Autora:Brilla Beta-Reader:Letii (até o capítulo 15) e Brunna (a partir do capítulo 16)
Capítulo 1
Sentei-me no banquinho perto do gramado da escola e procurei na minha mochila o livro que estava lendo. Quando estava completamente concentrada uma garota loira, Bianca Dawis, tomou o livro de minhas mãos.
- Olha quem está aqui... A garotinha esquisita que anda com um garoto mais esquisito ainda... – riu a menina. Ela era alta, loira como eu, olhos castanhos, e totalmente sem sal.
- Garotinha esquisita? Acho que não. Meu nome é e obrigada por... – peguei o livro das mãos dela. –Devolver meu livro. – me levantei, peguei minha mochila e saí daquela parte da escola, fui para o banheiro e me tranquei lá, o único lugar realmente seguro de fofocas de meus colegas de classe. Eu não me achava esquisita como os outros falavam... Eu era de altura mediana, cabelos repicados e loiros, uma franja de lado repicada, olhos azuis, nunca soube o porquê me chamavam de estranha, talvez fosse porque eu não falava com ninguém, eu tinha meu próprio mundo... Se eu tinha amigos? Eu tinha três amigos, , ele era o único que me entendia e que me conhecia de verdade, o único que me ouvia, já que minha mãe não se importava comigo, , que era uma ótima amiga para falar sobre romances, o qual eu ainda não havia tido nenhum e , que me fazia sorrir quando eu estava triste.
Meu pai morrera fazia dois anos e minha mãe se casara rapidamente com um cara que mal conhecia, meu padrasto horrível e sua filha ridícula. Eu tinha infelizmente que dividir meu quarto com ela, às vezes ela saia escondido para ir a festas, então eu tinha o quarto só para mim, pegava meu violão e escrevia algumas canções para demonstrar o que sinto... Na maioria das vezes é dor, minha mãe é o fantoche do meu padrasto, faz tudo o que ele manda. E como ele me odeia, ela também passou a me odiar, eu faço todas as tarefas de casa como uma boa menina e ainda estudo. Estou no primeiro ano do ensino médio, e quando falo sobre faculdade ninguém me ouve, já que tudo é para minha doce ‘’irmã’’, Amanda. Eu já pensei tantas vezes em largar a escola, talvez eles não se importassem, quem sabe fugir para longe? Eles não iriam me procurar.
Me desviando de todos esses pensamentos, chamou meu nome.
- ? Está viva? Estou uma meia hora aqui te chamando! – Sim, sim, era mesmo impaciente... Mas era meu melhor amigo!
- Sim, estou. Aquela garota... Bianca, ela me dá nos nervos! Por que todos tem que me chamar de estranha? O que eu fiz de tão ruim? Você me acha estranha? – falei com cabeça baixa.
- Não, claro que não! – logo falou, ele odiava me ver triste, e talvez não estivesse sendo sincero como eu queria que fosse.
Eu suspirei e resolvi deixar para lá. O sinal tocou e eu fiquei procurando por e , mas não as achei, então eu e fomos logo nos sentar em nossos lugares do canto.
Novamente me peguei em meio a pensamentos ridículos, como estrangular Bianca ou algo do tipo... Mas eu não era uma assassina, nunca fiz mal nem a uma mosca! gritou meu nome, me tirando, graças a Deus, daqueles pensamentos horríveis que só uma assassina teria.
- ! Você tá tão desligada hoje... – disse e balançou a cabeça.
- Bianca pegou no pé dela de novo... – sussurrou.
- Af, aquela vadia. – revirou os olhos. E o professor entrou na sala, ficou nos encarando, esperando as duas que estavam à frente da minha mesa se sentarem.
- Obrigado. – ele respondeu e parou em frente ao quadro.
Depois de três aulas ridículas e chatas deu a hora do intervalo... Geralmente eu e meus amigos sentávamos em uma mesa qualquer e ficávamos (eles) conversando e fofocando sobre um grupinho de metidos no qual Bianca se encontrava, eu apenas observava e ficava preocupada com meus assuntos em particular... Eles estranhavam eu ser tão quieta e às vezes triste e me faziam várias perguntas, as quais eu odiava ter que responder. Mas dessa vez era outra história... e se viraram rapidamente para ver um menino com cabelos negros e olhos azuis passar e se sentar perto de Bianca.
- Ah nããão! ! Aquele lindo! Ele tinha que namorar a Bianca? – choramingou .
- Ele é a perfeição em pessoa. – riu .
- Se eu fosse gay eu pegava. – comentou .
- Acho que eu não precisava saber disso... – sussurrei.
Eu não via nada de tão interessante em , só tinha falado uma vez com ele quando eu fazia francês, depois disso, o que faz uns dois anos, nunca mais soube dele, para mim isso era uma surpresa. estar na mesma turma que a minha e só tê-lo visto quando ele passou do lado da nossa mesa...
- O que foi, babona? – perguntou rindo.
- O que? Eu estava o encarando? Que droga! – falei com raiva e me tapando.
Todos os três riram, o que me deixou nervosa e acabei ficando com a bochecha vermelha (eu acho).
- Eu o conheço... – falei sem pensar e acabei me arrependendo.
- Uhhhh, pegadora. – gargalhou .
- Af! – exclamei. – Eu mal falava com ele! – menti.
- Aham... sei. – os três falaram em uníssono.
Naquela hora eu rezava para que o intervalo terminasse logo, e ainda implorei mais quando começou a andar em direção a minha mesa.
- Aaaiiin! Ele está vindo para cá! – bateu palminhas.
ficou ao meu lado e sorriu. Eu dei um sorrisinho falso e olhei para baixo, eu não era muito sociável...
- ! Quanto tempo, não sabia que você estudava aqui. – comentou ele.
- Ahhn, nem eu. – falei. – Quer dizer... Eu não sabia que você estudava aqui...
e me fitaram com aqueles olhinhos brilhantes de cachorrinho pidão, eu já sabia o que elas queriam... e então por que não fazê-las felizes?
- Er... , estes são meus amigos... , e .
- Oi, ! – e falaram juntas, nem tinha escutado, já que havia acabado de colocar o fone de ouvido.
- ....? – chamou Bianca. e tiraram rapidamente o sorriso enorme do rosto.
- Aah, prazer em conhecer vocês! Qualquer dia desses a gente se esbarra. Tchau, . – sorriu e se virou para a mesa da bruxa.
- Af, ele tinha que ser tão lindo? – perguntou com aquela carinha sonhadora.
- Ele tinha que namorar uma vadia? – choramingou . Eu me virei para e arranquei os fones de ouvidos.
- O que vamos fazer hoje a noite? – perguntei.
- Sei lá... Talvez ir no Subway, faz um tempão que não cantamos a nossa musiquinha de ida para o Subway! – respondeu rindo e se lembrando dos velhos tempos.
- Ok... Vou ver com a minha mãe. – revirei os olhos. – , ?
- Quê? – perguntaram confusas.
- Vamos no Subway depois da escola? – falei impaciente.
- Sim! – exclamou .
- Claro! – disse .
- Ok, então está combinado. – disse se ajeitando em sua cadeira. – Agora me devolva os fones. – ele estendeu a mão para mim e então tive que entregar seus fones.
Capítulo 2
Estávamos todos os três no carro de .
- E que comecem as batidas! – exclamou e começamos a cantar a musiquinha que sempre cantávamos quando íamos para o Subway.
- Vamos pra onde? – perguntou .
- Subway! – respondemos sorrindo.
- Que tipos de sanduíches comeremos? – perguntou novamente.
- De todos! – cantávamos animadamente como crianças da creche aprendendo uma nova música.
Ao chegar na lanchonete, nos sentamos. Eu me sentei de frente para e ficou ao lado dele, eu fiquei ao lado de . Fui a primeira a vasculhar coisas no menu.
Depois que escolhi meu pedido, fitei a cara estranha que fazia, ela estava de boca aberta e olhando para o outro lado do lugar. Eu segui o seu olhar e encontrei Bianca e se beijando.
- Acho que eles ouviram o lugar onde nós íamos! Eles fizeram de propósito! – reclamou . Eu e reviramos os olhos.
- É uma coincidência. – falou irritado.
Eu fiquei observando e depois desviei o olhar quando ele fitou a nossa mesa.
- Esse menino só fica te olhando... – falou com raiva. – Ele não se contenta em já ter uma namorada, não?
- Como assim? – perguntei confusa.
- O jeito como ele te olha, . Ele tá interessado em você. – bufou , eu sabia que ele estava com ciúmes.
- É melhor você ficar esperta, daqui a pouco ele te fatura aí, e depois te larga rapidinho. –avisou .
- Eu mal falo com ele! E vocês já estão falando que eu vou dormir com ele? Ele está namorando a Bianca, e eu o vi apenas hoje! Vamos comer e parar de falar? – disse eu com raiva.
Pela primeira vez na vida, os três me escutaram. se virou para frente e voltaram a comer. E eu, por fim, também fiquei quieta.
- Não vai terminar de comer? – perguntou para mim.
- Não, já to satisfeita. – acabei percebendo que respondi de modo grosseiro. – Desculpe. –sussurrei.
olhou para mim e depois para .
- Vai ter uma festa amanhã, quase que esqueci de falar, e o melhor: Bianca não vai! – disse ela.
- Uma festa? Onde? – perguntou curiosa enquanto eu apenas fitava o canudinho que estava perto do meu prato.
- Na casa da Larissa... – respondeu .
Eu o fitei, ele estava triste e eu sabia o porque. Ele gostava de Larissa, mas ela não estava nem aí para ele, quando ele ia falar com ela, ela dava-lhe as costas.
- Podemos ir. – eu disse sem pensar.
- Sério? – todos arregalaram os olhos. Eles deviam ter estranhado, já que eu odiava festas.
- Sério mesmo? – perguntou , ainda não acreditando.
- É sério. – revirei os olhos. – Nós vamos, e parem de falar sobre isso antes que eu desista.
Eu tentei pensar em outra coisa, talvez para não pensar na resposta que eu tinha dado e me arrepender antes de chegar ao lugar. Eles ficaram tão felizes quando eu falei que eu ia... Aquela seria uma das poucas vezes que saímos para lugares que eles queriam, já que só íamos no cinema, e só, porque eu não gostava de ir a lugares em que as pessoas conhecidas poderiam me ver. Era hora de ir em um lugar que eles queriam, não é?
Quando eu estava indo em direção a minha casa, eu acabei esbarrando com um garoto.
- Me desculpe... – sussurrei.
- ? – perguntou ele sorrindo e então percebi que era , o garoto em que eu tinha esbarrado, para minha infelicidade.
- Ooi. – falei timidamente. – Eu te vi no Subway... – falei sem pensar. Droga! O que me deu na cabeça naquela hora? Por que toda vez em que eu falava com ele eu parecia uma doente mental?
- Sério? Por que não falou comigo? – perguntou. Meus pensamentos me xingavam naquele momento.
- Porque você tava com a Bianca e ela me odeia. Como o resto da escola. – me expliquei.
- E daí que eu tava com a Bianca? Você é minha amiga, não é? Assim como ela tem os amiguinhos dela, eu tenho você. – Amiga? Desde quando?
- É... – O que eu poderia falar? – Bem, eu tenho que ir para casa... – disse eu caminhando novamente de onde eu havia parado. Mas me parou novamente e eu não me contive, me peguei encarando seus belos olhos que para mim pareciam como diamantes brilhosos e que me cegavam.
- Você vai na festa da Larissa?
- Ahn, é... Sim, talvez, não sei... –Eu poderia ter me tacado mil pedras para fechar a minha boca idiota.
- Ok. Te vejo lá se você for. – sorriu e acenou para mim. Eu tive que sorrir por educação e continuei a minha caminhada.
Destranquei a porta de casa e logo vi um bilhete que estava em cima da mesa de jantar.
, tivemos que sair para resolver umas coisas. Deixamos algumas tarefas para você. Arrume, por favor, a casa, está bem? Amanda vai ficar aí com você. Beijinhos da mamãe. - Droga! – gritei.
Tudo naquele lugar eu tinha que fazer, até parecia que eu era a empregada, porque os bonitões não arrumavam nada. Minha mãe se esqueceu que eu era a filha dela?
Subi correndo as escadas e resolvi que não iria fazer porra nenhuma do que haviam me mandado. Eles que se danem para arrumar aquilo depois!
Entrei no quarto e dei de cara com mexendo em meu violão.
- Não toque nele! – berrei com raiva.
- Calma, não tava fazendo nada... – disse com aquela carinha de santa, mas ela não me enganava.
- Vai sair, e me deixa em paz. A única coisa que você faz é ir para a esquina. – revirei os olhos e me joguei em minha cama.
- Você vai se arrepender de ter dito isso! – a menina gritou, mostrando os dentes.
- Ah, e o que você vai fazer? Falar com minha mãe? Querida, minha mãe já me odeia. Agora vai se ferrar e me deixa em paz! E que tal você fazer algo que preste e sujar a suas mãozinhas uma vez na vida e lavar as suas roupas? Eu nunca mais faço nada para vocês! Eu faço tudo e ainda o que ganho? O ódio de vocês. Me desculpe, se quiserem roupa passada, façam vocês mesmos!
- Você vai ver! Eu vou falar com meu pai! Você vai levar uma bela de uma surra!
- Vai se ferrar, , e me deixa fazer meu dever de casa – revirei os olhos novamente e peguei meu caderno. Mas eu estava tão cansada que o guardei de volta. Olhei a idiota da minha meia irmã sair do quarto. Viva!
- Tchau, eu vou sair daqui. Se contar para alguém...
- Lave as suas roupas e a de todos e eu não conto o que você faz! – falei.
- Tá legal! – ela berrou e eu sorri vitoriosa.
Resolvi tomar um banho para esfriar a cabeça. Eu geralmente só ficava irritada em casa, minha mãe me tratava como um lixo. Na verdade, todos eles me tratavam assim, menos meus amigos. Então eu tinha que criar meu próprio mundo.
Enquanto eu esfriava a cabeça debaixo do chuveiro, me peguei pensando em . O que ele queria comigo? Afinal, ele nunca havia falado comigo, só para pedir ajuda, mas isso fazia dois anos, e de repente ele vem falar que eu sou amiga dele. Isso era realmente estranho, eu nunca iria entender os meninos. Apenas , já que ele deixava bem claro seus sentimentos. Mas o que eu queria era entender por que eu estava me sentindo tão estranha perto de , eu nunca tinha me sentido daquele jeito antes, eu duvidava muito que era amor, já que eu só tinha falado com ele (quase) de verdade ontem. Uma vez! Uma vez! E eu já estava pisando na bola, e eu nem sabia se ele gostava de mim, ele poderia apenas estar brincando comigo, já que ele está com Bianca. Talvez eu devesse ouvir e as outras...
Ouvi um barulho vindo da porta de baixo. Eu me enxuguei rapidamente e coloquei uma camisola. Desci as escadas correndo e vi minha mãe entrando na casa, e o meu padrasto puxando a orelha de e gritando com ela.
Eu comecei a dar gargalhadas.
- E você? Por que não lavou a louça? – berrou ele para mim.
- Não sou sua empregada. Não fui eu que sujei aquilo, não vou limpar. – dei um sorrisinho.
- O que está acontecendo, ? Eu já lhe disse que você tem tarefas! – disse minha mãe.
- Tarefas de filha é uma coisa. Mas as tarefas que você me pede para fazer são de uma empregada. Já reparou que vocês não fazem nada? Mal cozinham o almoço! Eu é que tenho que fazer isso! Mas já chega.
- Você tá é merecendo uma boa surra! – gritou meu padrasto.
- Mãe, não acredito que se casou com este cretino! Se esqueceu da família que você tem? Você se esqueceu de mim! – eu tive vontade de chorar, mas eu me segurei, não queria parecer fraca. – E agora fica aí com esse velho e com sua filhinha mimada e eu sirvo de empregada? Não! Já chega! – falei e corri para o quarto, tranquei a porta para evitar gritos na minha cabeça. Desliguei a luz e tentei dormir. Amanda que dormisse no sofá.
Capítulo 3
Sábado, o dia da festa idiota que eu teria que ir... Posso dizer que durante um dia eu mudei de quietinha para uma menina problemática e com raiva. Bati o recorde. Acordei de manhã e abri a porta devagar, eu não queria que meus ‘’pais’’ me ouvissem. Desci as escadas e fui direto para a cozinha, eu não estava com fome, mas para não ficar fraca resolvi pelo menos tomar um leite. de repente apareceu do meu lado.
- Estou com uma dor nas costas! A culpa é sua!
- Você mereceu. – falei e revirei os olhos, me concentrando no copo de leite que estava em minhas mãos.
- Eu mereci, hã? Então vai merecer uma coisa. - correu as escadas e veio até mim novamente com meu violão preto na mão. Eu arregalei os olhos quando percebi o que ela iria fazer. Ela levantou o violão no ar e o bateu no chão, quebrando-o ao meio. Eu gritei.
Não consegui pensar, peguei o copo de leite e joguei-o em seus pés, ela gritou de dor.
- Me compre um outro! Eu mereço isso! Me diga uma coisa, quem é que ganha presentes no meu aniversario? Sou eu? – berrei, puxando-lhe o cabelo.
- Sua vadiazinha! – começou a gritar. Meu padrasto e minha mãe apareceram rapidamente.
- O que aconteceu aqui? – perguntou minha mãe.
Eu abri a boca para falar, mas me interrompeu.
- jogou seu violão no chão e depois tentou me acertar na cabeça com um copo de leite! E olhe isso! Meus dedos estão sangrando! – fingiu um choro. Meu padrasto me puxou pelo braço e me jogou no chão, eu bati a cabeça na parede.
Minha mãe deu um gritinho, mas logo se calou com o gesto de meu padrasto fez. Ela foi pegar um pano para . Meu padrasto se agachou para ficar bem próximo de mim.
- Você precisa de um exorcista. – ele falou.
- Por que? – perguntei choramingando. – Por que eu? Eu quero o meu pai! – eu comecei a gritar como uma louca. Mas depois eu parei quando meu padrasto me deu um tapa no rosto. –Mãe!
Minha mãe chorava, mas não queria mostrar.
- Você não é meu pai. Você é um filho da puta que acha que eu sou sua empregadinha, faz minha mãe me odiar, você não tem direitos sobre mim, e minha mãe também não, já que ela nem parece ser minha mãe! – eu me levantei e corri para as escadas, antes de subir me virei para os três. – Vão pro inferno!
Fechei a porta com força e a tranquei para evitar de que alguém fosse atrás de mim. Me sentei atrás da porta e abracei os joelhos. Não consegui aguentar e acabei chorando.
De repente meu celular tocou. Eu me levantei e fui até onde ele estava, de baixo da cama. Era .
- Alô? – falei fungando.
- ... Você está bem?
- Não quero falar sobre isso...
- Seu padrasto e sua mãe de novo? – perguntou.
- É... – sussurrei choramingando.
- Ahn... o que aconteceu desta vez? Pode me contar...
Eu me sentia segura com , sua voz me acalmava, ele era alguém que eu sempre poderia confiar. Enfim, eu contei o que tinha acontecido.
- Você sabe que se não quiser ir a festa, não precisa...
- Eu vou, é melhor do que ficar aqui com eles. – falei.
- Ok... Te pego às seis na casa da . – disse. – Qualquer coisa me ligue.
- Tudo bem... Obrigada, ... – sussurrei e desliguei o telefone.
Eu não poderia ficar o resto da tarde até seis horas trancada, chorando naquele quarto. Me arrumei logo para a festa, com um vestido preto. Me maquiei e, por fim, passei um batom vermelho para combinar com o vestido. Peguei uma bolsinha e coloquei o celular lá. Saí pela janela para que ninguém me visse, fui direto para a casa de . Toquei a campainha, ela logo atendeu.
- Já? – arregalou os olhos.
- É... Tem problema? – perguntei timidamente.
- Claro que não... Entra!
Já eram seis horas. Eu e estávamos paradas na porta, esperando por e . Logo que ele buzinou ao chegar, corremos juntas e entramos no banco de trás.
- Prontas para a festa? – perguntou sorrindo para o retrovisor.
- Você tá ótimo. – sorri.
- Pegar todas. – disse rindo.
- Pegador. – completou .
balançou a cabeça rindo e acelerou.
Capítulo 4
Só uma festa mesmo para me esquecer do que aconteceu de manhã...
Na festa tinham pessoas de vários tipos... Como patricinhas, vadias e até lésbicas. A música ‘’Satisfaction’’, do Benny B, soava bem alta em meus ouvidos.
Uma menina me puxou e eu soltei um gritinho. Ela queria abusar de mim? Eu, em uma festa, hã? Isso não daria certo...
- Calma... Pega leve... – disse rindo de mim.
- É uma festa, estão todos bêbados. Não estranhe. – disse me puxando para perto dele.
- Uma festa que começa as seis da noite e termina as seis da manhã? Eu não vou aguentar, já estou com sono! – falei. me passou uma garrafa de energético.
- Bebe então. – sorriu.
Posso dizer que eu não era nenhuma santa... Eu adorava beber. Sério mesmo, às vezes eu fumava, raramente... Mas fazia meses, e eu bebia sozinha quando estava chateada com minha família e não em uma festa que eu poderia ser abusada, eu também nunca cheguei a ficar bêbada...
Resolvi tomar o copo de energético que havia me oferecido, seria bom tentar ficar acordada. Enquanto andávamos até a pista de dança, subi os olhos para as escadas e fiquei prestando atenção. Foi quando eu vi acenando para mim. Eu desviei os olhos rapidamente para , que puxava minha mão para eu dançar.
- Eu não sei dançar! – tive que gritar por causa da música alta.
deu um sorrisinho malicioso.
- Você vai ter que soltar as frangas, querida! – disse ela.
- O quê?! – perguntei exasperada.
Ela revirou os olhos e me deu uma garrafa de vodka.
- Você gosta de beber... Mas se não sabe dançar, tem que ficar bêbada. – ela falou e percebeu que eu fiz uma careta. – Relaxa, vamos cuidar de você, não vamos deixar ninguém te ‘’abusar’’. – ela riu. Eu revirei os olhos e peguei a garrafa com um pouco de medo. – Ei, ou você se diverte ou fica consciente que nem uma pamonha parada na pista de dança sem saber dançar.
Eu tomei um gole e sorri para ela que deu um tapinha nas minhas costas.
- Isso aí. – sorriu. Ela começou a dançar. Eu tomei mais outro gole e deixei a garrafa em cima da mesa. Comecei a dançar ao som de ‘’Illusion’’ de Benny B., Trash e Luiza se aproximaram rindo.
Larissa apareceu ao pé da escada. E chamou . Ele quase teve um infarto.
olhou para mim.
- Vai lá, garanhão. – sorri. E as meninas riram. foi até Larissa e os dois começaram a conversar.
e ficaram fitando a parede, eu acompanhei seus olhares que chegaram até .
- Ele está sozinho. – comentou .
- Se você não for eu vou. – disse sorrindo.
- O que será que aconteceu com Bianca? – quis saber. As duas se viraram para mim. –O que foi? Vocês é que estão babando, ok?
- Querida, ele está sozinho. E nós também. – explicou .
Dois meninos acenaram para as duas.
- Se importa de ficar sozinha? – perguntou rindo. Eu revirei os olhos e fiz um gesto para dizer ‘’podem ir, aproveitem!’’ E eu fico aqui sozinha olhando todos dançarem. Resolvi me sentar na escada e ficar assistindo as duas e tento uma visão perfeita de onde estava, até que o vi entrando em um quarto com Larissa, eu comecei a rir.
De repente senti alguém do meu lado. Me virei para ver e tomei um susto quando vi .
- Te assustei? – ele disse brincalhão.
Eu balancei a cabeça positivamente e ri junto a ele.
- Onde está Bianca? – perguntei. – Esqueça... Isso não é da minha conta. – eu poderia dar-me um tapa na boca por ter perguntado aquilo! Onde estava minha consciência? Tinha ido garganta abaixo como a vodka que tomei?
- Não sei, ela não me disse. – respondeu ele com um tom mais baixo.
- Pensava que ela viria, ela e Larissa são amiguinhas.
Depois disso houve um silêncio. Nenhum de nós dois falamos nada.
- Eu gosto de você. – ele disse e meu coração disparou. Ele tava doente? Primeiro ele nunca fala comigo, depois de dois anos ele diz que sou amiguinha dele e agora depois de um dia, UM DIA, ele fala que gosta de mim? Que porra é essa?
- Você não pode gostar de mim. Você está com a Bianca e a gente mal se falava. Agora a gente se vê durante um dia depois de dois anos e você diz que gosta de mim? – eu ri com sarcasmo.
- Eu estou com a Bianca porque meu pai me pediu para ficar com ela. E quando fazíamos francês juntos eu sempre seguia seus passos... – ele continuou.
- Espere aí. – eu continuei rindo. – Você está dizendo que se sentia atraído por mim desde dois anos atrás? Deveria ter me procurado, não? Mas enfim, eu não gosto de você, nunca gostei, na verdade. – menti. – Agora se me der licença, vou procurar minhas amigas... – me levantei e ele me puxou.
- Eu sei que você gosta de mim. Você fica nervosa e fala coisas sem sentido. – ele sorriu vitorioso, eu revirei os olhos.
Ele se levantou e ficamos cara a cara. Fitei seus olhos... os lindos olhos que me deixavam cega e me tiravam do lugar. Que droga! Ele tinha que voltar, quer dizer, eu gostava um pouquinho dele quando estudava francês... Ele e eu éramos sempre parceiros por ironia do destino, quando terminamos o curso nunca mais o vi, mas poderia falar que ainda pensava nele...
- Fica comigo. – ele e seus belos olhos me imploraram. Mas minha consciência e meu juízo ainda funcionavam direitinho e falavam ‘’é errado... é errado’’.
Mesmo assim deixei que ele me levasse para um lugar atrás da casa de Larissa. Acho que o efeito da vodka estava começando a aparecer... O que estava dando em mim? Eu voltei a gostar de um menino que mal falava depois de dois anos e agora estava mais forte que antes? Por que agora? Por que eu?
E lá estava ele me encarando com seus belos olhos enquanto eu olhava para o chão meio sem graça e minha cabeça continuava dizendo ‘’é errado... é errado’’. Bem eu não tive muita escolha quando ele me jogou (de uma forma carinhosa) na parede e começou a me beijar, eu fechei os olhos. O que aconteceu com meu juízo? Simplesmente me deixou na mão.
Eu não tinha como me mexer, suas mãos prendiam as minhas na parede. Eu me sentia presa, mas de um jeito seguro. E assim ele me tomou para si. Acho que só faltava aquilo para meus sentimentos aflorarem e o que aconteceu? Eu me apaixonei, e quando eu estava quase me derretendo e deixando-o vencer, meu juízo e consciência voltaram e disseram que aquilo não era certo...
- Isso não está certo... é errado... não podemos... – falei aos sussurros.
parou de me beijar e me fitou cuidadosamente.
- Isso não é certo, mas também não é errado, , errado é eu estar com Bianca sem gostar dela.
- É errado você esta chifrando ela com a garotinha estranha da escola e seria errado também se fosse com qualquer outra pessoa. – continuei.
- Me dá uma chance, ? – seus olhos brilhavam, e eu fui enfeitiçada pela magia daquele olhar. Só vinha uma resposta a minha boca ‘’sim’’ e na minha cabeça ‘’não é errado’’. O que eu faria? Escutava meu coração, ou escutava o juízo. Resolvi escutar o coração e deixar o resto por conta do destino. Afinal, ele é que trouxe isso...
- Sim... – falei esquecendo o que estava na minha cabeça.
afagou meu rosto e sorriu.
- É melhor voltarmos para a festa... Alguém pode nos ver... – sussurrei. O que tinha na minha cabeça quando eu estava com ele? Vento?
- Sim... – ele respondeu e me deu um último beijo.
- Me ligue, você tem o meu número. – disse eu inocentemente. – Vou pela frente. – No caminho fui pensando no que havia de errado comigo e no que eu e éramos agora. Droga! Ele traiu Bianca, a rainha da escola, comigo! Comigo! Se ela descobre eu to morta! E provavelmente ele também...
E o que eu diria para meus amigos? Eu não poderia dizer nada! Se eles soubessem iriam falar várias besteiras para mim, e eu já sabia que isso era errado, não queria mais três fitas gravadas falando a mesma coisa que minha cabeça dizia, mas meu coração insistia em dizer que está certo.
Me misturei em meio de várias pessoas tentando – tentando - achar e . Mas nada. Até que meu celular tocou, era .
- Você não vai acreditar! – ele disse.
- Que você se deitou com Larissa? É, eu vi você entrando no quarto com ela... Onde você está? É melhor eu ir embora... Minha mãe vai me matar... – falei dando uma desculpa para ir embora logo, às oito da noite.
- Mas ainda são só oito! – ele disse.
- Eu sei, mas eu já estou indo. Tchau, ! – falei e desliguei antes que ele me impedisse. Sai correndo da festa, dando de cara com . É, parece que a culpa vai vir rapidinho para cima de mim...
- Já vai? – perguntou ele. Senti um calafrio terrível subindo por minhas veias. É a culpa, dizia meu juízo e eu o mandava calar a boca, quer dizer... eu e o coração.
- Sim... Eu tenho que ir. – falei e passei por ele, o coração palpitava a mil.
- Posso te dar uma carona ? – ele falou. Eu parei de andar. Aceitava ou não? O juízo dizia que não, e o coração... Bem, como sempre ele dizia sim...
- Eu to bem... – falei. Dessa vez o juízo venceu.
- Está escuro...
- Se eu chegar em um carro com um menino, eu vou levar mais tapas do que já vou por ter saído sem falar. – disse eu com um pouco de raiva na voz.
- Seus pais te batem? – perguntou. Droga! Eu deveria ser muda, não?
- É uma longa história... Eu realmente tenho que ir, ... – falei e me virando para a estrada, ele me parou.
- Eu tenho tempo. E eu não vou deixar você ir sozinha para a sua casa. – insistiu ele. Eu revirei os olhos e fui tomada pela resposta do coração que agora só estava ganhando...
- Tá legal... – respondi.
Entramos no carro e ele ligou o motor.
- Pode me contar... – ele disse.
Eu fiquei pensando se ia ou não contar... Bem, eu devia isso a ele, já que ele também tinha me contado algo que não contou a ninguém na festa.
- Meu pai morreu... E minha mãe se casou com meu padrasto... Ele tem uma filha, desde então minha mãe não liga para mim, os três me fazem de empregadinha, a filha dele, Amanda, fica pegando o tempo todo no meu pé... Sem falar que se eu nem faço nada, mas se Amanda disser que eu fiz, é melhor eu me trancar no quarto antes que meu padrasto venha me dar uma surra. – bufei. – Hoje de manhã a peste da minha ‘’irmã’’ quebrou meu violão... Bem, ela me culpou e eu meio que fiquei de castigo sem eles terem falado, eles mal sabem que eu saí.
-Eu também perdi alguém... – sussurrou ele tristemente.
Eu o fitei esperando que ele respondesse. E então ele desviou o olhar do chão para os meus olhos.
- Minha mãe... – disse ele baixinho.
- Sinto muito... – sussurrei.
- Tudo bem... Onde mora mesmo? – perguntou. Eu expliquei o caminho de minha casa.
Ele estacionou uma rua antes para o caso de meu padrasto estar me observando. Eu rezava para que meu padrasto não me visse.
Eu estava saindo do carro quando me puxou para um beijo de despedida. No fundo eu poderia dizer que me sentia usada...
- Tchau. – sussurrei e saí do carro. Ele sorriu e acenou para mim.
- Eu te ligo. – disse ele. E foi embora.
Eu resolvi entrar pela porta da frente mesmo... Eles já deviam saber que eu tinha saído. E eram ainda oito e meia, bem cedo.
Meu padrasto me esperava sentado no sofá. Eu subi as escadas e ele foi atrás de mim como se ele tivesse o direito de me perguntar onde eu estava. E foi exatamente o que ele perguntou.
- Onde você estava?
- Te interessa? – perguntei com raiva. – Ahn... Acho que não. – sorri e continuei subindo. Ele, é claro, me seguiu. Eu me virei para ele. – O que é? Vai me bater? É tão covarde quanto sua filhinha. Quebra o MEU violão e ainda diz que eu o quebrei? Pois bem, vão pro inferno. –dei um sorrisinho e fechei a porta do quarto na cara dele.
- Acho bom abrir a porta, ! – berrou ele do outro lado.
- Vai se ferrar! – gritei de volta. Me deitei em minha cama e tirei minha sandália com Amanda me fitando com aqueles olhos enormes. Inveja, é claro.
- Onde estava? – Só me faltava essa. A vadia da minha "irmã" vir me perguntar a mesma coisa que o idiota do meu padrasto.
- Por aí. – respondi, peguei meu pijama e fui para o banheiro. Quando troquei de roupa, saí do quarto e dei de cara com minha mãe.
- Onde estava? – Caramba, todos ficam fazendo a mesma pergunta... Mas ela estava com lágrimas nos olhos...
- Mãe... o que aconteceu? – perguntei. Ela me deu um abraço.
- Achei que tinha fugido! Nunca mais saia sem avisar! – ela choramingou.
Eu ri com sarcasmo.
- Como se você se importasse. E além do mais, eu não posso sair do quarto que seu marido me bate! Eu apenas moro aqui, não faço parte da família. E lembre-o de que eu posso denuncia-lo por violência contra menor. – dei um sorrisinho.
- Tudo vai melhorar... vai sim... – ela sussurrou em meu ouvido. Mas eu sabia que aquilo não era para mim e sim para ela. Logo percebi que ela também não gostava do jeito como meu padrasto me tratava.
- Mãe, por que você não se separa dele? – perguntei.
- Eu o amo. – ela disse com certeza. Bem, logo desisti. Me soltei de seus braços e fui para meu quarto novamente. Me joguei na cama e desliguei a luz quando percebi que Amanda tinha saído novamente. Novidade, ela parecia um gato.
Fechei os olhos e tentei dormir.
Capítulo 5
"Pegue minha mão, eu te mostrarei um novo paraíso’’ alguém dizia em minha cabeça. E então a imagem foi clareando e vi os belos olhos brilhantes que sempre me cegavam... Eram diamantes... Estava tudo branco, só podia ver o menino que logo percebi que era , e então me vi segurando sua mão que estava esticada a minha frente. Eu não conseguia controlar o que eu fazia no sonho como os normais que eu tive... Nesse eu era controlada. ‘’Venha comigo, eu te mostrarei o mesmo reino’’. De repente ouve um barulho e toda a visão clara do sonho se apagou no olhar que me encarava... Tudo se resumia em Amanda tentando me acordar.
- ! – gritava ela e quando abri os olhos percebi que ela estava chorando. –! – ela me abraçou.
- Que?
- Achei que estivesse morta! – quando ela disse, eu revirei os olhos. Será que nem sonhar mais eu podia? E mesmo se eu estivesse morta, Amanda me odeia, por que ela choraria?
- Por que está chorando? É doida? – perguntei.
Ela, é claro, limpou as lágrimas.
- O que... eu não estava chorando. – eu revirei os olhos e me levantei da cama.
- Tchau, Amanda. – dei um sorrisinho e saí do quarto. Desci as escadas e fui até a cozinha, ela estava vazia. A casa parecia estar vazia... Esquecendo meus pensamentos fui pegar um copo, coloquei o leite e misturei com Toddy. Depois de beber meu “leitinho”, como diz , me sentei no sofá e fui procurar algum canal que prestasse. Acabei me lembrando de que Amanda tinha quebrado meu violão e agora eu precisava de um novo, já que ninguém me daria um.
Ouvi o telefone tocar. Atendi.
- Alô?
- ! – logo reconheci a voz de .
- Por que não ligou para meu celular? – perguntei.
- Ninguém atendia...
- Ah droga! É que eu estou na sala... – expliquei.
-Você vai fazer o quê hoje? – perguntou.
- Nada... – respondi me concentrando no chão.
- É que vai ter uma festa... E precisam de alguém para cantar e tocar... – disse ele. Eu logo me animei, mas acabei me lembrando que eu não tinha mais violão.
- É... se eu tivesse um violão! Mas Amanda o quebrou! – gritei com raiva pra Amanda ouvir.
- Isso não é problema, querida, arranjamos um para você. – eu sorri quando ele disse aquilo e comecei a gritar de felicidade, o que raramente acontecia... – Isso é um sim?
- SIIIIIIIIIM! – berrei feliz da vida.
- Ok, passo aí em duas horas. – falou . – Tchau. –ele desligou e automaticamente eu olhei o relógio, eram duas da tarde. Eu resolvi subir, então dei de cara com Amanda descendo as escadas.
- Onde vai? – perguntei só por perguntar.
- Não sei. E você?
- Ok, vamos fazer um acordo... – disse logo. – Não conto para seu pai e para a mamãe que você saiu se você fizer o mesmo por mim. – sorri.
- Fechado. – ela disse e saiu correndo. Vai ver que ela estava com pressa...
Se bem que Amanda tinha mudado muito desde que quebrara meu violão... Ela estava tão estranha... tão mais legal. Afinal, eu pelo menos sabia que ela se importava comigo, já que ela chorou porque pensou que eu havia morrido de manhã.
Quando fui para o quarto corri para a minha parte do guarda roupa e peguei uma calça jeans e minha blusa branca com bolinhas prateadas. Coloquei meu all star e dei uma ajeitadinha no cabelo, queria logo estar pronta para quando chegasse. De repente vi meu celular tocando embaixo da cama, eu o peguei e olhei a tela, era um número desconhecido. A primeira coisa que pensei foi que poderia ser...
- Alô?
- ?
! É claro...
- Eu. – respondi meio envergonhada, me lembrando da idiotice que fiz noite passada. – E você quem é? – falei inocentemente. Eu nunca pensei que ele ligaria...
- , lembra? – ele disse no mesmo tom de inocência que eu. Droga! Era ele mesmo, gostaria que fosse até meu padrasto...
- Siim! Ahh, ... O que foi? – perguntei com um tom grosseiro que logo me arrependi.
- Vai fazer alguma coisa hoje? – ele perguntou. Mas ele não tinha namorada? Homens... Ah, é claro que ele iria ficar com a namorada que não estava com ele na festa de ontem porque supostamente ele tinha ficado COMIGO!
- Er... Bem, eu vou sair com ... – respondi. Eu tinha que dizer a verdade, não é? Bem que eu queria dizer que não, que eu não tinha nada para fazer... Bem, que eu queria que ele fosse meu...
"Mas que droga, ! Como pode pensar umas coisas assim? É errado! É errado!". E meu lindo juízo gritou com meus pensamentos! Só faltava o coração mandar o juízo calar a boca... Eu também gostaria. Mas sem juízo, o que seria de mim?
- Ahn...
- Por que? – soltei a pergunta sem querer.
- Por nada... – ele disse.
- Tudo bem... Deixa para a próxima. – Merda, merda, merda! Deixar para a próxima? Não podemos sair é nunca!
- Onde é o lugar? – perguntou ele. Ainda bem que eu não sabia onde era...
- Não sei... – falei, mas tenho certeza que ele achou que eu estivesse mentindo. – E como está Bianca? – disse logo para ele se lembrar que quem é a namorada dele é ela, não eu. E eu não estava a fim de virar a amante também.
"Talvez.... Quem sabe..." Disse o coração. Mas eu pensei em contas matemáticas para não colocar aquilo na minha cabeça.
- Ela está bem. – ele disse. Acho que estava bem na hora de explicar umas coisinhas a ele!
- ... Você está namorando Bianca e está me chamando para um encontro? Qual é a sua? – tomei coragem para falar... A coragem que pouco me faltava.
Um minuto de silêncio. Não, isso não era um enterro.
- Eu não gosto dela, ! – ele finalmente respondeu... Ou gritou.
- Então você gosta de quem? De mim? – eu ri com sarcasmo. – E o que está fazendo com ela então? Não vem com esse papo que seu papai mandou você ficar com ela! Isso não é desculpa para chifrá-la logo comigo! – COMIGO!
- É, eu gosto de você! Já disse que eu sempre gostei!
Brigar por telefone é foda, imagine só brigar com um cara que você só falou umas cinco vezes...
- Que droga, ! Você não gosta de mim! – berrei.
- E aquele beijo? – ele perguntou e eu quase desmoronei. Eu disse quase.
- Foi um erro! Foi um erro! Não deveria nunca ter acontecido! – falei para ele e para mim mesma.
- Eu gosto de você e tenho certeza que gosta de mim! Só não quer deixar acontecer. – ele continuou. Eu revirei os olhos, dava uma vontade de chorar de raiva...
Eu suspirei, me recuperando, e disse:
- É, eu gosto de você! É isso que queria ouvir? Pois bem, está aí, mas não é só porque eu gosto de você que eu vou sair por aí escondida com você! Isso é errado!
- E quem te diz que é errado? – ele rebateu. Eu soquei o travesseiro.
- Eu digo que é errado!
- Então vamos fazer ser certo. – ele disse com uma voz sexy de matar. Mas eu não iria dar bandeira branca. Não, não. Ainda não.
- Para os outros vai ser errado. – continuei.
- E o que importa? Só nós precisamos saber.
E é... Era mesmo tentador. Mas eu ainda sabia que era errado, e isso estragaria tudo... Mas eu queria tanto... Será que eu deveria aceitar? Eu gostava dele e ele gostava de mim, será que ele gostava? Eu posso ser inteligente em tudo. Menos quando se trata no amor, ou ainda, no caso, em gostar de uma outra pessoa.
- E como eu vou saber se você gosta de mim? Acha que só um beijinho e dizer que gosta de mim vai me enganar?
- Eu provo. – ele disse com a maior facilidade.
- Ah é? E como você vai provar? – eu falei desafiando-o.
- Você verá. – ele disse e desligou.
Uau, que misterioso. Por favor... O que deu em mim? Alguém pode me explicar? Produção, o que é isso?
Me deitei na cama, deixei o celular em cima do meu abdômen e fiquei esperando que as horas passassem magicamente. Acabei tirando um ou dois cochilos, até dar duas horas. Eu desci e fiquei esperando chegar. Entrei no carro quando ele chegou.
- Tem algo para me contar? – ele perguntou.
- Não. – menti. – Onde estão e ?
- Saíram com uns meninos...
- Nossa! Nem me contaram. – falei um pouquinho irritada. Visualizei pelo retrovisor que havia uma embalagem enorme no banco de trás do carro. – O que é isso? – perguntei curiosa.
- Ah... Nada, é só seu violão novo. – ele sorriu.
- Tá brincando?! Você comprou um violão para mim? – gritei com emoção.
- Pode abrir. – continuou sorrindo. Eu o peguei e abri a embalagem, era exatamente como o meu antigo.
- Ahh! ! Obrigada! Obrigada! – lhe dei um beijo no rosto e um abraço. Ele ligou o motor e eu coloquei o violão atrás, me ajeitando e colocando o cinto de segurança.
- Segurança em primeiro lugar. – ele falou como se estivesse fazendo uma propaganda, o que me fez rir e me esquecer do “caso ”.
Capítulo 6
Entramos na casa de sei lá quem... me apresentou para três carinhas, mas eu não sou muito de lembrar nomes...
- Então essa é a garota que vai cantar e tocar hoje para nós? – falou o loirinho que acho que se chamava Steven.
- Com vocês. – eu dei um sorrisinho.
- É... que seja. – ele retrucou e eu ri.
- Todos prontos, pessoal? – Perguntou o de cabelo preto, talvez Josh. Ele pulou do palco e parou na minha frente.
- Sim, capitão. – falaram Steven e o outro baixinho que eu não sabia o nome.
se virou para mim e colocou as duas mãos nos meus ombros.
- Esse lugar vai lotar. Esteja ciente. – ele sussurrou.
- Estou. – respondi assentindo enquanto Steven subia no palco e esticava a mão para mim numa tentativa de me ajudar a subir no palco. Eu aceitei sua ajuda e segurei sua mão. Ele me deu o meu violão. – Que musica é? – perguntei para Josh.
- Uma que disse que você sabia tocar... Acho que é Miss Nothing. disse que é sua preferida, então podemos tocá-la. – Josh sorriu, seu sorriso era lindo, mas não me fazia derreter como o de ...
- É sim. – respondi sorridente, me ajeitei e fomos todos para trás do palco.
- Espero que saiba cantar bem. – falou o baixinho que estava na bateria.
- É claro que sei. – falei convencida.
apareceu na minha frente e começou uma contagem com os dedos. Eu me ajeitei.
- E é agora! – ele disse.
Começamos a tocar e abriu a cortina, eu vi várias pessoas gritando para nós.
Contei um... dois... três e comecei a cantar.
- I'm miss autonomy, miss nowhere I'm at the bottom of me Miss androgyny, miss don't care. What I've done to me. I am misused , I don't wanna do Be not your slave Misguided, I mind it I'm missin' the train.
Um… dois… três.
- And I don't know where I've been And I don't know what I'm into And I don't know what I've done to me And as I watch you disappear into the ground My one mistake was that I never let you down So I'll waste my time and I'll burn my mind I'm miss nothing, I miss everything.
E ouvi todos gritarem e começarem a pular. Eu podia admitir que estava um pouco nervosa e fiquei mais ainda quando vi passando por toda a multidão. Steven olhou para mim e sussurrou um “continue cantando”.
- I'm miss fortune, miss so soon I'm like a bottle of pain Miss matter, you hadder Now she's goin' away. – quanto mais eu cantava mais perto chegava do palco e de mim. - I am misused, misconstrued I don't need to be saved Miss slighted, I mind it I'm stuck in the rain.
Um… dois…
Steven olhou para mim de novo e pelo que minha leitura labial entendeu ele falou que eu estava indo bem. Olhei pra que sorria do outro lado do palco, ele disse algo como “prepare-se para o grande final”. Eu não entendi o que ele quis dizer com isso, então continuei cantando...
- And I don't know where I am And I don't know what I'm into And I don't know what I've done to me And as I watch you disappear into the ground My one mistake was that I couldn't let you down So I'll waste my time and I'll burn my mind.
I'm miss nothing, I miss everything I miss everything. And as I watch you disappear into my head Well, there's a man who's tellin' me I might be dead So I'll waste my time and I'll burn my mind So I'll waste my time and I'll burn my mind.
I'm miss nothing, I miss everything! – Quando terminamos de tocar as luzes se apagaram e vi na minha frente chamas reluzentes. Todos gritaram e eu sorri. – Obrigada! – falei me esquecendo totalmente de . A cortina se fechou e nós descemos do palco.
- Agora é a nossa vez. – sorriu Steven. – Canta bem, viu? – ele deu um tapinha em minhas costas.
- Vão cantar o que? – perguntei curiosa.
- Acho que Deftones… Estamos em dúvida. – Josh sorriu.
- Ok… até mais, pessoal. – sorri e saí do palco com e com o violão nas mãos.
- Quer ficar mais um pouco? – perguntou ele e reparei que havia me perguntado aquilo porque ele queria ficar.
- Pode ser... – me arrependi de dizer aquilo quando vi do outro lado do palco. Ótimo, o que ele estava fazendo aqui?
- Viva! É que...
- Não precisa me contar, ... – disse eu logo.
- Eu sei! Mas eu quero! É que Larissa está aqui, e eu meio que combinei com ela... – ele sorriu.
- Ahhhn que gracinha. – falei. Mas eu queria dizer “que droga, vou ficar sozinha e terei que ir embora sozinha de novo!”.
me deu um abraço e sussurrou um "obrigado" em meu ouvido.
- Me empresta o violão? – ele pediu com os olhos brilhando.
Eu revirei os olhos.
- Claaaaro... – ele pegou o violão das minhas mãos e saiu pulando atrás de Larissa.
E lá fiquei eu, sozinha no meio de um multidão de gente. Então resolvi dar uma voltinha pelo lugar até achar uma parte que não tivesse muito barulho.
Me sentei no chão de um dos corredores e joguei minha cabeça para trás. Fechei os olhos como se pudesse fazer as horas passarem mais rápido. Mas eu tinha certeza que demoraria mais de meia hora com Larissa...
De repente percebi que havia alguém ao meu lado, instantaneamente eu me virei e vi sorrindo para mim.
- Mas que diabos...? – murmurei, mas parece que ele não tinha escutado, já que não respondeu nem um oi sequer. Apenas ficou me estudando com os olhos. Eu me levantei e ele fez o mesmo, me parando. Que droga...
Eu realmente perdi a paciência.
- O que foi? Você realmente tem problemas! – berrei feito louca. Ainda bem que ninguém podia nos ouvir.
- Você disse que eu precisava te provar, certo? – ele disse com aquele sorriso lindo.
Eu assenti. Infelizmente eu tive que assentir. Talvez não infelizmente, já que eu poderia dizer que eu gostava um pouquinho dele... Tá, parei, eu gostava muito.
- Ótimo. – disse ele me virando de costas para ele. De repente percebi que ele colocava um colar em meu pescoço.
Eu fitei o colar que tinha um coração de algo que parecia ser safira na ponta.
- É... lindo. – falei impressionada. – Mas realmente... eu não posso ficar com isso... - disse eu, já de frente para ele.
- Era da minha mãe... – começou ele ignorando completamente o que eu dissera. – Ela disse para eu dar para a mulher que amo. – own, ele disse MULHER. Tá, tá, que isso... Por favor, eu não era uma menininha que ficava toda mole só por causa disso... Bem, mas com ele era diferente... Que droga!
- Mas e Bianca? – meu juízo me mandou perguntar.
- Eu lhe disse que te amo. – ele falou.
Eu revirei os olhos. E então ele me puxou para perto e segurou meu queixo, fazendo-me olhar fixamente para seus belos olhos.
- ... – ele deu uma pausa. –Você acredita em amor a primeira vista? – eu tentei desviar a cabeça, mas ele segurou novamente.
Eu tinha que admitir... Meu coração começou a palpitar rapidamente, pude jurar que ouvi o som de minha pulsação acelerada.
- Sim, agora eu acredito.– sussurrei e ele me beijou com tanta intensidade que me fez dar um passinho para trás e ele me puxou de volta. Eu ia retribuir o beijo quando meu celular tremeu em meu bolso. –Desculpe... – falei me afastando. Peguei o celular e vi que era . – Oi?
- Er... tá tudo bem aí? – perguntou ele. Eu já sabia o que viria em seguida.
- Sim. – respondi.
- Se importa de me dar mais meia hora? – perguntou.
- Ok. Vai lá, pegador. – revirei os olhos.
- Sério mesmo?
- Sério.
- Não tá brincando?
- Não. – respondi com raiva. - Dá pra ser ou quer que eu desista e te mande vir agora aqui e me levar para casa?
- Tudo bem. Valeu! – ele desligou, eu suspirei e guardei o celular no bolso novamente.
Dei um sorrisinho de lado para e me encostei na parede ao lado dele.
- Ficou perfeito em você. – ele sorriu, pegou o coração de safira e ficou o admirando por um minuto, depois o soltou.
- O-obrigada. – gaguejei um pouco sem graça.
Ele resolveu então mexer no meu cabelo e me deixar mais sem graça ainda.
- Haha, está vermelha. – ele riu.
- Sério? – perguntei como uma idiota. Mas o que eu diria?
- É.
- Beeem... Era só isso que você veio fazer aqui? Quer dizer, você não tem nada melhor para fazer?
- , eu gosto de ficar com você. – ele disse. Eu suspirei.
Eu bocejei.
- Está com sono? – perguntou. Eu assenti com a cabeça. – Você podia dormir na minha casa hoje. Meu pai não está lá e tenho certeza que Bianca não vai aparecer. – ele sorriu.
- Realmente... Eu vim com e tenho que voltar com ele. – menti. Bem, na verdade eu não menti, eu só não falei o motivo verdadeiro de não querer ficar sozinha com na casa dele. – Vamos deixar para a próxima. – falei sem pensar. Tenho certeza que essa minha última fala fora parte da armação do coração para ajudar o amor. Tenho certeza que me acha uma retardada agora, mas se você fosse eu, tenho certeza que pensaria da mesma forma. Talvez não.
No que eu estava pensando? Uma parte de mim queria passar a noite com , mas a outra parte tinha certeza que aquilo era completamente errado. Eu tinha que ligar para , logo, antes que cometesse algo terrível. Eu já estava com problema de cabeça! Talvez eu devesse evitar ... É, era isso que eu tinha que fazer, já que quando eu estava com ele a parte que sabia o que era errado desligava completamente e me dizia que era certo. É uma loucura mesmo...
- Eu tenho que ir. – falei imediatamente, passando por e correndo para que ele não me seguisse. Onde estaria? Peguei meu celular novamente e disquei o número de . – Atende!
Depois de cinco bipes ouvi a voz de uma menina.
- Desculpe, mas estamos muuuito ocupados. – Tinha certeza que era Larissa. E então ouvi a voz de meu amigo . – ?
- Esqueça, vou a pé. – disse eu com raiva e desliguei o telefone.
Saí do lugar e fui andando a pé até o ponto de táxi. Lá esperei meia hora para perceber que eu não tinha dinheiro algum para pagar um táxi.
- Que ótimo!
E para fechar com chave de ouro começou a chover, eu estava sem guarda-chuva e não tinha nenhum lugar coberto por perto.
Então vi uma luz a frente. E quando estacionou onde eu estava, percebi que era um carro.
- Desculpe mesmo, ! – berrou se desculpando.
- Tudo bem, tá perdoado, só porque veio atrás de mim! – falei e entrei no carro.
sorriu.
- Como foi a sua tarde? – perguntou.
- Legal, e a sua?
- Legal. – ele respondeu.
- Legal. – eu repeti sorrindo.
Capítulo 7
O que eu fiquei fazendo a noite? Ah, nada, como sempre, coisas normais. A não ser que fiquei sozinha durante duas horas e acabei pegando no sono. É claro que tive um sonho louco... Eu tinha ido pegar uma garrafa de vodka debaixo da cama (claro que Amanda tinha deixado) e acendido um fósforo (não, não, inteligência é o que realmente não falta em mim, principalmente em sonhos) na garrafa.
Para finalizar minha loucura misturada com raiva por ficar sozinha e de castigo por ter saído sem permissão, joguei a garrafa no jardim (sim! No jardim!). Você deve estar pensando, ô inteligenciazinha rara, mas se você fosse como eu, tivesse o mesmo pensamento e ficasse doida com o tédio e odiasse castigos (mesmo que eu tenha merecido), você iria fazer alguma loucura. De repente ouvi um Bang! Spoft! Bang!
Pulei a janela para ver a cena que tinha criado. O jardim inteiro estava pegando fogo. Meus olhos deveriam estar refletindo chamas, que nem os olhos refletores de algum filme de terror clichê.
Bem, depois que minha "raiva passageira" passou, fui tomada pela culpa. Eu havia queimado o jardim inteiro... Sim, ele ainda estava em chamas. Pensei que o melhor a fazer era pegar uma mangueira logo antes que as chamas ficassem piores. Para piorar a situação, a mangueira não queria ligar.
- Que droga! Abre logo! – berrei com raiva, tentando abrir a mangueira. Quando consegui, a água voou tudo na minha cara. –Que porra!
Respirei… Suspirei, e finalmente voltei pra realidade, e corri para onde as chamas estavam (eu? Imitando um bombeiro? Que é isso... sou profissional mesmo, sim, sim, só em sonho mesmo).
Dei um pulo para trás quando vi uma pessoa nas chamas. Mas ela estava inteira, completamente sem queimar, como se houvesse algum tipo de escudo protetor em volta... Eu fiquei tão encantada que cheguei mais perto e pude ver quem era a pessoa que estava ali... Eu arregalei os olhos quando percebi. ...
Ele estendeu a mão para mim.
- Venha comigo, … - ele sussurrou meu nome com doçura e eu dei um passo para a frente, mas balancei a cabeça e voltei para o meu lugar, segurando a mangueira que saia água, mas não apagava fogo nenhum (por que mesmo tinha uma mangueira?).
- N-não. – estremeci ao responder. Eu podia admitir o quanto eu queria ir para lá, mas eu também tinha medo.
- Venha comigo… - ele repetiu. Eu me virei para a porta.
- Não. Não, não! Não! Eu não posso, não! – gritei e corri tentando entrar em casa quando as chamas me devoraram.
Acordei completamente atordoada, no sofá, enquanto passava uma novela retardada, que a protagonista tinha traído o namorado e ainda tinha pegado doença! Eu desliguei.
- Bleergh! Tanta criatividade que dá vontade de vomitar. –balancei a cabeça. Mas o que havia sido aquilo? Aquele era o segundo sonho estranho que tivera com , ele não saia da minha cabeça, mas por que era tão... surreal? Bem, surreal é normal para mim, meus sonhos sempre são cheios de obscuridades e subliminares... Talvez aquele houvesse significado algo... As chamas que me devoraram poderiam estar dizendo que eu fui consumida pelo erro... Mas seria isso verdade?
Errado…. O que é errado? Eu nunca estive tão confusa em minha vida inteira. Certo? Certo seria o que nesse caso? As pessoas fazem coisas erradas achando que é o certo? Eu fiz isso? De certa forma eu queria minha consciência de volta para poder pensar, mas minha outra parte não queria pensar de jeito nenhum, talvez por que tinha medo de que estivesse errada...
Eu. Estou. Errada?
Tateei pelo sofá procurando meu celular, quando o achei, levantei-o para ver as horas. Eram onze e meia. Será que Amanda ou alguém já havia chegado do jantar doce em família? Bleergh pela segunda vez.
De repente senti meu celular tocar, eu atendi.
- Alô?
- ! – Droga! Era ele! Ele tinha que ligar…
- O quê é? – acabei sendo grossa e me arrependi por isso depois. – Desculpe. – sussurrei.
- Ahmm... Nada, queria saber se você está bem. Está tudo bem?
- Sim, er… … tá fazendo o que? – falei sem pensar, bati na minha testa.
- Assistindo a droga de novela no canal 9... Sabe como é... – ele deu uma pausa. – Vou ter que desligar...
Então ouvi uma voz irritantemente familiar.
- Com quem está falando? – perguntou a garota idiota que me atormentara praticamente o ano inteiro. Bianca.
- Minha mãe. Ela queria saber que horas eu vou voltar.
- Ah, diga que vai dormir aqui. – Bianca era perfeita para imitar uma vadia. E o que eu estava fazendo ouvindo a droga da conversa dos dois? Eu lá me importava? Bem, uma parte de mim se importava, a parte que deveria sair imediatamente dos meus pensamentos, pelo menos pelo restinho da noite.
- Ahm, ok, … Acho melhor você desligar. Sua "namorada" está te chamando. – não evitei um sorrisinho falso e desliguei sem nem mesmo ouvir o “tchau” ou alguma desculpa ridícula dele.
Eu sei que era eu quem estava virando a “outra”. Eu tinha que terminar logo com isso! Com o que eu estava na cabeça? Ah, eu sei. NADA. Bem, eu não tinha nada na cabeça quando estava com ele... Eu já havia pensado em ignorá-lo, mas ele me persegue até em sonhos! Será que contava para ? ? ? NÃO! Ainda não...
Além do mais, eu só tinha ficado com ele duas vezes… Mas ele disse que me amava e me queria... Que droga! Que droga! Onde eu estou? Onde eu estou? Eu preciso de alguma coisa para tirar ele da minha cabeça de uma vez por todas. Talvez eu devesse arranjar um namorado... Mas tem um probleminha: eu acho que gosto dele.
Respirei fundo e me ajeitei no sofá, peguei uma almofada e joguei na cabeça.
- A vida é uma droga!
Capítulo 8
Domingo... O lindo domingo que eu odeio. Por quê? Ah, é que só me lembra que amanhã será segunda. Só isso.
O domingo de manhã é uma merda como todas as manhãs de outros dias, primeiro eu fui obrigada a almoçar num restaurante brega com Amanda e minha "família". Tentei dar umas escapadas para falar com meus amigos, mas nem consegui.
O domingo de noite tem dois pontos, um positivo e um negativo, o positivo é que é muuuuuito divertido, o negativo é que estará acabando meu dia de descanso.
De noite eu fui arrastada novamente, mas dessa vez foi mais divertido.
Como eu fui para o jantar "em família"? Ah, escolhi um vestido preto com a saia igual a de um vestido de balé e minha sapatilha preta de salto.
Entramos no carrinho "luxuoso" que meu padrasto havia alugado, e quando eu digo luxuoso ou algo com "luxo", meu bem, era uma limusine. Por que isso tudo?! Se eu era de uma família rica? Ah, o povo da escola achava que não, eu achava que não, até hoje. Mas eu já sabia que meu padrasto ridículo era empresário, ele devia ter ganhado um aumento...
Eu e Amanda sentamos juntas de frente para nossos "papais". Eu sorri falsamente para ela e ajeitei meu cabelo, percebendo que na mesa cabia mais quatro pessoas.
- Por que mais quatro cadeiras? – perguntou Amanda antes que eu pudesse reformular a MESMA pergunta.
- Por que virão mais quatro pessoas. – minha mãe deu aquele seu sorriso doce de sempre.
Eu olhei para baixo.
- Olha lá, eles chegaram! – meu padrasto acenou para um casal de adultos e dois adolescentes, eu não me importei muito no início até perceber que aqueles dois eram totalmente conhecidos por mim. Se eu estivesse com um copo eu cuspiria a bebida.
Olhei para cima e para o lado quando vi a cadeira ao meu lado sendo puxada por e a menina ao seu lado, claro, Bianca.
Meu pensamento de queridinha filhinha de papai? Só se resumia em: ME. MATE. AGORA.
Capítulo 9
- O que eles estão fazendo aqui? – não pude deixar minha cara de pau escondida. Não em uma hora como aquelas. Se é que me entende, colega.
- Você os conhece? – sorriu minha mãe ao perguntar. Tive vontade de morrer com aquele sorriso falso. Na verdade eu queria morrer de qualquer jeito. Sim, Sim, ! Ao seu lado está o garoto que você ajudou com a “cornação”. Sim, uma palavra nova. “Cornação”. O que é? Ah, é quando você, a burra, a anta, sei lá o que te passa pela cabeça, fica com um garoto comprometido. E adivinha? Aí a corna que você ajudou a “cornar” aparece bem ao lado do garoto que você ajudou na “cornação”. Repetindo, sim, “cornação”! Então lá vai o segundo: ME.MATE.AGORA. do dia.
- Somos dá mesma escola. –respondeu sem expressão alguma, antes que eu pudesse responder.
Dei um sorrisinho falso. É nessas horas é que eu penso que tudo seria mais fácil se eu tivesse compartilhado ao menos com !
- É, somos. – ouvi a voz de vadia de Bianca ecoar como algo que quebraria meus tímpanos se fosse vidro rapidamente.
Mas com o ódio irradiando de mim eu retruquei:
- É, mas quase não nos falamos. – lancei-a um olhar desafiador.
- Ah, é, por quê? – perguntou a mulher que parecia ser a mãe de .
- Ah... – Bianca ia responder, mas eu fui mais rápida.
- Eles não gostam de andar com a garotinha estranha, não é?
Bianca ficou sem palavras, eu senti aquilo, só não senti que fosse cortar a minha palavra.
- Não é “estranha” e sim alguém que finge que não nos vê. Além do mais, , você sabe o QUANTO eu falo com você. – ele sorriu maliciosamente, e somente eu percebi aquilo, quase corei, mas me segurei para não parecer um pimentão.
- Ah! É verdade, é muuuuito difícil não ficarmos juntos em uma festa, não é? – retornei com um sorriso vitorioso. Bianca iria querer respostas, o que tornava aquele jogo muuuito mais divertido.
- Festas? Que festas? – perguntaram minha mãe e Bianca ao mesmo tempo.
- Ahhh.... – assim que eu ia falar me interrompeu.
- Sabe aquelas que teve? Eu encontrei lá, e como ela era a única que eu conhecia, acabamos nos conhecemos mais ainda. – ele sorriu.
- É... acho que esqueceu de mencionar a parte que já tínhamos nos conhecido anos antes, não? Ah, e a festa não foi inesquecível?
- Com certeza! Adorei ver você cantar. – ele olhou nos meus olhos.
- Aposto que adorou a parte quando “conversamos”. – sorri vitoriosa mais uma vez e joguei meu cabelo para trás, olhando fixamente para minha mãe. Percebi que Bianca chegou mais perto de e agarrou-se em seu braço, eu soltei uma risadinha. – Desculpe, pode me passar o cardápio?
- Que festa foi essa, ? - indagou minha mãe sem nem mesmo escutar o que eu havia dito antes.
- Nada demais, me chamaram para cantar, mas foi de manhã e fui com , você nunca se importa quando eu saio com ele.
- Dessa vez eu deixo passar. – disse minha mãe.
Meu padrasto me encarou, eu tive vontade de rosnar para ele.
- O que vamos comer? Estou morrendo de fome! – perguntou Amanda bocejando.
- Acho que vou dar uma olhada nas taças. – disse se levantando.
- Tudo bem. – seus pais assentiram.
Bianca também se levantou e pude ver os dois conversando e dando a volta pelo restaurante, pude sentir que eu pela trigésimo vez estava com um ódio mortal por algo que eu não sabia o que era. Ciúmes, você deve estar pensando.
- Por que não vai com eles? – perguntaram os pais de .
- Não, obrigada, to bem aqui. – sorri.
Depois de 15 minutos com um tédio desgraçado, minha Coca Cola veio e eu sem pensar duas vezes acabei com o primeiro copo. De repente senti algo vibrar dentro da minha bolsa, era meu celular. Eu havia recebido uma mensagem, será de quem? Ah, é... , é claro. Eu NEEEM suspeitava.
- Bianca foi ao banheiro, o que acha de “conversarmos” um pouco?
Isso me irritou um pouco, o que ele achava que eu era? Ah sim, eu ia me impor. Desta vez eu ia mesmo, eu não queria pagar mais de vadia. Eu não iria atrás dele a hora que ele quisesse, ele iria ver quem é que manda, dessa vez ele iria ver.
- Vou ao banheiro. – falei e me levantei. Andei depressa, eu sabia que Bianca não demoraria muito.
Dei a volta e cheguei até que estava sentado em uma bancada, segurando uma taça de vinho, sorrindo para mim.
- Você é louco ou o quê? E o que acha que eu sou para ficar me chamando a hora que quer? – falei com raiva.
- Está falando sobre o quê? – ele continuava sorrindo.
- Você me ligou enquanto estava com aquela vadia, e depois ainda me humilha em um restaurante? Eu também sei jogar e quando eu começar a coisa vai ficar feia para o seu lado.
Ele me puxou para que ficasse perto o suficiente e sussurrou em meu ouvido as exatas palavras:
- Você me excita quando está assim... na defensiva. – eu o beijei e depois o empurrei para longe.
- Me observe jogar. – dei um sorrisinho e saí andando.
Aquela noite foi umas das melhores da minha vida. Se eu gostava de ver as pessoas se ferrando? Ah, eu adorei quando no fim da noite, o salto de Bianca quebrou e ela teve que andar descalça reclamando da dor nos seus belos pés. Aquilo foi épico!
Foi bom também, já que os pais de pareciam rir das piadas que eu fazia, é claro que eu teria que me entender mais tarde com meu padrasto. Mas FODA-SE.
Quando cheguei em casa, a primeira coisa que fiz foi me jogar na cama e rir de tudo que havia acontecido. Mas como felicidade boa dura pouco, Amanda se deitou na sua cama. Ela estava tão silenciosa que só percebi o porquê quando a vi bebendo vodka numa garrafa enorme de vodka (não, de vinho!).
- Epa, epa, epa! Pode parar, Amanda, eu te odeio, mas não to afim de deixar você tendo ressaca NO MEU QUARTO! – falei levantando e tirando a garrafa das mãos dela.
- E se você bebesse comigo? – foi então que percebi que ela estava chorando. Eu coloquei a garrafa debaixo da cama.
- O que aconteceu?
- Ah, não finja que sente pena de mim!
- Amanda... Mesmo eu te odiando, eu sou meio que sua irmã, e irmãs cuidam umas da outras. – eu realmente não acreditei que eu estava falando aquilo, mas percebi que ela tinha um lado bom e queria ver esse lado e deixar a rixa que tínhamos fora pelo menos por uma noite. – Será que não passou pela sua cabeça que podemos ser ao menos colegas?
- Tudo bem. – ela me abraçou e começou a chorar mais ainda. – Meu namorado terminou comigo...
- Você tinha um namorado? – arregalei os olhos.
- Vai me deixar contar ou não?
- Continua. – falei e coloquei a minha mão em sua cabeça, demonstrando “afeto”.
- Ele me mandou uma mensagem! Tipo, agora! Dizendo que sou uma vadia e que ele não me quer mais! Eu sei, todos me chamam de vadia! Mas eu gostava mesmo dele! – ela chegava a soluçar.
- Você já pensou em fazer algo para não ser chamada mais de vadia? – ela negou e eu suspirei. – Você pode continuar se divertindo, mas não precisa sair com todos os garotos e dar para todos, por que você não dá só para os que você ama? – sim, aquilo era meio estranho de se dizer.
- Eu não sei! De início eu pensei que eu seria desejada!
- Ah, por favor. – quase ri. – Você acha que isso é o mundo dos homens? Se fosse o mundo dos homens, nós não estaríamos aqui, não precisa deles! Eles é que precisam de você! E se ele teve a cara de pau de te chamar de vadia mesmo você sendo uma, por que você não mostra para ele que ele estava errado? Você não pode mudar o passado, mas pode mudar quem você é agora!
Ela olhou para mim sorrindo.
- Obrigada, .
Eu retribui o sorriso.
- Ok, agora vamos dormir, estou morrendo de tanto sono.
Voltei para minha cama e apagamos a luz do abajur.
- Me desculpe pelo violão. – de repente ela falou algo que pensei que nunca ouviria.
- Tudo bem. – sussurrei fechando os olhos. E assim minha noite de domingo acabou.
Capítulo 10
O que eu posso dizer de uma segunda feira idiota? Vou resumir o que aconteceu antes de eu ir para o “colégio”. Em poucas palavras: VÔMITO, RESSACA. É, não minha, e sim de Amanda.
- Eu te falei para não beber! Quando foi que você bebeu? – arregalei os olhos enquanto buscava um balde para ela não terminar de sujar o tapete da MINHA cama.
- Você estava dormindo. Desculpe... Recaída, se é que me entende.
- Não, eu nunca tive recaída.
- Mas vai ter, você bebia, eu sei, tenho certeza que ficou com uma vontade desgraçada de enfiar a boca na minha garrafa. – Amanda deu um sorriso de alguém alcoolizado (é o que ela estava, não é?).
- Tenho certeza que isso não vai acontecer comigo, mas enfim, quer que eu chame a mamãe ou o seu pai?
- Não conte para eles! – ela quase gritou.
Assenti e passei a mão no cabelo.
- Seguinte, fique aqui até você se sentir melhor, sabe o meu número, né? Então me ligue que eu to saindo agora. – suspirei. – pensando melhor, como você vai à escola?
- Não tenho hoje.
- Como assim não tem?! – berrei como se EU fosse a mais VELHA. Eu odiaria aquilo mais tarde.
- Greve, minha escola é publica, ou acha que vão pagar outra para eu ser expulsa? – ela deu uma gargalhada.
- Tudo bem, repetindo, me ligue. – dei um sorrisinho, e desci as escadas correndo, minha mãe estava lendo jornal no sofá e sorriu para mim. – Estou saindo.
Ela segurou a minha mão e sussurrou:
- Não deixe ele saber quando você chegar, evite passar perto dele. – percebi que ela estava falando do idiota do meu padrasto. – Ele está estressado e você sabe porquê, eu esqueci a história da festa, mas, , ele só faz isso porque se importa com você.
- Ele deveria olhar mais para a filha dele. – sorri falsamente.
- Eu te amo. – meu coração doeu ao ouvi-la falar aquilo, mas suspirei e segui em frente.
Como não havia me ligado, eu é que não ia ficar esperando a boa vontade dele de me levar para a escola, então resolvi ir sozinha mesmo. Encontrei-me com ele e minhas duas amigas maluquinhas rapidamente e depois tivemos um monte de aulas idiotas para finalmente chegar a única parte do inferno educativo que eu gostava. O intervalo.
Me sentei no mesmo lugar de sempre, ao lado de e de frente para e .
- Como foi o final de semana? – perguntou sorrindo.
- Legal. – eu e respondemos nos olhando e sorrindo.
- Estão fazendo pares, é? – e deram risadinhas.
- Quê?! – falamos juntos.
- Não, não! Só coincidência ambos terem sido legais. Tive que sair com Amanda, mamãe, padrasto idiota e parentes. – não contei o resto porque estava com preguiça de responder as várias perguntas que elas iriam me fazer.
Enquanto eu tagarelava sozinha, minhas duas amigas estavam olhando para o outro lado.
- De novo não! – resmungou , e então eu soube o porquê elas estavam olhando sem precisar me virar.
- Por que eles têm que se beijar na frente de todos? Não devia ser proibido? – disse com um tom de raiva na voz. Novidade! Todas as garotas gostavam de , e se descobrissem o que ele havia fazendo e com quem ele havia fazendo acho que nem mesmo minhas amigas iriam deixar de me socar... Ótimo! Mais um motivo para eu não compartilhar as merdas que eu fazia.
- Devia. – respondeu com o mesmo tom que minha outra amiguinha havia usado. Sim, amiguinha.
Isso me fez me virar, quando eu, , a inocente, me virei, Bianca me olhava com um olhar desafiador... Que diabos?!
- Impressão minha ou Bianca está olhando exatamente para você? – sussurrou em meu ouvido, eu revirei os olhos.
- Impressão. – definitivamente.
Por fora meu rosto estava sem expressão alguma, por dentro eu estava completamente bipolar: rindo e vermelha como um pimentão de raiva. Mas quem era eu para ficar com ciúmes? Ah, é, a menina que ajudou na cornação. Se você não sabe o que é, ou esqueceu o que é, ou não quis ler quando eu falei, por favor, leia o início do capítulo anterior e ria comigo ou sei lá, fique com a dúvida, porque, meu bem, eu estou com preguiça de ter que explicar essa parte da minha vida de novo (sim, eu sempre tenho preguiça).
Enquanto e Bianca quase se comiam na frente de todos eu tive A IDEIA, que eu iria com certeza me arrepender.
Puxei a camisa de e o fiz ficar perto de mim o suficiente para enfiar minha língua em sua boca. Pude ver e arregalando os olhos.
- V-você acabou de dizer que não era nada. – disse .
Eu soltei e percebi o olhar de em mim. Sim, posso dizer que ele estava morto de ciúmes, e Bianca, bem, agora ela não ia ficar me olhando com aquele olhar de prostituta me ameaçando.
- O que foi isso?! – perguntou sem jeito. Eu não pude me conter e soltei uma gargalhada.
- Ela endoidou, definitivamente. – riu.
ainda me fitava como se eu fosse louca.
- Te deixei surpreso? – perguntei e dei uma mordida em meu hambúrguer (sim, eu comprei um hambúrguer de lanche para o intervalo, não contei antes? Oops).
- Estranho. – e falaram ao mesmo tempo. Eu dei um sorrisinho e o sinal bateu.
- Hora de irmos! – falei me levantando.
Quando eu ia entrando na sala feliz da vida (é porque eu tenho surto de felicidade às vezes...) me parou.
- O que foi aquilo?
- O quê? – perguntei inocentemente. – Ah! Nada! – dei um sorrisinho.
- Nada, é? O que me pareceu foi que você estava me usando para tentar fazer ciúmes em . – Uau, ele deduziu aquilo tudo sozinho? E agora ele iria ficar me interrogando até tirar tooodas as informações de mim e me fazer sentir mal por um erro. Sim, eu o conhecia e seria assim se eu não arranjasse uma desculpa.
Eu revirei os olhos.
- Não foi isso! Mas você viu? Eles não podiam ficar fazendo aquilo na frente de todos.
- E o que você fez não foi o mesmo?
- Ah, por favor! Pelo menos agora ela não vai ficar se achando a melhor! E como se eu fosse uma vadia por isso, se é assim você é o quê?
Sem querer percebi que havia o magoado.
- Parabéns, ! Eu pelo menos faço com quem eu gosto.
Ele ia me dar as costas quando eu o segurei.
- Você acha que eu faço isso com todos? Só fiz isso com você e por uma causa justa! E eu não saí dando para ninguém! Eu só te beijei, ! Até parece que isso é o fim do mundo, somos amigos! Ninguém vai me chamar de vadia por eu ter beijado o meu amigo!
- Tem razão, mas eu não vou tirar da minha cabeça o que eu acho. Fique esperta. – quando ele disse aquilo eu tive a certeza que ele suspeitava do meu caso de dois dias com , aquilo me fez sentir mal durante o resto das aulas. Mesmo Bianca sendo a maior vadia de todas, eu não tinha direito de fazer o que eu estava fazendo, mas... O que eu estava fazendo?
Primeiro, eu só tinha ficado duas vezes com . Pelo menos de verdade, é claro que eu já conhecia ele antes, mas mal tinha falado com ele. Mas talvez aquele “casinho” inocente pudesse virar algo maior. E eu tinha razão, e isso me afetaria? E qual seria o risco? Eu não pude me segurar, o que era ridículo de minha parte, sem contar que eu tinha sido avisada.
Capítulo 11
Três dias se passaram e a pessoa que costumava ser meu melhor amigo se tornou quase que invisível ou eu me tornei invisível para ele. Não, acho que era uma coisa pior, eu não existia para .
Eu não entendia nada com clareza, mas depois que ele começou a me ignorar, minhas duas amigas me encheram de perguntas, do tipo ‘’o que você fez?’’ ‘’por que isso?’’. E eu iria dizer o que? Mas o que se passava? O que eu fiz de errado?
Bem, então acho que só experimentou um pouco da minha vida, e o que vem a seguir não é nada feliz, é claro que sempre tem uns momentos, mas depois vem o inferno.
Eu sentava na mesa sozinha durante o intervalo, porque tinha pedido para que minhas amigas acompanhassem e não a mim, já que eu não me importava de ficar sozinha mesmo que isso durasse muito. Acho que ele já sabia que eu não ia aguentar muito tempo, talvez estivesse só brincando comigo... Quem sabe.
Mas eu deveria ceder? Deveria ir até ele e me desculpar? Eu fiz algo errado afinal? Bem, de tantas escolhas que eu tinha, decidi ficar sozinha por fim. E então fiquei, fiquei sozinha sem meu melhor amigo por uma semana e também não falei com pessoalmente e muito menos fiquei com ele.
Lá estava eu sentada, tomando meu cappuccino na lanchonete onde minha linda amiga, , trabalhava. Era a primeira vez que eu estava lá, então ela percebeu que eu estava com problemas, mesmo que eu não quisesse transmitir a informação.
- ... Eu te conheço. Me diga, o que aconteceu? – ela se sentou ao meu lado.
- Você fica linda com essa roupinha de empregada. – sorri.
Ela revirou os olhos.
- Vamos lá, tem algo estranho, me conte... Faz mais de uma semana que você e mal se cruzam, o que aconteceu?
- Pergunte a ele – foi a única coisa em que pude pensar como resposta.
- Já perguntei e ele me mandou perguntar a você. – ela respirou fundo. – Se você não quer falar, ótimo, tudo bem. Mas vou tentar adivinhar. – deu uma pausa e passou a mão em seus cabelos. – Me diga, foi por causa do beijo? Ele gosta de você? Vocês brigaram?
Eu suspirei.
- Talvez seja porque o beijei. Não sei! – optei por omitir o resto, como que sabia que eu estava o usando... Eu me sentia pequena agora que ele sabia de algo, mas o que ele sabia? Talvez ele suspeitasse? Só suspeitasse.
- Vou conversar com ele. Agora vou voltar para o meu trabalho – ela sorriu e passou a mão na minha cabeça, depois se levantou e correu para a sala da gerência.
Depois que terminei minha bebida e paguei a conta, me levantei e fui andar um pouco, tomar um ar... Passei por vários lugares conhecidos, inclusive um barzinho perto da lanchonete. Eu resolvi entrar.
Ele era perfeito, as luzes eram escuras como as do outback, tinha um sofá vermelho enorme no fundo e umas mesinhas com várias pessoas de classe tomando vinho. Fiquei pensando se aquilo era mesmo um bar. Ao fundo havia uma danceteria que piscava e tocava alguma música eletrônica que eu não conhecia. Eu fui andando para lá como uma criancinha iludida com aquelas várias luzes que pareciam as de um cassino. Olhei para a pista e encontrei uma menina magra com um vestido decotado e apertado da cor que parecia ser vermelha, a mesma beijou um garoto que estava a sua frente. Engraçado como ele era idêntico a alguém que eu conhecia...
Eu corri para a pista na mesma hora. Arregalei os olhos quando vi o rosto de sorrindo para a garota com um copo de Vodka na mão.
- ! – gritei, mas ele não me escutava. Então fui até ele e tirei o copo da sua mão, empurrando a garota de perto dele. – O que é isso? O que está fazendo? – eu não sabia a principio porque eu estava tão incomodada, já que ele já tinha ficado com várias garotas e se embebedado.
- Me deixa, ! – ele gritou com raiva e a menina que estava com ele foi embora. – Olha o que você fez!
Eu o puxei pela mão e o levei até um corredor onde estava mais claro.
- O que você ta fazendo aqui? Por que está aqui? – perguntei.
- Eu te devo informações?
- Desde quando você não me deve? – falei com raiva.
- Desde que você começou a esconder as coisas de mim. Eu, seu melhor amigo.
Quando ouvi aquilo eu me senti atordoada, me senti cansada, como se tivesse saído de uma briga enorme onde eu havia perdido e tivessem me dado milhões de socos.
- Eu... eu... Não escondi nada! – tentei convencer a ele e a mim mesma.
- Eu sei de tudo, ok? Eu sei de tudo, , não esconda mais nada de mim.
Ele sabia? Como ele sabia?
- Do... Do que você está falando? – tentei me recompor me encostando na parede. E ele colocou seus dois braços em volta de mim, ficando bem perto e me prendendo na parede, depois a socou e sorriu.
- Do que eu estou falando? Do que acha que estou falando? Bem, vou te dar uma dica. –ele deu uma pausa. – Como é o gosto do beijo do ? Como é se sentir suja, ? Como é ser... a amante?
Meu mundo caiu, e sem perceber lágrimas saiam do meu rosto. Ele as limpou.
- Quando foi que você se tornou tão fácil? Quando foi que você foi domada? – ele riu, tão friamente que me deu vontade de morrer de dor. – Me diga, como é estar com alguém que no mesmo dia está transando com outra? – ele sussurrou em meu ouvido.
Acho que já tinha escutado demais, mesmo ele sendo meu amigo, eu não podia. E o empurrei com força para trás.
- Ninguém me comanda! E quem é você para me dizer essas coisas? Eu sou suja? E você? Larissa não é uma vadia? Ela também não fica com um monte de garotos além de você? Está dizendo isso porque se sente solitário! – gritei e me arrependi, porque eu sabia que nunca fora amado por meninas ou ao menos popular, a única amiga que tinha era eu, e por meio de mim conheceu e .
E aquilo o atingiu em cheio.
- Já chega, já chega. E é agora que as mascaras caem, não é? – ele riu sarcasticamente e passou a mão na cabeça. – Tudo bem, faça o que quiser, só saiba que você vai se ferrar feio. – E então eu fiquei observando de novo meu melhor amigo indo embora e dessa vez eu não sabia se ele ia voltar.
Mas eu havia escolhido o certo, não é? Pelo menos era o que eu pensava, eu tinha escolhido o “amor”.
Capítulo 12
Domingo, dia 16 de outubro. Uns 2 meses depois de eu ter me encontrado “acidentalmente” com no bar, que mesmo sendo de dia ele estava bêbado. Nunca mais falei com ele. Se eu falava com minhas outras amigas? Sim, sim. Se eu ainda estava com ? Digamos que todos os dias e ninguém suspeitava de nada, e aquelas ficadinhas começaram a se tornar mais sérias a partir do dia em que eu dei a louca dizendo que ele não me amava. E você quer que eu te dê os detalhes? É claro que quer, pelo menos se você for curiosa e gostar de fuçar a vida pessoal dos outros. Enfim, vou contar.
Lá estava eu chorando como uma louca depois de tomar um gole de vodka. Só para deixar claro, eu estava no meu quarto. Digamos que fiquei depressiva, meus pais foram para a casa de campo junto com minha “irmã”, que agora estava mais próxima de mim, e eu fiquei sozinha. Nesse dia eu estava cansada de tudo e triste por estar sozinha, ninguém consegue ficar sozinha por muito tempo, ainda mais alguém sensível como eu. Não que isso seja de alguma utilidade no futuro, então eu resolvi comprar umas 10 garrafas de vodka e me atirar nelas. Que lindo! Uma adolescente depressiva e problemática (não vamos esquecer do sensível) atirando-se em 10 garrafas de vodka porque estava sem amigos. E então, para variar, foi na minha casa e eu lhe disse coisas ridículas, que de certo modo, talvez, eu pensasse serem verdade.
- Você não me ama! – berrei enquanto andava pelo quarto fugindo dele.
- É claro que eu te amo! – ele gritava de volta. – Que diabos aconteceu com você?
- O que aconteceu comigo? O que acha? Você diz que me ama e fica lá com aquela vadia o tempo todo! – me joguei na cama com a garrafa na mão e comecei a chorar. Ele engatinhou para perto de mim na cama e tirou a garrafa da minha mão. – Só estou cansada disso tudo.
- Disso tudo o que?
- De, sei lá! Eu quero ficar sozinha! – na verdade eu não queria, mas não admitia nada. Estava confusa e mal sabia que aquilo ia piorar.
- Tudo bem. Se importa se eu voltar a noite? – ele perguntou.
- A noite seria legal. – respondi.
Ele se levantou e antes de sair pegou a caixa de garrafas de vodkas que estava ao pé da minha cama e as levou consigo.
- Nada de beber. – ele sorriu e se foi (mas calma que o dia ainda não acabou).
Eu não sabia quando meus pais iam voltar e nem nada de droga alguma. Só sei que eu não queria ficar sozinha, mas como era idiota eu falei totalmente o contrário. Fiquei lá deitada na cama como uma bêbada de carteirinha e acabei tirando uma soneca. Pensei em algumas coisas, sobre o porquê de eu estar ainda com . O que eu estava fazendo? Me perguntava aquilo pela... centésima vez, quem sabe? Você sabe, não é? Mas era como se eu precisasse dele... Eu o queria e estava faltando alguma parte de mim quando ele ia embora. Eu dizia que o amava, mas eu amava?
Sim, eu o amava, eu tinha certeza de que amava. Mas até quando isso continuaria? Não pensava que seria tão sério quanto o que estava prestes a acontecer naquela mesma noite. Mas faz parte da vida querer crescer. Não é?
Abri os olhos, mas era como se eu não estivesse naquele mundo, então eu só queria acordar, queria sair daquela depressão. Bem, em poucas horas eu estava novinha em folha.
Acordei eram umas nove da noite, minha mãe fez uma ligaçãozinha rápida perguntando se eu estava bem, depois disso eu fui para o banheiro escovar os dentes, meu hálito estava pior do que o de um cachorro, então eu caprichei, também tomei banho, lavei o cabelo... Coisas de menina. Aquela noite eu queria estar bonita, eu não sabia o porquê de início... Mas eram os hormônios, pude logo perceber. Querer estar bonita... Para quê? Para ... Eu nunca quis estar bonita. Nunca quis estar perfeita.
De uma coisa eu tinha certeza, eu iria tirar Bianca da vida dele, na vida dele só teria eu, mesmo que eu não fosse contar a Bianca sobre nosso relacionamento. Eu estava preparada, eu iria deixar que ele me amasse.
Eu deixei meu cabelo solto, coloquei um arco preto e um vestido branco, minha sandália de salto alto preta iria cair bem também. Nos lábios? Um vermelho, a cor da paixão e, é claro, a cor do pecado. Trinta minutos depois ele subiu as escadas da minha casa e olhou para mim surpreso.
- Vai sair? – perguntou.
Eu sorri.
- Podemos ir ao cinema? – perguntei com minha bolsa na mão.
- Se eu soubesse que íamos sair eu teria me arrumado melhor. – ele riu.
Eu balancei a cabeça.
- Você está ótimo.
Eu fui até ele e enlaçamos as mãos.
- Que filme vai ser? – ele perguntou enquanto íamos para o carro.
- Não sei, não importa. – falei e ele me olhou confuso, com seus lindos olhos. Eu suspirei para não perder o controle. – Só quero estar com você esta noite.
Ele sorriu e ligou o carro.
Acabamos assistindo o filme “A casa dos sonhos”, mas nem prestamos muita atenção, estávamos envolvido demais em nossos olhares. O caminho de volta até o carro foi silencioso e quieto. Não muda nada.
Quando chegamos na minha casa, subimos direto para o meu quarto. Não que não fosse a rota que sempre fazíamos, mas... Aquela noite era diferente. Deixei somente a luz do abajur acesa.
Eu me deitei na cama calmamente e sorri para ele, e ele sorriu de volta, um sorriso doce e cheio de amor.
- Você tem certeza? – perguntou.
Eu assenti sorrindo e ele, devagar, foi deitando ao meu lado e depois nós nos viramos um de frente para o outro. Ele afastou uma mecha de cabelo que caia nos meus olhos delicadamente.
Depois de ficarmos cara a cara, chegamos mais perto e ele encostou seus lábios doces nos meus, eu senti que estava no céu e retribui seu beijo. Ele me puxou para mais perto e eu soube que meu lugar era ali mesmo. Delicadamente foi afagando abaixo do meu vestido, o que me fez tremer. Nós dois rimos, era como uma brincadeira de criança, era inocente.
Eu o abracei e lhe tirei a camisa devagar enquanto nos beijávamos. Nunca senti o que sentia na minha vida até agora. Era bonito, e era bom. Mesmo com os olhos fechados eu pude o sentir e o encontrar. Ele afagou meu cabelo e pegou meu rosto com a mão, fazendo-me olhar em seus olhos.
- Eu te amo. – sussurrou.
- Eu também te amo. – E voltamos a nos beijar.
Eu o deixaria me amar, eu o deixaria provar que me amava de verdade, e o deixaria me provar, e eu provaria um pedaço do céu.
Ele tirou lentamente meu vestido, depois fora a minha vez, ele me ajudou a tirar suas calças. Era meio difícil ver no escuro... E eu o deixei me tocar, eu nunca sentira tanto prazer em minha vida, era romântico, era bom. E ele estava em mim. Era como o paraíso.
Qualquer outro dia eu iria reclamar do silêncio... Mas agora, naquela noite, o silêncio fazia bem, ele se encaixava, assim como meu corpo se encaixava no dele. Nos demos as mãos, ele fez uma linha de beijos do meu peito até chegar aos meus lábios e eu tive certeza de que a partir daquela noite nos tornaríamos um só.
Capítulo 13
Eu sonhava com uma floresta de gelo, eu estava andando devagar por ela, porque mesmo o gelo sendo claro como água, ele não refletia a luz do sol. Estava completamente escuro e eu andava para alcançar a luz, e quanto mais eu andava mais eu me afundava na neve. O que eu deveria fazer? Afundar mais ainda? Será que valia a pena me afundar para achar a luz?
Continuei andando com as mãos para frente, tentando alcançar a luz a minha frente, meu vestido branco já estava totalmente coberto pela neve, mas eu não podia desistir, eu já estava tão perto... Mas por que eu queria encontrar aquela luz? Eu continuei andando, mas eu pensei... E então descobri a resposta, eu queria encontrar a luz para ser livre. Livre de que?
Assim eu fui andando e, com a cabeça quase sendo coberta pela neve, eu consegui achar a luz, e assim que a achei, a perdi, ficou tudo completamente escuro. E então eu acordei.
Capítulo 14
Eu andava calmamente na rua, em uma ensolarada tarde de sábado para comprar -por mais que isso seja muito ridículo - pão na padaria que havia perto de minha casa, quando eu esbarrei com uma pessoa.
Ela se virou para mim, pude sentir um ar gélido vindo dela. Arregalei os olhos quando pude perceber quem era. Meu coração acelerou.
- ? – falei. Ele já estava parado a quase um metro de distância de mim.
Por um segundo eu achei que ele fosse falar comigo, mas seu rosto inexplicavelmente frio pode me dar a resposta contrária. Ele apenas revirou os olhos e seguiu seu caminho para bem longe de mim. E eu fiquei ali parada no meio da calçada enquanto mais de quinze pessoas passavam por mim.
"Tudo bem". Pensei. "Ele deve estar apenas com uma raiva passageira e depois vai voltar a falar comigo. Ele precisa de mim".
E continuei andando para achar a padaria. Minha surpresa foi quando entrei no lugar e Bianca estava com , dividindo um suco em um único copo. Os dois estavam praticamente se beijando.
Eu gostaria de gritar, realmente... Mas eu tinha que me concentrar em comprar o pão que me pediram. Eu fui até onde havia uma mulher que colocava pães numa sacola para uma menina que parecia ter uns doze anos de idade.
- Pronto, querida. – a mulher sorriu e entregou a sacola. A menina passou por mim.
- Eu gostaria de seis pães. – pedi.
A mulher sorriu para mim e foi colocando os pães na sacola enquanto eu tentava pensar em dividindo aquele suco com Bianca. Foi quando eu comecei a rir como uma retardada. Do que eu estava rindo mesmo?
- Está tudo bem, senhorita? – perguntou a mulher.
Foi quando eu percebi a minha idiotice e também que todos dentro da padaria, incluindo e Bianca, estavam olhando para mim. Eu mordi os lábios e segurei o riso.
- Está tudo bem sim.
Ela me entregou a sacola e eu fui até o caixa, que infelizmente era perto de onde e a vadia estavam sentados. Naquele momento eu sentia pena de mim mesma, já que podia ouvir a conversa que vinha daquela mesa.
- Que retardada. – riu Bianca. – Você viu?
Tive vontade de espancá-la e depois enfiar aquele rostinho em uma privada.
não falou nada, apenas fingiu que não tinha escutado.
- Está me ouvindo? – perguntou ela impaciente.
Eu paguei os pães e fiquei parada onde eu estava, na tentativa de ouvir o resto e depois ir embora como se nada houvesse acontecido.
- Desculpe. Eu não estou me sentindo bem hoje. – escutei dizer e então ele se levantou e foi para fora.
Eu saí lentamente pelo lado contrário em que ele saiu e fui pega de surpresa por Bianca. Tentei sair andando como se não tivesse a visto, mas fui impedida por ela, que puxou meu braço com força.
- Você tem o dom de estragar as coisas, não é? Acha que eu não reparo no jeito que você olha para ele? – logo percebi de quem ela estava falando.
Eu suspirei pensando em uma boa resposta.
- Se sente ameaçada, é? – comecei a rir.
- Não, só tenho muita pena de você. Nem se você virar a menina mais popular da escola você vai conseguir alguma coisa com ele.
Eu realmente tive vontade de rir com todas as minhas forças. Mas ao invés de fazer isso, eu a empurrei para o lado e continuei o caminho para casa. Porém mesmo tudo com tudo que havia acontecido entre e eu, eu ainda podia me sentir insegura, possivelmente eu nunca teria um relacionamento de verdade com ele, o que me fazia duvidar dos reais sentimentos dele por mim. Será que eram reais? Ou eu mesmo os inventava? Ou eu mesmo fingia que era real? Quando eu o via com Bianca, mesmo eu fingindo que não sentia nada, eu sentia. Eu sentia uma dor que eu tentava negar, era como se eu estivesse sendo traída – algo que eu não deveria sentir, já que a única que estava sendo traída desde o inicio era Bianca. Ele dizia que me amava, ele demonstrava seu amor, mas será que era suficiente para eu acreditar que ele era meu? Eu não havia somente dado o meu coração para ele, eu havia dado a minha alma e o meu corpo. Então por que eu não sentia que ele me amava?
Eu havia perdido meu melhor amigo e mal conseguia falar com minhas outras duas amigas, ambos deixaram de me chamar para sair por causa disso e de . Sem amigos, a única pessoa que eu poderia contar era . Se ele me negasse, como eu poderia viver? Eu precisava dele mais do que ele precisava de mim e isso era óbvio, ele era a minha sustentação tanto amorosa quanto emocional. Mas assim como sustentação ele também era a minha prisão, a corrente que me prendia e me tirava a liberdade, apenas me deixando provar dele mesmo. Mesmo me consumindo de todas as formas possíveis, eu ainda o queria. Mas até quando ele iria me querer?
Ao chegar em casa eu coloquei a sacola com os pães em cima da mesa e rapidamente subi para o meu quarto, me jogando em minha cama. Foi quando alguém bateu na minha porta. Tive uma surpresa quando vi Amanda abrindo a porta.
- Tem um minuto? – ela perguntou fechando a porta. Depois se sentou ao meu lado.
- Claro. – disse eu com a mão na testa, como se estivesse com dor de cabeça.
Ela respirou fundo.
- É... prometa que não vai contar para ninguém. – disse ela hesitando.
Revirei os olhos.
- Eu prometo.
- Eu... eu gosto de um menino. Tipo, muito, muito mesmo, de verdade, ele me conhece e me entende. E ele me chamou para sair hoje...
Não precisei nem esperar pelo resto, havia entendido exatamente o que ela queria que eu fizesse.
- E então você quer que eu te ajude a escolher uma roupa...
- Sim. – ela respondeu sorrindo, mas timidamente. Nunca a tinha visto daquele jeito, nunca havia visto a verdadeira Amanda.
Eu suspirei.
- Amanda, você apenas precisa ser você mesma. Escolher uma roupa que você goste e se sinta bem nela independente de qual ela é.
Ela sorriu.
- Obrigada, . – disse ela, levantando-se. E saiu do quarto lentamente.
Eu estava feliz por ela e gostaria de desejar que tudo desse certo. Dias atrás, Amanda fora corrompida e eu realmente ficava feliz por ela ter mudado. E esperava que dessa vez ela tivesse um relacionamento com compromisso e não como os que ela costumava ter, mas eu sentia que ela iria se dar bem. Agora só faltava eu decidir o que fazer de fato na minha “relação”.
Capítulo 15
Era meia noite quando recebi uma ligação de .
- Oi. – disse ele, animado, enquanto eu estava sonolenta.
- Oi.
- Desculpa te ligar assim tão tarde, eu não pude antes...
Eu senti uma lágrima descer do meu olho esquerdo.
- Eu entendo. – Não.
- Eu te amo. – falou ele, pude perceber que parecia feliz.
Eu não respondi. E é claro que ele estranhou.
- O que aconteceu? – perguntou.
- Nada. Boa noite. – disse eu e assim desliguei o celular.
Fechei os olhos e limpei as lágrimas que por ele escorriam. Tentei pensar em outras coisas, mas a única coisa em que conseguia pensar era que eu não estava nada bem. Eu me sentia doente, eu me sentia suja de um jeito que eu nunca poderia imaginar que um dia me sentiria. Eu não estava bem, não estava nada bem.
Capítulo 16
“I wanna be your illusion
(eu quero ser sua ilusão) To make you happy tonight
(para te fazer feliz esta noite)”
Illusion- Benny B.
Minha cabeça estava girando... Girando... O que eu fazia com um cigarro na mão?
Havia um espelho em minha frente, a luz estava piscando... Ou talvez fossem meus olhos? Onde eu estava? Por que meu cabelo estava negro?
De repente me senti caindo naquele chão duro e pude perceber que estava em um banheiro bem pequeno. O que eu fazia lá? Eu estava sentindo minha pulsação, era uma completa sensação esquisita. Porém, independente do que estava acontecendo, a sensação era boa. E lá fiquei eu sentada naquele chão frio olhando para o teto que piscava sobre tons de neon. As cores neon começaram a formar círculos a minha frente, e... Ficou tudo totalmente negro.
Acordei na minha cama com uma caixa aberta escrita “Feliz Aniversário, sempre que ficar triste pegue uma” e um pacote de pastilhas coloridas com uma faltando, provavelmente eu teria as usado. O que eram? Eu virei o pacote e pude ler em letras coloridas “LSD”. O mais estranho é que não havia remetente.
Levantei-me da cama depois de colocar o “presente” no meu bolso. Com uma terrível dor de cabeça como se eu tivesse passado por um lugar onde houvesse um barulho enorme. Ainda meio zonza desci as escadas em uma busca desesperadora por algo para comer.
Depois do “lanche” - cereal com leite - me arrumei para o colégio e liguei para , talvez poderíamos ir juntas, restaurar os laços... Ela atendeu no primeiro toque e enfim combinamos que ela iria me pegar na porta de minha casa, fui para a porta e pude sentir a brisa úmida que indicava o início do inverno, fazia dez meses que eu havia me envolvido com um cara que tinha compromisso e perdido um amigo, e faltavam dois meses para o ano acabar. E eu me peguei parada pensando: Como aquele ano acabaria?
- ! – gritou ao me ver, depois pulou para me dar um abraço. –Feliz aniversário!
Eu retribui meio bamba.
- Obrigada.
Ela sorriu.
- Temos que fazer alguma coisa!
- Não acho uma boa ideia...
Ela revirou os olhos.
- Mas é seu aniversário, por que é sempre assim? Gosta de festas, vive em festas, mas é reservada logo do dia do aniversário.
- Sabe, é mais fácil me divertir quando eu sei que não sou eu que vai ser zoada...
Ela suspirou.
- De qualquer forma, que tal irmos ao Subway? Faz meses que não vamos lá! Podemos chamar a e o ...
... Até parece que ele iria querer comemorar o meu aniversário, aposto que ele estava é de luto por eu ter nascido.
- Não estamos muito bem, lembra?
Ela deu um tapinha na testa.
- Me desculpe, desculpe mesmo, ... Eu me esqueci, vocês eram tão amigos, tem que arranjar um jeito de voltar a ser como era antes.
- Não acho que ele vá querer.
Ela olhou para os lados e sacou rapidamente o celular, discou um número, eu me perguntei o que ela estava prestes a fazer, mas estava com preguiça de perguntar.
- Alô? , aqui é a . – ela sorriu, olhando para mim.
- Quê?! – gritei. No fundo eu tinha certeza que ela faria aquilo. Só que eu já me esperava decepcionar ao ouvir antes mesmo de saber a resposta dele.
- Hoje é aniversário da , se lembra? – uma pausa. – Eu sei, mas vai ser no Subway depois da escola, tenta ir, ok? – outra. - Realmente não dá – eu já sabia. –Bem... Pelo menos tenta, ok? Beijos, tchau.
Ela balançou a cabeça. Antes que eu pudesse falar alguma coisa como “eu já sabia” ela falou:
- Mas ele vai tentar ir, ok? Viva!
- Viva. – sussurrei.
Capítulo 17
Geometria, a última aula do dia. Tive que aguentar ela com os olhares aterrorizantes de Bianca em cima de mim enquanto ela se sentava ao lado do garoto que eu supostamente era apaixonada e que tinha um ‘caso’. Ah, e claro, bem no meu “super” aniversário.
Fim da aula. Pude ver todos os alunos correndo para fora da sala antes do professor falar alguma coisa. Parece até que é o fim do mundo.
Antes de sair, pude ver me lançando um olhar e um sorriso, nos seus lábios as palavras “Feliz Aniversário”. Não, eu não respondi, apenas me virei e saí com e . Eu ainda não estava muito bem com depois do dia dos pães...
- Subway, Subway, Subway, vamos para o Subway. – cantarolou no caminho para o carro. balançava a cabeça e mexia rapidamente no seu iPhone. Assim que entrei no carro pude sentir meu celular tremer. O abri para ver a mensagem que havia recebido.
“Te espero às nove atrás da sua casa. – .”
Esse realmente será um grande aniversário. Puts, realmente é um lugar maravilhoso, deve ser o final do arco íris atrás de minha casa - hoje, como pode ver, estou com um ótimo senso de humor.
Eu rezava sinceramente para que tudo desse errado naquele dia. Eu rezava para que o carro quebrasse ou para que eu desmaiasse assim que chegasse ao restaurante, eu não queria ter que comemorar meu aniversário naquele ano. Porém, acho que eu não conseguiria me livrar facilmente de minhas duas amigas ou até mesmo de . Então fui lá, segui em frente e me sentei naquela mesa limpinha do Subway. Fizemos os pedidos e ficamos encarando uma as outras como se não houvesse nada a ser dito. Eu não tinha mesmo nada a dizer, estava me sentindo mal comigo mesma, eu sinceramente poderia dizer que possuía um buraco dentro de mim, ele me fazia chorar de raiva e pavor de ser quem eu era.
- Ok, eu tenho uma história engraçada! - falou . Eu e olhamos para ela fingindo interesse. Eu realmente queria prestar atenção, mas minha cabeça estava dando voltas no momento. - Eu nasci loira, sabia?
começou a rir como uma retardada, já que tinha cabelos negros e nunca poderia ser loira. Talvez podia, mas ficaria horrível. Bem, pelo menos elas tentaram me animar e eu não estava dando o mínimo valor para isso. O quão egoísta eu iria poder ser? Minhas amigas faziam tudo para mim e eu estava aqui tentando ser uma drogada e fingia escutar o que elas diziam. Hipócrita, eu era. No que havia me tornado? Uma pessoa pior do que as que eu julgava ser ridículas. Mas eu não me importava, não naquela época, não enquanto eu estivesse lidando com .
Eram nove e quinze quando eu cheguei em casa. Eu mal entrei, fui direto para trás. Oh, como eu pude ser tão burra? Como eu pude ter ido? Como eu pude me envolver com um tipo como ele? E eu me sentia tão mal, mas não podia deixar de ir lá e me encontrar com ele e fingir que estava tudo bem. E aceitar que ele supostamente me amava. Ele me dizia aquilo, e eu vou acreditar completamente naquelas palavras.
Eu o fitei primeiro, estava sentado debaixo de uma árvore com um sorriso no rosto e algo que parecia ser um presente nas mãos. Tão lindo... Seus olhos azuis brilhavam a luz da lua, e eu me encantava. Ele me atraía, não só meu corpo ou meu coração, mas minha alma era atraída, como se estivesse tentando sair de mim. Ele roubava minha alma, como um doce demônio. Mas ele tinha o porte de um anjo.
Meu coração palpitava a cada passo que eu dava para mais perto dele. E mesmo assim eu continuava andando, ignorando as sombras que me assustavam atrás de mim. Minha luz estava a minha frente, eu não precisava temer aquelas sombras.
O quão doce pode ser o amor? Talvez mais que o mel, talvez mais prazeroso que o chocolate. O quão amargo pode ser uma paixão? Tão depressa se acumula, e você a confunde com amor. Mas eu o amo.
Eu me sentei ao seu lado, pus as mãos na testa como se tivesse sentindo dor de cabeça. Ele se virou preocupado.
- O que queria comigo? – perguntei, meus cabelos atrapalhavam a visão clara de meu rosto.
Ele pegou minha mão delicadamente e separou um de meus dedos, enfiando cuidadosamente um anel prateado. Eu me virei para ele rapidamente.
- O que é isso?
Ele riu.
- Um anel de compromisso. Quero mostrar que você é minha. – ele sussurrou em meu ouvido.
Eu era dele? Eu era propriedade dele? Desde quando? E foi aí que eu me toquei, eu tinha me envolvido tanto naquela brincadeira que ele tinha levado tudo de mim. Inclusive minha consciência, e até mesmo minha inteligência.
Eu me levantei. Não sabia o que dizer. O que poderia dizer? Em seguida ele se levantou, segurou meu braço e me puxou para perto. Ele segurou meu queixo e acariciou lentamente minhas bochechas. Eu não pude deixar de sorrir, é claro. Seus doces lábios encostaram-se aos meus, eu senti o sabor, mas aquele era diferente, pois era amargo. Era um doce amargo, que me fazia querer provar mais, uma aventura. Era o que sempre procurava, tinha o meu gosto. E assim que fui retribuir, senti alguém atrás de mim. me afastou e eu me virei.
- Feliz aniversário, – meu melhor amigo sussurrou, demonstrando tristeza no olhar. Deixou o buquê de flores que estava em suas mãos cair lentamente no chão. Meu coração estava partido, eu queria não estar lá.
Capítulo 18
- O... que está fazendo aqui? – foi a única coisa que pude dizer. Algo estranho invadia meu estômago, me fazendo tremer. Eu queria me jogar no chão e desabar como se fosse o meu último dia de vida. Por que isso estava acontecendo comigo?
Eu tinha feito uma terrível escolha de palavras, porém só pude perceber segundos mais tarde quando me respondeu friamente, quase tão frio quanto da última vez que ele me falara o quão suja eu era.
- Sabe que eu realmente não sei por que estou aqui... – ele revirou os olhos. Cada palavra que ele colocava para fora tinha uma completa pontada de nojo. – Ah, devo ter vindo para, sei lá, quem sabe presentear a árvore? – apontou para uma árvore enorme que se posicionava atrás de mim e riu. Depois ele se virou para .
Uma brisa fria me tomou em seus braços e me fez tremer novamente, dessa vez o medo estava repleto do frio gélido que roubava o calor de meu corpo.
- Eu deveria contar para Bianca. – falou encarando com um olhar desafiador. apenas cerrou os dentes, mas não disse absolutamente nada.
- Você não faria isso... – sussurrei, minha voz estava praticamente falhando, eu queria pedir desculpas. Na verdade eu queria morrer e esquecer tudo aquilo.
Ele se voltou para mim novamente e jogou a cabeça para trás como se o que eu tivesse acabado de dizer fosse uma completa piada, ele riu descaradamente, uma risada psicótica e medonha. Aquele não era o que eu costumava conhecer, ele era um estranho, alguém que queria me fazer mal, eu conseguia ver essa aura negra transbordar de seu corpo somente pelos olhos, aqueles belos olhos que agora pareciam estar completamente negros. Eu o tinha transformado.
- Ah, é? Tudo bem. – ele sorriu. – Não irei contar se você – ele se referia a – contar primeiro.
ia responder, mas eu o calei com a minha resposta.
- O que você tem a ver com isso? Se importa tanto com ela assim que seria capaz de ferrar com a sua amiga? – eu disse, a raiva corrente tomava conta de mim junto com a tristeza, transformando a minha voz em algo completamente amargo e gélido como a brisa que tocava a minha pele a cada palavra que soltava.
- Você não é mais minha amiga. – aquelas palavras me perfuraram profundamente, me fizeram sangrar internamente e quase me derrubaram, eu poderia jurar que se eu não estivesse tanto na defensiva eu cairia naquela terra ali mesmo e choraria, eu faria uma bacia enorme com lágrimas, faria daquele terreno um lago imenso. – Eu cansei, , cansei de fingir que eu gosto de Larissa quando na verdade... – e então ele parou de falar, suspirou e balançou a cabeça, desistindo completamente do que ia falar, como se aquilo não tivesse importância.
Virou-se de costas para mim e foi sumindo lentamente pela estrada sem falar ao menos um adeus ou algo assim.
Finalmente eu me joguei no chão úmido, sem me importar com quem estava ao meu redor, deixei as lágrimas saírem. O que eu havia feito? Deixei meu melhor amigo sair da minha vida, praticamente o expulsei dela, o arranquei sem ao menos deixar pelo menos o seu cheiro. Tudo havia sido tomado de mim, percebi que só tinha , talvez nem ele eu tivesse de verdade, porém eu queria me cegar, eu queria me viciar e tê-lo mesmo sem ter, eu queria me agarrar a ele e esquecer tudo, ele era a minha garrafa de vodka, meu remédio para a amnésia.
Senti o calor de seus braços me consumir, me roubar; e o calor de seu corpo junto ao meu tirar o frio que havia sido deixado, a única coisa que restava de . Desnorteada eu pousei a cabeça sobre seu peito escondendo-me do mundo, cobrindo meu rosto com os cabelos para que eu não visse ninguém.
- Nunca... me deixe. – sussurrei aos soluços, um pedido inocente, mas com tudo o que eu precisava, eu não queria que mais ninguém me abandonasse, não queria que ele me abandonasse. E mais uma vez eu estava dependendo do seu amor mais do que eu uma vez tinha dependido do álcool.
Quando foi embora e eu fui finalmente dormir, encontrei a cama ao lado – que pertencia à Amanda - vazia. Perguntei-me o que tinha acontecido com ela, mas logo ignorei a pergunta. Atirei-me na cama e fechei os olhos grudentos por causa das lágrimas que secavam lentamente.
"Cansei de fingir que eu gosto da Larissa quando na verdade..." As últimas palavras da pessoa que costumava ser meu melhor amigo rondavam minha cabeça como uma roda gigante. O que ele queria dizer com isso? Qual seria o tal final daquela frase?
Bem, eu jamais saberia, ele nunca mais iria querer me ver na vida dele, seja o que eu tivesse sido para ele, eu havia destruído completamente o que tínhamos. E eu não sabia mais o que fazer, não sabia como lidar com aquela situação, a única coisa que eu queria ter era e tinha que fazê-lo ficar junto a mim, curar completamente todas as feridas que a saída de tinha feito em mim.
Porém, para eu ter por completo, ele precisava tirar Bianca de sua vida, mas isso era algo que ele não estava disposto a fazer. Por que ele não poderia fazer isso? Se ele me amava ele teria que escolher a mim e não a ela.
Capítulo 19
A cada vez que você abre os olhos, o que vê? Talvez uma parede ao seu lado, não? E quando você olha para cima ao acordar? O que você vê? Um teto. Tive a melhor conclusão da minha vida durante as semanas em que não atendia meu telefone: Não importa para onde você olhe, sempre estará preso, até mesmo se olhar pro céu; o que é o infinito acaba se tornando o finito, estamos presos de alguma forma em qualquer lugar, estamos presos no planeta e no sistema solar, também estamos presos em uma órbita qualquer, estamos presos na galáxia, no espaço, estamos presos na vida enquanto vivermos, e quando morrermos estaremos presos na morte, no vazio, no nada, e se formos pro inferno ou pro céu? Lá também ficaremos presos, no inferno estaremos presos às chamas e ao pecado assim como na Terra, e no céu estaremos presos pela paz e pelo perdão, nunca poderemos saber o que é o infinito e mesmo o infinito terá um fim.
Eu me sentia assim, todos os dias depois do acontecimento de algumas semanas atrás, eu me sentia assim a cada vez que eu saía de casa e quando chegava, a cada vez que meus olhos cansados se fechavam e se abriam, a todo o dia e noite, toda semana e final de semana. Presa, nunca pensei que um dia eu estaria presa ou me sentindo presa. Nunca imaginei que perderia meu melhor amigo por causa de um relacionamento, e aqui eu me encontrava, limpando rapidamente lágrimas nos meus olhos a cada vez que meu amigo me encarava com um olhar maldoso nas aulas e no resto do dia na escola. E eu estava sozinha, não podia falar comigo perto de Bianca, e e simplesmente pararam de falar comigo.
“Deve ter alguma saída”, pensei. Mas qual seria ela?
Deitei- me em minha cama ao chegar em casa, eu não quis pensar em nada, fui interrompida pela minha mãe que abriu a porta e sentou- se em minha cama.
Ela me mostrou um papel, o que parecia ser meu boletim.
- Já enviaram? Eu nem sabia. – falei desinteressada, segurando minhas lágrimas e rezando para que elas ficassem nos meus olhos pelo menos até minha mãe sair do quarto e determinar o meu estado em “quarentena”.
- Claro que você não sabia! O que está pensando? Não fez nenhuma prova! Nada! Zero em Ciências – ela apontou –, em biologia – novamente. – História, Sociologia, Filosofia, Matemática, Ensino Religioso, Artes, Geografia, Educação física. Não fez nada! Nada!
Eu me surpreendi um pouco, nunca tinha visto minha mãe tão preocupada com o que eu fazia ou com o que eu deixava de fazer, geralmente o centro das atenções era Amanda, que sempre fazia alguma burrada e minha pai e meu padrasto tinham de cuidar dela esquecendo completamente de mim, mas antes não era necessário já que eu costumava ser boa nas coisas, pelo menos nas notas escolares.
- Me desculpe. – sussurrei a única coisa que eu poderia falar.
- Desculpas? Eu não posso aceitar desculpas. O que está acontecendo, ? – quando ela percebeu que eu não ia responder, continuou o sermão. – Sabe, todos aqui mudamos, Amanda mudou, seu padrasto mudou, eu mudei. Mas foi para melhor, você sabe, ele não está mais agressivo, e Amanda, Deus não sabe como, começou a ser uma menina melhor, e você? Por que está assim? Deveria conversar comigo sobre isso...
Uma dor terrível afetou meu peito, era como se mil facas tivessem sido encravadas rapidamente e com bastante força, doía tanto que eu queria gritar, implorar por libertação, era difícil dizer alguma palavra e eu queria confortar minha mãe, eu queria dizer para ela que era só uma fase e que eu ia melhorar, mas não era só isso. Eu tinha perdido tudo em apenas alguns meses.
- Eu... n-não consigo. – gaguejei como se tivesse algo queimando em minha garganta.
Pensei que minha mãe fosse dizer mais alguma coisa, ao invés disso, ela apenas suspirou, colocou as mãos no cabelo de forma pensativa e foi embora, seu olhar decepcionado me fez ter vergonha de todas as coisas ruins que eu tinha feito, porém eu não era corajosa o suficiente para tentar mudá-las.
O que eu podia fazer?
Abri a gaveta ao meu lado à procura de uma caixinha curiosa, aquele que continha um presente que eu havia ganhado de aniversário. Quem o tinha me dado? Eu acreditaria que fosse Amanda, porém ela havia mudado e duvidava muito que ela me daria drogas de aniversário, não poderia ser e nem , muito menos , não é? Ele não faria isso. Bianca? Não, não poderia ser ela, ela nem sabia o dia do meu aniversário.
Peguei os comprimidos da caixinha, os segurei tentando descobrir alguma resposta, uma resposta para a pergunta, uma solução para os meus problemas. Peguei um dos comprimidos sem pensar e o joguei na boca, fechei os olhos e esperei que as soluções viessem até mim.
Minha pele estava formigando, uma brisa fria me abraçava, era tão imensamente fria que chegava a me queimar como um cubo de gelo quando você segura por muito tempo. Tentei me levantar, mas meu corpo estava tão pesado que eu só conseguia arrastar meu braço até o fim da cama.
Mesmo sendo de dia eu não conseguia perceber a cor do sol; ele era amarelo, não era? Então por que estava vermelho? Vermelho como os olhos de uma cobra, uma serpente venenosa que surgiu a minha frente, do tamanho de um enorme urso polar. Tentei fugir de seu ataque, porém meu corpo ainda não me obedecia, tudo que eu pude fazer foi gritar.
E foi assim que ela me sufocou e agarrou meus pulsos, fazendo-me balançar para frente e para trás como se estivesse me mimando.
Mimando?
- ! O que aconteceu?
Abri meus olhos e vi Amanda, suas mãos me apertavam com tanta força em um abraço que eu mal conseguia respirar.
- O quê? Por que me acordou?
Ela olhou para mim indignada como se eu não tivesse a mínima noção do que eu havia falado.
- Você tá apagada há seis horas!
Eu revirei os olhos, será que ela não percebeu que eu estava dormindo?
- Com certeza não foi porque eu bebi muito. – logo me arrependi de ter falado aquilo, que direito eu tinha te pegar tão pesado com ela? Pelo menos ela tinha conseguido mudar, eu não podia ter falado aquilo.
Mas eu já tinha falado, e ela se afastou de mim com um semblante triste, sentou- se em sua cama e deitou- se fitando o teto, quem sabe imaginando estrelas?
- Me desculpe, por favor, não sei o que deu em mim, esses dias eu não estou muito bem... Sinto muito. – desculpei-me, eu realmente não queria que ela ficasse chateada comigo, já bastava eu não ter mais amigos, então eu precisava pelo menos dela.
- Sabe, eu sei que não gosta muito de compartilhar seus problemas, mas pode me contar, quero te ajudar como você me ajudou. – ela disse e percebi que ela tinha me perdoado. Eu sorri para ela, estava feliz por ela. Pelo menos eu havia conseguido mudar uma pessoa para melhor, mesmo tendo me piorado.
E foi assim que eu desabei, contei a ela tudo o que havia acontecido comigo, como eu tinha conhecido , como eu tinha passado de colega de classe a amante em menos de algumas semanas, como eu estava me sentindo e minha surpresa maior foi quando ela compreendeu.
Jogou seus braços macios envolta de mim e me puxou para perto dela como uma mãe faz com seu filho, ela me abraçou. Minhas lágrimas desciam pelo meu rosto, meus olhos ardiam e eu queria gritar, a dor insuportável no meu peito. Deitei a cabeça no ombro direito de Amanda e fiquei lá deixando que ela me consolasse.
- Não conte a ninguém ok? É um segredo. – sussurrei entre lágrimas. Amanda assentiu rapidamente e acariciou meu rosto.
- Não vou contar. Mas você tem que fazer alguma coisa.
Pela primeira vez, eu percebi que ela tinha razão. Eu tinha que fazer alguma coisa.
- Depende de você. – ela disse como se houvesse lido meus pensamentos anteriores. Beijou- me na testa e se levantou. – Boa sorte, .
Escutei o barulho da porta batendo suavemente, era o sinal de que eu estava sozinha novamente.
Capítulo 20
Eu estava determinada quando eu saí de casa à noite, batendo o salto das minhas botas de couro no chão úmido da rua recém-regada pelas águas divinas do céu. ia finalmente acabar com tudo. Era o fim, era Bianca ou eu. Ele não podia mais ficar com as duas. Eu queria uma resposta, um veredito, um ultimato, algo que me levasse à liberdade, estava cansada de ficar me iludindo.
Minhas mãos fechadas em punhos, cheia de coragem, eu iria entrar na casa dele sem avisar, afinal era o meu direito e ele me devia isso, tinha uma divida comigo por todas as mentiras que supostamente ele me contou toda a vez que dizia que me amava.
Parei por um segundo, recuperando o fôlego.
Ele não me amava? Mas ele havia me dado um anel de compromisso... “Não, ”, pensei balançando a cabeça negativamente. Sem ilusões.
Continuei a andar, deletando de minha cabeça todas as ilusões que se formavam. Eu queria apenas a coragem, eu precisava disso. Eu precisava dar um jeito na minha vida.
E lá estava eu, na frente da cerca que me separava da casa de , mal conseguia ver o verde da grama por causa da escuridão que me cercava e a neblina da noite. Puxei o ar para meus pulmões, pulei a cerca. A porta estava a minha frente.
Procurei a campainha e a apertei. Ela ficou cantando sua melodia irritante durante trinta segundos, quando a porta se abriu.
Dei um passo para trás tentando manter o equilíbrio.
- ? – quando ele pronunciou meu nome pareceu extremamente surpreso, era o esperado afinal. – O que faz aqui?
O fitei, percebi que ele estava sem camisa, seu tanquinho perfeitamente delineado estava a mostra, precisava focar em alguma outra coisa, algo que não me fizesse perder o chão.
- Precisamos conversar. – falei friamente, mesmo com a tremedeira de minhas mãos ainda fechadas em punhos.
Ele olhou nos meus olhos com curiosidade, a curiosidade de uma criança pequena ao receber seu presente de natal.
Fez um gesto para que eu entrasse na casa, a porta se fechou assim que eu entrei.
- Por que não atendeu minhas ligações? – ele perguntou, um tom de preocupação, olhei nos olhos dele procurando algum sinal de mentira, porém não achei nenhum.
- Por que não me procurou? – revidei. E era verdade, desde aquele incidente no meu aniversario, ele não tinha me procurado.
Seus lábios formaram um sorriso, o cabelo brilhava com a luz artificial da lâmpada.
- Achei que não quisesse falar comigo.
foi dando passos lentamente para perto de mim fazendo com que eu acabasse encurralada na porta por onde entrei. Ele me olhava como quem estava faminto. Pousou seus braços em cada lado de meus ombros, virei minha cabeça de lado bruscamente quando ele tentou me beijar.
Ele logo percebeu, afastou sua cabeça da minha lentamente e fitou- me.
- Por quê?
A indignação me tomou por dentro. Como ele não podia saber?
- Por quê? – indaguei. – Você me ama? – antes que ele respondesse acrescentei: - Não minta.
Ele pareceu completamente perplexo e decepcionado, seu semblante de repente pareceu- me triste.
- Como você pode duvidar disso?
Eu queria chorar ao vê- lo daquele jeito, mas eu não podia, eu tinha que ser forte.
- Pois você nunca é meu de verdade. Por que não acaba com a Bianca? Se me ama, por que não desiste dela?
Ele suspirou pensativo, deveria estar procurando por alguma resposta.
- É... complicado.
Eu ri com sarcasmo.
- É sempre complicado. – o empurrei para longe e me virei para abrir a porta, quando ele segurou meu pulso e puxou- me, fazendo- me ficar de costas para ele enquanto ele segurava minha cintura e beijava- me no pescoço.
Eu fechei os olhos e joguei minha cabeça para trás, eu sentia falta de seus lábios me tocando.
Ele percebeu o quanto eu precisava daquilo e virou- me sem cuidado algum para sua frente e eu senti o gosto de seus lábios nos meus depois de tanto tempo, era como se eu estivesse seca durante mil anos e agora ele tinha me despertado.
epende de você. A voz de Amanda ecoava em minha cabeça várias vezes enquanto me beijava e acariciava meu rosto. Aquilo me fez acordar, lancei-o para longe e corri para a porta.
- O que está fazendo? – perguntou ele completamente desnorteado, como se eu tivesse arrancado uma parte dele.
Ouvi seus passos atrás de mim, chegando cada vez mais perto.
- Eu te amo! – ele gritou enquanto eu saía pela porta. – Eu te amo, .
Meu coração se acelerou ao ouvir aquelas palavras, eu quis voltar e me jogar em seus braços e de lá nunca mais sair.
- Prove isso.
E nas semanas seguintes ele realmente provou, nunca fui tão feliz naquele relacionamento quanto eu estava sendo. Realmente pensei que aquilo duraria, e eu não precisava mais de ninguém, nem de meus pais, nem de meus amigos, apenas ele e estaria tudo bem. Conversávamos o dia inteiro por telefone, nas aulas também mesmo com os olhares invejosos de Bianca, ele dizia para ela que éramos amigos, mas finalmente decidiu dar um tempo com Bianca, ele se dedicou completamente a mim.
- Gosto de ver você sorrir. – sussurrou ele em meus ouvidos de um modo tentador, enquanto estávamos assistindo a um filme de comédia romântica no cinema.
Eu sorri para ele e encostei minha cabeça em seu ombro, sentindo sua pele quente durante aquele tempo.
Quanto mais tempo ele passava comigo, mais eu me sentia segura em relação ao nosso relacionamento e ao que eu significava para ele, pude finalmente perceber que ele me amava e poderíamos ter tido uma vida juntos. Poderíamos.
Capítulo 21
Finalmente o mês de dezembro, nunca estive tão feliz em minha vida. Estava tudo perfeito até aquele dia.
Eu recebi uma carta em anônimo, logo percebi que provavelmente era da mesma pessoa que tinha me mandado meu presente de aniversário.
“Às nove horas da noite ligue para ele três vezes. Terá sua resposta”.
Resposta? Que resposta?
Estava tudo tão bem que eu não poderia pensar em coisas ruins novamente, descartei rapidamente o bilhete, mas é claro que quando deram nove horas eu fiquei aflita. Olhei para o celular na bancada do meu quarto e depois olhei para a cama de Amanda, onde ela estava lendo algo que parecia ser uma revista de moda. Eu sorri para ela, porém ela não reparou então voltei a fitar o telefone. Ligar ou não ligar, eis a questão.
Decidi ligar, que mal faria, afinal?
A primeira chamada, escutei os “pis” do telefone soarem, esperei lentamente e nada aconteceu. Ninguém atendeu. Minha senti meu corpo todo em choque, o que estaria fazendo?
Tentei novamente, nada. E eu rezei para que o bilhete não estivesse certo e que aquilo fosse mentira.
Esperei cinco minutos torturantes antes de fazer a terceira ligação, eu queria que ele tivesse me retornado ou me mandado uma mensagem.
Liguei novamente e me joguei na cama quando caiu na caixa postal.
“Ligue para ele três vezes. Terá sua resposta”. Eu havia feito o que o bilhete tinha me dito pra fazer, mas não obtive resposta alguma. O que aquilo significaria?
Uma preocupação tomou conta de mim, eu tinha que saber o que estava acontecendo. E aquela dor que tinha me sufocado há duas semanas, estava lá comigo novamente, arrancando- me o sono e fazendo- me duvidar de meu amor.
Coloquei o sapato e amarrei o cabelo, preparando-me para sair de casa e ter a maior surpresa da minha vida.
No caminho para a casa de eu fui ligando, todas as ligações caíram na caixa postal.
- Por favor, por favor, atenda. – implorei olhando para o céu. Quem sabe Deus me escutasse. – Droga! – exclamei quando não atendeu.
Meus passos se aceleraram e meu coração batia tão forte que parecia que a qualquer momento poderia rasgar- me por dentro e pular fora de mim. Coloquei as mãos no meu peito na tentativa de me acalmar.
Assim que cheguei a alguns quarteirões antes da casa de , eu pude ouvir sua voz por entre as árvores à minha frente. Escondi-me nos arbustos e observei a postura elegante dele enquanto falava com outra pessoa.
- Já teve tempo o suficiente para acabar tudo com ela. – ao ouvir aquela voz, aquela voz aguda que tanto me enojava, eu quis chorar de raiva. Do que Bianca estava falando?
Olhei para , com bastante atenção enquanto seus lábios formavam as palavras seguintes:
- Me dê até amanhã. – ele riu com desprezo. – Ela é um pouco difícil... você sabe.
- Eu aguentei tudo isso, . Eu sempre soube que você estava me metendo chifre, mas ainda quis acreditar em você, então não me decepcione. Termine logo com isso antes que as pessoas saibam. – Bianca se aproximou dele e ele a tomou em seus braços, lhe lançando um beijo extremamente cheio de luxúria. Eu quis morrer. Por quê? Por quê?
E a dor me queimou por dentro, minha garganta ardia, minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento e a única coisa que eu podia fazer era gritar, gritar e fugir.
- Pare, por favor, pare! – só percebi que eu havia gritado quando vi olhar para mim por trás dos arbustos.
Tirei lentamente as mãos da minha cabeça que eu nem tinha percebido que as tinha colocado lá.
Bianca olhou para mim e começou a rir, ela não parecia nem um pouco surpresa.
Por mais que os dois tivessem visto que eu estava lá, eu não me preocupei em sair dos arbustos que escondiam meu rosto, eu apenas fiquei lá encarando como se nada tivesse acontecido, eu não podia acreditar.
E então eu tive vontade de levantar. Levantei- me e corri para cima dele, peguei- o de surpresa com um tapa em seu rosto que logo ficou marcado com os meus dedos em sua pele. Por fim, comecei a chorar como se eu estivesse morrendo, meu corpo estava pesado demais para mim, eu queria me deitar no chão sujo e morrer ali. Porém, eu ainda tive forças para correr.
Eu corri como se minha vida dependesse daquilo, corri para fora da vergonha e da humilhação que eu estive passando. tinha razão, e eu não o dei ouvidos, perdi tudo. Amanda me deu uma chance, e eu ferrei com ela quando eu poderia ter acabado com tudo sem precisar ver que era um mentiroso. Mas eu precisava ver com meus próprios olhos e mesmo assim eu não conseguia acreditar, tinha que ter alguma outra explicação.
E eu só pensei em uma solução, a mais difícil solução. Cheguei em casa e fui direto para o guarda-roupa de minha mãe, aproveitei que ela estava em viagem com meu padrasto e procurei pelo lugar secreto onde ela guardava seus remédios para dormir.
Com as pastilhas na mão eu as engoli uma de cada vez, enquanto eu gritava e chorava dentro do banheiro, eu queria morrer. “Me mate, me mate”, eu pedia. “Oh, Deus me mate, tire a minha vida”. Como fui tão burra? Eu apenas merecia a morte, não aguentaria vê-lo com Bianca e ainda rindo de mim. Os remédios fariam minha dor passar, a morte faria minha dor passar.
E rapidamente tudo ficou escuro, senti meu corpo pesar e escutei um barulho, um estrondo enorme ecoava pelo banheiro junto com as caixas dos outros remédios que caíam junto a mim, no chão.
Capítulo 22
Eu poderia ter morrido assim como poderia ter vivido o resto da minha vida feliz ao lado de . A pessoa que eu mais havia amado tinha me feito preferir a morte a viver.
Abri meus olhos e eu estava em uma cama de hospital, um lenço branco e frio me cobria, mas ainda assim não era tão frio quanto à vida.
Vi minha mãe, Amanda e meu padrasto sentados ao meu lado; minha mãe segurava minha mão e sua cabeça estava deitada na cama, ela chorava muito, como se eu realmente tivesse morrido.
- Minha menininha, minha doce menininha. – ela dizia enquanto acariciava meu cabelo.
Amanda sorriu ao perceber que eu tinha acordado.
- Que bom que está bem! Não acredito que fez isso...
Meu padrasto não falou nada, mas também percebi que ele pareceu aliviado ao ver que eu não havia morrido.
- O que aconteceu? – perguntei atordoada, minha visão ainda não estava clara o suficiente.
-O uvi um barulho do banheiro e vi você inconsciente, chamei uma ambulância e eles disseram que você tinha tomado muitas pílulas para sono, mas eu sabia que você tinha tentado se matar, liguei para sua mãe e eles vieram logo. e suas amigas também estão aqui. – Amanda me contou.
- Não acredito que cancelaram sua viagem por minha causa. – falei com raiva para minha mãe.
- Como eu não poderia? – indagou com os olhos inchados cheios de lágrimas. –, eu te amo tanto... – ela me abraçou com força, e eu senti os fios injetados no meu braço.
- Enquanto você estava dormindo, apareceu aqui, eu pedi para que saísse... praticamente o espancou, precisou ficar no hospital para tomar alguns pontos. Achei bem merecido. – comentou Amanda.
- esteve aqui?
-Sim – ela assentiu. – Ele queria ver você, parecia se sentir culpado pelo que aconteceu, mas não deixou que ele entrasse no quarto.
- Amanda, você pode chamar aqui? Quero escutar o que ele tem a dizer. – falei inesperadamente, nem eu mesma tinha acreditado no que estava pedindo.
- O quê? Quer realmente falar com esse traidor canalha?
Eu sorri.
- Quero ouvir o que ele tem a dizer, se ele veio aqui deve ter algum motivo. E depois chame o , por favor.
Ela pareceu hesitante, porém concordou. Minha mãe, meu padrasto e ela saíram do quarto, deixando-me sozinha por alguns segundos. Depois entrou, ele estava com um ponto que parecia gigante acima dos olhos, o lado direito de seu rosto estava completamente roxo.
- Estou feliz que esteja bem. – foi o que ele disse, a cabeça baixa, fitando o chão.
- O que te trouxe aqui?
Ele suspirou e se aproximou da cama.
- Queria dizer que sinto muito, queria me explicar... – ele olhou nos meus olhos, e eu fiz um gesto com a cabeça para que ele se explicasse. – Eu realmente te amo, . Sei que não vai acreditar nisso e nem deve, mas eu te amo. Sei que quer saber por que eu estou com Bianca afinal, estou com ela, pois preciso disso, e não sei explicar o porquê, mas sei que você sabe – sim, eu sabia, porém precisava acabar com aquilo.
Eu ri com desprezo.
- O que tivemos foi uma brincadeira, nunca foi real, entenda. Eu estou bem, se não estou vou ficar. – eu menti. – Apenas encare isso como uma forma de passatempo, é o que eu fui para você e o que você foi para mim. Hora de seguir nossos próprios caminhos.
Eu apontei o dedo indicador com dificuldade para a porta, não queria que acabasse assim.
- Vai. – sussurrei.
E essa foi a última vez que eu o vi.
foi o último a me visitar; sentou na cadeira onde minha mãe havia sentado e segurou minha mão.
- Me perdoe, me perdoe, eu te deixei quando você mais precisava... Fui um egoísta estúpido. – ele balbuciava em meio a lágrimas. Nunca imaginei que um dia choraria em minha frente.
Sua mão apertou a minha.
- Ta tudo bem. – eu suspirei. – Preciso te contar uma coisa... É segredo. – olhei para ele. – Os médicos disseram que eu estou com depressão e preciso me recuperar... – pareceu tenso, mas não disse nada, então continuei: - Minha família decidiu que será melhor que nós mudemos para a Carolina do Sul, tem uma boa clínica de reabilitação lá para pessoas que sofreram como eu... E eu quero ir, não posso voltar a viver aqui. Nunca mais.
- O quê?! Você não pode me deixar! – ele implorou, olhou nos meus olhos e disse: - Eu te amo, sempre amei, e eu devia ter dito isso antes e nada disso teria acontecido, se você soubesse...
- Não mudaria nada. – o interrompi. – Não naquela época.
Eu acariciei seu rosto e limpei suas lágrimas.
- Vou te ligar todos os dias, escrever cartas e depois de um mês você poderá me visitar.
- Diga que ficará bem. – ele pediu, pousou suas mãos em meu rosto. – Me prometa.
Eu sorri dolorosamente.
- Eu prometo.
Porém, eu já sabia que eu nunca conseguiria ficar bem.
Epílogo
Ela não durou muito, a . A última vez que a vi foi quando ela sorriu para mim antes de embarcar no avião para vários quilômetros distante de mim.
Ela me ligava todos os dias e me mandava cartas e e-mails sempre que podia, sempre dizendo que estava melhorando, eu acreditei firmemente na possibilidade de que ela pudesse voltar. Ainda me dói dizer as palavras “ela voltaria”.
nunca voltou. Com dois meses na Carolina do Sul ela ficou doente; Amanda disse que ela estava muito fraca, fingia que estava comendo, mas não estava, logo uma doença a atacou. Os médicos disseram que foi meningite, e ela morreu duas semanas depois de me contar que estava doente e sempre me disse que estava bem mesmo enquanto eu ouvia sua tosse pelo telefone.
E desde então não consigo parar de pensar nas coisas que eu deveria ter feito. Eu deveria tê-la beijado e a feito feliz, eu deveria tê-la consolado e estado lá quando ela mais precisava de mim, eu teria a amado como ninguém nunca a amou antes e eu não sentiria sua falta, pois ela estaria viva.
Ela escreveu-me uma última carta antes de morrer, a qual Amanda entregou-me ao voltar para casa:
”Querido ,
Diga-me como as coisas vão aí? Tire algumas fotos e me mande, gostaria muito de saber como estão as coisas aí, rever seus sorrisos alegres novamente. Fale para e que sinto falta delas também.
Por fim, há algo que eu queria lhe dizer. Estou grata por ter te conhecido durante minha breve vida, quero que consiga tudo o que quiser. Eu te vejo em sonhos, . Você sempre está sorrindo para mim, e isso me faz feliz. Quando eu estou chorando eu me lembro de seu sorriso me dizendo que vai ficar tudo bem.
Infelizmente, não posso pedir para que fique comigo. Você entenderá quando Amanda te entregar essa carta. Não chore por mim. Quero que você viva e seja feliz como seria se eu estivesse presente, faça isso por mim. Prometa-me.
Com amor,
.”
É ridículo escrever uma carta para quem já partiu, porém eu decidi respondê-la, ela lerá em meu coração.
“Querida ,
O céu nunca chorou tanto quanto chorou em sua morte. Você me fez promessas que nunca poderão ser cumpridas, porém eu entendo; de início não consegui entender, mas agora eu entendo. E por mais que você não tenha cumprido a sua promessa, eu irei cumprir a minha. Eu prometo que serei feliz, serei feliz por você, viverei o que você não pode viver, pois a morte te buscou muito cedo, cedo demais.
Eu te perdoo, . Irei perdoar tudo, pois é você e eu te amo como nunca amei ninguém, e sei que nunca vou amar ninguém como amei você.
Pergunto-me como é o céu daí de cima. Ele tem gosto de chocolate? E as nuvens? São realmente feitas de algodão doce?
Um dia sei que irá me responder, e eu viverei todos os dias como se fossem o último para quando eu te reencontrar eu ter muitas histórias para lhe contar.
Boa noite, meu amor.
”
E tudo o que eu lembrarei será seu sorriso, o sorriso formado de seus belos lábios e seu cabelo ao vento, o dourado balançando para lá e para cá, sua doce voz ecoando pelos palcos enquanto ela pronunciava a melodia dos anjos ao microfone.
Também me lembrarei de seus olhos, de seus belos olhos iluminados e brilhantes, seus olhos de diamante que encantavam até a lua quando essa se mostrava inconstante todos os dias, até que a morte também me levou.
FIM
N/A: Por fim, chegamos ao final dessa história. Eu estou muito agradecida à todas as pessoas que continuaram lendo a fic até o fim, muitas vezes pensei em parar de escrevê-la mais a cada comentário que vocês postavam eu ficava ainda mais feliz e isso me dava animo para continuar, pessoas lendo! Puxa! elas tem que saber como será o final. E bem, chegamos ao final, mais uma vez obrigada por terem me acompanhado até aqui!
Qualquer erro nessa fanfic é meu, então me avisem por e-mail caso encontrem algum.