PRÓLOGO

Algo que eu nunca imaginei era que tudo isso aconteceria em minha vida. Afinal, eu nunca fui desse tipo e sempre condenei as pessoas que tinham esse tipo de atitude.
Mas, como sempre ouvi, não se deve falar ou criticar algo de alguém, já que você não imagina se fará isso no futuro – próximo ou distante –, porque nesse futuro, a pessoa que será criticada é você.
E eu estive sofrendo esse tipo de coisa.
Se é que pode ser chamado de sofrimento, já que todo o acontecido foi culpa minha.
E a saída? Fugir da minha própria família, dos problemas que estão piores e tentar recuperar de volta a minha vida.
Isso se eu conseguir, afinal, apesar de ser uma página passada e já escrita com caneta, sempre estará lá. E se eu queimar vai continuar viva a memória do acontecido, não numa folha de papel, porém, na lembrança das pessoas que estiveram envolvidas.


CAPÍTULO O1

Aquela tarde eu estava no psicólogo tentando entender o que estava acontecendo comigo. Nunca pensei que me sentiria assim. O pior de tudo é que parece que o psicólogo não me entende. Ele me dá conselhos, mas não consigo absorvê-los com a mesma intensidade de antes.
Talvez eu devesse procurar um psicólogo novo. Ou não.
Não agüentaria recomeçar toda a terapia e chegar a um ponto que estarei falando o mesmo que estou comentando.
Agradeci mentalmente por aquela consulta ter terminado. Acho que aquela terapia que minha mãe me indicou não daria muito certo pra mim. Mas, se eu tivesse de mudar, em um momento sentiria o mesmo que sinto.
Levantei-me da poltrona e apertei a mão do Doutor Fitzwilliam, que apesar de ser um bom médico, o que ele falava já não tinha mais sentido para mim. O que me deixa mais confusa.
Saí daquele consultório, coloquei os fones do meu iPod no ouvido e comecei a ouvir Disturbia - Rihanna. Não sei o porquê – ou talvez saiba -, mas essa música me diz algo, ou tenho algo parecido com minha vida.
Andando pelas ruas de Londres, apertei meu sobretudo contra meu corpo. Aquele inverno veio asqueroso. Quase não havia pessoas na rua. Cheguei a cogitar a idéia de pegar um táxi, mas decidi andar.
Coisa que relutava em fazer há tempos.
Em meia hora já estava em meu apartamento, que com certeza estava mais quente e confortável do que a rua. Tirei meu adidas e a caminho do meu quarto, me despia. Péssimo costume que tenho desde meus quinze anos. Peguei minha toalha e fui tomar um banho. Ao sair, coloquei meu moletom e pantufas, seguindo logo depois para a cozinha, onde peguei um pacote de biscoitos.
Segui para a sala. Queria assistir um pouco de televisão e talvez esquecer de minhas confusões mentais.
Sentei-me no sofá e liguei a TV, afim de encontrar algo divertido para assistir. Depois de tanto procurar, encontrei Family Guy passando. Ria enquanto comia e via Peter Griffin chorar ao lado de sua mulher por causa de uma sensação que seu espermatozóide causava nele. Coisa de desenho mesmo. Um espermatozóide ser como um FanFusion.org que transporta uma criança dele, etc.
Naquele momento, fizeram o favor de interromper meus pensamentos com batidas na porta. Xinguei essa pessoa mentalmente por dois motivos:
Primeiro, eu estava pensando no fato de que desenhos são estranhos e ao mesmo tempo divertidos, além de não gostar de ser interrompida.
Segundo, eu estava com preguiça, muita preguiça. Tudo bem que essa pessoa não tinha culpa, mas de qualquer maneira, eu a estava xingando.
Esse alguém continuou insistindo quando finalmente me rendi e me levantei, indo em direção à porta. A abri e então vi. A pessoa que no momento eu não queria ver.
- Bom dia, amor! – ele falou sorrindo e me deu um selinho.
- Bom dia? Boa noite, ! – sorri e o puxei para dentro do meu apartamento.
O levei até o sofá e deitei no colo dele, que fazia carinho em meu cabelo.


CAPÍTULO O2

, ou – como gosta de ser chamado –, meu namorado há quase um ano. Mais exatamente sete meses. Um dos caras que mais considero no mundo e que antes de tudo é meu amigo.
O que eu menos quero no mundo é machucá-lo. E às vezes me sinto como se estivesse alimentando um desejo oculto de deixá-lo pra lá e não me importar de como ele irá se sentir no futuro. Mas, o meu instinto protetor fala mais alto. Muito mais alto. Chances de machucá-lo, já tive muitas, mas eu não me imagino fazendo algo desse tipo – mesmo querendo – porque eu me sentia protegida e me sinto até hoje quando estou em seus braços. Como agora.
Deitada em seu colo, penso em como ele é importante em minha vida.
Em como tenho medo de machucá-lo apenas por capricho meu.
- Amor? – me chamou enquanto eu estava de olhos fechados
- Diga, ... – falei me ajeitando para poder olhar em seus olhos.
Aqueles olhos que me conquistaram, me hipnotizaram.
E me hipnotizam.
- Eu te amo! – ele falou, beijando minha testa logo em seguida.
- Eu também te amo. – e odeio estar fazendo isso com você, foi o que pensei em falar, mas não tive coragem.
Eu fui falsa.
E aquela noite passou devagar para mim. Estava sendo algo perturbador estar com alguém que não mereço. Que não merecia.
O meu relacionamento com sempre foi saudável, quase nunca brigávamos. Para mim, o que eu precisava era de adrenalina. Para minha mãe, eu precisava apanhar.
Eu concordo com ela.
Pela manhã, foi embora. Eu dei graças a Deus. Ele não era a pessoa que eu precisava naquele momento.
Tomei um banho, coloquei uma roupa simples para ficar em casa e fui até a sala. Procurei o celular e quando o achei, disquei aqueles oito números tão conhecidos para mim.
Ele sim era quem eu precisava nesse momento.
A minha droga favorita, o meu vício.
Não demorou para que ele chegasse em meu apartamento. Daquele mesmo jeito de sempre, com aquele sorriso no rosto, aquele encanto no olhar.
Com ele ao meu lado eu não precisava de ninguém.
Nem ao menos de meu namorado.
Me lembro como se fosse hoje do dia em que nos conhecemos. Tudo de repente. Após um esbarrão no meio da rua quando eu estava à caminho da lanchonete que trabalho. Ficamos amigos. Sua namorada dando crises de ciúmes por nossa causa. Mas... nós não tínhamos nada a mais que amizade. Não ainda.
Então vieram os encontros, as conversas. E tudo isso resultou no que temos agora. Uma relação totalmente indefinida. Ou melhor, uma relação de amantes.
As pessoas podem achar que eu sou simplesmente uma vadia. Mas elas não entendem.
Talvez se estivessem em meu lugar entenderiam.
E não me julgariam.


CAPÍTULO O3

Ao entrar no apartamento, veio em minha direção, como se necessitasse de mim naquele momento. Era o que mais parecia.
Ele me beijou ferozmente, como se nunca mais tivesse se encontrado comigo, o que faz apenas dois dias. Imediatamente correspondi ao beijo. Eu também necessitava disso, era fato.
Aos poucos ele foi me acariciando, me fazendo entender o que queria. Em poucos minutos, minhas roupas e as dele já estavam no chão e nós tínhamos feito ali mesmo, na sala.
Depois desse momento carnal, me senti completa, senti como se houvesse conseguido achar a última peça do quebra-cabeça, o completando logo em seguida.
Estávamos espremidos no sofá, onde minha cabeça estava encostada em seu peitoral, podendo sentir sua respiração. Ele passava sua mão em meu cabelo, me fazendo relaxar. De olhos fechados, aproveitava cada momento junto a ele.
- ? – ele falou.
- Hum... – murmurei suspirando. O perfume dele me intoxicava.
- Eu poderia passar o resto de minha vida aqui, ao teu lado. Eu simplesmente não preciso de mais nada. Somente de você. – eu o encarei e ele fez o mesmo – Você se tornou o meu vício, não apenas um casinho. Eu realmente te amo.
Eu o encarava. Não sabia o que falar ou demonstrar a ele. Estava sendo a primeira vez que ele tinha me dito algo do tipo.
- Eu... eu te amo. – falei o encarando. Ele sorriu e me puxou para um abraço.
Com ele eu não me sentia tão protegida quanto com . Mas, eu precisava dele. Assim como ele parecia precisar de mim.
Estávamos ali abraçados, eu estava quase adormecendo e ele provavelmente também, quando ouvi meu celular tocar. Caí do sofá, já que estava deitada na ponta do mesmo e vi aquele nome tão amado e tão odiado por mim: .
Atendi ao telefone e conforme ia falando com ele, ia catando minhas peças de roupa, que continuavam espalhadas no chão, quando o ouvi falando a frase que me atormentou: Amor, tô subindo.
Como assim ele estava voltando para meu apartamento? Ele não havia saído de lá há pouco tempo?
Desliguei rápido o telefone e olhei para . Ele estava dormindo, ou cochilando. Terminei de me vestir e o chutei para que acordasse. Ele me olhou confuso e eu falei rapidamente: Levanta e se veste que o está subindo, o fazendo dar um pulo do sofá e começar a catar suas roupas.
Não dava tempo de ele sair, era impossível escapar.
OMG, seria agora que minha farsa acabaria.
Foi quando mandei sentar no sofá e ligar a televisão, enquanto eu iria pegar algo na cozinha para comer, ou providenciar algo rapidamente. E, por mais devagar que esteja sendo narrado, aconteceu em questão de segundos.
Peguei um pacote grande de Ruffles e pus tudo numa vasilha, quando ouvi a campanhia tocar.
Era ele.
Dirigi-me até a sala e vi que havia colocado em um canal de filmes, o canal e o filme que nem me dei ao luxo de saber quais eram, pois me preocupava apenas em atender logo a porta e acabar com aquela agonia que sentia.
Abri a porta e encarei que estava sorrindo com um buquê de rosas em mãos. Ele me deu um selinho e estendeu o buquê para mim. Sorri agradecida e ele me ultrapassou, entrando no apartamento e mudando sua expressão facial rapidamente.


CAPÍTULO O4

Encarei-o sem entender. Por que ele havia feito essa cara afinal?
Ele estava com os seus olhos arregalados, olhando em direção a e à televisão. Olhei na mesma direção e vi que o encarava sem entender, porém sorridente e que na televisão passava o filme que assistimos juntos em uma sessão especial no cinema, onde nos beijamos pela primeira vez: 50 First Dates.
percebeu que o clima ali não estava muito bom, já que via que tinha uma expressão de raiva com um misto de tristeza em seu rosto. Ele levantou-se, beijou minha testa e despediu-se de – com certeza por educação – que não teve reação alguma.
Quando o barulho de porta sendo fechado pôde ser escutado, sentou-se no sofá e me encarava indignado.
Ai meu Deus, ele desconfia de algo.
Peguei um jarro, enchi de água e coloquei o buquê dentro. Voltei para a sala e ele continuava na mesma posição. Sentei-me ao seu lado e o mesmo virou-se para me encarar.
- Me diz... – ele começou – você seria capaz de me trair?
Ok, isso foi golpe baixo.
- Não , quantas vezes tenho que te dizer isso? – fiz a minha melhor cara indignada e ele olhou para baixo.
- Desculpe, eu... – ele tentou começar a falar.
- Parece até que não confia em mim! Insiste em ficar perguntando esse tipo de coisa! – gritei com ele.
- Desculpe, é que porra, esse cara aqui em sua casa sozinho com você e ainda assistindo ao nosso filme... Você quer que eu pense o quê? – gritou de volta.
É, ele tem razão. Eu pensaria o mesmo.
- Não pensa em nada então, porra! – me alterei mais ainda – Sabe de uma? Saia daqui agora! É impossível conviver com uma pessoa que não acredita em mim! – nesse momento eu já estava em pé e apontando meu dedo no rosto dele.
- EU JÁ PEDI DESCULPA, PORRA! – ele falou.
- Saia daqui agora... – falei baixo – AGORA!
Ele então saiu batendo a porta, resultando em um barulho estrondoso.
Sentei-me no chão e comecei a chorar.
Dessa vez eu tinha passado dos limites.
Dessa vez eu já havia chegado ao ápice de minha falsidade.


CAPÍTULO O5

Passei praticamente o resto da manhã na mesma posição, chorando e pensando no que havia acontecido. Cogitei ligar para o psicólogo, já que o mesmo havia me dito que quando precisasse, poderia ligar a qualquer hora.
Mas, eu não queria me levantar dali de forma alguma.
Preferia continuar chorando feito uma idiota, por algo que eu mesma havia feito e estava fazendo com .
Com quem eu digo amar.
E então o telefone de casa começou a tocar. Não conseguia me levantar e simplesmente deixei cair na secretária eletrônica.
Amor? Eu sei que você está aí... me atende, por favor! – aquela voz insistia e eu continuei na mesma posição até que ele desistiu.
Eu não queria falar com ele. Era difícil de entender, por algum acaso?
Foi então que ouvi meu celular começar a tocar. Não era o toque de , então poderia ser qualquer pessoa. Levantei-me do chão e peguei o celular, que estava na mesa de centro. Olhei no visor e nele havia escrito: .
Rapidamente atendi e voltei para a mesma posição de antes, no mesmo lugar de antes.
- ? – ele falou num tom preocupado.
- Diz, ... – falei.
- Como você está? Eu vi que o clima não estava bom, por isso saí daí... aconteceu alguma coisa?
- Eu tô bem, na medida do possível... nós dois discutimos. – pude sentir cair uma lágrima – Não agüento mais!
- Calma amor, eu tô aqui... me diz do que você precisa... – ele falou.
- Eu... preciso... não sei cara, não sei! – já não conseguia me controlar.
- Shiu, calma... respira! – fiz o que ele pediu e fui me acalmando as poucos.
Ficamos calados por um bom tempo. Ouvindo somente a respiração do outro. Cheguei a ouvir que havia alguém na outra linha do celular, mas não me abalei. Mais uma vez o celular fez um barulho, dessa vez indicando que havia chegado uma mensagem. Não me abalei novamente.
De repente sentia sono, meus olhos já não conseguiam ficar tão abertos quanto antes. Talvez fosse o fato da quantidade de lágrimas que derramei em um só dia, que fez meu olho inchar e não agüentar a claridade como normalmente. Eu sentia como se houvesse tomado algum remédio para dormir. Durante alguns segundos, lutei contra esse meu instinto, porém quando me deixei levar, ouvi a voz de lamentando:
- , eu sinto muito, mas tenho que ir. Minha namorada está aqui e bom... você sabe como é. Ela já está querendo saber com quem eu estou... Espera Ali! Eu estou no telefone, pude ouvi-lo falar – Então... eu te amo, tá?
- Certo meu amor, te amo também. Muito!
E então pude ouvir o irritante barulho do telefone indicando que a chamada havia terminado, me fazendo desligar o mesmo. Esqueci de que havia chegado mensagem no meu celular e fui tomar um banho para que pudesse relaxar, ou tentar fazê-lo. Ao sair do banho, ouvi meu celular apitar novamente, avisando que havia chegado mais uma mensagem.
2 mensagens novas e 1 chamada perdida – era o que tinha na tela do meu celular.
A chamada era de e as mensagens... dele também.
Na primeira havia: Me desculpa... você sabe o quanto te amo e o quanto tenho medo de te perder.
Logo em seguida abri a segunda mensagem: Tenho tanto medo que chego a ser inseguro. Eu te amo e seria capaz de gritar para todo o mundo ouvir. Me perdoa.
Sorri involuntariamente. Ele consegue ser lindo, ser idiota, ser perfeito... e tudo ao mesmo tempo.
Enquanto eu continuo sendo uma falsa.
Apenas uma falsa.


CAPÍTULO O6

Na segunda-feira acordei com o toque do meu celular. Joguei-o de lado após desligar o alarme e virei para o outro lado da cama, em direção a janela.
O sol estava ali, e me fez lembrar que tinha de trabalhar. Bufei e esperneei, dando pequenos chutes na cama e parando logo depois. Afinal, não tinha mais minha mãe para me dar o que queria após espernear e também pelo fato de que havia dado um chute na madeira da cama, que doeu.
Levantei-me e fui direto para o banheiro. Liguei o chuveiro e chequei a temperatura, afinal o dia estava frio. Por sorte, a água estava morna, assim eu não morreria de frio. Entrei com tudo no box, molhando meu cabelo e sem me importar com nada.
Os minutos que passei debaixo daquele chuveiro, me fizeram esquecer por um instante, de tudo que estava me atormentando. Tudo aquilo me relaxava. Saí do banho, fui ao armário, peguei uma roupa simples: calça skinny, t-shirt verde com uma estampa da Minnie e um all star branco. Depois de secar o cabelo, prendi-o em um rabo de cavalo frouxo. Fui até a cozinha, peguei uma maçã e ao sair peguei o casaco que estava no sofá e minha bolsa.
Tranquei a porta, coloquei os fones do iPod no ouvido e mordi um pedaço da maçã antes de pegar o elevador.
Saí do prédio e segui andando para a lanchonete. Cantarolava e dava algumas mordidas na maçã. Cheguei à lanchonete, coloquei meu uniforme e segui para o caixa, já ouvindo reclamação do meu chefe sobre o meu atraso. Tudo isso porque segundo ele, eu deveria seguir o exemplo da eterna funcionária do mês, mais conhecida como a maior puxa-saco dali, Brianna Gonagall. Sim, ela não gosta de mim, eu não gosto dela.
O por quê? Ela, amiga da namorada de , desconfia que temos algo, apenas pelo fato de que ele às vezes me visita no trabalho, fazendo depois disso minha caveira para a namorada dele. Que bom, não me suporta também.
E quase como uma ironia do destino, no meio do meu expediente apareceu lá na lanchonete e conversamos durante o meu intervalo de trabalho, enquanto a amiga da namorada nos observava.
Alguém sentiria ciúmes hoje.
Alguém brigaria hoje.
Apesar de tudo, o que eu menos quero é que imagine algo do tipo ou que isso chegue aos ouvidos dele, que também por uma suposta ironia do destino, apareceu na lanchonete um pouco depois de ter saído, alegando querer conversar comigo e me acompanhar até meu apartamento no fim do meu expediente.
Ele teria que esperar.
Ele iria esperar.


CAPÍTULO O7

Depois de me esperar por quase duas horas, deve ter dado graças à Deus quando eu finalmente estava fora do meu turno. Bati meu cartão depois de ter trocado meu uniforme pela minha roupa simples, peguei um suco de laranja para colocar em minha conta e o acompanhei até o lado de fora da lanchonete.
Ficamos sem trocar palavras uma boa parte do caminho, o qual eu aproveitei para saborear meu suco de laranja e ver as pessoas andando apressadas na rua.
Depois de algum tempo, finalmente pude ouvir alguma palavra saindo da boca de :
- Recebeu minhas mensagens?
- Uhum! – respondi tomando mais um gole do meu suco.
- Ahm... porque não respondeu? – senti seu olhar em mim, que continuava a saborear o suco que tomava.
Parei de andar e o encarei.
- Bom, porque eu não respondi... – fiz uma cara falsa e pensativa – talvez pelo fato de você ter desconfiado de mim um pouco antes? – cruzei os braços com dificuldade por ainda estar com o copo de suco em mãos.
- Mas cara, eu já te pedi desculpas! – falou devagar.
- Sim, mas também não é assim. Eu ainda estou muito puta com sua desconfiança! – falei e tomei um gole do suco – Porque quando você tinha aquelas amiguinhas vadias as quais você saía quase sempre eu não podia sentir ciúmes ou desconfiar de você, – o encarei e ele abaixou a cabeça – que tal?
Comecei a andar e continuei a tomar meu suco enquanto ele vinha atrás de mim.
- Me diz, me perdoa? – ele parou em minha frente e se ajoelhou.
Alerta vermelho: pessoas olhando e meu suco acabando.
Sabe de uma? Tanto faz. A falsa aqui sou eu.
Toquei no ombro dele e fiz sinal para que ele levantasse. Ele o fez e eu dei um último gole no meu suco. Fiquei em silêncio e evitava o encarar.
- Me diz, me perdoa? – ele repetiu.
- Aham, mas paga um suco de laranja pra mim? – dei um sorriso brincalhão e ele fez uma careta.
O quê?
- Ok, eu pago. – sorriu – Mas você tem que me pagar com um beijo... – alargou seu sorriso.
- Ok, ok. – como se isso fosse um esforço para mim, pensei.
Ele se aproximou e me deu um beijo calmo e ao mesmo tempo quente. Só ele conseguia fazer isso. Só ele.


CAPÍTULO O8

Seguimos para um Burger King à procura de um suco de laranja para mim. Só iríamos comprar o meu suco, mas ele insistiu que queria comer um big whooper com fritas, enquanto eu pedi junto com o meu suco apenas fritas para acompanhá-lo.
Sentamos enquanto esperávamos o pedido. parecia inquieto, ele estava com suas mãos junto às minhas e elas estavam suando.
- Parece que o pedido está pronto! – falei enquanto uma moça mal-humorada se dirigia até nós, deixando a bandeja na mesa e sorrindo falsamente.
Eu fiz o mesmo.
Comemos, conversamos e bom... estamos bem novamente.
Ou é o que parece.
Ele fez questão de me levar na porta do apartamento. Eu o convidei para entrar e ele o fez.
Ficamos conversando um pouco e ele disse ter que ir. Levei-o até a porta e o beijei. Um beijo que não foi inocente de minha parte, e que passou a não ser inocente da parte de . Ele mordeu os meus lábios de uma forma que se houvesse mais força, faria com que sangrasse.
A porta que havia sido aberta, foi fechada numa violência impressionante. Ele continuava a me beijar ferozmente e me carregou no colo, me levando até o meu quarto.
Ele beijava meu pescoço e tirava minhas roupas aos poucos, parecendo me provocar, além de deixar marcas que com certeza ficariam roxas mais tarde ou talvez no outro dia.
Era isso que ele queria? Era o que teria.
Em pouco tempo já tinha arrancado as roupas dele.
Em alguns minutos já o tínhamos feito e estávamos cansados, ofegantes e suados. Como se é de esperar.
- Eu te amo . – ele falou beijando minha testa em seguida.
- Também te amo , nunca duvide. – falei com os olhos fechados.
Ele viu que eu estava cansada e começou a cantar uma música calma em meu ouvido, me fazendo adormecer logo em seguida.


CAPÍTULO O9

Acordei no outro dia com os olhos pesados. Parecia que eu não havia dormido nada na noite anterior. Me espreguicei tomando toda a cama e percebi que já não estava mais ao meu lado.
Sorri me lembrando da noite anterior. Levantei-me e fui tomar banho para poder me arrumar para ir trabalhar. Quando voltei ao quarto, vi que havia um papel dobrado na mesa de cabeceira. Fui até lá e o abri.

"Tive que ir. Eu não queria, mas tive. O trabalho me espera, infelizmente. Te amo gatinha. xx"


Sorri novamente e terminei de me arrumar, seguindo para a cozinha e tomando um copo de suco de laranja. Meu vício.
Peguei um pacote de biscoito e saí em direção ao trabalho, ouvindo novamente reclamação pelo meu atraso. Blá, blá, blá.
O dia foi insuportável e passou mais devagar do que o normal, me deixando mais entediada do que o normal. No fim do expediente, apareceu de surpresa e me pagou um suco de laranja. Nem amo o meu namorado.
Ele me convidou para ir a um parque. Chegamos lá e nos sentamos na grama, admirando as árvores, as pessoas que corriam e as crianças brincando. Recostei-me em seu peito e suspirei ao começar a observar o céu. Enquanto isso, acariciava meus cabelos com a ponta dos dedos e eu fechei meus olhos.
Todo o vídeo de minha vida passou em minha cabeça naquele momento. Tudo o que eu estava fazendo com e com , o quanto estava sendo injusta, principalmente com .
Comecei a chorar, naquele momento, aquilo era o que de certa forma me confortava, além de , que continuava a acariciar meus cabelos. Me confortava o fato de eu perceber o quanto estava errada, de eu ter consciência de tudo o que tenho feito.
Do quanto estou sendo errada.
Mas, eu sempre soube que tinha culpa.

Ao perceber meu estado distante, levantou meu queixo, me fazendo abrir os olhos e consequentemente olhar nos olhos dele.
Ele secou uma lágrima que escorria pelo meu rosto e me encarou.
- Você sabe... – começou a falar – que pode contar comigo, certo? – eu afirmei com a cabeça – e eu só quero que você tenha certeza do quanto eu te amo, do quanto prezo por ti, do quanto zelo pelo nosso namoro, pelo nosso relacionamento... – encostou sua testa na minha – eu te amo minha pequena, eu te amo.
Meus olhos encheram de lágrimas e eu já não conseguia me conter. Ele me abraçou fortemente e me fez perceber mais ainda o quanto me sinto protegida quando estou junto a ele. Eu o amo.


CAPÍTULO 1O

Passamos praticamente o resto do dia ali. Juntos e abraçados, como se nada mais importasse para nós.
Já à noite, ele me deixou no apartamento e eu subi sorrindo e me lembrando do quanto era sortuda.
E conseqüentemente lembrando do quanto era falsa.
Fui tomar um banho, era o que precisava no momento. Depois de terminá-lo, fui dormir.

Depois daquele dia, nada de interessante aconteceu, a semana passou normalmente. Tirando apenas o fato de que não via o desde segunda-feira e constantemente me encontrava com , nada de diferente acontecia.
Sexta-feira, dia de psicólogo. Cheguei lá falando tudo o que havia acontecido, tudo o que fiz, tudo o que pensava sobre minhas atitudes. Eu já estava cansada de enganar , porém o vício falava mais alto do que tudo.
Luke falou que já estou num progresso, apenas pelo fato de estar reconhecendo os meus erros e percebendo que deveria mudar. Sorri agradecida, dessa vez sem falsidade alguma e ao fim da sessão senti meu celular vibrar. Não atendi. Deixei para ver o que era quando realmente estivesse fora dali.
Apertei as mãos de Luke agradecida e rumei para o elevador. Aqueles andares nunca pareceram passar tão devagar para mim. Parecia que não passariam nunca.
Em cada andar o elevador parava e entrava alguém. Em pouco tempo aquele cubículo já estava cheio. Em pouco tempo meu medo de elevadores aflorou novamente. Tentei me segurar, mas ao ver que não conseguiria mais, parei uns andares antes do Playground e continuei o meu caminho pelas escadas me sentindo muito melhor.
Ao sair na rua, coloquei os fones do meu iPod no ouvido e saí andando. Senti meu celular vibrar novamente lembrando de que poderia haver uma chamada de alguém ou sei lá.
Peguei-o na bolsa e vi escrito na tela que havia duas mensagens novas.
Abri a primeira e vi que era de . Só havia escrita Eu te amo e um coração do lado. Sorri involuntariamente. E se eu realmente ficasse com ele e largasse ? Ele continuaria sendo assim comigo ou faria o mesmo que está fazendo à sua atual namorada?
Afastei esses pensamentos porque apesar de uma súbita vontade de ficar somente com ele e mostrar para todo mundo, eu tinha aquela vontade aparente de continuar com mesmo que fosse o enganando.
Abri a segunda mensagem que também era de :

"Onde você ta? Que estranho não ter respondido a minha mensagem. Espero que não esteja fazendo nada que eu não queira saber. xx"


Arqueei a sobrancelha e apertei no botão de resposta. Bati o celular na coxa pensando no que poderia escrever de volta. Acabou saindo assim:

"Eu tava tendo uma crise de medo de elevador, por isso não respondi logo. Te amo muito! E não, eu não estava fazendo nada que não quisesse saber. xx"


Fiz uma careta. Precisava parar de escrever mensagens grandes porque elas contavam como mais de uma e lá se iam meus créditos. Apertei no botão de enviar, coloquei o celular de volta na bolsa e continuei andando de volta para o apartamento quando o maldito que eu tinha acabado de guardar na bolsa voltou a vibrar.
Tudo bem, eu não tinha acabado de colocar, havia passado alguns minutos, mas eu estava com preguiça – como sempre – de pegar o celular na minha organizada bolsa que de organizada não tinha nada.
Achei que era mensagem, decidi que não iria pega-lo naquele momento, mas continuou a vibrar. Abri a bolsa, tirei o celular e vi no visor que era me ligando. Tirei os fones e atendi a ligação.
- ! falava baixo
- O que aconteceu, homem?
- Ali deu a louca! Posso te encontrar?
- Ok, mas onde?
- Em alguma lanchonete, não sei... diz alguma!
Olhei para frente e avistei um McDonald’s
- McDonald’s
- De onde? – ele perguntou e eu dei a localização.
Que diabos havia acontecido dessa vez?


CAPÍTULO 11

Guardei novamente o celular na bolsa, esperando que ninguém me ligasse novamente me obrigando a tirar ele dali, pois eu não o faria tão cedo. Coloquei os fones de ouvido e segui para o McDonald’s que estava a poucos metros de mim.
Entrei lá e fui ao balcão de pedido. Havia me dado uma fome só de olhar todos aqueles hambúrgueres nas fotos. Pedi um McLanche Feliz com suco de laranja. Estava com vontade de ganhar um brinde daqueles.
Peguei o meu pedido e sentei-me à mesa esperando dar sinal de vida. Comecei a comer e de vez em quando encarava a porta esperando que ele aparecesse.
Já depois de algum tempo, percebi que alguém estava se aproximando de mim. Olhei na direção da pessoa e vi que era . Ele sentou-se em minha frente com uma indiferença no rosto.
Tirei os fones, desliguei o meu iPod e perguntei:
- O que aconteceu?
- A Ali... ela deu a louca! – ta, disso eu já sabia
- Mas por quê? – dei uma mordida no hambúrguer
- Ela leu sua mensagem, eu estava no banho... daí ela começou a gritar parecendo uma descontrolada e te chamou... – ele parou de falar
- Me chamou...? – odeio quando as pessoas param de falar no melhor momento
- Nada, esquece! – sorriu falsamente
- Fala !
- Te chamou de vadia, falou que a gente tinha algo, que eu prefiro estar com você...
- E o que tem? Se eu estivesse no lugar dela, pensaria o mesmo!
- É que... boa parte disso é verdade – ele me encarou – digo, menos a parte de você ser vadia, mas a gente realmente tem algo e eu realmente prefiro estar com você, sabe?
- A parte de ser vadia também é verdade – falei para mim mesma
- Quê? – perguntou
- Nada – sorri e dei uma outra mordida no hambúrguer o oferecendo, que negou.
O resto da tarde, fiquei distraída e pensando enquanto ficou calado. Parecia que não conseguia falar nada.
Eu ficaria do mesmo jeito se estivesse no lugar dele e no lugar de Ali.
É um fato.


CAPÍTULO 12

Voltei para casa e a secretária eletrônica indicava que havia uma nova mensagem.
Apertei no botão de reproduzir e fui até a cozinha buscar um copo com água, ouvindo logo em seguida a voz esganiçada de minha mãe começar a falar:
Como sempre não está em casa, não é mocinha? De qualquer forma, sua tia me ligou e falou que a proposta que ela lhe fez ainda está de pé. Me ligue quando puder e pense bem no assunto. Te amo.
Revirei os olhos e sentei-me no sofá, bebendo o resto da água que estava no copo. Após terminar, deixei o copo de lado e inclinei a cabeça de forma que pudesse encarar o teto. Pensei sobre a mensagem. Porque diabos eu não havia aceito a maldita proposta?
Ah claro, .
Eu estava apaixonada, não seria capaz de largá-lo. Não naquele momento.
Mas hoje eu era capaz de magoá-lo, certo?
Eu poderia ter o deixado e nada disso estaria acontecendo, talvez eu nem precisasse ir a um psicólogo.
Porque particularmente eu não tinha problema algum.
Não que eu soubesse.
Comecei a pensar em tudo o que tinha passado até aquele momento, e foi nessa onda de pensamentos que adormeci, sendo acordada já ao anoitecer com meu celular indicando que havia chegado uma mensagem.
Abri meus olhos com dificuldade e xinguei mentalmente a pessoa que havia me mandado a tal mensagem e a mim mesma por não ter colocado o celular no vibracall.
Eu já não enxergava um palmo à minha frente. Aquele dia estava nublado mais do que o normal, e apesar de ser apenas cinco da tarde, havia escurecido mais rápido do que nunca. Como resultado disso, apalpei o sofá em busca do meu perdido celular e após algum tempo o achei. Levei-o até o meu rosto e fechei os meus olhos em razão da luz forte que veio do celular após eu ter apertado o botão de desbloquear o teclado.
Abri a mensagem e havia escrito nela:

"Ande com cuidado. Um passo em falso que me faça desconfiar de alguma coisa e o corno do seu namorado saberá de tudo, por menos verdade que isso seja."


Procurei de onde havia vindo a mensagem.
Eu não conhecia número e com certeza não faria questão de saber que estava por trás do que quer que isso fosse.


CAPÍTULO 13

Os raios de sol batiam em meu rosto. Como a luz poderia estar tão forte no céu londrino? Que diabos, eu não queria acordar.
O índigo que eu enxergava com os olhos fechados se tornava naquele momento um vermelho ou um laranja vibrante, por causa do sol que batia em meu rosto.
Abri meus olhos com dificuldade e olhei ao meu redor. Levantei-me, podendo sentar e prestei atenção onde havia dormido aquela noite. Eu não lembrava porque havia dormido ali, se tenho pleno conhecimento da dor nas costas que me atormenta todas às vezes após uma noite mal dormida.
Peguei meu celular e olhei o horário: 10 da manhã. Levantei-me rapidamente e fui tomar um banho. Ouvi o telefone de casa tocar e deixei cair na secretária eletrônica. Ouvi a voz de avisando que passaria lá para me ver.

Ao terminar o meu banho, coloquei um short e uma blusa de manga três quartos quando ouvi a campainha tocar.
Era .
Antes de abrir a porta, ajeitei meu cabelo e sorri involuntariamente depois de fazê-lo e poder ver o rosto de me encarando.
Dei espaço para que ele entrasse no apartamento e ele o fez, sentando logo depois no sofá. Sentei-me ao seu lado e o encarei. A expressão de seu rosto não era muito boa.
- A gente precisa conversar seriamente – ele falou encarando o teto
- Sim, fale – endireitei-me e ele me olhou.
- Eu terminei com a Ali e quero que você termine com o para que possamos ficar juntos – falou sério e eu senti todo o sangue de meu corpo se esvair.
- Eu... eu...
- , eu não agüento mais tudo isso! Termos de nos esconder dos outros, eu ir à lanchonete e não poder te dar um beijo, não importa o quanto eu queira e isso é uma tortura!
- Eu não sei o que dizer – mentira. Eu sabia sim o que dizer, mas o problema é que eu não falaria por mais que quisesse por ter outra pessoa em jogo e que, por menos que pareça, eu a amo.
Ele abaixou a cabeça, apoiando-a nas mãos e suspirou logo depois.
- Eu... – ia começar a falar quando fui interrompida
- Não fale nada – ele me encarou e foi se aproximando – eu posso te dar um tempo para pensar – ele alternava entre encarar meus olhos e meus lábios – mas, não me faça esperar demais – selou nossos lábios e quando ia se afastando, o puxei para um beijo.
Ele inclinou-se sobre mim no sofá e eu definitivamente sabia onde aquilo iria dar. Mas, fomos interrompidos. O que poderia ser bom, ou não. Porém, havia me interrompido em algo e eu definitivamente não admito esse tipo de comportamento, qualquer que seja a ocasião.
Empurrei de leve e ajeitei minha blusa que estava totalmente levantada e meu cabelo que estava totalmente bagunçado. Olhei pelo olho mágico e senti meu corpo gelar e meu estômago revirar. Falei baixo para : - se esconde em algum lugar, é o – ele arregalou os olhos e eu completei – e dessa vez não vai dar para disfarçar! – ele levantou e seguiu em direção ao banheiro, creio eu.

Abri a porta e o encarei, que tinha em seu rosto uma expressão totalmente diferente da normal.
- ? – falei antes de ele partir para cima de mim me beijando ferozmente.


CAPÍTULO 14

Ele me empurrou de volta ao apartamento me beijando um pouco mais forte do que antes – e eu cheguei a sentir meus lábios pulsarem e tenho certeza do quanto ele ficará inchado e a probabilidade que há dele sangrar – empurrando a porta com um de seus pés e me jogando no sofá logo depois.
O olhei assustada, afinal ele nunca agiu daquela maneira, como se estivesse... possuído, ou algo do tipo. Ele me encarava e eu não o reconhecia, não conseguia enxergá-lo ali, fazendo aquele tipo de coisa que eu sinceramente esperaria de , e aquilo estava me preocupando no momento, me fazendo sentir medo dele e certa repulsa de ter o seu corpo em cima do meu naquele minúsculo sofá.
Olhei para o lado tentando desviar dos olhos daquele que eu parecia não conhecer e voltei a encará-lo segundos depois, falando:
- , que diabos você tem? – tentei me desvencilhar dele
- Shiu , só curte o momento – ele falou com a voz serena de sempre
Tentei mais uma vez me desvencilhar dele, o que foi totalmente impossível, já que, o peso dele em comparação ao meu é maior. Ele continuava ali, passando os olhos pelo meu rosto, e aos poucos eu já voltava a ver o que estou junto há quase um ano, com aquele mesmo olhar brilhante, a serenidade das atitudes e das palavras que ele falava. Por um momento, pensei ter visto em seu olhar, arrependimento, o que saiu de minha cabeça logo no momento em que ele voltou a me beijar. O mesmo beijo de sempre, calmo, e até delicado demais, como se estivesse tentando reparar algum erro.
Com cuidado, dificuldade e ainda me beijando, levantou-me do sofá junto com ele, colocando uma de suas mãos em minha perna, a levantando. Parei de beijá-lo, o encarei, apoiei minhas mãos em seus ombros e dei impulso para que ele me carregasse. Voltamos com os beijos e ele me levou até o quarto, me jogando na cama, o que me fez pensar por um instante em , mas era e estava sendo impossível fazer com que ele percebesse que já podia sair do apartamento.
Aos poucos me despia e eu fazia o mesmo que ele, perdendo aquele medo e aquela repulsa de antes, que ia diminuindo de acordo com os meus olhos, que voltavam a enxergar aquele mesmo . Não demorou muito e nós já estávamos suados e ofegantes, enquanto eu estava com minha cabeça em seu peitoral definido e ele afagava meus cabelos.
Respirei fundo e me dei conta do quanto sentiria falta do perfume dele, que me deixava intoxicada e atônita, sem pensar nas pessoas em minha volta, ou em qualquer outra pessoa, ou até em , que provavelmente estava...

Completamente chocado.

Completa, total e absolutamente chocado.

Não que eu não imaginasse que eles dois faziam o que eles fizeram, mas eu estava chocado pelo fato de que ela simplesmente o fez comigo ali. Mas é claro, ela não devia imaginar onde eu estava.


No momento em que apareceu na porta daquele maldito apartamento – atrapalhando totalmente o que eu estava prestes a ter com , o único lugar que achei disponível para que eu entrasse foi um armário de bagunça no quarto dela. Um armário de bagunça – como ela chamava – que estava estranhamente arrumado, por sinal.

Sentei lá e deixei a porta entreaberta para que houvesse uma melhor maneira de haver oxigênio para que eu respirasse normalmente.

Mas, eu não imaginava – é claro – que iria querer aquilo naquele momento. Eu achei que ele ia lá para chorar e dar uma de idiota, terminando com , o que não o fazia um total idiota, já que eu a assumiria, por mais estranho que isso parecesse para quem estava de fora e até para quem já nos conhece e vê como a nossa relação de amizade é digamos... às vezes estranha.


Mas, enfim, o pior momento que eu tive naquele armário, foi ter de ouvir os gemidos do casal, ter que presenciar aquilo.

Só de pensar no fato de que eu simplesmente terminei com minha namorada para presenciar isso logo depois – o que convenhamos é extremamente frustrante e chega a ser broxante – é também inadmissível.

Sabe de uma? Farei o que tiver vontade.



CAPÍTULO 15

e eu adormecemos e eu achei que poderia ter ido para casa naquele meio tempo.
E eu estava errada – como quase sempre. Ele continuava lá, e parecia ter presenciado tudo.
Eu acordei de meu sono após sentir se mexer bruscamente – grande mania dele, o que fazia com que eu não tivesse uma grande noite de sono com ele ao meu lado – e o encarei. Ele levantou-se após ter me acordado e se vestiu rapidamente. Enquanto eu me cobria com o lençol da cama, virou-se para me encarar e se despedir, e ao observar meu rosto, mordeu os lábios fazendo uma cara de arrependimento. Arqueei a sobrancelha e ele se aproximou, selando nossos lábios.
O acompanhei até a porta, o beijando e sentindo algo latejar em meus lábios, voltando para o quarto para pegar minhas roupas para tomar banho e checar o que estava me incomodando logo depois.
Quando coloquei a última peça de roupa das que eu havia escolhido usar na cama, apareceu como um vulto do que parecia ter sido o meu armário de bagunça me assustando.
- Showzinho bom esse, em? – perguntou se aproximando perigosamente
- Ahm... desculpa ! – essa havia sido a melhor coisa que encontrei no momento para falar
- O melhor, - continuou se aproximando – é que isso me deixou com uma vontade absurda, sabe? – começou a beijar meu pescoço me fazendo morder os lábios fortemente sentindo novamente ele latejar e eu gemi de dor, o que ele achou ter sido de outra coisa, continuando a distribuir os beijos pelo meu pescoço e indo para o meu colo descoberto pelo lençol que estava prestes a cair.
Foi quando veio em minha cabeça, me dando forças para que eu esquecesse o prazer que aquilo podia me dar, empurrando , que parou próximo à outra parede.
- Não , por favor – o olhei e ele me encarava seriamente – Não – falei firme
- Então você me faz ouvir aquele show e não vai me retribuir de forma alguma? – ele voltara a se aproximar
- Não, não vou – me afastava – e é melhor você ir pra casa, certo?

Ele me olhou com aqueles grandes olhos e virou-se murmurando alguma coisa e batendo a porta do apartamento logo em seguida. Fui até o banheiro e antes de entrar no box, me olhei no espelho, vendo meus lábios totalmente inchados e vermelhos, e um pouco de sangue que eu não conseguia sentir – talvez pelo fato de eu não saber diferenciar o que seja, ou pelo fato de que sangue é algo normal para mim, como uma bebida ou até pelo fato do que eu estava fazendo no momento em que isso aconteceu e o que eu estava sentindo até pouco tempo, quando tentou repetir o que eu havia feito com o meu namorado, e que eu quase me deixei levar. Fiz uma careta e deixei o lençol que estava cobrindo meu corpo escorregar, encarando por algum tempo meu corpo, sorrindo antes de ir para debaixo do chuveiro e ligá-lo, deixando a água molhar meus cabelos e me fazendo relaxar mais do que nunca.

Na segunda-feira, acordei com o despertador e fui tomar o meu banho. Coloquei uma daquelas mesmas roupas de sempre, peguei uma maçã, meu casaco, minha bolsa e segui para o trabalho. Dessa vez sem receber reclamações por causa do meu atraso e sim gratificações, já que naquele dia eu havia conseguido chegar antes de Brianna, a queridinha do chefe.
Ele deve ter achado que eu estava doente ou que alguém deve ter me arrastado até lá.
Quando chegou, Brianna me olhou de cima a baixo com sua cara de nojo habitual e arqueou a sobrancelha ao olhar para os meus lábios murmurando algo como piranha, e eu sorri murmurando como resposta um a noite foi boa ontem, ou melhor, a madrugada toda já que nem dormi, a fazendo bufar e ir para o vestiário.
Aquele dia passou normalmente. As mesmas coisas de sempre, a maioria das pessoas de sempre e tudo aquilo de sempre. Inclusive a visita de , o que eu estranhei pelo que eu fiz com ele.
Na verdade, estranhei até o momento em que percebi que o motivo da visita dele não era eu.
Ele não foi exatamente falar comigo, mas sim com Brianna, que se não estou louca, parece ter me olhado vitoriosa, como se eu fizesse questão de que ele falasse comigo, já que se eu quisesse, estalaria os dedos e nós estaríamos fazendo o que eu quisesse em qualquer lugar.
A respondi com um olhar de i don’t care, bitch, mas senti meu coração apertar quando percebi que ele iria me ignorar, sentindo uma culpa invadir todo o meu corpo e imaginando a probabilidade de eu cair no choro naquele momento.
Mas, pensei, ele tem que entender que eu estava tentando fazer tudo ficar do jeito que deve ficar!
Ou não. Era o que eu deveria ter complementado ao meu pensamento.

não demorou muito lá, e depois disso, o tempo passou voando.
Saí da lanchonete totalmente puta com ele, porque afinal, por mais que eu estivesse errada na visão dele, ele poderia ter respeitado minha escolha naquele momento. E, também, eu não havia feito nada tão grave – como matar a namorada dele ou chutar o amiguinho dele, que seja – a ponto de fazê-lo parar de falar comigo, convenhamos. Parece que tem 14 anos!
E olha que aos 14 anos eu não fazia esse tipo de coisa. Mas, eu tenho que me lembrar de que garotos desenvolvem mais tarde que nós garotas, sem querer falar mal, é claro.
Cheguei ao apartamento e me ligou me convidando para irmos jantar. Sorri ao afirmar minha presença no encontro e fui tomar meu banho. Percebi o quanto o inchaço do meu lábio havia diminuído e liguei o chuveiro.

Encarava meu reflexo no espelho, me certificando de que aquele traje estava bom o bastante para a minha saída com . Um vestido preto simples com uma faixa de cetim azul abaixo do busto para que não deixasse aquele visual tão morto, uma sandália também preta, de salto 10 cm e tiras finas com algumas pedrinhas de strass e o cabelo preso num coque desajeitado, que deixava minha franja solta.
Coloquei as mãos na cintura e sorri vitoriosa, aquele estava sendo o visual perfeito.
Ouvi o celular tocar indicando uma mensagem e vi que já estava à minha espera na portaria.
Coloquei meu sobretudo que estava no sofá da sala já à minha espera e desci para a portaria, o encontrando vestido socialmente – o que o deixava mais sexy – encostado em seu Chrysler PT Cruiser preto, sorrindo abertamente ao me ver saindo do prédio.
Quando me aproximei, fez mesura exagerada e abriu a porta do carro para que eu entrasse.
Depois de eu ter entrado, deu a volta no carro e entrou no mesmo, me beijando antes de dar a partida.


CAPÍTULO 16

Chegamos ao restaurante e ele entregou a chave do carro para o manobrista depois de ter aberto a porta do carro para mim e beijado minha mão. Entramos, deu o nome dele na recepção e esperamos algum tempo até sermos levados à mesa indicada.
Nos sentamos e fizemos o nosso pedido para o tão simpático garçom. Depois de alguns minutos, nossos pratos chegaram e durante o jantar engatamos uma conversa, o que estava sendo maravilhoso. Na verdade, todos os momentos daquele jantar foram maravilhosos, tirando o fato de que...
Bom, tirando o fato de que em um momento de minha conversa com , olhei para a recepção e senti minhas mãos esfriarem, o que me deixou com uma certeza de que estava pálida, já que olhou para mim com uma cara assustada e eu via apenas sua boca se movimentar e um barulho chato invadiu meus ouvidos, já que eu não conseguia entender o que ele estava falando, e encarava absurda e indiscretamente a cena que se desenrolava à minha frente.
- , você tá bem? – pude entender falar e vê-lo acenando em frente ao meu rosto depois do meu momento transe
Finalmente voltei a mim e dei um sorriso um pouco desesperado para ele.
- Eu estou ótima, , ótima – sorri novamente, dessa vez mais controlada

Olhei para o lado e percebi o quanto o resto daquela noite seria impossível para que eu pudesse concentrar minha atenção somente a , que estava à minha frente
E então dá para se perguntar que diabos estava me deixando daquele jeito, se já não passou pela sua mente.
Simplesmente .
, com quem suspeito eu, ser sua namorada, no mesmo restaurante que eu.
Parecia então que eles haviam retomado a relação, já que estavam no maior amor.
Enquanto eu tentava focar minha atenção em , o que era impossível e necessário de ser repetido, já que estava no mesmo lugar que eu, perigosamente perto e me encarava como se a namorada dele não estivesse ali, o que resultou nela se virando para me encarar, me fazendo então virar rapidamente para e tocar minhas mãos nas dele, que sorriu.
fez o mesmo com a namorada – comprovando o quanto homens conseguem ser mais crianções do que nós mulheres –, me chamando atenção para algo que estava reluzindo na luz climatizada do restaurante. O que era aquilo? Um... anel de compromisso.
Sim, um anel de compromisso.

Respirei fundo e pedi licença a , que assentiu.
Fui ao banheiro e ao chegar abri a torneira, colocando meu rosto embaixo dela sem me importar com o fato de que poderia borrar a maquiagem. Depois de alguns minutos, desliguei a torneira e sequei meu rosto, bufando logo em seguida.
Patético, ele estava sendo patético.
Respirei fundo e decidi voltar à mesa. Quando abri a porta do banheiro, fui empurrada de volta.
Antes que pudesse falar alguma coisa, fui calada com um beijo e empurrei o dono de tal ato, vendo quem era
- , eu realmente não quero falar com você – falei
- O que eu te fiz?
- O que você me fez? – respirei fundo – preciso realmente falar?
- Direitos iguais, você com o seu namorado e eu com a minha – falou cruzando os braços
Revirei os olhos e o encarei
- Não se trata disso, seu energúmeno – falei rispidamente
- Então do que se trata? – se aproximou
- Se trata do fato de que... sabe de uma? Esquece! – falei indo até a porta quando senti o braço dele me puxar
- Esquecer o quê? – falou numa distância perigosa entre nós
- Tudo, esquecer tudo – falei sentindo minha voz falhar
- Tudo? – me encarou se aproximando mais, como se isso fosse possível
- Sim, tudo – senti uma lágrima teimosa percorrer meu rosto – agora volte para a sua namoradinha antes que ela fique preocupada com o seu sumiço repentino – falei com desdém tentando me soltar enquanto ele apertava meu braço mais forte
- Ah é? – perguntou
- Você é algum tipo de... – fui calada com um beijo e eu o empurrei – seu panaca – falei, limpei a boca e sequei a lágrima que ia caindo o deixando no banheiro.
Filho da mãe.


CAPÍTULO 17

Respirei fundo antes de voltar à mesa e depois de sentir que estava se não totalmente, ao menos em parte – ou visivelmente calma, sentei-me novamente em frente a e sorri tentando demonstrar que estava bem – o que deu certo.
Voltamos a conversar e pude perceber que a namorada de cochichava algo com ele enquanto me olhava, achando que eu não havia visto isso. Revirei os olhos disfarçadamente - e posso dizer que eu sei disfarçar - e voltei minha atenção a , que sorria abobalhado.
Não demorou muito e eles vieram em nossa direção. Fingi não ter visto os dois se aproximarem, percebendo que não poderia continuar com esse fingimento quando ouvi a voz de se direcionando a , que retribuia educadamente até demais. O que eu não esperava, porque antes ele achava que eu e o estávamos juntos. E ele tinha razão.
já havia pedido a conta e pago, só estava esperando seu cartão de volta, o que me deixou mais aflita. A namorada de se apresentou e eu obrigatoriamente troquei algumas palavras monossilábicas com ela, que respondia absurdamente empolgada. Observei-a e vi o porquê de tê-la escolhido para ser sua companheira. Alta, loira e olhos cor-de-mel, sorriso bonito, corpo bonito. Não reparei em mais nada, já que não fazia questão de prestar atenção em sua conversa.
O garçom finalmente trouxe o cartão de de volta para ele e nos levantamos. A namorada de , Aliana, me deu dois beijos no rosto e sorriu. e se cumprimentaram após terem trocado os celulares e feito alguma coisa com eles e nós pudemos ir então embora. Agradeci mentalmente por ter mantido uma distância aconselhável entre nós, pois se ele se aproximasse mais um pouco, não sei qual seria a minha reação e sinceramente não é algo o qual eu estava interessada em saber.
Fomos para casa e decidiu ficar no meu apartamento. Aproveitamos para conversar um pouco, coisa que não fazemos há algum tempo, já que nosso relacionamento estava simplesmente e baseando em brigas e sexo. Passado em torno de quarenta minutos deitados lado a lado e conversando sobre coisas diversas, rindo a cada besteira que falávamos ou fazíamos, adormecemos abraçados. Uma das melhores noites de minha vida. não havia se mexido tanto quanto fazia antes, o que me proporcionava uma noite de sono sem acordar para dar tapas em , que resmungava coisas sem sentido.
No outro dia acrodeiprimeiro e decidi fazer um café-da-manhã (algo que não acontece muito. Sempre estou com preguiça). Mas houveram dois motivos:
1- estava ali
2- Já fazia um bom tempo que eu não tomava um café-da-manhã decente. Sempre comia uma maçã, mas nunca algo que fosse 'bom o bastante' para me alimentar.
Se minha mãe soubesse disso já havia me preparado um buffet e me faria comê-lo inteirinho. Nessas horas que agradeço o fato de morar sozinha. Além de outros que não precisam ser citados, já que estou tentando esquecer sobre isso.


CAPÍTULO 18

Levantei da cama e fui escovar meus dentes antes de ir preparar o café, que foram panquecas com suco de laranja, enquanto nesse ritual me preparava para acordar , para podermos comer juntos. Coloquei tudo na mesa depois de pronto e ao me virar, passei os olhos no relógio do microondas, que marcava 10 horas. Ah, ótimo, seria demitida da lanchonete.
Revirei os olhos, bufando logo em seguida e fui para o quarto, me deparando com mexendo em meu armário e separando algumas roupas que incluiam biquínis, o que de alguma forma - obviamente - me deixou assustada.
- O que você pensa que está fazendo? - perguntei arqueando a sobrancelha.
Ele virou-se em minha direção e sorriu, se aproximando.
- Bom dia! - me deu um selinho
- 'Dia, mas o que você tá fazendo?
- Ah sim - sorriu novamente - o me ligou nos convidando pra passar dois dias na casa de campo dos tios de Aliana, que tá desocupada - sorriu mais ainda - Vamos? Tem piscina!
Seus olhos brilhavam incessantemente, algo que não resisto. Apesar de esse convite ser extremamente perigoso para a minha estabilidade mental, além disso, o que mais eu perderia? Sozinha eu não iria, claro, e há aquela enorme certeza de que me controlarei, pelo fato de que meu namorado estará no mesmo ambiente que eu e , além de que, eu estou tentando parar. Ainda há o fato de que se eu recusar, perguntará qual é o motivo disso tudo e eu terei que mentir mais ainda para ele, arranjando uma desculpa que com toda a certeza não o convencerá. Ele parece extremamente ansioso com a minha resposta.
Não quero desapontá-lo.
- E aí? - os olhos brilhavam de expectativa. Eu com toda a certeza não quero um filho com esse poder de persuasão.
- Tá certo - dei-me por vencida. Essa não era uma batalha ganha - Agora vamos, tem panqueca nos esperando.
- YEY! - ele gritou feliz e correu até a cozinha.

- ! - exclamei ao chegar na cozinha e vê-lo colocando todas as sete enormes panquecas no prato - Deixa metade pra mim aí! - falei me sentando e servindo suco para nós dois.
- Ei! - ele falou colocando uma panqueca ensopada com mel na boca e me encarou - Você não tinha que trabalhar? - falou de boca cheia e eu fiz uma careta.
- Tinha. Provavelmente serei demitida depois dessa. - Sorri irônica, me lembrando novamente da viagem.
- Agora eu entendi porque você não reclamou da viagem - ele falou com a boca sem panquecas
- Claro - murmurei - Quando partimos? - olhei pra ele
- Daqui a pouco - respondeu - São dois dias contando com um tempo de hoje, amanhã e um tempo de depois... Pode ser?
- Sim, sim - coloquei uma panqueca na boca
Ele terminou de comer todas as panquecas rapidamente, alegando ter que escolher o que eu usaria na viagem, colocando as roupas em uma sacola de viagem e me empurrando para o banho, algo que ele não me deixou fazer muito, o que não vem ao caso. Descemos com minha sacola de viagem e a colocamos no carro dele, seguindo para o seu apartamento, onde ele arrumou suas coisas, me deixando a esperá-lo no carro, além de ter trocado de roupa e ligado para o chefe inventando alguma desculpa para que ele cumprisse os dias que passaria fora depois, o que segundo ele, foi muito fácil de convencer o chefe, que não achou nenhum problema nos dias que ele faltaria.
Fomos para onde e marcaram de se encontrar e eles se cumprimentaram com as buzinas, logo que chegamos. acelerou e o acompanhou, de vez em quando pedindo que eu ligasse para perguntar algo como 'é certo de que não precisamos levar comida?' ou para onde eles estavam indo e que caminho estavam tomando.


CAPÍTULO 19

Eu estava simplesmente abismada com aquele lugar.
O inverno tinha ido embora e a primavera havia chegado, mas eu nunca tinha visto lugar tão bonito.
Toda aquela paisagem verde em meio a um céu azulado, ainda contendo restos do cinza do inverno, mas que continuava deixando a vista extremamente impressionante aos meus olhos.
estacionou o carro em frente a casa, enquanto o acompanhou, parando logo atrás.
- Wow - ele falou quando parou o carro
- É lindo, não?
Em toda a extensão do lugar havia verde, o que nos deixava realmente abismados. De qualquer maneira, continuava sendo uma paisagem linda e intrigante. A casa, de cor amarela, dava um ar quente ao lugar, em conjunto com o céu e com o verde que ia aparecendo na folhagem que ali havia.
Descemos do carro, pegando nossa bagagem e acompanhamos e Aliana até a porta da casa, entrando depois de Ali ter destrancado a porta. Dentro se mostrava um ambiente agradável e rústico, em contraste com todos os aparelhos tecnológicos que faziam parte do ambiente.
- Wow - repetiu observando a sala-de-estar
- Gostou? - os olhos de Aliana pareciam brilhar
- Aham - respondeu sorrindo e eu revirei os olhos discretamente.
- Então. Os quartos estão lá em cima - Ali apontou para a escada, que era em frente a porta - Segunda à esquerda, se não me engano.
- Obrigada - falei pela primeira vez na presença do outro casal - E obrigada pelo convite - sorri sincera e arqueou a sobrancelha

Subimos os degraus e nos deparamos com um enorme corredor. Fomos na porta indicada e a abrimos, encontrando um quarto de aparência aconchegante - como o que parecia ser toda a casa -, que continha um armário e em frente a ele a cama King Size e na parede paralela à porta, uma cômoda que seguia o mesmo estilo rústico. Parecendo uma criança, correu e se jogou na cama, dando batidas na mesma para que eu o acompanhasse. Deixei a sacola no chão e sentei-me ao seu lado, que me puxou para um beijo. Sem demora, nos separamos e sorrimos um para o outro.
Ouvimos uma batida na porta e eu indiquei que quem batia poderia entrar, deitando em direção à porta com me abraçando pela cintura e Aliana apareceu logo em seguida com em seu encalço, que fechou a cara ao me ver com . Ali falou com sua voz fina de sempre:
- , certo? - perguntou sorridente e eu afirmei - Vamos preparar o almoço?
- Sim, claro! - sorri e me levantei, indo até a porta.
Acompanhei-a até a cozinha, deixando que e ficassem juntos, o que estranhamente não me abalava. Ficamos conversando e enquanto isso preparávamos o almoço, que acabou sendo uma lasagna, que segundo Aliana, fazia parte de uma receita de família.
Naquele momento em que estivemos preparando o almoço, percebi o quanto minha primeira impressão sobre ela estava totalmente errada. Com toda a certeza não a havia escolhido apenas pela sua beleza, mas também pela inteligência e carisma. Ela sabia como deixar uma pessoa à vontade, algo que com certeza eu não sei. Isso me fez questionar seriamente o que e enxergaram em mim.
Terminamos e colocamos para assar, alternando entre limpar o que havíamos sujado e arrumar a mesa para o almoço totalmente fora de hora. Quando já estava assada, colocamos na mesa de jantar - que ficava no mesmo cômodo - e chamamos os garotos, que desceram correndo e rindo.
Estranhos.


CAPÍTULO 2O

- Hm, delicioso! - falou alisando a barriga enquanto eu e Aliana colocávamos os pratos na pia
- Estupendo! - falou modificando a voz e nós rimos
- Obrigada! - Aliana piscou para mim
- Agora temos um presente para vocês - falei sorrindo e eles se viraram para nós - Os pratos e a travessa de lasagna - gargalhei e eles se olharam indignados
- Em resumo, toda a louça - Ali falou - Vamos
Assenti e a acompanhei até a sala de estar com aquela enorme televisão de LCD e aquele sofá que por sinal era extremamente confortável. Ela - que estava com o controle em mãos - colocou em um programa de culinária qualquer, que eu reconheci logo depois como sendo o de Jamie Oliver - o que me fez dar alguns gritos histéricos enquanto Ali me acompanhava.
Eu já me sentia totalmente à vontade junto a ela, que estava me parecendo uma ótima pessoa - ao contrário do que eu pensava sobre ela. Acompanhávamos o programa animadamente quando fomos interrompidas por e , que se sentaram no sofá conosco.
, que estava à minha esquerda, reclamava junto a , que estava à minha direita - o que me colocou numa situação significativamente constrangedora (apenas para mim, claro) -, e falavam que o programa era de bicha que o Jamie era uma delas - o que eu particularmente discordo e discordei naquele momento, em que soltei uma resposta dosadamente mal educada, fazendo-os rirem e sussurrar em meu ouvido que era apenas uma brincadeira.
O programa acabou e eles deram graças, fazendo Ali mudar de canal. Achou um de filmes e Ali deixou, já que estava passando Terminator e eles queriam ver. Passados 10 minutos do filme - contados do momento em que começamos a assistir - perguntei se havia pipoca de microondas, recebendo resposta afirmativa e então me levantei e fui até a cozinha.
Não conseguia achar em nenhum dos armários que lá continham algum rastro do que pudesse parecer um pacote de pipoca de microondas. Revirei os olhos e encostei-me em frente a pia, sentindo não muito tempo depois alguém me abraçar e me virar abruptamente em sua direção.
- ? - arqueei a sobrancelha e ele sorriu aproximando sua boca da minha. Empurrei-o enquanto o encarava de olhos arregalados - O que você pensa que está fazendo?
- Ali me mandou vir aqui para te ajudar a achar a pipoca - sorriu novamente e ia aproximando sua boca da minha mais uma vez, me fazendo empurrá-lo mais forte.
- Eu preciso de ajuda para achar a pipoca, não para aumentar a quantidade de germes vindos da saliva de outra pessoa na minha boca - falei irritada e ele me olhou.
- Uh, - arqueou a sobrancelha - Nem fala mais comigo - pude perceber que ele estava se sentindo atingido com esse fato de eu não "estar mais falando com ele".
- Oh - ri irônica - Quem foi à lanchonete e não falou foi você - retruquei impaciente.
- Você poderia ter vindo falar - deu de ombros.
- E acabar com a emoção de Brianna só pelo fato de que você foi falar com ela e não comigo? - o sarcasmo transbordava de minhas cordas vocais - Não sou mulher de correr atrás de homem - ele bufou - Vai me ajudar a achar a pipoca ou não?
Ele me olhou com raiva e me jogou dois pacotes de pipoca que estavam no único armário que não procurei.
- Obrigada, estresse em pessoa - falei quando ele passou pela porta.
Ri e fui colocar o primeiro pacote de pipoca no microondas. Enquanto esperava, olhava pela janela o céu já escuro. Era tão lindo quanto pela manhã. O microondas apitou pela segunda vez e eu coloquei a segunda pipoca em uma outra tigela que havia achado, seguindo para a sala e me sentando no mesmo lugar de antes, depois de ter entregado uma tigela para Ali.
O filme estava interessante - estou acostumada com tal tipo já que assistia com meu pai -, mas eu já não aguentava ficar lá, pelo fato de a pipoca ter terminado e eu não gosto de assistir filme sem pipoca. E pode me chamar de fresca, eu deixo.
Mas, o problema não era a pipoca ter terminado, mas sim o fato de que eu poderia ter estragado aquela viagem naquele momento em que estávamos na sala assistindo ao filme. Enquanto estávamos ali, senti uma mão em minhas costas, por debaixo de minha blusa. Ajeitei-me no sofá e a mão parou de fazer um tour privado em minhas costas nuas. Não era nem o fato de essa mão estar somente passeando ali, mas que eu não me sinto tão confortável quando algo toca as minhas costas, ainda mais quando esse "algo" está com uma temperatura oposta à das minhas costas, me causando um choque térmico. Claro que depende da situação. Eu, por exemplo, passo a mão em minhas costas, mas o caso era outro, e, até onde eu saiba, estava informado disso.
- Para, - sussurrei em seu ouvido após sentir novamente o toque gelado da mão intrusa.
- Parar com o quê? - perguntou sério - Não tá vendo o que o Schwarzenegger tá fazendo?
Fodeu, é o - pensei.
O que me deixou mais abismada foi o fato de que era a segunda vez no dia que ele não considerava que estava no mesmo lugar que sua namorada estava, podendo ser flagrado - se eu perdesse o controle, algo que não pretendia - e que seriam dois relacionamentos estragados.
Dei uma tapa nele, tentando ser discreta, enquanto ele riu.
- Parar com o quê, ? - perguntou de novo.
- Nada, amor. Me enganei - falei sorrindo falsamente - Estou indo dormir, pessoal - levantei-me do sofá e cumprimentei com um beijo, dando boa noite geral depois de lançar um olhar maléfico a , que voltou a rir.
- Subo depois, amor - falou quando eu cheguei à escada.


CAPÍTULO 21

Eu agora definitivamente sei o que sentiu quando me ouviu com enquanto estava escondido no meu armário de bagunça - o que eu definitivamente não estava ciente, vale ressaltar -, já que ele fez um pouco pior.
Logo que fui para o quarto, tomei um banho demorado e ao voltar, depois de colocar um moletom, deparei-me com um esparramado na cama apenas de samba-canção. Deitei-me ao lado dele e me virei de costas, já que não estava muito a fim de ficar olhando para ele e minha cabeça doía.
Ele me abraçou e ficamos deitados e sem trocar nenhuma palavra; apenas juntos, quando o momento foi interrompido por gemidos abafados. Revirei os olhos e o barulho, que continuava, fez com que começasse a beijar meu pescoço, em busca de uma retribuição - a qual não dei e retribuição que ele provavelmente esperou por muito tempo.
Não me mexi e ele parou, bufando logo em seguida e dando uma tapa no colchão.
- Vá dormir, - falei e fechei os olhos, me concentrando em tentar dormir. Uma tarefa difícil: o barulho ainda continuava. Não demorou muito e eu não ouvia mais nada - pelo menos vindo daquele quarto -, o que resultou num resto de noite razoavelmente bom.

- EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FEZ ISSO COMIGO, ! - me olhava indignado. A decepção estava clara em seu tom de voz e em seu olhar.
- Eu... - tentei falar enquanto chorava, mas fui interrompida
- O ? - Aliana gritava aos prantos - EU ACHEI QUE PUDESSE CONFIAR EM VOCÊ! - me olhou decepcionada e saiu da sala junto com , que evitava me olhar.
Terminei de escorregar da parede que estava encostada e sentei-me no chão, quando senti algo molhado sujando minha mão. Olhei para baixo e enxerguei através das lágrimas que embaçavam meus olhos um líquido vermelho que nunca me fez sentir tamanho medo relacionado a ele.
Aquilo era sangue?
E eles foram capazes de me deixar
ali, sozinha e... sangrando?
- Me desculpe, eu tentei... - sussurrei, já que minha voz praticamente não existia - Achei que depois tudo mudaria... eu tentei consertar as coisas, sabe? Tentei! - minha cabeça já estava apoiada no chão, meus olhos observavam o sangue e meu nariz inalava o odor que já estava me incomodando - Espero que me perdoe - foi a última coisa que falei antes de meus olhos se fecharem por completo e eu sentir que já não havia mais esperança ou vida para mim.


- ? Acorda, ! - ouvi a voz serena de falar e eu abri os olhos quando senti suas mãos secando lágrimas que percorriam meu rosto - O que aconteceu? - me perguntou e toda a cena voltou; era como se eu estivesse assistindo ao filme do meu fim. As lágrimas começaram a cair novamente sem autorização, me puxou para um abraço e beijou minha bochecha antes de cantarolar algo que me fez dormir novamente e me sentir protegida, além de sentir um peso enorme dentro de mim.
Me resta descobrir o porquê de eu fazer isso com ele.
No dia em que isso for descoberto, minha vida mudará por completo.
Para melhor ou para pior.


CAPÍTULO 22

- Eu não sei que horas ela vai acordar, parece ter tido um pesadelo essa noite. - ouvi falar e abri os olhos devagar. Murmurei algo depois que o vi fechar a porta e ele veio em minha direção, depositando um selinho em meus lábios. - Bom dia, meu amor - falou sorrindo. Olhei para o lado; estava relembrando o pesadelo que tive, e o fato de eu estar fazendo sofrer sem ele saber era totalmente repugnante. - O que aconteceu? - virou meu rosto em sua direção - Ouvi você pedindo desculpas enquanto chorava... foi um pesadelo, certo? - afirmei com a cabeça, minha voz não saía de maneira alguma - O que acontecia nele?
Olhei novamente para o lado. Ele não estava realmente me pedindo para contar aquele pesadelo. Nunca havia me assustado tanto desde minha infância, tempo em que sempre tinha pesadelos com monstros que saíam de meu armário. Era extremamente assustador; naquela época é claro.
- ? - ouvi-o me chamar e virei em sua direção. Lágrimas escorriam novamente pelo meu rosto; estava começando a ter raiva de mim mesma. Não me lembrava de ter demonstrado tanta fragilidade em frente a desde que começamos a namorar. - Não chora, por favor - ele pediu e eu afirmei - Eu não gosto de te ver assim, você não sabe o quanto fico perturbado quando penso que posso estar fazendo mal a você - engoli em seco.
- N-não é nada disso - falei com dificuldade, minha voz saindo falha. - Eu só me assustei com o que sonhei. - tentei sorrir e fez uma careta.
- Tudo bem então. Levante-se, temos um grande dia na piscina - sorriu abertamente e beijou o topo de minha cabeça.
Foi até o armário e tirou uma bermuda, indo até o banheiro para se trocar. Saiu depois de alguns minutos e sorriu para mim; dessa vez retribui com mais intensidade que antes. Levantei-me da cama e fui até o banheiro. Entrei no chuveiro depois de me despir e ao sentir a água escorrendo em meu corpo, imaginei se toda essa podridão que estava em mim iria embora e se eu conseguiria retornar à minha vida com antes de conhecer e termos começado o caso que temos até hoje. Imaginei se o pesadelo que tive poderia escorrer junto à água e me deixar em paz por algum tempo. Fechei meus olhos e levantei minha cabeça, sentindo as gotas baterem contra o meu rosto, o que me fez sentir uma dor quase imperceptível se eu não estivesse tão concentrada nas gotas que caíam. Fiquei debaixo do chuveiro até sentir meus dedos enrugarem e minhas pernas vacilarem, já que estava há algum tempo em pé e tinha acabado de acordar depois de uma noite conturbada.
Olhei-me no espelho depois de vestida com um dos biquinis que havia escolhido para mim e um vestido marrom de malha por cima e vi o quanto minha expressão parecia cansada. Não era de se negar que eu não havia dormido bem e que não vinha estado bem já há algum tempo, mas, nunca cheguei a ter olheiras tão sobressalentes. Escovei meus dentes e sorri tentando identificar alguma melhora em minha aparência, o que não teve sucesso. Fui até minha bolsa e peguei meus óculos escuros, colocando-os e em seguida descendo as escadas para ir à cozinha.
Chegando até lá, como esperado, não havia ninguém habitando aquele cômodo. Peguei um suco qualquer que tinha na geladeira, coloquei em um copo e fui até a área da piscina. Quando cheguei, pude sentir os olhares em mim; Ali veio imediatamente em minha direção, enquanto exclamava um 'você demorou!' e sorria. , que estava na piscina junto a , sorriu para mim enquanto acenou normalmente. Sentei-me em uma das cadeiras que estavam ali e Ali fez o mesmo.
- Comeu alguma coisa? - Ali perguntou depois de alguns minutos conversando aleatoriamente.
- Ah, tomei um suco que encontrei na geladeira mesmo - respondi e ela afirmou.
Alguns minutos de silêncio.
- Você teve um pesadelo, não? - ela perguntou receosa.
Fiz uma careta. - Na verdade tive.
- Foi com seus pais, ou sei lá? - perguntou e eu neguei, tentando demonstrar que não queria dar continuidade à conversa. Ficamos mais alguns minutos conversando sobre outras coisas e eu levantei, alegando ir ao banheiro. Na verdade eu só queria ficar um pouco longe dela, porque afinal, ela estava sendo extremamente simpática comigo e eu estava sendo falsa. Apesar de não sermos amigas, isso era algo que estava me atingindo seriamente - além de muitas outras coisas; ninguém merecia algo do tipo.
Fui até a cozinha e peguei um pouco de água para beber. O fiz e segui para o quarto, sentando na cama e respirando fundo. De cabeça baixa, comecei a mexer meus dedos, quando ouvi alguém entrar no quarto. Levantei a cabeça rapidamente e vi encostando na parede depois de fechar a porta.
- O que você está fazendo aqui? - perguntei quase num sussurro; achei que ele tivesse ido escondido me procurar.
- e Ali me pediram para te procurar; você demorou e queremos preparar um almoço juntos. - Falou sem me encarar e eu suspirei.
- Tudo bem. - abaixei a cabeça novamente, levando em conta a possibilidade de sair dali e me deixar mais um pouco sozinha. Olhei para um relógio que tinha pendurado à parede e vi que ele marcava onze da manhã; ia me levantar quando senti um peso ao meu lado.
- O que aconteceu nesse pesadelo que você teve? - ele foi direto ao ponto. Encarei , que estava sentado ao meu lado e mantinha uma expressão preocupada no rosto. Eu sabia que podia confiar nele, afinal antes de tudo isso começar a acontecer, toda essa confusão, ele era o meu amigo. Desviei meu olhar do dele e o direcionei à parede, que naquele momento estava extremamente interessante para mim. - Você sabe que pode confiar em mim, . Porque não falar? Acha que eu vou sair divulgando o que sonhou? - neguei enquanto sentia meus olhos marejarem. Passei a mão por eles e virei-me para .
- Eles descobriam tudo, . - ele arregalou os olhos; sabia como meus sonhos significavam algo, principalmente quando eu me lembrava deles, coisa que não acontecia frequentemente. Era o mesmo com o frio repentino que sentia e um embrulho em meu estômago: indicava na maioria das vezes que algo estava por vir, fosse bom ou ruim.
- Descobriam? - perguntou chocado.
- Sim. - falei - Agora você entende porque eu quero me afastar? - ele me encarou; seus olhos arregalaram mais um pouco.
- Afastar-se? Você acha que é fácil pra mim?
- Eu sei que...
- Você não sabe de nada! - ele se levantou e apontou seu dedo indicador em minha direção. - Eu não consigo mais ficar longe, caramba! É difícil ficar junto tanto tempo e simplesmente depois deixar pra lá; não tem como!
- Você acha que não é difícil pra mim? - levantei-me e parei à sua frente; me controlava para não começar a gritar, porque isso poderia fazer com que ou Ali aparecessem e perguntassem o porquê da discussão que estávamos tendo. Isso não seria bom.
- Pelo que parece não. - ele falou.
- E você lê meus pensamentos agora? Ah, eu não sabia! - ironizei e ele me olhou, se aproximando rapidamente e me puxando para um beijo. Eu sabia que tinha que parar, mas não conseguia. O beijo era cheio de malícia, mas não podíamos de maneira alguma passar dos limites. Ou ao menos eu sabia disso, porque começou a se empolgar e eu não queria que o sonho se tornasse realidade, apesar de um lado meu ser menos racional e desejar isso, tanto quanto um lado que provavelmente tem e que toma conta dele cada vez mais. Me afastei dele e o encarei; ele sorriu.
- Senti falta disso. - Não consegui reprimir um sorriso.
- Eu também senti - deixei escapar e fiz uma careta; ele sorriu e me abraçou quando ouvimos a porta abrir, era .
- Olha, você a achou, cara! - falou animado e de repente parou - O que vocês estão?...
Virei-me para ele e tentei demonstrar que estava chorando - o que não era mentira - e a expressão dele imediatamente ficou mais leve e um pouco assustada. Me soltei de e me abraçou, sussurrando um 'obrigada' para que respondeu um 'não tem de quê' e saiu do quarto. Eu tenho que começar a rezar antes de dormir e agradecer pela minha farsa ainda não ter sido descoberta.
- Não chora, amor - falou enquanto afagava meus cabelos - Esquece o pesadelo, não importa qual tenha sido ele. Não vai acontecer, acredite em mim.
Eu também queria poder acreditar nisso, .


CAPÍTULO 23

Os dois dias que passamos lá foram de certa forma agradáveis, é impossível negar, apesar de tudo o que aconteceu; digo, o pesadelo e ter entrado no quarto enquanto eu estava abraçando . Para mim não é nada demais abraçar , mas para é diferente; o que eu tive sorte foi de ele não ter entrado no quarto no momento em que me beijou. Isso sim daria problema.
Eu não fui para a piscina, mesmo com Ali, e insistindo para que eu o fizesse; não estava me sentindo muito bem. Quando voltamos para Londres, nos despedimos em frente ao meu prédio, com promessas de Ali de que iria me visitar e me ligar para fazermos um programa de garotas. Eu apenas sorri em resposta, enquanto despedia-se timidamente - ele passou a não falar muito comigo depois que nos viu abraçados no quarto. pareceu não se importar muito com isso, apenas me garantiu que tudo ficaria bem e que daria certo, depois de ver que eu estava chorando, mesmo sem saber que talvez isso seja impossível, que não é o que ele imagina, que para consertar tudo isso eu terei que machucar um dos dois e machucar a mim mesma; algo que não quero.
- Tem certeza de que você precisa ir trabalhar hoje? - perguntou coçando os olhos enquanto eu me levantava da cama dele; eu havia passado a noite em seu apartamento.
- Claro que sim - falei em tom óbvio - Você não acha um pouco demais ter faltado sem dar satisfação alguma ao meu chefe? - ele bufou.
- Eu já te falei que você não vai precisar trabalhar nessa lanchonete idiota enquanto estivermos juntos.
- Ah é? E o dia em que não estivermos mais juntos? - ele olhou para mim com os olhos arregalados.
- O que você quer dizer com isso, ?
- O que eu quero dizer é que eu preciso trabalhar - sorri e fui tomar um banho.

Saí do apartamento de sem tomar café ou comer uma das torradas que ele havia preparado para mim. Fui andando devagar, mesmo que eu chegasse atrasada não faria muita importância; eu provavelmente seria demitida. Umas duas quadras antes da lanchonete parei em uma banca qualquer e comprei uma carteira de cigarros; não estava me sentindo muito bem. Acendi um cigarro e momentaneamente fiquei melhor, mais calma e pronta para enfrentar o meu chefe quando chegasse à lanchonete. Quando parei em frente à lanchonete, pude sentir os olhares de Brianna e de meu chefe querido. Ignorei-os e joguei o cigarro no chão, amassando-o e respirei fundo, entrando na lanchonete logo em seguida. Brianna veio em minha direção e falou algo como 'hoje que me livro de você' e sorrindo irritantemente. Como se eu me importasse tanto assim com isso.
Fui para o vestiário quando vi Sam, um dos funcionários, aparecer, me desejar bom dia e falar que o chefe queria me ver na sala dele. Concordei com a cabeça e peguei minha bolsa, seguindo para o escritório, que ficava nos fundos da lanchonete. Bati na porta, e ao receber uma confirmação de que podia entrar, a abri e me deparei com o chefe sentado em sua cadeira acolchoada e fumando um cigarro. Sentei-me em frente a ele, que amassou o cigarro apoiou os cotovelos na mesa, me encarando.
- Pode explicar - falou ele.
- Não tem o que explicar.
- As suas faltas.
- Tudo bem; eu faltei porque viajei com meu namorado.
- E nem ao menos liga para avisar?
- Não.
Ele suspirou. - Certo. Aqui está o pagamento do mês; você já sabe o que isso significa, não? - Estendi minha mão e peguei o envelope. Levantei-me e ele fez o mesmo, estendendo a mão logo em seguida. - Foi um prazer tê-la como funcionária, mas infelizmente isso foi preciso. - Apertei a mão dele.
- Não vou dizer que foi um prazer trabalhar aqui - ele deu um riso de desgosto - Mas o senhor foi um bom chefe. - Sorri e ele retribuiu. Saí da sala e em seguida fui até o vestiário pegar algumas coisas minhas que estavam no meu até então armário, que não eram muitas. Sam, que se encontrava no vestiário, me abraçou e falou que sentiria minha falta. Arqueei a sobrancelha, mas retribui o abraço. Ele, até então, nunca havia falado muito comigo.
- Cara, tem como você me dar o seu número? A gente pode se falar... não sei. Se você quiser, claro - sorriu e eu afirmei. Peguei o celular dele, que ele estendia em minha direção, e salvei meu número ali. - Pois então, me desculpe por todo esse tempo que trabalhamos juntos. - sorriu novamente e eu afirmei com a cabeça, sorrindo e me dirigindo à saída enquanto recebia olhares de Brianna, de alguns outros funcionários que eu nunca lembrei o nome e de alguns clientes.
Saí da lanchonete e ouvi o meu celular tocar. Peguei-o na bolsa e vi o nome de Ali piscando no visor. Revirei os olhos e atendi antes que fosse para a caixa postal e ela voltasse a me ligar. Ouvi sua voz estridente gritar um alô animadamente e afastei o telefone do ouvido, minha cabeça estava doendo e minha visão um pouco embaçada. A respondi imediatamente, para que ela não gritasse novamente e me deixasse um pouco pior do que eu estava ficando.
- Então , eu liguei porque quero te convidar pra fazermos um programinha... tá liberada agora?
- Na verdade estou; onde vai querer se encontrar? - estreitei os olhos, parecia ter alguém conhecido alguns metros à frente.
- Se eu não me engano, estou te vendo - gargalhou e eu a acompanhei. Por mais que sua voz fosse relativamente irritante, sua risada contagiava.
- Tudo bem então; estou indo em sua direção! - falei e desliguei o celular. Quando o coloquei novamente na bolsa, minhas mãos tatearam a carteira de cigarros e imediatamente tirei um e procurei o isqueiro, o que foi difícil por eu estar me movimentando. Então eu parei e finalmente o achei, podendo acender o cigarro e sentindo um alívio momentâneo ao tragá-lo, quando parei em frente a Ali que estava sorrindo e veio me abraçar.
- , senti saudades! - falou enquanto eu tragava mais uma vez.
- Nossa, que dramática você - sorri.
- Eu estou aqui me declarando e você fala isso! - fez cara de atingida e eu ri, tragando mais uma vez e não sentindo mais o alívio anterior, mas uma náusea que de qualquer maneira não me fazia parar de fumar aquele cigarro. - Vamos? - perguntou e eu afirmei. Começamos a andar e poucos metros depois, Ali finalmente quebrou o silêncio, quando eu joguei a ponta do cigarro no chão e amassei. - Você fuma? Lá na casa eu não te vi desaparecer sem razão, tirando o dia da piscina que você teve aquele pesadelo e falou que ia beber água.
- Na verdade eu não fumo. Digo, não fumo frequentemente. Hoje não está sendo um dia muito bom e então eu comprei pra ver se eu relaxava um pouco.
- Funcionou?
- No começo. Agora eu não tô muito legal. - dei de ombros.
- Você não quer que eu te acompanhe até seu apartamento? A gente pode deixar isso pra outro dia! - exclamou preocupada.
- Não, obrigada - sorri - Se eu ficar pior, aviso, tá legal? - ela afirmou com a cabeça.
Andamos mais um pouco e Ali insistiu querer entrar em uma loja de roupas que estava em promoção. Mesmo não gostando muito de escolher roupas, entrei. Ela foi para uma área com vestidos e começou a colocá-los em frente ao corpo enquanto se olhava no espelho e uma vendedora nos acompanhava e falava que todos ficariam ótimos nela - apenas tática de venda.
- Eu acho que vou experimentar esse aqui, o que você acha? - perguntou indecisa.
- Fique à vontade. - sorri e comecei a olhar algumas blusas enquanto a vendedora me acompanhava e tentava me fazer comprar. - Não, obrigada, só estou dando uma olhadinha - falei e ela finalmente me deixou em paz. Não demorou muito e ouvi meu nome ser chamado por Ali que havia saído do provador com o vestido verde-água no estilo Marilyn Monroe, mas um pouco menos rodado e acima do joelho, mais ou menos no meio da coxa.
- E então? - rodou e quando voltou à mesma posição de antes, fiz um sinal de jóia com as duas mãos e sorri, a fazendo gargalhar no estilo contagiante dela. Voltou ao provador e pouco tempo depois estava com o vestido em mãos e a vendedora (que se encontrava sorridente pelo fato do vestido ser caro e isso ser bom para a sua comissão) o registrava no caixa. - - ouvi Ali me chamar enquanto eu olhava o nada e virei-me rapidamente em sua direção - O que aconteceu exatamente no pesadelo que você teve? - perguntou e eu engoli em seco; precisava pensar em uma maneira de despistá-la - Foi mesmo algo com seus pais? Porque eu não acho que você seja do tipo que se assusta com esse tipo de sonho.
- Eu prefiro não lembrar disso.
- Porque não? Não seria melhor falar? - ela me encarava e eu fazia o mesmo. Não era também do tipo de deixar de encarar alguém porque já estou sendo encarada - dependendo da situação, obviamente.
- Na verdade não. Não é algo que... - de repente senti meu estômago se contrair e minha cabeça começou a latejar. Ali me olhou assustada e perguntou à vendedora onde tinha um banheiro ali; se eu falasse, poderia fazer um estrago e sujar aquela loja tão bem perfumada e arrumada. Saí correndo depois que o banheiro me foi indicado e ao chegar, agachei-me no vaso depois de levantar a tampa e o assento e senti o que estava me fazendo mal sair e um gosto amargo se instalar em minha boca, o que me deixava com mais vontade de vomitar o que provavelmente eram restos do dia anterior, já que não me lembrava de ter consumido alguma coisa naquele dia. Depois do que me pareceram horas forçando meu estômago a expelir o que me fazia mal, mesmo que tenha se passado apenas minutos, sentei-me desajeitada e sequei o suor que escorria pela minha testa e grudava minha franja. Minha cabeça já não doía tanto e apesar da respiração acelerada, o gosto ruim em minha boca e o calor, eu estava bem. Levantei-me, dei descarga e fui até a pia. Lavei a boca, o rosto e ajeitei o cabelo tentando me recompor. Estava um pouco pálida, mas isso era o mínimo. Talvez tenha sido pelo fato de eu não ter ingerido nada mais cedo. Voltei para a loja em si, onde Ali me esperava batendo os pés de maneira irritante e demonstrando preocupação em seu rosto.
- Você está bem? - perguntou ao me entregar minha bolsa que eu havia deixado no balcão e eu afirmei com a cabeça, enquanto saía da loja com ela.
- Eu não tomei café, foi isso. Mas eu estou melhor sim - tentei dar o meu melhor sorriso e ela retribuiu ainda desconfiada.
- Você não deveria deixar de comer e ainda por cima fumar - falou e eu ri.
- Tudo bem, mamãe. Isso não vai acontecer novamente.
Andamos mais um pouco depois de fazermos uma parada em uma Starbucks já que Ali insistiu que eu deveria comer pra não passar mal novamente e continuamos a andar e a entrar em algumas lojas. Aquilo estava sendo divertido e me fazia lembrar a high school, antes de minhas amigas do grupo de teatro irem para os Estados Unidos tentar o sonho delas e eu ter ficado, por pura acomodação, já que não queria sair de Londres e ter que cumprir todas aquelas burocracias insuportáveis. E então por volta de um ano e meio depois minha tia me oferece a chance de ir morar com ela em New York. Tudo pago, casa, comida e viver em um lugar em que eu poderia ter uma chance em um milhão de reencontrar minhas amigas, mas ao menos tinha a chance. Coisa que por aqui é geralmente impossível. Mas eu não aceitei por causa de um alguém, . Mas, do que adiantou não aceitar o convite de minha tia e tudo isso estar acontecendo? Talvez eu tivesse que deixar a paixão de lado, deixar e seguir em frente. Mas eu fiquei. E naquele momento estava fazendo compras com uma pessoa que estava sendo extremamente legal comigo, e pelo que parece, me considera uma amiga enquanto eu estava também saindo com o namorado dela.
Depois de várias lojas, várias sacolas em mãos, inclusive nas minhas, já que ela me obrigou a comprar algumas roupas pra mim, e me presenteou com uma blusa branca que tinha como estampa vários objetos desenhados em cinza como se fossem rascunhos e com a frase I love stuff escrita em uma letra rabiscada de cor preta, e com alguns detalhes em roxo que era peça única e por isso acima do que eu gastaria normalmente comprando uma blusa, alegando ser um presente por estar a acompanhando nessa maratona de compras. Maratona essa que me fez saber um pouco mais da vida dela, que não é sustentada pelos pais - que foi a primeira coisa que pensei quando a vi entrando em tantas lojas e comprando tanta coisa, mas que é designer de interiores, o que me deixou totalmente impressionada com ela, alguém que eu julgava tão mal e que se sai melhor do que eu em muitos aspectos, sendo um deles o de emprego, porque afinal eu havia acabado de ser demitida.
- Vamos entrar aqui? - perguntou quando passamos em frente a um McDonald's e eu afirmei, acompanhando-a logo em seguida. Fizemos o pedido e enquanto Ali esperava, fiz duas viagens para poder colocar nossas coisas em uma mesa e fui pegar meu pedido que já estava pronto. Nos sentamos no meio das sacolas que se encontravam em duas cadeiras e algumas no chão e começamos a comer enquanto conversávamos e ríamos, chamando a atenção alheia. A dor de cabeça que ainda insistia em me incomodar finalmente foi embora e eu me senti melhor enquanto comia o Cheddar McMelt e bebia o copo enorme de coca-cola. Pela cara que Ali fez depois de algum tempo, eu deveria estar parecendo um monstro enquanto comia, mas eu nem liguei e continuei.
- Você tá com algum tipo de buraco negro no estômago? - perguntou e eu neguei, arqueando a sobrancelha.
- Não, por quê?
- Porque você tá parecendo um monstrinho comendo - riu e eu a acompanhei - E além do mais, não faz tanto tempo assim que passamos na Starbucks e você comeu todos aqueles muffins e os meus muffins - deu ênfase e eu gargalhei.
- Ah, eu não comia há o quê, dez horas? E você disse que não queria o muffin! - me defendi.
- E agora, você tá comendo desse jeito e quando foi a última vez que comeu? Há umas três horas? - riu.
- Minha nutricionista sempre disse que eu deveria comer a cada três horas. Não estou fazendo nada de errado - dei de ombros.
- Comer em pouca quantidade por vez, e moderadamente - falou - Não parecendo um monstrinho - riu e eu soltei um muxoxo depois de terminar de comer o hambúrguer. Tomei mais um gole da coca-cola e olhei as apetitosas batatas que Ali tinha pedido e que eu decidi não pegar.
- Ali... - ela me olhou - Você pode me dar algumas batatas? - sorri abertamente e ela me olhou com reprovação.
- Fique à vontade, monstrinho - falou e eu peguei quatro batatas, colocando-as de vez na boca. Ali sorriu e mudou sua expressão quando eu fiz uma careta ao engolir as batatas; elas não tinham caído muito bem. - Tá sentindo o quê? - perguntou e eu me levantei novamente, correndo para o banheiro do já conhecido McDonald's e repetindo o mesmo processo daquele mesmo dia mais cedo. Fiz uma careta depois de descarregar e fui lavar o rosto. Duas vezes no mesmo dia? É muita falta de sorte mesmo. - pensei enquanto lavava a boca. Minutos depois voltei para a mesa onde Ali se mantinha preocupada.
- Duas vezes no mesmo dia, ? - perguntou.
- O pior de tudo é a comida desperdiçada e as minhas libras - falei fazendo falsa voz triste e recebi um tapa no braço.
- Para de brincadeira! E se isso for sério?
- Não se preocupe, isso tudo só aconteceu porque eu passei tanto tempo sem comer.
- Você tá pálida, - falou - Só pode ser alguma coisa!
- Uma infecção talvez - dei de ombros - Podemos ir agora?
- Desculpe-me, é que eu liguei pro vir nos buscar - falou receosa - Ele vai avisar ao e ele vai pra sua casa, tudo bem? - e então a dor de cabeça que tanto me atormentou e foi embora, voltou, e dessa vez com mais força, me deixando um pouco pior do que antes e me fazendo suar frio, enquanto sentia calafrios passearem pelo meu corpo sem minha autorização. - ? - ouvi Ali falar e tentei falar, não tendo sucesso. Ela continuava chamando meu nome, e dessa vez estava longe, quase se tornando um ruído. Meu olhar passeava por entre as pessoas que se encontravam entretidas e parou na entrada, quando vi entrando e esbocei um sorriso, me levantando em seguida. Um erro. A última coisa que fiz antes de minha respiração falhar, minha visão embaçar, meu corpo ir contra o chão e tudo escurecer.


CAPÍTULO 24

Eu pude ter tido a impressão de ouvir gritos vindos de todos os lados. Sendo assim, eu não estava totalmente inconsciente, o que de certa forma era bom - eu não estava morta. Eu não sei dizer o que causou o meu desmaio - pode ter sido a comida e a quantidade que eu comi -, mas isso ia resultar em minha mãe ligando para mim e em me obrigando a ir ao médico para ver o que está acontecendo comigo, porque segundo ele durante toda a volta da viagem, eu estava muito estranha e ainda estava preocupado com relação ao meu sonho. Eu só queria ter uma pessoa de fora, que não fosse , por ele estar envolvido nessa confusão - a única palavra indicada para descrever o que anda acontecendo - e que eu pudesse confiar imensamente. Outra pessoa que eu não poderia falar disso é a minha mãe (ou meu pai), eles vão me esfolar e me mandar terminar com um ou com os dois. Tudo muito complicado. Mais complicado ainda era perceber que eu estava retomando à total consciência e voltando à minha confusa realidade. Ouvi a voz de Ali que perguntava se eu estava bem, e no meio tempo que ouvi, foi repetida a mesma frase por pelo menos mais cinco vezes. Ouvi outra voz, desconhecida, que se despedia e logo depois a voz de , seguida pela voz de , que estava ofegante. Provavelmente ele havia chegado há pouco tempo.
Abri meus olhos devagar, tentando me acostumar com a claridade e reconheci o meu quarto. Olhei em volta e vi e Ali abraçados enquanto me encaravam e indo se sentar ao meu lado na cama.
- Tá tudo bem com você, meu amor? - ele perguntou, enquanto passava a mão em minha testa.
- Eu estou ótima. O que aconteceu, afinal? - perguntei me dirigindo a Ali e a .
- Bom, quando estávamos no McDonald's, teve um momento - Ali pigarreou -, depois de você ter vomitado - com toda a certeza estava com os olhos arregalados -, que começamos a conversar e de repente você ficou paralisada com algo. Eu chamava o seu nome e nada. E então você levantou sorrindo e caiu no chão. Foi, por sorte, no momento em que havia chegado. - me encarava preocupado - Pra quê você levantou, se estava passando mal? - perguntou Ali.
- Não me lembro - menti e fez um barulho estranho com a boca. - Alguma coisa, ? - perguntei e ele balançou a cabeça negativamente.
- O que o médico falou? - perguntou e virou-se imediatamente em minha direção - Como eu não podia sair do trabalho no momento em que o me ligou, pedi para um médico amigo de minha família vir até aqui - sorriu e eu retribui. Ele virou-se novamente para .
- Ele falou que foi um mal estar e passou alguns remédios. E ah, falou que ela não pode ficar sem comer por tanto tempo, tem que descansar por alguns dias, por volta de uma semana, e voltar a contatá-lo se continuar do mesmo jeito e caso desmaie também.
Ótimo, vou ter babás por um bom tempo.
- Não preciso disso - ajeitei-me na cama e me repreendeu.
- É claro que precisa disso! Você desmaiou! - Falou e eu enfim entendi que eles não me deixariam em paz por muito tempo. - A gente precisa ligar pro seu chefe e avisar o que aconteceu pra ele te dar uma licença de alguns dias. - Quebrou o silêncio que se instalou de repente no quarto.
- Não vai precisar - falei.
- Por quê? - Todos perguntaram em uníssono, o que me fez rir internamente.
- Fui demitida - dei de ombros.
- Por quê? - Dessa vez perguntou.
- Porque eu fui viajar com vocês sem dar notícias. E então ele me demitiu, por normas e blá blá blá. - Falei e Ali fez uma cara de compreensão.
- Agora entendi o porquê de você estar liberada naquele horário - bateu na testa e eu sorri.
- Pois então, eu vou tirar uma folga por hoje e amanhã para ficar com você. - falou.
- Eu não sou nenhum tipo de criança! - Falei, sendo ignorada.
- Ou então a gente pode fazer tipo um rodízio; cada um vem em um horário só pra não deixá-la totalmente sozinha, caso o desmaio aconteça novamente - falou e recebeu um beijo de Ali.
- Eu não sou uma criança! - exclamei indignada.
- A gente sabe disso, o problema é que não dá pra deixar você sozinha aqui, com o risco de desmaiar novamente. E se acontecer algo pior? - Ali falou calmamente.
- Com uma condição.
- Qual? - perguntou.
- Não se atrevam a ligar para minha mãe. - Falei sério e eles sorriram. - Eu não tô brincando, tão ouvindo?
- Tudo bem, meu amor - recebi um beijo na bochecha e não pude deixar de sorrir.

No dia em que desmaiei, e Ali foram para casa depois que foi até o seu apartamento buscar algumas mudas de roupas - alegou que passaria essa semana comigo - e logo que ele voltou, tive um tratamento de princesa: havia me levado um prato de uma sopa que ele dizia ser uma receita de família e que estava realmente gostosa, além de eu ter sido extremamente mimada durante o tempo em que passamos acordados na cama. Digo, o tempo em que ele ficou acordado. Não havia passado das nove quando apagou ao meu lado. Estávamos conversando e de repente ele parou de falar e sua respiração - que ia contra a minha cabeça - ficou leve. Sorri e me aconcheguei em seu peito, enquanto olhava a parede sem motivo algum. De certo modo, sentia medo de dormir, fazendo-o somente quando não resistia e com alguma sorte no outro dia não me lembrava de algum sonho que por algum acaso tive - o que vinha acontecido ultimamente, me fazendo ser imensamente agradecida por isso.
No outro dia, ficou comigo por algum tempo até Ali chegar. Apesar de ser apenas o segundo dia que esse "rodízio" acontecia, eu já estava entediada. Não podia fazer nada porque tinha que repousar, e Ali estava fazendo de tudo para que eu ficasse deitada na cama o dia inteiro, só me levantando para coisas realmente importantes, como necessidades fisiológicas. Na hora do almoço, havia dado uma passadinha no meu apartamento para - segundo ele - me dar um oi e levar um Playstation 2 que eles tinham, mas que ultimamente não estavam usando, além de ter ficado lá para almoçar a macarronada que Ali havia feito e que estava realmente deliciosa. apareceu logo depois, mas não demorou muito e voltou ao trabalho, junto com , que estava estagiando em algum tipo de firma, mas que na verdade era modelo.
- Fala sério - falei quando Ali voltou a se sentar ao meu lado no sofá com uma tigela enorme de pipoca que eu a havia praticamente implorado - Muito obrigada mesmo! - Abri um sorriso imenso e peguei uma grande quantidade de pipoca depois de colocar o controle do videogame na mesa de centro da sala.
- Você sabe que não pode ficar comendo esse tipo de coisa - fez uma carranca - Não conte para que fiz essa pipoca entupida de manteiga simplesmente para fazê-la calar a boca - revirei os olhos.
- Eu estou com uma vontade imensa de comer pipoca - ela abriu a boca, mas continuei - E estou doente. Você está aqui como minha babá e, portanto, deve fazer o que peço - sorri sapeca e ela me deu uma tapa na cabeça - Ai, sua rude - fiz carranca e ela sorriu, pegando pipoca para ela também.
- Tá jogando o quê? - Perguntou.
- The Godfather. Estava junto com alguns jogos que trouxe hoje.
- O seu personagem parece uma mistura de com o - riu e eu arqueei a sobrancelha. Para mim ele parecia mais o Luke que sempre sonhei em ter desde criança. - Foi baseado neles?
- Na verdade é baseado em um, tipo, sonho de criança. Sabe o príncipe encantado que sonhamos em encontrar? - ela afirmou com a cabeça enquanto continuava sorrindo - Então é esse mesmo - sorri enquanto pegava mais um punhado de pipoca. - A propósito, está uma delícia!
- Então esse seu "príncipe dos sonhos desde criança" – fez aspas – É uma mistura do com o . – insistiu.
- Já que você diz. – Dei de ombros e continuei comendo a pipoca.
- , amanhã é o quem vai ficar com você. – falou normalmente e eu senti que ia engasgar. Podia não dar certo ficar sozinha com ele no meu apartamento enquanto nem o meu namorado ou a namorada dele desconfiam de que temos alguma coisa.
- Por quê? – perguntei dengosa – Eu quero que você fique comigo amanhã – fingi choramingar.
- Fala sério, – revirou os olhos.
- Claro que sim! Eu quero que você me faça suas comidas gostosas! Sou péssima cozinheira.
- Que calúnia, sua boba! Você cozinha bem, só é preguiçosa! – riu e eu dei de ombros.
- Mas porque você não vai poder ficar aqui comigo?
- Pra quê quer saber? Você não disse que não precisa de babá?
- Você é outro caso, a gente tá curtindo, falando besteiras e comendo pipoca – levantei a vasilha – Que está uma delícia, por sinal. Já comentei isso?
- É a segunda vez. – Falou. – Mas respondendo à sua pergunta, eu não vou poder vir amanhã, porque tenho que encontrar uns clientes incrivelmente ricos que querem decorar a casa e vamos conversar. Não tenho tanta folga assim. Digo, tenho, já que trabalho para mim mesma – sorriu abertamente.
- Não coloca inveja, só porque sou uma falida que acabou de ser demitida da lanchonete que trabalhava e que ainda por cima vai ter que ser sustentada pela mãe – ela revirou os olhos.
- Você não é uma falida, apenas não encontrou o que realmente deve fazer! – falou.
Ficamos conversando por mais alguns minutos, quando o telefone tocou, nos interrompendo. Estendi minha mão e peguei o aparelho, que estava ao meu lado no sofá.
- Alô? – perguntei.
- Filha? – droga, minha mãe.
- Ela não está no momento, gostaria de deixar recado?
- Deixa de brincadeira, eu sei que é você. – falou rindo.
- Ah, então pra quê perguntou?
- Não importa. Como você está?
- Melhor impossível – menti e vi Ali se levantando do sofá enquanto ria.
- Mentira.
- Não saquei.
- Eu sei que você desmaiou no McDonald's. – falou me repreendendo.
- Ah.
- Meu genro me contou.
- Vou matá-lo, só pra constar.
- Não faça isso. Se ele aparecer morto, ligo para a polícia e te acuso.
- MÃE!
- O quê? Eu gosto dele!
- Tô vendo que gosta dele mais do que gosta de mim, sua própria filha.
- Não. Eu te amo. Mas você não ia se sair impune de ter cometido um assassinato!
- Tudo bem. Como o papai está?
- Ótimo! Mandou um beijo para você. E ah, sua tia me disse que está para te ligar.
- Que tia?
- Lily, oras! Que tia liga para você, afinal?
- Ah é. – afirmei – Mas então, me ligou para?
- Saber como você está. Vejo que a língua continua afiada.
- Sempre. – Ri.
- Pois então, tenho que ir, seu pai está me chamando para irmos ao mercado. Melhoras!
- Ok, mãe. Eu te amo.
- Também, querida. – desliguei o telefone e suspirei. Tinha certeza do que minha tia queria. E eu estava pensando em dessa vez aceitar.


CAPÍTULO 25

- Bom dia, flor! – Ouvi a voz de e bufei, me virando e tentando voltar a dormir. – Acorda! – Abri os olhos e me virei em sua direção.
- Por favor, pode me deixar DORMIR? – Perguntei e ele revirou os olhos.
- Não. Já são onze e meia, e você precisa acordar. Vai me ajudar a fazer o almoço. – Sentou-se ao meu lado e beijou minha bochecha.
- Cara, eu não vou levantar daqui. Cadê o ? Ele não veio dormir aqui ontem.
- Passou aqui agora de manhã pra ver se tava tudo bem. Viemos juntos, na verdade. E ah, ele deixou um recado: pediu desculpas por ter ligado pra sua mãe. É que ele ficou bastante preocupado. – Revirei os olhos. – Agora levanta.
- Não.
- Levante, .
- Não. – Repeti – Já disse que não vou e acabou!
- Ah vai sim. – falou e começou a distribuir beijos pelo meu rosto, além de algumas mordidas, me fazendo enfim levantar da cama me dando por vencida.
- Tudo bem. Já levantei. Agora você dá um fora daqui que eu vou tomar banho.
- Ah não – fez cara dengosa. – Me deixa ir também? Por favor? – sorriu malicioso.
- Não, seu louco! – dei risada. – Agora vaza.
- Ok. Vou preparar nosso almoço, madame. – Fez reverência e eu ri, o empurrando até a porta do quarto.

- E então, o que temos para o almoço? – apareci na cozinha.
- Hambúrguer. – deu de ombros.
- Não sabe cozinhar algo melhor? – provoquei.
- Nah. Porque você não vem cozinhar?
- Não tô afim. Vou jogar, beleza? – Falei e dei as costas a ele. Logo em seguida senti um puxão em meu braço. – Ai, seu rude! – Exclamei quando ele me virou em frente a ele, deixando nossos rostos próximos. – Não faça isso, . – Falei quando vi seu rosto se aproximar do meu de pouco em pouco.
- Porque não? – ele perguntou e eu senti seu hálito ir contra o meu rosto.
- Porque não. Eu já te falei que não dá mais, . – ele apertou meus braços – Me solta. Por favor. – falei e ele finalmente me soltou. Fui até a sala e liguei o videogame, sentindo depois de alguns minutos o peso de ao meu lado. Pausei o jogo e o vi colocando uma bandeja em cima da mesa de centro.
- Aqui está o almoço. – Ele foi se levantando e eu o puxei, me levantando logo em seguida e ouvindo o controle do videogame cair no chão.
- Obrigada por tudo, mesmo. – Falei e ele afirmou com a cabeça, se soltando de mim e indo para a cozinha. Sentei-me no sofá e comecei a comer o hambúrguer que havia preparado. Depois de terminar, levantei-me e fui até a cozinha, onde se encontrava sentado no balcão, ouvindo o meu iPod.
- Você tem músicas bem legais. – falou me estendendo o iPod. Ele estava ouvindo Slow Ride, do Foghat. Sorri e coloquei a louça na pia. Comecei a lavar o que estava sujo e quebrou o silêncio que com certeza o incomodava. – Não sei o porquê de você fazer isso comigo. – Falou e eu o encarei.
- Eu achei que você já tivesse entendido a situação pela qual estamos passando.
- Eu entendi! – falou. – Eu acho. Mas é difícil, entende?
- Pra mim também não é nada fácil, . O problema é que você ultimamente tem forçado a barra. E olha só, a probabilidade de sua namorada ou de meu namorado entrar aqui é grande! Eles não vão respeitar a política de bater na porta, eles vão entrar, porque afinal, eu estou doente e preciso ser vigiada o tempo inteiro por vocês!
- Tudo bem, você está certa. – falou e desceu do balcão. Suspirei aliviada; achei que ele iria simplesmente descer do balcão e ir para qualquer outro cômodo do meu apartamento. Adivinha só? Eu estava errada. Não demorou muito e se aproximou de mim, me empurrando contra o balcão que há poucos minutos ele estava sentado. Eu o encarava. Não que eu não quisesse, mas estava começando a sentir uma náusea insuportável só de pensar na possibilidade de ou Ali entrarem no apartamento e flagrar a situação a qual nos encontrávamos.
- Não, . É difícil pra você entender? – perguntei enquanto continuava sendo empurrada por ele, que também me encarava.
Seu rosto se aproximou do meu.
- Não é difícil de entender. É difícil de aceitar. – Falou e seu rosto se aproximou cada vez mais do meu. Quando pensei em repreendê-lo, como andava fazendo muito, ele já havia selado os nossos lábios. Não vou falar que não pude resistir, afinal, eu também queria. Não demorou muito e ele me carregou, me sentando no balcão sem desgrudar nossos lábios. Eu não respirava há algum tempo, mas do que importava se eu estava nos braços da minha droga favorita? Já não havia nada ao meu redor, estava sinceramente pouco me importando se Aliana entraria por aquela porta ou se aparecesse e nos pegasse. Na verdade, não totalmente.
Separei nossos lábios e o encarei, que estava ofegante.
- O que aconteceu? – Perguntou e eu desci do balcão, o puxando em direção ao meu quarto, o fazendo entender o que eu queria com aquilo. Eu realmente tinha medo de que entrasse no apartamento e visse a cena que se desenrolava, mesmo pensando por um momento que isso pouco me importava. Depois de fechar a porta de meu quarto, me deitou em minha cama e começou a beijar o meu pescoço. Aquilo estava sendo como a volta de minha sanidade, eu me sentia bem melhor e, pela primeira vez, não me sentia culpada, porque afinal, eu necessitava de . Por mais que a imagem de se decepcionando comigo e aquele sonho terrível que tive na viagem que fizemos me atormentasse. Tudo o que mais queria era sentir comigo, em um dos nossos momentos únicos, por mais que isso fosse totalmente errado para os padrões da sociedade.


CAPÍTULO 26

Depois de uma semana sendo monitorada incessantemente por , e Aliana, eles finalmente me deixaram em paz e eu pude enfim voltar à minha então monótona vida, já que nem emprego eu tinha e, além disso, havia levado seu Playstation 2 de volta a seu apartamento. Nos dias que se seguiram, fiquei tentando pensar no que fazer já que meu dinheiro estava para acabar e meus pais não me sustentam mais, afinal. Eu poderia pedir ajuda a eles, mas não acho que isso seja uma característica de mulher independente, não? Não, não é. Eu estou certa disso.
- Porque você não procura um emprego nos classificados do jornal? – foi o que minha mãe me perguntou quando foi até meu apartamento para me visitar.
Não nego que não tenha pensado nisso, o único problema é que não estava muito disposta a enfrentar todo aquele negócio de seleção para emprego. Eu poderia esperar por mais algum tempo ou... procurar um emprego. O que seria melhor para mim, na realidade.
Em uma segunda-feira, ouvi meu celular tocar – um número que eu não me lembrava conhecer – enquanto eu estava roendo as unhas e assistia Os Simpsons:
- ?
- Ela mesma. E você é?...
- Sam. Da lanchonete, lembra de mim?
- Oh sim – o louco que me abraçou e pediu desculpas. Claro que lembro. – Tudo bom?
- Sim, ótimo. E você?
- Ótima. Não poderia estar melhor.
- Sério?
- Não vou mentir. Só preciso de um emprego novo; meu dinheiro está acabando. – Ri amargamente.
- Porque não procura nos classificados?
- Acredite ou não, minha mãe falou o mesmo para mim e eu continuo sem procurar – ri e ele me acompanhou.
- E aquele mal-estar que você teve, ainda tem tido? – Arqueei a sobrancelha. As notícias sobre minha saúde chegaram à lanchonete?
- Como você sabe?
- Brianna chegou contando. Parece que a melhor amiga dela também é sua amiga e ela não gosta nada disso. – Ele riu. – Pela sua atitude, estava com ciúmes.
- Por quê?
- Ela falou que preferia que você tivesse morrido em vez de apenas ter desmaiado.
- Tão típico. Ela não gosta de mim, achei que você tivesse percebido.
- Não sabia que era tão grave. Mas então, eu tenho que desligar agora, Brianna agora é subgerente e está me encarando e não parece bem. A gente pode marcar pra sair e conversar se quiser.
- Tudo bem. Obrigada pela preocupação.
- Sempre. Beijos.
Desliguei o telefone e suspirei. O cargo que poderia ter sido meu agora era de Brianna, que provavelmente estava feliz por ter me tirado do caminho. Incrível como uma semana e meia pode mudar um lugar, e, ainda, uma pessoa. Digo, essa pessoa sou eu. Contrariando o que disse sobre a semana incrivelmente chata que tenho passado, eu não tenho ficado apenas assistindo televisão e recebendo quando ele não volta muito tarde do trabalho e vem aqui somente para dormir e no outro dia ir novamente trabalhar ou dando suas escapadas e eu assumindo o papel de amante; eu também tenho pensado sobre minha vida. Sobre o que eu poderia estar fazendo com minha vida.
Poderia estar em uma faculdade, ou até poderia ter ido com as meninas para os Estados Unidos para tentar minha vida lá como atriz, ou então como qualquer outra coisa... poderia também ter casado com um cara rico, ter dado o golpe da barriga, talvez. Tudo bem, tudo menos um golpe da barriga; eu não me imagino cuidando de crianças.

Era quarta-feira, segundo Sam, o dia de sua folga. Na segunda-feira que ele havia me ligado, mais tarde, ligou novamente afirmando querer se encontrar comigo para conversarmos. Aceitei, afinal, eu não tinha muitos amigos – somente , que eu traía, , que eu iludia e Ali que eu... que seja.
Já havia chegado ao Kensington Gardens, onde havíamos marcado de nos encontrar. Comecei a andar por ali, observando toda a cor e todas as flores enquanto esperava que ele me ligasse avisando que já havia chegado. Eu não havia nem ao menos pensado em ligar para ele e avisar que eu havia chegado. Super inteligente. Continuei observando tudo ao meu redor enquanto esquecia um pouco do que eu chamava de problema e relaxava quando ouvi uma voz conhecida me chamar. Virei-me imediatamente e avistei Sam, com seus cachos castanhos balançando enquanto ele corria em minha direção. Sorri para ele quando já estava a minha frente e ele fez o mesmo, ofegando.
- Estava esperando que me ligasse para avisar que tinha chegado – falei.
- E eu estava esperando que me ligasse para avisar que tinha chegado.
Rimos juntos.
- Tudo bem, estávamos os dois esperando ambas as ligações que não foram feitas.
- Sim, estávamos.
- E então, como me achou?
- Te vi entrando. Pensei em gritar, mas desisti. Seria frustrante gritar seu nome e você me ignorar. – Eu ri.
Nós começamos a andar lado a lado e a conversar. Do contrário que eu pensava, Sam era uma pessoa extremamente simpática e inteligente – parece que ultimamente eu só tenho feito julgamentos errados das pessoas que começo a me relacionar. A cada dez frases que ele soltava, ao menos quatro me faziam rir, o que me lembrava logo quando nos conhecemos. Logo que fiz essa associação, mordi meu lábio inferior. Não que eu pensasse que minha talvez amizade com Sam viesse ficar da mesma maneira que a minha com estava, porém eu tinha medo de deixar meu lado obscuro – se é que isso pode ser chamado de obscuro – aparecer e fazer de minha vida um inferno um pouco maior.

Estávamos sentados em uma sorveteria perto do parque; Sam tomando seu sorvete de pistache com cobertura de chocolate enquanto eu tomava sorvete de morango com cobertura também de chocolate.
- Me diga, afinal, o que você quer falar comigo? – Falei não muito tempo depois de termos começado a tomar os nossos sorvetes.
- Ah, queria só te conhecer melhor. – deu de ombros. – Você sempre foi bastante fechada na lanchonete... por isso no dia que você foi demitida pedi seu número. Você parece ser alguém legal, só mal compreendida. Ou... como posso dizer? – fez uma pausa. – Oh sim, era como se você estivesse passando por problemas realmente graves, ou até não tão graves, somente problemas que são difíceis de compreender. Pelo menos para quem está de fora.
Arregalei os olhos. Ele parecia saber ler uma pessoa apenas olhando sua expressão – por menos que a conheça.
- Tá esclarecido? – sorriu.
- Com certeza. – sorri junto a ele.
Começamos então a falar sobre coisas aleatórias. Às vezes ele me lançava uns olhares quase penetrantes e eu desviava, envergonhada. Porém, tirando essas coisas básicas, a tarde foi agradável e, mesmo sendo um pouco cedo demais, eu já podia quase considerar Sam meu amigo.

À noite, eu estava em casa junto a , ele acariciava meu cabelo, cansado. Havia chegado há pouco tempo do trabalho, que ele alegava estar o matando - e que parecia estar matando de pouco a pouco nosso relacionamento. Nós já não fazíamos nada, e durante uma discussão que tivemos enquanto ainda estava tendo o tal rodízio de pessoas para cuidarem de mim e era sua vez de estar comigo, de alguma forma ele pareceu ter me acusado de ser a causa de seu trabalho estar tão puxado, porque tudo isso começou quando ele foi pedir de última hora ao chefe que o desse folga de alguns dias para viajar comigo. Viagem essa que ele planejou com . Sendo assim, a culpa não foi e nunca será minha. No mesmo dia da briga, ficamos virados de costas um para o outro, e não nos falávamos, mas ele enfim pediu desculpas e eu as aceitei, afinal. A minha sorte, se assim posso dizer, é poder contar com . Não apenas no sexo, claro, e sem insinuar que ele seja minha diversão.
A respiração de estava tranquila e eu olhei para cima. Seus olhos estavam fechados. Aconcheguei-me em seu peito e fechei meus olhos, tentando dormir também. Não consegui e levantei devagar, indo para a cozinha procurar algo para comer. De repente eu estava com fome. Abri um pote de sorvete que ali tinha e fui até a sala. Sentei-me no sofá e ao me estender para pegar o controle da televisão, que estava na mesa de centro, ouvi meu celular indicar que havia chegado uma mensagem. Peguei-o, que também estava na mesa de centro e li a seguinte mensagem:

Não pense que não te vi à tarde com aquele rapaz de cabelos cacheados.


Engoli em seco. Apesar de só ter recebido esse tipo de mensagem apenas uma vez, não me esqueci de que parecia haver alguém me observando e tirando conclusões muitas vezes erradas. Só me restava saber quem era. Deixei meu sorvete de lado e me encolhi no sofá. Meus olhos ainda abertos e atentos. Agora que isso se confirmava, eu não podia deixar de prestar atenção em quem está ao meu redor.


CAPÍTULO 27

Sexta-feira.
Já fazia algum tempo que eu não ia ao psicólogo. Portanto, minha mãe uma semana antes confirmou ao doutor Fitzwilliam que eu iria para a consulta e não o deixaria esperando. Não que eu não quisesse ir, mas estava um pouco cansada e minha cabeça doía enquanto eu seguia andando até o prédio onde fazia a consulta.
Sentei-me na sala de espera e olhei a porta, que continha uma placa escrita “Não bater. Em atendimento.” Comecei a folhear umas revistas que ali estavam e finalmente, um garoto que parecia ter aproximadamente 16 anos saiu da sala com uma mulher que parecia ser sua mãe. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e os da mãe também. Devia ser a primeira consulta; eu também fiz isso – tive uma conversa com minha mãe e o psicólogo, mesmo que minha mãe não precisasse fazê-lo, ela insistiu.
Doutor Fitzwilliam apareceu na porta e ao me ver, sorriu abertamente.
- Por favor – falou e eu me levantei da cadeira, entrando na sala. Respirei o ar insuportavelmente frio da sala graças ao ar condicionado e me sentei na poltrona em frente ao psicólogo. – E então? – ele me perguntou. Ele sempre tentava me tratar com informalidade, como se fôssemos apenas amigos conversando. Bom, enquanto na verdade eu falava mais.
- Eu não sei. Vim aqui só pra cumprir horário. Minha mãe prometeu que eu viria, afinal. – ele riu.
- Não, não. Você tem o que falar. As pessoas sempre têm o que falar.
- Tudo bem. – suspirei. - Eu já não venho aqui há algum tempo e bom, eu confesso que tenho tentado mudar todas aquelas minhas atitudes de sempre, as que eu sempre relatei ao senhor. – encarava minhas mãos que se mexiam descontroladamente.
- Por favor, me chame de você. – Claro, eu não me lembrava disso. Ri ainda sem o olhar e continuei.
- Bom, nós viajamos. Eu, , e Aliana, a namorada dele. Ele tentou investir em mim e eu o cortei. - suspirei novamente. - Ou pelo menos tentei. Tive um sonho, ou melhor, um pesadelo e não fiquei bem pelo resto do dia. Era o meu segundo dia lá, na casa dos tios da Ali. Eles me chamaram para ir até a piscina. Eu não queria ir, mas... sabe como é, acabo cedendo a certas coisas. E eu não contei o meu sonho, que para mim foi uma espécie de aviso. – olhei em sua direção e ele anotava. Só se dirigia a mim com alguma pergunta quando percebia que eu já havia terminado de falar. – Falei que tinha tido um pesadelo com meus pais e ele acreditou. Em um momento do dia, eu já não me sentia muito bem e hm... fui até o quarto. Depois de algum tempo, apareceu lá, segundo ele a pedido de e Ali, que estavam preocupados. Nós conversamos e eu percebi que reencontrei meu amigo, do começo de tudo. Não que ele não seja mais meu amigo, claro. É só que... depois que tudo começou a acontecer, ficava um pouco difícil ter certo tipo de conversa. Eu o contei meu pesadelo, e ele pareceu entender. Na verdade, só ele parece me entender. – levei minha mão até a boca e comecei a roer uma das unhas. – Na volta da viagem, fui demitida, um cara da lanchonete o qual eu quase não falava pediu meu telefone. Quando saí da lanchonete, recebi a ligação de Aliana, querendo se encontrar comigo. Eu não comia direito já há algum tempo e então vomitei em uma das primeiras lojas que entramos. Depois ela me obrigou a comer na Starbucks e na hora do almoço fomos até o McDonald’s, onde eu vomitei novamente e dessa vez desmaiei. Mas eu não acho que isso tenha importante, eu já estou melhor e isso faz, hm... duas semanas? É, duas semanas, eu acho.
Encarei-o e ele levantou o olhar na minha direção.
- Você se lembra do pesadelo? – fiz um barulho estranho com a boca. Se soubesse que ele não daria tanta importância para os outros fatos, falava apenas do pesadelo e podia levantar e ir embora.
- Claro. – olhei para o lado e fiz uma careta.
- Hm, você pode me contar?
- Tudo bem. Esse não é um sonho que eu vá me esquecer facilmente. Ou pesadelo, que seja. e Aliana descobriam tudo.
- Esse é um resumo extremamente esclarecedor. – falou enquanto anotava. – Bom, não tem como me dar algum outro detalhe ou aspecto que tenha te chamado a atenção?
- Eu tentava me explicar para eles. Mas, oh, uma novidade, eles não me ouviam. Só pra esclarecer mais um pouco, era em minha visão. Eu não estava de fora. Seria um pouco mais assustador, eu acho. – ele acenou com a cabeça e eu continuei. – Enfim, eu me encostava à parede, acho, e ia escorregando enquanto chorava, quando eu caía em cima de algo molhado. Ainda com os olhos embaçados, tentava enxergar o que era aquilo que eu havia caído em cima. Senti o cheiro que geralmente me deixa com náuseas. Sangue. Eu estava sangrando e eles me deixaram lá, sozinha. E então eu começava a pedir desculpa para o nada. Não estou louca, isso foi o que aconteceu. No fim, eu morria. – sorri irônica e ele ajeitou os óculos e me encarou.
- Talvez isso seja um aviso. – entortou a boca e olhou o relógio. – Mas não resta a mim tentar interpretá-lo. Te vejo na próxima semana? Nosso tempo acabou. – levantou-se e eu fiz o mesmo. Nem havia percebido que o tempo tinha passado tão rápido.
- Claro. Até a próxima semana, doutor. É legal falar com quem não vai me julgar. – sorri e ele fez o mesmo, apertando minha mão quando a estendi.

Já estava andando pela rua com uma de minhas mãos no bolso do meu casaco enquanto com a outra segurava um copo de café já vazio e quando ia passando por uma lixeira e joguei o copo ali, decidi pegar um cigarro que estava perdido por minha bolsa. Devia ser ainda do dia que mais vomitei em toda a minha vida. Acendi-o e ao dar a primeira tragada, ouvi meu celular tocar. Peguei-o no bolso de minha calça e atendi rapidamente depois de ver que minha mãe estava ligando. Ela nunca foi tão paciente com relação a telefonemas.
- Diga mãe.
- , sua tia me ligou hoje e quer falar com você. – revirei os olhos. Mas caramba! Eu ainda não havia me decidido! Ou melhor, nem ao menos tinha pensado sobre isso.
- Mãe, eu não pensei sobre o assunto. – traguei mais uma vez.
- , você está FUMANDO? – terminou gritando e eu afastei o telefone de meu ouvido.
- Não.
- Mentirosa!
- HEY! – exclamei. – Tudo bem, já joguei fora, satisfeita? – falei depois de jogar o filtro no chão e amassá-lo com minha sapatilha.
- Acho bom mesmo. Você sabe que ninguém da nossa família fuma. Porque ser a primeira?
- Tudo bem mãe. Só isso? Estou no meio da rua.
- Foi para a consulta?
- Claro. Eu prometi.
- Que bom. Então, vê se não fica na rua muito tempo, ela disse que ia te ligar.
- Certo. Te amo mãe.
- Também.
Desliguei depois de ouvir sua resposta e continuei andando para espairecer. Não demorou muito e eu já estava em frente ao meu prédio. Ouvi alguém chamar meu nome e virei-me na direção de onde vinha a voz. estava junto a seu carro e atravessou sem ao menos olhar se vinha algum carro. Chegou rapidamente ao meu lado e me encarou. Pegou em meu braço e enquanto me puxava até meu apartamento e eu ficava ali, sem entender absolutamente nada, falou:
- , precisamos conversar.


CAPÍTULO 28

Não demoramos muito e chegamos até o meu apartamento, que eu abri e entrei, sendo seguida por , que passava as mãos nervosamente pelo cabelo. Tentei imaginar o que tinha feito, já que nem eu havia visto essa semana. Fui até a cozinha e no meio do caminho voltei, perguntando a se ele queria água ou algo para beber. Ele nem ao menos respondeu. Arqueei a sobrancelha e fui pegar um copo de água para mim. Pensei em pegar um calmante, parecia que mesmo que eu não soubesse o motivo era capaz de eu ser culpada. E se... e se ele descobriu? Ah meu Deus! Estou completamente perdida!
Voltei rapidamente à sala, onde agora andava de um lado ao outro e parei, esperando que ele se acalmasse. Depois de algum tempo ele parou, suspirou e virou-se em minha direção, me encarando.
- Eu... posso saber o que aconteceu? – perguntei receosa, nunca se sabe o que pode acontecer quando está nesse estado.
- Tudo bem que eu já recebi muitas dessas mensagens e...
- Mensagens? Que mensagens? – perguntei assustada.
- Umas mensagens falando que você estava me traindo bem debaixo do meu nariz, me chamando de idiota... – ele gesticulava muito. Engoli em seco. Oh céus.
- E-e você acredita nelas? – gaguejei. A primeira coisa que pensei foi que se hoje fosse o meu fim, eu estava cavando minha própria cova com essa atitude.
- Não – respirei melhor. Por pouco tempo, claro. – Não até ontem.
- Como assim? – Encarei-o assustada.
- Dessa vez veio uma foto. – Ele tirou o celular do bolso e começou a mexer. Direcionou a tela do celular para mim e eu vi uma foto em que eu me encontrava com Sam, sentada na sorveteria perto do Kensington Gardens. Então... era verdade. Estavam realmente me perseguindo.
- Mas que diabos! – exclamei. – O que você acha que isso é?
- Ora, se não houvesse nada que comprovasse... mas... – passou a mão pela testa – Você me trai há quanto tempo com esse cara? O que eu te fiz para merecer isso?
Comecei a rir.
- Você realmente está acreditando nisso, não? Achei que você confiasse em mim, .
- Eu confio, mas isso é difícil! Não dá pra você entender o meu lado?
- O seu lado? E o meu? Eu sempre saio como a vilã aqui, já percebeu?
- Não é nada disso que eu estou falando! – alterou sua voz.
- Oh, sério? Eu só quero saber o que eu tenho feito pra merecer o que você tem feito para mim. Porque oh, claro, você NUNCA PERCEBE QUANDO ERRA!
Ele me pegou pelo braço e perguntou:
- Vamos lá! Agora é a sua chance! Me fale onde eu erro, sua falsa. – Eu podia até sentir as lágrimas querendo cair dos meus olhos, mas consegui segurá-las por algum tempo.
- Em estar comigo. Se você não me quer mais, me deixe.
- Então é isso o que você quer? – perguntou apertando mais ainda o meu braço enquanto me encarava.
- O que você quer? – ele afrouxou a mão.
- O que eu quero? Porque isso?
- O jeito que você vem me tratando, . O que eu te fiz? Me culpar pelo fato de seu trabalho estar totalmente atordoante? Eu perdi meu trabalho por causa da viagem, . Eu te culpei? Não. Em momento algum falei com você que era sua culpa por isso estar acontecendo. – lágrimas já começavam a rolar pelas minhas bochechas. - No mesmo dia em que perdi meu emprego, desmaiei. Culpei alguém? Não, não culpei. Por quê? Porque eu sei que tudo isso é por causa de atitudes minhas.
- M-me desculpe . – ele falou e mais lágrimas ensopavam meu rosto.
- Não, tudo bem. Um dia isso teria um fim, não? Não existe o ‘felizes para sempre’, nunca existiu.
- Claro que existe! NÓS TEREMOS UM FINAL FELIZ! – ele falou e eu ri irônica, tentando soltar meu braço da mão de .
- Você está sendo infantil. Contos de fadas são feitos para crianças, não para adultos.
- Eu. Não. Estou. Sendo. Infantil. – resmungou apertando mais ainda o meu braço.
- Me solte . – falei e ele apertou mais ainda o meu braço. – Me solte.
- Não.
- Me solte agora ou eu grito.
- Não.
- , você está sendo infantil, conviva com isso.
- Não. – apertou mais e eu puxei meu braço de vez, sem sucesso.
- ME SOLTA SEU MONSTRO! ME SOLTA AGORA! – comecei a gritar e continuei tentando soltar meu braço, ainda sem sucesso.
- VOCÊ QUER QUE EU TE SOLTE? – me empurrou e eu fui contra o sofá, escorregando para o chão. – SATISFEITA AGORA? – Me vieram então flashes do pesadelo que tive. Olhei rapidamente para o chão, eu não estava sangrando. Respirei aliviada por isso, e me preparando para falar o que talvez fosse o certo.
Levantei meu olhar e encarei . Ele andava de um lado para o outro, arfando e passando as mãos pelos cabelos.
- , olhe para mim. Agora é sério. – ele olhou em minha direção. – Eu quero que isso tenha um fim. Está tudo acabado. Eu... eu gosto muito de você, mas não dá mais.
- Não! Não! Eu não quis te empurrar! Nada disso! – ri irônica.
- Oh sério? Não importa, eu quero que tudo tenha um fim. E que você saia daqui agora.
- Eu...
- Não, . Você pode pegar suas coisas depois.
Ele chorava audivelmente. Foi até a porta pelo menos três vezes e voltou parecendo que queria falar algo comigo. Acabou desistindo e saiu do apartamento, batendo a porta fortemente. Fiquei sentada por algum tempo enquanto chorava, ou melhor, praticamente gritava. Minhas lágrimas já tinham manchado parte de minha calça e eu não me importava, só queria tentar colocar meus sentimentos para fora, era o que eu realmente precisava. De repente, senti um gosto ruim na boca e saí correndo para o banheiro, levantando a tampa do vaso e expulsando o que estava fazendo mal ao meu estômago. Quando já estava lavando a boca e me olhando no espelho, ouvi o telefone de minha casa tocar. Deixei tocar, pensando que era , mas corri até o telefone quando ouvi a voz de minha tia resmungar um ‘eu sei que você está aí’.
- Alô. – Falei imediatamente e sentei-me no chão.
- , querida! Eu sabia que você estava em casa!
- Sim, estou. – minha voz ainda estava um pouco estranha por ter chorado por tanto tempo.
- Como você está?
- Bem, e você? – falei sem emoção. Não sabia nem fingir que estava bem.
- Bem. O que aconteceu?
- Nada, só que briguei com meu namorado. Bom, terminei com ele.
- E você está abalada desse jeito? Parece mais que ele terminou com você!
- Digamos que ele tenha sido importante para mim.
- Oh. Então você não tem mais nada que a prenda aí. – eu já sabia que ela tocaria nesse assunto. Ela sabia muito bem o motivo de eu não ter ido para New York desde a primeira vez que me chamou.
- Não.
- Então... você pensou?
- Na verdade não. Você pode me dar mais duas semanas, por favor?
- Sim, claro. – e com essa confirmação eu desliguei o telefone, levantei-me do chão rápido demais e caí novamente, estava tonta. Oh não.


CAPÍTULO 29

Eu estava sentada em uma cafeteria enquanto esperava por minha mãe. Nós havíamos marcado de nos encontrar lá a pedido meu, e ela concordou alegremente, alegando estar sentindo a minha falta e precisar me ver. Olhei meu relógio, duas e meia da tarde. Nós havíamos marcado às duas. Era o meu terceiro muffin e meu segundo capuccino, mas ela ainda não havia chegado. Comecei a bater meus pés impacientemente no chão e quando fui pegar meu celular para poder ligar para ela, a ouvi falar meu nome, me fazendo automaticamente colocar o telefone de volta a minha bolsa.
- Olá, filha! – sentou-se em minha frente e sorriu abertamente.
- Oi mãe. – sorri e ela arqueou a sobrancelha.
- Você está magra demais, estou vendo seus ossos do rosto. – comentou, me fazendo rir.
- Eu estou me achando gorda, mãe! Você me vem falando que estou magra demais?
- Claro, você sabe. Mas, porque me chamou? Me desculpe, seu pai vai vir daqui a dez minutos me buscar para irmos a um jantar. – Encarei-a atentamente. Ela estava um pouco mais arrumada do que o normal. Estava linda!
- Você está linda, mãe. – fui sincera e ela sorriu envergonhada.
- Pare com isso, garota. – rimos por alguns minutos e ela subitamente parou. – Porque você me chamou? – Oh não.
- Eu... – hesitei – Mãe, quando nós vomitamos demais e hum, sentimos tonturas demais... o que isso significa?
- Doença. Ou gravidez.
Eu já sabia a resposta.
- Por quê? – arqueou a sobrancelha mais uma vez.
- Uma amiga. Namorada de um amigo meu. Ela está tendo isso, sabe?
- Ah. Mas então, nesse tempo que resta, pode me contar tudo o que tem feito. E você e ?
- Terminamos. – ela arregalou os olhos. – Bom, eu terminei com ele.
- Você não fez bem. Espero que vocês voltem, ele estava realmente te colocando na linha! – me repreendeu. – E não pense que eu vou autorizar que você se envolva com qualquer um, está me ouvindo? – Tá, só porque ela quer.

Depois do que pode ser considerado encontro desastroso com minha mãe, eu já estava em casa e encarava um teste de gravidez que havia feito antes de sair de casa para encontrá-la. Eu sou medrosa o bastante para não ficar lá e ver de vez qual seria o resultado. Eu sinceramente estava por um lado querendo que fosse verdade, mas por outro, eu repugnava totalmente a ideia. E tentava não pensar nisso. Mas, o que posso fazer? Agora já está tudo mais claro. Agora sim eu começo a entender aquele pesadelo que tive, toda aquela sessão de vômitos e desmaios sem motivo. Joguei o teste no lixo. Talvez aquilo estivesse mentindo, afinal, teste de farmácia não é confiável demais, mas, só a ideia de ter um alguém dentro de mim me fez perceber que eu realmente tenho que colocar minha vida de volta ao eixo inicial. Talvez eu devesse voltar com , porque ele sim é uma pessoa maravilhosa para se conviver e confiar. E se eu estivesse em algo mais sério com e ele... fizesse o mesmo que está fazendo com sua namorada? De eu sei que posso pensar nessa possibilidade com menos frequência, já ... eu não confio tanto nele. Não nesse sentido, digo.
Se eu voltasse com e pedisse perdão, depois de terminar com , claro, eu poderia até contar a verdade a ele, e se ele aceitasse, nós poderíamos ficar juntos e casarmos. Talvez não tivéssemos um final feliz, mas eu estaria ao lado dele, e essa criança teria um pai.
O único e grave problema é: eu não sei qual dos dois poderia ser o pai desse menino ou dessa menina que está se formando dentro de mim.
Eu poderia também não contar a eles. E... esconder a barriga? Me mudar para outra cidade? Ficar em casa até a criança nascer? Não, seria estranho. E até onde eu saiba, Aliana ainda se considera a minha amiga.
Comecei a chorar. Naquele momento, chorar era a única saída para mim. Podia não mudar meu destino, podia não voltar no tempo, mas chorar estava me reconfortando. Por que... eu não tinha ninguém ali, ao meu lado. O choro foi a minha companhia. Não chorei por causa da criança, mas pelo fato de eu ter percebido que não tinha ninguém para me apoiar, para me dizer que tudo ficaria bem, como em todos os clichês que já li, ou todos os filmes que já assisti.
Sequei parte das lágrimas e peguei meu celular, que estava em meu bolso. Abri a agenda e ao achar o nome: Sam – lanchonete estampado na tela, apertei o send, esperando não estar atrapalhando algo e esperando também que ele atendesse.
Um toque. Dois toques. Três toques. E nada. No quinto ele atendeu ofegante. Mordi meu lábio inferior e funguei. Umas lágrimas teimosas começavam a cair novamente.
- Oi Sam. Estou te atrapalhando em algo? – perguntei tentando disfarçar a voz.
- O que aconteceu?
- Nada, só queria conversar. A gente pode se encontrar?
- Claro! Só me diga o horário e lugar.
- Pode ser aqui em casa?
- Me diga então o seu endereço.
- Anota aí.

Logo depois que desliguei o telefone, tomei um banho e coloquei uma roupa confortável, já que mais nada pra mim estava sendo confortável naquele momento e naquele apartamento. Sentada no sofá enquanto passava os canais freneticamente e roia a unha do meu polegar, esperava Sam chegar para que pudéssemos conversar melhor. Não era tão difícil chegar até meu bairro, então porque ele estava demorando tanto? Comecei a me balançar freneticamente e só me acalmei ao ouvir três batidas. Levantei-me imediatamente e corri até a porta, enxergando-o ofegante pelo olho mágico. Abri a porta e ele entrou, sentando-se no sofá que havia indicado com a cabeça.
- O que aconteceu? – Perguntou um pouco depois de eu ter sentado ao seu lado. Virei-me em sua direção e o encarei.
- Eu estava te atrapalhando em algo, Sam? Por que... hoje é sábado, você poderia estar com sua namorada e tal. Não sei. – Ele riu.
- , nesse tempo que nos falamos, eu comentei sobre alguma namorada? Bom, eu poderia não ter falado e tudo, mas enfim, eu não tenho.
- Ah é. Você poderia ter escondido. – Ri e lembrei-me em seguida o porquê de tê-lo chamado até meu apartamento.
- Mas aconteceu alguma coisa? Sua voz estava bem diferente ao telefone. – Olhou-me atento.
- Eu... hoje eu fui me encontrar com minha mãe. – Ele concordou e eu continuei. – E antes disso deixei um... teste de gravidez aqui, porque eu sou medrosa o bastante e queria deixar pra ver o resultado depois. E então deu que eu estou realmente e...
- Sua... – fez uma careta e eu não pude deixar de rir. – menstruação atrasou?
- Ainda não. – Fiz uma careta.
- Então... você acredita? Digo, esses testes de farmácia nem sempre são confiáveis.
É, ele tem razão.
- Eu sei, mas... eu estava vomitando muito, e isso é meio que sinal pra gravidez, não?
- Ou para infecção! - Exclamou. - Você já foi ao médico fazer um exame?
- Não... - Respondi envergonhada. Eu estava parecendo um bebê chorão.
Sam suspirou pacientemente.
- Tudo bem. Se você quiser eu vou com você. Digo, se seu namorado não se importar com isso. - Ri amargamente.
- Namorado? Isso não existe mais pra mim.
- Oh, me desculpe. Ele sabe desse teste?
- Não. Eu... não é... - Fraquejei e ele me encarou.
- O quê?
- Nada. Pois então, você pode fazer isso por mim?
- Porque ele não sabe desse seu desespero? Porque ele não tá aqui de seu lado em vez de mim? - Perguntou me ignorando.
- Porque a gente não tá mais junto, ora! Já não falei?
- De qualquer maneira, ele deveria saber disso, . Você vai fazer tudo sozinha se tudo for verdade?
- Não importa. Se você não puder, falo pra minha mãe. Já esperando ser morta, claro.
- Eu vou com você. Em momento algum disse que não iria. - Suspirou impaciente.
- Desculpe. Estou jogando pra você os meus problemas, não?
- Nada disso, eu só acho que você está sendo babaca em não contar pra seu ex sobre a suposta criança em seu útero.
- Mas... eu não posso... - sussurrei e senti meus olhos se encherem de lágrimas. - Mas que droga, odeio estar tão sensível.
A última coisa que senti aquele dia que me importou foi o abraço quente e envolvente de Sam, me mostrando ser um grande amigo, apesar de tão pouco tempo.


CAPÍTULO 30

Eu estava andando de um lado ao outro, minha mãe havia acabado de me ligar e falar sobre minha tia querer falar comigo. Já havia se passado as duas semanas que pedi a ela para pensar. Eu não sabia o que dizer, ela com toda a certeza do mundo inteiro, falaria que eu a estava enrolando. Já não aguentava mais. Liguei para minha mãe e pedi que ela falasse com tia Lily que eu iria, mas que não confirmasse data nem nada, eu teria que arrumar minhas coisas por aqui. Ainda mais depois de ter conseguido um emprego temporário como atendente em um Pet Shop de uma amiga do Sam. Oh claro! Eu tinha que conseguir dinheiro, não?
Não via há algum tempo; Ali havia me ligado e afirmou que ele andava muito ocupado, mas eu não quis aprofundar muito o assunto - na verdade não quis aprofundar assunto algum. Logo ela havia desligado o telefone e eu fiquei aliviada. Eu ainda não havia me acostumado com a ideia de ter feito um exame Beta-não-sei-o-quê para enfim descobrir se eu estava realmente grávida ou era apenas coisa de minha mente e de um mentiroso teste de farmácia. Sam não pôde me acompanhar para fazer o exame, mas oh, eu fiz sozinha, depois de também ter ido ao médico sozinha para ele solicitar o exame, e Sam então, - pedindo imensas desculpas - garantiu que iria comigo para saber o resultado.
O momento estava para chegar e eu estava mais nervosa do que nunca.

Peguei meu celular que estava na pia do banheiro, perto de meus cosméticos, e quando fui discar o número de Sam, meu celular vibrou me assustando, indicando que estava me ligando. Revirei os olhos e atendi rapidamente. Queria terminar logo com isso.
- ?
- Hum. – Resmunguei.
- Eu, bom, estou passando aí daqui a pouco, pode ser? – Mordi meu lábio inferior. Eu não estava preparada para vê-lo novamente.
- Tudo bem... até.
- Até.
Desliguei e disquei o número de Sam, dessa vez sem ser importunada por ninguém. Ele atendeu no primeiro toque:
- Hey Sammy! – Falei e o ouvi rir.
- O que minha princesa quer dessa vez? – Perguntou divertido.
- Nada. – Fui andando até o espelho de corpo inteiro que havia em meu quarto e levantei minha blusa, começando a observar minha barriga.
- Então, pra quê ligou?
- Falar com você. Eu estou nervosa. Super. Você não tem noção do quanto.
- Me conte.
- Essa maldita consulta pra descobrir toda a verdade sobre o exame e... meu ex namorado, o , vem aqui buscar as coisas dele que ficaram aqui. Algumas roupas, sabe? Eu só... não sei como vou agir quando o vir novamente.
- Calma. – Muito fácil pra ele falar.
- Claro. Não é você que pode estar grávida e não é sua namorada que vai ao seu apartamento buscar as coisas. – Bufei impaciente.
- É meio impossível eu estar grávida.. . – Ele falou e eu ri, indo me deitar na cama. – E então, tá fazendo o quê?
- Falando com você. – Falei em tom óbvio e ele bufou. – Tá, olhando meu reflexo.
- Você está obcecada. Não se preocupe. Eu vou com você, beleza?
- Eu sei disso. – Ouvi baterem na porta e me levantei. – Acho que o chegou.
- Relaxe. Só me diz, quando você vai contar a sua mãe? – Segui em direção a sala.
- Hum... não sei. Digo, se for verdade, antes de eu viajar, conto a ela.
- E ao ? Quando vai contar?
- Nunca. – Abri a porta e indiquei que ele podia entrar com a cabeça. – Antes que você comece a resmungar, Samuel, eu já disse que não.
- Mas !
- Primeiro, nós não sabemos se é verdade, então nem vem. – continuava na porta olhando para baixo. Olhei na direção onde ele olhava: minha barriga, que continuava descoberta, e abaixei a blusa rapidamente. – Sam, já disse que preciso desligar. Amanhã a gente se vê. Beijos.
- Beijos, princesa. – Desliguei o telefone.
- Vai entrar ou não? Suas coisas não virão sozinhas para a sala. – Ele, que continuava olhando minha barriga agora coberta, acordou de seus devaneios e me olhou envergonhado.
- Er, oi. Licença. – Seguiu até o meu quarto, onde uma mochila dele estava com suas coisas dentro. Eu ainda tive a delicadeza de arrumá-las, eu sei. Sentei-me no sofá e liguei a televisão, procurando algo para assistir. Não demorou muito e eu ouvi o barulho de passos. Olhei para trás, estava parado com a mochila nas costas e me encarava.
- Alguma coisa? – Perguntei insegura. A minha vontade de verdade naquele momento era beijá-lo, pedir desculpas e contar tudo o que estava acontecendo, mas me controlei.
- Não. – Falou rapidamente. – Então, desculpa o incômodo. – E saiu porta a fora, nem ao menos ouviu o “não foi nada” que eu havia falado logo em seguida.

- . – Ouvi a enfermeira falar e me levantei, junto com Sam, que como prometido estava comigo para a consulta. Entrei no consultório e sentei-me em frente ao médico, enquanto Samuel segurava minha mão fortemente.
- Boa tarde. – O doutor falou gentilmente e nós respondemos em uníssono. Depois falou algumas coisas que eu não entendi e começou a ler o exame. Apertei mais a mão de Sam, nervosa. Por um lado eu queria que fosse verdade – tenho meus motivos. Porém, por outro, eu não desejava isso. Estava difícil escolher entre um dos lados.
- Fique calma. – Sam sussurrou em meu ouvido e eu afirmei. O doutor ainda não havia falado nada.
Minutos depois, de silêncio perturbador, ele se pronunciou:
- Parabéns , você terá uma criança. – Abriu um sorriso enorme e eu abri minha boca. Estava sem reação alguma. – Você sabe todos os cuidados que tem que tomar, não? – Perguntou e eu não respondi. Estava totalmente imóvel. – Você é o pai? – Perguntou para Sam.
- Sim, bom, não. Sim. – Ele falou e o doutor arqueou a sobrancelha.
- Enfim, - começou a falar – esses são os cuidados que vocês têm que tomar... – Começou a falar e eu continuava na mesma posição. Oh céus. Tudo bem que por um lado eu queria isso, mas eu não consigo cuidar de mim mesma, vou cuidar de uma criança? E o que meus pais falarão? Minha mãe vai querer contar para , ele vai vir me procurar... Oh céus. – Parabéns aos dois. – Apertou a mão livre de Sam e nós nos levantamos.
- Obrigada doutor. – Falei e soltei minha mão da de Sam, correndo até o primeiro banheiro que encontrasse para tirar de meu estômago aquilo que me incomodava.

- Você vai ficar bem, não? – Sam perguntou enquanto já estávamos no carro indo em direção a meu apartamento.
- Acho que sim. – Sussurrei enquanto olhava para fora da janela. – Então tem mesmo um ser crescendo dentro de mim... – Fiz uma careta – é estranho...
- Mas me diz, como ficarão as coisas?
- Vou esperar um tempo... Ajeitar tudo, sabe? Digo, falar com minha mãe... juntar mais algum dinheiro e partir para Nova York.
- Eu estava pensando em ir para lá, só que sabe como é, não posso desistir do meu trabalho, porque anda tudo um pouco difícil, depois que você saiu de lá e Brianna assumiu tudo. – Riu e eu não pude deixar de sorrir. – Você não vai querer falar com o ?
- É melhor não. Há muita coisa envolvida nisso tudo e eu nem sei se... esse filho é realmente dele. – Terminei a frase num sussurro.
- O quê?
- É, isso que você ouviu. – Ri amargurada. – A gente pode parar em alguma cafeteria? Preciso urgentemente de um cappuccino. – Sam assentiu e em poucos minutos estávamos em frente a uma pequena cafeteria no centro da cidade.

- Obrigada. – Falei quando Sam voltou à mesa com meu cappuccino e alguns biscoitinhos.
- Então... – Falou depois de dar um gole em seu café.
- Tudo bem. – Mais um gole. – Eu... meio que traía o . – Ele arregalou os olhos. – Não, eu o traía com o . Não havia e nem houve motivo algum, eu apenas não conseguia parar.
- Por isso você era tão fechada com todos nós da lanchonete, não?
- Algo assim. Eu nunca fui uma pessoa aberta, que falasse com todos que passassem na minha frente. Isso só me fez ser mais fechada a amizades. Era como se... ao me olharem, vissem em mim tudo o que realmente sou, uma traidora. – Ele me encarava. Parecia um pouco assustado, mas... eu precisava desabafar. – Por isso eu nunca me dei bem com Brianna. O namorado da melhor amiga dela era... ou é, eu não sei, o meu amante. Nós dois estávamos quebrando o voto de confiança que nossos parceiros nos deram. No começo eu não ligava muito, mas então conheci Aliana, a namorada de , e vi a pessoa maravilhosa que ela é. Ela simplesmente não merece alguém como eu ao seu lado. Ultimamente tenho caído na real, e então, não tenho falado muito com ela. Isso não é algo que se faça, mas é uma forma de me afastar também de . – Respirei fundo e coloquei um pedaço de um dos biscoitos na boca, bebendo um gole do cappuccino logo em seguida.
- Eu... nem sei o que falar, . – Falou e eu assenti.
- E não precisa. Desculpe-me por despejar tudo isso em cima de você, mas é que eu nunca tive um tão bom amigo como você. – Sorri e ele retribuiu.
- Então você não vai falar nada com , Aliana ou , não?
- Bom... não é o que planejo, sinceramente. – Gargalhei. – Você pode... não contar para ninguém?
- Palavra de escoteiro! – Levantou a mão e eu ri junto a ele.
- Muito obrigada por tudo mesmo, Sammy.
- Disponha. Eu sou seu amigo, afinal. – Pegou uma de minhas mãos e apertou levemente. – Só não me abandona, beleza?
- Claro que não, idiota. – Ri e terminei meu cappuccino.


CAPÍTULO 31

- Você sabe que temos que ir fazer alguns exames, não? – Sam perguntou enquanto sentava ao meu lado com uma enorme tigela de pipoca.
- Uh, pipoca! – Exclamei alegre e enchi minha mão.
- Mocinha, você está me ouvindo?
- Claro que sim! Você falou... algo sobre... – Olhei para cima. Não fazia idéia do que ele estava falando. – Não sei.
- Exames. Ver quantos meses tem, sabe? E outras coisas que eu não me lembro muito bem. – Fez uma cara de dúvida.
- Tão típico você não lembrar. – Falei e ele me olhou indignado.
- Olha só quem fala! – Rimos e voltamos nossa atenção para o filme. Minutos depois, Sam quebrou o silêncio que havia se instalado entre nós. – Como você está se sentindo?
- Bem. Minha barriga está aumentando e estou feliz por minha mãe ter me perdoado. – Falei sorrindo.
Passaram-se em torno de três semanas depois que foi confirmada a minha gravidez e como se era de esperar, minha barriga estava crescendo. Eu já podia ver algo sobressalente e bonitinha. Pela primeira vez gostei de mim mesma gordinha. Sobre minha mãe... menos de uma semana depois de ter feito o exame, liguei para ela, afinal, não tinha coragem de olhar na cara dela e falar “estou grávida”. Ela me deu alguns – muitos – resmungos e muitas reclamações pelo telefone e falou que precisava pensar. Ou algo assim. Desde então, só tive contato com meu pai, até dois dias atrás, quando eles vieram me visitar e minha mãe ainda parecia chateada, apesar de seu olhar demonstrar felicidade e emoção. Sou suspeita de falar, mas Sam também estava aqui. Aliás, ele tem passado muito tempo em meu apartamento, para garantir o meu bem estar, segundo ele. Mas, o que eu mais queria era poder falar com a verdade e falar tudo para também. Além de Aliana, que até tinha vindo me visitar, mas graças a Deus, pareceu não perceber nada em mim. Pareceu - Vale ressaltar.
- Porque mesmo você não vai falar pro ? – Sam perguntou e eu já estava a ponto de dar um murro na cara dele.
- Você é muito chato, alguém já te fez o favor de falar isso?
- Desculpa, é que... minha mãe foi mãe solteira e isso não é legal, sabe? – Fez uma careta.
- Tudo bem, Sam, mas... você vai estar comigo! – Falei e ele riu.
- Você fala isso como se eu fosse estar para sempre ao seu lado, – olhei-o assustada – afinal, eu não vou poder ir à Nova York com você. Posso visitar, mas morar não. Você vai estar de alguma forma criando essa criança sozinha. – Resmunguei algo como resposta quando ouvi meu celular começar a tocar. Olhei no visor e o nome de piscava incessantemente. Atendi imediatamente. Eu sentia falta da voz dele.
- ?
- Hum, oi.
- Eu preciso te ver... agora. – Eu fiz uma careta enquanto Sam com certeza tentava ouvir minha conversa que mal havia começado.
- Por quê? O que aconteceu?
- Eu só... sinto sua falta. Muito. – Automaticamente eu sorri.
- Onde pode ser?
- Não sei. Aí em seu apartamento? – Olhei para o lado, Sam virou rapidamente para a televisão, tentando disfarçar.
- Não dá. – Falei firme.
- E por que não?
- Meu apartamento tá um pouco bagunçado e...
- Nem vem. está aí? – Ri amargurada.
- A fofoca ainda não chegou aos seus ouvidos? – Ele pigarreou. – Pois então, eu não estou mais com o .
- Hum... então pode ser? – Olhei para Sam e tirei o fone do ouvido.
- Samuel... – tentei fazer uma cara de cachorrinho sem dono. – você poderia, por favor, ir ao Starbucks trazer comida pra mim?
- Mas ! Aqui tem pipoca, olha o tamanho da tigela que eu fiz pra nós dois!
- Eu sei, mas... é o seguinte, – comecei a sussurrar. – está vindo aqui e eu... preciso conversar com ele. Você me dá uma hora? Por favor? – Sam revirou os olhos, parecia não gostar nada disso. – Não reclame, você me mandou conversar com ele. – Ele se levantou.
- Tudo bem. Estou indo. – Pegou a chave do carro e saiu, batendo a porta um pouco mais forte do que o necessário.
- Obrigada. – Falei um pouco tarde e voltei a falar ao telefone. – A gente tem uma hora. – Desliguei depois de ouvir a afirmação vinda do outro lado da linha.

Eu já tinha tomado banho e colocado uma roupa confortável e folgada, para que não percebesse nada de diferente em mim. Tinha que tomar cuidado com ele, porque sempre que nos vemos ele quer, digamos... se divertir muito. Até de mais.
Enquanto limpava algumas coisas que ficaram espalhadas na mesa de centro da minha sala, ouvi baterem na porta. Era e eu tinha que terminar aquilo o mais rápido possível. Olhei o relógio do celular. Tínhamos, naquele momento, quarenta minutos. Abri a porta e ele avançou em mim, me dando um abraço apertado. Soltei-me dele com dificuldade e sorri. Ele retribuiu radiante.
- Você está mais linda do que nunca. – Falou enquanto me encarava. Seus olhos pareciam brilhar.
- Obrigada. – Respondi envergonhada e olhei para baixo. Em seguida, senti os dedos delicados de , levantar meu rosto cuidadosamente. Ele aproximou seu rosto do meu, depois de ter fechado a porta, e me beijou calmamente. Era, de certa forma, um alívio, poder beijá-lo sabendo que eu já não tinha mais compromisso com ninguém, mas, continuava enganando Aliana, mesmo depois de tanto tempo sem estarmos nos vendo.
- Senti sua falta. – Falou ao separar nossos lábios e encostar nossas testas.
- Eu também.
Ficamos algum tempo na mesma posição, até voltar a me beijar, agora com a intenção de nos divertirmos, mas eu não podia. Não era nem o fato de eu ser, supostamente, amiga de Aliana, mas, minha barriga estava crescendo e ele perceberia. Talvez se ficássemos apenas nos amassos, ele não ligasse tanto. Mas, como sempre, olá, eu estava errada.
havia separado seus lábios de meu pescoço e passou a me encarar.
- O quê? – Perguntei.
- Desculpa perguntar, mas... – hesitou – você engordou?
Revirei os olhos e ao mesmo tempo, engoli em seco.
- Um pouco, talvez. Tenho comido bastante ultimamente.
- Oh.
- É a fossa de terminar um namoro. – Tentei sorrir convincente.
Ele já não falava mais nada. – Você quer um pouco de água? – Ofereci e ele continuou na mesma posição. Odiava quando isso acontecia. Quando o fazia, queria brigar; quando o fazia, queria...
- ENTENDI! AGORA EU ENTENDI!
- Entendeu o quê? – Olhei-o em dúvida.
- Todo esse tempo hibernando no apartamento, sem querer ver ninguém, usando roupas folgadas... era vergonha de seu novo corpo, não? – Revirei os olhos. podia ser tão idiota. Mas, pensando bem, melhor do que ele soltar um “então, você está grávida, não? De quem é o filho? Meu?” E então eu não saberia o que responder.
- Com certeza. – Falei sem entusiasmo algum e ele sorriu, como se quisesse dizer, ‘eu sou demais’. – Você sabe mesmo o que se passa comigo! – Continuei no mesmo tom de voz, e ele fez um sinal de joinha para mim.
- Claro. Você é a minha linda. – Sorriu e me beijou novamente.

- ? Cheguei com sua comida, princesa! – Ouvi a voz de Sam e um barulho de chaves na porta do apartamento. Ah é, ele tinha a chave da porta. me olhou com a sobrancelha arqueada e eu ri, levantando-me em seguida. Samuel entrou e desmanchou o seu sorriso ao ver sentado no sofá. – Eu te dei uma hora. Porque esse idiota ainda está aqui? – Sussurrou.
- Sam, esse é o , um amigo, e , esse é o Sam, um amigo. – Falei e Sam revirou os olhos discretamente. Ou tentou. levantou-se e apertou a mão de Sam, como se quisesse esmagá-la. – Chega. Agora é hora de você ir, não é, ?
- Ah, sim, claro. Beijos, linda. – Me beijou e saiu em seguida, acenando para Sam, por educação.
- Ou a falta dela. – Sam completou, como se lesse meus pensamentos, e eu ri.
- Vamos comer, príncipe. – Falei, ignorando-o e indo até o sofá com um pacote da Starbucks.
- Ele tentou te violentar? – Perguntou não muito tempo depois de termos começado a assistir ‘Get Smart’.
- Não, não.
- Muito bom. Fez alguma coisa idiota?
- Me chamou de gorda. – Rimos juntos. – Mas, convenhamos que isso foi melhor do que ele falar “ah, você está grávida”. – Falei em tom óbvio e ele concordou.
- Imagina só ter uma gorda linda desse jeito? – Perguntou em tom idiota e eu bati em seu ombro.
- Eu não estou gorda, demência.
- Eu sei, está grávida, e precisa fazer exames.
- Certo, certo. – Concordei. Só assim ele pararia de me encher por causa desses benditos exames.


CAPÍTULO 32

Eu já havia saído do hospital em que fiz a ultrassom e estava feliz. Imensamente feliz, por sinal. Estava tudo bem com o feto, que já tinha dois meses. Nem acreditava no fato de que não engordei tanto, segundo o médico. Melhor para mim, sinceramente. Sam estava me levando para casa, depois iria trabalhar, ao contrário de mim, que havia conseguido uma folga no pet shop por causa do médico que eu havia marcado. Logo que cheguei ao apartamento, vi que havia uma mensagem na secretária eletrônica. Apertei o botão da secretária e fui até o sofá, sentando-me logo em seguida enquanto ouvia a voz de Aliana.

, eu estava pensando: nós podíamos nos encontrar, não acha? Digo, estamos há tempos sem nos ver, e estou com saudades de nossas besteiras. Enfim, me retorne. Beijos.

Revirei os olhos e peguei meu celular, mandando uma mensagem para Ali, que me respondeu imediatamente. Levantei-me e fui tomar um banho. Amanhã à tarde eu teria um encontro. Com Aliana.

Já estava em frente ao lugar que marcamos de nos encontrar. Senti um frio na barriga, era como se algo fosse acontecer, mas não liguei. Poderia ser o frio, já que o que eu estava vestindo era uma blusa preta super solta de manga três quartos, uma calça jeans que não resolvia meu problema e meu all star verde. Olhei meu relógio que marcava três horas. Ela estava atrasada e se demorasse mais um pouco, eu iria embora e não a encontraria. O que não faria diferença para mim, na verdade.
- ! – Ouvi meu nome ser gritado e virei-me na direção da voz. Era Aliana. – Há quanto tempo não nos vemos amiga. – Falou me abraçando.
- É, quanto tempo não nos vemos. – Sorri amarelo e começamos a andar.
- me falou que te encontrou há pouco tempo. Fiquei chateada por ele não ter me chamado para ir junto, mas ele me disse que conheceu um amigo seu, que parece estar morando lá. Vocês estão juntos?
- Não. – Falei rindo. – Ele fica um pouco comigo, para eu não ficar sozinha por que...
- Por quê?...
- Ele estava preocupado sobre eu desmaiar de novo, sabe? Então, nós só somos amigos.
- Ah sim. Eu até cheguei a pensar que você já tinha se recuperado do fato de ter terminado com . – Riu. – Vamos nos sentar aqui? – Falou ao passarmos por uma cafeteria.
- Tudo bem.
Nós ficamos por volta de uma hora conversando aleatoriamente. Nada muito interessante, nada de mais. De repente, Aliana falou que precisava sair para se encontrar com um de seus clientes. Deixou sua parte do dinheiro gasto na cafeteria e saiu. Ainda fiquei mais algum tempo sentada, terminando de comer e aproveitando para descansar minhas pernas antes de voltar para casa – eu estava parecendo uma velha. Logo que terminei de comer, paguei a conta e saí andando. A rua estava extremamente movimentada e havia um táxi parado do outro lado da rua. Eu definitivamente não iria andar até meu prédio. Não que eu fosse andar o caminho inteiro, mas enfim. O sinal para pedestres abriu e eu saí andando, como todos, mas um pouco mais atrás. E então eu senti um empurrão.

Abri meus olhos devagar – já estava cansando disso, de sempre acontecer alguma coisa comigo. Isso tudo é pelo fato de eu ter traído meu namorado? Nós já terminamos, acabou, ora! Coloquei uma de minhas mãos na barriga, parecia estar tudo bem. Olhei para os lados esperando que alguém estivesse ali me esperando acordar, mas não encontrei ninguém. Não muito tempo depois, um senhor que era possivelmente o médico, entrou no quarto.
- Olá senhorita... – Olhou na prancheta. – . Você está se sentindo bem?
- Sim. – Falei com dificuldade. – Apenas uma dor na cabeça.
- É de se esperar. Apesar de não ter acontecido nada grave, a pancada foi forte, pelo que me foi informado.
- O que aconteceu comigo? Quem me trouxe? – Perguntei confusa.
- Desculpe-me, a pessoa que te trouxe não se identificou. – Lamentou-se. – Mas segundo o que foi me dito, você foi atropelada.
- Oh. – Respondi e o médico pediu licença. Assenti e ele saiu e em seguida entrou no quarto sendo acompanhado por Aliana.
- O que aconteceu? – Perguntou ele, me encarando.
- Se eu soubesse exatamente, não estaria aqui, deitada e me lamentando. – Ele riu e Aliana o acompanhou. – Como me encontraram?
- Hum... – Hesitou. – Eu te liguei para pedir uma opinião, então a pessoa que me atendeu disse que você estava aqui. Então, eu liguei para Ali e nós viemos te ver.
- Obrigada. – Falei e suspirei. Eu não os queria ali. Eu precisava de , mas oh, claro, eu tinha feito o favor de estragar tudo ao ter começado a sair também com . Ou então, já que eu não podia mais ter ao meu lado, Sam poderia estar ali. Mas não. Que droga.
Sem demora, o médico entrou no quarto sendo seguido por Sam, que foi rapidamente em minha direção. Beijou meu rosto de leve e sorriu.
- Você realmente não consegue ficar sem arrumar algum tipo de confusão quando não estou ao seu lado. – Riu e eu pude ver revirar os olhos. Aliana pediu licença e saiu do quarto.
O médico pigarreou e Sam virou-se em sua direção, junto a .
- Eu posso falar com o pai da criança? – Senti o sangue esvair de meu rosto.
- Pode falar comigo. – Sam respondeu e foi em sua direção. me encarava e eu não sabia onde enfiar meu rosto. Era realmente uma merda ter uma criança envolvida em toda essa confusão.
- Eu... Eu estou indo. – falou pouco tempo depois de ouvir o que o médico havia falado.
O doutor saiu do quarto e Sam foi a minha direção.
- Ele acha que a criança é dele. – Isso foi uma afirmação.
- Se eu ao menos soubesse de quem é essa criança, tudo estaria melhor.
- Porque você não o contou? – Pegou em minha mão. – Se vocês eram tão amigos... Caso ele seja muito idiota, pensará que existe uma terceira pessoa em tudo isso. E que essa terceira pessoa sou eu.
- Agora o que eu quero mesmo, é recomeçar. Estou realmente pensando em ir nessa semana mesmo para Nova York. – Ele fez uma careta.
- Você vai me deixar aqui. – Sussurrou.
- Eu sei, mas é preciso. Você vai poder me visitar! – Sorri amarelo.
- Tudo bem. Vou ver os papéis da alta com o médico e já volto.
Afirmei e fechei os olhos. Minha cabeça doía e eu pensava na possibilidade de deixar o meu melhor amigo e os caras que eu amo – mesmo que tenha terminado com um deles – para trás.


CAPÍTULO 33

Mais ou menos dois dias depois do meu pequeno acidente, já recuperada e em casa enquanto fazia algumas coisas, ouvi meu celular tocar e o atendi. Não deu nem tempo de falar alguma coisa, só ouvi a voz de avisar que já estava subindo e que esperava que eu estivesse em casa. Ele queria conversar. De novo.
Odeio conversas.
- Olá . – Falei ao abrir a porta do apartamento.
- Eu não vou demorar muito. – Ele falou sentando-se no sofá. Maldito sofá, maldito apartamento, malditos homens. Já estava na hora de eu me mudar desse lugar amaldiçoado.
- Tudo bem. – Falei e sentei-me em sua frente. Eu estava vestido um top azul com uma calça de pijama super larga e, de certa forma, minha barriga ficava em evidência. encarou minha barriga e depois olhou para mim.
- Você não me contou. – Apontou para minha barriga. – Por quê?
- É muita coisa para a cabeça de uma pessoa, não acha? Não devo te envolver em meus problemas.
- Claro que deve. Eu sou seu amigo.
- Desculpe, mas você deixou de ser depois de termos começado a nos envolver mais carnalmente.
- Hum. – Resmungou e olhou para o lado. Suspirei e esperei que ele continuasse. Não que eu estivesse com pressa, mas ele havia dito que não iria demorar muito. – Eu tenho pensado.
- No quê?
- No agora. Tudo o que nos impedia de ficar juntos era o fato de que você e ainda estavam juntos. O fato é que, já passou algum tempo depois disso e eu ainda acho que vale a pena ficarmos juntos.
- Hum. O que tem isso? – Arqueei a sobrancelha. – Você ao menos terminou com Aliana?
- Não. – Sorriu envergonhado. – Mas eu vou. Mesmo.
- Certo.
- Então, eu estava pensando... Vamos fugir juntos! – Ele abriu um sorriso enorme.
- Tá tudo bem com você?
- Claro que sim! Vamos embora daqui e reconstruir nossas vidas juntos!
- Ok então. – Sorri.
- Sério?
- Claro! Digo, depois que você esclareceu, me fez concordar com o fato de que poderá dar certo.
- Dará certo. – Corrigiu-me. – Só me tira uma dúvida. – Entortou a boca.
- Fale.
- Você... você vai mantê-lo? – Apontou novamente para minha barriga.
- Não. – Falei firmemente.
- Ótimo. – Sorriu. Parecia aliviado com isso. – Nós poderíamos conseguir alguém para cuidar dele.
- Uhum. – Murmurei. – Para onde vamos, então?
- Grécia. Lá é lindo e um lugar perfeito para um casal, não acha?
- Claro que sim! Quando partiremos?
- Daqui a uma semana. Pode ser? Você vai estar bem para fazer uma viagem grande? Se não, posso esperar mais uma semana. Vai ser sufocante, mas valerá à pena.
- Tudo bem então. Daqui a uma semana estaremos na Grécia. Nunca estive tão feliz. – Sorri amarelo. Eu estava feliz, mas precisaria me acostumar com a notícia repentina de que ele queria fugir comigo. Uma semana para resolver tudo? É. Uma semana.

- Vocês vão o quê? – Sam gritou.
- Mas que merda, Samuel, você não pode falar um pouco mais baixo? – Falei enquanto vestia minha roupa no banheiro e ele me esperava em meu quarto.
- Não, não vou! Ah droga! Você vai me deixar pra ir embora com esse otário?
- Sam, você não entendeu o que falei para você no telefone?
- Claro que entendi, mas não é fácil me acostumar com essa idéia. A idéia em geral de você ir embora. Essa criança criou uma ligação super forte entre nós dois.
Sorri enquanto saía do banheiro, ele tinha razão.
- Quando vocês vão? – Virou-se em minha direção.
- Daqui a menos de uma semana. Eu já comecei a arrumar minhas coisas e liguei para minha tia.
- Hum, claro. – Deitei-me ao seu lado na cama e ele beijou minha testa. Colocou uma das mãos em minha barriga e a alisou devagar.
- Vou sentir saudades. – Ele sussurrou.
- Eu também, Sam.
- Não sei se conseguirei sobreviver. – Falou com voz afetada.
- Imagina! – Ri e ele me acompanhou.
- Mas sério. Você é tão diferente daquela pessoa que conheci na lanchonete. Eu nunca pensei que te consideraria tanto. Você é muito importante para mim.
- Obrigado. Você também é muito importante para mim, para o bebê e para minhas atitudes idiotas. – Rimos e aos poucos paramos. Ele me encarava e eu fazia o mesmo. Seus cachinhos estavam mais lindos do que nunca e os olhos verdes brilhavam. Sam acariciou minha bochecha e automaticamente fechei meus olhos, sorrindo logo depois.
- Posso fazer uma coisa? Vai ser algo como uma despedida.
- Uhum.
Sem demora, senti seu hálito perto de meu rosto e abri meus olhos. Ele me olhou como se pedisse permissão, e eu sorri novamente. Aproximou um pouco mais o seu rosto do meu e aos poucos foi encostando nossos lábios. Não seria nada demais fazer isso. Era apenas uma despedida. Afastamo-nos e depois de um tempo eu senti um aperto no coração.
- Sam. – Chamei-o, que me olhou novamente. – Eu preciso te confessar uma coisa.


CAPÍTULO 34

Era o dia.
Eu estava nervosa e balançava minhas pernas descontroladamente enquanto esperava dar o horário de sair para encontrar . Naquele horário já era para ele ter me ligado para então me dar o sinal verde. A demora estava me fazendo ficar ainda mais nervosa e me fazendo pensar em desistir de tudo, de deixar Sam, meus pais, o meu maldito apartamento...
Há menos de uma semana eu havia encontrado Sam em minha casa e aconteceu o beijo. O tal beijo de despedida. Não que eu não tenha gostado, era só... estranho. Deitei na cama e suspirei. Algo que eu nunca imaginei era que tudo isso aconteceria em minha vida. Afinal, eu nunca fui desse tipo e sempre condenei as pessoas que tinham essa atitude. Mas, nunca devemos criticar uma atitude de outra pessoa porque nunca sabemos se algum dia faremos isso ou não – num futuro próximo ou distante – e também, no fim de tudo, a pessoa que será criticada é você. Todo esse meu sofrimento, se é que isso pode ser chamado de sofrimento, tudo o que aconteceu e a quarta pessoa que também está envolvida e nem ao menos sabe o que está acontecendo. Eu poderia dizer que a vida é injusta, mas eu mesma fui injusta com a minha vida. Talvez não valesse a pena desistir de tudo por causa de um amor. Amor esse que eu mesma estraguei. Amor esse que ainda não esqueci.
Fechei meus olhos e não muito tempo depois meu celular tocou. Era . Outro aperto se instalou em meu coração, mas eu não podia desistir de fazer aquilo. Não atendi ao telefone, apenas suspirei novamente.
Levantei-me e peguei minha única mala que estava jogada em um canto do meu quarto. Eu não podia – sozinha – levar mais de uma mala, e de qualquer maneira, não havia muita coisa o que levar. Eu não precisaria. Arrastei a mala até a sala e depois de vestir meu casaco peguei minha bolsa, indo em direção à porta, me despedindo mentalmente do meu maldito apartamento que eu sentiria falta. Afinal, haviam acontecido tantas coisas boas, não só ruins, e que ficariam sempre em meu pensamento. Tranquei a porta do lugar que eu veria pela última vez e peguei o elevador. Já na frente do prédio, um táxi me esperava. O porteiro, que havia se encarregado de chamar o táxi para mim me desejou boa sorte e depois de colocar minha mala no porta-malas do carro, entrei no mesmo, ditando o endereço.
e eu havíamos combinado de irmos um dia antes de viajarmos para um hotel na região e ajeitarmos as últimas coisas. Ele ainda não havia terminado com Aliana e eu me sentia de certa forma mal por causa disso, mas segundo ele, havia dito à namorada que estava indo a uma viagem de trabalho, entrevista, que seja. Eu já sentia falta de Sam. Quer dizer, sentia mais falta ainda dele. Estava achando injusto deixar meus pais sem nem ao menos um tchau, mas era preciso.
Seria também completamente difícil continuar seguindo sabendo que eu estaria longe demais de . Ele continuava sendo alguém importante para mim, não importando o fato de que foi por causa dele que deixei de fazer muitas coisas, mas ele foi a pessoa que eu realmente gostei e que acabei traindo. Senti algumas lágrimas escorrendo por minhas bochechas e minha cabeça doeu. Ainda me lembrava do acidente que havia acontecido e que graças a Deus não atingiu a criança que está se formando. Continuava sem entender o maldito karma e o que eu havia feito para merecer tanta coisa de vez. Ouvi meu celular tocar novamente e o atendi já sabendo quem era sem precisar olhar a tela.
- , está tudo certo? – Ouvi a voz de perguntar.
- Claro – funguei.
- O que aconteceu?
- Nada – falei firme, tentando disfarçar o congestionamento nasal que se formava. – Está me esperando?
- Sim, estou. – Engoli em seco. Era tudo uma droga mesmo.
- Certo. Até mais tarde.
- Agora vou desligar o celular, caso Aliana me ligue. – Ele falou e eu afirmei.
Desliguei e uma das últimas coisas que me lembro ter feito naquele dia foi ter mandado uma mensagem para meus pais, escrita “Eu amo vocês”, quando finalmente o táxi parou.
- Pronto senhorita – o taxista falou e eu entreguei para ele o dinheiro, saindo em seguida do carro e pegando minha mala da sua mão.
- Obrigada. – Falei e segui. Ainda não havia avistado . Talvez porque não fosse fazê-lo por muito tempo.


Fim


nota da autora: Olá meninas.
Eu falei que o final não estava muito bom, então não me culpem! Todo o mistério terá um motivo para a parte dois. Eu nunca me saí tão bem escrevendo finais, mas esse até que ficou bonzinho. Ultimamente tenho percebido que sou completamente fissurada em finais com certo mistério, que os principais ainda não ficam juntos, sabem? E então, nesse momento eu quero agradecer a todas vocês que acompanharam Disturbia por tanto tempo. Eu me lembro de logo que comecei a escrever, baseada em uma história que estava acontecendo com uma amiga e como fiquei feliz quando recebi comentários – mesmo que esses fossem poucos. Confesso que durante esse tempo – quase um ano – fiquei bastante chateada, achando que deveria tirar a fanfic do site, mas tudo isso passou. Eu finalmente percebi que não é a quantidade de comentários que importa, mas sim ter vocês, leitoras fiéis me dando cada vez mais apoio durante todo esse tempo que estive aqui. E eu sei que vocês me apoiarão quando Disturbia 2 vier para o site, não é?
Agora, ao som de Heroes, do David Bowie, vou mandar um salve pra Isa (mylifeismybike q), que escreveu o único comentário depois de ler toda a fic, mas que me encheu para que eu desse esse salve. Você é ótima, menina! Hum, também quero mandar um salve à babi, Camila, pathy e Alessandra. Adorei os comentários de vocês! Mesmo que eu não fale o nome de todas, sintam-se todas abraçadas e com um enorme obrigada esperando por vocês :D Ok, isso não fez muito sentido mas enfim. Lêh, você sempre fazendo os comentários que sempre me deixavam felizes cada vez que os lia, isso foi realmente importante em! Sobre o meu e-mail, é só clicar aqui. Todas vocês, enviem sugestões, críticas ou só falem comigo q. Eu ficarei feliz.
Essa é a fanfic que eu mais me apeguei, por isso, tentarei não demorar muito em enviar a parte dois dela para o site. Agora, termino essa podre última n/a deixando um muito obrigada MESMO a TODAS que estiveram lendo Disturbia. Adoro vocês, sério *-*
Beijos, Cáh x

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