null null’s P.O.V :
Final de Agosto de 2010 – Olá, Outono, pode entrar! É sempre bom ter férias de verão, mas eu amo ir à escola - eu sei, não sou muito boa da cabeça! Assim que entro pelo portão da High School, todos os olhares se voltam a mim, a garota mais feliz do mundo. Linda, popular, inteligente, legal e um pouco modesta, às vezes!
Eu não entendo como as pessoas nunca conseguem ficar satisfeitas com nada. Eu estou segura o bastante para confessar que minha vida é um sonho, um indestrutível sonho! Como não amar cada rua de São Francisco, norte da Califórnia?
Tenho muitos amigos, sem precisar bajular ninguém. Tenho o melhor namorado, sem precisar andar com um decote vulgar. Sendo eu mesma, consigo tudo o que quero. De amigos a inimigos - quem mais aumentaria meu ibope?
— null null! - bato meu quadril no de minha melhor amiga, fazendo as coisas do armário dela caírem.
— null null! - grita — Como você consegue fazer isso todos os dias? - cola as mãos na cintura, treinando sua postura de modelo.
— Eu é que não sei como você ainda fica distraída, sabendo que o furacão do arco-íris está para chegar! - ri idiotamente, zombando de mim mesma, do meu visual colorido no estilo pré-escolar. Quem mandou ser a boneca particular da irmã mais nova?
Meus cabelos loiros - por favor, não me perguntem se é natural - estavam soltos, algo não muito comum. Senti alguém embrenhar os dedos neles e logo puxar-me para si. Foi muito rápido, logo me vi nos braços de null null.
Várias garotas queriam ser líder de torcida, mas eu não precisava pular que nem macaco para ser popular. É algo incomum, mas eu consigo ser mais popular do que todas as líderes juntas, somente por existir, e de quebra, o capitão do time de futebol é todo meu. Perfeito, gato e sexy.
— null! - null envolve seu braço em meus ombros e beija meu pescoço, tirando-me dali.
Minha amiga parecia sair de órbita toda vez que via meu namorado, mas ele não gostava nem um pouco dela. Era estranho o modo como ele fingia que nunca tinha ninguém por perto. Éramos o casal mais estranho e perfeito que se poderia existir; estranho, porque quando estávamos juntos o mundo parecia ser invisível e perfeito, já que nos completávamos.
— null... Seja mais amistoso! - pedi, visto que null havia ficado triste e sozinha. Não tinha tantos amigos e por isso eu sempre estava ao seu lado.
— Você sabe que eu odeio patricinhas! - virou os olhos, tocando em meu queixo. Claro, também achando - como sempre - seu apelido "null", escancaradamente gay.
— Isso porque namora a garota com maior fama de...
— Tem fama! - tampou meus lábios com um selinho — Mas eu sei que você não é... - sorriu para mim. Era meu privilégio vê-lo sorrir. Apesar de ser muito legal com seus amigos, não era muito simpático com meninas. Se eu não tivesse provas o bastante, até diria que ele não gosta da fruta. Mas eu sei que gosta, ah se gosta!
Um sonho, minha vida sempre foi assim, desde quando eu era pequena. Agora, já no último ano, eu me pergunto como será quando eu sair da High School. Sempre vi amigos e amores se separarem nessa época, mas eu não deixaria isso acontecer comigo.
Passei na Srª. Wilson para dizer que não queria ser âncora do jornal da escola, já que na minha concepção isso é coisa de aluna burra, puxa saco de professores.
Olhei para o relógio e corri para a classe, agradecendo mentalmente por ser popular. Mesmo eu atrasando, meu lugar ficou reservado, do jeito que eu gosto.
— Entrega de provas! - a professora de francês avisou.
— Hã!? - eu tive que rir da cara de "eu não acredito que tirei um 'F'" de null null, o rei dos nerds.
Analisei-o dos pés à cabeça, era impossível ser tão lindo e tão idiota ao mesmo tempo. Ele não tinha aquela postura de retardado característico do grupo, muito pelo contrário: Era sempre chato, metido, egocêntrico, irritante... Irritantemente sexy! Como isso era possível?
— Ufa! - null sorriu, tirando-me dos devaneios ao entregar-me a prova — O F é teu... Senhorita Barbie! - ironizou. O idiota do meu apelido no colégio era Polly, mas o idiota do null somente me chamava de Barbie. Argh!
— Hã!? - olhei boquiaberta. null null era a dona da maldita prova. EU era a burra que tinha ido tão mal.
— É impossível null null, Le parfait, tirar uma nota menor que A+. - piscou ao adjetivar-se em francês, mandando um beijinho.
Irritante, metido e idiota! Ele sempre gostou de competir notas comigo e sempre adorou gritar aos ventos as poucas vezes que conseguiu ser melhor. Ok, não era tão raro assim ele tirar um "A+", mas eu também sempre tirei notas a altura. Eu permanecia parada, incrédula. Como assim, como eu tirei um "F"?
— Não me olhe com essa cara de inveja, Barbie! - riu, superior. Peguei a maldita prova de suas mãos e a rasguei, brava, muito brava.
— Você tem sorte de não ser o teu rostinho lindo! - gritei, empurrando-o de leve.
— Confessou que eu sou lindo, hein, Barbie? - deu um passinho para trás — Não me odeie só porque o meu QI é maior que o teu! E se contente com o jogadorzinho, já que o rostinho lindo aqui nunca será teu! - a professora bateu palma, para nos mostrar que estava presente. Ignorei!
— Rostinho lindo? - gargalhei — O seu QI não detecta uma ironia tão escancarada, null null!? - gritei.
— DETENÇÃO! - o colégio inteiro deve ter escutado o grito da professora Louise — Os DOIS! - acrescentou. Sentamos com cara feia (a dele mais feita, naturalmente) e esperamos as aulas acabarem — Não esqueçam, Sr. null e Srtª. null, DE-TEN-ÇÃO! - disse pausadamente.
— Oh, ela sabe separar as sílabas! - null ironizou baixinho.
— O que disse, Sr. null? - a professora aproximou-se.
— Nada! - engoliu seco e saiu.
Apertei os punhos e fui logo atrás dele. Xingando-o mentalmente em todas as línguas que sabia, excomungando até a sétima geração de sua família. Querendo o estrangular no corredor, mantive distância. Seria bom para garantir a fertilidade dele.
— A culpa é tua, null! - falei baixinho, atrás dele. Logo teríamos que ajudar na organização da biblioteca.
— A Barbie me chamou de rostinho lindo e de null no mesmo dia? - colocou a mão na minha testa — Vou correr antes que você me estupre! - encarou-me com os olhos arregalados.
Uma força do além segurou meus braços em seu lugar. Conti-me para não socar aquele rostinho lindo - e sim, eu estou sendo irônica!
— Está pra nascer um ser mais imbecil do que você, null null! - dei de ombros e saí para arrumar as estantes.
— Invejosa! - chutou uma carteira. Eu não entendia o porquê de tanto ódio. Esse morre virgem!
Virei os olhos e bufei silenciosamente. Ele não merecia resposta. Eu era a mais popular do colégio, ele era só um idiota qualquer. Eu era inteligente por natureza, ele só porque estuda vinte e quatro horas por dia. Eu não o invejava, ele queria que sim.
Subi em uma grande escada e olhei para trás, a fim de verificar se ele estava trabalhando direito (acreditem se quiser) e então nossos olhares infelizmente se cruzaram, já que ele parecia também querer verificar alguma coisa.
— O que está olhando? - taco um livro nele.
— Você também estava olhando! - ele esquiva, rindo da minha cara — Está querendo conferir o quanto eu sou lindo? - manda um beijinho.
— Quero ter a certeza de que não vai olhar embaixo de minha saia! - não era para ver se ele estava trabalhando direito? Consciência, deixe-me em paz!
— Eu não faria isso... - pega o livro no chão — A tarada aqui é você, Barbie!
— Não fala do que você não sabe! - jogo outro livro nele e começo a descer das escadas.
— Já acabou? Ah, só porque eu tinha decidido olhar um pouquinho? - aproximou-se, abaixando levemente a cabeça. Desci em um pulo, segurando a saia.
— Você é detestável, null! - fiz cara de nojo — Que tal ir embora?
— Seria ótimo! - ele sorri com sarcasmo — Mas esqueceu de que só estou aqui OBRIGADO? Não é porque todos da escola acham você o máximo, que eu tenho a mesma opinião!
— Acabou o horário, seu QI não percebeu? - gritei furiosa, levando as mãos à cintura.
— Não é preciso QI e sim um relógio... - manda uma piscadela, irritantemente sexy — E para sairmos, é preciso autorização.
— Tem experiência em detenção, null? - sentei-me em uma mesa.
— Não! Essa foi a primeira vez... - ao olhar para ele, percebi que estava aéreo demais. Parecia estar mentindo, ou era coisa da minha cabeça?
— Eu tinha um treino para ver... - logo chutei de leve os pés da mesa, estávamos entediados e com raiva.
— Treino? - fez careta — Os jogadores e as líderes de torcida me enjoam... - fez menção de falso vômito.
— Eu também não gosto muito, mas amo meu namorado! - quando percebi, estava conversando com aquele idiota. Não era briga, algo estranho.
Arregalei os olhos e revolvi calar. Ele não tinha que saber de nada da minha vida.
— Dispensados! - olhamo-nos sérios e corremos. Quanto mais longe, melhor!
Assim que eu saí da detenção, fui conversar com meu namorado. Eu tinha que explicar o porquê de eu não ter ido assistir ao seu treino. Tudo culpa de null null! Eu ainda mato aquele garoto que está tentando destruir a minha vida. O que ele fez para ser tão odiado por mim? Não façam pergunta difícil!
— null... - joguei meus braços por cima da grade e os cruzei. null sorriu ao olhar para trás e então veio em minha direção, jogando os cabelos para o lado, daquele jeitinho que me reconquistava a cada dia. Retirei o capacete de suas mãos e o joguei para o lado. Suas mãos tinham que estar livres para me ajudar a pular para o campo.
— Você demorou, Srtª. null! - elevou-me com seus braços fortes e levou-me até seu corpo, rodopiando-me. Sempre reclamei da falta de romantismo... Mas era nos simples atos que eu sabia ser feliz com o que ele me proporcionava.
— Detenção! - fiz bico e lhe dei um selinho. null encostou mais seu corpo no meu e levou suas mãos até minhas costas. Beijei-o como se não nos víssemos há uma década e por fim puxei seu lábio inferior — Culpa do idiota do null! - virei os olhos e o abracei, vendo o resto do time chegar.
— Olá, Polly! - Mathew aproximou-se com outros caras de nome insignificante.
— Mon amour! - exclamei ao vê-lo, não desgrudando de meu namorado. Polly? Uma dica, nunca deixe que te coloquem um apelido idiota na sétima séria. Pode ser utilizado para sempre: constrangedor!
— Sempre estragando o treino, né, Polly! - cruza os braços — Assim o capitão não consegue mais jogar, com uma gata dessas dando perigo. Vai que um do time aparece fazendo gracinha com a refeição dele? - Math ri, brincando naturalmente.
— O único que teria tamanha burrice é você, ma chère! - viro-me para null — Vamos?
— Sim, senhora! - ele bate continência e abraça-me forte — Eu te levo para casa...
Todos se dispersam e então vamos para a frente do colégio, onde estava o carro de null, que ocupa duas vagas.
— null... - ligo o som do carro e o deixo conversível — Eu tirei um "F" em francês... - ele quase bate com o carro no primeiro poste, fazendo-me rir e quase chorar ao mesmo tempo.
— Mas não pode! - para o carro e retira o cinto, puxando-me para si — Você sabe que fica de castigo quando tira nota ruim... - acaricia minha face, tristonho — Semana que vem eu queria te levar à praia de Santa Barbara, mas seu pai não irá deixar! - pulo definitivamente para seu colo e o beijo, deixando o carro normal novamente. Seria ruim se todos nos vissem pela rua, naquele estado.
— A gente dá um jeitinho... - mordo seu queixo — Eu prometo ir bem na próxima prova! - pulo para meu banco, já que tinha hora para chegar em casa.
Paramos frente ao meu portão e continuamos aos beijos. Eu não poderia ficar de castigo, já que estava mais do que nunca morrendo de saudades. Saudade do meu gato exclusivo, saudade daquele corpo no meu, saudade!
Imaginei mil coisas, mil soluções para resolver meu problema. Eu só precisava tirar uma boa nota em francês. Soltei as mãos de meu gato e fui para casa. Eu mal poderia imaginar o que aquele terceiro ano significaria em minha vida.
***
Passei pela portaria e virei a cara para os seguranças, uns idiotas que pensam mandar em mim. Entrei em casa e fui até meu pai, que estava em sua poltrona lendo um jornal. O sininho da minha pulseirinha sinalizava que eu estava por perto.
— Três minutos atrasada, Srtª. null! - ele encarou-me por cima dos óculos e logo sorriu — Gostei! Da última vez seu atraso básico foi de duas horas! - eu queria ir para meu quarto, mas fui até ele. Era perceptível que minha presença o alegrava.
— Eu não sou tão valiosa assim, papai. Pare de pensar que sou uma joia que a qualquer momento pode ser roubada... - beijei sua face — Não se preocupe comigo! - sentei no braço da poltrona.
— Quer contar algo? - fechou o jornal e puxou-me para seu colo. Coloquei minha cabeça em seu peito e virei os olhos.
— Pai... Hoje eu tirei um "F" em francês e fiquei na detenção... - ele olhou-me assustado — Foi culpa do null! - bufei.
— Pare de colocar a culpa nos outros. A culpa é tua! - olhou para baixo — Está na hora de ser mais responsável... Sabe que enquanto não tirar uma boa nota não poderá sair com o namoradinho, não sabe?
— null Wood! Ele tem um nome. Um nome lindo, por sinal. - abracei-o, sincera. Nunca escondia nada de meu pai - com exceção de null debaixo da cama, e em cima dela!
Fui para meu quarto e liguei para null. Apesar de ter várias amigas, ela era a única em quem eu confiava. Ela sempre era muito doce, a amiga ideal, o sonho de qualquer garota.
De manhã fui para o quarto de minha irmãzinha Jani, que sempre ajudava-me a escolher a roupa do dia. Lap Top, Patins, Bonecas... Jani era uma criança normal de oito anos, mas tinha uma mentalidade avançada. Dizia cada coisa... Vesti-me com um vestido de botões, curto e branco, com uma meia calça xadrez e um sapato no estilo boneca. Coloquei um anel em meu mindinho e por fim perfumei-me, descendo escada abaixo (lê-se: escorregando corrimão abaixo). Ainda bem que a casa estava sempre limpa e então não sujava minha roupa por fazer coisas do tipo.
Tomei um iogurte, peguei uma Coca na geladeira e saí rapidamente de casa. Peguei meu carro e saí bem cedo, mais cedo que o normal. O ruim de ser amiga de todos é que é preciso sorrir mesmo com vontade de mandar todo mundo chupar um prego até ele virar parafuso. Olhei o quadro de atividades e percebi que meu nome estava no grupo de xadrez, coisa idiota que eu nunca aprendi - mas morria de vontade de aprender. Às vezes eu sou assim, impaciente com o que não conheço bem. Olhei o nome de null - não que ele tivesse alguma importância - e percebi que o destino estava brincando comigo. O idiota estava em esgrima, do qual eu fui campeã por todos os anos. Maldito garoto!
Como estava cedo demais, fui para um lugar mais adequado ao estudo. Eu não tinha feito os exercícios de francês em casa - mas eu sou dedicada... Ok, nem tanto - e então fiquei lá, brigando com um dicionário. O Google faz uma falta!
— Barbie! - escuto uma voz irritante e atormentadora estender-se na biblioteca.
— null... Quer dizer, null? - olhei para frente, desacreditada de que ele estava sentando-se à minha frente — O que faz aqui?
— Primeiro que a biblioteca não tem teu selo real, Barbie do castelo de diamantes! - reverenciou irônico e sentou-se.
— null, você assiste Barbie? - fiz careta — Ok, isso não vem ao caso. Saia da minha mesa! - levantei, colocando as mãos na madeira.
— A null disse que você queria ajuda em francês... Ela disse até que você sabia dizer "por favor"... - piscou — Você vai querer minha ajuda? - acariciou minha face, sabia que isso irritava.
— Prefiro a morte! - virei de lado. Aquele rostinho desgraçadamente lindo havia sido feito no molde da provocação, exclusivamente para me irritar — Eu me viro... - abri o dicionário — Está querendo um vale refeição ou o quê, null? - arqueei a sobrancelha.
— Você vai ter que me aturar! - riu sarcasticamente. O que ele quis dizer com isso?
— Va te faire foutre! - gritei um palavrão em francês. Infelizmente, a professora estava na maldita e assombrada biblioteca e então repreendeu-me, com um "falar o que não deve, ela sabe" explícito no olhar. Ah, sim, claro, sei todos os palavrões. Será que ela quer um teste oral?
Briguei com os exercícios e por fim acabei faltando algumas aulas. Eu era boa em todas as matérias, sempre fui bastante inteligente. Só não sou englobada nos nerds porque pensam que sou patricinha. É como se a pessoa fosse água e óleo ao mesmo tempo: impossível!
Passei pelo corredor e vi null estrategicamente perto da sala de limpeza. Olhou para trás e entrou, jogando uma piscadela como sinal. Coloquei minhas coisas no armário e depois entrei em tal sala, sendo jogada na porta.
— null, que saudade! - agarrei-me em seus cabelos e mordi seu lábio inferior. Ele trancou a porta - não sei como, mas tinha a chave - e devorou meus lábios de um modo apressado.
— Tenho treino à tarde, Srtª. null... - encostou seu corpo no meu — Então só nos veremos amanhã... - beijou meu pescoço, apertando onde não devia - ok, devia sim!
— Amanhã? - arregalei os olhos — Não... Hoje à noite em minha casa... - acariciei-o por baixo da camisa.
— Da última vez eu quase saí sem bunda! - riu, apertando minhas coxas.
— Eu prendo os cachorros! - gargalhei — O resto é com você! - mordi seu queixo.
— Ninguém me avisou que para namorar você eu tinha que ser do circo! - sentou-se em uma cadeira, colocando-me em seu colo — Pular o muro, correr, subir na árvore, pular a janela... Esqueci de algo?
— Flexibilidade, baby! - gargalhei, saindo do colo dele.
— Hey, aonde você vai? - puxou meu braço.
— Até à noite! - mandei um beijinho e arrumei meu rabo-de-cavalo. A continuação deveria ser em local apropriado, não sou uma inconsequente e sei que é quando menos se espera que sua intimidade pode aparecer no YouTube, não que eu desconfie de null, desconfio das paredes. Nunca se sabe quem é amigo... e quem somente diz ser.
Saí da salinha e encontrei-me com null. Bati meu quadril no dela e acabei fazendo-a bater em null.
— Awts! - ela grita e olha para o garoto.
— Ela me ama, não? - null olha para mim e sorri para null — Ela não quis minha ajuda, null! O que eu faço agora com o meu projeto de caridade com loiras burras?
Respirei fundo e apontei meu dedo no nariz dele.
— Burra é a pessoa que te colocou neste mundo! - gritei.
— Está falando da minha mãe? - encarou-me sério, parecia querer me bater.
Eu não tive a intenção de ofender a mãe de ninguém, somente de xingá-lo. Esbarrei em seu ombro e saí, sem ter muito como me defender.
— Eu te fiz uma pergunta, Barbie! - apertou meu punho, puxando-me de volta até a si.
— Vá pro inferno, garoto. Que tal ler um livro de autoajuda? "Como ser um virgem gay conformado!" - gritei em bom tom. Uma rodinha formou-se em nossa frente.
— Gay? - riu sarcasticamente, do jeito que mais me irritava — Eu sei que você queria, mas eu não quero te provar do contrário. Não gosto de coisa fácil! - e saiu, deixando-me vermelha de ódio.
— Podem escrever. EU AINDA MATO aquele retardado! - apontei e saí, sem olhar mais para ninguém.
Peguei meu carro e saí em alta velocidade. Eu tinha raiva de tudo, raiva do mundo. Eu não conseguia entender como todo o meu sistema nervoso ficava abalado em somente ver ou falar com o garoto mais idiota do planeta Terra.
— Pai, eu quero que... - entrei gritando, mas perdi a voz ao ver meu velho conversando com um alguém/ninguém: Meu caro amigo! Sim, o botão da ironia ainda está ligado.
— Filha! - bebeu mais um gole de chá — Este é seu amigo, null? Ele vai te ajudar em francês, não é? - sorriu.
— Só se o senhor quiser me ver em um sanatório! - apontei — Ou ele em um caixão!
— null null! - repreendeu-me.
— Ele já está acostumado com o meu jeito amigo, papai!
— Ele é um ótimo rapaz. Eu o contratei como seu professor particular. - levantou-se — Não ouse desperdiçar meu dinheiro! - piscou para null — Ele é um ótimo garoto! Muito melhor do que seu namoradinho...
Caí no sofá. Não adiantaria pular da ponte Golden Gate, não adiantaria jogar-me em baixo de um bonde. Eu teria que tolerar o meu maior pesadelo.
Em minha mente passou um flash, no qual eu me via nocauteando aquele rostinho lindo e perfeitamente irritante. Eu queria o matar e expor cada parte do corpo em uma praça. Ok, isso não me pareceu muito legal. Ele está transformando-me em psicopata. Eu avisei que ao lado dele o meu destino seria uma camisa de força!
— No seu quarto? - riu maliciosamente, tirando-me dos devaneios, nos quais eu pensava algumas maneiras de torturá-lo sem de fato matar.
— Na porcaria da biblioteca, null! - nem deu tempo de guardar minhas coisas, então joguei na mão dele — Carrega! - mandei.
— Não sou burro de carga! - jogou no chão. Como meu pai não via aquilo? Estava na cara que nós nos mataríamos em pouco tempo!
Bufei e entrei na biblioteca.
Deixei que ele falasse sobre como eu era sortuda (ele só pode usar drogas!) em ter uma aula dele e então comecei a chorar. Abaixei a cabeça e fiquei refletindo sobre tudo. Ele não tinha que saber que era tão importante a ponto de provocar-me lágrimas, mas eu não conseguia evitar o que era involuntário em mim. Eu o odiava tanto que chegava a não gostar de mim mesma. Sempre fui uma garota boa, meiga, amiga, legal com todos. Por que ele sempre conseguia fazer uma null má manifestar-se em mim?
Nunca precisei aguentar aquele garoto. Era muito fácil virar as costas e deixá-lo falando sozinho, mas e agora? Como seria ter que ficar tão perto da pessoa que eu mais odiava no mundo? Pensei até mesmo em tentar não o tratar mal, mas era como se já estivesse em meu sangue.
— Barbie? - retirou meu braço, podendo ver minha face — Olha, vamos só estudar, tudo bem? Eu não vou dizer nada que soe provocação.
— Sendo a tua voz, já me irrita, null lindinho! - expliquei bufando — E estar aqui com você, como sempre obrigada, está sendo insuportável! - confessei, sincera.
— Vamos começar! - sorriu, como se eu não tivesse dito nada — Você me odeia, não é? - acariciou minha face.
— Não toca em mim! - joguei o dicionário na cabeça dele — Odeio, odeio muito! Mas não é isso que cai na prova. Se fosse, eu tiraria sempre nota mil em te odiar!
— Então tudo bem... Em francês, o substantivo vem primeiro e só depois o adjetivo. O que é o contrário do inglês. Então é só você pensar invertido. Por exemplo... Atribua algumas qualidades a mim.
— Hã!? Você tem qualidade? - gargalhei — Você é muito engraçado e tem um rostinho lindo. Comecei bem?
— Isso foi uma ironia? - acariciou a própria face. Se ele era lindo? Sim, era! Mas quem disse que eu confessaria isso?
— Seria verdade, claro, se a Fergie usasse Avon! - gargalhei — Drôle et belle! - engraçado e lindo!
— Você está brincando com o francês, por isso tirou um F e eu um A+. Eu não sou mais inteligente, confesso. Só levo mais a sério. Que tal fazer o que eu peço?
— Sei lá o que você vai pedir... - ri e logo parei — Ennuyeux, prétentieux et ridicule! - chato, metido e ridículo. Eu o faria entender que se ele não fosse embora, teria seu pior dia.
— Pelo menos sabe o que é um adjetivo! - fechou meu livro — Vamos fazer assim... Leve-me para conhecer a casa, vamos conversar civilizadamente. Quem sabe você não me entende?
— E o que eu deveria entender? - cheguei meu rosto próximo ao dele.
— Que mesmo não te suportando, eu irei fazer meu trabalho! - olhou para as estantes e empurrou meus ombros para que eu sentasse.
A decoração era como o de comum na cidade, uma mistura de arquitetura vitoriana e moderna, ecleticamente diferente de outros lugares.
— Linda casa, vamos?
— Vou mandar meu cavalo te dar um coice! - levantei e o puxei pelas mãos.
— Aqui tem cavalos? - seus olhos brilharam.
— Não sabe que está em um haras? Não lê jornal? - ri, lembrando-me dos importantes leilões e das corridas — Ah, deve ser que fica ocupado demais assistindo Barbie!
Selei dois cavalos e o apresentei dignamente ao lugar e aos cavalos.
— null, vocês falam a mesma língua! - gargalhei apontando para meu alazão — Claro, são da mesma espécie!
— Irritante! - puxou meu cabelo — Mula! - gritou, rindo da minha raiva.
— Virgem! - fuzilei-o com os olhos e fiz menção de sair.
— Quer tirar? - puxou meus braços, jogando-me em uma cerca.
— Que nojo, null! - fiz careta e o empurrei com a pontinha dos dedos — Você acha mesmo que sou fácil, não é? Saiba que eu amo meu namorado. NUNCA ficaria com você!
null então calou-se de um modo que - não sei porquê - doeu em mim. Talvez eu quisesse o xingar mais. É claro que ele nunca foi afim de mim. Com certeza deveria imaginar-me em seu prazer solitário no banheiro, mas com certeza não passava da imaginação de poder ter um pouco aquilo que sabia que nunca teria.
— Awts! - gritou. Seu pé estava preso em um buraco.
— Calma! - gritei e fui até ele — Mexe o pezinho, Cinderela! - pedi.
— Está doendo, porra! - terminei de puxar. Caímos na lama, eu rindo, ele com um bico maior do que a Terra.
— Own, a carinha fofa dele! - desta vez fui eu quem o acariciou a face.
— Eu, recebendo a ajuda de uma patricinha! - virou os olhos.
— Eu não sou isso! - gritei e pisei no pé dele.
— Aww!!! - pegou no pé — Você me paga, garota idiota!
— Vir-gem! - movimentei os lábios sem emitir som e logo fui para casa.
Deixei-o caído, mas infelizmente vivo. Ele tinha força para andar - e com certeza força na língua para me importunar -, então pensei que seria fácil abandoná-lo, sem ter peso na consciência. Lutei contra minhas próprias pernas, mas não consegui evitar. Maldito coração mole! Virei-me e voltei, vendo-o segurar-se na porteira, com cara de dor e de raiva ao mesmo tempo.
— Desculpe! - aproximei-me.
— O que eu escutei? - olhou-me assustado — Quem te obrigou a dizer isso? - olhou para os lados. Sorri. Ele realmente era lindo e engraçado. Não era uma piada, mas ele nunca saberia disso.
— Resolvi ser boazinha com um retardado! - sorri — Vem, teacher! - pisquei tentando descontrair e estendi minha mão a ele.
Olhei para o céu, que parecia terminar em alaranjado para o lado do sul, e então sorri, sem nem mesmo saber o porquê de dar importância àquela visão.
Ele mancou apoiando o braço em meus ombros, e assim seguimos silenciosamente.
— Você irá ajudar-me em quais dias? - quebrei o silêncio.
— Não é ajuda, é trabalho! - riu — Ou você acha que estou aqui pelos teus lindos olhos que despem-me quando me vê!?
— Meus olhos o quê!? - soltei-o brava, vendo-o rir e ao mesmo tempo fazer um biquinho exacerbadamente atraente, provavelmente por conta da dor.
— Você sempre fica ofendida! - levantou a mão, como se fosse natural dizer aquilo.
— Você nunca diz algo que presta! Vamos lá... Eu sou patricinha, irritante, idiota, tarada, fácil, safada... Esqueci de algo? - turvei a vista, olhando para o outro lado. null segurou meu braço e sorriu. Provavelmente tinha uma resposta em mente, ele sempre tinha resposta para tudo.
— Você... - hesitou, acariciando meu rosto.
— Tira-a-mão-de-mim! - arrepiei-me com o maldito toque. Merda!
Virei o rosto e o puxei - um tanto rápido demais para a capacidade do garoto - para chegarmos até a casa.
— Ai! - escutei um grito familiar e então vi que vinha de perto do muro. Só poderia ser meu namorado — O que eu não faço por aquela garota? - escutei uns palavrões e uns gritos vindos daquela mesma direção.
— null!? - corri para perto do muro, ele estava lindo. Descabelado e, por isso, ainda mais lindo — Ainda não é noite! - empurrei-o no concreto e o beijei, invadindo toda a extensão de sua boca com minha língua, enquanto apertava a lateral de sua cintura.
— E você acha que com uma namorada dessas eu esperaria até tarde? - puxou-me para mais um sôfrego beijo e trocou-nos de lugar, logo jogando meu corpo contra o muro e soerguendo-me um pouco em seu colo, lambendo meu pescoço.
— Eu estou... - virei um pouco, impedindo seus lábios — Com o null... - avisei, antes que aquele louco arrancasse minha roupa ali fora. Não que eu deixaria, mas quando ele está comigo não é muito de racionalizar as coisas. null encarou meus olhos e soltou-me de leve, deixando-me no chão.
— Você está com QUEM!? - afastou-se de mim, visivelmente bravo.
— E-ele está ajudando nós dois... - o puxei para perto de mim, mordendo seu lábio inferior — Ei... Nosso namoro depende da minha nota de francês e ele está aqui somente como meu professor.
— E-eu poderia te ajudar! - acariciou minha face, passando o polegar em meus lábios.
— Você sabe que não... - sorri maliciosamente — Nós dois e um cômodo não é muito propício para pensar! - virei os olhos, fazendo-o sorrir.
— Boba! - abraçou-me, deixando seu cheiro ao meu alcance.
— Eu tenho que levar o null na biblioteca para ele pegar as coisas dele, mas eu já vou indo para o quarto... - soltei sua mão — A janela está aberta, Romeu! - pisquei.
— O que ele faz machucado? Foi você? - olhou-me de soslaio.
— Eu!? Eu não o machuquei, só ajudei a piorar um machucado já existente... - gargalhei, vendo null rolar os olhos de longe — Deixe-me ir! - dei-o um selinho e corri, antes que parasse mais uma vez no muro.
Encarei null, fazendo cara de "Vamos, seu imprestável!", e o puxei com pressa. Meu pai deixou que ele tomasse um banho em uma das suítes e que lá se trocasse, mas eu não ligava mais para o fato de estar sob o mesmo teto em que ele e sim para o fato de estar perto de null. Ah, que saudade dessa época de aulas. Nas férias, sempre viajo com meu pai: Torturante!
— Que coisa errada, Barbie! - null pigarreou, fazendo-me encará-lo.
— É errado fazer aquilo que você sabe que eu irei fazer? - gargalhei — Sei que São Francisco é um centro de ativismo liberal nos Estados Unidos, já que os homossexuais têm seus direitos... Mas não seja tãogay, null! - gargalhei — Assim você morre virgem, eu já avisei...
— E se eu contasse para o teu pai? - null assoviou, guardando suas coisas.
— Você não ousaria! - sentei-o em uma cadeira e coloquei o pé entre suas pernas — Vamos fazer um acordo... - apertei os olhos — Nada de somente trabalho. Tenha um motivo para vir aqui... Que não seja somente favorável a mim...
null riu, como se internamente conversasse sozinho. Talvez eu não estivesse enxergado a verdade antes daquele riso sexy e ah, eu já nem tenho mais adjetivos para qualificar tamanho atormento de alma. Mas aparentemente era favorável a ele estar ali, eu só não sabia o porquê.
— Ofereço o que tenho de melhor...
— Eu não quero te comer, Barbie! - estalei um merecido tapa em sua face — Ui, gata, não bate que eu gamo! - tinha doído, mas ele não confessaria isso.
— Virgem! - acariciei onde bati e ri, vitoriosa. null fechou os pulsos, com vontade de revidar; mas não sei porquê, ele se contem — Ofereço aulas de esgrima!
— Lá na escola, colocaram-me no grupo de esgrima... Todo mundo sabe que você é a melhor, mas quer mesmo compartilhar isso? - riu, como se visse algo por trás de minhas boas - sim, podem duvidar - intenções.
— Eu não vou te obedecer sozinha... Só que a minha vantagem é que você terá que obedecer uma dama armada! - pisquei mandando um beijinho.
— Pode dizer que quer passar mais tempo comigo, Barbie! - encarou meus olhos e riu — Eu já sei teu jogo. Cuidado com o Cheque Mate, rainha do castelo de diamantes! - levantou-me com os braços e colocou-me nos ombros — Que vença o melhor!
— Tire-me daqui! - gritei, estapeando-o. Levei-o até a porta e, já dando um adeus, mostrei o dedo do meio.
— Eu voltarei! - gritou, fazendo um passinho estranho por entre o caminho de pedra.
— Idiota virgem... - virei os olhos e fechei a porta. Eu não sabia como tinha conseguido sobreviver na presença dele... Ainda considerado por mim o ser mais repugnante da face da Terra.
Subi até meu quarto e encontrei null escutando música, quase dormindo em minha cama. Apertei suas coxas e fui subindo pelo tecido, caminhando com os dedinhos em sua barriga.
— Finalmente! - ele abriu os olhos e puxou-me para si.
— Onde paramos mesmo? - referi-me a quando estávamos na sala de limpeza do colégio. Sentei-me em seu colo e sorri feliz. Em meus braços estava o melhor namorado do mundo. Eu não queria o perder, e nem deveria... Pena que na vida só aprendemos as coisas na prática.
Capítulo 2 - Satisfaction.
null null’s P.O.V :
Agarrei-me nos cabelos de null e o empurrei levemente para trás, caindo sobre seu corpo. Ele sempre gostou de tocar guitarra, então eu disse para meu pai que quem gostava era eu. Assim, meu velho colocou abafador de som em minhas paredes para que eu pudesse fazer barulho sem incomodá-lo. Ele só não sabe que meus ruídos são muito mais sensuais e prazerosos - ainda bem que não sabe! - do que ele possa imaginar.
Passei minhas gélidas mãos embaixo da camisa de null e o arranhei na cintura, sentindo seu corpo se atemorizar enquanto eu o beijava apaixonadamente, como se eu fosse morder seus lábios. Levantei a camisa e beijei sua barriga, subindo para seu peito, aproveitando-me daquele corpo agora cheiroso e inteiramente meu.
— Você me deixa louca... - sorri — Até esqueci que tenho que tomar um banho... - sussurrei em seu ouvido, mordendo o lóbulo de sua orelha esquerda — Eu caí na lama! - relembrei, virando os olhos — Vem comigo? - saí de cima de seu colo e o chamei com as mãos.
— Vou aonde você for, null... - sentou-se na beirada da cama e puxou-me até seus braços. Sorri ao sentir sua enorme mão abrir o primeiro botão de meu vestido, que foi deslizando até amontoar-se no chão assim que ele abriu mais uns dois botões. Puxou minhas pernas e fez-me sentar novamente em seu colo, fazendo com que meus seios quase se encontrassem com seu queixo.
Beijou meus ombros, enquanto descia a alça de meu sutiã com os dentes. Seus dedos friccionaram-se contra minhas costas e logo me vi livre da parte íntima superior. Retirei sua camisa, um tanto envergonhada e já sentindo meu corpo estremecer, enquanto seus dedos já exploravam a região próxima à minha virilha. Sempre ficava extasiada ao sentir o calor de suas mãos e a umidade de sua língua. Ele lambeu meu pescoço, eu abri o botão de sua calça e senti seus dedos apertarem minhas nádegas: Safado!
Levantamo-nos sem desgrudar os corpos, completamente sincronizados. Levei minhas mãos ao bolso de sua calça e a desci, gradativamente provocadora, sorrindo ao perceber o volume dentro de sua roupa íntima. Não era preciso muito para deixá-lo louco. Toquei-o sutilmente, sem querer querendo e gargalhei abafado ao escutar seu gemido de ansiedade por um toque mais ousado.
Sentei-me na cama e levantei a perna direita, implicitamente pedindo para que ele me ajudasse a retirar a meia calça xadrez que o impedia de ver o resto de meu corpo. Ele massageou meu pé e foi até minhas coxas, retirando o fino tecido aos poucos, mais apertando e acariciando minha pele do que de fato tentando me ajudar. Carinhosamente, puxou-me até seu corpo e pegou-me no colo. Envolvi minhas pernas em sua cintura e me vi sendo direcionada até o banheiro...
Beijei seus lábios e, quando abri os olhos, uma água quente e agradável já caía sobre nós dois. Ele empurrou-me contra a parede e começou a beijar meu pescoço, até chegar ao meu colo.
— Linda... - acariciou minha face com o dedo indicador esquerdo dobrado, fazendo com que meus olhos se fechassem.
Cruzei os braços em seus ombros, voltando a ter contato visual. Seus olhos eram lindos, brilhantes e faziam questão de olhar-me com desejo, eles faziam com que eu me sentisse a mais linda das mulheres. Eu gostava de olhar seu rosto, compartilhar de suas sensações. Afinal, é isso que eu chamo de fazer amor. Se você focar somente em você mesmo, vira aquilo que os "sem ninguém" fazem isolados em casa, enquanto assistem a vídeos impróprios.
Senti seu coração batendo mais rápido, sua respiração ofegante e seu calor rijo que queria fugir para encontrar-se com minha parte mais quente e sensível.
— Meu lindo. Meu! - odiava ser possessiva, mas tê-lo ao meu alcance era a melhor sensação que já senti. Peguei meu sabonete e fui passando-o naquele corpo extremamente gostoso de jogador forte e experiente. Seus braços se cruzaram em minhas costas, fazendo com que seu membro provocasse minha indefesa amiga que estava um pouco acima, latejando.
Brincamos com o sabonete, limpando um ao outro. null desceu-me do colo e, sensualmente, lambeu meu pescoço enquanto tocava no interior de minhas coxas e provocava-me com os dedos, ainda por cima da peça íntima inferior, deixando-me sem ar. Segurou minha cintura e beijou minha barriga, torturando-me. Retirou minha calcinha e mordeu o interior de minhas coxas, fazendo-me puxá-lo pelos cabelos, totalmente fora de mim. Mordi seu lábio inferior e o joguei contra a parede, nos trocando de posição enquanto beijava todo seu peitoral.
Toquei em seu corpo e o torturei um pouco: minhas mãos são bobas? Direitos iguais! Com os lábios, ele assaltou meu pescoço; com uma mão agarrava meu glúteo, com a outra levantava minha perna direita. Retirei sua cueca e pulei em seu colo.
— Me beija! - ele arfou, mordendo meu queixo.
— Vamos para a cama... - implorei, cedendo-lhe um beijo.
Desliguei o chuveiro e deixei que ele me conduzisse ao quarto. Agarrei-me aos seus braços e abri os olhos ao ser sentada em um lugar firme: a enorme pia. null abriu o armário e retirou um preservativo de lá. Já sabia onde encontrar o que queria. Suas mãos tocaram em meus joelhos e foram apertando-os para fora, fazendo-me abrir as pernas. Beijou o interior de minhas coxas e puxou-me para mais perto de si, fazendo-me cruzar as pernas em sua cintura.
Beijou meus lábios e apertou minha cintura, puxando-me de modo cada vez mais forte. Gemi alto e puxei-o pelos cabelos, sentindo-o. Meu corpo se atemorizou, eu sentia que meu sangue queria fugir das veias. Respirei ofegante por alguns minutos, totalmente sem forças para sair dali. Meu coração estava totalmente acostumado a ter o que queria, mas estar com null null era sempre uma sensação nova, especial e demasiadamente surreal.
Ele pegou-me no colo, alcançou a camisinha e levou-me para o quarto. Ele sempre ficava satisfeito quando me via extasiada.
— Ainda nem começamos... - disse em tom provocativo, exibindo seu melhor e mais charmoso sorriso. Jogou-me na cama e beijou todo meu corpo, até chegar em meus lábios. Beijamo-nos vagarosamente, aproveitando o momento, sentindo o atrito das mãos.
Ele colocou o preservativo e elevou minha perna, encaixando-se em mim. Começou levemente, enquanto beijava meu pescoço e posteriormente pôs-se a investir mais forte, fazendo-me gemer e arranhar suas costas. Segurava-me firme, guiando nossos corpos a fazerem o certo para matar a saudade de estarem fundidos a um só. Assim, tudo era sincronizado: a respiração, as batidas cardíacas, os beijos e até mesmo o clímax. Mordi seu lábio inferior e virei os olhos até os fechar, em completo deleite.
No começo eu tinha vergonha, mas aos poucos ela foi - através do amor - tornando-se algo insignificante. Confesso que eu até já cheguei a pensar que aquilo fosse errado, fora da hora e mais mil outros conceitos; mas agradar a quem se ama não pode ter outra designação a não ser a de que é majestosamente nobre.
— Eu te amo, null! - abri os olhos, lentamente, sorrindo ao segredar o que meio mundo já sabia ou deveria saber.
Seus braços envolveram-me para que pudéssemos ficar ainda juntos, unidos pelo sentimento que na opinião dele não precisava ser nomeado. Mordi seu queixo, esperando por uma resposta. Sua resposta que nunca chegava por palavras.
Ele simplesmente tocou em minha face, levou minha mão até seu peito e exibindo um olhar que dizia mais que qualquer outra coisa, sorriu. Confesso que eu achava pouco, mas talvez aquele gesto explicasse tudo que eu precisava saber.
***
As batidas na porta de meu quarto mostravam-se cada vez mais fortes, insistentes e ruidosas. As cortinas blackout sempre me deixavam sem noção de dia e noite, por isso eu às vezes me atrasava para a refeição matinal - um dos únicos momentos no qual a família se mantinha completa.
Levantei-me ainda tonta e sonolenta, mas ainda assim pude escutar a grave voz de meu pai bradar por mim. Ele odiava o fato de eu trancar a porta de meu quarto, não aceitava eu ter crescido e amadurecido antes mesmo de terminar o colegial; mas isso acontece quando não se têm mãe por perto: meninas pulam as fases e guardam confissões para si mesmas.
— null... - sussurrei refletindo sobre onde eu guardaria desta vez toda aquela área milimetricamente perfeita e sedutora.
— SENHORITA ! - meu pai socou a madeira — Abra agora ou eu vou quebrar a porta!
— null!!! - gritei assustada por conta da ameaça, e logo tampei meus lábios. Meu coração acelerou, mas eu voltei a respirar quando me lembrei da existência dos abafadores de som. Ri e virei os olhos, aliviada.
Pulei em cima de null e o balancei calmamente.
— Acorda, Mon Amour... - passei a mão em seus braços, rindo de mim mesma ao refletir sobre o fato de que para ter aquele monumento ao meu alcance, todas as consequências valeriam à pena. Ele sempre estava ali quando eu precisava, dando-me o maior amor do mundo. Se eu o tinha por perto, nada me abalava, pois se existem anjos, ele certamente é um deles. Um anjo, o meu anjo.
Tê-lo ali era um ótimo tempero para aquela insulsa quarta-feira que amanhecia. Talvez assim ela começasse a trazer emoção à minha vida.
— ! - perseverei pela última vez, em um berro desesperado seguido de uma bofetada verdadeiramente forte. Ele prontamente arregalou os olhos e segurou meus braços, assustado. Virei os pulsos, soltando-me, e encostei meus lábios nos dele para acalmá-lo.
Ele levantou meu queixo, ao puxar meus cabelos para baixo, e mordeu meu lábio inferior. Beijou meu pescoço e alisou minha coxa, que o enlaçava pela cintura, com a mão direita. Era assim sempre que estávamos sozinhos, éramos como ímãs.
— Louca... - ele sorriu de um modo safado, balançou negativamente a cabeça e mordeu o próprio lábio inferior. Recobrei a consciência e afastei-me dele. Não precisei dizer mais nada, um novo murro de meu pai foi mais que suficiente para elucidar o que estava acontecendo. null arregalou os olhos e levantou-se, pegando todas as roupas que estavam jogadas ao chão.
— Vai colocar? - tomei meu sutiã de suas mãos e arqueei a sobrancelha direita. Joguei a peça na cama e ri enquanto observava meu desesperado predileto descobrir qual era o lado certo de sua camisa.
Em alguns segundos ele estava pronto. Tudo bem que parecia mais um gato atropelado, mas ainda assim tinha seu charme indelével. Beijei seus lábios e o vigiei com os olhos, como se fosse adiantar caso ele caísse desastrosamente pela janela. Corri para o banheiro, coloquei um roupão e uma toca no cabelo.
— Malditos cães! - escutei um grito de null, o último indício de sua presença nos redores de meu quarto, e ri ao imaginar um pedaço de sua calça arrancada.
Virei os olhos e logo abri a porta, pensando no quanto seria ruim ter que mentir ou omitir algo.
— Bom dia, daddy! - sorri infantilmente, morrendo por dentro por ser tão fingida. Ele analisou-me por uns doze longos segundos e posteriormente encarou seu relógio de pulso.
— Atrasada... - turvou a vista — Tem vinte minutos para descer... - cruzou os braços.
— Mas pai... - tentei argumentar.
— Quinze então... - deu meia volta e lentamente desceu as escadas.
Tomei um banho desumanamente rápido, prendi meu cabelo em um alto rabo-de-cavalo, vesti-me, maquiei-me sutilmente e fui para a sala de refeições.
— Demorou... - meu pai encarou seu inseparável relógio de pulso assim que sentiu minha presença. Puxei uma cadeira frente à de minha irmã Jani e encarei a geleia, vermelho sangue, posta na mesa. Eu não estava com fome e muito menos com vontade de comer aquilo.
— Desculpe-me. - sorri persuasivamente e estendi a mão para meu velho. Ele sorriu, desfazendo a postura de rude educador, e acariciou a ponta de meus dedos.
Comi o que não queria, sorri quando não queria e segui para a High School com quem não queria. Atualmente meu pai vinha mexendo demais em minha vida. Queria fazer minhas escolhas, proteger demais e transformar-me em sua versão masculina - sem ao menos perguntar se eu queria isso. Eu sempre o amei e preocupei-me em nunca o magoar, por isso sempre aceitava suas imposições.
— Já se acostumou com as aulas com... - tossiu. Parecia querer dizer algo revelador, mas mudou as palavras — null? - olhou diretamente para mim, como se fosse importante que eu aprendesse a suportar aquela coisa.
— Somente enfiei meia faca na clavícula dele, daddy! - sorri ironicamente — Somente meia! - repeti com sarcasmo.
Jani, minha irmãzinha, colocou a mão no ombro, arregalou os olhos e deu um pulinho impulsivo para trás. Certo. Definitivamente, null null estava transformando-me em uma psicopata!
— Jani... - levantei dois óculos — Qual?
— O amarelo! - apontou — Já vai? - fez bico. Ela estudava em casa.
— Tenho que ir, né? - até parecia tortura, mas na verdade eu adorava ir para o colégio. Dei um beijo na face de meu pai e outro na de Jane — Fui... - acenei da porta e corri.
***
Uma lágrima desceu em minha face escondida do mundo, mascarada dentro de um blindado carro preto. Não sou bipolar, não muito. Quase sempre estou bem, mas talvez ali eu nem fosse eu mesma. Dentro daquela prisão eu chegava a ficar claustrofóbica, mas tudo se normalizava quando as correntes se soltavam e minha vida voltava a ser agradável, linda, colorida e perfeita.
Cheguei ao colégio alguns minutos atrasada. Bati a porta do carro na cara de inspetor de funerária do meu motorista-segurança e sorri em seguida, mostrando que eu estava no controle, que a vida era linda - e única e exclusivamente minha.
Arrumei a gola de minha branca camisa meia-estação que contrastava com meu trench coat xadrez e segui a passos largos para o interior do colégio.
— null! - gritei minha amiga e bati meu quadril no dela.
— Isso já está perdendo a graça! - ela bufou ao ver seus livros caírem.
— Também acho que você é de mais, gata! - pisquei e encostei-me levemente no armário ao lado.
Não, eu não a ajudaria a pegar as coisas que ficaram caídas: essa era a graça da brincadeira.
— Ela não é um amor!? - null fechou seu armário e encostou o pé nele. Jogou o cabelo para o lado, sorriu de um modo irritantemente sexy e deu uma piscadela provocativa.
“Ele não é real!” - pensei. Encarei null, tentando fingir que não tinha o escutado e muito menos percebido sua diabólica presença.
— Sorria, Barbie! - null mandou um beijo no ar — Eu existo! - abriu os braços, obrigando meus olhos espertos a encararem seu corpo desejoso, marcado por uma camiseta preta que destacava cada músculo existente.
Balancei a cabeça para sair do efeito que ele causara em mim e virei os olhos, lembrando-me da fala de null. Ele era um nerd sincero e engraçado, não posso negar, mas ainda assim era demasiadamente metido e idiota.
— Sorrir por que você existe? - indaguei e aproximei-me dele — Só se for de felicidade quando eu marcar a sua linda face com o meu florete! - coloquei meu pé direito na lateral de meu esquerdo e espalmei a mão direita no armário, ao lado de onde null estava encostado.
— Não se aguenta de ansiedade pelas aulas de esgrima, hein, Barbie? - olhou-me de esguelha — Está doidinha pra partir pra cima de mim! - passou o indicador esquerdo em meu maxilar.
— Virgem! - virei os olhos e segurei sua mão. Ele levantou o olhar, mas logo perdeu o esboço de riso quando eu quase triturei seus dedos.
null fingiu não sentir dor, mas eu pude perceber que ele fechou a outra mão em punho. Ri. Talvez implicar com aquele ser fosse meu divertimento, meu joguinho, meu prazer negro, mas meu namorado sempre levava tudo a sério - e não estava completamente errado por isso. Mesmo assim, cheguei a ficar assustada quando ele puxou-me com uma mão e empurrou null com a outra.
— Você já está me cansando, sabia? - null olhou por cima.
— Por quê!? Só por que sua namoradinha não consegue ficar longe de mim? – questionou em um tom de voz provocativamente calmo — Será que alguém aqui não se garante? - null encarou meu namorado.
Senti-me estranha. Eu não conseguiria agir. Apesar de estar do lado de meu namorado, não achava certo que ele iniciasse uma briga física. Meu coração acelerou e meu estômago embrulhou, fazendo com que eu quase vomitasse a maldita geleia que revirava em meu interior.
— null null! - arfei — Não vale à pena! - toquei em seu ombro. null sabia que era ele quem eu amava, não tinha por que discutir com ninguém. Todos ali presentes sabiam do nosso amor e até o invejavam. Ninguém entendia o fato de null me tratar bem, isso porque ele sempre foi estranho se tratando de garotas.
null encarou-me.
— Eu tenho que resolver uma história antiga... - voltou o olhar para null. Sinceramente, eu não havia entendido o que ele queria dizer com aquilo — Aceita o fato de ser perdedor, null! - null bradou.
O sinal soou, chamando-nos para o interior das salas. Quase todos entraram menos null, null, eu e mais três curiosos.
— Perdedor? - null olhou para si e riu — Se eu fosse tão insignificante, o casal me deixaria em paz. Vão trepar, pastar, vão fazer algo longe de mim! - gritou e saiu, encostando propositalmente no ombro de meu namorado.
null fechou os olhos e virou-se por instinto. Puxou null pela camisa e o socou, levando prontamente outro soco. Usaram tanta raiva e força na mão que poderiam ter quebrado o rádio ou o semilunar.
— Seja menos idiota, null! Você não está mais na sétima série! - null gritou com null — Brigue como homem! - marcou sua própria face com a mão — Nada de provocar, como um menininho bobo e idiota.
Jogar War não fazia de mim a maior das estrategistas. Eu sentia minhas pernas tremerem, mas eu tinha que tentar impedir.
— Parem! - entrei no meio deles — Chega! - o choro parou em minha garganta. Pulei na frente de null e segurei seus braços — Por favor, não brigue. Ele é idiota sim, mas agredi-lo não é a solução. Ele não deixará de me importunar... e eu até já me acostumei com isso! - ele olhou para null e eu prontamente puxei seu rosto de volta — Ele implica comigo. Essa briga não é tua! - tentei suscitar, mas ele não estava disposto a compreender o que eu estava dizendo.
— A briga é totalmente minha, null... - ele abaixou a cabeça e retirou-me de sua frente com as mãos, não dando importância ao que eu pedia. Então, já que eu era invisível, resolvi sair dali e os deixar se matarem em paz. Mas, nesse momento, o diretor chegou e os mandou para a detenção. Eu já estava virando o corredor, mas não consegui escapar das consequências.
— Você também, Srta. null! - falou em alto e bom tom. Virei-me e fuzilei os dois garotos com os olhos: tudo era culpa deles.
Primeiramente, fomos para a aula. Nem olhei na direção de ninguém, somente prestei atenção nos professores. No final, fui para a maldita detenção e nem reclamei de nada. Fiquei na minha. Ignorei todos os comentários dos “detentos” e assim que pude ir embora peguei minhas coisas e saí antes que qualquer um pudesse correr atrás de mim. O pior era ter a certeza de que null, agora mais do que nunca, não iria aceitar a minha convivência – “por livre e espontânea pressão” - com null. Além de que eu ainda não tinha o contado sobre as aulas de esgrima... ou seja, eu estava mais ou menos muito ferrada.
***
Sentei-me em um banquinho branco de uma praça próxima ao colégio e refleti, olhando para a bela vista da baía, que eu precisava sumir numa rapidez que minhas pernas nunca iriam conseguir. Virei os olhos, enjoada e irritada comigo mesma, e liguei para o meu motorista-segurança. Ele quase nunca me buscava, mas eu não tinha uma opção melhor.
— Para o fim do mundo, Carlos... - joguei bruscamente minhas coisas no banco de trás e sentei-me no da frente. Carlos estranhou meu doce tom de voz e também o fato de eu o tratar educadamente pelo primeiro nome e não por apelidos depreciativos.
— E onde é o fim do mundo, senhorita? - encarou-me confuso, subindo gradativamente os vidros escuros do carro — Shopping Grant Avenue? - seus lábios se arquearam em um riso sarcástico escondido.
— Não. Tua casa, indigente! - falei séria, mas seu semblante ofendido saiu quando eu sorri docemente. Ele riu aliviado e arrumou o quepe para olhar em minha direção — Não liga pro que eu falo. Apenas dirija... Para onde quiser! - aconselhei, sorri e coloquei meus óculos escuros.
***
— Que tal? - Carlos disse, sorridente, após abaixar os vidros do carro. Explorei ao meu redor, com os olhos brilhando, e fiquei deslumbrada com a vista. São Francisco é simplesmente um lugar maravilhoso. Na verdade, não há nada de ruim na Califórnia.
Abri a porta do carro e saltei para fora. Retirei os óculos e segurei meu próprio queixo para que ele não caísse.
— Ual! - exclamei. Estávamos no Mirante Coit Tower. Era um paraíso e eu fiquei com vontade de pular em cima de Carlos, feliz por ele dividir aquela vista comigo — Mandou bem, Carlinhos! - sorri e pisquei para ele.
Na verdade, eu nunca tinha tido raiva dele. Eu simplesmente não aceitava algumas coisas, ok, todas as coisas - que me afastam - ou tentam me afastar - de null. Sempre fui ultrarromântica, daquele tipo que olha para alguém e se por esse se apaixonar, leva isso consigo por muito tempo. Brigo e luto pelo que acredito. Tenho o amor como minha maior certeza, então por isso sempre fico na defensiva em relação ao que pode prejudicar meu romance. Carlos, por muitas vezes, já me retirou dos braços de null e é claro que isso fazia com que ele não estivesse exatamente em minha lista de afinidades.
null também nunca tinha sido visto por mim como alguém que atrapalharia minha relação - apesar das pretenciosas piadinhas -, mas agora nada mais seria igual. Eu não sou burra e simplória, então pude ver que os senhores null e null tinham pendências passadas. Talvez null tivesse o dom de me atrapalhar... e era estranho como sempre, no final de tudo, eu pensava nele.
Sei que ele, talvez, foi no colégio a pessoa que mais tornou cool o modo geek/nerd de ser - ou pelo menos para mim, já que eu sempre admirei o modo como ele soma conhecimento à esperteza. Sempre há os nerds estranhos que só pensam em RPG, em “crackear” softwares e modos de se tornar um bilionário antes dos 20, mas null era até mais esperto do que esses. Ele não queria ser estranho nem nerd. Só ansiava ser diferente e, custasse o que custasse, o melhor.
— Está bem? - Carlos parou ao meu lado e apoiou os braços na mesma barra de ferro onde eu me apoiara — Para ter estragado a meia-calça e o salto alto, não deve ter tido um dia muito bom... - riu para deixar o clima mais leve, porém foi o bastante para eu desabar. Meus pés tinham afundado na grama da praça onde eu estava antes e sinceramente era impossível acreditar que alguém no mundo ligava mais para estética do que para seu próprio interior. Eu nem tinha notado o barro em meus pés, na verdade aquilo não tinha importância alguma. Retirei meu par de sapatos e o joguei para o lado.
— Eu não sou como você pensa... - sentei-me e coloquei a testa em cima dos joelhos flexionados — Eu não sou tão...
— Fútil? - completou precipitadamente.
Virei os olhos.
— Eu ia dizer patricinha... - joguei meu corpo para trás — Não sou patricinha, nem fútil! - fuzilei-o com os olhos — Assim como, talvez, você não seja tão inconveniente quanto eu pensei... Talvez.
Levantei-me e segurei as mãos dele, ajudando-o a se levantar.
— Está melhor? - Carlos tombou a cabeça.
— Sim. Graças a você... - respirei o ar limpo e úmido.
— Sou motorista... Posso te levar a lugares incríveis quando quiser. Área de recreação nacional de Golden Gate, por exemplo, é um ótimo lugar para atividades... - sorriu — As praias de Santa Cruz são relaxantes... - brincou com os dedos — Não quero que me odeie. Eu sou, na verdade, mais legal com você do que possa imaginar... - riu estranhamente agradável — Ou acha que eu realmente nunca vi seu Homem-Aranha pulando a janela?
Perdi o equilíbrio e quase caí. Aquilo me assustou inicialmente, mas em seguida eu consegui enxergar aquele fato como um trunfo. Se ele mantinha segredos, talvez pudesse ser um esquisito armário amigo. Amigo? Algo me dizia que sim.
— E por que você nunca dedou? - questionei — Eu nunca fui legal com você... - brinquei com os dedos.
— Eu não sou baby-sitter... - ele sorriu — E você nem é um bebê! Tem direito de namorar e se o seu pai não me der ordens de te tirar de perto do seu namorado, eu fico na minha. O que o patrão não vê o Carlos não se mete.
— Obrigada... - o abracei — Não sei o que seria de mim hoje, sem você.
Carlos suspirou e segurou meu rosto entre suas mãos.
— Quer ir embora? - ele perguntou e soltou-me, indo até o carro.
— Vamos... - respirei fundo — Ou daqui a pouco o seu patrão vai ficar mais ou menos preocupado... - adentrei o carro. Seguimos para minha residência.
***
Corri para meu quarto. Tomei meu banho, coloquei minha camisola cor de marfim, beijei minha irmã e meu pai e logo fui me deitar. Meu coração acelerou quando peguei em meu colar com pingente de coração, que era aberto por um pingente em forma de chave, o qual ficava sempre dentro da camisa de null. Ele estaria bem ou com raiva de mim? É claro que eu tinha tentado ligar, mas só dava caixa postal... Aquela quarta-feira passou longe de ser boa, apesar de ter começado muito bem.
Passei a mão em minha colcha de textura macia como seda e sorri diabolicamente, sentindo vontade de repetir tudo que fiz na noite passada. Era uma pena que tudo tivesse tomado um rumo nada satisfatório. Meu dia tornou-se frio, assim como minha cama. Levantei-me com a esperança de ver alguém sorrateiramente tentar adentrar pela janela, mas o vazio foi unicamente o que me recebeu. Era melhor ir dormir. Hoje Julieta não teria mais o seu Romeu.
***
Eu não entendi o que houve com minha quinta-feira.
null nem null foram à aula. Meu namorado ainda parecia não querer falar comigo, já null parecia ligar mais para mim do que eu imaginava. Quando eu saí do colégio, ele estava me esperando. Naturalmente eu sentia que ele estava ali por mim. Até porque, somente eu parecia enxergá-lo;
— Posso falar com você? - ele aproximou-se meio que timidamente.
Arqueei a sobrancelha e suspirei.
— Você já falou... - respondi calma — Continue... - sorri.
— Eu quero... é... - coçou a cabeça — Pedir desculpas...
— Hã? - meu queixo caiu — Mas você...
— Vai aceitar ou não vai? - null fez bico. Não parecia ser confortável estar se retratando.
— Está tudo bem... - balancei a cabeça — Eu volto a te odiar de modo normal... - brinquei.
— Mas as aulas de francês e de esgrima continuam de pé? - deixou um sorriso escapar dos lábios. Agora eu entendia o porquê das desculpas, mas ainda não compreendia o motivo dele querer tanto essas aulas.
— Sim. Mas não comente nada perto do... - tentei pedir.
— Do idiota do...
— Homem que eu amo. - completei em bom tom, brava por ele sempre implicar com null — Se você não me odiasse tanto, eu poderia jurar que você está com ciúmes! - encarei-o.
— E você já pensou na hipótese de eu não te odiar? - null indagou repentinamente. Fiz menção em dizer algo, mas calei ao ver que ele iria continuar — Eu somente fico na defensiva. Não querer ser seu amiguinho não significa te odiar.
— Por que é tão estranho e diferente? Por que você parece gostar de ficar próximo a mim, somente para me irritar? - fechei os olhos por um breve segundo.
null segurou meus braços e aproximou seu corpo do meu.
— Se eu não te irritar você não me enxerga... - ele fechou os olhos e balançou negativamente a cabeça — Você me odeia, mas o ódio nos aproxima. Eu gosto sim de estar perto de você... - confessou. Fiquei sem fala.
— Então você gosta de mim? - encarei seus lindos olhos.
— Não. Isso já é demais! - null acariciou meu maxilar — Não se iluda. Não é um discurso apaixonado... - gargalhou irritantemente. Entendê-lo era sempre impossível.
— Se não gosta de mim... por que gosta de estar perto de mim? - o empurrei.
null se afastou, acenou e apenas sorriu.
— Uma hora você vai saber... - piscou — Até amanhã... Barbie!
Capítulo 3 - Invitation.
null null’s P.O.V :
null exercia algo inexplicável sob meu corpo e meus pensamentos. Eu não conseguia parar de tentar imaginar o motivo de nós sermos assim: tão irritantes e ao mesmo tempo tão inexplicavelmente próximos. A culpa de nós nunca termos nos dado bem era de alguma forma também minha, mas parecia existir algo por trás, algo mais que eu nunca entendia.
Dei de ombros e liguei para Carlos, já que mais uma vez eu não voltaria junto com o meu namorado. Minha volta às aulas não estava exatamente do modo que eu havia imaginado por todo o verão. Estava sendo uma semana maldita e insuportável, estar a um passo da sexta-feira era a única coisa que me alegrava.
Assim que o motorista chegou, pulei para dentro do protetor veículo e segui sem pronunciar muitas palavras. Eu estava muito atormentada para ficar conversando. Tudo o que eu queria era cantarolar mentalmente um “lá; lá; lá...” para tentar silenciar os pensamentos, mas eles pareciam ser involuntários, era como se minha mente não me pertencesse.
— null... - meu pai interrompeu minha fuga para o quarto.
Respirei fundo e voltei meus olhos para ele.
— Sim... - respondi.
— Ontem você chegou tarde do colégio... Estava com o Carlos, certo? - inquiriu.
— Correto. - respondi breve. Eu queria acabar logo com aquilo para poder me deitar um pouco.
— Que tal você o deixar te acompanhar no shopping amanhã e também na tal festinha semanal que você vai? - olhou para o chão. Ele só poderia estar brincando!
— Hã? - gargalhei — Boa piada! - pisquei e fiz sinal de beleza.
— Não é piada! - cruzou os braços — É proteção... - completou.
— Por que está tudo tão estranho? - meus olhos se encheram de lágrimas, mas limitei-me a balançar a cabeça e me calar em relação ao que eu realmente pensava daquilo tudo — Tudo bem, pai... - dei de ombros, adentrei meu quarto e fechei a porta. Não adiantaria eu dizer que parecia que eu não tinha uma vida minha. Talvez eu realmente não tivesse.
Sentei-me perto da janela e alcancei um livro que estava em um móvel próximo. Era do Augusto Cury, um autor que, mesmo quando não tem a intenção, sempre acaba escrevendo livros de autoajuda.
Quando olhei para a parede, percebi uma sutil e borrada mancha de borracha de tênis marcando uma antecedente presença de null em meu quarto. Sorri, não era alegria, talvez fosse por achar graça na ironia de minha vida. Era como se tudo se voltasse para eu não ter o null como meu amor, como se fosse um sentimento inconveniente, mas eu o amava. Contra a tudo, contra até meus próprios pensamentos.
Alcancei meu celular e liguei novamente para meu namorado: Caixa postal! Larguei tudo ali no chão, fui me deitar e, como não conseguia ter paz mental, eu peguei um livro para tentar estudar Física atômica e subatômica e fazer alguns exercícios. Na verdade a única matéria na qual eu precisava de pontos era Francês, mas eu não a estudaria, já que isso me faria pensar em null, principalmente em adjetivos que pudessem o definir, como ocorreu em minha primeira aula.
Acabei dormindo a tarde toda e só me levantei quando finalmente surgiu o sol que anunciava a chegada da manhã de sexta-feira e por consequência eu tinha que ir para a High School. Arrumei-me, peguei meus materiais e desci para tomar o obrigatório café. Eu não possuía sequer o direito de não ter fome.
— Bom dia, null! - minha irmãzinha sorriu.
— Obrigada! - sorri para ela. Eu realmente precisava de um ânimo, afinal, sexta-feira não era dia de lamentar a semana, e sim de esquecê-la — Bom dia para você também!
Comi somente uma torrada e levantei-me para ir ao colégio. Respirar o ar da High School me fazia muito bem, mas não era a mesma coisa quando eu não encontrava null por lá. Parecia que ele não tinha ido novamente; mas, no corredor principal, avistei Jessica Hilson. Ela era uma radiante morena, seus cabelos eram negros avermelhados e seus olhos tinham cor de esmeraldas. Jess era minha companheira de final de semana. Eu não entendia o porquê, mas toda vez que eu conversava com a garota, minha amiga null se distanciava e então éramos como desconhecidas nos finais de semana. Ok. Talvez fosse por Jess nunca ter convidado null para alguma de suas festas, por ter uma ridícula seleção de popularidade.
Mas, no fundo, Jessica era uma ótima pessoa. Em se tratando de festas, ela era uma das mais populares organizadoras da Califórnia, já que atraía populares alunos de vários colégios e até mesmo de faculdades.
— Finalmente chegou sexta-feira! - gritei perto da morena, aparentemente mais alegre do que eu realmente conseguia estar.
— Hoje tem festa, Polly! - ela piscou — E pela minha pesquisa, o Mathew está arruinado! - gargalhou maquiavelicamente.
Mathew Wayne, além de ser um ótimo jogador de futebol americano, era outro organizador de festas. Era o hobby dele, mas isso acabou o fazendo ser visto pela Jessica como um “mortal” rival. null sempre participara das festas do garoto, por isso eu sabia que não o veria na festa de Jess. Mathew tinha festas enormes, normalmente incluía quem quisesse ir. Ele não ligava para a popularidade de ninguém, sabia que todos queriam se divertir e os proporcionava tal direito. Porém, Jessica não via isso como bondade, e sim como apelação para ter público. Eu preferia os critérios de Math, mas não conseguiria ignorar a produção espetacular que a garota preparava. Com seus pais publicitários, Jess tinha aprendido que encher nossos olhos era uma ótima tática para nos fisgar como público fiel.
— Coitado do garoto... - limitei-me a balançar negativamente a cabeça — Você não deveria colocar tanta raiva em uma só pessoa...
— Olha quem fala! - ela estala os dedos — Por muito menos você odeia o null, Polly! - ela constatou.
— Ah, ele sempre me irrita ao tentar ter maiores notas. É uma competição ridícula! - virei os olhos.
— E o Mathew sempre me irrita ao tentar ter festas melhores do que a minha. E o pior é que a tática dele é chamar qualquer mendigo esfomeado. Fala sério! - Jess virou os olhos.
Ok. Pensando bem, desde a sétima séria, a nossa turma era demasiadamente competitiva. Mas parecia ser algo normal. Parecia.
— Hoje você vai comigo ao shopping? - questionei — Depois da aula...
— Claro! - ela fechou seu armário e então seguimos - atrasadas - para a aula de Física avançada.
Vistoriei a sala com os olhos. Normalmente null participava de tal aula, ineditamente localizado na primeira carteira. Era a única aula que ele nunca faltava - olhei novamente - ou quase nunca.
— Srtas. Hilson e null... - o professor Schimitz apagou a primeira parte do quadro. Parecia que, por termos chegado com um pouco de atraso, ele não queria nos deixar copiar a matéria — Vejo que sabem tudo sobre Física avançada! Nem precisam assistir às aulas! - ironizou. Senti que Jessica tinha ficado intimidada, mas eu não me deixava abalar por conta daquele velho.
— Desculpe! - eu e ela falamos em coro, um tanto roboticamente.
— Que tal alguma de vocês duas explicar como funciona um reator nuclear a fusão do tipo tokamak? - Schimitz sugeriu.
Os olhos de Jessica ficaram esbugalhados, mas por sorte eu tinha estudado Física atômica e subatômica por toda tarde do dia anterior. Era meu jeito produtivo de sofrer por conta da falta de meu namorado.
— Bem... - comecei — Sei que o plasma de deutério e trítio é mantido distante das paredes do grande recipiente toroidal por intensos campos magnéticos. Estes são produzidos por bobinas externas e em parte pela corrente elétrica que atravessa o próprio plasma. Uma parcela de neutros produzidos pela fusão do deutério e do trítio serve para produzir mais trítio, mediante uma reação que ocorre na camada de lítio em torno do plasma. O hélio, que é outro produto da fusão, é conduzido para fora do reator. O calor que se desprende nas reações de fusão é levado pela água, como num reator a fissão. Aquele que o senhor explicou na aula passada... - expliquei. Nem eu mesma sabia o quanto havia absorvido do livro de Ugo Amaldi.
— Presunçosa... - escutei um murmúrio. Ignorei. O professor praticamente não tinha o que dizer em alto tom, então apenas assentiu com a cabeça.
Sentei-me e pisquei para Jessica. O professor Schimitz pensaria duas vezes antes de duvidar de minha dedicação.
— Valeu... - Jess movimentou os lábios, sem emitir som.
— Disponha! - respondi do mesmo modo.
Logo a aula de Física acabou e então eu migrei rapidamente para a aula de Variabilidade e Evolução. Pelo que eu me lembrava, era uma aula que eu tinha em comum com null. Correto, ele estava lá. E o estranho era que ele parecia ter mais interesse em Biologia do que em Física, o que não era muito comum.
— Oi, null... - sentei-me perto dele, que estava apoiando a cabeça nas mãos.
— Depois conversamos. - ele se levantou e se mudou de carteira. Posicionou-se em um lugar cheio. Ou seja, ele não queria que eu me sentasse perto dele. Quando senti uma pontada de dor, null prontamente gargalhou sem motivos. Mas logo ele olhou para mim e piscou, fazendo-me sorrir. Era como se ele soubesse o que eu tinha sentido.
As aulas acabaram sem que nada de especial acontecesse. Peguei minha mochila, agarrei meu livro de Física e saí do interior do prédio junto com Jessica. null passou à minha frente sem sequer olhar diretamente para mim, já que ela sabia que enquanto eu esperasse pelo motorista, embaixo da sombra de uma angiosperma, ficaria conversando com Jess.
Larguei meu material no chão, subi na árvore e sentei-me em um galho grosso.
— Posso falar com você... Barbie? - null apareceu de repente.
— null... Você já falou! - repeti como na outra vez em que ele havia perguntado aquilo.
— Aproveitando que o jogadorzinho não está por perto, quero hoje minhas aulas de esgrima. - decretou e estalou os dedos, autoritário.
— Você tem alguma coisa com o fato dele não ter vindo? - respirei fundo.
— É claro! Ele é tão sexy que eu o sequestrei e o amarrei à minha cama! - virou os olhos.
— Gay! - gargalhei.
— Mas você deve o ver hoje... - null disse.
— Então você está sabendo de algo? - cruzei as pernas.
— Não sei, unicamente imagino. Só suponho. - ele alinhou seu casaco ao corpo. Ele queria me fazer prestar atenção em suas formas ou eu já estava ficando louca? — Não mude de assunto... - null elevou o olhar, com a cabeça inclinada, enquanto ainda segurava a frente de seu casaco com as duas mãos.
Eu sabia que ele estava falando sobre as aulas de esgrima.
— Hoje não dá para eu te ensinar! - virei os olhos — Hoje tem festa. - expliquei.
— E daí? - franziu a testa — Eu também vou a uma festa e nem por isso tenho que repousar a tarde toda...
— Você nunca entende! - balancei a cabeça — Quando você quer?
— Eu simplesmente vou aparecer. - ele deu de ombros e eu olhei para a garota.
Jessica analisava cada centímetro de null. Era como se ela o visse pela primeira vez. O que poderia nem ser, mas era com certeza a primeira vez que ela o enxergava.
— Qual festa? - Jess questionou, quase retoricamente. null olhou para ela e voltou sua atenção para mim, como se ela fosse tão invisível quanto ele costumava ser para todos no colégio.
Bruscamente direcionei minha atenção para null, que estendeu os braços como que me oferecendo ajuda para descer. Arrastei-me até a beirada deixei que o garoto segurasse em minha cintura para me levar de volta para o chão. Meu corpo ficou suspenso pelos braços de null e quando encarei os olhos dele, ele sorriu. Não era um sorriso cínico nem irônico, era como se ele estivesse feliz. Uma agonia tomou conta de mim, fazendo-me sentir uma dor insuportável. null desceu-me rapidamente e logo correu como se fugir fosse resolver um grande problema.
— null... - Jessica gritou.
Olhei para ela, boquiaberta. Eu sabia o que ela pretendia fazer.
null virou-se molemente e olhou para Jessica como se estivesse enjoado.
— Se quiser uma festa de verdade, apareça na minha! - ela completou e piscou.
Ele a encarou, inexpressivo, elevou a sobrancelha direita, alojou as mãos nos bolos e foi embora.
— Isso foi um sim? - Jess fez careta, olhando para mim como se eu fosse capaz de entendê-lo.
— Olha pra minha cara de manual de instruções de null null! - virei os olhos e ri. Eu já estava bem melhor — Por que o convidou? Você sabe que ele me irrita!
— Porque ele é o meu número! - ela piscou.
“Então ela está interessada no... Eu mereço!” - pensei impaciente. Era melhor eu me calar sobre aquilo. Peguei minhas coisas no chão e segui com Jessica até o carro no qual Carlos nos esperava.
— Ele é misterioso... - Jess deitou sua cabeça no banco.
— Scooby-Doo me ensinou que não existem mistérios e sim farsas! - dei de ombros.
— Scooby-Doo me ensinou que não existem fantasmas e sim excessos de maconha! - ela corrigiu, fazendo-me rir.
Jessica e eu fomos para minha casa, comemos algo e fomos ao shopping. Compramos algumas coisas e então depois eu a deixei em sua casa e voltei para a minha. Eu não deixaria nada abalar meu dia, ele seria maravilhoso, uma vez que eu adorava saber que logo haveria festa e eu só tinha que me preocupar em dançar e curtir a noite. Para ser bem sincera, tentei não me preocupar com o desaparecimento de null. Já que ele aparentemente não queria me ver e não sentia saudades, eu também não era obrigada a me descabelar por causa dele.
***
Já era fim de tarde e início de noite quando por fim cheguei à prisão, digo, ao meu lar. Passei na cozinha para pegar um delicioso fondant de leite e em seguida subi para o meu quarto. Quando abri a porta, encontrei null parado frente à minha estante, com um porta-retratos na mão.
— Admirando minha beleza, null? - sorri irônica, surpreendendo-o.
— Foi no verão? - ele perguntou, desprezando minha ironia, olhando fixamente para a uma foto minha — Se divertiu muito?
— Mais ou menos... - dei de ombros. Não gostava muito de férias.
— Mentira. Você se divertiu bastante... - ele encarou-me.
— E como você poderia saber? - elevei a sobrancelha direita, confusa.
— Simplesmente sabendo... - deu de ombros e colocou o porta-retratos em seu lugar.
— E o que o vidente faz aqui? - cruzei meus braços — Você é muito inconveniente! Eu disse que tinha festa hoje e você sequer considerou... - fiz bico — Você só pensa em você, não é, null? - fiz careta.
— Talvez! - piscou irritantemente. Em minha visão, parecia que ele gostava de exercer seu trabalho voluntário de me incomodar — Vamos às aulas? - sorriu cinicamente.
Bufei, larguei minhas bolsas no chão e puxei null pelo braço.
— Você venceu! - disse o arrastando pelos corredores de minha casa.
Passamos por quase toda a residência, até que deparamos com meu pai e com minha irmãzinha.
— Já estão se dando bem? - meu velho perguntou ao ver-nos de mãos dadas.
Soltei-nos prontamente e fiz careta, explicando com aquele ato que por mais que null e eu fossemos próximos eu nunca me daria bem com aquele garoto. Talvez nunca houvesse fortes laços entre nós. Bem... Talvez!
— Quem é ele? - Jani, minha irmãzinha, perguntou.
— Ninguém... - respondi espontânea, virei os olhos e saí. Claro que tive que voltar para puxar o idiota do null, que parecia não saber mais andar sozinho.
— Confesso que estou com medo... - null encarou a porta da minha sala de treinamentos, que ficava bem isolada do restante da casa — É uma sala de torturas e você pretende me amarrar a uma cadeira elétrica?
— Paga pra ver, null! - acariciei o rosto dele e sorri.
Assim que adentramos a sala, senti que null ficou deslumbrado. A decoração era antiga e medieval, principalmente inspirada em sagas Vikings e na história de gladiadores. Na parede de fundo, acima de uma prateleira de troféus, ficavam duas fotos minhas: uma na qual eu estava fazendo pose de esgrimista e outra, a minha favorita, em que eu estava montada.
— Pratica Equitação? - null franziu a testa.
— Relembrando... - virei os olhos — Aqui é um haras! - arregalei os olhos — Quer dizer... se você quiser aprender, eu excluo o que eu disse. Eu nem nunca vi um cavalo! - gargalhei.
— Alguém já te disse que você é ilimitadamente chata? - null cruzou os braços e riu.
Mostrei-lhe o dedo do meio e fui até o armário para pegar o que precisaria para começar as aulas de esgrima. Eu não tinha muito tempo para irritá-lo. Uma pena!
— Bem, coisa, digo, null... Esgrima é um jogo muito legal e empolgante, ainda mais se tratando de nós dois, competidores natos! Deixo claro que eu vou te ensinar, mas na prática homens somente jogam com homens e mulheres com mulheres... - peguei meu equipamento e dei a ele outro — Usam-se vestimentas tradicionalmente brancas, pois antes tínhamos que molhar a ponta de nossas espadas com tinta colorida para o combate; máscara protetora e uma luva na mão armada.
— O que é isso? - null encarou uma peça, confuso.
— Protetor para seios... - tirei das mãos deles — Se você for homem, deve usar somente um colete! - o entreguei a peça correta para que ele pudesse se vestir. Ficou perfeito!
— Estou parecendo um personagem de Mortal Kombat! - ele riu.
— Como é iniciante, obviamente você começará com o florete... - joguei a arma para ele — A lâmina é mais leve e por isso você terá mais facilidade.
— Facilidade? - null fez careta ao olhar para a arma.
— Segure pela pega... - ri mostrando como se fazia — Bem, em primeiro lugar, ao entrarmos na pista, devemos nos cumprimentar. Basta fazermos um rápido movimento com as armas, antes de colocarmos as máscaras... - expliquei.
— Quanta frescura! - virou os olhos.
— Você ainda não viu nada... - levei a lâmina às proximidades do rosto dele — Há regras quanto à pista, mas isso eu explico depois... No geral, a finalidade do jogo é tocar o oponente com a lâmina ao mesmo tempo em que se evita ser tocado por ele. No florete, assim como na espada, só podemos pontuar com golpes feitos com a ponta da arma.
— Mas como perceber um simples toque? Tem que espetar? - null franziu a testa.
— Não, null. É simplesmente tocar mesmo. Em competições usa-se a esgrima elétrica, que é uma forma mais prática de marcar a pontuação. Mas aqui não precisaremos disso. Até porque eu duvido muito que você faça sequer um ponto! - gargalhei.
— Quanto tempo dura cada... round? - null questionou.
— Podemos estipular... Pode ser cinco toques ou três minutos para se vencer cada rodada.
— Ok...
— Tenha postura e equilíbrio. Distribua o peso de seu corpo nas duas pernas levemente flexionadas, bem distantes uma da outra... - fiquei em posição, exemplificando — Primeiro aprenda o movimento Estocada.
— Sou ótimo em estocadas! - provocou.
— Cala a boca, null! Estocada trata-se simplesmente de golpear com a ponta da arma. Vamos treinar esse até você ficar bom. Tente ser ágil, prever meus ataques e...
— Tenho que ter delicadeza no toque... - null completou — Chega de teoria. Quero a prática! - ele fez um movimento estranho com o florete. Não parecia ser a primeira vez em que ele manejava o objeto.
— Você... - defendi-me — Você já praticou? - bufei enquanto “competíamos”. Se a resposta fosse sim, ele era mais que um garoto ridículo e imbecil.
— Sorte de principiante... - null riu — Primeiro toque! - ele conseguiu pontuar.
Brincamos mais um pouco e o tempo passou mais rapidamente sem que pudéssemos perceber. Na verdade eu não tinha motivos suficientes para desconfiar dele, visto que ele era visivelmente amador. Sabia fazer bons movimentos, mas não o bastante para atacar.
— Touché! - toquei-o com o florete na parte frontal de seu tronco, gritei e tirei minha máscara. — Ataque em francês! - null retirou sua máscara. Depois de algumas rodadas já estava ofegante, e o engraçado é que ele tinha feito somente um ponto — Você me tocou... Quer tocar mais a fundo? - piscou.
— Não dá pra ser menos irritante, null? - alisei o florete e ri, ameaçando com um olhar.
— Você é boa... - ele mudou bruscamente de assunto.
— Sou ótima, null! - corrigi — Não sou nenhuma instrutora de esgrima da Escola Joinville le Point, na França, mas já sirvo pra dar aula para um idiota... - brinquei.
— É claro que não é nenhuma instrutora da Joinville le Point, seu francês é péssimo! - piscou.
Mostrei o dedo do meio.
— Chega por hoje? - inquiri.
null assentiu.
Saímos da sala e subimos para perto dos quartos principais. Fui para meu quarto e sugeri que null tomasse um banho em um quarto de hóspedes. Arrumei-me lindamente. Estava romântica e ao mesmo tempo sexy. Deixei meus cabelos soltos e maquiei-me fortemente.
null bateu na porta e eu a abri.
— Até que produzida você não fica nada mal... - ele brincou, fazendo-me virar os olhos.
— Como se eu me importasse com sua opinião... - dei de ombros, mas na verdade eu me importava.
— Eu... - ele analisou-me mais uma vez e balançou a cabeça, como se saísse de um transe hipnótico — Eu vou embora... - despediu-se.
— Não vai querer conhecer uma festa de verdade? - questionei.
— Está me convidando, Barbie? - coçou o queixo, inseguro.
— A Jessica te convidou! - corrigi.
— E você acha que eu devo ir? - fechou os tornozelos, apreensivo.
Senti uma estranha euforia.
— Na verdade não! - respondi.
— Então eu vou! - ele sorriu e piscou.
— Para me irritar? - virei os olhos.
— Sempre! - confessou.
— Você é um idiota... - respirei fundo.
— Você não sabe o quanto está enganada... - seus olhos brilhavam, como se lágrimas estivessem prontas para sair. Apesar daquilo não ter graça, eu ri. null suspirou fundo, virou-se de costas e foi embora. Eu sentia que havia algo a ser dito por ele, algo importante, mas o deixei ir. Estava tudo muito estranho e eu tinha medo de estar realmente enganada.
Capítulo 4 - Complicated.
null null’s P. O. V:
Após ver a null, que já estava pronta para a festa, tive que ir embora de sua casa. Algo em mim sempre me levava a irritá-la, mas isso também nos atraía. Ficar perto dela me fazia ter medo, já que eu não podia me dar ao luxo de sentir qualquer coisa. Eu não poderia deixa-la feliz, também não poderia ser plenamente feliz. Tudo tem uma triste explicação, mas eu não queria precisar dizer para a null o que acontecia conosco. Eu não queria assustá-la como um dia eu fui assustado.
Levei minhas mãos até meu bolso e sorri ao pegar uma foto que eu havia furtado do arquivo do colégio. Era talvez o único rastro de um maldito “passeio” que fizemos na sétima série - foi quando tudo começou. Talvez aquele fosse um dos últimos dias em que null e eu conseguimos ter plena paz e felicidade. Na imagem, null estava toda de rosa, tinha os cabelos presos em um alto rabo-de cavalo e eu poderia até escutar as pessoas a chamando de Polly. Antes de eu a irritar, outras pessoas já tinham essa tarefa.
Bem... corri para minha casa e me arrumei. Confesso que eu estava com medo de ir à festa da Jessica, eu não gostava muito dela. Quase todos os garotos legais iam às festas do Mathew. Somente garotos idiotas e meninas bajuladoras se juntavam à Jessica, diziam os boatos, mas não custava nada eu tentar ver com meus próprios olhos.
Troquei meu canivete de lugar, guardando-o então em um bolso de minha calça. A lâmina era algo inseparável de mim. Não era para fazer mal a outrem, muito pelo contrário...
Para verificar se estava tudo fechado, passei no cômodo que era meu laboratório. Fui até a garagem, olhei-me no espelho do carro e dei partida. Passei lentamente pelas ruas de São Francisco. Era tedioso dirigir a uma velocidade de tantas poucas milhas por hora, mas eu não poderia correr.
As festas eram sempre em Berkeley. Jessica tinha mania de aproximação com o pessoal da universidade. Estacionei meu carro ao lado de outros que, até em sua linha de montagem mais antiga, sem esforço algum, o humilhavam, e adentrei o hall da boate que Jessica tinha alugado.
— Seu nome está aqui? – Uma garota parou-me com suas mãos para ter tempo de verificar a lista. — Que estranho... - ela franziu a testa. — Pode... Entrar... - ela disse apertando os olhos, imaginando se estava com problema de vista.
— Obrigado! - Respondi educadamente. Quando saí do campo de visão da garota, virei os olhos e assim que voltei minha atenção para a pista, senti-me um E.T. Um E.T. cagado, já que todos os olhares estavam voltados para mim. — Eu fiz algo de errado? - Perguntei à Jessica assim que a vi.
Ela analisou-me por inteiro, sorriu maliciosamente e puxou-me para que pudéssemos dançar.
— Você está um gato! - Ela elogiou roçando seu corpo no meu. Sorri em agradecimento, de modo plástico. Eu não conseguia gostar de Jessica. Talvez gostasse de sua bunda, mas eu não usufruía de bundas oferecidas de graça. Garotas “dadas” não têm encanto.
— Eu não vou te comer! - Avisei.
Jessica arregalou os olhos, deu um passinho para trás e, indignada, abriu a boca.
— Grosso! - Ela turvou a vista.
— Eu também não vou mostrar se é grosso... - olhei-a com desdém, acabando por levar uma bofetada. Ok, foi merecido. Mas ainda assim valeu a pena. Jessica gostava de humilhar a todos e precisava aprender que não se pega amigos em uma prateleira como se alcança um item no supermercado. Ela não me teria por perto somente porque, de repente, “deu na telha”.
É claro que eu não ficava feliz com aquilo, mas também não sentia remorsos.
— null? - puxei a garota, que olhou para mim e sorriu de um modo inexplicável. Foi difícil, mas tive que me conter para não ter uma boa sensação. Apesar de eu já a ter visto antes, deixei-me embasbacar com sua completa forma. Merda! Eu não podia continuar a olhá-la, com cara de idiota, mas a verdade é que eu a acho atraente mesmo quando ela não está vestindo um House of Dereon, quando não está maquiada e mesmo quando não está exalando seu audacioso e marcante perfume Miss Dior Chérie.
— Então o null null veio à uma festa da Jessica Hilson? - Já que eu não havia dito nada subsistente, null resolveu dizer algo.
— Acho que daqui a pouco serei expulso! - Ri e dei de ombros.
— O que você fez? - Ela questionou curiosa.
— Nada de mais... - mordi o lábio inferior, tentando conter meu irritante e involuntário sarcasmo. — Barbie... - completei no automático.
— Vou dançar! - null disse alto ao escutar uma música começar. Gostava de músicas atuais: rock, pop rock, pop e também todas as variantes de música eletrônica - pelo menos para dançar - originais ou em remixes. Porém, era sempre animado quando tocava dançantes músicas antigas e eu sabia que era a parte predileta de null, que havia ficado muito alegre ao perceber que iria tocar Girls Just Want to Have Fun, da Cindy Lauper.
I come home in the morning light (Eu chego em casa de manhã cedo)
My mother says when you gonna live your life right (Minha mãe me diz quando é que você vai viver decentemente?)
Oh mother dear we're not the fortunate ones (Oh, mamãe querida, nós não somos as afortunadas)
And girls they wanna have fun (E as garotas querem só se divertir)
Oh girls just wanna have fun (Oh, as garotas querem só se divertir)
Quando olhei para a pista de dança, sorri ao ver o quanto a Srta. null se divertia. Eu sentia uma pequena pontada de dor, mas não era grande o suficiente para me fazer perder o riso.
Um garoto se aproximou de null, rindo abertamente, e então se pôs a dançar alegremente com ela. Ele a rondava por todos os lados e dizia coisas que a fazia rir espontaneamente. Qualquer um a fazia bem de um modo que eu nunca iria fazer. Dei de ombros e resolvi ir sentar em algum lugar. Definitivamente ninguém ali estava me enxergando. Foda-se! Eles não eram a minha turma.
Coincidentemente - ou não - acabei em um lugar que me dava visibilidade para o centro da pista e, exatamente abaixo do globo, estava null. Ela segurava-se no pescoço do garoto com uma mão e com a outra, segurava um drink azul do tamanho de um balde. null tentava parecer forte e inabalável, mas se sentir abandonada pelo namorado estava a matando por dentro. Mesmo assim, sorria ao som da música pop a qual ela sabia cantar do início ao fim.
— The phone rings in the middle of the night. My father yells what you gonna do with your life. Oh daddy dear you know you're still number one. But girls they wanna have fun. Oh girls just wanna have. That's all they really want some fun, when the working day is done. Girls - they wanna have fun; Oh girls just wanna have fun... - ela gritava um tanto desafinada. Tentava imitar, de um modo hilário, a voz da intérprete.
A cada três segundos, eu tentava fixar meu olhar no dela e talvez meu subconsciente já soubesse até mesmo o cálculo da distância existente entre ela e todos os garotos da festa. Balancei a cabeça, revoltado. Eu estava a ponto de explodir e de contar para a null tudo o que acontecia. Na verdade eu nem sabia o porquê de ter mantido segredo por tanto tempo, um segredo que somente beneficiava o idiota do null.
Talvez fosse minha hora de mudar de tática, talvez fosse minha hora de parar de sofrer sozinho LITERALMENTE PELA .
Some boys take a beautiful girl and hide her away from the rest of the world. (Alguns caras ficam com uma garota linda e a escondem do resto do mundo)
I wanna be the one who walks in the sun (Eu só quero poder andar sob a luz do sol)
Oh girls they wanna have fun (Oh, as garotas querem só se divertir)
(…)
— Bem melhor? - null apareceu frente a mim, deixou um dos dois copos que segurava em cima do balcão, apontou o dedo para o alto e o girou, tentando saber se eu preferia a festa de Jessica.
— Na verdade não... - fiz careta. — E eu não quero beber...
— Você deveria se permitir ser mais feliz! - Ela gritou alto por conta do elevado volume da música e pegou novamente o copo que havia colocado no balcão. — Eu não te ofereci meu Whisky! - Ela riu e virou o restante de um. Whisky em dose quádrupla? Ela realmente estava mal.
— Posso saber o que houve? - Inquiri curioso.
— Merda de vida! - Ela se sentou. — Meu namorado foi aparentemente abduzido por alienígenas; eu estou ao lado do garoto mais estranho do colégio, sendo que eu sou a segunda mais estranha; eu queira ou não, meu motorista está sempre me acompanhando seja onde eu for; tenho que me acostumar com o fato de ser uma futura advogada, sendo que quero ser uma veterinária; minhas notas estão caindo e se eu não conseguir ir para Harvard meu pai terá um enfarto...
— Desculpa, mas você não sabe o que é sofrer... - virei os olhos. — Você está precisando de um choque de realidade. Sempre pensou que a vida é perfeitinha, mas há um tempo está enganada... - explodi.
— Do que está falando? - null encarou-me séria e depois caiu na gargalhada .— Uma garrafa de Vodka, por favor! - Ela quase beijou a garrafa quando o garçom a entregou. — Nesse momento você é o meu herói número um! - Ela disse apontando para o homem, que riu.
null null estava definitivamente muito bêbada para eu iniciar uma conversa séria.
— Não estou falando de nada... - tomei a garrafa das mãos dela e corri.
— VOLTA AQUI AGORA!!! - Ela gritou e correu atrás de mim. Conseguia correr bêbada e de salto sem perder muito o equilíbrio, era praticamente uma artista circense.
— Aqui é o banheiro masculino! - Gritei com ela, ainda impedindo-a de alcançar a garrafa.
— Devolva! - Ela ignorou o fato dito. — De qualquer modo eu posso pegar outra bebida... - null passou as mãos em minhas costas, procurando por minha mão escondida. — Deixa de ser intrometido, null! - Ela pulou em meus ombros, agarrando-se a mim.
— CHEGA! - Gritei e em um movimento brusco, tirei null de meus ombros e a joguei na pia. Ela tinha dado sorte pelo local estar limpo. — Você não vai beber até entrar em coma alcoólico só porque o idiota do seu namorado não foi te comer esses dias! - Abri a garrafa e despejei tudo no ralo.
— Eu te odeio! Você é chulo e insensível! - Ela apoiou a cabeça nas mãos, aborrecida, e começou a chorar. — Deixe-me em paz. ELE é o meu namorado, ELE é o único que teria argumentos para me fazer parar de beber agora... - tentou descer, mas eu a segurei ali. Era como se ela fosse uma brava égua indomada, mas eu tinha minhas técnicas para acalmá-la.
Prendi os braços de null juntos para trás e os segurei com a força de somente uma mão. Com minha outra mão, apertei as laterais de sua boca e a puxei para que nos uníssemos em um beijo. Deixei que ela ficasse livre, então seus braços se cruzaram em minhas costas. Ela queria aquilo. É claro que jogaria a culpa no álcool, não tenho dúvidas, mas eu sabia que ela queria. Eu trouxe o corpo dela para mais perto do meu, puxei seus cabelos para baixo e a encarei por cima.
— Argumento válido? - Acariciei sua coxa.
null assentiu e soergueu levemente o corpo para me beijar novamente. Assim que nossos lábios se separaram, ela mordeu o próprio lábio inferior e, com os olhos ainda fechados, sorriu.
— Estou bêbada demais para sentir culpa! - Ela se levantou, correu até a porta e parou. — E aproveitando a coragem que a embriagues me dá, eu sempre te achei irritante... irritantemente sexy! - disse gesticulando muito, como se estivesse empolgada com a oportunidade de dizer aquilo, deixou seu último sorriso e finalmente saiu do banheiro. Seu andar era erguido e esbanjava confiança. Ri sozinho e comemorei de um modo um tanto feminino.
Meu coração encheu-se de felicidade, o nível sonoro deveria estar o triplo de decibéis; mas como null não estava mais comigo, tive de dar um jeito de travar o sentimento. Pena que estava um pouco impossível, visto que nem uma terrível dor me faria parar de pensar nela.
Encostei-me à ponta da pia e acabei por deixar a garrafa de Vodka cair. “Merda!” - pensei, mas logo voltei a rir como um idiota. “null!” - lembrei-me do que havia decidido e resolvi ligar para o panaca. Eu contaria para a null todas as verdades que nos rondavam. Ela entenderia as pendências passadas dos senhores null e null. Entenderia o porquê de pensar em mim, de eu a irritar e de sempre estar perto dela.
— null? - Respirei fundo. null poderia decidir me socar até a morte, mas eu não mudaria de ideia. — Eu vou contar tudo para a null! - Anunciei.
Era o início de uma grande guerra.
nullnull’s P. O. V:
Assim foi o fim da minha night: Quando tentei pegar mais um drink, Carlos jogou-me em seus ombros e me arrastou até o carro. Eu parecia um gato tentando fugir de um banho, mas por fim ele conseguiu me tirar da festa.
— Deixe-me em paz, seu imprestável! – Soquei-o. — Você está achando o que, hein? Que eu sou a Whitney Houston e que você é O guarda-costas? – Gargalhei. — Você é, no máximo, um... Argh! - Bati o pé. Tinha dificuldades para completar frases quando estava muito alterada.
— Acabou o showzinho barato? - Ele elevou uma sobrancelha e começou a dirigir.
— Sabe que horas são? Está muito cedo para eu ir para casa e... - pisquei repetidas vezes. — Ué... Não era pra ter uma lua só? - Coloquei a cabeça para fora.
— Isso se você tivesse bebido menos... - Carlos gargalhou. — Entende o porquê de eu estar te levando?
— Se eu for embora a lua volta a ser uma? - Fiz careta. Ok, eu estava debochando. Nem bêbada eu era burra - quase nunca.
Joguei-me no banco do carro. Eu não tinha mais como fugir dali. Teria de me conformar com essa merda de noite, na qual eu... “Eu beijei o null!” - dei uma bofetada em minha própria cara, lembrando-me do ocorrido. Eu estava bêbada demais para saber o que aquilo significava, mas eu sabia que tinha sido bom. E, se eu me lembrar disso quando por fim amanhecer, eu estaria realmente fodida. Significaria que eu realmente havia gostado. Eu nunca me lembrava do que era ruim ou indiferente.
— Eu já disse que não sou baby-sitter. Então, espero que não dê trabalho para entrar... - Carlos retirou as chaves do veículo.
— E você espera o quê? Que eu durma com os cavalos? - Virei os olhos e fui para a entrada da principal da casa. O analógico relógio de pêndulo avisava que eram duas da manhã. Subi as escadas e fui direto para meu quarto. Peguei meu celular e liguei para null, logo escutando uma canção conhecida tocar perto de minhas cortinas.
Aproximei-me e afastei o tecido, revelando então meu namorado. Joguei meus braços por cima de null e praticamente agarrei-me aos ombros dele. Na verdade eu queria o matar, o abraço foi por puro impulso.
— Eu estava preocupada, null... - o apertei. — Por que não atendeu a porcaria do celular? - Esbravejei, tomando o objeto das mãos dele. — Nem cogitou retornar, né? Você não está nem aí pra mim! Eu sei que você nunca mentiu, nunca disse que me amava. Mas precisava ser um namorado tão babaca? - O estapeei.
— Guarde o drama para mais tarde... - ele falou sério. — Não vou te dizer agora, pois você não vai se lembrar de porra nenhuma amanhã... Mas assim que você acordar, eu quero ter uma conversa séria com você... - respirou fundo.
Meu órgão cardíaco ficou mais acelerado e minha respiração falhou.
— Onde você esteve? - Cruzei os braços e fechei os olhos.
— Odeio quando você bebe... - ele se virou de costas, apoiando-se à minha janela que ficava ao lado da porta que ia até uma varanda. Odeio quando ele troca de assunto.
— Esse é o problema. Você vê defeito em tudo, em todos... - tirei meu vestido e joguei-me na cama. — E o problema é que eu nunca vi defeitos em você! - Soquei o travesseiro. — O problema deve ser mesmo comigo, já que ironicamente só eu de garota tolero você!
— null? - Ele se aproximou. — Dormiu? - Abaixou o olhar. Eu não estava dormindo, só estava arrependida de ter gritado com ele e mais arrependida ainda de ter beijado null — Dormiu... - ele falou sozinho, sentou-se ao meu lado e deixou uma lágrima escapar. — Merda! Você sabe que eu odeio quando dormirmos brigados! - Encarou-me, mas permaneci de olhos fechados. Talvez eu estivesse certa, sem nem mesmo saber o quanto tudo era tão mais complicado do que eu poderia imaginar.
***
Era visível que ainda estava muito cedo, mas null abriu as cortinas e deixou a intrometida luz do sol clarear meu quarto que estava muito melhor escuro.
— Eu saltei de bungee jump ou andei de carro com algum rapper? - Joguei os travesseiros sobre minha cabeça. Eu ainda estava tonta. — Hoje é sábado. Deixe-me dormir!
— Não mandei beber! - Ele estendeu o braço. Em sua mão tinha uma enorme xícara de café bem preto.
— Cafeína não faz muito bem pros dentes... - fiz careta. — E você desceu lá na cozinha? Está cada vez mais ousado, hein delícia... - ri por conta do meu tom de “tele sexo” — null... - levantei-me e o puxei pela cueca que moldurava suas partes mais desejosas. — Como você dormiu assim, tão lindo do meu ladinho... Sem sequer ser explorado sexualmente? - Mordi o lábio inferior.
— Você sabe que eu não sei... - encarou-me inteiramente. Eu estava somente de lingerie. — Mas ainda dá tempo... - ele deixou a xícara em um móvel, do qual pegou um preservativo, e logo se jogou sobre mim.
Entrelacei as pernas dele às minhas, fazendo-as ficar mais abertas. null alisou meu corpo com as mãos e começou a beijar minha barriga, fazendo-me gemer propositalmente. Apertei a bunda dele e retirei sua peça íntima, logo deslizando minhas mãos até sua intimidade. Acariciei a região, aumentando os movimentos quando sentia que era preciso enlouquecê-lo mais. As veias dele ficaram mais evidentes, ele começou a suar e então ele arfou quando sentiu minha mão deslizar por todo seu mastro.
Retirei meu sutiã e ri quando, em um brusco movimento meu, a cama deu um estalo. null guiou minhas mãos, fazendo-as voltarem a tocá-lo. Segurou meus seios em suas mãos, enchendo-as do modo que gostava, e depois começou a apertar sensualmente. Trocando-nos de posição, ele ficou por cima e desceu minha calcinha. Ficou no meio de minhas pernas e as puxou para o alto, fazendo-me colocar as batatas da perna nos ombros dele.
null aproximou seus lábios do interior de minhas coxas e as apertou, dando leves mordidinhas. Minhas pernas eram um dos meus pontos fracos. Então ele começou devagar, lambendo aos redores e tocando-me com suas mãos. Senti prazer e cócegas ao mesmo tempo, perdendo o ar ao passo que a lucidez. Gemi involuntariamente. Mas o pior foi que, quando as coisas estavam ficando como um vulcão em erupção, o celular dele tocou. Infortúnio.
— Não atenda! - Segurei as mãos de null e assustei-me quando vi que na tela piscava “null null” — Por que ELE? - Estranhei.
— Desgraça! - null jogou o celular na parede, desmontando-o todo. Bingo!
— Mais... - agarrei-o pelos cabelos, insana de prazer.
Meu namorado intensificou os movimentos e parou quando percebeu que, se me satisfizesse, teria que se virar sozinho depois. Ele pegou o preservativo que estava jogado na cama e o colocou com uma velocidade digna de ir para o Guinness Book.
Fiquei em posição: de bruços. Ele ficaria de pé, eu adorava; isso o dava disposição para uma estocada mais profunda.
null colocou a perna esquerda em cima da cama e colocou-se frente a mim. Segurou em meu quadril e abaixou-se um pouco, penetrando-me vaginalmente. Senti sua entrada calma e gritei como louca quando tudo tomou velocidade. Movimentei-me como uma onda, ajudando-o. null depois se sentou e me colocou em seu colo, deixando-me comandar. Aquela posição era boa para meu ego. Mas, como as ações preliminares tinham sido extremamente prazerosas para nós dois, logo chegamos ao orgasmo.
— Selvagem! - Ri do que havia acontecido. Na cama eu não era eu, não mesmo.
— Gostosa... - ele fechou os olhos, respirando freneticamente.
— Eu te amo. - Repousei minha cabeça no peito dele. — Mas se você sumir novamente, eu cortarei o seu pênis e o guardarei como um consolo! - Ameacei.
— Ir a um sex shop é mais prático, null! - Gargalhou, levantou-se, pegou sua cueca e tampou-se.
— Bobo. - Enrolei-me a um lençol e fui até os destroços do celular de null. — O fato de você ter sumido tem relação com o null? – Questionei. — E o que você queria me dizer?
null suspirou longamente. Já tinha adiado demais a conversa, mas não poderia anulá-la. Até porque, se ele não contasse do seu jeito, null iria expor sua versão e isso não o favoreceria em nada.
— Alguém aí achou que eu o iria deixar contar tudo sozinho? - null apareceu na janela. — Está subestimando minha inteligência, null? - Arqueou a sobrancelha e adentrou pela porta, aparecendo junto com o esvoaçar das cortinas.
Arregalei os olhos. O que ele fazia ali? Corri para o banheiro, segurando meu lençol, e só saí de lá quando já estava completamente vestida.
— O que faz aqui, null? - Esbravejei.
— Tenho certeza de que não atrapalhei nada. Vocês devem ter acabado um pouco antes de eu chegar... - null sorriu ironicamente.
— Deixa que eu conte tudo, null. - null encarou suplicante.
— Não, null! - null riu. — Se isso me envolve, eu devo estar presente.
— Do que vocês estão falando? - Olhei, alternadamente, para os dois. — Expliquem logo! - Gritei.
— Eu primeiro. - null olhou para null, que assentiu mesmo a contra gosto.
Flashback - null null’s P. O. V:
Quando se está na sétima série, tudo que um aluno quer é ser da turma do fundão e tornar-se invisível para os professores. Bem, mas levando em conta que toda regra tem sua exceção, a turma de 2006 havia toda uma peculiaridade. As notas dos alunos eram altas e vários deles poderiam até ser mandados para aulas avançadas. Principalmente null null, um gênio!
Ao invés de os garotos passarem o dia jogando videogame ou de as garotas passarem o dia falando desses garotos, os alunos decidiram acompanhar seu professor de Biologia em um passeio até a Universidade Estadual de São Francisco.
null estava toda de rosa, tinha os cabelos presos em um alto rabo de cavalo e todos a irritavam a chamando de Polly. Até aí era um dia mais que normal, mas tudo ficou estranho quando a turma foi presa em uma sala da Universidade. Algumas pessoas com cara de psicopata, trajados como cientistas, aproximaram-se e os dividiram em grupos. O grupo A era formado por null, null e null. Não fora uma escolha aleatória e sim por ordem de rendimento escolar. A garota ficou no meio, com os olhos lacrimejando, agarrando as mãos dos companheiros de classe.
Logo, três homens todos encapotados - como se eles fossem lidar com abelhas, ou como se fossem da Swat - agarraram-nos e os prenderam a uma mesa. null – o mais gostoso – tentou empurrar os seres não identificados, mas sozinho ele não conseguiria e a porcaria do null não ajudava em nada.
End flashback.
— null! Chega! – Gritei. — Que porra é essa? - Fiz careta e abri meus braços.
— Que jeito mais gay de contar, hein null? Não quer dizer que estava com cueca pra cima das calças também não? - null zombou de null.
— Isso é uma historinha pra boi dormir? Eu nunca fui a esse passeio! - Virei os olhos. — E a ordem de nota é COMIGO na frente, e o resto não interessa. Certo null?
Ele virou os olhos.
— Fica na sua, você também não vai saber contar, você nem se lembra de nada! - null olhou para null e depois voltou seu olhar para mim. — Eu contarei do meu jeito. Você vai entender tudo, Barbie... - acariciou meu rosto, fazendo null prender os pulsos.
— Então continua a palhaçada... - virei os olhos, empurrando a mão dele.
Flashback - null null’s P. O. V:
Desesperando-nos, os três homens pegaram agulhas e bisturis. Não demorou muito para sermos obrigados a apagar. Anestesiado, comecei a enxergar somente borrões à minha frente e em alguns momentos eu podia ver claramente sangue nas luvas do homem que talvez fosse um médico. Ele estava fazendo alguma coisa com a gente e não era algo legal.
— Pronto! - Pude escutá-lo dizer. Mesmo um tanto drogado e com os olhos quase fechados, consegui ler o nome bordado no jaleco depois que o homem retirou seu uniforme anterior: “Max Stifh”.
No mesmo dia nos levaram para casa e, de um modo estranho, não havia marcas em meu corpo. Somente minha garganta doía muito. Depois daquilo, tudo mudou, eu me sentia louco. Comecei a ter sensações estranhas, reações estranhas e sentimentos sem explicação. Ninguém da turma, além de mim, parecia se lembrar do ocorrido. Na verdade, muitos deles sentiam mudanças, em si mesmos, mas ignoravam. Cogitei a possibilidade de ter tido um delírio, mas eu ainda tinha um último recurso. Max Stifh! Aquele nome nunca sairia de minha mente.
Passado um pequeno tempo, descobri tudo sobre a vida dele. Ou o suficiente. O principal foi o endereço, algo que me permitiu hackear todos os computadores de seu uso pessoal e profissional. Logo, descobri o que ele tinha feito conosco.
Abri vários arquivos, até que um em especial chamou minha atenção. Existe algo chamado de Projeto Genoma Humano, você já deve ter lido sobre isso em algum livro de Biologia. Alguns cientistas fazem o mapeamento genético e tentam conhecer detalhes do funcionamento humano. Os bons tentam evoluir a medicina preditiva, que ajudam a cuidar antecipadamente de doenças e até preveni-las. Porém, existem aqueles que fogem da ética.
Esse Dr. Max Stifh nos usou como cobaias. Estudou nosso genoma, onde está registrada nossa história como espécie e projetada nossa potencialidade evolutiva, e hoje controla nossos corpos. Como? Ele armazenou dados em microchips e nos implantou. Somos como um produto identificado e monitorado por radiofrequência – vulgo RFID. O pior é que não ficaram somente na pesquisa teórica, o chip deles comandam nosso corpo como um controle comanda um robô – com menos poder, é claro.
End flashback.
— I-isso é uma brincadeira? - Perguntei assustada.
— Não. - null respondeu.
— Quem é esse homem? O que ele fez com a gente? - Aproximei-me de null, interessada na explicação de tudo.
— Não são coisas boas, nem ele e muito menos o que ele fez. - null olhou para baixo.
— Posso explicar? - null abaixou a cabeça.
— Pode dizer o que ele fez com você, o que ele fez comigo eu falo. - null fez careta. E quem se importava com aquilo?
— Eu quero saber o que ele fez COMIGO! - Protestei.
— É a mesma coisa! - Disseram juntos. Encostei-me à parede. Talvez minha vida fosse um Thriller, um reality show ou quem sabe um espetáculo hollywoodiano dirigido pelo James Cameron: toda tragédia bate recorde de bilheteria!
— Só tenho a certeza, agora mais do que nunca, de que não sei algo importante em relação à minha própria vida.
null piscou para mim, irritando null, e disse algo estranho:
— Uma dica: Sua vida sou eu!
Capítulo 5 – Haunted Castle.
null null’s P. O. V:
Não compreendi aquela ressalva. Como assim a minha vida é o null? Eu preferia que minha vida fosse um pudim ou até um algodão-doce! Mas quando ele morrer, eu ainda irei poder dançar “I’m a slave 4 U” em cima do túmulo dele?
— null, você não pode se deixar influenciar por essa história... - null segurou minha mão e puxou-me para um beijo. — Promete? - pediu ainda com os lábios colados nos meus. Permaneci calada, eu nunca prometia o que não tinha certeza de que poderia cumprir.
— Fala logo... - meu estômago começou a doer.
— Certo... - null hesitou. — Caralho, isso é difícil! - Respirou fundo.
— Quer que eu fale pra você, Mr. null? - null irritou.
— Vá-te-foder! - Meu namorado disse pausadamente, fechando as mãos em punho. O que null contaria sobre si seria quase heroico, já o que null tinha a dizer era medíocre. — Vamos lá...
— Tudo bem, eu vou embora, null! - null se levantou. — Depois, quando eu voltar para uma aulinha, te conto o restante, Barbie... - virou os olhos, alojou as mãos nos bolsos e sentou-se na janela preparando-se para sair de meu quarto. — O null não quer dizer na minha frente que é um broxa! - Gargalhou e foi embora. Se ficasse ali por mais meio segundo, meu namorado o faria descer com tanta velocidade que null seria capaz de chegar ao inferno.
null puxou-me, fazendo com que eu me sentasse em seu colo. Abraçou-me por trás e beijou meu pescoço, era como se fizesse merchandising de si mesmo. Era como se dissesse: “Seja lá o que eu diga, lembre-se de que eu sou gostoso!”
— Você não é broxa! Não liga para o que ele diz! - Gargalhei.
— Quer passar o fim de semana comigo em Malibu? - null convidou persuasivamente mordiscando o lóbulo de minha orelha. Eu diria sim até se ele pedisse para jogar uma bomba na minha cabeça.
— Só nós dois! - Levantei minha cabeça e beijei seu apetitoso pescoço.
— null... eu... bem... - levantou-se, puto com o null e com a vida em geral. — Desde quando eles mexeram em nós, eles nos comandam. Não me pergunte como, o nerd gay é o null e não eu. Mas... eu só consigo ter ereção com você! - Explodiu de uma vez, antes que não tivesse coragem de terminar.
Meus olhos se arregalaram.
— E qual é o lado ruim disso? Estou precavida de chifres! - Gargalhei.
— É sério! - Ele olhou para baixo. — Quando estou com você, involuntariamente, meu corpo ferve. Sei que você sempre estranhou o fato de eu sequer olhar para as outras garotas, mas é que se eu tentar, eu falho. Não sinto nada.
— Desgraçado! - Fechei minhas mãos em punhos. — Se você sabe que falha, é porque você TENTOU! – Soquei-o.
— Não... - defendeu-se. — Ok. Sim, mas eu não consegui! - Contestou.
— O que vale é a intenção, null, e a sua foi a de ME TRAIR! - Peguei meu abajur e só não o tampei na cabeça de null porque ele segurou minhas mãos para trás, assim como null tinha feito na noite passada ao tentar me impedir de beber.
— null... Escuta! - Sacudiu-me.
— Escuta você! - Soltei-me dele e sentei em minha cama. — Você vai vestir seus farrapos e logo sairá do meu quarto... - fechei os olhos, contei mentalmente até dez e peguei a xícara de café quando voltei a olhar para frente — SAI! - Falei entredentes. — Sai da minha vida! - Deixei uma lágrima escapar.
— Isso não muda nada entre nós, null! - Tentou se aproximar, mas travou os pés quando eu ameacei jogar a xícara nele. — Só reafirma o fato de que eu sou exclusivamente seu...
— Isso porque você é OBRIGADO! – Bufei. — Vá embora agora antes que eu definitivamente comece a te odiar... - fechei os olhos.
— Você ainda não me odeia? - Mandou um beijinho sexy e brincou com o elástico da cueca.
— Você não merece meu ódio, somente meu nojo! - Olhei para o lado. Se olhasse para ele, cairia na fraqueza de rir. — E deixa sua coisa impotente guardada para a próxima vida. Se depender de mim, você volta a ser virgem! - Levantei a xícara.
— Até parece que vive sem mim... - fez careta e vestiu as calças antes de sofrer um ataque quase terrorista. — À noite terminamos nossa conversa! - Piscou.
Permaneci calada. Era quase um modo de concordar com a visita. Humilhação de vida! Nem com um par de chifres quase colados com durex em minha testa, eu não conseguia viver sem o null.
Ele correu em minha direção e em um ligeiro movimento conseguiu tirar a xícara de minhas mãos. Ele a colocou de volta no móvel e veio para cima de mim. Corri até o meio do quarto, mas, sem alternativas de rota de fuga, null acabou me pegando.
— Mesmo que eu tivesse outra escolha, ainda ficaria só com você... - passou a mão por meu pescoço e o beijou, gradativamente subindo até meus lábio.s — Por favor, não se deixe encantar por conta do que aconteceu com o null.
Dei um passo para trás, suspirei e apontei para a janela.
— Fora! - Torci o nariz, irredutível. Se eu fosse homem, null null me espancaria naquele instante. Mas como era eu uma delicada lady, ele preferiu se calar. Andou lentamente até a janela, olhou-me longamente e foi embora.
Passei as mãos em meus cabelos e me joguei em cima de um puff. Ainda havia muita coisa para ser assimilada, isso porque eu ainda não sabia nem 25% de tudo que seria explicado.
Olhei para meu relógio, ainda eram dez da manhã. Levantei-me, tomei um banho, coloquei uma apurada roupa confortável e fui tomar meu café da manhã antes que meu pai viesse socar minha porta.
“RFID...” - pensei já sentada à mesa e lembrei que aquilo não me era totalmente alheio. - “Prada!” - lembrei-me da grife. Em Nova York, há a tecnologia nos provadores. Mas não é usado como algo ruim, somente serve para ter mais praticidade na hora de escolher um look.
Peguei cereal com leite, em uma tentativa frustrada de fingir que eu tinha nove anos de idade, e alcancei um pote de docE de leite para rechear meu outro “prato”.
— Pai, eu fui a algum passeio na Universidade Estadual de São Francisco quando estava na sétima série? - questionei montando meus waffles.
— Qual deles te contou? - Sr. null segurou sutilmente meu pulso.
— Os dois. - Abaixei a cabeça. — É verdade que eu fui modificada? Eu sou um tipo de... Frankenstein por dentro? - Finquei um garfo na massa.
— Você foi modificada, filha. O null me contou. No começo eu não acreditei nele, mas depois ele me mostrou o que tinha pesquisado e me provou...
— Provou como? - Perguntei curiosa e confusa.
Meu pai respirou longamente.
— Você não imagina? - Inquiriu. Balancei negativamente a cabeça. — Ele ainda não contou sobre a relação que vocês têm? - Elevou uma sobrancelha.
— Não. Eu só sei que o null... - engasguei-me. — Deixa pra lá! - Tossi.
— Então peça para o null te contar. - Entregou-me seu celular. Eu não sabia se queria saber o restante da história, mas o motivador olhar de meu pai fez com que eu resolvesse ligar para null.
— Você já o conhecia? - Fiz bico. — Você conhecia o idiota do null! - Balancei a cabeça.
— Quando você souber a verdade, vai se arrepender de cada vez que o chamou de idiota. - Afirmou. Será?
Fui ao exterior da casa. Esperaria por null perto de meus amigos cavalos - não estou xingando ninguém, eles são literalmente cavalos.
O céu de sábado era sempre mais lindo, era como se tudo estivesse bem. Entretanto, tudo estava muito errado. As mesmas coisas de sempre já não me satisfaziam, as frases prontas já tinham ficado chatas e as pessoas - uma a uma - estavam mudando de posição em meu conceito. Carlos era só um homem que me protegia e não um ser odiável, apesar de ser irritantemente muito obediente ao Sr. null. null era um filho da puta e não o namorado perfeito. EU não era a namorada perfeita, eu tinha deixado o null me beijar, e, pelo que poderia já supor, null teria uma explicação para tudo o que eu odiava nele. Ele faria com que eu me sentisse uma bosta e, de qualquer forma, eu odiaria isso.
— Pensando em mim? - null sorriu.
— Um, deux, trois... - contei lentamente para não cair na tentação de debochar dele.
— Eu já disse que o seu francês é péssimo, Barbie? - Acariciou meu rosto.
— Eu já disse que você é convencido, null? - Ri forçado.
— Posso ter minhas convicções, nem você resiste a mim! - Jogou seus braços sobre meus ombros. — Lembra? - Referiu-se ao beijo.
Fiz-me de desentendida.
— Do quê? - Virei meu pescoço para o lado, encarando-o.
— Quer que eu refresque sua memória? - Sorriu.
— Quero que você me conte o que aconteceu com você naquele dia. Qual foi o efeito que caiu sobre você? - Segurei firmemente em seu queixo, apertando torturantemente seu maxilar inferior.
— Somente se você disser que sabe do que eu estava falando... - chegou seu rosto próximo ao meu. — Pegar ou largar, Barbie?
— Eu realmente não me lembro! - Esbravejei. Odiava o fato dele sempre querer tudo em seu tempo. — Mas se você não quer contar, não conte! - Dei de ombros, fingindo não me importar, e puxei Thunder - meu cavalo, o qual meu pai tinha arrematado, em um leilão - para cavalgar. Era o animal mais incrível e elegante que eu já havia visto. Creio que eu adoraria encontrar um príncipe de cavalo branco. Socaria o engomadinho e salvaria o trotador.
— O cabelo dele é mais sedoso que o seu... - null gargalhou ao acariciar o animal. Eu havia odiado a comparação.
— Hair Food de morango, de abacate, de mamão, enfim, de mil coisas e você ainda compara meu cabelo à crina de um animal? - Fiz careta.
— O que você usa no cabelo pode alimentar a Etiópia, hein! - Virou os olhos. — Na próxima vida quero nascer sendo seu cabelo! – Riu. — Mas eu só queria deixar claro que a crina no animal é incrível... - sorriu.
— O Thunder é um nobre... O esperma dele vale mais que sua vida!
— Não menospreze minha vida. - Respirou fundo. — Você pode se arrepender, Barbie...
— Está tentando ser mais engraçado do que o humorista Remi Gaillard, null? – Gargalhei. — null null dificilmente se arrepende! - Pisquei.
— Então não se arrependeu da noite passada? - Piscou de volta, sorrindo irritantemente. Alguém o mate, por favor?
— Você é antiquado! - Encarei sua beleza exótica e cruzei meus braços.
— Eu sou sexy! - null levantou o dedo, corrigindo-me. Depois levantou a camisa e a tirou, como se aquilo fosse mexer comigo. Ok, ele conseguiu. Mas eu tinha que fingir que não, pois se eu fiquei provocada, tentada, atraída, envolvida, seduzida, deslumbrada somente com aquilo, poderia ficar pior caso ele fizesse algo mais ousado para me “irritar” – na verdade nem sei mais se é essa a palavra certa.
— Você é vulgar! - Falei entre dentes, desviando o olhar.
— Eu sou sexy! - null puxou-me para mais perto e prendeu meu corpo contra uma árvore. Ele pegou minhas mãos e fez com que elas tocassem seu peitoral extremamente gostoso. — Não sou? - Passou as mãos nas laterais de meu corpo, deixando-me extasiada.
— Você sabe que é... - virei os olhos, deixando escapar aquilo que não era para sair de meus lábios quando eu estivesse sóbria. Eu preferia não ter pregas vocais a ter dito aquilo.
— Mas escutar de você é 300 milhões de vezes melhor! - null lançou um olhar rápido, mas ainda assim bastante firme. Um olhar direto e penetrante. Depois colocou meus cabelos para trás e sorriu como um homem faz antes de atacar um pescoço. Eu queria aquela porcaria de ataque, mas tive que ir contra aos meus instintos. O jogo de provocações de bêbado pra cima de garçonete de boate de beira de estrada teria que parar por ali.
— Qual é, null? - Chutei sua parte íntima, vendo-o fazer uma expressão que me dava prazer. Não é muito cristão, mas sua cara de dor sempre me agradava. — You want a piece of me? - Cantarolei meio Britney Spears.
— Que merda, null! - Ele gritou. — Meus futuros filhos não têm culpa de nada! - Encostou o braço na arvore e colocou sua cabeça nele.
— Vem, null... Vamos lá pra casa... - aproximei-me.
— NÃO CHEGA PERTO! – Gritou. — Você é uma psicopata! - null jogou sua camisa em mim, eu a agarrei e comecei a rir. — Não tem graça! - Chutou um pouco de terra.
— Não pra você! - Joguei a camisa dele em meus ombros, involuntariamente desejando que ele a esquecesse comigo, o que não aconteceu. — Vamos, neném, para de chorar! - Fiz biquinho e estendi minha mão. null deu-se por vencido, entrelaçou nossos dedos e acompanhou-me de volta aos redores da casa.
— Eu vou embora. - Ele travou os pés a poucos metros da entrada. — Amanhã volto para te dar mais umas aulas de francês, ok?
— Não vá! - Lastimei cabisbaixa. — E... Amanhã eu não devo estar aqui. Vou para Malibu com o maldito null. - Virei os olhos.
— Maldito? - Franziu a testa e esboçou um riso cínico.
— Ele quase me traiu. - Dei de ombros. — Maldito! - Fechei as mãos em punhos.
— Você também o traiu... - estalou os dedos.
— Foi só um beijo! - Confessei. null riu vitorioso.
— Eu disse que você se lembrava... - gargalhou, levando um tabefe. — Então, já que vai viajar, posso entrar? - Balançou os cabelos. Somente assenti, não estava confiando muito na minha capacidade de dizer alguma mentira e eu tinha medo de confessar as verdades.
Meu corpo ficou mole, minha respiração deixou de ser involuntária e então eu tive que fazer força para continuar de pé, vivendo, respirando e sendo fiel. No momento, era mais fácil eu conseguir voar do que fingir que estava querendo que ele fosse embora. Fixei tanto meus olhos naquele garoto irritantemente sexy, que sequer percebi que o carro de meu namorado estava ao lado da residência.
— null... - meu pai me chamou – graças a Deus – antes que eu fosse para algum lugar com null. — O seu namoradinho está te esperando. - Apontou para uma das salas. Quando não era seu foco ir direto para minha cama, null me visitava como gente normal, ele entrava pela porta da frente. Meu pai não o tratava muito bem, mas também não o expulsava com tiros de espingarda. — Você quer ir com ele a Malibu? - Cruzou os braços.
— Pai, eu estou melhor em francês! - Sorri. null elevou a sobrancelha, exibindo sua característica expressão de sarcasmo que denunciava minha mentirinha. Quase cotovelei seu estômago.
Ao perceber a movimentação, null veio até nós.
— Mas sozinhos vocês não poderão ir! - Sr. null anunciou. O “Só nós dois!”, nesse momento, foi diretamente para o esgoto.
— Pai, se você mandar o Carlos ir comigo a mais um lugar, você o receberá de volta, trucidado, em pedacinhos, dentro de uma mala! - Ameacei e coloquei o dedo na cabeça, cogitando a possibilidade de eu realmente ser uma psicopata.
— Você pode não saber, mas o Carlos é quase um policial! - Meu pai revela. — Ele é encarregado de te proteger, até que possamos acusar e prender quem usou vocês...
— Mas, pai, não vai acontecer nada por agora! - Protestei.
— Sei que o null cuidaria muito bem de você, null... - meu pai olhou para o garoto. — Aproveitando que conhece proveitosamente a área, você pode acompanhá-los? - Meu pai e seu convidado sorriram juntos.
null aceitaria tudo que fizesse null ficar puto. Meu pai faria qualquer coisa para que null ficasse com raiva o bastante para fazer uma merda e perder a razão (lê-se: me perder). E na verdade, eu não estava ligando mais para a viagem e nem para o fato de meu pai estar torturando meu namorado. Era um clima Everybody Hates null null.
— Claro que eu posso ir! - null fez cara de bom moço. Se meu pai não estivesse ali, meu namorado já teria o socado e acabado com seu próprio e ampliado vocabulário de palavrões.
— É melhor não, pai... - olhei alternadamente para os garotos.
— Eu cuido dela. - null apertou os olhos, irado por dentro.
— Qual é, null!? - null sorriu com todos os dentes. — Vai ser divertido! - Bagunçou seus cabelos atrás.
Uma ansiedade me consumiu. Ir de carro para um dos lugares mais lindos do mundo era sempre bom e ter os dois por perto, seria algo que se pode verdadeiramente chamar de divertido.
***
— EU NÃO VOU MAIS! - null gritou assim que entrou em meu quarto. Meu pai sabia que meu namorado estava lá, então ele teria que ir embora (ou fingir ir) antes que ficasse tarde.
— Sem ataques, null! - Virei os olhos e me joguei em minha poltrona. — Você não tem a TPM para culpar!
— Com null null por perto, quem precisa de TPM? - Socou meu abajur.
— Boa! - Gargalhei e fiz cara feia. — Ei! Só eu posso quebrar meu quarto! - Tampei minhas pantufas nele.
— A raiva passou? - Respirou fundo e sentou-se em minha cama, de frente para mim, um pouco longe da poltrona em que eu estava.
— Não! - falei entre dentes — Talvez eu tenha outra TPM: Tendência Para Matar! Eu ainda quero te matar por ter tentado transar com outra, por ter sumido na quinta, por não ter me escutado na quarta e ter batido no idiota do null, por não ter me ligado no dia do nosso aniversário de namoro, por ter me deixado cair no fim do semestre passado, por ser gostoso e, finalmente, eu quero te matar por ter nascido! - Turvei a vista, fazendo-o rir.
— Eu não te traí, sumi por você não ter me apoiado, bati no null porque ele mereceu, não liguei no aniversário de namoro porque você estava viajando e seu celular estava desligado, te deixei cair porque eu estava quase em coma alcoólico, não tenho culpa de ser gostoso e nem dos meus pais gostarem de sexo, Srta. null! - Cruzou os braços e até um ato tão simples como esse parecia ter ser ensaiado para me deixar louca. Maldito homem!
— Você nunca tem culpa de nada, não é? – Bufei. — Eu odeio o modo como eu te amo! - Fechei os olhos, irritada com a garota imbecil que possuía meu corpo sempre que eu estava perto de null.
— Perdoa, vai? - Levantou-se e se ajoelhou perto de mim. — Se quiser me culpar de cada tombo de infância, eu não ligo. Eu só quero que você me perdoe. Eu nunca mais vou tocar em outra mulher que não seja você... - beijou meu joelho.
— Pode até ser, mas como eu vou saber se você faz isso porque gosta de mim ou se é porque simplesmente NÃO CONSEGUE pegar uma assanhada qualquer? - Tampei meu rosto com as mãos. null alisou meus braços e puxou minhas mãos, fazendo-me encará-lo.
— Vai ter que confiar em minha palavra. - Enroscou minhas mãos no pescoço dele, parecia um gatinho carente e manhoso.
— Tudo bem. - Sorri e pulei no colo de null. — Awts! – Gritei quando caí sobre ele. — Você me paga com juros e correções monetárias! - Ri.
— O que você quer, agiota? - Segurou-me em cima de si e sorriu com todos os dentes. Eu tinha certeza de que ele tinha, pelo menos, os incisivos e os caninos mais lindos do mundo.
— Não desista de ir para Malibu só por causa do null, vai? - Pisquei várias vezes, fazendo cara de bonequinha. — Qualquer coisa depois a gente prende ele no porta-malas! - Pisquei.
— Não! - Disse calmamente, irredutível.
— Por favor? - Passei minhas mãos na nuca dele, tentando persuadi-lo.
— Não! E eu não vou mudar de ideia! - Gritou, mas fechou os olhos ao sentir meu toque.
— Hein?
— Não!
***
O domingo estava lindo. Seria um ótimo dia no litoral de Malibu.
— Coloca aí? - Peguei minha mala Jimmy Cho, essencial para qualquer mulher Globetrotter, e a coloquei nas mãos de null para que ele a colocasse no carro. Ninguém o mandou ser gostosamente másculo!
— Você não disse que não iria, null? - null cruzou os braços, encostado no capô do zelado carro de meu namorado.
— Você não conhece as técnicas dessa mulher! - null respondeu sem esconder o orgulho em ser vítima de minhas façanhas e puxou-me. Fiquei de costas para ele, sendo toda acolhida em seus braços fortes. Quando começamos a nos beijar, percebi que null foi prontamente para o interior do veículo.
Depois, uma criatura escandalosa apareceu arrastando duas mochilas. null null não perderia a oportunidade de ir a Malibu, um dos melhores destinos nos EUA, mesmo sabendo que meu namorado - dono do carro - odiaria isso, e então ela corria o risco de ter uma posição menos privilegiada até mesmo do que a da gasolina.
— O que ela... - null tentou protestar.
Unhei seu pulso.
— Cala a boca! - Falei baixo. Ele virou os olhos e adentrou o veículo. O perfume de null estava me enjoando um pouco e eu poderia apostar que estava irritando meu namorado, ele simplesmente odiava a fragrância J’adore Eau de Toitette, da Dior. Ele até jogou um frasco fora quando eu comprei um para mim.
Seguimos por Highway, pois assim daria para acompanhar o caminho do mar e ver muitas praias lindas no caminho, como Laguna. Fui sentada na frente com o null e null foi atrás com o null. O clima estava estranhamente ruim, até porque todos seguiram calados. null demonstrava estar frustrado por não poder ir sozinho comigo e ainda mais por ter aqueles dois em especial como companhia. null lia Marshal Law, a incrível e engraçada história de um super-soldado, um Hot Comics para adultos. null escutava música nos potentes fones de ouvido: “As long as you loved”, Backstreet Boys. Eu somente escutava junto com ela, de tão alto que estava.
— Empresta? - Pedi celular a ela e, via Bluetooth, o conectei ao som do carro. Porém, minha felicidade foi breve. Após 3 segundos, null desligou o rádio. — Qual é, amor? - Passei a mão nas pernas dele, subindo-a provocativamente devagar.
— Não tenta me persuadir! - Ele olhou meio de lado, fazendo-me rir. — É sério! - Voltou os olhos para minha mão. Na verdade não queria que eu não tentasse persuadi-lo, mas com certeza também não queria que morrêssemos (lê-se: eu e ele, já que não ligaria se o null e a null caíssem em um precipício) em um acidente de carro.
Dei de ombros e desisti de tentar convencê-lo a me deixar escutar a música. Encostei minha cabeça no banco e bufei, obviamente morrendo de tédio e tentando imaginar onde eu encontraria uma corda para eu me enforcar.
Em um momento, notei que null me espiava pelo retrovisor. Olhei para o espelho e sorri inevitavelmente corada, imaginando há quanto tempo ele teria estado me observando. Desviei meu olhar do dele e fitei a estrada, ela era muito menos gostosa e provocativa do que o idiota do null. Mais do que nunca, ele me perturbava e isso era erroneamente bom e fazia-me sentir em total êxtase.
— Conversível? - Pedi ao null. Ainda estava cedo e por isso o sol ainda era fraco.
— Tudo que você quiser... - beijou meu ombro e consentiu meu desejo. null era um doce apetitoso, gostoso, cheiroso, bonito, firme, embriagante, apimentado e exótico, tal como nem Willy Wonka fora capaz de inventar.
— Tudo mesmo? - Abaixei meus óculos e mordi meu lábio inferior.
— Tudo menos a merda dos Backstreet Boys! - Virou os olhos.
— Sem graça! - Fiz careta. Tempos depois chegamos à cidade espremida entre o Oceano Pacífico e as Montanhas de Santa Monica.
null parou frente a um enorme hotel e deu as chaves do veículo para um chofer. Aliás, a infraestrutura hoteleira de Malibu é extraordinária. null parou no hall, sorriu como se tivesse ganhado na loteria e, com um olhar vitorioso, retirou um papel do bolso.
— Haham! - null pigarreou. Meu sorriso sumiu e eu então o encarei, com a sobrancelha erguida, esperando que ele começasse a falar. — Tenho em mãos uma lista de instruções do Sr. null! - Disse como se fosse um promotor de justiça.
— Não começa! - Fechei as mãos em punhos. Naquele momento eu não o achava engraçado, nem bonito, nem sexy e muito menos atraente. Era repugnante que ele quisesse que eu seguisse as imposições de meu pai em um dia de lazer.
— Sigo ordens, Barbie! - Disse não disfarçando, em sua fisionomia, a satisfação em estar no controle de tudo. — Primeiro: “A null e o seu namoradinho ficam restringidos a dormirem em quartos separados.” – Leu. — Segundo: “A null está proibida de gastar mais de cinco mil dólares!” Terceiro: “O null tem que ficar no mesmo quarto em que a null, para garantir que ela não receba visitinhas durante a madrugada.” - Sorriu ao levantar os olhos.
— O que acontece se eu disser não? - Falei entre dentes.
— O Carlos iria ter que vir te buscar! - Elevou a sobrancelha. — Hospedagem? - Saiu andando.
null pegou null pelo braço e o soltou quando seguranças os olharam de modo nada agradável.
— Você está achando que vai dormir no mesmo quarto em que a minha namorada? – Gargalhou. — Você é um perdedor muito iludido! - O encarou.
— De novo não! - Fiz careta ao encará-los. — Desta vez me escutem! - Parei entre os dois. — Meu pai não sabia que a null vinha conosco. Mas eu vou ligar para ele e tenho certeza de que ele irá me deixar ficar no mesmo quarto em que ela. Assim, o null se torna dispensável... - dei de ombros. — A solução pode ser simples. Ou você também quer voltar para ter um tedioso domingo, null?
Como não conseguiam pensar em algo melhor, eles teriam que se contentar com minha alternativa.
— Meu pai quer que vocês dois fiquem no mesmo quarto... - falei com vontade de rir. — Ele quer ter a certeza de que alguém vai vigiar o null. - Virei os olhos. Na verdade isso era ridículo, ainda mais levando em conta que quase na cara do meu pai eu sempre arrumava uma maneira de dormir com meu namorado.
— Mas que porra, ele não tem o direito de escolher com quem eu vou dormir! - null protestou. — Vamos voltar! - Gritou.
— Eu não acredito! - Suspirei, voltando os olhos para ele. — Eu não volto! - Dei de ombros. — Se você quiser ir, tudo bem. Mas eu fico. Sei que meu pai abusou MUITO nas ordens, mas e daí? Nós vamos nos ver o dia todo, a tarde toda... Deixa disso! - O beijei calmamente, acariciando seus cabelos.
— Tudo bem... - sorriu, entrelaçou nossos dedos e deu-me um selinho. — Acho que não vou dar o gostinho de perder meu dia à certas pessoas.
Seguimos e então pedimos dois quartos. Parecíamos casais gays de férias e, vindos de São Francisco, isso até seria comum.
— Vai ser de mais, amor! - null bateu em minha bunda, brincando.
— Ai, assim você me excita, gostosa! - Gargalhei.
— Se eu perder minha namorada pra essa daí você me paga, null! - null disse em tom de brincadeira.
— O null te consola à noite, meu bem! - Falei com null e pisquei, vendo-o fazer cara de nojo.
Os meninos acompanharam null e eu até o quarto, e quando chegamos até ele, nossas bagagens já estavam lá. Durante o dia nem ficaríamos muito por ali, somente o usaríamos até decidirmos para onde ir.
— Prefiro praia agora e ir às montanhas pela noite... - null opinou.
— Não quero ir às montanhas, há poucos lugares no mundo que podem competir com a vida noturna daqui, eu quero mesmo é achar uma balada! - Sugeri.
— Também prefiro praia agora e ir às montanhas pela noite... Balada tem em qualquer lugar, Barbie. As montanhas daqui são únicas! - null disse o que pensava, exibindo um risinho que não consegui decifrar.
— Montanha de dia e praia à noite! Sempre tem um Lual e eu estou equipada! - null abriu uma das duas mochilas que mais parecia um tesouro: muito combustível.
— Opa! - null e eu dissemos juntos.
— Mas há dois votos para praia de dia e montanhas à noite! - Meu namorado completou. Não dava o braço a torcer para null. Ele ser comprado pelas bebidas não era uma ordem lógica, ele as comprava.
null e eu nos demos por vencida e então todos nós fomos nos aprontar para o dia de sol. O verão tinha acabado de ir embora, mas ainda havia deixado algumas de suas características. Faziam 24 °C, mas a sensação térmica era maior e estava nos matando.
Pegamos a autoestrada novamente e rapidamente chegamos à famosa praia Surfrider, com sua areia quente e com a visão privilegiada dos mais gatos surfistas do estado da Califórnia, e por fim à Paradise - porque null não me deixou ficar babando pelos gostosos da outra praia, mas não obteve muito êxito, uma vez que nessa outra também tinham muitos tipos admiráveis. “Malibu: A Way of Life” - era o que dizia uma placa. Realmente Um Estilo de Vida.
— Vamos à Pirate’s Cove? - null implorou pela milésima vez naquele dia.
— Nada de área de nudismo, null! - virei os olhos e voltei a beijar null.
— Aviso de amiga: Você vai ficar com uma marca de mão, mais clara, na bunda bronzeada! - ela gargalhou. Mordi meu lábio inferior e voltei a beijá-lo, eu não ligava para o que ela estava dizendo.
— Vai lá nadar, null! - disse enquanto passava protetor solar em meu namorado, não queria que sua perfeição fosse danificada.
— Não quero que ninguém saiba que eu conheço aquela coisa! - apontou. Quando olhei para a orla, vi null parado, chutando um pouco de água, sem camisa e de... calça jeans? — Entendeu? - ela riu. Franzi minha testa.
— Ele é estranho... - fiz bico ao encarar a plenitude das costas de null. Como ele era apetitivo e agradável aos olhos!
Aproveitamos muito, até que, lá pelas duas da tarde, ficamos morrendo de fome. As porcarias que os ambulantes vendiam já não nos seguravam de pé. Fui até o estranho null para chamá-lo, ignorando a sugestão de null de deixar o garoto perdido na cidade, e então fomos procurar um restaurante com alguma comida decente para comermos.
— Você sabe quantas calorias isso tem? - null fez careta ao encarar meu prato.
— Eu sei. Já você, realmente não deve saber! – Gargalhei. — Levando em consideração que você nunca entende minhas piadas, você está mal no meu conceito!
— Suas piadas são péssimas! - Ela faz careta.
— E o francês também! - null completou.
— Vocês podem ser bons em piadas, em francês... Mas em todo o resto, a null é a melhor! - null defendeu-me, ganhando meus solitários aplausos.
— Depois te dou um beijinho por isso, Sr. null... - pisquei, passando minhas pernas nas dele por debaixo da mesa.
— Só um beijinho? - Ele fez bico.
— Acha pouco porque ainda não sabe onde será esse beijinho... - completei.
null fez menção de vômito e encarou-me irritado.
— Estamos comendo, null null! - Bateu na mesa. “null null”? O que havia de errado com ele?
— Não tenho culpa de você ter um esgoto no lugar da mente, null null! - Eu disse em mesmo tom.
null calou-se. Depois de um tempo, quase todos nós já havíamos terminado de comer.
— Bora? - null levantou-se.
— Eu ainda não acabei! - null protestou.
— Foda-se! - Meu namorado deu de ombros. — Quem quiser ir sentadinho no meu carro, tem que ir agora.
— Isso é pecado, deixe-o comer... - falei com meu namorado.
— Ninguém o mandou querer conhecer uma montanha antes da hora... - null saiu andando. null bufou e largou o prato.
Depois de null ter cedido aos meus insistentes pedidos de: “Vamos parar só mais ali naquela loooja?”, ele se deixou vencer ao ficar quase emocionado ao lembrar-se das garrafas de bebida. Por isso, voltamos para hotel afim pegarmos a preciosíssima mochila de null e logo nos direcionamos para Zuma, uma praia tão boa quanto às outras.
Quando há bebida, todo mundo vira amigo. Então, rapidamente foram aparecendo pessoas de todos os lados, caixas de som, mesas, mais bebidas, garotos, garotas e até algumas desavergonhadas boêmias. Seria uma boa oportunidade para a gravação de um episódio de “Two and a Half Men”.
Fui andando até ficar um pouco distante dos demais e então encontrei null sentado em uma pedra, parecia não gostar muito de festas.
— O que faz aqui, coisa antissocial? - Sentei-me ao lado dele e o encarei. null null era alguém que tinha o poder de limpar meus olhos. Vê-lo sem camisa era sempre bom, mas o estranho era que ele permanecia de calça jeans.
— O que você faz aqui? - Ele franziu a testa. — Pode ir aproveitar, quero ficar sozinho... - olhou para baixo. Meu coração ficou apertado.
— Não quer um Mojito Cubano? - Elevei o copo.
— O que é isso? - Fez careta.
— Suco de limão, água com gás e açúcar. Hortelã bem amassado, rum branco e gelo! - Levei a bebida até os lábios de null. — Com certeza não morde, null! - Gargalhei e ele provou.
— Quer fingir ficar bêbada para me beijar, quer ficar bêbada e me beijar ou somente quer me beijar? - Pegou em meu braço. Soltei-me, balancei negativamente a cabeça e me levantei. Eu nem sabia por que eu ainda tentava o fazer de gente.
— Assim você nunca vai ter amigos! - Dei de ombros.
— E quem disse que eu quero ser seu amigo, Barbie? - Sorriu. — Eu só quero uma coisa... - levantou o dedo.
— Eu não sou um gênio da lâmpada, você não tem direito a ter sequer um desejo, null... - virei-me.
null levantou-se, segurou-me pela cintura e colou seus lábios em meu ouvido direito. Fiquei instantaneamente nervosa e, de um modo inevitável, tombei molemente o pescoço para a esquerda.
— Quando formos para as montanhas, pararmos perto de uma mansão misteriosa e eu então te desafiar a invadi-la, aceite! - null sussurrou como se aquele fosse nosso segredo. — Certo... Barbie? - null acariciou minha cintura e fez menção em beijar meu pescoço. Fechei meus olhos e logo os abri quando fui bruscamente soltada por null. Quando voltei minha atenção à direção do lento e confiante andar do garoto, fiquei com vontade de correr até ele e o socar até que o mesmo deixasse de sempre dizer coisas pela metade.
— É claro que eu vou enfrentar isso, seu idiota irritantemente sexy... - falei sozinha, sorrindo, observando-o de longe. Eu já não pensava mais nas consequências, queria tudo por completo. null em si era um desafio em pessoa, o meu desafio.
Capítulo 6 - Sweet sacrifice.
null null’s P. O. V:
Quando a festinha ficou muito turbulenta e as bebidas se transformaram em vômitos, resolvemos voltar ao hotel e trocar de roupas para depois irmos à parte montanhosa de Malibu tal qual o medo de null chamava de despenhadeiro.
Bem no alto havia uma enorme mansão que valia milhões, na verdade era um castelo todo feito de pedras. À luz da noite dava medo, mas se você olhasse durante o dia iria jurar que se tratava de um encantador cenário de filme de época.
— Marshmallows? - Inclinei-me e colei disfarçadamente os lábios no ouvido de null. — A hora está chegando, Barbie! Você vai saber o que fazer... - rumorejei e sentei-me em uma pedra. Ela ficou quieta, olhando para o chão, confusa, até que logo null chegou até ela e a fez sentar-se em seu colo.
null null parecia ainda mais pequenina quando estava sobre ele, quase seu amplo divã.
— Você cabe exatamente em meus braços... - null a apertou sutilmente. — Será que isso significa alguma coisa? - Mordeu o lóbulo da orelha de null, fazendo com que ela se arrepiasse dos pés à cabeça.
— Talvez eu tenha nascido para ser só sua, hein, null... - beijou o pescoço dele, fazendo-me sentir como se o mundo fosse azedo. Aquela era uma parte da felicidade dela com a qual eu nunca me acostumaria. Talvez null realmente a merecesse, era evidente que ele a fazia bem. Os olhos dela brilhavam quando estava entregue ao namorado, falava baixinho, mantinha a calma e curtia os segundos, sem pressa alguma. Sua expressão era plácida quando ele a abraçava, já a minha era de intranquilidade.
— Vocês já ouviram a lenda? - Falei de repente. null, null e null prontamente olharam para mim. Pude ver suas pupilas se dilataram. É engraçado como as pessoas adoram uma historinha macabra bem quando estão em lugares escuros e desprotegidos.
— Conta! - null inclinou o corpo em minha direção, interessada em minha fala.
— Sabe aquele castelo? – Apontei. — Dizem que lá morava uma adolescente muito horrenda, mais feia que um zumbi e muito invejosa. Quando passava uma garota bem linda por aqui, ela sequestrava, fazia alguns rituais e dizem que ela conseguia ficar mais bela quando bebia o sangue dessas garotas. Era chamada de bruxa da colina da costa oeste.
— Vamos embora, sou muito gostosa e não quero ser raptada! - null arregalou os olhos e abraçou as próprias pernas. Ela olhou para o casal ao lado, ficando triste por estar sozinha e desprotegida. Apesar de ser amiga de null, null a invejava.
— É claro que isso é só uma lenda idiota, null! - null me encarou. Ela sabia onde eu queria chegar. Essa era a minha Barbie!
— Claro! Trata-se de uma lenda, mas muita gente tem medo daqui à noite. Dizem que às vezes desaparece uma garota que passeia sozinha, ou até grupos de excursionistas que ousam passear aos redores do castelo para tirarem fotos...
— Então o castelo é mal-assombrado? - null elevou a sobrancelha.
— Eu duvido! - null provocou.
— Então se não acredita, entraria lá? - Eu presumi, inclinando a cabeça para os redores da mansão.
— Está me desafiando, null? - null se soltou dos braços do namorado e se levantou, esbanjando confiança e coragem nos olhos.
— Vamos entrar lá, chegar ao topo, tirar umas fotos do interior e depois voltamos. Certo? - Mordi o lábio inferior, visivelmente satisfeito com o rumo das coisas. — Vamos fazer isso separadamente. Eu aposto que consigo sair de lá primeiro, mas se você conseguir sair antes de mim, eu a deixo cometer a burrice de dormir com o null... - combinei a aposta. Confesso que eu sabia que seria impossível ela conseguir.
— Combinadíssimo! - null joga uma piscadela. Ela era muito mais irritantemente sexy do eu!
— O desafio do castelinho... Isso é tão Mario Bros! - null virou os olhos. — Eu vou junto com você, null... - ele também se levantou.
— Ah não! Eu não vou entrar lá e muito menos ficar aqui sozinha... - null afrontou. Ao movimentar-se, exalou um perfume cítrico da tangerina amarela.
— Foda-se! O problema é seu... - null deu de ombros. — Mas fique tranquila, pelo que o null disse, reza a lenda que o fantasma só persegue garotas providas de beleza!
Inevitavelmente, null e eu caímos na gargalhada.
— Cala a boca, seu horroroso! - null protestou. Estava tudo ocorrendo perfeitamente como eu planejava. — Ou você fica, ou vai se arrepender! - Ela ameaçou.
— Fica com ela, null... - null deu um selinho em null. Ok, essa parte não foi nem um pouco perfeita — Logo eu volto... Para dormir com você! - Ela sorriu persuasivamente. null null era um homem de muita sorte.
null e eu pegamos nossos celulares para servirem de lanterna e então rodeamos a casa. null e null ficaram perto do carro e da fogueira, esperando-nos. Abri a porta disfarçadamente com minhas chaves e depois fingi arromba-la.
— Você... - null me deu um soco nos ombros assim que eu nos tranquei no interior da casa antiga. — Como você tem as chaves? - Ela cruzou os braços. Ficava linda quando estava irritada comigo.
— Vejamos... eu inventei tudo só pra te trazer aqui e essa casa é minha. Só não conta para a null, ela tem cara de que trabalha como pistoleira de aluguel! - Benzi-me.
— Será quanto que ela cobra para te matar? - Inquiriu séria. Afastei-me disfarçadamente dela. Quando null olhou para o lado, eu já não estava mais lá. — Não tem graça, null! - Ela respirou de modo mais pesado.
O lugar era até moderno por dentro, apesar de a aparência do lado de fora não dar dicas disso. Entretanto, null null estava com um pouco de medo. Tinha se feito de forte só para saber até onde eu queria chegar com isso, sua curiosidade era maior que o medo.
— Sobe aqui... - a chamei, já do alto da escada. — Não estamos Hogwarts, as escadas não vão mudar de lugar, você só pode vir até a mim! - Joguei uma piscadela.
— O Dean Winchester disse que, se alguém disser que um lugar é mal-assombrado, não devemos entrar nele... - null encostou-se a um móvel.
— E você por acaso escuta conselhos? - Balancei negativamente a cabeça. A garota estava ainda mais linda naquele lugar cinza, ela trazia vida a ele.
— De homens gostosos sim. - Desencostou-se do móvel e começa a subir as escadas.
— Por isso você decidiu dizer sim ao meu desafio? - Fiz minha melhor cara de “eu sei que você me acha gostoso” e estendi a mão, recebendo-a.
— O que você quer de mim, null? – Suspirou. — Não deveríamos estar aqui...
— Errado. Não há melhor lugar no mundo para eu te contar sobre algumas coisinhas que rondam nosso passado. - Comecei a falar, puxando-a até outras ramificações da escada, direcionando-a até meu quarto. — Foi aqui que tudo começou... - acendi a lâmpada e abri meus braços.
null encarou alguns móveis cobertos por lençóis e descobriu um deles, uma estante. Havia uma foto de quando éramos pequenos. Fui até a garota e acariciei seus braços, logo a abraçando como eu queria ter feito por toda a noite.
— Pode começar... - ela ajudou minhas mãos a apertá-la e fechou os olhos. Como quase nunca, sentíamos a mesma coisa. Estávamos felizes. Naquele momento nossos lábios não se tocaram, mas eu sabia que por dentro, por pensamento, nos beijamos.
Flashback:
Era um dia chuvoso do longo ano de 2002. null, null e eu éramos pequeninos e nossas mães, eram melhores amigas e sempre se reuniam em Malibu nos finais de semana. Era impossível brincar lá fora, então as duas inventaram brincadeiras idiotas para passar o tempo no interior da mansão, que, apesar de não ser das mais simpáticas, não trazia medo. As meninas começaram a se esconder pelos cômodos, mas tudo ficou estranho quando ninguém encontrava null, mesmo a procurando por mais de uma hora. null colocou a culpa em mim, sendo que eu sequer estava dentro da brincadeira. Fiquei com medo de minha mãe brigar comigo, então não falei nada, apenas continuei a procurar pela garota que eu nem ao menos conhecia. Não tinha reparado nela, gostava mais de brincar com garotos, menininhas não sabem se divertir decentemente.
Quando fui para meu quarto, escutei um fio de murmúrio, algo parecido com um choro e estava vindo de meu armário.
— Eu estou te escutando. Você pode ficar calma, eu vou te ajudar. – Eu disse para acalmá-la. Procurei as chaves por toda parte, até que resolvi ir até a tal de null, que por fim me devolveu meu chaveiro. Voltei correndo até o cômodo e abri a porta que prendia a menina. — Ei... Pode abrir os olhos! – Agachei-me até ela e estendi minha mão. Ela tinha um desespero no olhar, mas ainda assim era linda. Parecia um anjinho, uma boneca de porcelana.
— Obrigada! – Ela olhou para minha mão e depois se jogou em mim, abraçando-me. — Eu estava com tanto medo! – Ela fungou.
— Está tudo bem, pequena... – afaguei os cabelos dela.
— Eu não sou pequena! – Ela fez careta. — Qual seu nome? – Levantou-se.
— null, mas pode me chamar de null... – sorri.
— Meu nome é null. Você pode me chamar de... de null mesmo! – Gargalhou.
— Eu acho melhor você ficar longe do meu armário... – brinquei. — Mas se ficar presa de novo, conte comigo!
— Verdade?
— Claro! Não gosto de ver garotas chorando... é tão chato! – Saí correndo, deixando-a bem, livre e alegre. Eu estava por perto quando ela precisou, eu nunca me esqueceria disso. E talvez essa equivalesse à história que eu queria contar para meus filhos, quando eles me perguntassem como seus pais se conheceram...
End flashback.
— Como pude me esquecer disso? - null bateu na própria testa. — Fiquei meses sem falar com a null por culpa dessa brincadeirinha idiota!
— E eu desde então tenho um problema sério em te ver sofrer... - acariciei a mão dela, logo entrelaçando nossos dedos. — Por isso fui muito prejudicado quando nos implantaram os chips... - beijei o pescoço dela, que sequer cogitou afastar-se de mim.
— O que há conosco, null? - Suspirou. Ou estava gostando, ou estava sentindo-se culpada, ou as duas coisas.
— Eu sempre zelei pelo seu bem e pê-pê-pê, pá-pá-pá, pá-pá-pá... - virei os olhos. — Mas depois dos chips, o seu bem se tornou o meu mal... - segurei-a pela cintura e a virei de frente para mim. — A sua felicidade é a minha tristeza, seu riso é meu pranto, sua empolgação é meu desânimo...
— Como assim? - Seus olhos se arregalaram.
— Você entendeu... - abaixei a cabeça, não gostava de falar sobre aquilo. Era como se ela nunca pudesse ser minha. — Na verdade se sentirmos algo igual, pelo mesmo motivo, simultaneamente, não há mudanças. Ou seja, se você estiver alegre por estar comigo e eu também estiver alegre por estar com você, tudo fica bem.
— Mas se eu estiver muito feliz por estar com... com o null, por exemplo, você fica triste? - null segurou meu rosto. Assenti. — Eu sinto muito! - Ela me abraçou.
— Se você ficar muito, muito, muito bem, eu posso até ficar doente... – expliquei. — E se no caso as coisas boas ocorrerem comigo, as ruins ocorrem com você. É uma relação mútua. Por isso às vezes eu te irritava, era quando a sua alegria me provocava dores insuportáveis.
— Pensando bem, quando você sorri, às vezes, do modo mais genuíno, quando está parecendo estar feliz de verdade, eu me sinto um pouco mal. Às vezes parece que algo é injetado em minhas veias e eu sempre sinto dores de cabeça e no peito, mas não é nada muito alarmante. Sempre dura muito pouco. - null reflete.
— Isso porque eu não me permito muito ser feliz. Quando eu fico contente com algo, trato de fazer qualquer coisa para impedir a alegria. Eu simplesmente não te permito você sofrer, null... - passei a mão por trás de sua nuca. — Posso parecer ser louco, mas na verdade loucura seria te deixar sofrer por minha causa...
— Você existe mesmo, null? - Os olhos dela estavam cheios de lágrimas.
— Você ainda me acha um idiota? - Questionei aproximando meu rosto do dela.
— Acho! - null sorri emocionada. Nada acontecia conosco, sentíamos as mesmas boas sensações. — Você não devia ter feito nada por mim, eu nunca mereci... - ela encara meus lábios. Naquele momento as palavras já tinham se tornado mais que desnecessárias, elas nunca explicariam o que nós realmente sentíamos. null espalmou a mão em meu peito e então foi calmamente me empurrando, fazendo-me andar de costas até cair sentado na cama. — Você me ama, null! - Ela afirmou, levantando meu rosto com um toque de sua delicada mão.
Eu não conseguiria dizer nada no momento, eu estava muito satisfeito com a reação de null. Apreciei seu corpo atentamente e logo a puxei bruscamente para mim, fazendo-a deitar-se na cama. Coloquei-me sobre ela e acariciei sua cintura, tirando sua blusa. O corpo de null era perfeito, sua pele macia e aveludada e seu cheiro era agradável e ameno. A curvatura de seu pescoço pedia um beijo e as linhas que seus cabelos traçavam, bagunçados na cama, chamavam mais a minha atenção do que peitos de uma gostosona qualquer poderiam conseguir prender meus olhos. Merda! Eu estava quase perdidamente apaixonado. Talvez completamente arrebatado, implorando a Deus para não estar.
Sendo puxado pelos cabelos, fiquei cara a cara com a garota mais perfeita e provocativa do mundo. null null definitivamente merecia tudo o que eu tinha feito por ela. Ela me excitava só de existir.
— Confesso que você também é irritantemente sexy, Barbie! - Fixei minha mão em sua coxa, apertando-a com pretensão. Há tempos eu ansiava um momento como aquele, seu carinho sincero era minha maior ambição.
— E eu não sei!? - null sorriu satisfeita, roçou sua boca na minha e foi brincando devagarzinho com meus lábios, logo aprofundando para um beijo completo e apressado. Parecia que ela queria nos fundir, entrar em meu corpo, me recompensar e me fazer entender que ela gostava muito de mim.
Estarmos interligados pela ciência não era tão ruim quando tínhamos a oportunidade de ficar juntos. Lembrei-me de quando eu disse à null que ela não sabia o que era sofrer e que ela estava precisando de um choque de realidade para encarar o fato de que a vida não é perfeita; porém, agora, tendo-a em meus braços eu via as coisas do mesmo ângulo em que ela. Não precisávamos complicar o momento. Perto dela a vida não só parecia ser perfeita, era perfeita.
— O que eu faço com você? - Perguntei um tanto retoricamente e mordi o lóbulo de sua orelha. null envolveu os braços em meu pescoço e sorriu de um modo que até chegava a ser infantil. Eu sabia que, por muitas vezes em sua vida, tudo o que ela mais desejava era que eu tivesse uma síncope. Mas, nesse momento, os braços que me prendiam demonstravam que ela só me queria em um lugar, e era realmente ali.
— Acho que eu sou quem irá ficar assombrada, no melhor dos sentidos... - null apertou meus bíceps, desce as mãos nas laterais de minha cintura, apertou meu abdômen por debaixo do pano e depois retirou minha camisa. — Você disse que eu nunca te teria... Vai se deixar levar assim tão facilmente, null? - Ela beija meu peitoral e abre minha calça.
— Às vezes eu sou meio burro. Não conte a ninguém! - Segurei seu shortinho rosa e apertado e o desci aos pouquinhos, logo beijando sua mão. Um pouco de cavalheirismo não faz mal a ninguém.
— Eu vou adorar ter vários segredinhos com você... - tirou minha calça, acabando por ficar assustada; ou melhor, intrigada. — O que é isso? - Ela olhou para minhas pernas e para meu volume, prendendo o lábio inferior entre os dentes. Eu estava entusiasmado.
— Você não é tão imaculada assim, Barbie... - levei as mãos até as tiras laterais de sua calcinha.
— Não enceno o estereótipo de virgem sensual. E não estou me referindo ao seu pênis! - Ela riu e passou o dedo na pontinha de meu nariz. — É claro que eu sei o que é um! Aliás, ou tem um vidro de desodorante aí dentro da cueca ou eu realmente estou bem-feita na vida! - null direcionou as mãos até minhas pernas. — Por que você tem tantas cicatrizes? - Ela questionou, acariciando o local. Quando eu não era rude, ela sempre era amável e delicada. null null era exatamente a mulher da minha vida.
— Não quero falar sobre isso agora... - a puxei para perto de meu peito e finalmente removi a pequena roupa íntima de cor preta que a moldurava e dava mais sensualidade ao seu corpo. — Você sabia que é linda? – Deixei de lado o olhar bobo e tirei minhas boxers, sim, ela estava muito bem-feita na vida.
— Claro que sim! - Ela lambeu meu pescoço, fazendo-me sentir um frio por dentro. Puta merda! Como essa porra de ato tão idiota poderia mexer tanto com um homem?
— null! – Fui impulsionado a brincar com sua intimidade. — Gosta? - Eu perguntei, preocupado em agradá-la.
— Eu não sou idiota! - null soltou um gemido de satisfação; naquele momento ela não era nada menos que minha garota. E sincera, devo acrescentar. Não tinha falsos pudores. Era uma mulher completa, assim como até a mais casta das freiras deveria ser no fundo de sua alma. Só que ela não tinha motivos relevantes para resistir às tentações. Talvez até tivesse, mas graças a Deus ela não se lembrava disso no momento.
Coloquei o preservativo e iniciei verdadeiramente o ato, enquanto apertava seus músculos firmes e tocava em sua pele macia.
— Quente! - Sussurrei no ouvido dela, atritando nossos corpos enérgicos e suados, e seus seios se enrijeceram quando eu os toquei. null gritou enquanto praticamente queimava e gemeu insistindo em continuar a comandar o acelerado ritmo. Se fosse possível, atingiríamos a velocidade da luz. Tomara que mamãe tenha feito seguro da casa.
— Su-surreal, null! - Ela disse, mesmo estando ofegante, quando deitei ao seu lado. Tinha sido a experiência mais inquestionavelmente maravilhosa de toda a minha vida. Não tinha sido bom, tinha sido ideal. Talvez ali eu tenha descoberto a diferença entre transar e fazer amor. A diferença está na importância que você dá à pessoa. Quando há sentimento, até o mais selvagem dos sexos é divino. E com certeza havia sim sentimentos entre nós. Por mim, null se esquecia do mundo e até mesmo de quem mais amava. E, por aquela garota que sequer era inteiramente minha, eu havia dado minha felicidade passada e oferecia cada sorriso existente em meu futuro.
Após alguns minutos, nos levantamos. Fiquei irritando null ao tentar tomar seu lençol, mas logo a deixei em paz, entrelacei nosso dedos e a repousei em meu peito.
— O que eram aqueles cortes, null? Nas suas pernas? - Acariciou minha face e beijou meu pescoço. — Foi por mim? Fala, vai! - Seus olhos se encheram de lágrimas. Era evidente que ela odiava saber que, muitas vezes, eu tinha que ser triste para ela poder ser feliz.
— Era o único jeito, null... - abaixei a cabeça e alcancei minhas peças de roupa que estavam jogadas no chão, para me vestir. — Quando eu pensava na possibilidade de a minha alegria estar te afetando e eu não conseguia ficar triste, eu apelava para a dor.
— Eu realmente não entendo. Você deveria deixar com que eu me ferrasse! - Deu de ombros e me encarou. — Faria mais sentido e me tiraria o peso na consciência por cada vez que eu desejei que você morresse... - riu, vestindo seu short, indo até frente a uma cômoda.
Olhei para a cama. Na verdade a morte de null seria a única que favoreceria alguém naquele momento, já que se isso acontecesse, eu e a garota poderíamos nos deitar e passar a noite conversando sobre como perdemos tempo. Porém, null e eu teríamos que nos vestir e voltar para o carro, para o hotel, para a porcaria de realidade na qual ela não me pertencia.
— Não pensou na possibilidade do null desconfiar? - Virei os olhos. — Ele poderia ter arrombado e ter nos encontrado em uma situação nada agradável, aos olhos dele...
— Pensei nisso tudo... - null morde o lábio inferior, tentando conter um sorriso que tanto julgava ser idiota e repreensível. — Mas o pior é que eu nem ligo! - Dá de ombros, vestindo sua blusa.
— Quando poderemos nos encontrar novamente? - Aproximei-me e a abracei por trás, mantendo contato visual somente por um espelho.
— Eu sou demais mesmo, hein! - Ela gargalhou.
— Eu só estou te fazendo um favor, Barbie. Sei que você quer e tem vergonha de pedir... - fiz cara de esnobe, ganhando um mar de tapas.
— Idiota! - null me olha por cima dos ombros. — Não terá próxima vez! - Falou séria.
— Não brinca comigo, null null... - a segurei pelos braços e a puxei, fazendo-a ficar de frente para mim. — Eu não vou voltar para aquela vidinha medíocre, na qual eu tenho que ficar vendo você se agarrar com o idiota do null e, pior, agora fingir que nada aconteceu! - Encarei seus olhos. — Não quero fingir ser seu amigo e fazer Cupcakes de morango ao finzinho da tarde! Até porque isso seria muito gay!
— Oh! Vou ficar mais triste do que quando minha série predileta foi cancelada! - Dramatizou, tentando conter, sem sucesso, a ironia no tom de voz. — Mas esse episódio termina por aqui. Discutir sobre como será a partir de agora requer muito tempo, null... - desviou o olhar. — Vamos? - Sorriu persuasivamente. As coisas sempre eram resolvidas quando eu queria, mas decidi ceder naquele instante. Não chegaríamos a acordo algum e eu não queria brigar com ela depois de uma noite tão especial.
Tivemos que tirar algumas fotos da casa e, irredutível, eu disse que não a deixaria vencer a aposta. Ela não sairia antes de mim, não dormiria com null, não naquela noite.
— Nós demoramos muito, null! - null arregalou os olhos a encarar o celular. Já devia ter umas dezoito ligações, de null, não atendidas.
— Será por quê? - Elevei a sobrancelha e a beijei antes que não pudesse mais o fazer. Eu estava mais idiotamente interessado nos beijos dela do que o ursinho Pooh em mel. — Tive uma ideia! - Direcionei-me à cozinha. — Aposto que deve ter algo com álcool aqui. Qualquer coisa a gente diz que demorou porque estava difícil chegar aos cômodos e também por ter preparado algo na cozinha.
— O null não é burro, querido null! - Elevou a sobrancelha encostando-se, provocativamente linda, na mesa de estilo gótico.
— Claro que não é burro. Para ter você, deve ser até bastante inteligente... - mesmo com a cabeça abaixada a fim de colocar Cognac em um copo, elevei os olhos e pisquei para null, que sorriu quase suspirando.
— Aguardente de vinho? - Ela olhou para a garrafa. — Você quer derrubá-lo?
— Não é você que vai correr o risco de ser assassinada à noite, Barbie! - Peguei outro copo e coloquei nas mãos de null, para que ela me ajudasse a levar a bebida até os dois que estavam nos esperando.
Quando chegamos lá fora, null estava encostado no carro, de braços cruzados e bastante irritado. null estava no interior do veículo, seu rosto estava borrado por conta de lágrimas e seu celular despedaçado perto de uma pedra qualquer. Eles definitivamente não se davam bem. Na verdade ele só se dava bem com uma garota, a que eu também queria.
— Teve uma terceira guerra mundial aqui? - null perguntou ao encará-los.
— Pior. - null bufou. — Backstreet Boys! - Chutou um pouco de terra. — Ela me obrigou a ficar aqui, mas eu quase fui atrás de vocês... – apontou. — Que merda os dois estavam fazendo lá pra demorar tanto? - Suspirou, fechando os olhos. Estava muito irritado. Talvez ele soubesse a resposta, mas preferia fingir sequer imaginá-la.
— Não tem bruxa da colina da costa oeste, mas ainda assim é difícil sair lá de dentro... - null fez expressão de medo, usando uma carinha fofa de garotinha da Disney Channel. Quase gargalhei. Ela sabia ser a mais falsa das criaturas quando lhe vinha a calhar.
— Mas eu achei essa garrafa, null! - Balancei o vidro e o entreguei um copo.
— Já vi que vou ter que ir dirigindo... - null beijou a bochecha do namorado, fazendo-me quase conseguir odiá-la.
Tentei disfarçar o quanto aquela simples cena mexia comigo e pulei para o veículo, sentando-me ao lado de null. As montanhas tinham sido o cenário perfeito para que null e eu pudéssemos nos entender mais um pouco, mas o dia de folga estava acabando e teríamos que voltar para o hotel. null não terminaria com null e nós não iríamos passar tardes de chuva no sofá assistindo One Tree Hill, mas também não poderíamos fingir que nada havia acontecido. Já que tinha caído em meus braços, era proibido sair.
To be continued...
N.A.: Desculpem a demora. Passei um tempo sem pc, depois passei por uma barra em relação a tempo, depois comecei a trabalhar, depois tive falta de ânimo mesmo... Maaaaas eu estou aqui e não as abandonarei. Obrigada pelos comentários. Espero que estejam gostando. Beijos.
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