San Diego — Califórnia — Estados Unidos
Julho de 2000.

Eu moro em San Diego, Califórnia. A cidade é maravilhosa, rodeada de praias e gatinhos, pelo menos é o que dizem.
Eu não sou o tipo de pessoa certa para morar em Califórnia, já que eu vivo dentro de casa e as maiores atrações acontecem na rua. Bom, eu me divirto bastante escutando música no computador, e graças ao meu lindo pai que me presenteou com um Macbook, eu posso andar pela casa, ao mesmo tempo em que escuto e atualizo meu blog. Isso sim é divertido. discorda.
é o meu melhor amigo e único, devo destacar. Tá, tenho amigas no colégio, mas elas correm atrás de surfistas o dia todo e eu não consigo acompanhá-las. Voltando ao meu melhor amigo, ele vive me convidando para fazer alguns programas, mas o único que eu sempre aceito é assistir a shows. Ah, isso sim eu gosto, show de rock. Eu fico muito empolgada em shows, quero ver tudo, não posso perder nada.
Perto da minha casa, tem um grande píer, mas graande mesmo, daqueles que têm restaurantes e até ruas e lá vários eventos são realizados, de todos os tipos, mas, na maioria das vezes, é sobre surf ou skate, por isso nunca vou. Até me convencer a ir a um, pois ele disse que teria um show de rock. Opa, isso é comigo mesma.
Foi nesse dia que eu, literalmente, dei de nariz no cara mais perfeito que eu já conheci, isso na minha humilde opinião, claro.

•••


O píer ficava a quatro quadras de casa, que eu e tivemos que percorrer correndo, pois estávamos atrasados.
Todas as ruazinhas do píer estavam quase vazias, exceto pelos funcionários e alguns desinteressados pelo show que já acontecia dentro de uma pequena casa de shows que eu nem sabia que existia.
Nós entramos por uma grande porta, onde havia uma placa escrita em neon: "Simple Plan".
Era realmente pequeno o lugar, até o palco parecia pequeno. me puxou pela mão e nos esprememos no meio do povo.
, quero ir mais pra frente! — eu disse entre a gritaria e o som da banda.
— Calma, vamos tentar. — Ele foi empurrando as pessoas a sua frente até que conseguimos chegar bem próximos a grade.
— Me põe no seu colo, quero dar uma olhada melhor. — Pra mim, cara de banda é sonho de consumo, e não os surfistas da minha cidade.
fez uma careta, mas me pegou colocando-me em seus ombros.
Coitado, ter amigo magrelo dá nisso; ele desequilibrou-se e eu acabei caindo, mas, ao contrário do que eu achei que aconteceria, não caí no chão, várias mãos agarraram-me, puxaram minha camiseta e até apertaram minha bunda e minha coxa. O pior foi que eu não fui colocada no chão, começaram me empurrar e viraram-me de barriga para baixo, quando eu fui lançada para frente.
As últimas coisas de que me lembro é de ter visto os olhos penetrantes do em mim e o chão vindo de encontro ao meu nariz.

Abri os olhos e fitei um teto branco, mas com a tinta descascada. Pisquei algumas vezes para minha vista entrar em foco.
Escutei risadas vindas do lado de fora do quarto de onde eu estava.
Levantei-me rapidamente, o que me fez ficar ligeiramente tonta.
— Vai com calma aí, — uma voz de mulher me alertou.
Olhei para o lado e vi o que parecia ser uma enfermeira.
— Você... sabe o meu nome? — eu perguntei confusa a enfermeira.
— Ah, sim, isso estava no seu bolso. — Ela estendeu minha carteira de identidade a mim.
— Ah. — Olhei novamente a minha frente e vi dois garotos entrando no quarto rindo. Um eu tinha quase certeza de ser o , aquele dos olhos penetrantes, o outro eu não fazia idéia, mas era bonitinho também.
O ficou paralisado me fitando.
— Olha o que temos aqui! — o último disse. — A garota do . Sou , o da banda que estava se apresentando. Simple Plan.
Eu estreitei os olhos. Como assim garota do ? Quem é ?
— Oi, . — Olhei para o e esperei que ele se apresentasse também, mas ele ficou mudo, os olhos fixos em mim.
Passei a mão no rosto e percebi que meu nariz estava cheio de esparadrapo, na minha testa também havia um curativo, mas não doía tanto como o nariz.
— Esse é o disse logo. — Ele é o...
— Está bem, o interrompeu. — Eu sei me apresentar! — ele disse rispidamente. — Sou , sou .
Disso eu já sabia, obrigada.
Eu sorri tímida pra ele. Que olhos, meu Deus.
voltou a ficar quieto e a me encarar.
Eu comecei a ficar vermelha.
— É... Onde eu estou? — perguntei olhando a minha volta. — E por que vocês estão aqui comigo?
fitou , mas este nada disse. Se ele não tivesse falado antes, eu acharia que ele era mudo.
— Bom, eu explico então — começou . — Você caiu no chão, à frente da grade, com o nariz no chão e começou a sangrar pacas, sério, foi assustador. — Eu fiz uma careta e ele continuou sem perceber. — Aí nosso segurança pegou você e ia levar você para a enfermaria do evento, mas o...
Um outro garoto adentrou a sala correndo e parou imediatamente quando me viu.
— Olha, essa é a garota do ! — ele disse. De novo essa história? Pelo menos eu sabia quem era , mas por quê? — Oi, meu nome é ! — apresentou-se ele com uma voz bastante animada.
— eu disse —, mas pode me chamar de .
— Ah, então esse é seu nome, garota do ?
! — repreendeu-o .
O garoto não deu atenção e parou de me fitar com curiosidade. Virou-se para e avisou:
— Tem um garoto lá embaixo, na porta, gritando, pedindo pra entrar porque a amiga dele a... a... ! Claro! — Ele bateu em sua própria testa. — Você tava com algum amigo? — perguntou a mim.
! — eu exclamei ao me lembrar dele.
— Vou ter que mandar o segurança deixar ele entrar — conjecturou. Ele correu para porta, mas algo o fez cair para trás após uma colisão.
Mais um menino entrou na sala e ignorou caído. Fiquei surpresa ao ver que estava atrás dele.
! — exclamou preocupado e correu até mim.
— Este é o , amigo da garota do ... Digo, da — informou o garoto que veio junto com .
levantou-se do chão com a cara emburrada.
— eu disse. — Me chame de .
— apresentou-se o garoto. Ele aproximou mais de mim e olhou meu nariz com uma careta. Eu fiquei vesga tentando fazer o mesmo. — Espero que você não tenha quebrado o nariz. — Ele olhou de soslaio para a enfermeira, que negou com a cabeça. — Que sorte.
— É — concordei. — Será que eu posso ir pra casa? — perguntei fitando a enfermeira e depois .
— Claro — a enfermeira respondeu.
— Onde você estava, ? — perguntou massageando o nariz.
— Ah, conversando com umas garotas — ele deu um sorriso conquistador.
Os outros garotos reviraram os olhos, inclusive .
Eu estava numa espécie de maca. Imaginei o que ela faria ali, mas eu me dei conta de que nem sabia onde estava. não terminara a história.
— É... Será que, antes de eu ir, você poderia terminar a história? — perguntei a .
— Ah, sim — respondeu ele. — Bem, o não deixou o segurança te levar pra enfermaria do evento, ele deu o maior grito e mandou ele trazer você aqui, que também é uma enfermaria, mas fica no backstage da casa de show que a gente se apresentou. — Olhei de soslaio para e vi que ele corava. — Aí você está aqui.
— Hum, certo. — Fitei meus próprios pés.
Girei na maca para posicionar-me para descer, era alta, então estendi o braço para que me ajudasse a descer, do meu outro lado, ofereceu ajuda, passando o braço em minha cintura. mexeu-se incomodado e deu um hesitante passo à frente.
Minhas pernas estavam boas, ainda bem, mas percebi que eu tinha um arranhão no braço esquerdo.
— Bom, então — comecei —, obrigada, garotos, por me trazerem até aqui. — Fitei timidamente. — Obrigada, .
Ele sorriu e encarou os pés em seguida.
afastou-se e eu e saímos do quarto e nos vimos num corredor com mais três portas e uma escada no final dele. Com a mão em minhas costas, guiou-me até a escada e começamos a descer, no final dela havia uma porta, e quando estávamos rentes a ela alguém gritou por mim.
! — apareceu no topo da escada. e eu o fitamos. — É... — ele desceu até nós e encarou a mão de em minhas costas. — Vocês estão juntos? — perguntou ele. — Eu digo... juntos, juntos?
olhou para mim e nós rimos.
— Ah... não, não — respondeu ele.
— É, nós não namoramos — reforcei. — Somos só amigos.
— Ah, bem — começou —, é que eu queria falar uma coisa com você — ele disse tímido.
— Eu espero você lá fora, — anunciou . — Só... não demore, vou estar bem aqui se precisar. — Ele lançou um olhar severo a .
pousou a mão na maçaneta, mas antes que ele pudesse girá-la, a porta se abriu, fazendo-o recuar um degrau.
Um garoto entrou e nos olhou confuso.
— Ah, a garota do nariz! — ele disse reparando em meu curativo. Pelo menos não foi '' de novo. — Sou, , prazer.
. — Eu sorri.
— Onde você estava? — perguntou.
— Isso importa? — começou a subir os degraus, passando reto por .
— É. Não importa.
desapareceu pelo corredor. ergueu uma sobrancelha olhando para cima e anunciou:
— Estarei lá fora, como já disse.
Eu assenti.
— Bom, , como eu ia dizendo... — postou-se a minha frente e eu pude ver bem de perto seus lindos olhos . Ele parou de falar e eu pigarreei. — Er, desculpa. — Fechando os olhos com força ele voltou a dizer: — Bem, como você machucou o seu nariz durante o show da minha banda, queria recompensá-la te pagando um jantar. O que acha?
Senti meu estômago revirar. Eu ouvi direito?
— Bem, eu... — Pigarreei novamente, tentando me recompor. — Não foi sua culpa, . Eu caí porque eu e fomos idiotas. Você não tem que me pagar um jantar, você já foi bom demais me trazendo até aqui.
coçou a cabeça.
— Tá, e se eu disser de outro jeito. É... — Ele ponderou. — Que tal jantarmos juntos para você conhecer melhor sobre a banda? Você parecia gostar. — Ele fitou o pé e riu baixo. — Não, essa também não foi boa.
— É, não foi. — pôs a mão na nuca ainda olhando seus próprios pés. — Você devia ter falado que eu iria conhecer você melhor. — Eu corei e arrependi-me rapidamente do que disse.
me fitou surpreso e sorriu.
— Então, você quer jantar comigo e... me conhecer melhor?
— Claro — respondi, ainda ruborizada.
— Que tal nesse mesmo píer — ele olhou o relógio —, daqui três horas? — Irresistivelmente, ele sorriu.
— E onde vamos jantar?
— Não sei ainda, me encontre no primeiro banco azul da passarela. Sabe onde é?
— Sei — respondi.
abriu a porta da ponta da escada e deixou que eu passasse. me viu saindo e posicionou-se ao meu lado, fitando , assim como eu.
— Bom, te vejo mais tarde, — eu disse.
— Pode me chamar de .
— repeti sorrindo.

Quando entrei em casa mais tarde, ainda não tinha me dado conta do que acontecera. Um gato me convidou pra sair? Sério, aquilo não podia ser verdade.
Certo, eu não ia agüentar 3 horas até o meu... encontro.
Peguei uma roupa qualquer em meu guarda-roupa e segui ao banheiro. Fitei-me no espelho pela primeira vez depois do meu pequeno acidente. Eu estou horrível!, pensei. Além daquele curativo horrível no meu nariz e do outro, manchado de sangue, na minha testa, minha boca estava inchada e eu estava totalmente descabelada. O que o viu em mim? Sério. Eu não sou muito bonita, mas com certeza sou melhor do que estava.
Tomei um bom banho, depois de me torturar enquanto tirava aqueles curativos. Peguei meu Macbook, conectei a internet, chequei meu e-mail e postei no meu blog.
Meu nariz ainda doía um pouco, ainda mais quando eu tocava nele e eu tive que fazer enquanto passava uma maquiagem para disfarçar o roxo.
Enfim, faltavam 15 minutos para a hora em que combinamos, quando saí de casa. Cheguei ao píer em 5 minutos. Não me surpreendi ao ver sentado no primeiro banco azul da passarela.
— Oi, — eu cumprimentei tímida.
! — Ele levantou-se surpreso. — Você chegou cedo — observou.
— É, 10 minutos antes, mas aposto que você está aqui há um bom tempo, não?
— Na verdade, faz 10 minutos que cheguei.
— É, foi mais ou menos isso que imaginei. — Eu sorri e ele também, minhas pernas vacilaram, mas não cederam. Seus olhos ainda me matariam.
— Eu escolhi o melhor restaurante desse píer para nós — anunciou ele —, bom, a comida eu não sei se é boa, pois eu nunca provei, mas a vista é maravilhosa, ainda mais com uma noite como essa. — contemplou o céu.
Realmente a noite estava perfeita. Além de o céu estar estrelado, uma temperatura agradável combinava-se com uma brisa leve que batia nos meus cabelos fazendo-o dançar.
— Vamos? — ele perguntou estendendo a mão a mim. Eu segurei-a hesitantemente.
Trocamos sorrisos tímidos. Eu respirei fundo e olhei para frente.
O Calor de sua mão na minha parecia subir até minha nuca e meu estômago dava saltos de alegria.
O restaurante ficava no fim do píer, assim algumas mesas ficava na parte externa, próximas a grade que separava o solo de madeira do mar, que era quase preto àquela hora. Sentamo-nos numa dessas.
Contemplei a lua.
— Linda, não? — perguntou olhando diretamente para mim.
— É... — Virei-me para ele e sorri.
Um garçom posicionou-se ao lado da mesa e perguntou:
— Já querem pedir?
, o que você vai querer? — pousou sua mão sobre a minha, mas fingiu que nada acontecera.
Eu tive que inspirar e expirar antes de responder:
— Algo que não seja peixe. — Eu fiz uma careta e riu.
— Enjoada?
Eu revirei os olhos e resmunguei:
— Não se come outra coisa por aqui.
— Posso sugerir alguma coisa? — apertou minha mão de leve, mas mais uma vez ele fingiu que nada acontecera, já eu não consegui não olhar para nossas mãos.
— Claro. — Eu sorri desviando o olhar das mãos.
virou-se para o garçom.
— Duas macarronadas de penne ao molho branco, por favor.
O garçom anotou o pedido e em seguida perguntou:
— Alguma coisa pra beber?
— Hum... Duas cocas? — indagou me olhando de soslaio. Eu confirmei com a cabeça. — Duas cocas, por favor.
O garçom se retirou e sorriu para mim, sua mão ainda sobre a minha, esta suava, ele a ergueu, finalmente demonstrando consciência daquilo tudo.
— Sua mão está gelada — constatou ele entrelaçando nossos dedos e sorrindo com o canto dos lábios.
Eu fiquei mais tonta do que já estava e não respondi ao comentário dele.
passou os olhos de nossas mãos para mim. Seus olhos estreitaram-se e sua cabeça pendeu-se para o lado. De repente ele pareceu lembrar-se de alguma coisa.
, e o seu nariz, como está?
— Ann... — murmurei tampando meu nariz involuntariamente. — Na verdade ainda dói um pouco.
Antes que dissesse alguma coisa, eu escutei umas risadinhas vindo de trás de mim, mas a uma grande distância. No primeiro instante, achei que fosse coisa da minha cabeça, mas cerrou os olhos novamente e esticou o pescoço para enxergar além de mim, então eu constatei que eu não fora a única a escutar.
— Espera um minuto, sim? — ele pediu com certa irritação na voz. Largou minha mão e levantou-se.
Eu acompanhei, virando-me na cadeira, ele andar até a lateral de uma loja, onde haviam dois garotos desconhecidos para mim, um deles segurava uma câmera filmadora. Eu tive que me levantar e caminhar até lá para escutar a conversa.
— Certo, vocês já conheceram ela, agora vai embora! — disse entre os dentes para o garoto quase loiro.
— Na verdade eu não conheci, não, ela tá atrás de você e quero ser apresentado. — Os três olharam para mim e o garoto entregou a câmera filmadora ao outro e veio em minha direção, mas, segundos depois ele caiu no chão.
O que agora segurava a câmera franziu o cenho.
— Pat? — ele perguntou olhando para os lados.
— Olha pro chão, Frenchie! — o menino caído exclamou com raiva.
— Ah! — Frenchie entregou a câmera a , que bufou, e abaixou para ajudar Pat levantar-se.
— Gente, essa é a — apresentou . — , esses são Pat — ele apontou o garoto quase loiro — e Frenchie. Agora precisamos ir, já pedimos nossa comida. Vão embora, beleza?
— Ei, ! — Pat pegou sua câmera. — Que mau-humor! Já estamos indo, é que a gente não quer perder nada das coisas que acontecem durante nossa pequena aventura! Só viemos registrar seu encontro, mas já estamos indo, não é, Frenchie?
— Claro. — Ele sorriu.
revirou os olhos.
Nós caminhamos de volta a mesa.
— O que significa essa ‘pequena aventura’ que o Pat disse?
— Ah, bem, é que eu não moro aqui, né...
— Não? — perguntei confusa, arqueando uma sobrancelha.
riu baixo.
— Na verdade... é... nós somos canadenses.
— VOCÊ MORA NO CANADÁ?! — eu gritei. — Quero dizer, uau, isso é demais!
piscou algumas vezes.
— Sério? Você acha demais? Porque os americanos costumam não gostar muito dos canadenses.
— E vice-versa, creio eu. — sorriu confirmando. — Mas eu vivo dizendo que eu nasci no lugar errado, ou no país errado. O Canadá é tão frio e aqui é esse calor nojento.
— Uau, você é a primeira pessoa que diz gostar do frio canadense.
— Ah, eu não agüento o calor daqui, nunca fui pro Canadá, e nem pra outro lugar frio, meu sonho é ir pra um lugar cheeio de neve.
riu. Que voz incrível.
— Eu vou te levar pro Canadá um dia — prometeu ele.
— Legal, mas você ainda não me explicou o que é essa ‘pequena aventura’.
— Ah, sim, é que há algum tempo eu e a banda saímos numa espécie de turnê, mas não temos gravadora, nem nada, só CDs demos, aí a gente resolveu divulgar nosso trabalho por aí.
— Que legal! E há quanto tempo vocês estão viajando?
— Hum... Faz um bom tempo, considerando que saímos de Montréal e estamos na Califórnia agora.
— Meu Deus, Montréal? Vocês atravessaram os Estados Unidos inteiro?
— É, praticamente, mas daqui a gente vai fazer uma longa viagem para Atlanta e depois Orlando.
— E onde vocês estão dormindo aqui? — eu perguntei ao mesmo tempo em que o garçom colocava nossos pennes sobre a mesa.
— No mesmo lugar onde você foi atendida.
— Sério? Vocês estão “hospedados” num backstage?
— Essa é a nossa vida.
— É... Tem razão...
Nós comemos nossa comida enquanto eu fazia mais algumas perguntas sobre o Canadá e a banda e ele me perguntara se eu morava perto do píer.
— Eu não queria que você fosse embora — eu disse subitamente enquanto esperávamos pela sobremesa. O que eu acabei de dizer? , você tá louca?, pensei. — Quero dizer, aqui não tem muitos meninos interessantes como você. — Falei merda de novo, não falei?. — Er... Sabe, meninos diferentes como você, que não é um surfistinha parafinado e metido.
riu.
— Eu também não quero ir embora... E o motivo se resume a... você. — Ele corou e eu também.
— O que... O que você quer dizer com isso? — perguntei atônita.
— Eu não sei te explicar, mas eu me encantei por você desde a primeira vez em que te vi, você era tão diferente no meio daquelas tantas outras garotas no show e quando você se machucou eu me senti atiçado em te salvar, sério, eu quase me joguei daquele palco pra pegar você e garantir que você ficasse bem.
Minha boca estava entreaberta de surpresa das palavras que eram pronunciadas por aquele lindo garoto sentado bem a minha frente, a centímetros de distância.
Meu musse de maracujá e a torta de limão de chegaram. Eu comi todo o meu musse sem dizer mais nada. deixou sua torta pela metade e observou eu terminar a minha sobremesa.
— Se você quiser sair correndo, tudo bem — disse ele —, não vou te impedir. Você deve me achar um louco depois do que eu disse. — Ele fitou a mesa, desapontado com alguma coisa. Talvez com ele mesmo. Mas eu não via motivos, de alguma forma eu sentia o mesmo por ele. Eu podia sentir um vazio dentro de mim só em pensar no momento em que ele fosse embora.
— Eu não vou fugir, não tenho motivos para isso. Eu... eu meio que te entendo.
me fitou e pendeu a cabeça para o lado novamente, mordendo o lábio inferior. Que sexy, oh, my fucking god!
— Me entende? — indagou.
, a última coisa de que me lembro antes de perder a consciência hoje no show, é do seu olhar sobre mim, e simplesmente ele não sai da minha cabeça.
Seus olhos brilharam. Então seu rosto adquiriu uma expressão séria e seu olhar escrupuloso, que dividia a atenção entre minha boca e meus olhos, então ele se aproximou por cima da mesa e pousou sua mão sobre a minha novamente, mas dessa vez ele mostrou que isso tinha significado para ele, pois analisou minuciosamente minha mão e em seguida minha expressão, que era de surpresa e ligeiramente assustada, já que meu coração disparara ao sentir sua respiração colidir com meu rosto. Ele aproximou-se mais, ainda segurando minha mão rente ao seu peito; encostou sua testa a minha, em seguida pressionou seu nariz no meu. Eu gemi. afastou-se na hora e deixou minha mão cair sobre a mesa.
— Seu nariz, desculpa! — ele disse assustado enquanto me avaliava.
— Não... não — comecei a dizer sem fôlego. — A gente pode dar um jeito nisso.
Antes que eu fizesse mais alguma coisa ouvi mais risadas.
— Ah, não! — grunhiu levantando-se depressa. Pude ver Pat correndo com a câmera na mão, seguido de Frenchie e .
— Ei! — ouvi alguém gritar. Quando fui olhar era o garçom que saíra atrás do . — Você não pagou a conta!
Eu comecei a rir porque o teve que parar e os garotos sumiram de vista. O garçom o alcançou com uma cara nada agradável. Ele agarrou pelo braço e o arrastou para dentro do restaurante. Minutos depois voltou com as mãos no bolso e ligeiramente ruborizado. Eu vou matar aquele garçom por ter constrangido o !
Eu fui até ele.
— Me desculpe por isso — ele disse.
— Esquece... Não foi nada.
— Vamos embora daqui! — pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Desta vez até eu consegui fingir que era algo normal.
Ele me levou para perto dos barcos e eu me apoiei na grade e fitei as estrelas.
— Eu falei sério quando disse que não quero ir embora.
Virei-me para ele.
— Eu também — afirmei. — E também estava falando sério quando disse que a gente podia dar um jeito.
franziu as sobrancelhas.
Eu joguei minhas mãos ao lado do meu corpo, inclinei minha cabeça para o lado e aproximei-a da de . Com muito cuidado, encostei meus lábios nos dele. Pedi passagem com a língua, que foi concedida. me puxou pela cintura. Para que eu pudesse virar a cabeça, tive que desgrudar nossos lábios, percebi que ficou um pouco frustrado quando o fiz, mas logo em seguida voltei a beijá-lo. Foi um beijo estranho, já que estávamos estáticos e minhas mãos ao lado de meu corpo. Meu peito só encostava-se ao dele porque ele me segurava pela cintura. Então ergui minhas mãos e pousei-as sobre seu peito torneado, empurrando-o de leve. Ele encarou-me confuso.
— Esse foi nosso primeiro e pode ter sido nosso último beijo — observei.
— Shiu! Não diga isso! — colocou seu dedo sobre meus lábios.
— Mas é verdade! Quando é que você vai embora?
Ele suspirou.
— Depois de amanhã. Ainda temos um tempo.
— Mas não sei se quero usá-lo.
— Por quê? O que houve?
— Ficar te beijando mesmo sabendo que você vai embora? Isso é masoquismo. Nem pensar.
tirou minhas mãos de seu peito e me abraçou com força.
— Não, . Vai embora comigo?
— Você tá louco, é? Isso é impossível.
Ele me soltou.
— Por favor? Você vai adorar viajar!
— Claro que eu adoraria, mas isso é loucura, meu pai nunca deixaria eu sair de casa.
— Quantos anos você tem?
— 18. E você tem...? — Percebi que eu não tinha aquela informação ainda.
— 21.
— Você saiu de casa antes de ser maior de idade ou depois que completou 21?
riu.
— Eu saí de casa aos 16 anos. Mas não mude de assunto. Vamos embora comigo, depois você se muda pro Canadá. Vai ser perfeito.
, eu não duvido que isso seria a melhor coisa do mundo para mim, mas eu não tenho a sua insanidade, nem meu pai. Eu não posso ir embora e deixar minha família pra trás. Nem o .
— Eu entendo... — suspirou mais uma vez e fitou o céu. — Vou ter que te levar a força mesmo.
! É sério! Eu não vou embora com você. — O som das palavras perturbou até a mim, principalmente tal veracidade que continha nelas.
Seus lábios contorceram-se e ele saiu andando sem olhar para trás.
! — gritei. — ESPERA! — Ele não me ouviu e continuou andando.
Quando me aproximei o suficiente para que ele me ouvisse, ele começou a correr. Eu não pude alcançá-lo e quando tomei consciência disso, meus joelhos cederam e eu fui de encontro ao chão.
... — sussurrei para o nada.


No dia seguinte, de manhã, contei tudo a .
, você não pode deixar ele ir embora sem te dar uma satisfação, vai lá atrás dele! — sugeriu .
— Eu vou — disse convicta.
Então eu saí correndo de minha casa e fui até o píer. Não havia ninguém em frente à porta que dava para a escada onde eu tive minha primeira conversa com . Bati nela. Não houve resposta. Bati mais uma vez e tentei abri-la em seguida. Trancada.
Uma menina nariguda surgiu atrás de mim e perguntou:
— Procurando pelos meninos? — Afirmei com a cabeça. — Eles foram embora. Disseram ao meu amigo que precisavam ir embora antes para resolver algumas coisas.
— Embora?! Eles... eles se foram? Mas assim, do nada? Digo, eles iam amanhã!
— É, eu sei, vim procurar pelo , mas ele já não estava aqui e meu amigo disse que eles tiveram de ir.
Eu fiquei estática, meus olhos percorreram a porta trancada e eu estava prestes a desabar no chão e chorar. Mas ele não me deu seu telefone! Eu nunca vou encontrar ele de novo!.
— Você está bem? — perguntou-me a menina.
— Estou — respondi. — Eu... vou pra casa.
Eu corri. Tropecei três vezes e caí duas. Cheguei em casa e havia um buquê de flores em frente a minha porta. Com lágrimas nos olhos eu o peguei. Havia um cartão grudado.
Entrei em casa e ainda estava lá. Ele viu que eu chorava, se aproximou e me abraçou.
— O que é isso? — ele me perguntou.
— Eu... não sei... Tem um cartão, vou ler.

Eu juro que não foi minha culpa a gente ter ido embora antes do esperado, surgiu uma proposta para adiantar as coisas em Atlanta e a gente não pôde recusar.
Eu sinto muito ter te deixado daquele jeito ontem e não ter ido te dar uma despedida descente, mas como você mesma disse, isso é masoquismo. Me desculpe.
Eu tive que te mandar esse cartão pra te dizer uma coisa: Eu vou voltar pra te buscar!
P.S.: O Pat te seguiu até sua casa e me deu seu endereço.
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— O que ele quis dizer com “Eu vou voltar pra te buscar!”? — lera o cartão por cima do meu ombro.
— Eu é que sei?


San Diego — Califórnia — Estados Unidos
Julho de 2003.

A escola acabara, e eu cursava a Universidade da Califórnia. Meu pai ficou feliz que eu pude estudar na mesma cidade, mas eu não, meu sonho era sair de lá, mas infelizmente, essa oportunidade não surgiu. Sorte do que passou na Yale e foi morar no outro lado do país.

Eu andava pelo campus da universidade quando um papel jogado me chamou atenção. Eu li nele: “Show da banda Simple Plan, 2 de Agosto no San San Hall”. Shows, isso nunca deixara de ser minha paixão e aquele nome me lembrava alguma coisa, mas o quê?
Cheguei em casa mais tarde e liguei a TV, há muito tempo que eu não fazia isso. Peguei meu almoço na geladeira que minha mãe havia preparado, sentei-me à mesa e fitei o televisor ligado. Foi quando eu liguei tudo. Retrocederam três anos na minha memória e eu lembrei-me de tudo. Aqueles olhos , dos quais eu nunca iria esquecer estavam naquela TV, o show daquela banda me proporcionara um pequeno acidente e grandes conseqüências que eu gostaria de esquecer. Todo o meu esforço de esquecer aquele semblante durante três anos fora pro lixo naquele minuto. Desde quando eles têm um clipe que toca na MTV?.
Eu peguei o papel que achara na faculdade da minha bolsa e olhei a data novamente, o show seria daqui 4 dias. Olhei a TV novamente, ele ainda estava lá, , eu nunca me esqueceria daquele nome.
A campainha tocou e eu levantei num susto enquanto meus devaneios saiam de foco. Quando eu abri a porta, achei que eu ainda estivesse olhando para a TV. Pisquei algumas vezes.
— Ela ainda mora aqui cara! — exclamou puxando alguém pela camiseta.
?! — apareceu à minha frente.
— Você não sabe o quanto esse cara encheu nosso saco com medo de que você tivesse se mudado! — informou sorrindo. Eu desviei logo o olhar dele e fiquei paralisada nos olhos de . — Patrick você pode desligar essa câmera? Eles precisam de privacidade.
— Ah, preciso mesmo? — eu nem havia percebido que ele estava lá também, assim como , , e Frenchie. Todos na porta da minha casa.
— Precisa — respondeu rispidamente. — Nós vamos deixar vocês a sós. — Então os garotos, com exceção de , saíram andando e entraram numa van.
— Entre — eu pedi a .
Eu apontei o sofá para que ele sentasse, sentei-me ao lado dele.
Então ele sorriu, incrivelmente lindo, exatamente de como eu me lembrava.
— Eu disse que voltaria pra te buscar.
— O quê? — Eu arregalei os olhos.
— Eu vim te buscar, a gente vai fazer um último show aqui depois vamos pro Canadá e você vai comigo.
Eu ri, de nervoso.
... Eu estou fazendo faculdade, não posso largar assim do nada e...
— No Canadá tem boas universidades — interrompeu-me. — , por favor, eu não quero te perder de novo. Nesses três anos eu nunca te esqueci, toda garota que surgia eu me lembrava de você, e eu não conseguia continuar, eu tentei te esquecer, admito, mas eu tive que cumprir com a minha promessa por mim também.
... A gente se viu por um dia!
— E daí? Foi tudo tão intenso.
Eu sabia que era verdade, eu também não esquecera dele, mas como eu ia abandonar a faculdade no penúltimo ano? E meus pais o que diriam?
— Eu não posso abandonar tudo isso aqui.
, olha pra mim, você vai encarar uma vida nova, agora você é dona do seu nariz e merece seguir o que você quer. A gente vai pro Canadá, você termina a universidade por lá e depois você pode nos acompanhar com a banda!
Era uma proposta tentadora. Uma vida nova, da qual eu sempre sonhei. Viver em turnês pelo mundo, ser dona do meu próprio nariz.
— Eu vou — decidi de repente, fazendo ficar ereto de perplexidade.
— Va-vai? — balbuciou ele.
— Está na hora de eu deixar esse meu mundinho pra trás. Eu fico trancada em casa o dia inteiro enquanto todo mundo se diverte lá fora. Mas aqui não tem atrativos pra mim e eu preciso encontrá-los em outro lugar.
— Você tá falando sério? — arqueou uma sobrancelha.
— Você quer mesmo que eu vá?
— Claro! Claro que eu quero! É o que eu mais quero!
— Então não tente me confundir, eu já tomei minha decisão. — Eu sorri, assim como meus olhos.
também abriu um grande sorriso realizado. Ele pousou uma de suas mãos em meu rosto e acariciou minha bochecha com o dedão; aproximou-se devagar e parou com a boca a centímetros da minha.
— Aconteceu alguma coisa com seu nariz nesses últimos dias? — ele me questionou.
— Não — respondi junto com um suspiro.
encostou seu nariz no meu; colocou agora sua outra mão em meu rosto, esticando seus dedos por todo ele; inclinou a cabeça e me beijou, devagar em intensamente. Um beijo incessante e cheio de sincronia, com trocas de carinho e muito sentimento. Saudade; alegria; urgência; medo; e eu posso dizer: amor.



Toronto — Ontário — Canadá
Julho de 2009.

Eu, e sua noiva, Caitlin, aguardávamos em frente ao portão de desembarque internacional do aeroporto internacional de Toronto. havia acabado de chegar de Nova York e eu iria fazer uma surpresa a e aos outros da banda. Era 1º de Julho, o “Dia do Canadá”, e pensei em comemorar o feriado todos juntos.
Então vimos os primeiros passageiros do vôo vindo do Brasil aparecerem. Eu fiquei na ponta dos pés para ver melhor quando vi Patrick, como sempre com sua câmera filmadora na mão, logo atrás dele vinha e Frenchie; depois ; meu e ; e por último o . Eu assinalei com o braço e os meninos me viram.
— Hey! — exclamou me pegando na cintura. — Você veio até Toronto nos buscar?
— É — respondi —, eu aproveitei que o viria.
— Ah, oi, — cumprimentou . — Você por aqui?
— É, vim passar o feriado com vocês!
A essa altura os outros já me cumprimentavam, e quando o espaço entre eu e estava livre novamente, ele veio até mim com um sorriso bobo no rosto.
— E como anda nosso mascotinho? — ele perguntou.
Eu pousei a mão na minha barriga, levemente saliente e respondi:
— Tá crescendo, tá crescendo...
Ele pôs a mão sobre a minha e acariciou minha barriga, então se aproximou e me beijou.

FIM.


Nota da autora: Oieee, Lilá aqui de novo! ^^
Ai, gente, eu sei que ficou tosquinho o final, mas é que quando eu tive a ideia dessa fic, não pensei num final, deixei pra fazer quando eu estava escrevendo já.
Mas o que vocês acharam? Era pra ser comédia, mas eu sempre boto um draminha no meio, né? Não dá pra evitar... =x
Espero que eu tenha feito vocês rirem um pouco.
Mandem-me emails aqui: jujulefebvre@gmail.com, ou me sigam no Twitter!

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