"Sozinho posso te ver melhor,
Quando se vai o sol.
Procuro o fio do seu cabelo no lençol."
Joguei-me naquela cama, não agüentando mais de saudades dela. Peguei a blusa que ela havia esquecido aqui em casa. Senti o cheiro daquele perfume que tanto gosto. Olhei para a minha cama e a senti tão vazia, incompleta sem a garota ali. Só queria sentir o odor bom daqueles fios no meu travesseiro de novo.
“Baixei aquele filme que você disse que era bom
E vi que nada é tão bom,
Quando você não está aqui."
Olhei aquele quarto tão vazio. Por que ela foi embora? Por quê? Queria algo que me lembrasse dela... Mas o quê?
Flashback
– , queria ver “Plano B” – ela fez aquela carinha fofa, enquanto estava deitada no meu colo.
– Romance, amor? Não! – ela me olhou triste, mas assentiu com a cabeça.
End of flashback
É isso. Vou é achar esse filme na internet, baixar e assisti-lo! Pelo menos, vou me lembrar dela.
Duas horas depois, finalmente consegui dar play naquele filme. Assisti e me arrependo por não ter visto com ela. O filme é legal, mas nada é bom por completo quando ela não está comigo. Cadê você, ? Cadê você?
"Um dia sem você é triste.
Uma semana, é maldade.
Um mês, não existe.
Dou meus pulos, atravesso a cidade."
Meu primeiro dia sem ela até que foi aceitável. Meus amigos estavam comigo, dando-me apoio, e quase me fizerem esquecer da guria que tanto amo, mas que nunca disse que isso é recíproco!
A primeira semana foi mais difícil. Não saí de casa, não atendia os caras, mal comia.. Só ficava deitado, abraçado àquela blusa. Eu a queria, precisava dela, e agora não tinha mais. Ela estava longe e, lá, podia ter todos os caras que quisesse, linda daquele jeito.
O primeiro mês sem ela foi torturante. Meu cabelo cresceu. Eu só tomava banho e comia para me manter em pé. Olheiras e barba por fazer eram comuns. Minha mãe chegou a dizer que eu tinha até emagrecido, mas quem é que liga ? Eu preferia era morrer, se não fosse para tê-la aqui.
"Junto dinheiro para financiar a viagem.
Uma bolacha, salgadinho,
Dois ‘refris’ e a passagem."
Até que não agüentei mais. Eu precisava ver ela, sentir a sua pele dela na minha de novo... Eu precisava disso.
Peguei o dinheiro que eu tinha guardado e fui para a rodoviária. Comprei as passagens para ir vê-la, passei na lanchonete e peguei algo comestível. Eram longas horas dentro daquele ônibus. Não que eu fosse comer. Isso era o que eu menos fazia nesses meses.
"Já era, já fui. Espere-me, amor.
Vou atrasar mais dez minutos,
Parar para te comprar uma flor,
E estou pronto, na melhor roupa que eu tenho.
Uma rosa na mão esquerda. Na outra mão, um cartão com desenho."
Ande, tio. É só uma rosa. Para que demorar tanto? Se eu perder o ônibus, mato esse tiozinho louco aí. Também, olhe a idéia, né?! A flor vai chegar lá murcha. idiota. Ela gosta de flores... Calma, vou me atrasar, mas acho que o ônibus não sai sem mim... Eu acho.
Quase dez minutos depois, o carinha me entregou a flor e fui correndo para dentro daquele ônibus, analisando-me. Rosa na mão? Ok! Melhor roupa que tenho? Ok! O cartão que comprei pra ela antes mesmo da mesma ir embora? Ok!
É agora ou nunca.
"Correndo para a rodoviária.
O ‘busão’ sai às nove.
Desculpe o cartão molhado.
É que em novembro sempre chove à tarde."
DROGA DE CHUVA! Agora, além de molhar o cartão, eu vou me ensopar e chegar lá fedendo a cachorro molhado. É só o que me falta... E são nove e sete! Por que sempre tem que chover em novembro? Não gosto de chuvas. E isso tudo por causa dela, que não gosta de ficar em casa sozinha em dia de chuva, e eu acabava indo para lá, fazer companhia. Peguei essa mania.
Ah, , até a chuva me lembra você.
"E hoje a chuva está bolada.
Já me sentei, fiz a minha oração.
Se Deus quiser,
Nem pega nada, vá:
E que essa chuva passe logo e que eu chegue bem lá... Amém!"
A gente deve estar saindo da cidade agora. A chuva está horrivelmente forte. Droga, ficar sentado aqui só me agonia mais. Mas, se Deus me ouvir, e sei que ele vai, nada de ruim vai acontecer e essa chuva vai passar.
"Estou indo sentado,
Vendo as montanhas,
Lembrando que quanto mais você me perde,
Mais vezes me ganha."
Encostei a cabeça ao vidro e passei a mão nele com a intenção de tirar o embaçado. Olhei para fora. Estávamos na serra, porque montanhas não faltavam ali. Fechei os olhos e só ouvi o barulho do trovão. Acabei me lembrando de uma briga nossa...
Flashback
– , tenho que ir... – ela estava abraçada comigo no sofá da casa dela e com a cabeça encostada ao meu pescoço. Aquela respiração estava me dando arrepios.
– Mas está chovendo, – ela disse isso, ainda contra o meu pescoço. Menina, você quer me enlouquecer. É isso ?
– Mas tenho que ensaiar com os caras hoje! – pronto. Toquei no ponto fraco. Na hora, ela se separou de mim e se levantou do sofá.
– Vá. Pode ir... Mas também não precisa voltar – ela apontou para a porta, ainda de cabeça baixa.
– Amor, não é isso... – fui pra perto dela, mas a mesma se afastou mais. – Deixe esse medo bobo de lado, por favor.
– MEDO BOBO?! POR QUE SEMPRE O QUE SINTO É BOBO?! Por favor, , saia! – ela estava chorando? Ai, meu Deus.
– , não chore. Não foi isso o que quis dizer... – nisso, a menina correu para fora da própria casa, conseqüentemente saindo na chuva.
Corri atrás dela e segurei o seu braço, antes que ela pudesse chegar até o asfalto.
– Ei, esqueça-se do ensaio, do que lhe falei... Nunca vou deixar você sozinha! – puxei-a pelo braço, mas ela resistiu.
– Como vou confiar em alguém que julga os meus medos como bobos?
– Por favor, esqueça-se do que lhe falei... Eu te amo. Confie em mim, ! – ergui o queixo dela e vi um sorrisinho brotar naqueles lábios. Não a esperei responder. Beijei-a sem aviso nenhum e ali, naquela chuva fria.
End of flashback
Deixei uma lágrima escorrer e a saudade apertou.
"E aquela briga ontem foi foda.
Eu não queria dizer que eu não queria ter você.
Mas queria que soubesse que me importo
E que eu que essa chuva é o reflexo do estado do meu corpo.
E foi pensando nisso
Que me joguei para cá,
Para ver se, quando eu a encontrar,
Eu faço essa chuva parar."
E mais uma lágrima lembrando-me da briga de ontem. Brigar por telefone é extremamente horrível. Ouvi-la chorando é ainda pior quando não estou perto para abraçá-la e dizer que tudo vai ficar bem. Fiz a merda de dizer que não a queria mais comigo logo agora que ela estava disposta a largar os pais e voltar para cá. Eu queria dizer que tudo isso é mentira, que me importo com ela mais que tudo. O dia representa exatamente como está o meu emocional: frio, cinzento... E que só vai voltar a ser "ensolarado" quando ela estiver nos meus braços outra vez. É por isso que estou aqui, para olhar para ela de novo e fazer essa chuva dentro de mim parar.
"Será que isso é possível?
Eu, sonhador demais,
Na estranha dor demais.
Essa estranha dor é mais do que saudade."
Mas será que vê-la vai ser suficiente? Acho que não. Preciso dela todos os dias ao meu lado, apoiando-me, brigando comigo... Dando-me os conselhos que preciso ouvir. Essa dor que toma conta do meu peito não é só saudade. É tudo junto: um amor perdido, a maldita distância que insiste em me fazer ficar longe dela... TUDO, tudo me faz sentir essa dor.
"É como uma necessidade,
De poder ter a certeza que não era verdade.
O que você disse por telefone,
Que estava na hora de eu provar que podia ser o seu homem,
Que um menino,
Que nem pode sustentar um lar,
Nunca seria bom o suficiente
Para você casar."
E mesmo que essa viagem não faça passar a dor, é um jeito que encontrei de provar que eu homem para ela! E concordo com o que você disse, ... Que tenho que deixar de ser um menino. Tenho que dar o melhor de mim para poder tê-la do meu lado. Vou ser bom o suficiente para me casar com ela, porque é essa garota que eu amo e é com ela que quero ficar.
"Foi pensando nisso
Que eu entrei nesse ‘busão’.
Mas talvez
Eu seja só um menino com uma rosa na mão.”
E foi para isso que entrei nessa porcaria de ônibus, com essa chuva horrível caindo. Só para poder provar que sou homem o suficiente para ela. Mas agora, olhando por outro ponto de vista, vejo que talvez eu realmente seja somente um menino com uma rosa na mão e um coração doendo de saudades.
"E eu ligo no celular,
Avisando que estou indo,
E pedindo
Para ir lá par me esperar.
Mas você,
Que nunca disse que me ama,
Mais uma vez desliga sem dizer,
Arruma-se e vai para a cama.
Tudo bem.
Durma bem, amor.
Amo você.
Quando acordar, passe perfume
Que o seu homem está chegando, vá.
(Espere, ‘ta? Espere-me...)."
Uma e cinqüenta e oito da madrugada. Resolvi ligar para ela, avisar que eu ia chagar lá de manhã e ver se a menina podia esperar na rodoviária. No quarto toque, atendeu-me com a voz arrastada de sono... Ê, mania de dormir cedo.
– Alô? – ? Sou eu, .
– O que você quer ? Deixar-me mais triste ou o quê? – Não, pequena. Liguei para avisar que estou chegando aí de manhã e ver se você podia ir me esperar na rodoviária lá pelas oito...
– E, depois de falar tudo aquilo para mim ontem, você acha realmente que vou esperá-lo lá, ?! – Mas, amor... Estou indo ia justamente para lhe provar que me importo e que sou um homem digno para você... E...
– ‘Ta, . A gente se vê amanhã! Tchau. E, mesmo ela tendo desligado, despedi-me como sempre, mais uma vez falando que a amava. Apesar de não saber se ela sentia o mesmo, eu sempre dizia isso à menina.
Pois é. Ela nunca me disse UM “eu te amo” h todo esse tempo que a gente se conhece. Sinto-me mal por isso, mas sei que amanhã ela estará lá, esperando-me, com aquele perfume que tanto amo, porque o homem dela está chegando.
"A cada segundo, a chuva aumenta.
Nessa poltrona, a cada minuto que eu durmo,
Eu acordo quarenta.
Janela embaçada,
Tampando minha visão,
Eu fecho os olhos
E praticamente sinto sua respiração."
Sempre fui de dormir em viagens, mas nessa eu não estava conseguindo. A chuva me preocupava cada vez mais. Eu estava ficando com medo de que pudesse acontecer alguma coisa e eu não chegasse para ver a minha pequena. Eu olhava para a janela e não via nada. Tudo embaçado e cada vez mais pingos batendo nela. Era pior ainda fechar os olhos. Eu via o rosto dela perto do meu, seu sorriso tão bonito, e praticamente sentia a sua respiração batendo no meu rosto. Era impossível. Ela ainda estava longe demais de mim.
"É como o silêncio do meu quarto sem você.
Culpa dessa distância
Que me impede de a ver,
Impede-me de provar que a mereço,
E mostrar que o dinheiro está pouco,
Mas a alegria não tem preço."
Eu me sentia sozinho e me lembrava dos momentos em que me estava sozinho no meu quarto, abraçado à sua blusa, sentindo o seu perfume. Maldita distância que não me deixa ver a e nem senti-la ao meu lado. Maldita distância que me impede de provar mais uma vez o meu amor, de mostrar que o menino é o homem certo para fazê-la feliz, de mostrar que não vai ser o meu dinheiro que vai trazer alegria, mas, sim, a minha presença, o meu carinho e o meu amor, e que o que sinto pela não há dinheiro que pague e nem compre igual.
"E eu pensando em você nesse momento.
Aproveito o tempo para treinar o pedido de casamento.
Depois da briga, acordei cedo,
Peguei toda economia e comprei a aliança em segredo."
Não consigo tirá-la do meu pensamento. Coloquei a mão no bolso e senti a pequena caixinha de veludo. Comecei a pensar em como a pediria em casamento. Talvez fosse no meio da rodoviária, ou talvez eu tivesse medo de tomar um fora em público. O que interessa é que ela está aqui e estará no dedo dela, não importa o que aconteça.
"Juntei moeda por moeda,
Para poder estar aqui,
Para mostrar
Que um menino pode te fazer sorrir."
Essa foi a única forma que achei de pedir perdão depois daquela briga. Eu não sabia o que fazer. Peguei todas as minhas economias, reservando as para a passagem, pedi dinheiro para a minha mãe e para os caras da banda. Eles com orgulho me emprestaram de todo o coração,falando que, se isso fosse me fazer feliz, estava ótimo para eles. Agora estou aqui, prensando em como pedi-la em casamento e provar que o menino vai fazê-la sorrir.
" Senti-la mais uma vez,
Sentir por uma vez
Que achar que eu sou seu sonho
Não é uma insensatez."
Espero que, depois disso, a me aceite de volta e que eu possa sentir a pele dela na minha, aquela sensação gostosa que é ouvi-la chamar o meu nome, ouvi-la dizer que sou o que ela sempre quis. Não precisa dizer que me ama. Apensa diga que sou bom o suficiente para fazê-la feliz, garota.
's POV
"Mas espere aí.
Eu ouço um barulho.
O que está pegando?
A aliança caiu do meu bolso, tudo balançando.
Quem está gritando? Por que está girando?
Alguém sabe?
Tento chamar o seu nome,
Mas minha boca nem abre."
Acordei assustada, suando. Eu havia tido um sonho horrível. O meu menino, o meu , tinha sofrido um acidente horrível enquanto vinha para cá e agora estava morto. As lágrimas rolavam soltas pela minha bochecha cada vez mais. Isso não podia acontecer. Eu tinha que olhar para ele mais uma vez, passar a mão pelo rosto que eu tanto gostava de admirar e dizer o que ele sempre quis ouvir... Dizer que o amo e que é o cara certo para mim.
Resolvei mandar uma mensagem, já que não me atendeu.
", desculpe-me por tudo que eu lhe disse. Tive um sonho horrível! Só quero que saiba que o amo e que você é o homem da minha vida...
.”
Acabei dormindo de novo, enquanto esperava a mensagem que nunca chegou.
's POV
“Barulho de chuva, pneu, escuridão.
Lembrar-me do seu rosto se tornou a última opção.
Agarro forte a rosa na lama.
Menino ou homem, você me deixou partir sem dizer que me ama.
Eu não pensei que fosse para tão longe essa viagem.
Toca o celular. É você me mandando mensagem.
Eu preso nas ferragens sem me mexer.
Sei que você me escreveu, mas fecho os olhos sem saber o quê."
Eu ouvia barulho de todos os tipos: pessoas gritando, buzinas, e sentia a chuva cair sobre o meu corpo doído. Fechei os olhos, lembrando-me do seu rosto. Agarrei a rosa mais forte na mão e cheguei à conclusão de que nunca mais ia poder lhe dar a mesma. Eu jamais iria imaginar que isso iria acontecer.
Escutei o meu celular tocar alto e forte e depois apenas o som da mensagem. Apertei os olhos com as últimas forças que tinha e desejei que fosse ela, mandando-me uma mensagem para dizer que me ama e que eu poderia ser o menino que ia fazê-la feliz. Queria ter a certeza de que iria morrer sabendo que ela não me deixaria ir sem dizer que me ama.
's POV
Acordei no outro dia cedo, pronta para ir buscar o meu garoto na rodoviária. Estava terminando de me arrumar quando ouvi o celular tocar. Corri para atender, esperançosa de que fosse ele, mas, pelo contrário, era , um companheiro de banda. Ele me disse o seguinte:
– , o ônibus em que o estava... Sofreu um acidente... E infelizmente ele não resistiu. Mas encontraram uma coisa no bolso dele e acho que você tinha que ir ao hospital buscar. Ele não me deixou responder e desligou – acho que com medo da minha reação.
Caí de joelhos no meu tapete e a minha vista ficou embaçada. Eu sentia as lágrimas rolando pela minha bochecha. Meu menino, meu homem, meu ... Ele não podia ter feito isso comigo. Não agora...
Chorei pelo resto do dia. Não tinha coragem de me levantar daquela cama, até que me lembrei da última frase do no telefone: “mas encontraram uma coisa no bolso dele e acho que você tinha que ir ao hospital buscar”. Eu sabia que, vindo dele, devia ser algo lindo.
Enxuguei as lágrimas e saí correndo em direção àquele hospital. Pedi à moça da recepção e ela me encaminhou até a sala de um médico.
– Doutor? – disse, colando a cabeça para dentro da porta que ela me mandou entrar.
Ele fez com a cabeça que eu poderia entrar e me sentei em uma poltrona na frente da mesa dele, que não disse nada. Apenas me estendeu uma caixinha de veludo vermelho, extremamente limpa. Nem parecia que estava com o ... Abri e tinha uma aliança, provavelmente de prata , ou ouro branco, dentro com os nossos nomes gravados no interior e um bilhetinho escrito com a letra dele: "casa comigo?".
Desabei. Minha sorte foi que, na hora, o chegou ao mesmo consultório para falar com o médico que atendeu o e me encontrou chorando que nem uma louca.
E é assim que eu vivo: corroendo-me por dentro por não ter dito antes que o amava ele É essa mesma aliança que não sai da minha mão. Mesmo que eu ame de novo e até chegue a me casar, jamais tirarei o anel dali, pois foi o meu menino quem me deu. É um jeito de tê-lo sempre comigo.
Fim
Nota da autora : Bom, essa música é um rap do "Projota". Meu amigo me mandou porque ele sabe que detesto rap. Só que acabei gostando e me deu idéia para escrever essa fic. Espero que vocês gostem.