helping hand
And nothing, Oh nothing is going right
Close your eyes and think of me
And soon I will be there
To brighten up even your darkest night

(Quando você estiver deprimido e confuso
E precisar de uma mão para ajudar,
E nada, nada estiver dando certo,
Feche seus olhos e pense em mim
E logo eu estarei lá
Para iluminar até mesmo suas noites mais sombrias.)

- Bonitinha essa música – falei e eu vi sorrir de lado.

You just call out my name
And you know wherever I am
I'll come running (yeh) to see you again
Winter, spring, summer or fall
All you got to do is call
And I'll be there, yeah, yeah, yeah.
You've got a friend (ooh)

(Apenas chame meu nome
E você sabe, onde quer que eu esteja,
Eu virei correndo
Para te ver novamente.
Inverno, primavera, verão ou outono,
Tudo o que você tem de fazer é chamar.
E eu estarei lá, sim, sim, sim,
Você tem um amigo.)

- Wow, não me diga que é você que...
- É McFly sim. – Ele sorriu.

If the sky above you
Should turn dark and full of clouds
And that old north wind should begin to blow
Keep your head together
And call my name out loud, yeah
Soon I'll be knocking upon your door

(Se o céu acima de você
Tornar-se escuro e cheio de nuvens
E aquele antigo vento norte começar a soprar,
Mantenha sua cabeça em ordem
e chame meu nome em voz alta
E em breve eu estarei batendo na sua porta.)

- Nossa... – Eu olhei para o lado.
- O que foi?
- Não. Nada.
- Fala.

You just call out my name
And you know wherever I am
I'll come running, oh yes I will
To see you again
Winter, spring, summer or fall
All you got to do is call
And I'll be there, yeah, yeah, yeah.

(Apenas chame meu nome
E você sabe, onde quer que eu esteja,
Eu virei correndo para te ver novamente.
Inverno, primavera, verão ou outono,
Tudo que você tem de fazer é chamar
E eu estarei lá, sim, sim, sim.)

- É que quando vim para Londres, meus amigos fizeram um CD e nele tem essa música.
- Bom gosto tem seus amigos, hein?

Hey, ain't it good to know that you've got a friend
people can be so cold
They'll hurt you, and desert you
well they'll take your soul if you let them
Oh yeah, but don't you let them

(Ei, não é bom saber que você tem um amigo?
As pessoas podem ser tão frias,
Elas vão te magoar e te abandonar
Bem, elas tomarão sua alma, se você permitir a elas
Oh, sim, mas não permita )

Eu ri.
- Você quase não se acha, né?
- Ah, admite. McFly é uma banda boa.

You just call out my name
And you know wherever I am
I'll come running to see you again
(Oh baby don't you know about)
Winter, spring, summer or fall
Hey Now! All you got to do is call
Lord, I'll be there yes I will.
You've got a friend

(Apenas chame meu nome
E você sabe, onde quer que eu esteja,
Eu virei correndo para te encontrar novamente.
(Oh baby, você não sabe disso?)
Inverno, primavera, verão ou outono,
Ei agora, tudo que você tem de fazer é chamar
Senhor, eu estarei lá, sim, sim, sim.
Você tem um amigo.)

- Quando um dos integrantes não é um chato – falei e ele riu.
- Depende de seu ponto de vista.

Oh, you've got a friend.
Ain't it good to know you've got a friend?
Ain't it good to know you've got a friend?
You've got a friend.

(Oh, você tem um amigo.
Não é bom saber que você tem um amigo?
Não é bom saber que você tem um amigo?
Você tem um amigo.)

A música terminou e chegamos ao aeroporto.
Corremos para o portão de embarque e logo avistei .
- , sua cachorra! – falei ainda em português. – Eu esqueci, desculpa!
- Oras. Esquecer a própria irmã?
Nos abraçamos.
- Meu Deus, eu nem acredito que está aqui.
Sorri ainda abraçada a ela.
- Ah, esse é – apresentei ele a .
- Apenas – ele cumprimentou .
- Oh, olá, . Não sabia que você tinha namorado, .
- E não tenho, . – Corei de vergonha.
No carro eu e tagarelávamos direto.
a deixou em casa e insistiu em me deixar novamente no Starbucks.
- ... – falei quando estávamos a caminho da cafeteria. – Eu nem sei como te agradecer.
- Me chame de e é um bom começo.
- Eu acho que realmente te juguei mal.
- Não. Você teve toda razão de me tratar daquela forma. Eu não devia ter descontado tudo em cima de você.
Eu suspirei.
- Eu mudei meu conceito sobre você. É que... Toda aquela frieza.
- Eu preciso ser assim com as pessoas. Muitas vezes nem quero.
E não disse mais nenhuma palavra atá a cafeteria.
- Então... – falei tirando o cinto de segurança. – Vai tomar café?
- Não, hoje não. – Ele sorriu. – Tenho uns assuntos pra resolver aí.
- Então... Obrigada e mais uma vez... Desculpa.
- Nada de desculpa. – Ele piscou.
Eu sorri.
Desci do carro e olhei para ele.
- Valeu.
- A gente se vê – ele falou balançando a cabeça e olhando para frente.
Acelerou o carro e sumiu na esquina.


Capítulo VI.

- Oi! – falei entrando no apartamento, sentindo um cheiro bom.
- , por que você não me disse que iria vim para LONDRES? Ah... E também eu não me lembro que você tenha me dito que ela estava grávida. – Caio apareceu na sala me olhando sério.
- Eu me esqueci, tá certo? E eu queria guardar a emoção de ser tia só para mim. – Sorri. – Onde ela está?
- Oi... – apareceu na sala. – Fiz o jantar hoje.
- Hum... – Eu a abracei. – Comida de verdade. Até que enfim!
Enquanto Caio arrumava a mesa, fomos ao quarto.
- E aí? Agora me conta tudo. Quem era aquele rapaz que estava com você?
Eu estava soltando o meu cabelo e me olhando no espelho.
- Quem? O ?
- O . – Ela deu ênfase ao .
- Ah... – Virei-me para ela. – É um... conhecido – respondi indiferente.
- Conhecido? – Ela levantou o cenho. – Qual é, ? Eu te conheço. Não vem com essa logo pra mim.
Eu mordi meu lábio inferior.
- Eu vou... te mostrar uma coisa – falei pegando o notebook e ligando-o.
- Mas o que...
- Não pergunta nada. Apenas olha.
Digitei na caixinha de pesquisa do google “ McFly” e apertei em imagens.
- Olha...
No primeiro minuto ela não reconheceu.
- , eu...
- Olha bem.
Ela olhou novamente e reconheceu.
- É... Ele?
Eu apenas balancei a cabeça.
- Ele é... famoso. Não é?
- Bastante – respondi voltando a me olhar no espelho.
- Como você o conheceu?
- Bem... – Eu ri e sentei na cama. – Ele sempre vai ao Starbucks.
Comecei a contar a história para que às vezes sorria e outras ficava séria.
- E é isso – terminei, fechando o notebook.
- Sabe o que eu acho?
- Fala.
- Que você é uma mulher linda e independente que chamou a atenção de um certo famoso.
- Não começa com isso, okay? – Peguei a toalha.
- Ele te olhou diferente.
Eu respirei fundo e balancei a cabeça.
- Eu o tratei muito mal. E eu não quero confusão na minha vida, ela já teve confusão demais. Não quero passar pelo que eu passei de novo.
- Você tem que esquecer o que passou, . Você veio se dar uma oportunidade num outro país. Não tenha medo só por que você tem...
- Eu não quero conversar sobre isso, . Por favor.
- Okay. Você que sabe.
Entrei no banheiro sentindo minha cabeça latejar. Por que droga a tinha que tocar nesse assunto? Eu estava tão bem.
Liguei o chuveiro e passei a mão na cicatriz do meu braço.
Tudo já era tão difícil no Brasil.
Eu não posso me apaixonar por ninguém. Não agora depois de quatro anos. Eu não devo me apaixonar por ninguém.
Senti as lágrimas caírem enquanto a água morna fazia curvas no meu corpo.

Flashback On

- ME SOLTA, MAURÍCIO!
- NÃO SOLTO NÃO. CONFESSA. CONFESSA, SUA VAGABUNDA. VOCÊ ESTAVA ME TRAINDO, NÃO ESTAVA?
- NÃO. NÃO, MAUÍRICIO. EU FUI VISITAR A JOANA.
- MENTIRA!
Ele pegou o jarro que estava com as rosas que ele havia me dado e tentou tacar em minha cabeça. Mas ele não conseguiu, pois coloquei meu braço no meio.
- NÃO, MAURÍCIO. NÃO!
A última coisa que vi foram seus olhos vermelhos cheios de ódio e seu sangue pulsando em bebida.


Flashback Off.

- . , você está bem?
Ouvi a voz de ecoar na porta do banheiro.
- Estou... – Limpei as lágrimas. – Estou... saindo.
Fui ao quarto e vi que não estava mais lá.
Coloquei minha roupa de dormir e fui à cozinha.
- Você demorou e nós estávamos com fome...
- Tudo bem, Caio. – Sorri.
Sentei à mesa e colocou seu prato na pia.
- Me desculpe. Eu não queria que ficasse assim.
- Tudo bem, . Eu estou bem. – Sorri falsa. Não estava bem. Não mesmo.

~

Terminei o expediente no Starbucks e me troquei para ir para o cursinho.
não havia mais aparecido na cafeteria há quase duas semanas. Estava achando estranho o porquê disso, já que a Lív disse que isso só acontecia em Turnê.
Cláudio, o marido de , também já havia chegado em Londres e alugado uma boa casa para os dois. Ele havia recebido uma promoção. Alguma coisa assim. Por isso que havia vindo para cá.
Saí do Starbucks e estava cada dia mais frio. Ajeitei meu casaco em meu corpo e ouvi meu celular tocar.
- Alô?
- Alô. Nossa, como está você?
- Quem é? – Não reconhecia aquela voz.
- Aqui é John. O Johnny. – Eu fiquei em silêncio sem entender. – Do Pub, naquela noite.
- Oh! – Bati a mão na cabeça. – Lembrei. Oi. Tudo sim e com você?
- Melhor agora. Eu liguei para ver se não estava a fim de sair comigo hoje.
- Poxa, estou indo para o cursinho agora. Nem dá.
- E que tal sábado?
- Okay... – Olhei para o lado para atravessar a avenida.
- Eu posso te buscar ou nos encontramos?
- Nos encontramos. No mesmo local.
- Okay. Nove em ponto.
- Combinado.
- Beijo.
- Beijos.
Desliguei o celular e entrei no cursinho.

~

- O Caio está com a Agatha. Eu estou sozinha em casa.
- Então eu vou te ver – disse.
- Traz comida. Eu nem fiz nada, acabei de chegar.
- Certo. Hey... E o ?
Eu respirei fundo.
- Já faz bem duas semanas que não o vejo. E amanhã vou sair com o John.
- Aquele rapaz do Pub que me contou?
- Aham...
- Vai mesmo continuar com isso?
- Por quê?
- Porque eu não acho certo, .
- Não é você e o Caio que vivem me enchendo pra sair com alguém?
- É. Mas não é o primeiro que aparecer.
Eu respirei fundo.
- Vem logo, vem. Eu estou com fome.
- Já estou indo.
Desliguei o telefone e caí no sofá.
Ouvi uma buzina lá de baixo.
Fui à pequena varandinha e senti meu coração acelerar quando olhei lá para baixo. Era um conversível preto. E ao lado dele estava sorrindo.
Limpei meus olhos para constatar que não estava vendo coisas e abri-os novamente.
- Você pode descer aqui? – ele pediu sorrindo e eu só confirmei com a cabeça.
Entrei novamente no apê de costas tentando de alguma forma conciliar aquilo. Bati na parede e acordei. Não era sonho.
Corri para fora do apê e desci pelas escadas tentando respirar o máximo para não morrer asfixiada. Mas era inútil. O ar havia deixado meu corpo completamente.
Cheguei à pequena portaria e abri o portão.
Ele estava olhando e sorrindo para mim.
- Oi – falei colocando as mãos no bolso da calça jeans e caminhando até ele olhando para o chão.
- Oi... – Ele sorriu.
- Você sumiu. – Olhei para ele.
- Pois é... Eu tive uma folguinha. Aproveitei e fui visitar minha mãe e minha irmã.
- Ah... – Eu olhei para baixo. Deus sabe a vergonha que estava naquele momento. – E... Você veio fazer o que exatamente aqui?
- Bom... Eu não tenho seu número. – Ele riu. – E queria perguntar se não estava a fim de sair comigo amanhã.
- Sair? Com você? Quer dizer... Amanhã?
- É. É sábado. E eu vou ter uma folga antes de viajar.
- Viajar?
- É. Vou entrar em turnê mês que vem. – Ele riu olhando para o chão.
- Nossa... – Coloquei a mão na testa. – É que... amanhã...
- O que tem amanhã? Algum problema?
- Amanhã vou trabalhar – menti.
Droga, ! Qual é o seu problema? Por que não disse que ia sair com outro cara?
- Ah... Entendo. – Ele sorriu.
- Desculpa.
- Tudo bem. Eu devia saber que talvez você trabalhasse amanhã.
- Pois é... – Balancei a cabeça.
- Então... A gente se vê, não é?
- Com certeza. – Sorri.
- Certo.
- Certo.
Eu ia entrando já no prédio quando eu o ouvi falar.
- Você tem celular?
Virei-me para ele.
- É claro que tem. – Ele bateu na própria testa. – A pergunta é: você pode, ou quer, me dar o número do seu celular?
Eu sorri.
- Tem caneta e papel aí?
Ele pegou dentro do carro.
Eu anotei o meu número e o entreguei.
- Falou, .
- Boa noite, . – Ele fez uma careta ao pronunciar meu nome.
- . Me chame de . E não faz careta.
Ele riu, entrou no carro e deu a partida.
Detestava mentir para alguém. E estava incluído nesse grupo. Por que eu havia mentido? Era tão fácil ter dito a verdade. Por que DROGA eu menti? E por que ele veio aqui? E por que tudo isso?


Capítulo VII.

- A comida estava ótima, – falei sorrindo e colocando a louça na pia.
- Agora vai me dizer o que aconteceu?
- Como assim?
- Eu te conheço. Desiste logo.
- Você é muito chata, . – Eu ri.
- Só estou cumprindo o meu papel de irmã mais velha.
Eu respirei fundo.
- Sua barriga está crescendo.
- Faz quatro meses essa semana. Mas não foge, eu conheço seu joguinho e não vou cair nele.
Eu sentei e ri vencida.
- O veio aqui hoje.
- O QUÊ? E você ia me contar isso quando?
- Foi logo depois que eu falei com você no celular.
- E aí? Ele disse o quê? O que aconteceu? – Ela me olhou pervertida.
- Nada! – Eu ri. – Não pensa besteira.
- E o que ele queria?
- Ele veio me chamar para sair amanhã porque logo ele vai entrar em turnê.
- Você aceitou, não é? – ela perguntou e eu levantei o cenho. – Oh não. Você disse que ia sair com John.
- Eu não disse. Disse que ia trabalhar.
- Mas você mentiu.
- Eu sei, eu sei. – Bufei e ela riu.
- O que foi? Queria sair com o ? – Ela piscou.
- Não é nada disso. Eu menti pra ele. E você sabe que eu odeio mentir para alguém.
- Eu sei... Por que você não desmarca com John?
- Não. Eu vou deixar as coisas como estão.
- Você que sabe...
Eu balancei a cabeça.
- Eu sei que você não gosta de falar disso, mas eu vou perguntar mesmo assim. ... Você está sentindo algo pelo ?
- , eu não posso...
- Não estou perguntou se você pode ou quer. Estou perguntando se você sente.
- No começo era ódio. Agora é gratidão.
- Tem certeza que é só isso?
- Absoluta.
balançou a cabeça.
- , eu sempre estive do seu lado. Sempre te ajudei e aceitei suas escolhas sem criticá-las. Por mais que eu visse que iam só te fazer sofrer com elas. Maurício foi uma delas.
- Eu sei.
- Então pensa bem antes de decidir alguma coisa.
Ela levantou e saiu da cozinha. Eu fiquei sentada na mesa observando o copo com água na minha mão. Bebi o resto de água que havia no copo e fui ao quarto.
estava no quarto de Caio.
Eu fechei a porta do meu quarto e deitei de bruços com o celular do lado.

Flashback On

- Você não pode decidir isso, ! Você não pode escolher ele, ele vai te fazer sofrer! – Renato disse indignado.
- Renato, eu já tomei minha decisão. Eu vou ficar com o Maurício.
- Você sabe que quando ele bebe...
- Eu sei... – Senti as lágrimas caírem. – Me desculpa. Eu tenho que ir embora. Virei-me.
- ... , NÃO! VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO. NÃO!

Flashback Off

Senti algo molhando meu travesseiro e vi que eram minhas lágrimas.
Limpei-as, mas elas insistiam em cair.
Não percebi, mas já estava abraçada à e chorava muito.
Senti-me uma criança ali. Como era bom ter ao meu lado.

~

- Você vai continuar com essa loucura mesmo?
- Vou sim – falei passando lápis de olho e olhei para . – Como estou?
- Está linda. – Ela sorriu.
- Okay, deseje-me sorte. – Beijei sua bochecha e saí de casa em direção ao Pub.

~

- Oi – falei vendo-o no balcão. Meu Deus... Como queria sair daquele lugar.
- Hey, então você veio? – Ele me abraçou e quando ia me beijar, eu virei o rosto. – O que foi?
- John, eu vim aqui só para dizer que isso não é legal e que eu não quero que me procure.
- Mas... O que foi que aconteceu?
- Nada. Mas é isso.
- Ah... Não... Vem cá. – Ele segurou meu braço e tentou me beijar.
- Me solta! – Tentei me livrar dele, mas ele me segurou firme.
- Vem cá. – Ele me puxou e pressionou minha boca na sua. Pude senti o cheiro e o gosto da bebida.
Tentei me livrar, mas era inútil. Ele me segurava forte. Tentei uma, duas, três vezes e nem se quer eu conseguia tirar ele de perto. Quando tentei a quarta, paralisei.
No canto do Pub, num lugar escuro e bem escondido, eu o vi. estava ali. Ele me olhava de uma forma incrédula com um copo de bebida na mão.
- ? – falei mentalmente e meus olhos não mentiram, porque ele saiu do lugar assim que percebeu que eu havia lhe visto.
Com todas as forças que tinha, empurrei John.
- Qual é o seu problema? Está louco?
Saí correndo do local e cheguei à avenida. Pedia mentalmente para que aquela pessoa não fosse .
Mas eu o vi caminhando para o estacionamento.
- ! – chamei e corri. Ele não parou. Nem sequer respondeu. Continuou andando. – ... Espera.
Eu parei em sua frente e ele me olhou. Não tinha aquele olhar brincalhão de sempre.
Ele estava com aquele olhar frio, quando eu o julgava da pior maneira.
- O que você quer, ?
Engoli seco.
- Eu quero te explicar o que você viu.
- Não precisa me explicar nada.
- Eu menti. Disse que ia trabalhar, mas não fui.
- É, eu estou vendo. – Ele olhou para minha roupa. – Por que não me disse que tava saindo com outro cara? Eu teria entendido. Eu só... fui fazer papel de idiota.
- Não. Não, . Eu não tô saindo com ele. Eu só vim... Dizer que não dava mais e...
- Decida-se, . Você está ou não saindo com ele? Convença a si mesma para depois me convencer.
- Eu já tinha aceitado sair com ele, tá?
- Eu não preciso que se explique. Você não precisa disso.
- Me desculpa.
- Por...?
- Por eu ter mentido. Eu detesto mentir.
- Não se preocupe – ele falou seco. – Você está no meu caminho.
Eu saí de sua frente e ele caminhou.
- É por isso que não me olho no espelho. Por que eu tenho medo de que eu veja uma mentira.
Eu me virei e caminhei alguns passos quando ele falou:
- Você não precisa se condenar só por que mentiu para mim.
Eu me virei para ele.
- Você é tão difícil de entender. – Ele chegou mais perto de mim. – Por que você não é igual às outras?
- Por que eu não sou as outras. – Me virei novamente.
- Você vai pra onde?
- Pra casa.
- Vamos, eu te deixo lá.
Não reclamei, nem neguei. Simplesmente entrei no carro em silêncio.
Não dissemos muitas palavras até chegarmos em frente ao meu apê.
- Obrigada – falei sem olhar para ele.
Ele levantou o cenho e olhou para mim.
- Hey, ta triste? – Ele riu.
- Envergonhada é a mesma coisa que triste? É. Eu tô bem triste sim.
Ele riu mais ainda.
- Por que tá com vergonha?
- Okay, eu vou embora. – Eu ri e ia saindo do carro quando ele segurou minha mão.
- Espera...
Eu olhei para ele.
- Vamos começar de novo, está bem? Amanhã você está livre?
Levantei o cenho.
- Por quê?
- Está ou não está?
Eu ri.
- É. Estou livre sim.
- Então me espera amanhã. Eu quero te mostrar uma coisa
- Beleza. Que horas?
- Esteja pronta dez da manhã.
- Tá certo. – Eu ri.
Eu ia saindo quando ele disse:
- Eu acredito em você.
Abri um largo sorriso e saí do carro.
- Até amanhã – ele falou sorrindo.
-... Só uma coisa...
- Fala.
- Você... Não... Não se envolva tanto comigo, okay? Não é uma boa.
Ele balançou a cabeça.
- Pode deixar.
Ele acelerou o carro e eu entrei no prédio parecendo uma zumbi não acreditando no que havia acontecido.


Capítulo VIII. (Coloque para carregar: Better Luck Next Time – Lifehouse)

Entrei no apartamento e estava deitada num colchão assistindo TV e comendo chocolate.
- Ué? Voltou cedo?
- Você-nem-imagina-o-que-me-aconteceu – falei sentando no colchão.
- Vamos logo, cachorra. Conta!
- veio me deixar.
- COMO ASSIM?
Eu ri e fiz suspense, pegando um pedaço de chocolate.
- Ei! Esse chocolate é meu!
- Deixa de ser egoísta!
- Esquece. Conta!
- Bem... Eu fui ao Pub na intenção de dizer a real para o John. Mas ele tentou me beijar. Nisso, eu vi e ele olhava tudo.
- Espera aí, ele estava no Pub? Mas...
- Calma. Eu não me lembro muito da nossa conversa. Mas eu fui atrás dele tentar me explicar.
- Mas por quê? Vocês não têm nada. A não ser que...
- Não. Eu fui me explicar porque havia mentido.
- Hum... E ele veio te deixar?
- E tem mais. Ele vem me buscar amanhã. Às dez da manhã.
- Mas... Poxa... Que ótimo. Mas por que tão cedo?
- Eu não sei. Mas ele disse que queria me mostrar uma coisa.
- Então trate de dormir agora para estar de pé bem cedo.
Eu ri.
- Eu tô com fome – falei passando a mão na barriga.
- Esfomeada. Eu nem estou.
- É claro. Você está devorando esses chocolates aí. Pede uma pizza enquanto eu me troco.
Fui ao quarto e me tranquei. Peguei qualquer roupa e me troquei.
Estava animada. Era fato.

~

Abri os olhos e dei de cara no sorrindo.
- O que você quer? – perguntei.
- está aí na sala.
- O QUÊ?
- Relaxa. É brincadeira. Ainda são nove e meia.
- Sua vaca – falei sentando na cama. – Você está louca de fazer isso comigo?
- Queria ver sua reação. – Ela piscou para mim
- Sai do meio! – falei rindo.
Tomei um banho rápido e coloquei uma calça e uma regata branca. Eu não sabia para onde me levaria. Então resolvi ir bem à vontade. Deixei meus cabelos soltos apesar de achar que eles estavam feios.
Tentava dar um jeito em minha franja quando o interfone tocou. Meu coração foi a mil.
- , é o falou na porta do meu quarto.
Olhei-me novamente no espelho, peguei a bolsa e fui em direção à saída.
- Vai e me conta tudo por telefone. Vou pra casa daqui a pouco – me incentivou.
- Pode deixar.
Desci as escadas devagar.
Cheguei ao portão e logo vi ao lado de seu conversível preto.
- Wow! – ele falou ao me ver.
- Vamos parar com isso? – falei rindo envergonhada.
- Certo, certo...
- E pra onde você vai me levar?
- Surpresa. Entra aí.
Ele abriu a porta do carro e eu entrei.
- Você está muito bonita.
- Valeu – falei corando de vergonha. Ele sorriu e ligou o rádio.

(Coloque para tocar a música)

Sometimes we fall.
Ain't nothing new to me
Don't care move on
I must say you gave up for this time now

(As vezes nós caímos
Não é nada novo
Não se importe com o movimento
Eu devo dizer que você contribuiu com este tempo agora)

- Eu tenho que criar vergonha e comprar o CD dessa banda. – Ele sorriu.
- Que banda é essa?

Stop! Tell me where you're going
Maybe the one you love isn't there
You're going under
But you're over it all so you don't care about all that I had to see
Watch you wait until you come around
Around

(Pare de me dizer onde você está indo
Talvez o único que você ame não esteja lá
Você está afundando
Mas você acabou com tudo e não se importa com aquilo que eu tinha que ter visto
Te observando até você se virar
virar)


-Lifehouse. É muito boa.
-Eu gostei. – Falei sorrindo.

Don't close your eyes
You need to see it all
It's no surprise that they break you down
Least they won't give you up

(Não feche seus olhos
Você precisa ver tudo
Isso não é surpresa
Que tenham te colocado pra baixo
No mínimo eles não vão te levantar)

Olhei para , que cantava baixinho a música. Ele estava muito bonito naquele dia.

Stop! Tell me where you're going
Maybe the one you love isn't there
You're going under
But you're over it all so you don't care about all that I had to see
Watch you wait until you come around

(Pare de me dizer onde você está indo
Talvez o único que você ame não esteja lá
Você está subindo
Mas você acabou com tudo e não se importa com aquilo que eu tinha que ter visto
Te observando até você se virar)

Ele parou no sinal vermelho e olhou para mim. Nosso olhar se encontrou.

Wahaaahaaa

(Wahaaahaaa)

- Eu… - comecei a falar e senti que estava se aproximando de mim.

It's all wonderful
Living happily
To lose it all
Think you have everything

(Tudo isso é maravilhoso
Vivendo com alegria
Para perder tudo isso
Pense que você tem tudo)

Seu rosto estava cada vez mais perto que eu já sentia sua respiração quando ouvimos uma buzina.

Stop! Tell me where you're going
Maybe the one you love isn't there
You're going under
But you're over it all so you don't care about all that I had to see
Watch you wait until you come around
Around

(Pare de me dizer onde você está indo
Talvez o único que você ame não esteja lá
Mas você acabou com tudo e não se importa com aquilo que eu tinha que ter visto
Te observando até você se virar
Virar)


Stop! Tell me where you're going
Maybe the one you love isn't there
You're going under
But you're over it all so you don't care about all that I had to see
Watch you wait until you come around
Around

(Pare de me dizer onde você está indo
Talvez o único que você ame não esteja lá
Mas você acabou com tudo e não se importa com aquilo que eu tinha que ter visto
Te observando até você se virar
Virar)

Stop! Tell me where you're going
Maybe the one you love isn't there
You're going under
But you're over it all so you don't care about all that I had to see
Watch you wait until you come around
Around

(Pare de me dizer onde você está indo
Talvez o único que você ame não esteja lá
Mas você acabou com tudo e não se importa com aquilo que eu tinha que ter visto
Te observando até você se virar
Virar)

Paramos em frente a uma casa bem grande e bonita. Descemos do carro e caminhamos pelo jardim até a entrada da casa.
- Onde estamos? – perguntei.
- Na nossa primeira parada. Casa do .
- Primeira parada?
- Exatamente. – Ele sorriu.
tocou a campainha e eu ouvi risos de dentro da casa.
Um rapaz bastante bonito atendeu a porta.
- MEU AMOR! QUE SAUDADES! - ele falou abraçando .
- Calma aí, , em publico não. Por favor!
Começamos a rir.
- , essa é . , esse é .
- Prazer, . – Sorri.
- O prazer é meu, .
- – corrigi-o.
Entramos na casa e eu vi mais quatro rapazes e duas moças.
- Olha quem chegou. Veja se não é o inteligente da turma. – Quem falou foi um loiro com o cabelo bem engraçado.
- Até parece, né, Dave? – falou irônico.
- Hey, ! – James falou ao me ver.
- Ah... Oi, James.
- Ah... , esses são e , do McFly. E esses são Dave e o James você já conhece.
- Ah... Oi – disse sem jeito.
- Não fique com vergonha. – O sorriu.
- Não mordemos. – fez cara de psicopata. – Frequentemente.
- Ah... Essas são , a namorada do , e a Elizabeth, a noiva do Dave.
- Apenas – uma das moças falou sorrindo.
- E Lisa. – A outra também sorriu.
Eu balancei a cabeça sorrindo.
- Então vamos lá? – chamou.
- Para onde? – perguntei para baixinho e ele riu.
- Você vai ver.
Eu, , James e o tal Dave com a noiva fomos juntos no mesmo carro.
- A sabe para onde vamos? – James perguntou com um sorriso.
- Não, James, eu não sei. – Dei ênfase ao sei e riu.
- Eu vou te contar então, – Lisa disse sorrindo. – Tem um orfanato aqui perto onde os meninos sempre tocam e levam presentes para as crianças.
- Estragou a surpresa, caramba! – olhou para mim pelo retrovisor.
Eu senti meu rosto arder. Estava sentindo um remorso imenso.
Chegamos ao lugar e fomos recebidos pela diretora do local. Ela era uma senhora gorda e muito simpática.
Enquanto os meninos levavam os instrumentos para o pátio, eu, e Lisa fomos à sala de leitura.
- Então... Você e devem tá ficando um tempão, né? – perguntou sorrindo.
- Ãhn... Não, na verdade, nem estamos ficando.
- Não? – Lisa perguntou. – É que... Bem... Ele nunca traz ninguém aqui.
- Bem, eu acho que ele me trouxe aqui para me mostrar que estava enganada sobre ele, sabe?
- O é boa pessoa – falou sorrindo.
- É... Eu sei. – Sorri.
Ficamos conversando até James aparecer na porta.
- Hey, vamos lá. Já vai começar.

~

- Meninos, vocês foram FANTÁSTICOS! – falou abraçando .
- Que bom! Você gostou, ? – olhou para mim.
- Ah... Sim. Eu... Gostei muito! – Sorri para ele.
- Que bom. – piscou para mim.
- Agora, cambada, vamos almoçar! – o tal falou chegando ao nosso lado.
- -Esfomeado- ataca novamente! – Lisa falou rindo.
- Os mais GATOS primeiro! - correu para o refeitório.
- Hey! Você não está incluído nesse grupo! – Dave e James correram.
foi à frente com e Lisa.
- Er... Você gostou mesmo? Ai, me ajuda aqui. – pediu para eu segurar o negócio da bateria. – Obrigado.
- Nada. Ah... Adorei.
- Que bom. – Ele piscou e pegou o tambor lá e colocou do lado. Depois voltou para o meu lado. – Bem...
- Eu sei por que me trouxe aqui.
- É... – Ele sorriu olhando para baixo e colocou as mãos no bolso.
– Er... Eu devo desculpas, sabe? Agora eu tenho a prova de que você não se importa só com si.
Começamos a caminhar lado a lado.
- Amanhã... Eu vou embarcar para o Brasil.
- Brasil? – perguntei surpresa.
- É, estamos em turnê. Vamos fazer uns shows por lá. Fiquei sabendo semana passada.
- Nossa... Você vai... Adorar o Brasil.
- É. – Ele sorriu. – Tenho certeza.
Chegamos ao refeitório onde os meninos já estavam espalhados entre as crianças.
- Gosta de crianças? – perguntou.
- Adoro. – Sorri.
Sentamos em uma mesa bem animada. A todo tempo olhava brincar com as crianças. Estava me encantando por ele. É verdade.


Capítulo IX.

- Eu adorei, – falei tirando o cinto de segurança. – Sério.
- Quem bom. Nós sempre estamos passando por lá.
- Você é uma boa pessoa. Eu errei bastante sobre você.
Ele sorriu e balançou a cabeça.
- Então...
- Er... Eu posso te ligar? Quer dizer, eu não gosto muito da idéia de que não vou mais te ver.
- Claro que pode. – Sorri. – Mas trabalho na Starbucks, esqueceu?
Ele sorriu.
- É, eu esqueci sim.
- Então... Boa viajem e... Aproveita bastante lá por mim.
Ia saindo do carro quando senti sua mão na minha.
Virei para ele e encontrei aqueles olhos encarando os meus.
Senti uma aproximação repentina. Meu primeiro impulso foi afastá-lo, mas era mais forte que eu.
Lentamente, comecei a me aproximar mais e fechei meus olhos.
Ele encostou lentamente seus lábios no meu.
Senti sua língua passar pelos meus lábios e eu os abri lentamente para ele dar passagem para um beijo.
Senti meu corpo sendo puxado para perto do seu e passei meus braços ao redor de seu pescoço.
Sua mão me pressionou contra seu corpo e eu comecei a ir para cima dele sem ao menos perceber. Suas mãos apertaram minha nuca e eu senti um arrepio gostoso na espinha.
Estávamos loucos de fazer aquilo naquele lugar. Principalmente por ele ser famoso e tudo mais. Mas confesso que naquele momento não estava ligando muito para o que as pessoas falassem ou vissem.
- Você está louco? Estamos no meio da rua. – Sorri entre um beijo e outro.
- Então vamos subir. – Ele soltou um riso gostoso.
Afastei-me um pouco dele.
- Olha...
Milhões de coisas passavam pela minha cabeça naquele momento. Inclusive algo que eu escondia de todos.
- Algum problema? – ele perguntou.
- Eu... Eu acho bom eu ir indo. Er... – Ia descer do carro quando senti que ele havia segurado minha mão novamente. Fechei os olhos. – , eu pedi para não se envolver tanto comigo.
- Qual é o problema, ? Por Deus... Não consigo entender.
- É melhor assim. Boa noite.
Saí do carro sentindo que meu peito ia explodir de tanta raiva. Mas de mim mesma.
Subia as escadas sentindo as lágrimas caírem em meu rosto. Eu não podia continuar aquilo. Estava cada vez mais me prejudicando.

~

- Srta. , você está com um problema de vista. Vai precisar usar óculos.
Respirei fundo.
- Eu já devia imaginar. Onde levo a receita?
- Numa loja aqui perto.
Fazia mais ou menos duas semanas que havia embarcado para o Brasil com os meninos.
Ele também não havia ligado. Mas sinceramente já esperava isso. Principalmente depois do que havia feito.
Como hoje era meu dia de folga, resolvi fazer o bendito exame de vista, já que havia batido na porta do banheiro umas duas vezes. Estava vendo tudo torto ultimamente.
Entreguei a receita para uma moça e ela disse para eu sentar e esperar.
Detesto esperar. Isso é cansativo.
A TV estava ligada em um canal de notícias. Comecei a prestar mais atenção no aparelho e vi que estavam falando da turnê da banda McFly.
Sorri ao ver e nas imagens. Estava sentindo um remorso muito grande. Por ter dito aquelas palavras para ele.
Mas talvez isso tenha sido para um bem maior.
- Senhora, pode vim buscar seus óculos daqui a dois dias.
- Okay... – falei suspirando.
Levantei da cadeira e fui direto para a estação de metrô. Nem preciso dizer que estava sozinha em casa, Caio como sempre estava na casa da namorada. Parecia que morava mais lá do que no nosso apartamento.
Sexta feira é cruel para mim, principalmente quando estou sozinha.
Fui ao banheiro e tomei um banho. Fiz um sanduíche rápido e um suco de laranja. Comi e peguei o livro para estudar. Sentei no sofá da sala e abri o bendito livro.
Quando ia dar onze da noite, meu celular começou a apitar.
Sem ao menos ver quem era, atendi o telefone.
- Alô? – Deixei o livro de lado.
- Hey! Te acordei?
Senti meu coração acelerar na hora ao ouvir aquela voz. Não podia ser ele.
- Quem é? – perguntei quase sussurrando.
- Esqueceu de mim é, ? Aqui é o .
- ? Não, é que... Nossa...
- Você achou que eu não ia ligar, não é?
- Sinceramente? Eu achei que não ia ligar mesmo.
Ele riu.
- E... Bem, eu não fui a melhor pessoa com você.
- Não, tudo bem! Eu também não fui o melhor galanteador naquele dia... – Ele riu e eu também.
- E aí? Como estão sendo os shows?
- Ah... Estão sendo muito bons.
- Eu vi umas imagens em um jornal daqui.
- Pois é, semana que vem voltaremos para a Inglaterra.
Silêncio.
- Você está fazendo o quê?
- Estudando. – Sorri. – Como sempre.
- É, como sempre. – Ele riu.
Silêncio.
- Er... Como eu volto na semana que vem... Então... Eu estava pensando se... Bem, se não tava a fim de jantar comigo.
- Ah... – , NÃO. Claro que não! – Mas é claro que sim. – Por que eu disse sim?
- Nossa... Que bom. Eu... Ah, que bom! – Ele riu e eu também.
- Então... Eu vou desligar. Tenho que dormir. Amanhã pego cedo o trabalho e já são onze horas.
- Ah... Certo. Então... Eu te ligo antes certo?
- Certo. Manda um abraço pros meninos.
- Mando sim. Er... Tchau.
- Tchau.
Desliguei o celular imaginando a cara de idiota que estava naquele momento.
Mas isso é totalmente fora de cogitação. Eu não posso me apaixonar por ele. Não. Sei que não.

~

Olhava insistentemente para o relógio, que marcava sete e cinquenta e oito.
Voltei para o quarto e me olhei novamente no espelho. Estava um lixo. O vestido estava frouxo em mim. Só podia estar. Mas não tinha como trocar naquele momento.
Ouvi o interfone na cozinha e dei um pulo.
- Calma, . Calma. É só o – falei para mim mesma. O que só fez piorar minha situação, já que é famoso.
Tentei respirar novamente, mas parecia que o ar estava ficando cada vez mais denso e difícil de entrar no meu corpo.
Fui lentamente para a cozinha e tirei o interfone do gancho.
- A-Alô?
- Um cara lindo e gostoso mandou te dizer que está a sua espera na portaria de seu apartamento.
- Avise ao lindo e gostoso que eu desço já.
Ouvi a risada gostosa do no outro lado da linha e desliguei.
Corri no quarto novamente e peguei minha bolsa e os óculos. Olhei-me no espelho novamente e, apesar de não ter gostado do que havia visto, concordei que estava apresentável.
Cheguei à porta respirando fundo. Tranquei o apartamento e ajeitei meus óculos em meu rosto. Já não enxergava em dia normal, imagine em dia de nervosismo. E, no momento, eu confesso que estava cega.
Desci as escadas sentindo que ia cair qualquer hora. Ah... Não é exagero. Experimenta olhar o bem de perto pra você ver.
Ele estava ali. Escorado no carro olhando para mim. E sorria como nunca (ou como sempre). E como sempre estava lindo.
Eu não posso mentir. A cada dia que passava, me encantava mais com ele.
- Wow! Boa... noite – ele falou olhando para mim.
- Oi... – falei um pouco envergonhada. Estava a alguns passos dele.
Eu o vi fazer uma careta e levantar o cenho.
- Não vai chegar perto?
- Wow. – Eu ri e finalmente andei. – Desculpa.
Senti seus braços ao redor de minha cintura e fiz o mesmo ao redor de seu pescoço.
Ficamos alguns segundos daquele jeito em silêncio.
- Eu fiquei com saudades – ele falou e meu coração disparou. – Dos cappuccinos e waffles.
Eu ri.
- Oh... Eu tenho certeza que sim – falei rindo.
- E de te encher – ele completou sorrindo e olhando para mim. – Você está linda. Isso tudo é para mim?
- Não, , é para o mendigo lá da esquina.
- Mendigo sortudo esse, hein?
- Ah... Palhaço!
Ele riu e abriu a porta do carro. Eu entrei.
- E como foi lá no Brasil? – perguntei ao vê-lo sentar ao meu lado.
- Foi legal. O Brasil é lindo realmente.
- Pois é... – Eu ri.
- Eu quero voltar lá.
- E eu para lá.
- Você quer voltar a morar lá?
- Er... Sim. Se tudo der certo. Talvez daqui a uns seis meses mais ou menos.
- Eu posso imaginar por que você quer voltar.
- Pode? E pelo quê?
- Sol, praia, família...
- Futebol...
- Você joga?
- Claro. Eu era campeã nos jogos lá.
- Não brinca!
- É sério. Quer apostar?
- Um racha com os meninos?
- Fechado. – Sorri.
- Então tá.
Silêncio.
- O que mais gostou de lá? – perguntei.
- Hum... As mulheres...
Eu ri.
- É, as mulheres de lá são conhecidas como bonitas, morenas, altas, magras e corpo de violão. Ao contrário de mim. Feia, branca, baixa, gorda e num tenho maldito corpo de violão.
Ele riu balançando a cabeça.
- Hey, você está usando óculos.
- Agora que foi perceber?
Ele riu novamente.
- Você é uma brasileira muito bonita, e representa muito bem o Brasil, se quer saber.
- Isso é uma cantada?
- Se você quiser, ela pode ser. Mas era pra ser um elogio.
Eu ri. parou num sinal vermelho e olhou para mim.
- Acho que não precisamos disso – falei sorrindo.
- De quê?
- Cantadas e elogios. Eu só quero deixar bem claro que você não precisa disso.
- E se eu quiser falar?
- Aí você se torna aquele chato e insistente. E eu não gosto disso.
- Mas eu descobri seu nome sendo aquele chato.
- E conseguiu um beijo sendo agradável – falei sem pensar e mordi o lábio inferior.
avançou o sinal verde sem dizer nada. Mas vi um sorriso no canto de sua boca.
- É. Vejo que existem mais vantagens sendo agradável.
- Sempre! – Sorri.
Chegamos ao restaurante e um homem abriu a porta para mim.
- Aqui é lindo – falei olhando para o lugar quando chegou ao meu lado.
- Eu gosto muito daqui.


Capítulo X. (Coloque para carregar: Khorus - Dream)

Bebi o último gole de vinho. Estávamos em uma mesa mais reservada.
- Enfim... Somos quem somos hoje depois de cinco anos – ele falou sorrindo.
- E já são famosos em todo o mundo.
- Nos divertimos. Por isso chamamos atenção. – Ele sorriu de canto e olhou para as próprias mãos.
Eu sorri ao vê-lo daquele jeito. Ele como num impulso olhou nos meus olhos.
- Er... Eu acho melhor irmos... – falei abaixando minha cabeça.
- Oh não... – ele falou de uma forma bruta.
- Hã? O que você...
- Não é com você. Tem um paparazzi olhando para nós.
- O... O quê? – perguntei, começando a me preocupar realmente.
- Garçom! – ele chamou o garçom e pediu a conta.
Saímos do restaurante e olhava para todos os lugares.
- Mas o que...
- Só anda. Não olha para o lado – ele falou sério e seco.
Continuamos andando até o carro. abriu a porta e praticamente me empurrou para dentro.
- Te machuquei? – ele perguntou ao entrar pelo outro lado da porta.
- Não... – falei demonstrando medo. – Ele vai nos seguir?
- Vai, provavelmente. Por isso que você precisa ir para minha casa. Se ele souber onde você mora...
- Espera aí... Você quer que eu vá pra sua casa?
- Eu te deixo em casa assim que ele sumir.
- Mas isso não muda o fato de que eu vou estar na sua casa.
- É isso ou ele descobre onde você mora e amanhã cedo um batalhão de repórteres estará batendo na sua porta.
Bufei. deu a partida no carro.
- Desculpa – ele falou depois de um tempo de silêncio.
- Tudo bem, vai – falei já conformada. – Eu devia saber que isso podia acontecer.
Não quis olhar para ele e demonstrar um rosto de chateada.
Ficamos andando sem rumo por um tempo. falou que era para despistar os caras. Eu estava um pouco nervosa ainda.

~

(Coloque a música para tocar)

Preciso dizer que morava numa casa incrível? Sério. Era enorme.
Ele colocou o carro na garagem e saímos dele.
- Está frio – falou, procurando as chaves no bolso da calça.
- É... – falei sentindo realmente frio.
Então abriu a porta que dava passagem para a cozinha. Que também era enorme. Maior que meu apê.
- Uau... Aqui é sua cozinha?
- É. Mas eu mal uso... Na verdade, eu mal fico em casa. – Ele balançou a cabeça sorrindo. – Er... Eu acho que você queira ir ver a sala. É bem mais confortável que a cozinha. Eu lhe garanto.
Fomos à sala. E era incrível. Toda na cor branca. Havia algumas cortinas cobrindo as janelas de vidro. Também havia dois sofás imensos e vermelhos. Mais à frente, uma TV que devia ter umas 500 polegadas de tão grande.
- Gostou? – ele perguntou, acordando-me de um transe.
- Wow, se eu gostei? Er... É lindo.
- Na verdade foi a minha ex-namorada que decorou. A Rachel.
- Ah... Bom gosto ela.
- Pois é...
Silêncio.
- Wow, você deve estar com frio. A calefação não está ajudando. Eu... Eu acho que o lugar ideal seria a sala de leitura. Tem uma lareira lá e eu posso acender.
- Ah... Mas daria muito trabalho e...
- A lareira é elétrica. – Ele riu. – É ligada no controle remoto.
- Ah... É. Eu sabia. Estava testando sua capacidade – falei rindo.
- Você é muito esperta. – Ele piscou.
Fomos até a tal sala de leitura, que mais parecia uma biblioteca.
- Gosta de ler? – perguntei.
- Bastante. A verdade é que metade desses livros era do meu avô. Herdei todos dele.
Entrei mais a sala e vi uma grande lareira. a acendeu apenas num botão do controle remoto. Eu acho que nunca ia me acostumar com tanta tecnologia.
- Eu vou lá em cima pegar uns cobertores para nós. Vou mandar preparar um quarto para você pra quando bater o sono.
Apenas balancei a cabeça.
Enquanto ele preparava tudo, fui até uma prateleira onde havia alguns livros bem velhos. Li os exemplares de alguns e vi que todos falavam sobre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. E outro até era a biografia de Hitler.
- Encantada com os livros? – ouvi alguém atrás de mim e me assustei. No impulso, virei e dei de cara com .
Seu rosto estava bem perto do meu. Vi que seus olhos olhavam para minha boca. E fiz o mesmo. Senti todos os cobertores caírem nos nossos pés e suas mãos segurarem minha cintura.
Resolvi aproximar meu rosto mais do seu e fechei os olhos.
Sua língua passou pelos meus lábios e eu os abri para dar passagem para um beijo maior.
me apertou um pouco para si e eu segurei forte em sua nuca, fazendo-o gemer um pouco.
Senti sua mão acariciar minhas costas e apertei mais sua nuca.
Onde estava com a cabeça para fazer tudo aquilo? A verdade era que eu estava encantada pelo , e fazia tempo.
Mas eu estava me envolvendo demais com ele. E isso era perigoso.
lentamente me levava para trás até que nos encostamos à parede.
Ele começou a beijar meu pescoço e eu fechei os olhos para sentir tudo aquilo.
Senti abrir o zíper do meu vestido vagarosamente.
Fiquei sem ação. Estava acontecendo.
E eu não podia parar.
E eu não queria parar.
Era fato. Eu estava apaixonada por .
Ele procurou meus lábios novamente e começou a me beijar com desejo.
- ... – sussurrei em seu ouvido.
- Hum?
Ele não me deixou falar e me suspendeu, carregando-me até o pequeno sofá.
Nesse momento, ele se livrou do meu vestido e me deitou no sofá.
Voltei beijando ele e tirando sua blusa. Passei a beijar seu pescoço, descendo para o peitoral.
Fiquei por cima dele, fazendo-o deitar.
Desci meus beijos até seu umbigo e percebi que ele ainda estava de calça.
Olhei para ele e sorri maliciosa.
Desabotoei e abri o zíper devagar.
Devagarzinho, tirei sua calça e o deixei apenas com sua boxer.
Mordi o lábio inferior ao ver aquela parte bem mais rígida depois de ter tirado sua calça.
Coloquei minha mão por dentro de sua boxer e peguei em seu membro rígido.
Comecei a masturbá-lo rapidamente.
Ouvia seus gemidos e eu também gemia um pouco.
Resolvi me livrar logo de sua boxer e passei minha língua pelo seu membro e depois comecei a fazer os movimentos com minha cabeça.
segurava meus cabelos com força, estimulando para eu continuar.
De repente, ele me tirou de cima de si e ficou por cima de mim.
Eu ainda estava com calcinha e sutiã. Ele tirou rapidamente meu sutiã e minha calçinha e eu consegui dizer apenas uma palavra:
- Camisinha.
Ele, que parecia mais um louco (e eu estava adorando aquele louco), procurou sua carteira no bolso da calça e rapidamente tirou a camisinha de lá. Rasgou a embalagem e, num movimento, colocou a camisinha em seu membro.
Senti ele investir com força em mim. Soltei um gritinho, que foi abafado em seu pescoço.
Sentia todo meu corpo se contorcer com ele. Mas estava adorando aquilo.
Pela primeira vez depois de tanto tempo, estava apaixonada. E muito apaixonada.
Sentia que arranhava suas costas de uma forma que chegava a machucá-lo talvez. Mas aquilo era a última coisa que pensava naquele momento.
Aquela dança louca parecia que nunca iria acabar.
Até que senti que chegamos ao clímax e saiu de cima de mim.
Eu não acreditava no que acabávamos de fazer. Depois de tanto tempo que eu não sentia aquela sensação gostosa.
Olhamos um para o outro e sorriu. Eu nem quero imaginar a cara de idiota que estava naquele momento.
Coloquei minha cabeça sobre o peito dele e fechei os olhos.

~

Devia ser umas duas da manhã quando acordei. Vi que ainda dormia profundamente.
Levantei cuidadosamente e procurei minhas roupas no chão.
Vesti-as rapidamente e olhei para .
Estava arrependida do que acabara de fazer. Estava arrependida de ser tão fraca a ponto de me deixar ceder algo que eu prometera nunca mais fazer.
Abri a porta da sala de leitura e olhei mais uma vez para . Senti que mais algumas lágrimas iam cair e saí de lá.
Saí de sua casa fazendo o máximo de silêncio possível.
Andei algumas quadras e encontrei um táxi livre. Disse para o homem meu destino e sentei no bando de trás do carro fechando os olhos.
Queria esquecer aquilo. Queria esquecer tudo.


Capítulo XI. (Coloque para tocar: The Last Song Ever - Secondhand Serenade)

(’s POV)

Acordei sentindo um pouco da claridade do sol no rosto.
De repente, todas as imagens da noite anterior vieram à tona. Virei bruscamente e não vi .
Levantei amarrando a toalha em minha cintura.
- ? – chamei abrindo a porta da sala de leitura.
Não encontrei ninguém. Andei alguns passos até a sala de estar e vi o relógio, que marcava nove horas.
Ela estava com certeza na cafeteria nesse horário. Senti um sorriso besta em meu rosto quando pensei em cada detalhe da noite anterior.
Corri para as escadas e fui ao banheiro.
Queria ver . E mais que ver. E como!

~

Estacionei o carro em frente à cafeteria e desci colocando os óculos e o boné.
Entrei na cafeteria e logo encontrei atendendo um casal. Sentei em uma mesa e fiquei-a observando por um momento que ela não me olhava.
Juro que é impossível olhá-la da mesma forma depois do que aconteceu com a gente. Não estou apaixonado. Não é isso. Mas é que... Foi incrível, cara. Se é que você pode me entender.
Quando ela virou, nosso olhar se encontrou. Eu dei um sorriso de canto de boca e ela pareceu ficar surpresa em me ver ali.
- Bom dia, Sr. ! – Uma mulher apareceu na minha frente. Demorei um pouco para reconhecer quem era. – O que vai pedir?
Encontrei uma Vivian sarada e muito disposta à minha frente.
- Ah... Olá, Sra. Vivian, como vai a senhora?
- Melhor do que da última vez que nos vimos. – Ela sorriu. – O que vai pedir?
- Er... Um café e só.
- Apenas café? Não vai pedir Waffles? – Ela levantou o cenho.
- Hoje revolvi mudar um pouco.
Ela deu um largo sorriso e anotou o pedido, saindo.
Voltei a olhar para o lugar que estava, mas não a encontrei.
Achei estranho, mas cruzei os braços e fiquei olhando ao redor. Um rapaz entrou na cafeteria. Ele sentou em uma mesa em frente à minha. Vi sair de dentro da cozinha e caminhar em direção ao rapaz.
Ela nem sequer olhou para mim. Será que... Será que eu não dei conta do recado?
Eu não sou louco. Nem noiado. Mas eu vi aquele homem olhando para as pernas de .
- Pronto, Sr. , aqui está seu café. – Vivian chegou à minha mesa.
- Oh, obrigado. – Sorri.
- Qualquer coisa, pode chamar.
Ela saiu e eu fiquei observando caminhar até o balcão e seu olhar se encontrou com o meu novamente. E ela abaixou a cabeça.
Mas que diabos está acontecendo?

~

Vi saindo da Starbucks cobrindo o rosto. Realmente estava bem frio.
- Ei, psiu! – chamei-a. olhou para mim e levantou o cenho. – Vem cá.
- O que você está fazendo aqui? – ela perguntou olhando para os lados.
- Eu quero falar com você desde manhã – falei, puxando-a mais para perto.
- Pára, . – Ela me afastou e eu fiquei sem ação. – Eu... Quero que fique longe de mim. Eu quero que você não me procure mais.
Ela se virou e saiu caminhando.
Eu fiquei feito um “Zé mamão” parado. Observei-a atravessar a rua. O que aconteceu? Por que ela me tratou daquela forma? Será que ela não tinha gostado da noite? Se não foi isso, o que foi?

(’s POV) (Coloque para tocar: The Last Song Ever - Secondhand Serenade)

Tranquei a porta do apartamento e me encostei a ela. Senti algumas lágrimas caírem em meu rosto. Senti novamente aquele gosto amargo em minha boca. Eu sabia que não podia me envolver.
Sentei contra a porta chorando e colocando as mãos na cabeça feito uma louca.

I wish my life was this song, cause songs they never die
(Eu desejo que minha vida fosse esta canção, pois canções nunca morrem)
I could write for years and years and never have to cry
(Eu poderia escrever por anos e anos e nunca ter que chorar)
I'd show you how I feel, without saying a word
(Eu mostraria a você como eu sinto, sem dizer uma palavra)
I could wrap up both our hearts, I know this sounds absurd
(Eu poderia amarrar nossos corações, eu sei que parece absurdo)

Flasback On.

- Eu não sei se devo, Sra. ...

And I saw the tears on your face... I shot you down
(E eu vi as lágrimas em seu rosto… Eu acabei com você)
And I slammed the door but couldn't make a sound
(E eu bati a porta, mas não pude fazer barulho)
So please stay sweet, my dear... Don't hate me now
(Então, por favor, fique bem, minha querida... Não me odeie agora)
And I can't tell how this last song ends
(E não posso dizer como essa última canção termina)

- Fale logo, doutor, sem mais delongas...
- Isso vai ser difícil para você...

The way that I feel tonight, so down so down
(O modo como eu me sinto hoje à noite, tão pra baixo, tão pra baixo)
I pray I can swim just so I won't drown
(Eu rezo que posso nadar assim não me afogarei)
And the waves that crash over me... I gasping for air
(E as ondas que chocam em cima de mim... Eu respiro com dificuldade)
Take my hand so I can breath... As I write this last song down
(Segure minha mão para que eu possa respirar... Enquanto escrevo esta última canção)

- Desculpa, Sra. , falar isso para você... Mas você tem...

And I saw the tears on your face... I shot you down
(E eu vi as lágrimas em seu rosto... Eu acabei com você)
And I slammed the door but couldn't make a sound
(E eu bati a porta, mas não pude fazer barulho)
So please stay sweet my dear... Don't hate me now
(Então, por favor, fique bem, minha querida... Não me odeie agora)
And I can't tell how this last song ends
(E não posso dizer como essa última canção termina)

- Você tem AIDS, Sra. . Você tem o vírus do HIV.
Abri e fechei a boca. Não acreditava.

The broken glass, your moistened skin
(O vidro quebrado, sua pele umidecida)
Was everything... Was everything
(Era tudo... Era tudo)
Your broken voice... was quivering
(Sua voz rouca... estava tremendo)
Your everything... Your everything
(Seu tudo... Seu tudo...)
Scream at me, make it the best I ever heard
(Grite pra mim, faça isso o melhor que já ouvi)
Laugh out loud, I know it sounds absurd
(Ria alto, eu sei que parece absurdo)
Scream at me, make it the best I ever heard
(Grite pra mim, faça isso o melhor que já ouvi)
Your everything... Your everything
(Seu tudo... Seu tudo)
Heart beats slowing, pains are growing
(Coração bate devagar, dores estão crescendo)
Does she love you, that's worth knowing
(Ela te ama? Vale a pena saber...)

Flashback Off

Olhei para uma foto numa mesinha ao lado do sofá. Lá estava eu, Caio e . Eu devia ter uns sete anos de idade. me abraçava enquanto Caio sorria para a câmera.
Baixei a cabeça. Estava acabado. Eu havia cavado a própria cova. Eu havia me apaixonado por ele. Eu. Eu me iludi. APENAS EU.

Flasback On.

- Pára, ! Sai dessa sacada! – gritava chorando para mim.
- Não. Não, . Eu vou me jogar. Eu... Eu não posso mais viver assim.
- É claro que você pode viver. , pelo amor de Deus...
Olhei para , que me olhava desesperada.
- Eu vou morrer, . De qualquer forma...
- Não. Eu NÃO vou deixar você morrer. Ouviu bem?

Flashback Off

Olhei para a sacada da varanda do pequeno apê. Levantei e fui até lá.
Dessa vez ninguém estava ali. Eu estava sozinha. Em outro país.
Olhei para baixo. Estava no quinto andar. Era bem alto.
Respirei fundo e fechei os olhos...


Capítulo XII. (Coloque para tocar: Aerosmith - Fly Away From Here )

(’s POV)

Senti a luz quente do sol invadir meu quarto. Olhei para o lado e vi o relógio que marcava dez da manhã. Mas não estava com sono.
Levantei coçando a cabeça e fui ao banheiro.
Lembrei que era sábado e dia 15 de novembro. Aniversário do Juan, um amigo do . Ele havia me convidado para ir.
Lavei meu rosto e escovei os dentes.
Coloquei uma bermuda e fui para a Starbucks tomar meu café como de costume.
Chegando à cafeteria e estacionei o carro do outro lado da rua como sempre.
Entrei na Starbucks e meu olhar foi diretamente para o balcão.
Mas ela não estava lá. E não estava lá desde nossa última conversa.
Eu até pensei em ir ao seu apartamento, mas eu não tenho culpa. E estou fazendo o que ela me pediu. Não vou procurá-la. Não fiz isso e nem vou fazer agora.
Procurei uma mesa e sentei.
- Bom dia, senhor – ouvi e olhei para atendente. Vi Vivian sorrindo. – O que vai pedir?
- Ah... Bom dia, Sra. Vivian. – Sorri. – O de sempre.
Ela anotou o pedido e ia saindo quando perguntei:
- Er... E a Srta. . Ela... Ela não trabalha mais aqui?
Vivian olhou para mim.
- Er... Ela anda muito doente. Mas não sei bem o que ela tem. O que eu sei é que ela não está legal. Mas a irmã dela não fala mais nada.
- Hum... Obrigado.
Ela saiu e eu olhei para outros lugares da cafeteria. Vi um casal trocando carícias. A moça sorriu ao ouvi-lo dizer alguma coisa.
Fechei os olhos e abaixei a cabeça.

- OLHA O QUE VOCÊ FEZ!
- Me desculpa, senhor.
- VOCÊ NÃO VÊ ONDE COLOCA A MERDA DESSA SUA MÃO? OLHA COMO ESTÁ MINHA BLUSA!
- Me desculpe, Sr. , mas eu não tive culpa. O senhor...
- VOCÊ AINDA COLOCA A CULPA EM MIM?
- Não senhor, eu...
- SUA BURRA! VOCÊ VAI PAGAR. OU NÃO. ACHO QUE SEU SALÁRIO NÃO PAGA ISSO!

- Aqui está, Sr. . – Vivian trouxe a bandeja com o cappuccino e os waffles. – Bom apetite.
- Obrigado. – Sorri.
Olhei para ela se afastando e voltei a abaixar a cabeça.
Por que raios a não saia da minha cabeça? Acho que é por que Vivian disse que ela estava doente.
Mas como ela fica doente logo depois de ter dito para não procurá-la?

~

- Hey, . Tudo bom?
- Oi, . O está por aí?
- Tá sim, entra.
Entrei na casa de e . Tudo era muito arrumadinho e perfeitinho.
- E sua amiga? , né?
- Ah... É... Eu nunca mais a vi.
- Já deu um pé na bunda dela, ? Coisa feia.
- Não. – Ia dizer pelo contrário, mas apareceu na sala.
- Hey, , e aí?
- Fala aí, . Queria saber se vocês vão para a festa do Julian.
- Vamos sim. – apontou para o sofá. – Você vai, né?
- Ainda não sei...
- Vamos, . – sorriu. – Vai ser bom.
Balancei a cabeça.
- Eu vou lá na Lisa, volto em uma hora, . – Ela deu um selinho nele e saiu.
- Agora pode falar. – sorriu.
- Falar? O quê?
- Você não viria até aqui para perguntar sobre uma festa. O que foi que aconteceu?
Eu ri. me conhecia mais do que qualquer um.
- Na verdade, eu não vim aqui para falar isso. Tem uma coisa me incomodando sim.
Contei toda a história para , até o dia de hoje. Ele apenas ouvia.
- E foi isso – terminei.
respirou fundo.
- Você disse alguma coisa para ela que... talvez... sei lá, a deixasse chateada?
- Não! E é por isso, . Ela simplesmente se afastou. E simplesmente disse para não procurá-la.
- É óbvio que é porque você é famoso. Só pode ser por isso.
Balancei a cabeça.
- Mas você sente algo por essa garota, ?
- Não – falei automaticamente. – Nada.
- Então não se preocupe com isso. – Ele piscou. – Muitas vezes é doce delas mesmo.
Sorri.
- Hey, leva meu CD do Panic! hoje – pediu.
- Pode deixar.

~

Coloquei uma calça jeans e uma blusa xadrez. Penteei meu cabelo como sempre e me olhei no espelho.
Estava bem bonito. Aliás, eu sou bonito, mas estava bem mais que o normal.
Coloquei meu All Star e estava ótimo.
Peguei o CD do e saí de casa. Entrei no meu carro e dei a ré, peguando a pista.
Passei por algumas ruas e vi a de . Passei direto. Não queria mais me ligar a ela.

A casa de Juan era enorme, assim como sua festa.
Desci do carro e entrei pelo jardim.
- Fala aí, Dude! – falou ao me ver.
- Hey, .
Encontrei , Hall, James e Dave com a noiva.
- Hey, man, onde o está? – perguntei.
- Não sei, ele ainda não chegou, eu acho.
- Vou falar com Juan e procurar o para entregar o CD dele.
- Tá de boa, dude – falou.
Entrei no casarão do Juan procurando o aniversariante e o amigo dele.
Tinha uma banda cover que logo reconheci qual era. Do Aerosmith. (Coloque para tocar)

I’ve gotta find a way
(Você tem que encontrar um modo)
Yeah, I can't wait another day
(Sim, não posso esperar nem mais um dia)
Ain't nothin' gonna change
(Nada vai mudar)
If we stay around here
(Se ficarmos aqui)
I gotta do what it takes
(Tenho de fazer o que for necessário)
'Cuz it's all in our hands
(Pois está tudo em nossas mãos)
We all make mistakes
(Todos nós cometemos erros)
Yeah, but it's never too late to start again
(sim, mas nunca é tarde demais para começar de novo)
Take another breath
(Para respirar de novo)
And say another prayer
(E dizer mais uma prece)

Olhei para o carinha que cantava a música. Ouvi a letra que tanto conhecia.

And fly away from here
(Então voar para longe daqui)
Anywhere
(Qualquer lugar)
Yeah, I don't care
(Sim, não importa)
We just fly away from here
(Iremos simplesmente voar pra longe daqui)
Our hopes and dreams
(Nossas esperanças e sonhos)
Are out there somewhere
(Estão em algum lugar por aí)
Won't let time pass us by
(Não vou permitir que o tempo nos deixe para trás)
We'll just fly
(Simplesmente voaremos)

Pensei em , pensei em como ela deveria está nesse momento.
If this life
(Se esta vida)
Gets any harder now
(Ficar ainda mais difícil)
It ain't no, never mind
(Não vai ficar, deixe para lá)
You got me by your side
(Você me tem ao seu lado)
And anytime you want
(E a qualquer momento que queira)
Yeah we catch a train and find a better place
(Sim, podemos pegar um trem e achar um lugar melhor)
Yeah, 'cause we won't let nothin'
(Sim, pois não vamos deixar nada)
Or no one keep gettin' us down
(Nem ninguém nos pôr para baixo)
Maybe you and I
(Talvez eu e você)
Can pack our bags and hit the sky
(Possamos fazer as malas e ir para o céu)

Corri por entre os convidados desviando de todos.

And fly away from here
(Então voar para longe daqui)
Anywhere
(Qualquer lugar)
Yeah, I don't care
(Sim, não importa)
We just fly away from here
(Iremos simplesmente voar pra longe daqui)
Our hopes and dreams
(Nossas esperanças e sonhos)
Are out there somewhere
(Estão em algum lugar por aí)
Won't let time pass us by
(Não vou permitir que o tempo nos deixe para trás)
We'll just fly
(Simplesmente voaremos)

- , o quê...
- Depois, Dave! – falei passando por ele.

Do you see a blue sky now
(Você vê um céu azul agora?)
You can have a better life now
(Você pode ter uma vida melhor agora)
Open your eyes
(Abra os seus olhos)
'Cuz no one here can ever stop us
(Pois ninguém aqui pode nos impedir)
They can try but we won't let them
(Podem até tentar, mas não vamos deixar)
No way-ay-ay-ay-yeah-ah
(De jeito nenhum)

Cheguei ao carro e o abri rapidamente.

Maybe you and I
(Talvez eu e você)
Can pack our bags and say goodbye
(Possamos fazer as malas e dizer adeus)

Não ia deixar nada acontecer com ela,

And fly away from here
(Então voar para longe daqui)
Anywhere
(Qualquer lugar)
Yeah, I don't care
(Sim, não importa)
We just fly away from here
(Iremos simplesmente voar pra longe daqui)
Our hopes and dreams
(Nossas esperanças e sonhos)
Are out there somewhere
(Estão em algum lugar por aí)
Won't let time pass us by
(Não vou permitir que o tempo nos deixe para trás)
We'll just fly
(Simplesmente voaremos)

Dei a ré no carro.
We'll just fly
(Simplesmente voaremos)

Ia vê-la. Ia sim.


Capítulo XIII.

Ali estava eu. Parado em frente ao prédio onde morava. A luz de seu apartamento estava desligada. Hesitei um pouco antes de apertar o botão interfone, mas criei coragem e apertei.
Esperei alguns segundos e nada. Apertei-o novamente e nada aconteceu. Ela não devia está em casa. (n/a: Não sei por que, mas a música Love Story da Taylor Swift combina com essa cena).
Ia desistir quando vi a luz do seu apartamento acender. Segundos depois, alguém sussurrava no interfone.
- Alô?
Meu coração foi a mil. Eu realmente não sabia o que fazia ali. Nem o que dizer. Ela estava ali, ela havia falado.
Me aproximei do interfone e, um pouco mais alto que o sussurro, eu disse:
- ?
O interfone ficou mudo. Por um minuto eu pensei que estivesse desligado.
- Quem fala? – ouvi uma voz um pouco mais alta, mas ainda estava baixa.
- Sou eu, , . Será que podíamos... conversar?
Novamente o silêncio, só que dessa vez mais longo.
- Eu não acho uma boa idéia – ela finalmente falou.
- Por favor, , eu não estaria aqui se não fosse uma boa idéia.
Eu a ouvi inspirar uma boa quantidade de ar do outro lado.
- Eu estou descendo.
Ela desligou o interfone e uma ponta de esperança acendeu em mim. Eu não sei explicar bem. Eu não amo , nem algo do tipo, mas... mas não posso mentir que ela meche comigo de uma forma muito estranha.
De repente, minhas mãos suaram frias, minha respiração falhou e meu coração começou a acelerar quando eu a vi abrindo a porta do pequeno prédio. Havia me esquecido da forma que exercia sobre mim. Eu sentia algo forte por ela, sentia sim. Eu só não sei explicar.
- Boa noite – falei sorrindo um pouco, colocando as mãos nos bolsos e baixando a cabeça.
- Boa noite... – ela disse fria, seca, diferente daquela moça que eu um dia havia conhecido.
- Eu... – Caminhei uma pouco em direção a ela ainda com as mãos no bolso e eu a vi se afastar um pouco de mim. Parei de andar imediatamente. Não queria assustá-la de forma alguma. – Queria saber como você está.
- Eu estou bem. Não precisa se preocupar.
- Tem certeza? Eu... Eu fiquei sabendo que você estava doente.
Ela apenas balançou a cabeça. Tive a impressão de que ela não queria falar ou iria chorar.
- , me explica o que está acontecendo. Por que você não quer me ver? Não quer... – apontei para chão e com o dedo apontando até ela – se aproximar de mim?
- , não torne as coisas mais difíceis do que estão. Simplesmente esqueça que eu existo. E assim vai ficar tudo bem.
- Eu só me esqueço de uma pessoa quando ela faz muito mal para mim. E você de forma alguma faz mal para mim.
Ela fechou os olhos e parecia que ia chorar. Mas novamente ela abriu os olhos e eu só pude ver seu olho lacrimejando.
- ... – Caminhei devagar em sua direção, porém dessa vez ela não se afastou. – O que você tem?
Cheguei mais perto. Seus olhos fecharam-se quando ela sentiu meu dedo passando por seu rosto.
- O que você tem? – perguntei mais uma vez, só que um pouco mais baixo. – Me diz.
Dessa vez ela pareceu não aguentar e começou a chorar em voz baixa. Eu a trouxe um pouco para mim e a abracei. Enquanto ela chorava em meu peito, eu acariciava sua cabeça sem saber muito como agir.
Meu pensamento só dizia coisas como: “Tente fazê-la parar!”, “Que tipo de homem você é?”, “Ande, você não gosta de vê-la chorar!”, “Faça alguma coisa AGORA!”...
Eu, obedecendo meus instintos, com meus dedos levantei um pouco a cabeça de e nossas bocas ficaram muito próximas uma da outra.
Podia sentir a respiração de e de uma hora para outra a minha respiração começou a falhar.
Colei nossos lábios de uma forma carinhosa. Eu precisava de e, naquele momento, eu podia sentir que ela também precisava de mim.
Lentamente os lábios de abriram e eu dei passagem com minha língua, dando-lhe realmente um beijo.
Uma de minhas mãos segurou firme sua nuca e a outra foi para sua cintura. Ela, por sua vez, passou os braços ao redor do meu pescoço aprofundando cada vez mais o beijo.
Senti seu corpo amolecer a ponto de eu ter que segurá-la um pouco.
As diferentes sensações que senti antes não se comparavam a desse exato momento. Ao que eu sentia quando beijava . A quando eu a sentia puxando meus cabelos, fazendo com que eu ficasse todo arrepiado.
Será que o que eu sentia nesse exato momento era amor?
Puxei-a mais para mim, colando mais (se é que era possível) nossos lábios. Era entrega, era emoção... Eu sentia todo tipo de sensação naquele momento.
Nossos lábios se descolaram e fui ao seu ouvido e disse:
- Não me peça para me afastar. Eu acho não serei capaz de fazer isso.
Eu a vi se arrepiar e dei um breve sorriso procurando novamente sua boca. Colamos nossa boca novamente, porém o beijo não era mais calmo e sereno, era algo mais como desejo.
Eu desejava , naquele exato momento era a única coisa que tinha certeza. Mais uma vez desgrudamos nossos lábios ela falou:
- Nesse exato momento eu não pediria nunca para se afastar de mim.
Eu a puxei para dentro do prédio e fechando a porta da portaria. Deitei-a em um pequeno sofá no pequeno Hall.
Ainda nos beijávamos muito. Mais uma vez desgrudei nossos lábios e ela automaticamente soltou:
- Eu te amo.
Olhei para ela que estava de olhos fechados. Abri um largo sorriso, ou um sorriso bobo, não sei bem o que eu fiz, mas voltei a beijá-la e coloquei minhas mãos por debaixo de sua blusa, ou seria camisolinha?
Não sei, só sei que com um só movimento tirei todo aquele pano que estava sobre .
- , aqui... , aqui não – ela pediu ao dar conta de onde estávamos.
Calei-a com um beijo. Não teria problema algum aquele lugar. Era mais de duas da manhã, não havia ninguém que pudesse entrar naquele prédio naquele horário.
De repente ela passou as mãos pela barra de minha blusa e começou a desabotoá-la. Ainda nos beijávamos de forma um pouco bruta.
livrou-se de minha blusa e começou a passar as mãos pelas minhas costas. Senti um arrepio ao sentir sua unha roçar em uma cicatriz que tinha em minha coluna.
Resolvi me preocupar mais com a parte de cima de sua lingerie preta.
Beijei seu pescoço, fazendo um caminho até sua barriga, que, ao tocar minha boca, contraiu-se, e eu pude vê-la sorrindo. Sorri de volta e voltei a beijar sua boca passando minhas mãos por debaixo de si, pegando o pequeno feixe de seu sutiã e abrindo-o.
Joguei o sutiã preto para longe e sorri para ela.
- Devemos parar com essa loucura – ela falou com a voz falha, mas não senti firmeza em sua voz.
Resolvi provocá-la. Fui até seu ouvido e sussurrei:
- Você quer mesmo parar?
Eu a vi se arrepiar e uma voz falha falar:
- Não, não pare. Por favor!
Sorri e voltei a olhá-la.
Voltei a beijar seu pescoço e eu a vi um pouco mais tensa.
- Relaxa, . Eu não vou te machucar.
Segurei os ânimos e comecei a beijar por entre seus seios e toda região do abdômen. Finalmente eu pude vê-la relaxar e curtir o momento.
Suas mãos passaram pela barra da minha calça e eu a vi desabotoando e abrindo o feixe da mesma.
Sorri vendo que ela não havia voltado atrás. Eu não via nenhuma loucura no que estávamos fazendo. Eu queria vê-la feliz. E aquilo a fazia feliz.
Como num passe de mágica, a calça jeans estava no chão e estávamos finalmente justos um com o outro.
Beijei um de seus seios fazendo pressão com minha mão no outro. Via se contorcer toda.
Eu não queria muito correr realmente o risco de que alguém entrasse por aquela portaria e nos visse em tal situação.
Seria muito chato, principalmente para .
Beijei sua boca e falei:
- Não quero que ninguém nos pegue.
- Então vem comigo!
Ela segurou minhas mãos e pegou algumas roupas espalhadas pelo chão. Subimos as escadas rindo como se aquela “parada” não tivesse afetado nenhum de nós dois.
Ela abriu a porta do seu apartamento e depois a fechou. Eu a encostei à porta e beijei seu pescoço, suspendendo-a do chão.
- Cadê seu irmão? – perguntei em seu ouvido.
- Na casa da namorada. Estamos sozinhos.
- Ótimo! – falei beijando sua boca novamente.
Ela enlaçou minha cintura com as pernas e eu a levei para um dos quartos. Não sabia qual era o dela, mas eu acertei assim que entrei em um. O quarto era impregnado pelo cheiro doce de .
Deitei-a na cama e fiquei por cima dela. Finalmente ela pegou a barra da minha boxer e, com seus pés, abaixou-a totalmente. Sorri ao vê-la que ela queria aquilo tanto quanto eu.
- Eu queria isso desde quando mandei você não me procurar.
- E eu desde quando te tratei mal.
O quarto era iluminado apenas pela luz da lua. Eu via apenas o rosto de e seus olhos brilhando. Novamente senti aquela sensação de que eu sentia algo mais forte. Que aquilo era amor.
Ela, num movimento brusco, me virou na cama e ficou por cima de mim.
sorriu olhando para meu sexo.
- O que foi? Te decepcionei? – perguntei rindo. –Porque eu acho que é isso o que te fez se afastar de mim.
- Nunca vai ser isso.
Então ela beijou-o com ternura e eu virei minha cabeça para trás sentindo todo o prazer possível e me segurando para não tirá-la dali e penetrá-la. Se ela queria aquilo, era aquilo que ela teria.
Senti sua língua lentamente passar por toda aquela parte e depois sua boca entrou em mim. Senti um arrepio na espinha e ao mesmo tempo um prazer indefinível.
Automaticamente, minha mão foi a sua cabeça e comecei a incentivá-la ir mais rápido e mais forte.
Quando não aguentava mais, procurei a camisinha. Mas havia esquecido que havia ficado na calça. E na sala.
- Droga, a camisinha.
- Não se preocupe. – sorriu mostrando uma camisinha para ele.
- Mas como...
- Eu tinha na cômoda.
Sorri, peguei a camisinha e beijei a testa de . Coloquei a camisinha cuidadosamente e deitei-a, tirando sua calcinha.
Com uma força fora do normal, penetrei .
Sentia um prazer fora do normal. Ouvia gemendo a cada investida que eu dava. Ora devagar, oras rápida e definida.
Dentre vários murmúrios, eu pude ouvir apenas um: “Eu te amo”.
Aquilo me fazia bem, tanto que quando eu ouvi, eu investi mais forte nela.
Até que eu ouvi um gemido que mais parecia um grito e chegamos ao ápice juntos.
Deixei meu corpo cair ao lado de e sorrimos um para o outro.
Beijei-a com ternura e a abracei.
- Eu... Eu acho que falei besteira. Duas vezes – disse meio que sorrindo olhando para a sombra de uma árvore.
- O quê? – perguntei fingindo que não tinha ouvido.
- Nada – ela desconversou.
Passamos um tempo em silêncio.
- ?
- Oi?
- O que você disse é verdade?
- Sobre?
- Você sabe...
Ela inspirou fundo.
- É, eu acho que é verdade sim. Mas por quê?
- Bom, é porque eu também acho que...


Capítulo XIV.

A música dos Beatles começou a ecoar pela casa. Era meu irritante celular, que só tocava na hora errada.
- Deve estar na sala. – sorriu.
- Eu vou lá buscar – falei com uma voz um pouco rouca.
Me enrolei em um lençol e fui em busca ao maldito celular que tocava insistentemente. Achei-o, por incrível que pareça, em cima do sofá.
Nem olhei no visor e atendi:
- Que é?
- man, cadê tu? Estamos te esperando faz um tempão.
Era , como sempre bêbado.
- , vai procurar o que fazer e me deixa em paz, vai!
Desliguei o celular e, de repente, começou a tocar de novo. Dessa vez li e vi que era o celular do .
- O que é, , será que não posso ter paz?
- Eu quero saber se você foi abduzido. Ficou de aparecer na festa e nem...
- Eu fui aí, okay? Mas não te vi, agora se me der licença, eu tenho mais o que fazer. Obrigado.
Desliguei o celular sem ao menos deixar o pobre se explicar. Mas estava com raiva. Será que nem quatro horas da manhã esse povo me deixa em paz?
Voltei para o quarto e encontrei uma cena que eu não era muito acostumado a ver. dormindo. E dormia como um anjo.
Deitei lentamente ao seu lado para não acordá-la, mas não pareceu adiantar muita coisa. Ela acordou e sorriu.
- Eu cochilei...
- Tudo bem, volte a dormir. Eu acho que também vou fazer isso. – Sorri beijando sua testa e abraçando-a.
Ela logo dormiu e, aos poucos, o sono foi me vencendo, até eu dormir completamente.

~

Acordei sentindo o sol invadir o quarto. Por um momento, esqueci onde estava, mas ao olhar para o lado, vi dormindo.
Ela dormia profundamente e eu me perdi olhando-a.
Eu sentia algo especial por , mas agora pensando bem... Não era amor. Amor é algo forte, e acredito que se constrói com o tempo. Não acho que eu seria capaz de amar alguém, não com minha idade.
Mas eu sentia algo por , não posso mentir para mim mesmo.
De repente, ouvi a porta do apartamento se abrir e uma voz chamar:
- ?
Corri imediatamente para fechar a porta.
Agora pensando, não lembramos de fechar a porta em momento algum. Mas pra quem ia fazer na portaria, não ia se importar em fechar a porta.
- O que foi, ? – perguntou, sentando na cama com uma carinha amassada, passando uma mão nos olhos.
- Alguém chegou.
- ? – Ouvimos mais uma vez.
- Ah... É meu irmão Caio. – sorriu. – Não se preocupe com ele.
- Não me preocupar? Como assim? Olha a situação que estamos! – falei um pouco nervoso.
- Calma, . – Ela, rindo, levantou da cama, foi à porta e a abriu, deixando aparecer apenas sua cabeça. – Caio?
- Hey, não me ouviu?
- Não, eu estava dormindo.
- Ah certo, olha... Eu vim pegar muda de roupa, estou saindo pra viajar. Você quer...
- Não, obrigada. Divirta-se em...
- Liverpool. Eu vou para Liverpool.
- Okay, divirta-se em Liverpool.
Ela ficou um tempinho olhando e depois voltou ao quarto sorrindo para mim.
- Prontinho. Ele foi a Liverpool.

’s POV

Eu desisto. Simplesmente desisto de tentar me afastar de . O que eu consegui longe dele foi só tristeza. Apenas isso.
Eu tentei evitar de tudo quando foi forma. Mas ele estava ali. Inteiro me querendo. E cada célula do meu corpo gritava por ele. Cada célula do meu corpo simplesmente implorava por ele.
Eu estou farta de fugir disso, de fugir de mim mesma. Eu tenho AIDS, eu vou morrer de qualquer forma. Ao menos eu quero morrer feliz.
È claro que não quero passar nenhum tipo de doença pra ele e nem para ninguém.
Eu o amo, e, por amá-lo, eu deveria sumir. Mas eu não posso. Eu não sou capaz e nem forte o suficiente para fazer isso.
Eu amo .
Com todos seus defeitos, seus problemas e sua fama. Eu o amo como pessoa. Como ele é exatamente.
Sorri de canto de boca ao olhá-lo novamente ao me virar para ele.
- Eu desisto – falei.
- De quê? – Ele me olhou sem entender.
- De tentar me afastar de você. Simplesmente... Desisto.
Ele sorriu e veio até mim.
- Eu desisto de entender o que estou sentindo – ele falou próxima a minha boca, depois mordeu meu lábio inferior e em seguida me deu um beijo.
- Eu perdi uma viagem para Liverpool. Espero que esteja satisfeito.
- Tenho certeza que vamos nos divertir mais aqui!

~

Passava os créditos finais do filme Crepúsculo quando levantei do tapete. Passamos a tarde toda nisso: filme, pipoca e beijinhos. É, eu estava oficialmente ficando com .
- Vai aonde? – segurou minha perna.
- Vou colocar a vasilha de pipoca na pia. – Sorri.
Fui à cozinha e coloquei a vasilha de pipoca na pia. Peguei a esponja e comecei a lavar a pouca louça que havia ali.
- O que você está fazendo? – ouvi uma voz atrás de mim que me arrepiou completamente.
- Lavando a louça – falei indiferente.
- É, isso eu sei. Mas por quê?
- Porque a empregada morreu – falei rindo.
- Sério? – ele perguntou e eu olhei para ele incrédula.
- Não! – falei rindo
- Ah, você fala assim. Eu acredito no que você fala.
Eu comecei a rir.
- Hey... – olhou para o relógio. – Nossa... Eu tenho que ir. Eu tenho uma reunião hoje à noite com os meninos.
- Pode ir. – Sorri.
- Eu posso ir sem o medo de você bater a porta na minha cara amanhã?
Sorri.
- Pode ir sem medo. De verdade.
Ele se aproximou de mim e eu pude sentir meu corpo amolecer quando nossa respiração ficou uma perto da outro. Eu ficava daquele jeito quando estava perto dele.
Uma de suas mãos passou pelo meu rosto e nos olhamos nos olhos. Fechei os olhos tentando curtir o momento.
Sua boca encostou-se à minha ternamente. Uma espécie de corrente elétrica passou pelo meu corpo. Abri lentamente minha boca para ele passar com um beijo.
Ele me apertou mais contra si e eu passei meus braços ao redor de seu pescoço.
Ao cortamos o beijo com selinhos, sorri.
- Vamos, eu te deixo lá embaixo.
Saímos do meu apartamento e descemos as escadas.
Deixei-o na portaria e, depois de mais um beijo de tirar o fôlego, ele foi para seu carro.
Subi as escadas cantarolando. Parecia uma adolescente.
Mas daí apareceu o remorso. A culpa. Eu não devia ter deixado chegar tão longe.
Mas resolvi expulsar isso por hora, faria isso antes de dormir para encharcar meu travesseiro.
Estava alegre. É, alegre. Mas minha consciência me dizia que eu tinha que me afastar de . E eu sabia que ela estava certa.

~

- Droga! – falei abrindo a porta novamente. – Os óculos!
Fui ao quarto e peguei os óculos em cima da cabeceira. Saí do apê em direção a estação do metrô. Retomaria as aulas do cursinho.
Estava a uma semana do natal e não sabia onde iria passar. Nesse tempo eu também estava ficando com . Eu sabia que estava errando com ele.
Quando ia entrar na estação, meu celular começou a tocar e li o nome no visor.
- Oi, .
- Oi, . Você está onde? Está barulhento.
- Ah... Estou na entrada do metrô. Indo para o cursinho.
- Ah é... Esqueci que você tinha voltado pro cursinho.
- Pois é. , eu tenho que desligar, senão perco o metrô.
- Oh sim... Okay. Mas eu queria perguntar se você viria para o natal aqui em casa na semana que vem?
- Como assim? Você está me convidando?
- É, é um convite.
- Então tá. – Ri.
- Ah... E sei lá... A gente podia sair hoje? E te pegava depois da aula. O que acha?
- Certo – falei animada. – Saio às dez.
- Certo. Tchau.
- Tchau, .
Entrei na estação e fui para o cursinho.
Sinceramente, o curso não servia de nada. Tudo era igual. Eu não precisava mais dele. Porém, iria terminar todas as aulas.
Era final de aula e eu comecei lentamente a guardar todos os livros e materiais na bolsa.
- Er... Oi, . – Olhei para o lado e vi Victor, um americano muito simpático que costumava me ajudar a recuperar algumas matérias.
- Ah... Oi, Victor.
- Você passou muito tempo sem aparecer. Pensei que tinha saído.
- Ah, é... – Comecei a rir. - Tive uns probleminhas chatos, mas todos já resolvidos.
- Se você quisesse, eu podia te entregar todas as matérias que você perdeu.
- Sério? Nossa... – falei animada. – Você faria isso por mim?
- Claro, eu só separo e deixo na sua casa já que aqui vai entrar em recesso.
- Nossa, você é minha salvação, cara. Juro – falei sincera.
Ele sorriu e fomos conversando até a saída do cursinho.
- Você quer carona?
- Não – falei olhando para o carro do , que acabara de estacionar na entrada. – Minha carona chegou.
- Então tá. Eu deixo o material para você.
- Você é um anjo. Valeu.
Entrei no carro e olhei para , que olhava para frente.
- Hey, tudo bem? – perguntei sorrindo.
- Tudo – ele disse seco.
- Aconteceu alguma coisa?
- Já disse que está tudo bem! – ele disse um pouco mais alto que o normal e impaciente acelerando o carro.
Ficamos em silêncio até quebrá-lo com a pergunta:
- Quem era ele?
- Quem? O Victor?
- O nome dele é Victor? Bom saber.
- Ele é um amigo de sala. Vai me ajudar com as matérias que perdi.
- Ele vai te dar aula também?
- O quê? Por que ele faria isso?
- “Eu deixo o material pra você!” – ele imitou Victor. – Ah... E esqueci do: “Você é um anjo”.
- O quê? , você está louco?
- Não, não estou. Mas é que... Será que você não percebe?
- Não, . Será que VOCÊ não percebe que VOCÊ está sendo RIDÍCULO?
- Ora, me poupe, !
- Me poupe você, ! Eu não propriedade sua, okay? Eu estou ficando com você. Ou seja, sem compromisso.
Ele me olhou com cara fechada.
- Para esse carro, ! – falei com raiva. - Para esse carro agora que eu vou descer.
- Não seja patética.
- PARA A PORRA DESSE CARRO! – gritei e ele freou bruscamente.
- Agora fala, você vai descer aqui? – ele perguntou irônico.
- Vou – falei tirando o cinto de segurança, abrindo a porta e saindo.
- Ei, ei, ei... Você vai voltar pra casa como?
- Não sei. Andando?
Me afastei do carro.
- , não seja ridícula.
- Não seja VOCÊ ridículo. Crises de ciúmes? Porra. Que direito você tem?
- Será que você não percebe que NÃO é isso? Droga! Entra nesse carro agora!
- Olha aqui, , você não manda em mim.
A avenida estava deserta e vinha um caminhão. Ia pedir carona quando pegou em minha cintura e eu estremeci ao ouvir a voz dele um pouco mais baixa e ao pé do ouvido.
- Volta para o carro, por favor. Você não quer fazer essa loucura e eu não vou deixar você fazer isso.
Olhei séria para ele e bufei. Eu praticamente joguei sua mão para longe de mim e voltei para o carro.
- Você quer jantar?
- Não – falei sem olhar para ele.
No caminho não trocamos uma palavra.
- , eu...
- Até quarta, – falei saindo do carro sem olhar pra ele.
Entrei no prédio com raiva e comecei a subir as escadas bufando.
- Chegou cedo? – Caio perguntou a me ver entrando no apê.
- Aham... – falei indo em direção ao quarto.
- Não vai jantar?
- Tô sem fome – falei batendo a porta do quarto.
Tirei o casaco de frio e amarrei o cabelo num coque. De repente, o celular começou a tocar e olhei para o nome que aparecia no aparelho: .
- Vai ficar tocando – falei olhando para o aparelho.
A musiquinha parou de tocar e minutos depois Caio bateu na porta do quarto.
- , está no telefone.
- Diz que morri.
- ...
- Eu não quero atender. Dá licença? – falei saindo do quarto e indo ao banheiro.
Tomei um banho rápido e coloquei minha roupa de dormir.
- Quer conversar? – Caio falou escorado na porta do quarto.
- Não.
- Tem certeza?
- Absoluta.
- Bom, eu não gosto de te ver assim.
- Boa noite, Caio – falei, deitando-me na cama. Ele respirou fundo e saiu, fechando a porta. Quando ele sumiu, eu sentei na cama e liguei o abajur.
Meu celular tocou novamente e li no visor o nome de novo. Não atendi novamente.
Finalmente o celular parou de tocar e eu me deitei irritada. Novamente o celular vibrou e eu vi que era mensagem.

Eu queria falar com você, mas você não me atende. Vamos esquecer isso? Por favor? . xx

Digitei rapidamente:

Tchau . . xx

O celular tocou novamente e eu passei meus dedos pelas teclas e resolvi atender.

- O que é?


Capítulo XV.

Ouvi o pior silêncio da minha vida. Achei que havia desligado o celular.
- Você pode me ouvir sem desligar o telefone? – ouvi uma voz baixa do outro lado o telefone.
- Você tem cinco minutos – falei seca.
- Vou ver o que posso fazer com cinco minutos.
- Agora é quatro.
- Mas jáááá? AAAH, é injusto! – ele quase gritou do outro lado e eu engoli o riso.
- Agora é três.
- O que eu quero falar leva mais que três minutos.
O silêncio predominou novamente e eu comecei a ficar incomodada.
- , me desculpe pelo que eu fiz, pelo que disse. Eu juro que não vai acontecer novamente.
- Não, não vai.
- Não, não vai. Eu juro que não.
Respirei fundo.
- Você falando daquele jeito me lembrou daquele dia na cafeteria.
O silêncio apareceu novamente.
- , quero que saiba que estamos ficando. Apenas isso.
- Aquilo não foi ciúme.
- Sendo ou não, eu não quero que aconteça novamente.
Silêncio novamente.
- Passou os três minutos?
- É, passou. – Sorri.
- E você vai desligar?
- Não sei... Você quer que eu...
- Não, não quero. – Ele riu. – Vai na varanda.
- Pra quê?
- Vai lá! E não desliga o telefone.
Abri a porta do quarto e vi o corredor escuro. Caio já estava em seu quarto, provavelmente no computador. Pé a pé cheguei à sala.
- Tá aí? – ouvi-o perguntar.
- Aham... – falei rindo. – Pareço uma adolescente.
Ele também riu do outro lado.
estava escorado em seu carro do outro lado da rua com o celular no ouvido.
- Surpresa?
Comecei a rir e me apoiei em uma espécie de bancada.
- O que faz aí?
- Eu não ia pra casa sem te pedir desculpas.
Estreitei os olhos.
- Me desculpa?
- Mais o quê?
- Por que eu sou idiota?
- E...
- Imbecil?
- E...
- Impaciente?
- E...
- Ah, , por favor!
- Tá bom, tá bom – falei rindo.
- Desce?
- Pra quê?
- Pra gente conversar.
- Eu não sei se devo.
- Claro que deve. Desce logo. Por favor.
Comecei a rir.
- Espera um minuto que eu já desço.
Desliguei o celular e corri para as escadas.
Abri o portão e fui surpreendida pela pegada de .
Ele segurou minha cintura com força e uma de suas mãos passou por dentro da minha blusinha branca pequena que usava apenas para dormir.
Nosso beijo se intensificava à medida que eu puxava sua nuca para perto de mim.
me empurrou para dentro do prédio, beijando toda a parte do meu pescoço. Sentia um arrepio até na espinha.
- ...
- Hã?
- Até semana que vem. – Empurrei-o.
- O quê?
- Tchau, – falei rindo.
- Ah não. Não faz isso comigo!
- Quarta-feira. – Pisquei para ele.
- ... – ele falou fazendo uma cara de dor.
Me aproximei e dei-o um selinho.
- Me desculpa – falei, abraçando-o.
- Pelo quê? – ele perguntou rindo. – Você está me fazendo tão bem...
Respirei fundo. Estava louca por querer fazer aquilo. Por querer contar tudo ao . Por querer acabar com tudo de bom na minha vida por ter que contá-lo. Se eu não contasse para ele estaria sendo injusta? Desonesta? Mas é tão injusto assim querer ser feliz? Querer que alguém me amasse de verdade?
- O que foi, ? Algum problema?
- , eu...
O celular do começou a tocar insistentemente. Ele me olhou com cara de desculpa.
- Pode atender. – Sorri. – Deve ser importante.
- Desculpa. Alô?
Eu fiquei o observando enquanto ele falava algumas coisas no telefone.
Ele desligou e me olhou.
- Você ia me dizer alguma coisa?
- Não se preocupe. Era pra dar boa noite.
Ele respirou fundo.
- Eu venho te buscar, tá?
- Okay. – Sorri.
me beijou ternamente antes de sair do prédio. Eu, por minha vez, sentei no sofá pequeno e coloquei minhas mãos na cabeça.
Eu iria contar. Sério. Se aquele maldito celular não tocasse na hora. Eu iria contar tudo ao . E acabaria com tudo isso.
Mas contaria no Natal. Exatamente no Natal. Eu não deixaria isso, essa verdade tão dura, escondida para sempre.

~

- Você está linda – falou enquanto eu olhava meu reflexo no espelho.
Usava um vestido branco bem acinturado. Meu cabelo estava preso para cima e eu usava uma sandália preta com detalhes prata.
Olhei para e suspirei, sentando na cama.
- O que foi, ?
- Eu vou contar para o . Hoje.
Ela me olhou sem demonstrar nenhuma opinião no momento.
- Você está preparada para isso? Para enfrentar um possível “não”?
- Não. Eu não estou preparada. Eu nunca estaria. Mas... Mas não vou continuar com toda essa mentira. Essa farsa. Não é justo com ele.
- Estou do seu lado, . Sério. Eu amo você e estou aqui para tudo.
- Eu sei. Eu só tenho... Tenho medo da rejeição.
- Não se preocupe com isso.
A buzina ecoou lá fora.
- Vai lá. – deu um sorriso. – Eu deixei os resultados dos últimos exames em cima da mesa, okay?
- Tá certo. Obrigada, anjo! – Beijei sua bochecha.
Peguei as sacolas de presentes e saí do apartamento.
Desci as escadas colocando meus óculos. Ao abrir a porta, vi escorado em seu carro preto. Ele estava particularmente lindo naquele dia. Usava uma blusa branca de mangas compridas, uma calça jeans e um tênis. Suas mãos estavam no bolso da calça. Quando seu olhar encontrou o meu, ele abriu um largo sorriso e eu perdi o fôlego. Meu coração começou a apertar ao imaginar que teria que encará-lo e contar tudo.
- Boa noite – ele falou, e eu não pude evitar o sorriso bobo que surgiu em meus lábios.
- Boa noite. – Sorri.
Ele aproximou-se de mim e suas mãos acariciaram meu rosto. Apenas fechei os olhos. Senti uma espécie de arrepio na espinha ao sentir seus lábios encostarem aos meus.
Sua língua passou pedindo passagem para um beijo longo e eu imediatamente o atendi. Puxei sua nuca e suas mãos seguraram firmes em minha cintura.
Deus, como ia contar tudo aquilo a ele? Como?
- Será que os dois pombinhos podem se apressar aí? – ouvi uma voz e logo me afastei de . Vi rindo feliz. Ele estava dentro do carro de , na parte de trás.
- Ah... – Corei de vergonha na mesma hora. – Oi.
- Oi, ! Você tá bonita! – sorriu.
- Epa, epa! Tira os olhos dela! – falou pousando de sério. – Então vamos, , senão a boneca vai abortar!
abriu a porta do carro para mim. E mais uma vez o plano de contar tudo a foi por água abaixo, pelo menos até o momento.
- E aí, , beleza?
- Beleza, mano! - falei rindo.
entrou do outro lado, no banco do motorista, e falou:
- Próxima parada? Casa do Papai Noel!
Comecei a rir quando e começaram a cantar músicas de natal.

Silent night, holy night
All is calm, all is bright
Round young virgin, mother and child
Holy infant, so tender and mild
Sleep in heavenly peace, sleep in heavenly peace

quase gritava e tapei os ouvidos.

Lent night, holy night
Shepherds quake at the sight
Glories stream from heaven afar
Heavenly hosts sing, "Hallelujah"
Christ the Saviour is born, Christ the Saviour is born

- Seus loucos! – gritei.
- Canta também, ! – sorriu.
- Claro que não!

Silent night, holy night
Son of God love's pure light
Radiant beams from Thy holy face
With the dawn of redeeming grace

- Já terminou? – perguntei.
- Não! – falou rindo e completou:
- Jesus Lord at Thy birth, Jesus Lord at Thy birthhhhhhhhhh!
Ri a cara do . Ele me olhava quando terminou.
- Okay, agora terminou.
- Ainda bem!
Chegamos à casa de e desceu bem na porta.
- Vou avisar pra galera que vocês chegaram.
- Okay.
Eu e fomos até o estacionamento de dentro de casa.
A casa de estava lotada. Tinha gente de todo lugar. Ao descer do carro, olhei apreensiva para o .
Ele sorriu e deu a volta no carro, segurando em minha mão.
- Você não precisa ficar com medo de nada disso.
- Eu não estou com medo. – Ele estreitou os olhos. – Tá, tô um pouco mesmo.
Ele riu e andamos até o jardim de sua casa.
- Quanta gente. – Sorri.
- Se tiver sorte, você pode encontrar Orlando Bloom ou Justin Timberlake. Mas se estiver em uma maré de azar, pode encontrar Daniel Radcliffe.
- Eca, tomara que hoje eu esteja com sorte!
Começamos a rir e vi se aproximar de nós.
- , seu inútil, por que não levou para conversar comigo e Lisa?
- Eu estava indo – falou parecendo ofendido e depois riu.
- Hey, ! – Olhei para o lado e vi James. – ? Olha aí a sumida!
- Oi, James – falei rindo.
- , vem comigo, deixem esses garotos ficarem bêbados e se matarem – falou sorrindo.
Olhei para e ele me olhou sorrindo.
- Tudo bem, , acho que com as meninas você estará melhor. A gente se ver mais tarde. – Ele piscou.
- Ah... Tá certo.
Enquanto me puxava, eu olhava para trás vendo pegar um copo de bebida.
- Ele vai ficar bem.
- Eu sei – respondi.
- Então, , você e estão ficando? Eu pensei que fossem só amigos, ou sei lá... Conquista do .
- Ah... – comecei a rir. – É, a gente tá... Tá ficando. E tá bem legal.
- Quem sabe você não coloca juízo na cabeça do .
- Quem sabe...
- , você viu o ?
Olhei para frente e vi uma moça muito bonita. Ela usava uma blusinha branca e uma saia cintura alta laranja. Tinha um cabelo longo e loiro. Ela era bem bonita de corpo também.
Eu confesso que não estou magra no estilo de modelo. Eu estou sim um pouquinho acima do peso, mas nunca me senti mal por isso. gostava de meu corpo (e como gostava). E eu até acho estranho que por ter essa doença eu não fiquei muito magra. Mas, nesse exato momento, vendo uma mulher bonita daquela perguntando por , eu me senti mal. Mal por não ser tão bonita como essas mulheres que saia.
- Não, não vi não, Hanna – falou forçando uma voz simpática. – , você que veio com ele sabe onde ele se meteu?
Eu senti dar ênfase no “Você que veio com ele” e respondi:
- Não sei para onde ele foi.
- Obrigada. – A moça saiu andando rebolando a cintura. Senti o mal estar aumentar. Apesar de me orgulhar de minha cintura de pilão, como diz no Brasil, aquela mulher era muito bonita. E não vou mentir, eu sinto um pouco de ciúmes do sim, mas confesso que não aceito ciúmes dele comigo. Afinal... Ele não sente a mesma coisa que sinto por ele.
- Essa garota não tem vergonha de vim falar comigo – falou com raiva.
- Por quê?
- Ela é rodada. Todos os garotos já a levaram pra cama. Até o . – bufou. – E ele me prometeu que nunca nem ia olhar pra ela.
Resolvi não dizer nada. Afinal, não tinha o que dizer.
- ! – ouvi Lisa me chamar e olhei para frente.
- Oi. – Sorri.

~

Dave e chegaram ao lado das meninas.
- Er... Meninas, são quase meia noite. Eu tenho que achar o .
- Eu acho que ele está na cozinha. Eu o vi indo para lá – Dave falou apontando.
Andei por entre os convidados com dificuldade e avistei a entrada da cozinha.
Caminhei lentamente e cheguei à porta.
Minha respiração parou na hora. Minhas mãos gelaram em uma velocidade incrível. E entre minhas lentes eu só pude ver aquela moça sentada ao balcão e entre suas pernas, beijando sua boca e alternando entre o pescoço.
Naquele exato momento, perdi totalmente o chão. Andei de costas até encostar-me à parede mais próxima.
Respirei fundo e fechei os olhos. Aquilo doía em mim. Doía tanto que não conseguia ter nenhuma ação. Lentamente, comecei a andar entre os convidados, que diziam uns aos outros um “feliz natal”, tentando não levantar minha cabeça e denunciar o que meus olhos entregavam. Tentei evitar encontrar ou Lisa.
A essa altura, minha vista estava embaçada e as lágrimas também embaçavam as lentes dos meus óculos.
Ao ver a saída, comecei a correr por entre os convidados, não me importando muito se ia esbarrar em alguém.
Quando chegava a porta, senti alguém pegando meu braço.
- , feliz natal! – Vi sorrindo e, ao olhar meu rosto, seu sorriso desmanchou. - O que foi?
- Eu... – Eu não consegui falar e apenas soluçava.
- , por Deus... O que foi?
- Eu... quero... ir... pra casa – falei com dificuldade.
- Tudo bem, eu chamo o e...
- NÃO! – falei alto. Ele me olhou e depois de um silêncio falou:
- Eu entendi.
Baixei minha cabeça.
- Eu te deixo em casa.
- Não...
- Não, eu te deixo lá. Eu não bebi. Estou bem.
Tirei os óculos na intenção de limpá-los. Então acompanhei até o carro. Ele abriu a porta para eu entrar e depois bufou ao bater a porta do motorista com ele já dentro.
- é um idiota.
- Não... Não diga isso.
- Não dizer? Ele está ficando com você, caralho! Porra...
- Nós não temos nada. – Coloquei a mão na cabeça.
Não dissemos muitas palavras até chegar ao meu prédio.
- Você está bem? – perguntou mostrando estar realmente preocupado.
- Eu... Eu vou ficar bem.
Ele me observou mais um pouco.
- Se quer um conselho... Não se apaixone por . De verdade, é o melhor pra você.
Balancei a cabeça e saí do carro.
- Obrigada, .
- Não precisa agradecer. Qualquer coisa, se precisar, só chamar. – Ele piscou.
Entrei no prédio me sentindo a pior mulher do mundo. Como eu havia deixado me envolver daquela forma?
Entrei em meu quarto e deitei em minha cama de roupa e tudo. Deixei que toda a tristeza viesse à tona e chorei. Chorei como uma criança.
Todos meus medos e minhas angústias deixaram escorrer em meu travesseiro.
Como uma noite que começara tão boa termina assim? Tão triste, tão... Cinza?
Olhei para o teto tentando imaginar alguma saída para aquilo tudo.


Capítulo XVI. (Coloque para carregar: Pode ser – Pedro Camargo Mariano)

Ouvi um “Triiiin” bem longe. Seria o interfone que estava tocando? Ou seria apenas meu pensamento?
Abri os olhos e rapidamente os fechei, devido à claridade da luz.
Devia ser minha cabeça mesmo. Mas novamente o interfone tocou.
Lentamente levantei da cama e fui até a cozinha.
- Alô? – falei ainda com a voz rouca.
- ? aqui é .
- ? Oi...
- Você esqueceu sua bolsa no meu carro ontem e eu só fui ver hoje de manhã.
- Que horas são? – perguntei coçando a cabeça.
- São onze e meia – ele disse rindo.
- Nossa... – Sorri. – Espera aí, tô descendo.
Corri ao quarto e coloquei um short e uma blusinha. Fiz um coque de qualquer jeito no cabelo e desci.
- Hey – falei ao ver com roupa de corrida. – Correu uma maratona?
- Não exatamente, - Ele sorriu. – Vim do jogo de tennis.
- Olha aí, alguém entre nós que não é sedentário – falei rindo.
- , podia me arranjar um copo d’água?
- Ah, claro. Vamos subir.
Entramos em meu apartamento.
- Fica aí enquanto eu vou pegar a água. – Sorri.
- Okay.
Fui à cozinha e abri o armário. Eu estava com os olhos ardendo. Havia chorado muito por causa de , nem queria imaginar as olheiras que estava.
Abri a geladeira e peguei o jarro de água.
Saí da cozinha e, quando cheguei à sala, vi com alguns papéis nas mãos. Imediatamente, soltei o copo e a jarra que estava em minhas mãos.

Flashback on

- Não se preocupe com isso.
A buzina ecoou lá fora.
- Vai lá. – deu um sorriso. – Eu deixei os resultados dos últimos exames em cima da mesa, okay?
- Tá certo. Obrigada, anjo! – Beijei sua bochecha.
Peguei as sacolas de presentes e saí do apartamento.

Flashback off

me olhou e eu fechei os olhos, abaixando a cabeça. Aquilo só podia ser sonho. Sonho não, pesadelo. Um pesadelo.
Aquele minuto parecia não ter fim. Temia abrir meus olhos e ver um olhar de indignação, ou de pena, ou de alguma coisa que me fizesse sentir pior do que já estava.
Até que senti um barulho no meu pé. Abri os olhos e vi abaixado pegando os vidros do copo e do jarro.
- Você... deixou cair – ele falou rindo um pouco.
Me abaixei e o ajudei a pegar os vidros.
Nosso olhar se encontrou e eu abaixei o olhar.
- Você não precisa falar disso, se não quiser.
- E você não precisa fingir que está tudo bem.
Ficamos em silêncio.
- Então você descobriu. – Levantei. – Você descobriu o quanto sou cretina em esconder isso do .
- Você não precisa pensar que vou medir seu caráter por causa de uma doença.
- Eu ia contar, . Eu juro que ia. Ontem, antes de irmos pra casa do .
Sentei no sofá e sentou ao meu lado.
- É AIDS, essa sou eu. Eu tenho AIDS. A pior doença que uma pessoa pode ter. A doença que você não deve desejar a ninguém. Nem ao seu maior inimigo.
Ficamos novamente em silêncio.
- Por que você não disse ao ?
- Porque eu tenho medo de como ele vai agir. Medo de perder ele. Porque eu o amo. – Olhei para minhas mãos, que estavam sobre minhas pernas. – Eu sempre tive medo que isso acontecesse. Mas... aconteceu.
- Você vai contar a ele?
- Eu... Eu vou contar. Mas... Mas não sei se tenho coragem de olhar para ele depois de ontem.
silenciou novamente.
- Eu não posso te dizer nada que possa melhorar. Só posso dizer que... Se você precisar de alguém pra conversar, de verdade, eu vou estar aqui.
Sorri e o abracei.
- Obrigada, .

’s POV.

Abri os olhos sentindo uma claridade terrível em meus olhos. Olhei para a cômoda ao lado da cama e vi que o relógio marcava 15:27.
Estava com uma ressaca terrível, mas lembrava de tudo que havia acontecido. Até o meu final da noite com Hanna em minha cama.
Então vi um pacote ao lado da minha cama. Peguei-o e o abri.
Dentro dele havia um CD do Lifehouse e cartãozinho escrito.

Eu não sei se você comprou, mas lembrei que você disse que queria um CD deles. Um grande beijo. E feliz natal!

							 .


Sorri. Mas como aquilo tinha ido parar ali?
Outra coisa me veio à cabeça: Ela sabia o que eu tinha feito? Quer dizer, nada a ver ela saber ou não, estamos ficando. Ela mesma deixou isso claro.
Cocei a cabeça e vi que estava realmente preocupado com o que havia acontecido ontem. Peguei o celular e procurei na lista o nome de .
Esperei alguns segundos e uma voz rouca atendeu:
- Alô.
- ?
-Oi, ...
- Eu nem te vi saindo ontem.
- Ah... É... Eu saí um pouco mais cedo.
- Obrigado pelo CD do Lifehouse. Estava precisando mesmo. – Sorri.
- Ah... De nada.
- Eu queria te ver e te entregar teu presente. Você tá em casa?
- Não, eu estou aqui no Greenwich Park. Quer me encontrar?
- Eu chego aí em dois tempos.

~

Caminhei alguns minutos procurando , mas logo a encontrei sentada debaixo de uma árvore enorme. Ela estava com fones no ouvido e não havia notado que eu estava lhe observando.
Estava um pouco frio, então estávamos cobertos de forma apropriada. Seu rosto estava um pouco rosado. Ela também lia um livro, ou revista, não sei.
Comecei a caminhar em direção a ela.
- Hey. – Sorri.
Ela tirou um dos fones do ouvido e sorriu.
- Oi.
- Tá ouvindo o quê? – perguntei.
- É música Brasileira. – Ela sorriu tímida.
- Posso ouvir com você?
Ela ofereceu o fone que havia tirado e eu sentei.

Já me acostumei com a insegurança
De quem não quer sofrer
A paixão certeira que nos alcança
Quem poderá prever?

A profundidade e o envolvimento
Não dá pra controlar
A longevidade do sentimento
Só o tempo dirá

cantava baixinho. Achava tão bonitinho aquele sotaque.

Pode ser
Uma nova ilusão
Pode ser
Esse meu coração
Ou será o amor, ou será?

Ela olhou pra mim e eu sorri.

<,i>Quando a tua boca me rouba um beijo
Sinto meu chão rachar
Amo teus contornos, em ti me vejo
Dentro do teu olhar

Mas bem lá no fundo me bate um medo
Medo de me entregar
Quase todo mundo tem um segredo
Me ajuda a desvendar

Ela folheou algo que parecia um álbum de fotos.

Pode ser
Uma nova ilusão
Pode ser
Esse meu coração
Ou será o amor, ou será?

A música terminou e falei:
- Gostei dessa música, depois eu quero.
- Eu te empresto o CD, tenho lá em casa. – Ela sorriu.
- Queria te entregar isso. – Ofereci um pacote.
- O que é?
- Abre.
Ela, ainda desconfiada, foi rasgando o papel de presente.
- Nossa, que lindo, ! – ela falou ao ver o colar dentro da caixinha. – Mas eu não posso aceitar.
- Por quê?
- Isso deve ter custando uma fortuna. Não. Não posso aceitar.
- É um presente. E eu quero te dar – falei dando um selinho que a pegou de surpresa.
Entre meus lábios ela sorriu.
- Obrigada. – E depois aprofundou o beijo passando as mãos em minha nuca.
- Feliz natal. - Passei minha mão em sua cintura. – Janta comigo hoje à noite?
Ela me olhou sem entender muito.
- O quê?
- Janta comigo hoje à noite? – Sorri.

~

Entravamos no apartamento de aos beijos. Depois de uma noite maravilhosa em um restaurante caro de Londres, agora sim iria vim a diversão.
- Amo teus contornos, em ti me vejo... – cantei e ela riu.
- Aprendeu português?
- Andei pesquisando bastante.
Suspendi-a do chão e beijei sua boca, carregando-a para seu quarto. Tudo em nós parecia ter perfeito sincronismo.
Eu estava me envolvendo, confesso. Mas nem ligo muito.
Deitei na cama e, com uma das pernas, fechei a porta. Ela puxou a gola da minha camisa e começou a desabotoar os botões. Sorri vendo que ela estava lindamente nervosa. Aquilo só me fez quere-la mais.
Consegui me livrar de minha blusa e voltei a beijar seus lábios. Ela deitou de costas na cama e, ainda beijando-a, passei minhas mãos pelas suas costas e lentamente abaixei o zíper de seu vestido preto. Logo em seguida me desfiz dele, deixando-a apenas de calcinha e sutiã. Mordi o lábio inferior ao vê-la daquela forma. Aquilo estava me deixando louco, e meu sexo estava cada vez mais rígido à medida que beijava sua barriga.
Eu estava louco por ela, e não queria que demorasse tanto daquela vez.
Ela tirou minha calça e num movimento rápido meu deu a camisinha.
- Use isso. – Ela sorriu.
- Sempre! – Sorri.
Tirei sua calcinha e seu sutiã, e entre seus seios investi em com força, fazendo-a gritar.
E mais uma vez, entre os gemidos inaudíveis, pude ouvir um “eu te amo”.

~

Passava minhas mãos em seus cabelos pretos. Adorava fazer aquilo depois que íamos pra cama. Eu não sei explicar.
- ? – falou com uma voz um pouco rouca.
- Oi?
- Se alguma coisa acontecesse comigo... Como você reagiria?
- O quê? – Olhei pra ela. – , que tipo de pergunta é essa?
Ela, que olhava para mim, voltou a olhar para o nada.
- Você não tem nada pra me dizer? – ela me perguntou.
Olhei para o teto e falei:
- Eu estou com fome.


Capítulo XVII.


Flashback on

sentou esperando sua mãe chegar ao restaurante. Ficou pensando em como diria a ela o que havia acontecido. Apesar de se sentir feliz e um pouco realizada, tinha medo do que sua mãe podia dizer com relação a tudo aquilo. Estava receosa e com medo. Faria tudo para sua mãe olhar com amor diante daquilo. No fundo, sabia que receberia um “eu disse”, ou um “Bem feito!”. Mas não se importava. Agora tinha certeza que estava esperando uma criança e que esse filho era de Maurício.
Um sorriso tímido apareceu em seu rosto ao imaginar que havia uma criança crescendo em seu ventre. Que finalmente alguém estava de verdade precisando de sua ajuda agora. Se sentia, finalmente, nessesária de verdade.
Sua mãe atravessou a entrada e entrou no espaço. sentiu sua respiração falhar e seu coração acelerar. Tinha certeza que se sua mãe demorasse mais para sentar à sua frente, teria um infarto.
Ela sentou.
Ela a olhou.
Ela sorriu.
- O que foi, querida? Você está branca. Alguma coisa está acontecendo?
- Mãe, eu sei que a senhora vai ficar uma fera. E, pelo amor que tem pelo seu Deus, não me censure. Quero que me ouça sem dizer uma palavra.
Ela a olhou sem entender e seu olhar fechou um pouco.
- O que aconteceu?
Ela respirou fundo e começou a falar:
- Eu não planejei e, acredite, foi um erro. Mas não vou mentir e dizer que estou arrependida. Eu até estou um pouco feliz.
- O que aconteceu?
- Eu estou grávida.
A mulher olhou para filha e, por alguns minutos, ela não expressou nada. Nem raiva, chateação ou algo do tipo.
- Então... Eu suponho que esse seu filho seja de Maurício.
- Sim, mãe. É dele. Eu ainda não contei nada a ele.
- E ele ao menos pretende casar com você?
- Ele me ama. E eu o amo.
- Eu não sei se ele a ama, . E sinceramente eu acredito que você não o ama.
- Renato me deixou, mamãe. A minha vida não vive e gira em torno dele.
- Mas ele lhe ama.
- Se me amasse de verdade, não faria tudo que fez comigo e iria embora. Ele errou e escolheu ficar com ela. Agora eu tenho que me conformar. Maurício quer ficar comigo. Eu sei que quer. Semana passada falamos de compromisso. SEI que ele quer casar.
- Não me diga o que ele quer ou não, . Eu sei o que ele quer. E quer usar você, como já fez.
- Já chega, mamãe! Eu não quero falar sobre ele. Se não quer aceitar meu filho, tudo bem. Mas eu não quero discutir.
- Deixe de ser boba, garota. Venha cá e me dê um abraço! - Sua mãe levantou e foi até ela, lhe dando um abraço. - Eu nunca vou deixar você na mão, querida. Você sabe disso. Mas converse com Maurício. Diga o que você quer. E não venha com histórias de aborto, ouviu bem?
- Claro que não, mãe! Eu não estou louca!
- Quero que seja feliz. Você sabe que sempre torci para isso.
- Eu sei, mamãe.
- Agora me diga, que nome você colocará se for menino ou menina?

~

- Não faço ideia do que você quer. O que eu sei é que você não pode ter essa criança, !
- Mas, Maurício...
- , você não sabe o que está dizendo. Você só matará essa criança!
- Você está dizendo que não sou capaz de ter uma criança em meu ventre? É isso que está dizendo?
- O que estou dizendo é que você não pode ter criança. Ouviu bem? Você só trará desgraça para ela.
- Desgraça? Não me diga que você não me acha capaz de criar uma criança!
- Eu não estou dizendo isso. Estu dizendo que você não deve... Você não sabe que mal pode fazer a ela. Eu fiz algo que não devia com você. Você não pode fazer algo terrível com um ser inocente.
- O que está dizendo? Virou casto agora? Só por que transamos? Por favor!
- Você não sabe de nada! Vá ao médico. Faça um exame. Você descobrirá o quanto sou canhalha.
- Do que está falando?
- Não me pergunte. Faça o que eu digo

Flashback off

Virei para o outro lado da cama. Não consegui sequer fechar os olhos a noite toda. Era como se minha vida estivesse literalmente sem valor.
Eu queria morrer. Literalmente. Tudo que eu não queria estava acontecendo. E cada vez mais rápido. deitado ao meu lado. Sentia uma repulsa de mim mesma.
Levantei da cama, não aguetaria ficar mais um minuto ali. Fui até a varanda, colocando um roupão. Olhei para a rua, que não tinha nenhum carro, a não ser o do estacionado.
Acabaria com aquilo, antes que o falasse alguma coisa. Eu não sabia mentir por tanto tempo. Uma hora ou outra ele descobriria. E era melhor estar bem longe dali. De preferência no Brasil.
Já sabia o que fazer. Voltaria para o Brasil, o mais rápido possível!


Capítulo XVIII.

Flashback on.

andava para lá e para cá. Vez enquanto parava, olhava para o telefone e novamente voltava a andar.
Já havia feito o exame de sangue havia quinze dias e o resultado estava previsto para aquele dia. Mesmo grávida e com medo, ela fez o tal exame. Maurício a deixara nervosa com toda aquela conversa sem noção que tivera com ela naquele dia. E desde então ele havia sumido.
Então o telefone começou a tocar. Ela fitou o aparelho e então atendeu:
- Alô?
- Sra. ?
- Sim.
- Aqui é da clínica do Dr. Medeiros. Seu exame já chegou.
- Muito bem, estarei aí dentro de uma hora.
colocou o fone no gancho e pegou a bolsa. Logo em seguida, saiu de casa em direção ao centro da cidade, onde ficava a clínica.

Flashback off


- Eu vou voltar para o Brasil.
Fitei , que estava parado à minha frente. Por um momento, pensei que ele iria me bater, porque seu rosto ficou tenso.
- O quê? Espera... Você só pode estar brincando.
- Não, não estou. Eu já decidi que vou voltar.
- E quando decidiu isso?
- Noite passada.
- E eu, ?
- Nós nunca tivemos nada, . Então acho que não sentirá tanto.
- Pare com isso! Você não vai...
- Vou, , eu já decidi!
- Pára de me chamar de ! – Ele fechou os olhos e, quando os abriu em seguida, percebi que havia lágrimas ali. Mas fui firme em minha decisão e virei o rosto. – Falando assim você nem parece a que eu conheço.
- Eu não sou a que você conhece – falei, fechando os olhos e segurando o choro. Quando abri e falei, minha voz saiu seca: - Eu sou uma farsa.


Flashback on.

- O Dr. Medeiros quer falar com a senhora - a atendente sempre sorridente falou quando entrou na recepção.
- Falar comigo?
- Sim. Ele já está a sua espera.
entrou na sala onde estava o doutor. Ele olhou para ela e tirou os óculos, indicando a cadeira à frente.
- Sente-se, por favor.
- Há algo errado comigo, doutor?
Ele a olhou, e não escondia a preocupação em seus olhos.
-O que eu tenho doutor?

Flashback off


me olhou sem entender muito e, lentamente, com uma voz sombria, disse:
- O que você está dizendo?
- Estou dizendo que lhe enganei. Esse tempo todo fui covarde com você.
Ele nada disse. Engoli seco enquanto ele me observava sem dizer sequer uma palavra.
- Eu menti para você. Escondi algo que eu tenho certeza que nunca vai me perdoar.


Flashback on

- Eu não sei se devo, Sra. ...
- Fale logo, doutor, sem mais delongas. - Isso vai ser difícil para você... Desculpa, Sra. , falar isso para você... Mas você tem... Você tem o vírus do HIV.

Flashback off


- Eu fui casada. E já engravidei. E algo terrível me aconteceu... Me obrigaram a tomar aquele remédio...
- Do que você está falando?
- Eu não tive culpa. Me disseram que era... calmante. Eu matei meu bebê... – Meus olhos estavam encharcados de lágrimas. Sentia todo meu corpo implorar para gritar. Uma dor terrível invadia meu peito. – Eu matei meu bebê... E tudo isso porque eu tenho...

- Desculpa, Sra. , falar isso para você... Mas você tem... Você tem o vírus do HIV

- Porque eu tenho AIDS. Eu sou soropositivo.
me olhou surpreso. Não mexemos um dedo sequer por alguns segundos. Foram os mais longos da minha vida. Então o rosto de se contraiu e eu ouvi:
- Por que mentiu pra mim?
- Porque sempre que estava com você, me fazia sentir mais viva. , por Deus... Você não sabe...
- E enquanto isso mentia para mim? Você não tem vergonha na cara, ?
- , eu...
- Por que não me contou? Por que fez isso comigo?
- Porque achei que não iria me envolver com você. Porque achei que não iria me perdoar. E por que se importaria comigo?
- PORQUE EU TE AMO! SÓ POR ISSO! – ele gritou e me encolhi toda. – Eu confiei em você, ! Confiei de verdade. E sabe por que te procurei ontem? Vim aqui hoje? Porque ia dizer exatamente que não havia conhecido ninguém como você e que eu queria namorar com você!
- , eu sei que não mereço o perdão. E não quero justificar meu erro. Eu estava confusa, grávida e com AIDS, e Maurício...
- QUE SE DANE VOCÊ E MAURÍCIO! VOCÊ NÃO MERECE NADA QUE VENHA DE MIM!
- Eu sou um monstro, ...
- Você é um monstro. – Ele cerrou os olhos e falou entre os dentes: – Da pior espécie que existe!
Ele então saiu do meu apartamento, me deixando parada e sozinha. As lágrimas não cessavam.
Me sentia sozinha e sem chão. Era como se toda a minha vida se resumisse aos minutos atrás. Nada mais fazia sentido agora. Por mais que corresse atrás dele e implorasse seu perdão, ele não me ouviria. Nunca mais!
Ouvi um carro dar partida e acelerar lá embaixo. Eu havia perdido . Para sempre.


Capítulo XIX. (Já pode começar a ouvir: McFLY – The End)

- Ele viajou hoje cedo. Pegou o carro e disse que só voltaria no final de semana. – fitou as próprias mãos. – Ele me ligou quando já estava no meio do caminho.
- Eu imagino o quanto ele devia estar chateado. - sentou ao lado de , que estava no sofá. - Enfim, isso não era mais do que eu esperava. Mas, acredite, assim é melhor.
- Quer dizer que você vai deixar como está?
- O que eu posso fazer?
- Esperar ele se acalmar.
- Não, , ele não quer falar comigo, então é isso. Eu vou voltar para o Brasil e tudo ficará bem.
não disse nada de imediato, mas então falou:
- Você foi corajosa, , é sério.
- Coragem... - Ela bufou. - De que me vale essa coragem toda agora? Estou me sentindo fraca, isso sim...
- estava com a cabeça quente, , ele vai voltar atrás, você vai ver. Ele sempre volta atrás.
- Eu não quero mais estar aqui se ele voltar atrás. Não me verá mais, . Voltarei para o Brasil até o fim da semana. Nada me prende mais aqui.
a olhou triste.
- Eu só lamento descobri que o amo logo agora... Mas eu posso superar isso.
- Se eu pedisse pra você ficar, não ia adiantar, não é?
Ela sorriu e o abraçou.
- Por que não fui amiga sua há tempos, hein?
- Porque você não ia me aguentar! - ele falou e depois riu. - Mas você sabe que sempre estarei aqui.
- Obrigada. - sentiu as lágrimas correrem em seu rosto.

('s POV)

- Como assim embora? - perguntou assustada e então eu ri.
- É, voltar para o Brasil. Não tenho mais por que ficar aqui. sabe de tudo. Para ele eu sou um monstro.
- Monstro? Por acaso você disse exatamente toda a verdade? De que você apanhou e sofreu? Que você foi obrigada a abortar? Ele sabe disso, ?
- Ele não precisa saber. O que ele precisa saber, ele já sabe. E isso não justifica. Eu podia ter sido forte.
- E morrer? Não, . E essa criança nascer não seria pior? Ela nasceria com a doença.
- Às vezes eu me pergunto... como ela seria. É como... se fosse um castigo.
- Por que está dizendo isso?
- A ex-esposa de Maurício tentou tanto ter um filho e e... Essa criança era para ter sido filho dela.
- Não diga bobagens. não merece nada disso que você está sentindo. Ele não merece metade da mulher que você é. Ele sabe o que Maurício fez a você? Ele não sabe de nada! Ele é que não tem vergonha!
- Eu menti.
- E daí? Eu menti várias vezes na minha vida! Ele podia ao menos ser sensato!
- Para ele é difícil!
- Pare de se importar com os sentimentos dos outros, ! Por Deus, olhe apenas uma vez para você! Se importe um pouco com você! Você fez o que qualquer mulher sensata faria.
- Uma mulher sensata não abortaria.
- Você não sabia que aquele remédio iria matar seu bebê, e ele lhe obrigou. Pare de se culpar!
- Isso é impossível. A culpa sempre vai andar comigo. Sempre!
Olhi então para a barriga dela e senti as lágrimas em meus olhos.
- Eu prometo que darei muito amor a ele - falei chorando.
- Ele tem uma tia maravilhosa - falou, começando a chorar, e me deu um abraço logo em seguida. - Minha irmã e melhor amiga... Você ainda vai ser muito feliz. Você vai ver.
- Eu não mereço...
- Merece... Merece sim. Você merece mais do que qualquer pessoa.
Desfiz o abraço e limpei as lágrimas.
- Agora você vai me prometer que essa criança nascerá no Brasil. Ao meu lado e da mamãe.
- Só se aceitar ser a madrinha dele.
abri um largo sorriso.
- Claro!

Comecei a arrumar minhas malas. Algumas roupas eu deixaria para Caio me enviar depois, já que não queria me sobrecarregar de muita coisa. Olhei para o meu celular em cima da cômoda. O peguei e fui até a tecla de "lista de telefones". Fui até o nome "" e passei o dedo pela tecla "chamar", mas não o fiz. Fui na tecla"excluir" e apertei-a. Depois joguei o celular de volta na cômoda e voltei a arrumar as malas.
Peguei algumas bolsas e abri cada uma delas. Foi aí que vi uma foto. Estava eu, , e , no dia em que fomos ao orfanato. Todos estávamos com nariz de palhaço. Sorri observando o quanto havia esquecido daquela foto. Guardei-a escondia em minhas roupas e ouvi o interfone tocando.
- Alô - falei atendendo.
- ? Aqui é . Estou com o aqui em baixo.
Levei um susto ao ouvir quem era.
- Ah, eu estou descendo. Só um minuto.
Peguei as chaves e corri pela escada, abrindo rapidamente a porta de entrada.
- Oi, gente! – falei, abraçando os dois. - Que surpresa.
- O disse que ia embora - falou.
- É verdade, ? - levantou o cenho.
- É, eu vou amanhã, na verdade. Vamos subir, eu conto tudo lá em cima. Só não reparem a bagunça.
Subimos as escadas.
- Vocês querem água ou suco?
- Não, obrigado. - sorriu. - , na verdade nós viemos aqui por um motivo...
- E qual seria?
- Nós já sabemos, - falou com uma voz calma e um sorriso.
- E é por isso que estamos aqui.
Paralisei na mesma hora.
- Nós não queremos que vá - falou e completou.
- É sério. estava com a cabeça quente. Não ache que por isso ele é preconceituoso.
- Olha... Ele está muito mal, Eu sou amigo de há muito tempo. E eu o nunca vi assim.
- Eu não posso fazer nada, gente – falei, sentando no sofá. – Eu menti, não fui honesta com ele. Eu entendo se ele não me perdoar. É sério. Não mereço nenhum tipo de perdão.
- Todos nós erramos - falou, olhando para .
- É verdade, . Eu sou prova disso. Eu já traí a uma vez. Estava bêbado e... Enfim, ela me perdoou.
- Não posso perdoar ninguém... Eu que errei.
- está com raiva e magoado, é verdade. Mas ele não guarda ódio. Costumamos dizer que ele é muito bom. A pessoa mais boa que você pode conhecer é o . Ele vai se arrepender.
- Vocês me desculpem, mas dessa vez eu acho que ele não vai me perdoar. E com razão. Eu vou voltar. Estou voltando para o Brasil, estou com saudade da minha mãe, da minha família e da minha terra. E não vou achar melhor momento para voltar. Me perdoem. Preciso pensar e dar um rumo pra minha vida.
- Você vai amanhã? - perguntou um pouco triste.
Eles me abraçaram.
- Você é muito boa, , sabemos disso...
- E quero que venha para nosso casamento. - sorriu.
- Certo. - Sorri. - Tentarei vir.
- Avise se o problema for dinheiro. - piscou. - E aproveite o sol e o calor por nós.


Capítulo XX. (Já pode começar a ouvir: Lifehouse – Storm)

O interfone tocava insistentemente. Olhei para o relógio na cabeceira da cama. Eram quatro e vinte sete da madrugada. Meu vôo só sairia daqui a seis horas. O interfone continuava tocando e levantei vagarosamente para atendê-lo na cozinha. Quem seria àquele horário? Não seria Caio, já que combinara de me pegar às oito. Só poderia ser , algo que me fez acender uma luzinha de alerta. Comecei a caminhar rápido e atendi o interfone:
- Alô? – Ninguém respondeu. – Alô?
- ...
Perdi o chão. Aquela voz... Eu conhecia aquela voz. Eu tinha medo daquela voz. Comecei a tremer.
- Q-quem é? – perguntei num fio de voz.
- O . Será que podia descer aqui?
- Claro... – falei nervosa. – Eu já estou descendo.
Coloquei o fone no gancho e corri ao quarto, colocando um roupão. Corri para a porta e desci as escadas quase tropeçando em tudo quanto era degrau.
Será que ele havia me entendido? Será que ele havia me perdoado? Meu coração começou a criar um fio de esperança. Talvez ele tivesse pensando melhor e visto que eu, de fato, não tinha tanta culpa assim.
Passei pela pequena portaria e o avistei no portão. Senti um misto de medo e esperança enquanto me aproximava. Mas ele não sorriu. Seu rosto era como uma pedra, não tinha nenhuma emoção.
- Oi... – falei após abri o portão. Eu não olhei para ele. Deixei minha cabeça baixa, sem encará-lo.
- Fiquei sabendo que ia embora.
- É, eu vou hoje, e eu...
- Aqui estão suas coisas... – Ele praticamente jogou uma malinha em mim. – Pedi pra que Maggie ajeitasse todas as suas coisas que ficaram lá em casa.
- Não precisava ter se incomodado – falei baixinho, segurando a malinha. Foi aí que olhei para o carro e vi uma mulher loira nos olhando. Engoli seco e olhei para ele. – Obrigada.
- De nada... – ele falou, mas permaneceu parado. Eu abaixei minha cabeça, não conseguindo conter as lágrimas que formavam em meus olhos. – Tchau – ele falou e virou, indo em direção ao seu carro.
Fechei o portão, murmurando um “tchau” baixinho e voltei para o prédio. Quando fechei a porta, corri escada acima, tropeçando em todos os degraus. Até que caí no chão e ali mesmo fiquei. E chorei. Chorei porque não era justo. Não era justo eu ser culpada por ter AIDS. Esse era o preço por ter amado tanto? Por ter amado errado? Existe amor recado?
Reuni as últimas forças que tinha e levantei, limpando as lágrimas e subindo as escadas. Entrei em casa e fechei a porta.
Então era isso, minha grande história de amor acabou da mesma forma que começou: a vida nos uniu, a vida nos separou.

- E eu quero que me ligue assim que chegar lá – falou me advertindo. Comecei a rir e a abracei. Ela era mais que uma irmã, fato. E às vezes ela lembrava a minha mãe.
- Tudo bem, mãe. – Sorri.
- Quero que aproveite o sol e o calor por mim – disse me abraçando.
- Pode deixar... – Eu o abracei. – Quero que se cuide.
- E nos vemos no casamento do , certo? – Ele piscou.
- Claro. – Olhei para Caio. – Ei, obrigada por tudo.
- E você pela companhia. – Ele me abraçou. – Manda um beijo pra todo mundo lá.
- Pode deixar – falei. – Ei, cunhado... Cuide bem do meu sobrinho, hein?
- E você da minha sogra. – Ele me abraçou.
Ouvi a última chamada do meu vôo.
- Bom, gente... Agora tenho que ir. – Abracei todos de novo e andei para o portão de embarque, mandando um beijo. E foi inevitável não olhar para trás e procurar algum sinal de . Queria que a vida fosse um filme, porque com certeza ele teria aparecido e dito que me amava e seríamos felizes para sempre.
Mas lá estava eu, olhando feito uma boba ao redor em busca de alguma esperança que eu idiotamente ainda nutria dentro do meu peito. Ele não iria aparecer. E não apareceu. A vida não era um conto de fadas, e eu já devia saber bem da realidade. E parecia que, comigo, ela caprichava para mostrar o quão dura era.
Acenei para todos e entreguei minha passagem para o moço, que me desejou uma boa viagem.

Lá estava eu, sentada em uma mesa e sozinha, enquanto todos ao meu redor se divertiam. Era o casamento de Allie, minha prima. Sorri ao vê-la beijando seu marido. Eu gostava dela...
- “Read the wave, ride your fears in this ocean of years we've been here...” – cantarolei uma parte da música que a bandinha cover do Lifehouse tocava. Aquilo me lembrava um pouco de Londres.
- Posso sentar aqui?
Renato apareceu em minha frente. Me assustei ao vê-lo tão de repente.
- Renato? O que... O que faz aqui? – perguntei e depois ri. – Me desculpe... Eu não esperava...
- É assim que se fala “oi” em Londres? – ele falou rindo e sentou. Ri também. Eu não o esperava. Era como se ele fizesse parte de um passado tão antigo da minha vida...
- Eu não vi você na cerimônia.
- Eu não fui... – Ele tomou um gole de vinho. – Minha filha adoeceu de uma hora pra outra. Jenny nem veio.
- Você já é pai?
- Pensei que sabia... Ela já tem três meses.
- Parabéns, Renato... – Sorri sincera. - Obrigado. Mas e você? Não sabia que havia voltado para o Brasil...
- Pois é... – Baixei a cabeça e olhei para minhas mãos. – E já tem quatro meses.
Ficamos algum tempo em silêncio.
- Sabe, , você já teve aquela sensação de que o nosso maior amor nunca foi nosso de verdade?
- Se ao menos tivéssemos tentando...
- É, mas tinha Maurício... E se não aconteceu, não era pra ter acontecido.
- O que eu senti por você era muito forte e... intenso.
- O que sentimos um pelo outro foi forte e intenso. E verdadeiro. Mas nunca nos pertencemos. Nossos caminhos andam paralelos. Nunca vão se cruzar.
- Você me perdoa? – perguntei e ele olhou para mim, sorriu e pegou nas minhas mãos.
- Eu não te perdoo porque não tem o que perdoar.
- Acho que estou pagando por tudo que fiz.
- Não acha que já pagou o bastante?
- Eu não sei...
- Seu coração não pertence mais a mim. – Eu o olhei nos olhos. – Nem o meu a você.
- Eu já me acostumei a ganhar e perder.
- Eu não conheço uma pessoa que mereça ganhar tanto como você.
E levantou e caminhou em direção à festa. Fiquei um tempo parada, mas logo vi que ali não era o meu lugar.
Saí do buffet e decidi que iria para casa de ônibus, já era quatro da manhã, com certeza alguma condução iria passar por ali. Desci a rua pela calçada. O vestido incomodava e levantei ele um pouco com as mãos. Voltei a caminhar em direção à parada. Não havia ninguém ali.
O tempo um pouco frio indicava que iria chover mais cedo ou mais tarde. Torci pra que só chovesse quando eu estivesse embaixo de minhas cobertas. Uma fina garoa começou a cair e me encolhi na tentativa de afugentar o frio, mas foi inútil, logo a chuva começou a pegar força e engrossar.
Já molhada e com frio, avistei um ônibus vindo no final da rua. O lugar para onde ele ia não era minha casa. Mas era bem interessante...

Parada, levando chuva, observei aquela casa. A casa onde estavam os meus piores pesadelos. O lugar estava escuro e completamente acabado. Atravessei a rua deserta e parei na calçada. A casa parecia estar abandonada. Os portões estavam enferrujados, a grama para cortar, os umbrais da porta e janelas estavam cheios de poeira e teia de aranha.
Caminhando em direção à entrada. Parecia que a chuva aumentava a cada segundo. Tantas coisas me haviam acontecido ali... Coisas boas e ruins. Então, respirando pesadamente, criei coragem e bati na porta. Mas ninguém atendeu. E ninguém nunca atenderia. Maurício estava morto. Sentei no batente e fiquei observando o lugar.

Flashback on

- Por que você fez isso comigo, Maurício? Por quê?
- Por que eu te amo, ! Até mais do que eu!
- Isso não é amor, Maurício!
- É sim, agora entende por que essa criança não pode nascer?
- Pare de falar isso! Não vou abortar!
- Você está nervosa, eu entendo...
- Nervosa? Entende? Que droga, eu acabo de descobri que estou infectada por um vírus e você me diz que estou nervosa? Que tipo de monstro você é?
- Ninguém vai lhe aceitar com AIDS, ! Só eu... Case-se comigo!
Flashback off

Levantei do batente e caminhei rua abaixo. Indo em frente eu chegaria até a praia.
Andei bastante, mas valeu a pena. Quando eu cheguei à orla, desci até a areia e sentei.
Vi o sol nascendo no horizonte e sorri. Talvez a vida não tenha me dado tanta sorte, mas ver aquele sol nascendo renovava minhas forças.
Era uma nova etapa em minha vida e eu estava disposta a enfretá-la e ser feliz, custe o que custar.
Abracei minhas pernas, deixando o vestido solto, e fiquei vendo o sol saindo de dentro do oceano.
- É... – falei sorrindo. – Custe o que custar!


Fim (?)



Notinha:
Eu to chorando. :x É sério! Tudo bem, não foi O final, mas ele foi bem realista, não acham? E não foi um FINAAAAAAL de fato. Não sei quantos se lembram, mas eu disse que ia ter uma segunda parte. E vai ter, NÃO ARRANQUEM OS CABELOS! E o nome da continuação vai ser: “Custe o que custar”, anota aí!
Queria pedi desculpas pelo erro no nome da nova fic (NÃO É LADY VICTORIA, VAI SER “INCESTO”!), e por não ter avisado que ESSE seria o último capítulo. Eu me perdi total com as histórias do ENEM e vestibular e enfim... Peguei até a Deh de surpresa. Então... Eu estou um pouco triste, mas alegre porque finalizei (ao menos a primeira parte) de BDSQVP. Eu aprendi a amar essa fic e cuidar dela. Conheci uma galera, fiz amizade e tantas outras coisas que... Mew, vou parar senão vou chorar. Essa fic me marcou. E agora vamo que vamo pra segunda parte! AEAEAE
Então, enquanto não chega, migrem para “Incesto”, minha nova fic.
Bom, vamos aos agradecimentos?
A Deh, por ter sido minha amiga desde o início. Antes era a Mah Lorandi e acabou que foi uma confusão e acabei chegando na beta mais linda, fofa, meiga, demais... Do Brasil! E foi por acaso. (nada é por acaso /baixouoandréaqui!). Enfim, SEM PALAVRAS e more than words, EUTEAMO <3
A MiinT que tá na Alemanha e que nem posso prolongar senão vou chorar porque ela marcou MUITO a minha vida, FAAAATO! :’D amoooooo¹²³
Ao Sauolo que... O-B-R-I-G-A-D-A! Eu aprendi muito contigo e descobri o que é aquele versículo: “Em todo tempo se ama o amigo e na angústia se faz um irmão”. Obrigada que mesmo tu ATOLAAAADO de coisas, quando papai teve um infarto tu quis parar tudo só pra me ouvir. EUTEAMO <3
A Thais que SEEEEEEEEEEEEEEEEEM comparação foi a minha amiga-viciada-nas-minhas-fic-mais-presente! Obrigada pelas dicas e enfim... Por me acordar cedo no domingo de manhã, FATO! HAHAHAHAHA AMOOO <3
As meninas do Orkut, MSN, twitter, Formspring, e tudo mais... O meu mais sincero OBRIGADAAA! Eu não faria tudo que faço se tão tivesse vocês. Não posso citar nomes por que SEI que vou esquecer! AAAAMOVOCÊS! <33
Vou deixando meus links pra falar comiiiigo aí embaixo
Beijo da Titia Flávia e COMAM VERDURA!

Nota da beta: Bom, é difícil saber o que dizer agora, mas mais difícil ainda é não dizer nada. Eu betei BDSOQVP por mais de um ano (enviei a fic pro site em junho de 2009) e é estranho saber que daqui a minutos vou enviar o último capítulo. O que eu posso dizer aqui?
Flavinha, muito obrigada por confiar BDSOQVP em minhas mãos. Espero não ter te desapontado com nada. Adorei betar a fic durante todo esse tempo, acompanhar toda a evolução e as conversas sobre ela. Estou aqui sempre que você precisar, e pra todas as suas trocentas fics. Já estou esperando a continuação desta, hein? (: Enfim, amo você, pessoinha que o destino me apresentou. Parabéns pela fic!
xx Deh


----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Comunidade de fiction. - Orkut. - Twitter. - Formspring. - Blog.


comments powered by Disqus