- Wow! Olha como está chovendo! - null achou graça em como o mundo se consumia em água lá fora. Bem típico.
- null, não fala assim! - null ralhou do jeito meigo que sempre fazia - Pense em todas as pessoas que estão sendo afetadas com essa chuva! - sempre ativista, nunca entendi por que null não era vegetariana. Lembro-me que desde os cinco anos null dizia que estudaria Biologia Marinha só para cuidar das tartarugas.
- null não se importa nem com a mãe dele, você acha que ele vai lembrar que existem outros seres humanos que não estão sãos e salvos no décimo andar de um prédio, null? - soltei as palavras em cima dele e meu corpo em cima do sofá.
- Falou a Madre Teresa. - devolveu-me e eu tinha certeza de que, se não houvesse testemunhas aqui, null não viveria tempo o suficiente para rolar os olhos, como fez.
- Acho bom vocês pararem de brigar por que, mais do que óbvio, estamos presos aqui - null nos advertiu no seu timbre paternal enquanto olhava pela janela.
Todos nós nos amontoamos em cima dele para ver o pátio e a garagem do condomínio completamente alagados. Estava chovendo muito forte.
- Ótimo. E o que nós fazemos agora? - null perguntou, tão descontente quanto eu, sentando-se no lugar que antes eu estava. Empurrei-o para o lado com muito esforço até que eu conseguisse sentar-me no mínimo do espaço entre ele e o braço do sofá.
- Nós podemos assistir alguns filmes e comer pipoca - null sugeriu, um pouco animada. Todos concordaram sem dar muita ênfase no programa de sexta à noite recém decidido e acomodaram-se em frente à tv no espaço livre.
null e null sentaram-se no que restava do sofá e null acomodou-se sozinha na poltrona ao meu lado direito. null e null sentaram-se no chão, encostados no sofá. null fez questão de sentar entre minhas pernas, colocando-as por cima de seus ombros.
Nós dois brigávamos mais que cão e gato e isso dava-se pelo prazer doentio que null sentia em me provocar - que talvez e somente talvez pudesse ser recíproco em poucas, pequenas e hipotéticas vezes -, mas mesmo assim a gente se gostava, nós éramos amigos e tudo o que eu podia fazer para ajudá-lo (ou irritá-lo), eu fazia.
null foi para a cozinha colocar as pipocas no microondas e null começou a separar os DVDs que estavam no criado-mudo ao lado do sofá. Foi passando as caixas de plástico para que nós concordassemos (ou não).
- "Iron Man" I e II, "Código de Conduta" e "Busca Implacável"? - perguntei, lendo os títulos - Nós já assistimos esses filmes mais de trinta vezes, null! Será que não...? "Transformers"! - parei de reclamar quando a caixa do filme que mencionei chegou nas minhas mãos.
Shia LaBeouf, Shia LaBeouf, Shia LaBeouf...
- Se for assim, eu quero a série toda de "De Volta Para O Futuro"! - null pediu.
- Então eu quero Star Wars! - null choramingou.
- Gente, nós não temos a vida toda para assistir todos esses filmes. - null falou - Vamos ver "Código de Conduta" que nós tanto adoramos! - ela estava tão animada que quase pude vê-la dando pulinhos e batendo palmas.
- Seu gosto por tortura me assusta, null. - null soltou.
- Não foi isso o que você disse ontem à noite... - null falou, como se fosse nada. Todos nós a olhamos assustados, inclusive null, que até o momento encarava suas unhas atentamente - Preciso mesmo dizer que era brincadeira?
- Estranha... - murmurei, enquanto ela colocava o dvd no aparelho e ajustava todas aquelas coisinhas que tinham que ser ajustadas.
Assim que null voltou para o seu lugar, null chegou segurando - sabe-se lá como - três potes gigantescos de pipoca. Deu um pra null, um para null e outro para null, que até o momento tinha dado um cochilo com direito a boca aberta.
Eu, null, null e null dividimos o pote deste enquanto null e null e null e null dividiam os seus. Logo, o julgamento já conhecido por todos começou a desenrolar-se e a animação de null estava quase sendo materializada.
Não podia falar muito, "Código de Conduta" era um dos meus filmes favoritos e ter a expectativa de ver a bela bunda do Gerard Buttler numa enorme tela de 42 polegadas com direito a som surround do home theater da null era inspirador.
A sala estava toda escura e o único som que se ouvia era o da tevê e o da chuva batendo contra o vidro da sacada.
- Nick, seu viado! - null gritou do nada, usando uma palavra que normalmente ela não usa.
- Viado nada. Se ele não tivesse deixado de pedir a ação lá, o Clyde não iria torturar o tio que matou a mulher dele. - null falou. Quando a cena em que o cara condenado seria morto com uma injeção letal começou a ser mostrada, eu e null mordemos nossos lábios em expectativa. A loirinha sentou-se aonde devia, com toda aquela frescura de ver alguém ser morto e então...
- ISSO! - nós duas gritamos ao ver o prisioneiro se contorcer em dor - High five, null. - null ergueu a mão por cima de null e null, para que eu batesse.
- Dá-lhe, Clyde! - disse, impulsionando-me contra o sofá, dando pequenos pulinhos.
- Ai, tá me machucando! - null segurou minhas pernas, que estavam em seus ombros, obrigando-me a parar.
- Clyde delícia! - null vibrou, ainda mordendo os lábios.
- Deixa eu ver se entendi, null: você tem fetiche com psicopatas, é isso? - só um símio para não notar o ciúmes na voz do null.
- Não, só pelo Gerard Buttler interpretando o Clyde - respondeu - Eu gosto de ser a psicopata... - o brilho da tela deixou o sorriso maléfico de null mais sombrio ainda.
- Que tal vocês calarem a boca e voltarem ao filme? - null disse.
E então a tv desligou.
- O que foi isso? - ela perguntou, logo em seguida.
- Não acredito que acabou a força! - null jogou a cabeça para trás, no encosto do sofá - Que maravilha!
- Bem na parte boa... - resmunguei.
- É, fazer o quê? - null tentou parecer decepcionada, mas todos nós sabíamos da sua aversão à sangue, dor e quase tudo o que null gostava - Alguém me ajuda com as velas? - levantou-se e foi em direção à cozinha, seguida de null com o isqueiro aceso.
- Tô indo. - disse ele.
Porém, antes que null chegasse com a primeira vela, a luz voltou, deixando a tela da TV totalmente azul.
- Oh, droga. - ela resmungou e assoprou a vela - Bom, chega de tortura por hoje.
- NÃÃÃO! - null implorou.
- Sim, vamos ver Transformers! - saí saltitante do sofá e troquei os DVDs.
- Essas garotas são loucas. - null disse, recebendo murmúrios de afirmação dos garotos.
Tomei o controle da mão de null na minha volta ao tão famoso sofá e mostrei a língua para null.
- Quem mostra língua pede beijo. - fez sua melhor cara de maníaco do parque, arrancando uma risada minha.
- Ei, mas o que é isso?! - null virou a cabeça para nós dois e isso me fez rir mais ainda.
- Não quero ser chata, mas eu prefriro que vocês não se comam no meu sofá, na minha frente. - null falou irônica - Grata.
- É, null! - null apoiou - A única que pode dar pro null no sofá é a null!
Todos gargalhamos por um bom tempo enquanto null apanhava de uma null extremamente vermelha.
As luzes foram apagadas de novo enquanto o filme começava, depois que cessamos o riso.
- Isso mesmo, Sam. Bota ela no carro! - null disse durante a cena do ferro velho abandonado em que Sam é perseguido - Ah, se a Megan entrasse no meu humilde carro...
- Só se ela fosse hétero e muito burra. E, mesmo assim, duvido que aconteceria alguma coisa. - null jogou um balde de ciúmes em null.
- Está duvidando da minha munição, null null? - null levantou-se, colocando sua silhueta na frente da TV.
- Não estou duvidando, null null. Estou afirmando que a sua pistola é de brinquedo. - null foi seguida de vários urros de provocação.
- Não foi isso o que você gritou ontem à noite. - null usou a fala dela, aproximando-se da mesma, com os braços apoiados no encosto do sofá, deixando-a entre eles e sem palavras.
- De novo: nada de sexo no meu sofá. - null falou, trazendo a atenção de todo mundo de volta para a tela exibindo o lindo Shia LaBeouf, mas ainda podia-se sentir a tensão entre null e null.
- Essa Megan não quer mais nada também, né? Ela é linda e ganha rios de dinheiro por isso. - null suspirou.
- Não só por ser bonita, mas para rejeitar o Shia LaBeouf também. Se ele me implorasse pra entrar no carro dele... Aliás, ele nem precisaria implorar. - eu disse, suspirando também.
- null null, você está muito safada hoje! - null ralhou comigo, apertando meus tornozelos. Em troca, puxei seus cabelos de leve.
- Se fosse só hoje... - null disse em deboche. Soltei uma de minhas mãos dos cabelos do null e dei um tapa com as costas dela em null.
Só me faltava essa!
Ficamos assistindo por mais poucos minutos - null apertando meus tornozelos e eu segurando seus cabelos para cima - então a TV desligou-se novamente.
- Ah, estão zoando com a minha cara, não é possível! - reclamei, com o barulho forte da chuva de fundo, sendo seguida por um trovão que assustou a todos com o estrondo forte - Desculpa...
- Vem de novo, null. - null o chamou para a cozinha e ele a seguiu prontamente, brincando com o isqueiro.
- Quando a luz voltar, eu quero ver Star Wars! - null reclamou.
- É! Eu também quero! - null apoiou.
- Por mim, tudo bem. - respondi vagamente, ainda distraída em puxar os cabelos de null enquanto ele passava as mãos nas minhas pernas, por dentro da calça, até mais ou menos o joelho.
Como se tivesse sido programado, quando null e null pisaram na sala, a tv voltou a ficar azul, fazendo null soltar um palavrão e levar a vela de volta.
- STAR WARS! - null e null gritaram juntos. Ele trocou os dvds desta vez, mas antes que o filme começasse, um trovão estalou novamente e a tevê ficou preta.
- NÃÃÃÃO! - null gritou - Isso é muito injusto! Eu quero o meu Darth Vader sensual! - resmungou.
- Sério, vocês têm uns fetiches muito esquisitos - null soltou.
- Eu é que não vou buscar outra vela. Olha pra minha cara de palhaça.
- null, está um breu. Não dá pra ver nada - null.
- Exato! - respondeu em tom óbvio.
- null, você ainda tem nossos sabres de luz? - null perguntou infantilmente.
- Estão atrás da porta do meu quarto, se não me engano. - null soou pensativa - Vai lá buscar.
- null, pra que você vai pegar nossos sabres de luz? - perguntei.
- Se não podemos assistir Star Wars, nós vamos brincar de Star Wars. E podemos usar como iluminação! Vem, null!
- Oh, meu Deus. - null disse, após uma risada.
- Hoje é meu dia. null me pede beijo e null me leva para um quarto escuro. - ele disse, convencido, acendendo a fonte prateada de fogo - Tirem uma foto desse momento.
- Calado, null! - null ralhou com ele, já distante, nos fazendo cair em gargalhadas de novo, que se misturavam com o som da chuva.
- Não sabia que vocês tinham sabres de luz. - null comentou.
- Eu, null e a null estávamos numa loja de brinquedos e aí os vimos, então a gente falou: Por que não?
- O que vocês estavam fazendo numa loja de brinquedos? - perguntou , mas nem eu nem null soubemos o que responder.
- Bem... - eu tentei explicar.
Logo null e null apareceram na sala fazendo barulhos esquisitos com a boca, imitando os sons do filme e batendo os bastões luminosos um no outro.
- Calma! - null pediu. null e null pararam e eu a imaginei cortando o barato de todo mundo - Vamos afastar os móveis antes, pra não acontecer nenhuma tragédia.
Nós seis levantamos e ajudamos null - que foi pegar velas apenas para nós enxergarmos aonde empurraríamos os móveis - e em menos de cinco minutos nós liberamos bastante espaço na sala e levamos para o quarto os vazos e outras coisinhas frágeis espalhadas pelo cômodo.
- Tan tan, tan-tan, tan tan-tan, tan tan-tan! - null fingia ser o querido Darth Vader e cantava a Marcha Imperial - Tan tan tan, tan tan-tan, tan tan-tan... - ela rodava lentamente, segurando seu sabre de luz vermelho, junto a null, que estava com o meu, azul.
- Luke, I am your father. - coloquei as mãos na boca para fazer o efeito da fala, então null e null começaram a bater com seus sabres descoordenadamente, fazendo barulhos com a boca e exagerando nos movimentos, que só víamos por causa da luz emanada dos bastões. Lutar no escuro era engraçado.
null começou a encurralar null contra a parede e, totalmente sem querer, presionou o sabre contra a barriga dele.
- E o lado negro da força vence. - finalizou - Quem vai ser o próximo? - perguntou, prepotente.
Peguei o sabre verde da null e o girei na mão direita, empunhando-o na minha frente.
- Eu. - disse, com um sorriso maldoso.
- Ah, não, null! Não vale! Você já fez esgrima! - null choramingou.
- Pára com isso! Prometo que pego leve com você.
É, esgrima era muito legal e, modéstia à parte, eu era uma das melhores no ensino médio.
- Zium! - eu disse, posicionando-me na frente da null.
Eu a deixei iniciar o ataque, mas foi como se ela pedisse para que eu ganhasse. Parei seu bastão com o meu e girei o pulso, abaixando a ponta vermelha. Antes que ela pudesse levantá-lo de novo, encostei meu sabre em seu pescoço, com o punho para cima.
- Touchè. - disse, por fim.
- Feia. - null resmungou e saiu andando, entregando seu sabre para alguém atrás de mim.
O próximo era null, tão fã do filme quanto null. Ele também fez os sons esquisitos junto comigo. Ele me deixou atacar primeiro e desviou prontamente da minha tentativa de acertar-lhe o pescoço. Quase em seguida, ele tentou acertar o meu, mas o impedi com meu sabre, virado na diagonal, no meu lado esquerdo. Mudou o alvo para minha barriga, mas bati em seu sabre de luz, ganhando tempo para contra-atacar. null se abaixou novamente, porém, quando levantou, o lado direito de seu pescoço estava iluminado pela cor verde.
- Obrigada por tentar! - disse, sorrindo cinicamente.
- Você é muito folgada, null. - null apareceu com o bastão azul, colocando-se a minha frente.
- É porque eu posso. - respondi, prepotente, empunhando meu sabrezinho novamente - Comece.
null foi direto na minha cintura, fazendo um "zium", como se fosse me pegar de surpresa, mas coloquei meu bastão na frente, voltando imediatamente para contra-atacar. Ela também recuou e conseguiu me barrar.
- É assim que você ganhou deles? - enquanto null me subestimava, dei um giro rápido e marquei sua barriga de verde, parada de lado.
- Você fala demais, null. - disse, antes de ela sair cruzando os braços.
Uma luz vermelha passou pelos meus olhos e senti alguém atrás de mim, impedindo-me de virar-me para ver quem era.
- Hora de alguém te botar no teu lugar. - a voz rouca de null ecoou em meus tímpanos, fazendo os pêlos da minha nuca se arrepiarem. Mas foi apenas pelo susto.
- E esse alguém seria...? - perguntei, depois de ter abaixado e me desvencilhado do bastão vermelho em meu pescoço, ficando de frente para ele.
Não que eu estivesse encantada, mas não pude deixar de reparar como seus olhos ficavam lindos no escuro, contra a luz vermelha.
- Está olhando para ele. - null girou o bastão, como eu fiz anteriormente.
- Engraçado. Está escuro e não enxergo ninguém. Até que faz sentido...
- Acho que eu vou mesmo ter que desinflar seu ego. - nós começamos a girar em círculos lentamente. Empunhei meu sabre ao mesmo tempo que ele.
- Tente. - chamei-o para atacar.
- Primeiro as damas. - seu sorriso torto tinha um ar macabro, iluminado pela luz vermelha, mas ainda assim era bem...
Livrando-me dos meus pensamentos contra minha política de vida, ataquei null, mirando sua jugular, mas do mesmo jeito que fiz com null, ele me barrou e encostou seu sabre de luz abaixo do meu queixo.
É, sou orgulhosa e não admito perder como se fosse uma noob.
- Melhor de três. - rosnei, empurrando a "arma" de null para longe.
Voltamos a girar feito palhaços e então null atacou. Seu movimento foi rápido, veio pela minha esquerda, mas ergui meu bastão rápido o suficiente.
Os outros soltavam breves risos enquanto a chuva ainda castigava as janelas, mas eu me mantive concentrada em bloquear os ataques diretos e seguidos de null. Ele me empurrava para trás enquanto eu tinha um pequeno esforço para cancelar todas as sua tentativas de acertar meu corpo, até que bati minhas costas na parede, forçando seu sabre de luz, que estava na horizontal, na altura do meu pescoço, contra o meu, na vertical, bem a frente do meu rosto. Ele sorria divertido para mim, próximo o suficiente para que eu sentisse suas pernas entre as minhas.
- Bons movimentos. Andou treinando? - ergui uma sobrancelha e um lado da minha boca.
- Não. Aprendi com vídeo-games. - menosprezou o esporte que eu tanto gostava, deixando-me extremamente irritada.
Empurrei-o com força, pelo sabre, fazendo com que null tropeçasse e, quando conseguiu se estabilizar, minha querida fonte de luz verde apoiou-se em seu ombro direito, grudado ao pescoço.
- Botar quem no lugar...? - respondi presunçosa, mas logo parei, vendo a luz dos três sabres enfraquecerem até apagarem-se - Mas que po...?
- A pilha deve ter acabado... - null me interrompeu, parecendo tristonha.
- Ah, não! O mundo está conspirando contra mim hoje! - null teve seu pequeno momento Drama Queen, sendo cortada por um trovão logo em seguida.
- Calma, null! - null gargalhava e, por estar escuro, ninguém sabia por quê, mas então lembrei do pavor de trovões da null.
- E o que a gente faz agora? - null perguntou, pela segunda vez no dia.
- SEXO! - null gritou, seguido de um "ai", provavelmente provido de um tapa.
- Que tal a gente... Dormir? - null sugeriu.
Conversar com as pessoas no escuro é interessante.
- Dormir, null? - null reclamou - Agora são... - pausou para ver a tela do celular - Nove e quinze da noite de uma sexta-feira! Quem dorme a essa hora?!
- Ah, sei lá, foi só uma ideia...
- Tem bebida? - null perguntou, indiferente.
E, realmente, não era nada de mais vindo dela.
- Acho que sim... - null também pareceu não se importar - Lembro que tem uma Red Label aberta em cima do balcão.
- AE! VAMOS FICAR BÊBADOS! - null e null gritaram juntos.
- Vem, null. - null e null o chamaram ao mesmo tempo.
- Agora as duas de uma vez... Sério, preciso registrar esse momento para posteridade! - acendeu seu isqueiro, seguido das nossas risadas.
null voltou com duas velas - uma em cada pires -, enquanto null trazia seu koutatsu* com uma forma de gelo, limão e seu pote de sal em cima e null duas garrafas, quais eu reconheci como uma Red Label quase cheia e a outra como uma de tequila de uma marca random.
- Aí sim! - null disse.
Realmente não sei por que ela pegou o koutatsu já que a noite não estava tão fria assim, sem falar que ela nem ao menos gosta dele. null só o tem por que eu que gosto da cultura oriental e dei um para ela, já que passo mais tempo aqui do que em minha própria casa.
null colocou uma das velas na bancada entre a cozinha e a sala e a outra no centro do koutatsu. null também colocou as garrafas lá e, enquanto nós sete nos sentávamos em volta da mesa oriental, de joelhos, foi buscar nossos copos.
- Pronto - null disse, após sentar-se entre null e null, na minha frente, e distribuir os copos entre nós.
null serviu uma pequena dose de uísque nos copos e despejou dois cubos de gelo em cada. Surpreendentemente, levantou seu copo e disse:
- Eu nunca beijei minhas amigas.
null, null, null e null viraram suas doses prontamente, espremendo os olhos. Isso me fez lembrar de um breve episódio com null e dois com null...
null olhou assustada para mim como se me perguntasse o que eu faria a respeito disso. Eu levantei os ombros uma vez e levei o copo à minha boca, sendo seguida por ela.
Aquele líquido de cheiro e gosto ruins desceu queimando pela minha garganta. Soltei um gritinho de nojo enquanto balançava a cabeça, tentando tirar aquele gosto ruim da minha boca.
- O quê?! - null perguntou incrédula, enquanto os garotos apenas nos olhavam desse jeito.
- Estávamos bêbadas. - null falou, envergonhada.
- E eu achei que ela fosse um garoto. - defendi-me.
Todos me olharam como se eu fose louca, inclusive null.
- Um garoto com cabelos longos, que passa maquiagem, com roupas curtas mostrando suas curvas... - tentei consertar, mas pareceu não surtir efeito - Heterossexualmente falando, claro.
- Se vocês ficarem bêbadas hoje, você beija a null de novo, null? - null perguntou com os olhos brilhando, tanto por sua esperança, quanto pela luz laranja da vela.
- Não. - nós duas respondemos diretas, ao mesmo tempo.
- Oh, meu Deus. - null se pronunciou de novo - Eu nunca beijei garotas - falou enquanto null colocava mais uma rodada para mim, null e os garotos.
- Vocês estão tentando nos embebedar? - null perguntou, fingindo que estava chocado.
- Elas querem se aproveitar do nosso estado de embriaguez. - null o acompanhou.
- Eu, sinceramente, não me importo nem um pouco. - null nos fez rir e virou uma nova dose, espremendo os olhos, como da última vez.
Eu e null também bebemos, seguidas dos outros meninos, até que nós congelamos.
null tinha o copo na boca.
- O quê? - perguntou ao ver que a olhávamos assustados - Eu disse que nunca beijei minhas amigas, não que nunca beijei garotas. - e virou o copo, soltando um "blérgh" em seguida.
- Vocês são loucas. - null remexia seu copo, vendo o gelo parcialmente derretido na dose que não tomou.
- Nossa vez - null sorriu - Nunca beijei garotos. - disse, orgulhoso.
- null, me bota duas doses então! - eu disse, fazendo todos rirem, menos null...
Pois é, ela ainda não tinha bebido nada.
- Não, chega dessas coisas. Fale coisas mais interessantes. - null disse, enquanto enchia nossos copos novamente. Melhor seria ela ter parado por ali, já estava falando redundantemente.
- Certo. - null pareceu pensativo - Hum... Eu nunca tive fotos que me comprometessem. - ele apoiou um braço nos meus ombros.
Oh, céus...
Bebi meu uísque, levando o resto do gelo junto e mordendo-o.
- null! - Todos ralharam comigo e então começaram a rir descaradamente - Que feio! - null continuou.
- Eu já tive um namorado pervertido! O que eu posso fazer? - tentei amenizar a situação.
Tô vendo que hoje eu caio de bêbada.
- Ele ainda tem essas fotos? - null me chacoalhou.
- Você mantém contato com ele? - null perguntou rápido, logo após null.
- Qual é o nome dele? - null perguntou em seguida.
- Nós o conhecemos? - null finalizou.
- Acredito que não, não muito, Charlie Simpson e sim. - falei sem nem ao menos pensar...
- Sempre desconfiei do Simpson... - null murmurou.
- Chega de zoar da null. - abracei null pela cintura e deitei minha cabeça no seu ombro esquerdo... Ou era o direito? Não, olhando bem, era o esquerdo sim... Espero - Eu nunca fiz sexo com dois homens. - tentei fazer uma voz sexy que na verdade pareceu que eu estava gripada.
- Não pode mentir, null! - null me provocou e, adivinha, nós rimos até...
null virou o copo na boca, fazendo a pior careta de todas.
- Não me encham. Eu também fico bêbada. - cruzou os braços.
- null safadinha. - null falou, nos arrancando mais risadas.
null nos serviu novamente, distribuindo mais gelo pelos copos.
- Eu nunca vi a null nua. - null disse, forçando desapontamento.
Eu, null, null e - claro - null bebemos a Red Label que já não ardia tanto. Os garotos nos olharam desconfiados e então null explicou-se:
- Ela não tem um pingo de vergonha na cara na nossa frente. No vestiário da escola ela esquecia que tinha roupas - e, obviamente, nós rimos muito alto.
- JÁ SEI! - null falou, como se tivesse tido a melhor ideia da história das ideias - VAMOS FINGIR QUE ESTAMOS NO VESTIÁRIO DA ESCOLA! - ele gritou desnecessariamente, deixando a cena mais cômica.
- Só brinco disso no seu quarto, null, amorzinho. - null segurou o queixo dele e piscou, rindo da cara de esperançoso que ele fez.
- Minha vez! - null pediu, mas já não tinha sido a vez dele? - Eu nunca transei com... - ele pausou, observando todos, eu disse TODOS, ao redor - o null. - e riu malicioso.
- null, você não ouviu que não pode mentir, gato? - null mordeu os lábios, olhando sensualmente para null. Claro que isso desencadeou risadas escandalosas.null foi a primeira a virar o copo, com 'uuuuhs' sendo emitidos logo após, mas a surpresa foi...
- null! - todos nós gritamos.
- Eu já falei que também fico bêbada, ok?
- Você me pareceu bem sóbria aquela noite... - null sussurrou, mas todos nós o ouvimos e, como imaginei, null segurou o pescoço dele com as duas mãos e começou a sacudí-lo, nos tirando o fôlego de tanto dar risada. Acabei caindo em cima de null e acho que não preciso dizer que continuamos a rir por mais um tempo.
- Ei, espera - null tentou soar sóbria. Fail - Quando foi isso?
E o ciúmes rolando solto aqui...
- Calma, null, foi antes de você começar a gostar dele. - null respondeu.
- O quê?! Foi antes da null nascer? - null brincou.
- Acho bom que tenha sido, se não o null vai sofrer uma bela sessão de tortura... - null o ameaçou.
- Mas não era você que não gostava de sangue e essas coisas? - null disse.
- Já abri outras excessões pro null, mais uma não vai fazer diferença...
Nós todos olhamos suspeitos para null e então ela percebeu a merda que tinha dito, caindo em mais risadas, abaixando a mesa na cabeça... Não! Abaixando a cabeça no kouta... No kou... Na mesa japonesa...
Rimou... Haha.
- Eu sou só seu, null. - null tentou parecer romântico.
- Como assim "só dela"? - null perguntou.
- A gente tá ficando escondido. - null começou a rir e abraçou o pescoço de null.
- Por quê? - eu perguntei, tentando achar alguma lógica, o que não deu muito certo.
- Eu realmente não lembro. - null respondeu sorrindo abobalhadamente para null e então começaram a se pegar deitados no chão.
- Okay... - falei aleatoriamente, pegando a garrafa pra servir mais uma dose, mas a virei de ponta cabeça e... - Acabou!
Como se fôssemos hienas, nós desatamos a rir... De novo.
- Tequila! - null gritou, animado, abrindo a garrafa.
- Eu começo! - null pediu. Abriu o pote do sal e separou um pedaço de limão para cada um, enquanto null nos servia - Ninguém nunca bebeu tequila na minha barriga.
- Posso resolver seu problema imediatamente. - null bêbado tinha as piores cantadas. null sóbrio também.
- null, isso se chama "Eu nunca", não "Ninguém nunca". - eu disse.
- Certo. Eu nunca bebi tequila na barriga de ninguém.
null prontamente pegou um pouco de sal e espalhou na sua língua - que me pareceu extremamente atraente agora - e virou a bebida, mordendo o limão em seguida, apertando as pálpebras contra os olhos fortemente.
Eu já disse que ele é muito sexy? Não só "sexy", muito sexy, entende?
- Vivendo la vida loca. - ele disse, após tirar o limão da boca.
Limãozinho sortuuuuuuudo!
- Eu nunca deixei de achar o null gostoso... - meu sorriso pervertido provavelmente pareceu um sorriso de retardada, se estava igual ao do null.
- Hum... - ouvimos alguém... Ér, "gemer" e então vimos null rolando no chão com null, longe de onde estavam antes.
- null vai pirar... - disse, rindo com null. Procuramos ela e null pela sala, mas nem sinal dos dois.
- Ela já deve estar pirando - null nos fez rir mais ainda.
- null, você deve estar muito bêbada! - null disse, entre as risadas - Você acabou de dar em cima do null!
- É que ele é muuuuuito gostoso! - quem disse que meu pudor estava controlando minha língua?
- Sempre soube que você me achava gostoso. - null mordeu o lábio de baixo e...
Oh, céus.
- Ei, aproveitando que estamos só nós quatro aqui, que tal vocês se beijarem de novo? - null sugeriu para mim e para null.
- Ora, me respeite, null null! - paguei de moralista.
- Por favor, a gente não conta pra ninguém! - null pediu.
- Eu só beijo a null se você e o null se beijarem. - null propôs e eu a apoiei com um "yeah".
- Eu não vou beijar o null! - null protestou.
- E eu não vou beijar a null.
- Por favooooooooooor. - null pediu, arrastando a voz.
- Não. Já disse a condição. - null cruzou os braços e fechou os olhos.
- Exato. - a imitei.
- Tá, mas é só um selinho! - null nos fez abrir os olhos imediatamente.
- Okay! - nós duas respondemos e então os dois se aproximaram, de olhos fechados, fazendo careta, com um biquinho...
BINGO!
Eles se afastaram ao mesmo tempo em que juntaram os lábios, levando eu e null às gargalhadas insanas. Eu mal conseguia respirar e ela, como sempre fazia quando ria demais - sóbria ou não -, caiu de quatro no chão e começou a gemer e arfar. Isso sempre soou pornográfico.
- Eu queria uma câmera agora! - eu disse num volume um pouco menor que um grito.
- Vocês morrem se contarem para alguém. - null ameaçou, mas sua voz embargada e um pouco falha pela bebida apenas o deixou mais engraçado.
- Agora vocês. - null me levantou delicadamente pelos ombros, enquanto eu ainda ria. null abraçou null pela cintura e a pôs sentada também.
Ainda entre risadas e com falta de ar, eu e null nos apoiamos na mesa, olhando maliciosas uma para a outra. Ela me chamou com o dedo e eu pude sentir o anseio do null e do null espirrando em nós, enquanto os olhos deles nos metralhavam. Pisquei para minha amiga sem que eles percebessem, fazendo-a entender meu "plano infalível". Cebolinha feelings.
Nós estávamos próximas o suficiente. null e null também chegaram perto para ver. Viramos a cabeça para o lado e então... Beijei-lhe a bochecha rapidamente, me pondo de pé no mesmo instante, para correr de null, mas tudo pareceu girar e eu tive que sacudir a cabeça levemente para o meu labirinto voltar ao lugar. Felizmente - ou não - null estava tão bêbado quanto eu e só se levantou depois que finalmente entendeu que as risadas de null eram porque nós não haviamos nos beijado, dando-me tempo para correr dele por um breve momento, até o corredor que dava para os quartos e o banheiro de null. A última coisa que consegui ver antes de entrar naquela parte escura da casa, onde as gotas de chuva pareciam mais violentas, foi null pulando por cima de null, deitando-a no chão, ainda gargalhando abobalhadamente.
- Você... - quando não tive mais para onde correr, senti null bater em mim desajeitadamente e me prender de costas numa parede... Ou era uma porta? Who cares?
- Você me fez beijar um garoto. - null disse no meu ouvido, prendendo meus pulsos na parede também, na altura da minha cabeça - e pior: era o null!
- Gostou? Eu adoro beijar garotos! - ri mais uma vez.
- Olha que sorte a sua, eu sou um garoto. - null me virou tão rápido que só percebi quando, pela luz fraca da vela da sala que chegava no corredor, vi seus lindos olhos brilhantes com glitter!
- Tem certeza? - suspirei para recuperar o ar - Você não me pareceu muito com um garoto enquanto beijava o Mr. null. - segurei o riso e definitivamente não sabia porquê.
- É agora que eu digo aquela frase clichê do: "vou te mostrar que sou gay" e aí eu te beijo?
- Você está mesmo muito bêbado para não ter percebido isso ainda. - fiz uma careta pra ele e recebi um sorriso... De bêbado, antes que ele me beijasse. E, cara, como era bom beijar o null com o gosto amargo de bebida na boca, encostada numa parede (ou numa porta, tanto faz) ouvindo a chuva cair em alta velocidade.
(*) kotatsu é uma mesa japonesa, de vários tamanhos, com um aquecedor em baixo do tampo, usado para esquentar as pernas dos visitantes enquanto eles comem. Bastante utilizado no inverno.
Dor... Such a miserable bitch... - null? - a voz de null ecoava ao longe, espremendo meu cérebro - Acorda, gata...
- Vai se... - murmurei meu palavrão, deitada em alguma parte de um corpo deitado ao meu lado, que identifiquei como sendo de um homem, depois de sentir suas proporções. Cheirava muito bem, mesmo que tivesse um leve odor de álcool...
Álcool...
Dor, de novo...
- Vamos lá, levanta. - a merda da voz da null, rouca como nunca, insistia em ser reproduzida na minha cabeça por um alto falante.
- Deixa eu dormir... - reclamei, aconchegando-me mais ainda no corpo masculino - Você sabe que eu odeio que me acordem... - não fazia a mínima ideia de como consegui falar tudo isso sem fazer meu crânio estourar.
- Eu sei, mas já passou da uma da tarde e é mais seguro acordar você do que a null ou a null.
Alguém manda ela calar a boca e voltar a dormir? Mas que inferno...
- Finge que eu sou uma delas... - para meu belo mau humor matinal, eu até estava sendo educada com ela. Pisquei meus olhos algumas vezes, só porque eles estavam ardendo, e me deparei com o rosto sereno de um null dorminhoco, antes de fechá-los novamente e descansar minha cabeça latejante no peito dele...
Oh, fuck.
null. Eu estava dormindo em cima do null. Ou pior: não me lembro se "dormi" ou não com o null. E como eu torcia para o não.
Coloquei-me apoiada nas mãos, olhando o null ainda adormecido, com a boca aberta, embaixo de mim... Sem calças. Instintivamente, cobri meus seios por garantia, mas felizmente eu vestia minha camiseta de ontem. A minha, não a dele. Ponto pra mim.
Olhei para baixo e, com um suspiro de alívio, vi minhas calças vestidas em mim. Oh céus, eu estou vestida.
- Isso! - sussurrei, rouca como null, levantando as mãos fechadas em punhos para o alto, sentindo meu cérebro sendo fatiado por um laser de alta frequência - Ouch...
- Bom dia. - null apareceu de novo, descabelada e com olheiras. Se não estivesse sentindo a dor da minha cabeça se espalhando pelo meu corpo inteiro, eu riria dela - null já acordou e foi à padaria. - ela me ajudou a levantar do chão e demorei um momento para me acostumar com a luz e com a nova posição da minha cabeça - Comprar algo pro café-da-manhã. Quer me ajudar a arrumar a cozinha para quando os outros acordarem? - até eu entender o sentido de todas aquelas palavras, eu bocejei bem alto e me espreguicei, coçando meu antebraço esquerdo. Movi minha boca algumas vezes e senti o gosto ruim da bebida adormecida.
O alarme que minha neura por higiene bucal tinha começou a piscar na frente dos meus olhos.
- Depois que eu for ao banheiro... - disse ainda sonolenta e cocei minha cabeça, arrastando-me lentamente até a porta, por sorte, não muito longe.
Entrei e fiz meu xixi barulhento. Dude, como eu odiava quando o som do meu xixi ecoava pelo ambiente. Era vergonhoso.
Busquei minha bolsa, depois de me limpar e lavar minhas mãos devidamente, para pegar minha escova de dentes, que eu tanto valorizo agora.
A luz na sala parecia estar forte demais e eu desejei profundamente ter um controlador terrestre da intensidade do Sol. Achei minha bolsa preta no sofá fora do lugar e, sem olhá-la direito, achei minha escova facilmente. Tirei a capinha no caminho de volta e quando fui pegar a pasta de dentes da null, quase tive um ataque cardíaco. Minha imagem no espelho estava a ponto de quebrá-lo e me vi sem moral nenhuma para falar do estado de null. Ela estava uma perfeita Miss Venezuela comparada a mim.
Os dois semi-círculos cinza arroxeados em baixo dos meus olhos vermelhos faziam parecer que eu havia levado um soco em cada um. Se meu cabelo fosse menor, estaria com um legítmo black power no momento, de tão alto que meus fios estavam. Minha boca seca precisava urgentemente de umidade e eu tinha algumas marcas vermelhas em meu rosto. Nem a Ke$ha consegue um visual mais selvagem que esse.
Sem pensar duas vezes, abri a torneira e enfiei minhas mãos em concha embaixo do jato de água. Joguei no rosto tudo o que pude segurar e esfreguei bem os olhos, para tirar qualquer sujeira. Fiz isso mais algumas vezes, para garantir, e passei as mãos úmidas pelos cabelos, abaixando-os momentaneamente. Antes de começar a escovar os dentes pra valer, fiz um breve bochecho para deixar minha boca molhada.
Até para movimentar minha escova eu sentia dor. Meus braços doíam, meus dedos e - acredite se quiser - minhas gengivas também.
Sabe, agora eu já não vejo muita graça no pouco que consigo lembrar de ontem à noite, depois da batalha de sabres de luz... Só das bebidas e da chuva...
Ainda estava chovendo. Garoando, na verdade, mas ainda caia água do céu, que, aliás, estava completamente cinza claro, não deixando evidente nem o contorno das nuvens que se despejavam sobre nós.
Saí do banheiro me sentindo um pouco melhor. Só um pouquinho. Tipo, 5% melhor.
- Bom dia de novo. - fui para a cozinha, passando por cima de null jogado no chão do começo do corredor e observei null e null deitados de bruços no lado oposto a null, parecendo... Mortos. Ela em cima dele, babando.
Esse vai sofrer quando acordar.
- Bom dia, dona ressaca. - ela me cumprimentou, oferecendo-me uma cartela de comprimidos para dor de cabeça e um copo d'água. Já podia-se sentir o cheiro delicioso que a cafeteira emanava.
Tomei o comprimido que me fora oferecido, engolindo mais água que o necessário. Estava morrendo de sede.
- Como se você não estivesse... - resmunguei, devolvendo meu copo à pia e colocando os outros comprimidos na prateleira acima - A luz já voltou?
- Não. - null bufou.
- Então como que a cafeteira tá ligada? - assustei-me. Bruxaria!
- É à bateria. - respondeu simplesmente.
Claro, como não pensei nisso antes?
Abri uma das gavetas da cozinha de null e forrei sua enorme mesa redonda com a primeira toalha que achei para nós tomarmos o café-da-manhã.
Fui colocando a louça em cima da mesa na disposição certa para oito pessoas quando null voltou. Abriu a porta lentamente, sem fazer muito barulho, trazendo alguns sacos plásticos em uma mão. Ele parecia tão acabado quanto nós.
null tirou as sacolas de suas mãos, levando-as para a bancada e retirando alguns produtos de lá - como um enorme saco de pães.
null entrou na cozinha e pude ver alguns pingos em sua camiseta. Ele pareceu procurar por alguma coisa, até que parou o olhar na cafeteira.
- Isso está com um cheiro ótimo. - disse ele, baixinho.
Dei uma leve risada, terminando de colocar os talheres na mesa. Aquela atividade até desviou um pouco a dor de cabeça, mas não a dor nas minhas costas.
Ouvi alguns resmungos vindos da porta e, olhando para lá, me deparei com o null de boxers e camiseta brancas, com o rosto amassado e coçando a cabeça. Adorável, de um jeito esquisito e que não faz parte dos meus princípios.
Ri baixinho mais uma vez e fui até ele.
- Não, não. Primeira parada é o banheiro. - virei-o lentamente, segurando-lhe os ombros, e direcionando-o até o banheiro. Parei com ele na porta e ganhei um bocejo de agradecimento.
- null, este é o banheiro. - disse como se apresentasse um amigo - Você vai entrar lá, levantar a tampa da privada, - ele ainda parecia alheio ao que eu falava - abaixar as boxers e então...
- null, eu ainda sei mijar. - disse, um tanto rude, mas eu relevei só por que ele estava com sono e de ressaca.
- Entra aí e faça o que tem que fazer que eu procuro suas calças e sua escova de dentes. - empurrei-o para dentro e fechei a porta.
Achei um jeans jogado no encosto do sofá de null e realmente fiquei com medo de saber como ela fora parar ali. Revirei os bolsos, tentando achar algo que me provasse que aquela era a calça do null e achei uma carteira, dentro dela a habilitação de motorista pertencente ao null. Embaixo da calça, tinha uma jaqueta preta que eu lembrei de tê-lo visto usando quando chegou e dentro de um bolso interno havia sua escova azul-escuro, do mesmo modelo que a minha. Bati levemente na porta, imaginando quão perturbador seria para ele se eu batesse com força, agravando sua dor de cabeça.
Ele abriu a porta com uma expressão mau humorada que foi igualmente devolvida. Coloquei suas calças e sua escova em seu peito, um tanto brutalmente, e não esperei nem um segundo a mais depois que ele as segurou. Voltei direto para a cozinha e encontrei uma bela cena romântica de null abrindo o pote do queijo branco enquanto dava um selinho em null.
Doce logo pela manhã, eu mereço.
Passei despercebida por eles e me sentei à mesa, já composta por pães, queijo, presunto, requeijão, Nutella, suco de caixinha de manga e de uva, geleia de amora, Gatorade de morango - obrigada por lembrar de mim, null -, sonhos, pães de queijo, bolachas doces e de água e sal, cookies de chocolate - esses também eram para mim, sem dúvidas; se não fossem, eu os roubaria -, leite frio e achocolatado.
Imaginei quanto ele não deveria ter gastado, mas por outro lado...
Peguei um cookie e fui até a sala. null e null estavam acordando e, só pela expressão de dor e os gemidos chorosos dele, imaginei que meu palpite estava certo.
- Ah, null, me desculpa. - null sussurrava, quase inaudivelmente, passando as mãos levemente pelos ombros do garoto - De verdade, me desculpa. - ela recebia gemidos em resposta - Quer que eu faça uma massagem em você? Hein? - mais um gemido abafado - Oh, droga, me desculpa. - ela começou a apertar delicadamente os ombros dele, arrancando gemidos mais altos e, se não estiver louca, pude jurar que ouvi um "que gostoso" sair sofrido da garganta dele.
null apareceu no corredor com uma aparência um pouco melhor, com os olhos cerrados, provavelmente por causa da luz branca vindo da janela que mostrava - imagine só - mais chuva.
- Vem cá. - puxei null pelos ombros enquanto ele olhava assustado para a cena do null com a null. Não o culpo: ver null sentada nas costas de null, enquanto este está estirado no chão, gemendo loucamente não é o que se chama de uma cena "comum" - Vamos esperar null e null saírem do quarto e null e null se arrumarem para tomarmos café. - fui puxando null até a cozinha, onde null tirava o bule transparente de dentro da cafeteira e null encontrava-se encostado a parede, perto da janela, olhando para fora.
- O que aconteceu ontem? - null sussurrou rouco, assim como todos nós.
- Nós bebemos demais. - passei a mão em alguns fios do seu cabelo que permaneciam em pé.
- Isso explica muita coisa... - disse, meio zonzo - Você tem algo para dor de cabeça? - pediu, de olhos fechados.
Peguei o comprimido no mesmo lugar que o deixei e enchi um copo com água para ele. Entreguei-lhe, fazendo null abrir os olhos - Obrigado.
Quando ele acabou com a água de seu copo, enchi o mesmo de novo e bebi eu mesma. Ainda estava com sede e provavelmente eu teria que lavar a louça, então quanto menos itens sujos, melhor.
- Por que eu estava sem calças? - foi meio cômico o jeito que ele perguntou, mas o máximo que fiz foi dar um sorriso singelo.
null encostou-se na bancada e jogou a cabeça para trás.
- Não faço a mínima ideia.
- Ah, minha cabeça vai explodir. - clichê.
- Daqui a pouco melhora. - passei as mãos em suas bochechas, acompanhando quando ele abaixou a cabeça de novo e me olhou de um jeito esquisito. De um jeito esquisito, anormal e incomum que eu prefiri ignorar.
- Responde uma coisa... - sua voz estava menos rouca - A gente não...?
- Esperava que você me respondesse. - olhei para baixo, envergonhada - Eu acordei vestida, pelo menos.
- Isso é um bom sinal... Ou um mal sinal. Depende do ponto de vista... - sem que eu percebesse, estava encaixada entre suas pernas.
- Bom sinal, definitivamente.
- Aham... - e virou a cabeça para trás de novo.
Eu achava isso meio estúpido as vezes, mas eu gostava de cuidar do null... E dos outros, de todos na casa, mas ele normalmente era o que precisava de mais atenção. Um enorme bebezão que precisava de cuidados a todo o instante.
- Bom dia, meus amores. - null apareceu na cozinha, radiante como sempre, e me beijou a bochecha - Que cheiro bom de café. Acho que vou embebedar vocês mais vezes aqui em casa, se no dia seguinte eu acordar com café pronto. - ela estava feliz e arrumada demais...
Olha o que uma boa noite de sexo e uma suíte não fazem com uma garota.
- O que é aquela sessão de exorcismo que a null está fazendo no null? - null apareceu logo em seguida na cozinha, tão alegre e apresentável quanto null, provando minha teoria do sexo e da suíte.
- null dormiu em cima do null. - falei, saindo do meio das pernas de null, encostando na bancada, ao seu lado, e vendo null tomar um comprimido, entregando um para null logo em seguida.
- Outch. - ele disse antes de beber o copo de água.
- Esses dois tiveram uma noite muito boa - null disse no meu ouvido baixo o suficiente para que só eu o ouvisse.
Respondi, depois de um risinho:
- Você ainda não viu null e null. - apontei com a cabeça para a mesa, mais afastada, onde os ditos cujos estavam sentados um ao lado do outro.
- Mas, como, se eles estavam na sala e nós também? Quero dizer, eu não ouvi nem vi... Nada.
- Tão misterioso quanto como você acordou sem calças... Estamos falando de null: ela já fez um menage. Não duvido de mais nada. - levantei os ombros uma vez e coloquei as mãos nos bolsos.
Calma: eu me lembrei! Lembrei de uma parte do jogo!
- Wow, me lembrei de algumas coisas!
- Pistas sobre como minhas calças sairam do meu corpo? - ele colocou um braço em volta da minha cintura e nos tirou do balcão, levando-me para a mesa do café. null e null já estavam juntos de null e null e podia-se ouvir null vindo atrás de nós, com null a lhe apertar.
- Esse é um mistério que temo não poder resolver, Mr. null. - usei meu melhor tom de Sherlock Holmes e null sorriu para mim, involuntariamente, fazendo-me sorrir de volta.
Sentamo-nos lado a lado também e logo null e null juntaram-se a nós, sentando a minha frente.
Comi muito bem, obrigada. Comecei com um pouco de café e passei para os pães de queijo, incrivelmente ainda quentes. Comi meio pão francês com requejão e dividi minha - oficialmente minha depois que null confirmou que só comprou por minha causa - Gatorade de morango com null e null. Aliás, enquanto comia, tive que ajudar null, como se ele tivesse três anos de idade e eu fosse sua mãe, fazendo todos rirem - não tanto como na noite passada. Ele sujou todo o rosto com o creme dos sonhos e eu tive que limpá-lo, ouvindo null dizer para eu passar a língua numa sujeirinha perto da boca do null.
- Assim? - disse com a língua para fora, ameaçando realmente lamber a bochecha do null, que se afastava de mim como se eu fosse uma louca. E com razão.
- Isso, null. Sempre soube que você sabia lidar muito bem com sua língua. - null respondeu, fazendo-me rir.
- Gente, que nojo! Nós acabamos de acordar, estamos comendo e vocês falando dessas coisas! - null ralhou conosco.
- null começou. - dei de ombros e voltei a passar o gardanapo nos lábios de null, mordendo uma bolacha de chocolate que fora mergulhada no pote de Nutella.
- Aí, você se sujou também. - null apontou para mim quando mudei para sua bochecha direita.
- Depois eu me viro. - nem ao menos estava sentindo algo sujo no meu rosto.
- Não, vem cá. Deixa que eu tiro. - null puxou meu queixo e...
Beijou-me.
Fiquei estática no mesmo instante, com os olhos arregalados - que só fecharam quando senti os lábios dele tocarem os meus - e parada segurando o guardanapo do null. Este que me olhava reprimindo um sorriso, com seus olhos tão perto...
E todos agiram como se nada fosse, continuando a comer e conversar.
- Certo... - disse, antes de me voltar ao pacote de Waffers de chocolate.
Nada mudou depois disso. Quero dizer, nada pareceu mudar. null ainda me roubava beijos e depois da quinta vez desisti de impedir ou me surpreender; null e null continuavam a brincar romanticamente; null cobria null na sua bolha de preocupação, poupando-o de praticamente qualquer movimento e null e null conversavam animadamente sobre qualquer coisa, mas sempre evitávamos comentar qualquer coisa que lembrássemos da noite passada. Ninguém estava pronto ainda.
- E agora, o que a gente faz? - null continuou com seu bordão - São quase cinco horas da tarde, não parou de chover um minuto e a luz ainda não voltou. - ele apertou o interruptor, mas a única onda que este liberou foi uma sonora.
- Liga na portaria e pergunta o que aconteceu, null. - sugeri, porque eu ligo para a portaria do meu prédio pra qualquer coisa.
- Certo. - ela foi até o interfone e o tirou do gancho, apertando uma única tecla e começou a falar.
null sentou-se no sofá com a cabeça de null deitada em seu colo.
Nas duas últimas horas, nós arrumamos a casa de null, que definitivamente estava um caos. Eu e null ficamos com a cozinha, os garotos colocaram os móveis da sala - com uma pequena participação de Tom, já que null o mandou não fazer esforço. No fim sobrou pro null, porque null e null são as pessoas mais preguiçosas que eu conheço depois de mim mesma e ficaram enrolando o pobre coitado. Mesmo reclamando, null fez os dois ajudarem e, como eu sempre digo: melhor fazer do que reclamar; eles podem fazer corpo mole, mas são muito prestativos quando querem (ou são obrigados).
null e null foram arrumar o quarto desta e imaginei que ele estivesse tão bagunçado quanto o resto do apartamento, mesmo que só ela e null tenham dormido lá.
- E aí? - null perguntou quando null desligou, atraindo nossa atenção toda a ela.
- Parece que uma árvore caiu na fiação elétrica principal e metade do bairro está sem luz.
- Que maravilha! - minha ironia finalmente despertou - Quantos meses vamos ter que ficar sem luz?
- O porteiro disse que não tem previsão.
- Olha, foi uma ótima noite, mas não dá pra gente ficar enchendo a cara por causa da falta de luz. - null disse.
- Não? - null perguntou, incrédulo, fazendo cena.
- TÉÉÉÉÉÉÉÉÉDIO - null gemeu do sofá, ainda com o rosto escondido em uma das pernas de null.
Fui até a porta da varanda de null enquanto eles continuavam a falar qualquer coisa que eu não prestei atenção e fiquei olhando a chuva - mais forte do que quando acordei - cair e formar uma enorme poça em todo o pátio de condomínio. Lembrei de quando eu tinha uns oito anos de idade e levei a maior bronca dos meus pais porque eu tinha tomado banho de chuva. Foi legal, mas depois eu fiquei doente.
- O que foi? - null apareceu ao meu lado, apoiado no vidro, assim como eu, provavelmente achando estranho que eu estivesse rindo sozinha.
- Só lembrei de uma coisa...
- Algo a ver com as minhas calças? - insistiu de novo.
- Não, null. - ri da cara de decepção dele - Eu provavelmente não vou lembrar nunca do que aconteceu com suas calças e não sei pra que você quer saber. Já está vestido, precisa de mais o quê? - ele riu e concordou com a cabeça.
null pasou a olhar para o lado de fora também e, me batam depois, mas ele nunca esteve tão lindo quanto agora, com a luz branca brigando com o brilho natural dos olhos dele. Era como um holofote, que iluminava todo o seu rosto e... Era baba escorrendo pela minha boca? Eca.
- Faz muito tempo que eu não tomo banho de chuva. - null disse, aleatoriamente, ainda encarando o lado de fora.
- Eu tenho um leve trauma. Da última vez que saí na chuva por diversão, minha mãe quase sugou minha alma e eu fiquei doente. - soltei mais um risinho ao lembrar desse dia.
- E quando foi isso? - null tinha uma sobrancelha erguida e me olhou por um breve instante, antes de voltar a encarar os pingos grossos da chuva.
- Eu tinha uns oito ou nove anos... - dei de ombros, mas ele deu muito mais importância.
- Você está brincando que desde os nove anos você não toma banho de chuva. - arregalou os olhos para mim.
- Não tomo banho de chuva intencionalmente desde os nove anos. - ser pega de surpresa por nuvens carregadas enquanto você está atrasada por uma reunião definitivamente não é algo divertido.
- Vamos. - null estendeu-me a mão, sorrindo infantilmente.
- Pra onde?
- Vem, null!
- Não, tá louco? Acha que eu vou ficar sendo levada por você pra qualquer lugar? - estava recitando meu belo discurso de como null era imprudente e que nem se eu perdesse a noção do perigo o deixaria me levar para um lugar que eu não conhecesse, mas fui rudemente interrompida por ELE ME JOGANDO NO OMBRO! - , MAS QUE PORRA É ESSA? - gritei com o susto, fazendo todo mundo olhar para nossa situação hilária, acompanhada de risadas.
- null, abre a porta. - null me ignorou totalmente. null pareceu hesitar, vendo que eu esmurrava as costas de null como podia, mas se direcionou até a porta de entrada - Vai logo, ela é pesada!
- VOCÊ ESTÁ ME CARREGANDO SEM A MINHA PERMISSÃO E AINDA ME CHAMA DE GORDA? - ele deve estar bêbado ainda, para arriscar a vida desse jeito - EU VOU TE MATAR, SEU IMBECIL! ME BOTA NO CHÃO AGORA. - parecia que meu ataque não estava tento o efeito que eu queria que tivesse e, quando me toquei que a viagem estava mais desconfortável do que antes, vi que null estava descendo as escadas de incêdio - ME SOLTA! - meus gritos ecoavam macabramente pelas escadas.
- Cala a boca, null! Você vai incomodar os outros!
Ah, agora, além de tudo, ele quer que eu cale a boca. Não quer mais nada, não? Acompanha fritas?
- Eu não vou calar a boca, seu babaca! Me bota no... - ele abriu uma daquelas portas corta-fogo e "a luz" se mostrou intensa, machucando meus olhos.
E então entendi o que estava acontecendo. Tarde demais.
- Pronto. - minhas roupas começaram a ficar frias e pesadas assim que null me colocou no chão. A fúria nos meus olhos começou a se dissipar quando o vi tão molhado quanto eu.
- Foi para isso que você fez todo essa cena de comédia romântica?
- É legal imitar os filmes de vez em quando. As garotas adoram. - sorriu cínico.
- Eu não sei com que tipo de garota você sai, mas eu gosto de filmes de ação. Então, se você não explodir um carro italiano extremamente caro enquanto salta sobre outros carros italianos e atira na cabeça de um alienígena com uma AK-47 ou com uma doze, eu não me surpreendo. - fiz minha melhor cara de tédio, enquanto meus cabelos grudavam no meu rosto.
Não podia negar: sentir a chuva fria cair na sua cabeça, costas e em seus ombros é mais relaxante do que qualquer aula de ioga, principalmente depois de ser carregada dez andares abaixo por seu amigo que te tira do sério - nos mais variados sentidos - e que agora está usando uma camiseta branca debaixo da chuva com você.
- Devia imaginar. Você nunca foi uma garota normal. - disse, apenas para me provocar, mas, claro, mostrei que sou superior e o ignorei.
- Sabe, se você simplesmente tivesse dito "hey, vamos tomar um banho de chuva" eu poderia ter descido as escadas sozinha.
null seco era um perigo, molhado então era causa de óbito. A água descendo pelo rosto dele o deixava totalmente encantador e sexy ao mesmo tempo - e nem imagino como ele consegue isso - somado à sua camiseta branca colada ao corpo, resaltando os belíssimos músculos do tronco e do braço significava curto circuito imadiato no cérebro.
- Mas não teria graça. - ele veio andando até mim, a palhaça parada embaixo de uma chuva torrencial - Admita que você adorou ser carregada igual nos filmes. - sorriu de lado ao mesmo tempo que segurou minha cintura com uma mão de cada vez e, como se fosse uma lei da Física, minhas mãos repousaram em seus ombros. (n/a: tara da Honey B por ombros se manifestando)
- Não. - disse, orgulhosa, mas um tanto desconcentrada devido às minhas circuntâncias.
- Para de frescura, null. Eu lembro de uma certa pessoa... - null pausou para me dar um breve beijo perto de clavícula - Me chamando de gostoso, ontem à noite. - beijou-me perto daquela região de novo.
- Eu estava bêbada. - e o meu orgulho usaria essa desculpa o quanto pudesse.
- Você sabe que um dia todos nós vamos ter que conversar, sóbrios, - frisou, olhando-me nos olhos agora - sobre a noite passada. - Quero dizer, a null já dormiu com o null e eu beijei o null! - ele tinha ese dom de transformar qualquer situação em uma piada.
- Não teremos essa conversa agora, embaixo da chuva. - suas mãos me apaertaram mais contra si.
- Ótimo, então fica quieta.
Acho que não preciso mencionar que null me beijou. E eu o beijei de volta. É, foda-se: eu estava beijando null null. Meu primeiro beijo na chuva - ele vai usar isso contra mim pelo resto da vida, mas eu não podia me importar menos, agora que sua mão segurava a parte de trás da minha cabeça, com os dedos entre meus cabelos molhados e a outra afagava minha cintura e me grudava contra o corpo dele, este que eu puxava para perto como se a função da minha vida fosse essa. Mesmo com os gestos um tanto "desesperados", nosso beijo era calmo e - me bata bastante e muito forte - provavelmente entraria no meu top 10, com essa ajudinha que a chuva dava. Top 5, talvez... Certo, só por ter puxado meu lábio de baixo vai para o top 3... Oh, droga:
ESSE É O MELHOR BEIJO. Infle seu ego na minha mente, null.
Se eu soubesse que beijar embaixo da chuva era tão revigorante - e excitante -, eu teria arrastado meus namorados para qualquer garoazinha que caísse. Ou será que é só culpa do null que esse momento esteja me tirando o fôlego? Talvez a combinação dos dois...
Who cares? Mas, o que é bom dura pouco e - repare que lindo - nossos adoráveis amigos apareceram no hall externo do prédio, secos por estarem embaixo de uma cobertura, que seria o chão do cara do primeiro andar, fazendo a maior barulheira, com direito a assovios, "uhuls" e um "finalmente" nada discreto provido do null.
O meu lindo olhar ameaçador voltou-se para eles enquanto null se quebrava em risos, mesmo que a vergonha estivesse cobrindo seu rosto.
Soltei-me dele - com muito pesar - e andei em direção à minha vítima. null, que batia palmas teatralmente, olhava-me segurando o riso. Juntei suas belas mãozinhas e a puxei para baixo da chuva junto comigo, deixando-a se ensopar enquanto eu corria dela - que demorou um pouco para correr atrás de mim depois. null ria escandalosamente e, depois de dar uma volta no chafariz no centro do pátio, na frente de null, vi todos os outros molhados, juntos, na chuva. null, null e null pulando nas poças de água, null e null abraçados e null...
Onde estava null?
Minha dúvida foi esclarecida quando senti dois braços que nunca poderiam ser da null me envolvendo pela cintura e me tirando do chão.
- Agora você vai pagar por ter feito isso no meu cabelo. - null apontou para a cabeça e começou a sacudir os cabelos no meu rosto. Automaticamente, fechei meus olhos, mas as gotas do cabelo dela e as gotas que caiam do céu não tinham muita diferença, então foi meio estúpido da minha parte. Comecei a me debater nos braços de null e logo me soltei dele, correndo dos dois agora, escondendo-me atrás de null.
E, basicamente, foi assim que terminamos nosso sábado, brincando de pega-pega - entenda como quiser, cof - na chuva, rindo como não fazíamos há muito tempo... Sóbrios, quero dizer.
Eu, meus amigos e null - agora eu não sabia qual era a classe dele, mas depois eu descubro - na chuva, igual a um bando de retardados. Esses éramos nós.
Até o porteiro chegar e nos mandar subir porque os vizinhos estavam reclamando do barulho.
FIM
Nota da autora Awn, acabou ): Puts, que coisa triste! Mas, e aí, vocês curtiram final? Não ficou esquisito? Vou dizer pra vocês que, pra minha primeira "não-short", o índice de aceitação foi maior do que eu esperava! Fiquei TÃO freaking feliz quando eu vi os comentários fofos de vocês! Sério, vocês são demais!
Bom, vou responder alguns comentários na fic, quais me emocionaram mesmo! Vocês devem saber que, nem que seja 1 commentzinho ali em baixo, faz toda a diferença! Então, here we go:
nicolestrela: Nossa, fico com o ego muito grande quando leio um elogio desses! UASHIAH (mentira, tá?)
Cris Matos, mara, Raquel: Sério que vocês acharam engraçada? Eu fiquei até com medo sobre algumas piadinhas ao longo da fic, porque muitas vezes minhas amigas não entendem meu senso de humor meio irônico... Às vezes tenho que explicar a a piada pra elas e perde a graça, sabem? KKKK. Obrigada, mesmo!
Bali: Ah, relaxa! Foi só um selinho, pega nada! Aposto minhas calças (?) que os quatro já tiveram essa experiência an vida real! UAHIASUH.
Lola, B. Detcher, $aah, In, Maris: Eu dei risada vendo os comentários de vocês em caps! Achava que só eu dava essas loucas com fanfics, tipo dar risada na frente do pc! Espero não decepcionar vocês com esses poucos capítulos ):
Rafa: Puts, que linda você é! UHAISUHS Esse "perfeita" fez o meu dia, sem exagero!
Beijos, obrigada a TODO MUNDO que comentou ali em baixo, a TODO MUNDO que leu e nao comentou - amizade continua, no hurt feelings - e a galera que leu e não gostou - eu sei que vocês estão aí, em algum lugar, se escondendo...
E, para as pessoas que pediram uma continuação, vou contar um segredo: TALVEZ haja uma parte dois, sei lá. Mas não fiquem com esperanças. Eu só tenho o primeiro capítulo pronto e se não ficar bom ou ficar muito diferente dessa, nem vou mandar pra Lara.
Falando nela, agradecimentos especiais para: minha beta linda, Larinha! Obrigada mesmo! Nina, que é obrigada a ler minhas fics antes de qualquer outra pessoa. Cris, minha alma gêmea da escrita - quem sabe não chega uma fic em parceria com ela? UAHSIUH e pra Gabi, que não ajudou em nada mas é minha melhor amiga e eu amo ela. KKK
Obrigada!
Xx, Honey B.
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